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MARCELO MIRANDA DE CARVALHO

Governador do Estado do Tocantins

MARIA AUXILIADORA SEABRA REZENDE


Secretária Estadual da Educação e Cultura

ANTÔNIO BONIFÁCIO DE ALMEIDA


Subsecretário

ISOLDA BARBOSA DE ARAÚJO PACINI MARTINS


Diretora de Gabinete

JUCYLENE MARIA DOS SANTOS CASTRO BORBA DIAS


Superintendente da Educação

AGUIFANEIDE LIRA DANTAS GONDIM


Diretora de Educação na Diversidade

ZULMIRA GONZAGA CARDOSO


Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos

FRANCISCO GILSON REBOUÇAS PÔRTO JUNIOR


Coordenador da Formação do Projeto Ressocialização Educativa
no Sistema Prisional do Estado do Tocantins

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Ética Profissional e
Valores na Educação Prisional

Maria Rita de Cássia Pelizari Labanca


Sandoval Antunes de Souza
Gilson Pôrto Jr.

Palmas - Tocantins/2006

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Autores/ Elaboração e Organização dos Conteúdos/ Revisão Literária

Maria Rita de Cássia Pelizari Labanca


Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Gurupi e mestre em
Ciencia de la Educación (Universidad Autónoma de Asunción). É professora da Academia
Estadual de Segurança Pública (TO) e professora da Universidade do Tocantins (UNITINS).

Sandoval Antunes de Souza


Graduado em Teologia e História e Mestre em Educação: Fundamentos da Educação – Educação
e Transformação Social (MFE – UEM/PR). Coordena o Grupo de Pesquisa Latters/CNPq: “Gestão
da Educação e Políticas Públicas” (UNITINS). Professor da graduação e pós-graduação da
Fundação Universidade do Tocantins (Unitins).

Francisco Gilson Rebouças Pôrto Junior.


Graduado em Pedagogia: Orientação Educacional, Especialista em Ensino de Filosofia e Mestre
em Educação: Estado, Políticas Públicas e Gestão da Educação (FE-UnB). Coordena o Grupo de
Pesquisa Lattes/CNPq Educação, Cultura e Transversalidade (UNITINS) e é pesquisador na linha
de pesquisa “Educação de Presos Adultos”, do Grupo de Pesquisa Lattes/CNPq Educação e
Cultura (PPGE-UnB). Atualmente coordena duas pesquisas nesse grupo sobre a temática:
Educação de Presos – perfil e análise da ação educativa e Mapeamento das condições laborais
para egressos do sistema prisional na cidade de Palmas (TO). E-mail: francisco.gr@unitins.br .

Ficha Catalográfica

Ética Profissional e Valores na Educação Prisional./ Módulo III - Elaboração: Sandoval Antunes
de Souza, Maria Rita de Cássia Pelizari Labanca e Gilson Pôrto Jr. – Palmas, TO: Secretaria
de Educação do Estado do Tocantins / Gerência de Educação de Jovens e Adultos, 2006.

100 p.: s/il.

1. Ética Profissional 2. Valores 3. Educação de Jovens e Adultos 4. Formação Continuada


I. Sandoval Antunes de Souza II. Maria Rita de Cássia Pelizari Labanca III. Gilson Pôrto Jr

CDU:374(81)

Os conceitos e opiniões emitidos são de exclusiva responsabilidade dos autores.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO TOCANTINS


Praça dos Girassóis S/N, Esplanada das Secretarias
Palmas, Tocantins

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Apresentação, ou
para Introduzir uma conversa....

O que me surpreende na aplicação


de uma educação realmente libertadora
é o medo da liberdade.
Paulo Freire

Estar na prisão é uma situação transitória. Ser jovem e migrante é também uma condição
precária numa perspectiva de educação vitalícia (particularmente para os jovens). A situação
transitória de um condenado deve sempre ser levada em consideração. A educação na prisão
deve permanecer em processo contínuo e não apenas focalizar a condição temporária de
encarceramento.

Sendo assim, a relação do sujeito com o outro convoca-nos à reflexão ética. O “outro” se
torna a referência para a ação, pois demanda uma relação de cuidado.

A violência é o reflexo do que se vive cotidianamente. Ao pensar nas condições históricas


nas quais o ser humano se organizou biológica e socialmente, podemos vê-los como um ser de
violência, ou um “homo violens”: qualquer instante, por seus impulsos cegos e passionais viola o
território do outro. Assim, para que o estágio de barbárie não prevaleça, instituições de formação
como a família, a religião, e a escola, dentre outras, preparam formas de canalização e controle
dos impulsos, preparando os seres para viverem no mundo para o exercício da liberdade, da
solidariedade, da justiça, do respeito.

A tentativa de instauração da ação ética do sujeito no mundo contemporâneo baseia-se em


alguns princípios colocados como referência para que ele possa pautar suas ações e,
consequentemente, tomar decisões. Há quatro princípios na ação ética do sujeito contemporâneo:
o da justiça, o da não violência, o da solidariedade e o da responsabilidade.

No princípio da justiça, o ideal inspira-se no respeito ao outro, que se iguala enquanto


espécie, mas se diferencia enquanto singularidade. É através do senso de justiça, existente entre
os homens, que a lei moral e a ética se objetivam. O sujeito exerce sua autonomia, tendo a
liberdade como possibilidade de escolha, ao tomar decisões. O princípio da justiça pode se aliar
ao da igualdade de condições de sobrevivência. Isto implica a exigência permanente de direitos e
oportunidades sociais.

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O princípio da não violência coloca a possibilidade de se respeitarem e preservarem as
diferenças. Gera uma atitude de reconhecimento do outro como um ser que pertence à espécie
humana. Por não ser permitido violar sua integridade física e psíquica, é preciso aprender a não
tornar o outro como objeto, uma coisa e a não usar a força como mecanismo de coerção. A ética
abre campo aos sujeitos para a construção e o exercício da solidariedade ao próximo.

O princípio da solidariedade funda-se em um dever, mas não designa. O gesto de ser


solidário liga-se ao respeito à diferença, em que o ser humano aprende a perceber que o outro
também pertence ao mundo. A ação solidária liga-se à construção do sujeito face a ideais
democráticos e à cidadania. O principio da solidariedade consiste em expressar responsabilidade
para com o outro, sem esperar reciprocidade.

O princípio da responsabilidade leva-nos a perceber no outro a condição humana, como


também abre uma possibilidade de se respeitarem às coisas que estão no mundo, pois essas se
relacionam com o próximo. A responsabilidade pela natureza está em conceber no mundo um
outro que difere do eu e necessita aprender que, além da convivência, é preciso preservar o que é
de todos. Por isso, é preciso cultivar o respeito pelo outro em sua singularidade, para que se
concretizem os ideais de sobrevivência dos seres e a possibilidade de vivermos bem.

Diante dessas perspectivas, a educação através de práticas docentes em que as ações se


processam mediadas por meios e fins éticos e com o objetivo de formar o caráter de seus alunos
convida a construção de um mundo capaz de atender aos princípios da ética, a prática da
liberdade e do dialogo.

A educação apresenta-se importante, quando é entendida como educação integral, quando


pretende dar orientação e um sentido ao ser humano como um todo, pois ela perpassa
transversalmente todas as dimensões da formação humana.

Sendo assim, educar é formar um ser capaz de lidar com o meio e com outros seres
humanos, pois a afetividade acompanha o ser humano desde a sua vida intra-uterina, até a sua
morte, se manifestando como uma fonte geradora de potência e energia, ela seria o alicerce sobre
a qual se constrói o conhecimento racional.

Os autores

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Sumário

Unidade 1

Pensando o Contemporâneo 9

Unidade 2

Investigando sobre Ética, Moral, Valores e Afetividade 13

Unidade 3

A Ética Profissional e as Relações Sociais 28

Unidade 4

Os Valores Religiosos e a Ressocialização no Sistema Prisional 36

Unidade 5

O Ambiente Carcerário e a busca por Ressocialização 48

Unidade 6

Educação e cidadania 60

Unidade 7

Educador, um ressocializador 65

7
Unidade 8

O Trabalho 72

Unidade 9

Ressocializador, O Agente Penitenciário 88

Unidade 10

Psicologia da Aprendizagem no sistema prisional 93

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Unidade 01
Pensando o Contemporâneo

Objetivo

• Analisar os pressupostos da mentalidade hegemônica na sociedade atual e as


implicações para as relações no sistema prisional

A nossa realidade é, sem dúvida, pontuada por contradições e desafios que precisam ser
explicitados com o objetivo de se avançar nas relações sociais, em todos os aspectos e
possibilidades do viver humano. O professor César Nunes, na introdução ao texto Aprendendo a
Viver Juntos (2001, p.07) lembra que “o século XXI abre-se ao tempo e à história ainda marcado
pelos estigmas do século passado”. A acumulação de riquezas, a intolerância religiosa, os
relativismos éticos e morais, a mercantilização do sexo e da sexualidade, a massificação da
indústria cultural, os fanatismos, a solidão existencial, o avanço do econômico sobre todas as
manifestações da vida, on-line, ao vivo, são realidades vivenciadas pelas sociedades humanas e,
muito mais agora, marcam nosso modo de agir, pensar e significar a vida.

Quando se diz, portanto, que vivemos em uma sociedade de mercado, este termo tende a
funcionar como um slogan, que torna difícil descobrir o que se esconde por trás das palavras.
Quais as implicações de ser contra ou a favor do Estado do Bem Estar ou do Estado Mínimo?
Quais as implicações de ser a favor do mercado? A generalização do enfoque da palavra mercado
conduz à generalização dos modos de existência na contemporaneidade. A tendência atual da

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economia mundial é de livre mercado, de estender e difundir o pensamento único, a verdade única,
o mercado único, o mundo único possível, a hierarquia de valores única, e isso torna evidente uma
ideologia concreta que se pretende universal - tanto na fé quanto no poder do mercado é que a
sociedade passa a ser pensada no final do século XX.

Há um modelo ideológico que procura legitimar as “novas” ações na sociedade e


desmerecer as demais. A idéia de uma nova ordem mundial, da hegemonia do mercado capitalista
sem qualquer limite, entre outras conseqüências, leva à construção de um ser humano definido. O

A educação
homem contemporâneo, no dizer de Santomé (2003) é o “homo economicus” que se traduz por
visa uma racionalidade instrumental e pela busca calculada de benefícios que satisfaçam a si mesmo.
melhorar a
natureza do O “homo economicus” das sociedades, entre elas, a capitalista, seria regido em suas ações pelo
homem o
que nem
egoísmo, pela busca do seu proveito particular, de seus interesses privados. Esse homem tem
sempre é uma essencial preocupação com o resultado dos intercâmbios comerciais e a medida é sempre
aceito pelo
interessado. procurar resolver as suas necessidades individuais.
Carlos
Drummond.
Neste sentido, nos anos 90, a expressão homem na “pós-modernidade”, configura-se no
“homo economicus”. Este homem vive um momento sócio-cultural caracterizado por um
encadeamento de tolerância, indiferença, pluralidade, ambigüidade e relativismo, como
conseqüência dessa forma de ser da sociedade. Por meio de intercâmbios mercantis e financeiros
se move a economia, a política e a vida social dos grupos humanos. Esse modo de ser tem como
resultante a incorporação passiva e acrítica do pensamento e da cultura dominantes.

Pérez Gómez (2001) apresenta algumas peculiaridades deste momento. Dentre eles a
“perda de fundamento da realidade” (p.26, grifo do autor) na medida em que os critérios que
balizaram e balizam a modernidade se dissolvem. A certeza moral e científica, os padrões éticos
dão lugar a construções sociais relativas e contingentes. Nesse processo, o discurso, a linguagem
e a imagem se tornam preponderantes. O imediato descontextualizado é o foco do interesse
pragmático.

Também, esse autor identifica a “Perda de fé no progresso” (p.26, grifo do autor), na


possibilidade de desenvolvimento ilimitado da sociedade. A maioria participa da impressão de que
a historia não conduz a nenhuma parte predeterminada, e as pessoas vivem um transitar errático e
descontínuo que provoca tanto satisfação quanto sofrimento.

Outra característica, levantada pelo autor, seria a do “Pragmatismo como forma de vida e
de pensamento” (p.27, grifo do autor). O pensamento e a vida cotidiana começam a ter as suas
referências em um sentido cada vez mais pragmático de existência. A vida cotidiana se pauta na
busca do prazer e da satisfação do presente, sem demasiada preocupação com fundamentos ou

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conseqüências. Um hedonismo exacerbado ligado ao aqui e agora se torna a tônica da sociedade,
não importando em qual âmbito social o indivíduo se localiza.

Detecta, também, o “Desencanto e indiferença” (p.27, grifo do autor) como característica


da atualidade. O ser humano, sem fundamento e sem horizonte definido, tem que aprender a viver
a incerteza e o sem-sentido teleológico do presente. Vive-se, assim, uma ética do vale-tudo, ao
limite do cinismo, aproveitar-se da injustiça em beneficio próprio. Tal maneira de viver se
manifesta, como que em cascata, desde os grupos mais esclarecidos e privilegiados da sociedade
até as camadas mais excluídas das relações sociais.
Não há saber
mais ou
Discute, ainda, o discurso sistemático a favor da “Autonomia, diversidade e
saber
descentralização” (p.27, grifo do autor). Em todos os âmbitos da vida individual e coletiva, impõe-se menos. Há
saberes
a exigência da autonomia, o respeito à diversidade e a conveniência da descentralização. A diferentes.
Paulo Freire
diversificação e a descentralização atingem praticamente todos os aspectos da vida pós-moderna,
desde a economia até a afetividade. O homem contemporâneo vive a contradição, não apenas na
questão do trabalho, isto é, da materialidade da sobrevivência cotidiana, mas, também, a
imposição de uma autonomia nunca antes vista nas relações afetivas. O uso e aproveitamento do
outro se tornam as bases do viver coletivo.

Registra, por último, a “primazia da estética sobre a ética” (p.27, grifo do autor). No
momento em que a fundamentação racional, a base do saber é questionada, a linguagem, o
discurso, a imagem se tornam proeminentes, as questões éticas, as grandes balisas do viver em
sociedade, desaparecem diante do deslumbramento do sentido estético. As aparências, agora,
ocupam todo o território das representações.

Uma das conseqüências dessa nova forma de viver, paradoxalmente ligada à afirmação
das identidades culturais, do particular, é o desamparo individual, a passividade política, a
desmobilização social.

A solidão se une às fantasias de poder. Há uma reprodução de relações marginais, na


medida em que se vive também um universo ideológico de uma sociedade de consumo. Martins
(1997:19-20) observa que: “A força da colonização do imaginário do homem comum, através do
consumismo dirigido, conduz a uma nova desigualdade que gera dois mundos, uma sociedade
dupla”. Este autor exemplifica dizendo que, por meio do toque de um mesmo botão da televisão,
há a capacidade de se transportar, simultaneamente, tanto o favelado quanto o milionário, ao
mesmo mundo fantasioso e colorido das ficções da comunicação de massa, apesar da
desigualdade material.

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O avanço da tecnologia e da mídia globalizada favoreceu os imprevisíveis e incertos
comportamentos dos indivíduos na sociedade. Uma complexa rede de relações com inúmeros
componentes contraditórios coloca o indivíduo como impotente no sentido da impossibilidade para
interagir e produzir relações mais concretas. A vivência do descartável, da meritocracia, do
pasteurizado define a não-permanência no espaço-tempo e limita a vontade ou ação dos
indivíduos.

Outro comportamento atual tem a ver com um viver ético utilitarista. Há uma tendência de
se pensar ou praticar a ética contemporânea como uma relação de meio-fim ou de custo-benefício.
É crescente a noção de que os fins justificam os meios, que o importante é a finalidade da
proposição, que é possível retirar das ações muitos benefícios, não importando tanto se estas
ações possam produzir conseqüências indesejáveis para os demais, ou para a sociedade.
O que é
ensinado em A revolução da eletrônica, propiciando novos meios e formas de comunicação, novas
escolas e
universidade configurações do espaço e do tempo, também vem alterando os hábitos, os interesses, os modos
s não
representa de pensar, as formas do viver cotidiano. Palavras como “Vias de Informações”, “Infovias”, “Aldeia
educação, Global”, “Informações On-line”, começam a fazer parte do cotidiano de uma parcela significativa da
mas são
meios para população mundial. Os intercâmbios sociais passam a ser mediatizados pelos meios eletrônicos,
obtê-la.
Ralph pelo uso maciço da televisão que instrumentaliza a contemplação passiva dos cidadãos. A
Emerson universalização das comunicações relativiza a cultura, as idéias, os hábitos, na medida em que a
comparação e o confronto vão se delineando com rapidez, provocando choque e, ao mesmo
tempo, indiferença. Nada é permanente.

Todas as instâncias sociais sofrem. O modelo familiar - que oferecia amparo, satisfação
das necessidades, espaço para a comunicação, fortalecimento dos papéis e da identidade
individual, agora, com a desregulação crescente da sociedade, da economia de mercado livre, da
mobilidade profissional, do ritmo acelerado das mudanças no sistema de produção e consumo, da
precariedade das formas contemporâneas de viver, faz com que haja uma desregulação da própria
estrutura familiar. As redes de solidariedade familiar, atreladas à dificuldade de recompor os papéis
tradicionais ou as redes de parentesco, resultam em um esfacelamento familiar, restando o
individualismo como a única saída na complexidade da vida privada e anônima.

Todas estas questões afetam o nosso modo de viver! Queremos ser autores da nossa
própria existência, queremos ser livres para responder por nossas ações! Temos uma razão para
nos dirigir e inteligência que nos possibilitam escolhas. Porém a vida não é mais simples assim!

Quantas vezes temos que fazer escolhas! Um determinado momento nos obriga a escolher
entre duas possibilidades ou mais, embora não queríamos tomar uma posição. Nossos atos, em
muitas circunstâncias, são regidos por situações já presentes em nosso cotidiano.

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Unidade 02
Investigando sobre Ética, Moral,
Valores e Afetividade

Objetivo

• Conhecer os conceitos básicos da ética, moral, afetividade e valores e sua


aplicação nas relações sociais e educacionais.

Pense nas seguintes afirmações: “eu tenho uma moral inatacável”. “Observe como aquele
sujeito tem um comportamento ético exemplar”. “Meus valores foram herdados do meu pai”.

Daí poderíamos perguntar: O que estas afirmações tem a ver com as idéias da unidade
anterior? Você consegue perceber as contradições das posturas (posicionamentos) da realidade
contemporânea! O que é Ética, Moral, Valores no mundo de hoje? Não vivemos em sociedades
estáticas, portanto as mudanças e contradições são inerentes a esse processo natural de
transformações constantes da vida em sociedade.

Um primeiro passo é investigar e entender o significado etimológico das palavras Ética,


Moral e Valores, para uma reflexão sobre a sua aplicação e validade no mundo contemporâneo.

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A Moral é uma palavra que vem da língua latina: mos-mores, significando costumes ou
regras que determinam a vida. Dizemos, então, que é o conjunto de regras de conduta assumidas
pelos indivíduos de um grupo social com a finalidade de organizar as relações interpessoais, isto é,
normas e valores que orientam a vida do homem dentro da sociedade. A intenção da moral é
definir o certo e o errado, o justo e o injusto, o permitido do proibido, o bem do mal. Quais ações e
atitudes se devem adotar diante de situações que nos confrontam, afetam-nos diariamente!
Consulte
sites na
Quantas vezes somos tomados pelo horror diante da violência: chacina de seres humanos, internet para
aprofundar
linchamentos, assassinatos brutais, torturas, genocídios, corrupção ativa e passiva e tantas outras mais os
conceitos
coisas que nos deixam indignados. Quantas circunstâncias que trazem ira, raiva pela impotência estudados
que sentimos diante de uma injustiça como um inocente que é julgado e condenado enquanto que nessa
unidade.
o verdadeiro culpado vive solto e impune! Por outro lado, quantas vezes somos levados por algum
impulso incontrolável ou emoção forte (medo, ambição, orgulho, vaidade, etc.) e praticamos atos
que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de desfazer, voltar atrás e quem
sabe agir de modo diferente.

Todas essas questões dizem respeito ao nosso senso moral, isto é, a sentimentos e
ações que expressamos diante das situações do mundo que nos cerca.

Da mesma forma, uma jovem que descobre que está grávida e percebe que seu corpo e
seu espírito ainda não estão preparados para a gravidez, o que ela vai fazer? Ou um pai de família
desempregado, com filhos pequenos e uma esposa doente recebe uma oferta de emprego, mas o
empregador exige que ele cometa irregularidades que beneficiem a empresa. Ele deve ou não
aceitar este emprego?

Estas e tantas outras questões dizem respeito à consciência moral, porque exigem que
decidamos o que fazer que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas
decisões e assumamos todas as conseqüências, pois somos responsáveis por elas.

Vamos pensar de forma prática! Leia o relato abaixo:

“Eu estava absolutamente deprimido, arrasado, revoltados,


destruído, descontente com a vida, e, para dizer a verdade,
querendo encontrar uma forma de morrer que não fosse o
suicídio. A razão mais forte do meu ódio para com a vida
era o fato de ter sido abandonado por minha mulher, sem
notícias dela e de meus filhos há um ano e meio. É
verdade que não é fácil encarar as circunstâncias em que
se dão as visitas da mulher e dos filhos no ambiente de

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uma cadeia. É tudo muito humilhante, desde as revistas, as
ironias e a arrogância dos funcionários, até o contato com
outros presos.”

(extraído do relato de um condenado pelo sistema penal – NEGRINI, Pedro ENJAULADO, Rio de
Janeiro: GRIPHUS, 2002, p.02)

Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1 - Qual seria a nossa postura, enquanto educadores, diante de um relato como este?

2 - Quais seriam as atitudes mais adequadas no contexto ético e moral que deveríamos ter
para educar um indivíduo do sistema prisional que retrata esta visão de mundo e relações sociais?

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3 – É importante procurarmos relacionar os nossos atos e ações aos conceitos de
responsabilidade moral. Escreva três ações, atos, que você praticou, em algum momento não
muito distante do seu cotidiano e, analise se você está sendo livre nessas ações.

4 – Na sua opinião, o que determina que um ato seja considerado moral ou imoral?

A Ética

Vem da língua grega ethos, significando modo de ser, a forma usada pela pessoa para
organizar sua vida em sociedade. Assim, para que haja uma conduta ética é preciso que exista o
agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre o bem e o mal. A ética se
preocupa com a reflexão sobre as noções e princípios que fundamentam a vida moral. É o
processo feito pela pessoa de transformar em normas/regras práticas os valores surgidos no grupo
e na cultura em que vive.
Ética Moral:
Baseia-se em
princípios e
regras A exigência ética só pode ser pensada a partir da vida concreta de uma coletividade
morais fixas.
instituída: derivado de ethos, que significa costume, uso, o termo ethike designa o caráter, a
maneira habitual de um indivíduo se comportar. Em uma palavra, a ética se refere à conformação,
Ética Imoral:
Baseia-se na ou não, dos hábitos e comportamentos individuais aos usos e costumes que cada sociedade
ética dos
fins: “Os fins
institui para si. E, de fato, cada sociedade se cria, criando os valores, as normas, os costumes, as
justificam os práticas e os ideais que a regem. Esses valores, normas, costumes, práticas e ideais constituem-
meios”.
se, como já se disse tantas vezes, no verdadeiro cimento das sociedades.

Ética Amoral
: Baseia-se Porém, O crescimento da violência urbana e a crise dos sistemas penitenciário,
nas
circunstânci judiciário e policial são temas que ocupam um grande espaço no noticiário, no caso brasileiro, nos
as. Tudo é
relativo e
últimos anos. A crescente criminalidade e a impunidade têm como uma das conseqüências mais
temporal. visíveis a sensação de insegurança e medo da população que, cada vez mais, busca mecanismos
próprios de proteção: grades nas janelas, portas trancadas, carros blindados, armas de fogo e
sistemas de segurança privada fazem parte do cotidiano de uma parcela da população que busca
se proteger a todo custo.

Veja o relato do livro ENJAULADO, p. 88:

“Na rua há um confronto entre policiais e bandidos e esse


confronto é uma briga de vida ou morte para ambos os lados.
Morrem bandidos e morrem policiais. Sucede que os policiais

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militares, que estão de serviço nas muralhas ou que entram nos
presídios compondo as tropas de choque, não fazem distinção
entre o bandido que usou armas na rua e o detento que está ali por
razões que não incluem qualquer violência, como por exemplo, o
não pagamento de pensão alimentícia. Para os policiais militares,
preso é tudo igual. É como se todos tivessem trocado tiros com
eles nas ruas, tivessem revidado às ações policiais, tivessem
matado colegas da corporação ou familiares desses mesmos
colegas.
Por razões que vêm das ruas, há um ódio intenso dos policiais
para com os bandidos e dos bandidos para com os policiais.
O ódio dos policiais aos presos é demonstrado nas revistas e nas
atuações das tropas de choque da PM quando os detentos estão
nas alas com as mãos na cabeça, sem roupas, pernas abertas,
cara voltada para a parede.
Atrás dos revistados passam os policiais militares de uma tropa de
choque e, nessa hora, eles se esquecem de qualquer resquício de
profissionalismo e aproveitam para tirar todas as suas diferenças
em relações aos presos, para externar todos os seus ódios, para
vingar os colegas e familiares que foram mortos por bandidos”.

Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!

17
Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1 - Como seria a aplicação da exigência ética neste contexto?

2 - Quais as formas possíveis para desarmar este confronto que parece inevitável nas
relações descritas acima?

3 - Qual o papel da educação como possibilidade de modificação desta realidade?

A reflexão ética já estava presente, no mundo ocidental, desde a Grécia Clássica quando
os filósofos procuram o fundamento moral de uma sociedade que desejava se distanciar dos
relatos míticos. Por exemplo, a ética de Aristóteles (século IV a.C.) vai exercer uma grande
influência no pensamento ocidental a partir da noção do “eudemonismo”. O verbo grego
eudaimonéo significa “ter êxito”, “ser feliz”. Portanto, para Aristóteles, todas as pessoas aspiram a
algum bem, dentre os quais o maior é a felicidade.

Sócrates (século V a.C.), dirigindo-se aos atenienses, segundo Chauí (2001, p. 166):
O essencial,
com efeito, “indagava se eles tinham percepção do que era a consciência
na educação,
não é a moral e o sujeito ético. Interrogava a sociedade para saber se o
doutrina
ensinada, é o que ela costumava considerar virtuoso e bom correspondia
despertar. efetivamente à virtude e ao bem; e, por outro lado, interrogava os
Ernest
Renan indivíduos para saber se, ao agir, possuem efetivamente
consciência do significado e da finalidade de suas ações, se seu
caráter ou sua índole são virtuosos e bons realmente.”

O que caracteriza uma vida ética? Quem pode dizer que as suas próprias ações são
moralmente corretas? Para Wonsovicz (2001, p.16) um sujeito ético ou moral tem que preencher
alguns requisitos:

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• capacidade de reflexão e de reconhecimento da existência do outros (consciência de si e
dos outros);

• capacidade para dominar-se, controlar-se e também decidir e deliberar entre alternativas


(vontade, desejo, sentimentos, etc.);

• ser responsável (assumir as conseqüências da ação e reflexão, respondendo por elas);

• ser livre (conseguir autodeterminar-se, fazer as suas regras de conduta).

Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Leia a relato descrito no livro “O Sistema”, Lopes 2000, p. 84:

A enfadonha rotina da cadeia tinha seqüência e, em mais um dia


de banho de sol, a triste paisagem era exatamente igual; agentes
penitenciários circulando de um lado para outro, um grupinho

19
disputando uma partida de futebol no campo de terra batida, um
interno ouvindo rap numa altura insuportável, outro lendo jornal em
que o forte era o noticiário policial, uma rodinha formada por
homens que apostavam tudo o que tinham no jogo de ronda e
internos deitados em bancos de cimento, simplesmente esperando
a hora passar.

1 – o conceito de autodeterminação pode ser aplicado diante de um relato, que é comum aos
presídios brasileiros?

2 – Como poderíamos discutir a idéia de “reconhecimento da existência do outro” dentro de um


contexto ético nas relações prisionais?

Novamente a ética...

As pessoas podem, diante do comportamento humano, da sociedade ter uma atitude


passiva ou ativa. O sujeito ético não se submete aos acasos da sorte, à vontade e aos desejos de
um outro, à tirania das paixões, mas obedece à sua consciência – que conhece o bem e as
virtudes – e à sua vontade racional – que conhece os meios adequados para chegar aos fins
morais.

Nesta perspectiva é que os filósofos da Antiguidade Grega e Romana consideravam a vida


ética como um embate contínuo entre nossos apetites e desejos – as paixões – e a nossa razão. A
ética, era concebida como educação do caráter tendo como objetivo a harmonia entre o caráter do
sujeito virtuoso e os valores coletivos.

Ao olharmos para a história da filosofia, a ética, vista como um estudo ou reflexão sobre as
ações humanas pode ser, para uma compreensão mais adequada dos problemas éticos, dividida
em dois segmentos: geral e específico.

Podemos colocar dentro dos problemas gerais e fundamentais o que se refere à liberdade,
consciência, bem, valor, lei, amor, morte, etc., enquanto que dentro dos problemas específicos o
que se aplica às ações individuais que são os da ética profissional, da ética política, da ética
sexual, bioética, etc.

20
Os Valores

A partir de uma propaganda veiculada na televisão na década de 1980, institucionaliza-se


no imaginário popular brasileiro a idéia de que se deve levar vantagem em tudo. Todo mundo já
ouviu falar do “jeitinho brasileiro”, muitas vezes aparentemente inocente e engraçado, e que é visto
como sinal de esperteza. Furar a fila do ônibus, parar em fila dupla para pegar o filho na escola,
colocar valores menores na nota fiscal, e tantos outros exemplos que poderiam ser dados, todos
transgredindo padrões de comportamento. O “jeitinho” desconsidera as normas de vivência na
sociedade e desconhece o dever ser dos nossos atos e comportamentos.

A educação
Daí a grande questão que chamamos da perda dos valores sociais. Afirmamos que as é um
pessoas não sabem mais viver em sociedade porque seus valores estão invertidos. Mas o que é processo
social, é
valor? O que são os valores? desenvolvim
ento. Não é a
preparação
Um primeiro aspecto a ser comentado é que os valores não são coisas, mas resultam das para a vida, é
a própria
relações que os seres humanos estabelecem entre si e com o mundo em que vivemos. Por esta
vida.
razão que, diante de pessoas e coisas, estamos constantemente fazendo o que chamamos de John Dewey
juízos de valor. Quando afirmamos, por exemplo, que uma moça não tem atrativos, é feia na nossa
concepção, ou o oposto quando dizemos que ela é muito bonita, quando descrevemos uma
borracha ou uma caneta como muito ruins, quando colocamos que João agiu com desprezo pelo
fato de não ajudar naquela campanha da solidariedade do bairro, estamos fazendo juízos da
realidade, porque dizemos que as coisas e as pessoas existem, mas também estamos fazendo
juízos de valor porque as coisas e as pessoas podem provocar atração ou repulsa, avaliação
estética, utilidade ou não, etc.
Na medida em que atribuímos um valor a alguma coisa ou pessoa, significa dizer que não
estamos indiferentes a ela. Podemos inferir então que, a não-indiferença é uma das principais
características do valor. Porém não se deve esquecer que pelo fato dos valores não serem coisas,
mas resultam das relações estabelecidas na sociedade, dizemos que os valores são em parte
herdados da cultura onde estamos inseridos. Aranha, M. & Martins, M. (2000, p.273) afirmam que:

O mundo da cultura é um sistema de significados já estabelecidos


por outros, de tal modo que aprendemos desde cedo como nos
comportar à mesa, na rua, diante de estranhos, como, quando e
quanto falar em determinadas circunstâncias (...) como cobrir o
corpo e quando desnudá-lo, qual o padrão de beleza, que direitos e
deveres temos.

21
Assim, a partir da valoração, as pessoas nos recriminam, nos elogiam, nos admoestam por
termos faltado com a verdade, sentimos remorso dependendo da ação que praticamos, estamos
sujeitos ao elogio ou a reprimenda, à recompensa ou à punição. Chauí (2001) discute essa idéia
ao dizer que a cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e as
suas relações com a natureza. Nossa percepção sobre a origem cultural dos valores, sejam éticos,
do senso moral ou da consciência é relativa porque somos criados, educados para eles e neles
como se fossem naturais, existentes em si e por si mesmos.

Observe o depoimento do texto ENJAULADO, p. 73:

“À medida que vai dando “vaciladas” outros presos vão lhe

A educação “dando luz” (ensinando). Se ele não aprender logo é


desenvolve melhor “caçar outro barraco”, para não morrer. As regras
as
faculdades, mais simples são aquelas relativas à higiene e ao respeito
mas não as
cria. na hora da comida: não entrar de sapato ou de chinelo na
Voltaire cela; tomar dois banhos por dia; não sair da cama nem
usar o banheiro enquanto outros estiverem comendo; ao ir
ao banheiro bater na parede, gritar “ao boi” e acender a
“teresa”.

As regras mais pesadas são: jamais “caguetar” qualquer preso ou pessoa da rua; não fazer
dívida que não possa pagar; não prometer nada que não possa cumprir; defender os “manos” do
barraco em qualquer circunstância; comprar com os companheiros do xadrez as brigas nas quais
eles se meterem. (...) Não pode chorar de tristeza, porque vai “pesar” a cadeia dos outros (deixar
os outros tristes). Tem que agüentar “mulas” (piadas).

Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.

22
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1 - Os valores prisionais podem ser comparados com os valores da sociedade como um


todo?

2 - Os valores comuns devem ser aplicados com rigor dentro da realidade prisional?

Compare esta discussão com o texto de Denise da Conceição Maia: “A FALTA DE


QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL COMO UM DOS FATORES NA REINCIDÊNCIA DO PRESO”.
Monografia de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná (Orientador: Milton C. Mariotti,
Curitiba – 2003)

“A vida carcerária tem no seu cotidiano a destruição social do


preso, que o submete a um ambiente degenerativo, estimulante, e
reprodutor da violência, sendo pedagógico não para a reeducação,
mas para a constituição do comportamento violento”.
Na prisão eles seriam “pacificados”, “reeducados” “ressocializados”
e estimulados a uma vida de virtudes por meio de exercícios
cotidianos nas atividades laborativas. A idéia, que se vê no
trabalho do homem encarcerado, a varinha de condão que
desintegra o monstro da criminalidade e transforma o bandido num
polido ou minimamente disciplinado trabalhador,
O trabalho é entendido como o meio pelo qual se pode construir a
identidade do homem honesto, que mesmo pobre é um honrado
trabalhador, em
contraposição ao “vagabundo” e consequentemente ao criminoso,
alem disso o

23
trabalho é visto como um ingrediente fundamental de acréscimo de
pena privativa de liberdade. Não se admite que alguém cumpra
esse tipo de pena sem trabalhar como uma forma de compensação
ao ônus que causa a sociedade”.

3 – Que valores você identifica na fala desta autora e que podem ser resgatados para a
transformação do sistema prisional?

4 – O trabalho pode exercer com êxito esta função (de resgate da cidadania)?

Há uma expressão que diz assim: “a realidade de hoje é que amamos as coisas e usamos
as pessoas”. Você percebe a inversão de valores? As coisas que deveriam ser usadas são
reverenciadas (amadas) em nossa sociedade, enquanto que as pessoas que deveriam ser amadas
são usadas, descartáveis, em qualquer situação. Esta postura tem uma relação direta com os
valores pragmáticos que estão presentes no cotidiano das pessoas, principalmente nos meios
midiáticos.

A Afetividade

Normalmente, quando pensamos no que caracteriza a natureza humana, a resposta mais


comum é a racionalidade. É verdadeira a resposta, mas incompleta! Somos seres de desejos,
afetos, emoções, que também retratam a nossa humanidade. Aranha, M & Martins, M. (2001)
afirmam: “A razão é importante por fornecer os meios para compreender a realidade, solucionar
problemas, projetar a ação e reavaliar o que foi feito. As atitudes ligadas ao impulso, a energia, a
vibração vem do desejo. É este que põe o mundo humano em movimento”.

O desejo surge à medida que os seres humanos estabelecem relações entre si. Os
sentimentos e emoções nos afetam independentemente de nosso consentimento.

Wallon (1968) defende que, no decorrer de todo o desenvolvimento do indivíduo, a


afetividade tem um papel fundamental. Tem a função de comunicação nos primeiros meses de
vida, manifestando-se, basicamente, através de impulsos emocionais, estabelecendo os primeiros
contatos da criança com o mundo. Através desta interação com o meio humano, a criança passa
de um estado de total sincretismo para um progressivo processo de diferenciação, onde a
afetividade está presente, permeando a relação entre a criança e o outro, constituindo elemento

24
essencial na construção da identidade. Da mesma forma, é ainda através da afetividade que o
indivíduo acessa o mundo simbólico, originando a atividade cognitiva e possibilitando o seu
avanço. São os desejos, as intenções e os motivos que, em um primeiro momento, vão mobilizar a
criança na seleção de atividades e objetos. Para este autor, o conhecimento do mundo objetivo é
feito de modo sensível e reflexivo, envolvendo o sentir, o pensar, o sonhar e o imaginar.

Almeida (2005), referindo-se a Wallon coloca que a afetividade é um domínio funcional,


cujo desenvolvimento é dependente da ação de dois fatores: o orgânico e o social. . A afetividade
que inicialmente é determinada basicamente pelo fator orgânico passa a ser fortemente
influenciada pela ação do meio social.
A educação
do homem
Para Ballone (2003), A afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, começa no
momento do
as emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar sentimentos e emoções. seu
nascimento;
Assim, podemos afirmar que a Afetividade é quem determina a atitude geral da pessoa diante de
antes de
qualquer experiência vivencial, promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos de falar, antes
de entender,
maneira agradável ou sofrível, confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e determina já se instrui.
Jean
sentimentos que oscilam entre dois pólos, a depressão e a euforia. Desta forma, a Afetividade é
Jacques
quem confere o modo de relação do indivíduo à vida e será através da tonalidade de ânimo que a Rousseau

pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente a Afetividade exerce profunda


influência sobre o pensamento e sobre toda a conduta do indivíduo.

A Afetividade valoriza tudo em nossa vida, tudo aquilo que está fora de nós, como os fatos e
acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjetivas), como nossos
medos, nossos conflitos, nossos anseios, etc. A Afetividade valoriza também os fatos e
acontecimentos de nosso passado e nossas perspectivas futuras.

Podemos descrever esta influência quando percebemos as possíveis mudanças na


relação de afetividade das pessoas no cotidiano. Os afetos expansivos são considerados por
alguns autores como afetos agradáveis. Isso, em contraposição aos afetos depressivos,
considerados como desagradáveis. A tonalidade afetiva dos estados expansivos é de prazer,
confiança e felicidade, daí a denominação de afetos agradáveis. O estado expansivo do humor
pode aparecer como reação emocional a alguma vivência muito agradável, uma espécie de
reação vivencial eufórica a uma experiência da realidade. Ao contrário, os afetos depressivos se
revelam por um sentimento de mal-estar, de abatimento, de tristeza, de inutilidade e de
incapacidade para realizar qualquer atividade.

Ballone (2003) descreve ainda que, os afetos depressivos, da mesma forma que os
afetos expansivos, podem aparecer como uma resposta a situações reais, através de uma

25
reação vivencial depressiva, quando diante de fatos desagradáveis, aborrecedores, de
frustrações e perdas.

Diante do que foi exposto, evidencia-se a presença contínua da afetividade nas interações
sociais, além da sua influência também contínua nos processos de desenvolvimento cognitivo.

Nesse sentido, pode-se pressupor que as interações ocorrem no contexto escolar, na


vivência prisional e outras áreas das relações sociais, e que também são marcadas pela
afetividade em todos os seus aspectos. Pode-se supor, também, que a afetividade se constitui
como um fator de grande importância na determinação da natureza das relações que se
estabelecem entre os sujeitos e os diversos objetos de conhecimento, bem como na disposição
das pessoas diante de atividades propostas e que devem ser desenvolvidas com o objetivo de
mudanças, transformação da sociedade.

A construção da uma sociedade onde a ética, os valores, a afetividade, a moral são


relevantes, passam pela consciência de que o ser humano é sempre um valor em si e por si, como
também, segundo Heerdt (2000), é preciso ter consciência do real para poder superá-lo e construir
parâmetros de eticidade em nossa sociedade tão desumana e excludente.

Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

26
3° Momento: Relato de experiências.
Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questão norteadora:

1 – Conhecer e conhecer-se é condição essencial para ter relacionamentos sadios e


equilibrados. É uma tarefa que não termina nunca, pois, embora a pessoa se conheça sempre
mais a cada dia, nunca se conhecerá totalmente. Diante desta idéia, são os valores que podem
fundamentar a necessidade de relacionamentos no âmbito educacional dentro do sistema
prisional?

27
Unidade 03
A Ética Profissional e
as Relações Sociais

Objetivo

• Compreender que a ética profissional e a identidade dos educadores


e agentes prisionais deve pautar as relações nos sistema prisional.

A Ética Profissional

Aquino (2005) define que a ética profissional são princípios da conduta humana, diretrizes
no exercício de uma profissão, estipulando os deveres que devem ser seguidos no desempenho
de uma atividade profissional.

Podemos afirmar que no profissional ético persistente a aspiração de amoldar sua conduta,
sua vida, aos princípios básicos dos valores culturais de sua missão e seus fins, em todas as
esferas de suas atividades. Conjunto de normas pelas quais o indivíduo deve orientar seu
comportamento na profissão que exerce.

Um dos aspectos importantes da ética profissional é quando você pode perguntar a si


mesmo: Estou sendo bom profissional? Estou agindo adequadamente? Realizo corretamente
minha atividade? Existem atitudes que não estão descritas nos códigos de todas as profissões,

28
mas que são comuns a todas as atividades que uma pessoa pode exercer. Por exemplo, atitudes
de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, uma postura pró-ativa, ou seja, não ficar
restrito apenas às tarefas que foram dadas a você, mas contribuir para o engrandecimento do
trabalho são situações ligadas a uma postura ética no trabalho, em qualquer trabalho que a pessoa
exerça.

Por outro lado, podemos perguntar que leva um profissional a não ter ética? O que faz um
profissional agir sem escrúpulos, caráter, justiça e bom senso?

O ambiente corporativo sempre esteve recheado de pessoas que, em benefício próprio ou Todo o
homem
de outros, agem com total falta de profissionalismo e imparcialidade. Ficamos incrédulos quando recebe duas
nos deparamos com estas pessoas que agem por pura maldade, vaidade, inveja e incompetência. espécies de
educação: a
Lembre, quantas vezes você vivência situações como: que lhe é
dada pelos
outros, e,
- A do chefe que promove a funcionária mais bonita... muito mais
importante, a
- A do colega de trabalho que está mais interessado em puxar o tapete de que ele dá a
si mesmo.
alguém... Edward
- A do setor de compras que aprova um orçamento porque o prestador de Gibbon

serviços é seu parente, amigo ou compadre...


- A do candidato que é escolhido somente porque foi indicado pelo irmão
do gerente...

Muitas. A todo o momento, se deixarmos a ingenuidade do lado, perceberemos pessoas


corrompidas, que deixaram de acreditar em si próprias e preferiram entrar no perigoso jogo do
mundo corporativo.

Ainda que a realidade retratada acima não é incomum, ser um profissional ético nada mais
é do que ser profissional mesmo nos momentos mais inoportunos. Portanto, se nossa opção é ser
uma pessoa ética, devemos seguir um conjunto de valores. Ser ético é proceder sem prejudicar os
outros. Podemos pensar em algumas características básicas (comuns) de como ser um
profissional ético é ser bom, correto, justo e adequado. Além de ser individual, qualquer decisão
ética tem por trás valores fundamentais. Eis algumas das principais características:

1. Ser honesto em qualquer situação.


2. Ter coragem para assumir as decisões - mesmo que seja contra a opinião alheia.
3. Ser tolerante e flexível - deve-se conhecer para depois julgar as pessoas.
4. Ser íntegro - agir de acordo com seus princípios
5. Ser humilde - só assim conseguimos reconhecer o sucesso individual

29
O texto abaixo é um comentário do Código de Ética Profissional - CONFEA (Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), de novembro de 2002. O texto de forma
sistematizada, coloca elementos que podem aplicados a qualquer profissão e devem ser
estudados para uma melhor compreensão do profissional ético e coerente em sua profissão.

Ao pensar na necessidade da identidade das profissões, este código diz no seu artigo 4
que, “as profissões são caracterizadas por seus perfis próprios, pelo saber científico e tecnológico
que incorporam, pelas expressões artísticas que utilizam e pelos resultados sociais, econômicos e
ambientais do trabalho que realizam”. Esta noção dos resultados sociais, econômicos e
ambientais é um desafio permanente para o profissional que atua, seja como educador ou agente
prisional, dentro do sistema prisional, portanto, afirma o código: O objetivo das profissões e a ação
dos profissionais volta-se para o bem-estar e o desenvolvimento do homem, em seu ambiente e
em suas diversas dimensões: como indivíduo, família, comunidade, sociedade, nação e
humanidade; nas suas raízes históricas, nas gerações atual e futura.

Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

30
Elementos norteadores:

Leia o artigo abaixo do Código do CONFEA e estabeleça uma discussão no grupo sobre
quais parágrafos podem ser aplicados nas relações entre os educadores e os educando do
Toda a
sistema prisional. educação se
reduz a estes
dois
Dos princípios éticos ensinamentos:
aprender a
suportar a
injustiça e
Art. 8º - A prática da profissão é fundada nos seguintes princípios éticos aos quais o profissional aprender a
deve pautar sua conduta: suportar o
aborrecimento.
Ferdinando
Galiani
Do objetivo da profissão

I - A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de exercê-la, tendo


como objetivos maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu
ambiente e de seus valores;

Da natureza da profissão

II - A profissão é bem cultural da humanidade construído permanentemente pelos conhecimentos


técnicos e científicos e pela criação artística, manifestando-se pela prática tecnológica, colocado a
serviço da melhoria da qualidade de vida do homem;

Da honradez da profissão

III - A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e cidadã;

Da eficácia profissional

IV - A profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente dos compromissos


profissionais, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e a
qualidade satisfatória nos serviços e produtos e observando a segurança nos seus procedimentos;

Do relacionamento profissional

V - A profissão é praticada através do relacionamento honesto, justo e com espírito progressista


dos profissionais para com os gestores, ordenadores, destinatários, beneficiários e colaboradores

31
de seus serviços, com igualdade de tratamento entre os profissionais e com lealdade na
competição;

Da intervenção profissional sobre o meio

VI - A profissão é exercida com base nos preceitos do desenvolvimento sustentável na intervenção


sobre os ambientes natural e construído e da incolumidade das pessoas, de seus bens e de seus
valores;

Da liberdade e segurança profissionais

VII - A profissão é de livre exercício aos qualificados, sendo a segurança de sua prática de
interesse coletivo.

O que vocês acham? Na seqüência, observe que a ética profissional deve ser entendida
também na relação dos deveres profissionais. Ao olhar para esta questão educadores e agentes
prisionais atuar, por meio de seus saberes para o bem da humanidade, construir conhecimentos
que possam harmonizar os interesses pessoais aos coletivos.

Observe, se a profissão é de livre exercício, naturalmente é dever do profissional


identificar-se e dedicar-se com zelo à profissão; ter a motivação adequada; desempenhar sua
profissão ou função nos limites de suas atribuições e de sua capacidade pessoal de realização,
como também, empenhar-se junto aos organismos profissionais no sentido da consolidação da
cidadania e da solidariedade profissional e da coibição das transgressões éticas.

Portanto, afirma Edinilson Rodrigues da Rocha na monografia: “A MOTIVAÇÃO DO


AGENTE PENITENCIÁRIO PARA O TRABALHO”. CURITIBA – 2003:

educação é
inimiga da A motivação é a mola propulsora das realizações humanas. Para
sabedoria,
porque a haver um bom rendimento de um profissional em qualquer área, é
educação
torna
necessário que o mesmo esteja motivado. O profissional, em
necessárias qualquer atividade, motivado, trabalha de modo a obter um
muitas
coisas das rendimento no que faz, conseguindo atingir os objetivos pré-
quais, para
sermos
determinados.
sábios, nós No departamento Penitenciário, a motivação do profissional
deveríamos
ver livres. de segurança, o Agente Penitenciário, é de suma
Luigi
importância, pois, o mesmo está, não só fazendo a
Pirandello
segurança do interno, do estabelecimento penal e da

32
sociedade, como também fazendo parte do processo de
reeducação e reinserção social do apenado. O agente é o
principal personagem no Sistema para a efetivação de tal
objetivo.

O professor Marcos Rolim em:

ROLIM, Marcos. Prisão e ideologia:limites e possibilidades para a reforma prisional no Brasil.


Site do Curso de Direito da UFSM. Santa Maria-RS. Disponível em:
<http://www.ufsm.br/direito/artigos/execucao-penal/prisao-ideologia.htm>. Acesso em :
02/09/2006

Conduz uma discussão sobre os valores prisionais que devem ser observados no contexto dos
presídios. Observe a sua opinião:
Os presídios constituem uma esfera determinada,
orientada por regras, valores e praxes específicas que
precisam ser reconhecidas e identificadas. Tais regras,
Boa
educação valores e praxes não guardam, rigorosamente, nenhuma
não está
tanto no fato relação de pertinência com o conteúdo da sentença judicial
de não
condenatória ou com os propalados objetivos da
derramar
molho sobre "ressocialização" dos condenados. Antes disto e
a toalha de
mesa, mas verdadeiramente, as regras, valores e praxes operantes no
em não
sistema constituem os marcos da vida prisional como que
perceber se
outra pessoa em contraste - e muitas vezes em flagrante oposição - às
o faz.
Anton normas, virtudes e condutas valorizadas socialmente entre
Tchekhov os cidadãos. Afirma-se, então, os termos do paradoxo
prisional: como é possível conceber a reintegração à
sociedade, eliminando a sociabilidade do preso? Como é
possível prepará-lo para a vida em liberdade, se
suprimimos, na prisão, a possibilidade da ação livre?

Seria preciso ver os internos e condenados, primeiramente, como seres humanos e, portanto,
como sujeitos portadores de direitos, reconhecendo o fenômeno da cidadania ali onde ele tem sido
tradicional e solenemente ignorado. Ato contínuo a esta disposição elementar, seria preciso saber,
em cada detalhe, dos mecanismos concretos pelos quais a instituição prisional se afirma
destruindo a autonomia dos indivíduos e negando-lhes a condição de humanidade que caracteriza
a condição dos seres livres.

33
Em países como o Brasil, o fato de alguém ter cumprido uma pena de prisão -
independentemente da natureza do crime praticado - é motivo para que esta pessoa nunca mais
alcance uma posição no mercado formal de trabalho – o que equivale a dizer que os “excluídos”
serão impulsionados objetivamente na direção de soluções ilegais de sobrevivência. Muitas vezes,
a simples notícia da prisão é motivo suficiente para que inclusive familiares do condenado sejam
demitidos.

Admitir que devessem existir espaços de liberdade dentro de um presídio pressupõe que
aos internos seja possível a tomada de um conjunto de decisões – ainda que restritas pelos
marcos de suas sentenças. Isso é apenas uma forma de dizer que as regras disciplinares e a
própria noção de disciplina devem estar a serviço da ressocialização e não da sujeição dos
internos. O que elas devem estimular é a responsabilidade, não a docilidade; a compreensão de
valores, não sua imposição heterônoma. Para que isto seja possível, todos aqueles que lidam
com os internos; vale dizer: que mantém contato permanente e profissional com eles, devem ser
definidos como técnicos de ressocialização e não como carcereiros. Os mesmos valores devem
orientar os programas específicos de educação prisional de tal forma que a sala de aula possa
re-construir, tanto quanto possível, um ambiente típico de aprendizagem o que não se fará sem
que esse espaço seja fundado pela liberdade. Se os alunos-presos não tiverem a chance de falar
o que desejam, se não puderem questionar seu professor, se não houver esse tipo de interação
básica e o desenvolvimento de laços de confiança não há mesmo como se falar em processo
pedagógico. Sobre este tema, Reuss (1999), Apud Rolim, assinala que:

Habilidades sociais e necessárias para a convivência não


Educação é
aquilo que a podem ser aprendidas em um ambiente onde a
maior parte possibilidade de praticá-las esteja distanciada ou tenha
das pessoas sido removida dos indivíduos. Elas só podem ser
recebe, aprendidas em ambientes caracterizados pelas principais
muitos tendências da sociedade e as classes de aula dentro de
transmitem e uma prisão devem, no mínimo, reproduzir algo disto.
poucos
possuem. (Reuss, Anne. “Prison(er) Education”. The Howard Journal, vol. 38, 1999, pp: 113-127).
Karl Kraus

Um processo educacional dentro de uma instituição de privação da liberdade será, por


outro lado, marcado por diferenças substanciais. Entre seus desafios específicos, parece claro
que ele deverá estar voltado para o objetivo de reforçar a auto-estima dos apenados e lhes
permitir a construção progressiva de uma nova identidade. Por óbvio, os educadores habilitados
para este tipo de trabalho deverão possuir uma formação específica, o que, infelizmente, nunca
foi objeto de preocupação no Brasil; nem do Poder Público, nem dos cursos de pedagogia.

34
Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:
1 - Descreva os principais valores da ética profissional que podem ser aplicados no
trabalho prisional.

2 - É possível ser profissional no sistema prisional brasileiro de nossos dias?

3 - Você concorda que os agentes prisionais/educadores necessitam de conhecimento


dos valores sociais, construídos pela sociedade, para aplicá-los no seu cotidiano?

35
Unidade 04
Os Valores Religiosos e a Ressocialização no Sistema Prisional

Objetivo

• Compreender como os valores religiosos são importantes para o processo


de ensino-aprendizagem.

Os Valores Religiosos

Quando pensamos os valores éticos da religião, especialmente do cristianismo, temos


que ter em mente que a ética no Novo Testamento tem um caráter parenético (proclamação e
exortação) para o viver em sociedade. Suas normas não são extraídas de um “logos” que
governa o mundo ou de um reino de idéias, mas de premissas peculiares ao próprio cristianismo
cujo fundamento é a fé numa revelação da “vontade de Deus”, na qual estão comprometidos
todos os fiéis. Os valores e normas do cristianismo estão sempre condicionados à premissa
fundamental de que na cruz e a ressurreição de Cristo se realizou o evento decisivo para a
salvação de todo o mundo.

Nesta perspectiva é que devem ser pensados os valores cristãos:

Envolvimento Pessoal

John Donne, um poeta do século XVII, citado por Bartlett (1955, p.218) faz a seguinte
afirmação:

36
Nenhum homem é uma ilha, inteira em si mesma; todo
homem é uma parte do continente, um pedaço do
território (...) a morte de qualquer homem me diminui um
pouco, pois estou envolvido com toda a humanidade; e,
portanto, não mandes perguntar por que é que o sino A educação
(...) criou
está dobrando; ele dobra por ti. uma vasta
população
capaz de ler,
mas incapaz
de
Há uma grande dificuldade em nossa geração de entendermos a necessidade de reconhecer o
interrelação para a nossa própria sobrevivência. Estamos nos distanciando uns dos outros, que vale a
pena ser
cultivando um estilo de vida independente, em que não precisamos uns dos outros. O lido.
G. Trevelyan
envolvimento pode ser definido com “ser participante”, ter uma relação bem próxima, “estar
incluído”.

No âmbito da religião podemos desdobrar a necessidade de envolvimento pessoal,


primeiro com Deus, implicando em um caminhar diário com Cristo, pela fé. Em segundo lugar,
nosso envolvimento com os membros da família. No âmbito do cristianismo há normativas claras
para honrar pai e mãe, por exemplo. Em terceiro lugar nosso envolvimento com outras pessoas
como forma primordial de harmonia dentro da sociedade.

No Novo Testamento existem muitas exortações para que os cristãos rompam com
qualquer forma de isolacionismo. “O amor seja sem hipocrisia... Amai-vos cordialmente uns aos
outros com amor fraternal... regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração
perseverantes; compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade; abençoai aos
que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.” (Romanos 12:9,16).

O envolvimento conduz à responsabilidade. “Ninguém é uma ilha!” Aprendemos a ser


responsáveis uns para com os outros. Entendemos que alguém se interessa por nós, que
existem pessoas que não estão indiferentes às nossas mazelas, lutas e dificuldades.

Integridade

Afirma-se que a integridade é o coração do caráter. A integridade tem a ver com exemplos
de ética elevada no modo como as pessoas se conduzem e nas responsabilidades que detêm. No
âmbito do cristianismo a integridade deve levar as pessoas a avaliar as coisas segundo as

37
Escrituras, buscando justiça onde necessário, procurando ter conduta, palavras e atitudes
piedosas.

A integridade pode ser medida no teste da adversidade, mas também no teste da


prosperidade. Não existe nada como a adversidade para nos mostrar se somos realmente fortes
ou fracos, onde a nossa integridade é colocada em xeque. Suportamos bem as adversidades? As
dificuldades? Porém, no teste da prosperidade também encontramos um grande desafio para uma
vida de integridade. Quantas vezes o querer mais, o acostumar-se ao que é melhor nos leva a
renegar certos valores, a esquecer aspectos morais e a deixar de lado a ética profissional. Tanto
em um caso como no outro corremos o risco de tornar-nos mesquinhos, invejosos e incomodados
com as situações que se nos apresentam no dia a dia.

Integridade tem a ver, também, com ser fiel em seu trabalho, desempenhar as suas
atividades sem negligência como também ser honesto nas suas relações com os demais colegas
de serviço, isto é, ser uma pessoa de excelente atitude.

Atitudes

Em muitas circunstâncias, a decisão mais importante que se pode tomar no cotidiano, é a


atitude pessoal. Ela pode ter maior peso do que o nosso passado, a nossa formação educacional,
nossa conta no banco, nosso sucesso ou fracasso. Portanto, quando temos uma atitude certa, não
existem barreiras elevadas demais, nem vale por demais profundo, nem desafio insuperável. As
questões do cotidiano podem ser superadas quando temos atitudes que conduzem ao crescimento
pessoal e das pessoas que nos cercam. No contexto cristão há uma exortação constante na Bíblia
para que “tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento... Nada façais
por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si
mesmo”. (Filipenses, cap. 02)

Atitudes positivas, que denotam humildade, no sentido de altruísmo, podem gerar


situações que firmam os valores e os relacionamentos e produzem alegria na vida das pessoas.
Por isso, uma atitude certa, correta, fruto de convicções que não são negociadas podem
transformar muita situações que parecem adversas para a maioria das pessoas. Observe o que
Paulo, na Carta aos Filipenses, cap. 4 diz: “Finalmente, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama,
se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

38
Senso de Justiça

No contexto bíblico, no Antigo Testamento há a idéia clara de que as pessoas necessitam


de um senso de justiça porque Deus é justo! Há uma expressão bíblica que diz: “Afim de que se
chamem “carvalho de justiça”. Significa dizer que os cristãos devem pautar a sua vida por um
senso de justiça, não porque se achem justos, mas porque Deus é justo.

Esta relação de justiça vai além do senso comum, do viver em sociedade ou das
normativas do Estado. O cristão deve atuar no sentido de promover a justiça porque a vê como
uma ordenação divina sobre a sua vida e a sociedade.
A vida deve
ser uma
Segundo Gallert, Mansanera e Porto Jr (Apostila 01, unidade 01, página 16), para constante
educação.
Vygotsky (2003) “o desenvolvimento e a aprendizagem acontecem pela mediação com a cultura, Gustave
Flaubert
história, ou seja, objetos e/ou signos lingüísticos”. Neste sentido, a realidade prisional deve ser
explicitada para que as ações no âmbito da educação tenham resultados adequados. Portanto, na
medida em que, dentro do sistema prisional, as pessoas passam por um processo de
transformação, de mudanças no seu comportamento devido à relação que se estabelece com a
religiosidade, uma nova mentalidade se torna a norma de vivência dos presidiários.

Na página 17, afirmam os autores Gallert, Mansanera e Porto Jr.(2006) que a autonomia é
um método de construção do saber, uma pedagogia da descoberta, é dar ao educando a
possibilidade de construção do conhecimento a partir de temáticas diversificadas. Uma das
temáticas possíveis é a religiosidade.

Esta mentalidade, resultante dos preceitos bíblicos, provoca no presidiário a necessidade


de fé, perdão, comunhão, oração, leitura da Bíblia decorrentes da nova relação com Deus e que
tem conseqüências no seu comportamento cotidiano e, portanto, muda os seus valores éticos e
morais.

A compreensão desta mudança é fundamental para que o educador/agente prisional possa


utilizar este processo como um espaço pedagógico, de ensino-aprendizagem. A oportunidade que
se configura para a alfabetização, através dos cânticos religiosos, da necessidade de leitura da
Bíblia para uma compreensão da fé professada, deve ser explorada didaticamente dentro do
processo educativo, e como incentivo para que o interno seja motivado ao aprendizado.

39
Atividades para discussão

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1 – Os valores religiosos têm importância para a educação no sistema prisional?

2 – A regeneração (mudança interior) proposta pela religião pode ser aproveitada no sentido de
desafiar os internos para a educação, sem que os mesmos mudem os seus relacionamentos
dentro do sistema prisional?

Pluralidade Religiosa no Presídio

É preciso compreender que nem a repressão policial conseguiu impedir a difusão de


determinados credos religiosos por todo esse imenso país. E por se tratar de um país que recebeu
tantos imigrantes, é natural que tenha desenvolvido uma fantástica pluralidade religiosa.

40
A prisão é um ambiente onde é possível encontrar o enfrentamento entre diferentes forças
sociais. E você quanto docente, não deve contribuir para o sucesso de uma ou outra dessas forças
em luta.

O educador através de sua prática, do dialogo deve possibilitar o desenvolvimento de


cidadãos capazes de decidir e agir com autonomia e consciência naquilo que se refere à vida da Um sistema
de legislação
sociedade. é sempre
impotente
se,
É importante edificar um ambiente tranqüilo de convivência pacífica entre os credos que paralelament
desenham esse mosaico de pluralidade religiosa, procurando contornar as situações em que se e, não se
criar um
manifestam a intolerância e o preconceito religioso. sistema de
educação.
Jules
É papel do educador proporcionar àqueles que, por ignorância ou desinformação a respeito Michelet
das outras ordens religiosas, podem nutrir-se de intolerância e preconceito, algum tipo de reflexão
sobre essas questões religiosas.

Necessário é, que você perceba que apenas boa intenção não é suficiente para garantir o
respeito à liberdade religiosa num país como o Brasil. É preciso que exista muita reflexão, muita
ponderação e muito diálogo.

Atividade

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então vamos
lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

1-Considerando a realidade brasileira em relação à pluralidade de religiões, analise as afirmativas


abaixo.

I- Os alunos apenados devem ser tratados da mesma maneira, independente da


religião de cada um.

II- Atividades de reflexão, com a possibilidade de diálogo, talvez seja a fórmula


para trabalhar a religião com os detentos.

41
III- Os alunos devem ser tratados de forma diferenciada, de acordo com a religião
de cada um.

IV- Criar sistema de segregação religiosa, com alguns alunos considerando que
“os outros” são privilegiados.

São corretas as afirmativas:

a) I e IV
b) I, II e III
c) I e II
d) I e III

2- Agora, ao final desse módulo vamos elaborar um memorial reflexivo, para registrar o ocorrido
durante os estudos, é importante que você aponte suas ações e reações, sentimentos,
impressões, interpretações sobre os temas desenvolvidos no módulos e compreendidos por você.
Vamos dar uma colher de chá! Abaixo segue um extrato do texto “Para uma “Arqueologia” da
memória educacional” de Gilson Porto Jr. que dá sugestões de construção de um memorial:

“Para uma “Arqueologia” da memória educacional”

A proposta de elaboração e análise individual/coletiva1 da memória educativa, tem


como eixo central a concepção de que, a identidade do professor/pesquisador e/ou futuro
professor/pesquisador2 vai se formando ao longo de sua trajetória como aluno nos
diferentes contextos em que se vivenciou e compartilhou de experiências. Nesse sentido
Gadotti (2004:11) afirma:

“Muitas vezes me perguntava se é importante lembrar o que fizemos, refletir


sobre nossa própria experiência, lembrar nossa vida na escola como alunos
e depois como educadores. Encontrei uma resposta a essa preocupação em
Duccio Demétrio. Ele sustenta que tratar os temas de nossos estudos de
forma autobiográfica suscita e cria memória, permitindo criar novos futuros e
novos sentidos para nossas vidas. Segundo ele, o método autobiográfico é
muito apropriado para a formação intelectual do educador. E precisamos

1
Entendo aqui que, apesar da memória ser algo individual, isto é, processar-se na individualidade e subjetividade do
indivíduo, ela é fruto da relação com o outro, ou seja, é construída na alteridade e nas relações estabelecidas. Uma boa
discussão sobre a temática da subjetividade e alteridade está no clássico produzido por KIERKEGAARD, Sören. O
desespero Humano. São Paulo: Editora Martins Claret, 2002.
2
KENSKI, Vani Moreira. Eu, Pesquisadora. In: LINHARES, Célia, FAZENDA, Ivani e TRINDADE, Vitor. Os Lugares dos
Sujeitos na Pesquisa Educacional. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 1999, p. 363-385.

42
formar os novos educadores para que as escolas do futuro tratem mais do
amor, da dor, do projeto de vida, da morte, do cotidiano das pessoas, da
afetividade. As pessoas têm medo de encontrar-se consigo mesmas, de
escutar o seu próprio silêncio, inclusive porque a escola não deu importância
a esses temas”. 3

Muitas dessas experiências, que a escola “não deu importância”, resultaram em


crenças acerca do processo ensino-aprendizagem escolar que tendem a se reproduzir em
sua prática escolar. Algumas ‘acertadas’ – baseadas numa “prática” do educador – outras
‘certeiras’, num sentido de arremessado contra o discente (criança, jovem ou adulto).

O que propomos é uma arqueologia – para parafrasear Michel Foucault – da memória


educacional que cada indivíduo tem, que você individualmente e coletivamente foi
construindo ao longo dos anos. Esse trabalho é bem semelhante ao que venho
desenvolvendo no curso de Pedagogia do CEULP/ULBRA com alunos a cerca de 2 anos,
utilizando o Diário de Bordo4.

Mas o que é memória? Segundo Abbagnano (2000:657) memória vem do latim


memoria e significa “a possibilidade de dispor dos conhecimentos passados... por
conhecimentos passados é preciso entender os conhecimentos que, de qualquer modo já
estiveram disponíveis, e não simplesmente conhecimento do passado”5. Daí, diferencia a
memória – utilizando aportes existentes desde a filosofia clássica com Platão e Aristóteles –
em dois tipos de memória: uma retentiva (‘conservação de conhecimentos passados que,
por serem passados, não estão mais a vista’) e outra recordação (‘possibilidade de evocar,
quando necessário, o conhecimento do passado e de torná-lo atual ou presente’).

Neste sentido, num primeiro momento propõe-se uma volta ao passado de tal forma
que, na memória – recordação – do tempo6, sejam resgatadas pessoas, processos e/ou
episódios e situações dessa experiência vivenciada, identificando questões pedagógicas

3
GADOTTI, Moacir. Os Mestres de Rousseau. São Paulo: Cortez, 2004.
4
Não na forma, já que utilizaremos outra metodologia, mas no exercício dissertativo-interpretativo que se exige na
elaboração do diário de bordo. Para exemplos da utilização como metodologia vide ALMEIDA, S. e PORTO JR, F. G. R.
Construindo um Diário de Bordo: O Conhecimento Refletido e Fundamentado na Dialética. Palmas, TO: Anais da IV
Jornada de Iniciação Científica do CEULP-ULBRA, 2004, pp.511-513; SOARES, E., DIÓGENES, M. E. B. e PORTO JR, F.
G. R. Por Mares Antes Nunca Navegados: O Diário de Bordo. Palmas, TO: Anais da IV Jornada de Iniciação Científica do
CEULP-ULBRA, 2004, pp.382-383 e SOUZA, M. J. A. e PORTO JR, F. G. R. Navegando no Diário de Bordo: A Avaliação
da Aprendizagem e a Auto-Avaliação em Questão. Palmas, TO: Anais da IV Jornada de Iniciação Científica do CEULP-
ULBRA, 2004, pp.505-507.
5
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000.
6
Referimos-nos aqui aos vários ‘tempos’ – o escolar, o biológico, o epistemológico, o histórico, etc. Um excelente texto que
discute a origem e desenvolvimento da temática do tempo está em HARTOG, François. Os Antigos, O Passado e O
Presente. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2003.

43
que, se por um lado, permearam seu passado como aluno produzindo efeitos em sua
condição de sujeito-aprendiz, por outro, possivelmente podem vir a permear e/ou integrar
sua prática docente.

A arqueologia dos processos pedagógicos, insere-se portanto numa concepção que


leva em conta a dimensão histórica do sujeito-professor e das relações do seu processo de
formação. Quando os professores iniciam sua carreira, não estão fazendo a sua estréia no
mundo escolar e muito menos inaugurando a sala de aula. Estes possuem uma formação
adquirida “ambientalmente” que lhes permitem construir teorias “implícitas” acerca do
processo pedagógico em sua sala de aula que, de certo modo, determinam suas opções
teórico-metodológicas.

O registro deste material histórico-pessoal é riquíssimo no sentido do processo de


construção e (re)construção de sua identidade como professor. Propõe-se para tanto, ir
fundo nesta recuperação e leitura, uma leitura a ser clareada por conhecimentos advindos
do saber filosófico-sociológico e educacional. Para tanto, as discussões realizadas em torno
das teorias da sociedade darão o arcabouço teórico necessário para compreensão de
possíveis elementos constitutivos da identidade docente.
(...)

Ao pensarmos na construção/reconstrução desse percurso, uma espiral poderia bem


representar ‘visualmente’ essa memória, sendo uma etapa superior a outra em grau de
aprofundamento e experimentação do ato pedagógico:

44
6

Sendo que na base (item 1) você tem seu ingresso na vida escolar – no instituinte7 –
seja na pré-escola ou creche (ambientes formais ou não formais); no item 2, você teria a
conquista das primeiras letras e palavras, isto é, seu processo de aquisição do letramento e
alfabetização8; no item 3, fase seguinte do processo de escolarização, você teria as
primeiras experiências escolares no Ensino Fundamental (antigo 1º grau); no item 4, você
experimentou o processo de ensino e aprendizagem no Ensino Médio (antigo 2º grau) e a
sua opção por um curso universitário; no item 5, o ingresso na Universidade, a construção
do ser ‘universitário’, ‘licenciado’ ou ‘bacharel’; e o item 6, o retorno a escola no papel de
professor e/ou suas percepções como futuro professor.

Exercitando o memorial....
Neste sentido, propomos que percorra cada etapa da espiral, detendo-se
inicialmente em sensações visuais relacionados ao espaço físico da escola e da sua sala de
aula, professores e colegas. Concentre-se depois em episódios e sensações significativas
ligadas a esse ambiente. Vá fazendo anotações pontuais.

7
Para lembrar Cornelius Castoriadis em seu livro A instituição imaginária da Sociedade. Uma análise da obra de
Castoriadis, principalmente com respeito às categorias ‘instituição e autonomia’ está em CÓRDOVA, Rogério de Andrade.
Instituição, Educação e Autonomia na obra de Cornelius Castoriadis. Brasília: Editora Plano, 2004.
8
Uma sugestão de leitura sobre os diversos ‘sentidos’ atribuídos à alfabetização na história da educação brasileira está em
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os Sentidos da Alfabetização. São Paulo: Editora da UNESP / COMPED/INEP, 2000.

45
É possível que inicialmente você recorde apenas pinceladas deste processo,
incluindo fatos e nuances afetivas marcantes, tais como;
• O professor de que, mais ou menos, gostou;
• As disciplinas com que mais simpatizou ou aquelas em que sentiu grande
dificuldade;
• Os conteúdos aprendidos fácil e prazerosamente ou com sofrimento;
• As atividades nas quais nem sentia o tempo passar e outras monótonas e
intermináveis.

Então na medida em que a arqueologia do seu processo escolar for se


aprofundando, procure identificar de forma mais sistemática, em cada estágio da espiral, ou
em alguns deles, determinados “ingredientes” deste processo:
• Que você aprendeu (que tipos de conteúdos, os mais ou menos
interessantes, etc...)
• Como esses conteúdos foram ensinados/aprendidos (metodologia)
• As relações professor-aluno e o clima vivido em sala de aula
(comunicação, estilos e posturas dos professores que marcaram
positivamente/negativamente)
• Como se processava a avaliação (modalidade/freqüência)
• Como se sentia na “pele” de aluno (alegria, medos, regras, cobranças,
etc...)
• Relação família-escola-sociedade (como sua família se envolvia ou não
com as questões da escola)

Após a identificação e o relato comentado dos aspectos indicados, sugerimos que,


tentando distanciar-se um pouco da situação de sujeito do processo, tente analisar seu
discurso, problematizando alguns aspectos essenciais do relato, trazendo-os para o
presente, tais como:
• Que produto sou eu dessa interação de tantos anos com tantos
modos de ensinar?
• Que relação existe entre o que me foi ensinado e como me foi
ensinado e os meus procedimentos e posturas em sala de aula?
• Como é que, depois de tudo o que vivi durante o processo de minha
formação, tornei-me e/ou pretendo tornar-me professor?
• Como percebo e vivencio hoje os papéis do professor e do aluno a
partir das experiências escolares anteriores?

46
Uma pergunta comum a quem escreve, centra-se no método. Qual e como utilizar?
Para facilitar o processo de escrita, sugiro a utilização da Metodologia Estudo de Caso
desenvolvido pela Harvard Bussiness School e adaptado pelo SEBRAE9 que, entre outras
coisas, aponta como necessário na construção do ‘caso’, para nós, memorial:

a) Introdução: onde se identifica o(s) protagonista(s), o período da


abrangência e as incertezas e/ou problemáticas envolvidas na construção
de um memorial.
b) Antecedentes: nessa parte você apontará sua construção arqueológica da
recordação, apontando condicionantes e fatores que contribuíram para a
formação de professor, através do vivenciado.
c) Desenvolvimento: nessa parte você relacionará o vivenciado com as
teorias da sociedade e currículo que discutimos durante o curso. Lembre-
se que outro (no caso o professor) estará lendo sua produção e,
principalmente nessa parte, as argumentações deverão estar bem claras.
d) Conclusão: essa é a parte final do seu memorial (na estrutura da
metodologia caso). Aqui você deverá tecer suas considerações finais e,
realizar o esforço de entender ‘como’ e por que você tornou-se ou está
tornando-se professor.
Lembre-se que o objetivo é estruturar e analisar a luz das teorias da sociedade e do
currículo a sua vivência como parte da prática pedagógica. Não se preocupe tanto em errar,
já que ele está presente na formação do conhecimento e, com ele crescemos10.

Não existe limite de laudas para o seu texto. Lembre-se que pode pesquisar e/ou
anexar imagens (fotos, filmes) da sua trajetória que ajudem a reviver.

9
O Guia Passo a Passo da Metodologia para o Desenvolvimento dos Casos de Sucesso do SEBRAE/2003 está disponível
no site www.sebrae.com.br no link “casos de sucesso”.
10
TRINDADE, Vitor Manuel. O Papel do Erro na Formação do Conhecimento em Educação: Algumas reflexões. In:
LINHARES, Célia, FAZENDA, Ivani e TRINDADE, Vitor. Os Lugares dos Sujeitos na Pesquisa Educacional. Campo Grande,
MS: Ed. UFMS, 1999, p.53-57.

47
Unidade 05

O Ambiente Carcerário e a
busca por Ressocialização

Objetivo

• Discutir o papel da educação no âmbito do sistema carcerário como


elemento Fundamental para a ressocialização dos apenados.

Há uma grande crise no sistema penitenciário brasileiro - medida pelo alto índice de
reincidência criminal, pela superlotação e pelo tratamento desumano dispensado à pessoa presa,
conseqüência das deficiências da vida carcerária a que os presos estão submetidos.
Representadas, principalmente, pela ociosidade, considerada elemento agravante do
desenvolvimento de planos criminosos que visam atingir à sociedade. Daí porque a violência
tornou-se um dos grandes problemas que hoje desafiam a sociedade moderna, que por sua vez
busca defender-se, além desta, dos surtos originados também em seu próprio meio.

As prisões, atualmente, não recuperam. Sua situação é tão degradante que são
rotuladas com expressões como sucursais do inferno, universidades do crime e depósitos de
seres humanos. O encarceramento puro e simples não apresenta condições para a harmônica
integração social do condenado, como preconizada na Lei de Execução Penal. Punir, encarcerar
e vigiar não bastam. É necessário que se conceda à pessoa de quem o Estado e a sociedade
retiraram o direito à liberdade o acesso a meios e formas de sobrevivência que lhe proporcionem
as condições de que precisa para reabilitar-se moral e socialmente.

Define-se a pena de prisão como sendo um recolhimento temporário suficiente ao preparo


do indivíduo para o retorno ao convívio social. Neste sentido é que a Lei Penal prevê o
desenvolvimento de condições para que, separado da família, dos amigos e de outras relações

48
socialmente significativas, o preso possa refletir sobre o ato criminoso e corrigir o desvio de seu
curso.

Contudo, na prisão, o preso deve sofrer mais que o castigo definido pela justiça para
pagar pelo crime cometido, esquece-se que o confinamento é a punição máxima que um
indivíduo pode ter. O tratamento dispensado à pessoa presa é sempre punitivo e de concessão,
são anuladas a capacidade de iniciativa, a estima e o pouco que resta de valores morais e éticos.

Nas prisões, a (re)educação é fundamental. Importantíssimo é o papel da educação na


ressocialização dos presos, pois a educação tem a função de ajudar a pessoa a ter outra visão de
mundo, ver que é possível buscar outras formas de inserção na sociedade. A educação também
abre portas, as pessoas que não têm acesso à educação, significativamente, têm muito mais Sessenta
anos atrás,
dificuldades no acesso ao mercado de trabalho.
eu sabia
tudo. Hoje
sei que nada
Lidar com indivíduos encarcerados implica, muitas vezes, lidar com pessoas movidas pela sei. A
educação é a
revolta e pela vingança, pois a perda, seja ela de qualquer natureza, por si só constitui um fato de
descoberta
difícil aceitação,por isso o processo educativo faz-se necessário, numa sociedade formada por progressiva
da nossa
diferentes culturas e forte crença religiosa, a fim de buscar a melhoria da pessoa presa, para que ignorância.
Will Durant
ela retorne diferente ao convívio social.

Nesse espaço, o trabalho educacional implica metodologias diferenciadas, já que o


conceito de educação vai além da instrução escolar sistematizada e a clientela apresenta uma
estrutura emocional e moral danificada, pelos sentimentos de revolta, de injustiça.

O primeiro contato da pessoa presa com a educação normalmente não resulta da vontade
de estudar. Na realidade, suas ações giram em torno da busca de liberdade. Este é seu objetivo
imediato. Ela busca, na realidade, um contato com o mundo exterior. Quer ser notado pelos
agentes de custódia, quer ser visível. Por outro lado, a educação é a única forma pela qual o
preso tem contato com o mundo exterior. Esse contato se dá por meio dos professores, visitantes
e autoridades. Ele está sempre em busca de alguém que o ajude a sair do cárcere.

É complexo esse trabalho, mas a educação pode contribuir para as pessoas se


desenvolverem e buscar alternativas para a sua reinserção na sociedade. O desenvolvimento de
atividades durante o encarceramento, que ocupe de forma construtiva o tempo ocioso do detento,
permite criar condições de reformular sua visão de sociedade, trazendo-lhe esperança de
terminar mais cedo seu confinamento e melhorar sua vida carcerária promovendo sua reinserção
social.
“Fácil é julgar pessoas
que estão sendo expostas
pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir
sobre os seus erros,

49
ou tentar fazer diferente
algo que já fez muito errado.”
(Carlos Drummond de Andrade)

Atividades

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Leia o poema abaixo:

Cidadania
É dever de povo.
Só é cidadão
Quem conquista o seu lugar
Na perseverante luta
Do sonho pela noção.
É também obrigação:
A de ajudar a construir
A claridão na consciência
De quem merece o poder.
Força gloriosa que faz
Um homem ser para outro homem
Caminho do mesmo chão,
50
Luz solidária e canção.
(Mello, Thiago. Poemas preferidos, pelo autor e seus leitores Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2001, p.256)

1- Após ler e refletir sobre o poema percebe-se a necessidade de o Estado considerar que o
processo da construção da cidadania ocorre a partir de quatro bases. Indique essas
bases.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

2- O processo de construção da cidadania a partir das quatro bases que você citou acima,
tem como referência dois elementos fundamentais que são
a) Consideração dos outros e a participação efetiva dos indivíduos na relação
Estado e educação.
b) Respeito aos outros e participação efetiva dos indivíduos na sociedade privada.
c) A neutralidade do estado diante das relações sociais; solidariedade para com os
outros.
d) Diálogo, buscando saídas coletivas; a garantia dos direitos individuais para o
cidadão.

3- De acordo com o pensamento educacional de Paulo Freire, a educação busca esclarecer,


libertar e emancipar o indivíduo, resultando em um processo que deve levá-lo a conhecer
sua realidade concreta, possibilitando-lhe uma visão crítica em relação às suas reais
condições de vida.
Com base no texto, coloque V se as afirmativas forem verdadeiras e F se as afirmativas
forem falsas.

( ) A educação como prática de liberdade deve ser capaz de levar o indivíduo a


emancipar-se da opressão.
( ) Por meio de uma educação emancipatória, os homens devem refletir sobre o
mundo, transformando-o.
( ) A educação é definida pela liberdade e, para o sujeito chegar a essa liberdade, é
preciso que ele reflita sobre sua realidade concreta.
( ) A educação libertadora exigi do professor uma postura crítica diante dos alunos,
mas não em relação ao mundo.

51
Educação uma possível solução

Conforme Aurélio (1986) define, educação é “o ato ou efeito de educar; processo de


desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral,
visando à sua melhor integração individual e social”. A educação é um processo social que se
desenvolve como um sistema, através do qual se busca o ato de provocar ou produzir mudanças
comportamentais naqueles indivíduos que se encontram nessas atividades.

Educar visa influenciar a aprendizagem de alguém, buscando a formação de indivíduos


para uma sociedade. O ato educativo é um procedimento cuja intenção envolve o
desenvolvimento de uma personalidade integrada, na qual o individuo é visto como uma
totalidade, por isso é necessário incluir no seu processo os traços afetivos, os cognitivos e os
volitivos.

O estudo em De acordo com os Anais da Conferência Mundial sobre Ensino Superior (1998), a
geral, a educação é um dos pilares fundamentais dos direitos humanos, da democracia, do
busca da
verdade e da desenvolvimento sustentável e da paz, e que deve ser acessível a todos no decorrer da vida.
beleza são
domínios em
que nos é Acredita-se que a educação tem o papel ressocializador, não como um fator secundário
consentido
ficar na remição dos presos, mas sim, como um instrumento poderoso no resgate da dignidade
crianças
toda a vida. humana dessas pessoas.
Albert
Einstein
O direito à educação nas Unidades Prisionais está previsto na Lei de Execução Penal,
garantindo aos presos o acesso ao conhecimento, de modo a facilitar o retorno ao convívio social
e o acesso ao mercado de trabalho.

As ações de ressocialização seguem o princípio de que a educação é uma das bases da


cidadania.

Os presos devem ter oportunidade de acesso ao conhecimento, transmitido de forma


dinâmica e moderna, através de práticas pedagógicas construtivistas que utilizam métodos
participativos em que são trabalhadas as individualidades. Faz-se necessário utilizar uma
linguagem prática, incentivando a participação nos trabalhos individuais e em equipe com o apoio
dos educadores.

Mais do que o aprendizado formal, os presos devem ser estimulados como cidadãos,
desenvolvendo o espírito cooperativo e a auto-estima. Considerando, ainda, que o desempenho
de atividade física (trabalho) ou mental (educação) na prisão é direito-dever do condenado, dada
a sua natureza pedagógica, é fator de incentivo, evita a ociosidade e inibe conflitos ‘intra muros’.

52
Fica patente a importância da educação para os detentos, nos nossos dias, dada a
competitividade do mercado de trabalho, haja vista que, sem ter acesso à educação formal,
dificilmente, alguém consegue emprego. E, não raro, condenados presos há anos saem da
prisão sem saber ler ou escrever, sendo incerto o seu futuro e, provavelmente, retornam às
penitenciárias.

Rios (2001, p.30) diz que para falar de educação enquanto fenômeno histórico e social, é
preciso falar também sobre a cultura, na medida em que se pode afirmar que “educação é
transmissão de cultura”. Cultura é um conceito chave a ser considerado ao se estabelecer a
relação entre educação e sociedade; não há sociedade sem cultura e não se fala em cultura sem
a referência a uma relação social. Pode ser conceituada por muitos como erudição, acúmulo de
conhecimentos, atividade intelectual; diz-se que alguém “é muito culto” quando domina um certo
tipo de saber privilegiado. Entretanto, o trabalho de alguns cientistas sociais e antropólogos
contribuiu para dar ao conceito uma conotação mais precisa; “cultura, é na verdade, tudo o que
resulta da interferência dos homens no mundo que os cerca e do qual fazem parte. Ela é a
resposta humana à provocação da natureza e é ditada não por esta, mas pelo próprio homem.
Cultura, para Di Giorgi, (1990, p.130) constitui-se no “ato pelo qual ele vai de homo sapiens a ser
humano”.

Assim, todos os homens são cultos, na medida em que participam de algum modo da
criação cultural, estabelecem certas normas para a sua ação, partilham valores e crenças. Tudo
isso é resultado do trabalho. Por isso não se fala em cultura sem falar em trabalho, intervenção
intencional e consciente dos homens na realidade, elemento distintivo do homem dos outros
animais.

É fundamental chamar a atenção para isso caso se procure associar o conceito de cultura
ao conceito de saber e esse procura eliminar deste a significação inadequada de conhecimento
refinado.

Educação e Prisão

A educação varia de um lugar para outro, de um tempo para outro, conforme os tipos de
sujeitos que cada sociedade deseja formar. Analisemos o que diz Paulo Freire:

“Enquanto categoria abstrata, instituição em si, portadora


de uma natureza imutável da qual se diga é boa, é má, a
escola não existe. Enquanto espaço social em que a
educação formal, que não é toda educação, se dá, a
escola na verdade não é, a escola está sendo
historicamente. A compreensão do seu estar sendo,
53
porém, não pode ser lograda fora da compreensão de
algo mais abrangente que ela – a sociedade mesma na
qual se acha”.(1980.p.7)

Ao dizer que a escola “não é uma categoria abstrata”, Paulo Freire afirma que a escola, a
educação tem de ser vista em relação estreita com a sociedade que faz parte. Ela será boa, se
for capaz de cumprir os objetivos que essa sociedade espera dela, de realizar as funções forem
atribuídas.

Dessa forma, a educação desde a alfabetização até o ensino médio no próprio


ambiente prisional, deve ter como objetivo principal preparar esse ser humano para a vida livre.

Ao tomarmos conhecimento desse objetivo primeiro, é importante que a sala de


aula seja o espaço privilegiado para trabalhar as atitudes, comportamentos e sentimentos para a
construção de valores morais, éticos e de cidadania, com vistas aos convívios familiar, social e
profissional, tanto na vida prisional quanto, no futuro, em sociedade livre.

Eduquem as Inicialmente o desinteresse pela educação é visível, pois a maior parte da


crianças e
não será população carcerária nunca freqüentou a escola ou tem baixa escolaridade. Mas fugindo da
necessário
castigar os ociosidade chegam à sala de aula. O interesse pelos estudos cresce de forma lenta.
homens
Pitágoras
Nesse processo, o papel do professor é imprescindível, o diálogo aberto
estabelecendo relações afetivas fortalece o processo de ressocialização.

O professor proporcionando atividades que levam os presos a participar, pensar,


agir e contornar as situações apresentadas pode levar esses alunos a interessarem por
atividades educacionais.

Educação e Valores

Desde a idade moderna, quando Deus deixou de ser tanto o fundamento indiscutível das
normas morais quanto o ponto de referência para as decisões morais do homem, a busca
incessante de novas
formas de legitimação tornou-se preocupação constante.

A preocupação ética tornou-se universal e está presente em todos os âmbitos da vida


humana. Tal universalização deve-se ao próprio desenvolvimento da racionalidade moderna que,
ao estabelecer uma relação intrínseca entre as dimensões teóricas (científicas) e as dimensões
práticas (éticas), fez com que ambas sempre estejam presentes na própria matriz de qualquer
conhecimento.

54
Há uma curiosa ambigüidade entre o discurso ético que se dissemina e ocupa todos os
espaços e a efetiva importância que se dá à ética no campo prático. Embora educação e ética
estejam relacionadas desde os primórdios de nossa civilização, esta discrepância entre a teoria e
a prática também sempre foi muito nítida. Ao mesmo tempo em que todos reconhecem a
importância da relação entre ética/moral e educação, tanto nas famílias, nas instituições sociais,
na mídia e também na própria escola, o tratamento dispensado à ética denota antes menosprezo
que apreço.

Nessa multicultural, fortalecida pelo curso da globalização e da mobilidade social, em que


partilham espaço múltiplas visões de homem, de vida e de mundo, veio agravar ainda mais este
desnorteamento da educação . Há tantas disparidades que a todo o momento nos encontramos à
porta do relativismo. Não só as diferenças culturais de nível macro, como as existentes entre o
primeiro e o terceiro mundos, mas também as de nível micro, existentes no interior das
sociedades entre os vários grupos sociais, culturais e étnicos exigem formas diferenciadas de
educação ética.

Para Kant, o homem é um ser inacabado que tem em si uma disposição para o bem, que
precisa ser desenvolvida. Já que o mal aparece quando permitimos que a natureza se desenvolva
desregradamente, a educação moral consiste no cuidado de encaminhar as disposições naturais
para o bem, mediante regras. O processo educacional deve submeter a natureza humana a Ensinar é
aprender
regras por meio da disciplinação, da cultivação, da civilização e da moralização.Esta função não duas vezes.
pode ser cumprida pelo professor que transmite informações,mas pelo educador que educa para Joseph
Joubert
a vida. “O bom professor”, assim Annemarie Pieper resume o pensamento de Kant, “deve estar,
ele mesmo, comprometido com a idéia de liberdade, a qual é ao mesmo tempo o objetivo de sua
atividade educativa na medida em que almeja transformar o educando num cidadão esclarecido,
maduro, autônomo, capaz de auto determinar-se e responder por seus atos” (2003, p. 143). A
educação ética só pode realizar-se como a indicação de uma ‘capacidade’ cuja realização só é
possível a partir da liberdade de cada um.

A educação, não só os conteúdos os conteúdos que o educando vai assumindo ao longo


do processo de aprendizagem que têm influência sobre sua formação moral, mas também o
comportamento dos educadores que se encontra ao abrigo das categorias da moralidade. Estes
dois aspectos – o conteúdo assimilado pelos educandos e as atitudes dos educadores – revelam
tanto a mediatividade ética da pedagogia quanto a mediação moral da educação.

Dessa forma a educação deve ser compreendida como um modo de práxis social, na
qual o educador deve ele próprio assumir compromissos políticos, colocando seu engajamento
ao debate público para motivar os educandos a se engajarem também na luta pela melhoria das
condições sociais.

55
Do ponto de vista educacional, o professor deve levar os seus alunos a refletir sobre
quais são os valores com os quais podem sentir-se comprometidos e responsáveis. A tarefa
educativa fica reduzida ao estímulo da reflexão pessoal e do esclarecimento pessoal dos alunos.
Cada indivíduo é responsável pela construção de sua própria vida e, no que se refere aos valores
de ordem pública e social. Por isso é necesário apontar que atuar como uma pessoa moralmente
adulta implica assumir a sua responsabilidade sem esperar dos demais respostas nem soluções
para os próprios conflitos de valores.

Para essa prática é importante levar em consideração que o ser humano não é um ser
moral por natureza, mas precisa ser educado para a moralidade. O comportamento do ser
humano é egocêntrico, sempre visando às necessidades pessoais, buscando sempre a vantagem
própria, instintos e desejos. Para neutralizar esse comportamento é imposta a exigência moral do
reconhecimento em grau de igualdade, das necessidades dos outros seres humanos.

Durkheim afirma que moral não precede a realidade, mas deriva dela e a expressa, afirma
que não se pode construir uma moral completa e impô-la à realidade, e sim, é preciso observar a
matéria para dela inferir a moral. Dissociada dos fatos parece não relacionar-se a coisa alguma.

Ainda segundo Durkheim (2003.p.35), “a moral não é um sistema de regras abstratas que
O mundo as pessoas trazem gravadas na consciência ou que são deduzidas pelo moralista no isolamento
não é, o
mundo está de sua sala. É uma função social, ou mais que isso, um sistema de funções formado e
sendo. consolidado sob a pressão das necessidades coletivas.
Paulo Freire

O ser humano conflita-se no campo da moral por ter uma natureza ambivalente, tanto é
ser individual quanto social. Assim, o sujeito não é livre para tomar suas decisões de acordo com
a sua consciência. A consciência deve submeter-se às normas e valores vigentes na sociedade.
Agir moralmente significa agir em conformidade com as normas estabelecidas em sociedade.

Conforme Durkheim (2003, p.24) “moral e direito são apenas hábitos coletivos, padrões
constantes de ação que se tornam comuns a toda uma sociedade. Em outras palavras, são como
a cristalização do comportamento humano”. Dessa forma, a educação tem o papel de estimular a
reflexão pessoal sobre a própria vida, no que se refere aos valores de ordem pública e social.
Mostrando que atuar como uma pessoa adulta é assumir a responsabilidade sem esperar dos
outras respostas ou soluções para os próprios conflitos de valores.

O valor não é algo estático que possa ser conhecido e depois conservado. Ele depende
das experiências e do processo de amadurecimento dos sujeitos, logo a formação moral é um
processo complexo que obriga diversos aspectos, desde a incorporação das convenções sociais
até a formação da consciência moral autônoma. As formas de aquisição de tais requisitos incluem
a reflexão e as atitudes pessoais até os sentimentos e comportamentos que são estimulados pela
educação.

56
A educação moral abrange a educação corporal, a educação intelectual, a educação
afetiva, a educação artística, é a orientação do ser humano como um todo.

O educador deve contribuir para formação de um sujeito consciente e autônomo, capaz


de decidir, de tomar atitudes que preservem tanto os interesses individuais quanto sociais,
possibilitando à pessoa pressa, através das atividades educacionais, a participação, pensar por
si só, respeitar o direito do outro, socializar-se.

Educação, o caminho para ressocialização

"educar é libertar. Só quem é


livre é capaz de fazer opções"
(Amador Aguiar)

A prisão surgiu no fim do século XVIII com o objetivo de servir como punição, para
transformar os indivíduos enclausurados. Esperava-se que os presos refizessem suas existências
isolados da sociedade para depois serem levados de volta a ela, mas ledo engano, em sua
maioria os presos não se transformavam. Onde há uma
grande
vontade de
aprender,
Segundo Foucault(1987), a prisão mostrou-se em sua realidade e em seus efeitos visíveis haverá
como grande fracasso da prática penal. Constata-se que o indivíduo que deixa o cárcere, volta a necessariam
ente muita
cometer crimes piores do que o anterior. Onde fica a recuperação social? Na penitenciária. discussão,
muita
Estranhamente ao esperado, a prisão parece tornar o preso ainda mais nocivo ao convívio social. escrita,
muitas
opiniões;
A educação nos sistema penitenciário deve preocupar-se prioritariamente em desenvolver pois as
opiniões de
a capacidade crítica e criadora do educando, capaz de alertá-lo para as possibilidades de homens
escolhas e a importância dessas escolhas para sua vida e consequentemente a do seu grupo bons são
apenas
social. Instrumentalizar o educando para que ele firme compromisso de mudança com sua conheciment
o em bruto.
história de mundo. John Milton

É através da educação que o preso amplia a consciência crítica, regata a auto-estima,


incentiva e possibilita o exercício pleno da cidadania. O tempo não pode parar no presídio, e para
que isso não aconteça, o tempo de estudos no cárcere deve ser validado, permitindo a
continuidade dos estudos em qualquer escola, após o cumprimento da pena.

Ressocializar é criar mecanismos e condições para que o indivíduo retorne ao convívio


social, para que possa reintegrar na vida profissional, ou seja possa viver uma vida normal.

A legislação brasileira assegura ao apenado tratamento humanizado e individualizado,


voltado a reinserir o indivíduo na sociedade através da educação, da profissionalização e

57
tratamento, mas na verdade, os Estados ainda não conseguiram criar mecanismos para cumprir
essa legislação.

O contato com a sociedade é fundamental, portanto o indivíduo deve continuar tendo


contato coma a família para não perder o vínculo com o mundo exterior. O estudo além de ser um
direito assegurado, é uma ferramenta à ressocialização do detento. A educação na prisão
viabiliza melhor formação profissional e uma melhor convivência social, tanto dentro quanto fora
do presídio.

A auto- Educação e Reconstrução


satisfação é
inimiga do
estudo. Se A educação pode ser vista como mecanismo de reconstrução das relações sociais,
queremos
realmente quando produz mudança, uma mudança que não diz respeito apenas ao fato de o indivíduo subir
aprender
na hierarquia social, mas na mudança de relações sociais mais amplas.
alguma
coisa,
devemos
começar por Assim, o trabalho do educador deve permitir a compreensão dos fatores gerais que
libertar-nos
caracterizam uma realidade social mais ampla. Para isso, o professor precisa preocupar-se com
disso. Em
relação a nós uma formação sólida do aluno, essa formação diz respeito tanto ao domínio de conteúdos
próprios
devemos ser específicos, quanto ao domínio dos processos de ordem econômica, social, política e cultural.
'insaciáveis
na
aprendizage Sendo a sociedade o lugar de inserção social dos indivíduos, e para compreender os
m' e em
relação aos processos que se realizam nesse local e com os seres humanos, pode-se analisar a sociedade
outros,
sob a perspectiva das classes sociais, como fez o Marx; da ação social como fez Weber; ou as
'insaciáveis
no ensino'. solidariedade social como fez Durkheim. Já que a educação existe em todas as sociedades e é
Mao Tse-
Tung um meio de tornar os indivíduos membros da sociedade.

De acordo com as idéias de Marx, deparar-nos com uma visão totalizadora da realidade
social, o que nos poderia oferecer a tentação de uma teoria capaz de dar conta das múltiplas
complexidades do real.

Em Weber que esta discussão pode aprofundar-se em temas nos quais será preciso, a
partir da superação do entendimento de que há somente uma visão possível da "verdade",
perceber, dentro do registro da ciência social, a existência de pontos de partida baseados em
diferentes valores, construindo diferentes discursos que, ainda que não passíveis de conciliação,
demonstrem os pontos de aproximação e de afastamento por onde a realidade se constrói de
forma mais problematizada. Portanto, Weber centra sua atenção na ação social, que é construída
a partir do indivíduo.

Já a construção de Durkheim do primado do social, como realidade sui generis, de


natureza diversa daquela natureza presente nas consciências individuais: a possibilidade de um
58
tal entendimento, de que o indivíduo se encontra frente a forças de coação exteriores a ele, pode
ajudar a problematizar alguns aspectos presentes na discussão do tema proposto da construção
"legítima" de políticas públicas.

Durkheim parte não dos indivíduos, mas da sociedade mesma como um ente sui generis,
portadora de uma estrutura coercitiva capaz de exercer uma pressão coercitiva e modeladora
sobre os homens, uma vez que a entende como exterior aos indivíduos. Vê na sociedade um
instrumento de ordenamento das relações sociais, estabelecendo regras de uma conduta dos
indivíduos na sociedade.

Assim Durkheim define fato social:

É um fato social toda maneira de agir, fixada ou não,


suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior (...) que é geral no conjunto de uma dada
sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência
própria, independente das suas manifestações individuais
(Durkheim, 1978, pp. 92)

Durkheim Valoriza a solidariedade social a partir da racionalidade individual, obedecendo


às normas corretamente definidas e capazes de prevenir estados de anomia como os
determinados por um individualismo puramente utilitário, que enfraquece os laços sociais. Outra
vez a idéia de finalidade se apresenta em Durkheim, como finalidade moralizante e
A escola é
aperfeiçoamento universal da sociedade, responsável pela manutenção e reprodução da um edifício
com quatro
sociedade paredes e o
amanhã
dentro dele.
Esse modelo desperta no homem o gosto pela vida comunitária, e nessa George
Bernard
perspectiva o professor, enquanto autoridade moral, cria nos adultos o sentimento de vinvulação
Shaw
e de pertença a sociedade.

A contraposição de visões de mundo tão divergentes é importante para que, ao deparar-


se com os problemas existentes na realidade social, possamos enfrentá-los com uma clareza que
permita definir um caminho coerente, a partir de opções fundamentadas, cujas conseqüências
sejam assumidas pelo sociólogo. Não é à toa que a temática clássica de indivíduo e sociedade
ressurge a cada momento quando empreendemos este "olhar" sobre o real, e nossa estratégia
deve ser suficientemente capaz de esclarecer e "compreender" os fenômenos que se nos
apresentam.

59
Unidade 06

Educação e cidadania

Objetivo

• Refletir sobre noção de cidadania, e a conquista de direitos está associada


ao indivíduo sujeito a deveres, mas sobretudo detentor de direitos

A expressão “direitos humanos” é uma forma de mencionar os direitos fundamentais da


pessoa humana. Esses direitos são aquelas necessidades que são iguais para todos os seres
humanos e que devem ser atendidas para que a pessoa possa viver com a dignidade que deve
ser assegurada a todos os seres humanos.

A vida é essencial às pessoas humanas, mas também, são as necessidades


fundamentais: a alimentação, a saúde, a moradia, a educação, etc. Uma pessoa não vale mais
que a outra, ou não vale menos que a outra, pois todas tem as mesmas necessidades.

È claro que, quando se fala de igualdade de todos os seres humanos não se quer dizer
de igualdade física, em intelectual ou psicológica. Cada pessoa é única, tem sua individualidade,
sua personalidade, seu modo próprio de ver e de sentir as coisas.

A noção de cidadania, a conquista de direitos está associada ao indivíduo sujeito a


deveres, mas sobretudo detentor de direitos, é reivindicada para todos os indivíduo,
indistintamente a partir do século XVIII.

Ao final da Segunda Grande Guerra, foi necessário lembrar aos povos que todos os
homens são iguais e livres em dignidade. Hoje, através da educação difunde-se para todo o
mundo que os homens são iguais, têm os mesmos direitos, independente de estar livre ou não,
da classe social, do sexo, etc.

60
Não queremos com isso “defender os bandidos”, mas sim, mostrar que mesmo esses
homens, que não cumpriram com seus deveres, t~em as mesmas necessidades daqueles
cumpridores dos deveres.

Na sociedade atual existe uma grande contradição: o reconhecer esses direitos


expressos por lei, e a efetivação desses direitos.

A Declaração dos direitos humanos (1048) é um instrumento norteador da luta pelos


direitos do homem e da luta contra a opressão, assim os ideais de cidadania se constituíram com
base em demandas por aquilo que chamamos direitos civis: direito à vida, à liberdade, de ir e vir,,
à autonomia do pensamento; direitos políticos: votar e de ser votado, de expressar livremente
seus interesses, suas bandeiras políticas; direitos sociais: direito de participar da distribuição da
riqueza produzida.

Aqui, no Brasil, no final do século XIX, a liberdade era tolhida, a grande parte da
população era escrava, não gozava do direito à liberdade. Somente em 1988, foi respeitado o
direito político, direito do voto. E falando em direitos sociais, até hoje são desrespeitados, pois a
maioria da população brasileira vive abaixo da dignidade humana, sem nenhum direito social
garantido.

Assim, não é difícil perceber que a Educação, em vez de direito, continua sendo um
privilégio de alguns.
Acredito que
somente
Aponta-se a educação como pré-requisito para se conquistar a cidadania. Entende-se que
uma pessoa
a cidadania é uma conquista, e desde o século XVIII, a luta pela cidadania é uma constante e se que nada
aprendeu
nem todos atingiram o status de cidadão é porque as contradições da realidade não permitiram. não modifica
suas
opiniões.
É preciso entender como se estruturam as relações de poder, sejam elas de poder Emil Zatopek

econômico, político, cultural e ideológico para identificar os fatores que têm impedido que a
construção da cidadania aconteça.

Como afirma T.H.Marshall:


O direito à educação é um direito social de
cidadania genuíno porque o objetivo da educação
durante a infância é moldar o adulto em
perspectiva. Basicamente, deveria ser
considerada não como o direito da criança
freqüentar à escola, mas como o direito do
cidadão adulto ter sido educado. (...) A educação

61
é pré-requisito necessário da liberdade civil
(Marshall, 1967:73)

Como já vimos, a educação é pré-requisito para se entender os fatores que impedem a


construção da cidadania, então, por que não oportunizar ao preso a educação?

Já que segundo a lei 9.394/96 – LDB, em seu primeiro artigo diz que a educação
acontece em outros espaços que não a escola. Desse modo, abrir espaço para levar a educação
para o presídio é contribuir para a formação dos indivíduos, como forma de permitir a integração
social e a construção da cidadania, desse ser humano marginalizado.

Grades?!
As grandes não prendem, não!
O que prende um homem é a falta de instrução,
conhecimento, ética, compreensão.
O importante da Ah educação! Ah educação!
educação não é o
conhecimento
dos fatos, mas
dos valores. Direito de todos os homens livre,
Dean William os presos não?
Inge
Como entender as contradições,
a proclamação da cidadania
e a falta da sua efetivação.
Ah educação! Ah educação

Capaz de transformar o homem em cidadão,


a educação,
(Denise Sodré)

Conforme a temática abordada no poema, na realidade as grades, a cadeia, ou se


querem a prisão não é capaz de isolar tanto o homem como negar-lhe o direito à educação. A
construção de sua cidadania está presa à educação, ao saber crítico, ao desenvolvimento de
habilidades essenciais para o convívio em sociedade que só através da educação o homem tem
acesso.

62
Atividades

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1- Entender o que são direitos humanos e a luta pela cidadania é entender como se
estruturam as relações de poder econômico, político, cultural ou ideológico. Pensando em
direitos humanos e cidadania, analise as afirmativas e marque V (verdadeiro) e F (falso)

( ) A escola tem se revelado como lugar mais eficaz para a difusão dos direitos do cidadão.
( ) No Brasil, os direitos sociais não são respeitados, haja vista que milhões de brasileiros
vivem abaixo da linha da dignidade.
( ) A tarefa da educação é difundir que todos são iguais, têm direitos iguais, e que exercer a
cidadania é um direito de todos.
( ) A cidadania é dada, não é conquistada.

2- Leia o 1º artigo da LDB.


“A educação abrange os processos formativos
que desenvolvem na vida familiar, na convivência

63
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações
da sociedade civil e nas manifestações culturais.”

Analise o texto do artigo e comente em algumas linhas.

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

64
Unidade 07

Educador, um ressocializador

Objetivo

• Apontar o ensino como uma intervenção educacional/pedagógica,


deliberada e planejada no processo ensino aprendizagem, criando
situações desafiadoras.

Os presos são homens, são cidadãos, que devem ser atendidos nas suas reais
necessidades, esse deve ser o pensamento, desse homem ou dessa mulher que se
prontifica a fazer esse trabalho, educar, ressocializar.

O educador precisa ter a postura de motivador, incentivador para despertar no


apenado a vontade de provar para as pessoas que podem ser úteis à sociedade e que a
força humana existente nas prisões podem ser canalizadas para a construção de algo
que possa contribuir para o processo interação e ressocialização.

O fato de o professor mostrar que acredita nos presos, ser humano capaz, eleva
a auto-estima, fazendo com que eles sintam-se valorizados por poderem opinar, sugerir,
falar e participar do processo.

É preciso proporcionar aos alunos condições de aprendizagem não só para o


trabalho em sala de aula, mas também, para que eles aprendam a ler criticamente o
mundo social.

A educação consiste em um processo que se faz no contato do homem com o


mundo, e o dialogo é a base para superar qualquer relação vertical entre educador e
educando.

65
Diante disso, o processo do conhecimento não pode ser um ato de “doação”, do
educador, mas sim, uma comunicação produtiva e dialogada entre ambos.

Esse homem ou mulher que está à frente da sala de aula no presídio, pode
contribuir para o processo de construção da cidadania social, pode contribuir para a
construção de um ser humano melhor.

Essa reflexão aponta para a necessidade de um educador como fator de


transformação social, e como prática de liberdade, emancipação, sempre tendo como
referência a relação educador/sociedade.

O ensino é uma intervenção educacional/pedagógica, deliberada e planejada no


processo ensino aprendizagem, criando situações desafiadoras e propondo problemas
que estimulem e orientem os alunos na construção e reconstrução de conhecimentos.

No dia-a-dia do professor, cada situação de ensino aprendizagem é única, e não


há “receitas”. O trabalho deve ser pensado em relação á totalidade do ser humano, além
Não se pode
ensinar nada de ensinar conteúdos, o professor tem que interagir com os alunos na perspectiva de
a um ajudá-los a crescer em todos os aspectos, desenvolver valores, aprender buscar e
homem.
Pode-se aprender a avaliar informações e oportunidades de desenvolver seus potenciais, ajudá-
apenas
ajudá-lo a los a vencer seus medos e ansiedades, tornando-os confiantes e seguros de suas
encontrar a possibilidades.
resposta
dentro dele
mesmo.
Galileu Outro fator importante para uma boa prática docente, é aceitar as diversidades
Galilei dos alunos, valorizar e respeitar suas especificidades. O professor deve demonstrar
competência, capacidade de tomar decisões e de agir diante de situações que nunca são
inteiramente iguais a quaisquer outras.

Assim o educador deve apresentar a capacidade de improvisar e para isso é


importante ter conhecimentos práticos, teóricos e experenciais, de modo agir de acordo
com o contexto e tomar decisões certas às suas especificidades.

Atividade

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!

66
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1- Leia o texto

Ensinar é aprender

“ Por que ensinar é mais difícil do que aprender?


A razão é porque aquele que ensina deve possuir uma maior soma de conhecimentos e
tê-los sempre a sua disposição. Ensinar é mais difícil do que aprender por significar “o fazer
aprender”.
Quem ensina de verdade, nada mais faz que aprender o próprio aprender. Por
isso mesmo, é que sua ação muitas vezes desperta a impressão de que junto dele propriamente
não se aprende nada.
(Heidegger, 1967:69)

Agora que você leu o texto, reflita e explicite as relações entre a ação docente e a reflexão no
processo de aprendizagem.
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67
Estratégias Educacionais

O Teatro

Há muito que a pedagogia se serve do teatro. Aristófanes já o fazia


em 414 a.C. quando lançou As aves, peça com críticas ainda hoje atuais aos jovens e ao sistema
educacional. Se tomarmos a Grécia como ponto de partida do desenvolvimento do teatro,
encontraremos que, por ocasião da colheita das uvas, eram promovidas homenagens a Dionísio,
deus do vinho, da fertilidade, da fonte da vida e do sexo. Durante os festejos anuais, formavam-se
procissões e cortejos, ao som de canções improvisadas entoadas por jovens em giros dançantes.
Surgem nessas manifestações os primeiros registros do uso coletivo do canto, da dança e da
representação. Este é, para muitos, o berço do teatro que nasce como forma coletiva de arte,
utilizando-se de várias linguagens.

O teatro, por sua forma de "fazer coletivo", possibilita o desenvolvimento pessoal não
apenas no campo da educação não-formal, mas permite ampliar, entre outras coisas, o senso
crítico e o exercício da cidadania. a utilização dos recursos da linguagem teatral possui alto
poder de fixação de conceitos e grande teor lúdico e contribui para atrair o interesse e curiosidade
dos alunos, criando um ambiente favorável à aprendizagem

Através do teatro, da representação, o preso tem a oportunidade de compreender e


discutir sobre seus atos e as conseqüências deles, e ainda, por meio dessa arte pode expressar
seus sentimentos.

Artes Plásticas

A abordagem que orienta o trabalho é a da aprendizagem ativa, priorizando a descoberta,


o lúdico, o compromisso com o trabalho e, sobretudo, ampliar o âmbito de relações da criança.

As artes plásticas são ferramentas importantes no processo educativo, pois despertam


habilidades não conhecidas, e o preso tem oportunidade de expressar seu mundo, seu cotidiano,
seus medos, seus sentimentos.

Nessas atividades o preso eleva a auto-estima e muitas vezes passam a produzir e


comercializar seus quadros, o que pode garantir seu sustento após o cumprimento da pena.

68
Oficinas de leituras

As oficinas de leitura criam oportunidades para que todos descubram o prazer de ler. E
que este prazer torne-se ferramenta no desenvolvimento pessoal de cada um. Aprimorando o
desempenho da habilidade de comunicar-se, tanto com os outros como consigo mesmo.
Desenvolvendo a postura crítica do indivíduo através de vivências que mostrem que as palavras
são fontes inesgotáveis de informação, significados e emoções.

Através do livro, essa pessoa priva da liberdade, tornar-se-á livre vivendo as aventuras de
Dom Quixote de La Mancha. Através das histórias de Cervantes, o leitor detento poderá realizar
seus desejos mais íntimos e nobres.

Ou quem sabe, aprender com a história de Davi e Golias a enfrentar situações difíceis,
como a que está vivendo, com coragem, perseverança, resistência.

Pode-se disser que ler é...mergulhar num mundo paralelo onde posso reencarnar os
meus heróis e com eles amar, sofrer, chorar, sorrir...

Além de tudo, a informação é a base da cidadania, do desenvolvimento pessoal e da


consciência universal e está cada vez mais ao alcance das pessoas. Mas até que ponto as
pessoas sabem o que fazer com ela? Ler bem e entender o que se lê é a base da formação de
qualquer cidadão com opiniões próprias e embasadas. É imprescindível que os indivíduos
percebam seu papel dentro de suas comunidades, e o livro pode abrir esse espaço de
compreensão.

Estudo dirigido

O estudo dirigido destina-se à assimilação de conteúdos. O professor deve selecionar um


bom texto sobre o tema abordado. Os textos são entregues aos alunos que inicialmente, realizam
um estudo individual, registrando suas dúvidas e os pontos que consideram mais relevante.

As perguntas do professor são elaboradas de tal maneira que ao mesmo tempo


estimulam a compreensão do conteúdo pelo aluno e ajudam a desenvolver suas habilidades
intelectuais como as capacidades de aplicação, de análise e síntese.

Num segundo momento, os alunos se reúnem em pequenos grupos para debater as


questões mais polêmicas, avaliar o texto, bem como o trabalho realizado, enquanto são
desenvolvidas, também, habilidades de comunicação e de argumentação e atitudes e habilidades
de cunho social.

69
Atividades

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1- Leia o texto abaixo.


O pensar a partir dos problemas é uma atividade de reflexão e mediante essa atividade, situamos
o ser humano no mundo e o compreendemos nesse lugar incomodo da dúvida.
Agora que leu, faça uma reflexão e escreva um pequeno texto sobre a prática do docente no
ambiente prisional, pautando-se de atividades a partir dos problemas que são apresentados.

2-Leia o poema de Bertold Brecht.

Nunca digam – isso é natural


Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza.
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável.
70
Conforme o autor, as modificações da realidade, do mundo externo parecem estar provocando
no interior das pessoas mudanças. Pensando nisso, e procurando entender o poema, coloque V
para as afirmativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas.

( ) Encarar algo como natural é uma maneira de nos conformarmos.


( ) Temos a tendência a considerar como natural e aceitarmos o que é corriqueiro em nossa
cultura.
( ) Não há nada indiscutível, suspeitrar, indagar, ou criticar não é desconsiderar.
( ) A inquietude é uma virtude, devemos conformar com o que é apresentado no dia-a-dia.

3-Leia o trecho da letra da música de Wagner Tiso e Milton Nascimento para responder a
questão.
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto.

Comente em algumas linhas o que o professor deve trabalhar, como deve ser sua postura
com esse aluno preso (aprendiz) para que ele seja capaz, através dos conhecimentos
adquiridos, transformar de forma real o seu mundo intra-muros e extra-muros.
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71
Unidade 08

O Trabalho

Objetivo

• Compreender o trabalho como valor social e que confere dignidade


Ao ser humano em todas as situações concretas da sua existência

Etimologicamente falando, trabalho vem do latim vulgar tripalium, que era um


instrumento formado por três paus aguçados, com o qual os agricultores batiam o trigo, as
espigas de milho, o linho, para rasgá-los, enfiá-los, etc. Na maioria dos dicionários modernos, no
entanto, a palavra tripalium (três paus) é atribuída a um instrumento de tortura utilizado pelos
romanos a fim de subjulgar os cristãos.

O trabalho é um fazer do homem. Só o homem trabalha, de todas as espécies


animais. Porém, por outro lado, alguns povos da Antigüidade tinham o trabalho como algo
impuro, indigno e desprezível. O trabalho não era uma atividade digna do homem livre. Cabia
aos escravos as tarefas diárias, ou melhor, o trabalho.

A sociedade era dividida em animal laborans e o animal rationale. Acreditava-se, na


época, que o animal laborans era, realmente, uma das espécies animais que viviam na Terra, na
melhor das hipóteses a mais desenvolvida.

Progredindo na história, chegaremos à Idade Média, época essa em que o trabalho


era visto como servidão. Onde os homens punham-se sob a proteção dos senhores da terra,
prestando-lhes homenagens. È bom lembrar que a atividade produtiva era análoga às da
72
Antigüidade Grega ( ou Clássica ). O que diferenciava uma da outra é que, na Idade Média, o
trabalho era visto como um bem. Árduo, mas um bem.

Através da Reforma Protestante, Calvino prega que o homem deve viver o


cristianismo no mundo através de uma moral rígida de simplicidade, trabalho e honestidade,
desse modo, o sucesso no trabalho e nos negócios deverá ser, através de uma nova ética
religiosa do trabalho. O Calvinismo revoluciona à medida que associa sucesso e trabalho com a
benção divina.

No século XVIII, o inglês Adam Smith, afirma que a riqueza não tinha origem no
mercantilismo, mas do trabalho, e também afirmou que para o trabalhador ter um pensamento
mais ágil era necessário investir na educação básica, o que contrária os interesses da nobreza
e do clero.

E Chegamos assim, a percepção de Karl Marx que identifica o trabalho não só como
fonte de todo valor, mas principalmente o seu caráter social.

Nessa pequeno passeio pela história do Homem e sua relação com o Trabalho - a
concepção de trabalho sofre muitas transformações (social, política, religiosa, econômica, etc)
através dos séculos, da mesma forma como o mundo sofre transformações de todas as ordens.

Trabalho como valor social

Trabalho hoje é encarado como valor social e projeção da personalidade humana, mas
nem sempre foi assim, no passado era uma forma de punição. Somente pobres e escravos
trabalhavam; os ricos dedicavam-se ao ócio.

O trabalho como valor social tem pouco tempo. Tal honra de cidadania adquire-se com a
Revolução Francesa (1789). Foi, pois a burguesia, a sua vitória, que trouxe com ela o trabalho
como valor social.

Já no século XVI, Lutero havia defendido o trabalho como valor social e se insurgido com
o pouco valor social que lhe era atribuído. Mas é com a Revolução Francesa que será reabilitado
o trabalho.

Voltaire, no Cândido, descore aquilo que serve à sua personagem, ao descobrir que é
pelo trabalho que se alcança a felicidade, daí aquele final “é preciso cultivar o nosso jardim”. Mas
Voltaire também diz “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício, e a
necessidade”. Sobre ele próprio e o seu trabalho dizia Voltaire que “o trabalho é muitas vezes
fonte de prazer, lamento os que vivem acabrunhados ao peso do seu ócio”.

73
Daí para cá o trabalho nunca mais deixou de ser um valor. Ouve-se dizer a toda hora “ O
rapaz é boa pessoa e muito trabalhador”. O fato de ser trabalhador valoriza o rapaz dá a ele a
idoneidade necessária para participar das relações sociais.

Marx e os marxistas também sempre valorizaram o trabalho, elevando-o até valor


absoluto.

O trabalho confere a dignidade ao ser humano, constituindo-se em equívoco vislumbrá-lo


apenas em sua dimensão econômica, desumanizada. Até na questão do desenvolvimento de um
país, o fator mais relevante, dentro de uma lógica humanística, é a qualidade de vida dos
cidadãos e não apenas percentuais de crescimento e localização topográfica em lista numérica
de países mais fortes economicamente.

Princípios do valor social do trabalho e da dignidade da pessoa humana

A Constituição Federal é um marco instrumental de mudança de paradigma social porque


adota valores que norteiam toda a interpretação das leis e imprime ao aplicador do direito uma
nova tônica. Esta tônica é voltada para a satisfação dos interesses garantidos nos preceitos
constitucionais, conferindo-lhes o valor axiológico e pragmático concretos, de modo a favorecer
que os direitos se efetivem.

No art. 1º da Constituição de 1988 (CF/88) encontramos a dignidade da pessoa humana e


o valor social do trabalho como fundamentos de construção da sociedade brasileira, concebida
inserta no Estado Democrático de Direito. O trabalho é compreendido como instrumento de
realização e efetivação da justiça social, porque age distribuindo renda. .

A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um
complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem à pessoa tanto contra todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação
ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais
seres humanos.

O Trabalho, Produção que Liberta

Hoje, a nova ameaça do Homem é, de novo o trabalho, ou melhor, a falta dele. Com a
globalização o mundo não tem mais fronteiras e os processos de trabalho estão em franca fase
de mudança e reconceituação.

74
É quase impossível imaginar a vida sem o exercício constante do aperfeiçoamento
emocional e intelectual que o trabalho proporciona aos indivíduos.

O trabalho é um instrumento de crescimento, permite ao homem sonhar, desejar, ter


idéias. Sendo assim, pode-se afirmar que o trabalho permite a efetivação da liberdade de ação e
pensamento, é através do trabalho que o homem se torna livre.

Através do trabalho nos tornamos seres sociais na medida em que aprendemos


estabelecer relações com pessoas diferentes, de origens diversas, com costumes e histórias
variados, que possibilitam o nosso crescimento intelectual e a solidificação do caráter. Logo o
exercício do trabalho é fundamental na vida de qualquer ser humano.

É o trabalho que faz os homens saberem; é ele que faz os homens serem. Ele é, na
verdade, a essência do homem. E a idéia de trabalho não se separa da idéia de sociedade na
medida em que é com os outros que o homem trabalha e que cria a cultura. Quando o indivíduo
produz algo, tanto intelectualmente quanto manualmente, aumenta a sua auto-estima, pois ele
ocupa a mente dele e executa algum tipo de atividade que o faz pensar e produzir algo para si e
também para as outras pessoas.

Para Foucault (2004), o trabalho dentro dos presídios não objetivava profissionalizar o
indivíduo, mas sim ensinar a virtude do trabalho. Não se preocupava em reeducar o delinqüente,
e sim agrupá-los e utilizá-los como instrumentos econômicos ou políticos.

O trabalho nas penitenciárias inicialmente propunha-se mais a proteção social e à


vingança pública, por isso os prisioneiros eram remetidos aos trabalhos penosos e insalubres.

Nos dias atuais, descartado o trabalho penitenciário como pena, tem-se o trabalho como
eficaz ferramenta para a reinserção social. Segundo Falconi (1998, p.71) o hábito do trabalho traz
novas perspectivas e expectativas para o preso, que pode visualizar uma nova forma de
relacionamento com a sociedade.

Se o trabalho tem na vida dos indivíduos um papel paradoxal, servindo aos olhos da
sociedade para testar a idoneidade daquele que dele sobrevive, por que privar o detento de
trabalho? Por que negá-lo essa ferramenta tão importante para a reintegração?

Falando-se especificamente de presidiários, é preferível que essas pessoas produzam e


estudem a ficarem ociosos e aglutinados, sem perspectiva de melhoria em suas vidas. Uma
pessoa com a mente ocupada em aprender algo, como por exemplo, escrever o seu nome,
conhecer a história do Brasil e do mundo, raciocinar para resolver um problema de matemática,
ler um bom livro e “viajar” para outros lugares do mundo, utilizando o livro como o instrumento

75
dessa viagem, e também, podendo trabalhar na produção de objetos, roupas, móveis e outros
utensílios, na plantação de alimentos e com esse trabalho ser remunerada, com certeza, não
pensará, naquele momento, em crimes, e sim conhecerá assuntos novos, raciocinará e adquirirá
novos conhecimentos os quais, muitas vezes, nunca pensou que existissem, e ainda tem a
possibilidade de ter uma remuneração, que futuramente os manterá no exercício da vida social
extramuro.
O trabalho é a aplicação da energia do homem para o bem da humanidade. O homem,
no trabalho, é capaz de modificar a própria natureza, colocando-a a serviço de todos nós.

Atividades

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1-O trabalho é o principal fator de reajustamento social, nessa perspectiva o trabalho é


essencial ao preso. Em relação ao trabalho nas penitenciárias, são verdadeiras as
afirmativas:

I – O trabalho representa um dever social e condição de dignidade


humana, com finalidade educativa e produtiva, conforme definido na lei de
Execução penal.

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II- O trabalho é uma forma de punição, uma forma de alienar e disciplinar
o apenado.
III- O trabalho é um caminho para a liberdade já que oportuniza ao preso
a reinserção social e no mercado de trabalho.

a) Apenas II
b) I e III
c) Apenas III
d) I e II

2- O trabalho nos torna seres sociais na medida em que, entramos em contato com outros
indivíduos e, pouco a pouco, aprendemos a estabelecer relações com pessoas diferentes, com
idéias e opiniões muitas vezes divergentes das nossas.
Na perspectiva da vida prisional, qual a contribuição do trabalho como instrumento de
ressocialização e reinserção social?
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3- A idéia de que o trabalho dignifica o homem foi otimamente expressa por Gonzaguinha na
música “Guerreiro Menino”, lançada por Fagner em 1983, pense e comente a importância do
trabalho para o homem.

“Um homem se humilha/ Se castram seu sonho/ Seu sonho é sua vida/ E a vida é o trabalho/
Sem o seu trabalho/ Um homem não tem honra/ Sem a sua honra/ Se morre, se mata/ Não dá pra
ser feliz.”-
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O Trabalho e as Emoções

O ser humano é um ser que tem emoções; e, emoção refere-se a estados como alegria,
amor, orgulho, divertimento, que agradam; e estados desagradáveis, como a raiva, o ciúme, o
medo, aflição, vergonha, etc. As emoções permeiam toda a vida humana, em casa, nas ruas, nas
escolas, nas oficinas e também nas prisões. . As emoções são um fenômeno humano tão
importante que é estudado por quase todas as ciências. Sejam elas sociais ou não.

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A emoção tanto pode ser construtiva como destrutiva; tanto fortalecedora como
debilitadora. (Hebb, 1971: 200)

Todos estes estados possuem pontos em comum. Todos eles constituem estados de
motivação e vigilância. Esses estados (que por sua vez geram comportamentos) produzem
emoções que podem afetar gravemente os processos que controlam a conduta organizada.
(Hebb, 1971: 201)

Para avaliar as emoções humanas, os psicólogos avaliam examinam um ou mais


componentes: o elemento subjetivo (cognições, sensações), comportamento e/ou fisiologia. Os
estudos de outros animais limitam-se à medida dos elementos comportamentais fisiológicos.

Não há como pensar em emoções misturadas, elas não estão apenas misturadas umas
às outras; elas estão ligadas aos motivos, a partir do nascimento. O atendimento a uma
necessidade, digamos fome, muitas vezes se associa a sentimentos específicos (felicidade e
prazer, por exemplo). As emoções geram motivos e comportamento. A raiva, por exemplo, é
acompanhada muitas vezes por um desejo de ferir. (Linda Davidoff, 1983: 438).

Satisfação no trabalho é um “sentimento agradável que resulta da percepção de que


nosso trabalho realiza ou permite a realização de valores importantes relativos ao próprio
trabalho”.

O trabalho tem o objetivo fazer com que as pessoas sentam-se mais úteis e importantes,
bem como dá- lhes mais autonomia, responsabilidade e reconhecimento, e esse processo gera
emoções , que por sua vez, geram comportamentos positivos.

Ao tirar o direito ao trabalho do homem afeta-se sua vida particular, de sua família, seu
relacionamento com outras pessoas, atitudes e crenças, pois o não-trabalho tira-lhe sua
identidade, ou seja, tudo que diz respeito ao seu modo de viver e à s suas emoções.

Outro problema ocasionado pela ociosidade, que pode vir a modificar as atitudes do
sujeito em relação ao convívio social é quanto ao clima organizacional no ambiente prisional, a
abstinência ao trabalho gera pode atitudes negativas por parte do indivíduo, por não estar
satisfeito com as normas, regras e políticas organizacionais exercidas.

Afetividade a Base das Relações

No mundo atual, os valores e regras que sustentam o equilíbrio do indivíduo na sociedade


são constantemente negados e violados, o que dificulta terrivelmente as relações sociais. Diante
desse cenário, perguntamos como fica a afetividade? O que chamamos de afetividade?
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Afetividade é a capacidade, a disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo
externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis.

A afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as emoções e


as paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar sentimentos e emoções. A
Afetividade é quem determina a atitude geral da pessoa diante de qualquer experiência
vivencial, promove os impulsos motivadores e inibidores.

Desta forma, a Afetividade é quem confere o modo de relação do indivíduo à vida e será
através da tonalidade de ânimo que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou
indiretamente a Afetividade exerce profunda influência sobre o pensamento e sobre toda a
conduta do indivíduo.

Assim, o estado psíquico global com que a pessoa se apresenta e vive reflete a sua
Afetividade. Tal como as lentes dos óculos, os filtros da afetividade fazem com que o sol seja
percebido com maior ou menor brilho, que a vida tenha perspectivas otimistas ou pessimistas,
que o passado seja revivido como um fardo pesado ou, simplesmente, lembrado com
suavidade. Interfere assim na realidade percebida por cada um de nós, mais precisamente, na
representação que cada pessoa tem do mundo, de seu mundo.

Podemos pensar na Afetividade como o tônus energético capaz de impulsionar o


indivíduo para a vida, como uma energia psíquica dirigida ao relacionamento do ser com sua
vida e o humor necessário para conferir uma determinada valoração às vivências. A
Afetividade colore com matizes variáveis todo relacionamento do sujeito com o objeto, faz com
que os fatos sejam percebidos desta ou daquela maneira e que desperte este ou aquele
sentimento.

Afetividade nos Contextos Psicológico e Educacional.

A indissociação entre pensar e sentir nos obriga a integrar nas explicações sobre o
raciocínio humano as vertentes racional e emotiva dos conceitos e fatos construídos. Partimos da
premissa de que no trabalho educativo cotidiano não existe uma aprendizagem meramente
cognitiva ou racional, pois os alunos e as alunas não deixam os aspectos afetivos que compõem
sua personalidade do lado de fora da sala de aula, quando estão interagindo com os objetos de
conhecimento, ou não deixam "latentes" seus sentimentos, afetos e relações interpessoais
enquanto pensam.

Jean Piaget (1896-1980), em um trabalho publicado a partir de um curso que ministrou na


Universidade de Sorbonne (Paris) no ano acadêmico de 1953-54, "Les relations entre

79
l'intelligence et l'affectivité dans le développement de l'enfant", o autor nos advertiu sobre o fato de
que, apesar de diferentes em sua natureza, a afetividade e a cognição são inseparáveis,
indissociadas em todas as ações simbólicas e sensório-motoras. Ele postulou que toda ação e
pensamento comportam um aspecto cognitivo, representado pelas estruturas mentais, e um
aspecto afetivo, representado por uma energética, que é a afetividade.

De acordo com Piaget, não existem estados afetivos sem elementos cognitivos, assim
como não existem comportamentos puramente cognitivos. Quando discute os papéis da
assimilação e da acomodação cognitiva, afirma que esses processos da adaptação também
possuem um lado afetivo: na assimilação, o aspecto afetivo é o interesse em assimilar o objeto ao
self (o aspecto cognitivo é a compreensão); enquanto na acomodação a afetividade está presente
no interesse pelo objeto novo (o aspecto cognitivo está no ajuste dos esquemas de pensamento
ao fenômeno).

Nessa perspectiva, o papel da afetividade para Piaget é funcional na inteligência. Ela é a


fonte de energia de que a cognição se utiliza para seu funcionamento. Ele explica esse processo
por meio de uma metáfora, afirmando que “a afetividade seria como a gasolina, que ativa o motor
de um carro mas não modifica sua estrutura”. Ou seja, existe uma relação intrínseca entre a
gasolina e o motor (ou entre a afetividade e a cognição) porque o funcionamento do motor,
comparado com as estruturas mentais, não é possível sem o combustível, que é a afetividade.

Na relação do sujeito com os objetos, com as pessoas e consigo mesmo, existe uma
energia que direciona seu interesse para uma situação ou outra, e a essa fonte energética
corresponde uma ação cognitiva que organiza o funcionamento mental. Dessa forma, as relações
afetivas que despertam o interesse do ser humano para as coisas, as pessoas, que orienta seus
atos. Portanto, todos os objetos de conhecimento são simultaneamente cognitivos e afetivos, e as
pessoas, ao mesmo tempo que são objeto de conhecimento, são também de afeto.

Conforme as idéias de Piaget, a construção de valores são pertencentes à dimensão


geral da afetividade no ser humano e, assim eles ssão construídos a partir de uma troca afetiva
que o sujeito realiza com o exterior, com objetos ou pessoas. Eles surgem da projeção dos
sentimentos sobre os objetos que, posteriormente, com as trocas interpessoais e a
intelectualização dos sentimentos, vão sendo cognitivamente organizados, gerando o sistema de
valores de cada sujeito. Os valores se originam, assim, do sistema de regulações energéticas que
se estabelece entre o sujeito e o mundo externo (desde o nascimento), a partir de suas relações
com os objetos, com as pessoas e consigo mesmo.

Henri Wallon (1879-1962), filósofo, médico e psicólogo francês, busca compreender as


emoções a partir da apreensão de suas funções, e atribuindo-lhes um papel central na evolução
da consciência de si. Em suas postulações concebe as emoções como um fenômeno psíquico e
social, além de orgânico.

80
Assim Piaget e Wallon mostra-nos, em seus escritos, compartilhar da idéia de que
emoção e razão estão, intrinsecamente, conectadas (1986). Na perspectiva genética de Henri
Wallon, inteligência e afetividade estão integradas: a evolução da afetividade depende das
construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende
das construções afetivas. No entanto, o autor admite que, ao longo do desenvolvimento humano,
existem fases em que predominam o afetivo e fases em que predominam a inteligência.

Assim Piaget e Wallon mostra-nos, em seus escritos, compartilhar da idéia de que


emoção e razão estão, intrinsecamente, conectadas (1986).

Também comunga com as idéias de Piaget e Wallon, o neurologista Antônio R. Damásio,


em sua notável obra O erro de Descartes (1996), postula a existência de uma forte interação
entre a razão e as emoções, defendendo a idéia de que os sentimentos e as emoções são uma
percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo essencial entre o corpo e a
consciência.

Preocupado em articular as emoções com os processos cognitivos - "emoções bem


direcionadas e bem situadas parecem constituir um sistema de apoio sem o qual o edifício da
razão não pode operar a contento" -, Damásio rompe também com a idéia cartesiana de uma
mente separada do corpo. Como ele mesmo apontou, talvez a famosa frase filosófica - Penso,
logo existo- devesse ser substituída pela anti cartesiana - Existo e sinto, logo penso.

Diante disso podemos disser que, quando estamos felizes, preparamos nossas "cabeças"
para analisarmos e compreendermos as necessidades e problemas dos demais, elaborando
estratégias de ação mais solidárias e generosas. Os mesmos resultados nos indicam também
que os estados emocionais influenciam nossos pensamentos e ações tanto quanto nossas
capacidades cognitivas. Assim, ao sermos solicitados a resolver problemas, a forma como
organizamos nosso raciocínio parece depender tanto dos aspectos cognitivos quanto dos
aspectos afetivos presentes durante o funcionamento psíquico, sem que um seja mais importante
que o outro.

O comportamento e os pensamentos humanos se sustentam naindissociação - de forma


dialética-,de emoções e pensamentos, de aspectos afetivos e cognitivos.. Nas interações com o
meio social e cultural criamos sistemas organizados de pensamentos, sentimentos e ações que
mantêm entre si um complexo entrelaçado de relações. Assim como a organização de nossos
pensamentos influencia nossos sentimentos, o sentir também configura nossa forma de pensar.
Assim, acreditamos que pensar e sentir são ações indissociáveis.

81
No cenário da educação: a busca por uma escola que ressocialize precisa ter em mente
que: "Nenhum ser humano nunca nasceu com impulsos agressivos ou hostis e nenhum se tornou
agressivo ou hostil sem aprendê-lo."

No campo da educação, os conteúdos relacionados à vida pessoal e à vida privada das


pessoas podem ser introduzidos no trabalho educativo, perpassando os conteúdos de
matemática, de língua, de ciências, etc. Dessa forma, o princípio proposto é de que tais
conteúdos sejam trabalhados na forma de projetos que incorporem de maneira transversal e
interdisciplinar os conteúdos tradicionais da escola e aqueles relacionados à dimensão afetiva.

Um bom caminho para a promoção de tal proposta é lançar mão do emprego de técnicas
de resolução de conflitos no cotidiano das salas de aula, principalmente se os conflitos em
questão apresentarem características éticas que solicitem aos sujeitos considerar ao mesmo
tempo os aspectos cognitivos e afetivos que caracterizam os raciocínios humanos.

Para justificar tais princípios nos pautamos em idéias como as de Moreno (2000),
especialmente quando afirma que: "os suicídios, os crimes e agressões não têm como causa a
ignorância das matérias curriculares, mas estão freqüentemente associados a uma incapacidade
de resolver os problemas interpessoais e sociais de uma maneira inteligente." A autora nos leva a
refletir sobre o fato de que os conteúdos curriculares tradicionais servem - mesmo que não
somente -, para "passar de ano", ingressar na universidade, mas parecem não nos auxiliar a
enfrentar os males de nossa sociedade ou os conflitos de natureza ética que vivenciamos no
cotidiano.

Montagu afirma que nenhum ser humano torna-se agressivo ou hostil sem aprendê-lo,
temos de admitir que, se vivemos momentos de intensa violência, em algum momento da história,
tal violência foi, por nós, construída, aprendida. As relações e os conflitos interpessoais do
cotidiano, com os sentimentos, pensamentos e emoções que lhes são inerentes, exigem de nós
autoconhecimento e um processo de aprendizagem para que possamos enfrentá-los
adequadamente.

Os conflitos que acontecem continuamente em nossas vidas, em nossa sociedade


devem ser transformados pelo educador em instrumentos valiosos na construção de um espaço
autônomo de reflexão e ação, que permita aos alunos e alunas enfrentarem, autonomamente, a
ampla e variada gama de conflitos pessoais e sociais.

Nesta perspectiva, consideramos, por um lado, que os sentimentos, as emoções e os


valores devem ser encarados como objetos de conhecimento, posto que tomar consciência,
expressar e controlar os próprios sentimentos talvez seja um dos aspectos mais difíceis na
resolução de conflitos. Por outro lado, a educação da afetividade pode levar as pessoas a se

82
conhecerem e a compreenderem melhor suas próprias emoções e as das pessoas com quem
interagem no dia a dia.

A proposta educacional para o ambiente prisional integra o aprender a somar, a conhecer


a natureza e a se apropriar da escrita, e conhecer a si mesmos e a seus colegas, e as causas e
conseqüências dos conflitos cotidianos. Trabalhando dessa maneira, por meio de situações que
solicitem a resolução de conflitos, a educação atinge o duplo objetivo de preparar os seres
humanos para a vida cotidiana, ao mesmo tempo que não fragmenta as dimensões cognitiva e
afetiva no trabalho com as disciplinas curriculares.

Moreno (1998) afirma que


"Integrar o que amamos com o que pensamos é
trabalhar, de uma só vez, razão e sentimentos; supõe
elevar estes últimos à categoria de objetos de
conhecimento, dando-lhes existência cognitiva, ampliando
assim seu campo de ação."

Trabalhar pensamentos e sentimentos - dimensões estas indissociáveis - requer dos


profissionais da educação a disponibilidade para se aventurarem por novos campos de
conhecimento e da ciência.

Trabalhar a afetividade consiste em poder fazer com que o ser, jovem ou adulto receba
de nós o contato físico, verbal, a relação de cuidados, mas isso também implicará conflitos,
envolvendo amor e raiva.

Em qualquer espaço deve haver uma relação de afeto, pois é isso que ajudará a construir
um ser humano psicologicamente saudável. O ato de cuidar é maravilhoso - é o sentimento que
vai tornar o outro importante. A família e o professor, educadores que são, devem entender que
têm uma missão: construir um ser humano, mesmo que não seja uma criança mais.

As emoções revelam-se como o elo entre o indivíduo e o ambiente físico, tanto quanto
entre o indivíduo e outros indivíduos. Estes laços interindividuais iniciam nos primeiros dias de
vida e se fortalecem a partir das emoções, antes mesmo do raciocínio e da intenção. No dia a dia,
os educadores percebem a importância dos laços afetivos no processo de educação, e
ressocialização.

Nessa fase de sua vida, apesar de todas as transformações ocorridas, ele, o aluno preso,
precisa se reconhecer como ser importante, capaz de desenvolver valores e respeitá-los na
sociedade, tendo direitos e respeitando dos direitos dos outros, ocupando espaço e respeitando o
espaço do outro. Ser que conhece melhor suas possibilidades, suas limitações, seus pontos
fortes, suas motivações, seus valores e sentimentos, o que cria a possibilidade de escolhas mais

83
adequadas nas diferentes situações de vida. Ser adulto significa ter desenvolvido uma
consciência moral: reconhecer e assumir com clareza seus valores e dirigir suas decisões e
escolhas de acordo com eles.

É essa definição de valores e compromissos com eles que marca o fim de uma fase
conturbada, cuja característica primordial foi a luta por essa definição. Com maior clareza de seus
valores, o jovem ou adulto estará mais livre e com mais energias para voltar-se para o outro, para
fora de si, em condições de acolher o outro solidariamente e a continuar a se desenvolver com
ele. Esse é um indicador de amadurecimento: conseguir um equilíbrio entre "estar centrado em si"
e "estar centrado no outro", um equilíbrio nas direções para dentro — conhecimento de si — e
para fora — conhecimento do mundo. Daí a importância do professor ter condições para o
acolhimento do outro, de seus alunos .

Afetividade e aprendizagem

O prazer de aprender mobiliza positivamente nossa afetividade, enquanto a disciplina, em


si, nada tem de prazeroso. Assim, estamos sempre movidos pela “pulsão de saber”. Isso se
aplica tanto as coisas cotidianas quanto as grandes descobertas da ciência. Portanto, pode-se
afirmar que a curiosidade é amiga do saber, da aprendizagem.

Por isso, pode-se afirmar que a pulsão de saber é parte de nossa vida psíquica, sujeita à
dinâmica do inconsciente, ela está enredada nas astúcias do desejo e da inventividade, assim
está ligada aos sentimentos e emoções, o que escapa a lógica.

Portanto, a aventura do saber inclui, pois a chamadas rupturas epistemológicas, a quebra


de paradigmas, as revoluções científicas. Ela é a fonte de prazer que3 envolve o corpo e a alma,
a imaginação e a sensibilidade do sujeito que busca um novo conhecimento.

Conquanto lidar com a afetividade desse aluno preso, não é apenas lidar com suas
produções cognitivas racionais. Assim, para fazer com que aconteça o aprendizado não podemos
buscar só o saber acadêmico, mas tudo que integra o cotidiano, o qual está esse aluno
afetivamente e politicamente implicado.

84
Atividade

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1- O emocional está presente mesmo quando tomamos decisões de forma inteligente e


racional.
Somos seres vivos, mentais, corporais, emocionais e não é possível dissociar esses
elementos quando falamos do ser humano.
Se na penitenciária, lidamos com presos, seres humanos, por que muitas vezes esquece-se
da afetividade? O que faz com que isso aconteça? Comente.
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______________________________________________________________________.

2- Você, como ser humano, tem sempre as mesmas reações? Não. Acho que sua resposta
foi esse não.
Sabemos que as fontes e instrumentos de conhecimentos são traiçoeiros. Dependendo de
se estar com medo ou confiante o mesmo objeto pode parecer temível ou não. Dependendo
da situação em que se está, as mesmas coisas podem ser irritantes para os que sofrem e

85
agradáveis para os que estão bem. Analisando esse ponto de vista, pode-se que todos têm
reações distintas em momentos distintos. Pensando assim, como deve ser a relação da
equipe que trabalha na prisão, com o apenado.
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3- Vamos, agora, pensar na música de Chico Buarque, O que será que será?

O que será que será


Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza
Será que será
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será que será


Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será que será


Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar

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Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o padre eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo

Observe que a música lembra o impulso livre, as emoções, junta a ousadia e a criatividade.
Aponta para essa “bomba” que são as relações afetivas do ser humano.
Analise e comente em algumas linhas a letra da música, pensando nas relações afetivas e no
seu papel de educador /ressocializador .
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4-Faça um pequeno texto narrando uma experiência em que o desejo de saber e a curiosidade
impulsionaram, prazerosamente e criativamente, uma atitude vivenciada no presídio.

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Unidade 09

Ressocializador, o Agente Penitenciário

Objetivo

• Analisar que a reeducação é fundamental e para isso na


penitenciária todos os envolvidos no processo precisam dispensar à
pessoa presa um tratamento que não anule a capacidade de
iniciativa, a estima e o pouco que resta dos valores morais e éticos.

A sociedade sofre ameaça e a insegurança cresce, quando a cadeia não cumpre seu
objetivo de correção do apenado, correção moral e social.

Por isso, reeducação é fundamental e para isso na penitenciária todos os envolvidos no


processo precisam dispensar à pessoa presa um tratamento que não anule a capacidade de
iniciativa, a estima e o pouco que resta dos valores morais e éticos.

Sabemos que lidar com indivíduos encarcerados implica lidar com pessoas movidas pela
revolta e pela vingança, por isso requer mais compreensão, mais condição de dignidade humana.

Dessa forma o agente penitenciário é um personagem importante no processo de


ressocialização do preso, por isso precisa permanecer altivo, calmo e cumprir sua missão
quando estiver diante de situações que não correspondem a sua expectativa.

Essencial é atentar para o fato de que atitudes construtivas e atitudes com ética
classificam o agente penitenciário como agente social, capaz de colaborar com a sociedade na
solução dos problemas de segurança.

Falando em ressocialização, depende-se de todos os envolvidos no processo para se ver


resultado desse trabalho. Todos que convivem com o recluso face a face, precisam estar
imbuídos de um sentimento de valor inestimável: a solidariedade.

88
Solidariedade, sentimento esse que faz um ser humano diferente, faz prestar socorro ao
outro ser humano que precisa de apoio, amparo e do auxílio de outros, semelhantes ou não.

Assim, é preciso analisar, refletir sobre as palavras de Kahil Gibran, “ È belo dar quando
solicitado; é mais belo, porém, dar por haver apenas compreendido”. O agente está ali, precisa
compreender o outro, apesar de ter errado, de ter ferido as normas de uma sociedade, continua
sendo um ser humano, merece ser compreendido.

Sendo o homem um ser social, só é capaz de produzir conhecimento a partir de seu


contato com o mundo, mediado por outros homens num processo contínuo de ação-reflexão-
ação.

O agente penitenciário ajudará o recluso a delinear perspectivas para resgatar sua


identidade e reconstituição moral. Ele realiza um importante serviço público de alto risco, por
salvaguardar a sociedade civil contribuindo através do tratamento penal, da vigilância e custódia
da pessoa presa no sistema prisional durante a execução da pena de prisão, ou de medida de
segurança, conforme determinada pelos instrumentos legais. Para exercer satisfatoriamente o
seu trabalho é necessário que apresentem um perfil adequado para o efetivo exercício da função,
pois um engajamento e um compromisso para com a instituição a que pertençam.

Deve ter atitudes estratégicas e criteriosas, para corroborar com mudanças no trato do
homem preso, e realizá-las em um espírito de legalidade e ética. Ter a humildade de reconhecer
a incapacidade a respeito dos meios capazes de transformar criminosos em não criminosos, visto
que determinados condicionantes tendem a impedir essa metamorfose, parecendo provável que
algumas delas favoreçam o aumento do grau de criminalidade das pessoas. (Thomphson, 1980)

O papel do agente está ligado a sua conduta, já que o ser humano deve ser considerado
em sua totalidade e não numa visão fragmentada. E para isso, esse profissional deve ser
capacitado e valorizado, a fim de exercer suas práticas profissionais visando a definição do seu
papel no que se refere a melhorar a segurança pública, a vigiar e socializar. È imprescindível
compreensão, a consciência de que sua função não se restringe apenas á segurança do homem
preso, mas que exerce uma função social legítima e indispensável.

Faz-se necessário que o Agente Penitenciário reconheça as contradições inerentes à


própria função; as possíveis orientações que variam conforme os pressupostos ideológicos de
cada administração, pois, devem transcender a estas questões a fim de contribuir para a
promoção da cidadania e assumir definitivamente como protagonista de seu papel de ordenador
social.

Conforme Thompson(1980 p.40) descreve sobre o antagonismo em que vive o agente no


seu dia-a-dia de trabalho com o preso, quando tem que tratá-lo como indivíduo único, mas contá-

89
lo, como um objeto; respeitá-lo como um ser dotado de prerrogativas inalienáveis, dentre as quais
ressalta o direito a intimidade, porém revistar-lhe, frequentemente, o cubículo, remexer-lhe os
objetos pessoais e vistoriar as roupas, inspecionado-o, até no mais íntimo do corpo; desconfiar
dele e fechá-lo à chave.

Para o profissional que está mais próximo com apenado, é necessário as seguintes
atitudes de condutas profissionais: aptidão que é uma disposição nata, um dom natural de lidar
com as pessoas; honestidade, pois precisa ser parte exemplar da instituição e ter conduta
impecável; conhecer com clareza ações próprias de seus direitos, deveres e prerrogativas;
responsabilidade para apresentar-se com entendimento ético e determinação moral; iniciativa
para ser capaz de propor ações e principiar conhecimentos; disciplina para observar os preceitos
ou normas de forma natural; lealdade para com os seus compromissos e honesto com seus
companheiros; equilíbrio emocional com ações comedidas e prudentes; autoridade que não
tenha apenas direito ao poder, mas que tenha o encargo de respeitar as leis com competência
indiscutível; liderança para conduzir o grupo; flexibilidade para estar sempre com destreza, bom
senso a serviço do bem comum; empatia para colocar-se sempre no lugar do outro, antes de
uma decisão importante; comunicabilidade para comunica-se de forma expressiva e franca;
perseverança para ser firme e constante em suas ações e ideais.

O bom trabalho do agente depende de integração com a direção, podendo assim, manter
a tranqüilidade no local de trabalho. O agente toma para si a responsabilidade de manter o preso
dentro da penitenciária, garantir a ordem entre os presos e agentes, mas um problema que
aparece para a execução desse trabalho é a falta de planejamento com a finalidade comum.
Pode-se dizer que o trabalho é feito da melhor forma possível, mas sem a preocupação de indicar
metas e objetivos a serem atingidos a médio e longo prazo.

As escolas penitenciárias apresentam uma grande preocupação em formar uma


especificidade profissional para este agente, pretendendo subsidiar mais este profissional na
busca de uma prática mais eficaz.

Nesse sentido, faz-se necessário o investimento efetivo no capital humano que


desempenha suas funções diretamente com os presos, fazendo assim, uma incursão na trilha da
ressocialização.

Como se observa, é preciso propiciar ao agente penitenciário, cursos de capacitação que


oriente para um melhor e mais eficaz atendimento ao homem preso, já que , é através do trabalho
desse profissional que convive com o apenado diariamente que a ressocialização terá início.

90
Atividade

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva


Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1- Em relação a função do agente penitenciário, são verdadeiras as afirmativas.

I - O agente penitenciário deve desenvolver com os apenados uma


comunicação aberta, propiciando situações favoráveis para
manter a ordem no ambiente prisional.
II- O agente penitenciário deve contribuir de forma significativa na
reinserção do apenado, e que tampouco pode omitir-se quando
se trata de oferecer contribuições, sejam elas através de críticas
ou sugestões para a resolução dos problemas inerentes ao
cárcere.
III- O trabalho do agente penitenciário restringe apenas á segurança
do homem preso.
IV- O agente penitenciário deve oferecer um eficaz atendimento ao
apenado, buscando atribuir ao trabalho disciplinar, um caráter
educativo.
a) I, II e IV
b) I, III e IV
c) Apenas II e III
d) Apenas IV e II
91
2- Podemos afirmar que em toda relação é importante que aja o sentimento de
solidariedade, pois ela fortalece o elo entre as pessoas, a compreensão de compartilhar
sem perdas. Há um provérbio chinês que diz: “Fica sempre um pouco de perfume nas
mãos de quem oferece rosas”. Comente em algumas linhas o provérbio chinês, fazendo
uma relação com o trabalho do agente penitenciário.
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92
Unidade 10

Psicologia da Aprendizagem no
Sistema Prisional

Objetivo

• Pensar as relações existentes na perspectiva de alteridade dentro do


Sistema prisional.

Imagine-se perdido em um deserto. Desespero? Impossível sobreviver? É, mas longe


dessa ficção, no real isso acontece. Pense em pessoas esquecidas pela família, pelos amigos,
pelo poder público, sem laços de convivência, sentindo-se sem proteção, abandonadas. Esse
estado de exclusão acontece com muitas pessoas no presídio, independente de sua classe
social, de sua escolarização ou mesmo de sua idade.

Vamos falar dessas pessoas que vivem “à margem” do convívio social, os detentos. Esse
tipo de isolamento talvez seja o mais dramático, pois os indivíduos, mesmo vivendo no meio de
seus semelhantes, experimentam uma solidão forçada, sejam eles, jovens, adultos ou idosos.

Na verdade, a vida em sociedade é uma contingência humana. O homem cria a


sociedade e esta, por seu turno, permite o desenvolvimento e a sobrevivência daquele. A
sociedade é uma realidade determinada pela necessidade que o homem tem de viver entre
semelhantes. Com acerto, já destacara ARISTÓTELES que o homem para viver isolado, à
margem da sociedade, haveria de ser um bruto ou um Deus.

Assim, deve o homem à sociedade, ademais, sua autoconsciência. Nela está presente a
figura do "outro", que testemunha e afirma a sua existência. Portanto, é impossível vivermos
isolados, mesmo quando estamos fisicamente sozinhos, estamos dialogando mentalmente
afetivamente com alguém, parentes, amigos ou inimigos, que está longe. Este diálogo imaginário

93
acontece com os prisioneiros isolados numa cela, mas acontece também com outras pessoas
que estão sozinhas.

A vida em sociedade nos coloca sempre em relação com os outros, em situações


específicas. Isso, aponta para a formação de grupos e subgrupos que apresentam maneiras
distintas de comportamentos. Assim, cada um de nós pertence, ao mesmo tempo, a diversos
grupos. E com cada um desses grupos temos elementos distintos de identificação.

É sabido que o homem precisa estar em convivência com o outro, pois desde que nasce
vive em grupos que servem de referência, que dão apoio material, afetivo, intelectual ou
espiritual, tais com a família, a escola, os espaços de trabalho, de lazer, de reflexão e de
participação social. Dessa forma, cada um estrutura sua identidade singular e social.

O convívio em grupo nos dá duas coisas importantes: elementos de identificação (valores,


ações comuns, crenças) que partilha-se com os demais membros; lugar de referência, um abrigo
que me acolhe. Mas, não podemos disser que só o fato de estarmos no mesmo lugar, na mesma
hora, somos um grupo. Um amontoado de pessoas como nos presídios que na verdade pouco
conhecem uma das outras, e que por falta de sorte, ou outro motivo qualquer, estão próximas
fisicamente, mas sem nenhum contato ou comunicação, não pode ser chamado de grupo.

Só podemos chamar de grupo, quando os membros se reconhecem como parceiros de


um projeto comum. A ação de um grupo é diferente da ação coletiva. Para ser um grupo é preciso
passar pela difícil experiência de conviver no dia-a-dia, de enfrentar conflitos mais ou menos
agudos. Dessa forma, grupo é aquele que caminha junto, uma estrada única em busca dos
desejos e esperanças, de alegrias, superando conflitos, angústias.

As pessoas que trabalham na penitenciária, especialmente os educadores, precisam


auxiliá-los a dar sentido à suas ações, a sua vida, buscando torná-los um grupo em busca de
um objetivo comum, a reintegração na sociedade, na medida que vão respondendo a perguntas
tais como: “Quem somos?; Qual lugar ocupamos na sociedade?; O que queremos para nós?;
Como pensamos desenvolver nosso papel a na sociedade?; Que tipo de sociedade sonhamos
para nós e nossos familiares?

Esse caminho é cheio de espinhos, não é tão fácil, mas sempre existe, ao lado de
constantes dificuldades, uma chama acesa sustenta os desejos e sentimentos comuns, que faz
aos educadores e educandos companheiros nessa jornada para suportarem as frustrações e não
perder a esperança em tornar os sonhos em realidade.

Sabe-se que a comunidade carcerária se subdivide em grupinhos, tendem a juntar


naturalmente com seus pares e até rejeitar os diferentes, mas em alguns raros momentos, um
acontecimento inesperado cria um laço comum que liga todos os indivíduos, logo, se há essa
união em alguns momentos, é possível desertar em cada detento o sentimento de pertencer a um

94
mesmo grupo, ser membro de uma sociedade, tendo algo em comum, todos se identificando uns
com os outros, na busca dos mesmos objetivos comuns.

A interação social, a interdependência entre os indivíduos e o encontro social são os


objetos investigados pela Psicologia Social. Assim, é preciso diante de toda relação, de todo ato
social estudar o comportamento dos indivíduos quando estão em interação, e como as diversas
formas da convivência social influenciam na manifestação concreta na vida social do homem: a
percepção social, a comunicação, as atitudes, as mudanças de atitudes, o processo de
socialização, os grupos sociais e os papéis sociais.

Em nossa sociedade, milhares de pessoas não têm acesso à escola, à saúde, à


alimentação básica, vivem na pura miséria, essas pessoas ,em geral, são excluídos sociais.
Desse modo, os excluídos perdem suas referências identitárias: étnica, religiosa, social, cultural,
familiar e isso é uma forma de anular sua identidade individual e coletiva, retirando-os de seus
grupos.

Para a psicossocióloga Barus-Michel(2001), ter uma identidade significa que a pessoa


pode se definir para si mesma e para os outros, para a sociedade. Quando é excluído de seu
grupo o indivíduo fica desorientado, fica sem lugar, sem referências, no puro caos. Diante disso,
propõe a autora que toda violência merece ser analisada sob o aspecto que a pessoa excluída
perde suas raízes, seus suportes afetivos, seu território, suas relações estáveis, fica sem nome e
sem lugar. Portanto, nessa perspectiva o desvio de conduta, o crime é efeito de uma crise de
identidade.

É difícil para qualquer homem viver como ninguém, viver no anonimato social. Talvez o
jeito “torto” desse indivíduo, é um grito para ser notado, assim a violência seria a demanda do
reconhecimento que esse indivíduo, jovem, adulto, homem ou mulher não teve na família ou na
sociedade. Quando pratica um ato ilícito, quando agride alguém e esse alguém reage, ele sente
que existe diante dos olhos dos outros, que existe para a sociedade.

Voltemos ao cotidiano da penitenciária, os profissionais que convivem com essas


pessoas, que por um motivo ou outro se sentem excluídos, devem desenvolver estratégias que
contribuam na implantação de espaços que favoreçam e estimulem a cidadania, a participação, o
diálogo, a auto-estima, a valorização da potencialidade, a reciprocidade e a descontração.

Sem dúvida, a construção de espaços de liberdade mesmo dentro de um ambiente que a


limita, a diversão, a descontração, a elevação da auto-estima, o aproveitamento do tempo com
atividades de grupo (futebol, conversa, teatro, sala de aula, compartilhamento de experiências,
etc.), proporcionará a reconstrução de novos traços identitários, recompondo seus territórios
afetivos e seus espaços de reconhecimento.

95
A implantação de espaços que favoreçam e estimulem a cidadania, a participação, o diálogo, a
auto-estima, a valorização da potencialidade, a reciprocidade e a descontração pode estimular a
ressocialização. Entretanto, é necessário frisar algo sobre a participação e a cidadania.

A participação aparece como fator altamente relevante para se transformar a realidade local e,
além do mais, é um direito que não pode ser restrito por critérios de gênero, idade, cor, credo ou
condição social. Tal premissa aparece como fator crucial para a realização das atividades dentro
da penitenciária, pois a participação é algo não muito estimulado dentro dos espaços prisionais
brasileiros.

Quanto à cidadania, ela expressa um conjunto de direitos que dá a pessoa a


possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem
cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa
posição de inferioridade dentro do grupo social. Ampliar espaços para as internas participantes na
tomada de decisões no rumo das atividades coordenadas pelos profissionais que trabalham no
presídio é um gancho para fazê-las entender que, assim como no grupo o seu papel é importante
para o resultado final, na sociedade, a presença efetiva delas é de extrema importância para o
tipo de país que buscamos.

O trabalho no ambiente prisional deve buscar repartir ou cultivar coisas comuns, os


sentimentos , os valores da sociedade, a qual pertencemos. De forma racional, mas não só,
também por razões afetivas e ideológicas, já que as pessoas se relacionam bem, seguem,
tendem a concordar com aquelas, as quais se sentem bem com elas. Na verdade, se espelham
nelas mesmo que inconscientemente.

Observa-se que essas relações são importantes para todos nós, do ponto de vista afetivo,
intelectual, institucional. Assim, a vida grupal é um lugar de realização de nossos sonhos, onde
estamos livres de qualquer ameaça, conflitos e angústias. Nessas relações o ser humano está
livre de carências físicas, psíquicas, de culpas, de incertezas, de dúvidas, do erro, etc.

ATIVIDADE

Professores, professoras e agentes prisionais como vocês construíram seus


conhecimentos no estudo dessa temática? Vamos ver o que conseguimos aprender? Então
vamos lá, colocar em prática nossas reflexões é um exercício!
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:

1º Momento: Construção coletiva

96
Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.

2º momento: Agora vamos aprender ainda mais com os outros!


Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas,
tendo por base a teoria aprendida.

3° Momento: Relato de experiências.


Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os
colegas professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática
discutida que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.

Questões norteadoras:

1- Há certos grupos aos quais desejamos ardentemente pertencer, pois fantasiamos que
neles nos realizamos. Assim, os grupos de pertencimento aos quais estamos
afetivamente ligados propiciam, exceto:
a) segurança afetiva
b) valorização
c) sentimento de importância
d) chance de ficar rico
2- Dê um exemplo de uma atitude preconceituosa, no interior da unidade prisional que você
trabalha. Comente os danos que essa atitude pode causar ao ser humano que a sofreu.

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

3- Diante da sua experiência profissional, cite um exemplo de um preso que abandonou


atitude de violência, porque os profissionais que convivem com ele o valorizou, dano-lhe
chance de inserir socialmente.

______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________.

97
Aprender é aprender com alguém...

O desejo de aprender, ou o fenômeno da aprendizagem na percepção de Freud, in


Hupffer (1989, p.78) é o que habilita os indivíduos para o mundo do conhecimento. Para o autor,
Freud procura compreender o que pode levar alguém a ser um “desejante de saber”. A
maturidade de um indivíduo não se limita a um único padrão comportamental nem a uma
determinada cultura, portanto, o desejo do saber existe em todas etapas da vida das pessoas,
nas possibilidades de interação das pessoas, na determinação da personalidade como
conseqüência da aprendizagem, percepção e motivação.

Nesta relação, aprender é aprender com alguém. Hupffer diz que:

O ato de aprender sempre pressupõe uma relação com


outra pessoa, a que ensina. Não há ensino sem
professor. Até mesmo o autodidatismo (visto pela
Psicanálise como um sintoma) supõe a figura imaginada
de alguém que está transmitindo, através de um livro, por
exemplo, aquele saber. E no caso de não haver sequer
um livro ensinando, o aprender como descoberta
aparentemente espontâneo, supõe um diálogo interior
entre o aprendiz e alguma figura qualquer, imaginada por
ele, que possa servir de suporte para esse diálogo. (p. 84)

Freud coloca que um professor pode ser ouvido quando está revestido por seus alunos de
uma importância especial. Os educadores investidos da relação afetiva são fundamentais para a
aprendizagem de seus alunos; assim, esta relação mais do que conteúdos cognitivos tem sua
base na afetividade. Neste sentido a noção de transferência se torna importante no contexto da
educação. O professor torna-se depositário da confiança dos alunos e se reveste de uma
importância especial decorrente do “desejo de aprender”, mas também ocorre uma transferência
de poder. Isto significaria que a tentação de abusar do poder é muito grande na relação
professor-aluno, abusar do poder seria equivalente a usá-lo para subjugar o aluno, impor-lhe seus
próprios valores e idéias. Para evitar-se tal tentação, o professor deve entender sua tarefa como
uma contribuição à formação de um ideal que tem uma função reguladora, normatizante

A noção de transferência tem relação com uma série de acontecimentos psíquicos que
ganham vida novamente, agora não mais como passado, mas como relação atual, como
experiências vividas. O encontro entre o que foi ensinado e a subjetividade de cada um é que
torna possível o pensamento renovado, a criação, a geração de novos conhecimentos.

O saber desejante que habita diferentemente em cada um de nós, estará sendo


preservado cada vez que um professor renunciar ao controle, aos efeitos de seu poder sobre os

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alunos. Esta saber se manifestará cada vez que o professor se dispuser a desocupar o lugar de
poder em que um aluno o coloca necessariamente no início de uma relação pedagógica.

Dentro do sistema prisional a educação precisa ser recuperada como formação humana
dentro de uma prática que ensina o aluno a romper com o processo de desumanização ou de
degradação a que foram submetidos em sua história de vida. Esta educação precisa
conscientizar as pessoas a tomarem posição diante das questões do seu tempo e, especialmente
do seu momento de vida. É preciso intencionalidade pedagógica específica para a
alfabetização/educação dos adultos dentro do sistema prisional. O aluno, mais do que em outras
condições educativas, deve olhar-se como sujeito educativo mediado pela afetividade e
conhecimento do professor.

As ações entre educando e educador, passam a ter um peso maior quando o “desejo de
aprender” é fruto da reflexão sobre o mundo que os cerca, o modelo de sociedade que se deseja
a partir da possibilidade de transformações dos indivíduos, mas também das estruturas da
sociedade. A vivência cotidiana, novas relações sociais e interpessoais começam a mudar a
cabeça e o coração das pessoas, recuperando certos valores que já tinham perdido ou nem
conheciam. O professor precisa entender que há a necessidade de ferramentas pedagógicas que
explicitam valores, que mostram para as pessoas da necessidade do aprender, pois elas só
aprendem aquilo que sabem que precisam aprender, e que não se pode impor a outra pessoa a
consciência da necessidade de aprender.

As necessidades do dia a dia, a reflexão sobre a ação, são processos pedagógicos


básicos que produzem a crítica e a autocrítica e revelam a importância do conhecimento dentro
do sistema prisional. Neste sentido, estudar é algo bem mais profundo do que estar recebendo
conteúdos. O professor deve ajudar o aluno a identificar o valor e a utilidade do estudo em sua
vida por meio de atividades ligadas ao seu cotidiano, por mais difícil que este parece neste
momento. A grande tarefa dos educadores e conduzir as pessoas a se assumirem como sujeitos
de uma reflexão permanente sobre suas práticas, relações sociais e vivências para que, ao
saírem do sistema prisional, cidadania e desejo do saber permanecem na caminhada dos alunos.

Na educação de adultos, além de provocar o “desejo do saber”, a necessidade das


relações afetivas, não se pode esquecer que a interdisciplinaridade é fundamental para o sucesso
do ensino-aprendizagem. Misturar as disciplinas – já que no mundo elas não estão separadas –
integrar os alunos a partir das experiências deles em sala de aula, pensar a alfabetização com
base em temas geradores, que possam fazer a ligação dos conteúdos escolares, podem definir o
sucesso ou o fracasso na educação prisional. Fazê-los descobrir que a necessidade de
alfabetização/educação pode ser a chave para uma nova perspectiva de vida e visão de mundo,
especialmente no mundo da informação, pode torná-las pessoas melhores, mais críticas e ativas,
pessoas com auto-estima, com uma identidade para recomeçar a vida na sociedade.

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Utilizar de músicas e brincadeiras, dos cânticos religiosos, para proporcionar um ambiente
de aprendizagem, pedir para o aluno descrever situações positivas de sua existência pode
provocar um ambiente de afetividade e interesses mútuos que facilitam e incentivam as relações
dentro do grupo de aprendentes, muitos estão preocupados com problemas pessoais e o
ambiente de estudos pode ser um momento de troca entre todos, isto é, o sentimento de grupo
cria vínculos e os alunos podem se sentir estimulados a participar das atividades. É importante
perceber que além de um quadro e do giz, o uso de filmes, entrevistas, documentários, livros, e
tantas outras coisas que fazem parte do universo destes alunos podem ser utilizadas no processo
de ensino-aprendizagem.

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