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Ética Profissional e
Valores na Educação Prisional
Palmas - Tocantins/2006
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Autores/ Elaboração e Organização dos Conteúdos/ Revisão Literária
Ficha Catalográfica
Ética Profissional e Valores na Educação Prisional./ Módulo III - Elaboração: Sandoval Antunes
de Souza, Maria Rita de Cássia Pelizari Labanca e Gilson Pôrto Jr. – Palmas, TO: Secretaria
de Educação do Estado do Tocantins / Gerência de Educação de Jovens e Adultos, 2006.
CDU:374(81)
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Apresentação, ou
para Introduzir uma conversa....
Estar na prisão é uma situação transitória. Ser jovem e migrante é também uma condição
precária numa perspectiva de educação vitalícia (particularmente para os jovens). A situação
transitória de um condenado deve sempre ser levada em consideração. A educação na prisão
deve permanecer em processo contínuo e não apenas focalizar a condição temporária de
encarceramento.
Sendo assim, a relação do sujeito com o outro convoca-nos à reflexão ética. O “outro” se
torna a referência para a ação, pois demanda uma relação de cuidado.
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O princípio da não violência coloca a possibilidade de se respeitarem e preservarem as
diferenças. Gera uma atitude de reconhecimento do outro como um ser que pertence à espécie
humana. Por não ser permitido violar sua integridade física e psíquica, é preciso aprender a não
tornar o outro como objeto, uma coisa e a não usar a força como mecanismo de coerção. A ética
abre campo aos sujeitos para a construção e o exercício da solidariedade ao próximo.
Sendo assim, educar é formar um ser capaz de lidar com o meio e com outros seres
humanos, pois a afetividade acompanha o ser humano desde a sua vida intra-uterina, até a sua
morte, se manifestando como uma fonte geradora de potência e energia, ela seria o alicerce sobre
a qual se constrói o conhecimento racional.
Os autores
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Sumário
Unidade 1
Pensando o Contemporâneo 9
Unidade 2
Unidade 3
Unidade 4
Unidade 5
Unidade 6
Educação e cidadania 60
Unidade 7
Educador, um ressocializador 65
7
Unidade 8
O Trabalho 72
Unidade 9
Unidade 10
8
Unidade 01
Pensando o Contemporâneo
Objetivo
A nossa realidade é, sem dúvida, pontuada por contradições e desafios que precisam ser
explicitados com o objetivo de se avançar nas relações sociais, em todos os aspectos e
possibilidades do viver humano. O professor César Nunes, na introdução ao texto Aprendendo a
Viver Juntos (2001, p.07) lembra que “o século XXI abre-se ao tempo e à história ainda marcado
pelos estigmas do século passado”. A acumulação de riquezas, a intolerância religiosa, os
relativismos éticos e morais, a mercantilização do sexo e da sexualidade, a massificação da
indústria cultural, os fanatismos, a solidão existencial, o avanço do econômico sobre todas as
manifestações da vida, on-line, ao vivo, são realidades vivenciadas pelas sociedades humanas e,
muito mais agora, marcam nosso modo de agir, pensar e significar a vida.
Quando se diz, portanto, que vivemos em uma sociedade de mercado, este termo tende a
funcionar como um slogan, que torna difícil descobrir o que se esconde por trás das palavras.
Quais as implicações de ser contra ou a favor do Estado do Bem Estar ou do Estado Mínimo?
Quais as implicações de ser a favor do mercado? A generalização do enfoque da palavra mercado
conduz à generalização dos modos de existência na contemporaneidade. A tendência atual da
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economia mundial é de livre mercado, de estender e difundir o pensamento único, a verdade única,
o mercado único, o mundo único possível, a hierarquia de valores única, e isso torna evidente uma
ideologia concreta que se pretende universal - tanto na fé quanto no poder do mercado é que a
sociedade passa a ser pensada no final do século XX.
A educação
homem contemporâneo, no dizer de Santomé (2003) é o “homo economicus” que se traduz por
visa uma racionalidade instrumental e pela busca calculada de benefícios que satisfaçam a si mesmo.
melhorar a
natureza do O “homo economicus” das sociedades, entre elas, a capitalista, seria regido em suas ações pelo
homem o
que nem
egoísmo, pela busca do seu proveito particular, de seus interesses privados. Esse homem tem
sempre é uma essencial preocupação com o resultado dos intercâmbios comerciais e a medida é sempre
aceito pelo
interessado. procurar resolver as suas necessidades individuais.
Carlos
Drummond.
Neste sentido, nos anos 90, a expressão homem na “pós-modernidade”, configura-se no
“homo economicus”. Este homem vive um momento sócio-cultural caracterizado por um
encadeamento de tolerância, indiferença, pluralidade, ambigüidade e relativismo, como
conseqüência dessa forma de ser da sociedade. Por meio de intercâmbios mercantis e financeiros
se move a economia, a política e a vida social dos grupos humanos. Esse modo de ser tem como
resultante a incorporação passiva e acrítica do pensamento e da cultura dominantes.
Pérez Gómez (2001) apresenta algumas peculiaridades deste momento. Dentre eles a
“perda de fundamento da realidade” (p.26, grifo do autor) na medida em que os critérios que
balizaram e balizam a modernidade se dissolvem. A certeza moral e científica, os padrões éticos
dão lugar a construções sociais relativas e contingentes. Nesse processo, o discurso, a linguagem
e a imagem se tornam preponderantes. O imediato descontextualizado é o foco do interesse
pragmático.
Outra característica, levantada pelo autor, seria a do “Pragmatismo como forma de vida e
de pensamento” (p.27, grifo do autor). O pensamento e a vida cotidiana começam a ter as suas
referências em um sentido cada vez mais pragmático de existência. A vida cotidiana se pauta na
busca do prazer e da satisfação do presente, sem demasiada preocupação com fundamentos ou
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conseqüências. Um hedonismo exacerbado ligado ao aqui e agora se torna a tônica da sociedade,
não importando em qual âmbito social o indivíduo se localiza.
Registra, por último, a “primazia da estética sobre a ética” (p.27, grifo do autor). No
momento em que a fundamentação racional, a base do saber é questionada, a linguagem, o
discurso, a imagem se tornam proeminentes, as questões éticas, as grandes balisas do viver em
sociedade, desaparecem diante do deslumbramento do sentido estético. As aparências, agora,
ocupam todo o território das representações.
Uma das conseqüências dessa nova forma de viver, paradoxalmente ligada à afirmação
das identidades culturais, do particular, é o desamparo individual, a passividade política, a
desmobilização social.
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O avanço da tecnologia e da mídia globalizada favoreceu os imprevisíveis e incertos
comportamentos dos indivíduos na sociedade. Uma complexa rede de relações com inúmeros
componentes contraditórios coloca o indivíduo como impotente no sentido da impossibilidade para
interagir e produzir relações mais concretas. A vivência do descartável, da meritocracia, do
pasteurizado define a não-permanência no espaço-tempo e limita a vontade ou ação dos
indivíduos.
Outro comportamento atual tem a ver com um viver ético utilitarista. Há uma tendência de
se pensar ou praticar a ética contemporânea como uma relação de meio-fim ou de custo-benefício.
É crescente a noção de que os fins justificam os meios, que o importante é a finalidade da
proposição, que é possível retirar das ações muitos benefícios, não importando tanto se estas
ações possam produzir conseqüências indesejáveis para os demais, ou para a sociedade.
O que é
ensinado em A revolução da eletrônica, propiciando novos meios e formas de comunicação, novas
escolas e
universidade configurações do espaço e do tempo, também vem alterando os hábitos, os interesses, os modos
s não
representa de pensar, as formas do viver cotidiano. Palavras como “Vias de Informações”, “Infovias”, “Aldeia
educação, Global”, “Informações On-line”, começam a fazer parte do cotidiano de uma parcela significativa da
mas são
meios para população mundial. Os intercâmbios sociais passam a ser mediatizados pelos meios eletrônicos,
obtê-la.
Ralph pelo uso maciço da televisão que instrumentaliza a contemplação passiva dos cidadãos. A
Emerson universalização das comunicações relativiza a cultura, as idéias, os hábitos, na medida em que a
comparação e o confronto vão se delineando com rapidez, provocando choque e, ao mesmo
tempo, indiferença. Nada é permanente.
Todas as instâncias sociais sofrem. O modelo familiar - que oferecia amparo, satisfação
das necessidades, espaço para a comunicação, fortalecimento dos papéis e da identidade
individual, agora, com a desregulação crescente da sociedade, da economia de mercado livre, da
mobilidade profissional, do ritmo acelerado das mudanças no sistema de produção e consumo, da
precariedade das formas contemporâneas de viver, faz com que haja uma desregulação da própria
estrutura familiar. As redes de solidariedade familiar, atreladas à dificuldade de recompor os papéis
tradicionais ou as redes de parentesco, resultam em um esfacelamento familiar, restando o
individualismo como a única saída na complexidade da vida privada e anônima.
Todas estas questões afetam o nosso modo de viver! Queremos ser autores da nossa
própria existência, queremos ser livres para responder por nossas ações! Temos uma razão para
nos dirigir e inteligência que nos possibilitam escolhas. Porém a vida não é mais simples assim!
Quantas vezes temos que fazer escolhas! Um determinado momento nos obriga a escolher
entre duas possibilidades ou mais, embora não queríamos tomar uma posição. Nossos atos, em
muitas circunstâncias, são regidos por situações já presentes em nosso cotidiano.
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Unidade 02
Investigando sobre Ética, Moral,
Valores e Afetividade
Objetivo
Pense nas seguintes afirmações: “eu tenho uma moral inatacável”. “Observe como aquele
sujeito tem um comportamento ético exemplar”. “Meus valores foram herdados do meu pai”.
Daí poderíamos perguntar: O que estas afirmações tem a ver com as idéias da unidade
anterior? Você consegue perceber as contradições das posturas (posicionamentos) da realidade
contemporânea! O que é Ética, Moral, Valores no mundo de hoje? Não vivemos em sociedades
estáticas, portanto as mudanças e contradições são inerentes a esse processo natural de
transformações constantes da vida em sociedade.
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A Moral é uma palavra que vem da língua latina: mos-mores, significando costumes ou
regras que determinam a vida. Dizemos, então, que é o conjunto de regras de conduta assumidas
pelos indivíduos de um grupo social com a finalidade de organizar as relações interpessoais, isto é,
normas e valores que orientam a vida do homem dentro da sociedade. A intenção da moral é
definir o certo e o errado, o justo e o injusto, o permitido do proibido, o bem do mal. Quais ações e
atitudes se devem adotar diante de situações que nos confrontam, afetam-nos diariamente!
Consulte
sites na
Quantas vezes somos tomados pelo horror diante da violência: chacina de seres humanos, internet para
aprofundar
linchamentos, assassinatos brutais, torturas, genocídios, corrupção ativa e passiva e tantas outras mais os
conceitos
coisas que nos deixam indignados. Quantas circunstâncias que trazem ira, raiva pela impotência estudados
que sentimos diante de uma injustiça como um inocente que é julgado e condenado enquanto que nessa
unidade.
o verdadeiro culpado vive solto e impune! Por outro lado, quantas vezes somos levados por algum
impulso incontrolável ou emoção forte (medo, ambição, orgulho, vaidade, etc.) e praticamos atos
que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de desfazer, voltar atrás e quem
sabe agir de modo diferente.
Todas essas questões dizem respeito ao nosso senso moral, isto é, a sentimentos e
ações que expressamos diante das situações do mundo que nos cerca.
Da mesma forma, uma jovem que descobre que está grávida e percebe que seu corpo e
seu espírito ainda não estão preparados para a gravidez, o que ela vai fazer? Ou um pai de família
desempregado, com filhos pequenos e uma esposa doente recebe uma oferta de emprego, mas o
empregador exige que ele cometa irregularidades que beneficiem a empresa. Ele deve ou não
aceitar este emprego?
Estas e tantas outras questões dizem respeito à consciência moral, porque exigem que
decidamos o que fazer que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas
decisões e assumamos todas as conseqüências, pois somos responsáveis por elas.
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uma cadeia. É tudo muito humilhante, desde as revistas, as
ironias e a arrogância dos funcionários, até o contato com
outros presos.”
(extraído do relato de um condenado pelo sistema penal – NEGRINI, Pedro ENJAULADO, Rio de
Janeiro: GRIPHUS, 2002, p.02)
Questões norteadoras:
1 - Qual seria a nossa postura, enquanto educadores, diante de um relato como este?
2 - Quais seriam as atitudes mais adequadas no contexto ético e moral que deveríamos ter
para educar um indivíduo do sistema prisional que retrata esta visão de mundo e relações sociais?
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3 – É importante procurarmos relacionar os nossos atos e ações aos conceitos de
responsabilidade moral. Escreva três ações, atos, que você praticou, em algum momento não
muito distante do seu cotidiano e, analise se você está sendo livre nessas ações.
4 – Na sua opinião, o que determina que um ato seja considerado moral ou imoral?
A Ética
Vem da língua grega ethos, significando modo de ser, a forma usada pela pessoa para
organizar sua vida em sociedade. Assim, para que haja uma conduta ética é preciso que exista o
agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre o bem e o mal. A ética se
preocupa com a reflexão sobre as noções e princípios que fundamentam a vida moral. É o
processo feito pela pessoa de transformar em normas/regras práticas os valores surgidos no grupo
e na cultura em que vive.
Ética Moral:
Baseia-se em
princípios e
regras A exigência ética só pode ser pensada a partir da vida concreta de uma coletividade
morais fixas.
instituída: derivado de ethos, que significa costume, uso, o termo ethike designa o caráter, a
maneira habitual de um indivíduo se comportar. Em uma palavra, a ética se refere à conformação,
Ética Imoral:
Baseia-se na ou não, dos hábitos e comportamentos individuais aos usos e costumes que cada sociedade
ética dos
fins: “Os fins
institui para si. E, de fato, cada sociedade se cria, criando os valores, as normas, os costumes, as
justificam os práticas e os ideais que a regem. Esses valores, normas, costumes, práticas e ideais constituem-
meios”.
se, como já se disse tantas vezes, no verdadeiro cimento das sociedades.
Ética Amoral
: Baseia-se Porém, O crescimento da violência urbana e a crise dos sistemas penitenciário,
nas
circunstânci judiciário e policial são temas que ocupam um grande espaço no noticiário, no caso brasileiro, nos
as. Tudo é
relativo e
últimos anos. A crescente criminalidade e a impunidade têm como uma das conseqüências mais
temporal. visíveis a sensação de insegurança e medo da população que, cada vez mais, busca mecanismos
próprios de proteção: grades nas janelas, portas trancadas, carros blindados, armas de fogo e
sistemas de segurança privada fazem parte do cotidiano de uma parcela da população que busca
se proteger a todo custo.
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militares, que estão de serviço nas muralhas ou que entram nos
presídios compondo as tropas de choque, não fazem distinção
entre o bandido que usou armas na rua e o detento que está ali por
razões que não incluem qualquer violência, como por exemplo, o
não pagamento de pensão alimentícia. Para os policiais militares,
preso é tudo igual. É como se todos tivessem trocado tiros com
eles nas ruas, tivessem revidado às ações policiais, tivessem
matado colegas da corporação ou familiares desses mesmos
colegas.
Por razões que vêm das ruas, há um ódio intenso dos policiais
para com os bandidos e dos bandidos para com os policiais.
O ódio dos policiais aos presos é demonstrado nas revistas e nas
atuações das tropas de choque da PM quando os detentos estão
nas alas com as mãos na cabeça, sem roupas, pernas abertas,
cara voltada para a parede.
Atrás dos revistados passam os policiais militares de uma tropa de
choque e, nessa hora, eles se esquecem de qualquer resquício de
profissionalismo e aproveitam para tirar todas as suas diferenças
em relações aos presos, para externar todos os seus ódios, para
vingar os colegas e familiares que foram mortos por bandidos”.
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Î Cada grupo apresentará para os colegas as observações sistematizadas, tendo
por base a teoria aprendida.
Questões norteadoras:
2 - Quais as formas possíveis para desarmar este confronto que parece inevitável nas
relações descritas acima?
A reflexão ética já estava presente, no mundo ocidental, desde a Grécia Clássica quando
os filósofos procuram o fundamento moral de uma sociedade que desejava se distanciar dos
relatos míticos. Por exemplo, a ética de Aristóteles (século IV a.C.) vai exercer uma grande
influência no pensamento ocidental a partir da noção do “eudemonismo”. O verbo grego
eudaimonéo significa “ter êxito”, “ser feliz”. Portanto, para Aristóteles, todas as pessoas aspiram a
algum bem, dentre os quais o maior é a felicidade.
Sócrates (século V a.C.), dirigindo-se aos atenienses, segundo Chauí (2001, p. 166):
O essencial,
com efeito, “indagava se eles tinham percepção do que era a consciência
na educação,
não é a moral e o sujeito ético. Interrogava a sociedade para saber se o
doutrina
ensinada, é o que ela costumava considerar virtuoso e bom correspondia
despertar. efetivamente à virtude e ao bem; e, por outro lado, interrogava os
Ernest
Renan indivíduos para saber se, ao agir, possuem efetivamente
consciência do significado e da finalidade de suas ações, se seu
caráter ou sua índole são virtuosos e bons realmente.”
O que caracteriza uma vida ética? Quem pode dizer que as suas próprias ações são
moralmente corretas? Para Wonsovicz (2001, p.16) um sujeito ético ou moral tem que preencher
alguns requisitos:
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• capacidade de reflexão e de reconhecimento da existência do outros (consciência de si e
dos outros);
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disputando uma partida de futebol no campo de terra batida, um
interno ouvindo rap numa altura insuportável, outro lendo jornal em
que o forte era o noticiário policial, uma rodinha formada por
homens que apostavam tudo o que tinham no jogo de ronda e
internos deitados em bancos de cimento, simplesmente esperando
a hora passar.
1 – o conceito de autodeterminação pode ser aplicado diante de um relato, que é comum aos
presídios brasileiros?
Novamente a ética...
Ao olharmos para a história da filosofia, a ética, vista como um estudo ou reflexão sobre as
ações humanas pode ser, para uma compreensão mais adequada dos problemas éticos, dividida
em dois segmentos: geral e específico.
Podemos colocar dentro dos problemas gerais e fundamentais o que se refere à liberdade,
consciência, bem, valor, lei, amor, morte, etc., enquanto que dentro dos problemas específicos o
que se aplica às ações individuais que são os da ética profissional, da ética política, da ética
sexual, bioética, etc.
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Os Valores
A educação
Daí a grande questão que chamamos da perda dos valores sociais. Afirmamos que as é um
pessoas não sabem mais viver em sociedade porque seus valores estão invertidos. Mas o que é processo
social, é
valor? O que são os valores? desenvolvim
ento. Não é a
preparação
Um primeiro aspecto a ser comentado é que os valores não são coisas, mas resultam das para a vida, é
a própria
relações que os seres humanos estabelecem entre si e com o mundo em que vivemos. Por esta
vida.
razão que, diante de pessoas e coisas, estamos constantemente fazendo o que chamamos de John Dewey
juízos de valor. Quando afirmamos, por exemplo, que uma moça não tem atrativos, é feia na nossa
concepção, ou o oposto quando dizemos que ela é muito bonita, quando descrevemos uma
borracha ou uma caneta como muito ruins, quando colocamos que João agiu com desprezo pelo
fato de não ajudar naquela campanha da solidariedade do bairro, estamos fazendo juízos da
realidade, porque dizemos que as coisas e as pessoas existem, mas também estamos fazendo
juízos de valor porque as coisas e as pessoas podem provocar atração ou repulsa, avaliação
estética, utilidade ou não, etc.
Na medida em que atribuímos um valor a alguma coisa ou pessoa, significa dizer que não
estamos indiferentes a ela. Podemos inferir então que, a não-indiferença é uma das principais
características do valor. Porém não se deve esquecer que pelo fato dos valores não serem coisas,
mas resultam das relações estabelecidas na sociedade, dizemos que os valores são em parte
herdados da cultura onde estamos inseridos. Aranha, M. & Martins, M. (2000, p.273) afirmam que:
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Assim, a partir da valoração, as pessoas nos recriminam, nos elogiam, nos admoestam por
termos faltado com a verdade, sentimos remorso dependendo da ação que praticamos, estamos
sujeitos ao elogio ou a reprimenda, à recompensa ou à punição. Chauí (2001) discute essa idéia
ao dizer que a cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e as
suas relações com a natureza. Nossa percepção sobre a origem cultural dos valores, sejam éticos,
do senso moral ou da consciência é relativa porque somos criados, educados para eles e neles
como se fossem naturais, existentes em si e por si mesmos.
As regras mais pesadas são: jamais “caguetar” qualquer preso ou pessoa da rua; não fazer
dívida que não possa pagar; não prometer nada que não possa cumprir; defender os “manos” do
barraco em qualquer circunstância; comprar com os companheiros do xadrez as brigas nas quais
eles se meterem. (...) Não pode chorar de tristeza, porque vai “pesar” a cadeia dos outros (deixar
os outros tristes). Tem que agüentar “mulas” (piadas).
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Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.
Questões norteadoras:
2 - Os valores comuns devem ser aplicados com rigor dentro da realidade prisional?
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trabalho é visto como um ingrediente fundamental de acréscimo de
pena privativa de liberdade. Não se admite que alguém cumpra
esse tipo de pena sem trabalhar como uma forma de compensação
ao ônus que causa a sociedade”.
3 – Que valores você identifica na fala desta autora e que podem ser resgatados para a
transformação do sistema prisional?
4 – O trabalho pode exercer com êxito esta função (de resgate da cidadania)?
Há uma expressão que diz assim: “a realidade de hoje é que amamos as coisas e usamos
as pessoas”. Você percebe a inversão de valores? As coisas que deveriam ser usadas são
reverenciadas (amadas) em nossa sociedade, enquanto que as pessoas que deveriam ser amadas
são usadas, descartáveis, em qualquer situação. Esta postura tem uma relação direta com os
valores pragmáticos que estão presentes no cotidiano das pessoas, principalmente nos meios
midiáticos.
A Afetividade
O desejo surge à medida que os seres humanos estabelecem relações entre si. Os
sentimentos e emoções nos afetam independentemente de nosso consentimento.
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essencial na construção da identidade. Da mesma forma, é ainda através da afetividade que o
indivíduo acessa o mundo simbólico, originando a atividade cognitiva e possibilitando o seu
avanço. São os desejos, as intenções e os motivos que, em um primeiro momento, vão mobilizar a
criança na seleção de atividades e objetos. Para este autor, o conhecimento do mundo objetivo é
feito de modo sensível e reflexivo, envolvendo o sentir, o pensar, o sonhar e o imaginar.
A Afetividade valoriza tudo em nossa vida, tudo aquilo que está fora de nós, como os fatos e
acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjetivas), como nossos
medos, nossos conflitos, nossos anseios, etc. A Afetividade valoriza também os fatos e
acontecimentos de nosso passado e nossas perspectivas futuras.
Ballone (2003) descreve ainda que, os afetos depressivos, da mesma forma que os
afetos expansivos, podem aparecer como uma resposta a situações reais, através de uma
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reação vivencial depressiva, quando diante de fatos desagradáveis, aborrecedores, de
frustrações e perdas.
Diante do que foi exposto, evidencia-se a presença contínua da afetividade nas interações
sociais, além da sua influência também contínua nos processos de desenvolvimento cognitivo.
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3° Momento: Relato de experiências.
Î Esse é um momento reservado ao relato de outras experiências que os colegas
professores e agentes prisionais já tenham vivenciado sobre a temática discutida
que contribuam para tornar a aprendizagem mais significativa.
Questão norteadora:
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Unidade 03
A Ética Profissional e
as Relações Sociais
Objetivo
A Ética Profissional
Aquino (2005) define que a ética profissional são princípios da conduta humana, diretrizes
no exercício de uma profissão, estipulando os deveres que devem ser seguidos no desempenho
de uma atividade profissional.
Podemos afirmar que no profissional ético persistente a aspiração de amoldar sua conduta,
sua vida, aos princípios básicos dos valores culturais de sua missão e seus fins, em todas as
esferas de suas atividades. Conjunto de normas pelas quais o indivíduo deve orientar seu
comportamento na profissão que exerce.
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mas que são comuns a todas as atividades que uma pessoa pode exercer. Por exemplo, atitudes
de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, uma postura pró-ativa, ou seja, não ficar
restrito apenas às tarefas que foram dadas a você, mas contribuir para o engrandecimento do
trabalho são situações ligadas a uma postura ética no trabalho, em qualquer trabalho que a pessoa
exerça.
Por outro lado, podemos perguntar que leva um profissional a não ter ética? O que faz um
profissional agir sem escrúpulos, caráter, justiça e bom senso?
O ambiente corporativo sempre esteve recheado de pessoas que, em benefício próprio ou Todo o
homem
de outros, agem com total falta de profissionalismo e imparcialidade. Ficamos incrédulos quando recebe duas
nos deparamos com estas pessoas que agem por pura maldade, vaidade, inveja e incompetência. espécies de
educação: a
Lembre, quantas vezes você vivência situações como: que lhe é
dada pelos
outros, e,
- A do chefe que promove a funcionária mais bonita... muito mais
importante, a
- A do colega de trabalho que está mais interessado em puxar o tapete de que ele dá a
si mesmo.
alguém... Edward
- A do setor de compras que aprova um orçamento porque o prestador de Gibbon
Ainda que a realidade retratada acima não é incomum, ser um profissional ético nada mais
é do que ser profissional mesmo nos momentos mais inoportunos. Portanto, se nossa opção é ser
uma pessoa ética, devemos seguir um conjunto de valores. Ser ético é proceder sem prejudicar os
outros. Podemos pensar em algumas características básicas (comuns) de como ser um
profissional ético é ser bom, correto, justo e adequado. Além de ser individual, qualquer decisão
ética tem por trás valores fundamentais. Eis algumas das principais características:
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O texto abaixo é um comentário do Código de Ética Profissional - CONFEA (Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), de novembro de 2002. O texto de forma
sistematizada, coloca elementos que podem aplicados a qualquer profissão e devem ser
estudados para uma melhor compreensão do profissional ético e coerente em sua profissão.
Ao pensar na necessidade da identidade das profissões, este código diz no seu artigo 4
que, “as profissões são caracterizadas por seus perfis próprios, pelo saber científico e tecnológico
que incorporam, pelas expressões artísticas que utilizam e pelos resultados sociais, econômicos e
ambientais do trabalho que realizam”. Esta noção dos resultados sociais, econômicos e
ambientais é um desafio permanente para o profissional que atua, seja como educador ou agente
prisional, dentro do sistema prisional, portanto, afirma o código: O objetivo das profissões e a ação
dos profissionais volta-se para o bem-estar e o desenvolvimento do homem, em seu ambiente e
em suas diversas dimensões: como indivíduo, família, comunidade, sociedade, nação e
humanidade; nas suas raízes históricas, nas gerações atual e futura.
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Elementos norteadores:
Leia o artigo abaixo do Código do CONFEA e estabeleça uma discussão no grupo sobre
quais parágrafos podem ser aplicados nas relações entre os educadores e os educando do
Toda a
sistema prisional. educação se
reduz a estes
dois
Dos princípios éticos ensinamentos:
aprender a
suportar a
injustiça e
Art. 8º - A prática da profissão é fundada nos seguintes princípios éticos aos quais o profissional aprender a
deve pautar sua conduta: suportar o
aborrecimento.
Ferdinando
Galiani
Do objetivo da profissão
Da natureza da profissão
Da honradez da profissão
III - A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e cidadã;
Da eficácia profissional
Do relacionamento profissional
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de seus serviços, com igualdade de tratamento entre os profissionais e com lealdade na
competição;
VII - A profissão é de livre exercício aos qualificados, sendo a segurança de sua prática de
interesse coletivo.
O que vocês acham? Na seqüência, observe que a ética profissional deve ser entendida
também na relação dos deveres profissionais. Ao olhar para esta questão educadores e agentes
prisionais atuar, por meio de seus saberes para o bem da humanidade, construir conhecimentos
que possam harmonizar os interesses pessoais aos coletivos.
educação é
inimiga da A motivação é a mola propulsora das realizações humanas. Para
sabedoria,
porque a haver um bom rendimento de um profissional em qualquer área, é
educação
torna
necessário que o mesmo esteja motivado. O profissional, em
necessárias qualquer atividade, motivado, trabalha de modo a obter um
muitas
coisas das rendimento no que faz, conseguindo atingir os objetivos pré-
quais, para
sermos
determinados.
sábios, nós No departamento Penitenciário, a motivação do profissional
deveríamos
ver livres. de segurança, o Agente Penitenciário, é de suma
Luigi
importância, pois, o mesmo está, não só fazendo a
Pirandello
segurança do interno, do estabelecimento penal e da
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sociedade, como também fazendo parte do processo de
reeducação e reinserção social do apenado. O agente é o
principal personagem no Sistema para a efetivação de tal
objetivo.
Conduz uma discussão sobre os valores prisionais que devem ser observados no contexto dos
presídios. Observe a sua opinião:
Os presídios constituem uma esfera determinada,
orientada por regras, valores e praxes específicas que
precisam ser reconhecidas e identificadas. Tais regras,
Boa
educação valores e praxes não guardam, rigorosamente, nenhuma
não está
tanto no fato relação de pertinência com o conteúdo da sentença judicial
de não
condenatória ou com os propalados objetivos da
derramar
molho sobre "ressocialização" dos condenados. Antes disto e
a toalha de
mesa, mas verdadeiramente, as regras, valores e praxes operantes no
em não
sistema constituem os marcos da vida prisional como que
perceber se
outra pessoa em contraste - e muitas vezes em flagrante oposição - às
o faz.
Anton normas, virtudes e condutas valorizadas socialmente entre
Tchekhov os cidadãos. Afirma-se, então, os termos do paradoxo
prisional: como é possível conceber a reintegração à
sociedade, eliminando a sociabilidade do preso? Como é
possível prepará-lo para a vida em liberdade, se
suprimimos, na prisão, a possibilidade da ação livre?
Seria preciso ver os internos e condenados, primeiramente, como seres humanos e, portanto,
como sujeitos portadores de direitos, reconhecendo o fenômeno da cidadania ali onde ele tem sido
tradicional e solenemente ignorado. Ato contínuo a esta disposição elementar, seria preciso saber,
em cada detalhe, dos mecanismos concretos pelos quais a instituição prisional se afirma
destruindo a autonomia dos indivíduos e negando-lhes a condição de humanidade que caracteriza
a condição dos seres livres.
33
Em países como o Brasil, o fato de alguém ter cumprido uma pena de prisão -
independentemente da natureza do crime praticado - é motivo para que esta pessoa nunca mais
alcance uma posição no mercado formal de trabalho – o que equivale a dizer que os “excluídos”
serão impulsionados objetivamente na direção de soluções ilegais de sobrevivência. Muitas vezes,
a simples notícia da prisão é motivo suficiente para que inclusive familiares do condenado sejam
demitidos.
Admitir que devessem existir espaços de liberdade dentro de um presídio pressupõe que
aos internos seja possível a tomada de um conjunto de decisões – ainda que restritas pelos
marcos de suas sentenças. Isso é apenas uma forma de dizer que as regras disciplinares e a
própria noção de disciplina devem estar a serviço da ressocialização e não da sujeição dos
internos. O que elas devem estimular é a responsabilidade, não a docilidade; a compreensão de
valores, não sua imposição heterônoma. Para que isto seja possível, todos aqueles que lidam
com os internos; vale dizer: que mantém contato permanente e profissional com eles, devem ser
definidos como técnicos de ressocialização e não como carcereiros. Os mesmos valores devem
orientar os programas específicos de educação prisional de tal forma que a sala de aula possa
re-construir, tanto quanto possível, um ambiente típico de aprendizagem o que não se fará sem
que esse espaço seja fundado pela liberdade. Se os alunos-presos não tiverem a chance de falar
o que desejam, se não puderem questionar seu professor, se não houver esse tipo de interação
básica e o desenvolvimento de laços de confiança não há mesmo como se falar em processo
pedagógico. Sobre este tema, Reuss (1999), Apud Rolim, assinala que:
34
Atividades para discussão
Questões norteadoras:
1 - Descreva os principais valores da ética profissional que podem ser aplicados no
trabalho prisional.
35
Unidade 04
Os Valores Religiosos e a Ressocialização no Sistema Prisional
Objetivo
Os Valores Religiosos
Envolvimento Pessoal
John Donne, um poeta do século XVII, citado por Bartlett (1955, p.218) faz a seguinte
afirmação:
36
Nenhum homem é uma ilha, inteira em si mesma; todo
homem é uma parte do continente, um pedaço do
território (...) a morte de qualquer homem me diminui um
pouco, pois estou envolvido com toda a humanidade; e,
portanto, não mandes perguntar por que é que o sino A educação
(...) criou
está dobrando; ele dobra por ti. uma vasta
população
capaz de ler,
mas incapaz
de
Há uma grande dificuldade em nossa geração de entendermos a necessidade de reconhecer o
interrelação para a nossa própria sobrevivência. Estamos nos distanciando uns dos outros, que vale a
pena ser
cultivando um estilo de vida independente, em que não precisamos uns dos outros. O lido.
G. Trevelyan
envolvimento pode ser definido com “ser participante”, ter uma relação bem próxima, “estar
incluído”.
No Novo Testamento existem muitas exortações para que os cristãos rompam com
qualquer forma de isolacionismo. “O amor seja sem hipocrisia... Amai-vos cordialmente uns aos
outros com amor fraternal... regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração
perseverantes; compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade; abençoai aos
que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.” (Romanos 12:9,16).
Integridade
Afirma-se que a integridade é o coração do caráter. A integridade tem a ver com exemplos
de ética elevada no modo como as pessoas se conduzem e nas responsabilidades que detêm. No
âmbito do cristianismo a integridade deve levar as pessoas a avaliar as coisas segundo as
37
Escrituras, buscando justiça onde necessário, procurando ter conduta, palavras e atitudes
piedosas.
Integridade tem a ver, também, com ser fiel em seu trabalho, desempenhar as suas
atividades sem negligência como também ser honesto nas suas relações com os demais colegas
de serviço, isto é, ser uma pessoa de excelente atitude.
Atitudes
38
Senso de Justiça
Esta relação de justiça vai além do senso comum, do viver em sociedade ou das
normativas do Estado. O cristão deve atuar no sentido de promover a justiça porque a vê como
uma ordenação divina sobre a sua vida e a sociedade.
A vida deve
ser uma
Segundo Gallert, Mansanera e Porto Jr (Apostila 01, unidade 01, página 16), para constante
educação.
Vygotsky (2003) “o desenvolvimento e a aprendizagem acontecem pela mediação com a cultura, Gustave
Flaubert
história, ou seja, objetos e/ou signos lingüísticos”. Neste sentido, a realidade prisional deve ser
explicitada para que as ações no âmbito da educação tenham resultados adequados. Portanto, na
medida em que, dentro do sistema prisional, as pessoas passam por um processo de
transformação, de mudanças no seu comportamento devido à relação que se estabelece com a
religiosidade, uma nova mentalidade se torna a norma de vivência dos presidiários.
Na página 17, afirmam os autores Gallert, Mansanera e Porto Jr.(2006) que a autonomia é
um método de construção do saber, uma pedagogia da descoberta, é dar ao educando a
possibilidade de construção do conhecimento a partir de temáticas diversificadas. Uma das
temáticas possíveis é a religiosidade.
39
Atividades para discussão
Questões norteadoras:
2 – A regeneração (mudança interior) proposta pela religião pode ser aproveitada no sentido de
desafiar os internos para a educação, sem que os mesmos mudem os seus relacionamentos
dentro do sistema prisional?
40
A prisão é um ambiente onde é possível encontrar o enfrentamento entre diferentes forças
sociais. E você quanto docente, não deve contribuir para o sucesso de uma ou outra dessas forças
em luta.
Necessário é, que você perceba que apenas boa intenção não é suficiente para garantir o
respeito à liberdade religiosa num país como o Brasil. É preciso que exista muita reflexão, muita
ponderação e muito diálogo.
Atividade
41
III- Os alunos devem ser tratados de forma diferenciada, de acordo com a religião
de cada um.
IV- Criar sistema de segregação religiosa, com alguns alunos considerando que
“os outros” são privilegiados.
a) I e IV
b) I, II e III
c) I e II
d) I e III
2- Agora, ao final desse módulo vamos elaborar um memorial reflexivo, para registrar o ocorrido
durante os estudos, é importante que você aponte suas ações e reações, sentimentos,
impressões, interpretações sobre os temas desenvolvidos no módulos e compreendidos por você.
Vamos dar uma colher de chá! Abaixo segue um extrato do texto “Para uma “Arqueologia” da
memória educacional” de Gilson Porto Jr. que dá sugestões de construção de um memorial:
1
Entendo aqui que, apesar da memória ser algo individual, isto é, processar-se na individualidade e subjetividade do
indivíduo, ela é fruto da relação com o outro, ou seja, é construída na alteridade e nas relações estabelecidas. Uma boa
discussão sobre a temática da subjetividade e alteridade está no clássico produzido por KIERKEGAARD, Sören. O
desespero Humano. São Paulo: Editora Martins Claret, 2002.
2
KENSKI, Vani Moreira. Eu, Pesquisadora. In: LINHARES, Célia, FAZENDA, Ivani e TRINDADE, Vitor. Os Lugares dos
Sujeitos na Pesquisa Educacional. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 1999, p. 363-385.
42
formar os novos educadores para que as escolas do futuro tratem mais do
amor, da dor, do projeto de vida, da morte, do cotidiano das pessoas, da
afetividade. As pessoas têm medo de encontrar-se consigo mesmas, de
escutar o seu próprio silêncio, inclusive porque a escola não deu importância
a esses temas”. 3
Neste sentido, num primeiro momento propõe-se uma volta ao passado de tal forma
que, na memória – recordação – do tempo6, sejam resgatadas pessoas, processos e/ou
episódios e situações dessa experiência vivenciada, identificando questões pedagógicas
3
GADOTTI, Moacir. Os Mestres de Rousseau. São Paulo: Cortez, 2004.
4
Não na forma, já que utilizaremos outra metodologia, mas no exercício dissertativo-interpretativo que se exige na
elaboração do diário de bordo. Para exemplos da utilização como metodologia vide ALMEIDA, S. e PORTO JR, F. G. R.
Construindo um Diário de Bordo: O Conhecimento Refletido e Fundamentado na Dialética. Palmas, TO: Anais da IV
Jornada de Iniciação Científica do CEULP-ULBRA, 2004, pp.511-513; SOARES, E., DIÓGENES, M. E. B. e PORTO JR, F.
G. R. Por Mares Antes Nunca Navegados: O Diário de Bordo. Palmas, TO: Anais da IV Jornada de Iniciação Científica do
CEULP-ULBRA, 2004, pp.382-383 e SOUZA, M. J. A. e PORTO JR, F. G. R. Navegando no Diário de Bordo: A Avaliação
da Aprendizagem e a Auto-Avaliação em Questão. Palmas, TO: Anais da IV Jornada de Iniciação Científica do CEULP-
ULBRA, 2004, pp.505-507.
5
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000.
6
Referimos-nos aqui aos vários ‘tempos’ – o escolar, o biológico, o epistemológico, o histórico, etc. Um excelente texto que
discute a origem e desenvolvimento da temática do tempo está em HARTOG, François. Os Antigos, O Passado e O
Presente. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2003.
43
que, se por um lado, permearam seu passado como aluno produzindo efeitos em sua
condição de sujeito-aprendiz, por outro, possivelmente podem vir a permear e/ou integrar
sua prática docente.
44
6
Sendo que na base (item 1) você tem seu ingresso na vida escolar – no instituinte7 –
seja na pré-escola ou creche (ambientes formais ou não formais); no item 2, você teria a
conquista das primeiras letras e palavras, isto é, seu processo de aquisição do letramento e
alfabetização8; no item 3, fase seguinte do processo de escolarização, você teria as
primeiras experiências escolares no Ensino Fundamental (antigo 1º grau); no item 4, você
experimentou o processo de ensino e aprendizagem no Ensino Médio (antigo 2º grau) e a
sua opção por um curso universitário; no item 5, o ingresso na Universidade, a construção
do ser ‘universitário’, ‘licenciado’ ou ‘bacharel’; e o item 6, o retorno a escola no papel de
professor e/ou suas percepções como futuro professor.
Exercitando o memorial....
Neste sentido, propomos que percorra cada etapa da espiral, detendo-se
inicialmente em sensações visuais relacionados ao espaço físico da escola e da sua sala de
aula, professores e colegas. Concentre-se depois em episódios e sensações significativas
ligadas a esse ambiente. Vá fazendo anotações pontuais.
7
Para lembrar Cornelius Castoriadis em seu livro A instituição imaginária da Sociedade. Uma análise da obra de
Castoriadis, principalmente com respeito às categorias ‘instituição e autonomia’ está em CÓRDOVA, Rogério de Andrade.
Instituição, Educação e Autonomia na obra de Cornelius Castoriadis. Brasília: Editora Plano, 2004.
8
Uma sugestão de leitura sobre os diversos ‘sentidos’ atribuídos à alfabetização na história da educação brasileira está em
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os Sentidos da Alfabetização. São Paulo: Editora da UNESP / COMPED/INEP, 2000.
45
É possível que inicialmente você recorde apenas pinceladas deste processo,
incluindo fatos e nuances afetivas marcantes, tais como;
• O professor de que, mais ou menos, gostou;
• As disciplinas com que mais simpatizou ou aquelas em que sentiu grande
dificuldade;
• Os conteúdos aprendidos fácil e prazerosamente ou com sofrimento;
• As atividades nas quais nem sentia o tempo passar e outras monótonas e
intermináveis.
46
Uma pergunta comum a quem escreve, centra-se no método. Qual e como utilizar?
Para facilitar o processo de escrita, sugiro a utilização da Metodologia Estudo de Caso
desenvolvido pela Harvard Bussiness School e adaptado pelo SEBRAE9 que, entre outras
coisas, aponta como necessário na construção do ‘caso’, para nós, memorial:
Não existe limite de laudas para o seu texto. Lembre-se que pode pesquisar e/ou
anexar imagens (fotos, filmes) da sua trajetória que ajudem a reviver.
9
O Guia Passo a Passo da Metodologia para o Desenvolvimento dos Casos de Sucesso do SEBRAE/2003 está disponível
no site www.sebrae.com.br no link “casos de sucesso”.
10
TRINDADE, Vitor Manuel. O Papel do Erro na Formação do Conhecimento em Educação: Algumas reflexões. In:
LINHARES, Célia, FAZENDA, Ivani e TRINDADE, Vitor. Os Lugares dos Sujeitos na Pesquisa Educacional. Campo Grande,
MS: Ed. UFMS, 1999, p.53-57.
47
Unidade 05
O Ambiente Carcerário e a
busca por Ressocialização
Objetivo
Há uma grande crise no sistema penitenciário brasileiro - medida pelo alto índice de
reincidência criminal, pela superlotação e pelo tratamento desumano dispensado à pessoa presa,
conseqüência das deficiências da vida carcerária a que os presos estão submetidos.
Representadas, principalmente, pela ociosidade, considerada elemento agravante do
desenvolvimento de planos criminosos que visam atingir à sociedade. Daí porque a violência
tornou-se um dos grandes problemas que hoje desafiam a sociedade moderna, que por sua vez
busca defender-se, além desta, dos surtos originados também em seu próprio meio.
As prisões, atualmente, não recuperam. Sua situação é tão degradante que são
rotuladas com expressões como sucursais do inferno, universidades do crime e depósitos de
seres humanos. O encarceramento puro e simples não apresenta condições para a harmônica
integração social do condenado, como preconizada na Lei de Execução Penal. Punir, encarcerar
e vigiar não bastam. É necessário que se conceda à pessoa de quem o Estado e a sociedade
retiraram o direito à liberdade o acesso a meios e formas de sobrevivência que lhe proporcionem
as condições de que precisa para reabilitar-se moral e socialmente.
48
socialmente significativas, o preso possa refletir sobre o ato criminoso e corrigir o desvio de seu
curso.
Contudo, na prisão, o preso deve sofrer mais que o castigo definido pela justiça para
pagar pelo crime cometido, esquece-se que o confinamento é a punição máxima que um
indivíduo pode ter. O tratamento dispensado à pessoa presa é sempre punitivo e de concessão,
são anuladas a capacidade de iniciativa, a estima e o pouco que resta de valores morais e éticos.
O primeiro contato da pessoa presa com a educação normalmente não resulta da vontade
de estudar. Na realidade, suas ações giram em torno da busca de liberdade. Este é seu objetivo
imediato. Ela busca, na realidade, um contato com o mundo exterior. Quer ser notado pelos
agentes de custódia, quer ser visível. Por outro lado, a educação é a única forma pela qual o
preso tem contato com o mundo exterior. Esse contato se dá por meio dos professores, visitantes
e autoridades. Ele está sempre em busca de alguém que o ajude a sair do cárcere.
49
ou tentar fazer diferente
algo que já fez muito errado.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Atividades
Cidadania
É dever de povo.
Só é cidadão
Quem conquista o seu lugar
Na perseverante luta
Do sonho pela noção.
É também obrigação:
A de ajudar a construir
A claridão na consciência
De quem merece o poder.
Força gloriosa que faz
Um homem ser para outro homem
Caminho do mesmo chão,
50
Luz solidária e canção.
(Mello, Thiago. Poemas preferidos, pelo autor e seus leitores Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2001, p.256)
1- Após ler e refletir sobre o poema percebe-se a necessidade de o Estado considerar que o
processo da construção da cidadania ocorre a partir de quatro bases. Indique essas
bases.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.
2- O processo de construção da cidadania a partir das quatro bases que você citou acima,
tem como referência dois elementos fundamentais que são
a) Consideração dos outros e a participação efetiva dos indivíduos na relação
Estado e educação.
b) Respeito aos outros e participação efetiva dos indivíduos na sociedade privada.
c) A neutralidade do estado diante das relações sociais; solidariedade para com os
outros.
d) Diálogo, buscando saídas coletivas; a garantia dos direitos individuais para o
cidadão.
51
Educação uma possível solução
O estudo em De acordo com os Anais da Conferência Mundial sobre Ensino Superior (1998), a
geral, a educação é um dos pilares fundamentais dos direitos humanos, da democracia, do
busca da
verdade e da desenvolvimento sustentável e da paz, e que deve ser acessível a todos no decorrer da vida.
beleza são
domínios em
que nos é Acredita-se que a educação tem o papel ressocializador, não como um fator secundário
consentido
ficar na remição dos presos, mas sim, como um instrumento poderoso no resgate da dignidade
crianças
toda a vida. humana dessas pessoas.
Albert
Einstein
O direito à educação nas Unidades Prisionais está previsto na Lei de Execução Penal,
garantindo aos presos o acesso ao conhecimento, de modo a facilitar o retorno ao convívio social
e o acesso ao mercado de trabalho.
Mais do que o aprendizado formal, os presos devem ser estimulados como cidadãos,
desenvolvendo o espírito cooperativo e a auto-estima. Considerando, ainda, que o desempenho
de atividade física (trabalho) ou mental (educação) na prisão é direito-dever do condenado, dada
a sua natureza pedagógica, é fator de incentivo, evita a ociosidade e inibe conflitos ‘intra muros’.
52
Fica patente a importância da educação para os detentos, nos nossos dias, dada a
competitividade do mercado de trabalho, haja vista que, sem ter acesso à educação formal,
dificilmente, alguém consegue emprego. E, não raro, condenados presos há anos saem da
prisão sem saber ler ou escrever, sendo incerto o seu futuro e, provavelmente, retornam às
penitenciárias.
Rios (2001, p.30) diz que para falar de educação enquanto fenômeno histórico e social, é
preciso falar também sobre a cultura, na medida em que se pode afirmar que “educação é
transmissão de cultura”. Cultura é um conceito chave a ser considerado ao se estabelecer a
relação entre educação e sociedade; não há sociedade sem cultura e não se fala em cultura sem
a referência a uma relação social. Pode ser conceituada por muitos como erudição, acúmulo de
conhecimentos, atividade intelectual; diz-se que alguém “é muito culto” quando domina um certo
tipo de saber privilegiado. Entretanto, o trabalho de alguns cientistas sociais e antropólogos
contribuiu para dar ao conceito uma conotação mais precisa; “cultura, é na verdade, tudo o que
resulta da interferência dos homens no mundo que os cerca e do qual fazem parte. Ela é a
resposta humana à provocação da natureza e é ditada não por esta, mas pelo próprio homem.
Cultura, para Di Giorgi, (1990, p.130) constitui-se no “ato pelo qual ele vai de homo sapiens a ser
humano”.
Assim, todos os homens são cultos, na medida em que participam de algum modo da
criação cultural, estabelecem certas normas para a sua ação, partilham valores e crenças. Tudo
isso é resultado do trabalho. Por isso não se fala em cultura sem falar em trabalho, intervenção
intencional e consciente dos homens na realidade, elemento distintivo do homem dos outros
animais.
É fundamental chamar a atenção para isso caso se procure associar o conceito de cultura
ao conceito de saber e esse procura eliminar deste a significação inadequada de conhecimento
refinado.
Educação e Prisão
A educação varia de um lugar para outro, de um tempo para outro, conforme os tipos de
sujeitos que cada sociedade deseja formar. Analisemos o que diz Paulo Freire:
Ao dizer que a escola “não é uma categoria abstrata”, Paulo Freire afirma que a escola, a
educação tem de ser vista em relação estreita com a sociedade que faz parte. Ela será boa, se
for capaz de cumprir os objetivos que essa sociedade espera dela, de realizar as funções forem
atribuídas.
Educação e Valores
Desde a idade moderna, quando Deus deixou de ser tanto o fundamento indiscutível das
normas morais quanto o ponto de referência para as decisões morais do homem, a busca
incessante de novas
formas de legitimação tornou-se preocupação constante.
54
Há uma curiosa ambigüidade entre o discurso ético que se dissemina e ocupa todos os
espaços e a efetiva importância que se dá à ética no campo prático. Embora educação e ética
estejam relacionadas desde os primórdios de nossa civilização, esta discrepância entre a teoria e
a prática também sempre foi muito nítida. Ao mesmo tempo em que todos reconhecem a
importância da relação entre ética/moral e educação, tanto nas famílias, nas instituições sociais,
na mídia e também na própria escola, o tratamento dispensado à ética denota antes menosprezo
que apreço.
Para Kant, o homem é um ser inacabado que tem em si uma disposição para o bem, que
precisa ser desenvolvida. Já que o mal aparece quando permitimos que a natureza se desenvolva
desregradamente, a educação moral consiste no cuidado de encaminhar as disposições naturais
para o bem, mediante regras. O processo educacional deve submeter a natureza humana a Ensinar é
aprender
regras por meio da disciplinação, da cultivação, da civilização e da moralização.Esta função não duas vezes.
pode ser cumprida pelo professor que transmite informações,mas pelo educador que educa para Joseph
Joubert
a vida. “O bom professor”, assim Annemarie Pieper resume o pensamento de Kant, “deve estar,
ele mesmo, comprometido com a idéia de liberdade, a qual é ao mesmo tempo o objetivo de sua
atividade educativa na medida em que almeja transformar o educando num cidadão esclarecido,
maduro, autônomo, capaz de auto determinar-se e responder por seus atos” (2003, p. 143). A
educação ética só pode realizar-se como a indicação de uma ‘capacidade’ cuja realização só é
possível a partir da liberdade de cada um.
Dessa forma a educação deve ser compreendida como um modo de práxis social, na
qual o educador deve ele próprio assumir compromissos políticos, colocando seu engajamento
ao debate público para motivar os educandos a se engajarem também na luta pela melhoria das
condições sociais.
55
Do ponto de vista educacional, o professor deve levar os seus alunos a refletir sobre
quais são os valores com os quais podem sentir-se comprometidos e responsáveis. A tarefa
educativa fica reduzida ao estímulo da reflexão pessoal e do esclarecimento pessoal dos alunos.
Cada indivíduo é responsável pela construção de sua própria vida e, no que se refere aos valores
de ordem pública e social. Por isso é necesário apontar que atuar como uma pessoa moralmente
adulta implica assumir a sua responsabilidade sem esperar dos demais respostas nem soluções
para os próprios conflitos de valores.
Para essa prática é importante levar em consideração que o ser humano não é um ser
moral por natureza, mas precisa ser educado para a moralidade. O comportamento do ser
humano é egocêntrico, sempre visando às necessidades pessoais, buscando sempre a vantagem
própria, instintos e desejos. Para neutralizar esse comportamento é imposta a exigência moral do
reconhecimento em grau de igualdade, das necessidades dos outros seres humanos.
Durkheim afirma que moral não precede a realidade, mas deriva dela e a expressa, afirma
que não se pode construir uma moral completa e impô-la à realidade, e sim, é preciso observar a
matéria para dela inferir a moral. Dissociada dos fatos parece não relacionar-se a coisa alguma.
Ainda segundo Durkheim (2003.p.35), “a moral não é um sistema de regras abstratas que
O mundo as pessoas trazem gravadas na consciência ou que são deduzidas pelo moralista no isolamento
não é, o
mundo está de sua sala. É uma função social, ou mais que isso, um sistema de funções formado e
sendo. consolidado sob a pressão das necessidades coletivas.
Paulo Freire
O ser humano conflita-se no campo da moral por ter uma natureza ambivalente, tanto é
ser individual quanto social. Assim, o sujeito não é livre para tomar suas decisões de acordo com
a sua consciência. A consciência deve submeter-se às normas e valores vigentes na sociedade.
Agir moralmente significa agir em conformidade com as normas estabelecidas em sociedade.
Conforme Durkheim (2003, p.24) “moral e direito são apenas hábitos coletivos, padrões
constantes de ação que se tornam comuns a toda uma sociedade. Em outras palavras, são como
a cristalização do comportamento humano”. Dessa forma, a educação tem o papel de estimular a
reflexão pessoal sobre a própria vida, no que se refere aos valores de ordem pública e social.
Mostrando que atuar como uma pessoa adulta é assumir a responsabilidade sem esperar dos
outras respostas ou soluções para os próprios conflitos de valores.
O valor não é algo estático que possa ser conhecido e depois conservado. Ele depende
das experiências e do processo de amadurecimento dos sujeitos, logo a formação moral é um
processo complexo que obriga diversos aspectos, desde a incorporação das convenções sociais
até a formação da consciência moral autônoma. As formas de aquisição de tais requisitos incluem
a reflexão e as atitudes pessoais até os sentimentos e comportamentos que são estimulados pela
educação.
56
A educação moral abrange a educação corporal, a educação intelectual, a educação
afetiva, a educação artística, é a orientação do ser humano como um todo.
A prisão surgiu no fim do século XVIII com o objetivo de servir como punição, para
transformar os indivíduos enclausurados. Esperava-se que os presos refizessem suas existências
isolados da sociedade para depois serem levados de volta a ela, mas ledo engano, em sua
maioria os presos não se transformavam. Onde há uma
grande
vontade de
aprender,
Segundo Foucault(1987), a prisão mostrou-se em sua realidade e em seus efeitos visíveis haverá
como grande fracasso da prática penal. Constata-se que o indivíduo que deixa o cárcere, volta a necessariam
ente muita
cometer crimes piores do que o anterior. Onde fica a recuperação social? Na penitenciária. discussão,
muita
Estranhamente ao esperado, a prisão parece tornar o preso ainda mais nocivo ao convívio social. escrita,
muitas
opiniões;
A educação nos sistema penitenciário deve preocupar-se prioritariamente em desenvolver pois as
opiniões de
a capacidade crítica e criadora do educando, capaz de alertá-lo para as possibilidades de homens
escolhas e a importância dessas escolhas para sua vida e consequentemente a do seu grupo bons são
apenas
social. Instrumentalizar o educando para que ele firme compromisso de mudança com sua conheciment
o em bruto.
história de mundo. John Milton
57
tratamento, mas na verdade, os Estados ainda não conseguiram criar mecanismos para cumprir
essa legislação.
De acordo com as idéias de Marx, deparar-nos com uma visão totalizadora da realidade
social, o que nos poderia oferecer a tentação de uma teoria capaz de dar conta das múltiplas
complexidades do real.
Em Weber que esta discussão pode aprofundar-se em temas nos quais será preciso, a
partir da superação do entendimento de que há somente uma visão possível da "verdade",
perceber, dentro do registro da ciência social, a existência de pontos de partida baseados em
diferentes valores, construindo diferentes discursos que, ainda que não passíveis de conciliação,
demonstrem os pontos de aproximação e de afastamento por onde a realidade se constrói de
forma mais problematizada. Portanto, Weber centra sua atenção na ação social, que é construída
a partir do indivíduo.
Durkheim parte não dos indivíduos, mas da sociedade mesma como um ente sui generis,
portadora de uma estrutura coercitiva capaz de exercer uma pressão coercitiva e modeladora
sobre os homens, uma vez que a entende como exterior aos indivíduos. Vê na sociedade um
instrumento de ordenamento das relações sociais, estabelecendo regras de uma conduta dos
indivíduos na sociedade.
59
Unidade 06
Educação e cidadania
Objetivo
È claro que, quando se fala de igualdade de todos os seres humanos não se quer dizer
de igualdade física, em intelectual ou psicológica. Cada pessoa é única, tem sua individualidade,
sua personalidade, seu modo próprio de ver e de sentir as coisas.
Ao final da Segunda Grande Guerra, foi necessário lembrar aos povos que todos os
homens são iguais e livres em dignidade. Hoje, através da educação difunde-se para todo o
mundo que os homens são iguais, têm os mesmos direitos, independente de estar livre ou não,
da classe social, do sexo, etc.
60
Não queremos com isso “defender os bandidos”, mas sim, mostrar que mesmo esses
homens, que não cumpriram com seus deveres, t~em as mesmas necessidades daqueles
cumpridores dos deveres.
Aqui, no Brasil, no final do século XIX, a liberdade era tolhida, a grande parte da
população era escrava, não gozava do direito à liberdade. Somente em 1988, foi respeitado o
direito político, direito do voto. E falando em direitos sociais, até hoje são desrespeitados, pois a
maioria da população brasileira vive abaixo da dignidade humana, sem nenhum direito social
garantido.
Assim, não é difícil perceber que a Educação, em vez de direito, continua sendo um
privilégio de alguns.
Acredito que
somente
Aponta-se a educação como pré-requisito para se conquistar a cidadania. Entende-se que
uma pessoa
a cidadania é uma conquista, e desde o século XVIII, a luta pela cidadania é uma constante e se que nada
aprendeu
nem todos atingiram o status de cidadão é porque as contradições da realidade não permitiram. não modifica
suas
opiniões.
É preciso entender como se estruturam as relações de poder, sejam elas de poder Emil Zatopek
econômico, político, cultural e ideológico para identificar os fatores que têm impedido que a
construção da cidadania aconteça.
61
é pré-requisito necessário da liberdade civil
(Marshall, 1967:73)
Já que segundo a lei 9.394/96 – LDB, em seu primeiro artigo diz que a educação
acontece em outros espaços que não a escola. Desse modo, abrir espaço para levar a educação
para o presídio é contribuir para a formação dos indivíduos, como forma de permitir a integração
social e a construção da cidadania, desse ser humano marginalizado.
Grades?!
As grandes não prendem, não!
O que prende um homem é a falta de instrução,
conhecimento, ética, compreensão.
O importante da Ah educação! Ah educação!
educação não é o
conhecimento
dos fatos, mas
dos valores. Direito de todos os homens livre,
Dean William os presos não?
Inge
Como entender as contradições,
a proclamação da cidadania
e a falta da sua efetivação.
Ah educação! Ah educação
62
Atividades
Questões norteadoras:
1- Entender o que são direitos humanos e a luta pela cidadania é entender como se
estruturam as relações de poder econômico, político, cultural ou ideológico. Pensando em
direitos humanos e cidadania, analise as afirmativas e marque V (verdadeiro) e F (falso)
( ) A escola tem se revelado como lugar mais eficaz para a difusão dos direitos do cidadão.
( ) No Brasil, os direitos sociais não são respeitados, haja vista que milhões de brasileiros
vivem abaixo da linha da dignidade.
( ) A tarefa da educação é difundir que todos são iguais, têm direitos iguais, e que exercer a
cidadania é um direito de todos.
( ) A cidadania é dada, não é conquistada.
63
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações
da sociedade civil e nas manifestações culturais.”
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Unidade 07
Educador, um ressocializador
Objetivo
Os presos são homens, são cidadãos, que devem ser atendidos nas suas reais
necessidades, esse deve ser o pensamento, desse homem ou dessa mulher que se
prontifica a fazer esse trabalho, educar, ressocializar.
O fato de o professor mostrar que acredita nos presos, ser humano capaz, eleva
a auto-estima, fazendo com que eles sintam-se valorizados por poderem opinar, sugerir,
falar e participar do processo.
65
Diante disso, o processo do conhecimento não pode ser um ato de “doação”, do
educador, mas sim, uma comunicação produtiva e dialogada entre ambos.
Esse homem ou mulher que está à frente da sala de aula no presídio, pode
contribuir para o processo de construção da cidadania social, pode contribuir para a
construção de um ser humano melhor.
Atividade
66
Lembre-se de nossa dinâmica de trabalho:
Questões norteadoras:
1- Leia o texto
Ensinar é aprender
Agora que você leu o texto, reflita e explicite as relações entre a ação docente e a reflexão no
processo de aprendizagem.
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.
67
Estratégias Educacionais
O Teatro
O teatro, por sua forma de "fazer coletivo", possibilita o desenvolvimento pessoal não
apenas no campo da educação não-formal, mas permite ampliar, entre outras coisas, o senso
crítico e o exercício da cidadania. a utilização dos recursos da linguagem teatral possui alto
poder de fixação de conceitos e grande teor lúdico e contribui para atrair o interesse e curiosidade
dos alunos, criando um ambiente favorável à aprendizagem
Artes Plásticas
68
Oficinas de leituras
As oficinas de leitura criam oportunidades para que todos descubram o prazer de ler. E
que este prazer torne-se ferramenta no desenvolvimento pessoal de cada um. Aprimorando o
desempenho da habilidade de comunicar-se, tanto com os outros como consigo mesmo.
Desenvolvendo a postura crítica do indivíduo através de vivências que mostrem que as palavras
são fontes inesgotáveis de informação, significados e emoções.
Através do livro, essa pessoa priva da liberdade, tornar-se-á livre vivendo as aventuras de
Dom Quixote de La Mancha. Através das histórias de Cervantes, o leitor detento poderá realizar
seus desejos mais íntimos e nobres.
Ou quem sabe, aprender com a história de Davi e Golias a enfrentar situações difíceis,
como a que está vivendo, com coragem, perseverança, resistência.
Pode-se disser que ler é...mergulhar num mundo paralelo onde posso reencarnar os
meus heróis e com eles amar, sofrer, chorar, sorrir...
Estudo dirigido
69
Atividades
Questões norteadoras:
3-Leia o trecho da letra da música de Wagner Tiso e Milton Nascimento para responder a
questão.
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto.
Comente em algumas linhas o que o professor deve trabalhar, como deve ser sua postura
com esse aluno preso (aprendiz) para que ele seja capaz, através dos conhecimentos
adquiridos, transformar de forma real o seu mundo intra-muros e extra-muros.
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71
Unidade 08
O Trabalho
Objetivo
No século XVIII, o inglês Adam Smith, afirma que a riqueza não tinha origem no
mercantilismo, mas do trabalho, e também afirmou que para o trabalhador ter um pensamento
mais ágil era necessário investir na educação básica, o que contrária os interesses da nobreza
e do clero.
E Chegamos assim, a percepção de Karl Marx que identifica o trabalho não só como
fonte de todo valor, mas principalmente o seu caráter social.
Nessa pequeno passeio pela história do Homem e sua relação com o Trabalho - a
concepção de trabalho sofre muitas transformações (social, política, religiosa, econômica, etc)
através dos séculos, da mesma forma como o mundo sofre transformações de todas as ordens.
Trabalho hoje é encarado como valor social e projeção da personalidade humana, mas
nem sempre foi assim, no passado era uma forma de punição. Somente pobres e escravos
trabalhavam; os ricos dedicavam-se ao ócio.
O trabalho como valor social tem pouco tempo. Tal honra de cidadania adquire-se com a
Revolução Francesa (1789). Foi, pois a burguesia, a sua vitória, que trouxe com ela o trabalho
como valor social.
Já no século XVI, Lutero havia defendido o trabalho como valor social e se insurgido com
o pouco valor social que lhe era atribuído. Mas é com a Revolução Francesa que será reabilitado
o trabalho.
Voltaire, no Cândido, descore aquilo que serve à sua personagem, ao descobrir que é
pelo trabalho que se alcança a felicidade, daí aquele final “é preciso cultivar o nosso jardim”. Mas
Voltaire também diz “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício, e a
necessidade”. Sobre ele próprio e o seu trabalho dizia Voltaire que “o trabalho é muitas vezes
fonte de prazer, lamento os que vivem acabrunhados ao peso do seu ócio”.
73
Daí para cá o trabalho nunca mais deixou de ser um valor. Ouve-se dizer a toda hora “ O
rapaz é boa pessoa e muito trabalhador”. O fato de ser trabalhador valoriza o rapaz dá a ele a
idoneidade necessária para participar das relações sociais.
A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um
complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem à pessoa tanto contra todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação
ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais
seres humanos.
Hoje, a nova ameaça do Homem é, de novo o trabalho, ou melhor, a falta dele. Com a
globalização o mundo não tem mais fronteiras e os processos de trabalho estão em franca fase
de mudança e reconceituação.
74
É quase impossível imaginar a vida sem o exercício constante do aperfeiçoamento
emocional e intelectual que o trabalho proporciona aos indivíduos.
É o trabalho que faz os homens saberem; é ele que faz os homens serem. Ele é, na
verdade, a essência do homem. E a idéia de trabalho não se separa da idéia de sociedade na
medida em que é com os outros que o homem trabalha e que cria a cultura. Quando o indivíduo
produz algo, tanto intelectualmente quanto manualmente, aumenta a sua auto-estima, pois ele
ocupa a mente dele e executa algum tipo de atividade que o faz pensar e produzir algo para si e
também para as outras pessoas.
Para Foucault (2004), o trabalho dentro dos presídios não objetivava profissionalizar o
indivíduo, mas sim ensinar a virtude do trabalho. Não se preocupava em reeducar o delinqüente,
e sim agrupá-los e utilizá-los como instrumentos econômicos ou políticos.
Nos dias atuais, descartado o trabalho penitenciário como pena, tem-se o trabalho como
eficaz ferramenta para a reinserção social. Segundo Falconi (1998, p.71) o hábito do trabalho traz
novas perspectivas e expectativas para o preso, que pode visualizar uma nova forma de
relacionamento com a sociedade.
Se o trabalho tem na vida dos indivíduos um papel paradoxal, servindo aos olhos da
sociedade para testar a idoneidade daquele que dele sobrevive, por que privar o detento de
trabalho? Por que negá-lo essa ferramenta tão importante para a reintegração?
75
dessa viagem, e também, podendo trabalhar na produção de objetos, roupas, móveis e outros
utensílios, na plantação de alimentos e com esse trabalho ser remunerada, com certeza, não
pensará, naquele momento, em crimes, e sim conhecerá assuntos novos, raciocinará e adquirirá
novos conhecimentos os quais, muitas vezes, nunca pensou que existissem, e ainda tem a
possibilidade de ter uma remuneração, que futuramente os manterá no exercício da vida social
extramuro.
O trabalho é a aplicação da energia do homem para o bem da humanidade. O homem,
no trabalho, é capaz de modificar a própria natureza, colocando-a a serviço de todos nós.
Atividades
Questões norteadoras:
76
II- O trabalho é uma forma de punição, uma forma de alienar e disciplinar
o apenado.
III- O trabalho é um caminho para a liberdade já que oportuniza ao preso
a reinserção social e no mercado de trabalho.
a) Apenas II
b) I e III
c) Apenas III
d) I e II
2- O trabalho nos torna seres sociais na medida em que, entramos em contato com outros
indivíduos e, pouco a pouco, aprendemos a estabelecer relações com pessoas diferentes, com
idéias e opiniões muitas vezes divergentes das nossas.
Na perspectiva da vida prisional, qual a contribuição do trabalho como instrumento de
ressocialização e reinserção social?
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3- A idéia de que o trabalho dignifica o homem foi otimamente expressa por Gonzaguinha na
música “Guerreiro Menino”, lançada por Fagner em 1983, pense e comente a importância do
trabalho para o homem.
“Um homem se humilha/ Se castram seu sonho/ Seu sonho é sua vida/ E a vida é o trabalho/
Sem o seu trabalho/ Um homem não tem honra/ Sem a sua honra/ Se morre, se mata/ Não dá pra
ser feliz.”-
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O Trabalho e as Emoções
O ser humano é um ser que tem emoções; e, emoção refere-se a estados como alegria,
amor, orgulho, divertimento, que agradam; e estados desagradáveis, como a raiva, o ciúme, o
medo, aflição, vergonha, etc. As emoções permeiam toda a vida humana, em casa, nas ruas, nas
escolas, nas oficinas e também nas prisões. . As emoções são um fenômeno humano tão
importante que é estudado por quase todas as ciências. Sejam elas sociais ou não.
77
A emoção tanto pode ser construtiva como destrutiva; tanto fortalecedora como
debilitadora. (Hebb, 1971: 200)
Todos estes estados possuem pontos em comum. Todos eles constituem estados de
motivação e vigilância. Esses estados (que por sua vez geram comportamentos) produzem
emoções que podem afetar gravemente os processos que controlam a conduta organizada.
(Hebb, 1971: 201)
Não há como pensar em emoções misturadas, elas não estão apenas misturadas umas
às outras; elas estão ligadas aos motivos, a partir do nascimento. O atendimento a uma
necessidade, digamos fome, muitas vezes se associa a sentimentos específicos (felicidade e
prazer, por exemplo). As emoções geram motivos e comportamento. A raiva, por exemplo, é
acompanhada muitas vezes por um desejo de ferir. (Linda Davidoff, 1983: 438).
O trabalho tem o objetivo fazer com que as pessoas sentam-se mais úteis e importantes,
bem como dá- lhes mais autonomia, responsabilidade e reconhecimento, e esse processo gera
emoções , que por sua vez, geram comportamentos positivos.
Ao tirar o direito ao trabalho do homem afeta-se sua vida particular, de sua família, seu
relacionamento com outras pessoas, atitudes e crenças, pois o não-trabalho tira-lhe sua
identidade, ou seja, tudo que diz respeito ao seu modo de viver e à s suas emoções.
Outro problema ocasionado pela ociosidade, que pode vir a modificar as atitudes do
sujeito em relação ao convívio social é quanto ao clima organizacional no ambiente prisional, a
abstinência ao trabalho gera pode atitudes negativas por parte do indivíduo, por não estar
satisfeito com as normas, regras e políticas organizacionais exercidas.
Desta forma, a Afetividade é quem confere o modo de relação do indivíduo à vida e será
através da tonalidade de ânimo que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou
indiretamente a Afetividade exerce profunda influência sobre o pensamento e sobre toda a
conduta do indivíduo.
Assim, o estado psíquico global com que a pessoa se apresenta e vive reflete a sua
Afetividade. Tal como as lentes dos óculos, os filtros da afetividade fazem com que o sol seja
percebido com maior ou menor brilho, que a vida tenha perspectivas otimistas ou pessimistas,
que o passado seja revivido como um fardo pesado ou, simplesmente, lembrado com
suavidade. Interfere assim na realidade percebida por cada um de nós, mais precisamente, na
representação que cada pessoa tem do mundo, de seu mundo.
A indissociação entre pensar e sentir nos obriga a integrar nas explicações sobre o
raciocínio humano as vertentes racional e emotiva dos conceitos e fatos construídos. Partimos da
premissa de que no trabalho educativo cotidiano não existe uma aprendizagem meramente
cognitiva ou racional, pois os alunos e as alunas não deixam os aspectos afetivos que compõem
sua personalidade do lado de fora da sala de aula, quando estão interagindo com os objetos de
conhecimento, ou não deixam "latentes" seus sentimentos, afetos e relações interpessoais
enquanto pensam.
79
l'intelligence et l'affectivité dans le développement de l'enfant", o autor nos advertiu sobre o fato de
que, apesar de diferentes em sua natureza, a afetividade e a cognição são inseparáveis,
indissociadas em todas as ações simbólicas e sensório-motoras. Ele postulou que toda ação e
pensamento comportam um aspecto cognitivo, representado pelas estruturas mentais, e um
aspecto afetivo, representado por uma energética, que é a afetividade.
De acordo com Piaget, não existem estados afetivos sem elementos cognitivos, assim
como não existem comportamentos puramente cognitivos. Quando discute os papéis da
assimilação e da acomodação cognitiva, afirma que esses processos da adaptação também
possuem um lado afetivo: na assimilação, o aspecto afetivo é o interesse em assimilar o objeto ao
self (o aspecto cognitivo é a compreensão); enquanto na acomodação a afetividade está presente
no interesse pelo objeto novo (o aspecto cognitivo está no ajuste dos esquemas de pensamento
ao fenômeno).
Na relação do sujeito com os objetos, com as pessoas e consigo mesmo, existe uma
energia que direciona seu interesse para uma situação ou outra, e a essa fonte energética
corresponde uma ação cognitiva que organiza o funcionamento mental. Dessa forma, as relações
afetivas que despertam o interesse do ser humano para as coisas, as pessoas, que orienta seus
atos. Portanto, todos os objetos de conhecimento são simultaneamente cognitivos e afetivos, e as
pessoas, ao mesmo tempo que são objeto de conhecimento, são também de afeto.
80
Assim Piaget e Wallon mostra-nos, em seus escritos, compartilhar da idéia de que
emoção e razão estão, intrinsecamente, conectadas (1986). Na perspectiva genética de Henri
Wallon, inteligência e afetividade estão integradas: a evolução da afetividade depende das
construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende
das construções afetivas. No entanto, o autor admite que, ao longo do desenvolvimento humano,
existem fases em que predominam o afetivo e fases em que predominam a inteligência.
Diante disso podemos disser que, quando estamos felizes, preparamos nossas "cabeças"
para analisarmos e compreendermos as necessidades e problemas dos demais, elaborando
estratégias de ação mais solidárias e generosas. Os mesmos resultados nos indicam também
que os estados emocionais influenciam nossos pensamentos e ações tanto quanto nossas
capacidades cognitivas. Assim, ao sermos solicitados a resolver problemas, a forma como
organizamos nosso raciocínio parece depender tanto dos aspectos cognitivos quanto dos
aspectos afetivos presentes durante o funcionamento psíquico, sem que um seja mais importante
que o outro.
81
No cenário da educação: a busca por uma escola que ressocialize precisa ter em mente
que: "Nenhum ser humano nunca nasceu com impulsos agressivos ou hostis e nenhum se tornou
agressivo ou hostil sem aprendê-lo."
Um bom caminho para a promoção de tal proposta é lançar mão do emprego de técnicas
de resolução de conflitos no cotidiano das salas de aula, principalmente se os conflitos em
questão apresentarem características éticas que solicitem aos sujeitos considerar ao mesmo
tempo os aspectos cognitivos e afetivos que caracterizam os raciocínios humanos.
Para justificar tais princípios nos pautamos em idéias como as de Moreno (2000),
especialmente quando afirma que: "os suicídios, os crimes e agressões não têm como causa a
ignorância das matérias curriculares, mas estão freqüentemente associados a uma incapacidade
de resolver os problemas interpessoais e sociais de uma maneira inteligente." A autora nos leva a
refletir sobre o fato de que os conteúdos curriculares tradicionais servem - mesmo que não
somente -, para "passar de ano", ingressar na universidade, mas parecem não nos auxiliar a
enfrentar os males de nossa sociedade ou os conflitos de natureza ética que vivenciamos no
cotidiano.
Montagu afirma que nenhum ser humano torna-se agressivo ou hostil sem aprendê-lo,
temos de admitir que, se vivemos momentos de intensa violência, em algum momento da história,
tal violência foi, por nós, construída, aprendida. As relações e os conflitos interpessoais do
cotidiano, com os sentimentos, pensamentos e emoções que lhes são inerentes, exigem de nós
autoconhecimento e um processo de aprendizagem para que possamos enfrentá-los
adequadamente.
82
conhecerem e a compreenderem melhor suas próprias emoções e as das pessoas com quem
interagem no dia a dia.
Trabalhar a afetividade consiste em poder fazer com que o ser, jovem ou adulto receba
de nós o contato físico, verbal, a relação de cuidados, mas isso também implicará conflitos,
envolvendo amor e raiva.
Em qualquer espaço deve haver uma relação de afeto, pois é isso que ajudará a construir
um ser humano psicologicamente saudável. O ato de cuidar é maravilhoso - é o sentimento que
vai tornar o outro importante. A família e o professor, educadores que são, devem entender que
têm uma missão: construir um ser humano, mesmo que não seja uma criança mais.
As emoções revelam-se como o elo entre o indivíduo e o ambiente físico, tanto quanto
entre o indivíduo e outros indivíduos. Estes laços interindividuais iniciam nos primeiros dias de
vida e se fortalecem a partir das emoções, antes mesmo do raciocínio e da intenção. No dia a dia,
os educadores percebem a importância dos laços afetivos no processo de educação, e
ressocialização.
Nessa fase de sua vida, apesar de todas as transformações ocorridas, ele, o aluno preso,
precisa se reconhecer como ser importante, capaz de desenvolver valores e respeitá-los na
sociedade, tendo direitos e respeitando dos direitos dos outros, ocupando espaço e respeitando o
espaço do outro. Ser que conhece melhor suas possibilidades, suas limitações, seus pontos
fortes, suas motivações, seus valores e sentimentos, o que cria a possibilidade de escolhas mais
83
adequadas nas diferentes situações de vida. Ser adulto significa ter desenvolvido uma
consciência moral: reconhecer e assumir com clareza seus valores e dirigir suas decisões e
escolhas de acordo com eles.
É essa definição de valores e compromissos com eles que marca o fim de uma fase
conturbada, cuja característica primordial foi a luta por essa definição. Com maior clareza de seus
valores, o jovem ou adulto estará mais livre e com mais energias para voltar-se para o outro, para
fora de si, em condições de acolher o outro solidariamente e a continuar a se desenvolver com
ele. Esse é um indicador de amadurecimento: conseguir um equilíbrio entre "estar centrado em si"
e "estar centrado no outro", um equilíbrio nas direções para dentro — conhecimento de si — e
para fora — conhecimento do mundo. Daí a importância do professor ter condições para o
acolhimento do outro, de seus alunos .
Afetividade e aprendizagem
Por isso, pode-se afirmar que a pulsão de saber é parte de nossa vida psíquica, sujeita à
dinâmica do inconsciente, ela está enredada nas astúcias do desejo e da inventividade, assim
está ligada aos sentimentos e emoções, o que escapa a lógica.
Conquanto lidar com a afetividade desse aluno preso, não é apenas lidar com suas
produções cognitivas racionais. Assim, para fazer com que aconteça o aprendizado não podemos
buscar só o saber acadêmico, mas tudo que integra o cotidiano, o qual está esse aluno
afetivamente e politicamente implicado.
84
Atividade
Questões norteadoras:
2- Você, como ser humano, tem sempre as mesmas reações? Não. Acho que sua resposta
foi esse não.
Sabemos que as fontes e instrumentos de conhecimentos são traiçoeiros. Dependendo de
se estar com medo ou confiante o mesmo objeto pode parecer temível ou não. Dependendo
da situação em que se está, as mesmas coisas podem ser irritantes para os que sofrem e
85
agradáveis para os que estão bem. Analisando esse ponto de vista, pode-se que todos têm
reações distintas em momentos distintos. Pensando assim, como deve ser a relação da
equipe que trabalha na prisão, com o apenado.
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3- Vamos, agora, pensar na música de Chico Buarque, O que será que será?
86
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o padre eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo
Observe que a música lembra o impulso livre, as emoções, junta a ousadia e a criatividade.
Aponta para essa “bomba” que são as relações afetivas do ser humano.
Analise e comente em algumas linhas a letra da música, pensando nas relações afetivas e no
seu papel de educador /ressocializador .
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4-Faça um pequeno texto narrando uma experiência em que o desejo de saber e a curiosidade
impulsionaram, prazerosamente e criativamente, uma atitude vivenciada no presídio.
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Unidade 09
Objetivo
A sociedade sofre ameaça e a insegurança cresce, quando a cadeia não cumpre seu
objetivo de correção do apenado, correção moral e social.
Sabemos que lidar com indivíduos encarcerados implica lidar com pessoas movidas pela
revolta e pela vingança, por isso requer mais compreensão, mais condição de dignidade humana.
Essencial é atentar para o fato de que atitudes construtivas e atitudes com ética
classificam o agente penitenciário como agente social, capaz de colaborar com a sociedade na
solução dos problemas de segurança.
88
Solidariedade, sentimento esse que faz um ser humano diferente, faz prestar socorro ao
outro ser humano que precisa de apoio, amparo e do auxílio de outros, semelhantes ou não.
Assim, é preciso analisar, refletir sobre as palavras de Kahil Gibran, “ È belo dar quando
solicitado; é mais belo, porém, dar por haver apenas compreendido”. O agente está ali, precisa
compreender o outro, apesar de ter errado, de ter ferido as normas de uma sociedade, continua
sendo um ser humano, merece ser compreendido.
Deve ter atitudes estratégicas e criteriosas, para corroborar com mudanças no trato do
homem preso, e realizá-las em um espírito de legalidade e ética. Ter a humildade de reconhecer
a incapacidade a respeito dos meios capazes de transformar criminosos em não criminosos, visto
que determinados condicionantes tendem a impedir essa metamorfose, parecendo provável que
algumas delas favoreçam o aumento do grau de criminalidade das pessoas. (Thomphson, 1980)
O papel do agente está ligado a sua conduta, já que o ser humano deve ser considerado
em sua totalidade e não numa visão fragmentada. E para isso, esse profissional deve ser
capacitado e valorizado, a fim de exercer suas práticas profissionais visando a definição do seu
papel no que se refere a melhorar a segurança pública, a vigiar e socializar. È imprescindível
compreensão, a consciência de que sua função não se restringe apenas á segurança do homem
preso, mas que exerce uma função social legítima e indispensável.
89
lo, como um objeto; respeitá-lo como um ser dotado de prerrogativas inalienáveis, dentre as quais
ressalta o direito a intimidade, porém revistar-lhe, frequentemente, o cubículo, remexer-lhe os
objetos pessoais e vistoriar as roupas, inspecionado-o, até no mais íntimo do corpo; desconfiar
dele e fechá-lo à chave.
Para o profissional que está mais próximo com apenado, é necessário as seguintes
atitudes de condutas profissionais: aptidão que é uma disposição nata, um dom natural de lidar
com as pessoas; honestidade, pois precisa ser parte exemplar da instituição e ter conduta
impecável; conhecer com clareza ações próprias de seus direitos, deveres e prerrogativas;
responsabilidade para apresentar-se com entendimento ético e determinação moral; iniciativa
para ser capaz de propor ações e principiar conhecimentos; disciplina para observar os preceitos
ou normas de forma natural; lealdade para com os seus compromissos e honesto com seus
companheiros; equilíbrio emocional com ações comedidas e prudentes; autoridade que não
tenha apenas direito ao poder, mas que tenha o encargo de respeitar as leis com competência
indiscutível; liderança para conduzir o grupo; flexibilidade para estar sempre com destreza, bom
senso a serviço do bem comum; empatia para colocar-se sempre no lugar do outro, antes de
uma decisão importante; comunicabilidade para comunica-se de forma expressiva e franca;
perseverança para ser firme e constante em suas ações e ideais.
O bom trabalho do agente depende de integração com a direção, podendo assim, manter
a tranqüilidade no local de trabalho. O agente toma para si a responsabilidade de manter o preso
dentro da penitenciária, garantir a ordem entre os presos e agentes, mas um problema que
aparece para a execução desse trabalho é a falta de planejamento com a finalidade comum.
Pode-se dizer que o trabalho é feito da melhor forma possível, mas sem a preocupação de indicar
metas e objetivos a serem atingidos a médio e longo prazo.
90
Atividade
Questões norteadoras:
92
Unidade 10
Psicologia da Aprendizagem no
Sistema Prisional
Objetivo
Vamos falar dessas pessoas que vivem “à margem” do convívio social, os detentos. Esse
tipo de isolamento talvez seja o mais dramático, pois os indivíduos, mesmo vivendo no meio de
seus semelhantes, experimentam uma solidão forçada, sejam eles, jovens, adultos ou idosos.
Assim, deve o homem à sociedade, ademais, sua autoconsciência. Nela está presente a
figura do "outro", que testemunha e afirma a sua existência. Portanto, é impossível vivermos
isolados, mesmo quando estamos fisicamente sozinhos, estamos dialogando mentalmente
afetivamente com alguém, parentes, amigos ou inimigos, que está longe. Este diálogo imaginário
93
acontece com os prisioneiros isolados numa cela, mas acontece também com outras pessoas
que estão sozinhas.
É sabido que o homem precisa estar em convivência com o outro, pois desde que nasce
vive em grupos que servem de referência, que dão apoio material, afetivo, intelectual ou
espiritual, tais com a família, a escola, os espaços de trabalho, de lazer, de reflexão e de
participação social. Dessa forma, cada um estrutura sua identidade singular e social.
Esse caminho é cheio de espinhos, não é tão fácil, mas sempre existe, ao lado de
constantes dificuldades, uma chama acesa sustenta os desejos e sentimentos comuns, que faz
aos educadores e educandos companheiros nessa jornada para suportarem as frustrações e não
perder a esperança em tornar os sonhos em realidade.
94
mesmo grupo, ser membro de uma sociedade, tendo algo em comum, todos se identificando uns
com os outros, na busca dos mesmos objetivos comuns.
É difícil para qualquer homem viver como ninguém, viver no anonimato social. Talvez o
jeito “torto” desse indivíduo, é um grito para ser notado, assim a violência seria a demanda do
reconhecimento que esse indivíduo, jovem, adulto, homem ou mulher não teve na família ou na
sociedade. Quando pratica um ato ilícito, quando agride alguém e esse alguém reage, ele sente
que existe diante dos olhos dos outros, que existe para a sociedade.
95
A implantação de espaços que favoreçam e estimulem a cidadania, a participação, o diálogo, a
auto-estima, a valorização da potencialidade, a reciprocidade e a descontração pode estimular a
ressocialização. Entretanto, é necessário frisar algo sobre a participação e a cidadania.
A participação aparece como fator altamente relevante para se transformar a realidade local e,
além do mais, é um direito que não pode ser restrito por critérios de gênero, idade, cor, credo ou
condição social. Tal premissa aparece como fator crucial para a realização das atividades dentro
da penitenciária, pois a participação é algo não muito estimulado dentro dos espaços prisionais
brasileiros.
Observa-se que essas relações são importantes para todos nós, do ponto de vista afetivo,
intelectual, institucional. Assim, a vida grupal é um lugar de realização de nossos sonhos, onde
estamos livres de qualquer ameaça, conflitos e angústias. Nessas relações o ser humano está
livre de carências físicas, psíquicas, de culpas, de incertezas, de dúvidas, do erro, etc.
ATIVIDADE
96
Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que
trabalham no mesmo segmento da EJA.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias das discussões realizadas e das
possibilidades resultantes nas discussões.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.
Questões norteadoras:
1- Há certos grupos aos quais desejamos ardentemente pertencer, pois fantasiamos que
neles nos realizamos. Assim, os grupos de pertencimento aos quais estamos
afetivamente ligados propiciam, exceto:
a) segurança afetiva
b) valorização
c) sentimento de importância
d) chance de ficar rico
2- Dê um exemplo de uma atitude preconceituosa, no interior da unidade prisional que você
trabalha. Comente os danos que essa atitude pode causar ao ser humano que a sofreu.
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97
Aprender é aprender com alguém...
Freud coloca que um professor pode ser ouvido quando está revestido por seus alunos de
uma importância especial. Os educadores investidos da relação afetiva são fundamentais para a
aprendizagem de seus alunos; assim, esta relação mais do que conteúdos cognitivos tem sua
base na afetividade. Neste sentido a noção de transferência se torna importante no contexto da
educação. O professor torna-se depositário da confiança dos alunos e se reveste de uma
importância especial decorrente do “desejo de aprender”, mas também ocorre uma transferência
de poder. Isto significaria que a tentação de abusar do poder é muito grande na relação
professor-aluno, abusar do poder seria equivalente a usá-lo para subjugar o aluno, impor-lhe seus
próprios valores e idéias. Para evitar-se tal tentação, o professor deve entender sua tarefa como
uma contribuição à formação de um ideal que tem uma função reguladora, normatizante
A noção de transferência tem relação com uma série de acontecimentos psíquicos que
ganham vida novamente, agora não mais como passado, mas como relação atual, como
experiências vividas. O encontro entre o que foi ensinado e a subjetividade de cada um é que
torna possível o pensamento renovado, a criação, a geração de novos conhecimentos.
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alunos. Esta saber se manifestará cada vez que o professor se dispuser a desocupar o lugar de
poder em que um aluno o coloca necessariamente no início de uma relação pedagógica.
Dentro do sistema prisional a educação precisa ser recuperada como formação humana
dentro de uma prática que ensina o aluno a romper com o processo de desumanização ou de
degradação a que foram submetidos em sua história de vida. Esta educação precisa
conscientizar as pessoas a tomarem posição diante das questões do seu tempo e, especialmente
do seu momento de vida. É preciso intencionalidade pedagógica específica para a
alfabetização/educação dos adultos dentro do sistema prisional. O aluno, mais do que em outras
condições educativas, deve olhar-se como sujeito educativo mediado pela afetividade e
conhecimento do professor.
As ações entre educando e educador, passam a ter um peso maior quando o “desejo de
aprender” é fruto da reflexão sobre o mundo que os cerca, o modelo de sociedade que se deseja
a partir da possibilidade de transformações dos indivíduos, mas também das estruturas da
sociedade. A vivência cotidiana, novas relações sociais e interpessoais começam a mudar a
cabeça e o coração das pessoas, recuperando certos valores que já tinham perdido ou nem
conheciam. O professor precisa entender que há a necessidade de ferramentas pedagógicas que
explicitam valores, que mostram para as pessoas da necessidade do aprender, pois elas só
aprendem aquilo que sabem que precisam aprender, e que não se pode impor a outra pessoa a
consciência da necessidade de aprender.
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Utilizar de músicas e brincadeiras, dos cânticos religiosos, para proporcionar um ambiente
de aprendizagem, pedir para o aluno descrever situações positivas de sua existência pode
provocar um ambiente de afetividade e interesses mútuos que facilitam e incentivam as relações
dentro do grupo de aprendentes, muitos estão preocupados com problemas pessoais e o
ambiente de estudos pode ser um momento de troca entre todos, isto é, o sentimento de grupo
cria vínculos e os alunos podem se sentir estimulados a participar das atividades. É importante
perceber que além de um quadro e do giz, o uso de filmes, entrevistas, documentários, livros, e
tantas outras coisas que fazem parte do universo destes alunos podem ser utilizadas no processo
de ensino-aprendizagem.
Referências
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DURKEIM, E. Ética e Sociologia da moral. Trad. Paulo Castanheira. São paulo: Landy, 2003
FALCONI, Romeu, Sistema Presidencial: Reinserção Social? São Paulo: Ícone, 1998
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: História da violência nas prisões. Trad. Lígia M. Pondé
Vassallo. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1986
HEERDT, Mauri L. Construindo Ética e Cidadania todos os dias. Florianópolis: Sophos, 2000.
HEBB, Donald Olding. Introdução à Psicologia. Livraria Atheneu. Rio de Janeiro, 1971
PÉREZ GÓMEZ. A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal. Porto Alegre: Artmed, 2002.
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