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TERRIN, Aldo Natale. Antropologia e horizontes do sagrado: culturas e religiões. São Paulo:
Paulus, 2004.
A tolerância nas religiões do passado e do presente
O mundo Ocidental se baseia no monoteísmo, sendo um pensamento não somente no plano religioso,
como nos planos político, econômico e social. A religião se aliou à nossa cultura e afirmar que existe
um Deus único, significa ao mesmo tempo, reconhecer que existe uma só verdade, uma só justiça e um
só valor. Desse modo, os valores ocidentais são sempre interdependentes e se referem inevitavelmente
a uma unidade de princípios.
Mas todo monoteísmo religioso e cultural, exatamente porque seguro da sua verdade tende a
transformar-se em intolerância. Precisamente porque tem uma estrutura monolítica e se fundamenta
sobre um paradigma que não admite paradigmas, o monoteísmo se preta a tornar-se tirânico, a ponto
de, no passado, a catolicíssima inquisição poder definir como “atos de fé” as cerimônias de preparação
de fogueira para os hereges.
Se o monoteísmo religioso é uma tradição que temos o direito e o dever de conservar e respeitar não
significa que ele deva unir-se a um “monoteísmo cultural”, sem dinamismo. Existe um “monoteísmo
cultural” que sempre procurou aliar-se ao poder para poder exprimir uma concepção coerciva tirânica.
Essa tirania em potência do passado e do presente deve ser revista em nossa cultura toda via tão
pluralista.
As religiões não são fixas, elas são movidas por constantes mudanças. São formadas em um
determinado contexto histórico, possuindo uma identidade própria, e uma verdade que se modifica
durante no tempo.
É notório, que nenhuma religião é totalmente original, as religiões dependem de outras mais antigas, ou
seja, são formações sincréticas. Aos membros de cada religião é preciso conhecer as origens da mesma,
para não serem levados pela arrogância e nem pela soberba.
Segundo Van der Leeuw: “Toda religião tem a sua pré-história, até certo ponto toda religião é um
sincretismo. Chega depois o momento em que, em vez de continuar como soma, se torna um todo e
obedece à própria lei”. Eele quer dizer que toda religião recebe influencias de outras, portanto, chega
um momento em que a própria religião cria suas próprias leis e começa segui-las.
É importante que as religiões não se fechem em si mesma, e ignorem o que está em sua volta, ela
precisa aprender a conviver com as demais, precisa aprender a tolerar. Entretanto, não deve deixar de
conservar sua identidade e dar as fieis orientação especifica que a caracteriza.
Para reavaliar o sentido da tolerância e da liberdade religiosa é preciso destacar o fato de que o
pensamento e a vida religiosa apoiam-se sobre um pedestal simbólico e que uma religião vive
fundamentalmente porque e enquanto se reporta ao simbólico. Ou seja, a ideia do sagrado serve de
fundamento ao mundo das religiões para encontrar o verdadeiro ponto de partida da tolerância e do
diálogo entre as religiões, é a experiência do divino que fazemos neste mundo. O sagrado vive e
convive com certa ambiguidade de expressões e de reconhecimento na nossa vida e isso se projeta
como um jogo de luzes e de sombras também na realidade que nos envolve. É a sua própria
escatologia, pode ser submetida a critérios humanos, a razão ou a algo como o bom senso. Por essa
característica continua sendo o que não pode ser possuído, o que não é meu, nem teu, nem nosso:
continua o outro, continua o que ainda deve ser compreendido e momento privilegiado, mantém-se
sempre inacessível. Mesmo se o nosso tempo, definido como o tempo da “dessacralização”. Costuma
profanar o sagrado, o homem religioso mantém inalterada a sua atitude porque sabe que o mistério de
Deus se relaciona com o mistério do homem e um outro são insondáveis. Nesse sentido, o sagrado não
pode ser uma carta vitoriosa no mundo sociocultural do mesmo modo que não pode pertencer como
propriedade aos “gestores” do sagrado. Por isso, quando as religiões fazem um discurso de
determinação dos limites e quando estabelecem regras, realizam um trabalho de “domesticação” que
implica certo perigo. A tolerância é um ato de clarividência que uma religião deve ter como patrimônio
e como verdadeira reserva escatológica.
As religiões são consanguíneas, dependem umas das outras, pois a experiência religiosa é universal.
Quando estudamos as religiões, no ponto de vista do sujeito que vive a experiência religiosa,
observamos que além de toda apologética de uma religião particular existem experiências comuns,
existe um mundo que ainda não descobrimos e que temos medo de pôr em evidência por que
revolucionaria a relação hoje vigente entre as religiões.
4. As religiões são consanguíneas e dependem umas das outras, pois a experiência religiosa é
universal.
Precisamos ser menos céticos quando queremos medir a experiência religiosa dos adeptos de uma
religião porque essa experiência é sempre um ponto excepcional de encontro entre a experiência
humana autêntica e o desejo de encontrar o divino. Sem equívocos e sem empregos de pseudo-
experiências.
Compreendemos então que a tolerância entre as religiões não é somente o resultado de uma
mentalidade de diálogo e de participação mas é uma exigência interna do mundo das religiões, pois elas
se tornam fiadores de uma visão do mundo muito semelhante.
Os princípios teóricos e doutrinários são importantes, visto que as religiões tem uma estrutura
fundamentalmente “tolerante”, é mais fácil reconhecer as contradições e as dificuldades em que as
religiões desembocam quando irrefletidamente caem na intolerância religiosa.
Um dos exemplos é o que na antiguidade se definiu em torno da religião egípcia que era sincretista e
livre, contendo pelo menos três teologias diferentes presidida por outros tantos deuses: a teoloia de
Menphis, , de Tebas e de Heliópolis. Pelo fim da XVII dinastia, surgiu a ideia de unificar as
divindades, propondo um novo deus que tivesse como referencia o sol: “aton”. O autor lembra que foi a
partir desse novo deus e dessa nova profissão de fé iniciou-se um processo de intolerância religiosa: o
plural de deus foi removido dos textos, o rei mudou seu nome em homenagem ao novo deus, passando
a se chamar Akhenaton, uma nova cidade é fundada em homenagem ao novo deus, conhecida como
“Tel el Amarna” onde o rei e o novo deus buscam uma complementaridade total. A intolerância
religiosa produziu uma crise total na sociedade e Tel el Amarna terminou com o fim da dinastia
procedente, Thutankathon.
Nos novos tempos encontramos um clima cultural tolerante , uma época de respeito a liberdade
religiosa , que proporciona então que novas religiões possam florescer. O autor afirma que a tolerância
é hoje o fruto de um pluralismo de pensamento consolidado e aceito pelas respectivas culturas,
defendendo ainda que as novas religiões (Igreja Moon, Sagrada Família, Cientologia, “Nova Era” e
outras) estão todas abertas não somente á tolerância, mas também à convivência com outras crenças,
num sistema de dupla dependência, movimentando-se numa liberdade religiosa absoluta onde o
ecletismo é a regra, ultrapassando todos os limites e tornando-se confusão das línguas e subjetivismo
religioso desenfreado.
8. Conclusão
O autor conclui que a tolerância religiosa é um valor e um mérito, enquanto é tolerância e respeito pelo
outro entretanto, quando se transforma em permissivismo e favorece a perda da identidade religiosa.