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ENGENHARIA CIVIL
Orientador Técnico
(Laísa Emmanuelle Brandão Miguel Vida)
Orientador Metodológico
(Karina Silva Campos)
RESUMO
Devido ao grande consumo do concreto em obras, este material pode ter adquirido
alguns métodos de fabricação que resultam em uma baixa qualidade e/ou resistência,
causando uma possível patologia grave ou gasto financeiro desnecessário. Este artigo
objetiva, por meio de uma pesquisa quantitativa, evidenciar a qualidade e o custo-
benefício do concreto fabricado em obras de pequeno e médio porte, onde em sua
maioria dosa-se o concreto por unidade de volume, utilizando a disseminada “lata de
pedreiro”. A pesquisa apresenta o comparativo da resistência do concreto usinado e
concreto convencional preparado em obra, além do custo de cada método de preparo.
Onde conclui-se a grande desvantagem do concreto convencional em relação ao
concreto usinado.
1. INTRODUÇÃO
Como pode-se perceber atualmente, o concreto é utilizado em grande maioria das
construções. Ele é facilmente encontrado em casas, viadutos, pontes, pavimentação,
usinas nucleares e em edificações desde as mais baixas até as mais altas do mundo.
Segundo pesquisas da Federación Iberoamericana de Hormigón Premezclado (FIHP),
é estimado o consumo de 11 bilhões de toneladas de concreto todo ano, tornando-o
assim, o segundo material mais utilizado em todo planeta, perdendo somente para a
água. (PEDROSO, 2009).
Sendo assim, será que o preparo usinado (mistura mecânica com alta precisão) e o
preparo convencional em obra (mistura mecânica em betoneira ou manual), resultam
no mesmo resultado técnico do concreto?
Este artigo tem como enfoque esta comparação. Analisar se há viabilidade no preparo
do concreto em obra (pelos meios convencionais de preparo), quando se dosa o traço
do concreto por unidade de volume, ao contrário do concreto usinado, que se utiliza
unidade de massa dos mesmos para dosar o traço. Portanto, comparar a qualidade
do método de volume que é muito utilizado, em diversas obras, com o método de
massa que são utilizados nas concreteiras.
1.1 Justificativa
É recorrente a ideia de que o custo do concreto usinado é superior ao custo do
concreto convencional preparado em obra. Mas quando é fabricado o concreto
convencional em obra, dentre os insumos, não estão somente o cimento, agregados
e a água. Assim, desmistificando esta primeira ideia. (VOTORANTIM
CIMENTOS,2016).
A equipe de oficiais e meio-oficiais, gastam muito tempo preparando a massa de
concreto em obra, que por sua vez, é de difícil controle de qualidade, pois depende
do treinamento e cuidado do profissional responsável para esta tarefa. Contraditando
o princípio que o tempo é um bem precioso na construção civil. (VOTORANTIM
CIMENTOS,2016).
Para que esse comparativo chegue a uma equivalência, é necessário a soma de todos
os insumos. Os materiais, transportes, maquinário, energia elétrica, mão de obra
necessária para fabricação do concreto convencional preparado em obra, que devem
ser inclusos no custo do mesmo.
Quanto a sua eficácia técnica, é necessário um experimento comparativo de
resistência, entre os processos de fabricação do concreto para que se possa constatar
e contribuir na análise de custo-benefício do emprego entre concreto usinado e
concreto preparado em obra.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Comparar os métodos utilizados para fabricação do material mais utilizado na
construção mundial, sendo eles: preparado em usina (traço por unidade de massa),
preparado em obra convencional (traço por unidade de volume).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Composição do Concreto Portland
O concreto é um material que se origina de um longo processo de reformulações e
desenvolvimento, durante a história da humanidade, até que se resulte no concreto
de cimento Portland, o material estrutural mais importante na construção civil da
atualidade. (HELENE; ANDRADE, 2010).
Esse material é composto atualmente pela mistura de Cimento Portland, água,
agregado miúdo, agregado graúdo e aditivos (se necessário).
Cimento Portland: aglomerante hidráulico, composto principalmente por Clínquer
(calcário e Argila) e adições. Dentre as variações de adições, destaca-se o gesso, as
escórias de alto-forno, os materiais pozolânicos e os materiais carbonáticos.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2002).
Agregado miúdo: areia.
Agregado graúdo: pedra britada.
Aditivos: todo produto não indispensável à composição e finalidade do concreto. Faz
aparecer ou reforçar certas características como, trabalhabilidade, resistência
mecânica, compacidade, tempo de pega e endurecimento (retardar ou acelerar),
impermeabilidade, entre outros. (BAUER, 2000).
2.2 Relação água/cimento (a/c)
Segundo a NBR 12655:2015 - Concreto de cimento Portland - Preparo, controle,
recebimento e aceitação - Procedimento, a relação a/c é a relação em massa entre o
conteúdo efetivo de água e o conteúdo de cimento Portland e outros materiais
cimentícios.
Esta relação é extremamente importante para o resultado do concreto, pois não
interfere somente na trabalhabilidade do mesmo, mas influencia diretamente na
resistência e durabilidade do concreto.
Conforme demostra a Tabela 1, os valores máximos de a/c para cada classe de
agressividade, são fixados pela NBR 12655:2015.
TABELA 1 - Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto.
Fonte: ABNT,2015.
0,68 × 𝛼 𝑛
𝑓𝑐 = 𝑘 [0,32 × 𝛼 + 𝑎/𝑐 ] (Equação 1)
Onde:
𝑓𝑐 : resistência à compressão numa certa idade, em MPa;
𝑘: constante que depende dos materiais utilizados;
𝑛: constante que depende dos materiais utilizados;
𝑎/𝑐: relação água/cimento ou água/aglomerantes, em massa;
𝛼: grau de hidratação do cimento em porcentagem.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1 Qualidade técnica
A comparação da qualidade técnica, consistiu na moldagem de quatro CPs de
concreto para fck de 15 MPa e dois CPs de concreto para fck de 30 MPa. Entre os
CPs de concreto usinado estão, dois para fck de 15 MPa e um para fck de 30 MPa,
conforme figura 4. O restante dos CPs, foram moldados através de concreto
convencional.
Foram realizados dois métodos para se obter o traço em volume do concreto
convencional, sendo, por meio da conversão do traço em unidade de massa em
unidade de volume, para o fck de 15 MPa e por meio de tabela prática de traços de
concreto, para o fck de 30 MPa.
Para moldagem e cura dos corpos de prova, todos os procedimentos foram
executados conforme a NBR 5738/2015 - Concreto - Procedimento para moldagem e
cura de corpos-de-prova. Para o ensaio de compressão foi consultada a NBR
5739/2007 - Concreto - Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos.
O concreto usinado, para fck de 15 MPa, foi composto por 216,2 kg de cimento
Portland CP IV, 1.010,0 kg de areia, 932,6 kg de brita nº 01, 120,6 kg de água. Para
obter o traço unitário em relação à 1 kg de cimento, é necessário a divisão de cada
material pelo peso total de cimento, resultando no seguinte traço unitário por unidade
de massa 1:4,67:4,31:0,56, sendo cimento Portland, areia, brita nº 01 e água
respectivamente.
FIGURA 4 - Corpos de prova de concreto usinado moldados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Qualidade técnica
Rompidos os CPs, decorridos 7, 14 e 33 dias após sua moldagem, os mesmos
apresentaram as seguintes resistências características à compressão, conforme a
Tabela 3.
TABELA 3. Resultados dos ensaios de compressão
Resistência característica à compressão (MPa)
Concreto usinado Concreto convencional
Fck 30 MPa Fck 15 MPa Fck 30 MPa Fck 15 MPa
7 dias 14 dias 33 dias 7 dias 14 dias 33 dias
22,22 14,89 21,06 10,4 6,74 11,08
Fonte: Autor, 2018.
Para analisar os fcks apresentados pelos CPs, foi consultada a NBR 6118:2014 -
Projeto de estruturas de concreto - Procedimento, onde a mesma apresenta
expressões para determinar a resistência de cálculo do concreto, para datas iguais ou
superiores a 28 dias de idade do concreto, conforme equação 2 e para datas
anteriores aos 28 dias, conforme as equações 3 e 4.
𝑓𝑐𝑘
𝑓𝑐𝑑 = (Equação 2)
𝛾𝑐
𝑓𝑐𝑘
𝑓𝑐𝑑 = 𝛽1 (Equação 3)
𝛾𝑐
1⁄
28 2
𝛽1 = 𝑒𝑥𝑝 {𝑠 [1 − ( 𝑡 ) ]} (Equação 4)
Onde:
𝑓𝑐𝑑 : resistência de cálculo do concreto, em MPa;
𝛾𝑐 = 1,4 para combinações normais: coeficientes de ponderação das resistências,
adimensional;
𝑡: idade efetiva do concreto, em dias;
𝑠 = 0,38 para concreto de cimento CPIII e IV.
Onde o preço unitário do item 6 foi estipulado com informações oficiais da ARSAE-
MG (Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento
Sanitário do estado de Minas Gerais) e preço unitário do item 8, obtido através da
divisão do valor mensal de locação da betoneira por 22 dias úteis. Valor mensal obtido
pelo resultado da média do valor mensal, entre três locadoras de equipamentos para
construção civil, região metropolitana de Belo Horizonte/MG.
5. CONCLUSÕES
Atingidos os objetivos de evidenciar as resistências características à compressão e o
custo final de cada método, conclui-se que o concreto usinado, onde se utiliza a
dosagem do traço por meio de unidades de massa, é vantajoso em diversos aspectos
apresentados neste artigo. Dentre os principais, destaca-se, a garantia de obtenção
do fck conforme solicitado no projeto, como demonstra os ensaios laboratoriais
realizados, onde a eficácia técnica dos CPs ensaiados, ultrapassou os valores de fck
estipulados. Além do valor inferior em relação ao concreto convencional, sendo neste
estudo, 29,34% mais barato, uma diferença considerável quando acrescentado à
quantidade que será consumida de concreto na obra.
Sendo a principal desvantagem do concreto convencional, a grande possibilidade de
não atingir a faixa de fck assegurada pelo coeficiente de ponderação da NBR
6118:2014, sequer o fck projetado, caso ocorra esse evento e seja utilizado na
estrutura, possivelmente ocasionará em uma patologia grave, onde o concreto é
submetido a carga superior a suportada, podendo a estrutura colapsar, resultando
sobre o responsável técnico da obra um crime civil, penal ou criminal, com vítimas ou
não, segundo Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406-2002) e Código Penal (Decreto Lei
nº 2.848-1940).
Entretanto, caso o proprietário do empreendimento opte pelo concreto convencional,
é recomendável a utilização de um meio de preparo que se assemelhe ao concreto
usinado, dosando todos os materiais do traço do concreto, por meio de unidades de
massa, além de uma fiscalização maior em seu preparo, realizada por um profissional
qualificado. Como sugestão, a aquisição de uma balança com suporte até 150
quilogramas, investimento com valor mínimo em relação ao valor da etapa de
concretagem, que poderá ser aproveitada em outras diversas obras, que possibilitará
um grande ganho na precisão do fck do concreto.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARSAE-MG. Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de
Esgotamento Sanitário do estado de Minas Gerais. Resolução ARSAE-MG 96, de 29
de junho de 2017. Minas Gerais, 2017.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Guia básico de utilização
do cimento portland. 7.ed. São Paulo, 2002.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto - Ensaio de
compressão de corpos-de-prova cilíndricos. NBR 5739/2007. Rio de Janeiro,
2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto - Procedimento
para moldagem e cura de corpos-de-prova. NBR 5738/2015. Rio de Janeiro, 20015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto de cimento
Portland - Preparo, controle, recebimento e aceitação - Procedimento. NBR
12655/2015. Rio de Janeiro, 2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de
concreto - Procedimento. NBR 6118/2014. Rio de Janeiro, 2014.
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EDITORA PINI LTDA. TCPO 13ª edição - Tabelas de Composições de Preços para
Orçamentos. São Paulo: EDITORA PINI LTDA, 2010.
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<https://blogdopetcivil.com/2012/06/12/concreto-virado-em-obra/> Acesso em: 20 de
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