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Apostila 03 – Exigências humanas, Mecanismos de trocas térmicas e Índices de Conforto Térmico I 1

EXIGÊNCIAS HUMANAS E MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS


As exigências humanas de conforto térmico estão relacionadas com o funcionamento de seu
organismo, cujo mecanismo pode ser, grosso modo, comparado a uma máquina térmica que produz
calor segundo sua atividade: ou seja, o homem precisa liberar calor em quantidade suficiente para
que sua temperatura interna se mantenha constante.

Essa temperatura é da ordem de 37°C, com limites muito estreitos (entre 36,1 e 37,2°C), sendo 32°C
o limite inferior e 42°C o limite superior para a sobrevivência, em estado de enfermidade.

A energia produzida pelo organismo humano advém de reações químicas internas. A mais
importante delas é a combinação do carbono, introduzido no corpo sob a forma de alimentos, com o
oxigênio, extraído do ar pela respiração. Com o uso do oxigênio, o organismo promove a queima das
calorias existentes nos alimentos, transformando-as em energia. Esse processo de produção de
energia interna a partir de elementos combustíveis orgânicos é denominado de metabolismo.

Cerca de 20% da energia produzida é transformada efetivamente em potencialidade de trabalho.


Então, termodinamicamente falando, a “máquina humana” tem um rendimento muito baixo. A
parcela restante, aproximadamente 80%, transforma-se em calor, que deve ser dissipado para que o
organismo seja mantido em equilíbrio.

Já que o ser humano é homeotérmico, a temperatura interna do organismo tende a permanecer


constante, independentemente das condições do clima. Entretanto, sempre existem trocas térmicas
entre o corpo humano e o meio, visando ao equilíbrio. Na figura abaixo, observa-se que essas trocas
podem ocorrer por condução, convecção, radiação e evaporação.

Tipos de trocas térmicas


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MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS

O calor produzido pelo corpo humano, através do metabolismo, é dissipado pelos mecanismos de
trocas térmicas entre o corpo e o ambiente, envolvendo as trocas secas (condução, convecção e
radiação) e as trocas úmidas (evaporação).

O calor perdido para o ambiente através das trocas secas é denominado de calor sensível, sendo
função das diferenças de temperatura entre o corpo e o meio. Já o calor perdido para o ambiente
através das trocas úmidas é chamado de calor latente e envolve mudança de estado de agregação: o
suor, líquido, passa para o estado gasoso (vapor).

É importante lembrar que o fluxo de calor sempre vai do ponto mais quente ao mais frio. Caso os
corpos tenham a mesma temperatura, dizemos que estão em equilíbrio térmico.

Condução: Troca de calor entre dois corpos que se tocam ou entre partes de um mesmo corpo que
estejam a temperaturas diferentes. Neste caso, o calor se propaga em todas as direções: se elevamos
a temperatura de um ponto do mesmo corpo, o fluxo de calor se dirige a todos os pontos de menor
temperatura que o rodeiam. A condução se realiza por contato entre as moléculas dos corpos. Nos
fluidos (líquidos e gases), também existem fenômenos convectivos que alteram o processo original.
Por esta razão, a condução refere-se aos sólidos.

Convecção: Troca de calor entre dois corpos, sendo um deles sólido e o outro um fluido (líquido ou
gás). A convecção se verifica quando os corpos estão em contato molecular e um deles, pelo menos, é
um fluido. O processo possui duas fases: na primeira, o calor se transmite por condução; ao passo que,
na segunda, a alteração sofrida pela temperatura do fluido modifica sua densidade (o fluido aquecido
torna-se mais leve, tendendo a subir e, em conseqüência, provoca o movimento convectivo).

Convecção natural: É originada pela diferença de temperaturas entre o sólido e o fluido. Assim,
ocorre algumas vezes no espaço interior das edificações e quase sempre em câmaras de ar fechadas
por vidros e paredes duplas, ou nas coberturas com forro.

Convecção forçada: Na convecção forçada, originada por uma causa externa (como a ação mecânica
de um ventilador), o ar possui velocidade própria, independente do seu movimento convectivo.

Convecção natural Convecção forçada

Radiação: Mecanismo de troca de calor entre dois corpos (que guardam entre si uma distância
qualquer), através de sua capacidade de emitir e de absorver energia térmica. A irradiação
(transmissão de energia através do espaço) ocorre mediante uma dupla transformação da energia:
uma parte do calor do corpo com maior temperatura se converte em energia radiante que chega até
o corpo com menor temperatura, onde é absorvida numa proporção que depende das propriedades
da superfície receptora, sendo novamente transformada em calor.
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Quando a energia radiante incide sobre um corpo,


ela é absorvida, refletida ou transmitida. Energia
transmitida corresponde à parcela que atravessa o
corpo por transparência, como ocorre no ar ou no
vidro. Nos corpos opacos, temos apenas as parcelas
de energia refletida e absorvida.

Quando a fonte de radiação é o sol (energia de onda


curta), a absorção dependerá da cor do material:
será baixa para claros e alta para escuros. Por outro
lado, se a fonte é de baixa temperatura (radiação de
onda longa, emitida pelos corpos aquecidos), a
quantidade de emissão dependerá do brilho do
material: as superfícies metálicas serão pouco
emissivas e as não metálicas terão um elevado
coeficiente de emissividade.

Absorção de onda curta: claro x escuro Emissão de onda longa: metálico x não-metálico

Evaporação: Troca térmica úmida proveniente da mudança do estado líquido para o estado gasoso.
Para ser evaporada, passando ao estado de vapor, a água necessita de um certo dispêndio de
energia. A velocidade de evaporação é função do estado higrométrico do ar e de sua velocidade.

Exemplo de uma carta psicrométrica

Isso porque, como já vimos, a uma determinada temperatura, o ar tem capacidade de conter apenas
certa quantidade de vapor d’água, inferior ou igual a um máximo denominado peso do vapor
saturante. Portanto, o grau higrométrico é a relação entre o peso de vapor d’água contido no ar, a uma
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certa temperatura, e o peso de vapor saturante do ar à mesma temperatura. O peso de vapor


saturante relativo a cada temperatura pode ser obtido na carta psicrométrica por meio da linha da
umidade relativa (UR) 100% (curva de saturação). O peso de vapor contido no ar, para cada condição
de umidade relativa (UR) e para cada condição de temperatura, também pode ser encontrado na
mesma carta (são as linhas horizontais de umidade absoluta).

Sabendo que o processo de


evaporação retira calor do ambiente, é
possível fazer uso dessa propriedade
na concepção dos ambientes
arquitetônicos. Assim, por exemplo,
em um clima quente e seco, podemos
utilizar fontes e tanques de água,
criando um resfriamento evaporativo:
além de aumentar a umidade do ar pela evaporação, também diminuímos o calor presente no entorno.
Basta lembrar da criação dos pátios com fontes na arquitetura vernacular do Oriente Médio.

Condensação: Troca térmica úmida decorrente da mudança do estado gasoso do vapor d’água contido
no ar para o estado líquido. Quando o grau higrométrico do ar se eleva a 100%, a temperatura em que
ele se encontra é denominada ponto de orvalho e, a partir daí, o excesso de vapor d’água contido no ar
se condensa — passa para o estado líquido. Da mesma forma que a evaporação, a condensação é
acompanhada de um dispêndio de energia. Por isso, quando chove, é possível experimentar uma
sensação de aquecimento do entorno.

Por outro lado, se o ar, saturado de vapor d’água, entra


em contato com uma superfície cuja temperatura está
abaixo daquela do seu ponto de orvalho (isto é, mais fria),
o excesso de vapor também irá se condensar sobre a
superfície (no caso dela ser impermeável), ou pode
condensar-se no seu interior (caso haja porosidade). Esse
processo é denominado de condensação superficial e pode
danificar os materiais de construção (em função de sua
exposição excessiva às gotículas de água).

Em um clima frio, tal situação pode ser recorrente: o ar mais aquecido (pela presença de pessoas e de
fontes de calor dentro da edificação) entra em contato com as superfícies frias de vedação (expostas às
condições mais rígidas do exterior), condensando sobre as mesmas. Assim, é preciso diminuir os efeitos
negativos da condensação superficial. Uma opção seria dotar o espaço de uma maior taxa de
ventilação, carregando a massa de ar úmida para o exterior. Outra solução consiste em se empregar
materiais que tenham uma maior resistência à passagem da água (ou seja, menos porosos).

MECANISMOS TERMORREGULADORES

Quando as trocas de calor entre o corpo humano e o ambiente ocorrem sem maior esforço, a
sensação do indivíduo é de conforto térmico e sua capacidade de trabalho, desse ponto de vista, é
máxima. Se as condições térmicas ambientais causam sensação de frio ou de calor, é porque nosso
organismo está perdendo mais ou menos calor que o necessário para a manutenção da
homeotermia, a qual passa a ser conseguida com um esforço adicional que sempre representa
sobrecarga. Como consequência, ocorre queda do rendimento no trabalho, até o limite, sob
condições de rigor excepcionais, de perda total de capacidade para realização de trabalho e/ou
problemas de saúde.
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Por este motivo, há mecanismos com a


finalidade de manter a temperatura interna
constante, chamados de termorreguladores,
ativados quando as condições térmicas do
meio ultrapassam certas faixas.

Desse modo, o principal objetivo da


termorregulação consiste em impedir grandes
variações na temperatura interna corporal, de
maneira que os sistemas vitais possam operar
adequadamente. Essa tarefa é coordenada
pelo hipotálamo, que é a parte do cérebro
responsável por várias funções automáticas,
tais como: balanço de água, atividades
vasomotoras e humorais. O hipotálamo
recebe impulsos, originados em células
termossensíveis existentes na pele, nos
músculos e em outras partes do organismo e,
por intermédio dos nervos, manda comandos
que acionam mecanismos de compensação
(vasoconstrição e vasodilatação cutâneas, por
Sensações de frio e calor, em virtude da exemplo), interferindo nas trocas térmicas do
temperatura interna do corpo humano corpo com o ambiente.

Na presença de frio, os mecanismos termorreguladores são ativados com o objetivo de evitar perdas
térmicas do corpo ou aumentar a produção interna de calor. A redução de trocas térmicas entre o
indivíduo e o meio se faz através do aumento da resistência térmica da pele por meio da
vasoconstrição, do arrepio, do tiritar. Já o aumento das combustões internas (termogênese) se dá
através do sistema glandular endócrino.

O primeiro mecanismo termorregulador a ser disparado é a vasoconstrição periférica, ou seja, os


vasos capilares mais próximos à pele se contraem, enquanto aqueles mais próximos dos órgãos
internos se dilatam. Desta forma, a pele se resfria, atingindo uma temperatura a mais próxima
possível do meio e evitando, assim, perdas de calor por radiação e por convecção.

É importante lembrar que a eficiência dos mecanismos de vasoconstrição e vasodilatação periférica


refere-se ao fato da distribuição da temperatura interna no corpo humano ser desigual: uma
temperatura próxima dos 37°C é mantida no interior do cérebro, do coração e nos órgãos abdominais –
denominada de temperatura de núcleo. Ao contrário da temperatura de núcleo, a temperatura nos
membros, nos músculos e especialmente na pele (temperatura periférica) sofre oscilações. Dessa
forma, variando a temperatura cutânea, é possível determinar mudanças nas trocas de calor por
convecção e por radiação entre o corpo e o ambiente.

O segundo mecanismo termorregulador ativado na


presença de frio é o arrepio. O movimento muscular que
provoca o arrepio aquece a pele por atrito, além de
aumentar sua rugosidade, evitando perdas de calor por
convecção. Após o arrepio, se o frio ainda for agressivo,
haverá o aumento do metabolismo entre 30% e 100%, que
pode se manifestar pelo tremor dos músculos. Desse modo,
o calor produzido internamente será maior, compensando
as perdas do organismo para o meio.
Variação da temperatura corporal
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Mecanismos termorreguladores para sensação de frio

A partir daí, o homem começa a lançar mão de mecanismos instintivos (como curvar o corpo,
diminuindo a área de exposição da pele, bem como esfregar as mãos) e culturais (fazer alguma
atividade física ou ingerir alguma bebida quente). Também faz uso de suas habilidades (tecer roupas
e construir abrigos) para melhor se adaptar ao meio.

No caso de calor, o aparelho termorregulador busca aumentar as trocas térmicas entre o organismo
e o ambiente e reduzir as combustões internas. O incremento das perdas de calor para o ambiente
ocorre por meio da vasodilatação e da exsudação, enquanto a redução das combustões internas
(termólise) se faz através do sistema glandular endócrino.

O primeiro mecanismo termorregulador a ser disparado é a vasodilatação periférica que, ao


contrário da vasoconstrição, permite que uma maior quantidade de sangue percorra os vasos
superficiais, aumentando assim a temperatura da pele e propiciando uma maior dissipação de calor
por convecção e por radiação. Adicionalmente, poderia haver um aumento da freqüência cardíaca,
incrementando a vazão de sangue para a pele.

O segundo mecanismo ativado, quando os anteriores não são suficientes para manter o equilíbrio
térmico, é também o mais importante para a sensação de conforto térmico: o suor. Os poros sempre
estão produzindo o suor, que vai sendo evaporado no seu interior. Esta evaporação incrementa as
perdas de calor do corpo. Contudo, vale lembrar que, quando o ar está excessivamente úmido, o suor
não pode ser totalmente evaporado, ficando na superfície e prejudicando a sensação de conforto.

Também pode ocorrer redução automática do metabolismo a fim de diminuir a produção interna de
calor no organismo.

Mecanismos termorreguladores para sensação de calor

Da mesma forma, caso as condições climáticas continuem a provocar calor, o homem passa a fazer
uso de mecanismos instintivos (abanar o rosto, por exemplo), culturais (nadar, ingerir alimentos
frios) e de suas habilidades (construção de abrigos, desenvolvimento de mecanismos de refrigeração)
para melhor se adaptar ao meio.

Considerando o comportamento do organismo humano ao longo do dia, cada pessoa passa


cotidianamente por uma fase de fadiga (catabolismo) e por uma fase de repouso (anabolismo). O
catabolismo, sob o ponto de vista fisiológico, envolve três tipos de fadiga:
 Física (muscular) – resultante do trabalho de força;
 Nervosa – particularmente visual e sonora;
 Termo-higrométrica – relativa ao calor ou ao frio.
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A fadiga física faz parte do processo normal de metabolismo. Já os dois outros tipos resultam da
presença de condições adversas no meio, sendo que a fadiga termo-higrométrica é conseqüência do
trabalho excessivo do aparelho termorregulador, tanto com relação ao frio quanto ao calor.

Assim, é importante lembrar que a


termorregulação, apesar de ser o
meio natural de controle de perdas
de calor pelo organismo, representa
um esforço extra e, por conseguinte,
uma queda de potencialidade de
trabalho. O organismo humano
experimenta sensação de conforto
térmico quando perde para o
ambiente, sem recorrer a nenhum
mecanismo de termorregulação, o
calor produzido pelo metabolismo
compatível com sua atividade.
Balanço entre calor produzido e calor dissipado para o ambiente

VARIÁVEIS DE CONFORTO TÉRMICO

Os fatores que influenciam a sensação de conforto térmico dos seres humanos, dando origem ou não
ao acionamento dos mecanismos de compensação de seu corpo, são chamados de variáveis de
conforto térmico. Podem ser ambientais (condicionantes do meio que interferem nas trocas de calor)
ou humanas (variam para cada pessoa – por isso, os estudos de conforto térmico geralmente levam
em consideração as sensações térmicas equivalentes para a média de um grupo de pessoas).

Variáveis ambientais

É possível extrair os valores das variáveis ambientais, através de instrumentos apropriados. As


principais variáveis ambientais que influenciam a sensação térmica são:

 Temperatura do ar – é diferente daquela do corpo, iniciando as trocas por convecção e por


evaporação.
 Umidade relativa – em conjunto com a temperatura, influencia as perdas por convecção e por
evaporação.
 Velocidade do ar – aumenta as perdas por convecção, mas deve ser compatível com as
atividades desenvolvidas.
 Temperatura radiante média – determina as trocas por radiação, a qual exerce grande influência
sobre a sensação térmica dos seres humanos.

Para entender a diferença entre temperatura do ar e


temperatura radiante média, imagine a seguinte
situação: um grupo de pessoas reunido em uma praça
ao ar livre para assistir a uma apresentação musical.
Ainda que a temperatura atmosférica seja a mesma, as
pessoas que estiverem no centro da praça
provavelmente sentirão mais calor, pois existem mais
trocas por radiação entre seus corpos. Por outro lado,
aquelas na periferia da praça terão uma sensação
térmica mais confortável, justamente pela menor
temperatura radiante média do ambiente que ocupam.
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Variáveis humanas

Além destas variáveis (ambientais), o nível metabólico (atividade física) e a vestimenta (isolamento
da roupa) também interagem na sensação de conforto térmico do homem.

Nível metabólico: Quanto maior a


atividade física, tanto maior será o calor
gerado por metabolismo. Por isso, é
importante que o arquiteto conheça a
finalidade de seus projetos, de forma que
possa prever o nível de atividade que será
realizada no seu interior, tirando daí
algumas premissas sobre a sensação de
conforto térmico das pessoas. Em
academias de ginástica, por exemplo, em
que a atividade física é muito intensa,
recomenda-se o uso abundante de
ventilação (tanto para resfriamento,
quanto para a higiene do ar). Já em uma
Atividades físicas e respectivo metabolismo gerado
sala de aula, apesar da necessidade de
uma boa taxa de ventilação, é preciso dosar os fluxos de ar, para evitar que atrapalhem a atenção ou
que façam voar papéis. Na figura acima e na tabela abaixo, são apresentados os valores de
metabolismo para algumas atividades físicas segundo a norma ISO 7730.

Atividade Taxas metabólicas


Repouso 46 W/m² 0,8 met
Sentado, em repouso 58 W/m² 1,0 met
Atividade sedentária (escritório, escola, etc.) 70 W/m² 1,2 met
Dirigindo carro 80 W/m² 1,4 met
Em pé, trabalho leve (compras, laboratórios) 93 W/m² 1,6 met
Andando a 2 km/h 110 W/m² 1,9 met
Em pé, atividade média (trabalho doméstico) 116 W/m² 2,0 met
Em pé, lavando louça 145 W/m² 2,5 met
Andando a 5 km/h 200 W/m² 3,4 met
Trabalho em construção 275 W/m² 4,7 met
Esportes – correndo a 15 km/h 550 W/m² 9,5 met

Pela tabela acima, é possível observar que a medida da atividade física é dada por uma unidade
denominada de “met”, equivalente a 58,2 W de energia produzida por m² de pele (área superficial do
corpo nu). Sabendo que o corpo de um adulto possui, em geral, 1,7 m² de pele, uma pessoa sentada
em repouso (que está desenvolvendo a atividade de 1,0 met), terá uma produção de calor de cerca
de 100 W (58 x 1,7 = 98,6 W).
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Isolamento do vestuário: A pele troca calor por condução, convecção e radiação com a roupa que,
por sua vez, troca calor com o ar por convecção e, com outras superfícies, por radiação. Assim, a
vestimenta, que mantém uma camada (mínima que seja) de ar parado, dificulta as trocas por
convecção e por radiação.

A vestimenta funciona como um


isolante térmico, mantendo, junto ao
corpo, uma camada de ar mais
aquecido ou menos aquecido,
conforme seja mais ou menos isolante,
conforme seu ajuste ao corpo e
conforme a porção de corpo que cobre.
Ou seja, a vestimenta reduz a
sensibilidade do corpo às variações de Resistência térmica de algumas vestimentas
temperatura e de velocidade do ar. Sua resistência térmica depende do tipo de tecido, da fibra e do
ajuste ao corpo, devendo ser medida através das trocas secas relativas de quem a usa. Esta variável é
medida em “clo”: do inglês, clothing. Sua unidade equivale a 0,155 m²°C/W. Na figura acima, estão os
valores dos índices de resistência térmica de alguns tipos de vestimenta.

Quanto maior a resistência térmica da roupa, tanto


menor serão suas trocas de calor com o meio.
Poderia parecer estranho o fato de que, em climas
muito quentes e secos, utilizam-se roupas longas. A
explicação é a de que, neste caso, o suor evaporado
permanece entre a pele e a vestimenta, criando um
microclima mais ameno, além de diminuir as perdas
de líquido do corpo por evaporação.

A resistência total da roupa será dada pelo somatório


da resistência de cada peça (que pode ser obtida na Vestimenta característica de habitante de região
tabela seguinte, adaptada da norma ISO 7730). quente e seca

Descrição da vestimenta Icl (clo)


Roupa de baixo Meia-calça 0,02
Calcinha 0,03
Cueca 0,04
Ceroula 0,10
Sutiã 0,01
Camiseta 0,09
Anáguas de nylon 0,14
Camisetas Regatas 0,06
Mangas curtas 0,09
Mangas longas 0,25
Calças Shorts 0,06
Calças 0,25
Macacão 0,28
Macacão isolante Isolante múltiplo 1,03
Fibra 1,13
Agasalho Agasalho fino 0,20
Agasalho normal 0,28
Agasalho grosso 0,35
Jaquetas Colete 0,13
Jaqueta 0,35
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Casacos longos Casaco 0,60


Parca 0,70
Sobretudo 0,52
Diversos Meias de algodão 0,02
Meias de lã 0,05
Meias de lã até joelho 0,10
Sapatos (solado fino) 0,02
Sapatos (solado grosso) 0,04
Botas 0,10
Luvas 0,05
Saias e vestidos Saia leve, 15 cm abaixo dos joelhos 0,10
Saia grossa, no comprimento dos joelhos 0,25
Vestido de inverno, longo 0,40
Roupa de dormir Shorts 0,10
Pijamas longos 0,50
Macacão (cobrindo pés) 0,72
Cadeiras Madeira ou metal 0,00
Tecido 0,10
Cadeira com braços (poltrona) 0,20
Nível de isolamento (clo) para cada peça de roupa

Outros fatores que afetam as sensações térmicas:

Idade: Diferença entre pessoas mais novas e mais velhas (geralmente as últimas se sentem mais
confortáveis a 1°C superior de temperatura).

Gênero: A taxa metabólica das mulheres é menor, então, normalmente preferem uma temperatura a
1°C superior que a dos homens.

Nível de adaptação: Pessoas que vivem em climas tropicais possuem uma maior tolerância para
ambientes quentes, enquanto pessoas de regiões frias são mais tolerantes a ambientes resfriados.

ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO


Como foi estudado acima, as condições de conforto térmico são função da atividade desenvolvida pelo
indivíduo, da sua vestimenta e das variáveis climáticas que proporcionam as trocas de calor entre o corpo
e o ambiente. Além disso, devem ser consideradas outras variáveis (tais como: sexo, idade, biótipo e
hábitos alimentares).

A partir do conhecimento das variáveis climáticas de conforto térmico, combinadas com as variáveis
humanas, vem sendo desenvolvida uma série de estudos que procuram determinar as condições de
conforto térmico e os vários graus de conforto ou desconforto por frio ou por calor. Isso porque,
embora as variáveis de conforto térmico sejam diversas, quando se muda diferentemente algumas
delas ou até todas, as condições finais podem proporcionar sensações ou respostas semelhantes.

Tal fato levou os estudiosos a desenvolverem parâmetros que agrupam as condições que
proporcionam as mesmas respostas: os índices de conforto térmico. Em geral, esses índices são
desenvolvidos fixando um tipo de atividade e a vestimenta utilizada pelo indivíduo para, a partir daí,
relacionar as variáveis do ambiente e reunir, sob a forma de cartas ou nomogramas, as diversas condições
que proporcionam respostas iguais por parte dos indivíduos.

Os primeiros esforços organizados para o estabelecimento de índices de conforto térmico foram


realizados nos Estados Unidos entre 1913 e 1923, por iniciativa da Associação Americana dos
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Engenheiros de Aquecimento e Ventilação (ASHVE). Esses primeiros estudos procuraram relacionar a


influência das condições termo-higrométricas sobre o rendimento do trabalho, visando,
principalmente, ao trabalho físico do operário, atendendo aos interesses de produção surgidos com a
Revolução Industrial e às situações especiais de guerra (em função das tropas serem deslocadas para
regiões de diferentes tipos de clima). Tais pesquisas iniciais chegaram aos seguintes resultados:

• Para o trabalho físico, o aumento da temperatura


ambiente de 20°C para 24°C diminui o rendimento
do trabalhador em 15%;
• A 30°C de temperatura ambiente, com umidade
relativa de 80%, o rendimento cai 28%.

Foram também observadas variações de produção em


indústrias, segundo a mudança das estações do ano.
Além disso, existem ainda estudos que correlacionam ambientes termicamente desconfortáveis com
índices elevados de acidentes no trabalho. Desde então e até hoje esse assunto vem sendo pesquisado
em diferentes partes do mundo, originando vários métodos de avaliação de conforto térmico. Os índices
de conforto térmico mais comumente utilizados são:

 Carta bioclimática de Olgyay (1963)


 Carta bioclimática de Givoni (1969 e revisões)
 Voto Médio Predito (Fanger –1972)

CARTA BIOCLIMÁTICA DE OLGYAY


O método de Victor Olgyay (1963) baseia-se na construção de uma carta bioclimática, que apresenta
a zona de conforto humano em relação à temperatura do ar, umidade atmosférica, velocidade do ar
e radiação. A carta foi construída sobre um gráfico, tendo como ordenada a temperatura de bulbo
seco e, como abscissa, a umidade relativa do ar.

A figura que segue apresenta a Carta Bioclimática para habitantes de regiões de clima quente, em
trabalho leve, vestindo 1 “clo”, que corresponde a uma vestimenta leve.

Carta Bioclimática para habitantes de regiões de clima quente, em trabalho leve, vestindo 1 “clo”
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Assim, na região central da carta, está delimitada a zona de conforto. As condições de temperatura
seca e de umidade relativa do ar podem ser obtidas sobre a carta. Evidentemente, se os pontos
determinados por essas variáveis se localizarem dentro da zona de conforto, as condições
apresentadas serão consideradas como adequadas. Se caírem fora da zona de conforto, há
necessidade de serem tomadas medidas corretivas.

Desse modo, caso o ponto determinado


pelas condições de temperatura de bulbo
seco e de umidade relativa do ar caia
acima da zona de conforto, será necessário
recorrer-se ao efeito do movimento do ar.
Se a temperatura do ar é elevada, mas a
umidade é baixa, o movimento do ar
pouco favorece (a umidificação é que se
torna uma estratégia bioclimática
adequada). Quanto à região abaixo do
limite inferior da zona de conforto, as
linhas representam a radiação necessária
para se atingir o conforto térmico – quer
Estratégias para regiões fora da zona de conforto em termos de insolação, quer em termos
de aquecimento do ambiente.

Importa destacar que as variáveis ambientais relacionadas na carta são medidas externamente às
edificações. Olgyay justifica que, em suas experiências para a determinação da zona de conforto
(realizadas no sudeste dos Estados Unidos), as temperaturas internas ficaram muito próximas das
externas, sugerindo que seu diagrama fosse utilizado principalmente para edifícios com vedações leves
em regiões semelhantes. Assim, essa primeira carta (cujo limite da zona de conforto está em branco na
figura da página anterior), segundo o autor, seria apropriada para locais de clima moderado.

Depois desses primeiros estudos, muitas revisões foram feitas, inclusive pelo próprio autor. Isso porque
foram criticadas a falta de uma estratégia referente à massa da envoltória (já que as vedações de uma
edificação modificam a sensação de conforto térmico, retardando as trocas de calor entre exterior e
interior) e a adequação da carta para regiões de clima quente (em função de uma maior tolerância de
seus habitantes quanto à variação das condições de temperatura e de umidade do ar).

Por causa disso, em 1968, Olgyay procurou adaptar sua carta para regiões de clima quente,
realizando trabalhos na Colômbia, em que considerou a aclimatação das pessoas e adotou novos
parâmetros para definição da zona de conforto. Os novos limites empregados (linha pontilhada da
figura da página anterior) foram de cerca de 20 a 80% de umidade relativa e temperatura de bulbo
seco limitada entre 18,3°C e 29,5°C.

Entretanto, o diagrama de Olgyay manteve-se limitado ao tratar os efeitos da radiação como se


fossem independentes da inércia térmica: a carta não apresenta diretamente estratégias de massa
térmica para a correção do clima externo, tornando sua aplicação estrita para ambientes situados em
regiões em que as condições internas acompanham a variação do exterior (ou seja, para edificações
leves em locais úmidos). Tentando solucionar essa dificuldade, Givoni elaborou sua própria carta,
como veremos a seguir.
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CARTA BIOCLIMÁTICA DE GIVONI

Um ano depois, em 1969, Baruck Givoni, desenvolvendo a idéia de Olgyay, propôs uma carta
bioclimática para edificações, baseada na carta psicrométrica, que inclui, além da temperatura de
bulbo seco e da umidade relativa, a pressão de vapor e a temperatura de bulbo úmido. A principal
diferença entre esses dois sistemas deve-se ao fato de que o diagrama de Olgyay é desenhado entre
dois eixos (temperaturas secas e umidades relativas), enquanto que a carta de Givoni é traçada sobre
uma carta psicrométrica convencional.

A carta de Givoni foi desenvolvida com base em


pesquisas conduzidas nos Estados Unidos, Europa e
Israel. Também sua proposta passou por uma
atualização, em 1992, sendo que, dessa vez, os
limites de conforto foram determinados a partir de
estudos realizados em países de clima quente.
Apoiando-se no fato de que, devido aos seus
costumes, as pessoas que moram nessas regiões
aceitam limites máximos superiores de
temperatura e de umidade, a atualização sugere a
expansão desses limites para sua aplicação em tais
Carta bioclimática de Givoni (1969) locais, como é possível verificar na imagem abaixo.

Carta bioclimática de Givoni (1992) para países quentes

A carta bioclimática passou então a ter demarcações de diferentes limites para climas temperados e
para climas quentes. Dentro desses limites das condições climáticas, várias estratégias podem ser
usadas, caso as situações sejam de desconforto. As novas opções de estratégias apresentadas, em
relação à proposta de Olgyay, são: massa térmica (para aquecimento ou resfriamento), resfriamento
evaporativo, aquecimento ou resfriamento artificial.

Existem dois tipos de dados climáticos que podem ser plotados na carta, com o objetivo de se
analisar climaticamente um local: dados climáticos horários (para todas as 8.760 horas de um Ano
Climático de Referência) e dados das médias mensais de um período significativo de anos (obtidos
através das Normais Climatológicas).
Apostila 03 – Exigências humanas, Mecanismos de trocas térmicas e Índices de Conforto Térmico I 14

Lembrando que:
As Normais Climatológicas são séries de dados padronizados para grandes períodos de tempo
(geralmente 30 anos). As séries apresentam médias mensais de temperatura, médias das máximas de
temperatura, média das mínimas de temperatura, temperaturas máximas e mínimas absolutas,
pressão atmosférica, umidade relativa, horas de insolação e precipitação, dentre outros dados.

Normais Climatológicas de Uberlândia entre 1996 e 2012.

O ano climático de referência, por sua vez, resulta de um tratamento dessa série de dados climáticos, em
que são eliminados os anos que apresentam a menor e a maior temperatura da série. Por fim, é
selecionado o ano cujas temperaturas não apresentam extremos. O procedimento realizado para
selecionar um ano climático de um local específico é baseado na eliminação de anos de dados. Para isto,
os meses são classificados em ordem de importância. As temperaturas médias mensais, para o período de
registros disponível, são examinadas de acordo com a sequência: o ano com o mês mais quente e o mês
mais frio são anotados. O processo continua, anotando-se os anos em que ocorrem os extremos e
posteriormente anotando-se os anos atípicos (por exemplo, janeiro mais frio). Esses anos são eliminados e
o procedimento é repetido até restar apenas um. Este é designado o Ano Climático de Referência e suas
características é que serão analisadas.

Condição Ano Condição Ano


Outubro mais quente 2002 Outubro mais frio 2006
Julho mais frio 2000 Julho mais quente 2009
Dezembro mais quente 2012 Dezembro mais frio 2005
Junho mais frio 2004 Junho mais quente 2002
Fevereiro mais quente 2010 Fevereiro mais frio 2008
Maio mais frio 2003 Maio mais quente 2002
Setembro mais quente 2004 Setembro mais frio 2000
Agosto mais frio 2003 Agosto mais quente 2008
Novembro mais quente 2009 Novembro mais frio 2005
Abril mais frio 2008 Abril mais quente 2002
Março mais quente 2007 Março mais frio 2008
Janeiro mais frio 2012 Janeiro mais quente 2006
Ano climático de referência para Uberlândia entre 2000 e 2012: 2011.

Na carta bioclimática de Givoni, para os dados horários, cada par de dados de TBS e UR formam um
ponto a ser marcado, sendo que as diferentes localizações dessas ocorrências na carta assumem
geralmente a forma de uma mancha. Essa localização é indicadora do tipo de clima do local e,
consequentemente, das estratégias mais adequadas ao bom desempenho térmico do edifício.

Para a confecção de uma carta com dados horários, utilizam-se softwares especializados, que exigem
uma formatação própria na geração dos dados de entrada. Dois exemplos são o Analysis Bio, da
Universidade Federal de Santa Catarina, e o Climaticus, da Universidade de São Paulo. Ambos fazem
Apostila 03 – Exigências humanas, Mecanismos de trocas térmicas e Índices de Conforto Térmico I 15

a plotagem das 8.760 horas de um ano e oferecem um relatório da porcentagem de cada estratégia
necessária. A figura seguinte mostra uma carta bioclimática confeccionada com dados horários para
a cidade de Belém (PA).

Carta bioclimática de Belém (PA), obtida pelo TRY

Já para a utilização das Normais


Climatológicas (também presentes
nos programas supracitados), são
plotadas retas na Carta Bioclimática,
de maneira que cada uma delas
corresponda a um mês do ano, como
mostra a figura ao lado.

Analisando-se de forma exemplificativa


a cidade de Florianópolis (SC) e
observando os valores percentuais
obtidos pelas normais e pelo TRY,
constata-se que, a partir das normais,
tende-se a superestimar o conforto e a
Carta bioclimática de Belém (PA), obtida pelas Normais
subestimar as estratégias bioclimáticas.

A mesma relação que existe entre a clara e a gema de um ovo frito pode sumarizar, de forma
figurativa, a ligação existente entre a carta bioclimática feita a partir do TRY e aquela a partir das
normais. As normais, por empregarem valores médios, tendem a concentrar as linhas
representativas do ano na região correspondente ao centro de gravidade da mancha proveniente das
8.760 horas analisadas pelo TRY.

No caso de Florianópolis, houve


alterações significativas entre os
resultados devido à grande
amplitude anual de temperatura e
umidade, que faz a mancha das horas
do ano distribuir-se por grande área
na carta. Em cidades com variações
Comparação entre TRY e Normais para Florianópolis
Apostila 03 – Exigências humanas, Mecanismos de trocas térmicas e Índices de Conforto Térmico I 16

de temperatura e de umidade reduzidas ao longo do ano (Belém, por exemplo, analisada


anteriormente), os resultados obtidos pelas normais e pelo TRY possuem maior semelhança.

Fazendo uma comparação entre os índices de conforto térmico estudados até agora, apesar da
validade dos métodos desenvolvidos, importa destacar que eles basicamente verificam a influência da
temperatura e da umidade do ar na sensação de conforto térmico, uma vez que os outros fatores
humanos intervenientes (como a vestimenta e a atividade física executada) são mantidos constantes.

Isso restringia a aplicação prática dos resultados dessas pesquisas, uma vez que eles só são válidos para
condições semelhantes àquelas usadas nos testes: ou seja, atividade física sedentária, vestimenta com
resistência térmica de 0,6 a 1,0 clo, baixa velocidade do ar e temperatura radiante média igual à
temperatura ambiente. A mudança nessa forma de análise ocorreu apenas com o trabalho do
professor dinamarquês Ole Fanger.

VOTO MÉDIO PREDITO (VMP) OU VOTO MÉDIO ESTIMADO (VME)

Partindo da premissa de que para haver conforto térmico numa determinada atividade física o corpo
deve estar em equilíbrio térmico, Fanger elaborou uma equação de conforto que permitia, para uma
determinada combinação das variáveis pessoais (tipo de atividade física e vestimenta), calcular todas
as combinações das variáveis ambientais (temperatura radiante média, umidade relativa, velocidade
e temperatura do ar) que produzem conforto.

A equação de conforto de Fanger foi formulada a partir da expressão de equilíbrio térmico ou de


balanço térmico do corpo humano, sendo que o detalhamento de cada um dos termos resultou na
seguinte expressão:

M Energia do metabolismo, (kcal/h)


2
ADu Área superficial do corpo (m )
η Rendimento do trabalho mecânico externo
ts Temperatura média da pele (°C)
pa Pressão de vapor d'água no ar (mmHg)
Esw Calor perdido por evaporação do suor (kcal/h)
tcl Temperatura superficial da vestimenta (°C)
fcl Fator de área da vestimenta
Icl Resistência térmica da vestimenta (clo)
2
hc Coeficiente de transferência de calor por convecção, (kcal/h.m . °C)
tmrt Temperatura radiante média (°C)
ta Temperatura do ambiente (°C)

Embora a equação de conforto de Fanger seja complexa, é possível transformá-la em diagramas de


conforto (existem diagramas para diferentes tipos de atividade e isolamento das vestimentas), que
representam as combinações das variáveis que resultam em conforto térmico. Dois exemplos deles
Apostila 03 – Exigências humanas, Mecanismos de trocas térmicas e Índices de Conforto Térmico I 17

são ilustrados abaixo. Ambos são dados para uma atividade sedentária (1 met) e vestimenta leve (0,5
clo). Contudo, no primeiro diagrama, a temperatura do ar é coincidente com a temperatura radiante
média. Já no segundo, elas são diferenciadas.

Exemplo de aplicação do primeiro diagrama: considerando um ambiente com umidade relativa de


60% e temperatura do ar de 27,5°C, a recomendação é que ele seja ventilado com uma velocidade de
0,5 m/s. Já para o segundo diagrama, caso a temperatura radiante média seja de 35°C e a
temperatura do ar de 25°C, a velocidade recomendada é de 0,5 m/s.

Embora os diagramas representem as combinações das variáveis que resultam em conforto térmico,
sob o ponto de vista prático, fazia-se necessário conhecer o grau de desconforto experimentado
pelas pessoas em ambientes que oferecessem condições diferentes daquelas consideradas
confortáveis. Assim, Fanger também definiu um critério para avaliar esse grau de desconforto,
chamado de Predicted Mean Vote (PMV) – Voto Médio Predito (VMP) ou Voto Médio Estimado
(VME). Tal critério relaciona as variáveis climáticas que influenciam o conforto térmico com uma
escala de sensação térmica definida por Fanger. Desse modo, o PMV expressa a sensação térmica
média de um grupo de pessoas, quando expostas a uma determinada combinação dessas variáveis,
sendo dado na seguinte escala:
+3 muito quente
+2 quente
+1 levemente quente
0 neutro (conforto)
-1 levemente frio
-2 frio
-3 muito frio

Vale lembrar que existem alguns programas que calculam o PMV on line, bastando inserir os dados
referentes às variáveis humanas e ambientais, como aquele. Entre eles, destacam-se o desenvolvido
pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (http://www.dec.ufms.br/lade/pmv/) e aquele da
Universidade de Sidney (http://web.arch.usyd.edu.au/~rdedear/). Além disso, também é possível
chegar ao PMV de determinado ambiente através do software Analysis 1.5
(http://www.labeee.ufsc.br/downloads/softwares/analysis), desenvolvido pela Universidade Federal
de Santa Catarina.
Apostila 03 – Exigências humanas, Mecanismos de trocas térmicas e Índices de Conforto Térmico I 18

A fim de conhecer a quantidade de pessoas termicamente descontentes com um ambiente, Ole


Fanger também relacionou o valor do PMV com a porcentagem estimada de pessoas insatisfeitas
(PPD – predicted percentage of dissatisfied), como pode ser verificado no gráfico abaixo.

Porcentagem de instatisfeitos em função do PMV

A análise da curva da figura permite verificar que:

• É impossível obter num ambiente uma


combinação das variáveis de conforto que
satisfaça plenamente a todos os integrantes
de um grande grupo. A condição de
neutralidade térmica (PMV = 0) corresponde
a 5% de insatisfeitos.
• A curva é simétrica em relação ao ponto de
PMV=0, significando que sensações
equivalentes de calor e de frio (mesmo PMV
em valores absolutos) correspondem a igual
porcentagem de insatisfeitos. Gráfico PMV x PPD segundo Fanger

O voto médio predito, portanto, é um índice subjetivo, representando um valor numérico que traduz
a sensibilidade humana ao frio e ao calor. O método de Fanger foi adotado como base para o
desenvolvimento de uma norma que especifica condições de conforto térmico para ambientes
termicamente moderados – é o caso de escolas, escritórios – (ISO 7730, 1984) e da sua atualização
em 1994. A norma recomenda que, para esses espaços, o PPD deve ser menor que 10% (Lowest
Possible Percentage Dissatisfied – LPPD) – o que corresponde a uma faixa do PMV entre -0,5 e +0,5.

COMPARAÇÃO ENTRE OS ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO

Observando melhor os índices de conforto térmico estudados, é possível classificá-los quanto à sua
aplicabilidade. Assim, por exemplo, o Voto Médio Predito é mais adequado para a previsão do grau
de conforto (ou de desconforto) presente nos ambientes internos das edificações (já em
funcionamento). As cartas bioclimáticas, por sua vez, em função de sua maior generalidade, podem
ser empregadas para se analisar o comportamento climático de determinado local – estabelecendo
as estratégias mais indicadas para o mesmo antes da concepção de um projeto.

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