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Corpo, memória, identidade: as transidentidades e o sujeito da política.

Eduardo Leal Cunha

Bom dia a todas e todos.


Retomando as palavras de Roland Barthes em sua aula inaugural no Collège de
France, devo dizer que estar aqui é uma alegria e uma honra, seja esta merecida ou não.
Assim, agradeço a meu colega Christian Hoffmann o convite para debater com vocês hoje e
também ao Prof. Frédéric Gros que se coloca então, , subvertendo de certo modo as
identidades reconhecidas, na posição de analista, como aquele que em sua escuta, me
interroga.
Dito isso, eu gostaria de operar uma pequena subversão no título proposto desta
série de conferências – sujeito político, sujeito sexual, sujeito religioso – pois ao menos de
início escolhi me referir não ao sujeito político e sim ao sujeito da política, mais
precisamente, ao sujeito que ocupa o centro da cena política na atualidade.
Nos termos de Chantal Mouffe (2015), em sua distinção entre a política e o político,
eu diria que priorizarei hoje menos o que possa haver de essencial, de constitutivo, no
político, sua dimensão conflituosa, ou agonística, por exemplo, e mais, ao contrário, o que se
passa hoje no “campo empírico da política”, ou seja, como se dá hoje o ordenamento e a
regulação dos nossos modos de viver juntos. Nosso objeto é assim, citando Mouffe: “o
conjunto de práticas e instituições por meio das quais uma ordem é criada, organizando a
coexistência humana” (MOUFFE, 2015, p.8). Commented [LH1]: Duda, tem um raciocínio ligado a essa
na Mouffe acerca de como esse debate é importante para
Com essa pequena transgressão do título proposto, espero ainda operar um superar o que ela chama de “enfoque racionalista dominante
nas teorias democráticas”, o qual impediria a compreensão
pequeno corte no laço direto entre o sujeito e seu atributo, para que possamos pensar em dos desafios da atualidade. Sei que você sabe disso, até
porque está nesse texto, mas o que quero dizer é que me
como esse dois campos semânticos se articulam no nosso atual contexto histórico pergunto aqui qual seria esse raciocínio para você, ou seja: 1.
“contra quem” você está se colocando ou porque essa
produzindo assim vínculos específicos e questões particulares em torno dos modos de perspectiva que você apresenta é “importante” (a palavra não
é boa, são 23h10 de um sábado e já estou com umas cervejas
articulação entre formas particulares de governo de si e dos outros. na cabeça) e 2. se o que você está colocando tem implicações
democráticas (sobretudo em relação ao atual estágio da
A partir daí, a pergunta que orienta minha reflexão, portanto, é qual modalidade política mundial e também brasileira de polarização).
subjetiva, qual forma de subjetivação aparece hoje como elemento central da política. O que Commented [LH2]: Fiquei me perguntando quem seria o
“nós” aqui. Será que não valeria a pena uma
implica pensar, inversamente, qual forma sujeito seria hoje produzida, ou ao menos contextualização brasileira?
facilitada, pelos modos hegemônicos de ordenamento e regulação da vida em comum, da
vida em sociedade.
Espero que com isso, ao final, possa também contribuir mesmo que indiretamente à
reflexão sobre os destinos contemporâneos, formas atuais, do sujeito sexual e do sujeito
religioso.
Procurarei aproximar-me de tal forma de experiência subjetiva a partir de uma
fenômeno que me parece ocupar hoje lugar central no debate político a nível global, ao
menos no ocidente e isso de forma no mínimo surpreendente. Refiro-me à experiência Commented [LH3]: Concordo. Mas, o que se pode chamar
de “políticas da identidade” (para designar certas
transidentitária. modalidades de luta contra a estigmatização de certas
categorias sociais, para dizer de maneira geral) já não se
Assim, o que pretendo hoje é, a partir da figura das transidentidades – que talvez iniciou na década de 1960? Uma vez comentei contigo que a
identidade se tornou praticamente um conceito omnipresente
vocês reconheçam com mais facilidade em significantes como transgênero ou transexual – nas ciências humanas contemporâneas, ocupando o lugar
central que outrora foi ocupado pela “classe social” ou pela
insistir sobre alguns elementos que me parecem centrais para a experiência política “estrutura” (ou seja, essa centralidade estava pressuposta no
solo das lutas sociais e da produção teórica há algumas
contemporânea e que, na sua implicação direta com as forma de subjetivação, com os décadas). Tenho a impressão de que Fraser, Honneth,
Taylor, Benhabib e cia., estão no interior desse movimento.
modos de relação consigo e com o outro, com aquilo que Foucault enuncia como formas Estou observando isso porque poderia ser uma boa situar
teoricamente o debate e o longo percurso que você já tem
possíveis de existência, irrompe em nossa clínica, convocando assim a psicanálise. A partir nele.
desses elementos não pretendo ir mais longe do que enumerar algumas questões, Formatted: Highlight

problemas e possibilidades de pesquisa e elaboração teórica. Commented [LH4]: Muito boa essa expressão. Me parece
mais plural, aberta e potente do que a de “sujeito político”.
Esclareço que uso o termo transidentidades, no lugar de categorias como
Formatted: Highlight
transgênero, transexualidade ou transexualismo em função de algumas razões, as quais
infelizmente não poderei desenvolver aqui em toda a sua complexidade. As principais destas
razões, são, para enunciar de modo breve, as seguintes: em primeiro lugar, o fato de que
tanto transexualismo quanto transexualidade são fundamentalmente categorias
psicopatológicas as quais, portanto, circunscrevem previamente no campo da patologia, do
anormal, uma série de formas de existência que não me parecem hoje marcadas
necessariamente por traços patológicos ou por uma mesma estrutura psíquica particular e
que, não se ligam de modo intrínseco a experiências de sofrimento psíquico, ao menos é o
que indicam pesquisas apoiadas pela Organização Mundial da Saúde que sustentam a
supressão do dito transtorno de identidade de gênero do quadro dos transtornos mentais
na classificação internacional de doenças; em segundo lugar, tais categorias, utilizadas
preferencialmente no campo psicanalítico, me parecem conferir uma unidade inexistente à
multiplicidade de formas de dissidência em relação à norma binária de gênero encontradas
hoje em nossos consultórios ou nas ruas, além de se referir primordialmente a uma matriz
clínica específica, representada sobretudo pela figura do dito “transexual verdadeiro”,
descrita por Robert Stoller ainda na década de 1960, que não corresponde à maioria das
experiências que encontramos hoje na clínica, além de nos levar ao equívoco de supor de
modo prévio a proximidade entre as experiências trans e o campo das psicoses; em terceiro
lugar, as pessoas que vivem essas experiências têm insistido no fato que elas se referem
sobretudo ao gênero, que deve ser pensado sem referência necessária a sexo, tanto no
sentido do aparelho genital, quanto no sentido da escolha do objeto do investimento
libidinal; por fim, o termo transidentidades, ressalta de modo específico, por um lado, o
lugar central da problemática identitária nessas experiências e, por outro lado, permite a
associação não apenas com a ideia de uma transição – a qual, aliás, pode não contemplar
nenhum horizonte de realização definitiva, como supõe o uso comum da ideia de mudança
de sexo ou a meta de readequação sexual ou genital que orienta na maior parte dos casos a
prise en charges das pessoas trans nos serviços públicos de saúde; ela também se associa à
ideia de transgressão da norma binária cis-heterossexual que sustenta tanto construções
identitárias quanto sua patologização. É nesse sentido, sobretudo, que também serão
privilegiados em minha fala termos como dissidência de gênero e gêneros dissidentes.
Tais termos, como o de transidentidades, se articulam, assim, ao uso da categoria
“cisgênero”, a qual se refere às pessoas que se reconhecem no gênero que lhes foi
designado e procura fazer barreira à violência epistêmica que define as pessoas cis, a
maioria absoluta, se não a totalidade, dos aqui presentes, pessoas supostamente normais,
como sujeitos do conhecimento, ao mesmo tempo em que relega as pessoas trans à
condição de seu objeto.
Feito tal esclarecimento, começamos então pelo reconhecimento – não sem algum
espanto – do lugar central ocupado pelas dissidências de gênero no debate político
contemporâneo.
Por que se tornam alvo de tanto escrutínio e de tantos debates, experiências que, ao
menos em princípio, dizem respeito à intimidade dos indivíduos – à relação com seu corpo
próprio? Experiências que, ainda mais, tocam a uma parcela relativamente pequena da
população, a qual não dispõe de muita representatividade no corpo social ou no espaço
público, se configurando, na maioria dos casos, em grupos marginalizados. No Brasil, por Formatted: Highlight

exemplo, a expectativa de vida das mulheres descritas como transexuais e travestis não
ultrapassa os 35 anos, vítimas sobretudo da violência física e do desrespeito social que as
exclui do acesso pleno à cidadania. Ainda em relação a meu país, somos, segundo a
organização Transgender Europe, aquele que mais mata pessoas trans no mundo: foram 868
assassinatos entre 2008 e 2016.
Por que corpos tão matáveis assumem tamanho valor enquanto objeto das disputas
de poder nas democracias neoliberaisR%$,.5?
Para responder a tal questão, acredito que devemos explorar alguns pontos críticos
da experiência das transidentidades que se articulam a três significantes os quais me
parecem definir o que há de central na atual configuração da política: o corpo, a identidade
e a intimidade. Acredito que a partir desse termos podemos desenhar com precisão os
pontos de contato entre traços centrais da experiência identitária e elementos também
centrais da política na atualidade.
Assim, o primeiro destes significantes nos remete ao registro da biopolítica tal como
anunciado por Michel Foucault já no célebre último capítulo do primeiro volume de sua
História da sexualidade e explorado em seguida por outros autores, sobretudo Giorgio
Agamben; o segundo se articula à definição da luta política como luta por reconhecimento,
formulada por Axel Honneth, ou seja à afirmação da luta identitária como forma
paradigmática do conflito social na contemporaneidade; o terceiro se refere a novas formas
de relação entre o público e o privado, ou de subversão de limites entre um e outro, com as
quais encontramos hoje o que pode ser descrito tanto como personalização da política ou,
de modo mais amplo e a meu ver mais radical, como redução da política à esfera da vida
íntima, quanto, em sentido inverso, como projeção da intimidade dos indivíduos no primeiro
plano da cena pública (do que a longa e intensa discussão sobre quem pode ir a qual
banheiro não é nada mais nem menos que um exemplo simples e claro).
Por que a experiência transidentitária nos evidenciaria nossa inscrição no registro da
biopolítica?
Creio que em relação a isso talvez possamos nos referir aqui a diferentes dimensões
do biopoder: em primeiro lugar, tomando como referência a extensão da forma pastoral de
governo dos indivíduos para a gestão das populações, descrita inicialmente por Foucault a
partir do modelo de ação da polícia, e com qual se produz essa sobreposição ou cruzamento
entre a gestão do corpo e a gestão do conjunto coletivo dos corpos, administração em certa
medida do próprio corpo político de uma nação.
Em segundo lugar, pensando talvez menos em Foucault e mais no trabalho de
Giorgio Agamben, podemos considerar dois elementos centrais em sua descrição da
biopolítica que são, de um lado, a colocação em primeiro plano, como elemento
fundamental do cálculo político e do poder soberano, do que ele descreve como vida nua, e
que podemos aproximar da própria ideia de organismo, de um corpo tomado em sua
materialidade e, do outro lado, o esquadrinhamento desse corpo em busca da distinção, das
fronteiras entre as vidas dignas e as vidas indignas de serem vividas.
Por fim, em terceiro lugar, e aqui talvez seja necessário fazer referência não apenas
a Foucault e Agamben, mas também ao trabalho de Paul Preciado, é preciso destacar o lugar
estratégico ocupado pela racionalidade científica e mais propriamente tecnocientífica tanto
na gestão dos corpos individuais e coletivos quanto na demarcação dos limites entre a vidas
e indignas e indignas e, evidentemente, aqui nos deparamos com sua dimensão
propriamente técnica, nos critérios, procedimentos e operações necessárias à adequação
eficaz dos corpos tanto para a sua boa gestão quanto para o seu reconhecimento enquanto
vidas que merecem ser vividas.
Para localizar a experiência transidentitária face a essas três dimensões é preciso
reconhecer antes que o reconhecimento civil das pessoas trans passa pela inscrição do seu
corpo num regime de regulação técnica submetido ao discurso biomédico e regulado por
um complexo dispositivo médico-jurídico. Da hormonização ao procedimento cirúrgico,
quando for o caso, seu corpo será escrutinado, avaliado e modificado e é apenas durante
esse processo que sua plena cidadania será reconhecida. Sua relação com o comum, com a
sociedade, é então mediada por esse corpo e sua relação com o próprio corpo, por sua vez,
é atravessada pelo discurso científico e por instituições do Estado.
Mas tal inscrição no registro tecnocientífico de transformação corporal que pode
legitimar seu reconhecimento e seu acesso ao comum não se faz, contudo, livre de tensão e
é precisamente nesse tensionamento que a questão do saber se torna explicita, sobretudo
quando a pessoa trans requer o uso do aparato tecnocientífico e recusa à submissão ao
discurso competente que controla esse aparato.
Pois quanto a isso, parece-me importante considerar antes de tudo que a pessoa
trans, ao se dirigir à medicina demandando cirurgia ou tratamento hormonal, mas, ao
mesmo tempo, recusando o diagnóstico de transtorno mental que se apresenta como
condição da modificação corporal requerida, ou mesmo da alteração do seu registro civil,
essa pessoa na verdade se coloca em confronto com a racionalidade médica, afirmando
deter ela mesma a verdade última sobre o próprio corpo, afirmando portando um saber da
verdade do corpo que se contrapõe, dessa maneira, ao saber competente da biomedicina,
principal fundamento para o controle biopolítico e tecnocientífico dos organismos.
Tal embate em torno do real talvez não seja, contudo, novidade no que se refere ao
poder médico e à construção dos dispositivos de controle e normalização. Em seu curso
sobre o poder psiquiátrico Foucault já nos apresenta o poder do psiquiatra no século XIX
como articulado ao estabelecimento do real e dos seus limites, oscilando o médico entre a
posição de mestre da realidade, aquele que a conhece em sua essência última, e a de grande
simulador, aquele que a produz.
Nesse sentido, o biopoder se articula a um outro aspecto importante da luta política
no contemporâneo, refiro-me ao embate em torno da produção da verdade, do direito à
percepção do real e demarcação dos seus limites possíveis. O que talvez se apresente hoje
como poder de produzir simulacros e de naturalizá-los, como no mito descrito por Barthes
ainda na década de 1950. Talvez se inscreva nesse tema, por exemplo, toda a questão da
pós verdade, que aparece concretamente no debate político com as ditas fake news ou
mesmo na centralidade dos debates em torno do direito à memória e ao testemunho que
também eles marcam o debate político nos nossos dias.
Assim, nesse encontro entre a pessoa trans e o médico podemos encontrar duas
operações de resistência ao biopoder que tornam explícita a inscrição em seu registro: por
um lado, a recusa a aceitar o saber soberano dos sistemas peritos em relação aos corpos e
poder assim afirmar uma outra ordem de saber; por outro lado, a reiteração do caráter
eminentemente tecnológico das corporeidades contemporâneas e, ao mesmo tempo, a
reivindicação ao direito de decidir sobre o uso dessa tecnologia para além dos seus efeitos
instrumentais e de normalização.
Passo agora ao segundo significante que tomei como emblemático da política na
atualidade, a identidade, ou, mais do que isso o que gostaria de chamar de lógica identitária.
Em relação à centralidade da perspectiva identitária na luta política contemporânea,
definida por Axel Honneth, a partir de sua dimensão moral, como luta por reconhecimento,
as dissidências de sexo e de gênero aparecem claramente já há algum tempo como objetos
privilegiados da disputa em torno dos fundamentos normativos que deveriam ordenar
democraticamente a sociedade.
De fato, desde os anos 1960, com a luta pelos direitos dos homossexuais, a questão
do reconhecimento jurídico e social de formas menosprezadas de sexualidade têm estado
presente no centro do debate público ao lado de outros movimentos pautados – embora
não de modo exclusivo, é importante ressaltar – pela busca de reconhecimento e
participação na esfera pública, como os movimentos feminista e em defesa dos direitos dos
afrodescendentes.
Hoje, as dissidências de gênero, até mesmo mais do que as homossexualidades e
outras sexualidades dissidentes, se apresentam no centro da cena política, como signo
evidente da colocação da racionalidade identitária – da luta por direitos e dos embates em
torno de campos de pertencimento e exclusão – no centro do debate público, como
elemento fundamental do cálculo político.
Isso certamente pelo vínculo indissociável que se produz entre a construção de si,
construção material do próprio corpo, inclusive, e a busca de reconhecimento no espaço
público, a qual se apresenta como condição para que tal construção possa efetivamente se
dar. Basta pensar, por exemplo, numa questão tão banal quanto a do nosso nome próprio,
presente naquilo que chamamos precisamente pièce de identité e podemos perceber como
a identidade e busca do seu reconhecimento são uma questão central na experiência da
dissidência de gênero.
Mas, como aponta Honneth, os movimentos de afirmação de identidades coletivas
se inscreve sempre na busca pela transformação ou renegociação dos fundamentos
normativos que regulam as sociedades democráticas e nesse sentido não pode passar
desapercebido o fato de que mais do que interrogar fundamentos normativos específicos, a
luta pela afirmação e reconhecimento das transidentidades coloca em questão certas bases
do ordenamento simbólico da nossa sociedade, como a diferença anatômica entre os sexos
e a distribuição de papéis socioculturais que nela procura se apoiar.
Por fim, temos, a sobreposição entre a esfera pública e a esfera da intimidade,
marcante nos conflitos políticos contemporâneos. Reflexo certamente do lugar central
ocupado pelo indivíduo no ordenamento dos modos de viver juntos. Tal sobreposição se
desdobra em duas dimensões, dos quais as experiências trans podem dar testemunho.
Em primeiro lugar, temos a inscrição da esfera íntima no campo da luta política, o
que se dá primariamente, em articulação com o registro da biopolítica sob a forma da
regulação dessa esfera íntima pelas instâncias de poder e soberania, sobretudo a partir da
instalação, na esfera privada, de dispositivos de normalização. Disso, certamente a
experiência transidentitária nos dá testemunho, mas não creio ser só isso o que
encontramos hoje, quando o que parece testemunharmos é a redução da politica à
intimidade, quando o ultrapassamento do individual em relação ao coletivo que, em
Honneth é necessário ao desencadeamento do conflito e da transformação social , parece
difícil de realizar, e quando a ação política do dito cidadão se faz prioritariamente do espaço
privado do seu quarto de dormir, através das redes sociais da internet, partir dos seus afetos
individuais e sem qualquer vinculação necessária com o plano coletivo.
Em segundo lugar, inversamente, tal subversão dos limites entre público privado
pode aparecer como esforço de transformação das formas hegemônicas de ordenamento do
laço social, e nesse sentido é inevitável lembrar a palavra de ordem da segunda onda do
feminismo, o pessoal é político, ou, ainda como resistência aos dispositivos de normalização,
quando experiências íntimas são lançadas afirmativamente na esfera pública, como por
exemplo, no caso trans, nas estratégias de visibilização de corpos ininteligíveis.
Com isso, acredito ter podido traçar de forma sucinta um panorama do que me
parecem ser três aspectos decisivos da cena política contemporânea, para os quais as
experiências transidentitárias, e os embates e debates que elas provocam, conferem
visibilidade e materialidade e que eu procurei resumir aqui em torno desses três
significantes: corpo, identidade e intimidade.
Como nos ensina Foucault, no entanto, onde há poder há resistência e, desse modo,
se a experiência das pessoas trans, explicita essas três dimensões da política
contemporânea, para além de tal explicitação, ela mesma dotada de potenciais efeitos
políticos, seu discurso também nos indica pontos de resistência, de transformação de tal
configuração do polítia.
Tais pontos de resistência podem ser percebidos, por exemplo, na análise com
pessoas trans, a partir do lugar central que ocupa em seu discurso um persistente trabalho
de memória voltado para a permanente construção e reconstrução do corpo próprio e da
imagem corporal; voltado ainda para reconstrução, também permanente, de uma
identidade que, paradoxalmente, não se totaliza, não se integra, não se unifica e não
permanece; e, por fim para a tessitura de uma relação possível com o olhar do outro,
materializado sempre nos limites entre o íntimo e o exterior.
Para apresentá-los brevemente a tal trabalho de memória, tomo como objeto um
fragmento de análise de um homem trans que, logo após dar início ao processo de
retificação do registro civil para modificação do prenome e do sexo nos documentos de
identificação, me diz durante uma sessão: “eu estou muito satisfeito com meu corpo, com a
minha aparência, mas às vezes eu me olho no espelho e tenho medo que meu antigo rosto
desapareça completamente.”
O que se enuncia aí é um trabalho de construção subjetiva no qual um horizonte
definitivo não se sustenta, a transição nunca acaba, ela se configura não como percurso de
um polo a outro mas sim como construção de um entre-lugar, um in-between, no qual o
sujeito habita e para o qual não há tampouco ancoragem segura em um passado que possa
ser compartilhado,
O presente se constitui assim não como continuidade mas como ruptura com o
passado, pois um novo sujeito agora pode existir, e no entanto algo precisa ser preservado
da velha existência, de uma existência que produzia sofrimento e que foi recusada. Como
me disse outra paciente, desta vez uma mulher trans já na sua primeira entrevista,
cometendo um pequeno lapsus envolvendo o que em gramática se chama precisamente
concordância de gênero. É algo impossível de traduzir, mas, ao dizer: “eu preciso fazer um
processo lento de mudança, minha transição tem que ser progressiva”, ela erra o gênero da
palavra “compasssada”, que quer dizer “progressive” e me fala de uma transição
compassado, literalmente: avec passé.
Do que escuto como traço comum na terapia de pacientes autodeclarados trans,
destaca-se para mim, então, esse trabalho, ou melhor, essa relação cotidiana com o trabalho
da memória, num equilíbrio delicado entre o rememorar e o esquecer; no qual, invertendo
de certo modo a fórmula clássica freudiana, muitas vezes, é preciso antes esquecer para
poder lembrar.
É necessário também que a rememoração se dê sempre numa negociação constante
com o olhar e testemunho do outro, o qual muitas vezes ou é recusado ou aparece como
fonte de violência e desrespeito. Nesse processo, experiências de violência precisam ser
recuperadas e reintegradas como lembrança sem contudo, se sobrepor ao trabalho de
autoconstrução que naquele momento se dá e que tal violência vinda do outro procura
barrar.
Se uma análise se dá sempre em certa medida como reescrita do passado, de modo
que o presente faça sentido, o que se nota com a escuta das dissidências de gênero é que
essa reescrita não encontra apoio em qualquer forma de estabilidade, seja do presente, seja
do passado, pois um como outro se articulam a um eu que hoje se se encontra em
transformação e que no passado não pôde ser reconhecido pelo sujeito ou pelo outro que
se configurou na infância em sua imagem especular. Por isso, a radicalidade do trabalho de
memória que ele executa, de permanente reconstrução dos pontos de ligação entre sua
própria representação fantasmática de si, sua imagem corporal e a imagem de si que o outro
lhe fornece.
Mas como fazer desdobrar tais elementos clínicos em uma reflexão sobre a
governamentalidade contemporânea? Como articular esse processo de autoformação, de
subjetivação, com as formas atuais de governos dos outros? Enfim, como identificar a
dimensão política de tal trabalho de memória?
Talvez eu possa indicar muito rapidamente para vocês não uma resposta, mas sim
linhas de interrogação, de indagação, que nos conduzam a certos desdobramentos desse
enigma. Farei isso retomando aqueles três significantes que tomei para figurar e de certo
modo justificar o lugar estratégico das dissidências de gênero no debate político
contemporâneo: corpo, identidade, intimidade.
Evidentemente o aspecto mais visível é aquele que se refere à construção
identitária. Assim, uma pergunta com a qual as pessoas trans se defrontam, e que ganha
materialidade na relação transferencial, é: como sustentar uma identidade marcada pela
não totalização, por uma fragmentação necessária; e qual o trabalho de memória vinculado
a tal sustentação, a qual implica, ainda, uma passagem entre o reconhecimento imaginário
de uma totalidade corporal à sua contínua reconstrução simbólica
Pois o que parece aí se produzir cotidianamente é uma identidade não totalizável
que ao mesmo tempo adere e resiste ao pertencimento grupal, que demanda a produção de
formas de encontrar a mediação do grupo, sustentando ao mesmo tempo uma radical
singularização.
Podemos ainda talvez ligar tal trabalho de memoria ao próprio uso do termo
transidentidades, destacando aí essa dimensão de entre-identidades, que se faz como uma
série continua de operações de identificação e desidentificação e pelo permanente esforço
de rememoração e de esquecimento que põe em suspenso a cronologia e permite a
reconstrução recorrente do passado e, portanto, do presente.
Mas, para além, das questões relativas à identidade, esse trabalho de memória
também pode nos ensinar algumas coisas tanto sobre as formas contemporâneas de relação
com o corpo quanto no que diz respeito à sobreposição entre o domínio da vida íntima e a
esfera pública.
Em relação ao corpo trata-se de um trabalho permanente de simbolização dos
impactos da relação com a materialidade visível de um corpo em permanente
transformação, mediada pela tecnologia química e cirúrgica. Ou seja, cabe a esse sujeito em
transição, a elaboração diária dos efeitos de sua inserção no dispositivo biopolítico, de um
modo muito mais radical e evidente do que para nós, que ainda podemos nos imaginar fora
do dispositivo ou imunes a ele.
Por fim, quando se trata dos limites entre o espaço da intimidade e a esfera da vida
pública, seria preciso considerar que a recordação – da infância, por exemplo – se tece todo
o tempo no limite entre certa memória não compartilhada de uma experiência de não
conformidade e a busca de reconhecimento por parte precisamente do olhar que a princípio
nega tal experiência e impede sua partilha.
Em resumo, o trabalho de memória realizado por pessoas trans nos parece assim
configurar uma forma paradigmática de subversão da identidade que torna visíveis aspectos
cruciais da experiência política contemporânea, como o lugar estratégico do corpo e os laços
entre o político e o íntimo.
Tal trabalho coloca ainda em primeiro plano o tema da verdade e da percepção, o
qual se faz presente como a interrogação em torno da certeza ou incerteza de que algo foi
efetivamente vivido, sobretudo quando certas vivências são ocultadas, omitidas ou mesmo
desmentidas, no sentido psicanalítico do termo, por aqueles que as testemunharam e lhes
deveriam dar suporte no plano das trocas simbólicas e de construção de uma memória
familiar, coletiva.
É a partir de tal trabalho de memória, portanto, que se operam três subversões que
trazem consigo a potência de desestabilização de tal configuração do político centrado,
como eu propus a vocês no dispositivo biopolítico, na lógica identitária e na redução do
político ao íntimo.
Subversão do controle tecnocientífico dos corpos: a tecnologia química e cirúrgica
passa ser ordenada pelo fantasma singular na produção material de um corpo anormal, o
qual sobrevive nos limites da ininteligibilidade: mulheres com pau, homens com buceta,
homens com seios, mulheres sem útero, etc.
Subversão da totalização identitária e das regras de pertencimento/exclusão, com a
construção de uma identidade que não se totaliza e que permite a coexistência na memória
de duas autoimagens distintas, de gênero distintos, continuamente costuradas na expressão
de um sujeito ao mesmo tempo uno e múltiplo. Autoimagem e representação de si que se
produzem como uma sucessão de identificações contingentes e instáveis.
Nesse sentido aliás, a presença de mecanismos identificatórios nesse modo de
gestão da relação consigo mesmo e com o outro se contrapõe a certo entendimento
generalizado de uma associação direta entre identificação e identidade, onde a última é
consequência da primeira. Nesse sentido me parece necessário resgatar o caráter
contingente das identificações na obra de Freud e no modo como elas sabotam a
integridade do eu para poder pensar de fato essa identidade que sustenta a racionalidade
identitária e o modelo de reconhecimento correntes como uma espécie de patologia das
identificações.
Subversão, por fim, das fronteiras entre o público e o privado com a projeção no
espaço coletivo da fantasia singular que regula a ressiginifcação da relação com o olhar do
outro na reconstrução do passado. Reversão dos movimentos de aproximação entre o
público e o privado, redefinição do íntimo como espaço de transgressão e não de
normalização, projeção da intimidade na esfera pública.
Como tais subversões se produzem. Quais são as condições desse trabalho de
memória? O que pode permitir ao sujeito a construção dessa identidade não totalizável e a
sustentação de um corpo permanentemente em transformação, submetido aos discursos
competentes, ao controle bioquímico e à manipulação cirúrgica, equilibrado entre, de um
lado, a circunscrição dos seus afetos à esfera do eu soberano e, do outro lado, o olhar
vigilante do Outro.
Acredito que podemos a partir daí localizar certos elementos decisivos, certas
condições de possibilidade para a inscrição efetiva da psicanálise em processos de
transformação da nossa sociedade contemporânea. Poderemos ainda, definir
negativamente com maior precisão aquilo que enunciei como objeto de minha investigação,
a modalidade subjetiva que aparece como efeito e sustentação dessa forma política
contemporânea marcada pela biopolítica, por uma concepção de reconhecimento centrada
no modelo identitária e pela redução da política à esfera da intimidade.
Eu vou me restringir aqui a enumerar aqueles que me parecem os pontos críticos do
impacto do trabalho analítico de escuta das transidentidades que aponta para a subversão
do que procuro tomar como sujeito da política contemporânea, seu tipo ideal, e assim,
como um negativo, o revela.
Em primeiro lugar a oferta de um lugar de escuta que se coloca em posição de
exterioridade ao dispositivo médico-jurídico e que, mais do que isso, pretende se dar fora ou
a despeito de qualquer ordenamento narrativo. Aqui, princípios éticos implicados na regra
fundamental da associação livre – expostos com brilho particular nas recomendações ao
médico que pratica a psicanálise, de 1912 – se encarregam de garantir as condições para
que o sujeito, antes silenciado, possa enunciar-se.
Pois é a partir de tal lugar de escuta – livremente flutuante – que pode se produzir
uma fala singular que, reconhecida por aquele que a escuta, pode se contrapor aos saberes
competentes e conferir um sentido inédito que permita ao sujeito ressignificar seu presente,
materializado nesse corpo que se transforma e já não se encaixa nos modelos que lhes são
ofertados por esses saberes competentes. Uma fala que se dá como resistência a qualquer
verdade definitiva, total ou universal e, portanto, como resistência a todo discurso de poder,
que, como nos ensina Barthes, engendra o erro e a culpa.
Mas tal fala, não apenas se refere sobretudo a um corpo, mas se dá em um corpo,
portanto, é preciso considerar a experiência desse corpo tanto em sua dimensão pulsional
quanto em sua dimensão fantasmática; de todo modo, um corpo que não pode ser reduzido
ao registro da materialidade orgânica, nem pode ser completamente enunciado – ou
apropriado – pelo discurso da biologia ou qualquer outro, inclusive aquele da própria teoria
psicanalítica.
Por fim, gostaria de destacar que o que se engendra a partir daí é a exploração, na
situação concreta da transferência, de formas de reconhecimento para além ou aquém da
totalização identitária, ou mais do que isso, a sustentação de um polo de resistência ao que
eu descreveria rapidamente como opressão identitária; formas de reconhecimento para
além do eu e da circunscrição da experiência subjetiva aos limites da forma indivíduo e nas
quais a perspectiva de uma identidade totalizante, íntegra, que demarque limites estritos e
definitivos entre eu e outro, seja substituída por uma sucessão de identificações
contingentes.
Tais formas de reconhecimento se articulam ainda à recusa de qualquer invariante
antropológico que se refira a um padrão normativo ou mesmo à recusa de qualquer
humanismo que se articule a um ideal particular de homem que, em sua pretensão
universalizante, acabe por produzir um campo de exceção, um território – físico ou
simbólico – ocupados por não humanos ou sub-humanos.
Por fim, para tocar o ponto relativo aos limites entre o íntimo e público, lugar por
excelência do político, é preciso admitir a dimensão exterior de toda vivência íntima,
materializada, por exemplo, no modo como a experiência do corpo próprio e a delimitação
de sua forma e fronteira é mediada pelo confronto com o corpo desejante do outro.
Confronto que é o elemento central dessa história reescrita nesse trabalho de memória no
qual é vital uma compreensão particular da temporalidade que permita subverter as
relações de causa-efeito, um passado constantemente reconstruído a partir da experiência
presente e com vistas a dar sustentação a esse mesmo presente.
Todas essas condições se apoiam em uma condição prévia, que é a não inscrição
dessa escuta no dispositivo médico-jurídico, o que implica, dentre outras coisas, a não
suposição de um sofrimento que demande ser tratado, bem como a recusa da antecipação
diagnóstica que se converte rapidamente em injúria. Uma escuta, portanto, que se dá fora
de uma ética da tutela e que não supõe a associação automática entre transgressão de
gênero e sofrimento psíquico.
Para concluir, creio que devemos retomar agora minha indagação inicial e ensaiar
uma resposta sobre o que define hoje o sujeito da política, talvez começando por tomar tal
sujeito como negativo desse que irrompe na escuta de experiências transidentitárias.
O farei tomando ainda como referência a noção de patoanálise, proposta por
Jacques Schotte e recentemente retomada por Philiilpe Van Haute e Tomas Geyskens (2017)
numa discussão sobre os vínculos entre psicopatologia e normatividade. Com essa noção, se
procura pensar as formas do sofrimento psíquico, a histeria por exemplo, como
exacerbações, formas extremas de experiência dos conflitos próprios à existência humana
em determinado tempo histórico. Assim, ainda sobre a histeria teríamos o enfrentamento
da questão dos limites e modos de relação entre o corpo e a mente, o trabalho de
construção de uma identidade de gênero, que toma forma de uma interrogação sobre o
feminino, o conflito entre o plano da razão e o plano das paixões e por fim, o próprio
enfrentamento pelo eu de certa exterioridade em relação a seus próprios desejos.
Parece-me que podemos utilizar a ideia de patoanálise e o mesmo raciocínio
aplicado na compreensão da histeria no século XIX para compreender o lugar central das
transidentidades na clínica contemporânea e em nossos debates teóricos, respeitando
evidentemente as diferenças óbvias produzidas por contextos sócio-históricos específicos e
sem supor qualquer universalidade metapsicológica ou estrutural.
Consideraríamos então, a partir daí, nas transidentidades, a exacerbação e
colocação em ato das principais questões que marcariam a subjetividade de sua época,
questões que foram aqui tratadas sobretudo a partir de sua dimensão política, na
articulação, portanto, entre processos de autoformação e formas de governo e controle dos
corpos e das populações. Minha hipótese então é a de que seria possível extrair daí, então, o
que seriam as marcas diferenciais do sujeito contemporâneo da política, tipo ideal da
conciliação possível entre uma forma determinada de governo de si e a forma atualmente
hegemônica de governo do outro?
Tais marcas seriam, em poucas palavras a redução da experiência da corporeidade
ao registro do organismo manipulável pela tecnociência, a redução da experiência subjetiva
à forma do indivíduo proprietário como matriz de uma forma de reconhecimento ancorada
na racionalidade identitária; por fim, as redução da política à esfera da intimidade
produzindo para além da personalização da política e da submissão dos valores e ideais que
regulam a luta política ao registro do eu e sua afecções, o fechamento em si e isolamento do
narcísico.
Tal forma subjetiva, diante da qual o trabalho de memória e a radicalidade da
experiência transidentitária nos apresenta uma imagem em negativo, teria enfim como
horizonte comum a exclusão do que há de irredutível no sujeito, do que, numa perspectiva
psicanalítica, o define. Assim, do ponto de vista do dito sujeito político, o que parece termos
na política contemporânea é de certo modo a exclusão do que para a psicanálise seria
precisamente o sujeito. Não por acaso, em alguns importantes textos de articulação entre
psicanálise e teoria política1, encontra lugar privilegiado a crítica da ciência, acusada
precisamente por Lacan de excluir o sujeito2 [do inconsciente].
O sujeito da política na atualidade seria assim de fato um a-sujeito, sendo que tal
exclusão ou assujeitamento seria operado exatamente a partir dessas três dimensões: o
corpo, a identidade e a intimidade. Um sujeito, portanto com o corpo reduzido ao
organismo, submetido a um ética da tutela que o submete ao discurso competente da
biomedicina e inscrito num dispositivo tecnocientífico que regula de sua pertinência ou não
aos limites do inteligível e, em última instância o localiza ou não dentro das fronteiras do
humano.
Um sujeito cujo reconhecimento só se faz possível a partir de sua redução a figura
do indivíduo proprietário de atributos que se cristalizam em uma identidade a qual limita
suas possibilidades de existência ao registro do eu soberano, ao mesmo tempo em que o
inscreve em uma rede de pertencimentos e inclusões que o impedes a efetiva livre
circulação e habitação no mundo.
Um sujeito submetido a invariantes antropológicos que o fazem posicionar-se
sempre a uma norma que faz sua singularidade algo da ordem do anormal e do ininteligível.
Um sujeito submetido a uma razão instrumental que o objetifica e a seu mundo, de
modo que sua relação consigo e com o mundo possam ser perfeitamente decifrados e
enunciados a partir de uma grade de inteligibilidade puramente econômica.
É esse o sujeito, enfim, como provocação final, de uma política na qual os próprios
conceitos de democracia de público e de representação já não parecem vislumbrar um
destino possível. Por isso, a resistência necessária.
Obrigado pela sua escuta.

1
Ver, por exemplo, Stavrakakis
2
ver referência com Daniel

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