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INTENSIVO I

Daniel Carnacchioni
Direito Civil
Aula 08

ROTEIRO DE AULA

Teoria do fato jurídico. Planos: existência, validade e eficácia

1. Interpretação do negócio jurídico: regras hermenêuticas (cinco)


Por meio das regras de interpretação é possível buscar a compreensão do desejo do sujeito, o qual exterioriza sua
vontade para a formação de um ato jurídico em sentido estrito ou de um negócio jurídico. Ou seja, as regras de
interpretação, previstas no Código Civil, possuem um objetivo: buscar a compatibilidade entre a vontade
exteriorizada/declarada com a vontade desejada.

a) Teoria da vontade e da declaração


CC, art. 112: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal
da linguagem”.
Semelhança entre as teorias: ambas trabalham com o elemento volitivo.
Distinção entre as teorias:
 Teoria da vontade (subjetiva): para buscar a compatibilidade entre a vontade real e a vontade declarada é
possível transcender os limites da declaração para verificar se há correspondência com o desejo interno.
 É uma teoria individualista, pois se preocupa tão somente com o sujeito.

 Teoria da declaração (objetiva): para buscar a compatibilidade entre a vontade real e a vontade declarada não é
possível transcender os limites da declaração para verificar se há correspondência com o desejo interno. Em
outros termos, o intérprete está limitado à vontade exteriorizada.

 A teoria da declaração parece ter sido adotada pelo Código Civil – a intenção, citada pelo CC, art. 112, é
a intenção contida na declaração (e não no desejo interno do sujeito).
 Não é possível considerar tão somente o indivíduo porque, em um modelo constitucionalizado, as
relações privadas são relações de solidariedade, isto é, há preocupação com o destinatário da
declaração.

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b) Reserva mental

CC, art. 110: “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que
manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”.

O artigo 110 representa a adoção da teoria da declaração pelo Direito Civil brasileiro.

Na hipótese de reserva mental há uma divergência, desejada, entre a vontade exteriorizada e a vontade real. Tal
manifestação de vontade subexiste se o destinatário desconhece a divergência, pois este se pauta pela vontade
exteriorizada. Em outras palavras, a vontade interna, não retratada na vontade exteriorizada, não possui relevância
jurídica.

No entanto, se a reserva mental é conhecida pelo destinatário, a vontade não subexiste – inexiste negócio jurídico
(plano da existência).

c) Boa-fé objetiva: interpretação/integração

O Código Civil é estruturado a partir da eticidade (paradigma), na qual se encontra a boa-fé objetiva que, por sua vez,
possui três funções: interpretação (CC, art. 113), controle (CC, art. 187) e integração/complemento (CC, art. 422).

CC, art. 113: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”.

Não há possibilidade de analisar a vontade exteriorizada excluindo a conduta do sujeito, pois o destinatário pauta seu
comportamento em relação àquilo conhecido (vontade exteriorizada).

d) Silêncio e efeitos jurídicos

CC, art. 111: “O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a
declaração de vontade expressa”.

Teoria do silêncio circunstanciado. Em determinadas hipóteses, o silêncio é equiparado a uma vontade exteriorizada.
Dois requisitos:
 Circunstâncias ou usos o autorizem. Ex.: CC, art. 229.
 A lei não pode exigir uma declaração de vontade expressa.

Observação n. 1: o silêncio é um não agir – distinção em relação à declaração tácita.

e) Negócios jurídicos benéficos e renúncia

CC, art. 114: “Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente”.

Negócios jurídicos benéficos: uma parte possui vantagens e a outra suporta sacrifícios - ex.: contrato de comodato;
contrato de mútuo gratuito; fiança. Em razão do sacrifício suportado por uma parte o negócio jurídico benéfico deve ser
interpretado estritamente.

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2. Negócio jurídico

2.1. Plano da existência

Pressupostos de existência do negócio jurídico: a norma jurídica estabelece um suporte fático para que um determinado
fato da vida se torne um fato jurídico. Em outras palavras, para que um fato da vida se torne um fato jurídico é
necessário que o fato da vida preencha o suporte fático exigido pela norma.

O negócio jurídico e o ato jurídico em sentido estrito (espécies de fato jurídico), ao ingressarem no mundo jurídico,
submetem-se ao plano de validade e a preocupação do Estado é controlar a vontade exteriorizada no mundo jurídico
(plano da validade). Por isso, o Código Civil não estabelece um rol de quais seriam os pressupostos de existência do
negócio jurídico e do ato jurídico em sentido estrito, diferentemente das outras espécies – os pressupostos de
existência são extraídos a partir dos pressupostos de validade.

Em suma, a ocorrência dos fatos exigidos pela norma são condições para que o negócio jurídico e o ato jurídico em
sentido estrito ingressem no mundo jurídico.
Questão: o Código Civil não explicita os pressupostos de existência. Quais, então, seriam eles? A doutrina, geralmente,
apontam os seguintes pressupostos:

 Vontade exteriorizada.
 Objeto.
 Forma/modo.
 Sujeito/agente – citado por alguns doutrinadores.

Assim, os pressupostos de existência são os elementos nucleares do suporte fático concreto.

2.2. Plano de validade

O negócio jurídico e o ato jurídico em sentido estrito encontram uma barreira, antes de produzirem os efeitos próprios:
O preenchimento dos pressupostos de validade. Isto é, a validade pressupõe o preenchimento dos requisitos legais para
que possa atingir o seu fim.

As questões referentes à validade estão relacionadas à origem, isto é, envolvem a formação. Portanto, os pressupostos
de validade são avaliados no momento em que o negócio ou ato jurídico nasce. Por isso, a invalidade (sanção civil) só
ocorrerá se a causa de invalidação for anterior ou contemporânea à formação. Após a formação: análise do plano da
eficácia.
Observações:

I) Plano de validade e crítica ao Código Civil (CC,


art.104: “A validade do negócio jurídico requer: I -
agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei”.
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O CC, art. 104 explicita os pressupostos de validade. Crítica: o CC, art. 104 é insuficiente para compreender os
pressupostos de validade. Ex.: não é suficiente o agente ser capaz, mas, também, legitimado; a vontade deve ser livre –
ausência de vícios de consentimento (pressuposto de validade).
II) A invalidade tem a pretensão de impedir a produção de efeito jurídico

No plano de validade, o ato ou negocio jurídico integram com outros interesses.

É possível que o sujeito, ao exteriorizar a vontade, não tenha observado um pressuposto de validade e a vontade
exteriorizada esteja relacionada a outro interesse, o qual mereça uma tutela especial e diferenciada. Nesta
contraposição, entre o plano de validade e o outro interesse, é possível sua proteção, mesmo inválido. Isto é, haverá o
sacrifício da invalidade e a permissão para que o ato ou esse negócio produza efeitos.
Ex.: CC, art. 167: “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na
forma.
(...)
§ 2º: Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado”.

Pressupostos

a) Vontade livre e sem vícios

Vontade exteriorizada e ausência de vícios do consentimento.

Os vícios de consentimento são a causa de divergência entre a vontade real e a vontade exteriorizada. No entanto, não
necessariamente, a inobservância de um pressuposto de validade invalidará o negócio jurídico ou impedirá a produção
de efeitos.

Regra específica de valorização da vontade do incapaz:

CC, art. 105: “A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem
aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum”.
O dispositivo contém duas regras:

 Regra de proteção do incapaz: caberá ao incapaz e a seu assistente realizar um juízo de ponderação para invocar
ou não a incapacidade para invalidar um ato ou negócio.
 Regra da preservação dos negócios jurídicos.

b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável

Em relação à possibilidade:

 Possibilidade jurídica.
 Possibilidade física:

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Regra específica em relação à possibilidade:

CC, art. 106: “A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de
realizada a condição a que ele estiver subordinado”. Observações:

 Premissa: no plano da validade são analisadas questões originárias. “A impossibilidade inicial (...)”: o objeto deve
ser possível física e juridicamente no início. Se a impossibilidade do objeto for superveniente à formação: plano
da eficácia. Portanto, a impossibilidade poderá ser tanto causa de invalidação quanto de inadimplemento, a
depender do momento.
 No plano da validade, o Código Civil diferencia a impossibilidade absoluta e a impossibilidade relativa:

 Impossibilidade absoluta: nenhuma pessoa concretiza fisicamente o objeto, isto é, é irrealizável por
qualquer pessoa.
 Impossibilidade relativa: poderá ser realizada e não invalida o negócio jurídico. Observação: a
impossibilidade relativa superveniente é analisada no plano da eficácia (inadimplemento).

c) Forma prescrita ou não defesa em lei

Distinção entre a forma, pressuposto de existência, e a forma, pressuposto de validade:

 Forma como pressuposto de existência (“ad probationem tantum”): teoria da prova.


 Forma como pressuposto de validade (“ad solemnitatem” ou “ad substantiam”): solenidade/formalidade.
Para que um fato da vida exista juridicamente, a norma estabelece qual o suporte fático concreto. No caso do ato
jurídico em sentido estrito e do negócio jurídico, para fins de segurança jurídica, a norma, como condição de existência
jurídica, exige um modo em que, minimamente, seja possível provar a sua existência jurídica. Ou seja, é o modo como
se exterioriza a vontade que determinará se o modo é suficiente para que a vontade exista juridicamente – âmbito da
prova. Ex.: CPC/73, art. 401: “A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o
décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados”.

Regra geral do Código Civil:

CC, art. 107: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente
a exigir”. Portanto, a forma livre é a regra. Exceções: forma legal e forma convencional.

Ex. de exceção legal:


CC, art. 108: “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta
vezes o maior salário mínimo vigente no País”.

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3.3. Plano da eficácia

Produção dos efeitos jurídicos desejados – nascimento, modificação e extinção.

A eficácia, portanto, está relacionada aos efeitos do fato jurídico, previstos na norma jurídica, quando esta incide sobre
o suporte fático concreto. Com a incidência da norma, os efeitos do fato jurídico se produzem.

A eficácia dos fatos jurídicos em sentido estrito, dos atos-fatos jurídicos e dos fatos ilícitos não depende do plano de
validade. Se o suporte fático concreto for realizado, os efeitos jurídicos se produzem. Por isso, não há que se cogitar em
invalidade destas espécies de fatos jurídicos.

4. Defeitos do negócio jurídico (consentimento)

Os defeitos do negócio jurídico estão relacionados ao plano da validade e, portanto, à formação ou origem do negócio
jurídico. Ou seja, no momento da exteriorização da vontade, por determinado fato ou causa, a vontade é influenciada -
divergência entre a vontade interna ou desejada e a vontade exteriorizada.

4.1. Erro

Para que o erro se caracterize como vício de consentimento é essencial que seja espontâneo, isto é, sem qualquer
provocação do sujeito destinatário ou de terceiro. Se a vontade for influenciada pelo destinatário ou terceiro há dolo e
não erro.

O Código Civil trata do erro sobre duas perspectivas:

 Erro de fato: noção inexata sobre uma realidade fática.


 Erro de direito: noção inexata sobre a norma. Problema: dificuldade de compatibilizá-lo com o princípio da
impossibilidade de alegação de desconhecimento da lei.

CC, art. 139, III: “O erro é substancial quando: sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o
motivo único ou principal do negócio jurídico”. Não está relacionado a problemas de interpretação. O erro se
refere à existência ou inexistência da norma.
Pressupostos do erro de fato para que ocasione a invalidade.
 Erro substancial - CC, art. 139.
 Erro deve ser a causa determinante, ou seja, excluído o equívoco o negócio não teria sido realizado.
 Erro perceptível:

CC, art. 138: “São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro
substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”.
A pessoa referida é o destinatário da declaração de vontade.

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4.2. Dolo

a) Dolo principal (acidental) e pressupostos

Para que o dolo se caracterize como vício do consentimento deverá ser ele principal, isto é, o dolo deve possuir o
poder/potencialidade de enganar o indivíduo. Assim, em razão do ardil, o sujeito, vítima do dolo, é influenciado a
exteriorizar uma vontade, a qual não a exteriorizaria se ausente o dolo. Portanto, assim como o erro, o dolo deve ser a
causa determinante da declaração.

No entanto, se o dolo não for a causa determinante, isto é, o dolo for irrelevante em relação à exteriorização da
vontade, mas, em razão dele, a exteriorização é realizada em condições menos vantajosas, é possível que o dolo seja
invocado para pedido de indenização – dolo acidental.

Observação: a caracterização do dolo principal não exige a existência de prejuízo - o prejuízo é inerente ao dolo
acidental.

b) Dolo positivo ou negativo/reticência/omissão dolosa (CC, art. 147)

CC, art. 147: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade
que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”.

c) Dolo na representação e de terceiro

Dolo do representante poderá se caracterizar como vício de consentimento. No caso de representação legal há uma
limitação no âmbito da responsabilidade do representado perante o terceiro. No caso da representação convencional
não há tal limitação.
CC, art. 149: “O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a
importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá
solidariamente com ele por perdas e danos”.

O dolo de terceiro pode acarretar a invalidação? Se o beneficiário do dolo está de boa-fé, há tutela da boa-fé.

CC, art. 148: “Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele
tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá
por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou”.

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d) Dolo bilateral/torpeza bilateral

CC, art. 150: “Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar
indenização”.

4.3. Coação

Observação n. 1: erro, dolo e coação são os vícios de consentimento clássicos ou próprios porque se caracterizam com a
apuração de questões de natureza subjetiva. Para a caracterização da lesão e do estado de perigo é essencial a presença
de elementos objetivos (vícios de consentimento impróprios) – questões econômicas.

A coação, embora seja um vício de consentimento próprio, possui uma diferença:

 Para considerar a condição da pessoa que erra ou a condição da pessoa que é vítima do dolo é levado em
consideração o padrão do homem médio. Isto é, dentro de uma média geral, qualquer um teria errado ou sido
influenciado pelo meio ardiloso.
 Na coação, a análise é concreta – peculiaridades da vítima/condições pessoais:

CC, art. 152: “No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela”.

Quando há coação? Quando uma pessoa, concretamente considerada, suporta uma ameaça, a qual é capaz de gerar
intimidação. Portanto, é a ameaça grave capaz de determinar a exteriorização da vontade contrária ao real desejo. O
dano prometido pela ameaça deve ser atual, iminente e desproporcional.

CC, art. 151: “A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de
dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”.

Coação de terceiro:

CC, art. 154: “Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte
a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos”.

Não caracteriza a coação:


CC, art. 153: “Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial”.

4.4. Lesão

Fundamento: valores sociais constitucionais. Basicamente, o respeito à dignidade, à solidariedade e, principalmente, à


igualdade substancial – fundamentadora da função social do instituto da lesão.

A lesão busca resguardar o equilíbrio econômico e financeiro do indivíduo vulnerável (estado de inferioridade) quando
exterioriza sua vontade.

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Finalidade: tutelar pessoa em situação de inferioridade em razão de premente necessidade ou por inexperiência.

Observação n. 1: por serem vícios de consentimento impróprios (elemento subjetivo mais elemento objetivo), a
doutrina majoritária defende que, como regra, tanto no âmbito do estado de perigo quanto no âmbito da lesão, em um
primeiro momento, se deve buscar, apenas, a revisão e preservação do ato ou negócio, pois o problema é basicamente
econômico – busca da igualdade substancial. Não sendo possível a revisão: utilizar o estado de perigo e a lesão como
fundamentos para a invalidação.

Espécies de lesão:

 Lesão enorme: injustiça.


 Lesão “enormíssima”: dolo presumido (não existe em nossa legislação).
 Lesão usurária: Lei n. 1.521/51, art. 4º: elemento subjetivo em relação à vítima e em relação ao beneficiário.
 Lesão subjetiva.

CC, art. 157: “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”.

Questão: para a caracterização da lesão, no âmbito dos elementos subjetivos, se exige algum elemento subjetivo do
beneficiário? Não. A premente necessidade e a inexperiência são restritas à vítima. Observação: a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta é o elemento objetivo.

Questões relevantes sobre o elemento subjetivo:

 Específica inferioridade: a situação de inferioridade é analisada concretamente.


 Não há dolo de aproveitamento (beneficiário).
 Os requisitos subjetivos devem ser provados – não são presumidos.

Enunciado n. 440: “É possível a revisão ou resolução por excessiva onerosidade em contratos aleatórios, desde que o
evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida no contrato”.

Observação: caracterização da lesão na origem:

CC, art. 157, § 1º: “Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi
celebrado o negócio jurídico”.

4.5. Estado de perigo

Assim como na lesão, o estado de perigo é um vício do consentimento impróprio, pois não basta a presença do
elemento subjetivo. É necessário que, ao exteriorizar a vontade, o indivíduo assuma uma obrigação excessivamente
onerosa – elemento objetivo.

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Elemento subjetivo:

 Em relação à vítima: inferiorizada em razão do estado de perigo.


 Em relação ao beneficiário: dolo de aproveitamento – não há na lesão.

Elemento objetivo: obrigação excessivamente onerosa, independentemente da contraprestação – observação: na lesão


há uma comparação entre prestação e contraprestação (desproporcionalidade).

Assim como na lesão, no estado de perigo a doutrina entende, como regra, que o negócio jurídico deve ser preservado –
revisão.

5. Vícios sociais (fraude contra credores e simulação)

Não há incompatibilidade entre a vontade real e a vontade exteriorizada, mas incompatibilidade entre a vontade
exteriorizada e a norma jurídica. Por afetarem a norma jurídica, há interesse público e social na preservação da norma
(vícios sociais).

Observação n. 1: embora a simulação, no Código Civil, tenha sido deslocada para a teoria da invalidade, a simulação
continua sendo um vício social. Diferença: regime jurídico: a) anteriormente: violação de interesse privado (regime da
anulação); b) atualmente: violação de interesse público (regime da nulidade).

5.1. Fraude contra credores

A fraude contra credores é um vício social porque há uma contradição entre a vontade e a norma no contexto da
realização de um ato de disposição patrimonial.

Ao exteriorizar a vontade, o indivíduo viola a norma, a qual preceitua que o seu patrimônio é a garantia dos seus
credores. Ou seja, o instituto da fraude contra credores tem por objetivo preservar o princípio da garantia previsto da
norma.

Em outras palavras, a finalidade da fraude contra credores é a tutela do interesse patrimonial e econômico de sujeitos
específicos (credores). Objetiva a preservação do patrimônio geral – garantia dos credores “sem garantia”
(quirografários). Observação n. 1: a proteção do patrimônio afetado (garantias especiais) não é realizada via fraude
contra credores.

CC, art. 158: “Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente,
ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos.
(...)”

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Em relação aos elementos, há uma alteração em razão da constitucionalização do Direito Civil, isto é, há uma nova
concepção dos elementos caracterizadores da fraude contra credores em decorrência dos valores sociais que
fundamentam as relações privadas – em especial a função social e a boa-fé objetiva.

Diferenciação entre:

 Ato de disposição gratuito: elemento objetivo.


 Ato de disposição oneroso: elemento objetivo + elemento subjetivo.

Elemento objetivo: ao realizar o ato de disposição, os bens remanescentes não são suficientes para cumprir as
obrigações em relação aos credores.

Elemento subjetivo: para que haja a configuração do elemento subjetivo não é necessário que haja uma disposição
maliciosa de bens. O elemento subjetivo, atualmente, não está relacionado ao conluio entre o devedor e o credor. A
análise do elemento subjetivo envolve não a perspectiva do devedor, mas a perspectiva do sujeito que com ele
negociou – ciência da fraude.

Assim, só é viável questionar atos de disposição onerosa nos casos em que o elemento subjetivo é presumido (“iuris
tantum) – CC, art. 159. A ideia clássica de conluio é substituída pela ideia de ciência da fraude.

Legitimidade para a ação pauliana: credor quirografário – observação:

CC, art. 158: “(...)


§ 1º: Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2º: Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles”.

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