O Turismo e a Estatística?

Comunicação apresentada por Manuel

Salgado e Pedro Cravo, docentes do Curso
de Estratégia e Gestão Turística da Escola
Superior de Tecnologia e Gestão de Beja

Beja, Maio de 1999

Definição de Turismo

A “England´s Sporting Magazine” introduz o vocábulo “tour-ist” em 1800.

Em 1811 surge a palavra “tour-ism”, fenómeno que deriva do agente da

acção – o turista.

Outros termos importantes para compreender o enquadramento histórico do turismo:

“tour” significa um tipo de viagem que deriva de “tower”, significando castelo,

e referindo-se originalmente a viagens de lazer, associadas a descanso e a
circuitos realizados nos parapeitos das fortalezas.

a palavra turismo, foi utilizada pela primeira vez em Inglaterra, para descrever
os jovens aristocratas ingleses do sexto masculino, que foram educados para
carreiras de política, governo e diplomacia. De forma a alcançarem os seus
estudos, eles embarcavam numa “grand tour” com duração de três anos no
continente europeu, regressando a casa, quando a sua educação cultural
estivesse completa.

1
 Definições segundo a OMT

A definição oficial de turismo da OMT: “O turismo compreende as actividades
de viagens de pessoas e alojamento em locais fora do seu ambiente usual
durante não mais do que um ano consecutivo, por lazer, negócios e outros
motivos”.

Classificação da OMT acerca das formas e tipos de turismo:

turismo internacional - feito pelos nacionais de um país fora do próprio país.

Este tipo de turismo pode ser dividido em:
 - inbound tourism (turismo de importação) - feito pelos estrangeiros num
dado país;
 - outbound tourism (turismo de exportação) - feito pelos nacionais de um
dado país no estrangeiro;

turismo interno, feito pelos nacionais de um país dentro do próprio país;

turismo doméstico, todo o turismo praticado dentro de um país (turismo interno
+ inbound tourism);

turismo nacional, todo o turismo praticado pelos nacionais de um país (turismo
interno + outbound tourism).

Tipos de Viajantes
Uma vez que o turismo depende das viagens, interessa dizer que um viajante é
qualquer pessoa numa deslocação entre dois ou mais países, ou entre dois
ou mais locais dentro do seu país de residência habitual. Todos os viajantes
que estejam a fazer turismo são chamados visitantes.

Viajantes

incluídos nas não incluídos

estatísticas do nas estatísticas
turismo do turismo

Visitantes

Turistas Excursionistas

nacionais membros de
passageiros de visitantes
não residentes residentes no tripulações não tripulações
cruzeiros diários
estrangeiro residentes

2
 Definição de Turista

Um visitante é uma pessoa que viaja para um local fora da sua área de
residência habitual por um período que não exceda os 12 meses e cujo
principal objectivo é outro que não o exercício de uma actividade
remunerada no local visitado.

Turistas são os visitantes que permanecem no local visitado mais de

24 horas (ou pelo menos uma noite) e cujo objectivo da visita possa ser
considerado de lazer (férias, saúde, desporto, religião, etc.).

Excursionistas são os visitantes que ficam menos de 24 horas no local

visitado (ou não passam a noite).

A importância do Turismo

Emprega cerca de 204.000.000 de
pessoas em todo o mundo (cerca de 1
em cada 9 trabalhadores)

gera 655.000 milhões de dólares em

impostos

paga 1.700.000 milhões de dólares em

salários (cerca de 10% de todos os
salários pagos a nível mundial)

3
Chegadas Turísticas Internacionais
(evolução do total mundial)

1000 937

900
800
661
700
milhões de turistas

600
455.6
500
400 287.8
300
165.8
200
69.3
100 25.3
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

Chegadas Turísticas Internacionais

(nos 20 principais países receptores em 1997)

Tailândia
Turquia
Portugal
Grécia
China e Hong Kong
Suiça
Federação Russa
Portugal (10100 milhões de turistas)
Alemanha
Áustria
República Checa
Canadá
Hungria
Polónia
México
China
Reino Unido
Itália
Espanha
Estados Unidos
França

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000

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 Receitas Turísticas Mundiais
(nos 20 principais países receptores em 1997)

Bélgica
Holanda
Turquia
México
Federação Russa
Singapura
Tailândia
Canadá
Austrália
Polónia
Suíça
China e Hong Kong
China
Áustria
Alemanha
Reino Unido
França
Espanha
Itália
Estados Unidos

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000

Chegadas Turísticas Internacionais

(perspectivas de evolução até 2010)

1990 % 1997 % 2000 % 2010 %

Europa 284000 62.34 362917 58.85 372000 56.28 476000 50.80

Américas 94000 20.63 122766 19.91 147000 22.24 207000 22.09

Ásia de Leste
e Pacífico 52300 11.48 88334 14.33 101000 15.28 190000 20.28

África 15000 3.29 23188 3.76 24000 3.63 36000 3.84

Médio Oriente 7000 1.54 14947 2.42 11000 1.66 18000 1.92

Ásia de Sul 3300 0.72 4553 0.74 6000 0.91 10000 1.07

Mundo 455600 100 616635 100 661000 100 937000 100

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 Fluxos Turísticos Internacionais
(perspectivas de evolução entre Regiões)

Para Ásia de
Médio Ásia
Europa Américas Leste e África Mundo
Oriente de Sul
De Pacífico

Europa

Américas

Ásia de
Leste e
Pacífico

África

Médio
Oriente

Ásia
de Sul

Mundo

O Corpo do conhecimento do turismo

O papel da educação em turismo espera ainda por confirmação

categórica, acerca da sua importância estratégica e do seu
reconhecimento, como disciplina académica de direito adquirido.

Apesar desta realidade, o turismo caminha no sentido de firmar o seu

corpo de conhecimento próprio, substanciado em actividade crescente
de investigação sobre a temática, pelo número crescente de jornais
académicos, da publicação de livros e manuais acerca do turismo, da
criação de sociedades profissionais de turismo e do estabelecimento
de um corpo próprio de informações de natureza estatística.

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 A actividade de investigação

Sem investigação no presente, o ensino do futuro estará comprometido.

 A maturação rápida da investigação num corpo de conhecimento

sistemático e cumulativo, tem ajudado ao seu desenvolvimento.

 A primitiva investigação em turismo, está a tornar-se cada vez mais

sofisticada, tendo-se passado da simples observação dos factos ao uso de
complexos modelos matemáticos.

A investigação é também requerida no sentido de conferir qualidade e

comparabilidade às estatísticas do turismo, de forma a transformarem-se em
informação válida.

Os jornais científicos

Eles constituem um instrumento fundamental para a afirmação do turismo como

disciplina, validam ainda a educação em turismo e permitem o avanço dos
estudos turísticos.

As associações profissionais

A comunidade académica tem desenvolvido sociedades profissionais com

objectivos claros do estabelecimento de fóruns de debate, e de permuta de ideias
e experiências.

Realização de seminários e conferências

O aumento do número de seminários e conferências sob o objecto do turismo,

vem providenciando um importante fórum de debate.

O turismo necessita da investigação estatística no sentido de desenvolver o seu

corpo de conhecimento, e de assim se afirmar, inequivocamente, como uma
disciplina académica de pleno direito.

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 A função da Estatística

As estatísticas do turismo são coligidas e publicadas por vários

organismos, com finalidades diversas, tendo como principais
funções: a pesquisa e a análise; a planificação; as comparações no
tempo e no espaço; o estabelecimento de “séries” estatísticas, que
permitem clarificar melhor os objectivos anteriores.

A reunião, tratamento e publicação de dados estatísticos da

actividade turística é feita a três níveis: local, nacional e internacional.

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 Organismos fornecedores de estatísticas turísticas
 Relativamente às estatísticas internacionais, são publicadas edições anuais, pelos
seguintes organismos:

Organização Mundial do Turismo (OMT): “Statistiques du Tourisme Mondial”;

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE): “Politique
du Tourisme et Tourisme International dans les Pays Membres”;

Bureau International du Travail (BIT): Estatísticas de Emprego e Formação.

 As estatísticas nacionais, são publicadas por dois organismos públicos:

Instituto Nacional de Estatística (INE): “Estatísticas do Turismo”;

Direcção Geral de Turismo (DGT): “Turismo em 19...”, “Inquérito ao Turismo
Estrangeiro em 19...” e “Férias dos Portugueses em 19...”.

 As estatísticas profissionais especializadas (nacionais e internacionais), podem

ser elaboradas por:

organizações, sindicatos e associações profissionais: FUAAV (Agências de Viagens),

AIH (Hotelaria), IATA (transporte aéreo), etc.;

consultores especializados no sector do turismo: Laventrol e Horwath, Harris Kerr Forster
& Companhia, Deloite & Touche, etc..

As principais dificuldades das estatísticas do turismo

As difíceis comparações do mercado turístico internacional devem-se a:

• diferentes definições de turismo utilizadas, consoante os países;

• técnicas de recenseamento diferentes, para identificar os fluxos físicos ou

correntes turísticas;

• e carência de cálculos que avaliem o valor do consumo e a produção turística.

A grande mobilidade dos turistas, as suas diversas motivações e a

heterogeneidade dos tipos de turismo, são características que fazem do
turismo um objecto estatístico particularmente trabalhoso e ingrato, tanto
na medição como na sua definição.

Apesar destas dificuldades, o economista e o técnico de turismo não podem

prescindir de organizar estatísticas.

9
 As técnicas utilizadas nas estatísticas do turismo
• a estatística das entradas é elaborada nas fronteiras aéreas, terrestres e
marítimas.

• o censo ou estatística das dormidas baseia-se no número de permanências

ou dormidas do turista, através dos registos que se verificam em todas as
formas de alojamento turístico;

• os inquéritos por amostragem são, por excelência, a melhor técnica de

informação estatística no campo do turismo, permitindo nomeadamente:

 a análise do turismo dos nacionais, quer se desloquem no interior do

seu país, quer nas suas viagens ao estrangeiro;
 e a análise do turismo dos estrangeiros num país determinado, através
de inquéritos que procuram conhecer elementos como nacionalidade,
profissão, agregado familiar, duração da estadia, tipo de alojamento,
despesas totais, quilometragem, etc.

A estrutura estatística das correntes turísticas

A composição dos fluxos turísticos de um país é complexa e para a estudar baseamo-
nos em dados estatísticos. Esses dados são fundamentalmente, relativos a: transporte,
alojamento e emprego.

As estatísticas dos transportes permitem-nos obter dados sobre o tráfego do transporte

marítimo, aéreo e terrestre, de natureza turística.

As estatísticas de alojamento fornecem-nos dados referentes a distritos e localidades, por

categorias de estabelecimentos, distribuídos por meses e nacionalidades.

As estatísticas do emprego fornecem dados relativos aos diversos sectores da indústria

turística (hotéis, restaurantes, bares, agências de viagens, companhias de aviação,
cruzeiros, etc.).

Os dados fornecidos pela indústria turística permitem estudar um mercado turístico

relativamente ao:
 consumo turístico, com base nas dormidas e nas entradas de turistas;
 cálculo da produção turística relativamente ao transporte, alojamento e serviços
complementares;
 factores de produção turística (capital investido, investimentos anuais e trabalho);
 preços turísticos (índice de preços);
 circulação turística (contagens de estrada).

10
 O estudo do mercado turístico

Os inquéritos feitos ao turista permitem estudar convenientemente o mercado
turístico. Assim, é possível obter dados relativos:

• às nacionalidades dos turistas que nos visitam;

• às características desses turistas como sejam: idade, sexo,

profissão e posição social;

• aos países que estes visitaram anteriormente;

• às características da viagem efectuada: excursão, família,

individual, grupo, etc.;

• às regiões visitadas no nosso país;

• às qualidades mais apreciadas e principais inconvenientes do nosso

país; etc.

O planeamento turístico

As bases essenciais do planeamento turístico dependem das informações fornecidas
pelo estudo estatístico:

• fornecer dados sobre a decomposição das despesas dos turistas por tipos
de alojamento, restauração, espectáculos, compras, etc.;

• dar orientação quanto a empreendimentos turísticos, indicando a localização

dos hotéis de acordo com a procura turística, as características das
instalações e propor melhoramentos de eixos viários, áreas de animação,
etc.;

• servir de base aos estudos de promoção turística, indicando o tipo de

publicidade que deverá ser feita junto das camadas de clientela que se
deseja influenciar, e qual o papel do turismo social, das agências de
viagens, das representações internacionais do turismo oficial no
estrangeiro, etc.

Perante o que se disse, podemos inferir que é da maior importância existirem

estatísticas comparáveis, pois estas permitirão os estudos comparativos das correntes
turísticas dos vários países.

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Métodos da Estatística no Turismo
Dois tipos de elementos a observar:

elementos quantitativos, que permitem descrever a intensidade
dos fenómenos (ex: número de chegadas de turistas, volume de
receitas, número de empregos, etc.);

elementos qualitativos ou atributos, que permitem conhecer
alguns aspectos particulares (ex: a nacionalidade dos turistas, as
motivações, o meio de transporte, etc.).

Dois tipos de observações:

recenseamentos, que abrangem a totalidade do universo e o
permitem conhecer com rigor (ex: contagens de fronteiras);

observações parciais, através de uma amostra do universo, que o
permite conhecer com alguma margem de erro (ex: estatísticas dos
postos de turismo)

Algumas Técnicas Estatísticas

Contagens de fronteiras
A DGT colabora com a Direcção Geral das Alfândegas e o Serviço de
Estrangeiros da Guarda Fiscal, para obter as informações de interese
turístico.
Esta contagem pode assumir duas formas:
 contagem exacta (recenseamento);
 contagem por amostragem.
Algumas das informações obtidas são:
 tipo de transporte utilizado;
 data de entrada;
 nacionalidade (ou país de residência);
 motivação (lazer, negócios, saúde, etc.).
Alguns inconvenientes deste método são:
 obtenção do número de visitas e não de visitantes (o mesmo visitante pode ser
contabilizado várias vezes);
 além dos turistas e excursionistas, os trabalhadores fronteiriços são
igualmente contabilizados;
 os turistas nacionais estão excluídos destas contagens;
 não dá a indicação sobre o destino nem a duração da estadia.

12
 Algumas Técnicas Estatísticas
Recenseamento nos meios de alojamento
Efectuado na recepção dos meios de alojamento, de acordo com os
dados fornecidos pelos turistas. Apesar de ser obrigatório em
Portugal, ainda nem todos os estabelecimentos o fazem
regularmente.

Algumas das informações obtidas são:

 número de chegadas;
 período de chegada;
 nacionalidade (ou país de residência);
 duração da permanência.

Não é possível obter dados relativos a alguns meios de alojamento, como as

casas de familiares ou amigos e os meios de alojamento não classificados.

Por outro lado, algumas vezes a obtenção destes dados pode ser
considerada, por parte de alguns clientes, indiscreta ou impertinente,

Medição dos fluxos monetários

Receitas Turísticas Internacionais: pagamentos de
mercadorias e serviços efectuados por visitantes
estrangeiros no interior do país visitado.

Despesas Turísticas Internacionais: pagamentos de bens
e serviços efectuados pelas pessoas do país considerado,
quando viajam ao estrangeiro.

Estas despesas incluem:

 alojamento;
 transportes locais (excursões ou simples deslocações);
 visitas a diferentes atracções;
 compras de lembranças (e não só);
 lazer e divertimento.

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 Medição dos fluxos monetários

Método do Banco Central ou método directo: as instituições
financeiras (bancos e casas de câmbio autorizadas) enviam ao
Banco Central uma relação de todas as operações de compra
ou venda de divisas consideradas como sendo destinadas a
fins turísticos. Tem como principal desvantagem o facto de não
registar todas as transacções.

Médodo dos Inquéritos ou método indirecto: é calculada a

média das despesas diárias efectuadas pelos turistas (por
inquéritos, quer directamente aos turistas, quer aos
prestadores de serviços relacionados), sendo este valor
multilicado pelo número de noites de permanência dos turistas.
Tem como principais desvantagens o facto de não considerar
valores exactos e de não abranger a totalidade do universo.

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