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Capítulo 4
ÊXODO
O Culto a Deus
ÍNDICE
1 Fundamentos Gerais
2 O Santuário - Planejamento Geral
3 O Preparo do Sacerdócio
4 O "Bezerro de Ouro"
A Ratificação da Aliança com IAHWEH - Opção
5
Definitiva
A Ereção e Consagração do Santuário e do
6
Sacerdócio
LEVÍTICO
ÍNDICE
7 O Sacerdócio
8 O Sacrifício
9 Os Valores Típicos do Sacrifício
O Sacrifício e os Direitos, Funções e Deveres dos
10
Sacerdotes
11 Os Sacrifícios e a Investidura Sacerdotal
12 O Sacerdócio e a Santidade
13 A Pureza Legal
14 O dia da Expiação
15 As Leis da Santidade
As Festas Religiosas de Todo o Povo de Israel (Lv
16
23-25)
17 O ano sabático e o ano do jubilar
18 Exortações
19 A consagração para a conquista
ÊXODO
O Culto a Deus
1. FUNDAMENTOS GERAIS
O Povo dos Filhos de Israel foi denominado pelo próprio Deus de "meu filho
primogênito" (Ex 4,22), cujas características e implicações pertencentes ao
Instituto da Primogenitura de "primícia" e "sacerdócio" já se traduzia e lhe
conferia uma missão específica que a pouco e pouco se amplia e se esclarece:
"Assim fala o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito"
(Ex 4,22)
"... vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa" conjuga-se com
"...não adorarás os seus deuses, nem lhes prestarás culto, imitando seus costumes;
ao contrário derrubarás e quebrarás as suas colunas; servireis ao Senhor vosso
Deus..." - com tais desígnios é fixada a mesma Missão da Difusão do Nome de
Deus, com e exclusão e eliminação de quaisquer outros. Assim, tal como desde
Abraão, para o testemunho da adoração a Iahweh, forçosamente é indispensável a
presença constante de um Altar de Sacrifício. Fazendo do Culto o Centro
Gravitacional da Aliança contraída, agora que ela se consuma no Monte Sinai e se
corporifica com o Povo de Deus, ratifica-se e recorda-se tanto a Missão como a
assumida fidelidade absoluta e exclusiva:
"...Não me coloqueis entre os deuses de ouro ou de prata, deuses que não devereis
fabricar para vós" - é como de Deus dissesse: "não me incluam entre outros deuses
como num panteão, eu sou "o Deus verdadeiro e o Único Deus para vocês"; e, "um
altar de terra me farás..." (...) "E se me fizeres um altar de pedras, não o construirás
de pedras lavradas..." - Pode-se até ser denominado de "altar de campanha" ou de
"santuário peregrino" tal a forma rudimentar de sua construção para o uso durante a
peregrinação que fariam pelo deserto. Só poderia ser erguido havendo prévia
manifestação de Deus, em forma de "bênção" - algo de "fecundo ou fértil" que
acontecendo deixasse clara a Sua presença no local, agindo em benefício de todo o
povo. Moisés, então, em nome de Deus ("Estes são os estatutos que lhes proporás..."
- Ex 21,1), apresenta ao Povo ali reunido normas de comportamento em forma de
leis de aplicação quotidiana, oficializando o que já se praticava. Como todas elas
estão desordenadas e as mais das vezes mescladas com outros dispositivos é preciso
separá-las para melhor entendimento. Um exemplo explica melhor:
Da mesma forma são inseridas aqui também normas para o culto tais como a
consagração dos "primogênitos dos filhos" para o sacerdócio, a oferenda dos "das
vacas e das ovelhas" (v. tb. Ex 13,12) e "as primícias dos primeiros frutos da tua
terra trarás à casa do Senhor teu Deus" (Ex 23,19), costume e sistema que será
oficializado futuramente para a manutenção do sacerdócio, destacando-se também
as "oferendas" e o "dízimo":
1.º) "A Festa dos Pães Ázimos" (Ex 23,15), criada à saída do Egito juntamente com
a Instituição da Páscoa (Ex 12,1-13 - 'Páscoa' / Ex 12,14-20 - 'Ázimos' = 'sem
fermento'):
Nesta festa os israelitas habitavam durante sete dias em tendas ou cabanas, donde o
seu nome (Festa das Tendas ou Festa das Cabanas), para comemorar o tempo de
peregrinação no deserto:
Com o tempo e por causa da simbologia da água e da luz usadas no cerimonial essa
festa vai tomar um sentido messiânico (Ex 17,1-7; 1 Cor 10,4; Zc 14,8; Ez 47,1-2;
Is 9,1-6; 60,19-21) que Jesus reivindicará ao se comparar com a "água viva que dará
e com a luz do mundo que é" (Jo 7,39 e 8,12). As festas tinham o colorido de um
banquete, duravam uma semana, e eram celebradas com o seu memorial e objetivo,
onde tudo girava em torno de verdadeiro culto e sacrifício ("...vos alegrareis durante
sete dias..."):
Para todas elas a regra básica era a exigência de "ninguém apareça perante mim de
mãos vazias 'mas cada qual fará suas ofertas conforme as bênçãos que o Senhor teu
Deus lhe houver concedido" (Ex 23,15; Dt 16,16-17), cujas oferendas seriam
elevadas à santificação sacrificial. Assim, consoante esse dispositivo, pode-se
compreender a consagração dos primogênitos dos animais e das primícias que já se
viu, os quais se destinavam ao culto litúrgico de então. Além disso aparecem os
sábados de anos, uma novidade legal para o "repouso" da terra, não mandamental. O
Sábado do Decálogo será para sempre como um Sinal da Aliança, e vai desaguar
com essa tônica principalmente no judaísmo (Ne 13,15-22; 1Mc 2,32-41):
ÊXODO
O Culto a Deus
2. O SANTUÁRIO - PLANEJAMENTO GERAL
Moisés vai para o Monte Sinai, em retiro e contemplação, onde fica "quarenta dias
e quarenta noites", duração de ordem bíblica para significar tempo necessário e
completo para o preparo de uma missão:
Findo este tempo, passará Moisés a reivindicar oferendas voluntárias (Ex 37,5-29) e
independentes daquelas já pertinentes e advindas das consagrações mencionadas
anteriormente, agora destinadas à ornamentação e adorno do culto oficial a Iahweh,
apresentando o narrador inicialmente uma descrição do projeto objetivamente
delineado:
É preciso aqui notar que Moisés está ainda no seu retiro e contemplação no Monte
Sinai, e registra a descrição do que viu (Ex 25-31) para a construção futura (Ex 35-
40). Em geral os móveis e utensílios seriam ou feitos ou recobertos ou forrados ou
tecidos ou bordados com ouro puro e ornados com pedras preciosas (Ex 25,1-9) por
causa da santificação que a presença de Deus lhes imprime principalmente na Arca,
no Propiciatório (Ex 25,10-22) e no Altar de Incenso (Ex 37,25-28), significada na
colocação neles das "tábuas de pedra contendo o Decálogo" (Ex 25,16.21), dos
"dois querubins", onde Deus pousava (Ex 25,18-20 / Ex 25,17-21), dos Pães da
Proposição e do Incenso para o Dia da Expiação. Isto porque para o israelita a
palavra é inseparável da pessoa que a pronuncia, com todos os seus atributos,
donde o Decálogo (Dez Palavras "de Deus"), escrito pelo próprio Deus em "tábuas
de pedra", ser o sinal da presença da Santidade de Deus no Santuário ou Habitação
a ser construído. Daí, pela Santidade presente, compreende-se também o motivo da
"fixação dos varais às argolas nos pés (ou cantos)" para o transporte (Ex 25,15),
evitando-se que tocasse o solo assim como o contato manual. Mesmo nos varais não
tocava pessoa profana, alheia ao sacerdócio, função reservada aos levitas (Nm 8,5-
25). Moisés registra todas as medidas, a disposição e a forma da confecção dos
utensílios e apetrechos, a começar com a Arca que receberá o nome de Arca da
Aliança (Ex 25,10-16) e do Propiciatório (Ex 25,11-22); também, as da Mesa dos
Pães da Propiciação ou Apresentação (Ex 25,23-30 / Lv 24,5-9; 1Sm 21,5); e, do
Candelabro e seu óleo ou azeite (Ex 25,31-39 / 27,20-21). Foi com respeito a esses
Pães da Propiciação que Jesus retrucou a acusação dos fariseus de que os discípulos
desrespeitavam o sábado comendo as espigas (Mt 12,1-4), lembrando-lhes que Davi
os comera quando teve fome, mesmo "sendo reservado aos sacerdotes" (1Sm 21,5).
A seguir vem a menção do "tabernáculo", que será também conhecido por "tenda
da reunião" (Ex 29,42-43 / 33,7), ou ainda em algumas traduções "habitação". Era
um volume retangular todo coberto com tábuas e séries de cortinas ligadas e
trançadas umas às outras, dividido interiormente em duas partes por uma cortina ou
véu. Denominou-se de Santíssimo ou Santo dos Santos à parte antes do véu onde
ficaria a Arca e o Propiciatório com os Querubins e de Santo, o local após o véu,
onde seriam colocados os demais utensílios mencionados e o "altar de incenso ou
de perfumes" (Ex 30,1-10 / 37,25-28). Foi defronte um desse altar de incenso que
o Anjo apareceu a Zacarias quando anunciou o nascimento de João Batista (Lc
1,11). E, o véu é aquele que "rasgou no momento da Morte de Cristo" (Mt 27,51;
Mc 15,38; Lc 23,45), construído no Templo de Jerusalém tal como o que fora
planejado no "Tabernáculo da Peregrinação":
"Farás também um véu de púrpura violácea, vermelha e
carmesim e de linho fino torcido, bordado de querubins.
Suspenderás o véu em quatro colunas de madeira de acácia
recobertas de ouro, providas de ganchos de ouro, e apoiadas
em quatro bases de prata. Pendurarás o véu debaixo dos
colchetes, e ali, por trás do véu, introduzirás a arca da
aliança. O véu servirá para separar o lugar Santo do
Santíssimo. Sobre a arca da aliança porás o propiciatório, no
lugar Santíssimo. Do lado de fora do véu colocarás a mesa e
diante dela o candelabro. Este ficará do lado sul da morada,
e a mesa porás ao norte. Para a entrada da tenda farás uma
cortina de púrpura violácea, vermelha e carmesim e de linho
fino torcido, artisticamente bordada. Para a cortina farás
cinco colunas de madeira de acácia, revestidas de ouro e
com ganchos de ouro, e fundirás para elas cinco bases de
bronze" (Ex 26,31-37)
ÊXODO
O Culto a Deus
3. O PREPARO DO SACERDÓCIO
Ainda na fase descritiva do que lhe "foi mostrado e Moisés viu" nos dias de seu
retiro e contemplação no Monte Sinai, cuida-se da organização do Sacrifício
Israelita, herança dos Patriarcas, cuja fidelidade havia já sido posta à prova em
séculos de perseguição religiosa no Egito, tendo sido o principal motivo da evasão
geral havida. Agora que se estruturava em culto definitivo de um povo organizado
tornava-se, em conseqüência, necessário e até mesmo essencial, a instituição de um
Sacerdócio Oficial, não mais aquele cultural, familiar e mais de acordo com os
costumes, exercido até então pelos Primogênitos, devendo a partir de então ser
outorgado a Aarão e seus filhos (Ex 28,1), completando-se com o seguinte:
4. O Altar dos Perfumes (Ex 30,1-10), todo de ouro puro, motivo que leva a ser
também conhecido como o Altar de Ouro (Ex 39,38; 40,5.26), um quadrado
de 0,50 m. de lado, com chifres no quatro cantos, revestidos de ouro puro e
objeto da expiação sangüínea (Ex 30,10), com as varas de madeira, também
revestidas de ouro, presas às argolas para o transporte, onde "Aarão
queimará incenso aromático cada manhã e cada entardecer", vedado outro
perfume que o descrito juntamente com o Óleo da Unção (Ex 30,34-38);
Ao que se vê a Unção com este óleo sagrado santificava e aquilo que tocasse o que
fora santificado seria santo. Em primeiro lugar seriam santificados o Tabernáculo
com todos os utensílios e objetos usados nos cultos e rituais litúrgicos de então; e,
em seguida, Aarão e os Filhos, santificando-os para o exercício do sacerdócio. Além
dos sacerdotes futuramente serão ainda ungidos alguns profetas, os reis de Israel
(1Sm 24,7; 26,9.11.23; 2Sm 1,14.16; 19,22) que por causa disso serão conhecidos
por Messias ou em grego "Cristos". Por tudo isso este Óleo da Unção vai
desempenhar o mais importante papel da vida religiosa de Israel atingindo em cheio
o Cristianismo, a partir do que passou a ser o nome de Jesus Cristo, que significa
Jesus, o Ungido. Cristo não é o sobrenome de Jesus, o nome de sua família, mas um
predicado, ou melhor, o seu atributo de ser o "Ungido do Senhor". Assim, o
verdadeiro sentido da frase usada por Pedro quando da revelação de que fora alvo
(Mt 16,16) é: "Tu és o 'Ungido', o Filho de Deus Vivo".
ÊXODO
O Culto a Deus
4. "O BEZERRO DE OURO"
Moisés continuava no Monte Sinai e o Povo de Israel sem o seu comando e controle
sentiu como se fora abandonado e como tal reage:
Esta frase "vamos! faze-nos "deus" que "caminhe" à nossa frente..." e a reação de
Moisés quanto ao fato (Ex 32,19-28), insinuam a existência de uma "idolatria" pois
Aarão, de posse de objetos de ouro, fundira um Bezerro de Ouro:
"Elohim" é um dos nomes com que era conhecido o Deus dos hebreus e é dele que
se faz a imagem. Não se tratou de uma simples representação pois "levantando-se
na manhã seguinte, ofereceram holocaustos e apresentaram sacrifícios pacíficos;
o povo sentou-se para comer e beber, e depois levantou-se para se divertir" (Ex
32,6). O Povo ofereceu-lhe um Sacrifício do tipo denominado "pacífico", uma
"refeição sagrada", pelo que é incriminado por Iahweh (Ex 32,7-8). Ao que tudo
indica, houve ai uma causa muito séria eis que culminou com a morte de "cerca de
três mil homens" (Ex 32,28). Moisés, ao "ver o Bezerro de Ouro e as danças, num
acesso de cólera, arroja e quebra as tábuas de Pedra" escritas por "Elohim" (Ex
32,19), "queimou o Bezerro, triturou-o, reduziu-o a pó e, misturando-o na água,
obriga o povo a bebê-la". Em virtude do conflito aqui manifestado entre o nome
Iahweh e Elohim, impõe-se uma análise cultural dos nomes de Deus, que aparece
nesse trecho como "Elohim", de quem se fez a imagem (Ex 32,4.8), contra quem se
insurge "Iahweh" (Ex 32,7-8).
Com já se viu quando da análise feita por ocasião da Bênção de Jacó (cfr.: Capítulo
2, n.º 12, Gn 49), à tribo de Efraim, após José, caberia o exercício da chefia do clã
na forma da tradição cultural correspondente ao equilíbrio entre as tribos em vigor
na época.
Uma análise, mesmo superficial como esta, mostra que nesse episódio se
concentram, dentre outros, esses conflitos e tradições tribais. Em primeiro lugar,
algumas traduções falam em "deuses" quando traduzem Ex 32,1.4.8 e 23, segundo a
Septuaginta e a Vulgata, que é a tradução literal de "Elohim" no hebraico. Sabe-se
que "Elohim" era um dos nomes hebraicos de Iahweh por que em Gn 1,1 a
tradução literal seria "no princípio 'deuses (= 'Elohim')' 'criou (= 'bara') 'os céus e
a terra". Pelo fato de se colocar o verbo no singular se conclui que "Elohim" aqui é
o nome do Deus - Criador e não o plural da palavra hebraica "El (=deus)". Hoje se
reconhece na contextura das Escrituras Sagradas a existência de narrativas oriundas
de várias tradições documentárias, destacando-se dentre elas as denominadas de
"Eloísta" e "Javista", conforme o texto se refira à tradição de Elohim ou à tradição
de Iahweh, tal o nome dado a Deus. É muito fácil saber qual o nome se encontra no
texto original pela tradução: - se o nome no texto traduzido for "Senhor" no original
está "Iahweh", se o nome traduzido for "Deus" então no original se encontra
"Elohim". No trecho em exame (Ex 32) nota-se uma espécie de simbiose, fazendo
com que alguns especialistas o atribuam às duas tradições documentárias. Não se
pretende participar aqui destes debates, destinando-se o comentário apenas a
confirmar o raciocínio exposto.
Só se pode concluir que Moisés seja o patrono do nome "Iahweh" (Ex 3,13-15; 6,2-
3), cabendo-lhe a sua "apresentação" ao Povo de Israel que o designava com outros
nomes: Elohim e Iahweh (Gn 1,1; 4,6.26; 12,1; Ex 6,2-4), El-Shaddai (Gn 17,1;
28,3; 43,14; Ex 6,3), El Elyon (Gn 14,18-24), El '0lam (Gn 21,33), El Ro'i (Gn
16,13), Iahweh Yir'el (Gn 22,14), El Bete (Gn 31,13; 35,7), Adonai (Gn 15,2.8)
etc.. Pelos prodígios do Egito o nome Iahweh se impôs aos Filhos de Israel bem
como Moisés, o seu Profeta, superando-se a rejeição ocorrida no início da luta (Ex
2,14). Não pertencia a nenhuma das tribos que detinham o direito advindo da
primogenitura e a de Levi, que era a dele (Ex 2,1-2.10), fora dele excluída por Jacó
(Gn 49,5-7), não lhe cabendo o encargo. Grande vantagem lhe adveio em virtude de
pertencer à corte faraônica (Ex 2,10) fazendo com que em parte o fato fosse
contornado, aliando-se a isso os prodígios de Iahweh, realizados por seu intermédio
e Aarão, bem como o "ministério" de Josué, habilmente lotado como um seu
"primeiro ministro" (Ex 24,13), membro da Tribo de Efraim: essa escolha parece ser
uma evidência da exigência do direito da tribo que assim teria sido pacificada, além
do fato de ser destinado a substitui-lo, confirmando-lhe a preeminência (Nm 28,18-
23 / Dt 31,3-8 / Js 1,1-9).
Sabe-se que quando se usa a quantidade bíblica de "quarenta dias e quarenta noites"
não se trata de uma numeração exata, mas simbólica, caracterizando-se "um tempo
necessário para algum ato". Tal ausência se dá após a promulgação do Decálogo e a
ratificação da Aliança, antes da instituição do Tabernáculo ou Santuário e do
Sacerdócio. Tanto é assim que a alegação "não sabemos o que lhe aconteceu"
caracteriza bem que não se tratava de uma ausência pequena, mas de muito tempo a
ponto do povo sentindo-se desguarnecido e abandonado voltar a buscar apoio no
antigo Deus tribal: Elohim. Com isso manifestou-se o que se deu a entender ser
uma espécie de sedição, aparecendo então aquela divisão já latente no seio do povo
desde a sua condição tribal, tendo agora por estopim a violação do direito de
primogenitura. A sedição teve por fulcro a volta a Elohim, para que assumisse a
posição de comando a que tinha direito, naturalmente sob o comando de Efraim, o
detentor do direito advindo da primogenitura e adoção que recebera pelas mãos de
Jacó. Tanto está certa esta conclusão que, descoberta a sedição, coloca-se Moisés "à
entrada do acampamento exclamando:
Esta frase só tem sentido no contexto se a sedição se deu contra a Aliança contraída
com Iahweh e concluída no Sinai por meio de Moisés. É por isso que Moisés quebra
as Tábuas de Pedra (Ex 32,19), escritas "pelo dedo de Elohim" (Ex 31,18, texto
hebraico). Também a frase: "Moisés viu que o povo estava abandonado, pois que
Aarão o abandonara, expondo-o à zombaria dos adversários" (Ex 32,25) só tem
sentido em referência aos que permaneceram fiéis a Iahweh e Moisés. Tudo isso
confirma que o episódio do Bezerro de Ouro não se refere a uma idolatria, isto é, à
adoração de um ídolo. Vem em favor dessa conclusão o fato de Aarão não ter sido
punido, tendo ele fundido a imagem (Ex 32,4), apesar da sedição não ter sido da
Tribo de Levi à qual pertencia. Foram os levitas que apoiaram Moisés (Ex 32,26),
correspondendo bem à fama que desfrutavam de sanguinários, motivo da recusa
deles na escala descendente da substituição de Rúben pelo próprio Jacó (Gn 34,25-
31 / 49,5-7), matando naquele dia "três mil homens" (Ex 32,28). A frase de Moisés:
"Cinge, cada um de vós, a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo
acampamento, de porta em porta, e mate, cada qual, a seu irmão, a seu amigo, a
seu parente" (Ex 32,27), só teria sentido e melhor se identifica se dirigida também
a Josué, "braço direito de Moisés", responsável pela pacificação e sendo da tribo de
Efraim, por força do cargo a ele cabia também a reação, até mesmo por uma questão
de ordem e disciplina.
A controvérsia que se observa existir nas traduções deste trecho vem exatamente do
fato de se desconhecer ou se desprezar a instituição da primogenitura, não se
levando em conta a sua influência no meio social de então. Pela "Traduction
OEcuménique de la Bible" identifica-se por isso mesmo e com facilidade José com
a "consagração" e com o "touro primogênito", ou com o "touro consagrado",
advindo então da estreita relação entre a tribo de José com o sacerdócio e é de se
deduzir que o "bezerro" é uma representação de "Elohim" o nome de Deus para a
tribo de Efraim. Ora, pelo fato de Moisés ser da tribo de Levi, os levitas vieram em
socorro de Iahweh, que se pretendeu impor com exclusividade ao povo israelita e
dominou a pretensa sedição formada. Apesar de ter ela sido excluída da
primogenitura pelo próprio Jacó (Gn 49,5-7) seria premiada por isso com o
Sacerdócio Pleno por meio da consagração da Casa de Aarão (Ex 29,1-46) e com o
Sacerdócio Auxiliar pela substituição dos primogênitos por eles, os levitas (Nm
3,5-51 e 8,5-26). As rivalidades já existentes favorecem a união de Levi com Judá,
contra Efraim, em virtude da preferência de Jacó por José desde os tempos
passados, tal como o Profeta Isaías registra:
ÊXODO
O Culto a Deus
5. A RATIFICAÇÃO DA ALIANÇA COM IAHWEH - OPÇÃO
DEFINITIVA
Qualquer que seja a posição tomada em face do acontecimento do Bezerro de Ouro,
idolatria ou sedição, ferindo substancialmente a fidelidade e a unidade tribais, agora
corporificadas em torno de um só nome de Deus, mortos os insurretos, outro
caminho não se poderia trilhar que a ratificação dos termos da Aliança, agora
exclusivamente com Iahweh. Porém, o que não se pode desprezar são as
conseqüências do acontecimento em Moisés, que sofre em virtude de ver o seu ideal
frustrado, lutando para permanecer-lhe fiel. Assim transparece confusamente em
todo o relato, colorido com muita privacidade e disfarce proposital das muitas
dificuldades em sua alma, até que encontra o caminho que o equilibra de novo, o
que acata por lhe significar a vontade de Deus (Ex 34,1-23). Tira de tudo algumas
conclusões e amadurece mais ainda para o encargo e missão de levar todo o Povo de
Israel à Terra Prometida aos Patriarcas, os seus antepassados Abraão, Isaac, Jacó e
José. Tudo isso vem disposto após a ocorrência desastrosa de maneira bem confusa
e mesclada muitas vezes de colóquios muito íntimos e pessoais que denotam uma
indecisão causada. Nesse estado de alma, a primeira conclusão a que chega é a da
fidelidade de Deus:
"O Senhor falou a Moisés e lhe disse: "Vamos! sai daqui, com
o povo que fizeste sair do Egito, para a terra que prometi a
Abraão, a Isaac e a Jacó, dizendo: ‘Eu a darei à tua
descendência’. Enviarei na tua frente um anjo, para expulsar
os cananeus, os amorreus, os hititas, os fereseus, os heveus
e os jebuseus. Sobe para a terra onde corre leite e mel. Mas
eu não subirei contigo, porque és um povo de cabeça dura;
do contrário acabaria contigo no caminho". Ao ouvir esta
ameaça, o povo pôs-se de luto e ninguém mais usou
enfeites. É que o Senhor tinha dito a Moisés: "Dize aos
israelitas: Sois um povo de cabeça dura; se por um instante
subisse convosco, eu vos aniquilaria. Despojai-vos, pois, dos
enfeites, e eu saberei o que fazer convosco". Os israelitas
despojaram-se dos enfeites ao partir do monte Horeb" (Ex
33,1-6).
"O Senhor falou a Moisés e lhe disse: "Vamos! sai daqui, com o povo que fizeste
sair do Egito, para a terra que prometi a Abraão, a Isaac e a Jacó, dizendo: ‘Eu a
darei à tua descendência’. Enviarei na tua frente um anjo..." - Deus permanecerá
sempre fiel à Promessa e à Aliança com os Patriarcas mesmo com a ocorrência da
infidelidade de "um povo de cabeça dura", a quem se impõe uma nova
demonstração de arrependimento no abandono dos ornamentos que desde o Egito
ainda usavam. Não compreende tal serenidade de Iahweh e, até que serenassem os
ânimos e ressentimentos, Moisés ergueu o "tabernáculo" fora do acampamento dos
Israelitas a que deu o nome de "Tenda da Reunião":
Claro está que foi uma instalação provisória onde o povo poderia "consultar o
Senhor" e onde principalmente Moisés o fazia "entrando nela enquanto uma nuvem
baixava até a entrada e dela o Senhor falava com ele, frente a frente", mantendo-se
Josué no interior dela, numa espécie de prontidão. Numa dessas consultas quis
Moisés, no estado de ânimo em que se encontrava, ainda atordoado pela sedição
ocorrida, "conhecer quais os desígnios de Deus" que não reagira:
"Moisés disse ao Senhor: "Ora, tu me dizes: ‘Faze subir este povo’; mas não me
indicaste ninguém para me ajudar na missão" - isso não poderia ser afirmado em
estado de normalidade mental, após Iahweh lhe haver dito que "enviaria na tua
frente um anjo..." (Ex 33,2). E é até natural que Moisés esteja assim atordoado e
confuso, eis que estava no Monte Sinai em êxtase ou em contemplação recebendo
os detalhes do Santuário a ser erguido para Iahweh, quando explode o ato de
sedição ou idólatra ("faze subir este povo, mas não me indicaste ninguém para me
ajudar na missão; se é verdade que gozo de teu favor faze-me conhecer teus
caminhos..."). Nada mais irreal e contrariando todos os fatos havidos desde que foi
vocacionado no episódio da Sarça ardente, em que Deus claramente lhe mostrara
todos os seus desígnios e em que Moisés depositara tanta fé. O diálogo parece ser
somente mental de Moisés que o continua até que se recompõe, reconhecendo os
desígnios de Deus se realizando inexoravelmente, e desejoso de penetrar mais ainda
no mistério da natureza e divindade pede para "conhecer teus caminhos" e "a tua
glória", mas recebe só o que Deus lhe pode dar:
Isto é, Moisés não quer mais "falar com Deus face a face", estando Deus na forma
da nuvem (Ex 33,9-11), nem na forma de um fogo devorador (Ex 16,7.10;
24,16.17), mas sem mistérios e intermediários, em que não pode ser atendido
("verás as minhas costas, minha face não se pode ver"), o Homem não pode "ver
Deus e permanecer vivo", mas o que se pode dEle ver ser-lhe-á mostrado em toda a
sua justiça e imparcialidade:
O que um homem pode ver da glória de Deus, até mesmo Moisés, que "lhe falava
face a face" (Ex 33,9-11) é só o efeito de Sua Passagem ("verás as minhas costas;
minha face, porém, não se pode ver"), significado em "toda a minha bondade com o
que proclamarei meu nome, 'Iahweh', na tua presença". Confirma-o como o Seu
Enviado, sempre e livremente, sem que ninguém O manipule, "pois favoreço a
quem quero favorecer, e usa de misericórdia com quem quer usar de misericórdia",
a misericórdia que usou com os Israelitas no episódio não os punindo com pensava
que deveria ter feito. Pelo menos é assim que São Paulo vai aplicar este trecho:
Assim é que nesse sofrimento Moisés teve o seu quinhão de penitência e recebe
também a incumbência de "cortar duas tábuas de pedra iguais à primeiras" para que
Deus escrevesse nelas o mesmo Decálogo das anteriores (Dt 10,3-4), e subiu
sozinho o Monte levando-as. Novamente em retiro e contemplação no Monte Sinai,
Moisés vai conhecer atributos de Deus, crescendo cada vez mais:
Iahweh - Deus é quem agora vai escrever os Dez Mandamentos nas tábuas de pedra
lavradas por Moisés (Ex 34,1 / Dt 10,3-5, não como sugere 34,27-28). O que
Moisés escreve são as demais prescrições. Essas tábuas irão para a Arca da Aliança.
Moisés ao descer do Monte com as Tábuas da Lei nas mãos irá "brilhar / lançar
raios de seu rosto" a ponto de amedrontar os Israelitas, motivo que o leva a "cobrir o
rosto que apresentava a semelhança de trazer chifres resplandecentes na cabeça", tal
como constava da Vulgata de São Jerônimo (Ex 34,29-35). Tanto o "brilho" como
os "chifres" traduzem a união com Iahweh, tal como a significação de estar
representado em Moisés o Poder e a Glória de Deus fortalecendo a posição de seu
eleito apesar da insurreição havida:
São Paulo irá se referir a esse fato quando analisar a causa da incredulidade dos
judeus quanto à messianidade de Jesus Cristo, vinculando-a como condição para se
compreender as Escrituras:
ÊXODO
O Culto a Deus
6. A EREÇÃO E CONSAGRAÇÃO DO SANTUÁRIO E DO
SACERDÓCIO
Esta última frase nos faz lembrar outra que tem a mesma conotação de se atingir
determinada finalidade a que toda a obra se destinava:
"E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que estava muito bom" (Gn
1,31)
Porém, a parte material apenas não basta, falta a parte principal, o objetivo de toda a
Obra: - prepará-la para atingir a Santificação pela comunhão com Iahweh,
organizando-se o Sacrifício. É o que vem a seguir:
Bom será repetir o significado dessa Unção com o Óleo Sagrado, a "consagração do
que for tocado por ele para que seja santíssimo", incluindo então o Sacerdócio para
o qual foi "separado" "Aarão e seus filhos":
Agora atinge-se o ponto central de toda a Obra, a investidura dos sacerdotes, sem os
quais não há sacrifício (Hb 8,3) e nada do que se fez poderia levar à comunhão com
Deus pela Santidade ensejada:
"Mandarás Aarão e seus filhos aproximar-se da entrada da
tenda de reunião e os lavarás com água. Depois revestirás
Aarão com as vestes litúrgicas, e o ungirás
consagrando-o para que me sirva como sacerdote.
Farás os filhos aproximar-se e, depois de revesti-los
com as túnicas, os ungirás como ungiste o pai, para que
me sirvam como sacerdotes. Esta unção conferir-lhes-
á o sacerdócio perpétuo por todas as gerações" (Ex
40,12-15).
"Assim Moisés deu por concluída a obra" (Ex 40,33) e tão logo isso sucede,
Iahweh se manifesta e se exterioriza na "nuvem" (Ex 13,21-22) e toma posse do
santuário:
LEVÍTICO
Este livro da Bíblia recebeu este nome a partir da Tribo de Levi principal protagonista do Sacerdócio
instituído em duas ramificações: por primeiro a Casa de Aarão a quem foi outorgado o Sacerdócio
Pleno e por segundo os demais levitas para o Sacerdócio Auxiliar. Nele se descrevem os principais
sacrifícios e as festas com seus rituais e com as funções sacerdotais bem delineadas, bem como
regras morais e de purificação ou santificação. Por isso o nome derivado de Levi - Levítico.
7. O SACERDÓCIO
Pode-se até mesmo atrever-se um pouco e dizer que aqui deve ser o lugar
certo do fenômeno da tomada de posse com a habitual teofania final:
"Então a nuvem envolveu a tenda de reunião, e a
glória do Senhor tomou conta da morada. Moisés não
podia entrar na tenda de reunião, porque sobre ela
repousava a nuvem, e a glória do Senhor ocupava a
morada. Em todas as etapas da viagem os israelitas
punham-se em movimento sempre que a nuvem se
elevava de cima da morada; nunca partiam antes que
a nuvem se levantasse. De fato, a nuvem do Senhor
ficava durante o dia sobre a morada, e durante a noite
havia um fogo visível a todos os israelitas, ao longo de
todas as etapas da viagem" (Ex 40,34-38).
LEVÍTICO
8. O SACRIFÍCIO
Muitas religiões giram em torno do sacrifício, cujo significado atual cada vez mais
se afasta do original. É que, culturalmente, mudou tanto de sentido que não mais
reflete a mesma realidade. Por causa disso, nem mesmo um dicionário atual registra
aquilo que correspondia ao seu significado, principalmente entre os judeus ou
israelitas. Pelo menos biblicamente tem um sentido bem mais profundo até mesmo
que o, "a grosso modo" perceptível, sentido de "sacri-ficar" = "ficar-sagrado". E
nem pode se limitar à uma "renúncia" ou à uma "privação", dolorosa para quem a
faz, a cujo sentido é reduzido vulgarmente.
Em outra ocasião Jesus se refere ao sacrifício ao dizer que "é o altar que santifica a
oferenda" (Mt 23,19). É que, desde o Sinai, o altar era "ungido", tal como os
"sacerdotes", com o "Óleo da Unção" (Ex 30,25-30), preparado de acordo com
normas do próprio Iahweh, em virtude do que "santificava tudo que o tocasse":
Um novo elemento aparece aqui, com o rito do sacrifício pelo pecado, a expiação,
que tem como integrante essencial o sangue que expia (Lv 17,11), sem o qual não
há remissão (Hb 9,22). Ao que se conclui que, pela unção sagrada se santifica o
altar e o sacerdote, completando-se a eficácia do ato com o sangue do sacrifício pelo
pecado (Lv 6,17-22 / Hb 9,22). E, a partir desta Aliança, organizou-se um ritual,
sabendo-se que sem altar, sacerdote, sangue e vítima (= hóstia) não há sacrifício,
nem se consegue a santificação (Hb 9,19-22), um de seus objetivos. Jesus resume
tudo isso numa frase apenas. ("é o Altar que santifica a Oferenda")
Deduz-se destas palavras que pelo sacrifício se estabelece íntima comunhão entre o
Ofertante, o Altar e Deus, pelo Sacerdote e com a expiação do pecado pelo sangue.
Assim, quando se fala em "altar", se fala em "vítima" e em "sacerdote"; quando se
fala em "sacerdote" se fala em "Deus" e no "sangue que expia"; quando se fala em
"sangue que expia" se fala em "vítima ou hóstia" de que se alimenta em comum e
em "santificação"; e, quando se fala em "santificação", se fala em "comunhão" de
pessoas, a partir da "comunhão" com "altar" formando-se uma "comunidade" de
todos com "Deus".
Da citação acima vê-se que somente no lugar indicado por Deus é que se podia
comer os sacrifícios, incluído como um deles as oferendas constituídas pelos
primogênitos do gado, pelas primícias das plantações, vinho, óleo, pão, pelos dons
etc. É de se observar que as oferendas ou dízimos não podiam ser "totalmente
comidos", mas apenas "uma parte deles", pois pertenciam por direito aos sacerdotes
(Nm 18,9.20.23-24). Fossem "todos comidos" nada se lhes entregaria. Somente
"uma parte" era objeto da "santificação sacrificial", entregando-se o "todo" no
Templo. Nessa perspectiva, é São Paulo quem esclarece da outra concepção vigente,
fazendo com que se entenda melhor o alcance do sacrifício, qual seja a existência de
uma solidariedade da parte com o todo, de modos que "à santificação da parte
corresponde a santificação do todo":
LEVÍTICO
9. OS VÁRIOS TIPOS DE SACRIFÍCIO
Pode-se até mesmo pensar que não seja de muita utilidade um exame do
cerimonial dos sacrifícios, tendo-se em vista que atualmente não mais se tem
por eles a mesma compreensão cultural. Acontece porém que, por causa disso
mesmo, os cerimoniais litúrgicos são muitas vezes incompreendidos, mal
vistos ou menosprezados como mera e desnecessária pompa. Além disso, por
desconhecer a Teologia do Sacrifício é que hoje não se tem na devida conta o
valor da Cerimônia Eucarística em seus elementos constitutivos bem como
não se entende muitas vezes as várias partes em que se costuma dividir a
Missa. Há até quem admita que venha contrariar os princípios da simplicidade
e pobreza evangélicas. Não é bem assim, porém! Principalmente por que a
Igreja foi lá encontrar inspiração para a sua liturgia, para vários conceitos de
doutrina e até mesmo de moral. Não que a Igreja tenha copiado ou plagiado
tais disposições assim propositadamente, mas decorre do próprio fato de que
o cristianismo foi sedimentado em cima do judaísmo. Tal como já se disse
alhures, Jesus não fundou uma nova religião mas deu plenitude à Lei e aos
Profetas (Mt 5,17), no que foi seguido pelos primeiros cristãos, que
acomodaram à doutrina cristã tudo aquilo que lhe era apropriado. Em virtude
disso, não se pode deixar de abordar pelo menos resumidamente certos
detalhes sacrificiais ou da liturgia dos Israelitas pela sua importância na
continuidade desejada por Jesus Cristo, na perspectiva de "pleno
cumprimento" (Mt 5,17-20) que lhe impôs.
Vem em seguida a Oblação das Primícias "Se fizeres ao Senhor uma oblação
de primícias, deverá ser de espigas tostadas ao fogo e grãos moídos do fruto
fresco. Sobre ela oferecerás azeite e porás incenso. É uma oblação. Dela o
sacerdote queimará como memorial uma parte dos grãos moídos e do azeite,
além de todo o incenso. É um sacrifício pelo fogo ao Senhor" (Lv 2,14-16), uma
oblação particular pelo que difere das oferendas públicas das primícias (Ex
13,2; 22,28-29).
"Há um pecado para a morte...há pecado que não é para a morte" - eis ai
uma graduação bem clara com o que mais uma vez se identifica a
continuidade de algumas noções teológicas do judaísmo (cfr. Catecismo da
Igreja Católica n.°s. 1852 a 1861 e1862 a 1864).
Quanto aos demais conteúdos dos sacrifícios, basta uma simples leitura do
contexto todo para se distinguir todas as diferenças e semelhanças,
dispensando-se maiores comentários.
LEVÍTICO
10. O SACRIFICIO E OS DIREITOS, FUNÇÕES E DEVERES DOS
SACERDOTES
Este fato vai se repetir outras vezes (Jz 6,21; 1Cro 21,26; 2Mac 2,10) e também
quando da inauguração do Templo por Salomão, o que não deixa de ser um
fato bem significativo pela freqüência com que ocorre:
Este fogo deve ser do tipo mantido sempre aceso pelos Sacerdotes num
Holocausto Cotidiano (Ex 29,38-42; Nm 28,3-8), isto é, segundo uma antiga
tradição, "o fogo vindo do céu" (Lv 9,24 / Ex 40,38), que dever-se-ia manter
sempre aceso:
Parte da Oblação constituída por "um punhado de flor de farinha com azeite,
bem como todo o incenso posto sobre a oferenda" seria "queimada no altar
como memorial de suave odor ao Senhor; e, o restante dela, Aarão e seus
filhos comeriam sem fermento" no Santuário e "no átrio da Tenda de Reunião".
Só Aarão e os seus filhos e descendentes masculinos dela poderiam comer,
no Átrio em frente da Tenda da Reunião, nesse lugar sagrado, por ser
Santíssima, dela "comendo" também Deus queimando-se uma parte "como
memorial de suave odor ao Senhor" (Lv 6,8). Somente os homens comeriam
dessas oblações pelo fato das mulheres da Casa de Aarão não terem sido
"ungidas", e assim, "não santificadas para o múnus sacerdotal", não as
poderiam tocar "por serem oferendas santíssimas" pelo que as profanariam
pelo contagio.
Tanto aqui como no anterior a vítima é do sacerdote que faz a expiação, isto é,
daquele que oferece a gordura queimando-a e derrama o sangue:
Não pode haver outro motivo para assim se denominar a Ceia Eucarística das
Missas, vendo nela a Oblação de Cristo, "atualizada" no "Pão Ázimo" da
Hóstia da Comunhão, que é o Seu Corpo, tal como a ela se refere o
Catecismo da Igreja Católica, no n.° 610:
1329 - Banquete do Senhor (1Co 11,20), porque se trata da Ceia que o Senhor
tomou com os discípulos na véspera da sua Paixão e da antecipação do
banquete nupcial do Cordeiro (Ap 19,9) na Jerusalém Celeste.
Fração do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi
utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como chefe de
família (Mt 14,19; 15,36; Mc 8,6.19), sobretudo aquando da última Ceia (cf.
Mt 26,26; 1Co 11,24). É por este gesto que os discípulos O reconhecerão depois
da Ressurreição (cf. Lc 24,13-35) e é com esta expressão que os primeiros
cristãos designarão as suas Assembléias Eucarísticas (cf. At 2,42.46; 20,7.11).
Querem com isso significar que todos os que comem do único pão partido,
Cristo, entram em comunhão com ele e formam um só corpo nEle (cf. 1Co
10,16-17).
1331 - Comunhão, pois é por este Sacramento que nos unimos a Cristo, o qual
nos torna participantes do Seu Corpo e do Seu Sangue, para formarmos um
só Corpo (cf. 1Co 10,16-17); designa-se ainda as coisas santas ("ta hagia";
"sancta") (Const. App. 8, 13, 12; Didaké 9,5; 10,6) - é o sentido primário da
"Comunhão dos Santos" de que fala o Símbolo dos Apóstolos -, pão dos anjos,
pão do céu, remédio da imortalidade (Santo Inácio de Antioquia, Ef 20,2),
viático...
Já a carne desse tipo de Sacrifício, por ser mais santa que a dos Pacíficos,
dever-se-á cuidar para não se tornar impura ou corrompida, motivo pelo qual
comer-se-á toda no mesmo dia. Já a dos votivos ou espontâneos poderá
permanecer até o dia seguinte, após cujos intervalos deverão ser totalmente
queimadas, sob pena de ineficácia da oferenda:
O cuidado com a carne imolada como vítima exigia que se evitasse o menor
contato com aquilo que fosse considerado impuro (Lv 11-15), sob pena de ser
queimada, para não comprometer a sua Santidade, e, pelo mesmo motivo, os
participantes "impuros" não poderiam dela comer:
"A carne que tiver tocado qualquer coisa impura não se deverá
comer. Será consumida pelo fogo. Mas da outra carne poderá
comer quem estiver puro. Mas quem comer carne do sacrifício
pacífico oferecido ao Senhor, apesar de estar impuro, será
eliminado do seu povo. Quem tocar qualquer imundície de
homem ou animal, ou qualquer outra imundície abominável, e
comer carne do sacrifício pacífico pertencente ao Senhor, será
eliminado do seu povo" (Lv 7,19-21).
"Pois dos sacrifícios pacíficos dos israelitas reservei para mim o peito agitado
ritualmente e a coxa da elevação, e dei-os a Aarão e a seus filhos, como lei
perpétua a ser observada pelos israelitas" (Lv 7,34) - este cerimonial será
sempre observado entendendo-se pela agitação feita da parte a destinação
dela a Iahweh pelo primeiro lance do movimento e a sua destinação ao
Sacerdote passando pelas mãos do ofertante, no seu retorno de Iahweh, e da
mesma forma o ritual da elevação da coxa:
Após a "unção sobre a cabeça de Aarão", vem outra por aspersão, com uma
separação sintomática, de "Aarão e suas vestes, e seus filhos e suas vestes":
Resta agora uma explanação mais ampla da utilização desses tipos de rituais
na consagração sacerdotal de Aarão e seus filhos, Sacrifícios oferecidos por
Moisés, o mediador da Aliança, a começar com o Sacrifício Pelo Pecado, o
primeiro oferecido:
Como visto no número anterior (n.° 9, 3.°) este ritual tem por finalidade a
Santificação em geral, tanto das pessoas como dos objetos, para uma perfeita
união com Deus, pelo que são purificados pelo Sangue da Vítima imolada por
Moisés que "unge" os chifres com o dedo embebido e o derrama em redor do
Altar, fazendo a devida expiação e purificação, após a imposição das mãos por
Aarão e seus filhos. Queima as gorduras no Altar e o bezerro, seu pelo, a sua
carne e os excrementos fora do Santuário, nada indo para o celebrante para
não se aproveitar de sua própria falta, por quem também é oferecido [(cfr. Lv
6,17-23 / Lv 4, conforme dito alhures que "no caso do oferecido pelo pecado
do Sumo Sacerdote ou da Comunidade, ninguém dele comerá, devendo ser
totalmente queimado, pois o sangue é derramado em lugar santo (Lv 6,23)]".
Ao que se vê este Sacrifício se destina à Santificação do Santuário, de seus
pertences e objetos, do oficiante, dos ofertantes que são consagrados e da
vítima.
Moisés oferece aqui este tipo de Sacrifício, o mais perfeito ato de culto de
então, traduzindo o nada do Homem na destruição total da vítima toda
queimada "em suave odor" a Deus, ato de reconhecimento da soberania de
Deus de que o Sacerdote é medianeiro. Com este Holocausto a purificação
atinge a plenitude pela expiação conseguida e Aarão e seus filhos ficam então
em condições de Santidade para o exercício do Sacerdócio, pela imposição
das mãos sobre a vítima que praticaram (Lv 8,18) e da renúncia de si face a
majestade e soberania de Iahweh significadas no aniquilamento da vítima
totalmente destruída pelo fogo.
Este Sacrifício toma aqui uma conotação diferente pela sua específica
finalidade de se destinar à consagração sacerdotal pelo uso do Sangue da
Vítima, antes de derramá-lo no Altar, para banhar por primeiro "o lóbulo direito,
o polegar da mão direita e o do pé direito" de Aarão e depois de seus filhos,
como que a prepará-los para o exercício do Sacerdócio. Tinha essa unção o
mesmo sentido purificador dos chifres do Altar e somente após é que era o
Sangue derramado.
Então vem a Bênção de Aarão, seguida de outra conjunta com Moisés, após
permanecerem na Tenda da Reunião, com o gesto estendido traduzindo a
Imposição das Mãos, manifestando-se então a Glória de Deus com o Fogo
Sagrado consumindo as vítimas:
Não pode ser outro o teor dessa Bênção que o determinado pelo próprio
Iahweh:
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós... " (Jo 1,14).
Tal como no Jardim do Éden Deus continua conduzindo o Homem para uma
vida em comunhão agora significada nos efeitos dos Sacrifícios tal como era
visto pelos Israelitas, "figura" do que se "cumprirá" com Jesus. Cristo Jesus é o
retorno do Homem ao Jardim de Deus:
LEVÍTICO
12. O SACERDÓCIO E A SANTIDADE
Uma observação aqui se impõe quanto ao cuidado que se deve ter com a
divisão em capítulos e versículos das Escrituras Sagradas, para não se tornar
uma fonte de equívocos. Assim, a presença súbita do capítulo dez pode levar
à suposição de que no capítulo nove, que tratou das primícias de Aarão e seus
filhos, se encerrasse o assunto. Não é bem assim porém, pois ocorreu um
acidente fatal com Nadab e Abiú (Lv 10,1-7), antes do consumo das partes das
oferendas que eram dos sacerdotes (Lv 10,12-15), completando os Sacrifícios
então oferecidos, e a narrativa do fato faz com que se dê às perícopes do
capítulo dez títulos com significações distintas do tema ali desenvolvido, como
se tratasse de um acréscimo às normas que deveriam seguir os Sacerdotes.
Porém, o que se narra nele e a seguir faz parte do tema do capitulo nove
anterior, que não exauriu o assunto. Isso é muito comum em Bíblia, devendo
sempre se lembrar que os títulos, subtítulos, capítulos e versículos não fazem
parte dela, nem foram inspirados nem revelados, são divisões feitas conforme
a visão de quem as dispôs para facilitar a localização.
Com estas palavras Aarão se cala e Moisés passa a insistir nas instruções
relativas ao consumo das Oferendas advindas da Investidura Sacerdotal, aos
filhos de Aarão remanescentes, em virtude do justificado temor que se
apossou deles pelo acontecido, reafirmando-as e encorajando-os, apesar do
golpe profundo que receberam. O resto da Oblação queimada (Lv 9,4b / Lv
6,14-18 / Lv 10,12-13) seria comida pelo celebrante e familiares "sem fermento
junto ao Altar, pois é coisa Santíssima"; e, no que se refere ao peito e à perna
do Sacrifício Pacífico (Lv 9,21 / Lv 7,30-34 / Lv 10,14-15) a que tinham direito
junto com seus familiares, deveriam ser comidos em lugar puro, sem
profanação com a impureza legal, limpo por assim dizer conforme as normas
de então. O temor de Aarão e seus Filhos faz com que viessem a evitar até
mesmo de comer a parte que lhes cabia no Sacrifício Pelo Pecado do bode
(Lv 9,15 / Lv 6,24-30 / Lv 10,16-18), em vista do estado emotivo em que se
encontravam por causa do acontecido, assim explicado a Moisés que
compreendeu e aprovou:
LEVÍTICO
13. A PUREZA LEGAL
Cabe observar que, ao contrário do que possa parecer, são cuidados a serem
observados pelos Israelitas para se conseguir a santidade necessária para a
participação nos Sacrifícios, só se aproximando de Iahweh aquele que fosse
santo:
Assim é que, perde-se a "pureza legal" até mesmo por um simples contato,
principalmente com cadáveres (Lv 11,24-28.29-38.39-40) e a sua recuperação
não se dá pela prática de atos virtuosos ou morais ou de higiene, podendo-se
destacar várias maneiras de se adquirir novamente a Santidade:
Cabe levar em conta também que o respeito pelo sangue que devotava o
Israelita, vem manifestado de várias formas destacando-se algumas dentre
elas:
Assim, com tal respeito pelo Sangue animal, o Israelita não poderia deixar de
tratar com maior veneração ainda o Sangue da Mulher, "a mãe de todos os
viventes" (Gn 3,20). E, conclui, de maneira imediata, que ocorre a morte
quando o sangue se esvai e que de sua vida é que exala o vapor naturalmente
quente quando escorre. Assim, como "o sangue expia enquanto é vida" (Lv
17,11) e em cada parto ocorre uma geração, há uma perda de vitalidade da
mulher, eis que logicamente se então "perdeu sangue, perdeu vida". Necessita
ela então de mais tempo para a recuperação de sua integridade vital e, então
"purificada do fluxo do seu sangue" (Lv 12,7), comparecer perante Iahweh
legalmente Santificada. Ocorre a necessidade de mais tempo também quando
o nascituro é do sexo feminino, outra "mãe de viventes", outra "geradora de
vida pelo fluxo do sangue" (Lv 12,5-6), influindo também nesse critério a maior
responsabilidade da Mulher pelo desate do Pecado Original.
Maria, fiel cumpridora dos compromissos religiosos, após os sete dias de sua
purificação, no oitavo dia, quando da circuncisão de Jesus, cumpre este
preceito junto com a "consagração de 'seu filho primogênito'" (Ex 13,1.11 / Lc
2,7), com a oferta de pobre que era e como exigia a lei (Lv 12,8):
"E eis que certa mulher, que havia doze anos padecia de
fluxo de sangue, chegou por detrás dele e tocou-lhe a orla do
manto; porque dizia consigo: Se eu tão somente tocar-lhe o
manto, ficarei curada. Mas Jesus, voltando-se e vendo-a, disse:
Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E desde aquela hora a
mulher ficou curada" (Mt 9,20-22).
O que se constata de tudo isto é que tanto a lepra propriamente dita era
incurável como o exame das feridas, úlceras, manchas na pele, mofo e bolor
nas casas e nas vestes etc., conhecidos também pelo mesmo nome de lepra,
se destinavam a localizá-la no início, isolando-se o portador do contato
"impuro" com o Santuário e com os demais membros da comunidade Israelita,
por causa da sua "impureza", até que fosse curado e voltasse ao convívio.
Dois fatores se destacam: Primeiro, não se buscava o doente para curá-lo,
mas para isolá-lo; e, segundo, localizado, se não se constatou ter sido
contaminado, ou se foi curado, após o exame pelo Sacerdote, um ritual todo
especial o reintegrava na comunidade. O fato é que a lepra propriamente dita
era um sinal de castigo divino tal como transcrito pelo que tudo era feito para
se evitar a presença do impuro no Santuário ou qualquer ofício religioso, na
mesma perspectiva já encontrada anteriormente em todos os casos. O ritual
de sua reintegração era muito mais solene que os demais dada a seriedade
das conseqüências da presença do mal e dos meios usados para se evitar o
contágio da impureza. Tanto é assim que o primeiro ato do Sacerdote em
qualquer caso é o isolamento do chagado, somente o reintegrando após a
verificação da inexistência do mal.
LEVÍTICO
O CÓDIGO DE SANTIDADE
14. O DIA DA EXPIAÇÃO
Encerrando a primeira parte do Livro de Levítico, conhecido como Código
Sacerdotal, é apresentado em seguida um ritual por excelência. É o mais
importante, solene e de profundas significações nacionais e religiosas dos
Israelitas, celebrado uma vez por ano. Esse dia era tão importante que se
tornou conhecido simplesmente por "O Dia" ou "O Jejum" (At 27,9). Nele toda
a nação Israelita era purificada de todas as suas faltas, que assim se tornava
Santa (Ex 19,6), "propícia a Iahweh", tal com fora "separada" de outros povos
(Dt 7,6). Santificação que começava pela purificação dos Sacerdotes, de todo
o Santuário com as suas partes, completando-se com a de toda a comunidade
(Lv 16,1-3).
Para que não suceda com outro o mesmo acontecido com os filhos de Aarão
Nadab e Abiú, que desrespeitaram o Santuário, Moisés instrui Aarão "que não
entre em todo tempo no Santuário, para dentro do véu, diante do propiciatório
que está sobre a arca, para que não morra...", eis que o Propiciatório é o lugar
onde Iahweh se manifestava e de onde "falava com Moisés" (Ex 25,22; Lv
16,2; Nm 7,89). Uma vez por ano, Aarão, ou o Sacerdote em função, não
usando os paramentos pomposos, completos e habituais do cerimonial ou dos
Sacrifícios (Ex 29,5-6 / Lv 8,7-9), mas, uma simples túnica, com as calças
sobre a carne nua, cingido com um cinto e a mitra, todos de linho, na sua cor
branca da pureza pretendida, e vestido com a humildade de um penitente em
busca de perdão, entrará no Santuário, "para dentro do véu" (Lv 16,4):
Inicialmente a cerimônia parte para a purificação dos Sacerdotes, eis que "só
quem é puro pode interceder para a purificação", com a oferenda do novilho
pelo pecado, "por si e por sua casa" (os demais Sacerdotes), conforme ritual
bem determinado:
Após isso, com a nuvem de incenso impedindo o celebrante de ver "a Glória
de Iahweh", "para que não morra" (Lv 16,13), no Propiciatório sobre a Arca
disposta no Santo dos Santos (Lv 16,2 / Ex 25,22), espargindo o Sangue sobre
o Propiciatório, purifica a si mesmo e a sua casa (os demais Sacerdotes).
Assim purificados os Sacerdotes, penetra o Celebrante no Santo dos Santos e
passa a oferecer a expiação para a expiação de todas as faltas cometidas por
todo o Povo, para a Purificação e Santificação respectivamente pelo Santuário,
pela Tenda da Reunião e pelo Altar, imolando um dos bodes escolhido por
sorte (Lv 16,8):
Então Aarão lavar-se-á e vestirá a roupa que lhe foi destinada ao ser
consagrado (Ex 29 / Lv 8) e de posse dos dois carneiros, um levado por ele
mesmo (Lv 16,3) e o outro que lhe fora entregue pela comunidade (Lv 16,5),
oferecê-los-á em Holocausto. Isso feito, virá o desfecho definitivo com o
retorno aos paramentos quotidianos, agora, porém, Purificados e Santificados
pela Expiação "por si e pelo povo" e após "queimar sobre o altar a gordura da
oferta pelo pecado", assim levada a efeito:
A seguir as abluções tanto do que levar o bode para o deserto como do que
queimar o que restar do novilho e do bode das ofertas pelo pecado, para
conseguir a purificação necessária para entrar no acampamento. Com isso se
evitam tanto a contaminação das oferendas santíssimas que conduziram como
qualquer contato delas com o "impuro" ou profano. Termina o cerimonial com
um repouso de sábado quando "afligireis as vossas almas" (ou seja,
"jejuareis"), qual seja "nesse dia não fareis trabalho algum", por
arrependimento e por penitência, manifestando o sentimento interior, moral e
religioso da festa, motivo porque era conhecida também por "Jejum" ou "Dia"
(At 27,9):
"E aquele que tiver soltado o bode para Azazel lavará as suas
vestes, e banhará o seu corpo em água, e depois entrará no
acampamento. Mas o novilho da oferta pelo pecado e o bode
da oferta pelo pecado, cujo sangue foi trazido para fazer
expiação no santuário, serão levados para fora do
acampamento; e queimar-lhes-ão no fogo as peles, a carne e o
excremento. Aquele que os queimar lavará as suas vestes,
banhará o seu corpo em água, e depois entrará no
acampamento. Também isto vos será por estatuto perpétuo: no
sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas almas, e não
fareis trabalho algum, nem o natural nem o estrangeiro que
peregrina entre vós; porque nesse dia se fará expiação por vós,
para purificar-vos; de todos os vossos pecados sereis
purificados perante Iahweh. Será sábado de repouso solene
para vós, e afligireis as vossas almas; é estatuto perpétuo" (Lv
16,26-31).
"Então veio Jesus da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para
ser batizado por ele. ...(...)... Batizado que foi Jesus, saiu logo
da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito
Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele...
(Mt 3,13-17) / "Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao
deserto, para ser tentado pelo Diabo..." (Mt 4,1-11).
Isto pode ser resumido simplesmente dizendo que Jesus "era igual a nós em
tudo exceto no pecado". Mas, da mesma forma que o "bode emissário",
santificado, era conduzido "para Azazel" (Lv 16,8.10.21-22.26), Jesus, o Santo
de Deus, carregado de nossos pecados, "foi conduzido ao deserto para ser
tentado pelo diabo". Ao deserto, que era concebido como o antro onde os
demônios habitavam, onde estava Azazel:
Foi o que Jesus fez e "permanece para sempre": venceu o demônio não se
sujeitando à concupiscência da carne:
E é isso que São Paulo nos ensina ter feito Jesus, atravessando o véu, aquele
que se rasgou quando padecia na Cruz:
"O nome de Deus Salvador era invocado apenas uma vez por
ano, pelo Sumo Sacerdote, para Expiação dos Pecados
de Israel, depois de ter aspergido o Propiciatório do "santo dos
santos" com o sangue do sacrifício (cf. Lv 16,15-16; Sir 50,20;
Nm 7,89; Hb 9,7). O Propiciatório era o lugar da presença de
Deus (cf. Ex 25,22; Lv 16,2; Nm 7,89; Hb 9,5). Quando São
Paulo diz de Jesus que Deus O "apresentou como Aquele que
expia os pecados, pelo Seu Sangue derramado" (Rm
5,25), significa que, na humanidade d'Este, "era Deus que em
Cristo reconciliava o mundo Consigo" (2Co 5,19) [n.° 433 -
destaques propositais] / "A Morte de Cristo é, ao mesmo tempo,
o sacrifício pascal que realiza a redenção definitiva dos homens
(cf. 1Co 5,7; Jo 8,34-36) por meio do "Cordeiro que tira o
pecado do mundo" (Jo 1,29) (cf. 1Pe 1,19), e o sacrifício da
Nova Aliança (cf. 1Co 11,25) que restabelece a comunhão
entre o homem e Deus (cf. Ex 24,8), reconciliando-o com Ele
pelo "sangue derramado pela multidão, para remissão dos
pecados" (Mt 26,28; cf. Lv 16,15-16) [n.° 613 - negritos a propósito].
E, quanto à Tentação de Jesus no deserto diz:
LEVÍTICO
15. AS LEIS DE SANTIDADE
Até aqui foram narrados os ritos para uma comunhão com Iahweh pelo
Sacrifício e para se manter ou se recuperar a "pureza legal", sem o que não há
Santidade. De agora em diante serão apresentadas normas de conduta e
comportamento que também e por sua vez a favorecem ou a comprometem,
nos termos da Aliança. São normas de moral religiosa buscando-se atingir
uma Santidade interior, mais ampla e perfeita, que não se exaure em uma
Pureza Legal, nem em uma Santificação Ritual, nem se identifica apenas com
a exteriorização rotineira e apenas física. Desde o tempo da promulgação do
Decálogo se lançaram as bases para a vida religiosa plena do Povo de Israel,
o Código da Aliança, erigindo-se imediatamente um Santuário. Além disso,
estabeleceu-se uma série de observâncias para a participação na vida em
comunidade, nos Sacrifícios e para tornar Israel "a minha propriedade
peculiar dentre todos os povos", e "um reino de sacerdotes e uma nação
santa":
"Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre
asas de águias, e vos trouxe a mim. Agora, pois, se
atentamente ouvirdes a minha voz e se guardardes a
minha Aliança sereis a minha propriedade peculiar
dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; e vós
sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação
santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel
(...) Disse mais Iahweh a Moisés: Vai ao povo, e santifica-o
hoje e amanhã; lavem eles os seus vestidos (...) Então Moisés
desceu do monte ao povo, e santificou o povo que lavaram os
seus vestidos (...) Ora, santifiquem-se também os sacerdotes,
que se chegam a Iahweh, para que Iahweh não se lance sobre
eles" (Ex 19,4-6.10.14.22).
Assim é que, desde o alvorecer bíblico, tal como com Adão e Eva que "se
esconderam da presença de Deus" (Gn 3,8), se usa a expressão "andou
com Deus" (cfr. Gn 5,21.24; 6,9) ou "andar na presença de Deus e ser
perfeito" (Gn 17,1) ou outras equivalentes tais como "guardar os caminhos
de Iahweh praticando o direito e a justiça" (Gn 18,19), para se exprimir e
traduzir a Santidade de vida, e vinculando-a ao dever de "observar os
meus preceitos e os meus estatutos guardareis, para andardes neles",
mantendo-se uma estreita comunhão com Iahweh:
E tudo isso vai então ecoar como um grito solene de Iahweh e em torno do
qual gira a Santidade, na narrativa levítica:
"A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não
comereis. Certamente pedirei satisfação do vosso
sangue, do sangue das vossas vidas; de todo animal a
pedirei; como também do homem..." (Gn 9,4-5).
"...a esse homem será imputado o sangue; derramou sangue, pelo que
será extirpado do seu povo" - é a violação da Lei do Respeito à Vida, seja
humana seja animal, pois a vida pertence só a Iahweh, pelo que Ele mesmo
punirá o culpado, pois "contra essa pessoa voltarei o meu rosto" (Lv 17,10),
"extirpando-a do meio do povo" (Lv 17,4), numa espécie de excomunhão. Esse
respeito pelo sangue vai vigorar ainda nos primórdios do Cristianismo:
A narrativa vem a ser impregnada de refrãos, que fazem dos versículos que
separam, episódios de uma formulação moral. São como que chamadas de
atenção para o princípio ordenador da Santidade a que Israel está
comprometido e a sua fonte em Iahweh, para se distinguir dos outros povos
pagãos de costumes reprovados:
"Fala aos sacerdotes (...) Santos serão para seu Deus, e não
profanarão o nome do seu Deus; porque oferecem as ofertas
queimadas de Iahweh, que são o pão do seu Deus; portanto
serão santos. (...) Portanto o santificarás; porquanto
oferece o pão do teu Deus, santo te será; pois eu,
Iahweh, que vos santifico, sou santo" (Lv 21,1a.6.8).
"... serei glorificado diante de todo o povo" e "...para que não morrais, nem
venha a ira de Iahweh sobre todo o povo..."- Assim se resumia relação de
reciprocidade entre ambos, em que a Santidade do Sacerdote refletia sobre o
Povo. E, tamanha era a suntuosidade que ornava o Culto Israelita, que se
rejeitava no cerimonial toda a imperfeição possível, até mesmo humana, como
uma homenagem à majestade de Iahweh:
Isso ao lado de algumas aparentes superstições tais como deixar a cria com a
mãe no mínimo sete dias e somente então a imolar, bem como não matar a
mãe e sua cria no mesmo dia (Lv 22,27), sob pena de não ser aceita a oferta,
bem como qualquer sacrifício, mesmo o de Ação de Graças, deveria ser alvo
de fidelidade a todos os detalhes rituais, "de modo a serdes aceitos":
"...e serei santificado no meio dos filhos de Israel" - Não é possível passar
adiante sem se questionar: como é possível "ser santificado" aquele que
santifica, ou seja, "Iahweh que vos santifico"? É que desde "que vos tirei da
terra do Egito para ser o vosso Deus", indicou-lhes como adquirir a Santidade
que oferecia, pelo que, exteriorizada na conduta e no comportamento de todos
e de cada um, o nome de Iahweh, um Deus Santo, seria glorificado e
reconhecido, tal como no Egito onde assim se impôs pelos prodígios
praticados. Jesus vai incluir isso na Oração do Pai Nosso (Mt 6,9-10 e Lc
11,2), vinculando o "santificado seja o teu nome" com o "venha o teu reino" e
"seja feita a tua vontade":
"Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja
feita a tua vontade, assim na terra como no céu..." (Mt
6,9-10). / "Ao que ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai,
santificado seja o teu nome; venha o teu reino;..." (Lc 11,2).
O que ratificará dizendo ainda que as obras praticadas pelos seus discípulos
devem brilhar para que os homens, vendo-as, glorifiquem a Deus (Mt 5,14-16):
LEVÍTICO
16. AS FESTAS RELIGIOSAS DE TODO O POVO DE ISRAEL (Lv
23-25)
"Três vezes no ano todos os teus homens aparecerão diante de Iahweh teu
Deus" (Ex 23,17 / Ex 13,6) era a regra básica em vigor para as três festas
principais transcritas, na dos Ázimos, na de Pentecostes e na das Tendas. Nos
termos da sua instituição no Sinai, todos os homens deveriam comparecer ao
Santuário nas celebrações correspondentes, prevendo então dois dias
solenes, o primeiro e o sétimo, quando não haveria nenhum trabalho (Ex
12,15-17).
16.2 A Festa da Oferenda das Primícias
Essa oferenda das Primícias tem um sentido bem mais amplo que aqui
aparenta e para apreendê-lo será necessário antecipar pelo menos
superficialmente algumas noções do Instituto das Oferendas, a partir, por ora,
de dois trechos onde se destacam algumas noções do significado que tinham
para os Israelitas, dentre elas destacando-se:
Neste trecho se vê que elas eram a herança dos integrantes da Tribo de Levi,
que não receberam nenhuma possessão em terras, a não ser aquele mínimo
para se estabelecer e se fixar com independência pessoal e familiar. Assim
sendo, as Primícias eram um direito deles e a citação delas é apenas
exemplificativa, pois abrangiam todos os produtos que se produzissem.
Também, mais adiante, ainda se estabeleceu:
Neste segundo trecho vai se observar que eram elas levadas num cesto e
entregues ao Sacerdote, que dispunha uma parte no Altar, de outras partes se
alimentando e entregando aos Sacerdotes a sua herança, para a Santificação
geral da colheita. A palavra cesto em latim é "sportula", donde o costume da
Igreja em receber espórtulas de alguns atos. É direito dela que nos primórdios
do cristianismo era levada num cesto durante o Ofertório da Cerimônia
Eucarística e entregue ao Sacerdote que recolhia o conteúdo e depois se
lavava para poder manusear e distribuir a Comunhão, donde o rito do Lava -
Mãos.
"E não comereis pão, nem trigo torrado, nem espigas verdes,
até aquele mesmo dia, em que trouxerdes a oferta do
vosso Deus; é estatuto perpétuo pelas vossas gerações, em
todas as vossas habitações" (Lv 23,14).
"Das vossas habitações trareis, para oferta de movimento, dois pães de dois
décimos de efá, de flor de farinha e cozidos com levedo, como primícias a
Iahweh" - a oferenda desses dois pães levedados caracterizam
especificamente a solenidade, por causa do fermento que se vedava nos
sacrifícios (Lv 2,11s), motivo por que não seriam queimados no Altar, mas junto
com dois cordeiros da oferta pacífica, destinar-se-iam ao Sacerdote e seus
familiares (Lv 23,20), após o holocausto de sete cordeiros, um novilho e dois
carneiros, com as libações do ritual, e o bode do oferenda de expiação (Lv
23,18-19). O nome de Oferta de Movimento se origina do "movimento" feito
pelo ofertante empunhando a oferenda junto com o celebrante em direção do
Altar, pelo que a entregava e ao recebê-la de volta, de Iahweh, deixava-a nas
mãos do sacerdote.
Assim era conhecida a festa que tinha início no primeiro dia do sétimo mês
religioso, em que se anunciaria mais tarde o começo do ano civil com o toque
delas:
Todos os meses do ano e por ocasião da lua nova havia uma solenidade em
que se ofereciam holocaustos e um bode em expiação (Nm 28,11-15). Neste,
porém, assumia um caráter especial de Santidade por ser o sétimo, o mês
sabático, coincidindo ainda nele a Grande Festa de Expiação e a Festa das
Tendas (Lv 23,27-43). Tudo isso faz com que seja distinguido com uma
comemoração especial inicialmente de regozijo ao som das Trombetas (Nm
10,1-2a.10), completando-se com mais Holocaustos e Sacrifício Pelo Pecado,
aos que já se celebravam mensalmente (Nm 28,11-15):
Em vários locais recebe também o nome de "Pão da Face", qual seja, o "Pão
da Presença" (Ex 25,30; 35,13; 39,36; 40,23; Nm 4,7; 1Sm 21,5-7; 1Rs 7,48;
2Cr 4,19) ou o "Pão da Pilha", isto é "partido em fileiras ou pilhas" (1Cr 9,32;
23,29; Ne 10,34; 2Cr 13,11). Eram Pães que se dispunham em mesa a eles
destinada (Ex 25,23-30) "na minha presença (de Iahweh - Ex 29,30)" em
número de doze, representando logicamente as tribos de Israel, seis em cada
fileira, sobre os quais se deitava Incenso a ser queimado em oblação (Lv 2,2).
Por se integrar num cerimonial de sacrifício eram "coisa santíssima para os
sacerdotes, das oferendas no fogo a Iahweh", devendo ser por eles comidos
cada semana ao se substituir por novos e no momento de se queimar o
Incenso" como memorial" perene da Aliança. Além do pão há ainda resquícios
do uso de libações de vinho, eis que se fala em "copos e taças de ouro" (Ex
25,29; 37,16; Nm 4,7), o que lembra a Ceia Eucarística. Jesus menciona que
Davi e seus soldados comeram desse Pão quando em fuga de Saul estando
com fome, para mostrar aos fariseus que existem necessidades do homem
que permitem o descumprimento de determinadas prescrições legais (Mt 12,4
e par.).
Alguns fatos chamam a atenção a começar com a imposição das mãos das
testemunhas sobre a cabeça dele, tal como no holocausto são colocadas na
cabeça do animal oferecido em expiação. Tal ato tem essa dimensão apoiado
na afirmação de que "o blasfemador levará sobre si o seu pecado". As
testemunhas e principais acusadoras e executoras (Dt 17,7) declaram assim
solenemente a culpa dele apurada no julgamento, e as testemunhas
isentavam-se de qualquer solidariedade com o blasfemo sofrendo este a plena
responsabilidade do que fizera . Além disso, retiram o infrator para "fora do
acampamento" para não contaminá-lo tal como ao Santuário com essa
impureza ou profanação, tal como se fazia com as oferendas da Festa da
Expiação que contaminadas com as iniqüidades de Israel eram queimadas
fora da mesma forma ( Lv 16,27; 24,14; Nm 15,35; Dt 17,2-7; At 7,57).
Com isso, há um encerramento parcial das normas punitivas dadas por Iahweh
no Monte Sinai para serem cumpridas pela comunidade de Israel. Cumpriram-
nas quando disse que "Eu porei o meu rosto contra esse homem, e o extirparei
do meio do seu povo", substituindo assim a Deus na execução da pena ditada
por Moisés:
No Novo Testamento tanto São Estevão (At 7,57) como Jesus são vítimas do
mesmo tratamento, de que Hebreus tira uma sutil conclusão:
"Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu,
porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas, a
qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a
outra; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-
lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil
passos, vai com ele dois mil. Dá a quem te pedir, e não voltes
as costas ao que quiser que lhe emprestes" (Mt 5,38-42).
LEVÍTICO
17. O ANO SABÁTICO E O ANO DO JUBILAR
"Eu sou Iahweh o vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos dar a
terra de Canaã, para ser o vosso Deus"..."Porque são meus servos, que tirei
da terra do Egito; não serão vendidos como escravos. Não dominarás sobre
ele com rigor, mas temerás o teu Deus" - O temor de Iahweh é o fundamento
religioso de todas as Instituições Israelitas, do que não se isentaria o Jubileu.
Esse temor não era propriamente falando um medo de Deus, mas de não mais
gozar das Bênção de Iahweh. A generosidade de Deus deveria ser partilhada
por todos os povos que se abrigassem em Israel. É a soberania de Iahweh que
se traduz em atos de seus súditos, distinguindo-os dos demais que os tornava
"santos", cuja santidade vai se comemorar na Festa do Ano Jubileu que se
inicia no Dia da Expiação. Assim, a generosidade de Deus "que não faz
acepção de pessoas" vai se reproduzir tanto no trato do estrangeiro como no
do escravo Israelita, dispensando igual tratamento de Iahweh desde o
libertação do Egito. É claro que somente fora dos domínios de Iahweh, junto
dos demais povos, é que poder-se-ia adquirir escravos nos moldes vigentes de
propriedade perpétua, objeto até mesmo de herança. Tal como no cristianismo
o objeto fundamental do tratamento aos irmãos e estrangeiros ali residentes e
reduzidos à miséria era o que se denomina atualmente caridade, no sentido de
que tudo se faria para a sua recuperação de justiça. Buscava-se ampará-los
no infortúnio restituindo-lhes os bens quando os pudessem administrar. Daí a
proibição da usura e dos meios de proventos de qualquer espécie em toda a
legislação da Aliança (cfr. Ex 22,25 e Dt 23,20-21) e o tratamento especial
dispensado ao escravo hebreu, que nem poderia ser vendido a outrem. A essa
Lei do Jubileu sujeitava-se até mesmo o estrangeiro, no caso do infortúnio do
Israelita (Lv 25,47-55), pela mesmo fundamento:
(...)
(...)
LEVÍTICO
18. EXORTAÇÕES
"Se nem ainda com isto me ouvirdes, prosseguirei em castigar-vos sete vezes
mais, por causa dos vossos pecados" - esta frase mostra o caráter pedagógico
da conversão que Iahweh lhes imporá "sete vezes", até a exaustão em que
"quebrarei a soberba do vosso poder" (o vosso orgulho). A terra nada
produzirá por causa do calor excessivo e a seca decorrente.
A devastação será de tal envergadura que não mais se conterá nem o amor
natural pelo filhos em busca da própria sobrevivência, em que o instinto de
conservação da espécie vai falar mais alto a ponto de "comereis a carne de
vossos filhos e a carne de vossas filhas", o que acontecia às vezes naquele
tempo, pela crueldade dos cercos militares de conquista (cfr. 2Rs 6,28-29; Jr
19,9; Lm 2,20; 4,10; Ez 5,10). Outra conseqüência de envergadura da
"maldição" que atingiria os idólatras, além da destruição dos lugares de culto,
seria a privação da sepultura (Jr 14,10-13; Jr 22,18-19; Tb 4,3s), o que era
considerado uma irreparável tragédia, ficando os mortos expostos ao relento
tal e qual as imagens ou ídolos destruídos, igualando-os. Os lugares altos de
culto eram usados antigamente eis que quanto mais alto se ficasse mais perto
dos céus estar-se-ia. Ali erguiam-se as várias imagens ou ídolos,
mencionando-se aqui especificamente uma imagem do "Deus - Sol", que
deveria ser uma das idolatrias de então.
LEVÍTICO
19. A CONSAGRAÇÃO PARA A CONQUISTA
Basta uma leitura atenta aos trechos destacados para se perceber a existência
de um preparo para uma Conquista armada da Terra de Canaã. Em se
tratando de uma conquista religiosa impunha-se uma adesão exclusiva à
Aliança, em obediência a Iahweh, o que implica numa consagração plena, que
agora se regula.
Também não pode ser vendido ou resgatado o que for objeto de consagração
por interdito a Iahweh, de que nada era reservado para o ofertante que dava
tudo a Iahweh, irrevogavelmente, de forma pacífica ou na guerra . "...toda
coisa consagrada será santíssima a Iahweh" (Lv 27,28) - por essa fórmula
se percebe que o princípio dessa operação era religioso, e era santíssimo por
ter sido subtraído ao profano, não podendo ser resgatado, tal como não se
comiam as oferendas dos holocaustos, contaminadas pelo pecado. Assim, não
se resgata o que se denomina aqui de interdito ou anátema, que são tanto os
despojos ou as prendas advindas dos inimigos e eles mesmos, conquistados
ou destroçados por Israel, contaminados pela idolatria (Dt 20,10-20), como as
pessoas ou bens que alguém oferece a Iahweh em caráter solene e
irrevogável. É que, entre os compromissos da Aliança, há a "Missão de Israel",
várias vezes ratificada (cfr. Ex 34,13; Lv 18,3.24-30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29-
31):
Com base nela, tal como se elaborou as leis atinentes ao "puro e impuro", para
se evitar principalmente as práticas dos pagãos que os rodeavam (Os 9,3; Ez
4,13; Tb 1,10-12; Dn 1,8-12; Jdt 12,2-4; Lv 18,2-5) é que se institui o interdito
ou anátema, principalmente na Guerra contra pagãos: