Vous êtes sur la page 1sur 51

PROCESSO PENAL

Práticas Dra Sónia Fidalgo 2015/2016


03/03/2016

I. INTRODUÇÃO

Ao Direito Processual Penal (DPP) cabe a regulamentação jurídica da realização do
poder punitivo estadual, sendo o CPP que regula o modo de averiguar se o sujeito
cometeu ou não o crime.

Porém, o DPP tem uma característica única que o distingue dos demais direitos
processuais: sem DPP não é possível realizar o próprio direito penal.

Veja-se que a aplicação do direito civil não depende do direito processual civil; coisa
diferente acontece com o DPP; isto porque o DPP é o modo de concretização ou de
realização do próprio Direito Penal, sendo esta característica a verdadeira especificidade
do DPP. Assim, não há uma pena sem um processo penal.

Deste modo, dizemos que a relação entre o Direito Penal e o DPP é uma relação de
mútua complementaridade funcional. No fundo, a conformação do DPP é muito
influenciada pelo Direito Penal substantivo e vice-versa e, mais do que isso, há mesmo
alguns institutos cuja pertinência ao Direito Penal ou ao DPP é muito discutida: é o caso
do instituto da queixa, do instituto da acusação particular e do instituto da prescrição.
Diz-se até que em alguns desses casos se tratam de institutos de natureza mista, ou
seja, institutos que têm características jurídico-substantivas e também características
jurídico-processuais.

Porém, apesar de tudo isto, o DPP é um ramo de direito autónomo com uma teleologia
própria: o DPP tem um interesse material específico, que é o interesse da administração
da justiça.

As finalidades do DPP são três:

1) Descoberta da verdade material e realização da justiça; 

2) Protecção dos direitos fundamentais perante um Estado; 

3) Restabelecimento da paz jurídica comunitária, posta em causa pelo crime, e a
consequente reafirmação da norma violada.

Estas três finalidades conflituam entre si (pex, buscas domiciliárias). Vejamos:



1) A descoberta da verdade material pode colidir com os direitos fundamentais do
indivíduo, daí que se diga que é necessário alcançar-se a verdade mas sempre de um
modo processualmente válido; é por isso que, por exemplo, o tribunal não valora provas
obtidas mediante tortura.

Mas, por outro lado, o interesse numa eficaz administração da justiça conduz a que,
durante o processo, haja necessidade de limitar certos direitos fundamentais (pex, prisão
preventiva).

2) Com o processo penal visa-se também restabelecer a paz jurídica comunitária, posta
em causa pela prática do crime. Esta finalidade [do restabelecimento da paz jurídica]
afirma-se tanto no interesse do arguido, que deve ser julgado no mais curto prazo
possível (32 CRP), como também no interesse da comunidade jurídica, que, através do
processo penal, vê reforçada a sua fidelidade aos bens jurídicos, apesar da prática do
crime.

3) Porém, também esta finalidade do restabelecimento da paz jurídica não se afirma sem
limitações: a segurança inerente à paz jurídica é algumas vezes posta em causa, em
obediência à ideia de justiça ou à descoberta da verdade material, mesmo quando a
decisão tenha sido obtida por meios válidos. É o que acontece nos casos em que se
admite o recurso da revisão (449 CPP). Este é um recurso admitido em situações
excepcionalíssimas e é interposto depois do trânsito em julgado da condenação
(referimo-nos a casos em que estejam em causa a justiça da condenação, nestas
situações o restabelecimento da paz jurídica comunitária deve ceder em prol da
descoberta da verdade material).

Como vemos, na generalidade dos concretos problemas de processo penal não é possível
a realização integral das três finalidades.

Como é que se resolve então o conflito entre as três finalidades do DPP?



Vamos operar uma harmonização ou concordância prática das finalidades em conflito, de
modo a salvar, em cada situação, o máximo conteúdo possível de cada finalidade (pex, a
regulamentação da aplicação de medidas de coacção, bem como a regulamentação da
aplicação de prisão preventiva).

Contudo, há circunstâncias em que não é possível esta harmonização; isto acontece
quando estiver em causa a dignidade da pessoa humana. Nestes casos não é possível
qualquer transacção.

Isto porque a dignidade da pessoa é um valor absoluto e que portanto não pode ceder
perante qualquer outro direito ou interesse. Quando está em causa a dignidade da
pessoa, deve ser dada prevalência a finalidade do processo que der total cumprimento à

garantia constitucional dessa dignidade (pex, métodos proibidos de prova).

II. ESTRUTURA DO PROCESSO PENAL

II. 1. Processo penal de estrutura inquisitória



Esta é a estrutura processual característica da inquisição e dos Estados absolutistas e
totalitários. Nesta estrutura, o processo penal é dominado pelo interesse do Estado na
descoberta da verdade e na realização da justiça. O arguido é visto como um objecto do
processo, sem que dele participe activamente.

Ele não é um verdadeiro sujeito do processo, nem é titular de um real direito de defesa.
O processo era escrito e secreto e a confissão era a rainha das provas, não se excluindo
a tortura para a sua obtenção. O juíz era uma entidade dependente do poder político e
era ele que investigava, acusava e julgava, ou seja, era a mesma entidade que
desempenhava estas três funções (investigação, acusação e julgamento).


II. 2. Processo penal de estrutura acusatória ou processo penal reformado



Esta estrutura surge na Europa continental com os pensadores iluministas (Rousseau,
Mello Feire, etc.) e afirmou-se com a Revolução Francesa e com a Declaração do Homem
e do Cidadão em 1789.

Esta estrutura era já característica dos países anglo-saxónicos.

Nesta estrutura, no centro da consideração está agora o arguido com os seus direitos
fundamentais. A acusação e a defesa são vistas como partes de uma lide de que podem
dispor e, para que esta lide seja justa, é preciso que se afirme a igualdade de armas,
surgindo o arguido como um sujeito de processo.

Nesta estrutura processual, o juíz é um juíz passivo, sem poderes de investigação; vale
aqui o princípio da auto-responsabilidade probatória das partes, por isso a verdade que
se alcança é uma verdade formal, isto é, é a verdade que resulta do próprio processo,
afirmando-se ainda a presunção de inocência do acusado até à condenação.

Vigora nesta estrutura o princípio da acusação, que significa que há uma cisão entre a
entidade que investiga e acusa, por um lado, e a entidade que julga, por outro, como

forma de garantir a objectividade e a imparcialidade do julgador.

(Diga-se ainda que o princípio da acusação é uma característica da estrutura
acusatória, sendo certo que esta estrutura compreende mais características).

II. 3. Processo penal de estrutura mista ou inquisitória mitigada ou moderna



Esta é a estrutura própria dos Estados favoráveis a ideologias totalitárias ou
autoritárias, como era o nosso Estado até ao 25 de Abril.

Nesta estrutura, a descoberta da verdade é a finalidade principal do processo penal,
mas aqui respeita-se o princípio da acusação: a entidade que acusa é o Ministério
Público e a que julga é o juíz.

Porém, este princípio só é respeitado formalmente, por isso se diz que é o princípio da
forma acusatória ou do acusatório formal, porque, nesta estrutura processual, era o
juíz que dirigia a investigação e era ele que ordenava ao Ministério Público que
acusasse ou não acusasse.

Assim, nesta estrutura, o juiz investigava, o Ministério Público acusava sob comando do
juíz e depois era o juíz que julgava.

II. 4. Processo penal de estrutura acusatória integrada pelo princípio da investigação



Esta é a estrutura do nosso processo penal, sendo a estrutura que melhor dá
cumprimento à concordância prática das finalidades conflituantes do processo penal. Esta
estrutura respeita o princípio da acusação: quem investiga e acusa é o Ministério
Público, e quem julga é o juíz.

Porém, esta estrutura acusatória é integrada pelo princípio da investigação, o que


significa que o tribunal tem o poder-dever de investigar os factos independentemente
do contributo dos outros sujeitos processuais, criando ele mesmo as bases necessárias à
sua decisão.

Claro está que a afirmação de que o juíz tem o poder-dever de investigação está ligada
à ideia de que a verdade que se procura no processo penal é a verdade material e não
uma verdade meramente formal, como acontece por exemplo no Processo Civil.

Todavia, este poder de investigação por parte do juíz é um poder subsidiário - não é um
poder ilimitado. O juíz está sempre limitado pelo objecto do processo.

No nosso processo penal, é a instância que investiga, que vai definir a matéria sobre a
qual vai incidir a decisão do juiz. É isto que nos leva a dizer que uma característica
desta estrutura processual é a indisponibilidade do processo, o que está ligado à
finalidade de protecção dos direitos de defesa do arguido.

Uma outra característica do nosso processo é a participação constitutiva da acusação e
da defesa na declaração de direito no caso concreto; dizemos por isso que o Ministério
Público e o arguido são sujeitos processuais.

Por outras palavras, na nossa estrutura processual, o juíz tem poderes de investigação,
distinguindo-se daquele juíz passivo que apenas regula aquilo que é feito pelos sujeitos
processuais, como se vê na estrutura acusatória pura.

II. 5. Distinção entre participantes processuais e sujeitos processuais



Em processo penal falamos de sujeitos processuais e participantes processuais. Mas como
os distinguimos?

Os sujeitos processuais são as pessoas que intervêm no processo e que, através da sua
actuação, influenciam concretamente a tramitação do processo. Estas pessoas contribuem
para a concreta configuração do processo.

No nosso processo penal, os sujeitos processuais são o juíz, o Ministério Público, o
arguido, o assistente e o defensor; qualquer destes sujeitos, através de direitos próprios,
influencia a tramitação do processo penal.

Por seu turno, os participantes processuais são pessoas que participam no processo, mas
que não o configuram concretamente; eles praticam actos singulares cujo conteúdo
processual se esgota na própria actividade, não exercendo direitos autónomos no
processo.

Desde logo, são participantes processuais as testemunhas, os peritos, os órgãos de


polícia criminal, o suspeito da prática do crime e o ofendido.

Quanto ao suspeito, este só passará a ser titular de direitos e deveres próprios quando
for constituído como arguido; no caso de o ofendido quiser passar a ter direitos próprios,

deve requerer a sua constituição como assistente.

III. SISTEMATIZAÇÃO DO CPP



O actual Código de Processo Penal foi aprovado em Fevereiro de 1987, entrou em vigor
em Janeiro de 1988 e já teve múltiplas alterações.

Antes deste Código de Processo Penal, estava em vigor o Código de 1929, que era o
Código típico do Estado Novo.

Vejamos a sua sistematização:

• Disposições Gerais – 1-7;

• Sujeitos Processuais – 8 ss;

• Actos Processuais – 85 ss;

• Prova – 124 ss;

• Medidas de coacção e partilha patrimonial – 191 ss;

• Aquisição da notícia do crime – 241;

• Medidas cautelares e de polícia – 248 ss;

• Inquérito – 262 ss;

• Instrução – 286 ss;

• Julgamento – 311 ss;

• Processos especiais – 381 ss;

• Recursos – 399 ss;

10/03/2016

TRAMITAÇÃO DO PROCESSO PENAL COMUM



O processo penal tem início com a aquisição da notícia do crime, dando início à fase do
inquérito. A entidade que abre e dirige o inquérito é o Ministério Público, coadjuvado
pelos órgãos de polícia criminal.

O inquérito termina com um despacho de acusação ou com um despacho de


arquivamento.

Após a fase do inquérito, podemos ter uma fase facultativa: a fase de instrução. Quem a
dirige é o juíz de instrução criminal, que também é auxiliado pelos órgãos de polícia
criminal; esta fase também pode terminar com um despacho de pronúncia ou com um
despacho de não pronúncia.

Depois segue-se a fase de julgamento, dirigida pelo juíz de julgamento, que também é
coadjuvado pelos órgãos de polícia criminal, terminando o julgamento com uma sentença
de condenação ou com uma sentença de absolvição. Após esta fase, pode eventualmente
haver recurso.

Nós vamos estudar o processo penal comum. Além do processo penal comum, existem
também processos especiais que estão previstos nos 381 ss CPP - são eles o processo
sumário, o processo abreviado e o processo sumaríssimo.

Nós dizemos que o processo penal comum tem uma tramitação tendencialmente unitária,
ou seja, independentemente da natureza e da gravidade do crime, o processo é igual
para todos os casos. Dizemos ser “tendencialmente unitária”, pois na fase de julgamento
há algumas especificidades que decorrem da natureza e da gravidade do crime.

I. FASE DO INQUÉRITO

O processo tem início com o conhecimento de que houve um crime e a entidade
competente para adquirir a notícia do crime é o Ministério Público (MP) (241 CPP).

Nos termos do 262/2 CPP, a notícia do crime dá sempre lugar a um inquérito.



O inquérito é a fase do processo em que se vai investigar se houve ou não um crime, e
se vai determinar quem foram os agentes do crime e qual a sua responsabilidade, e vai-
se também descobrir e recolher provas (262/1 CPP).

Nos termos do 263 CPP, o inquérito é dirigido pelo MP, dirigido pelos órgãos de polícia
criminal (OPC). O MP abre o inquérito e depois é também ele que o dirige; entre nós, o
MP é considerado uma autoridade judiciária, nos termos do 1/b) CPP (“Para efeitos do
disposto no presente Código considera-se: «Autoridade judiciária» o juíz, o juíz de
instrução e o Ministério Público, cada um relativamente aos actos processuais que cabem
na sua competência”).

Ministério Público

Em Portugal o MP tem certas características que o distinguem de outros sistemas. O MP


português não é visto pela lei como um acusador, como um advogado do Estado.

O 53/1 CPP refere-se à posição e atribuições do MP no processo, estabelecendo que o
MP tem como função colaborar com o tribunal na descoberta da verdade e na
realização do direito, obedecendo a critérios de estrita objectividade.

O 53/2/d) CPP estabelece que compete ao MP interpôr recursos ainda que no exclusivo
interesse da defesa; por isso, não podemos dizer que o processo penal português é um
processo de partes, em que há uma acusação e uma defesa.

Na sequência disto mesmo, o MP pode dar início a um processo penal, no final do


inquérito deduzir acusação e depois, no final do julgamento, pode pedir a absolvição do
arguido.

Assim, o MP deve colher todas as provas: quer estas levem à absolvição ou condenação
do arguido.

Nos termos do 219 CRP, o MP goza de autonomia, nomeadamente perante o poder


político. Até 1992, estava previsto na Lei Orgânica do MP que o Ministro da Justiça
podia dar instruções genéricas ao MP, mas a Lei 23/92, de 20 de Agosto, veio reforçar a
autonomia do MP e revogou a parte da norma que se referia àquela possibilidade de o
Ministro da Justiça dar instruções genéricas ao MP.

Deste modo, desde 1992, o nosso MP não tem uma ligação directa ao poder executivo em
geral nem ao Ministério da Justiça em particular.

Naturalmente, esta autonomia é vantajosa, desde logo porque pode haver uma
investigação dos próprios membros do Governo, livre de vícios.

Além disso, o MP é uma magistratura autónoma e independente da magistratura judicial.


Só depois do 25 de Abril de 1974 é que o MP passou a ser uma magistratura autónoma,
pois antes desta altura, todos os juízes passavam por uma fase que eram delegados do
MP.

Neste sentido, qual ou quais as diferenças entre o magistrado do MP e o juíz? A


diferença reside no facto de os juízes serem independentes aos demais juízes, enquanto
que o MP está organizado numa estrutura hierárquica. Esta hierarquia está definida na
Lei Orgânica do MP (L 27/97, de 15 de Outubro).

Esta lei foi alterada e republicada pela Lei 60/98, de 27 de Agosto, que define o estatuto
do MP. A sua última alteração foi em 2011.

No topo da hierarquia do MP está a Procuradoria-Geral da República, presidida pelo


Procurador-Geral da República (PGR).

O PGR é o único magistrado do MP sujeito a designação pelo poder político. O PGR é
nomeado e exonerado pelo Presidente da República sob proposta do Governo

(133-M CRP e 131 EMP).

Imediatamente abaixo do PGR temos o Vice-Procurador da República, seguindo-se os
procuradores-gerais adjuntos, depois os procuradores da república e, na base, os
procuradores-adjuntos. Esta hierarquia e designação dos diversos agentes do MP
constam do 8 EMP.

Órgãos de Polícia Criminal


No inquérito, o MP é assistido pelos órgãos de polícia criminal (OPC). O 1/c) CPP define
órgão de polícia criminal:

(“Para efeitos do disposto no presente Código considera-se: «Órgãos de polícia criminal»
todas as entidades e agentes policiais a quem caiba levar a cabo quaisquer actos
ordenados por uma autoridade judiciária ou determinados por este Código”).

Além disso, o 3 da Lei da Organização da Investigação Criminal (LOIC) diz quais são os
órgãos de polícia criminal de competência genérica; e são eles a PJ, a PSP e a GNR.
Deste modo, qualquer uma destas polícias pode actuar como OPC, desde que esteja
afecta a uma investigação criminal no âmbito de um processo penal e sob orientação de
uma autoridade judiciária.

O 263/1 CPP estabelece que a direcção do inquérito cabe ao MP assistido pelos OPC, e o
mesmo é dito no 2/2 LOIC. Entre nós, a PJ é a única que se encontra sob tutela do
Ministério da Justiça; já a PSP e a GNR encontram-se sob a tutela do Ministério da
Administração Interna.

A PJ é a nossa polícia criminal por excelência: ela está vocacionada para a repressão
penal, o que não significa que não tenha também funções de prevenção.

As outras duas polícias estão mais vocacionadas para a protecção da segurança das
pessoas, tendo por isso uma vocação mais preventiva, o que não significa que não possam
actuar também ao nível da repressão penal.

Há certos crimes cuja investigação é da competência reservada da PJ. São aqueles que
estão no catálogo do 7 LOIC: os crimes que não entrem no catálogo da PJ podem ser
investigados pela PSP e pela GNR, que têm assim uma competência residual.

No processo penal, os OPC actuam sob a directa orientação do MP e na sua dependência


funcional; isto resulta do 263/2 CPP e também dos 55 e 56 CPP.

Entre nós, o modelo da relação entre o MP e os OPC é o modelo de dependência
funcional e de autonomia técnica. As autoridades judiciárias podem dar directivas,
ordens e instruções quanto ao modo como a investigação deve ser feita - sendo assim, o
MP pode acompanhar e fiscalizar os actos praticados pelos OPC. Além disso, o MP pode

presidir a certos actos e pode avocar o processo a todo o tempo.

Por sua vez, os OPC têm autonomia para a realização dos actos de investigação que
impliquem políticas, estratégias e meios que são próprios da polícia, por isso se diz que
se trata de uma autonomia técnica ou estratégica. Na verdade, seria impossível – quer
pela insuficiência de recursos humanos, quer pela insuficiência de preparação técnica dos
magistrados do MP – que fossem estes magistrados a levar a cabo os actos materiais de
investigação.

Os agentes do MP não têm formação específica na área de investigação criminal, por


isso, na generalidade dos casos e na prática, quem realiza a investigação são os OPC
que depois entregam ao MP os resultados dessa investigação.

A direcção do inquérito pelo MP é assim uma direcção funcional, que se exprime através
de uma delegação de competências nos OPC, nos termos do 270 CPP.

Dissemos que o processo penal se inicia com a aquisição da notícia do crime. Ora, o MP
pode adquirir a notícia do crime por um de três meios (241 CPP):

1. Conhecimento próprio (pouco frequente);

2. Por intermédio dos OPC (muito frequente);

3. Mediante denúncia. 


Há, porém, certos crimes em relação aos quais o MP só abre inquérito se houver uma

queixa do ofendido.

A queixa é um direito do ofendido, nos termos do 113 CPP. Em regra, não existe um
dever de denunciar os factos criminosos – a denúncia é facultativa (240 CPP), contudo,
há casos em que o CPP estabelece situações em que a denúncia é obrigatória (242
CPP).

A denúncia é obrigatória para as entidades policiais dos crimes de que tomarem


conhecimento e também quanto aos funcionários, em relação aos crimes que tomarem
conhecimento no exercício das suas funções e por causa delas.

Apesar de o MP ser o dominus do inquérito (aquele que o dirige), há certos actos no


inquérito que só podem ser praticados, organizados e autorizados por um juíz – o juíz
de instrução.

Entende-se que o juíz é o guardião dos direitos, liberdades e garantias, e quando os
actos puserem em causa DLG’s dos cidadãos, tem de intervir um juíz. Estes actos são os
referidos nos 268 e 269 CPP (aplicação de medidas de coacção).

Chegado ao fim do inquérito, o MP ou deduz um despacho de acusação, nos termos do


283 CPP, ou deduz um despacho de arquivamento, nos termos do 277 CPP.

O MP deduz um despacho de acusação sempre que tiver recolhido indícios suficientes de


se ter verificado um crime e de quem foi o seu agente - neste caso, recai sob o MP um
dever de acusar (283/1).

Diferentemente, o MP arquiva:

(1) quando concluir que não houve crime;

(2) quando concluir que não foi aquele arguido o agente do crime;

(3) quando entender que o procedimento é legalmente inadmissível (pex, já prescreveu)

(4) quando não tiver sido possível obter indício suficiente da prática do crime ou de
quem foi o seu agente (277/1/2). O inquérito pode vir a ser, todavia, reaberto, se
entretanto surgirem novas provas, nos termos do 279 CPP.

Os prazos de duração máxima do inquérito estão previstos no 276/1 CPP (“O Ministério
Público encerra o inquérito, arquivando-o ou deduzindo acusação, nos prazos máximos de
seis meses, se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação, ou
de oito meses, se os não houver”).

Na prática, estes prazos não são cumpridos, mas nada pode ser feito no caso do seu
incumprimento, uma vez que estes prazos são somente indicativos, pois veja-se que, se
assim não fosse, ou chegaríamos a acusações precipitadas ou arquivamentos injustos.

O despacho de acusação significa que o MP submete a causa a julgamento; já o


despacho de arquivamento significa, em princípio, o fim do processo. E, sempre que o MP
acusa e não é requerida a fase de instrução, o processo passa directamente da fase de
inquérito para a fase de julgamento.

Mas nem sempre é assim, pois tem de haver uma forma de controlar a decisão que o
MP tomou no final do inquérito.

Tradicionalmente, reagimos contra uma decisão por via de recurso, porém, só são
recorríveis as decisões judiciais; destarte, o CPP prevê outros mecanismos para a
reacção contra os despachos de acusação ou de arquivamento.

Os mecanismos são dois:



(1) mecanismo não-judicial ou hierárquico (278 CPP): este mecanismo só funciona para
os casos de arquivamento. Nestes casos, o superior hierárquico do MP pode
determinar que seja formulada acusação ou que as investigações prossigam; além
deste mecanismo hierárquico, temos ainda…

(2) o mecanismo judicial: a fase de instrução (286 ss CPP), que serve precisamente
para controlar a decisão que o MP tomou no final do inquérito.

17/03/2016

II. FASE DE INSTRUÇÃO:



A instrução é a fase que se coloca entre o inquérito e o julgamento, e não é obrigatória.
Entre o inquérito e o julgamento, só há instrução se ela for requerida pelos
interessados. Ela é, por isso, uma fase facultativa ou eventual (286/2 CPP).

A fase de instrução é dirigida pelo juíz de instrução, que é um juíz diferente do juíz de
julgamento (32/4 CRP e 288 CPP).

O juíz de instrução é auxiliado pelos orgãos de polícia criminal (288/1 e 290/2 CPP).
Deste modo, podemos concluir que o juíz de instrução desempenha, entre nós, dois
diferentes papéis: por um lado, ele é visto como o guardião dos DLG’s das pessoas na
fase de inquérito - ele pratica ou ordena os actos referidos nos 268 e 269 CPP; por
outro lado, ele dirige a fase de instrução quando ela for requerida, fiscalizando a
decisão tomada pelo MP no final do inquérito (288 CPP)

NOTA: Estes dois papéis são muitas vezes perguntados em exame!

Quem tem o direito de requerer a fase de instrução?



Quando há um despacho de acusação do MP, quem tem o direito de requerer a abertura
da instrução é o arguido (287/1/a CPP).

Quando há um despacho de arquivamento, quem tem esse direito será o assistente
(287/1/b CPP).

Se o assistente nada fizer quando o MP arquiva o processo, isso significará que o


processo termina.

Temos de considerar 3 hipóteses distintas:



1ª Hipótese: Imaginemos que o MP está a investigar os factos A, B e C, e decide
arquivar pelos três factos. Neste caso, quem tem legitimidade para requerer a abertura
de instrução é o assistente.

2ª Hipótese: O MP está a investigar os factos A, B e C, e profere um despacho de
acusação em relação aos três factos. Quem tem legitimidade para requerer a abertura
de instrução nesta hipótese será o arguido.

3ª Hipótese: Imaginemos ainda que o MP está a investigar os factos A, B e C, e que
acusa apenas pelos factos A e B. Aqui, em relação a estes, o arguido poderá requerer a
abertura da instrução; e em relação ao facto C, será o assistente.

Se, no final do inquérito, o MP acusar e o arguido entender não requerer a abertura de


instrução, o processo passa imediatamente para a fase de julgamento.

No processo pode, assim, não haver fase de instrução. A instrução surge então como um
direito do arguido e/ou do assistente para fazerem valer a sua posição antes do
julgamento, controlando a decisão do MP.

E como é composta a fase de instrução?

Por actos de instrução, que são facultativos; aqueles actos que o juíz tiver por
convenientes.

É composta obrigatoriamente por um debate instrutório, oral e contraditório, no qual
podem participar o MP, o arguido, o defensor, o assistente e o seu advogado, mas não as
partes civis (289 CPP).

No final da instrução, o juiz profere um de dois despachos - ou um despacho de


pronúncia ou um despacho de não pronúncia (308 CPP).

Ele profere um despacho de pronúncia se tiverem sido recolhidos indícios suficientes de
se terem verificado os pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma pena
ou de uma medida de segurança. Ou seja, quando for mais provável uma condenação do
que uma absolvição.

No caso de haver despacho de pronúncia, se o MP tiver proferido um despacho de


arquivamento, o juíz está a dizer que a conclusão a que o MP chegou no final do
inquérito está errada, e que o processo deverá seguir para a fase de julgamento (que é
da competência do juíz de julgamento).

Quando é que o juiz de instrução profere um despacho de não pronúncia?



Quando não tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se terem verificado os
pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma pena ou de uma medida de
segurança. Neste caso, se o MP tiver acusado, o juíz vai dizer que a conclusão a que o
MP chegou na fase de inquérito estava errada, e em princípio não vai haver julgamento.

Qual a natureza da fase de instrução?



Será que a fase de instrução serve para fundamentar melhor a conclusão de que houve
ou não houve crime? Isto é, terá a instrução a natureza de uma fase de investigação?
Há quem entenda que sim, considerando que a instrução é um suplemento autónomo de
investigação, ou pelo contrário, terá a fase de instrução uma natureza judicial, de
controlo da decisão do MP?

A fase de instrução é presidida pelo juíz de instrução, que tem, por certo, funções de
investigação. Todavia, esta função de investigação é apenas uma função subsidiária.

A fase de instrução é, essencialmente, uma fase judicial, sendo subsidiariamente uma
fase de investigação.

Segundo Mª João Antunes, a finalidade da instrução é a de controlar a decisão do MP.


Aliás, é isto que resulta claramente do 286/1 CPP.

Mª João Antunes não concorda, portanto, com os autores que dizem que a instrução é
um suplemento autónomo de investigação.

Mas para além da letra deste 286/1 CPP, há mais argumentos no sentido de se afirmar
que a instrução é apenas uma fase de controlo judicial:

1º Argumento: Nos termos do 286/2, a instrução tem carácter facultativo, por isso, a
fase de investigação por excelência tem de ser a fase de inquérito. Considera-se que, a
partir desta fase, a investigação já está feita.

2º Argumento: O regime previsto no 303/3/4 CPP também nos mostra que a instrução
não é um suplemento de investigação. De acordo com este regime, se no decurso da fase
de instrução se verificar uma alteração substancial dos factos, esta alteração não pode
ser tida em conta pelo juíz de instrução para efeitos de pronúncia.

A alteração deve ser comunicada ao MP, para que este abra inquérito quanto aos novos
factos, se eles forem autonomizáveis em relação ao objecto do processo.

No fundo, se surgirem factos novos na fase de instrução que impliquem uma alteração
substancial dos factos, esses novos factos têm de voltar para trás, para que o MP abra
inquérito quanto a eles.

Até Setembro de 2007 invocava-se ainda um outro argumento, no sentido de a instrução


não ser uma fase de investigação: até à revisão de 1998, valia entre nós a regra de que
o processo penal era público apenas após a decisão instrutória; isto é, as fases de
inquérito e de instrução eram fases secretas.

Porém, após esta revisão de 1998, veio a prever-se no 286/1 CPP, a possibilidade de a
fase de instrução ser pública, nos casos em que fosse requerida apenas pelo arguido e
este não declarasse que se opunha à publicidade.

Assim, desde 1998, a única fase do processo penal obrigatoriamente secreta passou a
ser a fase de inquérito.

Porque é que a fase de inquérito é tradicionalmente uma fase secreta?



Entendia-se que devia ser secreta, desde logo porque pode nem sequer chegar a haver
uma acusação. Deste modo, quando o inquérito terminava com um despacho de
arquivamento, entendia-se que não havia necessidade de se pôr em causa o bom nome
das pessoas envolvidas: a ausência de publicidade contribuía para que nao se pussesse
em causa, injustificadamente, o bom nome das pessoas. Por outro lado, entendia-se que
se o inquérito não fosse secreto, isso poderia pôr em causa a investigação.

Ora, se uma das razões para o inquérito ser secreto estava relacionada com o adequado
decurso da investigação, e se, em certos casos, a instrução podia ser pública, tal
constituía um argumento no sentido de que a instrução não seria essencialmente uma
fase de investigação.

Porém, este argumento deixou de fazer sentido porque desde Setembro de 2007, a
regra é a de que todo o ppenal é público (86/1). Só se houver um requerimento do
arguido, do assistente ou do ofendido, ou se o MP entender que o processo deve recorrer
em segredo de justiça, é que a fase de inquérito será secreta.

III. FASE DE JULGAMENTO

Está prevista nos 311 ss CPP. Entre nós, há 3 tribunais que podem fazer o julgamento de
crimes: o tribunal singular, o tribunal colectivo e o tribunal do júri.

1) Tribunal Singular:

A competência do tribunal singular está prevista no 16 CPP (estas normas foram
alteradas em Fevereiro deste ano!)

O tribunal singular é composto por um só juíz. Tem competência residual e julga os
crimes menos graves, ou seja, os crimes puníveis com pena de prisão igual ou inferior a
5 anos.

2) Tribunal Colectivo:

A competência está no 14 CPP.

É constituído por três juízes: um juíz-presidente e dois juízes-“asas”.

É competente para julgar os crimes cujo elemento típico seja a morte de uma pessoa.

É também competente para julgar os crimes puníveis com penas superiores a 5 anos de
prisão. É ainda competente para julgar os crimes contra a identidade cultural e a
integridade pessoal, que estão nos 240 ss CP.

Tem ainda competência para julgar os crimes contra a segurança do Estado, previstos
nos 308 ss CP; e também tem competência para julgar os crimes previstos na lei penal
relativa às violações do direito interncional humanitário (L 31/2004, de 22 de Junho).

3) Tribunal do Júri:

A competência deste tribunal está no 13 CPP.

O tribunal do júri é composto por três juízes mais quatro jurados.

Este tribunal só intervém quando é requerido pelo MP, pelo assistente ou pelo arguido.

É competente para julgar os crimes contra a identidade cultural e a integridade pessoal
(240 ss CP), os crimes contra a segurança do Estado (308 ss CP), e os previstos na lei
penal relativa às violações do direito interncional humanitário (31/2004, de 22 de Junho).
É ainda competente para julgar os crimes puníveis com pena de prisão superior a 8
anos.

Na fase de julgamento, assume especial importância a audiência de julgamento, de que


nos falam os 311 ss CPP.

A fase de julgamento termina com uma decisão de condenação ou com uma decisão de
absolvição. Desta decisão pode haver recurso, nos termos do 399 ss CPP.

O recurso pode ser interposto para o Tribunal da Relação ou para o STJ, e em certos
casos admite-se o duplo grau de recurso, isto é, recorre-se da 1ª instância para o
Tribunal da Relação, e deste ainda se pode recorrer para o STJ.

31/03/2016

O processo penal tem 3 fases.


A. Aplicação da lei processual penal no tempo - Problema da aplicação da


lei processual penal no tempo: A regra quanto à aplicação da lei processual
penal no tempo é o 5 CPP: a lei processual penal é de aplicação imediata
(aplicar-se-á mesmo aos processos pendentes, sem prejuízo do nº2 - redução
dos direitos de defesa do arguido ou uma quebra da harmonia e da unidade
nos actos do processo).

A lei processual penal nova aplica-se mesmo aos processos iniciados antes da
sua vigência – esta é a regra de aplicação imediata; no entanto, o nº2 do 5 CPP
estabelece dois desvios a esta regra:

a) De acordo com a alínea a), a lei processual penal nova não se aplica aos
processos iniciados anteriormente, quando dessa aplicação resultar uma
agravação da situação do arguido.

Está aqui em causa o direito de defesa do arguido e a proteção das suas
expectativas processuais, o que liga esta matéria ao P. da legalidade
criminal em sentido amplo (29\1 CRP).

b) Por outro lado, de acordo com a alínea b), a lei nova também não se
aplica quando da sua aplicação resultar uma quebra da harmonia e
unidade dos vários atos do processo.

Foi este o motivo que levou a que o CPP actual (1987) não se aplicasse
aos processos pendentes, isto é, aos processos que tinham sido iniciados
na vigência do CPP anterior de 1929 (Código este que instituía uma nova
estrutura aos processos – estrutura do Estado Novo, inquisitória).

NOTA “HISTÓRICA”:

As alterações que o CPP sofreu em 2007 em matéria de recursos (artigo 400)
vieram levantar problemas de aplicação da lei processual penal no tempo. Até
2007, havia casos em que se permitia que se recorresse duas vezes de uma
decisão condenatória. Isto é, admitia-se o duplo grau de recurso: o condenado
poderia recorrer da 1ª instância para o Tribunal da Relação, e depois poderia
ainda recorrer do Tribunal da Relação para o STJ.

Existia a possibilidade do duplo grau de recurso, desde que o crime fosse punível
com uma pena de prisão superior a 8 anos. O critério para aferir da
admissibilidade do recurso era o da pena abstractamente aplicável ao crime em
causa.

Com as alterações de 2007, o critério passou a ser o da pena concretamente
aplicada ao crime. Na revisão de 2007, o legislador, no 400\1\f CPP, deixou de se
referir à pena abstractamente aplicável, e passou a referir-se à pena
concretamente aplicada.

Caso Prático:

A foi julgado pelo crime de ofensa à integridade física grave (144 CP); a
moldura legal prevista neste tipo legal de crime é de 2 a 10 anos de prisão.

A foi condenado em 1ª instância numa pena de prisão de 6 anos. Ele recorreu
para o Tribunal da Relação, que confirmou a condenação de 1ª instância.

Poderá A recorrer para o STJ?

Resolução:

Em recursos vale o princípio geral da recorribilidade dos recursos. O 400/1/f
CPP diz expressamente que são “decisões que não admitem recurso … de
acórdãos condenatórios proferidos, em recurso, pelas relações, que confirmem
decisão de 1.ª instância e apliquem pena de prisão não superior a 8 anos”;

Desde 2007, não há dúvida de que ele não pode recorrer, porque a pena
aplicada é de 6 anos, logo inferior a 8 anos.

Contudo, até 2007, o critério era a pena aplicável que não cabia no nosso
conceito, visto que a pena aplicável vai até 10 anos.

Agora o critério é o da pena aplicada, a pena que concretamente o agente vai
ser alvo.

E os processos pendentes? O que acontece aos processos que se iniciaram e


estavam pendentes quando, em Setembro de 2007, entrou a lei nova? (É este o
problema com que nos deparamos no caso prático a resolver!)

♣ O nosso processo inseria-se no âmbito do 5/b) de diminuição dos direitos
de defesa do arguido, uma alteração na defesa do arguido.

♣ O próprio STJ tomou posições contraditórias em dois momentos distintos:
houve um acórdão em que o STJ entendeu que a a lei aplicável era a lei
que estava em vigor no início do processo (Acórdão de 20 de Fevereiro de
2008). A lei que deveria reger o problema seria a lei em vigor no
momento em que se iniciou o processo.

Noutro acórdão, os juízes entenderam que a lei aplicável era a lei em
vigor no momento em que a decisão tinha sido proferida (Acórdão de 10
de Janeiro de 2008).

Perante dois acórdãos contraditórios sobre a mesma questão, o STJ fez
um acórdão de fixação/uniformização de jurisprudência (o Acórdão 4 de
2009), em que entendeu que deve ser aplicada a lei em vigor no momento
em que foi proferida a decisão de 1ª instância.

Tudo isto se relaciona com o momento em que se forma o direito ao recurso: a


posição do STJ é a de que só faz sentido falar em garantias de defesa, de
direito ao recurso se houver uma condenação.

Outros juízes entendiam que este direito se adquire a partir do momento em que
a pessoa é constituída arguida.
A) NOÇÕES RELEVANTES EM PROCESSO PENAL - importante
distinguir:

1. Arguido e suspeito:

Arguido:

O arguido entre nós é um sujeito do processo. Ele é titular de um
conjunto de direitos e deveres que lhe permitem ter um comportamento
constitutivo, isto é, contribuir para aquilo que é a decisão final.

O próprio arguido pode apresentar meios de prova e requerer diligências
probatórias.

Os 57 ss CPP fala-nos do arguido, e depois o 58 CPP refere-se à
constituição de arguido.



O 60 CPP pronuncia-se sobre a posição processual do arguido e o 61 CPP
tem um elenco não taxativo de direitos e deveres do arguido: um desses
direitos é o direito ao silêncio - o arguido pode recusar-se a falar, nos
termos do 61/1/b CPP.

A invocação do silêncio não pode prejudicar o arguido, entre nós.



No processo penal vale o Princípio de “in dubio pro réu” (por isso nunca
existirá a inversão do ónus da prova), ao passo que, no processo civil,
parte-se do pressuposto da culpa do réu, presunção esta que pode ser
ilidível por ele próprio.

Suspeito:

O suspeito, por sua vez, é um mero participante processual, 1/e CPP.

O suspeito, enquanto tal, já não tem direito ao silêncio.

Nos termos do 59/2 CPP, o suspeito pode pedir para ser constituído
arguido porque, enquanto arguido, ele passa a gozar de direitos de que
não dispõe enquanto mero suspeito.

2. Vítima, lesado, ofendido e assistente:



Vítima:

A palavra “vítima” é mais usada num sentido criminológico; ela é usada
em criminologia mas não deve ser usada no processo penal.

Na versão originária no CPP de 1987, encontrávamos apenas duas vezes a


utilização da expressão “vítima”, no 1/g), a propósito do relatório social, e
também no 88/2/c), em que se estabelecia que os meios de comunicação
social não podiam publicar a identidade das vítimas de certos crimes.

Na revisão do CPP de 1988, acrescentaram-se mais duas referências à
vítima: no 82/a), que se refere à reparação da vítima em casos especiais,
e também no 271, em que se refere a possibilidade de declarações para
memória futura, no caso de vítimas para crimes sexuais.

Na revisão do CPP de 2000, após o crime de maus tratos conjugais ter
passado a ser um crime público, foi alterado o 281 CPP, que se refere à
suspensão provisória do processo.

De acordo com este instituto da suspensão provisória do processo, em
certos casos, o MP, em vez de deduzir acusação, pode suspender
provisoriamente o processo, evitando-se a ida do arguido a julgamento.

Na revisão de 2000, passou a prever-se no 281/7 que a suspensão
provisória do processo pode ser requerida pela própria vítima.

Já na revisão de 2007, acrescentou-se o nº8 ao 281, referindo-se que o
MP pode suspender provisoriamente o processo em caso de crimes sexuais
contra menores tendo em conta o interesse da vítima.

Vemos assim que, ao longo do tempo, assistimos a um crescente uso da


expressão “vítima” no CPP.

Com a Lei 130/2015 de 4 de Setembro, o legislador aditou o 67/A do CPP.


Este artigo tem como epígrafe “Vítima”: nesta lei o legislador criou aquilo
que se designa como “Estatuto da Vítima”, publicado em anexo à lei.

Esta lei pretende transpor a Directiva 2012/129 da UE.

Em Portugal sempre se reconheceu a posição do ofendido e do assistente,


por isso não faz sentido a reforma deste artigo.

A vítima não é uma figura originária do processo penal - essas figuras
são o ofendido, o lesado e o assistente.

O processo penal não existe para proteger vítimas mas sim para proteger
bens jurídicos. A sua protecção já estava assegurada pelo facto de o
ofendido se poder constituir assistente (em que necessita de pagar a taxa
de justiça, ao contrário da pessoa que aparece no processo a título de
vítima).

Esta alteração mostra ignorância por parte do legislador que cedeu
perante as associações que a defendem.

Afinal a vítima será sujeito ou assistente? A questão fica sem resposta,


porém, tende-se a dizer que é um participante que goza, pela lei, de
participação activa (que contraria a definição de sujeitos - as pessoas que
tem participação activa efectiva no processo). Este facto é causador de
uma desarmonia total do CPP.

Exemplo: 282 CPP (provas admissíveis): Há aqui uma certa hipocrisia - a
intervenção da vítima será suficiente para alterar o rumo do processo?

Lesado:

Estamos a falar normalmente de uma parte civil. O lesado não é um
sujeito do processo penal em sentido material. Ele é, quanto muito, um
sujeito formal do processo penal.

O lesado surge no processo penal porque faz um pedido de indemnização
civil fundado na prática do crime, que por via do princípio da adesão (71
CPP), é deduzido no processo penal respectivo.

O processo penal pode terminar com a condenação numa pena e
cumulativamente no pagamento de uma indemnização. Porém, o lesado
pode não ser o ofendido.

Ofendido:

O ofendido, “a vítima do crime”, surge no processo penal como um mero
participante processual. Mas o ofendido pode constituir-se assistente, nos
termos do 68/1 CPP.

Assistente:

O assistente é um verdadeiro sujeito do processo. Para que o ofendido
possa ter uma participação activa no processo ele tem que se constituir
assistente. Por exemplo, só pode requerer diligências probatórias se se
constituir assistente.

O 69 CPP estabelece a sua posição processual e respectivas atribuições.
Para se constituir assistente o ofendido tem de pagar. O regulamento das
custas judiciais prevê no seu artigo 8º que a constituição de assistente
implica o pagamento de uma unidade de conta processual (“UC” como vem
no Código). O valor desta UC está indexado ao salário mínimo.
Actualmente é de 120 euros.

B) PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL:

I. Princípios relativos à promoção processual

a) Oficialidade

b) Legalidade

c) Acusação

II. Princípios relativos à prossecução ou decurso processual

a) Da contrariedade

b) Da suficiência

c) Da concentração

III.Princípios relativos à prova

a) Da investigação

b) Da livre apreciação da prova

c) In dúbio pro reu

IV. Princípios relativos à forma

a) Da publicidade

b) Da oralidade

c) Da imediação

I. Princípios relativos à promoção processual:


a) P. da oficialidade:

Trata-se da questão de saber a quem compete a iniciativa de
investigar a prática de uma infracção e a decisão de submeter ou não
a julgamento.

O que estamos a perguntar é se esta iniciativa e esta decisão devem
caber a uma entidade pública estadual oficial, ou se devem antes
pertencer a entidades particulares, designadamente ao ofendido.

Nós entendemos o direito penal como um direito de proteção de bens


fundamentais, e que o processo penal é um assunto da comunidade
jurídica. Afirmamos, por isso, o monopólio estatual da justiça penal,
cabendo ao Estado a promoção do processo penal, independentemente
da vontade e da actuação dos particulares.

Este princípio desdobra-se em 2 momentos: No 1º momento, é a uma


entidade pública que cabe a iniciativa de investigar a prática de uma
infracção, isto é, é uma entidade pública que decide sobre a promoção
do processo penal. E, num 2º momento, é também a uma entidade
pública que cabe a decisão de submeter ou não a infracção a
julgamento.

Entre nós, essa entidade é o MP, nos termos do 219 CRP - é a ele que
lhe compete exercer a acção (a promoção do processo penal).

Assim, no 1º momento, nos termos do 48 CPP, é ao MP que compete


promover o processo penal após a aquisição da notícia do crime, nos
termos do 241 CPP, cabendo ao MP receber as denúncias, queixas e
participações e apreciar o seguimento a dar-lhes (53/2/a CPP).

No 2º momento, no final do inquérito, é também o MP que decide se
deduz acusação ou se arquiva o processo, nos termos do 276 CPP.

Deste modo, os 48 e 276 CPP concretizam ao nível legislativo o
princípio da oficialidade nos seus dois momentos.

O P. da oficialidade sofre no entanto uma limitação derivada da


existência de crimes semi-públicos e uma excepção derivada da
existência de crimes particulares.

O próprio 48 CPP ressalva o estabelecido nos 49 a 52 CPP, e o 49
CPP refere-se aos crimes semi-públicos e o 50 CPP aos crimes
particulares.

Já sabemos que quanto à sua natureza os crimes podem ser de 3


tipos: públicos, semi-público ou particulares. Veremos este tema
melhor na próxima aula.

07/04/2016

Quanto à sua natureza, os crimes podem ser de três tipos: públicos, semi-
públicos e particulares.

i) Crimes públicos:

São aqueles em que num 1º momento é o MP que decide a
promoção processual, e num 2º momento é também o MP que
decide acerca da submissão ou não da infracção a julgamento.
Em relação aos crimes públicos vale inteiramente o princípio da
oficialidade. Por exemplo, no caso de um homicídio - a vontade
do particular não tem relevância, pois está em causa a violação
do bem vida.

ii) Crimes semi-públicos:



São aqueles em que o MP só pode abrir o inquérito depois de
haver uma queixa por parte do ofendido ou de outras pessoas
referidas no 113 CP. É este artigo que estabelece quem são os
titulares do direito de queixa.

O regime dos crimes semi-públicos está previsto no 49 CPP, que
nos fala da legitimidade em procedimento dependente de
queixa.

Os crimes semi-públicos já constituem uma limitação ao


princípio da oficialidade. O MP só pode abrir o inquérito depois
de haver uma queixa, por isso, não vale o primeiro momento do
princípio da oficialidade.

Deste modo, dizemos que os crimes semi-públicos constituem
uma limitação do princípio da oficialidade no seu primeiro
momento. Porém, estes crimes constituem apenas uma limitação
a tal princípio porque, depois de haver queixa, o MP abre
inquérito, investiga e só depois é que decide se submete ou não
a causa a julgamento.

Desta feita, o MP vai dirigir o inquérito e no final do inquérito,
decide se acusa ou se arquiva. Por isso, nos crimes semi-
públicos, continua a valer o 2º momento do princípio da
oficialidade.

(Exemplo do furto do portátil).

Especificidades:

- Tem de haver queixa

- Quem decide e acusa é o MP

iii) Crimes particulares:



São aqueles em que para além da queixa é necessário que haja
também uma acusação particular. O ofendido tem de se queixar
e tem de se constituir assistente. Depois o MP abre inquérito,
investiga e no final do inquérito, o ofendido, já constituído
assistente, tem o poder de decidir se deduz ou não acusação.

Deste modo, é o ofendido que decide sobre o início da
investigação da prática do crime.

Ele tem de apresentar uma queixa e depois é também ele que,
já constituído assistente, decide se a causa segue ou não para
julgamento.

É por isso que os crimes particulares são uma excepção ao
princípio da oficialidade, dado que o afastam nos seus dois
momentos.

O regime dos crimes particulares está previsto no 50 CPP, que


se refere à legitimidade em procedimento dependente de
acusação particular. E está previsto também no art. 285 CPP*,
que nos fala da acusação particular.

*(285/3, alterado “3/7/8- alteração da lei de 2015”)



- esta matéria é fundamental em provas orais

Encontramos a questão do princípio da oficialidade em que momento? No primeiro


momento, e a resposta é MP. No segundo momento, quem tem competência para
acusar ou arquivar? A resposta é também o MP.

Se estivermos perante um crime semi-público, o primeiro momento não se revela,
é afastado, pois é preciso que o ofendido apresente uma queixa da prática do
crime. E depois da queixa dá início a um processo penal.

Por isso, são uma limitação ao primeiro momento do princípio da oficialidade.

Para os crimes particulares não vale o primeiro momento do princípio da
oficialidade. É preciso queixa. Quem é que decide se o processo continua terá de
se constituir assistente. Aqui não vale nem o primeiro nem o segundo momento do
princípio da oficialidade.

Porque é que os crimes não são todos públicos? Qual é o fundamento
para a existência de crimes semi-públicos e particulares?

1. Por vezes os crimes têm uma natureza pouco grave, ex.: ofensa à
integridade física simples; crime de furto simples ou crime de injúrias.
Nestes casos, a comunidade não sente necessidade de reagir de modo
imediato contra o infractor.

Por isso, faz-se depender o procedimento criminal de uma iniciativa
particular. Se o ofendido considerar que não há necessidade de reagir, a
comunidade considera que o assunto não deve ser apreciado num processo
penal.

Contudo, há crimes graves que não são públicos (por exemplo, os crimes
sexuais contra adultos não são crimes públicos).

2. Outras vezes, a existência de um processo-crime pode ser mais


prejudicial para a vítima do que a inexistência desse processo.

Por exemplo, num caso de injúria, a vítima pode preferir que não se saiba
que foi injuriada (crime pouco grave e que se relaciona com a privacidade
da própria pessoa); outro exemplo é o caso de furto entre parentes; por
fim, o caso dos crimes sexuais contra adultos.

Em todos estes casos, que podem até assumir uma certa gravidade, (como
é o caso dos crimes sexuais) os crimes não são públicos para que se
proteja a privacidade ou a intimidade da vítima ou do seu meio familiar.
Dizemos nós que em todos estes casos, é dada à vítima a possibilidade de
escolher, se ao mal do crime quer juntar aquilo que pode ser o mal de um
processo penal.

3. Há ainda uma outra razão que se relaciona com a ideia de


descriminalização real. Isto porque, quando os crimes não são públicos, se
não for apresentada uma queixa, na prática tudo se passa como se não
houvesse crime e os tribunais acabam por ficar mais aliviados.

Tramitação processual dos crimes particulares:

Os crimes particulares dependem de queixa e de acusação particular. Mas


quem é que apresenta queixa e quem é que deduz acusação particular?

O ofendido enquanto tal pode apresentar uma queixa, mas a acusação
particular tem de ser deduzida pelo assistente.

O ofendido que apresentou a queixa, tem de se constituir assistente para
poder deduzir acusação particular, nos termos do 285 CPP. Quando estamos
perante um crime particular, temos de ter em atenção o disposto nos 246/4 e
68/2 CPP.

De acordo com o 246/4 CPP, se o crime é particular, o ofendido, quando
apresenta a queixa, tem obrigatoriamente de declarar que se quer constituir
assistente.

De acordo com o 68/2 CPP (remeter do artigo anterior), após a declaração
da pretensão de constituição de assistente, o ofendido tem 10 dias para se
constituir assistente.

Deste modo, o ofendido queixa-se, declara que se quer constituir assistente,


constitui-se assistente no prazo de 10 dias e no final do inquérito deduz
acusação particular.

Antes de 1998, não se exigia que o particular se constituísse assistente no


prazo de 10 dias após a queixa; só tinha que se constituir assistente quando
fosse deduzir acusação particular.

Mas o MP e as polícias, aperceberam-se de um problema: muitas vezes, o
ofendido apresentava queixa, o MP abria inquérito, investigava e depois deste
trabalho, o ofendido acabava por se desinteressar do processo (porque, por
exemplo, se apercebia que a constituição de assistente implica um pagamento
e nestes casos, no final do inquérito, ninguém deduzia acusação particular).
Perdia-se assim tempo, dinheiro e justiça.

Por isso, desde 1998, e de acordo com o disposto nos actuais 246/4 e 68/2
CPP, o MP só abre inquérito e só inicia verdadeiramente as investigações
depois de o ofendido ter apresentado queixa e se ter constituído assistente.
Em termos teóricos isto não faz sentido (não faz sentido que o MP só
comece as investigações depois de haver um assistente), mas esta foi a
solução encontrada para fazer face ao referido dispêndio desnecessário de
meios.

(Em 1998 o CPP teve várias alterações).

Nos crimes particulares, quem deduz a acusação é o assistente. Nestes casos,


o MP pode acompanhar a acusação particular, acusando, pelos mesmos
factos, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração
substancial daqueles - isto resulta do 285/4 CPP.

Nos crimes públicos e semi-públicos, o MP é que deduz a acusação. Nestes
casos, o assistente também pode deduzir acusação, pelos factos acusados
pelo MP, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração
substancial daqueles (284/1 CPP).

Quem é que decide àcerca da natureza de um crime?

É o legislador.

Se, no tipo legal de crime (implica necessariamente o CP) ou nos artigos
seguintes, nada se disser quanto à natureza/procedimento do crime, então
o crime é público - pex, 131 CP.

Se no tipo legal de crime ou nos artigos seguintes, o legislador disser que


o procedimento de crime depende de queixa, então o crime é semi-
público. É o que acontece no tipo legal de crime de ofensa à integridade
física (143/2 CP); tipo legal de crime de furto (203/3 CP); dano (212/3 CP)
e crimes sexuais contra adultos (163 ss e 178 CP) *nota: nestes últimos há
aqui uma especificidade que remonta a 2015.

Se no tipo legal de crime ou nos artigos seguintes o legislador disser que


o procedimento dependente acusação particular, tal significa que o crime
é um crime particular. Nestes casos, não podemos esquecer que antes da
acusação particular tem que haver uma queixa e a constituição de
assistente. Exemplo: o furto entre parentes (207 CP); e os crimes de
difamação e injúria (180 e 181 + 188 CP) (isto sai muitas vezes em exame).

Caso Prático:

A Sra A inesperadamente aproximou-se da Sra B gritando: “Sua lambisgóia, sua
mentirosa, sua caloteira, paga-me o que deves!”.

B mal conhecia A. Eram de facto vizinhas, mas nunca tinham dirigido uma à
outra mais do que um “Bom dia”.

Partindo do princípio que A preencheu com a sua conduta o crime de injúria (181
CP), diga o que tem de fazer B para que A seja julgada e esclareça qual a
tramitação do processo no caso.

Resolução:

Trata-se de um crime particular, o que resulta do 181, conjugado com o 188 CP,
não valendo aqui o princípio da oficialidade.

Começamos com o 50 CPP, que nos descrimina o processo dos crimes
particulares.

Tem de haver apresentação de queixa (113 CPP: titulares do direito de queixa).

Aqui, deve declarar que se quer constituir assistente (246/4 CPP).

A partir daqui começa a contar o prazo de 10 dias para se constituir assistente


(68/2 CPP). Só neste momento é que se abre o inquérito, pela mão do MP.

No fim do inquérito, o MP notifica o assistente para se ele quiser deduzir
acusação particular (285/1 CPP).

A partir deste momento começa a contar o prazo para deduzir acusação


particular (10 dias). Se ele nada fizer, o processo termina. Caso contrário, terá
de deduzir acusação particular (285 CPP).

Posteriormente, começa a contar um outro prazo (de 5 dias), em que o MP pode
acompanhar a acusação do particular (285/4 CPP). Neste momento terminou o
inquérito.

Tendo existido acusação, podemos passar diretamente para julgamento ou


podemos ter a fase de instrução, requerida pela Sra A, nos termos do 287/1/a
CPP.

A partir daqui, (do momento em que termina o inquérito) já não há distinção
entre o tipo de crime (se é crime público, semi-público, ou particular).

O importante destas distinções é a fase até ao fim do inquérito.

Nota: Devemos ressalvar a situação antes de 1998.

14/04/2016

Qual é a diferença entre queixa e denúncia?

Queixa e denúncia não são a mesma coisa - o conceito de denúncia é mais


amplo, e a queixa é uma forma de denúncia. Isto é, todas as queixas são
denúncias mas nem todas as denúncias são queixas.

As duas visam crimes públicos e semi-públicos; a denúncia pode ser feita por
qualquer pessoa, mas a queixa só pode ser apresentada pelos titulares do
direito de queixa (113 CP). Em regra, a queixa tem de ser apresentada no prazo
de 6 meses a contar da data em que o particular tiver tido conhecimento dos
factos e autores (115 CP).

Quem são os titulares do direito de queixa?



O 113 CP elenca diversas hipóteses:

1) Por regra, o titular do direito de queixa é o ofendido;

2) Pode acontecer que o ofendido venha a morrer sem ter apresentado a
queixa - neste caso, os titulares passam a ser os elencados no 113/2 CP

3) Há pessoas que não são titulares de direito de queixa devido à idade,
pois só a partir dos 16 anos é que se adquire essa capacidade. Deste modo, no
caso de o ofendido ser menor de 16 anos, a queixa deve ser apresentada pelo
seu representante legal (113/4 CP ?), e na falta de representante, deve ser
apresentada pelas pessoas do 113/2 CP

4) Há duas situações em que, apesar de o crime não ser público, o MP
pode dar início ao processo mesmo sem queixa, sempre que o interesse do
ofendido assim o aconselhar: - … quando o ofendido for menor de 16 anos ou
não possuir discernimento para entender o
alcance e significado do direito de queixa
(113/5/a CP)

- … nos casos em que o direito de queixa não
puder ser exercido porque a sua titularidade
caberia apenas ao agente do crime, isto é, o
titular do direito de queixa é o próprio agente
do crime.

5) Desde 2007 há ainda outra possibilidade, no caso de um ofendido ser
menor de 16 anos, se a queixa não for apresentada pelo titular do direito de
queixa (113/4 CP), nem o MP tiver dado início ao processo nos termos do 113/5/a
CP; então o ofendido pode apresentar queixa a partir da data em que fizer 16
anos (113/6 CP) e tem um período de tempo alargado - até 6 meses a contar da
data em que perfizer 18 anos (115/2 CP).

NOTA IMPORTANTE: Desde 2007, os crimes sexuais contra crianças passaram a
ser públicos, logo já não é preciso convocar o 113 CP (direito de queixa). Este
artigo deixou, como tal, de fazer algum sentido nestes casos, porque não é
preciso apresentar a queixa.

Desistência da queixa:

Nos crimes semi-públicos e particulares pode haver desistência da queixa e/ou
da acusação particular até à publicação da sentença da 1ª instância (116/2 e 117
CP).

O regime da desistência está previsto no 51 CPP e, nos termos do 51/3 CPP, o
arguido pode opôr-se à desistência da queixa.

O disposto no 116/4 CP é uma novidade de 2007. Nos termos desta norma, depois
de fazer 16 anos o ofendido pode vir ao processo opôr-se à sua continuação nos
casos em que a queixa tiver sido apresentada pelo representante legal (113/2
CP), e também nos casos em que o MP tiver dado início ao procedimento. Não se
trata aqui de uma verdadeira desistência, mas sim de uma oposição à
continuação do processo.

Em relação a certos tipos de crimes (violência doméstica e crimes sexuais, por
exemplo), o legislador teve algumas incertezas, por isso estes crimes têm
sofrido alterações quanto à sua natureza.

Por exemplo: Em 1982, o crime de maus-tratos conjugais era público, mas
na revisão de 1995 alargou-se aos unidos de facto e passou a semi-
público; já na revisão de 1998, o crime continuou a ser semi-público, mas
o MP podia dar início ao processo independentemente de queixa se o
crime assim o impusesse; em 2000 passou a ser de novo um crime
público, e em 2007 passou a designar-se “violência doméstica” (152 CP), e
manteve-se público.

Quanto aos crimes sexuais contra menores, até 1995 eram semi-públicos,
em 1995 continuaram a depender de queixa mas o MP podia dar início ao
processo se o interesse do ofendido assim o impusesse - nestes casos
dizia-se que o crime tinha natureza atípica, pois não era público nem
semi-público. E porque é que até 2007 foram semi-públicos? Porque
estava em causa a intimidade da vítima e, por outro lado, justificava-se
com os prejuízos que o processo penal podia acarretar para o
desenvolvimento da personalidade dos menores. Desde 2007 que são
públicos, só sendo semi-público o crime actos sexuais contra adolescentes
(178/2 CP). Esta natureza pública resultou também de uma decisão-quadro
europeia de 2003, relativa à luta contra a exploração sexual de crianças
e exploração infantil.

Os crimes sexuais contra adultos sempre foram semi-públicos, mas com a
Lei 83/2015 de 8 de Agosto, alterou-se o 178 CP e acrescentou-se o
actual nº2 no caso de crime de coacção sexual e violação contra adultos.
Aqui o MP pode dar início ao processo, independentemente de queixa,
sempre que o interesse da vítima o aconselhar. Esta alteração resultou da
Convenção de Istambul através de convenção da AR, que foi uma
convenção de prevenção e combate à violência doméstica e contra a
mulher (55 CPP ?).

I. Princípios relativos à promoção processual:


b) P. da legalidade:

No princípio da oficialidade, falou-se de quem é a competência para dar

início ao processo.

No princípio da legalidade vamos questionar se, na sua actuação, o MP é

livre de decidir se abre ou não o processo, e se é livre de decidir no final

se deduz ou não acusação - A nossa resposta é que NÃO, o MP não é

livre nestas decisões, pois entre nós vale, precisamente, o princípio da

legalidade. Esta questão decompõe-se em 2 momentos:

1º momento: Sempre que adquire a notícia do crime (241 CP), o MP
está pbrigado a abrir inquérito (262/2 CP);

2º momento: Sempre que tiver recolhido indícios suficientes de se ter
verificado um crime, o MP está obrigado também a abrir inquérito
(283/1 CP); E quando é que há indícios suficientes? Quando a
condenação for mais provável que a absolvição (283/2/3 CP).

19/04/2016 (3ª feira)

O 262/2 CPP diz: “Ressalvadas as excepções previstas neste Código, a notícia de um
crime dá sempre lugar à abertura de inquérito”.

Que excepções são essas?



1ª Excepção: Uma das excepções é constituída pelos crimes semi-públicos e
particulares. Nestes casos, a notícia do crime só dá lugar à abertura de inquérito se
existir uma queixa. Deste modo, a notícia do crime por si só não dá lugar, de imediato, à
abertura do inquérito.

2ª Excepção: A outra excepção está relacionada com o regime das denúncias anónimas.

Este regime está previsto no 246/6/7/8 CPP. Estes números foram introduzidos no CPP
na revisão de 2007, e, nos termos do nº6, a denúncia anónima só dá lugar à abertura
de inquérito se dela se retirarem indícios da prática do crime, ou se a própria denúncia
constituir um crime.

É o que acontece nos casos de denúncia caluniosa (365 CP), bem como nos casos de
simulação de crime (366 CP).

Deste modo, no caso de uma denúncia anónima, nem sempre a notícia do crime dá lugar
à abertura de um inquérito.

O princípio da oficialidade e o princípio da legalidade são diferentes.



Pode ser o MP a promover o processo e a deduzir acusação, isto é, pode vigorar no
sistema o princípio da oficialidade, mas o MP ser livre de abrir ou não o inquérito, e de
deduzir ou não acusação; e por isso, nesse sistema não vigorará o princípio da
legalidade.

Por exemplo, nos sistemas anglo-saxónicos, o princípio da oportunidade tem uma grande
relevância.

De acordo com este princípio da oportunidade, o MP decide abrir ou não o inquérito, e
decide acusar ou arquivar, de acordo, por exemplo, com considerações de ordem política,
financeira ou social.

No entanto, entre nós, além do princípio da oficialidade, vale tambem o princípio da
legalidade.

Não vale entre nós o princípio da oportunidade em termos genéricos. Entende-se que o
princípio da legalidade conduz ao princípio da igualdade na aplicação da lei.

Entre nós, o MP não pode decidir se dá ou não início a um processo, ou decidir se acusa
ou arquiva, segundo critérios de conveniência - isto poderia conduzir a um arbítrio na
aplicação da lei. É por isso que se diz que o princípio da legalidade tem matriz
constitucional, no 13 CRP.

Deste 1997, a CRP consagra expressamente o princípio da legalidade enquanto princípio
de actuação do MP no exercício da acção penal (219 CRP).

Claro que, na sua actuação, o MP está sempre vinculado ao princípio geral da legalidade,
isto é, a actividade do MP desenvolve-se de acordo com a vinculação à lei.

Mas não é a isto que nos referimos quando falamos do princípio da igualdade enquanto
princípio de promoção processual - este tem um sentido específico e desdobra-se
naqueles dois momentos que vimos atrás.

Ainda dentro do princípio da legalidade, vamos ver as consequências ou decorrências
dele:

1ª Consequência: Uma consequência do facto de valer entre nós o princípio da
legalidade são os casos de denúncia obrigatória, referidos no 242 CPP.

Por regra, entre nós, a denúncia é facultativa (244 CPP), isto é, qualquer pessoa que
tiver a notícia do crime PODE denunciá-lo.

No entanto, a denúncia é obrigatória para as entidades policiais quanto a todos os
crimes de que tomarem conhecimento, e para os funcionários na acepção do 386 CP,
quanto aos crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas funções e por
causa delas.

Este dever de denúncia que impende sobre certos funcionários poderá conflituar com
outros deveres que sobre eles impendem, designadamente com o dever de segredo.

2ª Consequência: Outra consequência é o princípio da imutabilidade da acusação


pública. A acusação pública não pode ser retirada a partir do momento em que é
deduzida, isto é, a partir do momento em que o tribunal for chamado a decidir a
questão. Não pode, por isso, haver renúncia ou desistência da acusação.

Este princípio só vale em relação aos crimes públicos; não vale em relação aos semi-
públicos nem particulares, nos termos dos 116 CP e 51 CPP.

E como é que se sabe se o MP cumpre ou não o princípio da legalidade?



Desde logo, quando o MP não cumpre o princípio da legalidade, há a possibilidade de
responsabilidade disciplinar do magistrado do MP, por violação dos seus deveres
profissionais. Além disso, há também a possibilidade de responsabilizar criminalmente o
magistrado, nos termos do 369 CP, pela prática do crime de denegação de justiça e
prevaricação.

Há ainda outros dois mecanismos de controlo da decisão do MP quanto à acusação ou


arquivamento. Desde logo temos o controlo judicial, através do requerimento para a
abertura de instrução (287 CPP). Além disso, temos ainda a possibilidade de controlo
hierárquico, quando for proferido um despacho de arquivamento e a instrução não for
requerida (278 CPP).

Concluindo, para controlar o cumprimento do princípio da legalidade, temos a


possibilidade de responsabilidade disciplinar, a possibilidade de responsabilidade criminal,
a possibilidade de um controlo judicial através da fase de instrução, e ainda a
possibilidade de controlo hierárquico. Todos estes mecanismos servem efectivamente para
controlar a actuação do MP em relação ao 2º momento do princípio da legalidade.

Mas como podemos controlar a actividade do MP quando ele adquire a notícia do crime
e não abre um inquérito? Na verdade, o controlo é mais visível e efectivo quanto ao

2º momento. Quanto ao 1º momento, poderá haver sempre responsabilidade disciplinar, e
pode dizer-se que há também um controlo político, porque o PGR é nomeado pelo poder
político.

Vamos agora ver quais os desvios ao princípio da legalidade:

São o arquivamento em caso de dispensa de pena, que está previsto no 280 CPP, e a
suspensão provisória do processo, que está no 281 CPP. Normalmente o inquérito termina
com um despacho de arquivamento (277 CPP), ou de acusação (283 CPP), e os institutos
previstos nos 280 e 281 CPP surgem como alternativas ao despacho de acusação.

Nestes casos, o MP recolheu indícios suficientes de se ter verificado o crime e de quem
foi o seu agente, e, em vez de acusar, vai aplicar um destes institutos - eles surgem
como ALTERNATIVAS ao despacho de acusação! (Isto é muitas vezes perguntado!)

Características comuns aos dois institutos:


1ª característica: São institutos que dão expressão a uma certa ideia de oportunidade, e
por isso quebram o tradicional monopólio do princípio da legalidade;

2ª característica: Estes mecanismos são vistos como mecanismos de diversão: no direito


penal substantivo, nós falamos de discriminalização, e no plano do direito processual
penal (ou adjectivo), já falamos de diversão.

Isto quer dizer que vamos resolver o conflito fora do sistema formal de aplicação da
justiça penal. Aplicar uma forma divertida significa que vamos aplicar uma forma
diferente da normal. Note-se que a decisão de aplicação destes institutos não é
susceptível de impugnação (280/3 e 280/6 CPP), nem é susceptível de controlo judicial
nem de intervenção hierárquica, porque aquelas decisões pressupôem necessarimente a
concordância do juíz de instrução;

3ª característica: Trata-se de institutos que valem apenas para os casos de pequena e


média criminalidade (puníveis com pena de prisão até 5 anos). O nosso CPP faz um
tratamento diferenciado entre pequena e média criminalidade por um lado, e
criminalidade grave, por outro.

Isto acontece também, como veremos, em relação à determinação da competência do
tribunal, e em relação aos efeitos de uma confissão. No entanto, esta característica da
referência à pequena e média criminalidade tem vindo a ser posta em causa devido às
alterações sofridas pelo 281 CPP;

4ª característica: Trata-se de soluções consensuais. Para que estes institutos sejam


aplicados, tem dehaver um acordo entre os variso sujeitos processuais.

Arquivamento em caso de dispensa de pena - características próprias (280 CPP):


Se estiverem reunidos os pressupostos da dispensa de pena (74 CP), o MP, em vez de


deduzir acusação, pode arquivar o processo, nos termos do 280 CPP.

A ideia é a seguinte: se, no final, o processo vai acabar com uma dispensa de pena,
então o melhor será pôr fim ao processo logo no fim do inquérito.

Estão aqui presentes razões pragmáticas de economia e celeridade processual.

Mas há também outras razões mais nobres que justificam este instituto, relacionadas
com as exigências de prevenção geral e especial - entende-se que este arquivamento é
suficiente para acautelar as exigências de prevenção.

Para além disso, evita-se a ida do arguido a julgamento, evitando-se aquilo que Garfinkel
designou por “cerimónia degradante”, obtendo-se por isso ganhos ao evitar-se uma
estigmatização desnecessária do arguido.

Para que o MP possa arquivar o processo em caso de dispensa de pena no final do


inquérito, ele tem de ter a concordância do juiz de instrução (280/1 CPP).

Mas pode acontecer que o processo prossiga para a fase de instrução, e só neste
momento o juíz se aperceba que se trata de um caso de dispensa de pena. Neste caso, o
juíz de instrução pode arquivar o processo em caso de dispensa de pena, com a
concordância do MP e do arguido (280\2 CPP).

Quando o arquivamento em caso de dispensa de pena se aplica em fase de instrução, é


preciso concordância do arguido porque sobre ele impende um despacho de acusação.

Ele tem direito ao processo, e pode querer que este prossiga para que ele seja declarado
inocente. Todo este regime fazia sentido até 2007, quando o inquérito era uma fase
secreta - ou seja, não era necessário perguntarmos ao arguido, no final de um inquérito
secreto, se ele concordava com o arquivamento em caso de dispensa de pena.

Mas desde 2007, como o processo penal é público desde o início, podíamos questionar se
não seria mais adequado exigir também a concordância do arguido para o arquivamento
em caso de dispensa de pena logo no final do inquérito.

De qualquer modo, como se trata de uma solução que exige o consenso dos vários
sujeitos processuais, uma vez tomada a decisão de arquivar o processo em caso de
dispensa de pena, não é possível recorrer desta decisão (280/3 CPP).

Suspensão provisória do processo - características próprias (281 CPP):



No caso de se verificarem os pressupostos previstos neste artigo, o MP determina a
suspensão provisória do processo durante um certo prazo, impondo ao arguido certas
injunções e regras de conduta.

Para que se aplique a suspensão provisória do processo, é necessário o consenso entre o
MP, o juíz de instrução, o assistente e o arguido (281/1 CPP).

Havendo este consenso, uma vez tomada a decisão de suspender provisoriamente o
processo, não há possibilidade de recorrer desta decisão (281/6 CPP).

A lei exige o acordo do assistente, se houver assistente constituído no processo, mas no
caso de não haver, isso não impede a aplicação do instituto da suspensão provisória do
processo.

PARA A PRÓXIMA SEMANA:



- Ler o 281 CPP

- Ler o Acórdão STJ 16/2009, publicado no DR a 29 Dezembro de 2009

- Ler o Acórdão TC 101/2016, publicado no DR 2ª série, a 29 Março

28/04/2016

[Continuação da Suspensão Provisória do Processo]


IMPOSIÇÃO DE INJUNÇÕES E REGRAS DE CONDUTA:



A aplicação da suspensão provisória do processo implica sempre a imposição de injunções
e regras de conduta, e por isso a SPP (sigla) é um processo de diversão e de
intervenção. Em caso de suspensão de pena temos um processo de diversão simples.

Injunções: São obrigações que podem ser cumpridas de forma instantânea, e
extinguem-se pelo seu cumprimento;

Regras de conduta: São obrigações de cumprimento continuado de carácter
positivo ou negativo.

A duração da suspensão do processo não excede, por norma, 2 anos (282/1 CPP).

Se, durante a SPP, o arguido cumprir as injunções e regras de conduta, o MP arquiva o
processo (282/3 CPP).

Se o arguido não as cumprir ou se cometer um crime da mesma natureza pelo qual
venha a ser condenado, o processo prossegue, isto é, o MP deduz acusação e o processo
segue para julgamento (282/4 CP).

Pode acontecer também que a SPP seja aplicada pelo juíz do julgamento (307/2 CPP).

Os institutos “Arquivamento do Processo” e “Suspensão Provisória do Processo” serão


verdadeiras manifestações do princípio da oportunidade, ou actuarão ainda dentro
do princípio da legalidade?

O MP é livre ou não de aplicar estes institutos? Ou tem o dever de os aplicar desde que
estejam verificados os pressupostos?

Se o MP acusar ou arquivar (em termos normais), pode haver lugar a controlo
hierárquico ou judicial.

Se, em vez de acusar, o MP optar por aplicar os 280 e 281 CPP, vai haver um controlo
através do juíz de instrução.

Mas haverá controlo quando o MP podia aplicar a SPP e o arquivamento, quando se


verifiquem os pressupostos?

Na verdade, não há um mecanismo na lei que permita controlar os casos em que o MP
devia aplicar esses institutos; em vez disso, deduz acusação. Neste último caso, pode ser
requerida a abertura de instrução com a finalidade de se aplicar estes institutos.

Mas na fase de instrução será também necessária a concordância do MP.

Além disso, o juíz de instrução pode decidir não aplicar estes institutos e proferir um
despacho de pronúncia.

Tendo havido uma acusação do MP e posteriormente uma pronúncia do juíz de instrução,
não é possível recorrer-se desse despacho de pronúncia.

Deste modo, podemos concluir que não existe um verdadeiro controlo dos casos em que,
podendo aplicar estes institutos, eles não são aplicados, e por isso concluímos que não
são institutos que actuam dentro do princípio da legalidade, havendo uma margem de
oportunidade (e não havendo um puro princípio da oportunidade).

Directiva da SPP - importante em exame:

(Artigo “Consenso e oportunidade”, de Costa Andrade)



Segundo o Dr. Costa Andrade, os 280 e 281 CPP não são manifestações de oportunidade;
são antes manifestações de um princípio de legalidade aberta, pois quando o MP aplica
estes institutos, não está a prosseguir um programa político-criminal previsto na lei
penal substantiva.

Este autor entende então que, em relação a estes institutos, estamos perante uma
legalidade aberta a um programa político-criminal assente no carácter subsidiário e
intervenção de última ratio do Direito Penal.

Os casos especiais de SPP (281/7/8 CPP):


O actual nº7 foi introduzido em 2000, quando o crime de maus-tratos conjugais passou
a ser público, e o actual nº8 foi introduzido em 2007. No caso destas duas normas, a
SPP pode demorar até 5 anos, sendo que a SPP aqui prevista não partilha das ideias da
SPP prevista originariamente no 281 CPP.

Na verdade, a SPP prevista nos nºs 1 a 6 do 281 é um instituto que confere uma
especial atenção aos interesses do arguido, dado que se pretende alcançar a
ressocialização, ou, pelo menos, a não dessocialização do arguido.

A SPP, nos crimes de violência doméstica e contra menores, afirma-se como um instituto
que tem em conta os interesses da vítima - ela surge, nestes casos, como uma válvula
de escape do sistema, tendo em conta a natureza pública destes crimes. Houve já quem
dissesse que a SPP funciona como um sucedâneo da desistência de queixa. Há dúvidas
quanto à questão de saber se a articulação entre a SPP e a natureza pública destes
crimes constituirá o modo mais adequado para harmonizar os interesses em conflito.

Outra questão importante em relação aos 280 e 281 CPP:



Poderão estes institutos aplicar-se no caso de crimes semi-públicos e crimes
particulares?

No caso de crimes semi-públicos: Se quem deduz acusação é o MP, naturalmente
que ele pode aplicar qualquer um destes institutos;

No caso de crimes particulares: Se o assistente não pretender acusar, é claro que o MP
não pode aplicar os institutos dos 280 e 281 CPP; se o assistente pretender acusar, a
aplicação do 281 CPP não suscita muitas dúvidas, porque o assistente tem de dar a
concordância com a SPP; contudo, em relação ao instituto do 280 CPP, a lei já não exige
o consentimento do assistente, por isso aqui podem surgir dúvidas.

Na verdade, quando o assistente deduz acusação, ele está a manifestar a sua intenção
de levar o arguido a julgamento. Todavia, nada obsta a que o arguido requeira a
abertura de instrução, e o juíz de instrução acabe por proferir um despacho de não
pronúncia, ou seja, mesmo no caso de crime particular, o facto de o assistente deduzir
acusação não significa necessariamente que a sua pretensão de levar o arguido a
julgamento se concretize.

Por isso, há quem defenda que a razão de ser do 280 CPP se mantém mesmo no caso de
se tratar de um crime particular - é esta a opinião de MJA, mas não é unânime!

Podemos concluir que os institutos dos 280 e 281 CPP são alternativas, quer à acusação
do MP, quer à acusação particular.

I. Princípios relativos à promoção processual:


b) P. da acusação:

A entidade que investiga e acusa deve ser diferente da entidade que julga. Este
princípio tem consagração constitucional (32/5 CRP). Esta mesma norma estabelece que
o processo penal tem estrutura acusatória, não esquecendo que esta e o princípio da
acusação não são a mesma coisa: o princípio da acusação é apenas uma característica
do processo de estrutura acusatória - não há estrutura acusatória sem princípio da
acusação.

A estrutura acusatória supõe ainda a participação constitutiva dos vários sujeitos
processuais na declaração do direito ao caso concreto.

03/05/2016

Qual a razão de ser do princípio da acusação?



Na base da afirmação do princípio da acusação estão presentes razões atinentes à
objectividade e imparcialidade da decisão final.

De acordo com este princípio, a entidade que julga a infracção não teve funções
anteriores de investigação nem de acusação. Entre nós, a entidade que investiga e acusa
é o MP - tal decorre dos 48, 241, 262, 263 e 276 CPP.

A entidade que julga será, pois, o juíz - isto resulta dos 8, 13, 14, 16, 311, 358 e 359,
entre outras, do CPP.

Entre nós há, assim, uma distinção de tarefas e de fases.

Quando é que se realizam a investigação e acusação? Na fase de inquérito, enquanto
que a tarefa de julgar se realiza na fase de julgamento.

Mas entre nós, há ainda uma distinção de magistraturas - em abstracto, seria admissível
que o juíz de instrução investigasse e acusasse, e depois o juíz do julgamento julgasse;
teríamos aqui duas entidades distintas, e por isso estaria cumprido o princípio da
acusação.

Porém, não é este o modelo do nosso processo penal - o nosso CPP estabelece também
uma distinção entre magistraturas, como já dissemos, e a própria CRP, no seu 219,
dispõe que a acção penal cabe ao MP.

Deste modo, quando a CRP estabelece, no seu 32/5, que o processo penal tem estrutura
acusatória, não podemos esquecer-nos de convocar sempre também o disposto no

219 CRP.

Vamos ver agora os impedimentos e suspeições:



O princípio da acusação é ditado por razões de imparcialidade e objectividade, e a
matéria dos impedimentos e das suspeições, prevista nos 39 ss CPP, está também
relacionada com razões de imparcialidade e objectividade.

Os impedimentos estão previstos no 39 CPP, de forma objectiva e taxativa. Sempre que


se verificar uma das circunstâncias nele previstas, o juíz ficará desde logo impedido de
intervir no processo. Porém, o legislador não tem capacidade para prever todas as
situações da vida que possam pôr em causa a imparcialidade do juíz; por isso, além dos
impedimentos, o legislador criou a figura das suspeições.

As suspeições estão previstas no 43 CPP, e são compostas pelas recusas e pelas escusas.
O 43 CPP surge assim como uma cláusula geral que pode levar ao afastamento do juíz.

Qual a diferença entre uma recusa e uma escusa?



A escusa acontece quando é o próprio juíz que pede ao tribunal que o escuse de
intervir, nos termos do 43/4 CPP; por seu turno, a recusa acontece quando são os outros
sujeitos ou participantes processuais que levantam a suspeição, nos termos do 43/3 CPP.

Importante dizer ainda que estas normas sobre impedimentos e suspeições não valem só
para os juízes; valem também para os magistrados do MP (54 CPP), e ainda para os
peritos, intérpretes e funcionários da justiça (47 CPP).

Mas, além do 39 CPP, temos ainda o 40 CPP, que prevê certos impedimentos por causa
de intervenções anteriores do juíz no mesmo processo.

Notas sobre o 40 CPP:


1- Nos termos da alínea b), o juíz que tiver presidido ao debate instrutório fica
impedido de participar no julgamento; se ele presidiu a esse debate e se o processo
seguiu depois para julgamento, tal significa que o juíz de instrução proferiu despacho de
pronúncia, o que quer dizer que ele conheceu o objecto do processo, e por isso já tem
pré-juízos em relação ao caso.

Deste modo, o legislador entende que esse juíz deve ficar impedido de participar no
julgamento do mesmo caso.

2- Nos termos da alínea a), não pode intervir em julgamento, recurso ou pedido de
revisão, o juíz que tiver aplicado uma das medidas de coacção previstas nos 200 a 202
CPP. Ou seja, o juíz que tiver aplicado a proibição e imposição de condutas (200), a
obrigação de permanência na habitação (201), ou a prisão preventiva (202), não poderá
vir a ser o juíz de julgamento.

E porque é que o legislador só se refere a estas três medidas de coacção e não se
refere a todas as outras? A resposta reside no facto de estas três medidas de coacção
só poderem ser aplicadas quando houver fortes indícios da prática do crime. É o juiz
que aplica estas medidas de coacção que tem de averiguar se estão ou não presentes
estes fortes indícios - por isso o legislador considera que esta averiguação implicará um
conhecimento profundo do processo por parte do juíz; deste modo, a lei presume que a
imparcialidade do juíz seria posta em causa se ele interviesse posteriormente no
julgamento no processo.

Conclusões ainda em relação a este artigo:


Quando o juíz participa no processo enquanto juiz de instrução, ou seja, quando ele
intervém ou na fase de inquérito ou na fase de instrução, ele só ficará impedido de
participar no julgamento do mesmo processo nos casos previstos nas alíneas a), b) e e)
do 40 CPP.

Quanto a outros actos isolados que o juíz tenha praticado, ordenado ou autorizado,
funcionará não o regime dos impedimentos, mas sim o regime das suspeições, nos termos
do 43 CPP.

Entende-se, e bem, que nem todos os actos praticados pelo juíz de instrução em fases
anteriores do processo põem necessariamente em causa a sua imparcialidade enquanto
juíz de julgamento. É o que acontece, pex, quando o juíz de instrução aplica uma
medida de coacção diferente das referidas na alínea a) do 40 CPP, ou ainda quando ele
autoriza a realização de uma escuta telefónica. Em todos estes casos funcionará o
regime das recusas e escusas.

Entende-se que o juíz de instrução, enquanto juíz das liberdades, só deve ficar afastado
da participação no julgamento quando a sua intervenção processual prévia tiver
verdadeiramente contendido com o objecto do processo.

NOVA MATÉRIA - Regras quanto à recorribilidade do despacho

do juíz de instrução:

A fase de instrução termina com um despacho de pronúncia ou de não pronúncia



(307 CPP). Se até ao encerramento da instrução, o juíz tiver recolhido indícios que
tornem provável a condenação, profere um despacho de pronúncia; caso contrário,
profere um despacho de não pronúncia (308 CPP).

E como é que se pode reagir contra uma decisão de pronúncia ou de não pronúncia?
Uma vez que estamos perante uma decisão de um juíz, a forma de reacção será através
de recurso. Entre nós, um dos princípios válidos em sede de recursos é o princípio da
recorribilidade, que significa que é permitido recorrer de todas as decisões cuja
irrecorribilidade não esteja expressamente prevista na lei (399 CPP).

E há certos casos em que a lei estabelece expressamente a impossibilidade de recurso, e


um deles refere-se à irrecorribilidade da decisão instrutória (pronúncia ou não
pronúncia) em certas situações:

Em relação à decisão instrutória, podemos distinguir 4 situações:

1ª situação: O MP acusa o arguido, o arguido requer a abertura de instrução, e o juíz
de instrução pronuncia (acusação + pronúncia)

2ª situação: O MP acusa o arguido, ele requer a abertura de instrução, mas o juíz não
pronuncia (acusação + não pronúncia)

3ª situação: O MP arquiva o processo, o assistente requer a abertura de instrução, e o
juíz de instrução pronuncia (arquivamento + pronúncia)

4ª situação: O MP arquiva, o assistente requer abertura de instrução, mas o juíz de
instrução não pronuncia (arquivamento + não pronúncia)

Na 1ª destas 4 situações, não pode haver recurso do despacho de pronúncia:



O 310/1 CPP estabelece expressamente que a decisão instrutória que pronunciar o
arguido pelos factos constantes da acusação do MP, formulada nos termos do 283 CPP, é
irrecorrível.

E porque é que é assim? Porque temos duas decisões de duas magistraturas distintas no
mesmo sentido. Há uma concordância entre elas, como tal entende-se que não se
justifica o recurso.

Está aqui presente uma ideia de celeridade, não se esquecendo também que o arguido
tem ainda a fase de julgamento para exercer o seu direito de defesa.

Porém, em todas as outras situações, a decisão instrutória é recorrível, mas na última


situação (arquivamento + não pronúncia), também temos uma concordância entre as duas
magistraturas e é possível recurso! Porquê?

Porque, neste caso, a última decisão tomada é uma decisão de não pronúncia. Nos casos
previstos no 310/1 CPP, em que há uma acusação e uma pronúncia, a causa seguirá para
julgamento, mas, quando há um arquivamento e uma não pronúncia, se não fosse possível
recurso do despacho de não pronúncia, esta decisão tornar-se-ia a decisão final do caso.

Há até quem diga que, se neste caso não fosse possível recorrer, estaríamos a violar o
princípio do juíz natural. Mª João Antunes salienta no entanto que, também no caso em
que há um arquivamento e uma não pronúncia, continua a valer a razão que justifica a
irrecorribilidade, ou seja, existe um juízo concordante entre as duas magistraturas
diferentes. Deste modo, também neste caso, nada impedirá que se defenda a solução da
irrecorribilidade. Contudo, esta é a opinião de Mª João Antunes - não está assim na lei.

E se, no caso, se tratar de um crime particular em que o assistente deduz acusação


particular, o arguido requer a abertura de instrução, e o juiz de instrução pronuncia?
Deve ou não deve este despacho de pronúncia ser recorrível?

Neste caso, também temos duas decisões no mesmo sentido, mas não se trata de duas
decisões de magistraturas diferentes, porque a acusação foi feita pelo assistente, que
não tem de pautar a sua actuação por critérios de legalidade e objectividade, que
pautam a actuação do MP.

Então deve ou não deve haver recurso?



Esta questão era muito discutida anteriormente e, em 2007, o legislador veio dar
resposta a este problema da seguinte forma:

Nos casos de crimes particulares, tendo havido uma acusação do assistente, o despacho
de pronúncia será recorrível, excepto se o MP acompanhar a acusação do assistente, nos
termos do 285/4 CPP. Isto está expressamente dito no 310/1, desde 2007. Neste caso, no
fundo, voltamos a ter um acordo entre as duas magistraturas.

NOVA MATÉRIA - MEDIDAS DE COACÇÃO:

As medidas de coacção são meios processuais que vão limitar a liberdade do arguido
para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos. Existe um
catálogo taxativo de medidas de coacção, descritas nos 196 ss CPP, por uma ordem
crescente de gravidade.

As medidas de coacção são aplicadas a um arguido, que, além de ser sujeito do processo,
é também o objecto de aplicação das medidas de coacção (60/1ª parte e 61/3/d CPP).

O 192/1 CPP estabelece expressamente que a aplicação de medidas de coacção depende
da prévia constituição como arguido; por isso nunca pode ser aplicada uma medida de
coacção a um suspeito.

As medidas de coacção estão directamente relacionadas com duas das finalidades do


processo penal - são elas a realização da justiça e a obtenção da verdade, por um lado,
e o restabelecimento da paz jurídica, por outro.

Mas não podemos esquecer também a finalidade da protecção dos direitos do arguido,
designadamente o seu direito de defesa. É preciso por isso operar a concordância prática
entre as finalidades, que é orientada pelo princípio da presunção de inocência do arguido
(32/2 CRP).

Deste modo, só podem ser aplicadas as medidas de coacção que ainda se mostrem
comunitariamente suportáveis em face da possibilidade de estarem a ser aplicadas a um
inocente. (Isto é importante em exame - costuma surgir em forma de comentário!)

Quais os princípios de aplicação da medidas de coacção?



(Vamos desenvolver apenas os mais complicados)

1º: Princípio da legalidade:



Só podem ser aplicadas as medidas de coacção previstas na lei, porque só a lei pode
restringir DLG’s. Isto resulta do 61/3/d CPP, do 191/1/parte final CPP e do 18/2/3 CRP.

2º: Princípio da necessidade:



Significa que a liberdade das pessoas só pode ser limitada por aplicação de uma medida
de coacção em função de exigências processuais de natureza cautelar - 191/1/1ªparte,
193/1/1ªparte, e 204 CPP.

É este último artigo que nos diz quais são as exigências processuais de natureza
cautelar:

- fuga ou perigo de fuga;

- perigo de perturbação do decurso do inquérito ou da instrução do
processo e, nomeadamente, perigo para aquisição, conservação ou
veracidade da prova;

- o perigo da continuação da actividade criminosa ou grave perturbação
da ordem e tranquilidade públicas .

Não podemos esquecer que as exigências processuais de natureza cautelar são
diferentes das exigências de punição: as primeiras legitimam a aplicação de uma medida
de coacção a alguém que se presume inocente; as segundas legitimam a condenação em
uma pena de alguém que é declarado culpado.

Por isso, as exigências processuais de natureza cautelar devem ser sempre interpretadas
à luz das finalidades do processo penal.

As exigências referidas nas alíneas a) e b) do 204 CPP devem ser interpretadas à luz
da finalidade da realização da justiça e da descoberta da verdade material; já as
exigências referidas na alínea c) do mesmo artigo, devem ser interpretadas à luz da
finalidade de restabelecimento da paz jurídica, posta em causa pela prática do crime.
Deste modo, para aplicação de uma medida de coacção, nunca pode ser invocada
qualquer razão que diga respeito à culpa do arguido, às finalidades da punição, ou à
protecção do ofendido.

17/05/2016

[ Continuação dos Princípios de aplicação das medidas de coacção: ]

3º: Princípio da adequação:



De acordo com este princípio, a medida de coacção a aplicar em concreto deve ser
adequada à exigência cautelar que o caso requerer

(193/1/2ª parte CPP).

4º: Princípio da proporcionalidade:



Significa que a medida de coacção deve ser proporcional à gravidade do crime e à
sanção que previsivelmente venha a ser aplicada (193/1/parte final CPP).

O próprio legislador concretiza este princípio: por um lado, em geral, a aplicação das
medidas de coacção depende da gravidade da pena aplicável ao crime (195 CPP), e, por
outro lado, a aplicação das medidas de coacção mais graves - as previstas no 200, 201 e
202 CPP - depende da verificação de fortes indícios da prática de crime doloso.

O conceito de “fortes indícios” é diferente do conceito de “indícios suficientes”:



A existência de fortes indícios da prática de crime doloso é um pressuposto de aplicação
das medidas de coacção previstas nos 200 a 202 CPP.

Deste modo, para a aplicação destas medidas de coacção, se o processo estiver na fase
de inquérito, tem de haver um juízo positivo no sentido de que, em face dos indícios já
existentes, é mais provável uma acusação do que um arquivamento.

Se o processo estiver na fase de instrução, para que se possa aplicar as medidas de
coacção referidas, tem de haver um juízo no sentido de que, em face dos indícios já
existentes, é mais provável um despacho de pronúncia do que um despacho de não
pronúncia.

Por sua vez, o juízo de indícios suficientes da prática de um crime é um juízo que tem
de estar presente no momento da acusação ou da pronúncia.

Para que haja indícios suficientes, é necessário que a prova já reunida permita concluir
que será mais provável a condenação do arguido do que a sua absolvição. Esta prova
pode, por isso, ainda não estar reunida no momento em que se aplica uma das medidas
de coacção previstas nos 200 a 202 CPP.

Deste modo, pode acontecer que os elementos de prova, que seriam insuficientes para
uma acusação ou para uma pronúncia, sejam considerados bastantes para se dar como
verificado o conceito de fortes indícios para aplicação de uma medida de coacção; até
porque, se a medida de coacção em causa for aplicada na fase de inquérito, ela estará a
ser aplicada numa fase que é ainda uma fase de aquisição de prova.

Há autores que entendem que o conceito de fortes indícios é mais exigente que o
conceito de indícios suficientes. Mas, em rigor, trata-se de conceitos diferentes, que não
permitem verdadeiramente uma comparação:

Uma coisa é haver fortes indícios no sentido de ser mais provável uma acusação ou uma
pronúncia para efeitos de aplicação de uma medida de coacção; outra coisa diferente é
haver indícios suficientes no sentido de ser mais provável a condenação que a
absolvição, para efeitos de ser deduzido um despacho de acusação ou ser proferido um
despacho de pronúncia. (Esta matéria é muito questionada em exames e em orais!)

5º: Princípio da subsidariedade da aplicação da obrigação de permanência na habitação


e prisão preventiva (193/2, 201/1 e 202/2 CPP):

Como estas são as medidas de coacção mais graves, elas só podem ser aplicadas quando
todas as outras se revelarem, no caso, inadequadas ou insuficientes. Por sua vez, a
prisão preventiva só pode ser aplicada em última instância.

Deve dar-se preferência à obrigação de permanência na habitação sempre que esta se
revelar suficiente em face das exigências cautelares (193/3). O carácter subsidiário da
prisão preventiva resulta ainda do 28/2 CRP.

6º: Princípio da precariedade:



Este princípio consta do 212/1/b e do 212/3 CPP, e ainda do 28/2 CRP. Ele é não mais do
que uma consequência dos princípios da necessidade e da adequação, e significa que:

1- A medida de coacção é imediatamente revogada, sempre que tiverem deixado
de subsistir as circunstâncias que justificaram a sua aplicação, ou seja, sempre
que tiver deixado de ser necessária;

2- A medida de coacção será substituída por outra menos grave, ou por uma
forma menos gravosa da sua execução, sempre que se verificar uma atenuação
das exigâncias cautelares, ou seja, sempre que ela tiver deixado de ser adequada.

O princípio da precariedade tem aplicações especiais, no caso da obrigação de


permanência na habitação e no caso da prisão preventiva, na medida em que o 213/1
CPP determina que o juíz, oficiosamente e de 3 em 3 meses, está obrigado a verificar
se se mantêm os pressupostos de aplicação destas medidas.

Mas o 213 não afasta a aplicação, em relação à prisão preventiva e obrigação de


permanência na habitação, do disposto no 212, que se refere à revogação e substituição
das medidas de coacção pelo juíz, oficiosamente ou a requerimento do MP ou do arguido.

Quando tiver havido uma apreciação oficiosa ou um requerimento do MP ou do arguido,


ao abrigo do 212 CPP, e tendo o juíz decidido manter a medida de coacção, só passados

3 meses após esta decisão é que será obrigatório o re-exame dos pressupostos, nos
termos do 213 CPP, ainda que entre este e o re-exame anterior, feito nos termos do 213
CPP, tenham decorrido mais de 3 meses.

Questão Prática:

O juíz aplicou uma prisão preventiva em 10 de Novembro de 2015.

1- Diga quando é obrigatório o 1º re-exame, ao abrigo do 213 CPP.

R: 10 de Fevereiro de 2016

2- Supondo que o arguido requereu a revogação da prisão preventiva ao abrigo do 212
CPP, em 30 de Março de 2016, e que o juíz decidiu manter a medida, diga quando é
obrigatória a realização de novo re-exame ao abrigo do 213 CPP

R: 30 de Junho de 2016

Duas notas finais sobre este princípio:

1- É de referir ainda que, do princípio da precariedade em relação com o princípio da
proporcionalidade, resulta também a existência de estabelecimento de um prazo máximo
de duração das medidas de coacção, findo o qual elas se extinguem (215 e 218 CPP).

2- Do princípio da precariedade resulta ainda a extinção imediata das medidas de
coacção quando forem proferidas decisões processuais que infirmem a existência de
exigências processuais de natureza cautelar.

Pex, quando for proferido um despacho de arquivamento de inquérito, ou um despacho
de não pronuncia, ou então, for proferida uma sentença de absolvição.

Quem aplica as medidas de coacção?


Só o juíz pode aplicar medidas de coacção (194 e 268/1/b CPP).



Em que termos?

Na fase de inquérito, é o juíz de instrução que aplica as medidas de coacção, a
requerimento do MP.

Na fase de instrução, é o juíz de instrução que aplica as medidas de coacção, a
requerimento do MP ou oficiosamente, sendo sempre ouvido o MP, neste caso.

Na fase de julgamento, é o juíz de julgamento que aplica as medidas de coacção, a
requerimento do MP, ou oficiosamente, sendo sempre ouvido o MP.

Tem-se colocado entre nós a seguinte questão:



Na fase de inquérito, o juíz de instrução tem de aplicar a medida de coacção que é
requerida pelo MP, ou poderá aplicar uma diferente?

- Até à revisão de 2007, o CPP não dava resposta expressa a esta questão.

- Em 2007, o 194 CPP foi alterado, tendo passado a prever-se que, durante o inquérito, o
juíz de instrução poderia aplicar uma medida de coacção diferente da requerida pelo
MP, desde que não fosse uma medida mais grave que a requerida.

- Em 2013, o 194 CPP foi novamente alterado, estabelecendo-se agora a seguinte
distinção:

1- Quando a medida de coacção é aplicada com fundamento nas alíneas a) e c) do
204 CPP, o juíz pode, durante o inquérito, aplicar uma medida de coacção diversa,
ainda que mais grave do que a medida de coacção requerida pelo MP (194/2 CPP).

2- Quando a medida de coacção é aplicada com fundamento na alínea b) do 204
CPP, o juíz pode, durante o inquérito, aplicar uma medida de coacção diversa da
requerida pelo MP, desde que não seja mais grave (194/3 CPP).

CRÍTICA a esta posição legal actual:



Mª João Antunes sempre defendeu que, sendo o MP o “dominus” do inquérito, e
intervindo nesta fase o juíz de instrução como juíz das liberdades, e não como juíz de
investigação, a solução coerente seria a de o juíz dever respeitar o pedido feito pelo MP.
Deste modo, o juíz, ou aplicaria a medida de coacção requerida pelo MP, ou não a
aplicaria - mas não deveria poder aplicar uma medida de coacção diferente da
requerida.

Esta solução seria justificada também atendendo aos princípios da necessidade,


adequação e proporcionalidade das medidas de coacção, pois é o MP que está em
condições de avaliar as exigências cautelares que no caso se fazem sentir, além de que a
aplicação de uma medida de coacção diferente da requerida pode pôr em causa o
desenrolar do plano da investigação traçado pelo MP.

Mª João Antunes critica ainda a incoerência que resulta do actual regime dos 194/2/3.
CPP:

Não se percebe que se considere que o MP é a autoridade mais bem posicionada para
avaliar a repercussão das medidas de coacção nos casos da alínea b) do 204 CPP, e que
se permita, no entanto, que o juíz possa aplicar uma medida de coacção diferente da
requerida, desde que menos grave.

Por outro lado ainda, fica em aberto a questão de saber se o juíz de instrução pode
aplicar uma medida de coacção mais grave que a requerida pelo MP, quando o
requerimento se fundar não só na alínea b) do 204 CPP, mas também em uma das
outras alíneas da mesma norma. (Muitas vezes questionada esta matéria!)

NOVA MATÉRIA - TERMO DE IDENTIDADE E RESIDÊNCIA:


A regra de que é sempre o juíz que aplica as medidas de coacção não vale para uma
das medidas de coacção previstas na lei - precisamente para o termo de identidade e
residência.

Está previsto no catálogo das medidas de coacção, mas tem várias características que o
distinguem das outras medidas, pelo que se pode questionar se, em rigor, ele será uma
verdadeira medida de coacção.

Que características são estas?



1- Desde logo, enquanto todas as medidas de coacção têm de ser aplicadas pelo juíz, o
termo de identidade e residência pode ser aplicado também pelo MP, ou por OPC (Órgão
de Polícia Criminal) - isto está no 196 CPP.

2- Por outro lado, por regra, de acordo com o princípio da necessidade, as medidas de
coacção só podem ser aplicadas quando se verificarem as exigências cautelares do 204
CPP.

Esta regra não vale para o termo de identidade e residência: Nos termos do 61/3/c, e do
196/1 CPP, o termo de identidade e residência é aplicado a todo aquele que for
constituído arguido, e a sua aplicação não está sujeita a qualquer dever de
fundamentação (194/6 CPP).

3- Além disso, o 214/1/e CPP não determina a extinção do termo de identidade e
residência com o trânsito em julgado da decisão condenatória, como acontece com a
generalidade das medidas de coacção.

O termo de identidade e residência extingue-se somente com a extinção da pena;

Por tudo isto, podemos questionar se é verdadeiramente uma medida de coacção.

Distinção: Medidas de coacção VS. Medidas de garantia patrimonial:

O CPP prevê duas medidas de garantia patrimonial, que são a caução económica (227) e
o arresto preventivo (228).

Estas medidas de garantia patrimonial também se aplicam em função de exigências
processuais de natureza cautelar; mas são exigências diferentes daquelas que justificam
a aplicação de medidas de coacção.

As medidas de garantia patrimonial destinam-se a assegurar a efectivação de
prestações pecuniárias devidas no âmbito de um processo penal, pex, o pagamento de
uma multa, o pagamento das custas do processo, ou o pagamento de uma indemnização
civil.

Deste modo, as medidas de garantia patrimonial podem ser aplicadas ao arguido ou ao
sujeito que é responsável em termos civis.

Assim, a caução económica do 227 CPP não se confunde com a caução do 197 CPP, e que
é verdadeiramente uma medida de coacção. Isto resulta também do 227/4.

Distinção: Prisão preventiva VS. Detenção:



A detenção é um meio processual privativo da liberdade, que consiste num acto material
de captura de uma pessoa, que, em certos casos, pode ser realizado pela polícia ou por
qualquer outra pessoa.

Distingue-se por isso da prisão preventiva, que é uma medida de coacção. As finalidades
da detenção estão no 254 CPP: a pessoa detida não tem de ser suspeito nem arguido;
pode ser detida, pex, uma testemunha, para se assegurar a sua presença em acto
processual, nos termos do 254/1/b CPP. (Muitas vezes perguntado!)

Quanto à questão de saber quem pode deter o cidadão, é preciso atender à distinção
entre detenção em flagrante delito (255 e 256 CPP), e detenção fora de flagrante delito
(257 CPP):

No caso de detenção em flagrante delito, há certas especificidades quando o crime for
semi-público ou particular: Quando é semi-público, a detenção efectua-se, mas só se
mantém se o titular do direito de queixa o exercer (255/3); quando o crime é particular,
não há lugar à detenção por flagrante delito, mas apenas à identificação do infractor
(255/4).

NOTA: Não temos tempo para falar mais disto, mas devemos ver melhor porque é
importante.

MEIOS DE PROVA E MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA:

O 124 CPP estabelece qual é o objecto da prova. O nosso CPP distingue entre meios de
prova e meios de obtenção de prova.

Quais são os meios de prova?



- Prova testemunhal (128 ss)

- Declarações do arguido, do assistente e das partes civis (140 ss)

- Prova por acariação (146)

- Prova por reconhecimento (147 ss)

- Reconstituição do facto (150)

- Prova pericial (151 ss)

- Prova documental (164 ss)

Por outro lado, temos ainda os meios de obtenção de prova:



- Exames das pessoas, dos lugares e das coisas (171 ss)

- Revistas às pessoas e as buscas aos locais (174 ss)

- Apreensões (178 ss)

- Escutas telefónicas (187 ss)

O 125 CPP estabelece o princípio da legalidade da prova, que significa que são
admissíveis todas as provas que não forem proibidas por lei. O 126 CPP refere os
métodos proibidos de prova, também referidos no 32/8 e 24 CRP.

Outro princípio importante é o princípio da livre apreciação de prova (127 CPP), segundo
o qual a prova é apreciada de acordo com as regras da experiência e a livre convicção
da entidade competente.

(Entre nós não vale o sistema da prova legal, segundo o qual é o próprio legislador que
estabelece o valor a atribuir a cada meio de prova - ou seja, neste sistema existem
regras legais que pré-determinam o valor da prova.)

Entre nós vale antes o princípio da livre apreciação da prova, que significa, pela
negativa, a ausência de critérios legais pré-determinantes do valor a atribuir à prova:
Pela positiva, a apreciação da prova de acordo com a livre convicção do julgador não
pode significar que a apreciação seja totalmente imotivável ou incontrolável.

Esta liberdade de apreciação não é uma liberdade subjectiva; a apreciação tem de ser
racionalizável, motivável e motivada, para se impôr à generalidade das pessoas, e
designadamente ao arguido.

O arguido tem de compreender o sentido das várias decisões que o afectam, sobretudo
se se tratar de uma decisão de condenação. Por isso se diz que esta liberdade de
apreciação da prova é uma liberdade de acordo com um dever - o dever de perseguir a
verdade material.

A decisão tem de ser sempre fundamentada; a entidade competente tem de dizer


sempre quais foram as provas que conduziram àquela decisão (remeter os 365/3, 374/2 e
375/1 CPP).

E o 379/1/a CPP estabelece a nulidade da sentença se ela não for fundamentada, isto é,
se não cumprir os requisitos do 374/2 CPP.

O princípio da livre apreciação da prova vale em geral para todo o domínio da prova
produzida. Mas há certos casos em que há limitações a este princípio:

- Em relação à prova testemunhal, o princípio da livre apreciação vale inteiramente.


Entre nós só vale o testemunho directo, ou seja, para que estejamos perante uma
verdadeira testemunha, é preciso que ela tenha um conhecimento directo dos factos
(128/1 CPP). Por isso, o testemunho de “ouvir dizer” não pode ser valorado pelo juíz -
em relação a este tipo de testemunho, não vale portanto o princípio da livre
apreciação da prova.
O CPP estabelece aqui uma proibição de valoração da prova, estabelecendo que o que
o juíz deverá fazer é chamar as pessoas a quem se “ouviu dizer”. No entanto, nos
termos do 129/1 CPP, o juíz poderá valorar o testemunho indirecto, quando não for
possível a inquirição das pessoas a “quem se ouviu dizer”, por morte, anomalia
psíquica superveniente ou impossibilidade de serem encontradas.
Mas já haverá uma proibição de valoração absoluta se quem presta depoimento se
recusar a indicar a pessoa através da qual tomou conhecimento dos factos (129/3
CPP).

- E em relação às declarações do arguido, vale ou não vale o princípio de livre


apreciação de prova? O arguido pode ser sujeito a diligências de prova (61/3/d CPP).
E as próprias declarações do arguido constituem um meio de prova.
Quanto às declarações do arguido, temos de fazer uma distinção:

1- Declarações do arguido sobre a sua identidade:

Quanto às perguntas sobre a sua identidade, o arguido tem o dever de responder,
e de responder com a verdade (61/3/b, 141/3 e 342 CPP).
Se o arguido mentir, pode incorrer no crime de falsas declarações, previsto no
359/2 CP.

2- Declarações do arguido quanto aos factos:

Quando o arguido é questionado quanto aos factos, ele pode ter um de três
comportamentos:

a) pode negar os factos;

b) pode confessar os factos;

c) pode nada dizer, remetendo-se ao silencio.

a) Qual o regime quanto à negação dos factos?



Quando o arguido nega os factos, vale inteiramente o princípio da livre apreciação
do julgador. Se a negação dos factos for uma mentira, não há qualquer
responsabilização do arguido.

Diferentemente do que acontece com as testemunhas, o arguido não tem de
responder com verdade às perguntas sobre os factos - a testemunha tem o dever
de responder com verdade e tem de prestar juramento (132/1/b/d); por seu turno,
o arguido não presta juramento em caso algum (140/3).

Não pode dizer-se que o arguido tenha um direito a mentir; mas sobre ele não
impende um dever de colaboração com a administração da justiça - o arguido não
tem o dever de falar verdade.

b) Qual o regime quanto à confissão dos factos?

Neste caso, a confissão tem um valor diferente, conforme a gravidade do crime
em causa:

Tratando-se de pequena ou média criminalidade, ou seja, um crime punível com
pena de prisão até 5 anos, e sendo a confissão livre, integral e sem reservas, tal
confissão vale por si só como meio de prova, e tem os efeitos previstos no 344/2
CPP, ou seja:

- não se produz mais prova;

- os factos dão-se como provados;

- passa-se de imediato para a fase das alegações orais;

- e a taxa de justiça é reduzida a metade.

Neste caso, há claramente uma limitação ao princípio da livre apreciação da prova.
A lei estabelece que, se houver uma confissão integral e sem reservas, os factos
se dão como provados.

Porém, o valor que a lei atribui às decalarações do arguido abrange somente os
casos em que a confissão é livre, valendo o princípio da livre apreciação da prova
quando o juíz vai apreciar o carácter livre da confissão.

Por isso, pode dizer-se que, nos casos do 344/2 CPP, só aparentemente há uma
limitação ao princípio da livre apreciação de prova. Já se a confissao for feita nos
termos do 344/3/4 CPP, vale inteiramente o princípio da livre apreciação da prova.

c) Qual o regime se o arguido nada disser?



O arguido tem o direito ao silêncio (61/1/c CPP), e este direito é novamente
afirmado nas normas que se referem ao julgamento, no 342/1 e no 345 CPP.

Esta última norma estabelece que o arguido pode, expontaneamente ou por
recomendação do seu defensor, recusar a resposta a algumas ou a todas as
perguntas (silêncio parcial ou total).

Quanto aos factos, o arguido não tem o dever de colaborar com a justiça, e o seu
silêncio não o faz incorrer em responsabilidade criminal.

Se o arguido optar por exercer o seu direito ao silêncio, não vale o princípio da
livre convicção do julgador na apreciação da prova, porque está expressamente
estabelecido no CPP que o silêncio do arguido nunca pode ser valorado contra ele
(343 e 345 CPP).

Vous aimerez peut-être aussi