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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelação Cível Nº 1.0145.12.016588-4/001

<CABBCCABADDACABACBBCCBBACDACBACABCBA
ADDADAAAD>

APELAÇÃO CÍVEL – DANO MORAL – RELAÇÃO DE CONSUMO –


TROCA DE PRODUTO – PERDA DE TEMPO – DESVIO DE
PRODUTIVIDADE – LESÃO A DIREITO DE PERSONALIDADE. Não
sendo o vício do produto sanado no prazo legal pode o consumidor
optar pela substituição deste por outro da mesma espécie, em
perfeitas condições de uso (inteligência do artigo 18 do CDC). Sofre
lesão a direito de personalidade o consumidor submetido a
verdadeira via crucis para tentar exigir do fornecedor o cumprimento
de sua obrigação, consistente na entrega do bem adquirido de
acordo com as especificações contratadas e em perfeitas condições
de uso. A perda de tempo do consumidor antes tratada como mero
aborrecimento começou a ser considerada indenizável por parte dos
Tribunais de Justiça, vez que não são raros os casos em que o
consumidor é tratado com extremo descaso pelo Fornecedor. A
indenização por danos morais deve ser fixada com observância dos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Nos casos de
responsabilidade contratual os juros de mora incidem a partir da
citação.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0145.12.016588-4/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - APELANTE(S): PARMA DESIGN


COMERCIO DE MOVEIS LTDA - APTE(S) ADESIV: CARLOS ROBERTO VENANZONI - APELADO(A)(S): CARLOS
ROBERTO VENANZONI, PARMA DESIGN COMERCIO DE MOVEIS LTDA

AC Ó R D ÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata
dos julgamentos em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO
PRINCIPAL E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ADESIVO.

DES. ESTEVÃO LUCCHESI


RELATOR.

Fl. 1/14
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelação Cível Nº 1.0145.12.016588-4/001

DES. ESTEVÃO LUCCHESI (RELATOR)

VOTO

Cuida-se de ação de indenização ajuizada por


CARLOS ROBERTO VENANZONI contra PARMA DESIGN COMÉRCIO
DE MÓVEIS LTDA. Em sua inicial o autor disse ter adquirido da ré um
guarda-roupa no dia 28/07/2011, mediante pagamento com entrada de
R$ 1.000,00 (mil reais) e nove parcelas de R$ 125,50 (cento e vinte e
cinco reais e cinqüenta centavos). Afirmou ter sido pactuada a entrega
do bem no dia 12/09/2011 na residência de sua filha. Alegou que o
guarda-roupa foi entregue somente em 26/09/2011 e em péssimas
condições de uso, pois se encontrava todo arranhado e com as portas
desalinhadas. Aduziu ter a ré trocado o guarda-roupa por outro com
defeito, pois a porta não era branca e não possuía espelho. Informou
que a ré novamente trocou o móvel e mais uma vez entregou bem
diverso do adquirido, na medida em que as dimensões do armário não
permitiam a abertura de portas no quarto de sua filha. Asseverou ter
telefonado várias vezes para solucionar o problema, contudo, sem
êxito. Disse que passados 7 (sete) meses, o problema ainda não foi
resolvido e que a ré unilateralmente cancelou o financiamento contraído
com Banco para pagamento das parcelas. Desta forma, requereu a
condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais, ao
cumprimento da obrigação existente no contrato, entregando o móvel
adquirido em perfeitas condições de uso, bem como ao estorno de
quantia correspondente ao dobro do valor pago.

Após regular tramitação do feito, o pedido inicial foi


julgado parcialmente procedente para determinar a substituição do
guarda-roupa por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de
uso, sob pena de multa diária de R$ 200,00 (duzentos reais), bem
como para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos
morais no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), com correção monetária
a partir da publicação da sentença e juros de mora após o trânsito em
julgado da decisão. A sucumbência foi distribuída na proporção de 50%
para cada parte, compensando-se os honorários.

Inconformada, a ré interpôs recurso de apelação às


fls.124/136, no qual sustentou, em síntese, que após a troca do móvel e
insatisfação do autor as partes acordaram o desfazimento da avença,

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de forma que este deve ser o desfecho da lide, não havendo que se
falar em substituição do móvel. Disse, ainda, que o autor não realizou
todos os pagamentos devidos, razão pela qual mantida a condenação
de substituição do bem o demandante deve ser condenado ao
pagamento do débito remanescente. Afirmou, outrossim, não ter o autor
sofrido danos morais, bem como ser excessiva a indenização arbitrada.
Alegou, por fim, ser preciso limitar a multa diária ao valor do móvel e
condenar o autor a indenizar a ré pela utilização prolongada do bem.

Juntamente com as contrarrazões de fls.139/160, o


autor apresentou recurso adesivo (fls.161/174), no qual defendeu ter
sofrido dano material, sendo devida a devolução em dobro dos valores
pagos. Requereu, assim, a procedência dos pedidos iniciais e a
condenação do réu ao pagamento das custas processuais e honorários
de sucumbência no montante de 20% do valor dado à causa.

Contrarrazões da ré às fls. 176/179.

Conheço do recurso, pois presentes seus requisitos de


admissibilidade.

Inicialmente, impende anotar ser a relação existente


entre as partes inquestionavelmente uma relação de consumo, na
medida em que ambos se subsumem perfeitamente aos conceitos
jurídicos de consumidor e fornecedor (artigo 2º, caput, e 3º, caput, e §
2º, do Código de Defesa do Consumidor).

No caso dos autos, indene de dúvidas não ter sido o


armário entregue dentro das especificações contratadas e em perfeitas
condições uso.

Isso porque, ambas as partes confiram ter sido o bem


substituído por outro, bem como o atraso na sua entrega.

Registre-se, por oportuno, que a troca do bem se


encontra em harmonia com o disposto no Código de Defesa do

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Consumidor. A disposição legal que rege a matéria, artigo 18 do CDC,


expressamente declina que:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo


duráveis ou não duráveis respondem solidariamente
pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo a que se
destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações
constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou
mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor
exigir a substituição das partes viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de


trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e
à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma


espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga,


monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço. (destaquei)

Ocorre que a primeira substituição do guarda-roupa


não foi realizada por outro da mesma espécie, tendo o consumidor
noticiado primeiramente a troca por armário de cor diversa e sem
espelho e posteriormente a entrega de um bem com dimensões
maiores, que não permitia a abertura completa da porta do quarto.

Nessa quadra, cumpre registrar ser do fornecedor o


ônus de comprovar a inexistência de falha na prestação do serviço, ou
seja, de que houve entrega do bem em perfeitas condições de uso ou
que as posteriores substituições respeitaram o disposto na legislação
consumerista.

Noutro passo, a documentação carreada pela


ré/apelante principal para comprovar que o consumidor desistiu da
compra e optou por receber o dinheiro de volta é sobremaneira frágil e
não pode ser aceita.

Data venia, não há nos autos distrato assinado pelo


autor concordando com o cancelamento da compra e tampouco prova
de devolução da quantia desembolsada.

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A bem da verdade, a própria apelante principal


reconhece que o desfazimento da avença não chegou a se aperfeiçoar.
Pinça-se, das razões recursais, trecho que demonstra essa assertiva:

“... os ajustes entabulados pelas partes conforme troca


de correspondências eletrônicas (e-mail) não chegou a
se concretizar finalmente, porque o autor, em um dado
momento, entendeu que resolver os danos materiais
poderia vir a ser prejudicial à sua pretensão de lançar
mão de receber danos morais”(fls.126) (destaquei)

De igual forma, a simples alegação de que o modelo


móvel não é mais produzido, decerto não é suficiente para elidir a
responsabilidade do fornecedor, que vendeu determinado produto e,
por isso, é obrigado a entregá-lo em perfeitas condições de uso.

Destarte, a sentença deve ser mantida no capítulo em


que determinou o cumprimento do contrato, mediante substituição do
guarda-roupa por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de
uso e conforme especificações de fls.28.

De se observar, ainda, não ser devida a limitação da


multa diária ao valor do armário, vez que a sua fixação tem por fim
compelir a parte devedora ao cumprimento da obrigação de fazer.

Numa outra perspectiva, se eventualmente existe


débito em aberto, obviamente este poderá ser cobrado do consumidor,
contudo, não havendo apresentação de reconvenção, incabível a
condenação do autor como pretende a apelante principal.

E o mesmo raciocínio é válido para o pedido realizado


em grau recursal de condenação do autor ao pagamento de
indenização pela utilização prolongada do móvel.

Ademais, não se pode deixar de anotar que toda a


situação narrada nos autos tem origem na falha da prestação de
serviço da apelante principal.

Doutro norte, o dano moral tem origem na violação de


direito de personalidade do ofendido. Nesse sentido é o magistério de
SÉRGIO CAVALIERI, porquanto o renomado autor define o dano moral
como:

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A lesão a bem integrante da personalidade, tal


como a honra, a liberdade, a saúde, a integridade
psicológica, causando dor, sofrimento, tristeza,
vexame e humilhação à vítima. (Sérgio Cavalieri.
Programa de Responsabilidade Civil. 2ª edição.
Editora Malheiros. página 74)

Chancelando a mencionada definição de dano moral,


CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA nos ensina que:

O fundamento da reparabilidade pelo dano moral está


em que, a par do patrimônio em sentido técnico, o
indivíduo é titular de direitos integrantes de sua
personalidade, não podendo conformar-se a ordem
jurídica em que sejam impunemente atingidos.
("Responsabilidade civil", 9. ed., Rio de Janeiro,
Forense, 2.001, p. 54)

Nessa quadra, confira-se trecho de judicioso artigo


elaborado por PAULO LUIZ NETTO LÔBO, no qual este demonstra a
estreita relação existente entre os direitos de personalidade e a
indenização por danos morais:

A interação entre danos morais e direitos da


personalidade é tão estreita que se deve indagar da
possibilidade da existência daqueles fora do âmbito
destes. Ambos sofreram a resistência de grande parte da
doutrina em considerá-los objetos autônomos do direito.
Ambos obtiveram reconhecimento expresso na
Constituição brasileira de 1988, que os tratou em
conjunto, principalmente no inciso X do artigo 5, que
assim dispõe: "X - São invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;" (...) Os direitos da
personalidade, nas vicissitudes por que passaram,
sempre esbarraram na dificuldade de se encontrar um
mecanismo viável de tutela jurídica, quando da
ocorrência da lesão. Ante os fundamentos
patrimonialistas que determinaram a concepção do
direito subjetivo, nos dois últimos séculos, os direitos de
personalidade restaram alheios à dogmática civilística. A

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recepção dos danos morais foi o elo que faltava, pois


constituem a sanção adequada ao descumprimento do
dever absoluto de abstenção".

O mencionado jurista ainda nos lembra que para


existência de dano moral basta a lesão de direito da personalidade, não
havendo necessidade de comprovação de prejuízo e tampouco de
fatores psicológicos dificilmente verificáveis no caso concreto:

Do mesmo modo, os danos morais se ressentiam de


parâmetros materiais seguros, para sua aplicação,
propiciando a crítica mais dura que sempre receberam
de serem deixados ao arbítrio judicial e à verificação de
um fator psicológico de aferição problemática: a dor
moral. (...)
De modo mais amplo, os direitos de personalidade
oferecem um conjunto de situações definidas pelo
sistema jurídico, inatas à pessoa, cuja lesão faz incidir
diretamente a pretensão aos danos morais, de modo
objetivo e controlável, sem qualquer necessidade de
recurso à existência da dor ou do prejuízo. A
responsabilidade opera-se pelo simples fato da violação
(damnu in re ipsa); assim, verificada a lesão a direito da
personalidade, surge a necessidade de reparação do
dano moral, não sendo necessária a prova do prejuízo,
bastando o nexo de causalidade. (...) (LÔBO, Paulo Luiz
Netto. Danos morais e direitos da personalidade. Jus
Navigandi, Teresina, ano 8, n. 119, 31 out. 2003.
Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4445>.
Acesso em: 7 dez. 2011)

Na espécie, o consumidor adquiriu armário com


determinadas especificações e mesmo após diversas trocas do bem
não teve seu direito respeitado.
Com efeito, ao ajuizar a demanda o consumidor
noticiou que passados sete meses da aquisição do móvel o problema
não tinha sido resolvido.

A bem da verdade, até a presente data não há nos


autos notícia de que o fornecedor finalmente cumpriu com seu dever
legal de entregar ao consumidor armário nos moldes da aquisição e em
perfeitas condições de uso.

Data venia, o consumidor chegou inclusive a ir ao


Procon para tentar solucionar a celeuma.

Neste contexto, cumpre pontuar que a perda de tempo


do consumidor, antes tratada como mero aborrecimento, começou a
ser considerada indenizável por parte dos Tribunais de Justiça, vez que
não são raros os casos em que o consumidor é tratado com extremo
descaso pelo Fornecedor.

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Cuida-se da tese do chamado “desvio produtivo”


que preconiza a responsabilização do fornecedor pelo tempo gasto
para se resolver problemas que eles mesmos deram causa.

A respeito do tema, confiram-se trechos de artigo


escrito por Leonardo Léllis:

“O desvio produtivo caracteriza-se quando o


consumidor, diante de uma situação de mau
atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar
as suas competências — de uma atividade necessária
ou por ele preferida — para tentar resolver um problema
criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade
indesejado, de natureza irrecuperável”, explica o
advogado capixaba Marcos Dessaune (foto), autor da
tese Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do
tempo desperdiçado, que começou a ser elaborada em
2007 e foi publicada em 2011 pela editora Revista dos
Tribunais.

(...)

“A perda de tempo da vida do consumidor em razão


do mau atendimento de um fornecedor não é mero
aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro impacto
negativo em sua vida, que é obrigado a perder tempo de
trabalho, tempo com sua família, tempo de lazer, em
razão de problemas gerados pelas empresas”, apontam
os acórdãos do TJ-RJ.

Se o tempo não é um bem jurídico tangível e


expressamente previsto na Constituição, as decisões
demonstram que ele pode ser englobado na figura do
dano moral.

(...)

Dessaune também afasta o argumento mais


conservador de que a aplicação de sua tese abriria
precedente para uma enxurrada de ações que
sobrecarregariam o tribunais. "Se os fornecedores não
cumprem a lei espontaneamente, só resta aos
consumidores lesados fazerem valer seus direitos por

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intermédio dos Procons e do Poder Judiciário". E o


efeito, acrescenta ele, poderá ser até o oposto:
condenações morais mais elevadas previnem que novos
casos se repitam e a tendência é a diminuição das
demandas.

(...)

A teoria não se aplica somente ao tempo gasto para se


resolver um problema de consumo na Justiça. A simples
demora na prestação de um serviço também pode ser
enquadrada, segundo acórdão da 10ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Paraná, que negou provimento ao
recurso de um banco condenado pela demora de
atendimento em agência: “O autor sofreu também o
prejuízo do tempo desperdiçado, em razão da demora
em ser atendido, o qual poderia ter sido utilizado de
maneira mais benéfica e proveitosa”. (Fonte:
http://www.conjur.com.br/2014-mar-26/tempo-gasto-
problema-consumo-indenizado-apontam-decisoes.
acesso em 27/03/2014)
Assim, pelos elementos de convicção presentes nos
autos, conclui-se que o consumidor foi submetido a verdadeira via
crucis para tentar exigir do fornecedor o cumprimento de seu dever
legal, de sorte que deve ser mantido o reconhecimento da existência de
lesão a direito de personalidade. Neste sentido, confira-se:

DANO MORAL - APARELHO CELULAR DEFEITUOSO -


DEMORA EXCESSIVA PARA A REPARAÇÃO - TROCA
DO APARELHO - DIREITO DO CONSUMIDOR - DANO
MORAL VERIFICADO - INDENIZAÇÃO - CABIMENTO -
VALOR MANTIDO. - Diante da prova de que foi
ultrapassado o prazo de trinta dias previsto no § 1° do
art.18 do CDC para a realização dos reparos no aparelho
celular adquirido pela parte autora, como consumidora
ela tem a faculdade de escolher entre a sua substituição
por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de
uso; a restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos; e o abatimento proporcional do preço. -
Há dano moral a reclamar ressarcimento no caso de
consumidor que, tendo adquirido um aparelho
celular, se vê obstado de seu uso, por longo tempo,
em razão de defeito por ele apresentado, não sanado
a tempo e modo. – (...) (Apelação Cível
1.0105.11.001453-4/001, Relator(a): Des.(a) Evandro
Lopes da Costa Teixeira , 17ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 14/11/2013, publicação da súmula em
26/11/2013) (destaquei)

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Ação de indenização por danos morais. Produto


defeituoso. Art. 14, §1º, CDC. Dever reparatório
configurado. Quantum. Honorários de sucumbência -
critérios. 1) O fornecedor de produtos/prestador de
serviços e o fabricante são responsáveis pelos danos
causados ao consumidor pela demora excessiva e
injustificada na troca do produto adquirido com defeito.
2) A demora injustificada na substituição do produto
defeituoso caracteriza dano moral indenizável. 3) A
quantificação do dano moral obedece ao critério do
arbitramento judicial, que, norteado pelos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, fixará o valor,
levando-se em conta o caráter compensatório para a
vítima e o punitivo para o ofensor.(...) (Apelação Cível
1.0223.11.013443-2/001, Relator(a): Des.(a) Marcelo
Rodrigues , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
10/10/2012, publicação da súmula em 18/10/2012)

INDENIZAÇÃO. COMPRA VIA INTERNET. VÍCIO DE


QUALIDADE DO PRODUTO. DEMORA
INJUSTIFICADA DE SUBSTITUIÇÃO DO BEM. DANO
MORAL CONFIGURADO. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO.
RECURSO DESPROVIDO. A entrega de produto diverso
daquele adquirido pelo consumidor, através do site na
internet, frustrando as legítimas expectativas criadas
quando da sua aquisição, somada à ausência,
injustificada, de sua entrega nos moldes em que foi
adquirido, mesmo após o produto com vício ter sido
recolhido pela vendedora, erigem-se em causa de
indenização por danos morais, mormente considerando
que o bem em referência é essencial para a regular
funcionalidade de qualquer residência..." (TJMG. 9ª
Câmara Cível. Apelação nº 1.1045.07.427478-1/001.
Rel. Des. Tarcísio Martins Costa, DJe: 21/09/09)

Noutro vértice, sabe-se que a fixação do valor da


indenização por danos morais é questão tormentosa e constitui tarefa
extremamente difícil imposta ao magistrado. Sobre o dano moral,
Sérgio Cavalieri leciona com maestria:

Em suma, a composição do dano moral realizar-se


através desse conceito - compensação - que, além de
diverso do de ressarcimento, baseia-se naquilo que
Ripert chamava ' substituição do prazer que desaparece,
por um novo'. Por outro lado, não se pode ignorar a
necessidade de se impor uma pena ao causador do
dano moral, para não passar impune a infração e, assim,

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Apelação Cível Nº 1.0145.12.016588-4/001

estimular novas agressões. (CAVALIEIRI FILHO, Sérgio.


Programa de Responsabilidade Civil. 2ª edição.
Malheiros. página 76)

Nesse diapasão, doutrina e jurisprudência convergem


no sentido de que para a fixação do valor da compensação pelos
danos morais deve-se considerar a extensão do dano experimentado
pela vítima, a repercussão no meio social, a situação econômica da
vítima e do agente causador do dano, para que se chegue a uma justa
composição, evitando-se, sempre, que o ressarcimento se transforme
numa fonte de enriquecimento injustificado ou seja inexpressivo a ponto
de não retribuir o mal causado pela ofensa.

Em outras palavras, o valor fixado deve observar os


critérios da razoabilidade e proporcionalidade, tal como assentado pelo
STJ:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO
MORAL. HERDEIROS. LEGITIMIDADE. QUANTUM DA
INDENIZAÇÃO FIXADO EM VALOR EXORBITANTE.
NECESSIDADE DA REDUÇÃO. RESPEITO AOS
PARÂMETROS E JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
PRECEDENTES. (...) 2. O critério que vem sendo
utilizado por essa Corte Superior na fixação do valor da
indenização por danos morais, considera as condições
pessoais e econômicas das partes, devendo o
arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade,
atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada
caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido
do ofendido, bem como que sirva para desestimular o
ofensor a repetir o ato ilícito. (STJ, AgRg no Ag 850273 /
BA, Quarta Turma, Relator Min. Honildo Amaral de Mello
Castro, j. 03/08/2010)

Nesse sentido é a lição de Sérgio Cavalieri, senão


vejamos:

(...) não há valores fixos, nem tabelas preestabelecidas,


para o arbitramento do dano moral. Esta tarefa cabe ao
juiz no exame de cada caso concreto, atentando para os
princípios aqui enunciados e, principalmente, para o seu
bom senso prático e a justa medida das coisas. (ob. cit.,
p. 183)

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E o magistério de Maria Helena Diniz e de Caio Mário


da Silva não discrepa:

(...) na ausência de um padrão ou de uma


contraprestação que dê o correspectivo da mágoa, o que
prevalece é o critério de atribuir ao juiz o arbitramento
da indenização (...). (Caio Mário, Instituições de Direito
Civil", vol II, Forense, 7ª ed.., pág. 316)

Na reparação do dano moral, o magistrado deverá


apelar para o que lhe parecer eqüitativo ou justo, agindo
sempre com um prudente arbítrio, ouvindo as razões das
partes, verificando os elementos probatórios, fixando
moderadamente uma indenização. O valor do dano
moral deve ser estabelecido com base em parâmetros
razoáveis, não podendo ensejar uma fonte de
enriquecimento nem mesmo ser irrisório ou simbólico. A
reparação deve ser justa e digna. Portanto, ao fixar o
quantum da indenização, o juiz não procederá a seu bel
prazer, mas como um homem de responsabilidade,
examinando as circunstâncias de cada caso, decidindo
com fundamento e moderação (DINIZ, Maria Helena.
Revista Jurídica Consulex, n. 3, de 31.3.97).

Assim, diante das particularidades do caso concreto,


verifica-se ser necessário fixar a indenização por danos morais no valor
de R$ 2.000,00 (dois mil reais), com correção monetária a partir da
publicação desta decisão (súmula 362 do STJ) e juros de mora de 1%
ao mês desde a citação, por se tratar de responsabilidade contratual.

Sob outro enfoque, preconiza o parágrafo único do


artigo 42 do CDC que:

O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à


repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que
pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

Na hipótese em comento, não houve qualquer


cobrança indevida, pois a compra e venda foi efetivamente realizada e
o próprio consumidor deixa clara sua pretensão de manutenção da
avença ao requerer em juízo a condenação do fornecedor à entrega do
guarda-roupa adquirido.

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Data venia, se a compra e venda foi mantida na


sentença proferida, a devolução do valor pago, mesmo que de forma
simples, obviamente geraria enriquecimento ilícito do autor/apelante
adesivo.

Numa outra perspectiva, a fixação de multa diária é


suficiente para compelir a ré/apelante principal ao cumprimento de sua
obrigação de fazer, não sendo o caso de se condenar esta ao
pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais), como pleiteado no item “b”
de fls.20.

Doutro norte, a distribuição da sucumbência em 50%


para cada parte se encontra correta, vez que o autor não logrou êxito
em suas pretensões de devolução em dobro do valor pago e fixação de
“multa” no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para o não
cumprimento da obrigação de fazer.

De igual maneira, o arbitramento dos honorários de


sucumbência em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) deve ser
mantido, pois respeita o grau de zelo do profissional, a natureza e
complexidade do feito, não havendo que se falar em fixação da referida
verba com base no valor dado à causa.

Por todo o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao


recurso principal para fixar a indenização por danos morais no valor de
R$ 2.000,00 (dois mil reais), com correção monetária a partir da
publicação desta decisão (súmula 362 do STJ) e juros de mora de 1%
ao mês desde a citação e NEGO PROVIMENTO ao recurso adesivo.

Custas recursais de cada apelação pelo respectivo


apelante, ficando suspensa a exigibilidade em relação ao autor, por se
encontrar sob o pálio da gratuidade de justiça.

DES. MARCO AURELIO FERENZINI (REVISOR) - De acordo com


o(a) Relator(a).

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DES. VALDEZ LEITE MACHADO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO


RECURSO PRINCIPAL E NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO
ADESIVO"

Fl. 14/14

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