SEDUFSM JORNAL DA

Publicação mensal da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES - Agosto/Setembro de 2018 ISSN 2177-9988

Orçamento em queda
causa forte impacto na
pós-graduação da UFSM
FRITZ NUNES

Nos últimos 4 anos, os recursos do PROAP diminuíram de

forma severa na UFSM. O impacto disso é sentido no dia a dia
da universidade, conforme relatam coordenadores de pós-
graduação. Atividades como defesas de dissertações e
teses têm sido realizadas por videoconferência ou
pareceres, em substituição à troca de ideias presencial.
A participação de estudantes e professores em eventos
acadêmicos também vem sendo prejudicada. Se o
orçamento já vem em queda livre desde 2014, os
próximos anos, reféns da EC 95 (Lei do Teto de
Gastos), parecem reservar um futuro incerto.
Reportagem Especial, págs. 4 e 5.

Ainda nesta edição:

III ENE estadual. Educação, Pág. 7

Geração de pesquisadores adoecidos.
Com a Palavra, pág. 6

ACO M PAN H E A SED U FSM N A IN TERN ET

w w w . se d u fsm . o rg . b r tw itte r. co m / se d u fsm fa cebook.com / sedufsm

 02 AGOSTO/SETEMBRO DE 2018 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

PAINEL

Reajuste: servidor JURÍDICO

perde, mercado ganha

*Com informações de
Wagner Advogados
Associados

Justiça determina
Acenar ao mercado. Esse foi o objetivo do governo cortar gastos com servidores, economizando R$ 4,7
Temer ao suspender a alteração nas tabelas dos bilhões, montante que seria incluído no orçamento

servidores federais de 2019 para 2020, através da
MP 846, que já impactaria de forma pequena nos
vencimentos dos professores. A avaliação é do
professor Sérgio Prieb, do departamento de
Economia e Relações Internacionais da UFSM. Para
ele, o objetivo principal do atual governo federal é
emitir sinais ao mercado financeiro, deixando claro
que a prioridade orçamentária continua sendo o
pagamento dos compromissos com a dívida pública.
No entendimento de Prieb, mesmo sendo um ano
eleitoral, o governo Temer “parece não se importar
que a sua popularidade perante os servidores
diminua ainda mais”. Para o professor e economista,
a ação governamental “aponta ao mercado e ao
futuro governo que é necessário cumprir a 'tarefa' de
ANDES-SN vai ao MEC e denuncia precarização
No dia 30 de agosto, diretores do ANDES-
progressão desde
de 2019 e que acaba adiado para 2020”.
A proposta, que foi divulgada via medida provisória
em 1º de setembro, ainda precisa ser analisada por
uma comissão mista de deputados e senadores,
antes de ser encaminhada para o Plenário da
o preenchimento
Câmara. Se não for votada em quatro meses, a MP
perde sua validade.
dos requisitos
A MP 849 adia alguns efeitos da Lei 13.325/16, que Uma decisão da Justiça Federal beneficiou
é fruto de um acordo do governo de Dilma Rousseff os professores da Universidade Federal
com outra entidade sindical durante a greve docente Rural de Pernambuco (UFRPE) e pode
de 2015, e modifica a Lei 12.772/12, que trata da reforçar decisões favoráveis em outras
carreira do magistério superior federal. O ANDES- universidades Brasil afora, inclusive na
Sindicato Nacional dos Docentes foi contrário ao UFSM. O assunto sobre o qual os docentes
acordo e à lei por considerar que ela desestruturava daquela universidade, representados pela
ainda mais a carreira docente.
Associação dos Docentes da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (ADUFERPE),
obtiveram vitória foi a progressão funcional.
Ocorre que a universidade vinha
determinando que os benefícios financeiros

ANDES-SN
SN foram recebidos pelo Secretário decorrentes das progressões fossem
Executivo do Ministério da Educação (MEC), contados somente a partir da data da
Henrique Sartori. Na pauta da reunião publicação da portaria que concede as
estava: a situação orçamentária das univer- progressões, e não a partir da data em que
sidades públicas, os concursos públicos, a os requisitos legais para a progressão foram
situação de professores da carreira do preenchidos. Desta forma, a instituição
Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) causava prejuízos financeiros e profissionais
e condições de trabalho. Além disso, foi a seus servidores.
debatido o aumento de casos de persegui- Ao conceder a vitória aos servidores, a
ção e criminalização a docentes. Justiça Federal considerou que a UFRPE não
O presidente do Sindicato Nacional, Anto- possui competência para limitar os efeitos
nio Gonçalves, apresentou as reivindicações, financeiros e funcionais das progressões dos
destacando o grave contingenciamento docentes, pois esta decorre de lei. Permitido
orçamentário pelo qual o Ensino Superior
Antonio Gonçalves, presidente do ANDES-SN à universidade é a regulamentação do
Público passa. “Há um contingenciamento
processo de avaliação de desempenho e dos
na ordem de 40% nas universidades. Isso precariza as nossas condições de trabalho”, destacou.
A resposta foi que o MEC está buscando liberar 100% das verbas previstas para este ano. O secretario respectivos critérios.
disse considerar uma vitória ter conseguido manter na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do ano que Além de conceder a progressão funcional
vem os recursos de 2018 acrescidos da inflação. Eblin Farage, secretária-geral do ANDES-SN, rebateu, desde a data do preenchimento dos
argumentando que este orçamento é inferior do que o de 2015. “As universidades estão trabalhando no requisitos legais, a UFRPE foi condenada a
seu limite”, denunciou. pagar aos professores as diferenças
remuneratórias atualizadas monetaria-
LDO e a Lei do Teto
mente e acrescidas de juros e correção.
Os representantes do ANDES-SN questionaram o fato de a LDO limitar a realização de concursos à Embora ainda caiba recurso neste
previsão orçamentária que já está submetida à EC/95 (Lei do Teto), e cobraram uma posição do MEC. “A processo, o advogado Flavio Ramos, do
LDO permite a realização de concurso, desde que não tenha aumento da despesa”, destacou Antonio escritório Wagner Advogados Associados,
Gonçalves. No atual quadro, na medida em que os professores se aposentam e não forem realizados que presta assessoria jurídica à Sedufsm, diz
concursos, a carga de trabalho aumenta para os que ficam. que a decisão obtida pelos professores da
Eles ainda denunciaram e cobraram do MEC uma resposta para os graves casos de editais que UFRPE reforça a possibilidade de vitória em
permitem a contratação de professores voluntários. O secretário afirmou que não tinha dados sobre
outras universidades cujos docentes sofram
esses casos e solicitou ao sindicato as informações para poder fazer consulta ao jurídico do MEC. O
situação semelhante. O advogado também
presidente do ANDES-SN entregou parecer da Assessoria Jurídica do ANDES-SN sobre
inconstitucionalidade de tais editais. esclarece que na UFSM, embora não haja
Para saber mais sobre os outros pontos discutidos na reunião do MEC, como por exemplo, a situação da ação coletiva sobre este assunto, há casos
carreira dos professores EBTT, acesse o site www.sedufsm.org.br. isolados.

EXPEDIENTE
A diretoria da SEDUFSM é composta por: Presidente: Júlio Ricardo Quevedo dos Santos; Vice-Presidente: João Carlos Gilli Martins; Secretária-Geral: Maristela da Silva Souza; Primeira
Secretária: Leila Regina Wolff; Tesoureiro-Geral: Gihad Mohamad; Primeiro Tesoureiro: Carlos Alberto da Fonseca Pires; Primeira Suplente: Valeska Fortes de Oliveira; Segunda
Suplente: Adriana Graciela Desire Zecca; Terceira Suplente: Roselene Moreira Gomes Pommer.
Jornalista responsável: Bruna Homrich Vasconcellos (MTb nº 17487) Equipe jornalismo: Fritz R. Nunes, Ivan Lautert e Rafael Balbueno
Equipe de Relações Públicas: Fernanda Brusius e Vilma Ochoa Demais funcionários: Dirleia Balensiefer, Maria Helena Ravazzi, Paulo Marafiga e Rossana Siega
Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda Ilustração: Rafael Balbueno Impressão: Gráfica Pale, Vera Cruz (RS). Tiragem: 1.500 exemplares.
Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem as assina. Sugestões, críticas e opiniões podem ser enviadas via fone (55) 3222-5765 ou pelo email
sedufsm@terra.com.br
Informações também podem ser buscadas no site do sindicato: www.sedufsm.org.br A SEDUFSM funciona na André Marques, 665, cep 97010-041, em Santa Maria (RS).
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES AGOSTO/SETEMBRO DE 2018 03

SEDUFSM

Contas
Transparentes. Esse foi o
aprovadas
ções dos livros contábeis trimes-
adjetivo usado pela representante tralmente, o que tornou,
do Conselho Fiscal da Sedufsm, segundo ela, o trabalho mais
professora Silvana Grunewaldt, minucioso. Após a leitura do
para definir as contas do sindicato parecer do conselho fiscal, na
referentes ao primeiro trimestre assembleia do dia 12 de setem-
de 2018. Ela destacou a nova bro, a assembleia aprovou o
metodologia utilizada, com avalia- documento de forma unânime.
Durante essa mesma plenária
também foram eleitos os três
membros titulares do Conselho
Fiscal, que são: Adriano Figueiró
(Geociências), Gianfábio Pimen-
tel Franco (Enfermagem da
UFSM/Palmeira das Missões) e
mais Silvana Grunewaldt (Histó-
ria), que foi reconduzida. Para a
suplência do Conselho, que
necessita de três nomes, apenas
um deles foi escolhido na assem-
bleia: o da professora Fabiane
Costas (Educação). Os outros dois
nomes serão escolhidos numa
próxima plenária.

Cinco anos depois,

jornadas de junho ainda
abalam sistema político
Fotos: RAFAEL BALBUENO

29/09: Protesto contra fascismo e preconceito em Santa Maria

Sedufsm sedia seminário

Polarização
atravanca diálogo
Ao participar da 75ª edição do projeto 'Cultura na Sedufsm', no dia 20 de
agosto, o professor de Gestão de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado,
destacou que se vive, no Brasil, um cenário político extremamente
polarizado, ainda que tal polarização não se assente sobre bases assim tão
sólidas.
Um exemplo citado pelo professor da USP, que também pesquisa os
debates políticos nas redes sociais, é o de que boa parte dos manifestan-
tes anti-corrupção e pró-impeachment de Dilma Rousseff não eram
necessariamente contra pautas que favorecessem os direitos das mu-
lheres. De outra parte, manifestantes em defesa de Lula não negavam a
importância da luta contra a corrupção. Ou seja, embora por vezes
pudessem defender questões semelhantes, tais pessoas têm o diálogo
atravancado devido a narrativas consideradas marcadas e limitadoras.
A íntegra da fala de Ortellado, que dividiu a mesa de debate com o
jornalista Alexandre Haubrich, está disponível no canal de youtube da
Sedufsm.
sobre direitos das mulheres
e capacitismo
Nos dias 28 e 29 de setembro, professores de diversas partes do
país vieram a Santa Maria debater, centralmente, dois temas:
direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, e capacitismo. A
problemática do aborto foi observada sob uma perspectiva ampla
e interseccional, com atenção às especificidades das mulheres
negras, trabalhadoras, com deficiência e religiosas. Já a ideia de
capacitismo foi debatida sob olhar crítico, visto que, para as
debatedoras, o Brasil – e suas universidades públicas – ainda
engatinham no que tange à garantia plena de direitos às pessoas
com deficiência. Quem desejar ler as matérias na íntegra, basta
acessar o site da Sedufsm.
Ao fim do seminário, os participantes juntaram-se aos milhares
que saíram em marcha pelas ruas de Santa Maria
sob o grito de #EleNão, em referência ao
presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).
 04 AGOSTO/SETEMBRO DE 2018 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES AGOSTO/SETEMBRO DE 2018 05

COM A PALAVRA ESPECIAL

Orçamento da pós
dades do país e até de instituições
estrangeiras. “Este ano, contudo, o
evento ficou mais restrito, procuramos
convidados que fossem do estado para
facilitar a vinda e reduzir os custos”,
também se fizeram sentir. O
coordenador do Programa de Pós-
Graduação em História da UFSM, Luís
Augusto Farinatti, diz que “a diminuição
severa dificulta muito o trabalho”.
de enfrentada pelo programa: a insufi-
ciência de funcionários. A História tem
cursos de Mestrado e Doutorado,
porém apenas uma servidora para
secretariar a ambos. Para o coorde-
intercâmbios com diferentes contextos e
áreas, além de dificultar que se possam
buscar opiniões a seus projetos em
outros locais, pois dificulta a vinda de
pesquisadores de outros lugares para as

em queda
u ed livre
conclui. Segundo o docente, as dificuldades nador, seria necessária a contratação qualificações de projetos de pesquisa”,
Situação semelhante é relatada pela repousam, sobretudo, no apoio à de outra(o) técnica-administrativa em avalia o estudante.
professora Fernanda de Castilhos, participação de estudantes e educação.
EC 95
Em quatro anos, coordenadora do Programa de Pós- professores em eventos. Embora não
Bolsas Bolsasinsuficientes
(Título grande) EC 95

a
Graduação em Engenharia Química da seja o ideal, a coordenação tem (Entretítulo) insuficientes Em vigência desde dezembro de

recursos caem pela UFSM. Ela diz que as principais

dificuldades decorrentes da diminuição
priorizado a participação discente em
tais congressos, visto que os profes-
Segundo dados fornecidos pela Pró-
Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
2016, a Emenda Constitucional (EC) 95,
antes conhecida como 'PEC do Teto de

metade na UFSM dos recursos do PROAP são sentidas nas

bancas de avaliação e na participação em
sores teriam como buscar outras fontes
de financiamento.
(PRPGP), os estudantes de pós-
graduação (mestrado, doutorado,
Gastos' ou, ainda, 'PEC do Fim do
Mundo', vem sendo o pano de fundo de

l Cortes desde 2014

Entre 2014 e 2018, o valor do
Programa de Apoio à Pós-Graduação da
Capes (PROAP), destinado aos cursos de
congressos. “Estamos destinando os “Temos obrigação de ir a congressos especialização e pós-doutorado) uma série de projeções bastante
representam 18,6% da comunidade pessimistas para as universidades
Pesquisa, Paulo Renato Schneider, universitária na UFSM. Apenas em públicas brasileiras. Para exemplificar a
afirmou à Assessoria de Imprensa da 2018, 2.159 pessoas matricularam-se situação, o reitor da UFRJ, Roberto Leher,
Sedufsm que uma das atividades
Embora a EC 95 desenhe um futuro contingenciado para as universidades públicas,
em cursos de mestrado na instituição, conta, em artigo intitulado 'A catástrofe

i
pós-graduação da UFSM, teve um corte
de R$ 2.089.194,76 milhões. Enquanto
de 2007 a 2014 o montante vinha
conhecendo incremento a cada ano, a
afetadas tem sido a mobilidade de dados repassados à Assessoria de Imprensa da Sedufsm pela PRPGP/UFSM indicam
1.587 em cursos de doutorado, 1.360 se aproxima das universidades federais e
estudantes para eventos, bem como o que o valor do PROAP destinado aos cursos de pós-graduação vem diminuindo
em cursos de especialização e 115 em do sistema de ciência e tecnologia', que,
pagamento de diárias para que eles anualmente desde 2014. Veja o gráfico.
pós-doutorado, totalizando 5.221 em 2015, a instituição teve aprovado um
consigam se manter durante o evento. estudantes matriculados na pós- orçamento de R$ 341 milhões para

v
partir de 2015 a cifra caiu para menos da
metade: de R$ 3.635.646,66 milhões em
2014, o orçamento baixou para R$
Dessa forma, há diminuição sensível de graduação apenas este ano. custeio e investimento, contudo, R$ 53
estudantes da UFSM apresentando
trabalhos em congressos e simpósios
EVOLUÇÃO DO VALOR DO PROAP: Estudantes de mestrado e doutorado
têm direito às chamadas bolsas de
milhões deste valor foram contingen-
ciados.

PROGRAMA DE APOIO À PÓS-GRADUAÇÃO/CAPES

2.174.635,66 milhões no ano seguinte. acadêmicos fora da cidade.

r
Em 2016, mais cortes reservaram ao
PROAP apenas R$ 1.365.306,55 milhões.
Em 2018, o valor ficou em R$
1.546.451,90 milhões.
“Estas atividades foram afetadas
porque tivemos uma redução de R$
3,63 milhões de reais, e hoje não
vemos perspectiva de aumentar [o
demanda social, disponibilizadas pela
Capes. Hoje, todos os cursos de
mestrado da UFSM dispõem, juntos, de
539 bolsas; e os de doutorado, de 729.
4000000 Ocorre que, nestas duas modalidades
Já em 2018, o orçamento foi
reduzido para R$ 282 milhões. “As verbas
de investimento despencaram de R$ 51
milhões, em 2016, para R$ 6 milhões em
2018. E com isso prédios estão com a

e
Este valor é repassado diretamente às
coordenações dos cursos de pós-
graduação da UFSM de acordo com a
nota de cada curso e o número de bolsas
de mestrado e doutorado disponíveis.
Direcionado para atender demandas de
custeio, como despesas vinculadas à
coleta de dados, participação de alunos e
professores em eventos acadêmicos,
aquisição de insumos para desenvolvi-
mento das pesquisas e pagamento de
orçamento]. Essa diminuição de recur-
so provocou uma mudança na forma de
efetuar, por exemplo, as qualificações e
defesas de dissertações e teses. Hoje já
se gasta muito pouco com a vinda de
professores para as bancas avalia-
doras. As coordenações dos cursos têm
utilizado outros recursos, como vídeo
conferências, mas acho que nada
supera o presencial”, pondera
Schneider.
Valor R$
da pós-graduação ingressaram, em
3635646,66 2018, 3.746 estudantes, o que já
demonstra a insuficiência do número
3500000 de bolsas. Tal defasagem é acirrada se
3197626,66 contabilizados os estudantes matricu-
lados até 2017 e que, portanto, ainda
3000000 2897216,66 seguem realizando suas pesquisas na
instituição.
Schneider diz que os pequenos
acréscimos anuais no número de
2500000 2375156,66
bolsas devem-se à criação de novos
construção interrompida, os prédios
prontos estão sem fornecimento de
energia, moradias estudantis ficam
atrasadas, alimentando a evasão de
estudantes. E o estoque da dívida
somente não cresce em virtude do forte
corte de gastos de custeio empreendido
desde 2015, ceifando mais de 1,3 mil
postos de trabalho terceirizados. Mas os
cortes chegaram ao limite”, atesta Leher.
Para Piovesan, a EC 95, ao

pequenos serviços, os recursos do
PROAP são essenciais à manutenção da
dinâmica de pesquisa nas universidades
públicas brasileiras.
Contudo, boa parte dessa dinâmica
vem sendo consideravelmente atrapa-
lhada em função do contingenciamento.
O pró-reitor de Pós-Graduação e
Paulo Renato
Schneider
(PRPGP)
BRUNA HOMRICH
Letícia Cruz é coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em
Ciências Farmacêuticas da UFSM e diz
que a redução dos recursos do PROAP
“tem nos afetado principalmente no
que se refere à vinda de professores
externos à universidade para partici-
parem das bancas finais dos trabalhos
de Mestrado e Doutorado. Por restri-
ções orçamentárias, a gente acabou
realizando muitas defesas de
dissertações e teses com
emissão de pareceres e não
com a presença dos mem-
bros externos. Embora a
avaliação via parecer
esteja incluída no regi-
mento geral da pós-
graduação na UFSM, é
claro que a ausência do
2174635,66 cursos: cada novo mestrado tem direito estabelecer um teto de gastos conforme
a duas bolsas; cada novo doutorado, a a inflação, representa um ataque direto
2000000 4. “Ou seja, essa evolução [no orça- ao fomento da pesquisa e da ciência no
1660926,67
1572659,13 mento das bolsas] não é por terem Brasil. “Ela surge do contexto de golpe
1627926,67
1546451,90 aumentado as bolsas nos programas, que passamos no país em 2016. Talvez a
1500000 1377786,67 1365306,55 mas sim por ter aumentado o número grande questão que esteja por trás da EC
1257300,00 de programas da universidade”, diz o 95 é o papel da educação no país, se é
pró-reitor, ressaltando a habilidade dos gasto ou se significa investimento. Para
coordenadores de programas de pós- nós, a educação deve ser tratada como
1000000 graduação em orquestrarem o investimento, o que significa que ela
orçamento apertado e adaptarem-se à precisa de orçamento financeiro
nova realidade financeira. compatível com as necessidades de
500000 Na UFSM, a entidade que representa respostas que são exigidas dela. Limitar
politicamente os estudantes de pós- o percentual de recursos que serão
graduação é a Associação de Pós- destinados ao setor da educação – do
Graduandos (APG), cuja diretoria eleita qual a pós-graduação faz parte -
0
para 2018-2019 tomou posse no último representa uma visão de que ela é uma
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 dia 17 de setembro. Regis Piovesan, mercadoria e tem papel secundário na
membro da coordenação-geral da APG nossa sociedade. Nós discordamos dessa
Anos e mestrando em Extensão Rural e visão! Há alguns dias, o governo federal

avaliador acaba reduzindo
as discussões sobre o
trabalho, que poderiam
ocorrer presencialmente”,
relata a professora.
Ela ainda diz que a queda nos
recursos do PROAP tem dificultado a
participação de estudantes e profes-
sores em eventos. “Está muito caro
tanto para custear a taxa de inscrição
[nos eventos] quanto para a mobilida-
de de professores e estudantes. Este
ano acabamos não propiciando a ida de
alunos e professores para eventos no
exterior. Todos os anos, a gente
buscava mandar pelo menos um núme-
ro pequeno [de estudantes e profes-
sores], porque essa divulgação de
trabalhos no exterior também conta na
avaliação dos programas pela Capes”,
explica Letícia, acrescentando que,
anualmente, o programa de pós-
graduação em Ciências Farmacêuticas
realiza um evento interno com a presen-
ça de palestrantes de outras universi-
Fonte: Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa/UFSM
poucos recursos para os laboratórios, apresentar os resultados de nossas
pois priorizamos a formação dos alunos. pesquisas. Para as bancas de avaliação,
Com isso, as bancas presenciais diminuí- muitas vezes temos que apelar para a
ram muito e as avaliações por videocon- videoconferência, que dá para fazer,
ferência aumentaram. A participação em mas não é o ideal, pois exige uma
congressos praticamente não existe infraestrutura que a universidade não
mais, e quanto às publicações, procura- tem. O ideal seria manter a tradição de
mos publicar artigos em revistas que não trazer professores para as bancas e
tenham custos”, conta Fernanda. aproveitá-los para palestras”, explica
Nas ciências humanas, os cortes Farinatti, acrescentando outra debilida-
Desenvolvimento no Programa de Pós-
Graduação em Extensão Rural, explica
que o PROAP destina-se a fornecer
auxílio aos estudantes tanto na
formação quanto na execução de seus
projetos científicos.
“Assim, os cortes de recurso do
programa dificultam a participação em
eventos científicos e congressos, a
execução de pesquisas de campo, o
investimento em cursos durante a pós-
graduação, a qualificação de seus
projetos de pesquisa por meio de
propôs um orçamento baseado na EC 95.
Esse orçamento era insuficiente para
atender as demandas da educação
brasileira. Com muita luta e pressão é
que conseguimos fazer o governo recuar.
Mas não podemos ficar à mercê da
vontade dos governos. Queremos que o
estado brasileiro se comprometa de
verdade com a educação e a pós-
graduação no Brasil”, defende o
coordenador-geral
da APG.
 06 AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
COM A PALAVRA
RAFAEL BALBUENO
Sedufsm - Essa incerteza orçamen-
tária, que parece denunciar um
sempre iminente colapso na pós,
afeta de que forma a dedicação e o
entusiasmo dos estudantes que se
dedicam à pesquisa no país?
Rosana - A minha geração entrou na
pós-graduação podendo escolher para
onde iria fazer o sanduíche [parte do
doutorado em outra universidade brasi-
leira ou estrangeira]. Éramos uma gera-
ção cheia de esperança. A geração de
agora é a da desesperança. Podemos
falar que existe uma epidemia de
depressão na pós-graduação, e isso está
totalmente vinculado ao neolibera-
lismo. É uma ideia de ter que trabalhar
cada vez mais por menos. Com os
cortes, os estudantes entram sem saber
se vão conseguir terminar, com a bolsa
atrasando, sabendo que não vão poder
fazer um sanduíche fora. Eles não
conseguem sonhar. Veem que a situação
está muito feia, que não tem emprego,
que os concursos estão acirradíssimos. É
todo um cenário de desesperança, e não
tem como você fazer pesquisa, que
depende de criatividade, a partir da
desesperança. A pessoa fica focada em
pagar conta, em sobreviver.
Sedufsm - Em meio à escassez de
recursos e de oportunidades, pode-
mos dizer que a concepção produti-
vista do conhecimento encontrará
terreno para se agigantar?
Rosana - No momento em que você
promove cortes, os poucos recursos que
existem serão hiper-disputados, exigin-
do aumento da competição, da lógica
produtivista e individualista. Isso é a
subjetividade neoliberal, que faz as
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
ROSANA PINHEIRO-MACHADO
Geração
adoecida
Após publicar, em 2016, na revista Carta Capital, o artigo
'Precisamos falar sobre a vaidade na vida acadêmica', a cientista
social e antropóloga Rosana Pinheiro-Machado recebeu dezenas de
cartas. Eram relatos de pós-graduandos e professores sobre as
pressões, a competividade e o adoecimento presentes na rotina
acadêmica. As 40 cartas serão publicadas em livro organizado por
Rosana e possivelmente publicado no ano que vem. “A primeira coisa
é quebrar o silêncio. Falar é fundamental”, diz a docente visitante do
programa de pós-graduação em Ciências Sociais da UFSM. Ela
permanece em Santa Maria até agosto de 2019 e, depois, talvez
retorne à Universidade de Oxford, onde lecionou de 2013 a 2016.
Rosana tem sido referência para quem conserva um olhar crítico
sobre a pós-graduação no país. Nesta entrevista, ela comenta os
impactos dos cortes orçamentários na pesquisa e na psique dos
estudantes, além de relacionar a escassez de recursos ao aumento da
competitividade e do individualismo, cernes da subjetividade
neoliberal. Abaixo, nosso bate-papo.
pessoas acreditarem muito na ser em Educação, estuda Paulo Freire, com competição entre os próprios
trajetória do mérito e correrem atrás por exemplo. Em qualquer universi- colegas, com uma carga horária cada
de um tipo de produtividade que é dade internacional você não pode ser vez maior porque não abre concurso.
irreal e leva ao adoecimento, pois é professor sem passar por um processo Mais docência, mais burocracia, mais
insano. É uma questão matemática: de pedagogia crítica e formação pedido por produtividade, mais
diminuem os recursos, aumenta a didática. Então a gente [no Brasil] estudantes infelizes.
competição. E isso consequentemente forma quase máquinas de produzir Sedufsm - O que se pode fazer,
aumenta o número de artigos, e sem nenhum dentro do modelo atual de pós,
depressão no meio aca- preparo para a parte para amenizar estas questões?
dêmico, porque pouquís- “Não tem docente, porque a lógica Rosana - Os estudantes podem criar
simas pessoas conse- é produzir, produzir, grupos de acolhimento e de fala/escuta.
guem lidar com um am-
como fazer produzir. O modelo diz Os alunos vivem isso como um fracasso
biente competitivo numa pesquisa que seremos profes- individual, acham que são burros. Mas
cultura, como a brasilei- sores, mas isso é men- quando a gente coloca cinco pessoas
ra, que não é da compe-
a partir da tira. Quando fazemos um para dizer que está todo mundo se
tição. Isso aumenta os desesperança” concurso, sabemos que achando burro e que não está dando
'feudos' e a narrativa a aula talvez seja o que conta, isso melhora 50% dos pro-
autoconstruída de que conte menos, que o que ble mas , porque ne s s e mode lo
'eu sou melhor de que os meus pares'. mais conta é o teu currículo. Você meritocrático as pessoas tendem a viver
Sedufsm - Embora não total- entra num concurso por quantos esse sofrimento como uma culpa
mente, os estudantes que passam artigos A1 você publicou, e não pelo individual, uma carga ainda maior de
pela pós-graduação são, em sua professor que você é. fracasso. A primeira coisa é o
maioria, docentes em formação. Sedufsm - O que a senhora tem acolhimento entre os próprios
Que tipo de docente a senhora observado sobre o adoecimento estudantes, não que eu ache que os
acha que o atual modelo de pós docente? estudantes têm que solucionar um
vem ajudando a moldar, no país? Rosana - Essa angústia por produti- problema que é estrutural, seria covarde
Rosana - No Brasil a gente não tem vidade afeta todos. Há a chantagem dizer isso. Mas os estudantes podem se
formação para ser professor. Ou você real de ser descredenciado da pós se acolher, auto-organizar grupos de
faz licenciatura e aí tem uma forma- não produzir artigos A1, todo o escuta e aconselhamento.
ção, ou você vai para a pós e não professor vive isso. Isso está levando à Os estudantes também podem e devem
precisa de nenhuma formação crítica tristeza, adoecimento, mal-estar, exigir curso de escrita acadêmica,
docente pedagógica. Isso faz com que maior competição entre os departa- porque os estudantes não são
a gente forme um contingente de mentos. Também há aumento da preparados a escrever. A maioria dos
profissionais que verá a pós como um burocratização da vida universitária, estudantes tem bloqueio e depressão
lugar onde você tem que publicar, com todas as plataformas da Capes [muitas vezes com tentativas de
então não precisaria de nenhum que transformam o professor num suicídio] durante o processo de escrita.
preparo docente. Vejo que os profes- burocrata, e ele não tem que fazer É preciso apoio formal à escrita, mostrar
sores entram única e exclusivamente isso, mas não tem uma estrutura que é um trabalho árduo, em que todo
com a lógica de pesquisa e produti- universitária que faça, então os dia se avança um pouco, que vai sair
vidade, sem formação de pedagogia professores têm que lidar com diversas ruim no início e depois se arruma.
crítica. Nenhuma pós no Brasil, a não plataformas, com diversos estudantes,
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
EDUCAÇÃO
III ENE pensa educação
em tempos de resistência
Etapa estadual do Encontro ocorreu no final de agosto em Porto Alegre
Junto ao centro-histórico da capital gaúcha, a
Escola Técnica Parobé foi fundada em 1906 pelo
engenheiro José Pereira Parobé, e funciona em um
conjunto de prédios históricos que datam do final da
década de 1920. As estruturas de paredes grossas
em que faltam nacos de reboco aqui e ali revelam
aqueles tijolos maciços antigos, cor de argila bem
clara. Sua conservação é funcional e dentro do
mínimo necessário, atende no limite ao intenso fluxo
de estudantes que lotam todas as turmas abertas.
Na guarita de segurança, na entrada da escola, um
cartaz tem escrito em maiúsculas: NÃO HÁ MAIS
VAGAS PARA O ENSINO MÉDIO. A Parobé é um
reflexo do cenário de precarização e descaso em que
se encontra a educação pública e, ainda assim, a
escola funciona, atendendo a milhares de alunos
todos os dias em três turnos, sustentada na força de
seus trabalhadores e trabalhadoras.
E é na Parobé que aconteceu, de 24 a 26 de agosto,
a etapa estadual do Encontro Nacional de Educação
(ENE). Em sua terceira edição, o encontro trouxe
como tema a seguinte frase: “Por um projeto clas-
sista e democrático de educação”. Assim, o ENE
busca articular a construção de uma proposta alter-
nativa ao avanço privatista na educação pública
brasileira, contrapondo-se à reforma do ensino
médio e à interferência externa no ambiente escolar
e na autonomia dos trabalhadores da educação –
como é o caso de propostas como o “Escola sem
partido” e a Base Nacional Curricular Comum
(BNCC).
A crise da educação
(Entretítulo) A crise da educação e seus
e seus trabalhadores
trabalhadores
A primeira mesa do evento tratou do tema
“Capitalismo, trabalho e educação”. Participaram do
debate a secretária-geral do ANDES-SN, Eblin
Farage, o professor da rede municipal de Porto
Alegre, Gustavo Bueno, e Joaninha Oliveira, da
executiva nacional da CSP-Conlutas.
Eblin ressaltou a importância da luta contra
medidas como a 'Escola sem Partido', que tentam
esvaziar a reflexão dentro das escolas. “É importante
entender que o capitalismo não é apenas uma forma
de produção, mas também uma forma de pensar”,
ressalta Eblin, “não podemos ser reprodutores da
ideologia dominante, sem pensar ou refletir” conclui.
A professora alerta também para o aumento do
conservadorismo no ambiente das universidades.
“Precisamos resistir a estes ataques e lutar para a
construção de uma educação que leve à emanci-
III ENE Estadual na Escola Técnica Parobé (POA)
AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Escola sem Partido esvazia reflexão na escola, dizem educadores
pação humana, uma emancipação que não cabe na
lógica do capital”, diz a professora Eblin antes de
concluir: “portanto, não podemos nos limitar nem às
eleições e nem ao capitalismo”.
A professora aposentada Joaninha Oliveira alertou
para o caráter internacional de medidas como a
Reforma do Ensino Médio, que diminui drastica-
mente a oferta de disciplinas nas escolas. Segundo
Joaninha, medida semelhante foi implementada no
Canadá e está em debate em diversos países, como a
Espanha e o México.
Gustavo Bueno, integrante do comando de greve
dos municipários de Porto Alegre, que estavam
paralisados durante a etapa estadual do ENE, apre-
sentou o relato de luta dos trabalhadores contra a
administração do prefeito Nelson Marchesan Júnior.
Ele denunciou a invasão do ambiente escolar pelo
discurso empresarial, pelos jargões do “empreende-
dorismo” e pela ideia do diretor de escola como um
gestor de uma empresa privada. Ele finalizou suge-
rindo que as escolas reajam de forma organizada ao
avanço conservador e que os alunos são muito
importantes nesta luta, já que “a precarização na
escola é para os professores, mas também para os
alunos”.
Vários saberes, vários ensinos
(Entretítulo) Vários saberes, vários ensinos
A segunda mesa do evento tratou sobre as
diferentes experiências de ensino, em culturas,
espaços, métodos e territórios diversos. Intitulada
“Experiências de Educação Popular no Capitalismo”,
a mesa contou com o educador social e professor de
capoeira, Vladimir Motta; o vice-cacique da aldeia
guarani Maquiné, Karahy Tiaguinho; o estudante de
história que esteve nas ocupações de 2016 quando
era secundarista, Gabriel Fernandes; a professora do
Assentamento Madre Terra em São Gabriel, Daiane
Marçal; e a estudante de jornalismo da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Júlia Maria, que
ajudou a construir a ocupação da UFSM em 2016.
07
Fotos: IVAN LAUTERT
Os participantes expuseram a importância da luta
em defesa dos espaços de ensino, ainda que
precarizados, com no caso da Escola 'Semente
Libertária', no Assentamento Madre Terra em São
Gabriel, que anualmente sofre ameaças de fecha-
mento. Debateram formas alternativas de ensinar,
como a educação afrocentrada, que usa a capoeira
como forma de contar e ensinar a história do povo
negro; e a educação constante e fluida dos indíge-
nas, que trocam experiências e saberes entre jovens
e mais velhos. Além disso, a importância da cons-
ciência e luta dos alunos também foi defendida,
mostrando que as ocupações de 2016 ressignifi-
caram os espaços de ensino e promoveram a
formação política de milhares de jovens estudantes.
Apresentação cultural
Definições para 2019
(Entretítulo) Definições para 2019
A etapa nacional do III ENE ocorrerá no Rio de
Janeiro, em abril de 2019. O documento que a etapa
estadual irá apresentar foi construído na plenária de
encerramento que apontou os principais tópicos que
estarão presentes na Carta de Porto Alegre. O
documento, que ainda será apresentado, irá
sintetizar os debates das
mesas e dos Grupos
de Trabalho.
 08 AGOSTO/SETEMBRO DE 2018 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

PERFIL

Docência e
paternidade
Os dois minerais mais deficitários na acaba consumindo menos carne, que é
dieta humana são, hoje, o ferro e o uma excelente fonte de ferro e zinco,
zinco. Ao mesmo tempo, um dos ou alimentos mais diversificados,
alimentos mais consumidos mundial- como brócolis e espinafre, que têm um
mente, o arroz, é extremamente pobre pouco mais de ferro. Os mais afetados
nestes dois nutrientes. O objetivo pela falta de ferro e zinco na dieta são
central das pesquisas lideradas pelo as crianças. O desenvolvimento delas
professor do departamento de Biologia é prejudicado”, diz Ricachenevsky.
da UFSM, Felipe Ricachenevsky, é Natural de Cruz Alta, aos 17 anos
gerar uma planta de arroz que acumule mudou-se para Porto Alegre, tendo
mais desses dois nutrientes, enrique- feito toda sua formação – desde a
cendo, assim, o consumo humano. graduação até a pós – na UFRGS.
Para tal, o docente e seus alunos Ingressou como docente da UFSM em
acionam disciplinas como fisiologia julho de 2015, integrando, além do BRUNA HOMRICH
vegetal, biologia molecular, genética e departamento de Biologia, o programa
ecologia, a fim de desco- de pós-graduação em
brir os mecanismos que Agrobiologia (UFSM), e
permitem a chegada do também o programa de
Felipe Ricachenevsky integra o departamento de Biologia/UFSM desde 2015
pouco de ferro e zinco “É preciso pós em Biologia Celular e
existente hoje nos grãos Molecular da UFRGS. como o 'Ciências sem Fronteiras', pois, decidem ser mães, e propõe caminhos
de arroz. Desvelada a dividir Embora tenha vindo para além do intercâmbio intelectual, a para que a estrutura da carreira seja
mecânica da planta, seria ônus da Santa Maria sem nenhum vivência em outro país e o contato com sensível a este período da vida das
possível ao grupo com- outras culturas ajuda “a criarmos mulheres.
maternidade” vínculo afetivo ou institu- massa crítica para melhorar as coisas. Felipe explica que, hoje, os ônus pela
plexificar esse processo, cional prévio à aprovação
aumentando as quanti- no concurso, ele conta Esse choque cultural nos ajuda a maternidade são direcionados apenas
dades de ambos os que foi muito bem aco- começar a mudar as coisas aqui”, às mães, sendo necessárias políticas
nutrientes. Outro caminho possível lhido pelos colegas. “Foi uma recepção pondera Ricachenevsky. como ampliação da licença paternida-
para enriquecer este grão é investigar extremamente positiva, que infeliz- No currículo Lattes do professor, de. Enquanto tais mudanças institu-
parentes selvagens do arroz, não mente não é tão comum, pois muitas além de uma extensa formação cionais não chegam, ele defende o
cultiváveis na atualidade, porém que vezes as universidades recebem um acadêmica e profissional, consta sua posicionamento solidário dos profes-
apresentem mais ferro e zinco em sua novo concursado e não se preparam posição de pai. A última frase de seu sores homens em reuniões de depar-
composição. “Ou seja, o problema já para receber aquela pessoa”, diz. texto de apresentação na plataforma tamento e demais atividades didáticas
pode estar solucionado na própria Ainda que o período seja de incer- atesta: “Hoje tem como projeto princi- e burocráticas. “Além do óbvio, que é
natureza”, explica o docente, que tam- tezas para a pós-graduação brasileira, pal, com dedicação exclusiva e em assumir em casa, em termos de
bém esclarece o porquê de seu grupo o professor acredita ser necessário tempo integral, sua filha, nascida em igualdade, o cuidado e a preocupação
ter escolhido trabalhar com o arroz. manter a postura positiva frente aos 2016”. Maya, de 2 anos e meio, foi o com os filhos, no ambiente de trabalho
“O arroz tem um genoma pequeno, alunos, mostrando o que se pode fazer principal incentivo para o professor temos que puxar esse ônus para nós,
cresce fácil, rápido, tem várias caracte- para a situação melhorar. Ele, que teve integrar a equipe do grupo 'Parent in não só com a mãe do nosso filho, mas
rísticas que o tornam mais maleável de oportunidades de estudar no exterior, Science', que mapeia as dificuldades com as outras professoras mães que
trabalhar. Quem tem menos condições defende a importância de programas enfrentadas pelas docentes que convivem conosco”.

CULTURA
Foto: NIAH

Em uma certa manhã de 2014, setenta anos após sua morte, Adolf Hitler
acorda ao relento, na periferia de Berlim. Ao caminhar pelas ruas de uma
Alemanha completamente transformada, é visto pela população como um

Ele está
comediante que interpreta o personagem histórico. O intrigante é que ele
acredita que tem uma missão a cumprir: convencer a todos de suas ideias,
interrompidas pela derrota na Guerra. Tudo acontece quando Hitler é
encontrado por um cineasta em busca de uma grande história, que passa a

de volta
registrar sua marcha em busca de adeptos. Eles passam, então, a entrevistar
cidadãos comuns sobre os problemas atuais da sociedade alemã.
Surpreendentemente, muita gente se sente à vontade para manifestar seus
preconceitos contra imigrantes, facilmente alguns concordam com a ideia de
(2015, 1h56) uma “raça pura”, outros falam abertamente em aniquilar os adversários, e
não são poucas as pessoas, muitas delas jovens, que pedem para aparecer
sorridentes em vídeos e fotos ao lado do Fuhrer. O filme 'Ele está de volta',
disponível na Netflix, rende muitas risadas, mas também faz lembrar que o
Luciana Menezes Carvalho mal pode ser derrotado, mas não morre. Ele pode ficar em
professora do Departamento de Ciências da silêncio por anos, adormecido, e acordar em uma
Comunicação da UFSM Campus Frederico Westphalen manhã qualquer, em forma de piada.