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Os ‘maquinistas’ da quarta
revolução industrial querem-se
especializados mas também
com uma visão multidisciplinar
Programadores de fresadoras CNC, técnicos de mecatrónica, soldadores e engenheiros de
soldadura, operadores de impressoras 3D, costureiros, especialistas em desenho assistido por
computador. A lista de profissões é extensa e cada uma aplica-se, em simultâneo, a alguns
dos sectores industriais com o melhor desempenho a nível nacional (como o têxtil, o calçado
ou a metalurgia). Todas partilham do mesmo hipocentro: são máquinas que as fazem existir.
E isto acontece no mesmo mundo que emite alertas sucessivos da substituição do homem pela
máquina — o Fórum Económico Mundial prevê o desaparecimento de cinco milhões de
empregos até 2020.
Talvez seja melhor não esperar que a tecnologia nos passe a perna e são cada vez mais as
vozes que pedem mão de obra especializada e atualizada. “Em todo o sector industrial, as
máquinas são criadoras de emprego líquido”, defende Manuel Grilo, diretor do CENFIM-
Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica, que
exemplifica: “Não há um profissional de metalomecânica inscrito num centro de emprego,
tanto pelo crescimento do sector [alavancado pelo aumento das exportações] como pela sua
modernização. O que acontece é que as novas tecnologias trouxeram um emprego diferente,
muito mais qualificado.”
Uma busca rápida nos principais portais de emprego dá conta da procura quase diária de
programadores e operadores de CNC (controlo numérico computorizado), que permitem
“esculpir” materiais brutos, como a madeira ou o metal, transformando-os em produtos finais
de áreas como o mobiliário ou a aeronáutica. O fenómeno não é exclusivo de Portugal, razão
pela qual “muitas empresas francesas e holandesas vêm cá buscar estes profissionais”,
descreve Manuel Grilo. No ano passado, mais de 90% das 13 mil pessoas formadas nos 13
núcleos do CENFIM (não apenas em CNC) conseguiram emprego na área em menos de seis
meses.
Fatos-macaco no guarda-roupa
Neste adeus aos tempos modernos, monitores, teclados e joysticks substituem a alta
velocidade o peso de tambores de aço e de engrenagens rudimentares nas mais diversas
indústrias. Mas a imagem generalizada da fábrica continua a emergir a preto e branco — e de
forma pouca apelativa — à vista das camadas mais jovens. “Se antes operar uma máquina
dependia de características como a resistência e a destreza manual e física, agora as máquinas
são controladas através de computadores e trabalham sozinhas”, atualiza Manuel Grilo, do
CENFIM. “Já não são trabalhos fisicamente exaustivos nem sujos e requerem pessoas com
altas qualificações, que são bem pagas por isso. E além do emprego garantido, aqui não
existem precários”, conclui, prevendo que as diferentes indústrias cresçam em força nos
próximos anos.
“Hoje podemos construir a partir do nada. Em meia dúzia de horas, conseguimos entregar um
produto a um cliente, sendo que o mercado quer o produto cada vez mais rápido e em
pequenas séries”, ilustra o profissional. A “dificuldade” está em “encontrar pessoas que
tenham consciência e conhecimento do processo de impressão 3D”, pelo que a CODI tem
investido na “carolice” (isto é, no autodidatismo) e na colaboração com universidades que se
têm iniciado em laboratórios de fabrico aditivo. Ainda assim, “não há cursos com cadeiras
específicas para isto; estamos um bocadinho atrás nesse ponto”, analisa Francisco Aguiar,
que acredita que em formações de design, em engenharias e na arquitetura, o ‘mundo aditivo’
deverá ser muito utilizado no futuro.
Mas que tipo de trabalho terão estes profissionais? Por um lado, existe a operação (simples)
de impressoras. “Para se gerir uma plataforma com 30 a 50 impressoras, é preciso ter um
operador altamente especializado que possa fazer correções e manutenção”, descreve o
especialista. Por outro, requerem-se programadores aptos para trabalhar em áreas tão díspares
como a saúde (para imprimir tecido humano, por exemplo) ou a construção civil (em casos
como a reabilitação de edifícios).
São necessários conhecimentos de materiais e de estruturas”, prossegue o responsável. Na
área do calçado desportivo, por exemplo, as grandes marcas investem milhões na tecnologia e
no desenvolvimento de solas impressas. “Cada vez mais o desenvolvimento e o entendimento
de novos materiais vai permitir ultrapassar barreiras que antigamente nos pareciam mais
complicadas”, antevê Francisco Aguiar.
Na própria CODI, que forma profissionais nestas áreas, “o recrutamento não é fácil”. “No
último ano, começam a sair mais pessoas da universidade com este bichinho, que ouviram
falar, não têm experiência mas querem desenvolver trabalho na área. A tendência do futuro
passa por termos pessoas com uma formação de base — como uma engenharia ou
eletrotecnia — mas com competências cruzadas e em formação contínua, sobretudo
profissional, em áreas distintas”, descreve o responsável.
Será que um dia a soldadura será garantida por robôs? Rute Ferraz garante que “ainda não
existe nada que substitua esta profissão”, sobretudo no caso dos procedimentos a laser (na
soldadura por resistência, a automação já dá passos consistentes). “Há apenas, neste
momento, instrumentos que apoiam e facilitam o trabalho”, para que de barras metálicas se
façam bicicletas, janelas e aviões, ainda com um pequeno cunho artesanal.