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Economia

Ainda há máquinas que dão trabalho


30.04.2017 às 22h00 / Rute Barbedo

Os ‘maquinistas’ da quarta
revolução industrial querem-se
especializados mas também
com uma visão multidisciplinar
Programadores de fresadoras CNC, técnicos de mecatrónica, soldadores e engenheiros de
soldadura, operadores de impressoras 3D, costureiros, especialistas em desenho assistido por
computador. A lista de profissões é extensa e cada uma aplica-se, em simultâneo, a alguns
dos sectores industriais com o melhor desempenho a nível nacional (como o têxtil, o calçado
ou a metalurgia). Todas partilham do mesmo hipocentro: são máquinas que as fazem existir.
E isto acontece no mesmo mundo que emite alertas sucessivos da substituição do homem pela
máquina — o Fórum Económico Mundial prevê o desaparecimento de cinco milhões de
empregos até 2020.

Talvez seja melhor não esperar que a tecnologia nos passe a perna e são cada vez mais as
vozes que pedem mão de obra especializada e atualizada. “Em todo o sector industrial, as
máquinas são criadoras de emprego líquido”, defende Manuel Grilo, diretor do CENFIM-
Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica, que
exemplifica: “Não há um profissional de metalomecânica inscrito num centro de emprego,
tanto pelo crescimento do sector [alavancado pelo aumento das exportações] como pela sua
modernização. O que acontece é que as novas tecnologias trouxeram um emprego diferente,
muito mais qualificado.”

Uma busca rápida nos principais portais de emprego dá conta da procura quase diária de
programadores e operadores de CNC (controlo numérico computorizado), que permitem
“esculpir” materiais brutos, como a madeira ou o metal, transformando-os em produtos finais
de áreas como o mobiliário ou a aeronáutica. O fenómeno não é exclusivo de Portugal, razão
pela qual “muitas empresas francesas e holandesas vêm cá buscar estes profissionais”,
descreve Manuel Grilo. No ano passado, mais de 90% das 13 mil pessoas formadas nos 13
núcleos do CENFIM (não apenas em CNC) conseguiram emprego na área em menos de seis
meses.

Na unidade de Lisboa, em Xabregas, uma fresadora de cinco eixos é a coqueluche da casa. O


investimento nesta máquina, de €200 mil, permite formar profissionais para atender às
necessidades de muitas empresas implantadas em Portugal e no estrangeiro, ainda que, nos
últimos tempos, o CENFIM não esteja a conseguir dar a resposta de que o país precisa por
atrasos de financiamento. Nos casos em que não há fundos públicos envolvidos, no entanto,
as formações continuam. Só que “grande parte das empresas são pequenas e médias empresas
e não têm capacidade de investir na qualificação dos trabalhadores”, enquadra Manuel Grilo,
que recebe cada vez mais formandos do estrangeiro.
Daqui a pouco tempo, João Gomes, aluno do CENFIM, será oficialmente especialista em
programação e operação de máquinas CNC, opção que se seguiu ao mestrado na área de
Engenharia Aeronáutica, porque saiu da universidade preparado “em termos de
conhecimentos mas não para fazer coisas concretas”, admite. “Na universidade foi tudo muito
teórico” e o horizonte, em termos de emprego na área da produção, era turvo, pelo que a
atualização de conhecimentos pela via técnico-profissional trouxe-lhe maior segurança.
Manuel Grilo e o jovem de 31 anos já discutem, aliás, o local de estágio após a formação, que
se traduzirá muito provavelmente em emprego. O mesmo deverá acontecer aos restantes
operadores.

Fatos-macaco no guarda-roupa
Neste adeus aos tempos modernos, monitores, teclados e joysticks substituem a alta
velocidade o peso de tambores de aço e de engrenagens rudimentares nas mais diversas
indústrias. Mas a imagem generalizada da fábrica continua a emergir a preto e branco — e de
forma pouca apelativa — à vista das camadas mais jovens. “Se antes operar uma máquina
dependia de características como a resistência e a destreza manual e física, agora as máquinas
são controladas através de computadores e trabalham sozinhas”, atualiza Manuel Grilo, do
CENFIM. “Já não são trabalhos fisicamente exaustivos nem sujos e requerem pessoas com
altas qualificações, que são bem pagas por isso. E além do emprego garantido, aqui não
existem precários”, conclui, prevendo que as diferentes indústrias cresçam em força nos
próximos anos.

Criadores a partir do nada


Paralelamente às técnicas de remoção, os processos aditivos ganham terreno na indústria,
apesar de sofrerem do mesmo problema de falta de mão de obra especializada. Com a
evolução da impressão 3D, “num futuro próximo, estima-se que só serão precisos 20% dos
trabalhadores mundiais da construção civil, por isso, vamos precisar de novas competências”,
assegura Francisco Aguiar, da CODI, empresa líder no comércio e design industrial com
recurso a tecnologias aditivas, que produzem matéria a partir de desenhos computorizados.

“Hoje podemos construir a partir do nada. Em meia dúzia de horas, conseguimos entregar um
produto a um cliente, sendo que o mercado quer o produto cada vez mais rápido e em
pequenas séries”, ilustra o profissional. A “dificuldade” está em “encontrar pessoas que
tenham consciência e conhecimento do processo de impressão 3D”, pelo que a CODI tem
investido na “carolice” (isto é, no autodidatismo) e na colaboração com universidades que se
têm iniciado em laboratórios de fabrico aditivo. Ainda assim, “não há cursos com cadeiras
específicas para isto; estamos um bocadinho atrás nesse ponto”, analisa Francisco Aguiar,
que acredita que em formações de design, em engenharias e na arquitetura, o ‘mundo aditivo’
deverá ser muito utilizado no futuro.

Mas que tipo de trabalho terão estes profissionais? Por um lado, existe a operação (simples)
de impressoras. “Para se gerir uma plataforma com 30 a 50 impressoras, é preciso ter um
operador altamente especializado que possa fazer correções e manutenção”, descreve o
especialista. Por outro, requerem-se programadores aptos para trabalhar em áreas tão díspares
como a saúde (para imprimir tecido humano, por exemplo) ou a construção civil (em casos
como a reabilitação de edifícios).
São necessários conhecimentos de materiais e de estruturas”, prossegue o responsável. Na
área do calçado desportivo, por exemplo, as grandes marcas investem milhões na tecnologia e
no desenvolvimento de solas impressas. “Cada vez mais o desenvolvimento e o entendimento
de novos materiais vai permitir ultrapassar barreiras que antigamente nos pareciam mais
complicadas”, antevê Francisco Aguiar.

Na própria CODI, que forma profissionais nestas áreas, “o recrutamento não é fácil”. “No
último ano, começam a sair mais pessoas da universidade com este bichinho, que ouviram
falar, não têm experiência mas querem desenvolver trabalho na área. A tendência do futuro
passa por termos pessoas com uma formação de base — como uma engenharia ou
eletrotecnia — mas com competências cruzadas e em formação contínua, sobretudo
profissional, em áreas distintas”, descreve o responsável.

Simuladores sem simulacro


Se é crescente a necessidade de especialistas hábeis para construir a partir do bruto e a partir
do nada, o mercado também exige profissionais que saibam ligar as peças. Na área da
soldadura, seja na parte técnica ou de engenharia, a empregabilidade aproxima-se dos 100%,
segundo o Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), que soma mais de 3000 diplomadas nos
últimos 40 anos. No entanto, “calcula-se uma necessidade de mais de um milhão de
soldadores até 2020 na Europa”, indica Rute Ferraz, responsável pelo departamento de
formação do ISQ. Uma das razões para este défice é que “a atividade está conotada como
suja e com pouco interesse; hoje os jovens querem trabalhar com computadores”, pragmatiza
a engenheira. Mas, mais uma vez, também no mundo da soldadura, “as máquinas de hoje não
têm nada a ver com o que eram há cinco anos” e os equipamentos de proteção e condições de
trabalho tornaram-se mais sofisticados. “Muitas vezes, o trabalhador opera equipamentos
através de tecnologias de realidade aumentada”, exemplifica a responsável, lançando a escada
para os simuladores de soldadura recentemente adotados para as áreas de formação do ISQ. A
tecnologia dirige-se a alunos sem experiência, garantido uma aprendizagem mais rápida,
económica, apelativa e em maior segurança.

Será que um dia a soldadura será garantida por robôs? Rute Ferraz garante que “ainda não
existe nada que substitua esta profissão”, sobretudo no caso dos procedimentos a laser (na
soldadura por resistência, a automação já dá passos consistentes). “Há apenas, neste
momento, instrumentos que apoiam e facilitam o trabalho”, para que de barras metálicas se
façam bicicletas, janelas e aviões, ainda com um pequeno cunho artesanal.

Todos os dias surgem pedidos de


operadores de máquinas de controlo
numérico computorizado (CNC)

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