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Uma equação diferencial é uma equação onde intervem uma função desconhecida, que desig-
naremos por y, bem como algumas das suas derivadas. Se y for função de apenas uma variável
x, y = y(x), a equação diferencial diz-se uma equação diferencial ordinária. Se y for função
de mais do que uma variável, y = y(x1 , x2 , . . . , xn ), as derivadas que aparecem na equação são
derivadas parciais e a equação diferencial diz-se uma equação diferencial às derivadas parciais.
Neste capı́tulo estudaremos alguns tipos de equações diferenciais ordinárias.
Definição 0.1 Chama-se ordem da equação diferencial à maior das ordens das derivadas nela
intervenientes.
Definição 0.2 Uma função f diz-se uma solução duma equação diferencial de ordem n num
intervalo ]a, b[, se as derivadas de f até à ordem n existem em ]a, b[, e se a equação é satisfeita
quando nela se substitui y = f (x) e as respectivas derivadas.
Resolver uma equação diferencial é determinar o conjunto das suas soluções.
Por exemplo, é fácil de ver que a função f (x) = sin x é solução da equação diferencial de
segunda ordem y 00 + y = 0. Veremos mais adiante que qualquer solução desta equação é da
forma y = A sin x + B cos x, onde A e B são constantes reais. À expressão anterior chama-se,
por isso, solução geral da equação diferencial.
Definição 1.1 Uma equação diferencial de primeira ordem diz-se linear se se puder escrever
na forma
y 0 + P (x) y = Q(x),
onde P e Q são funções contı́nuas da variável x num determinado intervalo ]a, b[.
Teorema 1.2 A solução geral da equação diferencial y 0 + P (x) y = Q(x) no intervalo ]a, b[ é
dada por Z
1
y(x) = I(x)Q(x) dx + C , (1.1)
I(x)
R
P (x) dx
onde C ∈ R e a função I(x), chamada factor integrante, é dada por I(x) = e .
Assim, para resolvermos uma equação diferencial linear de primeira ordem, escrita na forma
acima, basta multiplicarmos ambos os membros da equação pelo factor integrante I(x).
Em muitas circunstâncias é importante determinar a solução duma equação diferencial que
satisfaz uma condição do tipo y(x0 ) = y0 . Chama-se a isto resolver um problema de valores
iniciais e à condição y(x0 ) = y0 dá-se o nome de condição inicial.
Resulta do teorema anterior que, para uma equação diferencial linear de primeira ordem, se
P e Q forem funções contı́nuas da variável x num determinado intervalo ]a, b[ contendo o ponto
x0 , então o problema de valores iniciais
y 0 + P (x) y = Q(x), y(x0 ) = y0
tem uma única solução dada pela expressão (1.1), usando a condição inicial para determinar o
valor da constante C.
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2 Equações diferenciais de variáveis separadas e exactas
Contrariamente ao que vimos para as equações diferenciais lineares de primeira ordem, para
uma equação não linear da forma y 0 = f (x, y) não há uma fórmula que nos forneça a respectiva
solução geral. Pode-se no entanto mostrar o seguinte resultado:
Teorema 2.1 Suponhamos que f e ∂f ∂y são contı́nuas num rectângulo ]a, b[×]c, d[ contendo o
ponto (x0 , y0 ). Então existe uma única solução do problema de valores iniciais
Vejamos agora como resolver alguns tipos de equações não lineares de primeira ordem.
Definição 2.2 Uma equação diferencial de primeira ordem diz-se de variáveis separadas se se
puder escrever na forma
f (y) y 0 = g(x),
onde f é uma função contı́nua que depende apenas da variável y e g é uma função contı́nua que
depende apenas da variável x.
Teorema 2.3 Se y é uma solução da equação diferencial f (y) y 0 = g(x) então y satisfaz a
igualdade Z Z
f (y) dy = g(x) dx + C. (2.2)
Note-se que a partir da expressão (2.2) nem sempre é possı́vel explicitar y como função de
x, dizemos então que a solução é dada na forma implı́cita.
P (x, y) + Q(x, y) y 0 = 0
∂P ∂Q
diz-se exacta se (x, y) = (x, y), ∀(x, y) ∈ R2 .
∂y ∂x
Teorema 2.5 As soluções da equação diferencial P (x, y) + Q(x, y) y 0 = 0 são dadas na forma
∂F
implı́cita por F (x, y) = C, onde C ∈ R e F : R2 → R é uma função tal que (x, y) = P (x, y)
∂x
∂F
e (x, y) = Q(x, y), ∀(x, y) ∈ R2 .
∂y
Se a equação diferencial
P (x, y) + Q(x, y) y 0 = 0 (2.3)
não for exacta, por vezes é possı́vel multiplicar a equação por uma função I(x, y) de modo
a que a equação resultante seja exacta. A esta função I chamamos factor integrante e a sua
determinação pode ser ainda mais difı́cil do que a resolução da equação inicial! No entanto, há
alguns casos particulares em que a determinação de um factor integrante é simples. Com efeito,
2
1 ∂P ∂Q R
se a função R = − for independente de y então a função I(x) = e R(x) dx é um
Q ∂y ∂x
factor integrante para a equação (2.3), ou seja, a equação
Por vezes, fazer uma mudança de variável numa equação diferencial não linear permite
transformá-la numa equação de um dos tipos já estudados, possibilitando assim a sua resolução.
É o que se passa com as chamadas equações diferenciais homogéneas de primeira ordem que são
equações que se podem escrever na forma
y
y0 = F .
x
Para este tipo de equações a mudança de variável y = xv conduz a uma equação de variáveis
separadas.
Definição 3.1 Uma equação diferencial de segunda ordem diz-se linear se se puder escrever na
forma
P (x) y 00 + Q(x) y 0 + R(x) y = G(x),
onde P, Q, R, G são funções contı́nuas da variável x num determinado intervalo ]a, b[. A equação
diz-se homogénea se G(x) = 0, caso contrário diz-se não homogénea.
Para uma equação de segunda ordem, resolver um problema de valores iniciais é determinar
a solução da equação que satisfaz as condições iniciais y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y1 . Se a equação em
causa for linear e se as funções P, Q, R e G forem contı́nuas num determinado intervalo ]a, b[,
contendo o ponto x0 e tal que P (x) 6= 0 nesse intervalo, pode-se mostrar que o correspondente
problema de valores iniciais tem uma única solução.
Vamos começar por estudar a equação
O próximo resultado diz-nos que a solução geral da equação (3.5) é uma combinação linear de
duas soluções linearmente independentes (isto é, nenhuma delas é o produto de uma constante
pela outra).
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Teorema 3.3 Se y1 e y2 são soluções linearmente independentes da equação (3.5), então a
solução geral desta equação é dada por
Em geral não é fácil determinar soluções linearmente independentes de uma equação linear
de segunda ordem. No entanto, é sempre possı́vel fazê-lo se as funções P, Q e R forem constantes,
isto é, se a equação diferencial tiver a forma
ay 00 + by 0 + cy = 0, (3.6)
onde a, b e c são constantes. Diz-se neste caso que a equação tem coeficientes constantes.
Atendendo às propriedades da função exponencial tem-se o seguinte resultado:
Teorema 3.4 A função y(x) = erx é solução da equação diferencial (3.6) se e só se r for uma
raiz da equação ar2 + br + c = 0.
ii) Se a equação caracterı́stica tiver uma raiz real dupla r0 então a solução geral da equação
diferencial ay 00 + by 0 + cy = 0 é dada por
iii) Se a equação caracterı́stica tiver duas raizes complexas conjugadas α ± βi então a solução
geral da equação diferencial ay 00 + by 0 + cy = 0 é dada por
ay 00 + by 0 + cy = G(x), (3.7)
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Definição 3.6 A equação ay 00 + by 0 + cy = 0 chama-se equação homogénea associada à equação
(3.7).
Teorema 3.7 i) Se y1 e y2 são soluções da equação (3.7), então y1 −y2 é solução da equação
homogénea associada ay 00 + by 0 + cy = 0.
Note-se que o resultado anterior é ainda válido no caso em que os coeficientes da equação
diferencial de segunda ordem não são constantes.
Uma vez que já sabemos resolver equações homogéneas, o teorema anterior permite-nos
determinar a solução geral de uma equação não homogénea, desde que seja conhecida uma
solução particular yp . Usaremos o método dos coeficientes indeterminados para calcularmos yp
no caso em que a função G(x) é de um dos seguintes tipos:
enquanto que, para qualquer uma das possibilidades referidas em iii), yp é dada por
No entanto, se a função yp referida acima for solução da equação homogénea associada, deve-se
multiplicar yp por xm onde m é o menor inteiro não negativo tal que nenhum termo do produto
xm yp seja solução da equação homogénea.
Se a função G(x) for uma soma de funções dos tipos considerados acima podemos usar o
seguinte resultado para determinar a solução geral da equação diferencial (3.7).
ay 00 + by 0 + cy = G1 (x)
e y2 é solução da equação
ay 00 + by 0 + cy = G2 (x),
ay 00 + by 0 + cy = G1 (x) + G2 (x).
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Voltemos agora a considerar uma equação diferencial linear de segunda ordem, homogénea,
mas de coeficientes não necessariamente constantes dada por
Como já foi dito, neste caso a determinação de duas soluções linearmente independentes pode
ser muito difı́cil. No entanto, se for conhecida uma solução não nula y1 da equação (3.8), a
mudança de variável y2 = y1 v conduz a uma equação diferencial linear de primeira ordem,
também homogénea, na variável dependente u = v 0 . Resolvida esta equação e determinada
a função u, obtemos v por primitivação, e substituindo em y2 = y1 v, obtemos uma segunda
solução y2 da equação (3.8), tal que y1 e y2 são linearmente independentes. Este método para
determinar y2 chama-se método da redução da ordem uma vez que y2 é obtida resolvendo uma
equação de ordem mais baixa que a equação original.
A técnica da redução da ordem permite também resolver alguns tipos de equações diferenciais
de segunda ordem, não lineares, no caso em que a variável dependente está ausente, ou seja,
equações da forma
F (x, y 0 , y 00 ) = 0, (3.9)
onde F não depende de y. Neste caso, a mudança de variável y 0 = u conduz a uma equação de
primeira ordem do tipo
F (x, u, u0 ) = 0.
Se soubermos resolver esta última equação, as soluções de (3.9) obtêm-se fazendo
Z
y(x) = u(x) dx.
Suponhamos agora que temos uma equação diferencial de segunda ordem da forma
F (y, y 0 , y 00 ) = 0,
em que a variável dependente x está ausente. Neste caso considera-se uma nova variável depen-
dente u(y(x)) = y 0 (x) tendo-se y 00 (x) = u du
dy , pelo que, se conseguirmos resolver a equação de
primeira ordem
du
F (y, u, u ) = 0,
dy
fazendo Z
y(x) = u(y) dy
Definição 4.1 Uma equação diferencial de ordem n diz-se linear se se puder escrever na forma
y (n) + an−1 (x) y (n−1) + an−2 (x) y (n−2) + . . . + a1 (x) y 0 + a0 (x) y = g(x),
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Neste caso, resolver um problema de valores iniciais consiste em determinar a solução da
equação que satisfaz as condições iniciais
Tal como para as equações lineares de segunda ordem, pode-se mostrar que se as funções ai ,
i = 0, . . . , n − 1, e g forem contı́nuas num determinado intervalo ]a, b[, contendo o ponto x0 ,
então o problema de valores iniciais tem uma única solução.
Tem-se também o seguinte resultado:
y (n) + an−1 (x) y (n−1) + an−2 (x) y (n−2) + . . . + a1 (x) y 0 + a0 (x) y = g(x) (4.10)
é dada por
y(x) = yp (x) + C1 y1 (x) + . . . + Cn yn (x),
onde yp é uma solução particular da equação (4.10) e y1 , . . . , yn são soluções linearmente inde-
pendentes da equação homogénea a ela associada.
Se a equação homogénea associada à equação (4.10) tiver coeficientes constantes, isto é, se
for da forma
y (n) + an−1 y (n−1) + an−2 y (n−2) + . . . + a1 y 0 + a0 y = 0, (4.11)
chamamos equação caracterı́stica à equação algébrica
Tal como no caso n = 2, a função erx é solução da equação (4.11) se e só se r for raiz da equação
caracterı́stica. Assim, se a equação caracterı́stica tiver n raizes reais distintas r1 , . . . , rn , a
solução geral da equação diferencial homogénea (4.11) é