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Princípios que garantem o exercício da justiça como equidade
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www.raizeditora.pt Filosofia 10.º ano | Adília Maia Gaspar António Manzarra
liberdades básicas (tais como o direito de voto) em troca de acrescidos rendimentos
suplementares não é politicamente consequente. Porque a primeira prioridade da
justiça, para Rawls, é manter igual liberdade e respeito pelas pessoas na sua
capacidade de cidadania democrática. Isto indica o modo como a justiça como
equidade está enraizada num ideal de pessoas como cidadãos livres e iguais que
exercem as suas capacidades para a justiça e para a racionalidade (os dois poderes
morais) enquanto participam no governo dos assuntos públicos e perseguem
livremente as suas conceções de vida boa. As liberdades políticas, para além de
serem necessárias para o sentido de respeito próprio da pessoa, são também
essenciais para o desenvolvimento cabal da capacidade de um sentido de justiça
que em parte define este ideal de cidadãos. É porque as liberdades básicas são
essenciais ao exercício dos poderes morais que elas são inalienáveis: não há o
direito de desistir ou de negociar as liberdades indispensáveis para definir o
estatuto do cidadão enquanto pessoa igual e livre. Este é um dos aspetos em que a
justiça como equidade difere do libertarismo. As irrestritas liberdades de contrato e
a transferência, que são características definidoras do libertarismo, não são
liberdades básicas ou mesmo liberdades protegidas, de acordo com a perspetiva
liberal de Rawls*. […]
Isto levanta a questão da relação entre o princípio da diferença e o princípio das
liberdades básicas iguais. Rawls acredita que os dois princípios de justiça não
podem ser apreciados ou justificados separando-se um do outro. Para uma
conceção ser liberal não basta reconhecer liberdades básicas e atribuir-lhes
prioridade. Uma conceção liberal de justiça também reconhece um mínimo social,
um direito social básico para disponibilizar recursos, particularmente rendimento e
riqueza. Porque, sem um mínimo social, as liberdades básicas são meras proteções
formais e pouco valor têm para as pessoas que se encontram na pobreza, sem
meios para tirar partido das suas liberdades. Por isso, Rawls defende que qualquer
perspetiva liberal tem de proporcionar algum tipo de mínimo social para garantir o
valor das liberdades básicas. O que distingue a justiça como equidade é o seu
igualitarismo: define um mínimo social em termos do princípio da diferença. Ora, o
princípio da diferença tem uma relação distinta com o princípio das liberdades
básicas iguais. Admite desigualdades em rendimento e em riqueza na medida em
que permitam maximizar o exercício efetivo das liberdades básicas iguais para os
mais desfavorecidos.»
Samuel Freeman (editor), The Cambridge companion to Rawls, Cambridge University Press, Cambridge,
Inglaterra, 2003, pp. 4-6 [trad. de A. Maia Gaspar]
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* Nota da tradução: A referência a “liberdades irrestritas” e a “transferência” prende-se com
o facto de a crítica à Teoria do Contrato insistir no princípio de que, apenas porque as partes
entram em acordo, isso não legitima o contrato; há condições contratuais que têm de ser
acauteladas e uma das partes não pode transferir para a outra, mesmo por acordo, direitos
inalienáveis.
Conteúdo
Neste texto, apresentam-se os pressupostos fundamentais para o exercício da
justiça como equidade defendido por John Rawls; estes são o princípio das
liberdades básicas iguais – princípio da liberdade – e o princípio da diferença.
O princípio da liberdade visa garantir a todos o acesso a liberdades fundamentais
para a própria identidade da pessoa e para o exercício da cidadania e por isso essas
liberdades são inalienáveis e inegociáveis, não são objeto de contrato; os mais
desfavorecidos não podem prescindir delas a troco de benefícios de rendimento.
Mas, para que essas liberdades tenham substância e não sejam meras
formalidades, é preciso garantir um mínimo social de recursos, é preciso garantir
esse exercício efetivo e aqui entra o princípio da diferença que reconhece a
existência de diferenças de rendimento, mas apenas se essas diferenças
redundarem no benefício de todos e não apenas de alguns.
A conceção de Rawls é uma conceção liberal de justiça mas é diferente do
libertarismo e essa diferença reside sobretudo no reconhecimento da importância
do princípio da diferença e na insistência de Rawls em não considerar
separadamente os dois princípios.
Interesse do texto
Estrutura do texto
O texto apresenta uma estrutura descritivo-argumentativa, visível nos exemplos
dados, nas características apresentadas e nas justificações propostas.
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Proposta de exploração
Exemplos de liberdades
básicas
Papel do princípio da
diferença no exercício da
justiça como equidade
Pressupostos de uma
conceção liberal de justiça =
justiça como equidade
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Quadro preenchido
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