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Num tempo em que a memória cada vez mais é uma quimera, recordo aqui Romeu de Melo,

de seu nome completo Romeu Correia de Carvalho e Melo, nascido em Alcaçovas, em 12 de


Abril de 1933 e falecido no Carregado, corria o ano de 1992. Recordo-o por uma razão
fundamental, sermos amigos e por considerar a amizade um bem essencial, sendo este um
sentimento quase desaparecido, em vias de extinção, tal como estão conceitos como a honra e
a ética e sobretudo a memória.

Claro que outras razões como ser o último filósofo português, segundo alguns especialistas na
área, ter sido editor, escritor e ensaísta, são também fundamentais para que tenha feito esta
escolha e sobretudo por o considerar o pai da ficção científica portuguesa.

Na realidade ele escreveu um largo número de contos de ficção científica, tendo publicado
uma dezena, uma boa parte deles na colectânea Não lhes faremos a vontade, em 1970, assim
como dois romances, "AK". A Tese e o Axioma, publicado no Porto em 1959 e A Buzina, em
1972, para além de ter organizado e publicado, a antologia Alguns dos Melhores Contos de
Ficção Científica, em dois volumes, no ano de 1978. Bastaria isto para ser fundamental e
incontornável a sua importância como autor de ficção científica e não ter caído no total
esquecimento a sua existência.

É, assim, assustador verificar que o pai da ficção científica portuguesa é um completo estranho
quando goglado, o que hoje corresponde a nunca ter existido.

Economista de formação1 e profissão, foi administrador de algumas das grandes empresas


nacionais, como a Trefilaria e Cordoaria Nacional, Romeu desde muito cedo se sentiu atraído
pela ficção científica, de tal modo que foi quando frequentava Economia no Porto que
publicou o seu primeiro romance, curiosamente no ano em que nasci, sendo este de ficção
científica, apesar de estribado no romance filosófico do século XVIII. Anos depois quando o
conheci esta coincidência era motivo de brincadeira. Estanho é também ter o contacto entre
dois portugueses, ter vindo através de um francês e um brasileiro que me remeteram para
Paris e a Isabel de Meireles. Mais uma vez, o encontro com alguém que vivia ao nosso lado,
chegava de fora. É uma espécie de maldição que atinge em vida e se prolonga depois da
morte.

Qualquer autor obscuro e irrelevante consegue umas dezenas de entradas numa pesquisa na
net. Romeu de Melo, não consegue mais de uma dezena de entradas e um total de umas 15
linhas.

Com forte ligações ao movimento surrealista, sobretdo a nomes como Isabel de Meireles,
Dórdio Guimarães, Natália Correia2, Cruzeiro Seixas e Mário-Henrique Leiria, nem assim o seu
nome aparece referido em lugar algum.

Senhor de uma importante obra ficcional, sobretudo no género que nos interessa, a ficção
científica, mas também um importante filósofo com um largo conjunto de obras de que

1
Licenciado em Economia em 1962, pela Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Ciências
Económicas e Financeiras. Estudava Economia no Porto, em 1959, aquando da edição do seu livro "AK".
A Tese e o Axioma, publicado nesta cidade.
2
Com quem mantinha uma relação de amizade muito próxima, tratando inclusive dos seus negócios.
destacarei A evolução Humana (1965) e Reflexões de que saíram 3 volumes, tendo o primeiro
sido publicado em 1981 e ainda como cronista em variadíssimos jornais e revistas desde 1959,
tendo compilado e publicado algumas delas em 1983 sob o título de O Reino Original.

Como se não bastasse a sua obra alvode estudo nos EUA, por Timothy Brown Jr.3, professor na
Universidade do Arizona, sendo alguns dos seus contos de estudo obrigatório na cadeira de
português.

Também na Eurocon’86 que decorreu em Zagreb, foi apresentada uma comunicação sobre a
sua obra4.

Viu também contos os seus Já Sabiamos Tudo (Nous savons tout) e O Estranho Caso de José
Olímpio (L’Étrange Sacrifice de José Olímpio) publicados na Bélgica e no Canadá,
respectivamente na revista Ides et Autres nº 6 (1976) e Imagine nº 4 (1980)5.

Quero acreditar que tudo isto é uma infeliz conjugação de factores nefandos, mas não deixa de
ser estranho que a costumeira necrofilia cultural nacional não o tenha absorvido e recuperado,
como tem feito com tantos outros. Será que esta excepção se deve a ter-se assumido como
escritor de ficção científica?

De uma coisa estou certo, ao contrário de muitas, a sua obra resistirá ao crivo do tempo.

3
Doomsday, Flying Saucers, and the Golden Age in Six Stories by Romeu de Melo, Hispania, Vol. 62,
No. 4 (Dec., 1979), pp. 662-667; O homem e os extraterrestres em três contos de contos de Romeu de
Melo, Dept. of Roman Languages, Universidade do Arizona, s/data, EUA; Man, Superman, Space and
Time: Themes in a story of Romeu de Melo, Offprint of Romance Notes, Vol. XVII, nº 1, University of
Arizona, Tucson, 1976, EUA.
4
Romeu de Melo. Through Time and Space. Man as a thinker and equationer of futur.(A brief analysis
of portuguese modern SF father work), Álvaro de Sousa Holstein, 1996, Zagreb, Jugoslávia.
5
«ce que séduit dans la la science fiction, c'est l'ampleur et la vocation d'irrèvèrence», afirmou Romeu
de Melo numa entrevista à revista canadiana Imagine, em 1980

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