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Faculdade Dehoniana

HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA


Erick Yoshiharu Takaki
08/10/2018

MEDITAÇÕES METAFÍSICAS DE DESCARTES: FICHAMENTO


E APRECIAÇÃO DA PRIMEIRA, SEGUNDA E QUARTA
MEDITAÇÃO.

Primeira meditação
1 No passado “(...) recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras”; Percebi portanto
que devo “(...) começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer
algo de firme e de constante nas ciências”.
2 Quais são “(...) os princípios sobre as quais todas as minhas antigas opiniões estavam
apoiadas?”.
3 Tudo que aprendi como mais verdadeiro e seguro, aprendi pelos sentidos. Mas os
sentidos às vezes são enganosos.
4 Há coisas que não se pode razoavelmente se duvidar, como estar aqui, no presente
tempo e lugar.
5 Porém, podemos estar enganados como quando sonhamos. Mas o sonho não é tão claro
quanto a realidade.
6 Mesmo o sonho sendo uma ilusão, é baseado no real. Pintores criam sereias e sátiros
baseando-se em características animais reais. Ao menos as cores da pintura se baseiam
no real.
7 Há coisas ainda mais simples e universais do que olhos, cabeças e mãos; temos as
figuras das coisas existentes, sua quantidade ou grandeza, o lugar em que estão e o tempo
de duração e outras coisas semelhantes.
8 Físicas, astronomia e medicina: “(...) consideração das coisas compostas são muito
duvidosas e incertas”. Aritmética e geometria tratam de coisas mais simples e
indubitáveis”. Quer esteja acordado ou dormindo, dois mais três serão cinco e o quadrado
nunca terá mais que 4 lados”.
9 É possível que Deus me engane a respeito dessas coisas, mas aí ele não seria
soberanamente bom.
10 Destino, fatalidade e acaso? “(...) desejo encontrar algo de constante e de seguro nas
ciências”.
11 Tem-se mais razão em acreditar no provável do que negá-lo. Mas devemos adotar
uma posição neutra ao que acreditávamos como certo.
12 Suporemos um gênio maligno no lugar de um Deus bondoso, que me engana de
maneira ardilosa.
13 Mas talvez ir por esse extremo me leve a um ceticismo problemático que mais me
atrapalhe do que me ajude.

Segunda meditação
1 Continuarei nesse caminho de dúvida para encontrar algo que seja realmente certo.
2 Arquimedes precisou apenas de um ponto fixo para mover o globo terrestre, comigo
espero ser o mesmo, preciso de algo indubitável,
3 Supondo que tudo é falso, meu corpo físico e tudo que vejo no mundo; talvez não
haveria nada de certo no mundo, a não ser que “(...) nada há no mundo de certo”
4 Mesmo que meu corpo e meus sentidos não existam ou sejam falsos, e todo o mundo
seja uma ilusão, e mesmo que esse gênio maligno me engane, tenho uma certeza: eu
penso, eu existo.
5 “Mas não conheço ainda bastante claramente o que sou, eu que estou certo de que sou
[algo]”.
6 Possuo um corpo que é como uma máquina de carne e ossos; o sentir e o pensar está
relacionado à alma, que parece ser algo sutil e tênue como uma flama ou um vento que
se encontra no corpo grosseiro. É corpo tudo aquilo que pode ser percebido pelos sentidos,
ocupar espaço e que não move a si mesmo.
7 Alimentar, caminhar e sentir, sem um corpo não é possível; portanto não pertence ao
meu eu, caso exista este gênio maligno. Sobra-me o pensar. “[Sou] uma coisa que pensa,
isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão”.
9 Ainda que eu esteja sendo enganado por esse gênero maligno, sou uma coisa que duvida,
concebe, afirma, nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente; mesmo que tudo
isso se baseie em falsidade, é certo que faço e me pertence fazer essas coisas.
10 Apesar de parecer contraditório não considerar o que capto imediatamente com meus
sentidos o que há de mais certo, mas sim verdades em relação à minha alma e pensamento,
devemos conduzir a alma e soltar-lhe as rédeas em direção à verdade.
11 Peguemos como exemplo um pedaço de cera, que contém várias propriedades que lhe
pertence como corpo, como ser frio, duro, ter o odor originado das flores e mesmo a
doçura do mel que a continha.
12 Mas ao aproximar a cera do fogo, todas essas propriedades e características mudam:
perde-se a dureza, o odor, sua cor modifica, se esquenta e torna-se líquido. A cera deixou
de ser cera?
13 Percebo as mudanças possíveis num objeto extenso como a cera, e também que
somente através de uma inspeção do espírito, que pode ser imperfeita e confusa ou clara
e distinta, e que dirige atenção “às coisas que que existem nela e das quais é composta”.
14 A verdade não está absolutamente nos sentidos ou mesmo nas palavras; mas na
inspeção clara e distinta que o nosso espírito faz, como no exemplo, da cera. A verdade
encontra-se no poder de julgar e não no que acreditamos propriamente no que vemos com
os olhos.
15 É preciso despir a coisa e ir além do senso comum, como feito com a cera, para
conhecê-la de maneira mais clara e precisa. Deve-se também ir além da pura captação
dos sentidos, isso até mesmo um animal é capaz parcialmente, pois é através do espírito
humano que podemos ir além e conhecer a coisa através de nosso juízo.
16 Na circunstância de estar vendo a cera, torna-se evidente que estou a ver algo e que
logo existe um eu capaz de ver esta coisa. Não estou necessariamente vendo algo
verdadeiro, mas é certo que estou a ver algo.
17 Assim como pude conhecer melhor e de forma mais clara e distinta a natureza da cera
ao, além de vê-la e tocá-la, presenciei suas manifestações e transformações; é possível
que eu conheça a natureza de meu espírito, já que é algo de existência mais certa e
evidente.
18 Não conhecemos as coisas pela imaginação ou pelos sentidos, mas as concebemos pela
nossa faculdade de entendê-las, através do pensamento (visto sermos capazes disso até
mesmo nos sonhos). Posto isso, não há nada mais fácil e seguro de conhecer que meu
próprio espírito, visto não ser algo que conheço por intermédio de meus sentidos.

Quarta meditação
1 Há muito pouco que conhecemos com certeza no tocante às coisas corporais, há muito
mais certeza quanto ao espírito humano e mais ainda quanto a Deus. Tornemos nossa
atenção às coisas inteligíveis, desprendidas de toda matéria.
2 A ideia que temos do espírito humano é de que é uma coisa pensante porém sem
extensão, largura ou profundidade, é independente do corpo e é incomparavelmente mais
distinta do que qualquer coisa corporal. Visto que sou uma coisa incompleta, imperfeita
e dependente, logo chego à conclusão que deve existir um Deus, um ser completo, perfeito
e independente. É importante saber desse Deus, donde toda sabedoria e conhecimento se
origina, para conhecer qualquer outra coisa do Universo.
3 Não seria razoável acreditar que Deus me enganasse propositalmente, visto que esta
seria uma fraqueza, uma imperfeição e malícia incompatível com um ser perfeito.
4 Recebi certa capacidade de julgar, assim como todos os meus outros atributos, de Deus,
e é certo que não falharei se usar essa minha capacidade de modo adequada, visto que ele
não me daria uma capacidade defeituosa em si mesma. Mas logo percebo que estou sujeito
a uma infinidade de erros. Percebo que não estou somente em função de Deus no sentido
positivo, mas no sentido negativo ao nada, e esse nada está dentro de mim, ou seja, o não
ser, visto essa possibilidade de falha.
5 Vejo então que o erro não é produto direto de Deus, mas uma carência. Portanto não
tenho a necessidade de falhar, nem acertar, mas a capacidade e a potencialidade de
discernir o verdadeiro do falso.
6 Dado a natureza de Deus, não me parece possível que tenha me dado uma capacidade
imperfeita em seu gênero, pois é certo que quanto mais um artífice é habilidoso e perfeito,
suas obras manifestam sua perfeição e habilidade.
7 Porém, considerando tudo isso, não é de me espantar que eu não tenha inteligência para
compreender o porquê Deus faz o que faz. Pois vendo que minha capacidade é frágil e
limitada, enquanto a de Deus é infinita e ilimitada, é de se esperar que há uma infinidade
de coisas que ultrapassam a capacidade de meu espírito de compreendê-las.
8 Percebo também que não devemos considerar a perfeição de uma criatura apenas em si
mesma, mas em relação ao todo, em conjunto com todo o Universo. Pois pode parecer
imperfeita em si mesma, mas ganha sentido e beleza no contexto e em relação ao todo em
que vive.
9 Também percebo que há duas causas dentro de mim que dão margens a ação e a
possibilidade de erro e acerto: minha faculdade de conceber as coisas, ou seja, de pensar;
e a minha faculdade de escolher as coisas, ou seja, minha vontade. Deus então me deu
estas duas faculdades, de modo que se posso conhecer de maneira correta as coisas
fazendo o bom uso de ambas. Tenho o livre arbítrio então para fazer o uso correto de
minha capacidade de conceber e pensar, fazer o uso correto de meu intelecto.
10 A origem do erro encontra-se então não nas minhas capacidades em si mesmas de
escolher e de conceber as coisas, mas em escolher o falso pelo verdadeiro, o mal pelo
bem.
11 Percebi em minhas meditações que sou algo que pensa e que isso se origina de uma
natureza espiritual; mas também percebo que há uma natureza corpórea, o que me faz
duvidar sobre esta natureza pensante, pelo qual eu sou, se ela é diferente dessa coisa
corpórea, ou ainda, se ambas não são senão uma mesma coisa.
12 E isso não se aplica somente a estas coisas do entendimento, mas de tudo em que se
delibera sobre um entendimento de algo; e por mais que me pareçam claras, são apenas
conjeturas e não razões certas e indubitáveis, por isso posso pensar facilmente exatamente
o contrário que me parece.
13 É então através do mau uso do livre arbítrio que podemos tomar como verdadeiro o
falso, este é o maior perigo no processo de entendimento.
14-15 Porém a capacidade e a possibilidade ao erro não faz da criação um ser menos
perfeito; e talvez esta seja a maior qualidade do homem, perceber sua possibilidade de
erro.
16 Portanto, se entendo aquilo que pode ser concebido e pensado de maneira clara e
distinta, não tomarei o falso pelo verdadeiro. Estas coisas que são claras e distintas,
certamente são o que há de mais real, e não têm origem no nada, mas necessariamente em
Deus, por ser soberanamente perfeito, não podendo ser causa de erro algum.
17 Aprendi assim o que devo fazer para não mais falhar, mas também o que devo fazer
para chegar à verdade. Devo separar aquilo que posso perceber perfeitamente e separar
do que não posso compreender senão com confusão e obscuridade, e devo fazer isso com
especial zelo.

Apreciação:
De fato Descartes foi não somente um grande iniciador de uma nova perspectiva
filosófica, mas criador de uma nova metodologia e de uma nova forma de conceber e
diferenciar o que há de mais verdadeiro do que é mais incerto, obscuro e falso. Percebo,
ao ler esta obra dele em especial, como ele dá margens ao surgimento de outras correntes
racionalistas e mesmo do empirismo. É uma mudança bem radical em comparação ao
paradigma clássico e medieval, e essa nova perspectiva que parte primeiramente do eu e
do pensar, traz novas possibilidades à Filosofia que mesmo atualmente não terminaram
de serem exploradas em seu limite.
Talvez eu aprecie de maneira particular Descartes em suas Meditações
Metafísicas, por eu me inclinar mais ao racionalismo e ao idealismo, particularmente o
platônico e o estoico. Aqui percebo que Descartes fecha seu sistema racionalista com a
ideia de Deus, similar ao que Platão faz com o mundo das Ideias. Para fechar e explicar
seus pensamentos sistemáticos a respeito do verdadeiro e o falso, ambos usam um recurso
idealista que explica a razão do acerto e o erro a respeito do conhecimento. Com Platão
também usa-se o recurso da reminiscência, Descartes já é um pouco mais realista e traz a
distinção do conhecimento claro e distinto, do obscuro e confuso, e na criação de Deus e
nos dar a capacidade de conceber e tomar decisões. Justificando de certa maneira que
fomos criados por Deus e que logo ele nos criou com uma capacidade para acerto,
cabendo a nós usar essa capacidade de maneira correta. Encerrando assim numa
perspectiva metafisicamente otimista, assim como Platão, de certa maneira, sobre a
possibilidade de acerto do conhecimento.
Temos ainda argumentos ontológicos e cosmológicos a respeito da existência de
Deus, e muitas outras características que demonstram que Descartes não foi uma ruptura
completa do pensamento clássico-medieval. As construções de cada raciocínio e de cada
meditação são impressionantemente construídas de maneira muito clara, começando
sempre do simples ao mais complexo, partindo sempre do eu, sendo assim muito fácil de
se assimilar e “sentir na pele”. Achei particularmente muito útil esta forma íntima, lenta
e didática de se desenvolver raciocínios filosóficos e talvez eu siga seu exemplo em
futuros trabalhos filosóficos de minha autoria.

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