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1.

Texto, discurso e enunciado; sujeito e ator social; estruturação;


enunciação e significação; contexto e conhecimento.

2. Introdução aos estudos crítico-discursivos: o interdiscurso —


discursos (representações), gêneros (ações) e estilos (identidades)
— e o intertexto; relações externas e internas à linguagem;
ideologia.

Teorias do Texto: Enunciação, Discurso e Texto


1º semestre de 2016
Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (FFLCH-USP)
paulosegundo@usp.br
Campo de estudo
Objetos de estudo:
1. Dimensão textual.
2. Dimensão discursiva  ênfase.
Disciplinas:
1. Estudos discursivos  Análise Crítica do Discurso.
2. Linguística de Texto.
3. Linguística da Enunciação.
4. Teorias linguísticas auxiliares.
O problema da ancoragem na significação:
a enunciação
O problema da ancoragem diz respeito à atividade de compatibilizar o
potencial esquemático do significado do “sistema” à concretude do sentido
(re)construído no “uso”.

1. O caso banal: Amanhã eu trago ela para a minha casa aqui na Lapa.
2. Um caso a se pensar: Ontem, eu fui ao cinema, mas vi o filme.
3. Pensando de outro ângulo: X guarda 70% do salário que ele ganha.
Ele é econômico ou é muquirana?
4. O próximo pode chocar os/as mais sensíveis...
Ou empolgar...
O problema da ancoragem
na significação:
a enunciação
5. E o que dizer desta situação?

O que bom significa neste texto? Ou melhor


dizendo, qual o sentido de bom neste texto? Ou
ainda: quem são os candidatos a ‘referente’ de
bandido bom neste texto?
Sobre enunciação, enunciado e sentido
Logo, a questão da produção e da interpretação de “orações” não é tão simples quanto
parece. Entre o concreto e o abstrato, verifica-se um processo que realiza essa mediação.
Nas teorias discursivo-textuais, tal processo é denominado enunciação.
Em termos didáticos, o processo de enunciação é responsável por converter a
frase/oração/sentença em enunciado, um potencial de significado em sentido.
O sentido, contudo, extrapola o eminentemente linguístico – ele depende de
conhecimento de mundo, de nossas experiências, do conhecimento partilhado, de nossas
convicções, valores, ideologias, do gênero discursivo, dentre outros fatores que
estudaremos no curso.
O que o linguístico faz, então, do ponto de vista do ouvinte/leitor, é fornecer pistas para a
reconstrução ativa – ainda que largamente inconsciente – da significação (rumo ao
sentido), de forma que, em última instância, o responsável pelo estabelecimento do
sentido é o ouvinte-leitor (ou melhor, a cognição do leitor-ouvinte).
[Nós vamos discutir essa questão com calma e de forma mais complexa ao longo do curso, especialmente quando
estudarmos a questão do dialogismo, proposto pelo Círculo de Bakhtin]
Logo, a nossa unidade de análise (material) neste curso é o enunciado.
Sobre texto e discurso
a. Não há consenso no que tange às noções de texto e de discurso tanto em
termos epistemológicos quanto ontológicos, o que significa dizer, por um lado,
que há várias definições distintas e, por outro, que há autores que as
equiparam.
b. Contudo, há alguns parâmetros (Fiorin, 2012; Adam, 2011; Fairclough, Jessup
& Sayer, 2010; Bolívar, 2003):
i. o discurso é da ordem da instanciação; é uma forma de ação semiótica,
uma prática responsável pela construção sócio-histórica da realidade; uma
coerção estrutural do processo de produção e interpretação da significação.
ii. O texto é da ordem da realização; o produto manifestado da atividade
discursiva; evento comunicativo empírico concretizado; lugar de interação entre
atores sociais e de construção interacional de sentidos; um enunciado
(potencialmente) multimodal.
Pensando em texto e discurso
Discursivamente, devemos pensar nas coerções
estruturais:
1. representações (visões de mundo, conjunto de
crenças e valores, entidades envolvidas em determinados
tipos de relação, etc.)
2. ações (gênero discursivo, estrutura retórica, etc.)
3. identidades (estilos, lugar de fala, posições, etc.)
Textualmente, devemos pensar na materialidade:
1. disposição e configuração dos elementos gráficos;
2. encadeamento dos enunciados (orações);
3. no arranjo das construções linguísticas; etc.
A dimensão discursiva constrange o processo de
construção textual, e o texto materializa a ordem
discursiva, reproduzindo-a. Nesse sentido, o texto é
discursivamente estruturado e estruturante; o discurso,
por sua vez, é socialmente estruturado e estruturante.
Sobre discurso: propriedades
Bolívar (2003) destaca que:
a. o discurso é social, na medida em que os significados se constroem na
interação, o que envolve grupos, lugares e propósitos  Enfatizam essa perspectiva as
ditas abordagens sócio-interacionais e a Análise da Conversação;
b. o discurso é conhecimento, uma vez que se relaciona com a forma pela
qual as pessoas percebem e interpretam o mundo, o que envolve os processos
cognitivos que fundamentam a construção e a compreensão dos significados 
Enfatizam essa visão autores esparsos em diversas correntes, como Paveau, Hart, Chilton e Van Dijk;
c. o discurso é história, já que ele é atravessado pelas constituições
políticas, sociais e culturais de determinadas épocas  Enfatizam essa visão os trabalhos
de Eni Orlandi e Pêcheux;
d. O discurso é diálogo, visto que ele nunca é homogêneo e se encontra
atravessado por inúmeras vozes em relações, usualmente, assimétricas,
respondentes umas às outras, não sendo criado a partir do vazio  Enfatizam essa
visão os trabalhos oriundos do Círculo de Bakhtin.
Sobre estruturação/coerção e construção/agência; sujeito e ator social
O espectro de abordagens sobre o uso linguístico visando a compreender a produção e a interpretação reais de sentido é
imenso. As diferenças, em geral, decorrem de determinadas posições epistemológicas que, por consequência, acarretam
diferentes métodos, categorias de análise e até objetos de estudo. Talvez o principal fator de discórdia esteja no grau de
estruturação x agência atribuído ao produtor/consumidor textual:

1. Estruturação máxima: não há agência; ela é apenas uma ilusão. As coerções discursivas, de origem histórica, falam por
meio de nós. Visão do indivíduo como ‘caixa de ressonância’. Terminologia: sujeito [assujeitado].
2. Estruturação + agência: concebe-se a possibilidade de o indivíduo construir, discursivamente, a realidade ao mesmo
tempo em que se concebe que ele é constrangido pelas estruturas discursivas, de origem sócio-histórica. O processo de
subjetificação [tornar-se sujeito] decorre de sua inserção em redes de práticas sociais. Nesse sentido, um indivíduo
pode ser diferentes sujeitos, pois sujeitos, no fundo, são posições em práticas, mas as práticas determinam seu modo
de discursivização. Contradições de posicionamento geram a resistência.
3. Estruturação + agência: reconhece-se, concomitantemente, o papel coercitivo dos condicionamento sócio-históricos (e
cognitivos) e valoriza-se a capacidade de agência e a possibilidade de resistência, empoderamento, mobilização,
estratégia. Também é central a posição do indivíduo na rede de práticas, sendo inclusive o nó por meio do qual a
mudança pode emergir. As práticas são vistas como inerentemente contraditórias. Terminologia: ator social.
4. Agência máxima: não há estruturação; o indivíduo é plenamente consciente e escolhe, deliberadamente, os recursos
que usará. O ouvinte/leitor tem clareza acerca dos modos como interpreta. Tem-se um agente estratégico.

1 -- Pêcheux II -- 2 Pêcheux III / Foucault / Maingueneau / Bakhtin -- 3 Fairclough / Van Dijk / Pragmática II -- 4 Retórica / Pragmática I
Modelo tridimensional de análise discursiva
[Fairclough (2003); Chouliaraki & Fairclough (1999)]

Estrutura
Língua
Social
Prática Ordem do
Social discurso
Evento
Texto
Social

Dimensão sócio-histórica Dimensão semiótica


Modelo tridimensional de análise discursiva:
dimensão sócio-histórica
Estruturas sociais consistem em “condições de fundo
Estrutura duráveis que sustentam a vida social, mas que podem ser
transformadas vagarosamente por ela” (Chouliaraki &
Social Fairclough, 1999, p. 22). Para Giddens (2009), a estrutura é
Prática sempre restritiva e facilitadora, pois, por um lado, impõe
restrições ao agir e, por outro, sistematiza possibilidades
Social relevantes de ação.
Evento Práticas sociais constituem-se em “modos rotinizados,
Social ligados a espaços e tempos particulares, por meio dos quais
as pessoas aplicam recursos (materiais ou simbólicos) para
agir conjuntamente no mundo. Práticas são constituídas ao
longo da vida social — nos domínios especializados da
política e da economia, por exemplo, mas também no
domínio da cultura, incluindo a vida cotidiana” (Chouliaraki
& Fairclough, 1999, p. 21).
Eventos sociais equivalem às interações imediatas, aos
acontecimentos locais e concretos da vida social, em que
textos podem ser produzidos.
Modelo tridimensional de análise discursiva:
olhando para dentro das práticas sociais
A prática social consiste no nível que permite articular
a durabilidade e os mecanismos de reprodução da
Produção
estrutura à efemeridade e à irreprodutibilidade dos
eventos. É nela que ocorre o embate entre
estruturação e construção, coerção e agência.
O quadrado representa a PRÁTICA SOCIAL, na qual a
PRÁTICA DISCURSIVA – o anel – se encontra
encaixada. O TEXTO consiste na materialização de um
evento sociossemiótico em uma prática discursiva. Ele
Interpre-
tação Texto Distribui-
ção

deve ser processado discursivamente, ou seja, deve


ser produzido, distribuído, consumido e interpretado,
processo esse que, longe de ser livre e irrestrito, está
cerceado por condições institucionais, restrições
materiais, jogos de poder, além das crenças e dos Consumo
valores dos atores envolvidos, aspectos oriundos do
encaixamento em uma dada prática social.
Modelo tridimensional de análise discursiva:
dimensão semiótica
Língua é entendida tanto como sistema aberto e dinâmico
quanto como recurso para reflexão e ação.
Língua Ordens do discurso constituem-se em práticas de
“organização social e de controle da variação linguística”
Ordem do (Fairclough, 2003: 24). Elas são formadas por padrões de
recursos multimodais (linguísticos e não linguísticos),
discurso expectativas sociossemióticas que guiam o que deve ser
escolhido e em qual combinação, tanto em termos de
Texto identidades, quanto de ações e de representações.
O texto consiste na “unidade máxima de funcionamento da
língua” (Marcuschi, 2008: 88), em “um evento comunicativo
em que convergem ações linguísticas, culturais, sociais e
cognitivas” (Beaugrande, 1997: 10), resultante da interação
e da negociação de sentidos entre atores sociais. O texto é
constrangido estruturalmente pelo discurso e
materialmente por seu suporte.
Modelo tridimensional de análise discursiva:
olhando para dentro da ordem do discurso
discursos (padrões de
representar)*

Engendramento Inculcação

Ordem
do Interdiscurso
Discurso
gêneros (padrões estilos (padrões
de agir) de ser)
*Cuidado: Há dois usos diferentes do termo discurso. O Discurso entendido de forma ampla, como prática de geração de sentido,
como coerção estrutural sobre produção e interpretação do sentido, e o discurso, como padrões de representação da realidade,
como o discurso neoliberal, o discurso machista, o discurso de esquerda.
Modelo tridimensional de análise discursiva:
entendendo interdiscursividade e intertextualidade
A interdiscursividade diz respeito à relação constitutiva de um enunciado com a
rede de enunciados que lhe antecedem e sucedem em cadeias de associação,
confrontação, concordância, discordância, complementação, resistência. Todo
texto é socialmente estruturado e socialmente estruturante. A sua estruturação
decorre de sua ligação com padrões semióticos prévios: gêneros, estilos,
discursos. A esse condicionamento denomina-se interdiscursividade. O
interdiscurso é, portanto, o conjunto de discursos, gêneros e estilos que circula
em diferentes ordens do discurso, em complexas relações uns com os outros -
memória social (Fairclough; Pêcheux; Halbwachs; Koch).

A intertextualidade diz respeito à incorporação de outros textos em um texto,


em distintos graus de explicitude, o que abrange desde o discurso direto e
indireto ou a epígrafe até a alusão, a paráfrase ou a paródia.
Modelo tridimensional de análise discursiva:
entendendo interdiscursividade e intertextualidade
Modelo tridimensional de análise discursiva:
entendendo interdiscursividade e intertextualidade
Modelo tridimensional de análise discursiva:
entendendo interdiscursividade e intertextualidade
Modelo tridimensional de análise discursiva:
entendendo interdiscursividade e intertextualidade
Modelo tridimensional de análise discursiva:
entendendo interdiscursividade e intertextualidade
70 million – Hold Your Horses Hold Your Horses – The Paintings
Modelo tridimensional de análise discursiva:
olhando para dentro do texto
Dimensão
semântico-
pragmática
Dimensão
Dimensão fonético-
retórica fonológica e
grafológica

Texto
Dimensão Dimensão
referencial léxico-
gramatical

Dimensão
multimodal
Sobre discurso: em resumo
Em resumo, pode-se dizer que “o discurso é encaixado socialmente,
constituído pela história e desenvolvido interacionalmente. Além disso, é
constitutivamente dialógico, cognitivamente (re)construído e materializado
na forma de texto em distintas modalidades semióticas. Por fim, é
atravessado por padrões de representar, agir e ser” (GONÇALVES-SEGUNDO
& ZELIC, no prelo).
Sobre a Análise Crítica do Discurso
Estudos Críticos do Discurso  Norman Fairclough; Ruth Wodak; Carmen Rosa Caldas-Coulthard; Teun van Dijk; Gunther
Kress; Emília Pedro; Theo van Leeuwen; Paul Chilton; Christopher Hart.
No Brasil  Viviane Heberle; Izabel Magalhães; Viviane Ramalho; Viviane Resende; Iran Melo; Denize Elena Silva; Karina
Falcone; Célia Magalhães; Maria Lúcia Andrade; Zilda Aquino; Paulo R. Gonçalves-Segundo.

Para Fairclough (2010), a ACD possui três propriedades básicas: ela é dialética, relacional e transdisciplinar.
1. Ela é relacional, uma vez que o foco da abordagem não reside apenas na língua, no texto, nos indivíduos ou nos objetos,
mas sim, nas redes de práticas, nas ações que envolvem atores posicionados em contextos sócio-históricos e situacionais
nos quais significados são construídos e negociados interacionalmente. Tais significados, por sua vez, estruturam modos de
ser, agir e representar que passam a se configurar como parâmetros e modelos interdiscursivos associados à continuidade
da práxis. Em consequência disso, a atividade linguística passa a ser estruturada por esses mesmos modelos.
2. Ela é dialética, na medida em que não é possível conceber o discurso como uma categoria discreta, plenamente
separável das relações de poder e solidariedade, por exemplo. Se o foco da ACD encontra-se nas relações sociais mediadas
pela semiose, entender o discurso como categoria discreta é isolá-lo do seu potencial socialmente estruturado e
estruturante. O poder é, frequentemente, legitimado por meio do discurso, embora não seja a ele limitado. Uma categoria
se imbrica na outra. A questão ideológica é um claro exemplo de tal complexidade.
3. Por fim, a ACD também é transdisciplinar, na medida em que não se limita apenas à análise do texto propriamente dito
— muito embora esta consista em uma etapa metodológica a ela inerente —, mas preconiza, especialmente, o exame das
relações dialéticas entre o discurso e as práticas sociais e entre o discurso e os recursos semióticos. Tal abordagem
requisita, segundo o autor, o ofuscamento de fronteiras rígidas entre as diversas disciplinas.
Para mim, a ACD não é ainda transdisciplinar; ela é multidisciplinar – quem sabe, interdisciplinar.
Sobre a Análise Crítica do Discurso
Fairclough (2010: 10-11, tradução livre)
[A ACD] não é apenas uma análise do discurso (ou mais concretamente de textos). Ela é parte de alguma
forma de análise sistemática transdisciplinar das relações entre o discurso e outros elementos do processo
social.
Ela não é apenas um comentário geral sobre o discurso. Ela inclui alguma forma de análise sistemática de
textos.
Ela não é apenas descritiva, ela também é normative. Ela se volta a mazelas sociais [social wrongs] em seus
aspectos discursivos e a possíveis formas de mitigá-las ou corrigi-las.

Etapas de análise:
1. Descrição dos textos.
2. Interpretação da prática discursiva.
3. Explanação dos processos de estruturação sócio-histórica, cultural e/ou psicológica.
Reflexões iniciais sobre DESCREVER, INTERPRETAR e EXPLICAR

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