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A importância do petróleo da América Latina para a União Europeia

Thesis · March 2013


DOI: 10.13140/RG.2.2.19399.39841

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Tiago Luís Carvalho


University of Lisbon
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ACADEMIA DA FORÇA AÉREA

A importância do petróleo da América Latina para a União


Europeia

Tiago Manuel Silva Carvalho


Aspirante a Oficial-Aluno Piloto-Aviador 136169-E

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Aeronáutica Militar, na Especialidade de Piloto-Aviador

Júri
Presidente: Major-General Pedro Miguel de Palhares Veloso da Silva
Orientador: Professora Doutora Carla Margarida Barroso Guapo da Costa
Co-orientador: Major Luís Manuel Pinto de Almeida da Rocha
Vogal: Professor Auxiliar Doutor Pedro Miguel Moreira da Fonseca

Sintra, março de 2013


Este trabalho foi elaborado com finalidade essencialmente escolar, durante a frequência do
Curso de Pilotagem Aeronáutica cumulativamente com a atividade escolar normal. As
opiniões do autor, expressas com total liberdade académica, reportam-se ao período em que
foram escritas, mas não representam doutrina sustentada pela Academia da Força Aérea.

ii
Agradecimentos
A elaboração desta dissertação de mestrado deve-se a inúmeros contributos
fundamentais, que não posso deixar de mencionar, escrevendo algumas palavras de apreço,
nomeadamente:
À minha família, à minha namorada e à família dela, que me deram o seu total apoio,
permitindo desta forma que conseguisse prosseguir com esta investigação, apesar da cirurgia
a que fui submetido durante o período de elaboração da tese e da lenta e difícil recuperação
que decorreu igualmente nesse mesmo período;
Aos Kamikazes por todo o apoio que me deram não só no estrito âmbito da realização
desta tese mas como em todo o meu percurso desde que entrei na Academia da Força Aérea;
À Professora Doutora Carla Guapo Costa pela elevada disponibilidade, orientação,
sugestões e correções, que se revelaram fulcrais para a concretização desta investigação;
Ao Major Luís Rocha por todo o apoio e orientação prestados ao longo destes dois
últimos anos, que foram fundamentais para o desenvolvimento desta tese;
Ao Capitão Daniel Saraiva por permitir que eu tivesse as melhores condições para a
recuperação da cirurgia;
À Professora Natália Machado por todos os conselhos e apoio prestados;
E à Academia da Força Aérea Portuguesa por toda a bibliografia disponibilizada, pelas
excelentes condições de trabalho e por me facultar a oportunidade de elaborar uma dissertação
de mestrado.

iii
iv
Resumo
A procura energética mundial em crescimento, o rápido esgotamento das reservas
petrolíferas, a crescente disputa pelos recursos energéticos e o avultado investimento
necessário para aumentar a produção mundial tornam a segurança energética numa questão
prioritária. No caso da União Europeia, esta questão assume uma relevância ainda maior
devido à elevada dependência de importações petrolíferas, nomeadamente de crude, que se
deverá, inclusive, agravar nas próximas décadas, e ao reduzido número de regiões que
fornecem o bloco europeu. Nesse sentido, esta investigação procurou averiguar a viabilidade
de diversificar o aprovisionamento de crude da União Europeia através do incremento dos
fornecimentos da América Latina, que é, atualmente, a região produtora que menos contribui
para o aprovisionamento de crude do bloco europeu.
Avaliou-se o contributo dos principais fornecedores de crude da União Europeia para a
segurança energética da mesma, mediante a análise do potencial petrolífero e da estabilidade
política desses fornecedores. Concluiu-se que os principais fornecedores de crude da União
Europeia contribuem para a sua insegurança energética, principalmente por causa da
instabilidade política que apresentam. A Noruega é a única exceção; este país não é uma fonte
de insegurança energética para União Europeia devido à sua estabilidade política, mas antes
por causa da sua produção e reservas em declínio.
Para possibilitar a comparação, estudaram-se os principais produtores da região da
América Latina da mesma forma, averiguando-se que apenas o Brasil constitui uma mais-
valia para a segurança energética da União Europeia, sendo que esta potência emergente
apresenta um elevado potencial petrolífero e estabilidade política. Perante este cenário,
perspetiva-se a evolução das exportações de crude brasileiro para a União Europeia,
concluindo-se que tenderão a aumentar, contribuindo desta forma para um incremento da
segurança energética do bloco europeu.

Palavras-chave: União Europeia, Brasil, Crude, Petróleo, Segurança Energética

v
vi
Abstract
The growing global energy demand, the rapid depletion of oil reserves, the increasing
competition for energy resources and the high investment needed to increase world
production have made energy security a priority issue. In the case of European Union, this
issue holds even greater importance due to the high dependence on oil imports, specifically of
crude, that will continue to increase in the coming decades, and the small number of regions
that supply the European Union. This research has therefore sought to investigate the viability
of diversifying the European Union crude supply by increasing supplies from Latin America,
which is currently the producing region that less contributes to the European Union’s oil
supply.
The contribution of the main suppliers of crude to the European Union energy security
was assessed by analyzing their oil potential and political stability. It was concluded that the
European Union biggest current crude suppliers contribute to its energy insecurity mainly due
to political instability. Norway is the only exception; this country is not a source of energy
insecurity to the European Union because of its political stability, but on account of the fact
its production and reserves are in decline.
To enable a comparison, the main Latin America oil producers were also studied in the
same way, which lead to the conclusion that only the Brazilian crude supply would improve
European energy security, because of this emerging power’s high oil potential and political
stability. Therefore, the perspectives for the increase of Brazilian crude exports to the
European Union were also analyzed, concluding that the tendency is for exportation to
increase, thereby improving European Union’s energy security.

Key words: European Union, Brazil, Crude, Oil, Energy Security

vii
viii
Índice
Lista de gráficos ........................................................................................................................ xi
Lista de abreviaturas e acrónimos ........................................................................................... xiii
1 Introdução.............................................................................................................................. 15
1.1 O âmbito da investigação ............................................................................................... 15
1.2 Contextualização ............................................................................................................ 16
1.3 A relevância da temática................................................................................................. 18
1.4 Definição do problema ................................................................................................... 19
1.5 Pergunta de partida ......................................................................................................... 20
1.6 Objetivos ......................................................................................................................... 21
1.7 Formulação de hipóteses ................................................................................................ 22
1.8 Metodologias de investigação ........................................................................................ 22
2 Conceptualização operacional e enquadramento teórico ...................................................... 27
2.1 Geopolítica...................................................................................................................... 27
2.2 Geopolítica do petróleo .................................................................................................. 28
2.3 Segurança energética ...................................................................................................... 33
2.4 Caracterização do sistema internacional......................................................................... 36
2.5 Teorias de RI aplicadas à energia ................................................................................... 40
3 União Europeia ...................................................................................................................... 45
3.1 Situação energética atual ................................................................................................ 45
3.2 Situação energética prevista ........................................................................................... 46
3.3 Estratégias de segurança energética ............................................................................... 50
3.4 Os principais fornecedores de crude ............................................................................... 52
3.4.1 Federação Russa....................................................................................................... 52
3.4.2 Noruega .................................................................................................................... 55
3.4.3 Mar Mediterrâneo .................................................................................................... 56
3.4.4 Golfo Pérsico ........................................................................................................... 59
3.4.5 Mar Cáspio ............................................................................................................... 63
3.4.6 Golfo da Guiné ......................................................................................................... 67
4 O potencial petrolífero da América Latina ............................................................................ 71
4.1 Venezuela ....................................................................................................................... 71
4.2 México ............................................................................................................................ 73
4.3 Brasil ............................................................................................................................... 75
5 Perspetiva das exportações de crude entre o Brasil e a UE ................................................... 79

ix
6 Conclusão .............................................................................................................................. 85
7 Bibliografia............................................................................................................................ 89
8 Anexos ................................................................................................................................... 97

x
Lista de gráficos
Gráfico 1 - Evolução do consumo energético mundial em Mtoe .................................... 16
Gráfico 2 - A produção, consumo e importação de petróleo da UE-27 .......................... 18
Gráfico 3 - Reservas petrolíferas mundiais de 2011 em percentagem ............................ 20
Gráfico 4 - O poder dos Estados em percentagem do poder mundial ............................. 37
Gráfico 5 - Matriz energética da UE ............................................................................... 45
Gráfico 6 - Consumo energético da UE em 2030 ........................................................... 47
Gráfico 7 - Exportações petrolíferas da Petrobras .......................................................... 80
Gráfico 8 - Média da percentagem relativa de importações de crude brasileiro ............. 82

xi
xii
Lista de abreviaturas e acrónimos
AIE – Agência Internacional de Energia
AL – América Latina
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
BM – Banco Mundial
BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
CE – Comissão Europeia
CotEC – Commission of the European Communities
EIA – Energy Information Administration
EUA – Estados Unidos da América
FLASCO – Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais
FLEC-PM – Forças de Libertação do Estado de Cabinda - Posição Militar
GNL – Gás Natural Liquefeito
IDN – Instituto de Defesa Nacional
IOC – Internacional Oil Company
NOC – Nacional Oil Company
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
OME – Observatório do Mercado da Energia
ONU – Organização das Nações Unidas
OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte
PdVSA – Petróleos de Venezuela, S.A.
PEMEX – Petróleos Mexicanos
PIB – Produto Interno Bruto
PVD – Países em Vias de Desenvolvimento
RI – Relações Internacionais
SCE – Secretariado da Carta da Energia
SDP – Superintendência de Desenvolvimento e Produção
SI – Sistema Internacional
UE – União Europeia

xiii
xiv
1 Introdução
1.1 O âmbito da investigação
Este projeto de investigação insere-se na área científica de Relações
Internacionais (RI), pertencente ao curso de Mestrado em Ciências Aeronáuticas
Militares, ministrado na Academia da Força Aérea Portuguesa. A escolha desta área
baseou-se na crescente “internacionalização dos problemas que é característica do nosso
tempo” (Moreira, 2010, p.55), sendo a disciplina de RI fulcral para a compreensão e
resolução desses mesmos problemas.
Face à complexidade do cenário atual, esta disciplina possui diversas definições,
porém, de acordo com Adriano Moreira, um ponto comum das definições é que a
disciplina de RI “é o conjunto de relações entre entidades que não reconhecem um
poder político superior, ainda que não sejam estaduais, somando-se as relações directas
entre entidades formalmente dependentes de poderes políticos autónomos” (ibidem,
p.38). Isto significa que “as RI contemporâneas não se focam apenas nas relações
políticas entre Estados mas também noutros assuntos: interdependência económica,
direitos humanos, corporações internacionais, organizações internacionais, o ambiente,
desigualdades de género, desenvolvimento, terrorismo, entre outros” (Jackson;
Sorensen, 2010, p.29).
A disciplina de RI apresenta, portanto, um forte carácter interdisciplinar. De
facto, esta disciplina adquire um enquadramento em que, “apesar de ser exteriormente
concebida como uma disciplina separada, as Relações Internacionais sempre foram
influenciadas por outras áreas de estudo próximas” (Burchill et al., 2009, p.18). É
precisamente neste ponto que se insere a questão energética, pois essa questão é
fortemente interdisciplinar. Contudo, nesta dissertação pretende-se apresentar uma
perspetiva relativa à disciplina de RI, dado que é a área escolhida para a dissertação.
Como tal, a investigação concentrar-se-á, maioritariamente, na competição entre
Estados pelos recursos energéticos, nomeadamente o crude, tendo em atenção os riscos
geopolíticos subjacentes. Sendo que, por existir uma “necessidade de diferentes
abordagens para perceber diferentes aspetos duma imensamente complicada realidade
histórica e contemporânea” (Jackson; Sorensen, 2010, p.55), será, por vezes, inevitável
recorrer a aspetos de outras áreas, como, por exemplo, a aspetos económicos.

15
1.2 Contextualização
A questão energética apresenta-se como “um importante desafio para a maior
parte dos Estados do planeta” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.57). Essa preocupação tem
aumentado nos últimos anos, maioritariamente devido ao aumento da procura energética
a nível mundial. Como se verifica no gráfico 1, prevê-se que a procura energética
continue a aumentar nas próximas décadas.

Gráfico 1 - Evolução do consumo energético mundial em Mtoe1


Fonte: OCDE/AIE, 2011a, p.71. Elaboração própria.
A Agência Internacional de Energia (AIE) e a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE) salientam que este aumento constante de energia
deve-se, fundamentalmente, aos países em vias de desenvolvimento (PVD); de facto,
“os países não membros da OCDE são responsáveis por 90% do crescimento da
população, 70% do aumento da produção económica e 90% do incremento da procura
de energia, entre 2010 e 2035”, a nível mundial (OCDE/AIE, 2011b, p.4).
No entanto, o que confere urgência a todos estes estudos é a elevada
percentagem dos combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) na procura energética
mundial, prevendo-se que seja de 81% em 2030 (ibidem, p.57-58), com o petróleo a
manter-se como “a primeira fonte de energia” (ibidem, p.59). Este fator tem como
consequência uma economia mundial fortemente influenciada pelas variações do preço
deste recurso energético, o que, por sua vez, devido à instabilidade e aos níveis elevados
do preço do petróleo, condiciona o desenvolvimento dos países que dependem das
importações para satisfazer o consumo interno petrolífero (Pulido; Fonseca, 2004, p.43).

1
Mtoe é a abreviatura inglesa para um milhão de toneladas de petróleo equivalente, o que equivale a 107
quilocalorias ou 41,68 Giga joules (EU, 2010, p.6). As previsões referem-se ao cenário da AIE que tem
em consideração as medidas e as orientações políticas atuais.

16
A possibilidade da produção de crude deixar de conseguir satisfazer as
necessidades energéticas constitui outro desafio inerente ao contexto energético mundial
e é intitulado de “pico de produção ou peak oil. (…) Seja qual for a data exacta, este
novo choque, que se vai inevitavelmente produzir, será muito mais grave do que a crise
sistémica actual em que as reservas não estão postas directamente em causa” (Sébille-
Lopez, 2006, p.32). Isto terá como resultado um aumento ainda maior da “pressão da
procura sobre a oferta existente, ao ponto de atingir um possível estado de penúria
relativa e prolongada dos recursos petrolíferos” (ibidem). É de salientar que o pico
histórico da produção mundial de crude convencional ocorreu no ano de 2008 e que não
deverá voltar a ser alcançado (OCDE/AIE, 2011a, p.122).
Tendo em consideração o aumento do consumo energético mundial apresentado
no gráfico 1 e as previsões referidas sobre a produção mundial, a sustentabilidade da
oferta a longo prazo encontra-se dependente de novas descobertas de reservas
petrolíferas e do aproveitamento das reservas de petróleo não-convencional, que são
“fontes de mais difícil acesso e onerosas”, o que resulta no aumento do “custo de
comercialização do petróleo”, que, de acordo com as previsões da AIE e da OCDE, se
manterá em níveis elevados até 2035 (idem, 2011b, p.5).
Em relação às reservas, pode-se ainda observar que existe uma concentração das
reservas e da produção dos recursos energéticos em zonas específicas do globo, sendo
que “dois terços das reservas petrolíferas convencionais encontram-se no Golfo Pérsico,
na Rússia (Mar Cáspio) e no Golfo da Guiné” (Leal, 2011, p.13). Acentuando ainda
mais essa concentração de recursos, “actualmente, as companhias petrolíferas nacionais
(NOC) detêm mais de 75% de reservas provadas de petróleo, enquanto que as
companhias petrolíferas internacionais (IOC) controlam menos de 10%” (ibidem). Em
relação ao gás natural, as reservas encontram-se igualmente “repartidas de forma
desequilibrada em termos geográficos. Dois países sozinhos – Rússia e Irão – detêm
praticamente metade das reservas provadas de gás. Também são as NOC que dominam
as reservas deste hidrocarboneto” (ibidem).
“Num contexto em que a procura cresce mais depressa que a oferta e em que os
preços do petróleo e do gás tendem a subir”, pode-se, portanto, afirmar que “o acesso
aos recursos energéticos dá lugar a uma concorrência política e estratégica cada vez
maior” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.57).

17
1.3 A relevância da temática
No caso da União Europeia (UE), “a procura energética continuará a aumentar
(cerca de 15%) até 2030, mas a um ritmo menos elevado que no passado. (…) Contudo,
a dependência relativamente às importações energéticas intensificar-se-á (passando dos
actuais 50% para 70% em 2030).” De acordo com as estimativas, “em 2025, 90% do
petróleo e 80% do gás serão importados” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.74-75). O petróleo
afirmou-se como “uma fonte energética de importância crítica para a União Europeia”
e, de acordo com as previsões, continuará a sê-lo, na medida em que “continuará a
dominar o sector dos transportes” (Checchi et al., 2009, p.7). Mas o que coloca o
petróleo “no centro do debate sobre a política energética europeia” (ibidem, p.8) é a
dependência europeia em relação às importações petrolíferas, que se estima que
continue a acentuar-se devido ao aumento da procura energética e à diminuição da
capacidade produtora da UE, como se demonstra no gráfico 2.

Gráfico 2 - A produção, consumo e importação de petróleo da UE-272


Fonte: Checchi et al., 2009, p.7.
Convém também sublinhar que, em 2010, o crude representou 99,8% das
importações líquidas de petróleo da UE, prevendo-se que essa percentagem atinja o
100% entre 2010 e 2015 (UE, 2010, p.66-124). Portanto, justifica-se que esta
investigação, para além de se centrar na vertente petrolífera, se concentre mais
especificamente no crude.
Em relação à origem dessas importações, o principal fornecedor de crude à UE é
a Rússia (34%), seguido pela Noruega (14%), a Líbia (10%) e depois pela Arábia
Saudita, o Cazaquistão e o Irão, com 6% cada (CE, 2012, p.62). Neste ponto encontra-
se outra fonte de insegurança para a União Europeia, “apesar das importações
petrolíferas oriundas da Noruega não consistirem uma fonte de preocupação, dado que
2
Os valores estão na mesma unidade que o gráfico 1. A secção cor-de-rosa representa as importações
líquidas, a azul a produção e a soma das duas partes o consumo total dos 27 Estados-membros da UE.

18
este país pertence ao Espaço Económico Europeu 3 , os outros fornecedores são, por
vezes, considerados como potenciais fontes de insegurança para o abastecimento
energético europeu” (Checchi et al., 2009, p.7). Essa potencial fonte de insegurança
manter-se-á no futuro da UE, dado que as previsões afirmam que, em 2025, “a OPEP4,
em particular a Arábia Saudita, o Irão, o Iraque e a Argélia, deverá continuar a fornecer
cerca de metade das necessidades em petróleo da UE (actualmente de 45%)” (Gnesotto;
Grevi, 2008, p.75). No entanto, “a dependência das importações não implica
necessariamente um risco caso o aprovisionamento energético esteja relativamente bem
diversificado, porém, alguns membros da UE, como a Eslováquia, a Lituânia, a Hungria
e a Polónia, são quase totalmente dependentes das importações do petróleo russo”
(Checchi et al., 2009, p.7).
A UE enfrenta outro desafio a longo prazo para a segurança dos seus Estados-
membros, pois, “tendo em conta o crescimento previsto da procura mundial de energia,
a competição por recursos ficará mais difícil e o poder de mercado dos poucos grandes
exportadores de energia irá aumentar ainda mais. No campo da segurança energética, a
Europa tem de formular uma estratégia comum, mas ainda não conseguiu desenvolver
uma abordagem integrada e coerente. Ao passo que a competição global por recursos
evolui para o campo da geopolítica, o défice estratégico europeu resulta numa
vulnerabilidade intolerável” (Eiras et al., 2011, p.21).
Por outras palavras, “devido à existência de um reduzido número de
fornecedores petrolíferos a nível mundial e à natureza global do mercado petrolífero, a
verdadeira preocupação da Europa não consiste na crescente dependência das
importações petrolíferas por si, mas nos riscos associados: as vulnerabilidades do
transporte petrolífero, a possível rivalidade sobre recursos petrolíferos e o preço do
petróleo” (Checchi et al., 2009, p.8).

1.4 Definição do problema


Expostas as fragilidades do cenário petrolífero da UE, “para a Europa se
autonomizar face ao cerco energético da Rússia e mitigar o risco geopolítico do Médio
Oriente” (Eiras et al., 2011, p.29), revela-se urgente existir uma estratégia, de
preferência conjunta, para a diversificação dos fornecimentos de petróleo, com o
3
O Espaço Económico Europeu consiste num mercado interno entre os 27 Estados-membros da UE e três
dos Estados da Associação Europeia de Comércio Livre, nomeadamente, a Islândia, o Liechtenstein e a
Noruega (Associação Europeia de Comércio Livre, 2007, p.1).
4
OPEP significa Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

19
objetivo de aumentar as importações de regiões menos prováveis de se tornarem fontes
de insegurança, ou seja, mais seguras.
Com base nos valores das importações de crude da UE por região, pode-se
observar que o bloco europeu importa principalmente da Europa e Eurásia (58%),
seguindo-se o Continente africano (21%), depois o Médio Oriente (18%) e por último a
América Latina (AL) com apenas 3% (EUROSTAT, 2012). Dado que estas são as
principais zonas do globo exportadoras de crude, com exceção do Canadá que exporta
essencialmente para os Estados Unidos da América (EUA) (Foran, 2012), aumentar as
importações de crude da AL para a UE resultaria numa maior diversificação do
aprovisionamento energético europeu.

Gráfico 3 - Reservas petrolíferas mundiais de 2011 em percentagem


Fonte: BP, 2012a, p.7. Elaboração própria.
Em relação às reservas relativas da AL e Caraíbas apresentadas no gráfico 3,
torna-se ainda mais evidente o potencial petrolífero desta região e o seu
subaproveitamento por parte dos Estados-membros da UE. Nesta perspetiva é natural
concluir que a estratégia da UE não se deve unicamente direcionar para Este e para a
Ásia, mas justifica-se uma atenção especial a outros Estados do hemisfério sul, como,
por exemplo, o Brasil, o México e a Venezuela, situando-os “como parceiros
estratégicos no fornecimento de petróleo e gás” da UE (Eiras et al., 2011, p.29).

1.5 Pergunta de partida


Antes de se poder afirmar com certeza que a AL constitui uma alternativa para
reforçar a segurança energética da UE, é fundamental analisar se o aumento do
fornecimento de crude da AL para a UE resultaria, de facto, num reforço da segurança
energética da União Europeia, sendo esse o principal objetivo desta dissertação.

20
Para otimizar o processo de investigação interessa enunciar “o projecto de
investigação na forma de uma pergunta de partida” (Quivy; Campenhoudt, 1998, p.32).
Nesse sentido, definiu-se a seguinte pergunta: pode o petróleo da América Latina
reforçar a segurança energética da União Europeia?

1.6 Objetivos
Devendo a pergunta de partida funcionar como “o fio condutor” de todo o
projeto de investigação (Quivy; Campenhoudt, 1998, p.31), a elaboração de questões
derivadas deve iniciar-se a partir da pergunta de partida estabelecida. Como tal,
definiram-se os seguintes objetivos para esta dissertação:
 Caracterizar as tendências da situação petrolífera da UE.
 Avaliar a segurança energética do abastecimento de crude da UE.
 Efetuar o diagnóstico da situação petrolífera da AL.
 Determinar a capacidade da AL contribuir para o aumento da segurança
energética da UE relativamente ao abastecimento de crude.
No sentido de se atingirem os objetivos enumerados previamente, esta
investigação centrar-se em três níveis de análise. Em primeiro lugar, é necessário
analisar a segurança energética da UE, nomeadamente no abastecimento de crude, tendo
por base a situação energética atual e prevista para o bloco europeu e recorrendo a
indicadores relativos à estabilidade política, ao risco político e à capacidade de
exportação de crude dos principais Estados que exportam este recurso energético para a
UE. De seguida, efetua-se uma avaliação similar para os maiores Estados exportadores
de crude da AL, de modo a concluir se o incremento das suas exportações de crude para
a UE representaria um reforço na segurança energética do bloco europeu. Por último,
perspetiva-se sobre um possível aumento da contribuição do Brasil para a segurança
energética da UE; para tal, avaliam-se os valores das exportações de crude e a presença
de empresas petrolíferas no Brasil. A escolha de particularizar o Brasil deve-se à
estabilidade das suas relações com a UE, materializada na parceria estratégica entre
ambos e que se deve à afinidade cultural e política entre a UE e o Brasil (Fundação
Konrad Adenauer, 2009, p.7-44). Saliente-se que a parceria estratégica entre a UE e o
Brasil, que foi assinada em 2007, “inclui formalmente o reforço do multilateralismo e a
busca de ações conjuntas em temas de direitos humanos, pobreza, questões ambientais,

21
energia, reforço às negociações com o Mercosul e estabilidade na América Latina”
(Ibidem, p.89).
Em termos temporais, o estudo concentra-se, maioritariamente, nos anos
compreendidos entre 2001 e 2010, fundamentando-se esta escolha nos dados
disponíveis relativos às importações de crude da UE. No entanto, sempre que possível e
pertinente, o intervalo temporal é alargado, englobando quer anos transatos, de modo a
permitir uma melhor compreensão da situação contemporânea, quer anos posteriores,
através de previsões, de forma a maximizar a pertinência da temática.

1.7 Formulação de hipóteses


Em qualquer projeto de investigação, as hipóteses representam o que o
investigador pretende provar, ou seja, as hipóteses são tentativas de resposta às
interrogações do trabalho de investigação. Por isso, a sua elaboração requer que se tenha
em atenção os objetivos pretendidos para a pesquisa (Sampieri et al., 2006, p.122).
Como tal, a elaboração das hipóteses fundamentou-se nos objetivos delineados
anteriormente e no objetivo geral da dissertação.
É de salientar que as hipóteses diferem de simples afirmações, pois a veracidade
das mesmas não é conhecida inicialmente, sendo averiguada mediante a investigação
(ibidem, p.123).
Hipótese principal:
 O incremento do fornecimento de crude da AL representaria um reforço da
segurança energética da UE.
Hipóteses secundárias:
 A atual matriz de aprovisionamento de crude da UE compromete a segurança
energética do bloco.
 O contributo do Brasil para a segurança energética da UE tenderá a aumentar.

1.8 Metodologias de investigação


Uma dissertação tem como objetivo ser precisa e rigorosa, como tal, é de
extrema importância a utilização duma metodologia científica de modo a alcançar-se o
objetivo pretendido. A metodologia constitui o ponto fundamental do processo de
criação de conhecimento científico, pois, “os nossos conhecimentos constroem-se com
o apoio de quadros técnicos e metodológicos explícitos, lentamente elaborados, que

22
constituem um campo pelo menos parcialmente estruturado, e esses conhecimentos são
apoiados por uma observação dos factos concretos” (Quivy; Campenhoudt, 1998, p.20).
Ainda que possam existir diversas formas, ou seja, técnicas de criar o
conhecimento científico existem igualmente certos princípios que são transversais às
várias técnicas, esse facto transforma esses mesmos princípios num procedimento. Esse
procedimento científico, de acordo com Quivy e Campenhoudt (1998), compreende três
atos e sete etapas, contudo, a ordem pela qual se efetuam esses inúmeros passos não é
estática e rígida, sendo, por isso, normal, que se volte a etapas anteriores no decorrer da
investigação, por vezes mais do que uma vez. Conclui-se, portanto, que a sequência
apresentada de seguida representa apenas a base do procedimento científico.
Os atos são: a rutura, a construção e a verificação. Como o nome indica, a rutura
implica um afastamento de ideias fundamentadas em verdades quotidianas e não em
premissas empíricas, de modo a formular, com a máxima exatidão académica, o ponto
de partida da tese. Esse ponto, por sua vez, comporta três etapas: a pergunta de partida,
que não é mais que o fio condutor de toda e qualquer investigação; a exploração, onde
se procede à recolha de uma considerável quantidade de informação fidedigna sobre a
temática; e, por fim, a etapa da problemática, onde já se começa a estabelecer e a
delinear os contornos do problema escolhido para incidir a investigação. Note-se que
esta última etapa já se inclui no próximo ato, a construção.
Este segundo ato serve para que o investigador possa definir um “sistema
conceptual organizado, suscetível de exprimir a lógica que o investigador supõe estar na
base do fenómeno” e engloba a etapa da problemática, como referido, e a construção do
modelo de análise. Esta etapa, onde se pretende “construir o modelo de racionalidade,
consiste, portanto, em definir os critérios de racionalidade que o estruturam e em
precisar a hipótese fundamental que ele implica e que o constitui” (ibidem, p.26-262).
Por último, o ato da verificação, para além de incluir a etapa da observação,
abrange as etapas da análise das informações e das conclusões. No seu conjunto, este
ato pretende verificar as proposições através dos factos.
Para complementar o procedimento científico exposto anteriormente, importa
referir brevemente o método de investigação indutivo e o dedutivo, o que facilitará a
compreensão das perspetivas da elaboração de pesquisa.
O método indutivo “é um processo mental por intermédio do qual, partindo de
dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou
universal, não contida nas partes examinadas.” (Marconi; Lakatos, 2003, p.86). Com

23
este método cria-se, portanto, uma nova teoria, na medida em que “os argumentos
indutivos aumentam o conteúdo das premissas” (ibidem).
O método dedutivo parte de premissas para alcançar uma conclusão verdadeira,
utilizando para tal um processo lógico, em suma, o argumento dedutivo “reformula ou
enuncia de modo explícito a informação já contida nas premissas” (ibidem, p.92), não
acrescentando novas teorias às existentes. No entanto, “se nos dedutivos, premissas
verdadeiras levam inevitavelmente à conclusão verdadeira, nos indutivos, conduzem
apenas a conclusões prováveis”. Os dois métodos diferem igualmente na finalidade,
sendo que “o dedutivo tem o propósito de explicar o conteúdo das premissas; o indutivo
tem o desígnio de ampliar o alcance dos conhecimentos” (ibidem, p.86-92).
Em relação às principais perspetivas da elaboração de pesquisa podem-se
apontar dois enfoques principais, ambos igualmente importantes: o quantitativo e o
qualitativo (Sampieri et al., 2006, p.752).
No âmbito do enfoque quantitativo, o investigador utiliza dados concretos para
proceder às averiguações necessárias à investigação científica. Este procedimento de
pesquisa científico é dedutivo, objetivo, aborda problemáticas concretas e tem como
objetivo final demonstrar as teorias construídas ao longo da investigação (ibidem, p.2-
6).
O método qualitativo, em oposição ao anterior, não recorre à medição numérica
para a recolha de dados, em vez disso, utiliza métodos menos padronizados, como, por
exemplo, entrevistas, revisão documental, histórias de vida, entre outros. Como
consequência da natureza destes dados, este método é indutivo e mais subjetivo
(ibidem, p. 8-12).
Em suma, o estudo quantitativo procura relacionar as variáveis em estudo de
forma precisa, enquanto o estudo qualitativo pretende compreender o fenómeno
estudado (ibidem, p. 18-21). Contudo, apesar de, durante um longo período histórico,
esses dois enfoques serem considerados em separado, admite-se, atualmente, um
terceiro enfoque, a investigação mista, em que se utilizam os dois métodos. Este tipo de
investigação obriga, porém, a que o investigador tenha um forte domínio de ambos os
métodos (ibidem, p. 752-757).
De acordo com os objetivos desta dissertação, as conclusões resultam do
tratamento de dados numéricos relativos ao objeto de estudo, para tal aplicam-se os
paradigmas da segurança energética ao caso concreto do fornecimento de crude à UE.

24
Deste modo, a metodologia desta investigação é de enfoque quantitativo e, portanto,
dedutivo.
Relativamente aos tipos ou alcances da pesquisa, a investigação pode ser
classificada de descritiva, exploratória, correlacional ou explicativa, sendo que, por
vezes, a investigação apresenta características de dois ou mais tipos de pesquisa. O
investigador escolhe o tipo de pesquisa com base na literatura disponível e na finalidade
da sua investigação (Sampieri et al., 2006, p.111).
O tipo descritivo recorre à recolha de informação de acordo com as variáveis de
estudo pretendidas, de modo a caracterizar o objeto de estudo, sem que, porém, pretenda
definir relações entre as variáveis em questão (ibidem, p.102-103).
O tipo de estudo exploratório é apropriado para quando, após a revisão da
literatura, se concluí que a temática foi ainda muito pouco abordada ou quando se
pretende utilizar uma nova perspetiva na abordagem duma temática conhecida (ibidem,
p.103).
A pesquisa correlacional, como o seu nome sugere, procura relacionar as
variáveis em estudo. A sua utilidade principal consiste em permitir a previsão do
comportamento dessas mesmas variáveis (ibidem, p.105-106).
O tipo de estudo explicativo, não só descreve o objeto de estudo e relaciona as
variáveis, como também pretende explicar porque surgem. A investigação explicativa,
ao partilhar os objetivos dos outros tipos de pesquisa, apresenta-se como a mais
completa (ibidem, p.108).
Esta investigação é do tipo correlacional, dado que para cumprir o objetivo
principal é fundamental relacionar o fornecimento petrolífero da AL para a UE com a
segurança energética do bloco europeu.
Para tal, realiza-se um estudo sobre os principais fornecedores de crude da UE,
com o propósito de avaliar a insegurança que representam ou não para o abastecimento
petrolífero da mesma. Este estudo tem por base as tendências da capacidade de
exportação petrolífera dos países em questão, o indicador de instabilidade política
apresentado pelo Banco Mundial (BM) e o indicador de riscos políticos da empresa
AON.
De modo a ser possível relacionar o contributo dos principais fornecedores de
crude para a segurança energética da UE com o contributo dos principais exportadores
de crude da AL, efetua-se um estudo com os mesmos critérios para esse segundo
conjunto de países.

25
“O desenvolvimento da camada pré-sal estabeleceu uma nova condição para o
Brasil no mercado internacional de petróleo e gás natural, ampliando suas reservas
provadas e duplicando a capacidade de produção até 2020” (EYGM, 2011, p.8). Perante
este potencial petrolífero brasileiro e no sentido de perspetivar-se sobre o incremento da
contribuição brasileira para a segurança energética do bloco, correlaciona-se a presença
das companhias petrolíferas estrangeiras no Brasil e as opções da principal companhia
petrolífera brasileira com o destino das exportações de crude brasileiro.
Por fim, importa mencionar que, perante o elevado número de fontes
bibliográficas em língua inglesa e de modo a uniformizar esta dissertação, as citações
das obras referidas foram devidamente traduzidas pelo autor, respeitando as ideias e as
palavras originais.

26
2 Conceptualização operacional e enquadramento teórico
“O estudo das relações internacionais necessita, como todos os domínios da
investigação e do ensino, de certos conceitos operacionais que ajudem a delimitar as
fronteiras com outros ramos do saber” (Moreira, 2010, p.70). Nesse sentido, para
permitir uma melhor compreensão do objeto de estudo, irão ser expostos os conceitos
mais importantes para esta investigação:
 Geopolítica;
 Geoeconomia;
 Geopolítica do petróleo;
 Segurança energética;
Torna-se igualmente imperioso efetuar um enquadramento teórico, onde se
inclui um breve esboço do Sistema Internacional (SI), apresentando as características
mais relevantes para a compreensão da temática em estudo, e um estudo das teorias de
RI, na medida em que estas abordam a questão energética, de modo a avaliar a teoria
que mais se aproxima da problemática desta investigação.

2.1 Geopolítica
A geopolítica estuda “a evolução das relações de poder entre os diferentes pólos
políticos, tendo em vista as suas características geográficas e o encontrar de nódulos que
as condicionam, restringindo ou potenciando a sua capacidade de afirmação” (Leal,
2011, p.15), ou, mais resumidamente, consiste no “estudo da influência da geografia nas
relações internacionais” (Palmeira, 2006, p.34).
Este conceito surgiu “na transição do século XIX para o século XX” e, embora
seja aplicável ao longo de toda a História, verificou-se um aumento da sua utilização
“com a instalação do Estado Moderno.” No entanto, “a geopolítica tem sido objecto de
alguma controvérsia em torno da sua validade científica, sobretudo quando é
apresentada como determinista.” Porém, o estudo da geopolítica foi-se afastando dessa
vertente controversa e “contemporaneamente, os autores tendem a conceber a
geopolítica como uma perspectiva de análise das relações internacionais que põe em
relevo o papel do território no comportamento dos Estados” (ibidem, p.36).
Com o intuito de maximizar o carácter contemporâneo desta investigação, a
conceptualização foca-se na geopolítica pós-moderna, que pretende “demonstrar como

27
as práticas geopolíticas são afectadas e transformadas, quer pela revolução nas
tecnologias de informação (…) quer pela própria globalização” (Leal, 2011, p.15).
Nesta perspetiva atual da geopolítica, os recursos assumem uma posição de
grande relevo, nomeadamente “na aquisição e reforço do poder – caso dos recursos
alimentares, hídricos ou energéticos.” Convém salientar que as ameaças inerentes à
escassez de determinados recursos diferem entre si, ou seja, a escassez de recursos
alimentares e de água representam uma “perceção de perigo imediato e direto” para os
cidadãos, enquanto a escassez de recursos energéticos assume uma “perceção diferida
de perigo” (ibidem, p.15-16).
Em suma, a energia e a água, “apresentam ‑ se como elementos chave da
configuração das relações de força durante o século XXI. Há zonas de produção de
recursos sobretudo energéticos, que se podem transformar em centros activos de poder,
particularmente se tiverem dimensão geográfica crítica. Os efeitos gerados pelo sistema
financeiro mundial introduzem uma forte tensão nas relações de troca entre os que
dispõem de recursos naturais, nomeadamente petróleo, e os que não possuem. Somente
uma rutura tecnológica no âmbito da energia, que consiga libertar os países da
dependência dos produtores de petróleo poderá alterar a situação com a qual o mundo
de hoje se confronta” (ibidem, p.18).

2.2 Geopolítica do petróleo


O conceito de geopolítica “é macro, composto por parcelas tão importantes
quanto a geoeconomia, a geo-segurança e a geocultural, também elas subdivididas
noutras componentes. Daí falar-se de geopolítica da religião, geopolítica da língua,
geopolítica do petróleo, geopolítica da droga ou geopolítica da fome, que permitem
radiografar estes fenómenos, desde a sua cartografia à procura de uma justificação para
o seu trajecto de ocorrências” (Palmeira, 2006, p.49).
A geopolítica do petróleo assume-se, deste modo, como uma subdivisão da
geopolítica, sendo que, “por um lado, geo refere-se à localização das reservas
petrolíferas; por outro, política reflete as decisões de importação e produção dos
Governos que influem no acesso aos aprovisionamentos. Em termos gerais, este
conceito é também aplicado ao gás natural e a outros recursos incluindo os minerais”
(Devlin apud Leal, 2011, p.18). Tendo em conta a problemática desta investigação, este

28
conceito representa uma aproximação mais precisa ao objeto de estudo deste projeto e,
por isso, justifica-se elaborar uma abordagem mais detalhada sobre este conceito.
Na introdução referiu-se que o petróleo constitui a principal fonte energética e,
como consequência, a mais importante para a economia mundial, porém, a sua
relevância internacional é ainda acrescida pela distância entre as regiões produtoras e
consumidoras e pela insegurança presente nas regiões que concentram a maioria dos
recursos, ou seja, por fatores geográficos e políticos (Pulido; Fonseca, 2004, p.43)
A importância da geografia é também comprovada ao longo da História.
Recuando até à Primeira Guerra Mundial é de salientar a relevância do petróleo no
desenrolar do conflito e na vitória dos aliados, afirmando-se como uma questão
internacional. Enquanto os EUA asseguraram o fornecimento petrolífero dos aliados
europeus, o insucesso alemão no controlo da produção petrolífera da Roménia e,
posteriormente, de Baku, a atual capital do Azerbaijão, impossibilitou a Alemanha de
continuar a sustentar o esforço de guerra (ibidem, p.43-44).
Após esse conflito mundial, observa-se o esforço de alguns países ocidentais em
garantir o petróleo do Médio Oriente e das Índias holandesas através das suas
companhias petrolíferas, conseguindo-o com sucesso (ibidem, p.44). Neste período, é já
evidente que “o petróleo acaba por não constituir apenas um interesse comercial
financeiro dos negócios de cada país, para constituir um interesse nacional dos países,
ditando as suas políticas e estratégias” (Leal, 2011, p.18).
Na Segunda Guerra Mundial, o contributo do petróleo para a vitória dos Aliados
foi novamente notório. Contribuiu para uma maior mobilidade dos EUA e da Rússia,
que detinham recursos petrolíferos suficientes e, por um lado, forçou os alemães e
japoneses a movimentações extraordinárias para complementar a sua insuficiente
produção interna (Pulido; Fonseca, 2004, p.44-46).
De facto, “a emergência do petróleo como matéria-prima indispensável
introduziu uma considerável mudança ao poder relativo das nações” com uma liderança
política assinalável. Devido a esse lugar de destaque, “o controlo desta estratégica
matéria-prima tem sido, tradicionalmente, um factor importante de equilíbrio de poder,
no sentido de que, quem tiver capacidade para a associar às outras matérias-primas,
acrescenta enorme potencial aos seus próprios recursos, privando proporcionalmente a
sua concorrência.” Constate-se o exemplo do Próximo Oriente, que se tornou
“estrategicamente importante devido às consideráveis jazidas de petróleo da Península
Arábica” (Rodrigues, 2000, p.123). No entanto, não é só no âmbito do estrito controlo

29
das reservas que o petróleo se destaca, pois “o petróleo pode ser utilizado como arma
política” (Leal, 2011, p.18), nomeadamente através do embargo petrolífero.
Os EUA foram pioneiros nesse tipo de ação ao efetuarem progressivos embargos
às exportações de petróleo para o Japão entre 1931 até ao embargo total em 1941, numa
tentativa de contrariar o expansionismo nipónico no Continente asiático. Sucederam-se
muitos outros embargos petrolíferos após a Segunda Guerra Mundial, uns “de acordo
com o direito internacional, no quadro da ONU”, outros “fora do direito internacional”.
Porém, “até hoje, o único embargo decidido por países produtores contra países
consumidores” verificou-se no ano de 1973, no seguimento da quarta guerra israelo-
árabe (Sébille-Lopez, 2006, p.14-16).
Este embargo significou o início duma mudança profunda no sector petrolífero,
anteriormente controlado quase na totalidade, da produção à distribuição, por sete
companhias petrolíferas anglo-saxónicas, que, no passado, tinham inclusive estabilizado
o preço do petróleo em baixa para incentivar o consumo e consolidar o seu domínio. A
este “cartel das companhias que dominavam a cena petrolífera desde o início da história
industrial do petróleo, sucedia um cartel de países produtores”, pertencentes à OPEP,
uma organização criada “precisamente para lutar contra esta hegemonia dos grandes”
(ibidem, p.16). Porém, saliente-se que, não obstante a maior divisão do sector
petrolífero entre as grandes multinacionais e as companhias petrolíferas dos países
produtores, que se afirmaram como as principais produtoras petrolíferas mundiais, as
grandes multinacionais continuam com uma quota significativa do mercado petrolífero
(Pulido; Fonseca, 2004, p.249-250).
Para além dessa mudança, este embargo petrolífero, conhecido como “primeiro
choque petrolífero”, assim como os outros que se seguiram, alcançaram uma “eficácia
política (…) muito discutível”, contudo, “as consequências socioeconómicas, essas, são
bem reais”, o que “permitiu principalmente que os países consumidores tomassem
consciência da sua vulnerabilidade crescente”. Outra conclusão que se pode retirar da
análise destas perturbações do sector petrolífero é que “estamos claramente na presença
de uma crise geopolítica de grandes proporções, isto é, um conflito localmente bem
limitado, relacionado com problemas territoriais bem precisos, embora com
consequências planetárias, pelo menos no que respeita ao preço do barril” (Sébille-
Lopez, 2006, p.15-18).
Existem ainda outros riscos geopolíticos inerentes ao sector petrolífero, mais
precisamente, relativos à segurança das infraestruturas e do transporte dos

30
hidrocarbonetos, cujas vulnerabilidades decorrentes da localização ou passagem por
zonas instáveis têm sido demonstradas nos últimos anos através de inúmeros ataques
terroristas bem sucedidos (Pulido; Fonseca, 2004, p.245).
Entre as principais rotas de transporte petrolífero, a via marítima, constitui um
exemplo representativo dessa vulnerabilidade. “Atualmente, dois terços do crude e dos
produtos derivados são quotidianamente encaminhados por petroleiros”, sendo que
cerca de 73% de todo o transporte marítimo de crude e derivados atravessa diariamente
“através daquilo a que se passou a chamar de pontos de estrangulamento, isto é,
passagens dificilmente contornáveis no plano da circulação mundial de hidrocarbonetos.
Estes estreitos, porque podem ser facilmente bloqueados, são vulneráveis e constituem
alvos potenciais de escolha para eventuais movimentos terroristas e de outros piratas
(Sébille-Lopez, 2006, p.43-44).
Relativamente à atuação das empresas petrolíferas, a relação entre o Estado de
origem das empresas e o Estado em que as mesmas operam ou pretendem operar é
determinante, quer na obtenção de concessões, quer na permanência dessas empresas
nesses países (Pulido; Fonseca, 2004, p.252). De modo a promover a segurança
energética e no âmbito das prioridades da sua política externa, alguns Estados tendem a
estabelecer estreitas relações de apoio com as empresas petrolíferas nacionais, sejam
elas públicas ou privadas. No contexto, sublinhe-se que a deterioração das relações entre
dois Estados, além de comprometer os projetos da empresa petrolífera estrangeira no
território do outro Estado, surge como uma oportunidade para a expansão das empresas
originárias de Estados com boas relações com o Estado produtor em questão, como, por
exemplo, no Sudão (ibidem, p.253).
Por fim, interessa apresentar uma síntese geopolítica do atual cenário
internacional do sector petrolífero, cuja característica fundamental, segundo Nerlich
(2008, p.2), é a alteração do papel dos EUA, que perderam a sua tradicional capacidade
de garantir o “seguro fornecimento de energia entre as nações industrializadas regulado
por instituições internacionais orientadas para o consumidor que auxiliaram o
estabelecimento dum mercado global para o petróleo, o que também ajudou na
regulação do fornecimento de gás.” Essa situação foi presentemente substituída por uma
exacerbada competição por fornecimentos energéticos seguros a longo-prazo entre as
grandes potências, em que “as estratégias dominantes serão moldadas por circunstâncias
regionais e expectativas a curto e médio prazo.”

31
Contudo, existem outros pontos e alterações relevantes para a compreensão do
panorama geopolítico do petróleo, por isso, convém igualmente expor, em traços gerais,
a caracterização do sistema petrolífero contemporâneo, que, de acordo com Sébille-
Lopez (2006), consta dos seguintes pontos:
 Como consequência do crescimento económico, o consumo petrolífero continuará
a aumentar e, como a maioria dos países não têm produção interna que os torne
auto-suficientes, esse aumento do consumo resulta no aumento da dependência da
economia mundial em relação ao petróleo de um número reduzido de países.
 Assim como existe essa forte dependência das importações petrolíferas, também
existe uma grande dependência das exportações petrolíferas por parte desse
reduzido número de países com capacidade de exportação. Esta interdependência
mundial relativamente ao sector petrolífero é cada vez mais acentuada devido à
crise atual neste mercado, ou seja, devido ao elevado preço do petróleo, que se
deve manter em níveis altos nos próximos anos.
 As consequências do elevado preço do petróleo não são iguais para todos os
países, sendo mais graves nos PVD, dependendo do grau de diversificação da
economia em questão.
 A AIE e as reservas estratégicas dos países membros dessa organização, que
surgiram com o objetivo de resolver falhas de abastecimento temporárias,
revelam-se incapazes de melhorar a situação atual do mercado petrolífero.
 O aumento da procura faz também com que seja necessário descobrir cada vez
mais reservas, aumentar a capacidade de produção e refinação e modernizar
infraestruturas e o sector de transporte, o que implica que se realizem
investimentos totais cujo valor aumenta de ano para ano, de modo a equilibrar a
procura e a oferta mundiais.
 O receio internacional em relação ao insucesso das ações apresentadas no ponto
anterior favorece o aumento da competitividade mundial e, paralelamente, dos
interesses políticos no sector petrolífero como forma de se assegurar o
fornecimento essencial ao bom funcionamento das várias economias, verificando-
se, portanto, a alteração do domínio dos interesses financeiros, isto é, da lógica do
lucro, em detrimento duma lógica mais geopolítica e estratégica. Nesse sentido, é
de destacar as economias emergentes, como a China e a Índia que, devido ao seu
rápido crescimento, necessitarão de cada vez mais recursos energéticos.

32
 Com a afirmação desses países como grandes consumidores petrolíferos, surgem
novas empresas petrolíferas nacionais a competirem neste sector anteriormente
dominado por grandes empresas internacionais. Essas empresas de potências
emergentes, juntamente com um número crescente de pequenas empresas
privadas, caracterizam-se por serem competitivas face às oportunidades atuais no
sector, diminuindo dessa forma o poder das grandes companhias, o que resulta no
aumento indireto do poder dos Estados produtores.
 Aproveitando a concorrência crescente e o aumento das reivindicações locais
sobre os lucros relativos aos recursos petrolíferos, os países produtores tendem a
estabelecer contractos de partilha de produção, mais favoráveis aos Estados
produtores, em oposição às habituais joint ventures, em que esses Estados
partilhavam os custos com as empresas petrolíferas.
 A crescente instabilidade, o nacionalismo de recursos, a fraca abertura dos
mercados e as crises geopolíticas referentes a estes mesmos países são apontadas
como as principais causas do elevado preço do petróleo, juntamente com um forte
teor especulativo, favorecido por um receio internacional de falhas no
fornecimento e da possível incapacidade da oferta continuar a equilibrar a
procura.

2.3 Segurança energética


Perante todos esses fatores expostos, verifica-se que “o abastecimento global de
energia, hoje em dia, está profundamente afectado, quer pelo estado de desordem
internacional actual, quer porque é ele próprio uma força motriz numa competitividade
internacional exacerbada” (Leal, 2011, p.20). De facto e não esquecendo outros riscos e
desafios, como os do âmbito climático, é de salientar que “as estruturas de fornecimento
global e regional, as cadeias de aprovisionamento são cada vez mais ameaçadas pelo
terrorismo, insurreições, pirataria e sabotagem, bem como por negligência e
incompetência. Os ataques terroristas e insurrecionais nas instalações de petróleo e de
gás são, atualmente, focos de atenção. Todos os segmentos da cadeia de petróleo e de
gás, desde os jazigos até às estações de gasolina e de toda a rede de oleodutos,
gasodutos e transporte marítimo até aos terminais, navios e refinarias podem ser alvos,
tendo obviamente de ser protegidos. As exigências globais e competitivas, o transporte

33
e as suas implicações estratégicas tornaram a segurança energética num requisito de
segurança global” (ibidem, p.23).
A definição habitual de segurança energética para “o mundo desenvolvido” e
consumidor consiste “na disponibilidade dos fornecimentos necessários a um preço
aceitável”, porém, por exemplo, para os países exportadores de energia o seu interesse
reside em manter a “segurança da procura” (Yergin, 2006, p.70-71). Ou seja, a definição
varia de país para país, dependente das circunstâncias energéticas correspondentes.
Como esta investigação tem por base a segurança energética da UE, a definição que
importa aprofundar é a referente aos países desenvolvidos e consumidores.
Esse modelo de segurança energética, que é o modelo atual nos países
desenvolvidos, foi criado no seguimento da crise de 1973, materializa-se na AIE e
concentra-se, principalmente, em como lidar com interrupções no fornecimento de
petróleo, tendo por base quatro princípios fundamentais, ordenados da seguinte forma:
“diversificação de fornecimento”, isto é, multiplicar os fornecedores; “resiliência”, que
implica, resumidamente, armazenar recursos para emergências; “reconhecer a realidade
da integração”, pois, devido à globalidade do mercado petrolífero, a sua estabilidade é
de importância internacional; e “a importância da informação”, essencial ao bom
funcionamento de qualquer mercado (ibidem, p.76-78).
Nesta afirmação, considera-se igualmente que, “por mais importantes que esses
princípios sejam, os últimos anos evidenciaram a necessidade de expandir o conceito de
segurança energética em dois pontos críticos: o reconhecimento da globalização do
sistema de segurança energética, o que pode ser alcançado principalmente pela
associação da China e da Índia, e o reconhecimento do facto de que toda a cadeia de
fornecimento de energia têm de ser protegida”, o que “requer colaboração contínua
entre produtores e consumidores, de modo a assegurar a segurança de toda a cadeia de
fornecimento”, pois “a segurança energética não é um assunto isolado mas baseia-se nas
relações entre nações e em como estas interagem entre si” (ibidem, p. 69-78).
Para compreender melhor o conceito de segurança energética importa distinguir
entre dois recursos energéticos fundamentais, o gás e o petróleo, “dado que apresentam
diferentes características na perspetiva da segurança energética”. O mercado do petróleo
é global e o do gás é regional. O gás é “mais difícil de armazenar e as infraestruturas
necessárias para o seu transporte são (por enquanto) rígidas”, o que “implica uma
ligação física entre produtor e consumidor, por isso as rotas alternativas para o
consumidor são limitadas.” O transporte de petróleo é mais flexível, ou seja, os

34
carregamentos podem ser, inclusive, “facilmente redirecionados para outro destino”, e
apresenta menores custos de transporte. Outra grande diferença é que no caso do
petróleo não basta satisfazer uma determinada quantidade, é necessário que o
fornecimento seja adequado à necessidade de cada tipo de petróleo por cada sector. O
mesmo não se verifica quanto ao fornecimento de gás, que apenas têm de satisfazer a
procura. “Se um sector particular utiliza normalmente o gás, mas não se conseguiu obter
o gás necessário, pode utilizar outros combustíveis, como o carvão ou o petróleo. O
mesmo não se aplica em relação ao petróleo, onde existem sectores em que o petróleo é
a fonte dominante de energia e, atualmente, não pode ser substituída por outra fonte de
energia, como, por exemplo, no sector dos transportes na União Europeia.
Consequentemente, se as necessidades de petróleo nesse sector não forem satisfeitas,
esse sector não poderá funcionar” (Haighighi, 2006, p.11-13).
Apesar das diferenças entre a segurança energética relativa a essas duas fontes
de energia, os riscos para a segurança energética podem ser agrupados em cinco tipos:
geológicos, técnicos, económicos, geopolíticos e ambientais. “Os riscos geológicos
referem-se à possibilidade de exaustão duma fonte energética. (…) Os riscos técnicos
incluem falhas de sistema devido a causas meteorológicas, falta de investimento (…) Os
riscos económicos englobam principalmente as flutuações erráticas do preço dos
produtos energéticos nos mercados. (…) Os riscos geopolíticos abordam as potenciais
decisões governamentais de suspensão de fornecimentos devido a políticas deliberadas,
a guerras, greves e terrorismo. (…) Os riscos ambientais descrevem o dano potencial
derivado de acidentes (derrames petrolíferos ou acidentes nucleares), ou emissões como
as emissões de gases com efeito de estufa” (Checchi e al., 2009, p.3).
Por sua vez, estes riscos apresentam consequências em escalas temporais
distintas, o que influencia as políticas que os pretendem resolver. Convém, portanto,
distinguir entre o curto-prazo e o longo-prazo. “A curto-prazo, a preocupação centra-se
nas consequências disruptivas dum choque de preço ou numa interrupção de
fornecimento imprevista. Este segundo caso está geralmente associado a (…) acidentes,
condições climatéricas extremas, ataques terroristas ou falhas técnicas das redes. (…) A
longo-prazo, a preocupação concentra-se mais na disponibilidade dum
aprovisionamento energético suficiente que permita um desenvolvimento económico
estável e sustentado. Aqui a ênfase é dada à exaustão geológica, à adequação dos
investimentos (…) assim como à qualidade da regulação dos sistemas” energéticos
(ibidem, p.4).

35
Não obstante todas as dimensões da segurança energética identificadas, a
“diversificação irá permanecer como o princípio fundamental para a segurança
energética quer do petróleo quer do gás” (Yergin, 2006, p.82). No âmbito desse
princípio, a diversificação de fornecedores complica-se no atual panorama
internacional, na medida em que a economia mundial cresce e, em associação, as suas
necessidades energéticas. “Esta procura de energia estrangula o abastecimento
disponível” (Eiras et al., 2011, p.19), o que incrementa a competitividade mundial na
obtenção dos recursos energéticos, alterando o teor das preocupações da segurança
energética, que até recentemente se focavam em “ameaças de curto prazo ao
fornecimento”, para a “adequação do investimento e do fornecimento no longo prazo”,
não descurando o “aspecto das alterações climáticas e da segurança nacional” (ibidem,
p.18).
Saliente-se que para promover a segurança energética ter-se-á de atuar tendo em
conta o contexto internacional de interdependência crescente, ou seja, “a segurança
energética vai depender muito de como os países gerem as suas relações uns com os
outros, seja de forma bilateral ou em plataformas multilaterais. Esta é uma das razões
pelas quais a segurança energética é um dos grandes desafios da política europeia. Isto
porque não basta criar soluções para os problemas imediatos, mas exige ver para além
dos ciclos de subidas e descidas, e conseguir destrinçar a realidade de um sistema
energético global cada vez mais complexo e integrado nas relações entre os países que
nele participam” (ibidem).

2.4 Caracterização do sistema internacional


Após o fim da Guerra Fria e “face ao declinar da Rússia e à abstenção da
China”, a hegemonia dos EUA foi-se afirmando por entre uma relativa estabilidade
mundial (Palmeira, 2006, p.47). Este país assumiu-se como uma força global e
avassaladora, aliando um forte poder militar a um domínio económico e comercial, que
se foi estendendo pelo mundo e que se pode observar no gráfico 4. No entanto, as
previsões para 2025 apontam para a diminuição dessa hegemonia.

36
Gráfico 4 - O poder dos Estados em percentagem do poder mundial 5
Fonte: Internacional Future Model apud Adler, 2009, p.108.
A UE é indicada como sendo a segunda maior potência mundial, porém, as
perspetivas não lhe são favoráveis, prevendo-se uma acentuada redução do seu poder
relativo, sendo que, no ano de 2025, a UE terá sido ultrapassada pela China em termos
de poder relativo de acordo com as previsões apresentadas no gráfico 4. Esta perspetiva
de “perda de influência” da UE deve-se à previsão de que “em 2025, a Europa terá
apenas avançado lentamente na concretização do projeto das suas elites e dos seus
dirigentes atuais: o de um ator mundial coerente, integrado e influente, capaz de usar de
forma absolutamente independente uma panóplia completa de ferramentas políticas,
económicas e militares na defesa dos interesses europeus e ocidentais e dos ideais da
universalidade” (Adler, 2009, p.115). Este cenário prejudica diretamente a segurança
energética europeia, na medida em que “a incapacidade persistente de persuadir uma
opinião céptica dos benefícios de uma integração económica, política e social
aprofundada e de enfrentar o problema de uma população a envelhecer e em declínio,
levando a cabo reformas impopulares, poderá transformar a UE num gigante
imobilizado, demasiado ocupado na resolução das suas querelas internas e rivalidades
nacionais, e menos capaz de transformar o seu peso económico em influência
planetária” (ibidem).
Outra potência que previsivelmente perderá poder é o Japão, que terá de
“responder ao declínio demográfico, ao envelhecimento da sua indústria e a uma
situação política mais explosiva” (ibidem, p.117).
Por outro lado, a ascensão das principais potências emergentes, nomeadamente
do Brasil, da China, da Índia e da Federação Russa6, que apresentam, inclusive, uma

5
O gráfico 4 indica o poder relativo dos Estados tendo por base o PIB, o orçamento de Defesa, a
população e a tecnologia (Adler, 2009, p.108).
6
Os países em questão pertencem ao conjunto dos BRICS, que consiste no Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul.

37
subida do seu poder relativo, tornará o SI “mais heterogéneo”, confirmando que “a
multipolaridade será uma realidade incontornável” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.199). A
afirmação destas potências emergentes tornou-se num dos principais fatores de alteração
do cenário mundial, como foi já referido nesta investigação em relação ao sector
energético mundial. Contudo, esse fator fundamental é também observável noutros
sectores, com destaque para o demográfico e o económico.
Em relação à demografia, prevê-se que o crescimento populacional a nível
mundial “deverá abrandar progressivamente”, sendo que, no entanto, “dentro de vinte
anos, 97% do crescimento da população ocorrerá nos países em vias de
desenvolvimento, e nove pessoas em cada dez viverão em países em desenvolvimento –
em comparação com as atuais oito em cada dez”. Essa tendência alterará “o centro de
gravidade demográfica mundial, deslocando-o do Norte para o Sul” (ibidem, p.19-28).
Mas, “o simples facto de o mundo passar a contar, em 2025, com mais mil milhões de
habitantes” terá como resultado que, “nos próximos quinze a vinte anos, o acesso a
fontes de energia relativamente seguras e limpas e a gestão da escassez crónica de
alimentos e de água vão assumir cada vez mais importância para um número crescente
de países” (Adler, 2009, p.129).
Na economia, as previsões são mais difusas, contudo, podem-se apresentar
algumas tendências gerais, tais como: “a globalização económica irá prosseguir e
acentuar-se”; “novas potências comerciais irão aumentar a concorrência e forçar os
sistemas socioeconómicos a adaptarem-se”; “a «tríade» - Estados Unidos, UE, Japão –
continuará provavelmente a dominar os mercados de grande valor acrescentado”, apesar
de, devido ao deslocamento de mão-de-obra, “alguns países beneficiários dessas
atividades deslocalizadas tornar-se-ão novas potências económicas”, o que aliado à
previsão de “taxas de crescimentos mais elevadas” nas “economias asiáticas
emergentes” irá fazer deslocar “o centro de gravidade da economia mundial (…)
devendo o PIB7 da China e da Índia triplicar até 2025” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.34-
35).
Para além da identificação das maiores potências mundiais, existe outro ponto
fundamental da caracterização do SI atual que se assume como relevante para a
compreensão da temática da investigação, a globalização, que “é, e será, um factor
determinante da política, da economia e da cultura” (ibidem, p.195), ao ponto de, na

7
PIB significa Produto Interno Bruto.

38
atualidade, ter-se tornado, de facto, “difícil discernir uma fronteira entre a segurança, o
económico e o cultural, pois todos estes factores concorrem para um mesmo objectivo
de poder que hoje não se obtém pela conquista das armas mas pela superioridade
tecnológica e económica e pela aculturação” (Palmeira, 2006, p.47). Esta é uma das
inúmeras consequências da globalização, porém, convém sublinhar que a globalização
“engloba múltiplas dimensões e induz efeitos contraditórios – fenómeno que deverá,
aliás, acentuar-se nas próximas décadas” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.195). Alguns
exemplos dessas consequências são a crescente interdependência e o surgimento de
novos atores internacionais; no entanto, estes efeitos da globalização tanto podem
representar riscos como oportunidades.
Um desses efeitos consiste na complexidade e na interdependência presentes
atualmente no SI. Por exemplo, uma crise económica num determinado país apresenta
um efeito de contágio real, como se pode constatar no caso da Grécia e das
consequentes crises de outras economias europeias. Com “o estabelecimento de
processos de produção coordenados a nível mundial e regional, em que diferentes países
produzem diferentes elos da cadeia de valor (…), o mundo tornar-se-á mais
interdependente nas próximas décadas” (ibidem), sendo de salientar a dualidade da
globalização, ou seja, no que para uns é um risco indesejado, para outros é uma
oportunidade, como se salientou em relação à interdependência energética exposta em
secções anteriores desta dissertação.
Outra consequência é o surgimento de novos atores internacionais, como
organizações terroristas e empresas multinacionais, o que em parte gerou uma nova
tipologia de conflitos. Segundo Teixeira (2012), os focos dos conflitos mundiais
concentraram-se, nas últimas duas décadas, maioritariamente nos Estados com mais
pobreza e menos desenvolvimento, correspondendo, em muitos casos, a zonas
detentoras de recursos minerais ou energéticos significativos, como é o caso da Nigéria.
Estes Estados, por vezes referenciados como Estados Falhados, podem também afetar a
economia dos países mais poderosos com um impacto muito acima do esperado,
nomeadamente nas seguintes áreas: fornecimento energético, pirataria marítima,
imigração ilegal, tráfico de armas e droga, auxílio a organizações terroristas e, inclusive,
proliferação de armas de destruição maciças. Nesta nova tipologia, as ameaças são
muitas vezes indefinidas, imprecisas e imprevisíveis, comprometendo a eficácia das
instituições atuais em combatê-las (ibidem).

39
Interessa também referir que as desigualdades na distribuição de riqueza são um
fator desestabilizador, que se verificam de forma acentuada em inúmeros países
exportadores de petróleo e que nalguns tendem a intensificar-se ainda mais com a
continuação do processo de globalização. Para uma melhor clarificação, observe-se que,
“presentemente, 25 países representam, no seu conjunto, 80% do comércio mundial, ao
passo que, tomados individualmente, outros 56 representam menos de 0.01%.” Isto
significa que os benefícios do avanço da globalização se concentram num número
reduzido de países, como, por exemplo, nos países emergentes, “como a China, a Índia
e o Brasil”, em que se verificou a redução do “fosso” que os separava dos países
desenvolvidos, em termos do rendimento por habitante. “Em contrapartida, os países
que não conseguem integrar-se nos fluxos comerciais e nas correntes de investimentos
mundiais correm o risco de ser ainda mais marginalizados” (Gnesotto; Grevi, 2008,
p.195).
Pode-se, portanto, concluir que, “embora as desigualdades possam diminuir à
escala planetária, as perspetivas de algumas regiões críticas, como o Médio Oriente, o
Norte de África e certas partes da África Subsariana, são desfavoráveis e poderão
piorar. A deterioração prevista de outros factores estruturais, como a demografia e o
ambiente, poderá ameaçar a estabilidade dos países que não conseguem adaptar-se à
globalização e que cedem terreno às economias emergentes. Além disso, a consciência
das disparidades, dos problemas e das ameaças que se anunciam será ampliada pela
globalização da informação e das percepções, acentuando as frustrações de certas
franjas da população relativamente a um desenvolvimento vivenciado como desigual e
injusto” (ibidem, p.196).

2.5 Teorias de RI aplicadas à energia


Nesta secção pretende-se perceber qual a teoria de RI mais relacionada com a
temática em estudo. Porém, destaque-se que “o pesquisador contemporâneo enfrenta,
logo de saída, as imensas deficiências da bibliografia das Relações Internacionais (RI)
em relação ao tema. Em contraste com outras questões, como a soberania, os jogos de
poder entre as potências, as instituições internacionais e a formação de blocos regionais
de comércio, a disputa por matérias-primas está longe de constituir um foco de atenção
permanente ou prioritário dos autores das RI” (Fuser, 2008).

40
Observando o SI com base nas teorias de RI “sobreviventes” (Teixeira, 2012),
retêm-se duas correntes teóricas aparentemente contraditórias, mas que, na visão de
Nuno Severiano Teixeira, se deviam conciliar, sendo, de facto, “essa a questão”
(ibidem) da nova ordem internacional. As teorias referidas são a Clássica e a
Transnacional, respetivamente, perspetiva realista e liberal.
A escola Clássica, preconizadora da ordem vestefaliana, assume que, em relação
à sociedade internacional, prevalece a “heterogeneidade dos seus actores que actuam
numa precária coexistência, o que lhe confere um carácter de uma sociedade relacional
e não institucional” e “ a ciência das Relações Internacionais continua a ser a ciência da
Paz e da Guerra e a Política Internacional terá como significado a simples sobrevivência
do Estado face à constante e independente ameaça virtual representada pela mera
existência das outras Unidades Políticas” (Tomé, 2011, p.65).
A teoria Transnacional defende que “a Sociedade Internacional se transformou
num Sistema Mundial de Interdependências, de trocas e de influências recíprocas, no
qual os Estados e os Governos têm um papel cada vez mais relativo em favor dos
Indivíduos, das Organizações e das Empresas” (ibidem, p.66). Aliada ao furor pós-
guerra fria, esta teoria julgara prever “uma vitória da economia de mercado e da
democracia”, entrando o SI numa “fase pós-histórica”, de “paz perpétua, kantiana”,
porém, a maior prova contra tal previsão é que os conflitos continuam (Teixeira, 2012).
Estas duas correntes teóricas evoluíram, respectivamente, para o neo-realismo e
o neoliberalismo. Contudo, estas duas teorias, apesar de divergentes, encontram-se
interligadas desde a sua criação, o que justifica as constantes comparações. De facto, o
neoliberalismo (ou institucionalismo) surge no seguimento do neo-realismo na década
de 80 nos Estados Unidos. Na caracterização do Sistema Internacional, o neoliberalismo
coincide novamente com o neo-realismo em assumir uma estrutura anárquica, porém, os
autores “neo-realistas atribuem mais importância a esta ideia que os institucionalistas”,
sendo que estes autores defendem que “a cooperação e a interdependência acabam por
atenuar a natureza anárquica do sistema internacional, enquanto para os neo-realistas
esses fatores são conjunturais, episódicos e temporários” (Baldwin apud Cravinho,
2008, p.224-225). Ou seja, a grande diferença entre neo-realismo e neoliberalismo é “a
possibilidade de cooperação na anarquia e o papel das instituições em facilitar a
cooperação” (Powel apud Badalov, 2012, p.14).
O neoliberalismo consiste, essencialmente, numa “abordagem que se baseia na
possibilidade de progresso internacional (incrementos de paz, cooperação e ajuda mútua

41
para resolver problemas comuns) através da criação e operação de instituições (formais
ou informais)” (Cravinho, 2008, p.224). Esta teoria “procura compreender o
comportamento dos Estados, em especial a cooperação e o conflito entre Estados, por
via de instituições que dão significado e importância a esse comportamento. Mais,
considera que o comportamento dos Estados é altamente condicionado (mas não
determinado) pelas instituições” (Keohane apud Cravinho, 2008, p.223).
Em oposição, “para os neo-realistas, o comportamento dos Estados é
condicionado (quase determinado) pela estrutura do sistema internacional.” E, embora
reconheçam a existência das instituições, “os neo-realistas argumentam que as
instituições nada alteram em matéria da essência da política internacional”, sendo que
para eles a vertente da segurança é a prioridade da política internacional, em contraste
com a vertente económica defendida pelos neoliberais (Cravinho, 2008, p.208-225).
Em relação à energia, a perspectiva liberal encontra-se, “implicitamente ou
explicitamente”, em dois tipos de estudo: o que denuncia práticas vistas como iliberais
na indústria energética internacional, analisando, por exemplo, “o fraco
desenvolvimento verificado nos países em desenvolvimento ricos em recursos e os
fatores que contribuem para essa situação” (Dannreuther, 2010, p.6) e o estudo que
apresenta as medidas para contrariar essas práticas. Esta corrente teórica “concentra-se
mais e atribui maior importância ao potencial das agências e das várias variáveis
intervenientes – medidas de transparência, enquadramento legal e normas, medidas
regulatórias e de mercado, e ao papel das instituições internacionais e regionais”
(ibidem, p.14).
Quanto à perspetiva realista, pode-se constatar que “a maior parte da literatura
sobre política internacional energética adota implicitamente uma perspetiva teórica
realista e geopolítica, mesmo que isso não seja explicitamente desenvolvido”, sendo que
os principais pontos presentes nessa literatura são os seguintes: “o acesso e o controlo
dos recursos naturais, dos quais os energéticos são os mais críticos, são um elemento
chave do poder nacional e do interesse nacional”; “os recursos energéticos estão a
tornar-se mais escassos e inseguros”; “os Estados vão competir cada vez mais pelo
acesso e controlo desses recursos”; e “conflitos e guerras por esses recursos são cenários
cada vez mais prováveis, senão inevitáveis” (ibidem, p.3).
Comparando estes pontos-chave da perspetiva realista dos recursos energéticos
com os traços principais da caracterização realizada anteriormente do cenário energético
mundial, conclui-se que são coincidentes. Esta semelhança, juntamente com o facto já

42
apontado das instituições atuais se revelarem incapazes de solucionar os problemas
energéticos contemporâneos, torna a corrente realista na base teórica apropriada para
esta investigação.
No entanto, é importante ter em conta as limitações desta teoria que possam
afetar uma abordagem completa da temática, mais nomeadamente, a “relutância do neo-
realismo em reconhecer outros actores ou participantes nas relações internacionais” para
além dos Estados, a dissociação entre as “condições internas” dos Estados e o seu
“comportamento internacional” (Cravinho, 2008, p.209) e uma tendência para uma
análise “excessivamente determinista” (Dannreuther, 2010, p.5). Para colmatar essas
fragilidades da perspetiva realista, concede-se ênfase ao desempenho das empresas
petrolíferas, às disputas entre grupos sociais, aos avanços tecnológicos e às instituições
internacionais que abrandam a competição pelos recursos.

43
44
3 União Europeia
3.1 Situação energética atual
Na matriz atual da UE, como se pode observar no gráfico 5, o petróleo é o
recurso energético mais consumido (35%), apesar desse consumo ter diminuído dois
pontos percentuais desde 1995 e de variar significativamente entre os seus Estados-
membros. A percentagem do petróleo na matriz energética assume o valor máximo de
100% em Malta e o mínimo de 18% na Estónia (CE, 2012, p.19). Esta fonte energética
é utilizada principalmente no sector dos transportes, que, por sua vez, é o sector que
mais consome energia na UE.

Gráfico 5 - Matriz energética da UE


Fonte: CE, 2012, p.18. Elaboração própria.
Na totalidade, o consumo energético da UE aumentou ligeiramente desde 1995
(5%), no entanto, em relação à produção de energia verifica-se o oposto; em termos
totais, a produção da UE diminuiu 13% no mesmo período (ibidem, p.16). No âmbito da
produção, a energia nuclear afirmou-se como a principal fonte energética da UE com
28%, em detrimento dos combustíveis sólidos, com 20%. A maior alteração verificou-se
na energia renovável, que aumentou de 9% para 20%. A produção de gás baixou 17%,
diminuindo 1 ponto percentual na matriz de produção em relação a 1995. Por último,
continua a observar-se a produção petrolífera, que representou 12% da produção de
energia da UE em 2010, porém, em termos absolutos, a sua redução foi de 42%
(ibidem).
A redução da produção energética da UE associada ao ligeiro aumento do
consumo resulta necessariamente no aumento das importações. A percentagem de
dependência das importações energéticas, que era de 43,2% em 1995, alcançou os
52,7% em 2010. Este aumento da dependência foi transversal aos diferentes tipos de
recursos energéticos importados, contudo, o valor mais alto de dependência verifica-se
no caso do petróleo, atingindo os 84,3% em 2010 (ibidem, p.20).

45
Esta dependência das importações energéticas varia entre os Estados-membros.
Num extremo, a dependência alcança os 100% no caso de Malta e do Chipre “devido à
sua situação geográfica” (CotEC, 2008, p.9). Enquanto, por exemplo, na Polónia e nos
Países Baixos essa dependência é de apenas 31,5 e 30,7% (CE, 2012, p.64). O único
Estado-membro da UE energeticamente independente é a Dinamarca. À exceção desse
país, o menor valor de dependência verifica-se no caso da Estónia com apenas 12,9%
(ibidem).
Note-se que, em 2010, o petróleo representou 59% da totalidade das importações
energéticas da UE (ibidem, p.38). Importa também referir a elevada dependência das
importações energéticas de um único fornecedor por parte de alguns países da UE. “A
Bulgária, a Eslováquia, a Estónia, a Finlândia, a Irlanda, a Letónia, a Lituânia e a Suécia
são completamente dependentes de um único fornecedor de gás, enquanto a Áustria, a
Grécia e a Hungria têm uma dependência superior a 80% de um único fornecedor
(monopólio) (…) A Eslováquia, a Lituânia, a Hungria e a Polónia são quase totalmente
dependentes de um único fornecedor petrolífero (mais de 95%). O Chipre, a Estónia, a
Letónia e a Lituânia são praticamente dependentes de um único fornecedor de carvão”
(CotEC, 2008, p.9). É de destacar que, em quinze dos dezanove casos apresentados, a
Federação Russa constitui a principal origem das importações do recurso energético em
questão (Eurostat, 2012).
Em contrapartida, no âmbito da intensidade energética (isto é, do consumo total
de energia em relação ao PIB) os resultados são mais favoráveis à economia da UE, ou
seja, nesse período assistiu-se a uma redução dessa intensidade. Essa alteração “deve-se
principalmente à redução da intensidade energética no sector industrial, enquanto os
sectores dos transportes e dos serviços, que também apresentaram uma diminuição da
intensidade energética, tiveram um contributo menor” (ibidem, p.7). Porém, essa
redução, não obstante ter sido de 20% (CE, 2012, p.98), não foi significativa para evitar
o aumento do consumo energético da UE.

3.2 Situação energética prevista


Quanto à evolução da situação energética da UE, as previsões publicadas pela
UE apresentam dois cenários possíveis para 2030. Ambos os cenários têm 2009 como o
ano base e a principal diferença entre eles é que no cenário 2 assume-se que os Estados-
membros conseguem atingir a meta dos 20-20-20 (UE, 2010, p.10). Em relação à meta

46
dos 20-20-20, importa referir que a “Europa acordou uma agenda política de longo
prazo de forma a atingir o fundamental dos seus objetivos energéticos de
sustentabilidade, competitividade e de segurança do aprovisionamento, que consiste em
reduzir por 20% as emissões de gases com efeito de estufa, aumentar a percentagem de
renováveis no consumo energético para 20% e melhorar a eficiência energética por
20%, tudo até 2020” (CE, 2008, p.1). Saliente-se igualmente que a última atualização
das previsões, para além da nova legislação, deveu-se à crise de 2008, que teve como
consequência a redução do consumo energético (UE, 2010, p.9). Pode-se, portanto,
concluir que, caso as economias dos Estados-membros não cresçam como previsto, será
novamente necessário rever as previsões.

Gráfico 6 - Consumo energético da UE em 2030


Fonte: UE, 2010, p.66-124. Elaboração própria.
Em termos de diferenças, como se ilustra no gráfico 6, os dois cenários não
apresentam diferenças significativas em termos da matriz energética, o que se verifica
igualmente em relação ao consumo, à produção, às importações energéticas, não
obstante os valores serem ligeiramente menores no cenário 2, com exceção da produção,
que é superior no cenário 2 (ibidem, p.66-124). Até as emissões de CO2 totais em 2030
apresentam apenas uma diferença de 3% entre cenários (ibidem, p.40-46). Como tal,
justifica-se que, por vezes, não se faça distinção entre cenários.
Ainda em relação ao gráfico 6, podem-se retirar duas conclusões principais: os
combustíveis fósseis irão perder importância em detrimento das energias renováveis,
não obstante o petróleo continuar como fonte energética principal, e o consumo
energético total será aproximadamente igual ao atual, com uma variação máxima de
2,7%, que corresponde ao cenário 1.
Quanto à previsão para a produção energética em 2030 comprova-se uma forte
redução, entre 8 e 9%, relativamente ao valor de 2010 indicado pela Comissão Europeia
(2012, p.16). Destaca-se a previsão da produção petrolífera, de 100,44 Mtoe em 2010

47
(ibidem) para 37 Mtoe em 2030 (UE, 2010, p. 66-124), o que equivale a uma redução
de 63%. A maior taxa anual de redução da produção petrolífera ocorrerá entre 2010 e
2020, com o valor médio anual de -7% durante o período referido. Esta redução torna o
petróleo na fonte energética com maior redução da sua capacidade de produção até 2030
na UE e afirma o lugar do petróleo como o recurso energético com menor produção na
UE, representando somente 4,8% da produção energética total em 2030, em oposição
aos 12,5% de 2010 (ibidem). Esta situação é explicada através da análise das reservas
petrolíferas da UE, que, no final de 2011, representavam somente 0.4% das reservas
mundiais e à taxa atual de produção prevê-se que durem apenas mais 10,8 anos (BP,
2012a, p.6). Efetivamente, as reservas da UE diminuíram 43% desde 1980 (BP, 2012b).
Analisando a produção mais detalhadamente, observa-se que as importações de
crude intra-UE diminuíram 60% na última década (CE, 2012, p.62). Esta redução não se
explica pelo total de importações de crude da UE, dado que no mesmo período esse
valor apenas baixou 6% (ibidem). De facto, a razão do declínio das importações de
crude intra-UE deve-se à redução das exportações de crude de dois países, o Reino
Unido e a Dinamarca. Entre 2001 e 2010, estes dois países foram, em média,
responsáveis por 95% das exportações de crude intra-UE. No entanto, em 2010, o Reino
Unido exportava menos 42% de crude do que em 2001 para outros Estados-membros,
enquanto a Dinamarca exportava menos 33% (EUROSTAT, 2012).
No caso do Reino Unido, a produção petrolífera tem vindo a diminuir
gradualmente nos últimos anos, prevendo-se que, em 2030, a produção seja apenas
13,5% da produção de 1995 e 25,7% da produção de 2010. Note-se que esta previsão é
exatamente igual para os dois cenários. Em termos de importações petrolíferas deste
país, estima-se que septupliquem de 2010 a 2030, porém, o Reino Unido manter-se-á
exportador de produtos refinados, devendo mesmo aumentar em cerca de 6% essas
exportações, e, por isso, o aumento das importações deve-se ao aumento das
importações de crude (UE, 2010, p.120-178).
As estimativas da evolução da produção petrolífera da Dinamarca também são
iguais nos dois cenários, prevendo-se que diminua 49% de 2010 a 2030 (ibidem, p.78-
136). A situação energética deste país será fortemente influenciada por esse fator,
estimando-se que a Dinamarca deixe de ser energeticamente independente entre 2020 e
2025 no cenário 1 e entre 2015 e 2020 no cenário 2. Efetivamente, em 2030, prevê-se
que exporte somente 6% do crude que exportou em 2010.

48
Dado que o Reino Unido deve sofrer uma contração no consumo energético total
entre 2010 a 2030 de cerca de 5% e a Dinamarca de cerca de 12%, a redução das
exportações deve-se à diminuição da produção interna desses países (ibidem, p.78-178).
Conclui-se também que, tendo os Estados-membros da UE fornecido 10% das
importações de crude da UE em 2001 e 6,5% em 2010 (EUROSTAT, 2012), a
tendência é para que esse fornecimento continue a diminuir, sendo que não existem
reservas que possibilitem o aumento da produção.
Em relação à importação, verifica-se que, entre 2010 e 2030, aumenta
ligeiramente em ambos os cenários, 11% no cenário 1 e 4,5% no 2, assim como a
dependência das importações energéticas, mantendo a tendência referida na secção
anterior. Contudo, a evolução das importações energéticas não é linear, apresentando
uma média anual positiva entre 2010 e 2020 e negativa entre 2020 e 2030 em ambos os
cenários.
Analisando as importações energéticas pelo tipo de recurso no período referido,
constata-se que o gás natural apresenta a maior subida, 24% no cenário 1 e 10% no 2,
seguido dos combustíveis sólidos com 10% e 6%, respetivamente, enquanto as
importações petrolíferas aumentam 3% no cenário 1 e reduzem 0,4% no 2. Porém, o
petróleo permanecerá como o produto energético mais importado, representando 55%
das importações energéticas, sendo que a dependência das importações petrolíferas
continuará a aumentar. É de salientar que a aparente estagnação das importações
líquidas de petróleo deve-se à previsão de que as importações líquidas de derivados do
petróleo comecem a apresentar valores negativos entre 2010 e 2015 e ainda mais
negativos entre 2015 e 2030, ou seja, a UE tornar-se-á exportadora líquida de produtos
petrolíferos, o que reduz o impacto do aumento das importações de crude no valor total
de importações petrolíferas, mas não altera a tendência do aumento da dependência
relativamente às importações petrolíferas, nomeadamente de crude (ibidem).
Esta quase total dependência de crude extra-UE fragiliza a sua segurança
energética, na medida em que a torna excessivamente dependente de fatores
extraterritoriais para o seu abastecimento. Além do mais, o aumento da dependência das
importações de crude é apresentado como independente das alterações ou reduções de
consumo, pois, essa dependência irá aumentar devido à redução da produção, que, por
sua vez, surge como inevitável.

49
3.3 Estratégias de segurança energética
“A segurança energética é um objetivo fundamental da União Europeia de modo
a poder assegurar o seu desenvolvimento económico e o bem-estar dos seus cidadãos”
(CotEC, 2008, p.19). Contudo, como se averiguou anteriormente, este é um objetivo por
concretizar e com perspetivas a longo prazo desfavoráveis, além disso “a segurança
energética é uma preocupação comum aos vários Estados-membros da UE. Com a
integração das infraestruturas e dos mercados energéticos da UE, as soluções
meramente nacionais revelam-se normalmente insuficientes. E, apesar de cada Estado-
membro ser o primeiro responsável pela sua própria segurança, a solidariedade entre
Estados-membros é o princípio básico da UE. Estratégias para partilhar e distribuir os
riscos, e para utilizar o peso combinado da UE em questões internacionais podem ser
mais efetivas do que ações nacionais dispersas” (CE, 2008, p.1).
Importa igualmente distinguir entre riscos externos e internos para a segurança
energética da UE. “Todos os elementos associados à dependência das importações
energéticas pertencem aos riscos externos, incluindo questões geopolíticas, trânsito
internacional, questões técnicas de upstream 8 em países extra-UE, etc., enquanto as
incertezas relacionadas com a procura energética europeia, infraestruturas, assim como
orientações das políticas energéticas e desenvolvimentos institucionais são referentes à
insegurança energética interna”. Tendo em consideração o âmbito desta investigação,
conclui-se que se deverá analisar apenas os riscos externos da segurança energética. E
sublinhe-se que “lidar com as questões externas envolve desenvolver a diplomacia e
trabalhar com as companhias energéticas europeias presentes nos mercados
internacionais” (Checchi e al., 2009, p.4).
Em termos de políticas de segurança energética referentes aos riscos externos
existem dois tipos: “diversificação do aprovisionamento: cooperação com países
exportadores e de trânsito; e promover o progresso tecnológico e a expansão da
capacidade de fornecimento energético” (Constantini; Gracceva, 2004, p.12). Estes dois
tipos resumem as medidas de longo-prazo referentes ao fornecimento. As políticas de
longo-prazo referentes à procura são relativas aos riscos internos e as políticas de curto-
prazo, que se baseiam nos mesmos quatro elementos do mecanismo de emergência da
AIE, “manutenção de stocks; redução da procura; capacidade de produção de reserva; e
capacidade de troca de combustível”, também são do âmbito interno (ibidem, p.1-10).

8
O upstream, no sector petrolífero, consiste na exploração e produção dos recursos petrolíferos (Pulido;
Fonseca, 2004, p.22).

50
Relativamente à estratégia de segurança energética externa, a Comissão
Europeia (CE) afirma que “a UE necessita de intensificar os seus esforços no
desenvolvimento duma política energética externa efetiva; falando a uma só voz (…) e
agindo coerentemente para aprofundar as parcerias com fornecedores energéticos chave,
países de trânsito e consumidores” (CE, 2008, p.2).
Nesse sentido, deve-se mencionar a existência de diversos diálogos e parcerias
respeitantes à questão energética e envolvendo a UE e actores de referência no cenário
energético mundial, tais como a parceria energética com a Federação Russa, a parceria
Euro-Mediterrânica, o diálogos no âmbito da cooperação bilateral com países como o
Brasil, a China e o Iraque, o diálogo com a OPEP e a estreita relação com a AIE (CE,
2013). Destaque-se igualmente o Tratado da Carta da Energia, na medida em que
conseguiu estabelecer um quadro internacional para a cooperação energética “que é
único no Direito internacional, e o valor estratégico dessas regras é provável que
aumente no contexto dos esforços para construir as bases legais da segurança energética
mundial” (SCE, 2004, p.13).
O Tratado da Carta da Energia afirma-se como um instrumento de reforço da
segurança energética, pois, ao reforçar “o papel da lei nas questões energéticas”
(ibidem, p.14), reduz os riscos associados a três aspetos fundamentais do cenário
energético: o investimento, o trânsito e a eficiência.
A iniciativa politica para a criação deste Tratado de características únicas surgiu
na Europa no início da década de 1990, “num momento em que o fim da Guerra Fria
criou uma oportunidade sem precedentes de ultrapassar as divisões económicas no
continente europeu. Em nenhum outro sector as perspetivas de benefícios mútuos na
cooperação entre Este e Oeste eram mais evidentes que no sector energético. A Rússia e
muitos dos seus vizinhos eram ricos em recursos energéticos mas necessitavam de
grandes investimentos para garantir o seu desenvolvimento, enquanto os Estados da
Europa ocidental tinham o interesse estratégico de diversificar as origens dos seus
fornecimentos energéticos. Existia, portanto, uma necessidade reconhecida de assegurar
que uma fundação comumente aceite era estabelecida para o desenvolvimento da
cooperação energética entre os Estados do continente eurasiático” (ibidem, p.13).
Devido a este contexto surgiu a Carta Europeia da Energia em 1991 e, com base nessa
Carta, o Tratado da Carta da Energia em 1994.
Atualmente, foi já assinado por “51 países europeus e asiáticos (…) Todos os
Estados-membros da UE são signatários individuais (…) Devido aos seus membros

51
atuais, a Carta da Energia tem um foco natural no mercado energético euroasiático em
desenvolvimento, incluindo a região mediterrânea, o Médio Oriente e o Norte de
África”. Com base nesse Tratado criou-se a organização da Carta da Energia, que é
“uma organização intergovernamental, internacional e independente”. E, “apesar do
Processo da Carta ter sido originalmente concebido na Europa como um fórum para a
cooperação Este-Oeste, a dimensão asiática do Processo da Carta da Energia tem
assumido uma importância cada vez mais prioritária nos últimos anos” (SCE, 2012, p.5-
7). Nesta questão é novamente visível a crescente relevância das potências emergentes
em detrimento da União Europeia.
Conclui-se, como referido nesta secção, que a UE deve identificar os seus
fornecedores-chave e aprofundar as relações com os mesmos, atuando a uma só voz.
Tendo em consideração, como estipulado no tratado de Lisboa, o objetivo de “assegurar
a segurança do aprovisionamento energético da União” (UE, 2007, p.88), averigua-se,
de seguida, se os principais fornecedores de crude da UE constituem uma fonte de
segurança energética para a UE.

3.4 Os principais fornecedores de crude


De acordo com os dados do Eurostat (2012) presentes no anexo A, em 2010, os
principais fornecedores de crude da UE foram: a Federação Russa (34,5%), a Noruega
(13,8%), a Líbia (10,2%), a Arábia Saudita (5,9%), o Irão (5,7%), o Cazaquistão
(5,5%), a Nigéria (4,2%), o Azerbaijão (4,2%) e o Iraque (3,2%). Estes nove países
representaram 87,2% das importações de crude extra-UE desse mesmo ano. Contudo,
quando tal se justificar, a análise destes fornecedores será alargada a uma caracterização
regional, abordando desta forma outros fornecedores de crude de menor significância
quantitativa para a UE. No contexto, analisam-se as potencialidades ao nível dos
recursos energéticos e a estabilidade dos Estados e das regiões geográficas relevantes
para o fornecimento de crude da UE.

3.4.1 Federação Russa


A Rússia é, reconhecidamente, “o fornecedor de produtos energéticos mais
importante da UE, sendo responsável por 25% do consumo petrolífero e de gás da UE”
(OME, 2010b, p.2). Para tal, muito contribuem dois fatores: a capacidade exportadora
da Rússia e a proximidade geográfica. Esta proximidade resulta em baixos custos de

52
transporte, podendo-se afirmar que “a Rússia é um fornecedor quase natural da Europa”
(Sébille-Lopez, 2006, p.243).
A capacidade exportadora deve-se não só “aos novos portos de exportação” ou
aos “novos oleodutos”, mas, principalmente, a dois pontos: à procura interna “muito
baixa, devido ao declínio da indústria pesada”, e à revitalização da produção petrolífera
russa. Os principais impulsionadores dessa renovação foram a desvalorização do rublo e
a subida das cotações de crude, “esta combinação vantajosa (…) deu finalmente às
companhias russas a margem financeira necessária para a melhoria das capacidades de
produção russa sem ter de recorrer a capitais externos e numerosos projectos de
desenvolvimento acabaram por ser realizados, a partir de 1999-2000” (ibidem, p.216).
Porém, o responsável pela consolidação dessa revitalização foi Vladimir Putin, que
chegou ao poder, precisamente, no início de 2000, pois, ao realizar “um pacto com os
barões da indústria petrolífera”, em que estes se comprometiam em manter-se
“afastados dos assuntos públicos do país” e em reinvestir “os seus lucros localmente”,
conseguiu que se reativassem “poços de fraco rendimento”, que se comprassem “novos
equipamentos” e que se introduzissem “novas tecnologias” (ibidem, p.227).
Como prova do sucesso dessas ações, a Federação Russa, em 2011, foi o
segundo maior produtor mundial de petróleo, representando 12,8% da produção
mundial, um valor superior a toda a produção do Continente africano do mesmo ano.
Somente a Arábia Saudita alcançou uma produção superior à Rússia nesse mesmo ano,
com uma diferença de apenas 0,4 pontos percentuais, sendo que nos dois anos anteriores
foi a Rússia que ocupou o lugar de maior produtora petrolífera (BP, 2012a, p.8).
Contudo, a diferença da evolução da produção destes dois países é que, enquanto a
produção saudita apresenta alguma irregularidade, a produção russa tem vindo a
aumentar gradualmente. De 2001 a 2011, verifica-se um aumento de 45% (ibidem), de
6,9 milhões de barris por dia para 10,28, um valor próximo dos 11 milhões b/d, “o
recorde atingido na era soviética” (Sébille-Lopez, 2006, p.218). Paralelamente, as
exportações de crude da Rússia para a UE, aumentaram 32% no mesmo período
(Eurostat, 2012).
No entanto, em termos de reservas a Rússia não mantém a sua posição de topo,
ocupando o 8º lugar das reservas mundiais provadas de petróleo em 2011, com 5,3%. O
que se traduz num rácio de produção/reservas de apenas 23,5 anos.
As previsões da BP apontam para uma estabilidade da produção petrolífera
russa, que deverá manter a “atual quota de mercado de aproximadamente 12% nos

53
próximos 20 anos” (Finley, 2012, p.32). Enquanto para a AIE e OCDE, “a produção
petrolífera russa deverá manter-se relativamente constante até 2015 (…) Contudo, a
longo prazo, a produção petrolífera diminuirá ligeiramente, para pouco mais de 9 mb/d
em 2035” (OCDE/AIE, 2011a, p.130).
Por seu lado, a UE é o maior parceiro comercial da Rússia, quer nas
importações russas, com 45,4% em 2008, quer nas exportações com 55,2% (DG
TRADE apud OME, 2010b, p.4), em que os combustíveis consistem a maioria dos
produtos exportados pela Rússia (WTO apud OME, 2010b, p.4). “Apesar da UE e da
Rússia estarem a diversificar os seus fornecimentos energéticos, a quota de
hidrocarbonetos e de produtos convertidos russos no mercado da UE irá continuar
elevada no futuro, considerando a proximidade geográfica entre a Rússia e os Estados-
membros da UE, a infraestrutura de transporte de energia existente e a interdependência
entre os mercados energéticos” (OME, 2010b, p.2).
Para melhor avaliar o contributo da Rússia para a segurança energética da União
Europeia interessa caracterizar a estabilidade deste fornecedor. Para tal, com base no
anexo B, verifica-se que a estabilidade política da Rússia é baixa, com um Estado em
perigo de colapsar, em que, segundo o mapa de riscos políticos de 2012 da AON, os
riscos mais significativos são interrupções de fornecimento, problemas legais e
interferências políticas. Efetivamente, Sébille-Lopez, citando a frase de Daniel Yergin,
“O petróleo é 10 por cento de economia e 90 por cento de política”, considera que essa
afirmação se aplica “especialmente na Rússia” (2006, p.241), pois, “Putin fortaleceu o
Estado russo tornando a Gazprom um braço do governo russo com um monopólio de
gás natural e criou uma dependência europeia em relação à energia russa”, o que
também se verifica quanto ao petróleo (Friedman, 2012, p.158).
Na tentativa de minimizar os riscos decorrentes das situações expostas, foi
assinado um Acordo de Parceria e Cooperação em 1994 entre a Federação Russa e a
UE, que “reforça o Diálogo Energético entre a UE e a Rússia iniciado a Outubro de
2000” (OME, 2010b, p.2). De momento, segundo o documento citado previamente, está
um novo acordo em negociações, no entanto, em relação ao Tratado da Carta da
Energia, a Rússia não o ratificou, nem demonstra intenções de o fazer. “O facto é que
com a ratificação do ECT e do seu protocolo de trânsito, a Rússia estaria a conceder à
UE livre acesso aos gasodutos e oleodutos monopolizados pela Rússia e livre acesso aos
países asiáticos que possuem recursos energéticos substanciais e que necessitam de uma
rede estável de gasodutos e oleodutos de modo a conseguirem fornecer a Europa. As

54
suas posições geográficas não permitem que esses países exportem os seus recursos
energéticos de forma independente; o transporte através dos gasodutos e oleodutos
russos afigura-se como o meio mais apropriado” (Aalto apud Badalov, 2012, p.34).
Porém, apesar do diálogo e do acordo, a Rússia tem-se assumido como uma
fonte real de insegurança energética, sendo que “nos últimos anos ocorreram diversas
interrupções do fornecimento energético russo para a UE”, quer de gás, quer de petróleo
(OME, 2010b, p.2). Essas situações confirmam que a atual importância da Rússia no
cenário energético europeu é, só por si, já um fator de insegurança, pois, uma
interrupção do fornecimento russo pode assumir graves consequências para a economia
da UE, como se verificou em 2009 (ibidem). A esse fator de insegurança acresce a
instabilidade política deste país e a forte participação do Estado no sector energético
russo.

3.4.2 Noruega
A Noruega foi o nono maior exportador mundial de crude em 2010 (EIA, 2012).
“A Noruega é também o segundo fornecedor petrolífero e de gás mais importante da UE
a seguir à Rússia” (OME, 2011b, p.2). Porém, a produção petrolífera da Noruega está
em declínio há vários anos, assim como as suas reservas e as suas exportações de crude
para a UE. De 2001 a 2010, a produção petrolífera norueguesa diminuiu 39% (BP,
2012a, p.10). Paralelamente, no mesmo período, a exportação de crude norueguês para a
UE diminuiu 33% (Eurostat, 2012). Em 2011, a Noruega era a 14ª maior produtora
mundial de petróleo, com a percentagem relativa de 2,3%, enquanto, em 2001, ocupava
a 7ª posição da produção mundial, com 4,5% (BP, 2012a, p.10). De facto, o pico da
produção norueguesa foi atingido em 2001, com 3,4 milhões de barris por dia. Para
além da produção, as reservas provadas da Noruega têm diminuído desde esse mesmo
ano, de 11,6 mil milhões de barris para 6,9 em 2011, ou seja, verificou-se uma redução
de 40,5%, sendo que o valor máximo histórico foi em 1997 com 12 mil milhões de
barris.
Note-se que a Noruega, em 2011, possuía a mesma percentagem das reservas
provadas mundiais que a União Europeia, 0,4%, e um rácio entre produção e reservas de
9,2 anos, ou seja, menor que o da União Europeia (idem, 2012c). Esta situação reflete-
se nas previsões, que são nitidamente negativas, apontando, como se constata no anexo
C, que a produção norueguesa manter-se-á em declínio nas próximas décadas.

55
Em termos de estabilidade, a Noruega destaca-se positivamente dos outros
exportadores de crude para a UE, com uma diferença bastante acentuada como se
observa no anexo B, sendo apontado como o terceiro país com maior estabilidade
política, atrás da Nova Zelândia e da Finlândia, com a diferença de apenas nove décimas
percentuais da Finlândia (BM, 2012). Para além da elevada estabilidade, como
mencionado anteriormente, a Noruega integra ainda o Espaço Económico Europeu, o
que torna a Noruega “parte integral do mercado energético interno da UE” (OME,
2011b, p.2).
Com base no que foi exposto anteriormente, pode-se afirmar que a Noruega não
constitui uma fonte de insegurança energética para a UE, antes pelo contrário, porém, à
medida que a capacidade produtora norueguesa declina, reduzindo, por conseguinte, a
sua capacidade exportadora, a sua relevância para a segurança energética da UE
continuará a diminuir.

3.4.3 Mar Mediterrâneo


Os países dessa região, nomeadamente, a Líbia, a Síria, a Argélia e o Egito
representaram, em 2010, respetivamente 10,2%, 1,48%, 1,25%, 0,9% e 0,4% do total
das importações de crude extra-UE (Eurostat, 2012). Considerando esses valores, a
Líbia é o fornecedor desta região com maior relevância para a segurança energética da
UE. Contudo, nesse mesmo ano, este membro da OPEP era apenas era a 18ª maior
produtora mundial de petróleo, com 16,4% da produção petrolífera do Continente
africano e 2% da produção mundial. Em contrapartida, a Líbia possui as maiores
reservas petrolíferas provadas de África, com 35,6% das reservas do Continente, e as
nonas reservas mundiais, com 2,9% (BP, 2012a, p.6-8). Esta diferença entre a produção
e as reservas, sugere que, em termos petrolíferos, “a Líbia continua largamente por
explorar” (Sébille-Lopez, 2006, p.161). E, para aumentar a sua capacidade produtiva, a
Líbia necessita “de capitais ocidentais”, sendo que a entrada desse investimento esteve
por vinte anos condicionada devido a sanções dos EUA (ibidem). No entanto, seis anos
após o levantamento das sanções, em 2010, a produção líbia era 49% do seu valor
máximo histórico, o que se verificou em 1970 (BP, 2012b).
Outros fatores essenciais da situação petrolífera líbia, que também se verificam
no caso da Argélia, são “a proximidade dos mercados europeus, até dos Estados Unidos,
excelente qualidade e custos baixos de extracção. Tudo trunfos naturais para seduzirem
todos aqueles que já não querem que os seus fornecimentos dependam quase
56
exclusivamente do Médio Oriente” (Sébille-Lopez, 2006, p.162-163). Esse interesse
tem sido concretizado, principalmente, pela UE, que, em 2008, era distintamente o
principal destino das exportações líbios e a principal origem das importações desse país
(DG TRADE apud OME, 2010a, p.4).
No entanto, em 2011, a Líbia apresentava um valor muito baixo de estabilidade
política (BM, 2012). Nesse mesmo ano ocorreu uma guerra civil com consequências
diretas para a segurança energética europeia, dado que a produção petrolífera da Líbia
diminuiu 70% de 2010 para 2011 (BP, 2012a, p.6). Como forma de tentar estabilizar o
terceiro maior fornecedor de crude da UE, alguns dos seus Estados-membros
intervieram através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a própria
UE aplicou diversas sanções à Líbia (Koenig, 2011, p.3-5). Apesar da guerra civil ter
terminado, em 2012, a Líbia contínua a apresentar um elevado risco político (AON,
2012). Como tal, apesar do potencial petrolífero, a Líbia contribui para a insegurança
energética para a UE.
Em relação à Síria, este país possui somente 0,4% da produção mundial, com 0,2
das reservas provadas (BP, 2012a, p.6-8). Este país está atualmente em guerra civil,
sendo que, em 2011, apresentava uma estabilidade política baixíssima, que, no
panorama de exportadores de crude para a UE, era a mais baixa a par da Nigéria e do
Iraque (BM, 2012). Portanto, a Síria consiste uma fonte de insegurança energética de
pouca relevância petrolífera. E apesar de, em 2010, ter sido o 11º maior fornecedor de
crude da UE, as exportações de crude sírias com este destino diminuíram 59% desde
2001 (Eurostat, 2012).
A Argélia foi a 13ª principal origem das importações de crude extra-UE em 2010
(Eurostat, 2012), sendo que esta posição não reflete a sua capacidade produtora, a 17ª
maior a nível mundial nesse mesmo ano, um lugar à frente da Líbia (BP, 2012a, p.8).
Contudo, a UE ocupa, de facto, o primeiro lugar quer das exportações, quer das
importações argelinas (DG TRADE apud OME, 2011a, p.4), o que se explica pelo facto
deste membro da OPEP ser o terceiro maior fornecedor de gás natural da UE (CE, 2012,
p.22).
Em termos de reservas a Argélia possui apenas um quarto das reservas provadas
da Líbia, o que lhe permite, contudo, um rácio entre produção e reservas de 19,3 anos
(BP, 2012a, p.6). E, ao contrário do que este facto poderia sugerir, as previsões da AIE e
da OCDE indicam que a produção da Argélia continuará superior à da Líbia em 2035
(2010, p.133).

57
Em relação à estabilidade política, o BM (2012) indica que a estabilidade da
Argélia é inferior à da Líbia e a AON (2012) atribui-lhe um risco político médio-alto,
um grau inferior ao atribuído à Líbia, que apresenta um risco alto. Não obstante o
empenho do Governo argelino em concretizar reformas importantes, as melhorias da
situação socioeconómica da Argélia e a política externa de aproximação à UE (OME,
2011a, p.2), continuam a existir acontecimentos concretos de insegurança energética,
como o recente ataque terrorista a um complexo de extração de gás9, o que confirma os
valores de estabilidade do país. A Argélia afirma-se, portanto, como uma fonte real de
insegurança para a UE, sendo de salientar que a sua importância para a segurança do
abastecimento de crude tem diminuindo: de 2001 a 2010, as exportações de crude da
Argélia para a UE tiveram uma redução de 56% (Eurostat, 2012).
Quanto ao Egipto, as suas reservas representam somente 0,3% das reservas
mundiais provadas em 2011 e a produção do mesmo ano 0,9% do total mundial (BP,
2012a, p.6-8). A relevância deste país para a segurança energética da UE deve-se,
fundamentalmente, ao trânsito de recursos energéticos, pois o Egito tem no seu
território um ponto de estrangulamento do fluxo de crude do Golfo Pérsico para a
Europa, o Canal do Suez. “O canal desempenha um grande papel na economia
mundial.” No entanto, devido ao fecho do canal de 1967 até 1975, em 1977 entrou em
funcionamento o oleoduto Sumed também em território egípcio, sendo que dos “4
milhões de barris que transitam diariamente sobre esta via, 2,5 milhões recebe o
oleoduto Sumed paralelamente ao canal e 1,5 milhões de barris passam directamente
pelo canal. Este petróleo é destinado principalmente à Europa mas também aos Estados
Unidos. O essencial do crude que transita pelo Suez provém da Arábia Saudita”
(Sébille-Lopez, 2006, p.47-48).
Como se observa no anexo B, este país apresenta uma instabilidade política
considerável, mais preocupante ainda que a da Líbia. Efetivamente, “a eventualidade de
um novo bloqueio do canal (…) continua a preocupar os responsáveis pela segurança
marítima” (ibidem, p.48). Por tudo isso, pode-se concluir que este país também
representa uma fonte de insegurança energética para a UE.

9
“Pelo menos 37 estrangeiros, um argelino e 29 sequestradores (entre eles, 11 tunisinos e dois
canadianos) foram mortos durante o sequestro de funcionários no campo de gás de In Amenas, no sudeste
da Argélia, realizado por um grupo islâmico” (Lusa, 2013).

58
3.4.4 Golfo Pérsico
Nesta região localizam-se três dos principais fornecedores de crude da EU: a
Arábia Saudita, o Irão e o Iraque, que são simultaneamente os “três principais países do
Médio Oriente, em relação ao petróleo, mas também politicamente” (Sébille-Lopez,
2006, p.307). Estes três membros da OPEP representaram 15% das importações de
crude extra-UE em 2010, sendo, respetivamente, o 4º, o 5º e o 9º maior fornecedor da
UE. Porém, em 2001, esses três países consistiam 20% das importações de crude extra-
UE. Esta redução deve-se à Arábia Saudita, que nesse período diminuiu em 45% as suas
exportações de crude para a UE e, por isso, desceu para quatro lugar como fornecedora
do bloco europeu, enquanto a Líbia subiu para terceiro (Eurostat, 2012).
A Arábia Saudita foi, em 2011, a maior produtora mundial, com 13,2% dessa
mesma produção, tem as segundas maiores reservas provadas, que constituem 16,1%
das reservas mundiais e apresenta um rácio entre produção e reservas de 65,2 anos (BP,
2012a, p.6-8). As previsões apontam que a importância petrolífera deste país aumente
ainda mais. A AIE e a OCDE (2010, p.133) indicam que a produção saudita em 2035
será 50% superior à produção em 2009. A BP também apresenta uma previsão no
mesmo sentido, afirmando que o aumento da procura energética mundial será
equilibrado pelo aumento da produção da OPEP, nomeadamente em relação “ao gás
natural liquefeito (GNL), assim como ao crude convencional do Iraque e da Arábia
Saudita” (Finley, 2012, p.29).
O Iraque foi o 10º maior produtor petrolífero a nível mundial no ano de 2011
(BP, 2012a, p.8) e a AIE e a OCDE preveem que a referida produção aumente 2,8 vezes
entre 2009 e 2035, de 2,9 milhões de barris por dia para 7 milhões. Contudo, se todos os
projetos planeados para o Iraque fossem concretizados com sucesso, em 2017 a
produção iraquiana atingiria 12 milhões de barris por dia, um valor estratégico
considerável. A AIE e a OCDE indicam um valor menor devido às incertezas políticas e
de segurança e ao elevado investimento necessário para atingir essa capacidade de
produção. Estima-se que, entre 2015 e 2020, a produção de crude do Iraque deverá
ultrapassar a do Irão, tendo uma tendência de crescimento superior à própria Arábia
Saudita, como se observa no anexo C. Saliente-se que a AIE e a OCDE preveem
igualmente um aumento da produção iraniana, apesar de mais moderado: 23% entre
2009 e 2035 (ibidem, p.132-133), sendo que, atualmente, a produção iraniana é a 4ª
maior do mundo (BP, 2012a, p.8).

59
Em termos de reservas, os valores para o Irão e para o Iraque são relativamente
próximos e elevados, com, respetivamente, 9,1 e 8,7% das reservas provadas mundiais e
apresentam um rácio entre produção e reservas de 95,6 anos no caso iraniano e de mais
de 100 anos no caso iraquiano (BP, 2012a, p.6). Conclui-se, portanto, que estes três
países têm uma elevada importância petrolífera, que não só se manterá, como também
aumentará.
No plano político, existe novamente uma distinção favorável à Arábia Saudita,
que apresenta o mesmo nível de risco (médio) que a Federação Russa, enquanto que o
Irão e o Iraque são colocados no topo da classificação de riscos políticos (muito alto), de
acordo com a AON (2012). Relativamente à estabilidade, o Estado saudita é
considerado o segundo mais estável dos principais fornecedores de crude da UE; o Irão
e o Iraque pertencem aos cinco menos estáveis, sendo os outros a Nigéria, a Síria e a
Argélia (BM, 2012).
Para compreender estes indicadores é necessário caracterizar o cenário político
destes países. Na Arábia Saudita, um “equilíbrio frágil reina entre as cerca de cinquenta
tribos sauditas” (Sébille-Lopez, 2006, p.314). Devido aos elevados preços do barril de
crude, este país “apresenta uma saúde financeira que nunca esteve tão florescente. Mas
as reformas estruturais e uma melhor atribuição da renda petrolífera (…) nunca foram
tão imperiosas para reduzir as tensões sociais e religiosas no interior do reino” (ibidem,
p.320).
Importa igualmente mencionar “a insegurança que se instalou a partir de Maio
de 2003 no Reino, quando grupos islâmicos armados declararam uma guerra aberta ao
regime e reivindicaram uma longa série de atentados mortíferos que visaram
simultaneamente interesses ocidentais, a indústria petrolífera e símbolos da monarquia.”
Posteriormente, “com o fim do «compromisso» entre Osama bin Laden e o reino
saudita, a Arábia Saudita tornou-se, por sua vez, em alvo de atentados” (ibidem, p.315).
Verifica-se ainda outro grande fator de instabilidade, as tensões “étnicas, tribais
e sectárias.” No entanto, este fator não é meramente nacional, mas afeta os países do
norte de África e do Médio Oriente. A origem destas tensões deve-se às fronteiras
destes países terem sido traçadas “artificialmente pelas antigas coloniais, desprezando
as realidades étnicas e confessionais” (Gnessoto; Grevi, 2008, p.131). Dos casos onde
se encontram o tipo de tensões referido, existem “dois casos particulares” que “têm uma
forte incidência na segurança regional: a questão curda e as relações entre sunitas e

60
xiitas” (ibidem). Esta questão encontra-se intimamente relacionada com os três países
em estudo do golfo Pérsico e também com a Síria.
No primeiro caso, sublinhe-se que “os curdos são uma minoria não
negligenciável na Turquia, na Síria, no Iraque e no Irão e, em cada país, têm recorrido
frequentemente à violência para defender os seus direitos culturais e políticos” e que “o
estatuto dos Curdos (…) em particular na Síria, na Turquia e no Irão, influenciará
fortemente o futuro destes Estados” (ibidem). No caso particular do Irão, “devido a um
descontentamento generalizado com o regime, as relações entre a periferia e o centro
(isto é, entre a província e Teerão) tendem a assumir uma conotação cada vez mais
étnica. Esta tendência é exacerbada por actores externos que tentam instrumentalizar a
sociedade multiétnica iraniana a fim de minar o regime” (ibidem, p.132).
O segundo caso surge porque, “em geral, as elites sunitas consideram o islão
xiita como uma «heresia» persa e não como islão autêntico. Esta particularidade foi, e
continua a ser, responsável por diversas discriminações a que os xiitas foram sujeitos
por parte das elites e populações sunitas do Machereque. Com um Iraque árabe xiita,
será cada vez mais difícil a Arábia Saudita, o Iémen, o Barém, o Catar, os Emirados e o
Kuwait marginalizarem e ignorarem a diversidade confessional dos seus cidadãos e
negarem a existência de minorias – ou mesmo de maiorias – xiitas. (…) A
eventualidade de uma intervenção iraniana e iraquiana no golfo Pérsico em apoio às
minorias xiitas continuará a ser uma importante fonte de preocupações” (ibidem, p.132).
As diferenças confessionais assumem um fator de instabilidade regional, com
uma Arábia Saudita de maioria sunita por um lado e um Iraque e Irão de maioria xiita
do outro. A questão xiita e sunita assume ainda mais importância ao relacionar essa
questão com as localizações das jazidas petrolíferas, como se observa no anexo D, onde
se constata que “o essencial do petróleo à volta do golfo Pérsico está em zonas xiitas ou
maioritariamente xiitas” (Sébille-Lopez, 2006, p.325).
Esta rivalidade entre xiitas e sunitas apresenta uma particular influência na
instabilidade do Iraque, assim como as rivalidades entre tribos e “um grande número de
personalidades locais que invocam uma etnia” (Adler, 2009, p.185). Os sunitas, caso
não lhes seja fornecido “uma parcela suficiente dos recursos naturais, em grande parte
situados fora das zonas que controlam (…) a agitação dos jihadistas sunitas, dos chefes
tribais e de outras personalidades poderá constituir um factor de destabilização.” Em
oposição, os xiitas, “orgulhosíssimos da superioridade recentemente adquirida, sempre

61
estiveram divididos, e as rivalidades pessoais entre os Sadr, os Hakim e outros notáveis
ainda poderão fazer-se sentir na acção política dessa comunidade” (ibidem, p.186).
A longo prazo, a evolução da situação iraquiana “afectará os adversários do país,
tanto externos como internos. O Irão, a Síria, a Turquia e a Arábia Saudita terão cada
vez mais dificuldades em não se implicar. Um Iraque incapaz de manter a sua
estabilidade continuará a ser uma força perturbadora regional. Se o conflito actual
degenerar em guerra civil, Bagdade mostrará aos outros países da região de forma clara
as consequências negativas do sectarismo confessional” (ibidem).
A curto prazo, constata-se o fim do equilíbrio de poderes regional, que se definia
entre o Iraque e o Irão, que “permaneceu intacto até 2003, quando a invasão americana
destruiu o governo e o exército iraquianos” (Friedman, 2010, p.141). Hoje, o Irão “é a
potência dominante na região” (ibidem, p.146). Porém, como “todos os países no Médio
Oriente e do Norte de África”, este país enfrenta “problemas de governação
fundamentais, nomeadamente em matéria de administração pública, de Estado de direito
e de responsabilidade do sector público perante os cidadãos e os actores económicos do
sector privado.” Estas reformas estruturais são importantes para “limitar a sua
dependência relativamente ao preço da energia”, que, no caso do Irão, é muito elevada,
dado que este país possui uma “economia não diversificada”, em que “a oportunidade
de obtenção de receitas está limitada à exploração dos recursos naturais do país, como o
petróleo e o gás”. Essa característica “trava o processo de reforma e sobrecarrega as
tentativas de diversificação da economia, ao mesmo tempo que favorece a manutenção
de uma taxa de desemprego elevada, a inflação do sector público e o desenvolvimento
do proteccionismo” (Gnessoto; Grevi, 2008, p.124). Quanto ao plano externo, “o Irão
continua a apoiar o confronto mais intransigente contra Israel, dá asilo a importantes
quadros da Al-Qaeda e, sobretudo, acelera no plano nuclear, aproximando-se
firmemente do risco de um confronto global, não apenas com Washington, pois os
Israelitas, os Saudita e até os Russos se sentiriam imediatamente agredidos” (Adler,
2009, p.18). Efetivamente, “a Arábia Saudita considera absolutamente fundamental para
a sua segurança a existência de uma força de dissuasão nuclear paquistanesa, que
financiou largamente” (ibidem, p.24).
Faces a todos estes fatores de instabilidade, estes países constituem fontes reais
de insegurança energética. Porém, devido à sua importância petrolífera efetiva e
potencial, estes países suscitam uma grande influência de grandes potências,
principalmente dos EUA. “As incertezas socioeconómicas na Arábia Saudita, bem como

62
os múltiplos focos de tensão no Médio Oriente, sem esquecer o conflito israelo-
palestiniano e a guerra no Iraque, justificam bem a importância da presença militar
americana na região” (Sébille-Lopez, 2006, p.323). Observando o mapa do anexo D,
regista-se que “hidrocarbonetos, luta contra o terrorismo, armas de destruição maciça e
estratégia perante a China e a Rússia, aparecem assim intimamente ligadas, no centro
como na periferia do Médio Oriente” (ibidem, p.324).
Não obstante a forte presença militar dos Estados Unidos na região, a China tem
emergido como um ator importante na região. “Os países do Médio Oriente não
procuram apenas o apoio chinês para as suas disputas regionais, mas também veem a
relação com a China como uma forma de garantir alguma independência em relação aos
Estados Unidos”. Por exemplo, no caso da Arábia Saudita, um tradicional aliado norte-
americano, em 2009 a China tornou-se o principal destino do petróleo saudita,
ultrapassando os EUA. Atualmente, “apesar dos Estados Unidos continuarem a ser o
maior parceiro de segurança da Arábia Saudita, os chineses tornaram-se no maior
parceiro económico do Reino” (Chen, 2011, p.6).
Os EUA e a China, como os dois maiores consumidores de petróleo do mundo,
partilham o interesse na estabilidade do Médio Oriente. “Contudo, eles possuem
diferentes perspetivas sobre a forma de alcançar os seus objetivos de segurança
energética. Os Estados Unidos procuram reforçar a consistência do mercado energético
internacional, enquanto a China prefere garantir uma parte equitativa nos projetos de
exploração e de produção”. E, apesar das inúmeras possibilidades de um
aprofundamento da cooperação EUA-China, esta diferença de abordagens em relação à
segurança energética resulta, por vezes, num conflito de interesses entre estas duas
potências, como, por exemplo, na “questão da aplicação de sanções ao Irão” (ibidem,
p.6-7).

3.4.5 Mar Cáspio


A Norte do Golfo Pérsico, “encontra-se outra grande zona problemática por
razões energéticas: a bacia do Mar Cáspio. Composta pela Rússia e pelo Irão, assim
como por diversas antigas repúblicas da ex-União Soviética – Azerbaijão, Geórgia,
Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão – pensa-se que a
bacia do Cáspio possui as segundas e as terceiras maiores reservas petrolíferas
mundiais, juntamente com vastas reservas de gás natural” (Klare, 2002, p.81). Em
relação aos fornecedores de crude da UE, esta região tem dois grandes fornecedores
63
ainda não analisados, que são o Azerbaijão (8º maior fornecedor) e o Cazaquistão (6º)
(Eurostat, 2012).
Na última década a importância destes dois exportadores petrolíferos têm
aumentado gradualmente. Em 2001, o Azerbaijão e o Cazaquistão representavam, em
conjunto, 2,5% das importações de crude extra-UE; em 2010, esse valor subiu para
9,7% (ibidem). Associado a esse incremento de importações, verifica-se um gradual
aumento da produção petrolífera destes dois países. A produção do Cazaquistão
duplicou nesse mesmo período, ultrapassando a capacidade produtiva do Reino Unido,
realizando 2,1% da produção mundial de 2011, com apenas menos duas décimas
percentuais que a Noruega. Enquanto o Azerbaijão triplicou a sua capacidade de
produção, tendo realizado 1,1% da produção mundial petrolífera de 2011 (BP, 2012a,
p.8).
O valor das reservas provadas também subiu fortemente nesse período. No caso
do Azerbaijão, sextuplicou, tornando estas reservas nas terceiras maiores da Eurásia,
com um valor ligeiramente superior ao norueguês, porém, o seu rácio entre reservas e
produção é de apenas 20,6 anos e as suas reservas representam somente 0,4% das
reservas mundiais. No Cazaquistão, aumentou 550%, o que significa que este país
possui as segundas maiores reservas petrolíferas da Ásia, inferiores apenas às reservas
russas, e as décima-segundas maiores do mundo, com um rácio de produção e reservas
de 44,7 anos, o dobro do rácio da Federação Russa (ibidem, p.6).
No plano da estabilidade política, estes dois países assumem-se moderadamente
mais estáveis que os três países do Golfo Pérsico analisados previamente, contudo, o
risco político do Cazaquistão é médio-alto, superior ao da Arábia Saudita, e o do
Azerbaijão é alto, igual ao da Líbia, Síria e Egipto, como se pode comprovar no anexo
B. Mas, apesar da estabilidade desta região ser considerada ligeiramente superior à do
Golfo Pérsico, a região do Mar Cáspio é afetada pelos mesmos fatores de destabilização
verificados na região estudada previamente: “fronteiras contestadas e disputas
territoriais, a prevalência de regimes autoritários, disparidades económicas acentuadas,
rivalidades regionais históricas, e um caldeirão de contendas étnicas e religiosas. A
situação da bacia é ainda agravada pelo facto do Mar Cáspio ser completamente cercado
por terra, e, por isso, qualquer fornecimento energético oriundo da região para qualquer
mercado terá de ser transportado por via-férrea ou por oleodutos ou gasodutos através
das áreas adjacentes – muitas das quais estão envolvidas em conflito. Além disso, a
Rússia detém uma forte presença na bacia do Cáspio, e muitas das convulsões internas

64
que hoje afetam este país são sentidas por toda a região”. Um exemplo da “volatilidade”
histórica da região foi “brutalmente demonstrado no final de 1999, quando forças
rebeldes muçulmanas atacaram a república sulista russa do Daguestão e Moscovo
respondeu com um ataque de larga escala à vizinha Chechénia (a zona para onde os
rebeldes daguestaneses haviam fugido)” (Klare, 2002, p.81-82).
Outra característica presente no Mar Cáspio é a disputa territorial, que se deve a
motivos históricos, económicos, legais e estratégicos. Esta situação promove um clima
de instabilidade, não obstante a vantagem de ser uma zona não-OPEP (Pulido; Valente,
2004, p.97-99).
Em paralelo, muitas das grandes multinacionais petrolíferas estabeleceram-se na
região, o que resultou no aumento da capacidade de produção já mencionado. Este
aumento da produção, aliado a vastas reservas, especialmente nos dois países
caracterizados em particular, permite perspetivar um gradual aumento das receitas dos
Estados do Mar Cáspio, o que, por sua vez, “tem servido para acelerar os seus esforços
para se libertarem do sistema económico soviético, dominado pela Rússia. As parcerias
com as companhias petrolíferas ocidentais podem também aumentar o contacto com os
governos ocidentais, permitindo desta forma diminuir os laços políticos assim como
económicos com Moscovo” (Klare, 2002, p.83). Mesmo os países da região que não
possuem reservas significativas de petróleo ou gás, devido à sua importância no
transporte das fontes energéticas do Mar Cáspio, veem a sua importância estratégica
aumentada, o que lhes permite, igualmente, aproximarem-se mais das potências
ocidentais (ibidem, p.84).
Tal como no Golfo Pérsico, verifica-se no Mar Cáspio uma disputa de influência
das grandes potências consumidoras de energia. Por um lado, a Rússia “vê a bacia do
Cáspio como parte da sua tradicional esfera de influência. Os líderes russos também
procuram assegurar que a maioria dos fornecimentos de petróleo e de gás do Cáspio
atravessam os oleodutos e gasodutos russos no caminho dos mercados, como acontecia
na era Soviética.” Em oposição, “Washington também ampliou a sua capacidade de
projetar forças militar na região (…) O palco está montado, portanto, para uma luta de
poder a longo-prazo entre os Estados Unidos e a Rússia”. Essa rivalidade e “os esforços
dos Estados locais em manipular essa rivalidade para sua vantagem – é suficiente para
criar uma instabilidade considerável na região.” Essa situação de instabilidade ainda
pode ser mais agravada à medida que a Turquia e o Irão tentam defender os seus
próprios interesses na região, mas também devido a antigas disputas religiosas e étnicas

65
e ao descontentamento social (ibidem, p.83-84). A todos estes fatores, acresce a
crescente participação chinesa no Mar Cáspio, assim como na Ásia Central em geral. De
facto, esta região “tornou-se uma zona de intensa competição internacional pelo acesso
à energia” (Adler, 2009, p.171). De momento, existe uma cooperação entre a China e a
Rússia “no sentido de reduzir a influência de potências externas, nomeadamente dos
Estados Unidos”, no entanto, “é possível que a Rússia tente interferir nas relações que a
China mantém nessa região, e que Pequim acentue as suas pressões no sentido de obter
acesso aos recursos energéticos de regiões outrora pertencentes à União Soviética”
(ibidem).
Analisando o caso particular do Cazaquistão, observa-se que para este país “a
importância dos seus recursos em hidrocarbonetos constitui atualmente um fator de
desenvolvimento mas também de equilíbrio nas suas relações com as três grandes
potências mundiais.” Este equilíbrio estratégico vai favorecendo o Cazaquistão, que é
hoje uma “potência regional em ascensão” (Sébille-Lopez, 2006, p.185-186).
No caso do Azerbaijão a situação é mais desfavorável. “50 por cento da
população continua a viver abaixo do limiar da pobreza” (Le Bilan du monde apud
Sébille-Lopez, 2006, p.186). Simultaneamente, verifica-se uma “situação social
catastrófica”, apesar do aumento das receitas petrolíferas, e uma “gestão calamitosa”
dessas receitas, em que “a sociedade petrolífera nacional, que deve importantes
impostos (…) ao Estado, continua a gerir directamente uma parte não negligenciável
das receitas petrolíferas” (Sébille-Lopez, 2006, p.186-187). Este país mantém um
“conflito latente” com a Arménia, seu vizinho, apresenta casos de manifestações
reprimidas “brutalmente” pela polícia, partilha uma forte ligação étnica e confessional
com o Irão e, para além da boa relação com a China, “o Azerbaijão parece ter voltado a
ser (…) o terreno propício às rivalidades entre Moscovo e Washington. Porque o
Azerbaijão não constitui apenas um eixo este-oeste útil para a evacuação de
hidrocarbonetos do Cáucaso, mas é também no sentido norte-sul, a única passagem
terrestre direta entre Moscovo e Teerão, ao longo do Cáspio” (ibidem, p.187-189).
Face aos fatores apresentados, Klare afirma que “à medida que a procura
energética mundial aumenta e a luta pelo controlo das reservas do Cáspio se intensifica,
a região irá enfrentar um risco de conflitos violentos cada vez maior” (2002, p.81).
Conclui-se, portanto, que o Azerbaijão e o Cazaquistão contribuem para a insegurança
energética da UE devido à instabilidade regional, acentuada por disputas internacionais
e por fatores internos aos Estados em questão.

66
3.4.6 Golfo da Guiné
Desta região destacam-se dois países, ambos membros da OPEP, a Nigéria e
Angola, respetivamente, o 7º e o 10º maior exportador de crude para a UE,
representando 5,8% das importações de crude extra-UE. Porém, desses 5,8% a Nigéria é
responsável por 4,2% (Eurostat, 2012). A mesma preponderância é visível na produção
total e, mais acentuadamente, nas reservas provadas. A Nigéria produz 2,9% do total
mundial e possui 2,3% das reservas mundiais, com um rácio entre estes dois pontos de
41,5 anos. O Estado angolano assume 2,1% da produção mundial, com apenas 0,8% das
reservas provadas, o que resulta de um rácio de 21,2 anos (BP, 2012a, p.6-8). Outra
diferença é que a produção angolana aumentou 235% entre 2001 e 2011 e a nigeriana
manteve-se, sensivelmente, constante. Não obstante as diferenças, em 2011, estes dois
países foram os dois maiores produtores petrolíferos do Continente africano (ibidem,
p.8). Entre 2009 e 2035, estima-se que a produção angolana diminua ligeiramente, a
uma taxa média anual de 1,1%. Em contrapartida, a nigeriana deverá aumentar à mesma
taxa anual. Esta previsão resulta que, em 2035, a produção petrolífera da Nigéria seja o
dobro da produção angolana (OCDE/AIE, 2011a, p.133).
Na estabilidade política, estes dois países continuam a destacar-se um do outro.
A Nigéria apresenta a segunda mais baixa estabilidade política dos principais
exportadores de crude para a UE, somente o Iraque tem uma estabilidade mais baixa.
Angola também possui uma estabilidade política baixa, mas ainda assim superior à da
Nigéria, sendo mesmo elevada em relação à generalidade dos fornecedores de crude da
UE e próxima do valor da Arábia Saudita (BM, 2012). E, como se observa no anexo B,
os riscos políticos associados a este país são altos. Em oposição, a AON (2012)
considera que Angola representa riscos políticos de categoria inferior (médio-alto). Por
outro lado, ambas as economias destes países encontram-se largamente dependentes do
sector petrolífero, o que torna ambos os países extremamente vulneráveis às variações
das cotações do crude (Sébille-Lopez, 2006, p.135-187).
No caso particular da Nigéria, este país tem de resolver problemas associados
com a capacidade de “alimentar, educar, estabilizar, um país de 130 milhões de
habitantes, cujo rendimento médio era ainda, em 2002, um dos mais baixos do mundo”,
onde “uma extrema pobreza continua a coabitar sempre com o luxo espalhafatoso de

67
determinadas elites” (ibidem, p.138). 10 Este país “não deixa de temer o espectro da
secessão do Sul petrolífero, desde a guerra civil do Biafra, que durou de 1967 a 1970 e
fez mais de um milhão de mortos. Mas a distribuição do rendimento não é simples e as
reivindicações contraditórias são muitas (…) Além disso, a clivagem entre o Norte
muçulmano, onde doze Estados adotaram a lei islâmica, no início de 2000, e o Sul,
maioritariamente cristão, submergido por uma multidão de igrejas evangélicas, não
facilita o papel do governo federal” (ibidem, p.138-139). Existem simultaneamente
“redes bem organizadas, que reúnem expatriados, homens de negócios e políticos locais,
mas também de alto nível”, que “recrutam e armam grupos ou gangs locais para
protegerem e garantirem a segurança” do tráfico de petróleo, estimando-se que, em
2003, “cerca de 10 por cento da produção nigeriana” era desviado “para o contrabando”
(ibidem, p.140-141). Devido ao grau de insegurança em terra, as companhias
petrolíferas estrangeiras preferem concentrar-se na exploração offshore (Pulido;
Fonseca, 2004, p.163).
A concentração da produção no offshore também se verifica em Angola, em que
quase toda a produção petrolífera é realizada nessas condições (ibidem, p.159). Apesar
da estabilidade política ser superior à nigeriana, a gestão dos rendimentos petrolíferos
assume-se, igualmente, como uma questão importante. “Em 2003, 70 por cento dos
angolanos vivia abaixo do limiar da pobreza” e a “esperança média de vida era de 36
anos”, em oposição “ao fabuloso manancial petrolífero que, em Angola, enriquece, há
anos, a classe dirigente” (Sébille-Lopez, 2006, p.154). Por outro lado, no pequeno
território de Cabinda, o qual é responsável por mais de 50% da produção petrolífera
angolana, continua a existir um movimento pela independência (Pulido; Fonseca, 2004,
p.160).11 Deste problema resulta que “americanos e franceses da Chevron-Texaco e da
Total estão barricados na cidade petrolífera de Malongo, 29 km a norte da cidade de
Cabinda. Rodeado de arame farpado e de campos de minas, o seu campo é um enclave
dentro do enclave” (Sébille-Lopez, 2006, p.149).
À parte de toda a instabilidade presente na região, que a torna numa fonte de
insegurança energética, a grande abertura aos investimentos de companhias petrolíferas
estrangeiras tem impulsionado a sua importância no panorama petrolífero mundial

10
Saliente-se que a situação tem piorado: em 2004, 68,7 milhões de nigerianos vivia com menos de um
dólar por dia, enquanto, em 2010, esse número subiu para 112,47 milhões de pessoas (Departamento
Nacional de Estatística da Nigéria apud BBC, 2012).
11
Um exemplo recente da ação deste grupo, intitulado de Forças de Libertação do Estado de Cabinda -
Posição Militar (FLEC-PM), foi o ataque ao autocarro da selecção de futebol do Togo em 2010 (Lusa,
2010).

68
(Pulido; Fonseca, 2004, p.158), o “que se tem traduzido numa luta acesa entre os
grandes potentados económicos (EUA, China, Índia e UE)” pelos recursos petrolíferos
da região (Nunes, 2010, p.5).

69
70
4 O potencial petrolífero da América Latina
A AL apresenta as segundas maiores reservas provadas de petróleo, com 20,4%
das reservas mundiais, sendo apenas superada pelo Médio Oriente, que possui 48,1%
(BP, 2012a, p.6). E, tal como no Médio Oriente mas de forma ainda mais acentuada, as
reservas da AL pertencem a um pequeno número de países, mais precisamente à
Venezuela, ao México e ao Brasil, que, em conjunto, detêm 96% das reservas provadas
da AL e Caraíbas, como se observa no anexo E. Em relação à produção petrolífera e à
exportação de crude, verifica-se novamente uma predominância desses três países,
somando 76% da produção de petróleo da região em 2011 e 78% das exportações de
crude da região em 2010. O mesmo se comprova nas exportações de crude dessa região
para a UE apresentadas no anexo A, em que, em 2010, esses três países foram
responsáveis por 95% dessas mesmas exportações. Devido aos dados apresentados,
justifica-se uma análise do potencial petrolífero da AL centrada na Venezuela, no
México e no Brasil. E, posteriormente, justifica-se também uma análise mais
aprofundada ao sector petrolífero brasileiro de modo a perspetivar o seu futuro
contributo para a segurança energética da UE, pois, como se comprova no anexo B, o
Brasil apresenta-se como o fornecedor mais seguro, à exceção da Noruega.

4.1 Venezuela
Membro da OPEP, a Venezuela é a décima produtora petrolífera mundial e
detém as maiores reservas petrolíferas provadas a nível mundial; estes fatores tornam a
Venezuela numa das principais potências petrolíferas mundiais, com um potencial
petrolífero expresso no rácio entre as suas reservas e a sua produção, que é superior a
100 anos (BP, 2012a, p.6-8). Saliente-se que as reservas venezuelanas quadruplicaram
entre 2001 e 2011 (ibidem, p.6). Esse aumento deve-se à contabilização da bacia do rio
Orinoco, que, como se previa, colocou a “Venezuela à frente da Arábia Saudita em
termos de reservas petrolíferas totais” (FLASCO, 2008, p.1-2). Contudo, apesar dessa
superioridade de reservas petrolíferas, as reservas da faixa de Orinoco são de crude
extrapesado, que é difícil de produzir e dispendioso de refinar (Talwani, 2002, p.16). De
modo a resolver essas dificuldades, são necessários grandes investimentos. Nesse
sentido, a empresa petrolífera estatal deste país, “Petróleos de Venezuela, S.A.
(PdVSA), tem procurado atrair outras NOC estrangeiras, maioritariamente latino-

71
americanas, como grandes atores no desenvolvimento da faixa venezuelana, rica em
petróleo, de Orinoco” (FLASCO, 2008, p.5).
Para além das dificuldades no aproveitamento do potencial petrolífero
venezuelano, verifica-se ainda um declínio na produção deste país durante a última
década, “devido ao investimento ter sido insuficiente e ineficiente da parte da
companhia petrolífera estatal” (ibidem, p.1-2). “Isto deveu-se, em parte, a uma política
nacionalista, que compeliu companhias petrolíferas internacionais ou a cederem uma
parte significativa de equidade para a companhia nacional, PDVSA, ou a deixarem o
país em conjunto, como foi o caso da ExxonMobil e da ConocoPhillips” (OCDE/AIE,
2011a, p.135). Efetivamente, não obstante ao seu potencial petrolífero, a Venezuela é o
segundo maior produtor petrolífero da AL, dado que a produção mexicana é
ligeiramente superior. No entanto, devido ao baixo consumo interno venezuelano, em
oposição ao elevado consumo do México, a Venezuela apresenta a maior capacidade
exportadora da região, como se observa no anexo E. De futuro, prevê-se que essa
capacidade aumente, porém, prevê-se também “um declínio modesto na produção
petrolífera convencional (…) Contudo, este declínio será mais do que superado pelo
rápido crescimento do petróleo não-convencional e extrapesado da faixa de Orinoco
(…) No conjunto, a produção venezuelana cresce de 2,7 mb/d em 2010 para 3,9 mb/d
em 2035” (OCDE/AIE, 2011a, p.135).
Em relação à estabilidade, como se pode visualizar no anexo B, a Venezuela
apresenta uma estabilidade política muito baixa, similar à egípcia e um risco político
muito alto, como o Irão e o Iraque. Os principais problemas que este país enfrenta são
similares aos dos outros países da América Latina, “a luta contra as desigualdades e o
combate à violência política, o crime organizado e o terrorismo.” Como resposta ao
problema da redistribuição de riquezas, “em toda a região, forças políticas populistas
prometem acelerar este processo e instaurar a igualdade de um dia para o outro, por
intermédio de políticas incertas. Estas políticas, porém, correm o risco de ter
consequências desastrosas para os países em questão” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.182).
Destacam-se ainda os nacionalismos no sector petrolífero, já referidos anteriormente, e
a relação da Venezuela com as grandes potências mundiais, especialmente com os EUA
e a China.
“Os Estados Unidos são, incontestavelmente, o ator externo mais importante na
América Latina” (ibidem, p.184). Na Venezuela, assim como noutros países da região,
essa “preponderância (…) suscita sentimentos de revolta e de injustiça, nomeadamente

72
perante os processos de globalização em curso” (Sébille-Lopez, 2006, p.101). As
consequências desses sentimentos “não são benignas para os Estados Unidos, pois
muitos dos principais países (Venezuela, Bolívia, Brasil, Argentina, Nicarágua)
decidiram combater a influência americana por meio de uma política de abertura aos
investimentos de potências consideradas, com ou sem razão, antiamericanas, mais
particularmente a China” (Gnesotto; Grevi, 2008, p.185). Em resposta, verificam-se
várias “tentativas de intimidação, por várias formas, provenientes dos Estados Unidos”
em relação ao Presidente venezuelano, materializadas no apoio ao golpe de Estado de
2002, que fracassou, e “a ajuda maciça de Washington” à Colômbia, país vizinho da
Venezuela e “o melhor aliado regional dos Estados Unidos”, o que permitiu “aumentar
consideravelmente” a capacidade das forças armadas colombianas (Sébille-Lopez, 2006,
p.103-105). Porém, o Presidente Chávez mantinha a popularidade e as vitórias
eleitorais, com o seu ministro do petróleo a prometer em 2015 exportar a mesma
quantidade de petróleo para a China como para os EUA, reduzindo assim a dependência
venezuelana em relação aos Estados Unidos (Ramirez, 2012, p.1). No entanto, no dia 5
de Março de 2013, o Presidente Chávez faleceu, o que poderá ter um efeito
desestabilizador na região, caso afete as “alianças políticas e económicas regionais”
(Fellet, 2013).
A contribuição da Venezuela é, portanto, negativa para a segurança energética
da UE, não obstante o fato deste país ocupar apenas a 14ª posição das importações de
crude extra-UE em 2010, sendo que a tendência na última década é da diminuição
dessas mesmas importações (Eurostat, 2012).

4.2 México
Este país é o oitavo produtor mundial e o maior produtor petrolífero da América
Latina, porém, a sua produção têm diminuído na última década. Em contrapartida, o
México apresenta um consumo interno elevado e possui apenas 0,7% das reservas
mundiais, o que o coloca atrás do Brasil e da Venezuela, resultando num dos rácios
entre reservas e produção mais baixos dos produtores da América Latina, de somente
10,6 anos (BP, 2012a, p.6-8).
De acordo com Sébille-Lopez (2006, p.98), o México não usufrui o suficiente do
seu potencial “no que respeita a recursos, por falta de capacidade de investimento”. No
contexto, resulta que “o México importa dos Estados Unidos uma grande parte da

73
gasolina consumida no país.” A causa dessa falta de investimento é que a companhia
nacional mexicana, “a PEMEX que tem, desde 1938, o monopólio constitucional da
exploração, da produção, do transporte e da comercialização do petróleo do país (…)
está incapaz de financiar o seu desenvolvimento, nomeadamente a exploração de novas
jazidas e a construção de infraestruturas de refinação.” Para contrariar essa situação,
“Washington incita à privatização do sector petrolífero” (ibidem, p.98-99). Como
resultado, “a legislação foi alterada em 2008 para permitir à Petróleos Mexicanos
(PEMEX), a companhia petrolífera estatal, assinar incentivados contractos de
desenvolvimentos com outras companhias petrolíferas” (OCDE/AIE, 2011a, p.129).
Apesar dessa alteração do sector petrolífero mexicano, prevê-se que, entre 2010
e 2035, como se observa no anexo C, a produção mexicana diminua ligeiramente. Mas,
mesmo para que a produção apenas se reduza ligeiramente, verificam-se os mesmos
problemas que na Venezuela em relação à necessidade de “tecnologia avançada e
problemas de lidar com petróleo extrapesado”. Mas o principal problema energético do
México é que, “com a produção em declínio e a procura em subida, o México pode
tornar-se num importador líquido de petróleo na próxima década” (Talwani, 2011, p.5-
27). Essa tendência só poderá prejudicar a relevância do México como fornecedor de
crude para a União Europeia, o 12º maior fornecedor extra-UE em 2010 (Eurostat,
2012).
No plano político, o caso do México é muito diferente do venezuelano, sendo
que essa diferença consiste nas boas relações entre o Governo mexicano e os EUA.
Devido “à proximidade com o enorme mercado americano”, o México tornou-se num
fornecedor definitivo deste mercado (Sébille-Lopez, 2006, p.97). Esta relação estende-
se para além da questão petrolífera, tendo os dois países assinado, inclusive, um acordo
de comércio livre em 1994 (Khanna, 2009, p.147). Contudo, internamente, a
estabilidade política é baixa, semelhante à do Azerbaijão, porém, superior à da
Venezuela (BM, 2012). Mais uma vez, “a desigualdade e a instabilidade são
inseparáveis. Fora da Cidade do México – e certamente também dentro – encontramos
um país de monumentos coloniais que se sobrepõem a decrépitos bairros-de-lata, sendo
o investimento público em hospitais e escolas uma ideia adiada” (Khanna, 2009, p.148).
As desigualdades têm diversas consequências, como por exemplo, “a maioria das
drogas consumidas nos EUA” chegam “via México através de grupos de crime
organizado. Esta situação transforma cidades fronteiriças como Nuevo Laredo em
assustadores cenários de roubo, rapto e lutas entre gangues.” Outro exemplo é o Estado

74
mexicano de Oaxaca, que “foi em 2006 palco de violentos meses de confrontos entre
bandos armados, esquadrões policiais e ativistas indígenas, uma situação que acabaria
por destruir a indústria do turismo” (ibidem). Por todos estes motivos apresentados, o
México revela-se também uma fonte de insegurança energética para a UE.

4.3 Brasil
Em 2010, o Brasil foi o 15º maior fornecedor de crude externo da UE, como se
evidencia no anexo A. No final de 2011, este país possuía as segundas maiores reservas
petrolíferas da AL, com 15 mil milhões de barris de petróleo, o que corresponde às 13as
maiores reservas do mundo, com 0,9% do total mundial, e a um rácio entre reservas e
produção de 18,8 anos (BP, 2012a, p.6). Era o terceiro maior produtor desta região, o
13º a nível mundial, representando 2,9% da produção mundial em 2011. Contudo, o
Brasil é o maior consumidor petrolífero da AL e o 7º maior a nível mundial (ibidem,
p.8-9), o que afeta a sua capacidade exportadora.
Relativamente à capacidade exportadora, o Brasil é exportador líquido de crude,
o que significa que, embora importe crude, este país exporta uma quantidade superior à
que importa, como se observa no anexo F. Esta situação deve-se a que “o petróleo bruto
produzido atualmente no Brasil é relativamente pesado ou intermediário, enquanto as
refinarias foram originalmente projetadas para processar petróleo bruto importado mais
leve” (Petrobras, 2012, p.84). Note-se que esta situação criou um défice na balança
entre as receitas da exportação e os custos da importação de crude, isto “porque o
petróleo exportado pelo Brasil é do tipo pesado, de menor valor de mercado, e o país
ainda precisa importar o petróleo leve, que é mais caro” (Corrêa, 2009). Como se
constata no anexo F, esse fator explica porque é que, apesar de em 2006 o Brasil ter
começado a exportar mais crude do que importava, apenas a partir de 2009 a balança
entre custos da importação e receitas da exportação de crude começou a apresentar um
resultado positivo para este país. No entanto, na totalidade, ou seja, somando os
derivados de petróleo, o resultado ainda é negativo. Porém, o que interessa ao âmbito
desta investigação é que as exportações do crude brasileiro sextuplicaram entre 2001 e
2010. Paralelamente, nesse mesmo período, as exportações desse mesmo crude para a
UE triplicaram, de acordo com o anexo A.
Não obstante as reservas petrolíferas brasileiras serem localizadas
maioritariamente offshore, a grande profundidade e a distância considerável da costa, o

75
que requer grandes investimentos e tecnologia (EYGM, 2011, p.59), as previsões
apontam para um grande aumento na capacidade produtiva, como indicado no anexo C,
que tornará o Brasil no maior produtor de toda a América Latina (OCDE/AIE, 2011a,
p.124; BP, 2012a, p.8). Esta situação deve-se, fundamentalmente, à ação da principal
companhia petrolífera do Brasil, a Petrobras, atualmente uma “empresa de referência
mundial na operação em águas profundas” (ibidem), que, em 2010 e em 2011, foi a
segunda empresa petrolífera que mais investiu no mundo, superada apenas pela
Petrochina, e que, “no final de 2010, (…) realizou a maior venda de ações de sempre a
nível mundial, obtendo cerca de 67 mil milhões de dólares, com o intuito de auxiliar os
seus planos de investir 128 mil milhões de dólares nos cinco anos até 2016 no
desenvolvimento das descobertas do pré-sal” (OCDE/AIE, 2011a, p.125-142).
Relativamente ao consumo petrolífero brasileiro, favorecido pelo facto de ter
“hoje uma das matrizes mais renováveis do mundo” (Tolmasquim apud Corrêa, 2009), a
AIE e a OCDE preveem que, caso se mantenha a orientação política atual, o consumo
petrolífero do Brasil aumente para 2,6 milhões de barris por dia em 2035, o que
significa que o Brasil poderá exportar metade da sua produção petrolífera (ibidem,
p.107). Devido à conjugação desses dois fatores, o Brasil será responsável pelo aumento
da capacidade exportadora da AL em 2 milhões de barris por dia entre 2010 e 2035
(ibidem, p.136), o que permitiria à capacidade exportadora brasileira satisfazer, por
exemplo, todo o consumo petrolífero alemão, que é o mais elevado entre os Estados-
membros da UE (BP, 2012a, p.9). A esta expansão da capacidade de exportação acresce
ainda a boa qualidade do crude que se produzirá. “Em 2016, serão produzidos 3,3
milhões de barris por dia de crude leve, duma qualidade similar à qualidade do petróleo
produzido na Arábia Saudita” (Friends of Europe, 2012, p.30).
E, para além do Brasil se encontrar “diante da possibilidade de se tornar um dos
grandes produtores mundiais”, em termos de reservas petrolíferas, as principais reservas
do país, “os reservatórios do pré-sal, segundo previsões feitas com base nos resultados
da perfuração de mais de 30 poços, podem ser de 50 bilhões a 100 bilhões de barris, ou
mais” (EYGM, 2011, p.47), ou seja, o Brasil poderá possuir reservas superiores às de
Angola e da Nigéria em conjunto ou até mesmo da Federação Russa (BP, 2012a, p.6).
No plano político, de acordo com o anexo B, a estabilidade do Brasil é superior a
todos os países exportadores de crude para a UE analisados anteriormente, com a
exceção da Noruega, que, por sua vez, apresenta uma produção em declínio. Note-se
que o Cazaquistão é o país mais semelhante ao Brasil em termos de estabilidade

76
política. No indicador de riscos políticos da AON o Brasil assume-se como o fornecedor
mais estável e com menor risco político, com a exceção da Noruega e do México, dado
que estes países não foram classificados neste estudo.
O Brasil é afetado por problemas transversais à região da AL, como, por
exemplo, a criminalidade, as desigualdades sociais, a dificuldade em tributar a
economia paralela, contudo, “o país tem empreendido a transformação das suas vastas
zonas terceiro-mundistas como nenhum outro país latino-americano tem sido capaz”
(Khanna, 2009, p.171). Essa liderança positiva por parte do Brasil é extremamente
importante, pois “os seus progressos em matéria de consolidação democrática e
diversificação económica servirão de modelo regional” (Adler, 2009, p.120). Tal deriva
do facto do Brasil constituir “o ator de maior relevância na América do Sul. Isto se
deve, dentre outros fatores, ao seu peso geoeconômico e à sua relativa estabilidade
política” (Fundação Konrad Adenauer, 2009, p.13). De facto, o Brasil apresenta um
“empenho democrático (…) seguro, com processos eleitorais honestos e abertos e
transições sem conflitos. (…) No plano económico, Brasília lançou bases sólidas para o
crescimento sustentado, acompanhado de uma estabilidade política e de um processo
progressivo de reformas. (…) A recente descoberta de novos jazigos de petróleo ao
largo das suas costas acrescenta uma nova dinâmica a uma economia já diversificada,
colocando o país na vida de um crescimento mais rápido” (Adler, 2009, p.120). Os
maiores desafios para que o Brasil se torne, definitivamente, “uma potência mundial
modernizada”, verificam-se na diminuição da “criminalidade e corrupção persistentes”
(ibidem, p.121).
“Com relação à sua ação externa, este extenso Estado-nação mostra continuidade
e previsibilidade” (Fundação Konrad Adenauer, 2009, p.13), mantendo fortes relações
comerciais com as principais potências mundiais, a China, a UE e os EUA, que surgem
como os principais destinos e origens das exportações e importações brasileiras
(Organização Mundial do Comércio apud Associação de Comércio Externo do Brasil,
2012, p.14-16). Constata-se, porém, um afastamento ligeiro em relação aos EUA, sendo
que, “durante a Guerra Fria, o Brasil estava solidamente do lado do «Gigante do
Norte»” e, atualmente, verifica-se uma “crescente «aliança estratégica» entre o Brasil e
a China” (Khanna, 2009, p.168-169). Contudo, e não obstante o enorme potencial
petrolífero brasileiro, nem neste sector se observa risco de conflito, ao invés, verificam-
se participações de todas as principais empresas do sector petrolífero mundial (Pulido;
Fonseca, 2004), ou seja, existe uma disputa pelos recursos energéticos mas apenas ao

77
nível económico, ausente, de facto, de qualquer tensão internacional que pudesse
favorecer o conflito entre Estados.
O Brasil apresenta-se, portanto, como um fornecedor vital para assegurar a
segurança energética do abastecimento de crude da UE a longo prazo. Nesta perspetiva,
realça-se o facto da ausência de pontos de estrangulamento e de países de trânsito entre
o Brasil e a UE.

78
5 Perspetiva das exportações de crude entre o Brasil e a UE
O Brasil “está a despender imensos recursos e a convidar mais capital de
investidores estrangeiro para acrescentar valor às suas indústrias existentes de petróleo e
de gás e para desenvolver a sua indústria de energia renovável em crescimento”
(Friends of Europe, 2012, p.29-30). Contudo, no sector petrolífero, a produção atual
deve-se principalmente à Petrobras, sendo que, por exemplo, em 2011, esta empresa foi
responsável por 91,7% da produção petrolífera brasileira. Existem igualmente inúmeras
companhias petrolíferas estrangeiras que detêm subsidiárias com concessões no Brasil.
Destacam-se, com uma produção anual superior a um milhão de barris, a norte-
americana Chevron, a anglo-holandesa Shell, a norueguesa Statoil e a japonesa Frade
Japão, a inglesa BG, a chinesa Sinochem Petróleo, a anglo-holandesa Shell, a indiana
ONGC, a espanhola Repsol, a inglesa BP, a sul-coreana SK e a portuguesa Galp (ANP
apud SDP, 2012, p.82)12.
Esta forte presença europeia não significa a ausência da crescente ameaça
competitiva chinesa, pois, atualmente, “as empresas chinesas operaram no Brasil em
todos os segmentos da energia. Diante das dificuldades em extrair o petróleo em suas
águas, devido à sua profundidade, o Brasil contou com o apoio, técnicas e investimentos
chineses, na área. Ademais, tendo em vista a sua necessidade energética, os chineses
estiveram dispostos a colaborar. O governo da China, por meio de sua estatal
petrolífera, a SINOPEC, concedeu em 2010 um empréstimo de dez bilhões de dólares
para a Petrobras extrair os hidrocarbonetos da camada do pré-sal, porém, o Brasil
deverá pagar o financiamento chinês com parte do petróleo extraído” (Luz, 2011, p.169-
170). Face ao grande controlo dos recursos energéticos locais por companhias
nacionais, os empréstimos em troca de recursos são “uma das soluções encontradas pela
China” para explorar os recursos energéticos de outros países e adquirir direitos sobre as
reservas energéticas desses mesmos países (ibidem, p.164). Saliente-se que, em
Dezembro de 2012, a China ultrapassou os EUA em termos de importações petrolíferas,
tornando-se no maior importador petrolífero mundial, prevendo-se que consolide esta
posição nos próximos anos (Baltazar, 2013). Esta posição de destaque por parte da
China traduz-se numa crescente influência chinesa no sector petrolífero mundial, sendo
o sector petrolífero brasileiro um exemplo dessa situação.

12
As empresas estrangeiras foram enumeradas de acordo com a sua produção petrolífera no Brasil em 2011.

79
Mas as empresas chinesas não são as únicas a investirem. Em termos das
reservas brasileiras offshore do pré-sal, que são as principais reservas petrolíferas do
Brasil, encontram-se empresas dos seguintes países de origem, escalonadas em função
das suas participações: EUA, Reino Unido, Países Baixos, Dinamarca, Espanha,
Portugal, Índia e Austrália (EYGM, 2011, p.49). “Entre os investimentos divulgados
estão: Petrobras, US$ 53,4 bi (2011-2015); BG13, US$ 30 bi; Repsol YPF14, US$ 14 bi”
(ibidem, p.8).15 Para além da BG e da Repsol, a presença da Partex e da Galp Energia,
duas companhias de origem portuguesa, é assinalável, com participações em campos
petrolíferos com reservas estimadas bastante elevadas, entre 3 a 8 mil milhões de barris
(ibidem, p.49). Porém, saliente-se que, apesar da origem da empresa, podem existir
participações parciais de empresas de outros países, sendo que, por exemplo, “a maior
parte dos investimentos chineses anunciou entrada no Brasil por meio de Fusões &
Aquisições parciais (…) vale destacar a compra de 40% das ações da Repsol Brasil pela
Sinopec16 ” (CEBC, 2011, p.23) e de 30% da holding da Galp no Brasil, a Petrogal
Brasil (Palma-Ferreira, 2013, p.29).
Mas o mais importante para a temática em estudo são os destinos das
exportações do crude brasileiro. No âmbito dos destinos das exportações petrolíferas da
Petrobras, apresentados no gráfico 7, é notável o aumento das exportações para a China,
reflexo das políticas de aproximação comercial entre a China e o Brasil referidas
anteriormente. Em relação às exportações de crude, tendo 2011 como ano base, a
Petrobras estima duplicá-las até 2015 e quadruplicá-las até 2020 (Petrobras, 2011, p.9).

Gráfico 7 - Exportações petrolíferas da Petrobras


Fonte: Petrobras, 2011, p.10.
Na totalidade, de acordo com o anexo G, verifica-se a predominância dos EUA
como destino das exportações do crude brasileiro, seguindo-se a China, representando

13
Empresa petrolífera de origem inglesa.
14
Empresa petrolífera de origem espanhola.
15
Bi significa um bilião de dólares, o que em Portugal equivale a mil milhões de dólares.
16
A Sinopec é uma companhia estatal chinesa da área petrolífera e petroquímica.

80
respetivamente, 27% e 23% das exportações totais de crude. As exportações para estes
dois países foram aumentando substancialmente ao longo da última década. Em
oposição, as exportações de crude para a Europa apenas aumentaram 47%, o que resulta
na diminuição do peso deste Continente no total das exportações de crude, de 23% em
2002 para 13% em 2011. A Índia mantém uma importância relevante, correspondendo a
8% do total das exportações. Saliente-se que, tendo em conta o valor das exportações de
crude para a América Central e do Sul apresentado no anexo G e a percentagem dos
países da AL no gráfico 7, pode-se concluir que muitas das empresas estrangeiras
presentes no Brasil optam por vender o crude extraído aos países da América Central e
do Sul.
De futuro, “os chineses estão dispostos a inserir definitivamente o Brasil em sua
base internacional de fornecimento de recursos naturais” (CEBC, 2011, p.24). E,
portanto, “as relações comerciais entre chineses e brasileiros demonstram grandes
perspetivas para a próxima década” (Luz, 2011, p.163), devendo manter-se o aumento
das exportações de crude para a China.
Em relação aos EUA, as perspetivas são mais difusas, pois, apesar da tendência
de crescimento das exportações verificada na última década, como se observa no anexo
G, as importações dos EUA deverão diminuir drasticamente até 2035, em 4 milhões de
barris por dia em relação ao nível atual, o que se deve ao aumento da produção interna e
à diminuição da procura (OCDE/AIE, 2011a, p.136). Mas os EUA continuarão a ser um
país importador, mesmo que de forma menos acentuada, por isso, as exportações de
crude brasileiro para este país poderão aumentar, na medida em que a proximidade e a
estabilidade do Brasil poderão ser privilegiadas em detrimento de outras regiões
petrolíferas.
Essa relação da vantagem de proximidade, a Petrobras indica que o custo das
exportações para a Europa e para os EUA é o mesmo (Petrobras, 2011, p.4). No entanto,
a Europa recebe apenas metade da quantidade de crude brasileiro exportado para os
EUA, segundo o anexo G. Importa ainda referir que, em 2010, apenas 6 países dos 27
Estados-membros da UE importaram crude do Brasil. Portugal foi o Estado-membro
que mais importou crude do Brasil, seguido da Alemanha, Reino Unido, Espanha,
França, Países Baixos e, por último, a Bélgica (Eurostat, 2012). Em 2011, em termos
das exportações petrolíferas brasileiras, excluindo os derivados de petróleo, dos 29,271
milhões de barris exportados para a Europa, 10,537 tiveram como destino Portugal

81
(SDP, 2012, p.125). E, por outro lado, como se vê no gráfico 8, é no caso português que
o Brasil é um fornecedor significativo.

Gráfico 8 - Média da percentagem relativa de importações de crude brasileiro


Fonte: Eurostat, 2012. Elaboração própria.
Neste sentido convém referir a empresa Galp, que, através da sua subsidiária
Petrogal Brasil, destaca-se positivamente no sector petrolífero brasileiro, com uma
produção petrolífera muito superior à sua conterrânea Partex17 e participações relevantes
em importantes reservas petrolíferas do pré-sal (EYGM, 2011, p.49). Devido a esses
fatores, a Galp estima que, em 2020, consiga produzir 300 mil barris diários de crude,
em oposição aos 25 mil barris diários em 2012 (Galp apud Palma-Ferreira, 2013, p.29).
Dado que Portugal consumia 240 mil barris diários em 2011 (BP, 2012a, p.10), com
tendência para diminuir, Portugal poderá tornar-se num exportador líquido de crude em
2020.
Em relação às outras empresas petrolíferas de Estados-membros da União
Europeia no Brasil, a forte presença de algumas empresas poderá resultar no aumento
das exportações para a UE, mas convém realçar que algumas dessas empresas
apresentam atualmente uma produção local superior à Galp e possuem maiores
participações nas reservas petrolíferas brasileiras e, no entanto, Portugal é o maior
destino europeu das exportações de crude brasileiro. Como tal, não se pode constatar
uma ligação direta entre a nacionalidade das empresas petrolíferas e os destinos das
exportações.
Pode-se apenas perspetivar que o contributo brasileiro para a segurança
energética portuguesa aumente nos próximos anos, à medida que as exportações de

17
Em 2011, em termos de concessionário, a Partex produziu 4,5% da quantidade de petróleo produzido
pela Petrogal Brasil (SDP, 2012, p.82).

82
crude brasileiro continuem a aumentar, o que, por sua vez, significará uma melhoria,
mesmo que ligeira, da segurança energética da União Europeia.

83
84
6 Conclusão
O SI encontra-se em transição dum sistema unipolar para um sistema uni-
multipolar, nomeadamente através do aumento da influência das potências emergentes,
com maior destaque para a China. O sistema petrolífero mundial é igualmente afetado
por essas alterações. O tradicional papel dos EUA na manutenção do mercado global
petrolífero encontra-se atualmente condicionado pela crescente influência das referidas
potências. O controlo maioritário da produção petrolífera mundial pelas empresas
nacionais em oposição ao anterior monopólio das grandes companhias internacionais, a
aproximação dum possível pico petrolífero e o consequente aumento dos preços deste
recurso energético, o que se traduz no aumento do poder dos Estados produtores, resulta
igualmente no aumento da importância desses mesmos Estados no plano internacional.
Devido a tudo isto, a lógica da oferta-procura está comprometida, verificando-se uma
influência cada vez maior das relações entre Estados no abastecimento petrolífero.
Como consequência principal de todos estes fatores existe uma competição acrescida
pelas reservas petrolíferas.
Perante esse cenário de desordem e incerteza que caracteriza o cenário
petrolífero mundial, a questão da segurança energética constitui um ponto fundamental
da política interna e externa da UE e dos seus Estados-membros, de modo a maximizar
a sua estabilidade económica. No contexto, a caracterização da situação petrolífera da
UE evidencia uma elevada dependência das importações, com perspetiva de se agravar
nas próximas décadas. Esta situação, que favorece a insegurança energética, deve-se à
produção interna em declínio e à incapacidade efetiva das medidas entretanto
estabelecidas. Revela-se, portanto, necessário recorrer a medidas mais efetivas, assim
como a diversificação do aprovisionamento energético. Nesse sentido, analisaram-se as
potencialidades da AL por forma a averiguar se esta região pode constituir um reforço
estratégico para a segurança energética da UE, nomeadamente através do fornecimento
de crude, dado que, entre as principais regiões produtoras de petróleo, esta região é,
atualmente, a que menos contribui para a matriz de aprovisionamento de crude da UE.
Desse modo, avaliou-se a segurança energética no abastecimento de crude da
UE tendo em consideração o potencial petrolífero atual e previsto dos principais
fornecedores e a sua estabilidade e riscos políticos, concluindo-se que os principais
fornecedores da UE contribuem para a sua insegurança energética.

85
A Federação Russa, que é distintamente a principal fornecedora de crude da UE
e cuja importância para o aprovisionamento energético europeu se irá manter nas
próximas décadas, apresenta, por conseguinte, o maior risco para a segurança energética
da UE, agravado pelas intenções reais de Moscovo em utilizar esse abastecimento como
arma política, tendo-se já registado interrupções intencionais do fornecimento
energético.
Nos fornecedores do mar Mediterrâneo verifica-se uma grande instabilidade
política, derivada de graves tensões sociais, o que tem paralelo nos fornecedores do
Médio Oriente. No entanto, os países do Mediterrâneo, especialmente do norte de
África, devido à proximidade com alguns países da UE, possuem uma vantagem
geográfica em relação aos países do Médio Oriente, nomeadamente do Golfo Pérsico,
que apresentam pontos de estrangulamento do fluxo petrolífero. Disto resulta que,
apesar de contribuírem para a insegurança energética, os países do norte de África
continuarão a ser fornecedores estratégicos da UE, sendo que o fornecimento dos países
do Golfo Pérsico à UE deverá continuar a diminuir.
Em relação ao mar Cáspio, a estabilidade é, de facto, superior às duas regiões
referidas anteriormente, contudo, as dificuldades de trânsito do abastecimento de crude
e a influência russa na região colocam, igualmente, o Azerbaijão e o Cazaquistão como
fontes de insegurança energética da UE.
No Golfo da Guiné verifica-se uma grande desigualdade de rendimentos, o que
resulta numa pobreza generalizada, que, por sua vez, acentua as tensões sociais, étnicas
e religiosas existentes, tornando assim esta zona noutra fonte de insegurança energética
para o bloco europeu.
A generalidade destes fornecedores apresentam uma estabilidade muito baixa, o
que favorece a insegurança energética, como se comprova através de inúmeras
ocorrências concretas desse tipo de insegurança, sendo por vezes necessário a
intervenção militar por parte de Estados-membros da UE, como no caso da Líbia. A
exceção é a Noruega, que tem uma estabilidade muito elevada e muito superior a
qualquer outro dos países estudados, contudo, as perspetivas petrolíferas deste país são
negativas e, por isso, o seu contributo para a segurança energética da UE diminuirá nos
próximos anos, favorecendo, portanto, a importância dos outros fornecedores. Deste
modo, valida-se a primeira hipótese secundária, pois, de facto, a atual matriz de
aprovisionamento de crude da UE compromete a segurança energética do bloco.

86
Por forma a estabelecer comparações, analisou-se igualmente a situação
petrolífera da AL com base nos critérios utilizados para avaliar os principais
fornecedores de crude da UE. O estudo da AL centrou-se exclusivamente nos três
principais produtores latino-americanos, a Venezuela, o México e o Brasil, verificando-
se que só o Brasil constitui como uma alternativa para aumentar a segurança energética
da UE.
A Venezuela, não obstante a sua imensa capacidade de exportação petrolífera
em crescimento, devido à influência negativa dos Estados Unidos, apresenta uma
estabilidade política muito baixa. Enquanto o México, apesar das boas relações e da
proximidade com os EUA, tem uma estabilidade também baixa por influência da
criminalidade violenta e, devido à tendência para o aumento do consumo interno e
redução da produção, poderá tornar-se, inclusive, num importador de petróleo.
Efetivamente, no âmbito dos fornecedores de crude da UE, o Brasil é o único país que
se destaca positivamente quer na estabilidade política, quer na capacidade de
exportação. Não excluindo os seus problemas internos, o Brasil apresenta a estabilidade
política mais elevada de todos os fornecedores, com a exceção da Noruega, e estima-se
que a sua capacidade de exportação de crude aumente significativamente nos próximos
anos, tornando-o num dos principais exportadores mundiais.
Com base em todos os fatores expostos, conclui-se que a hipótese principal é
válida, ou seja, o incremento das importações de crude da AL para a UE consistiria num
reforço da segurança energética do bloco, não obstante essa afirmação ser válida apenas
para os fornecimentos oriundos do Brasil. Justifica-se, portanto, uma maior
aproximação política entre a UE e o Brasil, de modo a favorecer o fornecimento de
crude brasileiro para a UE.
No sentido de determinar a capacidade da AL de aumentar a segurança
energética da UE através do abastecimento de crude, efetuou-se uma análise mais
detalhada ao sector petrolífero brasileiro. Mediante essa análise, concluiu-se que o
fornecimento de crude brasileiro para a UE continuará a aumentar, devendo acentuar-se
a tendência já assinalável de Portugal constituir o maior destino europeu desses
fornecimentos, a que não se pode dissociar o papel proactivo da Galp. Este aumento
previsto melhorará a segurança energética portuguesa e, desse modo, melhorará, mesmo
que apenas parcialmente, a segurança energética da UE. Deste modo, a segunda
hipótese secundária foi validada, dado que se comprovou que o contributo do Brasil
para a segurança energética da UE tenderá a aumentar.

87
No entanto, apesar da urgência duma estratégica comum, a lógica de mercado
ainda persiste na UE, o que se comprovou através da ausência duma ligação direta entre
a presença das empresas petrolíferas europeias no Brasil e o destino das exportações de
crude brasileiro. De facto, pode-se afirmar que os Estados-membros da UE e as suas
empresas se inserem na estratégia petrolífera norte-americana, que consiste em garantir
o bom funcionamento do mercado petrolífero, recorrendo, quando necessário, ao fator
militar para garantir a estabilidade quer nas regiões produtoras, quer nas regiões de
trânsito. Apenas países com o sector petrolífero fortemente estatizado escapam a esta
estratégica orientada para o lucro, possuindo, em contrapartida, uma estratégica
petrolífera nacional, como, por exemplo, a China e a Rússia.
Como consequência da orientação estratégica europeia ou da ausência da
mesma, verifica-se uma quase ausência de alterações relativamente aos principais
fornecedores de crude da UE durante a última década, como se pode constatar no anexo
A, sendo que a tendência é para a manutenção dessa matriz de aprovisionamento de
características negativas para a segurança energética. Saliente-se que, contudo, devido
ao mercado petrolífero ser um mercado global, as soluções ideias para assegurar a
segurança energética teriam por base a cooperação internacional. Porém, as situações
descritas nesta dissertação retratam uma realidade em que a competição exacerbada
pelos recursos energéticos e os interesses económicos presentes neste sector se
sobrepõem à afirmação duma cooperação mundial no âmbito da segurança energética.
Duma perspetiva histórica, a energia evidencia-se como um elemento fulcral
para o bom funcionamento da sociedade humana e o controlo dos recursos energéticos
favorece o crescimento e a influência dos Estados. Em oposição, a carência desses
recursos influência negativamente a ação dos países, como se verificou com a
Alemanha em ambas as Guerras Mundiais. Nas situações de dependência de
importações energéticas é necessário assegurar um aprovisionamento seguro de recursos
energéticos. O sucesso na concretização dessa necessidade foi um dos elementos
fulcrais para a afirmação dos EUA como a principal potência mundial e o insucesso da
mesma apenas acentuará o declínio da influência e do poder relativo da UE, em
detrimento das potências emergentes.

88
7 Bibliografia

ADLER, Alexandre – O Novo Relatório da CIA - Como será o mundo em 2025? 1ª


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96
8 Anexos
Anexo A
Importações de crude da UE-27

PAÍS
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
/ANO
Total 594.682 582.363 598.163 619.429 618.266 610.524 601.525 606.831 555.857 556.909
Rússia 135.959 153.286 169.396 183.083 186.341 188.120 185.035 178.317 172.794 179.480
Noruega 107.155 101.788 104.573 106.888 96.955 87.454 83.836 85.562 79.191 71.610
Líbia 43.755 39.081 45.949 49.988 50.373 51.698 54.388 56.400 47.047 52.964
Arábia
Saudita 57.496 53.145 61.536 64.460 60.748 51.069 40.290 38.912 29.809 30.774
Irão 31.412 25.928 34.674 35.860 34.740 35.069 34.571 30.449 24.607 29.679
Cazaquistão 8.598 12.753 14.540 19.068 25.568 26.003 25.875 27.322 27.972 28.709
Reino Unido 49.341 43.625 38.616 34.420 28.827 30.852 30.921 28.530 25.018 28.558
Nigéria 25.723 18.440 23.224 14.858 18.618 20.235 15.200 22.698 23.554 21.704
Azerbaijão 4.602 5.306 5.666 5.190 7.255 12.659 16.601 18.068 20.656 21.673
Iraque 20.392 15.965 8.475 12.553 12.290 16.610 19.094 18.851 19.828 16.952
Angola 6.657 7.252 4.265 3.420 7.065 4.250 11.389 14.755 14.083 8.483
Síria 19.396 20.587 12.945 9.081 9.027 7.481 7.944 6.954 6.842 7.738
México 9.291 9.668 8.671 8.808 10.647 8.703 8.623 8.760 5.996 6.783
Dinamarca 10.106 10.168 11.261 13.134 13.003 12.127 10.484 8.076 6.870 6.708
Argélia 14.716 14.157 16.207 19.129 20.181 14.351 10.433 14.563 8.539 6.482
Venezuela 9.023 9.203 4.971 4.322 6.989 10.636 9.160 8.866 8.735 5.002
Brasil 1.412 1.599 3.304 1.771 2.658 2.821 4.130 3.510 3.340 4.828
Egito 3.600 3.811 3.460 3.952 1.716 3.739 3.208 4.313 5.141 4.654
Outros
países
africanos 3.895 4.246 5.021 3.794 4.761 6.231 7.075 8.924 6.755 4.640
Koweit 7.990 6.384 6.243 6.605 7.621 6.965 6.421 6.012 4.102 3.432
Congo 1.293 2.025 211 218 610 476 261 1.005 1.787 3.137
Tunísia 1.176 1.664 1.684 1.344 1.335 1.231 2.206 2.152 2.228 2.108
Camarões 3.669 3.743 3.338 4.024 4.030 4.123 3.677 2.733 2.203 2.093
Papua Nova
Guiné 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1.616
Gabão 1.643 526 443 358 513 827 1.008 1.607 1.445 1.272
Colômbia 75 455 0 0 0 254 148 0 102 721
Países
Baixos 263 1.323 866 834 1.129 910 1.042 1.297 974 690
Turquia 0 0 0 170 271 29 904 239 779 618
Canadá 0 0 0 0 0 0 166 0 59 532

Fonte: Eurostat, 2012.


Nota: Os valores apresentados estão em milhares de toneladas. A fonte refere que
“Outros países africanos” varia de acordo com o contexto. Existem mais fornecedores
de crude da UE, porém, em conjunto, os países que faltam representaram, em 2010,
0,6% das importações totais de crude dos Estados-membros da União Europeia.

97
98
Anexo B
Estabilidade política dos principais fornecedores de crude da UE

Risco Político Estabilidade Política


Rússia Médio 20.8
Noruega Sem classificação 96.7
Líbia Alto 17.0
Arábia Saudita Médio 36.8
Irão Muito Alto 7.5
Cazaquistão Médio-alto 41.0
Nigéria Alto 4.2
Azerbaijão Alto 27.8
Iraque Muito Alto 3.8
Angola Médio-alto 35.8
Síria Alto 4.7
México Sem classificação 25.5
Argélia Médio-alto 9.4
Venezuela Muito Alto 10.4
Brasil Médio-baixo 46.2
Egito Alto 11.8

Legendas

Risco Político Estabilidade Política


Muito Alto Muito baixa
Alto Baixa
Médio-alto Média
Médio Média-alta
Médio-baixo Alta
Baixo Muito alta

Fonte: Os valores da Estabilidade Política foram retirados do Banco Mundial (2012) e


referem-se ao ano de 2011. Os Riscos Políticos foram retirados do AON (2012) e
referem-se ao ano de 2012. Elaboração própria.

99
100
Anexo C
Principais mudanças na produção líquida no cenário das novas políticas 2010-2035

Fonte: OCDE/AIE, 2011a, p.124.

101
102
Anexo D
Mapa do Grande Médio Oriente

Fonte: Sébille-Lopez, 2006, p.324.

103
104
Anexo E
Situação petrolífera da América Latina e Caraíbas
Exportações de
Reservas provadas Produção Consumo
crude
Em Em Em Em
Valor relação Valor relação Valor relação Valor relação
Rácio
ao ao ao ao
R/P
(MMb) total (Mb/d) total (Mb/d) total (Mb/d) total
mundial mundial mundial mundial
México 11,4 0,7% 2938 3,5% 2027 2,3% 1460 3,4% 10,6
Argentina 2,5 0,2% 607 0,7% 609 0,7% 91 1,9% 11,4
Brasil 15,1 0,9% 2193 2,6% 2653 3,0% 619 1,4% 18,8
Colômbia 2 0,1% 930 1,1% 253 0,3% 484 1,1% 5,9
Equador 6,2 0,4% 509 0,6% 226 0,3% 342 0,8% 33,2
Peru 1,2 0,1% 153 0,2% 203 0,2% 19 0,0% 22,2
Trindade e
Tobago 0,8 0,0% 136 0,2% 34 0,0% 75 0,2% 16,7
Venezuela 296,5 17,9% 2720 3,3% 832 0,9% 1645 3,8% 100+
Outros América
do sul e central 1,1 0,1% 134 0,2% 1431 1,6% 24 0,1% 22,1
Total América
Latina e Caraíbas 336,8 20,4% 10320 12,3% 8268 9,4% 4759 11,1% 100+
Total Mundial 1652,6 100% 83576 100% 88034 100% 42769 100% 54,2

Fonte: Os dados referentes às reservas provadas, à produção, ao consumo e ao rácio


reservas e produção são do ano 2011 e foram retirados de BP, 2012, p.6-11. Os dados
relativos às exportações de crude são de 2010 e foram retirados de EIA, 2012.
Elaboração própria.
Nota: MMb significa mil milhões de barris. Mb/d significa mil barris por dia.

105
106
Anexo F
As exportações e importações petrolíferas do Brasil

Crude 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Importações (milhões b) 145 152 139 126 169 138 132 160 149 144 124 121 103
Exportações (milhões b) 7 40 86 88 84 100 134 154 158 192 230 221 178
Balanço (Imp-Exp) 138 112 53 37 85 38 -3 6 -9 -48 -107 -100 -74
Dispêndio com
Importações (US$ FOB) 4306 3970 3418 3820 6744 7648 9088 11974 16573 9205 10097 14135 12175
Receita das exportações
(US$ FOB) 159 721 1691 2122 2528 4164 6894 8905 13683 9370 16293 21785 18008
Balanço (Imp-Exp) 4147 3249 1727 1698 4216 3484 2194 3069 2890 -165 -6197 -7650 -5833

Derivados 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Importações (milhões b) 115 115 106 83 74 69 85 100 113 100 172 191 159
Exportações (milhões b) 61 99 94 94 99 101 106 111 101 95 87 85 86
Balanço (Imp-Exp) 53 16 11 -12 -25 -32 -21 -11 12 5 85 106 73
Valor de Importações (US$
FOB) 3227 2838 2394 2226 2645 3336 4959 6938 11174 5571 12980 19403 16894
Valor de exportações (US$
FOB) 1854 2498 2272 2917 3448 5242 6412 7682 9873 5998 7055 9480 9953
Balanço (Imp-Exp) 1373 340 123 -691 -803 -1906 -1453 -745 1301 -427 5925 9923 6941
Balanço Total
(Crude+Derivados) 5520 3589 1849 1007 3413 1578 740 2324 4190 -592 -272 2273 1108

Fonte: Secretaria de Comércio Exterior apud ANP, 2012. Elaboração própria.


Nota: Milhões b = Milhões de barris de petróleo.
US$ = Milhões de dólares em valor corrente
FOB = Free on Board, em que se exclui os custos do frete.

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Anexo G
Exportações de crude do Brasil

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
EUA 9168 13168 10866 15928 38674 54414 49617 49811 54929 59311
Canadá - - - - - - - - 4989 6768
América
Central e 23875 28276 39394 47254 47590 48806 64697 72000 60782 58009
do Sul

Europa 19930 22539 19323 18063 21734 32704 22513 28102 32973 29271
China - 868 6577 13016 16333 15295 20302 26902 58712 49807
Índia 16851 11811 0 2042 4993 - 982 14041 17259 17483
Total 85761 88246 84252 100190 134336 153813 158110 191859 230492 220649

Fonte: MDIC/Secex apud SDP, 2012, p.125. Elaboração Própria.


Nota: O crude brasileiro foi exportado para outros países entre os anos de 2002 e 2010.
Nesta tabela encontram-se todos os destinos do crude brasileiro de 2011. Os valores
estão em mil barris de petróleo. Estes dados referem-se às exportações petrolíferas
excluindo os derivados do petróleo.

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