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9 de dezembro de 2014
Tratamento de efluentes
Considerando vantagens como: baixo consumo de energia elétrica, pequena geração de lodo biológico
excedente, menor área ocupada e menor custo operacional, os processos anaeróbios têm sido amplamente
utilizados para o tratamento dos efluentes das indústrias de bebidas (cervejas, refrigerantes). Os bons
resultados alcançados com os Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente com Leito de Lodo (UASB)
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estimularam o desenvolvimento de uma nova geração de reatores anaeróbios utilizando o conceito de Leito
Expandido (EGSB), onde se busca aproveitar as boas condições de sedimentabilidade do lodo anaeróbio
granulado aplicando maiores velocidades ascensionais e maiores cargas orgânicas. Dentre as várias
alternativas patenteadas com esse novo conceito, destaca-se o Reator Anaeróbio de Circulação Interna (IC),
caracterizado pela separação do biogás em dois estágios dentro do reator, pela elevada relação
altura/diâmetro e pela recirculação interna do efluente movida pela produção de biogás. O reator IC pode
operar com elevadas velocidades ascensionais de líquido e gás, o que o torna mais viável economicamente
para o tratamento de efluentes de baixas e médias concentrações encontradas nas indústrias de bebidas. Neste
artigo descrevemos esse novo reator anaeróbio, suas vantagens em relação ao UASB e apresentamos o
dimensionamento comparativo para uma indústria de bebidas.
Para tornar viáveis os processos biológicos para o tratamento de efluentes industriais são necessários
equipamentos com elevadas capacidades de tratamento aliados à boa eficiência de remoção dos poluentes
orgânicos. Na prática isso significa que um reator industrial deve ser capaz de trabalhar com altas taxas de
carregamentos orgânicos e baixos tempos de detenção. Os parâmetros que determinam a capacidade de um
reator anaeróbio podem ser classificados em: fatores microbiológicos e físicos, como mostrados na Tabela 1.
Os fatores microbiológicos estão ligados a parâmetros fisiológicos como: temperatura, pH, alcalinidade e a
presença de compostos inibidores. Nos últimos anos muitos estudos foram conduzidos buscando determinar
a influência de cada um desses parâmetros e já estão especificados valores ótimos e faixas toleráveis para
vários tipos de efluentes.
Estudos realizados demonstram que a atividade específica metanogênica da biomassa anaeróbia medida em
reatores UASB em operação, pode ser muito maior que os valores usualmente encontrados (0,5 Kg DQO /
Kg SSV.dia).
A limitação para um melhor aproveitamento desse potencial microbiano está relacionada aos projetos dos
reatores anaeróbios no que diz respeito aos aspectos físicos:
1. Capacidade de retenção dos microrganismos e
A capacidade de tratamento dos reatores anaeróbios UASB está limitada pela pouca habilidade de retenção
do lodo anaeróbio dentro do reator. Para efluentes com baixas concentrações (DQO £ 2.500 mg/l), a taxa de
aplicação volumétrica (TA) está limitada a 6 Kg – 10 Kg DQO/m³ reator . dia, para evitar o arraste do lodo
anaeróbio causado por elevadas velocidades ascensionais de efluentes. Para essas taxas de aplicação o tempo
de detenção hidráulico (TDH) é aproximadamente de 6 – 8 horas. Como resultado, os reatores UASB são
baixos (4,5 metros – 6,0 metros) e ocupam uma área considerável. Para efluentes com altas concentrações
(DQO > 2.500 mg/l), a TA está limitada a 8 Kg – 15 Kg DQO/m³ reator . dia e o fator limitante para o arraste
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do lodo anaeróbio é a turbulência causada pela elevada taxa de produção de biogás. Na parte superior do
reator UASB está instalado o separador trifásico cuja função é separar a biomassa do efluente tratado
(separação sólido-líquido) e também as bolhas de biogás geradas no processo, do efluente tratado (separação
gás-líquido).Esta combinação de etapas de separação dificulta a otimização de cada função. Submetidos a
altos carregamentos orgânicos, a turbulência na zona de decantação pode se tornar muito grande devido às
elevadas taxas de produção de biogás, resultando no arraste para fora do reator de grande parte da biomassa
ativa, comprometendo a eficiência do processo.
Para permitir a aplicação de elevadas taxas de aplicação como esperado nos reatores de leito expandido
(EGSB), certamente é necessário um projeto mais eficiente de separação das três fases (S/L/G). Como a
produção de biogás é o fator mais importante para geração da turbulência, buscou-se desenvolver um
separador eficiente em dois estágios:
• Primeiro estágio: separar o biogás para eliminar a turbulência.
• Segundo estágio: separar os sólidos para reter a biomassa no reator.
Se o contato entre os microrganismos e os efluentes for pouco eficiente, a transferência de massa será
prejudicada e não se conseguirá utilizar todo o potencial da atividade específica metanogênica da biomassa
ativa presente no reator anaeróbio. A taxa de lodo (quantos quilogramas de DQO cada quilograma de lodo
pode tratar por dia) certamente estará muito abaixo dos valores teóricos estimados.
Este contato pode ser melhorado com a expansão ou fluidização do leito de lodo granulado, conseguido com
aplicação de maiores velocidades ascensionais de efluente e biogás (aumentando a relação altura/diâmetro do
reator e aplicando recirculação de parte do efluente tratado), chegando-se ao conceito dos Reatores
Anaeróbios de Leito Expandido (EGSB).
O projeto desse novo tipo de reator deverá permitir a aplicação de elevadas velocidades de líquido e gás.
Dentre os vários projetos para reatores do tipo EGSB que buscam eliminar as deficiências encontradas nos
reatores UASB, destaca-se o Reator Anaeróbio de Circulação Interna (IC) pela engenhosidade e simplicidade
construtiva.
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O Reator IC consiste basicamente na instalação de dois reatores UASB sobrepostos. O reator inferior
recebendo um alto carregamento orgânico e o superior pouquíssimo carregado. Seu trunfo principal é a
separação do biogás em dois estágios dentro do reator. O gás coletado no primeiro estágio proporciona o
arraste (“gas-lift”) de efluente e lodo anaeróbio para o topo do reator de onde são separados e internamente
recirculados à parte inferior do reator, procedimento este que lhe confere o nome.
Descrição do processo
O Reator IC consiste em um tanque cilíndrico, vertical, com altura variando de 16 a 25 metros e pequena
área superficial. A Figura 2 mostra um esquema do Reator Anaeróbio de Circulação Interna (IC):
• O efluente (1) é bombeado para o reator entrando no sistema de distribuição (2) onde é misturado com o
efluente tratado e o lodo anaeróbio recirculados.
• O compartimento inferior do reator abriga a zona de Leito Granulado Expandido (3), bastante carregada
orgânica e hidraulicamente, onde cerca de 70% – 75% da DQO são convertidos em biogás. O biogás
produzido nessa região é coletado pelo 1o separador de fases (4) e é utilizado para gerar o “gas-lift” que
proporciona o arraste de efluente e lodo via tubulação de subida (5) para o separador gás-líquido (6)
instalado no topo do reator.
Aqui o biogás é separado da mistura efluente/lodo e deixa o sistema (7). A mistura efluente/lodo é
direcionada ao fundo do reator pelo tubo de descida (8) resultando no fluxo de circulação interna. O efluente
que atravessa o 1o separador, livre da grande concentração de biogás, encontra a zona de polimento (9) onde
a pequena parcela residual da DQO é degradada atingindo remoções de 75 % – 85%. O biogás produzido
nessa área é coletado no 2o separador trifásico instalado na parte superior do reator, enquanto o efluente
tratado deixa o reator pelos vertedores (11).
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recirculada que permite um melhor contato efluente/microrganismos na zona de leito expandido, é coletada
no primeiro separador, garantindo menores velocidades ascensionais previstas no projeto para a zona de
polimento.
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO: Os Reatores IC têm alturas variáveis de 16 metros – 25 metros e por
facilidade construtiva são cilíndricos, com diâmetros variando de 1,0 metro – 11,5 metros. O corpo do reator
pode ser executado em aço inoxidável ou aço carbono revestido com proteção anticorrosiva. Em ambos os
casos há um revestimento interno das paredes em plástico de engenharia, no fundo (evitar erosão na
alimentação) e na parte superior para evitar a corrosão causada pela conversão de sulfetos. O teto de lodo na
zona de mistura, o tanque separador gás/líquido e as tubulações internas sempre são construídas em aço
inoxidável. Os separadores internos são construídos totalmente em plástico de engenharia (polipropileno) e
ocupam toda a área superficial do reator. Estes cuidados garantem a longa vida útil do equipamento quando
submetidos às condições do processo anaeróbio.
A Tabela 2 resume os requisitos básicos para o projeto de reatores UASB e IC.
Para ilustrar as diferenças na capacidade de tratamento entre os reatores anaeróbio UASB e IC apresentamos
o dimensionamento para os efluentes de uma fábrica de bebidas.
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Conclusões
O desenvolvimento do Reator Anaeróbio de Circulação Interna (IC) contribuiu para aumentar a viabilidade
de implantação do processo anaeróbio para o tratamento de efluentes de indústrias de bebidas, pois apresenta
as seguintes vantagens: menor área ocupada, menor suscetibilidade a produtos tóxicos/sobrecargas
orgânicas/choques de temperatura e pH e, principalmente, menor custo de implantação.
Nos últimos anos foram instalados cerca de 530 reatores IC em todo mundo, sendo 115 no Brasil e América
Latina. As indústrias de bebidas latino-americanas contam com 65 reatores IC: AmBev, Schincariol,
Cervejaria Petrópolis, Quilmes-Argentina, Bavária-Colômbia, CBN–Bolívia, FNC–Uruguay, Polar-
Venezuela, Kaiser, Pepsi-Cola, Cia. Muller, Refrigerantes Convenção, Rio de Janeiro Refrescos/Coca-Cola,
Backus – Peru, JV Mais, Vonpar, Brasal, Coca-Cola Argentina.
Referências bibliográficas
Driessen, W; Habets, L. e N. Groeneveld. (1.996). New development in the design of anaerobic sludge bed
reactors.
Presented at the 2ª Conference on Pretreatment of Industrial Wastewaters. October 16 – 18, Athens, Greece,
9 p.
Pereboon, J.H.F. e T.L.F.M. Vereijken (1.995). Methanogenic granule development in full scale internal
circular reactors. Wat. Sci. Tech. Vol. 30, nr. 8, pp.9-21.
Vereijken,T; Driessen, W. and Yspeert, P., Anaerobic Treatment of low, medium and high strength effluent in
the agroindustry,
Water Science and Technology, volume 40, N°8, (1999), 221-228.
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