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A Bahia viveu sob clima agitado durante boa parte da 1ª metade do século XIX, seja em
face das freqüentes manifestações da sua chamada “plebe livre” (movimentos em face
da carestia e as famosas e frequentes “Quarteladas”, etc.), seja em razão das violentas
revoltas dos negros escravos, o que muito preocupou e assustou as suas autoridades e
elites sociais; seja, ainda, pelas turbulências atinentes ao processo da Independência.
Aquele dia de agitações já começara com o barulho ininterrupto dos sinos das igrejas
que então chamavam o povo, em especial os membros das diversas irmandades, para
o encontro de protesto. Em vistosa e surpreendente passeata, logo após um ato
político no então centro religioso da cidade – o Largo do Terreiro de Jesus – os
representantes das irmandades religiosas, liderando o luxuoso cortejo com suas
tochas, cruzes e paramentos, partiram para frente do Palácio do Governo, situado a
alguns metros do citado largo, com o objetivo expresso de solicitar a imediata
suspensão da medida que permitia a exploração dos enterros pela iniciativa privada.
Em face da demora das negociações, no que pese a boa vontade inicial do Presidente
da Província em adiar a concessão dada, e entusiasmada com a receptividade popular,
a “procissão” tomou o sentido do cemitério, este construído em local razoavelmente
distante do centro da cidade (Matas da Federação) e objeto primacial da indignação de
todos os presentes. Há notícias, também, que um abaixo-assinado, contendo, inclusive,
assinaturas de “pessoas gradas”, a exemplo da rubrica do Visconde de Pirajá, havia
circulado na véspera dessa manifestação, já com 280 assinantes!
Eis uma matéria do Jornal do Comércio da época, relatando este interessante episódio:
“Eram duas horas, haviam 1.400 pessoas de povo, e ali se achava um escritório com uma linda
tabuleta que indicava a escritura do Cemitério ou da Sociedade. Eis que de repente caía sobre
ela uma nuvem de pedras que em dois minutos derrubou tudo, e dizem que as pedras tinham
sido levadas por uma porção de mulheres que ali estavam e que as trouxeram debaixo das
capas”.