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Processo nº 1761-1100/11-2
Parecer nº 141/12 CEC-RS
orçamento amparado por leis de incentivo. Prédios históricos são assim. Sua fruição estética é gratuita.
Sua presença por si só, representa uma mercadoria que não possui estimativa de valor pecuniário. Sua
presença só perdura ao tempo se ações de restauro e revitalização o mantiverem em pé, como
replicação de um preposto original que adquiriu valor incomensurável através dos tempos. A
revitalização do Chalé da Praça XV enquadra-se nas finalidades da Lei 13.490/10, necessitando do
apoio deste mecanismo de incentivo, sendo o prédio um patrimônio que ultrapassa os limites
municipais pela referência convergente à própria história do povo brasileiro”.
O objetivo geral do projeto (fl. 234), nas palavras do proponente, é de “manter vivo na
memória popular um fascículo da história de Porto Alegre e do povo rio-grandense, representado pelo
Chalé da Praça XV, através do restauro e revitalização de um dos seus mais importantes patrimônios
históricos, e por meio de visitação orientada onde os elos históricos com o passado recente sejam
restabelecidos”. Os objetivos específicos apresentados pelo proponente (fl. 234) são: “Valorizar,
reconhecer e proteger o legado histórico; Compreender a dimensão simbólica do Chalé da Praça XV e
seu entorno; Sustentar o processo de preservação do bem simbólico; Compreender a cultura como
direito social sendo o Estado um dos principais responsáveis pela garantia deste direito; Difundir e
promover o conhecimento acerca da história e cultura de um povo; Proporcionar a revitalização de
prédio histórico que atende ao resgate histórico e cultural do município e do estado do Rio Grande do
Sul; Promover a fruição cultural através da democratização do acesso ao bem cultural; Preservar,
defender e promover o patrimônio cultural material; Cumprir as leis de incentivo à promoção, defesa e
preservação dos bens culturais; Criar, fortalecer e qualificar espaços de diálogo sobre a visão hodierna
dos bens culturais; Fomentar o turismo urbano abrindo oportunidade de inclusão social; Perpetuar a
viabilização de um espaço cultural que é ponto de referência ao desenvolvimento urbano; Garantir
acesso universal aos bens culturais”.
A meta é a restauração do Chalé da Praça XV de Novembro, no município de Porto Alegre
(fl. 234-235); O cronograma e a metodologia empregados visando à realização dos propósitos que
constam no projeto (fl 235).
No Plano de divulgação, distribuição e ação sociocultural do projeto (fl. 236), constam a
contratação dos serviços de um fotógrafo; um assessor de imprensa; serviço de elaboração de peças
gráficas; elaboração de projeto de programação visual; publicação de um anúncio a ser veiculado em
uma oportunidade nos jornais Zero Hora, Correio do Povo e O Sul; elaboração de mil convites de
inauguração da obra de restauração; dez mil folders; quatro banners em lona, com dimensões de 1,20m
x 2,00m (onde constará que “o projeto está sendo realizado em parceria com a iniciativa privada e foi
viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado”); criação de um site eletrônico a ser
denominado de www.chaledapraçaxv.com.br.
O plano de distribuição dos convites inclui cem para a SEDAC, trezentos para os patrocinadores,
cem para a imprensa e quinhentos para representantes da sociedade e frequentadores do espaço (fl.
236). Os folders serão distribuídos da seguinte forma: mil exemplares para a SEDAC, quatrocentos e
cinquenta para os patrocinadores, dois mil e quinhentos serão distribuídos na inauguração, cinquenta
para o acervo do proponente e prestação de contas. Como o total é de dez mil exemplares, faltou
esclarecer o destino de seis mil exemplares.
O custo total previsto para a realização das obras de restauração do chalé e das ações culturais
propostas é de R$ 1.873.796,78 (um milhão e oitocentos e setenta e três mil e setecentos e noventa e
seis reais e setenta e oito centavos), cabendo R$ 358.221,14 (trezentos e cinquenta e oito mil e
duzentos e vinte e um reais e catorze centavos), para o proponente, 19,12%, e R$ 1.515.575,64 (um
milhão e quinhentos e quinze mil e quinhentos e setenta e cinco reais e sessenta e quatro centavos),
isto é, 80,88%, ao Sistema LIC (fl.239).
O Setor de Análise Técnica (SAT) do Sistema Pró-Cultura RS/LIC emitiu em 1º de agosto de 2011
o Parecer de nº 13/2011, informando que a documentação entregue não atendia as exigências do
sistema e que a documentação específica do projeto deveria ser apresentada até 8 de agosto. Foram
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prestados? e item 4.3. Assistente Geral de Implantação de Restauro e do Projeto. Pede o SAT que
sejam detalhadas as atividades que serão desenvolvidas no período de dez meses. Além disso, salienta
o SAT, o Curriculum Vitae do profissional apresentado, não apresenta formação e nem experiência
prática em obras de restauração de patrimônio cultural edificado. O SAT termina a diligência
lembrando o proponente de que nos anexos, “faltaram os projetos complementares (hidrossanitário,
elétrico, plano de proteção e prevenção contra incêndio, o PPCI e acessibilidade) e suas respectivas
ARTs”, curriculum vitae da empresa TLT Engenharia Ltda., comprovando experiência em obras de
restauração. O SAT percebeu que no projeto luminotécnico apresentado na prancha 12, não consta o
carimbo de visto da EPAHC. Encera a diligência o pedido do SAT de que seja apresentado o Contrato
de Permissão de Uso firmado entre a Prefeitura e o Permissionário.
No volume 2, aberto à folha 218 do processo em tela, no recurso apresentado pelo proponente, é
informado à folha 220, de que a cartilha e as visitas, assim como seus respectivos itens orçamentários
foram excluídos do projeto. Quanto ao projeto de comunicação visual, informa o proponente de que a
intenção é oferecer uma identidade visual ao Chalé, uma marca que o identifique, para ser aplicada em
material impresso e placas de sinalização interna e externa. Com a eliminação da cartilha, a intenção é
de criar um folder cujo conteúdo será desenvolvido pela Secretaria Municipal da Cultura, através da
Coordenação da Memória Cultural. No orçamento passa a constar os custos referentes à impressão dos
mesmos. O formato seguirá o do exemplar de peça gráfica apensado ao projeto. Já os mil convites,
serão distribuídos aos convidados para a inauguração, com a intenção de divulgar as ações do projeto.
Quanto aos banners, esclareceu o proponente de que serão colocados dois no interior e dois no exterior
do imóvel em tela. Quanto à colocação da placa comemorativa, foi retirada do projeto. O valor de
divulgação, que ultrapassava o limite, foi readequado, segundo informou o proponente. Quanto às
atribuições dos profissionais envolvidos no projeto de restauração, diz o proponente que: “Tanto o
coordenador geral de restauro quanto o supervisor de restauro (rubricas 2.16.1. e 2.16.2.), serão
encarregados, cada um conforme a sua habilitação, de supervisionar a obra e os aspectos e detalhes do
restauro, coordenando a execução de acordo com as plantas e projetos elaborados, controlando o
material a ser utilizado, supervisionando e executando tarefas de restauro propriamente dito,
verificando os prazos estipulados, avaliando os padrões de segurança, e todas as ações que venham a
compor a parte prática do restauro, assumindo as responsabilidades estipuladas ao seu ofício. O
Coordenador Geral de Implantação de Restauro e Projeto Cultural serão os responsáveis pelo
planejamento geral do projeto, contatos institucionais e operacionais com órgãos e entidades
governamentais, coordenação de cronograma geral, apoio à aquisição e controle de materiais referentes
ao restauro, em especial o planejamento, controle e execução financeira e a prestação de contas ao Pró
Cultura. Suprimiu-se a rubrica 1.2.23. e 1.2.24. por acharmos que as funções já estavam atribuídas a
outros profissionais”. Entre as folhas 226 e 227 constam as argumentações do proponente no que diz
respeito aos aspectos técnicos questionados pelo SAT. Quanto aos custos com a Assessoria Jurídica,
esclarece o proponente de que servirão para custear “o acompanhamento de todos os trâmites do
projeto, esclarecendo todas as dúvidas que possam surgir no decorrer do processo”. Já o Assistente
Geral de Implantação de Restauro e do Projeto, no caso, a Gaia Cultura & Arte, nas palavras do
proponente, “não irá atuar especificamente nas atividades técnicas do restauro, mas sim prestando
assistência geral na implantação do projeto, auxiliando na coordenação geral, controle e planejamento
de ações, aquisição e controle de materiais e em especial no controle de desembolsos e na organização
e execução da prestação de contas”. Finalmente afirma que apresentou os projetos complementares e
suas respectivas ARTs, bem como o curriculum vitae da empresa TLT Engenharia Ltda. e o Contrato
de Permissão e Uso firmado entre a Prefeitura Municipal e o permissionário. Um novo projeto
luminotécnico será coordenado e controlado pela EPAHC, que está desenvolvendo-o e cujos custos
serão custeados pelo proponente.
Entre as páginas 232 e 305, o projeto é reapresentado, incluindo as modificações ocorridas em
virtude da exclusão das visitas guiadas de escolas ao imóvel após a sua restauração e em virtude das
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informações prestadas pelo proponente, o que demandou a inclusão de um novo memorial descritivo
(fls. 261 a 271) e novas plantas (fls. 272 a 273), apresentado pela arquiteta Sílvia Benedetti, para
complementar aquilo que havia sido apresentado anteriormente (fls. 190 a 211). Foram apresentados
ainda o projeto de instalações hidrossanitárias, de autoria do arquiteto Nestor Faria Neto (fls. 274 a
278); de instalações elétricas, incluindo o projeto de lógica, som e CFTV, elaborado pelo engenheiro
Alexandre Scherer Freire (fls. 279 a 282), e também o Plano de Proteção e Prevenção contra Incêndio,
assinado pelo engenheiro civil João Daniel Xavier Nunes (fls. 283 a 288). Finalmente o proponente
apresentou o curriculum vitae do engenheiro Jefferson Messias e da empresa TLT Engenharia (fls. 290
a 302 e 303 a 305, respectivamente).
Na análise do recurso, a arquiteta Mirian Sartori Rodrigues da Secretaria de Estado da Cultura
encaminha à senhora Denise Viana a análise que fez do recurso impetrado pelo proponente,
constatando ainda a falta de complementação de alguns itens a serem considerados: falta de placa de
obra (em conformidade com a Resolução nº 015, de 21 de julho de 1937, em conformidade com o
Artigo 17 do Decreto 23.569, que regula o uso e tipo de placas profissionais: “Enquanto durarem as
construções ou instalações de serviços de engenharia ou arquitetura, de qualquer natureza, é
obrigatória a afixação de placas em lugar bem visível ao público, contendo, perfeitamente legíveis, os
nomes dos profissionais responsáveis pelo projeto, construção ou instalação, e a indicação dos seus
títulos de formatura, bem como a de seus escritórios”. A arquiteta Miriam questiona ainda os
procedimentos técnicos constantes no memorial descritivo nos itens 2.1.1.4., Recuperação do
revestimento do forro interno (cimento/cal/areia); 2.11.2.1. Restauro piso hidráulico (MO) e 2.11.2.2.
Restauro piso hidráulico (material), justificando inclusive os preços apresentados e ainda 2.14. Pintura.
Nos custos administrativos, entende a arquiteta Mirian que ainda há sobreposição de funções nos itens
4.2., 4.3., 4.5. e 4.6. No que diz respeito aos anexos, salienta a arquiteta Mirian que os projetos
complementares apresentados não foram aprovados pela EPAHC, conforme solicita documento
resposta às diligências. Também ela constata que falta a ART do projeto elétrico e que no PPCI não foi
anexado o protocolo do Corpo de Bombeiros. Quanto ao curriculum da empresa TLT Engenharia a sua
constatação é de que a mesma não comprova experiência em obras de restauração e não atende a
Decisão Normativa nº 75 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agrobomia, de 29 de abril
de 2005.
É o relatório.
levantamento fotográfico minucioso para fundamentar o diagnóstico a ser realizado. Sobre estes
documentos básicos é que se faz o diagnóstico que fundamentará o conceito da intervenção a ser
realizada. Explicitada a base conceitual, elabora-se então o projeto de restauração e apresenta-se a
estratégia a ser seguida, incluindo o memorial descritivo e a compatibilização dos projetos
complementares. Estas etapas não constam com clareza no projeto em tela. Soluções primárias e
inadequadas, detectadas e apropriadamente refutadas pelo SAT e pela arquiteta Mirian Sartori,
demonstram o que aqui afirma o parecerista. Até mesmo o evidente desconhecimento da existência de
empresas que fabricam peças de ladrilho hidráulico, contribui para salientar a falta de experiência das
pessoas citadas para responder tecnicamente pela restauração de obra de tal envergadura. Ter
atribuição para realizar uma obra de restauração é aspecto relevante, mas só isso não basta. É preciso
ter experiência, que é a garantia de que o resultado possa ser pelo menos satisfatório. Se não bastasse o
que é aqui afirmado, é preciso enfatizar que não constam do processo os currículos da arquiteta Sílvia
Benedetti e de Adriane de Souza Machado, intitulada “Restauradora de Bens Culturais”.
Por outro lado, o curriculum vitae do engenheiro Jefferson Messias e da empresa TLT Engenharia,
permitem afirmar, com total convicção, que também não possuem experiência em obras de tal
natureza. Restauração é muito diferente de reforma. Só para exemplificar, a primeira requer cuidados
especiais na proteção de elementos arquitetônicos significativos, aspectos pouco relevantes em uma
simples reforma. Também o cuidado em retirar peças para serem reaproveitadas, realizar
procedimentos que envolvam a adoção e até recuperação de técnicas tradicionais, são pouco
consideradas nas reformas. Assim, preocupa-nos de sobremaneira aquilo que o projeto em pauta deixa
antever.
Por outro lado, merece consideração a aplicação de recursos oriundos do Sistema Pró-Cultura no
projeto em análise. No ano passado o Largo Glênio Peres passou por obras financiadas pela iniciativa
privada. Tais obras visaram revitalizar o entorno do Chalé, incluindo a construção do novo anexo do
Restaurante Boccado, estabelecimento comercial que explora o imóvel tombado pelo município aqui
tratado. Pergunta-se, por que não foi incluído o chalé naquelas obras? Por que o município de Porto
Alegre, proprietário do imóvel de valor cultural, não gestionou junto ao patrocinador das obras citadas
para que nelas incluísse o chalé? E os recursos arrecadados com o aluguel do imóvel, por que não
foram investidos na conservação do chalé ao longo do tempo, evitando que viesse a chegar ao grau de
deterioração atual? O Setor de Análise Técnica na sua diligência solicitou, e o proponente não
esclareceu: “enfatizar as ações que promovam o acesso ao público em geral e apresentar plano de
sustentabilidade do empreendimento, identificando o responsável pelas despesas, fontes de recursos,
programas de manutenção da edificação, programação cultural e responsabilidade ambiental”. O chalé
foi restaurado no início dos anos noventa do século passado, sob projeto realizado pela engenheira Rita
Patussi e obras coordenadas pela mesma. Vinte anos depois precisa de nova intervenção radical. Neste
período todo, quais as ações de manutenção e conservação realizadas? E o recurso arrecadado com o
uso comercial do mesmo, nada rendeu no sentido de evitar novas deteriorações? É pois pertinente a
preocupação do SAT. Todas as perguntas e constatações acima apresentadas nos permitem refletir
sobre a aplicação de recursos da LIC e concluir que, nas condições apresentadas, é inoportuna, ainda
que seja salientado o mérito de sua restauração e a relevância que se reveste o imóvel.
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, optou por: votar ( ), não votar (X) ou
desempatar ( ).