Vous êtes sur la page 1sur 6

Cisne Branco?!

Relato de caso

Taisa M.Canabarro

Formação: Pedagogia Habilitação Educação Infantil - Especialização: Metodologia do Ensino Religioso


Escolar e Psicopedagogia Institucional (em fase de conclusão) - Curso de aperfeiçoamento:
Psicopedagogia Clínica e Practitioner em Neurolinguística - Discente: Pedagogia Habilitação Supervisão
Escolar

E-mail: : taisaccc@yahoo.com.br

Resumo:

Cisne Branco?! É um relato de caso que fala sobre um menino que possui necessidades sócio-
educativas. Contado por uma profissional da educação que se coloca em duas funções diferentes para
tratá-lo, uma é a função de professora de educação infantil e a outra é como psicopedagoga clínica.
Com certeza é uma história que merece a analogia representada no título do artigo.

Um pouco de história...

Vamos conhecer um pouco da história de João, um menino de cinco anos de idade que
freqüentando a Educação Infantil de uma escola elite, demonstra necessidade de auxílio para
desenvolver-se socialmente e cognitivamente.

Para isso, João ficou dois anos no nível II da Educação Infantil. No primeiro ano, trabalhou-se
como prioridade à socialização, pois a agressividade era uma constante. Não se envolvia com nada a
não ser em “destruir” e “judiar” como ele mesmo dizia. Já no segundo ano, com a etapa da socialização
vitoriosa, trabalhou-se então como prioridade o brincar e o cognitivo.

Nesta história, encontro-me e duas situações. Como professora de João por dois anos
consecutivos e como psicopedagoga no segundo ano.

Antes mesmo de João nascer, sua vida já era bastante conturbada. Filho de pais com idade
avançada, mãe depressiva, pais sendo encaminhados para Escola de Pais, encaminhamentos a
neurologista, desde os dois anos de idade devido a percepção do pediatra que sabia que ele era uma
criança diferente mas não sabia no que ( e até hoje não se sabe ao certo). Enfrentou a morte repentina
do pai, que fez a agressividade aumentar e a relação mãe e filho era bastante doentia. João ao entrar
na escola, foi encaminhado a terapia com psicóloga e psiquiatra, que constatou depressão infantil,
tomou Trofanil por um curto período, no qual permanecia mais tranqüilo e quando se agitava a dose
era aumentada.

Encontros Psicopedagógicos

Devido a faixa etária e a própria necessidade, as sessões ocorreram através do ludodiagnóstico,


pois o brincar leva o sujeito em direção ao que há de saudável, leva-o a cura. Sendo assim, iniciamos
com a caixa lúdica e a cada encontro modificava algum material que a compunha, como sucata e bola
de diferentes tamanhos.

Tempo depois, utilizou-se a família terapêutica e os testes projetivos de Jorge Visca. Mais
adiante vieram os materiais de contagem, algum jogo fabricado como o dominó de madeira e por fim as
atividades psicomotoras. Como veremos a seguir.

Desde o primeiro encontro procurei tomar uma postura cautelosa como diz Lúcia Weeis, a fim
de evitar ao máximo os fenômenos de contratransferência e transferência que surgem facilmente na
relação terapeuta e paciente.

Caixa Lúdica

A caixa lúdica pouco representava para ele, pois não queria tocá-la e quando conversa sobre o
que poderia ter lá dentro, só dizia –“não sei” inúmeras vezes. Já era quase final da sessão quando na
ponta dos dedos e com o corpo bem afastado ergueu alguns poucos centímetros da tampa espiou e
disse o que via, “bola, hã hã hã...”então perguntei –“o que podemos fazer com isso?” resposta: “Não
sei!” Assim encerrou a primeira sessão.

Nas demais sessões com a caixa, fui alterando seu conteúdo. João geralmente reagia com
poucas palavras, o “não sei” era uma constante. Até que na quarta sessão começou a chegar sorridente
disposto e discretamente, a partir de meu convite, abria a caixa. E assim passou a fazer pequenas
experiências e a criar situações primárias utilizando pratos e copos de papel e plástico. Quando retirou
este material da caixa imaginava que iria brincar de servir almoço por exemplo, mas não, João
observou que havia balões desenhados no prato e brincava de pegar balões com o copo. Aí começou a
aparecer sua fala, e com ela, algumas noções matemática como: tamanho, dentro/fora, muito/pouco,
seleção, correspondência e até associações. Assim, a alegria mútua estava presente nestes encontros.

Antes dele escolher objetos diferentes da caixa, costuma primeiro brincar com o que já
conhecia, como o pratinho, o copo, a caixa de fósforo entre outros.

È importante lembrar que João esta repetindo o nível II, e que o faz-de-conta ainda não
apareceu explicitamente. Apenas faz experiências primárias e experimenta sensações.

O “não sei” se repetia na tentativa de prender a atenção do adulto em si. Este era um meio de
fazer com que sempre houvesse alguém por perto e que seu olhar fosse exclusivamente seu.
Lentamente foi se “desarmando” e viu que quando respondia algo solicitado corretamente recebia um
sorriso de aprovação e percebeu que esta também era uma maneira, porém positiva, de ter o olhar do
adulto sobre si, e o “não sei” foi ficando para trás.

Os avanços que ocorreram em relação ao raciocínio lógico, também foram observados


simultaneamente em sala de aula, onde sempre sorria demonstrando satisfação e segurança ao
perceber que conseguia realizar com sucesso certas atividades propostas em aula.

Família Terapêutica e Técnica Projetiva – Jorge Visca

Estes encontros com a família terapêutica e o respectivo registro, foram para mim os de maior
significado, e foi onde a criança mais demonstrou avanços em diferentes aspectos de seu
desenvolvimento.

Nesta sessão, a família terapêutica estava disposta dentro da caixa lúdica, João abriu-a com
curiosidade, o primeiro fantoche que ele toma em sua mão é o que representa o pai. Com esta atitude,
demonstrou já ter elaborado, simbolizado a perda do pai com a ajuda do tratamento psicológico. Depois
buscou a figura da mãe. Eu me inclui, então peguei um fantoche que representava uma menina, ele
aceitou-me e pegou um menino. Pela primeira vez nas sessões, espontaneamente construiu, imaginou e
surgiu o faz-de-conta.

Em outra ocasião, utilizei a técnica projetiva familiar de Jorge Visca – “Família Educativa”, que
consiste no desenho que a criança faz sobre sua família, utilizando sulfite 60, canetão e lápis de cor.
Neste teste pode-se observar o vínculo de aprendizagem com o grupo familiar. Porém, há uma ressalva,
o uso do desenho com crianças pequenas podem oscilar quanto ao significado, pois elas mesmas podem
atribuir diferentes versões para um único registro.

Mas o fato é que João surpreendeu-me novamente. Sentou-se corretamente na cadeira,


escolheu o material que iria usar, baixou a cabeça, concentrou-se e fez o registro de uma forma que
nunca havia realizado em praticamente um ano e meio de nível II. Primeiro se desenhou, depois fez sua
mãe. Em seguida, foi completando paralelamente os braços, pernas mãos e pés, ficou faltando o rosto.
Coloriu com perfeição e no final fez algo que chamou de contorno, com canetão verde fez um círculo ao
redor do desenho com inúmeros riscos perpendicular sobre ele, como se fosse uma “cerca”, isto às
vezes também faz em sala de aula (quando decide desenhar). Este registro ficou exposto em sala de
aula por algum tempo.

Durante a realização do desenho, apresentou-se independente e com certa autonomia, quando


necessário, levantava apontava o lápis levava no lixo e procurava algum material desejado em outros
lugares. Procurou caprichar, media cada traço feito sobre o contorno para que eles ficassem iguais,
buscou a perfeição, avançando também quanto a noção de disposição espacial.

Realmente foi algo surpreendente. Mas pergunto-me por que esse avanço se deu só durante as
sessões e em sala de aula ainda não ocorreram? Será que isto está ligado a minha atenção que à tarde
é dividida entre quinze crianças e de manhã é unicamente dele?

Para concluir esta atividade propus que ele observasse seu desenho e me contasse uma história
sobre ele.

A história era bastante triste, parecia revelar a necessidade de que alguém o tirasse de um
lugar desolado e trouxesse-o para a vida. Um trecho que me impressionou diz assim: “ Ela (mãe) quase
se afogou na piscina, ninguém veio socorre-la...tem que pegar a vassoura e puxar ela da piscina. Eu
perguntei - Quem vai fazer isso? Resposta - Tu faz isso prô! Então dramatizando tirei a menina de
dentro da piscina ele sorriu e terminou a história.”

Observa-se que nesta prática diagnóstica, foram vivenciados os aspectos: afetivos, cognitivos ,
corporais e pedagógicos. Surgindo também, o que é próprio do teste VISCA o que há de afetivo
inconsciente, neste caso, o que diz respeito ao se afogar e sobre salvar, como apareceu na história que
criou. Estas colocações foram passadas para a psicóloga.

Corpo em movimento

A aprendizagem acontece no corpo. Este é o principal meio de intercomunicação, é o primeiro


instrumento que a criança se apodera para captar referências estimulantes as quais passa ancorar
novos conhecimentos.

Winnicott, Maturana e Levin colocam a fundamental importância do toque materno. A relação


mãe e filho deve ser de mútua aceitação, para que haja um desenvolvimento psíquico e corporal sadio
de seu filho. Os movimentos corporais da criança quando não inibido, pode representar prosperidade na
construção da autoconsciência e da consciência social do indivíduo.

Esta relação de aceitação e respeito entre mãe e filho, não ocorreu em sua plena forma.
Possivelmente por isso, a questão do desenvolvimento corporal (esquema, imagem, movimento,
controle e agressividade) ocorreu com muita dificuldade.

Durante os dois anos de nível II, seus movimentos apresentavam-se de maneira brusca, forte e
rígida. Levou meses para vê-lo correr e realizar as mesmas atividades motoras que seus colegas. João
participava destes momentos de forma introspectiva, lenta e insegura. Eventualmente completava os
exercícios e conseguindo ou não, sempre abria um sorriso de satisfação. Os colegas percebiam que ele
tinha dificuldade, as meninas com toda paciência o ajudava, já os meninos não davam tanta atenção e
evitavam sua companhia para jogar bola, por exemplo.

Conforme foi sentindo segurança no grupo, na professora e no próprio ambiente escolar, foi
buscando desafios. Praticamente aos seis meses de aula, foi quando conseguiu, pedindo auxílio à
professora, enfrentar as escadas que davam para o escorregador da pracinha.

Assim, ao brincar, lentamente foi descobrindo que podia vencer barreiras interiores, foi
descobrindo seu corpo e foi construindo relações espaciais ao passo que dominava suas ações.

No dia seguinte, estava mais solto, era possível vê-lo correndo o tempo todo, mesmo que seus
passos fossem mais curtos do que suas pernas o possibilitassem, projetava o peito e a cabeça muito a
frente, sendo que seu peso fica desproporcionalmente distribuído sobre sua coluna.

Encantou-se com o carrinho-de-mão e o pé-de-lata. Adora empurrar os colegas sobre o carrinho


de madeira. Isto fez com que os meninos se aproximassem dele para brincar. Aprender (por iniciativa
própria) a andar de pé-de-lata foi algo que lhe trouxe alegria e prazer.

Com um olhar sedento me dizia: “Prô me ajuda?” e lá íamos nós dois. João levou muito tempo
para conseguir apenas equilibrar–se sobre as latas, novamente projetava o tórax e a cabeça para frente
e as pernas ficavam enrijecidas. Ele persistiu, dia após dia, até conseguir andar pequenos trechos,
quando caia, levantava e continuava em frente. Os colegas acompanhavam vibrando com sua conquista.

Neste mesmo período, durante os encontros psicopedagógicos, João chegava na sala e nem
olhava para caixa lúdica, a primeira coisa que fazia era pegar o pé-de-lata e andar um bom tempo
olhando para mim, buscando a valorização de que tinha conseguido, então dizia: “Olha não preciso mais
de ajuda!” Este momento era de fundamental importância que eu o incentivasse, pois esta era a
oportunidade da criança confiar em si e em suas habilidades, para que se desenvolvesse a auto-
aceitação, valorização e o respeito.

Durante as sessões, ele não se envolvia tanto com as atividades psicomotoras quanto se
envolvia durante à tarde com os colegas.

O esquema corporal (o que identifica o indivíduo enquanto espécie) bem como a imagem
corporal (o que identifica o sujeito enquanto ser único e incomparável) segundo Esteban Levin, ainda
está em fase de construção. Pois existe algumas preocupações, uma delas está em relação ao saltar de
um lugar para o outro e saltar sem sair do lugar levantando os dois pés do chão.

Sua relação com...

..linguagem falada

A linguagem oral evoluiu consideravelmente.

No início, o pensamento era exposto de forma desorganizada, falava pouco e observava muito.
A partir do momento em que despertou o interesse por tudo o que o cercava, soltou a voz, tornou-se
questionador, falava o tempo todo. Logo se observou a necessidade de alguns ajustes, pois ora omitia,
ora substituía alguns fonemas. Então foi feito o encaminhamento a um profissional da fonoaudiologia.

...linguagem escrita

Com o tempo, João aprendeu a apreciar o mundo dos livros, principalmente os que tratavam de
animais.

Ao folhar as páginas de um livro, passava os dedinhos sobre as frases e “lia”, criava a sua
história, mas nunca fez associação de alguma letra com as letras que compunham seu nome.

A escrita de seu nome ocorreu através de um processo longo.

...a lógica-matemática

Durante os encontros, foram aplicados alguns testes referente ao princípio de contagem como:
correspondência termo a termo, ordem constante dos números e cardinalidade.

Na primeira vez que foi aplicado, ainda não fazia correspondência termo a termo e havia voltado
a dizer “não sei”.Interferi, procurei indicar caminhos, mas neste dia realmente não estava disposto.
Retomamos mais adiante, e o resultado do teste mostrou que João havia compreendido estas noções.

...registros

Aqui residiu uma preocupação, tanto na sala de aula quanto nas sessões.

Em sala de aula João demorou muito a se interessar pelos registros. Apenas explorava seu
material. Os colegas notavam a diferença em seus trabalhos e diziam: “prô! olha o do João que feio!” e
ele dizia “não tá feio não!” Aí era minha vez de interferir. Esta observação por parte dos colegas
também ocorria quando realizávamos técnicas onde praticamente todos os registros ficavam com uma
estética bela, aí então eles o elogiavam, e por sua vez, vibrava e sentia-se entusiasmado para realizar o
próximo trabalho. Este processo ocorreu de forma muito lenta e até desgastante, pois este objetivo
prevista para o nível II estava um tanto distante.

Já durante os encontros isso ocorreu mais facilmente, como citei anteriormente quando
falava da técnica projetiva de Jorge Visca. Neste momento tinha toda minha atenção, logo fazia tudo
com perfeição, ficando feliz com o que havia produzido.

Questionei-me inúmeras vezes por que nas sessões os registros apareciam com naturalidade
e á tarde, em sala de aula isso não ocorria. Uma hipótese é novamente a necessidade de ter o olhar do
adulto só para si, sem querer dividir com os demais, só que pergunto o por que disto se em outras
situações, como o pé-de-lata, ele já havia se autorizado em sala de aula. Como posso seguir a diante?
Em fim, há muitas perguntas e respostas para investigar...

Para pensar...

Ao longo da caminhada, pode-se afirmar que houve uma transformação. Há quem diga que viu
um cisne branco. Eu digo, que realmente o menino deste caso passou por uma metamorfose, e que
ainda há muitas arestas, e que a estrada continua.

João precisava recuperar a capacidade de brincar. A relação mãe e filho precisa ser restabelecida
e reestruturada, a ponto de ter total aceitação um do outro em todos os seus aspectos. Dentro de
alguns meses, retomarei o trabalho com este menino, enquanto isso digo que...

“No início, João só agredia, não conseguia me aproximar.

Então comecei a tocá-lo pelo olhar, depois pelas palavras, e por fim pelo tato.

Por sua vez, permitui-se ser tocado e passou a tocar pelos mesmos canais! João aprendendo pelo afeto
e pelo brincar, despertou para a VIDA!”

Referencial Bibliográfico:

FERNADEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada. POA: Artes Médicas, 1990.

WEISS, Maria Lúcia. Psicopedagogia Clínica. Uma visão diagnóstica dos, problemas de aprendizagem
escolar.RJ: DpeA editora, 2003.

LEVIN, Esteban. A Clínica Psicomotora. O corpo na linguagem.RJ:Vozes, 2001.

GOLBERT, Clarissa. Jogos Matemáticos 1 Athurma Quantifica e classifica. POA: Mediação, 2002.

MATURANA, Humberto e ZOLLER, Gerda. Amar e brincar Fundamentos esquecidos do humano. SP:
Palas Athena, 2004.

Publicado em 05/11/2009

Vous aimerez peut-être aussi