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24/10/2018 Lamber o brinco e jogá-lo no chão: o ritual erótico de um povo indígena - Blog Pagina cinco - UOL

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Lamber o brinco e jogá-lo no chão: o ritual erótico de um povo indígena
Rodrigo Casarin
23/10/2018 11h42

Cabia às mulheres, principalmente se eram amantes, tomar a iniciativa para o sexo entre os Wari'. O ritual erótico
consistia em puxar "o pedaço cilíndrico de madeira que servia de brinco ao rapaz", lambê-lo e jogá-lo no chão, ou
então fazer "cosquinhas" nas costas do homem desejado. O moço, então, dizia que ia pro mato cortar lenha. Tempo
depois, a amante arrumava alguma desculpa e tomava a mesma direção. Tinham por lá, o homem sobre a mulher, que
ocasionalmente reclamava dos espinhos da mata. "As esposas, por sua vez, desconfiavam que os maridos tinham
amantes quando o ato sexual demorava mais do que o costume"; na verdade, "gostavam quando o marido ejaculava
rapidamente".

Retiro esse traço cultural dos Wari', povo indígena amazônico, de "Paletó e Eu – Memórias de Meu Pai Indígena", escrito
por Aparecida Vilaça e recém-lançado pela Todavia. Aparecida conheceu os Wari' na década de 1980, quando iniciava
os estudos de campo para sua formação como antropóloga. No volume, fala sobre os hábitos desse povo a partir da
relação de amizade e cumplicidade que construiu com Watakao', o Paletó, que passou a ser o seu pai indígena.

CARTAS ESCRITAS POR MANDELA NA PRISÃO SÃO EXEMPLOS DE AFETO E RESISTÊNCIA

https://paginacinco.blogosfera.uol.com.br/2018/10/23/lamber-o-brinco-e-joga-lo-no-chao-o-ritual-erotico-de-um-povo-indigena/ 1/7
24/10/2018 Lamber o brinco e jogá-lo no chão: o ritual erótico de um povo indígena - Blog Pagina cinco - UOL

O grande mérito da autora em "Paletó e Eu" é apostar numa narrativa agradável e nem um pouco academicista CONTA UOL
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para apresentar ao eleitor elementos da cultura dos Wari'. Um exemplo: "Falar livremente sobre sexo é uma
característica dos Wari' e, pelo que contam meus colegas antropólogos, de muitos outros grupos indígenas", escreve a
autora. Além disso, a obra mostra como a vida desses povos mudou nas últimas décadas por conta do contato com o
homem branco, uma relação marcada pelas trocas e pelas imposições.

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Watakao', o Paletó, em foto de Aparecida Vilaça.

Se antigamente os Wari' não sabiam fazer fogo e precisavam carregar uma tocha acesa por onde iam, isqueiros e
fósforos foram apresentados como tecnologias milagrosas. Por outro lado, suas moradias passaram a ter que ser
trancadas por conta da violência e, se antes a caça ou a pesca eram prontamente distribuídas aos parentes próximos e
às crianças, agora os pedaços de carne arranjados pelos membros da tribo são comercializados por quilo aos vizinhos
e até para os familiares.

"A paz que se supõe dar hoje a tônica da relação dos Wari' com os brancos é muito tênue, pois a tensão aflora em
várias ocasiões desse convívio. No comércio da cidade, os Wari' são estigmatizados por sua aparência e dificuldade
com a língua portuguesa. Em algumas ocasiões recentes, seringueiros entraram à noite em aldeias wari' situadas nas
margens de sua reserva e os ameaçaram com armas, causando tanto pânico que uma das aldeias, Ocaia II, foi
abandonada", escreve Aparecida, evidenciando o quanto a questão indígena no país carece de atenção e boa vontade
de todos, mas principalmente das autoridades.

DEMOCRACIA PODE ACABAR ANTES QUE O BRASIL CONSIGA REALMENTE IMPLEMENTÁ-LA

A própria história de Watakao' é um exemplo desse choque entre povos. A partir da década de 1940, acirraram-se os
conflitos entre indígenas e seringueiros, que, armados com espingardas e metralhadoras, passaram a invadir terras
com grande sanha. Por volta de 1955, Watakao' sobreviveu a um ataque que dizimou quase toda a sua família. Durante
trinta anos o indígena viveu longe dos homens brancos, a não ser quando estes apareciam para atacar o seu povo.

Numa ocasião de contato mais amistoso, sua vida começou a mudar radicalmente. Foi aí que ganhou seu apelido,
inclusive. "Viu o chegar dos brancos, as doenças, as comidas estranhas e as roupas. Contam que depois de rejeitar se
cobrir com o que lhe ofereciam, finalmente encantou-se com um paletó, e o adotou sobre o seu corpo nu. Foi quando
ele, que se chamava Watakao', passou a ser conhecido por Paletó".

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Aparecida e Paletó, o seu pai indígena. Foto: Carlos Fausto.

Faz parte desse contato de Paletó com o homem branco, claro, a relação que construiu com Aparecida. São ótimos os
momentos do livro em que ele aparece na casa da antropóloga no Rio de Janeiro, descobrindo a metrópole. Ao ir ao
zoológico, fica impressionado em saber que ninguém comia aqueles animais. São muitos os choques e descobertas.
"As pessoas aqui não dormem?", questiona ao reparar que algumas luzes da rua e de prédios nunca se apagam.
"Como é possível um lugar sem sombras?", surpreende-se ao visitar uma exposição. "Ele vai morrer e você não se
preocupa?", assusta-se ao ver o enteado de sua "filha" surfando.

ESTÁ NA HORA DE TERMOS UM GOD OF WAR ASSINADO POR NEIL GAIMAN

Aparecida começou a escrever o livro assim que soube da morte de seu pai indígena, há dois anos. Segundo o ritual
fúnebre wari', o corpo de Paletó deveria ser velado e na sequência assado e servido para que os membros da tribo
pudessem comê-lo. "Ao comerem, os não parentes mostravam aos enlutados que um cadáver não é mais gente, e que
por isso podia ser comido. Davam início, assim, ao longo processo de elaboração do luto por parte dos parentes, que
culminava com a capacidade de adotarem, eles também, a perspectiva dos não parentes, dos comedores, eliminando
de sua memória a visão humana do morto", explica a autora.

O próprio Paletó tinha certa dificuldade com esse ritual. Dizia que carne de gente, assada após algum tempo da morte
da pessoa, ou seja, já com o corpo em início de decomposição, apresentava um cheiro muito forte. No entanto, seu
destino acabou sendo outro. Convertido ao cristianismo após a chegada da igreja ao povoado, pediu para que não
fosse assado e comido, mas enterrado, assim poderia ir para o céu evangélico. Mais uma marca do choque de cultura
entre indígenas e o homem branco.

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S O B R E O AU TO R

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às
pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

S O B R E O B LO G

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras
miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.

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D_azevedo
 32 minutos atrás

Que belo texto, que depoimento sensível sobre a nossa humanidade em todas as suas semelhanças e diferenças...quero ler este livro. Parabéns à autora e ao
jornalista, pela bela reportagem.
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Era das fake news? Estamos vivendo a “Era da Burrice”, isso sim
Rodrigo Casarin
19/10/2018 10h23

Uma das grandes notícias falsas dessa eleição.

"Sem fatos consensuais – não os fatos alternativos do mundo repleto de bolhas de hoje -, não há a possibilidade de um
debate racional sobre políticas, nem meios substanciais para avaliar candidatos a cargos políticos ou exigir que
governantes eleitos tenham que prestar contas ao povo. Sem verdade, a democracia é tolhida".

É dessa forma que Michiko Kakutani encerra o seu "A Morte da Verdade" (Intrínseca). Michiko, que foi durante 34 anos
uma das principais críticas literárias do New York Times, parte da ascensão política de Donald Trump para analisar
como "o descaso pelos fatos, a substituição da razão pela emoção, e a corrosão da linguagem estão diminuindo o valor
da verdade". Para falar sobre a manipulação de informações a autora se apoia em estudos, análises de discursos,
passagens históricas e em livros de escritores como George Orwell e David Foster Wallace. Entram na sua mira não
apenas as óbvias redes sociais, mas também como a literatura, a TV, a política e o mundo acadêmico contribuíram para
o cenário preocupante que temos hoje.

CARTAS ESCRITAS POR MANDELA NA PRISÃO SÃO EXEMPLOS DE AFETO E RESISTÊNCIA

Olhando ao nosso redor, não é difícil constatar como caminhamos para o calabouço que Michiko desenha no ensaio.
Se lá fora há quem se aninhe em dados falsos para negar o aquecimento global, aqui falam em tirar o Brasil do Acordo
de Paris e em desmatar ainda mais a Amazônia. Se lá fora um exemplo de manipulação histórica com desprezo pelos

https://paginacinco.blogosfera.uol.com.br/2018/10/23/lamber-o-brinco-e-joga-lo-no-chao-o-ritual-erotico-de-um-povo-indigena/ 5/7
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fatos é o revisionismo do Holocausto, aqui caminhamos a passos largos – dados inclusive pelo ministro Dias Toffoli –
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para tratar a ditadura civil-militar que vigorou no país entre 1964 e 1985 por qualquer outro nome que não seja o único
que lhe cabe: ditadura.

Se lá fora a Rússia está por trás da manipulação digital de eleições como as dos Estados Unidos e do plebiscito do
Brexit, aqui já sabemos que apenas 4 das 50 imagens sobre política mais replicadas no WhatsApp são verdadeiras e
que4 empresários estão investindo milhões de reais para que informações – parte considerável delas falsas – contra
determinados partidos e a favor de certos candidatos sejam amplamente difundidas.

"A verdade é um dos pilares da democracia. Como observou a ex-procuradora-geral interina Sally Yates, a verdade é
uma das coisas que nos separam de uma autocracia: 'Nós podemos – e devemos – debater políticas e questões, mas
esses debates devem se basear em fatos em comum, e não em apelações baratas à emoção e ao medo na forma de
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mentiras e uma retórica polarizante", registra Michiko.

Por aqui, a impressão que tenho é que muitas pessoas não se importam mais com a verdade ou com a democracia;
preferem ter "fé" de que quem vive colocando o regime democrático na berlinda não terá coragem de abalá-lo,
preferem acreditar em babaquices confortáveis, o que muitas fazem vezes de maneira deliberada. Se realmente há
quem não consiga notar quando está diante de uma evidente mentira, impressiona a quantidade de pessoas
supostamente esclarecidas que prontamente identificam algo inventado que vá contra as suas próprias convicções,
mas que sempre abraçam e compartilham estúpidas e grosseiras falsificações que atacam o lado oposto ao de suas
ideias.

Voltando ao livro e a Trump – um modelo do que vem acontecendo em diferentes escalas em várias partes do mundo -,
ele chegou ao poder impulsionado por um eleitorado frustrado com a situação política de seu país e abalado por uma
forte crise financeira. Em sua campanha apostou em mentiras, em divulgações maciças de fake news, e quando
assumiu a Casa Branca a prática se manteve. O desprezo por informações o levou a solicitar aos seus auxiliares que
lhe apresentem somente notícias elogiosas e apenas dados que confirmem suas convicções, mesmo que sejam
forjados exclusivamente para tal.

DEMOCRACIA PODE ACABAR ANTES QUE O BRASIL CONSIGA REALMENTE IMPLEMENTÁ-LA

O ensaio recorda que, poucos dias antes de Trump assumir a presidência, alterações sobre mudanças climáticas já
estavam sendo feitas no site da Casa Branca. Depois, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos anunciou
que sua página estava "passando por mudanças que refletem a nova direção da agenda". Como escreveu George
Orwell, conforme recorda Michiko, é "atualizar a linguagem para refletir a abordagem dos novos líderes". O mais bizarro
é que muitos dos eleitores de Trump batem palmas e defendem atitudes do tipo, dane-se a ciência e a verdade. Não é
difícil vislumbrar até onde líderes que desprezam completamente o conhecimento podem nos levar: ao caos.

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24/10/2018 Lamber o brinco e jogá-lo no chão: o ritual erótico de um povo indígena - Blog Pagina cinco - UOL

Estamos vivendo um tempo em que toda a nossa base para o diálogo, a troca de ideias e o avanço da própria CONTA UOL
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civilização estão sendo deixados de lado por uma parcela significativa das pessoas. Ignorando que existe um saber
estabelecido não pela truculência ou pela imposição, mas por fatos concretos e análises científicas apresentadas por
quem está realmente comprometido com a ciência, não conforme interesses de governos ou indústrias, muitos andam
escolhendo a mentira que mais lhe conforta. Protegidos pela própria bolha, vivem em mundos fantásticos que não
possuem compromisso algum com o real, acreditando que o celular em suas mãos seja o oráculo do mundo. Se o
século
4 20 foi chamado por Eric Hobsbawm de "Era dos Extremos", acho que o século 21 já pode ser chamado de "Era
da Ignorância". Ou "Era da Burrice", para ser mais claro.

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