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1 Introdução
Entende-se por segurança no trabalho todas as medidas e formas de proceder que visem à
eliminação dos riscos de acidentes no trabalho. A segurança atua sobre trabalhadores,
máquinas e instalações, levando em conta todos os pormenores relativos à atividade humana.
As condições de trabalho dentro da empresa determinam os níveis de segurança e as medidas
de prevenção contra acidentes.
Segundo as leis brasileiras, acidente de trabalho é todo aquele que acontece no exercício do
trabalho, provocando, direta ou indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional, doença
que determine a morte, perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho. Segundo Iida (2005) um dos fatores que colaboram para o agravamento destes
custos em atividades ou tarefas ocupacionais é o ruído.
Destaca-se que o ruído causado por operações em construções e demolições tem sido objeto
de estudo, esta preocupação tem sido causada pelo reconhecimento de fatores e de um número
importante de características do ruído proporcionado por atividades na construção civil,
acentuando as queixas da comunidade para redução dos problemas relativos aos mesmos
(RELACUS, 2010).
Desta forma o objetivo principal deste estudo foi analisar os níveis de ruído dentro de um
canteiro de obras, aos quais trabalhadores de diferentes cargos estão expostos, e analisar se os
trabalhadores estão protegidos adequadamente quanto ao ruído.
2 Revisão bibliográfica
2.1 Níveis de pressão sonora
Uma variação praticamente infinitesimal da pressão do ar provoca a sensação de audição,
desde que a freqüência da vibração esteja compreendida na faixa de 16 a 20.000 Hz; faixa
chamada de audiofreqüência (FUNDACENTRO, 1983). O sistema auditivo consegue ouvir
variações da pressão do ar 10 milhões de vezes superiores ao valor limiar de audibilidade,
estendendo-se numa faixa de aproximadamente 0,00002 Newton/m² a 200 Newton/m². Além
disso, pretende-se não apenas medir as variações de pressão, mas também ter uma idéia da
sensação humana quando o ouvido é exposto, dentro da faixa de audiofreqüência, a diferentes
pressões sonoras que o estimulam.
Segundo Saliba (2004), o nível de pressão sonora determina a intensidade do som e representa
a relação logarítmica entre a variação da pressão (P) provocada pela vibração e a pressão que
atinge o limiar de audibilidade. Através de pesquisas foi descoberto que o limiar de
audibilidade como sendo de 2 x 10-5 N/m². Desse modo, convencionou-se este valor como
sendo o nível de pressão de referência utilizado pelos fabricantes dos medidores de nível de
pressão sonora, ou seja, 0 (zero) dB. O limiar da dor ocorre quando a pressão sonora atinge o
valor de 200 N/m², que corresponde a 140 dB. Nesta condição, a pessoa exposta começa a
sentir dor no ouvido.
O Nível de Pressão Sonora NPS (Sound Pressure Level – SPL) em um determinado ponto do
espaço é uma grandeza relativa, tendo como referência o valor de (P0) = 20 MPa (2 x 10-5
N/m2), sendo expresso em decibel dB. O valor de (P) que é o quadrado da média de variação
da pressão sonora é proporcional à Intensidade Sonora, O decibel é uma relação entre duas
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grandezas variáveis. No caso do NPS, a pressão de referência é, por convenção 2 x 10-5 N/m²
(FUNDACENTRO, 1983).
2.2 Ruído
Do ponto de vista de Higiene do Trabalho, o ruído é o fenômeno físico vibratório com
características indefinidas de variações de pressão (no caso ar) em função da freqüência, isto
é, para uma dada freqüência podem existir, em forma aleatória através do tempo, variações de
diferentes pressões. Essa é uma situação real e freqüente, daí se utilizar a expressão ruído,
mas que não necessariamente significa sensação subjetiva do barulho. Ex: choro de criança
(SALIBA, 2004).
Para Fernandes (2002), de um modo geral, os ruídos podem ser classificados em 3 tipos:
a) Ruídos contínuos: são aqueles cuja variação de nível de intensidade sonora é muito
pequena em função do tempo. São ruídos característicos de bombas de líquidos, motores
elétricos, engrenagens, etc. Exemplos: chuva, geladeiras, compressores, ventiladores.
b) Ruídos flutuantes: são aqueles que apresentam grandes variações de nível em
função do tempo. São geradores desse tipo de ruído os trabalhos manuais, afiação de
ferramentas, soldagem, o trânsito de veículos, etc. São os ruídos mais comuns nos sons
diários.
c) Ruídos impulsivos, ou de impacto: apresentam altos níveis de intensidade sonora,
num intervalo de tempo muito pequeno. São os ruídos provenientes de explosões e impactos.
São ruídos característicos de rebitadeiras, impressoras automáticas, britadeiras, prensas, etc.
Para Fantini Neto (2010), o ruído de uma máquina se soma com o de fundo (ruído ambiental,
urbano, entre outros). Portanto, a supressão do efeito deste deve ser logarítmica. Utilizando-se
a equação 1.
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O nível de exposição normalizado (NEN) é o nível de exposição, convertido para uma jornada
padrão de trabalho em um período (T) de oito horas por dia, com a finalidade de comparar
com os limites de exposição normalizados. Os níveis de exposição podem ser expressos pela
equação 5.
NEN = NE + 10.log (Te/480) (dB) (Eq. 5)
Onde: NEN é o nível de exposição normalizado;
NE é o nível médio representativo da exposição ocupacional diária
Te é o tempo de duração, em minutos, da jornada diária de trabalho.
Destaca-se que o nível de ação é o valor acima do qual devem ser iniciadas ações preventivas,
de forma a minimizar a probabilidade de que as exposições a agentes ambientais ultrapassem
os limites de exposição. As ações a serem tomadas compreendem monitoramento ambiental,
informação aos expostos e monitoramento biológico. Para o ruído, o NA corresponde à dose
de 0,5 (50 % da exposição permitida), calculada conforme a NR-15, anexo 1, item 6
(FANTINI NETO, 2010; BRASIL, 2010).
3 Metodologia
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Figura 1 – Guincho
Figura 2 – Betoneira
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Figura 3 - Furadeira
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4 Resultados e discussões
De acordo com os dados coletados, as medições para os postos de trabalho referentes aos
Operadores de Betoneira e Operadores de Guincho, apresentaram níveis de ruído abaixo do
limite de tolerância recomendado pela NR-15. Todos estes operadores utilizavam
equipamentos de proteção adequados com a sua tarefa ou atividade. Desta forma não serão
apresentados os níveis de ruído obtidos para estes postos de trabalho.
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Os valores máximos de ruídos obtidos no momento da perfuração foram de 94,4 dB(A) para o
primeiro operador e 89,6 dB(A) para o segundo. A explicação para a diferença nos valores é
que a perfuração executada por um dos operadores estava sendo feita sobre um objeto mais
denso e duro que necessitava de mais força para que a tarefa fosse concluída.
Para o cálculo da supressão do efeito de fundo foi utilizada a equação (2) e os dados coletados
no local obtidas através da equação 1 para fazer o diagnóstico dos níveis de ruído. A diferença
entre os níveis de ruído para a máquina ligada e desligada foi de 26,5 dB(A). A diferença
entre os níveis de ruído está acima de 10 dB(A) e o valor correspondente a ΔNPS**, está
abaixo de 3 dB (A). Portanto não foi necessário fazer alterações para amenizar o ruído de
fundo.
Para o segundo operador o resultado foi praticamente semelhante ao anterior, sendo assim, as
mesmas recomendações usadas anteriormente são válidas também para o segundo operador.
Descritos na Tabela 2, estão às informações calculadas das doses diárias de exposição destes
operadores ao ruído (equação 3), os cálculos dos níveis representativos ou “de exposição”
(equação 4), os cálculos do Nível de Exposição Normalizado (equação 5), e o nível de ação,
para o qual devem ser tomadas medidas preventivas durante as suas tarefas com este
equipamento. Como o equipamento é acionado somente na hora do uso, para o cálculo
procurou-se utilizar o valor correspondente ao momento em que a furadeira estava realizando
a tarefa devido ao fato do valor do nível de ruído ser maior em relação ao valor do ruído
gerado pelo equipamento quando desligado.
NPS em dB (A)
Dose de Nível de exposição
Nível de exposição relativo ao nível de
Furadeira Norma exposição normalizado
(NRep) em dB (A) ação
diária (NEN) em dB (A)
Dose = 0,5
Primeiro
NR-15 2,7 96,58 93,91 84,4
Operador
Segundo
NR-15 2,09 94,19 91,83 83,89
Operador
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As medições foram feitas para demonstrar os níveis de ruído em seu período ocupacional de
oito horas. Os níveis de ruído foram medidos durante a operação de funcionamento do
equipamento. Os valores máximos de ruído foram obtidos no momento do corte e foram de
98,08 dB(A), 102,2 dB(A) e 99,6 dB(A) respectivamente para cada operador.
Os valores de ruído ultrapassaram o limite de tolerância de 85 dB(A) para a exposição
máxima de 8 horas durante a jornada de trabalho conforme o Anexo nº1 da NR-15. Porém,
ressalta-se que nenhum valor constante ultrapassou os 115 dB (A), valor estabelecido como
limite na NR-15 para risco grave e iminente.
Foram medidos os níveis de ruído durante o tempo em que estes operadores não estavam
utilizando a serra circular. Não houve necessidade de tomada de medidas para atenuar os
efeitos causados pelo ruído de fundo, pois a variação do nível de pressão sonora não foi
relevante.
Para o segundo e o terceiro operador os resultados foram praticamente semelhantes ao
anterior. Conforme os valores obtidos, as mesmas recomendações usadas anteriormente são
válidas também para os demais operadores.
Descritos na Tabela 4, estão às informações calculadas das doses diárias de exposição destes
operadores ao ruído, calculadas de forma semelhante ao exposto para o posto de trabalho da
furadeira. Como o equipamento é acionado somente na hora do uso, para o cálculo procurou-
se utilizar o valor que corresponde ao momento em que a serra circular estava realizando a
tarefa, pelo fato que o valor do nível de ruído ser maior em relação ao valor quando o
equipamento está sendo ligado.
Tabela 4 - Cálculo das doses e níveis de ação e exposição dos operadores de serra circular.
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O valor do NRep mais alto encontrado foi o do segundo operador com 104,4 dB(A) de acordo
com a NR-15. Leva-se em conta para as avaliações a dureza do material que estava sendo
cortado, porque há influência direta na medição.
Os resultados do nível representativo para os níveis de atenuação (NRRsf) para os postos de
trabalho obtidos, para o primeiro operador foi encontrado o valor correspondente a 0,94
dB(A), para o segundo operador o valor obtido foi de 4,44 dB(A) e para o terceiro o valor foi
de 1,56 dB(A).
A recomendação é a utilização de um protetor auricular durante toda a jornada de trabalho
sugerindo o tipo Concha para todos os operadores, modelo H7B com atenuação de 15 dB e
CA: 13630. Também é recomendado que se façam exames audiométricos e que os resultados
sejam monitorados constantemente, além de um trabalho de informação e conscientização dos
funcionários.
4 Conclusões
Por meio deste estudo, pode-se observar que os postos de trabalho onde havia a serra circular
e a furadeira, apresentaram valores pontuais que ultrapassaram o limite de tolerância de 85
dB(A) para o nível de pressão sonora, para a exposição máxima de 8 horas de jornada de
trabalho conforme o Anexo nº1 da NR-15. Sendo também ressaltado que os valores
encontrados para a dose nestes locais de trabalho também se encontravam acima do limite de
tolerância. Entretanto, nenhum valor medido ultrapassou os 115 dB(A), valor limite
estabelecido pela na NR-15 para risco grave e iminente.
Os postos de trabalho referentes aos operadores de Betoneira e Guincho não demonstraram
nenhuma medição que poderia ser significativa para o estudo do caso e, portanto os ambientes
ocupacionais destas atividades foram considerados salubres e estão de acordo com a NR-15.
Quanto aos operadores da furadeira e serra circular é importante que observem a escolha da
broca ou serra ideal para cada furo ou corte; a substituição de brocas e discos danificados; a
sua afiação periódica; além de evitar que os mesmos funcionem “em vazio” por muito tempo.
Referências
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Atlas. 65ª edição 2010a.
FERNANDES, J. C. O Ruído Ambiental: Seus Efeitos e seu Controle. Apostila do Departamento de Engenharia
Mecânica da UNESP - Campus de Bauru: 2002.
FUNDACENTRO. Riscos Físicos. São Paulo. Fundacentro. 1983, 112p.
FUNDACENTRO. NHO-01 - Avaliação da exposição ocupacional ao ruído. Fundacentro. São Paulo: 2001.
Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/dominios/ctn/anexos/Publicacao/NHO01.pdf> Acesso em 12 de
janeiro de 2011.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2a edição revisada e ampliada. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
FANTINI NETO. R. Higiene do Trabalho – Agentes Físicos. Apostila de Especialização. UTFPR. Curitiba.
2010.
RELACUS. Ruídos em Construção Civil. Disponível em:
<http://www.relacus.com.br/?pagina=publicacoes2_6>. Acesso em 10 de janeiro de 2011.
RODRIGUES, P. P. Análise de ruídos dentro de canteiro de obras. Monografia de Especialização. UTFPR.
Curitiba, 2007.
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SALIBA, T. M. Manual Prático de Avaliação e Controle do Ruído. São Paulo: LTr, 2004.
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