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A MAÇONARIA DO SÉCULO XXI

Da mais importante instituição do ideário moderno à consolidação das atividades


solidárias: as transformações das Lojas maçônicas ao longo dos séculos.

Prof. José Rodorval Ramalho*

A chegada da Maçonaria ao Brasil, no final do século XVIII, pode ser entendida como
um dos sinais do processo de modernização do país. A instituição foi o mais importante
espaço de divulgação do ideário moderno (mesmo que mesclado com um mais
tradicional) e conseguiu atrair uma parcela significativa da elite para dialogar, à sua
maneira, com os ideais iluministas emergentes no período.

A atividade maçônica formou, a partir do início do século XIX, uma rede de Lojas por
todo o território brasileiro e organizou o que, provavelmente, foi a primeira atuação
política articulada (nacional e internacionalmente) de uma instituição civil de que temos
notícia no nosso país. Funcionava como uma espécie de arena para discussões voltadas
ao processo de modernização, a Independência, a abdicação de Dom Pedro I, o
abolicionismo, a questão religiosa, a separação da Igreja do Estado, o movimento
republicano e outros assuntos menos comentados.

O ambiente maçônico é um lugar que privilegia discussões filosóficas, atividades


filantrópicas, debates sobre a realidade socioeconômica e cultural. Ao mesmo tempo, a
Maçonaria é uma instituição secreta, iniciática e, consequentemente, aristocrática, na
qual só participam homens (pelo menos no “movimento maçônico regular”),
alfabetizados, sem defeitos físicos, maiores de idade e com nível de renda suficiente
para assumirem os custos da filiação à instituição; instituição na qual a hierarquia está
presente em todos os seus procedimentos, desde a estratificação em Graus de Iniciação,
até os vários níveis de luto quando da morte de seus integrantes.

Ao longo do século XX o adensamento da sociedade civil e a consequente emergência


de novos atores no espaço público fizeram com que a Maçonaria perdesse aquele
protagonismo identificado no século XIX. Mesmo assim a organização está presente em
todas as capitais e principais cidades do país. Além disso, estima-se que somente o
Grande Oriente do Brasil (GOB), uma das federações maçônicas brasileiras, abrigue em
torno de 100 mil maçons, nas suas mais de 2.200 Lojas. A taxa de crescimento do
número dessas Lojas girou em torno de 10% nos últimos dez anos. A Maçonaria,
portanto, não está se desintegrando, continua em expansão.

Podemos verificar na solidariedade maçônica um conjunto de atividades que procura


apoiar, auxiliar, defender e acompanhar maçons e não-maçons em situações adversas,
contingentes ou permanentes. Essas ações que, quase sempre, se desenvolveram por
meio das próprias Lojas, já se viabilizam a partir de organizações civis criadas
especificamente para estes fins.

A Maçonaria também tem participado intensamente de várias campanhas, entre elas,


contra o trabalho infantil e contra as drogas. Tais campanhas são encaminhadas
conjuntamente com órgãos estatais (como as prefeituras, Polícia Federal, Ministério do
Trabalho), instituições internacionais (como a OIT e a UNESCO) e várias outras
organizações da sociedade civil.
Outro tipo de ação solidária que também pode ser observada no universo maçônico é
aquela que socorre imediatamente cidadãos que se encontram em situação de extrema
dificuldade de sobrevivência e envolve arrecadação de alimentos, remédios, roupas,
cobertores, como é o caso das campanhas de ajuda aos flagelados da seca no Nordeste e
aquelas campanhas que se solidarizam com vítimas de outras catástrofes naturais
(cheias, epidemias, desabamentos etc.).

Muitas ações maçônicas passam despercebidas, não somente pelo fato da instituição
primar por certa discrição, mas também porque no imaginário sobre a Ordem sempre se
destacaram outros aspectos que giram em torno dos seus segredos rituais, da proibição
da participação das mulheres, do seu anticlericalismo, da sua suposta onipresença nos
espaços de decisão política e muitas outras representações que foram se fixando ao
longo dos tempos e que construíram, muitas vezes, uma imagem distorcida da
Maçonaria.

A pesquisa social, no entanto, tem feito muito pouco para compreender esse tipo de
ação da instituição que vem desempenhando um papel importante na formação da nossa
cultura associativa, na nossa tradição assistencial e no nosso modelo de voluntariado.
Podemos considerar, pelo menos, quatro hipóteses para esse desinteresse:
a) a Maçonaria se manteve muito fechada ao diálogo com a academia;
b) a instituição, de fato, perdeu importância com a expansão do associativismo em
geral;
c) a Maçonaria foi identificada com a ditadura militar em função do seu apoio explícito
à contrarrevolução de 64;
d) o estudo sobre elites não é o forte da pesquisa social brasileira.

O percurso da Maçonaria não é linear ao longo da história. Nos três séculos de sua
existência, viveu muitos momentos de glória, bem como situações extremamente
difíceis. Perseguiu e foi perseguida. Em todos esses momentos, os maçons reinventaram
suas próprias tradições para continuar seu caminho. Resta saber se essa força e
capacidade continuarão a caracterizar a instituição neste século que se inicia.

*O autor, José Rodorval Ramalho, (não maçom) é professor de Ciências Sociais na


Universidade Federal de Sergipe e autor de “Novae sed Antiquae: tradição e
modernidade na maçonaria brasileira” (Ed. Ex-libris, 2008).

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