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A chegada da Maçonaria ao Brasil, no final do século XVIII, pode ser entendida como
um dos sinais do processo de modernização do país. A instituição foi o mais importante
espaço de divulgação do ideário moderno (mesmo que mesclado com um mais
tradicional) e conseguiu atrair uma parcela significativa da elite para dialogar, à sua
maneira, com os ideais iluministas emergentes no período.
A atividade maçônica formou, a partir do início do século XIX, uma rede de Lojas por
todo o território brasileiro e organizou o que, provavelmente, foi a primeira atuação
política articulada (nacional e internacionalmente) de uma instituição civil de que temos
notícia no nosso país. Funcionava como uma espécie de arena para discussões voltadas
ao processo de modernização, a Independência, a abdicação de Dom Pedro I, o
abolicionismo, a questão religiosa, a separação da Igreja do Estado, o movimento
republicano e outros assuntos menos comentados.
Muitas ações maçônicas passam despercebidas, não somente pelo fato da instituição
primar por certa discrição, mas também porque no imaginário sobre a Ordem sempre se
destacaram outros aspectos que giram em torno dos seus segredos rituais, da proibição
da participação das mulheres, do seu anticlericalismo, da sua suposta onipresença nos
espaços de decisão política e muitas outras representações que foram se fixando ao
longo dos tempos e que construíram, muitas vezes, uma imagem distorcida da
Maçonaria.
A pesquisa social, no entanto, tem feito muito pouco para compreender esse tipo de
ação da instituição que vem desempenhando um papel importante na formação da nossa
cultura associativa, na nossa tradição assistencial e no nosso modelo de voluntariado.
Podemos considerar, pelo menos, quatro hipóteses para esse desinteresse:
a) a Maçonaria se manteve muito fechada ao diálogo com a academia;
b) a instituição, de fato, perdeu importância com a expansão do associativismo em
geral;
c) a Maçonaria foi identificada com a ditadura militar em função do seu apoio explícito
à contrarrevolução de 64;
d) o estudo sobre elites não é o forte da pesquisa social brasileira.
O percurso da Maçonaria não é linear ao longo da história. Nos três séculos de sua
existência, viveu muitos momentos de glória, bem como situações extremamente
difíceis. Perseguiu e foi perseguida. Em todos esses momentos, os maçons reinventaram
suas próprias tradições para continuar seu caminho. Resta saber se essa força e
capacidade continuarão a caracterizar a instituição neste século que se inicia.