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organizado em torno de leis fixas e imutáveis. Sugere mesmo que se o Homem tem a aparente
ilusão de que age livremente, tal deve-se somente ao facto de ainda não ter sido possível
descobrir todas as leis que regem os vários âmbitos da realidade.
LIVRE-ARBÍTRIO: O Homem não é um ser determinado, nem totalmente livre; o Homem é um
ser com possibilidade de escolha para construir o seu projecto a partir de um determinado
contexto, e fá-lo porque possui livre-arbítrio, isto é, possui a liberdade de escolher o que pode.
O Homem é causa de si, é o autor do seu ser porque é pura indeterminação graças à sua
capacidade para agir. No entanto, a sua situação no mundo representa o pano de fundo do
limite do possível. Fora desse horizonte do possível não existe liberdade, porque liberdade de
agir muito mais do que significar liberdade de poder fazer o que se quer, é uma liberdade de
se fazer o que se pode. E o que se pode é proporcionado pelo livre-arbítrio.
O mundo material e a mente humana são de natureza diferente (dualismo), regendo-se por
leis diferentes: as leis (físicas) regem os fenómenos corporais (mundo material) e não se
aplicam aos fenómenos mentais, por isso, as nossas acções nem são causalmente
determinadas nem aleatórias. Embora as características psicológicas do sujeito (traços de
personalidade como a impulsividade, hábitos fixos, a insegurança ou o optimismo) imponham
limitações ao livre-arbítrio, o ser humano pode escolher agir livremente de acordo com a
escolha que faz, podendo até decidir fazer algo e depois mudar de ideias.
Facto: Um facto é algo que algo que pode ser comprovado, sobre o qual podemos dizer que a
afirmação é verdadeira ou falsa. Os factos são igualmente susceptíveis de gerarem consensos
universais.
Valor: Podemos definir os valores partindo das várias dimensões em que usamos:
a) os valores são critérios segundo os quais valorizamos ou desvalorizamos as coisas;
b) Os valores são as razões que justificam ou motivam as nossas acções, tornando-as
preferíveis a outras.
Os valores reportam-se, em geral, sempre a acções, justificam-nas.
Exemplo: Participar numa manifestação a favor do povo timorense, pode significar que
atribuímos à Solidariedade uma enorme importância. A solidariedade é neste caso o valor que
justifica ou explica a nossa acção.
Ao contrário dos factos, os valores apenas implicam a adesão de grupos restritos. Nem todos
possuímos os mesmos valores, nem valorizamos as coisas da mesma forma.
Hierarquização dos Valores: Não atribuímos a todos os nossos valores a mesma importância.
Na hora de tomar uma decisão, cada um de nós, hierarquiza os valores de forma muito
diversa. A hierarquização é a propriedade que tem os valores de se subordinarem uns aos
outros, isto é, de serem uns mais valiosos que outros. As razões porque o fazemos são
múltiplas.
Polaridade dos Valores: Os nossos valores tendem a organizar-se em termos de oposições ou
polaridades. Preferimos e opomos a Verdade à Mentira, a Justiça à Injustiça, o Bem ao Mal, a
beleza à fealdade, a generosidade à mesquinhes. A palavra valor costuma apenas ser aplicada
num sentido positivo. Embora o valor seja tudo aquilo sobre o qual recaia o acto de estima
positiva ou negativamente. Valor é tanto o Bem, como o Mal, o Justo como Injusto.
Tipos de valores: Os valores não são coisas nem simples ideias que adquirimos, mas conceitos
que traduzem as nossas preferências. Existe uma enorme diversidade de valores, podemos
agrupá-los quanto à sua natureza da seguinte forma:
Valores éticos: os que se referem às normas ou critérios de conduta que afectam todas as
áreas da nossa actividade. Exemplos: Solidariedade, Honestidade, Verdade, Lealdade,
Bondade, Altruísmo...
Valores estéticos: os valores de expressão. Exemplo: Harmonia, Belo, Feio, Sublime, Trágico.
Valores religiosos: os que dizem respeito à relação do homem com a transcendência.
Exemplos: Sagrado, Pureza, Santidade, Perfeição.
Valores políticos: Justiça, Igualdade, Imparcialidade, Cidadania, Liberdade.
Valores vitais: Saúde, Força.
O objetivismo axiológico é aquele em que o valor existe independente de cada
individuo. Há valores absolutos, incorporados neles próprios que se impõem por si mesmos e
não dependem de um sujeito e ultrapassam ou transcendem o ser humano.
O subjetivismo axiológico
O valor depende do sujeito, dos seus sentimentos, das suas escolhas ou apreciações,
da subjetividade humana ou coletiva. Aqui os valores são contingentes e variam , pois
cada individuo determina individualmente o valor das coisas. Esta perspetiva leva-nos
a defender um subjetivismo e relativismo axiológico.
O Relativismo cultural
É uma posição sobre a diversidade cultural e moral. Admite que não há valores
absolutos e que todos os valores são relativos a uma determinada sociedade. Cada
sociedade tem os seus padrões valorativos.
Consequentemente: Não poderemos julgar nenhuma prática cultural porque elas têm um
sentido inseridas numa cultura.
Nenhuma cultura é superior a outra, são apenas diferentes.
Argumentos a favor:
1. Respeito pela diversidade cultural que é um factor de desenvolvimento das culturas.
A aculturação só é possível porque há diversidade cultural. A aprendizagem e mudança
de costumes deve-se à relação e proximidade de culturas diferentes.
2. Tolerância: Não devemos interferir no universo de outras culturas e devemos
respeitá-las porque uma prática é correcta dentro de um cultura, julgá-la ou tentar mudá-
la é impor o padrão da nossa cultura e dos nossos valores sobre os outros.
3. Igualdade biológica e psicológica das raças. Está provado cientificamente que as
raças não diferem substancialmente umas das outras nem biológica nem
psicologicamente, só divergem culturalmente, logo não há razões para crer que uma
cultura é superior a outra.
Objeções: (argumentos contra)
Se aceitarmos esta posição como correcta devemos aceitar como válidos todo o tipo de
práticas. Parece-nos que há certas práticas que não devem ser aceites.
1 As culturas evoluem: È certo que algumas sociedades evoluem: por exemplo a
escravatura tinha um valor positivo e era uma prática na América do Norte e hoje é uma
aberração. Se as sociedades evoluem é porque compreendem que certas práticas são
más e que é melhor substitui-las por outras mais conformes à natureza humana. Mais
equilibradas para todos. A ciência ajudou a perceber que todos somos iguais. O
relativismo conduz-nos ao conformismo e à indiferença.
2. Há revoltas dentro das sociedades. No seio de uma certa cultura muitas pessoas mais
informadas não concordam com certas práticas, nem sempre há unanimidade, e há
desvios à norma. Portanto muitos costumes não são livremente aceites mas são impostos
pela inércia da tradição.
3. Pelo facto de não sabermos o melhor não significa que não exista. Os relativistas
confundem a diversidade de opiniões com a inexistência da verdade. Se formos
relativistas então não há valores morais absolutos. Assim todos as regras morais são
possíveis e nenhuma é melhor que outra. Isso não significa que não há moral, significa
apenas que ela não é única, que há diferentes regras e princípios consoante as
sociedades.
Pelo facto de não sabermos que há vida em Andrómeda, não quer dizer que não haja
uma verdade sobre isso.