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Sobre as mulheres" Denis Diderot “Tradugo de J. GUINSBURG Eu amo Thomas® respeto a altivez de sua.alma e a nobreza de seu cardier: 6 um homem de mutto espitio; 6 um homem de bem; ndo 6 pois um Nomem comum. A julger por sua Disserta- ¢40 sobre as mulheres, ele nBo experimentou suficientemente uma paixto que eu tomo muito mais elas penas de que nos consola do que pelos prazeres que nos proporciona, Ele pensou muito, porém no sentiu bastante. Sua cabeca se atormentou, mas 0 coraco permaneceu trangiilo, Eu foria escrito com menos imparcialidade @ sabedoria: mas eu me teria ocupado com mais interesse calor do Ginico ser da naturoza que nos d& sentimento por sentimenio, © que 6 feliz com a venti- ra que nos faz. Cinco au sels paginas de verve espalhadas por seu trabalho romperiam a cont- nuidade de suas observacbes delicadas e converté-loiam numa obra encantadora, Mas ele quis que seu livro no fosse de nenhum sexo; e infelizmente conseguiu isto ben demeis, € um herma- frodita, que no tem nem 0 nervo do homiem, nem a brandura da mulher, Entretanto, poucos de ‘n0s808 esoritores atuais Seriam capazes de um trabalho onde se observer erudicgo, raz&o, inv ra, estilo ¢ harmonia: mas nBo variedade suficiente, ossa flexiblidade capaz de prestar-se & infnita diversidace de um ser extremo na sua forca @ na sua fraqueza, que & vista de um sorriso ou de uma aranha faz cair em sincope, ¢ que sabe as vezes afrontar os maiores torrores da vide. £ eo- bretudo na paixio do amor, nos acess0s do citime, nos arrebalamentos da temure maternal, nos Instantes da superstig&o, na maneita como partiham das emogdes epidémicas ¢ populares, que ‘as mulheres espantam, belas como os seralins de Klopstock, terriveis como os diabos de Milton. Vic amor, 0 ciéme, a supersticlo, a cblera, levados nas mulheres a um ponte que o homem nunca ‘experimenta. O contraste dos movimentos.violentos com a dogura de seus tracos as toma he- dlondas; so com isso mais desfiguradas. As distragbes de uma vida ocupada @ contenciosa rompem nossas paixtes, A mulher choca as suas: & um ponto fixe, sobre © qual a sua ociosidade ‘u @ frivokdede de suas fungdes mantém o olher incessentemente pregado. Esse ponto se ester de desmesuradamente; e, para tomer-se louca, faltarla & mulher apaixonade apenas a inteira sol do que ela procure. A submisséo a um senhor que the desepraz 6 para sla um suplicio. Vi uma mulher honesta tremer de horror & aproximago do espose; via merguihar no banho, e no se jub ar jamais suficienterente lavada da m&cula do dever. Tal espSce de repugndincia nos 6 quase esconhecida. Nosso 6rg%o 6 mals indulgonte, Mutas mulheres rorem sem haver experimenta- o.0 extremo da voluptuosidade. Esta sensagfo, que eu consideraria de bom grado como uma epilepsia passagsira, & rara para eles, @ nfo deixa nunca de vir quando nés ¢ chamemos, A sux prema feliciiade ihes loge enire os bragas do homem que adoram, Nés a encontramos ao lado de ‘uma muther complacente que nos dasagrada. Menos senhoras ce seus seniios do que nés, Tecompensa desies para elas menos rapida @ menos segura. Centenas de vezes sua expectall- va 6 enganada. Organizadas bem ao contrério a nés, o mbvel que soliita nales a voluptuosidade 6 to dalicado, e a sua fonte fica t8o atasiada, que néo 6 extraordinério que ela no venha ou se ‘extravio. Se ouvis urna mulher dizer mal do amor, @ um homem de letras dapreciar a consideraco pblica, falai de uma quo sous oncantos passam o, do outro, quo sou talonto se perde. Nunca un hamem seniou-se, ern Dello, sobre 0 sagradotrip6. © papel de Pita convém apenas & mulher. S6 uma cabega de mulher pode exakarse @ ponio de presseniir seriaments a aproximagéo de un 1 ta ent de Diderot aparvoas come fevedha orien go tivo ge Toran he Comepondence de Gran. 2 Auto de mule Blogea, Aricne ibe. fare Thomas (1732-178) ft ome "Acad Paneees, Dezembro/Janeiro © Fevereiro/t990 Revita (ISP - 147 zy ‘convelaiondias oe Salt Mears deus, de agtai-se, de dascadelar-se, de espumar, de gitar: “Eu 0 Siro, eu sinto, eo, 0 deus”, @ de encontrar 0 seu verdadeio discurso, Um soltirio®, ardendo em suas idéias assim como em suas expresses, dizia aos heresiarcas de seu tempo: “Dirigi-vos &s mulheres; elas recebem prontamente, porque Ao ignorentes: elas espalham com factidade, porque so levianas; elas 10- tém por muito ternpo, porque so termosas". Impenetrdveis na dissimulacdo, crubis na vinganca, constantes nos projetos, sem escrtipulos sobre os meios de vencer, animadas de um édo profun- do © Secreto conire 0 despotsmo do homem, parece que hd entre elas uma conjura féci de domi ar, uma espécte de liga, tal como @ que subsisie entre os saverdotes de todas as nagbes. Elas ‘conhecem seus arigos sem t8-4os comunicado umas as outras. Naturamente cuviosas, querem saber, seja para usar, sea para abusar, de tudo. Nos tempos de revolurlo, a curlosidade as prostitul aos cheles de paride, Aquele que 2s adivinha 6 seu inimiga implacével Se as amas, elas ‘vos perderio, elas se perderfo 2 si mesmas; se cruzais seus intentos ambiciosos, alas t8m no undo do coragio © que 0 posta colocou na boca de Roxane: Apesar de todo mou amor, se neste dia Ele no me prender a si por um jusio himeneu; Se ousar me alegar uma let odiosa; Quando fa¢0 tudo por ele, se ele no faz tudo por mim; Deste tal momento, sem pensar se eu 0. amo, Sem consultar enfim s¢ eu mesma me perco, ‘Abandono o ingrato, @ 0 deixo voltar ‘Ao estado infeliz do onde soube tirs-to, Racine, Bajazet, ato, cena ill, ‘Todas merecemn ouvir 0 que um outro poeta, menos elegant, diige ¢ uma dente elas: Fal assim que, sempre presa de seus dalios, Vossas semeihantes souberam sustentar seu impsrio, Vés no amaste jamais, vosso corago insolonte Tende bem menos a0 amor do que & subjugar 0 amante, Que vos fagam reinar @ tudo vos parecerd justo; ‘Mas desprezarfets 0 amante mais augusto, Se néo sacrificasse ao poder de vossos olhos Sua honra, seu dover, a justica @ os deuses. Elas simular8o a embriaguez da paixBo, se tiverem grande interesse em vos enganar; expert mentirla-io, sem se esquecer de si, O momento em que estiverem inteiramente entregues a seu projeto ser por vazes 0 momento mesmo de seu abancono. Elas se lludem melhor do que rds sobre 0 que thes apraz. O orgulho & mais © vicio doles do que 0 nosso. Uma jovem samoieda ‘dangava nue, com um punhal na mo, Parecia goear-se com elo; mas esquivave-se aos golpes que ela mesma se deslechava com uma presteza tfo singular, que persuadira seus compattiolas que era um deus que a tornava invuinerdvel; © ela pessoa Sagrada. Alguns viajantes europeus assistizam a essa danga relies; e, embora plenamente convencidos ce que a mulfier no pas- sava de um sakimbanco muito destro, ela enganou seus olhos com a celeridade de seus move ‘mentos. No cia seguinte, suplicaramhe que dancasse ainda una vez. “N&o, disse-thes, no dan caarei, 0 deus no quer; 6 euitia ferme.” Insistiam. Os habltantes do pals uniram seus volos aos dos europeus. Ela dangou. Foi desmascarada. Ela se apercebe do falo; e imedialamente eb-ia estencida por terra, © punhal com que so armara morguhado nos seus intastinos. "Eu bem que previra, dizia a0s que @ socorriam, que o deus nBo queria, e que eu me lerria.” O que me surpre- fende no 6 que ela tenha preterido a morte & vergonhe, mas que se deixasse curar. E emnossos das, no vimos uma dessas mulheres que representavam no supiico a infancia da loreja, com os ‘pés eas mos pregadas numa.cruz, o flanco trespassado por uma lanca, guardar o tom de seu pa- ‘el em melo das convuis®es da dor, sob 0 Suor fio que escorria de seus membros, com os olhos ‘cbscurecidos pelo vbu da morte) e, ditigindo-se ao diretor desse bando de fandticos, dizer-the, io com vo2 sofredora: “Meu pai, quero dorrrir", mas com ume voz infant: “Papal, eu quero fazer narinha"? Para um homem, hé com mulheres capazes desia forza e desta prosenga de ospitto, Essa mesma mulher, ou uma de suas compenheiras, dizia a0 jovem Dudoyer, que ela mirava tor- amente, enquanto uma tenaz Ihe arancave os pregos que ihe atravessavam os dois és: “O ‘deus quem devernos 0 dom dos prodiglos nem sempre nos concedeu o da santidade”. A sra. de Staal 6 posta na Sastiiha com a duquesa de Maine, sua amante; a primeira percebe que a sra. de 148- Revista TSP Dazembro/Jansiro e Feversire/1990 Dezenbro/Jarielo @ Fevereiro/1990 Revista [SSP - 149

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