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hexag
SISTEMA DE ENSINO
1º edição
São Paulo
2016
hexag
SISTEMA DE ENSINO
Autores
Arthur Tahan Miguel Torres (Gramática)
Murilo de Almeida Gonçalves (Interpretação de texto)
Lucas Limberti (Literatura)
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial
Hexag Editora
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Revisores
Delano Malta
Ana Paula Chican de Oliveira
Pesquisa iconográfica
Camila Dalafina Coelho
Programação visual
Hexag Editora
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Camila Dalafina Coelho
Eder Carlos Bastos de Lima
Raphael de Souza Motta
Capa
Hexag Editora
Impressão e acabamento
Imagem Digital
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não represen-
tando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2016
Todos os direitos reservados por Hexag Editora Ltda.
Rua da Consolação, 954 – Higienópolis – São Paulo – SP
CEP: 01302-000
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
CARO ALUNO,
O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010,
são centenas de aprovações nos principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo e em todo Brasil.
Ao atualizar sua coleção de livros para 2016, o Hexag considerou o principal diferencial em relação aos
concorrentes: a sua exclusiva metodologia fundamentada em três pontos – período integral, estudo orientado
(E.O.) e salas reduzidas.
O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo enriquecido, inclusive com questões
recentes dos principais vestibulares 2016.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens e também na utilização de cores.
No total, são 61 livros, distribuídos da seguinte forma:
§§ 21 livros de Ciências da Natureza e suas tecnologias (Biologia, Física e Química);
§§ 14 livros de Ciências Humanas e suas tecnologias (História e Geografia);
§§ 07 livros de Linguagens, Códigos e suas tecnologias (Gramática, Literatura e Inglês);
§§ 07 livros de Matemática e suas tecnologias;
§§ 04 livros de Sociologia e Filosofia;
§§ 04 livros “Entre Aspas” (Obras Literárias da Fuvest e Unicamp);
§§ 02 livros “Entre Frases” (Estudo da Escrita – Redação);
§§ 02 livros “Entre Textos” (Interpretação de Texto).
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de
forma objetiva o que o aluno realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares e Enem,
dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.
Os capítulos foram finalizados com cinco categorias de exercícios, trabalhadas nas sessões de Estudo Orien-
tado (E.O.), como segue:
§§ E.O. Teste I: exercícios introdutórios de múltipla escolha, para iniciar o processo de fixação da matéria
estudada em aula;
§§ E.O. Teste II: exercícios de múltipla escolha, que apresentam grau médio de dificuldade, buscando a con-
solidação do aprendizado;
§§ E.O. Teste III: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade;
§§ E.O. Dissertativo: exercícios dissertativos nos moldes da segunda fase da Fuvest, Unifesp, Unicamp e
outros importantes vestibulares;
§§ E.O. Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparando
o aluno para esse tipo de exame.
A edição 2016 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e
completo, um grande aliado para o seu sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
ENTRE TEXTOS
§§ Vogal temática: é a vogal que aparece depois do radical, “ajudando” as palavras a receber outro signifi-
cado. Aparece nos verbos, definindo se são de 1a, 2a ou 3a conjugação.
Exemplo: amar = am + a + r, onde “am” é o radical, “a” é a vogal temática de 1a conjugação e “r” é a
desinência de infinitivo.
§§ Desinências: indicam gênero e número, para desinência nominal, e indicam tempo e pessoa, para desinên-
cia verbal. As desinências nominais caracterizam as variações de substantivos, adjetivos e certos pronomes,
quanto ao gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural). As desinências verbais indicam as va-
riações dos verbos em pessoa (1a, 2a ou 3a), número (singular e plural), tempo (presente, passado e futuro).
§§ Afixos: são elementos que se juntam ao radical para formar novas palavras. Podem aparecer antes do
radical – prefixos – ou depois do radical – sufixos.
Processos de formação
Basicamente, as palavras da língua portuguesa são formadas pelos processos de composição e derivação, mas
também por onomatopeia, neologismo e hibridismo.
§§ Composição por justaposição: quando não ocorre a alteração fonética das palavras. A justaposição
também pode ocorrer por hifenização.
Exemplos: girassol (gira + sol); guarda-chuva (guarda + chuva)
7
Fonte: <http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/09/processos-de-formacao-de-palavras-ii.html>.
§§ Composição por aglutinação: quando ocorre alteração fonética, em decorrência da perda de elementos
das palavras.
Exemplos: aguardente (água + ardente); embora (em + boa + hora)
Hibridismo
No processo de formação por hibridismo, as palavras compostas ou derivadas são constituídas por elementos
originários de línguas diferentes:
8
Neologismo
Fonte: <http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/09/processos-de-formacao-de-palavras-ii.html>.
Neologismo é o nome dado ao processo de criação de novas palavras ou palavras da própria língua portuguesa
que adquirem um novo significado. Exemplos:
§§ Originalmente, a palavra bonde significava certo veículo utilizado como meio de transporte. Hoje, na varie-
dade linguística utilizada por falantes inseridos no estilo do funk carioca, foi dado um novo significado para
a palavra bonde: turma, galera.
§§ É comum formar verbos a partir de palavras do meio da informática, como googlar (procurar no Google),
twittar (escrever no Twitter) ou resetar (de reset).
O grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa, em sua literatura, criou tantos neologismos, que existe
um dicionário para todas as palavras inventadas por ele, o Dicionário Rosiano.
Onomatopeia
Onomatopeias são as palavras que lembram determinados sons, como tic-tac (relógio) e piuí (trem). A língua
inglesa possui várias onomatopeias: smack, crush, splash.
Fonte: <http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/09/processos-de-formacao-de-palavras-ii.html>.
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E.O. Teste I Assinale V na(s) afirmativa(s) verdadeira(s)
e F na(s) falsa(s).
( ) O texto se estrutura em estágios típicos
1. (Ufsm) Para responder à questão, leia o tex- da narrativa, dentre os quais está a com-
to a seguir. plicação, iniciada no momento em que
A LENDA DA MANDIOCA (LENDA DOS ÍNDIOS Mani não se levantou da rede.
TUPI) ( ) No estágio de orientação da narrativa, a
Nasceu uma indiazinha linda, e a mãe e o personagem principal é representada por
pai tupis espantaram-se: meio de um nome próprio e adjetivos que
– Como é 7branquinha 1esta criança! descrevem sua aparência, como “linda”
E era mesmo. Perto dos outros curumins da (ref. 2) e “branquinha” (ref. 7), e seu
taba, parecia um raiozinho de lua. Chama- comportamento, como “silenciosa” (ref. 8)
ram-na Mani. Mani era 2linda, 8silenciosa e e “quieta” (ref. 3).
3
quieta. Comia 4pouco e pouco bebia. Os pais ( ) Palavras como “brotinho” (ref. 9) e “bran-
preocupavam-se. quinha” (ref. 7) contribuem para estabe-
– Vá brincar, Mani, dizia o pai. lecer semelhanças entre a planta então
– Coma um 5pouco mais, dizia a mãe. desconhecida e Mani, ao mesmo tempo
Mas a menina continuava quieta, cheia de so- em que o emprego dos sufixos indicadores
nhos na cabecinha. Mani parecia esconder um de diminutivo corroboram a representa-
mistério. Uma bela manhã, não se levantou da ção de delicadeza e sensibilidade.
rede. O pajé foi chamado. Deu ervas e bebidas a ( ) Ao nomearem a nova planta de “Mani-oca”
menina. Mas não atinava com o que tinha Mani. (ref. 10), os índios utilizaram o proces-
Toda a tribo andava triste. Mas, deitada em sua so de formação de palavras por derivação
rede, Mani sorria, sem doença e sem dor. prefixal.
E sorrindo, Mani morreu. Os pais a enterra- A sequência correta é
ram dentro da própria oca. E regavam sua a) V – F – F – F.
cova todos os dias, como era costume entre os b) V – V – V – F.
índios Tupis. Regavam com lágrimas de sau- c) F – V – V – V.
dade. Um dia perceberam que do túmulo de d) V – F – F – V.
Mani rompia uma plantinha verde e viçosa. e) F – F – V – F.
– Que planta será esta? Perguntaram, admi-
rados. Ninguém a conhecia.
– É melhor deixá-la crescer, resolveram os 2. (Imed) DIA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
índios.
1
_____ exatos 125 anos, em 15 de novem-
E continuaram a regar o 9brotinho mimoso. A bro de 1889, foi proclamada a república do
planta desconhecida crescia depressa. 6Pou- Brasil.
cas luas se passaram, e ela estava altinha, Na época, o país era governado por D. Pedro
com um caule forte, que até fazia a terra se II e passava por grandes problemas, em ra-
rachar em torno. zão da abolição da escravidão, em 1888.
– A terra parece fendida, comentou a mãe
2
Como os negros não trabalhavam mais nas
de Mani. lavouras, os 3imigrantes começaram a ocupar
– Vamos cavar? seus lugares, plantando e colhendo, mas co-
E foi o que fizeram. Cavaram pouco e, à flor da bravam pelos trabalhos realizados, o que ge-
terra, viram umas raízes grossas e morenas, qua- rou insatisfação nos proprietários de terras.
se da cor dos curumins, nome que dão aos meni- As perdas também foram grandes para os
nos índios. Mas, sob a casquinha marrom, lá es- coronéis, 4pois 5_____ gasto uma enorme
tava a polpa branquinha, quase da cor de Mani.
6
quantidade de dinheiro investindo nos es-
Da oca de terra de Mani surgia uma nova planta! cravos, e o governo, após a abolição, não pa-
– Vamos chamá-la 10Mani-oca, resolveram os gou nenhuma indenização a eles.
índios. A guerra do Paraguai (1864 a 1870) também
– E, para não deixar que se perca, vamos ajudou na luta 7contra o regime monárquico
transformar a planta em alimento! no Brasil. Soldados brasileiros se aliaram aos
Assim fizeram! Depois, fincando outros ra- exércitos do Uruguai e da Argentina, rece-
mos no chão, fizeram a primeira plantação bendo orientações para implantarem a repú-
de mandioca. Até hoje entre os índios do blica no Brasil.
Norte e Centro do Brasil é este um alimento Os movimentos republicanos também já
muito importante. aconteciam no 8país, a 9imprensa trazia po-
E, em todo Brasil, quem não gosta da planti- litização 10_____ população civil, 11para lu-
nha misteriosa que surgiu na casa de Mani? tarem pela libertação do país dos domínios
Fonte: GIACOMO, Maria T. C. de. Lendas brasileiras, n. 7, de Portugal. Com isso, vários partidos teriam
2. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1977. (adaptado) sido criados, desde 1870.
10
A Igreja também teve sua participação para Considerando eco como um radical grego
que a república do Brasil fosse proclamada. que significa casa, hábitat, as palavras “eco-
Dois bispos foram nomeados para 12acatarem chatos” e “ecocéticos” são formadas por
as ordens de D. Pedro II, tornando-se seus __________. A primeira representa o gru-
subordinados, 13mas não aceitaram tais im- po dos __________ e a outra, o grupo dos
posições. Com isso, foram punidos com pena __________ no que se refere a atividades
de prisão, levando 14_____ igreja 15_____ ir sustentáveis.
contra o governo. Assinale a alternativa que preenche adequa-
Com as tensões aquecendo o mandato de D. damente as lacunas.
Pedro II, o imperador dirigiu-se com sua fa- a) composição – enfadonhos – descrentes
mília para a cidade de Petrópolis, também b) derivação prefixal – insistentes – desconfiados
no estado do Rio de Janeiro. c) aglutinação – desgostosos – descrentes
16
Porém seu afastamento não foi nada favo- d) neologismo – aborrecidos – preocupados
rável, fazendo com que fosse posto em prá- e) derivação parassintética – insistentes – críticos.
tica um golpe militar, onde o Marechal Deo-
doro da Fonseca conspirava a derrubada de 4. (Espcex Aman) Ao se alistar, não imagina-
D. Pedro II. va que o combate pudesse se realizar em tão
Boatos de que os responsáveis pelo plano curto prazo, embora o ribombar dos canhões
seriam presos fizeram com que a armada já se fizesse ouvir ao longe.
acontecesse, recebendo o apoio de mais de Quanto ao processo de formação das palavras
seiscentos soldados. sublinhadas, é correto afirmar que sejam,
No dia 15 de novembro de 1889, ao passar respectivamente, casos de
pela Praça da Aclamação, o Marechal, com a) prefixação, sufixação, prefixação, aglutina-
espada em punho, declarou que, a partir da- ção e onomatopeia.
quela data, o país seria uma república. b) parassíntese, derivação regressiva, sufixa-
Dom Pedro II recebeu a notícia de que seu ção, aglutinação e onomatopeia.
governo 17havia sido derrubado e um decre- c) parassíntese, prefixação, prefixação, sufixa-
to o expulsava do país, juntamente com sua ção e derivação imprópria.
família. Dias depois, voltaram a 18Portugal. d) derivação regressiva, derivação imprópria,
Para governar o Brasil República, os responsá- sufixação, justaposição e onomatopeia.
veis pela conspiração montaram um governo e) parassíntese, aglutinação, derivação regres-
provisório, mas o Marechal Deodoro da Fonseca siva, justaposição e onomatopeia.
permaneceu como presidente do país. Rui Bar-
bosa, Benjamin Constant, Campos Sales e outros
5. (Ufrgs) O que havia de tão revolucionário
foram escolhidos para formar os ministérios.
na Revolução Francesa? Soberania popular,
Fonte: Jussara de Barros. <http://www.
brasilescola.com> (adaptado).
liberdade civil, igualdade perante a lei – 1as
palavras hoje são ditas com tanta facilidade
Avalie as seguintes afirmações a respeito da que somos incapazes de imaginar seu caráter
palavra imigrantes (ref. 3): explosivo em 1789. Para os franceses do An-
I. É formada apenas por prefixação, assim tigo Regime, 6os homens eram 8desiguais, e
como a palavra imprensa (ref. 9). a desigualdade era uma boa coisa, adequada
II. O prefixo –ante(s) exprime origem. à ordem hierárquica que 2fora posta na natu-
III. Migração, migrar e emigrar são suas cog- reza pela própria obra de Deus. A liberdade
natas. significava privilégio – isto é, literalmente,
Quais estão corretas? 12
“lei privada”, uma prerrogativa 13especial
a) Apenas I. para fazer algo negado a outras pessoas. O
b) Apenas II. rei, como fonte de toda a lei, distribuía pri-
c) Apenas III. vilégios, 3pois havia sido 19ungido como 16o
d) Apenas I e II. agente de Deus na terra.
e) Apenas II e III. Durante todo 17o século XVIII, os filósofos
do Iluminismo questionaram esses 9pressu-
3. (Ufsm adaptada) GUIA VERDE POLITICA- postos, e os panfletistas profissionais conse-
MENTE INCORRETO guiram 14empanar 20a aura sagrada da coroa.
Nem ecochatos nem ecocéticos. Não existem Contudo, a desmontagem do quadro mental
verdades absolutas na sustentabilidade. Há do Antigo Regime demandou violência icono-
sempre alguma sujeira escondida debaixo clasta, destruidora do mundo, revolucionária.
do tapete – e soluções em lugares que nin-
7
Seria ótimo se pudéssemos associar 18a Re-
guém esperava. volução exclusivamente à Declaração dos Di-
HORTA, Maurício. “Guia verde politicamente reitos do Homem e do Cidadão, mas ela nas-
incorreto”. Superinteressante, dez. 2011, p. 57. ceu na violência e imprimiu seus princípios
11
em um mundo violento. Os conquistadores 6. (Insper) PARALIMPÍADAS É A MÃE
da Bastilha 24não se limitaram a destruir Certamente eu descobriria no Google, mas
21
um símbolo do despotismo real. 4Entre eles, me deu preguiça de pesquisar e, além dis-
15
0 foram mortos ou feridos no assalto à pri- so, não tem importância saber quem inven-
tou essa palavra grotesca, que agora a gente
são e, quando os sobreviventes apanharam o
ouve nos noticiários de televisão e lê nos jor-
diretor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na nais. O surpreendente não é a invenção, pois
por 25Paris 22na ponta de uma lança. sempre houve besteiras desse tipo, bastando
Como podemos captar esses momentos de lembrar os que se empenharam em não jo-
loucura, quando tudo parecia possível e o garmos futebol, mas ludopédio ou podobá-
mundo se afigurava como uma tábula rasa, lio. O impressionante é a quase universali-
apagada por uma onda de comoção popular dade da adoção dessa palavra (ainda não vi
e pronta para ser redesenhada? Parece in- se ela colou em Portugal, mas tenho dúvidas;
crível que um povo inteiro fosse capaz de se os portugueses são bem mais ciosos de nossa
língua do que nós), cujo uso parece ter sido
levantar e transformar as condições da vida objeto de um decreto imperial e faz pensar
cotidiana. Duzentos anos de experiências em por que não classificamos isso imedia-
com admiráveis mundos 26novos tornaram- tamente como uma aberração deseducadora,
-nos 15céticos quanto ao 10planejamento so- desnecessária e inaceitável, além de subser-
cial. 27Retrospectivamente, a Revolução pode viente a ditames saídos não se sabe de que
parecer um 23prelúdio ao 11totalitarismo. cabeça desmiolada ou que interesse obscuro.
Pode ser. Mas um excesso de visão 28histó- Imagino que temos autonomia para isso e,
rica retrospectiva pode distorcer o panora- se não temos, deveríamos ter, pois jornal,
telejornal e radiojornal implicam deveres sé-
ma de 1789. Os revolucionários franceses
rios em relação à língua. Sua escrita e sua
não eram nossos contemporâneos. E eram fala são imitadas e tidas como padrão e essa
um conjunto de pessoas não excepcionais responsabilidade não pode ser encarada de
em circunstâncias excepcionais. Quando as forma leviana.
coisas se 29desintegraram, eles reagiram Que cretinice é essa? Que quer dizer essa pa-
a uma necessidade imperiosa de dar-lhes lavra, cuja formação não tem nada a ver com
sentido, ordenando a sociedade segundo nossa língua? Faz muitos e muitos anos, o
novos princípios. Esses princípios ainda então ministro do Trabalho, Antônio Magri,
permanecem como uma denúncia da tira- usou a palavra “imexível” e foi gozado a tor-
to e a direito, até porque ele não era bem um
nia e da injustiça. 5Afinal, em que estava
intelectual e era visto como um alvo fácil.
empenhada a Revolução Francesa? Liberda- Mas, no neologismo que talvez tenha criado,
de, igualdade, fraternidade. aplicou perfeitamente as regras de derivação
Adaptado de: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. da língua e o vocábulo resultante não está
In: ____. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e nada “errado”, tanto assim que hoje é encon-
revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39. trado em dicionários e tem uso corrente. Já
o vi empregado muitas vezes, sem alusão ao
Na primeira coluna, estão quatro palavras re- ex-ministro. Infutucável, inesculhambável e
tiradas do texto; na segunda coluna, descri- impaquerável, por exemplo, são palavras que
ções relacionadas à formação dessas palavras. não se acham no dicionário, mas qualquer
Associe corretamente as duas colunas. falante da língua as entende, pois estão den-
( ) desiguais (ref. 8) tro do espírito da língua, exprimem bem o
( ) pressupostos (ref. 9) que se pretende com seu uso e constituem
( ) planejamento (ref. 10) derivações perfeitamente legítimas.
( ) totalitarismo (ref. 11) Por que será que aceitamos sem discutir uma
excrescência como “paralimpíada”?
(João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 23/09/2012)
1. contém sufixo que forma substantivos a
partir de verbos O que motivou a indignação do autor com a
2. contém prefixo com sentido de negação palavra “paralimpíadas” foi o(a):
3. contém prefixo que designa anterioridade a) imposição da palavra, formada por um me-
4. contém sufixo que designa movimentos canismo que dispensa elementos conhecidos
ideológicos da língua.
b) aceitação irrestrita do termo por parte da
A sequência correta de preenchimento dos mídia, especialmente pela televisão.
c) fato de que, ao contrário do neologismo
parênteses, de cima para baixo, é
“imexível”, a palavra não foi incorporada aos
a) 4 – 2 – 3 – 1. dicionários.
b) 3 – 1 – 2 – 4. d) tentativa de resgatar palavras arcaicas tal
c) 2 – 3 – 1 – 4. como se fossem decretos imperiais.
d) 1 – 4 – 2 – 3. e) recusa à adoção do neologismo pelos portugue-
e) 1 – 2 – 3 – 4. ses, cuja atitude revela-se conservadora.
12
7. (Espcex Aman) Assinale a alternativa em Non chegou, madre, o meu amado,
que todas as palavras são formadas por pre- e oje est o prazo passado!
fixos com significação semelhante. Ai, madre, moiro d’amor!
a) metamorfose – metáfora – meteoro – malcriado E oje est o prazo saido!
b) apogeu – aversão – apóstata – abster Por que mentiu o desmentido?
c) síncope – simpatia – sobreloja – sílaba Ai, madre, moiro d’amor!
d) êxodo – embarcar – engarrafar – enterrar E oje, est o prazo passado!
e) débil – declive – desgraça – decapitar Por que mentiu o perjurado?
Ai, madre, moiro d’amor!
8. (Ifsp) No português, encontramos varieda- Considerando a terceira estrofe, assinale a
des históricas, tais como a representada na alternativa que apresenta uma palavra for-
cantiga trovadoresca de João Garcia de Gui- mada por parassíntese.
lhade, ilustrada a seguir. a) desmentido
b) prazo
Non chegou, madre, o meu amigo, c) saido
e oje est o prazo saido! d) d’amor
Ai, madre, moiro d’amor! e) moiro
9. (Insper adaptada) Leia a tirinha a seguir.
13
Quanto às variações exploradas a partir do tempo. Ninguém previu que os mesmos Es-
termo “Photoshop”, é correto afirmar que tados Unidos, graças às maravilhas da inter-
a) o neologismo do título foi formado pelo net sempre tão aberta e juvenil, se consoli-
mesmo processo que o termo “design”, pre- dariam como os maiores espiões do mundo,
sente no texto. humilhando potências como a Alemanha e
b) como adjetivo, o valor depreciativo do termo também o Brasil, impondo os métodos de
“fotoxopado” decorre exclusivamente do su- sua inteligência militar sobre a população
fixo “-ado” agregado ao radical. mundial, e guiando ao arrepio da justiça os
c) as palavras formadas a partir do estrangei- bebês engenheiros nota dez em matemáti-
rismo “photoshop” constituem jargões res- ca mas ignorantes completos em matéria de
tritos à área de informática. ética, política e em boas maneiras.
d) a grafia abrasileirada de “fotoxopou”, dife- 3Ninguém previu a febre das notícias inven-
rentemente de “hollywoodiano”, no 1.º pa- tadas, a civilização de perfis falsos, as en-
rágrafo, é uma prova de que o software se xurradas de vírus, os arrastões de números
popularizou no mundo. de cartão de crédito, a empulhação dos re-
e) apesar de não ter sido mencionado no texto, sultados numéricos falseados por robôs ou
também seria possível transformar “Photoshop” gerados por trabalhadores mal pagos em pa-
em advérbio de modo: “fotoxopalmente”. íses do terceiro mundo, o fim da privacidade,
o terrorismo eletrônico, inclusive de Estado.
Marion Strecker. Adaptado de Folha
E.O. Teste II de São Paulo, 29/07/2014.
15
O efeito de humor na situação apresentada “estranhamente falho como ser humano”, e
decorre do fato de a personagem, no segun- se sentia desconcertado com a grosseria de
do quadrinho, considerar que “carinho” e Jobs e sua tendência a funcionar “ora no
“caro” sejam vocábulos modo de dizer que você era um merda, ora
a) derivados de um mesmo verbo. no de tentar seduzi-lo”. Jobs, por sua vez,
b) híbridos. via em Gates uma estreiteza enervante.
c) derivados de vocábulos distintos. 2
Suas diferenças de temperamento e perso-
d) cognatos. nalidade 1iriam levá-los para lados opostos
e) formados por composição. da linha fundamental de divisão na era di-
gital. Jobs era um perfeccionista que adora-
7. (Epcar Afa) GATES E JOBS va estar no controle e se comprazia com sua
Quando as órbitas se cruzam índole intransigente de artista; ele e a Apple
7
Em astronomia, quando as órbitas de duas se tornaram exemplos de uma estratégia di-
estrelas se entrecruzam por causa da inte- gital que integrava solidamente o hardware,
ração gravitacional, tem-se um sistema bi- o software e o conteúdo numa unidade in-
nário. Historicamente, ocorrem situações dissociável. Gates era um analista inteligen-
análogas quando uma era é moldada pela te, calculista e pragmático dos negócios e da
tecnologia; dispunha-se a licenciar o softwa-
relação e rivalidade de dois grandes astros
re e o sistema operacional da Microsoft para
orbitando: Albert Einstein e Niels Bohr na
um grande número de fabricantes.
física no século XX, por exemplo, ou Thomas
Depois de trinta anos, Gates desenvolveu
Jefferson e Alexander Hamilton na condução
um respeito relutante por Jobs. “De fato, ele
inicial do governo americano. Nos primeiros
nunca entendeu muito de tecnologia, mas ti-
trinta anos da era do computador pessoal, a
nha um instinto espantoso para saber o que
partir do final dos anos 1970, o sistema es-
funciona”, disse. Mas Jobs nunca retribuiu
telar binário definidor foi composto por dois
valorizando devidamente os pontos fortes de
indivíduos de grande energia, que largaram
Gates. “Basicamente Bill é pouco imaginati-
os estudos na universidade, ambos nascidos vo e nunca inventou nada, e é por isso que
em 1955. acho que ele se sente mais à vontade agora
Bill Gates e Steve Jobs, apesar das ambições na filantropia do que na tecnologia”, disse
semelhantes no ponto de convergência da Jobs, com pouca justiça. “Ele só pilhava des-
tecnologia e dos negócios, 5tinham origens pudoradamente as ideias dos outros.”
bastante diferentes e personalidades radi- (ISAACSON, Walter. Steve Jobs: a biografia. São Paulo:
calmente distintas. Companhia das Letras, 2011. p. 189-191. Adaptado)
À diferença de Jobs, Gates entendia de pro-
gramação e tinha uma mente mais prática,
mais disciplinada e com grande capacidade
de raciocínio analítico. Jobs era mais intui-
tivo, romântico, e dotado de mais instinto
para tornar a tecnologia usável, o design
agradável e as interfaces amigáveis. Com sua
mania de perfeição, era extremamente exi-
gente, além de administrar com carisma e
intensidade indiscriminada. 3Gates era mais
metódico; as reuniões para exame dos pro-
dutos tinham horário rígido, e ele chegava
ao cerne das questões com uma habilidade
ímpar. Jobs encarava as pessoas com uma in-
tensidade cáustica e ardente; Gates às vezes
não conseguia fazer contato visual, mas era
essencialmente bondoso.
4
“Cada qual se achava mais inteligente do
que o outro, mas Steve em geral tratava Bill Assinale a opção correta quanto à análise
como alguém levemente inferior, sobretu- das palavras abaixo, em destaque, retiradas
do em questões de gosto e estilo”, diz Andy do texto.
Hertzfeld. “Bill menosprezava Steve porque a) Os termos indissociável e intransigente são
ele não sabia de fato programar.” Desde o co- formadas somente pelo processo de deriva-
meço da relação, 6Gates ficou fascinado por ção prefixal.
Jobs e com uma ligeira inveja de seu efei- b) As palavras ímpar e saída seguem a regra de
to hipnótico sobre as pessoas. Mas também acentuação gráfica das vogais i e u tônicas
o considerava “essencialmente esquisito” e dos hiatos.
16
c) Na frase, “... tinham... personalidades radi- 10. (Ufrgs)
calmente distintas.” (ref. 5), o termo distin- Darwin passou quatro meses no Brasil, em
tas é sinônimo de notáveis. 1832, durante a sua 2célebre viagem a bordo
d) Nas palavras destacadas em “... Gates ficou do Beagle. Voltou impressionado com o que
fascinado por Jobs e com uma ligeira inve- viu: “5Delícia é um termo 17insuficiente para
ja de seu efeito hipnótico...” (ref. 6), há, 19
exprimir as emoções sentidas por 28um na-
respectivamente, dígrafo, dígrafo e encontro turalista a 8sós com a natureza em uma flo-
consonantal. resta brasileira”, escreveu. O Brasil, 11porém,
aparece de forma menos 21idílica em 27seus
8. (Unifesp) CHOVE CHUVA, CHOVE SEM PARAR escritos: “Espero nunca mais voltar a um
O óbvio, o esperado. Nos últimos dias, o co-
12
país escravagista. O estado da enorme po-
mentário que teimou e bateu ponto em qual- pulação escrava deve preocupar todos os que
quer canto de Curitiba, principalmente nos chegam ao Brasil. Os senhores de escravos
botecos, foi um só: querem ver o negro romo outra espécie, mas
– Mas que chuvarada, né? temos todos a mesma origem.”
De olho no nível das águas do pequeno ria- Em vez do gorjeio do 6sabiá, o que Darwin
cho que passa junto à mansão da Vila Piro- guardou nos ouvidos foi 30um som 3terrível
quinha, Natureza Morta procurou o lado bom que 29o acompanhou por toda a vida: “13Até
de tanta chuva ininterrupta. hoje, se eu ouço um grito, 39lembro-me, com
Concluiu que, pelo excesso de uso, dispositi-
22
dolorosa e clara memória, 43de quando pas-
vo sempre operante, o tempo fez a alegria do sei numa casa em Pernambuco e ouvi urros
pessoal que conserta limpador de para-brisa.
14
terríveis. Logo entendi que era algum po-
Desse pessoal e, nem tanto, de quem vende bre escravo que estava sendo torturado,”
guarda-chuva. Afinal, do jeito que a coisa Segundo o 4biólogo Adrian Desmond, “a via-
andava, agravada pelo frio, a freguesia – de gem do Beagie, para Darwin, foi 40menos 41im-
maneira compulsória – praticamente desa- portante pelos 15espécimes coletados do que
pareceu das ruas. pela 16experiência de 25testemunhar os hor-
(Gazeta do Povo, 02.08.2011.)
rores da 23escravidão no Brasil. 47De certa for-
ma, ele escolheu focar na 20descendência co-
Analise as afirmações, com base na frase – mum do homem justamente para mostrar que
Mas que chuvarada, né?
32
todas as raças eram iguais e, 31desse modo,
I. O termo chuvarada, conforme o sufixo enfim, 44objetar 36àqueles que 18insistiam em
que o compõe, indica chuva em grande dizer que os negros pertenciam a uma espécie
quantidade, da mesma forma como ocor- diferente e inferior à dos brancos”. 1Desmond
re com os substantivos papelada e crian- acaba de lançar um estudo que mostra a pai-
çada. xão abolicionista 35do cientista, 26revelada por
II. No contexto, o termo Mas deve ser en-
33
seus 7diários e cartas 42pessoais. “A exten-
tendido como um marcador de oralidade, são de 34seu interesse no combate à ciência
sem valor adversativo. de cunho racista 9é surpreendente, e pude-
III. A frase não é, de fato, uma pergunta, pois mos detectar um ímpeto moral por 10trás de
traz a constatação de uma situação vivi- seu trabalho sobre a evolução humana − urna
da. Portanto, funciona com valor fático, crença na ‘irmandade racial’ que 38tinha 37ori-
principalmente. gem em 45seu ódio 46ao 24escravismo e que o
Está correto o que se afirma em levou a pensar numa descendência comum.”
a) I, apenas. Adaptado de: HAAG, C. O elo perdido tropical.
Pesquisa FAPESP, n. 159, p. 80 - 85, maio 2009.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
d) II e III, apenas. afirmações a seguir sobre elementos de for-
e) I, II e III. mação de palavras do texto.
( ) As palavras insuficiente (ref. 17) e insis-
9. (Uel) A questão refere-se ao romance O ou- tiam (ref. 18) apresentam o mesmo pre-
tro pé da sereia, de Mia Couto. fixo em sua formação.
Assinale a alternativa em que as palavras, ( ) A comparação da palavra exprimir (ref.
retiradas do romance, correspondem a ver- 19) com imprimir e da palavra descen-
bos originados de substantivos. dência (ref. 20) com ascendência permi-
a) Anfitriando e parentear. te que se postule um radical comum para
b) Bonitando e descrucificar. cada um dos pares.
c) Anfitriando e desanimista. ( ) As palavras idílica (ref. 21) e dolorosa
d) Bonitando e parentear. (ref. 22) apresentam sufixos que formam
e) Descrucificar e desanimista. adjetivos a partir de substantivos.
17
( ) O emprego de diferentes sufixos para o através de destinos singulares, de situações
mesmo radical em escravidão (ref. 23) e singulares, de épocas singulares”. É essa a
escravismo (ref. 24) serve, no texto, para razão por que as 19obras-primas atravessam
expressar, respectivamente, a ideia de 7
séculos, sociedades e nações.
“situação resultante de uma ação” e de 2
Agora chegamos à parte mais humana da in-
“movimento socioideológico”. clusão: a inclusão do outro para a compreen-
A sequência correta de preenchimento dos são humana. A compreensão nos torna mais
parênteses, de cima para baixo, é: generosos com relação ao outro23, e o crimi-
a) F – V – V – V. noso não é unicamente mais visto como cri-
b) V – F – V – F. minoso, 26como o Raskolnikov de Dostoievsky,
c) V – V – F – F. como o Padrinho de Copolla.
d) F – V – F – V. A literatura, o teatro e o cinema são os me-
e) F – F – V – V. lhores meios de compreensão e de inclusão
do outro. Mas a compreensão se torna provi-
sória, esquecemo-nos depois da leitura, da
E.O. Teste III peça e do filme. Então essa compreensão é
que deveria ser introduzida e desenvolvida
1. (Ufrgs) A questão está relacionada ao texto em nossa vida pessoal e social, porque servi-
abaixo. ria para melhorar as relações humanas, para
1
Hoje os conhecimentos se estruturam de melhorar a vida social.
Adaptado de: MORIN, Edgar. A inclusão: verdade
modo 3fragmentado, 4separado, 5compar-
da literatura. In: RÕSING, Tânia et ai. Edgar Morin:
timentado nas disciplinas. 8Essa situação religando fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p.13-18
impede uma visão global, uma visão funda-
mental e uma visão complexa. 13”Complexi- Na primeira coluna, estão palavras retiradas
dade” vem da palavra latina complexus, que do texto; na segunda coluna, descrições rela-
significa a compreensão dos elementos no cionadas à formação de palavras.
seu conjunto. Associe corretamente as duas colunas.
As disciplinas costumam excluir tudo o que ( ) complexidade (refs. 13, 14, 15 e 16)
se encontra fora do 9seu campo de especia- ( ) definição (ref. 17)
lização. A literatura, no entanto, é uma área ( ) insuportáveis (ref. 18) sufixo formador
que se situa na inclusão de todas as dimen- de adjetivos a partir de verbos.
sões humanas. Nada do humano 10lhe é es- ( ) obras-primas (ref. 19)
tranho, 6estrangeiro. 1. Constituída por composição através de
A literatura e o teatro são desenvolvidos justaposição.
como meios de expressão, meios de conhe- 2. Constituída por prefixo com sentido de
cimento, meios de compreensão da 14com- negação e sufixo formador de adjetivos a
plexidade humana. Assim, podemos ver o partir de verbos
primeiro modo de inclusão da literatura: a 3. Constituída por sufixo formador de subs-
inclusão da 15complexidade humana. E va- tantivo a partir de adjetivo.
mos ver ainda outras inclusões: a inclusão da 4. Constituída por sufixo formador de subs-
personalidade humana, a inclusão da subje- tantivo a partir de verbo.
tividade humana, e, também, muito impor- 5. Constituída por aglutinação, tendo em
tante, a inclusão; do estrangeiro, do margi- vista a mudança silábica de um dos ele-
nalizado, do infeliz, de todos que ignoramos mentos do vocábulo.
e desprezamos na vida cotidiana. A sequência correta de preenchimento dos
A inclusão da 16complexidade humana é ne- parênteses, de cima para baixo, é:
cessária porque recebemos uma visão mu- a) 4 - 3 - 2 - 1.
tilada do humano. 11Essa visão, a de homo b) 3 - 4 - 2 - 5.
sapiens, é uma 17definição do homem pela c) 4 - 3 - 1 - 5.
razão; de homo faber20, do homem como tra- d) 3 - 4 - 2 - 1.
balhador; de homo economicus21, movido por e) 3 - 2 - 1 - 5.
lucros econômicos. Em resumo, trata-se de
uma visão prosaica, mutilada, 12que esquece 2. (PUC-RS) Responda à questão com base no
o principal22: a relação do sapiens/demens, texto.
da razão com a demência, com a loucura. ENTRE O ESPAÇO PÚBLICO E O PRIVADO
Na literatura, encontra-se a inclusão dos pro- 12
Excluídos da sociedade, os moradores de
blemas humanos mais terríveis, coisas 18in- rua 26ressignificam o único espaço 13que
suportáveis que nela se tornam suportáveis. lhes foi permitido ocupar, o espaço público,
Harold Bloom escreve: 24”Todas as 25grandes transformando-o em seu “lugar”, um espa-
obras revelam a universalidade humana ço privado. 11Espalhados pelos ambientes
18
coletivos da cidade, 1fazendo comida no as- Estão corretas apenas as afirmativas
falto, arrumando suas camas, limpando as a) I e II.
calçadas como se estivessem dentro de uma b) I e III.
casa: 17assim vivem os moradores de rua. Ao c) I e IV.
andar pelas ruas de São Paulo, vemos essas d) II e III.
pessoas 3dormindo nas 28calçadas, 4passando e) II, III e IV.
por situações constrangedoras, 5pedindo es-
molas para sobreviver. Essa é a realidade das 3. (UFG) DIÁLOGO DA RELATIVA GRANDEZA
pessoas que 2fazem da rua sua casa e nela Sentado no monte de lenha, as pernas aber-
constroem sua 35intimidade. 18Assim, a ideia tas, os cotovelos nos joelhos, Doril examinava
de 33individualização que está nas 31casas, na um louva-deus pousado nas costas da mão.
34
separação das coisas por 30cômodos e quar- Ele queria que o bichinho voasse, ou pulas-
tos que servem para proteger a intimidade se, mas o bichinho estava muito à vontade,
do indivíduo, 14ganha outro sentido. O 6viver vai ver que dormindo – ou pensando? Doril
nas 29ruas, um lugar 19aparentemente 36ina- tocava-o com a unha do dedo menor e ele
bitável, tem sua própria lógica de funciona- nem nada, não dava confiança, parece que
mento, que vai além das possibilidades. nem sentia; se Doril não visse o leve pulsar
A relação que o homem 8estabelece com o es- de fole do pescoço – e só olhando bem é que
paço que ocupa é uma das mais importantes se via – era capaz de dizer que o pobrezinho
para sua sobrevivência. As mudanças de com- estava morto, ou então que era um grilo de
portamento social 15foram 21sempre precedi- brinquedo, desses que as moças pregam no
das de 22mudanças físicas de local. Por 23mais vestido para enfeitar.
que a rua não seja um local para 7viver, já que Entretido com o louva-deus Doril não viu
se trata de um ambiente público, de passa- Diana chegar comendo um marmelo, fruta
gem e não de permanência, ela acaba sendo, azeda e enjoada que só serve para ranger os
25
senão única, a 24mais viável opção. Alguns dentes. Ela parou perto do monte de lenha
pensadores já apontam que a habitação 9é um e ficou descascando o marmelo com os den-
ponto base e 10adquire uma importância para tes mas sem jogar a casca fora, não queria
harmonizar a vida. O pensador Norberto Elias perder nada. Quando ela já tinha comido um
comenta que “o quarto de dormir tornou-se bom pedaço da parte de cima e nada de Do-
uma das áreas mais privadas e íntimas da ril ligar, ela cuspiu fora um pedaço de miolo
vida humana. Suas paredes visíveis e 37in- com semente e falou:
visíveis vedam os aspectos mais ‘privados’, – Está direitinho um macaco em galho de
‘íntimos’, irrepreensivelmente ‘animais’ da pau.
nossa existência à vista de outras pessoas”. Doril olhou só com os olhos e revidou:
O modo como essas pessoas 27constituem o – Macaco é quem fala. Está até comendo ba-
único espaço que lhes foi permitido indi- nana.
ca que conseguiram transformá-lo em “seu – Marmelo é banana, besta?
20
lugar”, que aproximaram, cada um à sua – Não é mais serve.
maneira, 16dois mundos nos quais estamos Ficaram calados, cada um pensando por seu
32
inseridos: o público e o privado. lado. Diana cuspiu mais um caroço.
RODRIGUES, Robson. Moradores de uma terra – Sabe aquele livro de história que o Mirto
sem dono. (fragmento adaptado) In: http:// ganhou?
sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/edicoes/32/
artigo194186-4.asp. Acesso em 21/8/2014. – Que Mirto, seu. É Milllton. Mania!
– Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia
Analise as afirmações sobre o sentido e a Jura vai mindar.
formação das palavras no texto. – Não é mindar. É me-dar. Mas não é vantagem.
I. Há uma relação de sinonímia entre “res- – Não é vantagem? É muita vantagem.
significam” (ref. 26) e “constituem” (ref. – Você já não leu o de Milton?
27). – Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo.
II. “calçadas” (ref. 28) está para “ruas” (ref. – Vantagem é ganhar outro. Diferente.
29) assim como “cômodos” (ref. 30) está – Deferente eu não quero. Pode não ser bom.
para “casas” (ref. 31). – Como foi que você disse? Diz de novo?
III. A relação entre “Excluídos” (ref. 12) e – Já disse uma vez, chega.
“inseridos” (ref. 32) é a mesma que se – Você disse deferente.
estabelece entre “individualização” (ref. – Foi não.
33) e “separação” (ref. 34). – Foi. Eu ouvi.
IV. As palavras “intimidade” (ref. 35), “ina- – Foi não.
bitável” (ref. 36) e “invisíveis” (ref. 37) – Foi.
têm o mesmo prefixo. – Foi não.
19
– Foooi. Doril olhou o muro, os cafezeiros, as bana-
Continuariam até um se cansar e tapar os neiras, tudo bem maior do que ele, uma ba-
ouvidos para ficar com a última palavra se naneira deve ter mais de dois metros...
Diana não tivesse a habilidade de se retirar Aí ele notou que o louva-deus não estava mais
logo que percebeu a dízima. Com pedacinho na mão. Procurou por perto e achou-o pousado
final do marmelo entre os dedos, ela chegou- num pau de lenha, numa ponta coberta de mus-
-se mais perto do irmão e disse: go. Doril levantou o pau devagarinho, olhou-o de
– Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo! perto e achou que a camada de musgo lembrava
– Eu estou matando, estou? um matinho fechado, com certeza cheio de
– Está judiando. Ele morre. – Quando é que você vai deixar esse bichinho
– Eu estou judiando? sossegado?
– Amolar um bicho tão pequenininho é o Tamanho homem!
mesmo que judiar. Doril largou o pau devagarinho no monte,
Doril não disse mais nada, qualquer coisa limpou as mãos na roupa.
que ele dissesse ela aproveitaria para outra – Você não sabe qual é o meu tamanho.
acusação. Era difícil tapar a boca de Diana, Ela olhou-o desconfiada, com medo de dizer
ô menina renitente. Ele preferiu continuar uma coisa e cair em alguma armadilha. Do-
olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele ril estava sempre arranjando novidades para
encolheu-se e vergou o corpo para o lado do atrapalhá-la.
sopro, corno faz uma pessoa na ventania. O – Você nem sabe qual é o seu tamanho – in-
louva-deus estava no meio de uma tempesta- sistiu ele.
de de vento, dessas que derrubam árvores e – Então não sei? Já medi e marquei com um
arrancam telhados e podem até levantar urna carvão atrás da porta da sala. Pode olhar lá,
pessoa do chão. Doril era a força que manda- se quiser.
va a tempestade e que podia pará-la quan- Ele sorriu da esperada ingenuidade.
do quisesse. Então ele era Deus? Será que as – Isso não quer dizer nada. Você não sabe o
nossas tempestades também são brincadei- tamanho da marca.
ra? Será que quem manda elas olha para nós – Sei. Mamãe mediu com a fita de costura.
como Doril estava olhando para o louva-deus? Diz que tem um metro e vinte e tantos.
Será que somos pequenos para ele como um – Em metro de anão. Ou metro invisível.
gafanhoto é pequeno para nós, ou menores Ela olhou-o assustada, desconfiada; e não
ainda? De que tamanho, comparando – do de achando o que responder, desconversou:
formiga? De piolho de galinha? Qual será o – Ih, Doril! Você está bobo hoje!
nosso tamanho mesmo, verdadeiro? – Boba é você, que não sabe de nada.
Doril pensou, comparando as coisas em vol- Ela esperou, ele explicou:
ta. Seria engraçado se as pessoas fossem – Você não sabe que nós somos invisíveis, de
criaturinhas miudinhas, vivendo num mun- tão pequenos?
do miudinho, alumiado por um sol do tama- – Sei disso não. Invisível é micuim, que a
nho de uma rodela de confete. gente sente mas não vê.
Diana lambendo os dedos e enxugando no – Pois é. Nós somos como micuins.
vestido. Qual seria o tamanho certo dela? Diana olhou depressa para ela mesma, de-
Um palmo de cabeça, um palmo de peito, pois para Doril.
palmo e meio de barriga, palmo e meio até – Como é que eu vejo eu, vejo você, vejo mi-
o joelho, palmo e meio até o pé... uns seis nha mãe?
palmos e meio. Palmo de quem? Gafanhoto – E você pensa que micuim não vê micuim?
pode ter seis palmos e meio também – mas Diana franziu a testa, pensando. Doril tinha
de gafanhoto. Formiga pode ter seis palmos cada ideia. [...]
e meio – de formiga. E os bichinhos que – Não pode, Doril. A gente é grande. Olha aí,
existem mas a gente não vê, de tão peque- você é quase da altura desse monte de lenha.
nos? Se tem bichos que a gente não vê, não – Está vendo como você não sabe nada? Isso
pode ter bichos que esses que a gente não não é um monte de lenha. É um monte de
vê não veem? Onde é que o tamanho dos bi- pauzinhos menores do que pau de fósforo.
chos começa, e onde acaba? Qual é o maior, – Ora sebo, Doril. Pau de fósforo é deste ta-
e qual o menor? Bonito se nós também so- manho – ela mostrou dois dedinhos separa-
mos invisíveis para outros bichos muito dos, dando tamanho que ela imaginava.
grandes, tão grandes que os nossos olhos – Isso que você está mostrando não é tama-
não abarcam? E se a Terra é um bicho gran- nho de pau de fósforo. Pau de fósforo é qua-
degrandegrandegrande e nós somos pulgas se do seu tamanho.
dele? Mas não pode! Como é que vamos ser Diana ficou pensativa, triste por ter diminu-
invisíveis, se qualquer pessoa tem mais de ído de tamanho de repente. Doril aproveitou
um metro de tamanho? para ensinar mais.
20
– Como você é tapada, Diana. Tudo no mun- mãos, a colher uma simples casquinha de ar-
do é muito pequeno. roz. Doril abriu a boca, fechou os olhos e en-
O mundo é muito pequeno. – Olhou em vol- goliu, o borrifo de xarope desceu queimando
ta procurando uma ilustração. – Está vendo a garganta de formiga.
aquela jaca? Sabe o tamanho dela? VEIGA, J. J. Melhores contos J. J. Veiga. Seleção de J.
– Sei sim. Regula com uma melancia. Aderaldo Castello. 4. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 97-102.
– Pronto. Não sabe. É do tamanho de cajá.
No texto, são apresentadas alterações lexi-
Diana olhou a jaca já madura em ponto de
cais como as ocorridas em Milton para Mirto,
cair, qualquer dia caía.
em me-dar para mindar, em diferente para
– Ah, não pode, Doril. Comparar jaca com
cajá? deferente. A passagem de diferente para de-
– Mas é porque você não sabe que cajá não ferente é marcada por
é cajá. a) uma variação na forma da palavra que impli-
– O que é então? ca mudança de significado.
– É bago de arroz. b) um mesmo tipo de processo que ocorre em
Diana olhou em volta aflita, procurando uma Mirto e em mindar.
prova de que Doril estava errado. c) um estranhamento dado pela inexistência
– E coqueiro o que é? da palavra deferente.
– Coqueiro é pé de salsa. d) uma mudança na classe gramatical da pala-
– E eu? vra que sofre a variação.
– Você é formiga de dois pés. e) um registro erudito que é incompatível com
– Se eu sou formiga como é que eu pulo rego a cena narrada na história.
d´água?
– Que rego d´água? 4. (UEL) A questão refere-se ao romance O ou-
– Esse nosso aí. tro pé da sereia, de Mia Couto.
Doril sacudiu a cabeça, sorrindo. A crítica literária tem aproximado o moçam-
– Aquilo não é rego d´água. É risquinho no bicano Mia Couto do brasileiro Guimarães
chão, da grossura de um fio de linha. Rosa, em particular pelo fato de ambos em-
– E... E aquele morro lá longe? pregarem neologismos em suas obras.
– Não é morro. Você pensa que é morro por- No trecho “as mãos calosas, de enxadachim”,
que você é formiga. extraído do conto “Fatalidade”, de autoria
Aquilo é um montinho de terra que cabe do autor brasileiro, o neologismo “enxada-
num carrinho de mão. chim” é construído pelo mesmo processo de
Diana olhou-se de alto a baixo, achou-se formação de palavras utilizado pelo autor
grande para ser formiga. moçambicano para a criação de
– Onde você aprendeu isso? a) vitupérios.
Ela precisava da garantia de uma autoridade b) bebericava.
para aceitar a nova ideia. c) tamanhoso.
– Em parte nenhuma. Eu descobri. d) mudançarinos.
Diana deu um riso de zombaria, como quem e) malfadado.
começa a entender. Tudo aquilo era invenção
dele, coisa sem pé nem cabeça. Como a his- 5. (Fuvest) A questão racial parece um desafio
tória de recado por pensamento. do presente, mas trata-se de algo que existe
A mãe chamou da janela. Doril desceu do desde há muito tempo.
monte de lenha, um pau resvalou e feriu-o Modifica-se ao acaso das situações, das for-
no tornozelo. Ele ia xingar mas lembrou que mas de sociabilidade e dos jogos das forças
pau de fósforo não machuca. A mãe chamou sociais, mas reitera-se continuamente, mo-
de novo, ele saiu correndo e gritou para trás: dificada, mas persistente.
– Quem chegar por último é filho de lesma. Esse é o enigma com o qual se defrontam
Diana correu também, mais para não ficar so- uns e outros, intolerantes e tolerantes, dis-
zinha do que para competir. Pularam uma ba- criminados e preconceituosos, segregados e
cia velha, simples tampa de cerveja emborca- arrogantes, subordinados e dominantes, em
da no chão. Pularam o fio de linha que Diana todo o mundo. Mais do que tudo isso, a ques-
tinha pensado que era um rego d´água. Doril tão racial revela, de forma particularmente
tropeçou num balde furado (isto é, um dedal evidente, nuançada e estridente, como fun-
com alça), subiu de um fôlego os dentes do ciona a fábrica da sociedade, compreenden-
pente que servia de escada para a varanda, e do identidade e alteridade, diversidade e
entrou no caixotinho de giz onde eles mora- desigualdade, cooperação e hierarquização,
vam. A mãe uma formiguinha severa de pano dominação e alienação.
amarrado na cabeça estava esperando na por- Octavio Ianni. Dialética das relações sociais.
ta com uma colher e um vidro de xarope nas Estudos avançados, n. 50, 2004.
21
As palavras do texto cujos prefixos tradu- de que os meios de comunicação tradicionais
zem, respectivamente, ideia de anteriorida- não mais detêm o monopólio da produção
de e contiguidade são e distribuição de mensagens. Considerando
a) “persistente” e “alteridade”. esse “mundo desintermediado”, identifique
b) “discriminados” e “hierarquização”. duas críticas ao jornalismo atual formuladas
c) “preconceituosos” e “cooperação”. pelo autor.
d) “subordinados” e “diversidade”. b) Os processos de formação de palavras envol-
e) “identidade” e “segregados”. vidos no vocábulo “desintermediação” não
ocorrem simultaneamente. Tendo isso em
mente, descreva como ocorre a formação da
E.O. Dissertativo palavra “desintermediação”.
27
Aula 1 (I.T.)
Formação das palavras
aplicada ao texto
Morfologia aplicada exploradas das mais diversas maneiras nos vestibulares.
Vejamos os principais elementos de formação de pala-
ao texto vras aplicados ao texto:
O prefixo “in-“ estabelece rela- “Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. An-
Radicais comportam sentidos
ção semântica (de sentido) de dam bambolentos como se caminhar fosse seu único
de origem
negação.
serviço desde que nasceram”.
(Mia Couto. Trecho do romance “Terra sonâmbula”)
Radical Sufixo
Terror Ismo Os exemplos acima foram retirados de obras lite-
Catolic // rárias com as quais o vestibulando terá que lidar. E nelas
Espirit // encontramos o fenômeno do neologismo. No primeiro
caso temos maestração, cujo significado, no contexto
da narrativa, alude ao fato de que os bois caminhavam
O sufixo “Ismo” estabe-
Radicais comportam como que regidos por um “maestro”; ou como se seus
lece relação semântica
sentidos de origem
de prática ou doutrina. chifres fizessem movimentos coordenados similares a de
um maestro que rege uma ópera. Repare que, estrutu-
Como vimos nos exemplos apresentados, todos ralmente, o neologismo foi criado a partir de elementos
os tipos de morfemas existentes no português (que são que existem em nossa língua: O radical “maestro” + o
o radical, o sufixo e o prefixo) estabelecem relações sufixo “-ação”, cujo sentido expressa movimento. Temos
semânticas, e são essas relações semânticas que são então maestração como “movimentos de maestro”.
29
No segundo exemplo, Mia Couto usa bambolentos para explicitar o modo como os personagens andavam
pela estrada. Eles andavam de maneira “cambaleante” (bambos) e também bastante devagar (lentos). Essa forma-
ção por justaposição é expressa, novamente, por palavras que já existem na língua.
Compreensão textual
Definir o que é o texto não é tarefa fácil. Mesmo quem lida habitualmente com esse material, sabe que não é pos-
sível se estabelecer uma definição segura, pela própria pluralidade e possibilidades de modificação que um texto
pode apresentar.
Tentando ser minimamente abrangente, podemos dizer que o texto engloba as capacidades que o ser
humano tem de se manifestar textualmente, entendendo esse textualmente como uma capacidade propriamente
comunicativa. Por esse motivo, os estudiosos de linguística entendem como “texto” um conjunto de manifestações
comunicativas que envolvem crônicas, romances, poemas, canções, mas não apenas isso; também filmes, escultu-
ras, quadros, tudo isso é considerado “texto”, pois são composições realizadas por meio de signos linguísticos que
podem ser interpretadas.
Com essa definição, vemos que se trata de algo amplo, que exigirá do aluno um aprofundamento nesse
repertório textual, coletando informações não apenas em textos escritos, mas também em filmes, quadros, canções
e quaisquer outros processos comunicativos. Nesse primeiro momento, apresentaremos apenas organizações mais
gerais. Ao longo do curso iremos detalhando os variados elementos verbais e não-verbais que nos permitirão rea-
lizar interpretações de textos mais seguras. A princípio, o que o vestibulando deve saber:
1. Um texto sempre apresentará traços estruturais, ou, em termos mais claros, é sempre importante identificar os
elementos que o autor usou para construir um texto.
2. Habitualmente, os textos apresentam temas, elementos de sentido aos quais você pode/deve se apegar para
conseguir compreendê-lo (compreender sua mensagem)
3. Os textos são dotados de marcas de historicidade. Isso quer dizer que, num texto, você possivelmente
encontrará dados relativos a uma história, a uma cultura, englobando até mesmo fatores sociais bastante
amplos. Isso é o que alguns chamam de contexto.
4. Os textos não possuem apenas historicidade, mas também marcas situacionais. Em outras palavras, não são
apenas fatores sociais e culturais que guiam o texto, mas também situações muito pontuais e específicas.
5. Texto engloba recepção. Não podemos nos esquecer de que o material textual tem como objetivo atingir um
interlocutor que irá ler/ver esse conteúdo. Ter isso em mente é fundamental para percebermos as intenciona-
lidades contidas em um texto.
6. Os textos não são peças isoladas. Muitas vezes os textos estabelecem relações com outros. É necessário
desde já se acostumar a praticar esses processos de relacionamento textual.
7. Entender textos exige repertório. Quanto mais conhecemos estímulos textuais, mais aumentam nossas con-
dições de realizar uma boa interpretação de textos. Esse movimento de acúmulo de informações envolve
não apenas leitura e visualização, mas também acúmulo de conhecimento teórico (gramatical).
30
E.O. Teste I 1. (Uerj) O termo megahipercorporações é for-
mado por um processo que enfatiza o tama-
nho e o poder das corporações econômicas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: atuais.
O FUTURO ERA LINDO Essa ênfase é produzida pelo emprego de:
a) sufixos de caráter aumentativo
A informação seria livre. Todo o saber do mun- b) prefixos com sentido semelhante
do seria compartilhado, bem como a música, c) radicais de combinação obrigatória
o cinema, a literatura e a ciência. O custo se- d) desinências de significado específico
ria zero. O espaço seria infinito. A velocidade,
estonteante. A solidariedade e a colaboração
2. (Enem)
seriam os valores supremos. A criatividade,
o único poder verdadeiro. O bem triunfaria TEXTO I
sobre os males do capitalismo. O sistema de Um ato de criatividade pode contudo gerar
representação se tornaria obsoleto. Todos os um modelo produtivo. Foi o que ocorreu com
seres humanos teriam oportunidades iguais a palavra sambódromo, criativamente forma-
em qualquer lugar do planeta. Todos seriam da com a terminação -(ó)dromo (= corrida),
empreendedores e inventivos. Todos pode- que figura em hipódromo, autódromo, cartó-
riam se expressar livremente. Censura, nunca dromo, formas que designam itens culturais
mais. As fronteiras deixariam de existir. As da alta burguesia. Não demoraram a circular,
distâncias se tornariam irrelevantes. O ini- a partir de então, formas populares como
maginável seria possível. O sonho, qualquer rangódromo, beijódromo, camelódromo.
sonho, poderia se tornar realidade. AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua
1
Livre, grátis, inovador, coletivo, palavras- portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
-chave do novo mundo que a internet inau-
gurou. Por anos esquecemos que a internet TEXTO II
foi uma invenção militar, criada para manter
o poder de quem já o tinha. Por anos fin- Existe coisa mais descabida do que chamar
gimos que transformar produtos físicos em de sambódromo uma passarela para desfile
produtos virtuais era algo ecologicamente de escolas de samba? Em grego, -dromo quer
correto, esquecendo que a fabricação de com- dizer “ação de correr, lugar de corrida”, dai
putadores e celulares, com a obsolescência as palavras autódromo e hipódromo. É certo
embutida em seu DNA, demanda o consumo que, às vezes, durante o desfile, a escola se
de quantidades vexatórias de combustíveis atrasa e é obrigada a correr para não perder
fósseis, de produtos químicos e de água, sem pontos, mas não se desloca com a velocidade
falar no volume assombroso de lixo não reci- de um cavalo ou de um carro de Formula 1.
clado em que resultam, incluindo lixo tóxico. GULLAR, F. Disponível em: www1.folha.
²Ninguém imaginou que o poder e o dinheiro se uol.com.br. Acesso em: 3 ago, 2012.
tornariam tão concentrados em megahipercor-
Há nas línguas mecanismos geradores de
porações norte-americanas como o Google, que
palavras. Embora o Texto II apresente um
iriam destruir para sempre tantas indústrias
julgamento de valor sobre a formação da pa-
e atividades em tão pouco tempo. Ninguém
lavra sambódromo, o processo de formação
previu que os mesmos Estados Unidos, graças
dessa palavra reflete
às maravilhas da internet sempre tão aberta e
a) o dinamismo da língua na criação de novas
juvenil, se consolidariam como os maiores es-
palavras.
piões do mundo, humilhando potências como a
b) uma nova realidade limitando o aparecimen-
Alemanha e também o Brasil, impondo os mé-
to de novas palavras.
todos de sua inteligência militar sobre a popu-
c) a apropriação inadequada de mecanismos de
lação mundial, e guiando ao arrepio da justiça
criação de palavras por leigos.
os bebês engenheiros nota dez em matemática
mas ignorantes completos em matéria de ética, d) o reconhecimento da impropriedade semân-
política e em boas maneiras. tica dos neologismos.
³Ninguém previu a febre das notícias inven- e) a restrição na produção de novas palavras
tadas, a civilização de perfis falsos, as enxur- com o radical grego.
radas de vírus, os arrastões de números de
cartão de crédito, a empulhação dos resulta- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
dos numéricos falseados por robôs ou gera-
dos por trabalhadores mal pagos em países O Verbo For
do terceiro mundo, o fim da privacidade, o ¹Vestibular de verdade era no meu tempo. ²Já
terrorismo eletrônico, inclusive de Estado. estou chegando, ou já cheguei, à altura da
Marion Strecker Adaptado de Folha de São Paulo, 29/07/2014. vida em que tudo de bom era no meu tempo;
31
meu e dos outros coroas. Acho inadmissível alguns não sabiam ler) e depois se pergunta-
e mesmo chocante (no sentido antigo) um va o que queria dizer uma palavra trivial ou
coroa não ser reacionário. 4Somos uma força outra, qual era o plural de outra e assim por
histórica de grande valor. Se não agíssemos diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a
com o vigor necessário - evidentemente o pose. Não acertou a responder nada. Então,
condizente com a nossa condição 13provecta eu, carrasco fictício, peguei no texto uma
-, tudo sairia fora de controle, mais do que frase em que a palavra “for” tanto podia ser
já está. O vestibular, é claro, jamais voltará do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pron-
ao que era outrora e talvez até desapareça, to, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo,
mas julgo necessário falar do antigo às novas considero-o um gênio, dou quatro, ele passa
gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao e seja o que Deus quiser.
dicionário outra vez; domingo, dia de exer- - Esse “for” aí, que verbo é esse?
cício). 6
Ele considerou a frase longamente, como se
5O
vestibular de Direito a que me submeti, na eu estivesse pedindo que resolvesse a qua-
velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só dratura do círculo, depois ajeitou as abotoa-
quatro matérias: português, latim, francês ou duras e me encarou sorridente.
inglês e sociologia. Nada de cruzinhas, múl- - Verbo for.
tipla escolha ou matérias que não interessas- - Verbo o quê?
sem diretamente à carreira. Tudo escrito tão - Verbo for.
12
ruybarbosianamente quanto possível, com - Conjugue aí o presente do indicativo desse
citações decoradas, preferivelmente. verbo.
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava - 9Eu fonho, tu fões, ele fõe - 8recitou ele, im-
nervosismo, da oral muitos nunca se recupe- pávido. - Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
raram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se 7
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se per-
o ponto 10(sorteava-se o assunto) e partia-se severou, deve ter acabado passando e hoje
para o martírio, insuperável por qualquer es- há de estar num posto qualquer do Minis-
porte radical desta juventude de hoje. tério da Administração ou na equipe econô-
O maior público das provas orais era o que já mica, ou ainda aposentado como marajá, ou
tinha ouvido falar alguma coisa do candidato as três coisas. 3Vestibular, no meu tempo,
e vinha vê-lo “dar um show”. Eu dei show de era muito mais divertido do que hoje e, nos
português e inglês. O de português até que dias que correm, devidamente diplomado,
foi moleza, em certo sentido. O professor José ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu?
Lima, de pé e tomando um cafezinho, me di- Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco
rigiu as seguintes palavras aladas: fonho. Mas ele fõe.
- Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o RIBEIRO, João Ubaldo. O Conselheiro Come. Nova
sujeito da primeira oração do Hino Nacional! Fronteira: Rio de Janeiro, 2000. p. 20-23.
- As margens plácidas - respondi instantane-
amente e o mestre quase deixa cair a xícara. 3. (Uece) No texto, a expressão “ruybarbosia-
- Por que não é indeterminado, “ouviram, namente” (ref. 12) significa
etc.”? a) a critério de Ruy Barbosa.
- Porque o “as” de “as margens plácidas” não b) ao contrário de Ruy Barbosa.
é craseado. Quem ouviu foram as margens c) à maneira de Ruy Barbosa.
plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas d) às expensas de Ruy Barbosa.
que existem no hino. “Nem teme quem te
adora a própria morte”: sujeito: “quem te
adora.” Se pusermos na ordem direta...
- Chega! - 11berrou ele. - Dez! Vá para a gló-
E.O. Teste II
ria! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
que eu fosse professor da Escola de Adminis-
tração da Universidade Federal da Bahia e me A internet e a morte da imaginação
Jacques Gruman
designassem para a banca de português, com “Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em fotografias.
prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor Deve ser um conluio com os dentistas.”
carrasco, que até hoje considero injustíssi- (Nora Tausz Rónai)
ma, e ficava muito incomodado com aqueles
rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de Reza uma antiga lenda que dois reinos esta-
mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor vam em guerra. Os perdedores acabaram con-
sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, denados ao confinamento do outro lado dos
gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral espelhos, um primitivo mundo virtual em
era bestíssima. Mandava-se o candidato(a) que eram obrigados a reproduzir tudo o que
ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque os vencedores faziam. A luta dos derrotados
32
passava a ser como escapar daquela prisão. O que Cartier-Bresson1 esboçaria se esbarrasse
genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa nisso. Ele, que procurava a poesia nos peque-
para criar, na década de 1940, O mundo do nos gestos, no cotidiano que se desdobrava
espelho, para mim uma das mais aterrorizan- em surpresas, nos reflexos impensados, ja-
tes histórias do Mandrake. Espelhos foram, mais empilharia a coleção de sorrisinhos for-
aliás, protagonistas de algumas sequências çados que caracteriza a obsessão pelos clics.
cinematográficas assustadoras. Bóris Karlo- Essa história dos sorrisos foi muito bem
ff, um clássico do gênero, aproveitou muito notada pela Nora Rónai, que citei logo no
bem o medo que, desde crianças carregamos, início. Vivemos a era das aparências. Com a
de que nossos reflexos nos espelhos ganhem multiplicação das imagens, vem a obrigação
autonomia. Ui! Já imaginaram se isso viras- de “estar bem”. Afinal de contas, quem vai
se realidade? Teríamos de conviver com nos- querer se exibir no Facebook ou nas trocas
sos opostos, um estranhamento no mínimo de mensagens com uma ponta de melanco-
desconfortável. Os quadrinhos exploraram o lia ou, pelo menos, um suspiro de realidade?
assunto também na série do Mundo bizarro, O mundinho virtual exige estado de êxtase
do Super-Homem. Era um nonsense pouco permanente. Uma persona que não passa de
habitual no universo previsível dos super- ilusão. Criatividade não quer dizer tristeza,
-heróis. claro, mas certamente precisa incorporá-la
Estava pensando nos estranhamentos do como tijolo construtor da nossa personalida-
mundo moderno quando me deparei com de. O resto é fofoca. Eric Nepomuceno, tra-
uma pequena nota de jornal. Encenava-se a dutor e escritor, fez o seguinte comentário
ópera Carmen, de Bizet, no Theatro Munici- sobre seu amigo Gabriel Garcia Márquez, que
pal do Rio. Suponho que a plateia, que pagou acabara de morrer: “Tudo o que ele escreveu
caro, estava mergulhada na história e na in- é revelador da infinita capacidade de poesia
terpretação da orquestra e dos solistas. Não contida na vida humana. O eixo, porém, foi
é que um cidadão saca seu iPad e passa um sempre o mesmo, ao redor do qual giramos
tempão checando os e-mails, dedinhos ner- todos: a solidão e a esperança perene de en-
vosos para cima e para baixo, com a tela ilu- contrar antídotos contra essa condenação”.
minando a penumbra indispensável para a Nada que essas maquininhas onipresentes
fruição plena do espetáculo? Como esse tipo possam registrar, elas que jamais entende-
de desrespeito está entrando na “normali- riam a fina ironia de Fernando Pessoa no
dade”, apenas uma pessoa esboçou reação. Poema em linha reta, que começa assim:
Uma espécie de angústia semelhante à in- “Nunca conheci quem tivesse levado porra-
continência urinária se espalha como praga da. Todos os meus conhecidos têm sido cam-
nas relações pessoais e no uso dos espaços peões em tudo”. Mais adiante: “Arre, estou
público e privado. Tudo passou a ser urgen- farto de semideuses. Onde é que há gente
te. Todos os torpedos, e-mails e chamadas no nesse mundo?”.
celular viraram prioridade, casos de vida ou A praga narcísica desembarcou nas camas.
morte. Interrompem-se conversas para olhar Leio que nova moda é fazer selfies2 depois
telinhas e telonas, desrespeitando interlocu- do sexo. O casal transa, mas isso não basta.
tores. Como este tipo de patologia tende a É urgente compartilhar! Tira-se uma foto da
se diversificar, já há gente que conversa e aparência de ambos, coloca-se no Instagram
olha o computador ao mesmo tempo, como e ... pronto. O mundo inteiro será testemu-
aqueles lagartos esquisitos cujos olhos se nha de um momento íntimo, talvez o mais
movimentam sem aparente coordenação. íntimo de todos. Meu estranhamento vai ao
Outros participam de reuniões sem desligar paroxismo. É a esse mundo que pertenço?
sua tralha eletrônica (na verdade, não estão Antigamente, era costume dizer que o que
nas reuniões). Especialistas em informática não aparecia na televisão não existia. Atu-
previram que, num futuro não muito distan- alizando a frase: pelo visto, o que não está
te, chips serão implantados no corpo. Estão na rede não existe. É a universalização do
atrasados. Corpos já pertencem a máquinas. movimento apenas muscular, sem sentido,
A vida é controlada a distância e por outros. leviano, rapidamente perecível.
Outro estranhamento vem da inundação de Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gel-
imagens, aflição que chamo de galeria dos man passou um bom tempo sem conseguir
sem imaginação. Enxurradas de fotos inva- escrever. A inspiração não vinha. Disse ele:
dem o espaço virtual, a enorme maioria de- “A poesia é uma senhora que nos visita ou
las sem o menor significado e perfeitamente não. Convocá-la é uma impertinência inútil.
descartáveis. O Instagram recebe 60 milhões Durante uns bons quatro anos, o choque do
de fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por exílio fez com que essa senhora não me visi-
segundo! Fico pensando no sorriso irônico tasse”. Quando, finalmente, a senhora chega,
ou, quem sabe, no horror em estado bruto, tudo muda, como narra o poeta: “A visita é
33
como uma obsessão. Uma espécie de ruído 2. (Ufsm) Guia verde politicamente incorreto
junto ao ouvido. Escrevo para entender o Nem ecochatos nem ecocéticos. Não existem
que está acontecendo”. Não consigo imaginar verdades absolutas na sustentabilidade. Há
uma serenidade como essa no mundo virtual. sempre alguma sujeira escondida debaixo do
Tudo nasce e morre antes de ser completa- tapete - e soluções em lugares que ninguém
mente absorvido. Cada novidade passa a ser esperava.
vital, filas se formam nas madrugadas nas HORTA, Maurício. “Guia verde politicamente
incorreto”. Superinteressante, dez. 2011, p. 57.
portas de lojas que começam a vender mode-
los mais avançados de produtos eletrônicos. Considerando eco como um radical grego
Não dá pra esperar um dia, muito menos uma que significa casa, hábitat, as palavras “eco-
hora. O silêncio e a introspecção são guerri- chatos” e “ecocéticos” são formadas por
lheiros no habitat plugado. Estou me alistan- __________. A primeira representa o gru-
do neste exército de Brancaleone.3 po dos __________ e a outra, o grupo dos
1
Henri Cartier-Bresson: (França 1908- __________ no que se refere a atividades
2004), fotógrafo do século XX, considerado sustentáveis.
por muitos como o pai do fotojornalismo. Assinale a alternativa que preenche adequa-
2
fazer selfies: selfie é uma palavra em in- damente as lacunas.
glês, um neologismo com origem no termo a) composição – enfadonhos – descrentes
self-portrait, que significa autorretrato, e é b) derivação prefixal – insistentes – desconfiados
uma foto tirada e compartilhada na inter- c) aglutinação – desgostosos – descrentes
net. Normalmente uma selfie é tirada pela d) neologismo – aborrecidos – preocupados
própria pessoa que aparece na foto, com um e) derivação parassintética – insistentes – críticos.
celular que possui uma câmera incorporada,
com um smartphone, por exemplo.
3
O Incrível Exército de Brancaleone (em E.O. Teste III
italiano: L’armata Brancaleone): é um filme
italiano de 1966, do gênero comédia. Foi TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
dirigido por Mario Monicelli. O Exército de
Brancaleone é considerado um clássico ita- Ora nesse tempo Jacinto concebera uma
liano, que retrata os costumes da cavalaria ideia... Este Príncipe concebera a ideia de que
medieval através da comédia satírica. É um o “homem só é superiormente feliz quando
filme inspirado em Dom Quixote, do espa- é superiormente civilizado”. E por homem
nhol Miguel de Cervantes. civilizado o meu camarada entendia aquele
que, robustecendo a sua força pensante com
Disponível em: <http://www.cartamaior.com.
br/?/Opiniao/A-morte-da-imaginacao/ todas as noções adquiridas desde Aristóte-
30783>. Acesso em: 16 ago. 2014. (Adaptado).
les, e multiplicando a potência corporal dos
seus órgãos com todos os mecanismos inven-
tados desde Teramenes, criador da roda, se
1. (Cefet MG) O emprego do diminutivo nos torna um magnífico Adão, quase onipotente,
termos em destaque NÃO tem valor irônico quase onisciente, e apto portanto a recolher
[...] todos os gozos e todos os proveitos que
em:
resultam de Saber e Poder... [...]
a) “O mundinho virtual exige estado de êxtase
Este conceito de Jacinto impressionara os
permanente.”
nossos camaradas de cenáculo, que [...] es-
b) “Os quadrinhos exploraram o assunto também
tavam largamente preparados a acreditar
na série do Mundo bizarro, do Super-Homem. que a felicidade dos indivíduos, como a das
c) “Nada que essas maquininhas onipresentes nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvi-
possam registrar, elas que jamais entende- mento da Mecânica e da erudição. Um desses
riam a fina ironia de Fernando Pessoa no Po- moços [...] reduzira a teoria de Jacinto [...]
ema em linha reta ...” a uma forma algébrica:
d) “Ele, que procurava a poesia nos pequenos
gestos, no cotidiano que se desdobrava em Suma ciência
surpresas, nos reflexos impensados, jamais
× =Suma felicidade
empilharia a coleção de sorrisinhos forçados
Suma potência
que caracteriza a obsessão pelos clics.”
e) “Não é que um cidadão saca seu iPad e passa E durante dias, do Odeon à Sorbona, foi lou-
um tempão checando os e-mails, dedinhos vada pela mocidade positiva a Equação Meta-
nervosos para cima e para baixo, com a tela física de Jacinto.
iluminando a penumbra indispensável para a Eça de Queirós, A cidade e as serras.
fruição plena do espetáculo?”
34
1. (Fuvest) Sobre o elemento estrutural “oni”, do espírito da língua, exprimem bem o que se
que forma as palavras do texto “onipotente” pretende com seu uso e constituem derivações
perfeitamente legítimas.
e “onisciente”, só NÃO é correto afirmar:
Por que será que aceitamos sem discutir uma
a) Equivale, quanto ao sentido, ao pronome
excrescência como “paralimpíada”?
“todos(as)”, usado de forma reiterada no
(João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 23/09/2012)
texto.
b) Possui sentido contraditório em relação ao O que motivou a indignação do autor com a
advérbio “quase”, antecedente. palavra “paralimpíadas” foi o(a):
c) Trata-se do prefixo “oni”, que tem o mesmo a) imposição da palavra, formada por um me-
sentido em ambas as palavras. canismo que dispensa elementos conhecidos
d) Entra na formação de outras palavras da lín- da língua.
gua portuguesa, como “onipresente” e “oní- b) aceitação irrestrita do termo por parte da
voro”. mídia, especialmente pela televisão.
e) Deve ser entendido em sentido próprio, em c) fato de que, ao contrário do neologismo
“onipotente”, e, em sentido figurado, em “imexível”, a palavra não foi incorporada aos
“onisciente”. dicionários.
d) tentativa de resgatar palavras arcaicas tal
2. (Insper) Paralimpíadas é a mãe como se fossem decretos imperiais.
Certamente eu descobriria no Google, mas me e) recusa à adoção do neologismo pelos portu-
deu preguiça de pesquisar e, além disso, não gueses, cuja atitude revela-se conservadora.
tem importância saber quem inventou essa
palavra grotesca, que agora a gente ouve nos
noticiários de televisão e lê nos jornais. O E.O. Dissertativo
surpreendente não é a invenção, pois sempre
houve besteiras desse tipo, bastando lembrar 1. (Unicamp) Os textos abaixo foram retirados
os que se empenharam em não jogarmos fu- da coluna “Caras e bocas”, do Caderno Aliás,
tebol, mas ludopédio ou podobálio. O impres- do jornal O Estado de São Paulo:
sionante é a quase universalidade da adoção “A intenção é salvar o Brasil.” Ana Paula
dessa palavra (ainda não vi se ela colou em Logulho, professora e entusiasta da segun-
Portugal, mas tenho dúvidas; os portugueses da “Marcha da Família com Deus pela Liber-
são bem mais ciosos de nossa língua do que dade”, que pede uma intervenção militar
nós), cujo uso parece ter sido objeto de um no país e pretendeu reeditar, no sábado, a
decreto imperial e faz pensar em por que não passeata de 19 de março de 1964, na capi-
classificamos isso imediatamente como uma tal paulista, contra o governo do Presidente
aberração deseducadora, desnecessária e João Goulart.
inaceitável, além de subserviente a ditames “Será um evento esculhambativo em home-
saídos não se sabe de que cabeça desmiolada nagem ao outro de São Paulo.” José Caldas,
ou que interesse obscuro. Imagino que temos organizador da “Marcha com Deus e o Diabo
autonomia para isso e, se não temos, deverí- na Terra do Sol”, convocada pelo Facebook
amos ter, pois jornal, telejornal e radiojornal para o mesmo dia, no Rio de Janeiro.
implicam deveres sérios em relação à língua.
O Estado de São Paulo, 23/03/2014, Caderno
Sua escrita e sua fala são imitadas e tidas Aliás, E4. Negritos presentes no original.
como padrão e essa responsabilidade não
pode ser encarada de forma leviana. a) Descreva o processo de formação de palavras
Que cretinice é essa? Que quer dizer essa pa- envolvido em “esculhambativo”, apontando o
lavra, cuja formação não tem nada a ver com tipo de transformação ocorrida no vocábulo.
nossa língua? Faz muitos e muitos anos, o então b) Discorra sobre a diferença entre as expressões
ministro do Trabalho, Antônio Magri, usou a pa- “evento esculhambado” e “evento esculham-
lavra “imexível” e foi gozado a torto e a direito, bativo”, considerando as relações de sentido
até porque ele não era bem um intelectual e era existentes entre os dois textos acima.
visto como um alvo fácil. Mas, no neologismo
que talvez tenha criado, aplicou perfeitamente 2. (Unicamp) A sobrevivência dos meios de
as regras de derivação da língua e o vocábulo comunicação tradicionais demanda foco ab-
resultante não está nada “errado”, tanto assim soluto na qualidade de seu conteúdo. A in-
que hoje é encontrado em dicionários e tem uso ternet é um fenômeno de desintermediação.
corrente. Já o vi empregado muitas vezes, sem E que futuro aguardam os meios de comu-
alusão ao ex-ministro. Infutucável, inesculham- nicação, assim como os partidos políticos e
bável e impaquerável, por exemplo, são palavras os sindicatos, num mundo desintermediado?
que não se acham no dicionário, mas qualquer Só nos resta uma saída: produzir informação
falante da língua as entende, pois estão dentro de alta qualidade técnica e ética. Ou fazemos
35
jornalismo de verdade, fiel à verdade dos fa- a) Retire dos textos duas marcas que caracte-
tos, verdadeiramente fiscalizador dos pode- rizariam a informalidade pretendida pela
res públicos e com excelência na prestação publicação, explicitando de que tipo elas
de serviços, ou seremos descartados por um são (sintáticas, morfológicas, fonológicas ou
consumidor cada vez mais fascinado pelo lexicais, isto é, de vocabulário).
aparente autocontrole da informação na pla- b) Pode-se afirmar que certas expressões em-
taforma virtual. pregadas no texto, como “tá” e “botar”, se
(Carlos Alberto di Franco, Democracia demanda diferenciam de outras, como “galera” e “gra-
jornalismo independente. O Estado de São na”, quanto ao modo como funcionam na
Paulo, São Paulo, 14/10/2013, p. A2.)
sociedade brasileira. Explique que diferença
a) “Desintermediação” é um termo técnico do é essa.
campo da comunicação. Ele se refere ao fato
de que os meios de comunicação tradicionais 4. (Unicamp) Os verbetes apresentados em (II)
não mais detêm o monopólio da produção a seguir trazem significados possíveis para
e distribuição de mensagens. Considerando algumas palavras que ocorrem no texto inti-
esse “mundo desintermediado”, identifique tulado Bicho Gramático, apresentado em (I).
duas críticas ao jornalismo atual formuladas
pelo autor. I
b) Os processos de formação de palavras envol-
vidos no vocábulo “desintermediação” não Bicho gramático
ocorrem simultaneamente. Tendo isso em
mente, descreva como ocorre a formação da Vicente Matheus (1908-1997) foi um dos
palavra “desintermediação”. personagens mais controversos do futebol
brasileiro. Esteve à frente do paulista Corin-
3. (Unicamp) Reproduzimos abaixo a chamada thians em várias ocasiões entre 1959 e 1990.
de capa e a notícia publicadas em um jornal Voluntarioso e falastrão, o uso que fazia da
brasileiro que apresenta um estilo mais in- língua portuguesa nem sempre era aquele
formal. reconhecido pelos livros. Uma vez, querendo
Governo quer fazer a galera deixar bem claro que o craque do Timão não
pendurar a chuteira mais tarde seria vendido ou emprestado para outro clu-
be, afirmou que “o Sócrates é invendável e
Duro de parar imprestável”. Em outro momento, exaltando
Como a vovozada vive até mais tarde, a in-
a versatilidade dos atletas, criou uma pérola
tenção, agora, é criar regra para aumentar a
da linguística e da zoologia: “Jogador tem
idade mínima exigida para a aposentadoria;
que ser completo como o pato, que é um bi-
objetivo é impedir que o INSS quebre de vez
Página 12 cho aquático e gramático”.
(Adaptado de Revista de História da
Descanso mais longe Biblioteca Nacional, jul. 2011, p. 85.)
O brasileiro tá vivendo cada vez mais – o que
é bom. Só que quanto mais ele vive, mais a II
situação do INSS se complica, e mais o go-
verno trata de dificultar a aposentadoria do Invendável: que não se pode vender ou que
pessoal pelo teto (o valor integral que a pes- não se vende com facilidade.
soa teria direito de receber quando pendura Imprestável: que não tem serventia; inútil.
as chuteiras) – o que não é tão bom. Aquático: que vive na água ou à sua super-
A última novidade que já tá em discussão fície.
lá em Brasília é botar pra funcionar a regra Gramático: que ou o que apresenta melhor
85/95, que diz que só se aposenta ganhan- rendimento nas corridas em pista de grama
do o teto quem somar 85 anos entre idade e (diz-se de cavalo).
tempo de contribuição (se for mulher) e 95 (Dicionário HOUAISS (versão digital
anos (se for homem). on line), houaiss.uol.com.br)
Ou seja, uma mulher de 60 anos só levaria
a grana toda se tivesse trampado registrada a) Descreva o processo de formação das pala-
por 25 anos (60 + 25 = 85) e um homem da vras invendável e imprestável e justifique a
mesma idade, se tivesse contribuído por 35 afirmação segundo a qual o uso que Vicente
(60 + 35 = 95). Matheus fazia da língua portuguesa “nem
Quem quiser se aposentar antes, pode – só sempre era aquele reconhecido pelos livros”.
que vai receber menos do que teria direito b) Explique por que o texto destaca que Vicen-
com a conta fechada. te Matheus “criou uma pérola da linguística
(notícia JÁ, Campinas, 30/06/2012, p.1 e 12.) e da zoologia”.
36
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: invadiram a Internet. Se em relação às coi-
sas prosaicas se diz que a vingança vem a
BRINCAR COM PALAVRAS - NOS JOGOS VER- cavalo, no caso da poesia a vingança veio
BAIS, EXERCÍCIOS DE LITERATURA a cabo, galopando eletronicamente. Por
1. Você sabe o que é um palíndromo? isto que toda vez que um jovem iniciante
2. É uma palavra ou mesmo uma frase que me procura com a angústia de publicar seu
pode ser lida de frente pra trás e de trás livro, aconselho-o logo: “Meu filho, abra
pra frente mantendo o mesmo senti- uma página sua na Internet para não mais
do. Por exemplo, em português: “amor” se constranger e se sentir constrangido
e “Roma”; em espanhol: “Anita lava la diante dos editores e críticos. Estampe seu
tina”. Ou, então, a frase latina: “Sator texto na Internet e deixe rolar”.
arepo tenet opera rotas”, que não só pode (ROMANO, Affonso de Sant’Anna. O Globo, 15/09/1999.)
ser lida de trás pra frente, mas pode ser
lida na vertical, na horizontal, de baixo
pra cima, de cima pra baixo, girando os 5. (Uerj) Você sabe o que é um palíndromo? (par.
olhos em redor deste quadrado: 1)
SATOR Por que estou dizendo essas coisas? (par. 7)
AREPO Observando os parágrafos compreendidos
TENET entre as perguntas acima, identifique:
OPERA a) a função da linguagem predominante nesses
ROTAS parágrafos e justifique sua reposta;
3. Essa frase latina polivalente foi criada b) o processo de formação de palavras comum
pelo escravo romano Loreius 200 anos an- aos termos OCULTAÇÃO e OCULTISMO e expli-
tes de Cristo, e tem dois significados: “O que a diferença de sentido entre eles.
lavrador mantém cuidadosamente a char-
rua nos sulcos” e/ou “o lavrador sustém
cuidadosamente o mundo em sua órbita”.
Osman Lins construiu o romance “Avalo-
Gabarito
vara” (1973) em torno desse palíndromo.
4. Muita gente sabe o que é um caligrama
- aqueles textos que existiam desde a E.O. Teste I
Grécia em que as letras e frases iam de- 1. B 2. A 3. C
senhando o objeto a que se referiam - um
vaso, um ovo, ou então, como num autor
moderno tipo Apollinaire, as frases do
poema se inscrevendo em forma de cava-
E.O. Teste II
lo ou na perpendicular imitando o feitio 1. B 2. A
da chuva.
5. Mas pouca gente sabe o que é um lipogra-
ma. E.O. Teste III
6. Lipo significa tirar, aspirar, esconder. 1. E 2. A
Portanto, um lipograma é um texto que
sofreu a lipoaspiração de uma letra. O au-
tor resolve esconder essa letra por razões E.O. Dissertativo
lúdicas. Já o grego Píndaro havia escri- 1.
to uma ode, sem a letra “s”. Os autores a) Trata-se de uma derivação sufixal: “escu-
barrocos no século XVII também usavam lhambativo” é uma palavra formada pelo
este tipo de ocultação, porque estavam acréscimo de um sufixo (-ivo) ao verbo
envolvidos com o ocultismo, com a cabala “esculhambar”.
e com a numerologia. b) Apesar de derivarem do mesmo verbo
7. Por que estou dizendo essas coisas? (“esculhambar”), os adjetivos mencio-
8. Culpa da Internet. nados diferem quanto ao seu significa-
9. Esses jogos verbais que vinham sendo fei- do. Evento “esculhambado” é sinônimo
tos desde as cavernas agora foram potencia- de “desorganizado, desmoralizado”; já
lizados com a informática. Dizia eu numa evento “esculhambativo” é aquele que
entrevista outro dia que estamos vivendo “desmoraliza, satiriza” o evento anterior.
um paradoxo riquíssimo: a mais avançada 2.
tecnologia eletrônica está resgatando o uso a) O autor faz críticas implícitas ao jornalis-
lúdico da linguagem e uma das mais arcai- mo atual, quando diz que só resta ao jor-
cas atividades humanas - a poesia. Os po- nalista que convive rotineiramente com
etas, mais que quaisquer outros escritores, a internet: produzir informação de alta
37
qualidade técnica e ética, fiel à verdade b) O termo “pérola” designa popular e iro-
dos fatos, verdadeiramente fiscalizadora nicamente um dito ou um fato um tanto
dos poderes públicos e com excelência na ou quanto tolo, quer pelo conteúdo, quer
prestação de serviços, comentário em que pela forma como é dito. Ao usar o termo
se subentende que na era da frugalidade “aquático”, Vicente Matheus associou um
virtual, nem todo jornalista produz infor- jogador de futebol a um animal anfíbio
mações com alto teor ético e de qualidade. (“pérola da zoologia”), além de lhe con-
O autor alerta que para os dias atuais, a ferir características de filólogo, pela rela-
única maneira do jornalismo sobreviver à ção quase imediata da palavra “gramáti-
internet é primando pela fidelidade da in- co” com o estudioso da língua (“pérola da
formação e dos fatos, a fim de prestar um linguística”).
serviço confiável e essencial à sociedade. 5.
b) O prefixo – des tem o sentido de nega- a) Função metalinguística.
ção, de ação contrária. O também prefixo Uma dentre as justificativas:
– inter tem o sentido de entre. O radical - Os parágrafos explicam os significados
é – mediar. O sufixo – ção é utilizado para das palavras.
formar um substantivo a partir de um - Os parágrafos contêm definição de pala-
verbo. Sendo assim, o processo de forma- vras por outras palavras.
ção é de dois prefixos + radical + sufixo, b) Derivações sufixal ou sufixação.
para a criação do neologismo. OCULTAÇÃO é o ato de ocultar e OCULTIS-
3. MO designa crença, doutrina ou seita.
a) O texto apresenta várias marcas que ca-
racterizam a informalidade pretendida
pela publicação, relativamente à estrutu-
ra das frases (sintáticas), aos fragmentos
mínimos capazes de expressar significa-
do (morfológicas), aos recursos que ex-
ploram o sistema sonoro (fonológicas)
e aos lexicais, relacionados com as uni-
dades significativas, como nos seguintes
casos:
Sintáticas: “Quem quiser se aposentar
antes, pode”, ao invés de quem quiser,
pode aposentar-se antes.
Morfológicas: “vovozada”, pelo acréscimo
do sufixo –ada ao termo vovó.
Fonológicas: “tá” e “pra”, em vez de está
e para.
Lexicais: “galera”, “pendurar a chutei-
ra”, “duro”, “botar pra funcionar”, “gra-
na” e “trampado” com valor semântico
de grupo de pessoas, encerrar atividades,
difícil, colocar em prática, dinheiro e tra-
balhado, respectivamente.
b) Enquanto as expressões “tá” e “botar”
configuram marcas de oralidade presen-
tes nos mais diversos contextos, “gale-
ra” e “grana” são gírias, fenômeno de
linguagem que se origina de um grupo
social restrito e alcança, pelo uso, outros
grupos, tornando-se de uso corrente.
4.
a) Tanto o termo “invendável” quanto “im-
prestável” apresenta o prefixo “in” que
agrega valor significativo de negação aos
adjetivos vendável e prestável. Vicente
Matheus queria dizer que Sócrates não
era passível de ser emprestável, ou seja,
seria “inemprestável”, mas usou inade-
quadamente o termo “imprestável” que
significa inútil, que não tem serventia.
38
Aula 2 (Gramática)
Verbos: noções preliminares
Verbo
Verbo é a classe de palavras que, do ponto de vista semântico (morfológico), contém as noções de ação, processo,
estado, mudança de estado e manifestação de fenômenos da natureza. São variáveis e suas flexões marcam:
§§ pessoa: indica o emissor, o destinatário ou o ser sobre o qual se fala. Os pronomes pessoais do caso reto
indicam as pessoas do verbo: eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as);
§§ número: indica se o sujeito gramatical é singular ou plural;
§§ tempo: localiza a ação, processo ou estado em relação ao momento do enunciado. Os tempos verbais
são seis: pretérito mais-que-perfeito, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, futuro do pretérito, presente e
futuro (do presente);
§§ modo: indica a atitude do emissor quanto ao fato por ele enunciado, que pode ser de certeza, dúvida,
temor, desejo, ordem etc. Os modos verbais são: indicativo, subjuntivo e imperativo (afirmativo e negativo);
§§ voz: indica se o sujeito gramatical é agente, paciente ou, ao mesmo tempo, agente e paciente da ação;
Conjugações verbais
Conjugar um verbo compreende em adicionar ao seu radical a vogal temática da conjugação ou classe a que per-
tence mais os sufixos modo-temporal e número-pessoal, que lhe são permitidos. Existem três conjugações verbais
na língua portuguesa:
§§ 1a conjugação: indicada pela vogal temática –a– (amar, brincar, falar);
§§ 2a conjugação: indicada pela vogal temática –e– (nascer, crescer, morrer);
§§ 3a conjugação: indicada pela vogal temática –i– (dormir, sorrir, partir).
O verbo pôr e seus derivados são considerados de 2ª conjugação por conta de um processo fonológico que
suprimiu a vogal temática –e–. Em um estágio anterior da língua portuguesa, a sua forma era poer.
Verbos regulares
Os verbos regulares não sofrem alteração do radical e das desinências nos diferentes tempos, modos e pessoas. O
radical do verbo é obtido pela supressão das terminações do infinitivo (–r):
§§ mand(ar), vend(er), part(ir)
§§ mand(o), vend(o), part(o)
Verbos irregulares
Os verbos irregulares sofrem alteração do radical e das desinências, nos diferentes tempos, modos e pessoas.
§§ fazer: faço, faria, fazia
§§ estar: estou, estive, estarei
§§ saber: sei, soubera, saiba
41
Verbos anômalos
Os particípios abundantes são classificados
em regulares e irregulares.
Os verbos anômalos possuem diferentes radicais:
a. As formas regulares terminadas em –ado,
§§ ser: sou, é, fomos
–ido, não contraídas, mas analíticas, acom-
§§ ir: vou, fui, ia panham os verbos auxiliares ter e haver.
Ele já havia pagado a dívida.
Tínhamos aceitado o convite.
Verbos defectivos b. As formas irregulares, contraídas, acompa-
nham os verbos auxiliares ser e estar.
Os verbos defectivos não possuem todas as formas: O feijão foi cozido na panela de pressão.
§§ reaver (composto de haver, tem apenas as for- “A lâmpada foi acesa”
mas em V): reavemos, reavia, reaverá
§§ precaver: precavenho, precavenha, precavinha
§§ latir: lates, late, latimos
Vozes verbais
§§ colorir: colores, colore, colorimos, coloris O fato expresso pelo verbo pode ser representado em
três formas, em três vozes.
Observação §§ As crianças beijam os pais. “Fato (beijam) pratica-
do pelo sujeito (crianças) = verbo na voz ativa.”
Entre os verbos defectivos estão incluídos os
João cortou árvores. “Fato (cortou) praticado
chamados verbos impessoais, usados apenas na
pelo sujeito (João) = verbo na voz ativa.”
terceira pessoa do singular: chover, trovejar, ventar,
§§ Os pais são beijados pelas crianças. “O sujeito
haver (existir), fazer (refere-se ao clima: faz frio, ao
(pais) é alvo da ação das crianças = verbo na
tempo: faz dez anos).
voz passiva.”
§§ Árvores foram cortadas por João. “O sujeito (ár-
Verbos auxiliares vores) é alvo, sofre a ação de João = verbo na
voz passiva.”
Os verbos auxiliares formam os tempos compostos ou §§ João cortou-se com o machado. “O sujeito
locuções verbais com os verbos principais: (João) é alvo, sofre sua própria ação (cortou-se)
= verbo na voz reflexiva.”
§§ ser (pago)
§§ estar (curado)
§§ ter (estudado)
Voz ativa
§§ haver (prometido)
§§ O fato indicado pelo verbo e exercido pelo sujei-
to (pessoa ou coisa) recai sobre um objeto (pes-
soa ou coisa): Os coletores recolhem diariamente
Verbos abundantes toneladas de lixo./ Os caminhões despejam to-
neladas de lixo.
Os verbos abundantes apresentam mais de uma forma,
especificamente de particípio: §§ As vozes ativa e passiva existem tão somente
com verbos transitivos diretos, que necessaria-
§§ cozido e cozinhado
mente preveem sujeito (agente da ação) e objeto
§§ morto e morrido (alvo da ação): Alberto tirou boas notas./ Os pais
§§ imprimido e impresso amam seus filhos.
42
Voz passiva analítica Na voz reflexiva, a ação desempenhada pelo su-
jeito do verbo incide sobre esse mesmo sujeito, objeto
§§ A voz passiva dos verbos é formada pelo verbo
direto ou indireto representado pelos pronomes pesso-
auxiliar ser, conjugado no tempo e na pessoa
desejados, seguido do particípio do verbo prin- ais oblíquos.
cipal: A árvore foi cortada pelo lenhador./ Mui- § Márcia feriu-se com uma agulha. (Márcia cau-
tas mansões foram alugadas em Brasília./ Muita sou um ferimento em si mesma.)
gente ainda vai ser julgada inocente.
§§ A voz passiva analítica sempre é formada por
tempos compostos – ser + verbo principal tran-
Formas nominais do verbo
sitivo direto –, bem como com os verbos auxilia-
O infinitivo, o particípio (regular e irregular) e o gerún-
res ter e haver: Têm sido (foram) alugadas mui-
dio são chamados formas nominais do verbo porque
tas mansões em Brasília.
podem funcionar como nomes – substantivo, adjetivo.
§§ Infinitivo
Voz passiva sintética O comer demais faz mal. (substantivo)
O viver é bom. (substantivo)
§§ Formada com o verbo principal transitivo direto
na voz ativa, na terceira pessoa do singular ou do §§ Gerúndio
plural, acompanhado da partícula apassivadora Ela bebeu chá fervendo. (advérbio)
se: Aluga-se casa./ Alugam-se casas./ Compra- Fervendo, desligue. (advérbio)
-se apartamento./ Compram-se apartamentos.
§§ Particípio
Persuadem-se alunos com muito empenho.
Problema resolvido. (adjetivo)
A feira foi inaugurada. (adjetivo)
O parque foi inaugurado. (adjetivo)
Voz reflexiva
§§ Necessariamente formada pelos verbos prono-
minais – acompanhados de me, te, se, nos,
Locução verbal
vos, se – cuja ação designada parte do sujeito
A locução verbal é a expressão constituída por verbo
e volta-se para ele mesmo: Eu me feri. (O ato e o
efeito do ferimento partem e voltam para o “eu”, (ou verbos auxiliares) seguido do verbo principal.
sujeito.)/ Tu te feriste./ Ele se machucou./ Nós nos A Europa vem sendo desgastada pela crise.
prejudicamos./ Eles se feriram com faca. O verbo auxiliar “vem” designa a pessoa e o nú-
mero do sujeito “Europa”, bem como o tempo verbal
designado pelo verbo principal “desgastada” – presen-
Morfossintaxe das te do indicativo. O verbo principal está na voz passiva
vozes verbais (ser desgastada).
Hei de fazer algo mais legal.
A passagem dos verbos transitivos diretos da voz ativa
Trata-se de uma locução verbal constituída pelo
para a passiva, e vice-versa, não altera o sentido do que
auxiliar “hei” e o infinitivo impessoal “fazer”, antecedi-
diz a oração. São alteradas apenas as funções sintáticas:
do da preposição “de”.
o sujeito da voz ativa passa a agente da passiva, e o
objeto direto da voz ativa passa a sujeito da passiva ou Andam falando que tudo aquilo foi falso.
sujeito paciente. O gerúndio “falando” ou o infinitivo impessoal,
§§ Meu pai vendeu este barco. precedido da preposição “a” confere à locução ideia de
§§ Este barco foi vendido por meu pai. continuidade, de frequência, reiteração de ação.
43
E.O. Teste I meus troféus. Ali estão meus favoritos da li-
teratura brasileira, João Ubaldo, Veríssimo,
Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Cony, e
1. (G1 IFSP) Considerando a norma padrão da também os estrangeiros, Saramago, Roth,
Língua Portuguesa, marque (VP), para voz Dostoievski, Tchekhov e muitos outros. Tam-
passiva, (VA), para voz ativa e assinale a al- bém me orgulha uma pequena biblioteca de
ternativa correta. livros com a temática judaica e outra com
I. O jogador marcou um belo gol na última obras que fizeram e fazem parte de minha
semana. ( ) formação antropológica. A reação de quem se
II. O ônibus atrasou bastante na tarde de on- depara com as prateleiras cheias de livros é
tem. ( ) variada, há quem exclame maravilhado com
III. A bola foi atrasada de modo muito forte os títulos ali dispostos, há quem pergunte,
pelo zagueiro. ( ) à la Seinfeld, para que tanto livro, para que
IV. O computador foi desligado inadequada- acumular poeira e traças. No quarto de meu
mente na última vez. ( ) filho, a galeria de troféus aumenta um pou-
a) VA, VP, VP, VA. co a cada mês, somando-se ao folclore brasi-
b) VP, VA, VA, VP. leiro e gibis da Turma da Mônica e Batman
c) VA, VA, VP, VP. estórias da porquinha Olivia em português
d) VP, VP, VA, VA. e espanhol e clássicos da literatura estran-
e) VP, VA, VP, VA. geira, como The cat in the hat. A escola faz
a sua parte, o troca-troca de livros entre os
2. (G1 Cftmg) Leia o texto abaixo para respon- colegas e a ida semanal à biblioteca garante
der à questão. que, pelo menos, dois livros sejam lidos fora
do horário de estudos formal, geralmente à
DÁ PRA DESENHAR?
hora de deitar para dormir.
Marcelo Gruman
Damos importância ao livro e, sobretudo, à
leitura. Claro, para ler um livro, é preciso,
primeiro, saber ler. Cultivamos o hábito da
leitura, cultivamos o intelecto, a leitura como
instrumento para gerar a autonomia, para a
construção da própria trajetória de vida, para
a compreensão e interpretação do mundo que
nos cerca a partir do nosso ponto de vista,
e não de terceiros, uma empobrecida leitura
mastigada, enviesada e, muitas vezes, coalha-
da de preconceitos e estereótipos. A capaci-
dade de ler permite o acesso a mundos até
então desconhecidos, do Saci Pererê, do Lobo
Numa cena de um de meus comediantes fa-
Mau, da Chapeuzinho Vermelho, da Mula Sem
voritos, 1Jerry Seinfeld, seu amigo neurótico
Cabeça. Permite a construção de nossa identi-
George se vê às voltas com a necessidade de
dade, daquilo que somos, ou melhor, que es-
resgatar alguns livros deixados na casa de
tamos, porque aquilo que somos pode mudar
uma moça com quem acabou de terminar um
sempre, é só querermos. Nada mais emocio-
relacionamento. Jerry não vê problema al-
nante do que ver seu filho, de repente, ler o
gum, mas George não gosta da ideia. Jerry,
letreiro de uma loja, pela primeira vez. Um
então, diz para o amigo esquecer os livros,
novo mundo se abre: um mundo de possibili-
perguntando-lhe se realmente precisa deles.
dades infinitas, mundos infinitos.
George diz que sim, que precisa dos livros,
Para mim, o livro tem de ter cheiro, às favas
e Jerry pergunta por quê. George responde
com minha alergia à poeira. Eu preciso ma-
que os livros são seus e que, por isso, pre-
nuseá-lo, tocá-lo, virar suas páginas. O livro
cisa deles. E por que precisa deles?, insiste
é parte constituinte de quem sou, de minha
Seinfeld. George exclama simplesmente “são
identidade, é extensão de meu corpo, está
livros!”. Seinfeld indaga, então: “Que obses-
impregnado de memória, da minha memó-
são é essa com os livros? As pessoas os colo-
ria, da minha história. Livro não é produto
cam em suas casas como se fossem troféus.
biodegradável, descartável, pós-moderno, do
Para que você precisa deles depois de serem
tipo “lavou, está novo”. O livro estabelece li-
lidos?”. E ironiza, finalmente, “Sabe, o legal
gações afetivas. Lembro-me de um colega de
de ler 2Moby Dick pela segunda vez é que
Ahab e a baleia ficam amigos”. faculdade comentando, certa vez, com certa
Quando abro a porta de meu apartamento excitação, que havia encontrado, num sebo,
dou de cara com uma estante cheia de livros, determinado livro que a namorada procu-
rava fazia não sei quanto tempo. O tesouro
44
seria dado como presente de aniversário. Po- Considere o trecho a seguir:
deria ser o Harry Potter ou Cinquenta tons [...] Há não muito tempo, perguntávamos
de cinza, boa literatura, má literatura, o im- (1) a quem não entendia o que falávamos se
portante é ler... gostaria (2) que desenhássemos (3) a expli-
As livrarias no Rio de Janeiro estão desapa- cação. Era uma brincadeira, uma forma de
recendo, sobretudo os sebos, que teimam em infantilizar o interlocutor. Chegou o dia em
comercializar objetos sujos de história. [...] que a piada perdeu a graça, porque deixou
É a tal “civilização digital”. Se não digital, de ser piada.
do 3kindle e do 4IPhone, do ambiente assép- A indicação da desinência modo-temporal
tico, inodoro, impessoal de cadeias livreiras dos verbos 1, 2 e 3, grifados nesse trecho,
como Cultura, Travessa ou Saraiva, padroni- está correta em:
zadas. Chegamos à era da “mcdonaldização” a) (1) pretérito imperfeito do subjuntivo; (2)
do hábito de ler. Sem passado, sem futuro, futuro simples do indicativo; (3) pretérito
um presente contínuo. perfeito do indicativo.
Não bastasse o desprestígio do livro físico, b) (1) pretérito perfeito do indicativo; (2) pre-
vivemos o “triunfo total da não leitura”, térito imperfeito do indicativo; (3) pretérito
conforme o editor de não ficção e litera- imperfeito do indicativo.
tura brasileira da Editora Record, Carlos c) (1) pretérito imperfeito do indicativo; (2)
Andreazza, que resolveu lançar a campa- futuro do pretérito do indicativo; (3) preté-
nha pela “maioridade intelectual”, que rito imperfeito do subjuntivo.
considera uma provocação à onda dos li- d) (1) pretérito mais-que-perfeito do indicati-
vros de colorir. Para ele, o editor também vo; (2) futuro do pretérito do indicativo; (3)
é um educador e tem a obrigação de atrair pretérito perfeito do subjuntivo.
o leitor jovem-adulto, ampliando o público
leitor como uma resposta saudável a esta
3. (G1 IFSP) TINTIM
atração cultural que é “o livro de unir os
Durante alguns anos, o tintim me intrigou.
pontinhos”, como ironicamente o define
Tintim por tintim: o que queria dizer aquilo?
Joaquim Ferreira dos Santos. Andreazza
Imaginei que fosse alguma misteriosa medida
diz que, hoje, somos obrigados a falar re-
de outros tempos que sobrevivera ao sistema
dundâncias bárbaras como “livro para ler”.
métrico, como a braça, a légua, etc. Outro mis-
Uma piada de mau gosto porque livro pres-
tério era o triz. Qual a exata definição de um
supõe leitura.
triz? É uma subdivisão de tempo ou de espa-
[...] Há não muito tempo, perguntávamos a
quem não entendia o que falávamos se gos- ço. As coisas deixam de acontecer por um triz,
taria que desenhássemos a explicação. Era por uma fração de segundo ou de milímetro.
uma brincadeira, uma forma de infantilizar Mas que fração? O triz talvez correspondesse a
o interlocutor. Chegou o dia em que a piada meio tintim, ou o tintim a um décimo de triz.
perdeu a graça, porque deixou de ser piada. Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao
Fonte: <http://cartamaior.com.br/?/Editoria/
obscuro mundo das microcoisas.
Cultura/Da-pra-desenhar-/39/33645>, texto Há quem diga que não existe uma fração mí-
adaptado. Acesso em: 03 set. 2015 nima de matéria, que tudo pode ser dividido e
subdividido. Assim como existe o infinito para
Vocabulário de apoio: fora – isto é, o espaço sem fim, depois que o
1
Jerome “Jerry” Allen Seinfeld – ator e humorista norte-
Universo acaba – existiria o infinito para den-
americano, atua em Nova Iorque, EUA. tro. A menor fração da menor partícula do últi-
2
Moby Dick – romance do autor estadunidense Herman mo átomo ainda seria formada por dois trizes,
Melville. O nome da obra é o de uma baleia enfurecida, de e cada triz por dois tintins, e cada tintim por
cor branca, que conseguiu destruir baleeiros que a haviam
ferido. Originalmente, foi publicado em três fascículos com
dois trizes, e assim por diante, até a loucura.
o título de Moby-Dick ou A Baleia, em Londres, em 1851, Descobri, finalmente, o que significa tintim.
e, ainda no mesmo ano, em Nova York, em edição integral. É verdade que, se tivesse me dado o trabalho
O livro foi revolucionário para a época, com descrições de olhar no dicionário mais cedo, minha ig-
intricadas e imaginativas das aventuras do narrador –
Ismael, suas reflexões pessoais, e grandes trechos de não norância não teria durado tanto. Mas o ób-
ficção, sobre variados assuntos, como baleias, métodos de vio, às vezes, é a última coisa que nos ocorre.
caça a elas, arpões, a cor branca (de Moby Dick), detalhes Está no Aurelião. Tintim, vocábulo onomato-
sobre as embarcações e funcionamentos, armazenamento de paico que evoca o tinido das moedas.
produtos extraídos das baleias.
3
kindle – leitor de livros digitais desenvolvido pela Originalmente, portanto, “tintim por tin-
subsidiária da Amazon, que permite aos usuários comprar, tim” indicava um pagamento feito minucio-
baixar, pesquisar e, principalmente, ler livros digitais, samente, moeda por moeda. Isso no tempo
jornais, revistas, e outras mídias digitais via rede sem fio.
em que as moedas, no Brasil, tiniam, ao con-
4
iPhone – linha de smartphones (telefones
celulares multifuncionais) concebidos e trário de hoje, quando são feitas de papelão
comercializados pela Apple Inc. e se chocam sem ruído. Numa investigação
45
feita hoje da corrupção no país tintim por 5. (Ufsm)
tintim ficaríamos tinindo sem parar e che-
garíamos a uma nova concepção de infinito.
Tintim por tintim. A menina muito dada
namoraria sim-sim por sim-sim. O gordo in-
controlável progrediria pela vida quindim
por quindim. O telespectador habitual vive-
ria plim-plim por plim-plim. E você e eu va-
mos ganhando nosso salário tin por tin (olha
aí, a inflação já levou dois tins).
Resolvido o mistério do tintim, que não é
uma subdivisão nem de tempo nem de es-
paço nem de matéria, resta o triz. O Aure-
lião não nos ajuda. “Triz”, diz ele, significa
por pouco. Sim, mas que pouco? Queremos
algarismos, vírgulas, zeros, definições para
“triz”. Substantivo feminino. Popular.
“Icterícia.” Triz quer dizer icterícia. Ou tere-
mos que mudar todas as nossas teorias sobre
o Universo ou teremos que mudar de assun-
to. Acho melhor mudar de assunto.
O Universo já tem problemas demais. CHECKUP x INVESTIGAÇÃO
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para ler Os médicos empregam o termo checkup
na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)
para se referir a exames que avaliam a
Considere o seguinte trecho: “É verdade que, condição específica – o estado das mamas
se tivesse me dado o trabalho de olhar no di- ou o perfil de colesterol – antes da pre-
cionário mais cedo, minha ignorância não te- sença de sintomas. Mas, quando as quei-
ria durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, é a úl- xas já aparecem, fala-se de investigação
tima coisa que nos ocorre”. Os verbos grifados diagnóstica – testes 1são solicitados para
encontram-se conjugados, respectivamente: descobrir o que anda errado. Um exemplo
a) pretérito perfeito do indicativo, futuro do pre- é a endoscopia, que 2é prescrita diante de
térito do indicativo, presente do subjuntivo. reclamações como queimação e dores de
b) pretérito imperfeito do indicativo, pretérito estômago. A seguir, apresenta-se uma se-
perfeito do indicativo, presente do indicativo. leção de testes indispensáveis em algum
c) pretérito mais que perfeito do indicativo, momento da vida.
pretérito imperfeito do indicativo, presente PRESSÃO ARTERIAL
do subjuntivo. É a conferência da pressão do paciente por
d) pretérito imperfeito do subjuntivo, pretérito meio de um aparelho. O exame costuma ser
imperfeito do indicativo, pretérito perfeito feito a partir dos 18 anos – mas deveria ser
do indicativo. requisitado ainda na infância. Precisa ser
e) pretérito imperfeito do subjuntivo, futuro do repetido, no mínimo, uma vez por ano. De-
pretérito do indicativo, presente do indicativo. tecta alterações na pressão arterial e diag-
nostica a hipertensão, fator de risco para
4. (G1 Col. Naval) Em que opção todas as for- infartos e derrames.
mas verbais destacadas estão de acordo com
a norma padrão da língua? HEMOGRAMA
a) Quando vimos o acidente, freiamos imedia- É o exame de sangue que registra o es-
tamente. Outros, contudo, não se precavi- toque de células vermelhas e brancas. É
ram, e mais batidas aconteceram. solicitado desde a infância. A menos que
b) Ainda que eles compossem com afinco, não ob- haja algum motivo, pode ser refeito anu-
teriam as músicas necessárias para o espetáculo. almente. Sinaliza o estado do sangue e do
c) Muitas empresas mantém serviço de aten- sistema imunológico, acusando problemas
dimento ao consumidor, mas quando nós como infecções.
propusemos alterações nos contratos, não COLESTEROL E GLICEMIA
fomos ouvidos. São testes sanguíneos que avaliam a concen-
d) Quando eu intermedeio as discussões, não tração de gorduras e de açúcar na circulação.
aceito que imponham determinadas ideias. Podem ser receitados desde a infância, mas
e) Embora ele não me mantivesse informada depois dos 18 anos a indicação ganha ain-
sobre o contrato, eu intervi na negociação e da mais consistência. Depois dos 40 anos,
obtive sucesso.
46
recomenda-se repeti-los anualmente. Fla- Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia
gram altos níveis de colesterol e triglicéri- no clube, mas a sua vida era cada vez mais agi-
des, que favorecem as placas capazes de obs- tada. Onde quer que estivesse, era reconhecido
truir os vasos. Já a medida de glicose acusa a e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as
propensão ao diabete. despesas que ele fazia e até mesmo nos ônibus,
SPONCHIATO, Diogo. “O que É um checkup inteligente”. quando ia descer, o motorista lhe dizia sempre:
Saúde! é vital, mar. 2011, p. 46-47. (adaptado) — Joca, você aqui não paga.
Quando entrava no cinema era reconhecido. Vi-
Com relação aos procedimentos linguísticos
nham logo meninos para perto dele. Sabia que
usados no texto e à estrutura composicio-
agradava muito. No clube tinha amigos. Havia
nal, a alternativa que apresenta uma análise
porém o antigo center-forward2 que se sentiu
INADEQUADA é a seguinte:
roubado com a sua chegada. Não tinha razão.
a) As informações sobre os exames citados es-
Ele fora chamado. Não se oferecera. E o homem
tão organizadas nesta sequência: definição,
se enfureceu com Joca. Era um jogador de fama,
periodicidade e motivo.
que fora grande nos campos da Europa e por
b) O emprego de verbos no presente do Indi-
isso pouco ligava aos que não tinham o seu
cativo corrobora a exposição de afirmações
cartaz. A entrada de Joca, o sucesso rápido, a
gerais que podem ser válidas para casos par-
maravilha de agilidade e de oportunismo, que
ticulares.
caracterizava o jogo do novato, irritava-o até ao
c) A ausência da primeira pessoa do singular
ódio. No dia em que tivera que ceder a posição,
neutraliza a figura do enunciador, indicando
a um menino do Cabo Frio, fora para ele como
que o conteúdo do texto não é mera opinião.
se tivesse perdido as duas pernas. Viram-no
d) O uso das estruturas passivas “são solicita-
chorando, e por isso concentrou em Joca toda a
dos” (ref. 1) e “é prescrita” (ref. 2) inclui os
sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava.
médicos como sujeito paciente.
Tinha sido a sua admiração, o seu herói.
e) A apresentação dos motivos para a realiza-
(Água-Mãe, 1974.)
ção dos exames é Introduzida por verbos que
pertencem ao mesmo padrão frasal. 1
Beque, ou seja, o zagueiro de hoje.
2
Centroavante.
6. (Insper) No site de suporte técnico da Micro-
soft, há a seguinte orientação: No primeiro parágrafo, predominam verbos
Se [o usuário] fazer algumas alterações nas empregados no:
propriedades de site da Web do ASP.NET 2.0 a) pretérito perfeito do modo indicativo.
e clique na guia ASP.NET no Gerenciador b) pretérito imperfeito do modo indicativo.
do IIS, o serviço W3SVC pode ser reiniciado c) presente do modo indicativo.
inesperadamente. d) presente do modo subjuntivo.
(Disponível em http://support.microsoft. e) pretérito mais-que-perfeito do modo indica-
com/kb/953343/pt-br.) tivo.
As formas verbais “fazer” e “clique” estão
mal empregadas e deveriam ser substituídas 8. (Unesp) A questão a seguir focaliza uma
no padrão culto da língua por: passagem de um artigo de José Francisco Bo-
a) fazerem / clicarem telho e uma das ilustrações de Carlo Giovani
b) faça / clica a esse artigo.
c) fizer / clicar
COMPAIXÃO
d) fizerem / clicando
Considerada a maior de todas as virtudes
e) fazem / clicassem
por religiões como o budismo e o hindu-
ísmo, a compaixão é a capacidade huma-
7. (Unesp) A questão a seguir focaliza uma na de compartilhar (ou experimentar de
passagem do romance Água-Mãe, de José
forma parcial) os sentimentos alheios
Lins do Rego (1901-1957).
— principalmente o sofrimento. Mas a
Jogava com toda a alma, não podia compre- onipresença da miséria humana faz da
ender como um jogador se encostava, não se compaixão uma virtude potencialmente
entusiasmava com a bola nos pés. Atirava-se, paralisante. Afogados na enchente das
não temia a violência e com a sua agilidade dores alheias, podemos facilmente cair no
espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. desespero e na inação. Por isso, a piedade
Quando aquele back1, num jogo de subúrbio, tem uma reputação conturbada na histó-
atirou-se contra ele, recuou para derrubá-lo, e ria do pensamento: se alguns a aponta-
com tamanha sorte que o bruto se estendeu no ram como o alicerce da ética e da moral,
chão, como um fardo. E foi assim crescendo a outros viram nela uma armadilha, um
sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao novo mero acréscimo de tristeza a um Universo
47
já suficientemente amargo. Porém, vale 9. (Uepb) Leia o texto e responda à questão a
lembrar que as virtudes, para funciona- seguir.
rem, devem se encaixar umas às outras: E SE...
quando aliado à temperança, o sentimen- ...A ÁGUA POTÁVEL ACABAR?
to de comiseração pelas dores do mundo As teorias mais pessimistas dizem que a
pode ser um dos caminhos que nos afas- água potável deve acabar logo, em 2050.
tam da cratera de Averno*. Dosando com Nesse ano, ninguém mais tomará banho
prudência uma compaixão potencialmen- todo dia. Chuveiro com água só duas vezes
te infinita, é possível sentirmos de forma por semana. Se alguém exceder 55 litros de
mais intensa a felicidade, a nossa e a dos consumo (metade do que a ONU recomenda),
outros — como alguém que se delicia com seu abastecimento será interrompido. Nos
um gole de água fresca, lembrando-se do mercados, não haveria carne, pois, se não há
deserto que arde lá fora. Isso tudo pode água para você, imagine para o gado. Gas-
parecer estranho, mas o fato é que a de- tam-se 43 mil litros de água para produzir
núncia da compaixão segue um raciocínio 1 kg de carne. 1Mas não é só ela que faltará.
bastante rigoroso. A Região Centro-Oeste do Brasil, maior pro-
O sofrimento — e todos concordam — é algo dutor de grãos da América Latina em 2012,
ruim. A compaixão multiplica o sofrimento não conseguiria manter a produção. Afinal,
do mundo, fazendo com que a dor de uma no País, a agricultura e a agropecuária são,
criatura seja sentida também por outra. E o hoje, as maiores consumidoras de água, com
que é pior: ao passar a infelicidade adiante, mais de 70% do uso. Faltariam arroz, feijão,
ela não corrige, nem remedia, nem alivia a soja, milho e outros grãos.
dor original. Como essa infiltração universal A vida nas metrópoles será mais difícil. Só a
da tristeza poderia ser uma virtude? No sé- grande São Paulo consome atualmente 80,5
culo 1 a.C., Cícero escreveu: “Por que sentir bilhões de litros por mês. A água que abaste-
piedade, se em vez disso podemos simples- ce a região virá de Santos, uma das grandes
mente ajudar os sofredores? Devemos ser cidades do litoral que passarão a investir em
justos e caridosos, mas sem sofrer o que os dessalinização. O problema é que, para obter
outros sofrem”. 1 litro de água dessalinizada, são necessá-
* Os romanos consideravam a cratera vulcânica de Averno, rios 4 litros de água do mar, a um custo de
situada perto de Nápoles, como entrada para o mundo até US$ 0,90 o m2, 2segundo a International
inferior, o mundo dos mortos, governado por Plutão. Desalination Association. Só São Paulo gas-
taria quase RS 140 milhões em dessaliniza-
ção por mês, Como resultado, a água custaria
muito mais do que os R$ 3 por m3 de hoje.
Mas há quem não concorde com esse cenário
caótico. 3“Á água só acaba se você acabar com
o ciclo dela”, diz Antônio Felix Domingues,
da Agência Nacional de Águas. [...]
Rafael Soeiro. In Revista Superinteressante. São
Paulo. Abril. Edição 305, junho/2012, p. 42.
E.O. Teste II
1. (UEG)
Na tirinha, a locutora utiliza o imperativo verbal para desafiar seu interlocutor a lhe apresentar
uma prova de amor. Essas formas imperativas apresentam um caso de variação na pessoa do verbo,
tendo a seguinte configuração:
a) “mate” e “peça” são formas de 2ª pessoa que derivam do presente do modo indicativo e se correlacio-
nam ao pronome de 2ª pessoa “tu”.
b) “prova” e “coloca” são formas de 3ª pessoa que derivam do presente do modo subjuntivo e se correla-
cionam ao pronome de 3ª pessoa “você”.
c) “prova” e “coloca” são formas de 2ª pessoa correlacionadas ao pronome “tu”; “mate” e “peça” são
formas de 3ª pessoa correlacionadas ao pronome “você”.
d) “mate” e “peça” são formas de 2ª pessoa correlacionadas ao pronome “tu”; “prova” e “coloca” são
formas de 3ª pessoa correlacionadas ao pronome “você”.
53
Os conflitos étnicos mataram quase 200 chi- O seu não ter sequer mãos para se pronun-
neses só no mês de julho. ciar com as mãos.
De acordo com a norma padrão, passando- Penso que a natureza o adotara em árvore.
-se essa frase para a voz passiva analítica, a Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de
forma verbal correspondente será: passarinhos
a) foram mortos. que um dia teriam cantado entre as suas fo-
b) estavam sendo mortos. lhas.
c) eram mortos. Tentei transcrever para flauta a ternura dos
d) matou-se. arrulos.
e) morreram. Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão − como
9. (Espm) Em meio a um dos depoimentos nas alguém
Comissões Parlamentares de Inquérito em que procurasse o chão para repouso.
Brasília, o então ministro e deputado fede- Tivemos saudades de nós.
ral José Dirceu, ante as acusações, soltou um Manoel de Barros
“eu repilo”, forma verbal da 1a pessoa do Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
1
arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas
singular do presente do indicativo do verbo
REPELIR. Dos verbos a seguir, pertencentes A memória expressa pelo enunciador do tex-
ao grupo do verbo REPELIR, um apresenta to não pertence somente a ele.
conjugação errônea. Assinale-a: Na construção do poema, essa ideia é refor-
a) CERZIR: eu cerzo meu paletó. çada pelo emprego de:
b) ADERIR: eu adiro às suas ideias. a) tempo passado e presente
c) COMPETIR: eu compito com você nessa car- b) linguagem visual e musical
reira. c) descrição objetiva e subjetiva
d) DESPIR: eu dispo a roupa rapidamente. d) primeira pessoa do singular e do plural
e) DISCERNIR: eu discirno um fato do outro.
2. (FGV-RJ) BOCAGE NO FUTEBOL
10. (Fuvest) Os verbos estão corretamente em- Quando eu tinha 3meus cinco, meus seis
pregados apenas na frase: anos, morava, ao lado de minha casa, um ga-
a) No cerne de nossas heranças culturais se en- roto que era 2tido e havido como o anticristo
contram os idiomas que as transmitem de da rua. Sua idade regulava com a minha. E
geração em geração e que assegurem a plu- 6
justiça se lhe faça: — não havia palavrão
ralidade das civilizações. que ele não praticasse. Eu, na minha can-
b) Se há episódios traumáticos em nosso passa- dura pânica, vivia cercado de conselhos, por
do, não poderemos avançar a não ser que os todos os lados: — “Não brinca com Fulano,
encaramos. que ele diz nome feio!”. E o Fulano assumia,
c) Estresse e ambiente hostil são apenas alguns aos meus olhos, as proporções feéricas de
dos fatores que possam desencadear uma ex- um Drácula, de um 1Nero de fita de cinema.
plosão de fúria. Mas o tempo passou. E acabei descobrindo que,
d) A exigência interdisciplinar impõe a cada afinal de contas, o anjo de boca suja estava com
especialista que transcenda sua própria es- a razão. Sim, amigos: — cada nome feio que a
pecialidade e que tome consciência de seus vida extrai de nós é um estímulo vital irresis-
próprios limites. tível. Por exemplo: — os nautas camonianos.
e) O que hoje talvez possa vir a tornar-se uma Sem uma sólida, potente e jucunda pornogra-
técnica para prorrogar a vida, sem dúvida fia, um Vasco da Gama, um Colombo, um Pedro
amanhã possa vir a tornar-se uma ameaça. Álvares Cabral não teriam sido almirantes nem
de barca da Cantareira. O que os virilizava era
o bom, o cálido, o inefável palavrão.
E.O. Teste III Mas, se nas relações humanas em geral, o nome
feio produz esse impacto criador e libertário,
que dizer do futebol? Eis a verdade: — retire-
1. (Uerj) CANÇÃO DO VER -se a pornografia do futebol e nenhum jogo
Fomos rever o poste. será possível. Como jogar ou como torcer se não
O mesmo poste de quando a gente brincava podemos xingar ninguém? O craque ou o torce-
de pique dor é um Bocage. Não o 4Bocage fidedigno, que
e de esconder. nunca existiu. Para mim, o 5verdadeiro Bocage
Agora ele estava tão verdinho! é o falso, isto é, o Bocage de anedota. Pois bem:
O corpo recoberto de limo e borboletas. — está para nascer um jogador ou um torcedor
Eu quis filmar o abandono do poste. que não seja bocagiano. O craque brasileiro não
O seu estar parado. sabe ganhar partidas sem o incentivo constan-
O seu não ter voz. te dos rijos e imortais palavrões da língua. Nós,
54
de longe, vemos os 22 homens 7correndo em Considerando o emprego de algumas formas
campo, matando-se, agonizando, rilhando os verbais no texto, é correto afirmar que
dentes. Parecem dopados e realmente o estão: a) “descarta” (ref. 11) e “descubra” (ref. 12) ex-
— o chamado nome feio é o seu excitante efi- pressam fatos possíveis num futuro próximo.
caz, o seu afrodisíaco insuperável. b) “possa chegar” (ref. 13) pode ser substituído
Nélson Rodrigues, À sombra das chuteiras por “chegasse”, sem prejuízo para o sentido
imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. e para a coerência da frase.
c) as ações expressas por “desmontar” (ref. 14)
Tendo em vista o contexto, sobre os seguin-
e “separar” (ref.15) não têm agente determi-
tes trechos, só NÃO é correto afirmar:
nado no texto.
a) “era tido e havido” (ref. 2): trata-se de uma
d) “morreram” (ref. 16) está no pretérito, mas
repetição com valor enfático.
se refere a um fato possível de acontecer no
b) “meus cinco, meus seis anos” (ref. 3): ex-
futuro.
pressa ideia de aproximação.
e) “completaram” (ref. 17) e “completavam”
c) “Bocage fidedigno” / “verdadeiro Bocage”
(ref. 18) traduzem fatos passados repetidos,
(ref. 4 e 5): embora sinônimos, os adjetivos
que se prolongam até o presente.
foram usados com sentidos diferentes.
d) “justiça se lhe faça” (ref. 6): pode ser conside- 4. (Ifsul) Observe.
rada uma construção na voz passiva sintética.
e) “correndo (...), matando-se, agonizando, ri-
lhando” (ref. 7): apenas o primeiro gerúndio
dá ideia de continuidade.
3. (PUC-RS)
Revista de maior circulação no mundo, a
Time mostrou como ficaram 1tênues os limi-
tes entre a ciência e a ficção. Em reportagem
de capa, intitulada “Jovem para sempre”,
não 11descarta 19nas entrelinhas a chance de
que um dia, quem sabe, 3se 12descubra não a
cura das doenças, 8mas a cura da morte.
4Menos sutilmente, estimula a esperança
de que talvez o ser humano 13possa chegar
aos 300 anos. A revista ancora o sonho em
moscas e minhocas que, 5tratadas em labora-
tórios, passaram a viver muitas vezes mais.
A suspeita é de 20que, em algum lugar, seria
possível 14desmontar um 21relógio que deter-
mina o aparecimento de rugas, seios caídos, QUINO, 10 anos com Mafalda. São
Paula, Martins Fontes, 2010
pernas flácidas, queda de cabelo.
6
Ao tentar 15separar fantasias e bom senso, a NÃO ABRA A PORTA...
reportagem estabelece como hipótese realis- Se o enunciado acima passasse para o impe-
ta que, 9a partir das descobertas médicas das rativo afirmativo e o tratamento dado fosse o
próximas três décadas, a expectativa de vida de segunda pessoa, qual das construções es-
suba para 120 anos. Seria a continuação do taria de acordo com a norma culta da língua?
impacto provocado pelo inglês Alexander Fle- a) Abre a porta...
ming, que descobriu o primeiro antibiótico. b) Abres a porta...
Traduzindo: as crianças de hoje se lembra- c) Abra a porta...
riam de seus pais – 10ou seja, nós – como d) Abras a porta...
pessoas que 16morreram jovens porque não
17
completaram 80 22anos. 11Assim como acha- 5. (Espm) EPIGRAMA 2
mos que nossos tataravós morriam cedo por- És precária e veloz, Felicidade.
que não 18completavam 60 anos de idade. Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Os novos mitos nutridos pela tecnologia re- Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
forçam o absurdo brasileiro. Dezenas de mi- e, para te medir, se inventaram as horas.
lhares de crianças que não completam 2par-
cos 12 meses de vida morrem anualmente, Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
7
porque simplesmente não têm comida ou Fizeste para sempre a vida ficar triste:
bebem água contaminada. Porque um dia se vê que as horas todas passam,
DIMENSTEIN, Gilberto. Expectativa de vida. In: _____. e um tempo despovoado e profundo persiste.
Aprendiz do futuro. São Paulo: Ática: 2004. (fragmento) (Cecília Meireles)
55
Se as formas verbais (no Presente do Indica-
tivo) dos dois primeiros versos exprimissem
ordem, na mesma pessoa, teríamos respec-
tivamente:
a) sê, custa, vem, não te demores.
b) seja, custa, vem, não se demore.
c) sede, custai, vinde, não vos demoreis.
d) sê, custa, venha, não te demoras.
e) sê, custe, vem, não te demore.
E.O. Dissertativo
1. (Fuvest) Leia este texto.
O tempo personalizou minha forma de falar
com Deus, mas sempre termino a conversa Com base na parte escrita do anúncio, res-
ponda.
com um pai-nosso e uma ave-maria.
a) Qual é a relação temporal que se estabele-
(...) ce entre os verbos “conhecer”, “oferecer”,
“proporcionar” e “alcançar”? Explique.
Metade da ave-maria é uma saudação florea-
b) Complete a frase abaixo, flexionando de for-
da para, só no final, pedir que ela rogue por ma adequada os verbos “oferecer”, “propor-
cionar” e “alcançar”.
nós. No pai-nosso, sempre será um mistério
Conhecer profundamente os negócios de
para mim o “mas” do “não nos deixeis cair nossos clientes é só o primeiro passo que
permite que __________ sempre respostas
em tentação, mas livrai-nos do mal”. Me pare- mais rápidas, __________ decisões mais as-
ce que, a princípio, se o Pai não nos deixa cair sertivas e __________ melhores resultados.
em tentação, já estará nos livrando do mal.
3. (Uerj) Uma senhora
Denise Fraga, www1.folha.uol.com. (...)
br, 07/07/2015. Adaptado.
9
A primeira vez que a vi, tinha ela trinta e
seis anos, posto só parecesse trinta e dous, e
não passasse da casa dos vinte e nove. Casa
a) Mantendo-se a relação de sentido existente
é um modo de dizer. 7Não há castelo mais
entre os segmentos “não nos deixeis cair em vasto do que a vivenda destes bons amigos,
nem tratamento mais 1obsequioso do que o
tentação” / “mas livrai-nos do mal”, a con- que eles sabem dar às suas hóspedes. Cada
junção “mas” poderia ser substituída pela vez que D. Camila queria ir-se embora, eles
pediam-lhe muito que ficasse, e ela ficava.
conjunção e, de modo a dissipar o “mistério” Vinham então novos folguedos, cavalhadas,
a que se refere a autora? Justifique. música, dança, uma sucessão de cousas be-
las, inventadas com o único fim de impedir
b) Sem alterar seu sentido, reescreva o trecho que esta senhora seguisse o seu caminho.
da oração citado pela autora, colocando os − Mamãe, mamãe, dizia-lhe a filha crescen-
do, vamos embora, não podemos ficar aqui
verbos “deixeis” e “livrai” na terceira pessoa toda a vida.
do singular. D. Camila olhava para ela mortificada, depois
sorria, dava-lhe um beijo e mandava-a brin-
car com as outras crianças. Que outras crian-
2. (Fuvest) Examine este anúncio de uma insti- ças? Ernestina estava então entre quatorze
e quinze anos, era muito 2espigada, muito
tuição financeira, cujo nome foi substituído
quieta, com uns modos naturais de senho-
por X, para responder às questões a seguir. ra. Provavelmente não se divertiria com as
56
meninas de oito e nove anos; não importa, folguedos, cavalhadas, música, dança, uma
uma vez que deixasse a mãe tranquila, po- sucessão de cousas belas, inventadas com o
dia alegrar-se ou enfadar-se. Mas, ai triste! único fim de impedir que esta senhora se-
Há um limite para tudo, mesmo para os vin- guisse o seu caminho. (ref. 7)
te e nove anos. D. Camila resolveu, enfim, Observe as formas verbais flexionadas do
despedir-se desses dignos anfitriões, e fê-lo trecho acima: as duas primeiras, há e sabem,
ralada de saudades. Eles ainda 3instaram por estão no tempo presente, ao passo que as
uns cinco ou seis meses de quebra; a bela restantes estão no tempo pretérito.
dama respondeu-lhes que era impossível e, Apresente uma justificativa para o emprego
trepando no 4alazão do tempo, foi alojar-se de cada um desses diferentes tempos verbais
na casa dos trinta. e reescreva o trecho integralmente, passan-
8
Ela era, porém, daquela casta de mulheres do todas as formas verbais pretéritas para o
que riem do sol e dos almanaques. Cor de tempo presente, sem alterar os respectivos
leite, fresca, inalterável, deixava às outras o modos, pessoas e números.
trabalho de envelhecer. Só queria o de exis-
tir. Cabelo negro, olhos castanhos e 5cálidos. 4. (PUC-RJ) Podemos primeiramente distin-
Tinha as espáduas e o colo feitos de enco- guir dois grandes sentidos da palavra liber-
menda para os vestidos decotados, e assim dade.
também os braços, que eu não digo que eram Quando tratamos das relações entre “demo-
os da Vênus de Milo, para evitar uma vulga- cracia e liberdade”, ou quando nos pergun-
ridade, mas provavelmente não eram outros. tamos se em tal país se é livre, ou quando
D. Camila sabia disto; sabia que era bonita, invocamos as liberdades políticas, as liberda-
não só porque lho dizia o olhar sorrateiro des fundamentais, ou ainda quando dizemos
das outras damas, como por um certo ins- de um homem que ele é livre (por oposição
tinto que a beleza possui, como o talento e a um escravo ou a um preso), referimo-nos
o gênio. Resta dizer que era casada, que o ao que se pode chamar liberdade de direito,
marido era ruivo, e que os dois amavam-se isto é, em linhas gerais, a ausência de coer-
como noivos; finalmente, que era honesta. ções externas – as interdições e as obriga-
Não o era, note-se bem, por temperamento, ções – nascidas do Estado, da coletividade ou
mas por princípio, por amor ao marido, e da sociedade. [...]
creio que um pouco por orgulho. Há um segundo sentido, que se pode chamar
Nenhum defeito, pois, exceto o de retardar liberdade de fato, por oposição à de direito:
os anos; mas é isso um defeito? Há, não me não se trata mais de perguntar “é permitido
lembra em que página da 6Escritura, natural- fazer (dizer, pensar)?”, mas “é possível fa-
mente nos Profetas, uma comparação dos dias zer (pensar querer...)?”. Não nos referimos
com as águas de um rio que não voltam mais. mais à ausência de coerções extrínsecas (as
D. Camila queria fazer uma represa para seu leis civis, as obrigações sociais, as regras co-
uso. No tumulto desta marcha contínua en- letivas, as interdições...), mas intrínsecas –
tre o nascimento e a morte, ela apegava-se à aquelas que concernem ao próprio sujeito.
ilusão da estabilidade. Só se lhe podia exigir [...]
que não fosse ridícula, e não o era. Dir-me-á Com efeito, não basta, por exemplo, que eu
o leitor que a beleza vive de si mesma, e que viva num país onde há liberdade de viajar
a preocupação do calendário mostra que esta ao exterior para poder fazê-lo, mesmo se eu
senhora vivia principalmente com os olhos quiser. Posso ser impedido por minha situa-
na opinião. É verdade; mas como quer que ção social ou simplesmente por meus recur-
vivam as mulheres do nosso tempo? sos financeiros: passamos aqui do problema
(...) formal da liberdade política (a questão do
Machado de Assis regime) ao problema da justiça econômica (o
Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1962.
sistema social), e desta não depende mais
obsequioso − gentil
1
apenas a questão da liberdade “formal” (te-
espigada − crescida
2
mos o direito de fazer?), e sim a questão da
3
instar − insistir
liberdade “material” (temos o meio de fa-
4
alazão − um tipo de cavalo
5
cálidos − calorosos zer?). Pode haver também outros obstáculos
6
Escritura − Bíblia para exercer um direito política e juridica-
Não há castelo mais vasto do que a vivenda mente reconhecido; posso, por exemplo, ser
destes bons amigos, nem tratamento mais deficiente físico, estar doente etc. Seja como
obsequioso do que o que eles sabem dar às for, a característica mais geral dessa liberda-
suas hóspedes. Cada vez que D. Camila que- de como “capacidade de fazer o que se quer”
ria ir-se embora, eles pediam-lhe muito que é ser gradual – ao contrário da precedente
ficasse, e ela ficava. Vinham então novos que existe ou não existe – e proporcional aos
57
meios de que dispõe o sujeito – de qualquer a palavra “lírica”, de onde vem a expressão
ordem que sejam: meios econômicos, físi- “poema lírico”, significava, originalmente,
cos, culturais etc. Quanto maiores os meios certo tipo de composição literária feita para
(riqueza, cultura, saúde, força etc.), mais ser cantada, fazendo-se acompanhar por
se pode fazer o que se quer, e portanto se é instrumento de cordas, de preferência a lira.
mais, nesse sentido. A partir de então, configuraram-se muitos
Texto adaptado de WOLFF, Francis. “A invenção momentos em que a música e a poesia se
materialista da liberdade”. In: NOVAES, uniram. 2Segundo Antônio Medina Rodri-
Adauto (org.). O avesso da liberdade. gues, “a grande poesia medieval quase que
São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 16-17
foi exclusivamente concebida para o canto.
a) O texto reporta-se a dois conceitos distintos
3
O Barroco, séculos além, fez os primeiros
de liberdade. Identifique-os e, usando suas ensaios operísticos, que iriam recolocar o te-
atro no coração da música. 4Depois Mozart,
próprias palavras, explique a diferença que
com a Flauta mágica ou D. Giovanni, levaria,
existe entre eles.
como sabemos, esta fusão ao sublime”.
b) Sem que haja alteração de sentido, reescre-
Durante muito tempo, a poesia foi destinada
va cada trecho abaixo, observando o início à voz e ao ouvido. Na Idade Média, “trova-
proposto a seguir e fazendo as modificações dor” e “menestrel” eram sinônimos de poe-
necessárias. ta. 5Seria necessário esperar a Idade Moder-
i. Não basta que eu viva num país onde há na para que a invenção da imprensa, 6e com
liberdade de viajar ao exterior para poder ela o triunfo da escrita, acentuasse a distin-
fazê-lo, mesmo se eu quiser. ção entre música e poesia. A partir do século
Não bastava ___________________________ XVI, a lírica foi abandonando o canto para se
ii. Posso ser impedido de viajar ao exterior por destinar, cada vez mais, à leitura silenciosa.
minha situação social. Entretanto, mesmo separado da música, o
Minha situação social ____________________ poema continuou preservando traços da-
quela antiga união. Certas formas poéticas,
5. (G1 CP2) ainda vigentes, como o madrigal, o rondó,
CHUVA NO BREJO a balada e a cantiga aludem diretamente às
(Moraes Moreira)
formas musicais. Se a separação de poetas e
músicos dividiu a história de um gênero e
Olha como a chuva cai outro, a poesia não abandonou de vez a mú-
E molha a folha aqui na telha sica tanto quanto a música não abandonou
Faz um som assim de vez a poesia.
Um barulhinho bom [...]
(Disponível em e-revista.unioeste.br/index.php/
travessias/article/ 2993/2342. Acesso: terça-
Faz um som assim feira, 12 de novembro de 2013) [adaptado]
Um barulhinho bom
“O Barroco (...) fez os primeiros ensaios
Água nova operísticos (...)” (referência 3)
Vida veio ver-te Reescreva o trecho acima transformando-o
Voa passarinho em voz passiva. Faça apenas as modificações
necessárias.
No teu canto canta
Antiga cantiga 7. (FGV) Leia o seguinte texto.
A existência de todo grupo social pressupõe
No teu canto canta a obtenção de um equilíbrio relativo entre
antiga cantiga as suas necessidades e os recursos do meio
(Fonte: http://www.vagalume.com.br/moraes-moreira/ físico, requerendo, da parte do grupo, solu-
chuva-no-brejo.html. Último acesso em 23 nov. 2013) ções mais ou menos adequadas e completas,
das quais depende a eficácia e a própria na-
Transcreva, do texto, uma forma verbal que tureza daquele equilíbrio. As soluções, por
está flexionada no modo imperativo. sua vez, dependem da quantidade e quali-
6. (G1 cp2) MÚSICA E POESIA dade das necessidades a serem satisfeitas.
São estas, portanto, o verdadeiro ponto
Luciano Cavalcanti
de partida, todas as vezes que o sociólogo
A relação entre música e poesia vem desde aborda o problema das relações do grupo
a antiguidade. Na cultura da Grécia Antiga, com o meio físico.
por exemplo, poesia e música eram pratica- Com efeito, as necessidades têm um duplo
mente inseparáveis: a poesia era feita para caráter natural e social, pois se a sua mani-
ser cantada. 1De acordo com a tradição, a festação primária são impulsos orgânicos, a
música e a poesia nasceram juntas. De fato, satisfação destes se dá por meio de iniciativas
58
humanas que vão-se complicando cada vez No poema, observa-se uma tentativa de in-
mais, e dependem do grupo para se configurar. terlocução entre o eu poético e as pessoas
Daí as próprias necessidades se complicarem e do futuro.
perderem em parte o caráter estritamente na- Identifique a marca linguística que revela
tural, para se tornarem produtos da sociedade. essa tentativa de interlocução. Em seguida,
De tal modo a podermos dizer que as socieda- indique a quem o eu poético se refere com o
des se caracterizam, antes de mais nada, pela emprego do pronome “nós”.
natureza das necessidades de seus grupos, e
os recursos de que dispõem para satisfazê-las. 9. (Fuvest) Para Pirandello, o cômico nasce
O equilíbrio social depende em grande parte de uma “percepção do contrário”, como no
da correlação entre as necessidades e sua sa- famoso exemplo de uma velha já decrépita
tisfação. E sob este ponto de vista, as situa- que se cobre de maquiagem, veste-se como
ções de crise aparecem como dificuldade, ou uma moça e pinta os cabelos. Ao se perceber
impossibilidade de correlacioná-las. que aquela senhora velha é o oposto do que
Antonio Candido, “Os parceiros do Rio Bonito”. uma respeitável velha senhora deveria ser,
produz-se o riso, que nasce da ruptura das
a) Segundo o texto, as necessidades dos grupos expectativas, mas sobretudo do sentimento
sociais têm um “duplo caráter”. O que distin- de superioridade. A “percepção do contrá-
gue um caráter do outro? rio” pode, porém, transformar-se num “sen-
b) Atenda ao que se pede: timento do contrário” - quando aquele que
b1) O referente dos pronomes sublinhados ri procura entender as razões pelas quais a
em “satisfazê-las” e “correlacioná-las” é o velha se mascara, na ilusão de reconquistar
mesmo? Explique. a juventude perdida. Nesse passo, a velha
b2) Reescreva a frase “todas as vezes que o da anedota não mais está distante do sujei-
sociólogo aborda o problema das relações do to que percebe, porque este pensa que tam-
grupo com o meio físico”, pondo o verbo na bém poderia estar no lugar da velha - e seu
voz passiva. riso se mistura com a compreensão piedosa
e se transforma num sorriso. Para passar da
atitude cômica para a atitude humorística,
8. (Uerj)
é preciso renunciar ao distanciamento e ao
ODE1 PARA O FUTURO
sentimento de superioridade.
Falareis de nós como de um sonho.
Adaptado de Elias Thomé Saliba, “Raízes do riso”.
Crepúsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. Música suave. a) Considerando o que o texto conceitua, expli-
Pensamento arguto2. Sutis sorrisos. que brevemente qual a diferença essencial
Paisagens deslizando na distância. entre a “percepção do contrário” e o “senti-
Éramos livres. Falávamos, sabíamos, mento do contrário”.
e amávamos serena e docemente. b) “Ao se perceber que aquela senhora velha é
o oposto do que uma respeitável velha se-
Uma angústia delida3, melancólica, nhora deveria ser, produz-se o riso (...)”.
sobre ela sonhareis. Sem prejuízo para o sentido do trecho aci-
ma, reescreva-o, substituindo SE PERCEBER
E as tempestades, as desordens, gritos, e PRODUZ-SE por formas verbais cujo sujeito
violência, escárnio4, confusão odienta5, seja “nós” e É O OPOSTO por NÃO CORRES-
primaveras morrendo ignoradas PONDE. Faça as adaptações necessárias.
nas encostas vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor vendido, 10. (Ufrj) BEM NO FUNDO
as lágrimas e as lutas, no fundo, no fundo,
o desespero da vida que nos roubam bem lá no fundo,
- apenas uma angústia melancólica, a gente gostaria
sobre a qual sonhareis a idade de ouro. de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
E, em segredo, saudosos, enlevados6,
falareis de nós - de nós! - como de um sonho. a partir desta data,
JORGE DE SENA aquela mágoa sem remédio
www.letras.ufrj.br é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo
1 ode: tipo de poema
2 arguto: capaz de perceber as coisas mais sutis extinto por lei todo o remorso,
3 delida: apagada
4 escárnio: desdém, menosprezo
maldito seja quem olhar pra trás,
5 odienta: que inspira aversão, ódio lá pra trás não há nada,
6 enlevados: maravilhados, extasiados e nada mais
59
mas problemas não se resolvem, do cliente, para depois oferecer propostas
problemas têm família grande, que venham a proporcionar resultados
e aos domingos saem todos a passear positivos e correspondam aos objetivos
o problema, sua senhora positivos do negócio.
e outros pequenos probleminhas b) Os verbos mencionados devem ser con-
(LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. jugados no modo subjuntivo, na primei-
3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.) ra pessoa do plural: Conhecer profunda-
mente os negócios de nossos clientes é
O poema de Paulo Leminski estrutura-se em só o primeiro passo que permite que ofe-
três momentos de significação, que podem reçamos sempre respostas mais rápidas,
ser assim caracterizados: hipótese (1ª es- proporcionemos decisões mais assertivas
trofe); decreto (2ª e 3ª estrofes); conclusão e alcancemos melhores resultados.
reflexiva (4ª estrofe). 3.
Com o tempo presente, o narrador se refere
Nomeie o recurso formal que expressa a hi- a verdades gerais e atemporais. Com o tempo
pótese no primeiro momento do texto. passado, ele relata acontecimentos ou episó-
dios situados em alguma época anterior ao
momento da narração.
Gabarito Não há castelo mais vasto do que a vivenda
destes bons amigos, nem tratamento mais
obsequioso do que o que eles sabem dar às
suas hóspedes. Cada vez que D. Camila quer
E.O. Teste I ir-se embora, eles pedem-lhe muito que fi-
que, e ela fica. Vêm então novos folguedos,
1. C 2. C 3. E 4. D 5. D
cavalhadas, música, dança, uma sucessão de
6. D 7. D 8. B 9. C 10. D cousas belas, inventadas com o único fim de
impedir que esta senhora siga o seu cami-
nho.
4.
E.O. Teste II a) O primeiro conceito se refere à liberdade
1. C 2. D 3. A 4. C 5. B de direito, ou seja, à possibilidade de al-
guém agir sem ser impedido por causa de
6. D 7. A 8. A 9. A 10. A restrições externas a ele, como regras e
proibições. O segundo conceito se refere
à liberdade de fato, ou seja, à possibilida-
de de alguém agir sem ser impedido por
E.O. Teste III causa de restrições internas, como saúde
1. D 2. E 3. D 4. A 5. A e meios econômicos.
b)
i. Não bastava que eu vivesse num país onde
houvesse liberdade de viajar ao exterior
para poder fazê-lo, mesmo se eu quises-
E.O. Dissertativo se.
1. ii. Minha situação social pode me impedir de
a) Se a conjunção “mas” fosse substituída viajar ao exterior.
pela conjunção “e”, o estranhamento da 5.
A partir do pronome “teu”, na segunda pes-
autora desapareceria, pois a segunda ora- soa do singular, pode-se perceber que o in-
ção deixaria de constituir oposição à pri- terlocutor do eu lírico é um “tu”. Os verbos
meira e seria entendida como um outro “olha” e “voa” referem-se, portanto, a uma
pedido a Deus: “não nos deixeis cair em segunda pessoa do singular. Dessa forma,
tentação” / “e livrai-nos do mal”. conclui-se que estão conjugados no impera-
b) Se a segunda pessoa do plural dos termos tivo, pois a forma verbal do imperativo para
verbais “deixeis” e “livrai” fosse substi- o “tu” para os verbos “olhar” e “voar” res-
tuída pela terceira pessoa do singular, a pectivamente é “olha” e “voa”.
frase correta seria: não nos deixe cair em 6.
É possível reescrever o trecho tanto na voz
tentação, mas livre-nos do mal. passiva analítica, isto é, verbo ser conjugado
2. no tempo apropriado + particípio do verbo
a) A sequência dos verbos “conhecer”, principal e, nesse caso, teríamos “Os pri-
“oferecer”, “proporcionar” e “alcançar” meiros ensaios operísticos foram feitos pelo
estabelecem uma relação temporal de Barroco”.
continuidade e progressão. Em primeiro Também é possível utilizar a partícula apas-
lugar, é necessário conhecer a atividade sivadora “se” seguida do verbo na terceira
60
pessoa, construindo uma oração na voz pas-
siva sintética e omitindo o agente da passi-
va. Nesse caso, teríamos “Fizeram-se os pri-
meiros ensaios operísticos”.
7.
a) Em síntese, o duplo caráter que caracteri-
za as necessidades dos grupos sociais tem
origem na dualidade entre o que é natu-
ral (satisfação dos “impulsos orgânicos”)
e os recursos disponíveis pelo grupo para
a sua concretização (“dependem do gru-
po para se configurar”).
b)
b1) Na primeira ocorrência, o referente
do pronome “las” é “necessidades” e
na segunda, “as necessidades e sua
satisfação”.
b2) Todas as vezes que o problema das
relações do grupo com o meio físico é
abordado pelo sociólogo.
8. Os verbos conjugados na segunda pessoa do
plural (“falareis” e “sonhareis”) constituem
marca linguística que expressa a tentativa
de interlocução entre o eu lírico e as pessoas
do futuro. O pronome “nós” se refere às pes-
soas que vivem no presente.
9.
a) A “percepção do contrário” consiste no
reconhecimento de uma situação que
contraria o esperado. O “sentimento do
contrário” consiste não só em reconhecer
essa situação oposta, mas também enten-
der os motivos que a provocaram.
b) Ao percebermos que aquela senhora não
corresponde ao que uma velha senhora
deveria ser, rimos (...).
10. O recurso formal que expressa a hipótese é o
futuro do pretérito (“gostaria”).
61
Aula 2 (I.T.)
Verbos aplicados ao texto /
Semântica I
Verbos aplicados ao texto no início do material de Interpretação (já que ela é parte
essencial dos processos interpretativos). A semântica é o
A aplicação de verbos ao texto é realizada de variadas campo de estudos linguísticos que cuida dos significados
maneiras e engloba grande parte dos elementos verbais das palavras e dos textos. Ela está presente em pratica-
que conhecemos no curso de Gramática. Tendo isso em mente todos os outros campos gramaticais (com exceção
mente, iremos dividir os conhecimentos de acordo com dos estudos básicos de fonética e fonologia, ligados à
o andamento das aulas, apresentando ao aluno os vá- ortografia e à acentuação). Pode ter certeza de que, onde
rios campos de análise dos verbos e suas possibilidades há acepções de sentido, há semântica.
de aplicação textual. Além de sua presença em várias áreas da Gra-
mática, a semântica possui seus próprios elementos de
análise, que conheceremos a seguir.
Pessoa verbal e direciona-
mentos
Sinonímia
A articulação dos verbos a partir de pessoas é algo, em
princípio, bem tranquilo de ser trabalhado. Dificilmente Ocorre sinonímia quando temos palavras com significa-
esquecemos quais são as pessoas verbais e a ordem em dos idênticos ou muito semelhantes a outras.
que aparecem:
Cão = cachorro
Eu – Primeira pessoa do singular Jerimum = abóbora
Tu – Segunda pessoa do singular
Ele – Terceira pessoa do singular A sinonímia tem forte relação com a paráfra-
Nós – Primeira pessoa do plural se (possibilidades de se reconstruir uma frase ou texto
Vós – Segunda pessoa do plural com outras palavras similares) e ajuda nos processos de
Eles – Terceira pessoa do plural coesão textual (por meio de sinônimos, evitamos a
repetição de termos em um texto).
No entanto, essas articulações de pessoa precisam ser
trabalhadas também pela perspectiva de direcionamen-
tos, ou, em termos mais claros, é preciso lembrar que
as pessoas verbais não só apontam para indivíduos no
Antonímia
mundo, como também evidenciam relações de sentido
Ocorre antonímia quando temos palavras com significa-
entre eles. A primeira pessoa do singular (eu), por exem-
dos contrários a outras.
plo, não marca simplesmente um indivíduo sozinho que
fala, mas pode marcar colocações de desejos íntimos Bonito ≠ feio
(aspirações subjetivas). Já a primeira e a segunda pes- Alto ≠ baixo
soa juntas são exploradas numa ideia de estabeleci-
mento de relações, ou mesmo de composição de um
“nós”. Enfim, as pessoas verbais mostram possibilida- Homonímia
des de interpretação semântica bastante amplas.
Ocorre homonímia quando temos palavra de grafia
igual ou pronúncia igual, mas com significação diferen-
Semântica I – Elementos de te. Isso nos dá três tipos de homônimos:
análise 1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia
igual – grafia diferente)
Já que se fala a todo o momento de semântica no cur- Ex.: Acento (marca gráfica de tonalidade). As-
so de Gramática, nada melhor do que apresentá-la logo sento (local para se sentar)
63
2. Homônimo homógrafo heterófono (escrita igual – pronúncia diferente)
Ex.: Jogo (substantivo). Jogo (verbo)
Paronímia
Temos parônimos quando as palavras são muito parecidas, mas o sentido geral é diferente.
Ex.: Comprimento (largura) x Cumprimento (saudação)
Ex.: Discriminar (separar) x Descriminar (absolver)
Polissemia
Temos polissemia em palavras que preservam sua classe gramatical, mas que possuem significados múltiplos.
Hiperonímia e hiponímia
São fenômenos que operam relações de abrangência entre palavras (palavras que englobam outras, ou que são
englobadas). As palavras que englobam são conhecidas como hiperônimos; as englobadas como hipônimos.
Ex.: “Comprei um bacalhau para preparar na semana santa. Esse peixe é bastante salgado” (peixe é uma
palavra mais abrangente, que dá conta de bacalhau e de outros diversos peixes, portanto podemos afirmar que
peixe é hiperônimo de bacalhau, e bacalhau é hipônimo de peixe)
Ex.: Ouve um aumento da gasolina. Esse fato deixou os brasileiros irritados (fato é uma palavra que dá
conta de aumento da gasolina, portanto podemos afirmar que fato é hiperônimo do trecho sublinhado.
64
E.O. Teste I IV. “Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as
críticas, é sabedoria, bom senso e tera-
pia.”
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: V. “Não viva sempre triste!”
Se não quiser adoecer ( ) O presente do indicativo aparece nos
Por Dr. Dráuzio Varela enunciados II, III e IV com o objetivo de
exprimir um fato verdadeiro e que não
“Fale de seus sentimentos” pertence a uma época determinada.
Emoções e sentimentos que são escondidos, ( ) No enunciado I, o verbo “falar” encontra-
reprimidos, acabam em doenças como: gas- -se no presente do subjuntivo e expres-
trite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. sa um fato incerto, mas que apresenta a
Com o tempo, a repressão dos sentimentos expectativa do locutor de que venha a se
degenera até em câncer. Então vamos de- realizar.
sabafar, confidenciar, partilhar nossa inti- ( ) Com o objetivo de manter o paralelismo
midade, nossos segredos, nossos pecados. verbal, se colocássemos a primeira forma
O diálogo, a fala, a palavra é um poderoso verbal do período III no pretérito perfei-
remédio e excelente terapia. to do indicativo, teríamos que usar a for-
ma verbal “fôssemos” na segunda oração.
“Busque soluções” ( ) O particípio do verbo “aceitar”, no enun-
Pessoas negativas não enxergam soluções e ciado IV, foi utilizado na formação da voz
aumentam os problemas. Preferem a lamen- passiva.
tação, a murmuração, o pessimismo. Melhor ( ) O verbo “viver”, na frase V, encontra-se
é acender o fósforo que lamentar a escuri- flexionada na 2ª pessoa do singular do
dão. Pequena é a abelha, mas produz o que imperativo negativo.
de mais doce existe. Somos o que pensamos. a) F - V - F - F - V
O pensamento negativo gera energia negati- b) V - F - V - V - F
va que se transforma em doença. c) V - F - V - F - F
d) F - F - F - V - V
“Aceite-se”
A rejeição de si próprio, a ausência de auto- 2. (Enem 2015)
estima, faz com que sejamos algozes de nós
mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma
vida saudável. Os que não se aceitam são
invejosos, ciumentos, imitadores, competi-
tivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser
aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom
senso e terapia.
2. (Enem 2012)
3. (Fuvest 2015)O conceito de hiperônimo (vo-
cábulo de sentido mais genérico em relação a
outro) aplica-se à palavra “planta” em rela-
ção a “palmeira”, “trevos”, “baunilha” etc.,
todas presentes no texto. Tendo em vista a
relação que estabelece com outras palavras
do texto, constitui também um hiperônimo
a palavra
a) “alma”.
b) “impressões”.
c) “fazenda”.
d) “cobra”.
e) “saudade”.
O efeito de sentido da charge é provocado
pela combinação de informações visuais e
recursos linguísticos. No contexto da ilustra- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
ção, a frase proferida recorre à
Em agosto de 2005, a Revista Língua fez
a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos
uma entrevista com Millôr Fernandes, o es-
da expressão “rede social” para transmitir a
critor escolhido para ser o homenageado da
ideia que pretende veicular.
FLIP 2014. Eis, aqui, alguns trechos dessa
b) ironia para conferir um novo significado ao
entrevista.
termo “outra coisa”.
c) homonímia para opor, a partir do advérbio Língua – Fazer humor é levar a sério as pala-
de lugar, o espaço da população pobre e o vras ou brincar com elas?
espaço da população rica. Millôr – Humor, você tem ou não tem. Pode
71
ser do tipo mais profundo, mais popular, arque com as consequências. Mas insisto que
mas tem de ter. 1Você vai fazendo e, sem a escrita é apenas o registro da língua fala-
querer, a coisa sai engraçada. Dá para per- da. De Machado de Assis pra cá, tudo mudou.
ceber quando a construção é forçada. Tenho A língua alemã fez reforma ortográfica há
uma capacidade muito natural de perceber 50 anos, correta. Aqui, na minha geração,
bobagem e destruir a coisa. já foram três reformas do gênero, uma mais
maluca que a outra. 6Botaram acento em
Língua – Com que língua você mais gosta de
“boemia”, escreveram “xeque” quando toda
trabalhar?
língua busca lembrar o árabe shaik, insisti-
Millôr – Não aprendi línguas até hoje (ri-
ram que o certo é “veado” quando o Brasil
sos). 3Gosto de trabalhar com o português,
inteiro pronuncia “viado”. Como chegaram
embora inglês seja a que eu mais leio. Nunca
a tais conclusões? Essas coisas são idiotas e
tive temor de nada. Deve-se julgar as obras
cabe a você aceitar ou não. Veja o caso da cra-
pelo que elas têm de qualidade, não por se-
se. A crase, na prática, não existe no portu-
rem de fulano ou beltrano. Shakespeare fez
guês do Brasil. Já vi tábuas de mármore com
muita besteira, mas tem três ou quatro obras
crase errada. Se todo mundo erra, a crase é
perfeitas, e Macbeth é uma delas.
quem está errada. Se vamos atribuir crase ao
Língua – Na sua opinião, quais vantagens o masculino “dar àquele”, por que não fazer
português possui em comparação a outras o mesmo com “dar alguém”? 2Não podemos.
línguas que você conhece? Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/97/
Millôr – A principal vantagem é a de ser a millor-fernandeso-senhor-das-palavras-247893-1.
asp. Acesso em: 13/06/2014. Adaptado.
minha língua. Ninguém fala duas línguas.
Essa ideia de um espião que fala múltiplas
4. (Upe 2015)Quanto aos aspectos semânticos
línguas não passa de mentira. Vai lá no meio
e efeitos de sentido alcançados pelo vocabu-
do jogo dizer “salame minguê, um sorvete
lário utilizado no texto, assinale a alternati-
colorê...” ou “velho guerreiro”. Os modis-
va CORRETA.
mos da língua, as coisas ocasionais, não são
a) Os dois empregos do hiperônimo “coisa” (1º
acessíveis a quem não é nativo. Toda pessoa
parágrafo) expressam o mesmo tom pejorativo.
tem habilidade só no seu idioma. Você pode
b) Recursos de ironia, como “risos” e vocábulos
aprender uma, dez, sei lá quantas expres-
coloquiais (“fulano”, “besteira”), marcam o
sões de outra língua, mas ainda existirão ou-
2º parágrafo: o leitor deve compreender que,
tras mil – 4como é que se vai fazer? A língua
na verdade, Millôr fala diversas línguas e con-
portuguesa tem suas particularidades. Como
sidera perfeita toda a obra de Shakespeare.
outras também. Aprendi desde cedo a ter o
c) No texto, “a fala brasileira é mutante e dís-
cuidado de não rimar ao escrever uma frase.
par” (5º parágrafo) equivale a “a fala brasi-
Sobretudo em “-ão”.
leira é inconstante e disparatada”, ou seja,
Língua – Quais as normas mais loucas ou “sem normas ou regras”.
mais despropositadas da língua portuguesa? d) Vocábulos como “língua”, “português”,
Millôr – Toda pesquisa de linguagem é peri- “idioma”, “gramáticos”, entre outros, per-
gosa porque tem o caráter de induzir o senti- tencem a um mesmo campo semântico e
do. Não tenho nenhum carinho especial por contribuem, assim, para a construção da
gramáticos. Na minha vida inteira sempre unidade de sentido ao longo do texto.
fui violento [no ataque às regras do idioma], e) Vocábulos como “destruir” (1º parágrafo),
porque a língua é a falada, a outra é apenas “despropositadas” (4º parágrafo), “acessí-
uma forma de você registrar a fala. Se todo veis” (3º parágrafo) e “induzir” (4º parágra-
mundo erra na crase é a regra da crase que fo) apresentam prefixos de traço semântico
está errada, como aliás está. Se você vai a com valor de negação: “des-”, “a-” e “in-”.
Portugal, pode até encontrar uma reverbe-
ração que indica a crase. Não aqui. Aqui, no
Brasil, a crase não existe.
E.O. Dissertativo
Língua – Mas a fala brasileira é mutante e
díspar, cada região tem sua peculiaridade. 1. (Ufmg 2008)Analise este “slogan” de uma
Como romper regras da língua sem cair no empresa gráfica:
vale-tudo?
Millôr – 5Se não houver norma, não há como O NOSSO PRODUTO É UMA BOA IMPRESSÃO
transgredir. A língua tem variantes, mas te-
mos de ensinar a escrever o padrão. Quem EXPLIQUE de que modo se explora, nesse
transgride tem nome ou peito, que o faça e “slogan”, a polissemia.
72
2. (Unicamp 2006) Na sua coluna diária do Jor- Quem tem mais de trinta anos e estudou
nal “Folha de S. Paulo” de 17 de agosto de português e não a famigerada comunicação
2005, José Simão escreve: “No Brasil nem a e expressão se lembra dos primeiros versos:
esquerda é direita!”.
a) Nessa afirmação, a polissemia da língua pro- Minha terra tem palmeiras
duz ironia. Em que palavras está ancorada Onde canta o sabiá,
essa ironia? As aves, que aqui gorjeiam,
b) Quais os sentidos de cada uma das palavras Não gorjeiam como lá.
envolvidas na polissemia acima referida? Pois bem. Lá ia o expositor à mesa ressaltan-
c) Comparando a afirmação “No Brasil nem a do que a grande força deste poema estava no
esquerda é direita” com “No Brasil a esquer- fato de que era um texto sem qualquer adje-
da não é direita”, qual a diferença de sen- tivo. Disse isto, conferindo tal observação ao
tido estabelecida pela substituição de ‘nem’ grande Ayres da Matta Machado.
por ‘não’?
Mal se pronunciou esta frase, ouviu-se do
3. (Unicamp 2005)Em um jornal de circulação fundo do auditório um vozeirão contestando
restrita, vemos, na capa, a seguinte chama- e reclamando:
da: - Perdão, mas esta ideia é minha.
A plateia voltou-se estupefata.
Inspire
saúde! Era Mestre Aurélio, que levantando-se da
Sem fumar, poltrona e encaminhando-se desassombra-
respire damente para o palco continuou falando:
aliviado! - Sim, esta ideia é minha. Tive poucas, não
sei se terei outras e tenho que defendê-las.
No interior do Jornal, a matéria começa da
seguinte forma: “Desperte o não-fumante Isto posto assumiu seu imprevisto lugar à
que há em você!”, seguida logo adiante de cabeceira das ideias e fez um brilhante apar-
“O fumante passivo - aquele que não fuma, te que virou uma conferência.
mas frequenta ambientes poluídos pela fu-
maça do cigarro - também tem sua saúde Outra estorinha sobre Aurélio já é clássica.
prejudicada.” Tendo que ir à Academia, uniformizado com
(“Jornal da Cassi” - Publicação da Caixa espada e chapéu, ficou ali na Glória aguar-
de Assistência dos Funcionários do Banco do dando táxi, até que um parou. O motorista
Brasil, ano IX, n0. 40, junho/julho de 2004). fascinado com a sua indumentária, olhando
pelo retrovisor, de repente indagou:
Levando em consideração os trechos citados,
- Ainda que mal pergunte: sois algum reis?
observamos, na chamada da capa, um inte-
ressante jogo polissêmico. A construção da frase era estranha, mas o
a) Apresente dois sentidos de ‘Inspire’ em ‘Ins- motorista estava jogando até com a possi-
pire saúde!’. Justifique. bilidade de “folia-de-reis” tendo em vista a
b) Apresente dois sentidos de ‘aliviado’ em ‘res- semelhança entre a fantasia dos acadêmicos
pire aliviado!’. Justifique. e a do folclore.
Aurélio explicou que não, falou da Acade-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: mia. O chofer não entendeu muito bem. Mas
quando Aurélio lhe pediu para se apressar,
O HOMEM DAS PALAVRAS porque estava atrasado, o outro atalhou con-
fiante:
De Aurélio Buarque de Holanda, que nos dei- 1_
Pode deixar, doutor, que do jeito que o se-
xou esta semana, guardo algumas lembran- nhor está vestido, nada começa antes do se-
ças. Todas alegres. nhor chegar.
Uma vez, por exemplo, estávamos num con- (SANT’ANNA, Affonso Romano de. Porta de colégio
gresso de escritores em Brasília. Assentados e outras crônicas. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1997.
no auditório ouvíamos as doutas palavras p. 53-56. Coleção Para Gostar de Ler. 16 Vol.)
que eram ditas no palco onde alguém procla-
mava as virtudes de um texto literário. 2A 4. (Ufrrj 2007)A sinonímia e o emprego de
rigor, o texto em questão era a Canção do pronomes são alguns dos recursos possíveis
Exílio, de Gonçalves Dias, que até dez anos para estabelecer a coesão textual evitando,
atrás todos os brasileiros sabiam de cor, não inclusive, a repetição de palavras em um tex-
exatamente por causa da ditadura mais re- to. Atualmente, um termo bastante empre-
cente, mas porque era texto que aparecia em gado para codificar o conceito “profissional
todas as antologias escolares. que dirige táxi” é “taxista”.
73
Aponte os três vocábulos usados pelo autor
do texto “O homem das palavras” para se re-
E.O. Dissertativo
1. A palavra “impressão” possui dois sentidos:
ferir a essa acepção. um relacionado à qualidade do trabalho (no
caso, a impressão gráfica) feito pela empresa
5. (Fuvest 2015)Leia o seguinte texto: gráfica e outro relacionado à imagem positi-
va que o material em si passará ao cliente.
Mal traçadas 2.
a) A ironia está presente nas palavras “es-
Canadá planeja extinguir os carteiros querda” e “direita”.
No mundo inteiro, os serviços de correio ten- b) Esquerda: “tendência política ligada a
tam se adaptar à disseminação do e-mail, do reivindicações populares, trabalhistas,
Facebook, do SMS e do Skype, que golpea- socialistas ou comunistas”. Direita: “ten-
ram quase até a morte os hábitos tradicio- dência política conservadora ou reacio-
nais de correspondência, mas em nenhum nária em relação às reformas sociais”
lugar se chegou tão longe quanto no Canadá. e, como adjetivo, “correta, honesta.” A
Em dezembro, o Canada Post anunciou nada polissemia criada pelo autor ironiza os
menos que a extinção do carteiro tal como o partidos de esquerda que não agem com
conhecemos. A meta é acabar com o anda- honestidade.
rilho uniformizado que, faça chuva ou faça c) “Nem”, no contexto, expressa a ideia de
sol, distribui envelopes de porta em porta adição e significa “inclusive não”, “tam-
e, às vezes, até conhece os rostos por trás bém não”, ou seja, dá uma ideia de que
dos nomes dos destinatários. Os adultos de todos são desonestos, inclusive a esquer-
amanhã se lembrarão dele tanto quanto os da. Já o sentido de “não” é apenas de ne-
de hoje se recordam dos leiteiros, profetizou gação e entende-se que a esquerda não é
o blog de assuntos metropolitanos do jornal honesta.
Toronto Star, conformado à marcha inelutá- 3.
a) Inspirar, em “Inspire saúde”, pode sig-
vel da modernidade tecnológica.
nificar: “sorver, absorver”, introduzindo
Claudia Antunes, http://revistapiaui.
estadao.com.br. Adaptado.
(ar) nos pulmões, e “infundir, incutir”.
No sentido 1, o sujeito é o receptor ou
a) Qual é a relação de sentido existente entre o beneficiário da ação; no sentido 2, ele é o
título “Mal traçadas” e o assunto do texto? agente responsável pela disseminação da
b) Sem alterar o sentido, reescreva o trecho saúde.
“conformado à marcha inelutável da moder- b) Aliviado, em “Respire aliviado”, pode ter
nidade tecnológica”, substituindo a palavra o significado de se estar livre dos males
“conformado” por um sinônimo e o adjeti- causados pelo fumo e tranquilo em rela-
vo “inelutável” pelo verbo lutar, fazendo as ção aos males que o fumo poderia causar
nos outros. O primeiro significado tem a
modificações necessárias.
ver com o físico, e o segundo tem a ver
Exemplo: “marcha inevitável da modernida-
com o moral.
de tecnológica” = marcha da modernidade
4. Os três vocábulos usados pelo autor para se
tecnológica que não se pode evitar.
referir a “taxista” são: “motorista”, “cho-
fer” e “outro”.
Gabarito 5.
a) A expressão essas mal traçadas linhas
tornou-se um clichê do universo episto-
lar em extinção já no Canadá. O título, de
certa forma, ironiza essa mudança que se
E.O. Teste I aponta e mais uma profissão familiar às
1. B 2. C 3. C 4. E 5. A pessoas que se vai substituída pela tecno-
logia.
b) Resignado à marcha da modernidade tec-
nológica contra a qual não se pode lutar...
E.O. Teste II
1. B 2. A 3. A 4. C 5. A
74
Aulas 3 e 4 (Gramática)
Tempos e modos
Modos verbais
Os modos verbais traduzem a intencionalidade com que se emprega a forma verbal. São classificados em indica-
tivo (fato), subjuntivo (desejo, hipótese) e imperativo (ordem, apelo).
§ indicativo: apresenta o fato real, positivo, de maneira convicta.
Elas gostam de correr.
Você comprou aquele carro.
§ subjuntivo: apresenta um fato provável, desejável ou duvidoso.
Quando for o momento, talvez eu jogue.
Tomara eu aprenda gramática!
§ imperativo: manifesta uma ordem, conselho, súplica, exortação do emissor. Pode ser afirmativo ou negativo.
Se beber, não dirija!
Dorme, que já está na hora!
FORMAÇÃO DO IMPERATIVO
imperativo afirmativo presente do subjuntivo imperativo negativo
não existe primeira pessoa que eu ame não existe primeira pessoa
ama (tu) que tu ames não ames (tu)
ame (ele/ela/você) que ele/ela/você ame não ame (ele/ela/você)
amemos (nós) que nós amemos não amemos (nós)
amai (vós) que vós ameis não ameis (vós)
amem (eles/elas/vocês) que eles/elas/vocês amem não amem (eles/elas/vocês)
Tempos verbais
Quando lemos, falamos ou escrevemos, posicionamo-nos em um determinado tempo. No momento do enunciado,
os verbos ocorrem (presente), ocorreram (passados) ou ocorrerão (futuro), dependendo no modo verbal.
§ Indica uma ação passada, um fato concluído que do ou para enfatizar uma expressão: Na África,
Modo imperativo
Embora a palavra “imperativo” esteja ligada à ideia de comando, ordem, não é para comandar ou ordenar que,
na maioria das vezes, servimo-nos dele. O imperativo também é empregado para designar pedido, convite, con-
selho, súplica.
Faça isso agora, amor! (pedido)
Faça-nos uma visita! (convite)
Meu filho, faça sempre o melhor! (conselho)
Senhor, faça-nos esse milagre! (súplica)
79
E.O. Teste I I. No texto 1, são usadas duas frases nomi-
nais cuja disposição permite inferir que
a melhora da saúde é consequência da di-
1. (Ufsm) Diante do aumento de doenças re- minuição do consumo de sal.
lacionadas à alta ingestão de sódio, diver- II. No texto 2, as reticências, depois de “Es-
sas entidades têm lançado campanhas para colha”, servem para indicar uma inter-
redução do consumo de sal, veiculadas em rupção da frase e, antes de “a opção com
diferentes mídias, como exemplificam os menos sal”, sinalizam o complemento da
textos a seguir. frase interrompida.
TEXTO 1 III. No texto 2, o uso dos verbos “consumi-
mos”, “está” e “compramos” no modo
indicativo contribui para compor uma
informação que justifica o apelo à leitu-
ra do rótulo e à escolha de produtos com
menos sal.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas III.
c) apenas I e II.
d) apenas II e III.
e) I, II e III.
92
Cecília Meireles escreveu: “Eu não lhe DIGO É sempre no meu trato o amplo distrato.
nada...” (1o parágrafo) Sempre na minha firma a antiga fúria.
a) Acrescentando apenas um prefixo ao verbo Sempre no mesmo engano outro retrato.
em maiúsculo na frase anterior, forme ou-
tros cinco verbos que lhe sejam cognatos.
b) Escolha QUATRO destes verbos e escreva uma É sempre nos meus pulos o limite.
frase com cada um dos escolhidos, observan- É sempre nos meus lábios a estampilha.
do a conjugação adequada. É sempre no meu não aquele trauma.
4. (Enem)
94
A linguagem da tirinha revela habilitarem o sujeito frente às possibili-
a) o uso de expressões linguísticas e vocabulá- dades da competência comunicativa.
rio próprios de épocas antigas. b) I. O verbo auxiliar na locução “deve assu-
b) o uso de expressões linguísticas inseridas no mir” apresenta valor semântico de obriga-
registro mais formal da língua. ção; II. O sentido da expressão verbal “seja
c) o caráter coloquial expresso pelo uso do capaz” seria mantido se o auxiliar fosse
tempo verbal no segundo quadrinho. substituído por possa (possa operar).
d) o uso de um vocabulário específico para si- 2.
O termo verbal “contemos” pertence ao ver-
tuações comunicativas de emergência. bo “conter” e está flexionado na primeira
e) a intenção comunicativa dos personagens: a pessoa do plural do tempo presente (expres-
de estabelecer a hierarquia entre eles. sa o momento da enunciação) do modo indi-
cativo (apresenta a ação como um fato real).
3.
Gabarito a) “Sorriamos, nós não estamos sendo fil-
mados!”
b) O uso do gerúndio na oração “você está
E.O. Teste I sendo filmado” é pertinente, pois expres-
sa uma ação prolongada que acontece no
1. E 2. D 3. E 4. 01 + 04 + 16 = 21 momento em que é enunciada.
4.
5. D 6. B 7. A
a) condizer, desdizer, predizer, contradizer,
bendizer.
b) Sua versão não condiz com a da testemu-
E.O. Teste II nha. Os jornais predisseram as mudanças
1. C 2. A 3. B 4. C 5. C econômicas. As provas contradizem sua
versão. Eu vos bendigo.
6. C 7. E 8. D 9. B 10. E 5.
a) De oposição.
b) A ação de colocar água já se esgotou, mas
E.O. Teste III a ação de murchar persiste no presente.
1. A 2. C 3. B 4. E 5. A O presente se mostra na impossibilidade do
6.
eu-lírico vencer seus limites, daí o “pânico”.
E.O. Dissertativo
1.
a) Essa é uma condição necessária para os
processos de tomada de consciência su-
E.O. Enem
perarem a racionalidade instrumental e 1. C 2. C 3. D 4. C
95
Aulas 3 e 4 (I.T.)
Verbos aplicados ao texto:
correlação e argumentação
verbal / Semântica II
A correlação verbal §§ Pretérito imperfeito do subjuntivo + futuro do
pretérito do indicativo
Entende-se por correlação verbal o movimento que re- Ex.: Se você comprasse os ingredientes, eu faria
aliza a manutenção da coerência entre variadas formas a macarronada.
verbais que vão aparecendo ao longo de uma frase ou §§ Pretérito mais-que-perfeito composto do subjun-
de um texto. Ao regular os verbos que aparecem em tivo + futuro do pretérito composto do indicativo
uma sentença, a correlação evita que ocorram proble- Ex.: Se você tivesse comprado os ingredientes,
mas como esse: eu teria feito a macarronada.
Se eu chegasse em casa mais cedo, eu or- §§ Futuro do subjuntivo + futuro do presente do
ganizarei meu quarto
indicativo
É possível perceber que a correlação temporal Ex.: Quando você chegar, descansarei um pouco.
da frase apresentada é problemática, pois a forma che-
§§ Futuro do subjuntivo + futuro do presente com-
gasse está no modo subjuntivo, o que, do ponto de vis-
posto do indicativo
ta semântico, implica dúvida ou possibilidade. E a forma
Ex.: Quando você chegar, já terei saído.
verbal que aparece na sequência está no futuro do in-
dicativo, denotando algo que se fará com certeza. Esse
choque entre tempos interfere diretamente nos proces-
sos de interpretação de textos. A forma correta seria: Semântica II
Se eu chegasse em casa mais cedo, eu or- denotação e conotação
ganizaria meu quarto
É dentro do campo da semântica que verificamos tam-
bém os processos de denotação e conotação, fenôme-
Os grupos de nos linguísticos que nos permitem entender a amplitude
correlação verbal de significação existente em nossa língua, ou, em ter-
mos mais claros, é o estudo da denotação e da conota-
§§ Presente do indicativo + presente do subjuntivo
ção que nos permite perceber o quanto os significados
Ex.: Preciso que você me faça um favor.
podem variar por conta do interesse dos interlocutores.
§§ Pretérito perfeito do indicativo + pretérito im- Vejamos alguns exemplos:
perfeito do subjuntivo
Filho, você tem que comer todo seu jantar,
Ex.: Eu pedi para que ele comprasse ovos.
ou não terá sobremesa.
§§ Presente do indicativo + pretérito perfeito com- O piloto fez o adversário comer poeira.
posto do subjuntivo
É possível perceber nas frases apresentadas que
Ex.: Espero que ele não tenha chegado atrasado.
o verbo ‘comer’ foi usado com dois sentidos diferentes.
§§ Pretérito imperfeito do indicativo + mais-que- Na primeira, temos comer sendo usado na sua acepção
-perfeito composto do subjuntivo mais comum, que é alimentar-se. Já no segundo caso, te-
Ex.: Queria que ele tivesse comprado flores. mos o verbo comer sendo usado para “figurar” a ideia
§§ Futuro do pretérito + pretérito mais-que-perfeito de alguém comendo poeira, mas não porque isso esteja
composto do subjuntivo ocorrendo de verdade, e sim porque se tenta passar a
Ex.: Gostaria que ele viesse visitar os amigos ideia de que o piloto passou tão rápido pelo adversário,
com maior frequência. que levantou poeira, e quem está atrás a teria “comido”.
§§ Futuro do subjuntivo + futuro do presente do No primeiro caso, a palavra comer foi usada em
indicativo seu sentido dito literal, ou, o sentido padrão (primeiro)
Ex.: Se você comprar os ingredientes, eu ficarei dessa palavra. Quando isso ocorre, temos uma palavra
agradecida. em sentido denotativo. Já no segundo exemplo, o verbo
97
comer foi usado em sentido figurado, tentando figurar/re-
presentar uma situação (alguém comendo poeira). Quan-
_________________ comprar _________________
do isso ocorre, temos uma palavra em sentido conotativo.
Como vimos anteriormente, entende-se por sentido de- O diagrama apresentado tem como objetivo de-
notativo o sentido primeiro de uma palavra. Seu sentido monstrar que o verbo “comprar”, para fazer sentido,
básico, de dicionário. Entender bem o funcionamento solicita dois argumentos, um interno e outro externo.
do sentido denotativo nos ajudará, mais adiante, a en- Em termos mais claros, quando eu digo “eu comprei”,
tender como são operados alguns processos de inter- temos a sensação de que falta algo para complemen-
pretação em gêneros textuais do português, como os tar o sentido, no caso, a coisa comprada (o ideal seria
textos científicos e também os jornalísticos, que são tex- dizermos “eu comprei um tênis”, por exemplo). Re-
tos cujo objetivo é transmitir informações exatas e pre- parem que se mudamos a perspectiva em relação aos
cisas para o leitor. Um texto denotativo evita palavras às argumentos, continuamos tendo o mesmo problema.
quais se possam atribuir sentidos variados. Pensando no Quando dizemos “compraram um tênis”, a informação
que aprendemos na aula anterior, os textos denotativos continua incompleta, pois necessitamos saber quem
evitam trabalhar com textos polissêmicos. “compraram” o tênis (o ideal seria dizermos “eles com-
praram o tênis”, por exemplo).
O que concluímos disso: os verbos, para expres-
Sentido conotativo sarem corretamente seus sentidos, precisam receber
seus devidos argumentos, caso contrário, ficaremos com
Entende-se por sentido conotativo aquele que explora a sensação de que as informações estão incompletas. E
mais: quando um verbo pede argumento interno, temos
os múltiplos significados que uma palavra pode ter.
um movimento que se chama transitividade (o verbo
Em um texto conotativo não importa muito o sentido
transita em direção a seu argumento interno). Se nesse
primeiro da palavra, e sim a sua capacidade de “su-
“transito” entre o verbo e o argumento interno não há
gerir” interpretações variadas. Os gêneros que habitu- interrupções no caminho, essa transitividade será direta.
almente trabalham com conotações são os literários Vejamos mais dois acontecimentos:
(prosa, poesia, crônica, entre outros) e as canções.
Mas também podemos encontrar em outros tipos de
gênero, dependendo das intenções do autor. Costu- ______________ concordar com ______________
mam ser textos de natureza mais complexa, que exi-
gem um trabalho de leitura mais profundo, para que
se possa apreender o que o autor quis expressar nas argumento argumento
entrelinhas da mensagem. Trabalha-se aqui com co- externo interno
99
E.O. Teste I teste de validade. Essas coisas de que se vale
em geral a ciência.
O mal que há nessa “democratização” dos ve-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: ículos é que se formam crenças sem funda-
mento, mudam-se as opiniões das pessoas,
AGORA TODO MUNDO TEM OPINIÃO
afirmam-se absurdos em que muita pessoa
ingênua acaba acreditando. Sim, porque es-
Meu amigo Adamastor, o gigante, me apa-
tudar, comprovar metodicamente, testar a
receu hoje de manhã, muito cedo, aqui na
validade, tudo isso dá muito trabalho.
biblioteca, e disse que vinha a fim de um
O Adamastor não estava muito convencido
cafezinho. 1Mentira, eu sei. 2Quando ele vem
da 17justeza dos meus argumentos, mas o
tomar um cafezinho é porque está com algu-
café tinha terminado e ele se despediu.
ma ideia borbulhando em sua mente.
Texto de Menalton Braff, publicado em 03 de
E estava. 3Depois do primeiro gole e antes do abril de 2015. Disponível em: <http://www.
segundo, café muito quente, ele afirmou que cartacapital.com.br/cultura/agora-todo-mundo-tem-
concorda plenamente com a democratização opiniao-7377.html>. Acesso em: 20 abr. 2015.
da informação. Agora, com o advento da in-
ternet, qualquer pessoa, democraticamente,
pode externar aquilo que pensa. 1. (G1 - ifsul) A significação das palavras não é
4
Balancei a cabeça, na demonstração de uma fixa. Elas podem variar, estabelecendo novos
quase divergência, e seu 5espanto também conceitos por meio de associações, depen-
me espantou. Como assim, ele perguntou, dendo de seu emprego em uma frase. Des-
está renegando a democracia6? Pedi com mo- sa forma, na construção de sentido de um
dos a meu amigo que não 7embaralhasse as texto, as palavras podem ser empregadas em
coisas. Democracia não é um termo 8divina- sentido denotativo/literal e/ou conotativo/
tório, que se aplique sempre, em qualquer figurado.
situação. Analisando o texto, qual alternativa apre-
Ele tomou o segundo gole com certa avidez e senta palavra que foi empregada com senti-
9
queimou a língua. do conotativo?
Bem, voltando ao assunto, nada contra a de- a) espanto (referência 5).
mocratização dos meios para que se divul- b) divinatório (referência 8).
guem as opiniões, as mais diversas, mais c) enxurrada (referência 13).
esdrúxulas, mais inovadoras, e tudo o mais. d) justeza (referência 17).
É um direito que toda pessoa tem10: emitir
opinião. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
O que o Adamastor não sabia é que uns dias
O PADEIRO
atrás andei consultando uns filósofos, al-
guns antigos, outros modernos, desses que Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho
tratam de um 11palavrão que sobrevive até os a chaleira no fogo para fazer café e abro a
dias atuais: gnoseologia. Isso aí, para dizer porta do apartamento − mas não encontro o
teoria do conhecimento. pão costumeiro. No mesmo instante me lem-
Sim, e daí?12, ele insistiu. bro de ter lido alguma coisa nos jornais da
O mal que vejo, continuei, não está na 13en- véspera sobre a “greve do pão dormido”. De
xurrada de opiniões as mais isso ou aquilo resto não é bem uma greve, é um lockout,
na internet, e principalmente com a chegada greve dos patrões, que suspenderam o traba-
do Facebook. Isso sem contar a imensa quan- lho noturno; acham que obrigando o povo a
tidade de textos 14apócrifos, muitas vezes até tomar seu café da manhã com pão dormido
opostos ao pensamento do presumido autor, conseguirão não sei bem o que do governo.
falsamente presumido. A graça está no fato Está bem. Tomo meu café com pão dormi-
de que todos, agora, têm opinião sobre tudo. do, que não é tão ruim assim. E enquanto
− Mas isso não é bom? tomo café vou me lembrando de um homem
O gigante15, depois da maldição de Netuno16, modesto que conheci antigamente. Quando
tornou-se um ser impaciente. vinha deixar pão à porta do apartamento ele
O fato, em si, não tem importância alguma. apertava a campainha, mas, para não inco-
O problema é que muita gente lê a enxur- modar os moradores, avisava gritando:
rada de bobagens que aparecem na internet – Não é ninguém, é o padeiro!
não como opinião, mas como conhecimento. Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia
O Platão, por exemplo, afirmava que opinião de gritar aquilo?
(doxa) era o falso conhecimento. O conhe- Ele abriu um sorriso largo. Explicou que
cimento verdadeiro (episteme) depende de aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe
estudo profundo, comprovação metódica, acontecera bater a campainha de uma casa e
100
ser atendido por uma empregada ou por uma quem quer ou quem se atreve, mas sabe-se
outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que também 3que muita gente entra forçada por
vinha lá de dentro perguntando quem era; amigos e pessoas queridas, meio que contra
e ouvir a pessoa que o atendera dizer para a vontade, pressionada pela vergonha de
dentro: “não é ninguém, não senhora, é o manifestar sentimentos de prudência ou o
padeiro”. Assim ficara sabendo que não era puro medo. Mas, uma vez que se entra, 5que
ninguém... se aperta a trava de segurança e a geringon-
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, ça se põe em movimento, a situação se tor-
e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis na irremediável. Bate um frio na barriga, o
detê-lo para explicar que estava falando com corpo endurece, as mãos cravam nas alças do
um colega, ainda menos importante. Naque-
banco, a respiração se torna cada vez mais
le tempo eu também, como os padeiros, fazia
difícil e forçada, o coração descompassa, um
trabalho noturno. Era pela madrugada que
calor estranho arde no rosto e nas orelhas,
deixava a redação do jornal, quase sempre
ondas de arrepio descem do pescoço pela es-
depois de uma passagem pela oficina - e
muitas vezes saía já levando na mão um dos pinha abaixo.
exemplares rodados, o jornal ainda quenti- Nicolau Sevcenko: A corrida para o século
XXI: no loop da montanha-russa.
nho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tem-
po! E às vezes me julgava importante por-
3. (G1 - ifce) Sobre as expressões do primeiro
que no jornal que levava para casa, além de
período “uma das sensações mais intensas e
reportagens ou notas que eu escrevera sem
perturbadoras” e “um passeio na montanha-
assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu
-russa”, uma análise possível, correta e coe-
nome. O jornal e o pão estavam bem cedi-
nho na porta de cada lar; e dentro do meu rente é a de que
coração eu recebi uma lição daquele homem a) do ponto de vista semântico-referencial, ou
entre todos útil e entre todos alegre; “não é seja, no nível denotativo, têm significados
ninguém, é o padeiro!”. diferentes, isto é, denotam ou referem o
E assoviava pelas escadas. mesmo objeto; já, do ponto de vista sintáti-
(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. Rio de co, são idênticas: enquanto a primeira assu-
Janeiro: Editora do Autor, 1960. Adaptado) me a função do sujeito, a segunda assume a
do predicativo do sujeito.
b) do ponto de vista semântico-referencial, ou
2. (G1 - ifsp) A expressão − pão dormido − foi seja, no nível denotativo, são equivalentes,
empregada com sentido isto é, denotam ou referem o mesmo objeto;
a) denotativo, indicando que os padeiros, por já, do ponto de vista sintático, não se equi-
causa da greve, adulteraram a receita do pão. valem: enquanto a primeira assume a função
b) denotativo, indicando que o pão entregue
do sujeito, a segunda assume a do predicati-
aos moradores estava fora de validade.
vo do sujeito.
c) conotativo, indicando que o pão a ser consu-
c) do ponto de vista semântico-referencial, ou
mido não estava fresco.
seja, no nível denotativo, são corresponden-
d) conotativo, indicando que os padeiros redu-
ziram o trabalho noturno durante a greve. tes, mas denotam ou referem objetos dis-
e) conotativo, indicando que a massa do pão tintos; já, do ponto de vista sintático, são
precisa descansar para que o fermento aja. divergentes: enquanto a primeira assume a
função do predicativo do sujeito, a segunda
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: assume a do sujeito.
d) do ponto de vista semântico-referencial, ou
EMOÇÕES NA MONTANHA-RUSSA seja, no nível denotativo, não são corres-
(FRAGMENTO) pondentes, pois não denotam nem referem
o mesmo objeto; já, do ponto de vista sin-
Uma das sensações mais intensas e pertur-
badoras 4que se pode experimentar, neste tático, são divergentes: enquanto a primeira
nosso mundo atual, é um passeio na monta- assume a função do adjunto adnominal, a
nha-russa. Só não é nem um pouco recomen- segunda assume a do complemento nominal.
dável para quem tenha problemas com os e) do ponto de vista semântico, uma refere o
nervos ou com o coração, nem para aqueles objeto em nível denotativo e a outra refere
com o sistema digestivo sensível. A própria o mesmo objeto, mas em nível conotativo;
decisão de entrar na brincadeira já requer já, do ponto de vista sintático, são idênti-
alguma coragem, a gente sabe 1que a emo- cas: enquanto a primeira assume a função do
ção pode ser forte até demais e 2que podem adjunto adnominal, a segunda assume a do
decorrer consequências imprevisíveis. Entra adjunto adverbial.
101
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: facilmente percebida como um sinal vazio,
sem referente real, tem no Segundo e Tercei-
O silêncio é a matéria significante por ex- ro Mundo o peso de uma 8descrição confiável
celência, um continuum significante. O real de um modo de vida possível. Em grande me-
da comunicação é o silêncio. E como o nosso dida, ela determina o horizonte de expecta-
objeto de reflexão é o discurso, chegamos a tivas que impulsiona a 4migração.
uma outra afirmação que sucede a essa: o si- Hans Magnus Enzensberger. O vagão humano (fragmento).
lêncio é o real do discurso. In: Veja 25 anos - reflexões para o futuro
O homem está “condenado” a significar.
Com ou sem palavras, diante do mundo, há 5. (PUC-RS) Quanto ao sentido de certas pala-
uma injunção à “interpretação”: tudo tem vras do texto, é correto afirmar que
de fazer sentido (qualquer que ele seja). O ( ) o verbo “migrar” (ref. 3) e o substantivo
homem está irremediavelmente constituído “migração” (ref. 4) podem ser entendi-
pela sua relação com o simbólico. dos, neste texto, como “emigrar” e “emi-
Numa certa perspectiva, a dominante nos gração”.
estudos dos signos, se produz uma sobrepo- ( ) “substância” (ref. 5) pode ser substituí-
sição entre linguagem (verbal e não-verbal) da por seu sinônimo “conteúdo”.
e significação. ( ) “lendas” (ref. 6) está empregada no sen-
Disso decorreu um recobrimento dessas duas tido conotativo.
noções, resultando uma redução pela qual ( ) “desenvolvimento” (ref. 7) e “descrição”
qualquer matéria significante fala, isto é, (ref. 8) são formadas com o prefixo “des”.
é remetida à linguagem (sobretudo verbal) Preencha os parênteses com V (para verda-
para que lhe seja atribuído sentido. deiro) e F (para falso). A sequência correta
Nessa mesma direção, coloca-se o “império de cima para baixo, é
do verbal” em nossas formas sociais: traduz- a) V - F - F - V
-se o silêncio em palavras. Vê-se assim o b) F - V - F - V
silêncio como linguagem e perde-se sua es- c) F - F - V - V
pecificidade, enquanto matéria significante d) V - V - F - F
distinta da linguagem. e) F - V - F - F
(Eni Orlandi. As formas do silêncio, 1997.)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 8. (Pucrs 2015) Quanto ao emprego dos verbos
TEXTO 1 no texto, NÃO é correto afirmar que
a) “fazer” tem sentido diferente nas referências
Entre o espaço público e o privado 1 e 2.
b) “dormindo” (ref. 3), “passando” (ref. 4) e
12
Excluídos da sociedade, os moradores de
rua 26ressignificam o único espaço 13que “pedindo” (ref. 5) indicam ações não con-
lhes foi permitido ocupar, o espaço público, cluídas no presente.
transformando-o em seu “lugar”, um espaço c) “viver” nas ocorrências marcadas pelas refe-
privado. 11Espalhados pelos ambientes cole- rências 6 e 7 tem valor de substantivo.
tivos da cidade, 1fazendo comida no asfalto, d) “estabelece” (ref. 8) expressa uma realidade
arrumando suas camas, limpando as calça- permanente.
das como se estivessem dentro de uma casa: e) “é” (ref. 9) e “adquire” (ref. 10) pertencem a
17
assim vivem os moradores de rua. Ao andar orações sintaticamente paralelas.
108
E.O. Teste III Foi quando madama deu o último vexame.
Olhou pela janela (ela pedira para ficar do
lado da janelinha para ver a paisagem) e gri-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: tou:
– Puxa vida!!!
A estranha passageira Todos olharam para ela, inclusive eu. Mada-
Stanislaw Ponte Preta ma apontou para a janela e disse:
– Olha lá embaixo.
– O senhor sabe? É a primeira vez que eu via- Eu olhei. E ela acrescentou: – Como nós esta-
jo de avião. Estou com zero hora de voo - e mos voando alto, moço.
riu nervosinha, coitada. Olha só... o pessoal lá embaixo parece for-
Depois pediu que eu me sentasse ao seu miga.
lado, pois me achava muito calmo e isto iria Suspirei e lasquei:
fazer-lhe bem. Lá se foi a oportunidade de – Minha senhora, aquilo são formigas mes-
ler o romance policial que eu comprara no mo. O avião ainda não levantou voo.
aeroporto, para me distrair na viagem. Sus- <http://atividadeslinguaportuguesa.blogspot.com.
pirei e me fiz de educado respondendo que br/2013/08/a-estranha-passageira-estanislaw-
estava às suas ordens. ponte.html> Acesso em: 26.02.2015. Adaptado.
Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros
* azougue: indivíduo que expressa
passageiros estavam já se divertindo às mi-
ligeireza; quem é muito rápido.
nhas custas, a zombar do meu embaraço ante
as perguntas que aquela senhora me fazia
aos berros, como se estivesse em sua casa, 1. (G1 - cps 2015) “O comandante já esquen-
entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando tara os motores e a aeronave estava parada,
ridícula: esperando ordens para ganhar a pista de de-
– Para que esse saquinho aí? – foi a pergunta colagem. Percebi que minha vizinha de ban-
que fez, num tom de voz que parecia que ela co apertava os olhos e lia qualquer coisa.”
estava no Rio e eu em São Paulo. As formas verbais em destaque foram em-
– É para a senhora usar em caso de necessi- pregadas no modo indicativo e a respeito
dade – respondi baixinho. delas é correto afirmar que
Tenho certeza de que ninguém ouviu minha a) esquentara está no pretérito mais-que-per-
resposta, mas todos adivinharam qual foi, feito e expressa incerteza sobre os fatos.
porque ela arregalou os olhos e exclamou: b) esquentara está no pretérito imperfeito e ex-
– Uai... as necessidades neste saquinho? pressa convicção sobre fatos futuros.
No avião não tem banheiro? Alguns passa- c) percebi está no pretérito perfeito e expressa
geiros riram, outros – por fineza – fingiram ação concluída no passado.
ignorar o lamentável equívoco da incômoda d) apertava está no pretérito perfeito e expressa
passageira de primeira viagem. Mas ela era ação habitual e repetitiva.
um azougue* (...) e não parava de badalar. e) percebi está no pretérito imperfeito e expres-
Olhava para trás, olhava para cima, mexia na sa ação que perdura até o presente.
poltrona e quase levou um tombo, quando
puxou a alavanca e empurrou o encosto com TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
força, caindo para trás e esparramando em-
brulhos por todos os lados. A garagem de casa
O comandante já esquentara os motores e a 1
Com o portão enguiçado, e num 2convite a
aeronave estava parada, esperando ordens 3
ladrões de livros, a 4garagem de casa lembra
para ganhar a pista de decolagem. Percebi uma biblioteca pública permanentemente
que minha vizinha de banco apertava os aberta para a rua. 5Mas não são 6adeptos de
olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a per- literatura 7os indivíduos que ali se abrigam
gunta: da chuva ou do sol a pino de verão. 8Esses
– Quem é essa tal de emergência que tem desocupados 9matam o tempo jogando porri-
uma porta só pra ela? nha, ou lendo os jornais velhos que mamãe
Expliquei que emergência não era ninguém, amontoa num canto, sentados nos degraus
a porta é que era de emergência, isto é, em do escadote com que ela alcança as pratelei-
caso de necessidade, saía-se por ela. ras altas. 10Já quando fazem o obséquio de
Madama sossegou e os outros passageiros me liberar o espaço, de tempos em tempos
já estavam conformados com o término do entro para olhar as estantes onde há de tudo
“show”. Mesmo os que mais se divertiam um pouco, em boa parte remessas de editores
com ele resolveram abrir jornais, revistas ou estrangeiros que têm apreço pelo meu pai.
se acomodarem para tirar uma pestana du- 11
Num reduto de literatura tão sortida, como
rante a viagem. bem sabem os habitués de sebos, fascina a
109
perspectiva de por puro acaso dar com um li- 2. (Uece 2015) Lendo o texto com atenção, ve-
vro bom. 12Ou by serendipity, como dizem os rifica-se que quase todos os verbos estão no
ingleses quando na caça a um tesouro se tem presente do indicativo. Amparado por essa
a felicidade de deparar com outro bem, mais constatação, assinale o que estiver correto
precioso ainda. Hoje revejo na mesma prate- sobre o enunciador do texto.
leira velhos conhecidos, algumas dezenas de a) Ele enuncia, isto é, expressa-se, de um lugar
livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, que no passado, valendo-se de lembranças.
papai é capaz de um dia querer destrinchar. b) Ele enuncia de um lugar no presente, obser-
Também continua em evidência o livro do vando o que acontece a sua volta.
poeta romeno Eminescu, que papai ao menos c) Ele enuncia de um lugar no passado, lançan-
13
tentou ler, como é fácil inferir das folhas do mão das informações dos parentes.
cortadas a espátula. Há uma edição em alfa- d) Ele enuncia de um lugar no presente, criando
beto árabe das Mil e Uma Noites que ele não a ilusão de que escreve enquanto vive.
14
leu, mas cujas ilustrações 15admirou longa-
mente, como denunciam os filetes de cinzas TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
na junção das suas páginas coloridas. Hoje
tenho experiência para saber quantas vezes O que havia de tão revolucionário na Revolu-
meu pai 16leu um mesmo livro, posso quase ção Francesa? Soberania popular, liberdade
medir quantos minutos ele se 17deteve em civil, igualdade perante a lei – 1as palavras
cada página. 18E não costumo perder tempo hoje são ditas com tanta facilidade que so-
com livros que ele nem sequer 19abriu, en- mos incapazes de imaginar seu caráter ex-
tre os quais uns poucos eleitos que mamãe plosivo em 1789. Para os franceses do Anti-
20
teve o capricho de empilhar numa ponta de go Regime, 6os homens eram 8desiguais, e a
prateleira, confiando numa futura redenção. desigualdade era uma boa coisa, adequada à
Muitas vezes a vi de manhãzinha compade- ordem hierárquica que 2fora posta na natu-
cida dos livros estatelados no escritório, com reza pela própria obra de Deus. A liberdade
especial carinho pelos que trazem a foto do significava privilégio – isto é, literalmente,
autor na capa e que papai despreza: parece
12
“lei privada”, uma prerrogativa 13especial
disco de cantor de rádio. para fazer algo negado a outras pessoas. O
(Chico Buarque. O irmão alemão. 1 ed. São Paulo.
rei, como fonte de toda a lei, distribuía pri-
Companhia das letras. 2014. p. 60-61. vilégios, 3pois havia sido 19ungido como 16o
Texto adaptado com o acréscimo do título.) agente de Deus na terra.
Durante todo 17o século XVIII, os filósofos
A obra O irmão alemão, último livro de Chi- do Iluminismo questionaram esses 9pressu-
co Buarque de Holanda, tem como móvel da postos, e os panfletistas profissionais conse-
narrativa a existência de um desconhecido guiram 14empanar 20a aura sagrada da coroa.
irmão alemão, fruto de uma aventura amo- Contudo, a desmontagem do quadro mental
rosa que o pai dele, Sérgio Buarque de Ho- do Antigo Regime demandou violência icono-
landa, tivera com uma alemã, lá pelo final clasta, destruidora do mundo, revolucionária.
da década de 30 do século passado. Exata- 7
Seria ótimo se pudéssemos associar 18a Re-
mente quando Hitler ascende ao poder na volução exclusivamente à Declaração dos Di-
Alemanha. Esse fato é real: o jornalista, his- reitos do Homem e do Cidadão, mas ela nas-
toriador e sociólogo Sérgio Buarque de Ho- ceu na violência e imprimiu seus princípios
landa, na época, solteiro, deixou esse filho em um mundo violento. Os conquistadores da
na Alemanha. Na família, no entanto, não Bastilha 24não se limitaram a destruir 21um
se falava no assunto. Chico teve, por acaso, símbolo do despotismo real. 4Entre eles, 150
conhecimento dessa aventura do pai em uma foram mortos ou feridos no assalto à prisão
reunião na casa de Manuel Bandeira, por co- e, quando os sobreviventes apanharam o di-
mentário feito pelo próprio Bandeira. retor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na
Foi em torno da pretensa busca desse pre- por 25Paris 22na ponta de uma lança.
tenso irmão que Chico Buarque desenvolveu Como podemos captar esses momentos de
sua narrativa ficcional, o seu romance. loucura, quando tudo parecia possível e o
Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Sil- mundo se afigurava como uma tábula rasa,
va: “o que o leitor tem em mãos [...] não é apagada por uma onda de comoção popular
um relato histórico. Realidade e ficção es- e pronta para ser redesenhada? Parece in-
tão aqui entranhadas numa narrativa que crível que um povo inteiro fosse capaz de se
embaralha sem cessar memória biográfica e levantar e transformar as condições da vida
ficção”. cotidiana. Duzentos anos de experiências
110
com admiráveis mundos 26novos tornaram- nobreza, representado pela Rainha Leonor
-nos 15céticos quanto ao 10planejamento so- Teles, cingira o Mestre de Avis com a coroa
cial. 27Retrospectivamente, a Revolução pode lusitana. Era ela, portanto, quem devia me-
parecer um 23prelúdio ao 11totalitarismo. recer do novo rei o melhor das suas atenções.
Pode ser. Mas um excesso de visão 28histórica Esgotadas as possibilidades do reino com as
retrospectiva pode distorcer o panorama de pródigas dádivas reais, restou apenas o re-
1789. Os revolucionários franceses não eram curso da expansão externa para contentar os
nossos contemporâneos. E eram um conjunto insaciáveis companheiros de D. João I.
de pessoas não excepcionais em circunstân- Caio Prado Júnior, Evolução política do Brasil. Adaptado.
cias excepcionais. Quando as coisas se 29de-
sintegraram, eles reagiram a uma necessida-
de imperiosa de dar-lhes sentido, ordenando 4. (Fuvest 2012) No contexto, o verbo “enche”
a sociedade segundo novos princípios. Esses indica
princípios ainda permanecem como uma de- a) habitualidade no passado.
núncia da tirania e da injustiça. 5Afinal, em b) simultaneidade em relação ao termo “ascen-
que estava empenhada a Revolução France- são”.
c) ideia de atemporalidade.
sa? Liberdade, igualdade, fraternidade.
d) presente histórico.
Adaptado de: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette.
In: ____. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e e) anterioridade temporal em relação a “reino
revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39. lusitano”.
116
LITERATURA
Aulas 1 e 2
A arte literária e
o estudo dos gêneros
O que é arte?
Esse é um conceito historicamente muito discutido. Um estudo de Literatura que se pretenda aprofundado deve
levar em consideração os sentidos da arte e notadamente a análise técnica dela. A palavra literatura é de origem
latina e significa “arte de escrever”. Portanto, conjugar essa relação entre arte e escrita é o primeiro passo para
dar corpo à maneira de divulgar os valores culturais que estruturam uma sociedade e uma civilização. Entender
os conhecimentos científicos, filosóficos, místicos e artísticos de um dado contexto é de fato conhecer o próprio
homem e compreender sua identidade.
O filósofo Aristóteles considerava que a arte era uma maneira de “imitar” (mimesis, do grego) a realidade
do homem, que, em seus vários suportes, cria essa possibilidade de fazê-lo pensar sua própria vida, autoconhecer-
-se, encontrar-se como ser humano, observar criticamente a realidade, divertir-se e sonhar.
Da Antiguidade Clássica à Idade Moderna e Contemporânea, a arte se manifesta em vários suportes – mú-
sica, pintura, literatura, dança, escultura e teatro. Funciona como elemento transformador da consciência humana.
O artista, esse criador, cria e recria realidades, expressa valores estéticos com beleza, harmonia e equilíbrio e
estrutura-se à luz de um contexto de circulação, de transformação, de um agente e de um público.
No decorrer dos tempos, esses conceitos foram se transformando sem perder sua lógica. Seja na perfeição
e harmonia das formas da Antiguidade Clássica (período greco-latino), seja no teocentrismo medieval, com suas
relações de vassalagem, seja no século XIX, com suas utopias românticas, seja nas vanguardas artísticas do século
XX. Emoções humanas, alegrias e angústias, ideologias, religião, luta social e cultura sempre perpassaram e fre-
quentaram os conceitos estéticos da arte e da literatura.
119
O que nos leva a ir ao cinema, ao show, à biblio- “Tudo o que nos rodeia e que foi cria-
teca, ao museu e, principalmente, a ler um livro? A res- do pela mão do homem, todo o mundo
posta está no reflexo da própria condição humana, no da cultura, diferentemente do mun-
processo de identificação do homem com a arte. Essa do da natureza, tudo isso é produto da
imaginação e da criação humana.”
atitude transforma só pelo fato de estarmos refletindo,
VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem.
primeira condição da arte. Esse ponto de partida, inde- São Paulo: Martins Fontes, 1987.
pendente de sua presumível qualidade, é uma forma de
compreender o mundo que nos cerca. O essencial em Literatura é estabelecer uma relação
É impossível não se identificar com o eu lírico, a voz de sentido entre as palavras e os leitores, para tanto, os escri-
do poema, ao lermos versos como este, de Manuel Bandeira: tores se valem de uma série de recursos técnicos que elevam
essa linguagem ao conceito de arte, diferindo, por exemplo,
O Bicho de um texto informativo ou instrucional, o texto literário
(Manuel Bandeira) deve explorar o potencial significativo e sonoro das palavras,
bem como os aspectos ora denotativos, em sua literalidade
Vi ontem um bicho de dicionário, ora no sentido conotativo em que as palavras
Na imundice do pátio adquirem novo sentido a fim de produzir efeito artístico.
Catando comida entre os detritos. O poder de explorar os sentidos colocam essas
Quando achava alguma coisa, palavras em situações inusitadas, criando imagens com
Não examinava nem cheirava: as figuras de linguagem nas quais o escritor “desenha”
Engolia com voracidade. para o leitor comparações que concretizam as emoções.
O bicho não era um cão, Como no uso da metáfora, que aproxima dois elementos
Não era um gato, num contexto específico transferindo de um para outro
Não era um rato. suas características. Como no exemplo a seguir, de Má-
O bicho, meu Deus, era um homem. rio Quintana, em que a “inspiração” é comparada por
metáfora a “um pássaro que pousa no livro que lês”.
Odisseu e Penélope
O gênero épico
Épico é derivado do grego épos que, entre outras coisas, significa
palavra, verso, discurso. Esse gênero, também chamado de epopeia, nasceu A estrutura do poema épico
com a Ilíada e a Odisseia, de Homero. Oriundo das tradições orais, elas É dividido em partes, chamadas cantos,
que, por sua vez, são divididos em:
contam histórias que auxiliam o homem a entender a trajetória de seus po-
vos. É característica das narrativas mais antigas a simbolização dos ideais Proposição:
coletivos de um povo na figura de um herói imerso numa grande aventu- O texto apresenta o tema e o herói.
ra, numa guerra ou num acontecimento histórico. O eu-lírico da epopeia
Invocação:
relaciona-se diretamente com a sociedade. A imagem do herói é consti- O texto pede inspiração à musa (divin-
tuída de uma representação de seu povo, cujo comportamento exemplar dade inspiradora da poesia).
vai caracterizá-lo como figura predestinada a cumprir determinada missão.
Narração:
Narrados de maneira elevada e com vocabulário grandilo- Narração das aventuras do herói.
quente e solene, os assuntos históricos sofrem influência do imaginá-
Conclusão ou Epílogo:
rio e não se privam de recorrer à imaginação bem como à mitologia.
Encerramento das aventuras e conclu-
Na cena inicial da Odisseia, de Homero, é possível identificar são dos feitos heroicos.
características primordiais do texto épico, como o pedido de inspira-
ção do poeta às musas para contar a história de Odisseu, que passou
por terríveis provações até desfazer as muralhas de Troia:
121
As epopeias são divididas em “clássicas ou primárias” ou de “imitação ou secundárias”.
As transformações do herói
1. Na Ilíada e na Odisseia, o herói é guiado pelas divindades.
2. Na Eneida e em Os Lusíadas, o herói é representante de um povo.
3. Em Robson Crusoé e em O conde de Monte Cristo, o herói é humano
e individual.
O gênero lírico
Esse gênero nasceu na Grécia antiga, cujos poemas eram acompanhados musicalmente pela lira. É o gênero
centrado na expressão do “eu poético” ou “eu poemático” – voz que fala no poema, não necessariamente corres-
pondente à voz do autor.
Menos grandiosos que os da epopeia, seus temas dizem respeito ao mundo interior do eu lírico, aos senti-
mentos, ao individualismo, às relações consigo mesmo. Pronomes e verbos vêm normalmente na primeira pessoa
do singular e predominam as emoções, rimas, ritmo, sonoridade das palavras, metáforas, repetições, entre outras
figuras de linguagem, que trazem aos versos musicalidade e suavidade.
O gênero lírico é subdividido em: soneto, elegia, ode, madrigal, écloga etc. São formas poéticas mais afeitas
ao gênero lírico.
122
§§ Soneto – forma lírica bastante conhecida, é Que crime outrora feito, que pecado
composta de catorze versos, com dois quartetos Nos impôs esta estéril provação
e dois tercetos. Que é indistintamente nosso fado
Como o pressente nosso coração?
Soneto da fidelidade (...)
(Vinicius de Moraes)
Como – longínquo sopro altivo e humano! –
Essa tarde monótona e serena
De tudo ao meu amor serei atento
Em que, ao morrer, o imperador romano
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Disse: Fui tudo, nada vale a pena.
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
§§ Ode – poema lírico de exaltação e homenagem,
Quero vivê-lo em cada vão momento
originado na Grécia antiga também, destina-
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
do ao canto. Composto de estrofes e de versos
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento iguais em tom alegre, entusiástico e de louvação.
§§ Aliterantes – entre sons consonantais idênti- §§ Pentassílabos: cinco sílabas ou redondilha menor.
cos ou semelhantes:
vozes, veladas, veludosas, vozes/ §§ Hexassílabos: seis sílabas.
vagam nos velhos vórtices velozes
§§ Heptassílabos: sete sílabas ou redondilha maior.
§§ Consoantes – entre sons e letras repetidos:
terra e serra; §§ Octossílabos: com oito sílabas.
amoníaco e zodíaco;
§§ Eneassílabos: nove sílabas.
rutilância e infância
Tu/a
por/ta
§§ Hexassílabos – seis sílabas:
§§ Dissílabos – duas sílabas: E o/ ca/va/lei/ro/ pa/ssa
Tu,/ on/tem an/te a/ som/bria/ por/ta
na/ dan/ça da/ lú/gu/bre/ des/gra/ça
que/ can/sa (Alphonsus de Guimarães)
126
§§ Heptassílabos ou redondilha maior – sete O gênero dramático
sílabas:
An/tes/ de a/mar,/ eu/ di/zi/a A característica e a finalidade primordiais do gênero
pa/ra/ cor/tar/ na/ ra/iz
dramático (do grego drân: agir) é ser levado à represen-
es/ta/ cons/tan/te a/go/ni/a
pre/ci/so a/mar/ al/gum/ di/a tação, à “ação”.
a/man/do,/ se/rei/ fe/liz.
(Menotti del Picchia)
§§ Dodecassílabos ou Alexandrinos – doze rubricas – instruções que sinalizam ao diretor e aos ato-
sílabas: res a postura no palco, o tom de voz etc.
A/ ca/sa/ que/ foi/ mi/nha,/ ho/je é/ ca/sa/ de/ Deus. Em vez do narrador, o texto dramático conta a
Traz/ no/ topo u/ma/ cruz./ A/li/ vi/vi/ com os/ meus
história pretendida mediante diálogo entre os persona-
(Aberto de Oliveira)
gens, que estabelecem com o público uma relação direta,
a fim de comprometê-lo emocionalmente com a história
§§ Bárbaros – mais de doze sílabas: contada e os personagens dela. O termo teatro deriva do
Nun/ca /co/nhe/ci /quem/ ti/ve/sse/ le/va/do/ po/rra/da. grego théatron, que significa “ver”, “contemplar”.
To/dos os/ meus/ co/nhe/ci/dos/ têm/ si/do/ cam/pe/ões/
[em/ tudo. Esse gênero subdivide-se em tragédia, comédia,
(Fernando Pessoa) drama, auto e farsa.
127
§§ Tragédia
Conta histórias, cujos resultados são destrutivos e irreversíveis. Em geral, baseada em mitos e histórias já
conhecidas do público, a tragédia pretende causar no espectador terror, piedade, catarse, enfim: “descarga
de desordens emocionais ou afetos desmedidos a partir da experiência estética oferecida pelo teatro, mú-
sica e poesia”. Personagens lutam contra forças mais poderosas que elas, que, em princípio, são vencidas
regularmente com a morte. Sugestão: Édipo Rei, de Sófocles.
§§ Comédia
Enfatiza o comportamento ridículo do ser humano, mediante exposição e crítica de costumes sociais. Suges-
tões: O doente imaginário, de Molière; A tempestade, de Shakespeare; e Lisístrata, de Aristófanes.
§§ Drama
A peça funde tragédia e comédia sem, no entanto,
que a história caminhe para resultados irreversíveis.
Em geral, trata de fatos do cotidiano com final feliz
ou não, mas com trajetória intrigante, de difícil solu-
ção. Sugestões: Leonor de Mendonça, de Gonçalves
Dias; e Macário, de Álvares de Azevedo.
§§ Auto
Peça teatral curta regularmente com temática reli-
giosa e moralizante e com finalidade catequética,
que discute conceitos abstratos e simbólicos. Su-
gestão: O auto da barca do inferno, de Gil Vicente.
§§ Farsa
Peça teatral de crítica social que apresenta personagens e situações caricaturadas sem preocupação com o
questionamento de valores. Sugestão: A farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente.
O gênero narrativo
Oriunda do gênero épico, a narrativa organiza uma história levando em consideração aspectos primordiais de sua
estrutura: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho.
Os gêneros narrativos apresentam-se como:
§§ Conto
Narrativa curta centrada em um único acontecimento. Apresenta uma ação que se encaminha para uma
tensão (clímax) entre personagens, delimitados num tempo e espaço reduzidos. Sugestões: Amor, de Clarice
Lispector; O menino do boné cinzento, de Murilo Rubião; e A causa secreta, de Machado de Assis.
§§ Novela
Narrativa situada entre a brevidade do conto e a longevidade do romance. Sugestões: A hora e a vez de
Augusto Matraga, de Guimarães Rosa; e Os crimes da rua Morgue, de Edgar Allan Poe.
§§ Crônica
Narrativa breve baseada na vida cotidiana, delimitada por tempo cronológico curto, em linguagem coloquial
e leve toque de humor e crítica. Sugestões: Comédias da vida privada – 101 crônicas escolhidas, de Luís
Fernando Veríssimo.
128
§§ Romance
Narrativa longa que discorre sobre um grande conflito central que dá origem a outros secundários, compre-
endendo vários personagens em constante conflito psicológico, envolvidos pela trama que caminha para
um clímax. Sugestões: Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; São Bernardo, de Graciliano Ramos; e
O senhor dos anéis, de J.R.R. Tolkien.
§§ Anedota
Relato de um acontecimento curioso ou engraçado. Como o provérbio, a anedota, além da tradição oral,
vem inserida em textos literários. Sugestão: O asno de ouro, do escritor latino Apuleio, é uma constelação
de pequenas aventuras picantes.
§§ Apólogo
Historinha entre objetos inanimados com moral implícita ou explícita. Um apólogo, de Machado de Assis,
trata da conversa entre uma agulha e uma linha que discutem sobre a mais importância delas. Observe o
último parágrafo em que está implícita a moral:
“Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, mur-
murou à pobre agulha:
– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas
na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
– Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!”
§§ Fábula
Difere do apólogo, uma vez que seus personagens são animais. Esse gênero teve ilustres cultores na litera-
tura ocidental, como Esopo, Fedro e La Fontaine, cujas fábulas estão reunidas em doze livros.
129
E.O. Teste I Então ela será tua alegria,
E será ela só tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa
1. O gênero dramático, entre outros aspectos, Sofre sereno e de alma sombranceira
apresenta como característica essencial:
Sem um grito sequer tua desgraça.
a) a presença de um narrador.
Encerra em ti tua tristeza inteira
b) a estrutura dialógica.
c) o extravasamento lírico. E pede humildemente a Deus que a faça
d) a musicalidade. Tua doce e constante companheira...
e) o versilibrismo. Manuel Bandeira
135
2. (Insper) O texto permite afirmar que o po- 4. A que gênero literário pertence o texto?
tencial “nerdístico” do filme:
a) está associado às marcas de metalinguagem. Identifique a que gênero pertencem os tex-
b) advém da trama onírica que induz ideias tos das questões 5, 6 e 7. Aponte duas carac-
subliminares. terísticas que justifiquem sua resposta.
c) resulta das fortes referências intertextuais.
d) origina-se da mistura entre realidade e ficção. 5. Oh! que saudades que tenho
e) decorre da associação entre o sonho e a es- Da aurora da minha vida,
cada de Penrose. Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
(Casimiro de Abreu)
E.O. Dissertativo
Leia as estrofes do poema “O prato azul- 6. Lavínia: (sacode Vicente) Vicente! Não ouve
-pombinho”, de Cora Coralina para respon- o apito do trem? Desistiu de ir?
der às questões 1 e 2. Vicente: Não. Eu vou. Preciso ir. Eu mando
notícias.
Minha bisavó – que Deus a tenha em glória –
Lavínia: Amanhã mesmo?
sempre contava e recontava
Vicente: Amanhã. Adeus.
em sentidas recordações
Lavínia: Adeus.
de outros tempos
(Jorge de Andrade, Beijam-se com amor.)
a estória de saudade
daquele prato azul-pombinho.
Era uma estória minuciosa. 7. A casa inteira recebeu a carta com muita
Comprida, detalhada. alegria. Ricardo vinha do Recife passar uns
Sentimental. dias com eles. Há anos que se fora. Ainda
Puxada em suspiros saudosistas quase menino, sumira-se do engenho sem
e ais presentes. ninguém saber para onde. Ricardo fugiu.
E terminava, invariavelmente, (José Lins do Rego)
depois do caso esmiuçado:
“– Nem gosto de lembrar disso...”
É que a estória se prendia 8. A que gênero literário pertence o poema
aos tempos idos em que vivia abaixo? Justifique sua resposta.
minha bisavó
que fizera deles seu presente e seu futuro. A Rua dos Cataventos
[...] Da vez primeira em que me assassinaram,
CORALINA, Cora. Melhores poemas de Cora Coralina. Seleção Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
de Darci F. Denófrio. São Paulo: Global, 2004, p. 47. Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
De acordo com a leitura dos fragmentos, explicite:
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
1. A lembrança a que o eu poético faz alusão. O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
2. Como são construídos os traços épico e lírico. Como único bem que me ficou.
Texto para as próximas duas questões. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
A um passarinho Pois dessa mão avaramente adunca
Para que vieste Não haverão de arracar a luz sagrada!
Na minha janela Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Meter o nariz? Que a luz trêmula e triste como um ai,
Se foi por um verso A luz de um morto não se apaga nunca!
(...) (Mário Quintana)
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
A questão seguinte toma por base a Tragédia
(Vinicius de Moraes)
em um ato, assinada pelo escritor, tradutor
e desenhista Millôr Fernandes (1924-) e pu-
3. Segundo o texto, qual é a condição funda- blicada pela primeira vez em “O pif-paf” (O
mental para a condição poética? Cruzeiro, 1945).
136
O capitalismo mais reacionário atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Tragédia em um ato Já esqueci a língua em que comia,
Personagens: o patrão e o empregado em que pedia para ir lá fora,
Época: atual em que levava e dava pontapé,
Ato único a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
Empregado – Patrão, eu queria lhe falar se- O português são dois; o outro, mistério.
riamente. Há quarenta anos que trabalho na ANDRADE, Carlos Drummond de. Esquecer para
empresa e até hoje só cometi um erro. lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
Patrão – Está bem, meu filho, está bem.
Mas de agora em diante tome mais cuidado. 1. Explorando a função emotiva da linguagem,
(Pano rápido) o poeta expressa o contraste entre marcas de
In: FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim variação de usos da linguagem em:
mesmo. Rio de Janeiro: Nórdica, 1974, p. 15.
a) situações formais e informais.
b) diferentes regiões do país.
9. (Vunesp) A tragédia, no sentido clássico, é c) escolas literárias distintas.
uma obra fortemente dramática, inspirada d) textos técnicos e poéticos.
na lenda ou na história, e que põe em cena e) diferentes épocas.
personagens envolvidos em situações que
desencadeiam desgraças. Em sua função po- 2. Lusofonia
ética, destina-se também a infundir o terror rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova;
e a piedade. Considerando essa definição, re- moça; menina; (Brasil), meretriz.
leia o texto de Millôr Fernandes e, a seguir:
§§ interprete por que apenas esse diálogo Escrevo um poema sobre a rapariga que está
entre os dois personagens poderia carac- sentada no café, em frente da chávena de
terizar uma tragédia, segundo o autor; e café, enquanto alisa os cabelos com a mão.
§§ interprete um sentido conotativo da ex- Mas não posso escrever este poema sobre essa
pressão “meu filho”, nas palavras do per- rapariga porque, no brasil, a palavra rapariga
sonagem patrão. não quer dizer o que ela diz em portugal. En-
tão, terei de escrever a mulher nova do café,
10. (Fuvest) Considere a seguinte relação de
a jovem do café, a menina do café, para que
obras: Auto da barca do inferno, Memórias
a reputação da pobre rapariga que alisa os
de um sargento de milícias, Dom Casmurro
cabelos com a mão, num café de lisboa, não
e Capitães da areia. Entre elas, indique as
fique estragada para sempre quando este po-
duas que, de modo mais visível, apresentam
ema atravessar o atlântico para desembarcar
intenção de doutrinar, ou seja, o propósito
no rio de janeiro. E isto tudo sem pensar em
de transmitir princípios e diretivas que in-
áfrica, porque aí lá terei de escrever sobre a
tegram doutrinas determinadas. Divida sua
moça do café, para evitar o tom demasiado
resposta em duas partes:
continental da rapariga, que é uma palavra
a) para a primeira obra escolhida;
que já me está a pôr com dores de cabeça até
b) para a segunda obra escolhida, conforme já
porque, no fundo, a única coisa que eu que-
vem indicado na respectiva página de res-
postas. Justifique sucintamente cada uma ria era escrever um poema sobre a rapariga
de suas escolhas. do café. A solução, então, é mudar de café, e
limitar-me a escrever um poema sobre aquele
café onde nenhuma rapariga se pode sentar à
E.O. Enem mesa porque só servem café ao balcão.
JÚDICE, N. Matéria do Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008.
Leia o texto “Aula de português” e faça o que O texto traz em relevo as funções metalin-
se pede: guística e poética. Seu caráter metalinguís-
tico justifica-se pela:
A linguagem a) discussão da dificuldade de se fazer arte ino-
na ponta da língua vadora no mundo contemporâneo.
tão fácil de falar b) defesa do movimento artístico da pós-mo-
e de entender. dernidade, típico do século XX.
A linguagem
c) abordagem de temas do cotidiano, em que a
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer? arte se volta para assuntos rotineiros.
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, d) tematização do fazer artístico, pela discus-
e vai desmatando são do ato de construção da própria obra.
o amazonas de minha ignorância. e) valorização do efeito de estranhamento causado
Figuras de gramática, esquipáticas, no público, o que faz a obra ser reconhecida.
137
3. Texto I: Chão de esmeralda 4. Dario vinha apressado, guarda-chuva no bra-
Me sinto pisando ço esquerdo e, assim que dobrou a esquina,
Um chão de esmeraldas diminuiu o passo até parar, encostando-se à
parede de uma casa. Por ela escorregando,
Quando levo meu coração
sentou-se na calçada, ainda úmida da chuva,
À Mangueira
e descansou na pedra o cachimbo.
Sob uma chuva de rosas
Dois ou três passantes rodearam-no e inda-
Meu sangue jorra das veias
garam se não se sentia bem. Dario abriu a
E tinge um tapete
boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta.
Pra ela sambar
O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia
É a realeza dos bambas sofrer de ataque.
Que quer se mostrar Adaptado de: TREVISAN, D. Uma vela para Dario. Cemitério
Soberba, garbosa de Elefantes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.
Minha escola é um cata-vento a girar
É verde, é rosa No texto, um acontecimento é narrado em
Oh, abre alas pra Mangueira passar linguagem literária. Esse mesmo fato, se re-
BUARQUE, C.; CARVALHO, H.B. Chico Buarque de Mangueira. latado em versão jornalística, com caracte-
Marola Edições Musicais Ltda. BMG. 1997. Disponível em: rísticas de notícia, seria identificado em:
<www.chicobuarque.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2010. a) Aí, amigão, fui diminuindo o passo e tentei
me apoiar no guarda-chuva... mas não deu.
Texto II Encostei na parede e fui escorregando. Foi
Quando a escola de samba entra na Marquês mal, cara! Perdi os sentidos ali mesmo. Um
de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos povo que passava falou comigo e tentou me
componentes bate mais forte e o que vale é a socorrer. E eu, ali, estatelado, sem conseguir
emoção. Mas, para que esse verdadeiro espe- falar nada! Cruzes! Que mal.
b) O representante comercial Dario Ferreira, 43
táculo entre em cena, por trás da cortina de
anos, não resistiu e caiu na calçada da Rua
fumaça dos fogos de artifício, existe um ver- da Abolição, quase esquina com a Padre Viei-
dadeiro batalhão de alegria: são costureiras, ra, no centro da cidade, ontem por volta do
aderecistas, diretores de ala e de harmonia, meio-dia. O homem ainda tentou apoiar-se
pesquisador de enredo e uma infinidade de no guarda-chuva que trazia, mas não conse-
profissionais que garantem que tudo esteja guiu. Aos populares que tentaram socorrê-lo
perfeito na hora do desfile. não conseguiu dar qualquer informação.
AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. c) Eu logo vi que podia se tratar de um ataque.
Revista de Carnaval 2010: Mangueira. Rio de Eu vinha logo atrás. O homem, todo apru-
Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010. mado, de guarda-chuva no braço e cachimbo
na boca, dobrou a esquina e foi diminuindo
Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a o passo até se sentar no chão da calçada. Al-
tradição e o compromisso dos dirigentes e de gumas pessoas que passavam pararam para
todos os componentes com a escola de sam- ajudar, mas ele nem conseguia falar.
ba Estação Primeira de Mangueira. Uma das d) Vítima
diferenças que se estabelece entre os textos Idade: entre 40 e 45 anos
é que: Sexo: masculino
a) o artigo jornalístico cumpre a função de Cor: branca
transmitir emoções e sensações, mais do que Ocorrência: Encontrado desacordado na Rua
a letra de música. da Abolição, quase esquina com Padre Viei-
b) a letra de música privilegia a função social ra. Ambulância chamada às 12h34min por
de comunicar a seu público a crítica em re- homem desconhecido. A caminho.
e) Pronto-socorro? Por favor, tem um homem
lação ao samba e aos sambistas.
caído na calçada da rua da Abolição, quase
c) a linguagem poética, no Texto I, valoriza esquina com a Padre Vieira. Ele parece des-
imagens metafóricas e a própria escola, en- maiado. Tem um grupo de pessoas em vol-
quanto a linguagem, no Texto II, cumpre a ta dele. Mas parece que ninguém aqui pode
função de informar e envolver o leitor. ajudar. Ele precisa de uma ambulância rápi-
d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da es- do. Por favor, venham logo!
cola, o Texto I acende a rivalidade entre esco- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
las de samba, enquanto o Texto II é neutro. O canto do guerreiro
e) o Texto I sugere a riqueza material da Manguei- Aqui na floresta
ra, enquanto o Texto II destaca o trabalho na Dos ventos batida,
escola de samba. Façanhas de bravos
138
Não geram escravos,
Que estimem a vida
E.O. Teste II
Sem guerra e lidar. 1. V-V-F-F 2. A 3. C 4. A
- Ouvi-me, Guerreiros, 5. E 6. C
- Ouvi meu cantar. Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
E.O. Teste III
1. D 2. C
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou? - Guerreiros, ouvi-me;
- Quem há, como eu sou?
(Gonçalves Dias) E.O. Dissertativo
1. A lembrança a que o eu poético faz alusão é
Macunaíma (Epílogo)
o “prato azul-pombinho”.
Acabou-se a história e morreu a vitória. 2. O traço “épico” se constrói pelo ato de a bi-
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolo- savó contar e recontar estórias minuciosas e
mângolo na tribo Tapanhumas e os filhos detalhadas de outros tempos. Já o traço “líri-
dela se acabaram de um em um. Não havia co” é construído a partir de uma perspectiva
mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles subjetiva, atrelada às emoções.
campos, furos puxadouros arrastadouros 3. A condição fundamental do texto está pautada
meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, na ideia de infelicidade, tristeza e angústia.
tudo era solidão do deserto... Um silêncio 4. O texto pertence ao gênero lírico.
imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Ne- 5. Gênero lírico. A temática abordada parte de
nhum conhecido sobre a terra não sabia nem um “eu” e nela seu estado subjetivo se vale
de uma emoção, de um estado da alma.
falar da tribo nem contar aqueles casos tão
6. Gênero dramático. Os personagens estabele-
pançudos. Quem podia saber do Herói?
cem diálogo por meio de suas falas, as rubri-
(Mário de Andrade)
cas. Há ausência de narrador.
7. Gênero narrativo. Há um narrador que conta
uma história. Além disso, há uma menção
5. Considerando-se a linguagem desses dois a estruturas básicas deste gênero: persona-
textos, verifica-se que: gens, espaço e tempo.
a) a função da linguagem centrada no receptor 8. Gênero lírico. O uso da primeira pessoa
está ausente tanto no primeiro quanto no (mundo interior) e a utilização da musica-
segundo texto. lidade por intermédio da escolha fonética
b) a linguagem utilizada no primeiro texto é co- (rima, ritmo etc.).
loquial, enquanto, no segundo, predomina a 9. O diálogo poderia caracterizar tragédia, uma
linguagem formal. vez que se centra em um conflito a partir de
c) há, em cada um dos textos, a utilização de uma situação que pode desencadear desgra-
pelo menos uma palavra de origem indígena. ça. A sensibilidade do leitor pode recair so-
bre o terror e a piedade após o contato com
d) a função da linguagem, no primeiro texto,
a cena. No sentido conotativo, a expressão
centra-se na forma de organização da lin-
“meu filho” por parte do patrão demonstra
guagem e, no segundo, no relato de infor- uma postura paternalista assumida por ele.
mações reais. 10.
e) a função da linguagem centrada na pri- a) Na peça Auto da Barca do Inferno, clas-
meira pessoa, predominante no segundo sificada pelo autor como auto de mora-
texto, está ausente no primeiro. lidade, Gil Vicente defende os princípios
cristãos e critica alegoricamente a so-
ciedade do seu tempo. Escrita no perí-
Gabarito odo de transição da Idade Média para a
Idade Moderna, revela o bifrontismo do
homem daquele tempo, dividido entre
o temor a Deus e a exaltação do homem
E.O. Teste I livre (medievalismo vs humanismo). A
crítica severa é reveladora de sua postu-
1. B 2. C 3. B 4. A 5. C ra moderna, enquanto que os princípios
que a regem estão voltados para Deus.
6. A 7. C 8. A 9. C 10. C Trata-se de uma farsa alegórica, pois os
139
personagens-tipo, representantes das di-
versas camadas sociais, provocam o riso
do público quando se indignam com a
condenação que os leva ao inferno, pois
todos se julgam merecedores do paraíso
divino.
b) Em Capitães da areia, Jorge Amado nar-
ra a história de um grupo de meninos
abandonados que vivem na orla litoral da
cidade de Salvador. O contexto histórico
do Brasil, ditadura Vargas, marcado pela
censura e perseguições políticas, moti-
va o autor a desenvolver uma narrativa
cujos personagens anseiam por liberdade
e justiça através de ações reveladoras de
revolta de onde pode emergir o banditis-
mo e a criminalidade ou o engajamento
político na luta de classes. A greve dos
condutores de bonde, a atuação do es-
tudante universitário no trapiche e a
filiação partidária de Pedro Bala, entre
outras, revelam o engajamento de Jorge
Amado à ideologia socialista, defensora
da revolução proletária como meio de os
excluídos obterem justiça social.
E.O. Enem
1. A 2. D 3. C 4. B 5. C
140
Disponível em: <http://www.ricardocosta.com/tags/trovadorismo>
da Idade Média
Aulas 3 e 4
Trovadorismo: a literatura
Contexto
Todo o imaginário feudal de príncipes, princesas, reis e seus
reinados são elementos fundamentais para situar o trovado-
rismo na história. Os castelos e sua nobreza, os cavaleiros e
seus duelos em guerras e torneios compõem o cenário da
Idade Média, quando se desenvolve essa primeira escola lite-
rária após a queda do Império Romano.
Com a tomada de Constantinopla pelos turcos, em
1453, capital do Império Romano do Oriente, tem início a
Idade Média. Morto o imperador Carlos Magno, em 814, o
poder central ficara enfraquecido e a sociedade passara a se
organizar em torno de grandes propriedades de terra, com o
poder centralizado na figura do senhor feudal.
A Literatura portuguesa tem início, de fato, com o
trovadorismo. Antes disso, há documentos de produções na
região e na Península Ibérica, mas não de fato portuguesa.
Religião e cultura
A Igreja católica cresceu, acumulou vastas extensões de terra, enriqueceu e concentrou um significativo poder reli-
gioso e secular. Essa herança conviveu com mudanças na ordem social que tiveram expressão também significativa
na literatura do período.
143
Uma importante manifestação do poder da Igreja medieval foi seu controle quase absoluto da produção cultural.
Como a circulação dos textos dependia da sua reprodução manuscrita, quase sempre feita sob encomenda, a
divulgação da cultura tornava-se ainda mais difícil, uma vez que o número de cópias em circulação era bem pequeno.
O uso do latim como língua literária, outra herança do longo período de dominação romana na Europa,
também contribuía para dificultar o acesso aos textos. Poemas e canções eram compostos em latim por monges
eruditos que vagavam de feudo em feudo para divulgarem suas composições. A maior parte dessa produção abor-
dava temas religiosos.
E, mia senhor, des aquel di’ , jay! E, minha senhora, desde aquele dia, ai,
me foi a mi muyn mal, tudo para mim foi muito mal,
e vos, filha de don Paay mas vós, filha D. Paio
Moniz, e ben vus semelha Moniz, parece-vos muito bem que eu tenha
d’aver eu por vós guarvaya e vós uma garvaia [manto de luxo] quando
pois eu, mia senhor, d’alfaya nunca recebi de vós o simples
nunca de vos ouve nem ei valor de uma correia.
valia dua correa.
(Paay Soares Taveiros)
144
O poder feudal
A sociedade medieval organizou-se em torno dos gran-
des proprietários de terra, os senhores feudais.
Uma pequena corte passou a se reunir com esse
senhor feudal. Dela faziam parte membros da nobreza,
cavaleiros, camponeses livres e servos. Estavam unidos
por uma relação de dependência pessoal: a vassalagem.
O servilismo dos vassalos a seu suserano e dos
fieis a Deus deu origem ao princípio básico da litera-
tura medieval: a afirmação da total subserviência de
um trovador à sua dama, em se tratando dos temas da
poesia, ou de um cavaleiro à sua donzela, no caso das
novelas de cavalaria.
146
Tipos de cantiga
As cantigas trovadorescas são divididas em dois grupos: as líricas, que falam de sentimento e são subdivididas em
cantigas de amor e de amigo, e as cantigas satíricas, intencionalmente críticas e cômicas, também subdivididas em
cantigas de escárnio e de maldizer.
Cantigas de amor
Líricas
Cantigas de amigo
Cantigas
Cantigas de escárnio
Satíricas
Cantigas de maldizer
Líricas
A poesia lírica diz respeito à lira, instrumento musical da Antiguidade clássica que acompanhava as canções, ex-
pressando sentimentos.
Cantiga de amor
As cantigas de amor são especialmente dedicadas à mulher amada pelo trovador, amor esse que não era corres-
pondido. Ela pertence a uma classe superior à sua. Em função da imobilidade social das castas, esse amor era
proibido e dava origem à “coita”, que significa sofrimento.
Os trovadores se valem de um eu lírico masculino que é pobre e declara seu amor impossível, por isso sofri-
do e submisso à dama. A chamada “vassalagem amorosa”.
Possui poucas repetições de versos e ausência de paralelismo por se propor mais elevada e de estru-
tura complexa em linguagem refinada, normalmente de
origem provençal.
O eu lírico apresentado é masculino, ou seja,
o trovador expressa seus sentimentos em relação à mu-
lher amada que é, invariavelmente, de classe superior à
do trovador.
A linguagem usada é mais refinada, evitam-se os
refrões e as repetições, e, por serem assim mais sofisticadas,
chamavam-se cantigas de maestria ou mestria.
Os termos usados pelo trovador para se referir à mu-
lher amada são sempre no masculino: mia senhor, fremosa
senhor, mia don (dona).
O trovador se queixa da indiferença da mulher ama-
da, coita amorosa.
O amor é sempre cortês, mesmo porque a distância
social entre o amante e a amada não permitia que houvesse
atrevimentos de qualquer ordem.
147
Cantiga d’amor Cantiga de amor (tradução)
Quantos an gran coita d’amor Quantos o amor faz padecer
eno mundo, qual og’ eu ei, penas que tenho padecido
querrian morrer, eu o sei, querem morrer e não duvido
o averrian én sabor. que alegremente queiram morrer.
Mais mentr’ eu vos vir’, mia senhor, Porém enquanto vos puder ver,
sempre m’eu querria viver, vivendo assim eu quero estar
e atender e atender! e esperar, e esperar!
Pero já non posso guarir, Sei que a sofrer estou condenado
ca já cegan os olhos meus e por vós cegam os olhos meus.
por vos, e non me val i Deus Não me acudis; nem vós, nem Deus
nen vos; mais por vos non mentir, Mas, se sabendo-me abandonado,
enquant’eu vos, mia senhor, vir’, ver-vos, senhora, me for dado.
sempre m’eu querria viver, vivendo assim eu quero estar
e atender e atender! e esperar, e esperar!
E tenho que fazen mal-sen Esses que veem tristemente
quantos d’amor coitados son desamparada sua paixão
de querer sa morte, se non querendo morrer, loucos estão.
ouveron nunca d’amor ben Minha fortuna não é diferente;
com’eu faç’. E, senhor, por én porém eu digo constantemente:
sempre m’eu querria viver, vivendo assim eu quero estar
e atender e atender! e esperar e esperar!
(Garcia de Guilhade)
Cantiga de amigo
§§ Bailias
1. O eu lírico das cantigas de amigo é sempre
E no sagrado em vigo
bailava corpo velido (uma linda moça) amor ei! feminino, canta a saudade do amado distante.
(Martim Codax) 2. Há uso de repetições de palavras, de ver-
§§ Romarias sos inteiros.
Pois nossas madres van a San Simon de Val 3. O homem amado é de classe superior à da
de Prados candeas queimar (pagar promessas) mulher que canta.
nós, as menininhas, punhemos d’andar (vamos 4. O amigo/amado, a que se referem as cantigas,
[passear) deve ser entendido como amante/namorado.
§§ Barcarolas ou Marinhas 5. A mulher queixa-se [à natureza] de ter perdido o
Vi eu, mia madr’, andar amado ou se distanciado dele.
as barcas e no mar,
6. Geralmente tais cantigas são dialogadas.
e moiro de amor!
(Nuno Fernandes Tomeol) 7. A cantiga de amigo se vale de descrição.
149
Satíricas En Santiago seend’albergado,
en mia pousada chegaron romeus
preguntei-os e disseron: “par Deus,
As cantigas satíricas fazem críticas ao comporta-
muito levade-lo caminh’ errado,
mento das pessoas em suas ações sociais, usavam o
ca, se verdade quiserdes achar,
humor e o vocabulário chulo para denunciar alguns outro caminho conven a buscar,
nobres e damas. ca non saben aqui d’ela mandado.
Além disso, a sátira se estendia a instituições
sociais, censurava os males da sociedade ou dos indiví- Cantigas de maldizer
duos, quase tudo com tom sarcástico, irônico e obsceno.
Elas podem ser de escárnio ou de maldizer. Nas cantigas de maldizer, o trovador utiliza um voca-
bulário agressivo para fazer uma crítica direta e clara,
Cantigas de escárnio identificando o nome das pessoas satirizadas. Essa lin-
guagem de baixo calão, os palavrões e até vocabulá-
A principal característica da cantiga de escárnio é o fato rio erótico aconteciam, pois eram proferidas nas ruas,
de ela ser indireta, especialmente por ser declamada praças públicas e feiras livres. Os significados eram
no ambiente palaciano. O efeito satírico que caracteriza explícitos e não poupavam nenhuma instituição social:
essas cantigas é obtido por meio de ironias, trocadilhos atacam o clero, as freiras, os fidalgos e toda a sorte de
e jogos semânticos. De modo geral, ridicularizam o com- pessoas que, dentro de suas classes, indiquem decadên-
portamento de nobres ou denunciam as mulheres que cia moral.
não seguem o código do amor cortês.
A sátira indireta sublima o nome da pessoa cri- Maldizer
ticada e sempre explora os duplos sentido e os troca- (Afonso Eanes do Coton)
As novelas de cavalaria
As novelas de cavalaria são os primeiros romances, ou seja, longas narrativas em verso, surgidas no século
XII. Elas contam as aventuras vividas pelos cavaleiros andantes e tiveram origem no declínio do prestígio da poesia
dos trovadores.
Estão organizadas em três ciclos, de acordo com o tema que desenvolvem e com o tipo de herói
que apresentam:
§§ Ciclo Clássico: novelas que narram a guerra de Troia e as aventuras de Alexandre, o Grande. O ciclo recebe
essa denominação porque seus heróis vêm do mundo clássico mediterrâneo.
§§ Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolvendo o rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Nessas
novelas, podem ser identificados vários núcleos temáticos: a história de Percival, a história de Tristão e Isol-
da, as aventuras dos cavaleiros da corte do rei Arthur e a demanda do Santo Graal.
§§ Ciclo carolíngio ou francês: histórias sobre o rei Carlos Magno e os 12 pares de frança.
Dos três ciclos, o arturiano permanece como um dos temas literários mais explorados, sendo objeto de
romances, poemas, filmes e óperas até hoje.
No trecho a seguir, extraído de A demanda do Santo Graal, Galaaz chega à Távola Redonda.
Eles [...] olharam e viram que todas as portas do paço se fecharam e todas as janelas, mas não escureceu
por isso o paço, porque entrou um tal raio de sol, que por toda a casa se estendeu. E aconteceu então uma grande
maravilha, não houve quem no paço não perdesse a fala; e olhavam-se uns aos outros e nada podiam dizer, e não
houve alguém tão ousado, que disso não ficasse espantado; mas não houve quem saísse do assento, enquanto
152
isto durou. Aconteceu que entrou Galaaz armado de
loriga e brafoneiras e de elmo e de suas divisas de
veludo vermelho; e, após ele, chegou o ermitão, que
lhe rogara que o deixasse andar com ele, e trazia
um manto e uma gamacha de veludo vermelho em
seu braço.
Mas tanto vos digo que não houve no paço
quem pudesse entender por onde Galaaz entrara, que
em sua vinda não abriram porta nem janela. Mas do
ermitão não vos digo, porque o viram entrar pela por-
ta grande. E Galaaz, assim que chegou ao meio do
paço, disse de modo que todos ouviram:
– A paz esteja convosco.
E o homem bom pôs as vestes que trazia sobre
um tapete, e foi ao rei Arthur e disse-lhe:
– Rei Arthur, eu trago o cavaleiro desejado,
aquele que vem da alta linhagem do rei Davi e de
José de Arimateia, pelo qual as maravilhas desta terra
e das outras terão fim.
E com isto que o homem bom disse, ficou o rei
muito alegre. E disse:
– Se isto é verdade, sede bem-vindo. E bem vindo seja o cavaleiro, porque este é o que há de dar cabo às
aventuras do santo Graal. Nunca foi feita nesta corte tanta honra como lhe nós faremos; e quem quer que ele seja,
eu queria que lhe fosse muito bem, pois de tão alta linhagem vem como dizeis.
– Senhor, disse o ermitão, cedo o vereis em bom começo.
Então fê-lo vestir os panos que trazia e foi assentá-lo no assento perigoso. E disse:
– Filho, agora vejo o que muito desejei, quando vejo o assento perigoso ocupado.
[...]
O cavaleiro de quem Merlim e todos os profetas falaram. O rei, assim que viu no assento perigoso o cavalei-
ro de quem Merlim e todos os profetas falaram na Grã-Bretanha, então bem soube que aquele era o cavaleiro por
quem seriam acabadas as aventuras do reino de Logres, e ficou com ele tão alegre e tão feliz que bendisse a Deus:
Deus, bendito sejas tu que te aprouve de tanto viver eu que, em minha casa, visse aquele de quem todos os
profetas desta terra e das outras profetizaram, tão longo tempo há já.
[...]
153
E.O. Teste I a) as cantigas de amor recriaram o mesmo am-
biente palaciano das cortes galegas.
b) “a literatura do amor cortês” refletiu a ver-
1. É correto afirmar sobre o Trovadorismo que: dade sobre a vida privada medieval.
a) os poemas são produzidos para ser encenados. c) a servidão amorosa e a idealização da mu-
b) as cantigas de escárnio e maldizer têm te- lher foi o grande tema da poesia produzida
máticas amorosas. por vilões.
c) nas cantigas de amigo, o eu lírico é sempre d) o amor cortês foi uma prática literária que aos
feminino. poucos modelou o perfil do homem civilizado.
d) as cantigas de amigo têm estrutura poética e) nas cantigas medievais mulheres e homens sub-
complicada. metem-se às maneiras refinadas da cortesia.
e) as cantigas de amor são de origem nitida-
mente popular. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Cantiga de Amor
2. Leia atentamente o texto abaixo.
Senhora minha, desde que vos vi,
Com’ousará parecer ante mi lutei para ocultar esta paixão
o meu amigo, ai amiga, por Deus, que me tomou inteiro o coração;
e com’ousará catar estes meus mas não o posso mais e decidi
olhos se o Deus trouxer per aqui, que saibam todos o meu grande amor,
pois tam muit’há que nom veo veer a tristeza que tenho, a imensa dor
mi e meus olhos e meu parecer? que sofro desde o dia em que vos vi.
Com’ousará parecer ante mi de Dom Dinis.
Disponível em: <http://pt.wikisource.org/
Já que assim é, eu venho-vos rogar
wiki/Com%27ousar%C3%A1_pare- que queirais pelo menos consentir
cer_ante_mi>. Acesso em: 5 dez. 2012. que passe a minha vida a vos servir (...)
Afonso Fernandes (www.caestamosnos.
per = por; tam = tão; nom = não; veer = ver; org/ efemerides/118. Adaptado)
mi = mim, me parecer = semblante
154
Texto II 8. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito
Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas, das cantigas de amor.
so aqueste ramo destas auelanas a) O ambiente é rural ou familiar.
e quen for louçana, como nós, louçanas, b) O trovador assume o eu lírico masculino: é o
homem quem fala.
se amigo amar,
c) Têm origem provençal.
so aqueste ramo destas auelanas
d) Expressam a “coita” amorosa do trovador,
uerrá baylar. por amar uma dama inacessível.
(Aires Nunes. In: Nunes, J.J., Crestomatia arcaica.) e) A mulher é um ser superior, normalmente
pertencente a uma categoria social mais ele-
Texto III
vada que a do trovador.
Tão cedo passa tudo quanto passa!
morre tão jovem ante os deuses quanto
9. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito
Morre! Tudo é tão pouco! do Trovadorismo em Portugal:
Nada se sabe, tudo se imagina. a) Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação
Circunda-te de rosas, ama, bebe entre a poesia e a música.
E cala. O mais é nada. b) Muitas cantigas trovadorescas foram reuni-
(Fernando Pessoa, Obra poética.) das em livros ou coletâneas que receberam o
nome de cancioneiros.
Texto IV c) Nas cantigas de amor, há o reflexo do rela-
Os privilégios que os Reis cionamento entre senhor e vassalo na socie-
Não podem dar, pode Amor, dade feudal: distância e extrema submissão.
Que faz qualquer amador d) Nas cantigas de amigo, o trovador (sempre
Livre das humanas leis. um homem) escreve o poema assumindo o
mortes e guerras cruéis, papel feminino.
Ferro, frio, fogo e neve,
Tudo sofre quem o serve. 1
0. As narrativas que envolvem as lutas dos cru-
zados envolvem sempre um herói muito en-
(Luís de Camões, Obra completa.)
gajado na luta pela cristandade, podendo ser
Texto V a um só tempo frágil e forte, decidido e ter-
As minhas grandes saudades no, furioso e cortes. No entanto, com relação
à mulher amada, esse herói é sempre:
São do que nunca enlacei.
a) indiferente.
Ai, como eu tenho saudades
b) infiel.
Dos sonhos que não sonhei! (...) c) devotado.
(Mário de Sá Carneiro, Poesias.) d) indelicado.
e) ausente.
6. (Unifesp) A alternativa que indica texto que
faz parte da poesia medieval da fase trova-
doresca é: E.O. Teste II
a) I.
b) II.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
c) III.
d) IV. Texto I
e) V. Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
7. Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é E ai Deus, se verrá cedo!
INCORRETO afirmar que: Ondas do mar levado,
a) refletiu o pensamento da época, marcada se vistes meu amado!
pelo teocentrismo, o feudalismo e valores E ai Deus, se verrá cedo!
altamente moralistas. (Martim Codax)
Obs.: verrá = virá; levado = agitado
b) representou um claro apelo popular à arte,
que passou a ser representada por setores Texto II
mais baixos da sociedade. Me sinto com a cara no chão, mas a verdade
c) pode ser dividida em lírica e satírica. [precisa
d) em boa parte de sua realização, teve influ- ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu
ência provençal. [ignorava
e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por a admirável forma lírica da canção paralelística
trovadores, expressam o eu lírico feminino. (…).
155
O “Cantar de amor” foi fruto de meses de 4. (Fuvest) Interpretando historicamente a re-
[leitura lação de vassalagem entre homem amante/
dos cancioneiros. Li tanto e tão seguidamente mulher amada, ou mulher amante/homem
[aquelas amado, pode-se afirmar que:
deliciosas cantigas, que fiquei com a cabeça a) o Trovadorismo corresponde ao Renascimento.
cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”; b) o Trovadorismo corresponde ao movi-
sonhava com as ondas do mar de Vigo e com mento humanista.
[romarias
c) o Trovadorismo corresponde ao Feudalismo.
a San Servando. O único jeito de me livrar da
obsessão era fazer uma cantiga. d) o Trovadorismo e o Medievalismo só pode-
(Manuel Bandeira) riam ser provençais.
e) tanto o Trovadorismo como o Humanismo
1. Assinale a afirmativa correta sobre o texto I. são expressões da decadência medieval.
a) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino
manifesta a Deus seu sofrimento amoroso. 5. Endechas à escrava Bárbara
b) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino Aquela cativa,
dirige-se a Deus para lamentar a morte do que me tem cativo
ser amado.
porque nela vivo,
c) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculi-
no manifesta às ondas do mar sua angústia já não quer que viva.
pela perda do amigo em trágico naufrágio. Eu nunca vi rosa
d) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculi- em suaves molhos,
no dirige-se às ondas do mar para expressar que para meus olhos
sua solidão. fosse mais formosa.
e) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino Uma graça viva,
dirige-se às ondas do mar para expressar sua que neles lhe mora,
ansiedade com relação à volta do amado. para ser senhora
2. No texto II, o autor: de quem é cativa.
a) manifesta sua resistência à obrigatoriedade Pretos os cabelos,
de ler textos medievais durante o período de onde o povo vão
formação acadêmica. perde opinião
b) utiliza a expressão “cabeça cheia” para de- que os louros são belos.
preciar as formas linguísticas do galaico-por- Pretidão de Amor,
tuguês, como “mha senhor” e “nula ren”. tão doce a figura,
c) relata circunstâncias que o levaram a compor que a neve lhe jura
um poema que recupera a tradição medieval.
que trocara a cor.
d) emprega a palavra “cancioneiros” em subs-
tituição a “poetas”, uma vez que os textos Leda mansidão
medievais eram cantados. que o siso acompanha;
e) usa a expressão “deliciosas cantigas” em sen- bem parece estranha,
tido irônico, já que os modernistas considera- mas bárbara não.
ram medíocres os estilos do passado. endechas = versos em redondilha menor (cinco sílabas);
molhos = feixes; leda = risonha; Vão = fútil.
3. Marque V, para verdadeiro, e F, para falso.
( ) As cantigas de maldizer e de escárnio Em sua obra, Camões continua a tradição da
pertencem à lírica trovadoresca. conduta amorosa das cantigas medievais.
( ) As cantigas de amigo possuem um am- Nela, a mulher amada era considerada:
biente palaciano e o eu lírico é feminino, a) responsável pelas contradições e insatisfa-
apesar de serem escritas por homem. ções do homem.
( ) As cantigas de amor possuem um am- b) símbolo do amor erótico.
biente palaciano e suas características c) incapaz de levar o homem a atingir o Bem.
principais são a vassalagem amorosa e a d) um ser impuro e prejudicial ao homem.
coita de amor. e) uma pessoa superior, fonte de virtudes.
( ) A canção da Ribeirinha iniciou o trovado-
rismo português. 6. Senhor feudal
( ) As cantigas de amigo, em geral, possuem Se Pedro Segundo
um eu lírico feminino, apesar de serem Vier aqui
escritas por homens. A temática princi- Com história
pal, quase sempre, é o sofrimento da mu- Eu boto ele na cadeia.
lher pelo amado que partiu. (Oswald de Andrade)
156
O título do poema de Oswald remete o leitor TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
à Idade Média. Nele, assim como nas canti- Cantiga de Amor
gas de amor, a ideia de poder retoma o con- (Afonso Fernandes)
ceito de:
a) fé religiosa. Senhora minha, desde que vos vi,
b) relação de vassalagem. lutei para ocultar esta paixão
c) idealização do amor. que me tomou inteiro o coração;
d) saudade de um ente distante. mas não o posso mais e decidi
e) igualdade entre as pessoas. que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
7. (G1 - ifsp 2016) A poesia do Trovadorismo que sofro desde o dia em que vos vi.
português tem íntima relação com a música,
pois era composta para ser entoada ou can- Já que assim é, eu venho-vos rogar
tada, sempre acompanhada de instrumental, que queirais pelo menos consentir
como o alaúde, a viola, a flauta, ou mesmo que passe a minha vida a vos servir (...)
com a presença do coro. (www.caestamosnos.org/efemerides/118. Adaptado)
A respeito dessa escola literária, assinale a
alternativa correta.
a) Os principais trovadores utilizavam a guitarra 9. Observando-se a última estrofe, é possível
elétrica para acompanhar a exibição. afirmar que o apaixonado:
b) As composições dividem-se em dois grandes a) se sente inseguro quanto aos próprios senti-
grupos: líricas e satíricas. mentos.
c) Os principais trovadores são: Padre Antônio b) se sente confiante em conquistar a mulher
Viera e Camões. amada.
d) O Trovadorismo é uma escola literária con- c) se declara surpreso com o amor que lhe de-
temporânea. dica a mulher amada.
e) São exemplos de Cantigas Satíricas as Canti- d) possui o claro objetivo de servir sua amada.
gas de Amor e de Amigo. e) conclui que a mulher amada não é tão pode-
rosa quanto parecia a princípio.
8. (ESPM) O amor cortês foi um gênero pratica-
do desde os trovadores medievais europeus. 10. Uma característica desse fragmento, tam-
Nele a devoção masculina por uma figura fe-
bém presente em outras cantigas de amor do
minina inacessível foi uma atitude constante.
Trovadorismo, é:
A opção cujos versos confirmam o exposto é:
a) a certeza de concretização da relação amorosa.
a) Eras na vida a pomba predileta
b) a situação de sofrimento do eu lírico.
(...) Eras o idílio de um amor sublime.
c) a coita de amor sentida pela senhora amada.
Eras a glória, - a inspiração, - a pátria,
d) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico.
O porvir de teu pai!
e) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre
(Fagundes Varela)
pessoas de camadas distintas da sociedade.
b) Carnais, sejam carnais tantos desejos,
Carnais sejam carnais tantos anseios,
Palpitações e frêmitos e enleios
Das harpas da emoção tantos arpejos...
E.O. Teste III
(Cruz e Sousa) 1. Assinale a afirmativa correta com relação ao
c) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Trovadorismo.
Que o espírito enlaça à dor vivente, Texto I
Não derramem por mim nenhuma lágrima Ondas do mar de Vigo,
Em pálpebra demente. se vistes meu amigo!
(Álvares de Azevedo) E ai Deus, se verrá cedo!
d) Em teu louvor, Senhora, estes meus versos Ondas do mar levado,
E a minha Alma aos teus pés para cantar-te, se vistes meu amado!
E os meus olhos mortais, em dor imersos, E ai Deus, se verrá cedo!
Para seguir-lhe o vulto em toda a parte. (Martim Codax)
Obs.: verrá = virá; levado = agitado
(Alphonsus de Guimaraens)
161
© Peter Paul Rubens/Wikimedia Commons
Aulas 5 e 6
Humanismo e Classicismo
Humanismo
Cronologia do Humanismo
Início: Nomeação de Fernão Lopes,
em 1418, como o cronista-mor da Torre “[...] os humanistas consideravam a Antiguidade
do Tombo. afastada deles no tempo (tudo o que fosse velho ti-
Fim: Em 1527, com a chegada do po- nha para eles um interesse especial), mas espiritual-
eta Sá de Miranda, da Itália, com a Medida mente próxima, ao passo que a Idade Média estava
Nova (verso decassílabo). mais próxima no tempo, mas extremamente distan-
te em muitos aspectos [...].”
DRESDEN, Sem. O Humanismo no renascimento.
Tradução de Daniel Gonçalves. Porto: Inova. p. 55.
Contexto
O Humanismo foi um movimento artístico e intelec-
tual que se estabeleceu como uma transição entre o
teocentrismo da Idade Média e o pensamento antro-
pocêntrico do Renascimento, que surgiu na Itália no
final da Idade Média (século XIV). A organização so-
cial passou por uma reformulação, e nas áreas mais
longínquas, aos feudos medievais passaram a surgir
pequenas cidades que funcionavam independentes do
Monteriggioni - Burgo (Itália) poder absoluto dos monarcas, eram os burgos e seus
habitantes, os burgueses.
A lógica dos humanistas era colocar em primeiro plano o próprio ser humano, o que os afastava do teocen-
trismo medieval. Muitos camponeses, atraídos pelas promessas de prosperidade, transferiram-se para os burgos,
estas cidades ou vila medievais normalmente muradas e associadas a um mosteiro ou castelo, onde começaram a
trabalhar como pequenos mercadores.
Em função da substituição da sociedade do escambo e das trocas pelo surgimento do comércio e, primor-
dialmente, da moeda, o homem se viu rompendo com a lógica feudal das castas imóveis. Diante da possibilidade
de ascensão social passaram a investir mais em si, num individualismo que colocava o próprio homem e sua busca
por poder e acúmulo em primeiro plano, surgindo, assim, a burguesia.
163
cantados como seguia a tradição oral das cantigas. A
partir do início da produção de livros na Europa, so-
bretudo com Johann Gutenberg, por volta de 1450, a
Literatura ganha com obras que permitem ao escritor
se valer de novos recursos técnicos da escrita e da lin-
guagem e não ficarem presos à oralidade e à memória
como faziam até então. Para se ter uma ideia, surge na
Alemanha em 1455, a Bíblia de Gutenberg, o primeiro
livro impresso.
Lucca – Burgo (Itália)
Portugal e sua produção
Essas transformações que começaram a ocorrer
na Europa do fim da Idade Média fizeram com que a Os reis e nobres da Dinastia de Avis (1385-1580) tor-
vida nas cidades fosse retomada e o comércio inten- naram Portugal, mais poderoso e rico com o início da
sificado, provocando maior interação entre pessoas de expansão marítima em Portugal que surge ao mesmo
diferentes segmentos da sociedade. A riqueza passou
tempo em que se funda a Torre do Tombo, em 1418,
a ser associada ao capital obtido pelo comércio e não
que foi um importante centro de registro e documen-
mais pela terra, como ocorria na sociedade feudal.
tação da época. Destaca-se a figura de Fernão Lopes,
Com o enriquecimento da burguesia, em função
nomeado o cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434,
do comércio, surge a necessidade de um investimento
na própria formação cultural para que pudesse contar e sendo responsável por escrever e catalogar as Crôni-
administrar a riqueza acumulada. A arte ganha com isso, cas historiográficas. Surge uma poesia desvinculada da
pois com a formação intelectual, fruto da lógica comer- música, chamada de Poesia Palaciana, com Garcia de
cial, o burguês passa a investir em cultura, aprende a ler Resende e sua compilação de poetas no “Cancioneiro
e a contar, algo que, até então, só era feito pela Igreja Geral”, de 1516.
e pelos grandes soberanos. Aos poucos, os leigos come- Destaca-se, também, a figura de Gil Vicente na
çam a conquistar um papel importante na produção e, produção teatral sendo um importante representante
principalmente, na circulação de cultura, arte literária.
da cultura e sociedade da época.
A busca por uma formação levou à redescoberta
de textos e autores da Antiguidade clássica, considera-
da uma fonte de saber a respeito do ser humano, resga-
tava-se, assim, a visão antropocêntrica, característica da
Crônica historiográfica
cultura greco-latina. (Fernão Lopes)
Projeto literário Fernão Lopes é importante, pois é a partir do registro de
suas crônicas historiográficas que se marca o início do
O abandono da subordinação ao Clero e o resgate dos
Humanismo em Portugal. Dezesseis anos após ter sido
valores clássicos fazem com que ganhe força um olhar
nomeado o guarda-mor da Torre do Tombo, em 1434,
mais racional sobre o mundo, buscando na Ciência
ele é nomeado cronista-mor do reino. Ele foi o primeiro
uma explicação para os fenômenos até então atribui-
grande prosador da Literatura Portuguesa e contribui
dos a Deus.
O contexto de produção é o mesmo do Trovado- decisivamente para o desenvolvimento da Língua Portu-
rismo, mas em função do desenvolvimento intelectual guesa moderna, ao criar uma visão de mundo indepen-
vindo da ampliação cultural promovida pela burguesia, dente das imposições do clero.
os textos passam a ser escritos para ser lidos e não mais Lopes escreveu três crônicas:
164
§§ Crônica de El-Rei D. Pedro I: compilação e crítica dos principais
acontecimentos do reino de D. Pedro I. Nesse volume, encontra-se o
relato do episódio da morte de Inês de Castro, amante do rei, assas-
sinada a mando de D. Afonso IV, pai de D. Pedro.
Medida Velha
Redondilhas maiores: versos com metrificação de 7 síla-
bas poéticas.
Redondilhas menores: versos com metrificação de 5 síla-
bas poéticas.
165
A poesia reunida por Garcia de Resende no Exemplo de poema compilado no Cancioneiro Geral:
Cancioneiro Geral traz algumas diferenças importan-
Entre mim mesmo e mim
tes em relação à lírica dos trovadores galego-portu-
não sei que se ergueu
gueses, no que se refere ao uso de formas poéticas
que tão meu inimigo sou.
regulares, como: Uns tempos com grande engano
§§ a trova: composta de duas ou mais quadras de vivi eu mesmo comigo,
versos de sete sílabas e rimas ABAB; agora no maior perigo
se me descobre maior dano.
§§ o vilancete: composto de um mote (motivo de
Caro custa um desengano,
dois ou três versos) seguido de voltas ou glosas embora este não me tenha matado
(estrofes em que o mote é desenvolvido) de sete quão caro que me custou!
versos; De mim me sou feito outro,
§§ a cantiga: composta de um mote de quatro ou entre o cuidado e cuidado
está um mal derramado,
cinco versos de uma glosa de oito ou dez versos,
que por mal grande me veio.
com repetição total ou parcial do mote no fim
Nova dor, novo receio
da glosa;
foi este que me tomou,
§§ a esparsa: composta de uma única estrofe de assim me tem, assim estou.
oito, nove ou dez versos de seis sílabas métricas. (Bernardim Ribeiro)
A farsa de Inês Pereira é considerada a mais complexa peça de Gil Vicente. Ao apresentá-la, o teatrólogo português diz:
A obra pode ser dividida em cinco partes: a primeira é um retrato da rotina na qual se insere a protagonista;
a segunda reflete a situação da mulher na sociedade da época, cujos registros são dados pela mãe de Inês, pela
própria Inês e por Lianor Vaz; a terceira mostra o comércio casamenteiro, representado pelos judeus comerciantes e
pelo arranjo matrimonial-mercantil de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o casamento, o despertar para a
realidade, contrapondo-a ao sonho que embalava as fantasias da protagonista e, finalmente, a quinta parte reflete
a realidade brutal da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito próprio. A peça apresenta uma situação
concreta, com uma personagem bem delineada psicologicamente e um fio condutor melhor configurado que as
produções anteriores de Gil Vicente.
O enredo é simples: uma jovem sonhadora procura, por meio do casamento com um homem que saiba tan-
ger viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a proposta de Pero Marques, filho de um camponês rico, homem tolo
e ingênuo, e aceita se casar com Brás da Mata, escudeiro pelintra e pobretão. No entanto, os sonhos da heroína
são logo desfeitos, porque o marido revela sua verdadeira personalidade, maltratando-a e explorando-a. Brás da
Mata vai para a África e lá vem a falecer. Inês, ensinada pela dura experiência, toma consciência da realidade e
aceita se casar com Pero Marques, seu primeiro pretendente. Depressa também a jovem aceita a corte de um falso
ermitão. A farsa termina com o marido (cantado por ela como cuco, gamo e cervo, tradicionalmente concebidos
como símbolos do homem traído) levando-a às costas (asno que me carregue) até a gruta em que vive o ermitão,
para um encontro nada ingênuo.
168
Leia um trecho: Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são
as almas que seguirão ao paraíso ou ao inferno.
INÊS PEREIRA: Quien con veros pena y muere qué hará Os mortos começam a chegar e um fidalgo é o
cuando no os viere? 1 primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao
FALADO: Renego deste lavrar e do primeiro que o usou 2 inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo or-
ao diabo que o eu dou que tam mau é d’aturar. dena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se
Oh, Jesus! Que enfadamento, e que raiva, e que tor- merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando
mento, que cegueira, e que canseira! 3 Eu hei-de buscar por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado,
maneira d’algum outro aviamento 4. para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a
Coitada, assi hei-de estar encerrada nesta casa como deixá-lo rever sua amada, pois esta “sente muito” sua
panela sem asa que sempre está num lugar? falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela
E assi hão-de ser logrados 5 dou dias amargurados, que
o estava enganando.
eu possa estar cativa 6 em poder de desfiados? 7 Um agiota chega a seguir e é condenado ao in-
Antes o darei ao Diabo que lavrar mais nem pontada 8;
ferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a
já tenho a vida cansada de jazer sempre dum cabo. 9
ir para o céu pedindo ao diabo que o deixe voltar para
Todas folgam e eu não, todas vêm e todas vão onde
pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba
querem, senão eu. Hui! E que pecado é o meu, Oh que
na barca do inferno.
dor de coração!
O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo,
Esta vida é mais que morta. Sou eu coruja ou corujo,
ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca
ou sou algum caramujo 10, que não sai senão à porta?
do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino
E quando me dão algum dia licença, como a bugia 11,
dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua
que possa estar à janela é já mais que a Madanela 12
humildade, permite-lhe entrar na barca do céu.
quando achou a aleluia.
A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos
os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida en-
1. Quem, vendo-vos, sofre e morre que fará se vos não vir?
2. Amaldiçoada seja o trabalho doméstico e quem o inventou. ganou muitas pessoas, e tenta enganar também o dia-
3. Que trabalho cansativo e sem propósito. bo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena
4. Aviamento: solução.
5. Lograr: desfrutar, aproveitar. como alguém que roubou do povo.
6. Ao afirmar que desfruta (aproveita) os dias presa em casa, O frade é o quinto a chegar cantarolando com
sempre bordando e costurando, Inês autoironiza a vida enfado-
nha a que está submetida.
sua amante. Sente-se ofendido quando o diabo o con-
7. Desfiados: tercidos para bordar e costurar. vida a entrar na barca do inferno, pois, sendo represen-
8. Que vá tudo ao Diabo, não darei nem mais um ponto no
tante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, conde-
bordado.
9. Estou cansada de estar sempre cativa, condenada às mesmas nado ao inferno por falso moralismo religioso.
e repetitivas tarefas, como as panelas que estão sempre depen- Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida
duradas em uma mesma posição.
10. Ao comparar-se à coruja e ao caramujo, Inês ressalta,
pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são “seis-
respectivamente, os seguintes lamentos: não participa da vida centos virgos postiços”. Virgo é hímen, representa a
social e é prisioneira da própria casa.
virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu
11. Bugia: macaca.
12. Madanela: Madalena, personagem bíblica. muitas meninas virgens, e “postiço” nos faz acreditar
que enganara seiscentos homens, dizendo que tais me-
ninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo
Auto da barca do inferno (1514) a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada
por prostituição e feitiçaria.
O Auto da barca do inferno representa o juízo final cató- A seguir, é a vez do judeu, que chega acom-
lico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário panhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo,
é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a
uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo, e a levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com
outra, com destino ao paraíso, comandada por um anjo. a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a
169
procurar outra barca. O judeu fala, então, com o anjo, das falas que podemos classificar a condição social de
porém não consegue aproximar-se dele: é impedido, cada um dos personagens.
acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo Leia um trecho:
aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua
barca, e, sim, rebocados. Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada
Durante o reinado de dom Manuel, de 1495- um a Cruz de Cristo, pela qual Senhor e acrescenta-
1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os mento de Sua santa fé católica morreram em poder dos
que ficaram tiveram que se converter ao cristianismo, mouros. Absoltos a culpa e pena per privilégio que os
sendo perseguidos e chamados de “cristãos novos”. Ou que assi morrem têm dos mistérios da Paixão d’Aquele
seja, Gil Vicente segue, nessa obra, o espírito da época. por Quem padecem, outorgados por todos os Presiden-
O corregedor e o procurador, representantes do tes Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja. E a cantiga
judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos. que assi cantavam, quanto a palavra dela, é a seguinte:
Quando convidados pelo diabo para embarcarem, co- CAVALEIROS: À barca, à barca segura, barca bem guar-
meçam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo. necida, à barca, à barca da vida! Senhores que traba-
Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são con- lhais pela vida transitória, memória , por Deus, memória
denados à barca do inferno por manipularem a justiça deste temeroso cais! À barca, à barca, mortais, Barca
em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida bem guarnecida, à barca, à barca da vida! Vigiai-vos,
Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina – o pecadores, que, depois da sepultura, neste rio está a
que nos faz crer em trocas de serviços entre eles. ventura de prazeres ou dolores! À barca, à barca, se-
O próximo a chegar é o enforcado, que acredita nhores, barca mui nobrecida, à barca, à barca da vida!
E passando per diante da proa do batel dos danados
ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado
assi cantando, com suas espadas e escudos, disse o Ar-
e enforcado. Mas também é condenado a ir ao inferno
rais da perdição desta maneira:
por corrupção.
DIABO: Cavaleiros, vós passais e não perguntais onde
Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que
vais?
lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes
1o CAVALEIRO: Vós, Satanás, presumis? Atentai com
são recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente.
quem falais!
2o CAVALEIRO: Vós que nos demandais? Sequer conhe-
O bem e o mal
ce-nos bem: morremos nas Partes d’Além, e não quei-
rais saber mais.
Todos os personagens que têm como destino o infer-
DIABO: Entrai cá! Que cousa é essa? Eu não posso en-
no chegam trazendo consigo objetos terrenos, repre-
tender isto!
sentando seu apego à vida; por isso, tentam voltar. Os
CAVALEIROS: Quem morre por Jesus Cristo não vai em
personagens a quem se oferece o céu são cristãos e
tal barca como essa!
puros. O mundo aqui ironizado é maniqueísta: o bem e Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à
o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:
simplificado. O Auto da barca do inferno faz parte de ANJO: Ó cavaleiros de Deus, a vós estou esperando, que
uma trilogia (Autos da barca da glória, do inferno e do morrestes pelejando por Cristo, Senhor dos Céus! Sois
purgatório). Escrito em versos de sete sílabas poéticas, livres de todo mal, mártires da Santa Igreja, que quem
possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A lin- morre em tal peleja merece paz eternal.
guagem entre os personagens é coloquial – e é através E assim embarcam.
170
Classicismo
Contexto
Nos séculos XV e XVI, a visão teocêntrica do mundo,
que caracterizou a Idade Média, cede lugar ao antro-
Cronologia do Classicismo
pocentrismo, ou seja, o Homem e a Ciência vão para Início (1527): Chegada de Sá de Mi-
o centro dos acontecimentos e do universo. O Renas- randa à Portugal, com a Medida Nova.
cimento marca o apogeu dessa era, que se propõe a Fim (1580): Morte de Camões e união
iluminar com a razão as trevas da civilização medieval. da Península Ibérica.
Comércio
O fascínio pela vida nos meios urbanos fez com que a sociedade buscasse cada vez mais os prazeres que o dinheiro
podia propiciar. O comércio entre as nações da Europa cresceu e a burguesia mercantil não aceitava que a produ-
ção agrária estivesse voltada apenas para a subsistência e desejava buscar o comércio exterior entre as nações.
Renascimento
171
O palco
A Itália foi especialmente onde essa tendência apareceu com mais
intensidade, sendo o palco deste retorno ao mundo da Antiguidade
Clássica, ou seja, fez renascer os ideais de valorização dos gregos
e latinos, desde meados do século XIII, os esforços individuais, de
perfeição, superioridade humana e a razão como parâmetro de ob-
servação e interpretação da realidade.
Literatura
172
Leia um soneto de Francesco Petrarca: O marco de seu início se dá em 1527, quando
o poeta Sá de Miranda retorna de sua incursão de es-
Se a minha vida do áspero tormento tudos pela Itália renascentista e introduz em Portugal
E tanto afã puder se defender, novas formas de composição. Ele trouxe a postura amo-
Que por força da idade eu chegue a ver rosa, o soneto e principalmente a forma fixa do ver-
Da luz do vosso olhar o embaciamento,
so decassílabo chamado de Medida Nova, o Dolce Stil
E o áureo cabelo se tornar de argento, Nuovo (o doce estilo novo) criado pelo escritor italiano
E os verdes véus e adornos desprender, Francesco Petrarca.
E o rosto, que eu adoro, empalecer,
Que em lamentar me faz medroso e lento,
E tanta audácia há de me dar o Amor,
Tendências fundamentais
Que vos direi dos martírios que guardo, §§ Criação e imitação
Dos anos, dias, horas o amargor. Retomado do princípio aristotélico da mimese,
Se o tempo é contra este querer em que ardo, ou seja, reproduzir os comportamentos humanos
Que não o seja tal que à minha dor por intermédio da arte.
Negue o socorro de um suspiro tardo.
§§ Racionalismo
Sá de Miranda O desenvolvimento de um raciocínio completo
sobre os temas abordados, inclusive o amor. Na
Em Portugal, considera-se como marco inicial do Clas- poesia essa tentativa de conciliar razão e emo-
sicismo o ano de 1527, data em que o poeta Sá de Mi- ção se apresentou por meio de uma figura de
randa regressou da Itália, de onde trouxe as inovações linguagem chamada “paradoxo”.
literárias do Renascimento italiano, introduzindo-as em §§ Humanismo e ideal de beleza
Portugal. O encerramento desse primeiro período clás- Recriação da natureza humana por meio de um
sico ocorre em 1580, ano da morte de Camões e do ideal de beleza, proporção, harmonia e simetria.
domínio espanhol sobre Portugal.
§§ Universalismo
Além do Classicismo, há dois outros períodos
A busca por novos territórios, expansão marítima.
clássicos: o Barroco, momento em que Portugal é do-
O homem quer se colocar acima da natureza e
minado e governado pela Espanha, e o Arcadismo, automaticamente acima de Deus. O planeta Terra
que avança até a segunda década do século XIX. passa a ser um espaço de dominação humana.
Características do Classicismo
O Classicismo queria recuperar a “classe” dos autores
antigos a partir do cultivo dos valores greco-latinos, in-
clusive da mitologia pagã, própria dos antigos. Isso levou
os poetas renascentistas a recorrer às entidades mitoló-
gicas para pedir inspiração, simbolizar emoções, exempli-
ficar comportamentos. Pastores, deuses, deusas e ninfas
estão presentes nas obras de arte e na literatura renas-
centista de uma forma natural, convivendo até mesmo
com tradições cristãs, herdadas da época medieval.
É hora de o ser humano se orgulhar de suas con-
quistas terrenas. O homem descobre que a Terra é redon-
da e passa ter um olhar universalista para a realidade.
173
E.O. Teste I 3. Gil Vicente escreveu o Auto da Barca do In-
ferno em 1517, no momento em que eclodia
na Alemanha a Reforma Protestante, com a
1. As diferenças etárias são, muitas vezes, causa crítica veemente de Lutero ao mau clero do-
de violência simbólica. Considerando isso, as- minante na Igreja. Nesta obra, há a figura do
sinale os versos em que as frases expressam, frade, severamente censurado como um sa-
de forma explícita, o tema básico de O Velho da cerdote negligente. Indique a alternativa cujo
Horta, fundamentado neste tipo de violência. conteúdo NÃO se presta a caracterizar, na re-
a) Branca Gil: Todos os santos marteirados ferida peça, os erros cometidos pelo religioso.
Socorrei ao marteirado a) Não cumprir os votos de celibato, mantendo
Que morre de namorado. a concubina Florença.
b) Moça: E essa tosse? b) Entregar-se a práticas mundanas, como a dança.
Amores de sobreposse c) Praticar esgrima e usar armamentos de guer-
Serão os de vossa idade: ra, proibidos aos clérigos.
O tempo vos tirou a posse. d) Transformar a religião em manifestação for-
c) Branca Gil: Eu folgo ora de ver mal, ao automatizar os ritos litúrgicos.
Vossa mercê namorado; e) Praticar a avareza como cúmplice do fidalgo,
Que o homem bem criado e a exploração da prostituição em parceria
Té na morte o há de ser. com a alcoviteira.
d) Velho: Porém, amiga,
Se nesta minha fadiga 4. O teatro de Gil Vicente caracteriza-se por ser
Vós não sois medianeira, fundamentalmente popular. E essa caracte-
Não sei que maneira siga, rística manifesta-se, particularmente, em
Nem que faça, nem que diga, sua linguagem poética, como ocorre no tre-
Nem que queira. cho a seguir, de o Auto da Barca do Inferno.
e) Parvo: Dono, dizia minha dona, Ó Cavaleiros de Deus,
Que fazeis vós cá te a noite? A vós estou esperando,
Que morrestes pelejando
2. Gil Vicente, criador do teatro português, re- Por Cristo, Senhor dos Céus!
alizou uma obra eminentemente popular. Sois livres de todo o mal,
Seu Auto da Barca do Inferno, encenado em Mártires da Madre Igreja,
1517, apresenta, entre outras característi- Que quem morre em tal peleja
cas, a de pertencer ao teatro religioso alegó- Merece paz eternal.
rico. Tal classificação justifica-se por:
No texto, fala final do Anjo, temos no con-
junto dos versos:
a) variação de ritmo e quebra de rimas.
b) ausência de ritmo e igualdade de rimas.
c) alternância de redondilha maior e menor e
simetria de rimas.
d) redondilha menor e rimas opostas e emparelhadas.
e) igualdade de métrica e de esquemas das pa-
lavras que rimam.
177
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Reinando Amor em dois peitos,
tece tantas falsidades,
que, de conformes vontades,
faz desconformes efeitos.
Igualmente vive em nós;
mas, por desconcerto seu,
vos leva, se venho eu,
me leva, se vindes vós.
(Camões)
180
E.O. Teste II 4.
a) O trecho “asno que me leve quero”. O per-
1. B 2. B 3. D 4. E 5. E sonagem Pero Marques age como “asno”
6. D 7. D 8. B 9. E 10. E duas vezes: a primeira quando serve de
cavalgadura e a segunda, por não saber
da traição de Inês.
E.O. Teste III b) O primeiro marido de Inês, o Brás da Mata
não a tratava bem, agia de modo agressi-
1. A 2. D 3. C 4. C 5. B vo, já Pero dava a ela total liberdade.
c) Com o objetivo de levar uma vida mais
ligada aos prazeres, Inês abandona seus
E.O. Dissertativo ideais Esta é uma sátira moral da socie-
1. dade portuguesa da época.
a) O fidalgo está vestido com um longo manto 5. As características formais são de um “sone-
vermelho e vem acompanhado de um criado to”, com versos decassílabos (dez sílabas).
que segura uma cadeira, símbolos da vaida- 6. Não, pois a escansão apresentada contém er-
de e a arrogância. O sapateiro, por sua vez, ros que descaracterizam o verso decassílabo.
transporta o avental e as formas para fazer Portanto, o correto é: Es/ tan/ do em/ te/
sapatos, símbolos da exploração interesseira rra/ che/ go ao/ céu/ vo/ an(do).
da classe burguesa comercial. Motivos pelos 7.
quais são condenados à barca do inferno.
a) A beleza é convertida em Beleza pura,
b) Ambos personagens acreditavam que os ri- logo a mulher é vista não como compa-
tuais recomendados pela Igreja Católica para nheira, mas como um ser angelical que
salvação da alma eram garantias para en- leva ao “mundo das ideias” e à divindade.
trar no céu, o que é contrariado pelo diabo.
b) É característica do Classicismo o soneto
O fidalgo argumenta de que deixou na terra
composto por dois quartetos e dois terce-
alguém rezando por ele “Que leixo na outra
tos e a medida nova (versos decassílabos).
vida/quem reze sempre por mi” – e o sapa-
Além disso, há no texto figuras de lingua-
teiro diz ter ido à missa e se confessado antes
gem como o hipérbato e a seleção lexical.
de morrer, o que para ele garantiria sua en-
trada no céu – “Os que morrem confessados,/ 8.
onde têm sua passagem?”, “Quantas missas a) Uma das características do texto épico é a
eu ouvi,/ não me hão elas de prestar?”. menção a figuras da mitologia, ou seja, seres
2. sobrenaturais que intervêm para o engrande-
cimento da ação que narra os feitos heroicos
a) O cavaleiro alega ter sacrificado a vida em
de um povo de forma grandiloquente. Outro
nome de Deus e do Cristianismo, por isso
aspecto é o formal, com os versos decassíla-
estava assegurada sua entrada na barca
bos dispostos em esquema ABABABABCC.
do anjo e ida para o paraíso.
b) Portugal atinge o ponto culminante da
b) Os cavaleiros morreram em luta contra
sua economia no final do século XVI, em
os que não acreditavam no Cristianismo,
pleno desenvolvimento mercantilista de-
numa Cruzada.
corrente da expansão marítima. No entan-
c) Não se dirigem ao diabo, pois tem certeza to, uma crise dinástica que tem início no
que sua entrada no céu está garantida, reinado de D. Sebastião e que se intensifica
uma vez que lutaram nas cruzadas em de- após sua morte na batalha de Alcácer-Qui-
fesa dos Cristianismo. bir, provocará o início do declínio do Im-
3. pério e que piora com o domínio espanhol
a) A personagem Brísida Vaz era alcovitei- sobre Portugal até meados do século XVII,
ra, portanto era uma espécie de cafetina a chamada União da Península Ibérica.
e agenciava mulheres para a prostituição. 9.
Logo, sua linguagem demonstra caracte- a) Decassílabo.
rísticas de sua atividade, pois ela escolhe
b) A viagem de Vasco da Gama às Índias.
palavras e termos específicos de quem quer
seduzir o Anjo. Por exemplo, “meu amor”, 10.
“olhos de perlinhas finas”, “anjo de Deus”, a) “A” maiúsculo na palavra “amor” para tor-
“minha rosa”, “minhas boninas”. nar divino e personificar tal sentimento.
b) O tratamento com o anjo deixa claro o b) Inês de Castro derramou sangue por cau-
apego ao universo pecaminoso da sedu- sa do seu grande amor, a ideia explicitada
ção e prostituição, portanto a postura de se apoia no sentimento de amor, mas sua
Brísida Vaz é inadequada. concretização exige sacrifício e sangue.
181
© José Veloso Salgado
Aulas 7 e 8
Classicismo: Camões
épico e lírico
Luis Vaz de Camões
Camões teria nascido em 1524 ou 1525, provavelmente
na cidade de Lisboa (talvez Coimbra ou Santarém), des-
cendente de uma família de pequena nobreza. Estudou
numa das mais conceituadas instituições de Portugal,
a Universidade de Coimbra. Em sua juventude, torna-
-se um leitor convulso de Homero, Virgílio, Ovídio e Pe-
trarca. Lutando contra os mouros em 1549, acabou por
perder a vista direita.
Sua biografia é um tanto quanto nebulosa e
cheia de confusões. Em 1552, foi preso por ter brigado
com Gonçalo Jorge, que era oficial da corte, e sai perdo-
ado da cadeia contanto que servisse militarmente Por-
tugal na Índia. Em 1556, é nomeado “provedor-mor dos
bens de defuntos ausentes” em Macau, então colônia
de Portugal. Durante nove anos que passou na cadeia,
começou a escrever Os Lusíadas. Acusado de desviar
bens enquanto provedor-mor, vai para Goa a fim de se
defender das acusações. Na viagem, seu navio naufraga
na foz do Rio Mekong (Indochina) e diz a lenda que ele
se salvou nadando, deixando sua companheira chinesa,
Dinamene morrer afogada, com a desculpa de salvar o manuscrito de Os Lusíadas, que já estava em sua fase final.
Viveu na miséria, foi preso outra vez, agora em Moçambique por causa de dívidas e voltou a Lisboa no ano de 1569
por conta de amigos que o ajudaram.
Em 1572, publica Os Lusíadas, sua obra prima, e recebe uma pensão anual de 15 mil réis oferecida por Dom
Sebastião. Morre pobre em 10 de junho de 1580. Curiosamente, o herói da poesia portuguesa expira com o início
do declínio do poderio imperial de Portugal, mesmo ano da União da Península Ibérica, quando o país fica sob o
domínio da coroa espanhola.
Em 1595, é publicada a obra Rimas, com uma compilação de sua obra lírica, de versos redondilhos elabo-
rados à maneira medieval e também seus sonetos decassílabos de influência petrarquiana.
Leia o poema que Camões escreveu por ocasião da morte de Dinamene:
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alg’a cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
CAMÕES, Luís Vaz de. In: Sonetos.
183
Camões épico
Engenho e arte
A obra épica Os Lusíadas, publicada no reinado de Dom Sebastião
em 1572, é a mais importante epopeia em língua portuguesa, teve
como modelos estruturais as epopeias da Antiguidade: a Ilíada e a
Odisseia, do poeta grego Homero, e a Eneida, do poeta latino Virgílio.
Entretanto, Camões introduziu uma novidade, pois, em Os Lusíadas,
o herói é coletivo, ou seja, é o povo português; ao contrário do
que ocorre nas epopeias modelares, em que um relevante herói indi-
vidual se sobressai (a exemplo de Aquiles, Ulisses e Eneias). Essa mo-
dalidade de escrita passou a ser chamada de epopeia secundária.
Na narrativa épica camoniana, o herói Vasco da Gama, co-
mandante da expedição que buscou o caminho marítimo para as
Índias, tem seu espaço compartilhado com os portugueses, o povo
heroico português, como o próprio título da epopeia indica.
Camões era cristão e desejava cantar em seu poema também
a expansão da fé cristã no mundo. Por isso, a presença de Deus e a
referência a milagres e santos do cristianismo são constantes em sua Disponivel em:<https://commons.wi-
kimedia.org/wiki/File:Camoes_2.jpg.
obra. Contudo, como nas epopeias que Camões tomou por modelo Acessado em: Dez.2015
– Odisseia, Ilíada e Eneida –, há nela também a presença dos deuses
do Olimpo. Eles interferem na narrativa de Os Lusíadas procurando
auxiliar ou prejudicar os portugueses no cumprimento de seus ob-
jetivos. Enquanto Vênus e Marte, por exemplo, tentam protegê-los,
outros deuses, como Netuno e Baco, procuram impedir o cumprimen-
to da rota planejada – o primeiro porque zela pelo seu poderio nos
mares, e o segundo, pelo seu domínio no Oriente.
Os Lusíadas conseguiu conciliar, portanto, o maravilhoso pa-
gão (fruto do gosto renascentista pelo estudo da cultura pagã) e o
maravilhoso cristão (ideologia pessoal do autor). Isso, porém, valeu a
Camões problemas com a Inquisição e tratamento com muita reserva
por parte dos críticos de sua época.
Estrutura da obra
A obra de Camões apresenta 8.816 versos decassílabos, divididos
em 1.102 estrofes, todas em oitava-rima, organizada em dez cantos.
Cada canto, na epopeia, corresponde a um capítulo das obras em
prosa. Além disso, existem outras cinco partes:
184
1. Proposição (canto I, estrofes 1 a 3) No canto II, depois de terem passado por dificul-
O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o tema dos dades no mar, os portugueses, com o auxílio de Vênus,
feitos heroicos dos ilustres barões de Portugal, o herói aportam na África, onde são recebidos pelo rei de Me-
Vasco da Gama e o destino da viagem. linde, que pede a Vasco da Gama que conte a história
de Portugal. Esse é o pretexto encontrado por Camões
As armas e os barões assinalados
para pôr na fala de sua personagem as histórias que
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados envolvem a fundação do Estado português: a Revolução
Passaram ainda além da Taprobana de Avis, a morte de Inês de Castro e a partida dos portu-
Em perigos e guerras esforçados, gueses para o Oriente.
Mais do que prometia a força humana, Esse relato de Vasco da Gama se estende até o
E entre gente remota edificaram canto IV, momento em que os portugueses seguem via-
Novo reina, que tanto sublimaram;
gem. Nele, três episódios merecem destaque:
barões = homens ilustres
ocidental praia lusitana = Portugal
Taprobana = ilha de Ceilão, limite oriental do mundo conhecido
§§ o de Inês de Castro, amante do príncipe D. Pe-
dro assassinada a mando do rei (canto III);
O episódio do Velho do Restelo representa um conflito ideológico aos intentos portugueses. Como toda lógica nar-
rativa, o desenrolar da aventura passa por processos conflituosos e, nesse caso, ele assume forma de um conflito
entre a visão conservadora, daquele que fica, no caso o velho que com seu cajado maldiz as grandes navegações,
e os ideias universalistas dos argonautas portugueses.
O velho simboliza os ideais medievais e, com suas palavras, diz que aqueles que quiserem fama e glória
acima dos valores religiosos e, sobretudo católicos, seriam punidos com um futuro negativo. Os portugueses en-
frentam este posicionamento e conquistam os mares apesar das críticas do velho. No entanto, sabe-se que o velho
tem sua razão quanto à ambição dos reis portugueses que colocam acima de qualquer coisa “fama” e “glória”
e que levariam Portugal a sua futura derrocada. O velho é aquele que fica, que é terra, que conserva posição em
detrimento da fluidez prática do lançar-se ao mar de Vasco da Gama e sua esquadra. Leia um trecho:
Nesse episódio, a esquadra de Vasco da Gama está contornando a África, quando um gigante monstruoso emerge
do mar, proferindo ameaças e profecias de naufrágios das naus, em decorrência do atrevimento de Vasco da Gama
e de sua tripulação ter invadido aquele território de domínio do gigante, nunca antes navegado.
186
Vasco da Gama não se intimida e inicia um diá- E disse: – “Ó gente ousada, mais que quantas
logo com o gigante que se identifica como Adamastor. No mundo cometeram grandes cousas,
Ele conta que era um Titã e que um dia se apaixonou Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
por Tétis, mulher do deus Peleu. Enganado por ela, caiu E por trabalhos vãos nunca repousas,
em uma armadilha, após submetê-la a uma “amor for- Pois os vedados términos quebrantas
çoso”, foi condenado por Netuno e como castigo foi E navegar meus longos mares ousas,
transformado em uma enorme e imóvel montanha. Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Adamastor é, na verdade, uma personificação do Nunca arados de estranho ou próprio lenho;
Cabo das Tormentas. O episódio representa a superação [...]
do medo, dos perigos do mar e das crendices medie- – “Eu sou aquele oculto e grande Cabo
vais pelos portugueses que circulavam socialmente. É A quem chamais vós outros Tormentório,
representativo do ponto de vista do engrandecimento Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo,
do povo português que, apesar do temor e do desco- Plínio, e quantos passaram, fui notório.
nhecimento, enfrentou os obstáculos e os perigos do Aqui toda a Africana costa acabo
mar, vencendo-os e triunfando. Neste meu nunca visto Promontório,
Que para o Pólo Antártico se estende,
[...] A quem vossa ousadia tanto ofende.
Porém já cinco Sóis eram passados cinco sóis = cinco dias; esquálida = suja, desalinhada;
Que dali nos partíramos, cortando colosso = uma das setes maravilhas do mundo, a está-
tua do deus Apolo, em Rodes, na Grécia; Tormentório =
Os mares nunca de outrem navegados, Cabo das Tormentas; Ptolomeu = astrônomo grego; Pom-
Prosperamente os ventos assoprando, pónio = geógrafo romano; Estrabo = geógrafo grego.
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece, Episódio “A Ilha dos Amores”
Sobre nossas cabeças aparece. (canto IX, estrofes 68 a 95)
Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
– “Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?”
[...]
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
As Nereidas (Ninfas) da Ilha dos Amores
A boca negra, os dentes amarelos.
Tão grande era de membros, que bem posso Nos cantos de VI a IX, os portugueses chegam a Calicu-
Certificar-te que este era o segundo te, na Índia, e têm problemas com os mouros. Preparam-
De Rodes estranhíssimo Colosso,
-se, então, para voltar a Portugal; porém, devido a seus
Que um dos sete milagres foi do mundo.
esforços e à sua coragem, são premiados por Vênus, que
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo. lhes oferece uma passagem pela Ilha dos Amores, onde
Arrepiam-se as carnes e o cabelo, podem livremente amar as ninfas, lideradas por Tétis.
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo! Além disso, a Ilha dos Amores celebra a virilidade dos
187
argonautas portugueses com o erotismo de seus símbo- delineia um lirismo amoroso platônico, relacionado in-
los levando-os a refletir sobre “Máquina do Mundo”. dissoluvelmente a uma mulher inacessível, Laura, a que
Todo o fervor religioso em defesa dos portugueses que dedicou perto de 360 sonetos, no seu Cancioneiro.
tentavam impor aos infiéis mouros sua fé cristã não im-
pediu a utilização do erotismo no episódio que foi bene-
ficiado por uma deusa pagã, a Venus, que durante todo A lírica amorosa
o poema protege os portugueses, em contraposição a
Baco (o Dionísio dos gregos), que tinha tudo para ser O tema amoroso é explorado na lírica camoniana sob
favorável a essa situação, por ser o deus do vinho, mas dupla perspectiva. Com frequência, aparece o amor sen-
que, na obra, é constituído com inimigo dos portugue- sual, próprio da sensualidade renascentista, inspirada
ses, uma vez que seu desregramento e representação no paganismo da cultura greco-latina. Predomina, po-
por chifres e rabo o aproximava da imagem do diabo rém, o amor neoplatônico, espécie de extensão e apro-
utilizada pela igreja católica. fundamento da tradição da poesia medieval portuguesa
ou da poesia humanista italiana, em que o amor e a
Oh, que famintos beijos na floresta!
mulher se configuram como idealizados e inacessíveis.
E que mimoso choro que soava
Na poesia lírica camoniana, tal qual no modelo
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava! legado por Petrarca, o amor é um sentimento que eleva
O que mais passam na manha e na sesta, o homem, tornando-o capaz de atingir o Bem, a Beleza
Que Vênus com prazeres inflamava, e a Verdade, de acordo com a filosofia platônica. Para
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo, Platão, a realidade se divide em “mundo dos sentidos” e
Mas julgue-o quem não pode exeprimentá-lo. “mundo das ideias”. No mundo sensorial, nada é pere-
A Ilha dos Amores, na visão de Jorge Golaço. ne; no mundo das ideias, tudo é terno, imutável. O amor
ideal, de acordo com Platão, é um sentido essencialmen-
5. Epílogo te puro e desprovido de paixões, ao passo que estas são
É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do can- essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas.
to X), em que o poeta demonstra cansaço e, em tom Em Camões, percebe-se o conflito entre o sen-
melancólico e pessimista, aconselha ao rei e ao povo timento espiritual, idealizado, e o sentimento de ma-
português que sejam fiéis à pátria e ao cristianismo. nifestação carnal. O amor é, dessa forma, complexo,
contraditório. Esse duplo enfoque do amor é bastante
Camões lírico acentuado no soneto Amor é fogo que arde sem se ver.
188
Dessa forma, o amor que uma pessoa sente por outra não
passa de uma manifestação particular e imperfeita de algo superior,
universal e perfeito: o Amor-ideal, grafado com A maiúsculo.
É dessa concepção que advém o amor neoplatônico dos
humanistas e renascentistas: quanto mais o amor por uma pessoa
estiver desvinculado de prazeres físico-sensoriais e se aproximar do
amor-ideal, maior e mais puro será. É o que se observa nas 1a e 2a
estrofes do soneto de Camões:
No primeiro quarteto, o pastor Jacó serve a Labão porque deseja Raquel. O segundo quarteto mostra o
desejo frustrado de Jacó, quando Labão lhe entrega a irmã mais velha, Lia. Humilde, por um amor ideal, platônico,
o pastor se dispõe a trabalhar outros sete anos, e assim indefinidamente para comprovar sua fidelidade amorosa.
190
E.O. Teste I b) “Inês de Castro” caracteriza, dentro da epo-
peia camoniana, o gênero lírico porque é um
episódio que narra os amores impossíveis
1. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
entre Inês e seu amado Pedro.
afirmações a seguir, relacionadas aos Cantos
c) Restelo era o nome da praia em frente ao
I a V da epopeia Os Lusíadas, de Camões.
templo de Belém, de onde partiam as naus
( ) A presença do elemento mitológico é
portuguesas nas aventuras marítimas.
uma forma de reconhecimento da cultura
d) tanto “Inês de Castro” quanto “O Velho do
clássica, objeto de admiração e imitação
Restelo” são episódios que ilustram poeti-
no Renascimento.
camente diferentes circunstâncias da vida
( ) A disputa entre os deuses Vênus e Baco,
portuguesa.
da mitologia clássica, é um recurso lite-
e) o Velho, um dos muitos espectadores na
rário de que Camões faz uso para criar o
praia, engrandecia com sua fala as façanhas
enredo de Os Lusíadas.
dos navegadores, a nobreza guerreira e a
( ) Do Canto I ao Canto V, leem-se as peripé-
máquina mercantil lusitana.
cias da viagem dos portugueses até sua
chegada à Índia, quando eles tomam pos-
4. Com os versos “Cantando espalharei por toda
se daquela terra. a parte,/ Se a tanto me ajudar o engenho e
( ) No Canto II, lê-se a narração da viagem a arte.”, Camões explica que o propósito de
dos portugueses a Melinde, cujo rei pede a Os Lusíadas é divulgar os feitos portugue-
Camões que conte a história de Portugal. ses. Sobre esse poema épico, só é INCORRETO
afirmar que:
A sequência correta de preenchimento dos
a) se trata da maior obra literária do quinhen-
parênteses, de cima para baixo, é:
tismo português.
a) V – V – V – F
b) Camões sofre a clara influência dos clássicos
b) V – F – F – V
greco-latinos.
c) F – V – F – V
c) há forte presença do romantismo, devido
d) F – F – V – F
ao nacionalismo.
e) V – V – F – F
d) como epopeia moderna, há momentos de crí-
tica à nação e ao povo.
2. Assinale a alternativa que completa correta- e) louva não apenas o homem português, mas
mente a afirmação seguinte: o homem renascentista.
O movimento desenvolveu-se no apogeu po-
lítico de Portugal; consiste numa concepção TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
artística baseada na imitação dos modelos Antes de concluir este capítulo, fui à jane-
clássicos gregos e latinos. Nele, o pensa- la indagar da noite por que razão os sonhos
mento lógico predomina sobre a emoção, e hão de ser assim tão tênues que se esgarçam
a estrutura da composição poética obedece ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo,
a formas fixas, com a introdução da medida e não continuam mais. A noite não me res-
nova, que convive com a medida velha das pondeu logo. Estava deliciosamente bela, os
formas tradicionais. morros 1palejavam de luar e o espaço morria
Trata-se do: de silêncio. Como eu insistisse, declarou-
a) Modernismo. -me que os sonhos já não pertencem à sua
b) Barroco. jurisdição. Quando eles moravam na ilha
c) Romantismo. que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu
d) Classicismo. palácio, e donde os fazia sair com as suas
e) Realismo. caras de vária feição, dar-me-ia explicações
possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os
3. Dos episódios “Inês de Castro” e “O Velho sonhos antigos foram aposentados, e os mo-
dernos moram no cérebro da pessoa. Estes,
do Restelo”, da obra Os Lusíadas, de Luiz de
ainda que quisessem imitar os outros, não
Camões, NÃO é possível afirmar que:
poderiam fazê-lo; a ilha dos Sonhos, como
a) “O Velho do Restelo”, numa antevisão pro-
a dos Amores, como todas as ilhas de todos
fética, previu os desastres futuros que se
os mares, são agora objeto da ambição e da
abateriam sobre a Pátria e que arrastariam a rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.
nação portuguesa a um destino de enfraque- Machado de Assis. Dom Casmurro.
cimento e marasmo. 1. palejavam: tornavam pálidos
191
5. Assinale a alternativa que apresenta frag- A respeito do episódio da Ilha dos Amores (Can-
mento da epopeia camoniana, extraído do to IX), responda às próximas duas questões.
episódio “A ilha dos amores”, a que o texto
faz referência. 7. Sobre este famoso trecho de Os Lusíadas é
a) Volve a nós teu rosto sério,/ Princesa do correto afirmar que:
Santo Gral,/ Humano ventre do Império,/
a) trata-se de um recurso ardiloso de Vênus
Madrinha de Portugal.
para impedir que os portugueses tivessem
b) Ali, em cadeiras ricas, cristalinas,/ Se assen-
tam dous e dous, amante e dama;/ Noutras, sucesso no seu empreendimento e, assim, se
à cabeceira, de ouro finas,/ Está co’a bela igualassem aos deuses.
deusa o claro Gama. b) trata-se de uma cilada de Baco contra os
c) Se encontrares louvada uma beleza,/ Marília, portugueses, pois todos os nautas que se
não lhe invejes a ventura,/ que tens quem entregaram aos prazeses da ilha encontra-
leve à mais remota idade/ a tua formosura. ram a morte.
d) Este lugar delicioso, e triste,/ Cansada de c) é um episódio com um forte sentido cris-
viver, tinha escolhido/ Para morrer a míse- tão, pois o amor aí tem um sentido nitida-
ra Lindóia. mente espiritual.
e) Choraram da Bahia as ninfas belas,/ Que na- d) trata-se de um episódio com um sentido eró-
dando a Moema acompanhavam;/ E vendo tico, pois, por influência de Vênus, Tétis e
que sem dor navegam delas,/ À branca praia
suas ninfas oferecem aos nautas uma recom-
com furor tornavam.
pensa pelos trabalhos por que têm passado.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO e) Baco e Vênus resolvem, finalmente, unir
seus esforços contra os humanos, convecen-
As questões adiante baseiam-se no poema
do Tétis e suas ninfas a usar seu poder de
épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do
sedução para aprisionarem os portugueses
qual se reproduzem, a seguir, três estrofes.
na ilha.
Mas um velho, de aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente, 8. (Fuvest) Leia o trecho de Memorial do con-
Postos em nós os olhos, meneando vento, de José Saramago.
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando, Já vai andando a récua dos homens de Arga-
Que nós no mar ouvimos claramente, nil, acompanham-nos até fora da vila as in-
C’um saber só de experiências feito, felizes, que vão aclamando, qual em cabelo,
Tais palavras tirou do experto peito: Ó doce e amado esposo, e outra protestando,
Ó filho, aquém eu tinha só para refrigério e
“Ó glória de mandar, ó vã cobiça doce amparo desta cansada já velhice minha,
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
não se acabavam as lamentações, tanto que
Ó fraudulento gosto, que se atiça
os montes de mais perto respondiam, quase
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça movidos de alta piedade.
Fazes no peito vão que muito te ama! Em muitas passagens do trecho transcrito, o
Que mortes, que perigos, que tormentas, narrador cita textualmente palavras de um
Que crueldades neles experimentas! episódio de Os Lusíadas, visando a criticar o
Dura inquietação d’alma e da vida mesmo aspecto de vida de Portugal que Ca-
Fonte de desamparos e adultérios, mões, nesse episódio, já criticara. O episódio
Sagaz consumidora conhecida camoniano citado e o aspecto criticado são,
De fazendas, de reinos e de impérios! respectivamente:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida, a) O Velho do Restelo; posição subalterna da
Sendo digna de infames vitupérios; mulher na sociedade tradicional portuguesa.
Chamam-te Fama e Glória soberana, b) Aljubarrota; a sangria populacional pro-
Nomes com quem se o povo néscio engana.” vocada pelos empreendimentos coloniais
portugueses.
6. Entre os versos “Chamam-te ilustre, cha-
c) Aljubarrota; o abandono dos idosos decor-
mam-te subida,/ Sendo digna de infames
vitupérios”, a relação que se estabelece é de: rente dos empreendimentos bélicos, maríti-
a) oposição. mos e santuários.
b) explicação. d) O Velho do Restelo; o sofrimento popular de-
c) causa. corrente dos empreendimentos dos nobres.
d) modo. e) Inês de Castro; e o sofrimento feminino cau-
e) conclusão. sado pelas perseguições das Inquisições.
192
9. (Fuvest) Sobre o episódio do Velho do Reste- Mar Português
lo, assinale a alternativa correta: (Fernando Pessoa)
a) O discurso do Velho do Restelo tem significa-
do complexo, na medida em que sua opinião Ó mar salgado, quanto do teu sal
se apresenta de maneira obscura: ele conde- São lágrimas de Portugal!
na certos aspectos da expansão ultramarina Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
ao mesmo tempo em que exalta o poderio Quantos filhos em vão rezaram!
bélico de Portugal. Quantas noivas ficaram por casar
b) Trata-se de um episódio de intensidade dra- Para que fosses nosso, ó mar!
mática, dadas as circunstâncias em que a Valeu a pena? Tudo vale a pena
cena ocorre e ao conteúdo do discurso pro- Se a alma não é pequena.
ferido pela personagem, que nada mais é do Que quer passar além do Bojador
que a opinião do próprio autor da epopéia. Tem que passar além da dor.
c) A veemência do discurso do Velho do Restelo Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
reside no apelo feito pelo próprio aspecto Mas nele é que espelhou o céu.
físico do personagem, que indica a sabedo-
ria acumulada por quem se tornou, com o
Os Lusíadas
decorrer dos anos, humilde e resignado.
(Camões)
d) Embora surja como uma voz discordante em
relação ao propósito de exaltação das Nave- Ó glória de mandar , ó vã cobiça
gações apresentado pelo narrador épico, o Desta vaidade a quem chamamos Fama!
discurso do Velho do Restelo mostra-se coe- Ó fraudulento gosto, que se atiça
rente com uma ideologia defensora da vida C´uma aura popular que honra se chama!
junto à Pátria e à Família.
Que castigo tamanho e que justiça
e) A opinião do Velho do Restelo em relação às
Fazes no peito vão que muito te ama!
Navegações é, ao mesmo tempo, reacionária,
Que mortes, que perigos, que tormentas,
uma vez que defende a conservação dos va-
Que crueldades neles experimentas!
lores humanitários e familiares, e arrojada,
já que o personagem prevê com sabedoria os Os textos de Fernando Pessoa e de José Sa-
desastres que resultariam das viagens. ramago são intertextuais em relação ao epi-
sódio do Velho do Restelo. Refletindo sobre
10. a visão destes dois autores lusos, assinale
Fala do Velho do Restelo ao Astronauta
a correta:
(José Saramago)
a) Saramago não faz referências críticas aos va-
Aqui na terra a fome continua lores éticos ou existenciais, detendo-se na
A miséria e o luto questão da guerra e do progresso.
A miséria e o luto e outra vez a fome b) Fernando Pessoa estabelece uma relação irô-
Acendemos cigarros em fogos de napalm
nica com o texto camoniano, pois parodia
E dizemos amor sem saber o que seja.
o tom grandiloquente da fala do Velho do
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
Restelo, valendo-se de apóstrofes.
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez,
c) Os versos de Fernando Pessoa se assemelham
E pusemos em ti nem eu sei que desejos
aos do episódio do Velho de Restelo pela au-
De mais alto que nós, de melhor e mais puro,
sência de personificação.
No jornal soletramos de olhos tensos
Maravilhas de espaço e de vertigem. d) Saramago e Fernando Pessoa não se valeram
Salgados oceanos que circundam da perfeição formal camoniana, o que in-
Ilhas mortas de sede onde não chove. valida o teor intertextual, que compreende
Mas a terra, astronauta, é boa mesa apenas estrutura e conteúdo.
(E as bombas de napalm são brinquedos) e) Saramago apresenta uma crítica universali-
Onde come brincando só a fome zante que retoma o alerta feito pelo Velho
Só a fome, astronauta, só a fome do Restelo, atualizando-o.
193
E.O. Teste II 3. Assinale a alternativa correta sobre o texto I.
a) Expressa as vivências amorosas do “eu” líri-
co em linguagem emotivo-confessional.
TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES.
b) Apresenta índices de linguagem poética
Texto I marcada pelo racionalismo do século XVI.
Amor é fogo que arde sem se ver; c) Conceitua o amor de forma unilateral, re-
É ferida que dói e não se sente; velando o intenso sofrimento do coração
É um contentamento descontente; apaixonado.
É dor que desatina sem doer. d) Notam-se, em todos os versos, imagens poé-
É um não querer mais que bem querer; ticas contraditórias, criadas a partir de subs-
É solitário andar por entre a gente; tantivos concretos.
É nunca contentar-se de contente;
e) Conceitua positivamente o amor corres-
É cuidar que se ganha em se perder;
pondido e, negativamente, o amor não cor-
(Camões)
respondido.
199
© Wikimedia Commons
Aulas 9 e 10
Quinhentismo e Barroco
Observe, na tabela abaixo, os períodos literários do Brasil-colônia.
Literatura de informação
A expansão ultramarina europeia levou inúmeros viajantes às terras recém-descobertas ou exploradas da Ásia, Áfri-
ca e América, com a missão de produzir relatórios informativos sobre essas terras e aspectos exóticos e pitorescos
de seus habitantes. Estes relatórios, denominados “crônicas de viagem”, têm caráter mais histórico do que literário,
e a linguagem é predominantemente referencial ou denotativa.
A Carta, de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, inaugurou a
chamada literatura informativa: manifestações literárias de considerável valor histórico e profundo caráter docu-
mental sobre o Brasil, escritas por cronistas e viajantes estrangeiros. Descrevem e informam sobre a nova colônia
portuguesa, salientando a conquista material e a exaltação da terra nova. Estes relatos visavam a satisfazer a
curiosidade e a imaginação dos europeus.
Na literatura informativa encontram-se do-
© Albert Eckhout/Wikimedia Commons
Para a história da literatura brasileira, a literatura informativa adquire importância principalmente como
fonte de temas e formas para momentos literários posteriores: o Romantismo e o Modernismo.
Escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Caminha escreveu a Dom Manuel, rei de Portugal, no dia 1o de maio de
1500, a Carta – de inestimável valor histórico e de razoável valor literário –, em que comunica o descobrimento
do Brasil.
Lendo a Carta
A Carta enviada ao rei Dom Manuel é uma espécie de “certidão de nascimento” do Brasil, pois foi o primeiro do-
cumento escrito nestas terras. É o texto que marca o princípio da literatura brasileira.
A Carta de Caminha, embora escrita nos primórdios da colonização (1500), só veio a ser impressa em 1817,
na Corografia Brasílica, pela imprensa Régia do Rio de Janeiro.
Primeiro trecho
Senhor, posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros Capitães escrevam a Vossa Alteza a
notícia do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei de também dar
disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para o bem contar e falar – o saiba
pior que todos faze! [...] Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que,
para aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.
[...]
Então seguimos nosso caminho por este mar de longo até terça-feira de Oitavas de Páscoa, que foram 21
dias de abril, quando topamos alguns sinais de terra [...] a saber: Em primeiro lugar um monte grande, muito alto
e redondo e outras serras mais baixas ao sul dele; e terra rasa, com grandes arvoredos. Ao mesmo monte alto
pôs o Capitão o nome de Monte Pascoal; e à terra – Terra de Vera Cruz. © Tonyjeff/Wikimedia Commons
Segundo trecho
Dali avistamos homens que andavam pela praia,
obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pe-
quenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora
os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães
das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram
entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel
a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele
começou de ir para lá, acudiram pela praia homens,
quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao
chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vin-
te homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma
203
Terceiro trecho
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam
nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocên-
cia como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e
verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um
furador. Metemnos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como
roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.
Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa gran-
dura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma
espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada,
que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda
como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia
míngua mais lavagem para a levantar.
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui
grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires
Correia, e nós outros que aqui na nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se tochas. En-
traram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no
colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que
ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para
o castiçal como se lá também houvesse prata.
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta ao rei D. Manuel.
In: VOGT, Carlos; LEMOS, J.A. Guimarães de. Ironistas e viajantes.
São Paulo: Abril Educação, s.d. Coleção Literatura Comentada.
Autor de O Tratado da Terra do Brasil e da História da Província de Santa Cruz, compostas em louvor ao clima, à
terra e à paisagem, e que estimulam a imigração do leitor.
“Uma planta se dá também nesta Província, que da ilha de São Tomé, com a fruita da qual se ajudam muitas
pessoas a sustentar a terra. Esta planta é mui tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas folhas que serão
seis ou sete palmos de comprido. A fruita dela se chama banana. Parecem-se na feição com pepinos, criam-se em
cachos. Esta fruita é mui saborosa, e das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo (ainda que mais dura)
a qual lhe lançam fora quando a querem comer: mas faz dano à saúde e causa febre a quem se desmanda nela.”
GÂNDAVO, Pero de Magalhães. História da Província de Santa Cruz.
204
Leia também este trecho da História da Província Santa Cruz, e observe que Gândavo faz aqui um invertida
noção sobre a língua dos indígenas, além de fazer uma descrição minuciosa sobre o tipo físico do silvícola.
ou jesuítica
Ao lado da prosa informativa, ocorreram ma-
nifestações em poesia e teatro escritas por
jesuítas, com a finalidade de catequizar os
índios. A essa produção chamamos de litera-
tura de formação, em decorrência do aspecto
didático que apresenta.
205
Padre José de Anchieta (1534-1597)
O poema manifesta o confronto entre o bem e o mal com bastante simplicidade. A chegada de Santa
Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo revigora sua fé. Os versos de cinco sílabas (redondilha menor) dão
ritmo ligeiro ao texto, retomando a métrica das cantigas medievais. A linguagem é clara, as ideias são facilmente
compreensíveis e o ritmo traz musicalidade ao poema, o que contribui para envolver o leitor/ouvinte, bem como
sensibilizá-lo para a mensagem religiosa.
206
Bosques
“Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque
Disponível em <http://warburg.chaa-unicamp.com.br>.
O texto revela uma visão exuberante da natureza do Brasil, semelhante à manifestada na Carta, de Pero Vaz
de Caminha. Os aspectos enfatizados contemplam a flora e a fauna, a grandeza e a variedade do arvoredo e o
encantamento pelos pássaros. A riqueza e a vitalidade do Brasil contrastam com as paisagens de Portugal. Entre
as riquezas do Brasil arroladas no texto, apenas o sândalo, originário da Índia, provavelmente não existia aqui. O
deslumbramento pela natureza do Novo Mundo marcou época tanto no período Brasil-colônia até o período pós-
-Independência.
A pedido de Dom João III, integrou a escala de Tomé de Sousa, primeiro Governador-geral do Brasil, o padre Ma-
nuel da Nóbrega, que chefiou o primeiro grupo de jesuítas vindos para o Brasil, em 1549.
Ferrenho defensor da liberdade dos índios, favoreceu os aldeamentos, cultivou a música como auxiliar da
evangelização, promoveu o ensino primário nas escolas de ler e escrever e fundou, pessoalmente, os colégios de
Salvador, Pernambuco e São Paulo, origem da futura cidade, e do Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de reitor.
Depois de colaborar com a expulsão dos estrangeiros da baía de Guanabara, contribuiu para a valorização do poder
central e para a unificação política do território nacional.
Seus pensamentos estão expressos nas Cartas, nos Apontamentos e, sobretudo, no Diálogo sobre a conver-
são do Gentio, de sua autoria.
207
Barroco ou Seiscentismo
A arte barroca
© Michelangelo Merisi da Caravaggio/Wikimedia Commons
Cultismo e conceptismo
Duas tendências de estilo, no entanto, manifestam-se no Bar- O todo sem a parte não é todo,
roco: o cultismo e o conceptismo. Aquele, mais próprio A parte sem o todo não é parte,
da poesia e este, da prosa, sem, no entanto, excluírem-se no Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
conjunto da criação literária . Uma mesma obra tanto pode Não se diga, que é parte, sendo todo.
pender para uma delas quanto apresentar traços de ambas as
tendências. Em todo sacramento esta deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
§ Cultismo – preferência pelo rebuscamento formal da lin-
E feito em partes todo em toda a parte,
guagem em jogos de palavras, figuras de linguagem, verná-
Em qualquer parte sempre fica o todo.
culo preciosista, efeitos sensoriais – cor, som, forma, volume,
sonoridade, imagens eloquentes e fantasiosas. Conhecer é O braço de Jesus não seja parte,
descrever mediante sensações nada econômicas. Metáfo- Pois que feito Jesus em parte todo,
ras, antíteses, sinestesias, trocadilhos, dicotomias e hipérba- Assiste cada parte em sua parte.
tos povoam os textos barrocos. A realidade é retratada de
forma indireta, centrada na habilidade verbal do escritor. Não se sabendo parte deste todo,
A tendência do Barroco cultista também recebeu o Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
nome de gongorismo, cujo escritor mais eloquente Nos disse as partes todas deste todo.
foi o poeta espanhol Luis de Gôngora.
209
§ Conceptismo (do espanhol concepto, ideia) – linguagem pautada no raciocínio e no pensamento lógico,
em analogias, histórias ilustrativas etc. Argumentos centrados na inteligência e na razão em busca da con-
cisão e da coesão, sempre disciplinados pela lógica e seus mecanismos oferecidos pelos silogismos e sofis-
mas. Tal tendência também recebeu o nome de quevedismo, graças ao estilo marcante do poeta espanhol
Francisco Gómez de Quevedo.
[...]
“Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos setes anos [..] nunca chega à idade de uso
da razão. Usar de razão e amar são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma
vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista
uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade, febricitante, que não tivesse o
entendimento frenético. O amor deixara de variar, se for firme, mas não deixara de tresvariar, se é amor. Nunca
o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que
não houvesse fraqueza no juízo.”
(Padre Antonio Vieira. Sermão do Mandato)
A indefinição entre o divino e o terreno traduz-se em conflito e descontentamento existencial humano. São comuns
os temas pessimistas, as advertências sobre a brevidade da vida, a ênfase na dor e na vergonha de permanecer em
pecado. A relação com a vida terrena é pessimista, só minorada com a crença na vida celeste. O tema da penitência
é constantemente enfatizado pelo martírio da dor.
Ideias em confronto
Disponível em <http://interata.squarespace.com>
reforma, que deu à produção literária amplo caráter
religioso, por exemplo as obras do padre Antônio Vieira,
principal escritor português do século XVII.
Em 1580, dois fatos significativos marcaram a
vida cultural e política de Portugal: a morte de Camões e
a passagem do país ao domínio espanhol (1580-1640).
A literatura e as artes portuguesas foram in-
Detalhe preciosista de igreja barroca. fluenciadas pelas manifestações culturais espanholas,
que conheceram nesse período o “século de ouro” –
No intuito de aproximar opostos, a visão do universo Cervantes, Gôngora, Quevedo, Lope de Vega e Calderón
dualista é, ao mesmo tempo, mística e sensual, religiosa de La Barca são importantes escritores desse período. O
e erótica, espiritual e humana. O homem vive em con-
florescimento do Barroco em Portugal não se deu com
flito com o mundo. Para traduzi-lo, abundam antíteses,
a mesma intensidade que na Espanha. Como forma de
metáforas, sinestesias e hipérboles.
resistência política ao domínio espanhol, os escritores
O estilo barroco europeu do século XVII recebeu
portugueses procuraram preservar a língua e a cultu-
denominações particulares em cada país:
ra lusitanas. Assumiram uma postura saudosista, valo-
rizando personagens e escritores do passado heroico
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
recente: Vasco da Gama, Dom Sebastião, Camões.
Depois da luz, se segue a noite escura,
Influenciado pela Contrarreforma, o Barroco
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria.
português também ganhou fortes matizes religiosos,
Gregório de Matos bem como em todos os países ibéricos. A atuação da
Companhia de Jesus e do Tribunal da Inquisição, ins-
taurado em Portugal em meados do século XVI, com-
§ Espanha – gongorismo, originado do nome do
pletaram o quadro cultural lusitano daquele período
poeta Luis de Gôngora (1561-1627).
religioso e austero.
§ Inglaterra – eufuísmo, derivado do nome da
obra Euphues, or the anatomy of wit, do escritor
John Lyly (1554-1606).
O Barroco no Brasil
§ Itália – marinismo, derivado do nome de
Gianbattista Marino (1569-1625). O marco inicial do Barroco brasileiro data de 1601,
§ França – preciosismo, em razão do exagero quando Bento Teixeira, publicou o poema épico
da forma preciosista, afetada e extremamente Prosopopeia, com estrofes em oitava rima e versos de-
rebuscada na corte do rei Luis XIV. cassílabos, tal qual Os Lusíadas, de Camões, cujo mode-
lo ele seguiu de perto.
§ Alemanha – silesianismo, estilo característico
dos escritores da região da Silésia. Embora naquela época não houvesse um público
leitor significativo no Brasil, a poesia barroca ganhou
impulso com a fundação de várias academias literárias
O Barroco em Portugal entre os anos de 1720 e 1750. Vicejaram por todo o sé-
culo XVII e início do século XVIII, mas foram sufocadas
O Barroco português conviveu com um país que vivia pela fundação da academia chamada Arcádia Ultra-
uma crise de identidade, uma vez que estava sob o do- marina, em 1768, e pela ascensão da poesia árcade.
211
Aleijadinho
Peculiaridades do
© Divulgação
Barroco brasileiro
Um Barroco miscigenado
O mundo colonial brasileiro do século XVII não foi influenciado apenas pelo Barroco português, mas, sobretudo,
foi pressionado economicamente, graças à imensa exploração de riquezas naturais, de ouro, principalmente. Em
razão disso, o Barroco brasileiro tornou-se uma manifestação miscigenada das culturas europeia, negra e nativa. Os
espaços do Brasil colonial que lhe serviram de cenário foram principalmente o Nordeste e o estado de Minas Gerais.
Ligado ao ciclo da cana-de-açúcar, o Barroco nordestino aproximou-se da aristocracia rural, exuberante e
pomposa, e refletiu-se na riqueza das construções eclesiásticas e nas amplas acomodações das casas-grandes.
A cidade de Salvador, na Bahia, ainda conta com cerca de 80 igrejas e vários solares e casarões inspirados
no Barroco.
No século XVIII, o Barroco mineiro sobrepujou o da metrópole portuguesa, notadamente nas cidades au-
ríferas de Minas Gerais. Naquela região, sobressaíram as notáveis obras do escultor e arquiteto Antonio Francisco
Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, cujo trabalho pautou-se pela experiência de materiais locais – pedra-sabão e
madeira. O pintor Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) deixou mostras de seu talento em pinturas e afrescos nos
tetos e laterais de igrejas mineiras.
212
E.O. Teste I TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe,
foi segunda-feira, 9 de março. [...] E domin-
1. “A feição deles é serem pardos, um tanto
go, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais
avermelhados, de bons rostos e bons nari-
ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo
zes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura
Verde, ou melhor, da ilha de S. Nicolau [...]. E
alguma. Nem fazem mais caso de encobrir
assim seguimos nosso caminho por este mar
ou deixa de encobrir suas vergonhas do que
de longo, até que, terça-feira das Oitavas de
de mostrar a cara. Acerca disso são de grande
Páscoa, que foram vinte e um dias de abril,
inocência. Ambos traziam o beiço de baixo
estando da 8dita ilha obra de 660 léguas, se-
furado e metido nele um osso verdadeiro,
gundo os pilotos diziam, 1topamos alguns si-
de comprimento de uma mão travessa, e da
nais de terra, os quais eram muita quantida-
grossura de um fuso de algodão, agudo na
de de 5ervas compridas, a que os 4mareantes
ponta como um furador.”
chamam 6botelho [...]. E quarta-feira seguin-
Carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: <www.
dominiopublico.com.br>. Acesso em: 4 dez. 2012.
te, pela manhã, topamos aves a que chamam
7
fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera,
O trecho acima pertence a um dos primei- 2
houvemos vista de terra! 9Primeiramente
ros escritos considerados como pertencentes dum grande monte, mui alto e redondo [...];
à literatura brasileira. Do ponto de vista da ao monte alto o capitão pôs o nome de 3O
evolução histórica, trata-se de literatura: Monte Pascoal, e à terra, A Terra de Vera Cruz.
a) de informação. Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal
b) de cordel.
c) naturalista.
d) ambientalista. 3. Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.
e) árcade. a) Trata-se de documento histórico que inau-
gura, em Portugal, um novo gênero literário:
2. O movimento literário que retrata as ma- a literatura epistolar.
nifestações literárias produzidas no Brasil b) Exemplifica a literatura produzida pelos je-
à época de seu descobrimento e durante o suítas brasileiros na colônia e que teve como
século XVI, é conhecido como Quinhentismo objetivo principal a catequese do silvícola.
ou Literatura de Informação. c) Apesar de não ter natureza especificamente
Analise as proposições em relação a este período. artística, interessa à história da literatura
I. A produção literária no Brasil, no século brasileira na medida em que espelha a lin-
XVI, era restrita às literaturas de viagens guagem e a respectiva visão de mundo que
e jesuíticas de caráter religioso. nos legaram os primeiros colonizadores.
II. A obra literária jesuítica, relacionada às d) Pertence à chamada crônica histórica, pro-
atividades catequéticas e pedagógicas, duzida no Brasil durante a época colonial,
raramente assume um caráter apenas ar- com objetivos políticos: criar a imagem de
tístico. O nome mais destacado é o do pa- um país soberano, emancipado, em condi-
dre José de Anchieta.
ções de rivalizar com a metrópole. É um dos
III. O nome Quinhentismo está ligado a um
referencial cronológico − as manifesta- exemplos de registros oficiais escritos por
ções literárias no Brasil tiveram início em historiadores brasileiros durante o século
1500, época da colonização portuguesa − XVII, nos quais se observam, como caracte-
e não a um referencial estético. rística literária, traços do estilo barroco.
IV. As produções literárias neste período
prendem-se à literatura portuguesa, in- 4. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
tegrando o conjunto das chamadas lite- afirmações a seguir sobre a Literatura de In-
raturas de viagens ultramarinas, e aos
formação no Brasil.
valores da cultura greco-latina.
V. As produções literárias deste período ( ) A carta de Pero Vaz de Caminha, enviada ao
constituem um painel da vida dos anos rei D. Manuel I, circulou amplamente entre
iniciais do Brasil colônia, retratando os a nobreza e o povo português da época.
primeiros contatos entre os europeus e a ( ) Os textos informativos apresentavam, em
realidade da nova terra. geral, uma estrutura narrativa, pois esta
Assinale a alternativa correta. se adaptava melhor aos objetivos dos au-
a) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. tores de falar sobre coisas que viam.
b) Somente a afirmativa II é verdadeira. ( ) Os textos que informavam sobre o Novo
c) Somente as afirmativas I, II, III e V são ver- Mundo despertavam grande curiosidade
dadeiras. entre o público europeu, estando os de
d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. Américo Vespúcio entre os mais divulga-
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. dos no início do século XVI.
213
( ) Pero de Magalhães Gandavo é o autor dos uma ‘folha’ que você carregaria dobrada no
textos “Tratado da Terra do Brasil” e “His- bolso. Ela seria capaz de mostrar o jornal do
tória da Província Santa Cruz a que Vulgar- dia – com vídeos, fotos e notícias 8atualiza-
mente chamamos de Brasil”.
das –, o livro que você estivesse lendo ou
A sequência correta de preenchimento dos qualquer informação antes impressa. Tudo
parênteses, de cima para baixo, é:
ali. Desde os anos 70, está no ar a 5ideia de
a) V – F – V – V.
b) V – F – F – F. papel eletrônico, mas as últimas novidades
c) F – V – V – V. são de duas semanas atrás. Cientistas holan-
d) F – F – V – V. deses anunciaram que estão perto de criar
e) V – V – F – F. uma tela com ‘quase todas’ as propriedades
do papel: 3leveza, flexibilidade, 4clareza, etc.
5. Todas as alternativas são corretas sobre o Pa- A novidade que deixa o invento um pouco
dre José de Anchieta, EXCETO:
mais palpável está nos transistores. No papel
a) Foi o mais importante jesuíta em atividade
do futuro, eles não serão de 6silício, mas de
no Brasil do século XVI.
b) Foi o grande orador sacro da língua portu- plástico – que é maleável e barato.
guesa, com seus sermões barrocos. Os holandeses dizem já ter um protótipo que
c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma car- mostra imagens em movimento em uma tela
tilha sobre a gramática da língua dos nativos. de duas polegadas, ainda que de qualidade
d) Escreveu tanto uma literatura de caráter in- 1
’meia-boca’.
formativo como de caráter pedagógico. 2
Mas não vá celebrando o fim do desmata-
e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre
anjos e diabos. mento e do peso na mochila. A expectativa
é que um papel eletrônico mais ou menos
6. Sobre José de Anchieta é incorreto afirmar que: convincente apareça só daqui a cinco anos.
a) cultivou especialmente os autos, buscan- Folha de S. Paulo, 17 dez. 2001. Folhateen, p. 10.
do, na alegoria, tornar mais acessíveis às
mentes indígenas os conceitos e os dogmas
do cristianismo. 8. (IFCE) Em uma das opções, a afirmação refe-
b) no teatro, o “Auto de São Lourenço” des- re-se ao Barroco.
taca-se como obra catequética de influên- a) O homem se mostra feliz consigo mesmo e se
cia medieval. acha o centro do mundo.
c) na poesia lírica encontram-se suas mais belas b) As mensagens dos textos revelam que o ho-
composições, expressivas de uma fé profunda. mem está angustiado e dividido entre o bem
d) apesar de pautada na língua e na cultura do e o mal, a matéria e o espírito.
índio, sua produção literária não se caracteri- c) O estilo era simples e, nos textos, prevalecia
za como literatura já tipicamente brasileira. a objetividade.
e) sua obra teatral, marcadamente alegórica
d) Os textos traziam mensagens de otimismo e
e antirreligiosa, moldou-se nos padrões re-
baseavam-se no princípio de “gozar a vida”.
nascentistas.
e) Os escritores, embora vivessem na cidade,
recomendavam a vida no campo.
7. (IFSP) O culto exagerado da forma, o rebus-
camento, a riqueza de pormenores, o conflito
entre o profano e o sagrado são características: 9. (FGV) Foi um movimento literário do século
a) do Renascimento. XVII, nascido da crise de valores renascen-
b) da Ilustração. tistas. Caracteriza-se na literatura pelo culto
c) do Realismo. dos contrastes, a preocupação com o porme-
d) do Barroco.
nor e a sobrecarga de figuras como a metáfo-
e) do Simbolismo.
ra, as antíteses, hipérboles e alegorias. Essa
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO linguagem conflituosa reflete a consciência
VELHO PAPEL PODE ESTAR COM OS ANOS dos estados contraditórios da condição hu-
CONTADOS mana. Trata-se do:
Já imaginou, daqui a algumas décadas, seu
a) Romantismo.
neto lhe perguntando o que era papel? Pois
é, alguns pesquisadores já estão trabalhando b) Trovadorismo.
para que esse dia chegue logo. c) Humanismo.
A suposta ameaça 7à fibra natural não é o d) Realismo.
desajeitado e-book, mas o papel eletrônico, e) Barroco.
214
1
0. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F Sempre se há de sentir o que se fala.”
(falso) a afirmações abaixo sobre os dois Está(ão) correta(s):
grandes nomes do barroco brasileiro. a) apenas I.
( ) A obra poética de Gregório de Matos os- b) apenas I e II.
cila entre os valores transcendentais e c) apenas III.
os valores mundanos, exemplificando as d) apenas I e III.
tensões do seu tempo. e) apenas II e III.
( ) Os sermões do Padre Vieira caracteriza-
mse por uma construção de imagens des- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
dobradas em numerosos exemplos que vi- UMAS E OUTRAS
sam a enfatizar o conteúdo da pregação. Se uma nunca tem sorriso É pra melhor se
( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em reservar E diz que espera o paraíso
seus poemas e sermões, mostram exacer- E a hora de desabafar
bados sentimentos patrióticos expressos A vida é feita de um rosário
em linguagem barroca. Que custa tanto a se acabar
( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o Por isso, às vezes ela para
tom dos sermões do Padre Vieira represen- E senta um pouco pra chorar
tam duas faces da alma barroca no Brasil. Que dia! Nossa!
( ) O poeta e o pregador alertam os contem- Pra que tanta conta
porâneos para o desvio operado pela retó- Já perdi a conta de tanto rezar. Se a outra
rica retumbante e vazia. não tem paraíso
A sequência correta de preenchimento dos Não dá muita importância, não. Pois já for-
parênteses, de cima para baixo, é: jou o seu sorriso
a) V – F – F – F – F. E fez do mesmo profissão
b) V – V – V – V – F. A vida é sempre aquela dança
c) V – V – F – V – F. Onde não se escolhe o par
d) F – F – V – V – V. Por isso, às vezes ela cansa
e) F – F – F – V – V. E senta um pouco pra chorar
Que dia! Puxa!
Que vida danada
E.O. Teste II Tem tanta calçada pra se caminhar. Mas toda
santa madrugada
Quando uma já sonhou com Deus
1. A chamada atividade literária das primeiras E a outra, triste enamorada.
décadas de nossa formação histórica carac- Coitada, já deitou com os seus,
terizou-se por seu cunho pragmático estrito, O acaso faz com que essas duas,
seja a circunscrita ao parâmetro jesuítico, Que a sorte sempre separou,
seja a decorrente de viagens de reconheci- Se cruzem numa mesma rua
mento e informação da terra. Olhando-se com a mesma dor.
São representantes dos dois tipos de ativida- Que dia! Nossa!
de literária referidos no excerto acima: Pra que tanta conta
a) Gregório de Matos e Cláudio Manuel da Costa. Já perdi a conta de tanto rezar...
b) Antônio Vieira e Tomás Antônio Gonzaga. Que dia! Puxa!
c) José de Anchieta e Gabriel Soares de Sousa. Que vida danada
d) Bento Teixeira e Gonçalves de Magalhães. Tem tanta calçada para se caminhar.
e) Basílio da Gama e Gonçalves Dias. Outro dia! Puxa!
Que vida comprida
2. (UFSM) A desarmonia e a contradição são Pra que tanta vida
Pra gente viver...
características predominantes no Barroco.
Que dia...
Observe os fragmentos poéticos de Gregório
BUARQUE DE HOLANDA, Chico. “Umas e
de Matos, a seguir transcritos, e verifique outras”. In: Grandes sucessos de Chico Buarque.
qual(quais) confirma(m) essas características. LP, Premier/RGE, 1962. l.2. faixa 6.
I. “Amanheceu o dia prometido,/famoso,
alegre, claro e prazenteiro;/bom dia, dis-
se eu, para viagem.” 3. (CFTCE) Há, no texto, uma característica tí
II. “O ódio é da alma infame companhia/a pica do estilo de época chamado:
paz deixou-a Deus à cristandade;/mas ar- a) Barroco.
rastar por força uma vontade,/em vez de b) Trovadorismo.
caridade é tirania.” c) Arcadismo.
III. “De que pode servir falar quem cala?/ d) Classicismo.
Nunca se há de falar o que se sente,/ e) Literatura de Informação ou dos Jesuítas.
215
4. (CFTMG) O Barroco, estilo dominante no sé- 8. (Santa Casa) A preocupação com a brevidade
culo XVII, relaciona-se à(ao): da vida induz o poeta barroco a assumir uma
a) ideal do liberalismo e da democracia no atitude que:
Ocidente. a) descrê da misericórdia divina e contesta os
b) evolucionismo, com sua doutrina de seleção valores da religião.
natural. b) desiste de lutar contra o tempo, menospre-
c) Contra-Reforma, na tentativa de retomar a zando a mocidade e a beleza.
tradição cristã. c) se deixa subjugar pelo desânimo e pela apa-
d) reaproximação do autor com a natureza se- tia dos céticos.
rena e bucólica. d) se revolta contra os insondáveis desígnios
de Deus.
5. (CFTMG) São características do Barroco, exceto: e) quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a
a) sentimento repleto de contradições. mocidade dura.
b) soberania da razão em detrimento do conflito.
c) linguagem obscura e expressão indireta das
9. Com referência ao Barroco, todas as alterna
ideias.
tivas são corretas, exceto:
d) tempo interligado ao fim da beleza e ao
a) O Barroco estabelece contradições entre es-
tema da morte.
pírito e carne, alma e corpo, morte e vida.
b) O homem centra suas preocupações em seu
6. (UFV) Considere as afirmações que se se-
guem. Todas elas vinculam a poesia de Gre- próprio ser, tendo em mira seu aprimora-
gório de Matos aos princípios estéticos e ide- mento, com base na cultura greco-latina.
ológicos do Barroco brasileiro, EXCETO: c) O Barroco apresenta, como característica
a) A vertente lírica da poética de Gregório de marcante, o espírito de tensão, conflito en-
Matos cultuou o amor feito de pequenos tre tendências opostas: de um lado, o teo-
afetos, da meiga ternura e dos torneios gen- centrismo medieval e, de outro, o antropo-
tis, tendo como cenário o ambiente campes- centrismo renascentista.
tre e pastoril. d) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma.
b) O “Boca do Inferno” insurgiu-se não só con- e) O Barroco caracteriza-se pela sintaxe obscu-
tra os desmandos administrativos e políti- ra, uso de hipérbole e de metáforas.
cos da Bahia do século XVII, mas contra o
próprio ser humano, que, na concepção do 1
0. No Brasil, o Barroco foi introduzido por
poeta, é por natureza corrupto e mau. qual poeta:
c) Os poemas religiosos de Gregório de Matos a) Gregório de Matos.
fundiram a contemplação da divindade, o b) Mário de Andrade.
complexo de culpa, o desejo de arrependi- c) Bento Teixeira.
mento e o horror de ser pó, sensações, enfim, d) Camões.
frequentes no atormentado espírito barroco. e) Bocage
d) O significado social do Barroco brasileiro foi
marcante, uma vez que a poesia de Gregório
de Matos revestiu-se de alto sentido crítico
aos vícios e violências da sociedade colonial.
E.O. Teste III
e) A produção literária de Gregório de Matos
1. (Fatec) “...milhões de palavras ditas com es-
dividiu-se entre a temática lírico-religiosa e
uma visão crítica das mazelas sociais oriun- forço de pensamento.”
das do processo de colonização no Brasil. Essa passagem do texto faz referência a um
traço da linguagem barroca presente na obra
7. Escolha a alternativa que completa de forma de Vieira; trata-se do:
correta a frase abaixo: a) gongorismo, caracterizado pelo jogo de ideias.
A linguagem _____, o paradoxo, _____ e o re- b) cultismo, caracterizado pela exploração da
gistro das impressões sensoriais são recursos sonoridade das palavras.
linguísticos presentes na poesia _____. c) cultismo, caracterizado pelo conflito entre
a) simples – a antítese – parnasiana fé e razão.
b) rebuscada – a antítese – barroca d) conceptismo, caracterizado pelo vocabulário
c) objetiva – a metáfora – simbolista preciosista e pela exploração de aliterações.
d) subjetiva – o verso livre – romântica e) conceptismo, caracterizado pela exploração
e) detalhada – o subjetivismo – simbolista das relações lógicas, da argumentação.
216
2. Assinale a alternativa INCORRETA. ( ) O Barroco é o primeiro grande período
a) Na obra de José de Anchieta, encontram-se artístico no Brasil. Nas artes plásticas há
poesias seguindo a tradição medieval e textos destaque para a figura do Aleijadinho; na
para teatro com clara intenção catequista. Literatura, para o poeta Gregório de Ma-
b) A literatura informativa do Quinhentismo tos Guerra.
brasileiro empenha-se em fazer um levan- ( ) O Neoclassicismo, movimento estético
tamento da terra, daí ser predominante- propenso a um retorno aos ideais es-
mente descritiva. pirituais e artísticos do Renascimento,
c) A literatura seiscentista reflete um dualis- corresponde a uma tendência contrária
mo: o ser humano dividido entre a matéria e ao barroquismo.
o espírito, o pecado e o perdão. ( ) No texto barroco, a linguagem é retorci-
d) O Barroco apresenta estados de alma ex- da, com bastantes jogos verbais, enfati-
pressos através de antíteses, paradoxos, in- zando a prolixidade e o estilo confuso.
terrogações. ( ) No texto neoclássico, a linguagem é ra-
e) O Conceptismo caracteriza-se pela linguagem cional, as imagens são conhecidas e repe-
rebuscada, culta, extravagante, enquanto o tidas (chavões, lugares-comuns).
Cultismo é marcado pelo jogo de ideias, se- ( ) No Barroco, tanto quanto no Neoclassicis-
guindo um raciocínio lógico, racionalista. mo, os poetas abordaram aspectos como
dúvida, angústia e tédio, sob a forma de
3. O soneto a seguir é representativo da estética: um sentimentalismo lacrimoso.
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia, 5. (UEL) O século XVI deve ser reconhecido, na
E ouvida me incitava, e me movia história da literatura brasileira, como um
A querer ver tão bela arquitetura: período de:
a) manifestações literárias voltadas basicamen-
Ontem a vi por minha desventura te para a informação sobre a colônia e para a
Na cara, no bom ar, na galhardia catequese dos nativos.
De uma mulher, que em anjo se mentia; b) amadurecimento dos sentimentos nacio-
De um sol, que se trajava em criatura: nalistas que logo viriam a se expressar no
Romantismo.
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,
c) exaltação da cultura indígena, tema cen-
Se esta cousa não é, que encarecer-me
tral dos poemas épicos de Basílio da Gama e
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me!
Santa Rita Durão.
Olhos meus, disse então por defender-me, d) esgotamento do estilo e dos temas barrocos,
Se a beleza heis de ver para matar-me, superados pelos ideais estéticos do Arcadismo.
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me. e) valorização dos textos cômicos e satíricos,
a) barroca. em que foi mestre Gregório de Matos.
b) simbolista.
c) romântica.
d) parnasiana. E.O. Dissertativo
e) árcade.
1. Leia estes trechos:
4. (UFPE) Observe: TRECHO 1
“Descoberto em 1500, no século que, em Colombo sabe perfeitamente que as ilhas já
Portugal, dominava o Classicismo, o Brasil, têm nome, de uma certa forma, nomes na-
por muitas causas, não teve condições de dar turais (mas em outra acepção do termo) as
início à colonização e ao processo cultural. palavras dos outros, entretanto, não lhe in-
Entre as raras manifestações literárias do sé- teressam muito, e ele quer rebatizar os luga-
culo, destaca-se o teatro jesuítico. res em função do lugar que ocupam em sua
A obra de colonização do Brasil, iniciada descoberta, dar-lhes nomes justos a nomea-
propriamente por Martim Afonso em 1530, ção, além disso, equivale a tomar posse.
já pelos inconvenientes do sistema, já por TODOROV, Tzevetan. A conquista da América.
outros motivos fáceis de entender, mais di- São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 27.
ficultosa se tornaria, não fosse a colaboração
oportuna e decisiva dos jesuítas.” TRECHO 2
(Faraco e Moura, em Língua e Literatura) [...] e a quarta-feira seguinte, pela manhã,
topamos aves a que chamam fura-buchos
A partir de então, surgem dois movimentos e neste dia, a horas de véspera, houvemos
que ainda não podem ser considerados lite- vista de terra, a saber: primeiramente dum
ratura propriamente brasileira. grande monte mui alto e redondo, e de outras
217
serras mais baixas ao sul dele, e de terra chã TEXTO PARA AS QUESTÕES 8 E 9
com grandes arvoredos: ao qual monte alto o MULHER AO ESPELHO
Capitão pôs nome o Monte Pascoal, e à terra Hoje, que seja esta ou aquela, pouco me
a Terra da Vera Cruz. importa.
CAMINHA. Pero Vaz de. Carta ao Rei Dom ManueI. Quero apenas parecer bela, pois, seja qual
Belo Horizonte: Crisálida, 2002. p. 17. for, estou morta. Já fui loura, já fui more-
na, já fui Margarida e Beatriz. Já fui Maria
Explicite, comparando os dois trechos, a re-
e Madalena.
lação existente entre os atos de nomear e
Só não pude ser como quis.
tomar posse.
Que mal faz, esta cor fingida do meu cabelo,
e do meu rosto, se tudo é tinta: o mundo, a
2. A partir da leitura do texto Carta a el-Rei vida, o contentamento, o desgosto? Por fora,
Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, serei como queira a moda, que me vai ma-
responda: como é a descrição dos primeiros tando. Que me levem pele e caveira ao nada,
índios feita por Pero Vaz de Caminha no li- não me importa quando. Mas quem viu, tão
toral brasileiro? dilacerados, olhos, braços e sonhos seus, e
morreu pelos seus pecados, falará com Deus.
3. A respeito de Padre Anchieta, responda: Falará, coberta de luzes, do alto penteado
além da vinda para o Brasil para auxiliar na ao rubro artelho. Porque uns expiram sobre
catequização dos índios mediante a compo- cruzes, outros, buscando-se no espelho.
sição de peças de teatro, qual a outra maior MEIRELES, Cecília. Poesias Completa. Rio de
contribuição com relação à difusão da educa- Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
ção dos índios tupis feita pelo jesuíta? A temática e alguns procedimentos caracte-
rísticos do Barroco no século XVII foram re-
4. Quais foram as duas manifestações literárias tomados no poema de Cecília Meireles.
do Quinhentismo no Brasil?
8. O questionamento das concepções do senso
5. Quem começou a literatura de informação? comum quanto à vaidade sugere uma preo-
Qual era o seu objetivo? cupação também existente entre os autores
barrocos. Identifique, no poema, um aspecto
6. Como os jesuítas se aproximaram dos po- da vaidade apresentado negativamente e ou-
vos indígenas? tro apresentado positivamente.
218
TEXTO II Com contornos assimétricos, riqueza de deta-
lhes nas vestes e nas feições, a escultura bar-
roca no Brasil tem forte influência do rococó
europeu e está representada aqui por um dos
profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus
de Matosinho, em Congonhas, (MG), esculpi-
do em pedra-sabão por Aleijadinho. Profun-
damente religiosa, sua obra revela:
a) liberdade, representando a vida de mineiros
à procura da salvação.
b) credibilidade, atendendo a encomendas dos
nobres de Minas Gerais.
c) simplicidade, demonstrando compromisso com
a contemplação do divino.
d) personalidade, modelando uma imagem sa-
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo
sobre tela, 199 × 169 cm. Disponível em: <www.
cra com feições populares.
portinari.org.br>.Acesso em: 12 jun. 2013. e) singularidade, esculpindo personalidade do
reinado nas obras divinas.
Pertencentes ao patrimônio cultural brasi-
leiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a
obra de Portinari retratam a chegada dos
portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos,
Gabarito
constata-se que:
a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa
uma das primeiras manifestações artísticas
dos portugueses em terras brasileiras e pre- E.O. Teste I
ocupa-se apenas com a estética literária. 1. A 2. C 3. C 4. D 5. B
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com
corpos pintados, cuja grande significação é 6. E 7. D 8. B 9. E 10. C
a afirmação da arte acadêmica brasileira e a
contestação de uma linguagem moderna.
c) a carta, como testemunho histórico-político,
mostra o olhar do colonizador sobre a gente
da terra, e a pintura destaca, em primeiro
E.O. Teste II
plano, a inquietação dos nativos. 1. C 2. E 3. A 4. C 5. B
d) as duas produções, embora usem linguagens
6. A 7. B 8. E 9. B 10. C
diferentes – verbal e não verbal –, cumprem
a mesma função social e artística.
e) a pintura e a carta de Caminha são mani-
festações de grupos étnicos diferentes, pro-
duzidas em um mesmo momentos histórico, E.O. Teste III
retratando a colonização. 1. E 2. E 3. A 4. V V V V F 5. A
2.
E.O. Dissertativo
1.
Além da acepção de “dar nome aos seres”,
o verbo “nomear” pode ser entendido como
designar alguém para um cargo, dar direi-
to de posse. É com este sentido que Todorov
Tzevetan o utiliza para analisar o compor-
tamento do colonizador ao apoderar-se das
terras que pertenciam a povos com culturas
e linguagens diferentes. Ao substituir os no-
mes originais dos aborígines pelos dos do-
minadores, impõe-se ao dominado a neces-
sidade do ensino da nova língua que passa
BARDI, P.M. Em torno da escultura no Brasil. a ser usada como instrumento para posse do
São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989. novo território.
219
2. A primeira menção aos índios se inicia no
trecho “E dali avistamos homens que anda-
vam pela praia, uns sete ou oito, segundo
disseram os navios pequenos que chegaram
primeiro.” A partir de então, Caminha pro-
cede com a descrição dos nativos e se mostra
impressionado com a beleza e com o aspecto
diferente dos índios, principalmente no que
concerne ao vestuário, ao cabelo, à cor da
pele e aos adereços do corpo. Caminha tam-
bém se mostra impressionado com o fato de
que os índios não pareciam incomodados ao
mostrar suas partes íntimas o que, segundo
Caminha, era um sinal de inocência.
3. Uma das maiores contribuições do Padre An-
chieta foi a elaboração da primeira gramáti-
ca da língua tupi (a mais falada pelos índios
na costa brasileira) para auxiliar os catequi-
zadores na evangelização.
4. O Quinhentismo pode ser identificado em
duas etapas: A literatura de informação pro-
duzida pelos navegantes para relatar suas
viagens, e a literatura jesuítica que tinha o
objetivo de catequizar os povos indígenas.
5. A literatura de informação começou com a
Carta de Pero Vaz Caminha para o rei de Por-
tugal D. Manuel, relatando sobre as caracte-
rísticas da nova terra.
6. Os jesuítas se aproximaram dos índios usan-
do peças teatrais, criando cantigas e tradu-
zindo textos para a língua tupi e/ou guarani.
7. O poeta tem consciência de que o mundo ter-
reno é efêmero e vão; o sentimento de nuli-
dade diante do poder divino.
8. A moda que destrói o corpo e a alma de quem
a segue.
A consciência da destruição pela vaidade
elevará o indivíduo até Deus.
9. Um dentre os contrastes:
§§ vida e morte
§§ juventude e velhice
§§ essência e aparência
10. O Cultismo consiste em o jogo de palavras,
preciosismo vocabular, erudição e rebusca-
mento da forma. O conceptismo pauta-se em
argumentos que se centram na razão, conci-
so, ordenado sob os mecanismos da lógica.
E.O. Enem
1. C 2. D
220
© Filipe Frazao/Shutterstock
Aulas 11 e 12
Gregório de Matos Guerra,
o Boca do Inferno
O primeiro poeta brasileiro: adequação e irreverência
Gregório de Matos (1633-1696) é o maior poeta
barroco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica
e satírica no Brasil. Nasceu em Salvador, estudou no Co-
légio dos Jesuítas e depois em Coimbra (Portugal), onde
cursou Direito, tornou-se juiz e ensaiou seus primeiros
Disponível em: <http://imirante.globo.com>
Cronologia biográfica
O “língua de trapo”
Gregório de Matos primou pela irreverência, ao afrontar Ao mesmo desembargador Belchior da Cunha Brochado
os valores e a falsa moral da sociedade baiana de seu com o poema Rosa tumultuada, de Manuel Bandeira
tempo, cujo comportamento era considerado indecoro- (poeta do século XX).
so; irreverente como poeta lírico, ao seguir e ao mesmo
tempo quebrar os modelos barrocos europeus; como po-
eta satírico, ao denunciar as contradições da sociedade
baiana de século XVII, alvejando os grupos sociais – go-
vernantes, fidalgos, comerciantes, escravos, mulatos etc.
A linguagem empregada agrega ao código da língua
portuguesa vocábulos indígenas e africanos, bem como
palavras de baixo calão.
Pelo fato de não ter publicado nenhuma obra em
vida, seus poemas foram transmitidos oralmente, até
meados do século XIX, quando então foram reunidos
em livro por Varnhagen.
Esse trabalho enfrentou alguns problemas de
natureza autoral. Os copistas não necessariamente
obedeceram a critérios científicos para tal. Há contro-
vérsias sobre a autoria de alguns poemas atribuídos
a ele e é comum que um mesmo texto apresente va-
riações de vocabulário ou de sintaxe, dependendo da
edição consultada.
Apesar disso, a obra de Gregório de Matos vem
sendo reconhecida como a que iniciou uma tradição en-
tre nós, bem como superou os limites do próprio barro- 1. Erobo: mitologia, nome das trevas infernais, “onde nunca chega o dia”.
Entenda-se: já que tanto garbo tanta energia são gentil glória desta terra,
co. Em pleno século XVII, o poeta chegou a ser um dos que sejam também alegria da terra mais remota (isso é, o Erebo).
precursores da poesia moderna brasileira do século XX. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção e prefácio de José
Exemplo desse pioneirismo é a semelhança do poema Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 205.
224
Manuel Bandeira. Estrela da tarde. 3. ed.
São Paulo: Global, 2012, p. 139.
Foi apelidado de Boca de Inferno, graças à sua poesia satírica, dirigida aos governantes corruptos, a reli-
giosos licenciosos e às hipocrisias da sociedade. Seus mais de 700 poemas de todos os gêneros e estilos poéticos
(exceto o épico) permaneceram inéditos até o século XX. Entre os anos de 1923 e 1933, a Academia Brasileira de
Letras organizou e publicou seis volumes deles: I. Poesia sacra; II. Poesia lírica; III. Poesia graciosa; IV e V. Poesia
satírica; e VI. Últimas.
Poesia satírica
Não poupa aspecto algum do sistema e do poder, o que faz dele um poeta maldito. Provoca os políticos e ridiculari-
za os que viviam para bajular e louvar os poderosos, traços que contribuíram para o “abrasileiramento” do Barroco
importado da Europa.
Crítico social mordaz, vive em uma sociedade de competição na qual vence quem for mais esperto e/ou
desonesto. Este soneto vem precedido da seguinte expedição:
E que justiça a resguarda?... Bastarda. WISNIK, José Miguel. Poemas escolhidos de Gregório de Matos.
São Paulo: Cultrix, 1976.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta. O lirismo amoroso é contraditório, marcado pela
Valha-nos Deus, o que custa ambiguidade da mulher, vista como uma dualidade entre
O que El-Rei nos dá de graça, matéria e espírito. Neste soneto dedicado à dona Ângela
Que anda a justa na praça de Souza Paredes, o eu-lírico está diante do dilema: qual
Bastarda, vendida, injusta. a finalidade da beleza, se ela leva à perdição? Que papel
[...] tem o anjo (a mulher admirada), se causa a desventura?
O açúcar já se acabou?... Baixou.
Não vira em minha vida a formosura,
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Ouvia falar dela a cada dia
Logo já convalesceu?... Morreu.
E ouvida, me incitava e me movia
À Bahia aconteceu
A querer ver tão bela arquitetura:
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce, Ontem a vi, por minha desventura
Baixou, subiu, morreu. Na cara, no bom ar, na galhardia
A câmara não acode?... Não pode. De uma mulher, que em Anjo se mentia
Pois não tem todo o poder?... Não quer. De um Sol, que se trajava em criatura:
É que o governo a convence?... Não vence. Matem-me, disse eu vendo abrasar-me,
Quem haverá que tal pense, Se esta a coisa não é, que encarecer-me
Que uma câmara tão nobre, Sabia o mundo e tanto exagerar-me:
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, na vence. Olhos meus, disse então por defender-me,
DIMAS, Antônio. Gregório de Matos.
Se a beleza heis de ver para matar-me,
São Paulo: Abril Educação, 1981. Antes olhos cegueis, do que eu perder-me
226
Poesia lírica filosófica
A lírica filosófica de Gregório de Matos revela um poeta que, tal qual os clássicos, transmite um forte senso do “des-
concerto do mundo”, ocupa-se com a transitoriedade da vida, o escoamento do tempo e a fragilidade do homem.
O tema desse soneto detém-se no estado transitório da condição humana. A antítese repete-se na tentativa
de aproximação entre duas ideias naturalmente opostas.
Na segunda estrofe, todos os versos interrogam o eu-poético, bem como o deixam perplexo diante do mis-
tério do universo.
Essa é uma visão de mundo que corresponde à arte barroca: o homem é um ser instável em face da reali-
dade que lhe faz apelos dirigidos aos sentidos, dirigidos ao espírito.
No cinema
Em pleno século XVII, surge na Bahia o poeta Gregório de Mattos (Waly Salomão), que com sua obra e vida trágicas
anuncia o perfil tenso e dividido do povo brasileiro. Com sua produção literária, o poeta cria situações descon-
fortáveis aos poderosos da época, que passam a combatê-lo até transformar sua vida em um verdadeiro inferno.
© Divulgação
2. (IFSP) Leia o soneto do escritor barroco Gre- Minha bela Marília, tudo passa;
gório de Matos. a sorte deste mundo é mal segura;
DESCRIÇÃO DA CIDADE DE SERGIPE D’EL-REI se vem depois dos males a ventura,
vem depois dos prazeres a desgraça.
Três dúzias de casebres remendados, Estão os mesmos deuses
Seis becos, de 1mentrastos entupidos, sujeitos ao poder do ímpio fado:
Quinze soldados, rotos e despidos, Apolo já fugiu do céu brilhante,
Doze porcos na praça bem criados. já foi pastor de gado.
(GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas
Dois conventos, seis frades, três letrados, Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo:
Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,
Três presos de piolhos carcomidos, Moderna, 1988. p. 77.)
Por comer dois meirinhos esfaimados.
Em relação aos poemas, analise a veracidade
As damas com sapatos de baeta, 2 (V) ou a falsidade (F) das proposições abaixo.
Palmilha de tamanca como frade, ( ) O poema de Gregório de Matos apresenta
Saia de 3chita, cinta de raqueta. um sujeito lírico torturado pelo peso de
seus pecados e desejoso de aproximar-se
O feijão, que só faz 4ventosidade Farinha de do Divino.
pipoca, pão que greta, ( ) Tomás Antônio Gonzaga, embora perten-
De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade. ça ao mesmo período literário de Gre-
(DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. gório de Matos, revela neste poema um
São Paulo: Nova Cultural, 1988.) sujeito lírico consciente da brevidade da
1mentrasto: tipo de erva
vida.
2baeta: tecido felpudo ( ) Em relação às marcas de religiosidade, a
3chita: tecido de algodão de pouco valor visão antagônica que se coloca entre os
4ventosidade: que provoca flatulência dois poemas reflete, no Barroco, a influ-
Pela leitura do soneto, é correto afirmar que ência do cristianismo e, no Arcadismo, a
o poeta: da mitologia grega.
a) critica veladamente o governo português
por ter escolhido essa cidade para ser a sede Assinale a alternativa que preenche correta-
administrativa da colônia. mente os parênteses, de cima para baixo.
b) escreve esse poema para expor as angústias a) V – V – V
vividas durante o período em que cumpria a b) V – F – F
primeira ordem de desterro. c) V – F – V
c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, d) F – F – F
visto que sempre apreciou as mulheres brasileiras. e) F – V – F
230
4. (UFPR) Considerando a poesia de Gregório de que éreis uma aldeia pobre
Matos e o momento literário em que sua obra e hoje sois rica cidade.
se insere, avalie as seguintes afirmativas:
1. Apresentando a luta do homem no emba- Então vos pisavam índios,
te entre a carne e o espírito, a terra e o e vos habitavam cafres,
céu, o presente e a eternidade, os poemas hoje chispais fidalguias,
religiosos do autor correspondem à sen- arrojando personagens.
sibilidade da época e encontram paralelo Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.
na obra de um seu contemporâneo, Padre Gregório de Matos
Antônio Vieira.
Vocabulário
2. Os poemas erótico-irônicos são um exem-
alarves – que ou quem é rústico, abrutado,
plo da versatilidade do poeta, mas não são
grosseiro,
representativos da melhor poesia do autor,
ignorante; que ou o que é tolo, parvo, es-
por não apresentarem a mesma sofistica- túpido. ressábios – sabor; gosto que se tem
ção e riqueza de recursos poéticos que os depois.
poemas líricos ou religiosos apresentam. cafres – indivíduo de raça negra.
3. Como bom exemplo da poesia barroca, a
poesia do autor incrementa e exagera al-
5. (UFF) Todas as afirmativas sobre a constru-
guns recursos poéticos, deixando sua lin-
ção estética ou a produção textual do poema
guagem mais rebuscada e enredada pelo
de Gregório de Matos (Texto) estão adequa-
uso de figuras de linguagem raras e de
das, EXCETO uma. Assinale-a.
resultados tortuosos.
a) Existem antíteses, características de textos
4. A presença do elemento mulato nessa
no período barroco.
poesia resgata para a literatura uma di-
b) Há uma personificação, pois a Bahia, ser
mensão social problemática da sociedade
inanimado, é tratada como ser vivo.
baiana da época: num país de escravos,
c) A ausência de métrica aproxima o poema do
o mestiço é um ser em conflito, vítima
Modernismo.
e algoz em uma sociedade violentamente d) O eu lírico usa o vocativo, transformando a
desigual. Assinale a alternativa correta. Bahia em sua interlocutora.
a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. e) Há diferença de tratamento para os habitan-
b) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. tes locais e os estrangeiros.
c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. Triste Bahia! Oh quão dessemelhante
Estás, e estou do nosso antigo estado!
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Senhora Dona Bahia, Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais A ti trocou-te a máquina mercante,
e dos estrangeiros madre: Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado
Dizei-me por vida vossa Tanto negócio, e tanto negociante.
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm, Deste em dar tanto açúcar excelente
e abater os que aqui nascem? Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Se o fazeis pelo interesse
de que os estranhos vos gabem, Oh se quisera Deus, que de repente
isso os paisanos fariam Um dia amanheceras tão sisuda
com conhecidas vantagens. Que fora de algodão o teu capote!
MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas.
E suposto que os louvores 3. ed. São Paulo: FTD, 1998. p. 141.
em boca própria não valem,
se tem força esta sentença,
6. (UEL) No que diz respeito à relação entre o
mor força terá a verdade.
eu lírico e a Bahia, considere as afirmativas
O certo é, pátria minha, a seguir.
que fostes terra de alarves, I. Na primeira estrofe, o eu lírico identifi-
e inda os ressábios vos duram ca-se com a Bahia, pois ambos sofrem a
desse tempo e dessa idade. perda de um antigo estado.
II. Na primeira estrofe, a Bahia aparece per-
Haverá duzentos anos, sonificada, fato confirmado no momento
nem tantos podem contar-se, em que ela e o eu lírico se olham.
231
III.
Na terceira estrofe, constata-se que a Assinale a alternativa correta.
Bahia não está isenta da culpa pela perda a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
de seu antigo estado. b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
IV. Na quarta estrofe, o eu lírico conclui que c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
a lamentável situação da Bahia está em d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
conformidade com a vontade divina. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
9. (CFTMG) O poeta Gregório de Matos tornou-
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
-se importante na representação da literatu-
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
ra barroca brasileira porque:
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. a) enfatizou a produção poética satírica em de-
trimento da religiosa.
b) pautou sua vida pelo respeito às normas e
7. (UEL) A partir da leitura do texto, considere
as afirmativas a seguir. costumes sociais e estéticos.
I. O poema faz parte da produção de Gregório c) riticou membros do clero e do poder político
de Matos caracterizada pelo cunho satíri- e exaltou índios e mulatos.
co, visto que ridiculariza vícios e imperfei- d) apropriou-se de formas e temas do barroco
ções e assume um tom de censura. europeu, adequando-os ao contexto local.
II. As figuras do desconsolado poeta, da tris-
te Bahia e do sagaz Brichote são imagens TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Segue neste soneto a máxima de bem viver
poéticas utilizadas para expressar a exis-
que é envolver-se na confusão dos néscios
tência de um triângulo amoroso. para passar melhor a vida.
III. O poema apresenta a degradação da Bahia
e do eu-lírico, em virtude do sistema de SONETO
trocas imposto à Colônia, o qual privile- Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
giava os comerciantes estrangeiros.
Que como ando por vias desusadas,
IV. Os versos “Que em tua larga barra tem
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
entrado” e “Deste em dar tanto açúcar
excelente” conferem ao poema um tom O remédio será seguir o imundo
erótico, pois, simbolicamente, sugerem a Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
ideia de solicitação ao prazer.
Do que anda só o engenho mais profundo.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. Não é fácil viver entre os insanos,
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. O prudente varão há de ser mudo,
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco c’os demais, que só, sisudo.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos.
8. (UEL) Sobre figuras de linguagem no poema,
São Paulo: Cultrix, 1989. p. 253.
considere as afirmativas a seguir.
I. A descrição do eu lírico e da Bahia confi-
gura uma antítese entre o estado antigo 1
0. (UEG)
e o atual de ambos.
II. A antítese é verificada na oposição en-
tre as expressões “máquina mercante” e
“drogas inúteis”, embora ambas se refi-
ram à Bahia.
III. Os versos 3 e 4 são exemplos do papel re-
levante da gradação no conjunto do poe-
ma, pois enumeram estados de espírito
do eu lírico.
IV. Os versos “Um dia amanheceras tão sisu-
da / Que fora de algodão o teu capote!”
configuram exemplos de personificação e Aleijadinho, Cristo do carregamento da
metáfora, respectivamente. Cruz. “Enciclopédia Barsa”, 1998
232
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, e) Pequei Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido; Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido, Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado. Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Obra poética de Gregório de Matos. Rio Gregório de Matos)
de Janeiro: Record: 1990.
d) Luzes qual sol entre astros brilhadores, 3. (UFSM) Leia a estrofe de Gregório de Matos:
Se bem rei mais propício, e mais amado; “Ardor em firme coração nascido;
Que ele estrelas desterra em régio estado, pranto por belos olhos derramado;
Em régio estado não desterras flores. incêndio em mares de água disfarçado;
(Botelho de Oliveira) rio de neve em fogo convertido.”
233
Assinale a alternativa em que os dois versos
indicados apresentam metáforas de lágrimas.
E.O. Dissertativo
a) versos 1 e 2
b) versos 2 e 4 TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
c) versos 2 e 3 TEXTO I
d) versos 3 e 4 Largo em sentir, em respirar sucinto,
e) versos 1 e 3 Peno, e calo, tão fino e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
4. (Fatec) No colégio dos padres, Gregório de
Matos escreveu: O mal que fora encubro, ou que desminto,
“Quando desembarcaste da fragata, meu Dentro no coração é que o sustento:
dom Braço de Prata, cuidei, que a esta cidade Com que para penar é sentimento,
tonta, e fátua*, mandava a Inquisição algu- Para não se entender, é labirinto.
ma estátua, vendo tão espremida salvajola* Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
visão de palha sobre um mariola*”. Da tempestade é o estrondo efeito:
Sorriu, e entregou o escri- Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
to a Gonçalo Ravasco. Mas oh! Do meu segredo alto conceito!
Gonçalo leu-o, gracejou, en- Pois não chegam a vir à boca os tiros
tregou-o ao vereador. Dos combates que vão dentro do peito.
O papel passou de mão em mão. Gregório de Matos Guerra. Sonetos.
“A difamação é o teu deus”,
disseram, sorrindo.
TEXTO II
(Ana Miranda, “Boca do Inferno”)
O TEMPO NÃO PARA
(*fátua: tola;*salvajola: variante de
“selvagem”; *mariola: velhaco)
Disparo como um sol.
Sou forte sou por acaso
O trecho ilustra: Minha metralhadora cheia de mágoas
a) a poesia erótica de Gregório de Matos, ins- Eu sou um cara
pirada na vida nos prostíbulos da cidade da Cansado de correr na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Bahia e que deu origem à alcunha do poeta,
Eu sou mais um cara
“Boca do Inferno”.
Mas se você achar que eu tô derrotado
b) a poesia lírica de Gregório de Matos, volta- Saiba que ainda estou rolando os dados
da para a temática filosófica, em linguagem Porque o tempo... o tempo não para
marcada pelos recursos da estética barroca. Dias sim... dias não eu vou sobrevivendo sem
c) a poesia satírica de Gregório de Matos, dedi- um arranhão
cada à descrição fiel da sociedade da época, Da caridade de quem me detesta
utilizando recursos expressivos característi- A tua piscina tá cheia de ratos
cos do barroco português. Tuas ideias não correspondem aos fatos
d) a poesia erótica de Gregório de Matos, carac- O tempo não para
terizada pela crítica aos comportamentos e Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
às autoridades baianas da época colonial.
O tempo não para... não para... não... não
e) a poesia satírica de Gregório de Matos, que
para
representa, no conjunto de sua obra, uma Eu não tenho data pra comemorar
fuga aos moldes barrocos e ataca, no linguajar Às vezes os meus dias são de par em par
baiano da época, costumes e personalidades. Procurando agulha num palheiro
Nas noites de frio é melhor nem nascer
5. (UEL) Incêndio em mares d’água disfarçado, Nas de calor se escolhe é matar ou morrer
Rio de neve em fogo convertido. E assim nos tornamos brasileiros
Nesses versos de Gregório de Matos ocorre Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
um procedimento comum ao estilo da poesia Transformam um país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro
barroca, qual seja:
Cazuza
a) a imitação direta dos elementos naturais.
b) a submissão da sintaxe às regras da clareza.
c) a interpenetração de elementos contrastan tes. 1. O poeta Gregório de Matos e o compositor Ca-
d) a ordem casual e descontrolada das palavras. zuza, como homens de seus tempos, apresen-
e) a exaltação da paisagem nativa. tam, em certos aspectos, atitudes distintas
234
em relação aos conflitos existenciais. O pri- 5. Destaque do texto de Gregório de Matos um
meiro reconhece a existência dos conflitos par de versos que tenha “uma figura de oposi-
que o atormentam. O segundo, além de reco- ção” muito comum ao Barroco, classificando-a.
nhecer conflitos pessoais, expõe as mazelas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
que cercam o ser humano em geral.
A questão seguinte se baseia num soneto de
Transcreva, DE CADA AUTOR (TEXTO I e TEX-
Gregório de Matos (1623?-1696) e na crôni-
TO II), DOIS VERSOS SEGUIDOS que confir-
ca O SONETO, de Carlos Heitor Cony (1926-).
mem tal afirmativa.
AO CONDE DE ERICEYRA D. LUIZ DE MENE-
2. As estéticas literárias não se confinam a de- ZES PEDINDO LOUVORES AO POETA NÃO LHE
terminados tempos e a determinados auto- ACHANDO ELLE PRESTIMO ALGUM.
res na expressão do sentimento e da visão de Um soneto começo em vosso gabo;
mundo. De uma forma ou de outra, os poetas Contemos esta regra por primeira,
Gregório de Matos e Cazuza (séculos XVI e Já lá vão duas, e esta é a terceira,
XX, respectivamente) discutem as contradi- Já este quartetinho está no cabo.
ções que, atemporalmente, cercam a existên-
cia humana. Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
Transcreva DOIS VERSOS SEGUIDOS DO TEXTO
Na sétima entro já com grã canseira,
I E DOIS VERSOS SEGUIDOS DO TEXTO II que
E saio dos quartetos muito brabo.
comprovem o caráter contraditório da visão
de mundo de cada autor. Agora nos tercetos que direi?
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
3. (Fuvest) A poesia lírica de Gregório de Matos Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
subdivide-se em amorosa e religiosa. Nesta vida um soneto já ditei,
a) Quais são os dois modos contrastantes de ver Se desta agora escapo, nunca mais;
a mulher, em sua lírica amorosa? Louvado seja Deus, que o acabei.
b) Como aparece em sua lírica religiosa a ideia In: MATOS, Gregório de. Obra poética. 2ª ed. Rio
de Deus e do pecado? de Janeiro: Record, 1990, vol. I, p. 129-130.
237
Disponível em: <https://literaturanomeiodomundo.wordpress.com>
Embora Vieira defendesse os índios da escravidão, seus sermões eram reticentes em relação à escravização
dos negros. Limitavam-se a descrever a situação a que eram submetidos os negros e a apontar a perspectiva de
uma pós-morte que compensasse os sofrimentos em vida. “A realidade na qual Vieira procura interferir não é
diretamente a exterior, mas a interior, tentando mudar as convicções tanto dos negros como dos brancos. Por isso
nestes sermões ele se dirige aos dois, ora a um, ora a outro, sabendo que o ouvem continuamente” comenta o
historiador Luiz Roncari (Literatura brasileira – dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2. ed. São Paulo:
Edusp/FDE, 1995. p. 167).
Observe tal postura neste fragmento do “Sermão Vigésimo Sétimo”.
Caricatura de Vieira
Sermão da sexagésima
O orador Metalinguagem
As qualidades de Vieira como orador são incomparáveis. Proferido na Capela Real de Lisboa, em 1655, é tam-
Dotado de boa formação jesuítica à estética barroca em bém conhecido como Sermão da Palavra de Deus.
voga, pronunciou sermões que se tornaram ao mesmo A arte de pregar é seu tema. Com o objetivo de analisar
241
“por que não frutifica a Palavra de Deus na Terra?”, propõe-se a demonstrar que os verdadeiros culpados são os
pregadores que usam da palavra apenas com um objetivo ornamental, sem desenvolver eficazmente uma argu-
mentação capaz de frutificar nos ouvintes.
“Ora, suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do
pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador,
ou por parte de Deus?”
Excluindo a culpa de Deus e inocentando os ouvintes, a culpa recai nos pregadores, conforme se percebe
no desenrolar da argumentação:
“Primeiramente, por parte de Deus, não falta e nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definidas no
Concílio Tridentino e no nosso Evangelho a temos.” [...]
“Os pregadores deitam a culpa nos ouvintes, mas não é assim. Se for por parte dos ouvintes, não fizera a
Palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes.
Provo.” [...]
“Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a Palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores,
por que não faz fruto a Palavra de Deus? Por culpa nossa.”
Leia com atenção e prazer alguns trechos do “Sermão da Sexagésima”.
Trecho I
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um
estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também esta. O estilo
há de ser muito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao semear: [...] Compara Cristo o pregar ao semear,
porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. Nas outras artes tudo é arte: na música tudo
se faz por compasso, na arquitetura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por conta, na geometria tudo
se faz por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte; caia onde cair. Vede como semeava o nosso lavra-
dor do Evangelho. ‘Caía o trigo nos espinhos e nascia’ [...] ‘Caía o trigo nas pedras e nascia’ [...] ‘Caía o trigo na
terra boa e nasci’. Ia o trigo caindo e ia nascendo.
Trecho II
[...] o pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrinha ou azuleja. Não fez Deus o céu em
xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de
outra há de estar negro; se de uma parte está dia, de outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra
hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver
num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? [...]
Trecho III
Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer
todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede. Uma árvore
tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há
de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um
só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que soa diversos discursos, mas
nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque
os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. [...]
242
Trecho IV
Mas dir-me-eis: padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escri-
turas? Pois como não pregam a palavra de Deus? – esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a
Palavra de Deus.
O Sermão da Sexagésima é a peça maior da oratória do Padre Vieira, mas outros também se destacaram.
Trecho I
(...) Pequei, que mais Vos posso fazer? E
que fizestes vós, Job, a Deus em pecar? Não Lhe
fiz pouco; porque Lhe dei ocasião a me perdoar, e
perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-Lhe-
-ei a Ele, como a causa, a graça que me fizer; e Ele
dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que
alcançar. (...). Em castigar, vencei-nos a nós, que
somos criaturas fracas; mas em perdoar, vencei-Vos
a Vós mesmo, que sois todo-poderoso e infinito. Só
esta vitória é digna de Vós, porque só vossa justiça
pode pelejar com armas iguais contra vossa mise-
ricórdia; e sendo infinito o vencido, infinita fica a
glória do vencedor.
Trecho II
Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com os homens, mais alto hão de sair as minhas palavras
ou as minhas vozes: a vosso peito divino se há de dirigir todo o sermão.
243
Sermão de Santo Antônio
rede de pescar, Sagenae missae in mare, diz que
(aos peixes) os pescadores ‘recolheram os peixes bons e lança-
ram fora os maus’: Elegerunt bonos in vasa, malos
Sermão de Santo Antônio, também chamado de autem foras miserunt. E onde há bons e maus, há
Sermão aos peixes, foi pregado em São Luís do Ma- que louvar e que repreender. Suposto isto, para que
ranhão, em 1654, e refere-se a colonos que aprisiona- procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso
vam indígenas. sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei
Três dias antes do embarque escondido para Lis- as vossas virtudes, no segundo repreender-vos-ei
boa, na festa de Santo António – 13 de junho de 1654 os vossos vícios. E desta maneira satisfaremos às
–, em São Luís do Maranhão, Vieira causou surpresa: em obrigações do sal, que melhor vos está ouvi-las vi-
vez de tematizar os milagres de Santo Antônio, detona a vos, que experimentá-las depois de mortos.
situação que estava vivendo, a pressão contra sua pes-
soa e alerta aos ouvintes que se não quisessem ouvi-lo
que fossem como Santo Antônio, pregaria aos peixes, Trecho II
que estavam ali a poucos passos. Os vícios e as virtudes Este é, peixes, em comum o natural que em
dos homens são elencados na busca por uma legislação todos vós louvo, e a felicidade de que vos dou o
mais justa aos índios. parabém, não sem inveja. Descendo ao particular,
O sermão exalta as qualidades dos peixes, infinita matéria fora se houvera de discorrer pelas
como a obediência, e critica a soberba e o oportunis- virtudes de que o Autor da natureza a dotou e fez
mo. O principal defeito que ele aponta é a intensida- admirável em cada um de vós. De alguns somente
de e a voracidade, uma vez que os peixes devoram farei menção. E o que tem o primeiro lugar entre
uns aos outros, especialmente os maiores, que de- todos, como tão celebrado na Escritura, é aque-
voram os menores. Vieira exalta os peixes que, por le santo peixe de Tobias a quem o texto sagrado
sua natureza, não podem ser sacrificados vivos a não dá outro nome que de grande, como verda-
Deus e sacrificam-se então, em respeito e reverência. deiramente o foi nas virtudes interiores, em que
só consiste a verdadeira grandeza. Ia Tobias cami-
nhando com o anjo S. Rafael, que o acompanhava,
Trecho I
e descendo a lavar os pés do pó do caminho nas
Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos margens de um rio, eis que o investe um grande
peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas peixe com a boca aberta em ação de que o que-
propriedades, as quais em vós mesmos se experi- ria tragar. Gritou Tobias assombrado, mas o anjo
mentam: conservar o são e preservá-lo para que se lhe disse que pegasse no peixe pela barbatana e
não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham o arrastasse para terra; que o abrisse e lhe tirasse
as pregações do vosso pregador Santo António, as entranhas e as guardasse, porque lhe haviam de
como também as devem ter as de todos os prega- servir muito. Fê-lo assim Tobias, e perguntando que
dores. Uma é louvar o bem, outra repreender o mal: virtude tinham as entranhas daquele peixe que lhe
louvar o bem para o conservar e repreender o mal mandara guardar, respondeu o anjo que o fel era
para preservar dele. Nem cuideis que isto pertence bom para sarar da cegueira e o coração para lançar
só aos homens, porque também nos peixes tem seu fora os demônios: Cordis eius particulam, si super
lugar. Assim o diz o grande Doutor da Igreja S. Basí- carbones ponas, fumus eius extricat omne genus
lio: Non carpere solum, reprehendereque possumus daemoniorum: et fel valet ad ungendos oculos, in
pisces, sed sunt in illis, et quae prosequenda sunt quibus fuerit albugo, et sanabuntur. Assim o disse o
imitatione: ’Não só há que notar, diz o Santo, e que anjo, e assim o mostrou logo a experiência, porque,
repreender nos peixes, senão também que imitar sendo o pai de Tobias cego, aplicando-lhe o filho
e louvar.’ Quando Cristo comparou a sua Igreja à aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente
a vista; e tendo um demônio, chamado Asmodeu,
244
morto sete maridos a Sara, casou com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração, fugiu dali o
Demônio e nunca mais tornou. De sorte que o fel daquele peixe tirou a cegueira a Tobias, o velho, e lançou os
demônios de casa a Tobias, o moço. Um peixe de tão bom coração e de tão proveitoso fel, quem o não louvará
mais? Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato marítimo de
Santo António.
© Wikimedia Commons
Trecho III
Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa
natural irregularidade! Quanto melhor me fora não
tomar a Deus nas mãos, que tomá-lo indignamen-
te! Em tudo o que vos excedo, peixes, vos reco-
nheço muitas vantagens. A vossa bruteza é melhor
que a minha razão e o vosso instinto melhor que
o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a
Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós não
ofendeis a Deus com a memória; eu discorro, mas
vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu
quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade.
Vós fostes criados por Deus, para servir ao homem,
253
E.O. Teste II mundo antigo, com a do pirata saqueador
mostram uma crítica aos valores morais e
1. C 2. E 3. B 4. C a visão ideológica do autor.
5. C 6. D 7. E 8. D 4. Na alegoria do Padre Antônio Vieira, a com-
paração, ou melhor, a metáfora básica, que
sustenta todo o desenvolvimento do trecho e
as demais comparações, é aquela extraída do
E.O. Teste III texto bíblico e usada como epígrafe do ser-
1. D 2. A 3. C 4. A mão: “Semen est verbum Dei” − “a palavra
de Deus é semente”.
5.
Vieira passou a maior parte de sua vida en-
tre Portugal, onde nasceu, e Brasil. Tanto lá
E.O. Dissertativo como aqui compôs textos de fina retórica,
1.
Na carta, Vieira caracteriza os holandeses tratando de temas que interessavam à colô-
como hereges e iconoclastas. nia e à metrópole.
2.
A contextualização histórica da carta de 6.
Há no texto um bom exemplo da preocupa-
Vieira deve levar em conta dois dados im- ção do Padre Antonio Vieira com temas de
portantes: a disputa militar que opunha Ho- caráter social e de dimensão política. A apro-
landa a Portugal e a luta da Igreja Católica ximação e a comparação da figura de Alexan-
(representada por Portugal) contra o Protes- dre Magno, grande conquistador do mundo
tantismo (representado pela Holanda). Da antigo, com a do pirata saqueador mostram
perspectiva de Vieira, os interesses de Por- uma crítica aos valores morais e a visão ide-
tugal coincidiam com os da Igreja, por isso a ológica do autor.
providência divina agiria em favor de brasi-
7.
O Barroco é o movimento marcado pela opo-
leiros e portugueses. No texto, a ação da pro-
sição de ideias; assim, no poema encontram-
vidência se mostra no milagre que se opera
-se antíteses (“pó levantado”/ “pó caído”;
na cruz: agredida pelos holandeses (“deram
paradoxos (“Distinguimo-nos os vícios dos
muitos golpes numa cruz”), ela se move so-
mortos, assim como se distingue o pó do
zinha (“a cruz [...] se foi torcendo do meio
pó”); anáforas (pronome indefinido “tudo”)
para cima, ficando o pé imóvel”).
polissíndetos (ou) e outros.
3.
a) Trata-se do “Sermão pelo Bom Sucesso das 8.
O argumento é: “Ora, pressuposto que já so-
Armas de Portugal contra as de Holanda”. mos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus
o disse”...
b) O autor se dirige a Deus, como porta-voz
da religião católica, a única que, para ele, 9.
O sermão aponta características do discurso
tinha legitimidade para representar a von- falado, pois faz:
tade de Deus. O sermonista pede ajuda na − o uso da primeira pessoa do plural (nós)
luta contra os holandeses, associados ao − o uso do termo “ora”
protestantismo. A referência mais direta − o uso de pronomes demonstrativos: “entra
ao interlocutor aparece no vocativo “Se- por esta rua, sai por aquela...”
nhor” da seguinte passagem: “Mas como a − uso de interrogações, criando uma inter-
causa, Senhor, é mais vossa que nossa (...)”. locução.
Há no texto um bom exemplo da preocu-
pação do Padre Antonio Vieira com temas 10. Há uma apresentação dinâmica dos fatos
de caráter social e de dimensão política. A pelo emprego dos verbos de ações (movi-
aproximação e a comparação da figura de mento). Orações coordenadas criam a ideia
Alexandre Magno, grande conquistador do de rapidez.
254
© Friedrich August von Kaulbach/Wikimedia Commons
(Portugal)
Arcadismo / Bocage
Aulas 15 e 16
O século das luzes
Disponível em: <http://vignette2.wikia.nocookie.net>
O século XVIII foi palco de uma série de transformações culturais e sociopolíticas na Europa: ascensão da burguesia
e decadência da aristocracia; ruptura definitiva com o mundo medieval; nascimento do Iluminismo.
Para acompanhar o desenvolvimento das grandes nações europeias e satisfazer os interesses da burguesia,
Portugal empreendeu diversas reformas econômicas, políticas, culturais e educacionais.
As manifestações da estética arcádica tiveram início no Brasil na segunda metade do século XVIII. A ativida-
de mineradora – já intensa desde 1700 – determinara mudanças na organização e na dinâmica da vida brasileira.
Houve um aumento considerável na circulação de mercadorias e dinamização das regiões que abasteciam com
gado as Minas Gerais (Sul e Nordeste).
Vila Rica, atual Ouro Preto, tornou-se centro eco- © Carlos Julião/Wikimedia Common
Arcadismo
A partir da segunda metade do século XVIII, ao lado das profundas transformações sociais e econômicas que anun-
ciavam revoluções intelectuais nas sociedades europeias, desenvolve-se um novo estilo literário, o arcadismo, que
propunha uma volta à natureza, à vida simples do campo em reverência ao bucolismo.
Opondo-se aos dilemas, exageros e rebuscamentos do Barroco, o Arcadismo retornou aos modelos greco-
-latinos e à sua mitologia em busca de simplicidade e harmonia.
A palavra arcadismo foi inspirada em Arcádia, uma lendária região grega habitada por pastores que cultiva-
vam a poesia e a música, viviam de modo simples e espontâneo e celebravam o amor e a natureza.
Os poetas do arcadismo adotavam pseudônimos pastoris em homenagem à vida simples dos pastores da
Arcádia, que viviam em comunhão com a natureza. Em decorrência dessa retomada dos modelos clássicos, o Ar-
cadismo foi chamado também de Neoclassicismo, um novo Classicismo.
De origem italiana, o arcadismo foi inaugurado com a fundação da Arcádia Romana, em 1690, com a
finalidade de combater o Barroco. Da Itália difundiu-se para outros países, inclusive Portugal, e da Metrópole por-
tuguesa passou à Colônia. Em Portugal, a data inicial do Arcadismo é 1756, ano da fundação da Arcádia Lusitana,
encerrada em 1825, ano da publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, que deu início ao Romantismo.
Arcadismo em Portugal
© Husond/Wikimedia Common
Arcádias
As Arcádias eram academias literárias,
primeiros pseudônimos pastoris: Marília e Ritália. Outra fi- Foi na lírica, em especial nos sonetos, que Boca-
gura muito presente em sua obra é Gertrúria, na verdade, ge atingiu o ponto alto de sua obra, embora também
Gertrudes Homem de Noronha, conterrânea de Setúbal e a tenha se destacado como poeta satírico e erótico.
260
Bocage e a transição habitado também pelo eu-lírico, num gesto de total de-
sespero e descontrole emocional.
Bocage é considerado o melhor escritor português do O poema compõe um painel oposto ao universo
século XVIII. Ao lado de Camões e de Antero de Quen- claro e equilibrado do Arcadismo. Em vez do equilíbrio,
tal, é um dos três maiores sonetistas de toda a litera- o pessimismo e a morte como saída para a angústia de
tura portuguesa. Contudo, o título de melhor escritor viver; em vez de racionalismo, o predomínio absoluto da
da época não significa que Bocage tenha sido o mais emoção; em vez de objetividade, o subjetivismo.
perfeito árcade, papel que talvez caiba a Filinto Elísio.
Nascemos para amar: a Humanidade
A importância conferida à obra de Bocage advém prin-
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
cipalmente da tradução do momento transitório em Tu és doce atrativo, oh formosura,
que o escritor viveu, um período marcado por mudan- Que encanta, que seduz, que persuade.
ças profundas, como a Revolução Francesa (1789) e o
florescimento do Romantismo. Na totalidade, sua obra Enleia-se por gosto a liberdade;
não é árcade nem romântica. É uma obra de transição, E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
que apresenta simultaneamente aspectos de ambos os
Chamam-lhe alguns então felicidade.
movimentos literários.
A fase inicial da poesia de Bocage é marcada Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
por formas e temas próprios do Arcadismo: ambiente Qual em suaves júbilos discorre,
bucólico – o fugere urbem –, o ideal de vida simples e Com esperanças mil na ideia acesas.
alegre – aurea mediocritas –, a simplicidade e a clareza
Amor ou desfalece, ou para, ou corre;
das ideias e da linguagem etc. E, segundo as diversas naturezas,
Oh retrato da morte, oh noite amiga Um porfia, este esqueceu, aquele morre.
Por cuja escuridão suspiro há tanto! Hermâni Cidade. Ob. Cit., p. 144.
262
E.O. Teste I 3. Pode-se afirmar que se destaca no poema:
a) o racionalismo, característica do Barroco.
b) o conceptismo, característica do Arcadismo.
1. “Sobre Bocage, sabemos que foi um ho-
mem situado entre dois mundos, entre as c) o cultismo, característica do Barroco.
regras rígidas de um Arcadismo decadente, d) o teocentrismo, característica do Barroco.
refletindo um mundo racional, ordenado e e) o pastoralismo, característica do Arcadismo.
concreto, e a liberdade de um Romantismo
ascendente, quando a literatura se abre à in- 4. “É o período que caracteriza principalmente
dividualidade e à renovação”. a segunda metade do século XVIII, tingindo
(www.lpm-editores.com.br – 03.09.11)
as artes de uma nova tonalidade burguesa.
O comentário acima nos permite concluir Vive-se o Século das Luzes, o Iluminismo
que Bocage sofreu a violência simbólica burguês, que prepara o caminho para a Re-
quando uma regra pastoril e neoclássica, volução Francesa.”
disfarçada de gosto e verdade inquestioná- O texto acima refere-se ao:
veis, impediu parcialmente a expressão de
a) Romantismo.
sua liberdade criadora. Interprete os versos
abaixo e assinale os que tematizam a resis- b) Simbolismo.
tência a tal regra. c) Barroco.
a) Só eu (tirano Amor! tirana Sorte!) d) Realismo.
Só eu por Nise ingrata aborrecido e) Arcadismo.
Para ter fim meu pranto espero a morte.
b) Ó trevas, que enlutais a Natureza, 5. Associe os movimentos literários aos seus
Longos ciprestes desta selva anosa,
respectivos exemplos.
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza; (1) Barroco
c) Das terras a pior tu és, ó Goa, (2) Arcadismo
Tu pareces mais ermo que cidade, ( ) “Pequei, Senhor, mas não porque hei pe-
Mas alojas em ti maior vaidade cado
Que Londres, que Paris ou que Lisboa. Da vossa Alta piedade me despido Porque
d) Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga, quanto mais tenho delinquido
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Vos tenho a perdoar mais empenhado.”
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga! ( ) Em lugar delicioso e triste, Cansada de vi-
e) Razão, de que me serve o teu socorro ver, tinha escolhido Para morrer a mísera
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo; Lindóia.
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro. Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores, ...”
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES ( ) “Nasce o sol, e não dura mais que um dia,
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Depois da luz se segue a noite escura,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, de expressões grosseiro, Em tristes sombras nasce a formosura,
Dos frios gelo e dos sóis queimado. Em contínuas tristezas, a alegria.”
Tenho próprio casal e nele assisto; ( ) “Ah! minha Bela, se a Fortuna volta,
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Se o bem, que já perdi, alcanço e provo;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, Por essas brancas mãos, por essas faces
E mais as finas lãs de que me visto. Te juro renascer um homem novo
Graças, Marília bela,
Amar no céu a Jove e a ti na terra.”
Graças à minha estrela!
( ) “Neste mundo é mais rico, o que mais
(fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm, adaptado)
rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
2. A análise do trecho permite afirmar que o Com sua língua ao nobre o vil decepa:
eu-lírico: O Velhaco maior sempre tem capa. “
a) valoriza os trajes ricos da cidade.
A sequência encontrada foi:
b) despreza a vida humilde.
a) 1, 2, 1, 2, 1.
c) manifesta preocupação religiosa.
d) valoriza os benefícios de sua vida no campo. b) 1, 1, 2, 1, 2.
e) apresenta a vida na cidade como mais dese- c) 1, 2, 1, 2, 2.
jável do que a vida no campo. d) 2, 2, 1, 1, 2.
263
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES 9. Coloque no parêntese B ou A conforme a ca-
Leia o poema de Bocage para responder às racterística seja do Barroco ou do Arcadismo.
questões. ( ) predominância da ordem inversa
Olha, Marília, as flautas dos pastores ( ) expressão de sentimentos universais e
Que bem que soam, como estão cadentes! não individuais
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes ( ) utilização de vocabulário simples
( ) grande número de antíteses
Os Zéfiros brincar por entre flores?
( ) preferência por temas religiosos
A sequência correta é:
Vê como ali, beijando-se, os Amores a) A, A, B, B, B.
Incitam nossos ósculos ardentes! b) A, B, B, A, B.
Ei-las de planta em planta as inocentes, c) B, A, B, A, B.
As vagas borboletas de mil cores. d) A, A, A, B, B.
e) B, A, A, B, B.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha para, 10. Leia:
Ora nos ares, sussurrando, gira: Eu quero uma casa no campo
onde eu possa ficar do tamanho da paz e te-
Que alegre campo! Que manhã tão clara! nha somente a certeza dos limites do corpo
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira, e nada mais
Mais tristeza que a morte me causara. Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
no meu jardim
6. (Unifesp)A descrição que o eu-lírico faz do (Tavito e Zé Rodrix)
ambiente é uma forma de mostrar à amada O fragmento anterior, extraído de uma can-
que o amor: ção popular, aborda um tema muito comum
a) acaba quando a morte chega. à poesia de certa época literária no Brasil.
b) tem pouca relação com a natureza. Após identificá-la, marque a opção não con-
c) deve ser idealizado, mas não realizado. dizente com o período da Literatura a que a
d) traz as tristezas e a morte. letra nos remete:
e) é inspirado por tudo o que os rodeia. a) Ao campo me recolho e reconheço
Que não há maior bem que a soledade.
7. (Unifesp) O emprego de “Mas”, na última b) Mas morreste sem lutas, sem protestos,
Sem um grito sequer!
estrofe do poema, permite entender que:
Como a ovelha no altar, como a criança
a) todo o belo cenário só tem tais qualidades se
No ventre da mulher!
a mulher amada fizer parte dele.
c) Tenho próprio casal e nele assisto;
b) a ausência da mulher amada pode levar o dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
eu-lírico à morte. das brancas ovelhinhas tiro o leite
c) a morte é uma forma de o eu-lírico deixar de e mais as finas lãs de que me visto.
sofrer pela mulher amada. d) Sou pastor, não te nego; os meus montados
d) a mulher amada morreu e, por essa razão, o São esses que aí vês; vivo contente
eu-lírico sofre. Ao trazer entre a relva florescente
e) o eu-lírico sofre toda manhã pela ausência A doce companhia dos meus gados.
da mulher amada. e) Aquele pastor amante,
Que nas úmidas ribeiras
Desse cristalino rio
8. Leia os versos abaixo:
Guiava as brancas ovelhas
“Se não tivermos lãs e peles finas, podem mui
bem cobrir as carnes nossas as peles dos cordei-
ros mal curtidas, e os panos feitos com as lãs E.O. Teste II
mais grossas. Mas ao menos será o teu vestido
por mãos de amor, por minhas mãos cosido.” 1. (ESPM)
Camões, grande Camões, quão semelhante
A característica presente na poesia árcade, Acho teu 1fado ao meu quando os cotejo!
presente no fragmento acima, é: Igual causa nos fez perdendo o Tejo 2Arros-
a) aurea mediocritas. tar co sacrílego gigante (...)
b) cultismo. Ludíbrio, como tu, da sorte dura,
c) ideias iluministas. Meu fim demando ao Céu, pela certeza
d) conflito espiritual. De que só terei paz na sepultura (...)
e) carpe diem. (Bocage)
264
1
fado = destino d) A saudade é representada no poema pelas ima-
2
arrostar = encarar, afrontar gens do cárcere e do poeta preso por grilhões.
Assinale a afirmação correta sobre o poema. e) O eu lírico e a pátria celebram a chegada da
O eu lírico: liberdade como um sol que surge no hori-
a) Expressa inveja de Camões por não ter tido zonte.
igual sepultura.
b) Compara-se a Camões, fazendo um desa bafo 4. (Espcex) Considerando a imagem da mulher
enfático da amargura pela infelicida de ao nas diferentes manifestações literárias, po-
longo de uma existência. de-se afirmar que:
c) Segue o princípio clássico do relatar experi- a) nas cantigas de amor, originárias da Proven-
ências humanas negativas aplicáveis a todos. ça, o eu-lírico é feminino, mostrando o ou-
d) Alterna versos alexandrinos (ou dodecas sí- tro lado do relacionamento amoroso.
labos) com versos decassílabos. b) no Arcadismo, a louvação da mulher é feita
e) Dirige-se ao “Céu” e ao “Tejo” com a inten- a partir da escolha de um aspecto físico em
ção de aliar-se aos elementos da natureza. que sua beleza se iguale à perfeição da na-
tureza.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES c) no Realismo, a mulher era idealizada como
Liberdade, onde estás? Quem te demora? misteriosa, inatingível, superior, perfeita,
Quem faz que o teu influxo em nós não caia? como nas cantigas de amor.
Porque (triste de mim!), porque não raia d) a mulher moderna é inferiorizada socialmen-
Já na esfera de Lísia* a tua aurora? te e utiliza a dissimulação e a sedução, mui-
Da santa redenção é vinda a hora tas vezes desencadeando crises e problemas.
A esta parte do mundo, que desmaia. e) a mulher barroca foi apresentada como ar-
Oh!, venha... Oh!, venha, e trêmulo descaia quétipo da beleza, evidenciando o poder
Despotismo feroz, que nos devora! por ela conquistado, enquanto os homens
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo, viviam uma paz espiritual.
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo. 5. (UEPA) LXII
Movam nossos grilhões tua piedade; Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Nosso númen tu és, e glória, e tudo, Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade! Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
(Bocage)
Pelo traje da Corte rico e fino.
Lísia = Portugal
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
dos Textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p.239. Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
2. (UEPA) O poema de Bocage organiza uma si-
tuação comunicativa interna em que se veri- Se o bem desta choupana pode tanto,
ficam os seguintes elementos fundamentais Que chega a ter mais preço, e mais valia,
da comunicação: emissor, receptor (contido Que da cidade o lisonjeiro encanto;
no próprio texto) e mensagem. No poema es-
tes elementos são: Aqui descanse a louca fantasia;
a) eu lírico, liberdade e crítica ao despotismo. E o que ‘té agora se tornava em pranto,
b) poema, liberdade e crítica ao despotismo. Se converta em afetos de alegria.
c) eu lírico, povo português e crítica ao despo-
tismo. O campo como locus amoenus, livre de mazelas
d) eu lírico, liberdade e língua portuguesa. sociais e morais, foi o grande tema literá-
e) eu lírico, leitor e crítica ao despotismo. rio à época neoclássica, quando a literatura
também expressou uma resistência à Cidade,
3. (UEPA) A leitura do soneto bocageano per- considerada então violento símbolo do poder
mite afirmar que há entre a subjetividade monárquico e da corrupção moral. Interprete
do poeta e as questões sociais de Portugal as opções abaixo e assinale aquela em que
uma ampla interação comunicativa. Marque se sintetiza o modo de resistência expresso
a alternativa que comprova este comentário. nos versos de Cláudio Manuel da Costa acima
a) O eu lírico pede ao país que tenha, como ele, transcritos.
paciência para suportar o despotismo. a) apego à metrificação tradicional
b) A pátria personificada que desmaia, é com b) bucolismo e paralelismo
parável ao eu lírico frio e mudo. c) aurea mediocritas
c) O despotismo é a redenção muito esperada d) inutilia truncat
pelo eu lírico e pela sociedade portuguesa. e) fugere urbem
265
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que Texto extraído de Formação da Literatura
viva de guardar alheio gado; Brasileira, de Antonio Candido.
De tosco trato, de expressões grosseiro, No Brasil, o homem de estudo, de ambição
Dos frios gelo e dos sóis queimado. e de sala, que provavelmente era, encontrou
Tenho próprio casal e nele assisto; condições inteiramente novas. Ficou talvez
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; mais disponível, e o amor por Dorotéia de
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, Seixas o iniciou em ordem nova de senti-
E mais as finas lãs de que me visto. mentos: o clássico florescimento da prima-
Graças, Marília bela, vera no outono.
Graças à minha estrela! Foi um acaso feliz para a nossa literatura
(fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm, adaptado) esta conjunção de um poeta de meia idade
com a menina de dezessete anos. O quaren-
tão é o amoroso refinado, capaz de sentir
6. (IFSP) Pode-se afirmar que se destaca no po- poesia onde o adolescente só vê o embara-
ema: çoso cotidiano; e a proximidade da velhice
a) o racionalismo, característica do Barroco. intensifica, em relação à moça em flor, um
b) o conceptismo, característica do Arcadismo. encantamento que mais se apura pela fuga
c) o cultismo, característica do Barroco.
d) o teocentrismo, característica do Barroco. do tempo e a previsão da morte:
e) o pastoralismo, característica do Arcadismo. Ah! enquanto os destinos impiedosos não
voltam contra nós a face irada, façamos, sim,
façamos, doce amada, os nossos breves dias
7. (IFSP) A análise do trecho permite afirmar
mais ditosos.
que o eu lírico:
a) valoriza os trajes ricos da cidade.
b) despreza a vida humilde. 9. (Unifesp) Nos versos apresentados por Anto-
c) manifesta preocupação religiosa. nio Candido, fica evidente que o eu lírico:
d) valoriza os benefícios de sua vida no campo. a) Reconhece a amada como única forma de
e) apresenta a vida na cidade como mais dese- não sofrer pela morte.
jável do que a vida no campo. b) Se mostra frustrado e angustiado pela possi-
bilidade de morrer.
c) Considera o presente desagradável, tanto
8. (CFTMG)
quanto a morte iminente.
Torno a ver-vos, o montes; o destino
d) Se entrega ao amor da amada para burlar o
Aqui me torna a por nestes oiteiros;
tempo e atrasar a morte.
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
e) Convida a amada a aproveitar o presente, já
Pelo traje da Corte rico, e fino.
que a morte é inevitável.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros E.O. Teste III
Atrás de seu cansado desatino.
1. (CFTCE) “O novo mercado tende a despre-
Se o bem desta choupana pode tanto, zar o funcionário formado à moda antiga...”
Que chega a ter mais preço, e mais valia, (ref. 31). Moda antiga nos reporta a proces-
Que da cidade o lisonjeiro encanto; sos rudimentares de trabalho e à vida cam-
pesina cujos registros são, mais propriamen-
Aqui descanse a louca fantasia;
te, depreendidos da literatura:
E o que te agora se tornava em pranto,
a) árcade.
Se converta em afetos de alegria.
b) informativa.
Com relação a esse poema, não é correto afir- c) quinhentista.
mar que: d) barroca.
a) manifesta o contraste entre natureza rústica e) seiscentista.
e sofisticação cultural.
b) defende o preceito árcade do fugere urbem, 2. (Unifest) Leia os versos do poeta português
valorizando o bucolismo como ideal de vida. Bocage.
c) dirige-se a pastora amada pelo eu-lírico Vem, oh Marília, vem lograr comigo
como determina a convenção típica da poe- Destes alegres campos a beleza,
sia da época. Destas copadas árvores o abrigo.
d) revela resquícios de procedimentos caracte- Deixa louvar da corte a vã grandeza;
rísticos da estética barroca, no uso de antí- Quanto me agrada mais estar contigo,
teses e no gosto por oposições. Notando as perfeições da Natureza!
266
Nestes versos: Juízo II. “Procurando libertar a língua de
a) o poeta encara o amor de forma negativa por termos espúrios, restituindo-lhe uma so-
causa da fugacidade do tempo. briedade castiça e o rigor de sentido, é a
b) a linguagem, altamente subjetiva, denuncia revitalização do pastoralismo e bucolismo.”
características pré-românticas do autor. a) se o primeiro se referir ao BARROCO e o se-
c) a emoção predomina sobre a razão, numa gundo, ao ARCADISMO.
ânsia de se aproveitar o tempo presente. b) se o primeiro se referir ao ARCADISMO e o
d) o amor e a mulher são idealizados pelo poe- segundo, ao BARROCO.
ta, portanto, inacessíveis a ele. c) se ambos se referirem ao BARROCO.
e) o poeta propõe, em linguagem clara, que se d) se ambos se referirem ao ARCADISMO.
aproveite o presente de forma simples junto e) se ambos se referirem à LITERATURA DOS JE-
à natureza. SUÍTAS no Brasil.
E.O. Enem
1. B 2. A
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