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RESUMO
ABSTRACT
Dissociative Identity Disorder (DID) - also known as multiple personality disorder (MPD) - is
a difficult mental disorder diagnosis with diverse symptomatology and comorbidity, being
characterized by the existence of two or more distinct personalities within a single person, and
each of those personalities taking control from time to time. The film Split, by M. Night
Shyamalan presents Kevin Wendell Crumb as the protagonist, a person with dissociative
identity. Even though Kevin has evidenced 23 personalities to his trusted psychiatrist, Dr.
1
Graduanda do Curso de Psicologia da Faculdade Estácio de Macapá.
2
Graduanda do Curso de Psicologia da Faculdade Estácio de Macapá.
3
Psicólogo com Especialização em Psicologia Clínica e Avaliação e Planejamento de Políticas
Públicas; Docente do Curso de Psicologia da Faculdade Estácio de Macapá.
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Fletcher, there remains one still submerged who is set to materialize and dominate all of the
others. Compelled to abduct three teenage girls led by the willful, observant Casey, Kevin
reaches a war for survival among all of those contained within him - as well as everyone
around him - as the walls between his compartments shatter. This study deals with the
psychopathological analysis of the character Kevin through the correlation between his
disorder and the theoretical contribution. It presents, from theoretical foundation, what would
be the origin of DID in non-fictional individuals and in what way psychology perceives and
treats DID. This article consists of a bibliographical review, using qualitative research. The
results indicated that the content contributed to the knowledge of Psychology while a
profession, because in addition to having enriched the area of scientific research, it clarified
the understanding how the disorder originates and how it can be treated by the vision of
different authors, and above all, shows us that what is presented in the film is not only
elements of Hollywood films, but a satisfactory scientific background in correlation with
science.
KEYWORDS: Dissociative identity disorder. Split. Psychopathology. Psychology.
INTRODUÇÃO
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identidade se origina através de traumas ocorridos na infância”, surgiu então o interesse pela
temática e pela realização do presente artigo científico. Existem vários estudos que abordam o
transtorno dissociativo de identidade, inclusive associados a outras patologias, no entanto,
uma análise psicopatológica do personagem Kevin Wendell Crumb, voltada para a psicologia,
até a presente data de produção do artigo ainda não foi feita.
Assim, no desejo de buscar maiores conhecimentos sobre o transtorno dissociativo de
identidade presente no personagem do filme, como também em indivíduos não fictícios
presentes em nossa sociedade, sente-se a inquietação de analisar o transtorno dissociativo de
identidade presente no personagem Kevin do filme Fragmentado, com um olhar
psicopatológico, bem como delimitar a sua etiologia em indivíduos presentes em nossa
sociedade. No campo da psicologia, surge o desejo de entender como o psicólogo lida com
casos dessa natureza.
O presente artigo faz um levantamento histórico acerca das mudanças sofridas ao
longo dos anos relacionadas à nomenclatura e conceitos acerca do transtorno, desde sua
origem em meados do século XIX, até os dias atuais, em seguida, apresenta-se sua etiologia e
a forma de tratamento mais adequada e utilizada por parte dos profissionais da área da
Psicologia para com pacientes que sofrem de TDI. Apresentam-se ainda pontos específicos do
filme, através de análise minuciosa e detalhada, correlacionando aspectos do personagem
Kevin Wendell Crumb com embasamento teórico.
A relevância dessa pesquisa justifica-se pela carência de pesquisas científicas
relacionadas ao tema a nível de Brasil. Aja vista que existe uma infinidade de artigos, teses,
dissertações sobre o tema, em língua estrangeira, porém, a nível nacional, as literaturas e
pesquisas ainda são escassas. O presente estudo levanta ainda questões importantes acerca do
transtorno, a fim de proporcionar reflexões sobre um tema que ainda é desconhecido por
alguns e confundido por outros. Espera-se ainda favorecer a compreensão da sociedade em
geral e do leitor a ampliarem seus conhecimentos sobre o tema.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica que teve por objetivo realizar uma análise
fílmica do personagem Kevin Wendell Crumb através do filme Fragmentado, identificando
aspectos relacionados ao Transtorno Dissociativo de Identidade. A priori as cenas são
decompostas e posteriormente, interpretadas. Segundo Penafria (2009) O objetivo da análise
é, então, o de explicar/esclarecer o funcionamento de um determinado filme e propor-lhe uma
interpretação.
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DISCUSSÃO
1. Dissociação: de Personalidades Múltiplas ao Transtorno Dissociativo de Identidade
(TDI), Etiologia e Tratamento Psicológico.
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Sendo esta última definida como o foco principal de nossa pesquisa. Portanto,
discorreremos a seguir sobre a personalidade múltipla e suas diferentes definições, etiologia e
tratamento psicológico.
Em 1910 Sigmund Freud, juntamente com Joseph Breuer, apresentou informações que
estão em conformidade com os critérios diagnósticos atuais da personalidade múltipla ao
afirmar que numa mesma pessoa são possíveis vários agrupamentos mentais que podem se
alternar entre si em sua emersão à consciência e que podem ficar mais ou menos
independentes entre si, sem que um nada saiba do outro. Freud ainda diz que talvez o segredo
dos casos daquilo que é descrito como personalidade múltipla seja que as diferentes
identificações apoderam-se sucessivamente da consciência, podendo assim ocorrer uma
ruptura do ego, em consequência de as diferentes identificações se tornarem separadas umas
da outras através de resistências. (FREUD, 1923).
Braun, em 1986 definiu personalidade múltipla “como sendo a demonstração, em uma
pessoa, de duas ou mais personalidades, cada uma das quais possuindo identificação
particular, características contínuas e histórias de vidas separadas individualmente.”. (FARIA,
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Nos últimos anos o TDI está sendo alvo de diferentes estudos científicos após muito
tempo de negligência, devido a fatores como, à desconsideração dos efeitos das experiências
traumáticas da vida real, e o que elas acarretam na psicopatologia do transtorno. Por ser uma
condição mental recorrente de um trauma sofrido, o TDI se difere de outras condições mentais
(por vezes confundidas anteriormente, como por exemplo, o transtorno pós-traumático),
justamente por ter a dissociação como fuga necessária, pois essa dissociação surge como uma
forma de lidar com esse evento, separando o Self dele mesmo. (NASCIMENTO; SANTOS e
LOURENÇO, 2017).
Dado o exposto, o presente artigo levanta a seguinte problemática “Como se origina o
Transtorno Dissociativo de Identidade?”. A hipótese desse estudo é que “o transtorno se
origina através de traumas ocorridos na infância” pode ser confirmada por diversos autores.
Conforme nos diz Faria (2007) que a partir da década de 1970 ocorreu uma retomada de
interesse para o reconhecimento da dualidade abuso-trauma como fator predisponente,
explicativo e causal da dissociação consciencial na personalidade múltipla. O transtorno refez,
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então, seu espaço, cristalizando-se em torno da teoria dos efeitos traumáticos sofridos durante
o período infantil.
O transtorno dissociativo de identidade está associado a experiências devastadoras,
eventos traumáticos e/ou abusos ocorridos na infância. A maioria dos estudos acerca do
transtorno revela que a causa esmagadora de sua origem se dá através de experiências
traumáticas ocorridas na infância, onde o individuo para suportar toda a carga de estresse,
ansiedade e dor, acaba criando de maneira inconsciente as demais identidades como forma de
se proteger do trauma (DSM – V, 2014).
Putnam 1989; Ross 1989 e Steinberg 1989 (apud FARIA, 2016, p.44) nos dizem que a
dupla trauma/dissociação é peculiar ao TDI, e perturbações dissociativas são associadas
diretamente a fatores traumáticos. Essencialmente, não há TDI sem a presença de traumas
reais, graves, intermitentes e reincidentes. Tais traumas desencadeiam processos dissociativos,
patológicos em graus diversificados e, em consequência, a emersão de estados alterados de
consciência.
Experiências traumáticas em fases precoces da vida, como na infância, e a presença de
estressores recentes, como problemas psicossociais, dilemas ou conflitos insolúveis, tem sido
implicadas na gênese do aparecimento de sintomas conversivos e dissociativos, bem como na
perpetuação destes na ausência de resolução dos estressores envolvidos (NETO e
MARCHETTI, 2009).
Segundo Mari e Kieling (2013) a maioria dos portadores do transtorno de identidade
dissociativa é mulher, possui uma marcante história de abusos físicos ou sexuais na infância e
apresenta comorbidade com outros transtornos mentais, como transtornos de humor, outros
transtornos dissociativos e por uso de substancias.
Ao que se refere à maneira em que a psicologia trata de indivíduos com o TDI
podemos dizer que, apesar de não possuírem grande eficácia comprovada no tratamento do
TDI, várias alternativas têm sido estudadas e mesmo não entrando em consenso sobre uma
intervenção ideal, há algumas definições sobre como deve ser o projeto terapêutico desses
pacientes (MARI e KIELING, 2013), as quais descreveremos a seguir.
Segundo Gabbard (2009) o psicoterapeuta é aconselhado a desenvolver uma busca
minuciosa por manifestações das diferentes personalidades baseado em indicadores sutis de
suas atividades, o autor nos afirma que a psicoterapia do TDI requer “o tratamento respeitoso
das personalidades e de suas dificuldades ao mesmo tempo desencorajando sua autonomia e
sempre indicando que elas são partes ou aspectos de um único ser humano”. Para o autor o
psicoterapeuta deve envolver os alter egos, ou seja, as diferentes personalidades, em benefício
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acreditam que a mente consiste de múltiplos selfs ou múltiplos estados de ego, o que torna a
integração um objetivo terapêutico conceitualmente impossível e obsoleto. (GABBARD,
2009).
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Dissociativo de Identidade podem ser mais capacitados do uso total do cérebro do que um
indivíduo sem a patologia, dando-lhe poder até sob os aspectos mais basilares do seu ser,
inclusive biológicos.
A psiquiatra utiliza-se da personalidade de Barry durante o tratamento de Kevin, e
quando Barry volta a comandar o corpo de Kevin, por um breve momento ele escreve vários
emails para a Drª. pedindo ajuda. A mesma vai ao encontro de Kevin e o encontra sob a
personalidade de Dennis, que diz que não há nada errado. A Drª. não convencida do que
Dennis diz, insiste para que eles entrem e conversem. No decorrer da cena, Dennis revela a
ela que se lembra da infância de Kevin - quando ele surgiu - por conta de traumas sofridos por
Kevin, pela postura extremamente punitiva de sua mãe. Eis que então, os maiores momentos
de tensão do filme, acontecem. Dentro da casa de Kevin, que também é o esconderijo, a Drª.
Fletcher descobre que ele sequestrou as meninas que a TV havia noticiado. A partir desse
momento, Casey, Claire, Marcia e a Drª. Fletcher, cada uma a sua maneira, lutam por sua
sobrevivência, pois a vigésima quarta personalidade, a Besta, apareceu.
A Besta vem ser a vigésima quarta personalidade presente em Kevin, a mais forte,
alta e poderosa, personalidade essa que consegue escalar paredes, pular muros e pular sobre
portões sem muito esforço. Ela acredita em uma filosofia na qual afirma que todos os impuros
devem morrer, pois para ela os impuros são os que nunca sofreram. Os impuros são seu
alimento.
Com a emersão da Besta ao corpo de Kevin o filme ganha uma nova dimensão
caminhando para o desfecho da história apresentada.
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Segundo Fike (apud, FARIA 1990, p. 985, 986 e 987) cada personalidade deve ser
reconhecida e respeitada pelo que é, a fim de se desenvolver a visão do paciente como um
todo. Ainda segundo o autor alguns dos tipos mais comuns de personalidades em indivíduos
que apresentam o TDI são: a personalidade criança e adolescente, a personalidade auxiliar
com autonomia interna, personalidade perpetradora, a personalidade não-humana e a
personalidade mais velha.
Dennis seria o que o autor denomina de personalidade perpetradora que é modelada
pelo abusador e dirige o comportamento abusivo para dentro, para ferir as outras
personalidades. Independente de seu comportamento ser inaceitável, essa personalidade é
importante para a sobrevivência da criança abusada. Em uma cena Kevin está no consultório
da Drª. Fletcher, sob a personalidade Barry, porém a Drª tem certeza que ele está atuando, e
que na verdade se trata de Dennis, ali em sua frente, e o confronta. (00h54min: 40) - “Eu
pensei em algo. Quero falar sobre o incidente no trabalho. Está tudo bem, Barry. Você está
seguro. Quero que se lembre dos detalhes. Vamos falar sobre os detalhes. Uma escola de
Nova Jersey estava numa excursão no lugar que você trabalha. E duas jovens se aproximaram,
e uma pegou a sua mão, e colocou no peito sob a camisa, e a segunda fez o mesmo, depois
saíram correndo até os amigos. Você achou que era uma aposta, você disse que tinha
dezessete ou dezoito anos, e que isso te deixou triste.” Dennis (que finge ser Barry) diz:
(00h55min: 21) – “Era brincadeira de adolescente, eu entendo agora.”, e em seguida a sua fala
a Drª. prossegue: (00h55min: 24) – “Veja, esse foi o meu erro. Acredito que conversei sobre
isso muito rápido, mas você disse que estava bem. E as outras identidades com quem
conversei, disseram que estava tudo bem. Eu acredito que isso trouxe problemas de quando
era criança e foi abusado. Algumas vezes, outro incidente de abuso, causam identidades
suprimidas que se revelam. Dennis, se esse é você, eu entendo completamente, o porque de ter
que assumir e proteger os outros.” Ainda fingindo Dennis diz: (00h56min: 02) – “Doutora,
isso de novo, não.”. Porém, Drª. Fletcher o confronta mais uma vez: (00h56min: 05) – “Os
outros me disseram que você a Patrícia contaram ao grupo sobre esta besta. E contei a eles
que são histórias assustadoras, que Dennis e Patrícia contam aos outros, para assustá-los.
Como esta besta pode se rastejar pelas paredes, como os melhores escaladores usando as mãos
imperfeitas para segurar o corpo em superfícies complicadas. E como a pele é grossa como a
de um rinoceronte. Você acredita mesmo nas historias sobre a besta? Se é você, Dennis, eu
entendo porque Kevin precisa de você. Você é forte e disciplinado, meticuloso. E ninguém vai
tirar vantagem de você. Você pode confiar em mim. Por exemplo, tenho a habilidade de usar
o nome de Kevin e trazê-lo de volta, como já aconteceu. Mas não farei isso. Eu sei que isso
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seria um caos para todos. Cada um deve emergir. E não quero machucar nenhum de vocês
assim. Não precisam se esconder. Eu sei que se importa com o Kevin. Não acho que você seja
mau. Você é necessário. Dennis, é você?”. Nesse momento, a personalidade de Dennis
emerge e se apresenta pela primeira vez para a Drª. Fletcher. (00h58min: 06) - “Eles chamam
isso de ‘horda’. Os outros, sabe? Miss Patrícia e eu convivemos bem. Não somos perfeitos,
mas não merecemos ser ridicularizados. Nós todos lutamos, eles tem que admitir.” E então, a
Drª. Fletcher se emociona e diz “Estou muito feliz em conhece-lo, Denis”, eles apertam as
mão e Dennis diz: “Eu também”.
Hedwing, seria o que o autor denomina de personalidade criança e adolescente que
surge para lidar com sentimentos inaceitáveis pela personalidade original e para suportar a
violência ou abuso que a personalidade original não tolera, é o tipo mais comum de
personalidade e muitas vezes a primeira descoberta em uma terapia. No filme Kevin aparece
sob a personalidade de Hedwing, pela primeira vez para as três meninas sequestradas sentado
no chão do quarto, onde diz: (00h24min: 36) – “Meu nome é Hedwing. Eu tenho meias
vermelhas. Ele está na lua.”. Casey olha espantada e pergunta: (00h24min: 50) - “O que?”.
Hedwing responde devagar: – “Ele está na lua.” Casey pergunta: - “Quem?” Hedwing então
diz: (00h25min: 05) –“Alguém está vindo pegar você. E você não vai gostar. Vocês fazem
barulho quando dormem.” Casey pede: - “Nos diga.”. Hedwing diz: - “Eu não posso dizer.
Mas ele fez coisas horríveis com as pessoas e vai fazer coisas horríveis com vocês. Também
tenho meias azuis.”. Marcia pergunta: (00h25min: 23) – “Somos a comida dele?”. Hedwing ri
e faz um gesto de quem não sabe. Casey então pergunta quantos anos ele tem, e a resposta é
(00h25min: 33) – “Nove”. Casey diz: (00h25min: 37) – “Então você não é o cara que nos
sequestrou?” Hedwing ri e diz: - “Não”. Casey diz: - “Você não é a senhora?” Hedwing
pergunta rindo: - “Você é cega?”. Casey pergunta: - “Você não sabe o que eles pensam?”
Hedwing diz: - “Não, eles não me contam muito. Comi um hot-dog.”.
Miss Patricia, pode ser definida como a personalidade mais velha, que segundo o
autor, muitas vezes é criada para representar o papel de carinho, de paternidade ou
maternidade, servindo de protetora. No entanto, às vezes, a idade pode ser relativa de modo a
assumir a identificação do abusador ou podendo assumir qualquer dos outros papéis mais
hostis. Podemos perceber o papel de Miss Patrícia protegendo as garotas na seguinte cena em
que ela fala para as três garotas: (00h20min: 05) - “Não se preocupem. Vou falar com ele. Ele
me ouve. Ele não está bem. Ele sabe por que vocês estão aqui. Ele está proibido de tocar em
vocês. Ele sabe disso”.
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Barry seria, segundo o autor, a personalidade auxiliar com autonomia interna, que é
conhecida também como personalidade observadora ou assessora e representa a parte racional
do sistema de personalidades, tendo suas emoções controladas ou não tendo emoções. É capaz
de assistir as outras personalidades, relatar o que estão fazendo e como estão reagindo a
determinadas situações, quando existe, pode ser muito útil à terapia. Isso se traduz no filme ao
sabermos que Barry é a personalidade escolhida pela Drª. Fletcher no processo de tratamento,
e em determinada cena no consultório a Drª. Fletcher diz: (00h15min: 45) - “Sabe, de todos os
meus clientes com seu transtorno, você é o mais regular no seu trabalho”, Barry muda o
assunto e diz: (00h16min: 04) – “Quem vai cuidar de nós quando se aposentar ou falecer?
Teremos de cuidar de nós mesmos... e ninguém acredita que nós existimos.”. Nesse momento
fica claro que Barry sabe de todas as outras personalidades presentes em Kevin. Em outro
momento do filme Kevin sob a personalidade de Hedwing diz para Cassey: (00h54min: 03) –
“Quando eu durmo, um deles tenta falar com a médica para nos dedurar.”. A personalidade
Hedwing relata o que Barry faz em relação ao tratamento que mantém com a Drª.
A Besta seria o que o autor denomina de personalidade não-humana, que embora
possa parecer inacreditável, é comum em pacientes com TDI. São dois tipos de
personalidades não-humanos mais comuns: de animais e mitológicos. Exemplificando no
filme, na cena em que a Drª. Fletcher pergunta a Dennis como a Besta é, Dennis reponde:
(01h15min: 06) – “É muito maior que eu. E eu sou o maior de todos. É alto e bem musculoso.
Ele tem um longo cabelo másculo e os dedos são duas vezes mais compridos que os nossos.
Ele acredita que somos incríveis, que não somos um erro, mas uma força em potencial.”.
Segundo o autor o papel dessa personalidade é proteger o corpo, o que fica visível no filme
durante a cena em que a Besta, já emergida no corpo de Kevin diz para a Drª. Fletcher:
(01h28min: 03) – “Obrigado por nos ajudar até agora.”. A Drª. Fletcher tenta pronunciar o
nome completo de Kevin com uma faca na mão, porém não consegue. Em seguida a Besta a
agarra por trás esmagando-a, a Drª. desfere vários golpes de faca na Besta, mas o corpo da
Besta quebra a faca e não sofre dano algum.
No cativeiro, as três amigas olham pela brecha da porta, o que elas acreditam ser uma
mulher, de saia e salto, conversando com Dennis (00h19min: 23) – “Dennis. Admita o que
você fez. Não fique bravo. Diga-me. Estou ficando com medo. Achei que você tinha tudo sob
controle. Por favor, diga que não é tarde demais. A comida está esperando. Está naquele
quarto?” (00h19min: 52) – “Quantas estão lá? Não, não entre lá. Não entre lá.” Na referida
cena, Kevin está sob a personalidade de Miss Patrícia conversando com a personalidade de
Dennis. Segundo o DSM-V (2014) essas pessoas também podem relatar a escuta de vozes (p.
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ex. a voz de uma criança; a voz de uma entidade espiritual). Em alguns casos, as vozes são
vivenciadas como fluxos de pensamentos múltiplos, desconcertantes e independentes, os
quais o individuo não consegue controlar.
A Drª. Fletcher recebe vários e-mails de Barry, dizendo que eles precisam dela,
chegando ao local, Kevin não está mais sob a personalidade de Barry, mas sim sob a
personalidade de Dennis, eles entram na casa de Kevin, e Kevin sob a personalidade de
Dennis diz a Drª. que quer falar sobre Kevin e sobre o que a mãe de Kevin fez a ele, pois ele
se lembra de tudo. (01h13min: 13) – “A mãe tinha maneiras cruéis de puni-lo, enquanto
crescia.” A Drª. pergunta se foi nesse momento em que Dennis surgiu e ele diz que sim e
prossegue (01h13min: 24) – “O único jeito de disfarçar era deixando tudo impecável,
deixando tudo perfeito.” Segundo Putnam no século XX (apud FARIA) o TDI pode ser
resultado de algum desequilíbrio que afeta a personalidade, como os traumas. Indivíduos com
TDI relatam, com muita frequência, experiências de severo abuso físico e sexual,
principalmente na infância.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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