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SEDUC-CE
Comum aos Cargos de Professor Nível A:
• Arte-Educação • Biologia • Educação Física • Filosofia • Física
Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza
Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli
Leandro Filho
Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO
CURSO ONLINE
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SUMÁRIO
Administração Pública
Língua Portuguesa
Leitura e interpretação de dados e indicadores educacionais envolvendo dados e informações referentes à matrícula, à
taxa de atendimento escolar, às taxas de escolarização líquida e bruta, à taxa de distorção idade-série, às taxas de ren-
dimento (aprovação, reprovação e abandono), aos resultados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica
do Ceará - SPAECE, do Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB, Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM,
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA;........... 02
Leitura e interpretação de dados apresentados em tabelas, gráficos e mapas;.............................................................................. 12
Resolução de problemas que envolvam o cálculo de porcentagem com dados fornecidos em diferentes formatos.... 21
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
da nação. O interessante é que este grupo objetivava ser Em um cenário de intensos discursos e ações, surgem
reconhecido como base para uma sociedade capitalista, li- ideais em favor de reformas estruturais na sociedade brasi-
beral e de livre-mercado. leira. Em um primeiro momento, Paulo Freire traz a possibi-
Todavia, no pós 1930, alguns interesses educacionais lidade de compreendermos que pela educação, enquanto
da nação foram reclamados na Reforma de Capanema, e prática libertadora será possível ampliar a participação das
houve a retomada das campanhas sanitaristas, que via- massas e conduzi-las à sua organização crescente, confor-
bilizaram as Reformas no Ensino Secundário tendo como me Gadotti (1995) citando Freire:
base as orientações humanistas de caráter elitista; criação [...] as elites (intelectuais) são assistencionalistas e não
do Sistema de Ensino Profissional (Senai, Sesi, Senac, Sesc) têm receio de recorrer à repressão e ao autoritarismo quan-
direcionado ao povo visando formar mão-de-obra qualifi- do se sentem ameaçadas. Por outro lado, as classes médias
cada e, Reforma Universitária objetivando um padrão na- estão em busca de ascensão social e se apoiam nas elites.
cional de organização. Em suma, criados para incorporar a Desta forma, a solução para transformar a sociedade opres-
massa inculta ao mercado de trabalho e este efeito perma- sora está nas mãos das massas populares, “conscientes e or-
nece até hoje. ganizadas”. (GADOTTI, 1995)
Nessa perspectiva, a pedagogia do oprimido, enquan-
Por uma prática libertadora to processo, buscaria a superação de uma cultura colonial
para uma sociedade aberta. Esse movimento deveria bus-
No atravessamento de ideais, Germano (1993), diz que car a conscientização do sujeito articulado com uma práxis
desafiadora e transformadora da realidade. Para tanto, tor-
a vida política do Brasil sempre esteve enlaçada pelas For-
na-se imprescindível estabelecer um diálogo crítico hori-
ças Armadas e em especial pelo exército, principalmente
zontal (oposta ao eletismo) como condição para favorecer
a partir da segunda metade do século XIX, com a Guerra
e sustentar o amor, a humildade, a esperança, fé e confian-
do Paraguai (1865-1870), a qual revelou conflitos entre o
ça nas relações entre os sujeitos para descobrirem-se como
Exército e o Poder Imperial. Esses laços se estenderam à
sujeitos históricos no processo.
abolição da escravatura em 1888; na instauração da Re-
Em linhas gerais, Paulo Freire, conforme Gadotti (1995),
pública em 1889; cooperou para o fim da República em caracteriza duas concepções opostas de educação: a con-
1930; auxiliou no estabelecimento da ditadura de Vargas, cepção bancária literalmente burguesa, pois, o educador
período conhecido como Estado Novo; destituiu o mesmo é o que sabe e julga e os alunos meros objetos. Em con-
Vargas em 1945, bem como, esteve presente no suicídio de trapartida, a concepção problematizadora funda-se justa-
Vargas; e, instaurou o golpe de Estado de 1964. mente na relação dialógico dialética entre educador e edu-
O Estado Novo constitui-se, de acordo com Germa- cando – ambos aprendem juntos, ambos se emancipam.
no (1993), na consolidação do domínio burguês no Brasil Ser fiel a Paulo Freire significa, antes de mais nada, re-
e este movimento efetiva uma acentuada intervenção do inventá-lo e reinventar-se como ele. Nisto aliás, consiste
Estado na economia, na modernização, na educação, en- a superação (aufhebung) na dialética: não é nem a cópia
tre outros, fazendo com que os militares abandonem as e nem a negação do passado, do caminho já percorrido
posições reformistas e busquem neste momento, o forta- pelos outros. É a sua transformação e, ao mesmo tempo,
lecimento das “Forças Armadas, na segurança interna e na a conservação do que há de fundamental e original nele, e
defesa externa”. Esse deslocamento dos militares preanun- a elaboração de uma síntese qualitativa. (GADOTTI, 1995).
cia um aspecto importante do pós 64: a ideologia da Segu- Em outro movimento, de acordo com Gadotti (1995),
rança Nacional. Ou seja, é o momento do antiliberalismo e o educador e antropólogo Brandão nos apresenta a edu-
do anticomunismo. cação popular como alternativa à educação dominante e à
Devido a crise econômica e política, o início dos anos conquista de novas formas de organização de classes. Esse
60 foi crítico para as elites brasileiras. Conforme Germano deslocamento aconteceria através de uma educação como
(1993), a instabilidade e insustentabilidade do Estado em processo de humanização ao longo da vida e de maneira
criar condições favoráveis para um crescimento econômi- variada.
co e de garantir a seletividade de classe e a reprodução Então, o processo de ensino-aprendizagem não é algo
da dominação política da burguesia, em 1964 é deflagra- imposto e sim um ato de conhecimento e de transforma-
do através da participação da elite, de multinacionais, do ção social, pois, o aprender se daria a partir do conheci-
Governo dos Estados Unidos, e das Forças Armadas como mento que o aluno traz consigo, ou seja, um saber popular
executiva, o golpe, chamado pelos militares de Revolução e para o educador é estar comprometido politicamente e,
de 64. A ditadura foi consolidada enquanto processo pelos ser solidário e responsável por buscar a direção justa para
chamados Atos Institucionais - AI, por meio dos quais, os que possam em conjunto construir uma consciência cidadã
direitos civis são aluídos. Nessa brutal repressão, milhares até que o “povo assume de uma vez o leme e a direção do
de pessoas tornaram-se expatriados políticos, torturadas, barco” (GADOTTI, 1995).
mortas em nome da Segurança Nacional. Nesta perspectiva, a educação popular, será um proces-
O regime militar, deste período, realizou a Reforma so que busca na organização e na persistência, a participação
Universitária, através da Lei 5.540/68, e a Reforma do En- na formação, o “fortalecimento e instrumentalização das prá-
sino de 1° e 2° Graus, Lei 5.692/71. Nessas propostas, o ticas e dos movimentos populares, com o objetivo de apoiar
homem deverá ser adestrado para a Segurança Nacional. a passagem do saber popular ao saber orgânico, ou seja, do
saber da comunidade ao saber de classe na comunidade”.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Em uma sociedade, conforme Gadotti (1995), que se [...] Não é de estranhar, pois, que as crianças se encon-
fundamenta nos princípios da eficiência e do lucro, as pes- trem nas suas atividades e as percebam como algo delas,
soas acabam dissipando sua identidade e viram função ao mesmo tempo em que vão entendendo o meu papel de
alienada que segue às cegas as regras da moral, da ciência, organizadora e não de “dona” de suas atividades. (FREIRE,
da religião etc., que são articuladas pelo poder mágico do 1983)
discurso vigente. Creio que cabe aos professores o exercício proposto
Nesse contexto, Rubem Alves propõe a educação por Freire (1983), de se permitirem entender a espontanei-
como um espaço possível de desinstalação. Ou seja, pro- dade dos nossos alunos (crianças, jovens, adultos), enquan-
cura construir uma educação, uma escola, enquanto espa- to condição possível para desestabilizar uma pedagogia
ço de prazer e da fala. Este é o enfoque principal de Alves, atrelada desde muito tempo à autoridade, para reprodu-
citado por Gadotti (1995), a linguagem, a fala ao lado do ção homogeneizadora e, como “campo de vigilância sobre
corpo. o tempo, o espaço, o movimento, os gestos, para produzir
O educador fala com o corpo. É no corpo de cada edu- corpos submissos, exercitados e dóceis” (GADOTTI, 1995).
cador e de cada educando que estão escritas as suas histó- Na verdade, o movimento proposto e quando articula-
rias. Daí a necessidade de lê-lo e relê-lo constantemente. O do às práticas pedagógicas é dar sentido não somente para
corpo é o primeiro livro que devemos descobrir; por isso, é as atividades, mas também às relações que se constituem
preciso reaprender a linguagem do amor, das coisas belas no espaço pedagógico. Esse deslocamento chama para
e das coisas boas, para que o corpo se levante e se dispo- uma nova postura não somente ao professor, mas também
nha a lutar. ao aluno.
Mostra a importância da formação do educador com- Ao professor, conforme Gadotti (1995) citando Chauí,
prometido consigo mesmo e com o aluno, capaz de su- cabe algumas perguntas: qual há de ser a função do edu-
perar a burocratização e a uniformização a que são sub- cador atual? Como romper com essa violência chamada
metidos. Inquietando-se com o papel do saber e com a modernização? Como não cair nas armadilhas do conhecer
crescente desumanização das relações humanas. para não pensar, adquirir e reproduzir para não criar, con-
Nas palavras de Gadotti (1995), é valorizar o prazer, o sumir em lugar de realizar o trabalho de reflexão?
sentimento, a arte e a paixão na educação e na vida huma-
na. O melhor método? O método do amor é melhor do que Considerações: ampliando ideais, emancipando ideias
o racional para educar, aprender e ensinar.
E por que não nos deixarmos envolver pela paixão de Refletindo sobre os discursos, os ideais e práticas do
conhecer o mundo? Eis a proposta de prática pedagógica ontem e do hoje, salvo importantes exceções, percebe-se
de Madalena Freire, na qual é possível o exercício do diálo- a constância não somente na nossa história política, mas
go desde a primeira educação articulando conhecer e viver, também à educação voltada, nas palavras de Germano
envolvidos pela paixão. (1993), para manobras do alto, estabelecendo a conti-
O trabalho de Madalena Freire, conforme Gadotti nuidade, as restaurações, as intervenções e exclusões das
(1995), busca superar a dicotomia entre o cognitivo e o massas populares por meio do autoritarismo.
afetivo para que a educação seja um processo prazeroso. Não é para menos que a insígnia, conforme Gadotti
Nas palavras de Madalena Freire: (1995), da tradição brasileira é a influência de oligarquias
[...] o ato de conhecer é tão vital como comer ou dormir, que “compartilham” interesses para conservar o controle
e eu não posso comer ou dormir por alguém. A escola em do poder.
geral tem esta prática, a de que o conhecimento pode ser Hoje, esses conceitos e práticas se estendem e respin-
doado, impedindo que a criança e, também, os professores gam na educação com um novo figurino, uma nova e boa
o construam. Só assim a busca do conhecimento não é pre- maquiagem em nome do moderno. Todavia, modernizar
paração para nada, e sim VIDA, aqui e agora. E é vida que ainda significa, de acordo com Gadotti (1995) citando Flo-
precisa ser resgatada pela escola. restan Fernandes, reajustar as economias periféricas às es-
A partir do vivido da criança, o educador pode planejar truturas e aos dinamismos das economias centrais e é cla-
e organizar as atividades escolares sem perder a direção ro, [...] ao bom andamento dos negócios”. (GADOTTI, 1995)
pedagógica e o seu papel organizativo. As atividades se Nesta perspectiva, uma coisa é certa: de um passado
configuram a partir dos interesses das crianças, da sua vi- muito presente o pensamento pedagógico brasileiro busca
vência, para que o processo de construção do conhecimen- uma práxis, conforme Germano (2006), de resistência à do-
to e do afetivo, por exemplo, a alfabetização e a construção minação de classe, ao domínio estrangeiro, ao imperialis-
de um sistema de representação (leitura e escrita), fluam mo e à transplantação cultural, configurando-se como um
naturalmente na vida da criança para que quando adulto, a instrumento de luta em favor da identidade nacional, me-
vida possa fluir sem artifícios. diante a valorização e o fortalecimento das raízes culturais
É procurando compreender as atividades espontâneas do povo brasileiro em busca da construção de um futuro
das crianças que vou, pouco a pouco, captando os seus melhor, diferente do passado/presente.
interesses, os mais diversos. As propostas de trabalho que Todavia devemos considerar de acordo com Gadotti
não apenas faço às crianças, mas que também com elas (1995), para o qual a crise do modelo de educação voltada
discuto, expressam, e não poderia deixar de ser assim, para a rigidez e inflexibilidade não é apenas interna à es-
aqueles interesses. cola e sim de acordo com os autores Schwartzman e Brock
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
(2005), que o problema da educação no Brasil, em um pri- prática pedagógica: o que se faz e com quais objetivos se
meiro momento, estava erroneamente pautado na falta de faz. Torna-se muito importante ter um parâmetro de como
escolas, às crianças que não iam para a escola, e à carência estamos para saber o que precisamos mudar. Ninguém
de verbas. Neste sentido, foi considerada, a necessidade muda se não tem consciência do que precisa mudar. Já sa-
de construir escolas, melhores salários ao corpo docente bemos o que mudar?
e claro, convencer os pais a enviarem seus filhos à escola. Penso que se este movimento estiver, conforme Ga-
Passado alguns bons anos, nos deparamos com os dotti (1995), a construir um caminho próprio, libertando-se
reais problemas: a má qualidade das escolas, a famosa re- de um pensamento transplantado, buscando realmente a
petência e acrescento aqui a qualidade das aprendizagens. superação e transformação das dependências enraizadas
Como após tantas reformas, investimentos, e elaborações nos modelos, nos paradigmas e das teorias elaboradas em
de políticas e ações à educação, persistem ainda as eleva- outros contextos, em especial aqueles de países hegemô-
das taxas de evasão e repetência e muitas outras dificul- nicos, estaremos sim, caminhando para um comprometi-
dades? mento real para a transformação social.
Creio que muitas escolas hoje estão afastadas não de Um processo, uma luta contra si mesmo à tomada de
uma concepção democrática e libertadora. Isto porque, na consciência e contínua; o engajamento, por uma real mu-
grande maioria dos PPP das escolas, estas propostas, con- dança.
ceitos se fazem presentes na escrita. Mas, no planejamento,
na prática, no exercício diário da intervenção pedagógica Referência:
em sala de aula, esta práxis não se faz presente. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 11. ed. Rio de
Tristemente, encontramos influência de uma pedago- Janeiro: Paz e Terra, 1982.
gia, conforme Gadotti (1995), do “bom senso”, e do silên- GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro.
cio, desconectada da vida dos educadores e dos alunos. 6. ed. Editora Ática: São Paulo,1995.
“Uma vida opaca e conciliadora, e na qual é preciso ser * Texto de MÜLLER, C. A. Pensamento Pedagógico Bra-
falso, esconder interesses, montar estratégias, ser “esperto” sileiro: por uma real mudança. Revista Educação por Escrito
e “levar vantagem”” (GADOTTI, 1995). – PUCRS, v.3, n.2, dez. 2012.
Entretanto, se o Brasil precisa de mais e melhor educa-
ção, conforme previsto no Programa de Governo de Dilma 1.1 TEORIA DA EDUCAÇÃO, DIFERENTES CORREN-
Rousseff é porque a qualidade do ensino é um dos pilares TES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO.
que sustenta a proposta por meio da valorização do pro-
fessor. Valoração, renovação, ação. Eis o sentido, das for- TEORIAS EDUCACIONAIS:
mações e\ou capacitações que deverão propiciar ao pro- MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE
fessor a redescoberta da sua função e tarefa - assumidas
em juramento. As pessoas dos séculos XIX e XX no Ocidente assisti-
Fazer com que o professor saia de um monólogo e ram três grandes revoluções em teoria educacional. Nós,
busque entender as relações recíprocas existentes entre da transição do século XX para o XXI, estamos assistindo
domínio do saber e o domínio do saber fazer. Ou seja, to- uma quarta revolução. As três primeiras, como eu e ou-
mar consciência do seu verdadeiro exercício, como dina- tros historiadores da filosofia da educação às tomamos,
mizador do processo de ensinoaprendizagem e organiza- encontraram seus melhores representantes nos nomes de
dor da intervenção pedagógica. Esse processo de reflexão Herbart, Dewey e Paulo Freire. A quarta revolução, da ma-
em formação pode tornar consciente os modelos teóricos neira que vem ocorrendo, pode encontrar justificativas em
e epistemológicos que se evidenciam na sua prática, para Richard Rorty e Donald Davidson. As três primeiras foram
então refletir sobre o saber e o saber fazer. Essa situação revoluções modernas em teoria educacional. A quarta é
levará o professor a rever o que propôs e se dispor a novas uma revolução pós-moderna.
possibilidades, modificando sua proposta, dispondo-se a Cada uma dessas revoluções girou em torno da emer-
repensá-la, ou manter a mesma proposição. gência de um elemento chave na discussão entre os filóso-
Neste sentido, penso que a questão pontual para uma fos da educação.
melhor educação seja a possibilidade do professor estabe- Em Herbart, a emergência da mente. Em Dewey, a
lecer relações entre teoria e prática, assumindo seu papel emergência da democracia. Em Paulo Freire, a emergência
no processo de ensino-aprendizagem e a importância des- do oprimido. A quarta revolução, por sua vez, segue em
te trabalho ser em conjunto entre professor x aluno, pro- torno da emergência da metáfora entendida aí segundo
fessor x professor. É buscar dar sentido ao que somos ao as novas visões de Davidson lido por Rorty.
que fazemos e por que fazemos. As revoluções do passado não perderam a importância
Na verdade as colocações apresentadas nos mostram perante a revolução que está ocorrendo agora. Pertencem
o esforço para permitir um processo de ensino-aprendiza- ao passado em um sentido cronológico e não valorativo,
gem voltado à constituição de sentidos, ou seja, produzir pelo qual teriam visto a perda de relevância de seus ele-
significado mostrando ao aluno o que aquele conteúdo mentos chaves. Afinal, hoje em dia, avançamos muito em
tem a ver com a vida dele e por que é importante e como filosofia da mente e não poderíamos fazer teoria educa-
aplicá-lo em uma situação real. Chamar os professores, cional sem considerá-la. Assim, a herança de Herbart está
conforme Mello (2004), para uma reflexão sobre a própria viva. No caso de Dewey, mais ainda temos a sensação de
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
algo vivo: não passaria pela maioria das cabeças dos filósofos da educação no Ocidente preferirem a educação autoritária
no lugar da educação democrática, e talvez poucos ainda acreditem que poderia haver verdadeira educação em uma si-
tuação social não dinâmica e não livre. Fora alguns ressentidos da direita e da velha guarda marxista, aqui e ali, a maioria
dos filósofos da educação considera a democracia um chão necessário para toda e qualquer educação. Paulo Freire, por
sua vez, está presente na medida em que os países ricos se tornaram mais ricos e os países pobres mais pobres, e que o
fenômeno do aparecimento do “desenraizado”, seja ele o pobre ou o pertencente a grupos minoritários é agora também
visível mesmo onde estava prometido que desapareceria ou não surgiria: nas democracias ricas da América do Norte e
Europa. As três primeiras revoluções, portanto, não se distinguem da revolução pós-moderna em teoria da educação por
um pretenso fato de que esta última revolução teria superado tudo o que foi pensado em educação anteriormente. O
que ocorre é que a revolução pós-moderna em teoria educacional está acoplada à uma maneira de conversar, em termos
técnicos de filosofia e filosofia da educação, que desloca as filosofias da educação que justificavam as teorias educacionais
modernas, nomeadas aqui por Herbart, Dewey e Freire.
Pretende-se demostrar com isto que as teorias educacionais modernas estiveram articuladas à filosofia da educação
pré-linguistic turn. Por sua vez, a teoria da educação que melhor se insere no campo pós-moderno e, com sorte, talvez possa
vir a manter o nosso apreço pela democracia, está articulada às formas de conversação que adquirimos, em filosofia, após
a virada linguística e após a virada neopragmática. Mas as teorias educacionais não diferem apenas em suas justificativas
filosóficas. Diferem também em seus aconselhamentos e procedimentos didáticos. Como bom rortyano, não acredito que
a filosofia da educação seja o fundamento da teoria educacional. Creio que ela é apenas uma forma de discurso ad
hoc que permite melhorar nossa coerência prática e, talvez, com sorte, potencializar o que estamos fazendo. Sendo
assim, não vou aqui expor as filosofias para depois derivar delas as teorias educacionais. Ao contrário, vou expor as
diferenças entre elas e só então, posteriormente, vou mostrar de modo breve que é possível encontrarmos diferen-
tes filosofias da educação para cada uma dessas teorias educacionais.
O quadro abaixo coloca as quatro teorias educacionais aqui citadas, em seus passos didáticos, em comparação:
Antes de qualquer comentário explicativo dos passos do quadro acima, é importante ressaltar que: nenhuma dessas
formulações deve ser lida através da dualidade “diretividade versus não-diretividade”. O grande erro dos livros em teoria da
educação e didática é o de apelarem para essa divisão e, então, não mais entenderem sobre o que estão falando. Todas as
teorias educacionais acima envolvem uma exaustiva participação do professor e do estudante. Muito menos tais teorias de-
vem ser lidas através da dualidade “progressista versus não progressista». Esta, pior que a anterior, crivou alguns livros
que falavam sobre didática nos anos 80, também trazendo mais confusão que acerto e favorecendo o pensamento
esquemático que, no fundo, é sempre o anti-pensamento.
Passo 1. O processo de ensino-aprendizagem, para Herbart, começa com a preparação, que consiste na atividade que
o professor desenvolve na medida em que recorda ao aluno o assunto anteriormente ensinado ou algo que o aluno já sabe.
Dewey, por sua vez, não vê necessidade de um tal procedimento, pois ele acredita que o processo de ensino-aprendizagem
tem início quando, pela atividade dos estudantes, eles se defrontam com dificuldades e problemas, tendo então o interesse
aguçado. Paulo Freire vê o processo de ensino-aprendizagem se iniciando em um momento especial, quando o educador
está vivendo na comunidade dos educandos, observando suas vidas e participando de seus apuros pesquisando sobre a
comunidade, deixando de ser educador para ser educador-educando.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Passo 2. A teoria herbartiana diz que após a prepa- então uma tese. Ou então, opta-se por uma heurística e,
ração, o professor já pode apresentar aos alunos o novo assim, por uma conclusão, na medida em que a plausibi-
assunto, os conceitos morais, históricos e científicos que lidade das outras formulações heurísticas caiu por terra
serão a matéria do processo de ensino-aprendizagem: eles frente às exigências de coerência lógica etc. O passo final
são o carro chefe do processo mental, e são eles que pu- na teoria freireana é a tentativa de solução do problema
xam os interesses. A teoria deweyana, ao contrário, acre- apontado desde o tema gerador através da ação política,
dita que o carro chefe da movimentação psicológica são que pode inclusive ter desdobramentos práticos de ação
os interesses e que estes são despertados pelo encontro político-partidária.
com dificuldades e com a delimitação de problemas. As- Nos três casos, estamos diante de teorias educacio-
sim, para Dewey, da atividade segue-se a enumeração e nais modernas que poderiam muito bem se sentirem con-
a eleição de problemas. Paulo Freire acredita na mesma fortáveis, e assim o fizeram, na medida em que tinham
coisa que Dewey, mas ele acha que os problemas não são uma boa justificativa filosófica para assim procederem.
tão motivantes quanto os “temas geradores” as palavras Justificativas filosóficas que foram montadas pelos gran-
chaves colhidas no seio da comunidade de educandos e des movimentos do Iluminismo e do Romantismo entre os
que podem despertar a atenção destes na medida em que séculos XVII e XX. E pelo movimento keynesiano de cons-
fazem parte de suas atividades vitais. trução do Welfare State no pós-Segunda Guerra Mundial.
Passo 3. Herbart acredita que uma vez que o novo as- Herbart e Freire queriam, na formulação humanista,
sunto foi introduzido, isto é, uma vez que novas ideias e criar o homem enquanto ser capaz de se autodeterminar.
conceitos morais, históricos e científicos estão postos, eles É claro que Herbart pensava isso em termos iluministas
serão assimilados pelos alunos na medida em que estes clássicos: o homem enquanto ser que sai da menoridade
puderem ser induzidos a uma associação com as ideias e e passa a julgar as coisas pela própria razão é o homem
conceitos já sabidos. Dewey, por sua vez, nesta fase do pro- que se auto determina o verdadeiro indivíduo (Kant).
cesso de ensino-aprendizagem, está preocupado em ajudar Enquanto que Freire pensava isso em termos das vá-
os alunos na atividade de formulação de hipóteses ou ca- rias filosofias contemporâneas, com inspiração mais
minhos heurísticos para enfrentar os problemas admitidos
romântica, na vaga do existencialismo (marxista e/ou
na fase anterior. Paulo Freire, então, na medida em que já
cristão): o homem deveria deixar de ser objeto e tor-
trabalhou os temas geradores, começa a problematizá-los:
nar-se sujeito de sua própria história. Dewey, por sua
desenvolve-se aqui uma atividade de diálogo horizontal
vez, queria o bípede sem penas como ser capaz de en-
entre educador-educando e educando-educador de modo
frentar a mudança contínua própria da vida livre, a vida
que os temas geradores possam ser entendidos como pro-
democrática. Assim, para Dewey, haveria ainda um sex-
blemas, mas problema, neste caso, quer dizer problema
to passo: o próprio conjunto dos cinco passos era mais
político. A “problematização” ocorre se o tema gerador é
importante que a conclusão indicada pela hipótese que
visto nas suas relações com o poder, com a perversidade
das instituições, com a demagogia das elites etc. havia se mostrado correta. Para ele, aprender os cinco
Passo 4. Nesta fase, a teoria herbartiana acredita que passos, isto é, aprender o que ele chamava de «proce-
o aluno já aprendeu o novo por associação com o velho, dimento científico» para a resolução de problemas era,
mas que agora ele precisa sair do caso particular exposto e na verdade, «aprender a aprender» e, assim, estar pre-
traçar generalizações, abstrações, leis. O professor, é claro, parado para qualquer eventualidade da vida moderna.
pode insistir para que o aluno faça inferências e chegue en- Mais que Paulo Freire e muito mais ainda que Herbart,
tão a adotar leis, na moral e na ciência. A teoria deweyana, Dewey propôs uma filosofia da educação que era uma
nesta fase, quer alimentar as hipóteses formuladas na fase filosofia de consideração da contingência em um mun-
anterior. Sendo assim, a atividade do professor e do estu- do completamente naturalizado e historicizado. Paulo
dante agora é a de buscar nas bibliotecas e outros meios, Freire também pensava, como Dewey, que a educação
inclusive na própria memória, os dados capazes de dar uma deveria preparar para a eventualidade, só que as eventuali-
arquitetura mais empírica às hipóteses ou uma melhor ra- dades do “desenraízado” seriam mais repetitivas: elas sem-
zoabilidade aos caminhos heurísticos. Na teoria freireana pre seriam problemas políticos nos quais o “desenraízado”
este é o momento em que educador-educando e educan- estaria sendo oprimido.
do-educador, ao traçarem as relações entre suas vidas e o
poder, através da problematização dos temas geradores, A teoria educacional pós-moderna fornece outros passos:
chegam a perceber o que acontece com eles enquanto se- Passo 1. O início do processo de ensino-aprendiza-
res sociais e políticos, e então chegam à “conscientização”, gem segundo a postura pós-moderna se dá pela apre-
passam a ter consciência de suas condições na polis. sentação direta de problemas e situações problemáticas,
Passo 5. Nesta última fase, na teoria herbartiana, o ou mesmo curiosas e difíceis. Mas que tipo de problemas
aluno deve ser posto na condição de aplicar as leis, abs- e situações problemáticas? Os problemas culturais, éticos,
trações e generalizações a casos diferentes, ainda inéditos étnicos, de convivência entre gêneros, mentalidades e mo-
na situação particular, sua, de ensino-aprendizagem. Na delos políticos diferentes. Esses problemas são apresenta-
última fase, na teoria deweyana, opta-se por uma ou duas dos por diversos meios: do cinema ao romance passando
hipóteses em detrimento de outras na medida em que há pelo conto, pelos comic books, pela música, pela poesia e
confirmação destas por processos experimentais. Tem-se teatro etc.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Passo 2. Na sequência, o processo de ensino-apren- atual da filosofia, penso que a leitura dos textos de Donald
dizagem visa relacionar as situações problemáticas e os Davidson é o suficiente. Principalmente na formulação que
problemas propriamente ditos com os problemas da vida é dada por Richard Rorty.
cotidiana dos estudantes, dos seus avós e pais e, enfim, do O segredo aqui, para entendermos a postura pós-mo-
seu grupo social ou familiar ou de amigos e até mesmo derna, é perguntarmos o que é a metáfora para Davidson.
do seu país presente, passado e futuro. Aqui, o estudante Se tomamos a metáfora na sua definição tradicional,
é convidado a ser um personagem da narrativa contada veremos que a entendemos como apenas a cobertura de
no passo anterior e, ao mesmo tempo, um filósofo, isto é, um bolo. Ela seria a maneira de descrever as coisas de uma
segundo Nietzsche, um juiz dos desdobramentos internos forma que, uma vez clarificada, analisada, traria a verdade,
da narrativa. o essencial. A metáfora teria uma mensagem a ser decodi-
Passo 3. Redescrição das narrativas nas quais os pro- ficada, mensagem esta que poderia ser apreendida por
blemas estavam inseridos; isto através de outras narrativas, investigação da semântica. Assim, a metáfora teria um
de ordem ficcional, histórica, científica e filosófica. O im- conteúdo cognitivo, e poderia ser explicada.
portante aqui é que o estudante perceba que essas nar- Uma terrível objeção a essa formulação aparente-
rativas que redescrevem aquelas não estão hierarquizadas mente tranquila da metáfora, dada por Davidson, é a de
epistemologicamente. Não há uma narrativa que aprende que a metáfora não pode ser parafraseada. E que se qui-
a Realidade Como Ela É. Mas há, sim, em cada uma, jogos sermos explicar uma metáfora, certamente estaremos su-
de linguagem distintos que estão aptos, pragmaticamen- jeitos a fazer alguma construção teórica sofrível, de mal
te, para uma coisa e não outra. Se quero saber como uma gosto. Para Davidson, como Rorty e eu o lemos, a metáfo-
nave espacial funciona um bom vocabulário é o dos físi- ra não é uma mensagem, não tem um conteúdo cognitivo
cos, mas se quero dizer para minha namorada como a nave a ser decodificado. Ela é, sim, um ato inusitado no meio
atravessa os céus em uma noite estrelada creio que seria do processo comunicacional que, embora tenha efeitos de
melhor um vocabulário ficcional seria pedante e inútil para grande impacto sobre o ouvinte, não pretende lhe dizer
o namoro a explicação física! Penso que aqui deveríamos coisa alguma. É claro que uma metáfora, depois de algum
ir de Júlio Verne! Mas o erro seria achar que no segundo tempo, se for saboreada e não cuspida e esquecida, pode
caso estou no campo metafórico e no primeiro no campo então se adaptar a um jogo de linguagem existente ou for-
literal e que ambos os campos estão nitidamente delimita- jar um novo jogo de linguagem e, então, se literalizar, ou
dos. Eles são vocabulários incomensuráveis, cuja distinção seja, ganhar valor de verdade. Aliás, diga-se de passagem,
se dá pela utilização linguística que o bípede sem penas como Rorty lembra, nossa linguagem é, na sua maioria, um
faz deles. monte de metáforas mortas. Mas em um primeiro momen-
Passo 4. Neste estágio o estudante é convidado, ele to, ela não é uma explicação e não tem valor de verdade
próprio, a propor suas narrativas de redescrição das narra- na medida em que ela não está nos quadros do jogo se-
tivas em que estavam inseridos os problemas, e a discutir a mântico tradicional. Por isso mesmo, seu lançamento em
pertinência delas com os colegas, com o professor e, enfim, uma conversa é muitas vezes espontâneo, e quem a lançou
com os livros e outros meios. Este é o momento de criação, pouco sabia o que ela significava (ela não significava!). As-
de imaginação e, portanto, o auge do processo de criação sim, duvido que o movimento negro poderia, na época de
de metáforas. seu auge, explicar o que era Black is beautiful! Do mesmo
Passo 5. Por fim, o que se tem é o recolhimento das modo que agora seria uma péssima ideia tentar explicar o
ideias e sugestões vindas das narrativas e suas redescri- que é Gay is good. Não há paráfrase nem explicações para
ções para a condução intelectual, moral e estética no cam- “Gay is good”, e qualquer tentativa destrói rapidamente a
po cultural, social e político de cada um. Cabe aqui a ação metáfora e todo o movimento de impacto que ela causa
política organizada, inclusive a ação política partidária. Mas na mentalidade conservadora. Todavia, apesar de não ter
é necessário lembrar que a própria formulação de uma nar- mensagem, ela é forte o suficiente para estar envolvida
rativa e sua divulgação, a criação de uma nova metáfora com a busca de criação de novos direitos democráticos,
que não só garanta direitos democráticos, mas que invente como por exemplo a discussão, em vários países, sobre a
outros direitos, já é uma ação política. legitimidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo...
Se os professores pós-modernos e os teóricos da edu- pois, afinal, “gay is good!”.
cação quiserem uma justificativa para esses procedimen- Essa nova filosofia da educação em nada solapa os
tos, vão facilmente encontrá-los, no passado, em germe, ideais das filosofias da educação modernas, pelo contrário,
nas formulações da filosofia da linguagem e do pragma- ela os potencializa. Quem faz metáforas em prol da cria-
tismo de Nietzsche e William James. Afinal, foram eles os ção de novos direitos está, certamente, colaborando com a
pioneiros na argumentação que borrou a nítida linha que ideia humanista de que a educação é aquisição de autode-
separava o que é metafórico do que é literal. Foi Nietzsche terminação, como em Herbart. Também está favorecendo
quem, no final do século XIX, colocou a linguagem em um a diversidade e a liberdade e, portanto, está se alinhando
plano articulado ao plano social e definiu a própria verdade com Dewey na valorização da democracia. E pode forne-
como metáfora. Mas se os professores pós-modernos e os cer “autoridade semântica” para os grupos oprimidos se
teóricos da educação quiserem elaborar melhor uma filo- redescreverem e assim ganharem vez e voz na sociedade
sofia da educação mais adequada aos procedimentos dos na medida em que puderem colocar seus vocabulários al-
cinco passos acima, e para tal quiserem utilizar a linguagem ternativos, seus jogos de linguagem secundarizados, como
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
elementos também contáveis na sociedade. Com isso, colabora-se com Paulo Freire na luta por uma educação em favor
do oprimido pelo fim da opressão. A teoria educacional pós-moderna, nesta filosofia da educação, é a busca de realização
dos melhores ideais modernos.
Fonte
Disponível em http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/
Existem tendências contemporâneas no ensino de alguma forma influenciadas pelo pensamento pós-moderno? Certa-
mente sim, elas existem e aos poucos vão ocupando espaços na prática de professores embora, como de costume, com for-
tes traços de reducionismo ou modismo. Algumas dessas correntes são esforços teóricos de releitura das teorias modernas,
outras afiliam-se explicitamente ao pensamento pós-moderno focadas na escola e no trabalho dos professores, enquanto
outras utilizam-se do discurso pós-moderno sem interesse nenhum em chegar a propostas concretas para a sala de aula e
para o trabalho de professor, ao contrário, propõem-se a desmontar as propostas existentes.
Há notórias resistências a tentativas de classificação das teorias pedagógicas, boa parte delas compreensíveis. Vários seg-
mentos de intelectuais que se situam grosso modo no âmbito do pensamento pós-moderno podem alegar, dentro de seus
quadros de referência, que as classificações seguem exatamente o figurino da modernidade, da classificação de conhecimen-
tos, do fechamento em campos disciplinares. Nesse caso, as classificações se riam, por tanto, reducionismos, simplificações,
fragmentações. Em outra orientação, dir-se-á que os campos científicos em geral firmam-se muito por conta de legitimação
das concepções por meio de disputa de poder. Há ainda posições que deliberadamente de fendem o hibridismo cultural. Na
verdade, as classificações sempre existiram, independentemente das críticas que lhes são feitas, elas pertencem sim a certa
tradição da racionalidade científica. Mas, exatamente com base no argumento de que os campos se definem por relações de
poder, seria injusto e desigual que o professora do des conheces se a existência desses campos, de suas disputas e de seus
conflitos. Mesmo por que, se os des conhecem, são presas fáceis de persuasão de um ou outro grupo ou são manipulados
pelo mercado editorial que também disputa espaços de poder misturados com comércio. Há outro argumento a favor das
classificações: elas ajudam as pessoas a organizar a cabeça. Os formadores de professores, os pesquisadores, os estudiosos
das teorias educacionais e das metodologias de pesquisa, os licenciandos das várias especialidades precisam conhecer as
teorias educacionais, as clássicas e as contemporâneas, para poderem se situar teórica e praticamente enquanto sujeitos
envolvidos em marcos sociais, culturais, institucionais. Pode ser ver da de que o caminho se faz ao caminhar, mas o sujeito
inteligente terá primeiro que recorrer aos mapas, a não ser que esteja atrás de um caminho que ainda ninguém percorreu.
Outra razão forte em favor das classificações decorre de um posicionamento teórico segundo o qual as teorias, os
conteúdos, os métodos constituem-se em mediações culturais já constituídas na prática e na teoria e que fazem parte da
atividade sócio-histórica do campo pedagógico. Tais mediações são instrumentos simbólicos e culturais que participam
na formação intelectual e profissional. As classificações de teorias são, pois, instrumentos mediacionais que possibilitam
formação de esquemas mentais, quadros de referência.
O esboço de um quadro geral das correntes pedagógicas contemporâneas, proposto a seguir, de corre unicamente da
pesquisa bibliográfica e da observação da difusão de ideias em congressos, encontros e seminários. Trata-se, pois, de um
exercício teórico do qual resulta uma classificação arbitrária. Apresenta rei o quadro e, em seguida, uma breve caracteriza-
ção de cada uma das correntes.
Correntes Modalidades
Ensino de excelência
1. Racional-tecnológica
Ensino tecnológico
Construtivismo pós-piagetiano
2. Neocognivistas
Ciências cognitivas
Sociologia crítica do currículo
Teoria histórico-cultural
3. Sociocríticas Teoria sociocultural
Teoria sociocognitiva
Teoria da ação comunicativa
Holismo
Teoria da Complexidade
Teoria naturalista do
4.“Holísticas”
conhecimento
Eco pedagogia
Conhecimento em rede
Pós-estruturalismo
5. “Pós-modernas”
Neopragmatismo
Quadro 1. Quadro das correntes pedagógicas contemporâneas.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
mais candentes da nossa época como a perda do poder do que os sujeitos criam e recriam a si próprios e a sua cul-
sujeito, a docilidade às estruturas, a exploração do traba- tura, em contextos de conversação, de troca de narrativas,
lho, a degradação ambiental etc. Não há direitos universais de forma a compreender como os outros constroem seus
abstratos, mas direitos e vozes de cada grupo cultural, de significados a partir de sua vivência em contextos culturais,
cada comunidade. Hoje há muitos discursos, muitas lingua- linguísticos, interpretativos.
gens particulares que são o que interessa: a cultura local, Um agir pedagógico assentado nessa corrente rejeita
o feminismo, o pacifismo, a ecologia, o negro, o homosse- imposições, valorizando as atitudes dos professores em
xual. Ou seja, não há mais uma consciência unitária, não há suas ações e interações baseadas no diálogo; o currículo
uma referência moral, teórica na qual se baseie o desenvol- como processo que propicia a transformação pessoal, com
vimento da consciência. base na experiência que o aluno vivencia ao aprender, ao
transformar e ao ser transformado; propõe a discussão de
O pós-estruturalismo problemas humanos “edificantes”, envolvendo a solidarie-
A influência do pós-estruturalismo na educação apa- dade, a diferença, o outro, visando experiências transfor-
rece principalmente pela divulgação do pensamento de M. mativas nas pessoas. O conhecimento é aquilo que cria-
Foucault sobre as relações entre o saber e o poder nas ins- mos, interativamente, dialogicamente, conversacionalmen-
tituições educativas. O sistema educativo enquanto poder te, sempre dentro de nossa cultura e de sua linguagem. Em
cria um saber para exercer controle sobre as pessoas, razão síntese, o neopragmatismo propõe uma visão de conhe-
para lançar descrédito sobre a pedagogia, já que seu papel cimento e de construção humana em que se supera uma
é formar o sujeito da modernidade, isto é, o sujeito sub- visão individualista, estática, por outra de caráter dialógico,
misso, disciplinado, submetido ao poder do outro. O saber comunicativo, de compartilhamento com os outros, reali-
está, pois, comprometido com o poder, sendo que essas zada no mundo prático onde o conhecimento é produzido.
relações de poder estão onipresentes, exercidas nas mais
variadas instâncias como a família, a escola, a sala de aula. Referência:
Se pode existir uma pedagogia, ela será desconstrutiva dos LIBÂNEO, José Carlos. As Teorias Pedagógicas Moder-
discursos, não construtiva. Muda o papel do professor, ele nas Revisitadas pelo Debate Contemporâneo na Educação.
não pode mais ser aquele que forma a consciência crítica, Disponível em: http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/
que manipula as subjetividades dos alunos. T1SF/Akiko/03.pdf
A partir de temas centrais como o poder, a linguagem
e a cultura, o pós-estruturalismo discute questões como a 1.2 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO.
identidade/diferença, a subjetividade, os significados e as
práticas discursivas, as relações gênero-raça-etnia-sexua- Desde as décadas passadas, mais precisamente a par-
lidade, o multiculturalismo, os estudos culturais e os estu- tir do IX CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)
dos feministas (Silva, 2004). É com base em investigações e em 1998, cujo temário trazia o termo Projeto éticopolítico,
análises ligadas a esses temas que as correntes pós-críticas vem aumentando entre nós a necessidade de conhecer tal
aparecem nas estratégias pedagógico-didáticas nas esco- projeto.
las. O relativo desconhecimento do Projeto éticopolítico
pela categoria pode ser justificado pela precoce inserção
O neopragmatismo do tema no debate do Serviço Social e, ainda (e em con-
O neopragmatismo está associado à virada linguística sequência disso), pela parca produção de conhecimentos
pragmática iniciada por filósofos ligados à Filosofia Analí- acerca do tema – elemento fundamental para a socializa-
tica, seu principal representante é R. Rorty. Em oposição à ção das ideias criadas no seio de uma determinada van-
tradição positivista do conhecimento, valoriza no processo guarda, no caso a profissional.
educativo as experiências pessoais do indivíduo, a intera- Pode-se dizer que este relativo desconhecimento não
ção dialógica numa conversação aberta, contínua, intermi- eliminou a incorporação do projeto entre a categoria dos
nável. W. Doll Jr. (1997) escreve com base em Rorty que, ao assistentes sociais. Ao contrário, é inegável que traços dele
contrário de uma busca de fundamentos fora de nós para estão presentes no cotidiano dos assistentes sociais que o
avalizar nossas certezas, devemos considerar os aspectos operam nas diversas situações profissionais.
particulares das situações nas quais não há nenhum início, Mas, afinal, o que é o Projeto éticopolítico profissional
nenhum fim estabelecido. Não se trata de buscar a verdade do Serviço Social? Este brevíssimo texto apresenta os seus
estabelecida, mas de criar significados nas interações dia- traços mais gerais sem a pretensão de esgotá-los. Trata-se
lógicas pessoais e públicas com os outros, com as histórias, de texto mais informativo que dissertativo, ainda que eiva-
com os textos. Nossa única fonte de orientação é a con- do de considerações crítico-valorativas. Nele apresentare-
versação com nossos companheiros humanos, ela é o con- mos as origens históricas, o processo de consolidação e o
texto básico para compreender o conhecimento. É, pois, momento atual do projeto, quando verificaremos as pecu-
pela experiência, pelo diálogo, pela conversação, que os liaridades que o objetivam na realidade sócioprofissional.
participantes fazem escolhas racionais, que são pessoais, À guisa de introdução, vale a tentativa de destrinchar
históricas, vinculadas a uma situação concreta. O mesmo o termo projeto éticopolítico profissional. Trata-se de uma
Doll Jr. denomina essa atitude de epistemologia experien- projeção coletiva que envolve sujeitos individuais e coleti-
cial, em que o currículo é entendido como processo, em vos em torno de uma determinada valoração ética que está
12
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
intimamente vinculada a determinados projetos societários Nosso projeto éticopolítico é bem claro e explícito
presentes na sociedade que se relacionam com os diver- quanto aos seus compromissos. Ele “tem em seu núcleo
sos projetos coletivos (profissionais ou não) em disputa na o reconhecimento da liberdade como valor ético central –
mesma sociedade. a liberdade concebida historicamente, como possibilidade
de escolher entre alternativas concretas; daí um compro-
Como surgiu este projeto, quem o criou e quando foi misso com a autonomia, a emancipação e a plena expan-
criado? são dos indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto
profissional vincula-se a um projeto societário que propõe
Antes de qualquer coisa é preciso ter clareza da noção a construção de uma nova ordem social, sem dominação
de projeto coletivo na medida em que o referido projeto e/ou exploração de classe, etnia e gênero”. (Netto, 1999).
éticopolítico existe como tal. Os projetos coletivos se re- Estes valores foram construídos historicamente, como ve-
lacionam com as diversas particularidades que envolvem remos a seguir.
os vários interesses sociais presentes numa determinada
sociedade. Remetem-se ao gênero humano uma vez que, Brevíssimo histórico
como projeções sóciohistóricas particulares, vinculam-
-se aos interesses universais presentes no movimento da Desde os anos 70, mais precisamente no final daque-
sociedade. Em outras palavras, os interesses particulares la década, o Serviço Social brasileiro vem construindo um
de determinados grupos sociais, como o dos assistentes projeto profissional comprometido com os interesses das
sociais, não existem independentemente dos interesses classes trabalhadoras. A chegada entre nós dos princípios
mais gerais que movem a sociedade. Questões culturais, e ideias do Movimento de Reconceituação deflagrado nos
políticas e, fundamentalmente, econômicas articulam e diversos países latino-americanos somada à voga do pro-
constituem os projetos coletivos. Eles são impensáveis sem cesso de redemocratização da sociedade brasileira forma-
estes pressupostos, são infundados se não os remetemos ram o chão histórico para a transição para um Serviço So-
aos projetos coletivos de maior abrangência: os projetos cial renovado, através de um processo de ruptura teórica,
societários (ou projetos de sociedade). Quer dizer: os pro- política (inicialmente mais políticoideológica do que teó-
jetos societários estão presentes na dinâmica de qualquer rico-filosófica) com os quadrantes do tradicionalismo que
projeto coletivo, inclusive em nosso projeto éticopolítico. imperavam entre nós. É sabido que, politicamente, este
Os projetos societários podem ser, em linhas gerais, processo teve seu marco no III CBAS, em 1979, na cida-
transformadores ou conservadores. Entre os transforma- de de São Paulo, quando, de forma organizada, uma van-
dores há várias posições que têm a ver com as formas (as guarda profissional virou uma página na história do Serviço
táticas e as estratégias) de transformação social. Assim, te- Social brasileiro ao destituir a mesa de abertura composta
mos um pressuposto fundante do projeto éticopolítico: a por nomes oficiais da ditadura, trocando-a por nomes ad-
sua relação ineliminável com os projetos de transformação vindos do movimento dos trabalhadores. Este congresso
ou de conservação da ordem social. Dessa forma, nosso ficou conhecido como o “Congresso da Virada”.
projeto filia-se a um ou ao outro projeto de sociedade não Pode-se localizar aí a gênese do projeto éticopolítico,
se confundindo com ele. na segunda metade da década de 70. Este mesmo proje-
Mas, afinal, qual nosso projeto éticopolítico? Como ele to avançou nos anos 80, consolidou-se nos 90 e está em
é? Qual sua posição diante da ordem social? construção, fortemente tensionado pelos rumos neolibe-
Não há dúvidas de que o projeto éticopolítico do Ser- rais da sociedade e por uma nova reação conservadora no
viço Social brasileiro está vinculado a um projeto de trans- seio da profissão na década que transcorre.
formação da sociedade. Esta vinculação se dá pela própria O avanço do projeto nos anos 80 deveu-se à constru-
exigência que a dimensão política da intervenção profis- ção de elementos que o matizaram entre nós, dentre eles,
sional impõe. Ao atuarmos no movimento contraditório o Código de Ética de 1986. Nele tivemos o coroamento da
das classes, acabamos por imprimir uma direção social às virada histórica promovida pelas vanguardas profissionais.
nossas ações profissionais que favorecem a um ou a outro Tratou-se da primeira tentativa de tradução não só legítima
projeto societário. Nas diversas e variadas ações que efe- como legal (através do órgão de fiscalização profissional, o
tuamos como plantões de atendimento, salas de espera, CFAS - Conselho Federal de Assistentes Sociais, hoje CFESS)
processos de supervisão e/ou planejamento de serviços da inversão ético-política do Serviço Social brasileiro, amar-
sociais, das ações mais simples às intervenções mais com- rando seus compromissos aos das classes trabalhadoras. É
plexas do cotidiano profissional, nelas mesmas, embutimos bem verdade que soava mais como uma carta de princípios
determinada direção social entrelaçada por uma valoração e de compromissos ideopolíticos do que um código de éti-
ética específica. ca que, por si só, exige certo teor prático-normativo. Mas,
As demandas (de classes, mescladas por várias outras por outro lado, ao demarcar seus compromissos, mais que
mediações presentes nas relações sociais) que se apresen- explicitamente, não deixava dúvidas de “qual lado” estáva-
tam a nós, encobrem seus reais determinantes e as ne- mos. Nesta mesma década, aferem-se também avanços em
cessidades sociais que portam. Tendo consciência ou não, torno do projeto no que tange à produção teórica que dá
interpretando ou não as demandas de classes e suas ne- saltos significativos tanto quantitativamente quanto quali-
cessidades sociais que chegam até nós em nosso cotidiano tativamente, trazendo temas fundamentais ao processo de
profissional, dirigimos nossas ações favorecendo interesses renovação tais como a questão da metodologia, as políti-
sociais distintos e contraditórios. cas sociais e os movimentos sociais.
13
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O processo de consolidação do projeto pode ser cir- e prospectivos em relação a ele. Esta dimensão investiga-
cunscrito à década de 90 que explicita a nossa maturidade tiva da profissão tem como parâmetro a afinidade com as
profissional através de um escopo significativo de centros tendências teórico-críticas do pensamento social. Dessa
de formação (referimo-nos às pós-graduações) que ampli- forma, não cabem no projeto éticopolítico contemporâ-
ficou a produção de conhecimentos entre nós. Nesta época neo, posturas teóricas conservadoras, presas que estão aos
também se pode atestar a maturidade político-organizati- pressupostos filosóficos cujo horizonte é a manutenção da
va da categoria através de suas entidades e de seus fóruns ordem.
deliberativos. Pense-se nos CBAS’s dos anos 90 que ex- b) Dimensão político-organizativa da profissão: Aqui
pressaram um crescimento incontestável da produção de se assentam tanto os fóruns de deliberação quanto as en-
conhecimentos e da participação numérica dos assistentes tidades representativas da profissão. Fundamentalmente, o
sociais. conjunto CFESS/CRESS (Conselho Federal e Regionais de
A década que se inicia nos mostra dois processos inter- Serviço Social) a ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino
relacionados: a continuidade do processo de consolidação e Pesquisa em Serviço Social) e as demais associações po-
lítico-profissionais, além do movimento estudantil repre-
do projeto éticopolítico e as ameaças que sofre diante das
sentado pelo conjunto de CA’s e DA’s (Centros e Diretórios
políticas neoliberais que repercutem no seio da categoria
Acadêmicos das escolas de Serviço Social) e pela ENESSO
sob a forma de um neoconservadorismo profissional. (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social). É
A partir destas problematizações históricas podería- através dos fóruns consultivos e deliberativos destas enti-
mos chegar a algumas conclusões acerca do nosso projeto dades representativas que são tecidos os traços gerais do
éticopolítico profissional. Com Netto, o definiríamos da se- projeto, quando são reafirmados (ou não) determinados
guinte maneira: “Os projetos profissionais [inclusive o pro- compromissos e princípios. Assim, subentende-se que o
jeto éticopolítico do Serviço Social] apresentam a autoima- projeto éticopolítico (como uma projeção) pressupõe, em
gem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam si mesmo, um espaço democrático, aberto, em construção
socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e e em permanente tensão e conflito. Esta constatação indica
funções, formulam os requisitos (teóricos e, institucionais a coexistência de diferentes concepções do pensamento
e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o crítico, ou seja, o pluralismo de ideias no seu interior.
comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas c) Dimensão jurídico-política da profissão: Temos
da sua relação com os usuários de seus serviços, com as aqui o aparato jurídico-político e institucional da profissão
outras profissões e com as organizações e instituições so- que envolve um conjunto de leis e resoluções, documen-
ciais, privadas e públicas (...)” (1999) tos e textos políticos consagrados no seio profissional. Há
Em suma, o projeto articula em si mesmo os seguintes nessa dimensão duas esferas diferenciadas, porém arti-
elementos constitutivos: “uma imagem ideal da profissão, culadas, são elas: um aparato político-jurídico de caráter
os valores que a legitimam, sua função social e seus obje- estritamente profissional; e um aparato jurídico-político
tivos, conhecimentos teóricos, saberes interventivos, nor- de caráter mais abrangente. No primeiro caso, temos de-
mas, práticas, etc.” (Netto, 1999) terminados componentes construídos e legitimados pela
categoria tais como: o atual Código de Ética Profissional,
Componentes que materializam o projeto éticopolítico a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8662/93) e as
novas Diretrizes Curriculares recentemente aprovadas pelo
Mas o que dá materialidade ao projeto? Vimos que os MEC. No segundo, temos o conjunto de leis advindas do
profissionais individualmente podem operá-lo através das capítulo da Ordem Social da Constituição Federal de 1988
que, embora não exclusivo da categoria, foi fruto de lutas
várias modalidades interventivas da profissão, ou seja, o
que envolveram os assistentes sociais e, por outro lado, faz
projeto pode se concretizar em nossas próprias ações pro-
parte do cotidiano profissional de tal forma que pode fun-
fissionais cotidianas. No entanto, o que sistematiza essas
cionar como instrumento viabilizador de direitos através
diversas modalidades interventivas, essas variadas ações das políticas sociais que executamos e/ou planejamos.
profissionais, aparentemente isoladas, como projeto cole- Vale ressaltar que neste conjunto de leis e resoluções
tivo? Em outras palavras, que mecanismos políticos, instru- atinentes à profissão e ao seu projeto éticopolítico encon-
mentos/documentos legais e referenciais teóricos empres- tram-se realizados, direta ou indiretamente, valores que
tam não só legitimidade como também operacionalidade contornam o projeto.
prático-político e prático-normativo ao projeto? Vejamos. Essas dimensões articuladas entre elas compõem o
O entendimento dos elementos constitutivos que em- corpo material do projeto ético político profissional que,
prestam materialidade ao projeto pode se dar a partir de como foi dito, deve ser compreendido como uma constru-
três dimensões articuladas entre si, quais sejam: a) a di- ção coletiva que, como tal, tem uma determinada direção
mensão da produção de conhecimentos no interior do social que envolve, valores, compromissos sociais e princí-
Serviço Social; b) a dimensão político-organizativa da ca- pios que estão em permanente discussão exatamente por-
tegoria; c) dimensão jurídico-política da profissão. Vejamos que participante que é do movimento vivo e contraditório
cada uma delas. das classes na sociedade. O sucesso do projeto depende
a) Dimensão da produção de conhecimentos no in- de análises precisas das condições subjetivas e objetivas
terior do Serviço Social: É a esfera de sistematização das da realidade para sua realização bem como de ações polí-
modalidades práticas da profissão, onde se apresentam os ticas coerentes com seus compromissos e iluminadas pelas
processos reflexivos do fazer profissional e especulativos mesmas análises.
14
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A seguir trazemos as referências bibliográficas utiliza- aprendizagem permite ao sujeito compreender melhor as
das para a construção deste texto e uma indicação biblio- coisas que estão à sua volta, seus companheiros, a natureza
gráfica para aprofundamento do tema que foi sumaria- e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-se ao seu ambiente
mente tratado aqui. físico e social.
A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), um au-
Referência: têntico representante da abordagem cognitiva, traz con-
tribuições significativas ao processo ensino-aprendizagem,
IAMAMOTO, M.V. (1992) Renovação e Conservado- principalmente à aprendizagem desenvolvida nas escolas.
rismo no Serviço Social. São Paulo: Cortez. ______(1998) O Sendo uma teoria cognitiva, apresenta a preocupação com
Serviço Social na Contemporaneidade. São Paulo: Cortez. os processos centrais do pensamento, como organização
NETTO, J.P. (1999) “A construção do projeto éticopo- do conhecimento, processamento de informação, raciocí-
lítico contemporâneo” in Capacitação em Serviço Social e nio e tomada de decisão. Considera a aprendizagem como
Política Social. Módulo 1 – Brasília: Cead/ABEPSS/CFESS. um processo interno, mediado cognitivamente, mais do
______ (1996), “Transformações Societárias e Serviço So- que como um produto direto do ambiente, de fatores ex-
cial. Notas para uma análise prospectiva da profissão no ternos ao aprendiz. Apresenta-se como o principal defen-
Brasil”. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, Ano sor do método de aprendizagem por descoberta (insight).
XVII. No. 50, abril de 1996. A teoria de Bruner apresenta muitos pontos semelhan-
* Texto de REIS, M. B. M. dos. Notas sobre o Projeto tes às teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner considera a
éticopolítico do Serviço Social. existência de estágios durante o desenvolvimento cogniti-
vo e propõe explicações similares às de Piaget, quanto ao
processo de aprendizagem. Atribui importância ao modo
como o material a ser aprendido é disposto, assim como
Gestalt, valorizando o conceito de estrutura e arranjos de
2 A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E ideias. “Aproveitar o potencial que o indivíduo traz e va-
APRENDIZAGEM. lorizar a curiosidade natural da criança são princípios que
2.1 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO devem ser observados pelo educador”.
DIDÁTICO: PLANEJAMENTO, ESTRATÉGIAS A escola não deve perder de vista que a aprendizagem
E METODOLOGIAS, AVALIAÇÃO. de um novo conceito envolve a interação com o já apren-
2.2 A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE dido. Portanto, as experiências e vivências que o aluno traz
APRENDIZAGEM E INTERAÇÃO. consigo favorecem novas aprendizagens. Bruner chama
2.3 A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTO a atenção para o fato de que as matérias ou disciplinas
EPISTEMOLÓGICO DO FAZER DOCENTE. tais como estão organizadas nos currículos, constituem-se
muitas vezes divisões artificiais do saber. Por isso, várias
disciplinas possuem princípios comuns sem que os alunos
– e algumas vezes os próprios professores – analisem tal
2 A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E APREN- fato, tornando o ensino uma repetição sem sentido, em
DIZAGEM. que apenas respondem a comandos arbitrários, Bruner
propõe o ensino pela descoberta. O método da descober-
A aprendizagem é um processo contínuo que ocorre ta não só ensina a criança a resolver problemas da vida
durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra infân- prática, como também garante a ela uma compreensão da
cia até a mais avançada velhice. Normalmente uma criança estrutura fundamental do conhecimento, possibilitando
deve aprender a andar e a falar; depois a ler e escrever, assim economia no uso da memória, e a transferência da
aprendizagens básicas para atingir a cidadania e a partici- aprendizagem no sentido mais amplo e total.
pação ativa na sociedade. Já os adultos precisam aprender Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é que a
habilidades ligadas a algum tipo de trabalho que lhes for- criança aprenda a aprender corretamente, ainda que “cor-
neça a satisfação das suas necessidades básicas, algo que retamente” assuma, na prática, sentidos diferentes para as
lhes garanta o sustento. As pessoas idosas embora nossa diferentes faixas etárias. Para que se garanta uma apren-
sociedade seja reticente quanto às suas capacidades de dizagem correta, o ensino deverá assegurar a aquisição
aprendizagem podem continuar aprendendo coisas com- e permanência do aprendido (memorização), de forma a
plexas como um novo idioma ou ainda cursar uma faculda- facilitar a aprendizagem subsequente (transferência). Este
de e virem a exercer uma nova profissão. é um método não estruturado, portanto o professor deve
O desenvolvimento geral do indivíduo será resultado estar preparado para lidar com perguntas e situações di-
de suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das habili- versas. O professor deve conhecer a fundo os conteúdos
dades aprendidas durante as várias fases da vida. A apren- a serem tratados. Deve estar apto a conhecer respostas
dizagem está diretamente relacionada com o desenvolvi- corretas e reconhecer quando e porque as respostas alter-
mento cognitivo. nativas estão erradas. Também necessita saber esperar que
As passagens pelos estágios da vida são marcadas por os alunos cheguem à descoberta, sem apressa-los, mas ga-
constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”, diz a rantindo a execução de um programa mínimo. Deve tam-
sabedoria popular. Assim, os indivíduos tendem a melho- bém ter cuidado para não promover um clima competitivo
rar suas realizações nas tarefas que a vida lhes impõe. A que gere, ansiedade e impeça alguns alunos de aprender.
15
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O modelo de ensino e aprendizagem de David P. Au- Em nosso entendimento a escola faz parte de um con-
subel (1980) caracteriza-se como um modelo cognitivo texto que engloba a sociedade, sua organização, sua estru-
que apresenta peculiaridades bastante interessantes para tura, sua cultura e sua história. Desse modo, qualquer pro-
os professores, pois centraliza-se, primordialmente, no jeto de ensino – aprendizagem está ligado a este contexto
processo de aprendizagem tal como ocorre em sala de e ao modo de cultura que orienta um modelo de homem
aula. Para Ausubel, aprendizagem significa organização e e de mulher que pretendemos formar, para responder aos
integração do material aprendido na estrutura cognitiva, desafios desta sociedade. Por esta razão, pensamos que é
estrutura esta na qual essa organização e integração se de fundamental importância que os professores saibam
processam. que tipo de ser humano pretendem formar para esta so-
Psicólogos e educadores têm demonstrado uma cres- ciedade, pois disto depende, em grande parte, as escolhas
cente preocupação com o modo como o indivíduo apren- que fazemos pelos conteúdos que ensinamos, pela me-
de e, desde Piaget, questões do tipo: “Como surge o co- todologia que optamos e pelas atitudes que assumimos
nhecer no ser humano? Como o ser humano aprende? O diante dos alunos. De certo modo esta visão limitada ou
conhecimento na escola é diferente do conhecimento da potencializada o processo ensino-aprendizagem não de-
vida diária? O que é mais fácil esquecer?” atravessaram as pende das políticas públicas em curso, mas do projeto de
investigações científicas. Assim, deve interessar à escola formação cultural que possui o corpo docente e seu com-
saber como criança, adolescentes e adultos elaboram seu promisso com objeto de estudo.
conhecer, haja vista que a aquisição do conhecimento é a Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem
questão fundamental da educação formal. constitui-se, ao longo prazo, num projeto de formação hu-
A psicologia cognitiva preocupa responder estas ques- mana, propomos que esta formação seja orientada por um
tões estudando o dinamismo da consciência. A aprendi- processo de autonomia que ocorra pela produção autôno-
zagem é, portanto, a mudança que se preocupa com o eu ma do conhecimento, como forma de promover a demo-
interior ao passar de um estado inicial a um estado final. cratização dos saberes e como modo de elaborar a crítica
Implica normalmente uma interação do indivíduo com o da realidade existente.
meio, captando e processando os estímulos selecionados. Isto quer dizer que só há crítica se houver produção
O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão autônoma do conhecimento elaborado através de uma
bem mais abrangente do que o espaço restrito do profes- prática efetiva da pesquisa. Entendemos que é pela prática
sor na sala de aula ou às atividades desenvolvidas pelos da pesquisa que exercitamos a reflexão sobre a realidade
alunos. Tanto o professor quanto o aluno e a escola encon- como forma de sistematizar metodologicamente nosso
tram-se em contextos mais globais que interferem no pro- olhar sobre o mundo para podermos agir sobre os proble-
cesso educativo e precisam ser levados em consideração mas. Isto quer dizer que não pesquisamos por pesquisar e
na elaboração e execução do ensino. nem refletimos por refletir. Tanto a reflexão quanto à pes-
Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coisas: uma quisa são meios pelos quais podemos agir como sujeitos
visão de mundo (incluídos aqui os conteúdos da apren- transformadores da realidade social. Isto indica que nosso
dizagem) e planejamento das ações (entendido como um trabalho, como professores, é o de ensinar a aprender para
processo de racionalização do ensino). A prática de pla- que o conhecimento construído pela aprendizagem seja
nejamento do ensino tem sido questionada quanto a sua um poderoso instrumento de combate às formas de injus-
validade como instrumento de melhoria qualitativa no pro- tiças que se reproduzem no interior da sociedade.
cesso de ensino como o trabalho do professor: Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para com-
[...] a vivência do cotidiano escolar nos tem evidencia- preendermos melhor o processo em que se vivencia a
do situações bastante questionáveis neste sentido. Perce- construção do conhecimento no indivíduo.
be-se, de início, que os objetivos educacionais propostos Apresentamos as ideias básicas de Piaget sobre o de-
nos currículos dos cursos apresentam confusos e desvincu- senvolvimento mental e sobre o processo de construção
lados da realidade social. Os conteúdos a serem trabalha- do conhecimento, que são adaptação, assimilação e aco-
dos, por sua vez, são definidos de forma autoritária, pois os modação.
professores, via re regra, não participam dessa tarefa. Nes- Piaget diz que o indivíduo está constantemente intera-
sas condições, tendem a mostrar-se sem elos significativos gindo com o meio ambiente. Dessa interação resulta uma
com as experiências de vida dos alunos, seus interesses e mudança contínua, que chamamos de adaptação. Com
necessidades. sentido análogo ao da Biologia, emprega a palavra adapta-
De modo geral, no meio escolar, quando se faz refe- ção para designar o processo que ocasiona uma mudança
rência a planejamento do ensino – aprendizagem, este se contínua no indivíduo, decorrente de sua constante intera-
reduz ao processo através do qual são definidos os ob- ção com o meio.
jetivos, o conteúdo programático, os procedimentos de Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subproces-
ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação sos: assimilação e acomodação. A assimilação está relacio-
da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser nada à apropriação de conhecimentos e habilidade. O pro-
consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina cesso de assimilação é um dos conceitos fundamentais da
de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento teoria da instrução e do ensino. Permite-nos entender que
adotado pela maioria dos professores e que passou a ser o ato de aprender é um ato de conhecimento pelo qual
valorizado apenas em sua dimensão técnica. assimilamos mentalmente os fatos, fenômenos e relações
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para responder a primeira pergunta, o autor diz que há Conceito de métodos de ensino
três fontes para o professor selecionar os seus conteúdos
do plano de ensino, a primeira é a programação oficial para Um conceito simples de método é ser o caminho para
cada disciplina; a segunda, conteúdos básicos das ciências atingir um objetivo. São métodos adequados para realizar
transformados em matérias de estudo; a terceira, exigên- os objetivos. É importante entender que cada ramo do co-
cias teóricas práticas colocadas na vida dos alunos e sua nhecimento desenvolve seus próprios métodos, observa-se
inserção social. então métodos matemáticos, sociológicos, pedagógicos,
Porém, a escolha do conteúdo vai além destas três entre outros. Já ao professor em sala de aula cabe estimu-
exigências, para entendermos, tem-se que observá-las em lar e dirigir o processo de ensino utilizando um conjunto
outros sentidos. Um destes sentidos é a participação na de ações, passos e procedimentos que chamamos também
prática social; outro sentido fundamental é a prática da de método. Agora não se pode pensar em método como
vida cotidiano dos alunos, da família, do trabalho, do meio apenas um conjunto de procedimentos, este é apenas um
cultural, fornecendo fatos a serem conectados ao estudo detalhe do método. Portanto, o método corresponde à se-
das matérias. O terceiro destes sentidos refere-se à própria qüência de atividades do professor e do aluno.
condição de rendimento escolar dos alunos.
Nesta visão, há uma dimensão crítico-social dos con- A relação objetivo-conteúdo-método
teúdos, e esta se manifesta no tratamento científico dado
ao conteúdo, no seu caráter histórico, na intenção de vín- Um entendimento global sobre esta relação é que os
culo dos conteúdos com a realidade da vida dos alunos. Em métodos não têm vida sem os objetivos e conteúdos, dessa
síntese, esta dimensão crítica-social dos conteúdos nada forma a assimilação dos conteúdos depende dos métodos
mais é do que uma metodologia de estudo e interpretação de ensino e aprendizagem. Com isto, a maior característica
dos objetivos do ensino. deste processo é a interdependência, onde o conteúdo de-
Na atual sociedade, apesar do que foi visto anterior- termina o método por ser a base informativa dos objetivos,
mente, tem-se conteúdos diferentes para diversas esferas porém, o método também pode ser conteúdo quando for
e classes sociais, estas diferenças ratificam os privilégios objeto da assimilação.
O que realmente importa é que esta relação de unida-
existentes na divisão de classes já estabelecida pelo siste-
de entre objetivo-conteúdo–método constitua a base do
ma capitalista. Neste sentido, os livros didáticos oferecidos
processo didático.
no ensino das disciplinas, além de sistematizar e difundir
conhecimentos, servem também para encobrir estas di-
Os princípios básicos do ensino
ferenças, ou mesmo, escamotear fatos da realidade para
evitar contradições com sua orientação sócio-cultural–po-
Estes princípios são os aspectos gerais do processo de
lítica. Com isto, o professor deve sempre analisar os textos ensino que fundamentam teoricamente a orientação do
e livros que vai usar com os alunos, no sentido de oferecer trabalho docente. Estes princípios também e fundamental-
um ensino igualitário que possa olhar criticamente estas mente indicam e orientam a atividade do professor rumo
máscaras da sociedade. aos objetivos gerais e específicos. Estes princípios básicos
Conhecer o conteúdo da matéria e ter uma sensibilida- de ensino são:
de crítica pode facilitar esta tarefa por parte do professor. 1. Ter caráter científico e sistemático – O professor deve
buscar a explicação científica do conteúdo; orientar o estu-
Critérios de seleção do independente, utilizando métodos científicos; certificar-
-se da consolidação da matéria anterior antes de introduzir
Aqui, o autor propõe uma forma mais didática de re- as matérias novas; organizar a seqüência entre conceitos e
solver esta difícil tarefa de selecionar os conteúdos a serem habilidades; ter unidade entre objetivos-conteúdos-méto-
ministrados em sala de aula. Abaixo, coloca-se esta forma dos; organizar a aula integrando seu conteúdo com as de-
ordenada de elaborar os conteúdos de ensino: mais matérias; favorecer a formação, atitudes e convicções.
1. Correspondência entre os objetivos gerais e os con- 2. Ser compreensível e possível de ser assimilado – Na
teúdos. prática, para se entender estes conceitos, deve-se: dosar o
2. Caráter científico. grau de dificuldade no processo de ensino; fazer um diag-
3. Caráter sistemático. nóstico periódico; analisar a correspondência entre o nível
4. Relevância social. de conhecimento e a capacidade dos alunos; proporcionar
5. Acessibilidade e solidez. o aprimoramento e a atualização constante do professor.
3. Assegurar a relação conhecimento-prática – Para
OS MÉTODOS DE ENSINO oferecermos isto aos alunos deve-se: estabelecer vínculos
entre os conteúdos e experiências e problemas da vida prá-
Como já se viu anteriormente, os métodos são deter- tica; pedir para os alunos sempre fundamentarem aquilo
minados pela relação objetivo-conteúdo, sendo os meios que realizam na prática; mostrar a relação dos conheci-
para alcançar objetivos gerais e específicos de ensino. Tem- mentos com o de outras gerações.
-se, assim, que as características dos métodos de ensino: 4. Assentar-se na unidade ensino-aprendizagem – ou
estão orientados para os objetivos, implicam numa suces- seja, na prática: esclarecer os alunos sobre os objetivos das
são planejada de ações, requerem a utilização de meios. aulas, a importância dos conhecimentos para a seqüência
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
do estudo; provocar a explicitação da contradição entre (do quadro-negro até o computador) são meios de ensino
idéias e experiências; oferecer condições didáticas para o gerais possíveis de serem usados em todas as matérias. É
aluno aprender independentemente; estimular o aluno a importante que os professores saibam e dominem estes
defender seus pontos de vista e conviver com o diferen- equipamentos para poderem usá-los em sala de aula com
te; propor tarefas que exercitem o pensamento e soluções eficácia.
criativas; criar situações didáticas que ofereçam aplicar
conteúdos em situações novas; aplicar os métodos de so- Fonte
luções de problemas. LIBÂNEO. J. C. Didática. Cortez, 1994
5. Garantir a solidez dos conhecimentos
6. Levantar vínculos para o trabalho coletivo-particu- 2.1 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DIDÁTICO: PLA-
laridades individuais, deve-se adotar as seguintes medidas NEJAMENTO, ESTRATÉGIAS E METODOLOGIAS, AVA-
para isto acontecer: explicar com clareza os objetivos; de- LIAÇÃO.
senvolver um ritmo de trabalho que seja possível da tur-
ma acompanhar; prevenir a influência de particularidades PLANEJAMENTO DE ENSINO
desfavoráveis ao trabalho do professor; respeitar e saber E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
diferenciar cada aluno e seus ritmos específicos.
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário
Classificação dos métodos de ensino ainda mais desenvolver um planejamento. Neste caso, o
ensino, tem como principal função garantir a coerência en-
Sabe-se que existem vários tipos de classificação de tre as atividades que o professor faz com seus alunos e,
métodos, seguindo determinados autores, no nosso estu- além disso, as aprendizagens que pretende proporcionar
do, o autor define os métodos de ensino como estando a eles. Então, pode-se dizer que a forma de planejar deve
intimamente ligados com os métodos de aprendizagem, focar a relação entre o ensinar e o aprender.
sob este ponto de vista o eixo do processo é a relação cog- Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvol-
noscitiva entre o aluno e professor. Pode-se diferenciar es-
ver um processo de decisão sobre a atuação concreta por
tes métodos segundo suas direções, podendo ser externo
parte dos professores, na sua ação pedagógica, envolven-
e interno. A partir disto, o autor lista todos os métodos
do ações e situações do cotidiano que acontecem através
mais conhecidos de atividade em sala de aula por parte do
de interações entre alunos e professores.
professor.
O professor que deseja realizar uma boa atuação do-
1. Método de exposição pelo professor – Este método
cente sabe que deve participar, elaborar e organizar planos
é o mais usado na escola, onde o aluno assume uma posi-
em diferentes níveis de complexidade para atender, em
ção passiva perante a matéria explanada. Ele pode ser de
vários tipos de exposição: verbal, demonstração, ilustração, classe, seus alunos. Pelo envolvimento no processo ensino-
exemplificação. -aprendizagem, ele deve estimular a participação do aluno,
2. Método de trabalho independente – consiste em ta- a fim de que este possa, realmente, efetuar uma aprendiza-
refas dirigidas e orientadas pelo professor para os alunos gem tão significativa quanto o permitam suas possibilida-
resolverem de maneira independente e criativa. Este méto- des e necessidades.
do tem, na atitude mental do aluno, seu ponto forte. Tem O planejamento, neste caso, envolve a previsão de
também a possibilidade de apresentar fases com a tarefa resultados desejáveis, assim como também os meios ne-
preparatória, tarefa de assimilação de conteúdos, tarefa de cessários para os alcançar. A responsabilidade do mestre
elaborarão pessoal. Uma das formas mais conhecidas de é imensa. Grande parte da eficácia de seu ensino depende
trabalho independente é o estudo dirigido individual ou da organicidade, coerência e flexibilidade de seu planeja-
em duplas. mento.
3. Método de elaboração conjunta – é um método de O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho
interação entre o professor e o aluno visando obter novos do professor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão maior
conhecimentos. neste texto.
4. Método de trabalho de grupo – consiste em distri-
buir tarefas iguais ou não a grupos de estudantes, o autor Fases do planejamento de ensino e sua importância no
cita de três a cinco pessoas. Têm-se também formas es- processo de ensino e aprendizagem
pecíficas de trabalhos de grupos comuns: debate, Philips
66, tempestade mental, grupo de verbalização, grupo de O planejamento faz parte de um processo constante
observação (GV-GO), seminário. através do qual a preparação, a realização e o acompanha-
5. Atividades especiais – são aquelas que complemen- mento estão intimamente ligados. Quando se revisa uma
tam os métodos de ensino. ação realizada, prepara-se uma nova ação num processo
contínuo e sem cortes. No caso do planejamento de ensi-
Meios de ensino no, uma previsão bem-feita do que será realizado em clas-
se, melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfeiçoa a
São todos os meios e recursos materiais utilizados pelo prática pedagógica do professor. Por isso é que o planeja-
professor ou alunos para organizar e conduzir o ensino e mento deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para
a aprendizagem. Os equipamentos usados em sala de aula que não se torne um ato meramente burocrático, como
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
acontece em muitas escolas. A maneira de se planejar não estão e quais as dificuldades existentes. Antes de começar
deve ser mecânica, repetitiva, pelo contrário, na realização o seu trabalho, o professor deve considerar, segundo Turra
do planejamento devem ser considerados, combinados en- et alii, alguns aspectos, tais como:
tre si, os seguintes aspectos: - as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim
1) Considerar os alunos não como uma turma homo- de melhor orientar suas realizações e sua integração à co-
gênea, mas a forma singular de apreender de cada um, seu munidade;
processo, suas hipóteses, suas perguntas a partir do que já - a realidade de cada aluno em particular, objetivando
aprenderam e a partir das suas histórias; oferecer condições para o desenvolvimento harmônico de
2) Considerar o que é importante e significativo para cada um, satisfazendo exigências e necessidades biopsi-
aquela turma. Ter claro onde se quer chegar, que recorte cossociais;
deve ser feito na História para escolher temáticas e que - os pontos de referência comuns, envolvendo o am-
atividades deverão ser implementadas, considerando os biente escolar e o ambiente comunitário;
interesses do grupo como um todo. - suas próprias condições, não só como pessoa, mas
Para considerar os conhecimentos dos alunos é neces- como profissional responsável pela orientação adequada
sário propor situações em que possam mostrar os seus co- do trabalho escolar.
nhecimentos, suas hipóteses durante as atividades imple- A partir da análise da realidade, o professor tem con-
mentadas, para que assim forneçam pistas para a continui- dições de elaborar seu plano de ensino, fundamentado em
dade do trabalho e para o planejamento das ações futuras. fatos reais e significativos dentro do contexto escolar.
É preciso pensar constantemente para quem serve o
planejamento, o que se está planejando e para quê vão Definição do tema e preparação:
servir as suas ações. Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode
Algumas indagações auxiliam quando se está cons- iniciar o seu trabalho a partir de um tema, que tanto pode
truindo um planejamento. Seguem alguns exemplos: ser escolhido pelo professor, através do julgamento da ne-
- O que pretende-se fazer, por quê e para quem? cessidade de aplicação do mesmo, ou decidido juntamente
- Que objetivos pretendem-se alcançar? com os alunos, a partir do interesse deles. Planejar dentro
- Que meios/estratégias são utilizados para alcançar de uma temática, denota uma preocupação em não frag-
tais objetivos? mentar os conhecimentos, tornando-os mais significativos.
- Quanto tempo será necessário para alcançar os obje- Na fase de preparação do planejamento são previstos
tivos? todos os passos que farão parte da execução do trabalho,
- Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados? a fim de alcançar a concretização e o desenvolvimento dos
É a partir destas perguntas e respectivas respostas que objetivos propostos, a partir da análise do contexto da rea-
são determinadas algumas fases dentro do planejamento: lidade. Em outras palavras, pode-se dizer que esta é a fase
- Diagnóstico da realidade; da decisão e da concretização das ideias.
- Definição do tema e Fase de preparação; A tomada de decisão é que respalda a construção do
- Avaliação. futuro segundo uma visão daquilo que se espera obter [...]
A tomada de decisão corresponde, antes de tudo, ao esta-
Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir belecimento de um compromisso de ação sem a qual o que
que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de se espera não se converterá em realidade. Cabe ressaltar
ação educacional é necessária para isso; verificar a que dis- que esse compromisso será tanto mais sólido, quanto mais
tância se está deste tipo de ação e até que ponto se está seja fundamentado em uma visão crítica da realidade na
contribuindo para o resultado final que se pretende; propor qual nos incluímos. A tomada de decisão implica, portanto,
uma série orgânica de ações para diminuir essa distância nossa objetiva e determinada ação para tornar concretas as
e para contribuir mais para o resultado final estabelecido; situações vislumbradas no plano das ideias.
executar – agir em conformidade com o que foi proposto; e Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramente
avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada os objetivos gerais e, em seguida, os objetivos específicos.
uma das ações, bem como cada um dos documentos deles Também são selecionados e organizados os conteúdos, os
derivados”(GANDIN, 2005, p.23). procedimentos de ensino, as estratégias a serem utilizadas,
bem como os recursos, sejam eles materiais e/ou humanos.
Fases do Planejamento
Avaliação
Diagnóstico da Realidade:
Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-
atender as necessidades dos seus alunos, a primeira atitude -á:
a fazer, é “sondar o ambiente”. O médico antes de dizer a) demonstrar que a ação produz alguma diferença
com certeza o que seu paciente tem, examina-o, fazendo quanto ao desenvolvimento dos alunos;
um “diagnóstico” do seu problema. E, da mesma forma, b) promover o aprimoramento da ação como conse-
deve acontecer com a prática de ensino: o professor deve quência de sugestões resultantes da avaliação. Além disso,
fazer uma sondagem sobre a realidade que se encontram toda avaliação deve estar intimamente ligada ao processo
os seus alunos, qual é o nível de aprendizagem em que de preparação do planejamento, principalmente com seus
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
objetivos. Não se espera que a avaliação seja simplesmen- do desequilíbrio tão falado na teoria de Piaget. E é aí que
te um resultado final, mas acima de tudo, seja analisada o professor, como mediador do processo de ensino-apren-
durante todo o processo; é por isso que se deve planejar dizagem, precisa definir objetivos e os rumos da ação pe-
todas as ações antes de iniciá-las, definindo cada objetivo dagógica, responsabilizando-se pela qualidade do ensino.
em termos dos resultados que se esperam alcançar, e que Essa forma de planejar considera a processualidade da
de fato possa ser atingível pelo aluno. As atividades devem aprendizagem cujo avanço no processo se dá a partir de
ser coerentes com os objetivos propostos, para facilitar o desafios e problematizações. Para tanto, é necessário, além
processo avaliativo e devem ser elaborados instrumentos e de considerar os conhecimentos prévios, compreender o
estratégias apropriadas para a verificação dos resultados. seu pensamento sobre as questões propostas em sala de
A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está li- aula.
gada à prática do professor, o que faz com que aumente a O ato de aprender acontece quando o indivíduo atua-
responsabilidade em bem planejar. Dalmás fala sobre ava- liza seus esquemas de conhecimento, quando os compara
liação dizendo que: com o que é novo, quando estabelece relações entre o que
Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um está aprendendo com o que já sabe. E, isso exige que o
processo de ação-reflexão-ação. Em outras palavras, parte- professor proponha atividades que instiguem a curiosida-
-se do planejamento para agir na realidade sobre a qual se de, o questionamento e a reflexão frente aos conteúdos.
planejou, analisam-se os resultados, corrige-se o planejado Além disso, ao propiciar essas condições, ele exerce um
e retorna-se à ação para posteriormente ser esta novamen- papel ativo de mediador no processo de aprendizagem do
te avaliada. aluno, intervindo pedagogicamente na construção que o
Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o mesmo realiza.
planejamento de ensino, pois é através dela que se perce- Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar
bem os progressos dos alunos, descobrem-se os aspectos o planejamento como ferramenta básica e eficaz, a fim
positivos e negativos que surgem durante o processo e de fazer suas intervenções na aprendizagem do aluno. É
busca-se, através dela, uma constante melhoria na elabo- através do planejamento que são definidos e articulados
ração do planejamento, melhorando consequentemente a
os conteúdos, objetivos e metodologias são propostas e
prática do professor e a aprendizagem do aluno. Portanto,
maneiras eficazes de avaliar são definidas. O planejamento
ela passa a ser um “norte” na prática docente, pois, “faz
de ensino, portanto, é de suma importância para uma prá-
com que o grupo ou pessoa localize, confronte os resulta-
tica eficaz e consequentemente para a concretização dessa
dos e determine a continuidade do processo, com ou sem
prática, que acontece com a aprendizagem do aluno.
modificações no conteúdo ou na programação”.
Se de fato o objetivo do professor é que o aluno apren-
da, através de uma boa intervenção de ensino, planejar au-
Importância do planejamento no processo de ensino e
aprendizagem las é um compromisso com a qualidade de suas ações e a
garantia do cumprimento de seus objetivos.
Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se
deslocado para a questão de como se aprende. Frequente- Referência:
mente ouvia-se por parte dos professores, a seguinte ex- KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino
pressão: “ensinei bem de acordo com o planejado, o aluno como Ferramenta Básica do Processo Ensino-Aprendiza-
é que não aprendeu”. Esta expressão era muito comum na gem. UNICENTRO - Revista Eletrônica Lato Sensu, 2008.
época da corrente tecnicista, em que se privilegiava o en-
sino. Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refletindo 2.2 A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE APRENDI-
sobre a questão da construção do conhecimento, o ques- ZAGEM E INTERAÇÃO.
tionamento foi maior, no sentido da preocupação com a
aprendizagem. A gestão na sala de aula: uma perspectiva democrática
No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pen-
sar na questão do aprendizado. Se realmente há a preocu- A gestão da educação, entendida como tomada de
pação com a aprendizagem, deve-se questionar se a forma decisão, organização, direção e participação, acontece em
como se planeja tem em mente também o ensino, ou seja, todos os âmbitos da escola. Segundo Ferreira (2008), ela se
deve haver uma correlação entre ensino-aprendizagem. desenvolve “fundamentalmente, na sala de aula, onde con-
A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de cretamente se objetiva o projeto políticopedagógico não
uma visão construtivista como um resultado do esforço de só como desenvolvimento do planejado, mas como fon-
encontrar significado ao que se está aprendendo. E esse te privilegiada de novos subsídios para novas tomadas de
esforço é obtido através da construção do conhecimento decisões”. Para Libâneo (2004), a concepção democrático-
que acontece com a assimilação, a acomodação dos con- -participativa implica a busca de objetivos comuns pela di-
teúdos e que são relacionados com antigos conhecimentos reção, professores e demais profissionais da educação e a
que constantemente vão sendo reformulados e/ou “rees- tomada coletiva de decisões que orienta cada um a assumir
quematizados” na mente humana. com responsabilidade sua parte na execução do acordo.
Numa perspectiva construtivista, há que se levar em Assim, a gestão em sala de aula, como um prolonga-
conta os conhecimentos prévios dos alunos, a aprendiza- mento da gestão escolar, pressupõe um espaço onde, com
gem a partir da necessidade, do conflito, da inquietação e a orientação do professor, possam ser produzidos, mani-
21
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
festados e experimentados comportamentos democrá- pautadas em tais decisões, proporciona maiores possibili-
ticos. Ou seja, nesse espaço, os sujeitos serão levados a dades para o desenvolvimento de uma vivência coletiva e
agir de forma coletiva e comprometida com os interesses de uma a prática social democrática.
coletivos. Cabe aqui lembrar Paro (2007), quando afirma: A aprendizagem, razão do trabalho escolar, apesar de
“se estamos preocupados em formar cidadãos participa- ser um processo individual, acontece quando o aluno é
tivos, por meio da escola, precisamos dispor as relações e capaz de interagir socialmente e, com base nessa relação,
as atividades que aí se dão de modo a ‘marcar’ os sujeitos construir seus conhecimentos. Desse modo, a aprendiza-
que por elas passam com os sinais da convivência demo- gem da vivência social democrática, tendo início na escola,
crática”. mais especificamente na sala de aula, poderia instigar os
A sala de aula é também o espaço no qual, em deter- alunos a compartilhar experiências, relacionando-se com
minado tempo, se lida com os acontecimentos de outros posicionamento diferentes ou mesmo divergentes.
tempos e espaços, com as histórias de vida dos os sujeitos. Outro aspecto ainda deve ser considerado na discus-
A interação entre os grupos dependerá do professor, de são sobre a gestão da sala de aula: não é possível atuar
sua forma democrática de mediar as situações, possibilitan- no interior da escola, especialmente no que diz respeito
do o crescimento de todos os integrantes do grupo. Atuan- ao ensino e aprendizagem, sem se comprometer com a
do com conhecimento, organizando o espaço de convívio, educação do aluno, já que o ato de ensinar, com tudo o
planejando o trabalho a ser realizado, mediando conflitos que lhe é próprio - planejar, executar, verificar - “[...] é uma
e estabelecendo a confiança mútua, o professor tem condi- prática humana que compromete moralmente quem a rea-
ções de criar situações propícias para a internalização dos liza”. Toda prática pedagógica implica um relacionamento
conhecimentos por parte dos sujeitos e, ao mesmo tempo, intencional do professor com os alunos e dos alunos com
possibilitar o desenvolvimento de cidadãos democráticos. o conhecimento, de forma que as atividades de ensino-
A gestão democrática supõe a redefinição do papel do -aprendizagem resultem da interação dos sujeitos entre si
educador. Neste caso, cabe-lhe o papel de influenciar seus e com o objeto do conhecimento. Assim, o trabalho na sala
alunos para o envolvimento com o trabalho pedagógico. de aula requer do professor o compromisso e a ética para
Como o processo de ensino é intencional, o professor deve com os alunos e suas famílias, pois só assim será possível
explicar aos alunos os objetivos dos conteúdos curriculares instrumentalizá-los para uma participação mais efetiva na
e da aula, mostrando a importância de eles serem atingi- sociedade.
dos. A organização da sala de aula para a condução do tra-
Consideramos que o diálogo consentido, em que o balho didático, especialmente no que se refere à relação
aluno se compromete com a apropriação dos conhecimen- humana e à produção de conhecimento, exige do profes-
tos, é uma forma de despertar nele a consciência de que sor, além do domínio dos conteúdos programáticos, algu-
aprender é uma ação que não se torna possível apenas mas condições e atitudes mínimas, como autenticidade,
pela ação do professor, mas também por sua vontade. O cooperação, determinação, solidariedade e respeito mú-
professor consciente, ao desenvolver seu trabalho, alme- tuo, enfim, comportamentos considerados democráticos.
ja o desenvolvimento intelectual e moral de seus alunos e Isto porque, do nosso ponto de vista, a postura do profes-
planeja ocasiões para que ele exerça a percepção crítica da sor será um argumento capaz de convencer o educando
realidade, já que a relação de ensino e aprendizagem com sobre a importância da escola e do trabalho ali desenvol-
o educando deve favorecer a análise de valores necessários vido para sua vida.
ao convívio social. A gestão e a organização da sala de aula dependem da
Nisso se inclui a necessidade de dar feedback e ampliar construção de regras e procedimentos coletivos, do acom-
a capacidade perceptiva dos alunos, ou seja, “dar e pedir panhamento e da mediação dos comportamentos. Desta
feedback constituem habilidades essenciais para regular- maneira, é possível que a ordem seja alcançada na sala de
mos nossos desempenhos e os das pessoas com quem aula, de modo a favorecer as atividades de ensino-apren-
convivemos, visando relações saudáveis e satisfatórias”. dizagem. Também a adequação do espaço, para que os
Isso exige, por parte do professor, saber ouvir e prestar alunos construam o conhecimento, requer o envolvimento
atenção à fala e aos comportamentos dos alunos. O fee- de todos e depende da forma como o professor realiza a
dback é, portanto, um mecanismo para retomar os con- gestão da sala de aula. Portanto, a aprendizagem dos con-
ceitos apreendidos, acrescentar, fazer adequações e cor- teúdos científicos e da vivência no contexto da escola não
reções. Enfim, o professor, em seu trabalho, deve alargar prescinde do diálogo e da tomada de decisões pelo con-
os horizontes dos alunos, possibilitando-lhes uma visão junto dos sujeitos envolvidos no processo.
ampliada da realidade. Consideramos que, quando o professor planeja suas
De nossa perspectiva, para que isso ocorra, tanto a es- atividades, ele dispõe de maiores condições para assegurar
cola deve ser organizada de forma democrática, quanto ar- a qualidade do trabalho pedagógico. O papel do profes-
ticulada com a construção de uma sociedade democrática, sor é proporcionar condições para que o conhecimento
o que implica dizer que uma sociedade democrática passa, seja adquirido pelo aluno e, para isso, ele deve administrar
dentre outras coisas, pelo compromisso com a educação e bem o tempo e o espaço escolar (o ritmo, as intervenções/
com a aprendizagem do aluno. A transformação das práti- participações, os imprevistos, os obstáculos), selecionar os
cas escolares pelo processo da gestão participativa, na qual objetivos e as atividades curriculares, dosar os conteúdos
o aluno é sujeito das decisões e das ações que se realizarão e construir a convivência, sem jamais excluir os alunos que
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
criam situações de conflito, que devem ser consideradas Segundo Libâneo (1993), o ensino pode ser definido
como uma oportunidade de aprendizagem, desde que se como uma atividade conjunta de professores e alunos e
saiba tirar proveito delas. que, sob a direção dos professores, tem a finalidade de
O fazer em sala de aula envolve, ainda, antecipação, promover condições e meios para que os alunos possam
ou seja, a previsão do tempo para o desenvolvimento do assimilar conhecimentos, habilidades, atitudes e convic-
trabalho em todas as etapas. Todas as atividades requerem ções. Isto implica que o ato educativo, como o trabalho
a atenção e o acompanhamento do professor, que deve pedagógico, não pode ser neutro, pois, se assim o for, tor-
organizar e sequenciar os conteúdos, prevendo o tempo na-se uma prática sem compromisso com a promoção do
para a realização das atividades. educando, ou seja, reduz-se à mera transmissão de conteú-
A ação educativa se caracteriza pela intencionalidade dos de ensino.
de garantir a construção de conhecimentos amplos e di- Assim, o trabalho pedagógico na sala de aula deve ter
versificados e, por isso, pode ser entendida como gestão. O articulação com o projeto pedagógico da escola e com um
ato de ensinar é, também, uma ação administrativa, já que projeto social mais amplo, ou seja, sem perder de vista o
envolve planejamento, organização e coordenação. Segun- tipo de sociedade que se quer construir.
do a nova concepção de gestão, o professor não abdica Cabe ao professor, por meio do exercício da demo-
de sua autoridade, pelo contrário, faz uso dela, de forma cracia no cotidiano da relação de ensino e aprendizagem,
democrática, para que os alunos ascendam a um nível ele- promover a efetivação de uma prática dialógica, baseada
vado de assimilação dos conhecimentos sistematizados. em valores universais e de cidadania. Nesta perspectiva,
A gestão da escola é um compromisso que exige dire- podemos dizer que a ação educativa orienta-se pela in-
tividade para se executar o que se planejou e alcançar os tencionalidade de garantir a construção de conhecimentos
objetivos estabelecidos no Projeto Político Pedagógico da amplos e diversificados, podendo ser entendida como ges-
escola. Na sala de aula, o professor dá continuidade ao que tão. Como já afirmamos, o ato de ensinar é, também, uma
foi definido coletivamente, realizando um trabalho que re- ação administrativa e, portanto, requer do professor uma
quer tanto solidariedade em compartilhar poder e respon- tomada de decisão tanto na realização do planejado quan-
sabilidades, quanto capacidade de decisão. No entanto,
to na organização do espaço e na condução do processo
para desempenhar essas funções, seja na sala de aula seja
de ensino.
no âmbito mais amplo da instituição escolar, da organiza-
Para que os conteúdos sejam assimilados pelos alunos,
ção e gestão do trabalho escolar, o professor necessita ter
a disciplina é fator primordial. Isso requer que o professor,
conhecimentos sobre esse aspecto da educação.
ao planejar a aula, selecione e organize de forma intencio-
Com base nos dados acima, poderíamos concluir que
nal e sistemática os procedimentos que irá utilizar. Dessa
a gestão democrática, ao mesmo tempo em que reflete a
oposição ao centralismo e ao autoritarismo, traz novos de- forma, ele orienta a conduta que os alunos devem adotar
safios para a organização e gestão do trabalho escolar e para desenvolver as atividades de ensino-aprendizagem,
pedagógico. de forma a garantir a apropriação do saber sistematizado.
Para construirmos uma gestão verdadeiramente de- Segundo Machado, a investigação tradicional sobre o
mocrática é necessário, do ponto de vista da organização ensino não se preocupava tanto com a gestão e a orga-
e gestão do trabalho escolar, não só nos envolvermos na nização da sala de aula. No entanto, “atualmente, debru-
discussão, no diálogo, na tomada de decisões e nas ações ça-se não só sobre o modo como a ordem é estabelecida
coletivas, mas também visarmos os interesses coletivos. e mantida, como também sobre os processos que contri-
Dentro dessa concepção de organização do trabalho pe- buem para o seu estabelecimento, tais como a planificação
dagógico, para criar oportunidades para a transmissão e e organização das aulas, o uso e distribuição de recursos,
apropriação dos conhecimentos historicamente produzi- o estabelecimento e explicitação das regras, a reação ao
dos, é necessário que os profissionais da educação tenham comportamento individual e de grupo, o enquadramento
clareza das finalidades da educação e dos objetivos que em que esta é atingida”.
deverão nortear seu trabalho. Só assim a escola cumprirá Para a autora, essa preocupação decorre do fato de que
sua função para com a sociedade. é na sala de aula que se desenvolve a maior parte do pro-
Para Saviani (2008), “é preciso, pois, resgatar a impor- cesso ensino-aprendizagem, processo que, segundo ela,
tância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levan- apresenta duas tarefas estruturais: aprendizagem e ordem.
do em conta o problema do saber sistematizado, a partir “A aprendizagem, de natureza individual, concretiza-se
do qual se define a especificidade da educação escolar”. através da instrução, tendo por referência um currículo que
No entanto, essa reorganização escolar, que deveria os alunos devem dominar, persistindo nos seus esforços
assegurar aos alunos o acesso ao conhecimento científico para aprender”. De acordo com Doyle, “a ordem realiza-se
e à cultura socialmente produzida, depende da atuação de pela função de gestão, isto é, pela organização de grupos
todos os setores da escola, orientados e incentivados pelo na sala, estabelecimento de regras e procedimentos, rea-
diretor, como gestor democrático. gindo ao mau comportamento, monitorizando e ritmando
Quanto à sala de aula, o professor gestor tem que ser os acontecimentos da sala de aula”. Assim, estas duas ta-
um profissional comprometido com o que foi estabelecido refas estruturais do ensino, na prática, não se separam, o
pelo coletivo da escola e, ao mesmo tempo, ser capaz de que significa que, “uma boa gestão e organização da sala
construir o espaço adequado à aprendizagem dos conteú- de aula é uma condição para que a aprendizagem possa
dos. ocorrer, dado que o envolvimento dos alunos no trabalho
23
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
está relacionado com a forma como os professores gerem Apesar dos limites e dificuldades, as mudanças educa-
as estruturas da sala de aula, mais do que com a forma tivas dependem dos múltiplos fatores que atuam de forma
como lidam com comportamentos individuais”. sistemática. No entanto, para finalizar, vale lembrar que
Outro aspecto a ser ressaltado é que a aprendizagem “reconhecer o caráter sistemático não significa que seja
da vivência democrática se inicia na escola, mais especifi- necessário ou possível modificar tudo ao mesmo tempo.
camente na sala de aula, pois é no trabalho cotidiano com Significa antes que, em determinado momento, é preciso
os alunos que os princípios democráticos se instauram e se responsabilizar-nos pelas consequências da modificação
reafirmam. de um elemento especifico sobre os restantes fatores”.
Entendemos que estabelecer uma melhor comunica-
ção com os alunos e suas famílias viabilizará a definição Referência:
dos objetivos da instituição escolar, já que estes orientarão STEDILE, M. I. O professor como gestor da sala de aula.
o trabalho de todos os componentes da escola e também o UEM, 2008.
que ocorrerá na sala de aula, local onde se concretizam os
objetivos propostos no Projeto Político Pedagógico. Como 2.3 A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTO EPISTEMO-
a escola é o ambiente que vai formar o educando para LÓGICO DO FAZER DOCENTE.
as atitudes necessárias à sua participação em sociedade,
a realização dos objetivos estabelecidos no P.P.P. requer Conceituando Didática
o envolvimento de todos, especialmente dos alunos. Des-
se modo, consideramos que o grêmio estudantil, quando A palavra didática vem do grego (techné didaktiké),
bem orientado, pode favorecer a organização dos alunos, que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. A
construindo novas relações e promovendo a conscientiza- didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos métodos
ção, fatores que contribuem para o bom andamento das e técnicas de ensino, destinados a colocar em prática as
atividades na escola e na sala de aula. diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os di-
Além disso, devem-se promover reuniões periódicas ferentes processos de ensino e aprendizagem. O educa-
com o Conselho Escolar, para verificação das necessida-
dor Jan Amos Komenský, mais conhecido por Comenius,
des da escola e análise do cumprimento do cronograma
é reconhecido como o pai da didática moderna, e um dos
estabelecido, tendo em vista a consecução dos objetivos
maiores educadores do século XVII.
propostos pelo coletivo da escola no Projeto Político Pe-
A palavra “didática” se encontra inserida a uma expres-
dagógico.
são grega que se traduz por técnica de ensinar. É interes-
A prática democrática, no entanto, abarca aspectos
sante conhecer que desde uma perspectiva etimológica a
muito diferentes e a sua realização não depende apenas da
escola e dos educadores. Embora os professores precisem palavra “didática” na sua língua de origem, destacava a rea-
buscar construir o espaço necessário ao desenvolvimento lização lenta de um acionar através do tempo, própria do
de seu trabalho, não compete só a eles forjar essas condi- processo de instruir. O vocábulo didático aparece quando
ções. Não podemos simplesmente culpar o professor, que os adultos começam a intervir na atividade de aprendiza-
já tem sido penalizado pela situação em que se encontra a gem das crianças e jovens através da direção deliberada e
educação. As práticas docentes, para serem transformado- planejada do ensino – aprendizagem.
ras, precisam do respaldo de políticas educacionais com- O termo “didático” aparece somente quando há a in-
prometidas com o conjunto da sociedade, da qual profes- tervenção intencional e planejada no processo de ensino-
sores e alunos fazem parte. -aprendizagem, deixando de ser assim um ato espontâneo.
A concretização de uma escola pública democrática, A escola se torna assim, um local onde o processo de
como fator indispensável à realização de um ensino de qua- ensino passa a ser sistematizado, estruturando o ensino de
lidade, exige condições de trabalho para os professores. A acordo com a idade e capacidade de cada criança. O res-
valorização do professor compreende salários adequados, ponsável pela “teorização” da didática será Comênio:
menor número de alunos em sala de aula, remuneração A formação da teoria da didática para investigar as li-
das horas dedicadas ao acompanhamento e recuperação gações entre ensino aprendizagem e suas leis ocorre no
dos alunos em defasagem de conteúdos, maior apoio da século XVII, quando João Amós Comênio (1592-1670), um
direção, acompanhamento do trabalho pela equipe peda- pastor protestante, escreve a primeira obra clássica sobre
gógica e maior integração família e escola. didática, a Didática Magna (LIBÂNEO, 1994).
Apesar do esforço para que a escola se preserve como Foi o primeiro educador a formular a ideia da difu-
instituição importante para a sociedade, consideramos que são dos conhecimentos educativos a todos, criou regras
os resultados verificados correspondem às condições que fo- e princípios de ensino, desenvolvendo um estudo sobre a
ram oportunizadas aos professores. Assim, compartilhamos didática. Suas ideias eram calcadas na visão ética religiosa,
o mesmo ponto de vista de Pimenta. De acordo com ela: mesmo assim eram inovadoras para a época e se contrapu-
Podemos dizer que o trabalho docente é uma práxis nham ás ideias conservadoras da nobreza e do clero, que
em que a unidade teoria se caracteriza pela ação reflexão exerciam uma grande influência naquele período. Algu-
– ação [...] Este pensar reflete o ser humano enquanto ser mas das principais características da didática de Comênio,
histórico, ou seja, o pensar do professor é condicionado segundo Libâneo (1994) eram de que a educação era um
pelas possibilidades e limitações pessoais, profissionais e elo que conduzia a felicidade eterna com Deus, portanto, a
do contexto em que atua. educação é um direito natural de todos, a didática deveria
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
estudar características e métodos de ensino que respeitem mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas,
o desenvolvimento natural do homem, a idade, as percep- menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem,
ções, observações; deveria também ensinar uma coisa de mais paz, mais tranquilidade.
cada vez, respeitando a compreensão da criança, partindo De certo modo podemos dizer que a Didática é uma
do conhecido para o desconhecido. ciência cujo objetivo fundamental é ocupar-se das estraté-
As ideias de Comênio, infelizmente não obtiveram re- gias de ensino, das questões práticas relativas à metodolo-
percussão imediata naquela época (século XVII), o mode- gia e das estratégias de aprendizagem.
lo de educação que prevalecia era o ensino intelectualis- Ao longo do estudo sobre o processo de ensino na es-
ta, verbalista e dogmático, os ensinamentos do professor cola podemos observar a relação entre o ensino e a apren-
(centro do ensino) eram baseados na repetição mecânica dizagem através da atividade do professor em relação a do
e memorização dos conteúdos, o aluno não deveria parti- aluno. Desta forma a didática se manifesta no contexto de
cipar do processo, o ensino separava a vida da realidade. se organizar o ensino; de maneira que se tracem os objeti-
Com o passar dos anos e o desenvolvimento da so- vos, estipulando os métodos a serem seguidos e planejan-
ciedade, da ciência e dos meios de produção, o clero e a do as ações conjuntas dentro da escola.
nobreza foram perdendo aos poucos seus “poderes”, en- Dentro dessa perspectiva percebemos que “a atividade
quanto crescia o da burguesia. Essas transformações fize- de ensinar é vista, comumente, como transmissão de ma-
ram crescer a necessidade de um ensino ligado ás exigên- téria aos alunos, realização de exercícios repetitivos, me-
cias do mundo atual, que contemplasse o livre desenvol- morização de definições e fórmulas”. Essa caracterização
vimento das capacidades e dos interesses individuais de de ensino é vista em muitas escolas em que o professor é o
cada um. elemento ativo que fala, interpreta e transmite o conteúdo;
Jean Jacques Rousseau (1712–1778) foi um pensador levando ao aluno à tarefa de reproduzir mecanicamente
que percebeu essas novas necessidades e propôs uma o que absorveu; o que na visão de Libâneo é chamado de
nova concepção de ensino, baseada nos interesses e ne- “ensino tradicional”.
cessidades imediatas da criança, sendo esse o centro de Concordamos com o autor quando diz que o professor
suas ideias. não proporcionar através desse método o desenvolvimen-
Enquanto Comênio, ao seguir as “pegadas da nature- to individual de conhecimento; com isso é observável que
za”, pensava em “domar as paixões das crianças”, Rousseau o livro didático é feito para ser vencido, o trabalho do pro-
parte da ideia da bondade natural do homem, corrompido fessor fica restrito às paredes de sala de aula, a realidade;
pela sociedade. assim como o nível e condições que o aluno é submetido
Veiga diz que “[...] dessa forma não se poderia pensar para chegar até o conhecimento não são levados em conta.
em uma prática pedagógica, e muito menos em uma pers- Nesse contexto a Didática é de extrema importância
pectiva transformadora na educação”. A metodologia de para um bom funcionamento e desenvolvimento do traba-
ensino (didática) era entendida somente como um conjun- lho na escola de forma que ela organiza e planeja as ativi-
to de regras e normas prescritivas que visam a orientação dades do professor em relação aos alunos visando alcan-
do ensino e do estudo. çar seus objetivos, desenvolvimento de habilidades; como
Após os jesuítas não ocorreram no país grandes mo- também hábitos e o conhecimento intelectual.
vimentos pedagógicos, a nova organização instituída por
Pombal representou pedagogicamente, um retrocesso no A didática como fator de qualidade no processo de ensi-
sistema educativo, pois professores leigos começaram a no e aprendizagem
ser admitidos para ministrar “aulas-régias”, introduzidas
pela reforma pombalina. O processo de ensino deve ter como ponto de partida
Para Veiga dada a predominância da influência da pe- o nível de conhecimento, as experiências que proporcio-
dagogia nova na legislação educacional e nos cursos de nam uma transmissão progressiva das capacidades cogniti-
formação para o magistério, o professor absorveu seu vas como intelectuais; o que liga o ensino à aprendizagem.
ideário. Nesse contexto a história da Didática e a prática escolar
Segundo Libâneo (1994) “um entendimento crítico da presente tende a separar os conteúdos de ensino do de-
realidade através do estudo das matérias escolares...”, e senvolvimento de capacidades e habilidades; configuradas
assim os alunos podem expressar de forma elaborada os também como aspecto material e formal do ensino. Desta
conhecimentos que correspondem aos interesses prioritá- forma percebemos que o ensino une dois aspectos pelo
rios da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas sociais, fato de que a assimilação de conteúdos requer desenvolvi-
ou seja, defender seus ideais de acordo com sua realidade. mento de capacidades e habilidades cognoscitivas.
Comênio acreditava poder definir um método capaz É importante ressaltar que o processo de ensino faz a
de ensinar tudo a todos, ou como ele cita em sua obra “a interação entre dois momentos fundamentais: a transmis-
arte de ensinar tudo a todos” e esclarece: são e assimilação ativa tanto de conhecimentos quanto de
A proa e a popa de nossa Didática será investigar e habilidades. Com isso cabe ao professor a tarefa de ensinar
descobrir o método segundo o qual os professores ensi- de modo que se tenha organização didática dos conteúdos
nem menos e os estudantes aprendam mais: nas escolas que venha a promover condições assimiláveis de aprendi-
haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inú- zagem; de forma que ele controle e avalie as atividades.
til, e, ao contrário, haja mais recolhimentos, mais atrativo e Nesse sentido, Planejamento de ensino é o processo de
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
decisão sobre atuação concreta dos professores, no coti- mente já estará diante da realidade de sala de aula para
diano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e poder perceber se o que aprende é realmente válido ou
situações, em constantes interações entre professor e alu- não, e poder questionar e cobrar seus aprendizados em
nos e entre os próprios alunos. sala de aula.
O professor, portanto, planeja, controla, facilita e orien-
ta o processo de ensino; de maneira que estimula o de- Referência:
senvolvimento de atividades próprias dos alunos para a AMANDA, ALESSANDRA. A Didática como Fator de
aprendizagem. Qualidade no Processo de Ensino Aprendizagem. Texto
Essa interação de acordo com o autor é que promove disponível em:
a situação de ensino aprendizagem; ela é denominada de http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/traba-
“aprendizagem organizada” por ter uma finalidade especi- lhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_1527_6e4e9e-
fica onde as atividades são organizadas intencionalmente, d0364cf72866c1c7293edfca21.pdf
com planejamento e de forma sistemática. Porém há por
outro lado a “aprendizagem casual” definida como uma A DIDÁTICA COMO DISCIPLINA NA FORMAÇÃO
forma espontânea que surge naturalmente da interação DO PROFESSOR
entre pessoas com o meio; isto é ressaltado pelo fato de
que a observação, experiência e acontecimentos do coti- Considerada uma ciência que estuda os saberes ne-
diano proporcionam também aprendizagem e que isto cessários à prática docente a Didática é um dos principais
deve ser observado pelo professor de forma que se possa instrumentos para a formação do professor, pois é nela que
utilizar didaticamente. se baseiam para adquirir os ensinamentos necessários para
A aprendizagem escolar também está vinculada com a prática. De acordo com Libâneo (1990, p. 26) “a didática
a motivação dos alunos tanto para atender necessidades trata da teoria geral do ensino”. Como disciplina é entendi-
orgânicas ou sócias; quanto para atender exigências da da como um estudo sistematizado, intencional, de investi-
escola, da família e até mesmo dos colegas. Essa aprendi- gação e de prática (LIBÂNEO, 1990).
zagem resulta da reflexão proporcionada pela percepção Ainda, nesta mesma linha de pensamento, Pimenta et
prático-sensorial e pelas ações mentais que caracterizam al (2013, p.146), diz que: A didática, como área da pedago-
o pensamento, estes vão sendo formados de acordo com gia, estuda o fenômeno ensino. As recentes modificações nos
a organização lógica e psicológica das matérias de ensino, sistemas escolares e, especialmente, na área de formação de
sendo que nos remete a ideia de que o desenvolvimento professores configuram uma “explosão didática”. Sua ressig-
escolar é progressivo, ou seja, a aprendizagem é um pro- nificação aponta para um balanço do ensino como prática
cesso contínuo de desenvolvimento. social, das pesquisas e das transformações que têm provoca-
Segundo Libâneo: A didática, assim, oferece uma con- do na prática social de ensinar.
tribuição indispensável à formação dos professores, sinte- Masetto (1997, p. 13), infere que “a didática como re-
tizando no seu conteúdo a contribuição de conhecimentos flexão é o estudo das teorias de ensino e aprendizagem
de outras disciplinas que convergem para o esclarecimento aplicadas ao processo educativo que se realiza na escola,
dos fatores condicionantes do processo de instrução e en- bem como dos resultados obtidos”.
sino, intimamente vinculado com a educação e, ao mesmo Portanto, estudar Didática no Ensino Superior, não sig-
tempo, provendo os conhecimentos específicos necessá- nifica acumular informações sobre as práticas e técnicas do
rios para o exercício das tarefas docentes. processo de ensino e aprendizagem, mas sim acrescentar
Castro, afirma a importância da didática dizendo: em cada sujeito a capacidade crítica em questionar e fazer
Pois é certo que a didática tem uma determinada con- reflexão sobre as informações adquiridas ao longo de todo
tribuição ao campo educacional, que nenhuma outra disci- processo de ensino-aprendizado. Veiga (2010) diz que é
plina poderá cumprir. E nem a teoria social ou a econômica, preciso “tornar o ensino da Didática mais atraente e respal-
nem a cibernética ou a tecnologia do ensino, nem a psico- dado nos resultados das investigações envolvendo alunos
logia aplicada à educação atingem o seu núcleo central: o em processo de formação”.
Ensino. Para Rios (2001) “tratar o fenômeno do ensino como
A didática é uma disciplina que complementa todas as uma totalidade concreta, buscar suas determinações, pen-
outras, sendo interdisciplinar, pois será a “a essência” para sá-lo em conexão com outras práticas sociais é o que se
que o professor procure a melhor forma de desenvolver espera fazer, do ponto de vista de uma concepção crítica
seu método de ensino. Podemos perceber que é clara a do trabalho da didática”.
importância da didática na formação docente, no entanto, Por muito tempo ensinar era nada mais do que ter con-
notamos que no desenvolver histórico desta profissão, a teúdos para transmitir para os alunos, e estes eram consi-
didática não obteve (e ainda não têm) esta mesma relevân- derados seres sem luz, incapazes de construir conhecimen-
cia, e quando ministrada só alteava sua distorção e visão tos próprios.
técnica, acentuando a distância entre teoria e prática. Diz Martins, “historicamente, é muito comum ouvir
A didática é uma disciplina fundamental na formação nos meios educacionais, sobretudo entre alunos, afirma-
do educador, pois, prepararão o futuro professor a estar ções como: “aquele professor não tem didática...”; “ele tem
capacitado a trabalhar na sala de aula, uma vez que ele conhecimento, mas não sabe comunicar”; “o professor co-
dominará os conteúdos científicos e práticos, e principal- nhece o assunto da sua matéria, mas não sabe transmitir”.
26
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
E acrescenta adiante “a didática é usualmente vista como dade e da utopia do projeto de escolarização obrigatória
sinônimo de métodos e técnicas de ensino e, mais que isso, e da qualidade por uma sociedade efetivamente mais de-
que a escola é tida como a instituição que transmite conhe- mocrática.
cimentos” (2006, p. 75-76).
Contudo, o modo de atuar educacionalmente, requer Os educadores enquanto seres sociais que transfor-
adequações ao mundo atual e suas transformações ágeis mam a realidade quando realizam sua prática, precisam es-
que não permitem a estagnação, o que cobra do professor tar conscientes da base teórica, a fim de se orientar por ela
uma posição dinâmica frente ao processo educacional. ao mesmo tempo em que a teoria se alimenta da prática.
Segundo Veiga (2004): Freire (1996), aborda a importância da reflexão crítica,
Enfatizar o processo didático da perspectiva relacional em que professor deve fazer da prática sobre a teoria e
significa analisar suas características a partir de quatros di- vice-versa.
mensões: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. O processo Por isso é que, na formação permanente dos professo-
didático, assim, desenvolve-se mediante a ação reciproca e res, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre
interdisciplinar das dimensões fundamentais. Integram-se, a prática, é pensando criticamente a prática de hoje ou de
são complementares. ontem que se pode melhorar a próxima pratica. O próprio
discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de
Pimenta et al (2013), também descreve a nova postura tal concreto que quase se confunda com a prática.
da didática diante da importância na formação profissional No mesmo ponto de vista Solé e Coll (1996), também
quando enfatiza que: indagam a importância da teoria sobre a prática quando
[...] didática é, acima de tudo, a construção de conheci- dizem:
mentos que possibilitem a mediação entre o que é preciso Necessitamos de teorias que nos sirvam de referencial
ensinar e o que é necessário aprender; entre o saber estrutu- para contextualizar e priorizar metas e finalidades; para
rado nas disciplinas e o saber ensinável mediante as circuns- planejar a atuação; para analisar seu desenvolvimento e
tâncias e os momentos; entre as atuais formas de relação modifica-lo paulatinamente, em função daquilo que ocorre
com o saber e as novas formas possíveis de reconstruí-las. e para tomar decisões sobre a adequação de tudo.
A Didática integra diversas dimensões que buscam
uma ligação entre os pares que correspondem ao chama- Freire (1996) afirma que, “a reflexão crítica sobre a prá-
tica se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a
do “triangulo didático”. Para Libâneo (2012, p. 1), “os ele-
qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”.
mentos integrantes do triângulo didático – o conteúdo, o
E reforça a seguir que, “quando vivemos a autenticida-
professor, o aluno, as condições de ensinoaprendizagem
de exigida pela prática de ensinar e aprender participamos
- articulam-se com aqueles socioculturais, linguísticos, éti-
de uma experiência total, diretiva, ideológica, gnosiológi-
cos, estéticos, comunicacionais e midiáticos”.
ca, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve
Veiga (1989, p. 22), sobre a importância da Didática no
achar-se de mãos dadas com a decência e com a serieda-
currículo do professor diz que “o papel fundamental da Di-
de” (FREIRE, 1996).
dática no currículo de formação de professor é o de ser
Um dos campos específicos da Didática aplica-se à
instrumento de uma prática pedagógica reflexiva e crítica, constante articulação entre teoria e prática com outras
contribuindo para a formação da consciência crítica”. áreas do conhecimento para assim dar suporte ao profes-
E, diante desta interação, percebe-se que a construção sor no desenvolvimento de suas habilidades e competên-
de novos conhecimentos acontece de forma paralela à re- cias diante da educação.
lação professor-aluno, visto que este traz para o cotidiano Ao referir-se a tal assunto Libanêo (2012, p. 16) diz que:
escolar sua experiência do contexto social em que vive e, [...] a formação de professores precisa buscar uma uni-
com a ajuda mediadora do professor que deve conhecê-lo dade do processo formativo. A meu ver essa unidade implica
enquanto ser social considerando seus conhecimentos pré- em reconhecer que a formação inicial e continuada de pro-
vios, e ajudando-o, assim, a transformar essas vivências em fessores precisa estabelecer relações teóricas e práticas mais
conhecimentos relevantes dotados de significados. sólidas entre a didática e a epistemologia das ciências, de
modo a romper com a separação entre conhecimentos disci-
Articular teoria e prática, uma relação necessária. plinares e conhecimentos pedagógico-didáticos.
A formação do educador exige uma inter-relação entre Nesta perspectiva percebe-se a importância da Didá-
a teoria e a prática, sendo que a teoria se ocupa da pes- tica visto que ela “se caracteriza como mediação entre as
quisa unindo-se com os problemas reais que surgem na bases teórico-cientificas da educação escolar e a prática
prática e, esta, por sua vez, se determina pela teoria. docente” (LIBÂNEO, 1990, p. 28).
De acordo com Guimarães (2004, p. 31): Perrenoud (2000, p. 14), aponta como procedimentos
O que deve mover a discussão dessa temática é o em- da atuação do professor 10 (dez) famílias de competências
penho na formação profissional, é a convicção de que a que influenciam a formação contínua do educador:
educação é processo imprescindível para que o homem Eis as 10 famílias:
sobreviva e se humanize e de que a escola é instituição 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
ainda necessária neste processo, enfim, a relevância dessa 2. Administrar a progressão das aprendizagens.
temática está na compreensão da urgência, da complexi- 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu Libâneo (2001, p. 36) se refere à ação docente quando
trabalho. diz que:
5. Trabalhar em equipe. É certo, assim, que a tarefa de ensinar a pensar requer
6. Participar da administração da escola. dos professores o conhecimento de estratégias de ensino
7. Informar e envolver os pais. e o desenvolvimento de suas próprias competências do
8. Utilizar novas tecnologias. pensar. Se o professor não dispõe de habilidades de pen-
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. samento, se não sabe “aprender a aprender”, se é incapaz
10. Administrar sua própria formação contínua. de organizar e regular suas próprias atividades de aprendi-
zagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem
Contudo, muitos profissionais não vêm necessidade suas capacidades cognitivas.
em se apropriar da teoria como base para suas ações, con- Para o autor, a formação docente é um processo peda-
sideram a boa atuação como “vocação natural ou somente gógico, que deve acontecer de forma a levar o professor a
da experiência prática, descartando-se a teoria” (LIBÂNEO, agir de maneira competente no processo de ensino (LIBÂ-
1990). NEO, 2001).
Entretanto, para Freire (1996), uma verdadeira forma- Maia, Scheibel e Urban (2009, p. 18), discorrem sobre
ção docente acontece somente através de um novo olhar os fatores que possibilitam a identidade do professor:
sobre a curiosidade epistemológica, pois: - Significação social da profissão;
Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se - Revisão constante dos significados sociais da profis-
alheada, de um lado, do exercício da criticidade que implica são;
a promoção da curiosidade ingênua a curiosidade episte- - Revisão das tradições;
mológica, e de outro, sem o reconhecimento do valor das - Reafirmação de práticas consagradas culturalmente
emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou e que permanecem significativas (resistentes a inovações);
adivinhação. - Significação conferida pelo professor à atividade do-
cente no seu cotidiano (a visão de mundo do professor);
- Rede de relações com outros professores, em escolas,
E, acrescenta a seguir, que “o importante, não resta dú-
sindicatos e outros agrupamentos.
vida, é não pararmos satisfeitos ao nível das intuições, mas
submetê-las a análise metodicamente rigorosa de nossa
Gadotti (2007), diz que “o poder do professor está tan-
curiosidade epistemológica” (FREIRE, 1996, 51).
to na sua capacidade de refletir criticamente sobre a reali-
De acordo com Giroux (1988), as instituições de ensi-
dade para transformá-la, quanto na possibilidade de cons-
no se omitem ao negar aos docentes seu verdadeiro pa-
truir um coletivo para lutar por uma causa comum”.
pel, que é educá-los como intelectuais, pois ao ignorarem
Imbernón (2002) afirma que “[...] ser um profissional da
a criatividade e o discernimento do professor separa-se a
educação significa participar da emancipação das pessoas.
teoria da prática. O objetivo da educação é ajudar a tornar as pessoas mais
Do ponto de vista de Veiga (2010, p. 51) “a tarefa está livres, menos dependentes do poder econômico, político e
em criar outras práticas, o desafio é construir de modo co- social. E a profissão de ensinar tem essa obrigação intrín-
letivo uma Didática que faça pensar sobre nossas práticas seca”.
pedagógicas”. A autora também se utiliza da afirmação de Os professores precisam repensar o modo pelo qual
que a prática pedagógica é também uma dimensão da prá- agem diante da sociedade e qual sua contribuição, uma vez
tica social inserida num contexto social, e que nossa obri- que identidade não é inerente ao ser humano, e sim, uma
gação enquanto educadores é possibilitar condições para posição que se constrói quer seja com certezas e/ou in-
que ela se realize (VEIGA, 1989). certezas estabelecidas nas relações com a realidade social.
Vemos assim que teoria e prática não se dissociam Freire (1996) enfatiza a respeito da formação que “quem
uma da outra, o que garante um pensamento crítico e uma forma se forma e reforma ao formar e quem é formado
ressignificação de atitude, já que para garantir satisfação forma-se e forma ao ser formado”.
na prática é preciso estar numa relação consciente e di- De acordo com Tardif ():
reta com a teoria e basear-se nela em ações educacionais
futuras. [...] um professor de profissão não é somente alguém que
aplica conhecimentos produzidos por outros, não é somente
A construção da identidade profissional um agente determinado por mecanismos sociais: é um ator
no sentido forte do termo, isto é, um sujeito que assume sua
A construção da identidade profissional é um proces- pratica a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, um
so de ressignificação em que o sujeito situado se constrói sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer prove-
historicamente. nientes de sua própria atividade e a partir dos quais ele es-
O professor em formação tem que estar ciente sobre trutura e a orienta.
sua reflexão enquanto educador e de sua atualização sobre
o conteúdo aprendido; ele precisa estar em constante esta- No que concerne à identidade profissional do profes-
do de aprendizagem para melhorar suas competências tan- sor pode-se dizer que o mesmo tem que ser mais do que
to como profissional, quanto na sua metodologia de ensino. um coadjuvante no ensino, que cativa e tem a atenção do
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A inteligência é antes de tudo adaptação. Esta característica se refere ao equilíbrio entre o organismo e o meio ambien-
te, que resulta de uma interação entre assimilação e acomodação.
A assimilação e a acomodação são, pois, os motores da aprendizagem. A adaptação intelectual ocorre quando há o
equilíbrio de ambas.
Segundo discorre Ulbritch, a aquisição do conhecimento cognitivo ocorre sempre que um novo dado é assimilado à
estrutura mental existente que, ao fazer esta acomodação modifica-se, permitindo um processo contínuo de renovação
interna. Na organização cognitiva, são assimiladas o que as assimilações passadas preparam, para assimilar, sem que haja
ruptura entre o novo e o velho.
Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante a incor-
poração de elementos do meio a si próprio.
Pela acomodação, as mudanças qualitativas de desenvolvimento modificam os esquemas existentes em função das
características da nova situação; juntas justificam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas.
As estruturas de conhecimento, designadas por Piaget (Gaonach’h e Golder) como esquemas, se complexificam sobre
o efeito combinado dos mecanismos de assimilação e acomodação. Ao nascer, o indivíduo ainda não possui estas estru-
turas, mas reflexos (sucção, por exemplo) e um modo de emprego destes reflexos para elaboração dos esquemas que irão
se desenvolver.
As obras de Piaget e de seus interpretantes discorrem sobre os estágios de desenvolvimento da inteligência, que se
efetua de modo sucessivo, segundo a lógica das construções mentais - da inteligência sensório-motora à inteligência ope-
ratório formal, conforme se ilustra sinteticamente no quadro:
A primeira forma de inteligência é uma estrutura sensório motora, que permite a coordenação das informações senso-
riais e motoras. Surge aos cerca de 18 meses. Consuma-se e equilibra-se entre os 18 meses e 2 anos.
No estágio das operações concretas, esta estrutura (equilibrada) se acha aperfeiçoada: o que a criança teria adquirido
no nível da ação, ela vai aprender a fazer em pensamento. Precede de uma fase de preparação entre 2 e 7 anos e se equi-
libra entre 7 e 11 anos.
No estágio das operações formais, operam-se novas modificações e deve se equilibrar para poder se aplicar, não mais
aos objetos presentes, mas aos objetos ausentes, hipotéticos.
O desenvolvimento das estruturas mentais segue uma lógica de construção semelhante aos estudos da lógica, ou seja,
que o desenvolvimento da inteligência em seus sucessivos estágios segue uma lógica coerente, tal que pode ser descrita
em suas estruturas.
Segundo levantou Ulbritch, a equilibração, enfatizada no quadro 2.1, é um mecanismo autorregulador, necessário para
garantir uma eficiente integração com o meio. Quando um indivíduo sofre um desequilíbrio, de qualquer natureza, o orga-
nismo vai buscar o equilíbrio, assimilando ou acomodando um novo esquema.
A autora relaciona quatro fatores determinantes do desenvolvimento cognitivo: A equilibração é o primeiro e constitui-
-se no nível de processamento das reestruturações internas, ao longo da construção sequencial dos estágios.
O segundo é a maturação, relacionado à complexificação biológica da maturação do sistema nervoso.
Já o terceiro fator é a interação social, relacionado com a imposição do nível operatório das regras, valores e signos da
sociedade em que o indivíduo se desenvolve e com as interações que compõem o grupo social.
O quarto é referente à experiência ativa do indivíduo. Sobre este fator Misukami afirma que podem ocorrer de três formas:
- devido ao exercício, resultando na consolidação e coordenação de reflexos hereditários e exercício de operações intelec-
tuais aplicadas ao objeto;
- devido à experiência física, referente à ação sobre o objeto para descobrir as propriedades que são abstraídas destes,
sendo que o resultado da ação está vinculado ao objeto;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
- devido à experiência lógico - matemática, resultantes Gilli diz que a relação entre educação, aprendizagem e
da ação sobre os objetos, de forma a descobrir propriedades desenvolvimento vem em primeiro lugar. Já o papel da me-
que são abstraídas destas pelo sujeito. Consistem em conhe- diação social nas relações entre o indivíduo e seu ambiente
cimentos retirados das ações sobre os objetos, típicas do es- (mediado pelas ferramentas) e nas atividades psíquicas in-
tágio operatório formal, que é resultado da equilibração. A traindividuais (mediadas pelos signos) em segundo lugar,
condição para que seja obtida é a interação do sujeito com e, a passagem entre o interpsíquico e o intrapsíquico nas
o meio. situações de comunicação social, em terceiro lugar. Estes
são os três princípios fundamentais, totalmente interde-
Piaget não desenvolveu uma teoria da aprendizagem, pendentes nos quais Vygotsky sustenta a teoria do desen-
mas sua teoria epistemológica de como, quando e por que volvimento dos processos mentais superiores.
o conhecimento se constrói obteve grande repercussão na
área educacional. Predominantemente interacionistas, seus A abordagem de Henri Wallon
postulados sobre desenvolvimento da autonomia, coope-
ração, criatividade e atividade centrados no sujeito influen- A gênese da inteligência para Wallon é genética e or-
ciaram práticas pedagógicas ativas, centradas nas tarefas ganicamente social, ou seja, “o ser humano é organicamen-
individuais, na solução de problemas, na valorização do te social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da
erro e demais orientações pedagógicas. cultura para se atualizar”.
No plano da informática, o trabalho de Piaget tem Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo
contribuído para modelagens computacionais na área de de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa.
IA em educação, desenvolvimento de linguagens de pro- Para Galvão, o estudo de Wallon é centrado na crian-
gramação e outras modalidades de ensino auxiliado por ça contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as
computador com orientação construtivista. etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por
Dentre os vários programas existentes, o mais popu- rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada
lar é o LOGO, caracterizado como ambiente informático etapa profundas mudanças nas anteriores.
embasado no construtivismo. Neste ambiente o indivíduo Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvol-
vimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por
constrói, ele próprio, os mecanismos do pensamento e os
reformulação, instalando-se no momento da passagem de
conhecimentos a partir das interações que tem com seu
uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.
ambiente psíquico e social.
Conflitos se instalam nesse processo e são de origem
exógena quando resultantes dos desencontros entre as
A abordagem sociointeracionista do desenvolvi-
ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos
mento cognitivo de Lev Vygotsky adultos e pela cultura e endógenos e quando gerados pe-
los efeitos da maturação nervosa. Esses conflitos são pro-
Os trabalhos de Vygotsky centram-se principalmente pulsores do desenvolvimento.
na origem social da inteligência e no estudo dos processos Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano
sóciocognitivo. apresentados por Galvão sucedem-se em fases com predo-
Segundo Gilli e Gaonach’h, Vygotsky distingue duas minância afetiva e cognitiva:
formas de funcionamento mental: os processos mentais - Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de
elementares e os superiores. vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras
Os processos mentais elementares correspondem ao reações do bebê às pessoas, às quais intermediam sua rela-
estágio de inteligência sensório-motora de Piaget e são re- ção com o mundo físico;
sultantes do capital genético da espécie, da maturação bio- - Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A
lógica e da experiência da criança com seu ambiente físico. aquisição da marcha e da prensão, dão à criança maior au-
Já as funções psicológicas superiores, ressalta Olivei- tonomia na manipulação de objetos e na exploração dos es-
ra, são construídas ao longo da história social do homem. paços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da
Como? Na sua relação com o mundo, mediada pelos ins- função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-
trumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, fazen- -se ao fato da ação do pensamento precisar dos gestos para
do com que o homem se distinga dos outros animais nas se exteriorizar. O ato mental “projeta-se” em atos motores.
suas formas de agir no e com o mundo. Como diz Dantas, para Wallon, o ato mental se desenvolve
a partir do ato motor;
Fialho destaca que, para Vygotsky, o desenvolvimento - Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse está-
humano compreende um processo dialético, caracterizado gio desenvolve-se a construção da consciência de si median-
pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das te as interações sociais, reorientando o interesse das crianças
diferentes funções, metamorfose ou transformação quali- pelas pessoas;
tativa de uma forma em outra, entrelaçando fatores inter- - Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o inte-
nos e externos e processos adaptativos. resse da criança para as coisas, para o conhecimento e con-
A maturação biológica e o desenvolvimento das fun- quista do mundo exterior;
ções psicológicas superiores dependem, conforme Fialho, - Predominância funcional. Ocorre nova definição dos
do meio social, que é essencialmente semiótico. Apren- contornos da personalidade, desestruturados devido às mo-
dizado e desenvolvimento interagem entrelaçados nessa dificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões
dialética de forma que um acelere ou complete o outro. pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O referido autor ressalta ainda que na sucessão de es- dominada mais dois elementos subjetivos que a compõem
tágios há uma alternância entre as formas de atividades e a ideia de que há determinadas estruturas que confor-
e de interesses da criança, denominada de “alternância mam o modo de pensar e agir das pessoas. Essas estruturas
funcional”, onde cada fase predominante (de dominância, impregnam o comportamento subjetivo à percepção e à
afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas consciência que cada indivíduo ou grupo tem dos fenôme-
pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num per- nos sociais.
manente processo de integração e diferenciação. - Howard Gardner muito tem contribuído para o pro-
cesso educacional. Ele defende que o ser humano possui
Outras abordagens sobre aprendizagem múltiplas inteligências, ou um espectro de competências
manifestadas pela inteligência. Todas essas competências
Outras correntes teóricas buscaram aprofundar e/ou estão presentes no indivíduo, sendo `que se manifestam
explicar as teorias mais representativas, propondo inclu- com maior ou menor intensidade, tornando o indivíduo
sive novas abordagens para compreensão dos processos mais ou menos deficiente, mais ou menos competente
de desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Dentre elas dentro de uma ou várias dessas competências. Em sua teo-
destacam-se: ria, defende que os indivíduos aprendem de maneiras dife-
rentes e apresentam diferentes configurações e inclinações
- Albert Bandura, que levanta uma abordagem de intelectuais. Destaca, ainda, veementemente, o papel da
aprendizagem social e o papel das influências sociais na educação no desenvolvimento global e aplicação das inte-
aprendizagem. ligências. As inteligências múltiplas a que se refere Garder
- J. S. Bruner e a teoria de que o desenvolvimento cog- são: a lógico-matemática, a linguística, a espacial, a musi-
nitivo se dá numa perspectiva de tratamento da informa- cal, a corporal- sinestésica, a interpessoal e a intrapessoal.
ção, que ocorre de três modos: inativo, onde a informação
é representada em termos de ações especificadas e habi- Na prática escolar convencional, a concretização das
tuais (caminhar, andar de bicicleta); o modo icônico, onde a condições de aprendizagem que asseguram a realização
informação é representada em termos de imagens, e, sim-
do trabalho docente, estão pautadas nas teorias deter-
bólica, onde a informação é apresentada sobre a forma de
minando as tendências pedagógicas. Estas práticas pos-
um esquema arbitrário e abstrato.
suem condicionantes psico sociopolíticos que configuram
- Maturana e Varela, que não desenvolveram um estu-
concepções inteligência e conhecimento, de homem e de
do sobre a cognição especificamente, mas sua teoria sobre
sociedade. Com base nesses condicionantes, diferentes
o homem como um sistema autopoiético tem influenciado
pressupostos sobre o papel da escola, a aprendizagem, a
bastante a construção de modelos computadorizados. Os
relações professor-aluno, a recursos de ensino e o método
autores entendem que os seres vivos são um tipo particular
pedagógico .... Influenciam e orientam a didática utilizada.
de máquinas homeostáticas. A ideia de autopoiesis é uma
expansão da ideia de homeostase, no sentido em que ela Os programas educacionais informatizados, dos diver-
transforma todas as referências da homeostase em internas sos tipos, igualmente contém implícito ou explicitamente
ao sistema e, afirma ou produz a identidade do sistema. (ou no uso educacional que se faz deles) os pressupostos
O sistema autopoiético é organizado como uma rede de teórico metodológicos desses condicionantes).
processos de produção de componentes que se regeneram
continuamente, pela sua transformação e interação, a rede Fonte
que os produziu e que constituem o sistema enquanto uma SILVA, C. R. O.
unidade concreta no espaço onde ele existe, especificando
o domínio topológico onde ele se realiza como rede. 3.4 TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE
- Robert M. Gagné, que compartilha dos enfoques GARDNER.
behavioristas e cognitivistas em sua teoria. Para ele, as fa-
ses da aprendizagem se apresentam associadas aos pro- O Educador Celso Antunes explica os conceitos de in-
cessos internos que, por sua vez, podem ser influenciados teligência múltipla segundo Howard Gardner. As pesquisas
por processos externos. Para Gagné, a aprendizagem é de Gardner representam verdadeiro símbolo educacional
um processo de mudança nas capacidades do indivíduo, contemporâneo, ao sinalizar que o que se descobre sobre
no qual se produz estados persistentes e é diferente da a mente humana, constitui não apenas saber acadêmico,
maturação ou desenvolvimento orgânico. A aprendizagem mas instrumento de ação pedagógica imprescindível
se produz usualmente mediante interação do indivíduo
com seu meio (físico, social, psicológico). As oito fases que Howard Gardner possui um currículo indiscutível. Pro-
constituem o ato de aprendizagem de Gagné. fessor de Educação e Diretor do Projeto Zero, no Harvard
- Paulo Freire não desenvolveu uma teoria da apren- Graduate Scholl of Education e professor adjunto de Neu-
dizagem, mas seus postulados sobre a pedagogia pro- rologia na Boston University Scholl of Medicine, é autor de
blematizadora e transformadora enfatizam uma visão de inúmeros livros e criador de uma teoria educacional co-
mundo e de homem não neutro. Assim. o homem é um ser nhecida e aplicada no mundo inteiro. Além da notoriedade
no mundo e com o mundo. A inspiração de seu trabalho pública e reconhecimento como um dos mais influentes
nasce de dois conceitos básicos: a noção de consciência educadores deste século, em 1981 recebeu o Mac Arthur
33
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Prize Fellowship e, em 1990, tornou-se o primeiro norte-a- É a inteligência que permite dar sentido as coisas que
mericano a ser condecorado com o Louisville Grawemeyr vemos e a vida que temos e que nos leva a conversa in-
Award in Educatio, prêmios que por sua expressão e gran- terior, resgates de «arquivos» da memória, capacidade de
deza já sintetizam o admirável perfil de suas pesquisas e de raciocínio, criação de objetivos e invenção de saídas quan-
suas obras. do parece não existir indícios de sua existência. Inteligência
Ninguém melhor que Gardner, entretanto, para falar é saber pensar, possuir vontade para fazê-lo, criar e usar
sobre ele mesmo. Em seu livro lançado no Brasil no ano símbolos e graças a eles realizar conquistas extraordiná-
2000 pela Editora Objetiva (Inteligência - Um conceito re- rias, fazendo surgir o mito, a linguagem, a arte e a ciência.
formulado) descreve-se ao falar sobre seus pensamentos.
Somos quem somos porque lembramo-nos das coisas que
“Nada em minha juventude diria que eu viria ser um estu-
nos são próprias e nos emocionamos, e a inteligência faz
dioso (e um teórico) da inteligência.
com que cada ser humano seja um ser único e compreenda
Quando criança, eu era bom aluno e me saia bem em plenamente o significado dessa individualidade.
testes, portanto a questão da inteligência era relativamente
simples para mim. Na verdade, em outra vida, talvez eu pas- O Que Sabemos e o que ainda não sabemos sobre a
sasse a defender a visão clássica da inteligência, como tantos Inteligência Humana
de meus contemporâneos brancos do sexo masculino que já
estão envelhecendo. Típico garoto judeu que detestava ver A certeza de que trabalhando as inteligências múltiplas
sangue, eu (e muitos outros em meu mundo) pretendia ser em sala de aula se está desenvolvendo linha de ação coe-
advogado. Só em 1965, ao terminar a minha graduação no rente com os saberes antropológicos, sociológicos e neu-
Harvard College, resolvi fazer pós-graduação em psicologia. roanatômicos sobre a inteligência humana se apoia em al-
A princípio, como outros adolescentes, eu estava fascinado gumas evidências indiscutíveis. Entre estas, cabe destacar.
com as questões da psicologia que intrigam o leigo: emo- Como as inteligências constituem potencial biopsicoló-
ções, personalidade, psicopatologia. Meus heróis em Sig- gico de emprego imediato no dia a dia e recurso essencial
mund Freud e meu professor, o psicanalista Erik Erikson, que para ajudar-nos a resolver problemas, adaptar-se as cir-
havia sido analisado pela filha de Freud, Anna. No entanto, cunstâncias, criar e aprender, quem busca trabalhá-las em
depois de ter conhecido Jerome Bruner, um pioneiro na pes- sala de aula necessita perceber que o conhecimento não é
quisa da cognição e do desenvolvimento humano, e de ter
uma “coisa” que vem de fora ou se capta do meio, mas um
lido as obras de Bruner e de seu mestre, o psicólogo suíço
processo interativo de construção e reconstrução interior e
Jean Piaget, resolvi fazer pós graduação em psicologia do
desenvolvimento cognitivo.” assim não pode ser “transferido” de um indivíduo para ou-
tro. Levando-se em conta essa assertiva descobre-se que o
As pesquisas de Gardner representam verdadeiro sím- conhecimento é autoconstruído e as inteligências são edu-
bolo educacional contemporâneo, ao sinalizar que o que cáveis, isto é sensíveis a progressiva evolução, desde que
se descobre sobre a mente humana, constitui não apenas adequadamente trabalhadas. A escola pode ser, portanto,
saber acadêmico, mas instrumento de ação pedagógica um espaço fomentador de novas maneiras de pensar.
imprescindível. Mostrou de forma coerente que todos os Ainda que possam existir debates acadêmicos sobre a
seres humanos possuem diferentes tipos de mente e que quantidade de inteligências que o ser humano possui, a
pais e professores podem tornar possível uma educação classificação mais aceita é a de Howard Gardner que des-
personalizada, destacando que na imensa diversidade que creve em cada pessoa a existência de oito ou nove inte-
existe em cada um, deve solidificar-se a certeza de que ne- ligências (Howard Gardner fala-nos em oito inteligências
nhum ser humano é perfeito em tudo, mas todos, absolu- efetivamente comprovadas e uma nona (inteligência exis-
tamente todos, possuem potencial de grandezas diversas, tencial) que ainda depende de maior aprofundamento e
forças pessoais que devidamente reconhecidas coloca uma revisão para se acrescentar as oito conhecidas) claramente
nova linha educacional a serviço do integral desenvolvi- diferenciadas.
mento humano e da extrema grandeza da singularidade
de sua mente
O potencial humano quanto as inteligências é ex-
O que é Inteligência tremamente diversificado e essa diversidade deve-se a
conjunção de fatores genéticos e estímulos ambientais
Inteligência é a faculdade de entender, compreender, desenvolvidos dentro e fora da escola. Uma pessoa sem
conhecer. Inteligência é também juízo, discernimento, ca- distúrbios ou disfunções cerebrais é portador de todas as
pacidade de se adaptar, de conviver. Constitui potencial inteligências ainda que seja diversificado o potencial desta
biopsicológico não especificamente humano, mas que em ou daquela;
seres humanos assume dimensão inefável. É, para Gardner, A ocorrência de disfunções cerebrais adquiridas ou
uma capacidade para resolver problemas e serve também não, pode afetar uma ou mais inteligências, sem que isso
para criar ideias ou produtos considerados válidos. As cria- implique em um comprometimento integral. Em outras pa-
turas humanas possuem nível elevado de inteligência e por lavras, é possível neste ou naquele indivíduo a existência
isso são criativas, revelam capacidade de compreender e de um dificuldade ou distúrbio de aprendizagem que afete
de inventar e ao acolher uma informação, atribuir-lhe sig- uma ou mais inteligências, sem que isso impeça o desen-
nificado e produzir respostas pertinente. volvimento potencial das demais.
34
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Cada uma das inteligências pode ser identificada atra- Mitos e Fantasias
vés de diferentes manifestações e estas, apenas para efei-
tos didáticos, poderiam ser consideradas sub-inteligências. A teoria das Inteligências Múltiplas alcançou larga po-
Desta forma a inteligência linguística por exemplo pode se pularidade em quase todo mundo e, dessa forma, as idéias
manifestar através da escrita, da oralidade ou da sensibili- que enfatizavam seu emprego em sala de aula assumiram
dade e emoções despertadas pela intensidade com que se inevitáveis desvios. Em uma obra recente Gardner faz uma
capta mensagens verbais ou escritas; análise desses mitos, entre os quais destacamos alguns:
O valor maior ou menor que a sociedade empresta a Uma variedade de testes necessitam ser desenvolvi-
esta ou àquela inteligência subordina-se à cultura inerente dos para que possamos avaliar o potencial de cada uma
e ao tempo e local em que se vive. Em alguns espaços geo- das oito ou nove inteligências humanas.
gráficos, por exemplo, a capacidade musical se sobrepõe à É um erro supor que possa se avaliar inteligências por
linguística e em outros atribui-se valor maior a capacidade testes, quantificando esse potencial. Uma avaliação coe-
matemática que a administração de situações emocionais rente da inteligência espacial, por exemplo, deve permitir
próprias ou em terceiros; que o aluno explore uma área e perceba se consegue se
Ainda que qualquer faixa etária mostre-se sensível ao orientar de maneira confiável, transferindo essa aprendiza-
estímulo das inteligências, existem idades em que as mes- gem para áreas desconhecidas. Os estímulos, dessa forma,
mas respondem mais favoravelmente aos incentivos. Para devem conduzir a um progressivo aperfeiçoamento que
a maior parte das inteligências a fase da vida mais sensível um criterioso diagnóstico, acompanhado de relatórios da
ao progresso estende-se dos dois aos quinze anos de ida- ação do aluno (e não testes padronizados) revelará.
de. O cérebro humano é órgão que se compromete pelo Uma inteligência é mais ou menos como uma discipli-
desuso e portanto as diferentes inteligências necessitam de na escolar e, dessa forma, a Língua Portuguesa por exem-
estímulos diversificados desde a vida pré-natal até idades plo deveria explorar competências linguísticas, a Matemá-
bastante avançadas; tica exploraria competências lógico-matemáticas e assim
por diante.
Ao se pesquisar a inteligência humana e a evolução
Nada mais errado que acreditar nesse mito. A inteli-
desse conceito, desde quando a neurologia pode bene-
gência é uma nova forma de construção de habilidades,
ficiar-se de estudos do cérebro em pessoas vivas, alguns
baseada em capacidade e potenciais biológicos e psicoló-
poucos críticos enfatizaram que falar-se em Inteligências
gicos e não pode ser confundida com disciplinas escolares,
Múltiplas seria simplesmente “fragmentar-se a idéia de In-
que são organizações de saberes aglutinados por pessoas.
teligência”, criando-se um modismo. Nada mais errado que
Em qualquer disciplina é possível trabalhar-se uma ou vá-
supor que a identificação de inteligências diferentes “frag-
rias inteligências.
menta” ou apenas classifica aspectos particularizados de
um todo. A localização cerebral de áreas específicas para
operar saberes específicos - como a área de Broca e de Uma inteligência é a mesma coisa que um estilo de
Wernicke para a linguagem - mostra que não existe uma aprendizagem ou um método de ensino.
inteligência global que se busca dividir, mas núcleos cere-
brais distintos que operam competências específicas, ainda Um estilo de aprendizagem é uma abordagem que se
que o cérebro humano funcione mais ou menos como uma aplica da mesma maneira em diferentes conteúdos; um
orquestra e áreas diferentes se envolvem para a apresen- método de ensino é uma sequência de operações com vis-
tação de um resultado aparentemente único. O fato de se tas a determinados resultados e, dessa forma, o trabalho
ouvir, por exemplo, o destaque do piano em uma melodia com estímulos às inteligências permite adaptar-se a dife-
não significa que reconhecê-lo implica em “fragmentar” a rentes estilos de aprendizagem e sua aplicação não consti-
orquestra. tui método de ensino que para ser implantado pressupõe
Não existe uma única abordagem pedagógica para o a substituição do método utilizado. Gardner enfatiza que
trabalho com as inteligências múltiplas em sala de aula e, não existe “receita” pedagógica única e forma universal de
portanto, não existem “receitas” definitivas sobre como es- trabalhar-se as múltiplas inteligências.
timulá-las.
A teoria das Inteligências Múltiplas é incompatível com
Concluindo algumas das evidências destacadas por a existência de uma inteligência geral.
Gardner, seria lícito reafirmar que trabalhar com inteligên-
cias múltiplas não se afigura como um método de ensino A teoria das Inteligências Múltiplas não questiona a
cujo emprego supõe uma mudança radical na forma como existência de uma inteligência geral mas sim seu campo
antes se trabalhava. Ao contrário, estimular com atividades, de conhecimento, admitindo que mesmo pessoas aparen-
jogos e estratégias as diferentes inteligências de nossos temente bem dotadas em uma inteligência pouco serão
alunos é possível, não é complicado, não envolve custos ou capazes de realizar se não forem expostas a matérias que
despesas materiais significativas e pode ser desenvolvido exijam essa inteligência. Quanto mais “inteligente” e diver-
para qualquer faixa etária e nível de escolaridade e em sificado for o ambiente e quanto mais incisivas as interven-
qualquer disciplina do currículo escolar. ções de mediadores, mais capazes se tornarão as pessoas e
menos importante será sua herança genética.
35
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Sintetizando, seria possível afirmar que a Teoria das In- “Teoria” e “prática” parecem ser palavras muito amigas
teligências Múltiplas endossa três proposições essenciais: e que gostam de andar juntas. Mas, enquanto a palavra
Não somos todos iguais. Todo indivíduo, entretanto, é “teoria” recebe o desdém e desprezo, como algo que valha
portador de forças cognitivas específicas que o diversifica apenas no papel mas não possui validade efetiva, a palavra
e o singulariza. “prática” ao contrário, recebe quase sempre o aplauso, re-
Não temos com igual intensidade todos os tipos de velando caráter de autenticidade e funcionando para valer.
inteligência pois temos mentes diferentes. Nesse sentido, “Teoria” significa um conjunto de idéias científicas sistema-
toda avaliação que busca comparar ou nivelar seres huma- tizadas e pode muitas vezes assegurar indiscutível validade
nos apresenta-se eivada de preconceitos. prática. É, por exemplo, o que acontece com a Teoria das
A educação funciona de modo mais eficaz se essas di- Inteligências Múltiplas.
ferenças forem levadas em consideração, se forças pessoais Os argumentos propostos por Gardner para mostrar a
forem reconhecidas e se pais e professores empenharem- multiplicidade das inteligências parecem ser indiscutíveis.
-se em desenvolver projetos para efetivamente conhecer e A lesão ou disfunção parcial do cérebro humano implica
estimular mentes, descobrindo em que são efetivamente na perda de ações relativas a ou as inteligências especifica
capazes. Uma boa avaliação, portanto, deveria ser “o mais a essa área atingida e não a todas, assim como a mani-
direta possível”, orientando o aprender para fazer e verifi- festação da genialidade humana, destaca que alguns mos-
cando como ocorreu essa construção. tram exponencial inteligência linguística, como é o caso de
A essas proposições julgamos interessante acrescentar Sheakespeare por exemplo, mas outros se projetaram por
que um estímulo às inteligências somente ganha sentido sua inteligência musical como Mozart, matemática como
se promovido através de um projeto, se estabelecido a par- ocorreu com Einsten, corporal nitidamente presente em
tir de objetivos e trabalhados com pertinácia e com com- Garrincha, Pelé e outros e ainda muitas outras.
petência. Não se estimula inteligências acidentalmente ou
com ações esporádicas. Ao lançar sua teoria, Gardner falava em sete inteligên-
cias, mas estudos e pesquisas posteriores elevaram esse
número para nove, admitindo que tal diversidade pode
A Teoria das Inteligências Múltiplas
ainda vir a ser ampliada quando ainda mais profundamen-
te se conhecer a mente humana. Em linhas gerais, portanto,
Em 1983, Howard Gardner, psicólogo da Universida-
todas as pessoas sem disfunções cerebrais agudas apre-
de de Harvard concluiu o manuscrito “ As Estruturas da
sentam em diferentes níveis de grandeza, as inteligências:
Mente” ( Artmed, 1994 ) que buscava ultrapassar a noção
comum de inteligência, como um potencial que cada ser
- Espacial, expressa pela capacidade de relacionar o es-
humano possuía em maior ou menor extensão e que este
paço próprio com o espaço do entorno, percebendo e ad-
potencial pudesse ser medido por instrumentos verbais
ministrando distâncias e pontos de referências, bem como
padronizados como teste de Q.I. Baseando-se no concei- revelando a capacidade em perceber visuo-espacialmente
to de que inteligência é a capacidade de resolver proble- diferentes objetos, eventualmente transformando-os ou
mas ou de criar produtos que sejam valorizados dentro de combinando-os em novas posições. Extremamente nítida
um ou mais cenários culturais e tomando como referência em grandes arquitetos, manifesta-se também em pessoas
científica evidências biológicas e antropológicas introduziu que revelam facilidade em imaginar e percorrer referên-
oito critérios distintos para uma inteligência e propôs sete cias espaciais, como alguns motoristas de praça de gran-
competência humanas, mais tarde elevadas para oito ou des cidades. Instiga a capacidade em pensar de maneira
eventualmente nove . tridimensional e permite que a pessoa possua imagens
A teoria de Gardner mudou de forma significativa o externas e internas dos objetos através do espaço e de-
conceito de escola e de aula e abriu novas luzes sobre as codifique com facilidade as informações gráficas. Crianças
competências humanas, mostrando que o sistema tradicio- com elevado nível de inteligência espacial percebem com
nal de avaliação baseado na capacidade de dominar con- facilidade a mudança de algo em um cômodo de sua casa,
ceitos escolares específicos necessitava de imperiosa reno- detectando alterações mesmo sutis em ambientes que co-
vação e que não mais havia sentido em se conceber este nhecem. Parecem “pensar” através de imagens visuais e
aluno mais inteligente que outro apenas porque dominava muitas vezes destacam-se em atividades artísticas ou jogos
com maior ou menor facilidade as explanações de seu pro- que envolvem montagens. Não poucas são fascinadas por
fessor ou os conceitos do livro didático. máquinas e possuem elevada habilidade manual, mas não
Hoje, pouco mais de vinte anos após a publicação dos se interessam muito por atividades rotineiras, refugiando-
pensamentos de Gardner, a idéia das inteligências múlti- -se em aventuras imaginárias.
plas evoluiu do campo das especulações e constitui uma
nova maneira de ensinar e, sobretudo, uma outra forma - Cinestésico-corporal, identificada à capacidade em
de conceber a capacidade dos alunos e a aula centrada em controlar e utilizar o corpo, ou uma parte do mesmo em
sua individualidade. A despeito disso tudo, entretanto, ain- atividades motoras complexas e em situações específicas,
da existe algumas dificuldades em se situar com clareza a assim como manipular objetos de formas criativa e diferen-
diferença que Gardner propôs para sua “teoria” e a “práti- ciada. Marcante em pessoas que dançam muito bem, prati-
ca” da mesma. cam a mímica com precisão ou são hábeis em modalidades
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
esportivas diversas. Facilita a sintonização de diferentes ha- - Intrapessoal é a inteligência de quem expressa
bilidades físicas. Crianças com elevada inteligência espacial grande facilidade para estabelecer relações afetivas com
apresentam capacidade incomum em controlar o corpo e o próprio eu, construindo uma percepção apurada de si
expressar-se por mímicas e caretas, precisando a toda hora mesmo, fazendo despontar a autoestima e aprofundando
mover-se, retorcer-se usando sensações corporais para o autoconhecimento de sentimentos, temperamentos e
processarem informações, aprendendo bem menos por intenções. Presente de forma mais acentuada em psicana-
ouvir e muito mais por fazer. listas, mostra-se bem caracterizada em assistentes sociais,
alguns professores e outras profissões. Crianças com inteli-
- Lógico-matemática, ligada a competência em com- gência intrapessoal elevada desde cedo demonstram saber
preender os elementos da linguagem lógico-matemática, “quem realmente são”, não se preocupando muito sobre
permitindo ordenar símbolos numéricos e algébricos as- o que pensam a seu respeito. Valorizam a privacidade e
sim como quantidades, espaço e tempo. Presente na En- ainda que não gostem muito de misturarem-se a multidão,
genharia, na Física e na Matemática, também se manifesta costumam ser admiradas pelos colegas.
na contabilidade, programadores de computação e outras
profissões que recorrem a lógica e os números. Crianças - Interpessoal muito nítida em pessoas que revelam
que apresentam uma elevada inteligência lógico-matemá- extrema capacidade em compreender a natureza humana
tica adoram separar, classificar e organizar objetos e brin- em outras pessoas, procedendo uma verdadeira “leitura
quedos, aprendem a calcular rapidamente e são excelentes do outro” quanto seus aspectos emocionais, assim como a
em jogos que envolvem lógica e estratégia e no manejo e destacada facilidade para relações interpessoais e a com-
compreensão dos desafios ligados a computação. preensão da dinâmica dos grupos sociais. Crianças com
fortes habilidades nessa inteligência relacionam-se muito
- Naturalista, associada a sensibilidade de percepção bem com outras pessoas, fazem amizade com extrema
e compreensão dos elementos naturais e da interdepen- facilidade e como apresentam elevada sensibilidade para
dência entre a vida animal e vegetal e os ecossistemas e a compreender sentimentos de terceiros não raramente são
leitura coerente e racional da natureza em todo seu esplen-
escolhidas para liderar grupos, organizar campanhas co-
dor. Marcante no naturalista, botânico, jardineiro e paisa-
munitárias
gista tem em Darwin seu expoente mais extraordinário.
Induz a observações de padrões na natureza, identificando
- Existencial, ligada a capacidade de se situar sobre os
e classificando sistemas naturais. As crianças com elevada
limites mais extremos do cosmos e também em relação
inteligência naturalista interessam-se muito por animais e
pela vida rural, sabendo quase que intuitivamente sepa- a elementos da condição humana como o significado da
rar, organizar e classificar e ilustrar tudo que diz respeito a vida, o sentido da morte, o destino final do mundo físico
plantas e sobretudo a animais. e ainda outras reflexões de natureza filosófica ou metafí-
sica. Marcante em pessoas com forte espiritualidade é a
- Linguística, voltada a capacidade em adquirir, com- inteligência dos filósofos, sacerdotes, xamãs, gurus e ainda
preender e dominar as expressões da linguagem colocan- outros.
do em ação a semântica e a beleza na construção da sinta-
xe. Manifesta em escritores, romancista, jornalistas, pales- De maneira geral é possível crer que todas as pessoas
trantes e poetas, mostra-se expressiva também em pessoas sem problemas mentais específicos possuam todas as nove
que cultuam a palavra e a construção de idéias verbais ou inteligências com algumas bem mais acentuadas e desen-
escritas. Consiste na capacidade de pensar com palavras e volvidas que as outras. Trabalhos específicos desenvolvidos
de usar a linguagem para expressar e avaliar significados em sala de aula contribuem de forma efetiva para “acordar”
complexos. Crianças com expressiva capacidade linguística todas as inteligências nos alunos, ampliando sua criativida-
surpreendem pelo vocabulário que conhecem e utilizam, de e desenvolvendo-o de forma coerente e holística.
adoram ler, escrever e contar histórias, mostrando interes-
se por rima, trocadilhos, charadas e jogos com palavras. Inteligências, Talentos e Aptidões
- Sonora ou Musical expressa na capacidade em combi- Já ouvimos não poucas vezes educadores indagarem se
nar e compor a música, encadeando sons em uma sequên- o conceito de Inteligências Múltiplas não caracteriza “rou-
cia lógica e rítmica e estruturando melodias. É a inteligên- pagem nova” para o que antes se conhecia como aptidão
cia que se manifesta com mais extraordinário esplendor em ou mesmo como talento. Não existe necessariamente um
maestros, compositores e muitos outros. Destaca pessoas erro em denominar de aptidão esta ou aquela inteligência,
com extrema sensibilidade para a entoação, ritmo, melodia mas enquanto a idéia de “aptidão” mais se aproxima de
e o tom. Crianças com expressiva inteligência sonora mos- “habilidade” ou de “capacidade”, a inteligência como an-
tram-se sensíveis a sons e seus ambientes, recordando com tes se observou constitui potencial biopsicológico ineren-
facilidade de ritmos e melodias. As que sentem-se cercadas te à espécie e sua validade se expressa pela capacidade
por ambiente musical, motivam-se com instrumentos e in- de resolver problemas ou de criar algo novo. A “aptidão”,
corporam a música como elemento comum as suas vidas. “performance” ou mesmo o “talento” parece-nos mais
Muitas entre elas acumulam coleção de CDs e parece que claramente associada a idéia de que simbolizam estados
os fones de ouvido fazem parte da estrutura orgânica de avançados desta ou daquela inteligência. O potencial é ine-
seus rostos. rente à evolução, mas a habilidade é conquista educacional
37
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
com ou sem a intervenção de mediadores. Podemos afir- A presença das inteligências na história evolutiva da hu-
mar, por exemplo, que ao driblar seus adversários e dessa manidade
forma livrar-se do problema de uma marcação cerrada o
atleta está explorando sua inteligência corporal, mas dri- Ao que tudo indica desde quanto nossa espécie de-
blará melhor, com mais aguda performance porquê usou finiu-se como “homo sapiens” já se percebia claramente
essa inteligência com talento ou com maior habilidade. Ao a existência de diferentes inteligências, marcando pessoas
se assistir o drible de dois atletas não podemos negar a cla- especiais neste ou naquele grupo. Em outras palavras, des-
ra evidência de uma inteligência cinestésico-corporal em de antes da invenção da escrita já era possível detectar em
um grupo cultural a existência de pessoas com maior pro-
ação, mas ao constatar que este dribla melhor que aquele,
jeção em cada uma das oito ou nove inteligências.
podemos inferir que isso ocorre porque possui maior habi-
lidade, talvez porquê tenha treinado mais intensamente e A sensibilidade da inteligência a uma avaliação
que essa mesma habilidade poderá ser alcançado por seu
colega se se empenhar cada vez mais, desde é claro que Todas as inteligências humanas podem ser percebidas
seu potencial seja similar. em suas manifestações, apresentando-se como pouco ex-
Muito além da simplicidade do exemplo exposto e de- pressivas em alguns, moderadas em outros e elevadas em
sejando propor elementos teóricos (de natureza neuroló- terceiros. Embora inexiste um “teste” padrão para quanti-
gica, sociológica e antropológica) mais sólidos para carac- ficar esta ou aquela inteligência, todas as culturas sabem
terizar uma inteligência e, desta forma, isolá-la de palavras manifestar seu apreço por inteligências elevadas nas mani-
que podem gerar alguma confusão, Gardner estabeleceu festações conhecidas. Em outras palavras, qualquer cultu-
oito fundamentos que caracterizariam os elementos para ra, mesmo as ágrafas, reconhecem a existência de gênios
aceitarmos uma inteligência. linguísticos, gênios lógico-matemáticos, gênios musicais e
Esses fundamentos se aplicam as nove inteligência até assim por diante.
esta data aferida, mesmo considerando que cada inteligên-
cia possa manifestar-se através de diferentes aptidões. Os Análise de desempenho específico
fundamentos sugeridos por Gardner são:
Gardner demonstra que, ao examinar estudos psicoló-
gicos específicos, é possível identificar inteligências ope-
Isolamento de uma ou outra inteligência por lesão cerebral.
rando de maneira quase que isolada uma das outras. Esse
fundamentos nos mostra que raramente percebe-se “gê-
Uma inteligência pode ser danificada por uma disfun- nios absolutos” isto é, pessoas excepcionais em todas as
ção ou lesão cerebral específica a área do cérebro em que inteligências, prevalecendo potencialidades magníficas em
a mesma encontra-se alojada. Uma pessoa, por exemplo, matemática, na construção de textos, na composição musi-
que sofra uma lesão da área de Broca ou de Wernick (lobo cal e assim por diante.
frontal esquerdo) apresenta claras deficiências linguísticas
e apresentar problemas para ler, escrever e falar; A possibilidade de uma codificação através de um siste-
ma simbólico.
A existência de savant
Cada inteligência possui símbolos próprios universais
A palavra savant é usada com frequência para deter- e assim como as linguagens faladas e escritas caracteri-
minadas pessoas de exponencial talento em uma ou outra zam a símbolo estrutural da inteligência linguística, os si-
aptidão desta ou daquela inteligência, mesmo com sérios nais aritméticos, geométricos e os números externam os
comprometimentos em suas ações relativas a outras inteli- símbolos lógico-matemáticos. Da mesma forma as notas
gências. Existem não poucos autistas com sérios problemas musicais externam símbolos da composição sonora, exis-
linguísticos ou interpessoais, mas com fortíssima inteligên- tem linguagens gráficas espaciais usadas por engenheiros
cia lógico-matemática ou mesmo musical. Os savants reve- e arquitetos, a ação corporal na dança e nos esportes é de
validade internacional como o é o riso, o choro e outras
lam inteligência - ou parte da mesma - superior, enquanto
manifestações espaciais das emoções inerente as inteligên-
suas outras inteligências operam em baixo nível.
cias pessoais.
Momentos definitos de sua manifestação ao longo da vida Operações centrais especifica de cada inteligência
Cada atividade desta ou daquela inteligência parece Da mesma forma como cada uma das inteligências
apresentar um ciclo desenvolvimental nítido, onde se des- conhecidas usam sistemas simbólicos específicos, existe
taca a faixa etária em que surge, o momento de maior índi- também um conjunto de operações centrais que servem
ce de desenvolvimento e um padrão próprio e específico de para acionar atividades inerentes a esta ou aquela inteli-
declínio com o envelhecimento. Ainda que a manifestação gência. O excelente desempenho cinestésico-corporal, por
desse ciclo possa variar de inteligência para inteligência, exemplo inclui a necessidade do domínio de certas rotinas
tende a ser o mesmo em todas as pessoas, independente motoras específicas, tal como a construção de um belo tex-
de sua cultura ou de seu ambiente geográfico. to também envolve procedimentos centrais específicos à
inteligência linguística.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Constitui mérito indiscutível na obra de Gardner a praticidade de sua teoria e, portanto, o uso em sala de aula, indepen-
dente do nível de ensino com o qual se trabalha e o conteúdo que se busca ministrar. A idéia essencial da teoria é assumir
que todo aluno pode expressar saberes através de diferentes linguagens e que, devidamente estimulado, pode explorar
sua potencialidade de forma diversificada. O texto abaixo, apenas como exemplo, procura mostrar a extrema diversidade
dessa aplicação e, nesse sentido, enfatiza uma das inúmeras perspectivas de aplicação da teoria das Inteligências Múltiplas
em sala de aula.
“ Faça de conta que em frente à sala, o professor acabou de fazer uma análise do tema “Capitanias Hereditárias”. Se pre-
ferir, ao invés deste, o tema tratado foi a “Como extrair-se raiz quadrada”, “O funcionamento do pâncreas”, “O quadro climato-
-botânico da Região Sudeste”, ou outro tema qualquer. No exemplo que se dará, o tema é pouco importante e o que modela
a ação do professor será seu procedimento, ministrando aula desta ou daquela disciplina, para este ou para aquele nível.
Ao concluir sua exposição e esclarecer dúvidas interpretativas, solicita uma síntese sobre o que falou, através da qual,
alunos organizados em pequenos grupos, deverão se expressar. Alguns poderão fazer uso de uma linguagem textual e,
dessa forma, apresentarão sua síntese com palavras e, portanto, com frases significativas, textos elucidativos, manchetes
marcantes, reportagens realistas. Na execução desse trabalho, a atividade centrada na expressão verbal, imporá ao aluno
um uso consistente de sua inteligência linguística. Mas, enquanto esse grupo busca a melhor forma de expressão verbal,
um outro por exemplo, pode estar pesquisando o tema para expressar o conteúdo do mesmo, possível de ser exemplifica-
do por equações, médias, grandezas, gráficos e proporções.
Enquanto o primeiro grupo “mergulhou” no tema, mas buscou resposta linguística; o segundo grupo não fez pesquisas
menos intensas e conclusivas, mas expressou suas respostas por uma visão lógico-matemática. O tema é o mesmo, mas
áreas cerebrais diferentes foras usadas por grupos diferentes. Da mesma forma, o mesmo tema poderá suscitar a um ter-
ceiro grupo uma resposta visuoespacial e, assim, buscará sua expressão através de mapas e de gráficos, de frisas do tempo
e de colagens, de mapa conceituais ou outras manifestações da linguagem pictográfica. Observe que, nesse exemplo, três
grupos diferentes, centrados em um mesmo tema, buscaram seu aprofundamento e sua integral significação explorando
diferentes inteligências.
Mas, será que esse tema ou conteúdo - seja ele qual for - não poderá, por exemplo, ser pesquisado através de uma
visão sonora ou musical e, por essa via, propondo-se como letra de uma samba, valsa ou trovas populares? Será que os
alunos empenhados nessa busca o estarão estudando menos profundamente? Será, por exemplo, que além da linguagem
linguística ou verbal, lógico-matemática, espacial ou sonora não seria o mesmo tema um excelente desafio para se propor
discussões que envolvessem a linguagem corporal cinestésico, naturalista, inter ou intrapessoal?
Observe que qualquer conteúdo, de qualquer disciplina, pode ser analisando segundo a visão doentia e exclusivista de
uma única inteligência, mas pode também, com alunos se revezando em funções que com o tempo de alternam, ser traba-
lhado de forma interdisciplinar, valendo-se de outras linguagens e, por esse caminho, explorando outras inteligências. Per-
cebe-se pelo exposto que usar as inteligências múltiplas em classes populares é tão simples quanto agir com bom senso.
Mas, cuidado. Existe o bom senso de ontem e o bom senso de agora. O bom senso egoísta e exclusivista de antigamen-
te que buscava normatizar a humanidade, valorizando apenas uma de suas muitas linguagens e, dessa forma, excluindo to-
dos quantos na mesma não eram excelentes e o bom senso de agora que, ao admitir o aluno como singularidade holística,
permite a expressão de seu saber através de diferentes formas, exercitando diferentes inteligências.”
Concluindo a síntese sobre a aplicabilidade dos fundamentos das idéias de Gardner no contexto da realidade de nossas
salas de aula, apresentamos o quando-síntese abaixo.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A Psicologia do Desenvolvimento como ramo da ciência psicológica constitui-se no estado sistemático da personalida-
de humana, desde a formação do indivíduo, no ato da fecundação até o estágio terminal da vida, ou seja, a velhice.
Como ciência comportamental, a psicologia do desenvolvimento ocupa-se de todos os aspectos do desenvolvi-
mento e estuda homem como um todo, e não como segmentos isolados de dada realidade biopsicológica. De modo
integrado, portanto, a psicologia do desenvolvimento estuda os aspectos cognitivos, emocionais, sociais e morais da
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
evolução da personalidade, bem como os fatores deter- de uso. Neste caso, podemos fazer alusão ao processo de
minantes de todos esses aspectos do comportamento do desenvolvimento, que se refere mais ao aspecto qualitativo
indivíduo. (coordenação dos movimentos da mão, desempenho), sem
Como área de especialização no campo das ciências excluir, todavia, alguns aspectos quantitativos (aumento do
comportamentais, argumenta Charles Woorth (1972), a psi- tamanho da mão). Nota-se, entretanto, que essa distinção
cologia do desenvolvimento se encarrega de salientar o entre crescimento e desenvolvimento nem sempre pode
fato de que o comportamento ocorre num contexto histó- ser rigorosamente mantida, porque em determinadas fases
rico, isto é, ela procura demonstrar a integração entre fa- da vida os dois processos são, praticamente, inseparáveis.
tores passados e presentes, entre disposições hereditárias
incorporadas às estruturas e funções neurofisiológicas, as A questão da hereditariedade e do meio no desen-
experiências de aprendizagem do organismo e os estímu- volvimento humano
los atuais que condicionam e determinam seu comporta-
mento. A controvérsia hereditariedade e meio como influên-
cias geradoras e propulsoras do desenvolvimento humano
Processos básicos no Desenvolvimento Humano tem ocupado, através dos anos, lugar de relevância no con-
texto geral da psicologia do desenvolvimento.
Muitos autores usam indiferentemente as palavras de- A princípio, o problema foi estudado mais do ponto
senvolvimento e crescimento. Entre estes encontram-se de vista filosófico, salientando-se, de um lado, teorias na-
Mouly (1979) e Sawrey e Telford (1971). Outros, porém, tivistas, como a de Rousseau, que advogava a existência
como Rosa, Nerval (1985) e Bee (1984-1986), preferem de ideias inatas, e, de outro lado, as teorias baseadas no
designar como crescimento as mudanças em tamanho, e empirismo de Locke, segundo o qual todo conhecimento
como desenvolvimento as mudanças em complexidade, ou da realidade objetiva resulta da experiência, através dos
o plano geral das mudanças do organismo como um todo. órgãos sensoriais, dando, assim, mais ênfase aos fatores do
Mussen (1979), associa a palavra desenvolvimento meio.
a mudanças resultantes de influências ambientais ou de Particularmente, no contexto da psicologia do desen-
volvimento, o problema da hereditariedade e do meio tem
aprendizagem, e o crescimento às modificações que de-
aparecido em relação a vários tópicos. Por exemplo, no es-
pendem da maturação.
tudo dos processos perceptivos, os psicólogos da Gestalt
Diante dos estudos e leituras realizados, torna-se evi-
advogaram que os fatores genéticos são mais importantes
dente e necessário o estabelecimento de uma diferencia-
à percepção do que os fatores do meio. Por outro lado,
ção conceitual desses termos, vez que, constantemente
cientistas como Hebb (1949) defendem a posição empi-
encontramos os estudiosos dessa área referindo-se a um
rista, segundo a qual os fatores da aprendizagem são de
outro termo, de acordo com a situação focalizada. Desta essencial importância ao processo perceptivo. Na área de
forma, preferimos conceituar o crescimento como sendo estudo da personalidade encontramos teorias constitu-
o processo responsável pelas mudanças em tamanho e cionais como as de Kretschmer e Sheldon que advogam a
sujeito às modificações que dependem da maturação, e o existência de fatores inatos determinantes do comporta-
desenvolvimento como as mudanças em complexidade ou mento do indivíduo, enquanto outros, como Bandura, em
o plano geral das mudanças do organismo como um todo, sua teoria da aprendizagem social, afirmam que os fatores
e que sofrem, além da influência do processo maturacional, de meio é que, de fato, modelam a personalidade huma-
a ação maciça das influências ambientais, ou da aprendiza- na. Na pesquisa sobre o desenvolvimento verbal, alguns
gem (experiência, treino). psicólogos como Gesell e Thompson (1941) se preocupam
Através da representação gráfica, que se segue, ilus- mais com o processo da maturação como fato biológico,
tramos o conceito de crescimento e desenvolvimento, evi- enquanto outros se preocupam, mais, com o processo de
denciando a interveniência dos fatores que o determinam: aprendizagem, como é o caso de Gagné (1977), Deese e
Hereditariedade, meio ou ambiente, maturação e aprendi- Hulse (1967) e tantos outros. Com relação ao estudo da
zagem (experiência, treino). inteligência, o problema é o mesmo: uns dão maior ênfase
aos fatores genéticos, como é o caso de Jensen (1969), en-
Processo de Desenvolvimento quanto outros salientam mais os fatores do meio, como o
faz Kagan (1969).
Exemplificando o uso do conceito de crescimento e Em 1958, surgiu uma proposta de solução à questão,
desenvolvimento: por Anne Anastasi, que publicou um artigo no Psychologi-
É evidente que a mão de uma criança é bem menor do cal Review, sobre o problema da hereditariedade e meio na
que a mão de um adulto normal. Pelo processo normal do determinação do comportamento humano.
crescimento, a mão da criança atinge o tamanho normal O trabalho de Anastasi lançou considerável luz sobre o
da mão do adulto na medida em que ela cresce fisicamen- problema, tanto do ponto de vista teórico como nos seus
te. Dizemos, portanto, que, no caso, houve crescimento aspectos metodológicos. Isso não significa que o problema
dessa parte do corpo. A mão de um adulto normal é dife- tenha sido resolvido, mas, pelo menos, ajudou os estudio-
rente da mão de uma criancinha, não somente por causa sos a formularem a pergunta adequada pois, como se sabe,
do seu tamanho. Ela é diferente, sobretudo, por causa de fazer a pergunta certa é fundamental a qualquer pesquisa
sua maior capacidade de coordenação de movimentos e científica relevante.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Faremos, a seguir, uma breve exposição da solução Maturação significa crescimento e diferenciação dos
proposta por Anne Anastasi (1958), contando com o auxílio sistemas físicos e fisiológicos do organismo. Crescimento
de outras fontes de informação. se refere a mudanças resultantes de acréscimo de tecidos.
A discussão do problema hereditariedade versus meio É, portanto, de natureza quantitativa. Diferenciação se re-
encontra-se, hoje, num estágio em que ordinariamente se fere a mudanças nos aspectos estruturais dos tecidos. Um
admite que tanto os fatores hereditários como os fatores exemplo típico de diferenciação seria o caso do embrião,
do meio são importantes na determinação do comporta- que em determinada fase de seu desenvolvimento é divi-
mento do indivíduo. A herança genética representa o po- dido em três camadas ou folhetos - o mesoderma, o en-
tencial hereditário do organismo que poderá ser desenvol- doderma e o ectoderma - dos quais se originam os vários
vido dependendo do processo de interação com o meio, órgãos e sistemas do corpo.
mas que determina os limites da ação deste. Maturação, portanto, se refere a mudanças que ocor-
Anastasi afirmou que mesmo reconhecendo que de- rem no organismo como resultado de crescimento e dife-
terminado traço de personalidade resulte da influência renciação de seus tecidos e órgãos.
conjunta de fatores hereditários e mesológicos, uma dife- Para elucidar, mais um pouco, a questão, faremos as
rença específica nesse traço entre indivíduos ou entre gru- seguintes colocações;
pos pode resultar de um dos fatores apenas, seja o genéti- - O crescimento refere-se a alguns tipos de mudanças,
co seja o ambiente. Determinar exatamente qual dos dois passo a passo em quantidade, como por exemplo, em ta-
ocasiona tal diferença ainda é um problema na metodolo- manho. Falamos do crescimento do vocabulário da crian-
gia da pesquisa. ça ou do crescimento do seu corpo. Tais mudanças em
Segundo Anastasi, a pergunta a ser feita, hoje, não mais quantidade podem ser em função da maturação, mas não
deve ser qual o fator mais importante para o desenvolvi- necessariamente. O corpo de uma criança pode mudar de
mento, ou quanto pode ser atribuído à hereditariedade e tamanho porque sua alimentação mudou, o que é efeito
quanto pode ser atribuído ao meio, mas como cada um externo, ou porque seus músculos e ossos cresceram, o
desses fatores opera em cada circunstância. É, pois, por- que é, provavelmente, um efeito maturacional.
tanto, mais preocupada com a questão de como os fatores Note-se, entretanto, que a maturação não ocorre à re-
hereditários e ambientais interagem do que propriamente velia da contribuição do meio. Segundo Schneirla, o pro-
com o problema de qual deles é o mais importante, ou cesso maturacional deve, sempre, ocorrer no contexto de
de quanto entra de cada um na composição do comporta- um ambiente favorável. Visto que existe essa interdepen-
mento do indivíduo. dência, a direção exata que a maturação tomará será afe-
Anastasi procurou demonstrar que os mecanismos de tada por aquilo que acontece no contexto em que vive o
interação variam de acordo com as diferentes condições e, organismo.
com respeito aos fatores hereditários, ela usa vários exem- - Experiência se refere a todas as influências que agem
plos ilustrativos desse processo interativo. sobre o organismo através de sua vida. A experiência pode
O primeiro exemplo é o da oligofrenia fenilpirúvica e a afetar o organismo em qualquer fase de sua ontogêne-
idiotia amurótica. Em ambos os casos o desenvolvimento se. Há experiência com ações químicas, ou enfermidades,
intelectual do indivíduo será prejudicado como resultado que podem afetá-lo na vida intrauterina, e há outras que
de desordens metabólicos hereditárias. Até onde se sabe, podem afetá-lo depois do nascimento. Quer se trate, por-
não há qualquer fator ambiental que possa contrabalançar tanto, de experiência endógena ou exógena, ela constitui,
essa deficiência genética. Portanto, o indivíduo que sofreu sempre, um dos fatores de interação que determinam o
essa desordem metabólica no seu processo de formação desenvolvimento.
será mentalmente retardado, por mais rico e estimulante Maturação e experiência, portanto, interagem no pro-
que seja o meio em que viva. cesso do desenvolvimento, e isso se dá de modo especí-
fico. Há experiências, por exemplo, que produzem o que
A questão da MATURAÇÃO e da APRENDIZAGEM Schneirla chamou de efeitos de traços, que são mudanças
no desenvolvimento humano orgânicas que, por sua vez, afetam experiências futuras.
Isto é, há experiências que produzem mudanças no orga-
A partir do patrimônio hereditário e tendo, do outro nismo, e estas mudanças determinam o modo como ex-
lado, o meio para complementar o processo de desenvol- periências futuras afetarão o organismo. Exemplo, se uma
vimento, temos dois processos fundamentais: o da MATU- criança passa por uma experiência que a incapacita para
RAÇÃO e o da APRENDIZAGEM ou EXPERIÊNCIA. atividades esportivas, um programa de educação física a
Segundo Schneirla (1957), o desenvolvimento se refere afetará de modo diferente do que afetaria sem tal expe-
a mudanças progressivas na organização de um organis- riência traumática - exemplificar dentro do nosso sujeito.
mo. Este, por sua vez, é encarado como um sistema fun- Acontece, porém, que os efeitos que determinada ex-
cional e adaptativo através de toda a vida. Portanto, desen- periência pode causar são limitadas pelo nível de matura-
volvimento implica em mudança progressiva num sistema ção do organismo. A mesma experiência poderá produzir
vivo, individual, funcional e adaptativo. Nessa mudança diferentes efeitos, dependendo do nível de maturação do
progressiva do desenvolvimento há dois fatores gerais de organismo. Aparentemente, não será de grande proveito
alta complexidade e de grande importância - maturação e submeter o organismo a um processo de aprendizagem
experiência. para o qual ele não tenha um mínimo de condições em
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
termos de seu processo maturacional. Por outro lado, en- mais seguras. Mas, por que? Esta pergunta “por que” nos
tretanto, a experiência impõe limites à maturação. O cres- leva, inevitavelmente, ao exame mais detalhado dos am-
cimento e diferenciação do processo maturacional não bientes desses dois tipos de crianças. Quem conversa com
ocorrerão sem os efeitos facilitadores da experiência. Por- a criança? Com que frequência? Que tipos de palavras são
tanto, maturação e experiência devem interagir para que o usados? Quando abordamos perguntas como essas saímos
desenvolvimento possa ocorrer. dos efeitos ambientais amplos e caímos no campo das ex-
Passamos a ilustrar, com exemplos, situações práticas, periências individuais específicas. Na verdade, os dois as-
através das quais venha a ser evidenciada a questão da pectos do desenvolvimento, maturação e aprendizagem,
maturação versus aprendizagem/experiência. É necessário são tão intimamente ligados que não é possível isolar a
que compreendamos que o desenvolvimento determina- influência de um e de outro. A pessoa baixa pode sê-lo de-
do pela maturação ocorre, na sua forma pura, indepen- vido a uma tendência hereditária, ou devido a uma doença
dentemente da prática ou tratamento, pois as sequências que impediu o seu crescimento. A capacidade herdada não
maturacionais são poderosas. Você não precisa praticar o pode desenvolver-se num vácuo, nem pode ser medida a
crescimento dos pelos pubianos, não precisou que lhes en- não ser através do estado atual de desenvolvimento, e este,
sinassem como andar. Mas essas mudanças não ocorrem naturalmente, resulta em parte da aprendizagem. Se uma
no vácuo. A criança amadurece num ambiente específico, pessoa se comporta de maneira não-inteligente, não exis-
e mesmo tais padrões maturacionais poderosos podem ser te forma infalível de saber se tal comportamento resulta
perturbados pela privação ou por acidentes. de limitações herdadas ou de limitações de seu ambiente
Uma criança que não come o suficiente pode andar na estimulação do crescimento. Apenas no caso em que
depois que outra que recebeu uma boa dieta. Durante o podemos, com razoável certeza, eliminar as possibilida-
desenvolvimento pré-natal a sequência de mudanças pode des de insuficiente oportunidade para aprender, podemos
ser perturbada por coisas, como por exemplo, doenças na considerar o comportamento inadequado como indicador
mãe. Mesmo as mudanças físicas na puberdade podem ser de deficiências herdadas. Dessa maneira, se alguém pare-
alteradas em circunstâncias extremas, particularmente pela ce estúpido em um problema de cálculo adiantado, isso
desnutrição. Por exemplo, meninas severamente subnu- pode ou não implicar falta de inteligência, o que depende
tridas não menstruam. Dennis (1960), observou o desen- da experiência do indivíduo nesse campo; ao contrário, a
volvimento físico de crianças criadas em orfanato no Irã, incapacidade para compreender relações entre ideias co-
durante os anos 50. Em um dos orfanatos, as crianças eram muns pode ser interpretada, com mais segurança, como
colocadas em seus berços deitadas de costas, sobre col- resultado de insuficiência mental.
chões que já estavam tão afundados que se tornava extre- Segundo Samuel Pfromm Neto (1976), pode-se inferir
mamente difícil para os bebês rolarem, ou virarem. a atuação de dois processos básicos no desenvolvimento:
Na medida em que eles raramente ficavam deitados a maturação e a aprendizagem. A maturação, responsável
de barriga para baixo, tinham poucas oportunidades para pela diferenciação ou desenvolvimento de traços poten-
praticar os movimentos que compõem os primeiros está- cialmente presentes no indivíduo, ocorre independente-
gios da sequência que leva ao engatinhar e andar. Em fun- mente da experiência. Frank (1963), entretanto, assinala
ção disso, muitos bebês não engatinhavam. Ao invés disso, que mais do que a emergência de padrões não aprendidos,
eles conseguiram se movimentar patinando, uma forma de a noção de maturação implica na reorganização e recom-
locomoção na qual a criança senta e impulsiona-se para binação da sequência total de funções e comportamentos
frente através de um movimento de flexionar e esticar as anteriormente padronizados, possibilitando a emergência
pernas. Todas as crianças acabavam andando, mas os pa- de novos padrões essenciais ao desenvolvimento huma-
tinadores eram muito atrasados, e sua sequência de movi- no. De tal processo resultam as mudanças ordenadas no
mentos pré-marcha estava alterada. Portanto, embora as comportamento, que se dão de modo universal e ocorrem,
sequências maturacionais sejam poderosas, elas são afe- mais ou menos na mesma época, em todos os indivíduos.
tadas pelo tipo de estimulação disponível para a criança. A aprendizagem refere-se a mudanças no comportamento
Com referência às influências ambientais, tem havi- e nas características físicas do indivíduo que implicam em
do grande quantidade de pesquisas de psicologia do de- treino, exercício e, por vezes, em esforço consciente, deli-
senvolvimento sobre os efeitos de influências ambientais, berado, do próprio indivíduo. É de particular importância,
como a pobreza ou classe social. Estas pesquisas e estudos em se tratando de seres humanos, a aprendizagem que
equivalentes sobre os efeitos dos padrões familiares, dieta ocorre em situação social.
ou diferenças étnicas envolvem, basicamente, a compara- Embora a maturação possa ser tratada separadamente
ção de grupos que tenham sofrido experiências bastante da aprendizagem, numa exposição teórica sobre o desen-
diferentes. As questões básicas respondidas são perguntas volvimento humano não é fácil fazer tal separação na práti-
do tipo o que mais, do que, por que. Qual é o efeito da ca. Quase todos os comportamentos resultantes de matu-
pobreza sobre o desenvolvimento da linguagem ou cres- ração sofrem a influência da aprendizagem e os dois pro-
cimento físico da criança? O que acontece com o conceito cessos se apresentam de tal modo inter-relacionados que
de gênero da criança se ela não tem o pai ou a mãe em raramente é possível distinguir o primeiro do segundo. No
casa? Podemos descobrir, por exemplo, que as crianças desenvolvimento da linguagem da criança, por exemplo, a
criadas em famílias pobres conhecem um número menor maturação de estruturas e funções envolvidas na produção
de palavras que as crianças em famílias financeiramente e reconhecimento de sons interage estreitamente com a
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Podemos considerar as influências genéticas sobre ca- riências. Em contraste, o desenvolvimento das habilidades
racterísticas específicas como altura, inteligência ou agres- motoras e das funções cognitivas depende da maturação,
sividade, mas, na maior parte dos casos de funções psi- de experiência e da interação entre os dois processos. Por
cológicas as contribuições exatas dos fatores hereditários exemplo, são as forças de maturação entre os dois proces-
são desconhecidas. Para tais características, as perguntas sos que determinam, em grande parte, quando a criança
relevantes são: quais das potencialidades genéticas do in- está pronta para andar. Restrições ao exercício da loco-
divíduo serão realizadas no ambiente físico, social e cultu- moção não adiam seu começo, a nãos ser que sejam ex-
ral em que ele ou ela se desenvolve? Que limites para o de- tremas. Muitos infantes dos índios bopis são mantidos em
senvolvimento das funções psicológicas são determinados berços durante a maior parte do tempo de seus primeiros
pela constituição genética do indivíduo? três meses de vida, e mesmo durante parte do dia, após
Muitos aspectos do físico e da aparência são fortemen- esse período inicial. Portanto, têm muito pouca experiência
te influenciados por fatores genéticos sexo, cor dos olhos e ou oportunidade de exercitar os músculos utilizados habi-
da pele, forma do rosto, altura e peso. No entanto, fatores tualmente no andar. No entanto, começam a andar com
ambientais podem exercer forte influência mesmo em al- a mesma idade que as outras crianças. Reciprocamente,
gumas dessas características que são basicamente deter- nãos e pode ensinar recém-nascidos e ficar de pé ou andar
minadas pela hereditariedade. Por exemplo, os filhos de antes que ser equipamento neural e muscular tenha ama-
judeus, nascidos na América do Norte, de pais que para lá durecido o suficiente. Quando essas habilidades motoras
imigraram há duas gerações, tornaram-se mais altos e mais básicas forem adquiridas, no entanto, elas melhoram com
pesados do que seus pais, irmãos e irmãs nascidos no es- a experiência e prática. O andar torna-se mais coordenado
trangeiro. As crianças da atual geração, nos Estados Unidos e mais gracioso à medida que os movimentos inúteis são
e em outros países do Ocidente, são mais altas e pesadas e eliminados; os passos mais longos, coordenados e rápidos.
crescem mais rapidamente do que as crianças de gerações A aquisição da linguagem e o desenvolvimento das
anteriores. Evidentemente, os fatores ambientais, especial- habilidades cognitivas são, também, resultados da intera-
mente a alimentação e as condições de vida afetam o físico ção entre as forças de experiência e da maturação. Assim,
e a rapidez do crescimento. embora as crianças não comecem a falar ou juntar palavras
Fatores genéticos influenciam características do tem- antes de atingirem certo nível de maturidade física, pou-
peramento, tais como tendência para ser calmo e rela- co importando quanto “ensinamento” lhes for ministrado,
xado ou tenso e pronto a reagir. A hereditariedade pode obviamente a linguagem que vierem a adquirir depende
também estabelecer os limites superiores, além dos quais de suas experiências, isto é, da linguagem que ouvem os
a inteligência não pode se desenvolver. Como e sob que outros falar. Sua facilidade verbal será, pelo menos parcial-
condições as características temperamentais ou de inteli- mente, função do apoio e das recompensas que recebem
gência se manifestarão, depende, não obstante de muitos quando expressam verbalmente.
fatores do ambiente. Crianças com bom potencial intelec- Qualogamente, as crianças não adquirirão certas ha-
tual, geneticamente determinado, não parecem muito inte- bilidades intelectuais ou cognitivos, enquanto não tiverem
ligentes se são educadas em ambientes monótonos e não atingido determinado grau de maturidade. Por exemplo,
estimulantes, ou se não tiverem motivação para usar seu até o estágio o que Piaget denomina operacional - apro-
potencial. ximadamente entre seis e sete anos as crianças só conse-
Em suma, as contribuições relativas das forças heredi- guem lidar com objetos, eventos e representações desses.
tárias e ambientais variam de características para caracte- Mas não conseguem lidar com ideias ou conceitos. Antes
rísticas. Quando se pergunta sobre as possíveis influências de atingirem o estágio operacional, não dispõem do con-
genéticas no comportamento, devemos sempre estar aten- ceito de conservação a idéia de que a qualidade de uma
tos às condições nas quais as características se manifestam. substância, como a argila não muda simplesmente porque
No que diz respeito à maior parte das características com- sua forma mudou de esférica, digamos a cilíndrica. Uma
portamentais, as contribuições dos fatores hereditários são vez atingido o estágio das operações concretas e tendo
desconhecidas e indiretas. acumulado mais experiências ligadas à noção de conser-
Quatro: Todas as características e capacidades do in- vação, podem, agora aplicá-la a outras qualidades. Podem
divíduo, assim como as mudanças de desenvolvimento, compreender que o comprimento, a massa, o número e o
são produtos de dois processos básicos, embora comple- peso permanecem constantes, apesar de certas mudanças
xos, que são os seguintes: maturação (mudanças orgânicas na aparência externa.
neurofisiológicas e bioquímicas que ocorrem no corpo do Quinto: características de personalidade e respostas
indivíduo e que são relativamente independentes de con- social, incluindo-se motivos, respostas emocionais e modos
dições ambientais externas, de experiências ou de práticas) habituais de reagir, são em grande proporção aprendidos,
e experiência (aprendizagem e treino). isto é, são o resultado de experiência e prática ou exercício.
Como a aprendizagem e a maturação quase sempre Com isso, não se pretende negar o princípio de que fatores
interagem é difícil separar seus efeitos ou especificar suas genéticos e de maturação desempenham importante papel
contribuições relativas ao desenvolvimento psicológico. na determinação do que e como o indivíduo aprende.
Com certeza, o crescimento pré-natal e as mudanças na A aprendizagem vem sendo, desde há muito, uma das
proporção do corpo e na estrutura do sistema nervoso são áreas centrais de pesquisa e teoria em psicologia e muitos
antes produtos de processos de maturação que de expe- princípios importantes de aprendizagem foram estabele-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
cidos. Há três tipos de aprendizagem que são de impor- ríodos críticos no desenvolvimento do coração, olhos, rins
tantes crítica no desenvolvimento da personalidade e no e pulmões do feto. Se o curso do desenvolvimento normal
desenvolvimento social. for interrompido em um desses períodos por exemplo, em
A primeira e mais tradicional abordagem da apren- consequência de rubéola ou de infecção causada por al-
dizagem é c condicionamento operante ou instrumental, gum vírus da mãe, a criança pode sofrer um dano orgânico
uma resposta que já está no repertório da criança é re- permanente.
compensada ou reforçada por alimento, prazer, aprovação Erick Erikson, psicanalista eminente de crianças, além
ou alguma outra recompensa material. Torne-se, em con- de teórico, considera que o primeiro ano de vida é um
sequência, fortalecida, isto é, há maior probabilidade de período crítico para o desenvolvimento de confiança nos
que essa resposta se repita. Por exemplo, ao reforçarmos outros. O infante que não for objeto de calor humano e
ou recompensarmos crianças de três meses cada vez que de amor, e que não for satisfeito em suas necessidades du-
elas vocalizem (sorrindo-lhes ou tocando-lhes levemente rante esse período, corre o risco de não desenvolver um
na barriga), ocorre um aumento marcante na frequência de sentido de confiança, por conseguinte, de não ser sucedido
vocalização das crianças. posteriormente na formação de relações sociais satisfató-
Muitas das respostas das crianças são modificadas ou rias: De modo análogo, parece haver um período crítico ou
modeladas através do condicionamento operante. Num de prontidão para a aprendizagem de várias tarefas, como
estudo, cada criança de uma classe pré-escolar foi recom- ler ou andar de bicicleta. A criança que não aprende tais ta-
pensada pela aprovação do professor por toda resposta refas durante esses períodos pode ter grandes dificuldades
social que desse e outras crianças e cada vez que mani- em apreendê-las posteriormente.
festasse um comportamento de cooperação ou de ajuda a Sétimo: As experiências das crianças, em qualquer eta-
outras crianças. Respostas agressivas, como bater, impor- pa do desenvolvimento, afetam ser desenvolvimento pos-
tunar, gritar e quebrar objetos, foram ignoradas ou puni- terior. Se uma mulher grávida sofrer problemas severos de
das por repreensão. Dentro de muito pouco tempo, houve desnutrição, a criança em formação pode não desenvolver
aumentos notáveis no número de respostas dirigidos aos o número normal de células cerebrais e, portanto, nasce
colegas, de respostas agressivas declinou rapidamente. Do com deficiência mental. Os infantes que passam os primei-
mesmo modo, diversas características de personalidade, ros meses em ambientes muitos monótonos e não estimu-
muitos motivos e respostas sociais são aprendidos através lantes parecem ser deficientes em atividades cognitivas e
do contato direto com um ambiente que reforça certas res- apresentam desempenho muito fraco em testes de funcio-
postas e pune ou ignora outras. namento intelectual em idades posteriores.
Respostas complexas podem, também, ser aprendidas A criança que recebe pouco afeto, amor e atenção no
de outro modo pela observação dos outros. O repertório primeiro ano de vida não desenvolve a autoconfiança nem
comportamental de uma criança expande-se considera- a confiança nos outros no início da vida e, provavelmente,
velmente, através da aprendizagem por observação. Esse será, na adolescência, desajustada e emocionalmente ins-
fato tem sido muitas vezes demonstrado em experimentos tável.
envolvendo grande variedade de respostas. Nesses experi-
mentos, as crianças são expostas a um modelo que executa Estágios evolutivos e tarefas evolutivas
diversos tipos de ações, simples ou complexas, verbais ou
motoras, agressivas, dependentes ou altruísticas. As crian- Embora criticado por algumas teorias, o conceito de es-
ças do grupo de controle não observam o modelo. Poste- tágios evolutivos é uma ideia constante nos estudos atuais
riormente, as crianças são observadas para se determinar da psicologia do desenvolvimento. Enquanto aquelas teo-
até que ponto copiam e imitam o comportamento mos- rias interpretam o desenvolvimento humano como algo
trado pelo modelo. Os resultados demonstram que apren- contínuo, desenvolvendo-se o comportamento humano
dizagem por observação é muito eficiente. As crianças do de maneira gradual, na direção de sua maturidade, as teo-
grupo experimental geralmente imitam as respostas do rias que preconizam a existência de estágios evolutivos (de
modelo, ao passo que as do grupo de controle não exibem Freud, Erickson, Sullivan, Piaget e muitos outros) tendem a
essas respostas. Note-se que não foi necessário o reforço ver o desenvolvimento humano como algo descontínuo.
para adquirir ou para provocar respostas imitativas. Segundo essas teorias, o curso do desenvolvimento huma-
Obviamente, a criança não tem de aprender como res- no se dá por meio de mudanças mais ou menos bruscas, na
ponder a cada situação nova. Depois de uma resposta ter- história do organismo.
-se associado a um estímulo ou arranjo ambiental, ela tem Mussem et ali (1974), afirmam que cada estágio do de-
probabilidade de ser transferida a situações similares. Esse senvolvimento humano, segundo essas teorias, represen-
é o princípio da generalização do estímulo. Se a criança tam um padrão de características inter-relacionadas. Cada
aprendeu a acariciar seu próprio cão, poderá acariciar ou- estágio de desenvolvimento representa uma evolução de
tros cães, especialmente os semelhantes ao seu. estágio anterior, mas, ao mesmo tempo, cada um deles
Sexto: Há períodos críticos ou sensíveis ao desenvolvi- se caracteriza por funções qualitativamente diferentes.
mento a certos órgãos do corpo e de certas funções psi- De acordo com essas teorias o desenvolvimento psicoló-
cológicas. Se ocorrem interferências no desenvolvimento gico do indivíduo ocorre de maneira progressiva através
normal durante esses períodos, é possível que surjam defi- de estágios fixos e invariáveis, cada indivíduo tendo que
ciências, ou disfunções permanentes. Por exemplo, há pe- atravessar os mesmos estágios, na mesma sequência. Con-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
forme Jean Piaget (1973) existe fundamento biológico para pessoal. Se, por outro lado, o organismo deixar de realizar
a teoria de estágios evolutivos, em outro contexto (1997), uma tarefa evolutiva, ou se houver falhas no processo em
considerando as estruturas principais, diz que os estágios qualquer das suas partes, os ajustamentos nas fases subse-
cognitivos têm uma propriedade sequencial, isto é, apa- quentes serão mais difíceis e, em alguns casos, podem até
recem em ordem fixa de sucessão, pois cada um deles é deixar de ocorrer. As tarefas evolutivas abrangem vários
necessário para a formação do seguinte. aspectos do processo evolutivo, incluindo o crescimento
Os embriologistas dão evidências em favor da teoria físico, o desempenho intelectual, ajustamento emocionais
dos estágios evolutivos. Falam da existência de períodos e sociais, as atitudes com relação ao próprio eu, é realida-
críticos para o desenvolvimento do zigoto, ou seja “fases de objetiva, bem como a formação dos padrões típicos de
críticas” em que se determinadas mudanças não ocorrem comportamento e a elaboração de um sistema de valores.
na célula dentro de cada intervalo e em dada sequência, o Segundo Havighurst, há três aspectos principais da ta-
desenvolvimento do organismo pode sofrer danos perma- refa evolutiva.
nentes. Os estágios do desenvolvimento humano se carac- O primeiro se refere à maturação biológica, tal como
terizam pela organização dos comportamentos típicos que aprender e andar, a falar, etc. O segundo se refere às pres-
ocorrem simultaneamente em determinado estádio evolu- sões sociais, tais como aprender a ler, a comportar-se como
tivo. Há, portanto, certos padrões de comportamento que cidadão responsável e várias outras formas do comporta-
caracterizam cada estágio da evolução psicológica do in- mento social. O terceiro aspecto se refere aos valores pes-
divíduo, sem, contudo, implicar que tais comportamentos soais que constituem a personalidade de cada indivíduo,
sejam de natureza estática. Os estágios evolutivos se carac- que resulta de processos de interação das forças orgânicas
terizam, também por mudanças qualitativas, com relação e ambientais.
a estágios anteriores. Pode acontecer, também, que num Para cada estágio da vida humana, há certas tarefas
determinado estágio evolutivo várias mudanças ocorram evolutivas que devem ser incorporadas aos padrões de ex-
simultaneamente. É o caso, por exemplo, da adolescência. periências e de comportamento do indivíduo.
Num período relativamente curto, o indivíduo muda em
muitas significativas maneiras. Nesta fase da vida o ado- Teorias do desenvolvimento humano
lescente se torna biologicamente capaz de reproduzir a es-
pécie, experimenta acelerado crescimento físico, seguido, A complexidade do desenvolvimento humano de certo
logo depois, por uma quase paralisação nesse processo, e modo exige uma complexa metodologia para seu estudo.
seu desenvolvimento mental atinge praticamente os pon- Dentre as estratégias para o estudo de desenvolvimento
tos culminantes, em termos de suas potencialidades para o da personalidade salientam-se a teoria dos estágios evo-
raciocínio abstrato. lutivos, as teorias diferenciais, ipsativas e da aprendizagem
Outro conceito de fundamental importância para o es- social.
tudo da psicologia do desenvolvimento é a noção de tare- A teoria dos estágios evolutivos procura estabelecer
fa evolutiva. Desenvolvido, principalmente, por Havighurst leis gerais do desenvolvimento humano. Advogando a
(1953), esse conceito tem sido de grande utilidade para o existência de diferentes níveis qualitativos da organização,
estudo da evolução do comportamento humano. através dos quais, invariavelmente, passam todos os indi-
A pressuposição fundamental desse conceito é a de víduos de determinada espécie. As teorias diferenciais, por
que viver é aprender, e crescer ou desenvolver-se é, tam- outro lado, procuram estabelecer leis que permitem predi-
bém, aprender. Há certas tarefas ou habilidades que o zer os fatores determinados das diferenças individuais de
indivíduo tem que aprender para poder ser considerado subgrupos no processo evolutivo. Para os adeptos das teo-
como pessoa de desenvolvimento adequado e satisfato- rias ipsativas o que interessa é verificar o que muda e o que
riamente ajustado, conforme as expectativas da sociedade. permanece constante através da história evolutiva de cada
Segundo essa teoria, à semelhança do que acontece nas indivíduo. As teorias da aprendizagem social procuram ex-
teorias de estágios evolutivos, há fases críticas no processo plicar o processo evolutivo do ser humano em temos das
do desenvolvimento humano, isto é, período em que tais técnicas de condicionamento, e tentam explicar o compor-
tipos de aprendizagem ou ajustamento devem acontecer. tamento como simples relação estímulo-resposta.
O organismo, por assim dizer, encontra-se em condições Dentre as muitas teorias do desenvolvimento humano
ótimas para que tal ajustamento ocorra. Por exemplo, há salientamos quatro que evidenciam como de maior impor-
um momento em que o organismo da criança está matu- tância: a teoria psicanalítica de Freud, a teoria interpessoal
racionalmente pronto para aprender a falar, a andar, etc. de Sullivan, a teoria psicossocial de Erickson, e a teoria cog-
Se a aquisição dessas habilidades se der no tempo próprio, nitiva de Jean Piaget.
os ajustamentos delas dependentes serão feitos natural- Teoria Psicanalítica de Freud - Existem críticas a essa teo-
mente, através de todo o processo evolutivo. Caso contrá- ria pelo fato de não haver Freud, para estabelecer suas con-
rio, haverá, sempre, déficits em todo tipo de ajustamento clusões, feito seus estudos com crianças, e sim, com adultos
que requer tais habilidades como condição fundamental. psicologicamente doentes. E há sérias restrições à teoria
Em termos gerais do organismo, podemos dizer que se freudiana da personalidade, especialmente por ela baseada,
uma tarefa evolutiva for realizada na fase crítica adequa- exclusivamente, no método de observação clínica e funda-
da, as fases subsequentes da evolução do indivíduo serão mentada na psicopatologia. Reconhecemos, entretanto, a
mais facilmente alcançadas em termos do seu ajustamento grande intuição de Freud e sua notável contribuição para o
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
estudo do comportamento humano. Convém salientar que da vida em que, praticamente, a única fonte de prazer é a
mais recentemente tem havido sérias tentativas no sentido zona oral do corpo, e que apresenta como principal carac-
de testar, experimentalmente, algumas das hipóteses le- terística psicológica a dependência emocional.
vantadas por Freud, como atestam o trabalho de Lindzey A fase anal, caracterizada pela retentividade, a fase fá-
e Hall, Silvermam e outros. Segundo Hall e Lindzey (1970), lica, na qual surge o Complexo de Édipo, e o que se carac-
Freud foi o primeiro a reconhecer a estrita relação existente teriza pelo exibicionismo. A fase latente, em que a energia
sobre o processo evolutivo e a personalidade humana. libidinosa é canalizada para outros fins e a fase genital,
Embora hoje a influência da teoria psicanalítica não que representa o alvo ideal do desenvolvimento humano.
seja tão grande como antes, no campo da psicologia do No processo evolutivo o indivíduo pode parar numa fase
desenvolvimento, ela perdura através de reformulações imatura. Nesse caso se diz que houve uma fixação. O indi-
que procuram operacionalizar, para fins de pesquisa expe- víduo pode, também, voltar a formas imaturas do compor-
rimental, alguns dos conceitos fundamentais elaborados tamento, em cujo caso se diz que houve uma regressão.
pelo criador da Psicanálise. Mecanismos de defesas são formas pelas quais o eu pro-
Parece razoável dizer-se que, de todas as teorias de cura manter sua integridade. Dentro de certos limites são
personalidade até hoje formuladas, a teoria de Freud é a considerados normais. Quando, porém, ultrapassam esses
que mais se aproxima daquilo que chamam os autores de limites, tornam-se patogênicos.
paradigma na história das ciências. Sullivan é psicanalista, mas dá muita ênfase aos fatores
É verdade que podemos fazer restrições à teoria freu- sociais do comportamento humano. As relações interpes-
diana do desenvolvimento da personalidade, mas há certos soais constituem a base da personalidade. Na infância, a
pontos que mesmo os que não concordam com Freud têm experiência básica é o medo ou ansiedade, resultante da
dificuldade em negar. Por exemplo, a tese de que existe inter-relação com a figura materna. Através da empatia
uma relação de causa e efeito no processo evolutivo, par- a criança incorpora personificações positivas e negativas.
tindo da infância até a vida adulta, parece indiscutível à Nesse período ela forma, também, diferentes autoimagens:
luz das evidências disponíveis. Se bem que o determinismo o bom-eu, o mau-eu e o não-eu. A idade juvenil é a grande
absoluto do passado, implícito na teoria freudiana, mereça fase do processo de socialização. A criança aprende a su-
restrições, não se pode negar que experiências prévias são bordinação e a acomodação social bem como a lidar com
importantes na determinação de futuros padrões de com- o conceito de autoridade. A pré-adolescência se caracteri-
portamento. za pela necessidade de companheirismo com pessoas do
A grande ênfase da teoria freudiana, quanto ao pro- mesmo sexo e pela capacidade de apreciar as necessidades
cesso da evolução psicológica do homem, concentra-se e sentimentos do outro. Na primeira adolescência o indi-
nos primeiros anos de vida. Daí o fato de que, até recente- víduo se torna cônscio de três necessidade básicas: paixão,
mente os estudos da psicologia do desenvolvimento, que intimidade e segurança pessoal, e procura meios de inte-
sofreram durante muito tempo grande influência da psica- grá-los adequadamente. A segunda adolescência marca o
nálise, limitavam-se à infância e à adolescência. A rigor, a início das relações interpessoais amadurecidas. Na fase
psicanálise clássica não tem muito a dizer sobre o desen- adulta o eu se apresenta estável e idealmente livre da ex-
volvimento da personalidade após a adolescência, pois o cessiva ansiedade.
estágio genital representa, praticamente, o ponto final e Erickson salienta os aspectos culturais do processo
até mesmo, ideal da evolução psicossexual do ser humano. evolutivo da personalidade. Há oito estágios nesse proces-
Mais tarde, Freud tentou ampliar a extensão desse proces- so, cada um deles apresenta duas alternativas: quando o
so evolutivo, ao elaborar a teoria do impulso para a mor- estágio evolutivo é satisfatoriamente alcançado, o produto
te, ou, mais especificamente, a teoria do comportamento será uma personalidade saudável; quando não é atingido,
agressivo. Não chegou a deixar marcas significativas às o resultado será uma personalidade emocionalmente ima-
demais fases da evolução psicológica do homem, além da tura ou desajustada. Na infância o indivíduo adquire con-
infância e da adolescência. Coube a outros psicanalistas a fiança básica ou desconfiança básica. Na meninice ele pode
tarefa de ampliar a teoria freudiana quanto a esse aspecto. adquirir o senso de autonomia ou, então, o sentimento de
É o caso, por exemplo, de Harry Sullivan e especialmente o vergonha e dúvida. Na fase lúdica a criança pode desen-
de Erik Erikson. volver a atitude de iniciativa ou, quando lhe falta o estí-
A teoria freudiana salienta os conceitos de energia psí- mulo do meio, pode desenvolver o sentimento de culpa e
quica e de fatores inconscientes de comportamento como de inadequação. Na idade escolar o indivíduo se identifica
ponto de partida. Os impulsos básicos são eros - impulso com o ethos tecnológico de sua cultura adquirindo o senso
para a vida, e agressão - impulso para a morte. A estrutura de indústria ou, na ausência dessas condições, pode de-
da personalidade concebida originalmente, em termos to- senvolver o sentimento de inferioridade. Na adolescência a
pográficos como consciente, pré-consciente e inconscien- crise psicossocial é o encontro da identidade do indivíduo.
te, é substituída pelo conceito dinâmico do id, que repre- Quando isso não ocorre, dá-se a difusão da identidade
senta as forças biológicas, instintivas da personalidade; e com repercussões negativas através de toda a vida.
ego, que representa o princípio da realidade, e o superego, A vida adulta compreende três fases: adulto jovem,
que representa as forças repressivas da sociedade. Há cin- caracterizada por intimidade e solidariedade, do ângu-
co estágios da evolução psicossexual: a fase oral, período lo positivo, e isolamento, do lado negativo; adultícia que
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
se caracteriza ou pela geratividade ou pela estagnação; e mano estabeleceram áreas ou aspectos para esse estudo.
a maturidade que apresenta a integridade ou desespero Embora o ser humano seja um todo, integrado, sabemos
como alternativas. que existem setores ou áreas para as quais são dirigidas
A teoria cognitiva de Jean Piaget exerce hoje relevan- as atividades e o comportamento humanos, ainda que se-
te papel em todas as áreas da psicologia e, principalmen- jam profundamente interligados. Desta forma, para estudo
te, nos campos aplicados da educação e da psicoterapia. e análise apropriados, o desenvolvimento é estudado nos
Abandonando a ideia de avaliar o nível de inteligência de aspectos físico, mental/cognitivo, emocional/ afetivo, so-
um indivíduo por meio de suas respostas aos itens de de- cial. Muitas vezes empregam-se outras divisões, agrupan-
terminados testes, Piaget adotou um método clínico atra- do diferentemente as áreas: psicofísica, sócioemocional,
vés do qual procura acompanhar o processo do pensa- psicossocial, psicomotora, etc.
mento da criança para daí chegar ao conceito de inteligên- As tarefas evolutivas do processo de desenvolvimento
cia como capacidade geral de adaptação do organismo. Os humano são, sobretudo:
conceitos fundamentais da teoria de Piaget são: esquema, a) ter um corpo sadio, forte, residente, desenvolvido;
ou estrutura, que é a unidade estrutural do desenvolvi- b) usá-lo como instrumento de expressão e de comuni-
mento cognitivo; assimilação, processo pelo qual novos cação social, como meio de participar da vida social, de co-
objetos são incorporados aos esquemas; acomodação, laborar com os outros na responsabilidade de fazer sua vida
que ocorre quando novas experiências modificam esque- e de melhorar sua qualidade e, enfim, uma base consistente
mas; equilibração, resolução de tensão entre assimilação sobre a qual a pessoa possa desenvolver o seu espírito;
e acomodação; operação, rotina mental caracterizada por c) formar o intelecto até alcançar a etapa do pensa-
sua reversibilidade e que representa o elemento principal mento abstrato, imprescindível para se compreender com
do processo do desenvolvimento cognitivo. O desenvol- mais profundidade e realidade humana;
vimento cognitivo se dá em quatro período: o período d) alcançar o equilíbrio emocional;
sensório-motor, caracterizado pelas atividades reflexas; o e) a integração social;
período pré-operacional, em que a criança pode lidar sim- f) a consciência moral;
bolicamente com certos aspectos da realidade, mas seu g) compreender o seu papel, em seu tempo, na comu-
pensamento ainda se caracteriza pela responsabilidade; o nidade em que vive e ter condições de assumi-lo, decisão e
período das operações concretas, em que a criança adquire capacidade de realizá-lo.
o esquema de conservação; e o período das operações for- Para iniciar o estudo das fases do desenvolvimento hu-
mais, caracterizado pelo pensamento proposicional e que mano, é necessário que seja focalizado o período que an-
representa o ideal da evolução cognitiva do ser humano. tecede o nascimento, tão importante e decisivo que é para
o desenvolvimento, anterior ao período pré-natal. A vida
Estágio ou períodos de desenvolvimento da vida começa, a rigor, no momento em que as células germinais
humana procedentes de seus pais se encontram. Modernamente,
o desenvolvimento pré-natal tem sido focalizado sob três
Os psicólogos do desenvolvimento humano são unâni- perspectivas, a saber: do ponto de vista dos fatores heredi-
mes em estabelecerem fases, períodos para determinar nas tários, da influência do ambiente durante a vida intrauteri-
várias etapas da vida do indivíduo. na, e do efeito das atitudes das pessoas que constituem o
São assim circunscritas por apresentarem característi- mundo significativo da criança. O estudo da inter-relação
cas e padrões de si mesmas semelhantes. Sucedem-se, na- entre esses fatores revela a importância do desenvolvimen-
turalmente, uma a outra, desde o momento da concepção to pré-natal sobre as fases subsequentes do processo evo-
até à velhice. lutivo do ser humano.
Para atender aos objetivos do trabalho, focalizaremos O mecanismo de transmissão hereditária é altamen-
as primeiras fases de vida até à adolescência. te complexo, mas ao nível do presente texto ele consiste
Tomando por base a classificação dos estágios evoluti- essencialmente no encontro de uma célula germinal mas-
vos segundo Jean Piaget (conforme já estudado no tópico culina e uma feminina. Os genes, unidades genéticas que
“Principais teorias da aprendizagem”), o grande estudioso fornecem a base do desenvolvimento, são diretamente res-
da gênese e desenvolvimento dos processos cognitivos da ponsáveis pela transmissão do patrimônio hereditário.
criança, existem quatro períodos no desenvolvimento hu- Existe uma diferença fundamental entre fatores genéti-
mano: cos e fatores congênitos no processo de desenvolvimento.
1 - Período sensório-motor: de 0 a 2 anos Genético só é aquilo que o indivíduo recebe através dos
2 - Período pré-operacional: de 2 a 7 anos genes. Congênito é tudo aquilo que influencia desenvol-
2.1. Pensamento simbólico pré-conceitual: 2 a 4 anos vimento do indivíduo, e que foi adquirido durante a vida
2.2. Pensamento intuitivo: 4 a 7 anos intrauterina, mas não é transmitido através dos genes. Ex.: a
3 - Período das operações intelectuais concretas: 7 a sífilis é uma doença congênita, porque pode ser adquirida
12 anos durante a vida intrauterina, mas não é transmitida através
4 - Período das operações intelectuais abstratas: dos 12 dos genes. Logo, a sífilis não é hereditária.
anos em diante. Durante a vida intrauterina, o indivíduo pode receber
Além de serem observados os períodos ou estágios a influência de vários fatores que determinarão o curso do
acima, os estudiosos da psicologia do desenvolvimento hu- seu desenvolvimento. Dentre esses fatores, salientam-se a
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
idade e a dieta da gestante e o uso abusivo de tóxicos, in- funcionar a nível puramente biológico e passa ao processo
fecções e da própria irradiação. Enfermidades que podem de socialização dos seus próprios atributos fisiológicos e
ser transmitidas ao indivíduo na vida intrauterina, como a a aquisição do senso moral, que permite ao indivíduo a
sífilis, a rubéola e a diabete, prejudicam o desenvolvimento formulação de um sistema de valores no qual, em muitas
normal do ser humano. circunstâncias, as necessidades secundárias se tornam mais
Analisaremos, a seguir, de maneira muito sucinta, os salientes e decisivas do que as próprias necessidades psi-
períodos do desenvolvimento humano, a partir do nasci- cológicas ou primárias.
mento, focalizando as áreas ou aspectos em cada um deles. Na fase do nascimento aos dois anos de vida as es-
Segundo Piaget, cada período é caracterizado pelo que truturas básicas da personalidade são lançadas. A figura
de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etá- materna, ou substituta, é muito importante para essa for-
rias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou mação, bem como a forma ou a maneira como o indivíduo
períodos, nessa sequência, porém o início e o término de recebe o alimento da figura materna tem profundas reper-
cada uma delas dependem das características biológicas cussões sobre seu futuro comportamento em termos da
do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, modelagem de sua personalidade. O contato físico é, tam-
a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma bém, de vital importância para o desenvolvimento emocio-
norma rígida. nal do indivíduo.
Com relação à aquisição do senso moral, sabemos que
Período sensório-motor - 0 a 2 anos o mesmo vai ser incorporado através da aprendizagem so-
Esse período diz respeito ao desenvolvimento do re- cial dos valores. Ela é relativa ao meio que o produziu. A
cém-nascido e do latente. princípio o comportamento moral da criança é de caráter
É a fase em que predomina o desenvolvimento das imitativo e mais ou menos guiado pelos impulsos. O con-
percepções e dos movimentos. ceito de certo ou errado para a criança é uma função de
O desenvolvimento físico é acelerado, pois constitui-se prazer ou de sofrimento que sua ação é capaz de produzir.
no suporte para o aparecimento de novas habilidades. O Esse conceito ainda não é concebido em termos do bem ou
desenvolvimento ósseo, muscular e neurológico permite do mal que a criança fez aos outros. Nessa idade a criança
a emergência e novos comportamentos, como sentar-se, ainda não tem a capacidade intelectual de considerar os
engatinhar, andar, o que propiciará um domínio maior do efeitos de sua ação sobre outras pessoas. Consequente-
ambiente. Essa fase do processo é caracterizada por uma mente ela não sente a necessidade de modificar seu com-
série de ajustamentos que o organismo tem de fazer, em portamento, a não ser quando sua ação lhe produz algum
função das demandas do meio. É evidente que o processo desconforto. Isto quer dizer que a criança nessa idade ain-
de adaptação do organismo não se limita a essa fase da da não tem propriamente uma consciência moral; ela ainda
vida, mas o que acontece ao indivíduo nessa fase é crucial não tem a capacidade de sentir-se culpada.
na importância para todo o processo do desenvolvimento. Segundo a teoria psicanalítica, o período de treina-
Em termos do conceito de tarefas evolutivas, Ha- mento de toalete desempenha importante papel na forma-
vighurst assinala como sendo as principais dessa fase da ção dos conceitos morais do indivíduo. Aqui pela primeira
vida as seguintes: aprender a andar e a tomar alimentos vez, o indivíduo se defronta com os conceitos do certo e do
sólidos. Aprender a falar e a controlar o processo de elimi- errado. Daí, segundo a teoria, o começo de um superego
nação de produtos excretórios. Aprender a diferença básica ou de uma consciência moral. Do ponto de vista do desen-
entre os sexos e a alcançar estabilidade fisiológica. Formar volvimento da personalidade, a natureza desse treino de
conceitos sobre a realidade física e social, aprender as for- toalete é de grande significação.
mas básicas do relacionamento emocional e a adquirir as Se o indivíduo foi educado com excessivo rigor nesse
bases de um sistema de valores. particular, ele poderá tornar-se uma pessoa extremamente
Segundo Piaget, nessa etapa inicial o indivíduo se en- meticulosa e supersensível, sempre perseguido pelo sen-
contra na fase sensório-motora do seu desenvolvimento timento de culpa. Se, por outro lado, não houve qualquer
cognitivo. Essa fase compreende seis sub-fases, a saber: o restrição ao seu comportamento nesse período, ele pode
uso dos reflexos, as reações circulares primárias e secun- se tornar um tipo humano desorganizado e com tendên-
dárias, reações circulares, terciárias, e a invenção de novos cias absolutistas prejudiciais a si mesmo e à sociedade. O
significados para as coisas através de combinações men- ideal, portanto, seria uma atitude comedida para que se
tais. possa antecipar um desenvolvimento normal da personali-
Apesar da importância dos aspectos biológicos do dade do indivíduo.
desenvolvimento humano nessa fase, os aspectos psicos- De acordo com Freud, ao primeiro ano de vida o in-
sociais dessa evolução são os de maior interesse para a divíduo está na fase ORAL da evolução psicossexual, ou
psicologia do desenvolvimento. Dentre os aspectos mais seja, todo o senso de prazer que o indivíduo experimenta
importantes do desenvolvimento psicossocial salientam- provem das zonas orais do seu corpo. A primeira ou úni-
-se os seguintes: a aquisição da linguagem articulada, cujo ca sensação de prazer que a criança experimenta é através
processo se completará no período pré-operacional, é que da boca, pela ingestão de alimentos. O alimento não se
constitui elementos de fundamental importância para os refere a simples incorporação de material nutritivo, mas in-
outros aspectos do desenvolvimento humano; o desenvol- clui uma gama de relações humanas e de afetos implícitos
vimento emocional, através do qual o indivíduo deixa de no processo da alimentação. Uma das características mais
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
óbvias de uma criança nessa idade é sua dependência do capazes de tratar os filhos aplicando a dosagem certa da
mundo adulto, especialmente da figura materna. A crian- permissividade e de autoridade, as crianças acham mais fá-
ça depende dos outros não só para lhe fornecer o senso cil desenvolver um senso de autonomia pessoal.
do prazer e conforto através da alimentação e de outros Nesse estágio, a criança aprende a assumir os papéis
cuidados, mas por sua própria sobrevivência. Nesta fase sexuais considerados aceitáveis pelos pais e pela sociedade.
da vida, a mãe é praticamente a única fonte de prazer da Os relacionamentos sociais e as atividades lúdicas pre-
criança e a atitude básica da mãe para com ela determinará param a criança para lidar com um mundo mais vasto, fora
a sua atitude básica perante a vida. A essa fase oral cor- do círculo familiar.
responde uma característica psicológica chamada caráter Os aspectos mais importantes do desenvolvimento
oral. O indivíduo é dependente emocionalmente de outros. psicossexual da idade pré-operacional abrangem os se-
Aparece aglutonomia, o alcoolismo. guintes pontos:
1) a formação de um conceito do “eu”, facilitado pela
Período pré-operacional - 2 a 7 anos aquisição da linguagem articulada;
É grande o interesse dos estudiosos sobre a fase da 2) a definição da identidade sexual do indivíduo atra-
vida humana. Corresponde ao período pré-escolar, consi- vés da qual ele aprende a se comportar de acordo com as
derado a idade áurea da vida, pois é nesse período que expectações da sociedade;
o organismo se torna estruturalmente capacitado para o 3)a aquisição de sua consciência moral que vai além
exercício de atividades psicológicas mais complexas, como da simples limitação do comportamento do mundo adulto
o uso da linguagem articulada. Quase todas as teorias do e que é capaz de levar o indivíduo a se sentir culpado em
desenvolvimento humano admitem que a idade de estu- face da violação das regras de conduta do seu meio social;
do é de fundamental importância na vida humana, por ser 4) o desenvolvimento dos padrões de agressão que re-
esse o período em que os fundamentos da personalidade sulta de vários fatores dentre os quais se salientam: a severa
do indivíduo lançados na fase anterior começam a tomar punição física, identificação com o agressor e a frustração;
formas claras e definidas. Existe um enorme volume de tra- 5) as motivações básicas do senso de competência e a
necessidade de realização, ambas muito dependentes das
balho científico sobre esse período, que em termos de pes-
condições do meio e da fundamental importância para o
quisa, em consequente formulação de teorias sobre esta
desenvolvimento adequado do ser humano.
fase do desenvolvimento.
O período pré-operacional é caracterizado por consi-
Período das operações concretas - 7 a 12 anos
deráveis mudanças físicas, as quais são um desafio para
É a fase escolar, também chamada de período das ope-
os pais e educadores, como para as próprias crianças. A
rações concretas. Nesta fase da vida, o crescimento físico
terminologia período pré-operacional foi dada por Piaget e
é mais lento do que em fases anteriores, as diferenças re-
se refere ao desenvolvimento cognitivo. No mundo moder-
sultantes do fator sexo começam a se acentuar mais niti-
no Piaget é, talvez, a figura de maior relevo no estudo do damente.
desenvolvimento dos processos cognitivos do ser humano. Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo o in-
De acordo com esse cientista, o período pré-operacional é divíduo se encontra, na idade escolar, no estágio das ope-
dividido em dois estágios: de dois a quatro anos de idade, rações concretas, segundo a teoria de Piaget. O pensamen-
em que a criança se caracteriza pelo pensamento egocên- to da criança nessa idade apresenta as características de re-
trico, e dos quatro aos sete anos, em que ela se caracteriza versibilidade e de associação que lhe permitem interpretar
pelo pensamento intuitivo. As operações mentais da crian- eventos independentemente do seu arranjo atual. Nesse
ça nessa idade se limitam aos significados imediatos do estágio, entretanto, a criança ainda se limita, em termos
mundo infantil. cognitivos, ao seu mundo imediato e concretamente real.
Enquanto no período anterior ao pensamento e racio- Este período, ou idade escolar, segundo a teoria freu-
cínio da criança são limitados a objetos e acontecimentos diana, corresponde ao estágio latente, assim designado por
imediatamente presentes e diretamente percebidos, no pe- que nela a libido não exerce grande influência no compor-
ríodo pré-operacional, ao contrário a criança começa a usar tamento observável do indivíduo, visto que praticamente
símbolos mentais _ imagens ou palavras que representam toda a sua energia é utilizada no sentido de adquirir as
objetos que não estão presentes. São características dessa competências básicas para a vida em sociedade. O ponto
fase o egocentrismo infantil, o animismo, o artificialismo e mais importante a salientar nesta fase da vida, no contexto
o finalismo. Também inexiste o conceito de invariância e a da teoria psicanalítica, é o conceito de mecanismo de defe-
noção de reversibilidade. sa, dos quais se distinguem a negação, a identificação com
É adquirida a linguagem articulada, e passa por uma o agressor, a repressão a sublimação, o deslocamento, a
sequência de aquisições. A criança nesta fase precisa regressão, a racionalização e a projeção.
aprender novas maneiras de se comportar em seus rela- Segundo a teoria de Erickson, a crise psicossocial da
cionamentos. Freud descreve os anos pré-escolares como idade escolar se encontra nos polos industriais versus infe-
sendo o tempo do conflito de Édipo (para os meninos) e rioridade. Dependendo do resultado da solução dessa crise
do complexo de Eletra (para as meninas). Segundo Erik- evolutiva, o indivíduo pode emergir como ser capaz e pro-
son, a tarefa primordial da criança nessa idade é resolver dutivo, ou como alguém com um profundo e persistente
o conflito entre a iniciativa e a culpa. Quando os pais são sentimento de incompetência e de inferioridade.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nessa idade, advogada Sullivan, o indivíduo adquire - o estágio pós-pubescente, durante o qual as caracte-
os conceitos de subordinação social que podem ajudá-lo rísticas sexuais secundárias continuam a se desenvolver e
a ajustar-se à vida em sociedade. Nesta idade, os padrões os órgãos sexuais começam a funcionar de maneira ama-
supervisores contribuem para a formação de uma autoima- durecida.
gem através das expectativas do mundo social do indiví- São muitas e profundas as mudanças fisiológicas e
duo. Mas, sobretudo, a idade escolar é importante porque estruturais que ocorrem no corpo das meninas e meninos
nela a criança adquire o conceito de orientação na vida, púberes, porém podemos afirmar não estarem aptos para
através do qual ela realiza a integração dos vários fatores o exercício da atividade sexual. Com relação aos meninos, e
socioemocionais do processo de desenvolvimento. as características sexuais primárias e secundárias, as gôna-
No ajustamento psicossocial os grupos de parceria e a das masculinas ou testículos, até a idade de catorze anos,
escola representam relevante papel. Os grupos de parceria aproximadamente, representam cerca de dez por cento do
oferecem à criança nessa idade certo apoio social, mode- seu tamanho normal no adulto. Durante um ano ou dois,
los humanos a imitar, a noção fundamental dos diferentes então, ocorre um crescimento rápido, que logo depois co-
papéis que os indivíduos exercem na sociedade, e certos meça a decrescer até que pelos vinte ou vinte e um anos
padrões de autoavaliação. Por sua vez, a escola oferece à de idade os testículos atingem seu desenvolvimento pleno.
criança a oportunidade de lidar com figuras que represen- Com relação às meninas, temos a constatação muito
tam autoridade fora do ambiente do lar. válida e útil para o objeto do nosso estudo, que o seu apa-
No período das operações concretas, ou seja, época relho reprodutor vai-se desenvolvendo ao longo da puber-
denominada fase escolar, o autoconceito assume forma dade, mas não bruscamente. A exemplo, o útero de uma
mais definida, especialmente porque aqui a criança apren- garota de onze ou doze anos de idade pesa, em média,
de que é um indivíduo diferente dos demais. É assim que quarenta e três gramas. Os demais órgãos - trompas, ová-
ela é tratada por seus professores e colegas. Esse trata- rios, vaginas - crescem rapidamente. A ação dos hormônios
mento recebido e também dispensado aos outros contri- é determinante para essas mudanças do organismo.
bui para acentuar a identidade sexual da criança de idade Ao lado dos efeitos físicos mencionados, verificam-se,
escolar. Quanto ao conceito de moralidade nessa fase da
também, efeitos psicológicos de consequências considerá-
vida, talvez o ponto mais importante seja a mudança quan-
veis. Nesta fase tende a criança a isolar-se do convívio com
to à orientação ou ponto de referência. Antes, a decisão
outras pessoas, torna-se, geralmente, mais hostil para com
moral da criança era inteiramente heteronômica, segundo
os companheiros e para com os seus próprios familiares.
Piaget, agora ela tende a ser autonômica. Uma das melho-
Passa muito tempo sozinha, sentindo-se mal compreendi-
res evidências dessa mudança de orientação é a capacida-
da, entregando-se ao autoerotismo ou masturbação. Perde
de de sentir-se culpada, e não somente com medo de ser
apanhada em falta e castigada. o interesse pelas atividades de que gostava e o entusiasmo
Os padrões de agressão da criança de idade escolar pelas atividades escolares. Possui um autogonismo social,
são influenciados por três fatores principais, a saber: pelos negando sua cooperação e se tornando hostil à criança do
pais, pelos companheiros e pelos meios de comunicação sexo oposto. É instável emocionalmente, sujeita a irritabili-
de massa. Quanto aos pais, os fatores que mais afetam es- dade e a demonstração de ansiedades. Passa a ter um ele-
ses padrões de agressão são a rejeição e o castigo físico vado grau de falta de confiança própria e medo de falhar
demasiado severo. Os grupos de parceria modificam esses socialmente. Muitos não alcançam o grau de ajustamen-
padrões criando rivalidade intergrupal e reduzindo a coo- to nessa fase e atravessam a existência dominados pelo
peração entre grupos competitivos. Os meios de comuni- chamado complexo de inferioridade. Outro problema é a
cação de massa oferecem modelos de violência, que ten- excessiva timidez, ou acanhamento natural, resultante do
dem a aumentar a agressão dos indivíduos que já possuem fato de que a criança teme que os outros vão notar as mu-
certo grau de revolta contra as instituições sociais. danças porque está passando e também por ignorar qual
a atitude que essas pessoas terão com ela. Existe uma falta
O fenômeno PUBERDADE de coordenação motora resultante do rápido crescimento
A puberdade é considerada uma fase de transição no de certas áreas do corpo que torna a criança desajeitada e
processo evolutivo porque ela abrange parte da infância tímida e receosa de dar má impressão aos que a cercam.
e parte da adolescência. Representa o início de uma das Esses problemas serão esclarecidos e solucionados com a
fases mais importantes do desenvolvimento humano. Ela é definição da identidade do indivíduo, que normalmente
um período relativamente curto de vida, com duração de ocorre na adolescência.
dois a quatro anos, e os estudiosos da psicologia do desen-
volvimento a dividem em três fases, a saber: Período das operações formais - 12 anos aos 21 anos
- o estágio pré-pubescente, durante o qual as carac- Corresponde ao período chamado adolescência, que
terísticas sexuais secundárias começam a aparecer. Nesse significa crescer ou desenvolver-se até a maturidade.
estágio, entretanto, os órgãos reprodutivos ainda não se Durante muitos séculos, o termo adolescência foi
encontram plenamente desenvolvidos; definido quase que exclusivamente, em função dos seus
- o estágio pubescente, durante o qual as caracterís- aspectos biológicos. Adolescência e puberdade eram usa-
ticas sexuais secundárias continuam a se desenvolver e os das como palavras sinônimas. Modernamente, entretan-
órgãos sexuais começam normalmente a produzir células to, a adolescência deixou de ser um conceito puramen-
germinativas; te biológico e passou a ter, sobretudo, uma conotação
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
psicossocial. É baseado neste conceito que Munuss (1971), só se pode falar sobre o término da adolescência em ter-
define adolescência em termos sociológicos, psicológicos mos de idade cronológica à luz do contexto sociocultural
e cronológicos. do indivíduo. O que, de fato, marca o fim da adolescên-
Cronologicamente, a adolescência, ao menos nas cul- cia são os ajustamentos normais do indivíduo aos padrões
turas ocidentais, é o período da vida humana que vai dos de expectativas da sociedade com relação às populações
doze ou treze anos até mais ou menos aos vinte dois ou adultas.
vinte e quatro anos de idade, admitindo-se consideráveis Do ponto de vista de um conceito psicossocial da ado-
variações. Tanto de ordem individual e, sobretudo, de or- lescência, podemos dizer, como observa Hurlock (1975),
dem cultural. que ela é um período de transição na vida humana. O ado-
Sociologicamente, adolescência seria o período de lescente não é mais criança, porém, ainda não é adulto.
transição em que o indivíduo passa de um estado de de- Esta condição ambígua tende a gerar confusão na mente
pendência do seu mundo maior para uma condição de do adolescente, que não sabe exatamente qual o papel que
autonomia e, sobretudo, em que o indivíduo começa a as- tem na sociedade. Esta confusão começa a desaparecer na
sumir determinadas funções e responsabilidades caracte- medida em que o adolescente define sua identidade psico-
rísticas do mundo adulto. lógica. A adolescência é, também, um período de mudan-
Do ponto de vista psicológico, a adolescência é o ças significativas na vida humana. Hurlock fala de quatro
período crítico de definição da identidade do “eu”, cujas mudanças de profunda repercussão nessa fase. A primeira
repercussões podem ser de graves consequências para o delas é a elevação do tônus emocional, cuja intensidade
indivíduo e a sociedade. depende da rapidez com que as mudanças físicas e psi-
Vale ressaltar a diferença entre os termos puberdade, cológicas ocorrem na experiência do indivíduo. A segunda
pubescência e adolescência. A puberdade é o estágio evo- mudança significativa dessa fase da vida é decorrente do
lutivo em que o indivíduo alcança a sua maturidade sexual. amadurecimento sexual que ocorre quando o adolescen-
A data exata em que ocorre o amadurecimento sexual do te se encontra inseguro com relação a si mesmo, a suas
ser humano, diz Munuss, varia de acordo com fatores de habilidades e seus interesses. O adolescente experimenta
ordem socioeconômica e geográfica. Por exemplo, a matu- nesta fase da vida o sentimento de instabilidade, especial-
mente em face do tratamento muito ambíguo que recebe
ridade sexual tende a ocorrer mais cedo em indivíduos que
do seu mundo exterior. Em terceiro lugar, as mudanças que
vivem em climas temperados e que pertencem às classes
ocorrem no seu corpo, nos seus interesses e nas suas fun-
sociais mais elevadas. Em zonas tropicais, e também por
ções sociais, criam problemas para o adolescente porque,
influência de fatores nutricionais, esse amadurecimento
muitas vezes, ele não sabe o que o grupo espera dele. E,
sexual tende a ocorrer um pouco mais tarde. Pubescên-
finalmente, há mudanças consideráveis na vida do adoles-
cia seria o período, também chamado de pré-adolescência,
cente quanto ao sistema de valores. Muitas coisas que an-
caracterizado pelas mudanças biológicas associadas com a tes eram importantes, para ele, passam a ser consideradas
maturação sexual. É o período de desenvolvimento fisioló- como algo de ordem secundária, a capacidade intelectual
gico durante o qual as funções reprodutoras amadurecem; do adolescente lhe dá condição de analisar de modo crítico
é filogenético e inclui o aparecimento de características se- o sistema de valores a que foi exposto e a que, até então,
xuais secundárias e a maturidade fisiológica dos órgãos se- respondem de modo mais ou menos automático. Porém,
xuais primários. Estas mudanças ocorrem num período de agora o adolescente está em busca de algo que lhe seja
aproximadamente dois anos. Adolescência é um conceito próprio, algo pelo qual ele possa assumir responsabilidade
mais amplo e inclui mudanças consideráveis nas estruturas pessoal. Daí, então, as lutas por que passa o ser humano
da personalidade e nas funções que o indivíduo exerce na nessa fase da vida, no sentido da vida, no sentido de definir
sociedade. Em síntese, o conceito moderno de adolescên- seu próprio sistema de valores, seus próprios padrões de
cia não se confunde com puberdade, como fato biológico, comportamento moral.
nem tampouco com pubescência, como estágio de transi- A adolescência é, também, um período em que o in-
ção marcada por grandes mudanças fisiológicas. Adoles- divíduo tem que lutar contra o estereótipo social e con-
cência é um conceito psicossocial. Representa uma fase crí- tra uma autoimagem distorcida dele decorrente. A cultura
tica no processo evolutivo me que o indivíduo é chamado tende a ver o adolescente como um indivíduo desajeita-
a fazer importantes ajustamentos de ordem pessoal e de do, irresponsável e inclinado às mais variadas formas de
ordem social. Entre estes ajustamentos, temos a luta pela comportamento antissocial. Por sua vez, o adolescente vai
independência financeira e emocional, a escolha de uma desenvolvendo uma autoimagem que reflete, de alguma
vocação e a própria identidade sexual. Como conceito psi- forma, esse estereótipo da sociedade. Essa condição in-
cossocial, a adolescência não está necessariamente limita- desejável ordinariamente cria conflitos entre pais e filhos,
da aos fatores cronológicos. Em determinadas sociedades entre o adolescente e a escola, entre o adolescente e a so-
primitivas, a adolescência é bastante curta e termina com ciedade em geral.
os ritos de passagem em que os indivíduos, principalmente A adolescência é o período de grandes sonhos e aspi-
os de sexo masculino, são admitidos no mundo adulto. Na rações, mesmo que não sejam sempre, realistas. De acordo
maioria das culturas ocidentais, entretanto, a adolescência com o próprio Piaget, nessa fase da vida a possibilidade
se prolonga por mais tempo e pode-se dizer que a ausên- é mais importante do que a realidade. Com o amadureci-
cia de ritos de passagem torna essa fase de transição um mento normal do ser humano é que ele vai aprendendo a
período ambíguo da vida humana. Portanto, diz Munuss, discriminar entre o possível e o desejável.
53
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Na adolescência, como nas demais fases da vida, o in- Bullying é um conjunto de atitudes agressivas, inten-
divíduo tem que cumprir tarefas evolutivas. cionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente,
As principais tarefas evolutivas da adolescência, se- adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando
gundo Havighurst, são as seguintes: aceitar e aproveitar ao dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos
máximo o próprio corpo; estabelecer relações sociais mais cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações
adultas com companheiros de ambos os sexos; chegar a injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e
ser independente dos pais e de outros adultos, dos pontos infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão,
de vista emocional e pessoal; escolha de uma ocupação e além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das
preparação para a mesma; preparação para o noivado e manifestações do comportamento bullying.
o matrimônio; desenvolvimento de civismo; conquista de No Brasil não existe uma tradução para a palavra
uma identidade pessoal, uma escala de valores e uma filo- bullying. Entretanto a Associação Brasileira Multiprofissio-
sofia de vida. nal de Proteção à Infância e a Adolescência (ABRAPIA) rela-
Do ponto de vista cognitivo e segundo Jean Piaget, ciona algumas expressões que podem ser definidas como
o adolescente está no estágio das operações formais. Se- bullying, como o ato de zoar, provocar, isolar, excluir, go-
gundo Piaget, o amadurecimento biológico do adolescen- zar, apelidar, discriminar, agredir, ignorar, chutar, ameaçar,
te torna possível a aquisição das operações formais, que amedrontar, quebrar material, ferir, perseguir, intimidar,
representam o ponto máximo do processo do desenvol- ofender e sacanear o próximo. Esses atos podem causar
vimento cognitivo. As operações formais, entretanto, não dor silenciosa na maioria das vítimas, levando-as ao distan-
são um dado a priori, mas dependem da interação do or- ciamento da escola.
ganismo com o meio. A aquisição das operações formais Conforme o pensamento de Chalita (2008), o bullying é
é de fundamental importância, especialmente em face do um conceito muito bem definido, não escolhe classe social
enorme progresso das ciências naturais em nosso século. ou econômica, escola pública ou particular, área urbana ou
Elas são, também, necessárias a todo o processo de ajusta- rural, ele está presente em grupos de crianças e de jovens,
mento social do adolescente. em escolas de países e culturas diferentes. Isso nos mostra
que o bullying está sendo considerado motivo de agressi-
vidade nas escolas, trazendo consequências negativas para
Fonte
todos os protagonistas do bullying, afetando a formação
PINHEIRO, M. da S. Aspectos biopsicossociais da Crian-
psicológica, emocional e socioeducacional do aluno.
ça e do adolescente.
Entendendo que o bullying é um problema mundial,
Disponível em http://www.cedeca.org.br/conteudo/
encontrado em qualquer escola, não se restringindo a um
noticia/arquivo/3883a852-e760-fc9f-57158b8065d42b0e.
tipo específico de instituição escolar.
pdf
Segundo Fante (2005), foi Dan Olweus, quem desen-
volveu os primeiros critérios para detectar o problema de
3.6 TEMAS CONTEMPORÂNEOS: BULLYING, O PA- forma específica, podendo diferenciar as interpretações
PEL DA ESCOLA, A ESCOLHA DA PROFISSÃO, TRANS- como os atos de gozações ou relações de brincadeiras
TORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA, FAMÍLIA, entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do
ESCOLHAS SEXUAIS. indivíduo.
No passado nada se sabe concretamente sobre o
BULLYING bullying antes da década de 1970. Foi somente com pes-
quisas realizadas em 1972 e 1973, na Escadinávia, que as
Bullying: Abordagem Histórica famílias perceberam a seriedade dos problemas decorren-
tes da violência escolar. A inquietação alastrou-se pela No-
A palavra bullying é de origem inglesa, adotada em ruega e Suécia e, posteriormente, por toda a Europa.
muitos países para definir o desejo consciente de maltratar O primeiro país a preocupar com o bullying escolar
e inibir uma ou outra pessoa e colocá-la sob tensão. Ter- foi a Suécia, na década de 1970, quando ocorreram várias
mo usado para conceituar todos os atos de violência física agressividades no ambiente escolar.
ou psicológica intencional e repetitiva, que se manifesta A escola juntamente com a sociedade tentou investi-
sem nenhum motivo aparente, praticados por uma pessoa gar e solucionar métodos preventivos para a resolução do
ou grupo de pessoas, contra outro(s), com o objetivo de problema.
intimidar ou agredir o indivíduo incapaz de se defender, Na Noruega, o bullying foi motivo de preocupação e
causando nas vítimas muito sofrimento, levando-as ao iso- inquietação nos meios de comunicação e entre professores
lamento social e em alguns casos à agressividade. e pais, sem que as autoridades educacionais se comprome-
As brincadeiras acontecem naturalmente entre as tessem de forma judicial.
crianças, são saudáveis, todos participam, se divertem e No final de 1.982, o bullying passou a ser motivo de
são incluídas. As brincadeiras passam a ser bullying quando preocupação e atenção nas entidades escolares, quando
há exclusão, sentimentos negativos e violência. o jornal noticiava o suicídio de três alunos, com idade de
De acordo com Fante (2005), alguns pesquisadores 10 a 14 anos, no Norte da Noruega, sendo que a principal
consideram no mínimo três ataques contra a mesma vítima causa foi identificada por maus tratos que eram recebidos
durante o ano para ser classificado como bullying. por seus companheiros de escola. Isso fez com que o Mi-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
nistro da Educação da Noruega, realizasse uma campanha escolas foi possível iniciar o mapeamento da violência es-
nacional contra os problemas da violência entre alunos no colar no Brasil, com o objetivo de prevenir as violências que
ambiente escolar. ocorrem no ambiente escolar.
O professor e pesquisador da Universidade de Ber-
gen, Dan Olwues, durante época, investigou nas escolas as Bullying Direto e Indireto
agressões cometidas entre agressores e suas vítimas, para
diferenciar o problema de forma específica, avaliando a na- Sabe-se que, as ações do bullying entre os alunos
tureza e ocorrência dessas agressões. apresentam características comuns, como comportamen-
Inicialmente Dan Olweus, pesquisou 84 mil estudantes, tos agressivos de forma repetitiva e violenta contra uma
trezentos a quatrocentos professores e mil pais, incluindo mesma vítima, dificultando assim a defesa da mesma.
vários períodos de ensino. Para a realização dessa pesquisa Mediante o que comenta Chalita, sobre as práticas do
Dan Olweus desenvolveu um questionário padrão, com 25 bullying, pode ser considera como sendo uma forma sutil
questões, ao término constatou que a cada sete alunos, um de violência, que, geralmente envolve colegas da mesma
estava envolvido em casos de bullying. sala de aula, gera comportamentos agressivos que podem
Com essa situação foi possível realizar um programa ser classificados como bullying direto ou bullying indireto.
de intervenção proposto por Dan Olweus, juntamente com Ambas as formas são prejudiciais a todos os envolvidos
o governo norueguês e que veio a reduzir 50% dos casos do bullying, afetando principalmente a vítima. O bullying
de bullying. Esse programa envolveu professores a alunos, direto ocorre quando a vítima é atacada diretamente pelo
com o objetivo de conscientizar e prevenir o bullying no agressor, sendo utilizado com uma frequência maior entre
ambiente escolar. Esse fato incentivou outros países, como os meninos, usando agressões físicas como: bater, chutar,
o Reino Unido, Canadá e Portugal, a promoverem campa- tomar pertences, empurrões, roubos; e as atitudes verbais
nhas de intervenção. que são os insultos, apelidos pejorativos que ressaltam de-
De acordo com as pesquisas de Fante (2005), o bullying feitos ou deficiências e atitudes de discriminação, expres-
vem aumentando entre alunos das escolas americanas. Os sões e gestos que geram mal-estar às vítimas.
pesquisadores americanos classificam bullying como um
Geralmente o bullying indireto, é a forma mais adotada
conflito global e se vier a persistir essa tendência, será
entre o sexo feminino e crianças menores. As estratégias
enorme a quantidade de jovens que se tornarão adultos
utilizadas são atitudes de indiferença, difamações, fofocas,
abusadores e delinquentes.
rumores degradantes sobre a vítima e familiares, entre ou-
Ainda com base no pensamento da autora não existe
tros.
diferença entre o bullying praticado no Brasil e nos Estados
De acordo com Gabriel Chalita (2008), o bullying in-
Unidos, ou em qualquer outro lugar do mundo, o que varia
direto leva a vítima ao isolamento social, desenvolvendo
são os índices encontrados em cada país.
uma atitude de insegurança e dificuldade de se relacionar,
Baseado nos dados da ABRAPIA, nos diversos países
pode-se afirmar que o bullying está presente em todas as muitas vezes tornando-se uma pessoa retraída, e indefesa.
escolas. No Brasil, o bullying aparece em uma quantida- No bullying indireto os meios de comunicação é uma
de pequena, comparada a países como os Estados Unidos, forma eficaz, que vem crescendo assustadoramente junto
Espanha e onde o assunto é expandido com intensidade com o desenvolvimento da internet e dos telefones celula-
devido a graves consequências do bullying dentro do am- res, pois divulgam, com rapidez comentários cruéis e mali-
biente escolar. ciosos sobre as pessoas. Essa crueldade virtual é conhecida
No Brasil, o bullying ainda é pouco comentado e estu- como cyberbullying. Nesta forma de bullying o agressor se
dado, motivo pelo qual não existem indicadores que nos esconde no anonimato e tortura a vida de outros colegas,
forneçam uma visão global para que possamos compará-lo através de páginas difamatórias na internet, mensagens de
aos demais países. texto anônimo entre outros.
Conforme citação acima é possível dizer que, o Brasil De acordo com Pedra (2008, p.67), que estudos reve-
em relação à Europa, no que se refere aos estudos e tra- lam que, na Inglaterra, 25% das meninas são vítimas de
tamento desse comportamento, está com pelo menos 15 ciberbullying através de celulares. Nos Estados Unidos, um
anos de atraso. Isso nos mostra que nas escolas brasileiras dado surpreendente foi divulgado pela imprensa 20% dos
o bullying apresenta índices inferiores aos países europeus. alunos do ensino fundamental são alvos dessa forma de
Gabriel Chalita (2008), em suas pesquisas constatou violência.
que a professora Marta Canfielde e seus colaboradores Conforme citação acima, entende-se que, os maio-
realizaram umas das primeiras investigações registradas res praticantes do ciberbullying são os adolescentes, não
sobre o bullying no Brasil, isso ocorreu no ano de 1997. sendo possível traçar um perfil, por se tratar de ataques
Observou o comportamento agressivo em crianças de qua- virtuais, a imagem e a identidade do agressor não são ex-
tro Escolas Públicas em Santa Maria-RS. Para a realização postas, e quando são descobertos pelas vítimas geralmen-
dessas pesquisas, a professora Marta Canfielde adaptou e te não os denunciam.
aplicou o questionário de Dan Olweus. O mesmo autor relata que, a denúncia é o principal
Posteriormente foram realizados estudos por várias es- instrumento para a interrupção desses atos. Entretanto,
colas brasileiras, (Rio de Janeiro e São José do Rio Preto-SP) prevenir é o melhor caminho, devendo ser começado pela
no período de 2000 a 2003. Com o trabalho realizado nessas família com a parceria com as escolas.
55
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Os alunos devem ser orientados sobre o assunto e Fante (2005), afirma que “crianças portadoras de de-
conduzidos à reflexão sobre os limites da internet. O uso ficiências físicas e de necessidades educacionais, correm
do computador tem gerado muitas discussões em família, maior riscos de se tornarem vítimas do autor do bullying,
por não conseguirem delimitar o tempo dos filhos no com- com a possibilidade de duas a três vezes maiores que as
putador e nem estabelecer regras. crianças consideradas normais”.
A partir da compreensão que, os protagonistas do Fante (2005), estudiosos da área do bullying identifi-
bullying podem ser classificados como autor, vítima e tes- cam e classificam os tipos de papéis desempenhados, en-
temunha de acordo com sua reação à situação do bullying, tre as vítimas, como: “vítima típica, vítima agressora, vítima
não há evidências que permita saber qual personagem provocadora”.
adotará cada aluno, sendo que poderá sofrer alterações de Considerada vítima típica, aquele aluno que recebe as
acordo com as circunstâncias vivenciadas dentro da escola. agressões de outro não dispondo de habilidades físicas e
Nesse sentido, Chalita (2008, p. 85) relata que “são vá- emocionais para reagir.
rios os alunos envolvidos nessa situação de bullying”. Iden- Os ataques constantes e as agressões contra as vítimas
tificá-los é fundamental, mas com o cuidado de não rotular podem comprometer o desenvolvimento desses alunos
os estudantes, para que não sejam motivos de rumores dentro da sala de aula, aumentando a ansiedade e o con-
desagradáveis dentro da comunidade escolar. Em todos os ceito negativo sobre si mesmo.
casos os envolvidos no bullying podem sofrer graves con- O silêncio das vítimas se torna um aliado poderoso dos
sequências no que se diz respeito a aprendizagem escolar agressores, ajudando a aumentar a violência dentro da co-
e ao convívio social. munidade escolar. Muitas vezes a vítima típica não comen-
ta sobre as agressões sofridas, por vergonha, por medo de
Autor do Bullying represália, intimidações, por não acreditarem que estão fa-
lando a verdade, temor pelas reações dos familiares, pela
incapacidade de defesa.
Conforme afirma Chalita (2008), os autores do bullying,
normalmente “são alunos populares que precisam de pla-
O comportamento, os hábitos, a maneira de se vestir, a
teia para agir. Reconhecidos como valentões, oprimem e
falta de habilidades em alguns esportes, a deficiência física
ameaçam suas vítimas por motivos banais, apenas para
ou aparência fora do padrão de beleza imposto pelo gru-
impor autoridade”. Com isso, compreende-se que o autor
po, o sotaque, a gagueira, a raça podem ser motivo para a
do bullying se sente reconhecido e realizado, sempre man-
escolha de uma vítima. Chalita.
tendo um grupo em torno de si, para se permanecer apoia-
No entanto, é preciso salientar que o fato de algum
do e fortalecido, sentindo prazer e satisfação em dominar, aluno apresentar essas características não significa que seja
controlar e causar danos e sofrimento as vítimas. ou venha a ser vítima de bullying.
Fante (2005), salienta que frequentemente o autor do Quando a humilhação é constante contra a vítima, ela
bullying é membro de família desestruturada, nas quais há perde a identidade, porque a mesma e os demais a reco-
pouco relacionamento afetivo entre si, ausência de limites nhecerão somente através daquela característica negativa
e ao modo de afirmação de poder dos pais sobre os filhos, que está sendo focada.
por meio de “práticas educativas”, que incluem maus-tra- Segundo Fante (2005), as vítimas típicas do bullying
tos físicos e explosões violentas. são indivíduos selecionados, sem um motivo claro, para
Quando os pais ou responsáveis exercem um acompa- sofrer ameaças, humilhações e intimidações, geralmente
nhamento precário ao seu filho, adotando comportamen- sentem medo de reagir às agressões sofridas devido a sua
tos agressivos ou explosivos para tentar solucionar os con- baixa estima e insegurança, se tornando um indivíduo pou-
flitos que há no ambiente familiar, contribui para que este co sociável.
reproduza a agressividade sofrida, no meio escolar. A autora, ainda comenta que a vítima típica do bullying
Fante (2005), diz que o agressor do bullying, se “apre- sente dificuldades de impor-se ao grupo, tanto físico como
sentam mais forte que seus companheiros de classe e de verbalmente, por não ter hábitos de agressividades, os so-
suas vítimas em particular, podendo ser fisicamente supe- frimentos das vítimas podem ser prolongados com muita
rior nas brincadeiras, brigas e nos esportes, entretanto o dor e angústia. Acreditando serem merecedores desses
autor pode ter a mesma idade ou ser um pouco mais velho maus tratos, preferem sufocar seus sentimentos que de-
que suas vítimas”. nunciar os supostos agressores, buscando cada vez mais o
A ABRAPIA nos acrescenta que frequentemente a isolamento social. Geralmente as vítimas típicas preferem
maioria dos casos dos autores de bullying, procuram para ficar perto dos adultos, procurando evitar seus colegas.
serem suas vítimas pessoas com algumas características E a vítima agressora é o aluno que é agredido e trans-
específicas, como: deficiência física, baixa estatura, inteli- fere todo o seu sofrimento para outro indivíduo reprodu-
gência superior entre os demais, submissão, dificuldades zindo as agressões sofridas em uma situação de violência
na aprendizagem, aspecto físico frágil, timidez, religião e mais discreta, com a mesma intensidade de agressividade.
culturas diferenciadas, cor de pele. Essas vítimas agressoras posteriormente podem tornar-se
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
agressores de colegas considerados mais fracos e indefe- Quando o professor não tem equilíbrio emocional para
sos. Em casos extremos, são aqueles que se munem de ar- lidar com os atos de agressividade entre alunos que ocor-
mas e explosivos e vão até a escola em busca de justiça. rem em sala de aula, por serem incapazes de oferecer uma
Matam e ferem o maior número possível de pessoas e dão resposta eficaz a situação, acaba reagindo com agressivi-
fim a própria existência. dade. Assim os professores se “convertem” em agressores
Fante (2005), “a vítima provocadora possui um gênio devido a sua postura de “autoritarismo e intimidação” na
ruim, tenta brigar ou responder quando é atacada, ou in- tentativa de obter poder e controle diante dos alunos.
sultada, mas geralmente de maneira ineficaz”. Pode ser Esses professores agressores fazem comparações,
imperativa, inquieta e ofensora. É de modo geral, tola, ima- constrangem, criticam, chamam a atenção em público,
tura de costumes irritantes, e quase sempre é responsável mostram ter afinidades por determinados alunos em rela-
por causar tensões no ambiente em se encontra. ção a outros, rebaixam a autoestima e a capacidade cog-
nitiva, fazem comentário preconceituosos em relação ao
As Testemunhas do Bullying aluno e seus familiares. Portanto, a vítima de um educador
sofre terrivelmente na comunidade escolar, esse fato gera
As testemunhas representam a maioria dos alunos da vários sentimentos negativos, prejudicando sua aprendiza-
escola. Eles não sofrem e nem praticam bullying, mas so- gem e a desmotivação pelos estudos.
frem as suas consequências, por presenciarem constante-
mente as situações de sofrimento vivenciados pelas víti- Identificação dos Envolvidos
mas.
De acordo com Pedra (2008), muitas das testemunhas Fante (2005), afirma que o bullying tem como caracte-
“repudiam as ações dos agressores, mas nada fazem para rística principal a violência oculta, sendo difícil detectá-la.
impedir”. Entretanto alguns alunos usam estratégias para Diante do que foi abordado é de suma importância
se defender e não serem a próxima vítima, através de risa- ressaltar que, qualquer mudança que venha ocorrer no
das, permitindo as agressões, ou fingem se divertir com o comportamento da criança é motivo de alerta para pais e
sofrimento das vítimas.
educadores. Por meio da observação e discussão sobre o
comportamento individual dos alunos os professores po-
Bullying entre Professor e Aluno
dem identificar os que praticam bullying, assim estará mi-
nimizando a violência escolar, já que a maioria dos envolvi-
Fante (2008), relata que é grande o número de profes-
dos se recusa em falar abertamente se estão sendo vítimas
sores considerados vítimas do bullying em seu ambiente
ou testemunhas. Entretanto, eles convivem com a violência
de trabalho, sendo a maioria mulheres. Muitos são perse-
e se calam ou são ignorados em suas observações por pais
guidos, humilhados, assediados sexualmente; moralmente
e professores.
ameaçados, não com agressões físicas, mas com avisos
pavorosos em relação a seus pertences. Para os alunos Como a maioria das vítimas fica em silêncio, é neces-
são apenas brincadeiras inofensivas que não prejudica nin- sário que profissionais da educação e pais fiquem atentos
guém. a alguns sinais.
A mesma autora, afirma que tudo isso provoca grande Segundo Fante (2005), para que um aluno possa ser
constrangimento aos profissionais da educação, prejudi- identificado como vítima, os educadores devem obser-
cando sua autoestima e principalmente o desempenho de var alguns comportamentos, como: “frequentemente está
suas funções dentro da sala de aula, causando um acentua- isolado e separado do grupo de colegas; procura sempre
do stress, mal-estar e fadiga que mais tarde refletirão nas estar próximo do professor ou de algum adulto; se sente
relações com seus alunos, familiares e colegas de trabalho. inseguro ou ansioso; dificuldades em expor; nos jogos em
De todas as formas de bullying a que parece deixar equipe é último a ser escolhido; está sempre triste, depri-
marcas nos professores são os rebaixamentos junto a co- mido ou aflito; desleixo” nas tarefas escolares; apresenta
legas e alunos, em relação às observações sobre o aspecto feridas, arranhões, perda de seus pertences.
físico ou sua forma de vestir. A mesma autora comenta que é essencial que os pais
Fante (2008) relata que, “o professor tem assegurado o ou responsáveis acompanhem dia a dia o andamento esco-
direito a segurança na atividade profissional, com penaliza- lar do seu filho, para que possam identificar se estão sendo
ção da prática de ofensa corporal ou outra violência sofrida vítima da conduta do bullying.
no exercício das suas funções”. É necessário observar comportamentos, como: dor de
Entendendo assim que o professor que for ameaçado cabeça frequentemente, pouco apetite, dor de estômago,
ou que tenha sofrido alguma outra forma de agressão, que tonturas principalmente no período da manhã; muda de
coloque sua vida em risco ou sua dignidade, deve procurar humor de maneira inesperada, desinteresse pelas ativida-
a direção da escola, sendo o diretor responsável, cabe a ele des escolares; regressa da escola com roupas rasgadas ou
tomar as providências necessárias. sujas e com o material escolar danificado; pede dinheiro
E importante salientar que alguns professores são víti- extra a família; gasto excessivo na cantina da escola; apre-
mas e agressores ao mesmo tempo. Praticam bullying dire- senta marca de agressões corporais; medo ou falta fre-
to e indireto contra seus alunos, perseguindo, humilhando, quentemente as aulas; apresenta aspecto contrariado, tris-
ridicularizando, intimidando e acusando. te, deprimido, aflito ou infeliz.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Os agressores normalmente acham que todos devem nheiros, corredores, quadras esportivas e mediações das
fazer suas vontades e se acham ser o centro das atenções. escolas. Também ocorrem entre outros locais fora da esco-
Fante (2005), baseado nas pesquisas do professor Dan la mais de convivência comum dos alunos.
Olweus, afirma que, para identificar se um aluno pratica a Pedra (2008) relata que na maioria dos países, consta-
agressividade do bullying, é necessário que os profissio- tou-se que o pátio de recreio “é o lugar de maior incidên-
nais da educação observem os comportamentos indivi- cia dos ataques de bullying. Porém, no Brasil as pesquisas
duais dos alunos, que “fazem brincadeiras ou gozações de apontam para a sala de aula, por ser um tema novo de dis-
maneira desdenhosa de outros colegas; coloca apelidos cussão no meio educacional brasileiro, sendo que a maioria
de forma desagradáveis; faz ameaças; dá socos; pontapés; dos professores desconhece o bullying.
puxa os cabelos; envolve-se em discussões e desentendi-
mentos; pega materiais escolares de outros colegas sem As consequências do bullying
consentimento”.
Em casa é importante que pais ou responsáveis ob- Nota-se que as consequências referentes ao bullying
servem comportamentos diferenciados nos filhos quando são inúmeras e variadas, afetando todos os envolvidos e
regressam da escola com roupas amarrotadas e com ar em todos os níveis de idade. Quando não há intervenções
de superioridade, apresentam atitudes hostis, desafiantes, efetiva contra o bullying, o ambiente escolar fica totalmen-
são agressivos com seus membros da família, chegando ao te contaminado.
ponto de aterrorizá-los sem levar em conta a idade ou a De acordo com Fante (2005), as vítimas, agressores e as
diferença de força física, são habilidosos para sair-se bem testemunhas do bullying, estão sujeitos a sofrer prejuízos
de situações difíceis, possuem objetos ou dinheiros sem na formação “psicológica, emocional e socioeducacional”.
justificar sua origem. Considera-se que os alunos que são vítimas das agres-
Fante (2005), em suas pesquisas realizadas em escolas, sões, por um período prolongado de tempo, dependendo
constatou que nos “ciclos iniciais (jardim e pré-escola) até da intensidade do sofrimento vivido e não conseguindo
a 4ª série” é mais fácil identificar se os alunos estão sendo superar os traumas causados, dependendo da característi-
envolvidos nas “condutas bullying”, já que as crianças são ca individual de cada um, tendo dificuldade de se relacio-
mais transparentes que os demais alunos. Os profissionais nar consigo mesma, com o meio social e com a sua família,
da educação devem ter atenção com os “alunos com ne- poderá ter pensamentos destrutivos, alimentados pela rai-
cessidades educativas especiais”, pois elas constituem em va reprimida, em consequência nasce o desejo de cometer
um grupo de risco, por serem crianças frágeis. suicídio.
Outras vítimas, após anos de sofrimento, chegam ao
Onde ocorre o Bullying no Ambiente Escolar limite de suas forças, e não suportando mais as humilha-
ções sofridas, revolta contra a escola e, movido por ideias
Todos desejam que as escolas sejam ambientes segu- de vingança, resolve explodi-la. Pedra (2008), comenta que
ros e saudáveis, onde as crianças e adolescentes possam o primeiro procedimento adotado pela escola deve ser
desenvolver, ao máximo os seus potenciais intelectuais e treinar os profissionais de segurança, recepção e limpeza a
sociais. identificar objetos e correspondências suspeitas.
Porém, a violência vem invadindo as instituições esco- Muitas vezes, o aluno pode enviar o material explosivo
lares, atualmente sob o nome de bullying, que são atitudes para a escola sem identificação ou deixar o embrulho em
ofensivas, comentários maldosos, agressões físicas ou psi- algum local, como pátio ou banheiro. É importante tam-
cológicas, transformando a vida escolar de muitos alunos bém que os professores e a direção escolar observem se os
em um verdadeiro transtorno para o processo de aprendi- alunos têm marcas de queimadura ou lesões que eviden-
zagem. ciem experiências com explosivos.
Fante (2005), baseado nas explicações do professor Em se tratando de dificuldades emocionais das vítimas,
Dan Olweus, acrescenta que é normal em uma sala de aula, podem alterar suas relações sociais com os professores e
existir entre os alunos, diversos tipos de conflitos e tensões. colegas, apresentando baixa autoestima e dificultando o
Existem também várias outras interações agressivas, que processo educacional, tendo uma queda excessiva no ren-
ocorrem quando o aluno quer se divertir ou como forma dimento escolar, desinteresse pelos estudos, “déficit de
de autoafirmação, mostrando ser mais forte que outros co- concentração” e de aprendizagem, reprovação e em mui-
legas. tos a evasão escolar.
O comportamento violento e agressivo que um aluno Fante (2005), baseado nas pesquisas do professor Dan
apresenta na escola, provocando sofrimento a muitos ou- Olweus, “diz que há uma grande possibilidade da criança
tros – de forma violenta ou não tem sua origem dentre ou- vítima de bullying a se tornar depressiva, aos 23 anos de
tros fatores, no modelo educativo familiar de acordo com idade, transformando-a em um adulto com dificuldade de
o qual foi criado. relacionar e prejudicando sua vida acadêmica”.
Segundo pesquisas realizadas por Fante, durante o Ainda, segundo a autora esclarece que, quanto às con-
ano de 2000 a 2003, ela constatou que, “o bullying torna- sequências do bullying sobre os próprios agressores, de
-se uma atitude difícil de ser combatida, pois o aluno traz ambos os sexos indicam que eles podem adotar compor-
esse comportamento internalizado em sua personalidade”. tamentos delinquentes, como a agressividade sem motivo
E que em geral ocorre dentro das salas de aulas, nos ba- aparente, uso de drogas e armas ilegais, furtos, formação
58
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de gangues, chegando com facilidade a marginalidade. A gulho da família, portanto, os filhos nem sempre corres-
participação das meninas nessa fase é pouco menor que a pondem à imagem predeterminada pelos pais. Essas crian-
dos meninos. ças muitas vezes não são os melhores da sala de aula, são
Os agressores que exercem esses comportamentos retraídos, tímidos, podendo ter limitações físicas, emocio-
delinquentes, normalmente se distanciam das atividades nal ou intelectual. Geralmente na escola não é diferente, os
escolares, supervalorizando a violência como uma forma professores esperam receber alunos bonitos, inteligentes,
natural e o prazer de se sentir poderoso. interessados e disciplinados. Quando isso não acontece a
As testemunhas da conduta do bullying abrangem a não aceitação pelos professores e colegas, causa grande
maioria dos alunos, mesmo não se envolvendo diretamen- frustração para o aluno que pode gerar a exclusão e a ri-
te. dicularização.
Segundo a ABRAPIA as testemunhas também se veem Em muitas situações os filhos podem trazer à tona
afetadas por esse ambiente de tensão e acabam sofrendo grandes sentimentos não resolvidos pelos pais somando
suas consequências, tornando-se “inseguras” e temerosas, com todas as outras frustrações não terão condições de
podendo desta forma comprometer sua aprendizagem es- lidar com seus próprios desejos, e agradar a outros indi-
colar, em alguns casos elas possam vir a se tornar as pró- víduos.
ximas vítimas. Isso acontece, porque o direito que elas ti- Fante (2005) comenta que, quando os filhos são víti-
nham a uma escola segura e saudável foi corrompido, na mas da conduta bullying no ambiente escolar, é essencial
medida em que bullying foi afetando os demais envolvidos. evitar não os culpar por incidentes que estão acontecendo
Papel da Família nas dependências escolares. Porém, o excesso de mimos
pode fazer com que a criança se torne chata, egoísta ou até
Segundo Moreno (2002), os valores “são um dos traços agressora, geralmente não conseguindo seguir as regras
mais importantes do aprendizado no seio familiar”. Diante de viver em grupo.
do que se tem comprovado por meio de estudos e pes- Demonstrar segurança é uma forma da criança reduzir
quisas de autores, das ciências sociais, a família é a primei- as chances de um agressor vir a escolhê-la como alvo. Os
ra escola de saber, de civismo e cidadania, é no lar que a pais devem orientar os filhos a manter a postura firme, en-
criança aprende a ter interesse pela vida, e ter confiança em frentar os olhos do agressor não como afronta, mas para
si mesma, e acreditar que se pode seguir em frente. Educar mostrar segurança e firmeza. Procurar ser sempre educa-
em valores só é possível quando existe um amor verdadei- do, desprezando as brincadeiras de mau gosto, mostrando
ro em seu sentido mais profundo. ter coragem, não chorar, nem demonstrar tristeza. O choro
Segundo Pedra (2008, p.123), o afeto entre os mem- pode ser sinal de fraqueza, por isso a criança deve manter
bros de uma família é o começo de toda educação estru- o mais distante possível do agressor.
turada, por isso, se torna importante encontrar um tempo Segundo o pensamento da autora, é comum encontrar
para a convivência saudável, especialmente com os filhos, pais que, ao saber da vitimização dos seus filhos, rotula-os
mantendo um diálogo constante. Procurar conhecer o de “fracotes”. Infelizmente, isso acontece em muitas famí-
mundo deles e deixá-los que conheçam o seu. É essencial lias. Não somente os pais, mas outros integrantes da família
que os filhos encontrem em casa um ambiente de amor e colocam a vítima em uma situação de inferioridade ainda
aceitação, favorável a que se expressem, tanto sobre seus maior, são expostas em frente a irmãos e colegas de es-
triunfos e suas conquistas como sobre seus fracassos e colas, amigos da família ou vizinhos, fazendo comentários
suas dificuldades, nos relacionamentos, nos estudos ou em maldosos, tornando-os responsáveis pela falta de compe-
relação a si mesmo. tência para lidar com a situação difícil em que se encontra.
Portanto é no ambiente familiar sólido que a criança É importante que os pais acompanhem e direcionem a
deve criar relacionamentos significativos e duradouros vida escolar de seus filhos, que saibam corrigi-los nos mo-
sendo capaz de desenvolver atitudes e valores humanos, mentos certos, e estimular quando for necessário, abrindo
sabendo respeitar e aceitar as diferenças de cada indivíduo, espaço para que falem abertamente sobre qualquer tipo
assim a criança aprenderá a lidar com seus próprios senti- de agressão que tenham sofrido ou praticado dentro da
mentos e emoções, suprindo suas necessidades de amor e escola.
valorização, valores que ajudarão no desenvolvimento de Os pais não devem obrigar seus filhos a enfrentar os
habilidades de autodefesa e alto-afirmação. agressores, muitas vezes não é a melhor solução, ele pode
Quando a família abre mão desse aprendizado abre estar frágil, com isso poderá sofrer mais. É relevante procu-
também espaço para a violência, para as atitudes que en- rar descobrir de onde vem às agressões e como fazer para
fraquecem e isolam atrás de grades, muralhas e guaritas. A amenizá-las oferecendo total proteção para seu filho.
violência que invade ou nasce no espaço familiar se expan- Chalita (2008, p.183-184) relata que, quando os pais
de para todos os outros seguimentos da sociedade como descobrem que os seus filhos são agressores, é importante
uma teia de relações destrutivas que se reproduz e conta- manter um posicionamento firme, não ignorar a situação,
mina os ambientes e as pessoas. nem fazer de conta que está tudo bem. É essencial que eles
Geralmente os pais procuram o melhor para seus fi- procurarem saber como ajudá-los, falando com os profes-
lhos, acreditando que eles são capazes de sair bem em sores, com a direção da escola, com psicólogos ou profis-
tudo que fazem, são considerados inteligentes, saudáveis, sionais da área, e sempre estar acompanhando o processo
educados e desenvolvidos, despertando a vaidade e o or- de evolução e transformação desse aluno.
59
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É possível dizer que, o diálogo e a paciência são funda- Os professores deveriam ser preparados para educar
mentais para que os filhos compartilhem os momentos de a emoção dos seus alunos. Porém, muitos professores têm
fragilidade. É essencial que os pais evitem repreendê-los, dificuldades emocionais para lidar com os problemas de
castigá-los ou reagir com agressividade. A criança preci- maus tratos ou de violência que ocorrem dentro da sala de
sa de acolhimento, carinho, apoio e compreensão mesmo aula, e não tendo capacidade de lidar com esses problemas
tendo conhecimento do acontecido. Procurando saber o e de oferecer uma reposta eficaz a situação, acabam rea-
que está causando estas atitudes que pode ser um proble- gindo com agressividade.
ma recente ou vindo do passado. Ainda devem procurar A escola precisa capacitar seus profissionais para a
usar estratégia para que seu filho saia do centro da violên- observação, para que os mesmos possam identificar, diag-
cia mostrando à importância de pedir desculpas às pessoas nosticar e saber intervir nas situações do bullying ou até
que agrediu, para que possa reconhecer que errou e repa- mesmo os encaminhamentos corretos, levando o tema à
rar esse erro. Criar situações colocando seu filho no lugar discussão com toda a comunidade escolar e traçar estraté-
da vítima para que possa sentir a dor e angústia do colega. gias que sejam capazes de fazer frente ao mesmo.
E mostrar situações pessoais que trouxeram sofrimento. De acordo com Pedra (2008), além de todo o esforço
Portanto, o papel dos pais é uma experiência cheia de da equipe escolar frente ao bullying, é preciso contar com a
satisfação e sentido que dura toda eternidade. Mesmo que ajuda de consultores externos, como especialistas no tema,
os filhos cometem erros, sempre haverá motivos para reco- psicólogo e assistentes sociais.
nhecer os pontos positivos, as decisões acertadas e os bons Cleo Fante (2005), comenta que, a conscientização e a
momentos que compartilham juntos. aceitação de que o bullying ocorre com maior ou menor
incidência, em todas as escolas do mundo, independen-
Papel da Escola tes características “culturais, econômicas e sociais dos alu-
nos”, são fatores decisivos para iniciativas no combate à
Segundo Aramis Lopes Neto, coordenador do progra- violência no contexto escolar. Para desenvolver estratégias
ma de bullying da ABRAPIA, “não se pode admitir que os de intervenção e prevenção ao bullying em uma escola, é
necessário que a comunidade escolar esteja consciente da
alunos sofram violências que lhes tragam danos físicos ou
existência do mesmo, sobretudo, das consequências rela-
psicológicos, que testemunhem tais fatos e se calem para
cionadas aos envolvidos, a esse tipo de comportamento.
que não sejam também agredidos e acabem por achá-los
Desta forma, percebe-se que é primordial sensibilizar e
banais ou, pior ainda, diante da omissão e tolerâncias dos
envolver toda a comunidade escolar na luta pela redução
adultos, adotem comportamentos agressivos”.
do comportamento bullying.
Infelizmente estamos vivendo uma época em que a
Gabriel Chalita (2008), salienta que algumas atitudes
violência se torna cada vez mais presente em todas as ins-
simples por parte da direção escolar, podem ajudar a re-
tituições escolares.
duzir os casos de bullying no ambiente escolar. É necessá-
A violência escolar nas últimas décadas adquiriu cres- rio que toda equipe escolar, desde o primeiro dia de aula,
cente dimensão em todas as sociedades, o que a torna esclareça sobre o que é bullying, e que não será tolerado
questão preocupante devido à grande incidência de sua condutas do mesmo nas dependências da escola. Todos os
manifestação em todos os níveis de escolaridade. alunos devem se comprometer a não o praticar e a comu-
As práticas de violência, discriminação e preconcei- nicar a direção escolar sempre que presenciarem ou forem
to, vivenciadas pelos alunos no cotidiano escolar, têm se vítimas da conduta do bullying.
apresentado como um grande desafio para os professores, É essencial que os professores promovam debates so-
equipe gestora e toda comunidade escolar. Essas práticas, bre bullying nas salas de aula, fazendo com que o assunto
muitas vezes, podem causar dificuldades na aprendizagem seja bastante divulgado e assimilado pelos alunos. Estimu-
e causar traumas ao longo da vida. lar os estudantes a fazerem pesquisas sobre o tema na es-
Acredita-se, que a prevenção começa pelo conheci- cola, para saber o que alunos, professores e funcionários
mento. É preciso que as escolas reconheçam a existência pensam sobre o bullying e como acham que se deve lidar
do bullying e, sobretudo, esteja consciente de seus prejuí- com esse assunto.
zos para a personalidade e o desenvolvimento socioeduca- Sempre que ocorrer alguma situação de bullying, pro-
cional dos alunos. curar lidar com ela diretamente, investigando os fatos, con-
Ainda há um grande número de profissionais da edu- versando com autores e vítimas. É relevante que os profis-
cação que não sabe distinguir entre condutas de bullying sionais da educação interfiram diretamente nos grupos de
ou outros tipos de violência, por não ter um preparo para alunos envolvidos sempre que for necessário para “romper
identificar e desenvolver estratégias pedagógicas para en- a dinâmica” de bullying, orientando os alunos a sentarem
frentar os problemas no ambiente escolar. em lugares previamente indicados, mantendo afastados os
O despreparo dos professores ocorre porque, tradicio- possíveis autores de suas vítimas.
nalmente, nos cursos de formação acadêmica e nos cursos O mesmo autor comenta que, é relevante que os pro-
de capacitação, são treinados com técnicas que unicamen- fessores incluam na rotina escolar de seus alunos, estraté-
te os habilitam para o ensino de suas disciplinas, não sendo gias que amenizem as causas do bullying. A dramatização
valorizada e necessidade de lidarem com o afeto e muito é uma “ferramenta excepcional’ para fazer crianças e jo-
menos com os conflitos e com os sentimentos dos alunos. vens vivenciarem papéis. É essencial discutir sempre as ex-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
periências depois de dramatizadas. O trabalho com filmes Dependendo da gravidade do caso, deve-se encami-
e letras de músicas também permite uma reflexão crítica e nhá-lo diretamente ao Conselho Tutelar. Se houver lesão
significativa, com possibilidade de minimizar as manifesta- corporal, calúnia, injúria ou difamação, o pai ou respon-
ções de comportamentos agressivos. sável dever procurar uma delegacia de polícia para fazer
De acordo com Pedra (2008), as atividades em salas boletim de ocorrência.
de aula em forma de redação onde os alunos são estimu- O autor, comenta que, é necessário sempre ter o cui-
lados a falar no anonimato sobre a sua vida na escola, ou dado para não expor crianças e adolescentes a situações
seja, seu relacionamento com os colegas ajudará a romper constrangedoras no momento da revista pessoal. Se o alu-
o silêncio e possibilitará a expressão de emoções e senti- no for menor de 12 anos, é preciso convocar um represen-
mentos. tante do Conselho Tutelar para dar os encaminhamentos
O mesmo autor comenta que, na educação infantil e legais. Se for maior de 12 anos, a polícia dever ser acionada
nos anos iniciais do ensino fundamental é primordial tra- para encaminhar o caso à Justiça.
balhar por meio de histórias ou fábulas que trabalhem o
preconceito ou qualquer outra forma de exclusão e discri- Referência:
minação. LEANDRO, V. L. D. Bullying no Ambiente Escolar. Dis-
É essencial tanto a participação do professor quanto ponível em: http://pedagogiaaopedaletra.com/bullying-
dos alunos. O professor de um lado tem o dever de trans- -no-ambiente-escolar/
mitir o papel ético, problematizar valores e regras morais
através da afetividade e racionalidade visando ao desen- O PAPEL DA ESCOLA
volvimento moral e à socialização e os alunos o papel de
entender e cooperar com as ações do professor. A escola, O papel da escola / função social da escola
juntamente com os professores tem a função de trabalhar
conteúdos relacionados aos valores, como o diálogo, o res- A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais
peito, e a solidariedade. do que nunca é imprescindível que a escola acompanhe
Com o diálogo o professor faz com que os alunos
essas evoluções, que ela esteja conectada a essas transfor-
agressores reflitam sobre suas atitudes agressivas e as
mações, falando a mesma língua, favorecendo o acesso ao
consequências que podem gerar nos alunos agredidos. Fa-
conhecimento que é o assunto crucial a ser tratado neste
zendo-os refletir como deveria ser uma escola onde todos
trabalho.
sentissem felizes, seguros e respeitados.
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho te-
Ao trabalhar o respeito, tem como objetivo mostrar
mos desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, que
a diferença entre as pessoas, o respeito pelo ser humano
independente de sua origem social, etnia, religião, sexo, resultados temos alcançado. Qual é na verdade a função
opinião e cultura, bem como nas manifestações culturais, social da escola? A escola está realmente cumprindo ou
étnicas e religiosas. O respeito tem a condição necessária procurando cumprir sua função, como agente de inter-
para o convívio social democrático. venção na sociedade? Eis alguns pressupostos a serem ex-
Por mais que o professor seja presente e trabalhe com plicitados nesse texto. Para se conquistar o sucesso se faz
seus alunos o respeito mútuo, a justiça e a solidariedade, necessário que se entenda ou e que tenha clareza do que
em sala de aula, é quase que impossível que não aja confli- se quer alcançar, a escola precisa ter objetivos bem defini-
tos entre eles. Portanto, a escola deve estimular o ensino e dos, para que possa desempenhar bem o seu papel social,
o desenvolvimento de atitudes que valorizem a prática da onde a maior preocupação – o alvo deve ser o crescimento
tolerância e da solidariedade entre os alunos. O incentivo intelectual, emocional, espiritual do aluno, e para que esse
ao exercício da solidariedade é um fator motivador de mu- avanço venha fluir é necessário que o canal (escola) esteja
danças, pois estimula a amizade, a cooperação e o compa- desobstruído.
nheirismo no ambiente escolar.
De acordo com Pedra (2008), há casos em que alunos A Escola no Passado
praticantes de bullying se convertem em “alunos solidá-
rios”, passando a auxiliar seus colegas dentro e fora da A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria possi-
sala de aula, em especial aqueles que outrora eram suas bilitar as pessoas à convivência com seus semelhantes (so-
vítimas. Ou até mesmo as modificações na postura de al- cialização). As melhores e mais conceituadas escolas per-
guns professores, que após reconhecerem as práticas do tenciam à rede particular, atendendo um grupo elitizado,
bullying decide mudar suas atitudes. enquanto a grande maioria teria que lutar para conseguir
uma vaga em escolas públicas com estrutura física e peda-
Como a escola deve denunciar os casos de Bullying? gógicas deficientes.
O país tem passado por mudanças significativas no que
Entende-se que, inicialmente os casos de bullying devem se refere ao funcionamento e acesso da população brasileira
ser resolvidos na escola, por meio de ações pedagógicas. ao ensino público, quando em um passado recente era pri-
De acordo com Pedra (2008), quando a escola, não vilégio das camadas sociais abastadas (elite) e de preferência
consegue solucionar o problema, “deve-se orientar o alu- para os homens, as mulheres mal apareciam na cena social,
no agressor e aplicar a ele a pena prevista pelo regimento quando muito as únicas que tinham acesso à instrução for-
interno escolar, além de alertar seus pais ou responsáveis”. mal recebiam alguma iniciação em desenho e música.
61
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Atuação da equipe pedagógica – coordenação positivas eficazes para o bom funcionamento de uma esco-
la: professores preparados, com clareza de seus objetivos e
A política de atuação da equipe pedagógica é de suma conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos.
importância para a elevação da qualidade de ensino na es- Um bom clima de trabalho, em que a direção contribua
cola, existe a necessidade urgente de que os coordenado- para conseguir o empenho de todos, em que os professo-
res pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente res aceitem aprender com a experiência dos colegas.
à parte técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e Clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógico-
ainda ficarem nos corredores da escola procurando con- -curricular que vá de encontro às reais necessidades da es-
ter a indisciplina dos alunos que saem das salas durante cola, primando por sanar problemas como: falta de profes-
as aulas, enquanto os professores ficam necessitados de sores, cumprimento de horário e atitudes que assegurem
acompanhamento. A equipe de suporte pedagógico tem a seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e
papel determinante no desempenho dos professores, pois aprendizagem, com relação a alunos e funcionários.
dependendo de como for a política de trabalho do coor- Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista
denador o professor se sentirá apoiado, incentivado. Esse o respeito e admiração da maioria de seus funcionários e
deve ser o trabalho do coordenador: incentivar, reconhe- alunos, há um clima de harmonia que predispõe a reali-
cer, e elogiar os avanços e conquistas, em fim o sucesso zação de um trabalho, onde, apesar das dificuldades, os
alcançado no dia a dia da escola e consequentemente o professores terão prazer em ensinar e alunos prazer em
desenvolvimento do aluno em todos os âmbitos. aprender.
Ao educador compete a promoção de condições que A escola é uma instituição social com objetivo explícito:
favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mes- o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e
mo compreender o que está sendo ministrado, quando o afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos con-
professor adota o método dialético; isso se torna mais fá- teúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitu-
cil, e essa precisa ser a preocupação do mesmo: facilitar a des, e valores) que, aliás, deve acontecer de maneira con-
aprendizagem do aluno, aguçar seu poder de argumenta- textualiazada desenvolvendo nos discentes a capacidade
ção, conduzir ás aulas de modo questionador, onde o alu- de tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em
no- sujeito ativo estará também exercendo seu papel de que vivem.
sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói seu Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente es-
aprendizado, através de hipóteses que vão sendo testadas, colar um meio que favoreça o aprendizado, onde a esco-
interagindo com o professor, argumentando, questionan- la deixe de ser apenas um ponto de encontro e passe a
do em fim trocando ideias que produzem inferências. ser, além disso, encontro com o saber com descobertas
O planejamento é imprescindível para o sucesso cog- de forma prazerosa e funcional, conforme Libâneo (2005)
nitivo do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é
do professor, é como uma bússola que orienta a direção a aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o
ser seguida, pois quando o professor não planeja o aluno domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capa-
é o primeiro a perceber que algo ficou a desejar, por mais cidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimen-
experiente que seja o docente, e esse é um dos fatores que to de necessidades individuais e sociais dos alunos.
contribuem para a indisciplina e o desinteresse na sala de A escola deve oferecer situações que favoreçam o
aula. É importante que o planejar aconteça de forma siste- aprendizado, onde haja sede em aprender e também ra-
matizada e contextualizado com o cotidiano do aluno – fa- zão, entendimento da importância desse aprendizado no
tor que desperta seu interesse e participação ativa. futuro do aluno. Se ele compreender que, muito mais im-
Um planejamento contextualizado com as especifi- portante do que possuir bens materiais, é ter uma fonte de
cidades e vivências do educando, o resultado será aulas segurança que garanta seu espaço no mercado competiti-
dinâmicas e prazerosas, ao contrário de uma prática em vo, ele buscará conhecer e aprender sempre mais.
que o professor cita somente o número da página e alunos Analisando os resultados da pesquisa de campo (ques-
abrem seus livros é feito uma explicação superficial e dá-se tionário) observamos que os jovens da turma analisada não
por cumprido a tarefa da aula do dia, não houve conversa, possuem perspectivas definidas quanto à seriedade e im-
dialética, interação. portância dos estudos para suas vidas profissional, emocio-
nal, afetiva. A maioria não tem hábito de leitura, frequenta
Ação do gestor escolar pouquíssimo a biblioteca, outros nunca foram lá. A escola
é na verdade um local onde se encontram, conversam e até
A cultura organizacional do gestor é decisiva para o namoram. Há ainda, a questão de a família estar raramente
sucesso ou fracasso da qualidade de ensino da escola, a na escola, não existe parceria entre a escola e família, co-
maneira como ele conduz o gestionamento das ações é o munidade a escola ainda tem dificuldades em promover
foco que determinará o sucesso ou fracasso da escola. De ações que tragam a família para ser aliadas e não rivais,
acordo com Libâneo (2005), características organizacionais a família por sua vez ainda não concebeu a ideia de que
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
precisa estar incluída no processo de ensino e aprendiza- é necessário que possua tendência crítico-social, com visão
gem independente de seu nível de escolaridade, de acordo de empreendimento, para que a escola esteja acompa-
com Libâneo (2005), “o grande desafio é o de incluir, nos nhando as inovações, conciliando o conhecimento técni-
padrões de vida digna, os milhões de indivíduos excluídos co à arte de disseminar ideias, de bons relacionamentos
e sem condições básicas para se constituírem cidadãos interpessoais, sobretudo sendo ético e democrático. Os
participantes de uma sociedade em permanente mutação”. coordenadores por sua vez precisam assumir sua respon-
Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e es- sabilidade pela qualidade do ensino, atuando como forma-
cola é uma medida, um caminho que necessita ser trilhado, dores do corpo docente, promovendo momentos de trocas
para assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte de experiências e reflexão sobre a prática pedagógica, o
da escola, é sujeito que aprende que constrói seu saber, que trará bons resultados na resolução de problemas co-
que direciona seu projeto de vida, assim sendo a escola lida tidianos, e ainda fortalece a qualidade de ensino, contribui
com pessoas, valores, tradições, crenças, opções e precisa para o resgate da autoestima do professor, pois o mesmo
estar preparada para enfrentar tudo isso. precisa se libertar de práticas não funcionais, e para isso
Informar e formar precisa estar entre os objetivos ex- a contribuição do coordenador será imprescindível, o que
plícitos da escola; desenvolver as potencialidades físicas, resultará no crescimento intelectual dos alunos.
cognitivas e afetivas dos alunos, e isso por meio da apren-
dizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, pro-
cedimentos, atitudes e valores), fará com que se tornem A ESCOLHA DA PROFISSÃO
cidadãos participantes na sociedade em que vivem.
Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do No mundo em que vivemos, estamos a todo o momen-
educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas to realizando escolhas: de objetos, de alimentos, de lugares
também enfatiza outros aspectos: as formas de convivência onde desejamos ir, de pessoas com as quais queremos ou
entre as pessoas, o respeito às diferenças, a cultura escolar. não conviver, da continuação dos estudos etc. Ela é uma
(Progestão 2001). prática no nosso dia-a-dia, porém, as escolhas são circuns-
Ao ouvir depoimentos de alunos que afirmaram que a
tanciais. São feitas sempre em função do momento, da his-
maioria das aulas são totalmente sem atrativos, professo-
tória de vida de cada pessoa, das influências familiares e
res chegam à sala cansados, desmotivados, não há nada
sociais, das condições em que ela está inserida.
que os atraem a participarem, que os desafiem a querer
A escolha de uma profissão deve ser realizada com
aprender. É importante ressaltar a importância da unidade
cautela. Segundo Ungricht (1966) ―uma escolha anárquica
de propostas e objetivos entre os coordenadores e o ges-
ou inadequada, da profissão, constitui grande empecilho
tor, pois as duas partes falando a mesma linguagem o re-
sultado será muito positivo que terá como fruto a elevação para um aproveitamento extensivo da matéria-prima – tra-
da qualidade de ensino. balho‖.
Contudo, partindo do pressuposto de que a escola visa O processo de escolha profissional é baseado na reali-
explicitamente à socialização do sujeito é necessário que se dade do adolescente, nas suas experiências dentro do seu
adote uma prática docente lúdica, uma vez que ela precisa próprio processo de desenvolvimento e nas relações que
estar em sintonia com o mundo, a mídia que oferece: infor- ele estabelece com o meio. Mesmo sendo a escolha ca-
matização e dinamismo. racterizada como um processo individual, ela decorre das
Considerando a leitura, a pesquisa e o planejamento relações entre os determinantes estruturais e motivações
ferramentas básicas para o desenvolvimento de um tra- subjetivas do sujeito (ROSSI, 1999).
balho eficaz, e ainda fazendo uso do método dialético, o A escolha do indivíduo é limitada por vários objetivos
professor valoriza as teses dos alunos, cultivando neles a que vão desde as expectativas da família, até aquilo que é
autonomia e autoestima o que consequentemente os fará mais viável dentro da realidade que ele está inserido, sen-
ter interesse pelas aulas e o espaço escolar então deixará do muitas vezes, contraditório aos seus próprios desejos e
de ser apenas ponto de encontro para ser também lugar de possibilidades (LISBOA, 2002).
crescimento intelectual e pessoal. Autores como Lehman (1995), Levenfus e Nunes (2002)
Para que a escola exerça sua função como local de e Almeida e Pinho (2008) afirmam que a escolha não de-
oportunidades, interação e encontro com o outro e o sa- pende de uma única variável. Ao contrário, ela é multi e so-
ber, para que haja esse paralelo tão importante para o su- bre determinada. Vários fatores influenciam o sujeito e vai
cesso do aluno o bom desenvolvimento das atribuições do depender do tipo de vínculo estabelecido com os mesmos,
coordenador pedagógico tem grande relevância, pois a ele como também a maneira como ele percebe tais influências
cabe organizar o tempo na escola para que os professores transmitidas pela família, escola, amigos, fatores políticos e
façam seus planejamentos e ainda que atue como forma- religiosos, valores, crenças e pelos meios de comunicação
dor de fato; sugerindo, orientando, avaliando juntamente em massa.
os pontos positivos e negativos e nunca se esquecendo de É importante identificar os determinantes que interfe-
reconhecer, elogiar, estimular o docente a ir em frente e rem neste momento, uma vez que a liberdade de escolha
querer sempre melhorar, ir além. passa pela conscientização dos fatores que a determinam
O fato de a escola ser um elemento de grande impor- (SOARES, 2002), podendo o indivíduo assim, utilizá-la de
tância na formação das comunidades torna o desenvolvi- maneira construtiva e positiva de acordo com seus desejos
mento das atribuições do gestor um componente crucial, e valores.
63
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Soares (2002) divide em vários fatores os determinan- Os fatores educacionais estão ligados ao sistema de
tes nas escolhas profissionais e salienta que tal divisão é ensino brasileiro, que vivencia há décadas uma crise; à fal-
para fins didáticos uma vez que os mesmos atuam simul- ta de investimento público na educação (instalações físi-
taneamente, a saber: fatores políticos, econômicos, sociais, cas inapropriadas, professores mal remunerados, recursos
educacionais, familiares e psicológicos. Este último refere- humanos sem especialização, ausência ou precariedade de
-se aos traços de personalidade, habilidades, valores e ma- equipamentos ou laboratórios); à necessidade, e os prejuí-
turidade para realizar uma escolha. zos, do vestibular (SOARES, 2002).
Os fatores políticos dizem respeito à política governa- O ensino brasileiro assemelha-se a uma pirâmide onde
mental e seu posicionamento frente à educação, em espe- na base está o ensino fundamental e no topo a universida-
cial, no ensino médio, profissionalizante e na universidade. de e nesta só chega quem tem poder aquisitivo para cus-
A educação é associada ao capital, sendo considerada um tear-se até a formatura. O ingresso ensino superior está
bem de investimento, visando em primeiro lugar o lucro condicionado ao vestibular para medir o conhecimento do
(SOARES, 2002).
candidato (SOARES, 2002). Lassance e Sparta (2003), ao es-
Os fatores econômicos estão atrelados ao sistema ca-
tudarem a postura do jovem frente à Orientação Profissio-
pitalista e dizem respeito ao mercado de trabalho, à glo-
nal, descrevem que o mesmo, ao fazer suas escolhas, busca
balização, à empregabilidade, à informatização das profis-
um curso que lhe garanta mais tarde um emprego estável
sões, ao desemprego (SOARES, 2002). Não se pode negar
as análises que sugerem que os determinismos socioeco- e bem remunerado. As autoras alertam que tais caracte-
nômicos interiorizados sob a forma de habitus de classe [...] rísticas de emprego já não existem mais na nova socieda-
os indivíduos de “classes menos favorecidas” encontram de pós-industrial. Sendo assim, a partir deste cenário, elas
realmente dificuldades, obstáculos mais expressivos quan- questionam sobre o papel que o orientador profissional
to à realização da aspiração profissional que os de “classe deve assumir, indagando:
alta”, sendo que a gratificação obtida através da futura pro- É ratificar estas crenças do jovem de classe média e
fissão ocorre de maneira desigual entre as classes sociais. unicamente orientá-lo para a escolha de um curso supe-
(ROSSI,1999, p.180) rior, assumindo o papel de reprodutor social? Ou é orientar
Atualmente ter apenas um diploma de graduação não este jovem para que possa avaliar criticamente a sociedade
é prerrogativa para estar seguro no mercado de trabalho. contemporânea e assumir uma postura ética de compro-
Segundo Prado Filho (1993) há no Brasil um grande distan- metimento social, tornando-se um agente de mudança?
ciamento entre escola, formação profissional e as necessi- A Orientação Profissional tem um importante papel na
dades do mercado de trabalho. construção da sociedade pós-industrial e, neste sentido, a
Soares (2002) observa que há muitos universitários tra- postura ideológica por ela assumida terá consequências no
balhando de dia para custear seu curso à noite uma vez que desenvolvimento social futuro.
seus pais não têm condições de arcar com seus estudos. E Muitas escolhas também são feitas por cursos menos
de acordo com o contexto regional em que o adolescen- concorridos, mesmo tendo pouco conhecimento sobre o
te está inserido, ele acaba escolhendo cursos que estejam mesmo, pela facilidade de o aluno ingressar na universida-
disponíveis para no horário noturno, e que nem sempre de, evidenciando o medo do fracasso.
correspondem ao seu interesse ou gosto pelo mesmo. A necessidade, muitas vezes prematura, de optar por
Soares-Lucchiari (1993) relata que ao mesmo tempo um curso em virtude da pressão para as inscrições expli-
que o ambiente obriga o jovem a tomar uma decisão quan- ca o fenômeno de evasão dos cursos universitários, cujos
to ao seu futuro, este mesmo ambiente é fator impeditivo índices são altos. Silva Filho et al (2007, p.655), apontam
para que o jovem coloque em prática seus projetos. que: Entre 2001 e 2005, de acordo com cálculos feitos com
A escolha por uma universidade federal ou estadual,
base em dados do Inep, a taxa anual média de evasão no
ou aquelas com pagamentos facilitados representam tam-
ensino superior brasileiro foi de 22%, com pouca oscilação,
bém uma interferência na escolha. Os fatores econômicos
mas mostrando tendência de crescimento. A evasão anual é
estão presentes, também, na escolha de profissões tidas
maior nas IES privadas, cuja taxa média no período foi de
como rentáveis, principalmente as tradicionais como a Me-
dicina ou o Direito. 26% contra 12% das IES públicas. Entre as públicas, as mu-
Lisboa (2002) relata que em concurso o indivíduo que nicipais respondem pela maior taxa de evasão anual, en-
tiver maior qualificação é escolhido para ocupar a vaga dis- quanto as comunitárias e confessionais mostram uma taxa
ponível, mesmo que o nível de conhecimento exigido não maior que as particulares, entre as privadas.
seja uma necessidade objetiva à função. Defende ainda a Até 1971, segundo Soares (2002), as provas para o in-
ideia que a crescente precariedade do mercado de traba- gresso no ensino superior eram elaboradas pela faculdade
lho advém de três fatores: as mudanças na estrutura da de acordo com suas próprias características. Se um aluno
economia; a ausência de crescimento sustentado e a não queria estudar arquitetura deveria demonstrar conheci-
expansão do emprego público. ―[...] não basta o governo mentos específicos em geometria, desenho, história da arte
gastar em programas de requalificação se a política econô- etc. De 1971 até os dias atuais, de acordo com a referida
mica impede o crescimento da economia, bloqueia ou difi- autora, o vestibular é unificado. Os candidatos realizam
culta o desenvolvimento de tecnologia nacional e impede uma prova, onde consta uma redação e questões objetivas
a criação de novos postos de trabalho‖. de múltipla escolha, independente do curso escolhido.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Pinho (2001) refere-se ao vestibular como um processo [...] pela escolha da profissão é delimitado o número de
igual para todos no que tange às provas; a desigualdade cidadãos que integra cada classe de uma nação. Os seus
reflete-se na preparação e no nível de exigência de alguns dirigentes não podem, por isso, olhar com indiferença esta
cursos que atraem candidatos melhor preparados ou pelo escolha, uma vez que cada classe tem sua atitude própria
fato da universidade ser pública ou privada. para com o governo, com as consequências resultantes
O vestibular desencadeia angústias, conflitos no aluno dela.
e os cursinhos são grandes empresas que visam prepará-lo Aqueles que pertencem à classe capitalista dependem
para ingressar na faculdade. Os pais têm grandes expecta- antes da fortuna herdada, que da profissão escolhida.
tivas que o filho ingresse, mesmo sabendo da limitação de Para os indivíduos de menor poder aquisitivo, o ensino
vagas em relação ao número de inscritos. superior pode representar a possibilidade de um mercado
Mesmo que o vestibular seja uma barreira rígida, a di- de trabalho melhor. Já nos sujeitos de classe econômica
ficuldade maior não é apenas ingressar em uma faculdade, alta há uma preocupação em manter o status social da fa-
mas sim, passar numa faculdade pública ―No entanto o mília, o que leva muitos deles a optarem por profissões
número de vagas nas universidades públicas tem-se man- que possam manter tal padrão (MAFFEI, 2008). A escolha
tido quase o mesmo há várias décadas, embora a demanda por profissões que tem uma imagem social elevada, como
tenha ultrapassado o dobro‖ (SOARES, 2002, p.69). medicina ou direito é um exemplo disso. No entanto, o ver-
Mas há também aqueles que não conseguem ultrapas- dadeiro status e o papel desempenhado por estes profis-
sar a barreira do vestibular, o que desencadeia muitas ve- sionais é pouco difundido (SOARES, 2002).
zes inimizade entre os vestibulandos e seus pais, uma vez São pontos de vista que não se baseiam em reflexões
que na fantasia destes, o vestibular está presente na família sensatas. Até mesmo a Orientação Profissional, como um
desde que seus filhos eram pequenos (SOARES, 2002). O instrumento para auxiliar os adolescentes a escolher sua
adolescente passa a sentir derrotado e culpado pelos atri- profissão, é oferecida, na maioria das vezes, para aqueles
tos e conflitos que surgem na família ante a sua reprovação indivíduos pertencentes as classes média e alta:
no vestibular (LUCCHIARI, 1993), já que a entrada na uni- A escolha por um trabalho, em princípio, tem toda uma
versidade é a representação social do mundo adulto (SE- relação com a postura do indivíduo no meio social, haven-
MENSATO, 2009). do espaço para que ele se coloque, enquanto seu fazer,
Observa-se uma alienação do jovem e dos pais ante o de acordo com os princípios que podem ser construtores
vestibular, no entanto, o verdadeiro problema não é deles, ou destruidores do que se entende por bem comum: não
já que se trata de uma estrutura social que não está organi- só no âmbito material, mas, muito além, dos valores que
zada para receber os jovens ao final do Ensino Médio. Mais constroem as relações verdadeiramente humanas, de um
do que um ritual de passagem, o vestibular pode desenca- compromisso ético.
dear para aqueles alunos excedentes uma diminuição da Poderemos refletir também sobre os princípios des-
autoestima, sentimentos de fracasso e vergonha, dinheiro truidores citados. Numa sociedade capitalista, que valoriza
perdido. o ter em detrimento do ser, a escolha da profissão é muitas
Observa-se, como descreve Silva Filho et al (2007, vezes fundamentada no retorno financeiro que esta pode
p.655), uma correlação negativa entre os índices de eva- trazer, deixando de lado a realização e satisfação profissio-
são e a demanda por curso, portanto ―há necessidade de nal. O contexto social exerce grande influência em relação
realizar estudos sistemáticos com vistas a reduzir as taxas aos sistemas de gratificação (BOHOSLAVSKY, 1998).
de evasão e evitar os desperdícios, tanto do ponto de vista Há ainda uma tendência do jovem a imaginar uma pro-
social quanto do financeiro‖. fissão perfeita, que atenderá a todos seus desejos.
Os fatores sociais, de acordo com Soares (2002), são No entanto, Zaccarelli e Teixeira (2008) ressaltam que
reflexos da sociedade em que o adolescente está inserido, na era da informação, o trabalho deixa de ser percebido
mais especificamente, a sua classe social, com suas oportu- apenas como acúmulo de riquezas ou satisfação das ne-
nidades de formação profissional e emprego. ―A escolha cessidades básicas do indivíduo e passa a ser visto como
profissional interfere com o estilo de vida do jovem que meio de autodesenvolvimento pessoal e profissional.
escolhe e permeia tanto sua possibilidade de satisfação Mesmo com este panorama, Barreto e Aiello-Vaisberg
laboral como a de satisfação pessoal. Pessini et al (2008) (2007, p.113) atentam para o fato que o mercado de tra-
focalizam a influência dos fatores sociais na ―busca da as- balho é repleto de dúvidas. As narrativas religiosas ou polí-
censão social através do estudo, a influência da sociedade ticas são repletas de incertezas, assim ―os indivíduos não
na família e os efeitos da globalização na cultura e na fa- contam, em nenhuma área, com prescrições bem definidas
mília. acerca do que é melhor: adaptar-se ao modus vivendi es-
As mudanças na nova ordem‘ do trabalho estão afe- tabelecido, transformá-lo ou propor novos projetos para o
tando diretamente as pessoas, determinando suas ações mundo‖.
(LISBOA, 2002). ― [...] a mudança tecnológica continuará Dentre os fatores sociais, é importante pontuar, tam-
cada vez mais acelerada [...] O espaço deixa de ser neces- bém, os valores culturais como influência nos jovens no
sário para a realização de atividades grupais [...] Não é momento da escolha. Muitos buscam na universidade a
mais necessária a presença física para se fazerem reuniões. possibilidade de aprofundar seus conhecimentos, ou so-
Ungricht (1966, p.60) encontra correlação entre a escolha luções para problemas sociais, como a escolarização dos
da profissão, classe social e capitalismo ao descrever que sem-terra. Os problemas raciais também podem estar
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
presentes uma vez que são poucos os negros que chegam tradições e mitos, quer na quantidade e qualidade da in-
ao ensino superior no sul do país, denotando, assim, uma formação fornecida sobre as profissões e o mundo do tra-
passividade dos mesmos, aceitando as injustiças cometidas balho. A dimensão relacional do contexto familiar assume
pela sua cor. também um papel fundamental no processo de desenvol-
O sistema de valores, como assinala Bohoslavsky vimento vocacional, ao condicionar de forma significativa a
(1998), predominante em uma determinada sociedade, exploração da relação do jovem consigo próprio e com os
influencia no destino das pessoas inclusive na orientação vários contextos da sua vida, e, desse modo, as oportuni-
vocacional. Basta pensar, de acordo com este autor, numa dades que se lhe oferecem. (POCINHO et al, 2010, p.203).
estrutura de castas onde o futuro dos filhos é determinan- Santos (2005, p.58) coloca que é essencial que o ado-
do segundo a posição social de seus pais. lescente conheça quais são ―os projetos dos pais, o pro-
O grupo de amigos, um fenômeno social contextuali- cesso de identificação e o sentimento de pertencimento à
zado conforme a cultura local, também é apontado como família, o valor dado às profissões pelo grupo, assim como
uma influência na escolha do jovem, desempenhando pa- a maneira como o jovem utiliza e elabora os dados fami-
pel importante. Mesmo havendo poucos estudos e refe- liares.
rências sobre este assunto, é possível encontrar na litera- A maioria dos conflitos na hora da escolha são desen-
tura o reconhecimento desta influência, uma vez que os cadeados pela falta de compreensão e apoio dos pais dian-
grupos são fontes de apoio emocional e social. te das inquietações do adolescente. Muitos pais sentem-se
Aberastury e Knobel (1988) confirmam isto ao descre- donos dos filhos e esperam deles a satisfação direta e ple-
ver que na adolescência a tendência grupal é uma forte na de seus próprios desejos. Esperam por parte do adoles-
característica e muitas vezes estes jovens dão mais impor- cente uma aceitação passiva ante os projetos pré-deter-
tância ao grupo do que a família. minados por estes e ficam surpresos quando os filhos re-
Outro fator que é exerce grande influência é a família. sistem, não aceitam ou têm dúvidas (ROSSI, 1999). Alguns
A escolha profissional era mais fácil até algumas décadas, pais projetam nos filhos os sonhos que eles mesmos não
uma vez que a maioria dos pais determinava a carreira dos conseguiram realizar, delegando aos filhos esta missão.
filhos. Até o período industrial os adolescentes recebiam Whitaker (1997), na mesma direção, descreve que tan-
to a valorização como a desvalorização, mesmo que sutil,
dos pais as profissões que exerceriam.
de certas profissões, está presente no discurso familiar que,
Hoje tal determinismo não aparece de forma tão evi-
ao explicar para os filhos as profissões, relacionam vocação
dente, mas a família exerce ainda grande influência. Mes-
com um chamado místico‘.
mo quando ela não determina diretamente, sua posição
Rossi (1999) descreve três posições que as famílias
socioeconômica influencia no sentido que oferece, ou não,
adotam e que tem grande influência na decisão do ado-
possibilidades educacionais aos jovens. O jovem, ao esco-
lescente. A primeira posição do grupo familiar é a pressão
lher uma profissão, não percebe as influências que rece- para que o filho realize os projetos dos pais. A segunda é
be do meio familiar. Há sempre uma forma de influência uma postura de indiferença ante ao futuro profissional do
da família. As representações que elas têm das profissões, filho, o que pode resultar numa escolha baseada em iden-
por exemplo, são transmitidas por ela seja abertamente ou tificações distorcidas pela falta de um espaço de discussão
pressionando o jovem de forma velada ou sutil e manipu- sobre suas dúvidas dentro da família. A terceira posição,
ladora. inspirada por Nobel seria a mais indicada que seria a tríade
Seja qual for a maneira que a família utiliza, há unani- orientação, apoio e afeto.
midade entre jovens em apontar os pais como o fator que A profissão dos pais e familiares e a forma como estes
mais influenciam em suas escolhas. Os jovens respondem a vivenciam suas ocupações, de maneira positiva ou negati-
um conjunto de significações e ideais socioculturais trans- va, torna-se uma referência influente na decisão do jovem,
mitidos pela família (LEVENFUS, 2002). Os valores deste como afirmam Rossi (1999), Soares (2002), Almeida e Pinho
grupo desempenham uma significativa referência, por isso (2008).
os vínculos entre os familiares devem ter como finalidade É importante que o jovem reconheça as influências que
a ajuda e o apoio ao jovem, nunca a pressão para uma recebe, tanto as familiares como de outras estruturas, para
escolha. colaborar com a elaboração de um projeto de carreira, uma
Desde antes do nascimento, a criança é o depositá- vez que ele poderá adequar tais influências de maneira
rio de sonhos e projetos dos pais, que ela deverá (ou não) construtiva aos seus próprios desejos e valores.
cumprir (ALMEIDA; PINHO, 2008). Ela já tem seu lugar so- É no convívio com a família que se formam valores,
cial definido. ―Tais projeções dos pais variam de acordo conceitos, aspectos que influenciam significativamente no
com a ordem de nascimento do filho, o momento do casal, projeto de carreira. Pais que reclamam do trabalho que
a história da família‖. executam, associando-o a uma atividade desgastante, roti-
A influência dos pais não se resume apenas em enume- neira, não podem esperar que seus filhos se entusiasmem
rar as profissões. Muitos expressam o desejo dos filhos tra- com suas carreiras, mesmo que o discurso destes pais seja,
balharem em grandes empresas, como as multinacionais, no momento de direcionar uma carreira, motivador. É im-
além do desejo que eles desfrutem de estabilidade. portante, para uma escolha ocupacional consciente, que o
A influência da família nas aspirações vocacionais dos jovem perceba as influências recebidas para utilizá-la de
jovens pode fazer-se sentir, quer seja através dos concei- forma construtiva e positiva, adequando aos seus próprios
tos familiares sobre os valores, as regras e limites, crenças, desejos e valores.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O adolescente, ao invés de fazer uma escolha autôno- Ambos os transtornos alimentares clássicos (anorexia
ma, pode fazer uma escolha através da reparação, que o nervosa e bulimia nervosa) costumam surgir durante a
defenda de um conflito familiar interno (ROSSI, 1999). Nes- adolescência, sendo que a anorexia nervosa (AN) tem inci-
sa perspectiva, Rossi (1999) destaca a importância da par- dência de 0,48% a 0,7% entre adolescentes do sexo femini-
ticipação dos pais na entrevista inicial e final do processo no entre 15 e 19 anos de idade. Já a bulimia nervosa (BN)
de Orientação profissional, a fim de que o orientador tenha tem incidência entre 1% e 2 % da população adolescente,
uma visão mais ampla da dinâmica familiar em que o jovem porém comportamentos bulímicos significativos ocorrem
está inserido. em mais 2% a 3%.
Os pais podem orientar os filhos na escolha de suas A maioria (aproximadamente 50% a 68%) das crianças
carreiras, contribuindo no processo de pesquisa e explora- e adolescentes com distúrbios alimentares são diagnos-
ção das profissões e do mercado de trabalho, porém res- ticados como transtornos alimentares não especificados
peitando seus limites individuais e não influenciando em (TANE) ou síndromes parciais dos transtornos alimentares,
suas escolhas.
usando os critérios de DSM-IV (Diagnostic and Statistical
Manual, IV edition). Para muitos adolescentes, a principal
Fonte
razão para não preencher os critérios diagnósticos é a di-
ALVIM, J. L. O papel da escola na orientação profissio-
nal: uma análise contemporânea da dimensão teórica e ficuldade de estabelecer limiares físicos, menor frequência
prática, 2011. de comportamentos alimentares alterados e dificuldades
de expressar seus pensamentos.
TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA Apesar destes transtornos serem classificados separa-
damente, todos têm psicopatologia comum, caracterizada
Transtornos alimentares na adolescência por preocupação excessiva com o peso corporal. Esses pa-
cientes costumam fazer dietas extremamente restritivas e/
Transtornos alimentares são doenças complexas, que ou utilizar métodos para compensar a ingestão de alimen-
estão afetando os adolescentes de forma crescente e preo- tos, como o uso de diuréticos e laxativos, provocando vô-
cupante, ocupando a terceira colocação entre as doenças mitos e até fazendo exercícios físicos de forma exagerada.
crônicas que mais afetam adolescentes do sexo feminino. São vários os aspectos que participam da gênese dos
O Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) estima que transtornos alimentares, como os de origem psicológica,
5% a 10% da população americana tenha algum tipo de biológica e sociocultural. No contexto sociocultural, aten-
distúrbio alimentar. ção especial deve ser dada ao culto obsessivo ao corpo
Vivemos sob influência de uma cultura que valori- magro como significado de sucesso, felicidade e aceitação,
za muito a imagem corporal, especialmente as mulheres, principalmente entre as mulheres.
gerando forte pressão em busca de melhora da aparência Estudos sugerem, ainda, que aproximadamente meta-
física. As mensagens enviadas por revistas, televisão e ou- de dos indivíduos com síndromes parciais ou transtornos
tros meios de comunicação incluem comprar certos tipos não especificados pode evoluir para quadros completos,
de roupas e produtos, livrar-se das rugas, clarear os dentes o que justifica dedicar muita atenção ao seu diagnóstico
e, mais comumente, perder peso, para poder ser feliz e ad- precoce.
mirado. É como se a busca da beleza fosse uma promessa
de felicidade. Os transtornos alimentares são definidos como desvios
Embora seja verdade que muitos de nós nos beneficia- do comportamento alimentar que podem levar ao emagre-
ríamos por comer menos e fazer mais atividade física, sim-
cimento patológico ou à obesidade, entre outros proble-
plesmente dando mais atenção ao estilo de vida, isso não é
mas de saúde relacionados a essas condições, decorrentes
um distúrbio alimentar. Distúrbios alimentares são doenças
que podem comprometer seriamente a saúde física e men- da extrema preocupação com o peso e a imagem corpo-
tal e são caracterizados por uma série de comportamentos ral. Apesar da alimentação parecer um ato biologicamente
alimentares anormais, baseados em crenças, percepções e automático, está intimamente relacionada a sentimentos
expectativas distorcidas sobre alimentação, peso e forma como insegurança, bem-estar, afetividade, carências e an-
do corpo. De forma geral, as pessoas que sofrem com es- gústias, sem esquecer a relação entre alimentação e expe-
ses distúrbios tendem a ter muita dificuldade em se acei- riências sociais, pois a maioria dos eventos sociais envolve
tar e sentir-se bem consigo mesmo. Acreditam ser “feios” comer e beber. É, portanto, uma forma de comunicação
e “gordos”, devido ao tamanho e à forma de seu corpo, social.
sendo que, na maioria dos casos, esse autojulgamento é
distorcido e impreciso.
Causas
Os distúrbios alimentares são mais comuns no sexo
feminino, sendo que apenas por volta de 10% dos pacien- Alguns estudos revelam fortes evidências quanto à
tes diagnosticados com anorexia são do sexo masculino; predisposição familiar. Indivíduo que tem mãe ou irmã
porém, acredita-se que esses dados representam uma su- com anorexia nervosa tem aproximadamente 12 vezes
bestimativa, devido ao fato de que os homens são mais mais risco de desenvolver um quadro de anorexia e 4 vezes
propensos a negar que tenham esse tipo de problema e mais de desenvolver bulimia do que em famílias que não
resistem mais em procurar ajuda. apresentam história dessas doenças. Estudos em gêmeos
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
mostram maior incidência de transtornos alimentares Muitos adolescentes, devido ao seu estágio de desenvol-
quando eles são idênticos. Estudos genéticos vêm sendo vimento cognitivo, têm capacidade limitada de expressar
conduzidos com o objetivo de buscar características ge- conceitos abstratos, como autoavaliação, motivação para
néticas comuns, que justifiquem tal constatação. Pesquisas perda de peso ou sentimento de baixa autoestima e de-
também vem sendo feitas focando encontrar anormalida- pressão. Além disso, sinais clínicos, como retardo puberal,
des ou atividade do hipotálamo, área da estrutura cere- retardo de crescimento ou déficit de mineralização óssea
bral responsável pela regulação da fome e da saciedade. podem ocorrer em níveis subclínicos. Pacientes jovens po-
Há indícios de que o hipotálamo de pessoas bulímicas seja dem apresentar dificuldades significativas relacionadas à
falho em desencadear a sensação de saciedade. Outros alimentação, imagem corporal e controle de peso, sem ne-
estudos sugerem que vários neurotransmissores estariam cessariamente refletirem os critérios formais para os trata-
envolvidos nos distúrbios alimentares, sendo que um gru- mentos alimentares. É essencial diagnosticar distúrbios ali-
po de pesquisadores da universidade de Pittsburgh encon- mentares dentro desse complexo contexto da adolescên-
trou que pacientes bulímicos tratados com sucesso ainda cia, para iniciar a intervenção terapêutica de forma precoce.
apresentavam baixos níveis de seretonina, enquanto os de
noradrenalina e dopamina estavam normais. O sucesso do A anorexia nervosa (AN) se caracteriza por um padrão
tratamento da bulimia com fluoxetina é mais uma evidên- alimentar extremamente restrito que resulta em severa
cia da importância desse neurotransmissor. Novos estudos perda de peso, amenorreia e distorção da imagem corpo-
sugerem que mulheres que desenvolvem anorexia podem ral. Está associada comumente a altos níveis de ansiedade
ter níveis alterados de dopamina, o que pode causar hipe- e depressão, baixa autoestima e dificuldades de relaciona-
ratividade, comportamento repetitivo (como restrição ali- mento com as pessoas de forma geral e com os familiares.
mentar) e anedonia. Esse neurotransmissor também afeta A saúde física pode estar gravemente comprometida, devi-
o mecanismo de recompensa cerebral, o que poderia ex- do ao quadro de desnutrição, sendo que a mortalidade gira
plicar porque, mesmo tendo intensa necessidade de perder em torno de 4% a 5%.
peso, tenham pouco prazer ao emagrecer. De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística
IV Edição (DSM-IV), que é a referência usada para o diag-
Ainda não se sabe o exato mecanismo de como pos- nóstico de anorexia nervosa, existem quatro critérios maio-
sa funcionar a tendência hereditária de desenvolver trans- res para o diagnóstico dessa doença:
tornos alimentares. Traços de personalidade como insta-
bilidade emocional, obsessão e perfeccionismo têm papel 1. Recusa de manter o peso corporal pelo menos no mí-
importante como facilitadores do aparecimento de trans- nimo aceitável para altura e idade;
tornos alimentares, particularmente anorexia e bulimia. Es- 2. Medo intenso de ganhar peso ou tornar-se gordo,
tudos sugerem que esses traços possam ser, em parte, de mesmo estando abaixo do peso mínimo;
origem genética. Indivíduos com essas características de 3. Falta de consciência da gravidade de seu baixo peso,
personalidade são mais predispostos a serem ansiosos, de- que reflete dificuldade de autoavaliação e da própria ima-
primidos e autocríticos, fatores que podem contribuir com gem corporal;
sua dificuldade de gerenciar o peso corporal e seus hábitos 4. No sexo feminino, ausência de pelo menos três ciclos
alimentares. menstruais consecutivos (caso já tenham tido menarca e não
Indivíduos com anorexia e bulimia tendem a ser um estejam grávidas).
tanto competitivos e a comparar sua aparência com parâ-
metros irreais, trazendo sensação de inferioridade. Muitos Aproximadamente 90% a 95% dos pacientes com ano-
desses julgamentos são resultado de pressões culturais e rexia são meninas que comumente apresentam um com-
do grupo que os cerca, ou seja, pessoas com distúrbios ali- portamento reservado, porque não querem interromper
mentares se preocupam mais com o que os outros pensam sua perda de peso se forem “descobertas” e também por-
deles do que eles mesmos pensam de si próprios. que sentem vergonha de seu comportamento. Frequente-
Além dessas causas, descritas anteriormente, é muito mente pulam refeições porque “esquecem”, “estão ocupa-
importante considerar a influência da dinâmica familiar do das” ou “pegam no sono” na hora das refeições. É frequen-
paciente sobre o transtorno alimentar, que frequentemen- te darem desculpas do por que não estarem com fome e
te propicia um ambiente que favorece a aparecimento da evitam situações sociais que envolvam comer, além de usar
doença. roupas largas, para esconder seus corpos magros. Podem
ainda usar laxantes, diuréticos, medicamentos para ema-
Diagnóstico grecer e fazer exercícios exageradamente de forma secreta,
às vezes, mais de uma vez por dia.
Os critérios diagnósticos para transtornos alimentares Mesmo após curto período de comportamento anoré-
descritos no DSM-IV podem não ser totalmente aplicáveis tico, o adolescente pode apresentar sérios sintomas clíni-
a adolescentes. A grande variação natural no ritmo, época cos. Deficiência de vitaminas e minerais e acentua perda de
e magnitude de crescimento em altura e ganho de peso peso podem causar anormalidades nos níveis dos eletró-
durante a puberdade, assim como a ausência de ciclos litos, levando a fraqueza, fadiga, confusão, perda de con-
menstruais no início da puberdade e sua irregularidade centração e até convulsão. Queda dos níveis de potássio
após a menarca limitam os critérios diagnósticos formais. podem, ainda, causar arritmia cardíaca.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A bulimia nervosa (BN) se caracteriza pelo excesso de Até o momento não há consenso sobre a maneira mais
preocupação com o peso corporal e a forma física, acom- apropriada para se avaliar e diagnosticar os transtornos
panhado pelo comportamento alimentar compulsivo (bin- alimentares. Porém, alguns questionários são utilizados no
ge eating) e recursos purgativos (uso de laxantes, diuréti- rastreamento de tais transtornos, enquanto que entrevistas
cos ou provocando vômitos). Complicações físicas podem clínicas são usadas para seu diagnóstico. Há um tipo de
ocorrer como desidratação, hipocalemia, trauma esofágico, entrevista conhecida como “Entrevista Clínica Estruturada
arritmias cardíacas e até morte. As complicações psiquiá- para o DSM- IV”, já traduzida para a língua portuguesa,
tricas incluem ansiedade, depressão, distúrbios de perso- que é considerada padrão-ouro para os diagnósticos psi-
nalidade e abuso de remédios ou outras substâncias. De quiátricos. Existe uma outra, denominada “Eating Disorders
forma geral, é menos preocupante, do ponto vista médico, Examination - EDE”, ainda não traduzida para o português,
do que a AN. que avalia a gravidade e o diagnóstico dos transtornos ali-
A maioria dos pacientes bulímicos tem peso próximo mentares.
ao normal ou até sobrepeso.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
avaliação e tratamento de adolescentes com distúrbios ali- Vale ressaltar as comobidades entre os transtornos do
mentares, incluindo dinâmica familiar. Educadores físicos comportamento no adolescente. Por exemplo, anorexia
e terapeutas ocupacionais podem ser bastante úteis para nervosa e bulimia estão frequentemente associadas a de-
complementar o tratamento. pressão, abuso de substâncias e transtornos do déficit de
Devem ser avaliados vários níveis de tratamento, de- atenção/ hiperatividade.
pendendo das características clínicas e da gravidade do Além disso, com o crescente aumento da prevalência
caso (ambulatorial, intensivo, internado em hospital, par- de obesidade entre crianças e adolescentes aumentou o
cialmente internado ou tratamento residencial). Os fatores número de indicações de cirurgia bariátrica como opção
que justificam internação de adolescentes com transtornos terapêutica. Os episódios de compulsão e purgação au-
alimentares estão listados na Tabela. toinduzida ocorrem em 5% a 30% dos adolescentes obe-
Devido às taxas de recaída, recorrências, “crossover” sos que procuram cirurgia, o que reforça a necessidade de
(mudanças de anorexia nervosa para bulimia nervosa ou seguimento próximo e com equipe multidisciplinar, já que
vice-versa) e comorbidades, o tratamento deve ter fre- esta não é uma contraindicação absoluta.
quência, intensidade e duração suficientes para prover in-
tervenção efetiva. Fonte
PEDRINOLA, F. Nutrição e transtornos alimentares na
Avaliação da saúde mental é fundamental para o tra- adolescência.
tamento de adolescentes com transtornos alimentares. O
tratamento pode ser necessário durante anos seguidos. Es- FAMÍLIA
tudos publicados suportam evidências de que o tratamen-
to baseado na relação familiar é eficaz para adolescentes e O ambiente familiar, bem como suas relações com o
foi publicado um manual que descreve tal método. A tera- aprendizado escolar revelam um campo pouco estudado,
pia cognitivo comportamental é usada em adultos com AN, apesar de muito importante para o desenvolvimento e
porém há escassez de estudos em adolescentes. Existem, aprendizagem das crianças.
ainda, evidências de que alguns antidepressivos, como o A legislação estabelece que a família deve desempe-
cloridrato de fluoxetina, podem ser úteis para reduzir o ris- nhar papel educacional e não incumbir apenas à escola
co de recaídas dos sintomas em adolescentes mais velhos, a função de educar. O artigo 205 da Constituição Federal
portadores de AN, nos quais o peso foi restabelecido. afirma: A educação direito de todos e dever do Estado e da
O tratamento mais eficaz para adolescentes mais ve- família, será promovida e incentivada com a colaboração
lhos com BN é a terapia cognitivo comportamental focada da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
na mudança de atitudes alimentares específicas e com- seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
portamentos que perpetuam o distúrbio alimentar. Anti- para o trabalho.
depressivos mostraram ser efetivos na redução do comer Sendo assim, pode-se afirmar que a família é funda-
compulsivo e de comportamentos purgativos em 50% a mental na formação cultural e social de qualquer indivíduo
75% dos casos. Além disso, psicoterapia individual, assim visto que, todos fazem parte da mais velha das instituições,
como terapia comportamental têm mostrado alguns be- que é a FAMÍLIA. Porém, ao tratarmos da família em sua
nefícios em adolescentes bulímicos. O uso de medicação relação com a escola faz-se necessário um estudo sobre
também pode ser útil em adolescentes mais velhos, com o panorama familiar atual, não esquecendo que a família
sintomas de depressão ou TOC. através dos tempos vem passando por um profundo pro-
O tratamento da osteopenia associado à anorexia cesso de transformação.
ainda não está resolvido, mas a conduta atual recomen- A família não é um simples fenômeno natural. Ela é
da incluir recuperação do peso corporal e volta dos ciclos uma instituição social variando através da história e apre-
menstruais, cálcio (1300 a 1.500 mg/dia), vitamina D (400 senta formas e finalidades diversas numa mesma época e
Ul/dia) e exercícios cuidadosos de musculação. Apesar de lugar, conforme o grupo social que esteja.
se prescrever reposição hormonal, frequentemente, para Entretanto, ao analisar a história, pode-se perceber,
tratar a osteopenia, não há estudos prospectivos suficien- que ao contrário de uma família ideal, o que se encontra
tes que demonstrem sua eficácia, além de poder acelerar o em nosso passado são famílias que se constituíram através
fechamento de cartilagem de crescimento e comprometer das circunstâncias econômicas, culturais e políticas sob as
a estatura final. mais variadas formas. A família é a base da sociedade, po-
O uso de drogas antipsicóticas atípicas, devido à sua rém diante das mudanças pelas quais passou, vê-se a ins-
propensão a levar a ganho de peso, assim como suas pro- tituição familiar estruturada de forma totalmente diferente
priedades ansiolíticas, tem sido considerado potencial- de anos atrás. O antigo padrão familiar, antes constituído
mente útil. Dados publicados a partir de pequenos estudos por pai, mãe, filhos e outros membros, cujo comando cen-
feitos em adultos com AN tomando olanzapina ainda são trava no patriarca e/ou matriarca, deixou de existir. Em seu
inconsistentes. Estudo recente examinando a risperidona lugar surgem novas composições familiares, ou seja, famí-
(dose média de 3 mg durante média de três semanas) em lias constituídas de diversos modos, desde as mais simples,
41 adolescentes com AN não mostrou benefício. O uso de formadas apenas por pais e filhos, outras formadas por
medicações para tratar comorbidades (ansiedade, depres- casais vindos de outros relacionamentos, além de famílias
são) parece útil em alguns casos. compostas por homossexuais, por avós e netos etc.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O século XX foi cenário de grandes transformações Por falta de um contato mais próximo e afetuoso, sur-
na estrutura da família. Ainda hoje, porém, observamos gem as condutas caóticas e desordenadas, que se reflete
algumas marcas deixadas pelas suas origens. Da família em casa e quase sempre, também na escola em termo de
romana, por exemplo, temos a autoridade do chefe da indisciplina e de baixo rendimento escolar.
família, onde a submissão da esposa e dos filhos ao pai Percebe-se dessa maneira que a família possui papel
confere ao homem o papel de chefe. Da família medieval decisivo na educação formal e informal e, além de refletir
perpetua-se o caráter sacramental do casamento originado os problemas da sociedade, absorve valores éticos e huma-
no século XVI. Da cultura portuguesa, temos a solidarieda- nitários aprofundando os laços de solidariedade. Portanto,
de, o sentimento de sensível ligação afetiva, abnegação e é indispensável a participação da família na vida escolar
desprendimento. dos filhos, pois, crianças que percebem que seus respon-
O aumento da expectativa de vida, a diminuição do ín- sáveis estão acompanhando de perto o que está aconte-
dice de natalidade, o aumento de mulheres abarcando o cendo, que estão verificando o rendimento escolar, per-
mundo do trabalho, além do aumento de divórcios e sepa- guntando como foram as aulas, questionando as tarefas,
rações forma algumas das mudanças deixadas pelo século etc. tendem a se sentir mais seguras e em consequência
XX. Em consequência disso, a família contemporânea, as- apresentam um melhor desempenho nas atividades esco-
sim como a instituição do casamento, parece estar viven- lares. “... a família também é responsável pela aprendiza-
ciando uma grande crise. gem da criança, já que os pais são os primeiros ensinantes
Percebe-se em consequência dessa crise um aumento e as atitudes destes frente às emergências de autoria, se
considerável de pequenas famílias chefiadas por jovens es- repetidas constantemente, irão determinar a modalidade
posas tentando se firmar financeiramente. de aprendizagem dos filhos.”
Ao comentar as mudanças ocorridas na estrutura fa- Portanto, é indispensável que a família esteja em har-
miliar Romanelli, diz: Uma das transformações mais signifi- monia com a instituição escolar, uma vez que uma relação
cativas na vida doméstica e que redunda em mudanças na harmoniosa só pode enriquecer e facilitar o desempenho
dinâmica é a crescente participação do sexo feminino na educacional das crianças.
força de trabalho, em consequência das dificuldades en-
Esteve (1999), assegura que a família abdicou de suas
frentadas pelas famílias.
responsabilidades no âmbito educativo, passando a exigir
Cabe aqui ressaltar que a Constituição Federal de 1988,
que a escola ocupe o vazio que eles não podem preencher.
em seu artigo 5º, caput e inciso I, declara a igualdade en-
Sendo assim, o que se vê hoje são crianças chegando à es-
tre o homem e a mulher; no artigo 226, parágrafos 3º e
cola e desenvolvendo suas atividades escolares sem qual-
4º reconhecem na família a relação proveniente da união
quer apoio familiar.
estável e da monoparentalidade formada por qualquer dos
Essa erosão do apoio familiar não se expressa só na fal-
pais e seus descendentes e, ainda no artigo 227, parágrafo
ta de tempo para ajudar as crianças nos trabalhos escolares
5º, as relações ligadas pela afinidade e pela adoção. O có-
digo civil brasileiro, em vigor desde 11 de janeiro de 2003, ou para acompanhar sua trajetória escolar. Num sentido
considera qualquer união estável entre pessoas que se mais geral e mais profundo, produziu-se uma nova disso-
gostam e se respeitam, ampliando assim o conceito de fa- lução entre família e escola, pela qual as crianças chegam à
mília e ainda segundo Genofre, 1997: [...] o traço dominante escola com um núcleo básico de desenvolvimento da per-
da evolução da família é sua tendência a se tornar um grupo sonalidade caracterizado seja pela debilidade dos quadros
cada vez menos organizado e hierarquizado e que cada vez de referência, seja por quadros de referência que diferem
mais se funda na afeição mútua. dos que a escola supõe e para os quais se preparou.
Como já foi dito, as mudanças sócio-políticas-econô- Diante da colocação acima, entende-se que a família
micas das últimas décadas vêm influenciando na dinâmica deve, portanto, se esforçar para estar mais presente em to-
e na estrutura familiar, acarretando mudanças em seu pa- dos os momentos da vida de seus filhos, inclusive, da vida
drão tradicional de organização. Diante disso, não se pode escolar. No entanto, esta presença implica envolvimento,
falar em família, mas sim de famílias, devido à diversidade comprometimento e colaboração. O papel dos responsá-
de relações existentes em nossa sociedade. veis, portanto, é dar continuidade ao trabalho da escola,
Apesar dos diferentes arranjos familiares que se suce- criando condições para que seus filhos tenham sucesso na
deram e conviveram simultaneamente ao longo da história, sala de aula, assim como na vida fora da escola.
as famílias ainda se constituem com a mesma finalidade: Diante dos autores revisados, percebe-se que a família,
preservar a união monogâmica baseada em princípios éti- apesar de ser um tema relevante, também é bastante com-
cos, pois o respeito ao outro é uma condição indispensável. plexa e requer ainda muito estudo e pesquisa para que se
Por outro lado, mudanças são consideradas sempre bem- possa entender melhor sua natureza e especificidade.
-vindas, principalmente quando surgem para fortalecer
ainda mais a instituição familiar, independentemente da A ESCOLA E SUA FUNÇÃO
forma como está constituída. A família se modifica através
da história, mas continua sendo um sistema de vínculos As mudanças pelas quais a sociedade tem passado
afetivos onde se dá todo o processo de humanização do atualmente em decorrência de grande carga de informação,
indivíduo. Esse vínculo afetivo parece contribuir de forma dos avanços tecnológicos e tantos outros fatores, têm re-
positiva para o bom desempenho escolar da criança. percutido na estruturação da família e consequentemente
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
na estrutura da escola. Portanto, faz-se necessário voltar Em vista disso, é que destacamos a necessidade de
atenção para a escola que, apesar das mudanças, continua uma parceria entre a família e a escola visto que, cada
exercendo a função de transmitir conhecimentos científicos. qual com seus valores e objetivos específicos em relação à
A escola tem encontrado dificuldades em assimilar as educação de uma criança, se sobrepõe, onde quanto mais
mudanças sociais e familiares e incorporar as novas tare- diferentes são, mais necessitam uma da outra. Entretanto,
fas que a ela tem sido delegada, embora isso não seja um escola e família não podem e não devem modificar-se em
processo recente. Entretanto, a escola precisa ser pensada suas formas de se desenvolverem e se organizarem – a es-
como um caminho entre a família e a sociedade, pois, tanto cola em função da família e a família em função da escola,
a família quanto à sociedade voltam seus olhares exigen- porém, podem e devem estar abertas às trocas de expe-
tes sobre ela. A escola é para a sociedade uma extensão riências mediante uma parceria significativa.
da família, pois é através dela (a escola) que se consegue Diante dos autores revisados, percebe-se a clareza
desenvolver indivíduos críticos e conscientes de seus di- da importância de compartilhar responsabilidades e não
reitos e deveres. Na verdade, encontrar formas de modo transferi-las. A escola não funciona isoladamente, é preci-
a favorecer um ambiente conveniente e favorável a todos, so que cada um, dentro da sua função, trabalhe buscando
constitui-se num grande desafio para escola. Diante des- atingir uma construção coletiva, contribuindo assim para a
sas premissas, percebe-se que o papel da escola supera a melhoria do desempenho escolar das crianças.
simples condição de mera transmissora de conhecimento. Colaborando com a discussão sobre o tema de nosso
A escola tem um papel preponderante na contribuição trabalho, Dermeval Saviani tece algumas considerações.
do sujeito, tanto do ponto de vista de seu desenvolvimento “Claro que, de modo geral, pode-se entender que uma
pessoal e emocional, quanto da constituição da identidade, boa relação entre a família e a escola tenderá a repercu-
além de sua inscrição futura na sociedade. tir favoravelmente no desempenho dos alunos. No entanto,
Sendo assim, faz-se necessário que a escola repense sua considerada essa questão específica, é necessário verificar
prática pedagógica para melhor atender a singularidade de que podemos nos defrontar com situações distintas que re-
seus alunos, o que a obriga a uma parceria com a família, querem, portanto, tratamentos distintos. Suponhamos, por
de forma a atingir seus objetivos educativos. É importante exemplo, o padrão tradicional de funcionamento das escolas
que a escola busque estreitar suas relações com a família na forma de externatos em que os alunos ficam na escola
em nome do bem-estar do aluno. Para maior fluência de uma parte do dia, frequentando as aulas, devendo estudar
seus objetivos, a escola necessita da participação da família em casa na outra parte do dia ou à noite. A escola, então,
e que essa participação seja de efetivas contribuições para ministraria ensinamentos e passaria “lições de casa” que se-
o bom desempenho escolar dos alunos. As responsabili- riam corrigidas no retorno a sala de aula, dando sequên-
dades da escola hoje vão além de mera transmissora de cia ao processo ensinoaprendizagem. Bem, numa situação
conhecimento científico. Sua função é muito mais ampla como essa se torna fundamental a cooperação da família.
e profunda. Tem como tarefa árdua educar a criança para Essa cooperação implica um ambiente minimamente favo-
que ela aprenda a conviver em sociedade, para que tenha rável para que as crianças possam estudar em casa, prefe-
uma vida plena e realizada, além de formar o profissional rencialmente com o estímulo e a eventual ajuda dos pais ou
contribuindo assim, para a melhoria da sociedade. De acor- responsáveis. No entanto, nós podemos nos defrontar com
do com Torres (2006), uma das funções sociais da escola é sérios obstáculos a esse modelo, pois há muitas famílias que
preparar o cidadão para o exercício da cidadania vivendo não dispõe sequer de um espaço no qual as crianças possam
como profissional e cidadão. O que quer dizer que a esco- estudar, não havendo uma mesa com uma cadeira onde a
la tem como função social democratizar conhecimentos e criança possa sentar e ficar em silêncio manuseando o livro
formar cidadãos participativos e atuantes. didático e escrevendo sem seu caderno; famílias em que os
pais passam o dia todo fora de casa, trabalhando; em que os
A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO FAMÍIA/ESCOLA/ pais e mesmo os irmãos mais velhos não tiveram acesso à
COMUNIDADE escola e, portanto, não têm condições de acompanhar o de-
senvolvimento escolar dos filhos ou irmãos mais novos. Para
Vida familiar e vida escolar perpassam por caminhos esses casos a solução poderia ser a escola de tempo integral.
concomitantes. É quase impossível separar aluno/filho, por Essa proposta está na pauta tendo sido, inclusive, con-
isto, quanto maior o fortalecimento da relação família/es- templada na nova LDB ao prescrever, no § segundo do Art.
cola, tanto melhor será o desempenho escolar desses fi- 34, que “o ensino fundamental será ministrado progressi-
lhos/alunos. Nesse sentido, é importante que família e a vamente em tempo integral, a critério dos sistemas de en-
escola saibam aproveitar os benefícios desse estreitamento sino”. E essa proposta também aparece com frequência nas
de relações, pois, isto irá resultar em princípios facilitadores plataformas políticas dos diversos candidatos nas sucessivas
da aprendizagem e formação social da criança. eleições. No entanto, geralmente quando se fala em escola
Tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: de tempo integral se pensa num turno de aulas e em um
preparar as crianças para o mundo; no entanto, a família outro em que as crianças estariam na escola desenvolvendo
tem suas particularidades que a diferenciam da escola, e atividades culturais e desportivas. Ora, sendo assim, o pro-
suas necessidades que a aproximam dessa instituição. A blema do desempenho dos alunos não seria devidamente
escola tem sua metodologia filosofia, no entanto ela ne- equacionado. Ao contrário, tenderia a ser dificultado porque,
cessita da família para concretizar seu projeto educativo. após passar o dia inteiro na escola, as crianças teriam que
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
estudar fazer as lições de casa e se preparar para as aulas de parceria e confiança mútua - condições essenciais para
do dia seguinte em casa, à noite. Na verdade, uma escola de o sucesso do processo educacional. Porém, esta parceria
tempo integral implicaria que, no contra turno, as crianças deve ser fortalecida a cada dia, com reuniões de pais e pro-
estariam estudando com a orientação dos professores que fessores e toda comunidade escolar. Faz-se necessário, que
poderiam ministrar atividades de reforço para aqueles que a escola vá de encontro à família quando sentir que esta
apresentassem maiores dificuldades de aprendizagem. Logo, permanece distante. Portanto, a escola necessita dessa re-
também os professores deveriam ser contratados em jorna- lação de parceria com a família, para que juntas, possam
da de tempo integral numa única escola. Isso permitiria que compartilhar os aspectos que envolvem a criança, no que
eles se fixassem em determinada escola, se identificassem diz respeito ao aproveitamento escolar, qualidade na reali-
com ela podendo, em consequência, participar mais direta- zação das tarefas, relacionamento com professores e cole-
mente na vida da comunidade em que a escola está inserida. gas, atitudes, valores e respeito às regras. Enfim, a relação
Assim, seria possível manter certo grau de diálogo com as familiar e escolar é fundamental para o processo educativo,
famílias dos alunos o que contribuiria para estabelecer al- pois os dois contextos possuem o papel de desenvolver a
gum tipo de colaboração entre a ação da escola e a ação da sociabilidade, a afetividade e o bem-estar físico e intelec-
família tendo em vista o objetivo de assegurar às crianças tual os indivíduos, ou seja, o ideal é que família e escola se
um satisfatório desempenho escolar”. envolvam numa relação recíproca, pois as influências dos
dois meios são importantes para a formação de sujeitos.
Contudo, percebe-se a importância da relação Família/
Escola no processo educativo da criança. Ambas são refe- Referência:
renciais que dão sustentação ao bom desenvolvimento da Material didático. Ester. Disponível em: http://www.
criança, portanto, quanto melhor for a parceria entre elas, diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1764-6
mais positiva e significativa será o desempenho escolar dos
filhos/alunos. Porém, a participação da família na educação ESCOLHAS SEXUAIS
formal dos filhos precisa ser constante e consciente, pois
vida familiar e vida escolar se complementam.
Orientação Sexual na Escola.
As famílias, em parceria com a escola e vice-versa, são
peças fundamentais ao desenvolvimento pleno da crian-
A sexualidade tem grande importância no desenvol-
ça e consequentemente são pilares imprescindíveis para
vimento e na vida psíquica das pessoas, pois indepen-
o bom desempenho escolar. Entretanto, para conhecer a
dentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se
família é necessário que a escola abra suas portas, intensi-
com a busca do prazer, necessidade fundamental dos se-
ficando e garantindo sua permanência através de reuniões
res humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida
mais interessantes e motivadoras. À medida que a escola
como algo inerente, que se manifesta desde o momento
abrir espaços e criar mecanismos para atrair a família para
o ambiente escolar, novas oportunidades com certeza irão do nascimento até a morte, de formas diferentes a cada
surgir para que seja desenvolvida uma educação de qua- etapa do desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualida-
lidade, sustentada justamente por esta relação FAMÍLIA/ de construída ao longo da vida, encontra-se necessaria-
ESCOLA. Essa parceria deve ter como ponto de partida a mente marcada pela história, cultura, ciência, assim como
escola, visto que, os professores são vistos como “espe- pelos afetos e senti- mentos, expressando-se então com
cialistas em educação”. Portanto, cabe a eles dar início a singularidade em cada sujeito. Indissociavelmente ligado
construção desse relacionamento. Os pais não conhecem a valores, o estudo da sexualidade reúne contribuições de
o funcionamento da escola, tampouco tem conhecimento diversas áreas, como Antropologia, História, Economia, So-
sobre as características do desenvolvimento cognitivo, afe- ciologia, Biologia, Medicina, Psicologia e outras mais. Se,
tivo, moral e social ou conhecem o processo ensinoapren- por um lado, sexo é expressão biológica que define um
dizagem. Porém, não existe uma fórmula mágica para se conjunto de características anatômicas e funcionais (geni-
efetivar a relação família/escola, pois, cada família, cada tais e extragenitais), a sexualidade é, de forma bem mais
escola, vive uma realidade diferente. Nesse sentido, esta ampla, expressão cultural. Cada sociedade cria conjuntos
interação se faz necessário para que ambas conheçam suas de regras que constituem parâmetros fundamentais para o
realidades e construam coletivamente uma relação de diá- comportamento sexual de cada indivíduo. Nesse sentido, a
logo mútuo, procurando meios para que se concretize essa proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade nas
parceria, apesar das dificuldades e diversidades que as en- suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural.
volvem. O diálogo entre ambas, tende a colaborar para um
equilíbrio no desempenho escolar dos alunos. Sexualidade na infância e na adolescência
Sendo assim, percebe-se a importância de a escola en-
contrar formas que sejam eficientes para se comunicar com Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele
as famílias, buscando auxiliá-las a encontrar maneiras apro- as primeiras vivências de prazer. Essas primeiras experiên-
priadas para orientar seus filhos nas tarefas escolares que cias sensuais de vida e de prazer não são essencialmente
levam para casa, levando em consideração o nível cultural, biológicas, mas constituirão o acervo psíquico do indiví-
o tempo disponível, entre outros problemas enfrentados duo, serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualida-
pela família. Assim, é possível estabelecer uma condição de infantil se desenvolve desde os primeiros dias de vida
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Assim, propõe-se que a Orientação Sexual oferecida Para um bom trabalho de Orientação Sexual, é neces-
pela escola aborde as repercussões de todas as mensagens sário que se estabeleça uma relação de confiança entre
transmitidas pela mídia, pela família e pela sociedade, com alunos e professor. Para isso, o professor deve se mostrar
as crianças e os jovens. Trata-se de preencher lacunas nas disponível para conversar a respeito das questões apresen-
informações que a criança já possui e, principalmente, criar tadas, não emitir juízo de valor sobre as colocações feitas
a possibilidade de formar opinião a respeito do que lhe pelos alunos e responder às perguntas de forma direta e
é ou foi apresentado. A escola, ao propiciar informações esclarecedora. Informações corretas do ponto de vista cien-
atualizadas do ponto de vista científico e explicitar os di- tífico ou esclarecimentos sobre as questões trazidas pelos
versos valores associados à sexualidade e aos comporta- alunos são fundamentais para seu bem-estar e tranquili-
mentos sexuais existentes na sociedade, possibilita ao alu- dade, para uma maior consciência de seu próprio corpo e
no desenvolver atitudes coerentes com os valores que ele melhores condições de prevenção às doenças sexualmente
próprio elegeu como seus. transmissíveis, gravidez indesejada e abuso sexual.
Experiências bem-sucedidas com Orientação Sexual Na condução desse trabalho, a postura do educador é
em escolas que realizam esse trabalho apontam para al- fundamental para que os valores básicos propostos pos-
guns resultados importantes: aumento do rendimento sam ser conhecidos e legitimados de acordo com os ob-
escolar (devido ao alívio de tensão e preocupação com jetivos apontados. Em relação às questões de gênero, por
questões da sexualidade) e aumento da solidariedade e do exemplo, o professor deve transmitir, pela sua conduta, a
respeito entre os alunos. Quanto às crianças menores, os equidade entre os gêneros e a dignidade de cada um in-
professores relatam que informações corretas ajudam a di- dividualmente. Ao orientar todas as discussões, deve, ele
minuir a angústia e a agitação em sala de aula. próprio, respeitar a opinião de cada aluno e ao mesmo
tempo garantir o respeito e a participação de todos.
Postura do educador
Relação escola-família
O educador deve reconhecer como legítimo e lícito,
por parte das crianças e dos jovens, a busca do prazer e O trabalho de Orientação Sexual proposto por este
as curiosidades manifestas acerca da sexualidade, uma vez documento compreende a ação da escola como comple-
que fazem parte de seu processo de desenvolvimento. mentar à educação dada pela família. Assim, a escola de-
O professor transmite valores com relação à sexuali- verá informar os familiares dos alunos sobre a inclusão de
dade no seu trabalho cotidiano, na forma de responder ou conteúdos de Orientação Sexual na proposta curricular e
não às questões mais simples trazidas pelos alunos. É ne- explicitar os princípios norteadores da proposta. O diálogo
cessário então que o educador tenha acesso à formação entre escola e família deverá se dar de todas as formas per-
específica para tratar de sexualidade com crianças e jovens tinentes a essa relação.
na escola, possibilitando a construção de uma postura pro- Por entender que a abordagem oferecida acontece a
fissional e consciente no trato desse tema. O professor deve partir de uma visão pluralista de sexualidade e o papel da
então entrar em contato com questões teóricas, leituras e escola é abrir espaço para que essa pluralidade de concep-
discussões sobre as temáticas específicas de sexualidade e ções, valores e crenças possa se expressar, não compete
suas diferentes abordagens; preparar-se para a intervenção à escola, em nenhuma situação, julgar como certa ou er-
prática junto dos alunos e ter acesso a um espaço grupal rada a educação que cada família oferece. Antes, caberá
de supervisão dessa prática, o qual deve ocorrer de forma à escola trabalhar o respeito às diferenças, a partir da sua
continuada e sistemática, constituindo, portanto, um espa- própria atitude de respeitar as diferenças expressas pelas
ço de reflexão sobre valores e preconceitos dos próprios famílias. A única exceção refere-se às situações em que
educadores envolvidos no trabalho de Orientação Sexual. haja violação dos direitos das crianças e dos jovens. Nessa
Ao atuar como um profissional a quem compete con- situação específica, cabe à escola posicionar-se a fim de
duzir o processo de reflexão que possibilitará ao aluno au- garantir a integridade básica de seus alunos — por exem-
tonomia para eleger seus valores, tomar posições e am- plo, as situações de violência sexual contra crianças por
pliar seu universo de conhecimentos, o professor deve ter parte de familiares devem ser comunicadas ao Conselho
discernimento para não transmitir seus valores, crenças e Tutelar (que poderá manter o anonimato do denunciante)
opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas. ou autoridade correspondente.
O professor, assim como o aluno, possui expressão pró-
pria de sua sexualidade que se traduz em valores, crenças,
opiniões e sentimentos particulares. Não se pode exigir do
professor uma isenção absoluta no tratamento das ques-
tões ligadas à sexualidade, mas a consciência sobre quais
são os valores, crenças, opiniões e sentimentos que cultiva
em relação à sexualidade é um elemento importante para
que desenvolva uma postura ética na sua atuação junto
dos alunos. O trabalho coletivo da equipe escolar, definin-
do princípios educativos, em muito ajudará cada professor
em particular nessa tarefa.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
nos PCNS, temas transversais (ética, saúde, orientação ser passado ás novas gerações. Porque isso é que o cur-
sexual, meio ambiente, trabalho, consumo e pluralidade rículo faz: uma seleção dentro da cultura daquilo que se
cultural) e em algumas produções literárias no campo do considera relevante que as novas gerações aprendam.
multiculturalismo. Esses questionamentos dizem respeito aos conteúdos
O que é essencial para qualquer teoria é saber qual escolares. Na escola aprendemos a fazer listagens de con-
conhecimento deve ser ensinado e justificar o porquê des- teúdos e julgamos que eles vão explicar o mundo para os
ses conhecimentos e não outros devem ser ensinados, de alunos. No entanto, não estamos conseguindo articular es-
acordo com os conceitos que enfatizam. ses conteúdos com a vida dos nossos alunos. Ultimamente
Quantas vezes em nosso cotidiano escolar paramos utilizamos de temas transversais, projetos especiais e há
para refletir sobre Teorias do currículo e o Currículo? Quan- até sugestões de criar novas disciplinas, como direito do
do organizamos um planejamento bimestral, anual pensa- consumidor, educação fiscal, ecologia, para dar conta desta
mos sobre aquela distribuição de conteúdo de forma crí- realidade imediata.
tica? Discute-se que determinado conteúdo é importante Temos dificuldades de assumirmos estas discussões
porque é fundamento para a compreensão daquele que o curriculares devido a uma tradição que designava a outros
sucederá no bimestre posterior ou no ano que vem. Alega- seguimentos da educação as decisões pedagógicas ou pela
mos que se o aluno não tiver acesso a determinado con- falta de tempo, devido as condições do trabalho docente
teúdo não conseguirá entender o seguinte. Somos capazes ou pela falta de conhecimento das propostas políticas-pe-
de perceber em nossas atitudes (na prática docente), na dagógicas implantadas pelo Governo.
forma como abordamos os conteúdos selecionados, um Todavia, diante do desafio de ser professor, cabe-nos
posicionamento tradicional ou crítico? E por que adotamos entender quais os saberes socialmente relevantes, quais os
tal atitude? critérios de hierarquização entre esses saberes/disciplinas,
Precisamos entender os vínculos entre o currículo e as concepções de educação, de sociedade, de homem que
a sociedade, e saber como os professores/as, a escola, o sustentam as propostas curriculares implantadas. Quem
currículo e os materiais didáticos tenderão a reproduzir a são os sujeitos que poderão definir e organizar o currículo?
E quais os pressupostos que defendemos?
cultura hegemônica e favorecer mais uns do que outros.
O estudo das teorias do currículo não é a garantia de
Também é certo que essa função pode ser aceita com pas-
se encontrar as respostas a todos os nossos questionamen-
sividade ou pode aproveitar espaços relativos de autono-
tos, é uma forma de recuperarmos as discussões curricula-
mia, que sempre existem, para exercer a contra-hegemo-
res no ambiente escolar e conhecer os diferentes discur-
nia, como afirma Apple. Essa autonomia pode se refletir
sos pedagógicos que orientam as decisões em torno dos
nos conteúdos selecionados, mas principalmente se define
conteúdos até a “racionalização dos meios para obtê-los e
na forma como os conteúdos são abordados no ensino.
comprovar seu sucesso” (SACRISTÁN, 2000).
A forma como trabalhamos os conteúdos em sala de
aula indica nosso entendimento dos conhecimentos esco- Para nós, professores, os estudos sobre as teorias do
lares. Demonstra nossa autonomia diante da escolha. poderão responder aos questionamentos da comunidade
SARUP (apud SACRISTÁN, 2000) distingue a perspecti- escolar como: a valorização dos professoras/es, o baixo
va crítica da tradicional da seguinte forma: rendimento escolar, dificuldades de aprendizagem, desin-
A finalidade do currículo crítico é o inverso do currículo teresse, indisciplina e outras dimensões. Poderão, sobre-
tradicional; este último tende a “naturalizar” os aconteci- tudo, mostrar que os Currículos não são neutros. Eles são
mentos; aquele tenta obrigar os alunos/a a que questione elaborados com orientações políticas e pedagógicas. Ou
as atitudes e comportamentos que considera “naturais “. seja, é produto de grupos sociais que disputam o poder.
O currículo crítico oferece uma visão da realidade como As reformulações curriculares atuais promovem discus-
processo mutante contínuo, cujo agentes são os seres hu- sões entre posições diferentes, há os que defendem os cur-
manos, os quais, portanto, estão em condição de realizar rículos por competências, os científicos, os que enfatizam
sua transformação. A função do currículo não é “refletir a cultura, a diversidade, os mais críticos à ciência moderna,
“uma realidade fixa, mas pensar sobre a realidade social; enfim, teorias tradicionais, críticas e pós-críticas disputam
é demonstrar que o conhecimento e os fatos sociais são esse espaço cheio de conflitos, Como afirma Silva (2005), o
produtos históricos e, consequentemente, que poderiam Currículo é um território político contestado.
ter sido diferentes (e que ainda podem sê-lo). Diante desse complexo mundo educacional de ten-
dências, teorias, ideologias e práticas diversas, cabe-nos
É por isso que Albuquerque /Kunzle (2006) perguntam: estudar para conhecê-las, podendo assim assumir uma
Quando pensamos o currículo tomamos a ideia de conduta crítica na ação docente.
caminho: que caminho vamos percorrer ao longo deste
tempo escolar? Que seleções vamos fazer? Que seleções William Pinar (apud LOPES, 2006), estudioso do campo
temos feito? E mais: em que medida nós, professoras/es do currículo, afirma:
e pedagogas/os interferimos nesta seleção? Qual é o co- [...] estudar teoria de currículo, é importante na medida
nhecimento com que a escola deve trabalhar? Quando es- em que oferece aos professores de escolas públicas, a com-
colhemos um livro didático, ele traz desenhado o currículo preensão dos diversos mundos em que habitamos e, especial-
oficial: o saber legitimado, o saber reconhecido que deve mente a retórica política que cerca as propostas educacionais
77
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
e os conteúdos curriculares. Os professores de escolas (norte 4.1 ACESSO, PERMANÊNCIA E SUCESSO DO ALU-
americanas) têm dificuldades em resistir a modismos educa- NO NA ESCOLA.
cionais passageiros, porque, em parte não lembram das teo-
rias e da história do currículo, porque muito frequentemente Acesso e permanência para a conquista da qualidade social
não as estudaram [...]
Essa também é a realidade brasileira. Precisamos es- A qualidade social da educação brasileira é uma con-
tudar nossas propostas curriculares, bem como as teorias quista a ser construída de forma negociada, pois significa
do currículo e tendências pedagógicas para que possamos algo que se concretiza a partir da qualidade da relação en-
entender nossa prática e suas consequências aos alunos e tre todos os sujeitos que nela atuam direta e indiretamen-
docentes. te. Significa compreender que a educação é um processo
Acerca disso, Eisner (apud SACRISTÁN, 2000), pontua de socialização da cultura da vida, no qual se constroem,
que: se mantêm e se transformam conhecimentos e valores.
[...] que o ensino é o conjunto de atividades que trans- Socializar a cultura inclui garantir a presença dos sujeitos
formam o currículo na prática para produzir a aprendiza- das aprendizagens na escola. Assim, a qualidade social da
gem, é uma característica marcante do pensamento curri- educação escolar supõe a sua permanência, não só com a
cular atual, interar o plano curricular a prática de ensiná-lo redução da evasão, mas também da repetência e da distor-
não apenas o torna realidade em termos de aprendizagem, ção idade/ano/série.
mas que na própria atividade podem se modificar as pri- Para assegurar o acesso ao Ensino Fundamental, como
meiras intenções e surgir novos fins [...] direito público subjetivo, no seu artigo 5º, a LDB instituiu
A sala de aula é o espaço onde se concretiza o currí- medidas que se interpenetram ou complementam, estabe-
culo e deve acontecer o processo ensino e aprendizagem. lecendo que, para exigir o cumprimento pelo Estado desse
Este processo acontece não só por meio da transferência ensino obrigatório, qualquer cidadão, grupo de cidadãos,
de conteúdos, mas, também pela influência das diversas associação comunitária, organização sindical, entidade de
relações e interações desse espaço escolar, na sala de aula classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministé-
e na relação professor-aluno. rio Público, podem acionar o poder público.
Concordamos que o eixo central do Currículo é diver- Esta medida se complementa com a obrigatoriedade
sos conhecimentos. Para defini-lo se faz necessário discutir atribuída aos Estados e aos Municípios, em regime de co-
a serviço de quem a escola está. Defendemos que o traba- laboração, e com a assistência da União, de recensear a
lho escolar defina seu Currículo a partir da cultura do aluno, população em idade escolar para o Ensino Fundamental, e
respeitando-a, mas sem perder a ênfase no conhecimento os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso, para que
clássico das disciplinas que compõem a grade curricular. seja efetuada a chamada pública correspondente.
Alguns autores afirmam que o ponto de partida é o Quanto à família, os pais ou responsáveis são obriga-
aluno concreto. Outros questionam o que sabemos so- dos a matricular a criança no Ensino Fundamental, a partir
bre esse aluno concreto, se realmente partimos dele. E ao dos 6 anos de idade, sendo que é prevista sanção a esses
questionarem afirmam que “a cultura popular é, assim, um e/ou ao poder público, caso descumpram essa obrigação
conhecimento que deve, legitimamente, fazer parte do de garantia dessa etapa escolar.
Currículo, pois toda cultura é fruto do trabalho humano”. Quanto à obrigatoriedade de permanência do estu-
O conhecimento científico é o que dá as explicações dante na escola, principalmente no Ensino Fundamental,
mais objetivas para a realidade e este é o objetivo principal há, na mesma Lei, exigências que se centram nas relações
da escola. No entanto, é preciso questionar, o que determi- entre a escola, os pais ou responsáveis, e a comunidade, de
na a legitimidade de um conhecimento. tal modo que a escola e os sistemas de ensino tornam-se
responsáveis por:
Fonte: - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência
SABAINI, S. M. G; BELLINI, L. M. Porque estudar currícu- à escola;
lo e teorias de currículo. - articular-se com as famílias e a comunidade, criando
processos de integração da sociedade com a escola;
Bibliografia - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e
ALBUQUERQUE, Janeslei A; KUNZLE, Maria Rosa. O o rendimento dos estudantes, bem como sobre a execução
currículo e suas dimensões, multirracial e multicultural. In: de sua proposta pedagógica;
Caderno Pedagógico nº 4, APP-SINDICATO 60 ANOS. 2007.
LOPES, Alice C. Pensamento e política curricular – en- - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
trevista com William Pinar. In: Políticas de currículo em múl- competente da Comarca e ao respectivo representante do
tiplos contextos. São Paulo: Cortez, 2006. Ministério Público a relação dos estudantes que apresen-
SACRISTÁN J. G.; PÉREZ GÓMEZ A. I. Compreender e tem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do
transformar o ensino. Porto Alegre: ArtMed, 2000. percentual permitido em lei.
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: uma No Ensino Fundamental e, nas demais etapas da Edu-
introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autên- cação Básica, a qualidade não tem sido tão estimulada
tica, 2005. quanto à quantidade. Depositar atenção central sobre a
quantidade, visando à universalização do acesso à escola,
78
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
é uma medida necessária, mas que não assegura a per- funcionário, coordenador – mas também mediante aqui-
manência, essencial para compor a qualidade. Em outras sição e utilização adequada dos objetos e espaços (labo-
palavras, a oportunidade de acesso, por si só, é destituída ratórios, equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblio-
de condições suficientes para inserção no mundo do co- teca, videoteca etc.) requeridos para responder ao projeto
nhecimento. político-pedagógico pactuado, vinculados às condições/
O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva disponibilidades mínimas para se instaurar a primazia da
ampla e basilar, remete a uma determinada ideia de quali- aquisição e do desenvolvimento de hábitos investigatórios
dade de vida na sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto para construção do conhecimento.
a qualidade pedagógica quanto a qualidade política, uma A escola de qualidade social adota como centralidade
vez que requer compromisso com a permanência do es- o diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o
tudante na escola, com sucesso e valorização dos profis- que pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais
sionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber como:
a qualidade na escola como qualidade social, que se con- I – revisão das referências conceituais quanto aos dife-
rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
quista por meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades
sociais na escola e fora dela;
– pedagógica e política – abrangem diversos modos avalia-
II – consideração sobre a inclusão, a valorização das
tivos comprometidos com a aprendizagem do estudante, diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
interpretados como indicações que se interpenetram ao cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos,
longo do processo didático-pedagógico, o qual tem como individuais e coletivos e as várias manifestações de cada
alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes comunidade;
construídos histórica e socialmente. III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
O compromisso com a permanência do estudante na aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como ins-
escola é, portanto, um desafio a ser assumido por todos, trumento de contínua progressão dos estudantes;
porque, além das determinações sociopolíticas e culturais, IV – inter-relação entre organização do currículo, do
das diferenças individuais e da organização escolar vigen- trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes-
te, há algo que supera a política reguladora dos processos sor, tendo como foco a aprendizagem do estudante;
educacionais: há os fluxos migratórios, além de outras va- V – preparação dos profissionais da educação, gesto-
riáveis que se refletem no processo educativo. Essa é uma res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
variável externa que compromete a gestão macro da edu- VI – compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
cação, em todas as esferas, e, portanto, reforça a premên- fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
cia de se criarem processos gerenciais que proporcionem a efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
efetivação do disposto no artigo 5º e no inciso VIII do arti- acessibilidade;
go 12 da LDB, quanto ao direito ao acesso e à permanência VII – integração dos profissionais da educação, os estu-
na escola de qualidade. dantes, as famílias, os agentes da comunidade interessados
Assim entendida, a qualidade na escola exige de todos na educação;
os sujeitos do processo educativo: VIII – valorização dos profissionais da educação, com
I – a instituição da Política Nacional de Formação de programa de formação continuada, critérios de acesso,
Profissionais do Magistério da Educação Básica, com a fi- permanência, remuneração compatível com a jornada de
nalidade de organizar, em regime de colaboração entre a trabalho definida no projeto político-pedagógico;
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a for- IX – realização de parceria com órgãos, tais como os
de assistência social, desenvolvimento e direitos humanos,
mação inicial e continuada dos profissionais do magistério
cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e
para as redes públicas da educação (Decreto nº 6.755, de
arte, saúde, meio ambiente.
29 de janeiro de 2009);
No documento “Indicadores de Qualidade na Educa-
II – ampliação da visão política expressa por meio de ção” (Ação Educativa, 2004), a qualidade é vista com um
habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade caráter dinâmico, porque cada escola tem autonomia para
para aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e refletir, propor e agir na busca da qualidade do seu traba-
pela estética; lho, de acordo com os contextos socioculturais locais.
III – responsabilidade social, princípio educacional que Segundo o autor, os indicadores de qualidade são si-
norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o pro- nais adotados para que se possa qualificar algo, a partir
jeto que definem e assumem como expressão e busca da dos critérios e das prioridades institucionais. Destaque-se
qualidade da escola, fruto do empenho de todos. que os referenciais e indicadores de avaliação são compo-
Construir a qualidade social pressupõe conhecimento nentes curriculares, porque tê-los em mira facilita a apro-
dos interesses sociais da comunidade escolar para que seja ximação entre a escola que se tem e aquela que se quer,
possível educar e cuidar mediante interação efetivada en- traduzida no projeto político-pedagógico, para além do
tre princípios e finalidades educacionais, objetivos, conhe- que fica disposto no inciso IX do artigo 4º da LDB: defi-
cimento e concepções curriculares. Isso abarca mais que nição de padrões mínimos de qualidade de ensino, como
o exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante a variedade e quantidade mínimas, por estudante, de in-
atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou sumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
seja, efetiva-se não apenas mediante participação de to- ensino-aprendizagem.1
dos os sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, 1 5
Atualmente, são referências nacionais para o planejamento, em todas
79
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Essa exigência legal traduz a necessidade de se reco- aos resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não
nhecer que a avaliação da qualidade associa-se à ação pla- sejam iguais, essas pesquisas indicam características orga-
nejada, coletivamente, pelos sujeitos da escola e supõe que nizacionais úteis para compreensão do funcionamento das
tais sujeitos tenham clareza quanto: escolas, considerados os contextos e as situações escolares
I – aos princípios e às finalidades da educação, além do específicos. Os aspectos a seguir aparecem em várias des-
reconhecimento e análise dos dados indicados pelo IDEB sas pesquisas:
e/ou outros indicadores, que complementem ou substi- a) Em relação aos professores: boa formação profissio-
tuam estes; nal, autonomia profissional, capacidade de assumir respon-
II – à relevância de um projeto político-pedagógico sabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos, condições
concebido e assumido coletivamente pela comunidade de estabilidade profissional, formação profissional em ser-
educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu- viço, disposição para aceitar inovações com base nos seus
ralidade cultural; conhecimentos e experiências; capacidade de análise críti-
III – à riqueza da valorização das diferenças manifesta- co-reflexiva.
das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos b) Quanto à estrutura organizacional: sistema de orga-
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural; nização e gestão, plano de trabalho com metas bem de-
IV – aos padrões mínimos de qualidade2 (Custo Aluno finidas e expectativas elevadas; competência específica e
Qualidade inicial – CAQi73), que apontam para quanto deve liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação
ser investido por estudante de cada etapa e modalidade da pedagógica; integração dos professores e articulação do
Educação Básica, para que o País ofereça uma educação de trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho pro-
qualidade a todos os estudantes. pício ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão par-
Para se estabelecer uma educação com um padrão mí- ticipativa; oportunidades de reflexão conjunta e trocas de
nimo de qualidade, é necessário investimento com valor experiências entre os professores;
calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvi- c) Autonomia da escola, criação de identidade própria,
mento dos processos e procedimentos formativos, que le- com possibilidade de projeto próprio e tomada de deci-
vem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de sões sobre problemas específicos; planejamento compatí-
qualidade social: creches e escolas possuindo condições de vel com as realidades locais; decisão e controle sobre uso
infraestrutura e de adequados equipamentos e de acessibi- de recursos financeiros; planejamento participativo e ges-
lidade; professores qualificados com remuneração adequa- tão participativa, bom relacionamento entre os professo-
da e compatível com a de outros profissionais com igual res, responsabilidades assumidas em conjunto;
nível de formação, em regime de trabalho de 40 horas em d) Prédios adequados e disponibilidade de condições
tempo integral em uma mesma escola; definição de uma materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que pro-
relação adequada entre o número de estudantes por turma piciem aos alunos oportunidades concretas para aprender;
e por professor, que assegure aprendizagens relevantes; e) Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e
pessoal de apoio técnico e administrativo que garanta o organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens
bom funcionamento da escola. acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e relacio-
nais; modalidades de avaliação formativa; organização do
Fonte tempo escolar de forma a garantir o máximo de tempo
BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação para as aprendizagens e o clima para o estudo; acompa-
Básica, 2013 nhamento de alunos com dificuldades de aprendizagem.
f) Participação dos pais nas atividades da escola; inves-
4.2 GESTÃO DA APRENDIZAGEM. timento em formar uma imagem pública positiva da escola.
Práticas de organização e gestão e escolas bem-sucedidas Essas características reforçam a ideia de que a qualida-
de de ensino depende de mudanças no âmbito da organi-
Pesquisas acerca dos elementos da organização escolar zação escolar, envolvendo a estrutura física e as condições
que interferem no sucesso escolar dos alunos mostram que de funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura or-
o modo como funciona uma escola faz diferença em relação ganizacional, as relações entre alunos, professores, funcio-
nários, as práticas colaborativas e participativas. É a escola
as instâncias responsáveis pela Educação Básica, o IDEB, o FUNDEB e o como um todo que deve responsabilizar-se pela aprendi-
ENEM.
zagem dos alunos, especialmente em face dos problemas
2 6
Parecer CNE/CEB nº 8/2010 (Aprecia a Indicação CNE/CEB sociais, culturais, econômicos, enfrentados atualmente.
nº 4/2008, que propõe a constituição de uma comissão visando analisar
a proposta do Custo Aluno Qualidade inicial (CAQi) como política de me- Ampliando o conceito de organização e de gestão de escolas
lhoria da qualidade do ensino no Brasil).
3 O CAQi é resultado de estudo desenvolvido pela Campanha Para a perspectiva que compreende a escola apenas
7
80
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
81
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de enfrentamento de problemas de disciplina, a aceitação as escolas é o grau em que conseguem melhorar a quali-
ou não de mudanças na rotina de trabalho, etc. Segundo o dade da aprendizagem escolar dos alunos. Desse modo,
sociólogo francês Forquin: “A escola é, também, um mundo uma escola bem organizada e gerida é aquela que cria as
social, que tem suas características de vida próprias, seus condições organizacionais, operacionais e pedagógico-di-
ritmos e seus ritos, sua linguagem, seu imaginário, seus dáticas que permitam o bom desempenho dos professores
modos próprios de regulação e de transgressão, seu regi- em sala de aula, de modo que todos os seus alunos sejam
me próprio de produção e de gestão de símbolos. bem-sucedidos em suas aprendizagens.
Essa afirmação mostra que, nas escolas, para além
daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais, b) A qualidade do ensino depende do exercício eficaz da
rotinas administrativas, há aspectos de natureza sociocul- direção e da coordenação pedagógica
tural que as diferenciam umas das outras, a maior parte Há boas razões para crer que a instituição escolar não
deles pouco perceptíveis ou explícitos, traço que em es- pode prescindir de ações básicas que garantem o seu fun-
tudos sobre currículo tem sido denominado de “currículo
cionamento: formular planos, estabelecer objetivos, metas
oculto”. Essas diferenças aparecem nas formas de interação
e ações; estabelecer normas e rotinas em relação a recur-
entre as pessoas, nas crenças, valores, significados, modos
sos físicos, materiais e financeiros; ter uma estrutura de
de agir, configurando práticas que se projetam nas normas
disciplinares, na relação dos professores com os alunos na funcionamento e definição clara de responsabilidades dos
aula, na cantina, nos corredores, na preparação de alimen- integrantes da equipe escolar; exercer liderança; organizar
tos e distribuição da merenda, nas formas de tratamento e controlar as atividades de apoio técnico-administrativo;
com os pais, na metodologia de aula etc. cuidar das questões da legislação e das diretrizes pedagó-
gicas e curriculares; cobrar responsabilidades das pessoas;
As atividades compartilhadas entre direção, professores organizar horários, rotinas, procedimentos; estabelecer for-
e alunos. mas de relacionamento entre a escola e a comunidade, es-
pecialmente com as famílias; efetivar ações de avaliação do
A cultura organizacional aparece sob duas formas: currículo e dos professores; cuidar das condições do edifí-
como cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura cio escolar e de todo o espaço físico da escola; assegurar
instituída refere-se a normas legais, estrutura organizacio- materiais didáticos e livros na biblioteca.
nal definida pelos órgãos oficiais, rotinas, grade curricular,
horários, normas disciplinares etc. A cultura instituinte é Tais ações representam, sem dúvida, o primeiro con-
aquela que os membros da escola criam, recriam, nas suas junto de competências de diretores e coordenadores pe-
relações e na vivência cotidiana, podendo modificar a cul- dagógicos. Falamos da escola como espaço de compar-
tura instituída. Neste sentido, as escolas são espaços de tilhamento, lugar de aprendizagem, comunidade demo-
aprendizagem, comunidades democráticas de aprendiza- crática de aprendizagem, gestão participativa, etc., mas as
gem onde se compartilham significados, criam-se outros escolas precisam ser organizadas e geridas como garantia
modos de agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vi- de efetivação dos seus objetivos. Uma escola democrática
gente, aprende-se com a participação real de seus mem- tem por tarefa propiciar a todos os alunos, sem distinção,
bros (Cf. Perez Gomez, 1998). As ações realizadas na escola educação e ensino de qualidade, o que põe a exigência
nesta perspectiva implicam a adoção de formas de partici- de justiça. Isto supõe estrutura organizacional, regras ex-
pação real das pessoas nas decisões em relação ao projeto plícitas e sua aplicação igual para todos sem privilégios ou
pedagógico-curricular, ao desenvolvimento do currículo, às discriminações, garantia de ambiente de estudo e apren-
formas de avaliação e acompanhamento da aprendizagem
dizagem, tratamento das pessoas conforme critérios pú-
escolar, às normas de funcionamento e convivência, etc.
blicos e justificados. Por mais que tais exigências pareçam
Para uma revisão das práticas de organização e gestão como excesso de “racionalidade”, elas se justificam pelo
das escolas fato de as escolas serem unidades sociais em que pessoas
trabalham juntas em agrupamentos humanos intencional-
Conclui-se que não é possível à escola atingir seus ob- mente constituídos, visando objetivos de aprendizagem. As
jetivos de melhoria da aprendizagem escolar dos alunos escolas recebem hoje alunos de diferentes origens sociais,
sem formas de organização e gestão, tanto como provi- culturais, familiares, portadores vivos das contradições da
mento de condições e meios para o funcionamento da es- sociedade. É preciso que o grupo de dirigentes e professo-
cola, quanto como práticas socioculturais e institucionais res definam formas de gestão e de convivência que regu-
com caráter formativo. Uma revisão das práticas de orga- lem a organização da vida escolar e as práticas pedagógi-
nização e gestão precisa considerar cinco aspectos, que cas, precisamente para conter tendências de discriminação
apresentamos a seguir: e desigualdade social e assegurar a todos o usufruto da
escolarização de qualidade.
a) As práticas de organização e gestão devem estar vol-
tadas à aprendizagem dos alunos. c) A organização e a gestão implicam a gestão partici-
As práticas de organização e gestão, a participação dos pativa e a gestão da participação
professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a ser- A organização da escola requer atender a duas necessi-
viço da melhoria do ensino e da aprendizagem. Menciona- dades: a participação na gestão, enquanto requisito demo-
mos no início deste artigo que o que faz a diferença entre crático, e a gestão da participação, como requisito técnico.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Por um lado, as escolas precisam cultivar os processos cognitivos, afetivos, físicos, morais, estéticos, etc., quere-
democráticos e colaborativos de trabalho, em função da mos intervir, de forma a produzir mudanças qualitativas no
convivência e da tomada de decisões. Por outro, precisam desenvolvimento e aprendizagem dos alunos?
funcionar bem tecnicamente, a fim de poder atingir eficaz- Além disso, é necessário ter clareza sobre os objetivos
mente seus objetivos, o que implica a gestão da partici- da escola que, em minha opinião, é o de garantir a todos
pação. A gestão participativa significa alcançar de forma os alunos uma base cultural e científica comum e uma base
colaborativa e democrática os objetivos da escola. A parti- comum de formação moral e de práticas de cidadania,
cipação é o principal meio de tomar decisões, de mobilizar baseadas em critérios de solidariedade e justiça, na alte-
as pessoas para decidir sobre os objetivos, os conteúdos, ridade, na descoberta e respeito pelo outro, no aprender
as formas de organização do trabalho e o clima de trabalho a viver junto. Isto significa: uma escolarização igual, para
desejado para si próprias e para os outros. A participação sujeitos diferentes, por meio de um currículo comum a to-
se viabiliza por interação comunicativa, diálogo, discussão dos, na formulação de Gimeno Sacristán (1999). A partir de
pública, busca de consensos e de superações de conflitos. uma base comum de cultura geral para todos, o currículo
Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que criar para sujeitos diferentes significa acolher a diversidade e
um sistema de práticas interativas e colaborativas para tro- a experiência particular dos diferentes grupos de alunos,
ca de idéias e experiências para chegar a ideias e ações propiciando na escola e nas salas de aula, um espaço de
comuns. diálogo e comunicação. Um dos mais relevantes objetivos
democráticos no ensino será fazer da escola um lugar em
Já a gestão da participação implica repensar as práticas que todos os alunos e alunas possam experimentar sua
de gestão, seja para assegurar relações interativas, demo- própria forma de realização e sucesso. Para tudo isso, são
cráticas e solidárias, seja para buscar meios mais eficazes necessárias formas de execução, gestão e avaliação do pro-
de funcionamento da escola. A gestão da participação jeto pedagógico-curricular.
refere-se à coordenação, acompanhamento e avaliação
do trabalho das pessoas, como garantia para assegurar o e) A atividade conjunta dos professores na elaboração e
sistema de relações interativas e democráticas. Para isso, avaliação das atividades de ensino
faz-se necessária uma bem definida estrutura organizacio- A modalidade mais rica e eficaz de formação docente
nal, responsabilidades claras e formas eficazes de tomada continuada ocorre pela atividade conjunta dos professores
de decisões grupais. As exigências de gestão e liderança na discussão e elaboração das atividades orientadoras de
por parte de diretores e coordenadores se justificam cada ensino. É assim porque a formação continuada passa a ser
vez mais em face de problemas que incidem no cotidiano entendida como um modo habitual de funcionamento do
escolar: problemas sociais e econômicos das famílias, pro- cotidiano da escola, um modo de ser e de existir da escola.
blemas de disciplina manifestos em agressão verbal, uso de Para Moura, o projeto pedagógico se concretiza mediante
armas, uso de drogas, ameaças a professores, violência físi- a realização de atividades pedagógicas. Para isso, os pro-
ca e verbal. Os problemas se acentuam com a inexperiência fessores realizam ações compartilhadas que exigem troca
ou precária formação profissional de muitos professores de significados, possibilitando ampliar o conhecimento da
que levam a dificuldades no manejo da sala de aula, no realidade. Desse modo, “a coletividade de formação cons-
exercício da autoridade, no diálogo com os alunos. Consta- titui-se ao desenvolver a ação pedagógica. É essa constitui-
tar esses problemas implica que não pensemos apenas em ção da coletividade que possibilita o movimento de forma-
mudanças curriculares ou metodológicas, mas em formas ção do professor”.
de organização do trabalhado escolar que articulem, efi-
cazmente, práticas participativas e colaborativas com uma Fonte:
sólida estrutura organizacional. LIBÂNEO, José Carlos
83
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
diagnóstico; e a proposição de uma programação com vis- Martins (2001) realizou uma interessante pesquisa em
tas à implementação das ações necessárias à realização de que se propôs analisar os limites e as possibilidades de
uma prática pedagógica crítica e reflexiva. gestão autônoma da escola pública da rede estadual de
A concepção de planejamento escolar sustentada na ensino paulista, tomando como base as relações que se es-
ideia de Projeto Políticopedagógico emerge, em nosso tabeleciam, no contexto investigado, entre as medidas le-
país, a partir da crítica ao modelo de planejamento téc- gais e os programas do governo, e a sua materialização pe-
nico-burocrático, que se consolidou ao longo do regime los educadores. Entre as conclusões da autora, destacamos:
militar. Esse modelo buscava produzir uma maior aderência O acompanhamento cotidiano das ações que movi-
entre as proposições da esfera governamental e as ações mentam a unidade escolar possibilitou o desvendamento
das escolas propriamente ditas. Com essa finalidade, o pla- dos problemas que atingem a rede de ensino, pois, com
nejamento, no interior das escolas, adquiria os contornos efeito, as questões de ordem burocrática - aliadas às gra-
de instrumentos a serviço da viabilização do controle. Em ves questões sociais e econômicas que afetam boa parte
virtude dessa natureza burocrática, o planejamento passou da clientela que a frequenta - dominaram o cenário e as re-
a ser tido como mero instrumental técnico, amplamente lações de trabalho, ocupando espaço central em detrimen-
criticado durante o processo de redemocratização do país. to de questões pedagógicas. Nesse sentido, a observação
Nesse momento, para se contrapor a essa concepção tec- do cotidiano escolar propiciou uma visão mais ampla do
nicista, sem negar, porém, a necessidade do planejamento, campo de tensão constituído pelo imbricamento entre a
é que se passa a disseminar a necessidade de elaboração norma formal e a norma vivida, ou entre a instituição ima-
do Projeto ginada e a instituição vivida, pois esta (re)significa aquela.
Políticopedagógico como forma de democratizar o Compreender as representações em tela, tecidas por
planejamento na escola, incorporando o princípio da par- um intrincado e ambíguo jogo de resistências, contradi-
ticipação. ções e conflitos, permitiu vislumbrar parte de um universo
Nesse momento de redemocratização do país, outras turbulento que extrapola, invariavelmente, os limites dos
políticas educacionais passam a ser implementadas, e, des- relatórios oficiais. [...] A equipe aceitou e rejeitou, ao mes-
mo tempo, as orientações da Secretaria de Estado da Edu-
se modo, nos vemos diante da indagação: como se consti-
cação, compreendendo que a sobrevivência da instituição
tuem as relações entre o planejamento no âmbito do siste-
escolar dependerá permanentemente dessa relação am-
ma e o planejamento nas unidades escolares?
bígua, pois a necessidade cotidiana de (con)viver com os
A intervenção do Estado na educação ocorre por meio
rituais que materializam as medidas políticas não permite
de ações que buscam produzir alterações no sistema edu-
ilusões: mergulhados na necessidade de cumprimento das
cacional. Quando essas proposições abarcam um conjunto
formalidades burocráticas, transitaram pela escola obede-
significativamente amplo de ações, elas caracterizam um
cendo a horários rígidos estabelecidos pela Secretaria de
processo de reforma educacional. Tais proposições se pau-
Educação, preenchendo quantidades infindáveis de papéis,
tam em determinadas concepções de educação, de escola, planilhas, encaminhando processos e fazendo negociações
de trabalho docente, de currículo e são, com frequência, com a comunidade em torno da escola para doações, cola-
o resultado de mediações oriundas das relações de poder borações e trocas de notas fiscais. [...] Observou-se, ainda,
que se estabelecem no processo de constituição das pro- que professores e equipe de direção procuravam explicitar
posições. Essas concepções e mediações se explicitam na à comunidade as medidas impostas, de um lado, mas, de
forma como passam a ser incorporadas pelas escolas. outro, demonstravam cumprir de maneira ritual as normas
Tendo em vista a implementação das proposições ofi- e a regulamentação legal, alegando terem sido demanda-
ciais, tem-se, geralmente, na sequência, um conjunto de dos apenas para executarem tarefas.
ações que compõem o planejamento no âmbito dos siste- Observa-se, assim, um distanciamento entre as propo-
mas e redes de ensino. No entanto, as propostas e ações sições do planejamento ao nível do sistema educacional e
têm sobre as escolas alcance limitado, ainda que sejam ca- sua incorporação pelas escolas, ao planejar suas próprias
pazes de atuar como um forte componente ideológico que ações. Isso implica que se considere que, na relação entre
pode conferir legitimidade às mudanças propostas. esses dois âmbitos do planejamento, produzem-se media-
O alcance relativo do planejamento, no âmbito do sis- ções que muitas vezes escapam ao controle puro e sim-
tema educacional sobre as escolas, se verifica à medida ples dos propositores das políticas educacionais. É nesse
que as mudanças propostas se confrontam com as práti- movimento, muitas vezes, que se consolida a autonomia
cas já consolidadas. Nesse processo, as escolas atribuem das escolas, que se constitui, no entanto, de forma sempre
às proposições oficiais significados muitas vezes distintos relativa.
daqueles das formulações originais.
Ainda que as escolas reinterpretem, reelaborem e re- O planejamento no âmbito do ensino
dimensionem as proposições oficiais, não se pode menos-
prezar a importância desse nível do planejamento no que Lopes (1992) indica alguns pressupostos para um pla-
se refere à produção de transformações no sistema edu- nejamento de ensino que considere a dinamicidade do co-
cacional. Tem sido capaz de adquirir legitimidade, seja ao nhecimento escolar e sua articulação com a realidade his-
assumir o discurso de inovação educacional, seja ao articu- tórica. São eles: produzir conhecimentos tem o significado
lar-se a um ideário pedagógico já legitimado. de processo, de reflexão permanente sobre os conteúdos
84
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
aprendidos buscando analisá-los sob diferentes pontos de Avaliar o desempenho do educando não pode se tor-
vista; significa desenvolver a atitude de curiosidade cien- nar, ainda, mecanismo de coerção, por parte do professor,
tífica, de investigação da realidade, não aceitando como num exercício arbitrário de poder. A avaliação, enquanto
conhecimentos perfeitos e acabados os conteúdos trans- mecanismo disciplinar, traumatiza e anula individualida-
mitidos pela escola. des, mediante a imposição da visão de mundo daquele que
O processo de seleção da cultura, materializado no pretensamente detém o saber.
currículo e, em especial, nos conhecimentos a serem tra- Desse modo, a avaliação da aprendizagem deve cons-
balhados, deverão estar intimamente relacionados à expe- tituir-se em instrumento por meio do qual o professor pos-
riência de vida dos alunos, não como mera aplicabilidade sa ter condições de saber se houve, e em que medida hou-
ve, a apropriação do conhecimento de forma significativa
dos conteúdos ao cotidiano, mas como possibilidade de
por parte do aluno.
conduzir a uma apropriação significativa desses conteú- Deve permitir, ainda, ao professor reconhecer se houve
dos. Como afirma Lopes, “essa relação, inclusive, mostra-se adequação em termos de suas opções metodológicas, bem
como condição necessária para que ao mesmo tempo em como evidenciar em que medida as relações pedagógicas
que ocorra a transmissão de conhecimentos, proceda-se a estabelecidas contribuíram para o processo de ensino e
sua reelaboração com vistas à produção de novos conhe- aprendizagem. Torna-se, assim, elemento ímpar para o pla-
cimentos”. nejamento das ações docentes.
Desse modo, o planejamento de ensino passa a ser Essa perspectiva de planejamento de ensino toma, ain-
compreendido de forma estreitamente vinculada às rela- da, como principais diretrizes:
ções que se produzem entre a escola e o contexto históri- 1) que a ação de planejar implica a participação de to-
co-cultural em que a educação se realiza. Nessa perspec- dos os elementos envolvidos no processo
tiva, deve-se levar em conta, ainda, as articulações entre o 2) a necessidade de se priorizar a busca da unidade
planejamento do ensino e o planejamento global da esco- entre teoria e prática
la, explicitado em seu Projeto Políticopedagógico. 3) que o planejamento deve partir da realidade concre-
O planejamento de ensino se verifica, portanto, como ta e estar voltado para atingir as finalidades da educação
um elemento integrador entre a escola e o contexto social. básica definidas no projeto coletivo da escola
Em virtude desse seu caráter integrador, é fundamental 4) o reconhecimento da dimensão social e histórica do
trabalho docente.
que (o planejamento) se paute em alguns elementos: no
Nessa abordagem, o planejamento ultrapassa o caráter
estudo real da escola em relação ao contexto, o que de- de instrumental meramente técnico e adquire a condição
manda a caracterização do universo sociocultural da clien- de conferir materialidade às ações politicamente definidas
tela escolar e evidencia os interesses e as necessidades dos pelos sujeitos da escola.
educandos na organização do trabalho didático propria- Diante dessas dificuldades, muitos professores fazem
mente dito, o que implica: a opção pelo isolamento, comprometendo, dessa forma, a
a) definir objetivos - em função dos três níveis de possibilidade de potencialização do trabalho pedagógico
aprendizagem: aquisição, reelaboração e produção de co- pelo não reconhecimento de sua natureza coletiva.
nhecimentos É justamente nesse momento que a força do coletivo
b) prever conteúdos - tendo como critérios de seleção deve-se mostrar não como imposição, mas como elo cata-
a finalidade de que eles atuem como instrumento de com- lisador, com vistas a orientar um trabalho pedagógico con-
preensão crítica da realidade e como elo propiciador da sistente e orgânico ao Projeto Políticopedagógico da escola.
autonomia
c) selecionar procedimentos metodológicos - conside- Referência:
rando os diferentes níveis de aprendizagem e a natureza da SOUZA, Ângelo Ricardo de. [et al.]. Planejamento e tra-
área do conhecimento balho coletivo. Universidade Federal do Paraná, Pró-reito-
d) estabelecer critérios e procedimentos de avaliação ria de Graduação e Ensino Profissionalizante, Centro Inter-
disciplinar de Formação Continuada de Professores; Minis-
- considerando a finalidade de intervenção e retomada no
tério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Curitiba:
processo de ensino e aprendizagem, sempre que necessário. UFPR. 2005, p.27-42.
Nessa forma de planejamento de ensino, a avaliação
da aprendizagem adquire especial relevância, uma vez que 4.4 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL, DE DESEMPENHO
não pode constituir-se unicamente em forma de verifica- E DE APRENDIZAGEM.
ção do que o aluno aprendeu. Antes de mais nada, deve
servir como parâmetro de avaliação do trabalho do próprio Da Avaliação da Aprendizagem À Avaliação Insti-
professor. tucional: Aprendizagens Necessárias
Estabelecer critérios mais ou menos rigorosos de ava-
liação não é tarefa difícil. Difícil é saber trabalhar com os Abrindo a conversa
resultados obtidos, de modo a construir instrumentos de
análise que permitam intervir no processo de ensino e SORDI e LUDKE relatam que muitas são as questões
aprendizagem, no momento em que ele está ocorrendo. envolvendo a organização interna da escola sobre as quais
A avaliação da aprendizagem, nessa acepção, não os educadores divergem assim como são inúmeras e, qua-
pode ocorrer somente após ter-se concluído um período se sempre, inconciliáveis as razões que apresentam para
letivo (bimestre, semestre etc.), mas é processo, sem o qual que o consenso não seja alcançado.
se compromete, irremediavelmente, a qualidade do ensino.
85
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Curiosamente, estes atores convergem quando a que viram notas que se transformam em signos que se dis-
questão refere-se a complexidade do fenômeno da ava- tribuem em mapas que permitem comparar, selecionar e,
liação. Independente da profundidade de análise que fa- eventualmente, excluir pessoas/instituições.
zem ou da lógica que usam para justificar as razões desta O discurso da avaliação perde potência quando os
complexidade, há acordo que a avaliação é uma categoria sujeitos da relação e em relação desconhecem a natureza
particularmente especial e árida. multifacetada deste fenômeno e tendem a valorizar resul-
As formas práticas de lidarem com a avaliação, inclu- tados obtidos em circunstâncias pontuais, desconsideran-
sive, tornam a refletir os diferenciados posicionamentos do os processos em que se ancoraram.
ético-epistemológicos que embasam as escolhas aparente- Se nossa mais usual relação com a avaliação é a que se
mente técnicas que fazem. Como se percebe, identificam- refere à aprendizagem dos alunos e ocorre no interior da
-se nas dificuldades e distanciam-se nas eventuais formas sala de aula, observamos outro aspecto que traduz um pou-
de superação destas. Isso deve significar alguma coisa. co da cultura avaliativa apreendida ao longo dos anos de
A organização do trabalho escolar como atividade que escolarização, nos quais a repetição da lógica anteriormen-
reúne diferentes atores é afetada por esta diversidade de te comentada parece ter sido constantemente reforçada.
concepções, interesses, valores. Disto deriva a necessidade
de construção de acordos mínimos para que se balizem Muito pouco se pode interferir no processo de ensi-
as decisões que são tomadas, sem os quais pode-se com- no, a menos que autorizados pelo professor, cujo prota-
prometer a eficácia do trabalho planejado. A avaliação da gonismo no cenário da sala de aula é irrefutável. Mesmo
aprendizagem como uma categoria constitutiva do traba- a equipe gestora de uma escola tende a considerar este
lho pedagógico com alta força indutora nas formas de agir lugar (sala de aula) como de uso restrito. Esta mentalidade
dos atores escolares merece atenção especial visando en- se incorpora de tal forma que começa a se naturalizar a
tender/desvelar seu modus operandi, dentro e fora da sala ideia de que o trabalho pedagógico pertence apenas ao
de aula, dentro e fora da escola. professor, não cabendo nenhum tipo de controle social
Não pairam dúvidas acerca da importância da avalia- sobre como se desenrola, mesmo quando este ocorre de
ção para promover avanços no desenvolvimento dos estu- forma disjuntiva com o projeto da escola. Isso interdita a
dantes e nos processos de qualificação da escola, cabendo- proposição de ações restauradoras quando este trabalho
-lhe iluminar os caminhos decisórios. não revela eficácia social e subtrai das crianças o direito de
Não se desconhece que, sem a avaliação, fica-se des- aprender. Segundo Roldão (2005), essa liberdade aparente
provido de evidências que permitam monitorar e interferir constitui-se antes como um fator de anti profissionalidade,
precocemente nas condições que prejudicam ou potencia- na medida em que justamente substitui a legitimidade do
lizam a obtenção dos objetivos educacionais pretendidos. saber que fundamenta a ação, e o controlo sustentado do
Ainda assim, é usual que a avaliação seja referida como um grupo profissional, pelo arbítrio de cada agente individual,
“mal necessário”. Como explicar este paradoxo? Reconhe- a quem não é exigido fundamento para o que faz, nem
cendo-se o potencial educativo da avaliação, o que justifi- é assegurada qualquer garantia de legitimação pelos seus
caria a construção de uma relação nada amistosa quando pares. Contudo, a ideia de liberdade de ação do professor
não de evitamento ou fuga desta atividade? é lida, pelos próprios, como muita investigação comprova,
Avaliar os estudantes e o quanto aprenderam é ativi- exatamente neste sentido, como sinónima do direito arbi-
dade inerente ao trabalho docente constituindo parte da trário de agir como quiserem, e, sobretudo, sem interferên-
cultura escolar já incorporada pelos alunos e famílias. cias externas, o que configura, por parte dos professores, a
crença enraizada na não necessidade de legitimar ou jus-
Mesmo desenvolvendo uma relação pragmática com a tificar perante outros a sua ação. Esta crença, socialmente
avaliação muito mais centrada na nota do que no quanto construída e persistentemente passada na cultura docente,
esta possa ser expressão da apropriação do conhecimento; é, à luz dos referentes desta análise, indicador de não pro-
ainda quando a avaliação seja vivenciada como produto fissionalidade.
descolado do processo de ensino-aprendizagem, os es- Esta cultura da avaliação ajuda a entender (não a justi-
tudantes se acostumaram a juízos de valor externos, dos ficar) as recusas frequentes de alguns professores de discu-
quais ficam dependentes não contestando a lógica interna tir suas práticas pedagógicas o que se confronta com o dis-
que os expropria da participação em um processo no qual curso de trabalho coletivo presente na escola. A autonomia
deveriam, no mínimo, desenvolver ações de corresponsa- do docente não pode ser confundida com autonomização.
bilidade. Não tem ele a prerrogativa de decidir, por si só, algo que
Esta forma de entender a avaliação e se acostumar com afeta o bem comum e marca o projeto pedagógico da es-
sua feição classificatória e de vê-la como um ato de comu- cola. Certamente esta aprendizagem necessita ser incluída
nicação com ares de neutralidade, no qual alguém assume desde logo nos processos de formação docente para pro-
a prerrogativa de dizer o quanto vale o trabalho do outro, mover mudanças na cultura escolar sobretudo no tocante
sem que a este outro seja dada a oportunidade de se mani- a avaliação.
festar sobre o processo vivido e suas eventuais idiossincra-
sias, acaba por esvair desta prática o seu sentido formativo. Esta aprendizagem de viver, colaborativamente, um
Isso interfere no imaginário social que associa a avaliação projeto implica entender e usar a avaliação como uma es-
práticas repetidas de exames externos que geram medidas, tratégia organizadora dos múltiplos olhares e ações sobre
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a realidade, na perspectiva de produzir melhorias. Mos- pares. Um professor familiarizado com estas práticas ga-
tra-se indispensável para o monitoramento dos avanços nha condição de bem ensinar e bem realizar a avaliação
do projeto pedagógico e, por conseguinte, é fenômeno do de/com seus estudantes. Assim como compreenderá, com
qual não se pode afastar, se quisermos falar, com proprie- algum prazer, que lhe cabe o direito/dever de participar
dade, de uma escola comprometida com a aprendizagem de processos de avaliação da escola em que trabalha, cor-
das crianças. responsabilizando-se pelo desenvolvimento do seu projeto
A dificuldade de lidar com a heteroavaliação precisa pedagógico.
ser compreendida, no entanto, como memória de vivências Nesta linha de raciocínio, construímos este ensaio que
que ajudaram a consolidar uma feição avaliativa que mais pretende, inicialmente, estabelecer relações entre a apren-
afasta do que aproxima; que mais pune do que ensina, que dizagem da avaliação incorporada pelos professores ao
mais ameaça do que acolhe, que mais conclui do que con- longo de seu processo de formação e os eventuais refle-
textualiza, que mais rotula do que explica. xos desta, no futuro desenvolvimento profissional, quando
Reagir a esta cultura é condição integrante de um bom participam tanto nos processos de avaliação da aprendi-
projeto educativo e deve se constituir prioridade, sobretu- zagem como naqueles que não se circunscrevem à sala
do, em cursos que formam professores. de aula. A seguir, discutiremos como a aprendizagem da
Desta aprendizagem decorrem outros desdobramen- avaliação institucional, ao tomar a escola como referência
tos que podem beneficiar a escola e os profissionais que de análise da qualidade de ensino oferecido, constitui-se
nela atuam, especialmente em função das mudanças nas mediação importante para abordagens macro e micro dos
políticas públicas de educação fortemente regidas pela ló- processos de ensino e por último, discutiremos a responsa-
gica economicista. bilidade dos cursos de formação na ampliação da visão de
A avaliação vem ganhando centralidade na cena políti- avaliação dos professores, realçando os saberes que estes
ca e os espaços de sua interferência têm sido ampliados de podem fazer circular nos processos de trabalho dos quais
modo marcante, ultrapassando o âmbito da aprendizagem participam, contribuindo para a qualificação das escolas e
dos alunos. Por tratar-se de campo fortemente atravessa- para a ampliação das aprendizagens das crianças.
do por interesses, diante dos quais posturas ingênuas não
podem ser aceitas, compete aos profissionais da educação
As multileituras dos processos de avaliação
desenvolverem alguma expertise para lidar com a avalia-
ção.
Sendo a escola um sistema social complexo, compos-
to por inúmeros sujeitos em relação, não necessariamente
Ao deixarem de ser apenas avaliadores e começarem
afinados em suas concepções ético-políticas e/ou técnico-
a ser também objeto de avaliação, os profissionais das es-
-operacionais, o esperado é que o trabalho coletivo que
colas são desafiados a desenvolver relações mais maduras
executam seja marcado socialmente pela heterogeneidade
com a avaliação e com os avaliadores de seu trabalho, sob
pena de não acrescentarem qualidade política ao processo. de suas histórias e itinerários. Isso exige que sejam engen-
Por seu lado, a avaliação do trabalho docente exige drados acordos para que o projeto pedagógico em que
transparência por parte de quem se atribui a responsabi- estão envolvidos caminhe e possa frutificar. Estes acordos,
lidade de estabelecer referentes indicativos da qualidade igualmente, precisam ser avaliados e isso acresce outros
desejada e, sob este aspecto, é necessário assumir uma níveis de complexidade para a avaliação, pois incorpora
postura radical exigindo conhecer, na raiz, a concepção de outros protagonistas e olhares ao processo.
qualidade que orienta o olhar avaliativo, sobretudo aquele As relações e interações do professor com os alunos
contido nas políticas públicas de avaliação de cunho nitida- e os saberes da formação que acontecem em uma sala de
mente regulatório. Segundo Roldão. aula, não podem ser tomados, inadvertidamente, como ex-
O controle sobre os professores, pode ater-se mais a pressão do conjunto de eventos e projetos que marcam
verificação do cumprimento rigoroso de normativos, por a qualidade da escola e as relações desta com o entorno
cujo contributo para a eficácia do que se ensina e do que se social.
aprende nunca ninguém pergunta, ou na falaciosa publici- Há que se desenvolver os futuros professores para que
tação de bons e maus resultados em abstrato – os rankings possam se interessar por aquilo que acontece para além
cegos –, desencarnados das circunstâncias, dos contextos, e da sala de aula e subsidiá-los para outros níveis de análise
do rigor do exercício do ensino pelos professores que, essas do fenômeno educativo a fim de poderem melhor captar a
sim, devem ser objectos de avaliação e controlo rigoroso. [...] qualidade de uma instituição de ensino. Em suma, é preciso
Nunca ou muito raramente se centrou na verificação/ fun- rever como se ensina a avaliação no intuito de se estabele-
damentação da qualidade da ação de ensino em si mesma, cer relações mais fecundas com esta atividade de singular
da adequação do agir dos docentes face aos seus alunos, importância na vida das escolas e das pessoas.
nem no conhecimento profissional por eles manifestado ou Por razões diametralmente opostas, as reformas edu-
invocado como base dos resultados da sua ação. cativas sinalizam na mesma direção e elegem a avaliação
Entendemos que a aprendizagem da avaliação pre- como sua bandeira em prol da qualidade do ensino.
cisa ser elevada à condição estratégica nos processos de Rompem-se as fronteiras da sala de aula e o foco ex-
formação docente, sejam eles iniciais ou permanentes, e clusivo nos alunos e observa-se que a avaliação começa
isso inclui o exercício da autoavaliação e a avaliação pelos a ser praticada em larga escala buscando reunir subsídios
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
que orientem os sistemas educativos que passam a assumir pelos profissionais da escola em prol da aprendizagem
importante protagonismo, inclusive na indução das escolas dos alunos. Dispensam-se maiores reflexões sobre se este
a um determinado padrão de qualidade. patamar revela o melhor possível da escola em relação à
uma determinada fronteira de eficiência/eficácia. Quando
Decorrentes destas políticas neoliberais são gerados a localização no ranking não os favorece, tratam de negar
inúmeros relatórios e estatísticas que informam sobre a peremptoriamente as marcas obtidas, quase sempre des-
eficácia das escolas. Um conjunto de medidas (quase sem- qualificando-as. Ao declarar a incompletude do dado para
pre ligadas ao desempenho dos alunos) é produzido com retratar o que ocorre na realidade da escola, dão também
a pretensão de informar, de modo comparativo e classifi- por findo o processo sem que se agregue a este qualquer
catório, como se distribuem as escolas no cenário educa- esforço explicativo do fenômeno, incluindo o estudo dos
cional e, a partir destes dados, o processo de definição de determinantes sociais. Perde-se a chance de se promover
políticas públicas acontece e informa a sociedade e o mer- uma aproximação do coletivo da escola para estabelecer
cado concentram as ilhas de excelência educacional. uma leitura circunstanciada dos dados, produtora de signi-
Começa a ter presença na vida das escolas – muito em- ficados e subsidiadora de decisões internas que levem em
bora não tenha logrado se fazer presença – um conjunto de conta os saberes dos atores locais e as informações gera-
informações nem sempre capazes de produzir consequên- das fora da escola, que poderiam dialogar sem qualquer
cias no desenvolvimento da dinâmica institucional. Falta traço de subserviência.
quem os consuma, atribuindo-lhes sentidos e produzindo
sentidos novos a partir das evidências recolhidas. Disto re- Observa-se uma certa apatia dos envolvidos que pare-
sulta a manutenção dos mesmos níveis de desempenho cem não reagir, de modo proativo, à situação. A tendência
das crianças que continuam sem aprender, embora cada é que a força dinamogênica da avaliação ceda lugar à acei-
dia mais avaliadas (melhor dizer “medidas”). tação e ou negação pura e simples da medida informada,
Como as medidas são necessárias, porém insuficien- mesmo quando esta não leva em conta os fatores associa-
tes para se poder falar a sério sobre avaliação, observa-se dos. Constrói-se uma cultura de indiferença aos dados de
que o ciclo virtuoso da avaliação não se completa. Tende a
avaliação e, por outro lado, presencia-se uma certa idola-
ficar restrito a números esquecidos em relatórios que não
tria das notas boas, que passam a orientar a escola a buscá-
são suficientemente explorados e/ou apropriados pelos
-las, mesmo que, discursivamente, contestem seu valor, sua
professores/alunos/ famílias/gestores. Mas geram políticas
exatidão ou suas formas de obtenção. Os meios acabam
que incidem sobre as escolas e sobre a educação, de um
justificando os fins.
modo geral. E assim se apequena a função social da ava-
Observamos que os resultados de avaliação externa
liação ao legitimar determinados construtos de qualidade
têm inspirado políticas públicas e definido prioridades no
abstratamente explicitados.
processo de alocação de verbas, via ranqueamento das
Há que se interrogar fortemente esta lógica que atra-
vessa as políticas públicas de educação que pretendem lo- escolas, professores, alunos, de forma descontextualizada.
calizar as escolas eficazes. Tendem a ser reforçadores da cultura da “avaliação-medi-
O que se entende por uma escola de qualidade, afinal? da”, produto-centrada e sujeita a recompensas e punições.
Cabe desvendar o que isso pretende significar e o quanto Isso reforça a postura defensiva frente à avaliação, pois os
representam de avanço rumo à melhoria da escola. Esta é professores ressentem-se dos resultados que, direta ou in-
uma questão compreensivelmente polêmica. diretamente, apontam-nos como responsáveis pelo fraco
desempenho dos alunos nos exames de proficiência.
Conforme Ângulo, as mudanças sustentam-se em vi- Ao desconsiderar o trabalho pedagógico desenvolvido
sões morais de melhora, ou seja, em valores, formas de e as condições intra e extraescolar que o afetam, estes re-
convivência e escolhas que realizam as coletividades (e in- sultados avaliativos tendem a penalizar também as escolas,
clusive, nas omissões que realizam ativamente). Contrariar em especial aquelas localizadas em áreas de maior vulne-
esse substrato é tentar ocultar a própria raiz da ação hu- rabilidade social, provocando um certo mal-estar docente.
mana; mas assumi-lo supõe aceitar o debate e a discussão Os professores tendem a explicar/justificar o mau resultado
sobre o que significa, ao menos para a coletividade, para dos estudantes e, quase sempre, de forma isolada, buscam
a comunidade e para a sociedade onde está situada, uma formular saídas.
educação de qualidade. Os docentes afirmam não poder bem fazer o seu tra-
Dada a cultura de avaliação hegemônica e ao modo balho: os alunos resistem ao trabalho de estimulação do
como “eclipsia” a concepção de qualidade, de ensino que professor, os colegas são pouco cooperativos, a adminis-
toma como referente, professores e gestores reagem aos tração impede-os de bem trabalhar... O risco de a pessoa
processos de avaliação de seu trabalho e tendem, curiosa- se empenhar demais coexiste com o do descomprometi-
mente, a se assemelhar aos estudantes quando da emissão mento. O primeiro impede a clivagem protetora entre as
de suas notas, confirmando a força da cultura avaliativa, esferas doméstica e profissional provocando o desgaste ou
assimilada como currículo oculto da escola. Se bem posi- a exaustão profissional. Para além de que se torna irrisório
cionados no quadro estatístico, a ordem é celebrar. Não devido ao desfasamento entre o sobre empenho e os re-
há disposição ou razão particular que justifique cotejar os sultados decepcionantes dos alunos. O segundo aumenta
resultados obtidos com os recursos existentes e acionados as dificuldades de uma atividade em desinvestimento.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Segundo Lima, o estudo da escola é processo com- Incorporar novos atores no processo de avaliação da
plexo, mas muito estimulante, pois transita entre olhares escola e novos ângulos para análise dos fenômenos edu-
macro analíticos que desprezaram as dimensões organiza- cativos implica mudança substantiva na forma de conceber
cionais dos fenômenos educativos e pedagógicos e olhares a avaliação e, mais ainda, na forma de praticá-la, sobretudo
micro analíticos, exclusivamente centrados no estudo da quando se toma a escola e seus atores locais como espa-
sala de aula e das práticas pedagógico-didáticas. Ambos ço e interlocutores preferenciais para gerar consequên-
os olhares carecem de um elo que permita compreendê- cias aos dados obtidos. A aprendizagem da participação
-los em relação. passa a ser realçada como expressão do reconhecimento
A abordagem que toma a escola como referência vem dos múltiplos saberes dos atores envolvidos com o proje-
ganhando adeptos e aí reside nossa defesa de processos to pedagógico, devidamente trabalhados para que não se
de avaliação institucional. O nível de análise por ela valo- reproduzam as hierarquias entre eles. Isso potencializaria
rizado é o da mesma abordagem que toma a escola como ações no sentido de celebrar um contrato que tem uma
eixo integrador dos aspectos micro e macro já referidos, dimensão social, pois consiste na introdução de práticas
ajudando a melhor situá-los de modo a extrair significados de participação e negociação de interesses, no interior das
mais densos e circunstanciados das evidências postas em organizações, tendo em vista a construção de acordos e
destaque. compromisso para a realização de projetos comuns. No
O protagonismo nesta abordagem está nas mãos dos caso da educação pública, a contratualização interna tem
atores da escola. A estes competem produzir as explica- como referência o projeto educativo e corresponde à cons-
ções sobre os dados e formular pactos de qualidade ne- trução social do ‘bem comum’ que fundamenta a prestação
gociada, visando o avanço da escola, de forma integrada, do serviço educativo.
sistemática e organizada, a partir das próprias referências A aprendizagem da AIP implica, assim, revisitar e in-
que elege, numa leitura sempre atualizada do seu projeto terrogar como os profissionais da educação têm sido sen-
pedagógico. sibilizados para a questão da avaliação e o quanto se dis-
Sirotnick enfatiza que a escola é um lugar idôneo onde ponibilizam a compartilhá-la com os demais atores sociais.
os educadores podem trabalhar juntos para enfrentar si- Neste sentido, refletir sobre os processos de formação ini-
cial dos professores é questão imperativa. Sobre isso dis-
tuações difíceis e consolidar boas ideias no ensino. A escola
correremos a seguir.
é o lugar onde a reflexão crítica não é uma dialética passiva,
e sim um paradigma de conhecimento e “reconhecimento”
Formação dos professores e a aprendizagem da avaliação
dentro de um contexto de ação. A escola é mais do que um
lugar onde se ensina a pensar criticamente: também é o
Supostamente reféns de uma visão reducionista de
lugar para pensar criticamente sobre a educação.
avaliação, restrita a um dos seus componentes, o da apren-
Entendemos que a escola não pode ser vista de forma dizagem, podem os futuros profissionais da educação ser
insular, desgarrada da realidade social que a envolve. Disto levados a crer que a sala de aula pode ser entendida de
decorre que a avaliação da qualidade de seu processo é forma dissociada da escola e esta, de forma independen-
influenciada por um conjunto de fatores tanto intra como te do entorno social. Podem incorporar que esta atividade
extraescolares. Estes não podem ser esquecidos ou silen- lhes pertence de modo exclusivo, não cabendo comparti-
ciados pelas políticas que incidem sobre a escola e seus lhamento de nenhuma espécie que ponha em xeque seu
atores. olhar profissional sobre o problema.
A negação (ocultação) destes fatores gera muito des- Não há como negar que esta visão repercute muito
conforto no conjunto de atores e tende a ampliar suas re- nas formas usuais de como os profissionais entendem suas
sistências. Assim, quando mais a escola se vê pressionada possibilidades de ação e retroação no cenário escolar. Esta
a cumprir metas fixadas de modo vertical e extra territo- visão contribui para o estreitamento da análise do fenô-
rialmente, mais os atores tendem a uma certa “infidelida- meno avaliatório e faz crescer a resistência a este proces-
de normativa” no dizer de Lima. Aliás, esclarece o autor, so. Quando se veem surpreendidos por políticas públicas
esta seria mais corretamente compreendida se considerada que usam a avaliação como recurso de gestão, reagem aos
como fidelidade dos atores aos seus objetivos, interesses dados de diferentes formas. Muitas vezes expressam sua
e estratégias que parece serem secundarizados pelos pro- dificuldade de aceitar esta avaliação que incide sobre seu
cessos externos de avaliação. trabalho, por meio da recusa de participação ativa no pro-
Isso posto, cremos e defendemos que projetos de cesso. Outras vezes, optam pela participação não vinculan-
avaliação institucional participativos (AIP) potencializam a te, interessados mais na terceirização de responsabilidades
adesão dos atores da escola a projetos de qualificação do do que na construção de possibilidade de superação.
ensino, inserindo-os, inclusive, na formulação das metas, Que saberes docentes precisam ser acionados para dar a
regras e ou estratégias que orientam e impulsionam o agir conhecer, aos estudantes dos cursos de formação de profes-
da escola rumo à superação de seus limites. Logo, instituir sores, os interesses que tensionam a escola e sua forma de
processos de avaliação mais abrangentes no território es- organização interna? Como têm sido trabalhadas (se é que
colar pode ser compreendido como decisão, no mínimo, o são) as formas de superação desta trama, nada inocente
poupadora de energia dos atores, recanalizando os esfor- que ocorre nas escolas e que vem se naturalizando histo-
ços da comunidade na perspectiva de gerar alguma eficá- ricamente? Como são sensibilizados para a importância da
cia social. participação dos diferentes atores sociais na vida da escola?
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A defesa que fazemos é que a formação inicial dos dos dados, fazendo emergir contradições, hipóteses, va-
profissionais da educação pode fazer diferença na futura zios, avanços, indispensáveis ao processo de tomada de
inserção destes na escola ampliando as chances do uso decisão rumo ao desenvolvimento qualitativo do projeto
edificante do conhecimento para construir uma outra rea- pedagógico.
lidade escolar. Nesta perspectiva, outra aprendizagem é requerida
Mas, se a escola lhes for apresentada como uma rea- também em relação à postura docente na avaliação dos
lidade pronta e acabada, submetida a um conjunto de im- alunos. Discutir resultados da aprendizagem dos alunos é
posições político-normativas ao qual apenas cabe a repro- mais do que examinar as notas que estes obtiveram sem
dução, evidentemente contribui-se para a inércia institu- que se acione de imediato a discussão sobre a natureza
cional, para a manutenção de relações verticais no cenário da mediação pedagógica realizada e os fatores contextuais
escolar, para a apatia dos sujeitos frente ao processo de intra e extraescolares que, em alguma medida, agem sobre
trabalho que devem executar, mas no qual não identificam o processo.
espaço algum que comporte sua marca de autoria.
A subestimação desta complexidade implica a propo-
Este raciocínio avaliativo, realizado sistematicamente e
sição de uma base normativa e jurídica que defina, a priori,
de forma compartilhada (estudante e professor), a ambos
como deve funcionar o estabelecimento escolar. Como se
fosse possível controlar as pessoas que este estabeleci- ensina a aprender a extrair da avaliação sua riqueza intrín-
mento abriga, fazendo-as esquecer suas crenças e interes- seca, quase sempre obscurecida quando esta é tomada ou
ses particulares, suas visões de mundo, suas utopias. praticada como apenas um número, estanque e finalístico,
Uma escola é um pouco a expressão dos atores sociais elevado à condição de verdade absoluta e usado para dis-
que nela atuam. Estes, ora obedecem o disposto pelo siste- tribuição de recompensas ou punições (nem sempre explí-
ma, ora reinterpretam estas regras e as atualizam de modo citas). Não há como negar que esta forma de trabalho com
a que lhes faça sentido. Podemos até nos arriscar a dizer a avaliação contribui para que esta permaneça sendo vista
que cada escola tem uma personalidade própria, fruto de como controle e usada com viés burocrático sobremaneira.
sua cultura e da forma como organiza seus processos in- O ensino da avaliação aos futuros professores não pode
ternacionais. se resolver apenas na descrição teórica, politicamente cor-
Lima destaca que as escolas não são apenas fruto de reta, sobre como deveria ser e/ou sobre as razões porque
heteroorganização mas carregam dentro de si o germe da não consegue ser diferentemente desenvolvida. Reclama
auto-organização. Os atores locais têm margem de auto- por ação intencional dos educadores de fazer experimentar
nomia e aprendem a usar suas capacidades estratégicas aos futuros professores outros usos da avaliação, levando-
em prol de um projeto com o qual se identifiquem. -a a assistir a aprendizagem dos estudantes. Cuidados pe-
Cremos que, se este fosse um saber considerado so- dagógicos na forma de ensinar a planejar e desenvolver a
cialmente pertinente nos processos de formação de pro- organização do trabalho escolar são importantes e devem
fessores, estes se disporiam mais ao desafio de transfor- crescer mais ainda quando a categoria avaliação emerge,
mação da escola que temos, na escola que as crianças pre- dada a centralidade que ela detém na realidade escolar e
cisam ter. social, e que precisa ser contestada e problematizada, no
mínimo, pelos profissionais da educação.
Parece-nos que a insistência na apresentação da esco- Da prática pedagógica vivida e discutida dentro de
la como cenário estável e com uma única feição e função limites históricos que a constrangem, uma outra relação
social tem servido para a reprodução de sua lógica exclu- com a avaliação pode nascer nos cursos de formação de
dente, além de contribuir para um certo socialconformis-
professores, ampliando as possibilidades de que estes se
mo, induzindo os professores à desistência precoce de seu
disponham a continuar lutando por um uso mais conse-
protagonismo na escola.
quente e ético da avaliação nas escolas em que vierem a
Ressaltamos a importância de se investir em uma nova
atuar. Esta aprendizagem amplia a condição ético episte-
forma de discutir a avaliação com professores, inserindo-a
como uma das categorias do trabalho pedagógico, concre- mológica destes atores para agirem e reagirem tanto no
tamente desenvolvido na escola e submetido à determina- âmbito da sala de aula como quando a instituição escola
da forma de organização. estiver sendo formalmente avaliada.
Ao ser ensinada como um dos componentes do tra-
balho escolar, a avaliação teria sua centralidade na cena Do processo de desenvolvimento profissional dos pro-
pedagógica e política contestada sem que se perdesse a fessores, a aprendizagem da avaliação constitui-se saber
noção do quão relevantes são os subsídios que ela faz cir- essencial para armá-lo dos argumentos necessários para
cular. Como expressão de um processo de trabalho com- uma interlocução em alto nível com os dados da realida-
partilhado e não mais como produto pontual e artificializa- de escolar informados pela avaliação e que não podem fi-
do, a avaliação ganharia mais significado político e técnico car esquecidos nos relatórios simplesmente. Qualifica-os,
(exatamente nesta ordem), mostrando-se coerente com a igualmente, para dialogar de modo rigorosamente com-
função formativa dela esperada. petente com o sistema educativo, em prol de um melhor
Ao orientar a reflexão do grupo sobre alguns indicado- entendimento dos significados dos dados que ancoram as
res escolares, a avaliação ajuda a recuperar os referenciais de demandas que se seguem ao processo de avaliação e que
qualidade que estão subjacentes ao processo de significação são sempre biunívocas.
90
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A insistência na importância desta aprendizagem em- Parece claro que a produção da qualidade na escola
basa-se nos prejuízos decorrentes da ausência deste reper- não pode ser algo decretado sem a participação da comu-
tório quando processos externos de avaliação invadem a nidade. Obtido seu engajamento no processo, os avanços
escola e encontram professores e equipes gestoras desar- são sobejamente ampliados. O descuido com o envolvi-
mados para o trabalho de tradução de seus significados. mento da comunidade intra e extraescolar acaba deslegiti-
Sem discurso para problematizar a avaliação de sua escola, mando o processo de produção de qualidade nas escolas e
tendem a receber passivamente os dados, ao que se segue desperdiçando as evidências obtidas via avaliação.
uma postura de indiferença frente aos mesmos, lesiva ao Entre a concepção e a produção normativa e a exe-
projeto pedagógico. cução no contexto escolar, há um complexo processo de
Reagir aos dados dos processos de avaliação externa comunicação entre as pessoas que encarnam o projeto.
não pode ser entendido como negação apenas daquilo Avaliar este projeto é necessário. Como fazê-lo, implica
que estes informam. A reação que advogamos, necessária questões axiológicas. E a proposição de processos de AIP
e politicamente consequente, implica saber buscar as evi- não deixa de ser uma escolha carregada de intenções éti-
dências que sustentam as informações do relatório e assu- co-políticas.
mir a titularidade de discuti-las à luz da realidade local, de A aprendizagem da avaliação institucional implica
forma contextual e histórica. aprender a participar, aprender a se vincular com um pro-
Movimentos sumários de contestação da comunidade jeto coletivo e aceitar as “dramáticas do uso de si” para
interna da escola frente aos dados de avaliação externa ampliar as chances de êxito de um projeto que não se
tendem a ser rotulados pelos formuladores das políticas curva ao instituído simplesmente. Mas, conforme destaca
como respostas ideológicas oriundas de ghetos de resis- Lantheaume o empenho de si para manter a situação, o “si
tência a processos de qualificação das escolas. Isso tam- próprio “como recurso não pode substituir os recursos do
bém merece reflexão. coletivo, os recursos de um oficio seguro das suas regras e
dos princípios que unem os profissionais.
Mais uma razão para que os saberes que circulam nos A aprendizagem da avaliação institucional inclui o sa-
processos de desenvolvimento profissional preocupem-se ber posicionar-se diante dos dados oferecidos pela avalia-
em potencializar a capacidade argumentativa dos profes- ção externa, usando-os para esclarecer a realidade escolar,
sores frente à realidade da escola, a qual devem conhecer quer pela aceitação das evidências ou pela refutação das
de forma vertical. Desta relação intensiva com a escola, os mesmas.
professores acumulam e qualificam um outro componente Aprender avaliação institucional significa assumir o
dos saberes docentes, os saberes da experiência, que se monitoramento ativo do cotidiano escolar, sem que se res-
constroem no embate diário com a realidade dos alunos, vale para o controle, assegurado pela excessiva produção
famílias e no encontro com os pares, no enfrentamento dos de regras sobre a realidade e a comunidade.
dilemas cotidianos da escola. Fortalecidos em seus saberes,
os professores ganham voz e vez nos processos de qualifi- Mafessoli adverte, ao questionarem-se as explosões
cação da escola, aprendendo a construir uma rede explica- violentas, a queda brutal de impérios ou de dominações
tiva para os problemas com que se deparam e a formular que pareciam indestrutíveis, é frequente invocar a anar-
também estratégias de superação que lhes façam sentido quia, a desordem ou o disfuncionamento crônico de que
ou a contestar aquilo que se mostre inconsistente, embora seriam vítimas. Por vezes é esse o caso. Mas na maior par-
formalmente instituído. te do tempo, a implosão resulta do excesso de ordem. [...]
Sempre que se verifique uma inconsistência entre as O excesso de leis é o signo de uma sociedade doente. A
exigências formais estabelecidas e os recursos existentes, perspectiva empírica ensina-nos que um racionalismo exa-
sobretudo daqueles cuja afetação está dependente da ad- gerado assemelha-se ao excesso de vida do câncer: ele se
ministração central (formais, materiais, de pessoal etc), a or- desregula e desregula tudo até eliminar a vida!
dem normativa estabelecida sairá enfraquecida e tornar-se- A avaliação institucional contribui para que os saberes
-á, eventualmente, ilegítima, aos olhos dos subordinados. dos diferentes atores envolvidos na escola sejam incor-
Como se apreende, a avaliação esconde campo de porados e reconhecidos como legítimos, intensificando a
interesses fortemente antagônicos que buscam legitimar qualidade das trocas intersubjetivas que ocorrem na escola
uma determinada concepção de qualidade, nem sempre empoderando os atores locais para a ação. Ação que se
aquela detentora de pertinência social. Mais uma razão orienta pelas “estratégias de compromisso” com o direito
para que a aprendizagem da avaliação ultrapasse a fron- das crianças aprenderem ao invés de um acatamento cego
teira da sala de aula e amplie a visão dos professores para às normas e regras existentes a que se obtém adesão sem
além da aprendizagem dos seus alunos. comprometimento, como resposta de conveniência às “es-
tratégias do controle” institucional.
Entendemos estratégico envolver os profissionais da
escola na reflexão sobre um outro referencial de avaliação, Pode a aprendizagem da AIP contribuir para a aprendi-
capaz de abarcar níveis diferenciados de abordagem, con- zagem das crianças?
tribuindo para uma visão de totalidade do fenômeno. Esta
vivência permitirá, também, uma contestação das formas Sendo a avaliação institucional participativa um exercí-
de aprender e ensinar avaliação usualmente presentes nos cio de releitura da realidade escolar a partir de seus atores
cursos de formação inicial e continuada dos professores. locais, apoiado em distintas evidências, parece-nos que a
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
parada obrigatória e sistemática inerente ao processo de Este destaque que fazemos visa realçar a insuficiência
avaliação possibilita que estes atores voltem a se reconhe- do discurso de compromisso das escolas com a construção
cer como coletivo e como coletivo se interroguem sobre de uma realidade social mais justa e fraterna, valor expres-
o projeto que pretendem construir e como coletivo se de- so no texto denominado projeto pedagógico.
safiem e se amparem para o trabalho árduo que os aguar-
da, se de fato se colocarem a serviço da aprendizagem das A avaliação ajuda a evitar que a escola, por meio
crianças. das microdecisões que toma, se descole dos referenciais
Avaliar a escola e construir juízo de valor sobre a fun- que anuncia perseguir e que necessitam de controle so-
ção social que possui implica um zelo bastante acentuado, cial sob pena de serem apenas palavras. Sem que a estes
dadas as mudanças que assolam nossa sociedade. Cabe pressupostos teóricos correspondam ações concretas que
atualizar esta função de modo que acompanhe os novos reconfigurem as relações e os processos desenvolvidos nos
desafios impostos pela realidade, porém sem perder o espaços educativos, muito pouco se avançará na transfor-
compromisso com as crianças e jovens, em especial aque- mação da lógica da escola que temos e que continua a ser
les menos favorecidos, para quem a permanência na escola excludente, mesmo quando a todos supostamente inclui.
pode e precisa fazer diferença. A tradução deste compromisso da escola com a inclu-
Tenti Fanfani alerta que o conhecimento é uma riqueza são do aluno envolve alguma polêmica e nem sempre os
estratégica, cuja distribuição não é igualitária. A escola é professores estão confortáveis na gestão de suas turmas
necessária para garantir, ao menos, as primeiras aprendiza- de alunos e a culminância ocorre nos processos de avalia-
gens consideradas estratégicas para que possam os alunos ção da aprendizagem.
continuar aprendendo ao longo de suas vidas. O risco da “condescendência pedagógica” pode im-
Desta forma, o direito à educação não pode ser con- pregnar as formas de mediação e avaliação da aprendiza-
fundido com o direito ao acesso à escola, traduzido pelo gem realizada pelos professores que tratam de ajustar seus
aumento das estatísticas dos alunos matriculados apenas. objetivos ao perfil do alunado que possuem. Em nome da
Este acesso precisa vir acompanhado do compromisso com inclusão, inadvertidamente, pode-se roubar-lhes o direito
a aprendizagem dos estudantes e com seu direito de aces-
de aprender. Mas, então, como ensiná-los se não conse-
so ao conhecimento acumulado.
guem acompanhar os demais colegas? “Lo mas probable
Isso traz novas responsabilidades aos professores fren-
será optar entre lisa e llana exclusión de la escuela y la no
te ao perfil dos estudantes hoje “autorizados” a estarem na
menos grave exclusión del conocimiento”.
escola. Ao fenômeno de democratização/ universalização
Não há como deixar de considerar os conflitos que
do acesso seguiu-se uma crescente dificuldade de a esco-
envolvem os professores quando se defrontam com estas
la lidar com segmentos sociais bastante vulneráveis e que
não se ajustam, linearmente, às formas convencionais de marcantes diferenças entre os estudantes que contrastam
organização do trabalho pedagógico da escola. com a “homogeneidade” relativa das práticas instituciona-
Dado que, a curto prazo, este traço do segmento es- lizadas. Isto complexifica ainda mais o trabalho docente.
tudantil não sofrerá alterações (ainda que nos cause in- Notadamente nos processos de avaliação da aprendiza-
dignação e perplexidade, pois revela a iniquidade social gem que planejam e que aprenderam a conceber como
dos nossos tempos), a única possibilidade de se enfrentar uma questão técnica e neutra, naturalmente classificatória
a situação depende da pro atividade dos profissionais da e resultante de esforços individuais, o que justifica as pre-
educação na formulação de um projeto pedagógico capaz miações e as sanções que cada aluno recebe, na forma de
de enfrentar esta situação, nos limites da governabilidade uma nota.
que compete às escolas.
Dussell lembra-nos que: El proyecto puede organizar la Cabe indagar se estas temáticas têm sido exploradas
actividad del año; sin embargo, cabria preguntarse si ayuda nos processos de formação inicial e continuada dos pro-
a considerar el largo plazo de la educación, su inscripción en fessores, com uma outra ênfase, capaz de ajudá-los a lidar
un sistema, el lugar de los docentes como adultos transmiso- formativamente com a avaliação.
res de la cultura, todas bases fundamentales de la estructu- O desconhecimento ou leitura enviesada acerca dos
ración de la acción docente. determinantes sociais e históricos que impregnam os cená-
O que queremos destacar é que a mera apologia do rios educativos e os grupos que nele se fazem representar,
projeto pedagógico, discurso reinante nas escolas, não é pode levar os professores a um certo desapontamento com
capaz de torná-las sensíveis às especificidades e necessida- sua impotência para ensinar. Assoberbados com o conjun-
des oriundas do perfil dos estudantes que destas institui- to de expectativas sociais que devem atender em função
ções sociais mais dependem. das lacunas de todas as ordens que os estudantes trazem,
Os alunos das escolas públicas, particularmente aque- tendem a se frustrar diante de tarefa tão hercúlea que gos-
las situadas em zonas de vulnerabilidade social acentuada, tariam de realizar mas na qual acabam por fracassar.
apresentam reconhecidas carências de ordem estrutural e Pela dificuldade de construir uma rede explicativa
material, porém a este tipo de problema se agregam as destes fenômenos que afetam todas as organizações so-
diferenças que possuem em termos de capital cultural, dos ciais, inclusive a escola, acabam trabalhando muito e sem
recursos linguísticos que acionam e que tendem a não ser conseguir obter bons resultados, posto que, atuam, de
considerados pelos professores nas microdecisões que to- modo desordenado e quase sempre individual. Se op-
mam quando da organização do trabalho pedagógico. tarem pela condescendência pedagógica e aceitarem a
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
promoção automática dos alunos, estarão eximindo-se de y puden recorrer camiños muy distintos entre si. Para ver
produzirem um trabalho pedagógico rigoroso e eticamen- esa realidad dinamica no es suficiente analizar las variables
te comprometido com a inclusão cultural. Como profissio- sistemicas (acceso, eficiencia interna, rendimiento) que se
nais, precisam demonstrar sua expertise na condução deste expresan mediante indicadores especificos (cobertura, ex-
processo e não desistir de seus alunos. A indiferença frente tra-edad, repetición, deserción, logros de aprendizaje etc.)
a estes alunos, revelada na emissão formal de notas que si- sino que es necesario recurrir a estrategias analiticas cua-
nalizam sucesso escolar ilegítimo, tem consequências para litativas.
ambos e para a escola também. A aprendizagem do manejo de processos de avalia-
ção institucional ensina a desenvolver um outro nível de
Frente aos resultados dos alunos nos exames externos análise para interpretar números oferecidos pelo sistema
de proficiência a que são submetidos, a dissonância entre para discutir a eficácia da escola. Auxilia a que se desvele
os escores pode ficar evidente e isso deixa em xeque o tra- e problematize como um determinado conjunto de alunos,
balho docente realizado. por meio de suas condições objetivas e subjetivas de vida,
Podem, também, os professores optar por desconsi- tem mais chance de êxito enquanto outros caminham na
derar as condições concretas dos alunos que possuem e direção do fracasso escolar/social.
os submeterem, sem nenhuma flexibilidade, a práticas pe- Não apenas por isso, fica marcada a contribuição dos
dagógicas homogeneizadoras nas quais os processos de processos de avaliação institucional nos processos de
avaliação são estandardizados. Produzem ativamente a aprendizagem dos alunos. Ao se trazer para o espaço co-
exclusão da escola de grande contingente de alunos que letivo da escola as diferentes leituras dos problemas da es-
sequer protestam, pois assimilam como seu o fracasso. Os cola e como estes afetam a aprendizagem das crianças no
professores, no entanto, experimentam algum mal estar interior das salas de aula, enriquece-se a discussão avalia-
quando se põem a refletir sobre o sentido de seu trabalho. tiva e potencializa-se o compromisso dos professores com
Talvez, isso justifique a fuga dos espaços coletivos da esco- o direito das crianças aprenderem.
la ou a ausência da reflexão, mesmo quando são reunidos Para que serviria a intensificação e diversificação das
para este fim.
atividades de avaliação da aprendizagem dos alunos, se
Uma vez mais destacamos que, entre os saberes neces-
não para gerar melhores condições para que esta aprendi-
sários para a formação dos professores, devam ser incluídas
zagem possa ocorrer? Esta questão faz ressurgir o espírito
(não apenas como conteúdo a ser repetido, mas proble-
do projeto pedagógico da escola e, ainda que contradito-
matizado) as condições sociais que afetam a escola e, por
riamente, pela experiência de escassez de coerência entre
conseguinte, dizem respeito à profissionalidade docente.
discurso e prática, não problematizada no plano individual,
Desprovidos desta aprendizagem, os docentes terão di-
oportuniza a correção de rota ao ser retomada no âmbito
ficuldade para enfrentar os problemas atuais que afetam a
coletivo.
escola e os alunos que a frequentam. Devidamente instru-
mentalizados para a leitura das contradições do modelo, po-
deriam assumir um posicionamento menos ingênuo diante A circularidade dos saberes dos atores envolvidos nos
de eventos complexos que despertam a sensação de fragi- processos de avaliação institucional
lidade e de falta de credibilidade em seu próprio trabalho.
Dussel afirma que “las tradiciones heredadas con res- Cada vez mais nos convencemos de que professores
pecto a lo que debe ser el oficio docente hoy colisionan con não podem continuar a ser formados para que repitam
la realidad de escuelas, familias y alumnos que plantean de- práticas e posturas que têm servido a fins não emancipa-
safíos muy diferentes a los imaginados hace un siglo.” tórios.
Ou aprende-se a ensinar admitindo a existência deste A capacidade de reflexão sobre seu trabalho e a dispo-
cenário, ou fica a visão nostálgica dos tempos passados, sição de investigar criticamente os cenários em que atuam
dos alunos idealizados, da escola que tinha apenas a fun- e os atores com que se relacionam, assim como as forças
ção de transmissão dos saberes oficiais. sociais que os afetam, exige uma outra base e lógica for-
mativa. Desta transformação depende um trabalho peda-
Processos de reflexão coletiva propiciados pela análi- gógico detentor de qualidade social. No entanto, para esta
se dos dados gerados pela AIP, contribuem para que os construção é preciso recuperar a confiança dos professores
professores se organizem e produzam explicações mais em seus saberes de modo a que se sintam fortalecidos para
plausíveis para os problemas que envolvem a escola. Evi- o uso das palavras, dos argumentos que decidem trazer
dentemente, a própria definição dos problemas não se dá à tona para que outras perguntas possam ser formuladas,
de forma desarticulada dos referentes teóricos, das cosmo- interrogando a realidade da escola e da vida e sua aparente
visões que estão em disputa. neutralidade.
Uma vez mais, respaldados em Tenti Fanfani, ressalta- Os profissionais da educação precisam se fortalecer,
mos a avaliação institucional como possibilidade de exami- teórica e eticamente, para discutir com lucidez as rela-
nar esta situação com mais propriedade: ções macro e micro sociais que afetam a escola gerando
Los alumnos no son objeto de educación, sino que, regras de um jogo, nem sempre límpidas, mas nem por
em parte, son protagonistas de sus próprias experiências, isso inexoráveis. Assumir posição de não indiferença fren-
las cuales pueden ser mas o menos exitosas o fracasadas te às crianças e seu legítimo direito de aprender pode ser
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
considerado sinal de um bom trabalho docente em tem- tempos de políticas neoliberais, exige o concurso de todas
pos nos quais nunca se demandou tanto pela qualidade da as forças sociais progressistas. A orquestração destas ações
escola ainda que a contrapartida tenha sido precarizar as é singularmente importante se considerarmos os prejuízos
condições de funcionamento deste estabelecimento e do impostos a uma geração de crianças toda vez que nos es-
trabalho docente. quecemos de que estas devem ser a razão de ser de uma
instituição educativa. E qualidade neste espaço não se trata
Assumir posição neste jogo exige aprender a jogar de opção particular de um grupo. Trata-se de questão in-
com as regras existentes e tanto quanto possível ensinar tangível sobre a qual não cabe tergiversar.
as pessoas a aprender a construir um sentido novo para A categoria “circularidade dos saberes”, quando extra-
estas regras, atualizando-as sempre que se mostrarem ina- polada para situações de AIP, mostra-se pertinente pois
dequadas para a saúde do projeto pedagógico da escola. este processo só se sustenta pela inserção dos múltiplos
Os profissionais da educação precisam aprender a re- atores sociais envolvidos com a escola e seu projeto. Ao
conhecer e a disponibilizar seus saberes de modo a que cotejarem seus olhares avaliativos sobre a qualidade da es-
estes produzam sentidos novos na avaliação da qualidade cola, estes atores fazem circular não apenas impressões,
da escola. Evidentemente não se trata do único ator insti- expectativas, mas também seus conhecimentos sobre esta
tucional apto a fazê-lo mas, com certeza, são atores estra- realidade, construindo, de modo complementar, uma me-
tégicos para a mobilização dos demais. lhor apreensão da realidade da escola que não se explicará
Ludke empresta da obra de Martinand, um pesquisa- apenas a partir de pressupostos científicos dos profissio-
dor francês, em entrevista dada a Bourguière, o conceito de nais da educação, mas também incluirá a perspectiva dos
circularidade. Ela destaca que os autores, ao falarem da cir- atores não profissionais com seus saberes experienciais e
cularidade do saber, não se restringem ao aspecto de sua intuitivos.
circulação, como é comum se ver, quando se trata da trans-
missão ou da transferência de conhecimento, em geral de A conversa precisa continuar...
cima para baixo, do centro para a periferia. Parece-lhe um
conceito potente, pois a ideia de circularidade indica idas e Mesmo reconhecendo a impossibilidade de se chegar
a conclusões sobre temáticas tão amplas e instigantes, não
vindas, a circulação entre duas (ou mais) fontes produtoras
há como ocultar um certo desapontamento, fruto de nossa
de saber, cada uma enriquecendo, a seu modo, a constru-
cultura de resultados, ao relermos este ensaio. Terminamos
ção do conhecimento a seu respeito.
com a certeza de que a conversa precisa continuar. Não
Ao reconhecermos a circularidade dos saberes como
há pontos finais. Pelo contrário, crescem as reticências, as
importante contributo para a produção de conhecimento,
interrogações, as exclamações. Deste movimento dialógi-
admitimos que esta é, sobretudo, derivada de processos
co, sem certo ou errado definidos a priori, resultará mais
sociais, coletivos, dialógicos e plurais. Isso nos faz repensar aprendizagem para todos aqueles interessados na qualifi-
a multiplicidade de saberes presentes e subestimados na cação da escola, no desenvolvimento profissional dos pro-
escola e que poderiam gerar forte sinergismo no enfrenta- fessores, nos processos de meta-avaliação, no desenvolvi-
mento dos problemas complexos que rondam a realidade mento de nossos alunos e professores.
escolar e seu entorno.
Igualmente, não podemos deixar de contestar a lógica Avaliações externas
que hierarquiza os saberes bem como o lócus de sua pro-
dução. Esta tem levado a que os saberes produzidos nas As avaliações do desempenho escolar, feitas em larga
escolas sejam considerados como de segunda ordem em escala na educação básica, estão presentes na política pú-
relação aos saberes produzidos nas universidades, repetin- blica de educação brasileira há duas décadas. Entretanto, a
do relações que dicotomizam quem formula e quem aplica. partir de 2005 com a Prova Brasil1 e de 2007 com o Índice
O que sabem os professores e o que ensinam aos formado- de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)2, passaram
res? Que uso fazem dos saberes veiculados nos cursos de a ter maior destaque na agenda político-educacional de
capacitação lato e stricto sensu de que participam?. Como municípios e estados. O caráter censitário desses indica-
avaliam o trabalho que desenvolvem e ao desenvolvimento dores e a projeção de metas bianuais do Ideb promove-
profissional que aspiram? Como se relacionam com os seus ram maior interesse, adesão e mobilização em torno des-
pares, independente dos cenários em que atuam? Pergun- sas avaliações por parte de gestores educacionais, escolas,
tas para as quais indica-se a necessidade de investigação e professores e comunidades.
que podem ser disparadas também nas rodas de reflexão Mesmo ocupando espaço central no desenho das polí-
propiciadas pelos processos de avaliação da qualidade da ticas educacionais de estados e municípios, estudos apon-
escola. tam que as informações produzidas por essas avaliações
ainda não são suficientemente exploradas como subsídio
Frente ao desafio de produzir ações comprometidas para a gestão educacional e o trabalho pedagógico. Obser-
com a qualidade da educação básica, em especial nas esco- vam-se dificuldades para a compreensão dos resultados e
las públicas, por meio do fortalecimento dos atores locais, pouca influência destes nos planejamentos e intervenções
parece-nos inadmissível aceitarmos cisões entre atores educacionais, o que indica a necessidade de trabalho dire-
internos e externos; professores das universidades e pro- cionado para atender às novas demandas de uso, tanto por
fessores da escola. O direito das crianças aprenderem, em parte de escolas como de secretarias de educação.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Considerando este cenário, o Programa Avaliação e Aprendizagem iniciou o seu percurso em 2011, tendo em vista
contribuir com os debates e ampliar o uso das avaliações externas (de larga escala, ou padronizadas), como uma das estra-
tégias para a melhoria da qualidade na educação básica.
Com essa perspectiva, o Programa vem desenvolvendo:
- pesquisas e estudos sobre os usos das avaliações externas junto a secretarias municipais e estaduais de educação;
- publicações para educadores e o público em geral;
- ações de formação em contextos diversos, diretamente com gestores escolares, professores, pais, e jornalistas, bem como
gestores e técnicos das redes estaduais e municipais de educação.
As possibilidades de diálogo entre essas avaliações e as práticas de ensino e de gestão, tanto no âmbito das escolas
como das secretarias de educação.
Nos encontros de formação são analisadas as informações produzidas pelas avaliações (ou testes padronizados):
Prova Brasil e Ideb, que são comuns a todas as escolas brasileiras e, nos casos específicos de estados e municípios que
possuem sistemas próprios de avaliação, as informações produzidas por estes.
A abordagem metodológica e os conteúdos da formação partem da perspectiva de que as informações produzidas
pelas avaliações externas contribuem para o diagnóstico de necessidades dos sistemas de ensino e escolas e podem in-
duzir à formulação de políticas com efeitos positivos na prática pedagógica e na aprendizagem. Nesta primeira edição, a
publicação
Avaliação e Aprendizagem apresenta alguns dos enfoques, conteúdos e aprendizados desse processo.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foi criado pelo MEC em 1988. A partir de 1995 incorporou nova
metodologia, baseada na Teoria de Resposta ao Item, que permite a comparabilidade dos dados ao longo do tempo, em
série histórica. Também realizou, em âmbito nacional, a primeira aplicação amostral de testes padronizados em leitura e
resolução de problemas nas séries finais de cada ciclo do Ensino Fundamental (4ª série/5º ano e 8ª série/9º ano) e 3º ano
do Ensino Médio, de todas as unidades da Federação e redes de ensino público (municipal, estadual, federal) e particular,
o que passou a ser feito a cada dois anos.
A partir de 2005, a atenção aos resultados das escolas obtidos nas avaliações se intensificou. Primeiro com a rees-
truturação do Saeb pela Portaria Ministerial nº 931 de 21 de março de 2005, que foi desmembrado em duas avaliações:
a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional do Rendimento no Ensino Escolar (Anresc), esta
última mais conhecida como Prova Brasil, aplicada de modo censitário em todas as escolas públicas. Em seguida, com a
criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que reúne, em um só indicador, os conceitos de fluxo,
expressos nas taxas de aprovação registradas no Censo leitura e resolução de problemas. Calculado como a média das
notas padronizadas, o Ideb varia de 0 a 10 e seus resultados permitem traçar metas bianuais, o que possibilitou que se
95
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
tornasse ferramenta para o acompanhamento das metas 2º ano do Ensino Fundamental, aos professores e gestores
de qualidade para a educação básica do Plano de Desen- das redes de ensino. Seus objetivos são: avaliar o nível de
volvimento da Educação (PDE). alfabetização dos alunos nos anos iniciais do Ensino Funda-
Desde então, estados e municípios vêm adotando e mental; diagnosticar possíveis insuficiências das habilida-
desenvolvendo sistemas próprios de avaliação. A maioria des de leitura e escrita e subsidiar intervenções pedagógi-
baseia-se na metodologia utilizada pelo Saeb, mas com cas e na gestão para melhorar a qualidade da alfabetização.
a inclusão de elementos próprios aos interesses de cada
rede. Quando é aplicada?
O que é avaliado?
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O que é?
É um indicador, criado em 2007 e verificado a cada dois anos, que procura medir a eficiência da escola pública brasileira
a partir de dois critérios: proficiência média dos alunos e percentual de aprovação escolar. A idéia é assegurar que os alunos
aprendam o que precisam aprender (proficiência), mas que não sejam vítimas da reprovação escolar que sempre foi um
fator de seleção na escola pública brasileira.
As avaliações externas podem fornecer pistas importantes para que se reflita sobre o desenvolvimento do trabalho
educativo no interior das escolas, especialmente quando esses resultados se referem a aspectos ou componentes que têm
peso para o conjunto das atividades escolares, como é o caso da leitura e da resolução de problemas.
A avaliação é um ponto de partida, de apoio, um elemento a mais para repensar e planejar a ação pedagógica e a ges-
tão educacional. Os pontos de chegada são o direito de aprender e o avanço da melhoria global do ensino. Por isso, faz-se
necessário que os profissionais de escolas e de secretarias de educação compreendam os dados e informações produzidos
pelas avaliações, saibam o que significam. De tal modo que, além de utilizá-los para a elaboração e implementação de
ações, desmistifiquem a ideia de que a avaliação externa é apenas um instrumento de controle, ou ainda, que sua função é
comparar escolas ou determinar a promoção ou retenção de alunos.
As avaliações externas são elaboradas, organizadas e conduzidas por agentes externos à escola. Também são chamadas
de avaliações em larga escala, por serem aplicadas, por exemplo, a uma rede de ensino inteira, municipal ou estadual; ou
ainda a várias redes de ensino, como é o caso da Prova Brasil.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Essas avaliações informam sobre os resultados educacionais de escolas e redes de ensino a partir do desempenho dos
alunos em testes ou provas padronizadas que verificam se estes aprenderam o que deveriam ter aprendido, permitindo
inferências sobre o trabalho educativo das escolas e redes de ensino.
Embora fundamentais por abrir perspectivas para as diretrizes das políticas educacionais e para os debates sobre a
qualidade do ensino, as avaliações externas não dão conta da amplitude e complexidade do trabalho escolar. A Prova Brasil,
por exemplo, mostra a média de desempenho dos alunos da escola de modo geral, mas não traz detalhamentos ou infor-
mações que permitam intervenções imediatas no processo pedagógico de um ano para outro. Isso significa que ela não
fornece todas as informações necessárias para avançarmos na ampliação da oferta de oportunidades de aprendizagem.
Para prosseguir com essa busca é necessário considerar as diferentes ferramentas avaliativas disponíveis no âmbito
interno das escolas, que são capazes de fornecer informações adicionais e qualificadas sobre as práticas escolares, além de
complementar e dialogar com a avaliação externa: a avaliação da aprendizagem (realizada no contexto da ação pedagógica
do professor em sala de aula) e a avaliação institucional (realizada pelo coletivo da escola no escopo de seu projeto peda-
gógico), ou seja, as avaliações internas, realizadas sistematicamente pelas escolas.
Para concretizar a possibilidade de diálogo entre essas três formas de avaliação, parte-se do entendimento de que as
três, quando relacionadas, clarificam a tomada de decisões pertinentes a situações especificas.
Nesse diálogo está presente um movimento de integração, que respeita o lugar de cada uma (com suas características
e especificidades) colocando-as em igual patamar de importância para o avanço da aprendizagem dos alunos.
Com a implementação da Prova Brasil no âmbito federal e de outras avaliações de desempenho nas esferas estadual e
municipal, as equipes escolares podem vislumbrar nos resultados dessas avaliações uma “fotografia” da situação de apren-
dizagem de seus alunos.
Os parâmetros externos permitem às escolas ter uma noção mais clara das qualidades ou fragilidades de seu ensino e
de seu projeto pedagógico; permitem que se comparem consigo mesmas e acompanhem o próprio percurso.
As avaliações externas não substituem as avaliações da aprendizagem elaboradas pelos professores no contexto de
sua ação pedagógica, e tampouco representam todo o processo pedagógico. Contudo, nem uma nem outra pode ser des-
merecida. A análise comparada das informações fornecidas por ambas pode produzir elementos para subsidiar o trabalho
desenvolvido no interior das escolas, seja para o aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação elaborados internamente,
seja para oferecer elementos de contexto para as provas externas. Além de ser um componente importante para o plane-
jamento e a readequação dos programas de ensino.
98
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Tanto em relação às avaliações internas quanto às ex- No que se segue, apresento aos leitores alguns enten-
ternas, coloca-se a necessidade da apreciação crítica e do dimentos básicos para compreender e praticar a avaliação
debate sobre os critérios envolvidos, com a ressalva de que da aprendizagem como avaliação e não, equivocadamente,
nas avaliações externas eles são mais explícitos e coletados, como exames.
em princípio, com procedimentos mais rigorosos. Disso re- Antes de mais nada, uma disposição psicológica neces-
força-se a idéia de que os profissionais da educação, ainda sária ao avaliador
que possam e devam levantar questionamentos sobre as O ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção
avaliações externas, reconheçam sua relação com a reali- do melhor resultado possível, antes de mais nada, implica
dade da escola: a disposição de acolher. Isso significa a possibilidade de
tomar uma situação da forma como se apresenta, seja ela
- Quais informações os gráficos e tabelas dos boletins satisfatória ou insatisfatória agradável ou desagradável,
estão apresentando? bonita ou feia. Ela é assim, nada mais. Acolhê-la como está
- Qual o significado dessas informações? é o ponto de partida para se fazer qualquer coisa que pos-
- Todos compreendem essas informações (professores, sa ser feita com ela. Avaliar um educando implica, antes
pais, alunos)? de mais nada, acolhe-lo no seu ser e no seu modo de ser,
- O que elas podem nos dizer sobre o trabalho realizado como está, para, a partir daí, decidir o que fazer.
pela escola?
- Nossos alunos estão de fato aprendendo e progredindo A disposição de acolher está no sujeito do avaliador, e
no ritmo esperado? não no objeto da avaliação. O avaliador é o adulto da rela-
- Por que alguns se saíram bem e outros não? ção de avaliação, por isso ele deve possuir a disposição de
- Quais elementos a avaliação da aprendizagem reali- acolher. Ele é o detentor dessa disposição. E, sem ela, não
zada pelos professores nos dá para entender melhor os resul- há avaliação. Não é possível avaliar um objeto, uma pessoa
tados das avaliações externas? ou uma ação, caso ela seja recusada ou excluída, desde o
início, ou mesmo julgada previamente. Que mais se pode
fazer com um objeto, ação ou pessoa que foram recusados,
Fonte
desde o primeiro momento? Nada, com certeza!
http://www.scielo.br/scielo.php?pi-
Imaginemos um médico que não tenha a disposição
d=s141440772009000200005&script=sci_arttet
para acolher o seu cliente, no estado em que está; um em-
http://www.fundacaoitausocial.org.br/_arquivosestati-
presário que não tenha a disposição para acolher a sua em-
cos/FIS/pdf/avaliacao_e_aprendizagem.pdf
presa na situação em que está; um pai ou uma mãe que
não tenha a disposição para acolher um filho ou uma fi-
O QUE É MESMO O ATO DE AVALIAR A APRENDI-
lha em alguma situação embaraçosa em que se encontra.
ZAGEM?
Ou imaginemos cada um de nós, sem disposição para nos
acolhermos a nós mesmos no estado em que estamos. As
Cipriano Carlos Luckesi doenças, muitas vezes, não podem mais sofrer qualquer
intervenção curativa adequada devido ao fato de que a
A avaliação da aprendizagem escolar se faz presente na pessoa, por vergonha, por medo social ou por qualquer
vida de todos nós que, de alguma forma, estamos compro- outra razão, não pode acolher o seu próprio estado pes-
metidos com atos e práticas educativas. Pais, educadores, soal, protelando o momento de procurar ajuda, chegando
educandos, gestores das atividades educativas públicas e ao extremo de ‘já não ter muito mais o que fazer!’.
particulares, administradores da educação, todos, estamos A disposição para acolher é, pois, o ponto de partida
comprometidos com esse fenômeno que cada vez mais para qualquer prática de avaliação. É um estado psicoló-
ocupa espaço em nossas preocupações educativas. gico oposto ao estado de exclusão, que tem na sua base
O que desejamos é uma melhor qualidade de vida. No o julgamento prévio. O julgamento prévio está sempre na
caso deste texto, compreendo e exponho a avaliação da defesa ou no ataque, nunca no acolhimento. A disposição
aprendizagem como um recurso pedagógico útil e neces- para julgar previamente não serve a uma prática de avalia-
sário para auxiliar cada educador e cada educando na bus- ção, porque exclui.
ca e na construção de si mesmo e do seu melhor modo de Para ter essa disposição para acolher, importa estar
ser na vida. atento a ela. Não nascemos naturalmente com ela, mas sim
A avaliação da aprendizagem não é e não pode con- a construímos, a desenvolvemos, estando atentos ao modo
tinuar sendo a tirana da prática educativa, que ameaça e como recebemos as coisas. Se antes de ouvirmos ou ver-
submete a todos. Chega de confundir avaliação da apren- mos alguma coisa já estamos julgando, positiva ou nega-
dizagem com exames. A avaliação da aprendizagem, por tivamente, com certeza, não somos capazes de acolher. A
ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmica e construtiva, avaliação só nos propiciará condições para a obtenção de
diversa dos exames, que não são amorosos, são excluden- uma melhor qualidade de vida se estiver assentada sobre
tes, não são construtivos, mas classificatórios. A avaliação a disposição para acolher, pois é a partir daí que podemos
inclui, traz para dentro; os exames selecionam, excluem, construir qualquer coisa que seja.
marginalizam.
99
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Por uma compreensão do ato de avaliar de ‘diagnosticar sem tomar uma decisão’ assemelha-se à
situação do náufrago que, após o naufrágio, nada com to-
Assentado no ponto de partida acima estabelecido, o das as suas forças para salvar-se e, chegando às margens,
ato de avaliar implica dois processos articulados e indisso- morre, antes de usufruir do seu esforço. Diagnóstico sem
ciáveis: diagnosticar e decidir. Não é possível uma decisão tomada de decisão é um curso de ação avaliativa que não
sem um diagnóstico, e um diagnóstico, sem uma decisão é se completou.
um processo abortado. Como a qualificação, a tomada de decisão também
Em primeiro lugar, vem o processo de diagnosticar, não se faz num vazio teórico. Toma-se decisão em função
que constitui-se de uma constatação e de uma qualificação de um objetivo que se tem a alcançar. Um médico toma
do objeto da avaliação. Antes de mais nada, portanto, é decisões a respeito da saúde de seu cliente em função de
preciso constatar o estado de alguma coisa (um objeto, um melhorar sua qualidade de vida; um empresário toma deci-
espaço, um projeto, uma ação, a aprendizagem, uma pes- sões a respeito de sua empresa em função de melhorar seu
soa...), tendo por base suas propriedades específicas. Por desempenho; um cozinheiro toma decisões a respeito do
exemplo, constato a existência de uma cadeira e seu esta- alimento que prepara em função de dar-lhe o melhor sabor
do, a partir de suas propriedades ‘físicas’ (suas caracterís- possível, e assim por diante.
ticas): ela é de madeira, com quatro pernas, tem o assento Em síntese, avaliar é um ato pelo qual, através de uma
estofado, de cor verde... A constatação sustenta a configu- disposição acolhedora, qualificamos alguma coisa (um ob-
ração do ‘objeto’, tendo por base suas propriedades, como jeto, ação ou pessoa), tendo em vista, de alguma forma,
estão no momento. O ato de avaliar, como todo e qualquer tomar uma decisão sobre ela.
ato de conhecer, inicia-se pela constatação, que nos dá a Quando atuamos junto a pessoas, a qualificação e a
garantia de que o objeto é como é. Não há possibilidade decisão necessitam ser dialogadas. O ato de avaliar não
de avaliação sem a constatação. é um ato impositivo, mas sim um ato dialógico, amoroso
A constatação oferece a ‘base material’ para a segun- e construtivo. Desse modo, a avaliação é uma auxiliar de
da parte do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja, uma vida melhor, mais rica e mais plena, em qualquer de
seus setores, desde que constata, qualifica e orienta pos-
atribuir uma qualidade, positiva ou negativa, ao objeto que
sibilidades novas e, certamente, mais adequadas, porque
está sendo avaliado. No exemplo acima, qualifico a cadeira
assentadas nos dados do presente.
como satisfatória ou insatisfatória, tendo por base as suas
propriedades atuais. Só a partir da constatação, é que qua-
Avaliação da aprendizagem escolar
lificamos o objeto de avaliação. A partir dos dados consta-
tados é que atribuímos-lhe uma qualidade.
Vamos transpor esse conceito da avaliação para a com-
preensão da avaliação da aprendizagem escolar. Tomando
Entretanto, essa qualificação não se dá no vazio. Ela é
as elucidações conceituais anteriores, vamos aplicar, passo
estabelecida a partir de um determinado padrão, de um a passo, cada um dos elementos à avaliação da aprendiza-
determinado critério de qualidade que temos, ou que es- gem escolar.
tabelecemos, para este objeto. No caso da cadeira, ela está Iniciemos pela disposição de acolher. Para se proces-
sendo qualificada de satisfatória ou insatisfatória em fun- sar a avaliação da aprendizagem, o educador necessita
ção do quê? Ela, no caso, será satisfatória ou insatisfatória dispor-se a acolher o que está acontecendo. Certamente
em função da finalidade à qual vai servir. Ou seja, o objeto o educador poderá ter alguma expectativa em relação a
da avaliação está envolvido em uma tessitura cultural (teó- possíveis resultados de sua atividade, mas necessita estar
rica), compreensiva, que o envolve. Mantendo o exemplo disponível para acolher seja lá o que for que estiver acon-
acima, a depender das circunstâncias onde esteja a cadeira, tecendo. Isso não quer dizer que ‘o que está acontecendo’
com suas propriedades específicas, ela será qualificada de seja o melhor estado da situação avaliada. Importa estar
positiva ou de negativa. Assim sendo, uma mesma cadeira disponível para acolhê-la do jeito em que se encontra, pois
poderá ser qualificada como satisfatória para um determi- só a partir daí é que se pode fazer alguma coisa.
nado ambiente, mas insatisfatória para um outro ambiente, Mais: no caso da aprendizagem, como estamos traba-
possuindo as mesmas propriedades específicas. Desde que lhando com uma pessoa – o educando –, importa acolhê-lo
diagnosticado um objeto de avaliação, ou seja, configu- como ser humano, na sua totalidade e não só na aprendi-
rado e qualificado, há algo, obrigatoriamente, a ser feito, zagem específica que estejamos avaliando, tais como lín-
uma tomada de decisão sobre ele. O ato de qualificar, por gua portuguesa, matemática, geografia....
si, implica uma tomada de posição – positiva ou negativa –, Acolher o educando, eis o ponto básico para proceder
que, por sua vez, conduz a uma tomada de decisão. Caso atividades de avaliação, assim como para proceder toda e
um objeto seja qualificado como satisfatório, o que fazer qualquer prática educativa. Sem acolhimento, temos a re-
com ele? Caso seja qualificado como insatisfatório, o que cusa. E a recusa significa a impossibilidade de estabelecer
fazer com ele? O ato de avaliar não é um ato neutro que um vínculo de trabalho educativo com quem está sendo
se encerra na constatação. Ele é um ato dinâmico, que im- recusado.
plica na decisão de ‘o que fazer’ Sem este ato de decidir, o A recusa pode se manifestar de muitos modos, desde
ato de avaliar não se completa. Ele não se realiza. Chegar os mais explícitos até os mais sutis. A recusa explícita se
ao diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situação dá quando deixamos claro que estamos recusando alguém.
100
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Porém, existem modos sutis de recusar, tal como no exem- ensino (o instrumento necessita cobrir todos os conteúdos
plo seguinte. Só para nós, em nosso interior, sem dizer que são considerados essenciais numa determinada unida-
nada para ninguém, julgamos que um aluno X ‘é do tipo de de ensino-aprendizagem; c) adequados na linguagem,
que dá trabalho e que não vai mudar’. Esse juízo, por mais na clareza e na precisão da comunicação (importa que o
silencioso que seja em nosso ser, está lá colocando esse educando compreenda exatamente o que se está pedindo
educando de fora. E, por mais que pareça que não, estará dele); adequados ao processo de aprendizagem do edu-
interferindo em nossa relação com ele. Ele sempre estará cando (um instrumento não deve dificultar a aprendizagem
fora do nosso círculo de relações. Acolhê-lo significa estar do educando, mas, ao contrário, servir-lhe de reforço do
aberto para recebê-lo como é. E só vendo a situação como que já aprendeu. Responder as questões significativas sig-
é podemos compreendê-la para, dialogicamente, ajudá-lo. nifica aprofundar as aprendizagens já realizadas.).
Um instrumento de coleta de dados pode ser desastro-
Isso não quer dizer aceitar como certo tudo que vem so, do ponto de vista da avaliação da aprendizagem, como
do educando. Acolher, neste caso, significa a possibilida- em qualquer avaliação, na medida em que não colete, com
de de abrir espaço para a relação, que, por si mesma, terá qualidade, os dados necessários ao processo de avalia-
confrontos, que poderão ser de aceitação, de negociação, ção em curso. Um instrumento inadequado ou defeituo-
de redirecionamento. Por isso, a recusa consequentemente so pode distorcer completamente a realidade e, por isso,
impede as possibilidades de qualquer relação dialógica, ou oferecer base inadequada para a qualificação do objeto da
seja, as possibilidades da prática educativa. O ato de aco- avaliação e, consequentemente, conduzir a uma decisão
lher é um ato amoroso, que traz ‘para dentro’, para depois também distorcida.
(e só depois) verificar as possibilidades do que fazer. Será que nossos instrumentos de avaliação da apren-
Assentados no acolhimento do nosso educando, po- dizagem, utilizados no cotidiano da escola, são suficien-
demos praticar todos os atos educativos, inclusive a avalia- temente adequados para caracterizar nossos educandos?
ção. E, para avaliar, o primeiro ato básico é o de diagnos- Será que eles coletam os dados que devem ser coletados?
ticar, que implica, como seu primeiro passo, coletar dados Será que eles não distorcem a realidade da conduta de
relevantes, que configurem o estado de aprendizagem do nossos educandos, nos conduzindo a juízos distorcidos?
educando ou dos educandos. Para tanto, necessitamos Quaisquer que sejam os instrumentos – prova, teste,
instrumentos. Aqui, temos três pontos básicos a levar em redação, monografia, dramatização, exposição oral, argui-
consideração: 1) dados relevantes; 2) instrumentos; 3) utili- ção, etc. – necessitam manifestar qualidade satisfatória
zação dos instrumentos. como instrumento para ser utilizado na avaliação da apren-
dizagem escolar, sob pena de estarmos qualificando ina-
Cada um desses pontos merece atenção. dequadamente nossos educandos e, consequentemente,
Os dados coletados para a prática da avaliação da praticando injustiças. Muitas vezes, nossos educandos são
aprendizagem não podem ser quaisquer. Deverão ser co- competentes em suas habilidades, mas nossos instrumen-
letados os dados essenciais para avaliar aquilo que esta- tos de coleta de dados são inadequados e, por isso, os jul-
mos pretendendo avaliar. São os dados que caracterizam gamos, incorretamente, como incompetentes. Na verdade,
especificamente o objeto em pauta de avaliação. Ou seja, o defeito está em nossos instrumentos, e não no seu de-
a avaliação não pode assentar-se sobre dados secundários sempenho. Bons instrumentos de avaliação da aprendiza-
do ensino-aprendizagem, mas, sim, sobre os que efetiva- gem são condições de uma prática satisfatória de avaliação
mente configuram a conduta ensinada e aprendida pelo na escola.
educando. Caso esteja avaliando aprendizagens específicas
de matemática, dados sobre essa aprendizagem devem ser Ainda uma palavra sobre o uso dos instrumentos.
coletados e não outros; e, assim, de qualquer outra área do
conhecimento. Dados essenciais são aqueles que estão de- Como nós nos utilizamos dos instrumentos de avalia-
finidos nos planejamentos de ensino, a partir de uma teoria ção, no caso da avaliação da aprendizagem? Eles são utili-
pedagógica, e que foram traduzidos em práticas educati- zados, verdadeiramente, como recursos de coleta de dados
vas nas aulas. sobre a aprendizagem de nossos educandos, ou são utili-
Isso implica que o planejamento de ensino necessita zados como recursos de controle disciplinar, de ameaça e
ser produzido de forma consciente e qualitativamente sa- submissão de nossos educandos aos nossos desejos? Po-
tisfatória, tanto do ponto de vista científico como do ponto demos utilizar um instrumento de avaliação junto aos nos-
de vista políticopedagógicos. sos educandos, simplesmente, como um recurso de coletar
Por outro lado, os instrumentos de avaliação da apren- dados sobre suas condutas aprendidas ou podemos utilizar
dizagem, também, não podem ser quaisquer instrumentos, esse mesmo instrumento como recurso de disciplinamen-
mas sim os adequados para coletar os dados que estamos to externo e aversivo, através da ameaça da reprovação,
necessitando para configurar o estado de aprendizagem da geração do estado de medo, da submissão, e outros.
do nosso educando. Isso implica que os instrumentos: a) Afinal, aplicamos os instrumentos com disposição de aco-
sejam adequados ao tipo de conduta e de habilidade que lhimento ou de recusa dos nossos educandos? Ao aplicar-
estamos avaliando (informação, compreensão, análise, sín- mos os instrumentos de avaliação, criamos um clima leve
tese, aplicação...); b) sejam adequados aos conteúdos es- entre nossos educandos ou pesaroso e ameaçador? Aplicar
senciais planejados e, de fato, realizados no processo de instrumentos de avaliação exige muitos cuidados para que
101
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
não distorçam a realidade, desde que nossos educandos é neutra. A avaliação só se completa com a possibilidade
são seres humanos e, nessa condição, estão submetidos às de indicar caminhos mais adequados e mais satisfatórios
múltiplas variáveis intervenientes em nossas experiências para uma ação, que está em curso. O ato de avaliar implica
de vida. a busca do melhor e mais satisfatório estado daquilo que
Coletados os dados através dos instrumentos, como está sendo avaliado.
nós os utilizamos? Os dados coletados devem retratar o A avaliação da aprendizagem, deste modo, nos pos-
estado de aprendizagem em que o educando se encontra. sibilita levar à frente uma ação que foi planejada dentro
Isto feito, importa saber se este estado é satisfatório de um arcabouço teórico, assim como político. Não será
ou não. Daí, então, a necessidade que temos de qualificar qualquer resultado que satisfará, mas sim um resultado
a aprendizagem, manifestada através dos dados coleta- compatível com a teoria e com a prática pedagógica que
dos. Para isso, necessitamos utilizar-nos de um padrão de estejamos utilizando.
qualificação. O padrão, ao qual vamos comparar o estado Em síntese, avaliar a aprendizagem escolar implica es-
de aprendizagem do educando, é estabelecido no plane- tar disponível para acolher nossos educandos no estado
jamento de ensino, que, por sua vez, está sustentado em em que estejam, para, a partir daí, poder auxiliá-los em
uma teoria do ensino. Assim, importa, para a prática da sua trajetória de vida. Para tanto, necessitamos de cuida-
qualificação dos dados de aprendizagem dos educandos, dos com a teoria que orienta nossas práticas educativas,
tanto a teoria pedagógica que a sustenta, como o planeja- assim como de cuidados específicos com os atos de avaliar
mento de ensino que fizemos. que, por si, implicam em diagnosticar e renegociar perma-
A teoria pedagógica dá o norte da prática educativa nentemente o melhor caminho para o desenvolvimento, o
e o planejamento do ensino faz a mediação entre a teoria melhor caminho para a vida. Por conseguinte, a avaliação
pedagógica e a prática de ensino na aula. Sem eles, a práti- da aprendizagem escolar não implica aprovação ou repro-
ca da avaliação escolar não tem sustentação. vação do educando, mas sim orientação permanente para
Deste modo, caso utilizemos uma teoria pedagógica o seu desenvolvimento, tendo em vista tornar-se o que o
que considera que a retenção da informação basta para o seu SER pede.
desenvolvimento do educando, os dados serão qualifica-
dos diante desse entendimento. Porém, caso a teoria pe- Concluindo
dagógica utilizada tenha em conta que, para o desenvolvi-
mento do educando, importa a formação de suas habilida- A qualidade de vida deve estar sempre posta à nossa
des de compreender, analisar, sintetizar, aplicar..., os dados frente. Ela é o objetivo. Não vale a pena o uso de tantos
coletados serão qualificados, positiva ou negativamente, atalhos e tantos recursos, caso a vida não seja alimenta-
diante dessa exigência teórica. da tendo em vista o seu florescimento livre, espontâneo
Assim, para qualificar a aprendizagem de nossos edu- e criativo. A prática da avaliação da aprendizagem, para
candos, importa, de um lado, ter clara a teoria que utili- manifestar-se como tal, deve apontar para a busca do me-
zamos como suporte de nossa prática pedagógica, e, de lhor de todos os educandos, por isso é diagnóstica, e não
outro, o planejamento de ensino, que estabelecemos como voltada para a seleção de uns poucos, como se comportam
guia para nossa prática de ensinar no decorrer das unida- os exames. Por si, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e,
des de ensino do ano letivo. Sem uma clara e consistente por isso mesmo, democrática e amorosa. Por ela, por onde
teoria pedagógica e sem um satisfatório planejamento de quer que se passe, não há exclusão, mas sim diagnóstico e
ensino, com sua consequente execução, os atos avaliativos construção. Não há submissão, mas sim liberdade. Não há
serão praticados aleatoriamente, de forma mais arbitrária medo, mas sim espontaneidade e busca. Não há chegada
do que o são em sua própria constituição. Serão praticados definitiva, mas sim travessia permanente, em busca do me-
sem vínculos com a realidade educativa dos educandos. lhor. Sempre!
Realizados os passos anteriores, chegamos ao diag-
nóstico. Ele é a expressão qualificada da situação, pessoa Fonte: Disponível Pátio On-line
ou ação que estamos avaliando. Pátio. Porto alegre: ARTMED. Ano 3, n. 12 fev./abr. 2006.
Temos, pois, uma situação qualificada, um diagnóstico.
O que fazer com ela? O ato avaliativo, só se completará, 4.5 O PROFESSOR: FORMAÇÃO E PROFISSÃO.
como dissemos nos preliminares deste estudo, com a to-
mada de decisão do que fazer com a situação diagnosti- Falar sobre a formação de professores no Brasil é re-
cada. meter-se a um cenário com vicissitudes históricas e dis-
Caso a situação de aprendizagem diagnosticada seja cussões recentes. Para compreendê-las faz-se necessário
satisfatória, que vamos fazer com ela? Caso seja insatisfa- a conhecer a realidade concernentes à formação de pro-
tória, que vamos fazer com ela? A situação diagnosticada, fessores no Brasil, analisando as referências bibliográficas
seja ela positiva ou negativa, e o ato de avaliar, para se de pesquisadores da área que servirá, sobretudo, para
completar, necessita da tomada de decisão A decisão do clarificar a compreensão em torno das problemáticas vi-
que fazer se impõe no ato de avaliar, pois, em si mesmo, venciadas hoje, bem como nortear as discussões em torno
ele contém essa possibilidade e essa necessidade. A avalia- da busca de soluções possíveis ao cenário brasileiro que
ção não se encerra com a qualificação do estado em que encontra-se submergido em um sistema educacional com
está o educando ou os educandos ela obriga a decisão, não muitas mazelas, a maioria provocadas pela má formação
102
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
inicial de seus docentes que encontram-se, entre outras, sionais da educação passou a ser considerada dispositivo
desprovida de uma concreta e reflexiva relação teórico- central à implementação das reformas de melhoria na edu-
-prática, pois apenas os estágios oferecidos no final dos cação, sendo que neste panorama a profissionalização dos
cursos não é condição suficiente para uma atuação com- docentes torna-se objeto de discurso de diversos teóricos
petente, levando futuros professores a saírem das univer- da área. Apontando a formação em serviço como forma
sidades despreparados para atuarem na realidade que lhes acentuada de “corrigir” a ineficácia dos cursos de formação
espera, restando apenas a possibilidade de encontrar nas inicial.
instituições que forem atuar a oferta de uma formação em O presente texto não se aprofundará na questão dos
serviço que lhes possibilite apoio e orientação às angústias cursos de formação inicial, sem, logicamente, ignorá-los,
e desafios da profissão, isto aos que a perceberem, pois é já que o panorama atual de necessidade de uma formação
mais comum encontrar professores que de uma formação em serviço mais eficaz constitui-se, sobremaneira, mas não
inicial tão deficiente não conseguem reconhecer e refle- unicamente, em virtude das deficiências apresentadas no
tir sobre suas próprias deficiências, limitando assim, a sua início da formação dos docentes, considerando que uma
busca por uma atuação mais eficaz. formação inicial dificilmente conseguirá antecipar todos os
Nestes termos, o presente artigo objetiva o estudo de problemas que o futuro professor irá enfrentar, muito me-
levantamento de dados bibliográficos analisando as contri- nos dotá-lo de todo o conhecimento e competência que irá
buições de diversos pesquisadores e educadores que estu- precisar ativar em algum momento de sua prática docente.
dam, sob diversas perspectivas, a formação de professores Desse modo, a formação em serviço torna-se cada vez
em serviço como condição, não única, mas necessária, para mais uma condição necessária, não única, para a prepara-
a constituição de um docente profissional capaz de atuar ção do profissional docente capaz de refletir criticamen-
de maneira competente em diversas situações desafiado- te sobre a sua prática, tornando-se um intelectual crítico
ras da profissão, bem como tornar-se o sujeito-autor da transformador, o que somente será possível se as con-
sua formação continuada, refletindo constantemente sobre cepções teóricas trabalhadas nestes cursos de formação
o seu saber-fazer pedagógico, um professor que se propo- em serviço servirem para nortear a práxis docente, pois é
nha a pesquisar, a perceber nesta prática a primícia capaz comum encontrar um aprofundamento a questão técni-
de levá-lo a produzir o seu próprio conhecimento, partindo co-instrumental nesta formação, em detrimento das con-
da afirmativa de Pedro Demo (2004): cepções teóricas, dentre outros, já que o dualismo teoria
“O mínimo que se exige é que cada professor elabo- e prática vêm sendo trabalhados e até mesmo discutidos
re com mão própria a matéria que ministra, tal elaboração como ambivalentes “na prática a teoria é outra” e não co-
propende a ser uma síntese que poderá ser barata, se for valentes, como o são. No fundo o que deve haver é uma
reprodutiva, mas poderá ser criativa, se acolher tonalidade indissociabilidade entre teoria e prática e não uma super-
própria reconstrutiva.” valorização de uma em detrimento da outra, pois será a
Para tanto, faz-se mister conhecer e analisar como os atividade teórica que irá possibilitar de maneira indisso-
cursos de formação inicial e, sobretudo, continuada vêm ciável o estudo, conhecimento e intervenção da realidade,
contribuindo, ou prejudicando, para a constituição do pro- além da constituição de objetivos para sua transformação.
fissional detentor dos elementos necessários ao educador Sendo que esta transformação somente irá se constituir na
que a sociedade tecnológica vem exigindo, apontando prática. Assim,
perspectivas e possibilidades de mudança através da for- Se teoria não muda o mundo, só pode contribuir para
mação em serviço que deverá possibilitar um intercâmbio transformá-lo. Ou seja, a condição de possibilidade - ne-
contínuo e significativo entre a teoria e a prática, além de cessária, embora não suficiente – para transitar consciente-
uma reflexão constante sobre o seu fazer pedagógico. Pois mente da teoria à prática e, portanto, para que a primeira
como propõe Pimenta (2005, 19) ao sintetizar Donald Shön (teoria) cumpra uma função prática, é que seja propria-
que: mente uma atividade teórica, na qual os ingredientes cog-
“A formação não mais se dê nos moldes de um currí- noscitivos e teleológicos sejam intimamente, mutuamente
culo normativo que primeiro apresenta a ciência, depois a considerados (Vasquez, 1968)
sua aplicação e por último um estágio que supõe a aplica- Cabendo aqui a análise de como a unidade teoria e
ção pelos alunos dos conhecimentos técnicos profissionais. prática vêm ocorrendo nos cursos de formação em servi-
O professor assim formado, conforme a análise de Shön, ço. Sendo comum encontrar dois modelos de formação em
não consegue dar respostas às situações que emergem no serviço destinada aos docentes representados pelos cursos
dia-a-dia profissional, porque estas ultrapassam os conhe- de curta duração e aqueles de médio e longo prazo, em
cimentos elaborados pela ciência e as respostas técnicas comum os dois modelos têm a reclamação dos profes-
que poderiam oferecer ainda não estão formuladas.” sores de que surgem a partir de decisões de gabinete de
seus gestores e não das necessidades reais vivenciadas por
As perspectivas e vicissitudes da formação em serviço na eles. Por outro lado, os gestores reclamam de que apesar
constituição do profissional da educação de participar de tais cursos a prática dos professores não
muda.
As críticas dirigidas às mazelas que assolam o sistema Se realizadas nestes moldes, tal formação só trará vi-
educacional, estão em sua maioria, destinadas à ineficiên- cissitudes, apesar de que para o professor levantar críticas
cia da atuação dos docentes. Assim, a formação dos profis- construtivas e relevantes sobre o curso que participou é
103
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
necessário um exercício de reflexão sistematizado e obje- atualização dos docentes, já que são duas questões cruciais
tivo sobre suas reais necessidades, pois é mais comum os que aqui se apresentam como elementos explícitos nessa
professores participarem destes cursos passivamente, de- discussão: a má formação dos professores e a necessida-
sacreditando dos seus resultados, mas aceitando seus mol- de de estar em uma constante variabilidade de inserção
des por estar neles internalizados a ideia de que é assim de competências para um melhor reconhecimento do pú-
mesmo que funciona, tornando este docente apenas um blico discente, tendo em vista a heterogeneidade inserida
consumidor passivo de cursos. no contexto educacional, inviabilizando qualquer forma de
Este panorama justifica o que vem ocorrendo atual- conservação e inércia dos atores envolvidos no processo.
mente no cenário brasileiro de formação de professores, Já que de acordo com Demo (2004, 63): “Talvez se deva
pois aos docentes e às instituições fica o que Bottega reconhecer que a profissão de professor é a que mais sofre
(2000) chama de “ilusão de formação”, uma vez que estan- com o risco de desatualização, o que ocorre, por exemplo,
do os processos de formação atrelada à questão política, com os professores que vivem só dando aula.”
esta constitui-se mais por sua validade quantitativa do que
pelos resultados obtidos. Considerando que as concepções A formação de professores em serviço deve, sobretu-
advindas da formação em serviço, em grande parte, não do, possibilitar a formação de um profissional da educação
chegam a ser consolidadas, já que os professores partici- que reúna as competências de um docente que, entre ou-
pam destes cursos buscando respostas práticas, rápidas e tros, elabore seus conceitos e execute-os, que identifica um
prontas. Exigem do formador um “saber-fazer”, estando problema e solucione-o. Tal profissional não conhece todas
para eles neste quesito todo o sucesso do curso, cabendo as soluções pois irá construí-las à medida que os proble-
aqui a análise da questão de que se o objetivo de tais cur- mas forem surgindo. Este docente deverá trazer em seu
sos for apenas a prática, então estes estarão mais caracteri- bojo alguns elementos constituidores do profissional da
zados por um treinamento, como afirma Bottega (2000) do sociedade tecnológica que são principalmente:
que por uma formação. 1. Dominar as teorias subjacentes à sua práxis, conse-
Isso porque aos professores é mais fácil assimilar as guindo realizar a unidade teoria e prática, compreendendo
teorias que resolvem o seu problema prático e imediato de
que uma fundamenta e orienta a outra. Pois só o profissio-
sala de aula. Libâneo (2005, 67) destaca que: “Muitos pro-
nal que compreende a epistemologia da prática e transfor-
fessores aderem às teorias que conferem sentido ao seu
ma conhecimento em competência, conferindo à reflexão
modo usual de agir na sala de aula, não as teorias que lhe
de sua práxis uma construção teórico-prática, será capaz
são trazidas de fora”.
de tornar-se um intelectual crítico que elabora e executa os
Pois de acordo com Contreras (2002) os professores
seus próprios recursos práticos e teóricos embasados pela
tendem a limitar o seu universo profissional imediato à sala
de aula e tudo que a ela se condiciona. Desse modo as reflexividade. Neste sentindo cita-se Pimenta (2005):
concepções técnico-instrumentais sobre o seu fazer peda- “O saber docente não é formado apenas da prática,
gógico acabam ganhando mais sentido. Já que para Demo sendo também nutrido pelas teorias da educação. Dessa
(2004, 39) o professor: “Induz a enclausurar-se em ativi- forma, a teoria tem importância fundamental na formação
dades pequenas e apequenantes como simplesmente dar dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de
aulas. Agarra-se, por isso, à aula, que é na prática seu palco vista para uma ação contextualizada, oferecendo perspec-
e sua chance”. tiva de análise para que os professores compreendam os
Não que a prática, a priori, não seja importante nos contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de
cursos de formação em serviço, mas esta deverá estar atre- si próprios como profissionais.”
lada à análise das teorias, a fim de capacitar este docente 2. Tornar-se um profissional crítico reflexivo, que tenha
de subsídios para encontrar respostas necessárias aos de- as teorias embasando o seu refletir pedagógico, concor-
safios que enfrentará, pois a teoria levará a uma prática dando com a afirmativa de Giroux (1990) de que somen-
reflexiva, contudo pouco ajudará dotá-lo de concepções te a simples reflexão sobre o trabalho docente de sala de
técnico-instrumentais se o mesmo não possui as concep- aula não é o bastante para uma compreensão teórica dos
ções teóricas que irão nortear, fundamentar e sistematizar elementos que constituem a prática profissional, neste
a sua reflexão sobre a sua práxis pedagógica. sentido para além de uma reflexividade cognitiva, se faz
Advinda de tal concepção encontra-se a afirmação de necessário também uma reflexividade hermenêutica da ex-
Paulo Freire (2006): periência docente, já que saber pensar não é uma tarefa
“Por isso é que, na formação permanente dos profes- simples, pois exige, além de outros, uma apropriação teóri-
sores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre ca da realidade levando a uma reflexão crítica sobre o seu
a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de saber-fazer, o que resulta em saber pensar sobre o próprio
ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio pensar Giroux (2005). Como afirma Perrenoud (2002, 13):
discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de “Todos nós refletimos na ação e sobre a ação, e nem por
tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O isso nos tornamos profissionais reflexivos. É preciso esta-
seu “distanciamento” epistemológico da prática enquanto belecer a distinção entre a postura reflexiva do profissional
objeto de sua análise, deve dela “aproximá-lo” ao máximo.” e a reflexão episódica de todos nós sobre o que fazemos.”
A formação em serviço além da responsabilidade de Nestes termos o saber analisar (Altet, 2001) é uma con-
possibilitar “corrigir” as deficiências recorrentes dos cur- dição necessária da prática reflexiva, que exige de seu in-
sos de formação inicial, ainda deve propiciar a constante terlocutor uma postura específica. Pois uma prática reflexi-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
De acordo com Demo (1995), pesquisar significa “que- Ainda falando sobre a importância da pesquisa de
rer saber, buscar avançar no conhecimento resultados sem campo, lembramos das palavras de Gil (2002) [...] o estu-
cair na armadilha de oferecer resultados que já não per- do de campo focaliza uma comunidade, que não é neces-
mitam mais ser duvidados, questionados ou precisamente sariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade
pesquisados. Ensinar e pesquisar são verbos que indicam de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para qualquer
ações que se diferem distintamente, mas que podem e de- outra atividade humana. [...] a pesquisa é desenvolvida por
vem estar interligadas, pois proporcionará ao aluno uma meio da observação direta das atividades do grupo estu-
visão de mundo mais amplo e crítico”. dado e de entrevistas com informantes para captar suas
Há vários tipos de pesquisa. Aqui relataremos apenas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. [...]
as mais utilizadas como: Pesquisa teórica que abordará as exige do pesquisador que permaneça o maior tempo pos-
Pesquisas Bibliográficas, e Pesquisa Documental; e Pesqui- sível na comunidade, pois somente com essa imersão na
sas práticas, como Pesquisa Ação, Pesquisa de Campo. realidade é que se podem entender as regras, os costumes
e as conversões que regem o grupo estudado.
Pesquisas Teóricas
Para Gil (2002), no estudo de campo investiga-se um
Segundo Marconi e Lakatos (1999), pesquisas teóri- grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social.
cas são realizadas levando em conta o material já tornado No estudo de campo o pesquisador realiza pessoalmente
público em relação ao estudo, desde publicações avulsas, o trabalho em campo, pois é ressaltada a importância do
boletins jornais, revistas livros, teses, monografias, mate- contato com a situação em estudo.
rial cartográfico. Além disso, existem as Bibliotecas virtuais. Já a Pesquisa-ação significa planejar, observar, agir e
Este tipo de pesquisa tem por finalidade colocar em con- refletir de maneira mais consciente, mais sistemática e mais
tato direto o pesquisador com tudo que foi escrito sobre rigorosa em relação ao que fazemos na nossa experiência
o tema, onde poderá selecionar o material mais adequado diária Santos (2004). Franco (2005), entende pesquisa-ação
a ser utilizado. como conceito que se inicia com trabalhos de Kurt Luwin
em 1946, (tendo como plano de fundo o pós-guerra) os
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside
quais, realizam atividades que foram desenvolvidas com a
no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma
finalidade de proporcionar mudanças de hábito alimenta-
gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que
res e atitudes racistas frente a grupos étnicos minoritários.
poderia pesquisar diretamente. [...] A pesquisa bibliografia
Suas pesquisas caminham paralelamente a seus estudos
também é indispensável nos estudos históricos. E em mui-
sobre as atividades realizadas com os grupos. Portanto se
tas situações, não há outra maneira de conhecer fatos pas-
alguém opta por trabalhar com este tipo de pesquisa deve
sados se não com base em dados bibliográficos (GIL, 2002).
compreender que a pesquisa e a ação devem caminhar
Segundo Mezzaroba (2003), a Pesquisa Bibliográfica paralelamente para que consiga transformação na prática,
não consiste em mera repetição do que já está escrito ou esta investigação é definida como:
dito sobre o tema, mas oportunizar um estudo sobre o [...] um tipo de pesquisa com base empírica que é con-
assunto partindo de outro olhar, chegando a conclusões cebida e realizada em estreita associação de uma ação ou
inovadoras. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com solução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores
base em material já elaborado, constituído principalmente e participantes representativos da situação ou do problema
de livros e artigos científicos. estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Já a Pesquisa Documental é semelhante à pesquisa bi- Como o próprio nome diz, a pesquisa-ação visa pro-
bliográfica, mas diferem-se na natureza das fontes. A pes- duzir mudanças (ação) e compreensão (pesquisa). Os seus
quisa documental utiliza-se de materiais que não recebem principais objetivos são: melhorar a prática dos participan-
ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser tes; assegurar a organização democrática da ação; propi-
reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa; os ciar compromisso dos participantes com a mudança.
materiais utilizados são aqueles que são conservados em Santos (2004) relata, que o trabalho docente exige
arquivos públicos, instituições, privadas, igrejas, cartas pes- questionamento e busca de soluções criativas para os pro-
soais, fotos, gravações, memorandos, ofícios e boletins. blemas levantados. A pesquisa como prática social que
busca produzir informação, apresenta algumas caracterís-
Pesquisas Práticas ticas próprias, ela acontece em um tempo e espaço tem
uma dimensão histórica, relaciona-se com outras práticas
A Pesquisa de Campo é aquela utilizada para conse- sociais, não é neutra, pois sempre é influenciada pelo pres-
guir informações e conhecimentos sobre um problema, a suposto teórico-metodológico.
qual se procura uma proposta ou hipótese que se queira
comprovar. A PESQUISA NA FORMAÇÃO E AÇÃO DOCENTE
A pesquisa prática tem como característica essencial
sua experimentalidade, ainda que não dispense um míni- A pesquisa na Formação Docente
mo de referenciais teóricos para organizar sua execução e
interpretação dos dados. Portanto, experimental não signi- Segundo Perrenoud (apud SANTOS, 2004), a pesquisa
fica só pesquisa de laboratório, pode também ser pesquisa é importante como meio de preparação para a formação
de campo. de futuros professores pesquisadores, pois apontam à
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
possibilidade da renovação deste grupo dando assim um banalizarmos o papel da pesquisa na formação docente,
novo olhar para os problemas já existentes, mas é impor- pois “[...] o que serve para tudo acaba não servindo para
tante que os alunos ainda na academia comecem a fazer nada [...]”.
pesquisa e não fiquem limitados a tarefas rotineiras e de- Esta reflexão de André (2004), relembra a posição de
codificação de dados. Demo (2003), frente à importância de estarmos atentos a
Ludke (2009), comenta que na década de 1970, Ste- diversidade de pesquisas e seus reais propósitos uma vez
nhouse lançou imagem de professor pesquisador onde a que a pesquisa pode ser utilizada sobre diversos olhares e
ideia que a sala de aula é um laboratório e cada professor é oferecida como meio de manusear, a favor massa domi-
um membro da comunidade científica, em que cada mes- nante, que manipula e apresenta ao povo somente o que
tre procura encontrar os melhores meios e as formas mais deseja que eles saibam.
adequadas para utilizar as estratégias de ensino. De acordo com André, há um consenso literal que pes-
É também pela pesquisa que se torna um profissional quisa é elemento essencial para a formação profissional do
reflexivo, mas é preciso deixar bem claro as diferenças das professor, mas questões tem se formado para a inserção
denominações entre professor pesquisador e professor re- da pesquisa na prática docente: Qual condição tem um
flexivo. O primeiro problematiza situações, pesquisa e in- educador para realizar as pesquisas? Quais pesquisas são
vestiga soluções para os problemas da educação; o outro realizadas?
reflete a sua prática pedagógica, e procura novas soluções. Santos (2004), chama atenção para o teor a ser pesqui-
Suas nomenclaturas diferem um pouco, porém um não sado, pois não é qualquer pesquisa que contribui para a for-
precisa caminhar separado, ambos são importantes pela mação docente, os temas relevantes a serem pesquisados
observação e por refletir o que é possível e necessário fa- devem estar voltados à prática pedagógica, ou questões
zer. (LUDKE, 2004). que remetem ao ensino/ aprendizagem. É inquestionável a
Para Nóvoa (2001), os nomes se diferem, mas ambos importância da formação teórica para o pesquisador onde
realizam o mesmo processo analítico reflexivo da realidade a teoria fornece elementos, para questionar e interpretar
educacional. O professor pesquisador e o professor refle- dados bem, como os dados que envolvem a pesquisa.
xivo, no fundo, correspondem a correntes (conceitos) di- Ludke (2009), também questiona se aos temas que os
ferentes para dizer a mesma coisa. São nomes distintos, professores costumam pesquisar tem uma clara relação
maneiras diferentes dos teóricos da literatura pedagógica
entre a formação, pós-graduação e a sua prática. Os pro-
abordarem uma mesma realidade.
fessores demonstram nitidamente esta disposição em pro-
No Brasil, segundo Ludke (2001), Demo é o maior de-
postas de pesquisas. Os que cursam ou já cursaram uma
fensor do caráter formador da pesquisa, acreditando que é
graduação em torno de temas educacionais, demonstram
com a análise de dados que se procura saber os porquês,
a disponibilidade de estarem mais próximos do discurso
que se estimula o desenvolvimento do conhecimento dos
de pensar a prática docente. As pesquisas realizadas pe-
alunos, para conhecer o novo ou recriar o velho.
los educadores relacionam-se em sua maioria a atividades
O contato pedagógico entre professor e aluno que
direcionadas ao cotidiano escolar, mas por vezes, resulta
propõe e orienta uma pesquisa, vai além da relação daque-
le que ensina e alguém que apenas recebe o conhecimen- em materiais escolares apostilas, eventos, como palestras
to pronto; sobressai então um processo de aprendizagem entre outros.
mútua onde ambos trabalham juntos, onde questionam, Para Ludke (2009), professores declaram que a escola
reconstroem um conhecimento formal e político. O sujeito básica e a academia deviam ter mais trocas de informação
alarga seus horizontes políticos questionadores, e passa a e diminuir o distanciamento, entre elas e ambas contribui-
ser capaz de elaborar alternativas históricas. [...] “Questio- riam como suporte para professor, e as trocas interdiscipli-
nar é tudo sobre postura política que se torna mais sólida, nares entre as áreas do conhecimento.
quanto mais se funda no instrumento mais potente de ino-
vação, que é o conhecimento”. A Pesquisa na Ação Docente
Para Demo (2005), os educadores precisam sair da po-
sição de professor que reproduz à cópia. A característica Veiga (2009), comenta que a ideia da pesquisa como
emancipatória da educação exige pesquisa como método recurso didático está baseado em atitudes analíticas, refle-
formativo, pela razão principal que apenas um lugar de su- xivas, questionadoras e problematizadoras. Antes da apre-
jeitos gera sujeitos, onde pesquisa e educação são proces- sentação da pesquisa como atividades escolares, existe a
sos coincidentes, pois para o autor, o aluno não vai à escola necessidade a apresentação prévia de como e quais são os
para assistir aula, mas sim para pesquisar, daí a tarefa cru- passos que devem seguir.
cial de ser parceiro no trabalho e não apenas ouvinte. Veiga, (2009), chama a atenção para duas premissas:
André (2004), comenta que a formação de um educa- primeiro o aluno aprende, não o fazem como se nada sou-
dor em professor pesquisador, acaba tendo um conceito bessem, eles partem de um conhecimento já adquirido
tão aberto que leva a muitas interpretações. Alguns acredi- para construção de novos. Segundo, eles aprendem a lidar
tam que é levar os graduandos a realizar trabalhos práticos com situações problemas gerados pelo mediador que os
como coletas e análise de dados; já outros para atividades coloca diante de novos conhecimentos, uma vez que ao
de estágios que envolvam projetos na escola. Mas por exis- aprender a aprender eles passam a ser protagonistas e me-
tirem diferentes conceitos é preciso estar atentos para não lhoram o rendimento.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
- Uma dimensão estética, que diz respeito à presença contrário de igualdade não é diferença – é desigualdade.
da sensibilidade na relação pedagógica e sua orientação Na aula, estabelecemos relações. Somos sujeitos em inte-
numa perspectiva criadora; ração. É necessário que estejamos atentos às implicações
- Uma dimensão política, que diz respeito à participa- dessa interação, desse corpo-a-corpo.
ção na construção coletiva da sociedade e ao exercício de Em outro trabalho (Rios, 2001), propus uma reflexão
direitos e deveres (Rios, 2001). sobre as ideias de corpo docente e corpo discente. Um ver-
A dimensão técnica tem seu significado empobrecido so de Eduardo Galeano, no qual ele afirma que o corpo “é
quando é considerada desvinculada de outras dimensões. uma festa”, levou-me a interrogar: “Que festa é a que pro-
É assim que se cria uma visão tecnicista, na qual se super- move o corpo docente?” Não deixei de considerar as con-
valoriza a técnica, ignorando sua inserção num contexto dições precárias do trabalho dos professores, que limitam e
social e político e atribuindo-lhe um caráter de neutralida- muitas vezes impedem a presença dos aspectos caracterís-
de, impossível justamente por causa daquela inserção. Te- ticos da festa: divertimento, animação, alegria, celebração.
chne significava, em sua origem, arte. A técnica reporta, as- E não me esqueci também da seriedade e do rigor, obri-
sim, à realização de uma ação, a uma forma de fazer algo, a gatórios no processo de fazer aula. O que conduziu minha
um ofício. Na sua atividade profissional, alguém faz alguma reflexão foi a ideia de vida, associada à de corpo e, mais
coisa – aí se requer ou se demonstra alguma habilidade. que isso, a de vida boa, associada à de ética.
O gesto de fazer guarda sensibilidade. Os gregos usa- No domínio da moral, a pergunta predominante é: O
vam o termo aesthesis para indicar exatamente a percep- que devemos fazer? No da ética, a questão é: Que vida
ção sensível da realidade. A sensibilidade é um elemento queremos viver? Essa segunda questão nos leva a indagar
constituinte do trabalho pedagógico; é algo que vai além se estamos, com nosso trabalho, criando condições para
do sensorial e que diz respeito a uma ordenação das sen- a construção de uma vida digna e feliz; se as aulas que
sações, uma apreensão consciente da realidade, ligada es- estamos fazendo constituem espaços de liberdade e au-
treitamente à intelectualidade (Ostrower, 1986). tonomia, de ampliação de saber e de sentir, de instalação
O trabalho pedagógico se realiza num espaço e tempo de diálogo.
político, no qual transita o poder, configuram-se acordos, No diálogo, leva-se em conta a alteridade. É ela que
estabelecem-se hierarquias, assumem–se compromissos. fundamenta a autoridade. A autoridade, que é exercício de
Daí sua articulação com a moral – e a necessidade de sua poder nas relações sociais, ganha seu sentido na articula-
articulação com a ética. Falar numa dimensão ética da do- ção com a alteridade, o reconhecimento do outro.
cência, mais particularmente da aula, é, portanto, pensar Falamos em autoridade do professor referindo-nos a
na necessidade da presença dos princípios éticos na sua algo ganho no reconhecimento concreto da especificidade
construção – no seu planejamento, no desenvolvimento do seu papel. Muitas vezes o sentido de autoridade encon-
do processo, na revisão e no reencaminhamento do traba- tra-se desgastado na instituição escolar. O que constata-
lho. Ampliar o conhecimento é uma exigência ética, assim mos, na verdade, é, por um lado, um certo esquecimento
como o é respeitar o outro, reconhecendo-o como dife- da autoridade, um desprezo, uma negação, como se ela,
rente e igual. por causa da referência ao exercício do poder, estivesse
Para pensar na estreita relação dos aspectos compo- necessariamente ligada a uma forma de que o poder mui-
nentes do trabalho docente, recorro a uma pergunta que é tas vezes se reveste, que é a dominação. E, por outro, um
feita por um amigo e colega, o professor Douglas Santos: o abuso da autoridade, entendida como exercício unilateral
que ensinamos quando ensinamos uma determinada dis- de poder.
ciplina? “O que realmente ensinamos quando procuramos A interpretação inadequada do conceito de autorida-
explicar cada um dos temas que dão identidade às nossas de decorre de uma interpretação inadequada do próprio
disciplinas e às nossas aulas?” (Santos, 2004). conceito de política. Devemos lembrar, como afirma No-
A resposta é: não ensinamos apenas aquelas disci- gueira (2001), que a política é acima de tudo, aposta na
plinas. Segundo Santos, “ensinar conteúdos ultrapassa participação política: disposição para interferir no rumo das
os limites aparentes de nosso discurso e das afirmações coisas, ser sujeito ativo dos processos que dizem respeito
que nele estão contidas”. Isso quer dizer que, ao ensinar a todos e a todos comprometem. Em seus estágios mais
qualquer disciplina, criamos possibilidades de o educan- avançados, é aposta na participação democrática, dedicada
do desenvolver a capacidade de dominar as estruturas que a refundar o poder, a transformá-lo em algo mais acessível,
são usadas para construir o pensar e, além disso, possibili- menos ameaçador, mais compartilhado.
dades de desenvolver a capacidade de agir e sistematizar É preciso rejeitar, sim, o poder que se apresenta em
sua ação. Mais ainda: não é apenas um amplo conjunto de todas as formas de autoritarismo. A autoridade é funda-
habilidades que se desenvolve, mas também se configuram mental para o exercício de um poder democrático tanto
atitudes em relação à realidade e à convivência social. A na escola, quanto nas demais instituições sociais. É com
atitude do professor ensina. O gesto do professor fala. autoridade, e na alteridade, que se constrói a liberdade,
condição para a cidadania, no cotidiano das relações. “São
O gesto que fala e ensina os mestres exigentes que frequentemente nos levam a não
confiar nos caminhos de rosas”, afirma Ryle. Reconhecendo
O trabalho educativo constitui-se numa relação in- a autoridade e o rigor, que não deve ser confundido com
tersubjetiva, na qual está presente a diferença e em que a rigidez, com a inflexibilidade, o aluno tende a rejeitar o
se procura instalar a igualdade. Do ponto de vista ético, o “laissez-faire”, a negligência, o descompromisso:
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
[...] os alunos não apontam como melhores professores humanos, que vivem socialmente. Por isso, ela se revela em
os chamados “bonzinhos”. Ao contrário. O aluno valoriza o situações concretas, que apresentam limites e possibilida-
professor que é exigente, que cobra participação e tarefas. des. Nós somos tanto mais livres quanto mais ampliamos
Ele percebe que esta é também uma forma de interesse se as possibilidades e reduzimos os limites.
articulada com a prática cotidiana da sala de aula. (Cunha, Não somos livres isoladamente. A liberdade e a auto-
1992) nomia de professores e alunos são construídas na relação,
O gesto do professor ensina. A atitude autoritária en- na reciprocidade. E articula-se sempre com a responsabili-
sina a desprezar o outro, a desconsiderar os direitos. De dade. Os princípios éticos, mais uma vez, são a referência
nada vale um discurso que pretende ensinar que “é im- para essa construção.
portante respeitar as diferenças”, quando o gesto ensina a Resta pensar na exigência ética da presença da alegria
desrespeitá-las. no trabalho. A alegria não tem contraindicação – ela é o se-
Barthes nos lembra que ensinar (...) não constitui uma gredo da ética, diz Savater. Aponta-se aqui mais uma ideia
atividade que seja, por direito, pura de qualquer poder: sempre presente em meu trabalho: no exercício da reflexão
o poder aí está, emboscado em todo e qualquer discur- crítica, necessária no trabalho docente, é preciso criar lugar
so, mesmo quando esta parte de um lugar fora do poder. para a alegria, para o riso.
Assim, quanto mais livre for esse ensino, tanto mais será Quando dizemos que um discurso é feito em “tom
necessário indagar-se sob que condições e segundo que professoral”, o que se anuncia? Uma forma categórica e
operações o discurso pode despojar-se de todo desejo de dogmática de apresentar as ideias, um jeito de quem é
agarrar. senhor da verdade. “O tom professoral é uma mistura de
Barthes faz referência à presença da liberdade no en- austeridade e dogmatismo. (...) Talvez tivéssemos de dei-
sino. Que lugar têm a liberdade e a autonomia no trabalho xar de ser professores para poder aprender a formular um
docente? Essa é uma questão importante, na medida em pensamento em cujo interior ressoe, desembaraçadamen-
que a construção da cidadania, que se pretende na escola, te, o riso”, afirma Larrosa. Penso que não há necessidade
implica necessariamente a autonomia. Não há possibilida- de deixar de ser professores: o que devemos é criar em
de de a ação do docente contribuir para a afirmação da nossa aula espaço para a presença do riso, para acolhê-lo e
autonomia do aluno se essa ação não é, ela mesma, autô- promovê-lo. E o riso de que aqui se fala não deve ser con-
noma. fundido com esse riso que está à margem do sério, bem
A autonomia é a situação na qual agimos levando em situado nos espaços delimitados do ócio e do entreteni-
consideração regras das quais fomos os criadores ou que, mento; com esse riso que se coloca no espaço trivializado
mesmo encontrando-as prontas na sociedade, as avalia- e delimitado do lúdico e que é inofensivo porque não se
mos como significativas e as incorporamos ou internaliza- mistura com o sério, porque se mantém sempre num lugar
mos em nossas ações. Ao contrário de uma situação de marginal, como uma espécie de intermediário festivo, de
heteronomia, na qual a ação obedece a regras impostas válvula de escape, num exterior à norma da seriedade, que
externamente e aceitas passivamente e se realiza levan- não faz outra coisa senão confirmar a seriedade normativa.
do-se em conta a punição ou recompensa que se terá, na Tampouco devemos confundi-lo, nos diz Larrosa, com um
situação de autonomia, os indivíduos não deixam de levar riso que “é um mecanismo de defesa contra o sério”. Com
em conta para sua conduta regras ou normas, mas o fazem Larrosa, digo que “o riso que me interessa aqui é aquele
de acordo com princípios sobre os quais refletem e que que é um componente dialógico do pensamento sério” e
orientam seu agir. que parece “proibido, ou pelo menos bastante ignorado,
A autonomia é sempre relativa, isto é, se dá em relação no campo pedagógico”. Estou pensando num velho ditado
com os outros e, portanto, é inadequado confundi-la com que ouvi muitas vezes na escola, enquanto aluna: “Muito
independência ou com ausência de responsabilidade. riso é sinal de pouco siso!”. Para ser sério, o professor tinha
Autonomia significa que somos responsáveis por nos- que ser sisudo... No meu caminho de professora, nas aulas,
sas ações, já que elas decorrem de nós mesmos; e devemos fui aprendendo que “cara fechada” não é sinônimo de se-
sempre supor que poderíamos ter agido de outro modo. riedade e que o respeito e a justiça se revelam também – e
Relativa significa que a situação social concreta e os diver- tantas vezes! – no bom humor e na descontração. Cunha
sos sistemas normativos definem os limites no interior dos (1992) confirma: “Percebi (...) que rir juntos torna as pessoas
quais podemos interpretar e realizar determinados valores. mais próximas. É este um dos fenômenos que, ao ter lugar
Autonomia implica liberdade. E a liberdade tem senti- entre o professor e o aluno, contribui para desmistificar as
do quando se associa à ideia de movimento, de mobiliza- relações autoritárias”.
ção. Estar livre de algo é apenas parte da especificidade da
liberdade. Ela ganha sua significação plena quando pode- O trabalho de boa qualidade faz bem
mos afirmar que estamos livres para algo, quando pode-
mos mobilizar nossa ação na direção de algo A ética é uma dimensão fundante do trabalho com-
Encontramos, muitas vezes, a afirmação de que não petente, do que chamamos de bom trabalho, trabalho de
temos verdadeiramente liberdade, uma vez que na convi- boa qualidade. O bom trabalho é um trabalho que faz bem,
vência social estamos sujeitos a uma porção de pressões, isto é, que fazemos bem, de uma perspectiva técnica e po-
de limites. É necessário pensar, entretanto, que não há li- lítica, e que faz bem para nós e para aqueles com os quais
berdade sem limites. A liberdade é uma condição dos seres trabalhamos, do ponto de vista estético e, principalmente,
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
ético. Fazemos bem quando ensinamos o que é necessá- um auxiliar precioso no enfrentamento do desafio enorme
rio ensinar, quando temos consciência do significado de de descobrir qual é o desejo de ouvir, que se guarda nos
nosso ensinamento no contexto social, quando procura- alunos, para construir um jeito de dizer que tenha resso-
mos conhecer aqueles com quem estamos envolvidos no nância. É bonito quando se pode dizer do professor, como
processo, quando procuramos promover a construção da faz Leyla Perrone-Moisés a respeito de Barthes, que “seu
cidadania. Também essa é uma tese que venho procurando jeito de dizer corresponde a um desejo de ouvir”.
partilhar, no meu caminho de professora. Avisei que iria me permitir abusar de citações... e pro-
Que não se confunda fazer bem com fazer o bem. curei justificar. Mas não preciso justificar a longa citação
É preciso levar em conta que os valores têm um caráter que se segue – ela fala por si, quando se trata de pensar no
histórico e que a referência a um bem absoluto não en- que nós fazemos com eles e no que eles fazem conosco! A
contra lugar num contexto em movimento, sempre sujei- voz é de Francisco Marques, o Chico dos Bonecos:
to a transformações. Fazer bem implica ter no horizonte a
construção do bem comum, que se mostra sempre como Olhos de Ouvinte
um ideal – algo que se deseja e que é necessário e cuja
possibilidade pode ser descoberta ou inventada no real, na Certa vez, uma professora revelou o seguinte segredo...
existência concreta dos indivíduos e dos grupos em suas Da minha época de escola? Ah...
inter-relações. A grande lembrança da minha época de escola são os
Realizar um trabalho que faz bem é o desafio que se olhos da minha professora quando lia uma história para a
coloca a cada instante para nós quando tomamos cons- turma.
ciência do que podemos fazer ao fazermos aulas, que não Os seus olhos transitavam das páginas do livro para a
se resumem ao evento medido em minutos numa sala, turma, da turma para as páginas do livro, num passeio sua-
num laboratório, numa biblioteca. A aula não começa nem ve, quase um bailado. Do livro para a turma, da turma para
termina ali – enquanto acontecimento pedagógico, ela tem o livro, sem que a leitura sofresse qualquer tropeço. Suave
uma duração que ultrapassa o lugar geográfico e se instau- bailado, das páginas do livro para a turma, da turma para
ra num espaço temporalizado pelo gesto cultural. Novaski as páginas do livro...
(1986) nos traz a pergunta: “Para que serve uma sala de E eu torcia para que os seus olhos de leitora esbarrassem
aula se não for capaz de nos transportar além da sala de nos meus olhos de ouvinte - e eles sempre se esbarravam, e
aula?”. até demoravam uns nos outros.
Vale insistir: “Para que serve a aula se não for capaz de Cheguei a imaginar, na minha imaginação de menina,
nos transportar além da sala de aula?”. A aula transborda que a história também estava escrita nos nossos olhos. Era
o lugar. E ainda que se pense em termos de lugar, é pre- como se a história estivesse sendo lida, alternadamente, no
ciso lembrar que o fato de ocuparmos uma sala de aula livro e nos ouvintes.
não significa automaticamente que a “habitamos”. Quando Cheguei a imaginar, na minha imaginação de menina,
alguém apenas “ocupa” um espaço, trata-se de uma estru- que as páginas do livro eram os ouvintes da história que a
tura já existente: móveis, rotinas, tudo está lá e nos espera. professora lia nos nossos olhos. Isso mesmo: o livro era o ou-
[...] “Habitar” a sala de aula significa formar esse espaço de vinte da história que a professora lia na gente. Nós éramos
acordo com gostos, opções, margens de manobra; consi- os livros, obras vivas, vivíssimas!
derar alternativas, eleger algumas e descartar outras. Ha- O tempo foi passando, passando...
bitar um espaço é, portanto, uma posição ativa. (É preciso, Aqueles sentimentos provocados pela professora-leitora
então,) ativar nossas forças no sentido de habitar o lugar me ligaram eternamente à palavra escrita, e me fizeram tra-
que apenas ocupamos. zer a leitura para esse território íntimo de nossas vidas, onde
Não há receitas prontas e definitivas para fazer bem só circula o que é essencial - como, por exemplo, a amizade.
a aula. São muitos e complexos os elementos nela envol-
vidos. É preciso que professores e alunos estejam sempre Para concluir, há que haver lugar para um esclareci-
abertos ao imprevisto e à renovação. Concordo com Larro- mento: a pessoa que me chamou de “auleira” era um pro-
sa, mais uma vez, quando ele afirma: fessor-pesquisador, que gostava mais de ser chamado de
Penso que o maior perigo para a Pedagogia de hoje pesquisador do que de professor. Havia em seu gesto uma
está na arrogância dos que sabem, na soberba dos pro- intenção de denunciar o empobrecimento do trabalho do
prietários de certezas, na boa consciência dos moralistas professor quando é reduzido à repetição, quando não há
de toda espécie, na tranquilidade dos que já sabem o que um esforço no sentido de ampliação sistemática do conhe-
dizer aí ou o que se deve fazer e na segurança dos especia- cimento, de investigação crítica da realidade, mas havia
listas em respostas e soluções. Penso, também, que agora também uma certa ideia equivocada de que o trabalho de
o urgente é recolocar as perguntas, reencontrar as dúvidas fazer a aula tem significado menor do que outras ativida-
e mobilizar as inquietudes. des do professor.
Criar lugar para as dúvidas, afastar a arrogância, mobi- Ora, atento ao significado de seu trabalho nas aulas,
lizar as inquietudes é atitude própria da filosofia, qualquer o professor procura ampliar seu saber nas atividades que
que seja a face com que ela se apresenta. A ética, enquanto estão estreitamente articuladas às aulas. Se sou professora,
reflexão que se dá no interior da filosofia, nos chama aten- pesquiso para ampliar meu saber, sim, mas também para
ção para essas exigências. O constante recurso à reflexão é ampliar a qualidade da partilha que faço desse saber com
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
os alunos. Mais ainda: para que esse nosso saber possa ser Pela atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
construtor de um mundo em que o direito de todos a to- nal (LDB/96), os vários sistemas de ensino terão liberdade
dos os saberes possa ser plenamente vivenciado. É isso que de organização, mas sempre nos termos da Lei.
desejo quando vou fazendo as aulas, quando vou aulando Quanto às competências, assim define a LDB vigente:
– descobrindo, redescobrindo, errando e acertando, rindo a) à União compete autorizar, reconhecer, credenciar,
e chorando, aprendendo, desaprendendo, reaprendendo, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das ins-
ensinando, “desensinando”, “reensinando”. tituições de ensino superior e os estabelecimentos do seu
sistema de ensino;
Referência b) aos Estados e ao Distrito Federal compete organizar,
RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar: por manter e desenvolver os órgãos de ensino, bem como: au-
uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001. torizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, res-
pectivamente, os cursos das instituições de educação básica
e superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
c) aos Municípios compete organizar, manter e desen-
5 ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA
volver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. ensino, bem como baixar normas complementares a au-
torizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do
seu sistema de ensino.
A Estrutura do Sistema de Ensino Brasileiro Cabe ressaltar que, os Municípios poderão optar por
integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele
Vejamos como as organizações formam a sua estrutura um sistema único de educação básica. Isso porque mais de
administrativa. Todas as instituições sociais são estabeleci- 5 mil Municípios brasileiros, cerca de 30%, ou mais, não têm
das para realizar os objetivos a elas propostos pela socieda- condições de organizar seu sistema de ensino por carência
de. Assim, para a sua própria sobrevivência, elas precisam de recursos humanos, materiais e, principalmente, finan-
estabelecer regulamentos específicos, a fim de desenvolver
ceiros. Outra recomendação importante é que determina
e orientar as atividades que se realizam no seu interior.
que os sistemas definirão normas da gestão democrática
Tais regulamentos e normas prescrevem atividades
do ensino público na educação básica, de acordo com as
como: distribuição de tarefas, exercícios da autoridade e
suas peculiaridades. Outro aspecto é o que se refere aos
responsabilidade, assim como a coordenação das diferen-
progressivos graus de autonomia pedagógica e adminis-
tes funções entre os diversos órgãos que compõem a refe-
trativa e de gestão financeira que os sistemas de ensino
rida instituição.
deverão assegurar aos estabelecimentos que os integram.
Este conjunto de normas e regulamentos que são san-
Mas, a LDB/96 estabeleceu, também, pela primeira vez,
cionados pela autoridade superior na forma de leis, decre-
tos, pareceres, portarias, resoluções e atos, entre outros, as competências dos estabelecimentos de ensino e dos do-
passa então a constituir, descrever e a dar forma à estrutura centes. No artigo 12, respeitadas as normas comuns e as
administrativa da organização. do seu sistema de ensino, os estabelecimentos de ensino
O sistema de educação escolar brasileiro, como ins- terão a incumbência de:
tituição social, tem de realizar objetivos que lhe são pro- “I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
postos pela sociedade. A educação básica, como parte II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais
integrante do sistema de ensino brasileiro, tem objetivos e financeiros;
específicos a cumprir em nossa sociedade atual. Ao estudar III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
a estrutura administrativa desse sistema, ou seja, o aspecto -aula estabelecidas;
formal estabelecido pela legislação, não podemos esque- IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho
cer da burocracia. Nesse sentido, a burocracia significa um de cada docente;
tipo hierárquico de organização formal. O sistema de ensi- V - prover meios para a recuperação dos alunos de
no brasileiro, conforme Constituição Federal de 1988, tem menor rendimento;
4 tipos de sistemas de ensino: da União, dos Estados, do VI - articular-se com as famílias e a comunidade, crian-
Distrito Federal e dos Municípios, que se organizarão em do processos de integração da sociedade com a escola;
regime de colaboração da seguinte forma: a União organi- VII - VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com
zará e financiará o sistema federal e, ainda, prestará assis- seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre
tência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre
e aos Municípios, para o desenvolvimento de seus sistemas a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação
de ensino e atendimento prioritário à escolaridade obriga- dada pela Lei nº 12.013, de 2009).
tória (ensino fundamental). Os docentes incumbir-se-ão de:
Os quatro tipos de sistemas de ensino no Brasil são: “I - participar da elaboração da proposta pedagógica
– federal (União); do estabelecimento do ensino;
– estaduais (Estados); II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
– distrital (Distrito Federal); proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
– municipais (Municípios). III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Como você pôde observar, a LDB estruturou a edu- cesso educativo, educadores e estudantes se defrontarem
cação nacional sob o modelo de sistemas. Ela definiu, em com a complexidade e a tensão em que se circunscreve
consonância com a Constituição Federal (art. 211), a orga- o processo no qual se dá a formação do humano em sua
nização do sistema educacional, indicando quais seriam as multidimensionalidade.
incumbências de cada um dos três sistemas de ensino. Na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus
Com a política de descentralização da educação, a tempos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é
União repassou aos Estados e aos Municípios muitas de um princípio orientador de toda a ação educativa. É res-
suas atribuições. A LDB regulamentou a criação de siste- ponsabilidade dos sistemas educativos responderem pela
mas, objetivando o estabelecimento de metas, a gestão de criação de condições para que crianças, adolescentes, jo-
recursos financeiros destinados à educação, a supervisão de vens e adultos, com sua diversidade (diferentes condições
suas unidades de ensino e seu padrão de qualidade, entre físicas, sensoriais e socioemocionais, origens, etnias, gêne-
outras necessidades, preconizando a existência de conse- ro, crenças, classes sociais, contexto sociocultural), tenham
lhos de educação em nível nacional, estadual e municipal. a oportunidade de receber a formação que corresponda à
idade própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao
Referência: Ensino Fundamental e ao Médio.
MEC. Escolas de Gestores http://escoladegestores.mec. Adicionalmente, na oferta de cada etapa pode corres-
gov.br/site/4-sala_politica_gestao_escolar/pdf/texto2_2. ponder uma ou mais das modalidades de ensino: Educa-
pdf ção Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do
Políticas Públicas e Organização da Educação Brasileira Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Profissional e
I. – Rio de Janeiro: UCB, 2006. Tecnológica, Educação a Distância, a educação nos estabe-
lecimentos penais e a educação quilombola.
Organização da Educação Básica Assim referenciadas, estas Diretrizes compreendem
orientações para a elaboração das diretrizes específicas
Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica, para cada etapa e modalidade da Educação Básica, tendo
em seus diferentes ciclos de desenvolvimento, são ativos, como centro e motivação os que justificam a existência da
social e culturalmente, porque aprendem e interagem; são instituição escolar: os estudantes em desenvolvimento. Re-
cidadãos de direito e deveres em construção; copartícipes conhecidos como sujeitos do processo de aprendizagens,
do processo de produção de cultura, ciência, esporte e arte, têm sua identidade cultural e humana respeitada, desen-
compartilhando saberes, ao longo de seu desenvolvimento volvida nas suas relações com os demais que compõem o
físico, cognitivo, socioafetivo, emocional, tanto do ponto de coletivo da unidade escolar, em elo com outras unidades
vista ético, quanto político e estético, na sua relação com escolares e com a sociedade, na perspectiva da inclusão
a escola, com a família e com a sociedade em movimento. social exercitada em compromisso com a equidade e a
Ao se identificarem esses sujeitos, é importante considerar qualidade. É nesse sentido que se deve pensar e conceber
os dizeres de Narodowski (1998). Ele entende, apropriada- o projeto político-pedagógico, a relação com a família, o
mente, que a escola convive hoje com estudantes de uma Estado, a escola e tudo o que é nela realizado. Sem isso, é
infância, de uma juventude (des) realizada, que estão nas difícil consolidar políticas que efetivem o processo de inte-
ruas, em situação de risco e exploração, e aqueles de uma gração entre as etapas e modalidades da Educação Básica
infância e juventude (hiper) realizada com pleno domínio e garanta ao estudante o acesso, a inclusão, a permanên-
tecnológico da internet, do orkut, dos chats. Não há mais cia, o sucesso e a conclusão de etapa, e a continuidade de
como tratar: os estudantes como se fossem homogêneos, seus estudos. Diante desse entendimento, a aprovação das
submissos, sem voz; os pais e a comunidade escolar como Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
objetos. Eles são sujeitos plenos de possibilidades de diá- Básica e a revisão e a atualização das diretrizes específicas
logo, de interlocução e de intervenção. Exige-se, portanto, de cada etapa e modalidade devem ocorrer mediante diá-
da escola, a busca de um efetivo pacto em torno do projeto logo vertical e horizontal, de modo simultâneo e indisso-
educativo escolar, que considere os sujeitos-estudantes jo- ciável, para que se possa assegurar a necessária coesão dos
vens, crianças, adultos como parte ativa de seus processos fundamentos que as norteiam.
de formação, sem minimizar a importância da autoridade
adulta. Etapas da Educação Básica
Na organização curricular da Educação Básica, devem-
-se observar as diretrizes comuns a todas as suas etapas, Quanto às etapas correspondentes aos diferentes mo-
modalidades e orientações temáticas, respeitadas suas es- mentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a
pecificidades e as dos sujeitos a que se destinam. Cada eta- Educação Básica compreende:
pa é delimitada por sua finalidade, princípio e/ou por seus I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche,
objetivos ou por suas diretrizes educacionais, claramente englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da
dispostos no texto da Lei nº 9.394/96, fundamentando-se criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola,
na inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar e com duração de 2 (dois) anos.
educar, pois esta é uma concepção norteadora do projeto II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
político-pedagógico concebido e executado 35 pela comu- duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fa-
nidade educacional. Mas vão além disso quando, no pro- ses: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos. cialidades de cada criança e os vínculos desta com a família
Estas etapas e fases têm previsão de idades próprias, ou com o seu responsável direto. Dizendo de outro modo,
as quais, no entanto, são diversas quando se atenta para nessa etapa deve-se assumir o cuidado e a educação,
alguns pontos como atraso na matrícula e/ou no percurso valorizando a aprendizagem para a conquista da cultura
escolar, repetência, retenção, retorno de quem havia aban- da vida, por meio de atividades lúdicas em situações de
donado os estudos, estudantes com deficiência, jovens e aprendizagem (jogos e brinquedos), formulando proposta
adultos sem escolarização ou com esta incompleta, habi- pedagógica que considere o currículo como conjunto de
tantes de zonas rurais, indígenas e quilombolas, adoles- experiências em que se articulam saberes da experiência e
centes em regime de acolhimento ou internação, jovens e socialização do conhecimento em seu dinamismo, deposi-
adultos em situação de privação de liberdade nos estabe- tando ênfase: I – na gestão das emoções;
lecimentos penais. II – no desenvolvimento de hábitos higiênicos e
alimentares;
Educação Infantil III – na vivência de situações destinadas à organização
dos objetos pessoais e escolares;
A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimen- IV – na vivência de situações de preservação dos recur-
to integral da criança até 5 (cinco) anos de idade, em seus sos da natureza;
aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual e social, V – no contato com diferentes linguagens representa-
complementando a ação da família e da comunidade. das, predominantemente, por ícones – e não apenas pelo
Seus sujeitos situam-se na faixa etária que compreen- desenvolvimento da prontidão para a leitura e escrita –,
de o ciclo de desenvolvimento e de aprendizagem dotada como potencialidades indispensáveis à formação do inter-
de condições específicas, que são singulares a cada tipo locutor cultural.
de atendimento, com exigências próprias. Tais atendimen-
tos carregam marcas singulares antropoculturais, porque Ensino Fundamental
as crianças provêm de diferentes e singulares contextos
socioculturais, socioeconômicos e étnicos. Por isso, os su- Na etapa da vida que corresponde ao Ensino Funda-
jeitos do processo educativo dessa etapa da Educação Bá- mental, o estatuto de cidadão vai se definindo gradativa-
sica devem ter a oportunidade de se sentirem acolhidos, mente conforme o educando vai se assumindo a condição
amparados e respeitados pela escola e pelos profissionais de um sujeito de direitos. As crianças, quase sempre, per-
da educação, com base nos princípios da individualidade, cebem o sentido das transformações corporais e culturais,
igualdade, liberdade, diversidade e pluralidade. Deve-se afetivo-emocionais, sociais, pelas quais passam. Tais trans-
entender, portanto, que, para as crianças de 0 (zero) a 5 formações requerem-lhes reformulação da autoimagem, a
(cinco) anos, independentemente das diferentes condições que se associa o desenvolvimento cognitivo. Junto a isso,
físicas, sensoriais, mentais, linguísticas, étnico-raciais, so- buscam referências para a formação de valores próprios,
cioeconômicas, de origem, religiosas, entre outras, no es- novas estratégias para lidar com as diferentes exigências
paço escolar, as relações sociais e intersubjetivas requerem que lhes são impostas.
a atenção intensiva dos profissionais da educação, durante De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 3/2005, o En-
o tempo e o momento de desenvolvimento das atividades sino Fundamental de 9 (nove) anos tem duas fases com
que lhes são peculiares: este é o tempo em que a curiosi- características próprias, chamadas de: anos iniciais, com 5
dade deve ser estimulada, a partir da brincadeira orientada (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6
pelos profissionais da educação. Os vínculos de família, dos (seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro)
laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
em que se assenta a vida social, devem iniciar-se na Pré-Es- O Parecer CNE/CEB nº 7/2007 admitiu coexistência
cola e sua intensificação deve ocorrer ao longo do Ensino do Ensino Fundamental de 8 (oito) anos, em extinção gra-
Fundamental, etapa em que se prolonga a infância e se ini- dual, com o de 9 (nove), que se encontra em processo de
cia a adolescência. implantação e implementação. Há, nesse caso, que se res-
Às unidades de Educação Infantil cabe definir, no seu peitar o disposto nos Pareceres CNE/CEB nº 6/2005 e nº
projeto político-pedagógico, com base no que dispõem 18/2005, bem como na Resolução CNE/CEB nº 3/2005, que
os artigos 12 e 13 da LDB e no ECA, os conceitos orien- formula uma tabela de equivalência da organização e dos
tadores do processo de desenvolvimento da criança, com planos curriculares do Ensino Fundamental de 8 (oito) e de
a consciência de que as crianças, em geral, adquirem as 9 (nove) anos, a qual deve ser adotada por todas as escolas.
mesmas formas de comportamento que as pessoas usam O Ensino Fundamental é de matrícula obrigatória para
e demonstram nas suas relações com elas, para além do as crianças a partir dos 6 (seis) anos completos até o dia
desenvolvimento da linguagem e do pensamento. 31 de março do ano em que ocorrer matrícula, conforme
Assim, a gestão da convivência e as situações em que estabelecido pelo CNE no Parecer CNE/CEB nº 22/2009 e
se torna necessária a solução de problemas individuais e Resolução CNE/CEB nº 1/2010. Segundo o Parecer CNE/
coletivos pelas crianças devem ser previamente progra- CEB nº 4/2008, o antigo terceiro período da Pré-Escola,
madas, com foco nas motivações estimuladas e orientadas agora primeiro ano do Ensino Fundamental, não pode se
pelos professores e demais profissionais da educação e ou- confundir com o anterior primeiro ano, pois se tornou par-
tros de áreas pertinentes, respeitados os limites e as poten- te integrante de um ciclo de 3 (três) anos, que pode ser
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
denominado “ciclo da infância”. Conforme o Parecer CNE/ II – de trabalho pedagógico desenvolvido por equipes
CEB nº 6/2005, a ampliação do Ensino Fundamental obri- interdisciplinares e multiprofissionais;
gatório a partir dos 6 (seis) anos de idade requer de todas III – de programas de incentivo ao compromisso dos
as escolas e de todos os educadores compromisso com a profissionais da educação com os estudantes e com sua
elaboração de um novo projeto político-pedagógico, bem aprendizagem, de tal modo que se tornem sujeitos nesse
como para o consequente redimensionamento da Educa- processo;
ção Infantil. IV – de projetos desenvolvidos em aliança com a co-
Por outro lado, conforme destaca o Parecer CNE/CEB munidade, cujas atividades colaborem para a superação de
nº 7/2007: é perfeitamente possível que os sistemas de conflitos nas escolas, orientados por objetivos claros e tan-
ensino estabeleçam normas para que essas crianças que gíveis, além de diferentes estratégias de intervenção;
só vão completar seis anos depois de iniciar o ano letivo V – de abertura de escolas além do horário regular de
possam continuar frequentando a Pré-Escola para que não aulas, oferecendo aos estudantes local seguro para a prá-
ocorra uma indesejável descontinuidade de atendimento e tica de atividades esportivo-recreativas e socioculturais,
desenvolvimento. além de reforço escolar;
O intenso processo de descentralização ocorrido na VI – de espaços físicos da escola adequados aos diver-
última década acentuou, na oferta pública, a cisão entre sos ambientes destinados às várias atividades, entre elas a
anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, levando à de experimentação e práticas botânicas;
concentração dos anos iniciais, majoritariamente, nas redes VII – de acessibilidade arquitetônica, nos mobiliários,
municipais, e dos anos finais, nas redes estaduais, embo- nos recursos didático-pedagógicos, nas comunicações e
ra haja escolas com oferta completa (anos iniciais e anos informações.
finais do ensino fundamental) em escolas mantidas por Nessa perspectiva, no geral, é tarefa da escola, pal-
redes públicas e privadas. Essa realidade requer especial co de interações, e, no particular, é responsabilidade do
atenção dos sistemas estaduais e municipais, que devem professor, apoiado pelos demais profissionais da educação,
estabelecer forma de colaboração, visando à oferta do En- criar situações que provoquem nos estudantes a necessi-
sino Fundamental e à articulação entre a primeira fase e a
dade e o desejo de pesquisar e experimentar situações
segunda, para evitar obstáculos ao acesso de estudantes
de aprendizagem como conquista individual e coletiva, a
que mudem de uma rede para outra para completarem es-
partir do contexto particular e local, em elo com o geral e
colaridade obrigatória, garantindo a organicidade e totali-
transnacional.
dade do processo formativo do escolar.
Respeitadas as marcas singulares antropoculturais que
Ensino Médio
as crianças de diferentes contextos adquirem, os objetivos
da formação básica, definidos para a Educação Infantil, pro-
longam-se durante os anos iniciais do Ensino Fundamen- Os princípios e as finalidades que orientam o Ensino
tal, de tal modo que os aspectos físico, afetivo, psicológi- Médio, para adolescentes em idade de 15 (quinze) a 17
co, intelectual e social sejam priorizados na sua formação, (dezessete), preveem, como preparação para a conclusão
complementando a ação da família e da comunidade e, ao do processo formativo da Educação Básica (artigo 35 da
mesmo tempo, ampliando e intensificando, gradativamen- LDB):
te, o processo educativo com qualidade social, mediante: I – a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten- mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando
do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da es- o prosseguimento de estudos;
crita e do cálculo; II – a preparação básica para o trabalho, tomado este
II – foco central na alfabetização, ao longo dos três como princípio educativo, e para a cidadania do educando,
primeiros anos, conforme estabelece o Parecer CNE/CEB para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de en-
nº4/2008, de 20 de fevereiro de 2008, da lavra do conselhei- frentar novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
ro Murílio de Avellar Hingel, que apresenta orientação sobre posteriores;
os três anos iniciais do Ensino Fundamental de nove anos; III – o aprimoramento do estudante como um ser de
III – a compreensão do ambiente natural e social, do direitos, pessoa humana, incluindo a formação ética e o de-
sistema político, da economia, da tecnologia, das artes e senvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
da cultura dos direitos humanos e dos valores em que se crítico;
fundamenta a sociedade; IV – a compreensão dos fundamentos científicos e tec-
IV – o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- nológicos presentes na sociedade contemporânea, relacio-
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habi- nando a teoria com a prática.
lidades e a formação de atitudes e valores; A formação ética, a autonomia intelectual, o pensa-
V – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços mento crítico que construa sujeitos de direitos devem se
de solidariedade humana e de respeito recíproco em que iniciar desde o ingresso do estudante no mundo escolar.
se assenta a vida social. Como se sabe, estes são, a 39 um só tempo, princípios e va-
Como medidas de caráter operacional, impõe-se a lores adquiridos durante a formação da personalidade do
adoção: indivíduo. É, entretanto, por meio da convivência familiar,
I – de programa de preparação dos profissionais da edu- social e escolar que tais valores são internalizados. Quando
cação, particularmente dos gestores, técnicos e professores; o estudante chega ao Ensino Médio, os seus hábitos e as
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
6.253/2007, prevendo, no âmbito do FUNDEB, a dupla ma- ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais
trícula dos alunos público-alvo da educação especial, uma disponíveis; em instituições de ensino distintas, aprovei-
no ensino regular da rede pública e outra no atendimento tando-se as oportunidades educacionais disponíveis; ou
educacional especializado. em instituições de ensino distintas, mediante convênios de
intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao
Educação Profissional e Tecnológica desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
São admitidas, nos cursos de Educação Profissio-
A Educação Profissional e Tecnológica (EPT), em con- nal Técnica de nível médio, a organização e a estrutura-
formidade com o disposto na LDB, com as alterações in- ção em etapas que possibilitem uma qualificação pro-
troduzidas pela Lei nº 11.741/2008, no cumprimento dos fissional intermediária. Abrange, também, os cursos
objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes conjugados com outras modalidades de ensino, como
níveis e modalidades de educação e às dimensões do tra- a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial
balho, da ciência e da tecnologia. Dessa forma, pode ser e a Educação a Distância, e pode ser desenvolvida por
compreendida como uma modalidade na medida em que diferentes estratégias de educação continuada, em
possui um modo próprio de fazer educação nos níveis instituições especializadas ou no ambiente de traba-
da Educação Básica e Superior e em sua articulação com lho. Essa previsão coloca, no escopo dessa modalidade
outras modalidades educacionais: Educação de Jovens e educacional, as propostas de qualificação, capacitação,
Adultos, Educação Especial e Educação a Distância. atualização e especialização profissional, entre outras
A EPT na Educação Básica ocorre na oferta de cursos livres de regulamentação curricular, reconhecendo que
de formação inicial e continuada ou qualificação profissio- a EPT pode ocorrer em diversos formatos e no próprio
nal, e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio local de trabalho. Inclui, nesse sentido, os programas
ou, ainda, na Educação Superior, conforme o § 2º do artigo e cursos de Aprendizagem, previstos na Consolidação
39 da LDB: das Leis Trabalhistas (CLT) aprovada pelo Decreto-Lei
A Educação Profissional e Tecnológica abrangerá os se- nº 5.452/43, desenvolvidos por entidades qualificadas
guintes cursos: e no ambiente de trabalho, através de contrato espe-
cial de trabalho. A organização curricular da educação
I – de formação inicial e continuada ou
profissional e tecnológica por eixo tecnológico funda-
qualificação profissional;
menta-se na identificação das tecnologias que se en-
II – de Educação Profissional Técnica de nível médio;
contram na base de uma dada formação profissional e
III – de Educação Profissional Tecnológica de gradua-
dos arranjos lógicos por elas constituídos. Por conside-
ção e pós-graduação.
rar os conhecimentos tecnológicos pertinentes a cada
A Educação Profissional Técnica de nível médio, nos
proposta de formação profissional, os eixos tecnológi-
termos do artigo 36-B da mesma Lei, é desenvolvida nas cos facilitam a organização de itinerários formativos,
seguintes formas: apontando possibilidades de percursos tanto dentro de
I – articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: um mesmo nível educacional quanto na passagem do
II – integrada, na mesma instituição, nível básico para o superior.
III – concomitante, na mesma ou em distintas Os conhecimentos e habilidades adquiridos tanto nos
instituições; cursos de educação profissional e tecnológica, como os
IV – subsequente, em cursos destinados a quem já adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem
tenha concluído o Ensino Médio. ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
As instituições podem oferecer cursos especiais, aber- prosseguimento ou conclusão de estudos. Assegura-se, as-
tos à comunidade, com matrícula condicionada à capacida- sim, ao trabalhador jovem e adulto, a possibilidade de ter
de de aproveitamento e não necessariamente ao nível de reconhecidos os saberes construídos em sua trajetória de
escolaridade. São formulados para o atendimento de de- vida. Para Moacir Alves Carneiro, a certificação pretende
mandas pontuais, específicas de um determinado segmen- valorizar a experiência extraescolar e a abertura que a Lei
to da população ou dos setores produtivos, com período dá à Educação Profissional vai desde o reconhecimento do
determinado para início e encerramento da oferta, sendo, valor igualmente educativo do que se aprendeu na escola
como cursos de formação inicial e continuada ou de qua- e no próprio ambiente de trabalho, até a possibilidade de
lificação profissional, livres de regulamentação curricular. saídas e entradas intermediárias.
No tocante aos cursos articulados com o Ensino Mé-
dio, organizados na forma integrada, o que está propos- Educação Básica do campo
to é um curso único (matrícula única), no qual os diversos
componentes curriculares são abordados de forma que se Nesta modalidade30, a identidade da escola do campo
explicitem os nexos existentes entre eles, conduzindo os é definida pela sua vinculação com as questões inerentes
estudantes à habilitação profissional técnica de nível mé- à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes
dio ao mesmo tempo em que concluem a última etapa da próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza
Educação Básica. futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na so-
Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio, ciedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos
ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e que associem as soluções exigidas por essas questões à
dupla certificação, podem ocorrer na mesma instituição de qualidade social da vida coletiva no País.
119
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A educação para a população rural está prevista no ar- I – localização em terras habitadas por comunidades
tigo 28 da LDB, em que ficam definidas, para atendimento à indígenas, ainda que se estendam por territórios de diver-
população rural, adaptações necessárias às peculiaridades sos Estados ou Municípios contíguos;
da vida rural e de cada região, definindo orientações para II – exclusividade de atendimento a comunidades
três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica: indígenas;
I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às III – ensino ministrado nas línguas maternas das comu-
reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; nidades atendidas, como uma das formas de preservação
II – organização escolar própria, incluindo adequação da realidade sociolinguística de cada povo;
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condi- Na organização de escola indígena deve ser considera-
ções climáticas; da a participação da comunidade, na definição do modelo
III – adequação à natureza do trabalho na zona rural. de organização e gestão, bem como:
As propostas pedagógicas das escolas do campo de- I – suas estruturas sociais;
vem contemplar a diversidade do campo em todos os seus II – suas práticas socioculturais e religiosas;
aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gêne- III – suas formas de produção de conhecimento, pro-
ro, geração e etnia. Formas de organização e metodologias cessos próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
pertinentes à realidade do campo devem, nesse sentido, IV – suas atividades econômicas;
ter acolhida. Assim, a pedagogia da terra busca um tra- V – a necessidade de edificação de escolas que aten-
balho pedagógico fundamentado no princípio da susten- dam aos interesses das comunidades indígenas;
tabilidade, para que se possa assegurar a preservação da VI – o uso de materiais didático-pedagógicos produzi-
vida das futuras gerações. Particularmente propícia para dos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo
esta modalidade, destaca-se a pedagogia da alternância indígena.
(sistema dual), criada na Alemanha há cerca de 140 anos As escolas indígenas desenvolvem suas atividades de
e, hoje, difundida em inúmeros países, inclusive no Brasil, acordo com o proposto nos respectivos projetos pedagó-
com aplicação, sobretudo, no ensino voltado para a for- gicos e regimentos escolares com as prerrogativas de: or-
mação profissional e tecnológica para o meio rural. Nesta ganização das atividades escolares, independentes do ano
metodologia, o estudante, durante o curso e como parte civil, respeitado o fluxo das atividades econômicas, sociais,
integrante dele, participa, concomitante e alternadamente, culturais e religiosas; e duração diversificada dos períodos
de dois ambientes/situações de aprendizagem: o escolar e escolares, ajustando-a às condições e especificidades pró-
o laboral, não se configurando o último como estágio, mas, prias de cada comunidade.
sim, como parte do currículo do curso. Essa alternância Por sua vez, tem projeto pedagógico próprio, por es-
pode ser de dias na mesma semana ou de blocos semanais cola ou por povo indígena, tendo por base as Diretrizes
ou, mesmo, mensais ao longo do curso. Supõe uma parce- Curriculares Nacionais referentes a cada etapa da Educação
ria educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis Básica; as características próprias das escolas indígenas, em
pelo aprendizado e formação do estudante. É bastante cla- respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou
ro que 45 podem predominar, num ou noutro, oportuni- comunidade; as realidades sociolinguísticas, em cada situa-
dades diversas de desenvolvimento de competências, com ção; os conteúdos curriculares especificamente indígenas
ênfases ora em conhecimentos, ora em habilidades pro- e os modos próprios de constituição do saber e da cultu-
fissionais, ora em atitudes, emoções e valores necessários ra indígena; e a participação da respectiva comunidade ou
ao adequado desempenho do estudante. Nesse sentido, os povo indígena.
dois ambientes/situações são intercomplementares. A formação dos professores é específica, desenvolvida
no âmbito das instituições formadoras de professores, ga-
Educação escolar indígena rantindo-se aos professores indígenas a sua formação em
serviço e, quando for o caso, concomitantemente com a
A escola desta modalidade tem uma realidade singular, sua própria escolarização.
inscrita em terras e cultura indígenas31. Requer, portanto,
pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cul- Educação a Distância
tural de cada povo ou comunidade e formação específica
de seu quadro docente, observados os princípios constitu- A modalidade Educação a Distância32 caracteriza-se
cionais, a base nacional comum e os princípios que orien- pela mediação didáticopedagógica nos processos de ensi-
tam a Educação Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11 e no e aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e
inciso VIII do artigo 4º da LDB). tecnologias de informação e comunicação, com estudantes
Na estruturação e no funcionamento das escolas indí- e professores desenvolvendo atividades educativas em lu-
genas é reconhecida sua condição de escolas com normas gares ou tempos diversos.
e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural O credenciamento para a oferta de cursos e progra-
e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos po- mas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Es-
vos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversi- pecial e de Educação Profissional e Tecnológica de nível
dade étnica. médio, na modalidade a distância, compete aos sistemas
São elementos básicos para a organização, a estru- estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e
tura e o funcionamento da escola indígena: as normas complementares desses sistemas.
120
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
121
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está Nesta perspectiva, o processo de formulação destas
formulado na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as delimita Diretrizes foi acordado, em 2006, pela Câmara de Educação
como conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, Básica com as entidades: Fórum Nacional dos Conselhos
fundamentos e procedimentos na Educação Básica (…) que Estaduais de Educação, União Nacional dos Conselhos Mu-
orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na nicipais de Educação, Conselho dos Secretários Estaduais
organização, na articulação, no desenvolvimento e na ava- de Educação, União Nacional dos Dirigentes Municipais de
liação de suas propostas pedagógicas. Educação, e entidades representativas dos profissionais da
Por outro lado, a necessidade de definição de Diretrizes educação, das instituições de formação de professores, das
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica está mantenedoras do ensino privado e de pesquisadores em
posta pela emergência da atualização das políticas educa- educação.
cionais que consubstanciem o direito de todo brasileiro à Para a definição e o desenvolvimento da metodolo-
formação humana e cidadã e à formação profissional, na gia destinada à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi
constituída uma comissão que selecionou interrogações
vivência e convivência em ambiente educativo. Têm estas
e temas estimuladores dos debates, a fim de subsidiar a
Diretrizes por objetivos:
elaboração do documento preliminar visando às Diretrizes
I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Edu-
Curriculares Nacionais para a Educação Básica, sob a coor-
cação Básica contidos na Constituição, na
denação da então relatora, conselheira Maria Beatriz Luce.
LDB e demais dispositivos legais, traduzindo-os em (Portaria CNE/CEB nº 1/2006)
orientações que contribuam para assegurar a formação A comissão promoveu uma mobilização nacional das
básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que diferentes entidades e instituições que atuam na Educação
dão vida ao currículo e à escola; Básica no País, mediante:
II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve I – encontros descentralizados com a participação de
subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto Municípios e Estados, que reuniram escolas públicas e par-
político-pedagógico da escola de Educação Básica; ticulares, mediante audiências públicas regionais, viabili-
III – orientar os cursos de formação inicial e continua- zando ampla efetivação de manifestações;
da de profissionais – docentes, técnicos, funcionários – da II – revisões de documentos relacionados com a Edu-
Educação Básica, os sistemas educativos dos diferentes en- cação Básica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover
tes federados e as escolas que os integram, indistintamen- a atualização motivadora do trabalho das entidades, efe-
te da rede a que pertençam. tivadas, simultaneamente, com a discussão do regime de
colaboração entre os sistemas educacionais, contando,
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais portanto, com a participação dos conselhos estaduais e
Gerais para a Educação Básica visam estabelecer bases municipais.
comuns nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fun- Inicialmente, partiu-se da avaliação das diretrizes des-
damental e o Ensino Médio, bem como para as modalida- tinadas à Educação Básica que, até então, haviam sido es-
des com que podem se apresentar, a partir das quais os tabelecidas por etapa e modalidade, ou seja, expressando-
sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, por suas -se nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
competências próprias e complementares, formularão as Infantil; para o Ensino Fundamental; para o Ensino Médio;
suas orientações assegurando a integração curricular das para a Educação de Jovens e Adultos; para a Educação do
três etapas sequentes desse nível da escolarização, essen- Campo; para a Educação Especial; e para a Educação Esco-
cialmente para compor um todo orgânico. lar Indígena.
Além das avaliações que já ocorriam assistematica- Ainda em novembro de 2006, em Brasília, foi realizado
o Seminário Nacional Currículo em Debate, promovido pela
mente, marcou o início da elaboração deste Parecer, parti-
Secretaria de Educação Básica/MEC, com a participação de
cularmente, a Indicação CNE/CEB nº 3/2005, assinada pelo
representantes dos Estados e Municípios. Durante esse Se-
então conselheiro da CEB, Francisco Aparecido Cordão, na
minário, a CEB realizou a sua trigésima sessão ordinária na
qual constava a proposta de revisão das Diretrizes Curri- qual promoveu Debate Nacional sobre as Diretrizes Cur-
culares Nacionais para a Educação Infantil e para o Ensi- riculares para a Educação Básica, por etapas. Esse deba-
no Fundamental. Nessa Indicação, justificava-se que tais te foi denominado Colóquio Nacional sobre as Diretrizes
Diretrizes encontravam-se defasadas, segundo avaliação Curriculares Nacionais. A partir desse evento e dos demais
nacional sobre a matéria nos últimos anos, e superadas que o sucederam, em 2007, e considerando a alteração
em decorrência dos últimos atos legais e normativos, par- do quadro de conselheiros do CNE e da CEB, criou-se, em
ticularmente ao tratar da matrícula no Ensino Fundamental 2009, nova comissão responsável pela elaboração dessas
de crianças de 6 (seis) anos e consequente ampliação do Diretrizes, constituída por Adeum Hilário Sauer (Presiden-
Ensino Fundamental para 9 (nove) anos de duração. Im- te), Clélia Brandão Alvarenga Craveiro (relatora), Raimundo
prescindível acrescentar que a nova redação do inciso I do Moacir Mendes Feitosa e José Fernandes de Lima (Portaria
artigo 208 da nossa Carta Magna, dada pela Emenda Cons- CNE/CEB nº 2/2009). Essa comissão reiniciou os trabalhos
titucional nº 59/2009, assegura Educação Básica obrigató- já organizados pela comissão anterior e, a partir de então,
ria e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua vem acompanhando os estudos promovidos pelo MEC so-
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso bre currículo em movimento, no sentido de atuar articulada
na idade própria. e integradamente com essa instância educacional.
122
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Durante essa trajetória, os temas considerados perti- VI – a formulação, aprovação e implantação das medi-
nentes à matéria objeto deste Parecer passaram a se cons- das expressas na Lei nº 11.738/2008, da Educação Básica;
tituir nas seguintes ideias-força: VII – a criação do Fórum Nacional dos Conselhos de
I – as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação, objetivando prática de regime de colaboração
Educação Básica devem presidir as demais diretrizes curri- entre o CNE, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais
culares específicas para as etapas e modalidades, contem- de Educação e a União Nacional dos Conselhos Municipais
plando o conceito de Educação Básica, princípios de or- de Educação;
ganicidade, sequencialidade e articulação, relação entre as VIII – a instituição da política nacional de formação de
etapas e modalidades: articulação, integração e transição; profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº
II – o papel do Estado na garantia do direito à educa- 6.755, de 29 de janeiro de 2009);
ção de qualidade, considerando que a educação, enquanto IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da
direito inalienável de todos os cidadãos, é condição pri- Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes
meira para o exercício pleno dos direitos: humanos, tanto
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos
dos direitos sociais e econômicos quanto dos direitos civis
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública,
e políticos;
que devem ter sido implantados até dezembro de 2009;
III – a Educação Básica como direito e considerada,
contextualizadamente, em um projeto de Nação, em con- X – as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo
sonância com os acontecimentos e suas determinações CNE, expressas no documento Subsídios para Elaboração
histórico-sociais e políticas no mundo; do PNE Considerações Iniciais. Desafios para a Construção
IV – a dimensão articuladora da integração das diretri- do PNE (Portaria CNE/CP nº 10/2009);
zes curriculares compondo as três etapas e as modalidades XI – a realização da Conferência Nacional de Educa-
da Educação Básica, fundamentadas na indissociabilidade ção (CONAE), com o tema central “Construindo um Sistema
dos conceitos referenciais de cuidar e educar; Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de Edu-
V – a promoção e a ampliação do debate sobre a políti- cação – Suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, tencionando
ca curricular que orienta a organização da Educação Básica propor diretrizes e estratégias para a construção do PNE
como sistema educacional articulado e integrado; 2011-2020;
VI – a democratização do acesso, permanência e suces- XII – a relevante alteração na Constituição, pela pro-
so escolar com qualidade social, científica, cultural; mulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, en-
VII – a articulação da educação escolar com o mundo tre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e
do trabalho e a prática social; gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua ofer-
VIII – a gestão democrática e a avaliação; ta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na
IX – a formação e a valorização dos profissionais da idade própria; assegura o atendimento ao estudante, em
educação; todas as etapas da Educação Básica, mediante programas
X – o financiamento da educação e o controle social. suplementares de material didático-escolar, transporte, ali-
Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes mentação e assistência à saúde, bem como reduz, anual-
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica estão mente, a partir do exercício de 2009, o percentual da
sendo elaboradas é muito singular, pois, simultaneamente, Desvinculação das Receitas da União incidente sobre
as diretrizes das etapas da Educação Básica, também elas, os recursos destinados à manutenção e ao desenvolvimen-
passam por avaliação, por meio de contínua mobilização to do ensino. Para a comissão, o desafio consistia em inter-
dos representantes dos sistemas educativos de nível nacio- pretar essa realidade e apresentar orientações sobre a con-
nal, estadual e municipal. A articulação entre os diferentes
cepção e organização da Educação Básica como sistema
sistemas flui num contexto em que se vivem:
educacional, segundo três dimensões básicas: organicida-
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação
de, sequencialidade e articulação. Dispor sobre a formação
Básica (2008);
básica
II – os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem 1 São as seguintes as alterações na Constituição Fe-
como a edição de outras leis que repercutem nos currículos deral, promovidas pela Emenda Constitucional nº 59/2009:
da Educação Básica; - Art. 208. (…)
III – o penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de I – Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
Educação (PNE), que passa por avaliação, bem como a mo- tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive
bilização nacional em torno de subsídios para a elaboração sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram
do PNE para o período 2011-2020; acesso na idade própria;
IV – a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvol- (O disposto neste inciso I deverá ser implementado
vimento da Educação Básica e de progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional
Valorização dos Professores da Educação (FUNDEB), re- de Educação, com apoio técnico e financeiro da União).
gulado pela Lei nº 11.494/2007, que fixa percentual de re- VII – atendimento ao educando, em todas as etapas
cursos a todas as etapas e modalidades da Educação Básica; da Educação Básica, por meio de programas suplementa-
V – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da Edu- res de material didático-escolar, transporte, alimentação e
cação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal assistência à saúde.
de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC); - Art. 211. (…)
123
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a A maior parte dessas modificações tem relevância so-
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios cial, porque, além de reorganizarem aspectos da Educação
definirão formas de colaboração, de modo a assegurar Básica, ampliam o acesso das crianças ao mundo letrado,
a universalização do ensino obrigatório. asseguram-lhes outros benefícios concretos que contri-
- Art. 212. (…) buem para o seu desenvolvimento pleno, orientado por
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará profissionais da educação especializados. Nesse sentido,
prioridade ao atendimento das necessidades do ensino destaca-se que a LDB foi alterada pela Lei nº 10.287/2001
obrigatório, no que se refere a universalização, garan- para responsabilizar a escola, o Conselho Tutelar do Mu-
tia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do nicípio, o juiz competente da Comarca e o representante
plano nacional de educação. do Ministério Público pelo acompanhamento sistemático
- Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- do percurso escolar das crianças e dos jovens. Este é, sem
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o dúvida, um dos mecanismos que, se for efetivado de modo
sistema nacional de educação em regime de colaboração contínuo, pode contribuir significativamente para a perma-
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- nência do estudante na escola. Destaca-se, também, que
mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimen- foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008, o inciso X no artigo
to do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades 4º, fixando como dever do Estado efetivar a garantia de
por meio de ações integradas dos poderes públicos das vaga na escola pública de Educação Infantil ou de Ensino
diferentes esferas federativas que conduzam a: Fundamental mais próxima de sua residência a toda criança
VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
públicos em educação como proporção do produto inter- Há leis, por outro lado, que não alteram a redação da
no bruto. LDB, porém agregam-lhe complementações, como a Lei nº
- Art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e ins-
§ 3º Para efeito do cálculo dos recursos para ma- titui a Política Nacional de Educação Ambiental; a Lei nº
nutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o 10.436/2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais
art. 212 da Constituição, o percentual referido no caput
(LIBRAS); a Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Esta-
deste artigo será de 12,5 % (doze inteiros e cinco déci-
tuto do Idoso; a Lei nº 9.503/97, que institui o Código de
mos por cento) no exercício de 2009, 5% (cinco por cen-
Trânsito Brasileiro; a Lei nº 11.161/2005, que dispõe sobre
to) no exercício de 2010, e nulo no exercício de 2011.
o ensino da Língua Espanhola; e o Decreto nº 6.949/2009,
Nacional relacionando-a com a parte diversificada,
que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos
e com a preparação para o trabalho e as práticas sociais,
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
consiste, portanto, na formulação de princípios para ou-
tra lógica de diretriz curricular, que considere a formação assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.
humana de sujeitos concretos, que vivem em determina- É relevante lembrar que a Constituição Federal,
do meio ambiente, contexto histórico e sociocultural, com acima de todas as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º,
suas condições físicas, emocionais e intelectuais. determina que um dos direitos dos trabalhadores ur-
Este Parecer deve contribuir, sobretudo, para o proces- banos e rurais e, portanto, obrigação das empresas, é
so de implementação pelos sistemas de ensino das Dire- a assistência gratuita aos filhos e dependentes desde
trizes Curriculares Nacionais específicas, para que se con- o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em Creches e
cretizem efetivamente nas escolas, minimizando o atual Pré-Escolas. Embora redundante, registre-se que todas
distanciamento existente entre as diretrizes e a sala de aula. as Creches e Pré-Escolas devem estar integradas ao res-
Para a organização das orientações contidas neste tex- pectivo sistema de ensino (artigo 89 da LDB).
to, optou-se por enunciá-las seguindo a disposição que A LDB, com suas alterações, e demais atos legais de-
ocupam na estrutura estabelecida na LDB, nas partes em sempenham papel necessário, por sua função referencial
que ficam previstos os princípios e fins da educação nacio- obrigatória para os diferentes sistemas e redes educativos.
nal; as orientações curriculares; a formação e valorização Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que ainda está
de profissionais da educação; direitos à educação e deve- em curso o processo de implementação dos princípios e
res de educar: Estado e família, incluindo-se o Estatuto da das finalidades definidos constitucional e legalmente para
Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90 e a De- orientar o projeto educativo do País, cujos resultados ainda
claração Universal dos Direitos Humanos. Essas referên- não são satisfatórios, até porque o texto da Lei, por si só,
cias levaram em conta, igualmente, os dispositivos sobre a não se traduz em elemento indutor de mudança. Ele requer
Educação Básica constantes da Carta Magna que orienta a esforço conjugado por parte dos órgãos responsáveis pelo
Nação brasileira, relatórios de pesquisas sobre educação e cumprimento do que os atos regulatórios preveem.
produções teóricas versando sobre sociedade e educação. No desempenho de suas competências, o CNE iniciou,
Com treze anos de vigência já completados, a LDB em 1997, a produção de orientações normativas nacionais,
recebeu várias alterações, particularmente no referente à visando à implantação da Educação Básica, sendo a pri-
Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalidades. meira o Parecer CNE/CEB nº 5/97, de lavra do conselhei-
Após a edição da Lei nº 9.475/1997, que alterou o artigo 33 ro Ulysses de Oliveira Panisset. A partir de então, foram
da LDB, prevendo a obrigatoriedade do respeito à diversi- editados pelo Conselho Nacional de Educação pareceres
dade cultural religiosa do Brasil, outras leis modificaram-na e resoluções, em separado, para cada uma das etapas e
quanto à Educação Básica. modalidades.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
No período de vigência do Plano Nacional de Educa- a identidade de cada sistema, de cada unidade escolar? O
ção (PNE), desde o seu início até 2008, constata-se que, fracasso do escolar, averiguado por esses programas de
embora em ritmo distinto, menos de um terço das unida- avaliação, não estaria expressando o resultado da forma
des federadas (26 Estados e o Distrito Federal) apresenta- como se processa a avaliação, não estando de acordo com
ram resposta positiva, uma vez que, dentre eles, apenas a maneira como a escola e os professores planejam e ope-
8 formularam e aprovaram os seus planos de educação. ram o currículo? O sistema de avaliação aplicado guardaria
Relendo a avaliação técnica do PNE, promovida pela Co- relação com o que efetivamente acontece na concretude
missão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados das escolas brasileiras?
(2004), pode-se constatar que, em todas as etapas e mo- Como consequência desse método de avaliação ex-
dalidades educativas contempladas no PNE, três aspectos terna, os estudantes crianças não estariam sendo punidos
figuram reiteradamente: acesso, capacitação docente e in- com resultados péssimos e reportagens terríveis? E mais,
fraestrutura. Em contrapartida, nesse mesmo documento, os estudantes das escolas indígenas, entre outros de situa-
é assinalado que a permanência e o sucesso do estudante ções específicas, não estariam sendo afetados negativa-
na escola têm sido objeto de pouca atenção. Em outros mente por essas formas de avaliação?
documentos acadêmicos e oficiais, são também aspectos Lamentavelmente, esses questionamentos não têm in-
que têm sido avaliados de modo descontínuo e escasso, dicado alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações
embora a permanência se constitua em exigência fixada no nacionais. Como se sabe, as avaliações ENEM e Prova Brasil
inciso I do artigo 3º da LDB. vêm-se constituindo em políticas de Estado que subsidiam
Salienta-se que, além das condições para acesso à es- os sistemas na formulação de políticas públicas de equida-
cola, há de se garantir a permanência nela, e com sucesso. de, bem como proporcionam elementos aos municípios e
Esta exigência se constitui em um desafio de difícil concre- escolas para localizarem as suas fragilidades e promove-
tização, mas não impossível. rem ações, na tentativa de superá-las, por meio de metas
O artigo 6º, da LDB, alterado pela Lei nº 11.114/2005, integradas.
prevê que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma- Além disso, é proposta do CNE o estabelecimento de
trícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no uma Base Nacional Comum que terá como um dos objeti-
Ensino Fundamental. vos nortear as avaliações e a elaboração de livros didáticos
Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas e de outros documentos pedagógicos.
da Educação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era, O processo de implantação e implementação do dis-
originalmente, obrigatória, mas indicada como de extensão posto na alteração da LDB pela Lei nº 11.274/2006, que
progressiva, porém, a Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II estabeleceu o ingresso da criança a partir dos seis anos de
do artigo 4º e o inciso VI do artigo 10 da LDB, para garantir idade no Ensino Fundamental, tem como perspectivas me-
a universalização do Ensino Médio gratuito e para assegu- lhorar as condições de equidade e qualidade da Educação
rar o atendimento de todos os interessados ao Ensino Mé- Básica, estruturar um novo Ensino Fundamental e assegu-
dio público. De todo modo, o inciso VII do mesmo artigo rar um alargamento do tempo para as aprendizagens da
já estabelecia que se deve garantir a oferta de educação alfabetização e do letramento.
escolar regular para jovens e adultos, com características Se forem observados os dados estatísticos a partir
e modalidades adequadas às suas necessidades e dispo- da relação entre duas datas referenciais – 2000 e 2008 –,
nibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as tem-se surpresa quanto ao quantitativo total de matricu-
condições de acesso e permanência na escola. lados na Educação Básica, já que se constata redução de
O acesso ganhou força constitucional, agora para qua- matrícula (-0,7%), em vez de elevação. Contudo, embora se
se todo o conjunto da Educação Básica (excetuada a fase perceba uma redução de 20,6% no total da Educação In-
inicial da Educação Infantil, da Creche), com a nova reda- fantil, na Creche o crescimento foi expressivo, de 47,7%. Os
ção dada ao inciso I do artigo 208 da nossa Carta Magna, números indicam que, no Ensino Fundamental e no Ensino
que assegura a Educação Básica obrigatória e gratuita dos Médio, há decréscimo de matrícula, o que trai a intenção
4 aos 17 anos de idade, inclusive a gratuita para todos os nacional projetada em metas constitutivas do Plano Nacio-
que a ela não tiveram acesso na idade própria, sendo sua nal de Educação, pois, no primeiro, constata-se uma queda
implementação progressiva, até 2016, nos termos do Plano de -7,3% e, no segundo, de -8,4%. Uma pergunta inevitável
Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da é: em que medida as políticas educacionais estimularia a
União. superação desse quadro e em quais aspectos essas Dire-
Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políti- trizes poderiam contribuir como indutoras de mudanças
cas públicas para a educação no Brasil, entre eles as avalia- favoráveis à reversão do que se coloca?
ções do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), Há necessidade de aproximação da lógica dos discur-
da Prova Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio sos normativos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e
(ENEM), definidas como constitutivas do Sistema de Avalia- das funções sociais em seu dinamismo. Um dos desafios,
ção da Qualidade da Oferta de Cursos no País. Destaca-se entretanto, está no que Miguel G. Arroyo (1999) aponta,
que tais programas têm suscitado interrogações também por exemplo, em seu artigo, “Ciclos de desenvolvimento
na Câmara de Educação Básica do CNE, entre outras ins- humano e formação de educadores”, em que assinala que
tâncias acadêmicas: teriam eles consonância com a realida- as diretrizes para a educação nacional, quando normatiza-
de das escolas? Esses programas levam em consideração das, não chegam ao cerne do problema, porque não levam
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
em conta a lógica social. Com base no entendimento do um dos princípios que orientam as sociedades contempo-
autor, as diretrizes não preveem a preparação antecipada râneas é a imprevisibilidade. As sociedades abertas não
daqueles que deverão implantá-las e implementá-las. O têm os caminhos traçados para um percurso inflexível e
comentário do autor é ilustrativo por essa compreensão: estável. Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade e a im-
não se implantarão propostas inovadoras listando o que previsibilidade, e não programas sustentados em certezas.
teremos de inovar, listando as competências que os educa- Há entendimento geral de que, durante a Década da
dores devem aprender e montando cursos de treinamento Educação (encerrada em 2007), entre as maiores conquis-
para formá-los. É (…) no campo da formação de profissio- tas destaca-se a criação do FUNDEF, posteriormente trans-
nais de Educação Básica onde mais abundam as leis e os formado em FUNDEB. Este ampliou as condições efetivas
pareceres dos conselhos, os palpites fáceis de cada novo de apoio financeiro e de gestão às três etapas da
governante, das equipes técnicas, e até das agências de Educação Básica e suas modalidades, desde 2007. Do
financiamento, nacionais e internacionais (Arroyo, 1999, p. ponto de vista do apoio à Educação Básica, como totalida-
151). de, o FUNDEB apresenta sinais de que a gestão educacional
Outro limite que tem sido apontado pela comunidade e de políticas públicas poderá contribuir para a conquista
educativa, a ser considerado na formulação e implemen- da elevação da qualidade da educação brasileira, se for as-
tação das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a sumida por todos os que nela atuam, segundo os critérios
Educação Básica, é a desproporção existente entre as uni- da efetividade, relevância e pertinência, tendo como foco
dades federadas do Brasil, sob diferentes pontos de vista: as finalidades da educação nacional, conforme definem a
recursos financeiros, presença política, dimensão geográfi- Constituição Federal e a LDB, bem como o Plano Nacional
ca, demografia, recursos naturais e, acima de tudo, traços de Educação.
socioculturais. Os recursos para a educação serão ainda ampliados
Entre múltiplos fatores que podem ser destacados, com a desvinculação de recursos da União (DRU) aprovada
acentua-se que, para alguns educadores que se manifes- pela já destacada Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem
taram durante os debates havidos em nível nacional, tendo dúvida, essa conquista, resultado das lutas sociais, pode
como foco o cotidiano da escola e as diretrizes curriculares
contribuir para a melhoria da qualidade social da ação edu-
vigentes, há um entendimento de que tanto as diretrizes
cativa, em todo o País.
curriculares, quanto os Parâmetros Curriculares Nacionais
No que diz respeito às fontes de financiamento da
(PCN), implementados pelo MEC de 1997 a 2002, transfor-
Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalida-
maram-se em meros papéis. Preencheram uma lacuna de
des, no entanto, verifica-se que há dispersão, o que tem
modo equivocado e pouco dialógico, definindo as concep-
repercutido desfavoravelmente na unidade da gestão das
ções metodológicas a serem seguidas e o conhecimento
prioridades educacionais voltadas para a conquista da qua-
a ser trabalhado no Ensino Fundamental e no Médio. Os
lidade social da educação escolar, inclusive em relação às
PCNs teriam sido editados como obrigação de conteúdos a
serem contemplados no Brasil inteiro, como se fossem um metas previstas no PNE 2001-2010. Apesar da relevância
roteiro, sugerindo entender que essa medida poderia ser do FUNDEF, e agora com o FUNDEB em fase inicial de im-
orientação suficiente para assegurar a qualidade da edu- plantação, ainda não se tem política financeira compatível
cação para todos. Entretanto, a educação para todos não com as exigências da Educação Básica em sua pluridimen-
é viabilizada por decreto, resolução, portaria ou similar, ou sionalidade e totalidade.
seja, não se efetiva tão somente por meio de prescrição de As políticas de formação dos profissionais da educa-
atividades de ensino ou de estabelecimento de parâmetros ção, as Diretrizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de
ou diretrizes curriculares: a educação de qualidade social é qualidade definidos pelo Ministério da Educação, associa-
conquista e, como conquista da sociedade brasileira, é ma- dos às normas dos sistemas educativos dos Estados, Dis-
nifestada pelos movimentos sociais, pois é direito de todos. trito Federal e Municípios, são orientações cujo objetivo
Essa conquista, simultaneamente, tão solitária e soli- central é o de criar condições para que seja possível me-
dária quanto singular e coletiva, supõe aprender a articu- lhorar o desempenho das escolas, mediante ação de todos
lar o local e o universal em diferentes tempos, espaços e os seus sujeitos.
grupos sociais desde a primeira infância. A qualidade da Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares Na-
educação para todos exige compromisso e responsabili- cionais Gerais para a Educação Básica terão como funda-
dade de todos os envolvidos no processo político, que o mento essencial a responsabilidade que o Estado brasileiro,
Projeto de Nação traçou, por meio da Constituição Federal a família e a sociedade têm de garantir a democratização
e da LDB, cujos princípios e finalidades educacionais são do acesso, inclusão, permanência e sucesso das crianças,
desafiadores: em síntese, assegurando o direito inalienável jovens e adultos na instituição educacional, sobretudo em
de cada brasileiro conquistar uma formação sustentada na idade própria a cada etapa e modalidade; a aprendizagem
continuidade de estudos, ou seja, como temporalização de para continuidade dos estudos; e a extensão da obrigato-
aprendizagens que complexifiquem a experiência de co- riedade e da gratuidade da Educação Básica.
mungar sentidos que dão significado à convivência.
Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior Fonte
está na necessidade de repensar as perspectivas de um co- BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
nhecimento digno da humanidade na era planetária, pois Básica, 2013
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as II - as instituições de educação superior criadas e man-
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in- tidas pela iniciativa privada;
cumbência de: III - os órgãos federais de educação.
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e Federal compreendem:
financeiros; I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas- pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
-aula estabelecidas; II - as instituições de educação superior mantidas pelo
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de Poder Público municipal;
cada docente; III - as instituições de ensino fundamental e médio cria-
V - prover meios para a recuperação dos alunos de me- das e mantidas pela iniciativa privada;
nor rendimento; IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe-
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, crian-
deral, respectivamente.
do processos de integração da sociedade com a escola;
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre-
integram seu sistema de ensino.
quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe-
cução da proposta pedagógica da escola; Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
juiz competente da Comarca e ao respectivo representante educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem II - as instituições de educação infantil criadas e manti-
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do per- das pela iniciativa privada;
centual permitido em lei. III – os órgãos municipais de educação.
IX - promover medidas de conscientização, de preven- Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
ção e de combate a todos os tipos de violência, especial- classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
mente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das (Regulamento)
escolas; (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora-
X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura das, mantidas e administradas pelo Poder Público;
de paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis-
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadra-
estabelecimento de ensino; rão nas seguintes categorias: (Regulamento)
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os as características dos incisos abaixo;
alunos de menor rendimento; II - comunitárias, assim entendidas as que são insti-
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
além de participar integralmente dos períodos dedicados pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem
ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro- fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
fissional; representantes da comunidade;
VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
III - confessionais, assim entendidas as que são insti-
cola com as famílias e a comunidade.
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e
gestão democrática do ensino público na educação básica,
ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior;
de acordo com as suas peculiaridades e conforme os se-
guintes princípios: IV - filantrópicas, na forma da lei.
I - participação dos profissionais da educação na ela-
boração do projeto pedagógico da escola; TÍTULO V
II - participação das comunidades escolar e local em Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
conselhos escolares ou equivalentes. CAPÍTULO I
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida- Da Composição dos Níveis Escolares
des escolares públicas de educação básica que os integram
progressivos graus de autonomia pedagógica e adminis- Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
trativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais I - educação básica, formada pela educação infantil,
de direito financeiro público. ensino fundamental e ensino médio;
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:(Re- II - educação superior.
gulamento)
I - as instituições de ensino mantidas pela União;
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
em situação similar, estiver obrigado à prática da educação observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou- cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
tubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) bem comum e à ordem democrática;
V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) II - consideração das condições de escolaridade dos
VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de alunos em cada estabelecimento;
1º.12.2003) III - orientação para o trabalho;
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as IV - promoção do desporto educacional e apoio às prá-
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- ticas desportivas não-formais.
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indíge-
na, africana e europeia. Art. 28. Na oferta de educação básica para a população
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações ne-
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada
cessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
pela Lei nº 13.415, de 2017)
de cada região, especialmente:
§ 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
as linguagens que constituirão o componente curricular de I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
que trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
13.278, de 2016) II - organização escolar própria, incluindo adequação
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condi-
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo ções climáticas;
os temas transversais de que trata o caput. (Redação dada III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
pela Lei nº 13.415, de 2017) Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional cons- indígenas e quilombolas será precedido de manifestação
tituirá componente curricular complementar integrado à do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que
proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obri- considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de
gatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a
pela Lei nº 13.006, de 2014) manifestação da comunidade escolar. (Incluído pela Lei nº
§ 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à pre- 12.960, de 2014)
venção de todas as formas de violência contra a criança
e o adolescente serão incluídos, como temas transversais, Seção II
nos currículos escolares de que trata o caput deste artigo, Da Educação Infantil
tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), observada a produ- Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educa-
ção e distribuição de material didático adequado. (Incluído ção básica, tem como finalidade o desenvolvimento in-
pela Lei nº 13.010, de 2014) tegral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de- ação da família e da comunidade. (Redação dada pela Lei
penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação nº 12.796, de 2013)
e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino funda-
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
mental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
até três anos de idade;
obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
indígena. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
§ 1º O conteúdo programático a que se refere este ar- anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a partir Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história com as seguintes regras comuns: (Redação dada pela Lei
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos nº 12.796, de 2013)
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o I - Avaliação mediante acompanhamento e registro do
negro e o índio na formação da sociedade nacional, resga- desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promo-
tando as suas contribuições nas áreas social, econômica e ção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; (Incluí-
política, pertinentes à história do Brasil. (Redação dada pela do pela Lei nº 12.796, de 2013)
Lei nº 11.645, de 2008). II - Carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) ho-
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro- ras, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão minis- trabalho educacional; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
trados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
nas áreas de educação artística e de literatura e história horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a
brasileiras. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). jornada integral; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
IV - Controle de frequência pela instituição de educa- § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons-
ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (ses- tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a de-
senta por cento) do total de horas; (Incluído pela Lei nº finição dos conteúdos do ensino religioso.
12.796, de 2013) Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in-
V - Expedição de documentação que permita atestar os cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. de aula, sendo progressivamente ampliado o período de
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) permanência na escola.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
Seção III formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
Do Ensino Fundamental § 2º O ensino fundamental será ministrado progres-
sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura- ensino.
ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-
-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação Seção IV
básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei Do Ensino Médio
nº 11.274, de 2006)
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten- Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da es- com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
crita e do cálculo; I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
II - a compreensão do ambiente natural e social, do mentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando
sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em o prosseguimento de estudos;
que se fundamenta a sociedade; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habi- capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de
lidades e a formação de atitudes e valores; ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços III - o aprimoramento do educando como pessoa hu-
de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
se assenta a vida social. autonomia intelectual e do pensamento crítico;
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o IV - a compreensão dos fundamentos científico-tec-
ensino fundamental em ciclos. nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- com a prática, no ensino de cada disciplina.
gular por série podem adotar no ensino fundamental o re- Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defini-
gime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
do processo de ensino-aprendizagem, observadas as nor- conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação,
mas do respectivo sistema de ensino. nas seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em Lei nº 13.415, de 2017)
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
a utilização de suas línguas maternas e processos próprios 13.415, de 2017)
de aprendizagem. II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en- 13.415, de 2017)
sino a distância utilizado como complementação da apren- III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído
dizagem ou em situações emergenciais. pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri- IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças Lei nº 13.415, de 2017)
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de § 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o
13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá
do Adolescente, observada a produção e distribuição de estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser
material didático adequado. articulada a partir do contexto histórico, econômico, social,
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
como tema transversal nos currículos do ensino fundamental. § 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas
parte integrante da formação básica do cidadão e constitui de educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela
disciplina dos horários normais das escolas públicas de en- Lei nº 13.415, de 2017)
sino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cul- § 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática
tural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de pro- será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada
selitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) às comunidades indígenas, também, a utilização das respec-
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi- tivas línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obri-
e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão gatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão
dos professores. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
VI - cursos realizados por meio de educação a distância etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de
ou educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído certificados de qualificação para o trabalho após a conclu-
pela Lei nº 13.415, de 2017) são, com aproveitamento, de cada etapa que caracterize
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no proces- uma qualificação para o trabalho.
so de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
profissional previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, Seção V
de 2017) Da Educação de Jovens e Adultos
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con- cursos e programas:
cerne a objetivos, características e duração, de acordo com I - cursos sequenciais por campo de saber, de dife-
as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con- rentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
selho Nacional de Educação. atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de
ensino, desde que tenham concluído o ensino médio ou
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em equivalente;
articulação com o ensino regular ou por diferentes estraté- II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
gias de educação continuada, em instituições especializa- concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
das ou no ambiente de trabalho. (Regulamento) classificados em processo seletivo;
III - de pós-graduação, compreendendo programas de
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro- mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfei-
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser çoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para cursos de graduação e que atendam às exigências das ins-
prosseguimento ou conclusão de estudos. tituições de ensino;
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas institui-
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos ções de ensino.
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no
à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos
nível de escolaridade. pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a
divulgação da relação nominal dos classificados, a respec-
CAPÍTULO IV tiva ordem de classificação, bem como do cronograma das
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para
preenchimento das vagas constantes do respectivo edital.
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: (Incluído pela Lei nº 11.331, de 2006) (Renumerado do pa-
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do rágrafo único para § 1º pela Lei nº 13.184, de 2015).
espírito científico e do pensamento reflexivo; § 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhe- tituições públicas de ensino superior darão prioridade de
cimento, aptos para a inserção em setores profissionais e matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar
para a participação no desenvolvimento da sociedade bra- inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda fa-
sileira, e colaborar na sua formação contínua; miliar, quando mais de um candidato preencher o critério
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação cien- inicial. (Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015)
tífica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia § 3º O processo seletivo referido no inciso II conside-
e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver rará as competências e as habilidades definidas na Base
o entendimento do homem e do meio em que vive; Nacional Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415,
IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu- de 2017)
rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da Art. 45. A educação superior será ministrada em insti-
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de pu- tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com va-
blicações ou de outras formas de comunicação; riados graus de abrangência ou especialização.
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos,
cultural e profissional e possibilitar a correspondente con- bem como o credenciamento de instituições de educação
cretização, integrando os conhecimentos que vão sendo superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodi-
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do camente, após processo regular de avaliação. (Regulamento)
conhecimento de cada geração; § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun- eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere
do presente, em particular os nacionais e regionais, prestar este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con-
serviços especializados à comunidade e estabelecer com forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em
esta uma relação de reciprocidade; intervenção na instituição, em suspensão temporária de
VII - promover a extensão, aberta à participação da prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento.
população, visando à difusão das conquistas e benefícios § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e responsável por sua manutenção acompanhará o processo
tecnológica geradas na instituição. de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se neces-
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimora- sários, para a superação das deficiências.
mento da educação básica, mediante a formação e a capa- § 3º No caso de instituição privada, além das sanções
citação de profissionais, a realização de pesquisas pedagó- previstas no § 1º, o processo de reavaliação poderá resul-
gicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que tar também em redução de vagas autorizadas, suspensão
aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº temporária de novos ingressos e de oferta de cursos. (In-
13.174, de 2015) cluído pela Medida Provisória nº 785, de 2017)
135
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
136
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli- § 3º No caso das universidades públicas, os recursos
nares de formação dos quadros profissionais de nível su- das doações devem ser dirigidos ao caixa único da institui-
perior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do ção, com destinação garantida às unidades a serem benefi-
saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento) ciadas. (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
I - produção intelectual institucionalizada mediante o Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regio- atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e
nal e nacional; financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titu- planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
lação acadêmica de mestrado ou doutorado; § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
III - um terço do corpo docente em regime de tem- ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pú-
po integral. blicas poderão:
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e ad-
especializadas por campo do saber. (Regulamento) ministrativo, assim como um plano de cargos e salários, aten-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura- didas as normas gerais pertinentes e os recursos disponíveis;
das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguin- II - elaborar o regulamento de seu pessoal em confor-
tes atribuições: midade com as normas gerais concernentes;
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
programas de educação superior previstos nesta Lei, obe- investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
decendo às normas gerais da União e, quando for o caso, geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
do respectivo sistema de ensino; (Regulamento) Poder mantenedor;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob-
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
servadas as diretrizes gerais pertinentes;
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes-
suas peculiaridades de organização e funcionamento;
quisa científica, produção artística e atividades de extensão;
VI - realizar operações de crédito ou de financiamento,
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci-
com aprovação do Poder competente, para aquisição de
dade institucional e as exigências do seu meio;
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos bens imóveis, instalações e equipamentos;
em consonância com as normas gerais atinentes; VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo-
VII - firmar contratos, acordos e convênios; nial necessárias ao seu bom desempenho.
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições ser estendidas a instituições que comprovem alta qualifica-
em geral, bem como administrar rendimentos conforme ção para o ensino ou para a pesquisa, com base em avalia-
dispositivos institucionais; ção realizada pelo Poder Público.
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for- Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos respecti- Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
vos estatutos; desenvolvimento das instituições de educação superior por
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e ela mantidas.
cooperação financeira resultante de convênios com entida- Art. 56. As instituições públicas de educação superior
des públicas e privadas. obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegura-
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das da a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pes- participarão os segmentos da comunidade institucional,
quisa decidir, dentro dos recursos orçamentários disponí- local e regional.
veis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu-
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; parão setenta por cento dos assentos em cada órgão co-
(Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) legiado e comissão, inclusive nos que tratarem da elabora-
II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada ção e modificações estatutárias e regimentais, bem como
pela Lei nº 13.490, de 2017) da escolha de dirigentes.
III - elaboração da programação dos cursos; (Redação Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior,
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas sema-
IV - programação das pesquisas e das atividades de nais de aulas. (Regulamento)
extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
V - contratação e dispensa de professores; (Redação CAPÍTULO V
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei
nº 13.490, de 2017) Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei-
§ 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser di- tos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
rigidas a setores ou projetos específicos, conforme acor- preferencialmente na rede regular de ensino, para educan-
do entre doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
13.490, de 2017) mento e altas habilidades ou superdotação.
137
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es- I – professores habilitados em nível médio ou superior
pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida- para a docência na educação infantil e nos ensinos funda-
des da clientela de educação especial. mental e médio;
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, II – trabalhadores em educação portadores de diploma
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função de pedagogia, com habilitação em administração, plane-
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua jamento, supervisão, inspeção e orientação educacional,
integração nas classes comuns de ensino regular. bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas
§ 3º § 3º A oferta de educação especial, nos termos do mesmas áreas;
caput deste artigo, tem início na educação infantil e esten- III - trabalhadores em educação, portadores de diploma
de-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim;
o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (Redação dada pela IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
Lei nº 13.632, de 2018) respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- de áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- atestados por titulação específica ou prática de ensino em
mento e altas habilidades ou superdotação: unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva-
organização específicos, para atender às suas necessidades; mente para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluí-
II - terminalidade específica para aqueles que não pu- do pela lei nº 13.415, de 2017)
derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino V - profissionais graduados que tenham feito comple-
fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho
para concluir em menor tempo o programa escolar para os Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
superdotados; Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu-
III - professores com especialização adequada em nível cação, de modo a atender às especificidades do exercício
médio ou superior, para atendimento especializado, bem de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes
como professores do ensino regular capacitados para a in- etapas e modalidades da educação básica, terá como fun-
tegração desses educandos nas classes comuns; damentos:
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua I – a presença de sólida formação básica, que propicie
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condi- o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de
ções adequadas para os que não revelarem capacidade suas competências de trabalho;
de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação II – a associação entre teorias e práticas, mediante está-
com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que gios supervisionados e capacitação em serviço;
apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, in- III – o aproveitamento da formação e experiências an-
telectual ou psicomotora; teriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so- Art. 62. A formação de docentes para atuar na educa-
ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ção básica far-se-á em nível superior, em curso de licen-
ensino regular. ciatura plena, admitida, como formação mínima para o
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro exercício do magistério na educação infantil e nos cinco
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em ní-
matriculados na educação básica e na educação superior, a vel médio, na modalidade normal. (Redação dada pela lei
fim de fomentar a execução de políticas públicas destina- nº 13.415, de 2017)
das ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
alunado. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) nicípios, em regime de colaboração, deverão promover a
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino formação inicial, a continuada e a capacitação dos profis-
estabelecerão critérios de caracterização das instituições sionais de magistério.
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação § 2º A formação continuada e a capacitação dos profis-
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico sionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnolo-
e financeiro pelo Poder Público. gias de educação a distância.
Parágrafo único. O poder público adotará, como alter- § 3º A formação inicial de profissionais de magistério
nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu- dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fa-
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- zendo uso de recursos e tecnologias de educação a distância.
mento e altas habilidades ou superdotação na própria rede § 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
pública regular de ensino, independentemente do apoio às nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
instituições previstas neste artigo. permanência em cursos de formação de docentes em nível
superior para atuar na educação básica pública.
TÍTULO VI § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
Dos Profissionais da Educação nicípios incentivarão a formação de profissionais do ma-
gistério para atuar na educação básica pública mediante
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação esco- programa institucional de bolsa de iniciação à docência a
lar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de gra-
sido formados em cursos reconhecidos, são: duação plena, nas instituições de educação superior.
138
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria-
ensino médio como pré-requisito para o ingresso em cur- mente em programas de mestrado e doutorado.
sos de graduação para formação de docentes, ouvido o Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni-
Conselho Nacional de Educação - CNE. versidade com curso de doutorado em área afim, poderá
§ 7o (Vetado). suprir a exigência de título acadêmico.
§ 8o Os currículos dos cursos de formação de docen- Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza-
tes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular. ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes, in-
(Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº 13.415, clusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira
de 2017) do magistério público:
Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se re- I - ingresso exclusivamente por concurso público de
fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de provas e títulos;
conteúdo técnicopedagógico, em nível médio ou superior,
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive
incluindo habilitações tecnológicas.
com licenciamento periódico remunerado para esse fim;
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
III - piso salarial profissional;
para os profissionais a que se refere o caput, no local de tra-
balho ou em instituições de educação básica e superior, in- IV - progressão funcional baseada na titulação ou habi-
cluindo cursos de educação profissional, cursos superiores litação, e na avaliação do desempenho;
de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. V - período reservado a estudos, planejamento e ava-
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas liação, incluído na carga de trabalho;
de educação básica a cursos superiores de pedagogia e VI - condições adequadas de trabalho.
licenciatura será efetivado por meio de processo seletivo § 1o A experiência docente é pré-requisito para o exer-
diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) cício profissional de quaisquer outras funções de magisté-
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput rio, nos termos das normas de cada sistema de ensino.
deste artigo os professores das redes públicas municipais, § 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e
estaduais e federal que ingressaram por concurso público, no § 8o do art. 201 da Constituição Federal, são conside-
tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e radas funções de magistério as exercidas por professores
não sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído e especialistas em educação no desempenho de ativida-
pela Lei nº 13.478, de 2017) des educativas, quando exercidas em estabelecimento de
§ 2º As instituições de ensino responsáveis pela ofer- educação básica em seus diversos níveis e modalidades,
ta de cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão incluídas, além do exercício da docência, as de direção de
critérios adicionais de seleção sempre que acorrerem aos unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pe-
certames interessados em número superior ao de vagas dagógico.
disponíveis para os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº § 3o A União prestará assistência técnica aos Estados,
13.478, de 2017) ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de con-
§ 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem de- cursos públicos para provimento de cargos dos profissio-
finidos em regulamento pelas universidades, terão priori- nais da educação.
dade de ingresso os professores que optarem por cursos
de licenciatura em matemática, física, química, biologia e TÍTULO VII
língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) Dos Recursos financeiros
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
I - cursos formadores de profissionais para a educa-
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação
ção básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
os originários de:
formação de docentes para a educação infantil e para as
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados,
primeiras séries do ensino fundamental;
II - programas de formação pedagógica para porta- do Distrito Federal e dos Municípios;
dores de diplomas de educação superior que queiram se II - receita de transferências constitucionais e outras
dedicar à educação básica; transferências;
III - programas de educação continuada para os profis- III - receita do salário-educação e de outras contribui-
sionais de educação dos diversos níveis. ções sociais;
IV - receita de incentivos fiscais;
Art. 64. A formação de profissionais de educação para V - outros recursos previstos em lei.
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien-
tação educacional para a educação básica, será feita em Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas
nesta formação, a base comum nacional. Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação impostos, compreendidas as transferências constitucionais,
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezen- na manutenção e desenvolvimento do ensino público. (Vide
tas horas. Medida Provisória nº 773, de 2017) (Vigência encerrada).
139
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida III - formação de quadros especiais para a administra-
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- ção pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
pios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será IV - programas suplementares de alimentação, assis-
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e
receita do governo que a transferir. outras formas de assistência social;
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im- V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
postos mencionadas neste artigo as operações de crédito beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
por antecipação de receita orçamentária de impostos. VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa-
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a re- manutenção e desenvolvimento do ensino.
ceita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quan- Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
do for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação.
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas
que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendi-
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita-
mento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apu-
radas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro. riamente, na prestação de contas de recursos públicos, o
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Fe-
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- deral, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela Transitórias e na legislação concernente.
educação, observados os seguintes prazos: Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mí-
cada mês, até o vigésimo dia; nimo de oportunidades educacionais para o ensino fun-
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé- damental, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno,
simo dia de cada mês, até o trigésimo dia; capaz de assegurar ensino de qualidade.
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar-
final de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente. tigo será calculado pela União ao final de cada ano, com
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor- validade para o ano subsequente, considerando variações
reção monetária e à responsabilização civil e criminal das regionais no custo dos insumos e as diversas modalidades
autoridades competentes. de ensino.
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de- Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos
senvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamen-
à consecução dos objetivos básicos das instituições edu- te, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo
cacionais de todos os níveis, compreendendo as que se de qualidade de ensino.
destinam a: § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen- fórmula de domínio público que inclua a capacidade de
te e demais profissionais da educação; atendimento e a medida do esforço fiscal do respectivo
II - aquisição, manutenção, construção e conservação Estado, do Distrito Federal ou do Município em favor da
de instalações e equipamentos necessários ao ensino; manutenção e do desenvolvimento do ensino.
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados § 2º A capacidade de atendimento de cada governo
ao ensino;
será definida pela razão entre os recursos de uso constitu-
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas vi-
cionalmente obrigatório na manutenção e desenvolvimen-
sando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à
to do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão
expansão do ensino;
mínimo de qualidade.
V - realização de atividades-meio necessárias ao fun-
cionamento dos sistemas de ensino; § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas 2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos
públicas e privadas; a cada estabelecimento de ensino, considerado o número
VII - amortização e custeio de operações de crédito de alunos que efetivamente frequentam a escola.
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
VIII - aquisição de material didático-escolar e manu- exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
tenção de programas de transporte escolar. Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de capacidade de atendimento.
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no ar-
que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua tigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento
qualidade ou à sua expansão; pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.
caráter assistencial, desportivo ou cultural;
140
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco- § 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efe-
confessionais ou filantrópicas que: tivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam a oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como
resultados, dividendos, bonificações, participações ou par- de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas
cela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; especiais.
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; Art. 79-A. (Vetado)
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no-
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po- vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
der Público, no caso de encerramento de suas atividades; Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen-
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos to e a veiculação de programas de ensino a distância, em
recebidos. todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser continuada. (Regulamento)
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na § 1º A educação a distância, organizada com abertura
forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de e regime especiais, será oferecida por instituições especifi-
recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares camente credenciadas pela União.
da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder § 2º A União regulamentará os requisitos para a reali-
Público obrigado a investir prioritariamente na expansão zação de exames e registro de diploma relativos a cursos
da sua rede local. de educação a distância.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão § 3º As normas para produção, controle e avaliação de
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclu- programas de educação a distância e a autorização para
sive mediante bolsas de estudo. sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os
TÍTULO VIII diferentes sistemas. (Regulamento)
Das Disposições Gerais
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento dife-
renciado, que incluirá:
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo-
I - custos de transmissão reduzidos em canais comer-
ração das agências federais de fomento à cultura e de as-
ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em ou-
sistência aos índios, desenvolverá programas integrados de
tros meios de comunicação que sejam explorados median-
ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue
te autorização, concessão ou permissão do poder público;
e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes ob-
II - concessão de canais com finalidades exclusivamen-
jetivos:
te educativas;
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas Público, pelos concessionários de canais comerciais.
e ciências; Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti-
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as
acesso às informações, conhecimentos técnicos e científi- disposições desta Lei.
cos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas
e não-índias. de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os federal sobre a matéria.
sistemas de ensino no provimento da educação intercultu- Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
ral às comunidades indígenas, desenvolvendo programas admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor-
integrados de ensino e pesquisa. mas fixadas pelos sistemas de ensino.
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
comunidades indígenas. aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas res-
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- pectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes acordo com seu rendimento e seu plano de estudos.
objetivos: Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua mater- própria poderá exigir a abertura de concurso público de
na de cada comunidade indígena; provas e títulos para cargo de docente de instituição públi-
II - manter programas de formação de pessoal espe- ca de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
cializado, destinado à educação escolar nas comunidades concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos
indígenas; assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do
III - desenvolver currículos e programas específicos, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às Art. 86. As instituições de educação superior constituí-
respectivas comunidades; das como universidades integrar-se-ão, também, na sua
IV - elaborar e publicar sistematicamente material di- condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional
dático específico e diferenciado. de Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação específica.
141
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
142
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
III - orientar os cursos de formação inicial e continua- federativa brasileira, em que convivem sistemas educacio-
da de docentes e demais profissionais da Educação Básica, nais autônomos, para assegurar efetividade ao projeto da
os sistemas educativos dos diferentes entes federados e educação nacional, vencer a fragmentação das políticas
as escolas que os integram, indistintamente da rede a que públicas e superar a desarticulação institucional.
pertençam. § 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sis-
tema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo,
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas com suas peculiares competências, é chamado a colaborar
para as etapas e modalidades da Educação Básica devem para transformar a Educação Básica em um sistema orgâni-
evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas, co, sequencial e articulado.
sociais, culturais, educacionais, e a função da educação, § 2º O que caracteriza um sistema é a atividade inten-
na sua relação com um projeto de Nação, tendo como re- cional e organicamente concebida, que se justifica pela
ferência os objetivos constitucionais, fundamentando-se realização de atividades voltadas para as mesmas finalida-
na cidadania e na dignidade da pessoa, o que pressupõe
des ou para a concretização dos mesmos objetivos.
igualdade, liberdade, pluralidade, diversidade, respeito,
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados
justiça social, solidariedade e sustentabilidade.
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência
TÍTULO II entre as funções distributiva, supletiva, normativa, de su-
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS pervisão e avaliação da educação nacional, respeitada a au-
tonomia dos sistemas e valorizadas as diferenças regionais.
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacio-
nal de educação responsabilizam o poder público, a família, TÍTULO IV
a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
de um ensino ministrado de acordo com os princípios de: QUALIDADE SOCIAL
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, per-
manência e sucesso na escola; Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendiza-
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; gens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qua-
IV - respeito à liberdade e aos direitos; lidade social da educação, que é uma conquista coletiva de
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; todos os sujeitos do processo educativo.
VI - gratuidade do ensino público em estabeleci- Art. 9º A escola de qualidade social adota como cen-
mentos oficiais; tralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
VII - valorização do profissional da educação escolar; atendimento aos seguintes requisitos:
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da I - revisão das referências conceituais quanto aos dife-
legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
IX - garantia de padrão de qualidade; sociais na escola e fora dela;
X - valorização da experiência extraescolar; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
as práticas sociais. cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações
de cada comunidade;
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce
III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude,
aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como ins-
da qual depende a possibilidade de conquistar todos os
trumento de contínua progressão dos estudantes;
demais direitos, definidos na Constituição Federal, no Es-
IV - inter-relação entre organização do currículo, do
tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na legislação
ordinária e nas demais disposições que consagram as prer- trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes-
rogativas do cidadão. sor, tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
V - preparação dos profissionais da educação, gesto-
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilida- VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
de, buscando recuperar, para a função social desse nível da fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
em formação na sua essência humana. acessibilidade;
VII - integração dos profissionais da educação, dos es-
TÍTULO III tudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interes-
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO sados na educação;
VIII - valorização dos profissionais da educação, com
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a insti- programa de formação continuada, critérios de acesso,
tucionalização do regime de colaboração entre União, Esta- permanência, remuneração compatível com a jornada de
dos, Distrito Federal e Municípios, no contexto da estrutura trabalho definida no projeto político-pedagógico;
143
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, defi-
assistência social e desenvolvimento humano, cidadania, nir o programa de escolas de tempo parcial diurno (matuti-
ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde, no ou vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral
meio ambiente. (turno e contra turno ou turno único com jornada escolar
Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí- de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo), ten-
nimos de qualidade da educação traduz a necessidade de do em vista a amplitude do papel socioeducativo atribuído
reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação planeja- ao conjunto orgânico da Educação Básica, o que requer ou-
da, coletivamente, pelos sujeitos da escola. tra organização e gestão do trabalho pedagógico.
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou
§ 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
diferentes espaços educativos, nos quais a permanência
escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
do estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade
I - aos princípios e às finalidades da educação, além
do tempo diário de escolarização quanto à diversidade de
do reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo atividades de aprendizagens.
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou § 2º A jornada em tempo integral com qualidade im-
outros indicadores, que o complementem ou substituam; plica a necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no
II - à relevância de um projeto político-pedagógico currículo, de atividades e estudos pedagogicamente plane-
concebido e assumido colegiadamente pela comunidade jados e acompanhados.
educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu- § 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem esta-
ralidade cultural; belecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à
III - à riqueza da valorização das diferenças manifesta- experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens
das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos e adultos em escolarização no tempo regular ou na moda-
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural; lidade de Educação de Jovens e Adultos.
IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Alu-
no-Qualidade Inicial – CAQi); CAPÍTULO I
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exige- FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
-se um padrão mínimo de insumos, que tem como base
um investimento com valor calculado a partir das despesas Art. 13. O currículo, assumindo como referência os
princípios educacionais garantidos à educação, assegu-
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedi-
rados no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o
mentos formativos, que levem, gradualmente, a uma edu-
conjunto de valores e práticas que proporcionam a produ-
cação integral, dotada de qualidade social:
ção, a socialização de significados no espaço social e con-
I - creches e escolas que possuam condições de in- tribuem intensamente para a construção de identidades
fraestrutura e adequados equipamentos; socioculturais dos educandos.
II - professores qualificados com remuneração adequa- § 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais
da e compatível com a de outros profissionais com igual do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos,
nível de formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) do respeito ao bem comum e à ordem democrática, consi-
horas em tempo integral em uma mesma escola; derando as condições de escolaridade dos estudantes em
III - definição de uma relação adequada entre o nú- cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a pro-
mero de alunos por turma e por professor, que assegure moção de práticas educativas formais e não-formais.
aprendizagens relevantes; § 2º Na organização da proposta curricular, deve-se
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que res- assegurar o entendimento de currículo como experiências
ponda às exigências do que se estabelece no projeto polí- escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
tico-pedagógico. permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e
saberes dos estudantes com os conhecimentos historica-
TÍTULO V mente acumulados e contribuindo para construir as identi-
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, dades dos educandos.
POSSIBILIDADES § 3º A organização do percurso formativo, aberto e
contextualizado, deve ser construída em função das pecu-
liaridades do meio e das características, interesses e neces-
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que
sidades dos estudantes, incluindo não só os componentes
se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo- curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e
-se as identidades culturais, em que se aprende a valorizar nas normas educacionais, mas outros, também, de modo
as raízes próprias das diferentes regiões do País. flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e asse-
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a su- gurando:
peração do rito escolar, desde a construção do currículo I - concepção e organização do espaço curricular e fí-
até os critérios que orientam a organização do trabalho sico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, am-
escolar em sua multidimensionalidade, privilegia trocas, bientes e equipamentos que não apenas as salas de aula
acolhimento e aconchego, para garantir o bem-estar de da escola, mas, igualmente, os espaços de outras escolas
crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento e os socioculturais e esportivo recreativos do entorno, da
entre todas as pessoas. cidade e mesmo da região;
144
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
145
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
da escola, que deve considerar o atendimento das caracte- § 2º A transição entre as etapas da Educação Básica
rísticas locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo e suas fases requer formas de articulação das dimensões
em vista as demandas do mundo do trabalho e da interna- orgânica e sequencial que assegurem aos educandos, sem
cionalização de toda ordem de relações. tensões e rupturas, a continuidade de seus processos pecu-
§ 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005, liares de aprendizagem e desenvolvimento.
é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora fa-
cultativa para o estudante, bem como possibilitada no En- Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade,
sino Fundamental, do 6º ao 9º ano. seus princípios, objetivos e diretrizes educacionais, funda-
Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB, de- mentando-se na inseparabilidade dos conceitos referen-
terminam que sejam incluídos componentes não discipli- ciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção norteado-
nares, como temas relativos ao trânsito, ao meio ambiente ra do projeto político-pedagógico elaborado e executado
e à condição e direitos do idoso. pela comunidade educacional.
Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio,
Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos
destinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horá-
mentais, socioemocionais, culturais e identitários é um
ria anual ao conjunto de programas e projetos interdisci-
princípio orientador de toda a ação educativa, sendo res-
plinares eletivos criados pela escola, previsto no projeto
ponsabilidade dos sistemas a criação de condições para
pedagógico, de modo que os estudantes do Ensino Fun-
que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua di-
damental e do Médio possam escolher aquele programa versidade, tenham a oportunidade de receber a formação
ou projeto com que se identifiquem e que lhes permitam que corresponda à idade própria de percurso escolar.
melhor lidar com o conhecimento e a experiência.
§ 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvi- CAPÍTULO I
dos de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
com a comunidade em que a escola esteja inserida.
§ 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes mo-
assegurar a transversalidade do conhecimento de diferen- mentos constitutivos do desenvolvimento educacional:
tes disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o cur- I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche,
rículo e propiciando a interlocução entre os saberes e os englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da
diferentes campos do conhecimento. criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola,
com duração de 2 (dois) anos;
TÍTULO VI II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas
fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se finais; III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três)
observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a to- anos.
das as suas etapas, modalidades e orientações temáticas, Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de
respeitadas as suas especificidades e as dos sujeitos a que idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quan-
se destinam. do se atenta para sujeitos com características que fogem à
§ 1º As etapas e as modalidades do processo de es- norma, como é o caso, entre outros:
colarização estruturam-se de modo orgânico, sequencial e I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar;
articulado, de maneira complexa, embora permanecendo II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
abandonado os estudos;
individualizadas ao logo do percurso do estudante, apesar
III - de portadores de deficiência limitadora;
das mudanças por que passam:
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta
I - a dimensão orgânica é atendida quando são obser-
incompleta;
vadas as especificidades e as diferenças de cada sistema
V - de habitantes de zonas rurais;
educativo, sem perder o que lhes é comum: as semelhan-
VI - de indígenas e quilombolas;
ças e as identidades que lhe são inerentes; VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou
II - a dimensão sequencial compreende os processos internação, jovens e adultos em situação de privação de
educativos que acompanham as exigências de aprendiza- liberdade nos estabelecimentos penais.
gens definidas em cada etapa do percurso formativo, con-
tínuo e progressivo, da Educação Básica até a Educação Seção I
Superior, constituindo-se em diferentes e insubstituíveis Educação Infantil
momentos da vida dos educandos;
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desen-
das etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas volvimento integral da criança, em seus aspectos físico,
com a Educação Superior, implica ação coordenada e inte- afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a
gradora do seu conjunto. ação da família e da comunidade.
146
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 1º As crianças provêm de diferentes e singulares con- II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três)
textos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso primeiros anos;
devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas III - compreensão do ambiente natural e social, do sis-
pela escola e pelos profissionais da educação, com base tema político, da economia, da tecnologia, das artes, da
nos princípios da individualidade, igualdade, liberdade, di- cultura e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
versidade e pluralidade. IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
§ 2º Para as crianças, independentemente das diferen- gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habi-
tes condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, lidades e a formação de atitudes e valores;
étnico-raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, en- V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
solidariedade humana e de respeito recíproco em que se
tre outras, as relações sociais e intersubjetivas no espaço
assenta a vida social.
escolar requerem a atenção intensiva dos profissionais da Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem esta-
educação, durante o tempo de desenvolvimento das ativi- belecer especial forma de colaboração visando à oferta do
dades que lhes são peculiares, pois este é o momento em Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a pri-
que a curiosidade deve ser estimulada, a partir da brinca- meira fase, no geral assumida pelo Município, e a segunda,
deira orientada pelos profissionais da educação. pelo Estado, para evitar obstáculos ao acesso de estudantes
§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade que se transfiram de uma rede para outra para completar
humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida so- esta escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade e
cial devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensifica- a totalidade do processo formativo do escolar.
ção deve ocorrer ao longo da Educação Básica.
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços Seção III
promovendo ações a partir das quais as unidades de Edu- Ensino Médio
cação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as
crianças, em estreita relação com a família, com agentes Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo for-
sociais e com a sociedade, prevendo programas e projetos mativo da Educação Básica, é orientado por princípios e
em parceria, formalmente estabelecidos. finalidades que preveem:
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que se I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
mentos adquiridos no Ensino
torna necessária a solução de problemas individuais e co-
Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
letivos pelas crianças devem ser previamente programadas, II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
com foco nas motivações estimuladas e orientadas pelos tomado este como princípio educativo, para continuar
professores e demais profissionais da educação e outros aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas con-
de áreas pertinentes, respeitados os limites e as potenciali- dições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
dades de cada criança e os vínculos desta com a família ou III - o desenvolvimento do educando como pessoa hu-
com o seu responsável direto. mana, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvi-
mento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
Seção II IV - a compreensão dos fundamentos científicos e tec-
Ensino Fundamental nológicos presentes na sociedade contemporânea, relacio-
nando a teoria com a prática.
Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de § 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a
duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir qual podem se assentar possibilidades diversas como pre-
dos 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com paração geral para o trabalho ou, facultativamente, para
características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como inicia-
(cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 ção científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da
(seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) formação cultural.
§ 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se
anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas
Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher sig- singularidades, que se situam em um tempo determinado.
nifica também cuidar e educar, como forma de garantir § 3º Os sistemas educativos devem prever currículos
a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens
estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe tenham a oportunidade de escolher o percurso formati-
permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na co- vo que atenda seus interesses, necessidades e aspirações,
munidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que para que se assegure a permanência dos jovens na escola,
lhe possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado com proveito, até a conclusão da Educação Básica.
desses bens.
Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças, CAPÍTULO II
definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no pri-
meiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e inten- Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode cor-
sificando, gradativamente, o processo educativo, mediante: responder uma ou mais das modalidades de ensino: Edu-
I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo cação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação
e do cálculo; Escolar Indígena e Educação a Distância.
147
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
148
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Art. 33. A organização curricular da Educação Profissio- Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser
nal e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na considerada a participação da comunidade, na definição
identificação das tecnologias que se encontram na base de do modelo de organização e gestão, bem como:
uma dada formação profissional e dos arranjos lógicos por I - suas estruturas sociais;
elas constituídos. II - suas práticas socioculturais e religiosas;
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos
III - suas formas de produção de conhecimento, pro-
tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica,
como os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, cessos próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
podem ser objeto de avaliação, reconhecimento e certifica- IV - suas atividades econômicas;
ção para prosseguimento ou conclusão de estudos. V - edificação de escolas que atendam aos interesses
das comunidades indígenas;
Seção IV VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de
Educação Básica do Campo acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.
149
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
150
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
§ 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Funda- rever o conjunto de objetivos e metas a serem concreti-
mental e no Ensino Médio, de caráter formativo predo- zados, mediante ação dos diversos segmentos da comu-
minando sobre o quantitativo e classificatório, adota uma nidade educativa, o que pressupõe delimitação de indica-
estratégia de progresso individual e contínuo que favorece dores compatíveis com a missão da escola, além de clareza
o crescimento do educando, preservando a qualidade ne- quanto ao que seja qualidade social da aprendizagem e da
cessária para a sua formação escolar, sendo organizada de escola.
acordo com regras comuns a essas duas etapas.
Seção IV
Seção II Avaliação de redes de Educação Básica
Promoção, aceleração de estudos e classificação
Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre
Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Funda- periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e
mental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em qual- engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que
quer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de per- os resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade
curso adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental, se a escola apresenta qualidade suficiente para continuar
alicerçando-se na orientação de que a avaliação do rendi- funcionando como está.
mento escolar observará os seguintes critérios:
I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do CAPÍTULO III
estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ES-
os quantitativos e dos resultados ao longo do período so- COLA
bre os de eventuais provas finais;
II - possibilidade de aceleração de estudos para estu- Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho pe-
dantes com atraso escolar; dagógico e da gestão da escola conceber a organização e
III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedi-
mediante verificação do aprendizado; mentos que viabilizam o trabalho expresso no projeto po-
lítico-pedagógico e em planos da escola, em que se con-
IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
formam as condições de trabalho definidas pelas instâncias
V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado
colegiadas.
à recuperação contínua e concomitante de aprendizagem
§ 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as
de estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser pre-
do seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e
visto no regimento escolar.
abrangentes, que exigem outra concepção de organização
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudan-
do trabalho pedagógico, como distribuição da carga horária,
tes com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, en- remuneração, estratégias claramente definidas para a ação
contram-se em descompasso de idade, por razões como didáticopedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação
ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de en- de novas abordagens e práticas metodológicas, incluindo a
sino-aprendizagem ou outras. produção de recursos didáticos adequados às condições da
Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo escola e da comunidade em que esteja ela inserida.
que esta deve preservar a sequência do currículo e obser- § 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino pú-
var as normas do respectivo sistema de ensino, requerendo blico e prevista, em geral, para todas as instituições de en-
o redesenho da organização das ações pedagógicas, com sino, o que implica decisões coletivas que pressupõem a
previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para participação da comunidade escolar na gestão da escola
professor e estudante, com conjunto próprio de recursos e a observância dos princípios e finalidades da educação.
didáticopedagógica. § 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve
Art. 51. As escolas que utilizam organização por série se empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e
podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da da pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado
avaliação do processo ensino-aprendizagem, diversas for- possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é
mas de progressão, inclusive a de progressão continuada, a de se fundamentar em princípio educativo emancipador,
jamais entendida como promoção automática, o que supõe expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di-
tratar o conhecimento como processo e vivência que não se vulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.
harmoniza com a ideia de interrupção, mas sim de constru-
ção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação, está em Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instru-
processo contínuo de formação, construindo significados. mento de horizontalização das relações, de vivência e con-
vivência colegiada, superando o autoritarismo no planeja-
Seção III mento e na concepção e organização curricular, educando
Avaliação institucional para a conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação
conjunta que busca criar e recriar o trabalho da e na escola
Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser pre- mediante:
vista no projeto políticopedagógico e detalhada no plano I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto
de gestão, realizada anualmente, levando em consideração ser que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma con-
as orientações contidas na regulamentação vigente, para vivência social libertadora fundamentada na ética cidadã;
151
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
II - a superação dos processos e procedimentos buro- inicial e continuada de docentes e não docentes, no con-
cráticos, assumindo com pertinência e relevância: os planos texto do conjunto de múltiplas atribuições definidas para
pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais, e os sistemas educativos, em que se inscrevem as funções
as atividades de avaliação contínua; do professor.
III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comu- § 2º Os programas de formação inicial e continuada
nidade educacional discutam a própria práxis pedagógica dos profissionais da educação, vinculados às orientações
impregnando-a de entusiasmo e de compromisso com a destas Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho
sua própria comunidade, valorizando-a, situando-a no con- de suas atribuições, considerando necessário:
texto das relações sociais e buscando soluções conjuntas; a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, sa-
IV - a construção de relações interpessoais solidárias, ber pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto
geridas de tal modo que os professores se sintam estimula- é, interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente;
dos a conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho, b) trabalhar cooperativamente em equipe;
estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os
suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais; instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológi-
V - a instauração de relações entre os estudantes, pro- ca, econômica e organizativa;
porcionando-lhes espaços de convivência e situações de d) desenvolver competências para integração com a
aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com- comunidade e para relacionamento com as famílias.
preender e se organizar em equipes de estudos e de práti- Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura,
cas esportivas, artísticas e políticas; não esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, sabe-
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor res e habilidades referidas, razão pela qual um programa
no cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola de formação continuada dos profissionais da educação
interage, em busca da qualidade social das aprendizagens será contemplado no projeto político-pedagógico.
que lhe caiba desenvolver, com transparência e responsa- Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orien-
bilidade. tações para que o projeto de formação dos profissionais
preveja:
CAPÍTULO IV a) a consolidação da identidade dos profissionais da
O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTI- educação, nas suas relações com a escola e com o estudante;
NUADA b) a criação de incentivos para o resgate da imagem
social do professor, assim como da autonomia docente
Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamenta- tanto individual como coletiva;
ção da ação docente e os programas de formação inicial e c) a definição de indicadores de qualidade social da
continuada dos profissionais da educação instauram, refle- educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
te-se na eleição de um ou outro método de aprendizagem, profissionais da educação revejam os projetos dos cursos
a partir do qual é determinado o perfil de docente para a de formação inicial e continuada de docentes, de modo
Educação Básica, em atendimento às dimensões técnicas, que correspondam às exigências de um projeto de Nação.
políticas, éticas e estéticas.
§ 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
formação dos profissionais da educação, sejam gestores, publicação.
professores ou especialistas, deverão incluir em seus currí-
culos e programas: 6.1 Ensino Médio.
a) o conhecimento da escola como organização com- 6.1.1 Diretrizes, Parâmetros Curriculares, currículo
plexa que tem a função de promover a educação para e na e avaliação. 6.1.2 Interdisciplinaridade e contextualiza-
cidadania; ção no Ensino Médio.
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de 6.1.2 Interdisciplinaridade e contextualização no
investigações de interesse da área educacional; Ensino Médio.
c) a participação na gestão de processos educativos e
na organização e funcionamento de sistemas e instituições Em uma perspectiva histórica (UNESCO, 2009), verifi-
de ensino; ca-se que foi a reforma educacional conhecida pelo nome
d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à do Ministro Francisco Campos, que regulamentou e orga-
construção do projeto políticopedagógico, mediante tra- nizou o ensino secundário, além do ensino profissional e
balho coletivo de que todos os que compõem a comunida- comercial (Decreto no 18.890/31) que estabeleceu a 153
de escolar são responsáveis. modernização do ensino secundário nacional.
Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação Apesar de modernizadora, essa reforma não rompeu
nacional está a valorização do profissional da educação, com a tradição de uma educação voltada para as elites e
com a compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, setores emergentes da classe média, pois foi concebida
com qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética, para conduzir seus estudantes para o ingresso nos cursos
estética, ambiental. superiores.
§ 1º A valorização do profissional da educação escolar Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema,
vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e foi instituído o conjunto das Leis Orgânicas da Educação Na-
ambas se associam à exigência de programas de formação cional, que configuraram a denominada Reforma Capanema:
152
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a) Lei orgânica do ensino secundário, de 1942; b) Lei or- II do Título V com a Seção IV-A, denominada “Da Educação
gânica do ensino comercial, de 1943; c) Leis orgânicas do Profissional Técnica de Nível Médio”, e com os artigos 36-A,
ensino primário, de 1946. Nas leis orgânicas firmou-se o 36-B, 36-C e 36-D. Esta lei incorporou o essencial do Decre-
objetivo do ensino secundário de formar as elites conduto- to nº 5.154/2004, sobretudo, revalorizando a possibilidade
ras do país, a par do ensino profissional, este mais voltado do Ensino Médio integrado com a Educação Profissional
para as necessidades emergentes da economia industrial e Técnica, contrariamente ao que o Decreto nº 2.208/97 an-
da sociedade urbana. teriormente havia disposto.
Nessa reforma, o ensino secundário mantinha dois ci- A LDB define como finalidades do Ensino Médio a pre-
clos: o primeiro correspondia ao curso ginasial, com du- paração para a continuidade dos estudos, a preparação bá-
ração de 4 anos, destinado a fundamentos; o segundo sica para o trabalho e o exercício da cidadania. Determina,
correspondia aos cursos clássico e científico, com duração ainda, uma base nacional comum e uma parte diversificada
de 3 anos, com o objetivo de consolidar a educação mi- para a organização do currículo escolar. Na sequência, fo-
nistrada no ginasial. O ensino secundário, de um lado, e ram formuladas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
o ensino profissional, de outro, não se comunicavam nem Ensino Médio, 154 em 1998, que destacam que as ações
propiciavam circulação de estudos, o que veio a ocorrer na administrativas e pedagógicas dos sistemas de ensino e
década seguinte. Em 1950, a equivalência entre os estu- das escolas devem ser coerentes com princípios estéticos,
dos acadêmicos e os profissionais foi uma mudança deci- políticos e éticos, abrangendo a estética da sensibilidade, a
siva, comunicando os dois tipos de ensino. A Lei Federal nº política da igualdade e a ética da identidade. Afirmam que
1.076/50 permitiu que concluintes de cursos profissionais as propostas pedagógicas devem ser orientadas por com-
ingressassem em cursos superiores, desde que comprovas- petências básicas, conteúdos e formas de tratamento dos
sem nível de conhecimento indispensável à realização dos conteúdos previstos pelas finalidades do Ensino Médio. Os
aludidos estudos. Na década seguinte, sobreveio a plena princípios pedagógicos da identidade, diversidade e auto-
equivalência entre os cursos, com a equiparação, para to- nomia, da interdisciplinaridade e da contextualização são
dos os efeitos, do ensino profissional ao ensino propedêu- adotados como estruturadores dos currículos. A base na-
tico, efetivada pela primeira Lei de Diretrizes e Bases da
cional comum organiza-se, a partir de então, em três áreas
Educação Nacional (Lei nº 4.024/61).
de conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;
Novo momento decisivo ocorreu dez anos depois, com
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e
a promulgação da Lei no 5.692/71, que reformou a Lei nº
Ciências Humanas e suas Tecnologias.
4.024/61, no que se refere ao, então, ensino de 1º e de
Mesmo considerando o tratamento dado ao trabalho
2º graus. Note-se que ocorreu aqui uma transposição do
didático-pedagógico, com as possibilidades de organiza-
antigo ginasial, até então considerado como fase inicial do
ção do Ensino Médio, tem-se a percepção que tal discus-
ensino secundário, para constituir-se na fase final do 1o
são não chegou às escolas, mantendo-se atenção extre-
grau de oito anos.
Para o 2º grau (correspondente ao atual Ensino Médio), ma no tratamento de conteúdos sem a articulação com
a profissionalização torna-se obrigatória, supostamente o contexto do estudante e com os demais componentes
para eliminar o dualismo entre uma formação clássica e das áreas de conhecimento e sem aproximar-se das fina-
científica, preparadora para os estudos superiores e, outra, lidades propostas para a etapa de ensino, constantes na
profissional (industrial, comercial e agrícola), além do Curso LDB. Foi observado em estudo promovido pela UNESCO,
Normal, destinado à formação de professores para a pri- que incluiu estudos de caso em dois Estados, que os dita-
meira fase do 1o grau. A implantação generalizada da ha- mes legais e normativos e as concepções teóricas, mesmo
bilitação profissional trouxe, entre seus efeitos, sobretudo quando assumidas pelos órgãos centrais de uma Secreta-
para o ensino público, a perda de identidade que o 2º grau ria Estadual de Educação, têm fraca ressonância nas esco-
passara a ter, seja a propedêutica para o ensino superior, las e, até, pouca ou nenhuma, na atuação dos professores
seja a de terminalidade profissional. Passada uma década, (UNESCO, 2009).O Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e a Resolu-
foi editada a Lei nº 7.044/82, tornando facultativa essa pro- ção CNE/ CEB nº 4/2010, que definem as Diretrizes Curri-
fissionalização no 2º grau. culares Nacionais Gerais para Educação Básica, especifica-
O mais novo momento decisivo veio com a atual lei de mente quanto ao Ensino Médio, reiteram que é etapa final
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei Federal do processo formativo da Educação Básica e indicam que
nº 9.394/96, que ainda vem recebendo sucessivas altera- deve ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar
ções e acréscimos. A LDB define o Ensino Médio como uma possibilidades diversas.
etapa do nível denominado Educação Básica, constituído A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em
pela Educação Infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo En- uma lógica que se dirige, predominantemente, aos jovens,
sino Médio, sendo este sua etapa final. considerando suas singularidades, que se situam em um
Das alterações ocorridas na LDB, destacam-se, aqui, tempo determinado. Os sistemas educativos devem prever
as trazidas pela Lei nº 11.741/2008, a qual redimensionou, currículos flexíveis, com diferentes alternativas, para que
institucionalizou e integrou as ações da Educação Profis- os jovens tenham a oportunidade de escolher o percurso
sional Técnica de Nível Médio, da Educação de Jovens e formativo que atenda seus interesses, necessidades e aspi-
Adultos e da Educação Profissional e Tecnológica. Foram rações, para que se assegure a permanência dos jovens na
alterados os artigos 37, 39, 41 e 42, e acrescido o Capítulo escola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica.
153
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Pesquisas realizadas com estudantes mostram a neces- tal no que se refere à empregabilidade, não conseguem
sidade de essa etapa educacional adotar procedimentos atribuir-lhe um sentido imediato (Sposito, 2005). Vivem
que guardem maior relação com o projeto de vida dos es- ansiosos por uma escola que lhes proporcione chances mí-
tudantes como forma de ampliação da permanência e do nimas de trabalho e que se relacione com suas experiências
sucesso dos mesmos na escola. presentes.
Estas Diretrizes orientam-se no sentido do oferecimen- Além de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra
to de uma formação humana integral, evitando a orienta- forma recorrente de representar a juventude é vê-la como
ção limitada da preparação para o vestibular e patrocinan- um tempo de liberdade, de experimentação e irresponsa-
do um sonho de futuro para todos os estudantes do Ensi- bilidade (Dayrell, 2003). Essas duas maneiras de representar
no Médio. Esta orientação visa à construção de um Ensino a juventude – como um “vir a ser” e como um tempo de
Médio que apresente uma unidade e que possa atender a liberdade – mostram-se distantes da realidade da maioria
diversidade mediante o oferecimento de diferentes formas dos jovens brasileiros. Para esses, o trabalho não se situa
de organização curricular, o fortalecimento do projeto po- no futuro, já fazendo parte de suas preocupações presen-
lítico pedagógico e a criação das condições para a necessá- tes. Uma pesquisa realizada com jovens de várias regiões
ria discussão sobre a organização do trabalho pedagógico.
brasileiras, moradores de zonas urbanas de cidades peque-
nas e capitais, bem como da zona rural, constatou que 60%
Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio
dos entrevistados frequentavam escolas. Contudo, 75% de-
As juventudes les já estavam inseridos ou buscando inserção no mundo
do trabalho (Sposito, 2005). Ou seja, o mundo do trabalho
Os estudantes do Ensino Médio são predominante- parece estar mais presente na vida desses sujeitos do que
mente adolescentes e jovens. Segundo o Conselho Nacio- a escola.
nal de Juventude (CONJUVE), são considerados jovens os Muitos jovens abandonam a escola ao conseguir em-
sujeitos com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos, prego, alegando falta de tempo. Todavia, é possível que, se
ainda que a noção de juventude não possa ser reduzida os jovens atribuíssem um sentido mais vivo e uma maior
a um recorte etário (Brasil, 2006). Em consonância com o importância à sua escolarização, uma parcela maior con-
CONJUVE, esta proposta de atualização das Diretrizes Cur- tinuasse frequentando as aulas, mesmo depois de empre-
riculares Nacionais para o Ensino Médio concebe a juven- gados. O desencaixe entre a escola e os jovens não deve
tude como condição sócio-histórico-cultural de uma cate- ser visto como decorrente, nem de uma suposta incompe-
goria de sujeitos que necessita ser considerada em suas tência da instituição, nem de um suposto desinteresse dos
múltiplas dimensões, com especificidades próprias que estudantes. As análises se tornam produtivas à medida que
não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas enfoquem a relação entre os sujeitos e a escola no âmbito
que se encontram articuladas com uma multiplicidade de de um quadro mais amplo, considerando as transformações
atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas sociais em curso. Essas transformações estão produzindo
culturas juvenis ou muitas juventudes. sujeitos com estilos de vida, valores e práticas sociais que
Entender o jovem do Ensino Médio dessa forma sig- os tornam muito distintos das gerações anteriores (Dayrell,
nifica superar uma noção homogeneizante e naturalizada 2007). Entender tal processo de transformação é relevante
desse estudante, passando a percebê-lo como sujeito com para a compreensão das dificuldades hoje constatadas nas
valores, comportamentos, visões de mundo, interesses relações entre os jovens e a escola. Possivelmente, um dos
e necessidades singulares. Além disso, deve-se também aspectos indispensáveis a essas análises é a compreensão
aceitar a existência de pontos em comum que permitam da constituição da juventude. A formação dos indivíduos
tratá-lo como uma categoria social. Destacam-se sua an- é hoje atravessada por um número crescente de elemen-
siedade em relação ao futuro, sua necessidade de se fazer
tos. Se antes ela se produzia, dominantemente, no espaço
ouvir e sua valorização da sociabilidade. Além das vivências
circunscrito pela família, pela escola e pela igreja, em meio
próprias da juventude, o jovem está inserido em processos
a uma razoável homogeneidade de valores, muitas outras
que questionam e promovem sua preparação para assumir
o papel de adulto, tanto no plano profissional quanto no instituições, hoje, participam desse jogo, apresentando for-
social e no familiar. mas de ser e de viver heterogêneas. A identidade juvenil é
Pesquisas sugerem que, muito frequentemente, a ju- determinada para além de uma idade biológica ou psicoló-
ventude é entendida como uma condição de transitorieda- gica, mas situa-se em processo de contínua transformação
de, uma fase de transição para a vida adulta (Dayrell, 2003). individual e coletiva, a partir do que se reconhece que o
Com isso, nega-se a importância das ações de seu presen- sujeito do Ensino Médio é constituído e constituinte da or-
te, produzindo-se um entendimento de que sua educação dem social, ao mesmo tempo em que, como demonstram
deva ser pensada com base nesse “vir a ser”. Reduzem-se, os comportamentos juvenis, preservam autonomia relativa
assim, as possibilidades de se fazer da escola um espaço quanto a essa ordem.
de formação para a vida hoje vivida, o que pode acabar Segundo Dayrell, a juventude é “parte de um processo
relegando-a a uma obrigação enfadonha. mais amplo de constituição de sujeitos, mas que tem es-
Muitos jovens, principalmente os oriundos de famílias pecificidades que marcam a vida de cada um. A juventude
pobres, vivenciam uma relação paradoxal com a escola. Ao constitui um momento determinado, mas não se reduz a
mesmo tempo em que reconhecem seu papel fundamen- uma passagem; ela assume uma importância em si mesma.
154
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Todo esse processo é influenciado pelo meio social concre- de acolhimento de um sujeito que possui, dentre outras,
to no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que as características apontadas anteriormente. Assim, suge-
este proporciona”. (2003). rem-se questões como: Que características sócio-econô-
Zibas, ao analisar as relações entre juventude e oferta mico-culturais possuem os jovens que frequentam as es-
educacional observa que a ampliação do acesso ao Ensi- colas de Ensino Médio? Que representações a escola, seus
no Médio, nos últimos 15 anos, não veio acompanhada de professores e dirigentes fazem dos estudantes? A escola
políticas capazes de dar sustentação com qualidade a essa conhece seus estudantes? Quais os pontos de proximidade
ampliação. Entre 1995 e 2005, os sistemas de ensino esta- e distanciamento entre os sujeitos das escolas (estudantes
duais receberam mais de 4 milhões de jovens no Ensino e professores particularmente)? Quais sentidos e significa-
Médio, totalizando uma população escolar de 9 milhões de dos esses jovens têm atribuído à experiência escolar? Que
indivíduos (2009). relações se podem observar entre jovens, escola e socia-
É diante de um público juvenil extremamente diverso, bilidade? Quais experiências os jovens constroem fora do
que traz para dentro da escola as contradições de uma so- espaço escolar? Como os jovens interagem com a diversi-
ciedade que avança na inclusão educacional sem transfor- dade? Que representações fazem diante de situações que
mar a estrutura social desigual – mantendo acesso precário têm sido alvo de preconceito? Em que medida a cultura
à saúde, ao transporte, à cultura e lazer, e ao trabalho – escolar instituída compõe uma referência simbólica que se
que o novo Ensino Médio se forja. As desigualdades sociais distancia/aproxima das expectativas dos estudantes? Que
passam a tensionar a instituição escolar e a produzir novos elementos da cultura juvenil são derivados da experiência
conflitos (idem). escolar e contribuem para conferir identidade(s) ao jovem
Segundo Dayrell (2009), o censo de 2000 informa que da contemporaneidade? Que articulações existem entre os
47,6% dos jovens da Região Sudeste de 15 a 17 anos fre- interesses pessoais, projetos de vida e experiência escolar?
quentavam o Ensino Médio; no Nordeste apenas 19,9%; e Que relações se estabelecem entre esses planos e as expe-
a média nacional era de 35,7%. O autor assinala, com base riências vividas na escola? Em que medida os sentidos atri-
em dados do IPEA (2008), que há uma frequência líquida buídos à experiência escolar motivam os jovens a elaborar
no Sul/Sudeste de 58%, contra 33,3% no Norte/Nordes- projetos de futuro? Que expectativas são explicitadas pelos
te. Em que pese essa presença ser expressivamente maior jovens diante da relação escola e trabalho? Que aspectos
na Região Sul do país, observa-se um quadro reiterado de precisariam mudar na escola tendo em vista oferecer con-
desistência da escola também nessa região. Esse quadro dições de incentivo ao retorno e à permanência para os
parece se intensificar no Ensino Médio, devido à existência que a abandonaram?
de forte tensão na relação dos jovens com a escola (Correia Viabilizar as condições para que tais questões pautem
e Matos, 2001; Dayrell, 2007; Krawczyk, 2009 apud Dayrell, as formulações dos gestores e professores na discussão do
2009). seu cotidiano pode permitir novas formas de organizar a
Dentre os fatores relevantes a se considerar está a re- proposta de trabalho da escola na definição de seu projeto
lação entre juventude, escola e trabalho. Ainda que não se político-pedagógico.
parta, a priori, de que haja uma linearidade entre perma-
nência na escola e inserção no emprego, as relações entre PRESSUPOSTOS E FUNDAMENTOS PARA UM ENSI-
escolarização, formação profissional e geração de indepen- NO MÉDIO DE QUALIDADE SOCIAL
dência financeira por meio do ingresso no mundo do tra-
balho vêm sendo tensionadas e reconfiguradas conforme Trabalho, ciência, tecnologia e cultura: dimensões da
sinalizam estudos acerca do emprego e do desemprego ju- formação humana
venil. O Brasil vive hoje um novo ciclo de desenvolvimento
calcado na distribuição de renda que visa à inclusão de um O trabalho é conceituado, na sua perspectiva ontológi-
grande contingente de pessoas no mercado consumidor. ca de transformação da natureza, como realização inerente
A sustentação desse ciclo e o estabelecimento de no- ao ser humano e como mediação no processo de produção
vos patamares de desenvolvimento requerem um aporte da sua existência. Essa dimensão do trabalho é, assim, o
de trabalhadores qualificados em todos os níveis, o que ponto de partida para a produção de conhecimentos e de
implica na reestruturação da escola com vistas à introdução cultura pelos grupos sociais.
de novos conteúdos e de novas metodologias de ensino O caráter teleológico da intervenção humana sobre o
capazes de promover a oferta de uma formação integral. meio material, isto é, a capacidade de ter consciência de
Os jovens, atentos aos destinos do País, percebem es- suas necessidades e de projetar meios para satisfazê-las,
sas modificações e criam novas expectativas em relação às diferencia o ser humano dos outros animais, uma vez que
possibilidades de inserção no mundo do trabalho e em re- estes não distinguem a sua atividade vital de si mesmos, en-
lação ao papel da escola nos seus projetos de vida. quanto o homem faz da sua atividade vital um objeto de sua
Diante do exposto, torna-se premente que as esco- vontade e consciência. Os animais podem reproduzir, mas
las, ao desenvolverem seus projetos políticopedagógicos, o fazem somente para si mesmos; o homem reproduz toda
se debrucem sobre questões que permitam ressignificar a a natureza, porém de modo transformador, o que tanto lhe
instituição escolar diante de uma possível fragilização que atesta quanto lhe confere liberdade e universalidade. Des-
essa instituição venha sofrendo, quando se trata do público ta forma, produz conhecimentos que, sistematizados sob o
alvo do Ensino Médio, considerando, ainda, a necessidade crivo social e por um processo histórico, constitui a ciência.
155
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nesses termos, compreende-se o conhecimento como Por essa perspectiva, a cultura deve ser compreendida
uma produção do pensamento pela qual se apreende e no seu sentido mais ampliado possível, ou seja, como a
se representam as relações que constituem e estruturam articulação entre o conjunto de representações e compor-
a realidade. Apreender e determinar essas relações exige tamentos e o processo dinâmico de socialização, consti-
um método, que parte do concreto empírico – forma como tuindo o modo de vida de uma população determinada.
a realidade se manifesta – e, mediante uma determinação Uma formação integral, portanto, não somente possibilita
mais precisa através da análise, chega a relações gerais que o acesso a conhecimentos científicos, mas também pro-
são determinantes do fenômeno estudado. A compreensão move a reflexão crítica sobre os padrões culturais que se
do real como totalidade exige que se conheçam as partes constituem normas de conduta de um grupo social, as-
e as relações entre elas, o que nos leva a constituir seções sim como a apropriação de referências e tendências que
tematizadas da realidade. Quando essas relações são “ar- se manifestam em tempos e espaços históricos, os quais
rancadas” de seu contexto originário e ordenadas, tem-se a expressam concepções, problemas, crises e potenciais de
teoria. A teoria, então, é o real elevado ao plano do pensa- uma sociedade, que se vê traduzida e/ou questionada nas
mento. Sendo assim, qualquer fenômeno que sempre exis- suas manifestações. Assim, evidencia-se a unicidade en-
tiu como força natural só se constitui em conhecimento tre as dimensões científico-tecnológico-cultural, a partir da
quando o ser humano dela se apropria tornando-a força compreensão do trabalho em seu sentido ontológico.
produtiva para si. Por exemplo, a descarga elétrica, os raios, O princípio da unidade entre pensamento e ação é cor-
a eletricidade estática como fenômenos naturais sempre relato à busca intencional da convergência entre teoria e
existiram, mas não são conhecimentos enquanto o ser hu- prática na ação humana. A relação entre teoria e prática
mano não se apropria desses fenômenos conceitualmente, se impõe, assim, não apenas como princípio metodológi-
formulando teorias que potencializam o avanço das forças co inerente ao ato de planejar as ações, mas, fundamen-
produtivas. talmente, como princípio epistemológico, isto é, princípio
A ciência, portanto, que pode ser conceituada como orientador do modo como se compreende a ação humana
conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos de conhecer uma determinada realidade e intervir sobre
socialmente ao longo da história, na busca da compreen- ela no sentido de transformá-la.
são e transformação da natureza e da sociedade, se expres- A unidade entre pensamento e ação está na base da
sa na forma de conceitos representativos das relações de capacidade humana de produzir sua existência. É na ativi-
forças determinadas e apreendidas da realidade. O conhe- dade orientada pela mediação entre pensamento e ação
cimento de uma seção da realidade concreta ou a realidade que se produzem as mais diversas práticas que compõem
concreta tematizada constitui os campos da ciência, que a produção de nossa vida material e imaterial: o trabalho, a
são as disciplinas científicas. Conhecimentos assim produ- ciência, a tecnologia e a cultura.
zidos e legitimados socialmente ao longo da história são Por essa razão trabalho, ciência, tecnologia e cultura
resultados de um processo empreendido pela humanidade são instituídos como base da proposta e do desenvolvi-
na busca da compreensão e transformação dos fenôme- mento curricular no Ensino Médio de modo a inserir o con-
nos naturais e sociais. Nesse sentido, a ciência conforma texto escolar no diálogo permanente com a necessidade
conceitos e métodos cuja objetividade permite a transmis- de compreensão de que estes campos não se produzem
são para diferentes gerações, ao mesmo tempo em que independentemente da sociedade, e possuem a marca da
podem ser questionados e superados historicamente, no sua condição histórico-cultural.
movimento permanente de construção de novos conhe-
cimentos. Trabalho como princípio educativo
A extensão das capacidades humanas, mediante a
apropriação de conhecimentos como força produtiva, sin- A concepção do trabalho como princípio educativo é a
tetiza o conceito de tecnologia aqui expresso. Pode ser base para a organização e desenvolvimento curricular em
conceituada como transformação da ciência em força pro- seus objetivos, conteúdos e métodos.
dutiva ou mediação do conhecimento científico e a produ- Considerar o trabalho como princípio educativo equi-
ção, marcada desde sua origem pelas relações sociais que vale a dizer que o ser humano é produtor de sua realidade
a levaram a ser produzida. O desenvolvimento da tecnolo- e, por isto, dela se apropria e pode transformá-la. Equivale
gia visa à satisfação de necessidades que a humanidade se a dizer, ainda, que é sujeito de sua história e de sua reali-
coloca, o que nos leva a perceber que a tecnologia é uma dade. Em síntese, o trabalho é a primeira mediação entre o
extensão das capacidades humanas. A partir do nascimen- homem e a realidade material e social.
to da ciência moderna, pode-se definir a tecnologia, então, O trabalho também se constitui como prática econô-
como mediação entre conhecimento científico (apreensão mica porque garante a existência, produzindo riquezas e
e desvelamento do real) e produção (intervenção no real). satisfazendo necessidades. Na base da construção de um
Entende-se cultura como o resultado do esforço coletivo projeto de formação está a compreensão do trabalho no
tendo em vista conservar a vida humana e consolidar uma seu duplo sentido – ontológico e histórico.
organização produtiva da sociedade, do qual resulta a pro- Pelo primeiro sentido, o trabalho é princípio educati-
dução de expressões materiais, símbolos, representações e vo à medida que proporciona a compreensão do proces-
significados que correspondem a valores éticos e estéticos so histórico de produção científica e tecnológica, como
que orientam as normas de conduta de uma sociedade. conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente
156
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
para a transformação das condições naturais da vida e a Essas novas exigências requerem um novo comporta-
ampliação das capacidades, das potencialidades e dos sen- mento dos professores que devem deixar de ser transmis-
tidos humanos. O trabalho, no sentido ontológico, é princí- sores de conhecimentos para serem mediadores, facilita-
pio e organiza a base unitária do Ensino Médio. dores da aquisição de conhecimentos; devem estimular a
Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio educati- realização de pesquisas, a produção de conhecimentos e
vo na medida em que coloca exigências específicas para o trabalho em grupo. Essa transformação necessária pode
o processo educacional, visando à participação direta dos ser traduzida pela adoção da pesquisa como princípio pe-
membros da sociedade no trabalho socialmente produti- dagógico.
vo. Com este sentido, conquanto também organize a base
É necessário que a pesquisa como princípio pedagó-
unitária, fundamenta e justifica a formação específica para
gico esteja presente em toda a educação escolar dos que
o exercício de profissões, estas entendidas como forma
contratual socialmente reconhecida, do processo de com- vivem/viverão do próprio trabalho. Ela instiga o estudante
pra e venda da força de trabalho. Como razão da forma- no sentido da curiosidade em direção ao mundo que o cer-
ção específica, o trabalho aqui se configura também como ca, gera inquietude, possibilitando que o estudante possa
contexto. Do ponto de vista organizacional, essa relação ser protagonista na busca de informações e de saberes,
deve integrar em um mesmo currículo a formação plena quer sejam do senso comum, escolares ou científicos.
do educando, possibilitando construções intelectuais mais Essa atitude de inquietação diante da realidade po-
complexas; a apropriação de conceitos necessários para a tencializada pela pesquisa, quando despertada no Ensino
intervenção consciente na realidade e a compreensão do Médio, contribui para que o sujeito possa, individual e co-
processo histórico de construção do conhecimento. letivamente, formular questões de investigação e buscar
respostas em um processo autônomo de (re)construção
Pesquisa como princípio pedagógico de conhecimentos. Nesse sentido, a relevância não está no
fornecimento pelo docente de informações, as quais, na
A produção acelerada de conhecimentos, característica atualidade, são encontradas, no mais das vezes e de forma
deste novo século, traz para as escolas o desafio de fazer ampla e diversificada, fora das aulas e, mesmo, da escola. O
com que esses novos conhecimentos sejam socializados relevante é o desenvolvimento da capacidade de pesquisa,
de modo a promover a elevação do nível geral de educa- para que os estudantes busquem e (re)construam conhe-
ção da população. O impacto das novas tecnologias so-
cimentos.
bre as escolas afeta tanto os meios a serem utilizados nas
A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos profes-
instituições educativas, quanto os elementos do processo
sores, implica na identificação de uma dúvida ou problema,
educativo, tais como a valorização da ideia da instituição
escolar como centro do conhecimento; a transformação na seleção de informações de fontes confiáveis, na inter-
das infraestruturas; a modificação dos papeis do professor pretação e elaboração dessas informações e na organiza-
e do aluno; a influência sobre os modelos de organização ção e relato sobre o conhecimento adquirido.
e gestão; o surgimento de novas figuras e instituições no
contexto educativo; e a influência sobre metodologias, es- Muito além do conhecimento e da utilização de equi-
tratégias e instrumentos de avaliação. pamentos e materiais, a prática de pesquisa propicia o
O aumento exponencial da geração de conhecimentos desenvolvimento da atitude científica, o que significa con-
tem, também, como consequência que a instituição escolar tribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de
deixa de ser o único centro de geração de informações. condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar,
A ela se juntam outras instituições, movimentos e ações refletir, rejeitar idéias fechadas, aprender, buscar soluções
culturais, públicas e privadas, além da importância que vão e propor alternativas, potencializadas pela investigação e
adquirindo na sociedade os meios de comunicação como pela responsabilidade ética assumida diante das questões
criadores e portadores de informação e de conteúdos de- políticas, sociais, culturais e econômicas.
senvolvidos fora do âmbito escolar. A pesquisa, associada ao desenvolvimento de proje-
Apesar da importância que ganham esses novos meca- tos contextualizados e interdisciplinares/ articuladores de
nismos de aquisição de informações, é importante desta-
saberes, ganha maior significado para os estudantes. Se a
car que informação não pode ser confundida com conhe-
pesquisa e os projetos objetivarem, também, conhecimen-
cimento. O fato dessas novas tecnologias se aproximarem
tos para atuação na comunidade, terão maior relevância,
da escola, onde os alunos, às vezes, chegam com muitas
informações, reforça o papel dos professores no tocante às além de seu forte sentido ético-social.
formas de sistematização dos conteúdos e de estabeleci- É fundamental que a pesquisa esteja orientada por esse
mento de valores. sentido ético, de modo a potencializar uma concepção de
Uma consequência imediata da sociedade de informa- investigação científica que motiva e orienta projetos de
ção é que a sobrevivência nesse ambiente requer o apren- ação visando à melhoria da coletividade e ao bem comum.
dizado contínuo ao longo de toda a vida. Esse novo modo A pesquisa, como princípio pedagógico, pode, assim,
de ser requer que o aluno, para além de adquirir determi- propiciar a participação do estudante tanto na prática pe-
nadas informações e desenvolver habilidades para realizar dagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a
certas tarefas, deve aprender a aprender, para continuar escola e a comunidade.
aprendendo.
157
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Direitos humanos como princípio norteador cultura, crença religiosa, orientação sexual e opção políti-
ca, ou qualquer outra diferença, combatendo e eliminando
As escolas, assim como outras instituições sociais, têm toda forma de discriminação.
um papel fundamental a desempenhar na garantia do res- Os direitos humanos, como princípio que norteia o
peito aos direitos humanos. desenvolvimento de competências, com conhecimentos
Este respeito constitui irrevogável princípio nacional, e atitudes de afirmação dos sujeitos de direitos e de res-
pois nossa Constituição, já no seu preâmbulo, declara a ins- peito aos demais, desenvolvem a capacidade de ações e
tituição de um Estado Democrático, destinado a assegurar reflexões próprias para a promoção e proteção da univer-
o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a salidade, da indivisibilidade e da interdependência dos di-
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e reitos e da reparação de todas as suas violações. Em um
a justiça como valores supremos de uma sociedade frater- contexto democrático, nos diversos níveis, etapas e mo-
na, pluralista e sem preconceitos. Entre os princípios funda- dalidades, é imprescindível propiciar espaços educativos
mentais do país, consagra o fundamento da dignidade da em que a cultura de direitos humanos perpasse todas as
pessoa humana; os objetivos de construir uma sociedade práticas desenvolvidas no ambiente escolar, tais como o
livre, justa e solidária, de garantir o desenvolvimento na- currículo, a formação inicial e continuada dos profissionais
cional, de erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir da educação, o projeto político-pedagógico, os materiais
as desigualdades sociais e regionais, e de promover o bem didático-pedagógicos, o modelo de gestão, e a avaliação,
de todos, sem preconceitos de origem, etnia, sexo, cor, ida- conforme indica o Plano Nacional de Educação em Direitos
de e quaisquer outras formas de discriminação; além de Humanos (PNEDH). É nesse sentido que a implementação
consagrar o princípio da prevalência dos direitos humanos deste Plano é prescrita pelo
nas suas relações internacionais. A Constituição estabele- Para isso, a escola tem um papel fundamental, deven-
ce, ainda, os direitos e garantias fundamentais, afirmando, do a Educação em direitos humanos ser norteadora da
discriminadamente, os direitos e deveres individuais e co- Educação Básica e, portanto, do Ensino Médio.
letivos.
Após sua promulgação em 1988, novos textos legais, Identidade e diversificação no Ensino Médio
documentos, programas e projetos vêm materializando a
Um dos principais desafios da educação consiste no
defesa e promoção dos direitos humanos. São exemplos
estabelecimento do significado do Ensino Médio, que, em
os Programas Nacional, Estaduais e Municipais de Direitos
sua representação social e realidade, ainda não respondeu
Humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente
aos objetivos que possam superar a visão dualista de que é
mera passagem para a Educação Superior ou para a inser-
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH
ção na vida econômico-produtiva. Esta superação significa
3) está instituído pelo Decreto nº 7.037/2009. uma formação integral que cumpra as múltiplas finalidades
da Educação Básica e, em especial, do Ensino Médio, com-
(ECA), o Estatuto do Idoso, a Convenção Internacional pletando a escolaridade comum necessária a todos os ci-
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (que tem dadãos. Busca-se uma escola que não se limite ao interesse
status constitucional), as leis de combate à discriminação imediato, pragmático e utilitário, mas, sim, uma formação
racial e à tortura, bem como as recomendações das Confe- com base unitária, viabilizando a apropriação do conhe-
rências Nacionais de Direitos Humanos. Estas iniciativas e cimento e desenvolvimento de métodos que permitam a
medidas são fundamentadas em vários instrumentos inter- organização do pensamento e das formas de compreen-
nacionais dos quais o Brasil é signatário, sob a inspiração são das relações sociais e produtivas, que articule trabalho,
da Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948. ciência, tecnologia e cultura na perspectiva da emancipa-
Compreender a relação indissociável entre democracia ção humana. Frente a esse quadro, é necessário dar visibi-
e respeito aos direitos humanos implica no compromisso lidade ao Ensino Médio no sentido da superação daquela
do Estado brasileiro, no campo cultural e educacional, de dupla representação histórica persistente na educação bra-
promover seu aprendizado em todos os níveis e modali- sileira. Nessa perspectiva, a última etapa da Educação Bási-
dades de ensino. Os direitos humanos na educação en- ca precisa assumir, dentro de seus objetivos, o compromis-
contram-se presentes como princípio internacional, não só so de atender, verdadeiramente, a todos e com qualidade,
nas Resoluções da ONU acerca da Década da Educação em a diversidade nacional com sua heterogeneidade cultural,
direitos humanos, como no Programa Mundial de Educa- de considerar os anseios das diversas juventudes formadas
ção em Direitos Humanos. Conclama-se a responsabilidade por adolescentes e jovens que acorrem à escola e que são
coletiva de todos os países a dar centralidade à Educação sujeitos concretos com suas múltiplas necessidades. Isso
em direitos humanos na legislação geral e específica, na implica compreender a necessidade de adotar diferentes
estrutura da política e planos educacionais, e nas diretrizes formas de organização desta etapa de ensino e, sobretudo,
e programas de educação. estabelecer princípios para a formação do adolescente, do
Educar para os direitos humanos, como parte do di- jovem e, também, da expressiva fração de população adul-
reito à educação, significa fomentar processos que contri- ta com escolaridade básica incompleta.
buam para a construção da cidadania, do conhecimento A definição da identidade do Ensino Médio como eta-
dos direitos fundamentais, do respeito à pluralidade e à pa conclusiva da Educação Básica precisa ser iniciada me-
diversidade de nacionalidade, etnia, gênero, classe social, diante um projeto que, conquanto seja unitário em seus
158
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
princípios e objetivos, desenvolva possibilidades formativas O planejamento curricular passa a ser compreendido
com itinerários diversificados que contemplem as múltiplas de forma estreitamente vinculada às relações que se pro-
necessidades socioculturais e econômicas dos estudantes, duzem entre a escola e o contexto histórico-cultural em
reconhecendo-os como sujeitos de direitos no momento que a educação se realiza e se institui, como um elemento,
em que cursam esse ensino. portanto, integrador entre a escola e a sociedade. As de-
As instituições escolares devem avaliar as várias pos- cisões sobre o currículo resultam de um processo seletivo,
sibilidades de organização do Ensino Médio, garantindo a fazendo-se necessário que a escola tenha claro quais crité-
simultaneidade das dimensões trabalho, ciência, tecnolo- rios orientam esse processo de escolha.
gia e cultura e contemplando as necessidades, anseios e O currículo não se limita ao caráter instrumental, assu-
aspirações dos sujeitos e as perspectivas da realidade da mindo condição de conferir materialidade às ações politi-
escola e do seu meio. camente definidas pelos sujeitos da escola. Para concretizar
o currículo, essa perspectiva toma, ainda, como principais
Ensino Médio e profissionalização orientações os seguintes pontos:
I – a ação de planejar implica na participação de todos
A identidade do Ensino Médio se define na superação os elementos envolvidos no processo;
do dualismo entre propedêutico e profissional. Importa II – a necessidade de se priorizar a busca da unidade
que se configure um modelo que ganhe uma identidade entre teoria e prática;
unitária para esta etapa e que assuma formas diversas e III – o planejamento deve partir da realidade concreta
contextualizadas da realidade brasileira. e estar voltado para atingir as finalidades legais do Ensino
No referente à profissionalização, a LDB, modificada Médio e definidas no projeto coletivo da escola;
pela Lei nº 11.741/2008, prevê formas de articulação en- IV – o reconhecimento da dimensão social e histórica
tre o Ensino Médio e a Educação Profissional: a articulada do trabalho docente.
(integrada ou concomitante) e a subsequente, atribuindo
a decisão de adoção às redes e instituições escolares. A Como proporcionar, por outro lado, compreensões
profissionalização nesta etapa da Educação Básica é uma globais, totalizantes da realidade a partir da seleção de
das formas possíveis de diversificação, que atende a con- componentes e conteúdos curriculares? Como orientar a
tingência de milhares de jovens que têm o acesso ao traba- seleção de conteúdos no currículo?
lho como uma perspectiva mais imediata. A resposta a tais perguntas implica buscar relacionar
Parte desses jovens, por interesse ou vocação, almejam partes e totalidade. Segundo Kosik (1978), cada fato ou
a profissionalização neste nível, seja para exercício profis- conjunto de fatos, na sua essência, reflete toda a realida-
sional, seja para conexão vertical em estudos posteriores de com maior ou menor riqueza ou completude. Por esta
de nível superior. Outra parte, no entanto, a necessita para razão, é possível que um fato contribua mais que outro na
prematuramente buscar um emprego ou atuar em diferen- explicitação do real. Assim, a possibilidade de se conhecer
tes formas de atividades econômicas que gerem subsis- a totalidade a partir das partes é dada pela possibilidade
tência. Esta profissionalização no Ensino Médio responde de se identificar os fatos ou conjunto de fatos que escla-
a uma condição social e histórica em que os jovens traba- reçam sobre a essência do real. Outros aspectos a serem
lhadores precisam obter uma profissão qualificada já no considerados estão relacionados com a distinção entre o
nível médio. que é essencial e acessório, assim como o sentido objetivo
Entretanto, se a preparação profissional no Ensino Mé- dos fatos.
dio é uma imposição da realidade destes jovens, represen- Além disso, o conhecimento contemporâneo guarda
tando importante alternativa de organização, não pode se em si a história da sua construção. O estudo de um fenô-
constituir em modelo hegemônico ou única vertente para meno, de um problema, ou de um processo de trabalho
o Ensino Médio, pois ela é uma opção para os que, por uma está articulado com a realidade em que se insere. A relação
ou outra razão, a desejarem ou necessitarem. entre partes que compõem a realidade possibilita ir além
O Ensino Médio tem compromissos com todos os da parte para compreender a realidade em seu conjunto.
jovens. Por isso, é preciso que a escola pública construa A partir dos referenciais construídos sobre as relações
propostas pedagógicas sobre uma base unitária neces- entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura e dos nexos es-
sariamente para todos, mas que possibilite situações de tabelecidos entre o projeto político-pedagógico e a orga-
aprendizagem variadas e significativas, com ou sem profis- nização curricular do Ensino Médio, são apresentadas, em
sionalização com ele diretamente articulada. seguida, algumas possibilidades deste.
Estas possibilidades de organização devem considerar
Organização curricular do Ensino Médio as normas complementares dos respectivos sistemas de
ensino e apoiar-se na participação coletiva dos sujeitos en-
Toda ação educativa é intencional. Daí decorre que volvidos, bem como nas teorias educacionais que buscam
todo processo educativo fundamenta-se em pressupos- as respectivas soluções.
tos e finalidades, não havendo neutralidade possível nesse Ninguém mais do que os participantes da atividade
processo. Ao determinar as finalidades da educação, quem escolar em seus diferentes segmentos, conhece a sua reali-
o faz tem por base uma visão social de mundo, que orienta dade e, portanto, está mais habilitado para tomar decisões
a reflexão bem como as decisões tomadas. a respeito do currículo que vai levar à prática.
159
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Compreende-se que organizar o currículo implica rom- espaços e tempos. Um, destinado ao aprofundamento con-
per com falsas polarizações, oposições e fronteiras conso- ceitual no interior das disciplinas, e outro, voltado para as
lidadas ao longo do tempo. Isso representa, para os edu- denominadas atividades integradoras. É a partir daí que se
cadores que atuam no Ensino Médio, a possibilidade de apresenta uma possibilidade de organização curricular do
avançar na compreensão do sentido da educação que é Ensino Médio, com uma organização por disciplinas (re-
proporcionada aos estudantes. Esses professores são ins- corte do real para aprofundar conceitos) e com atividades
tigados a buscar relações entre a ciência com a qual tra- integradoras (imersão no real ou sua simulação para com-
balham e o seu sentido, enquanto força propulsora do de- preender a relação parte-totalidade por meio de atividades
senvolvimento da sociedade em geral e do cidadão de cuja interdisciplinares). Há dois pontos cruciais nessa propos-
formação está participando. ta: a definição das disciplinas com a respectiva seleção de
Após as análises e reflexões desenvolvidas, discute-se conteúdos; e a definição das atividades integradoras, pois
a organização curricular propriamente dita, ou seja, como é necessário que ambas sejam efetivadas a partir das inter-
os componentes curriculares podem ser organizados de -relações existentes entre os eixos constituintes do Ensino
modo a contribuir para a formação humana integral, ten- Médio integrando as dimensões do trabalho, da ciência, da
do como dimensões o trabalho, a ciência, a tecnologia e a tecnologia e da cultura.
cultura. Em geral, quando se discute currículo no Ensino Cabem, aqui, observações referentes às atividades inte-
Médio, há uma tendência a se questionar, corretamente, o gradoras interdisciplinares, como colocadas nas Diretrizes
espaço dos saberes específicos, alegando-se que, ao longo Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Pa-
da história, a concepção disciplinar do currículo isolou cada recer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010):
um deles em compartimentos estanques e incomunicáveis. A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de
Os conhecimentos de cada ramo da ciência, para chega- métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas
rem até a escola precisaram ser organizados didaticamen- sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abor-
te, transformando-se em conhecimentos escolares. Estes dagem interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhe-
se diferenciam dos conhecimentos científicos porque são cimento constitutivo de diferentes disciplinas, por meio
retirados/isolados da realidade social, cultural, econômica, da ação didáticopedagógica mediada pela pedagogia dos
política, ambiental etc. em que foram produzidos para se- projetos temáticos.
rem transpostos para a situação escolar.
Nesse processo, evidentemente, perdem-se muitas das A interdisciplinaridade é, assim, entendida como abor-
conexões existentes entre determinada ciência e as demais. dagem teórico-metodológica com ênfase no trabalho de
Como forma de resolver ou, pelo menos, minimizar os pre- integração das diferentes áreas do conhecimento.
juízos decorrentes da organização disciplinar escolar, têm Continua o citado Parecer, considerando que essa
surgido, ao longo da história, propostas que organizam o orientação deve ser enriquecida, por meio de proposta te-
currículo a partir de outras estratégias. É muito rica a va- mática trabalhada transversalmente:
riedade de denominações. Mencionam-se algumas dessas A transversalidade é entendida como forma de orga-
metodologias e estratégias, apenas a título de exemplo, nizar o trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos
sendo propostas que tratam da aprendizagem baseada em temáticos são integrados às disciplinas, às áreas ditas con-
problemas; centros de interesses; núcleos ou complexos vencionais de forma a estarem presentes em todas elas.
temáticos; elaboração de projetos, investigação do meio, A interdisciplinaridade é, portanto, uma abordagem
aulas de campo, construção de protótipos, visitas técnicas, que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-
atividades artístico-culturais e desportivas, entre outras. -se em caminhos facilitadores da integração do processo
Buscam romper com a centralidade das disciplinas nos cur- formativo dos estudantes, pois ainda permite a sua partici-
rículos e substituí-las por aspectos mais globalizadores e pação na escolha dos temas prioritários. A interdisciplinari-
que abranjam a complexidade das relações existentes en- dade e a transversalidade complementam-se, ambas rejei-
tre os ramos da ciência no mundo real. Tais estratégias tando a concepção de conhecimento que toma a realidade
e metodologias são práticas desafiadoras na organização como algo estável, pronto e acabado.
curricular, na medida em que exigem uma articulação e um
diálogo entre os conhecimentos, rompendo com a forma Qualquer que seja a forma de organização adotada,
fragmentada como historicamente tem sido organizado o esta deve, como indica a LDB, ter seu foco no estudante e
currículo do Ensino Médio. atender sempre o interesse do processo de aprendizagem.
Nesta etapa de ensino, tais metodologias encontram No que concerne à seleção dos conteúdos disciplina-
barreiras em função da necessidade do aprofundamen- res, importa também evitar as superposições e lacunas,
to dos conceitos inerentes às disciplinas escolares, já que sem fazer reduções do currículo, ratificando-se a necessi-
cada uma se caracteriza por ter objeto próprio de estudo e dade de proporcionar a formação continuada dos docen-
método específico de abordagem. Dessa maneira, tem se tes no sentido de que se apropriem da concepção e dos
revelado praticamente difícil desenvolver propostas globa- princípios de um Ensino Médio que integre sua proposta
lizadoras que abranjam os conceitos e especificidades de pedagógica às características e desenvolvimento das áreas
todas as disciplinas curriculares. de conhecimento. Igualmente importante é organizar os
Assim, as propostas voltadas para o Ensino Médio, em tempos e os espaços de atuação dos professores visando
geral, estão baseadas em metodologias mistas (SANTOMÉ, garantir o planejamento, implementação e acompanha-
1998), as quais são desenvolvidas em, pelo menos, dois mento em conjunto das atividades curriculares.
160
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Com relação às atividades integradoras, não cabe es- IV – No Ensino Médio regular noturno, adequado às
pecificar denominações, embora haja várias na literatura, condições de trabalhadores e respeitados os mínimos de
cada uma com suas peculiaridades. Assume-se essa pos- duração e carga horária, o projeto pedagógico deve aten-
tura por compreender que tal definição é função de cada der com qualidade a sua singularidade, especificando
sistema de ensino e escola, a partir da realidade concreta uma organização curricular e metodológica diferenciada,
vivenciada, o que inclui suas especificidades e possibili- e pode, para garantir a permanência e o sucesso destes
dades, assim como as características sociais, econômicas, estudantes:
políticas, culturais, ambientais e laborais da sociedade, do a) ampliar a duração para mais de 3 anos, com menor
entorno escolar e dos estudantes e professores. carga horária diária e anual, garantido o mínimo total de
Entretanto, de forma coerente com as dimensões que 2.400 horas para o curso;
sustentam a concepção de Ensino Médio aqui discutido, é b) incluir atividades não presenciais, até 20% da car-
importante que as atividades integradoras sejam concebi- ga horária diária e de cada tempo de organização esco-
das a partir do trabalho como primeira mediação entre o lar, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido o
homem e a natureza e de suas relações com a sociedade atendimento por professores e monitores.
e com cada uma das outras dimensões curriculares reite- V – Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos,
radamente mencionadas. Desse modo, sugere-se que as observadas suas Diretrizes específicas, a duração mínima
atividades integradoras sejam desenvolvidas a partir de vá- é de 1.200 horas, sendo que o projeto pedagógico deve
rias estratégias/temáticas que incluam a problemática do atender com qualidade a sua singularidade, especificando
trabalho de forma relacional. uma organização curricular e metodológica diferenciada
Assim sendo, a cada tempo de organização escolar as que pode, para garantir a permanência e o sucesso de es-
atividades integradoras podem ser planejadas a partir das tudantes trabalhadores:
relações entre situações reais existentes nas práticas sociais a) ampliar seus tempos de organização escolar, com
concretas (ou simulações) e os conteúdos das disciplinas, menor carga horária diária e anual, garantida sua duração
tendo como fio condutor as conexões entre o trabalho e as mínima;
demais dimensões.
b) incluir atividades não presenciais, até 20% da car-
É, portanto, na busca de desenvolver estratégias pe-
ga horária diária e de cada tempo de organização esco-
dagógicas que contribuam para compreender como o tra-
lar, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido o
balho, enquanto mediação primeira entre o ser humano e
atendimento por professores e monitores.
o meio ambiente, produz social e historicamente ciência e
VI – Atendida a formação geral, incluindo a preparação
tecnologia e é influenciado e influencia a cultura dos gru-
básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para
pos sociais.
Este modo de organizar o currículo contribui, não o exercício de profissões técnicas, por articulação na forma
apenas para incorporar ao processo formativo, o trabalho integrada com a Educação Profissional e Tecnológica, ob-
como princípio educativo, como também para fortalecer as servadas as Diretrizes específicas, com as cargas horárias
demais dimensões estruturantes do Ensino Médio (ciência, mínimas de:
tecnologia, cultura e o próprio trabalho), sem correr o risco a) 3.200 horas, no Ensino Médio regular integrado com
de realizar abordagens demasiadamente gerais e, portan- a Educação Profissional Técnica de Nível Médio;
to, superficiais, uma vez que as disciplinas, se bem plane- b) 2.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos inte-
jadas, cumprem o papel do necessário aprofundamento. grada com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
respeitado o mínimo de 1.200 horas de educação geral;
Formas de oferta e de organização do Ensino Médio c) 1.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos inte-
grada com a formação inicial e continuada ou qualificação
O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, deve profissional, respeitado o mínimo de 1.200 horas de edu-
assegurar sua função formativa para todos os estudantes, cação geral;
sejam adolescentes, jovens ou adultos, atendendo: VII – Na Educação Especial, Educação do Campo, Edu-
I – O Ensino Médio pode organizar-se em tempos es- cação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, de
colares no formato de séries anuais, períodos semestrais, pessoas em regime de acolhimento ou internação e em re-
ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos gime de privação de liberdade, e na Educação a Distância,
não seriados, com base na idade, na competência e em ou- devem ser observadas as respectivas Diretrizes e normas
tros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre nacionais.
que o interesse do processo de aprendizagem assim o re- VIII – Os componentes curriculares que integram as
comendar. áreas de conhecimento podem ser tratados ou como dis-
II – No Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 ciplinas, sempre de forma integrada, ou como unidades de
anos, com carga horária mínima total de 2.400 horas, ten- estudos, módulos, atividades, práticas e projetos contex-
do como referência uma carga horária anual de 800 horas, tualizados e interdisciplinares ou diversamente articulado-
distribuídas em pelo menos 200 dias de efetivo trabalho res de saberes, desenvolvimento transversal de temas ou
escolar. outras formas de organização.
III – O Ensino Médio regular diurno, quando adequado IX – Tanto na base nacional comum quanto na parte diver-
aos seus estudantes, pode se organizar em regime de tem- sificada a organização curricular do Ensino Médio deve ofere-
po integral, com no mínimo 7 horas diárias; cer tempos e espaços próprios para estudos e atividades que
161
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
permitam itinerários formativos opcionais diversificados, a Para que essa educação integral constitua-se em polí-
fim de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade tica pública educacional é necessário que o Estado se faça
de condições, múltiplos interesses e aspirações dos estu- presente e que assuma uma amplitude nacional, na pers-
dantes, com suas especificidades etárias, sociais e culturais, pectiva de que as ações realizadas nesse âmbito possam
bem como sua fase de desenvolvimento. enraizar-se em todo o território brasileiro.
X – Formas diversificadas de itinerários formativos po- Para que isso possa ocorrer é fundamental que as
dem ser organizadas, desde que garantida a simultaneida- ações desencadeadas nesse domínio sejam orientadas por
de das dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e um regime de coordenação e cooperação entre as esferas
da cultura, e definidas pelo projeto político-pedagógico, públicas dos vários níveis, dentro do quadro de um sistema
atendendo necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos nacional de educação, no qual cada ente federativo, com
e a realidade da escola e de seu meio. suas peculiares competências, colabora para uma educa-
XI – A interdisciplinaridade e a contextualização devem ção de qualidade. A Emenda Constitucional nº 59/2009,
assegurar a transversalidade e a articulação do conheci-
incluiu na Constituição Federal justamente a prescrição de
mento de diferentes componentes curriculares, propician-
que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
do a interlocução entre os saberes das diferentes áreas de
devem organizar em regime de colaboração seus sistemas
conhecimento.
Note-se que as horas acima indicadas são, obviamente, de ensino (art. 211), e que será articulado o sistema nacio-
de 60 minutos, não se confundindo com as horas-aula, as nal de educação em regime de colaboração, o qual é um
quais podem ter a duração necessária que for considerada objetivo do Plano Nacional de Educação, de duração dece-
no projeto de cada escola. nal, a ser estabelecido por lei (art. 214).
Destaque-se que há redes escolares com Ensino Médio Em nível nacional, almeja-se coordenação e coopera-
que já vêm desenvolvendo formas de oferta que atendem ção entre o MEC e outros Ministérios, tendo em vista a arti-
às indicações acima, inclusive com ampliação da duração culação com as políticas setoriais afins; internamente, entre
e da carga horária do curso e com organização curricular suas Secretarias e órgãos vinculados; e externamente, com
flexível e integradora. São exemplos desse comportamento as instituições de Educação Superior, os sistemas estaduais,
as escolas que aderiram aos Programas Mais Educação e do Distrito Federal e os sistemas municipais de ensino.
Ensino Médio Inovador, ambos incentivados pelo MEC na No nível de cada unidade da Federação, espera-se que
perspectiva do desenvolvimento de experiências curricula- haja coordenação e cooperação entre o respectivo sistema
res inovadoras. de ensino, as instituições de Educação Superior e os siste-
Ao lado das alternativas que incluem a ampliação da mas municipais de ensino. Pressupõe igualmente a coope-
carga horária deve-se estimular a busca de metodologias ração entre órgãos ou entidades responsáveis pelas polí-
que promovam a melhoria da qualidade, sem necessaria- ticas setoriais afins no âmbito estadual e dos municípios.
mente implicar na ampliação do tempo de permanência na No nível das unidades escolares é igualmente relevan-
sala de aula, tais como o uso intensivo de tecnologias da te a criação de mecanismos de comunicação e intercâmbio,
informação e comunicação. visando à difusão e adoção de boas práticas que desen-
No referente à integração com a profissionalização, volvam.
acrescenta-se que a base científica não deve ser compreen- É esse regime de colaboração mútua que deve contri-
dida como restrita àqueles conhecimentos que fundamen- buir para que as escolas, as redes e os sistemas de ensino
tam a tecnologia específica. Ao contrário, a incorporação possam desenvolver um Ensino Médio organicamente arti-
das ciências humanas na formação do trabalhador é fun- culado e sequente em relação às demais etapas da Educa-
damental para garantir o currículo integrado. Por exemplo:
ção Básica, a partir de soluções adequadas para questões
história social do trabalho, da tecnologia e das profissões;
centrais como financiamento; existência de quadro espe-
compreensão, no âmbito da geografia, da produção e difu-
são territorial das tecnologias e da divisão internacional do cífico de professores efetivos; formação inicial e continua-
trabalho; filosofia, pelo estudo da ética e estética do traba- da de docentes, profissionais técnico-administrativos e de
lho, além de fundamentos da epistemologia que garantam gestores; infraestrutura física necessária a cada tipo de ins-
uma iniciação científica consistente; sociologia do trabalho, tituição, entre outros aspectos relevantes.
com o estudo da organização dos processos de trabalho e No tocante aos profissionais da educação – gestores,
da organização social do trabalho; meio ambiente, saúde e professores, especialistas, técnicos, monitores e outros –
segurança, inclusive conhecimentos de ecologia, ergono- cabe papel de relevo aos gestores, seja dos sistemas, seja
mia, saúde e psicologia do trabalho, no sentido da preven- das escolas. A eles cabe liderar as equipes, criar as condi-
ção das doenças ocupacionais. ções adequadas e estimular a efetivação do projeto po-
lítico-pedagógico e do respectivo currículo, o que requer
Implementação das Diretrizes Curriculares Nacio- processo democrático de seleção segundo critérios técni-
nais e o compromisso com o sucesso dos estudantes cos de mérito e de desempenho, como também lhes deve
ser propiciada formação apropriada, inclusive continuada,
O Ensino Médio, fundamentado na integração das di- para atualização e aprimoramento do desempenho desse
mensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultu- papel.
ra, pode contribuir para explicitar o significado da forma- Quanto aos professores, embora repetitivo, cabe reite-
ção na etapa conclusiva 190 da Educação Básica, uma vez rar a necessidade de efetivação da sua valorização, tanto no
que materializa a formação humana integral. referente a remuneração, quanto a plano de carreira, con-
162
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
dições de trabalho, jornada de trabalho completa em única consistência, visando à sua almejada qualidade social.
escola, organização de tempos e espaços de sua atuação Ao Ministério cabe, ainda, oferecer subsídios para a im-
para garantia de planejamento, implementação e acom- plementação das Diretrizes Curriculares.
panhamento conjunto das atividades curriculares, forma-
ção inicial e continuada, inclusive para que se apropriem Fonte
da concepção e dos princípios do Ensino Médio proposto BRASIL. Ministério da Educação Básica. Secretaria de
nestas diretrizes e no respectivo projeto políticopedagó- Educação. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
gico, incorporando atuação diversificada, com estratégias,
metodologias e atividades integradoras, contextualizadas DIRETRIZES
e interdisciplinares ou diversamente articuladores de sabe- PARECER HOMOLOGADO
res. É oportuno lembrar que as ações do MEC voltadas
para a expansão e melhoria do Ensino Médio, como a pro- Despacho do Ministro, publicado no D.O.U. de
posição do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e 24/1/2012, Seção 1, Pág.10.
implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação INTERESSADO: Conselho Nacional de Educação/Câ-
(PDE), do Plano de Ações Articuladas (PAR) e vários pro- mara de Educação Básica – UF: DF COMISSÃO Adeum Hi-
gramas, dentre estes, o Brasil Profissionalizado, o Ensino lário Sauer (presidente), José Fernandes de Lima (relator),
Médio Inovador, o Programa Nacional do Livro Didático Francisco Aparecido Cordão, Mozart Neves Ramos e Rita
para o Ensino Médio (PNLEM), vêm criando condições que Gomes do Nascimento.
favorecem a implementação destas Diretrizes. PROCESSO Nº 23001.000189/2009-72
Lembra-se, igualmente, a proposta do Custo Aluno- PARECER CNE/CEB Nº 5/2011
-Qualidade Inicial (CAQi), que indica insumos essenciais COLEGIADO CEB
associados aos padrões mínimos de qualidade para a APROVADO EM 4/5/2011
Educação Básica pública no Brasil, previstos na Constitui-
ção Federal (inciso VII do art. 206) e na LDB (inciso IX do RELATÓRIO
art. 4º), a qual foi objeto do Parecer CNE/CEB nº 8/2010.
No contexto do CAQi, é exigência um padrão mínimo de 1. Introdução
insumos, que tem como base um investimento com valor
calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvi- O Brasil vive, nos últimos anos, um processo de desen-
mento dos processos e procedimentos formativos, que le- volvimento que se reflete em taxas ascendentes de cresci-
vem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de mento econômico tendo o aumento do Produto Interno
qualidade social. Tais padrões mínimos são definidos como Bruto ultrapassado a casa dos 7%, em 2010. Este processo
os que levam em conta, entre outros parâmetros: profes- de crescimento tem sido acompanhado de programas e
sores qualificados com remuneração adequada; pessoal de medidas de redistribuição de renda que o retroalimentam.
apoio técnico e administrativo que assegure o bom fun- Evidenciam-se, porém, novas demandas para a sustenta-
cionamento da escola; escolas possuindo condições de in- ção deste ciclo de desenvolvimento vigente no País. A edu-
fraestrutura e de equipamentos adequados; definição de cação, sem dúvida, está no centro desta questão.
relação adequada entre número de estudantes por turma e O crescimento da economia e novas legislações, como
por professor, e número de salas e estudantes. o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUN-
Finalmente, visando alcançar unidade nacional e res- DEB), a Emenda Constitucional nº 59/2009 – que extinguiu
peitadas as diversidades, reitera-se que o Ministério da a Desvinculação das Receitas da União (DRU) – e dispôs
Educação elabore e encaminhe ao Conselho Nacional de sobre outras medidas, têm permitido ao País aumentar o
Educação, precedida de consulta pública nacional, propos- volume de recursos destinados à Educação.
ta de expectativas de aprendizagem dos conhecimentos Tais iniciativas, nas quais o Conselho Nacional de Edu-
escolares e saberes que devem ser alcançadas pelos es- cação (CNE) tem tido destacada participação, visam criar
tudantes em diferentes tempos do curso de Ensino Médio condições para que se possa avançar nas políticas educa-
que, necessariamente, se orientem por estas Diretrizes. Esta cionais brasileiras, com vistas à melhoria da qualidade do
elaboração deve ser conduzida pelo MEC em articulação e ensino, à formação e valorização dos profissionais da edu-
colaboração com os órgãos dos sistemas de ensino dos Es- cação e à inclusão social.
tados, do Distrito Federal e dos Municípios. As expectativas Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa
de aprendizagem, que não significam conteúdos obrigató- investir fortemente na ampliação de sua capacidade tec-
rios de currículo mínimo, devem vir a ser encaradas como nológica e na formação de profissionais de nível médio e
direito dos estudantes, portanto, com resultados corres- superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não
pondentes exigíveis por eles. se expandem na intensidade e ritmos adequados ao novo
É imprescindível que o MEC articule e compatibilize, papel que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se
com estas Diretrizes, as expectativas de aprendizagem, a ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma sólida
formação de professores, os investimentos em materiais expansão do Ensino Médio com qualidade, por outro lado,
didáticos, e as avaliações de desempenho e exames nacio- não se conseguirá que nossas universidades e centros tec-
nais, especialmente o ENEM. Com essa compatibilização, nológicos atinjam o grau de excelência necessário para que
o Ensino Médio, em âmbito nacional, ganhará coerência e o País dê o grande salto para o futuro.
163
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Tendo em vista que a função precípua da educação, de professores – tanto a oferecida fora dos locais de trabalho
um modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Edu- como as previstas no interior das escolas como parte in-
cação Básica – em particular, vai além da formação profis- tegrante da jornada de trabalho – e dotem as escolas da
sional, e atinge a construção da cidadania, é preciso ofere- infraestrutura necessária ao desenvolvimento de suas ati-
cer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que vidades educacionais.
possam expandir seus horizontes e dotá-los de autonomia No sentido geral, da forma como está organizado na
intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento maioria das escolas, o Ensino Médio não dá conta de todas
historicamente acumulado e à produção coletiva de novos as suas atribuições definidas na Lei de Diretrizes e Bases
conhecimentos, sem perder de vista que a educação tam- da Educação Nacional (LDB). O trabalho “Melhores Práticas
bém é, em grande medida, uma chave para o exercício dos em Escolas de Ensino Médio no Brasil” (BID, 2010) mos-
demais direitos sociais. trou, entretanto, que é possível identificar, nos Estados da
É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, Federação, escolas públicas que desenvolvem excelentes
nos últimos anos, um papel de destaque nas discussões so- trabalhos.
bre educação brasileira, pois sua estrutura, seus conteúdos, Com a promulgação da Lei nº 9.394/96 (LDB), o Ensi-
bem como suas condições atuais, estão longe de atender no Médio passou a ser configurado com uma identidade
às necessidades dos estudantes, tanto nos aspectos da for- própria, como etapa final de um mesmo nível da educação,
mação para a cidadania como para o mundo do trabalho. que é a Educação Básica, e teve assegurada a possibilidade
Como consequência dessas discussões, sua organização e de se articular, até de forma integrada em um mesmo cur-
funcionamento têm sido objeto de mudanças na busca da so, com a profissionalização, pois o artigo 36-A prevê que
melhoria da qualidade. Propostas têm sido feitas na forma “o Ensino Médio, atendida a formação geral do educando,
de leis, de decretos e de portarias ministeriais e visam, des- poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas”.
de a inclusão de novas disciplinas e conteúdos, até a alte- No Brasil, nos últimos 20 anos, houve uma ampliação
ração da forma de financiamento. Constituem-se exemplos do acesso dos adolescentes e jovens ao Ensino Médio, a
dessas alterações legislativas a criação do FUNDEB e a am- qual trouxe para as escolas públicas um novo contingente
pliação da obrigatoriedade de escolarização, resultante da de estudantes, de modo geral jovens filhos das classes tra-
Emenda Constitucional n°59, de novembro de 2009. balhadoras. Os sistemas de ensino passam a atender novos
A demanda provocada por essas mudanças na le- jovens com características diferenciadas da escola tradicio-
gislação, por si só, já indica a necessidade de atualização nalmente organizada. Situação semelhante acontece com
das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio o aumento da demanda do Ensino Médio no campo, cujo
(Parecer CNE/CEB n°15/98 e Resolução CNE/CEB nº 3/98), atendimento induz a novos procedimentos no sentido de
além de se identificarem outros motivos que reforçam essa promover a permanência dos mesmos na escola, evitando
necessidade. a evasão e diminuindo as taxas de reprovação.
A elaboração de novas Diretrizes Curriculares Nacio- Apesar das ações desenvolvidas pelos governos esta-
nais para o Ensino Médio se faz necessária, também, em duais e pelo Ministério da Educação, os sistemas de ensino
virtude das novas exigências educacionais decorrentes da ainda não alcançaram as mudanças necessárias para alterar
aceleração da produção de conhecimentos, da ampliação a percepção de conhecimento do seu contexto educativo
do acesso às informações, da criação de novos meios de e ainda não estabeleceram um projeto organizativo que
comunicação, das alterações do mundo do trabalho, e das atenda às novas demandas que buscam o Ensino Médio.
mudanças de interesse dos adolescentes e jovens, sujeitos Atualmente mais de 50% dos jovens de 15 a 17 anos ainda
dessa etapa educacional. não atingiram esta etapa da Educação Básica e milhões de
Nos dias atuais, a inquietação das “juventudes” que jovens com mais de 18 anos e adultos não concluíram o En-
buscam a escola e o trabalho resulta mais evidente do que sino Médio, configurando uma grande dívida da sociedade
no passado. O aprendizado dos conhecimentos escolares com esta população.
tem significados diferentes conforme a realidade do estu- De acordo com o documento “Síntese dos Indicado-
dante. Vários movimentos sinalizam no sentido de que a res Sociais do IBGE: uma análise das condições de vida da
escola precisa ser repensada para responder aos desafios população brasileira” (IBGE, 2010), constata-se que a taxa
colocados pelos jovens. de frequência bruta às escolas dos adolescentes de 15
Para responder a esses desafios, é preciso, além da a 17 anos é de 85,2%. Já a taxa de escolarização líquida
reorganização curricular e da formulação de diretrizes filo- dos mesmos adolescentes (de 15 a 17 anos) é de 50,9%.
sóficas e sociológicas para essa etapa de ensino, reconhe- Isso significa dizer que metade dos adolescentes de 15 a
cer as reais condições dos recursos humanos, materiais e 17 anos ainda não está matriculada no Ensino Médio. No
financeiros das redes escolares públicas em nosso país, que Nordeste a taxa de escolaridade líquida é ainda inferior,
ainda não atendem na sua totalidade às condições ideais. ficando em 39,1%. A proporção de pessoas de 18 a 24 anos
É preciso que além de reconhecimento esse processo de idade, economicamente ativas, com mais de 11 anos de
seja acompanhado da efetiva ampliação do acesso ao En- estudos é de 15,2% e a proporção de analfabetos nessa
sino Médio e de medidas que articulem a formação inicial mesma amostra atinge a casa de 4,6%.
dos professores com as necessidades do processo ensi- Especificamente em relação ao Ensino Médio, o núme-
no-aprendizagem, ofereçam subsídios reais e o apoio de ro de estudantes da etapa é, atualmente, da ordem de 8,3
uma eficiente política de formação continuada para seus milhões. A taxa de aprovação no Ensino Médio brasileiro é
164
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de 72,6%, enquanto as taxas de reprovação e de abandono É sabido que a questão do atendimento das demandas
são, respectivamente, de 13,1% e de 14,3% (INEP, 2009). das “juventudes” vai além da atividade da escola, mas en-
Observe-se que essas taxas diferem de região para região tende-se que uma parte significativa desse objetivo pode
e entre as zonas urbana e rural. Há também uma diferença ser alcançada por meio da transformação do currículo es-
significativa entre as escolas privadas e públicas. colar e do projeto político-pedagógico.
Em resposta a esses desafios que permanecem, algu- A atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para
mas políticas, diretrizes e ações do governo federal foram o Ensino Médio deve contemplar as recentes mudanças da
desenvolvidas com a proposta de estruturar um cenário legislação, dar uma nova dinâmica ao processo educati-
de possibilidades que sinalizam para uma efetiva política vo dessa etapa educacional, retomar a discussão sobre as
pública nacional para a Educação Básica, comprometida formas de organização dos saberes e reforçar o valor da
com as múltiplas necessidades sociais e culturais da po- construção do projeto político-pedagógico das escolas, de
pulação brasileira. Nesse sentido, situam-se a aprovação modo a permitir diferentes formas de oferta e de organiza-
ção, mantida uma unidade nacional, sempre tendo em vista
e implantação do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formu-
a qualidade do ensino.
lação e implementação do Plano de Desenvolvimento da
Para tratar especificamente da atualização das Diretri-
Educação (PDE), e a consolidação do Sistema de Avaliação
zes Curriculares Nacionais para o
da Educação Básica (SAEB), do Exame Nacional do Ensino
Ensino Médio foi criada, em janeiro de 2010, pela Por-
Médio (ENEM) e do Índice de Desenvolvimento da Educa- taria CNE/CEB nº 1/2010, recomposta pela Portaria CNE/
ção Básica (IDEB). No âmbito deste Conselho, destacam-se CEB nº 2/2010, a Comissão constituída na Câmara de Edu-
as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação cação Básica (CEB) do CNE, formada pelos Conselheiros
Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB Adeum Sauer (presidente), José Fernandes de Lima (rela-
nº 4/2010) e o processo de elaboração deste Parecer, de tor), Mozart Neves Ramos, Francisco Aparecido Cordão e
atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o En- Rita Gomes do Nascimento.
sino Médio. Registre-se, por oportuno, que o Conselho Nacional
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), con- de Educação, no cumprimento do que determina o art. 7º
cretizado por Estados e Municípios, por meio da estrutura- da Lei n° 9.131/95 (que altera dispositivos da Lei nº 4.024,
ção da adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela de 20 de dezembro de 1961), vinha trabalhando na atua-
Educação e respectivos Planos de Ações Articuladas (PAR), lização das várias Diretrizes Curriculares Nacionais. Além
conduz à revisão das políticas públicas de educação e po- da elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
tencializa a articulação de programas e ações educacionais para a Educação Básica, já foram atualizadas, entre outras,
de governo. as Diretrizes para a Educação Infantil, para o Ensino Funda-
A concepção de uma educação sistêmica expressa no mental e para a Educação de Jovens e Adultos.
PDE, ao valorizar conjuntamente os níveis e modalidades Em agosto de 2010, a Secretaria de Educação Básica
educacionais, possibilita ações articuladas na organização do Ministério da Educação (SEB/MEC) encaminhou ao CNE
dos sistemas de ensino. Significa compreender o ciclo edu- uma sugestão de resolução feita por especialistas daquela
cacional de modo integral, promovendo a articulação entre Secretaria e outros contratados especificamente para ela-
as políticas orientadas para cada nível, etapa e modalidade boração do referido documento. Juntamente com a pro-
de ensino e, também, a coordenação entre os instrumen- posta de resolução, a SEB encaminhou outros documentos
tos disponíveis de política pública. Visão sistêmica implica, para subsidiar as discussões, além de disponibilizar técnicos
portanto, reconhecer as conexões intrínsecas entre Educa- para acompanhamento dos trabalhos, dentre os quais cum-
ção Básica e Educação Superior; entre formação humana, pre destacar o Diretor de Concepções e Orientações Curri-
culares para a Educação Básica, Carlos Artexes Simões, e a
científica, cultural e profissionalização e, a partir dessas
Coordenadora Geral do Ensino Médio, Maria Eveline Pinhei-
conexões, implementar políticas de educação que se refor-
ro Villar de Queiroz, bem como o consultor Bahij Amin Aur.
cem reciprocamente.
A proposta foi encaminhada aos membros do Fórum
Para levar adiante todas as ideias preconizadas na LDB,
dos Coordenadores do Ensino Médio que apresentaram,
a educação no Ensino Médio deve possibilitar aos adoles- além das sugestões das Secretarias Estaduais de Educação,
centes, jovens e adultos trabalhadores acesso a conheci- um documento coletivo discutido na reunião do Fórum,
mentos que permitam a compreensão das diferentes for- realizada em Natal, RN, em 1º de setembro de 2010. Em
mas de explicar o mundo, seus fenômenos naturais, sua seguida, a mesma proposta foi submetida à apreciação de
organização social e seus processos produtivos. especialistas que deram suas sugestões na reunião con-
O debate sobre a atualização das Diretrizes Curricu- junta com os membros da Comissão Especial da CEB e da
lares Nacionais para o Ensino Médio deve, portanto, con- Secretaria de Educação Básica do MEC, realizada nas de-
siderar importantes temáticas, como o financiamento e a pendências do CNE, em 17 de setembro de 2010.
qualidade da Educação Básica, a formação e o perfil dos No dia 4 de outubro de 2010, a sugestão de resolução
docentes para o Ensino Médio e a relação com a Educação destas Diretrizes foi discutida em audiência pública convo-
Profissional, de forma a reconhecer diferentes caminhos de cada pela Câmara de Educação Básica e realizada no CNE e
atendimento aos variados anseios das “juventudes” e da contou com a participação de mais de 100 pessoas, entre
sociedade. educadores e representantes de entidades.
165
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Destaque-se que o mesmo documento foi enviado ao XII – a relevante alteração na Constituição, pela pro-
Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) mulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, entre
que, por sua vez, o encaminhou para as Secretarias Esta- suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e gra-
duais de Educação. tuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta gra-
Foram recebidas diversas contribuições individuais e tuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
de associações, dentre as quais se destaca o documento
própria, assegura o atendimento ao estudante, em todas
enviado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pes-
quisa em Educação (ANPEd). as etapas da Educação Básica, mediante programas suple-
Em 16 de fevereiro de 2011, o relator participou da reu- mentares de material didático-escolar, transporte, alimen-
nião do CONSED com os Secretários Estaduais de Educação, tação e assistência à saúde, bem como reduz, anualmente,
para informar sobre o andamento dos trabalhos de elabora- a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvincu-
ção destas Diretrizes e solicitar a contribuição dos mesmos. lação das Receitas da União incidente sobre os recursos
É importante considerar que este parecer está sendo destinados a manutenção e ao desenvolvimento do ensino;
elaborado na vigência de um quadro de mudanças e pro- XII – a homologação das Diretrizes Curriculares Nacio-
postas que afetam todo o sistema educacional e, particu- nais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº
larmente, o Ensino Médio, dentre as quais se destacam os 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010);
seguintes exemplos: XIV – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 8/2010, que
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação
estabelece normas para aplicação do inciso IX do art. 4º da
Básica (2008);
II – os 14 anos transcorridos de vigência da LDB e as Lei nº 9.394/96 (LDB), que trata dos padrões mínimos de
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem qualidade de ensino para a Educação Básica pública;
como a edição de outras que repercutem nos currículos da XV – iniciativas relevantes, tanto na esfera federal, so-
Educação Básica, notadamente no do Ensino Médio; bretudo com o Programa Ensino Médio Inovador do MEC,
III – a aprovação do Fundo de Manutenção e Desen- como na esfera estadual e, mesmo, na municipal;
volvimento da Educação Básica e de Valorização dos Pro- XVI – a consolidação de sistemas nacionais de ava-
fissionais da Educação Básica (FUNDEB), regulado pela Lei liação, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica
nº 11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as (SAEB) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM);
etapas e modalidades da Educação Básica; XVII – a reformulação do ENEM e sua utilização nos
IV – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da
processos seletivos das Instituições de Educação Superior,
Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de
visando democratizar as oportunidades de acesso a esse
Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (CA-
PES/MEC); nível de ensino, potencialmente induzindo a reestruturação
V – a formulação, aprovação e implantação das medi- dos currículos do Ensino Médio;
das expressas na Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o XVIII – a criação do Índice de Desenvolvimento da Edu-
piso salarial profissional nacional para os profissionais do cação Básica (IDEB) para medir a qualidade de cada escola
magistério público da Educação Básica; e de cada rede de ensino, com base no desempenho do
VI – a implantação do Programa Nacional do Livro Di- estudante em avaliações do INEP e em taxas de aprovação;
dático para o Ensino Médio (PNLEM); XIX – a instituição do Programa Nacional de Direitos
VII – a instituição da política nacional de formação de humanos (PNDH 3), o qual indica a implementação do Pla-
profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº no Nacional de Educação em Direitos humanos (PNEDH).
6.755/2009);
XX – o envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei
VIII – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da
Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que fixam as Diretrizes Na- que trata do novo Plano Nacional de Educação para o pe-
cionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos Pro- ríodo de 2011-2020.
fissionais do Magistério da Educação Básica Pública; É expectativa que estas diretrizes possam se constituir
IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2010 e da num documento orientador dos sistemas de ensino e das
Resolução CNE/CEB nº 5/2010, que fixam as Diretrizes Na- escolas e que possam oferecer aos professores indicativos
cionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos Fun- para a estruturação de um currículo para o Ensino Médio
cionários da Educação Básica pública; que atenda as expectativas de uma escola de qualidade
X – o final da vigência do Plano Nacional de Educação que garanta o acesso, a permanência e o sucesso no pro-
(PNE), bem como a mobilização em torno da nova propos- cesso de aprendizagem e constituição da cidadania.
ta do PNE para o período 2011-2020; Desse modo, o grande desafio deste parecer consiste
XI – as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo
na incorporação das grandes mudanças em curso na socie-
CNE, expressas no documento “Subsídios para Elaboração
do PNE: Considerações Iniciais. Desafios para a Construção dade contemporânea, nas políticas educacionais brasileiras
do PNE” (Portaria CNE/CP nº 10/2009); e em constituir um documento que sugira procedimentos
XII – a realização da Conferência Nacional de Educação que permitam a revisão do trabalho das escolas e dos siste-
(CONAE), com tema central “Construindo um Sistema Na- mas de ensino, no sentido de garantir o direito à educação,
cional Articulado de Educação: Plano Nacional de Educa- o acesso, a permanência e o sucesso dos estudantes, com a
ção: suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, visando à cons- melhoria da qualidade da educação para todos.
trução do PNE 2011-2020;
166
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Conforme argumenta Campos (2008), para os movi- conscientes de seus direitos e deveres, compromissados
mentos sociais que reivindicavam a qualidade da educação com a transformação social. Diante dessa concepção de
entre os anos 70 e 80, ela estava muito presa às condições educação, a escola é uma organização temporal, que deve
básicas de funcionamento das escolas, porque seus partici- ser menos rígida, segmentada e uniforme, a fim de que os
pantes, pouco escolarizados, tinham dificuldade de perce- estudantes, indistintamente, possam adequar seus tempos
ber as nuanças dos projetos educativos que as instituições de aprendizagens de modo menos homogêneo e ideali-
de ensino desenvolviam. zado.
Na década de 90, sob o argumento de que o Brasil A escola, face às exigências da Educação Básica, pre-
investia muito na educação, porém gastava mal, prevale- cisa ser reinventada, ou seja, priorizar processos capazes
ceram preocupações com a eficácia e a eficiência das es- de gerar sujeitos inventivos, participativos, cooperativos,
colas, e a atenção voltou-se, predominantemente, para os preparados para diversificadas inserções sociais, políticas,
resultados por elas obtidos quanto ao rendimento dos es- culturais, laborais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir
tudantes. e problematizar as formas de produção e de vida. A escola
A qualidade priorizada somente nesses termos pode, tem, diante de si, o desafio de sua própria recriação, pois
contudo, deixar em segundo plano a superação das desi- tudo que a ela se refere constitui-se como invenção: os ri-
gualdades educacionais. tuais escolares são invenções de um determinado contexto
Outro conceito de qualidade passa, entretanto, a ser sociocultural em movimento.
gestado por movimentos de renovação pedagógica, movi- A qualidade na escola exige o compromisso de todos
mentos sociais, de profissionais e por grupos políticos: o da os sujeitos do processo educativo para:
qualidade social da educação. Ela está associada às mobili- I – a ampliação da visão política expressa por meio
zações pelo direito à educação, à exigência de participação de habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade
e de democratização e comprometida com a superação para aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e
das desigualdades e injustiças. pela estética;
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a II – a responsabilidade social, princípio educacional
Ciência e a Cultura (UNESCO), ao entender que a qualidade que norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o
projeto que definem e assumem como expressão e busca
da educação é também uma questão de direitos humanos,
da qualidade da escola, fruto do empenho de todos.
defende conceito semelhante (2008). Para além da eficá-
Construir a qualidade social pressupõe conhecimento
cia e da eficiência, advoga que a educação de qualidade,
dos interesses sociais da comunidade escolar para que seja
como um direito fundamental, deve ser antes de tudo re-
possível educar e cuidar mediante interação efetivada en-
levante, pertinente e equitativa. A relevância reporta-se à
tre princípios e finalidades educacionais, objetivos, conhe-
promoção de aprendizagens significativas do ponto de
cimentos e concepções curriculares. Isso abarca mais que
vista das exigências sociais e de desenvolvimento pessoal. o exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante
A pertinência refere-se à possibilidade de atender às ne- atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou
cessidades e às características dos estudantes de diversos seja, efetiva-se não apenas mediante participação de todos
contextos sociais e culturais e com diferentes capacidades os sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, fun-
e interesses. cionário, coordenador – mas também, mediante aquisição
A educação escolar, comprometida com a igualdade e utilização adequada dos objetos e espaços (laboratórios,
de acesso ao conhecimento a todos e especialmente em- equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblioteca, vi-
penhada em garantir esse acesso aos grupos da população deoteca, ateliê, oficina, área para práticas esportivas e cul-
em desvantagem na sociedade, é uma educação com qua- turais, entre outros) requeridos para responder ao projeto
lidade social e contribui para dirimir as desigualdades his- político-pedagógico pactuado, vinculados às condições/
toricamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, a disponibilidades mínimas para se instaurar a primazia da
permanência e o sucesso de todos na escola, com a conse- aquisição e do desenvolvimento de hábitos investigatórios
quente redução da evasão, da retenção e das distorções de para construção do conhecimento.
idade-ano/ série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução A escola de qualidade social adota como centralidade
CNE/CEB n° 4/2010, que definem as Diretrizes Curriculares o diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o
Nacionais Gerais para a Educação Básica). que pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais
Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional como:
da instituição escolar que não tem conseguido responder I – revisão das referências conceituais quanto aos dife-
às singularidades dos sujeitos que a compõem. Torna-se rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
inadiável trazer para o debate os princípios e as práticas sociais na escola e fora dela;
de um processo de inclusão social que garanta o acesso e II – consideração sobre a inclusão, a valorização das
considere a diversidade humana, social, cultural e econô- diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
mica dos grupos historicamente excluídos. cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos,
Para que se conquiste a inclusão social, a educação individuais e coletivos e as várias manifestações de cada
escolar deve fundamentar-se na ética e nos valores da li- comunidade;
berdade, justiça social, pluralidade, solidariedade e susten- III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
tabilidade, cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como ins-
seus sujeitos, nas dimensões individual e social de cidadãos trumento de contínua progressão dos estudantes;
168
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
IV – inter-relação entre organização do currículo, do Nessa reforma, o ensino secundário mantinha dois ci-
trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes- clos: o primeiro correspondia ao curso ginasial, com du-
sor, tendo como foco a aprendizagem do estudante; ração de 4 anos, destinado a fundamentos; o segundo
V – compatibilidade entre a proposta curricular e a in- correspondia aos cursos clássico e científico, com duração
fraestrutura, entendida como espaço formativo dotado de de 3 anos, com o objetivo de consolidar a educação mi-
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e nistrada no ginasial. O ensino secundário, de um lado, e
acessibilidade; o ensino profissional, de outro, não se comunicavam nem
VI – integração dos profissionais da educação, dos es- propiciavam circulação de estudos, o que veio a ocorrer na
tudantes, das famílias e dos agentes da comunidade inte- década seguinte.
ressados na educação; Em 1950, a equivalência entre os estudos acadêmicos
VII – valorização dos profissionais da educação, com e os profissionais foi uma mudança decisiva, comunicando
programa de formação continuada, critérios de acesso, os dois tipos de ensino. A Lei Federal nº 1.076/50 permitiu
permanência, remuneração compatível com a jornada de que concluintes de cursos profissionais ingressassem em
trabalho definida no projeto político-pedagógico; cursos superiores, desde que comprovassem nível de co-
VIII – realização de parceria com órgãos, tais como os nhecimento indispensável à realização dos aludidos estu-
de assistência social, desenvolvimento e direitos humanos, dos. Na década seguinte, sobreveio a plena equivalência
cidadania, trabalho, ciência e tecnologia, lazer, esporte, tu- entre os cursos, com a equiparação, para todos os efeitos,
rismo, cultura e arte, saúde, meio ambiente; do ensino profissional ao ensino propedêutico, efetivada
IX – preparação dos profissionais da educação, gesto- pela primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros. nal (Lei nº 4.024/61).
A qualidade social da educação brasileira é uma con- Novo momento decisivo ocorreu dez anos depois, com
quista a ser construída coletivamente de forma negociada, a promulgação da Lei n° 5.692/71, que reformou a Lei nº
pois significa algo que se concretiza a partir da qualidade 4.024/61, no que se refere ao, então, ensino de 1º e de
da relação entre todos os sujeitos que nela atuam direta 2º graus. Note-se que ocorreu aqui uma transposição do
e indiretamente. Significa compreender que a educação é antigo ginasial, até então considerado como fase inicial do
ensino secundário, para constituir-se na fase final do 1º
um processo de produção e socialização da cultura da vida,
grau de oito anos.
no qual se constroem, se mantêm e se transformam co-
Para o 2º grau (correspondente ao atual Ensino Médio),
nhecimentos e valores. Produzir e socializar a cultura inclui
a profissionalização torna-se obrigatória, supostamente
garantir a presença dos sujeitos das aprendizagens na es-
para eliminar o dualismo entre uma formação clássica e
cola. Assim, a qualidade social da educação escolar supõe
científica, preparadora para os estudos superiores e, outra,
encontrar alternativas políticas, administrativas e pedagó-
profissional (industrial, comercial e agrícola), além do Curso
gicas que garantam o acesso, a permanência e o sucesso Normal, destinado à formação de professores para a pri-
do indivíduo no sistema escolar, não apenas pela redução meira fase do 1º grau. A implantação generalizada da ha-
da evasão, da repetência e da distorção idade ano/série, bilitação profissional trouxe, entre seus efeitos, sobretudo
mas também pelo aprendizado efetivo. para o ensino público, a perda de identidade que o 2º grau
passara a ter, seja a propedêutica para o ensino superior,
3. O Ensino Médio no Brasil seja a de terminalidade profissional. Passada uma década,
foi editada a Lei nº 7.044/82, tornando facultativa essa pro-
Em uma perspectiva histórica (UNESCO, 2009), verifica- fissionalização no 2º grau.
-se que foi a reforma educacional conhecida pelo nome do O mais novo momento decisivo veio com a atual lei de
Ministro Francisco Campos, que regulamentou e organizou Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei Federal
o ensino secundário, além do ensino profissional e comer- nº 9.394/96, que ainda vem recebendo sucessivas altera-
cial (Decreto n° 18.890/31) que estabeleceu a moderniza- ções e acréscimos. A LDB define o Ensino Médio como uma
ção do ensino secundário nacional. etapa do nível denominado Educação Básica, constituído
Apesar de modernizadora, essa reforma não rompeu pela Educação Infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo En-
com a tradição de uma educação voltada para as elites e sino Médio, sendo este sua etapa final.
setores emergentes da classe média, pois foi concebida Das alterações ocorridas na LDB, destacam-se, aqui,
para conduzir seus estudantes para o ingresso nos cursos as trazidas pela Lei nº 11.741/2008, a qual redimensionou,
superiores. institucionalizou e integrou as ações da Educação Profis-
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, sional Técnica de Nível Médio, da Educação de Jovens e
foi instituído o conjunto das Leis Orgânicas da Educação Adultos e da Educação Profissional e Tecnológica. Foram
Nacional, que configuraram a denominada Reforma Capa- alterados os artigos 37, 39, 41 e 42, e acrescido o Capítulo
nema: a) Lei orgânica do ensino secundário, de 1942; b) Lei II do Título V com a Seção IV-A, denominada “Da Educação
orgânica do ensino comercial, de 1943; c) Leis orgânicas do Profissional Técnica de Nível Médio”, e com os artigos 36-A,
ensino primário, de 1946. Nas leis orgânicas firmou-se o 36-B, 36-C e 36-D. Esta lei incorporou o essencial do Decre-
objetivo do ensino secundário de formar as elites conduto- to nº 5.154/2004, sobretudo, revalorizando a possibilidade
ras do país, a par do ensino profissional, este mais voltado do Ensino Médio integrado com a Educação Profissional
para as necessidades emergentes da economia industrial e Técnica, contrariamente ao que o Decreto nº 2.208/97 an-
da sociedade urbana. teriormente havia disposto.
169
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A LDB define como finalidades do Ensino Médio a pre- sonho de futuro para todos os estudantes do Ensino Mé-
paração para a continuidade dos estudos, a preparação bá- dio. Esta orientação visa à construção de um Ensino Médio
sica para o trabalho e o exercício da cidadania. Determina, que apresente uma unidade e que possa atender a diver-
ainda, uma base nacional comum e uma parte diversificada sidade mediante o oferecimento de diferentes formas de
para a organização do currículo escolar. organização curricular, o fortalecimento do projeto político
Na sequência, foram formuladas as Diretrizes Curricula- pedagógico e a criação das condições para a necessária
res Nacionais para o Ensino Médio, em 1998, que destacam discussão sobre a organização do trabalho pedagógico.
que as ações administrativas e pedagógicas dos sistemas
de ensino e das escolas devem ser coerentes com princí- 4. Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio
pios estéticos, políticos e éticos, abrangendo a estética da
sensibilidade, a política da igualdade e a ética da identi- 4.1 As juventudes
dade. Afirmam que as propostas pedagógicas devem ser
orientadas por competências básicas, conteúdos e formas Os estudantes do Ensino Médio são predominante-
de tratamento dos conteúdos previstos pelas finalidades mente adolescentes e jovens. Segundo o Conselho Nacio-
do Ensino Médio. Os princípios pedagógicos da identida- nal de Juventude (CONJUVE), são considerados jovens os
de, diversidade e autonomia, da interdisciplinaridade e da sujeitos com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos,
contextualização são adotados como estruturadores dos ainda que a noção de juventude não possa ser reduzida
currículos. A base nacional comum organiza-se, a partir de a um recorte etário (Brasil, 2006). Em consonância com o
então, em três áreas de conhecimento: Linguagens, Códi- CONJUVE, esta proposta de atualização das Diretrizes Cur-
gos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática riculares Nacionais para o Ensino Médio concebe a juven-
e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias. tude como condição sócio-histórico-cultural de uma cate-
Mesmo considerando o tratamento dado ao trabalho goria de sujeitos que necessita ser considerada em suas
didático-pedagógico, com as possibilidades de organiza- múltiplas dimensões, com especificidades próprias que
ção do Ensino Médio, tem-se a percepção que tal discussão não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas
não chegou às escolas, mantendo-se atenção extrema no que se encontram articuladas com uma multiplicidade de
tratamento de conteúdos sem a articulação com o contex- atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas
to do estudante e com os demais componentes das áreas culturas juvenis ou muitas juventudes.
de conhecimento e sem aproximar-se das finalidades pro- Entender o jovem do Ensino Médio dessa forma sig-
postas para a etapa de ensino, constantes na LDB. Foi ob- nifica superar uma noção homogeneizante e naturalizada
servado em estudo promovido pela UNESCO, que incluiu desse estudante, passando a percebê-lo como sujeito com
estudos de caso em dois Estados, que os ditames legais valores, comportamentos, visões de mundo, interesses
e normativos e as concepções teóricas, mesmo quando e necessidades singulares. Além disso, deve-se também
assumidas pelos órgãos centrais de uma Secretaria Esta- aceitar a existência de pontos em comum que permitam
dual de Educação, têm fraca ressonância nas escolas e, até, tratá-lo como uma categoria social.
pouca ou nenhuma, na atuação dos professores (UNESCO, Destacam-se sua ansiedade em relação ao futuro, sua
2009).O Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e a Resolução CNE/CEB necessidade de se fazer ouvir e sua valorização da sociabi-
nº 4/2010, que definem as Diretrizes Curriculares Nacio- lidade. Além das vivências próprias da juventude, o jovem
nais Gerais para Educação Básica, especificamente quanto está inserido em processos que questionam e promovem
ao Ensino Médio, reiteram que é etapa final do processo sua preparação para assumir o papel de adulto, tanto no
formativo da Educação Básica e indicam que deve ter uma plano profissional quanto no social e no familiar.
base unitária sobre a qual podem se assentar possibilida- Pesquisas sugerem que, muito frequentemente, a ju-
des diversas. ventude é entendida como uma condição de transitorieda-
A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em de, uma fase de transição para a vida adulta (Dayrell, 2003).
uma lógica que se dirige, predominantemente, aos jovens, Com isso, nega-se a importância das ações de seu presen-
considerando suas singularidades, que se situam em um te, produzindo-se um entendimento de que sua educação
tempo determinado. deva ser pensada com base nesse “vir a ser”. Reduzem-se,
Os sistemas educativos devem prever currículos fle- assim, as possibilidades de se fazer da escola um espaço
xíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens te- de formação para a vida hoje vivida, o que pode acabar
nham a oportunidade de escolher o percurso formativo relegando-a a uma obrigação enfadonha.
que atenda seus interesses, necessidades e aspirações, Muitos jovens, principalmente os oriundos de famílias
para que se assegure a permanência dos jovens na escola, pobres, vivenciam uma relação paradoxal com a escola. Ao
com proveito, até a conclusão da Educação Básica. mesmo tempo em que reconhecem seu papel fundamental
Pesquisas realizadas com estudantes mostram a neces- no que se refere à empregabilidade, não conseguem atri-
sidade de essa etapa educacional adotar procedimentos buir-lhe um sentido imediato (Sposito, 2005).
que guardem maior relação com o projeto de vida dos es- Vivem ansiosos por uma escola que lhes proporcione
tudantes como forma de ampliação da permanência e do chances mínimas de trabalho e que se relacione com suas
sucesso dos mesmos na escola. experiências presentes.
Estas Diretrizes orientam-se no sentido do oferecimen- Além de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra
to de uma formação humana integral, evitando a orientação forma recorrente de representar a juventude vê-la como um
limitada da preparação para o vestibular e patrocinando um tempo de liberdade, de experimentação e irresponsabilidade
170
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
(Dayrell, 2003). Essas duas maneiras de representar a juven- ampliação. Entre 1995 e 2005, os sistemas de ensino esta-
tude – como um “vir a ser” e como um tempo de liberdade duais receberam mais de 4 milhões de jovens no Ensino
– mostram-se distantes da realidade da maioria dos jovens Médio, totalizando uma população escolar de 9 milhões de
brasileiros. Para esses, o trabalho não se situa no futuro, já indivíduos (2009).
fazendo parte de suas preocupações presentes. É diante de um público juvenil extremamente diverso,
Uma pesquisa realizada com jovens de várias regiões que traz para dentro da escola as contradições de uma so-
brasileiras, moradores de zonas urbanas de cidades peque- ciedade que avança na inclusão educacional sem transfor-
nas e capitais, bem como da zona rural, constatou que 60% mar a estrutura social desigual – mantendo acesso precário
dos entrevistados frequentavam escolas. Contudo, 75% de- à saúde, ao transporte, à cultura e lazer, e ao trabalho –
les já estavam inseridos ou buscando inserção no mundo que o novo Ensino Médio se forja. As desigualdades sociais
do trabalho (Sposito, 2005). Ou seja, o mundo do trabalho passam a tensionar a instituição escolar e a produzir novos
parece estar mais presente na vida desses sujeitos do que conflitos (idem).
a escola. Segundo Dayrell (2009), o censo de 2000 informa que
Muitos jovens abandonam a escola ao conseguir em- 47,6% dos jovens da Região Sudeste de 15 a 17 anos fre-
prego, alegando falta de tempo. Todavia, é possível que, se quentavam o Ensino Médio; no Nordeste apenas 19,9%; e
os jovens atribuíssem um sentido mais vivo e uma maior a média nacional era de 35,7%. O autor assinala, com base
importância à sua escolarização, uma parcela maior con- em dados do IPEA (2008), que há uma frequência líquida
tinuasse frequentando as aulas, mesmo depois de empre- no Sul/Sudeste de 58%, contra 33,3% no Norte/Nordes-
gados. te. Em que pese essa presença ser expressivamente maior
O desencaixe entre a escola e os jovens não deve ser na Região Sul do país, observa-se um quadro reiterado de
visto como decorrente, nem de uma suposta incompetên- desistência da escola também nessa região. Esse quadro
cia da instituição, nem de um suposto desinteresse dos es- parece se intensificar no Ensino Médio, devido à existência
tudantes. As análises se tornam produtivas à medida que de forte tensão na relação dos jovens com a escola (Correia
enfoquem a relação entre os sujeitos e a escola no âmbito e Matos, 2001; Dayrell, 2007; Krawczyk, 2009 apud Dayrell,
de um quadro mais amplo, considerando as transforma- 2009).
ções sociais em curso. Essas transformações estão produ- Dentre os fatores relevantes a se considerar está a re-
zindo sujeitos com estilos de vida, valores e práticas sociais lação entre juventude, escola e trabalho. Ainda que não se
que os tornam muito distintos das gerações anteriores parta, a priori, de que haja uma linearidade entre perma-
(Dayrell, 2007). Entender tal processo de transformação é nência na escola e inserção no emprego, as relações entre
relevante para a compreensão das dificuldades hoje cons- escolarização, formação profissional e geração de indepen-
tatadas nas relações entre os jovens e a escola. dência financeira por meio do ingresso no mundo do tra-
Possivelmente, um dos aspectos indispensáveis a es- balho vêm sendo tensionadas e reconfiguradas conforme
sas análises é a compreensão da constituição da juventu- sinalizam estudos acerca do emprego e do desemprego
de. A formação dos indivíduos é hoje atravessada por um juvenil.
número crescente de elementos. Se antes ela se produzia, O Brasil vive hoje um novo ciclo de desenvolvimento
dominantemente, no espaço circunscrito pela família, pela calcado na distribuição de renda que visa à inclusão de um
escola e pela igreja, em meio a uma razoável homogenei- grande contingente de pessoas no mercado consumidor.
dade de valores, muitas outras instituições, hoje, partici- A sustentação desse ciclo e o estabelecimento de no-
pam desse jogo, apresentando formas de ser e de viver vos patamares de desenvolvimento requerem um aporte
heterogêneas. de trabalhadores qualificados em todos os níveis, o que
A identidade juvenil é determinada para além de uma implica na reestruturação da escola com vistas à introdução
idade biológica ou psicológica, mas situa-se em processo de novos conteúdos e de novas metodologias de ensino
de contínua transformação individual e coletiva, a partir do capazes de promover a oferta de uma formação integral.
que se reconhece que o sujeito do Ensino Médio é cons- Os jovens, atentos aos destinos do País, percebem es-
tituído e constituinte da ordem social, ao mesmo tempo sas modificações e criam novas expectativas em relação às
em que, como demonstram os comportamentos juvenis, possibilidades de inserção no mundo do trabalho e em re-
preservam autonomia relativa quanto a essa ordem. lação ao papel da escola nos seus projetos de vida.
Segundo Dayrell, a juventude é “parte de um processo Diante do exposto, torna-se premente que as esco-
mais amplo de constituição de sujeitos, mas que tem es- las, ao desenvolverem seus projetos políticopedagógicos,
pecificidades que marcam a vida de cada um. A juventude se debrucem sobre questões que permitam ressignificar a
constitui um momento determinado, mas não se reduz a instituição escolar diante de uma possível fragilização que
uma passagem; ela assume uma importância em si mesma. essa instituição venha sofrendo, quando se trata do público
Todo esse processo é influenciado pelo meio social alvo do Ensino Médio, considerando, ainda, a necessidade
concreto no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas de acolhimento de um sujeito que possui, dentre outras,
que este proporciona”. (2003). as características apontadas anteriormente. Assim, suge-
Zibas, ao analisar as relações entre juventude e oferta rem-se questões como: Que características sócio-econô-
educacional observa que a ampliação do acesso ao Ensi- mico-culturais possuem os jovens que frequentam as es-
no Médio, nos últimos 15 anos, não veio acompanhada de colas de Ensino Médio? Que representações a escola, seus
políticas capazes de dar sustentação com qualidade a essa professores e dirigentes fazem dos estudantes? A escola
171
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
conhece seus estudantes? Quais os pontos de proximidade so aos bens culturais e, como tal, esperam que a escola
e distanciamento entre os sujeitos das escolas (estudantes cumpra o papel de supridora dessas condições. Não raras
e professores particularmente)? Quais sentidos e significa- vezes, a escola noturna é vista por esses estudantes traba-
dos esses jovens têm atribuído à experiência escolar? Que lhadores como um locus privilegiado de socialização.
relações se podem observar entre jovens, escola e socia- Os que estudam e trabalham, em geral, enfrentam difi-
bilidade? Quais experiências os jovens constroem fora do culdades para conciliar as duas tarefas.
espaço escolar? Como os jovens interagem com a diversi- Todos têm consciência de que as escolas noturnas
dade? Que representações fazem diante de situações que convivem com maiores dificuldades do que as do período
têm sido alvo de preconceito? Em que medida a cultura diurno e isso é um fator de desestímulo.
escolar instituída compõe uma referência simbólica que se Segundo Arroyo (1986, in Togni e Carvalho, 2008), ao
distancia/aproxima das expectativas dos estudantes? Que tratar do “aluno (estudante)-trabalhador”, estamos nos re-
elementos da cultura juvenil são derivados da experiência ferindo a um trabalhador que estuda, ou seja, jovens que,
escolar e contribuem para conferir identidade(s) ao jovem antes de serem estudantes, são trabalhadores e que “dessa
da contemporaneidade? Que articulações existem entre os diferenciação, não deveria decorrer qualquer interpreta-
interesses pessoais, projetos de vida e experiência escolar? ção que indique uma valorização diferente, por parte dos
Que relações se estabelecem entre esses planos e as expe- estudantes, da escolarização, mas sim, especificidades nas
riências vividas na escola? Em que medida os sentidos atri- relações estabelecidas na escola” (Oliveira e Sousa, 2008).
buídos à experiência escolar motivam os jovens a elaborar Desse modo, o enfrentamento das necessidades detec-
projetos de futuro? Que expectativas são explicitadas pelos tadas no ensino noturno passa, inicialmente, pelo reconhe-
jovens diante da relação escola e trabalho? Que aspectos cimento da diversidade que caracteriza a escola e o cor-
precisariam mudar na escola tendo em vista oferecer con- po discente do ensino noturno para, em seguida, adequar
dições de incentivo ao retorno e à permanência para os seus procedimentos aos projetos definidos para a mesma.
que a abandonaram? Viabilizar as condições para que tais A própria Constituição Federal, no inciso VI do art. 208,
questões pautem as formulações dos gestores e profes- determina, de forma especial, a garantia da oferta do ensi-
sores na discussão do seu cotidiano pode permitir novas
no noturno regular adequado às condições do educando.
formas de organizar a proposta de trabalho da escola na
A LDB, no inciso VI do art. 4º, reitera este mandamento
definição de seu projeto político-pedagógico.
como dever do Estado.
Ainda a LDB, no § 2º do art. 23, prescreve que o calen-
4.2 Os estudantes do Ensino Médio noturno
dário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais,
inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo
O Ensino Médio noturno tem estado ausente do con-
sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas
junto de medidas acenadas para a melhoria da Educação
letivas previsto.
Básica. Estas Diretrizes definem que todas as escolas com
Ensino Médio, independentemente do horário de funcio- Considerando, portanto, a situação e as circunstâncias
namento, sejam locais de incentivo, desafios, construção de vida dos estudantes trabalhadores do Ensino Médio no-
do conhecimento e transformação social. turno, cabe indicar e possibilitar formas de oferta e organi-
Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário zação que sejam adequadas às condições desses educan-
ter em mente as especificidades dos estudantes que com- dos, de modo a permitir seu efetivo acesso, permanência
põem a escola noturna, com suas características próprias. e sucesso nos estudos desta etapa da Educação Básica. É
Em primeiro lugar, cabe destacar que a maioria dos óbice evidente a carga horária diária, a qual, se igual à do
estudantes do ensino noturno são adolescentes e jovens. curso diurno, não é adequada para o estudante trabalha-
Uma parte está dando continuidade aos estudos, sem in- dor, que já cumpriu longa jornada laboral. Este problema
terrupção, mesmo que já tenha tido alguma reprovação. é agravado em cidades maiores, nas quais as distâncias e
Outra parte, no entanto, está retornando aos estudos de- os deslocamentos do local de trabalho para a escola e des-
pois de haver interrompido em determinado momento. ta para a morada impõe acréscimo de sacrifício, levando
Levantamentos específicos mostram que os estudan- a atraso e perda de tempos escolares. Essa sobrecarga de
tes do ensino noturno diferenciam-se dos estudantes do horas no período noturno torna-se, sem dúvida, causa de
ensino diurno, pois estes últimos têm o estudo como prin- desestímulo e aproveitamento precário que leva a uma de-
cipal atividade/interesse, enquanto os do noturno são, na ficiente formação e/ou à reprovação, além da retenção por
sua maioria, trabalhadores antes de serem estudantes. Do faltas além do limite legal e, no limite, de abandono dos
ponto de vista das expectativas destes estudantes, uns ob- estudos.
jetivam prosseguir os estudos ingressando no ensino su- Nesse sentido, com base no preceito constitucional
perior, enquanto outros pretendem manter ou retomar sua e da LDB, e respeitados os mínimos previstos de duração
dedicação ao trabalho. e carga horária total, o projeto pedagógico deve atender
O fato de muitos terem retornado aos estudos depois com qualidade a singularidade destes sujeitos, especifican-
de tê-los abandonado, é um atestado de que acreditam no do uma organização curricular e metodológica diferencia-
valor da escolarização como uma forma de buscar melho- da, podendo incluir atividades não presenciais, até 20% da
res dias e um futuro melhor. Em geral são estudantes que, carga horária diária ou de cada tempo de organização es-
não tendo condição econômica favorável, não têm aces- colar, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido
172
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
o atendimento por professores e monitores, ou ampliar a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
duração para mais de 3 anos, com redução da carga horária Adultos (PROEJA), instituído pelo Decreto nº 5.840/2006. A
diária e da anual, garantindo o mínimo total de 2.400 horas. proposta pedagógica do PROEJA alia direitos fundamen-
tais de jovens e adultos, educação e trabalho. É também
4.3 Os estudantes de Educação de Jovens e Adultos fundamentada no conceito de educação continuada, na
(EJA) valorização das experiências do indivíduo e na formação de
qualidade pressuposta nos marcos da educação integral.
O inciso I do art. 208 da Constituição Federal determina
que o dever do Estado para com a educação é efetivado 4.4 Os estudantes indígenas, do campo e quilom-
mediante a garantia da Educação Básica obrigatória e gra- bolas
tuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada, inclusive, sua
oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso O Ensino Médio, assim como as demais etapas da Edu-
na idade própria. cação Básica, assumem diferentes modalidades quando
A LDB, no inciso VII do art. 4º, determina a oferta de destinadas a contingentes da população com característi-
educação escolar regular para jovens e adultos, com ca- cas diversificadas, como é, principalmente, o caso dos po-
racterísticas e modalidades adequadas às suas necessi- vos indígenas, do campo e quilombolas.
dades e disponibilidades, garantindo-se, aos que forem O art. 78 da LDB se detém na oferta da Educação Esco-
trabalhadores, as condições de acesso e permanência na lar Indígena. Da confluência dos princípios e direitos desta
escola. O art. 37 traduz os fundamentos da EJA, ao atri- educação, traduzidos no respeito à sociodiversidade; na
buir ao poder público a responsabilidade de estimular e interculturalidade; no direito de uso de suas línguas ma-
viabilizar o acesso e a permanência do trabalhador na es- ternas e de processos próprios de aprendizagem, na ar-
cola, mediante ações integradas e complementares entre ticulação entre os saberes indígenas e os conhecimentos
si e mediante oferta de cursos gratuitos aos jovens e aos técnico-científicos com os princípios da formação integral,
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade re- visando à atuação cidadã no mundo do trabalho, da sus-
gular, proporcionando-lhes oportunidades educacionais tentabilidade socioambiental e do respeito à diversidade
apropriadas, consideradas as características do alunado, dos sujeitos, surge a possibilidade de uma educação indí-
seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante gena que possa contribuir para a reflexão e construção de
cursos e exames. Esta responsabilidade deve ser prevista alternativas de gerenciamento autônomo de seus territó-
pelos sistemas educativos e por eles deve ser assumida, no rios, de sustentação econômica, de segurança alimentar, de
âmbito da atuação de cada sistema, observado o regime de saúde, de atendimento às necessidades cotidianas, entre
colaboração e da ação redistributiva, definidos legalmente. outros. Esta modalidade tem Diretrizes próprias instituídas
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e pela Resolução CNE/CEB nº 3/99, que fixou Diretrizes Na-
Jovens e Adultos estão expressas na Resolução CNE/CEB cionais para o Funcionamento das Escolas Indígenas, com
nº 1/2000, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 11/2000, base no Parecer CNE/CEB nº 14/99, A escola desta moda-
sendo que o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução lidade tem uma realidade singular, inscrita na territoriali-
CNE/CEB nº 3/2010 instituem Diretrizes Operacionais para dade, em processos de afirmação de identidades étnicas,
a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos rela- produção e (re)significação de crenças, línguas e tradições
tivos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso culturais. Em função de suas especificidades requer nor-
nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos exames mas e ordenamentos jurídicos próprios em respeito aos
de EJA; e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por diferentes povos, como afirmado no Parecer CNE/CEB nº
meio da Educação a Distância. 14/99: “Na estruturação e no funcionamento das escolas
Indicam, igualmente, que mantém os princípios, ob- indígenas é reconhecida sua condição de escolas com nor-
jetivos e diretrizes formulados no Parecer CNE/CEB nº mas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercul-
11/2000. tural e bilíngue, visando à valorização plena das culturas
Sendo os jovens e adultos que estudam na EJA, no ge- dos povos indígenas e a afirmação e manutenção de sua
ral trabalhadores, cabem as considerações anteriores sobre diversidade étnica”.
os estudantes do Ensino Médio noturno, uma vez que esta A escola indígena, portanto, visando cumprir sua espe-
modalidade é, majoritariamente, oferecida nesse período. cificidade, alicerçada em princípios comunitários, bilíngues
Assim, deve especificar uma organização curricular e meto- e/ou multilíngues e interculturais, requer formação espe-
dológica que pode incluir ampliação da duração do curso, cífica de seu quadro docente, observados os princípios
com redução da carga horária diária e da anual, garantindo constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
o mínimo total de 1.200 horas, ou incluir atividades não orientam a Educação Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11,
presenciais, até 20% da carga horária diária ou de cada e inciso VIII do art. 4º da LDB), como destacado no Parecer
tempo de organização escolar, desde que haja suporte tec- CNE/CEB nº 7/2010, de Diretrizes Curriculares Nacionais
nológico e seja garantido o atendimento por professores Gerais para a Educação Básica.
e monitores. A educação ofertada à população rural no Brasil tem
A aproximação entre a EJA – Ensino Médio – e a Edu- sido objeto de estudos e de reivindicações de organizações
cação Profissional, materializa-se, sobretudo, no Programa sociais há muito tempo. O art. 28 da LDB estabelece o direi-
Nacional de Integração da Educação Profissional com a to dos povos do campo a uma oferta de ensino adequada à
173
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
sua diversidade sociocultural. É, pois, a partir dos parâme- Cabe assim às instituições de ensino garantir a trans-
tros político-pedagógicos próprios que se busca refletir so- versalidade das ações da Educação Especial no Ensino Mé-
bre a Educação do Campo. As Diretrizes Operacionais para dio, assim como promover a quebra de barreiras físicas,
a Educação Básica nas Escolas do Campo estão orientadas de comunicação e de informação que possam restringir a
pelo Parecer CNE/CEB nº 36/2001, pela Resolução CNE/CEB participação e a aprendizagem dos educandos.
nº 1/2002, pelo Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e pela Resolu- Nesse sentido, faz-se necessário organizar processos
ção CNE/CEB nº 2/2008. de avaliação adequados às singularidades dos educandos,
Esta modalidade da Educação Básica e, portanto, do incluindo as possibilidades de dilatamento de prazo para
Ensino Médio, está prevista no art. 28 da LDB, definindo, conclusão da formação e complementação do atendimen-
para atendimento da população do campo, adaptações ne- to.
cessárias às peculiaridades da vida rural e de cada região, Para o atendimento desses objetivos, devem as escolas
com orientações referentes a conteúdos curriculares e me- definir formas inclusivas de atendimento de seus estudan-
todologias apropriadas às reais necessidades e interesses tes, devendo os sistemas de ensino dar o necessário apoio
dos estudantes da zona rural; organização escolar própria, para a implantação de salas de recursos multifuncionais; a
incluindo adequação do calendário escolar as fases do ciclo formação continuada de professores para o atendimento
agrícola e as condições climáticas; e adequação à natureza educacional especializado e a formação de gestores, edu-
do trabalho na zona rural. As propostas pedagógicas das cadores e demais profissionais da escola para a educação
escolas do campo com oferta de Ensino Médio devem, por- inclusiva; a adequação arquitetônica de prédios escolares
tanto, ter flexibilidade para contemplar a diversidade do e a elaboração, produção e distribuição de recursos edu-
meio, em seus múltiplos aspectos, observados os princípios cacionais para a acessibilidade, bem como a estruturação
constitucionais, a base nacional comum e os princípios que de núcleos de acessibilidade com vistas à implementação
orientam a Educação Básica brasileira. e à integração das diferentes ações institucionais de inclu-
Especificidades próprias, similarmente, tem a educa- são de forma a prover condições para o desenvolvimento
ção destinada aos quilombolas, desenvolvida em unidades acadêmico dos educandos, propiciando sua plena e efetiva
educacionais inscritas em suas terras e cultura, requeren- participação e inclusão na sociedade.
do pedagogia própria em respeito à especificidade étni-
co-cultural de cada comunidade e formação específica de 5. Pressupostos e fundamentos para um Ensino Mé-
seu quadro docente. A Câmara de Educação Básica do CNE dio de qualidade social
instituiu Comissão para a elaboração de Diretrizes Curricu-
lares específicas para esta modalidade (Portaria CNE/CEB 5.1 Trabalho, ciência, tecnologia e cultura: dimen-
nº 5/2010). sões da formação humana
174
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
são determinantes do fenômeno estudado. A compreensão Uma formação integral, portanto, não somente possi-
do real como totalidade exige que se conheçam as partes bilita o acesso a conhecimentos científicos, mas também
e as relações entre elas, o que nos leva a constituir seções promove a reflexão crítica sobre os padrões culturais que
tematizadas da realidade. Quando essas relações são “ar- se constituem normas de conduta de um grupo social, as-
rancadas” de seu contexto originário e ordenadas, tem-se a sim como a apropriação de referências e tendências que
teoria. A teoria, então, é o real elevado ao plano do pensa- se manifestam em tempos e espaços históricos, os quais
mento. Sendo assim, qualquer fenômeno que sempre exis- expressam concepções, problemas, crises e potenciais de
tiu como força natural só se constitui em conhecimento uma sociedade, que se vê traduzida e/ou questionada nas
quando o ser humano dela se apropria tornando-a força suas manifestações.
produtiva para si. Por exemplo, a descarga elétrica, os raios, Assim, evidencia-se a unicidade entre as dimensões
a eletricidade estática como fenômenos naturais sempre científico-tecnológico-cultural, a partir da compreensão do
existiram, mas não são conhecimentos enquanto o ser hu- trabalho em seu sentido ontológico.
mano não se apropria desses fenômenos conceitualmente, O princípio da unidade entre pensamento e ação é cor-
formulando teorias que potencializam o avanço das forças relato à busca intencional da convergência entre teoria e
produtivas. prática na ação humana. A relação entre teoria e prática
A ciência, portanto, que pode ser conceituada como se impõe, assim, não apenas como princípio metodológi-
conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos co inerente ao ato de planejar as ações, mas, fundamen-
socialmente ao longo da história, na busca da compreen- talmente, como princípio epistemológico, isto é, princípio
são e transformação da natureza e da sociedade, se expres- orientador do modo como se compreende a ação humana
sa na forma de conceitos representativos das relações de de conhecer uma determinada realidade e intervir sobre
forças determinadas e apreendidas da realidade. O conhe- ela no sentido de transformá-la.
cimento de uma seção da realidade concreta ou a realidade A unidade entre pensamento e ação está na base da
concreta tematizada constitui os campos da ciência, que capacidade humana de produzir sua existência. É na ativi-
são as disciplinas científicas. Conhecimentos assim produ- dade orientada pela mediação entre pensamento e ação
que se produzem as mais diversas práticas que compõem
zidos e legitimados socialmente ao longo da história são
a produção de nossa vida material e imaterial: o trabalho, a
resultados de um processo empreendido pela humanidade
ciência, a tecnologia e a cultura.
na busca da compreensão e transformação dos fenôme-
Por essa razão trabalho, ciência, tecnologia e cultura
nos naturais e sociais. Nesse sentido, a ciência conforma
são instituídos como base da proposta e do desenvolvi-
conceitos e métodos cuja objetividade permite a transmis-
mento curricular no Ensino Médio de modo a inserir o con-
são para diferentes gerações, ao mesmo tempo em que
texto escolar no diálogo permanente com a necessidade
podem ser questionados e superados historicamente, no
de compreensão de que estes campos não se produzem
movimento permanente de construção de novos conhe-
independentemente da sociedade, e possuem a marca da
cimentos. sua condição histórico-cultural.
A extensão das capacidades humanas, mediante a
apropriação de conhecimentos como força produtiva, sin- 5.2 Trabalho como princípio educativo
tetiza o conceito de tecnologia aqui expresso. Pode ser
conceituada como transformação da ciência em força pro- A concepção do trabalho como princípio educativo é a
dutiva ou mediação do conhecimento científico e a produ- base para a organização e desenvolvimento curricular em
ção, marcada desde sua origem pelas relações sociais que seus objetivos, conteúdos e métodos.
a levaram a ser produzida. O desenvolvimento da tecnolo- Considerar o trabalho como princípio educativo equi-
gia visa à satisfação de necessidades que a humanidade se vale a dizer que o ser humano é produtor de sua realidade
coloca, o que nos leva a perceber que a tecnologia é uma e, por isto, dela se apropria e pode transformá-la. Equivale
extensão das capacidades humanas. A partir do nascimen- a dizer, ainda, que é sujeito de sua história e de sua reali-
to da ciência moderna, pode-se definir a tecnologia, então, dade. Em síntese, o trabalho é a primeira mediação entre o
como mediação entre conhecimento científico (apreensão homem e a realidade material e social.
e desvelamento do real) e produção (intervenção no real). O trabalho também se constitui como prática econô-
Entende-se cultura como o resultado do esforço cole- mica porque garante a existência, produzindo riquezas e
tivo tendo em vista conservar a vida humana e consolidar satisfazendo necessidades. Na base da construção de um
uma organização produtiva da sociedade, do qual resulta projeto de formação está a compreensão do trabalho no
a produção de expressões materiais, símbolos, represen- seu duplo sentido – ontológico e histórico.
tações e significados que correspondem a valores éticos Pelo primeiro sentido, o trabalho é princípio educati-
e estéticos que orientam as normas de conduta de uma vo à medida que proporciona a compreensão do proces-
sociedade. so histórico de produção científica e tecnológica, como
Por essa perspectiva, a cultura deve ser compreendida conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente
no seu sentido mais ampliado possível, ou seja, como a para a transformação das condições naturais da vida e a
articulação entre o conjunto de representações e compor- ampliação das capacidades, das potencialidades e dos sen-
tamentos e o processo dinâmico de socialização, consti- tidos humanos. O trabalho, no sentido ontológico, é princí-
tuindo o modo de vida de uma população determinada. pio e organiza a base unitária do Ensino Médio.
175
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio educati- Essas novas exigências requerem um novo comporta-
vo na medida em que coloca exigências específicas para mento dos professores que devem deixar de ser transmis-
o processo educacional, visando à participação direta dos sores de conhecimentos para serem mediadores, facilita-
membros da sociedade no trabalho socialmente produtivo. dores da aquisição de conhecimentos; devem estimular a
Com este sentido, conquanto também organize a base uni- realização de pesquisas, a produção de conhecimentos e
tária, fundamenta e justifica a formação específica para o o trabalho em grupo. Essa transformação necessária pode
ser traduzida pela adoção da pesquisa como princípio pe-
exercício de profissões, estas entendidas como forma con-
dagógico.
tratual socialmente reconhecida, do processo de compra e
É necessário que a pesquisa como princípio pedagó-
venda da força de trabalho. gico esteja presente em toda a educação escolar dos que
Como razão da formação específica, o trabalho aqui vivem/viverão do próprio trabalho. Ela instiga o estudante
se configura também como contexto. Do ponto de vista no sentido da curiosidade em direção ao mundo que o cer-
organizacional, essa relação deve integrar em um mesmo ca, gera inquietude, possibilitando que o estudante possa
currículo a formação plena do educando, possibilitando ser protagonista na busca de informações e de saberes,
construções intelectuais mais complexas; a apropriação quer sejam do senso comum, escolares ou científicos.
de conceitos necessários para a intervenção consciente na Essa atitude de inquietação diante da realidade po-
realidade e a compreensão do processo histórico de cons- tencializada pela pesquisa, quando despertada no Ensino
trução do conhecimento. Médio, contribui para que o sujeito possa, individual e co-
letivamente, formular questões de investigação e buscar
5.3 Pesquisa como princípio pedagógico respostas em um processo autônomo de (re)construção
de conhecimentos. Nesse sentido, a relevância não está no
fornecimento pelo docente de informações, as quais, na
A produção acelerada de conhecimentos, característica
atualidade, são encontradas, no mais das vezes e de forma
deste novo século, traz para as escolas o desafio de fazer ampla e diversificada, fora das aulas e, mesmo, da escola. O
com que esses novos conhecimentos sejam socializados relevante é o desenvolvimento da capacidade de pesquisa,
de modo a promover a elevação do nível geral de educa- para que os estudantes busquem e (re)construam conhe-
ção da população. O impacto das novas tecnologias so- cimentos.
bre as escolas afeta tanto os meios a serem utilizados nas A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos profes-
instituições educativas, quanto os elementos do processo sores, implica na identificação de uma dúvida ou problema,
educativo, tais como a valorização da ideia da instituição na seleção de informações de fontes confiáveis, na inter-
escolar como centro do conhecimento; a transformação pretação e elaboração dessas informações e na organiza-
das infraestruturas; a modificação dos papeis do professor ção e relato sobre o conhecimento adquirido.
e do aluno; a influência sobre os modelos de organização Muito além do conhecimento e da utilização de equi-
e gestão; o surgimento de novas figuras e instituições no pamentos e materiais, a prática de pesquisa propicia o
contexto educativo; e a influência sobre metodologias, es- desenvolvimento da atitude científica, o que significa con-
tribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de
tratégias e instrumentos de avaliação.
condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar,
O aumento exponencial da geração de conhecimentos refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções
tem, também, como consequência que a instituição escolar e propor alternativas, potencializadas pela investigação e
deixa de ser o único centro de geração de informações. pela responsabilidade ética assumida diante das questões
A ela se juntam outras instituições, movimentos e ações políticas, sociais, culturais e econômicas.
culturais, públicas e privadas, além da importância que vão A pesquisa, associada ao desenvolvimento de proje-
adquirindo na sociedade os meios de comunicação como tos contextualizados e interdisciplinares/ articuladores de
criadores e portadores de informação e de conteúdos de- saberes, ganha maior significado para os estudantes. Se a
senvolvidos fora do âmbito escolar. pesquisa e os projetos objetivarem, também, conhecimen-
Apesar da importância que ganham esses novos meca- tos para atuação na comunidade, terão maior relevância,
nismos de aquisição de informações, é importante desta- além de seu forte sentido ético-social.
car que informação não pode ser confundida com conhe- É fundamental que a pesquisa esteja orientada por esse
cimento. O fato dessas novas tecnologias se aproximarem sentido ético, de modo a potencializar uma concepção de
investigação científica que motiva e orienta projetos de
da escola, onde os alunos, às vezes, chegam com muitas
ação visando à melhoria da coletividade e ao bem comum.
informações, reforça o papel dos professores no tocante às
A pesquisa, como princípio pedagógico, pode, assim,
formas de sistematização dos conteúdos e de estabeleci- propiciar a participação do estudante tanto na prática pe-
mento de valores. dagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a
Uma consequência imediata da sociedade de informa- escola e a comunidade.
ção é que a sobrevivência nesse ambiente requer o apren-
dizado contínuo ao longo de toda a vida. Esse novo modo 5.4 Direitos humanos como princípio norteador
de ser requer que o aluno, para além de adquirir determi-
nadas informações e desenvolver habilidades para realizar As escolas, assim como outras instituições sociais, têm
certas tarefas, deve aprender a aprender, para continuar um papel fundamental a desempenhar na garantia do res-
aprendendo. peito aos direitos humanos.
176
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Este respeito constitui irrevogável princípio nacional, Em um contexto democrático, nos diversos níveis,
pois nossa Constituição, já no seu preâmbulo, declara a ins- etapas e modalidades, é imprescindível propiciar espaços
tituição de um Estado Democrático, destinado a assegurar educativos em que a cultura de direitos humanos perpasse
o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a todas as práticas desenvolvidas no ambiente escolar, tais
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e como o currículo, a formação inicial e continuada dos pro-
a justiça como valores supremos de uma sociedade frater- fissionais da educação, o projeto político-pedagógico, os
na, pluralista e sem preconceitos. Entre os princípios funda- materiais didático-pedagógicos, o modelo de gestão, e a
mentais do país, consagra o fundamento da dignidade da avaliação, conforme indica o Plano Nacional de Educação
pessoa humana; os objetivos de construir uma sociedade em Direitos Humanos (PNEDH). É nesse sentido que a im-
livre, justa e solidária, de garantir o desenvolvimento na- plementação deste Plano é prescrita pelo Programa Nacio-
cional, de erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir nal de Direitos Humanos (PNDH 3), instituído pelo Decreto
as desigualdades sociais e regionais, e de promover o bem nº 7.037/2009.
de todos, sem preconceitos de origem, etnia, sexo, cor, ida- Para isso, a escola tem um papel fundamental, deven-
de e quaisquer outras formas de discriminação; além de do a Educação em direitos humanos ser norteadora da
consagrar o princípio da prevalência dos direitos humanos Educação Básica e, portanto, do Ensino Médio.
nas suas relações internacionais. A Constituição estabele-
ce, ainda, os direitos e garantias fundamentais, afirmando, 5.5 Sustentabilidade ambiental como meta universal
discriminadamente, os direitos e deveres individuais e co-
letivos. O compromisso com a qualidade da educação no sé-
Após sua promulgação em 1988, novos textos legais, culo XXI, em momento marcado pela ocorrência de diver-
documentos, programas e projetos vêm materializando a sos desastres ambientais, amplia a necessidade dos edu-
defesa e promoção dos direitos humanos. São exemplos cadores de compreender a complexa multicausalidade da
os Programas Nacional, Estaduais e Municipais de Direitos crise ambiental contemporânea e de contribuir para a pre-
Humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), venção de seus efeitos deletérios e para o enfrentamento
o Estatuto do Idoso, a Convenção Internacional sobre os
das mudanças socioambientais globais. Esta necessidade e
Direitos das Pessoas com Deficiência (que tem status cons-
decorrentes preocupações são universais.
titucional), as leis de combate à discriminação racial e à
Tais questões despertam o interesse das juventudes
tortura, bem como as recomendações das Conferências
de todos os meios sociais, culturais, étnicos e econômi-
Nacionais de Direitos Humanos. Estas iniciativas e medidas
cos, pois apontam para uma cidadania responsável com a
são fundamentadas em vários instrumentos internacionais
construção de um presente e um futuro sustentáveis, sa-
dos quais o Brasil é signatário, sob a inspiração da Declara-
ção Universal de Direitos Humanos, de 1948. dios e socialmente justos. No Ensino Médio há, portanto,
Compreender a relação indissociável entre democracia condições para se criar uma educação cidadã, responsável,
e respeito aos direitos humanos implica no compromisso crítica e participativa, que possibilita a tomada de decisões
do Estado brasileiro, no campo cultural e educacional, de transformadoras a partir do meio ambiente no qual as pes-
promover seu aprendizado em todos os níveis e modali- soas se inserem, em um processo educacional que supera
dades de ensino. Os direitos humanos na educação en- a dissociação sociedade/natureza.
contram-se presentes como princípio internacional, não só No contexto internacional é significativa a atuação da
nas Resoluções da ONU acerca da Década da Educação em Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é
direitos humanos, como no Programa Mundial de Educa- protagonista destacado. Ressalta-se, nesse âmbito, o Trata-
ção em Direitos Humanos. Conclama-se a responsabilidade do de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
coletiva de todos os países a dar centralidade à Educação Responsabilidade Global, 1992, elaborado na Conferência
em direitos humanos na legislação geral e específica, na das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
estrutura da política e planos educacionais, e nas diretrizes mento (Rio-92). Esse documento enfatiza a Educação Am-
e programas de educação. biental como instrumento de transformação social e políti-
Educar para os direitos humanos, como parte do di- ca, comprometido com a mudança social, rompendo com
reito à educação, significa fomentar processos que contri- o modelo desenvolvimentista e inaugurando o paradigma
buam para a construção da cidadania, do conhecimento de sociedades sustentáveis.
dos direitos fundamentais, do respeito à pluralidade e à Na Cúpula do Milênio, promovida em setembro de
diversidade de nacionalidade, etnia, gênero, classe social, 2000 pela ONU, 189 países, incluindo o Brasil, estabelece-
cultura, crença religiosa, orientação sexual e opção políti- ram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM),
ca, ou qualquer outra diferença, combatendo e eliminando com o compromisso de colocar em prática ações para que
toda forma de discriminação. sejam alcançados até 2015. Um dos objetivos é o de Quali-
Os direitos humanos, como princípio que norteia o dade de Vida e Respeito ao Meio Ambiente, visando inserir
desenvolvimento de competências, com conhecimentos e os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas
atitudes de afirmação dos sujeitos de direitos e de respeito e nos programas nacionais, e reverter a perda de recursos
aos demais, desenvolvem a capacidade de ações e refle- ambientais.
xões próprias para a promoção e proteção da universalida- A mesma ONU instituiu o período de 2005 a 2014
de, da indivisibilidade e da interdependência dos direitos e como a Década da Educação para o Desenvolvimento Sus-
da reparação de todas as suas violações. tentável, indicando uma nova identidade para a Educação,
177
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
como condição indispensável para a sustentabilidade, pro- sua produção acelerada. A apropriação de conhecimen-
movendo o cuidado com a comunidade de vida, a inte- tos científicos se efetiva por práticas experimentais, com
gridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade contextualização que relacione os conhecimentos com a
social e de gênero, o diálogo para a convivência e a paz. vida, em oposição a metodologias pouco ou nada ativas
Estas preocupações universais têm crescente repercus- e sem significado para os estudantes. Estas metodologias
são no Brasil, que, institucionalmente, possui um Ministério estabelecem relação expositiva e transmissivista que não
específico no Governo Federal, secundado por Secretarias coloca os estudantes em situação de vida real, de fazer, de
e órgãos nos Estados e em Municípios. elaborar. Por outro lado, tecnologias da informação e co-
No contexto nacional, a Educação Ambiental está am- municação modificaram e continuam modificando o com-
parada pela Constituição Federal e pela Lei nº 9.795/99, portamento das pessoas e essas mudanças devem ser in-
que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política corporadas e processadas pela escola para evitar uma nova
Nacional de Educação Ambiental (PNEA), bem como pela forma de exclusão, a digital.
legislação dos demais entes federativos. A PNEA entende De acordo com Silva, privilegiar a dimensão cogniti-
por esta educação os processos por meio dos quais o in- va não pode secundarizar outras dimensões da formação,
divíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhe- como, por exemplo, as dimensões física, social e afetiva.
cimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas Desse modo, pensar uma educação escolar capaz de reali-
para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum zar a educação em sua plenitude, implica em refletir sobre
do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua susten- as práticas pedagógicas já consolidadas e problematizá-las
tabilidade”. no sentido de produzir a incorporação das múltiplas di-
Entre os objetivos fundamentais da Educação Ambien- mensões de realização do humano como uma das grandes
tal, estão o desenvolvimento de uma compreensão inte- finalidades da escolarização básica.
grada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas Como fundamento dessa necessidade podemos recor-
relações, e o incentivo à participação individual e coletiva, rer, por exemplo, a um dos grandes pensadores dos pro-
permanente e responsável, na preservação do equilíbrio cessos cognitivos, Henry Wallon, e apreender, a partir dele,
do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualida-
essa natureza multidimensional implicada nas relações de
de ambiental como um valor inseparável do exercício da
ensinar e aprender. Segundo Wallon, para que a aprendi-
cidadania. E preceitua que ela é componente essencial e
zagem ocorra, um conjunto de condições necessita estar
permanente da educação nacional, devendo estar presen-
satisfeito: a emoção, a imitação, a motricidade e o socius,
te, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
isto é, a condição da interação social. Esses quatro elemen-
do processo educativo, seja formal ou não formal. Na edu-
tos, marcados por uma estreita interdependência, geram
cação formal e, portanto, também no Ensino Médio, deve
ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, a possibilidade de que cada um de nós possa se apropriar
contínua e permanente sem que constitua componente dos elementos culturais, objeto de nossa formação. Na
curricular específico. ausência de qualquer um deles, esse processo ocorre de
forma limitada.
6. Desafios do Ensino Médio Do mesmo modo, assim como a dimensão emocio-
nal-afetiva foi, historicamente, tratada de modo periférico,
É preciso reconhecer que a escola se constitui no prin- a dimensão físico-corpórea também não tem merecido a
cipal espaço de acesso ao conhecimento sistematizado, atenção necessária. Aceita, geralmente, como atributo de
tal como ele foi produzido pela humanidade ao longo dos um terreno específico – o da Educação Física Escolar – ra-
anos. Assegurar essa possibilidade, garantindo a oferta de ramente se têm disseminadas compreensões mais abran-
educação de qualidade para toda a população, é crucial gentes que nos permitam entender que o crescimento in-
para que a possibilidade da transformação social seja con- telectual e afetivo não se realizam sem um corpo, e que,
cretizada. Neste sentido, a educação escolar, embora não enquanto uma das dimensões do humano, tem sua con-
tenha autonomia para, por si mesma, mudar a sociedade, cepção demarcada histórico culturalmente. Desse modo,
é importante estratégia de transformação, uma vez que a ao educador é imprescindível tomar o educando nas suas
inclusão na sociedade contemporânea não se dá sem o múltiplas dimensões – intelectual, social, física e emocional
domínio de determinados conhecimentos que devem ser – e situá-las no âmbito do contexto sociocultural em que
assegurados a todos. educador e educando estão inseridos.
Com a perspectiva de um imenso contingente de ado- Tomar o educando em suas múltiplas dimensões tem
lescentes, jovens e adultos que se diferenciam por condi- como finalidade realizar uma educação que o conduza à
ções de existência e perspectivas de futuro desiguais, é que autonomia, intelectual e moral.
o Ensino Médio deve trabalhar. Está em jogo a recriação da Para o Ensino Médio, reconhecidos seu caráter de in-
escola que, embora não possa por si só resolver as desi- tegrante da Educação Básica e seu necessário assegura-
gualdades sociais, pode ampliar as condições de inclusão mento de oferta para todos, a própria LDB aponta para a
social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cul- possibilidade de ofertar distintas modalidades de organi-
tura e ao trabalho. zação, inclusive a formação técnica, com o intuito de tra-
O desenvolvimento científico e tecnológico acelera- tar diferentemente os desiguais, conforme seus interesses
do impõe à escola um novo posicionamento de vivência e e necessidades, para que possam ser iguais do ponto de
convivência com os conhecimentos capaz de acompanhar vista dos direitos.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
As finalidades educativas constituem um marco de re- A definição da identidade do Ensino Médio como eta-
ferência para fixar prioridades, refletir e desenvolver ações pa conclusiva da Educação Básica precisa ser iniciada me-
em torno delas. Elas contribuem para a configuração da diante um projeto que, conquanto seja unitário em seus
identidade da escola no lugar da homogeneização, da uni- princípios e objetivos, desenvolva possibilidades formativas
formização. Kuenzer chama a atenção para as finalidades com itinerários diversificados que contemplem as múltiplas
e os objetivos do Ensino Médio, que se resumem (…) no necessidades socioculturais e econômicas dos estudantes,
compromisso de educar o jovem para participar política e reconhecendo-os como sujeitos de direitos no momento
produtivamente do mundo das relações sociais concretas em que cursam esse ensino.
com comportamento ético e compromisso político, através As instituições escolares devem avaliar as várias pos-
do desenvolvimento da autonomia intelectual e da auto- sibilidades de organização do Ensino Médio, garantindo a
nomia moral. simultaneidade das dimensões trabalho, ciência, tecnolo-
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar gia e cultura e contemplando as necessidades, anseios e
que os profissionais da educação precisam ter clareza das aspirações dos sujeitos e as perspectivas da realidade da
finalidades propostas pela legislação. Para tanto, há ne- escola e do seu meio.
cessidade de refletir sobre a ação educativa que a escola
desenvolve com base nas finalidades e os objetivos que 6.3 Ensino Médio e profissionalização
ela define. Uma das principais tarefas da escola ao longo
do processo de elaboração do seu projeto político-peda- A identidade do Ensino Médio se define na superação
gógico é o trabalho de refletir sobre sua intencionalidade do dualismo entre propedêutico e profissional. Importa
educativa. que se configure um modelo que ganhe uma identidade
O projeto político-pedagógico exige essa reflexão, as- unitária para esta etapa e que assuma formas diversas e
sim como a explicitação de seu papel social, e a definição contextualizadas da realidade brasileira.
dos caminhos a serem percorridos e das ações a serem No referente à profissionalização, a LDB, modificada
desencadeadas por todos os envolvidos com o processo pela Lei nº 11.741/2008, prevê formas de articulação en-
escolar. tre o Ensino Médio e a Educação Profissional: a articulada
(integrada ou concomitante) e a subsequente, atribuindo a
6.2 Identidade e diversificação no Ensino Médio decisão de adoção às redes e instituições escolares.
A profissionalização nesta etapa da Educação Básica é
Um dos principais desafios da educação consiste no uma das formas possíveis de diversificação, que atende a
estabelecimento do significado do Ensino Médio, que, em contingência de milhares de jovens que têm o acesso ao
sua representação social e realidade, ainda não respon- trabalho como uma perspectiva mais imediata.
deu aos objetivos que possam superar a visão dualista de Parte desses jovens, por interesse ou vocação, almejam
que é mera passagem para a Educação Superior ou para a profissionalização neste nível, seja para exercício profis-
a inserção na vida econômico-produtiva. Esta superação sional, seja para conexão vertical em estudos posteriores
significa uma formação integral que cumpra as múltiplas de nível superior.
finalidades da Educação Básica e, em especial, do Ensino Outra parte, no entanto, a necessita para prematura-
Médio, completando a escolaridade comum necessária a mente buscar um emprego ou atuar em diferentes formas
todos os cidadãos. Busca-se uma escola que não se limi- de atividades econômicas que gerem subsistência. Esta
te ao interesse imediato, pragmático e utilitário, mas, sim, profissionalização no Ensino Médio responde a uma condi-
uma formação com base unitária, viabilizando a apropria- ção social e histórica em que os jovens trabalhadores pre-
ção do conhecimento e desenvolvimento de métodos que cisam obter uma profissão qualificada já no nível médio.
permitam a organização do pensamento e das formas de Entretanto, se a preparação profissional no Ensino Mé-
compreensão das relações sociais e produtivas, que articu- dio é uma imposição da realidade destes jovens, represen-
le trabalho, ciência, tecnologia e cultura na perspectiva da tando importante alternativa de organização, não pode se
emancipação humana. constituir em modelo hegemônico ou única vertente para
Frente a esse quadro, é necessário dar visibilidade o Ensino Médio, pois ela é uma opção para os que, por uma
ao Ensino Médio no sentido da superação daquela dupla ou outra razão, a desejarem ou necessitarem.
representação histórica persistente na educação brasilei- O Ensino Médio tem compromissos com todos os
ra. Nessa perspectiva, a última etapa da Educação Básica jovens. Por isso, é preciso que a escola pública construa
precisa assumir, dentro de seus objetivos, o compromisso propostas pedagógicas sobre uma base unitária neces-
de atender, verdadeiramente, a todos e com qualidade, a sariamente para todos, mas que possibilite situações de
diversidade nacional com sua heterogeneidade cultural, de aprendizagem variadas e significativas, com ou sem profis-
considerar os anseios das diversas juventudes formadas sionalização com ele diretamente articulada.
por adolescentes e jovens que acorrem à escola e que são
sujeitos concretos com suas múltiplas necessidades. 6.4 Formação e condição docente
Isso implica compreender a necessidade de adotar di-
ferentes formas de organização desta etapa de ensino e, A perspectiva da educação como um direito e como
sobretudo, estabelecer princípios para a formação do ado- um processo formativo contínuo e permanente, além das
lescente, do jovem e, também, da expressiva fração de po- novas determinações com vistas a atender novas orienta-
pulação adulta com escolaridade básica incompleta. ções educacionais, amplia as tarefas dos profissionais da
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
educação, no que diz respeito às suas práticas. Exige-se do Em 2008, considerando a persistência da notória ca-
professor que ele seja capaz de articular os diferentes sa- rência por professores com formação específica, o MEC
beres escolares à prática social e ao desenvolvimento de propôs o Programa Emergencial de Segunda Licenciatura
competências para o mundo do trabalho. Em outras pala- para Professores da Educação Básica Pública, com o obje-
vras, a vida na escola e o trabalho do professor tornam-se tivo de enfrentar uma demanda já existente de professores
cada vez mais complexos. licenciados, mas que atuam em componentes curriculares
Como consequência, é necessário repensar a formação distintos de sua formação inicial. O CNE, por meio do Pa-
dos professores para que possam enfrentar as novas e di- recer CNE/CP nº 8/2008 e da Resolução CNE/CP nº 1/2009,
versificadas tarefas que lhes são confiadas na sala de aula estabeleceu Diretrizes Operacionais para a implantação
e além dela. desse Programa, a ser coordenado pelo MEC em regime
Uma questão a ser discutida é a função docente e a de colaboração com os sistemas de ensino e realizado por
concepção de formação que deve ser adotada nos cursos instituições públicas de Educação Superior.
A implantação de uma política efetiva de formação de
de licenciatura. De um lado, há a defesa de uma concepção
docentes para o Ensino Médio constitui-se um grande de-
de formação centrada no “fazer” enfatizando a formação
safio. Um caminho para efetivação dessa política pública
prática desse profissional e, de outro, há quem defenda
foi sinalizado no Decreto n° 6.755/2009, que estabelece os
uma concepção centrada na “formação teórica” onde é en-
seguintes objetivos para a Política Nacional de Formação
fatizada, sobretudo, a importância da ampla formação do de Professores:
professor. I – promover a melhoria da qualidade da Educação Bá-
A LDB, no Parágrafo único do art. 61, preconiza a as- sica pública;
sociação entre teorias e práticas ao estabelecê-la entre os II – apoiar a oferta e a expansão de cursos de formação
fundamentos da formação dos profissionais da educação, inicial e continuada a profissionais do magistério pelas ins-
para atender às especificidades do exercício das suas ati- tituições públicas de Educação Superior;
vidades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e III – promover a equalização nacional das oportunida-
modalidades da Educação Básica. des de formação inicial e continuada dos professores do
As diretrizes indicadas no I Plano Nacional de Educa- magistério em instituições públicas de Educação Superior;
ção 2001-2010 deram uma ideia da amplitude das qualida- IV – identificar e suprir a necessidade das redes e siste-
des esperadas dos professores: mas públicos de ensino por formação inicial e continuada
I – sólida formação teórica nos conteúdos específicos a de profissionais do magistério;
serem ensinados na Educação Básica, bem como nos con- V – promover a valorização do docente, mediante
teúdos especificamente pedagógicos; ações de formação inicial e continuada que estimulem o
II – ampla formação cultural; ingresso, a permanência e a progressão na carreira;
III – atividade docente como foco formativo; VI – ampliar o número de docentes atuantes na Edu-
IV – contato com realidade escolar desde o início até cação Básica pública que tenham sido licenciados em ins-
o final do curso, integrando a teoria à prática pedagógica; tituições públicas de ensino superior, preferencialmente na
V – pesquisa como princípio formativo; modalidade presencial;
VI – domínio das novas tecnologias de comunicação e VII – ampliar as oportunidades de formação para o
da informação e capacidade para integrá-las à prática do atendimento das políticas de Educação Especial, Alfabeti-
magistério; zação e Educação de Jovens e Adultos, Educação Indígena,
VII – análise dos temas atuais da sociedade, da cultura Educação do Campo e de populações em situação de risco
e da economia; e vulnerabilidade social;
VIII – promover a formação de professores na perspec-
VIII – inclusão das questões de gênero e da etnia nos
tiva da educação integral, dos direitos humanos, da sus-
programas de formação;
tentabilidade ambiental e das relações étnico-raciais, com
IX – trabalho coletivo interdisciplinar;
vistas à construção de ambiente escolar inclusivo e coope-
X – vivência, durante o curso, de formas de gestão de- rativo;
mocrática do ensino; IX – promover a atualização teórico-metodológica nos
XI – desenvolvimento do compromisso social e político processos de formação dos profissionais do magistério, in-
do magistério; clusive no que se refere ao uso das tecnologias de comuni-
XII – conhecimento e aplicação das Diretrizes Curri- cação e informação nos processos educativos;
culares Nacionais dos níveis e modalidades da Educação X – promover a integração da Educação Básica com a
Básica. formação inicial docente, assim como reforçar a formação
O CNE, em fins de 2001, definiu orientações gerais para continuada como prática escolar regular que responda às
todos os cursos de formação de professores do país, pelo características culturais e sociais regionais.
Parecer CNE/CP nº 9/2001, com alteração dada pelo Pare- O Projeto de Lei que propõe o II Plano Nacional de
cer CNE/CP nº 27/2001. Após homologação destes, foi edi- Educação, para o decênio 2011-2020, prevê, entre suas
tada a Resolução CNE/CP nº 1/2002 que institui Diretrizes diretrizes, a valorização dos profissionais da educação, o
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da que inclui o fortalecimento da formação inicial e continua-
Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, da dos docentes. Destacam-se metas que dizem respeito
de graduação plena. diretamente à essa valorização:
181
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
- Meta 15 Garantir, em regime de colaboração entre a local na definição das orientações imprimidas nos proces-
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que sos educativos. Este projeto deve ser apoiado por um pro-
todos os professores da Educação Básica possuam forma- cesso contínuo de avaliação que permita corrigir os rumos
ção específica de nível superior, obtida em curso de licen- e incentivar as boas práticas.
ciatura na área de conhecimento em que atuam. Diferentemente da ideia de texto burocrático, como
- Meta 16 Formar 50% dos professores da Educação Bá- muitas vezes ocorre nas escolas, o projeto político-peda-
sica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir gógico é o instrumento facilitador da gestão democrática.
a todos formação continuada em sua área de atuação. Quando a escola não discute o seu projeto político-pe-
- Meta 17 Valorizar o magistério público da Educação dagógico ou o faz apenas de uma forma burocrática, os
Básica a fim de aproximar o rendimento médio do profis- professores desenvolvem trabalhos isolados que, em geral,
sional do magistério com mais de onze anos de escolari- têm baixa eficiência.
dade do rendimento médio dos demais profissionais com O desenvolvimento de todo o processo democrático
escolaridade equivalente. depende, em muito, dos gestores dos sistemas, das redes e
- Meta 18 Assegurar, no prazo de dois anos, a existên- de cada escola, aos quais cabe criar as condições e estimu-
cia de planos de carreira para os profissionais do magisté- lar sua efetivação, o que implica em que sejam escolhidos
rio em todos os sistemas de ensino. e designados atendendo a critérios técnicos de mérito e de
Levar adiante uma política nacional de formação e con- desempenho e à participação da comunidade escolar.
dição docente pode ser considerado um grande desafio na Cabe lembrar que a gestão democrática do ensino pú-
medida em que tal perspectiva implica a priorização da blico é um dos princípios em que se baseia o ensino, con-
educação e formação de professores como política pública forme determina o inciso VIII do art. 3º da LDB, completado
de Estado, superando, desse modo, a redução desse de- pelo seu art. 14:
bate às diferentes iniciativas governamentais nem sempre Art. 3º (…)
convergentes. VIII – gestão democrática do ensino público, na forma
Destaque-se, por fim, que a discussão sobre a forma- desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino.
ção de professores não pode ser dissociada da valorização Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas da
gestão democrática do ensino público na Educação Básica,
profissional, tanto no que diz respeito a uma remuneração
de acordo com as suas peculiaridades e conforme os se-
mais digna, quanto à promoção da adequação e melhoria
guintes princípios:
das condições de trabalho desses profissionais.
I – participação dos profissionais da educação na ela-
boração do projeto pedagógico da escola;
6.5 Gestão democrática
II – participação das comunidades escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes.
O currículo da Educação Básica e, portanto, do Ensi- Embora na LDB a gestão democrática apareça especi-
no Médio, exige a estruturação de um projeto educativo ficamente como orientação para o ensino público, ela está
coerente, articulado e integrado de acordo com os modos indicada, implicitamente, para todas as instituições educa-
de ser e de se desenvolver dos estudantes nos diferentes cionais nos arts.12 e 13, entre as quais as instituições pri-
contextos sociais. Ciclos, séries, módulos e outras formas vadas, que não devem se furtar ao processo, sob pena de
de organização a que se refere a LDB são compreendidos contrariarem os valores democráticos e participativos que
como tempos e espaços interdependentes e articulados presidem nossa sociedade.
entre si ao longo dos anos de duração dessa etapa edu- A institucionalização da participação é necessária, com
cacional. especial destaque para a constituição de conselhos escola-
Ao empenhar-se em garantir aos estudantes uma edu- res ou equivalentes, indicados no inciso II do art. 14, com
cação de qualidade, todas as atividades da escola e a sua atuação permanente, garantindo a constância do processo
gestão devem estar articuladas para esse propósito. O pro- democrático na unidade de ensino.
cesso de organização das turmas de estudantes, a distri- Outro elemento necessário para a gestão democrática,
buição de turmas por professor, as decisões sobre o currí- com previsão de direitos e deveres dos sujeitos comprome-
culo, a escolha dos livros didáticos, a ocupação do espaço, tidos com a unidade educacional, é o seu regimento esco-
a definição dos horários e outras tarefas administrativas e/ lar. Convém que este possa assegurar à escola as condições
ou pedagógicas precisam priorizar o atendimento dos in- institucionais adequadas para a execução do projeto políti-
teresses e necessidades dos estudantes, e a gestão demo- co-pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com
crática é um dos fatores decisivos para assegurar a todos qualidade social. A elaboração do regimento deve ser fei-
eles o direito ao conhecimento. ta de forma a garantir ampla participação da comunidade
O projeto político-pedagógico da escola traduz a pro- escolar. É essa participação da comunidade que pode dar
posta educativa construída pela comunidade escolar no protagonismo aos estudantes e voz a suas famílias, criando
exercício de sua autonomia, com base no diagnóstico dos oportunidades institucionais para que todos os segmentos
estudantes e nos recursos humanos e materiais disponíveis, majoritários da população, que encontram grande dificul-
sem perder de vista as orientações curriculares nacionais e dade de se fazerem ouvir e de fazerem valer seus direitos,
as orientações dos respectivos sistemas de ensino. É muito possam manifestar os seus anseios e expectativas e pos-
importante que haja uma ampla participação dos profissio- sam ser levados em conta, tendo como referência a oferta
nais da escola, da família, dos estudantes e da comunidade de um ensino com qualidade para todos.
182
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A experiência mostra que é possível alcançar melhorias A avaliação institucional interna é realizada a partir da
significativas da qualidade de ensino desenvolvendo boas proposta pedagógica da escola, assim como do seu plano
práticas, adequadas à situação da comunidade de cada es- de trabalho, que devem ser avaliados sistematicamente, de
cola. Em outras palavras, existem diferentes caminhos para maneira que a instituição possa analisar seus avanços e lo-
se desenvolver uma educação de qualidade social, embora calizar aspectos que merecem reorientação.
todas elas passem pelo compromisso da comunidade e da A Emenda Constitucional nº 59/2009, ao assegurar
escola. Sempre que, por intermédio do desenvolvimento o atendimento da população de 4 aos 17 anos de idade,
de um projeto educativo democrático e compartilhado, com oferta gratuita determina um salto significativo no
os professores, a direção, os funcionários, os estudantes processo de democratização do ensino, garantindo não
e a comunidade unem seus esforços, a escola chega mais só o atendimento para aqueles matriculados na idade tida
perto da escola de qualidade que zela pela aprendizagem, como regular para a escolarização, como para aqueles que
conforme o inciso III do art. 13 da LDB. se encontram em defasagem idade-tempo de organização
Além da organização das escolas, é necessário tratar escolar ou afastados da escola.
da organização dos sistemas de ensino, os quais devem, O esforço necessário para cumprir tais objetivos exi-
obrigatoriamente, nortear-se por Planos de Educação, se- ge mais do que investimentos em infraestrutura e recursos
jam estaduais, sejam municipais. A obrigação destes pla- materiais e humanos. E necessário estabelecer ações no
nos, lamentavelmente, não vem sendo cumprida por todos sentido de definir orientações e práticas pedagógicas que
os entes federados, sendo que o Projeto de Lei do II Plano garantam melhor aproveitamento, com atenção especial
Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 reafirma para aqueles grupos que até então estavam excluídos do
esta necessidade, em seu art. 8º. Ensino Médio.
Os órgãos gestores devem contribuir e apoiar as esco- Um dos aspectos que deve estar presente em tais
las nas tarefas de organização dos seus projetos na busca orientações é o acompanhamento sistêmico do processo
da melhoria da qualidade da educação, embora se saiba de escolarização, viabilizando ajustes e correções de per-
que a vontade da comunidade escolar é um fator determi- curso, bem como o estabelecimento de políticas e pro-
nante para que esse sucesso seja alcançado. Nenhum es-
gramas que concretizem a proposta de universalização da
forço é vitorioso se não for focado no sucesso do estudan-
Educação Básica.
te. Por isso, o projeto político-pedagógico deve colocar o
A avaliação de redes de ensino é responsabilidade do
estudante no centro do planejamento curricular. É preciso
Estado, seja realizada pela União, seja pelos demais entes
considerá-lo um sujeito com todas as suas necessidades e
federados. Em âmbito nacional, no Ensino Médio, ela está
potencialidades, que tem uma vivência cultural e é capaz
de construir a sua identidade pessoal e social. contemplada no Sistema de Avaliação da Educação Bási-
Como sujeitos de direitos, os estudantes devem tomar ca (SAEB), que informa sobre os resultados de aprendiza-
parte ativa nas discussões para a definição das regras da gem estruturados no campo da Língua Portuguesa e da
escola, sendo estimulados à auto-organização e devem ter Matemática, lembrando-se o Índice de Desenvolvimento
acesso a mecanismos que permitam se manifestar sobre o da Educação Básica (IDEB), que mede a qualidade de cada
que gostam e o que não gostam na escola e a respeito da escola e rede, com base no desempenho do estudante em
escola a que aspiram. avaliações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
A descentralização de recursos, por outro lado, é fun- Anísio Teixeira (INEP) e em taxas de aprovação.
damental para o exercício da autonomia das escolas pú- Para tratar das exigências relacionadas com o Ensi-
blicas. Por isso é necessário que a comunidade escolar, e no Médio, além do cumprimento do SAEB, o Ministério
necessariamente aqueles que ocupam os cargos de dire- da Educação vem trabalhando no aperfeiçoamento do
ção, dominem os processos administrativos e financeiros Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que, gradati-
exigidos por lei. Isso evita o uso indevido dos recursos. To- vamente, assume funções com diferentes especificidades
dos esses processos requerem qualificação da comunidade estratégicas para estabelecer procedimentos voltados para
escolar. a democratização do ensino e ampliação do acesso a ní-
veis crescentes de escolaridade. Neste sentido, este exame
6.6 Avaliação do Ensino Médio apresenta hoje os seguintes objetivos, conforme art. 2º da
Portaria nº 109/2009:
As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Edu- I – oferecer uma referência para que cada cidadão pos-
cação Básica indicam três dimensões básicas de avaliação: sa proceder à sua auto avaliação com vistas às suas esco-
avaliação da aprendizagem, avaliação institucional interna lhas futuras, tanto em relação ao mundo do trabalho quan-
e externa e avaliação de redes de Educação Básica. to em relação à continuidade de estudos;
A avaliação da aprendizagem, que conforme a LDB II – estruturar uma avaliação ao final da Educação Bá-
pode ser adotada com vistas à promoção, aceleração de sica que sirva como modalidade alternativa ou comple-
estudos e classificação, deve ser desenvolvida pela escola mentar aos processos de seleção nos diferentes setores do
refletindo a proposta expressa em seu projeto político-pe- mundo do trabalho;
dagógico. Importante observar que a avaliação da apren- III – estruturar uma avaliação ao final da Educação Bási-
dizagem deve assumir caráter educativo, viabilizando ao ca que sirva como modalidade alternativa ou complemen-
estudante a condição de analisar seu percurso e, ao pro- tar a processos seletivos de acesso aos cursos de Educação
fessor e à escola, identificar dificuldades e potencialidades Profissional e Tecnológica posteriores ao Ensino Médio e à
individuais e coletivas. Educação Superior;
183
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
IV – possibilitar a participação e criar condições de dual e/ou municipal, o contexto em que a escola se situa e
acesso a programas governamentais; as necessidades locais e de seus estudantes.
V – promover a certificação de jovens e adultos no ní- A proposta educativa da unidade escolar, o papel so-
vel de conclusão do Ensino Médio nos termos do art. 38, §§ cioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as questões de
1º e 2º da Lei nº 9.394/96 (LDB); gênero, etnia e diversidade cultural que compõem as ações
VI – promover avaliação do desempenho acadêmico educativas, a organização e a gestão curricular são compo-
das escolas de Ensino Médio, de forma que cada unidade nentes integrantes do projeto político-pedagógico, deven-
escolar receba o resultado global; do ser previstas as prioridades institucionais que a identi-
VII – promover avaliação do desempenho acadêmico ficam, definindo o conjunto das ações educativas próprias
dos estudantes ingressantes nas Instituições de Educação das etapas da Educação Básica assumidas, de acordo com
Superior. as especificidades que lhes correspondam, preservando a
Assim, cada um destes objetivos delineia o aprofunda- sua articulação sistêmica.
mento de uma função do ENEM: Segundo o art. 44 da Resolução CNE/CEB n° 4/2010, o
I – avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsi- projeto político-pedagógico, instância de construção cole-
diar as políticas públicas para a Educação Básica; tiva que respeita os sujeitos das aprendizagens, entendidos
II – avaliação certificatória, que proporciona àqueles como cidadãos com direitos à proteção e à participação
que estão fora da escola aferir os conhecimentos construí- social, deve contemplar:
dos no processo de escolarização ou os conhecimentos tá- I – o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do
citos construídos ao longo da vida; processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo;
III – avaliação classificatória, que contribui para o aces- II – a concepção sobre educação, conhecimento, ava-
so democrático à Educação Superior. liação da aprendizagem e mobilidade escolar;
Nesse caminho, o ENEM vem ampliando o espectro de III – o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos
atendimento apresentando um crescimento que veio de – que justificam e instituem a vida da e na escola, do pon-
156.000 inscritos e já ultrapassou 4,6 milhões. to de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioe-
À medida que se garantir participação de amostragem conômico, como base da reflexão sobre as relações vida
expressiva do sistema, incluindo diferentes segmentos es- conhecimento-cultura, professor-estudante e instituição
colares, se estará aproximando de uma percepção mais fiel escolar;
do sistema, na perspectiva do direito dos estudantes. Nes- IV – as bases norteadoras da organização do trabalho
se sentido, deve manter-se alinhado com estas Diretrizes e pedagógico;
com as expectativas de aprendizagem a serem elaboradas. V – a definição de qualidade das aprendizagens e, por
O INEP deve continuar desenvolvendo metodologia consequência, da escola, no contexto das desigualdades
adequada no sentido de alcançar esta multifuncionalidade que se refletem na escola;
do sistema de avaliação. VI – os fundamentos da gestão democrática, compar-
tilhada e participativa (órgãos colegiados e de representa-
7. Projeto político-pedagógico e organização curricular ção estudantil);
VII – o programa de acompanhamento de acesso, de
7.1. Projeto político-pedagógico permanência dos estudantes e de superação da retenção
escolar;
As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Edu- VIII – o programa de formação inicial e continuada dos
cação Básica (Parecer CNE/CEB no 7/2010 e Resolução profissionais da educação, regentes e não regentes;
CNE/CEB n° 4/2010) tratam pertinentemente do projeto IX – as ações de acompanhamento sistemático dos re-
político-pedagógico, já referido várias vezes neste Parecer, sultados do processo de avaliação interna e externa (SAEB,
como elemento constitutivo para a operacionalização da Prova Brasil, dados estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos
Educação Básica e, portanto, do Ensino Médio. da Educação Básica), incluindo dados referentes ao Índice
Segundo o Parecer CNE/CEB n° 7/2010, o projeto po- de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que
lítico-pedagógico, interdependentemente da autonomia complementem ou substituam os desenvolvidos pelas uni-
pedagógica, administrativa e de gestão financeira da insti- dades da federação e outros;
tuição educacional, representa mais do que um documen- X – a concepção da organização do espaço físico da
to, sendo um dos meios de viabilizar a escola democrática instituição escolar de tal modo que este seja compatível
para todos e de qualidade social. com as características de seus sujeitos, que atenda as nor-
Continua o citado Parecer indicando que a autono- mas de acessibilidade, além da natureza e das finalidades
mia da instituição educacional baseia-se na busca de sua da educação, deliberadas e assumidas pela comunidade
identidade, que se expressa na construção de seu projeto educacional.
político-pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto O primeiro fundamento para a formulação do projeto
manifestação de seu ideal de educação e que permite uma político-pedagógico de qualquer escola ou rede de ensino
nova e democrática ordenação pedagógica das relações é a sua construção coletiva. O projeto político-pedagógico
escolares. Cabe à escola, considerada a sua identidade e só existe de fato – não como um texto formal, mas como
a de seus sujeitos, articular a formulação do projeto políti- expressão viva de concepções, princípios, finalidades, ob-
co-pedagógico com os Planos de Educação nacional, esta- jetivos e normas que orientam a comunidade escolar – se
184
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
ele resultar do debate e reflexão do grupo que compõe a VI – articulação teoria e prática, vinculando o trabalho
formação destes espaços (escola ou rede de ensino). Nesse intelectual às atividades práticas ou experimentais;
contexto, identifica-se a necessidade do grupo comprome- VII – integração com o mundo do trabalho por meio de
ter-se com esse projeto e sentindo-se autores e sujeitos de estágios de estudantes do Ensino Médio conforme legisla-
seu desenvolvimento. ção específica;
Sua construção e efetivação na escola ocorrem em um VIII – utilização de diferentes mídias como processo de
contexto concreto desta instituição, de sua organização es- dinamização dos ambientes de aprendizagem e construção
colar, relação com a comunidade, condições econômicas e de novos saberes;
realidade cultural, entre outros aspectos. Por isso, trata-se IX – capacidade de aprender permanente, desenvol-
de um processo político, tanto quanto pedagógico, pois vendo a autonomia dos estudantes;
ocorre em meio a conflitos, tensões e negociações que X – atividades sociais que estimulem o convívio humano;
desafiam o exercício da democracia na escola. Em decor- XI – avaliação da aprendizagem, com diagnóstico pre-
rência, a construção desse projeto é essencial e necessaria- liminar, e entendida como processo de caráter formativo,
mente coletiva. permanente e cumulativo;
O projeto político-pedagógico aponta um rumo, uma XII – acompanhamento da vida escolar dos estudantes,
direção, mas, principalmente, um sentido específico para promovendo o seguimento do desempenho, análise de re-
um compromisso estabelecido coletivamente. O projeto, sultados e comunicação com a família;
ao se constituir em processo participativo de decisões, XIII – atividades complementares e de superação das
preocupa-se em instaurar uma forma de organização do dificuldades de aprendizagem para que o estudante tenha
trabalho pedagógico que desvele os conflitos, as contradi- sucesso em seus estudos;
ções, buscando eliminar as relações competitivas, corpora- XIV – reconhecimento e atendimento da diversidade e
tivas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando pes- diferentes nuances da desigualdade, da diversidade e da
soal e racionalizado da burocracia e permitindo as relações exclusão na sociedade brasileira;
horizontais no interior da escola. XV – valorização e promoção dos Direitos humanos
O projeto político-pedagógico exige um compromis-
mediante temas relativos a gênero, identidade de gênero,
so ético-político de adequação intencional entre o real e o
raça e etnia, religião, orientação sexual, pessoas com defi-
ideal, assim como um equilíbrio entre os interesses indivi-
ciência, entre outros, bem como práticas que contribuam
duais e coletivos.
para a igualdade e para o enfrentamento de todas as for-
A abordagem do projeto político-pedagógico, como
mas de preconceito, discriminação e violência sob todas as
organização do trabalho de toda a escola, está fundamen-
formas;
tada em princípios que devem nortear a escola democrá-
tica, entre os quais, liberdade, solidariedade, pluralismo, XVI – análise e reflexão crítica da realidade brasileira,
igualdade, qualidade da oferta, transparência, participação. de sua organização social e produtiva na relação de com-
Com fundamento no princípio do pluralismo de ideias plementaridade entre espaços urbanos e do campo;
e de concepções pedagógicas e no exercício de sua auto- XVII – estudo e desenvolvimento de atividades so-
nomia, o projeto político-pedagógico deve traduzir a pro- cioambientais, conduzindo a educação ambiental como
posta educativa construída coletivamente, garantida a par- uma prática educativa integrada, contínua e permanente;
ticipação efetiva da comunidade escolar e local, bem como XVIII – práticas desportivas e de expressão corporal, que
a permanente construção da identidade entre a escola e o contribuam para a saúde, a sociabilidade e a cooperação;
território no qual está inserida. XIX – atividades intersetoriais, entre outras, de promo-
Concretamente, o projeto político-pedagógico das ção da saúde física e mental, saúde sexual e saúde repro-
unidades escolares que ofertam o Ensino Médio deve con- dutiva, e prevenção do uso de drogas;
siderar: XX – produção de mídias nas escolas a partir da pro-
I – atividades integradoras artístico-culturais, tecnoló- moção de atividades que favoreçam as habilidades de lei-
gicas, e de iniciação científica, vinculadas ao trabalho, ao tura e análise do papel cultural, político e econômico dos
meio ambiente e à prática social; meios de comunicação na sociedade;
II – problematização como instrumento de incentivo XXI – participação social e protagonismo dos estudan-
à pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvi- tes, como agentes de transformação de suas unidades es-
mento do espírito inventivo; colares e de suas comunidades;
III – a aprendizagem como processo de apropriação XXII – condições materiais, funcionais e didático-peda-
significativa dos conhecimentos, superando a aprendiza- gógicas, para que os profissionais da escola efetivem as
gem limitada à memorização; proposições do projeto.
IV – valorização da leitura e da produção escrita em O projeto político-pedagógico das unidades escolares
todos os campos do saber; deve, ainda, orientar:
V – comportamento ético, como ponto de partida para I – dispositivos, medidas e atos de organização do tra-
o reconhecimento dos Direitos humanos, da cidadania, da balho escolar;
responsabilidade socioambiental e para a prática de um II – mecanismos de promoção e fortalecimento da au-
humanismo contemporâneo expresso pelo reconhecimen- tonomia escolar, mediante a alocação de recursos finan-
to, respeito e acolhimento da identidade do outro e pela ceiros, administrativos e de suporte técnico necessários à
incorporação da solidariedade; sua realização;
185
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
III – adequação dos recursos físicos, inclusive organiza- do trabalho realizado, seja com relação a cada estudan-
ção dos espaços, equipamentos, biblioteca, laboratórios e te individualmente ou ao conjunto da escola. No que se
outros ambientes educacionais. refere à avaliação, muito se tem questionado sobre seus
princípios e métodos. Vale ressaltar a necessidade de que
7.2. Currículo e trabalho pedagógico a avaliação ultrapasse o sentido de mera averiguação do
que o estudante aprendeu, e torne-se elemento chave do
O currículo é entendido como a seleção dos conheci- processo de planejamento educacional.
mentos historicamente acumulados, considerados relevan- O planejamento educacional, assim como o currículo
tes e pertinentes em um dado contexto histórico, e defini- e a avaliação na escola, enquanto componentes da orga-
dos tendo por base o projeto de sociedade e de formação nização do trabalho pedagógico, estão circunscritos for-
humana que a ele se articula; se expressa por meio de uma temente a esse caráter de não neutralidade, de ação in-
proposta pela qual se explicitam as intenções da formação, tencional condicionada pela subjetividade dos envolvidos,
e se concretiza por meio das práticas escolares realizadas marcados, enfim, pelas distintas visões de mundo dos dife-
com vistas a dar materialidade a essa proposta. rentes atores do processo educativo escolar. Desse modo,
Os conhecimentos escolares são reconhecidos como o trabalho pedagógico define-se em sua complexidade, e
aqueles produzidos pelos homens no processo histórico não se submete plenamente ao controle. No entanto, isso
de produção de sua existência material e imaterial, valori- não se constitui em limite ou problema, mas indica que se
zados e selecionados pela sociedade e pelas escolas que os está diante da riqueza do processo de formação humana,
organizam a fim de que possam ser ensinados e aprendi- e diante, também, dos desafios que a constituição dessa
dos, tornando-se elementos do desenvolvimento cognitivo formação, sempre histórica, impõe.
do estudante, bem como de sua formação ética, estética e O currículo possui caráter polissêmico e orienta a orga-
política. nização do processo educativo escolar.
Para compreender a dinâmica do trabalho pedagógi- Suas diferentes concepções, com maior ou menor ên-
co escolar a partir do currículo, é necessário que se tome fase, refletem a importância de componentes curriculares,
como referência a cultura escolar consolidada, isto é, as
tais como os saberes a serem ensinados e aprendidos; as
práticas curriculares já vivenciadas, os códigos e modos de
situações e experiências de aprendizagem; os planos e pro-
organização produzidos, sem perder de vista que esse tra-
jetos pedagógicos; as finalidades e os objetivos a serem
balho se articula ao contexto sócio-histórico-cultural mais
alcançados, bem como os processos de avaliação a serem
amplo e guarda com ele estreitas relações.
adotados. Em todas essas perspectivas é notável o propó-
Falar em currículo implica em duas dimensões:
sito de se organizar e de se tornar a educação escolar mais
I – uma dimensão prescritiva, na qual se explicitam as
intenções e os conteúdos de formação, que constitui o cur- eficiente, por meio de ações pedagógicas coletivamente
rículo prescritivo ou formal; e planejadas.
II – uma dimensão não explícita, constituída por rela- O planejamento coletivo promove “a conquista da ci-
ções entre os sujeitos envolvidos na prática escolar, tanto dadania plena, mediante a compreensão do significado
nos momentos formais, como informais das suas ativida- social das relações de poder que se reproduzem no coti-
des e nos quais trocam ideias e valores, constituindo o cur- diano da escola, nas relações entre os profissionais da edu-
rículo oculto, mesmo que não tenha sido pré-determinado cação, o conhecimento, as famílias e os estudantes, bem
ou intencional. assim, entre estes e o projeto político-pedagógico, na sua
Ambas as dimensões geram uma terceira, real, que concepção coletiva que dignifica as pessoas, por meio da
concretiza o currículo vivo ou em ação, que adquire ma- utilização de um método de trabalho centrado nos estu-
terialidade a partir das práticas formais prescritas e das in- dos, nas discussões, no diálogo que não apenas proble-
formais espontâneas vivenciadas nas salas de aula e nos matiza, mas também propõe, fortalecendo a ação conjunta
demais ambientes da escola. que busca, nos movimentos sociais, elementos para criar
O conhecimento é a “matéria prima” do trabalho pe- e recriar o trabalho da e na escola” (Parecer CNE/CEB nº
dagógico escolar. Dada sua condição de ser produto his- 7/2010).
tórico-cultural, isto é, de ser produzido e elaborado pelos Nesse sentido, ressalta-se a inter-relação entre proje-
homens por meio da interação que travam entre si, no to político-pedagógico, currículo, trabalho pedagógico e,
intuito de encontrar respostas aos mais diversificados de- concretamente, condição e jornada dos professores.
safios que se interpõem entre eles e a produção da sua Reitera-se, com base na legislação concernente ao En-
existência material e imaterial, o conhecimento articula-se sino Médio, o quanto os princípios adotados e as finalida-
com os mais variados interesses. Na medida em que a pro- des perseguidas precisam nortear as decisões tomadas no
dução, elaboração e disseminação do conhecimento não âmbito do currículo, compreendido esse como o conjunto
são neutras, planejar a ação educativa, melhor definindo, de experiências escolares que se desdobram a partir do
educar é uma ação política que envolve posicionamentos e conhecimento, em meio às relações sociais que se travam
escolhas articulados com os modos de compreender e agir nos espaços institucionais, e que afetam a construção das
no mundo. identidades dos estudantes.
O trabalho pedagógico ganha materialidade nas ações: Currículo tem a ver com os esforços pedagógicos des-
no planejamento da escola em geral e do currículo em par- dobrados na escola, visando a organizar e a tornar efetivo o
ticular, no processo de ensinar e aprender e na avaliação processo educativo que conforma a última etapa da Educação
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Básica. Expressa, assim, o projeto político-pedagógico ins- propõe Larrosa, e, ainda, contribuam para formar identida-
titucional, discutido e construído pelos profissionais e pe- des pautadas por autonomia, solidariedade e participação
los sujeitos diretamente envolvidos no planejamento e na na sociedade.
materialização do percurso escolar. Nesse sentido, deve ser levado em conta o que os es-
Pode-se afirmar a importância de se considerar, na tudantes já sabem, o que eles gostariam de aprender e o
construção do currículo do Ensino Médio, os sujeitos e seus que se considera que precisam aprender.
saberes, necessariamente respeitados e acolhidos nesse Nessa perspectiva, são também importantes metodo-
currículo. O diálogo entre saberes precisa ser desenvolvido, logias de ensino inovadoras, distintas das que se encon-
de modo a propiciar a todos os estudantes o acesso ao in- tram nas salas de aula mais tradicionais e que, ao contrá-
dispensável para a compreensão das diferentes realidades rio dessas, ofereçam ao estudante a oportunidade de uma
no plano da natureza, da sociedade, da cultura e da vida. atuação ativa, interessada e comprometida no processo
Assume importância, nessa perspectiva, a promoção de um de aprender, que incluam não só conhecimentos, mas,
também, sua contextualização, experimentação, vivências
amplo debate sobre a natureza da produção do conheci-
e convivência em tempos e espaços escolares e extraes-
mento. Ou seja, o que se está defendendo é como inserir
colares, mediante aulas e situações diversas, inclusive nos
no currículo, o diálogo entre os saberes.
campos da cultura, do esporte e do lazer.
Mais do que o acúmulo de informações e conhecimen-
Do professor, espera-se um desempenho competente,
tos, há que se incluir no currículo um conjunto de conceitos capaz de estimular o estudante a colaborar e a interagir
e categorias básicas. Não se pretende, então, oferecer ao com seus colegas, tendo-se em mente que a aprendiza-
estudante um currículo enciclopédico, repleto de informa- gem, para bem ocorrer, depende de um diálogo produtivo
ções e de conhecimentos, formado por disciplinas isoladas, com o outro.
com fronteiras demarcadas e preservadas, sem relações Cabe enfatizar, neste momento, que os conhecimentos
entre si. A preferência, ao contrário, é que se estabeleça um e os saberes trabalhados por professores e estudantes, as-
conjunto necessário de saberes integrados e significativos sumem contornos e características específicas, constituin-
para o prosseguimento dos estudos, para o entendimento do o que se tem denominado de conhecimento escolar.
e ação crítica acerca do mundo. O conhecimento escolar apresenta diferenças em rela-
Associado à integração de saberes significativos, há ção aos conhecimentos que lhe serviram de referência, aos
que se evitar a prática, ainda frequente, de um número ex- quais se associa intimamente, mas dos quais se distingue
cessivo de componentes em cada tempo de organização com bastante nitidez.
do curso, gerando não só fragmentação como o seu con- Os conhecimentos escolares provêm de saberes histó-
gestionamento. rica e socialmente formulados nos âmbitos de referência
Além de uma seleção criteriosa de saberes, em termos dos currículos. Segundo Terigi, tais âmbitos de referência
de quantidade, pertinência e relevância, e de sua equili- podem ser considerados como correspondendo aos se-
brada distribuição ao longo dos tempos de organização guintes espaços:
escolar, vale possibilitar ao estudante as condições para I – instituições produtoras de conhecimento científico
o desenvolvimento da capacidade de busca autônoma do (universidades e centros de pesquisa);
conhecimento e formas de garantir sua apropriação. Isso II – mundo do trabalho;
significa ter acesso a diversas fontes, de condições para III – desenvolvimentos tecnológicos;
buscar e analisar novas referências e novos conhecimen- IV – atividades desportivas e corporais;
tos, de adquirir as habilidades mínimas necessárias à uti- V – produção artística;
lização adequada das novas tecnologias da informação e VI – campo da saúde;
VII – formas diversas de exercício da cidadania;
da comunicação, assim como de dominar procedimentos
VIII – movimentos sociais.
básicos de investigação e de produção de conhecimentos
Nesses espaços são produzidos e selecionados conhe-
científicos. É precisamente no aprender a aprender que
cimentos e saberes dos quais derivam os escolares. Esses
deve se centrar o esforço da ação pedagógica, para que, conhecimentos são escolhidos e preparados para compor
mais que acumular conteúdos, o estudante desenvolva a o currículo formal e para configurar o que deve ser ensina-
capacidade de aprender, de pesquisar e de buscar e (re) do e aprendido.
construir conhecimentos. Compreender o que são os conhecimentos escolares
Por se desejar que as experiências de aprendizagem faz-se relevante para os profissionais da educação, pois
venham a tocar os estudantes, afetando sua formação, permite concluir que os ensinados nas escolas não cons-
mostra-se indispensável a promoção de um ambiente de- tituem cópias dos saberes e conhecimentos socialmente
mocrático em que as relações entre estudantes e docentes produzidos. Por esse motivo, não faz sentido pensar em
e entre os próprios estudantes se caracterizem pelo respei- inserir, nas salas de aula, os saberes e as práticas tal como
to aos outros e pela valorização da diversidade e da dife- funcionam em seus contextos de origem. Para se tornarem
rença. conhecimentos escolares, os conhecimentos e saberes de
Faz-se imprescindível uma seleção de saberes e co- referência passam por processos de descontextualização e
nhecimentos significativos, capazes de se conectarem aos recontextualização. A atividade escolar, por conseguinte,
que o estudante já tenha apreendido e que, além disso, implica uma determinada ruptura com as atividades espe-
tenham sentido para ele, toquem-no intensamente, como cíficas dos campos de referência.
187
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Explicitado como a concepção de conhecimento esco- Além disso, o conhecimento contemporâneo guarda
lar pode influir no processo curricular, cabe discutir, resu- em si a história da sua construção. O estudo de um fenô-
midamente, em que consistem os mencionados processos meno, de um problema, ou de um processo de trabalho
de descontextualização e recontextualização do conheci- está articulado com a realidade em que se insere. A relação
mento escolar. Tais processos incluem algumas estratégias, entre partes que compõem a realidade possibilita ir além
sendo pertinente observar que o professor capaz de me- da parte para compreender a realidade em seu conjunto.
lhor entender o processo de construção do conhecimento A partir dos referenciais construídos sobre as relações
escolar pode, de modo mais acurado, distinguir em que entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura e dos nexos es-
momento os mecanismos implicados nesse processo fa- tabelecidos entre o projeto político-pedagógico e a orga-
vorecem ou dificultam as atividades docentes. Ou seja, a nização curricular do Ensino Médio, são apresentadas, em
compreensão de como se constitui os conhecimentos es- seguida, algumas possibilidades deste.
colares e saberes é um fator que facilita tanto o planeja- Estas possibilidades de organização devem considerar
mento quanto o desdobramento do próprio processo pe- as normas complementares dos respectivos sistemas de
dagógico. ensino e apoiar-se na participação coletiva dos sujeitos en-
volvidos, bem como nas teorias educacionais que buscam
7.3. Organização curricular do Ensino Médio as respectivas soluções.
Ninguém mais do que os participantes da atividade
Toda ação educativa é intencional. Daí decorre que escolar em seus diferentes segmentos, conhece a sua reali-
todo processo educativo fundamenta-se em pressupos- dade e, portanto, está mais habilitado para tomar decisões
tos e finalidades, não havendo neutralidade possível nesse a respeito do currículo que vai levar à prática.
processo. Ao determinar as finalidades da educação, quem Compreende-se que organizar o currículo implica rom-
o faz tem por base uma visão social de mundo, que orienta per com falsas polarizações, oposições e fronteiras conso-
a reflexão bem como as decisões tomadas. lidadas ao longo do tempo. Isso representa, para os edu-
O planejamento curricular passa a ser compreendido cadores que atuam no Ensino Médio, a possibilidade de
de forma estreitamente vinculada às relações que se pro-
avançar na compreensão do sentido da educação que é
duzem entre a escola e o contexto histórico-cultural em
proporcionada aos estudantes. Esses professores são ins-
que a educação se realiza e se institui, como um elemento,
tigados a buscar relações entre a ciência com a qual tra-
portanto, integrador entre a escola e a sociedade.
balham e o seu sentido, enquanto força propulsora do de-
As decisões sobre o currículo resultam de um proces-
senvolvimento da sociedade em geral e do cidadão de cuja
so seletivo, fazendo-se necessário que a escola tenha claro
formação está participando.
quais critérios orientam esse processo de escolha.
O currículo não se limita ao caráter instrumental, assu- Após as análises e reflexões desenvolvidas, discute-se
mindo condição de conferir materialidade às ações politi- a organização curricular propriamente dita, ou seja, como
camente definidas pelos sujeitos da escola. Para concretizar os componentes curriculares podem ser organizados de
o currículo, essa perspectiva toma, ainda, como principais modo a contribuir para a formação humana integral, ten-
orientações os seguintes pontos: do como dimensões o trabalho, a ciência, a tecnologia e a
I – a ação de planejar implica na participação de todos cultura.
os elementos envolvidos no processo; Em geral, quando se discute currículo no Ensino Médio,
II – a necessidade de se priorizar a busca da unidade há uma tendência a se questionar, corretamente, o espaço
entre teoria e prática; dos saberes específicos, alegando-se que, ao longo da his-
III – o planejamento deve partir da realidade concreta tória, a concepção disciplinar do currículo isolou cada um
e estar voltado para atingir as finalidades legais do Ensino deles em compartimentos estanques e incomunicáveis.
Médio e definidas no projeto coletivo da escola; Os conhecimentos de cada ramo da ciência, para che-
IV – o reconhecimento da dimensão social e histórica garem até a escola precisaram ser organizados didatica-
do trabalho docente. mente, transformando-se em conhecimentos escolares.
Como proporcionar, por outro lado, compreensões Estes se diferenciam dos conhecimentos científicos porque
globais, totalizantes da realidade a partir da seleção de são retirados/isolados da realidade social, cultural, eco-
componentes e conteúdos curriculares? Como orientar a nômica, política, ambiental etc. em que foram produzidos
seleção de conteúdos no currículo? para serem transpostos para a situação escolar.
A resposta a tais perguntas implica buscar relacionar Nesse processo, evidentemente, perdem-se muitas das
partes e totalidade. Segundo Kosik, cada fato ou conjunto conexões existentes entre determinada ciência e as demais.
de fatos, na sua essência, reflete toda a realidade com maior Como forma de resolver ou, pelo menos, minimizar os pre-
ou menor riqueza ou completude. Por esta razão, é possível juízos decorrentes da organização disciplinar escolar, têm
que um fato contribua mais que outro na explicitação do surgido, ao longo da história, propostas que organizam o
real. Assim, a possibilidade de se conhecer a totalidade a currículo a partir de outras estratégias. É muito rica a va-
partir das partes é dada pela possibilidade de se identificar riedade de denominações. Mencionam-se algumas dessas
os fatos ou conjunto de fatos que esclareçam sobre a es- metodologias e estratégias, apenas a título de exemplo,
sência do real. Outros aspectos a serem considerados estão sendo propostas que tratam da aprendizagem baseada em
relacionados com a distinção entre o que é essencial e aces- problemas; centros de interesses; núcleos ou complexos
sório, assim como o sentido objetivo dos fatos. temáticos; elaboração de projetos, investigação do meio,
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
aulas de campo, construção de protótipos, visitas técnicas, facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se em
atividades artístico-culturais e desportivas, entre outras. caminhos facilitadores da integração do processo formati-
Buscam romper com a centralidade das disciplinas nos cur- vo dos estudantes, pois ainda permite a sua participação
rículos e substituí-las por aspectos mais globalizadores e na escolha dos temas prioritários. A interdisciplinaridade e
que abranjam a complexidade das relações existentes en- a transversalidade complementam-se, ambas rejeitando a
tre os ramos da ciência no mundo real. concepção de conhecimento que toma a realidade como
Tais estratégias e metodologias são práticas desafiado- algo estável, pronto e acabado.
ras na organização curricular, na medida em que exigem Qualquer que seja a forma de organização adotada,
uma articulação e um diálogo entre os conhecimentos, esta deve, como indica a LDB, ter seu foco no estudante e
rompendo com a forma fragmentada como historicamente atender sempre o interesse do processo de aprendizagem.
tem sido organizado o currículo do Ensino Médio. No que concerne à seleção dos conteúdos disciplina-
Nesta etapa de ensino, tais metodologias encontram res, importa também evitar as superposições e lacunas,
barreiras em função da necessidade do aprofundamen- sem fazer reduções do currículo, ratificando-se a necessi-
dade de proporcionar a formação continuada dos docen-
to dos conceitos inerentes às disciplinas escolares, já que
tes no sentido de que se apropriem da concepção e dos
cada uma se caracteriza por ter objeto próprio de estudo e
princípios de um Ensino Médio que integre sua proposta
método específico de abordagem. Dessa maneira, tem se pedagógica às características e desenvolvimento das áreas
revelado praticamente difícil desenvolver propostas globa- de conhecimento. Igualmente importante é organizar os
lizadoras que abranjam os conceitos e especificidades de tempos e os espaços de atuação dos professores visando
todas as disciplinas curriculares. garantir o planejamento, implementação e acompanha-
Assim, as propostas voltadas para o Ensino Médio, em mento em conjunto das atividades curriculares.
geral, estão baseadas em metodologias mistas, as quais Com relação às atividades integradoras, não cabe es-
são desenvolvidas em, pelo menos, dois espaços e tempos. pecificar denominações, embora haja várias na literatura,
Um, destinado ao aprofundamento conceitual no in- cada uma com suas peculiaridades. Assume-se essa pos-
terior das disciplinas, e outro, voltado para as denomina- tura por compreender que tal definição é função de cada
das atividades integradoras. É a partir daí que se apresenta sistema de ensino e escola, a partir da realidade concreta
uma possibilidade de organização curricular do Ensino Mé- vivenciada, o que inclui suas especificidades e possibili-
dio, com uma organização por disciplinas (recorte do real dades, assim como as características sociais, econômicas,
para aprofundar conceitos) e com atividades integradoras políticas, culturais, ambientais e laborais da sociedade, do
(imersão no real ou sua simulação para compreender a re- entorno escolar e dos estudantes e professores.
lação parte-totalidade por meio de atividades interdiscipli- Entretanto, de forma coerente com as dimensões que
nares). Há dois pontos cruciais nessa proposta: a definição sustentam a concepção de Ensino Médio aqui discutido, é
das disciplinas com a respectiva seleção de conteúdos; e importante que as atividades integradoras sejam concebi-
a definição das atividades integradoras, pois é necessá- das a partir do trabalho como primeira mediação entre o
rio que ambas sejam efetivadas a partir das inter-relações homem e a natureza e de suas relações com a sociedade
existentes entre os eixos constituintes do Ensino Médio in- e com cada uma das outras dimensões curriculares reitera-
tegrando as dimensões do trabalho, da ciência, da tecno- damente mencionadas.
logia e da cultura. Desse modo, sugere-se que as atividades integrado-
Cabem, aqui, observações referentes às atividades inte- ras sejam desenvolvidas a partir de várias estratégias/te-
gradoras interdisciplinares, como colocadas nas Diretrizes máticas que incluam a problemática do trabalho de forma
relacional.
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Pa-
Assim sendo, a cada tempo de organização escolar as
recer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010):
atividades integradoras podem ser planejadas a partir das
A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de
relações entre situações reais existentes nas práticas sociais
métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas concretas (ou simulações) e os conteúdos das disciplinas,
sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abor- tendo como fio condutor as conexões entre o trabalho e as
dagem interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhe- demais dimensões.
cimento constitutivo de diferentes disciplinas, por meio É, portanto, na busca de desenvolver estratégias pe-
da ação didáticopedagógica mediada pela pedagogia dos dagógicas que contribuam para compreender como o tra-
projetos temáticos. balho, enquanto mediação primeira entre o ser humano e
A interdisciplinaridade é, assim, entendida como abor- o meio ambiente, produz social e historicamente ciência e
dagem teórico-metodológica com ênfase no trabalho de tecnologia e é influenciado e influencia a cultura dos gru-
integração das diferentes áreas do conhecimento. pos sociais.
Continua o citado Parecer, considerando que essa Este modo de organizar o currículo contribui, não
orientação deve ser enriquecida, por meio de proposta te- apenas para incorporar ao processo formativo, o trabalho
mática trabalhada transversalmente: como princípio educativo, como também para fortalecer as
A transversalidade é entendida como forma de orga- demais dimensões estruturantes do Ensino Médio (ciência,
nizar o trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos tecnologia, cultura e o próprio trabalho), sem correr o risco
temáticos são integrados às disciplinas, às áreas ditas con- de realizar abordagens demasiadamente gerais e, portan-
vencionais de forma a estarem presentes em todas elas. to, superficiais, uma vez que as disciplinas, se bem plane-
A interdisciplinaridade é, portanto, uma abordagem que jadas, cumprem o papel do necessário aprofundamento.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
7.4. Base nacional comum e a parte diversificada: Os conteúdos sistematizados que fazem parte do cur-
integralidade rículo são denominados componentes curriculares,10 os
quais, por sua vez, se articulam com as áreas de conheci-
A organização da base nacional comum e da parte mento, a saber:
diversificada no currículo do Ensino Médio tem sua base Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciên-
na legislação e na concepção adotada nesse parecer, que cias Humanas. As áreas de conhecimento favorecem a
apresentam elementos fundamentais para subsidiar diver- comunicação entre os conhecimentos e saberes dos di-
sos formatos possíveis. Cada escola/rede de ensino pode ferentes componentes curriculares, mas permitem que os
e deve buscar o diferencial que atenda às necessidades e referenciais próprios de cada componente curricular sejam
características sociais, culturais, econômicas e a diversida- preservados.
de e os variados interesses e expectativas dos estudantes, A legislação, seja pela LDB seja por outras leis específi-
possibilitando formatos diversos na organização curricular cas, já determina componentes que são obrigatórios e que,
do Ensino Médio, garantindo sempre a simultaneidade das portanto devem ser tratados em uma ou mais das áreas de
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cul- conhecimento para compor o currículo. Outros, comple-
tura. mentares, a critério dos sistemas de ensino e das unidades
O currículo do Ensino Médio tem uma base nacional escolares, podem e devem ser incluídos e tratados como
comum, complementada em cada sistema de ensino e em disciplinas ou, de forma integradora, como unidades de es-
cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada. tudos, módulos, atividades, práticas e projetos contextuali-
Esta enriquece aquela, planejada segundo estudo das ca- zados e interdisciplinares ou diversamente articuladores de
racterísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da saberes, desenvolvimento transversal de temas ou outras
economia e da comunidade escolar, perpassando todos os formas de organização.
tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino Mé- Os componentes definidos pela LDB como obrigatórios são:
dio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujei- I – o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática,
tos tenham acesso à escola. o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade
A base nacional comum e a parte diversificada cons- social e política, especialmente do Brasil;
II – o ensino da Arte, especialmente em suas expres-
tituem um todo integrado e não podem ser consideradas
sões regionais, de forma a promover o desenvolvimento
como dois blocos distintos. A articulação entre ambas pos-
cultural dos estudantes, com a Música como seu conteúdo
sibilita a sintonia dos interesses mais amplos de formação
obrigatório, mas não exclusivo;
básica do cidadão com a realidade local e dos estudantes,
III – a Educação Física, integrada à proposta pedagógi-
perpassando todo o currículo.
ca da instituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao
Voltados à divulgação de valores fundamentais ao in- estudante nos casos previstos em Lei;
teresse social e à preservação da ordem democrática, os IV – o ensino da História do Brasil, que leva em con-
conhecimentos que fazem parte da base nacional comum ta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a
a que todos devem ter acesso, independentemente da re- formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes
gião e do lugar em que vivem, asseguram a característica indígena, africana e europeia;
unitária das orientações curriculares nacionais, das propos- V – o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e In-
tas curriculares dos Estados, Distrito Federal e Municípios e dígena, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
dos projetos político-pedagógicos das escolas. nas áreas de educação artística e de literatura e história
Os conteúdos curriculares que compõem a parte di- brasileiras;
versificada são definidos pelos sistemas de ensino e pelas VI – a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso;13
escolas, de modo a complementar e enriquecer o currículo, VII – uma língua estrangeira moderna na parte diversifi-
assegurando a contextualização dos conhecimentos esco- cada, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em
lares diante das diferentes realidades. caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição.
É assim que, a partir das Diretrizes Curriculares Na- Em termos operacionais, os componentes curriculares
cionais e dos conteúdos obrigatórios fixados em âmbito obrigatórios decorrentes da LDB que integram as áreas de
nacional, multiplicam-se as propostas e orientações curri- conhecimento são os referentes a:
culares de Estados e Municípios e, no seu bojo, os projetos I – Linguagens:
político-pedagógicos das escolas, revelando a autonomia a) Língua Portuguesa.
dos entes federados e das escolas nas suas respectivas ju- b) Língua Materna, para populações indígenas.
risdições e traduzindo a pluralidade de possibilidades na c) Língua Estrangeira moderna.
implementação dos currículos escolares diante das exigên- d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásti-
cias do regime federativo. cas e, obrigatoriamente, a musical.
Os conteúdos que compõem a base nacional comum e e) Educação Física.
a parte diversificada têm origem nas disciplinas científicas,
no desenvolvimento das linguagens, no mundo do traba- II – Matemática.
lho e na tecnologia, na produção artística, nas atividades
desportivas e corporais, na área da saúde, nos movimentos III – Ciências da Natureza:
sociais, e ainda incorporam saberes como os que advêm a) Biologia;
das formas diversas de exercício da cidadania, da experiên- b) Física;
cia docente, do cotidiano e dos estudantes. c) Química.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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atender com qualidade a sua singularidade, especificando Note-se que as horas acima indicadas são, obviamente,
uma organização curricular e metodológica diferenciada de 60 minutos, não se confundindo com as horas-aula, as
que pode, para garantir a permanência e o sucesso de es- quais podem ter a duração necessária que for considerada
tudantes trabalhadores: no projeto de cada escola.
a) ampliar seus tempos de organização escolar, com Destaque-se que há redes escolares com Ensino Médio
menor carga horária diária e anual, garantida sua duração que já vêm desenvolvendo formas de oferta que atendem
mínima; às indicações acima, inclusive com ampliação da duração
b) incluir atividades não presenciais, até 20% da car- e da carga horária do curso e com organização curricular
ga horária diária e de cada tempo de organização esco- flexível e integradora. São exemplos desse comportamento
lar, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido o as escolas que aderiram aos Programas Mais Educação e
atendimento por professores e monitores. Ensino Médio Inovador, ambos incentivados pelo MEC na
VI – Atendida a formação geral, incluindo a preparação perspectiva do desenvolvimento de experiências curricula-
res inovadoras.
básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para
Ao lado das alternativas que incluem a ampliação da
o exercício de profissões técnicas, por articulação na forma
carga horária deve-se estimular a busca de metodologias
integrada com a Educação Profissional e Tecnológica, ob-
que promovam a melhoria da qualidade, sem necessaria-
servadas as Diretrizes específicas, com as cargas horárias
mente implicar na ampliação do tempo de permanência na
mínimas de: sala de aula, tais como o uso intensivo de tecnologias da
a) 3.200 horas, no Ensino Médio regular integrado com informação e comunicação.
a Educação Profissional Técnica de Nível Médio; No referente à integração com a profissionalização,
b) 2.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos inte- acrescenta-se que a base científica não deve ser compreen-
grada com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, dida como restrita àqueles conhecimentos que fundamen-
respeitado o mínimo de 1.200 horas de educação geral; tam a tecnologia específica. Ao contrário, a incorporação
c) 1.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos inte- das ciências humanas na formação do trabalhador é fun-
grada com a formação inicial e continuada ou qualificação damental para garantir o currículo integrado. Por exemplo:
profissional, respeitado o mínimo de 1.200 horas de edu- história social do trabalho, da tecnologia e das profissões;
cação geral; compreensão, no âmbito da geografia, da produção e difu-
VII – Na Educação Especial, Educação do Campo, Edu- são territorial das tecnologias e da divisão internacional do
cação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, de trabalho; filosofia, pelo estudo da ética e estética do traba-
pessoas em regime de acolhimento ou internação e em re- lho, além de fundamentos da epistemologia que garantam
gime de privação de liberdade, e na Educação a Distância, uma iniciação científica consistente; sociologia do trabalho,
devem ser observadas as respectivas Diretrizes e normas com o estudo da organização dos processos de trabalho e
nacionais. da organização social do trabalho; meio ambiente, saúde e
VIII – Os componentes curriculares que integram as segurança, inclusive conhecimentos de ecologia, ergono-
áreas de conhecimento podem ser tratados ou como dis- mia, saúde e psicologia do trabalho, no sentido da preven-
ciplinas, sempre de forma integrada, ou como unidades de ção das doenças ocupacionais.
estudos, módulos, atividades, práticas e projetos contex- 8. Implementação das Diretrizes Curriculares Na-
tualizados e interdisciplinares ou diversamente articulado- cionais e o compromisso com o sucesso dos estudantes
res de saberes, desenvolvimento transversal de temas ou
outras formas de organização. O Ensino Médio, fundamentado na integração das di-
IX – Tanto na base nacional comum quanto na parte di- mensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultu-
ra, pode contribuir para explicitar o significado da forma-
versificada a organização curricular do Ensino Médio deve
ção na etapa conclusiva da Educação Básica, uma vez que
oferecer tempos e espaços próprios para estudos e ativida-
materializa a formação humana integral.
des que permitam itinerários formativos opcionais diver-
Para que essa educação integral constitua-se em polí-
sificados, a fim de melhor responder à heterogeneidade e tica pública educacional é necessário que o Estado se faça
pluralidade de condições, múltiplos interesses e aspirações presente e que assuma uma amplitude nacional, na pers-
dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais e pectiva de que as ações realizadas nesse âmbito possam
culturais, bem como sua fase de desenvolvimento. enraizar-se em todo o território brasileiro.
X – Formas diversificadas de itinerários formativos po- Para que isso possa ocorrer é fundamental que as
dem ser organizadas, desde que garantida a simultaneida- ações desencadeadas nesse domínio sejam orientadas por
de das dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e um regime de coordenação e cooperação entre as esferas
da cultura, e definidas pelo projeto político-pedagógico, públicas dos vários níveis, dentro do quadro de um sistema
atendendo necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos nacional de educação, no qual cada ente federativo, com
e a realidade da escola e de seu meio. suas peculiares competências, colabora para uma educa-
XI – A interdisciplinaridade e a contextualização devem ção de qualidade.
assegurar a transversalidade e a articulação do conheci- A Emenda Constitucional nº 59/2009, incluiu na Cons-
mento de diferentes componentes curriculares, propician- tituição Federal justamente a prescrição de que a União, os
do a interlocução entre os saberes das diferentes áreas de Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem organi-
conhecimento. zar em regime de colaboração seus sistemas de ensino (art.
192
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
211), e que será articulado o sistema nacional de educação programas, dentre estes, o Brasil Profissionalizado, o Ensi-
em regime de colaboração, o qual é um objetivo do Plano no Médio Inovador, o Programa Nacional do Livro Didático
Nacional de Educação, de duração decenal, a ser estabele- para o Ensino Médio (PNLEM), vêm criando condições que
cido por lei (art. 214). favorecem a implementação destas Diretrizes.
Em nível nacional, almeja-se coordenação e coopera- Lembra-se, igualmente, a proposta do Custo Aluno-
ção entre o MEC e outros Ministérios, tendo em vista a arti- -Qualidade Inicial (CAQi), que indica insumos essenciais
culação com as políticas setoriais afins; internamente, entre associados aos padrões mínimos de qualidade para a
suas Secretarias e órgãos vinculados; e externamente, com Educação Básica pública no Brasil, previstos na Constitui-
as instituições de Educação Superior, os sistemas estaduais, ção Federal (inciso VII do art. 206) e na LDB (inciso IX do
do Distrito Federal e os sistemas municipais de ensino. art. 4º), a qual foi objeto do Parecer CNE/CEB nº 8/2010.
No nível de cada unidade da Federação, espera-se que No contexto do CAQi, é exigência um padrão mínimo de
haja coordenação e cooperação entre o respectivo sistema insumos, que tem como base um investimento com valor
de ensino, as instituições de Educação Superior e os siste-
calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvi-
mas municipais de ensino. Pressupõe igualmente a coope-
mento dos processos e procedimentos formativos, que le-
ração entre órgãos ou entidades responsáveis pelas polí-
vem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de
ticas setoriais afins no âmbito estadual e dos municípios.
qualidade social. Tais padrões mínimos são definidos como
No nível das unidades escolares é igualmente relevan-
te a criação de mecanismos de comunicação e intercâmbio, os que levam em conta, entre outros parâmetros: profes-
visando à difusão e adoção de boas práticas que desen- sores qualificados com remuneração adequada; pessoal de
volvam. apoio técnico e administrativo que assegure o bom fun-
É esse regime de colaboração mútua que deve contri- cionamento da escola; escolas possuindo condições de in-
buir para que as escolas, as redes e os sistemas de ensino fraestrutura e de equipamentos adequados; definição de
possam desenvolver um Ensino Médio organicamente arti- relação adequada entre número de estudantes por turma e
culado e sequente em relação às demais etapas da Educa- por professor, e número de salas e estudantes.
ção Básica, a partir de soluções adequadas para questões Finalmente, visando alcançar unidade nacional e res-
centrais como financiamento; existência de quadro espe- peitadas as diversidades, reitera-se que o Ministério da
cífico de professores efetivos; formação inicial e continua- Educação elabore e encaminhe ao Conselho Nacional de
da de docentes, profissionais técnico-administrativos e de Educação, precedida de consulta pública nacional, propos-
gestores; infraestrutura física necessária a cada tipo de ins- ta de expectativas de aprendizagem dos conhecimentos
tituição, entre outros aspectos relevantes. escolares e saberes que devem ser alcançadas pelos es-
No tocante aos profissionais da educação – gestores, tudantes em diferentes tempos do curso de Ensino Médio
professores, especialistas, técnicos, monitores e outros – que, necessariamente, se orientem por estas Diretrizes. Esta
cabe papel de relevo aos gestores, seja dos sistemas, seja elaboração deve ser conduzida pelo MEC em articulação e
das escolas. A eles cabe liderar as equipes, criar as condi- colaboração com os órgãos dos sistemas de ensino dos Es-
ções adequadas e estimular a efetivação do projeto po- tados, do Distrito Federal e dos Municípios. As expectativas
lítico-pedagógico e do respectivo currículo, o que requer de aprendizagem, que não significam conteúdos obrigató-
processo democrático de seleção segundo critérios técni- rios de currículo mínimo, devem vir a ser encaradas como
cos de mérito e de desempenho, como também lhes deve direito dos estudantes, portanto, com resultados corres-
ser propiciada formação apropriada, inclusive continuada, pondentes exigíveis por eles.
para atualização e aprimoramento do desempenho desse É imprescindível que o MEC articule e compatibilize,
papel. com estas Diretrizes, as expectativas de aprendizagem, a
Quanto aos professores, embora repetitivo, cabe reite-
formação de professores, os investimentos em materiais
rar a necessidade de efetivação da sua valorização, tanto no
didáticos, e as avaliações de desempenho e exames nacio-
referente a remuneração, quanto a plano de carreira, con-
nais, especialmente o ENEM. Com essa compatibilização,
dições de trabalho, jornada de trabalho completa em única
o Ensino Médio, em âmbito nacional, ganhará coerência e
escola, organização de tempos e espaços de sua atuação
para garantia de planejamento, implementação e acompa- consistência, visando à sua almejada qualidade social.
nhamento conjunto das atividades curriculares, formação Ao Ministério cabe, ainda, oferecer subsídios para a im-
inicial e continuada, inclusive para que se apropriem da plementação destas Diretrizes.
concepção e dos princípios do Ensino Médio proposto nes-
tas diretrizes e no respectivo projeto políticopedagógico, II – VOTO DA COMISSÃO
incorporando atuação diversificada, com estratégias, me-
todologias e atividades integradoras, contextualizadas e in- À vista do exposto, propõe-se à Câmara de Educação
terdisciplinares ou diversamente articuladores de saberes. Básica a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais
É oportuno lembrar que as ações do MEC voltadas para o Ensino Médio, na forma deste Parecer e do Projeto
para a expansão e melhoria do Ensino Médio, como a pro- de Resolução em anexo, do qual é parte integrante.
posição do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e
implementação do Plano de Desenvolvimento da Educa- Brasília, (DF), 4 de maio de 2011.
ção (PDE), do Plano de Ações Articuladas (PAR) e vários
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II – o trabalho como princípio educativo, para a com- a) ampliar seus tempos de organização escolar, com
preensão do processo histórico de produção científica e menor carga horária diária e anual, garantida sua duração
tecnológica, desenvolvida e apropriada socialmente para a mínima;
transformação das condições naturais da vida e a amplia- VI – atendida a formação geral, incluindo a preparação
ção das capacidades, das potencialidades e dos sentidos básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para
humanos; o exercício de profissões técnicas, por integração com a
III – a pesquisa como princípio pedagógico, possibili- Educação Profissional e Tecnológica, observadas as Diretri-
tando que o estudante possa ser protagonista na investi- zes específicas, com as cargas horárias mínimas de:
gação e na busca de respostas em um processo autônomo a) 3.200 (três mil e duzentas) horas, no Ensino Médio
de (re)construção de conhecimentos. regular integrado com a Educação Profissional Técnica de
IV – os direitos humanos como princípio norteador, Nível Médio;
desenvolvendo-se sua educação de forma integrada, per- b) 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, na Educação
meando todo o currículo, para promover o respeito a esses de Jovens e Adultos integrada com a Educação Profissional
direitos e à convivência humana. Técnica de Nível Médio, respeitado o mínimo de 1.200 (mil
V – a sustentabilidade socioambiental como meta uni- e duzentas) horas de educação geral;
versal, desenvolvida como prática educativa integrada, c) 1.400 (mil e quatrocentas) horas, na Educação de
contínua e permanente, e baseada na compreensão do ne- Jovens e Adultos integrada com a formação inicial e conti-
cessário equilíbrio e respeito nas relações do ser humano nuada ou qualificação profissional, respeitado o mínimo de
com seu ambiente. 1.200 (mil e duzentas) horas de educação geral;
VII – na Educação Especial, na Educação do Campo, na
Capítulo II Educação Escolar Indígena, na Educação Escolar Quilom-
Formas de oferta e organização bola, de pessoas em regime de acolhimento ou internação
e em regime de privação de liberdade, e na Educação a
Art. 14. O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, Distância, devem ser observadas as respectivas Diretrizes e
concebida como conjunto orgânico, sequencial e articula- normas nacionais;
do, deve assegurar sua função formativa para todos os es- VIII – os componentes curriculares que integram as
tudantes, sejam adolescentes, jovens ou adultos, atenden- áreas de conhecimento podem ser tratados ou como dis-
do, mediante diferentes formas de oferta e organização: ciplinas, sempre de forma integrada, ou como unidades de
I – o Ensino Médio pode organizar-se em tempos esco- estudos, módulos, atividades, práticas e projetos contex-
lares no formato de séries anuais, períodos semestrais, ci- tualizados e interdisciplinares ou diversamente articulado-
clos, módulos, alternância regular de períodos de estudos, res de saberes, desenvolvimento transversal de temas ou
grupos não seriados, com base na idade, na competência outras formas de organização;
e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, IX – os componentes curriculares devem propiciar a
sempre que o interesse do processo de aprendizagem as- apropriação de conceitos e categorias básicas, e não o acú-
sim o recomendar; mulo de informações e conhecimentos, estabelecendo um
II – no Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 conjunto necessário de saberes integrados e significativos;
(três) anos, com carga horária mínima total de 2.400 (duas X – além de seleção criteriosa de saberes, em termos
mil e quatrocentas) horas, tendo como referência uma car- de quantidade, pertinência e relevância, deve ser equilibra-
ga horária anual de 800 (oitocentas) horas, distribuídas em da sua distribuição ao longo do curso, para evitar fragmen-
pelo menos 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar; tação e congestionamento com número excessivo de com-
III – o Ensino Médio regular diurno, quando adequado ponentes em cada tempo da organização escolar;
aos seus estudantes, pode se organizar em regime de tem- XI – a organização curricular do Ensino Médio deve
po integral com, no mínimo, 7 (sete) horas diárias; oferecer tempos e espaços próprios para estudos e ativi-
IV – no Ensino Médio regular noturno, adequado às dades que permitam itinerários formativos opcionais diver-
condições de trabalhadores, respeitados os mínimos de sificados, a fim de melhor responder à heterogeneidade e
duração e de carga horária, o projeto político-pedagógico pluralidade de condições, múltiplos interesses e aspirações
deve atender, com qualidade, a sua singularidade, especi- dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais e
culturais, bem como sua fase de desenvolvimento;
ficando uma organização curricular e metodológica dife-
XII – formas diversificadas de itinerários podem ser
renciada, e pode, para garantir a permanência e o sucesso
organizadas, desde que garantida a simultaneidade entre
destes estudantes:
as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da
a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três)
cultura, e definidas pelo projeto político-pedagógico, aten-
anos, com menor carga horária diária e anual, garantido
dendo necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos e a
o mínimo total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas;
realidade da escola e do seu meio;
V – na modalidade de Educação de Jovens e Adultos,
XIII – a interdisciplinaridade e a contextualização devem
observadas suas Diretrizes específicas, com duração míni- assegurar a transversalidade do conhecimento de diferen-
ma de 1.200 (mil e duzentas) horas, deve ser especificada tes componentes curriculares, propiciando a interlocução
uma organização curricular e metodológica diferenciada entre os saberes e os diferentes campos do conhecimento.
para os estudantes trabalhadores, que pode:
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temos a certeza de contar com a capacidade de nossos Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral,
mestres e com o seu empenho no aperfeiçoamento da prá- em oposição à formação específica; o desenvolvimento de
tica educativa. Por isso, entendemos sua construção como capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las
um processo contínuo: não só desejamos que influenciem e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular,
positivamente a prática do professor, como esperamos po- ao invés do simples exercício de memorização.
der, com base nessa prática e no processo de aprendiza- São estes os princípios mais gerais que orientam a re-
gem dos alunos, revê-los e aperfeiçoá-los. formulação curricular do Ensino Médio e que se expres-
sam na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei
O novo Ensino Médio 9.394/96.
Se é necessário pensar em reformas curriculares, le-
O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria vando em conta as mudanças estruturais que alteram a
de Educação Média e Tecnológica, organizou, na atual ad- produção e a própria organização da sociedade que iden-
ministração, o projeto de reforma do Ensino Médio como tificamos como fator econômico, não é menos importante
parte de uma política mais geral de desenvolvimento so- conhecer e analisar as condições em que se desenvolve o
cial, que prioriza as ações na área da educação. sistema educacional do País.
O Brasil, como os demais países da América Latina, está No Brasil, o Ensino Médio foi o que mais se expandiu,
empenhado em promover reformas na área educacional considerando como ponto de partida a década de 80. De
que permitam superar o quadro de extrema desvantagem 1988 a 1997, o crescimento da demanda superou 90% das
em relação aos índices de escolarização e de nível de co- matrículas até então existentes. Em apenas um ano, de 1996
nhecimento que apresentam os países desenvolvidos. a 1997, as matrículas no Ensino Médio cresceram 11,6%.
Particularmente, no que se refere ao Ensino Médio, dois É importante destacar, entretanto, que o índice de es-
fatores de natureza muito diversa, mas que mantêm entre colarização líquida neste nível de ensino, considerada a po-
si relações observáveis, passam a determinar a urgência em pulação de 15 a 17 anos, não ultrapassa 25%, o que coloca
se repensar as diretrizes gerais e os parâmetros curricula- o Brasil em situação de desigualdade em relação a muitos
res que orientam esse nível de ensino. Primeiramente, países, inclusive da América Latina. Nos países do Cone
Sul, por exemplo, o índice de escolarização alcança de 55%
o fator econômico se apresenta e se define pela ruptura
a 60%, e na maioria dos países de língua inglesa do Caribe,
tecnológica característica da chamada terceira revolução
cerca de 70%.
técnico-industrial, na qual os avanços da microeletrônica
O padrão de crescimento das matrículas no Ensino
têm um papel preponderante, e, a partir década de 80, se
Médio no Brasil, entretanto, tem características que nos
acentuam no País.
permitem destacar as suas relações com as mudanças que
A denominada “revolução informática” promove mu-
vêm ocorrendo na sociedade.
danças radicais na área do conhecimento, que passa a ocu- As matrículas se concentram nas redes públicas es-
par um lugar central nos processos de desenvolvimento, taduais e no período noturno. Os estudos desenvolvidos
em geral. É possível afirmar que, nas próximas décadas, a pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-
educação vá se transformar mais rapidamente do que em nais (INEP), quando da avaliação dos concluintes do Ensino
muitas outras, em função de uma nova compreensão teó- Médio em nove Estados, revelam que 54% dos alunos são
rica sobre o papel da escola, estimulada pela incorporação originários de famílias com renda mensal de até seis sa-
das novas tecnologias. lários mínimos e, na Bahia, Pernambuco e Rio Grande do
As propostas de reforma curricular para o Ensino Mé- Norte, mais de 50% destes têm renda familiar de até três
dio se pautam nas constatações sobre as mudanças no salários mínimos.
conhecimento e seus desdobramentos, no que se refere à É possível concluir que parte dos grupos sociais até
produção e às relações sociais de modo geral. então excluídos tenha tido oportunidade de continuar os
Nas décadas de 60 e 70, considerando o nível de de- estudos em função do término do Ensino Fundamental, ou
senvolvimento da industrialização na América Latina, a po- que esse mesmo grupo esteja retornando à escola, dada
lítica educacional vigente priorizou, como finalidade para a compreensão sobre a importância da escolaridade, em
o Ensino Médio, a formação de especialistas capazes de função das novas exigências do mundo do trabalho.
dominar a utilização de maquinarias ou de dirigir proces- Pensar um novo currículo para o Ensino Médio coloca
sos de produção. Esta tendência levou o Brasil, na década em presença estes dois fatores: as mudanças estruturais
de 70, a propor a profissionalização compulsória, estratégia que decorrem da chamada “revolução do conhecimento”,
que também visava a diminuir a pressão da demanda sobre alterando o modo de organização do trabalho e as relações
o Ensino Superior. sociais; e a expansão crescente da rede pública, que deverá
Na década de 90, enfrentamos um desafio de outra or- atender a padrões de qualidade que se coadunem com as
dem. O volume de informações, produzido em decorrência exigências desta sociedade.
das novas tecnologias, é constantemente superado, colo-
cando novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não O processo de trabalho
se trata de acumular conhecimentos. A formação do aluno
deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos O projeto de reforma curricular do Ensino Médio teve
básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as como estrutura, desde sua origem, um modelo cuja principal
diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. preocupação era proporcionar um diálogo constante entre
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
os dirigentes da Secretaria de Educação Média e Tecnoló- las públicas. O projeto foi também discutido em debates
gica, a equipe técnica coordenadora do projeto da reforma abertos à população, como o organizado pelo jornal Fo-
e os diversos setores da sociedade civil, ligados direta ou lha de S. Paulo no início de 1997. Neste debate, do qual
indiretamente à educação. participaram os sindicatos de professores, a associação de
Definiu-se que, para a formulação de uma nova con- estudantes secundaristas, representantes de escolas parti-
cepção do Ensino Médio, seria fundamental a participação culares e outros segmentos da sociedade civil, o professor
de professores e técnicos de diferentes níveis de ensino. Ruy Leite Berger Filho apresentou a proposta de reforma
A primeira reunião entre os dirigentes, a equipe técnica curricular, que obteve dos participantes uma aprovação
da Secretaria de Educação Média e Tecnológica e profes- consensual.
sores convidados de várias universidades do País apontou Os trabalhos de elaboração da reforma foram concluí-
para a necessidade de se elaborar uma proposta que, in- dos em junho de 1997, a partir de uma série de discussões
corporando os pressupostos acima citados e respeitando internas que envolveram os dirigentes, a equipe técnica de
o princípio de flexibilidade, orientador da Lei de Diretrizes coordenação do projeto e os professores consultores.
e Bases, se mostrasse exequível por todos os Estados da O documento produzido foi apresentado aos Secretá-
Federação, considerando as desigualdades regionais. rios de Educação das Unidades Federadas e encaminhado
A primeira versão da proposta de reforma foi elabo- ao Conselho Nacional de Educação em 7 de julho de 1997,
rada pelo então diretor do Departamento de Desenvolvi- solicitando-se o respectivo parecer. Nessa etapa, a Secre-
mento da Educação Média e Tecnológica, professor Ruy taria de Educação Média e Tecnológica trabalhou integra-
Leite Berger Filho, e pela coordenadora do projeto, profes- damente com a relatora indicada pelo Conselho, a profes-
sora Eny Marisa Maia. sora Guiomar Namo de Mello, em reuniões especialmente
Propôs-se, numa primeira abordagem, a reorganização agendadas para este fim e por meio de assessorias especí-
curricular em áreas de conhecimento, com o objetivo de fa- ficas dos professores consultores especialistas.
cilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva O Parecer do Conselho Nacional de Educação foi apro-
de interdisciplinaridade e contextualização. vado em 1/06/98 – Parecer nº 15/98 da Câmara de Educa-
Foram convidados a participar do processo de elabora- ção Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação (CNE),
seguindo-se a elaboração da Resolução que estabelece as
ção da proposta de reforma curricular professores univer-
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Re-
sitários com reconhecida experiência nas áreas de ensino e
solução CEB/CNE nº 03/98 e à qual o Parecer se integra.
pesquisa, os quais atuaram como consultores especialistas.
Os textos de fundamentação das áreas de conhecimen-
As reuniões subsequentes foram organizadas com a
to, elaborados pelos professores especialistas, foram sub-
participação da equipe técnica de coordenação do projeto
metidos à apreciação de consultores visando ao aperfeiçoa-
e representantes de todas as Secretarias Estaduais de Edu-
mento dos mesmos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
cação, para as discussões dos textos que fundamentavam Nacional foi a principal referência legal para a formulação
as áreas de ensino. das mudanças propostas, na medida em que estabelece os
A metodologia de trabalho visava a ampliar os debates, princípios e finalidades da Educação Nacional.
tanto no nível acadêmico quanto no âmbito de cada Esta- A Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional e a
do, envolvendo os professores e técnicos que atuavam no reforma curricular do Ensino Médio
Ensino Médio. Os debates realizados nos Estados, coorde-
nados pelos professores representantes, deveriam permitir Ensino Médio é Educação Básica
uma análise crítica do material, contendo novas questões
e/ou sugestões de aperfeiçoamento dos documentos. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Concluída esta primeira etapa, os documentos foram (Lei 9.394/96) vem conferir uma nova identidade ao Ensino
submetidos à apreciação dos Secretários de Estado em re- Médio, determinando que Ensino Médio é Educação Bási-
uniões do CONSED e outras, organizadas pela Secretaria ca.
de Educação Média e Tecnológica com esse objetivo es- A Constituição de 1988 já prenunciava essa concep-
pecífico. ção, quando, no inciso II do Art. 208, garantia como dever
O debate ampliou-se por meio da participação dos do Estado “a progressiva extensão da obrigatoriedade e
consultores especialistas em diversas reuniões nos Estados gratuidade ao ensino médio”. Posteriormente, a Emenda
e pela divulgação dos textos de fundamentação das áreas Constitucional nº 14/96 modificou a redação desse inciso
entre os professores de outras universidades. sem alterar o espírito da redação original, inscrevendo no
Concomitantemente à reformulação dos textos teóri- texto constitucional “a progressiva universalização do en-
cos que fundamentavam cada área de conhecimento, fo- sino médio gratuito”. A Constituição, portanto, confere a
ram realizadas duas reuniões nos Estados de São Paulo e esse nível de ensino o estatuto de direito de todo cidadão.
do Rio de Janeiro com professores que lecionavam nas re- A alteração provocada pela Emenda Constitucional
des públicas, escolhidos aleatoriamente, com a finalidade merece, entretanto, um destaque. O Ensino Médio deixa de
de verificar a compreensão e a receptividade, em relação ser obrigatório para as pessoas, mas a sua oferta é dever
aos documentos produzidos. do Estado, numa perspectiva de acesso para todos aqueles
Obtivemos índices de aceitação muito satisfatórios que o desejarem. Por sua vez, a LDB reitera a obrigatorie-
nesses dois encontros, o que se considerou como um in- dade progressiva do Ensino Médio, sendo esta, portanto,
dicador da adequação da proposta ao cotidiano das esco- uma diretriz legal, ainda que não mais constitucional.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A LDB confere caráter de norma legal à condição do • o aprimoramento do educando como pessoa huma-
Ensino Médio como parte da Educação Básica, quando, por na, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da au-
meio do Art. 21, estabelece: tonomia intelectual e do pensamento crítico;
“Art. 21. A educação escolar compõe-se de: • a preparação e orientação básica para a sua inte-
I – Educação básica, formada pela educação infantil, gração ao mundo do trabalho, com as competências que
ensino fundamental e ensino médio; garantam seu aprimoramento profissional e permitam
II – Educação superior” acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no
Isso significa que o Ensino Médio passa a integrar a nosso tempo;
etapa do processo educacional que a Nação considera bá- • o desenvolvimento das competências para continuar
sica para o exercício da cidadania, base para o acesso às aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais
atividades produtivas, para o prosseguimento nos níveis complexos de estudos.
mais elevados e complexos de educação e para o desenvol-
vimento pessoal, referido à sua interação com a sociedade O papel da educação na sociedade tecnológica
e sua plena inserção nela, ou seja, que “tem por finalidades
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum A centralidade do conhecimento nos processos de
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe produção e organização da vida social rompe com o pa-
meios para progredir no trabalho e em estudos posterio- radigma segundo o qual a educação seria um instrumen-
res” (Art.22, Lei nº 9.394/96). to de “conformação” do futuro profissional ao mundo do
trabalho. Disciplina, obediência, respeito restrito às regras
O Ensino Médio como etapa final da Educação Básica estabelecidas, condições até então necessárias para a in-
clusão social, via profissionalização, perdem a relevância,
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ex- face às novas exigências colocadas pelo desenvolvimento
plicita que o Ensino Médio é a “etapa final da educação tecnológico e social.
básica” (Art.36), o que concorre para a construção de sua A nova sociedade, decorrente da revolução tecnológi-
identidade. O Ensino Médio passa a ter a característica da ca e seus desdobramentos na produção e na área da infor-
mação, apresenta características possíveis de assegurar à
terminalidade, o que significa assegurar a todos os cida-
educação uma autonomia ainda não alcançada. Isto ocorre
dãos a oportunidade de consolidar e aprofundar os conhe-
na medida em que o desenvolvimento das competências
cimentos adquiridos no Ensino Fundamental; aprimorar o
cognitivas e culturais exigidas para o pleno desenvolvi-
educando como pessoa humana; possibilitar o prossegui-
mento humano passa a coincidir com o que se espera na
mento de estudos; garantir a preparação básica para o tra-
esfera da produção.
balho e a cidadania; dotar o educando dos instrumentos O novo paradigma emana da compreensão de que,
que o permitam “continuar aprendendo”, tendo em vista o cada vez mais, as competências desejáveis ao pleno de-
desenvolvimento da compreensão dos “fundamentos cien- senvolvimento humano aproximam-se das necessárias à
tíficos e tecnológicos dos processos produtivos” (Art.35, inserção no processo produtivo. Segundo Tedesco, aceitar
incisos I a IV). tal perspectiva otimista seria admitir que vivemos “uma cir-
O Ensino Médio, portanto, é a etapa final de uma edu- cunstância histórica inédita, na qual as capacidades para o
cação de caráter geral, afinada com a contemporaneidade, desenvolvimento produtivo seriam idênticas para o papel
com a construção de competências básicas, que situem o do cidadão e para o desenvolvimento social”. Ou seja, ad-
educando como sujeito produtor de conhecimento e par- mitindo tal correspondência entre as competências exigi-
ticipante do mundo do trabalho, e com o desenvolvimento das para o exercício da cidadania e para as atividades pro-
da pessoa, como “sujeito em situação” – cidadão. dutivas, recoloca-se o papel da educação como elemento
Nessa concepção, a Lei nº 9.394/96 muda no cerne a de desenvolvimento social.
identidade estabelecida para o Ensino Médio contida na Em contrapartida, é importante compreender que a
referência anterior, a Lei nº 5.692/71, cujo 2º grau se ca- aproximação entre as competências desejáveis em cada
racterizava por uma dupla função: preparar para o prosse- uma das dimensões sociais não garante uma homogenei-
guimento de estudos e habilitar para o exercício de uma zação das oportunidades sociais. Há que considerar a redu-
profissão técnica. ção dos espaços para os que vão trabalhar em atividades
Na perspectiva da nova Lei, o Ensino Médio, como par- simbólicas, em que o conhecimento é o instrumento prin-
te da educação escolar, “deverá vincular-se ao mundo do cipal, os que vão continuar atuando em atividades tradicio-
trabalho e à prática social” (Art.1º § 2º da Lei nº 9.394/96). nais e, o mais grave, os que se vêem excluídos.
Essa vinculação é orgânica e deve contaminar toda a práti- A expansão da economia pautada no conhecimento
ca educativa escolar. caracteriza-se também por fatos sociais que comprome-
Em suma, a Lei estabelece uma perspectiva para esse tem os processos de solidariedade e coesão social, quais
nível de ensino que integra, numa mesma e única moda- sejam a exclusão e a segmentação com todas as conse-
lidade, finalidades até então dissociadas, para oferecer, de quências hoje presentes: o desemprego, a pobreza, a vio-
forma articulada, uma educação equilibrada, com funções lência, a intolerância.
equivalentes para todos os educandos: Essa tensão, presente na sociedade tecnológica, pode
• a formação da pessoa, de maneira a desenvolver va- se traduzir no âmbito social pela definição de quantos e
lores e competências necessárias à integração de seu pro- quais segmentos terão acesso a uma educação que contri-
jeto individual ao projeto da sociedade em que se situa; bua efetivamente para a sua incorporação.
201
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Um outro dado a considerar diz respeito à necessidade Mesmo considerando os obstáculos a superar, uma
do desenvolvimento das competências básicas tanto para proposta curricular que se pretenda contemporânea deve-
o exercício da cidadania quanto para o desempenho de rá incorporar como um dos seus eixos as tendências apon-
atividades profissionais. A garantia de que todos desenvol- tadas para o século XXI. A crescente presença da ciência
vam e ampliem suas capacidades é indispensável para se e da tecnologia nas atividades produtivas e nas relações
combater a dualização da sociedade, que gera desigualda- sociais, por exemplo, que, como consequência, estabelece
des cada vez maiores. um ciclo permanente de mudanças, provocando rupturas
De que competências se está falando? Da capacidade rápidas, precisa ser considerada.
de abstração, do desenvolvimento do pensamento sistê- Comparados com as mudanças significativas observa-
mico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada das nos séculos passados – como a máquina a vapor ou o
dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capa- motor a explosão –, cuja difusão se dava de modo lento e
cidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de por um largo período de tempo, os avanços do conheci-
um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamen- mento que se observam neste século criam possibilidades
to divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da de intervenção em áreas inexploradas.
disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição Estão presentes os avanços na biogenética e outros
para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, mais, que fazem emergir questões de ordem ética mere-
do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conheci- cedoras de debates em nível global. Em contrapartida, as
mento. Estas são competências que devem estar presentes inovações tecnológicas, como a informatização e a robóti-
na esfera social, cultural, nas atividades políticas e sociais ca, e a busca de maior precisão produtiva e de qualidade
como um todo, e que são condições para o exercício da homogênea têm concorrido para acentuar o desemprego.
cidadania num contexto democrático. É possível afirmar que o crescimento econômico não
O desafio a enfrentar é grande, principalmente para gera mais empregos ou que concorre para a diminuição
um País em processo de desenvolvimento, que, na déca- do número de horas de trabalho e, principalmente, para a
da de 90, sequer oferece uma cobertura no Ensino Médio, diminuição de oportunidades para o trabalho não qualifi-
considerado como parte da Educação Básica, a mais que
cado.
25% de seus jovens entre 15 e 17 anos.
Se o deslocamento das oportunidades de trabalho do
Não se pode mais postergar a intervenção no Ensino
setor industrial para o terciário é uma realidade, isso não
Médio, de modo a garantir a superação de uma escola que,
significa que seja menor nesse a exigência em relação à
ao invés de se colocar como elemento central de desenvol-
qualificação do trabalhador.
vimento dos cidadãos, contribui para a sua exclusão. Uma
Nas sociedades tradicionais, a estabilidade da orga-
escola que pretende formar por meio da imposição de
modelos, de exercícios de memorização, da fragmentação nização política, produtiva e social garantia um ambiente
do conhecimento, da ignorância dos instrumentos mais educacional relativamente estável. Agora, a velocidade do
avançados de acesso ao conhecimento e da comunicação. progresso científico e tecnológico e da transformação dos
Ao manter uma postura tradicional e distanciada das mu- processos de produção torna o conhecimento rapidamen-
danças sociais, a escola como instituição pública acabará te superado, exigindo-se uma atualização contínua e colo-
também por se marginalizar. cando novas exigências para a formação do cidadão.
Uma nova concepção curricular para o Ensino Médio, A transformação do ciclo produtivo, a partir da década
como apontamos anteriormente, deve expressar a contem- de 40, provocou a migração campo-cidade. Houve uma di-
poraneidade e, considerando a rapidez com que ocorrem minuição gradativa, mas significativa, de empregos na agri-
as mudanças na área do conhecimento e da produção, ter cultura. Atualmente, observa-se uma situação semelhante
a ousadia de se mostrar prospectiva. Certamente, o ponto na indústria e isso ocorre não apenas em função das no-
de partida para a implementação da reforma curricular em vas tecnologias, como também em função do processo de
curso é o reconhecimento das condições atuais de organi- abertura dos mercados, que passam a exigir maior precisão
zação dos sistemas estaduais, no que se refere à oferta do produtiva e padrões de qualidade de produção dos países
Ensino Médio. mais desenvolvidos.
Constata-se a necessidade de investir na área de ma- A globalização econômica, ao promover o rompimen-
croplanejamento, visando a ampliar de modo racional a to de fronteiras, muda a geografia política e provoca, de
oferta de vagas. Também é essencial investir na formação forma acelerada, a transferência de conhecimentos, tec-
dos docentes, uma vez que as medidas sugeridas exigem nologias e informações, além de recolocar as questões da
mudanças na seleção, tratamento dos conteúdos e incor- sociabilidade humana em espaços cada vez mais amplos.
poração de instrumentos tecnológicos modernos, como a A revolução tecnológica, por sua vez, cria novas formas
informática. de socialização, processos de produção e, até mesmo, novas
Essas são algumas prioridades, indicadas em todos os definições de identidade individual e coletiva. Diante desse
estudos desenvolvidos recentemente pela Secretaria de mundo globalizado, que apresenta múltiplos desafios para
Educação Média e Tecnológica e pelo Instituto Nacional o homem, a educação surge como uma utopia necessária
de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), por meio do indispensável à humanidade na sua construção da paz, da
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), liberdade e da justiça social. Deve ser encarada, conforme o
e que subsidiaram a elaboração da proposta de reforma Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o
curricular. século XXI, da UNESCO, “entre outros caminhos e para além
202
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
deles, como uma via que conduz a um desenvolvimento necessária para viver dignamente, para desenvolver possi-
mais harmonioso, mais autêntico, de modo a fazer recuar bilidades pessoais e profissionais, para se comunicar. Fim,
a pobreza, a exclusão social, as incompreensões, as opres- porque seu fundamento é o prazer de compreender, de
sões e as guerras”. conhecer, de descobrir.
Considerando-se tal contexto, buscou-se construir O aumento dos saberes que permitem compreender
novas alternativas de organização curricular para o Ensino o mundo favorece o desenvolvimento da curiosidade in-
Médio comprometidas, de um lado, com o novo significado telectual, estimula o senso crítico e permite compreender
do trabalho no contexto da globalização e, de outro, com o real, mediante a aquisição da autonomia na capacidade
o sujeito ativo, a pessoa humana que se apropriará desses de discernir.
conhecimentos para se aprimorar, como tal, no mundo do Aprender a conhecer garante o aprender a aprender
trabalho e na prática social. Há, portanto, necessidade de e constitui o passaporte para a educação permanente, na
se romper com modelos tradicionais, para que se alcancem medida em que fornece as bases para continuar aprenden-
os objetivos propostos para o Ensino Médio. do ao longo da vida.
A perspectiva é de uma aprendizagem permanente, de
uma formação continuada, considerando como elemento Aprender a fazer
central dessa formação a construção da cidadania em fun-
ção dos processos sociais que se modificam. O desenvolvimento de habilidades e o estímulo ao
Alteram-se, portanto, os objetivos de formação no ní- surgimento de novas aptidões tornam-se processos es-
vel do Ensino Médio. Prioriza-se a formação ética e o de- senciais, na medida em que criam as condições necessárias
senvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento para o enfrentamento das novas situações que se colocam.
crítico. Privilegiar a aplicação da teoria na prática e enriquecer a
Não há o que justifique memorizar conhecimentos que vivência da ciência na tecnologia e destas no social passa a
estão sendo superados ou cujo acesso é facilitado pela ter uma significação especial no desenvolvimento da socie-
moderna tecnologia. O que se deseja é que os estudantes dade contemporânea.
desenvolvam competências básicas que lhes permitam de-
Aprender a viver
senvolver a capacidade de continuar aprendendo.
É importante destacar, tendo em vista tais reflexões, as
Trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo o
considerações oriundas da Comissão Internacional sobre
conhecimento do outro e a percepção das interdependên-
Educação para o século XXI, incorporadas nas determina-
cias, de modo a permitir a realização de projetos comuns
ções da Lei nº 9.394/96:
ou a gestão inteligente dos conflitos inevitáveis.
a) a educação deve cumprir um triplo papel: econômi-
co, científico e cultural; Aprender a ser
b) a educação deve ser estruturada em quatro alicer-
ces: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver A educação deve estar comprometida com o desen-
e aprender a ser. volvimento total da pessoa. Aprender a ser supõe a prepa-
ração do indivíduo para elaborar pensamentos autônomos
A reforma curricular e a organização do Ensino Médio e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor,
de modo a poder decidir por si mesmo, frente às diferentes
O currículo, enquanto instrumentação da cidadania circunstâncias da vida. Supõe ainda exercitar a liberdade
democrática, deve contemplar conteúdos e estratégias de de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação,
aprendizagem que capacitem o ser humano para a reali- para desenvolver os seus talentos e permanecer, tanto
zação de atividades nos três domínios da ação humana: quanto possível, dono do seu próprio destino.
a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiên- Aprender a viver e aprender a ser decorrem, assim, das
cia subjetiva, visando à integração de homens e mulheres duas aprendizagens anteriores – aprender a conhecer e
no tríplice universo das relações políticas, do trabalho e da aprender a fazer – e devem constituir ações permanentes
simbolização subjetiva. que visem à formação do educando como pessoa e como
Nessa perspectiva, incorporam-se como diretrizes ge- cidadão.
rais e orientadoras da proposta curricular as quatro pre- A partir desses princípios gerais, o currículo deve ser
missas apontadas pela UNESCO como eixos estruturais da articulado em torno de eixos básicos orientadores da se-
educação na sociedade contemporânea: leção de conteúdos significativos, tendo em vista as com-
petências e habilidades que se pretende desenvolver no
Aprender a conhecer Ensino Médio.
Um eixo histórico-cultural dimensiona o valor histórico e
Considera-se a importância de uma educação geral, social dos conhecimentos, tendo em vista o contexto da so-
suficientemente ampla, com possibilidade de aprofunda- ciedade em constante mudança e submetendo o currículo a
mento em determinada área de conhecimento. Prioriza-se uma verdadeira prova de validade e de relevância social. Um
o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento, eixo epistemológico reconstrói os procedimentos envolvi-
considerado como meio e como fim. Meio, enquanto for- dos nos processos de conhecimento, assegurando a eficácia
ma de compreender a complexidade do mundo, condição desses processos e a abertura para novos conhecimentos.
203
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
com o sujeito ativo que se apropriar-se-á desses conheci- Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
mentos, aprimorando-se, como tal, no mundo do trabalho
e na prática social. Ressalve-se que uma base curricular na- A linguagem é considerada aqui como capacidade
cional organizada por áreas de conhecimento não implica humana de articular significados coletivos em sistemas ar-
a desconsideração ou o esvaziamento dos conteúdos, mas bitrários de representação, que são compartilhados e que
a seleção e integração dos que são válidos para o desen- variam de acordo com as necessidades e experiências da
volvimento pessoal e para o incremento da participação vida em sociedade. A principal razão de qualquer ato de
social. Essa concepção curricular não elimina o ensino de linguagem é a produção de sentido.
conteúdos específicos, mas considera que os mesmos de- Podemos, assim, falar em linguagens que se inter-rela-
vem fazer parte de um processo global com várias dimen- cionam nas práticas sociais e na história, fazendo com que
sões articuladas. O fato de estes Parâmetros Curriculares a circulação de sentidos produza formas sensoriais e cog-
terem sido organizados em cada uma das áreas por disci- nitivas diferenciadas. Isso envolve a apropriação demons-
plinas potenciais não significa que estas são obrigatórias trada pelo uso e pela compreensão de sistemas simbólicos
ou mesmo recomendadas. O que é obrigatório pela LDB ou sustentados sobre diferentes suportes e de seus instru-
pela Resolução nº 03/98 são os conhecimentos que estas mentos como instrumentos de organização cognitiva da
disciplinas recortam e as competências e habilidades a eles realidade e de sua comunicação. Envolve ainda o reconhe-
referidos e mencionados nos citados documentos. cimento de que as linguagens verbais, icônicas, corporais,
sonoras e formais, dentre outras, se estruturam de forma
As três áreas semelhante sobre um conjunto de elementos (léxico) e de
relações (regras) que são significativas: a prioridade para
A reforma curricular do Ensino Médio estabelece a a Língua Portuguesa, como língua materna geradora de
divisão do conhecimento escolar em áreas, uma vez que significação e integradora da organização do mundo e da
entende os conhecimentos cada vez mais imbricados aos própria interioridade; o domínio de língua(s) estrangeira(s)
conhecedores, seja no campo técnico-científico, seja no como forma de ampliação de possibilidades de acesso a
âmbito do cotidiano da vida social. A organização em três outras pessoas e a outras culturas e informações; o uso da
áreas – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências informática como meio de informação, comunicação e re-
da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências solução de problemas, a ser utilizada no conjunto das ativi-
Humanas e suas Tecnologias – tem como base a reunião dades profissionais, lúdicas, de aprendizagem e de gestão
daqueles conhecimentos que compartilham objetos de es- pessoal; as Artes, incluindo-se a literatura, como expressão
tudo e, portanto, mais facilmente se comunicam, criando criadora e geradora de significação de uma linguagem e
condições para que a prática escolar se desenvolva numa do uso que se faz dos seus elementos e de suas regras em
perspectiva de interdisciplinaridade. outras linguagens; as atividades físicas e desportivas como
A estruturação por área de conhecimento justifica-se domínio do corpo e como forma de expressão e comuni-
por assegurar uma educação de base científica e tecnoló- cação.
gica, na qual conceito, aplicação e solução de problemas Importa ressaltar o entendimento de que as lingua-
concretos são combinados com uma revisão dos compo- gens e os códigos são dinâmicos e situados no espaço e no
nentes socioculturais orientados por uma visão epistemo- tempo, com as implicações de caráter histórico, sociológico
lógica que concilie humanismo e tecnologia ou humanis- e antropológico que isso representa.
mo numa sociedade tecnológica. É relevante também considerar as relações com as prá-
O desenvolvimento pessoal permeia a concepção dos ticas sociais e produtivas e a inserção do aluno como cida-
componentes científicos, tecnológicos, socioculturais e dão em um mundo letrado e simbólico. A produção con-
de linguagens. O conceito de ciências está presente nos temporânea é essencialmente simbólica e o convívio social
demais componentes, bem como a concepção de que a requer o domínio das linguagens como instrumentos de
produção do conhecimento é situada sócio, cultural, eco- comunicação e negociação de sentidos.
nômica e politicamente, num espaço e num tempo. Cabe No mundo contemporâneo, marcado por um apelo in-
aqui reconhecer a historicidade do processo de produção formativo imediato, a reflexão sobre a linguagem e seus
do conhecimento. Enfim, preconiza-se que a concepção sistemas, que se mostram articulados por múltiplos códi-
curricular seja transdisciplinar e matricial, de forma que as gos e sobre os processos e procedimentos comunicativos,
marcas das linguagens, das ciências, das tecnologias e, ain- é, mais do que uma necessidade, uma garantia de partici-
da, dos conhecimentos históricos, sociológicos e filosófi- pação ativa na vida social, a cidadania desejada.
cos, como conhecimentos que permitem uma leitura crítica
do mundo, estejam presentes em todos os momentos da Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias
prática escolar.
A discussão sobre cada uma das áreas de conheci- A aprendizagem das Ciências da Natureza, qualitativa-
mento será apresentada em documento específico, con- mente distinta daquela realizada no Ensino Fundamental,
tendo, inclusive, as competências que os alunos deverão deve contemplar formas de apropriação e construção de
alcançar ao concluir o Ensino Médio. De modo geral, estão sistemas de pensamento mais abstratos e ressignifica-
assim definidas: dos, que as trate como processo cumulativo de saber e
de ruptura de consensos e pressupostos metodológicos.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
tervir na realidade, numa perspectiva autônoma e desalie- • o papel da educação e da formação no Ensino Médio
nante. Ao propor uma nova forma de organizar o currículo, na sociedade tecnológica;
trabalhado na perspectiva interdisciplinar e contextualiza- • os fundamentos teóricos da reforma curricular do En-
da, parte-se do pressuposto de que toda aprendizagem sino Médio;
significativa implica uma relação sujeito-objeto e que, para • a organização curricular na Lei de Diretrizes e Bases
que esta se concretize, é necessário oferecer as condições da Educação, na regulamentação do Conselho Nacional de
para que os dois polos do processo interajam. Educação e nos textos produzidos pela Secretaria de Edu-
cação Média e Tecnológica.
A parte diversificada do currículo
Seguem-se os textos legais:
A parte diversificada do currículo destina-se a atender • Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Dire-
às características regionais e locais da sociedade, da cul- trizes e Bases da Educação Nacional – LDB.
tura, da economia e da clientela (Art. 26 da LDB). Comple- • Parecer nº 15/98 da Câmara de Educação Básica do
menta a Base Nacional Comum e será definida em cada Conselho Nacional de Educação.
sistema de ensino e estabelecimento escolar. • Resolução nº 03/98 da Câmara de Educação Básica
Do ponto de vista dos sistemas de ensino, está repre- do Conselho Nacional de Educação – Diretrizes Curricula-
sentada pela formulação de uma matriz curricular básica, res Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM).
que desenvolva a Base Nacional Comum, considerando as
demandas regionais do ponto de vista sociocultural, eco- Serão apresentados, em outros volumes, os textos que
nômico e político. Deve refletir uma concepção curricular se referem a cada área de conhecimento, conforme a dis-
que oriente o Ensino Médio no seu sistema, ressignifican- posição da Resolução CEB/CNE nº 3/98:
do-o, sem impedir, entretanto, a flexibilidade da manifes- • Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;
tação dos projetos curriculares das escolas. • Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias;
A parte diversificada do currículo deve expressar, ade- • Ciências Humanas e suas Tecnologias.
mais das incorporações dos sistemas de ensino, as prio-
ridades estabelecidas no projeto da unidade escolar e
Nesses textos, o leitor encontrará a fundamentação
a inserção do educando na construção do seu currículo.
teórica de cada área, orientações quanto à seleção de con-
Considerará as possibilidades de preparação básica para o
teúdos e métodos a serem desenvolvidos em cada discipli-
trabalho e o aprofundamento em uma disciplina ou uma
na potencial e as competências e habilidades que os alunos
área, sob forma de disciplinas, projetos ou módulos em
deverão ter construído ao longo da Educação Básica.
consonância com os interesses dos alunos e da comunida-
de a que pertencem.
O desenvolvimento da parte diversificada pode ocor- Fonte
rer no próprio estabelecimento de ensino ou em outro es- Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
tabelecimento conveniado. É importante esclarecer que o pdf/blegais.pdf
desenvolvimento da parte diversificada não implica profis-
sionalização, mas diversificação de experiências escolares 6.1.3 Ensino Médio Integrado: fundamentação legal
com o objetivo de enriquecimento curricular, ou mesmo e curricular.
aprofundamento de estudos, quando o contexto assim
exigir. O seu objetivo principal é desenvolver e consolidar Um balanço da escola pública brasileira, sempre que
conhecimentos das áreas, de forma contextualizada, refe- realizado, revela uma dívida histórica constrangedora, seja
rindo-os a atividades das práticas sociais e produtivas. pela sua tímida e insuficiente expansão, seja pela qualidade
Estas são as questões consideradas centrais para a que tem revelado. Porém, é no Ensino Médio que esta rea-
compreensão da nova proposta curricular do Ensino Mé- lidade se constitui como um exemplo clássico de negação
dio. As informações apresentadas neste texto têm como da cidadania e da participação dos jovens na constituição
objetivo discutir, em linhas gerais, a reforma curricular do da nação brasileira. Apenas 45% dos jovens no Brasil con-
Ensino Médio em seus principais elementos. A intenção cluem o Ensino Médio e, a maioria destes, em torno de
é situar os leitores – professores, técnicos de educação e 60%, o fazem em condições precárias: noturno e/ou su-
demais interessados na questão educacional – sobre os pletivos.
aspectos considerados centrais da nova concepção para o Estes dados, quando desdobrados por regiões e pela
Ensino Médio. Desta forma, procuramos discutir: classificação rural e urbana, assumem uma dimensão ainda
• as relações entre as necessidades contemporâneas mais constrangedora, pois demonstram como as desigual-
colocadas pelo mundo do trabalho e outras práticas so- dades de condições e oportunidades neste país condenam,
ciais, a Educação Básica e a reforma curricular do Ensino a priori, milhões de jovens ao subemprego, ao desempre-
Médio; go, à exclusão social e à cooptação pelo mundo da crimi-
• a metodologia de trabalho utilizada para a elabora- nalidade e prostituição.
ção da proposta; Examinando os dados de emprego e desemprego no
• os fundamentos legais que orientam a proposta de país, evidencia-se novamente a dificuldade de participa-
reforma curricular do Ensino Médio, extraídos da Lei de Di- ção dos jovens neste mercado. Proporcionalmente, é a
retrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96; categoria com maior índice de desemprego ou empregos
207
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
precários, mediante prestação de serviços temporários e geral, visando reproduzir e atender a divisão social e téc-
sem direitos trabalhistas. Sem trabalho e renda, o acesso à nica do trabalho. Em estudo recente sobre “Ensino Médio:
educação tem sido um grande obstáculo e, sem educação construindo uma proposta para os que vivem do trabalho”,
e qualificação, o mercado torna-se inacessível, quando, não Kuenzer, demonstra com maior propriedade o exposto:
raramente, exige-se experiência para quem está em forma- “O desenvolvimento histórico dessas redes vai mostrar
ção e/ou iniciando uma atividade produtiva. que a iniciativa estatal, primeiro, criou escolas profissionais,
Seja da perspectiva do direito da juventude ou da pers- no início do século XX, para só nos anos 40 criar o Ensi-
pectiva do direito ao acesso à educação como bem públi- no Médio. A partir de então, essas redes sempre estiveram
co, as expansões quantitativa e qualitativa do Ensino Médio de alguma forma (des)articuladas, uma vez que a dualida-
e técnico no Brasil se constituem em imprescindíveis com- de estrutural sempre responde às demandas de inclusão/
promissos dos gestores públicos e necessárias políticas es- exclusão; o Ensino Médio inclui os socialmente incluídos;
pecíficas e inovadoras para a realidade que nos cerca, pois, para os excluídos, alguma modalidade de preparação para
se persistirmos na dualidade histórica, ensino profissional o trabalho, orgânica aos modos de produzir mercadoria
para quem vive do trabalho e ensino propedêutico (acadê- que historicamente foram se construindo” (Kuenzer, 2000,
mico, clássico) para dirigentes, além de antiético e injusto, p. 26).
não desenvolveremos uma nação soberana e autodetermi- Desta forma, a formação histórica dos trabalhadores
nada, com igualdade de condições e oportunidades para e cidadãos do Brasil se dará a partir da categoria duali-
todos. dade estrutural, demarcando uma trajetória educacional e
social, conforme as funções que cada um desempenharia
Análise da relação entre Ensino Médio e Educação na sociedade, a partir do desenvolvimento das forças pro-
Profissional dutivas que delimitavam, de forma muito clara, a divisão
“Para definir uma política de governo (...) em uma so- entre capital e trabalho, traduzida no taylorismo-fordismo,
ciedade complexa, absolutamente díspar sob diversos ân- na separação das funções de planejamento e supervisão
gulos, há que se ter os pés no chão: jamais esconder as com as de execução.
verdadeiras causas do problema que se deseja enfrentar e A essas funções do sistema produtivo correspondem
resolver(...); para resolver problemas complexos não pode trajetórias de educação e escolas diferenciadas. Para os
haver soluções simplificadas, sob o risco de se cair no sim- supervisores, uma formação acadêmica intelectualizada e,
plismo analítico e propor medidas inadequadas, populis- para os trabalhadores, formação profissional em institui-
tas, demagógicas, clientelistas” (Kuenzer, 1997, p.18). ções especializadas ou no próprio local de trabalho. A re-
Ensino Médio e profissional refletem, ao longo de nos- forma Capanema, em 1942, será o marco da institucionali-
sa história, as relações típicas de poder de uma sociedade zação desta dualidade: “para as elites, são criados os cursos
cindida em classes sociais, às quais se atribui o exercício de médios de 2º ciclo, científico e clássico, com três anos de
funções intelectuais e dirigentes, ou funções instrumentais. duração, sempre destinados a preparar os estudantes para
Esta dualidade educacional e profissional parece constituir- o ensino superior” e, para os trabalhadores instrumentais
-se num problema político de difícil solução. uma formação profissional “em nível médio de 2º ciclo: o
O primeiro passo é reconhecer que este é um proble- agrotécnico, o comercial técnico, o industrial técnico e o
ma, um problema complexo de nossa história educacional normal, que não davam acesso ao ensino superior” (Kuen-
e, por se tratar de um problema da sociedade brasileira, zer, 2000, p. 28).
é um problema que precisa ser enfrentado politicamente. Mesmo com toda a proposta educacional de escola se-
Pensa-se, inclusive, que os intelectuais brasileiros, peda- cundária unitária de Anísio Teixeira; a escola básica unitária
gogos e, mesmo a sociedade civil, já produziram diversas de Gramsci; a luta da sociedade e dos trabalhadores por
alternativas para muitos problemas como este, mas a resis- uma articulação, esforço parcialmente atingido na primeira
tência e a trincheira instaladas no Estado brasileiro e no an- LDB de 1961; uma experiência fracassada de profissiona-
tagonismo de classe impedem, política e deliberadamente, lização do ensino secundário pela Lei nº 5.692/71 e a ex-
a superação de muitos problemas. periência da educação politécnica dos anos 80 do século
Naturalmente que não podemos ser ingênuos, pois XX, parece que, através da nova LDB, Lei nº 9.394/1996
nossa história de desenvolvimento econômico e social, e do Decreto nº 2.208/97, estamos “fazendo a estrutura
cultural e político, educacional e profissional constitui-se educacional brasileira retornar aos anos 40, quando da
dentro de uma lógica reprodutora das desigualdades e promulgação dos decretos-leis relativos ao ensino médio
dualidades estruturais, tais como: inclusão e exclusão so- – chamados de ‘leis’ orgânicas” (Cunha, 2000, p. 28), iro-
cial, trabalho manual para índios e escravos, trabalho livre nicamente, identificando-se não só no conteúdo, mas no
e intelectual para as elites, escola acadêmica para poucos e método de regulamentar políticas educacionais por decre-
educação profissional para os trabalhadores. tos que se julgam leis.
Muitos historiadores e estudiosos já demonstraram ser Por outro lado, é verdade que as mudanças introdu-
a dualidade estrutural a categoria explicativa da constitui- zidas no mundo do trabalho, impostas pela globalização
ção do ensino secundário – hoje Ensino Médio – e pro- da economia e pela recente reestruturação produtiva, fize-
fissional no Brasil, pois, desde a primeira iniciativa estatal, ram com que as antigas formas de produção e organização
em 1909, com a criação das 19 escolas técnicas, sempre tayloristas-fordistas deixassem de ser dominantes. Surgiu,
existiram duas redes, uma profissional e outra de educação em substituição ao modelo anterior, um novo paradigma,
208
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
com base no modelo japonês de organização e gestão do responsabilidade política e dever do Estado, porém, sem-
trabalho – o toyotismo – onde a linha de montagem será pre em conjunto com a sociedade, principalmente com a
substituída por células de produção, com equipes de tra- participação da classe que vive do trabalho.
balho, com a qualidade e o trabalho controlados pelo pró-
prio grupo, que assim realiza um autocontrole. Nesta nova Ensino Integrado & Formação Integral
organização do trabalho, o universo é invadido por novos A proposta de integração do curso médio e do curso
procedimentos de gerenciamento da produção, onde a técnico de nível médio, alternativa constante do Decreto n.
qualidade e a competitividade passam a ser as novas pa- 5.154/04, possui um significado e um desafio para além da
lavras de ordem e, consequentemente, um novo perfil de prática disciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar, pois
trabalhador é exigido. Para formar este novo perfil de tra- implica um compromisso de construir uma articulação e
balhador, do trabalhador “flexível”, desencadeia-se a refor- uma integração orgânica entre o trabalho como princípio
ma da educação básica e profissional. educativo, a ciência como criação e recriação pela huma-
Deste novo trabalhador, o sistema produtivo requer nidade de sua natureza e cultura, como síntese de toda
algumas características e capacidades intelectuais que me- produção e relação dos seres humanos com seu meio. Por-
recem ser lembradas: capacidade de comunicar-se corre- tanto, ensino integrado implica um conjunto de categorias
tamente, com domínio dos códigos e linguagens, incorpo- e práticas educativas no espaço escolar que desenvolvam
rando, além do domínio da língua nacional, a língua estran- uma formação integral do sujeito trabalhador.
geira e as novas formas trazidas pela semiótica; autonomia O trabalho pode ser considerado como princípio edu-
intelectual, capaz de resolver problemas práticos gerados cativo para SAVIANI (1989) em três sentidos diversos, mas
pelas novas tecnologias e ciências; autonomia moral, en- articulados e integrados entre si. Em primeiro lugar, o tra-
frentando novas situações eticamente e, principalmente, balho é princípio educativo na medida em que determina,
capacidade de comprometer-se com o trabalho, entendido pelo grau de desenvolvimento social atingido na história, o
em sua forma mais complexa e honrosa de construção do modo de ser da educação na sua totalidade (conjunto). Em
próprio trabalhador, do homem e da sociedade (Kuenzer, segundo lugar, quando coloca exigências próprias que o
2000). processo educativo deve preencher em vista da participa-
Todavia, este conjunto de atitudes e perfil profissional ção efetiva dos membros da sociedade no trabalho social-
somente será atingido por uma educação básica universal, mente produtivo e, em terceiro lugar, o trabalho é princí-
reivindicada não só pelos empresários, mas requisito do pio educativo na medida que determinar a educação como
mundo e da economia global, pois esta, estrategicamen- uma modalidade específica e diferenciada de trabalho: o
te, precisa de uma força de trabalho disponível para lançar trabalho pedagógico (SAVIANI, 1989, p. 1-2). A educação
mão toda vez que isso se fizer necessário. Esta exigência de tecnológica ou a politécnica está identificada no segundo
maior escolaridade, empregabilidade, competência e uni- sentido, no qual a educação básica necessita explicitar o
versalização da escolarização básica será cobrada dos tra- modo como o conhecimento se relaciona com o trabalho.
balhadores (agora, também responsáveis pela sua forma- Portanto, a categoria que assegura a integração entre
ção), e do Estado, responsável pelas políticas públicas. Esta, os diferentes níveis e modalidades é a educação básica,
portanto, é uma questão política, até hoje hegemonizada formação mínima necessária a todo e qualquer cidadão. É
pelos interesses do setor produtivo capitalista, financiada e com esta perspectiva que a União chama para si a coorde-
viabilizada pelo Estado, impregnada e consentida na socie- nação da política nacional de educação com a finalidade de
dade e nas mentes dos trabalhadores. assegurar a articulação dos diferentes níveis, modalidades
Sabemos que a dualidade é reflexo da divisão social e e sistemas de ensino (Art. 8, parágrafo único).
técnica do trabalho, o que é próprio das sociedades capita- Trabalhar com a concepção mais ampla de educação,
listas, mas, também, precisamos acreditar na sua superação de modo a incorporar todas as dimensões educativas que
gradativa, pois pensamos que temos condições de cons- ocorrem no âmbito das relações sociais que objetivam a
truir uma educação que contribua para a transformação formação humana nas dimensões social, política e produti-
de tais estruturas. Esta superação quem sabe será possível va, implica reconhecer que cada sociedade, em cada modo
mediante uma grande democratização de acesso à edu- de produção e regimes de acumulação, dispõe de formas
cação do conjunto da sociedade e a formulação, por esta próprias de educação que correspondem às demandas de
sociedade, com a participação dos trabalhadores, em con- cada grupo e das funções que lhes cabe desempenhar na
junto com intelectuais orgânicos a eles vinculados, de uma divisão social e técnica do trabalho. O exercício destas fun-
nova concepção de educação que “articule formação cien- ções não se restringe ao caráter produtivo, mas abrange
tífica e sócio-histórica à formação tecnológica” (Kuenzer, todas as dimensões comportamentais, ideológicas e nor-
2000, p. 34), ou seja, o Ensino Médio e técnico integrados mativas que lhes são próprias, elaborando a escola sua
em um único currículo e compondo uma nova modalidade proposta pedagógica a partir das demandas sociais.
de educação do cidadão brasileiro. Assim é que a dualidade estrutural se manifestava ine-
Uma política educacional e um projeto de desenvol- quivocamente nos modos de organização da produção, em
vimento nacional necessitam articular-se e definir a iden- que a distinção entre dirigentes e trabalhadores era bem
tidade tanto da educação básica como da qualificação e definida, a partir das formas de divisão social e técnica do
formação profissional, na perspectiva global, soberana, hu- trabalho. À velha escola humanista tradicional correspon-
mana, enquanto direito público e subjetivo, portanto, de dia a necessidade socialmente determinada de formar os
209
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
grupos dirigentes, que não exerciam funções instrumentais. ao trabalhador. Assim, o conhecimento científico e o saber
A proposta pedagógica da escola, portanto, não tinha por prático são distribuídos desigualmente, contribuindo ainda
objetivo a formação técnico-profissional vinculada a neces- mais para aumentar a alienação dos trabalhadores.
sidades imediatas, e sim a formação geral da personalidade A escola, por sua vez, se constituiu historicamente
e o desenvolvimento do caráter através da aquisição de como uma das formas de materialização desta divisão, ou
hábitos de estudo, disciplina, exatidão e compostura. seja, como o espaço por excelência do acesso ao saber teó-
Já no âmbito das formas tayloristas/fordistas de orga- rico, divorciado da práxis, representação abstrata feita pelo
nizar o trabalho capitalista no século XX, desenvolveu-se pensamento humano, e que corresponde a uma forma pe-
uma rede de escolas de formação profissional em diferen- culiar de sistematização, elaborada a partir da cultura de
tes níveis, paralela à rede de escolas destinadas à formação uma classe social. E, não por coincidência, é a classe que
propedêutica, com a finalidade de atender às funções ins- detém o poder material que possui também os instrumen-
trumentais inerentes às atividades práticas que decorriam tos materiais para a elaboração do conhecimento5. Assim
da crescente diferenciação dos ramos profissionais. a escola, fruto da prática fragmentada, passa a expressar e
É essa diferenciação de escolas e redes, que atende às a reproduzir esta fragmentação, através de seus conteúdos,
demandas de formação a partir do lugar que cada classe métodos e formas de organização e gestão.
social vai ocupar na divisão do trabalho, que determina o O desenvolvimento científico-tecnológico, ao impul-
caráter antidemocrático do desdobramento entre escolas sionar o desenvolvimento das forças produtivas na pers-
propedêuticas e profissionais, e não propriamente os seus pectiva do processo de criação de valor, quanto mais avan-
conteúdos. Assim é que o conhecimento tecnológico de ça, mais intensifica a contradição entre as demandas do
ponta, embora organicamente vinculado ao trabalho, não processo produtivo e os processos de educação da força de
tem sido democratizado, porque se destina à formação dos trabalho: quanto mais se simplificam as atividades práticas
dirigentes e por longo tempo tem estado restrito à forma- na execução dos processos de trabalho, mais se complexi-
ção de nível superior. Da mesma forma, a versão geral do ficam as ações relativas ao desenvolvimento de produtos e
Ensino Médio disponibilizou conhecimento propedêutico processos, à sua manutenção e ao seu gerenciamento. Ou
à classe trabalhadora, em decorrência das funções que ela seja, o trabalho mais se simplifica enquanto mais se tornam
teoricamente passaria a ocupar a partir da base microele- complexas a ciência e a tecnologia; em decorrência, ao se
trônica, e nem por isso se alterou sua posição de classe. exigir menos conhecimento sobre o trabalho do trabalha-
O desenvolvimento das forças produtivas, à medida dor, mais ele se distancia da compreensão e do domínio
que vai avançando a partir das mudanças na base técnica, das tarefas que executa, bem como dos que gerenciam e
vai trazendo novas demandas para a educação dos traba- mantêm os processos e produzem ciência e tecnologia.
lhadores, o que no modo de produção capitalista responde Ao mesmo tempo, a complexificação da vida social
às necessidades decorrentes da valorização do capital. ampliou os espaços de participação do trabalhador em vá-
Gramsci, ao analisar o americanismo e o fordismo, já rios sentidos: atividades culturais, associativas, sindicais e
demonstrava a eficiência dos processos pedagógicos no partidárias.
processo de valorização do capital, à medida que, a par- Criam-se, em consequência, necessidades educativas
tir das relações de produção e das formas de organização para os trabalhadores que até então eram reconhecidas
e gestão do trabalho, então hegemônicas, são concebi- como próprias da burguesia. A crescente cientifização da
dos e veiculados novos modos de vida, comportamentos, vida social, como força produtiva, passa a exigir do tra-
atitudes, valores. O novo tipo de produção racionalizada balhador cada vez maior apropriação de conhecimentos
demandava um novo tipo de homem, capaz de ajustar-se científicos, tecnológicos e sócio-históricos, uma vez que
aos novos métodos da produção, para cuja educação eram a simplificação do trabalho contemporâneo é a expressão
insuficientes os mecanismos de coerção social; tratava-se concreta da complexificação da tecnologia através da ope-
de articular novas competências a novos modos de viver, racionalização da ciência6.
pensar e sentir, adequados aos novos métodos de trabalho Ou seja, quanto mais avança o desenvolvimento das
caracterizados pela automação de base eletromecânica, forças produtivas, mais a ciência se simplifica, fazendo-se
que implicavam a ausência de mobilização de energias in- prática e criando tecnologia; ao mesmo tempo, a tecno-
telectuais e criativas no desempenho do trabalho. É neste logia se complexifica, fazendo-se científica; ambas fazem
sentido que a hegemonia, além de expressar uma reforma uma nova cultura, criando novas formas de comporta-
econômica, assume as feições de uma reforma intelectual mento, ideologias e normas. O trabalho e a ciência, dis-
e moral. sociados por efeito das formas tradicionais de divisão do
Se o fundamento deste novo tipo de trabalho é a frag- trabalho, voltam a formar uma unidade pela mediação da
mentação, posto que da manufatura à fábrica moderna, a tecnologia, em consequência do próprio desenvolvimento
divisão capitalista faz com que a atividade intelectual e ma- das forças produtivas no capitalismo, e como forma de su-
terial, o gozo e o trabalho, a produção e o consumo caibam peração aos entraves postos ao processo de acumulação.
a indivíduos distintos4, tanto as relações sociais e produti- Como resultado, estabelecem-se novas formas de relação
vas como a escola passam a educar o trabalhador para esta entre conhecimento, produção e relações sociais, que pas-
divisão. Em decorrência, a ciência, e o desenvolvimento sam a demandar o domínio integrado dos conhecimentos
social que ela gera, ao pertencerem ao capital, aumentan- científicos, tecnológicos e sócio-históricos. Mesmo que se
do a sua força produtiva, se colocam em oposição objetiva considere que estas demandas são polarizadas no regime
210
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de acumulação flexível, e, portanto, não se colocam para de novos projetos de educação para os que vivem do tra-
todos os trabalhadores7, as políticas educacionais que balho, de modo a abrir a possibilidade de que a produção
de fato se comprometam com os que vivem do trabalho e a divulgação do conhecimento possam ser utilizadas em
devem ter a democratização do acesso ao conhecimento favor de interesses mais amplos e do atendimento das de-
como horizonte. mandas materiais que dizem respeito à melhoria das con-
Em assim sendo, a posse do conhecimento científico e dições de vida da maioria da população;
tecnológico pelos trabalhadores e a sua participação nos c) redefinir as finalidades e os projetos de educação
espaços decisórios que definem a política de C&T e de dos trabalhadores, de modo a contemplar novas priorida-
educação podem criar as condições necessárias para que des e alternativas que impactem as suas condições de tra-
se inicie um processo de reorientação no sentido de an- balho e de existência.
tecipar demandas da sociedade que não encontram pos- É necessário reconhecer que as transformações no
sibilidade de serem satisfeitas, dada à atual correlação de mundo do trabalho exigem, mais do que conhecimentos
forças políticas. e habilidades demandados por ocupações específicas, co-
Como afirma Dagnino, sendo C&T construções sociais, nhecimentos no plano dos instrumentos necessários para
historicamente determinadas (resultado de um processo o domínio da ciência, da cultura e das formas de comu-
onde intervêm múltiplos atores com distintos interesses), nicação e, ainda, conhecimentos científicos e tecnológicos
a sua trajetória de desenvolvimento poderia ser redirecio- presentes no mundo do trabalho e nas relações sociais
nada, dependendo da capacidade dos atores sociais em contemporâneas, o que implica constatar a importância
interferir no processo decisório da política da C&T, intro- que assumem as formas sistematizadas e continuadas de
duzindo na agenda interesses relativos a outros segmentos educação escolar.
da sociedade. A partir de situações em que conhecimentos A partir desta perspectiva, justificam-se e exigem-se
formulados para outros fins possam ser utilizados para sa- patamares mais elevados de educação para os trabalha-
tisfazer a outros interesses inicialmente não contemplados, dores, até porque a concepção de competência enunciada
seria possível chegar a alterar significativamente a dinâmi- privilegia a capacidade potencial para resolver situações-
ca de exploração da fronteira do conhecimento científico
-problema decorrentes de processos de trabalho flexíveis,
e tecnológico (...). Alterar a situação atual da C&T supõe
em substituição às competências e habilidades específicas
reformular as hipóteses e os pressupostos atuais da pro-
exigidas para o exercício das tarefas rígidas nas organiza-
dução científica que coloquem novas prioridades para sua
ções tayloristas / fordistas.
orientação. A busca de alternativas à produção em larga
Ou seja, o desenvolvimento das competências exigidas
escala que internalize variáveis ambientais e os impactos
pelo modo de produção capitalista, tal como se desenvolve
na saúde do trabalhador e dos cidadãos, no desenho cien-
tífico-tecnológico, estaria na raiz de uma nova dinâmica. a partir da base microeletrônica, só pode ocorrer a partir
Materializar isto dependeria da mobilização de um grande de uma sólida educação básica inicial, complementada por
número de atores e, embora resulte difícil para a esquerda processos educativos que integrem, em todo o percurso
viabilizar uma alternativa, é um desafio que não se pode formativo, conhecimento básico, conhecimento específico
deixar de lado, sob pena de limitar o avanço na construção e conhecimento sóciohistórico, ou seja, ciência, tecnologia
de uma sociedade mais democrática e equilibrada social e e cultura.
ambientalmente8. É por tudo isto que esta proposta de ensino integrado
é uma proposta que necessariamente contempla:
A gestão estratégica da educação profissional inte- - a articulação entre conhecimento básico, conheci-
grada à gestão da Educação Nacional mento específico e conhecimento das formas de gestão
Esta compreensão leva à necessidade de substituir o e organização do trabalho, contemplando os conteúdos
termo educação profissional, vinculado a uma concepção científicos, tecnológicos, sócio-históricos e das linguagens;
de qualificação estreita e precarizada com foco na ocupa- - em decorrência, a articulação entre a gestão da edu-
ção para atender aos interesses do setor produtivo, para cação básica, da educação dos trabalhadores e da educa-
educação dos trabalhadores, cuja concepção integra edu- ção superior, nos diferentes níveis: federal, estadual e mu-
cação básica e especializada para atender às demandas da nicipal;
transformação social a partir da perspectiva da classe; se - a participação efetiva dos que vivem do trabalho na
aquela ocorre predominantemente no setor privado, esta construção das propostas educativas e das formas de sua
só pode se dar em espaços públicos, através de políticas, organização e gestão.
financiamento e gestão públicos.
A gestão, portanto, desta modalidade de educação in- O DESAFIO DA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DO
tegrada, considerando a articulação entre educação, traba- ENSINO INTEGRADO
lho, cultura, ciência, tecnologia deverá:
a) integrar-se à gestão da Educação Nacional, em es- Ensino Médio e Técnico com Currículos Integrados: pro-
pecial à educação básica, apontando para a integração postas de ação didática para uma relação não fantasiosa
com o ensino superior;
b) contemplar a participação efetiva dos trabalhado- Este texto tem como objetivo contribuir para a discus-
res nos espaços decisórios, tendo em vista a construção de são sobre estratégias de síntese do Ensino Médio e ensino
uma nova trajetória para a produção e difusão da C & T e técnico de nível médio em um único curso, alternativa de
211
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
organização curricular coibida pelo Decreto n. 2.208/97, pre uma construção dinâmica, concretizada nas relações
que os via como independentes, mas viabilizada por força pedagógicas, cujo sucesso depende da participação e da
de outro decreto, o de número 5.154/04. capacidade de autoavaliação destas práticas pelos sujeitos
Não se abordará, neste texto, as razões e fundamentos que as tecem.
que movem em diferentes direções esses dois dispositivos No caso de currículos integrados, o objetivo é a con-
legais. Pretende-se, de outra maneira, concorrer para que cepção e a experimentação de hipóteses de trabalho e de
este desafio de integração seja uma oportunidade bem propostas de ação didática que tenham, como eixo, a abor-
aproveitada pelas escolas do país para renovar e inovar dagem relacional de conteúdos tipificados estruturalmente
processos de ensino-aprendizagem a partir da concepção e como diferentes, considerando que esta diferenciação não
implementação de currículos de qualidade superior. Isto é, pode, a rigor, ser tomada como absoluta ainda que haja
propostas e projetos pedagógicos comprometidos com a especificidades que devem ser reconhecidas. Com relação
articulação criativa das dimensões do fazer, do pensar e do ao objeto deste texto, são os conteúdos classificados como
sentir como base da formação de personalidades críticas e gerais ou básicos e os conteúdos nomeados como profis-
transformadoras; que promovam o despertar do olhar críti- sionais ou tecnológicos. Em quaisquer circunstâncias em
co, a arte de problematizar e de deslindar os dilemas apre- que se vise construir currículos integrados, para que haja
sentados por situações ambivalentes ou por contradições e a possibilidade de êxito, o percurso formativo precisa ser
que favoreçam o processo afirmativo da própria identidade trabalhado como um processo desenvolvido em comum,
dos sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, alunos mediante aproximações sucessivas cada vez mais amplas,
e professores. que concorram para que cada ação didática se torne parte
Entende-se que, a despeito do afastamento a que fo- de um conjunto organizado e articulado.
ram compelidos, os educadores que atuam no Ensino Mé-
dio e no ensino técnico de nível médio partilham dos mes- Propostas de ações didáticas integradas
mos anseios de fornecer uma sólida e atualizada formação
científica, tecnológica, cultural e ética aos seus alunos; de Revisar falsas polarizações e oposições:
promover as oportunidades que levem ao desenvolvimen- A primeira proposta é um convite. Um apelo aos edu-
to da criatividade e do pensamento autônomo e crítico; cadores do Ensino Médio e do ensino técnico de nível mé-
de fomentar o gosto pela aprendizagem e hábitos de au- dio interessados em enfrentar o desafio da integração para
toaprendizagem; de formar, enfim, pessoas abertas, inte- que se debrucem na tarefa primordial de identificar e ques-
ressadas, curiosas, críticas, solidárias e de iniciativa. tionar a suposta boa-fé de certos conceitos e práticas que
Diante, porém, do desafio de conceber e levar a efei- se estruturaram a partir de contraposições fixas.
to um curso capaz de atender simultaneamente às duas Não é mais aceitável, por exemplo, a afirmação de que
valias, a de servir à conclusão da educação básica e a de conteúdos considerados gerais não seriam profissiona-
levar a uma formação técnica especializada, estes educa- lizantes; isto porque uma sólida formação geral tem sido
dores, e não somente eles, manifestam dúvidas e receios reconhecida não só como um requisito de qualificação
quanto à possibilidade de realizar tais propósitos. Haveria profissional no atual mundo do trabalho, como, talvez, o
uma sobrecarga dos programas? Dever-se-ia prolongar o mais importante.
tempo de escolaridade? O ensino geral teria sua identidade Se a realidade existente é uma totalidade integrada
modificada em favor de uma formação mais especializada? não pode deixar de sê-lo o sistema de conhecimentos pro-
Ou, ao contrário, seria o ensino técnico a se reconfigurar, duzidos pelo homem a partir dela, para nela atuar e trans-
tendo em vista a formação de um perfil profissional mais formá-la. Tal visão de totalidade também se expressa na
amplo e genérico? práxis do ensinar e aprender. Por razões didáticas, se divide
Não são, porém, estas as questões que serão aborda- e se separa o que está unido. Por razões didáticas, também
das neste texto. Sabe-se que a modalidade do “integrado” se pode buscar a recomposição do todo. Tudo depende
teria a duração de quatro anos. Crê-se que, neste tempo, das escolhas entre alternativas de ênfases e dosagens das
é possível atender à legislação quanto à carga horária mí- partes e das formas de relacioná-las. Portanto, na perspec-
nima exigida para ambos os cursos. Pretende-se, então, tiva de um currículo integrado, uma boa pergunta é aquela
tomar como foco a discussão da concepção e organização que se faz ao o que integrar. Para começar, um bom ponto
curricular, particularizando-a pela referência privilegiada à de partida se refere à integração entre as finalidades e ob-
modalidade do integrado. jetivos da escola à prática pedagógica tornando-os efetiva-
Para tanto, faz-se necessário deixar claro que currículo mente concretos.
está sendo, aqui, considerado como hipóteses de trabalho É importante lembrar, também, a dimensão integral da
e de propostas de ação didática, que são definidas para vida do educando; entendê-lo como alguém que, além de
serem desenvolvidas na prática educativa; experiências que estudante, tem outros papéis no sistema das relações so-
devem ser investigadas e analisadas. Entende-se, também, ciais. Desta pluralidade cultural advêm elementos diversos
que estas hipóteses ou propostas representam sempre do contexto, fundamentais ao processo de concepção do
opções escolhidas e/ou combinadas a partir da análise de currículo; um currículo integrado à vida dos educandos, à
situações dadas, do que se quer e do que se calcula poder dinâmica da interação e dos processos históricos, sociais,
alcançar, tendo em vista implementar práticas com efetivi- econômicos e culturais relevantes que estes vivenciam. Ele-
dade educacional. Em quaisquer circunstâncias, será sem- mentos significativos do passado, que precisam se integrar
212
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
aos fatos cruciais do presente. Elementos do conhecimento mento que é produzido nesta interação educacional, neste
empírico e da cultura que trazem os educandos a partir de processo ampliado das possibilidades de comunicação no
suas experiências de vida, que precisam juntar-se aos co- trabalho educacional.
nhecimentos científicos para significá-los.
Portanto, os desafios da integração passam também Aproveitar as oportunidades que se abrem:
pela revisão de polarizações que se estabelecem no coti- Boas hipóteses de trabalho para o enfrentamento do
diano das práticas educacionais, que solapam a possibili- desafio da organização curricular integrada se referem
dade de uma construção curricular superior, distanciamen- às oportunidades que se abrem tanto para os educado-
tos que não se resumem às oposições entre conteúdos res vindos do Ensino Médio como para aqueles que têm
gerais e técnicos, entre ciência e tecnologia. atuado, especificamente, no ensino técnico. São ocasiões
favoráveis para superar, mediante as trocas entre si, fragili-
Estabelecer consensos sobre alguns pontos de par- dades verificadas em cada um destes tipos de ensino. Para
tida fundamentais: os educadores do Ensino Médio, são oportunidades de
A possibilidade de êxito de um trabalho integrado en- superar tendências excessivamente acadêmicas, livrescas,
tre educadores do Ensino Médio e do ensino técnico de discursivas e reprodutivas das práticas educativas que fre-
nível médio passa, sem dúvida, pelo entendimento consen- quentemente se notam neste campo educacional. Para os
sual que eles possam construir sobre alguns pontos de par- educadores do ensino técnico, são as chances de superar
tida fundamentais, dos quais o anterior é a base. É preciso o viés, às vezes, excessivamente técnico-operacional des-
ocorrer uma certa convergência sobre que ser humano e te ensino, em favor de uma abordagem desreificadora dos
que profissional se quer formar, como também quais estra- objetos técnicos pela apropriação das condições sociais e
tégias seriam as mais indicadas para traduzir operacional- históricas de produção e utilização dos mesmos.
mente os valores e as perspectivas que foram priorizados. Em ambos os casos, mas de modo diferente, trata-se
Assim, o planejamento, a organização, a sistematização, o de enfrentar a tensão dialética entre pensamento científico
controle e a orientação do processo didático, da atuação e pensamento técnico e a busca de outras relações entre
docente e da atividade cognoscitiva dos alunos precisam teoria e prática, visando instaurar outros modos de organi-
se mostrar com coerência interna e evidenciar, de forma zação e delimitação dos conhecimentos. O aproveitamento
consistente, a construção intencional destes sentidos e dessas oportunidades, contudo, depende do aumento da
perspectivas. interação entre docentes vindos de experiências diferentes,
Necessariamente, a construção do currículo integrado da evolução do trabalho cooperativo, do desenvolvimento
exige uma mudança de postura pedagógica; do modo de das capacidades de todos os professores e alunos de tra-
agir não só dos professores como também dos alunos. Sig- balhar em equipe, tendo em vista a construção de proces-
nifica uma ruptura com um modelo cultural que hierarquiza sos de ensino-aprendizagem significativos.
os conhecimentos e confere menor valor e até conotação Nenhuma proposta pedagógica é estática; sua concre-
negativa àqueles de ordem técnica, associados de forma tização e avanços dependem dos progressos dos conheci-
preconceituosa ao trabalho manual. É preciso uma dispo- mentos teóricos, mas, sobretudo, dos níveis de consciência
sição verdadeira para o rompimento com a fragmentação dos sujeitos que a concebem e implementam que se origi-
dos conteúdos, tendo em vista a busca de inter-relações, nam e expressam nos avanços concretos obtidos no plano
de uma coerência de conjunto e a implementação de uma da prática educativa.
concepção metodológica global. Entender que neste caso,
mais até que em outros, o ensino-aprendizagem é um pro- Trabalhar a unidade existente entre os conhecimen-
cesso complexo e global. tos gerais e tecnológicos:
Um bom ponto de partida é se perguntar sobre formas A educação básica tem o importante papel de fazer
de articulação dos conhecimentos que possibilitem a gera- com que o aluno adquira os conhecimentos de base rela-
ção de aprendizagens significativas e que criem situações tivos à cultura, à sociedade, às ciências, às ideias, que são
que permitam saltos de qualidade no processo de ensino- indispensáveis a cada um, qualquer que seja sua profissão.
-aprendizagem. Para tanto, é fundamental levar em conta a Ela fornece os fundamentos para uma concepção cien-
diversidade dos processos educativos, que historicamente tífica da vida e contribui para desenvolver as faculdades
foi criada, e que demarca as culturas pedagógicas de um e cognitivas e as capacidades do indivíduo. Contribui, ainda,
de outro tipo de ensino. Este processo de identificação de para formar para sua autonomia e capacidade para a au-
diferenças e de construção de sínteses superadoras passa, toaprendizagem contínua e crítica; para o desenvolvimento
necessariamente, pela promoção de práticas pedagógicas da sua criatividade, do seu espírito de inovação e suas dis-
compartilhadas e de equipes; pela participação orientada posições à versatilidade que os atuais processos produti-
por uma relação dialógica e pelo pensar em experiências a vos requerem.
serem proporcionados aos estudantes no cotidiano esco- A educação básica joga papel fundamental no desen-
lar, através tanto do currículo explícito quanto do currículo volvimento da curiosidade e do interesse do aluno pelos
oculto. problemas contextuais e internos à produção das ciências,
Esta caminhada se inicia, também, com o reconheci- da cultura e das artes, favorecendo, assim, a assimilação e o
mento de que é preciso considerar não somente as parce- aprendizado dos processos investigativos, analíticos e tec-
las preexistentes de conhecimentos, mas o novo conheci- nológicos. A educação profissional tem, nos conhecimentos
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
tecnológicos, seu foco fundamental; conteúdos que não se produzir um viés, o entendimento de que tecnologia seria
confundem com saberes empíricos, mas que guardam com o conjunto dos objetos fabricados pelo homem para reali-
eles relação; referências obrigatórias ao exercício de ativi- zar certas operações.
dades técnicas e de trabalho. Essa compreensão trouxe consequências graves, tais
Os conhecimentos que constituem o cerne do Ensino como: a) privilegiar os aspectos morfológicos dos objetos
Médio e do ensino técnico de nível médio estão em uni- técnicos; b) atribuir centralidade ao elemento representado
dade por diversos motivos. Primeiro, porque todos esses por máquinas e equipamentos em detrimento de outros
conhecimentos têm origem na atividade social humana de como a organização do trabalho e as condições do tra-
transformação da natureza e de organização social; todos balho; c) conferir ao objeto técnico a condição de sujeito
eles representam o desenvolvimento do domínio e do con- histórico, esquecendo-se dos autores de sua criação, das
trole que o ser humano progressivamente vem adquirindo motivações e interesses que movem os homens ao criá-los;
sobre a natureza, mediante a sua práxis histórica. Os co- d) ignorar o fato de que não é apenas o ambiente exterior
nhecimentos tecnológicos também são, hoje, reconhecidos ao homem que se modifica com a mudança técnica, mas
como socialmente necessários a todos. Seu ensino, à di- também o interior do próprio ser humano; e) privilegiar
ferença do ensino geral, é orientado predominantemente uma determinada concepção de ciência.
para a atividade de trabalho ou para a explicação dos ob- Ao contrário, não se pode conceber uma técnica de
jetos técnicos, sua estrutura e fabricação (TANGUY, 1989, produção (material ou simbólica) como algo inseparável
p. 62). das diversas dimensões da divisão social do trabalho (inter-
Para desmistificar as oposições que se estabeleceram nacional, nacional, regional, local, nos ramos da atividade
entre estes dois domínios do conhecimento humano, é im- humana, na empresa), pois é a divisão social do trabalho
portante fazer alguns resgates etimológicos e históricos. A que precede a divisão técnica e que comanda a sua evo-
palavra técnica vem do grego – techne. De uma maneira lução.
geral, ela designa o exercício de um métier2, afeito ou não Por outro lado, uma definição adequada de tecnologia
a uma produção material. Por exemplo: Técnico Agrícola. não pode tomá-la como técnica. Trata-se de uma ciência.
De maneira específica, é usada para se referir a um proce- Uma ciência não reduzida ao experimentalismo; uma ativi-
dimento praticado durante uma atividade. Por extensão, é dade mediante a qual se produzem conhecimentos e que
empregada também para designar a faculdade, o méto- não se reduz a um simples reflexo dos fatos. A tecnologia
do e a maneira que permitem a realização desse fazer. Por é um conjunto organizado de conhecimentos e de infor-
exemplo: técnica de adubagem. mações, originado de diversas descobertas científicas e in-
Para Platão, os trabalhos que dependem de uma tech- venções e do emprego de diferentes métodos na produção
ne, quaisquer que sejam eles são “poiesis” (criações) e seus material e simbólica.
produtores são todos poetas (criadores). É interessante ob- Por sua vez, esse conjunto de conhecimentos e de in-
servar que para este filósofo a designação de poeta não se formações é corporificado em técnicas, recursos que aju-
aplica apenas ao campo das humanidades. Na língua latina, dam a realizar o caminho inverso, aquele que se faz para
o equivalente de techne é a palavra ars. É interessante, tam- ampliar a produção de novos conhecimentos. Há, portanto,
bém, constatar que, num primeiro momento, o vocábulo uma relação de intercomplementaridade entre ciência, tec-
arte foi usado para designar procedimentos de fabricação nologia e técnica, que não é óbvia e simples, que guarda
muito metódicos, que requeriam perícia especial. contradições e unidade.
No século XV, as artes foram hierarquizadas e divididas O importante a destacar é que os estudos tecnológi-
em artes mecânicas (atividades praticadas pelas corpora- cos se referem, essencialmente, aos conhecimentos sobre
ções de ofício) e em artes liberais ou intelectuais, estas jul- a prática humana, envolvendo, de um lado, os atos, os ges-
gadas as mais nobres. É no século XIX, com o impulso da tos, os movimentos humanos, os modos operatórios, as
industrialização e do desenvolvimento das ciências, que a técnicas, os tempos envolvidos nas operações, a relação
linguagem filosófica retoma do grego o termo técnica para custo-benefício e, de outro, mas de forma absolutamente
designar as aplicações práticas da ciência. Este é o sentido interligada, as relações que os homens tecem no nível da
estreito que o termo passa a ter. No exemplo citado acima: divisão social do trabalho, compreendendo suas diversas
técnicas de adubagem. Entretanto, a palavra técnica tam- dimensões.
bém passou a ser utilizada para designar toda atividade Tecnologia seria, portanto, a ciência da atividade hu-
humana estritamente regulada, tendo em vista um efeito mana, dos atos que produzem, adaptam ou fazem funcio-
específico. Esse é o sentido amplo que o termo passa a ter. nar os objetos, que se revelam eficazes pela maneira me-
No exemplo citado acima: Técnico Agrícola. diante a qual eles fazem cumprir determinadas necessida-
Há uma tendência, atualmente, de tornar o sentido des historicamente concretas e, assim, se tornar um padrão
mais estreito do termo técnica (aplicação prática da ciên- recomendável de ação.
cia) predominante no entendimento corrente e de não fa- A tecnologia englobaria, então, a prática social; os
zer distinção entre técnica e tecnologia. aprendizados humanos, em seus processos e produtos; o
O positivismo contribuiu para isso, pois para essa cor- conhecimento empírico, o saber tácito produzido no tra-
rente filosófica não existiriam senão ciências experimentais. balho; as artes e técnicas desenvolvidas pelos homens; as
O método experimental seria a garantia da cientificidade forças produtivas; as racionalidades e lógicas historicamen-
de uma proposição. Esse reducionismo contribuiu para te produzidas.
214
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Vista por este ângulo, a importância maior do estudo Por outro lado, as tecnologias físicas e simbólicas pou-
das tecnologias não é o conhecimento morfológico dos co poderiam sem o suporte das tecnologias organizadoras
objetos em si e para si mesmos, mas o estudo dos usos e de gestão. Estas, também erroneamente, têm sido inter-
destes objetos e das técnicas e suas relações com as fun- pretadas apenas como pertencentes ao domínio das em-
ções econômicas, culturais e sociais que eles cumprem presas. Na realidade, elas abarcam um campo mais amplo,
num determinado contexto histórico, produzindo sentidos, pois estão na base das transformações que se verificam
significados e história. nos modos de vida, nos processos de controle social, nas
Uma técnica de produção é sempre concebida para dinâmicas de ensino-aprendizagem, dentre outros.
funcionar nos quadros de relações humanas bem definidas. A especificidade da educação profissional e tecnológi-
Nesse sentido, pode-se dizer que existem diversos condi- ca consiste em promover o desenvolvimento de capacida-
cionamentos e constrangimentos econômicos, sociais, des de trabalho de interesse dos indivíduos, das empresas,
políticos, culturais, etc. que perpassam e protagonizam a da sociedade e dos governos. No entanto, é preciso con-
história das técnicas. Pode-se dizer que estas resultam de siderar que os avanços culturais, das técnicas, das ciências
longas cadeias entrecruzadas, de bricolagens, de ressigni- e das tecnologias vêm introduzindo novos requerimentos
ficações, que demandam interpretações muitas vezes di- de educação profissional, tornando-a cada vez mais densa
vergentes e que esta contextualização e esta compreensão de conteúdos culturais, técnicos, tecnológicos e científicos,
conformam o campo do saber tecnológico. É interessante fazendo-a mais próxima e integrada à educação básica.
constatar o quanto é preciso recorrer aos chamados co- Cabe à educação tecnológica promover o ensino-apren-
nhecimentos básicos e gerais, tais como os da história, da dizagem dos conteúdos, métodos e relações necessários à
geografia, da filosofia, da economia e da sociologia para compreensão, à pesquisa e à aplicação crítica e criativa das
dar conta desta apreensão deste saber tecnológico! bases científicas dos processos e procedimentos técnicos,
Não trata, portanto, a tecnologia da objetivação me- contextualizando-os e significando-os à luz das necessida-
cânica de causas e efeitos, pois nenhum avanço técnico é des humanas e sociais.
determinado a priori e nem tem força para imprimir efeitos Sua especificidade consiste, também, em ser um dos
por si só. São os projetos, conflitos e interpretações con-
elementos fundamentais à formação integral e à educação
vergentes ou divergentes dos sujeitos sociais, dos seres hu-
ao longo da vida do indivíduo, necessário à sua inserção
manos em relações sociais nem sempre harmoniosas, que
crítica e criativa no contexto da atualidade, caracterizada
desempenham um papel decisivo na definição e escolhas
por uma vida social e um cotidiano cada vez mais tecni-
das técnicas e do desenvolvimento da tecnologia.
ficado. Imprescindível ao desenvolvimento da capacidade
A tecnologia, enquanto teorização da prática social,
dos indivíduos de responder à mudança tecnológica contí-
inclui, portanto, dimensões normativas e prescritivas. Ela
nua, é também um ingrediente fundamental à sua inserção
passa pelo crivo econômico-contábil (pelo estudo das via-
produtiva, especialmente no atual contexto de mudanças
bilidades econômicas) e pelo crivo ético (ao levar em conta,
por exemplo, fenômenos como a destruição da natureza e nos parâmetros da produção de bens e serviços e de novos
a depredação da força de trabalho). requerimentos de perfil da força de trabalho pelos novos
Tecnologia, portanto, é conhecimento formalizado sistemas de produção.
orientado para um fim prático e sujeito a normas e critérios A educação tecnológica tem também se tornado uma
estabelecidos socialmente. Ela reflete o comportamento condição individual e social para o desfrute do conforto e
criativo e eficaz do homem; objetiva aquilo que a subjetivi- do bem-estar possibilitados pelas conquistas decorrentes
dade humana produz como criatividade. do desenvolvimento científico. Além disso, ela se coloca
É uma forma de pensar a natureza e a sociedade. É como uma base fundamental ao desenvolvimento da cul-
uma maneira de dizer sobre as formas de compreender e tura tecnológica, da produção tecnológica e da capacidade
de agir. Por ter caráter social, ser um processo socialmente tecnológica de um país. Para que ela cumpra, porém, estes
condicionado e também condicionante só é inteligível com papéis, torna-se fundamental o aprofundamento dos laços
o concurso da história. que a ligam organicamente aos conhecimentos básicos e
Outra tendência reducionista que se verifica é aquela gerais.
que toma o conceito de tecnologia apenas para se referir
às tecnologias físicas (ferramentas, máquinas, equipamen- Recorrer à contextualização sociocultural do pro-
tos, mecanismos e instalações). cesso de ensino-aprendizagem:
Entretanto, as tecnologias físicas pouco poderiam sem A capacidade de contextualizar constitui uma das con-
o concurso das tecnologias simbólicas (modos de percep- dições de êxito no desenvolvimento das capacidades de
ção e de intelecção, que fornecem os modelos teóricos compreender, relacionar, utilizar e praticar alguma media-
para o processo de concepção da realidade natural e social ção teórica ou técnica na implementação de qualquer ati-
e de avaliação das nossas ações). As tecnologias simbólicas vidade humana. Para ter essa capacidade, é preciso, porém,
pertencem ao campo da imaginação inventiva e dizem res- um processo que permita desenvolvê-la, o qual envolve
peito à criação dos signos, dos códigos, dos indicadores, uma base de orientações, que pode se encontrar sistemati-
dos parâmetros, dos bancos de dados e correspondem ao zada, quando resulta de um processo de reflexão e elabo-
domínio das linguagens naturais, ligadas ao cotidiano, e ração, e não sistematizada se ela se refere a um processo
formais empregadas para a formalização dos conceitos. eminentemente prático e espontâneo.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O desenvolvimento local tem sido tomado como uma É importante observar que a materialização destas
estratégia baseada na organização territorial do sistema ideias supõe o emprego de abordagens multidisciplinares
produtivo, a partir da articulação organizada de micro, e integradas de conhecimentos gerais e específicos; a uni-
pequenas e médias unidades econômicas. Tem sido vis- dade dialética entre conhecimento e ação; a contextuali-
to como uma alternativa importante para a promoção e zação e aplicação dos conhecimentos a situações e pro-
emancipação das classes, grupos e segmentos sociais pe- blemas concretos da prática social; repensar a educação
nalizados pelo desenvolvimento capitalista. a partir da perspectiva das necessidades e das demandas
Essa assertiva pressupõe que esta estratégia se pau- sociais; a promoção de processos de ensino-aprendizagem
te por princípios, postulados e objetivos voltados para a participativos, ativos e criativos; a busca da afirmação da
implementação de processos endógenos e sustentáveis de identidade dos sujeitos sociais. Tudo isso representa uma
dinamização econômica; por noções como sustentabilida- grande oportunidade para viabilizar o conceito de escola
de, endogenia, autonomia e cooperação. Implica a capa- aberta e integrada à realidade e oferece temas que cons-
cidade de costurar os elos dos elementos tecnológicos e
tituem desafios, que merecem investimento de tempo e
de mercado aos aspectos sociais, políticos e culturais do
esforço cognitivo; temas relacionados a necessidades reais
desenvolvimento.
e com grande potencial de enriquecimento das propostas
Neste contexto, especial importância é dada aos pro-
jetos de formação e qualificação para o trabalho, de cons- pedagógicas, dentre as quais se destacam as que se voltam
tituição de microempresas, de fomento de cooperativas e para a integração do Ensino Médio e do ensino técnico de
de formas associativas autônomas de trabalhadores. É tam- nível médio.
bém atribuída grande relevância à busca da construção de Esses temas dizem respeito às novas condições concor-
práticas alternativas e de um poder local mais democrático, renciais do capitalismo; às formas de produção, trabalho e
tendo em vista a formação de uma nova cultura institucio- consumo que se fundamentam na sustentabilidade de-
nal, da qual são partes integrantes as redes de cooperação. mocrática do desenvolvimento, na participação da riqueza
Para esta teorização, o local não se define como âmbito social e na superação da desigualdade; à necessidade do
espacial delimitado; é também um universo mais amplo e desvelamento dos determinantes econômicos, políticos,
abstrato. Trata-se de uma categoria que inclui várias ações sociais, culturais e ideológicos da precarização do mundo
e dimensões de poderes orientadas para um ou mais terri- do trabalho e da degradação ambiental. Dizem respeito
tórios, com interfaces e interdependências. a formações sócio-produtivas e suas articulações com os
Entende-se que o desenvolvimento local requer pro- processos ecológicos, os valores culturais, as mudanças
cessos político-pedagógicos estratégicos e convergentes técnicas, o saber tradicional e a organização produtiva.
com seus objetivos e princípios: processos educativos que Entretanto, a realidade da maior parte das instituições
não são simplesmente individuais, mas coletivos; caráter escolares e dos projetos educacionais é de alheamento em
que se expressa no nível da produção material, da produ- relação ao contexto e à problemática do desenvolvimen-
ção cultural e dos conhecimentos, no ensinar e no apren- to local. Predominam concepções e práticas pedagógicas
der. que reproduzem a representação abstrata de indivíduos
Esses processos educativos de novo tipo estariam in- isolados e legitimam as relações destes com a sociedade
seridos numa dinâmica mais ampla e coletiva de apropria- como resultados de necessidades meramente pessoais e
ção crítica da realidade e de sua transformação organiza- orientadas à busca do sucesso individual. Com isto, o de-
da. Parte-se do pressuposto de que tais processos levam à senvolvimento de atitudes solidárias, da preocupação com
necessidade de promoção do confronto de ideias distintas o bem-estar geral, da participação na sociedade civil e da
e contrapostas sobre necessidades e prioridades sociais,
corresponsabilidade se mostra seriamente comprometi-
a partir da análise real de situações concretas e de expe-
do. Para contrapor-se a esta situação, é importante que a
riências vividas, visando chegar a acordos comuns. Eles
requerem programas curriculares adequados, métodos educação escolar não seja vista de forma unilateral, volta-
e técnicas de trabalho que incentivem e que canalizem a da apenas para a satisfação das necessidades espontâneas
participação, a crítica e a criatividade, o desenvolvimento dos indivíduos, mas para um processo que produza aspira-
da disposição para aprender permanentemente e da capa- ções mais elevadas e enriquecedoras, de emancipação do
cidade de trabalhar coletivamente, porquanto se referem a gênero humano.
um processo educativo comprometido e organizado. Tudo Com base nestas referências, é possível apostar na hi-
isto exige disponibilidade e abertura, relações de confiança pótese de que a contextualização em processos sociais de
e novos valores. desenvolvimento local pode se constituir como uma im-
Fala-se também do enorme potencial que estes pro- portante estratégia para a promoção de processos de ensi-
cessos situados em contextos territoriais especiais teriam no-aprendizagem significativos, participativos, ativos, críti-
se passassem a ser conectados com as estratégias sociais e cos e criativos. Pode ser um meio importante para ensinar
nacionais de desenvolvimento científico e tecnológico, de a pensar, analisar problemas, incentivar a observação e a
apropriação e geração de conhecimentos. Chegar-se-ia a discussão de temas relevantes para a formação dos alunos.
articulações mais ricas e democráticas da ciência e da tec- Pode contribuir com a sua formação integral, pois estes são
nologia com a produção social e a distribuição e utilização desafiados a compreender as forças societárias que afetam
de bens e serviços, tornando concretas as promessas de as relações interinstitucionais e interpessoais, o meio am-
projetos de desenvolvimento com características nacionais, biente e o contexto econômico, demográfico, físico-ecoló-
solidárias e populares. gico, tecnológico, político-legal e sociocultural.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Trata-se de um recurso pedagógico importante para o procedimentos técnicos e a sistemas de instruções predefi-
desenvolvimento de capacidades de construção de cená- nidas aos quais cabem professores e alunos se adaptarem.
rios, de compreensão da interação e interferência de siste- Os conteúdos, métodos, processos, meios e técnicas pe-
mas, de leitura de conjunturas. Coloca o aluno em conso- dagógicas estão subordinados às finalidades do processo
nância com seu tempo e o estimula a participar ativamente educativo. Eles não são, portanto, um mero resultado da
dos debates regionais e nacionais, permitindo-lhe decifrar racionalidade do planejamento.
as oportunidades que dispõe de contribuir com a socieda- Uma postura não dogmática e não tecnicista se im-
de. Por outro lado, a escola precisa atuar com suas fron- põe como uma alternativa importante neste sentido. Isso
teiras ampliadas, pois os relacionamentos com o ambiente significa que é preciso despertar, influenciar e canalizar o
externo podem lhe proporcionar diversos benefícios. Sua desenvolvimento das potencialidades que os alunos e pro-
estabilidade está também vinculada à sua inserção, à sua fessores trazem e torná-los os sujeitos da construção do
relação e ao seu envolvimento com a realidade local e re- processo de ensino-aprendizagem e seus principais e mais
gional. severos críticos.
Ao catalisar as demandas da sociedade, abrem-se As alternativas didáticas de integração precisam ser
oportunidades de contato e de realização de projetos que acompanhadas e avaliadas nos seus propósitos e formas
atendam a interesses comuns. A escola, porém, precisa es- de implementação. A priori, nenhuma técnica tem poder
tar capacitada para atender à demanda da sociedade. Ela mágico. Os sujeitos da transformação são as pessoas que
pode oferecer produtos que satisfaçam necessidades so- se encontram envolvidas no processo com suas necessida-
ciais ou serviços que beneficiem coletividades. des, aspirações e expectativas. Este processo, por sua vez,
A contextualização da educação em processos sociais não é simplesmente técnico, é político e educativo, e seu
de desenvolvimento local pode contribuir, assim, para o potencial de educar é tanto maior quanto mais incentivos
equacionamento da contradição que, em geral, se estabe- se fizer à autorreflexão e autocrítica dos sujeitos por ele
lece, nos processos pedagógicos, entre fins proclamados responsáveis.
e meios efetivamente empregados para atingi-los. Neste Currículos integrados são oportunidades riquíssimas
sentido, os desafios pedagógicos da integração dos cur- para explorar as potencialidades multidimensionais da
rículos do Ensino Médio e do ensino técnico convergem educação, para superar a visão utilitarista do ensino, para
na mesma direção dos desafios colocados pelo desenvol- desenvolver as capacidades de pensar, sentir e agir dos
vimento social: viver e trabalhar com dignidade; participar alunos, para realizar o objetivo da educação integral. Para
plenamente do desenvolvimento do país; melhorar a qua- tanto, é preciso que a prática pedagógica e as alternativas
lidade de vida; enriquecer a herança cultural; mobilizar os de ação didática sejam sistematizadas se efetivamente se
recursos locais; proteger o meio ambiente, etc. quer que os horizontes dos conhecimentos dos alunos se-
jam ampliados, que estes compreendam os determinantes
Guardar a postura investigativa na definição das al- sociais, econômicos e políticos das situações de suas vidas
ternativas didáticas de integração: e de trabalho e que discutam as alternativas que se apre-
A proposta anterior foi formulada a partir da hipótese sentam.
de que a realidade imediata é o principal e mais importante Não é sem pesquisa, por exemplo, que se faz o resga-
quadro de referência para a concepção, implementação e te e a incorporação ao processo pedagógico do conheci-
avaliação das alternativas de ação didática, com seu mo- mento empírico e experimental trazido pelo aluno. Não é
mento histórico particular; contexto econômico, político, sem pesquisa que o nível intelectual do conhecimento téc-
ideológico e cultural e situações e problemas que estimu- nico poderá ser valorizado. Nem tão pouco sem pesquisa
lam o pensar e a busca de respostas. Salientou-se que esta se poderá desenvolver os conceitos e a compreensão dos
realidade é produto de práticas sociais e históricas e que princípios científicos e evidenciar como eles embasam as
forma um todo articulado, apresentando-se como funda- técnicas.
mento de grande riqueza para a resolução dos desafios da
organização de currículos integrados. Explorar as práticas que ajudem a construir o traba-
No entanto, não é pela prática espontânea e desorga- lho interdisciplinar:
nizada que se pode chegar ao desenvolvimento de proces- O convite à construção de currículos integrados é tam-
sos pedagógicos que possibilitem aos indivíduos aprender bém uma convocação à interdisciplinaridade, à busca das
a agregar as informações do contexto, reestruturar o con- mediações que possibilitem planejar e desenvolver planos
teúdo dessas informações, reorganizar as suas hierarquias, comuns de trabalho, que harmonizem distintas experiên-
estabelecer novas conexões entre as informações, confron- cias e pontos de vista.
tar essas informações com a prática vivida e a transformar, Neste texto, não se pretende tratar desta questão com
usando os conhecimentos obtidos, a realidade em que vi- a profundidade que ela requer; pretende-se tão somente
vem. sugerir algumas ações didáticas que podem, hipotetica-
É preciso que o processo educacional se transforme mente, contribuir para a construção do trabalho interdis-
num processo investigativo, o qual inclui o planejamento, ciplinar. A interligação das disciplinas pode ser explorada
a colocação em prática de processos pedagógicos orde- por diversos recursos, tais como: desenho da grade cur-
nados, lógicos e coerentes e a avaliação contínua. Qual- ricular contemplando aproximações temporais, fusões de
quer que seja ele, este processo não se resume, porém, a conteúdos, realização de estudos e pesquisas compartilha-
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Professores que se aperfeiçoam para exercer suas funções, Como essa experiência varia entre os alunos, mesmo
atendendo às peculiaridades de todos os alunos, ou pro- sendo membros de uma mesma comunidade, a implanta-
fessores especializados para ensinar aos que não apren- ção dos ciclos de formação é uma solução justa, embora
dem e aos que não sabem ensinar? ainda muito incompreendida pelos professores e pais, por
ser uma novidade e por estar sendo ainda pouco difundida
As ações e aplicada pelas redes de ensino. De fato, se dermos mais
tempo para que os alunos aprendam, eliminando a seria-
Visando os aspectos organizacionais, ao nosso ver é ção, a reprovação, nas passagens de um ano para outro,
preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino nelas estaremos adequando o processo de aprendizagem ao rit-
ministrado. A escola aberta para todos é a grande meta mo e condições de desenvolvimento dos aprendizes - um
e, ao mesmo tempo, o grande problema da educação na dos princípios das escolas de qualidade para todos
virada do século. Por outro lado, a inclusão não implica em que se desen-
Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige traba- volva um ensino individualizado para os alunos que apre-
lho em muitas frentes. Destacaremos as que consideramos sentam déficits intelectuais, problemas de aprendizagem
primordiais, para que se possa transformar a escola, em e outros, relacionados ao desempenho escolar. Na visão
direção de um ensino de qualidade e, em consequência, inclusiva, não se segregam os atendimentos, seja dentro ou
inclusivo. fora das salas de aula e, portanto, nenhum aluno é encami-
Temos de agir urgentemente: nhado às salas de reforço ou aprende, a partir de currículos
adaptados. O professor não predetermina a extensão e a
- Colocando a aprendizagem como o eixo das escolas, profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos
porque escola foi feita para fazer com que todos os alunos alunos, nem facilita as atividades para alguns, porque, de
aprendam; antemão já prevê q dificuldade que possam encontrar para
- Garantindo tempo para que todos possam aprender realizá-las. Porque é o aluno que se adapta ao novo co-
e reprovando a repetência; nhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de
- Abrindo espaço para que a cooperação, o diálogo, construção intelectual.
a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam A avaliação constitui um outro entrave à implementa-
exercitados nas escolas, por professores, administradores, ção da inclusão. É urgente suprimir o caráter classificatório
funcionários e alunos, pois são habilidades mínimas para o da avaliação escolar, através de notas, provas, pela visão
exercício da verdadeira cidadania; diagnóstica desse processo que deverá ser contínuo e qua-
- Estimulando, formando continuamente e valorizando litativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada vez mais
o professor que é o responsável pela tarefa fundamental da adequado e eficiente à aprendizagem de todos os alunos.
escola - a aprendizagem dos alunos; Essa medida já diminuiria substancialmente o número de
- Elaborando planos de cargos e aumentando salários, alunos que são indevidamente avaliados e categorizados
realizando concursos públicos de ingresso, acesso e remo- como deficientes, nas escolas regulares.
ção de professores. A aprendizagem como o centro das atividades esco-
lares e o sucesso dos alunos, como a meta da escola, in-
Que ações implementar para que a escola mude? dependentemente do nível de desempenho a que cada
um seja capaz de chegar são condições de base para que
Para melhorar as condições pelas quais o ensino é mi- se caminha na direção de escolas acolhedoras. O sentido
nistrado nas escolas, visando, universalizar o acesso, ou desse acolhimento não é o da aceitação passiva das pos-
seja, a inclusão de todos, incondicionalmente, nas turmas sibilidades de cada um, mas o de serem receptivas a todas
escolares e democratizar a educação, sugerimos o que, fe- as crianças, pois as escolas existem, para formar as novas
lizmente, já está ocorrendo em muitas redes de ensino, ver- gerações, e não apenas alguns de seus futuros membros,
dadeiras vitrines que expõem o sucesso da inclusão. os mais privilegiados.
A primeira sugestão para que se caminhe para uma A inclusão não prevê a utilização de métodos e téc-
educação de qualidade é estimular as escolas para que nicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiên-
elaborem com autonomia e de forma participativa o seu cia. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem
Projeto Político Pedagógico, diagnosticando a demanda, chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor
ou seja, verificando quantos são os alunos, onde estão e considera o nível de possibilidades de desenvolvimento de
porque alguns estão fora da escola. cada um e explora essas possibilidades, por meio de ati-
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que es- vidades abertas, nas quais cada aluno se enquadra por si
tão à margem dela, não será possível elaborar um currículo mesmo, na medida de seus interesses e necessidades, seja
escolar que reflita o meio social e cultural em que se insere. para construir uma ideia, ou resolver um problema, realizar
A integração entre as áreas do conhecimento e a concep- uma tarefa. Eis aí um grande desafio a ser enfrentado pelas
ção transversal das novas propostas de organização curri- escolas regulares tradicionais, cujo paradigma é condutista,
cular consideram as disciplinas acadêmicas como meios e e baseado na transmissão dos conhecimentos.
não fins em si mesmas e partem do respeito à realidade do O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e na esco-
aluno, de suas experiências de vida cotidiana, para chegar la como um todo é compatível com a vocação da escola de
à sistematização do saber. formar as gerações. É nos bancos escolares que aprendemos
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a viver entre os nossos pares, a dividir as responsabilidades, incompleta, fragmentada e essencialmente instrucional.
repartir as tarefas. O exercício dessas ações desenvolve a Eles esperam aprender uma prática inclusiva, ou melhor,
cooperação, o sentido de se trabalhar e produzir em grupo, uma formação que lhes permita aplicar esquemas de tra-
o reconhecimento da diversidade dos talentos humanos e balho pré-definidos às suas salas de aulas, garantindo-lhes
a valorização do trabalho de cada pessoa para a consecu- a solução dos problemas que presumem encontrar nas es-
ção de metas comuns de um mesmo grupo. colas inclusivas.
O tutoramento nas salas de aula tem sido uma solução Em uma palavra, os professores acreditam que a for-
natural, que pode ajudar muito os alunos, desenvolvendo mação em serviço lhes assegurará o preparo de que ne-
neles o hábito de compartilhar o saber. O apoio ao colega cessitam para se especializarem em todos os alunos, mas
com dificuldade é uma atitude extremamente útil e huma- concebem essa formação como sendo mais um curso de
na e que tem sido muito pouco desenvolvida nas escolas, extensão, de especialização com uma terminalidade e com
sempre tão competitivas e despreocupadas com a constru- um certificado que lhes convalida a capacidade de efetivar
ção de valores e de atitudes morais. a inclusão escolar. Eles introjetaram o papel de praticantes
Além dessas sugestões, referentes ao ensino nas esco- e esperam que os formadores lhes ensinem o que é pre-
las, a educação de qualidade para todos e a inclusão im- ciso fazer, para trabalhar com níveis diferentes de desem-
plicam em mudanças de outras condições relativas à admi- penho escolar, transmitindo-lhes os novos conhecimentos,
nistração e aos papéis desempenhados pelos membros da conduzindo-lhes da mesma maneira como geralmente tra-
organização escolar. balham com seus próprios alunos. Acreditam que os co-
Nesse sentido é primordial que sejam revistos os pa- nhecimentos que lhes faltam para ensinar as crianças com
péis desempenhados pelos diretores e coordenadores, no deficiência ou dificuldade de aprender por outras incon-
sentido de que ultrapassem o teor controlador, fiscaliza- táveis causas referem-se primordialmente à conceituação,
dor e burocrático de suas funções pelo trabalho de apoio, etiologia, prognósticos das deficiências e que precisam co-
orientação do professor e de toda a comunidade escolar. nhecer e saber aplicar métodos e técnicas específicas para
A descentralização da gestão administrativa, por sua a aprendizagem escolar desses alunos. Os dirigentes das
vez, promove uma maior autonomia pedagógica, adminis-
redes de ensino e das escolas particulares também preten-
trativa e financeira de recursos materiais e humanos das es-
dem o mesmo, num primeiro momento, em que solicitam
colas, por meio dos conselhos, colegiados, assembleias de
a nossa colaboração.
pais e de alunos. Mudam-se os rumos da administração es-
Se de um lado é preciso continuar investindo maciça-
colar e com isso o aspecto pedagógico das funções do di-
mente na direção da formação de profissionais qualifica-
retor e dos coordenadores e supervisores emerge. Deixam
dos, não se pode descuidar da realização dessa formação e
de existir os motivos pelos quais que esses profissionais
estar atento ao modo pelo qual os professores aprendem
ficam confinados aos gabinetes, às questões burocráticas,
para se profissionalizar e para aperfeiçoar seus conheci-
sem tempo para conhecer e participar do que acontece nas
salas de aula. mentos pedagógicos, assim como reagem às novidades,
aos novos possíveis educacionais.
Visando à formação continuada dos professores
A metodologia
Sabemos que, no geral, os professores são bastante
resistentes às inovações educacionais, como a inclusão. A Diante dessas circunstâncias e para que possamos
tendência é se refugiarem no impossível, considerando que atingir nossos propósitos de formar professores para uma
a proposta de uma educação para todos é válida, porém escola de qualidade para todos, idealizamos um projeto de
utópica, impossível de ser concretizada com muitos alunos formação que tem sido adotado por redes de ensino públi-
e nas circunstâncias em que se trabalha, hoje, nas escolas, cas e escolas particulares brasileiras, desde 1991.
principalmente nas redes públicas de ensino. Nossa proposta de formação se baseia em princípios
A maioria dos professores têm uma visão funcional do educacionais construtivistas, pois reconhecemos que a
ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de tra- cooperação, a autonomia intelectual e social, a aprendiza-
balho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de gem ativa e a cooperação são condições que propiciam o
aula é rejeitado. Também reconhecemos que as inovações desenvolvimento global de todos os alunos, assim como
educacionais abalam a identidade profissional, e o lugar a capacitação e o aprimoramento profissional dos profes-
conquistado pelos professores em uma dada estrutura ou sores.
sistema de ensino, atentando contra a experiência, os co- Nesse contexto, o professor é uma referência para o
nhecimentos e o esforço que fizeram para adquiri-los. aluno e não apenas um mero instrutor, pois enfatizamos a
Os professores, como qualquer ser humano, tendem a importância de seu papel tanto na construção do conheci-
adaptar uma situação nova às anteriores. E o que é habi- mento, como na formação de atitudes e valores do futuro
tual, no caso dos cursos de formação inicial e na educação cidadão. Assim sendo, a formação continuada vai além dos
continuada, é a separação entre teoria e prática. Essa visão aspectos instrumentais de ensino.
dicotômica do ensino dificulta a nossa atuação, como for- A metodologia que adotamos reconhece que o profes-
madores. Os professores reagem inicialmente à nossa me- sor, assim como o seu aluno, não aprende no vazio. Assim
todologia, porque estão habituados a aprender de maneira sendo, partimos do “saber fazer” desses profissionais, que
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
essa modalidade de trabalho provoca nos interessados. Por presencial e virtual entre as escolas, como mais uma alter-
outro lado, essas parcerias ensejam o desenvolvimento de nativa de formação continuada, que envolve os alunos, as
outras ações, entre as quais a investigação educacional e escolas e a rede como um todo. O Caleidoscópio tem sido
em outros ramos do conhecimento. São nessas redes e a objeto de estudos de nossos alunos e de outras unidades
partir dessa formação que estamos pesquisando e orien- da Unicamp, relacionadas à ciência da computação e está
tando trabalhos de nossos alunos de graduação e pós- crescendo como proposta e abrindo canais de participação
-graduação da Faculdade de Educação / Unicamp e onde com a comunidade e com outras instituições que se pro-
estamos observando os efeitos desse trabalho, nas redes. põe a participar do movimento inclusivo, dentro e fora das
Não dispensamos os cursos, oficinas e outros eventos escolas.
de atualização e de aperfeiçoamento, quando estes são rei- Se pretendemos mudanças nas práticas de sala de
vindicados pelo professor e nesse sentido a parceria com aula, não podemos continuar formando e aperfeiçoando
outros grupos de pesquisa da Unicamp e colegas de outras os professores como se as inovações só se referissem à
Universidades têm sido muito eficiente. Mas há cursos que aprendizagem dos alunos da educação infantil, da escola
oferecemos aos professores, que são ministrados por seus fundamental e do ensino médio...
colegas da própria rede, quando estes se dispõem a ofere-
cê-los ou são convidados por nós, ao conhecermos o valor As perspectivas
de sua contribuição para os demais.
As escolas e professores com os quais estamos traba- A escola para a maioria das crianças brasileiras é o úni-
lhando já apresentam sintomas pelos quais podemos per- co espaço de acesso aos conhecimentos universais e sis-
ceber que estão evoluindo dia -a- dia para uma Educação tematizados, ou seja, é o lugar que vai lhes proporcionar
de qualidade para Todos. Esses sintomas podem ser resu- condições de se desenvolver e de se tornar um cidadão,
midos no que segue: alguém com identidade social e cultural
- reconhecimento E valorização da diversidade, como Melhorar as condições da escola é formar gerações
elemento enriquecedor do processo de ensino e aprendi- mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livre-
zagem;
mente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos nos
- Professores conscientes do modo como atuam, para
contradizer nem mesmo contemporizar soluções, mesmo
promover a aprendizagem de todos os alunos;
que o preço que tenhamos de pagar seja bem alto, pois
- Cooperação entre os implicados no processo educa-
nunca será tão alto quanto o resgate de uma vida esco-
tivo - dentro e fora da escola;
lar marginalizada, uma evasão, uma criança estigmatizada,
- Valorização do processo sobre o produto da apren-
sem motivos.
dizagem;
A escola prepara o futuro e de certo que se as crian-
- Enfoques curriculares, metodológicos e estratégias
ças conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade nas
pedagógicas que possibilita, a construção coletiva do co-
nhecimento. suas salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós,
É preciso, contudo, considerar que a avaliação dos efei- que temos de nos empenhar tanto para defender o inde-
tos de nossos projetos não se centra no aproveitamento de fensável.
alguns alunos, os deficientes, nas classes regulares. Embo- A inclusão escolar remete a escola a questões de estru-
ra estes casos sejam objeto de nossa atenção, queremos tura e de funcionamento que subvertem seus paradigmas
acima de tudo saber se os professores evoluíram na sua e que implicam em um redimensionamento de seu papel,
maneira de fazer acontecer a aprendizagem nas suas salas para um mundo que evolui a “bytes”.
de aula; se as escolas se transformaram, se as crianças es- O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja
tão sendo respeitadas nas suas possibilidades de avançar, ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e
autonomamente, na construção dos conhecimentos aca- qualquer mudança, especialmente no meio educacional, é
dêmicos; se estes estão sendo construídos no coletivo es- irreversível e convence a todos pela sua lógica, pela ética
colar, em clima de solidariedade; se a as relações entre as de seu posicionamento social.
crianças, pais, professores e toda a comunidade escolar se A inclusão está denunciando o abismo existente entre
estreitaram, nos laços da cooperação, do diálogo, fruto de o velho e o novo na instituição escolar brasileira. A inclu-
um exercício diário de compartilhamento de seus deveres, são é reveladora dessa distância que precisa ser preenchida
problemas, sucessos. com as ações que relacionamos anteriormente.
Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, ao nos-
Outras alternativas de formação so ver, dependendo de uma expansão rápida dos projetos
verdadeiramente imbuídos do compromisso de transfor-
Para ampliar essas parcerias estamos utilizando tam- mar a escola, para se adequar aos novos tempos.
bém as redes de comunicação à distância para intercâm- Se hoje ainda são experiências locais, as que estão de-
bios de experiências entre alunos e profissionais da edu- monstrando a viabilidade da inclusão, em escolas e redes
cação, pais e comunidade. Embora ainda incipiente, o de ensino brasileiras, estas experiências têm a força do
Caleidoscópio - Um Projeto de Educação Para Todos é o óbvio e a clareza da simplicidade e só essas virtudes são
nosso site na Internet e por meio deste hipertexto esta- suficientes para se antever o crescimento desse novo para-
mos trabalhando no sentido de provocar a interatividade digma no sistema educacional.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Não se muda a escola com um passe de mágica. A im- Nessa perspectiva, os desafios que temos a enfrentar
plementação da escola de qualidade, que é igualitária, jus- são inúmeros e todas e quaisquer investidas no sentido de
ta e acolhedora para todos, é um sonho possível. se ministrar um ensino especializado no aluno depende de
A aparente fragilidade das pequenas iniciativas, ou se ultrapassar as condições atuais de estruturação do en-
seja, essas experiências locais que têm sido suficientes para sino escolar para deficientes. Em outras palavras, depende
enfrentar o poder da máquina educacional, velha e enfer- da fusão do ensino regular com o especial.
rujada, com segurança e tranquilidade. Essas iniciativas têm Ora, fusão não é junção, justaposição, agregação de
mostrado a viabilidade da inclusão escolar nas escolas bra- uma modalidade à outra. Fundir significa incorporar ele-
sileiras. mentos distintos para se criar uma nova estrutura, na qual
As perspectivas do ensino inclusivo são, pois, anima- desaparecem os elementos iniciais, tal qual eles são origi-
doras e alentadoras para a nossa educação. A escola é do nariamente. Assim sendo, instalar uma classe especial em
povo, de todas as crianças, de suas famílias, das comunida- uma escola regular nada mais é do que uma justaposição
des, em que se inserem. de recursos, assim como o são outros, que se dispõem do
Crianças, bem-vindas à uma nova escola! mesmo modo.
Outros obstáculos à consecução de um ensino espe-
INTEGRAÇÃO X INCLUSÃO: ESCOLA (DE QUALIDA- cializado no aluno, implicam a adequação de novos conhe-
DE) PARA TODOS cimentos oriundos das investigações atuais em educação
e de outras ciências às salas de aula, às intervenções ti-
Sabemos que a situação atual do atendimento às ne- picamente escolares, que têm uma vocação institucional
cessidades escolares da criança brasileira é responsável específica de sistematizar os conhecimentos acadêmicos,
pelos índices assustadores de repetência e evasão no en- as disciplinas curriculares. De fato, nem sempre os estudos
sino fundamental. Entretanto, no imaginário social, como e as comprovações científicas são diretamente aplicáveis à
na cultura escolar, a incompetência de certos alunos - os realidade escolar e as implicações pedagógicas que pode-
pobres e os deficientes - para enfrentar as exigências da mos retirar de um novo conhecimento também precisam
escolaridade regular é uma crença que aparece na simpli- de ser testadas, para confirmar sua eficácia no domínio do
cidade das afirmações do senso comum e até mesmo em ensino escolar.
certos argumentos e interpretações teóricas sobre o tema. O paradigma vigente de atendimento especializado e
Por outro lado, já se conhece o efeito solicitador do segregativo é extremamente forte e enraizado no ideário
meio escolar regular no desenvolvimento de pessoas com das instituições e na prática dos profissionais que atuam
deficiências (Mantoan:1988) e é mesmo um lugar comum no ensino especial. A indiferenciação entre os significados
afirmar-se que é preciso respeitar os educandos em sua específicos dos processos de integração e inclusão escolar
individualidade, para não se condenar uma parte deles ao reforça ainda mais a vigência do paradigma tradicional de
fracasso e às categorias especiais de ensino. Ainda assim, serviços e muitos continuam a mantê-lo, embora estejam
é ousado para muitos, ou melhor, para a maioria das pes- defendendo a integração!
soas, a ideia de que nós, os humanos, somos seres únicos, Ocorre que os dois vocábulos - integração e inclusão
singulares e que é injusto e inadequado sermos categori- - conquanto tenham significados semelhantes, estão sen-
zados, a qualquer pretexto! do empregados para expressar situações de inserção dife-
Todavia, apesar desses e de outros contrassensos, rentes e têm por detrás posicionamentos divergentes para
sabemos que é normal a presença de déficits em nossos a consecução de suas metas. A noção de integração tem
comportamentos e em áreas de nossa atuação, pessoal ou sido compreendida de diversas maneiras, quando aplicada
grupal, assim como em um ou outro aspecto de nosso de- à escola. Os diversos significados que lhe são atribuídos
senvolvimento físico, social, cultural, por sermos seres per- devem-se ao uso do termo para expressar fins diferentes,
fectíveis, que constroem, pouco a pouco e, na medida do sejam eles pedagógicos, sociais, filosóficos e outros. O
possível, suas condições de adaptação ao meio. A diversi- emprego do vocábulo é encontrado até mesmo para de-
dade no meio social e, especialmente no ambiente escolar, signar alunos agrupados em escolas especiais para defi-
é fator determinante do enriquecimento das trocas, dos cientes, ou mesmo em classes especiais, grupos de lazer,
intercâmbios intelectuais, sociais e culturais que possam residências para deficientes. Por tratar-se de um construc-
ocorrer entre os sujeitos que neles interagem. to histórico recente, que data dos anos 60, a integração
Acreditamos que o aprimoramento da qualidade do sofreu a influência dos movimentos que caracterizaram e
ensino regular e a adição de princípios educacionais váli- reconsideraram outras ideias, como as de escola, socieda-
dos para todos os alunos, resultarão naturalmente na inclu- de, educação. O número crescente de estudos referentes
são escolar dos deficientes. Em consequência, a educação à integração escolar e o emprego generalizado do termo
especial adquirirá uma nova significação. Tornar-se-á uma têm levado a muita confusão a respeito das ideias que cada
modalidade de ensino destinada não apenas a um grupo caso encerra.
exclusivo de alunos, o dos deficientes, mas especializada Os movimentos em favor da integração de crianças
no aluno e dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de com deficiência surgiram nos países nórdicos, quando se
novas maneiras de se ensinar, adequadas à heterogeneida- questionaram as práticas sociais e escolares de segregação,
de dos aprendizes e compatível com os ideais democráti- assim como as atitudes sociais em relação às pessoas com
cos de uma educação para todos. deficiência intelectual.
225
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A noção de base em matéria de integração é o prin- do ensino regular, desde o começo. As escolas inclusivas
cípio de normalização, que não sendo específico da vida propõem um modo de se constituir o sistema educacional
escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades que considera as necessidades de todos os alunos e que
humanas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas é estruturado em função dessas necessidades. A inclusão
afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou ina- causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não
daptação. A normalização visa tornar accessível às pessoas se limita a ajudar somente os alunos que apresentam difi-
socialmente desvalorizadas condições e modelos de vida culdades na escola, mas apoia a todos: professores, alunos,
análogos aos que são disponíveis de um modo geral ao pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na cor-
conjunto de pessoas de um dado meio ou sociedade; im- rente educativa geral. O impacto desta concepção é consi-
plica a adoção de um novo paradigma de entendimento derável, porque ela supõe a abolição completa dos serviços
das relações entre as pessoas fazendo-se acompanhar de segregados. A metáfora da inclusão é a do caleidoscópio.
medidas que objetivam a eliminação de toda e qualquer Esta imagem foi muito bem descrita no que segue: “O ca-
forma de rotulação. leidoscópio precisa de todos os pedaços que o compõem.
Quando se retira pedaços dele, o desenho se torna menos
Modalidades de inserção complexo, menos rico. As crianças se desenvolvem, apren-
dem e evoluem melhor em um ambiente rico e variado”.
Uma das opções de integração escolar denomina-se A inclusão propiciou a criação de inúmeras outras ma-
mainstreaming, ou seja, “corrente principal” e seu sentido neiras de se realizar a educação de alunos com deficiência
é análogo a um canal educativo geral, que em seu fluxo vai mental nos sistemas de ensino regular, como as “escolas
carregando todo tipo de aluno com ou sem capacidade heterogêneas”, as “escolas acolhedoras”, os “currículos
ou necessidade específica. O aluno com deficiência men- centrados na comunidade”.
tal ou com dificuldades de aprendizagem, pelo conceito Resumindo, a integração escolar, cuja metáfora é o sis-
referido, deve ter acesso à educação, sua formação sendo tema de cascata, é uma forma condicional de inserção em
adaptada às suas necessidades específicas. Existe um leque que vai depender do aluno, ou seja, do nível de sua capa-
de possibilidades e de serviços disponíveis aos alunos, que cidade de adaptação às opções do sistema escolar, a sua
vai da inserção nas classes regulares ao ensino em escolas integração, seja em uma sala regular, uma classe especial,
especiais. Este processo de integração se traduz por uma ou mesmo em instituições especializadas. Trata-se de uma
estrutura intitulada sistema de cascata, que deve favorecer alternativa em que tudo se mantém, nada se questiona do
o “ambiente o menos restritivo possível”, dando oportuni- esquema em vigor. Já a inclusão institui a inserção de uma
dade ao aluno, em todas as etapas da integração, transitar forma mais radical, completa e sistemática, uma vez que o
no “sistema”, da classe regular ao ensino especial. Trata-se objetivo é incluir um aluno ou grupo de alunos que não fo-
de uma concepção de integração parcial, porque a cascata ram anteriormente excluídos. A meta da inclusão é, desde
prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos o início não deixar ninguém fora do sistema escolar, que
objetivos da normalização. terá de se adaptar às particularidades de todos os alunos
De fato, os alunos que se encontram em serviços se- para concretizar a sua metáfora - o caleidoscópio.
gregados muito raramente se deslocam para os menos se-
gregados e, raramente, às classes regulares. A crítica mais Referências:
forte ao sistema de cascata e às políticas de integração do MANTOAN: M T. E. Todas as crianças são bem-vindas à
tipo mainstreaming afirma que a escola oculta seu fracasso, escola. Universidade Estadual de Campinas/ Unicamp.
isolando os alunos e só integrando os que não constituem MANTOAN: M T. E. Integração x Inclusão: Escola (de
um desafio à sua competência. Nas situações de mains- qualidade) para Todos. Universidade Estadual de Campinas
treaming nem todos os alunos cabem e os elegíveis para a - Faculdade de Educação. Departamento de Metodologia
integração são os que foram avaliados por instrumentos e de Ensino.
profissionais supostamente objetivos. O sistema se baseia
na individualização dos programas instrucionais, os quais
devem se adaptar às necessidades de cada um dos alunos, 6.3 EDUCAÇÃO, TRABALHO, FORMAÇÃO PROFIS-
com deficiência ou não. SIONAL E AS TRANSFORMAÇÕES DO ENSINO MÉDIO.
A outra opção de inserção é a inclusão, que questio-
na não somente as políticas e a organização da educação Conteúdo abordado nos textos acima!
especial e regular, mas também o conceito de integração
- mainstreaming. A noção de inclusão não é incompatível 6.4 PROTAGONISMO JUVENIL E CIDADANIA.
com a de integração, porém institui a inserção de uma for-
ma mais radical, completa e sistemática. O conceito se refe- Protagonismo e cidadania
re à vida social e educativa e todos os alunos devem ser in-
cluídos nas escolas regulares e não somente colocados na Etimologicamente, a palavra “protagonismo” deriva da
“corrente principal”. O vocábulo integração é abandonado, expressão grega prõtagõnistës, e do termo francês prota-
uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou um grupo de goniste. Em suas raízes gregas é composta por proto que
alunos que já foram anteriormente excluídos; a meta pri- significa “o principal, o primeiro”; agon, que significa “luta”,
mordial da inclusão é a de não deixar ninguém no exterior por sua vez, agonistes significa “lutador”, “competidor”.
226
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nesse sentido, encontra-se ainda o termo semelhante agõ- Ora, tal formação exige um método de ensino no qual
nídzmai, que significa “concorrer ou lutar numa assembleia o aluno tenha condições efetivas de comunicação, argu-
de jogos públicos, numa reunião, batalha, luta judiciária.” mentação, resolução de problemas, participação social e
No teatro grego, protagonista era aquele que desempe- cidadã, de modo a saber propor e fazer escolhas, tomar
nhava o papel de “personagem principal”, “ator principal” gosto pelo conhecimento, ‘aprender a aprender’. Mas não
num espetáculo trágico ou cômico. Já numa perspectiva seriam esses alguns dos preceitos do “protagonismo juve-
sociológica, a expressão “protagonismo” vem sendo utili- nil”?
zada em referência ao “ator social” de uma “ação” voltada Na resolução que institui as Diretrizes Curriculares e
para mudanças sociais. Mas na esfera do ensino, o que Nacionais para o Ensino Médio no Brasil-DCNEM há um
implica ser um protagonista? registro da palavra “protagonismo”, não explicitamente
Delors em relatório internacional sobre a educação para o juvenil, mas o protagonismo de professores e alunos.
o século XXI destaca que a escola básica passou a desem- Tal resolução consiste num conjunto de princípios e pro-
penhar um papel fundamental na preparação de cidadãos cedimentos a serem observados na prática pedagógica e
para uma participação ativa, uma vez que os princípios de- curricular das escolas, no sentido de consolidar a prepa-
mocráticos expandiram-se por todo o mundo. Assim, para ração para “o exercício da cidadania” e para o mundo do
ele, a experimentação de práticas escolares pelos alunos, trabalho. O termo “protagonismo” pode ser encontrado
como jornais da escola, criação de parlamentos dos alu- neste documento em referência ao “princípio político da
nos, elaboração de regulamentos da comunidade escolar, igualdade” como um dos princípios que devem nortear as
simulação do funcionamento de instituições democráticas, práticas pedagógicas do ensino médio brasileiro; os outros
exercício de resoluções não-violentas de conflitos, tendem princípios seriam os “estéticos”, “éticos”, o “da identidade”,
a reforçar a aprendizagem da democracia. No entanto, “da diversidade” e “autonomia”, “interdisciplinaridade” e
“sendo a educação para a cidadania e democracia, por ex- “contextualização”. Especificamente sobre a observância
celência, uma educação que não se limita ao espaço e tem- de uma política da igualdade nos estabelecimentos de en-
po da educação formal, é preciso implicar diretamente nela sino, o documento aponta como ponto de partida:
as famílias e outros membros da comunidade.” Na defesa O reconhecimento dos direitos humanos e dos deve-
de uma educação cívica que contemple, simultaneamen- res de cidadania, visando a constituição de identidades
te, a adesão a valores, a aquisição de conhecimentos e a que busquem e pratiquem a igualdade no acesso aos bens
aprendizagem de práticas de participação na vida pública, sociais e culturais, o respeito ao bem comum, o protago-
Delors recomenda que a educação, desde a infância e ao nismo e a responsabilidade no âmbito público e privado,
longo de toda a vida, desenvolva no aluno a capacidade o combate a todas as formas discriminatórias e o respeito
crítica que lhe permita ter um pensamento livre e uma ação aos princípios do Estado de Direito na forma do sistema
autônoma. Trata-se, portanto, da exigência de um ensino federativo e do regime democrático e republicano.
que seja um processo de construção da capacidade de dis- A propósito, o documento destaca a “Ética da iden-
cernimento, capaz de propiciar ao aluno a conciliação entre tidade” como um princípio norteador na superação de
o exercício dos direitos individuais, fundados na liberdade dicotomias entre as esferas pública e privada, de modo a
pública, e a prática dos deveres e da responsabilidade em constituir identidades que sejam capazes de reconhecer,
relação aos outros e às comunidades a que pertencem. respeitar e acolher o outro, incorporando valores como
No contexto brasileiro, a reformulação do ensino mé- solidariedade, responsabilidade e reciprocidade como nor-
dio instituída pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação teadores de suas ações na vida profissional, social, civil e
Nacional (LDBEN), de 1996, e posteriormente regulamen- pessoal. (Resolução CEB/CNE, 1998). Uma segunda refe-
tada pelas Diretrizes do Conselho Nacional de Educação rência ao “protagonismo” presente nestas diretrizes remete
e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, ao deixar de à necessidade da constituição de “competências” e “habili-
ter como foco a educação para o ensino superior ou pro- dades” no âmbito das ciências humanas e suas tecnologias.
fissionalizante, acentua, especificamente, a necessidade e Para Ferretti, Zibas e Tarturce o conceito de “protago-
responsabilidade de complementação da educação bási- nismo dos alunos” tal como proposto pelas Diretrizes Cur-
ca. Isto significa “preparar para a vida”, “qualificar para a riculares Nacionais, ao enfocar a necessidade do desenvol-
cidadania” e “capacitar para o aprendizado permanente”, vimento de certas “competências” e “habilidades” entre os
seja em relação ao prosseguimento dos estudos, seja em alunos, não está dissociado de questões mais amplas como
relação ao mundo do trabalho. as próprias transformações sociais e culturais das socieda-
des contemporâneas, denominadas pós-modernas. Tais
Mais do que reproduzir dados, denominar classifica- transformações configuram-se, sobretudo, por profundas
ções ou identificar símbolos, está formando para a vida, mudanças no campo do trabalho estruturado sob o capital,
num mundo como o atual, de tão rápidas transformações bem como por avanços significativos nos campos científi-
e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, co e tecnológico. Essas transformações, em maior ou me-
se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar nor grau, manifestam-se no cotidiano dos alunos através
problemas de qualquer natureza, participar socialmente, do desemprego, ou ainda, através da exigência de novas
de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas formas de socialibidade engendradas pela informática. Os
ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de autores interpretam o “protagonismo juvenil”, como uma
permanente aprendizado. via promissora de construção de subjetividades, pautadas
227
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
em valores e atitudes cidadãs, em face de contextos sociais No que se refere a proposição de uma “cidadania de
adversos, caracterizados por rápidas mudanças, incertezas qualidade nova”, os Parâmetros Curriculares Nacionais ao
e instabilidades daí decorrentes. apresentarem definições de “conceitos estruturadores”
Esse conjunto de circunstâncias indicaria, segundo no ensino de disciplinas das Ciências Humanas, dentre as
diversos autores, uma urgente necessidade social de pro- quais, a Sociologia, destaca a “cidadania”, o “trabalho” e a
mover, de maneira sistemática, a formação de valores e “cultura” como aqueles fundamentais para o ensino desta
atitudes cidadãs que permitam a esses sujeitos conviver disciplina na atualidade.
de forma autônoma com o mundo contemporâneo. Essa Assim, a elaboração de tais conceitos, particularmente
formação para a chamada “moderna cidadania”, além de o de “cidadania”, suscita pesquisar sobre as relações indi-
atender uma exigência social, viria a responder às angús- víduo e sociedade; as instituições sociais e o processo de
tias de alunos diante da efemeridade, dos desafios e das socialização; a definição de sistemas sociais; a participação
exigências das sociedades pós-modernas e, também, pe- política de indivíduos e grupos; os sistemas de poder e os
rante as novas configurações do trabalho. O protagonismo regimes políticos; as formas de Estado; a democracia; os
é encarado, nesse sentido, como via promissora para dar direitos dos cidadãos; os movimentos sociais, etc. Com
conta tanto de uma urgência social quanto das angústias efeito, tais questões são compatíveis com a discussão do
pessoais dos alunos. protagonismo, especificamente, quando se reflete sobre
este conceito a partir da ação de atores sociais.
Nessa direção, os Parâmetros Curriculares Nacionais Importante destacar que, em 2006, foram elaboradas
para o Ensino Médio é um outro documento cujo conteúdo as Orientações Curriculares Nacionais (OCN’s) de modo a
permite aproximações com o tema do protagonismo. Aqui, esclarecer alguns pontos dos Parâmetros Curriculares Na-
a referência é ao protagonismo do aluno, que é o público cionais, como, por exemplo, o desenvolvimento de alter-
jovem, e do professor em sua atividade. O papel do aluno nativas didático-pedagógicos no trabalho escolar. Embora
como protagonista, deve ser o de “constituir” ou “recons- este documento consista num conjunto de reflexões vol-
truir” o conhecimento por meio da atividade, e não o de ser tadas para orientação de práticas docentes, também aqui
é ressaltado o desafio da aprendizagem autônoma e con-
um mero assimilador de conteúdos. Assim, os Parâmetros
tínua ao longo da vida de modo a preparar o jovem para
propõem uma organização curricular na qual seja possível
participação nas sociedades contemporâneas.
“estimular todos os procedimentos e atividades que per-
Do ponto de vista pedagógico, a proposta do “prota-
mitam ao aluno reconstruir ou ‘reinventar’ o conhecimento
gonismo juvenil”, como método de trabalho em espaços
didaticamente transposto para sala de aula, entre eles a
de educação formal e não-formal, está fundamentada na
experimentação, a execução de projetos, o protagonismo
chamada pedagogia ativa, cujo foco é a “criação de espa-
em situações sociais”, bem como “tratar os conteúdos de
ços e condições que propiciem ao adolescente empreender
ensino de modo contextualizado” (…) no sentido de esti-
ele próprio a construção de seu ser em termos pessoais e
mular o aluno a ter autonomia intelectual. sociais”. Aqui o professor, mais do que alguém que repas-
sa conteúdos, assume um papel de mediador, “situando o
Tais parâmetros, ao enfatizar a atividade do aluno no aluno no centro do processo educativo, deslocando o eixo
processo de aprendizagem, supõem que a escola contri- desse processo para a aprendizagem, de modo a minimi-
bua na constituição de uma “cidadania de qualidade nova”, zar, assim, a dimensão do ensino.”
“cujo exercício reúna conhecimentos e informações a um
protagonismo responsável, para exercer direitos que vão Na análise do conceito de “protagonismo juvenil”, e
muito além da representação política tradicional (...)”. Nes- com base nos discursos de organismos internacionais, or-
te sentido, é válido ressaltar, como exemplo ilustrativo, ganizações governamentais e não -governamentais, cons-
experiências de estudantes do ensino médio em espaços tato que esta é uma expressão carregada de significado
como o “Parlamento Juvenil do Mercosul.” político, sociológico e pedagógico. Como um conceito
Em face de uma pedagogia focalizada na atividade do orientador de práticas sociais com adolescentes e jovens,
aluno, qual seria, então, o papel do professor? Conforme seja em espaços de educação não-formal (ONG’s, igrejas,
os referidos parâmetros curriculares a “proposta pedagó- movimentos populares, conselhos), ou em espaços de edu-
gica [da escola] não existe sem um forte protagonismo do cação formal, como a escola e a universidade, o “protago-
professor e sem que este dela se aproprie.”. Desta forma: nismo juvenil” admite interpretações heterogêneas, agre-
O exercício pleno da autonomia se manifesta na for- gando a palavra “protagonismo” ideias como “participa-
mulação de uma proposta pedagógica própria, direito de ção”, “cidadania”, “autonomia”, “responsabilidades”, “ação
toda instituição escolar. Essa vinculação deve ser perma- individual e/ou coletiva”, “empoderamento”, “resiliência”,
nentemente reforçada, buscando evitar que as instâncias além de outras. Palavras não necessariamente sinônimas,
centrais do sistema educacional burocratizem e ritualizem mas que convergem para um significado comum, que é o
aquilo que no espírito da lei, deve ser, antes de mais nada, reconhecimento dos jovens como sujeitos. Assim, possíveis
expressão de liberdade e iniciativa, e que por essa razão de ocuparem, a partir da experimentação de um processo
não pode prescindir do protagonismo de todos os elemen- de construção social, que inclui uma relação dialógica, um
tos da escola, em especial dos professores. lugar relevante em espaços de tomada de decisões sobre
questões que repercutem em suas próprias vidas.
228
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Embora se constate a presença da palavra “protagonis- 03. (SEDUC-CE – Professor Pleno i – Superior – CES-
mo” em documentos governamentais brasileiros referentes PE/2013) A teoria da aprendizagem que se refere à here-
à política educacional do país na década de 1990, como ditariedade do sujeito e afirma que suas características são
a mencionada Resolução CEB/CNE de 1998, é somente determinadas desde o seu nascimento, é a denominada
a partir dos anos 2000 que se tem registro da expressão (A) cognitivismo.
completa “protagonismo juvenil” em documentos gover- (B) empirismo.
namentais, tais como a Proposta de Emenda Constitucional (C) inatismo.
nº 138-A de 2003, que dispõe sobre a proteção dos direitos (D) behaviorismo.
(E) interacionismo.
econômicos, sociais e culturais da juventude brasileira, o
Projeto de Lei nº 4529 de 2004, que institui o Estatuto da
04. (SEDUC-CE – Professor Pleno i – Superior – CES-
Juventude e Projeto de Lei nº 4530 de 2004 sobre o Plano
PE/2013) Com relação à perspectiva democrática da ges-
Nacional de Juventude. tão escolar, assinale a opção correta.
(A) Os conselhos escolares têm como pilares a função
Fonte deliberativa e fiscalizadora, não utilizando a função consul-
SOUSA, M. A. de. O protagonismo juvenil no ensino tiva, uma vez que esta descaracteriza a concepção de um
médio. conselho.
(B) A participação deve ser o mecanismo exclusivo de
Questões um processo democrático nas instâncias participativas es-
colares, pois a representatividade compromete o princípio
01. (SEDUC-CE – Professor Pleno i – Superior – CES- da democracia.
PE/2013) Com relação à concepção emancipadora de pro- (C) A gestão da escola deve privilegiar o aspecto inter-
jeto político pedagógico (PPP), assinale a opção correta. no que contemple os processos administrativos e a par-
(A) A formação continuada dos profissionais da escola ticipação da comunidade escolar no projeto pedagógico,
comprometida com a construção do PPP deve limitar-se em detrimento do componente externo da gestão, ligado
ao aprofundamento de saberes ou conteúdos curriculares, à função social da escola, ou seja, à forma como produz,
evitando a abordagem de temas que não interfiram direta- divulga e socializa o conhecimento.
(D) A descentralização administrativa vista como um
mente na aprendizagem formal.
processo de transferência de competências para as escolas
(B) O PPP auxilia a rotina do mando impessoal e racio-
é um princípio essencial para a construção de processos e
nalizado da burocracia que permeia as relações no interior
instrumentos que sustentem a gestão.
da escola, reforçando os efeitos da divisão do trabalho e da (E) A dimensão jurídico-administrativa não pode ser o
hierarquização dos poderes de decisão. único pilar da autonomia escolar, pois não garante a insti-
(C).- O PPP está direta e exclusivamente relacionado tuição de formas de autogoverno nas escolas, o que efetiva
com a organização do trabalho pedagógico da escola no a autonomia.
nível da sala de aula, tendo como referência básica o currí-
culo e os planos de aula. 05. (SEDUC-CE – Professor Pleno i – Superior – CES-
(D).- O PPP visa à qualidade em todo o processo vivido PE/2013) Com referência às incumbências da União, dos
no ambiente escolar, considerando a escola como uma ins- estados, do Distrito Federal e dos municípios e à organiza-
tituição social, inserida na sociedade capitalista, que refle- ção de seus respectivos sistemas de ensino, disciplinados
te, no seu interior, as determinações e contradições dessa pela LDB, assinale a opção correta.
sociedade. (A) Cabe aos estados assumirem o transporte escolar
(E). A qualidade que se busca com a construção do PPP dos alunos das redes estadual e municipal.
implica duas dimensões indissociáveis: a formal ou técnica (B) É permitida a atuação dos municípios em outros
e a política, sendo essa última sempre subordinada à pri- níveis de ensino que não sejam os seus prioritários, sempre
meira. que houver, comprovadamente, demanda da sociedade.
(C) As instituições de educação superior, criadas e
mantidas pela iniciativa privada, fazem parte dos sistemas
02. (SEDUC-CE – Professor Pleno i – Superior – CES-
municipais de ensino.
PE/2013) Assinale a opção correspondente à corrente do
(D) Compõem os sistemas municipais de ensino as ins-
pensamento pedagógico brasileiro que se articula direta- tituições de educação superior mantidas pelo poder públi-
mente ao sistema produtivo para aperfeiçoar a ordem so- co municipal.
cial vigente, formando mão de obra especializada para o (E) Cabe à União estabelecer, em colaboração com os
mercado de trabalho. estados, o Distrito Federal e os municípios, competências e
(A) progressista libertadora diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e
(B) liberal renovadora não diretiva o ensino médio.
(C) liberal tecnicista
(D) progressista libertária 06 (SEDUC-CE – Professor Pleno i – Superior – CES-
(E) liberal renovadora progressiva PE/2013) No que se refere aos Parâmetros Curriculares Na-
cionais do Ensino Médio (PCNEM), assinale a opção correta.
229
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
230
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
a) A organização da vida escolar, relacionado à organi- c) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as fun-
zação do trabalho escolar em função de sua especificidade ções mentais da criança já estão completadas e NDP (Nível
de seus objetivos. de Desenvolvimento Proximal) onde a criança consegue
b) Organização do processo de ensino e aprendizagem realizar tarefas com a ajuda de adultos ou colegas mais
– refere-se basicamente aos aspectos de organização do avançados.
trabalho do professor e dos alunos na sala de aula. d) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as fun-
c) Organização das atividades de apoio técnico admi- ções mentais da criança ainda não estão completadas e
nistrativo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao NDP (Nível de Desenvolvimento Processual) onde a criança
trabalho docente. não consegue realizar tarefas com a ajuda de adultos ou
d) Orientação de atividades que vinculam escola e fa- colegas mais avançados.
mília – refere-se às relações entre a escola e o ambiente e) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as fun-
interno: com os alunos, professores e famílias. ções mentais da criança ainda não estão completadas e ZDP
e) Organização de atividades que vinculam escola e (Zona de Desenvolvimento Proximal) que define funções
ainda não amadurecidas, mas em processo de maturação.
comunidade – refere-se às relações entre a escola e o am-
biente externo: com os níveis superiores da gestão de siste- 14. (IFRO/ 2016) Dentro do processo de ensino e
mas escolar, com as organizações políticas e comunitárias. aprendizagem, aponte qual o teórico que defende que a
criança nasce inserida em um meio social, que é a família,
12. (IFRO/ 2017) O Projeto Políticopedagógico é por e é nele que estabelece as primeiras relações com a lin-
si a própria organização do espaço escolar. Ele organiza as guagem na interação com os outros. (Nas interações coti-
atividades administrativas, pedagógicas, curriculares e os dianas, a mediação (necessária intervenção de outro entre
propósitos democráticos. Dizer que o Projeto Políticopeda- duas coisas para que uma relação se estabeleça) com o
gógico abrange a organização do espaço escolar significa adulto acontecem espontaneamente no processo de utili-
dizer que o ambiente escolar é normatizado por ideais co- zação da linguagem, no contexto das situações imediatas.)
muns a todos que constitui esse espaço, visto que o Pro- a) Jean Piaget.
jeto Político Pedagógico deve ser resultado dos atributos b) Henry Wallon.
participativos. Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro c) Paulo Freire.
áreas de ação em que a organização do espaço escolar d) Louis Althusser.
deve abranger. e) Lev Vygotsky.
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas 15. (FUNCAB/2016) “Organizar os conteúdos é estru-
pelo autor? turar a sequência lógica em que eles serão apresentados ao
a) A organização da vida escolar, relacionado à organi- aluno.” (MALHEIROS, Bruno T. Didática Geral. Rio de Janei-
zação do trabalho escolar em função de sua especificidade ro: LTC, 2012, p. 97)
de seus objetivos. Dessa forma, os conteúdos devem ser organizados,
b) Organização do processo de ensino e aprendizagem considerando-se três critérios. São eles:
– refere-se basicamente aos aspectos de organização do
trabalho do professor e dos alunos na sala de aula. (A) importância do conteúdo; grau de dificuldade; novidade.
c) Organização das atividades de apoio técnico admi- (B) continuidade; grau de dificuldade; importância do
conteúdo.
nistrativo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao
(C) continuidade; sequência; integração.
trabalho docente.
(D) sequência; importância do conteúdo; grau de difi-
d) Orientação de atividades que vinculam escola e fa- culdade.
mília – refere-se às relações entre a escola e o ambiente (E) integração; facilidade de ensino; importância do
interno: com os alunos, professores e famílias. conteúdo.
e) Organização de atividades que vinculam escola e
comunidade – refere-se às relações entre a escola e o am- Gabarito
biente externo: com os níveis superiores da gestão de siste-
mas escolar, com as organizações políticas e comunitárias. 01. D
02. C
13. (IFRO/ 2016) Para Vygotsky (1998), não basta de- 03. C
limitar o nível de desenvolvimento alcançado por um indi- 04. E
víduo. Dessa forma, ele demarca dois níveis de desenvol- 05. E
vimento: 06. D
a) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as fun- 07. A
ções mentais da criança já estão completadas e NDP (Nível 08. Errado
de Desenvolvimento Pessoal) onde a criança consegue rea- 09. A
lizar tarefas com a ajuda de adultos ou colegas mais pró- 10. D
ximos. 11. D
b) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as fun- 12. E
ções mentais da criança ainda já estão completadas e ZDP 13. C
(Zona de Desenvolvimento Processual) que define funções 14. E
ainda não amadurecidas, mas em processo de maturação. 15. C
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Prof. Ma. Bruna Pinotti Garcia Oliveira descentralizada de serviços públicos e outras atividades de
Advogada e pesquisadora. Doutoranda em Direito, Es- interesse coletivo, objeto do Direito Administrativo e das
tado e Constituição pela Universidade de Brasília – UNB. modernas técnicas de administração”1.
Mestre em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro Uni- Em termos históricos, o Estado Moderno passou por
versitário Eurípides de Marília (UNIVEM) – bolsista CAPES. fases que implicaram na definição de três modelos esta-
Professora de curso preparatório para concursos e univer- tais.
sitária da Universidade Federal de Goiás – UFG. Autora de Inicialmente, o Estado se erige na forma de um Estado
diversos trabalhos científicos publicados em revistas qua- Absoluto, no qual o poder é exercido por um soberano de
lificadas, anais de eventos e livros, notadamente na área forma ilimitada. No decorrer das Revoluções que despon-
do direito eletrônico, dos direitos humanos e do direito taram na Europa – Gloriosa e Francesa – e na própria Amé-
constitucional. rica – Independência Norte-americana, surgem demandas
por um modelo de Estado que interferisse menos na vida
do indivíduo, permitindo o exercício de liberdades indivi-
duais e do direito de propriedade, além de outros direitos
1 CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. civis, bem como a participação popular na tomada de de-
cisões, na forma de direitos políticos: nasce o modelo do
Estado Liberal.
Num momento posterior, quando se experimentaram
Estado: conceito, elementos e natureza os reflexos da revolução industrial e do pós-guerra, bem
como da própria reestruturação dos modelos econômi-
“O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que cos capitalista e socialista, surgem demandas classistas na
é considerado. Do ponto de vista sociológico, é corpora- busca da retomada da intervenção do Estado na economia
ção territorial dotada de um poder de mando originário; e nas relações trabalhistas, assegurando equilíbrio na ex-
sob o aspecto político, é comunidade de homens, fixada ploração econômica por parte daqueles que detinham o
sobre um território, com potestade superior de ação, de poder econômico: surge então o Estado Social.
mando e de coerção; sob o prisma constitucional, é pessoa Adiante, especialmente após a crise de 1929 e o fim
jurídica territorial soberana; na conceituação do nosso Có- da 2a Guerra Mundial, surge a necessidade de coadunar tais
digo Civil, é pessoa jurídica de Direito Público Interno (art. ideais, focando não apenas no indivíduo, mas também nas
14, I). Como ente personalizado, o Estado tanto pode atuar demandas coletivas da sociedade: surge o Estado Demo-
no campo do Direito Público como no do Direito Priva- crático de Direito, uma resposta concomitante à frieza libe-
do, mantendo sempre sua única personalidade de Direito ral quanto ao indivíduo e ao déficit democrático do Estado
Público, pois a teoria da dupla personalidade do Estado Social, intensificando-se a participação popular no poder.
acha-se definitivamente superada. O Estado é constituído
de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Terri- Com efeito, o Estado é uma organização dotada de
tório e Governo soberano. Povo é o componente humano personalidade jurídica que é composta por povo, territó-
do Estado; Território, a sua base física; Governo soberano, o rio e soberania. Logo, possui homens situados em deter-
elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder minada localização e sobre eles e em nome deles exerce
absoluto de autodeterminação e auto-organização emana- poder. É dotado de personalidade jurídica, isto é, possui a
do do Povo. Não há nem pode haver Estado independente aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres.
sem Soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível Nestes moldes, o Estado tem natureza de pessoa jurídica
e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se segun- de direito público.
do a vontade livre de seu Povo e de fazer cumprir as suas Destaca-se o artigo 41 do Código Civil:
decisões inclusive pela força, se necessário. A vontade es-
tatal apresenta-se e se manifesta através dos denomina- Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
dos Poderes de Estado. Os Poderes de Estado, na clássica I - a União;
tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos Estados II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
de Direito, são o Legislativo, o Executivo e o judiciário, in- III - os Municípios;
dependentes e harmônicos entre si e com suas funções re- IV - as autarquias;
ciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º). A organização do V - as demais entidades de caráter público criadas
Estado é matéria constitucional no que concerne à divisão por lei.
política do território nacional, a estruturação dos Poderes, Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pes-
à forma de Governo, ao modo de investidura dos gover- soas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estru-
nantes, aos direitos e garantias dos governados. Após as tura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao
disposições constitucionais que moldam a organização seu funcionamento, pelas normas deste Código.
política do Estado soberano, surgem, através da legisla-
ção complementar e ordinária, e organização administra-
tiva das entidades estatais, de suas autarquias e entidades 1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasilei-
paraestatais instituídas para a execução desconcentrada e ro. São Paulo: Malheiros, 1993.
1
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Nestes moldes, o Estado é pessoa jurídica de direito público interno. Mas há características peculiares distintivas que
fazem com que afirmá-lo apenas como pessoa jurídica de direito público interno seja correto, mas não suficiente. Pela pe-
culiaridade da função que desempenha, o Estado é verdadeira pessoa administrativa, eis que concentra para si o exercício
das atividades de administração pública.
A expressão pessoa administrativa também pode ser colocada em sentido estrito, segundo o qual seriam pessoas ad-
ministrativas aquelas pessoas jurídicas que integram a administração pública sem dispor de autonomia política (capacidade
de auto-organização). Em contraponto, pessoas políticas seriam as pessoas jurídicas de direito público interno – União,
Estados, Distrito Federal e Municípios.
Trata-se de pessoa jurídica, e não física, porque o Estado não é uma pessoa natural determinada, mas uma estrutura
organizada e administrada por pessoas que ocupam cargos, empregos e funções em seu quadro.
Logo, pode-se dizer que o Estado é uma ficção, eis que não existe em si, mas sim como uma estrutura organizada pelos
próprios homens.
É de direito público porque administra interesses que pertencem a toda sociedade e a ela respondem por desvios na
conduta administrativa, de modo que se sujeita a um regime jurídico próprio, que é objeto de estudo do direito adminis-
trativo.
Em face da organização do Estado, e pelo fato deste assumir funções primordiais à coletividade, no interesse desta,
fez-se necessário criar e aperfeiçoar um sistema jurídico que fosse capaz de regrar e viabilizar a execução de tais funções,
buscando atingir da melhor maneira possível o interesse público visado.
Tal papel é atribuído à Administração, que no âmbito executivo tem sua função máxima exercida pelo Governo.
A execução de funções exclusivamente administrativas constitui, assim, o objeto do Direito Administrativo, ramo do
Direito Público. A função administrativa é toda atividade desenvolvida pela Administração (Estado) representando os inte-
resses de terceiros, ou seja, os interesses da coletividade.
Devido à natureza desses interesses, são conferidos à Administração direitos e obrigações que não se estendem aos
particulares. Logo, a Administração encontra-se numa posição de superioridade em relação a estes.
Importante, neste ponto, frisar a diferença entre as formas de gestão quando se está diante da execução do interesse
público – situação do Estado e da Administração – e quando se está diante de interesse privado. A gestão pública sempre
deve assumir a feição de permitir ao cidadão exercer seus direitos e deveres em sociedade, enquanto que na gestão privada
caberá a priorização de atendimento ao cliente.
Não obstante, se, por um lado, o Estado é uno, até mesmo por se legitimar na soberania popular; por outro lado, é
necessária a divisão de funções das atividades estatais de maneira equilibrada, o que se faz pela divisão de Poderes, a qual
resta assegurada no artigo 2º da Constituição Federal.
A função típica de administrar – gerir a coisa pública e aplicar a lei – é do Poder Executivo; cabendo ao Poder Legislati-
vo a função típica de legislar e ao Poder Judiciário a função típica de julgar. Em situações específicas, será possível que no
exercício de funções atípicas o Legislativo e o Judiciário exerçam administração.
Por sua vez, conceituando-se administração pública, “em sentido objetivo, material ou funcional, a administração pú-
blica pode ser definida como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob regime jurídico de direito
público, para a consecução dos interesses coletivos”; ao passo que “em sentido subjetivo, formal ou orgânico, pode-se
definir Administração Pública, como sendo o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício
da função administrativa do Estado”2. Logo, o sentido objetivo volta-se à atividade administrativa em si, ao passo que o
sentido subjetivo se concentra nos órgãos que a exercem.
Em ambos casos, a distinção do sentido amplo para o restrito está nas espécies de atividades e órgãos que são abran-
gidos. No sentido amplo, inserem-se as atividades desempenhadas pelos órgãos de alto escalão no âmbito governamental,
no exercício de funções essencialmente políticas; além das atividades tipicamente administrativas desempenhadas pelos
diversos órgãos que compõem a administração executando seus fins de interesse público. No sentido estrito, excluem-se
as atividades políticas, abrangendo-se apenas atividades administrativas.
2 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas editora, 2010.
2
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
3 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito 4 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Ad-
administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. ministrativo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
3
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Neste sentido, preconiza o artigo 10 da Lei nº seja assegurada ampla defesa ou mediante procedimen-
8.112/1990: to de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
complementar, assegurada ampla defesa. Logo, é possível
Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de a perda do cargo mesmo após adquirir a estabilidade, mas
carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de há garantias quanto à forma como isso pode ocorrer.
prévia habilitação em concurso público de provas ou de pro- Além das hipóteses citadas, existe mais uma possibili-
vas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo dade de perda de cargo (sem caráter punitivo), mesmo que
de sua validade. o seu detentor seja estável no serviço público. Trata-se da
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso perda de cargo para adequação dos gastos do Estado à Lei
e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante pro- de Responsabilidade Fiscal – LRF.
moção, serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do A Constituição Federal inicialmente impõe que os en-
sistema de carreira na Administração Pública Federal e seus tes federativos, no caso de extrapolação dos limites de gas-
regulamentos. tos previstos na LRF, reduzam as despesas com servidores
públicos comissionados e não estáveis, conforme art. 169,
No concurso de provas o candidato é avaliado ape- §3º, CF. Mas se as medidas previstas no §3º do art. 169
nas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos não forem suficientes para adequar e controlar as despe-
concursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua sas públicas, a CF/88 prevê, em seu §4º, a perda do cargo
atividade profissional também é considerado. até mesmo na hipótese em que o seu ocupante detenha
Cargo em comissão é o cargo de confiança, que não estabilidade no serviço público. Se ocorrer esta hipótese, o
exige concurso público, sendo exceção à regra geral. servidor estável que perder o cargo terá direito a indeniza-
Em todas outras situações, a administração direta e ção correspondente a 1 mês de remuneração por ano de
indireta é obrigada a prover seus cargos, empregos e fun- serviço público.
ções por meio de concursos públicos. Inclusive, por mais Existem alguns servidores públicos efetivos que não
que empresas públicas e sociedades de economia mista possuem apenas estabilidade, mas sim vitaliciedade. São
sejam pessoas jurídicas de direito privado, devem respeitar
eles os membros do Poder Judiciário e do Ministério Públi-
o núcleo mínimo de imposições ao poder público, inclusive
co (artigo 95, I, CF; artigo 128, §5º, I, “a”, CF).
a obrigação de prover seus empregos por meio de concur-
O prazo para a aquisição da vitaliciedade é diferente
so público.
do prazo para aquisição da estabilidade, sendo adquirida
após 2 anos de serviço público. Durante esse período,
Servidor ocupante de cargo em comissão
também é submetido o servidor a “estágio probatório”,
Os cargos em comissão são de nomeação livre, dispen-
chamado de processo de vitaliciamento.
sando concurso público.
Um fator importantíssimo a favor dos agentes vitalícios
O ocupante de cargo em comissão não precisa ser titu-
lar de cargo efetivo. é que eles somente podem perder o cargo em decorrência
Serve para cargos de chefias, assessoramento e dire- de decisão judicial transitada em julgado. Então, as várias
ção, notadamente, cargos de confiança. hipóteses de perda de cargo previstas para servidores es-
Os servidores que ocupam cargo em comissão podem táveis não se aplicam aos servidores vitalícios.
ser exonerados a qualquer tempo, pois não adquirem esta-
bilidade e nem as garantias que dela decorrem (exonerado Estágio probatório
“ad nutum”). Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 41, a
Se sujeita ao regime geral da previdência social. ser lido em conjunto com o artigo 20 da Lei nº 8.112/1990:
Quanto ao regime de trabalho, será o mesmo dos de-
mais servidores do órgão em que ocupa o cargo – se for Artigo 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo
estatutário, seguirá o mesmo estatuto e fará jus aos direi- exercício os servidores nomeados para cargo de provi-
tos ali previstos, exceto os de natureza previdenciária; se mento efetivo em virtude de concurso público.
for celetista, seguirá as normas da CLT e terá os mesmos § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
direitos ali assegurados, inclusive FGTS. I - em virtude de sentença judicial transitada em jul-
gado;
Servidor efetivo e vitalício: garantias II - mediante processo administrativo em que lhe
O servidor público efetivo, aquele que foi provido em seja assegurada ampla defesa;
cargo mediante nomeação seguida da aprovação em con- III - mediante procedimento de avaliação periódica
curso público, está apto a adquirir estabilidade, nos mol- de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
des do artigo 41, CF, após três anos de efetivo exercício. ampla defesa.
Os primeiros 3 anos de serviço correspondem ao está- § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do
gio probatório, período em que o servidor deverá ser sub- servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupan-
metido a uma avaliação especial de desempenho. te da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem
Nos moldes do artigo 41, §1º, CF, o servidor apenas direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto
perderá o cargo em virtude de sentença judicial transitada em disponibilidade com remuneração proporcional ao tem-
em julgado, mediante processo administrativo em que lhe po de serviço.
4
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessi- É de fundamental importância um olhar atento ao sig-
dade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com nificado de cada um destes princípios, posto que eles es-
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu ade- truturam todas as regras éticas prescritas no Código de Éti-
quado aproveitamento em outro cargo. ca e na Lei de Improbidade Administrativa, tomando como
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, base os ensinamentos de Carvalho Filho5 e Spitzcovsky6:
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co- a) Princípio da legalidade: Para o particular, legali-
missão instituída para essa finalidade. dade significa a permissão de fazer tudo o que a lei não
proíbe. Contudo, como a administração pública representa
os interesses da coletividade, ela se sujeita a uma relação
de subordinação, pela qual só poderá fazer o que a lei ex-
3 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO pressamente determina (assim, na esfera estatal, é preciso
PÚBLICA. lei anterior editando a matéria para que seja preservado o
princípio da legalidade). A origem deste princípio está na
criação do Estado de Direito, no sentido de que o próprio
Estado deve respeitar as leis que dita.
Regime jurídico é uma expressão que designa o trata- b) Princípio da impessoalidade: Por força dos inte-
mento normativo que o ordenamento confere a determi- resses que representa, a administração pública está proi-
nado assunto. Com efeito, o regime jurídico administrativo bida de promover discriminações gratuitas. Discriminar é
corresponde ao conjunto de regras e princípios que estru- tratar alguém de forma diferente dos demais, privilegiando
turam o Direito Administrativo, atribuindo-lhe autonomia ou prejudicando. Segundo este princípio, a administração
enquanto um ramo autônomo da ciência jurídica. No mais, pública deve tratar igualmente todos aqueles que se en-
coloca-se o Estado numa posição verticalizada em relação contrem na mesma situação jurídica (princípio da isonomia
ao administrado. ou igualdade). Por exemplo, a licitação reflete a impessoali-
Logo, regime jurídico-administrativo é o conjunto de dade no que tange à contratação de serviços. O princípio da
princípios e regras que compõem o Direito Administrativo, impessoalidade correlaciona-se ao princípio da finalidade,
conferindo prerrogativas e fixando restrições à Administra- pelo qual o alvo a ser alcançado pela administração pública
ção Pública peculiares, não presentes no direito privado, é somente o interesse público. Com efeito, o interesse parti-
bem como a colocando em uma posição de supremacia cular não pode influenciar no tratamento das pessoas, já que
quanto aos administrados. deve-se buscar somente a preservação do interesse coletivo.
Os objetivos do regime jurídico-administrativo são o c) Princípio da moralidade: A posição deste princípio
de proteção dos direitos individuais frente ao Estado e de no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de uma
satisfação de interesses coletivos. espécie de moralidade administrativa, intimamente relacio-
Os princípios e regras que o compõem se encontram nada ao poder público. A administração pública não atua
espalhados pela Constituição e por legislações infraconsti- como um particular, de modo que enquanto o descumpri-
tucionais. A base do regime jurídico administrativo está nos mento dos preceitos morais por parte deste particular não é
princípios que regem a Administração Pública. punido pelo Direito (a priori), o ordenamento jurídico adota
tratamento rigoroso do comportamento imoral por parte
Princípios constitucionais expressos dos representantes do Estado. O princípio da moralidade
deve se fazer presente não só para com os administrados,
Art. 37, Constituição Federal. A administração pública mas também no âmbito interno. Está indissociavelmente li-
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Es- gado à noção de bom administrador, que não somente deve
tados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos ser conhecedor da lei, mas também dos princípios éticos re-
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, gentes da função administrativa. TODO ATO IMORAL SERÁ
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] DIRETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS IMPESSOAL, daí a in-
trínseca ligação com os dois princípios anteriores.
São princípios da administração pública, nesta ordem: d) Princípio da publicidade: A administração pública
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi- é obrigada a manter transparência em relação a todos seus
ciência. atos e a todas informações armazenadas nos seus ban-
cos de dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e
Para memorizar: veja que as iniciais das palavras for- a afixação de portarias. Por exemplo, a própria expressão
mam o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da concurso público (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que
Administração Pública. todos devem tomar conhecimento do processo seletivo de
Legalidade servidores do Estado. Diante disso, como será visto, se ne-
Impessoalidade gar indevidamente a fornecer informações ao administrado
Moralidade caracteriza ato de improbidade administrativa.
Publicidade 5 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito
Eficiência administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
6 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed.
São Paulo: Método, 2011.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o que a autoridade que expede o ato; c) a necessidade de
princípio da publicidade seja deturpado em propaganda assegurar celeridade no cumprimento das decisões admi-
político-eleitoral: nistrativas; d) os mecanismos de controle sobre a legalida-
de do ato; e) a sujeição da Administração ao princípio da
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas, legalidade, presumindo-se que seus atos foram praticados
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter em conformidade com a lei”.
caráter educativo, informativo ou de orientação social, b) Princípio da participação: Quem deve participar
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que é quem vive na sociedade, é o cidadão, aquele que pode
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servido- ter direitos. Participar é ao mesmo tempo um direito e um
res públicos. dever. O cidadão deve participar, esta é uma obrigação de
todo aquele que vive em sociedade. E o cidadão deve ter
Somente pela publicidade os indivíduos controlarão espaço para participar. Com a ampliação do conceito de
a legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os soberania e cidadania e, consequentemente, da respon-
instrumentos para proteção são o direito de petição e as sabilidade do cidadão, se torna ainda mais evidente esta
certidões (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - resi- necessidade de participar. A democracia brasileira adota a
dualmente - do mandado de segurança. Neste viés, ainda, modalidade semidireta, porque possibilita a participação
prevê o artigo 37, CF em seu §3º: popular direta no poder por intermédio de processos como
o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular (art. 14, CF).
Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de par- No entanto, reconhece-se que as hipóteses de participa-
ticipação do usuário na administração pública direta e ção constitucionalmente expressas não esgotam o rol de
indireta, regulando especialmente: possibilidades de exercício da participação pelo povo. Por
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços exemplo, o próprio exercício de liberdade de manifestação
públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de se encaixa como participação, tal como a participação em
atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e audiências públicas, etc.
interna, da qualidade dos serviços; c) Princípios da razoabilidade e proporcionalidade:
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e Razoabilidade e proporcionalidade são fundamentos de
a informações sobre atos de governo, observado o disposto caráter instrumental na solução de conflitos que se esta-
no art. 5º, X e XXXIII; beleçam entre direitos, notadamente quando não há legis-
III - a disciplina da representação contra o exercício ne- lação infraconstitucional específica abordando a temática
gligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na admi- objeto de conflito. Neste sentido, quando o poder público
nistração pública. toma determinada decisão administrativa deve se utilizar
destes vetores para determinar se o ato é correto ou não,
e) Princípio da eficiência: A administração pública se está atingindo indevidamente uma esfera de direitos ou
deve manter o ampliar a qualidade de seus serviços com se é regular. Tanto a razoabilidade quanto a proporciona-
controle de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar lidade servem para evitar interpretações esdrúxulas mani-
pessoas (o concurso público seleciona os mais qualifi- festamente contrárias às finalidades do texto declaratório.
cados ao exercício do cargo), ao manter tais pessoas em Razoabilidade e proporcionalidade guardam, assim, a
seus cargos (pois é possível exonerar um servidor público mesma finalidade, mas se distinguem em alguns pontos.
por ineficiência) e ao controlar gastos (limitando o teto de Historicamente, a razoabilidade se desenvolveu no direito
remuneração), por exemplo. O núcleo deste princípio é a anglo-saxônico, ao passo que a proporcionalidade se origi-
procura por produtividade e economicidade. Alcança os na do direito germânico (muito mais metódico, objetivo e
serviços públicos e os serviços administrativos internos, se organizado), muito embora uma tenha buscado inspiração
referindo diretamente à conduta dos agentes. na outra certas vezes. Por conta de sua origem, a propor-
cionalidade tem parâmetros mais claros nos quais pode ser
Princípios administrativos implícitos trabalhada, enquanto a razoabilidade permite um processo
interpretativo mais livre. Evidencia-se o maior sentido jurí-
Além destes cinco princípios administrativo-constitu- dico e o evidente caráter delimitado da proporcionalidade
cionais diretamente selecionados pelo constituinte, podem pela adoção em doutrina de sua divisão clássica em 3 sen-
ser apontados outros princípios que regem a função públi- tidos:
ca, esparsos na legislação infraconstitucional e implícitos - adequação, pertinência ou idoneidade: significa que
na norma constitucional: o meio escolhido é de fato capaz de atingir o objetivo pre-
tendido;
a) Princípio da legitimidade: todo ato administrativo - necessidade ou exigibilidade: a adoção da medida
praticado pela Administração Pública é presumido legíti- restritiva de um direito humano ou fundamental somente é
mo. Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende que, “há cinco legítima se indispensável na situação em concreto e se não
fundamentos para justificar a presunção de legitimidade: for possível outra solução menos gravosa;
a) o procedimento e as formalidades que antecedem sua - proporcionalidade em sentido estrito: tem o sentido
edição, constituindo garantia de observância da lei; b) o de máxima efetividade e mínima restrição a ser guardado
fato de expressar a soberania do poder estatal, de modo com relação a cada ato jurídico que recaia sobre um direito
6
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
humano ou fundamental, notadamente verificando se há definidos do que a moralidade. Diógenes Gasparini9 alerta
uma proporção adequada entre os meios utilizados e os que alguns autores tratam veem como distintos os prin-
fins desejados. cípios da moralidade e da probidade administrativa, mas
d) Princípio da economicidade: Deve ser buscado não há características que permitam tratar os mesmos
sempre o menor custo para atingir ao fim pretendido pela como procedimentos distintos, sendo no máximo possível
Administração. Afinal, o dinheiro que é gasto pelo governo afirmar que a probidade administrativa é um aspecto parti-
pertence ao povo, que contribui por meio de impostos, e cular da moralidade administrativa.
deve ser adequadamente gerido para ampliar o bem-estar g) Princípio da continuidade dos serviços públicos:
social. O Estado assumiu a prestação de determinados serviços,
e) Princípio da motivação: É a obrigação conferida ao por considerar que estes são fundamentais à coletividade.
administrador de motivar todos os atos que edita, gerais Apesar de os prestar de forma descentralizada ou mesmo
ou de efeitos concretos. É considerado, entre os demais delegada, deve a Administração, até por uma questão de
princípios, um dos mais importantes, uma vez que sem a coerência, oferecê-los de forma contínua e ininterrupta.
motivação não há o devido processo legal, uma vez que a Pelo princípio da continuidade dos serviços públicos, o Es-
fundamentação surge como meio interpretativo da decisão tado é obrigado a não interromper a prestação dos ser-
que levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro viços que disponibiliza. A respeito, tem-se o artigo 22 do
meio de viabilização do controle da legalidade dos atos da Código de Defesa do Consumidor:
Administração.
Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicá- Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
vel ao caso concreto e relacionar os fatos que concreta- concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra for-
mente levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos ma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
os atos administrativos devem ser motivados para que o adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, con-
Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo tínuos.
quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
ser observados os motivos dos atos administrativos. parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pes-
Em relação à necessidade de motivação dos atos ad- soas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
ministrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um causados, na forma prevista neste código.
único comportamento possível) e dos atos discricionários
(aqueles que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta h) Princípios da Tutela e da Autotutela da Adminis-
um ou mais comportamentos possíveis, de acordo com um tração Pública: a Administração possui a faculdade de re-
juízo de conveniência e oportunidade), a doutrina é unís- ver os seus atos, de forma a possibilitar a adequação destes
sona na determinação da obrigatoriedade de motivação à realidade fática em que atua, e declarar nulos os efeitos
com relação aos atos administrativos vinculados; todavia, dos atos eivados de vícios quanto à legalidade. O sistema
diverge quanto à referida necessidade quanto aos atos dis- de controle dos atos da Administração adotado no Brasil é
cricionários. o jurisdicional. Esse sistema possibilita, de forma inexorá-
Meirelles7 entende que o ato discricionário, editado sob vel, ao Judiciário, a revisão das decisões tomadas no âm-
os limites da Lei, confere ao administrador uma margem de bito da Administração, no tocante à sua legalidade. É, por-
liberdade para fazer um juízo de conveniência e oportuni- tanto, denominado controle finalístico, ou de legalidade.
dade, não sendo necessária a motivação. No entanto, se À Administração, por conseguinte, cabe tanto a anu-
houver tal fundamentação, o ato deverá condicionar-se a lação dos atos ilegais como a revogação de atos válidos e
esta, em razão da necessidade de observância da Teoria eficazes, quando considerados inconvenientes ou inopor-
dos Motivos Determinantes. O entendimento majoritário tunos aos fins buscados pela Administração. Essa forma de
da doutrina, porém, é de que, mesmo no ato discricionário, controle endógeno da Administração denomina-se prin-
é necessária a motivação para que se saiba qual o caminho cípio da autotutela. Ao Poder Judiciário cabe somente a
adotado pelo administrador. Gasparini8, com respaldo no anulação de atos reputados ilegais. O embasamento de tais
art. 50 da Lei n. 9.784/98, aponta inclusive a superação de condutas é pautado nas Súmulas 346 e 473 do Supremo
tais discussões doutrinárias, pois o referido artigo exige a Tribunal Federal.
motivação para todos os atos nele elencados, compreen-
dendo entre estes, tanto os atos discricionários quanto os Súmula 346. A administração pública pode declarar a
vinculados. nulidade dos seus próprios atos.
f) Princípio da probidade: um princípio constitucio-
nal incluído dentro dos princípios específicos da licitação, Súmula 473. A administração pode anular seus próprios
é o dever de todo o administrador público, o dever de ho- atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque
nestidade e fidelidade com o Estado, com a população, deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
no desempenho de suas funções. Possui contornos mais conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adqui-
7 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasilei- ridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
ro. São Paulo: Malheiros, 1993.
8 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São 9 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2004. Paulo: Saraiva, 2004.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 3o O vencimento do cargo efetivo, acrescido das van- Somente não geram perda de remuneração as faltas
tagens de caráter permanente, é irredutível. justificadas e devidamente compensadas.
Irredutibilidade de vencimentos: não podem ser dimi-
nuídos. Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado judicial,
nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento.
§ 4o É assegurada a isonomia de vencimentos para § 1º Mediante autorização do servidor, poderá haver
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo consignação em folha de pagamento em favor de terceiros,
Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as a critério da administração e com reposição de custos, na
vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou forma definida em regulamento.
ao local de trabalho. § 2º O total de consignações facultativas de que trata
Mesmo cargo ou semelhante = mesmo vencimento. o § 1o não excederá a 35% (trinta e cinco por cento) da
remuneração mensal, sendo 5% (cinco por cento) reserva-
§ 5o Nenhum servidor receberá remuneração inferior dos exclusivamente para: I - a amortização de despesas
ao salário mínimo. contraídas por meio de cartão de crédito; ou
Direito ao salário mínimo. II - a utilização com a finalidade de saque por meio do
cartão de crédito.
Art. 42. Nenhum servidor poderá perceber, mensalmen- Para descontos em folha, é preciso ordem judicial ou
te, a título de remuneração, importância superior à soma autorização do servidor.
dos valores percebidos como remuneração, em espécie, a
qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes, pelos Art. 46. As reposições e indenizações ao erário, atuali-
Ministros de Estado, por membros do Congresso Nacional e zadas até 30 de junho de 1994, serão previamente comuni-
Ministros do Supremo Tribunal Federal. cadas ao servidor ativo, aposentado ou ao pensionista, para
Parágrafo único. Excluem-se do teto de remuneração as pagamento, no prazo máximo de trinta dias, podendo ser
vantagens previstas nos incisos II a VII do art. 61. parceladas, a pedido do interessado.
§ 1o O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao
Estabelece o teto de remuneração, ou seja, o máximo
correspondente a dez por cento da remuneração, provento
que um funcionário pode receber. Neste sentido, o art. 37,
ou pensão.
XI, CF: “XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de
§ 2o Quando o pagamento indevido houver ocorrido
cargos, funções e empregos públicos da administração di-
no mês anterior ao do processamento da folha, a reposição
reta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer
será feita imediatamente, em uma única parcela.
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
§ 3o Na hipótese de valores recebidos em decorrência
dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos
de cumprimento a decisão liminar, a tutela antecipada ou
demais agentes políticos e os proventos, pensões ou ou- a sentença que venha a ser revogada ou rescindida, serão
tra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou eles atualizados até a data da reposição.
não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em es- Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for de-
pécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplican- mitido, exonerado ou que tiver sua aposentadoria ou dispo-
do-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, nibilidade cassada, terá o prazo de sessenta dias para quitar
e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do o débito.
Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Parágrafo único. A não quitação do débito no prazo
Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Le- previsto implicará sua inscrição em dívida ativa.
gislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Débito com o erário = dívida com o Estado.
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centé-
simos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Mi- Art. 48. O vencimento, a remuneração e o provento não
nistros do Supremo Tri-bunal Federal, no âmbito do Poder serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto nos ca-
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério sos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial.
Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos”.
Capítulo II
Art. 44. O servidor perderá: Das Vantagens
I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem
motivo justificado; Art. 49. Além do vencimento, poderão ser pagas ao ser-
II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos vidor as seguintes vantagens:
atrasos, ausências justificadas, ressalvadas as concessões de I - indenizações;
que trata o art. 97, e saídas antecipadas, salvo na hipótese II - gratificações;
de compensação de horário, até o mês subsequente ao da III - adicionais.
ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata. § 1o As indenizações não se incorporam ao vencimento
Parágrafo único. As faltas justificadas decorrentes de ou provento para qualquer efeito.
caso fortuito ou de força maior poderão ser compensadas a § 2o As gratificações e os adicionais incorporam-se ao
critério da chefia imediata, sendo assim consideradas como vencimento ou provento, nos casos e condições indicados
efetivo exercício. em lei.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 50. As vantagens pecuniárias não serão computa- Art. 56. Será concedida ajuda de custo àquele que, não
das, nem acumuladas, para efeito de concessão de quaisquer sendo servidor da União, for nomeado para cargo em co-
outros acréscimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título missão, com mudança de domicílio.
ou idêntico fundamento. Parágrafo único. No afastamento previsto no inciso I
De acordo com Hely Lopes Meirelles11, “o que ca- do art. 93, a ajuda de custo será paga pelo órgão cessioná-
racteriza o adicional e o distingue da gratificação é ser rio, quando cabível.
aquele que recompensa ao tempo de serviço do servi-
dor, ou uma retribuição pelo desempenho de funções Art. 57. O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda
especiais que fogem da rotina burocrática, e esta, uma de custo quando, injustificadamente, não se apresentar na
compensação por serviços comuns executados em con- nova sede no prazo de 30 (trinta) dias.
dições anormais para o servidor, ou uma ajuda pessoal
em face de certas situações que agravam o orçamento Subseção II
do servidor”. Das Diárias
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal No- Art. 71. O adicional de atividade penosa será devido
minalmente Identificada - VPNI a incorporação da retribui- aos servidores em exercício em zonas de fronteira ou em lo-
ção pelo exercício de função de direção, chefia ou assesso- calidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos,
ramento, cargo de provimento em comissão ou de Natureza condições e limites fixados em regulamento.
Especial a que se referem os arts. 3º e 10 da Lei no 8.911, de
11 de julho de 1994, e o art. 3o da Lei no9.624, de 2 de abril Art. 72. Os locais de trabalho e os servidores que ope-
de 1998. ram com Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos
Parágrafo único. A VPNI de que trata o caput deste arti- sob controle permanente, de modo que as doses de radiação
go somente estará sujeita às revisões gerais de remuneração ionizante não ultrapassem o nível máximo previsto na legis-
dos servidores públicos federais. lação própria.
Parágrafo único. Os servidores a que se refere este arti-
Subseção II go serão submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) meses.
Da Gratificação Natalina
Subseção V
Art. 63. A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um Do Adicional por Serviço Extraordinário
doze avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no mês
de dezembro, por mês de exercício no respectivo ano. Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com
Parágrafo único. A fração igual ou superior a 15 (quin- acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação à hora
ze) dias será considerada como mês integral. normal de trabalho.
Art. 64. A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário
mês de dezembro de cada ano. para atender a situações excepcionais e temporárias, respei-
tado o limite máximo de 2 (duas) horas por jornada.
Art. 65. O servidor exonerado perceberá sua gratifica-
ção natalina, proporcionalmente aos meses de exercício, cal-
Subseção VI
culada sobre a remuneração do mês da exoneração.
Do Adicional Noturno
Art. 66. A gratificação natalina não será considerada
Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário com-
para cálculo de qualquer vantagem pecuniária.
preendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco)
horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de 25%
Subseção III
(vinte e cinco por cento), computando-se cada hora como
Do Adicional por Tempo de Serviço
cinquenta e dois minutos e trinta segundos.
Regulamentação na Medida Provisória nº 2.225-45/01. Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordi-
nário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a
Subseção IV remuneração prevista no art. 73.
Dos Adicionais de Insalubridade, Periculosidade ou
Atividades Penosas Subseção VII
Do Adicional de Férias
Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade
em locais insalubres ou em contato permanente com subs- Art. 76. Independentemente de solicitação, será pago ao
tâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida, fazem jus a servidor, por ocasião das férias, um adicional correspondente
um adicional sobre o vencimento do cargo efetivo. a 1/3 (um terço) da remuneração do período das férias.
§ 1o O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubri- Parágrafo único. No caso de o servidor exercer função
dade e de periculosidade deverá optar por um deles. de direção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo em
§ 2o O direito ao adicional de insalubridade ou peri- comissão, a respectiva vantagem será considerada no cálcu-
culosidade cessa com a eliminação das condições ou dos lo do adicional de que trata este artigo.
riscos que deram causa a sua concessão.
Subseção VIII
Art. 69. Haverá permanente controle da atividade de Da Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso
servidores em operações ou locais considerados penosos, in-
salubres ou perigosos. Art. 76-A. A Gratificação por Encargo de Curso ou Con-
Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será curso é devida ao servidor que, em caráter eventual:
afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, das ope- I - atuar como instrutor em curso de formação, de de-
rações e locais previstos neste artigo, exercendo suas ativida- senvolvimento ou de treinamento regularmente instituído
des em local salubre e em serviço não penoso e não perigoso. no âmbito da administração pública federal;
II - participar de banca examinadora ou de comissão
Art. 70. Na concessão dos adicionais de atividades pe- para exames orais, para análise curricular, para correção de
nosas, de insalubridade e de periculosidade, serão observa- provas discursivas, para elaboração de questões de provas
das as situações estabelecidas em legislação específica. ou para julgamento de recursos intentados por candidatos;
12
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
III - participar da logística de preparação e de realização Art. 78. O pagamento da remuneração das férias será
de concurso público envolvendo atividades de planejamento, efetuado até 2 (dois) dias antes do início do respectivo perío-
coordenação, supervisão, execução e avaliação de resultado, do, observando-se o disposto no § 1o deste artigo.
quando tais atividades não estiverem incluídas entre as suas §1° e §2°. Revogados.
atribuições permanentes; § 3o O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em
IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas comissão, perceberá indenização relativa ao período das
de exame vestibular ou de concurso público ou supervisionar férias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de
essas atividades. um doze avos por mês de efetivo exercício, ou fração supe-
§ 1o Os critérios de concessão e os limites da gratifica- rior a quatorze dias.
ção de que trata este artigo serão fixados em regulamento, § 4o A indenização será calculada com base na remu-
observados os seguintes parâmetros: neração do mês em que for publicado o ato exoneratório.
I - o valor da gratificação será calculado em horas, ob- § 5o Em caso de parcelamento, o servidor receberá o
servadas a natureza e a complexidade da atividade exercida; valor adicional previsto no inciso XVII do art. 7o da Constitui-
II - a retribuição não poderá ser superior ao equivalente ção Federal quando da utilização do primeiro período.
a 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada
situação de excepcionalidade, devidamente justificada e pre- Art. 79. O servidor que opera direta e permanentemen-
viamente aprovada pela autoridade máxima do órgão ou te com Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 (vinte)
entidade, que poderá autorizar o acréscimo de até 120 (cen- dias consecutivos de férias, por semestre de atividade profis-
to e vinte) horas de trabalho anuais; sional, proibida em qualquer hipótese a acumulação.
III - o valor máximo da hora trabalhada corresponderá Manutenção da saúde do servidor.
aos seguintes percentuais, incidentes sobre o maior venci-
mento básico da administração pública federal: Art. 80. As férias somente poderão ser interrompidas por
a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se motivo de calamidade pública, comoção interna, convoca-
tratando de atividades previstas nos incisos I e II do caput ção para júri, serviço militar ou eleitoral, ou por necessidade
do serviço declarada pela autoridade máxima do órgão ou
deste artigo;
entidade.
b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se
Parágrafo único. O restante do período interrompido
tratando de atividade prevista nos incisos III e IV do caput
será gozado de uma só vez, observado o disposto no art. 77.
deste artigo.
O direito individual às férias pode ser mitigado pelo
§ 2o A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso
direito da coletividade de manutenção da paz e da ordem
somente será paga se as atividades referidas nos incisos
social.
do caput deste artigo forem exercidas sem prejuízo das atri-
buições do cargo de que o servidor for titular, devendo ser
Capítulo IV
objeto de compensação de carga horária quando desempe- Das Licenças
nhadas durante a jornada de trabalho, na forma do § 4odo Seção I
art. 98 desta Lei. Disposições Gerais
§ 3o A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso
não se incorpora ao vencimento ou salário do servidor para Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença:
qualquer efeito e não poderá ser utilizada como base de I - por motivo de doença em pessoa da família;
cálculo para quaisquer outras vantagens, inclusive para fins II - por motivo de afastamento do cônjuge ou com-
de cálculo dos proventos da aposentadoria e das pensões. panheiro;
III - para o serviço militar;
Capítulo III IV - para atividade política;
Das Férias V - para capacitação;
VI - para tratar de interesses particulares;
Art. 77. O servidor fará jus a trinta dias de férias, que VII - para desempenho de mandato classista.
podem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no Atenção aos motivos que autorizam licença, detalha-
caso de necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em dos a seguir na legislação.
que haja legislação específica. § 1o A licença prevista no inciso I do caput deste artigo
§ 1o Para o primeiro período aquisitivo de férias serão bem como cada uma de suas prorrogações serão precedi-
exigidos 12 (doze) meses de exercício. das de exame por perícia médica oficial, observado o dis-
§ 2o É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao posto no art. 204 desta Lei.
serviço. § 3o É vedado o exercício de atividade remunerada du-
§ 3o As férias poderão ser parceladas em até três eta- rante o período da licença prevista no inciso I deste artigo.
pas, desde que assim requeridas pelo servidor, e no inte-
resse da administração pública. Art. 82. A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias
É possível impedir que o servidor tire férias por até 2 do término de outra da mesma espécie será considerada
períodos se o seu serviço for altamente necessário. como prorrogação.
13
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Seção II Seção V
Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Da Licença para Atividade Política
Família
Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remune-
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por ração, durante o período que mediar entre a sua escolha em
motivo de doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos convenção partidária, como candidato a cargo eletivo, e a vés-
filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou dependen- pera do registro de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
te que viva a suas expensas e conste do seu assentamento § 1o O servidor candidato a cargo eletivo na localidade
funcional, mediante comprovação por perícia médica oficial. onde desempenha suas funções e que exerça cargo de di-
§ 1o A licença somente será deferida se a assistência reção, chefia, assessoramento, arrecadação ou fiscalização,
direta do servidor for indispensável e não puder ser presta- dele será afastado, a partir do dia imediato ao do registro
da simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral, até o décimo
compensação de horário, na forma do disposto no inciso dia seguinte ao do pleito.
II do art. 44. § 2o A partir do registro da candidatura e até o décimo
§ 2o A licença de que trata o caput, incluídas as pror- dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, as-
rogações, poderá ser concedida a cada período de doze segurados os vencimentos do cargo efetivo, somente pelo
meses nas seguintes condições: período de três meses.
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, man-
tida a remuneração do servidor; e Seção VI
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem Da Licença para Capacitação
remuneração.
§ 3o O início do interstício de 12 (doze) meses será Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o
contado a partir da data do deferimento da primeira licen- servidor poderá, no interesse da Administração, afastar-se
ça concedida. do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração,
por até três meses, para participar de curso de capacitação
§ 4o A soma das licenças remuneradas e das licenças
profissional.
não remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações,
Parágrafo único. Os períodos de licença de que trata
concedidas em um mesmo período de 12 (doze) meses,
o caput não são acumuláveis.
observado o disposto no § 3o, não poderá ultrapassar os
limites estabelecidos nos incisos I e II do § 2o.
Art. 90. (Vetado)
Seção III
Seção VII
Da Licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge
Da Licença para Tratar de Interesses Particulares
Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para Art. 91. A critério da Administração, poderão ser conce-
acompanhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado didas ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não
para outro ponto do território nacional, para o exterior ou esteja em estágio probatório, licenças para o trato de as-
para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo suntos particulares pelo prazo de até três anos consecutivos,
e Legislativo. sem remuneração.
§ 1o A licença será por prazo indeterminado e sem re- Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a
muneração. qualquer tempo, a pedido do servidor ou no interesse do ser-
§ 2o No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou viço.
companheiro também seja servidor público, civil ou militar,
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Seção VIII
Federal e dos Municípios, poderá haver exercício provisó- Da Licença para o Desempenho de Mandato Clas-
rio em órgão ou entidade da Administração Federal direta, sista
autárquica ou fundacional, desde que para o exercício de
atividade compatível com o seu cargo. Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem
remuneração para o desempenho de mandato em confede-
Seção IV ração, federação, associação de classe de âmbito nacional,
Da Licença para o Serviço Militar sindicato representativo da categoria ou entidade fiscali-
zadora da profissão ou, ainda, para participar de gerência
Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar ou administração em sociedade cooperativa constituída por
será concedida licença, na forma e condições previstas na servidores públicos para prestar serviços a seus membros,
legislação específica. observado o disposto na alínea c do inciso VIII do art. 102
Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor desta Lei, conforme disposto em regulamento e observados
terá até 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o os seguintes limites:
exercício do cargo. I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados,
2 (dois) servidores;
14
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 § 2º Na hipótese de o servidor cedido a empresa pú-
(trinta mil) associados, 4 (quatro) servidores; blica ou sociedade de economia mista, nos termos das
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) asso- respectivas normas, optar pela remuneração do cargo
ciados, 8 (oito) servidores. efetivo ou pela remuneração do cargo efetivo acrescida
§ 1º Somente poderão ser licenciados os servidores elei- de percentual da retribuição do cargo em comissão, a
tos para cargos de direção ou de representação nas referidas entidade cessionária efetuará o reembolso das despesas
entidades, desde que cadastradas no órgão competente. realizadas pelo órgão ou entidade de origem.
§ 2º A licença terá duração igual à do mandato, poden- § 3o A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no
do ser renovada, no caso de reeleição. Diário Oficial da União.
§ 4o Mediante autorização expressa do Presidente da
Resumo: República, o servidor do Poder Executivo poderá ter exer-
- Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família cício em outro órgão da Administração Federal direta que
– justifica-se por problema de saúde com um familiar pró-
não tenha quadro próprio de pessoal, para fim determi-
ximo ou dependente legal. Remunerada.
nado e a prazo certo.
- Licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge – jus-
§ 5° Aplica-se à União, em se tratando de empregado
tifica-se por mudança do cônjuge de um servidor público
ou servidor por ela requisitado, as disposições dos §§ 1º e
de cidade ou país. Não remunerada.
- Licença para o Serviço Militar – justifica-se para o 2º deste artigo.
caso de convocação do servidor para o serviço militar. Não § 6° As cessões de empregados de empresa pública
remunerada. ou de sociedade de economia mista, que receba recursos
- Licença para Atividade Política – justifica-se para o de Tesouro Nacional para o custeio total ou parcial da sua
caso de servidor candidato a cargo político eletivo, sendo folha de pagamento de pessoal, independem das dispo-
obrigatório entre o dia da candidatura e dez dias após as sições contidas nos incisos I e II e §§ 1º e 2º deste artigo,
eleições. Não remunerada. ficando o exercício do empregado cedido condicionado
- Licença para Capacitação – justifica-se para o aperfei- a autorização específica do Ministério do Planejamento,
çoamento profissional do servidor. Remunerada. Orçamento e Gestão, exceto nos casos de ocupação de
- Licença Para Tratar Interesses Particulares – dispensa cargo em comissão ou função gratificada.
justificativa, basta a vontade do servidor. Não remunerada. § 7° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
- Licença para Desempenho de Mandato Classista – tão, com a finalidade de promover a composição da força
justifica-se para o caso de convocação do servidor como de trabalho dos órgãos e entidades da Administração Pú-
responsável por gerir ou representar em tempo integral blica Federal, poderá determinar a lotação ou o exercício
entidade de classe. Não remunerada. de empregado ou servidor, independentemente da ob-
- Licença para Tratamento de Saúde – justifica-se por servância do constante no inciso I e nos §§ 1° e 2° deste
doença do servidor, sendo necessário o afastamento para artigo.
tratamento. Remunerada.
- Licença-Gestante ou Adotante – justifica-se por ma- Seção II
ternidade, biológica ou adotada. Remunerada. Do Afastamento para Exercício de Mandato Eleti-
- Licença-Paternidade – justifica-se por paternidade, vo
biológica ou adotada. Remunerada.
Art. 94. Ao servidor investido em mandato eletivo apli-
Capítulo V
cam-se as seguintes disposições:
Dos Afastamentos
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distri-
Seção I
tal, ficará afastado do cargo;
Do Afastamento para Servir a Outro Órgão ou En-
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do
tidade
cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercí- III - investido no mandato de vereador:
cio em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios ou em serviço vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do
social autônomo instituído pela União que exerça atividades cargo eletivo;
de cooperação com a administração pública federal, nas se- b) não havendo compatibilidade de horário, será afas-
guintes hipóteses: tado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remu-
I - para exercício de cargo em comissão ou função de neração.
confiança; § 1o No caso de afastamento do cargo, o servidor
II - em casos previstos em leis específicas. contribuirá para a seguridade social como se em exercício
§ 1º Na hipótese do inciso I, sendo a cessão para ór- estivesse.
gãos ou entidades dos Estados, do Distrito Federal ou dos § 2o O servidor investido em mandato eletivo ou clas-
Municípios, o ônus da remuneração será do órgão ou en- sista não poderá ser removido ou redistribuído de ofício
tidade cessionária, mantido o ônus para o cedente nos de- para localidade diversa daquela onde exerce o mandato.
mais casos.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se ao II - a licença para tratamento de saúde de pessoal da fa-
cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou enteados do servidor mília do servidor, com remuneração, que exceder a 30 (trin-
que vivam na sua companhia, bem como aos menores sob ta) dias em período de 12 (doze) meses.
sua guarda, com autorização judicial. III - a licença para atividade política, no caso do art. 86, § 2o;
IV - o tempo correspondente ao desempenho de man-
Capítulo VII dato eletivo federal, estadual, municipal ou distrital, anterior
Do Tempo de Serviço ao ingresso no serviço público federal;
V - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada
Art. 100. É contado para todos os efeitos o tempo de ser- à Previdência Social;
viço público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas. VI - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra;
VII - o tempo de licença para tratamento da própria saú-
Art. 101. A apuração do tempo de serviço será feita de que exceder o prazo a que se refere a alínea “b” do inciso
em dias, que serão convertidos em anos, considerado o VIII do art. 102.
ano como de trezentos e sessenta e cinco dias. § 1o O tempo em que o servidor esteve aposentado
será contado apenas para nova aposentadoria.
Art. 102. Além das ausências ao serviço previstas no art. § 2o Será contado em dobro o tempo de serviço pres-
97, são considerados como de efetivo exercício os afasta- tado às Forças Armadas em operações de guerra.
mentos em virtude de: § 3o É vedada a contagem cumulativa de tempo de
I - férias; serviço prestado concomitantemente em mais de um cargo
II - exercício de cargo em comissão ou equivalente, em ou função de órgão ou entidades dos Poderes da União,
órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, Muni- Estado, Distrito Federal e Município, autarquia, fundação
cípios e Distrito Federal; pública, sociedade de economia mista e empresa pública.
III - exercício de cargo ou função de governo ou adminis-
tração, em qualquer parte do território nacional, por nomea- Capítulo VIII
ção do Presidente da República; Do Direito de Petição
IV - participação em programa de treinamento regular-
mente instituído ou em programa de pós-graduação stricto Art. 104. É assegurado ao servidor o direito de reque-
sensu no País, conforme dispuser o regulamento; rer aos Poderes Públicos, em defesa de direito ou inte-
V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual, resse legítimo.
municipal ou do Distrito Federal, exceto para promoção por
merecimento; Art. 105. O requerimento será dirigido à autoridade
VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei; competente para decidi-lo e encaminhado por intermé-
VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o dio daquela a que estiver imediatamente subordinado o re-
afastamento, conforme dispuser o regulamento; querente.
VIII - licença:
a) à gestante, à adotante e à paternidade; Art. 106. Cabe pedido de reconsideração à autoridade
b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vin- que houver expedido o ato ou proferido a primeira decisão,
te e quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de serviço não podendo ser renovado.
público prestado à União, em cargo de provimento efetivo; Parágrafo único. O requerimento e o pedido de reconsi-
c) para o desempenho de mandato classista ou partici- deração de que tratam os artigos anteriores deverão ser des-
pação de gerência ou administração em sociedade coopera- pachados no prazo de 5 (cinco) dias e decididos dentro
tiva constituída por servidores para prestar serviços a seus de 30 (trinta) dias.
membros, exceto para efeito de promoção por merecimento;
d) por motivo de acidente em serviço ou doença profis- Art. 107. Caberá recurso:
sional; I - do indeferimento do pedido de reconsideração;
e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento; II - das decisões sobre os recursos sucessivamente in-
f) por convocação para o serviço militar; terpostos.
IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18; § 1o O recurso será dirigido à autoridade imediatamen-
X - participação em competição desportiva nacional ou te superior à que tiver expedido o ato ou proferido a de-
convocação para integrar representação desportiva nacio- cisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais
nal, no País ou no exterior, conforme disposto em lei espe- autoridades.
cífica; § 2o O recurso será encaminhado por intermédio da
XI - afastamento para servir em organismo internacio- autoridade a que estiver imediatamente subordinado o re-
nal de que o Brasil participe ou com o qual coopere. querente.
Art. 103. Contar-se-á apenas para efeito de aposenta- Art. 108. O prazo para interposição de pedido de re-
doria e disponibilidade: consideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar
I - o tempo de serviço público prestado aos Estados, Mu- da publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão
nicípios e Distrito Federal; recorrida.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 109. O recurso poderá ser recebido com efeito sus- “Estes dispositivos preveem, basicamente, um conjunto
pensivo, a juízo da autoridade competente. de normas de conduta e de proibições impostas pela lei
Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido de aos servidores por ela abrangidos, tendo em vista a pre-
reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagi- venção, a apuração e a possível punição de atos e omissões
rão à data do ato impugnado. que possam por em risco o funcionamento adequado da
administração pública, do posto de vista ético, do ponto
Art. 110. O direito de requerer prescreve: de vista da eficiência e do ponto de vista da legalidade. De-
I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de correm, estes dispositivos, do denominado Poder Discipli-
cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou que afe- nar que é aquele conferido à Administração com o objetivo
tem interesse patrimonial e créditos resultantes das relações de manter sua disciplina interna, na medida em que lhe
de trabalho; atribui instrumentos para punir seus servidores (e também
II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo àqueles que estejam a ela vinculados por um instrumento
quando outro prazo for fixado em lei. jurídico determinado - particulares contratados pela Ad-
Parágrafo único. O prazo de prescrição será contado da ministração). [...]“O disposto no Título IV da lei nº 8.112/90
data da publicação do ato impugnado ou da data da prevê basicamente um conjunto de obrigações impostas
ciência pelo interessado, quando o ato não for publicado. aos servidores por ela regidos. Tais obrigações, ora positi-
vas (os denominados Deveres – art. 116), ora negativas (as
Art. 111. O pedido de reconsideração e o recurso, denominadas Proibições – art. 117) uma vez inadimplidas
quando cabíveis, interrompem a prescrição. ensejam sua imediata apuração (art. 143) e uma vez com-
provadas importam na responsabilização administrativa, a
Art. 112. A prescrição é de ordem pública, não poden- desafiar, então, a aplicação de uma das sanções administra-
do ser relevada pela administração. tivas (art. 127). Não é por outra razão que o art. 124 declara
que a responsabilidade administrativa resulta da prática de
Art. 113. Para o exercício do direito de petição, é asse- ato omissivo (quando o servidor deixa de cumprir os deve-
gurada vista do processo ou documento, na repartição, res a ele impostos) ou comissivo (quando viola proibição)
ao servidor ou a procurador por ele constituído. praticado no desempenho do cargo ou função”13.
18
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
II - ser leal às instituições a que servir; VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em
“O servidor que cumprir todos os deveres e normas razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou,
administrativas já positivadas, consequentemente, é leal à quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conheci-
instituição que lhe remunera. Sob o prisma constitucional é mento de outra autoridade competente para apuração;
que devemos entender a norma hoje. Sendo assim, o dever “Todo servidor público é obrigado a dar conhecimento
de lealdade está inserido no Estatuto como norma progra- ao chefe da repartição acerca das irregularidades de que
mática, orientadora da conduta dos servidores”. toma conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve
levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sistema hie-
III - observar as normas legais e regulamentares; rárquico. Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões
“A função desta norma é de não deixar sem resposta detêm um conhecimento maior de como corrigir o erro ou
qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a neces- comunicar aos órgãos de controle para a devida apuração.
sária correlação nesses casos que temos de fazer do art. De nada adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular,
116, inciso III, com a norma violada, e já prevista em outra ir comunicar ao público ou a terceiros. Além do dever de
lei, decreto, instrução, ordem de serviço ou portaria”. sigilo, há assuntos que exigem certas reservas, visando ao
bem do serviço público, da segurança nacional e mesmo
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando ma- da sociedade”.
nifestamente ilegais;
“O servidor integra a estrutura organizacional do ór- VII - zelar pela economia do material e a conservação
gão em que presta suas atribuições funcionais. O Estado do patrimônio público;
se movimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro “Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela econo-
dos órgãos públicos, há um escalonamento de cargos e mia e pela conservação dos bens públicos presta um des-
serviço à nação que lhe remunera. E como se verá adiante
funções que servem ao cumprimento da vontade do ente
poderá ser causa inclusive de demissão, se não cumprir o
estatal. Este escalonamento, posto em movimento, é o
presente dever, quando por descumprimento dele a gra-
que vimos até agora chamando de hierarquia. A hierarquia
vidade do fato implicar a infração a normas mais graves”.
existe para que do alto escalão até a prática dos adminis-
trados as coisas funcionem. Disso decorre que quando é
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
emitida uma ordem para o servidor subordinado, este deve
“O agente público deve guardar sigilo sobre o que se
dar cumprimento ao comando. Porém quando a ordem é
passa na repartição, principalmente quanto aos assuntos
visivelmente ilegal, arbitrária, inconstitucional ou absurda,
oficiais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011,
o servidor não é obrigado a dar seguimento ao que lhe é hoje está regulamentado o acesso às informações. Porém,
ordenado. Quando a ordem é manifestamente ilegal? Há o servidor deve ter cuidado, pois até mesmo o fornecimen-
uma margem de interpretação, principalmente se o servi- to ou divulgação das informações exigem um procedimen-
dor subordinado não tiver nenhuma formação de ordem to. Maior cuidado há que se ter, quando a informação pos-
jurídica. Logo, é o bom senso que irá margear o que é fla- sa expor a intimidade da pessoa humana. As informações
grantemente inconstitucional”. pessoais dos administrados em geral devem ser tratadas
forma transparente e com respeito à intimidade, à vida
19
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
privada, à honra e à imagem das pessoas, bem como às XI - tratar com urbanidade as pessoas;
liberdades e garantias individuais, segundo o artigo 31, da “No mundo moderno, e máxime em nossa civilização
Lei nº 21.527, 2011. A exceção para o sigilo existe, pois, não ocidental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Ur-
devemos tratar a questão em termos de cláusula jurídica bano, nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo
de caráter absoluto, podendo ter autorizada a divulgação da urbe (cidade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e
ou o acesso por terceiros quando haja previsão legal. Outra que não possa criar embaraços aos usuários dos serviços
exceção é quando há o consentimento expresso da pessoa públicos”.
a que elas se referirem. No caso de cumprimento de or-
dem judicial, para a defesa de direitos humanos, e quando XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso
a proteção do interesse público e geral preponderante o de poder.
exigir, também devem ser fornecidas as informações. Por- Parágrafo único. A representação de que trata o inciso
tanto, o servidor há que ter reserva no seu comportamento XII será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela
e fala, esquivando-se de revelar o conteúdo do que se pas- autoridade superior àquela contra a qual é formulada,
sa no seu trabalho. Se o assunto pululante é uma irregula- assegurando-se ao representando ampla defesa.
ridade absurda, deve então reduzir a escrito e representar Caso o funcionário público denuncie outro servidor,
para que se apure o caso. Deveriam diminuir as conversas esta representação será encaminhada a alguém que seja
de corredor e se efetivar a apuração dos fatos através do superior hierarquicamente ao denunciado, que terá direito
processo administrativo disciplinar. Os assuntos objeto do à ampla defesa.
serviço merecem reserva. Devem ficar circunscritos aos ser- “O servidor tem obrigação legal de dar conhecimen-
vidores designados para o respectivo trabalho interno, não to às autoridades de qualquer irregularidade de que tiver
devendo sair da seção ou setor de trabalho, sem o trâmite ciência em razão do cargo, principalmente no processo
hierárquico do chefe imediato. Se o assunto ou o trabalho, em que está atuando ou quando o fato aconteceu sob as
enfim, merecer divulgação mais ampla, deve ser contatado suas vistas. Não é concebível que o servidor se defronte
o órgão de assessoria de comunicação social, que saberá com uma irregularidade administrativa e fique inerte. Deve
provocar quem de direito para que a irregularidade seja
proceder de forma oficial, obedecendo ao bom senso e às
sanada de imediato. Caso haja indiferença no seu círculo
leis vigentes”.
de atuação, i.e., no seu setor ou seção, deverá representar
aos órgãos superiores. Assim é que o dever de informar
IX - manter conduta compatível com a moralidade ad-
acerca de irregularidades anda de braço dado com o dever
ministrativa;
de representar. Não surtindo efeito a notícia da irregulari-
“O ato administrativo não se satisfaz somente com o
dade, não corrigida esta, sobrevém o dever de representar.
ser legal. Para ser válido o ato administrativo tem que ser
O dever de representação não deixa de ser uma prerro-
compatível com a moralidade administrativa. O agente gativa legal, investindo o servidor de um múnus público
deve se comportar em seus atos de maneira proba, escor- importante, constituindo o servidor em um curador legal
reita, séria, não atuando com intenções escusas e desvir- do ente público. O mais humilde servidor passa a ser um
tuadas. Seu poder-dever não pode ser utilizado, por exem- agente promotor de legalidade. É claro o inciso XII do art.
plo, para satisfação de interesses menores, como realizar a 116 quando diz que é dever do servidor “representar con-
prática de determinado ato para beneficiar uma amante ou tra ilegalidade, omissão ou abuso de poder”. De modo que
um parente. Se o agente viola o dever de agir com com- também a omissão pode ensejar a representação. A omis-
portamento incompatível com a moralidade administrativa, são do agente que ilegalmente não pratica ato a que se
poderá estar sujeito a sanção disciplinar. Seu ato ímprobo acha vinculado pode até configurar o ilícito penal de pre-
ou imoral configura o chamado desvio de poder, que é to- varicação. O dever de representação deve ser privilegiado,
talmente abominável no Direito Administrativo e poderá mas deve ser usado com o devido equilíbrio, não podendo
ser anulado interna corporis ou judicialmente através da servir a finalidades egoísticas, político-partidárias, induzido
ação popular, ação de ressarcimento ao erário e ação civil por inimizades de cunho pessoal, o que de pronto trespas-
pública se o ato violar direito coletivo ou transindividual”. sará o representante de autor a réu por prática de abuso de
poder ou denunciação caluniosa”.
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
“Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assí- Capítulo II
duo significa ser presente dentro do horário do expedien- Das Proibições
te. O oposto do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é
aquele servidor que não atrasa seus compromissos. É o que Art. 117. Ao servidor é proibido:
comparece no horário para as reuniões de trabalho e de- Em contraposição aos deveres do servidor público,
mais atividades relacionadas com o exercício do cargo que existem diversas proibições, que também estão em boa
ocupa. Embora sejam conceitos diferentes, aqui o dever parte abrangidas pelo Decreto n° 1.171/94. A violação dos
violado, seja por impontualidade, seja por inassiduidade deveres ou a prática de alguma das violações abaixo des-
(que ainda não aquela inassiduidade habitual de 60 dias critas caracterizam infração administrativa disciplinar.
ensejadora de demissão), merece reprimenda de advertên- “Nas Proibições – art. 117, constata-se, desde logo, sua
cia, com fins educativos e de correção do servidor”. objetividade e taxatividade, o que veda sua ampliação e o
uso de interpretações analógicas ou sistemáticas visto se-
20
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
rem condutas restritivas de direitos, sujeitas, portanto, ao meante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investi-
princípio da reserva legal. O descumprimento dessas proi- do em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o
bições podem inclusive, ensejar o enquadramento penal exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda,
do servidor, pois muitas das condutas ali descritas, confi- de função gratificada na Administração Pública direta e in-
guram prática de delito penal”15. direta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem mediante designações recíprocas, viola a Constituição Fe-
prévia autorização do chefe imediato; deral.” Obs.: se o concurso pedir pelo entendimento juris-
Violação do dever de assiduidade. prudencial, vá pela súmula, mas se não mencionar nada
se atenha ao texto da lei, visto que há pequenas variações
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade compe- entre o texto da súmula e o da lei.
tente, qualquer documento ou objeto da repartição;
Violação do dever de zelo com o patrimônio público. IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou
de outrem, em detrimento da dignidade da função pública;
III - recusar fé a documentos públicos; O cargo público serve apenas aos interesses da admi-
É dever do servidor público conferir fé aos documentos nistração pública, ou seja, da coletividade, não aos interes-
públicos, revestindo-lhes da autoridade e confiança que ses pessoais do servidor.
seu cargo possui. Violação do dever de transparência.
X - participar de gerência ou administração de socie-
IV - opor resistência injustificada ao andamento de dade privada, personificada ou não personificada, exercer o
documento e processo ou execução de serviço; comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou co-
Não cabe impedir que o trâmite da administração seja manditário;
alterado por um capricho pessoal. Violação ao dever de ce- Não cabe ao servidor público administrar sociedade
leridade e eficiência, bem como de impessoalidade. privada, o que pode comprometer sua eficiência e impar-
cialidade no exercício da função pública. No princípio, ou
V - promover manifestação de apreço ou desapreço no seja, na redação original do Estatuto era proibida apenas a
recinto da repartição; participação do servidor como sócio gerente ou adminis-
Violação do dever de discrição. trador de empresa privada, exceto na qualidade de mero
cotista, acionário ou comanditário. Atualmente, a empresa
VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos pode até não estar personificada, por exemplo, não estar
casos previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja devidamente constituída e registrada nos órgãos compe-
de sua responsabilidade ou de seu subordinado; tentes (Junta Comercial, fisco estadual, municipal, distrital
Quem é designado para o desempenho de uma função e federal, e órgãos de controle: ambiental, trabalhista etc.).
pública deve desempenhá-la, não podendo designar outra Comprovada detidamente a gerência ou administração da
pessoa para prestar seus serviços ou de seu subordinado. sociedade particular em concomitância com a pretensa
carga horária da repartição pública, deve ser aplicada a pe-
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filia- nalidade de demissão.
rem-se a associação profissional ou sindical, ou a partido político;
O direito de associação é livre, não podendo um fun- XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto
cionário forçar o seu subordinado a associar-se sindical ou a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios
politicamente. previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo
grau, e de cônjuge ou companheiro;
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou fun- Não cabe atuar como procurador perante repartições
ção de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o públicas de forma profissional. Daí a limitação à atuação
segundo grau civil; como representante de parente até segundo grau (irmãos,
É a chamada prática de nepotismo. Do latim nepos, ascendentes e descendentes, cônjuges e companheiros).
neto ou descendente, é o termo utilizado para designar o
favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detri- XII - receber propina, comissão, presente ou vanta-
mento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que gem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;
diz respeito à nomeação ou elevação de cargos. O Decreto A percepção de vantagem indevida gerando enrique-
nº 7.203, de 4 de junho de 2010 dispõe sobre a vedação cimento ilícito também caracteriza ato de improbidade ad-
do nepotismo no âmbito da administração pública federal. ministrativa de maior gravidade, bem como crime de cor-
Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge, rupção passiva.
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade no- XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado
15 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores estrangeiro;
Públicos da União. Disponível em: <http://www.canaldos- Trata-se de indício da intenção de praticar atos contrá-
concursos.com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso rios ao interesse do Estado ao qual esteja vinculado.
em: 11 ago. 2013.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis-
Usura significa agiotagem, que é o empréstimo de di- sionais de saúde, com profissões regulamentadas;
nheiro a particulares obtendo juros abusivos em troca. As
atividades de empréstimo somente podem ser desempe- Segundo Carvalho Filho16, “o fundamento da proibição
nhadas com fim lucrativo por instituições credenciadas. é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que
o servidor não execute qualquer delas com a necessária efi-
XV - proceder de forma desidiosa; ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons-
Desídia é desleixo, descuido, preguiça, indolência. tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em
detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição -se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em
em serviços ou atividades particulares; consequência, se a acumulação só encerra a percepção de
O aparato da administração pública pertence ao Estado, vencimentos por uma das fontes, não incide a regra cons-
não cabendo ao servidor utilizá-lo em atividades particulares. titucional proibitiva”.
XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas § 1o A proibição de acumular estende-se a cargos, em-
ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em-
transitórias; presas públicas, sociedades de economia mista da União,
Cada servidor público tem sua atribuição legal, não do Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e dos Mu-
cabendo designá-lo para desempenhar funções diversas nicípios.
salvo em caso de extrema necessidade. A proibição vale tanto para a administração direta
quanto para a indireta.
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incom-
patíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário § 2o A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con-
de trabalho; dicionada à comprovação da compatibilidade de horários.
Se o Estado pretende que o desempenho de atividade
O exercício de atividades incompatíveis propicia uma
cumulada não gere prejuízo à função pública, correto que
violação ao princípio da imparcialidade.
exija a comprovação de compatibilidade de horários;
XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais
§ 3o Considera-se acumulação proibida a percepção
quando solicitado.
de vencimento de cargo ou emprego público efetivo com
A atualização de dados cadastrais é necessária para
proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que
manter a administração ciente da situação de seu servidor.
decorram essas remunerações forem acumuláveis na ati-
vidade.
Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X do Exterioriza-se, por exemplo, a proibição de que o agen-
caput deste artigo não se aplica nos seguintes casos: te se aposente do serviço público e continue o exercendo,
I - participação nos conselhos de administração e fiscal recebendo aposentadoria e salário.
de empresas ou entidades em que a União detenha, direta
ou indiretamente, participação no capital social ou em so- Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um
ciedade cooperativa constituída para prestar serviços a seus cargo em comissão, exceto no caso previsto no parágrafo
membros; e único do art. 9o, nem ser remunerado pela participação em
II - gozo de licença para o trato de interesses particu- órgão de deliberação coletiva.
lares, na forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação Cargo em comissão é aquele que não exige aprovação
sobre conflito de interesses. em concurso público, sendo designado para o exercício
Nestes casos, é possível participar diretamente da ad- por possuir um vínculo de confiança com o superior. So-
ministração de sociedade privada, pois o interesse estatal mente é possível exercer 1, salvo interinamente. Da mesma
não será comprometido. forma, não cabe remuneração por participar de órgão de
deliberação coletiva.
Capítulo III
Da Acumulação Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica
à remuneração devida pela participação em conselhos de
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos. economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
Estabelece o artigo 37, XVI da Constituição Federal: quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou
indiretamente, detenha participação no capital social, obser-
É vedada a acumulação remunerada de cargos públi- vado o que, a respeito, dispuser legislação específica.
cos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, O exercício de função em determinados conselhos de
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. administração e fiscais aceita remuneração. Trata-se de ex-
a) a de dois cargos de professor; ceção ao caput.
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou 16 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito
científico; administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 120. O servidor vinculado ao regime desta Lei, que Genericamente, os elementos da responsabilidade
acumular licitamente dois cargos efetivos, quando investido civil se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele
em cargo de provimento em comissão, ficará afastado de que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou im-
ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese em que houver prudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
compatibilidade de horário e local com o exercício de um que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o
deles, declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou artigo central do instituto da responsabilidade civil, que
entidades envolvidos. tem como elementos: ação ou omissão voluntária (agir
Se o servidor já cumular dois cargos efetivos e for in- como não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa
vestido de um cargo em comissão, ficará afastado dos car- ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma vio-
gos efetivos a não ser que exista compatibilidade de ho- lação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo causal
rários e local com um deles, caso em que se afastará de (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano
somente um cargo efetivo. causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente,
“Os artigos 118 a 120 da lei nº 8.112/90 ao tratarem da que pode ser individual ou coletivo, moral ou material,
acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam, econômico e não econômico).
no âmbito do serviço público federal a vedação genérica Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da
República. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito pú-
constitui uma das infrações mais comuns praticadas por blico e as de direito privado prestadoras de serviços públi-
servidores públicos, o que se constata observando o eleva- cos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
do número de processos administrativos instaurados com qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
esse objeto. O sistema adotado pela lei nº 8.112/90 é rela- de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
tivamente brando, quando cotejado com outros estatutos culpa.
de alguns Estados, visto que propicia ao servidor incurso
nessa ilicitude diversas oportunidades para regularizar sua Este dispositivo, que aborda a questão da responsabi-
situação e escapar da pena de demissão. Também prevê a
lidade civil do Estado e dos seus agentes a ser aprofunda-
lei em comentário, um processo administrativo simplifica-
da adiante, deixa clara a formação de uma relação jurídica
do (processo disciplinar de rito sumário) para a apuração
autônoma entre o Estado e o agente público que causou
dessa infração – art. 133” 17.
o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação,
a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá
ao Estado provar a culpa do agente pelo dano causado,
ao qual foi anteriormente condenado a reparar. Noutras
5 RESPONSABILIDADE DOS SERVIDORES palavras, o servidor público apenas responderá se tiver
PÚBLICOS. agido com dolo ou culpa em sua ação ou omissão que
causou (nexo) um dano.
Direito de regresso é o direito de acionar o causador
direto do dano para obter de volta aquilo que pagou à
O instituto da responsabilidade civil é parte integran- vítima, considerada a existência de uma relação obriga-
te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse- cional que se forma entre a vítima e a instituição que o
quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera agente compõe. O direito de regresso surge para o Esta-
para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen- do com relação ao agente causador do dano, sempre que
to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal, ele agir com dolo ou culpa.
quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano O Estado responde pelos danos que seu agente cau-
deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res- sar aos membros da sociedade, mas se este agente agiu
taurando-se o equilíbrio social.18 com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po- pago à vítima. O agente causará danos ao praticar con-
dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os dutas incompatíveis com o comportamento ético dele
limites da herança, embora existam reflexos na ação que esperado.19
apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es- No âmbito federal, a questão da responsabilidade do
fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de agente é objeto da Lei nº 8.112/1990, que institui o regi-
autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
me jurídico dos servidores públicos civis federais, a qual
uma absolvição por falta de provas não o faz).
serve de base para a elaboração de leis estaduais. Em ra-
zão disso, colaciona-se abaixo sua disciplina.
17 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores
Públicos da União. Disponível em: <http://www.canaldos-
concursos.com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso
em: 11 ago. 2013.
18 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 19 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed.
9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. São Paulo: Método, 2011.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
responsabilizados civil, penal ou administrativamente por Art. 11 - O disciplinamento normativo das formas de
tal denúncia caso no curso da apuração se verificasse que provimento dos cargos públicos referidos nos itens VIII e IX
ela não procedia. do art. 9º é objeto de legislação específica.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
c) independerá dos limites previstos nas alíneas anterio- II - em caráter efetivo, quando se tratar de nomeação
res a inscrição do candidato que já ocupe cargo integrante para cargo da classe inicial ou singular de determinada ca-
do Grupo Segurança Pública. tegoria funcional;
§ 1º - Das inscrições para o concurso constarão, obri- III - em comissão, quando se tratar de cargo que assim
gatoriamente: deve ser provido.
I - o limite de idade dos candidatos, que poderá variar de Parágrafo único - Em caso de impedimento temporário
dezoito (18) anos completos até cinquenta (50) anos incom- do titular do cargo em comissão, a autoridade competen-
pletos, na forma estabelecida no caput deste artigo; te nomeará o substituto, exonerando-o, findo o período da
II - o grau de instrução exigível, mediante apresentação substituição.
do respectivo certificado;
III - a quantidade de vagas a serem preenchidas, distri- Art. 18 - Será tornada sem efeito a nomeação quando,
buídas por especialização da disciplina, quando referentes por ato ou omissão do nomeado, a posse não se verificar no
a cargo do Magistério e de atividades de nível superior ou prazo para esse fim estabelecido.
outros de denominação genérica;
IV - o prazo de validade do concurso, de dois (2) anos, A nomeação em caráter vitalício se dá notadamente
prorrogável a juízo da autoridade que o abriu ou o iniciou; nas carreiras da magistratura e do Ministério Público.
V - descrição sintética do cargo, incluindo exemplifica- Os servidores em geral que se submetem a concurso
ção de tarefas típicas, horário, condições de trabalho e retri- público ocupam cargo efetivo, podendo adquirir estabili-
buição; dade após aprovação no estágio probatório.
VI - tipos e Programa das Provas; Os cargos em comissão são de confiança, seus ocu-
VII - exigências outras, de acordo com as especificações pantes permanecem nele enquanto a autoridade que os
do cargo. nomeou desejar e no período em que ela ocupa uma po-
§ 2º - Independerá de idade, a inscrição do candidato sição de gestão.
que seja servidor de Órgãos da Administração Estadual Di-
reta ou Indireta. CAPÍTULO IV
§ 3º - Na hipótese do parágrafo anterior, a habilitação Da Posse
no concurso somente produzirá efeito se, no momento da
posse ou exercício no novo cargo ou emprego, o candida- Art. 19 - Posse é o fato que completa a investidura
to ainda possuir a qualidade de servidor ativo, vedada a em cargo público.
aposentadoria concomitante para elidir a acumulação do Parágrafo único - Não haverá posse nos casos de pro-
cargo. moção, acesso e reintegração.
Art. 15 - Encerradas as inscrições, legalmente proces- Art. 20 - Só poderá ser empossado em cargo público
sadas, para concurso destinado ao provimento de qualquer quem satisfizer os seguintes requisitos:
cargo, não se abrirão novas inscrições antes da realiza- I - ser brasileiro;
ção do concurso. II - ter completado 18 anos de idade;
III - estar no gozo dos direitos políticos;
Art. 16 - Ressalvado o caso de expressa condição básica IV - estar quite com as obrigações militares e eleito-
para provimento de cargo prevista em regulamento, inde- rais;
penderá de limite de idade a inscrição, em concurso, de V - ter boa conduta;
ocupante em cargo público. VI - gozar saúde, comprovada em inspeção médica, na
forma legal e regulamentar;
No concurso de provas o candidato é avaliado ape- VII - possuir aptidão para o cargo;
nas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos VIII - ter-se habilitado previamente em concurso, ex-
concursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua ceto nos casos de nomeação para cargo em comissão ou ou-
atividade profissional também é considerado. tra forma de provimento para a qual não se exija o concurso;
O edital delimita questões como valor da taxa de ins- IX - ter atendido às condições especiais, prescritas em
crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de va- lei ou regulamento para determinados cargos ou categorias
lidade. funcionais.
Quando os requisitos para a ocupação do cargo exi- § 1º - A prova das condições a que se refere os itens I e
gem, fixam-se idades limites para a inscrição no concurso II deste artigo não será exigida nos casos de transferência,
público. aproveitamento e reversão.
§ 2º - Ninguém poderá ser empossado em cargo efeti-
CAPÍTULO III vo sem declarar, previamente, que não ocupa outro cargo
Da Nomeação ou exerce função ou emprego público da União, dos Es-
tados, dos Municípios, do Distrito Federal, dos Territórios,
Art. 17 - A nomeação será feita: de Autarquias, empresas públicas e sociedades de econo-
I - em caráter vitalício, nos casos expressamente pre- mia mista, ou apresentar comprovante de exoneração ou
vistos na Constituição; dispensa do outro cargo que ocupava, ou da função ou
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
emprego que exerce, ou, ainda, nos casos de acumulação § 1º - Como condição para aquisição da estabilidade,
legal, comprovante de ter sido a mesma julgada lícita pelo é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co-
órgão competente. missão instituída para essa finalidade.
§ 2º - A avaliação especial de desempenho do servidor
Art. 21 - São competentes para dar posse: será realizada:
I - o Governador do Estado, às autoridades que lhe são a) extraordinariamente, ainda durante o estágio pro-
diretamente subordinadas; batório, diante da ocorrência de algum fato dela motivador,
II - os Secretários de Estado, aos dirigentes de reparti- sem prejuízo da avaliação ordinária;
ções que lhes são diretamente subordinadas; b) ordinariamente, logo após o término do estágio pro-
III - os dirigentes das Secretarias Administrativas, ou batório, devendo a comissão ater-se exclusivamente ao de-
unidades de administração geral equivalente, da Assembleia sempenho do servidor durante o período do estágio.
Legislativa, do Tribunal de Contas do Estado, e do Conselho § 3º - Além de outros específicos indicados em lei ou
de Contas dos Municípios, aos seus funcionários, se de outra regulamento, os requisitos de que trata este artigo são os
maneira não estabelecerem as respectivas leis orgânicas e seguintes:
regimentos internos; I - adaptação do servidor ao trabalho, verificada por
IV - o Diretor-Geral do órgão central do sistema de pes- meio de avaliação da capacidade e qualidade no desempe-
soal, aos demais funcionários da Administração Direta; nho das atribuições do cargo;
V - os dirigentes das Autarquias, aos funcionários dessas II - equilíbrio emocional e capacidade de integração;
entidades. III - cumprimento dos deveres e obrigações do servi-
dor público, inclusive com observância da ética profissional.
Art. 22 - No ato da posse será apresentada declara- § 4º - O estágio probatório corresponderá a uma com-
ção, pelo funcionário empossado, dos bens e valores que plementação do concurso público a que se submeteu o
constituem o seu patrimônio, nos termos da regulamentação servidor, devendo ser obrigatoriamente acompanhado e su-
própria. pervisionado pelo Chefe Imediato.
§ 5º - Durante o estágio probatório, os cursos de trei-
Art. 23 - Poderá haver posse por procuração, quando
namento para formação profissional ou aperfeiçoamento
se tratar de funcionário ausente do País ou do Estado, ou,
do servidor, promovidos gratuitamente pela Administra-
ainda, em casos especiais, a juízo da autoridade competente.
ção, serão de participação obrigatória e o resultado obti-
do pelo servidor será considerado por ocasião da avalia-
Art. 24 - A autoridade de que der posse verificará, sob
ção especial de desempenho, tendo a reprovação caráter
pena de responsabilidade:
eliminatório.
I - se foram satisfeitas as condições legais para a posse;
§ 6º - Fica vedada qualquer espécie de afastamento
II - se do ato de provimento consta a existência de vaga,
com os elementos capazes de identificá-la; dos servidores em estágio probatório, ressalvados os casos
III - em caso de acumulação, se pelo órgão competente previstos nos incisos I, II, III, IV, VI, X, XII, XIII, XV e XXI do art.
foi declarada lícita. 68 da Lei nº 9.826, de 14 de maio de 1974.
§ 7º - O servidor em estágio probatório não fará jus a
Art. 25 - A posse ocorrerá no prazo de 30 (trinta) dias ascensão funcional.
da publicação do ato de provimento no órgão oficial. § 8º - As faltas disciplinares cometidas pelo servidor
Parágrafo único - A requerimento do funcionário ou de após o decurso do estágio probatório e antes da conclusão
seu representante legal, a autoridade competente para dar da avaliação especial de desempenho serão apuradas por
posse poderá prorrogar o prazo previsto neste artigo, até o meio de processo administrativo-disciplinar, precedido
máximo de 60 (sessenta) dias contados do seu término. de sindicância, esta quando necessária.
§ 9º - São independentes as instâncias administrativas
O termo de posse é dotado de conteúdo específico. É da avaliação especial de desempenho e do processo ad-
possível tomar posse mediante procuração específica. Não ministrativo-disciplinar, na hipótese do parágrafo anterior,
há posse nos cargos em comissão. A declaração de bens e sendo que resultando exoneração ou demissão do servi-
valores visa permitir a verificação da situação financeira do dor, em qualquer dos procedimentos, restará prejudicado o
servidor, de forma a perceber se ele enriqueceu despropor- que estiver ainda em andamento.
cionalmente durante o exercício do cargo.
Art. 28 - O servidor que durante o estágio probatório
CAPÍTULO VI não satisfizer qualquer dos requisitos previstos no § 3º
Do Estágio Probatório do artigo anterior, será exonerado, nos casos dos itens I e II,
e demitido na hipótese do item III.
Art. 27 - Estágio probatório é o triênio de efetivo exer- Parágrafo único - O ato de exoneração ou de demissão
cício no cargo de provimento efetivo, contado do início do servidor em razão de reprovação na avaliação especial
do exercício funcional, durante o qual é observado o aten- de desempenho será expedido pela autoridade competente
dimento dos requisitos necessários à confirmação do servi- para nomear.
dor nomeado em virtude de concurso público
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 29 – O ato administrativo declaratório da estabi- I - da publicação oficial do ato, no caso de reintegração;
lidade do servidor no cargo de provimento efetivo, após II - da posse, nos demais casos.
cumprimento do estágio probatório e aprovação na
avaliação especial de desempenho, será expedido pela Art. 34 - O funcionário terá exercício na repartição
autoridade competente para nomear, retroagindo seus efei- onde for lotado o cargo por ele ocupado, não podendo
tos à data do término do período do estágio probatório. dela se afastar, salvo nos casos previstos em lei ou regula-
mento.
Art. 30 - O funcionário estadual que, sendo estável, § 1º - O afastamento não se prolongará por mais de
tomar posse em outro cargo para cuja confirmação se quatro anos consecutivos, salvo:
exige estágio probatório, será afastado do exercício das I - quando para exercer as atribuições de cargo ou fun-
atribuições do cargo que ocupava, com suspensão do vínculo ção de direção ou de Governo dos Estados, da União, Distrito
funcional nos termos do artigo 66, item I, alíneas a, b e c Federal, Territórios e Municípios e respectivas entidades da
desta lei. administração indireta;
Parágrafo único - Não se aplica o disposto neste artigo II - quando à disposição da Presidência da República;
aos casos de acumulação lícita. III - quando para exercer mandato eletivo, estadual, fe-
deral ou municipal, observado, quanto a este, o disposto na
Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci- legislação especial pertinente;
plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen- IV - quando convocado para serviço militar obrigatório;
tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a V - quando se tratar de funcionário no gozo de licença
norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo para acompanhar o cônjuge.
que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos- § 2º - Preso preventivamente, pronunciado por crime
to no artigo 41 da Constituição Federal: comum ou denunciado por crime inafiançável, em proces-
so do qual não haja pronúncia, o funcionário será afastado
Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer- do exercício, até sentença passada em julgado.
cício os servidores nomeados para cargo de provimento § 3º - O funcionário afastado nos termos do parágrafo
efetivo em virtude de concurso público. anterior terá direito à percepção do benefício do auxílio-re-
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: clusão, nos termos da legislação previdenciária específica.
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja Art. 35 - Para os efeitos deste Estatuto, entende-se por
assegurada ampla defesa; lotação a quantidade de cargos, por grupo, categoria
III - mediante procedimento de avaliação periódica de funcional e classe, fixada em regulamento como necessária
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ao desenvolvimento das atividades das unidades e entidades
ampla defesa. do Sistema Administrativo Civil do Estado.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser-
vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante Art. 36 - Para entrar em exercício, o funcionário é obri-
da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem gado a apresentar ao órgão de pessoal os elementos ne-
direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou pos- cessários à atualização de seu cadastro individual.
to em disponibilidade com remuneração proporcional ao
tempo de serviço. O exercício é o efetivo início do desempenho de fun-
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, ções por parte do servidor nomeado e empossado. Sen-
o servidor estável ficará em disponibilidade, com remune- do assim, é o ato sequencial à posse. Apenas pode entrar
ração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado em exercício o servidor que tomou posse, devendo fazê-lo
aproveitamento em outro cargo. pessoalmente.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co- CAPÍTULO VIII
missão instituída para essa finalidade. DA REMOÇÃO
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Remoção é a mudança de lotação do exercício da fun- Art. 46 - Ascensão funcional é a elevação do funcioná-
ção pública. rio de um cargo para outro de maiores responsabilidades
e atribuições mais complexas, ou que exijam maior tempo
Pode ser processada a pedido ou de ofício. Ocorrendo
de preparação profissional, de nível de vencimento mais eleva-
de ofício, gera-se o direito subjetivo do cônjuge ou compa-
do, ou de atribuições mais compatíveis com as suas aptidões.
nheiro de pedir sua própria remoção.
A remoção pode se dar com ou sem permuta, ou seja, Art. 47 - São formas de ascensão funcional:
um servidor pode trocar de lugar com outro ou é possível I - a promoção;
que o servidor seja autorizado a ir ao novo local sem per- II - o acesso;
muta. III - a transferência.
CAPÍTULO IX Art. 48 - A promoção é a elevação do funcionário à classe
DA SUBSTITUIÇÃO imediatamente superior àquela em que se encontra dentro da
mesma série de classes na categoria funcional a que pertencer.
Art. 39 - Haverá substituição nos casos de impedi-
mento legal ou afastamento de titular de cargo em co- Art. 49 - Acesso é a ascensão do funcionário de clas-
missão. se final da série de classes de uma categoria funcional
para a classe inicial da série de classes ou de outra ca-
Art. 40 - A substituição será automática ou dependerá tegoria profissional afim.
de nomeação.
§ 1º - A substituição automática é estabelecida em lei, Art. 50 - Transferência é a passagem do funcionário de
regulamento, regimento ou manual de serviço, e proceder- uma para outra categoria funcional, dentro do mesmo qua-
-se-á independentemente de lavratura de ato. dro, ou não, e atenderá sempre aos aspectos da vocação profissional.
§ 2º - Quando depender de ato da administração, o
substituto será nomeado pelo Governador, Presidente da Art. 51 - As formas de ascensão funcional obedecerão sem-
Assembleia, Presidente do Tribunal de Contas, Presidente do pre a critério seletivo, mediante provas que sejam capazes de
Conselho de Contas dos Municípios, ou dirigente autárquico, verificar a qualificação e aptidão necessárias ao desempenho das
conforme o caso. atribuições do novo cargo, conforme se dispuser em regulamento.
§ 3º - A substituição, nos termos dos parágrafos ante- Promoção – ascensão funcional para a classe imedia-
riores, será gratuita, salvo se exceder de 30 dias, quando tamente superior.
Acesso – ascensão funcional de uma categoria de clas-
então será remunerada por todo o período.
ses para outra da mesma categoria ou de categoria diversa.
Transferência – ascensão funcional mediante mudança
Art. 41 - Em caso de vacância do cargo em comissão
de categoria profissional.
e até seu provimento, poderá ser designado, pela autori-
dade imediatamente superior, um funcionário para res-
ponder pelo expediente.
Parágrafo único - Ao responsável pelo expediente se 6.1.2 DOS DIREITOS, VANTAGENS E
aplicam as disposições do art. 40, § 3º. AUTORIZAÇÕES – CAPÍTULOS I A VI.
Art. 42 - Pelo tempo da substituição remunerada, o
substituto perceberá o vencimento e a gratificação de
representação do cargo, ressalvado o caso de opção, veda- TÍTULO IV
da, porém, a percepção cumulativa de vencimento, gratifica- Dos Direitos, Vantagens e Autorizações
ções e vantagens. CAPÍTULO I
DO CÔMPUTO DO TEMPO DE SERVIÇO
A substituição é uma forma de provimento temporário
de função comissionada. Um servidor será nomeado para Art. 67 - Tempo de serviço, para os efeitos deste Estatu-
exercer numa determinada atuação administrativa ou por to, compreende o período de efetivo exercício das atribui-
um período específico de tempo a função. ções de cargo ou emprego público.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 68 - Será considerado de efetivo exercício o afasta- Art. 69 - Será computado para efeito de disponibilida-
mento em virtude de: de e aposentadoria:
I - férias; I – o tempo de contribuição para o Regime Geral de Pre-
II - casamento, até oito dias; vidência Social – RGPS, bem como para os Regimes Próprios
III - luto, até oito dias, por falecimento de cônjuge ou de Previdência Social – RPPS;
companheiro, parentes, consanguíneos ou afins, até o 2º II – o período de serviço ativo das Forças Armadas;
grau, inclusive madrasta, padrasto e pais adotivos; III – o tempo de aposentadoria, desde que ocorra re-
IV - luto, até dois dias, por falecimento de tio e cunhado; versão;
V - exercício das atribuições de outro cargo estadual IV – a licença por motivo de doença em pessoa da
de provimento em comissão, inclusive da Administração In- família, conforme previsto no art. 99 desta Lei, desde que
direta do Estado; haja contribuição.
VI - convocação para o Serviço Militar; § 1° - No caso previsto no inciso IV, o afastamento su-
VII - júri e outros serviços obrigatórios; perior a 6 (seis) meses obedecerá o previsto no inciso IV,
VIII - desempenho de função eletiva federal, estadual do art. 66, desta Lei.
ou municipal, observada quanto a esta, a legislação perti- § 2° - Na contagem do tempo, de que trata este artigo,
nente; deverá ser observado o seguinte:
IX - exercício das atribuições de cargo ou função de I - não será admitida a contagem em dobro ou em ou-
Governo ou direção, por nomeação do Governador do tras condições especiais;
Estado; II - é vedada a contagem de tempo de contribuição,
X - licença por acidente no trabalho, agressão não quando concomitantes;
provocada ou doença profissional; III - não será contado, por um sistema, o tempo de con-
XI - licença especial; tribuição utilizado para a concessão de algum benefício, por
XII - licença à funcionária gestante; outro.
XIII - licença para tratamento de saúde; § 3° - O tempo de contribuição, a que alude o inciso I
XIV - licença para tratamento de moléstias que impos-
deste artigo, será computado à vista de certidões passadas
sibilitem o funcionário definitivamente para o trabalho, nos ter-
com base em folha de pagamento.
mos em que estabelecer Decreto do Chefe do Poder Executivo;
XV - doença, devidamente comprovada, até 36 dias
Art. 70 - A apuração do tempo de contribuição será
por ano e não mais de 3 (três) dias por mês;
feita em anos, meses e dias.
XVI - missão ou estudo noutras partes do território na-
§ 1° - O ano corresponderá a 365 (trezentos e sessenta
cional ou no estrangeiro, quando o afastamento houver sido
e cinco) dias e o mês aos 30 (trinta) dias.
expressamente autorizado pelo Governador do Estado, ou
pelos Chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário; § 2° - Para o cálculo de qualquer benefício, depois de
XVII - decorrente de período de trânsito, de viagem do apurado o tempo de contribuição, este será convertido em
funcionário que mudar de sede, contado da data do desliga- dias, vedado qualquer forma de arredondamento.
mento e até o máximo de 15 dias;
XVIII - prisão do funcionário, absolvido por sentença Art. 71 - É vedado:
transitada em julgado; I - o cômputo de tempo fictício para o cálculo de bene-
XIX - prisão administrativa, suspensão preventiva, e fício previdenciário;
o período de suspensão, neste último caso, quando o fun- II - a concessão de aposentadoria especial, nos termos
cionário for reabilitado em processo de revisão; no art. 40, §4° da Constituição Federal, até que Lei Comple-
XX - (Revogado); mentar Federal discipline a matéria;
XXI - nascimento de filho, até um dia, para fins de re- III - a percepção de mais de uma aposentadoria à conta
gistro civil. do Sistema Único de Previdência Social dos Servidores Pú-
§ 1º - Para os efeitos deste Estatuto, entende-se por blicos Civis e Militares, dos Agentes Públicos e dos Membros
acidente de trabalho o evento que cause dano físico ou de Poder do Estado do Ceará – SUPSEC, ressalvadas as de-
mental ao funcionário, por efeito ou ocasião do serviço, correntes dos cargos acumuláveis previstos na Constituição
inclusive no deslocamento para o trabalho ou deste para o Federal;
domicílio do funcionário. IV - a percepção simultânea de proventos de aposen-
§ 2º - Equipara-se a acidente no trabalho a agressão, tadoria decorrente de regime próprio de servidor titular de
quando não provocada, sofrida pelo funcionário no serviço cargo efetivo, com a remuneração de cargo, emprego ou
ou em razão dele. função pública, ressalvados os cargos acumuláveis previstos
§ 3º - Por doença profissional, para os efeitos deste Es- na Constituição Federal, os eletivos e os cargos em comissão
tatuto, entende-se aquela peculiar ou inerente ao trabalho declarados em Lei de livre nomeação e exoneração.
exercido, comprovada, em qualquer hipótese, a relação de § 1° - Não se considera fictício o tempo definido em
causa e efeito. Lei como tempo de contribuição para fins de concessão de
§ 4º - Nos casos previstos nos §§ 1º, 2º e 3º deste ar- aposentadoria quando tenha havido, por parte do servidor,
tigo, o laudo resultante da inspeção médica deverá esta- a prestação de serviço ou a correspondente contribuição.
belecer, expressamente, a caracterização do acidente no § 2° - A vedação prevista no inciso IV, não se aplica
trabalho da doença profissional. aos membros de Poder e aos inativos, servidores e militares
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
que, até 16 de dezembro de 1998, tenham ingressado no- Nos moldes do artigo 41, §1º, CF, o servidor apenas
vamente no serviço público por concurso público de pro- perderá o cargo em virtude de sentença judicial transitada
vas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas em julgado, mediante processo administrativo em que lhe
na Constituição Federal, sendo-lhes proibida a percepção seja assegurada ampla defesa ou mediante procedimen-
de mais de uma aposentadoria pelo Sistema Único de Pre- to de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
vidência Social dos Servidores Públicos Civis e Militares, complementar, assegurada ampla defesa. Logo, é possível
dos Agentes Públicos e dos Membros de Poder do Estado a perda do cargo mesmo após adquirir a estabilidade, mas
do Ceará – SUPSEC, exceto se decorrentes de cargos acu- há garantias quanto à forma como isso pode ocorrer.
muláveis previstos na Constituição Federal. Além das hipóteses citadas, existe mais uma possibili-
§ 3° - O servidor inativo para ser investido em cargo dade de perda de cargo (sem caráter punitivo), mesmo que
público efetivo não acumulável com aquele que gerou a o seu detentor seja estável no serviço público. Trata-se da
aposentadoria deverá renunciar aos proventos desta. perda de cargo para adequação dos gastos do Estado à Lei
§ 4° - O aposentado pelo Sistema Único de Previdência
de Responsabilidade Fiscal – LRF.
Social dos Servidores Públicos Civis e Militares, dos Agen-
Somente se torna estável servidor de cargo efetivo,
tes Públicos e dos Membros de Poder do Estado do Ceará
nunca o servidor de cargo em comissão.
– SUPSEC, que estiver exercendo ou que voltar a exercer
atividade abrangida por este regime é segurado obriga-
tório em relação a esta atividade, ficando sujeito às con- CAPÍTULO III
tribuições, de que trata esta Lei, para fins de custeio da DA DISPONIBILIDADE
Previdência Social, na qualidade de contribuinte solidário.
Art. 77 - Disponibilidade é o afastamento de exer-
Art. 72 - Observadas as disposições do artigo anterior, cício de funcionário estável em virtude da extinção do
o servidor poderá desaverbar, em qualquer época, total ou cargo, ou da decretação de sua desnecessidade.
parcialmente, seu tempo de contribuição, desde que não § 1º - Extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade,
tenha sido computado este tempo para a concessão de qual- o servidor ficará em disponibilidade percebendo remune-
quer benefício. ração proporcional por cada ano de serviço, à razão de:
I - 1/12.775 (um doze mil, setecentos e setenta e cinco
Tempo de serviço é o período de efetivo exercício, mas avos) da remuneração por cada dia trabalhado, se homem; e
são computados dias e períodos nos quais o funcionário II - 1/10.950 (hum dez mil, novecentos e cinquenta avos)
não está em exercício, conforme previsão legal. da remuneração por cada dia trabalhado, se mulher.
É possível computar período pretérito de contribuição § 2º - A apuração do tempo de serviço será feita em
ao Regime Geral da Previdência. dias, sendo o número de dias convertido em anos, conside-
rando-se o ano de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias,
CAPÍTULO II permitido o arredondamento para um ano, na conclusão
DA ESTABILIDADE E DA VITALICIEDADE da conversão, o que exceder a 182 (cento e oitenta e dois)
dias.
Art. 73 - Estabilidade é o direito que adquire o funcio- § 3º - Aplicam-se aos vencimentos da disponibilidade
nário efetivo de não ser exonerado ou demitido, senão os mesmos critérios de atualização, estabelecidos para os
em virtude de sentença judicial ou inquérito adminis- funcionários ativos em geral.
trativo, em que se lhe tenha sido assegurada ampla defesa.
Servidor posto em disponibilidade não é servidor apo-
Art. 74 - A estabilidade assegura a permanência do
sentado. É apenas um servidor aguardando que surja um
funcionário no Sistema Administrativo.
posto adequado para que ocupe. Quando ele surgir, deve-
rá entrar em exercício, sob pena de ter revogada a disponi-
Art. 75 - O funcionário nomeado em virtude de concurso
público adquire estabilidade depois de decorridos dois anos bilidade, deixando de ser servidor público.
de efetivo exercício.
Parágrafo único - A estabilidade funcional é incompatí- CAPÍTULO IV
vel com o cargo em comissão. Das Férias
Art. 76 - O funcionário perderá o cargo vitalício somente Art. 78 - O funcionário gozará trinta dias consecuti-
em virtude de sentença judicial. vos, ou não, de férias por ano, de acordo com a escala
organizada pelo dirigente da Unidade Administrativa,
O servidor público efetivo, aquele que foi provido em na forma do regulamento.
cargo mediante nomeação seguida da aprovação em con- § 1º - Se a escala não tiver sido organizada, ou houver
curso público, está apto a adquirir estabilidade, nos moldes alteração do exercício funcional, com a movimentação do
do artigo 41, CF, após três anos de efetivo exercício. funcionário, a este caberá requerer, ao superior hierárqui-
Os primeiros 3 anos de serviço correspondem ao está- co, o gozo das férias, podendo a autoridade, apenas, fixar a
gio probatório, período em que o servidor deverá ser sub- oportunidade do deferimento do pedido, dentro do ano a
metido a uma avaliação especial de desempenho. que se vincular o direito do servidor.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 79 - A promoção, o acesso, a transferência e a remo- Art. 89 – O servidor será compulsoriamente licenciado
ção não interromperão as férias. quando sofrer uma dessas doenças graves, contagiosas ou
incuráveis: tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia
CAPÍTULO V maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e in-
Das Licenças capacitante, cardiopatia grave, doença de Parkson, espon-
SEÇÃO I diloartrose anquilosante, epilepsia vera, nefropatia grave,
Das Disposições Preliminares estado avançado da doença de Paget (osteite deformante),
síndrome da deficiência imunológica adquirida – Aids, con-
Art. 80 - Será licenciado o funcionário: taminação por radiação, com base em conclusão da medi-
I - para tratamento de saúde; cina especializada, hepatopatia e outras que forem discipli-
II - por acidente no trabalho, agressão não provocada nadas em Lei.
e doença profissional;
III - por motivo de doença em pessoa da família; Art. 90 - Verificada a cura clínica, o funcionário licen-
IV - quando gestante; ciado voltará ao exercício, ainda quando deva continuar o
V - para serviço militar obrigatório; tratamento, desde que comprovada por inspeção médica ca-
VI - para acompanhar o cônjuge; pacidade para a atividade funcional.
VII - em caráter especial.
Art. 91 - Expirado o prazo de licença previsto no lau-
Art. 81 - A licença dependente de inspeção médica do médico, o funcionário será submetido a nova inspeção, e
terá a duração que for indicada no respectivo laudo. aposentado, se for julgado inválido.
§ 1º - Findo esse prazo, o paciente será submetido a Parágrafo único – Na hipótese prevista neste artigo, o
nova inspeção, devendo o laudo concluir pela volta do fun- tempo necessário para a nova inspeção será considerado
cionário ao exercício, pela prorrogação da licença ou, se for como de prorrogação da licença e, no caso de invalidez, a
o caso, pela aposentadoria. inspeção ocorrerá a cada 2 (dois) anos.
§ 2º - Terminada a licença o funcionário reassumirá
imediatamente o exercício. Art. 92 - No processamento das licenças para tratamen-
to de saúde será observado sigilo no que diz respeito aos
Art. 82 - A licença poderá ser determinada ou prorro- laudos médicos.
gada, de ofício ou a pedido.
Parágrafo único - O pedido de prorrogação deverá ser Art. 93 - No curso da licença, o funcionário abster-se-á
apresentado antes de finda a licença, e, se indeferido, contar- de qualquer atividade remunerada, sob pena de interrupção
-se-á como licença o período compreendido entre a data do imediata da mesma licença, com perda total dos vencimen-
término e a do conhecimento oficial do despacho. tos, até que reassuma o exercício.
Art. 83 - A licença gozada dentro de sessenta dias, con- Art. 94 - O funcionário não poderá recusar a inspeção
tados da determinação da anterior será considerada como médica determinada pela autoridade competente, sob pena
prorrogação. de suspensão do pagamento dos vencimentos, até que seja
realizado exame.
Art. 84 - O funcionário não poderá permanecer em li-
cença por prazo superior a vinte e quatro meses, salvo nos Art. 95 - Considerado apto em inspeção médica, o fun-
casos dos itens II, III, V e VI do art. 80, deste Estatuto. cionário reassumirá o exercício imediatamente, sob pena de
se apurarem como faltas os dias de ausência.
Art. 85 – REVOGADO.
Art. 96 - No curso da licença poderá o funcionário re-
Art. 86 - São competentes para licenciar o funcionário querer inspeção médica, caso se julgue em condições de
os dirigentes do Sistema Administrativo Estadual, admitida a reassumir o exercício.
delegação, na forma do Regulamento.
Art. 97 - Serão integrais os vencimentos do funcionário
Art. 87 - VETADO. licenciado para tratamento de saúde.
§ 1º - VETADO.
§ 2º - VETADO. Art. 98 – REVOGADO.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
I - sem prejuízo dos vencimentos quando: Art. 114 - As autorizações previstas nesta Seção depen-
a) for estudante, para incentivo à sua formação profis- derão de comprovação, mediante documento oficial, das
sional e dentro dos limites estabelecidos neste Estatuto; condições previstas para as mesmas, podendo a autoridade
b) for estudar em outro ponto do território nacional ou competente exigi-la prévia ou posteriormente, conforme jul-
no estrangeiro; gar conveniente.
c) por motivo de casamento, até o máximo de 8 (oito) Parágrafo único - Concedida a autorização, na depen-
dias; dência da comprovação posterior, sem que esta tenha sido
d) por motivo de luto até 8 (oito) dias, em decorrência de efetuada no prazo estipulado, a autoridade anulará a auto-
falecimento de cônjuge ou companheiro, parentes consan- rização, sem prejuízo de outras providências que considerar
guíneos ou afins, até o 2º grau, inclusive madrasta, padrasto cabíveis.
e pais adotivos;
e) por luto, até 2 (dois) dias, por falecimento de tio e SEÇÃO III
cunhado; Do Afastamento para o Trato de Interesses Particu-
f) for realizar missão oficial em outro ponto do território lares
nacional ou no estrangeiro.
II - sem direito à percepção dos vencimentos, quando se Art. 115 – Depois de três anos de efetivo exercício e após
tratar de afastamento para trato de interesses particulares; declaração de aquisição de estabilidade no cargo de pro-
III - com ou sem direito à percepção dos vencimentos, vimento efetivo, o servidor poderá obter autorização de
conforme se dispuser em regulamento, quando para o exer- afastamento para tratar de interesses particulares, por
cício das atribuições de cargo, função ou emprego em enti- um período não superior a quatro anos e sem percepção
dades e órgãos estranhos ao Sistema Administrativo Esta- de remuneração.
dual. Parágrafo único - O funcionário aguardará em exercício
§1° - Nos casos previstos nas alíneas a e b, o servidor só a autorização do seu afastamento.
poderá solicitar exoneração após o seu retorno, desde que
Art. 116 - Não será autorizado o afastamento do funcio-
trabalhe no mínimo o dobro do tempo em que esteve afas-
nário removido antes de ter assumido o exercício.
tado, ou reembolse o montante corrigido monerariamente
que o Estado desembolsou durante seu afastamento.
Art. 117 - O funcionário poderá, a qualquer tempo, de-
§ 2° - Os dirigentes do Sistema Administrativo Estadual
sistir da autorização concedida, reassumindo o exercício das
poderão, ainda, autorizar o servidor, ocupante do cargo
atribuições do seu cargo.
efetivo ou em comissão, a integrar ou assessorar comis-
sões, grupos de trabalho ou programas, com ou sem afas-
Art. 118 - Quando o interesse do Sistema Administrativo
tamento do exercício funcional e sem prejuízo dos venci-
o exigir, a autorização poderá ser cassada, a juízo da auto-
mentos. ridade competente, de- vendo, neste caso, o funcionário ser
expressamente notificado para a- presentar-se ao serviço no
SEÇÃO II prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, findo
Das Autorizações para Incentivo à Formação Pro- o qual caracterizar-se-á o abandono do cargo.
fissional do Funcionário
Art. 119 - A autorização para afastamento do exercí-
Art. 111 - Poderá ser autorizado o afastamento, até cio para o trato de interesses particulares somente poderá
duas horas diárias, ao funcionário que frequente curso ser prorrogada por período necessário para complementar o
regular de 1º e 2º graus ou de ensino superior. prazo previsto no art. 115 deste Estatuto.
Parágrafo único - A autorização prevista neste artigo
poderá dispor que a redução do horário dar-se-á por pror- Art. 120 - O funcionário somente poderá receber nova
rogação do início ou antecipação do término do expediente, autorização para o afastamento previsto nesta Seção após
diário, conforme considerar mais conveniente ao estudante decorridos, pelo menos, dois anos de efetivo exercício conta-
e aos interesses da repartição. do da data em que o reassumiu, em decorrência do término
do prazo autorizado ou por motivo de desistência ou de cas-
Art. 112 - Será autorizado o afastamento do exercício sação de autorização concedida.
funcional nos dias em que o funcionário tiver que prestar
exames para ingresso em curso regular de ensino, ou que, - Autorização para Capacitação – justifica-se para o
estudante, se submeter a provas. aperfeiçoamento profissional do servidor. Remunerada.
- Autorização Para Tratar Interesses Particulares – dis-
Art. 113 - O afastamento para missão ou estudo fora do pensa justificativa, basta a vontade do servidor. Não remu-
Estado em outro ponto do território nacional ou no estran- nerada.
geiro será autorizado nos mesmos atos que designarem o
funcionário a realizar a missão ou estudo, quando do inte-
resse do Sistema Administrativo Estadual.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 180 - A apuração da responsabilidade do funcioná- Art. 186 - O funcionário público fica sujeito ao poder
rio processar-se-á mesmo nos casos de alteração funcional, disciplinar desde a posse ou, se esta não for exigida, desde o
inclusive a perda do cargo. seu ingresso no exercício funcional.
Art. 181 - Extingue-se a responsabilidade adminis- Art. 187 - Se no transcurso do procedimento disciplinar
trativa: outro funcionário for indiciado, o sindicante ou a Comissão
I - com a morte do funcionário; Permanente de Inquérito, conforme o caso, reabrirá os pra-
II - pela prescrição do direito de agir do Estado ou de zos de defesa para o novo indiciado.
suas entidades em matéria disciplinar.
Art. 188 - A inobservância de qualquer dos preceitos
Art. 182 - O direito ao exercício do poder disciplinar deste Capítulo relativos à forma do procedimento, à compe-
prescreve passados cinco anos da data em que o ilícito tiver tência e ao direito de ampla defesa acarretará a nulidade do
ocorrido. procedimento disciplinar.
Parágrafo único - São imprescritíveis o ilícito de abando-
no de cargo e a respectiva sanção. Art. 189 - Aplica-se o disposto neste Título ao procedi-
mento em que for indiciado aposentado ou funcionário em
Art. 183 - O inquérito administrativo para apuração disponibilidade.
da responsabilidade do funcionário produzirá, preliminar-
mente, os seguintes efeitos: CAPÍTULO II
I - afastamento do funcionário indiciado de seu cargo Dos Deveres
ou função, nos casos de prisão preventiva ou prisão admi-
nistrativa; Em resumo, o servidor público deve desempenhar suas
II - sobrestamento do processo de aposentadoria volun- funções com cuidado, rapidez e pontualidade, sendo leal
tária; à instituição que compõe, respeitando as ordens de seus
III - proibição do afastamento do exercício, salvo o caso superiores que sejam adequadas às funções que desem-
do item I deste artigo; penhe e buscando conservar o patrimônio do Estado. No
IV - proibição de concessão de licença, ou o seu sobres- tratamento do público, deve ser prestativo e não negar o
tamento, salvo a concedida por motivo de saúde; acesso a informações que não sejam sigilosas. Caso pre-
V - cessação da disposição, com retorno do funcionário sencie alguma ilegalidade ou abuso de poder, deve denun-
ao seu órgão de origem. ciar. Tomam-se como base os ensinamentos de Lima23 a
respeito destes deveres:
Art. 184 - Assegurar-se-á ao funcionário, no procedi- “O primeiro dos deveres insculpidos no regime estatu-
mento disciplinar, ampla defesa, consistente, sobretudo: tário é o dever de zelo. O zelo diz respeito às atribuições
I - no direito de prestar depoimento sobre a imputação funcionais e também ao cuidado com a economia do ma-
que lhe é feita e sobre os fatos que a geraram; terial, os bens da repartição e o patrimônio público. Sob o
II - no direito de apresentar razões preliminares e finais, prisma da disciplina e da conservação dos bens e materiais
por escrito, nos termos deste Estatuto; da repartição, o servidor deve sempre agir com dedicação
III - no direito de ser defendido por advogado, de sua no desempenho das funções do cargo que ocupa, e que
indicação, ou por defensor público, também advogado, de- lhe foram atribuídas desde o termo de posse. O servidor
signado pela autoridade competente; não é o dono do cargo. Dono do cargo é o Estado que o
IV - no direito de arrolar e inquirir, reinquirir e contradi- remunera. Se o referido cargo não lhe pertence, o servi-
tar testemunhas, e requerer acareações; dor deve exercer suas funções com o máximo de zelo que
V - no direito de requerer todas as provas em direito estiver ao seu alcance. Sua eventual menor capacidade de
permitidas, inclusive as de natureza pericial; desempenho, para não configurar desídia ou insuficiência
VI - no direito de arguir prescrição; de desempenho, deverá ser compensada com um maior
VII - no direito de levantar suspeições e arguir impedi- esforço e dedicação de sua parte. Se um servidor altamen-
mentos. te preparado e capaz, vem a praticar atos que configurem
desídia ou mesmo falta mais grave, poderá vir a ser punido.
Art. 185 - A defesa do funcionário no procedimento dis- Porque o que se julgará não é a pessoa do servidor, mas a
ciplinar, que é de natureza contraditória, é privativa de conduta a ele imputável. O zelo não deve se limitar apenas
advogado, que a exercitará nos termos deste Estatuto e nos às atribuições específicas de sua atividade. O servidor deve
da legislação federal pertinente (Estatuto da Ordem dos Ad- ter zelo não somente com os bens e interesses imateriais
vogados do Brasil). (a imagem, os símbolos, a moralidade, a pontualidade, o
§ 1º - A autoridade competente designará defensor sigilo, a hierarquia) como também para com os bens e in-
para o funcionário que, pobre na forma da lei, ou revel, não teresses patrimoniais do Estado”.
indicar advogado, podendo a indicação recair em advoga- 23 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar
do do Instituto de Previdência do Estado do Ceará (IPEC). dos servidores federais. Disponível em: <http://www.sato.
§2º - O funcionário poderá defender-se, pessoalmente, adm.br/artigos/o_regime_disciplinar_dos_servidores_fede-
se tiver a qualidade de advogado. rais.htm>. Acesso em: 11 ago. 2013.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
“O servidor que cumprir todos os deveres e normas to ou divulgação das informações exigem um procedimen-
administrativas já positivadas, consequentemente, é leal à to. Maior cuidado há que se ter, quando a informação pos-
instituição que lhe remunera. Sob o prisma constitucional é sa expor a intimidade da pessoa humana. As informações
que devemos entender a norma hoje. Sendo assim, o dever pessoais dos administrados em geral devem ser tratadas
de lealdade está inserido no Estatuto como norma progra- forma transparente e com respeito à intimidade, à vida
mática, orientadora da conduta dos servidores”. privada, à honra e à imagem das pessoas, bem como às
“O servidor integra a estrutura organizacional do ór- liberdades e garantias individuais, segundo o artigo 31, da
gão em que presta suas atribuições funcionais. O Estado Lei nº 21.527, 2011. A exceção para o sigilo existe, pois, não
se movimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro devemos tratar a questão em termos de cláusula jurídica
dos órgãos públicos, há um escalonamento de cargos e de caráter absoluto, podendo ter autorizada a divulgação
funções que servem ao cumprimento da vontade do ente ou o acesso por terceiros quando haja previsão legal. Outra
estatal. Este escalonamento, posto em movimento, é o exceção é quando há o consentimento expresso da pessoa
que vimos até agora chamando de hierarquia. A hierarquia a que elas se referirem. No caso de cumprimento de or-
existe para que do alto escalão até a prática dos adminis- dem judicial, para a defesa de direitos humanos, e quando
trados as coisas funcionem. Disso decorre que quando é a proteção do interesse público e geral preponderante o
emitida uma ordem para o servidor subordinado, este deve exigir, também devem ser fornecidas as informações. Por-
dar cumprimento ao comando. Porém quando a ordem é tanto, o servidor há que ter reserva no seu comportamento
visivelmente ilegal, arbitrária, inconstitucional ou absurda, e fala, esquivando-se de revelar o conteúdo do que se pas-
o servidor não é obrigado a dar seguimento ao que lhe é sa no seu trabalho. Se o assunto pululante é uma irregula-
ordenado. Quando a ordem é manifestamente ilegal? Há ridade absurda, deve então reduzir a escrito e representar
uma margem de interpretação, principalmente se o servi- para que se apure o caso. Deveriam diminuir as conversas
dor subordinado não tiver nenhuma formação de ordem de corredor e se efetivar a apuração dos fatos através do
jurídica. Logo, é o bom senso que irá margear o que é fla- processo administrativo disciplinar. Os assuntos objeto do
grantemente inconstitucional”. serviço merecem reserva. Devem ficar circunscritos aos ser-
“Exige-se que atue com presteza no atendimento a in- vidores designados para o respectivo trabalho interno, não
formações solicitadas pela Fazenda Pública. Esta engloba devendo sair da seção ou setor de trabalho, sem o trâmite
o fisco federal, estadual, municipal e distrital. O servidor hierárquico do chefe imediato. Se o assunto ou o trabalho,
público tem que ser expedito, diligente, laborioso. Não há enfim, merecer divulgação mais ampla, deve ser contatado
mais lugar para o burocrata que se afasta do administra- o órgão de assessoria de comunicação social, que saberá
do, dificultando a vida de quem necessita de atendimen- proceder de forma oficial, obedecendo ao bom senso e às
to rápido e escorreito. Entretanto, há um longo caminho a leis vigentes”.
ser percorrido até que se atinja um mínimo ideal de aten- “Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assí-
dimento e de funcionamento dos órgãos públicos, o que duo significa ser presente dentro do horário do expedien-
deve necessariamente passar por critérios de valorização te. O oposto do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é
dos servidores bons e de treinamento e qualificação per- aquele servidor que não atrasa seus compromissos. É o que
manente dos quadros de pessoal”. comparece no horário para as reuniões de trabalho e de-
“Todo servidor público é obrigado a dar conhecimento mais atividades relacionadas com o exercício do cargo que
ao chefe da repartição acerca das irregularidades de que ocupa. Embora sejam conceitos diferentes, aqui o dever
toma conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve violado, seja por impontualidade, seja por inassiduidade
levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sistema hie- (que ainda não aquela inassiduidade habitual de 60 dias
rárquico. Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões ensejadora de demissão), merece reprimenda de advertên-
detêm um conhecimento maior de como corrigir o erro ou cia, com fins educativos e de correção do servidor”.
comunicar aos órgãos de controle para a devida apuração. “No mundo moderno, e máxime em nossa civilização
De nada adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular, ocidental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Ur-
ir comunicar ao público ou a terceiros. Além do dever de bano, nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo
sigilo, há assuntos que exigem certas reservas, visando ao da urbe (cidade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e
bem do serviço público, da segurança nacional e mesmo que não possa criar embaraços aos usuários dos serviços
da sociedade”. públicos”.
“Se o agente não zelar pela economia e pela conserva- “O servidor tem obrigação legal de dar conhecimen-
ção dos bens públicos presta um desserviço à nação que to às autoridades de qualquer irregularidade de que tiver
lhe remunera. E como se verá adiante poderá ser causa ciência em razão do cargo, principalmente no processo
inclusive de demissão, se não cumprir o presente dever, em que está atuando ou quando o fato aconteceu sob as
quando por descumprimento dele a gravidade do fato im- suas vistas. Não é concebível que o servidor se defronte
plicar a infração a normas mais graves”. com uma irregularidade administrativa e fique inerte. Deve
“O agente público deve guardar sigilo sobre o que se provocar quem de direito para que a irregularidade seja
passa na repartição, principalmente quanto aos assuntos sanada de imediato. Caso haja indiferença no seu círculo
oficiais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, de atuação, i.e., no seu setor ou seção, deverá representar
hoje está regulamentado o acesso às informações. Porém, aos órgãos superiores. Assim é que o dever de informar
o servidor deve ter cuidado, pois até mesmo o fornecimen- acerca de irregularidades anda de braço dado com o dever
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de representar. Não surtindo efeito a notícia da irregulari- Art. 192 - O funcionário deixará de cumprir ordem de
dade, não corrigida esta, sobrevém o dever de representar. autoridade superior quando:
O dever de representação não deixa de ser uma prerro- I - a autoridade de quem emanar a ordem for incom-
gativa legal, investindo o servidor de um múnus público petente;
importante, constituindo o servidor em um curador legal II - não se contiver a ordem na área da competência do
do ente público. O mais humilde servidor passa a ser um órgão a que servir o funcionário seu destinatário, ou não se
agente promotor de legalidade. É claro o inciso XII do art. referir a nenhuma das atribuições do servidor;
116 quando diz que é dever do servidor “representar con- III - for a ordem expedida sem a forma exigida por lei;
tra ilegalidade, omissão ou abuso de poder”. De modo que IV - não tiver sido a ordem publicada, quando tal forma-
também a omissão pode ensejar a representação. A omis- lidade for essencial à sua validade;
são do agente que ilegalmente não pratica ato a que se V - não tiver a ordem como causa uma necessidade ad-
acha vinculado pode até configurar o ilícito penal de pre- ministrativa ou pública, ou visar a fins não estipulados na
varicação. O dever de representação deve ser privilegiado,
regra de competência da autoridade da qual promanou ou
mas deve ser usado com o devido equilíbrio, não podendo
do funcionário a quem se dirige;
servir a finalidades egoísticas, político-partidárias, induzido
VI - a ordem configurar abuso ou excesso de poder ou
por inimizades de cunho pessoal, o que de pronto trespas-
de autoridade.
sará o representante de autor a réu por prática de abuso de
poder ou denunciação caluniosa”. § 1º - Em qualquer dos casos referidos neste artigo, o
funcionário representará contra a ordem, fundamentada-
Art. 190 - Os deveres do funcionário são gerais, quando mente, à autoridade imediatamente superior a que orde-
fixados neste Estatuto e legislação complementar, e espe- nou.
ciais, quando fixados tendo em vista as peculiaridades das § 2º - Se se tratar de ordem emanada do Presidente da
atribuições funcionais. Assembleia Legislativa, do Chefe do Poder Executivo, do
Presidente do Tribunal de Contas e do Presidente do Con-
Art. 191 - São deveres gerais do funcionário: selho de Contas dos Municípios, o funcionário justificará
I - lealdade e respeito às instituições constitucionais e perante essas autoridades a escusa da obediência.
administrativas a que servir;
II - observância das normas constitucionais, legais e CAPÍTULO III
regulamentares; Das Proibições
III - obediência às ordens de seus superiores hierár-
quicos; Art. 193 - Ao funcionário é proibido:
IV - continência de comportamento, tendo em vista o I - salvo as exceções constitucionais pertinentes, acumu-
decoro funcional e social; lar cargos, funções e empregos públicos remunerados, in-
V - levar, por escrito, ao conhecimento da autoridade su- clusive nas entidades da Administração Indireta (autarquias,
perior irregularidades administrativas de que tiver ciên- empresas públicas e sociedades de economia mista);
cia em razão do cargo que ocupa, ou da função que exerça; II - referir-se de modo depreciativo às autoridades em
VI - assiduidade; qualquer ato funcional que praticar, ressalvado o direito de
VII - pontualidade; crítica doutrinária aos atos e fatos administrativos, inclusive
VIII - urbanidade; em trabalho público e assinado;
IX - discrição; III - retirar, modificar ou substituir qualquer documento
X - guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos
oficial, com o fim de constituir direito ou obrigação, ou de al-
de natureza reservada de que tenha conhecimento em razão
terar a verdade dos fatos, bem como apresentar documento
do cargo que ocupa, ou da função que exerça;
falso com a mesma finalidade;
XI - zelar pela economia e conservação do material
IV - valer-se do exercício funcional para lograr proveito
que lhe for confiado;
XII - atender às notificações para depor ou realizar pe- ilícito para si, ou para outrem;
rícias ou vistorias, tendo em vista procedimentos disciplina- V - promover manifestação de desapreço ou fazer circu-
res; lar ou subscrever lista de donativos, no recinto do trabalho;
XIII - atender, nos prazos de lei ou regulamentares, as VI - coagir ou aliciar subordinados com objetivos políti-
requisições para defesa da Fazenda Pública; co-partidários;
XIV - atender, nos prazos que lhe forem assinados por lei VII - participar de diretoria, gerência, administração,
ou regulamento, os requerimentos de certidões para defesa conselho técnico ou administrativo, de empresa ou socieda-
de direitos e esclarecimentos de situações; des mercantis;
XV - providenciar para que esteja sempre em ordem, VIII - pleitear, como procurador ou intermediário, junto
no assentamento individual, sua declaração de família; aos órgãos e entidades estaduais, salvo quando se tratar de
XVI - atender, prontamente, e na medida de sua compe- percepção de vencimentos, proventos ou vantagens de pa-
tência, os pedidos de informação do Poder Legislativo e às rente consanguíneo ou afim, até o segundo grau civil;
requisições do Poder Judiciário; IX - praticar a usura;
XVII - cumprir, na medida de sua competência, as deci- X - receber propinas, vantagens ou comissões pela prá-
sões judiciais ou facilitar-lhes a execução. tica de atos de oficio;
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
XI - revelar fato de natureza sigilosa, de que tenha ciên- III - a percepção de pensões com vencimentos de dispo-
cia em razão do cargo ou função, salvo quando se tratar de nibilidade e proventos de aposentadoria e reforma;
depoimento em processo judicial, policial ou administrativo; IV - a percepção de proventos, quando resultantes de
XII - cometer a outrem, salvo os casos previstos em lei cargos legalmente acumuláveis.
ou ato administrativo, o desempenho de sua atividade fun-
cional; CAPÍTULO IV
XIII - entreter-se, nos locais e horas de trabalho, com ati- Das Sanções Disciplinares e seus Efeitos
vidades estranhas às relacionadas com as suas atribuições,
causando prejuízos a estas; Art. 196 - As sanções aplicáveis ao funcionário são as
XIV - deixar de comparecer ao trabalho sem causa jus- seguintes:
tificada; I - repreensão;
XV - ser comerciante; II - suspensão;
XVI - contratar com o Estado, ou suas entidades, salvo os III - multa;
casos de prestação de serviços técnicos ou científicos, inclu- IV - demissão;
sive os de magistério em caráter eventual; V - cassação de disponibilidade;
XVII - empregar bens do Estado e de suas entidades em VI - cassação de aposentadoria.
serviço particular;
XVIII - atender pessoas estranhas ao serviço, no local de Art. 197 - Aplicar-se-á a repreensão, sempre por escrito,
trabalho, para o trato de assuntos particulares; ao funcionário que, em caráter primário, a juízo da autorida-
XIX - retirar bens de órgãos ou entidades estaduais, sal- de competente, cometer falta leve, não cominável, por este
vo quando autorizado pelo superior hierárquico e desde que Estatuto, com outro tipo de sanção.
para atender a interesse público.
Parágrafo único - Excluem-se da proibição do item XVI Art. 198 - Aplicar-se-á a suspensão, através de ato es-
os contratos de cláusulas uniformes e os de emprego, em crito, por prazo não superior a 90 (noventa) dias, nos
casos de reincidência de falta leve, e nos de ilícito grave,
geral, quando, no último caso, não configurarem acumula-
salvo a expressa cominação, por lei, de outro tipo de sanção.
ção ilícita.
Parágrafo único - Por conveniência do serviço, a sus-
pensão poderá ser convertida em multa, na base de 50%
Art. 194 - É ressalvado ao funcionário o direito de acu-
(cinquenta por cento) por dia de vencimento, obrigado, neste
mular cargo, funções e empregos remunerados, nos ca-
caso, o funcionário a permanecer em exercício.
sos excepcionais da Constituição Federal.
§1º - Verificada, em inquérito administrativo, acumula-
Art. 199 - A demissão será obrigatoriamente aplicada
ção proibida e provada a boa-fé, o funcionário optará por nos seguintes casos:
um dos cargos, funções ou empregos, não ficando obriga- I - crime contra a administração pública;
do a restituir o que houver percebido durante o período da II - crime comum praticado em detrimento de dever
acumulação vedada. inerente à função pública ou ao cargo público, quando
§2º - Provada a má-fé, o funcionário perderá os cargos, de natureza grave, a critério da autoridade competente;
funções ou empregos acumulados ilicitamente devolvendo III - abandono de cargo;
ao Estado o que houver percebido no período da acumu- IV - incontinência pública e escandalosa e prática
lação. de jogos proibidos;
V - insubordinação grave em serviço;
Estabelece o artigo 37, XVI da Constituição Federal: VI - ofensa física ou moral em serviço contra funcio-
nário ou terceiros;
É vedada a acumulação remunerada de cargos públi- VII - aplicação irregular dos dinheiros públicos, que
cos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, resultem em lesão para o Erário Estadual ou dilapidação do
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. seu patrimônio;
a) a de dois cargos de professor; VIII - quebra do dever de sigilo funcional;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou IX - corrupção passiva, nos termos da lei penal;
científico; X - falta de atendimento ao requisito do estágio proba-
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis- tório estabelecido no art. 27, § 1º, item III;
sionais de saúde, com profissões regulamentadas; XI - desídia funcional;
XII - descumprimento de dever especial inerente a car-
Art. 195 - O aposentado compulsoriamente ou por go em comissão.
invalidez não poderá acumular seus proventos com a § 1° - Considera-se abandono de cargo a deliberada
ocupação de cargo ou o exercício de função ou emprego ausência ao serviço, sem justa causa, por trinta (30) dias
público. consecutivos ou 60 (sessenta) dias, interpoladamente, du-
Parágrafo único - Não se compreendem na proibição de rante 12 (doze) meses.
acumular nem estão sujeitos a quaisquer limites: § 2º - Entender-se-á por ausência ao serviço com justa
I - a percepção conjunta de pensões civis e militares; causa não só a autorizada por lei, regulamento ou outro
II - a percepção de pensões com vencimento ou salário; ato administrativo, como a que assim for considerada após
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
comprovação em inquérito ou justificação administrativa, Art. 205 - A suspensão preventiva será ordenada pela
esta última requerida ao superior hierárquico pelo funcio- autoridade que determinar a abertura do inquérito adminis-
nário interessado, valendo a justificação, nos termos deste trativo, se, no transcurso deste, a entender indispensável, nos
parágrafo, apenas para fins disciplinares. termos do § 1º deste artigo.
§ 1º - A suspensão preventiva não ultrapassará o
Art. 200 - Tendo em vista a gravidade do ilícito, a de- prazo de 90 (noventa) dias e somente será determinada
missão poderá ser aplicada com a nota “a bem do serviço quando o afastamento do funcionário for necessário, para
público”, a qual constará sempre nos casos de demissão re- que, como indiciado, não venha a influir na apuração de sua
feridos nos itens I e VII do artigo 199. responsabilidade.
Parágrafo único - Salvo reabilitação obtida em processo § 2º - Suspenso preventivamente, o funcionário terá,
disciplinar de revisão, o funcionário demitido com a nota a entretanto, direito:
que se refere este artigo não poderá reingressar nos quadros I - a computar o tempo de serviço relativo ao período de
funcionais do Estado ou de suas entidades, a qualquer título. suspensão para todos os efeitos legais;
II - a computar o tempo de serviço para todos os fins de
Art. 201 - Ao ato que cominar sanção, precederá sem- lei, relativo ao período que ultrapassar o prazo da suspensão
pre procedimento disciplinar, assegurada ao funcionário preventiva;
indiciado ampla defesa, nos termos deste Estatuto, pena de III - a perceber os vencimentos relativos ao período de
nulidade da cominação imposta. suspensão, se reconhecida a sua inocência no inquérito ad-
Parágrafo único - As sanções referidas nos itens II e VI do ministrativo;
artigo 196 serão cominadas por escrito e fundamentalmen- IV - a perceber as gratificações por tempo de serviço já
te, pena de nulidade. prestado e o salário-família.
Art. 202 - São competentes para aplicação das san- Art. 206 - Os Chefes dos Poderes Legislativo, Executivo e
ções disciplinares: Judiciário, os Presidentes do Tribunal de Contas e do Conse-
lho de Contas dos Municípios, os Secretários de Estado e os
I - os Chefes dos Poderes Legislativo e Executivo, em
dirigentes das Autarquias poderão ordenar a prisão admi-
qualquer caso, e privativamente, nos casos de demissão e
nistrativa do funcionário responsável direto pelos dinheiros
cassação de aposentadoria ou disponibilidade, salvo se se
e valores públicos, ou pelos bens que se encontrarem sob a
tratar de punição de funcionário autárquico;
guarda do Estado ou de suas Autarquias, no caso de alcance
II - os dirigentes superiores das autarquias, em qualquer
ou omissão no recolhimento ou na entrega a quem de direi-
caso, e, privativamente, nos casos de demissão e cassação,
to nos prazos e na forma da lei.
da aposentadoria ou disponibilidade;
§ 1º - Recolhida aos cofres públicos a importância des-
III - os Secretários de Estado e demais dirigentes de ór- viada, a autoridade que ordenou a prisão revogará imedia-
gãos subordinados ou auxiliares, em todos os casos, salvo os tamente o ato gerador da custódia.
referidos nos itens I e II; § 2º - A autoridade que ordenar a prisão, que não po-
IV - os chefes de unidades administrativas em geral, nos derá ultrapassar a 90 (noventa) dias, comunicará imedia-
casos de repreensão, suspensão até 30 (trinta) dias e multa tamente o fato à autoridade judiciária competente e pro-
correspondente. videnciará a abertura e realização urgente do processo de
tomada de contas.
Art. 203 - Além da pena judicial que couber, serão con-
siderados como de suspensão os dias em que o funcio- Art. 207 - A prisão, a que se refere o artigo anterior, será
nário, notificado deixar de atender à convocação para cumprida em local especial.
prestação de serviços estatais compulsórios, salvo moti-
vo justificado. Art. 208 - Aplica-se à prisão administrativa o disposto
no § 2º do art. 205 deste Estatuto.
Art. 204 - Será cassada a aposentadoria ou disponi-
bilidade se ficar provado, em inquérito administrativo, que Repreensão – Falta leve;
o aposentado ou disponível: Suspensão – até 90 dias – reincidência em falta leve e
I - praticou, quando no exercício funcional, ilícito pu- falta grave a qual não se aplique pena mais severa;
nível com demissão; Demissão – Crimes contra a Administração ou relacio-
II - aceitou cargo ou função que, legalmente, não po- nados à função, abandono de cargo, incontinência pública
deria ocupar, ou exercer, provada a má-fé; e escandalosa e prática de jogos proibidos, insubordinação
III - não assumiu o disponível, no prazo legal, o lugar grave, ofensa física ou moral em serviço contra funcioná-
funcional em que foi aproveitado, salvo motivo de força rio ou terceiros, aplicação irregular dos dinheiros públicos,
maior; quebra do dever de sigilo funcional, corrupção passiva, de-
IV - perdeu a nacionalidade brasileira. sídia funcional, descumprimento de dever especial inerente
Parágrafo único - A cassação da aposentadoria ou dis- a cargo em comissão.
ponibilidade ex-tingue o vínculo do aposentado ou do dispo- Cassação de aposentadoria ou disponibilidade – Práti-
nível com o Estado ou suas entidades autárquicas. ca de ilícito punível com demissão quando estava em exer-
cício, aceitação de cargo para o qual estaria impedido, não
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
entrar em exercício o servidor que estava em disponibili- III - no Tribunal de Contas e no Conselho de Contas dos
dade quando for designado novo local, perda da naciona- Municípios.
lidade brasileira.
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO V Do Inquérito Administrativo
Da Sindicância
Art. 210 - O inquérito administrativo é o procedi-
Art. 209 - A sindicância é o procedimento sumário mento através do qual os órgãos e as autarquias do
através do qual o Estado ou suas autarquias reúnem ele- Estado apuram a responsabilidade disciplinar do fun-
mentos informativos para determinar a verdade em torno cionário.
de possíveis irregularidades que possam configurar, ou não, Parágrafo único - São competentes para instaurar o in-
ilícitos administrativos, aberta pela autoridade de maior hie- quérito:
rarquia, no órgão em que ocorreu a irregularidade, ressal- I - o Governador, em qualquer caso;
vadas em qualquer caso, permitida a delegação de compe- II - os Secretários de Estado, os dirigentes das Autarquias
tência: e os Presidentes da Assembleia Legislativa, do Tribunal de
I - do Governador, em qualquer caso; Contas e do Conselho de Contas dos Municípios, em suas
II - dos Secretários de Estado, dos dirigentes autárqui- áreas funcionais, permitida a delegação de competência.
cos e dos Presidentes da Assembleia Legislativa, Tribunal de
Contas e do Conselho de Contas dos Municípios, em suas Art. 211 - O inquérito administrativo será realizado por
respectivas áreas funcionais. Comissões Permanentes, instituídas por atos do Governa-
§ 1º - Abrir-se-á, também, sindicância para apuração dor, do Presidente da Assembleia Legislativa, do Presidente
das aptidões do funcionário, no estágio probatório, para do Tribunal de Contas, do Presidente do Conselho de Contas
fins de demissão ou exoneração, quando for o caso, asse- dos Municípios, dos dirigentes das Autarquias e dos órgãos
gurada ao indiciado ampla defesa, nos termos dos artigos desconcentrados, permitida a delegação de poder, no caso
estatutários que disciplinam o inquérito administrativo, re- do Governador, ao Secretário de Administração.
duzidos os prazos neles estabelecidos, à metade.
§ 2º - Aberta a sindicância, suspende-se a fluência do Art. 212 - As Comissões Permanentes de Inquérito Admi-
período do estágio probatório. nistrativo compor-se-ão de três membros, todos funcioná-
§ 3º - A sindicância será realizada por funcionário está- rios estáveis do Estado ou de suas autarquias, presidida
vel, designado pela autoridade que determinar a sua aber- pelo servidor que for designado pela autoridade com-
tura. petente, que colocará à disposição das Comissões o pessoal
§ 4º - A sindicância precede o inquérito administrativo, necessário ao desenvolvimento de seus trabalhos, inclusive
quando for o caso, sendo-lhe anexada como peça informa- os de secretário e assessoramento.
tiva e preliminar.
§ 5º - A sindicância será realizada no prazo máximo de Art. 213 - Instaurado o inquérito administrativo, a au-
15 (quinze) dias, prorrogável por igual período, a pedido toridade encaminhará seu ato para a Comissão de Inquérito
do sindicante, e a critério da autoridade que determinou a que for competente, tendo em vista o local da ocorrência
sua abertura. da irregularidade verificada, ou a vinculação funcional do
§ 6º - Havendo ostensividade ou indícios fortes de au- servidor a quem se pretende imputar a responsabilidade ad-
toria do ilícito administrativo, o sindicante indiciará o fun- ministrativa.
cionário, abrindo-lhe o prazo de 3 (três) dias para defesa
prévia. A seguir, com o seu relatório, encaminhará o pro- Art. 214 - Abertos os trabalhos do inquérito, o Presidente
cesso de sindicância à autoridade que determinou a sua da Comissão mandará citar o funcionário acusado, para
abertura. que, como indiciado, acompanhe, na forma do estabelecido
§ 7º - O sindicante poderá ser assessorado por técni- neste Estatuto, todo o procedimento, requerendo o que for
cos, de preferência pertencentes aos quadros funcionais, do interesse da defesa.
devendo todos os atos da sindicância serem reduzidos a Parágrafo único - A citação será pessoal, mediante
termo por secretário designado pelo sindicante, dentre os protocolo, devendo o servidor dele encarregado consignar, por
funcionários do órgão a que pertencer. escrito, a recusa do funcionário em recebê-la. Em caso de não
§ 8º - Ultimada a sindicância, não apurada a respon- ser encontrado o funcionário, estando ele em lugar incerto e
sabilidade administrativa, ou o descumprimento dos re- não sabido, a citação far-se-á por edital, publicado no Diário
quisitos do estágio probatório, o processo será arquivado, Oficial do Estado, com prazo de 15 (quinze) dias, depois do
fixada a responsabilidade funcional, a autoridade que de- que, não comparecendo o citado, ser-lhe-á designado defensor,
terminou a sindicância encaminhará os respectivos autos nos termos do art. 184, item III e § 1º do art. 185.
para a Comissão Permanente de Inquérito Administrativo,
que funcionará: Art. 215 - Citado, o indiciado poderá requerer suas pro-
I - no Poder Executivo, na Governadoria, nas Secretarias vas no prazo de 5 (cinco) dias, podendo renovar o pedido,
de Estado, órgãos desconcentrados e nas autarquias; no curso do inquérito, se necessário para demonstração de
II - no Poder Legislativo, na Diretoria Geral; fatos novos.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 219 - Sob pena de nulidade, as reuniões e as dili- Art. 229 - Processar-se-á a revisão em apenso ao pro-
gências realizadas pela Comissão de Inquérito serão consig- cesso original.
nadas em atas. Parágrafo único - Não constitui fundamento para a
revisão a simples alegação de injustiça da sanção.
Art. 220 - Da decisão de autoridade julgadora cabe re-
curso no prazo de 10 (dez) dias, com efeito suspensivo, Art. 230 - O requerimento devidamente instruído será
para a autoridade hierárquica imediatamente superior, ou dirigido à autoridade que aplicou a sanção, ou àquela
para a que for indicada em regulamento ou regimento. que a tiver confirmado, em grau de recurso.
Parágrafo único - Das decisões dos Secretários de Esta- Parágrafo único - Para processar a revisão, a autoridade
do e do Presidente do Conselho de Contas dos Municípios que receber o requerimento nomeará uma comissão com-
caberá recurso, com efeito suspensivo, no prazo deste artigo, posta de três funcionários efetivos, de categoria igual ou su-
para o Governador. Das decisões do Presidente da Assem- perior à do requerente.
bleia Legislativa e do Tribunal de Contas caberá recurso, com
os efeitos deste parágrafo, para o Plenário da Assembleia e Art. 231 - Na inicial, o requerente pedirá dia e hora
do Tribunal, respectivamente. para inquirição das testemunhas que arrolar.
Parágrafo único - Será considerada informante a teste-
Art. 221 - O inquérito administrativo será concluído no munha que, residindo fora da sede onde funcionar a comis-
prazo máximo de 90 (noventa) dias, podendo ser prorro- são, prestar depoimento por escrito.
gado por igual período, a pedido da Comissão, ou a reque-
rimento do indiciado, dirigido à autoridade que determinou Art. 232 - Concluído o encargo da comissão, no prazo de
o procedimento. 60 (sessenta) dias, prorrogável por trinta (30) dias, nos ca-
sos de força maior, será o processo, com o respectivo relatório,
Art. 222 - Em qualquer fase do inquérito será permitida encaminhado à autoridade competente para o julgamento.
a intervenção do indiciado, por si, ou por seu defensor. Parágrafo único - O prazo para julgamento será de
20 (vinte) dias, prorrogável por igual período, no caso de
Art. 223 - Havendo mais de um indiciado e diversidade serem determinadas novas diligências.
de sanções caberá o julgamento à autoridade competente
para imposição da sanção mais grave. Neste caso, os pra- Art. 233 - Das decisões proferidas em procedimento de
zos assinados aos indiciados correrão em comum. revisão cabe recurso, na forma do art. 220.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu Básica, desde que tenham contribuído sobre a mesma por
sanciono a seguinte Lei: pelo menos 60 (sessenta) meses para o Sistema Único de
Previdência Social dos Servidores Públicos Civis e Mili-
Art. 1º Fica autorizada a concessão, para os meses de tares, dos Agentes Públicos e dos Membros de Poder do
outubro de 2012 a dezembro de 2020, de Parcela Variá- Estado do Ceará - SUPSEC.
vel de Redistribuição do Fundo de Manutenção e Desen- §1º Para os servidores do Grupo MAG da Educação Bá-
volvimento da Educação Básica – FUNDEB – PVR/ FUN- sica que implementarem as regras dos arts. 3º ou 6º da
DEB, destinada aos profissionais do Grupo Ocupacional do Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003,
Magistério - MAG, da Educação Básica, que se encontrem ou do art. 3º da Emenda Constitucional nº 47, de 5 de ju-
no efetivo exercício de seus cargos ou funções na Secreta- lho de 2005, e cujo período de percepção por ocasião do
ria da Educação do Estado do Ceará - SEDUC, visando à pedido de aposentadoria seja menor do que 60 (sessenta)
valorização da carreira e ao incentivo ao desempenho do meses, será observada a média aritmética do período de
magistério. percepção, multiplicada pela fração cujo numerador será o
§ 1º O valor da parcela prevista no caput será defini- número correspondente ao total de meses trabalhados e o
do de acordo com a referência da carreira, na qual esti-
denominador será sempre o número 60.
ver enquadrado o profissional, para uma jornada de 40
§2º O disposto neste artigo não se aplica aos servido-
(quarenta) horas semanais, na forma constante no anexo
res do Grupo MAG da Educação Básica que venham a se
I desta Lei.
§ 2º O valor da parcela constante no anexo I desta Lei aposentar pelas regras previstas no art. 40 da Constituição
será proporcional à efetiva jornada do profissional, quando Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional
diferente de 40 (quarenta) horas semanais. nº 41, de 19 de dezembro de 2003, nos termos da legisla-
§ 3º É devido o pagamento da PVR/ FUNDEB aos pro- ção federal.
fissionais do Grupo Ocupacional do Magistério – MAG, da
Educação Básica, a partir de 1° de outubro de 2012 até de- Art. 4º A PVR/FUNDEB prevista no art. 1° desta Lei será
zembro de 2020. concedida aos professores graduados contratados nos
§ 4º Incidirá a contribuição previdenciária sobre a termos da Lei Complementar n° 22, de 24 de junho de 2000,
parcela prevista no caput deste artigo. a ser custeada com recursos do FUNDEB, a partir de 1° de
§ 5º Não incidirá sobre a PVR/FUNDEB o índice de re- outubro de 2012 até dezembro de 2020.
visão geral da remuneração dos servidores públicos civis do Parágrafo único. O valor da parcela variável prevista no
Poder Executivo, considerando o seu caráter redistributivo. caput deste artigo será de R$ 200,00 (duzentos reais) para
§ 6º A parcela prevista no caput deste artigo constitui os professores com jornada de 40 (quarenta) horas se-
base de cálculo para férias e 13º salário, sendo este últi- manais e proporcional para as demais jornadas. (Nova
mo calculado proporcionalmente ao tempo de percepção e redação dada pela Lei n.º 15.576, de 07.04.14)
pela respectiva média, sempre custeada pelo FUNDEB.
Art. 5º Fica autorizada a concessão de abono relativo
Art. 2º Para fins de recebimento da PVR/FUNDEB não à integralização de 1/3 (um terço) da jornada para ho-
serão considerados como efetivo exercício os afasta- ras-atividade, nos termos da Lei Federal nº 11.738, de 16
mentos em virtude de: de julho de 2008, aos professores do Grupo Ocupacional do
I - convocação para o Serviço Militar; Magistério – MAG da Educação Básica e aos professores con-
II - júri e outros serviços obrigatórios; tratados nos termos da Lei Complementar nº 22, de 24 de
III - desempenho de função eletiva federal, estadual ou junho de 2000, referente ao período de agosto a dezembro
municipal; de 2012.
IV - licença especial, quando ainda não usufruída;
§1º O valor do Abono será calculado na forma prevista
V - missão ou estudo noutras partes do território
no anexo II desta Lei.
nacional ou no estrangeiro, para os cursos de pós-gradua-
§2º O Abono previsto no caput será pago em uma úni-
ção stricto sensu, quando o afastamento houver sido expres-
samente autorizado; ca parcela no mês de dezembro do ano de 2012.
VI - prisão;
VII - disponibilidade; Art. 6º Após a aplicação do disposto nos artigos desta
VIII - cessão para outros órgãos, entidades ou Poderes Lei, o saldo eventualmente remanescente do FUNDEB até o
da Administração Pública, com ou sem ônus para a origem. limite de 80% (oitenta por cento), previsto no inciso III do
Parágrafo único. Não farão jus ao recebimento da PVR/ art. 3º da Lei nº 15.064, de 13 de dezembro de 2011, será
FUNDEB os profissionais do Grupo Ocupacional do Magisté- rateado, exclusivamente, entre os profissionais ativos
rio – MAG, da Educação Básica, que se encontrem respon- beneficiados pela PVR/FUNDEB, previstos no art. 1º desta
dendo a processo administrativo disciplinar ou tenham Lei, pelos professores detentores do título de Doutorado, que
sofrido pena disciplinar nos últimos 2 (dois) anos. se encontrem em efetivo exercício na Secretaria da Educação
do Estado do Ceará – SEDUC, e os professores contratados
Art. 3º A parcela prevista no art. 1º será incorporada nos termos da Lei Complementar nº 22, de 24 de junho de
aos proventos de aposentadoria dos profissionais do 2000, devendo ser pago até o final do mês de março do ano
Grupo Ocupacional do Magistério – MAG, da Educação subsequente ao FUNDEB realizado.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º - Como condição para aquisição da estabilidade, Art. 29 – O ato administrativo declaratório da estabi-
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co- lidade do servidor no cargo de provimento efetivo, após
missão instituída para essa finalidade. cumprimento do estágio probatório e aprovação na
§ 2º - A avaliação especial de desempenho do servidor avaliação especial de desempenho, será expedido pela
será realizada: autoridade competente para nomear, retroagindo seus efei-
a) extraordinariamente, ainda durante o estágio pro- tos à data do término do período do estágio probatório.
batório, diante da ocorrência de algum fato dela motivador,
sem prejuízo da avaliação ordinária; Art. 30 - O funcionário estadual que, sendo estável,
b) ordinariamente, logo após o término do estágio pro- tomar posse em outro cargo para cuja confirmação se
batório, devendo a comissão ater-se exclusivamente ao de- exige estágio probatório, será afastado do exercício das
sempenho do servidor durante o período do estágio. atribuições do cargo que ocupava, com suspensão do vínculo
§ 3º - Além de outros específicos indicados em lei ou funcional nos termos do artigo 66, item I, alíneas a, b e c
regulamento, os requisitos de que trata este artigo são os desta lei.
seguintes: Parágrafo único - Não se aplica o disposto neste artigo
I - adaptação do servidor ao trabalho, verificada por aos casos de acumulação lícita.
meio de avaliação da capacidade e qualidade no desempe-
nho das atribuições do cargo; Sobre o estágio probatório, disciplina o artigo 41 da
II - equilíbrio emocional e capacidade de integração; Constituição Federal:
III - cumprimento dos deveres e obrigações do servi-
dor público, inclusive com observância da ética profissional. Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer-
§ 4º - O estágio probatório corresponderá a uma com- cício os servidores nomeados para cargo de provimento
plementação do concurso público a que se submeteu o efetivo em virtude de concurso público.
servidor, devendo ser obrigatoriamente acompanhado e su- § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
pervisionado pelo Chefe Imediato. I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja
§ 5º - Durante o estágio probatório, os cursos de trei-
assegurada ampla defesa;
namento para formação profissional ou aperfeiçoamento
III - mediante procedimento de avaliação periódica de
do servidor, promovidos gratuitamente pela Administra-
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
ção, serão de participação obrigatória e o resultado obti-
ampla defesa.
do pelo servidor será considerado por ocasião da avalia-
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser-
ção especial de desempenho, tendo a reprovação caráter
vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante
eliminatório.
da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem
§ 6º - Fica vedada qualquer espécie de afastamento
direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou pos-
dos servidores em estágio probatório, ressalvados os casos to em disponibilidade com remuneração proporcional ao
previstos nos incisos I, II, III, IV, VI, X, XII, XIII, XV e XXI do art. tempo de serviço.
68 da Lei nº 9.826, de 14 de maio de 1974. § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade,
§ 7º - O servidor em estágio probatório não fará jus a o servidor estável ficará em disponibilidade, com remune-
ascensão funcional. ração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
§ 8º - As faltas disciplinares cometidas pelo servidor aproveitamento em outro cargo.
após o decurso do estágio probatório e antes da conclusão § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
da avaliação especial de desempenho serão apuradas por é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co-
meio de processo administrativo-disciplinar, precedido missão instituída para essa finalidade.
de sindicância, esta quando necessária.
§ 9º - São independentes as instâncias administrativas O estágio probatório pode ser definido como um lapso
da avaliação especial de desempenho e do processo ad- de tempo no qual a aptidão e capacidade do servidor serão
ministrativo-disciplinar, na hipótese do parágrafo anterior, avaliadas de acordo com critérios de assiduidade, discipli-
sendo que resultando exoneração ou demissão do servi- na, capacidade de iniciativa, produtividade e responsabili-
dor, em qualquer dos procedimentos, restará prejudicado o dade. O servidor não aprovado no estágio probatório será
que estiver ainda em andamento. exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo anterior-
mente ocupado. Não existe vedação para um servidor em
Art. 28 - O servidor que durante o estágio probatório estágio probatório exercer quaisquer cargos de provimen-
não satisfizer qualquer dos requisitos previstos no § 3º to em comissão ou funções de direção, chefia ou assesso-
do artigo anterior, será exonerado, nos casos dos itens I e II, ramento no órgão ou entidade de lotação.
e demitido na hipótese do item III. Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
Parágrafo único - O ato de exoneração ou de demissão plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-
do servidor em razão de reprovação na avaliação especial tando o prazo de 2 anos para 3 anos.
de desempenho será expedido pela autoridade competente Uma vez adquirida a aprovação no estágio probató-
para nomear. rio, o servidor público somente poderá ser exonerado nos
casos do §1º do artigo 40 da Constituição Federal, nota-
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 24 - O Conselho Técnico-Administrativo é o ór- Art. 29 - O Diretor e o Vice-diretor farão jus a uma retri-
gão deliberativo que se constituirá de: buição financeira conforme o disposto em Lei.
I - Diretor;
II - Vice-diretor; Art. 30 - A retribuição do Vice-diretor corresponderá a
III - Um representante de cada Área de Estudo; 70% (setenta por cento) da que percebe o Diretor.
IV - Um representante do serviço de Supervisão Es-
colar; Art. 31 - Os Complexos Escolares, na conformidade de
V - Um representante do serviço de Orientação Edu- que dispõe o art. 3º da Lei Federal nº 5.692/71, terão um
cacional; Diretor incumbido de coordenar as atividades dos di-
VI - Um representante dos Pais; versos estabelecimentos que os integram.
VII - Um representante do Corpo Discente; § 1º - O cargo de Diretor de Complexos Escolares será
VIII - Um representante da Comunidade; exercido por especialista em Administração Escolar, com
IX - Um representante dos Funcionários. no mínimo dois (02) anos de efetivo exercício na espe-
Parágrafo único - O Presidente do Conselho é o Dire- cialização.
tor da Unidade Escolar, substituído em suas faltas ou im- § 2º - Cada Unidade Escolar, integrante de um Com-
pedimentos pelo Vice-diretor, por ele designado. plexo, terá um Vice-diretor e, funcionando em mais de
dois turnos, três Vice-diretores.
Art. 25 - Compete ao Conselho Técnico-Administra-
tivo: Os professores, para ensinarem matérias em grau
I - Elaborar o anteprojeto do Regimento da Unidade avançado, necessitam de licenciatura específica.
Escolar; Os especialistas possuem formação específica para o
II - Organizar o currículo pleno e aprovar o calendá- desempenho de atividades que exigem o conhecimento
rio escolar; especializado, sendo eles: administrador escolar, supervi-
III - Emitir parecer sobre os programas de ensino e sor escolar, orientador educacional e inspetor escolar.
planos de curso;
A administração escolar será desempenhada por 3
IV - Exercer as demais atribuições estabelecidas no Re-
órgãos: Congregação, Conselho Técnico-Administrativo e
gimento.
Diretoria. Os dois primeiros são órgãos deliberativos, en-
quanto que a Diretoria é um órgão tipicamente administra-
Art. 26 - O Regimento da Unidade Escolar disciplinará
tivo/executivo. Cada unidade escolar terá um diretor e pelo
o funcionamento da Congregação e do Conselho Técni-
menos um vice, podendo ter três vice-diretores se funcio-
co-Administrativo.
nar em mais de dois turnos.
Art. 27 - Das decisões do Conselho Técnico-Admi-
nistrativo cabe recurso, sem efeito suspensivo, para a TÍTULO IV
Congregação e desta para o Secretário de Educação ou DO REGIME DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS
Conselho de Educação do Ceará, conforme o caso objeto DO MAGISTÉRIO
do recurso. CAPÍTULO I
DOS PROFESSORES
Art. 28 - A Direção da Escola será exercida pelo Dire-
tor e Vice-Diretores, devidamente habilitados, nomeados Art. 32 - O regime de atividade semanal do Professor
por ato do Poder Executivo, para mandato de dois (02) anos, será de 20 ou 40 horas.
permitidas suas reconduções. Parágrafo único - O regime de atividade de 40 horas se-
§ 1º - O Diretor será escolhido pelo Chefe do Poder manais será regulado por Decreto do Chefe do Poder Executivo.
Executivo dentre os componentes da lista sêxtupla, or-
ganizada pela congregação e os Vice-Diretores em lista Art. 33 - Da carga horária semanal para docente, 1/5
sêxtupla, organizada pelo Diretor. (um quinto) será utilizado em atividades extraclasse, na
§ 2º - A Direção de escola recém criada será desig- escola.
nada pelo Chefe do Poder Executivo, por indicação do
Delegado Regional de Educação, por um período de (06) Art. 34 - É vedado ao Professor utilizar as horas-ativi-
seis meses, quando se procederá como estabelece o parágra- dade em serviços estranhos às suas funções.
fo primeiro deste artigo.
§ 3º - Exigir-se-á do Diretor a habilitação específi- Art. 35 - O docente em regência de classe é obrigado a
ca em Administração Escolar ou Registro de Diretor ex- cumprimento do número de horas-aula, segundo o calendá-
pedido pelo Ministério da Educação e Cultura. rio escolar, devendo recuperá-las quando, por motivo de força
§ 4º - Decreto do Chefe do Poder Executivo regula- maior, estiver impossibilitado de comparecer ao estabeleci-
mentará o processo de elaboração da lista sêxtupla de mento, exceto se afastado por força de dispositivo legal.
que trata o parágrafo 1º deste artigo, constando deste De- § 1º - A Unidade Escolar procederá, mensalmente, ao
creto a obrigação de que cada membro da congregação es- levantamento das faltas dadas por regentes de classe e or-
colherá apenas um nome, sendo os seis nomes mais votados ganizará o calendário das aulas complementares devidas, a
os componentes da lista sêxtupla referida neste artigo. título de recuperação.
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§ 2º - Enquanto o número de horas-aula dos docen- § 3º - No período de recesso escolar, após o 2º se-
tes não estiver completo, não se dará a conclusão do mestre letivo, o servidor ficará a disposição da unidade
ano letivo, na atividade, área de estudo ou disciplina em de trabalho onde atua, para treinamento e/ou para rea-
que se verificar a ocorrência. lização de trabalhos didáticos. (Redação dada pela Lei Nº
§ 3º - As horas-aula não recuperadas no decorrer de 12.066, de 13.01.93)
cada ano letivo serão passíveis de desconto no vencimen- § 4º - Os períodos de férias não gozadas pelo pessoal
to, devendo o Diretor da Unidade Escolar encaminhar para do magistério, serão computados em dobro para fins de
as providências cabíveis, ao setor competente da Secretaria progressão horizontal, aposentadoria e disponibilidade, in-
de Educação, a relação das faltas dos que deixaram de satis- cluindo-se na norma ora estabelecida, períodos referentes
fazer as exigências deste artigo. a anos anteriores, quer já estejam averbados, ou não. Os
beneficiados por este artigo só poderão contar em dobro,
Art. 36 - O Professor que não esteja exercendo ativi- um mês de férias não gozadas no exercício.
dade docente terá regime de trabalho conforme o estabe-
lecido para os demais servidores regidos pelo Estatuto dos SEÇÃO II
Funcionários Públicos Civis do Estado. DO ACESSO E DA PROMOÇÃO
CAPÍTULO II Art. 40 - O Professor e o Especialista serão elevados:
DOS ESPECIALISTAS I - Mediante acesso;
II - Mediante promoção.
Art. 37 - O regime de trabalho dos Especialistas é o § 1º - Acesso é a elevação do profissional do magisté-
consignado no Art. 32 desta Lei. rio de uma para outra Classe, em razão de título de nova
Parágrafo único - Os Especialistas que não estejam exer- habilitação profissional.
cendo atividades inerentes às suas funções têm o mesmo re- § 2º - Promoção é a elevação do profissional do ma-
gime de trabalho estabelecido no art. 36 desta Lei. gistério de nível para outro na mesma Classe, tendo em
vista cursos, estágios, seminários, trabalhos publicados de
Os professores e os especialistas se sujeitam a dois re- teor educacional, tempo de serviço.
gimes de trabalho possíveis: 20 ou 40 horas. § 3º - A Promoção será regulada por Decreto do Chefe
do Poder Executivo.
TÍTULO V
DOS DIREITOS, VANTAGENS E DEVERES Art. 41 - Atendidos os requisitos legais e regulamenta-
CAPÍTULO I res, o Acesso será concedido por ato do Chefe do Poder Exe-
DOS DIREITOS cutivo, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados
da entrada do requerimento no órgão competente.
Art. 38 - Aos profissionais de magistério, além dos di-
reitos, vantagens e autorizações capitulados no Estatuto dos SEÇÃO III
Funcionários Públicos Civis do Estado, assegurar-se-ão: DA REMOÇÃO
I - Remuneração condigna;
II - Participação em cursos de atualização, aperfei- Art. 42 - Remoção é o deslocamento do profissional
çoamento, especialização e qualificação; do magistério de uma outra Unidade Escolar ou serviço.
III - Adequado ambiente de trabalho;
IV - Representação em órgãos colegiados relativos à Art. 43 - Far-se-á remoção:
educação. I - A pedido, desde que não contrarie dispositivos legais
nem as conveniências do ensino;
SEÇÃO I II - “Ex-ofício”, no interesse da administração;
DAS FÉRIAS III - Por permuta das partes interessadas, com anuência
prévia dos Diretores das Unidades Escolares.
Art. 39 - O Profissional do Magistério de 1º e 2º Graus Parágrafo único - A remoção de professores das séries
gozará 30 (trinta) dias de férias anuais após o 1º semes- iniciais de 1º Grau, nos termos do art. 139 da Constituição
tre letivo e 15 dias após o 2º período letivo. (Redação dada do Estado far-se-á após parecer do Conselho de Educação
pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93) do Ceará.
§ 1º - O Professor e o Especialista que se ausentarem
da sua Unidade Escolar, fora do período de férias, por im- Art. 44 - Na hipótese de mais de um profissional do ma-
periosa necessidade, deverão comunicar ao Diretor respec- gistério interessar-se pelo preenchimento de vaga única, a
tivo, para adoção das providências cabíveis. preferência será dada ao de Classe mais elevada, e em
§ 2º - O Profissional do magistério que exerce ativi- igualdade de condições, ao mais antigo do magistério
dades nos diversos setores da Secretaria de Educação ou público estadual.
em outro órgão da administração Pública Estadual, gozará
férias na forma que dispõe o Estatuto dos Funcionários Pú- Art. 45 - O profissional do magistério, quando removido,
blicos Civis do Estado, inclusive com direito à contagem em não poderá deslocar-se para a nova sede antes da publi-
dobro, se deixar de usufruí-las. cação do ato no órgão oficial.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 46 - No caso de remoção, o prazo para assumir o É vedada a acumulação remunerada de cargos públi-
novo exercício é de até (10) dias, quando de uma cidade cos, exceto, quando houver compatibilidade de horários,
para outra, contados da publicação do respectivo ato, in- observado em qualquer caso o disposto no inciso XI.
cluindo-se o período de deslocamento. a) a de dois cargos de professor;
Parágrafo único - Considerar-se-á como de efetivo exer- b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
cício o período de que trata este artigo. científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis-
Art. 47 - O profissional do magistério não poderá ser sionais de saúde, com profissões regulamentadas;
removido quando em gozo de licença de qualquer natu-
reza, salvo se a seu pedido. Segundo Carvalho Filho24, “o fundamento da proibição
é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que
Art. 48 - A remoção do pessoal do magistério poderá o servidor não execute qualquer delas com a necessária efi-
verificar-se entre Unidades Escolares do Interior e da Capital, ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons-
desde que haja vaga, satisfazendo o interessado as exigên- tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em
cias de habilitação profissional. detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-
Parágrafo único - Somente após dois (02) anos de per- -se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em
manência em Unidades Escolares localizadas no interior consequência, se a acumulação só encerra a percepção de
do Estado, poderá o profissional do magistério ser removi- vencimentos por uma das fontes, não incide a regra cons-
do para Unidade Escolar sediada na Capital, salvo se para titucional proibitiva”.
acompanhar o cônjuge, também funcionário público.
SEÇÃO VI
Art. 49 - O profissional do magistério cujo cônjuge, DO DIREITO DE PETIÇÃO
também servidor público, for removido, terá exercício, in-
dependentemente de vaga, em Unidades Escolares de seu Art. 53 - É assegurado aos integrantes do grupo de car-
novo domicílio. gos do magistério o direito de requerer ou representar,
obedecidas as normas estabelecidas no Estatuto dos Funcio-
Art. 50 - O Secretário de Educação, ouvidos os Departa- nários Públicos Civis do Estado.
mentos próprios, expedirá Portaria disciplinando o processo
de remoção. Direito de petição é um direito fundamental conferido
a toda pessoa de defender seus direitos e noticiar ilegali-
SEÇÃO IV dades e abusos (artigo 5º, XXXIV, CF). Pode ser exercido
DO AFASTAMENTO por diversas vias, como representação (denúncia de irre-
gularidade perante a Administração, Tribunal de Contas
Art. 51 - O afastamento do profissional do magistério do ou outro órgão de controle), reclamação administrativa
seu cargo, função ou emprego, poderá ocorrer nos seguintes (oposição expressa a ato administrativo que ofenda direi-
casos: to ou interesse legítimo, podendo ser interposta perante o
I - para seu aperfeiçoamento, qualificação, especia- Supremo Tribunal Federal se o ato administrativo contra-
lização e atualização; riar súmula vinculante), pedido de reconsideração (solici-
II - para exercer as atribuições de cargo ou função de tação de mudança da decisão pela própria autoridade que
direção em órgão do Serviço Público Federal, Estadual ou praticou um ato), recurso hierárquico próprio (solicitação
Municipal; de mudança da decisão por autoridade hierarquicamente
III - quando no exercício da Presidência, da Secretaria superior àquela que praticou o ato), recurso hierárquico
Geral e da 1ª Tesouraria de qualquer entidade de represen- impróprio (solicitação de mudança da decisão por autori-
tação do Magistério, reconhecida pelo Governo do Estado. dade diversa, com competência especificada em lei, porém
§ 1º - Em qualquer dos casos enumerados neste artigo, não hierarquicamente superior àquela que praticou o ato),
a solicitação de afastamento poderá ser atendida, a critério revisão (solicitação de alteração em punição aplicada pela
da autoridade competente, desde que não cause prejuízo Administração no exercício do poder disciplinar diante do
ao ensino. surgimento de fatos novos).
§ 2º - O ato de afastamento será da competência do
Chefe do Poder Executivo. SEÇÃO VII
DA DEVOLUÇÃO E DA REDUÇÃO DA CARGA HO-
SEÇÃO V RÁRIA
DA ACUMULAÇÃO
Art. 54 - Nenhum ocupante do cargo do magistério
Art. 52 - A acumulação de cargos, funções e empre- poderá ser devolvido à autoridade competente sem prévia
gos, dar-se-á nos termos das Constituições Federal e Es- sindicância realizada pela Delegacia Regional de Educação
tadual. respectiva, salvo se a pedido do interessado.
Estabelece o artigo 37, XVI da Constituição Federal: 24 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito
administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
50
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 55 - A carga horária, em nenhuma hipótese, pode- II - Prêmio pela produção de obra ou publicação de
rá ser reduzida em detrimento de menor vencimento para o trabalho de sua especialidade;
cargo do magistério, salvo se a pedido do interessado. III - Gratificação por atividade em locais inóspitos
ou de difícil acesso;
SEÇÃO VIII IV - Gratificação a professores de excepcionais;
DA PREVIDÊNCIA E DA ASSISTÊNCIA V - Gratificação por efetiva regência de Classe, de
acordo com o que dispõe a Lei Estadual nº 10.206, de 20 de
Art. 56 - O pessoal do magistério faz jus a todos os setembro de 1978;
benefícios e serviços decorrentes da previdência e assis- VI - (Revogado pela Lei N° 14.431, de 31.07.09)
tência assegurados aos demais Funcionários Civis do Estado. VII - Gratificação por participação em bancas exami-
Parágrafo único - O processo de concessão dos bene- nadoras.
fícios e serviços de que trata o presente artigo obedecerá à Parágrafo único - As vantagens referidas nos incisos III,
normas estabelecidas no Estatuto dos Funcionários Públicos IV, V, VI deste artigo integrarão os proventos do pessoal do
Civis do Estado. magistério que passar à inatividade, inclusive por motivo de
doença nos casos especificados em Lei.
CAPÍTULO II
DA RETRIBUIÇÃO, DO VENCIMENTO E DAS VANTA- Art. 63 - A gratificação constante do item III do artigo
GENS anterior será atribuída pelo Secretário de Educação, não po-
SEÇÃO I dendo exceder a trinta por cento (30%) do respectivo
DISPOSITIVOS PRELIMINARES vencimento.
§ 1º - O Secretário de Educação, ouvidos os Departa-
Art. 57 - Todo profissional do magistério, em razão do vín- mentos respectivos, indicará as Unidades Escolares situa-
culo que mantém com o sistema Administrativo Estadual, tem das em locais de difícil acesso ou em lugares inóspitos.
direito a uma retribuição pecuniária, na forma deste Estatuto. § 2º - A gratificação de que trata este artigo será can-
celada, se o profissional do magistério for removido para
Art. 58 - Sendo a carreira do magistério escalonada se-
outra Unidade Escolar não situada nos locais ou lugares
gundo a habilitação, serão considerados, na fixação do ven-
referidos no parágrafo anterior.
cimento os avanços vertical e horizontal constantes do
Anexo único desta Lei.
Art. 64 - A gratificação mencionada no item IV do Artigo
62, desta Lei só é devida ao profissional que exerça, efeti-
Art. 59 - Ao pessoal do magistério poderão ser concedi-
vamente, a especialização, em regência de classe e cor-
das diárias e ajudas de custo ou outras retribuições pecu-
responderá a trinta por cento (30%) do vencimento do
niárias, conforme o caso, na forma deste Estatuto.
cargo.
SEÇÃO II
DO VENCIMENTO Art. 65 - O integrante do magistério contemplado com
bolsa de estudo terá direito à percepção dos vencimentos
Art. 60 - Vencimento é a retribuição corresponden- integrais e demais vantagens, enquanto durar o afas-
te à Classe e ao Nível do profissional do magistério, de tamento.
acordo com o estabelecido em Leis e Regulamento. Parágrafo único - Para fazer jus ao disposto neste artigo,
o bolsista deverá comprovar junto ao setor competente da
SEÇÃO III Secretaria de Educação, sua frequência ao curso.
DAS VANTAGENS
Art. 66 - O Poder Executivo instituirá prêmios anuais
Art. 61 - São vantagens do pessoal do magistério: para serem concedidos a profissionais do magistério,
I - Gratificações; pela autoria de obras de natureza educacional, confor-
II - Ajuda de custo; me se dispuser em regulamento.
III - Diárias; Parágrafo único - Sob proposta do Secretário de Edu-
IV - Salário família; cação, o Chefe do Poder Executivo poderá conceder auxílios
V - Auxílio doença; financeiros para qualquer atividade em que, ao seu arbítrio,
VI - Auxílio funeral. reconheça o interesse de aperfeiçoamento ou especializa-
ção, tais como viagens de estudo em grupo de professores,
SEÇÃO VI Congressos, Encontros, Simpósios, Convenções, Publicações
DAS VANTAGENS ESPECÍFICAS Técnico-Científica ou Didáticas e Similares.
Art. 62 - São vantagens especiais do Pessoal do Magis- Art. 67 - Fica assegurada ao professor a percepção de
tério: Regência de Classe quando afastado da sala de aula por
I - Bolsas de estudo, mediante indicação da Secretaria licença especial e para tratamento de saúde.
de Educação;
51
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 68 - O Professor regido por este Estatuto ou por Lei XII - Participar de cursos, seminários e solenidades,
Especial, em efetiva regência de classe, poderá, a seu pedido, quando para eles convocado ou convidado;
ter reduzido em cinquenta por cento (50%), o número de XIII - Cumprir todas as determinações regimentais de
horas-atividades sem prejuízo dos seus vencimentos e sua Unidade Escolar ou do setor onde estiver em exercício,
demais vantagens quando: bem como as emanadas da Secretaria de Educação.
I - Atingir cinquenta (50) anos de idade;
II - Completar vinte (20) anos de exercício, se do sexo Direitos:
feminino e vinte e cinco (25), se do sexo masculino. - Remuneração digna, incluindo aqui férias (no recesso
Parágrafo único - Aos Especialistas em Educação, quan- fica disponível para atividades extraclasse), acesso (eleva-
do em função nas Unidades de Ensino, aplicar-se-á o dispos- ção de uma classe para outra), promoção (elevação de um
to neste artigo. nível para o outro na mesma classe), vencimento, gratifica-
ções, ajuda de custo, diárias, salário família, auxílio doença,
SEÇÃO IV auxílio funeral, outras vantagens específicas e aposentado-
DA APOSENTADORIA ESPECIAL ria.
- Aperfeiçoamento, incluindo direito ao afastamento
Art. 69 - O Professor e o Especialista em Educação, regi- para qualificação;
dos por este Estatuto e por Lei Especial, serão aposentados, - Qualidade no ambiente de trabalho, incluindo remo-
voluntariamente, aos trinta anos de efetivo exercício, se ção (a pedido, de ofício ou por permuta);
do sexo masculino, e vinte e cinco (25) anos de efetivo - Representatividade.
exercício, se do sexo feminino, de acordo com a Emen-
da Constitucional Estadual de número 18/81, e Constituição Deveres: educar, preservar valores morais e intelec-
número 13/81. tuais, cumprir ordens (dever de hierarquia), ter assiduidade
Parágrafo único - Serão contadas em dobro a licença e pontualidade, respeitar à autoridade, à justiça, à solida-
especial e as férias não gozadas para efeito de aposentado- riedade humana e amor à pátria, guardar sigilo, promover
ria especial.
formação integral, usar trajes condizentes, dignificar a clas-
se, ter urbanidade e respeito, sugerir melhorias, cumprir
Art. 70 - Ao pessoal do magistério aplicar-se-á, ainda,
obrigações funcionais, participar de programas de ensino,
no que couber e não colidir com este Estatuto, o disposto no
assistir reuniões pedagógicas, participar de cursos, semi-
capítulo VII da Lei Estadual de nº 9.826, (Estatuto dos Fun-
nários e solenidades, cumprir determinações regimentais.
cionários Públicos do Estado), de 14 de maio de 1974.
TÍTULO VI
CAPÍTULO III
DOS DEVERES DO APERFEIÇOAMENTO PROFISSIOINAL
Art. 71 - O pessoal de magistério, em face de sua missão Art. 72 - O aperfeiçoamento profissional estabelecido
de educar, deve preservar os valores morais e intelec- no item IV do art. 4º desta Lei far-se-á através de cursos e
tuais que representa perante a sociedade, além de cum- estágios de atualização e especialização, dentro ou fora
prir as obrigações inerentes à profissão, como: do Estado.
I - Cumprir e fazer cumprir ordens de seus superiores Parágrafo único - A Secretaria de Educação promoverá a
hierárquicos; Seleção dos candidatos em condições de frequentar os cursos
II - Ser assíduo e pontual; e estágios mencionados neste artigo.
III - Incutir, pelo exemplo, no educando, o espírito de res-
peito à autoridade, os princípios de justiça, de solidarie- Art. 73 - Os cursos e estágios deverão ser programa-
dade humana e de amor à pátria; dos, de preferência, para o período de recesso escolar ou
IV - Guardar sigilo sobre assuntos de sua Unidade Esco- em turno não coincidente com o de atividade profissional
lar, que não devam ser divulgados; do integrante do magistério, quando realizados no local da
V - Esforçar-se pela formação integral do educando; Unidade Escolar onde tenha exercício.
VI - Apresentar-se nos locais de seu trabalho em trajes Parágrafo único - Os cursos e estágios serão ministrados
condizentes com a profissão e conforme o estabelecido no por professores e/ou especialistas devidamente habilitados,
Regimento de sua Unidade Escolar; permitindo, para esse fim, a celebração de convênios com
VII - Proceder na vida pública e na particular de forma Universidades, Escolas Isoladas e outras Instituições.
que dignifique a classe a que pertence;
VIII - Tratar com urbanidade e respeito a todos os que Art. 74 - Os cursos e estágios oferecidos por entidades
o procurem notadamente em suas atividades profissionais; nacionais ou estrangeiras, não previstas nos planos pe-
IX - Sugerir em tempo, providências que visem à me- riódicos, poderão ser aceitos caso a oferta se verifique atra-
lhoria da Educação; vés da Secretaria de Educação nos seus planos de trabalho.
X - Cumprir todas as suas obrigações funcionais pre-
vistas em Lei e as decorrentes de exigências administrativas; Art. 75 - No processo de seleção dos que deverão ser
XI - Participar na elaboração de programas de ensino indicados para frequentar cursos ou estágios, observar-
e assistir às reuniões pedagógicas de sua Unidade Escolar; -se-ão os seguintes critérios:
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º - São competentes para dar posse, os Delegados Art. 105 - Ao integrante do magistério que haja prestado
Regionais de Educação, para cuja jurisdição o professor ou relevante serviços à causa da educação será concedido,
especialista tenha sido nomeado. pela Secretaria de Educação, o título de EDUCADOR EMÉ-
§ 2º - Será tornado sem efeito a nomeação, quando a RITO.
posse não se verificar no prazo estabelecido neste artigo. Parágrafo único - O título de que trata este artigo será
entregue em ato solene, no dia 15 de outubro.
SEÇÃO III
DO EXERCÍCIO Art. 106 - Os professores e Especialistas inativos do Gru-
po do Magistério terão seus proventos automaticamen-
Art. 100 - O exercício terá início no prazo de trinta te reajustados, inclusive com relação à vantagem pessoal
(30) dias contados da data da posse. nominalmente identificável, guardando-se para tanto, na
§ 1º - O exercício será dado pelo Diretor da Unidade fixação da parcela correspondente ao vencimento, idêntica
Escolar ou Chefe da Sub-unidade Administrativa para proporcionalidade com as majorações estabelecidas para os
onde o profissional tenha sido nomeado; servidores de igual cargo ou função.
§ 2º - É vedado ao integrante do magistério ter exer-
cício fora da Unidade Escolar ou Sub-unidade Admi- Arts. 107 a 110 - (Revogados pela Lei Nº 12.066, de
nistrativa para onde tiver sido designado, salvo nos casos 13.01.93)
previstos neste Estatuto;
§ 3º - Quando se tratar de Unidade Escolar localizada Art. 111 - Os ocupantes de cargo do Quadro Suplemen-
no interior do Estado, considerar-se-á como efetivo exer- tar do Magistério terão, a partir da vigência deste Estatuto,
cício, o período de tempo necessário ao deslocamento, prazo de 05 (cinco) anos para concluir habilitação es-
o qual será de até dez (10) dias; pecífica.
§ 4º - O início, a interrupção e o reinício do exercí- § 1º - A Secretaria de Educação promoverá programa
cio deverão ser comunicados, por escrito, ao respectivo especial a fim de ser atendido o disposto neste artigo.
Departamento, para efeito de registro nos assentamentos § 2º - O prazo previsto neste artigo poderá, excepcio-
individuais dos profissionais do magistério. nalmente, ser prorrogado por ato do Chefe do Poder Exe-
cutivo.
Art. 101 - (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
Art. 112 - A admissão de servidores para o magistério
Grupo de cargos do magistério: conjunto de Catego- público estadual será feita exclusivamente sob o regime
rias Funcionais, composto de cargos de Professores e Es- deste Estatuto.
pecialistas. Os cargos são agrupados em Classes e Níveis.
Cada Classe é dividida em nível inicial + 6 avanços. Art. 113 - Para o cargo de Delegado Regional de Educa-
Para habilitação em concurso voltado ao preenchimen- ção será exigida a habilitação de nível superior na área
to de vaga de Professor para as quatro (4) primeiras séries de educação, preferencialmente, em Pedagogia com es-
do 1º Grau basta a licenciatura em pedagogia. pecialização.
O concurso terá validade de 2 anos, prorrogáveis por Parágrafo único - A exigência estabelecida neste artigo
mais 2. é a partir de janeiro de 1985.
Quando entrar em exercício depois de aprovado no
concurso, o professor se sujeitará a estágio probatório de Art. 114 - (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
3 anos.
Posse e exercício são coisas diversas. A posse se dá TÍTULO X
com a nomeação e o exercício se inicia depois da posse. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
DA APLICAÇÃO DO PLANO DE CLASSIFICAÇÃO DE
TÍTULO IX CARGOS
DISPOSIÇÕES GERAIS SEÇÃO I
DA APROVAÇÃO E IMPLANTAÇÃO
Art. 102 - O dia 15 de outubro é consagrado aos inte-
grantes do magistério e será comemorado oficialmente. Arts. 115 e 116 - (Revogados pela Lei Nº 12.066, de
13.01.93)
Art. 103 - É reconhecida como entidade dos profissionais
do magistério a Associação dos Professores de Estabele- SEÇÃO II
cimentos Oficiais do Ceará. DA TRANSPOSIÇÃO E DA TRANSFORMAÇÃO
Art. 104 - O Estado poderá proporcionar meios para que Art. 117 - Para efeito desta Lei considera-se:
os integrantes do magistério participem de excursão cultu- I - TRANSPOSIÇÃO - o deslocamento de um cargo exis-
ral, nos períodos de férias regulares, e estimulará publica- tente, para outro cargo de provimento efetivo da mesma ou
ções periódicas científicas de interesse da educação. diferente denominação, com atribuições idênticas no Grupo
de Cargos do Magistério.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
II - TRANSFORMAÇÃO - A alteração das atribuições vinte (20) anos de exercício no magistério, se do sexo
e denominação de um cargo para outro de provimento no feminino, ou vinte e cinco (25) anos, se do sexo mascu-
Grupo de Cargos do Magistério. lino, fica assegurado o direito de serem despadronizados,
Parágrafo único - Consideram-se, também, cargos os aplicando-se-lhes, para efeito de vencimentos, o número IV,
empregos sob contrato e as funções remanescentes das ex- do Grupo 1, do Quadro Isolado.
tintas Tabelas, nos termos do § 2º do Art. 160 da Constitui-
ção Federal, de 15 de março de 1967, com a redação dada Art. 122 - As Substitutas Efetivas estáveis serão en-
no Artigo 194 pela Emenda Constitucional nº 1, de 17 de quadradas no Grupo de Cargos do Magistério, conforme
outubro de 1969. dispõe esta Lei e segundo a sua habilitação.
Art. 118 - As linhas de transposição, bem como as nor- Art. 123 - Os atuais Inspetores Escolares de 1º e 2º Graus
mas reguladoras das transformações, serão objetos de De- contratados por força do Concurso Público, conforme edital
creto do Chefe do Poder Executivo, obedecidos os critérios de número 02/77, publicado no Diário Oficial do Estado, em
estabelecidos nesta Lei. 17 de outubro de 1977, da Secretaria de Educação e cons-
tantes da lista classificatória, serão classificados mediante
SEÇÃO III prévia habilitação processual, por Decreto Nominativo, do
DO ENQUADRAMENTO Chefe do Poder Executivo, no número IV, do Grupo 3, do
Quadro Isolado.
Art. 119 - Os atuais ocupantes de cargos do Quadro I -
Poder Executivo - Grupo Ocupacional Magistério - passarão Art. 124 - Os Monitores Contratados (leigos) serão en-
a ocupar cargos de provimento efetivo, previsto no Grupo de quadrados como Professor Contratado, por Decreto do Che-
Cargos do Magistério, mediante: fe do Poder Executivo, após apresentação de curso pedagógico.
I - Enquadramento por transposição:
a - dos atuais ocupantes de cargos e funções, nomeados Art. 125 - Os atuais ocupantes dos níveis finais de sua
ou admitidos para atividades de magistério no serviço pú- carreira ou índices, enquadram-se automaticamente na
blico estadual; final de sua Classe ou Grupo a que pertencerem.
b - dos atuais ocupantes de empregos, contratados em
virtude de habilitação em concurso público ou prova seletiva
Art. 126 - Aos Professores e Orientadores de Apren-
de caráter público e eliminatório;
dizagem contratados, regidos pela Lei nº 10.472, de 15 de
c - dos atuais ocupantes de empregos, que tenham ad-
dezembro de 1980, assegurar-se-á a gratificação por quin-
quirido estabilidade no serviço público, no exercício das atri-
quênio de efetiva regência de Classe.
buições de cargos constantes das linhas de transposição;
Parágrafo único - O início do período quinquenal da
II - Enquadramento por transformação:
gratificação que alude este artigo será contado a partir da
a - dos atuais ocupantes de cargos e funções para outro
vigência da Lei nº 10.206, de 20 de setembro de 1978, publi-
cargo mediante prévia habilitação em prova seletiva interna;
b - dos atuais ocupantes de empregos, que tenham ad- cado no Diário Oficial do Estado de 25 de setembro de 1978.
quirido estabilidade no serviço público mediante prévia ha-
bilitação em prova seletiva interna. Art. 127 - Poderá exercer a função de Diretor de esta-
belecimento de ensino de 1º e do 2º Graus o portador
Art. 120 - Os atuais ocupantes de cargos, funções e em- de licença precária expedida pelo Conselho de Educa-
pregos do Quadro I - Poder Executivo Amparados pelo artigo ção do Ceará.
122, da Lei nº 10.374, de 20 de dezembro de 1979, passarão
a constituir o QUADRO ISOLADO, EXTINTO QUANDO VA- Art. 128 - Fica criada uma Comissão Paritária Per-
GAR, definido em três (03) Grupos, com quatro escalas de manente de Pessoal do Magistério (CPPM), constituída
vencimentos, conforme anexo II, desta Lei, com os seguintes de representantes do Governo do Estado, da Secretaria de
critérios, para efeito de vencimentos: Educação, de Professores e Especialistas, estes indicados por
I - Antigos Professores índices 135 e 190, no Grupo 1, suas Associações de Classe, com a finalidade de acompanhar
Quadro Isolado; a aplicação deste Estatuto.
II - Antigos Professores e Especialistas índices 260, 270 e
280, no Grupo 2, Quadro Isolado; Art. 129 - Até 31 de dezembro de 1984, o poder Exe-
III - Antigos Professores e Especialistas índices 300, 320, cutivo, implantará, progressivamente, a estruturação
340 e 360, no Grupo 3, Quadro Isolado. das carreiras do Magistério, a complementação de seu
Parágrafo único - Os Profissionais do Magistério refe- regime jurídico e os demais institutos previstos nesta Lei.
ridos neste artigo obterão seu enquadramento no quadro
permanente através de transposição quando apresentarem Art. 130 - Esta Lei entrará em vigor a 1º de janeiro do
os correspondentes documentos de habilitação. ano de 1984, ficando revogadas as disposições legais ou
regulamentares que implicitamente ou explicitamente
Art. 121 - Aos atuais ocupantes dos cargos de Professor, colidam com o presente Estatuto, especialmente os arti-
antigos níveis F, M, O e P e os já implantados no índice 135, gos 1º, 2º e 3º e seus parágrafos, da Lei número 9.050, de 28
que na data da vigência desta Lei, contarem no mínimo de maio de 1968, e a Lei nº 9.825, de 10 de maio de 1974.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 11 - São vedadas e, se realizadas, consideradas Art. 16 - O servidor que, em estágio probatório, não sa-
nulas de pleno direito as nomeações que contrariem as tisfizer qualquer dos requisitos previstos no Artigo anterior,
disposições contidas no Artigo 8º e parágrafos, desta Lei. será exonerado.
Parágrafo Único - A apuração dos requisitos exigidos no
Art. 12 - A carga horária de trabalho do Profissional estágio probatório deverá processar-se de modo que a exo-
do Magistério será de 40 horas semanais, ressalvado o di- neração do servidor estagiário possa ser feita antes de findar
reito daqueles cuja carga horária seja inferior a fixada neste o período do estágio.
Artigo.
§ 1º - Da carga horária semanal do docente, 1/3 (um Art. 17 - O Chefe imediato do servidor sujeito a estágio
terço) será utilizado em atividades extraclasse na Esco- probatório comunicará ao órgão de pessoal, no prazo de 60
la. (Nova redação dada pela Lei nº 15.575, de 07.04.14) (sessenta) dias antes do término deste, se o servidor su-
§ 2º - Os servidores que atualmente têm carga horária pervisionado poderá ou não ser confirmado no cargo.
diferente da fixada neste Artigo, poderão optar pela alte- § 1º - O órgão de pessoal diligenciará junto ao Con-
ração da mesma, obedecidos os critérios estabelecidos no selho Técnico Administrativo que supervisiona o servidor
Art. 13 desta Lei. em estágio probatório, de forma que evite este ocorrer por
§ 3º - Para realização de atividades extra-classe nas mero transcurso de prazo.
unidades escolares os docentes que atuam nas séries ini- § 2º - De qualquer modo, caso não tenha sida adota-
ciais do 1º Grau (do Pré-Escolar) à 4ª Série e no Sistema das quaisquer providências para a supervisão objeto do
de Telensino terão sua carga mensal de trabalho acrescida estágio probatório, este será encerrado após o decurso do
de 10 (dez) horas, com direito ao pagamento proporcional prazo referido no Art. 15 desta Lei, confirmando-se o servi-
do acréscimo em dobro. dor no cargo, automaticamente.
Art. 13 - A alteração da carga horária semanal de 20 Art. 18 - Será obrigatório para o ocupante do Cargo de
(vinte) para 40 (quarenta) horas, dependerá de processo Professor de ensino Técnico, durante o estágio probatório, a
Graduação em Licenciatura Plena adquirida em Cursos - ES-
seletivo interno, e comprovada necessidade de mão-de-o-
QUEMA I OU ESQUEMA II.
bra para suprir carência identificada.
Art. 19. Durante o estágio probatório, o profissional
Art. 14 - É Vedado ao professor utilizar as horas de
do magistério não poderá ser afastado de suas funções
atividades extra-classe em serviços estranhos às suas
de docência, salvo para ocupar cargos em comissão no Nú-
funções.
cleo Gestor das Escolas da Rede Oficial de Ensino Estadual,
na sede da Secretaria da Educação – SEDUC, e nas Coor-
Art. 15 - O Estágio do profissional do Magistério é
denadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação, ou
o período de 2 (dois) anos, contado do início do exercício para o exercício das funções de Secretário de Estado, de Se-
funcional, durante o qual serão apurados os requisitos ne- cretário Adjunto e de Secretário Executivo, bem como para
cessários à confirmação do servidor no cargo de provimento dirigente máximo de Entidade que integre a Administração
efetivo para o qual foi nomeado. Pública Estadual Indireta.
§ 1º - Constituem requisitos para avaliação do servidor § 1º O servidor afastado de suas funções de docência,
durante o estágio probatório: nos termos deste artigo, terá seu estágio probatório sus-
I - idoneidade moral; penso, ressalvados os afastamentos para ocupar cargos em
II - assiduidade; comissão no Núcleo Gestor das Escolas da Rede Oficial de
III - pontualidade; Ensino Estadual, nas coordenadorias regionais de desenvol-
IV - disciplina; vimento da Educação, e nos cargos e funções similares ao
V - produtividade; cargo de professor, hipótese em que o estágio probatório não
VI - qualidade do trabalho; será suspenso.
VII - adaptação ao trabalho. § 2º Os servidores atualmente afastados de suas fun-
§ 2º - O estágio probatório corresponderá a uma com- ções, disporão do prazo de 30 (trinta) dias, a contar da
plementação do processo seletivo, devendo o servidor em publicação desta Lei, para retornar às suas funções, sem pre-
exercício ser obrigatoriamente supervisionado pelo Conse- juízo da contagem dos dias trabalhados durante o período
lho Técnico Administrativo. de estágio probatório.
§ 3º - No estágio probatório, os cursos de treinamento § 3º Durante o estágio probatório não haverá ascen-
para formação profissional ou aperfeiçoamento do servi- são funcional. (Nova redação dada pela Lei n. 15.907, de
dor são do caráter competitivo e eliminatório. 11.12.15)
§ 4º - Os critérios e a periodicidade da Avaliação dos
requisitos indicados nos Incisos I a VII serão regulamenta- Art. 20 - Os servidores integrantes do Grupo Ocupacio-
dos por decreto do Chefe do Poder Executivo, com a par- nal Magistério de 1º e 2º Graus têm lotação única e cen-
ticipação da Comissão Paritária Permanente de pessoal do tralizada na Secretaria de Educação, sendo expressamente
magistério. proibida a sua remoção ou redistribuição para outros órgãos
e entidades do Serviço Público Estadual.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 21 - O Artigo 39 e § 3º da Lei Nº 10.884, de 2 de Art. 26. Promoção sem titulação é a passagem do
fevereiro de 1984, passam a vigorar com a seguinte redação: profissional do Grupo MAG de um nível para outro ime-
“Art. 39 - O Profissional do Magistério de 1º e 2º Graus diatamente superior, dentro da respectiva carreira, obede-
gozará 30 (trinta) dias de férias anuais após o 1º semestre cidos os critérios de desempenho e/ou antiguidade e depen-
letivo e 15 dias após o 2º período letivo. derá de:
§ 3º - No período de recesso escolar, após o 2º se- I – desempenho eficaz de suas atribuições;
mestre letivo, o servidor ficará a disposição da unidade de II – cumprimento do interstício de 365 (trezentos e ses-
trabalho onde atua, para treinamento e/ou para realização senta e cinco) dias.
de trabalhos didáticos”. Parágrafo único. Os profissionais de ensino superior in-
tegrante do Grupo Ocupacional MAG poderão, na hipótese
Art. 22. O desenvolvimento do Profissional do Magisté- deste artigo, ser promovidos entre os níveis que compõem
rio na carreira far-se-á por meio da promoção, com ou sem a carreira independentemente de sua titulação acadêmica.
titulação. (Redação dada pela Lei n.º 15.901, DE 10.12.15)
Art. 27. Os procedimentos para aplicação dos critérios e
Art. 23. Promoção com titulação é a elevação entre dos demais requisitos estabelecidos nesta Lei para operacio-
os níveis da carreira do profissional do Grupo MAG, em nalização e efetivação da promoção serão regulamentados
razão de titulação, na forma especificada abaixo: por Decreto do Chefe do Poder Executivo e Instruções
I – titulação no nível de Licenciatura Plena, elevação Normativas editadas pelo Secretário da Educação, com
para o nível A; participação da Comissão Paritária Permanente do Pessoal
II – titulação no nível de Aperfeiçoamento, elevação do Magistério. (Nova redação dada pela Lei n.º 15.901, de
para o nível C; 10.12.15)
III – titulação no nível de Especialização, elevação para
o nível F; Art. 28 - Serão adotados, na forma e nas condições esta-
IV – titulação no nível de Mestrado, elevação para o belecidas em Decreto, processo de avaliação de desempe-
nível J; nho que considerem:
V – titulação no nível de Doutorado, elevação para o ní- I - o comportamento observável do Profissional do
vel M. (Nova redação dada pela Lei n.º 16.104, de 12.09.16) Magistério de 1º e 2º Graus, relativos a participação, quali-
Parágrafo único. A promoção com titulação dar-se-á ob- dade do trabalho, responsabilidade e produção;
servado o prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados do II - a contribuição do profissional do Magistério para
protocolo do requerimento respectivo no órgão competente, a consecução dos objetivos da Secretaria de Educação;
retroagindo seus efeitos à data do mesmo protocolo. III - a objetividade e a adequação dos instrumentos
da avaliação;
Art. 24 - Acesso é a elevação do Profissional do Ma- IV - a periodicidade de, no mínimo 365 (trezentos e
gistério de 1º e 2º Graus de uma série de classes para a sessenta e cinco) dias;
referência inicial de classe integrante de outra série de V - o conhecimento pelo Profissional do Magistério dos
classes afins, dentro da mesma carreira, em razão de título instrumentos de avaliação e seus resultados.
de nova habilitação profissional e dependerá, cumulativa- § 1º - O Profissional do Magistério será avaliado pelo
mente de: Conselho Técnico Administrativo quando em exercício nos
I - habilitação legal para o exercício do cargo/função estabelecimentos oficiais de ensino e pela Comissão Seto-
integrante da classe; rial de Avaliação de Desempenho da Secretaria de Educa-
II - desempenho eficaz de suas atribuições; ção quando em exercício na sede ou nas delegacias regio-
III - cumprimento do interstício fixado em regulamento; nais de ensino.
IV - observância das linhas de acesso definidas no Anexo § 2º - É assegurado ao Profissional do Magistério inter-
IV desta lei; por recurso perante o Conselho Técnico Administrativo do
V - aprovação em seleção interna a ser realizada através Estabelecimento Oficial de Ensino que o avaliou e, em caso
de provas escritas; de discordância da decisão proferida nesta instância, po-
VI - VETADO. derá recorrer, ainda, à autoridade imediatamente superior.
Art. 25 - Transformação é a mudança do servidor de Art. 29 - O Concurso Público para o ingresso no Gru-
uma classe para outra classe de outra carreira diver- po Ocupacional Magistério de 1º e 2º Graus só ocorre-
sa daquela por ele ocupada e dependerá, cumulativamente, rá após cumprida a etapa de desenvolvimento do servi-
de: (Redação dada pela Lei n° 12.102, de 11.05.93) dor, por transformação.
I - aprovação em seleção interna realizada através de
provas escritas e\ou práticas quando a carreira assim exigir; Art. 30 - As atividades da capacitação e aperfeiçoamen-
II - habilitação legal para o ingresso na nova carreira to do Profissional do Magistério de 1º e 2º Graus, serão pla-
ou classe; nejadas, organizadas, executadas e avaliadas pelo órgão de
III - comprovada necessidade de mão-de-obra para su- treinamento da Secretaria de Educação, com o objetivo de
prir carência identificada. habilitar o servidor para o eficaz desempenho das atri-
buições inerentes à respectiva classe.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 31 - Na inexistência de estrutura de formação e por eles ocupados ao se tornarem inativos, de acordo com
capacitação, o órgão de treinamento da Secretaria de Edu- a classe e referência estabelecidas no Anexo VII desta Lei,
cação providenciará o incentivo à utilização de recursos acrescidos das vantagens a que fizerem jus no Ato da apo-
externos de formação e a estágios. sentadoria.
Art. 32 - (Revogado pela Lei N° 14.431, de 31.07.09) Art. 38 - (Revogado pela Lei N° 14.431, de 31.07.09)
Art. 33 - A implantação do Grupo Ocupacional Magis- Art. 39 - O docente acometido de doença profissional
tério de 1º e 2º Graus - MAG será feita através de 2 (duas) no exercício do magistério, poderá exercer outras ativida-
modalidades de enquadramento, a seguir enumeradas: des correlatas com o cargo ou função de Professor nas
I - enquadramento salarial automático - consiste no unidades escolares, nas delegacias regionais de ensino
enquadramento dos atuais ocupantes de cargos e funções ou na sede da Secretaria de Educação, sem prejuízo da
na nova estrutura de carreiras, obedecendo o posicionamen- gratificação de regência de Classe.
to vencimental determinado no Anexo VII desta lei; Parágrafo Único - Entende-se por doença profissional
II - enquadramento funcional - consiste na correção aquela peculiar ou inerente ao trabalho exercido, compro-
dos desvios funcionais dos servidores que estejam exercendo vada, em qualquer hipótese, a relação de causa e efeito por
atribuições de Profissionais do Magistério, diversas daquelas junta Médica Oficial.
dos cargos ou funções por eles ocupados, por um período
não inferior a 12 (doze) meses, mediante processo seletivo Art. 40 - Ficam revogadas os Artigos 90, 91, 94, 95, 101,
interno, levando-se em consideração as reais necessidades 107, 108, 109, 110, 114, itens e parágrafos, 115 e 116 da Lei
de recursos humanos, formalizado através da transforma- Nº 10.884, de 02 de fevereiro de 1984.
ção.
§ 1º - o enquadramento funcional será sempre nas Art. 41 - Os cargos do Grupo Ocupacional Magistério de
classes e referências iniciais de cada série de classes, salvo 1º e 2º Graus, ao vagarem, serão deslocados para a Refe-
se o servidor já perceber vencimento superior, quando será rência inicial da respectiva classe.
deslocado para a referência compatível com seu nível ven-
cimental. Art. 42 - As despesas decorrentes da aplicação desta Lei,
§ 2º - o enquadramento funcional dar-se-á por Decreto correrão à conta das dotações orçamentárias próprias da
Governamental, constando obrigatoriamente, o nome do Secretaria de Educação, que serão suplementadas, se in-
servidor, denominação do Cargo ou Função, Classe, Cate- suficientes.
goria Funcional, Grupo Ocupacional e a Carreira, atuais e
novos. Art. 43 - Revogadas as disposições em contrário, espe-
§ 3º - Os enquadramentos previstos neste Artigo apli- cialmente a Lei Nº 11.820, de 31 de maio de 1991, esta Lei
cam-se, exclusivamente, aos atuais servidores, por serem entrará em vigor na data de sua publicação, salvo quanto
medidas de caráter transitório. aos efeitos financeiros que vigorarão a partir de 1º de no-
§ 4º - O Profissional do magistério que apresentar do- vembro de 1992, exceto o disposto no § 3º do Art. 12, 32,
cumentação comprobatória de titulação até 15 de janeiro Parágrafo Único e § 4º do Art. 33, que vigorarão a partir de
de 1993, será enquadrado automaticamente na classe cor- 1º de janeiro de 1993.
respondente à nova titulação.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, em
Art. 34 - Serão enquadrados automaticamente na Fortaleza, aos 13 de janeiro de 1993.
Classe Singular de Professor Nível 9 (nove) os Profissio-
nais do Magistério, exercentes de funções, portadores de Entre os principais aspectos da lei, destacam-se os con-
Curso Superior sem habilitação específica para o ma- ceitos inicialmente estabelecidos:
gistério. - Cargo Público - conjunto de atribuições, deveres e res-
ponsabilidades de natureza permanente cometidas ou co-
Art. 35 - Ressalvado o que dispõe o Art. 34, ficam ve- metíveis a um servidor público, criado por lei, com deno-
dados, a partir da data da publicação desta Lei, enquadra- minação própria, número certo e pagamento pelos cofres
mentos nas Classes Singulares, sendo os cargos integran- públicos, de provimento em caráter efetivo ou em comissão.
tes destas classes extintos quando vagarem. - Função Pública - conjunto de atribuições, deveres e
responsabilidades cometidas a um servidor público, cuja
Art. 36 - Os Profissionais do Magistério ocupantes das extinção dar-se-á quando vagar.
Classes Singulares ao adquirirem habilitação específica para - Classe - conjunto de cargos/funções da mesma natu-
o Magistério passarão a integrar as carreiras do Gru- reza funcional e semelhantes quanto aos graus de comple-
po Ocupacional Magistério de 1º e 2º Graus, desde que xidade e nível de responsabilidade.
aprovados em processo seletivo interno. - Carreira - conjunto de classes da mesma natureza
funcional e hierarquizadas segundo o grau de responsa-
Art. 37 - Os aposentados terão seus proventos defi- bilidade e complexidade a elas inerentes, para desenvol-
nidos segundo a situação correspondente aos cargos vimento do servidor nas classes dos cargos/funções que a
ou funções do Grupo Ocupacional ora estruturado e aos integram.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
IV - licença especial, quando ainda não usufruída; Art. 8º A ampliação temporária, de que trata o art. 6º,
V - missão ou estudo, para os cursos de pós-graduação dependerá de aprovação em avaliação de desempenho,
stricto sensu, quando o afastamento houver sido expressa- na conformidade de Decreto do Chefe do Poder Executivo.
mente autorizado;
VI - prisão; Art. 9º A concessão da ampliação temporária de car-
VII - disponibilidade; ga horária será efetivada através de ato do Secretário
VIII - cessão para outros órgãos, entidades ou Poderes da Educação.
da Administração Pública, com ou sem ônus para a origem.
Parágrafo único. Não farão jus à ampliação definitiva os Art. 10. As despesas decorrentes desta Lei correrão por
profissionais do Grupo Ocupacional do Magistério – MAG, da conta das dotações orçamentárias da Secretaria da Edu-
Educação Básica, que se encontrem respondendo a processo cação.
administrativo disciplinar ou tenham sofrido pena disciplinar
nos últimos 2 (dois) anos ou readaptados de função. Art. 11. A ampliação concedida sem observância do
que preceitua esta Lei, será anulada, com ressarcimento
Art. 4º O valor correspondente à ampliação de carga ao erário de forma solidária pelo professor beneficiado
horária prevista no art.1º será incorporada aos proven- com a ampliação e o agente público que lhe deu causa.
tos de aposentadoria dos profissionais do Grupo Ocu-
pacional do Magistério – MAG, da Educação Básica, desde Art. 12. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
que tenham contribuído sobre a mesma por pelo menos 60 ção.
(sessenta) meses para o Sistema Único de Previdência Social
do Estado do Ceará – SUPSEC. Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
§ 1º Para os servidores do Grupo MAG da Educação
Básica que implementarem as regras dos arts. 3º ou 6º da PAÇO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, CEARÁ, em Fortaleza, 17 de outubro de 2013.
ou do art. 3º da Emenda Constitucional nº 47, de 5 de ju-
DECRETO Nº 31.458, de 01 de abril de 2014.
lho de 2005, e cujo período de percepção por ocasião do
pedido de aposentadoria seja menor do que 60 (sessenta)
REGULAMENTA A LEI Nº 15.451, DE 23 DE OUTUBRO
meses, será observada a média aritmética do período de
DE 2013, QUE DISPÕE SOBRE A AMPLIAÇÃO DEFINITIVA
percepção, multiplicada pela fração cujo numerador será o
E TEMPORÁRIA DA CARGA HORÁRIA DOS PROFESSORES
número correspondente ao total de meses trabalhados e o
INTEGRANTES DO
denominador será sempre o número 60 (sessenta).
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica aos servido-
GRUPO OCUPACIONAL MAGISTÉRIO – MAGDA SECRE-
res do Grupo MAG da Educação Básica que venham a se TARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, E DÁ OU-
aposentar pelas regras previstas no art. 40 da Constituição TRAS PROVIDÊNCIAS.
Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional
nº 41, de 19 de dezembro de 2003, nos termos da legisla- O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ, no uso das
ção federal. atribuições que lhe confere o art. 88, incisos IV e VI, da Cons-
tituição do Estado do Ceara, CONSIDERANDO que a edu-
Art. 5º Fica vedada a ampliação definitiva de carga ho- cação de qualidade passa pela valorização do profissional
rária de trabalho para 40 (quarenta) horas semanais para do magistério; CONSIDERANDO a necessidade de melhor
os Professores beneficiários do disposto no art. 68 da Lei nº organizar a carga horária dos profissionais do magistério do
10.884, de 2 de fevereiro de 1984. ensino fundamental e médio; DECRETA:
Art. 6º O Professor integrante do Grupo Ocupacional Art. 1º Os Professores efetivos integrantes do Grupo
Magistério - MAG, que tenha ingressado no cargo efetivo Ocupacional Magistério da Educação Básica – MAG que se
após 31 de dezembro de 2003, e que não exerceu a opção enquadrem nas situações previstas nos Arts. 1º e 2º da Lei
pela ampliação definitiva poderá ter a sua carga horária de nº 15.451, de 23 de outubro de 2013, poderão optar pela
trabalho temporariamente ampliada para 40 (quaren- ampliação definitiva de sua carga horária de trabalho
ta) horas semanais, de acordo com a conveniência da para 40 (quarenta) horas semanais, para o atendimento
Administração Pública. das carências definitivas identificadas pela Administração no
Parágrafo único. O professor que tiver sua carga horária Sistema Estadual de Ensino.
de trabalho ampliada temporariamente não está sujeito ao Parágrafo único. A Secretaria da Educação – SEDUC,
recolhimento previdenciário sobre a carga horária ampliada. anualmente, por meio de edital, divulgará as carências defi-
nitivas identificadas no Sistema de Ensino da Rede Estadual.
Art. 7º A ampliação temporária de carga horária, de que
trata esta Lei, será regulamentada por Decreto do Chefe do Art. 2º Para participar do processo de ampliação defi-
Executivo Estadual. nitiva de carga horária para o atendimento das carências
definitivas identificadas pela Administração no Sistema Es-
62
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
tadual de Ensino, o professor, além de cumprir as condições Art. 6º Somente será considerado aprovado na avalia-
e requisitos estabelecidos na Lei nº 15.451, de 23 de outubro ção de desempenho para fins de ampliação definitiva de
de 2013, e ser aprovado em avaliação de desempenho, de- carga horária o professor que obtiver a pontuação mínima
verá enquadrar-se ao regramento disciplinado por meio de de 70 (setenta) pontos, ou seja, 70% (setenta por cento)
portaria editada pela SEDUC. da pontuação máxima, considerando a escala de 0 a 100
pontos atribuída aos instrumentais de avaliação, a serem es-
Art. 3º Na Avaliação de Desempenho para fins de am- tabelecidos por Portaria do Secretario da Educação.
pliação definitiva de carga horária deverão ser aferidas as Parágrafo único. Ocorrendo empate entre professores
seguintes dimensões: que concorram à mesma carência, para o desempate serão
I - para Professor em efetiva regência de classe: utilizados os seguintes critérios:
a) Dimensão 1 – idoneidade moral, profissional, social I - maior tempo de lotação na unidade escolar onde
e ética; exista a carência;
b) Dimensão 2 - qualidade, produtividade e desenvolvi- II - maior tempo de serviço na classe;
mento do ensino e da aprendizagem; III - maior tempo de serviço na carreira;
c) Dimensão 3 - participação na escola e relação com a IV - maior tempo de serviço público estadual;
comunidade escolar; V - maior tempo de serviço público;
d) Dimensão 4 - ocorrências funcionais; VI - maior idade.
e) Dimensão 5 - Resultado acadêmico escolar do ano
anterior. Art. 7º A lotação do professor que tiver a carga horária
II - para Professor em funções técnicas ou desempe- de trabalho ampliada definitivamente, deverá ocorrer so-
nhando função comissionada: mente nas unidades escolares do Sistema de Ensino Esta-
a) Dimensão 1 – competências gerais; dual, nas Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da
b) Dimensão 2 - conhecimento na área de atuação; Educação – CREDE, na Superintendência Estadual da Escolas
c) Dimensão 3 - competências gerenciais; de Fortaleza – SEFOR ou na sede da SEDUC, onde houver
d) Dimensão 4 - ocorrências funcionais;
carência comprovada e previamente divulgada, por meio de
e) Dimensão 5 - Resultado acadêmico regional ou esta-
edital, pela SEDUC.
dual do ano anterior.
Parágrafo único. Ocorrendo avaliação de desempenho
Art. 8º Nos termos do Art. 6º da Lei nº 15.451, de 23
para fins de ampliação de carga horária de professores efe-
de outubro de 2013, mediante a existência de comprovada
tivos no ano de 2014, os resultados acadêmicos regionais ou
carência, e de acordo com a conveniência da Administração
estadual disposto na Dimensão 5, a serem considerados, de
Pública, poderá ser concedida a ampliação temporária da
forma excepcional, serão os do ano de 2012.
carga horária dos professores efetivos da Rede Estadual de
Art. 4º A Avaliação de Desempenho nas unidades de en- Ensino, desde que aprovados em Avaliação de Desempenho
sino, tratada no presente Decreto, será realizada por uma Profissional.
comissão escolar composta de sujeitos diretamente rela- § 1º A avaliação de que trata o caput deste artigo será
cionados com a atividade profissional do professor benefi- efetivada nos mesmos termos da avaliação de desempe-
ciado, quais sejam: Núcleo Gestor, Alunos, Conselho Escolar, nho para ampliação definitiva tratada neste Decreto.
coordenada e acompanhada pela CREDE, SEFOR ou COGEP, § 2º A lotação do Professor que tiver a carga horária
dependendo da lotação do avaliado e pelo próprio avaliado, de trabalho ampliada temporariamente, deverá ocorrer nas
por meio de autoavaliação. unidades escolares do Sistema de Ensino Estadual onde
§ 1º A Avaliação aferirá o desempenho dos Professo- houver carência comprovada.
res no exercício de seus cargos correspondentes ao perío-
do dos últimos seis meses, independentemente de terem Art. 9º Fica o Secretário da Educação autorizado a editar
trabalhado em regime de ampliação temporária de carga portarias necessárias ao cumprimento de disposições deste
horária nesse período. Decreto, especialmente quanto as normas complementares
§ 2º Os formulários para a aplicação da avaliação de e procedimentos para a implementação da ampliação defi-
desempenho dos professores efetivos para fins de amplia- nitiva e temporária da carga horária dos professores efetivos
ção definitiva de carga horária, respeitando-se o disciplina- da Rede Estadual de Ensino.
do no presente Decreto, serão estabelecidos por meio de
Portaria do Secretário da Educação. Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
blicação. Art. 11. Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 5º Quando o professor avaliado se encontrar lotado
na CREDE, SEFOR ou sede da SEDUC, será avaliado, nos PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO
termos do presente Decreto, pelo chefe imediato a quem se DO CEARÁ, em Fortaleza, aos 01 de abril de 2014.
encontre subordinado por período igual ou superior a 6
(seis) meses e pelo próprio avaliado, por meio de autoava- Carga horária – 40 horas é a regra, sendo possível ao
liação. professor em regime 20 horas pedir a conversão, que será
concedida a critério da administração (discricionariedade).
63
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Regula-se, então, quais são os requisitos para tal con- Art. 2º A remuneração do professor da educação bá-
versão: efetivo exercício; aprovado em Avaliação de De- sica de nível superior, integrante do Grupo MAG, será
sempenho; habilitação específica; deter apenas um cargo composta, a partir de 1º de dezembro de 2015, de:
de professor efetivo com no máximo 20 (vinte) horas se- I - Vencimento base;
manais de trabalho; possibilidade de acumulação lícita e II - Gratificação por Efetiva Regência de Classe, no
compatibilidade de horário. percentual previsto no art. 8º desta Lei;
O valor correspondente à ampliação de carga horária III - Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de
pode ser incorporado ao dos professores aposentados. Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica -
PVR/FUNDEB, na forma e condições da Lei nº 15.243, de 6
de dezembro de 2012, e suas alterações posteriores;
IV - Gratificação a Professores de Pessoas com De-
6.6. PROMOÇÃO PROFISSIONAIS GRUPO ficiência, nos termos do art. 6º da Lei nº 14.431, de 31 de
MAG ( LEI Nº 15.901 DE 10 DE DEZEMBRO julho de 2009 e suas alterações posteriores, quando for o
DE 2015, DECRETO Nº 32.103, DE 12 DE caso; e
DEZEMBRO DE 2016). V - Parcela Nominalmente Identificável – PNI, insti-
tuída pelo§ 5º do artigo 1º desta Lei, quando cabível.
Parágrafo único. Para o cálculo da PNI de que trata
o caput deste artigo, considerar-se-á a diferença existen-
LEI Nº 15.901, DE 10 DE DEZEMBRO DE 2.015 te entre a soma dos valores nominais do vencimento base,
da Gratificação por Efetiva Regência de Classe, da Parcela
Promove a revisão do Sistema Remuneratório dos Pro- Variável de Redistribuição do Fundo de Manutenção e De-
fissionais de Nível Superior do Grupo Ocupacional Magisté- senvolvimento da Educação Básica – PVR/FUNDEB, criada
rio da Educação Básica. pela Lei nº 15.243, de 6 de dezembro de 2012, da Parcela
Nominalmente Identificável – PNI, criada pelo inciso III, do
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ. art. 7º da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009, do valor
FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRE- da Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável – VPNI,
TOU E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI: criada pelo art. 3º da Lei nº 15.567, de 7 de abril de 2014 e
da Gratificação a Professores de Pessoas com Deficiência,
Art. 1º Fica instituída a nova tabela de vencimentos, a nos termos do art. 6º da Lei nº 14.431, de 31 de julho de
vigorar a partir de 1º de dezembro de 2015, dos profissionais 2009, percebidos no mês de novembro de 2015, e a soma dos
de nível superior do Grupo Ocupacional MAG da Educação valores nominais, conforme estabelecido nesta Lei, do ven-
Básica, em conformidade com o anexo I desta Lei. cimento base, Gratificação por Efetiva Regência de Classe,
§ 1º Ficam mantidos os cargos e funções do Grupo Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de Manutenção
Ocupacional MAG de nível superior previstos pela Lei nº e Desenvolvimento da Educação Básica - PVR/FUNDEB, e a
12.066, de 13 de janeiro de 1993, adotada a organização Gratificação a Professores de Pessoas com Deficiência, nos
em níveis na forma do anexo I desta Lei. termos do art. 6º da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009,
§ 2º Os profissionais do Grupo Ocupacional MAG de no nível estabelecido no anexo I desta Lei no qual o servidor
nível superior com carga horária diversa de 40 (quarenta) tenha sido enquadrado, consideradas apenas as parcelas re-
semanais terão seu vencimento base, Gratificação por Efe- muneratórias aplicáveis a cada profissional.
tiva Regência de Classe e Parcela Variável de Redistribuição
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Art. 3º A remuneração do especialista em educação
Básica – PVR/FUNDEB, definidos de acordo com a propor- básica de nível superior, integrante do Grupo MAG, será
ção correspondente à carga horária efetivamente fixada. composta a partir de 1º de dezembro de 2015 de:
§ 3º Ficam extintas, para os profissionais de nível supe- I - Vencimento base;
rior do Grupo Ocupacional MAG: II - Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de
I – a Parcela Nominalmente Identificável – PNI, objeto Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica –
dos arts. 7º, inciso III, 8º, inciso II, 9º, inciso III, e 10, inciso II, PVR/FUNDEB, na forma da Lei nº 15.243, de 6 de dezembro
todos da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009; de 2012 e suas alterações posteriores, nas hipóteses aplicá-
II – a Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável – veis; e
VPNI, prevista no art. 3º da Lei nº 15.567, de 7 de abril de III - Parcela Nominalmente Identificável – PNI, insti-
2014. tuída pelo § 5º do art. 1º desta Lei, quando cabível.
§ 4º Os profissionais do Grupo Ocupacional MAG de Parágrafo único. Para o cálculo da PNI de que trata o
nível superior serão reenquadrados, a contar de 1º de de- caput desse artigo, considerar-se-á a diferença existente
zembro de 2015, conforme disposto no anexo II desta Lei. entre a soma dos valores nominais do vencimento base,
§ 5º O servidor enquadrado nas disposições desta Lei do valor da Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de
poderá perceber complemento remuneratório, a título de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – PVR/
Parcela Nominalmente Identificável - PNI, destinado a evi- FUNDEB, criada pela Lei nº 15.243, de 6 de dezembro de
tar eventual decesso remuneratório, decorrente da aplica- 2012, e do valor da Parcela Nominalmente Identificável –
ção desta Lei, na forma disposta nos seus arts. 2º a 3º. PNI, criada pelo inciso II do art. 8º da Lei nº 14.431, de 31 de
64
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
julho de 2009, percebidos no mês de novembro de 2015, e a Art. 10. Fica alterada a redação dos arts.3º, 22, 23, 26 e
soma dos valores nominais, conforme estabelecido nesta Lei, 27 da Lei nº 12.066, de 13 de janeiro de 1993, que passam a
do vencimento base e PVR/FUNDEB no nível estabelecido no vigorar com as seguintes redações:
anexo I desta Lei no qual o servidor tenha sido enquadrado, “Art. 3º ...
consideradas apenas as parcelas remuneratórias aplicáveis IV – Linhas de promoção, com ou sem titulação;
a cada profissional. ...
Art. 22. O desenvolvimento do Profissional do Magisté-
Art. 4º As aposentadorias de professores da educa- rio na carreira far-se-á por meio da promoção, com ou sem
ção básica de nível superior, integrante do Grupo MAG e as titulação.
pensões decorrentes de seus óbitos, desde que, em ambos Art. 23. Promoção com titulação é a elevação entre ní-
os casos, dotadas de paridade constitucional, observarão, veis da carreira do profissional do Grupo MAG, em razão
no que couber, o disposto no art. 2º desta Lei. de titulação relacionada à sua área de atuação, na forma
especificada abaixo:
Art. 5º As aposentadorias de especialistas em edu- I – titulação no nível de Licenciatura Plena, elevação
cação básica de nível superior, integrante do Grupo MAG e para o nível A;
as pensões decorrentes de seus óbitos, desde que, em ambos II – titulação no nível de Aperfeiçoamento, elevação
os casos, dotadas de paridade constitucional, observarão, para o nível C;
no que couber, o disposto no art. 3º desta Lei. III – titulação no nível de Especialização, elevação para
o nível F;
Art. 6º A PNI prevista no § 5º do art. 1º desta Lei será IV – titulação no nível de Mestrado, elevação para o ní-
revista na mesma data e no mesmo índice da revisão geral vel J;
dos servidores civis estaduais e também terá a incidência V – titulação no nível de Doutorado, elevação para o
do mesmo percentual do interstício entre as referências, nível M.
decorrente da promoção, com ou sem titulação, do pro- Parágrafo único. A promoção com titulação dar-se-á ob-
fissional do Grupo MAG, quando ocorrer.
servado o prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados do
protocolo do requerimento respectivo no órgão competente,
Art. 7º Não serão considerados para efeito de cálculo
retroagindo seus efeitos à data do mesmo protocolo.
da PNI, prevista no § 5º do art. 1º desta Lei, a vantagem
...
pessoal decorrente do exercício de cargo em comissão,
Art. 26. Promoção sem titulação é a passagem do profis-
a ampliação temporária de carga horária, o abono de
sional do Grupo MAG de um nível para outro imediatamente
permanência e a gratificação por exercício de cargo em
superior, dentro da respectiva carreira, obedecidos os crité-
comissão.
rios de desempenho e/ou antiguidade e dependerá de:
Art. 8º A Gratificação por Efetiva Regência de Classe I – desempenho eficaz de suas atribuições;
para o professor da educação básica de nível superior, in- II – cumprimento do interstício de 365 (trezentos e ses-
tegrante do Grupo MAG, prevista no art.62, inciso V da Lei senta e cinco) dias.
nº 10.884, de 2 de fevereiro de 1984, e suas alterações pos- Parágrafo único. Os profissionais de ensino superior in-
teriores, incidente exclusivamente sobre o vencimento base, tegrante do Grupo Ocupacional MAG poderão, na hipótese
passa a vigorar nos seguintes percentuais: deste artigo, ser promovidos entre os níveis que compõem
I – 10% (dez por cento) aos portadores de título de li- a carreira independentemente de sua titulação acadêmica”.
cenciatura plena; Art. 27. Os procedimentos para aplicação dos critérios e
II – 15% (quinze por cento) aos portadores de certificado dos demais requisitos estabelecidos nesta Lei para operacio-
de Especialização, desde que ascendidos funcionalmente em nalização e efetivação da promoção serão regulamentados
razão do mesmo título; por Decreto do Chefe do Poder Executivo e Instruções Nor-
III – 20% (vinte por cento) aos portadores de diploma de mativas editadas pelo Secretário da Educação, com parti-
Mestre, desde que ascendidos funcionalmente em razão do cipação da Comissão Paritária Permanente do Pessoal do
mesmo título; Magistério.”
IV – 40% (quarenta por cento) aos portadores de diplo-
ma de Doutor, desde que ascendidos funcionalmente em ra- Art. 11. Excepcionalmente, para dar início ao ciclo de
zão do mesmo título. promoção sem titulação, os profissionais de nível superior
Parágrafo único. Durante o estágio probatório não ha- do Grupo Ocupacional MAG, que se encontrem em efetivo
verá ascensão funcional. exercício e que satisfaçam, até o dia 1º de setembro de 2015,
ao requisito do cumprimento do interstício de 1825 (um mil,
Art. 9º Os valores constantes da Parcela Variável de Re- oitocentos e vinte e cinco) dias no nível 12, última referência
distribuição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da do professor especializado, constante do anexo único da Lei
Educação Básica – PVR/FUNDEB, criada pela Lei nº 15.243, nº 15.064, de 13 de dezembro de 2011, farão jus à promo-
de 6 de dezembro de 2012, passam a vigorar na forma do ção sem titulação para o nível imediatamente superior
anexo III desta Lei. ao que se encontram na tabela disposta no anexo I desta Lei,
a ser efetivada em 31 de agosto de 2016.
65
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º Para os fins da contagem de tempo estabelecida Art. 17. Esta Lei entra em vigor na data de sua pu-
no caput, considerar-se-á o período que o profissional de blicação, produzindo efeitos financeiros a partir de 1º de
nível superior do Grupo Ocupacional MAG permaneceu no dezembro de 2015, salvo quanto ao disposto na parte final
nível 24, última referência do professor especializado, nos do seu art. 11, caput.
termos da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009.
§ 2° O profissional já beneficiado por outro critério de PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVRNO DO ESTADO
promoção no período entre dezembro de 2015 e 31 de DO CEARÁ, em Fortaleza, 10 de dezembro de 2015.
agosto de 2016, não fará jus à promoção excepcional de
que trata este artigo. ANEXO I, DE QUE TRATA O ART.1º DA LEI
Nº15.901
Art. 12. A remuneração dos professores graduados
contratados nos termos da Lei Complementar nº 22, de 24 Tabela para a Jornada de 40 Horas Semanais
de junho de 2000, será de R$ 2.220,18 (dois mil, duzentos NÍVEL - VENCIMENTO BASE
e vinte reais e dezoito centavos) para o professor de ní- A - 2.351,06
vel superior, com carga horária de 40 (quarenta) horas, B - 2.468,61
acrescido da Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de C - 2.592,04
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – PVR/ D - 2.721,65
FUNDEB, na forma e condições da Lei nº 15.243, de 6 de E - 2.857,73
dezembro de 2012 e suas alterações posteriores, observan- F - 3.000,61
do-se, quanto ao valor, o disposto no § 3º deste artigo. G - 3.150,65
§ 1º A remuneração de que trata o caput deste artigo H - 3.308,18
será sempre proporcional à efetiva jornada de trabalho do I - 3.473,59
Professor. J - 3.647,27
§ 2º O valor da remuneração prevista neste artigo será K - 3.829,63
revisto na mesma data e no mesmo índice das revisões L - 4.021,11
aplicadas à referência inicial da tabela remuneratória dos M - 4.222,17
profissionais de nível superior do Grupo MAG. N - 4.433,27
§ 3º A Parcela Variável de Redistribuição do Fundo O - 4.654,94
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – P - 4.887,68
PVR/FUNDEB, prevista no art. 4° da Lei Nº 15.243, de 6 de Q - 5.132,07
dezembro de 2012, passa a ser concedida aos professores R - 5.388,67
graduados contratados nos termos da Lei Complementar S - 5.658,11
n° 22, de 24 de junho de 2000, no valor de R$ 100,00 (cem T - 5.941,01
reais) observada a jornada de 40 (quarenta) horas sema-
nais, cabendo o pagamento proporcional em casos de car- ANEXO II, DE QUE TRATA O §4º DO ART. 1º DA LEI
ga horária diferenciada. Nº 15.901
Art. 13. Quando, excepcionalmente, se fizer necessária a NÍVEL ATUAL - NOVO NÍVEL
contratação de professor com graduação incompleta, nos 1-A
moldes da Lei Complementar nº 22, de 24 de junho de 2000, 2e3-B
sua remuneração será o equivalente ao valor do piso sa- 4e5-C
larial nacional para Professor com nível médio de esco- 6-D
larização e jornada de trabalho de 40 (quarenta) horas. 7-E
Parágrafo único. A remuneração de que trata o caput 8e9-F
deste artigo será sempre proporcional à efetiva jornada de 10 - G
trabalho do Professor. 11 - H
12 - I
Art. 14. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no 13 - J
prazo de 90 (noventa) dias de sua entrada em vigor. 14 - K
15 - L
Art. 15. As despesas decorrentes da execução desta Lei 16 - M
correrão por conta das dotações orçamentárias da Secretaria 17 - N
da Educação. 18 - O
66
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ANEXO III, DE QUE TRATA O ART. 9º DA LEI Nº Art.2º A promoção sem titulação a que se refere o
15.901 art.26 da Lei nº 12.066, de 13 de janeiro de 1993, com re-
dação dada pela Lei nº 15.901, de 10 de dezembro de 2015,
Tabela da PVR/FUNDEB para a Jornada de 40 Horas Se- será concedida ao profissional do magistério que atenda às
manais seguintes condições:
I – desempenho eficaz de suas atribuições;
NÍVEL PVR II – cumprimento do interstício de 365 (trezentos e
Graduados - Especialistas - Mestres sessenta e cinco) dias, no mesmo nível, para os profissionais
A - 254,00 de ensino superior integrantes do Grupo Ocupacional MAG,
B - 204,00 de acordo com a Lei nº15.901 de 10/12/ 2015;
C - 154,00 III – cumprimento do interstício de 730 (setecentos e
D - 104,00 trinta) dias, na mesma referência, para os profissionais de
E - 54,00 ensino médio integrantes do Grupo Ocupacional MAG, de
F - 132,00 acordo com a Lei nº 15.009 de 04/10/2011.
G - 132,00 §1º A promoção de que trata o “caput” obedecerá aos
H - 132,00 critérios de desempenho e/ou antiguidade, observado o
I - 132,00 seguinte:
J - 132,00 - 80,00 I - o desempenho será aferido por meio de fatores sub-
K - 132,00 - 80,00 jetivos (avaliação profissional) e fatores objetivos (capaci-
L - 132,00 - 80,00 tação, experiência profissional e resultado escolar) a serem
M - 132,00 - 80,00 definidos por instrução normativa editada pelo Secretário da
N - 132,00 - 80,00 Educação;
O - 132,00 - 80,00 II - a antiguidade verificará o cumprimento do maior
P - 132,00 - 80,00 tempo de serviço efetivo no nível/referência no qual se en-
Q - 132,00 - 80,00
contrar o profissional do magistério, nos termos do presente
R - 132,00 - 80,00
Decreto.
S - 132,00 - 80,00
§2º O número de profissionais do Grupo Ocupacional
T - 132,00 - 80,00
MAG a serem promovidos sem titulação corresponderá a
60% (sessenta por cento) do total dos ocupantes de car-
DECRETO Nº 32.103, de 12 de dezembro de 2016.
gos/funções em cada nível/referência, dentro da mesma
faixa vencimental, atendidos aos critérios de desempenho
REGULAMENTA A PROMOÇÃO DOS PROFISSIONAIS
DO GRUPO OCUPACIONAL MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO e antiguidade.
BÁSICA-MAG, ESTABELECIDA NA LEI Nº12.066, DE 13 DE §3º Do número obtido como resultado da operação
JANEIRO DE 1993, E AS SUAS ALTERAÇÕES POSTERIORES, E prevista no §2º, deste artigo, 50% (cinquenta por cento)
DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. ascenderá por desempenho e 50% (cinquenta por cento)
por antiguidade.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ, no uso das §4º Quando o quociente resultante do cálculo do per-
atribuições que lhe confere o art.88, incs. IV e VI da Consti- centual previsto para a promoção sem titulação for um
tuição Estadual, número fracionário e a fração for igual ou superior a 0,5
(cinco décimos), será arredondado para o número inteiro
CONSIDERANDO a importância de dar prosseguimento imediatamente superior.
à política de valorização do Grupo Ocupacional Magistério §5º Na hipótese em que na aferição do percentual para
da Educação Básica – MAG; CONSIDERANDO o disposto na promoção sem titulação resultar número impar, reservar-
Lei Estadual nº12.066, de 13 de janeiro de 1993, e em suas -se-á o maior número para ascensão pelo critério do de-
alterações posteriores, especialmente a Lei nº 15.901, de 10 sempenho.
de dezembro de 2015; CONSIDERANDO a necessidade de
regulamentação dos processos de promoção dos profissio- Art.3º A contagem do interstício, para efeito de con-
nais do Grupo Ocupacional Magistério da Educação Básica cessão da promoção sem titulação, por desempenho ou
– MAG, DECRETA: por antiguidade, será computado em períodos corridos
e ininterruptos.
Art.1º A promoção com titulação, a ser concedida §1º Interrompe-se a contagem do interstício, para efei-
ao profissional do magistério na forma do art.23, da Lei to da promoção sem titulação, por desempenho ou por an-
nº12.066, de 13 de janeiro de 1993, com redação dada pela tiguidade, quando o profissional do Grupo MAG afastar-se
Lei nº15.901, de 10 de dezembro de 2015, dar-se-á obser- do exercício do cargo/função em decorrência de:
vado o prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados do I - afastamento para o trato de interesses particulares;
protocolo do requerimento respectivo no órgão competente, II - licenças sem vencimentos;
retroagindo seus efeitos à data do mesmo protocolo, desde III - punição disciplinar que importe em pena de sus-
que o título seja considerado válido, nos termos da legislação pensão;
pátria vigente. IV - prisão decorrente de decisão judicial;
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 6º Em caso de empate na classificação da promo- Art. 1º Fica instituída a Gratificação de Atividades Edu-
ção sem titulação por desempenho ou por antiguidade cacionais Especializadas - GAEE, devida aos ocupantes dos
proceder-se-á ao desempate, obervando-se os seguintes cargos e funções de Especialistas em Educação Básica de ní-
critérios: vel superior, integrantes do Grupo MAG, de acordo com o art.
I - maior tempo de serviço na carreira; 10 da Lei nº 10.884, de 2 de fevereiro de 1984 e suas alte-
II - maior tempo de serviço público estadual; rações posteriores, no percentual de 5% (cinco por cento),
III - maior tempo de serviço público; incidente exclusivamente sobre o vencimento base.
IV - maior idade. Parágrafo único. As aposentadorias dos Especialistas em
Educação Básica de nível superior, integrantes do Grupo MAG e
Art. 7º Os fatores, os procedimentos, a aplicação dos cri- as pensões decorrentes de seus óbitos, desde que, em ambos os
térios e dos demais requisitos estabelecidos neste Decreto, casos, sejam beneficiadas pelo regime da paridade constitucio-
para operacionalização e efetivação da promoção sem nal, observarão, no que couber, o disposto no art. 1º desta Lei.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 2º O art. 23 da Lei nº 12.066, de 13 de janeiro de Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
1993, alterada pela Lei nº 15.901, de 10 de dezembro de cação, retroagindo seus efeitos a partir de 1º de agosto de
2015, passa a vigorar com a seguinte redação: 2016.
“Art. 23. Promoção com titulação é a elevação entre os
níveis da carreira do profissional do Grupo MAG, em razão Art. 8º Ficam revogadas as disposições em contrário.
de titulação, na forma especificada abaixo:
I – titulação no nível de Licenciatura Plena, elevação PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO
para o nível A; DO CEARÁ, em Fortaleza, 12 de setembro de 2016.
II – titulação no nível de Aperfeiçoamento, elevação
para o nível C; LEI Nº 16.514, DE 15.03.18 (D.O. 16.03.18)
III – titulação no nível de Especialização, elevação para
o nível F; DISPÕE SOBRE O VALOR DA REMUNERAÇÃO MÍNI-
IV – titulação no nível de Mestrado, elevação para o ní- MA DOS SERVIDORES PÚBLICOS ATIVOS, INATIVOS E
vel J; PENSIONISTAS DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA, AUTÁR-
V – titulação no nível de Doutorado, elevação para o QUICA E FUNDACIONAL.
nível M.” (N.R)
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ.
Art. 3º A Gratificação por Efetiva Regência de Classe
para o professor da Educação Básica de nível superior, in- Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu
tegrante do Grupo MAG, prevista no art.62, inciso V, da Lei sanciono a seguinte Lei:
nº 10.884, de 2 de fevereiro de 1984, e suas alterações pos-
teriores, incidente exclusivamente sobre o vencimento base, Art. 1º Nenhum servidor público civil ativo, aposen-
passa a vigorar nos seguintes percentuais: tado e pensionista, da Administração Direta, Autárqui-
I – 15% ( quinze por cento) aos portadores de título ca e Fundacional, perceberá remuneração, proventos e
de Licenciatura Plena; pensão em valor total inferior a R$ 985,65 (novecentos
II – 20% (vinte por cento) aos portadores de certi- e oitenta e cinco reais e sessenta e cinco centavos), ob-
ficado de Especialização, desde que ascendidos funcio- servado o disposto no art. 2º desta Lei.
nalmente em razão do mesmo título; Parágrafo único. Para efeito de composição da remu-
III – 25% (vinte e cinco por cento) aos portadores neração de que trata este artigo, excluem-se o adicional de
de diploma de Mestre, desde que ascendidos funcional- férias, o salário-família, o auxílio-alimentação, as gratifi-
mente em razão do mesmo título; cações por prestação de serviços extraordinários, o adicio-
IV – 45% (quarenta e cinco por cento) aos portado- nal noturno, a Gratificação de Incentivo ao Trabalho com
res de diploma de Doutor, desde que ascendidos funcio- Qualidade instituída pela Lei nº 12.761, de 15 de dezembro
nalmente em razão do mesmo título. de 1997, e o aumento remuneratório do servidor que optou
Parágrafo único. Durante o estágio probatório não ha- pela alteração de sua carga horária com fundamento na Lei
verá ascensão funcional. nº 15.033, de 8 de novembro de 2011.
Art. 4º A remuneração dos professores graduados com Art. 2º O disposto no art. 1º desta Lei não se aplica ao
carga horária de 40 (quarenta) horas, contratados nos ter- aposentado proporcionalmente ao tempo de serviço, ao pro-
mos da Lei Complementar nº 22, de 24 de junho de 2000, fessor com carga horária inferior a 20 (vinte) horas se-
passa a ser de R$ 2.331,81 (dois mil, trezentos e trinta e um manais e ao pensionista de servidor civil ou de militar esta-
reais e oitenta e um centavos), acrescida da Parcela Variá- dual, que percebam, respectivamente, proventos, remunera-
vel de Redistribuição do Fundo de Manutenção e Desenvol- ção ou pensão fracionária em valor total inferior ao referido
vimento da Educação Básica – PVR/FUNDEB, na forma e no artigo anterior, devendo os seus proventos, remuneração
condições da Lei nº 15.243, de 6 de dezembro de 2012 e e pensão serem modificados mediante a aplicação do per-
suas alterações posteriores, observando-se, quanto ao valor, centual da aposentadoria ou da remuneração ou da fração
o disposto no § 3º do art. 12 da Lei nº 15.901, de 10 de de- da pensão sobre o valor de R$ 985,65 (novecentos e oi-
zembro de 2015. tenta e cinco reais e sessenta e cinco centavos).
Art. 5º Os valores constantes da Parcela Variável de Re- Art. 3º As despesas decorrentes da execução desta Lei
distribuição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da correrão por conta das dotações orçamentárias próprias de
Educação Básica – PVR/FUNDEB, criada pela Lei nº 15.243, cada órgão e entidade do Poder Executivo.
de 6 de dezembro de 2012, passam a vigorar na forma do
anexo único desta Lei. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
ção, salvo quanto aos efeitos financeiros, que vigorarão a
Art. 6º As despesas decorrentes da execução desta Lei partir de 1º de janeiro de 2018.
correrão por conta das dotações orçamentárias da Secretaria
da Educação. Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO 22, de 24 de junho de 2000, no valor de R$ 286,69 (duzentos
DO CEARÁ, em Fortaleza, 15 de março de 2018. e oitenta e seis reais e sessenta e nove centavos), a partir de
1º de julho de 2018 e R$ 324,03 (trezentos e vinte e quatro
LEI Nº 16.536, DE 06.04.18 (D.O. 06.04.18) reais e três centavos) a partir de 1º de novembro de 2018,
observada a jornada de 40 (quarenta) horas semanais, ca-
ALTERA OS PERCENTUAIS DAS GRATIFICAÇÕES DE bendo o pagamento proporcional em casos de carga horária
ATIVIDADES EDUCACIONAIS ESPECIALIZADAS – GAEE, diferenciada.
E POR EFETIVA REGÊNCIA DE CLASSE, DEVIDAS AOS
PROFISSIONAIS DO GRUPO OCUPACIONAL MAG DA EDU- Art. 4º Fica alterado o § 1º do art. 2º da Lei n° 15.064, de
CAÇÃO BÁSICA. 13 de dezembro de 2011, que passa a vigorar com a seguinte
redação:
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ. “Art. 2º ...
§ 1º Fica estendido o direito à percepção da Gratifi-
Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu cação por Efetiva Regência de Classe, prevista no art. 62,
sanciono a seguinte Lei: inciso V, da Lei nº 10.884, de 2 de fevereiro de 1984, inclusi-
ve com os novos percentuais estabelecidos no caput deste
Art. 1º A Gratificação de Atividades Educacionais Espe- artigo, aos professores do Grupo Ocupacional do Magisté-
cializadas – GAEEE, a que fazem jus os ocupantes dos car- rio – MAG, que se encontrem em exercício nos órgãos que
gos e funções de Especialistas em Educação Básica de nível componham os sistemas estadual e municipais de ensino
superior, integrantes do Grupo MAG, de que trata o art. 1º, no Estado do Ceara, na Escola de Gestão Pública do Estado
da Lei nº 16.104, de 12 de setembro de 2016, incidente ex- do Ceará e aos professores que se encontrem afastados
clusivamente sobre o vencimento base, passa a vigorar nos para realização de estudos de pós-graduação, nos termos
seguintes percentuais: do art. 110, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 9.826, de 14 de
I – 14,5% (quatorze e meio por cento), a partir de 1º maio de 1974 e do Decreto nº 25.851, de 12 de abril de
de julho de 2018; 2000, alterado pelo Decreto nº 28.871, de 10 de setembro
II – 17% (dezessete por cento), a partir de 1º de no- de 2007.” (NR)
vembro de 2018. Parágrafo único. Ficam convalidados até a data da
publicação desta Lei os pagamentos efetuados a título de
Art. 2º A Gratificação por Efetiva Regência de Classe Gratificação por Efetiva Regência de Classe aos professores
para o professor da Educação Básica de nível superior, in- afastados para realização de estudos de pós-graduação, os
tegrante do Grupo MAG, prevista no art. 62, inciso V, da Lei termos do art. 110, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 9.826, de 14
nº 10.884, de 2 de fevereiro de 1984, e suas alterações pos- de maio de 1974 e do Decreto nº 25.851, de 12 de abril de
teriores, incidente exclusivamente sobre o vencimento base, 2000, alterado pelo Decreto nº 28.871, de 10 de setembro
passa a vigorar nos seguintes termos: de 2007.
I - 24,5% (vinte e quatro e meio por cento), a partir
de 1º de julho de 2018 e 27% (vinte e sete por cento), Art. 5º As despesas correntes da execução desta Lei cor-
a partir de 1º de novembro de 2018, aos detentores de rerão por conta das dotações orçamentárias da Secretaria
título de Licenciatura Plena; da Educação.
II - 29,5% (vinte e nove e meio por cento), a partir
de 1º de julho de 2018 e 32% (trinta e dois por cento), Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
a partir de 1º de novembro de 2018, aos detentores de ção.
título de Especialista, desde que estáveis no serviço pú-
blico estadual; Art. 7º Ficam revogadas as disposições em contrário.
III - 34,5% (trinta e quatro e meio por cento), a par-
tir de 1º de julho de 2018 e 37% (trinta e sete por cento) PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO
a partir de 1º de novembro de 2018, aos detentores do DO CEARÁ, em Fortaleza, 6 de abril de 2018.
título de Mestre, desde que estáveis no serviço público
estadual;
IV - 54,5% (cinquenta e quatro e meio por cento),
a partir de 1º de julho de 2018 e 57% (cinquenta e sete
por cento) a partir de 1º de novembro de 2018, aos de-
tentores do título de Doutor, desde que estáveis no ser-
viço público estadual.
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4) (STJ - Analista Judiciário - Administrativa – CES- 8) (STJ - Técnico Judiciário - Administrativa - CES-
PE/2018) Tendo em vista as convergências e divergências PE/2018) Julgue o seguinte item de acordo com as dispo-
entre a gestão pública e a gestão privada, julgue o item sições constitucionais e legais acerca dos agentes públicos.
que se segue. A investidura em cargo, emprego ou função pública
Tanto na gestão pública quanto na gestão privada é exige a prévia aprovação em concurso público de provas
lícito fazer tudo que a lei não proíbe. ou de provas e títulos, na forma prevista em lei.
Resposta: Errado. Na gestão privada vigora o princí- Resposta: Errado. A função pública é exercida por ser-
pio da legalidade amplo, o que significa que o particular vidores contratados temporariamente com base no artigo
pode fazer tudo que a lei não proíba. Já na gestão pública, 37, IX, CF, não dependendo de concurso. Destaca-se que
devido aos interesses perseguidos pelo Estado, vigora o o artigo 37, II, CF, prevê: “a investidura em cargo ou em-
princípio da legalidade estrito, o que implica que o Admi- prego público depende de aprovação prévia em concurso
nistrador apenas pode fazer aquilo que a lei expressamente público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
permite. natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
5) (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargo 2 - CES- comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
PE/2017) Acerca de administração pública, organização do ção”.
Estado e agentes públicos, julgue o item a seguir.
Não há exclusividade no exercício de suas funções típi- 9) (STM - Técnico Judiciário - Administrativa - CES-
cas pelos poderes de Estado. PE/2018) Acerca do direito administrativo, dos atos admi-
nistrativos e dos agentes públicos, julgue o item a seguir.
Resposta: Certo. Dentro dos três Poderes típicos do Em que pese ocuparem cargos eletivos, as pessoas fí-
Estado – Executivo, Legislativo e Judiciário, existem funções sicas que compõem o Poder Legislativo são consideradas
típicas, isto é, o Executivo administra, o Legislativo legisla, agentes públicos.
o Judiciário julga. Em casos excepcionais é possível obser-
var o exercício de funções atípicas dentro de cada um dos Resposta: Certo. Existem três espécies de agentes pú-
Poderes. blicos: agentes políticos, agentes administrativos (entram
aqui os servidores e empregados públicos) e particulares
6) (AGU - Advogado da União - CESPE/2004) Acer- em colaboração com o Estado. Aqueles que ocupam cargo
ca do conceito de administração pública, da teoria do ór- eletivo, exercendo assim mandato, são agentes políticos,
gão da pessoa jurídica aplicada ao direito administrativo, espécie do gênero agente público.
da concentração e da desconcentração de competências e
dos atos e fatos da administração pública, julgue os itens 10) (STJ - Analista Judiciário - Administrativa – CES-
a seguir. PE/2018) Em relação aos princípios aplicáveis à adminis-
A administração pública, em seu sentido formal, é o tração pública, julgue o próximo item.
conjunto de órgãos instituídos com a finalidade de realizar O princípio da proporcionalidade, que determina a
as opções políticas e os objetivos do governo e, em seu adequação entre os meios e os fins, deve ser obrigatoria-
sentido material, é o conjunto de funções necessárias ao mente observado no processo administrativo, sendo ve-
serviço público em geral. dada a imposição de obrigações, restrições e sanções em
medida superior àquelas estritamente necessárias ao aten-
Resposta: Certo. O sentido formal abrange apenas dimento do interesse público.
os órgãos administrativos, ou ainda, os órgãos governa-
mentais e administrativos; o sentido material abrange as Resposta: Certo. O princípio da proporcionalidade na
funções administrativas e num sentido amplo mesmo as conduta administrativa é de aplicação geral, inclusive no
funções políticas. âmbito do processo administrativo. As obrigações, restri-
ções e sanções devem encontrar arcabouço legal corres-
7) (EBSERH - Assistente Administrativo - CES- pondente e serem estritamente necessárias, atendendo ao
PE/2018) Acerca do regime jurídico dos servidores públi- exclusivo propósito de respeito ao interesse público.
cos federais, julgue o item a seguir.
A promoção não constitui forma de provimento em 11) (STM - Técnico Judiciário - Área Administrativa
cargo público. - CESPE/2018) A respeito dos princípios da administração
pública, de noções de organização administrativa e da ad-
Resposta: Errado. A promoção é uma forma derivada ministração direta e indireta, julgue o item que se segue.
de provimento do cargo público, acessível àqueles que es- Embora não estejam previstos expressamente na
tão na carreira e vão galgar novo degrau em cargo de nível Constituição vigente, os princípios da indisponibilidade, da
superior ao ocupado no momento. razoabilidade e da segurança jurídica devem orientar a ati-
vidade da administração pública.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Resposta: Certo. Embora a Constituição colacione 14) (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Conhe-
apenas cinco princípios de forma expressa – legalidade, cimentos Gerais -CESPE/2018) Julgue o item que se se-
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, exis- gue, a respeito de aspectos diversos relacionados ao direi-
tem diversos princípios que também devem ser seguidos to administrativo.
e respeitados por parte da Administração, os quais são O núcleo do princípio da eficiência no direito admi-
considerados implícitos. Todos eles buscam fazer com que nistrativo é a procura da produtividade e economicidade,
a atividade administrativa cumpra sua finalidade de con- sendo este um dever constitucional da administração, que
trabalancear interesses coletivos e liberdades individuais, não poderá ser desrespeitado pelos agentes públicos, sob
sempre priorizando o interesse público, porém sem violar pena de responsabilização pelos seus atos.
direitos dos cidadãos. Entre eles, estão a indisponibilidade,
a razoabilidade e a segurança jurídica. Resposta: Certo. O princípio da eficiência se concentra
na soma de dois fatores: qualidade e economia, ou seja,
12) (CGM de João Pessoa/PB - Conhecimentos Bá- produtividade e economicidade. Não basta conseguir um
sicos - Cargos: 1, 2 e 3 - CESPE/2018) Com relação aos produto mais barato se ele não atender a padrões míni-
princípios aplicáveis à administração pública e ao enrique- mos para ser utilizado; não basta que o funcionário público
cimento ilícito por agente público, julgue o item a seguir. trabalhe rápido se o seu serviço for executado de forma
Decorre do princípio de autotutela o poder da admi- falha. Caso ocorra desrespeito ao princípio da eficiência, o
nistração pública de rever os seus atos ilegais, independen- funcionário poderá sim ser responsabilizado, civil, penal e
temente de provocação. administrativamente, conforme o caso concreto.
Resposta: Certo. A Administração Pública pode rever 15) (STM - Técnico Judiciário - Área Administrativa
de ofício seus próprios atos, não necessitando de provo- - CESPE/2018) A respeito dos princípios da administração
cação, o que se denomina princípio da autotutela. O en- pública, de noções de organização administrativa e da ad-
tendimento é sumulado pelo STF: “Súmula 346. A adminis- ministração direta e indireta, julgue o item que se segue.
tração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios O princípio da impessoalidade está diretamente rela-
atos. Súmula 473. A administração pode anular seus pró- cionado à obrigação de que a autoridade pública não dis-
prios atos, quando eivados de vícios que os tornam ile- pense os preceitos éticos, os quais devem estar presentes
gais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, em sua conduta.
por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a Resposta: Errado. O enunciado descreve o princípio
apreciação judicial”. da moralidade administrativa. É ele que determina que o
administrador atenda a princípios éticos em sua conduta,
13) (STJ - Analista Judiciário - Oficial de Justiça não se limitando a critérios de legalidade (embora estes
Avaliador Federal - CESPE/2018) Acerca dos princípios e sejam de fato indispensáveis).
dos poderes da administração pública, da organização ad-
ministrativa, dos atos e do controle administrativo, julgue
o item a seguir, considerando a legislação, a doutrina e a
jurisprudência dos tribunais superiores.
Situação hipotética: O prefeito de determinado muni-
cípio promoveu campanha publicitária para combate ao
mosquito da dengue. Nos panfletos, constava sua imagem,
além do símbolo da sua campanha eleitoral. Assertiva: No
caso, não há ofensa ao princípio da impessoalidade.
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IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Dis- VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
trito Federal e os Municípios, competências e diretrizes estadual.
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos míni- competências referentes aos Estados e aos Municípios.
mos, de modo a assegurar formação básica comum;
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimen- I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
tos para identificação, cadastramento e atendimento, na tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os
educação básica e na educação superior, de alunos com al- às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;
tas habilidades ou superdotação; II - exercer ação redistributiva em relação às suas es-
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a colas;
educação; III - baixar normas complementares para o seu siste-
VI - assegurar processo nacional de avaliação do ma de ensino;
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e supe- IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele-
rior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivan- cimentos do seu sistema de ensino;
do a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do V - oferecer a educação infantil em creches e pré-
ensino; -escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per-
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação mitida a atuação em outros níveis de ensino somente quan-
e pós-graduação; do estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das área de competência e com recursos acima dos percentuais
instituições de educação superior, com a cooperação dos mínimos vinculados pela Constituição Federal à manuten-
sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ção e desenvolvimento do ensino.
ensino; VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar municipal.
e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda,
educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor
ensino.
com ele um sistema único de educação básica.
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na-
cional de Educação, com funções normativas e de supervi-
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
são e atividade permanente, criado por lei.
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a
cumbência de:
IX, a União terá acesso a todos os dados e informações
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu-
cacionais. II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão financeiros;
ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
mantenham instituições de educação superior. -aula estabelecidas;
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: cada docente;
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- V - prover meios para a recuperação dos alunos de
ções oficiais dos seus sistemas de ensino; menor rendimento;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar criando processos de integração da sociedade com a escola;
a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
com a população a ser atendida e os recursos financeiros filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre-
disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe-
III - elaborar e executar políticas e planos educacio- cução da proposta pedagógica da escola;
nais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
de educação, integrando e coordenando as suas ações e as competente da Comarca e ao respectivo representante do
dos seus Municípios; Ministério Público a relação dos alunos que apresentem
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu- percentual permitido em lei.
cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de en- IX - promover medidas de conscientização, de prevenção
sino; e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a
V - baixar normas complementares para o seu sistema intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;
de ensino; X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com de paz nas escolas.
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
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Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé- VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância re- conforme o disposto no seu regimento e nas normas do res-
gular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com pectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
base na idade, na competência e em outros critérios, ou por setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
forma diversa de organização, sempre que o interesse do aprovação;
processo de aprendizagem assim o recomendar. VII - cabe a cada instituição de ensino expedir histó-
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive ricos escolares, declarações de conclusão de série e di-
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos plomas ou certificados de conclusão de cursos, com as
situados no País e no exterior, tendo como base as normas especificações cabíveis.
curriculares gerais. § 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci-
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu- so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva,
liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a cri- no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo
tério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco
número de horas letivas previsto nesta Lei. anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
de 2 de março de 2017.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e § 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
médio, será organizada de acordo com as seguintes regras educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
comuns: adequado às condições do educando, conforme o inciso
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas VI do art. 4º.
horas para o ensino fundamental e para o ensino médio, Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res-
distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo tra- ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de
balho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, alunos e o professor, a carga horária e as condições ma-
quando houver; ; teriais do estabelecimento.
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino,
primeira do ensino fundamental, pode ser feita: à vista das condições disponíveis e das características regio-
a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro- nais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do
veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; disposto neste artigo.
b) por transferência, para candidatos procedentes de
outras escolas; Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
c) independentemente de escolarização anterior, me- fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifica-
inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamen- da, exigida pelas características regionais e locais da socie-
tação do respectivo sistema de ensino; dade, da cultura, da economia e dos educandos.
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão re- § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran-
gular por série, o regimento escolar pode admitir formas de ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e
progressão parcial, desde que preservada a sequência do da matemática, o conhecimento do mundo físico e na-
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de tural e da realidade social e política, especialmente da
ensino; República Federativa do Brasil, observado, na educação in-
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu- fantil, o disposto no art. 31, no ensino fundamental, o dis-
nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adianta- posto no art. 32, e no ensino médio, o disposto no art. 36.
mento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres-
artes, ou outros componentes curriculares; sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
V - a verificação do rendimento escolar observará os se- rio da educação básica.
guintes critérios: § 3º A educação física, integrada à proposta pedagó-
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho gica da escola, é componente curricular obrigatório da edu-
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os cação infantil e do ensino fundamental, sendo sua prática
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os facultativa ao aluno:
de eventuais provas finais; I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos seis horas;
com atraso escolar; II - maior de trinta anos de idade;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me- III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
diante verificação do aprendizado; em situação similar, estiver obrigado à prática da educação
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; física;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre- IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou-
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo tubro de 1969;
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições V - (VETADO);
de ensino em seus regimentos; VI - que tenha prole.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) ho- Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa,
ras, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de é parte integrante da formação básica do cidadão e cons-
trabalho educacional; titui disciplina dos horários normais das escolas públicas
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversida-
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a de cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
jornada integral; proselitismo.
IV - controle de frequência pela instituição de educação § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi-
pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso
por cento) do total de horas; e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão
V - expedição de documentação que permita atestar os dos professores.
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons-
tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a de-
A educação infantil é ministrada em creches até os 3 finição dos conteúdos do ensino religioso.
anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de idade.
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental inclui-
Seção III rá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala
Do Ensino Fundamental de aula, sendo progressivamente ampliado o período de
permanência na escola.
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura- § 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando- formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação § 2º O ensino fundamental será ministrado progres-
básica do cidadão, mediante: sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo ensino.
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e
O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade e
do cálculo;
tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabetização,
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sis-
também incentiva a formação do cidadão, da pessoa em
tema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que
contato com o mundo que o cerca estabelecendo vínculos
se fundamenta a sociedade;
de solidariedade e amizade. O ensino fundamental deve
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
ser presencial, em regra. O ensino religioso é facultativo. A
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
carga horária diária é de no mínimo 4 horas.
e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
Seção IV
de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que Do Ensino Médio
se assenta a vida social.
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação bá-
ensino fundamental em ciclos. sica, com duração mínima de três anos, terá como finali-
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- dades:
gular por série podem adotar no ensino fundamental o re- I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimen-
gime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação tos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o pros-
do processo de ensino-aprendizagem, observadas as nor- seguimento de estudos;
mas do respectivo sistema de ensino. II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupa-
a utilização de suas línguas maternas e processos próprios ção ou aperfeiçoamento posteriores;
de aprendizagem. III - o aprimoramento do educando como pessoa hu-
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en- mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
sino a distância utilizado como complementação da apren- autonomia intelectual e do pensamento crítico;
dizagem ou em situações emergenciais. IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnoló-
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri- gicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças prática, no ensino de cada disciplina.
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defi-
do Adolescente, observada a produção e distribuição de nirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
material didático adequado. conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído seguintes áreas do conhecimento:
como tema transversal nos currículos do ensino fundamen- I - linguagens e suas tecnologias;
tal. II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo II - as normas complementares dos respectivos sistemas
de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação pro- de ensino;
fissional previstas no caput. III - as exigências de cada instituição de ensino, nos ter-
mos de seu projeto pedagógico.
A etapa final do ensino médio tem a duração de três
anos e busca fornecer a consolidação e o aprofundamento Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível mé-
dos conhecimentos transmitidos no ensino fundamental, dio articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B
com a devida atenção a conhecimentos que permitam o desta Lei, será desenvolvida de forma:
ingresso do aluno no ensino universitário e na carreira de I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
trabalho. Neste ponto, a LDB sofreu alterações recentes cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de
pela Medida Provisória nº 746/2016, convertida na Lei nº modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica
13.415, de 2017, que foi alvo de inúmeras críticas, nota- de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-
damente por estabelecer como facultativos conhecimen- -se matrícula única para cada aluno;
tos que antes eram tidos como obrigatórios. Para entender II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
melhor esta questão, percebe-se que na verdade a pro- médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas dis-
posta é a especificação de matrizes ainda durante o ensino tintas para cada curso, e podendo ocorrer:
médio: o aluno poderá escolher em quais áreas de conheci- a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
mento pretende se concentrar. Por exemplo, um aluno que oportunidades educacionais disponíveis;
não queira se especializar em ciências humanas, não teria b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
a obrigação de cursar matérias como história e geografia. as oportunidades educacionais disponíveis;
Um aluno que não tenha interesse em ir para a universida- c) em instituições de ensino distintas, mediante convê-
de e já queira ingressar no mercado de trabalho, terá aulas nios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e
concentradas em formação técnica e profissional, apren- ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
dendo marcenaria, mecânica, administração, entre outras
questões. As áreas que podem ser optadas são as seguin-
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profis-
tes: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tec-
sional técnica de nível médio, quando registrados, terão
nologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências
validade nacional e habilitarão ao prosseguimento de
humanas e sociais aplicadas; formação técnica e profissio-
estudos na educação superior.
nal. As únicas matérias estabelecidas como obrigatórias
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
são: português, matemática, artes, educação física, filosofia
técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante
e sociologia – estas quatro últimas inicialmente seriam fa-
e subsequente, quando estruturados e organizados em eta-
cultativas, mas devido a pressões sociais foram colocadas
pas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certifi-
como obrigatórias. Ainda é cedo para dizer se realmente
este será o rumo conferido pela reforma, eis que a Base cados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com
Nacional Comum Curricular que detalhará estas questões aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma qualifi-
ainda está em discussão. cação para o trabalho.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
priadas, consideradas as características do alunado, seus Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profis-
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cur- sional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto
sos e exames. de avaliação, reconhecimento e certificação para prossegui-
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso mento ou conclusão de estudos.
e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações
integradas e complementares entre si. Art. 42. As instituições de educação profissional e tec-
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular- nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
-se, preferencialmente, com a educação profissional, na especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula
forma do regulamento. à capacidade de aproveitamento e não necessariamente
ao nível de escolaridade.
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
supletivos, que compreenderão a base nacional comum do A educação profissional e tecnológica pode se dar não
currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em ca- apenas no ensino médio, mas também em instituições pró-
ráter regular. prias, que podem conferir inclusive diploma de formação
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se- em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, entre outros.
-ão: O acesso a este tipo de ensino não necessariamente exige
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os conclusão dos níveis prévios de educação, eis que seu prin-
maiores de quinze anos; cipal objetivo não é o ensino de conteúdos típicos, mas sim
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os a capacitação profissional.
maiores de dezoito anos.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos CAPÍTULO IV
educandos por meios informais serão aferidos e reconhe- DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
cidos mediante exames.
Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
A educação de jovens e adultos objetiva permitir a I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento
conclusão do ensino fundamental e médio para aqueles do espírito científico e do pensamento reflexivo;
que já ultrapassaram a idade regular em que isso deveria II - formar diplomados nas diferentes áreas de co-
ter acontecido. nhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
e para a participação no desenvolvimento da sociedade bra-
CAPÍTULO III sileira, e colaborar na sua formação contínua;
Da Educação Profissional e Tecnológica III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tec-
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no nologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, de-
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se senvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimen- IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-
sões do trabalho, da ciência e da tecnologia. rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica humanidade e comunicar o saber através do ensino, de pu-
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibi- blicações ou de outras formas de comunicação;
litando a construção de diferentes itinerários formativos, V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
observadas as normas do respectivo sistema e nível de en- cultural e profissional e possibilitar a correspondente concre-
sino. tização, integrando os conhecimentos que vão sendo adqui-
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá ridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhe-
os seguintes cursos: cimento de cada geração;
I – de formação inicial e continuada ou qualificação VI - estimular o conhecimento dos problemas do
profissional; mundo presente, em particular os nacionais e regionais,
II – de educação profissional técnica de nível médio; prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer
III – de educação profissional tecnológica de gra- com esta uma relação de reciprocidade;
duação e pós-graduação. VII - promover a extensão, aberta à participação da
§ 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de população, visando à difusão das conquistas e benefícios re-
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con- sultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecno-
cerne a objetivos, características e duração, de acordo com lógica geradas na instituição.
as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con- VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo-
selho Nacional de Educação. ramento da educação básica, mediante a formação e a
capacitação de profissionais, a realização de pesquisas pe-
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida dagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão
em articulação com o ensino regular ou por diferentes que aproximem os dois níveis escolares.
estratégias de educação continuada, em instituições es-
pecializadas ou no ambiente de trabalho. Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
cursos e programas:
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condi-
níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam ções, e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primei-
aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, des- ras formas concomitantemente:
de que tenham concluído o ensino médio ou equivalente; I - em página específica na internet no sítio eletrônico
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte:
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido clas- a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como
sificados em processo seletivo; título “Grade e Corpo Docente”;
III - de pós-graduação, compreendendo programas de b) a página principal da instituição de ensino superior,
mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoa- bem como a página da oferta de seus cursos aos ingressan-
mento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos tes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e outras
de graduação e que atendam às exigências das instituições com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta com a
de ensino; página específica prevista neste inciso;
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio
aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições eletrônico, deve criar página específica para divulgação das
de ensino. informações de que trata esta Lei;
§ 1º. Os resultados do processo seletivo referido no d) a página específica deve conter a data completa de
inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos sua última atualização;
pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a II - em toda propaganda eletrônica da instituição de en-
divulgação da relação nominal dos classificados, a respec- sino superior, por meio de ligação para a página referida no
tiva ordem de classificação, bem como do cronograma das inciso I;
chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para III - em local visível da instituição de ensino superior e de
preenchimento das vagas constantes do respectivo edital. fácil acesso ao público;
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins- IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente,
tituições públicas de ensino superior darão prioridade de de acordo com a duração das disciplinas de cada curso ofe-
matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar recido, observando o seguinte:
inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda fa- a) caso o curso mantenha disciplinas com duração dife-
miliar, quando mais de um candidato preencher o critério renciada, a publicação deve ser semestral;
inicial. b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II conside- início das aulas;
rará as competências e as habilidades definidas na Base c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
Nacional Comum Curricular. docente até o início das aulas, os alunos devem ser comuni-
cados sobre as alterações;
Art. 45. A educação superior será ministrada em ins- V - deve conter as seguintes informações:
tituições de ensino superior, públicas ou privadas, com a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
variados graus de abrangência ou especialização. de ensino superior;
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, de cada curso e as respectivas cargas horárias;
bem como o credenciamento de instituições de educa- c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas
ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados, em cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará
periodicamente, após processo regular de avaliação. naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualifi-
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências cação profissional do docente e o tempo de casa do docente,
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere de forma total, contínua ou intermitente.
este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con- § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e
intervenção na instituição, em suspensão temporária de outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados
prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento. por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos
responsável por sua manutenção acompanhará o processo sistemas de ensino.
de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se neces- § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
sários, para a superação das deficiências. salvo nos programas de educação a distância.
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão,
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in- no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga-
aos exames finais, quando houver. rantida a necessária previsão orçamentária.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes
de cada período letivo, os programas dos cursos e demais Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconheci-
componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualifi- dos, quando registrados, terão validade nacional como
cação dos professores, recursos disponíveis e critérios de prova da formação recebida por seu titular.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão III - estabelecer planos, programas e projetos de pesqui-
por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por ins- sa científica, produção artística e atividades de extensão;
tituições não-universitárias serão registrados em universi- IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacida-
dades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. de institucional e as exigências do seu meio;
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer- V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
sidades estrangeiras serão revalidados por universidades em consonância com as normas gerais atinentes;
públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equi- VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
valente, respeitando-se os acordos internacionais de reci- VII - firmar contratos, acordos e convênios;
procidade ou equiparação. VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe- de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
didos por universidades estrangeiras só poderão ser reco- geral, bem como administrar rendimentos conforme dispo-
nhecidos por universidades que possuam cursos de pós- sitivos institucionais;
-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma pre-
conhecimento e em nível equivalente ou superior. vista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão cooperação financeira resultante de convênios com entida-
a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na des públicas e privadas.
hipótese de existência de vagas, e mediante processo sele- Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-
tivo. -científica das universidades, caberá aos seus colegiados de
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
na forma da lei. disponíveis, sobre:
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
Art. 50. As instituições de educação superior, quando II - ampliação e diminuição de vagas;
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas III - elaboração da programação dos cursos;
de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem IV - programação das pesquisas e das atividades de ex-
capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo tensão;
seletivo prévio. V - contratação e dispensa de professores;
VI - planos de carreira docente.
Art. 51. As instituições de educação superior credencia-
das como universidades, ao deliberar sobre critérios e nor- Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
mas de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial
os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino mé- para atender às peculiaridades de sua estrutura, organiza-
dio, articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas ção e financiamento pelo Poder Público, assim como dos
de ensino. seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli- ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pú-
nares de formação dos quadros profissionais de nível supe- blicas poderão:
rior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e ad-
saber humano, que se caracterizam por: ministrativo, assim como um plano de cargos e salários, aten-
I - produção intelectual institucionalizada mediante didas as normas gerais pertinentes e os recursos disponíveis;
o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformi-
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional dade com as normas gerais concernentes;
e nacional; III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titu- investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
lação acadêmica de mestrado ou doutorado; geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
III - um terço do corpo docente em regime de tempo Poder mantenedor;
integral. IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
especializadas por campo do saber. suas peculiaridades de organização e funcionamento;
VI - realizar operações de crédito ou de financiamen-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura- to, com aprovação do Poder competente, para aquisição de
das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes bens imóveis, instalações e equipamentos;
atribuições: VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo-
programas de educação superior previstos nesta Lei, obede- nial necessárias ao seu bom desempenho.
cendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
respectivo sistema de ensino; ser estendidas a instituições que comprovem alta qualifica-
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob- ção para o ensino ou para a pesquisa, com base em avalia-
servadas as diretrizes gerais pertinentes; ção realizada pelo Poder Público.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu As universidades públicas gozam de estatuto jurídico
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e especial.
desenvolvimento das instituições de educação superior por As instituições públicas devem obedecer ao princípio
ela mantidas. da gestão democrática, assegurado pela existência de ór-
gãos colegiados deliberativos que mesclem membros da
Art. 56. As instituições públicas de educação superior comunidade, do corpo docente e do corpo discente.
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegu-
rada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de CAPÍTULO V
que participarão os segmentos da comunidade institucional, DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
local e regional.
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocupa- Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei-
rão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado tos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e mo-
preferencialmente na rede regular de ensino, para educan-
dificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
de dirigentes.
mento e altas habilidades ou superdotação.
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es-
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior,
o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas sema- pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida-
nais de aulas. des da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
A educação superior se funda no tripé: ensino, pesqui- escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
sa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propiciar o das condições específicas dos alunos, não for possível a sua
acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto dentro integração nas classes comuns de ensino regular.
do ambiente acadêmico quanto fora dele; no aspecto pes- § 3º A oferta de educação especial, nos termos
quisa, busca-se desenvolver os conhecimentos já existen- do caput deste artigo, tem início na educação infantil e
tes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a comunida- estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art.
de por meio de atividades que possam ir além dos ambien- 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei.
tes acadêmicos, inserindo-se no cotidiano da vida social. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
Classicamente, a educação superior se dá nos níveis de dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibulares, e e altas habilidades ou superdotação:
pós-graduação, cujo acesso também se dá por processos I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos
seletivos próprios, funcionando como complementação e organização específicos, para atender às suas necessida-
ao ensino superior. Entretanto, o ensino superior também des;
pode se dar em cursos sequenciais e em cursos de exten- II - terminalidade específica para aqueles que não
são, de menor duração e complexidade. puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
O ensino superior pode ser ministrado em instituições fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração
públicas ou privadas. Independentemente da natureza da para concluir em menor tempo o programa escolar para os
instituição, é necessário respeitar as regras mínimas sobre superdotados;
duração do ano letivo, programas de curso, componentes III - professores com especialização adequada em ní-
curriculares, etc. vel médio ou superior, para atendimento especializado, bem
O diploma faz prova da formação.
como professores do ensino regular capacitados para a inte-
É possível a transferência entre instituições. A transfe-
gração desses educandos nas classes comuns;
rência a pedido está condicionada a número de vagas e a
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
processo seletivo. As transferências de ofício se sujeitam a
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
critérios próprios. Um exemplo de transferência de ofício
se dá no caso de remoção de servidor público de ofício no adequadas para os que não revelarem capacidade de inser-
interesse da Administração (caso o servidor ou seu depen- ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
dente estude em instituição pública na cidade onde estava órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen-
lotado, tem o direito de ser transferido para a instituição tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual
pública da nova lotação). ou psicomotora;
É possível que uma pessoa assista aulas nas instituições V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
públicas independentemente de vínculo com o curso, des- sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
de que haja vagas disponíveis. ensino regular.
Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige-
-se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro na-
possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do cional de alunos com altas habilidades ou superdotação
corpo docente se dedique exclusivamente à docência. matriculados na educação básica e na educação superior, a
Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino su- fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas
perior, as instituições de ensino superior são dotadas de ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse aluna-
autonomia para se organizarem. do.
86
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com IV - profissionais com notório saber reconhecido pe-
altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi- los respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste de áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os atestados por titulação específica ou prática de ensino em
mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamen-
trata o caput serão definidos em regulamento. te para atender ao inciso V do caput do art. 36;
V - profissionais graduados que tenham feito com-
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino plementação pedagógica, conforme disposto pelo Conse-
estabelecerão critérios de caracterização das instituições lho Nacional de Educação.
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e Art. 62. A formação de docentes para atuar na educa-
financeiro pelo Poder Público. ção básica far-se-á em nível superior, em curso de licencia-
Parágrafo único. O poder público adotará, como alter- tura plena, admitida, como formação mínima para o exercí-
nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu- cio do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
mento e altas habilidades ou superdotação na própria rede modalidade normal.
pública regular de ensino, independentemente do apoio às § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
instituições previstas neste artigo. nicípios, em regime de colaboração, deverão promover a
formação inicial, a continuada e a capacitação dos profis-
A educação especial volta-se a educandos com defi- sionais de magistério.
ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas § 2º A formação continuada e a capacitação dos pro-
habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada, fissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecno-
exige-se a especialização das instituições de ensino e de logias de educação a distância.
seus profissionais.
§ 3º A formação inicial de profissionais de magisté-
rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente
TÍTULO VI
fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a dis-
Dos Profissionais da Educação
tância.
§ 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e
permanência em cursos de formação de docentes em nível
tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:
superior para atuar na educação básica pública.
I – professores habilitados em nível médio ou supe-
rior para a docência na educação infantil e nos ensinos § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
fundamental e médio; nicípios incentivarão a formação de profissionais do ma-
II – trabalhadores em educação portadores de di- gistério para atuar na educação básica pública mediante
ploma de pedagogia, com habilitação em administração, programa institucional de bolsa de iniciação à docência a
planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacio- estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de gra-
nal, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas duação plena, nas instituições de educação superior.
mesmas áreas; § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- nota mínima em exame nacional aplicado aos concluintes
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou do ensino médio como pré-requisito para o ingresso em
afim; e cursos de graduação para formação de docentes, ouvido o
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos Conselho Nacional de Educação - CNE.
respectivos sistemas de ensino para ministrar conteú- § 7º (VETADO).
dos de áreas afins à sua formação para atender o dispos- § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
to no inciso V do caput do art. 36. terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.
Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu-
cação, de modo a atender às especificidades do exercício Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
etapas e modalidades da educação básica, terá como fun- técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
damentos: habilitações tecnológicas.
I – a presença de sólida formação básica, que propi- Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
cie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de para os profissionais a que se refere o caput, no local de
suas competências de trabalho; trabalho ou em instituições de educação básica e superior,
II – a associação entre teorias e práticas, mediante incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores
estágios supervisionados e capacitação em serviço; de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
III – o aproveitamento da formação e experiências
anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
87
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
I - cursos formadores de profissionais para a edu- Os profissionais da educação devem possuir formação
cação básica, inclusive o curso normal superior, destinado específica, notadamente possuir habilitação para a docên-
à formação de docentes para a educação infantil e para as cia, que pode se dar pelas licenciaturas e magistérios em
primeiras séries do ensino fundamental; geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por formação e
II - programas de formação pedagógica para portado- área afim que habilite para o ensino de matérias específicas
res de diplomas de educação superior que queiram se dedi- (ex.: profissional do Direito pode lecionar português, filoso-
car à educação básica; fia e sociologia). Além disso, devem possuir experiência em
III - programas de educação continuada para os pro- atividades de ensino. Quanto ao ensino superior, exige-se
fissionais de educação dos diversos níveis. pós-graduação, que pode ser uma simples especialização,
embora deva preferencialmente se possuir mestrado ou
Art. 64. A formação de profissionais de educação para doutorado. No âmbito do ensino público, exige-se valori-
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien- zação do profissional, criando-se plano de carreira e aper-
tação educacional para a educação básica, será feita em feiçoando-se as condições de trabalho.
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-gra-
duação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta
formação, a base comum nacional.
2 LEI NO 8.069/1990 E ALTERAÇÕES
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação su- ( ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
perior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas ADOLESCENTE ).
horas.
88
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assistên-
atribuição de ato infracional, igualdade na relação pro- cia à saúde da criança e do adolescente. Do inciso I se de-
cessual e defesa técnica por profissional habilitado, se- preende a intrínseca relação entre a proteção da criança e
gundo dispuser a legislação tutelar específica; do adolescente com a proteção da maternidade e da infân-
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio- cia, mencionada no artigo 6º, CF. Já do inciso II se depreen-
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- de a proteção de outro grupo vulnerável, que é a pessoa
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida portadora de deficiência, valendo lembrar que o Decreto nº
privativa da liberdade; 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em
ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou ado- 30 de março de 2007, foi promulgado após aprovação no
lescente órfão ou abandonado; Congresso Nacional nos moldes da Emenda Constitucional
VII - programas de prevenção e atendimento especia- nº 45/2004, tendo força de norma constitucional e não de
lizado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de lei ordinária. A preocupação com o direito da pessoa porta-
entorpecentes e drogas afins. dora de deficiência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e
exploração sexual da criança e do adolescente. dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado
forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efe- às pessoas portadoras de deficiência”.
tivação por parte de estrangeiros. A proteção especial que decorre do princípio da prio-
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa- ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se,
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua- ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227:
lificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
relativas à filiação. ção sexual da criança e do adolescente”.
Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado-
de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da
lescente levar-se-á em consideração o disposto no art.
Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder
20426.
Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condi-
§ 8º A lei estabelecerá:
ções de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os di-
sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe
reitos dos jovens;
sobre a adoção.
II - o plano nacional de juventude, de duração dece-
A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da
nal, visando à articulação das várias esferas do poder públi-
Constituição anterior e do até então vigente Código Civil
co para a execução de políticas públicas. de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin- mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de-
cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente que signações discriminatórias relativas à filiação”.
é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi-
criança e adolescente deve receber tratamento especial do mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á
Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a
o futuro do país e as bases de construção da sociedade. adoção de práticas de assistência social, com recursos da
A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o seguridade social, em prol da criança e do adolescente.
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providên- Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei
cias, seguindo em seus dispositivos a ideologia do princí- estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a re-
pio da absoluta prioridade. gular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juven-
tude, de duração decenal, visando à articulação das várias
26 Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social esferas do poder público para a execução de políticas pú-
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, blicas”. A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui
previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos
nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa,
cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coor-
jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de
denação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.
municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; Mais informações sobre a Política mencionada no inciso II
II - participação da população, por meio de organizações represen- e sobre a Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude
tativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos que direcionam a implementação dela podem ser obtidas
os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal na rede27.
vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco
Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun-
décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação
desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encar-
damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e do
gos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra despesa corrente Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. 27 http://www.juventude.gov.br/politica
89
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig- mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces-
nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en-
negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda- quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan-
de e opressão. tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo”
A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis-
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada criminação designatória.
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe assegu- Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
rar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos, educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever
e observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen- de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en-
tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian- fermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos
ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida- peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam alimentos
de compreende a primazia de receber proteção e socorro aos filhos.
em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi-
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227,
(alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá
políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi- o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du-
proteção à infância e à juventude (alínea “d”). ração decenal, visando à articulação das várias esferas do
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo- poder público para a execução de políticas públicas (inciso
vem representa incumbência atribuída não só ao Estado, II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010,
mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi
prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen-
em vista que só se costuma colocar o Estado como obser- do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula-
vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso mentação infraconstitucional.
também compete à família e à sociedade.
Nesta frequência, o direito à proteção especial abran- Evolução histórica
gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF):
- A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posição
trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de de inferioridade, tida como um ser irracional, sem capaci-
aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al- dade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de marco
teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98); da cultura grega, que enxergava apenas poucos homens de
- A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas posses como cidadãos. Estes homens concentravam para
(inciso II); si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. Devido ao pátrio
- A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e poder, o pai de família concentrava em suas mãos plena
jovem à escola (inciso III); possibilidade de gerir a vida das crianças e adolescentes
- A garantia de pleno e formal conhecimento da atri- e estes não tinham nenhuma possibilidade de participar
buição do ato infracional, igualdade na relação processual destas decisões. Na Idade Média se manteve o sistema do
e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis- “pátrio poder”. As crianças eram submetidas ao absoluto
puser a legislação tutelar específica (inciso IV); poder do pai e seus destinos seguiam a mesma sorte.
- A obediência aos princípios de brevidade, excepcio- A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira-
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida mente da margem social. A moral da época passa a impor
privativa de liberdade (inciso V); aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a educa-
- O estímulo do Poder Público, através de assistência ção costumava ser oferecida apenas aos homens. Aqueles
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao que possuíam melhores condições enviavam seus filhos
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles- para estudarem nas universidades que começavam a des-
cente órfão ou abandonado (inciso VI); pontar na Europa, aqueles que possuíam condições piores
- Programas de prevenção e atendimento especializa- ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes jovens.
do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de Já as meninas permaneciam marginalizadas das atividades
entorpecentes e drogas afins (inciso VII). educacionais e profissionalizantes, apenas lhes era ensina-
Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Cons- do como desempenhar atividades domésticas.
tituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”, Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque,
ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação do ca- a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial-
samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali- mente os modos e métodos de produção, a criança e o
ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias adolescente passam a ocupar papel central na sociedade,
relativas à filiação. desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva-
90
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa
de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábricas, a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles-
então movidas predominantemente a carvão. Foi apenas centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade, a
com a emergência da Organização Internacional do Tra- sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a inten-
balho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou uma ção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sempre,
consciência a respeito da necessidade de se limitar a parti- criar uma doutrina da proteção integral não somente para
cipação das crianças e adolescentes no espaço de trabalho. a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos ainda
Este foi o estopim para o reconhecimento da condição es- em desenvolvimento, posto que, somente com o término
pecial da criança e do adolescente. da adolescência é que o menor completará o processo de
Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e aquisição de mecanismos mentais relacionados ao pensa-
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- mento, percepção, reconhecimento, classificação etc. [...]
mento internacional dos direitos humanos e a fundação Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sabia-
da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo mente, se preocupou em envolver não somente a família,
Internacional de Emergência das Nações Unidas para as mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio Estado,
Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos e deve-
crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início res sem oprimir aqueles que, em condição inferior, viviam
da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon- a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão tão
der às necessidades das crianças e das mães nos países em abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança
desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma- e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral,
nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial- todas as condições para que o mesmo possa desenvolver-
mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia, -se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma
América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se deficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solu-
Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a ção apresentada pelo legislador foi incluir todos os seg-
sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF. mentos da sociedade, para que ninguém ficasse isento
Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas de qualquer responsabilidade, uma vez que a doutrina da
documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica proteção integral apresentada pelo Estatuto da Criança e
peculiar da criança, já estudados neste material. do Adolescente exige a participação de todos, sem qual-
No Brasil, no final do século XIX e início do século XX, quer exceção”29. Com efeito, o objeto formal do direito da
foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e criança e do adolescente é a proteção jurídica especial da
Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público criança e do adolescente. Já o objeto material é a própria
nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se- criança ou adolescente.
guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo
a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância Princípios
Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo penharam um importante papel social, mas foi somente na
fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado atual dogmática jurídica que eles adquiriram normativida-
aos menores (na prática, eram tratados como criminosos de. Hoje em dia, os princípios servem para condensar va-
comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar lores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade do
do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não meros
novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo ob- conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma30.
jeto era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
em situação irregular. Na década de 80 começa um mo- fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
vimento de reelaboração da concepção de infância e ju- consolidados: a passagem dos princípios da especulação
ventude. O destaque repercute na Constituição Federal de metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo do
1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; a
que revogou o Código de Menores e substituiu a doutrina transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga inser-
da situação irregular pela doutrina da proteção integral28. ção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu ingresso
nas Constituições); a suspensão da distinção clássica entre
Relações jurídicas no direito da criança e do ado- princípios e normas; o deslocamento dos princípios da es-
lescente fera da jusfilosofia para o domínio da Ciência Jurídica; a
proclamação de sua normatividade; a perda de seu cará-
“As relações jurídicas são formas qualificadas de re- ter de normas programáticas; o reconhecimento definitivo
lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre de sua positividade e concretude por obra sobretudo das
pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu- Constituições; a distinção entre regras e princípios, como
lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do 29 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas decorrentes do Es-
28 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Brandão; FUL- tatuto da Criança e do Adolescente. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII,
LER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adolescente. n. 70, nov. 2009.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito) 30 Ibid., p.327.
91
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
espécies diversificadas do gênero norma, e, finalmente, por olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in-
expressão máxima de todo esse desdobramento doutriná- dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen-
rio, o mais significativo de seus efeitos: a total hegemonia tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima-
e preeminência dos princípios31. gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao
No campo do direito da criança e do adolescente, al- princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como
guns princípios assumem destaque, entre eles: conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro-
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- teção especial consistente em indenização por dano moral
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos – decorrente de sua violação”33.
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com Para Reale34, a evolução histórica demonstra o domínio
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma or-
adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado- dem gradativa entre os valores; mas existem os valores fun-
ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres- damentais e os secundários, sendo que o valor fonte é o da
tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de Reale35:
faixa etária inferior a 18 anos. “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a pessoa
b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo humana é o valor-fonte de todos os valores. O homem, como
1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles- ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo entre outros
cente não pode se restringir às situações de irregularidade, indivíduos, um ente animal entre os demais da mesma es-
o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger pécie. O homem, considerado na sua objetividade espiritual,
todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o enquanto ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o
adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as- que chamamos de pessoa. Só o homem possui a dignidade
segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o originária de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmen-
adolescente caiam em irregularidade. te como razão determinante do processo histórico”.
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig- Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli-
ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional,
membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma-
que possa se considerar compatível com os valores éticos,
nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais
notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar
e confere a eles posição hierárquica superior às normas
em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo,
organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que
colocar a pessoa humana como centro e norte para qual-
está para o povo, devendo garantir a dignidade de seus
quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração
membros, e não o inverso.
da norma, seja na sua aplicação.
d) Princípio da participação popular: previsto no ar-
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par-
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana ticipação popular, através de organizações representativas,
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana e à juventude.
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or- e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a 227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me-
própria exclusão de sua personalidade. dida privativa de liberdade esta não será imposta a não
Aponta Barroso32: “o princípio da dignidade da pessoa ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma
humana identifica um espaço de integridade moral a ser outra medida sócio-educativa possa ser utilizada.
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º,
mundo. É um respeito à criação, independente da crença V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati-
que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela- va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo
ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo
com as condições materiais de subsistência”. necessário para a ressocialização do adolescente. No caso,
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra-
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito zo máximo de 3 anos.
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de-
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro-
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de cesso de formação e de transformação física e psíquica,
condições existenciais mínimas, a participação saudável e logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei-
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des- tada quando da aplicação da lei.
tilação dos valores soberanos da democracia e das liber-
33 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n.
dades individuais. O processo de valorização do indivíduo
259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fon-
articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem tan Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível em: www.
31 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. São tst.gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
Paulo: Malheiros, 2011, p. 294. 34 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
32 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constitui- 2002, p. 228.
ção. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382. 35 Ibid., p. 220.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
93
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
durecida e o mais isenta possível, que, respeitando a po- Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
sição da criança ou do adolescente, poderá efetivamente lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
redundar em seu benefício. criança e do adolescente que apenas abordasse situações
No leque das diferentes situações da prática pediá- em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
trica, que se estende desde o recém-nascido no limite de como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos de nos casos de atos infracionais.
validade questionável naquelas circunstâncias, passando Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
pelas pesquisas científicas que envolvem crianças e ado- uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
lescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence a pais lescente, que não apenas abordasse situações de irregula-
adolescentes, portanto autônomos nas decisões que lhes ridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo
dizem respeito, todas estas situações, onde nem sempre o o arcabouço jurídico protetivo da criança e do adolescente.
real interesse que está em jogo é o da criança, mas sim o
dos responsáveis por ela, clarificam que não há uma única Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
resposta ou solução mágica, perfeita, para a questão da pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
autonomia da criança e do adolescente. aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Na realidade, o que deve existir é a construção conjun- Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais vinte e um anos de idade.
ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin- O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate-
cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um gorizar separadamente estas duas categorias de menores.
processo de interação franco, sincero, isento e realmente Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data
participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado-
que seja o nível de competência que a criança ou o adoles- lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de
cente estejam apresentando para tal”. aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em situações
excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os
Imputabilidade penal 21 anos de idade, por exemplo, no caso do menor infrator
sujeito a internação em fundação CASA que tenha 17 anos
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os meno- e 11 meses na data do ato infracional poderá ficar detido
res de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação es- até o limite de seus 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o
pecial. tempo máximo de internação).
O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os di-
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis- reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu-
rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma rando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as opor-
emenda constitucional que alterasse a menoridade penal. tunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen-
Inclusive, há projetos de lei neste sentido. volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade.
Comentários à lei Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli-
cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimi-
Parte geral nação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça,
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
Título I de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
Das Disposições Preliminares ambiente social, região e local de moradia ou outra condição
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à que vivem.
criança e ao adolescente. O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
O princípio da proteção integral se associa ao princípio criança e do adolescente. Concretização significa viabiliza-
da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA ção prática, consecução real dos fins que a lei descreve.
e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio Como se percebe pela leitura até o momento, o legislador
tem-se também a positivação da proteção integral, que se brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo
opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular, objetivo é concretizar estes direitos da criança e do adoles-
que era prevista no antigo Código de Menores e espe- cente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É
cificava que sua incidência se restringia aos menores em necessário colocar seu conteúdo em prática, porque sozi-
situação irregular, apresentando um conjunto de normas nha ela nada faz.
destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”37. A implementação na prática dos direitos da criança e
37 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Brandão; FUL- do adolescente depende da adoção de posturas por parte
LER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adolescente. de todos aqueles colocados como responsáveis para tanto:
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito) Estado, sociedade, comunidade e família. Especificamente
94
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
no que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
desenvolve políticas públicas adequadas em respeito à pe- áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
culiar condição do infante. O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idênti-
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- co ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma das
dições suficientemente próprias de promoção e concreti- principais diretrizes do direito da criança e do adolescente
zação de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do dog- que é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
matismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O Direito criança e adolescente deve receber tratamento especial do
da Criança e do Adolescente enquanto ramo autônomo Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
do direito é responsável por ressignificar a atuação estatal, o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
principalmente no campo das políticas públicas e impõe Explica Liberati39: “Por absoluta prioridade, devemos
corresponsabilidades compartilhadas”38. entender que a criança e o adolescente deverão estar em
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes;
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas to-
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun- das as necessidades das crianças e adolescentes [...]. Por
damentais em espécie, abordando-os na vertente da con- absoluta prioridade, entende-se que, na área administra-
dição especial dos que pertencem a este grupo. tiva, enquanto não existirem creches, escolas, postos de
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di- saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes
reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de dignas moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas,
todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II construir praças, sambódromos monumentos artísticos
os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças
eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida- são importantes que as obras de concreto que ficam par a
de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura, demonstrar o poder do governante”.
esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho. O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência
Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga- da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con-
rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to-
ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes
dos os direitos humanos e fundamentais que as demais
diante de situações de perigo e risco (como no salvamento
pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar
em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços
especificidades acerca de algumas das categorias de direi-
públicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo).
tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente.
Além disso, devem ser priorizadas políticas públicas que
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des-
favoreçam a criança e o adolescente e também devem ser
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple-
reservados recursos próprios prioritariamente a eles.
na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian-
ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de
discriminação. Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
to:
A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros I - políticas sociais básicas;
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre- II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
sença de um tríplice sistema de garantias. sistência social de garantia de proteção social e de preven-
Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
uma estrutura que contempla três sistemas de garantia – ou reincidências;
primário, secundário e terciário. III - serviços especiais de prevenção e atendimento
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda po- médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
líticas públicas de atendimento de crianças e adolescentes. tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de pais,
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie- responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
dade em geral e do poder público assegurar, com abso- V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, dos direitos da criança e do adolescente.
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à abreviar o período de afastamento do convívio familiar
liberdade e à convivência familiar e comunitária. e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreen- familiar de crianças e adolescentes;
de: VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
quer circunstâncias; convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
b) precedência de atendimento nos serviços públicos de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
ou de relevância pública; específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de ir-
c) preferência na formulação e na execução das po- mãos.
líticas sociais públicas; 39 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Criança e do Adoles-
38 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=2236 cente: Comentários. São Paulo: IBPS.
95
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O artigo 87 descreve linhas de ação na política de novos modos de aplicação das normas. Como a sociedade
atendimento, que compõem a delimitação do princípio da é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a ele ade-
prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção quar-se às novas exigências sociais, aplicando-se da ma-
de políticas públicas e na delimitação de recursos financei- neira mais justa à vasta gama de casos concretos. Sobre a
ros para execução de tais políticas. interpretação, explica Gonçalves40: “Quando o fato é típico
e se enquadra perfeitamente no conceito abstrato da nor-
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- ma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há casos, no entanto,
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- em que tal enquadramento não ocorre, não encontrando o
lescente em situação de risco pessoal ou social. juiz nenhuma norma aplicável à hipótese sub judice. Deve,
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante então, proceder à integração normativa, mediante o em-
neste material. prego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as direito. [...] Para verificar se a norma é aplicável ao caso em
medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização julgamento (subsunção) ou se deve proceder à integração
penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18 normativa, o juiz procura descobrir o sentido da norma, in-
anos que comete atos infracionais. terpretando-a. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian- da norma jurídica”.
te neste material. A hermenêutica possui 3 categorias de métodos.
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou-
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal,
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das examinando o texto normativo linguísticamente; lógica ou
políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema racional, apurando o sentido e a finalidade da norma; sis-
secundário, operado predominantemente pelo Conselho temática, analisando a lei de maneira comparativa com ou-
Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir tras leis pertencentes à mesma província do Direito (livro,
para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre-
título, capítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se
dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
na verificação dos antecedentes do processo legislativo;
sociológica, adaptando o sentido ou finalidade da nor-
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
ma às novas exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto
qualquer forma de negligência, discriminação, explora-
aos resultados pode ser declarativa, quando o texto legal
ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da
corresponde ao pensamento do legislador; extensiva ou
lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
ampliativa, quando o alcance da lei é mais amplo que o in-
fundamentais.
dicado pelo seu texto; e restritiva, na qual se limita o cam-
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA:
proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis- po de aplicação da lei. Nenhum destes métodos se opera
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão. isoladamente41.
Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza- O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex-
ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res- pressa o método de interpretação sociológico, chamando
ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es- atenção à interpretação da lei levando em conta os seus
feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de-
crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve
contra criança e adolescente, bem como respondendo por em conta a condição peculiar da criança e do adolescente.
atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de
um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde- vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é
nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais
se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que sempre se deve atentar.
o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon-
do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime Título II
jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car- Dos Direitos Fundamentais
gos, empregos e funções públicos. Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
condição peculiar da criança e do adolescente como pes- públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimen-
soas em desenvolvimento. to sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
É pacífico que o processo de interpretação hoje faz 40 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 9. ed. São
parte do Direito, principalmente se considerada a constan- Paulo: Saraiva, 2011, v. 1.
te evolução da sociedade, demandando diariamente por 41 Ibid.
96
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neo-
programas e às políticas de saúde da mulher e de pla- natal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade
nejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequa- de coleta de leite humano.
da, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpé-
rio e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
no âmbito do Sistema Único de Saúde. atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro- obrigados a:
fissionais da atenção primária. I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestan- de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
te garantirão sua vinculação, no último trimestre da ges- II - identificar o recém-nascido mediante o registro
tação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
garantido o direito de opção da mulher. da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado autoridade administrativa competente;
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nasci-
primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos do, bem como prestar orientação aos pais;
de apoio à amamentação. IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assis- necessariamente as intercorrências do parto e do desenvol-
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e vimento do neonato;
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
consequências do estado puerperal. nato a permanência junto à mãe.
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem tação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili-
a gestantes e mães que se encontrem em situação de pri-
zando o corpo técnico já existente.
vação de liberdade.
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de
acompanhante de sua preferência durante o período do
cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescen-
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.
te, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei-
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
tamento materno, alimentação complementar saudável e
promoção, proteção e recuperação da saúde.
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de es- § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
timular o desenvolvimento integral da criança. atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau- necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
dável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, reabilitação.
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter- § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen-
venções cirúrgicas por motivos médicos. te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses,
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tra-
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de tamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adoles-
pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às centes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas
consultas pós-parto. necessidades específicas.
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
à mulher com filho na primeira infância que se encontrem frequente de crianças na primeira infância receberão for-
sob custódia em unidade de privação de liberdade, am- mação específica e permanente para a detecção de sinais
biência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em o acompanhamento que se fizer necessário.
articulação com o sistema de ensino competente, visando
ao desenvolvimento integral da criança. Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega- cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
dores propiciarão condições adequadas ao aleitamento para a permanência em tempo integral de um dos pais
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a me- ou responsável, nos casos de internação de criança ou ado-
dida privativa de liberdade. lescente.
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigato-
materno e à alimentação complementar saudável, de for- riamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
ma contínua. localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
97
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse V - participar da vida familiar e comunitária, sem
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen- discriminação;
te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân- VI - participar da vida política, na forma da lei;
cia e da Juventude. VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de liber-
entrada, os serviços de assistência social em seu compo- dade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e política.
nente especializado, o Centro de Referência Especializado Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: liberdade
de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste- para brincar e divertir-se e liberdade para buscar refúgio,
ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente auxílio e orientação, processos estes essenciais para o de-
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das senvolvimento do infante.
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção de da integridade física, psíquica e moral da criança e
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar. do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- espaços e objetos pessoais.
mas de assistência médica e odontológica para a pre-
venção das enfermidades que ordinariamente afetam a po- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
pulação infantil, e campanhas de educação sanitária para criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
pais, educadores e alunos. tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos rio ou constrangedor.
recomendados pelas autoridades sanitárias. Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à teção da criança e do adolescente em todas facetas de sua
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans- integridade: física, psíquica e moral.
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui-
dado direcionadas à mulher e à criança. Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de de tratamento cruel ou degradante, como formas de cor-
o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, reção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos res-
com orientações sobre saúde bucal. ponsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas so-
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló- cioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar
gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou ou- I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou pu-
tro instrumento construído com a finalidade de facilitar a nitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da ou o adolescente que resulte em:
criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico. a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
Capítulo II II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adoles-
cente que:
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber- a) humilhe; ou
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas b) ameace gravemente; ou
em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos c) ridicularize.
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas
leis. Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e responsáveis, os agentes públicos executores de medidas so-
ao adolescente que são especificados e aprofundados no cioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dignida- de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro-
de. tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
degradante como formas de correção, disciplina, educação
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de
aspectos: outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
comunitários, ressalvadas as restrições legais; I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá-
II - opinião e expressão; rio de proteção à família;
III - crença e culto religioso; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; psiquiátrico;
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos,
ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou pai sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, sejam
indicado, deve ser manifestada na audiência a que se re- eles inseridos em família natural ou substituta.
fere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a
entrega. A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de fa-
§ 6o (VETADO). mília no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro do ar-
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 tigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e o segundo
(quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do do artigo 155 a 163, que foca em questões procedimentais:
dia seguinte à data do término do estágio de convivência.
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma- Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualda-
nifestada em audiência ou perante a equipe interprofissional de de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que
- da entrega da criança após o nascimento, a criança será dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
mantida com os genitores, e será determinado pela Justiça direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade
da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar judiciária competente para a solução da divergência.
pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nas- Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guar-
cimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. da e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
§ 10. (VETADO). interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos determinações judiciais.
casos em que a família biológica pretenda entregar re- Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
cém-nascido para adoção, assegurando-se o acompanha- direitos iguais e deveres e responsabilidades comparti-
mento por equipe multidisciplinar e também a tomada de lhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser
providências de busca de pessoa da família extensa apta a resguardado o direito de transmissão familiar de suas cren-
assumir o encargo. ças e culturas, assegurados os direitos da criança estabele-
cidos nesta Lei.
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais
programa de apadrinhamento. não constitui motivo suficiente para a perda ou a sus-
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e pro- pensão do poder familiar.
porcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize
instituição para fins de convivência familiar e comu- a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
nitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigato-
aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e finan- riamente ser incluída em serviços e programas oficiais de
ceiro. proteção, apoio e promoção.
§ 2o (VETADO). §2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento. de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclu-
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa- são, contra o próprio filho ou filha.
drinhado será definido no âmbito de cada programa de
apadrinhamento, com prioridade para crianças ou ado- Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
lescentes com remota possibilidade de reinserção familiar decretadas judicialmente, em procedimento contraditório,
ou colocação em família adotiva. nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão que alude o art. 22.
ser executados por órgãos públicos ou por organizações
da sociedade civil. O instituto do poder familiar surgiu no direito romano
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamen- e era conhecido naquela época como pátrio poder, pois
to, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de aco- o pai exercia mais poderes sobre os filhos do que a mãe,
lhimento deverão imediatamente notificar a autoridade o que vinha a representar um poder absoluto por parte
judiciária competente. do genitor, inclusive sobre a vida e a morte dos próprios
Os programas de apadrinhamento visam permitir a filhos43.
convivência comunitária da criança e do adolescente que O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao pai,
estão no sistema de adoção, especialmente com relação que era considerado o chefe da sociedade conjugal, e a
àqueles que dificilmente sairão dele. mãe possuía um papel secundário, conforme apontava o
artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que “durante
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casa- o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo-
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua- -o o marido com a colaboração da mulher [...]”.
lificações, proibidas quaisquer designações discrimina- 43 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um Avanço
tórias relativas à filiação. para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
100
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
De acordo com Santos Neto44: “[...] o exercício da auto- do poder familiar abrir mão de seu dever, a renúncia é in-
ridade parental pela mãe era admitido apenas em caráter viável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a decor-
excepcional. Ao homem era dada, em condições normais, rente da adoção.
a titularidade exclusiva do direito em pauta. Sua vontade Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido de
prevalecia e contra ela não havia remédio previsto, salvo, é colocação do menor em família substituta, disponibilizan-
claro, no caso de comportamento abusivo e contrário aos do o filho para a adoção, caso em que os direitos e deveres
interesses dos menores”. decorrentes do poder familiar serão exercidos por novos
O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa- titulares, ou seja, pelos pais adotivos.
da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos-
modificações ao instituto em análise, surgindo então o tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam, den-
chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de tre os deveres e poderes decorrentes do poder familiar,
forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili- também os de ordem pessoal, ou seja, o cuidado existen-
brando dessa forma a relação familiar. cial do menor, a educação, a correição, e os de ordem ma-
O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po- terial, que envolvem a administração dos bens dos filhos.
der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder Os principais atributos do poder familiar são a guarda, a
familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com- criação e a educação, que se refletem nos deveres dos pais
pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade para com os filhos; tanto que, não cumprindo algum des-
civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º, ses atributos, o detentor do poder poderá sofrer sanções
parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal. cíveis e até criminais.
No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA. O poder familiar, conforme disposição do próprio or-
O poder familiar, conhecido também como autoridade denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode ser
parental, é um conjunto de direitos e deveres que são atri- extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Basica-
buídos aos pais para que esses administrem de forma legal mente, as formas de extinção se aplicam quando o exercí-
a pessoa dos filhos e também de seus bens. cio do poder familiar não é mais necessário; ao passo que
“O poder familiar pode ser definido como um conjunto as regras de perda e suspensão constituem casos de priva-
de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens do filho ção do exercício do poder familiar pelo descumprimento
de seus deveres.
menor não emancipado, exercido, em igualdade de condi-
Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa-
ções, por ambos os pais, para que possam desempenhar os
miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me-
encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o
nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do
interesse e a proteção do filho”45.
poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma
temporária ou até mesmo definitiva.
Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa dos
filhos menores:
Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua auto-
I – dirigir-lhes a criação e educação;
ridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando
II – tê-los em sua companhia e guarda; os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça re-
casarem; clamada pela segurança do menor e seus haveres, até sus-
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento pendendo o poder familiar, quando convenha.
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobre- Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do
vivo não puder exercer o poder familiar; poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença ir-
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da recorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos
vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que fo- de prisão.
rem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é apenas
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando preser-
serviços próprios de sua idade e condição. var os interesses dos filhos, assim, diante da comprovação
de que os problemas que levaram à suspensão desapare-
Em relação às suas características, o poder familiar é ceram, o poder familiar poderá retornar aos genitores.
indisponível e decorre da paternidade natural ou legal, Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer
por isso, não há a possibilidade de seu titular o transfe- os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quan-
rir a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a do ficar evidenciado perante a autoridade competente o
viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O po- abuso. Como visto, existe, também, a probabilidade de se
der familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciável e decretar a suspensão do poder familiar, caso um dos pais
sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao titular seja condenado por crime cuja pena exceda a dois anos de
44 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder. São Pau- prisão.
lo: Revista dos Tribunais, 1994. Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po-
45 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais
Família. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5. que faltarem com os deveres em relação aos filhos:
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami- Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou
liar o pai ou a mãe que: ampliada aquela que se estende para além da unidade
I – castigar imoderadamente o filho; pais e filhos ou da unidade do casal, formada por paren-
II – deixar o filho em abandono; tes próximos com os quais a criança ou adolescente convive
III – praticar atos contrários à moral e aos bons costu- e mantém vínculos de afinidade e afetividade.
mes; A família natural é composta por pais e filhos que formam
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no arti- vínculo entre si desde o nascimento, por questão biológica.
go antecedente. O conceito de família pode ser visto de uma manei-
ra mais ampla, o que se denomina família extensa ou am-
Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Es- pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próximos
tatuto da Criança e do Adolescente, citados anteriormente, e participem diretamente do convívio familiar, formando
além de preverem a suspensão e destituição do poder fa- para com a criança e o adolescente vínculos de afinidade
miliar, trazem também os motivos que poderão acarretá- e afetividade.
-las.
São bastante frequentes nos casos de pais que perdem Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
o poder familiar os atos de violência e espancamento; as- ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
sim como o de abandono, no qual os menores, ao se ve- no próprio termo de nascimento, por testamento, me-
rem abandonados, começam a relacionar-se com pessoas diante escritura ou outro documento público, qualquer
delinquentes e usuárias de drogas, que não vão colaborar que seja a origem da filiação.
em nada com seu desenvolvimento e crescimento. Nessas Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
situações, os detentores do poder familiar podem sofrer a nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se
perda do poder familiar. deixar descendentes.
Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os filhos
familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a ser havidos dentro ou fora do casamento, sentido em que se
adotado por outra família e as causas que levaram a perda compreende que tanto os filhos inseridos no matrimônio
do poder desaparecerem, os genitores poderão requerer quanto os que não o estão fazem parte da família natural, o
judicialmente a reintegração do poder familiar, desde que artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade de reconheci-
comprovem realmente que o motivo que os levou a perder mento do vínculo de filiação, que pode se dar antes mesmo
esse poder já não existe mais. do nascimento do filho ou extrapolar a sua vida, devendo
Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis- ser feito em documento público.
lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de ex-
tinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que a Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di-
pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturidade reito personalíssimo, indisponível e imprescritível, po-
o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão para dendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem
que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que a vio- qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.
lação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou irre- O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e im-
versível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção. prescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou boa
parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento, ele
Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela não se perde. Logo, a ação de investigação de paternidade
morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos termos é imprescritível, pois também o é o vínculo que ela reco-
do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maioridade; IV – pela nhece em caso de procedência.
adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.
Seção III
A extinção do poder familiar é mais complexa, pois Da Família Substituta
nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão Subseção I
requerer a reintegração do poder familiar se houve inter- Disposições Gerais
ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos, é
possível identificar facilmente a existência da extinção do Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta, nos
poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas. seguintes termos:
102
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, apenas um ou um terceiro exerce a guarda (o que ocorre
será necessário seu consentimento, colhido em audiência. apenas na guarda). Trata-se de situação excepcional, eis
§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o que em regra a criança deve permanecer na família natural,
grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afeti- vinculada ao poder familiar atribuído a ambos os pais.
vidade, a fim de evitar ou minorar as consequências decor- Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre
rentes da medida. ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos
§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob ado- completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à au-
ção, tutela ou guarda da mesma família substituta, res- tonomia da criança e do adolescente.
salvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer cir-
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de cunstância, sendo a separação de irmãos medida excep-
solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o cional. Por exemplo, se um casal estiver disposto a adotar
rompimento definitivo dos vínculos fraternais. 4 filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade a ele,
§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família passando na frente dos demais candidatos à adoção.
substituta será precedida de sua preparação gradativa e
acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter- Subseção II
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, Da Guarda
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
pela execução da política municipal de garantia do direito à Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
convivência familiar. material, moral e educacional à criança ou adolescente,
§ 6o Em se tratando de criança ou adolescente indí- conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
gena ou proveniente de comunidade remanescente de qui- inclusive aos pais.
lombo, é ainda obrigatório: § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os
estrangeiros.
direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Cons-
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
tituição Federal;
casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu-
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente
liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável,
no seio de sua comunidade ou junto a membros da mes-
podendo ser deferido o direito de representação para a práti-
ma etnia;
ca de atos determinados.
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con-
federal responsável pela política indigenista, no caso de
dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito,
crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe-
rante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá inclusive previdenciários.
acompanhar o caso. § 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a medida for aplicada em preparação para adoção, o de-
a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilida- ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros
de com a natureza da medida ou não ofereça ambiente não impede o exercício do direito de visitas pelos pais,
familiar adequado. assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto
de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá Ministério Público.
transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
a entidades governamentais ou não-governamentais, Art. 34. O poder público estimulará, por meio de as-
sem autorização judicial. sistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhi-
mento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente
Art. 31. A colocação em família substituta estrangei- afastado do convívio familiar.
ra constitui medida excepcional, somente admissível na § 1o A inclusão da criança ou adolescente em pro-
modalidade de adoção. gramas de acolhimento familiar terá preferência a seu
acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável caráter temporário e excepcional da medida, nos termos
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o desta Lei.
encargo, mediante termo nos autos. § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
Existem três formas de colocação em família substituta: receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser-
guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança é retirada vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
da esfera do poder familiar de ambos os pais (o que pode § 3º A União apoiará a implementação de serviços
acontecer na tutela e na adoção), ou então permanece de acolhimento em família acolhedora como política
vinculado ao poder familiar de ambos genitores enquanto pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o
103
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em A guarda definitiva expressa o modelo de guarda ado-
residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompa- tado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guarda de-
nhadas que não estejam no cadastro de adoção. finitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer tempo,
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, esta- pois o que regula o instituto da guarda é o melhor interes-
duais, distritais e municipais para a manutenção dos ser- se do menor e, não sendo isso possível, a guarda é passível
viços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o de modificação.
repasse de recursos para a própria família acolhedora. a) Guarda Comum ou Guarda Originária
A guarda comum ou guarda originária não é uma guar-
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem- da judicial, existindo quando os genitores possuem vínculo
po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério matrimonial ou vivem em união estável e moram juntos
Público. com seus filhos, situação na qual exercem plenamente e
simultaneamente todos os poderes inerentes do poder fa-
miliar e, consequentemente, a guarda. Não existe a figura
Na definição de Santos Neto46 a guarda trata-se de um
do guardião e nem arbitramento judicial sobre a questão.
“direito consistente na posse de menor oponível a terceiros
Ambos pais exercem juntos a guarda em plenitude.
e que acarreta deveres de vigilância em relação a este”.
b) Guarda Unilateral ou Guarda Única
No entender de Ishida47, a guarda é vinculada ao poder
Observando-se sempre o princípio do melhor interesse
familiar, “todavia, pode ocorrer a separação dos dois ins- do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atribuí-
titutos, por exemplo, com a separação judicial do marido da de forma unilateral a uma terceira pessoa quando os
e da mulher, onde o poder familiar continua pertencendo genitores não estiverem em condições de exercê-la, pois,
aos dois, no entanto um só poderá ficar com a guarda da conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código Civil,
prole”. ou seja, tanto o pai como a mãe são detentores do “compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só
poder familiar mesmo após a separação, mas nos tipos de dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste viés,
guarda comum, apenas um terá a guarda do filho. dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal: “Se o
Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda
poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos pais, do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele
reservando-o apenas o direito de visitas, dependendo da compatibilidade com a natureza da medida, considerados,
modalidade de guarda adotada. Com a dissolução da união de preferência, o grau de parentesco e as relações de afini-
conjugal, hoje se estabeleceu que a prole poderá ficar com dade e afetividade”. Vale ressaltar que a guarda unilateral
o genitor que tiver melhor condições de assistir o filho. também é possível quando nenhum dos pais tem condi-
“Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela se- ções de exercê-la, por exemplo, atribuindo a guarda aos
paração, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos me- avós ou aos tios.
nores, se estiver comprovado que o pai, por exemplo, é Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a
alcoólatra e não tem condições de cuidar bem deles. Não existência da guarda unilateral, que é atribuída somen-
se indaga, portanto, quem deu causa à separação e quem te a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é
é o cônjuge inocente, mas qual deles revela melhores con- atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda-
dições para exercer a guarda dos filhos menores, cujos lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n.
interesses foram colocados em primeiro plano. A solução 11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral ou
será, portanto, a mesma se ambos os pais forem culpados compartilhada”.
pela separação e se a hipótese for de ruptura da vida em A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a es-
tabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas das
comum ou de separação por motivo de doença mental. A
situações que deverão ser consideradas pelo magistrado
regra amolda-se ao princípio do melhor interesse da crian-
ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas relações
ça, identificado como direito fundamental na Constituição
com o genitor e com o grupo familiar; saúde e segurança;
Federal (art. 5º, §2º), em razão da ratificação pela Conven-
e educação.
ção Internacional sobre os Direitos da Criança – ONU/89”48. Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais,
O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar- apesar de um dos genitores não ser o guardião, continuam
da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença é que,
provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata de em virtude da guarda, o genitor guardião tem o poder de
um modelo de guarda, mas de definir uma situação mo- decisão, enquanto o genitor não guardião tem o poder de
mentânea em que a prole se encontra. Somente com o jul- fiscalização, podendo contestar a decisão do genitor guar-
gamento do mérito será estabelecida a guarda definitiva, dião e até mesmo recorrer à justiça, caso entenda que a
que deverá adotar um dos modelos de guarda permitida decisão tomada não seja a melhor para a prole, conforme
no ordenamento jurídico brasileiro. prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Civil: “a guarda unila-
46 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder. São Pau- teral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervi-
lo: Revista dos Tribunais, 1994. sionar os interesses dos filhos”.
47 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Dou- c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada
trina e Jurisprudência. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá
48 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de a possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou ado-
Família. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6. lescente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal
104
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
determinará o período em que o menor ficará com o pai A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda com-
ou com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alter- partilhada nos seguintes termos: “compreende-se por [...]
nância na guarda jurídica do menor. O período em que a guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o
guarda ficará com o pai ou com a mãe na guarda alternada, exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não
poderá ser de um dia, uma semana, uma parte da semana, vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar
um mês, um ano, ou até mais, dependendo do acordo dos dos filhos comuns”.
genitores, sendo que, ao término desse período, os papéis Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode-
se invertem. Os direitos e deveres deste modelo de guarda -se verificar que na guarda compartilhada os pais terão os
ficarão sempre com o cônjuge que estiver com a guarda mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja, as
do menor, cabendo ao outro os direitos inerentes do não tarefas serão divididas de forma igualitária, não sobrecar-
guardião, ou seja, o de visita e o de fiscalização49. regando somente um dos genitores.
d) Guarda Dividida
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes- Subseção III
tam e procuram novos meios de garantir uma maior parti- Da Tutela
cipação na vida da prole, pois neste modelo o menor vive
em um lar fixo e determinado e recebe periodicamente a Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
visita do pai ou da mãe que não tem a guarda. pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a
nele a visita de ambos os genitores em tempos diferentes, prévia decretação da perda ou suspensão do poder fa-
sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver com miliar e implica necessariamente o dever de guarda.
a criança, o que é diferente da guarda unilateral, pois nela
a guarda é de um dos genitores e o infante vai, em dias Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qual-
determinados, receber a visita do outro não guardião. quer documento autêntico, conforme previsto no parágra-
e) Guarda por Aninhamento ou Nidação fo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
A guarda por aninhamento, conhecida também como 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias
guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar após a abertura da sucessão, ingressar com pedido des-
fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s) tinado ao controle judicial do ato, observando o procedi-
filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver e mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.
atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se reve- Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão ob-
zam na residência do filho. servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei,
f) Guarda Compartilhada somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na dispo-
Considerando a evolução da família, especialmente a sição de última vontade, se restar comprovado que a medida
da mulher na sociedade, bem como o grande número de é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em
melhores condições de assumi-la.
separações ocorridas nos últimos anos, o ordenamento ju-
rídico busca com o instituto da guarda compartilhada evitar
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no
prejuízos ainda maiores aos filhos de casal separado, que,
art. 24.
além de não terem o convívio diário com um dos genitores,
têm que vivenciar os problemas conjugais de seus pais e
A tutela é forma de colocação de criança e adolescente
ainda se tornarem, em muitos casos, vítimas da Síndrome
em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guarda,
da Alienação Parental.
a prévia destituição ou suspensão do poder familiar dos
Segundo Akel50, “a guarda compartilhada surgiu da ne- pais (família natural). Visa essencialmente a suprir carência
cessidade de se encontrar uma maneira que fosse capaz de de representação legal, assumindo o tutor tal munus na
fazer com que os pais, que não mais convivem, e seus filhos ausência dos genitores. Na hipótese de os pais serem fale-
mantivessem os vínculos afetivos latentes, mesmo após o cidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder fa-
rompimento”. miliar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de
Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 insti- colocação em família substituta, este poderá ser formulado
tuiu expressamente no ordenamento jurídico o instituto da diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró-
guarda compartilhada. Embora tenha sido sancionada em prios requerentes, dispensada a assistência por advogado
13 de junho de 2008 e publicada no Diário Oficial da União (art. 166, ECA). Em outras circunstâncias, deve passar pelo
em 16 de junho do mesmo ano, por força da vacatio legis crivo do Judiciário.
instituída no artigo 2º, a lei somente entrou em vigor no
país 60 (sessenta) dias após a sua publicação, ou seja, em Subseção IV
16 de agosto de 2008 (vide anexo). Da Adoção
49 COSTA, Luiz Jorge Valente Pontes. Guarda Conjunta: em busca A disciplina do ECA a respeito da adoção também se
do maior interesse do menor. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/
revista/texto/13965/guarda-conjunta-em-busca-do-maior-interesse- divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais,
-do-menor/2>. Acesso em: 16 out. 2010. do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos procedi-
50 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um Avanço mentais, notadamente no que se refere à habilitação para a
para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. adoção, do artigo 197-A a 197-D.
105
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais
segundo o disposto nesta Lei. ou do representante legal do adotando.
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à § 1º O consentimento será dispensado em relação à
qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
de manutenção da criança ou adolescente na família natural tenham sido destituídos do poder familiar.
ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. § 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos
§ 2o É vedada a adoção por procuração. de idade, será também necessário o seu consentimento.
§ 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convi-
devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando. vência com a criança ou adolescente, pelo prazo máxi-
mo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de- adolescente e as peculiaridades do caso.
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar- § 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado
da ou tutela dos adotantes. se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do
adotante durante tempo suficiente para que seja possível
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, avaliar a conveniência da constituição do vínculo.
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, § 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo dispensa da realização do estágio de convivência.
os impedimentos matrimoniais. § 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho artigo pode ser prorrogado por até igual período, mediante
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota- decisão fundamentada da autoridade judiciária.
do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente
parentes. ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e
cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen-
mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de
§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
vocação hereditária.
deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito)
deferimento da adoção à autoridade judiciária.
anos, independentemente do estado civil.
§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
adotando. Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os ado- ponsáveis pela execução da política de garantia do direito
tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es- à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
tável, comprovada a estabilidade da família. acerca da conveniência do deferimento da medida.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos § 5o O estágio de convivência será cumprido no terri-
mais velho do que o adotando. tório nacional, preferencialmente na comarca de residência
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência
que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde do juízo da comarca de residência da criança.
que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons-
tância do período de convivência e que seja comprovada a Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque- judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda-
le não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionali- do do qual não se fornecerá certidão.
dade da concessão. § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes
§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de- como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará
a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da o registro original do adotado.
Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. § 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no residência.
curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. § 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po-
derá constar nas certidões do registro.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais § 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado-
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a
modificação do prenome.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração § 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador ado- adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o
tar o pupilo ou o curatelado. disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
106
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito § 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese residentes fora do País, que somente serão consultados na
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca-
retroativa à data do óbito. dastros mencionados no § 5o deste artigo.
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a § 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, -lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para
garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem- melhoria do sistema.
po. § 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e
adoção em que o adotando for criança ou adolescente adolescentes em condições de serem adotados que não
com deficiência ou com doença crônica. tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado- pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à
ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no §
vez por igual período, mediante decisão fundamentada da 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade.
autoridade judiciária. § 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com poste-
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem rior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência
no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, de pretendentes habilitados residentes no País com perfil
após completar 18 (dezoito) anos. compatível e interesse manifesto pela adoção de criança
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção pode- ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será reali-
rá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) zado o encaminhamento da criança ou adolescente à ado-
anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurí- ção internacional.
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interes-
dica e psicológica.
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre
que possível e recomendável, será colocado sob guarda de
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder
família cadastrada em programa de acolhimento familiar.
familiar dos pais naturais.
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação cri-
teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co-
Ministério Público.
marca ou foro regional, um registro de crianças e ado-
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor
lescentes em condições de serem adotados e outro de
de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa-
pessoas interessadas na adoção. mente nos termos desta Lei quando:
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis- II - for formulada por parente com o qual a criança ou
tério Público. adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde
hipóteses previstas no art. 29. que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será prece- de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a
dida de um período de preparação psicossocial e jurídica, ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos
orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da arts. 237 ou 238 desta Lei.
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res- § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
ponsáveis pela execução da política municipal de garantia candidato deverá comprovar, no curso do procedimento,
do direito à convivência familiar. que preenche os requisitos necessários à adoção, confor-
§ 4o Sempre que possível e recomendável, a prepa- me previsto nesta Lei.
ração referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pes-
crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti- soas interessadas em adotar criança ou adolescente com
tucional em condições de serem adotados, a ser realizado deficiência, com doença crônica ou com necessidades es-
sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica pecíficas de saúde, além de grupo de irmãos.
da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc-
nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na
execução da política municipal de garantia do direito à qual o pretendente possui residência habitual em país-parte
convivência familiar. da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à
§ 5o Serão criados e implementados cadastros esta- Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado-
duais e nacional de crianças e adolescentes em condições ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21
de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte
adoção. da Convenção.
107
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expe-
brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quan- dido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá
do restar comprovado: validade por, no máximo, 1 (um) ano;
I - que a colocação em família adotiva é a solução ade- VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado
quada ao caso concreto; será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colo- Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra
cação da criança ou adolescente em família adotiva brasilei- a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela
ra, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistên- Autoridade Central Estadual.
cia de adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil § 1o Se a legislação do país de acolhida assim o auto-
compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos rizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção
cadastros mencionados nesta Lei; internacional sejam intermediados por organismos creden-
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este ciados.
foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de de- § 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira
senvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros
mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, encarregados de intermediar pedidos de habilitação à ado-
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. ção internacional, com posterior comunicação às Autorida-
§ 2o Os brasileiros residentes no exterior terão prefe- des Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de
rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional imprensa e em sítio próprio da internet.
de criança ou adolescente brasileiro. § 3o Somente será admissível o credenciamento de or-
§ 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção ganismos que:
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven-
de adoção internacional. ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Auto-
ridade Central do país onde estiverem sediados e no país de
Art. 52. A adoção internacional observará o procedi- acolhida do adotando para atuar em adoção internacional
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguin- no Brasil;
tes adaptações: II - satisfizerem as condições de integridade moral, com-
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar petência profissional, experiência e responsabilidade exigi-
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido das pelos países respectivos e pela Autoridade Central Fede-
de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em ral Brasileira;
matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua for-
entendido aquele onde está situada sua residência habitual; mação e experiência para atuar na área de adoção interna-
II - se a Autoridade Central do país de acolhida consi- cional;
derar que os solicitantes estão habilitados e aptos para ado- IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
tar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autori-
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitan- dade Central Federal Brasileira.
tes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu § 4o Os organismos credenciados deverão ainda:
meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi-
assumir uma adoção internacional; ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe-
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida
relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a e pela Autoridade Central Federal Brasileira;
Autoridade Central Federal Brasileira; II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica-
IV - o relatório será instruído com toda a documenta- das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada
ção necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por formação ou experiência para atuar na área de adoção in-
equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da ternacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Fe-
legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de deral e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira,
vigência; mediante publicação de portaria do órgão federal compe-
V - os documentos em língua estrangeira serão devida- tente;
mente autenticados pela autoridade consular, observados os III - estar submetidos à supervisão das autoridades com-
tratados e convenções internacionais, e acompanhados da petentes do país onde estiverem sediados e no país de aco-
respectiva tradução, por tradutor público juramentado; lhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên- situação financeira;
cias e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasilei-
do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de ra, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
acolhida; bem como relatório de acompanhamento das adoções inter-
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade nacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminha-
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangei- da ao Departamento de Polícia Federal;
ra com a nacional, além do preenchimento por parte dos V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autori-
postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos dade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central
necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Houve um grande salto no que concerne a adoção que - Responsabilidade primária e solidaria do poder pú-
foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 em seu blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da
artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as garantias Criança e do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88
constitucionais e no que tange a adoção vem dos artigos (Constituição Federal de 1988) e demais objetos legais es-
39 ao 52-D falando sobre a regularização da adoção e traz pecíficos, é, dever dos três poderes atuarem no que for ne-
como princípio basilar o melhor interesse da criança, além cessário para a proteção do menor;
de ter como fundamento o afeto de pai para filho sem que - Interesse superior da criança e do adolescente: me-
haja qualquer diferenciação para com os filhos biológicos. diante a necessidade da intervenção estatal é necessário
Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar que se dê privilégio ao interesse do que for melhor para a
efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, criança e/ou adolescente. O primeiro interesse a ser obser-
que tem o intuito de alterar o direito à convivência familiar vado é o que trouxer melhor benefício a estes;
mostrando com clareza como deve ocorrer a adoção. - Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sem-
Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma pre feita respeitando a privação e o direito da imagem, a
série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos são sua vida privada e a intimidade;
elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação comple- - Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e
ta: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas que dese- risco ao menor, o Estado deve intervir para reverter a situa-
jam no caso de casais juntamente com os dados familiares, ção presente;
dados que vão completar não só a ficha do casal ou pessoa - Intervenção mínima;
que deseja adotar, mais da família onde o menor vai residir - Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude tomada
e ter sua formação os documentos pessoais como cópias de acordo com a proporção de perigo existente no mo-
de certidão de nascimento (quando solteiros), de certidão mento, evitando e revertendo o risco de morte;
de casamento (quando casados), cópias de declaração de - Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a
período de união estável, Cópias de Certidão de identidade princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre
(RG), Comprovante da renda da pessoa ou casal, compro- seus filhos;
vante que demostre que as condições vão suprir a neces- - Prevalência da família: Primeiro se dará a preferên-
sidade de se incluir mais um membro naquele lar, compro- cia a família natural para que a criança continue com seus
vante de moradia em que prove a pessoa ter sua residência pais depois a preferência vai ser da família contínua (família
que acolherá o novo integrante. natural a primeira e extensa a segunda), em último caso a
O interessado em adotar deve juntar atestados de saú- criança/adolescente vai ser direcionada a família substituta.
de física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de cuidar - Obrigatoriedade da informação: respeitando o es-
e garantir uma boa vida para o adotando e atestado de tágio de desenvolvimento e compreensão da criança ou
saúde mental, comprovando que a pessoa é capaz legal- adolescente, além de seus pais e responsáveis devem ser
mente. informados o motivo em que se dá a intervenção e como
Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser esta se processou;
juntados Certidão de antecedentes criminais, que demos- - Oitiva obrigatória e participação: a criança ou adoles-
tra conduta legal do indivíduo perante a sociedade, Cer- cente separados ou na companhia de seus pais, responsá-
tidão negativa de distribuição civil, além da manifestação veis ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e
do M.P (Ministério Público) apresentando quesitos a serem responsáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião
respondidos pela equipe interdisciplinar, designação de deve ser considerada pelas autoridades do judiciário.
audiência para oitiva de testemunhas e requerentes, soli- - Afastamento da criança e do adolescente do conví-
citar juntada de documentos complementares que sejam vio familiar: É um processo contencioso que importara aos
necessários. Deve ser obrigatório o estudo psicossocial pais o direito do contraditório e da ampla defesa, este pro-
onde se testa a capacidade dos indivíduos para se torna- cedimento é de competência do judiciário (procedimento
rem pai ou mãe, o de incluir mais um membro junto aos judicial) artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A;
filhos já existente. Os programas de capacitação também - Acolhimento familiar: medida de proteção criada para
devem ser aderido a este sistema, levando esclarecimentos o amparo da criança até que seja resolvida a situação;
aos pretendentes a adoção além, de manter contato com a - Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju-
criança em regime de acolhimento familiar. diciário um guia para encaminhar à criança a entidade de
Sendo os adotantes inscritos são chamados por ordem acolhimento (guia deve conter a causa da retirada e per-
cronológica de acordo com a habilitação, e que só poderá manência do menor fora da sua família natural além de
ser dispensada se for pelo melhor interesse do adotando. todos os dados)
Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de- - Plano individual de atendimento: cada criança vai ter
cisão pela adoção: um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação a nova
- Condição da criança e do adolescente como ser de família;
direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos na - Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P
lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988; (Ministério público) sendo para isto necessário prévio aviso
- Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer norma a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis pela
contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a proteção execução da política municipal de garantia do direito a
integral dos interesses do menor; convivência familiar.
110
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
- Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu- Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ma-
cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen- tricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucional
devido a algum registro de maus tratos. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu com fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
o propósito de maximizar a efetividade das disposições do I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a peculia- II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão es-
ridade de ser mais rigorosa no que tange ao cumprimento colar, esgotados os recursos escolares;
de prazos para maior celeridade do processo. III - elevados níveis de repetência.
111
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos assegurar ao adolescente que dele participe condições de
seguintes princípios: capacitação para o exercício de atividade regular remu-
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en- nerada.
sino regular; § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade
II - atividade compatível com o desenvolvimento do laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao
adolescente; desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
III - horário especial para o exercício das atividades. sobre o aspecto produtivo.
Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra-
é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas balho efetuado ou a participação na venda dos produtos de
as condições para que o faça, notadamente pelo estabe- seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a Os programas sociais voltados à capacitação dos ado-
atividade laboral deve ser compatível com as atividades de lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para
ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-profis- que ele adquira condições de inserir-se no mercado de
sionalizante. trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve cobrar
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino, fre- tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado pelo seu
quentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no ensino aprendizado. O fato do trabalho ser remunerado não des-
médio noturno. virtua este propósito.
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
assegurada bolsa de aprendizagem. e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec-
Toda criança e adolescente que necessitar receberá fo- tos, entre outros:
mento para que não se desvincule das atividades de ensi- I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
no. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio acabaria volvimento;
entrando em situação irregular e trabalhando. II - capacitação profissional adequada ao mercado de
trabalho.
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze Com efeito, profissionalização e proteção no traba-
anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previden- lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescente,
ciários. exigindo-se neste campo que sua condição peculiar ine-
Uma vez que o adolescente está autorizado a trabalhar, rente ao processo de aprendizado seja respeitada e que o
mesmo que na condição de menor aprendiz, possui direi- trabalho sirva para permitir a sua inserção no mercado de
tos trabalhistas e previdenciários. trabalho.
112
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im- Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú-
portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fo-
nos termos desta Lei. tografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al-
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar
os valores éticos e sociais da pessoa e da família.
113
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja per- Parte Especial
mitida a entrada e a permanência de crianças e adoles-
centes no local, afixando aviso para orientação do público. Título I
Da Política de Atendimento
Seção II Capítulo I
Dos Produtos e Serviços Disposições Gerais
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles- Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança
cente de: e do adolescente far-se-á através de um conjunto articu-
I - armas, munições e explosivos; lado de ações governamentais e não-governamentais,
II - bebidas alcoólicas; da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
III - produtos cujos componentes possam causar depen-
dência física ou psíquica ainda que por utilização indevi- Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
da; to:
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles I - políticas sociais básicas;
que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
qualquer dano físico em caso de utilização indevida; sistência social de garantia de proteção social e de preven-
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. ou reincidências;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos IV - serviço de identificação e localização de pais,
pais ou responsável. responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
Seção III dos direitos da criança e do adolescente;
Da Autorização para Viajar VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
abreviar o período de afastamento do convívio familiar
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou familiar de crianças e adolescentes;
responsável, sem expressa autorização judicial. VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
§ 1º A autorização não será exigida quando: forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
mesma região metropolitana; específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de ir-
b) a criança estiver acompanhada: mãos.
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro
grau, comprovado documentalmente o parentesco; Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo I - municipalização do atendimento;
pai, mãe ou responsável. II - criação de conselhos municipais, estaduais e
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos
ou responsável, conceder autorização válida por dois deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
anos. assegurada a participação popular paritária por meio de or-
ganizações representativas, segundo leis federal, estaduais e
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a au- municipais;
torização é dispensável, se a criança ou adolescente: III - criação e manutenção de programas específicos,
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou res- observada a descentralização político-administrativa;
ponsável; IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e mu-
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado nicipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da
expressamente pelo outro através de documento com criança e do adolescente;
firma reconhecida. V - integração operacional de órgãos do Judiciário,
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e As-
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne- sistência Social, preferencialmente em um mesmo local,
nhuma criança ou adolescente nascido em território na- para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles-
cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro cente a quem se atribua autoria de ato infracional;
residente ou domiciliado no exterior. VI - integração operacional de órgãos do Judiciário,
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en-
carregados da execução das políticas sociais básicas e de
assistência social, para efeito de agilização do atendimento
114
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
de crianças e de adolescentes inseridos em programas de § 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rá- Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-
pida reintegração à família de origem ou, se tal solução se cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se
mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em fa- critérios para renovação da autorização de funcionamento:
mília substituta, em quaisquer das modalidades previstas I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem
no art. 28 desta Lei; como às resoluções relativas à modalidade de atendimento
VII - mobilização da opinião pública para a indis- prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e
pensável participação dos diversos segmentos da sociedade; do Adolescente, em todos os níveis;
VIII - especialização e formação continuada dos pro- II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e
primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos pela Justiça da Infância e da Juventude;
da criança e sobre desenvolvimento infantil; III - em se tratando de programas de acolhimento insti-
IX - formação profissional com abrangência dos di- tucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça na reintegração familiar ou de adaptação à família substitu-
a intersetorialidade no atendimento da criança e do adoles- ta, conforme o caso.
cente e seu desenvolvimento integral;
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de- Art. 91. As entidades não-governamentais somente
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. poderão funcionar depois de registradas no Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autori-
dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança dade judiciária da respectiva localidade.
e do adolescente é considerada de interesse público rele- § 1o Será negado o registro à entidade que:
vante e não será remunerada. a) não ofereça instalações físicas em condições adequa-
das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
b) não apresente plano de trabalho compatível com os
Capítulo II
princípios desta Lei;
Das Entidades de Atendimento
c) esteja irregularmente constituída;
Seção I
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
Disposições Gerais
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
deliberações relativas à modalidade de atendimento pres-
Art. 90. As entidades de atendimento são respon-
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
sáveis pela manutenção das próprias unidades, assim
Adolescente, em todos os níveis.
como pelo planejamento e execução de programas de pro-
§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
teção e socioeducativos destinados a crianças e adolescen- cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
tes, em regime de: do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de
I - orientação e apoio sociofamiliar; sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
II - apoio socioeducativo em meio aberto;
III - colocação familiar; Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de
IV - acolhimento institucional; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
V - prestação de serviços à comunidade; guintes princípios:
VI - liberdade assistida; I - preservação dos vínculos familiares e promoção
VII - semiliberdade; e da reintegração familiar;
VIII - internação. II - integração em família substituta, quando esgo-
§ 1o As entidades governamentais e não governa- tados os recursos de manutenção na família natural ou ex-
mentais deverão proceder à inscrição de seus programas, tensa;
especificando os regimes de atendimento, na forma defi- III - atendimento personalizado e em pequenos gru-
nida neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da pos;
Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das ins- IV - desenvolvimento de atividades em regime de
crições e de suas alterações, do que fará comunicação ao coeducação;
Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. V - não desmembramento de grupos de irmãos;
§ 2o Os recursos destinados à implementação e ma- VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
nutenção dos programas relacionados neste artigo serão outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos VII - participação na vida da comunidade local;
encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência VIII - preparação gradativa para o desligamento;
Social, dentre outros, observando-se o princípio da prio- IX - participação de pessoas da comunidade no pro-
ridade absoluta à criança e ao adolescente preconizado cesso educativo.
pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput § 1o O dirigente de entidade que desenvolve progra-
e parágrafo único do art. 4o desta Lei. ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião,
para todos os efeitos de direito.
115
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro- IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de
gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão respeito e dignidade ao adolescente;
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian- preservação dos vínculos familiares;
ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea- VI - comunicar à autoridade judiciária, periodica-
valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei. mente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o
§ 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes reatamento dos vínculos familiares;
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per- VII - oferecer instalações físicas em condições ade-
manente qualificação dos profissionais que atuam direta quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segu-
ou indiretamente em programas de acolhimento institucio- rança e os objetos necessários à higiene pessoal;
nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles- VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
Público e Conselho Tutelar. IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odonto-
§ 4o Salvo determinação em contrário da autorida- lógicos e farmacêuticos;
de judiciária competente, as entidades que desenvolvem X - propiciar escolarização e profissionalização;
programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne- XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja-
de assistência social, estimularão o contato da criança ou rem, de acordo com suas crenças;
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo. XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter-
§ 5o As entidades que desenvolvem programas de aco- valo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
lhimento familiar ou institucional somente poderão rece- autoridade competente;
ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos XV - informar, periodicamente, o adolescente interna-
princípios, exigências e finalidades desta Lei. do sobre sua situação processual;
§ 6o O descumprimento das disposições desta Lei XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de casos de adolescentes portadores de moléstias infectocon-
acolhimento familiar ou institucional é causa de sua desti- tagiosas;
tuição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade XVII - fornecer comprovante de depósito dos perten-
administrativa, civil e criminal. ces dos adolescentes;
§ 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) XVIII - manter programas destinados ao apoio e
anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial aten- acompanhamento de egressos;
ção à atuação de educadores de referência estáveis e quali- XIX - providenciar os documentos necessários ao
tativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendi- exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
mento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como XX - manter arquivo de anotações onde constem data
prioritárias. e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus
pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acom-
Art. 93. As entidades que mantenham programa de panhamento da sua formação, relação de seus pertences e
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional demais dados que possibilitem sua identificação e a in-
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia dividualização do atendimento.
determinação da autoridade competente, fazendo comuni- § 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons-
cação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da tantes deste artigo às entidades que mantêm programas
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade. de acolhimento institucional e familiar.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur-
apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas neces- sos da comunidade.
sárias para promover a imediata reintegração familiar da
criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abri-
isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em
programa de acolhimento familiar, institucional ou a família caráter temporário, devem ter, em seus quadros, profissio-
substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei. nais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho
Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
internação têm as seguintes obrigações, entre outras: Seção II
I - observar os direitos e garantias de que são titula- Da Fiscalização das Entidades
res os adolescentes;
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido Art. 95. As entidades governamentais e não-governa-
objeto de restrição na decisão de internação; mentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judi-
III - oferecer atendimento personalizado, em peque- ciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tute-
nas unidades e grupos reduzidos; lares.
116
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
contas serão apresentados ao estado ou ao município, de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direi-
conforme a origem das dotações orçamentárias. tos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constitui-
ção Federal;
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten- II - proteção integral e prioritária: a interpretação e apli-
dimento que descumprirem obrigação constante do art. 94, cação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser
sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que
seus dirigentes ou prepostos: crianças e adolescentes são titulares;
I - às entidades governamentais: III - responsabilidade primária e solidária do poder pú-
a) advertência; blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças
b) afastamento provisório de seus dirigentes; e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal,
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de
d) fechamento de unidade ou interdição de progra- responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de
ma. governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento
II - às entidades não-governamentais: e da possibilidade da execução de programas por entidades
a) advertência; não governamentais;
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas IV - interesse superior da criança e do adolescente: a in-
públicas; tervenção deve atender prioritariamente aos interesses e di-
c) interdição de unidades ou suspensão de progra- reitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da conside-
ma; ração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito
d) cassação do registro. da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;
§ 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
entidades de atendimento, que coloquem em risco os di- criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
reitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades
ao Ministério Público ou representado perante autoridade
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
judiciária competente para as providências cabíveis, inclu-
seja conhecida;
sive suspensão das atividades ou dissolução da entidade.
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exerci-
§ 2o As pessoas jurídicas de direito público e as organi-
da exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação
zações não governamentais responderão pelos danos que
seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à prote-
seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, ca-
ção da criança e do adolescente;
racterizado o descumprimento dos princípios norteadores
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
das atividades de proteção específica. deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em
que a criança ou o adolescente se encontram no momento
Título II em que a decisão é tomada;
Das Medidas de Proteção IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
Capítulo I efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
Disposições Gerais para com a criança e o adolescente;
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles- proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua
nesta Lei forem ameaçados ou violados: família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; promovam a sua integração em família adotiva;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon- XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado-
sável; lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capa-
III - em razão de sua conduta. cidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser
informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram
Capítulo II a intervenção e da forma como esta se processa;
Das Medidas Específicas de Proteção XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado-
lescente, em separado ou na companhia dos pais, de respon-
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão sável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos
substituídas a qualquer tempo. atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de
proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em con- autoridade judiciária competente, observado o disposto nos
ta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e co-
munitários. Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no
Parágrafo único. São também princípios que regem a art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre
aplicação das medidas: outras, as seguintes medidas:
117
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
I - encaminhamento aos pais ou responsável, me- II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
diante termo de responsabilidade; sável; e
II - orientação, apoio e acompanhamento temporá- III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com
rios; a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou res-
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabele- ponsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
cimento oficial de ensino fundamental; esta vedada por expressa e fundamentada determinação ju-
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co- dicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
munitários de proteção, apoio e promoção da família, da em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
criança e do adolescente; judiciária.
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou § 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; no local mais próximo à residência dos pais ou do respon-
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário sável e, como parte do processo de reintegração familiar,
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi- sempre que identificada a necessidade, a família de origem
cômanos; será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio
VII - acolhimento institucional; e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o con-
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; tato com a criança ou com o adolescente acolhido.
IX - colocação em família substituta. § 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa- o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
como forma de transição para reintegração familiar ou, não ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
sendo esta possível, para colocação em família substituta, (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
não implicando privação de liberdade. § 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais gração da criança ou do adolescente à família de origem,
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta-
nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de
do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará
conste a descrição pormenorizada das providências toma-
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem
das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten-
da entidade ou responsáveis pela execução da política mu-
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal
nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
o exercício do contraditório e da ampla defesa.
destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser
guarda.
encaminhados às instituições que executam programas
de acolhimento institucional, governamentais ou não, por § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autori- prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de
dade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
outros: a realização de estudos complementares ou de outras pro-
I - sua identificação e a qualificação completa de seus vidências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.
pais ou de seu responsável, se conhecidos; § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, ou foro regional, um cadastro contendo informações atua-
com pontos de referência; lizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de aco-
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados lhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade,
em tê-los sob sua guarda; com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao de cada um, bem como as providências tomadas para sua
convívio familiar. reintegração familiar ou colocação em família substituta,
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de Lei.
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles-
em contrário de autoridade judiciária competente, caso em cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
que também deverá contemplar sua colocação em família sobre a implementação de políticas públicas que permitam
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei. reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
§ 5o O plano individual será elaborado sob a respon- convívio familiar e abreviar o período de permanência em
sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de programa de acolhimento.
atendimento e levará em consideração a opinião da criança
ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável. Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capí-
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros: tulo serão acompanhadas da regularização do registro ci-
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; vil.
118
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as- O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumulati-
sento de nascimento da criança ou adolescente será feito vamente. Pode, também, substituir uma medida pela outra
à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar qual-
autoridade judiciária. quer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais ou
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza- responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o MP.
ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulidade (art.
emolumentos, gozando de absoluta prioridade. 204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo.
§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será defla-
grado procedimento específico destinado à sua averigua- Título III
ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezem- Da Prática de Ato Infracional
bro de 1992. Capítulo I
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dis- Disposições Gerais
pensável o ajuizamento de ação de investigação de pater-
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des-
nidade pelo Ministério Público se, após o não compareci-
crita como crime ou contravenção penal.
mento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternida-
de a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con-
são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de siderada a idade do adolescente à data do fato.
absoluta prioridade.
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re- Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
querida do reconhecimento de paternidade no assento de corresponderão as medidas previstas no art. 101.
nascimento e a certidão correspondente.
Capítulo II
As normas de prevenção do ECA são destinadas a Dos Direitos Individuais
crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá situa-
ção de risco quando a criança ou o adolescente estiverem Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
privados de assistência. Essa assistência pode ser material liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
(quando não se tem onde dormir, o que comer, vestir etc.), ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
moral (quando a criança ou o adolescente permanece em competente.
local inadequado, como locais de prática de jogo, prostitui- Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
ção etc.) ou jurídica (quando não tem quem o represente). cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
O menor que pratica ato infracional está em situação informado acerca de seus direitos.
de risco por estar privado de assistência moral. A situação
de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder Pú- Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
blico; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis; por onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados
conduta própria. à autoridade judiciária competente e à família do apreendi-
O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas do ou à pessoa por ele indicada.
diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
aplicadas tanto para a criança quanto para o adolescente.
São elas:
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de-
- encaminhamento da criança e do adolescente aos
terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
pais ou responsáveis, mediante termo ou responsabilidade;
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
- orientação, apoio e acompanhamentos temporários basear-se em indícios suficientes de autoria e materia-
por pessoa nomeada pelo Juiz; lidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
- matrícula e frequência obrigatória em estabelecimen-
to oficial de ensino fundamental (o Juiz determina aos pais Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
a obrigação); será submetido a identificação compulsória pelos ór-
- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxí- gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito
lio à família, à criança e ao adolescente; de confrontação, havendo dúvida fundada.
- requisição de tratamento médico, psicológico ou psi-
quiátrico em regime hospitalar (internação) ou ambulato- O adolescente não é preso, é apreendido.
rial (consultas periódicas); A internação é a medida mais gravosa para o adoles-
- abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A dou- cente. O ECA permite a internação provisória durante o
trina chama de “Tutela de Estado” quando a criança está processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda-
em abrigo sob a proteção do Estado; mentos para que o Juiz decrete essa internação provisória
- colocação em família substituta (é utilizada somente são: indícios suficientes de autoria e materialidade e neces-
em situações muito graves). sidade da medida.
119
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Esse prazo de internação provisória será descontado Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança sempre que houver prova da materialidade e indícios sufi-
poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor cientes da autoria.
de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas
apenas a medida de proteção. As medidas socioeducativas dependem de um proce-
dimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O ECA
Capítulo III apresenta dois critérios genéricos para a aplicação de me-
Das Garantias Processuais dida socioeducativa:
- capacidade do adolescente para cumprir a medida;
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liber- - circunstâncias e gravidade da infração.
dade sem o devido processo legal. A internação é uma exceção, existindo hipóteses legais
para sua aplicação.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, A medida de segurança não poderá ser aplicada ao
as seguintes garantias: adolescente, tendo em vista ser medida para maior de ida-
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato de que apresenta periculosidade. No caso de adolescente
infracional, mediante citação ou meio equivalente; doente mental, será aplicada medida de proteção, poden-
II - igualdade na relação processual, podendo con- do ser requisitado tratamento médico.
frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as O Juiz poderá cumular medidas socioeducativas, desde
provas necessárias à sua defesa; que sejam compatíveis (ex.: prestação de serviço à comu-
III - defesa técnica por advogado; nidade cumulada com reparação de danos). Com exceção
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos ne- da internação, o Juiz poderá substituir as medidas socioe-
cessitados, na forma da lei; ducativas de acordo com o caso concreto, visto não haver
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade taxatividade.
competente; Se o Promotor discordar com a medida socioeducati-
va aplicada, deverá entrar com recurso de apelação. Essa
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
apelação do ECA possui juízo de retratação, ou seja, o Juiz
responsável em qualquer fase do procedimento.
pode voltar atrás na decisão. O Tribunal competente para
julgar essa apelação é o TJ.
Capítulo IV
Das Medidas Socioeducativas
Seção II
Seção I
Da Advertência
Disposições Gerais
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autori- verbal, que será reduzida a termo e assinada.
dade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes
medidas: Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida sócio-e-
I - advertência; ducativa que consiste em uma admoestação verbal que é
II - obrigação de reparar o dano; aplicada pelo Juiz ao adolescente e que é reduzida a termo.
III - prestação de serviços à comunidade; É destinada a atos de menor gravidade.
IV - liberdade assistida; Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar em
V - inserção em regime de semi-liberdade; consideração a prova da materialidade e indícios suficien-
VI - internação em estabelecimento educacional; tes de autoria. É a única medida que o Juiz poderá aplicar
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. fundamentando-se somente em indícios de autoria.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con-
ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a Seção III
gravidade da infração. Da Obrigação de Reparar o Dano
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
admitida a prestação de trabalho forçado. Art. 116. Em se tratando de ato infracional com refle-
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi- xos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o
ciência mental receberão tratamento individual e espe- caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressar-
cializado, em local adequado às suas condições. cimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo
da vítima.
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a
99 e 100. medida poderá ser substituída por outra adequada.
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA). Há um
II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien- pressuposto: o ato infracional deve ter causado um dano à
tes da autoria e da materialidade da infração, ressalva- vítima. Essa reparação é para a vítima que sofreu o dano. É
da a hipótese de remissão, nos termos do art. 127. uma medida voltada para o adolescente, então deve ser es-
120
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
121
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, de- XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de
vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão local seguro para guardá-los, recebendo comprovante da-
fundamentada, no máximo a cada seis meses. queles porventura depositados em poder da entidade;
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter- XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu-
nação excederá a três anos. mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante- § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi- § 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem-
me de semiliberdade ou de liberdade assistida. porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida-
de idade. de aos interesses do adolescente.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será prece-
dida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o pode- e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas ade-
rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. quadas de contenção e segurança.
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida re-
quando: servada para os atos infracionais de natureza grave. O ECA
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave estabelece princípios específicos para a internação, pois é
ameaça ou violência a pessoa; medida de privação de liberdade sempre excepcional.
II - por reiteração no cometimento de outras infrações A internação deve durar o menor tempo possível (prin-
graves; cípio da brevidade), é uma medida de exceção que só de-
III - por descumprimento reiterado e injustificável da verá ser utilizada em último caso (princípio da excepcio-
medida anteriormente imposta. nalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimen-
deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, de- to. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança.
vendo ser decretada judicialmente após o devido processo O ECA estabelece hipóteses de internação para:
legal. - prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, violência à pessoa;
havendo outra medida adequada. - reiteração de infrações graves;
- descumprimento reiterado e injustificado da medi-
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entida- da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão).
de exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por cri- 3 meses.
térios de idade, compleição física e gravidade da infração. Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para in-
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclu- ternação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA poderá
sive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas só-
cio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberda- A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
de, entre outros, os seguintes: cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe-
Ministério Público; ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; por internação provisória, esses dias serão computados na
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e
IV - ser informado de sua situação processual, sempre internação é que, nesta, o adolescente depende de auto-
que solicitada; rização expressa do juiz para praticar atividades externas,
V - ser tratado com respeito e dignidade; ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do
VI - permanecer internado na mesma localidade ou na- estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz.
quela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; O art. 123 dispõe que o local para a internação deve
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de reali-
pessoal; zação de atividades pedagógicas.
X - habitar alojamento em condições adequadas de hi- O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado-
giene e salubridade; lescentes:
XI - receber escolarização e profissionalização; - entrevista pessoal com o representante do MP;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: - entrevista reservada com seu defensor, dentre outros.
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda-
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em
e desde que assim o deseje; nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo Constituição Federal;
de escolha. XI - representar ao Ministério Público para efeito das
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgota-
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho das as possibilidades de manutenção da criança ou do ado-
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: lescente junto à família natural;
I - reconhecida idoneidade moral; XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
II - idade superior a vinte e um anos; pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
III - residir no município. reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
adolescentes.
Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o
local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tu- Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do con-
telar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos mem- vívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério
bros, aos quais é assegurado o direito a: Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal
I - cobertura previdenciária; entendimento e as providências tomadas para a orientação,
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 o apoio e a promoção social da família.
(um terço) do valor da remuneração mensal;
III - licença-maternidade; Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
IV - licença-paternidade; derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
V - gratificação natalina. quem tenha legítimo interesse.
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária munici-
pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários Capítulo III
ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e Da Competência
formação continuada dos conselheiros tutelares.
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
petência constante do art. 147.
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun-
Capítulo IV
ção de idoneidade moral.
Da Escolha dos Conselheiros
Capítulo II
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Das Atribuições do Conselho Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e rea-
lizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses pre- Ministério Público.
vistas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no § 1o O processo de escolha dos membros do Conse-
art. 101, I a VII; lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplican- nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do
do as medidas previstas no art. 129, I a VII; mês de outubro do ano subsequente ao da eleição pre-
III - promover a execução de suas decisões, podendo sidencial.
para tanto: § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.
cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; § 3o No processo de escolha dos membros do Con-
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, pro-
descumprimento injustificado de suas deliberações. meter ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor.
que constitua infração administrativa ou penal contra os di-
reitos da criança ou adolescente; Capítulo V
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua Dos Impedimentos
competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse-
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o lho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro
adolescente autor de ato infracional; e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio,
VII - expedir notificações; tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse-
criança ou adolescente quando necessário; lheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade judi-
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da ciária e ao representante do Ministério Público com atuação
proposta orçamentária para planos e programas de atendi- na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na co-
mento dos direitos da criança e do adolescente; marca, foro regional ou distrital.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
forma da lei de organização judiciária local. I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
desacompanhado dos pais ou responsável, em:
Art. 147. A competência será determinada: a) estádio, ginásio e campo desportivo;
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; b) bailes ou promoções dançantes;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, c) boate ou congêneres;
à falta dos pais ou responsável. d) casa que explore comercialmente diversões eletrôni-
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a cas;
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re- e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
gras de conexão, continência e prevenção. II - a participação de criança e adolescente em:
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à a) espetáculos públicos e seus ensaios;
autoridade competente da residência dos pais ou respon- b) certames de beleza.
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
criança ou adolescente. judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- a) os princípios desta Lei;
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais b) as peculiaridades locais;
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- c) a existência de instalações adequadas;
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual d) o tipo de freqüência habitual ao local;
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. freqüência de crianças e adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é compe- § 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar-
tente para: tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
I - conhecer de representações promovidas pelo Minis- determinações de caráter geral.
tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; Seção III
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou Dos Serviços Auxiliares
extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses indi- proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
viduais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescen- equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da
te, observado o disposto no art. 209; Infância e da Juventude.
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre ou-
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de in- tras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação lo-
frações contra norma de proteção à criança ou adolescente; cal, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou ver-
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tu- balmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos
telar, aplicando as medidas cabíveis. de aconselhamento, orientação, encaminhamento, preven-
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado- ção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade
lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: técnico.
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi-
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, dores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis
perda ou modificação da tutela ou guarda; pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas
ou por determinação judicial, a autoridade judiciária pode- no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela
rá proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen-
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil,
Civil). efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto.
Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per-
Capítulo III da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co-
Dos Procedimentos locação em família substituta, apuração de ato infracional
Seção I atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em
Disposições Gerais atendimento, apuração de infração administrativa às nor-
mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli- em adoção.
cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na
legislação processual pertinente. Seção II
§ 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio- Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
ridade absoluta na tramitação dos processos e proce-
dimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
atos e diligências judiciais a eles referentes. do poder familiar terá início por provocação do Ministério
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis Público ou de quem tenha legítimo interesse.
aos seus procedimentos são contados em dias corridos,
excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, Art. 156. A petição inicial indicará:
vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Mi- I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
nistério Público. II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- tratando de pedido formulado por representante do Minis-
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, tério Público;
a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e or- III - a exposição sumária do fato e o pedido;
denar de ofício as providências necessárias, ouvido o IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde
Ministério Público. logo, o rol de testemunhas e documentos.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
sua família de origem e em outros procedimentos necessa- judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão
riamente contenciosos. do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julga-
mento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabili-
dade.
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito § 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
da criança e do adolescente voltado à criança e ao adoles- determinará, concomitantemente ao despacho de citação e
cente individualmente concebidos, isto é, pensados como independentemente de requerimento do interessado, a reali-
sujeitos de direitos individuais que possam ser por eles zação de estudo social ou perícia por equipe interprofissional
exercidos. ou multidisciplinar para comprovar a presença de uma das
A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito causas de suspensão ou destituição do poder familiar, ressal-
da criança e do adolescente voltados às atividades de en- vado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a
sino e aprendizagem, tanto no que se refere à educação Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017.
formal quanto em relação à educação informal. § 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indíge-
A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difu- nas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe inter-
sos e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo,
difusos e coletivos são conferidos mecanismos de tutela de representantes do órgão federal responsável pela política
específicos para sua proteção, bem como atribuída com- indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei.
petência para tanto a órgãos determinados que exercerão
um papel representativo. No Brasil, destacam-se institui- Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
ções como o Ministério Público e a Defensoria Pública. dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
Sem prejuízo, como visto, há remédios constitucionais que produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
se voltam à proteção de interesses desta categoria, como e documentos.
o mandado de segurança coletivo e a própria ação popu- § 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
lar, sem falar na ação civil pública, também mencionada no meios para sua realização.
texto constitucional. § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
do pessoalmente.
127
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça hou- § 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Pú-
ver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem blico, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmen-
o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, infor- te o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito,
mar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e
vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada
na hora que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos.
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo § 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a
Civil). autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para
§ 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em lo- sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias.
cal incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo § 4o Quando o procedimento de destituição de poder fa-
de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de miliar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá neces-
ofícios para a localização. sidade de nomeação de curador especial em favor da criança
ou adolescente.
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de cons-
tituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua Art. 163. O prazo máximo para conclusão do proce-
família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomea- dimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz,
do dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder
contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adoles-
nomeação. cente com vistas à colocação em família substituta.
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento a suspensão do poder familiar será averbada à margem do
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. registro de nascimento da criança ou do adolescente.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
família substituta, este poderá ser formulado diretamente Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
dispensada a assistência de advogado. observado o disposto no art. 35.
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz:
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á
devidamente assistidas por advogado ou por defensor públi- o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art.
co, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo 47.
máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescen-
petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por ter- te sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhi-
mo as declarações; e mento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à
II - declarará a extinção do poder familiar. entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco)
§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será dias.
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela
equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventu- Seção V
de, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado-
da medida. lescente
§ 3o São garantidos a livre manifestação de vontade
dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
informações. judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciá-
§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá va- ria.
lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o §
1o deste artigo. Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato
§ 5o O consentimento é retratável até a data da reali- infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade po-
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os licial competente.
pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali-
dias, contado da data de prolação da sentença de extinção zada para atendimento de adolescente e em se tratando de
do poder familiar. ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevale-
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado cerá a atribuição da repartição especializada, que, após as
após o nascimento da criança. providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o
§ 7o A família natural e a família substituta receberão adulto à repartição policial própria.
a devida orientação por intermédio de equipe técnica inter-
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional come-
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela tido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a auto-
execução da política municipal de garantia do direito à con- ridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, pará-
vivência familiar. grafo único, e 107, deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- o adolescente;
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará a II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
realização de estudo social ou, se possível, perícia por equi- III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
pe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda provação da materialidade e autoria da infração.
provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante,
convivência. a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda pro- ocorrência circunstanciada.
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado-
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsá-
responsabilidade. vel, o adolescente será prontamente liberado pela autorida-
de policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- sua apresentação ao representante do Ministério Público, no
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adoles- mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil ime-
cente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo diato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e
prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
igual prazo. internação para garantia de sua segurança pessoal ou ma-
nutenção da ordem pública.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressupos- Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
to lógico da medida principal de colocação em família subs- cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representan-
tituta, será observado o procedimento contraditório previsto te do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
nas Seções II e III deste Capítulo. apreensão ou boletim de ocorrência.
129
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au- Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Mi-
toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de nistério Público não promover o arquivamento ou conceder
atendimento, que fará a apresentação ao representante do a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas. propondo a instauração de procedimento para aplicação da
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de medida sócio-educativa que se afigurar a mais adequada.
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po- § 1º A representação será oferecida por petição, que
licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles- conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
cente aguardará a apresentação em dependência separada infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po-
da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipó- dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
tese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior. pela autoridade judiciária.
§ 2º A representação independe de prova pré-consti-
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade po- tuída da autoria e materialidade.
licial encaminhará imediatamente ao representante do Mi-
nistério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con-
ocorrência.
clusão do procedimento, estando o adolescente internado
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indí-
cios de participação de adolescente na prática de ato infracional,
a autoridade policial encaminhará ao representante do Minis- Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi-
tério Público relatório das investigações e demais documentos. ciária designará audiência de apresentação do adolescente,
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
em compartimento fechado de veículo policial, em condições cientificados do teor da representação, e notificados a
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter-
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devi- minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
damente autuados pelo cartório judicial e com informação tação.
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais
ou responsável, vítima e testemunhas. ou responsável.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o repre-
sentante do Ministério Público notificará os pais ou respon- Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
sável para apresentação do adolescente, podendo requisitar toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabeleci-
o concurso das polícias civil e militar. mento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
anterior, o representante do Ministério Público poderá:
imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
I - promover o arquivamento dos autos;
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles-
II - conceder a remissão;
cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
III - representar à autoridade judiciária para aplicação
que em seção isolada dos adultos e com instalações apro-
de medida sócio-educativa.
priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con- dias, sob pena de responsabilidade.
cedida a remissão pelo representante do Ministério Público,
mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res-
fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes-
homologação. mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au- § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum- remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
primento da medida. proferindo decisão.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des- da de internação ou colocação em regime de semi-liberda-
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de- de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
signará outro membro do Ministério Público para apresen- não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar. determinar a realização de diligências e estudo do caso.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apre-
no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e sentação de defesa, contado da data da intimação, que será
apensados ao processo criminal juntamente com o inquéri- feita:
to policial, assegurando-se a preservação da identidade do I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavra-
agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos do na presença do requerido;
adolescentes envolvidos. II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habi-
litado, que entregará cópia do auto ou da representação ao
Seção VI requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
Da Apuração de Irregularidades em Entidade de III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for
Atendimento encontrado o requerido ou seu representante legal;
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou
Art. 191. O procedimento de apuração de irregularida- não sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante
des em entidade governamental e não-governamental terá legal.
início mediante portaria da autoridade judiciária ou repre-
sentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le-
conste, necessariamente, resumo dos fatos. gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé-
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a auto- rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
ridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar limi-
narmente o afastamento provisório do dirigente da entidade, Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
mediante decisão fundamentada. procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo ne-
cessário, designará audiência de instrução e julgamento.
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar sucessivamente o Ministério Público e o procurador do re-
documentos e indicar as provas a produzir. querido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorro-
gável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo neces- em seguida proferirá sentença.
sário, a autoridade judiciária designará audiência de instru-
ção e julgamento, intimando as partes. Seção VIII
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de- Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:
finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto- I - qualificação completa;
ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime- II - dados familiares;
diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
substituição. casamento, ou declaração relativa ao período de união es-
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida- tável;
de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu- IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo dastro de Pessoas Físicas;
será extinto, sem julgamento de mérito. V - comprovante de renda e domicílio;
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen- VI - atestados de sanidade física e mental;
te da entidade ou programa de atendimento. VII - certidão de antecedentes criminais;
VIII - certidão negativa de distribuição cível.
Seção VII
Da Apuração de Infração Administrativa às Nor- Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48
mas de Proteção à Criança e ao Adolescente (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
administrativa por infração às normas de proteção à criança interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a
e ao adolescente terá início por representação do Ministério que se refere o art. 197-C desta Lei;
Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elabo- II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
rado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assi- postulantes em juízo e testemunhas;
nado por duas testemunhas, se possível. III - requerer a juntada de documentos complementares
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, e a realização de outras diligências que entender necessá-
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a rias.
natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração se- Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi-
guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con- pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
trário, dos motivos do retardamento. Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que con-
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
terá subsídios que permitam aferir a capacidade e o prepa- § 5o A desistência do pretendente em relação à guarda
ro dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou para fins de adoção ou a devolução da criança ou do adoles-
maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios cente depois do trânsito em julgado da sentença de adoção
desta Lei. importará na sua exclusão dos cadastros de adoção.
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu- Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habili-
de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis tação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável
pela execução da política municipal de garantia do direito por igual período, mediante decisão fundamentada da auto-
à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção devi- ridade judiciária.
damente habilitados perante a Justiça da Infância e da Ju-
ventude, que inclua preparação psicológica, orientação e es- Capítulo IV
tímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes Dos Recursos
com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
específicas de saúde, e de grupos de irmãos. Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obri- e da Juventude, inclusive os relativos à execução das me-
gatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá didas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei
o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhi- no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Ci-
mento familiar ou institucional, a ser realizado sob orien- vil), com as seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº
tação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça 12.594, de 2012)
da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, I - os recursos serão interpostos independentemente de
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de aco- preparo;
lhimento familiar e institucional e pela execução da política II - em todos os recursos, salvo nos embargos de decla-
municipal de garantia do direito à convivência familiar. ração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa será
§ 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594,
de 2012)
acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora se-
III - os recursos terão preferência de julgamento e dis-
jam preparados por equipe interprofissional antes da inclu-
pensarão revisor;
são em família adotiva.
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da par-
de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho funda-
ticipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a
mentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de
autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) ho-
cinco dias;
ras, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministé- VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
rio Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instância
designando, conforme o caso, audiência de instrução e jul- dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo
gamento. pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do
ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determi- Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da in-
nará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista timação.
dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo
em igual prazo. Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art.
149 caberá recurso de apelação.
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será ins-
crito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efei-
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem to desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de
crianças ou adolescentes adotáveis. adoção internacional ou se houver perigo de dano irrepará-
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente po- vel ou de difícil reparação ao adotando.
derá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas
hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando com- Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer
provado ser essa a melhor solução no interesse do adotando. dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que
§ 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mí- deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
nimo trienalmente mediante avaliação por equipe interpro-
fissional. Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e
§ 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova ado- de destituição de poder familiar, em face da relevância das
ção, será dispensável a renovação da habilitação, bastando questões, serão processados com prioridade absoluta, de-
a avaliação por equipe interprofissional. vendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e
adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do per- serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e
fil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida. com parecer urgente do Ministério Público.
133
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em X - representar ao juízo visando à aplicação de penali-
mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dade por infrações cometidas contra as normas de proteção
dias, contado da sua conclusão. à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da res-
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da ponsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
data do julgamento e poderá na sessão, se entender neces- XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
sário, apresentar oralmente seu parecer. atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando
de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessá-
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a ins- rias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
tauração de procedimento para apuração de responsabili- XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
dades se constatar o descumprimento das providências e do dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assis-
prazo previstos nos artigos anteriores. tência social, públicos ou privados, para o desempenho de
suas atribuições.
Capítulo V
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações
Do Ministério Público
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
esta Lei.
Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
Art. 201. Compete ao Ministério Público: cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do
I - conceder a remissão como forma de exclusão do pro- Ministério Público.
cesso; § 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
às infrações atribuídas a adolescentes; encontre criança ou adolescente.
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os § 4º O representante do Ministério Público será res-
procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar, ponsável pelo uso indevido das informações e documen-
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem tos que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
como oficiar em todos os demais procedimentos da compe- § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci-
tência da Justiça da Infância e da Juventude; so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interes- Público:
sados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer ad- taurando o competente procedimento, sob sua presidência;
ministradores de bens de crianças e adolescentes nas hipó- b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
teses do art. 98; reclamada, em dia, local e horário previamente notificados
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para ou acertados;
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos re- c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
lativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no viços públicos e de relevância pública afetos à criança e ao
art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita ade-
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para ins- quação.
truí-los:
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti-
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipó-
civil ou militar;
tese em que terá vista dos autos depois das partes, podendo
b) requisitar informações, exames, perícias e documen-
juntar documentos e requerer diligências, usando os recur-
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da admi-
nistração direta ou indireta, bem como promover inspeções e sos cabíveis.
diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos a particulares e Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual-
instituições privadas; quer caso, será feita pessoalmente.
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial, Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
à infância e à juventude; pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo Art. 205. As manifestações processuais do representante
as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e ha-
beas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na de-
fesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à
criança e ao adolescente;
134
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
135
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente- poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri- prazo de quinze dias.
mento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes-
desde o dia em que se houver configurado o descumpri- soa, organismo público ou particular, certidões, informações,
mento. exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não pode-
rá ser inferior a dez dias úteis.
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge- § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas
rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente as diligências, se convencer da inexistência de fundamento
do respectivo município. para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen-
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas,
trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de fazendo-o fundamentadamente.
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa-
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré- do Ministério Público.
dito, em conta com correção monetária. § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção
de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi-
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos re- nistério público, poderão as associações legitimadas apre-
cursos, para evitar dano irreparável à parte. sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados
aos autos do inquérito ou anexados às peças de informa-
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser ção.
condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
de peças à autoridade competente, para apuração da res- exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
ponsabilidade civil e administrativa do agente a que se atri- Público, conforme dispuser o seu regimento.
bua a ação ou omissão. § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
da sentença condenatória sem que a associação autora lhe
promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, fa- Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as
cultada igual iniciativa aos demais legitimados. disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
136
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à par- Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece
turiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, ou efetiva a paga ou recompensa.
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências
do parto e do desenvolvimento do neonato: Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
Parágrafo único. Se o crime é culposo: com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identifi- ameaça ou fraude:
car corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no correspondente à violência.
art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
Parágrafo único. Se o crime é culposo: ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, faci-
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante lita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
de judiciária competente: no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses contrace-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. na.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que pro- § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
cede à apreensão sem observância das formalidades legais. comete o crime:
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
de exercê-la;
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co-
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita-
municação à autoridade judiciária competente e à família
ção ou de hospitalidade; ou
do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan-
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
güíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tu-
tor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au-
a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi-
mento: seu consentimento.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa outro registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- gráfica envolvendo criança ou adolescente:
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
Pena - detenção de seis meses a dois anos. artigo;
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judi- o caput deste artigo.
cial, com o fim de colocação em lar substituto: § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. 1 deste artigo são puníveis quando o responsável legal
o
137
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qual- Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven- a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
do criança ou adolescente: produtos cujos componentes possam causar dependência fí-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. sica ou psíquica:
§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter- Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se
ços) se de pequena quantidade o material a que se refere o fato não constitui crime mais grave.
o caput deste artigo.
§ 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos
a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241- de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
I – agente público no exercício de suas funções; dano físico em caso de utilização indevida:
II – membro de entidade, legalmente constituída, que Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento,
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri- Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
mes referidos neste parágrafo; definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
III – representante legal e funcionários responsáveis de exploração sexual:
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
de computadores, até o recebimento do material relativo à perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
ao Poder Judiciário. unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
manter sob sigilo o material ilícito referido. § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adoles- submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de no caputdeste artigo.
adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas-
ou qualquer outra forma de representação visual: sação da licença de localização e de funcionamento do es-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. tabelecimento.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven-
de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor
por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
produzido na forma do caput deste artigo. induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste arti-
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de go quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
com ela praticar ato libidinoso: quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. internet.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: § 2o As penas previstas no caput deste artigo são au-
I – facilita ou induz o acesso à criança de material con- mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
com ela praticar ato libidinoso; 25 de julho de 1990.
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- Capítulo II
fica ou sexualmente explícita. Das Infrações Administrativas
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com- estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamen-
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles- tal, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade com-
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, petente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
cente para fins primordialmente sexuais. adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou cando-se o dobro em caso de reincidência.
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
munição ou explosivo: Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de enti-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. dade de atendimento o exercício dos direitos constantes nos
incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
138
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá-
cando-se o dobro em caso de reincidência. culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à
entrada do local de exibição, informação destacada sobre a
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza- natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especifi-
ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato cada no certificado de classificação:
ou documento de procedimento policial, administrativo ou Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua cando-se o dobro em caso de reincidência.
ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer re-
cando-se o dobro em caso de reincidência. presentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par- a que não se recomendem:
cialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga res- plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
peito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi-
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. cidade.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa
ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe-
neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua
apreensão da publicação ou a suspensão da programação classificação:
da emissora até por dois dias, bem como da publicação do Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du-
periódico até por dois números. (Expressão declarada in- plicada em caso de reincidência a autoridade judiciária po-
constitucional pela ADIN 869-2). derá determinar a suspensão da programação da emissora
por até dois dias.
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária
de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regu- Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
larizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para re classificado pelo órgão competente como inadequado às
a prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
pelos pais ou responsável: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
cando-se o dobro em caso de reincidência, independente- do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
mente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso. quinze dias.
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deve- Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
res inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou de programação em vídeo, em desacordo com a classificação
guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária atribuída pelo órgão competente:
ou Conselho Tutelar: Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
cando-se o dobro em caso de reincidência. minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompa- Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e
nhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita 79 desta Lei:
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
ou congênere: plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
Pena – multa. apreensão da revista ou publicação.
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente sua participação no espetáculo:
fechado e terá sua licença cassada. Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual- minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84
e 85 desta Lei: Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de provi-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- denciar a instalação e operacionalização dos cadastros pre-
cando-se o dobro em caso de reincidência. vistos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
(três mil reais).
139
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autori- subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamen-
dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de te percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma
adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas de guarda, de crianças e adolescentes e para programas de
ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca-
em regime de acolhimento institucional ou familiar. rência socioeconômica e em situações de calamidade.
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministé-
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de rio da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos
imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso deste artigo.
de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada § 4º O Ministério Público determinará em cada comar-
em entregar seu filho para adoção: ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Muni-
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incen-
(três mil reais). tivos fiscais referidos neste artigo.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário § 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do 9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata
direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comu- o inciso I do caput:
nicação referida no caput deste artigo. I - será considerada isoladamente, não se submetendo a
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in- II - não poderá ser computada como despesa operacio-
ciso II do art. 81: nal na apuração do lucro real.
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
10.000,00 (dez mil reais); Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calen-
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de
comercial até o recolhimento da multa aplicada. que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua
Declaração de Ajuste Anual.
Disposições Finais e Transitórias § 1o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida
até os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apu-
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da rado na declaração:
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo I - (VETADO);
sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da II - (VETADO);
política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabele- III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
ce o Título V do Livro II. § 2o A dedução de que trata o caput:
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios pro- I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do impos-
moverem a adaptação de seus órgãos e programas às dire- to sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso
trizes e princípios estabelecidos nesta Lei. II do caput do art. 260;
II - não se aplica à pessoa física que:
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos a) utilizar o desconto simplificado;
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, b) apresentar declaração em formulário; ou
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova- c) entregar a declaração fora do prazo;
das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de III - só se aplica às doações em espécie; e
renda, obedecidos os seguintes limites: IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido em vigor.
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lu- § 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a
cro real; e data de vencimento da primeira quota ou quota única do
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu- imposto, observadas instruções específicas da Secretaria
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, da Receita Federal do Brasil.
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de § 4o O não pagamento da doação no prazo estabeleci-
dezembro de 1997. do no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedu-
§ 1º - (Revogado) ção, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da di-
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas ferença de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais Anual com os acréscimos legais previstos na legislação.
e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promo- rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no
ção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos
à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacio- Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente mu-
nal pela Primeira Infância. nicipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais com a opção de que trata o caput, respeitado o limite pre-
dos direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de visto no inciso II do art. 260.
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações
140
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração
poderá ser deduzida: das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles-
I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurí- cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem:
dicas que apuram o imposto trimestralmente; e I - manter conta bancária específica destinada exclusi-
II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, vamente a gerir os recursos do Fundo;
para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmen- II - manter controle das doações recebidas; e
te. III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede-
Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando
do período a que se refere a apuração do imposto. os seguintes dados por doador:
a) nome, CNPJ ou CPF;
Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie
podem ser efetuadas em espécie ou em bens. ou em bens.
Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie de-
vem ser depositadas em conta específica, em instituição fi- Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações
nanceira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do
trata o art. 260. Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais divul-
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir garão amplamente à comunidade:
recibo em favor do doador, assinado por pessoa competente I - o calendário de suas reuniões;
e pelo presidente do Conselho correspondente, especifican- II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
do: atendimento à criança e ao adolescente;
I - número de ordem; III - os requisitos para a apresentação de projetos a se-
rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ)
Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou
e endereço do emitente;
municipais;
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca-
do doador;
lendário e o valor dos recursos previstos para implementa-
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
ção das ações, por projeto;
V - ano-calendário a que se refere a doação.
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destina-
§ 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo
ção, por projeto atendido, inclusive com cadastramento na
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os valo- base de dados do Sistema de Informações sobre a Infância e
res doados mês a mês. a Adolescência; e
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados
deve conter a identificação dos bens, mediante descrição com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado-
em campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, lescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
informando também se houve avaliação, o nome, CPF ou
CNPJ e endereço dos avaliadores. Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
deverá: Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
mentação hábil; ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direi- atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
tos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no quer cidadão.
caso de pessoa jurídica; e
III - considerar como valor dos bens doados: Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Pre-
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
valor de mercado; arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos nú-
será considerado na determinação do valor dos bens doados, meros de inscrição no CNPJ e das contas bancárias especí-
exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária. ficas mantidas em instituições financeiras públicas, destina-
das exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts.
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil ex-
prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedu- pedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
ção perante a Receita Federal do Brasil. arts. 260 a 260-K.
141
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações publicação.
a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão
serão efetuados perante a autoridade judiciária da comarca ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e es-
a que pertencer a entidade. clarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
estados e municípios, e os estados aos municípios, os recur- Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697,
sos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais
tão logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança disposições em contrário.
e do adolescente nos seus respectivos níveis.
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute- 102º da República.
lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
autoridade judiciária.
142
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didá- Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
tico-científica, administrativa e de gestão financeira e nicípios organizarão em regime de colaboração seus sis-
patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabili- temas de ensino.
dade entre ensino, pesquisa e extensão. § 1º A União organizará o sistema federal de ensi-
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, no e o dos Territórios, financiará as instituições de ensi-
técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. no públicas federais e exercerá, em matéria educacional,
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
pesquisa científica e tecnológica. equalização de oportunidades educacionais e padrão míni-
mo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efeti- financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;
vado mediante a garantia de: § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 fundamental e na educação infantil.
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclu- § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritaria-
sive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram mente no ensino fundamental e médio.
acesso na idade própria; § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a
II - progressiva universalização do ensino médio gra- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios defini-
tuito; rão formas de colaboração, de modo a assegurar a univer-
III - atendimento educacional especializado aos porta- salização do ensino obrigatório.
dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de § 5º A educação básica pública atenderá prioritaria-
ensino; mente ao ensino regular.
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às
crianças até 5 (cinco) anos de idade; Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca me-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- nos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada nicípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita re-
sultante de impostos, compreendida a proveniente de trans-
um;
ferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
condições do educando;
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas
ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é conside-
da educação básica, por meio de programas suplementares
rada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do
de material didático escolar, transporte, alimentação e assis-
governo que a transferir.
tência à saúde.
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é di- «caput» deste artigo, serão considerados os sistemas de
reito público subjetivo. ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplica-
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo dos na forma do art. 213.
Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabi- § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
lidade da autoridade competente. prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educan- obrigatório, no que se refere a universalização, garantia
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano
junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. nacional de educação.
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi- assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão finan-
das as seguintes condições: ciados com recursos provenientes de contribuições sociais e
I - cumprimento das normas gerais da educação na- outros recursos orçamentários.
cional; § 5º A educação básica pública terá como fonte adicio-
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder nal de financiamento a contribuição social do salário-e-
Público. ducação, recolhida pelas empresas na forma da lei.
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o contribuição social do salário-educação serão distribuídas
ensino fundamental, de maneira a assegurar formação proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.
nacionais e regionais.
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, cons- Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es-
tituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitá-
de ensino fundamental. rias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas seus excedentes financeiros em educação;
também a utilização de suas línguas maternas e processos II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
próprios de aprendizagem. escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
Público, no caso de encerramento de suas atividades.
143
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser - “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamen- o pensamento, a arte e o saber”, de forma que o ensino
tal e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem tem um caráter ativo e passivo, indo além da compreensão
insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e de conteúdos dogmático se abrangendo também os pro-
cursos regulares da rede pública na localidade da residência cessos criativos;
do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir - “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. e coexistência de instituições públicas e privadas de ensi-
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estí- no”, de modo que não se entende haver um único método
mulo e fomento à inovação realizadas por universidades e/ de ensino, uma única maneira de aprender, permitindo a
ou por instituições de educação profissional e tecnológica exploração das atividades educacionais também por ins-
poderão receber apoio financeiro do Poder Público. tituições privadas. A respeito das instituições privadas, o
artigo 209, CF prevê que “o ensino é livre à iniciativa pri-
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- vada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o das normas gerais da educação nacional; II - autorização e
sistema nacional de educação em regime de colaboração avaliação de qualidade pelo Poder Público”;
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- - “gratuidade do ensino público em estabelecimentos
mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimento oficiais”, sendo esta a principal vertente de implementação
do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por do direito à educação pelo Estado;
meio de ações integradas dos poderes públicos das diferen- - “valorização dos profissionais da educação escolar,
tes esferas federativas que conduzam a: garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingres-
I - erradicação do analfabetismo; so exclusivamente por concurso público de provas e títu-
II - universalização do atendimento escolar; los, aos das redes públicas”, bem como “piso salarial pro-
III - melhoria da qualidade do ensino; fissional nacional para os profissionais da educação escolar
IV - formação para o trabalho; pública, nos termos de lei federal”, pois sem a valorização
V - promoção humanística, científica e tecnológica
dos profissionais responsáveis pelo ensino será inatingível
do País.
o seu aperfeiçoamento. Além disso, “a lei disporá sobre as
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
categorias de trabalhadores considerados profissionais da
públicos em educação como proporção do produto inter-
educação básica e sobre a fixação de prazo para a elabora-
no bruto.
ção ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”
O artigo 6º da Constituição Federal menciona o direi-
(artigo 206, parágrafo único, CF);
to à educação como um de seus direitos sociais. A educa-
ção proporciona o pleno desenvolvimento da pessoa, não - “gestão democrática do ensino público, na forma
apenas capacitando-a para o trabalho, mas também para da lei”, remetendo ao direito de participação popular na
a vida social como um todo. Contudo, a educação tem um tomada de decisões políticas referentes às atividades de
custo para o Estado, já que nem todos podem arcar com o ensino; e
custeio de ensino privado. - “garantia de padrão de qualidade”, posto que sem
No título VIII, que aborda a ordem social, delimita-se a qualidade de ensino é impossível atingir uma melhoria na
questão da obrigação do Estado com relação ao direito à qualificação pessoal e profissional dos nacionais.
educação, assim como menciona-se quais outros agentes O ensino universitário encontra respaldo no artigo 207
responsáveis pela efetivação deste direito. da Constituição, tendo autonomia didático-científica, ad-
Neste sentido, o artigo 205, CF, prevê: “A educação, di- ministrativa e de gestão financeira e patrimonial, e sendo
reito de todos e dever do Estado e da família, será promo- baseado na tríade ensino-pesquisa-extensão, disciplina
vida e incentivada com a colaboração da sociedade, visan- que se estende a instituições de pesquisa científica e tec-
do ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para nológica. Com vistas ao aperfeiçoamento desta tríade, au-
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. toriza-se a contratação de profissionais estrangeiros.
Resta claro que a educação não é um dever exclusivo Enquanto que os artigos 205 e 206 da Constituição
do Estado, mas da sociedade como um todo e, principal- possuem uma menor densidade normativa, colacionando
mente, da família. Depreende-se que educação vai além princípios diretores e ideias basilares, o artigo 208 volta-se
do mero aprendizado de conteúdos e envolve a educação à regulamentação do modo pelo qual o Estado efetivará o
para a cidadania e o comportamento ético em sociedade direito à educação.
– a educação da qual o constituinte fala não é apenas a Interessante notar, em primeira análise, que o Estado
formal, mas também a informal. se exime da obrigatoriedade no fornecimento de educação
Por seu turno, o artigo 206 da Constituição estabelece superior, no art. 208, V, quando assegura, apenas, o “aces-
os princípios que devem guiar o ensino: so” aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa e cria-
- “igualdade de condições para o acesso e permanência ção artística. Fica denotada ausência de comprometimento
na escola”, que significa a compreensão de que a educação orçamentário e infraestrutural estatal com um número su-
é um direito de todos e não apenas dos mais favorecidos, ficiente de universidades/faculdades públicas aptas a re-
cabendo ao Estado investir para que os menos favorecidos cepcionar o maciço contingente de alunos que saem da
ingressem e permaneçam na escola; camada básica de ensino, sendo, pois, clarividente exemplo
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
educação básica presencial, matriculados nas respectivas X - aplica-se à complementação da União o disposto
redes, nos respectivos âmbitos de atuação prioritária esta- no art. 160 da Constituição Federal;
belecidos nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal; XI - o não-cumprimento do disposto nos incisos V e VII
III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, do caput deste artigo importará crime de responsabilidade
II, III e IV do caput do art. 208 da Constituição Federal e as da autoridade competente;
metas de universalização da educação básica estabelecidas XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento)
no Plano Nacional de Educação, a lei disporá sobre: de cada Fundo referido no inciso I do caput deste artigo
a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcio- será destinada ao pagamento dos profissionais do magis-
nal de seus recursos, as diferenças e as ponderações quan- tério da educação básica em efetivo exercício.
to ao valor anual por aluno entre etapas e modalidades da § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
educação básica e tipos de estabelecimento de ensino; pios deverão assegurar, no financiamento da educação bá-
b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por aluno; sica, a melhoria da qualidade de ensino, de forma a garantir
c) os percentuais máximos de apropriação dos recursos padrão mínimo definido nacionalmente.
dos Fundos pelas diversas etapas e modalidades da educa- § 2º O valor por aluno do ensino fundamental, no Fun-
ção básica, observados os arts. 208 e 214 da Constituição Fe- do de cada Estado e do Distrito Federal, não poderá ser
deral, bem como as metas do Plano Nacional de Educação; inferior ao praticado no âmbito do Fundo de Manutenção e
d) a fiscalização e o controle dos Fundos; Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profis- do Magistério - FUNDEF, no ano anterior à vigência desta
sional nacional para os profissionais do magistério público Emenda Constitucional.
da educação básica; § 3º O valor anual mínimo por aluno do ensino funda-
IV - os recursos recebidos à conta dos Fundos insti- mental, no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvol-
tuídos nos termos do inciso I do caput deste artigo serão vimento da Educação Básica e de Valorização dos Profis-
aplicados pelos Estados e Municípios exclusivamente nos sionais da Educação - FUNDEB, não poderá ser inferior ao
respectivos âmbitos de atuação prioritária, conforme esta- valor mínimo fixado nacionalmente no ano anterior ao da
belecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal;
vigência desta Emenda Constitucional.
V - a União complementará os recursos dos Fundos a
§ 4º Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos
que se refere o inciso II do caput deste artigo sempre que,
a que se refere o inciso I do caput deste artigo, levar-se-á
no Distrito Federal e em cada Estado, o valor por aluno
em conta a totalidade das matrículas no ensino fundamen-
não alcançar o mínimo definido nacionalmente, fixado em
tal e considerar-se-á para a educação infantil, para o ensi-
observância ao disposto no inciso VII do caput deste artigo,
no médio e para a educação de jovens e adultos 1/3 (um
vedada a utilização dos recursos a que se refere o § 5º do
terço) das matrículas no primeiro ano, 2/3 (dois terços) no
art. 212 da Constituição Federal;
VI - até 10% (dez por cento) da complementação da segundo ano e sua totalidade a partir do terceiro ano.
União prevista no inciso V do caput deste artigo poderá ser § 5º A porcentagem dos recursos de constituição dos
distribuída para os Fundos por meio de programas direcio- Fundos, conforme o inciso II do caput deste artigo, será
nados para a melhoria da qualidade da educação, na forma alcançada gradativamente nos primeiros 3 (três) anos de
da lei a que se refere o inciso III do caput deste artigo; vigência dos Fundos, da seguinte forma:
VII - a complementação da União de que trata o inciso I - no caso dos impostos e transferências constantes do
V do caput deste artigo será de, no mínimo: inciso II do caput do art. 155; do inciso IV do caput do art.
a) R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no pri- 158; e das alíneas a e b do inciso I e do inciso II do caput do
meiro ano de vigência dos Fundos; art. 159 da Constituição Federal:
b) R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no se- a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centési-
gundo ano de vigência dos Fundos; mos por cento), no primeiro ano;
c) R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos
milhões de reais), no terceiro ano de vigência dos Fundos; por cento), no segundo ano;
d) 10% (dez por cento) do total dos recursos a que se c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano;
refere o inciso II do caput deste artigo, a partir do quarto II - no caso dos impostos e transferências constantes
ano de vigência dos Fundos; dos incisos I e III do caput do art. 155; do inciso II do caput
VIII - a vinculação de recursos à manutenção e desen- do art. 157; e dos incisos II e III do caput do art. 158 da
volvimento do ensino estabelecida no art. 212 da Consti- Constituição Federal:
tuição Federal suportará, no máximo, 30% (trinta por cen- a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por
to) da complementação da União, considerando-se para os cento), no primeiro ano;
fins deste inciso os valores previstos no inciso VII do caput b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por
deste artigo; cento), no segundo ano;
IX - os valores a que se referem as alíneas a, b, e c do c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano.”(NR)
inciso § 6º (Revogado).
VII do caput deste artigo serão atualizados, anualmen- § 7º (Revogado).”(NR)
te, a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na
de forma a preservar, em caráter permanente, o valor real data de sua publicação, mantidos os efeitos do art. 60 do
da complementação da União; Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, conforme
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nais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, conveniadas com o VI - anos iniciais do ensino fundamental no campo;
poder público e que atendam a crianças de quatro a cinco VII - anos finais do ensino fundamental urbano;
anos, observadas as condições previstas nos incisos I a V do VIII - anos finais do ensino fundamental no campo;
§ 2o, efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, IX- ensino fundamental em tempo integral;
realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas X - ensino médio urbano;
Educacionais Anísio Teixeira - INEP. (Redação XI - ensino médio no campo;
dada pela Lei nº 13.348, de 2016) XII - ensino médio em tempo integral;
§ 4o Observado o disposto no parágrafo único do art. XIII - ensino médio integrado à educação profissional;
60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no § XIV - educação especial;
2o deste artigo, admitir-se-á o cômputo das matrículas XV - educação indígena e quilombola;
efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, na XVI - educação de jovens e adultos com avaliação no
educação especial oferecida em instituições comunitárias, processo;
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia- XVII - educação de jovens e adultos integrada à educa-
das com o poder público, com atuação exclusiva na moda- ção profissional de nível médio, com avaliação no processo.
lidade. XVIII - formação técnica e profissional prevista no inciso
§ 5o Eventuais diferenças do valor anual por aluno en- V do caput do art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
tre as instituições públicas da etapa e da modalidade re- 1996. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
feridas neste artigo e as instituições a que se refere o § § 1o A ponderação entre diferentes etapas, modalida-
1o deste artigo serão aplicadas na criação de infra-estrutura des e tipos de estabelecimento de ensino adotará como
da rede escolar pública. referência o fator 1 (um) para os anos iniciais do ensino
§ 6o Os recursos destinados às instituições de que tra- fundamental urbano, observado o disposto no § 1o do art.
tam os §§ 1o, 3o e 4o deste artigo somente poderão ser des- 32 desta Lei.
tinados às categorias de despesa previstas no art. 70 da Lei § 2o A ponderação entre demais etapas, modalidades
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. e tipos de estabelecimento será resultado da multiplicação
Art. 9o Para os fins da distribuição dos recursos de que do fator de referência por um fator específico fixado entre
trata esta Lei, serão consideradas exclusivamente as ma- 0,70 (setenta centésimos) e 1,30 (um inteiro e trinta cen-
trículas presenciais efetivas, conforme os dados apurados tésimos), observando-se, em qualquer hipótese, o limite
no censo escolar mais atualizado, realizado anualmente previsto no art. 11 desta Lei.
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- § 3o Para os fins do disposto neste artigo, o regula-
nais Anísio Teixeira - INEP, considerando as ponderações mento disporá sobre a educação básica em tempo integral
aplicáveis. e sobre os anos iniciais e finais do ensino fundamental.
§ 1o Os recursos serão distribuídos entre o Distrito § 4o O direito à educação infantil será assegurado às
Federal, os Estados e seus Municípios, considerando-se crianças até o término do ano letivo em que completarem
exclusivamente as matrículas nos respectivos âmbitos de 6 (seis) anos de idade.
atuação prioritária, conforme os §§ 2º e 3º do art. 211 da Art. 11. A apropriação dos recursos em função das ma-
Constituição Federal, observado o disposto no § 1o do art. trículas na modalidade de educação de jovens e adultos, nos
21 desta Lei. termos da alínea c do inciso III do caput do art. 60 do Ato das
§ 2o Serão consideradas, para a educação especial, as Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, observará,
matrículas na rede regular de ensino, em classes comuns em cada Estado e no Distrito Federal, percentual de até 15%
ou em classes especiais de escolas regulares, e em escolas (quinze por cento) dos recursos do Fundo respectivo.
especiais ou especializadas.
§ 3o Os profissionais do magistério da educação básica Seção II
da rede pública de ensino cedidos para as instituições a Da Comissão Intergovernamental de Financiamen-
que se referem os §§ 1o, 3o e 4o do art. 8o desta Lei serão to para a Educação Básica de Qualidade
considerados como em efetivo exercício na educação bási-
ca pública para fins do disposto no art. 22 desta Lei. Art. 12. Fica instituída, no âmbito do Ministério da Edu-
§ 4o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po- cação, a Comissão Intergovernamental de Financiamento
derão, no prazo de 30 (trinta) dias da publicação dos dados para a Educação Básica de Qualidade, com a seguinte com-
do censo escolar no Diário Oficial da União, apresentar re- posição:
cursos para retificação dos dados publicados. I - 1 (um) representante do Ministério da Educação;
Art. 10. A distribuição proporcional de recursos dos Fun- II - 1 (um) representante dos secretários estaduais de edu-
dos levará em conta as seguintes diferenças entre etapas, cação de cada uma das 5 (cinco) regiões político-administra-
modalidades e tipos de estabelecimento de ensino da edu- tivas do Brasil indicado pelas seções regionais do Conselho
cação básica: Nacional de Secretários de Estado da Educação - CONSED;
I - creche em tempo integral; III - 1 (um) representante dos secretários municipais de
II - pré-escola em tempo integral; educação de cada uma das 5 (cinco) regiões político-ad-
III - creche em tempo parcial; ministrativas do Brasil indicado pelas seções regionais da
IV - pré-escola em tempo parcial; União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação -
V - anos iniciais do ensino fundamental urbano; UNDIME.
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§ 7o Os conselhos dos Fundos atuarão com autono- às despesas realizadas ficarão permanentemente à disposi-
mia, sem vinculação ou subordinação institucional ao Po- ção dos conselhos responsáveis, bem como dos órgãos fede-
der Executivo local e serão renovados periodicamente ao rais, estaduais e municipais de controle interno e externo, e
final de cada mandato dos seus membros. ser-lhes-á dada ampla publicidade, inclusive por meio ele-
§ 8o A atuação dos membros dos conselhos dos Fun- trônico.
dos: Parágrafo único. Os conselhos referidos nos incisos II,
I - não será remunerada; III e IV do § 1o do art. 24 desta Lei poderão, sempre que
II - é considerada atividade de relevante interesse social; julgarem conveniente:
III - assegura isenção da obrigatoriedade de testemu- I - apresentar ao Poder Legislativo local e aos órgãos
nhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do de controle interno e externo manifestação formal acerca
exercício de suas atividades de conselheiro e sobre as pes- dos registros contábeis e dos demonstrativos gerenciais do
soas que lhes confiarem ou deles receberem informações; Fundo;
IV - veda, quando os conselheiros forem representantes II - por decisão da maioria de seus membros, convocar o
de professores e diretores ou de servidores das escolas públi- Secretário de Educação competente ou servidor equivalente
cas, no curso do mandato: para prestar esclarecimentos acerca do fluxo de recursos e
a) exoneração ou demissão do cargo ou emprego sem a execução das despesas do Fundo, devendo a autoridade
justa causa ou transferência involuntária do estabelecimento convocada apresentar-se em prazo não superior a 30 (trinta)
de ensino em que atuam; dias;
b) atribuição de falta injustificada ao serviço em função III - requisitar ao Poder Executivo cópia de documentos
das atividades do conselho; referentes a:
c) afastamento involuntário e injustificado da condição a) licitação, empenho, liquidação e pagamento de obras
de conselheiro antes do término do mandato para o qual e serviços custeados com recursos do Fundo;
tenha sido designado; b) folhas de pagamento dos profissionais da educação,
V - veda, quando os conselheiros forem representantes as quais deverão discriminar aqueles em efetivo exercício na
de estudantes em atividades do conselho, no curso do man-
educação básica e indicar o respectivo nível, modalidade ou
dato, atribuição de falta injustificada nas atividades escola-
tipo de estabelecimento a que estejam vinculados;
res.
c) documentos referentes aos convênios com as institui-
§ 9o Aos conselhos incumbe, ainda, supervisionar o
ções a que se refere o art. 8o desta Lei;
censo escolar anual e a elaboração da proposta orçamen-
d) outros documentos necessários ao desempenho de
tária anual, no âmbito de suas respectivas esferas gover-
suas funções;
namentais de atuação, com o objetivo de concorrer para
IV - realizar visitas e inspetorias in loco para verificar:
o regular e tempestivo tratamento e encaminhamento dos
a) o desenvolvimento regular de obras e serviços efetua-
dados estatísticos e financeiros que alicerçam a operacio-
nalização dos Fundos. dos nas instituições escolares com recursos do Fundo;
§ 10. Os conselhos dos Fundos não contarão com es- b) a adequação do serviço de transporte escolar;
trutura administrativa própria, incumbindo à União, aos c) a utilização em benefício do sistema de ensino de
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios garantir in- bens adquiridos com recursos do Fundo.
fra-estrutura e condições materiais adequadas à execução Art. 26. A fiscalização e o controle referentes ao cumpri-
plena das competências dos conselhos e oferecer ao Minis- mento do disposto no art. 212 da Constituição Federal e do
tério da Educação os dados cadastrais relativos à criação e disposto nesta Lei, especialmente em relação à aplicação
composição dos respectivos conselhos. da totalidade dos recursos dos Fundos, serão exercidos:
§ 11. Os membros dos conselhos de acompanhamento I - pelo órgão de controle interno no âmbito da União e
e controle terão mandato de, no máximo, 2 (dois) anos, pelos órgãos de controle interno no âmbito dos Estados, do
permitida 1 (uma) recondução por igual período. Distrito Federal e dos Municípios;
§ 12. Na hipótese da inexistência de estudantes eman- II - pelos Tribunais de Contas dos Estados, do Distrito
cipados, representação estudantil poderá acompanhar as Federal e dos Municípios, junto aos respectivos entes gover-
reuniões do conselho com direito a voz. namentais sob suas jurisdições;
§ 13. Aos conselhos incumbe, também, acompanhar III - pelo Tribunal de Contas da União, no que tange às
a aplicação dos recursos federais transferidos à conta do atribuições a cargo dos órgãos federais, especialmente em
Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar - relação à complementação da União.
PNATE e do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino Art. 27. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos e, ain- prestarão contas dos recursos dos Fundos conforme os pro-
da, receber e analisar as prestações de contas referentes a cedimentos adotados pelos Tribunais de Contas competen-
esses Programas, formulando pareceres conclusivos acerca tes, observada a regulamentação aplicável.
da aplicação desses recursos e encaminhando-os ao Fundo Parágrafo único. As prestações de contas serão instruí-
Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE. das com parecer do conselho responsável, que deverá ser
Art. 25. Os registros contábeis e os demonstrativos ge- apresentado ao Poder Executivo respectivo em até 30 (trinta)
renciais mensais, atualizados, relativos aos recursos repassa- dias antes do vencimento do prazo para a apresentação da
dos e recebidos à conta dos Fundos assim como os referentes prestação de contas prevista no caput deste artigo.
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Art. 28. O descumprimento do disposto no art. 212 da I - para os impostos e transferências constantes do inci-
Constituição Federal e do disposto nesta Lei sujeitará os so II do caput do art. 155, do inciso IV do caput do art. 158,
Estados e o Distrito Federal à intervenção da União, e os das alíneas a e b do inciso I e do inciso II do caput do art. 159
Municípios à intervenção dos respectivos Estados a que da Constituição Federal, bem como para a receita a que se
pertencem, nos termos da alínea e do inciso VII do caput do refere o § 1o do art. 3o desta Lei:
art. 34 e do inciso III do caput do art. 35 da Constituição a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos
Federal. por cento), no 1o (primeiro) ano;
Art. 29. A defesa da ordem jurídica, do regime demo- b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos por
crático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis, cento), no 2o (segundo) ano; e
relacionada ao pleno cumprimento desta Lei, compete ao c) 20% (vinte por cento), a partir do 3o (terceiro) ano,
Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal e Terri- inclusive;
tórios e ao Ministério Público Federal, especialmente quanto II - para os impostos e transferências constantes dos in-
às transferências de recursos federais. cisos I e III do caput do art. 155, inciso II do caput do art.
§ 1o A legitimidade do Ministério Público prevista 157, incisos II e III do caput do art. 158 da Constituição Fe-
no caput deste artigo não exclui a de terceiros para a propo- deral:
situra de ações a que se referem o inciso LXXIII do caput do a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por
art. 5º e o § 1º do art. 129 da Constituição Federal, sendo- cento), no 1o (primeiro) ano;
-lhes assegurado o acesso gratuito aos documentos mencio- b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por
nados nos arts. 25 e 27 desta Lei. cento), no 2o (segundo) ano; e
§ 2o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os c) 20% (vinte por cento), a partir do 3o (terceiro) ano,
Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos inclusive.
Estados para a fiscalização da aplicação dos recursos dos § 2o As matrículas de que trata o art. 9o desta Lei serão
Fundos que receberem complementação da União. consideradas conforme a seguinte progressão:
Art. 30. O Ministério da Educação atuará: I - para o ensino fundamental regular e especial públi-
I - no apoio técnico relacionado aos procedimentos e co: a totalidade das matrículas imediatamente a partir do
critérios de aplicação dos recursos dos Fundos, junto aos Es- 1o (primeiro) ano de vigência do Fundo;
tados, Distrito Federal e Municípios e às instâncias responsá- II - para a educação infantil, o ensino médio e a educa-
veis pelo acompanhamento, fiscalização e controle interno ção de jovens e adultos:
e externo; a) 1/3 (um terço) das matrículas no 1o (primeiro) ano de
II - na capacitação dos membros dos conselhos; vigência do Fundo;
III - na divulgação de orientações sobre a operacionali- b) 2/3 (dois terços) das matrículas no 2o (segundo) ano
zação do Fundo e de dados sobre a previsão, a realização e de vigência do Fundo;
a utilização dos valores financeiros repassados, por meio de c) a totalidade das matrículas a partir do 3o (terceiro)
publicação e distribuição de documentos informativos e em ano de vigência do Fundo, inclusive.
meio eletrônico de livre acesso público; § 3o A complementação da União será de, no mínimo:
IV - na realização de estudos técnicos com vistas na de- I - R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no 1o (pri-
finição do valor referencial anual por aluno que assegure meiro) ano de vigência dos Fundos;
padrão mínimo de qualidade do ensino; II - R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no 2o (se-
V - no monitoramento da aplicação dos recursos dos gundo) ano de vigência dos Fundos; e
Fundos, por meio de sistema de informações orçamentárias III - R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos
e financeiras e de cooperação com os Tribunais de Contas milhões de reais), no 3o (terceiro) ano de vigência dos Fun-
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal; dos.
VI - na realização de avaliações dos resultados da apli- § 4o Os valores a que se referem os incisos I, II e III do
cação desta Lei, com vistas na adoção de medidas operacio- § 3 deste artigo serão atualizados, anualmente, nos pri-
o
nais e de natureza político-educacional corretivas, devendo meiros 3 (três) anos de vigência dos Fundos, de forma a
a primeira dessas medidas se realizar em até 2 (dois) anos preservar em caráter permanente o valor real da comple-
após a implantação do Fundo. mentação da União.
§ 5o Os valores a que se referem os incisos I, II e III do §
CAPÍTULO VII 3o deste artigo serão corrigidos, anualmente, pela variação
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Seção I – INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geo-
Disposições Transitórias grafia e Estatística – IBGE, ou índice equivalente que lhe
venha a suceder, no período compreendido entre o mês
Art. 31. Os Fundos serão implantados progressivamente da promulgação da Emenda Constitucional no 53, de 19 de
nos primeiros 3 (três) anos de vigência, conforme o disposto dezembro de 2006, e 1o de janeiro de cada um dos 3 (três)
neste artigo. primeiros anos de vigência dos Fundos.
§ 1o A porcentagem de recursos de que trata o art. § 6o Até o 3o (terceiro) ano de vigência dos Fundos,
3o desta Lei será alcançada conforme a seguinte progres- o cronograma de complementação da União observará a
são: programação financeira do Tesouro Nacional e contem-
154
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
plará pagamentos mensais de, no mínimo, 5% (cinco por V - anos finais do ensino fundamental urbano - 1,10
cento) da complementação anual, a serem realizados até o (um inteiro e dez centésimos);
último dia útil de cada mês, assegurados os repasses de, no VI - anos finais do ensino fundamental no campo - 1,15
mínimo, 45% (quarenta e cinco por cento) até 31 de julho e (um inteiro e quinze centésimos);
de 100% (cem por cento) até 31 de dezembro de cada ano. VII - ensino fundamental em tempo integral - 1,25 (um
§ 7o Até o 3o (terceiro) ano de vigência dos Fundos, inteiro e vinte e cinco centésimos);
a complementação da União não sofrerá ajuste quanto a VIII - ensino médio urbano - 1,20 (um inteiro e vinte
seu montante em função da diferença entre a receita uti- centésimos);
lizada para o cálculo e a receita realizada do exercício de IX - ensino médio no campo - 1,25 (um inteiro e vinte e
referência, observado o disposto no § 2odo art. 6o desta Lei cinco centésimos);
quanto à distribuição entre os fundos instituídos no âmbito X - ensino médio em tempo integral - 1,30 (um inteiro e
de cada Estado. trinta centésimos);
XI - ensino médio integrado à educação profissional -
Art. 32. O valor por aluno do ensino fundamental, no
1,30 (um inteiro e trinta centésimos);
Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, não poderá ser
XII - educação especial - 1,20 (um inteiro e vinte centé-
inferior ao efetivamente praticado em 2006, no âmbito do
simos);
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Funda-
XIII - educação indígena e quilombola - 1,20 (um inteiro
mental e de Valorização do Magistério - FUNDEF, estabele- e vinte centésimos);
cido pela Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro XIV - educação de jovens e adultos com avaliação no
de 1996. processo - 0,70 (setenta centésimos);
§ 1o Caso o valor por aluno do ensino fundamental, XV - educação de jovens e adultos integrada à educação
no Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, no âmbito profissional de nível médio, com avaliação no processo - 0,70
do Fundeb, resulte inferior ao valor por aluno do ensino (setenta centésimos).
fundamental, no Fundo de cada Estado e do Distrito Fe- § 1o A Comissão Intergovernamental de Financiamento
deral, no âmbito do Fundef, adotar-se-á este último ex- para a Educação Básica de Qualidade fixará as pondera-
clusivamente para a distribuição dos recursos do ensino ções referentes à creche e pré-escola em tempo integral.
fundamental, mantendo-se as demais ponderações para as § 2o Na fixação dos valores a partir do 2o (segundo) ano
restantes etapas, modalidades e tipos de estabelecimento de vigência do Fundeb, as ponderações entre as matrícu-
de ensino da educação básica, na forma do regulamento. las da educação infantil seguirão, no mínimo, as seguintes
§ 2o O valor por aluno do ensino fundamental a que pontuações:
se refere o caput deste artigo terá como parâmetro aquele I - creche pública em tempo integral - 1,10 (um inteiro
efetivamente praticado em 2006, que será corrigido, anual- e dez centésimos);
mente, com base no Índice Nacional de Preços ao Consu- II - creche pública em tempo parcial - 0,80 (oitenta cen-
midor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro tésimos);
de Geografia e Estatística - IBGE ou índice equivalente que III - creche conveniada em tempo integral - 0,95 (noven-
lhe venha a suceder, no período de 12 (doze) meses encer- ta e cinco centésimos);
rados em junho do ano imediatamente anterior. IV - creche conveniada em tempo parcial - 0,80 (oitenta
Art. 33. O valor anual mínimo por aluno definido nacio- centésimos);
nalmente para o ensino fundamental no âmbito do Fundeb V - pré-escola em tempo integral - 1,15 (um inteiro e
não poderá ser inferior ao mínimo fixado nacionalmente em quinze centésimos);
VI - pré-escola em tempo parcial - 0,90 (noventa cen-
2006 no âmbito do Fundef.
tésimos).
Art. 34. Os conselhos dos Fundos serão instituídos no
prazo de 60 (sessenta) dias contados da vigência dos Fun-
Seção II
dos, inclusive mediante adaptações dos conselhos do Fundef
Disposições Finais
existentes na data de publicação desta Lei.
Art. 35. O Ministério da Educação deverá realizar, em 5 Art. 37. Os Municípios poderão integrar, nos termos da
(cinco) anos contados da vigência dos Fundos, fórum nacio- legislação local específica e desta Lei, o Conselho do Fundo
nal com o objetivo de avaliar o financiamento da educação ao Conselho Municipal de Educação, instituindo câmara es-
básica nacional, contando com representantes da União, dos pecífica para o acompanhamento e o controle social sobre
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, dos trabalhado- a distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos do
res da educação e de pais e alunos. Fundo, observado o disposto no inciso IV do § 1o e nos §§ 2o,
Art. 36. No 1o (primeiro) ano de vigência do Fundeb, as 3o, 4o e 5o do art. 24 desta Lei.
ponderações seguirão as seguintes especificações: § 1o A câmara específica de acompanhamento e con-
I - creche - 0,80 (oitenta centésimos); trole social sobre a distribuição, a transferência e a aplica-
II - pré-escola - 0,90 (noventa centésimos); ção dos recursos do Fundeb terá competência deliberativa
III - anos iniciais do ensino fundamental urbano - 1,00 e terminativa.
(um inteiro); § 2o Aplicar-se-ão para a constituição dos Conselhos
IV - anos iniciais do ensino fundamental no campo - Municipais de Educação as regras previstas no § 5o do art.
1,05 (um inteiro e cinco centésimos); 24 desta Lei.
155
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 38. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- Parágrafo único. O ajuste referente à diferença entre
nicípios deverão assegurar no financiamento da educação o total dos recursos da alínea a do inciso I e da alínea a do
básica, previsto no art. 212 da Constituição Federal, a me- inciso II do § 1o do art. 31 desta Lei e os aportes referentes a
lhoria da qualidade do ensino, de forma a garantir padrão janeiro e fevereiro de 2007, realizados na forma do dispos-
mínimo de qualidade definido nacionalmente. to neste artigo, será pago no mês de abril de 2007.
Parágrafo único. É assegurada a participação popular Art. 46. Ficam revogados, a partir de 1o de janeiro de
e da comunidade educacional no processo de definição do 2007, os arts. 1º a 8º e 13 da Lei nº 9.424, de 24 de dezem-
padrão nacional de qualidade referido no caput deste arti- bro de 1996, e oart. 12 da Lei no 10.880, de 9 de junho de
go. 2004, e o § 3º do art. 2º da Lei nº 10.845, de 5 de março de
Art. 39. A União desenvolverá e apoiará políticas de 2004.
estímulo às iniciativas de melhoria de qualidade do ensino, Art. 47. Nos 2 (dois) primeiros anos de vigência do Fun-
acesso e permanência na escola, promovidas pelas unidades deb, a União alocará, além dos destinados à complementa-
federadas, em especial aquelas voltadas para a inclusão de ção ao Fundeb, recursos orçamentários para a promoção de
crianças e adolescentes em situação de risco social. programa emergencial de apoio ao ensino médio e para re-
Parágrafo único. A União, os Estados e o Distrito Fede- forço do programa nacional de apoio ao transporte escolar.
ral desenvolverão, em regime de colaboração, programas Art. 48. Os Fundos terão vigência até 31 de dezembro
de apoio ao esforço para conclusão da educação básica dos de 2020.
alunos regularmente matriculados no sistema público de Art. 49. Esta Lei entra em vigor na data da sua publi-
educação: cação.
I - que cumpram pena no sistema penitenciário, ainda Brasília, 20 de junho de 2007; 186o da Independência
que na condição de presos provisórios; e 119o da República.
II - aos quais tenham sido aplicadas medidas socioedu-
cativas nos termos da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. ANEXO
Art. 40. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios Nota explicativa:
deverão implantar Planos de Carreira e remuneração dos
O cálculo para a distribuição dos recursos do Fundeb é
profissionais da educação básica, de modo a assegurar:
realizado em 4 (quatro) etapas subsequentes:
I - a remuneração condigna dos profissionais na educa-
1) cálculo do valor anual por aluno do Fundo, no âm-
ção básica da rede pública;
bito de cada Estado e do Distrito Federal, obtido pela ra-
II - integração entre o trabalho individual e a proposta
zão entre o total de recursos de cada Fundo e o número
pedagógica da escola;
de matrículas presenciais efetivas nos âmbitos de atuação
III - a melhoria da qualidade do ensino e da aprendi-
prioritária (§§ 2o e 3o do art. 211 da Constituição Federal),
zagem.
multiplicado pelos fatores de ponderações aplicáveis;
Parágrafo único. Os Planos de Carreira deverão con- 2) dedução da parcela da complementação da União
templar capacitação profissional especialmente voltada à de que trata o art. 7o desta Lei;
formação continuada com vistas na melhoria da qualidade 3) distribuição da complementação da União, confor-
do ensino. me os seguintes procedimentos:
Art. 41. O poder público deverá fixar, em lei específica, 3.1) ordenação decrescente dos valores anuais por alu-
até 31 de agosto de 2007, piso salarial profissional nacio- no obtidos nos Fundos de cada Estado e do Distrito Fede-
nal para os profissionais do magistério público da educação ral;
básica. 3.2) complementação do último Fundo até que seu va-
Parágrafo único. (VETADO) lor anual por aluno se iguale ao valor anual por aluno do
Art. 42. (VETADO) Fundo imediatamente superior;
Art. 43. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2007, fica 3.3) uma vez equalizados os valores anuais por aluno
mantida a sistemática de repartição de recursos prevista dos Fundos, conforme operação 3.2, a complementação da
na Lei no 9.424, de 24 de dezembro de 1996, mediante a União será distribuída a esses 2 (dois) Fundos até que seu
utilização dos coeficientes de participação do Distrito Fede- valor anual por aluno se iguale ao valor anual por aluno do
ral, de cada Estado e dos Municípios, referentes ao exercício Fundo imediatamente superior;
de 2006, sem o pagamento de complementação da União. 3.4) as operações 3.2 e 3.3 são repetidas tantas vezes
Art. 44. A partir de 1o de março de 2007, a distribui- quantas forem necessárias até que a complementação da
ção dos recursos dos Fundos é realizada na forma prevista União tenha sido integralmente distribuída, de forma que
nesta Lei. o valor anual mínimo por aluno resulte definido nacional-
Parágrafo único. A complementação da União prevista mente em função dessa complementação;
no inciso I do § 3o do art. 31 desta Lei, referente ao ano de 4) verificação, em cada Estado e no Distrito Federal, da
2007, será integralmente distribuída entre março e dezem- observância do disposto no § 1o do art. 32 (ensino funda-
bro. mental) e no art. 11 (educação de jovens e adultos) desta
Art. 45. O ajuste da distribuição dos recursos referentes Lei, procedendo-se aos eventuais ajustes em cada Fundo.
ao primeiro trimestre de 2007 será realizado no mês de abril
de 2007, conforme a sistemática estabelecida nesta Lei.
156
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
em que: em que:
em que:
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158
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159
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho § 7o A oferta de formações experimentais relacionadas
esperados para o ensino médio, que serão referência nos ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá-
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
Comum Curricular. continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse-
§ 7o Os currículos do ensino médio deverão conside- lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser-
rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de
trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação.
e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so- § 8o A oferta de formação técnica e profissional a que
cioemocionais. se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti-
§ 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser
avaliação processual e formativa serão organizados nas aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa-
redes de ensino por meio de atividades teóricas e práti- ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
cas, provas orais e escritas, seminários, projetos e ativida- certificada pelos sistemas de ensino.
des on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o § 9o As instituições de ensino emitirão certificado com
educando demonstre: validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior
presidem a produção moderna; ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu-
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- são do ensino médio seja etapa obrigatória.
guagem.” § 10. Além das formas de organização previstas no art.
Art. 4o O art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações: adotar o sistema de créditos com terminalidade específica.
“Art. 36. O currículo do ensino médio será composto § 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for- riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
mativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de reconhecer competências e firmar convênios com institui-
diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para
ções de educação a distância com notório reconhecimento,
o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a
mediante as seguintes formas de comprovação:
saber:
I - demonstração prática;
I - linguagens e suas tecnologias;
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
II - matemática e suas tecnologias;
experiência adquirida fora do ambiente escolar;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
III - atividades de educação técnica oferecidas em outras
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
instituições de ensino credenciadas;
V - formação técnica e profissional.
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocupa-
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e
das respectivas competências e habilidades será feita de cionais;
acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de en- V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
sino. nais ou estrangeiras;
I - (revogado); VI - cursos realizados por meio de educação a distância
II - (revogado); ou educação presencial mediada por tecnologias.
................................................................................. § 12. As escolas deverão orientar os alunos no proces-
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser so de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
composto itinerário formativo integrado, que se traduz na profissional previstas no caput.” (NR)
composição de componentes curriculares da Base Nacio- Art. 5o O art. 44 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
nal Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, 1996, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o:
considerando os incisos I a V do caput. “Art. 44. ...........................................................
.................................................................................. ..................................................................................
§ 5o Os sistemas de ensino, mediante disponibilida- § 3o O processo seletivo referido no inciso II conside-
de de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do rará as competências e as habilidades definidas na Base
ensino médio cursar mais um itinerário formativo de que Nacional Comum Curricular.” (NR)
trata o caput. Art. 6o O art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
§ 6o A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- 1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:
mação com ênfase técnica e profissional considerará: “Art. 61. ...........................................................
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no se- .................................................................................
tor produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissio- de áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
nal; atestados por titulação específica ou prática de ensino em
II - a possibilidade de concessão de certificados interme- unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
diários de qualificação para o trabalho, quando a formação corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva-
for estruturada e organizada em etapas com terminalidade. mente para atender ao inciso V do caput do art. 36;
160
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
V - profissionais graduados que tenham feito comple- 4o desta Lei, no primeiro ano letivo subsequente à data de
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho publicação da Base Nacional Comum Curricular, e iniciar o
Nacional de Educação. processo de implementação, conforme o referido crono-
........................................................................” (NR) grama, a partir do segundo ano letivo subsequente à data
Art. 7o O art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de de homologação da Base Nacional Comum Curricular.
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 13. Fica instituída, no âmbito do Ministério da Edu-
“Art. 62. A formação de docentes para atuar na educa- cação, a Política de Fomento à Implementação de Escolas de
ção básica far-se-á em nível superior, em curso de licencia- Ensino Médio em Tempo Integral.
tura plena, admitida, como formação mínima para o exercí- Parágrafo único. A Política de Fomento de que trata
cio do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros o caput prevê o repasse de recursos do Ministério da Edu-
anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na cação para os Estados e para o Distrito Federal pelo prazo
modalidade normal. de dez anos por escola, contado da data de início da imple-
.................................................................................. mentação do ensino médio integral na respectiva escola, de
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docen- acordo com termo de compromisso a ser formalizado entre
tes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.” as partes, que deverá conter, no mínimo:
(NR) I - identificação e delimitação das ações a serem finan-
Art. 8o O art. 318 da Consolidação das Leis do Trabalho ciadas;
- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de II - metas quantitativas;
1943, passa a vigorar com a seguinte redação: III - cronograma de execução físico-financeira;
“Art. 318. O professor poderá lecionar em um mesmo IV - previsão de início e fim de execução das ações e da
estabelecimento por mais de um turno, desde que não ultra- conclusão das etapas ou fases programadas.
passe a jornada de trabalho semanal estabelecida legalmen- Art. 14. São obrigatórias as transferências de recursos
te, assegurado e não computado o intervalo para refeição.” da União aos Estados e ao Distrito Federal, desde que cum-
(NR) pridos os critérios de elegibilidade estabelecidos nesta Lei e
Art. 9o O caput do art. 10 da Lei no 11.494, de 20 de
no regulamento, com a finalidade de prestar apoio financei-
junho de 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso
ro para o atendimento de escolas públicas de ensino médio
XVIII:
em tempo integral cadastradas no Censo Escolar da Educa-
“Art. 10. ...........................................................
ção Básica, e que:
.................................................................................
I - tenham iniciado a oferta de atendimento em tem-
XVIII - formação técnica e profissional prevista no inci-
po integral a partir da vigência desta Lei de acordo com os
so V do caput do art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro
critérios de elegibilidade no âmbito da Política de Fomento,
de 1996.
devendo ser dada prioridade às regiões com menores índices
........................................................................” (NR)
Art. 10. O art. 16 do Decreto-Lei no 236, de 28 de feve- de desenvolvimento humano e com resultados mais baixos
reiro de 1967, passa a vigorar com as seguintes alterações: nos processos nacionais de avaliação do ensino médio; e
“Art. 16. ........................................................... II - tenham projeto político-pedagógico que obedeça ao
................................................................................. disposto no art. 36 da Lei no 9.394, de 20 dezembro de 1996.
§ 2o Os programas educacionais obrigatórios deverão § 1o A transferência de recursos de que trata
ser transmitidos em horários compreendidos entre as sete o caput será realizada com base no número de matrículas
e as vinte e uma horas. cadastradas pelos Estados e pelo Distrito Federal no Censo
§ 3o O Ministério da Educação poderá celebrar convê- Escolar da Educação Básica, desde que tenham sido aten-
nios com entidades representativas do setor de radiodifu- didos, de forma cumulativa, os requisitos dos incisos I e II
são, que visem ao cumprimento do disposto no caput, para do caput.
a divulgação gratuita dos programas e ações educacionais § 2o A transferência de recursos será realizada anual-
do Ministério da Educação, bem como à definição da forma mente, a partir de valor único por aluno, respeitada a dis-
de distribuição dos programas relativos à educação básica, ponibilidade orçamentária para atendimento, a ser definida
profissional, tecnológica e superior e a outras matérias de por ato do Ministro de Estado da Educação.
interesse da educação. § 3o Os recursos transferidos nos termos do caput po-
§ 4o As inserções previstas no caput destinam-se ex- derão ser aplicados nas despesas de manutenção e desen-
clusivamente à veiculação de mensagens do Ministério da volvimento previstas nos incisos I, II, III, V e VIII do caput do
Educação, com caráter de utilidade pública ou de divulga- art. 70 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, das
ção de programas e ações educacionais.” (NR) escolas públicas participantes da Política de Fomento.
Art. 11. O disposto no § 8o do art. 62 da Lei no 9.394, § 4o Na hipótese de o Distrito Federal ou de o Estado
de 20 de dezembro de 1996, deverá ser implementado no ter, no momento do repasse do apoio financeiro suple-
prazo de dois anos, contado da publicação da Base Nacional mentar de que trata o caput, saldo em conta de recursos
Comum Curricular. repassados anteriormente, esse montante, a ser verificado
Art. 12. Os sistemas de ensino deverão estabelecer no último dia do mês anterior ao do repasse, será subtraído
cronograma de implementação das alterações na Lei no do valor a ser repassado como apoio financeiro suplemen-
9.394, de 20 de dezembro de 1996, conforme os arts. 2o, 3o e tar do exercício corrente.
161
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
III - Conselho Nacional de Educação - CNE; § 2o As conferências nacionais de educação realizar-
IV - Fórum Nacional de Educação. -se-ão com intervalo de até 4 (quatro) anos entre elas, com
§ 1o Compete, ainda, às instâncias referidas no caput: o objetivo de avaliar a execução deste PNE e subsidiar a
I - divulgar os resultados do monitoramento e das elaboração do plano nacional de educação para o decênio
avaliações nos respectivos sítios institucionais da internet; subsequente.
II - analisar e propor políticas públicas para assegu-
rar a implementação das estratégias e o cumprimento das Art. 7o A União, os Estados, o Distrito Federal e os
metas; Municípios atuarão em regime de colaboração, visando
III - analisar e propor a revisão do percentual de inves- ao alcance das metas e à implementação das estratégias ob-
timento público em educação. jeto deste Plano.
§ 2o A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de § 1o Caberá aos gestores federais, estaduais, munici-
vigência deste PNE, o Instituto Nacional de Estudos e pais e do Distrito Federal a adoção das medidas governa-
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP publicará mentais necessárias ao alcance das metas previstas neste
estudos para aferir a evolução no cumprimento das metas PNE.
estabelecidas no Anexo desta Lei, com informações organi- § 2o As estratégias definidas no Anexo desta Lei não
zadas por ente federado e consolidadas em âmbito nacio- elidem a adoção de medidas adicionais em âmbito local
nal, tendo como referência os estudos e as pesquisas de que ou de instrumentos jurídicos que formalizem a coopera-
trata o art. 4o, sem prejuízo de outras fontes e informações ção entre os entes federados, podendo ser complementadas
relevantes. por mecanismos nacionais e locais de coordenação e cola-
§ 3o A meta progressiva do investimento público em boração recíproca.
educação será avaliada no quarto ano de vigência do PNE § 3o Os sistemas de ensino dos Estados, do Distrito
e poderá ser ampliada por meio de lei para atender às ne- Federal e dos Municípios criarão mecanismos para o acom-
cessidades financeiras do cumprimento das demais metas. panhamento local da consecução das metas deste PNE e
§ 4º O investimento público em educação a que se dos planos previstos no art. 8o.
§ 4o Haverá regime de colaboração específico para a
referem o inciso VI do art. 214 da Constituição Federal e a
implementação de modalidades de educação escolar que
meta 20 do Anexo desta Lei engloba os recursos aplicados
necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a
na forma do art. 212 da Constituição Federal e do art. 60
utilização de estratégias que levem em conta as identidades
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, bem
e especificidades socioculturais e linguísticas de cada comu-
como os recursos aplicados nos programas de expansão
nidade envolvida, assegurada a consulta prévia e informada
da educação profissional e superior, inclusive na forma de
a essa comunidade.
incentivo e isenção fiscal, as bolsas de estudos concedidas
§ 5o Será criada uma instância permanente de nego-
no Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em pro-
ciação e cooperação entre a União, os Estados, o Distrito
gramas de financiamento estudantil e o financiamento de Federal e os Municípios.
creches, pré-escolas e de educação especial na forma do § 6o O fortalecimento do regime de colaboração entre
art. 213 da Constituição Federal. os Estados e respectivos Municípios incluirá a instituição
§ 5o Será destinada à manutenção e ao desenvolvi- de instâncias permanentes de negociação, cooperação e
mento do ensino, em acréscimo aos recursos vinculados pactuação em cada Estado.
nos termos do art. 212 da Constituição Federal, além de § 7o O fortalecimento do regime de colaboração entre
outros recursos previstos em lei, a parcela da participação os Municípios dar-se-á, inclusive, mediante a adoção de ar-
no resultado ou da compensação financeira pela explora- ranjos de desenvolvimento da educação.
ção de petróleo e de gás natural, na forma de lei específi-
ca, com a finalidade de assegurar o cumprimento da meta Art. 8o Os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
prevista no inciso VI do art. 214 da Constituição Federal. pios deverão elaborar seus correspondentes planos de
educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em
Art. 6o A União promoverá a realização de pelo menos consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas
2 (duas) conferências nacionais de educação até o final neste PNE, no prazo de 1 (um) ano contado da publicação
do decênio, precedidas de conferências distrital, municipais desta Lei.
e estaduais, articuladas e coordenadas pelo Fórum Nacional § 1o Os entes federados estabelecerão nos respectivos
de Educação, instituído nesta Lei, no âmbito do Ministério planos de educação estratégias que:
da Educação. I - assegurem a articulação das políticas educacionais
§ 1o O Fórum Nacional de Educação, além da atribui- com as demais políticas sociais, particularmente as culturais;
ção referida no caput: II - considerem as necessidades específicas das popula-
I - acompanhará a execução do PNE e o cumprimento ções do campo e das comunidades indígenas e quilombolas,
de suas metas; asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultu-
II - promoverá a articulação das conferências nacionais ral;
de educação com as conferências regionais, estaduais e mu- III - garantam o atendimento das necessidades específi-
nicipais que as precederem. cas na educação especial, assegurado o sistema educacional
inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades;
163
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
IV - promovam a articulação interfederativa na imple- § 5o A avaliação de desempenho dos (as) estudantes
mentação das políticas educacionais. em exames, referida no inciso I do § 1o, poderá ser direta-
§ 2o Os processos de elaboração e adequação dos mente realizada pela União ou, mediante acordo de coope-
planos de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos ração, pelos Estados e pelo Distrito Federal, nos respectivos
Municípios, de que trata o caput deste artigo, serão realiza- sistemas de ensino e de seus Municípios, caso mantenham
dos com ampla participação de representantes da comuni- sistemas próprios de avaliação do rendimento escolar, asse-
dade educacional e da sociedade civil. gurada a compatibilidade metodológica entre esses sistemas
e o nacional, especialmente no que se refere às escalas de
Art. 9o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios proficiência e ao calendário de aplicação.
deverão aprovar leis específicas para os seus sistemas
de ensino, disciplinando a gestão democrática da educa- Art. 12. Até o final do primeiro semestre do nono ano de
ção pública nos respectivos âmbitos de atuação, no prazo de vigência deste PNE, o Poder Executivo encaminhará ao Con-
2 (dois) anos contado da publicação desta Lei, adequando, gresso Nacional, sem prejuízo das prerrogativas deste Poder,
quando for o caso, a legislação local já adotada com essa o projeto de lei referente ao Plano Nacional de Educação
finalidade. a vigorar no período subsequente, que incluirá diagnóstico,
diretrizes, metas e estratégias para o próximo decênio.
Art. 10. O plano plurianual, as diretrizes orçamentárias
e os orçamentos anuais da União, dos Estados, do Distrito Art. 13. O poder público deverá instituir, em lei específi-
Federal e dos Municípios serão formulados de maneira a as- ca, contados 2 (dois) anos da publicação desta Lei, o Sistema
segurar a consignação de dotações orçamentárias com- Nacional de Educação, responsável pela articulação entre os
patíveis com as diretrizes, metas e estratégias deste PNE e sistemas de ensino, em regime de colaboração, para efetiva-
com os respectivos planos de educação, a fim de viabilizar ção das diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de
sua plena execução. Educação.
164
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
de Educação tem o papel de organizar duas conferências 1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, nú-
nacionais neste período, integrando os diversos setores cleos de pesquisa e cursos de formação para profissionais
componentes da educação no país. O INEP irá publicar os da educação, de modo a garantir a elaboração de currícu-
resultados de avaliação a cada dois anos. Ainda, o PNE ins- los e propostas pedagógicas que incorporem os avanços de
titui um regime colaborativo entre as diversas unidades da pesquisas ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e
federação, reforçando o dever dos Estados e municípios de às teorias educacionais no atendimento da população de 0
firmarem seus próprios planos de educação e de elabora- (zero) a 5 (cinco) anos;
rem leis específicas no âmbito dos seus sistemas de ensino. 1.10) fomentar o atendimento das populações do campo
e das comunidades indígenas e quilombolas na educação
ANEXO infantil nas respectivas comunidades, por meio do redimen-
METAS E ESTRATÉGIAS sionamento da distribuição territorial da oferta, limitando a
nucleação de escolas e o deslocamento de crianças, de forma
Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil a atender às especificidades dessas comunidades, garantido
na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) consulta prévia e informada;
anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil 1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar
em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cin- a oferta do atendimento educacional especializado comple-
quenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o mentar e suplementar aos (às) alunos (as) com deficiência,
final da vigência deste PNE. transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotação, assegurando a educação bilíngue para
Estratégias: crianças surdas e a transversalidade da educação especial
1.1) definir, em regime de colaboração entre a União, nessa etapa da educação básica;
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, metas de ex- 1.12) implementar, em caráter complementar, progra-
pansão das respectivas redes públicas de educação infantil mas de orientação e apoio às famílias, por meio da articu-
segundo padrão nacional de qualidade, considerando as pe- lação das áreas de educação, saúde e assistência social, com
foco no desenvolvimento integral das crianças de até 3 (três)
culiaridades locais;
anos de idade;
1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja
1.13) preservar as especificidades da educação infantil
inferior a 10% (dez por cento) a diferença entre as taxas de
na organização das redes escolares, garantindo o atendi-
frequência à educação infantil das crianças de até 3 (três)
mento da criança de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em estabeleci-
anos oriundas do quinto de renda familiar per capita mais
mentos que atendam a parâmetros nacionais de qualidade,
elevado e as do quinto de renda familiar per capita mais
e a articulação com a etapa escolar seguinte, visando ao in-
baixo;
gresso do (a) aluno(a) de 6 (seis) anos de idade no ensino
1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração,
fundamental;
levantamento da demanda por creche para a população de 1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento
até 3 (três) anos, como forma de planejar a oferta e verificar do acesso e da permanência das crianças na educação in-
o atendimento da demanda manifesta; fantil, em especial dos beneficiários de programas de trans-
1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE, ferência de renda, em colaboração com as famílias e com
normas, procedimentos e prazos para definição de mecanis- os órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à
mos de consulta pública da demanda das famílias por cre- infância;
ches; 1.15) promover a busca ativa de crianças em idade cor-
1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e res- respondente à educação infantil, em parceria com órgãos
peitadas as normas de acessibilidade, programa nacional de públicos de assistência social, saúde e proteção à infância,
construção e reestruturação de escolas, bem como de aqui- preservando o direito de opção da família em relação às
sição de equipamentos, visando à expansão e à melhoria da crianças de até 3 (três) anos;
rede física de escolas públicas de educação infantil; 1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colabora-
1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, ção da União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada
avaliação da educação infantil, a ser realizada a cada 2 ano, levantamento da demanda manifesta por educação in-
(dois) anos, com base em parâmetros nacionais de qualida- fantil em creches e pré-escolas, como forma de planejar e
de, a fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, verificar o atendimento;
as condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação 1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo
de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes; integral, para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos,
1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais
certificadas como entidades beneficentes de assistência so- para a Educação Infantil.
cial na área de educação com a expansão da oferta na rede
escolar pública; Meta 2: universalizar o ensino fundamental de 9
1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as) (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (qua-
profissionais da educação infantil, garantindo, progressiva- torze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e
mente, o atendimento por profissionais com formação su- cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na ida-
perior; de recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.
165
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
166
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
3.7) fomentar a expansão das matrículas gratuitas de na educação especial oferecida em instituições comunitárias,
ensino médio integrado à educação profissional, observan- confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia-
do-se as peculiaridades das populações do campo, das co- das com o poder público e com atuação exclusiva na moda-
munidades indígenas e quilombolas e das pessoas com de- lidade, nos termos da Lei no11.494, de 20 de junho de 2007;
ficiência; 4.2) promover, no prazo de vigência deste PNE, a uni-
3.8) estruturar e fortalecer o acompanhamento e o mo- versalização do atendimento escolar à demanda manifesta
nitoramento do acesso e da permanência dos e das jovens pelas famílias de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos com
beneficiários (as) de programas de transferência de renda, deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
no ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento habilidades ou superdotação, observado o que dispõe a Lei
escolar e à interação com o coletivo, bem como das situações no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
de discriminação, preconceitos e violências, práticas irregu- diretrizes e bases da educação nacional;
lares de exploração do trabalho, consumo de drogas, gravi- 4.3) implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos
dez precoce, em colaboração com as famílias e com órgãos multifuncionais e fomentar a formação continuada de pro-
públicos de assistência social, saúde e proteção à adolescên- fessores e professoras para o atendimento educacional es-
cia e juventude; pecializado nas escolas urbanas, do campo, indígenas e de
3.9) promover a busca ativa da população de 15 (quinze) comunidades quilombolas;
a 17 (dezessete) anos fora da escola, em articulação com os 4.4) garantir atendimento educacional especializado em
serviços de assistência social, saúde e proteção à adolescên- salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou ser-
cia e à juventude; viços especializados, públicos ou conveniados, nas formas
3.10) fomentar programas de educação e de cultura complementar e suplementar, a todos (as) alunos (as) com
para a população urbana e do campo de jovens, na faixa deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
etária de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública
qualificação social e profissional para aqueles que estejam de educação básica, conforme necessidade identificada por
fora da escola e com defasagem no fluxo escolar; meio de avaliação, ouvidos a família e o aluno;
3.11) redimensionar a oferta de ensino médio nos tur- 4.5) estimular a criação de centros multidisciplinares
nos diurno e noturno, bem como a distribuição territorial das de apoio, pesquisa e assessoria, articulados com instituições
escolas de ensino médio, de forma a atender a toda a de- acadêmicas e integrados por profissionais das áreas de saú-
manda, de acordo com as necessidades específicas dos (as) de, assistência social, pedagogia e psicologia, para apoiar o
alunos (as); trabalho dos (as) professores da educação básica com os (as)
3.12) desenvolver formas alternativas de oferta do ensi- alunos (as) com deficiência, transtornos globais do desenvol-
no médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e vimento e altas habilidades ou superdotação;
filhas de profissionais que se dedicam a atividades de caráter 4.6) manter e ampliar programas suplementares que
itinerante; promovam a acessibilidade nas instituições públicas, para
3.13) implementar políticas de prevenção à evasão mo- garantir o acesso e a permanência dos (as) alunos (as) com
tivada por preconceito ou quaisquer formas de discrimina- deficiência por meio da adequação arquitetônica, da oferta
ção, criando rede de proteção contra formas associadas de de transporte acessível e da disponibilização de material di-
exclusão; dático próprio e de recursos de tecnologia assistiva, assegu-
3.14) estimular a participação dos adolescentes nos cur- rando, ainda, no contexto escolar, em todas as etapas, níveis
sos das áreas tecnológicas e científicas. e modalidades de ensino, a identificação dos (as) alunos (as)
com altas habilidades ou superdotação;
Meta 4: universalizar, para a população de 4 (qua- 4.7) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua
tro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos Brasileira de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na mo-
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su- dalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda lín-
perdotação, o acesso à educação básica e ao atendi- gua, aos (às) alunos (as) surdos e com deficiência auditiva de
mento educacional especializado, preferencialmente na 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues
rede regular de ensino, com a garantia de sistema edu- e em escolas inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto
cacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, no 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da
classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
conveniados. bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para ce-
gos e surdos-cegos;
Estratégias: 4.8) garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a
4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Ma- exclusão do ensino regular sob alegação de deficiência e
nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Va- promovida a articulação pedagógica entre o ensino regular
lorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, as ma- e o atendimento educacional especializado;
trículas dos (as) estudantes da educação regular da rede 4.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento
pública que recebam atendimento educacional especializa- do acesso à escola e ao atendimento educacional especiali-
do complementar e suplementar, sem prejuízo do cômputo zado, bem como da permanência e do desenvolvimento es-
dessas matrículas na educação básica regular, e as matrí- colar dos (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais
culas efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
167
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
beneficiários (as) de programas de transferência de renda, 4.17) promover parcerias com instituições comunitá-
juntamente com o combate às situações de discriminação, rias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, con-
preconceito e violência, com vistas ao estabelecimento de veniadas com o poder público, visando a ampliar as condi-
condições adequadas para o sucesso educacional, em cola- ções de apoio ao atendimento escolar integral das pessoas
boração com as famílias e com os órgãos públicos de assis- com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
tência social, saúde e proteção à infância, à adolescência e altas habilidades ou superdotação matriculadas nas redes
à juventude; públicas de ensino;
4.10) fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvi- 4.18) promover parcerias com instituições comunitá-
mento de metodologias, materiais didáticos, equipamentos rias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, con-
e recursos de tecnologia assistiva, com vistas à promoção veniadas com o poder público, visando a ampliar a oferta
do ensino e da aprendizagem, bem como das condições de de formação continuada e a produção de material didático
acessibilidade dos (as) estudantes com deficiência, transtor- acessível, assim como os serviços de acessibilidade neces-
nos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su- sários ao pleno acesso, participação e aprendizagem dos
perdotação; estudantes com deficiência, transtornos globais do desen-
4.11) promover o desenvolvimento de pesquisas interdis- volvimento e altas habilidades ou superdotação matricu-
ciplinares para subsidiar a formulação de políticas públicas lados na rede pública de ensino;
intersetoriais que atendam as especificidades educacionais 4.19) promover parcerias com instituições comuni-
de estudantes com deficiência, transtornos globais do desen- tárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos,
volvimento e altas habilidades ou superdotação que requei- conveniadas com o poder público, a fim de favorecer a
ram medidas de atendimento especializado; participação das famílias e da sociedade na construção do
4.12) promover a articulação intersetorial entre órgãos sistema educacional inclusivo.
e políticas públicas de saúde, assistência social e direitos hu-
manos, em parceria com as famílias, com o fim de desen- Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo,
volver modelos de atendimento voltados à continuidade do até o final do 3o (terceiro) ano do ensino fundamental.
atendimento escolar, na educação de jovens e adultos, das
pessoas com deficiência e transtornos globais do desenvol- Estratégias:
vimento com idade superior à faixa etária de escolarização 5.1) estruturar os processos pedagógicos de alfabeti-
obrigatória, de forma a assegurar a atenção integral ao lon- zação, nos anos iniciais do ensino fundamental, articulan-
go da vida; do-os com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, com
4.13) apoiar a ampliação das equipes de profissionais da qualificação e valorização dos (as) professores (as) alfa-
educação para atender à demanda do processo de escolari- betizadores e com apoio pedagógico específico, a fim de
zação dos (das) estudantes com deficiência, transtornos glo- garantir a alfabetização plena de todas as crianças;
bais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdota- 5.2) instituir instrumentos de avaliação nacional perió-
ção, garantindo a oferta de professores (as) do atendimento dicos e específicos para aferir a alfabetização das crianças,
educacional especializado, profissionais de apoio ou auxilia- aplicados a cada ano, bem como estimular os sistemas de
res, tradutores (as) e intérpretes de Libras, guias-intérpretes ensino e as escolas a criarem os respectivos instrumentos
para surdos-cegos, professores de Libras, prioritariamente de avaliação e monitoramento, implementando medidas
surdos, e professores bilíngues; pedagógicas para alfabetizar todos os alunos e alunas até
4.14) definir, no segundo ano de vigência deste PNE, in- o final do terceiro ano do ensino fundamental;
dicadores de qualidade e política de avaliação e supervisão 5.3) selecionar, certificar e divulgar tecnologias educa-
para o funcionamento de instituições públicas e privadas cionais para a alfabetização de crianças, assegurada a di-
que prestam atendimento a alunos com deficiência, trans- versidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensi-
superdotação; no em que forem aplicadas, devendo ser disponibilizadas,
4.15) promover, por iniciativa do Ministério da Educação, preferencialmente, como recursos educacionais abertos;
nos órgãos de pesquisa, demografia e estatística competen- 5.4) fomentar o desenvolvimento de tecnologias edu-
tes, a obtenção de informação detalhada sobre o perfil das cacionais e de práticas pedagógicas inovadoras que asse-
pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- gurem a alfabetização e favoreçam a melhoria do fluxo es-
mento e altas habilidades ou superdotação de 0 (zero) a 17 colar e a aprendizagem dos (as) alunos (as), consideradas
(dezessete) anos; as diversas abordagens metodológicas e sua efetividade;
4.16) incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e 5.5) apoiar a alfabetização de crianças do campo, in-
nos demais cursos de formação para profissionais da educa- dígenas, quilombolas e de populações itinerantes, com a
ção, inclusive em nível de pós-graduação, observado o dis- produção de materiais didáticos específicos, e desenvolver
posto no caput do art. 207 da Constituição Federal, dos refe- instrumentos de acompanhamento que considerem o uso
renciais teóricos, das teorias de aprendizagem e dos proces- da língua materna pelas comunidades indígenas e a iden-
sos de ensino-aprendizagem relacionados ao atendimento tidade cultural das comunidades quilombolas;
educacional de alunos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
168
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
5.6) promover e estimular a formação inicial e continuada de professores (as) para a alfabetização de crianças, com o co-
nhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre programas
de pós-graduação stricto sensu e ações de formação continuada de professores (as) para a alfabetização;
5.7) apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência, considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetização
bilíngue de pessoas surdas, sem estabelecimento de terminalidade temporal.
Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de
forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as) da educação básica.
Estratégias:
6.1) promover, com o apoio da União, a oferta de educação básica pública em tempo integral, por meio de atividades de
acompanhamento pedagógico e multidisciplinares, inclusive culturais e esportivas, de forma que o tempo de permanência dos
(as) alunos (as) na escola, ou sob sua responsabilidade, passe a ser igual ou superior a 7 (sete) horas diárias durante todo o
ano letivo, com a ampliação progressiva da jornada de professores em uma única escola;
6.2) instituir, em regime de colaboração, programa de construção de escolas com padrão arquitetônico e de mobiliário
adequado para atendimento em tempo integral, prioritariamente em comunidades pobres ou com crianças em situação de
vulnerabilidade social;
6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas
públicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades
culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produção de material
didático e da formação de recursos humanos para a educação em tempo integral;
6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamentos
públicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas e planetários;
6.5) estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação da jornada escolar de alunos (as) matriculados nas escolas da
rede pública de educação básica por parte das entidades privadas de serviço social vinculadas ao sistema sindical, de forma
concomitante e em articulação com a rede pública de ensino;
6.6) orientar a aplicação da gratuidade de que trata o art. 13 da Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, em atividades
de ampliação da jornada escolar de alunos (as) das escolas da rede pública de educação básica, de forma concomitante e
em articulação com a rede pública de ensino;
6.7) atender às escolas do campo e de comunidades indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo integral,
com base em consulta prévia e informada, considerando-se as peculiaridades locais;
6.8) garantir a educação em tempo integral para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação na faixa etária de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, assegurando atendimento educacional es-
pecializado complementar e suplementar ofertado em salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em instituições
especializadas;
6.9) adotar medidas para otimizar o tempo de permanência dos alunos na escola, direcionando a expansão da jornada
para o efetivo trabalho escolar, combinado com atividades recreativas, esportivas e culturais.
Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo
escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb:
Estratégias:
7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuação interfederativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base
nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada
ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local;
7.2) assegurar que:
a) no quinto ano de vigência deste PNE, pelo menos 70% (setenta por cento) dos (as) alunos (as) do ensino fundamental
e do ensino médio tenham alcançado nível suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento de seu ano de estudo, e 50% (cinquenta por cento), pelo menos, o nível desejável;
169
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
b) no último ano de vigência deste PNE, todos os (as) estudantes do ensino fundamental e do ensino médio tenham al-
cançado nível suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu ano
de estudo, e 80% (oitenta por cento), pelo menos, o nível desejável;
7.3) constituir, em colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, um conjunto nacional de
indicadores de avaliação institucional com base no perfil do alunado e do corpo de profissionais da educação, nas condições
de infraestrutura das escolas, nos recursos pedagógicos disponíveis, nas características da gestão e em outras dimensões rele-
vantes, considerando as especificidades das modalidades de ensino;
7.4) induzir processo contínuo de autoavaliação das escolas de educação básica, por meio da constituição de instrumentos
de avaliação que orientem as dimensões a serem fortalecidas, destacando-se a elaboração de planejamento estratégico, a
melhoria contínua da qualidade educacional, a formação continuada dos (as) profissionais da educação e o aprimoramento
da gestão democrática;
7.5) formalizar e executar os planos de ações articuladas dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas para a
educação básica pública e às estratégias de apoio técnico e financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional, à formação
de professores e professoras e profissionais de serviços e apoio escolares, à ampliação e ao desenvolvimento de recursos peda-
gógicos e à melhoria e expansão da infraestrutura física da rede escolar;
7.6) associar a prestação de assistência técnica financeira à fixação de metas intermediárias, nos termos estabelecidos
conforme pactuação voluntária entre os entes, priorizando sistemas e redes de ensino com Ideb abaixo da média nacional;
7.7) aprimorar continuamente os instrumentos de avaliação da qualidade do ensino fundamental e médio, de forma a
englobar o ensino de ciências nos exames aplicados nos anos finais do ensino fundamental, e incorporar o Exame Nacional
do Ensino Médio, assegurada a sua universalização, ao sistema de avaliação da educação básica, bem como apoiar o uso dos
resultados das avaliações nacionais pelas escolas e redes de ensino para a melhoria de seus processos e práticas pedagógicas;
7.8) desenvolver indicadores específicos de avaliação da qualidade da educação especial, bem como da qualidade da
educação bilíngue para surdos;
7.9) orientar as políticas das redes e sistemas de ensino, de forma a buscar atingir as metas do Ideb, diminuindo a dife-
rença entre as escolas com os menores índices e a média nacional, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo pela
metade, até o último ano de vigência deste PNE, as diferenças entre as médias dos índices dos Estados, inclusive do Distrito
Federal, e dos Municípios;
7.10) fixar, acompanhar e divulgar bienalmente os resultados pedagógicos dos indicadores do sistema nacional de avalia-
ção da educação básica e do Ideb, relativos às escolas, às redes públicas de educação básica e aos sistemas de ensino da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, assegurando a contextualização desses resultados, com relação a indicadores
sociais relevantes, como os de nível socioeconômico das famílias dos (as) alunos (as), e a transparência e o acesso público às
informações técnicas de concepção e operação do sistema de avaliação;
7.11) melhorar o desempenho dos alunos da educação básica nas avaliações da aprendizagem no Programa Internacio-
nal de Avaliação de Estudantes - PISA, tomado como instrumento externo de referência, internacionalmente reconhecido, de
acordo com as seguintes projeções:
7.12) incentivar o desenvolvimento, selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para a educação infantil, o
ensino fundamental e o ensino médio e incentivar práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a melhoria do fluxo escolar
e a aprendizagem, assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, com preferência para softwares livres e
recursos educacionais abertos, bem como o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas;
7.13) garantir transporte gratuito para todos (as) os (as) estudantes da educação do campo na faixa etária da educação
escolar obrigatória, mediante renovação e padronização integral da frota de veículos, de acordo com especificações definidas
pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO, e financiamento compartilhado, com participação
da União proporcional às necessidades dos entes federados, visando a reduzir a evasão escolar e o tempo médio de desloca-
mento a partir de cada situação local;
7.14) desenvolver pesquisas de modelos alternativos de atendimento escolar para a população do campo que considerem
as especificidades locais e as boas práticas nacionais e internacionais;
7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste PNE, o acesso à rede mundial de computadores em banda larga
de alta velocidade e triplicar, até o final da década, a relação computador/aluno (a) nas escolas da rede pública de educação
básica, promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da informação e da comunicação;
7.16) apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar mediante transferência direta de recursos financeiros à escola,
garantindo a participação da comunidade escolar no planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação da
transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão democrática;
170
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
7.17) ampliar programas e aprofundar ações de aten- 7.26) consolidar a educação escolar no campo de po-
dimento ao (à) aluno (a), em todas as etapas da educação pulações tradicionais, de populações itinerantes e de comu-
básica, por meio de programas suplementares de material nidades indígenas e quilombolas, respeitando a articulação
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à entre os ambientes escolares e comunitários e garantindo:
saúde; o desenvolvimento sustentável e preservação da identida-
7.18) assegurar a todas as escolas públicas de educação de cultural; a participação da comunidade na definição do
básica o acesso a energia elétrica, abastecimento de água modelo de organização pedagógica e de gestão das insti-
tratada, esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sóli- tuições, consideradas as práticas socioculturais e as formas
dos, garantir o acesso dos alunos a espaços para a prática particulares de organização do tempo; a oferta bilíngue na
esportiva, a bens culturais e artísticos e a equipamentos e educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental,
laboratórios de ciências e, em cada edifício escolar, garantir em língua materna das comunidades indígenas e em língua
a acessibilidade às pessoas com deficiência; portuguesa; a reestruturação e a aquisição de equipamen-
7.19) institucionalizar e manter, em regime de colabo- tos; a oferta de programa para a formação inicial e conti-
ração, programa nacional de reestruturação e aquisição de nuada de profissionais da educação; e o atendimento em
equipamentos para escolas públicas, visando à equalização educação especial;
regional das oportunidades educacionais; 7.27) desenvolver currículos e propostas pedagógicas es-
7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos di- pecíficas para educação escolar para as escolas do campo e
gitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a para as comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os
todas as escolas públicas da educação básica, criando, in- conteúdos culturais correspondentes às respectivas comuni-
clusive, mecanismos para implementação das condições dades e considerando o fortalecimento das práticas sociocul-
necessárias para a universalização das bibliotecas nas insti- turais e da língua materna de cada comunidade indígena,
tuições educacionais, com acesso a redes digitais de compu- produzindo e disponibilizando materiais didáticos específi-
tadores, inclusive a internet; cos, inclusive para os (as) alunos (as) com deficiência;
7.21) a União, em regime de colaboração com os entes 7.28) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil,
articulando a educação formal com experiências de educa-
federados subnacionais, estabelecerá, no prazo de 2 (dois)
ção popular e cidadã, com os propósitos de que a educação
anos contados da publicação desta Lei, parâmetros míni-
seja assumida como responsabilidade de todos e de ampliar
mos de qualidade dos serviços da educação básica, a serem
o controle social sobre o cumprimento das políticas públicas
utilizados como referência para infraestrutura das escolas,
educacionais;
recursos pedagógicos, entre outros insumos relevantes, bem
7.29) promover a articulação dos programas da área
como instrumento para adoção de medidas para a melhoria
da educação, de âmbito local e nacional, com os de outras
da qualidade do ensino;
áreas, como saúde, trabalho e emprego, assistência social,
7.22) informatizar integralmente a gestão das escolas
esporte e cultura, possibilitando a criação de rede de apoio
públicas e das secretarias de educação dos Estados, do Dis- integral às famílias, como condição para a melhoria da qua-
trito Federal e dos Municípios, bem como manter programa lidade educacional;
nacional de formação inicial e continuada para o pessoal 7.30) universalizar, mediante articulação entre os ór-
técnico das secretarias de educação; gãos responsáveis pelas áreas da saúde e da educação, o
7.23) garantir políticas de combate à violência na es- atendimento aos (às) estudantes da rede escolar pública de
cola, inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à educação básica por meio de ações de prevenção, promoção
capacitação de educadores para detecção dos sinais de suas e atenção à saúde;
causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a 7.31) estabelecer ações efetivas especificamente volta-
adoção das providências adequadas para promover a cons- das para a promoção, prevenção, atenção e atendimento à
trução da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de saúde e à integridade física, mental e emocional dos (das)
segurança para a comunidade; profissionais da educação, como condição para a melhoria
7.24) implementar políticas de inclusão e permanência da qualidade educacional;
na escola para adolescentes e jovens que se encontram em 7.32) fortalecer, com a colaboração técnica e financeira
regime de liberdade assistida e em situação de rua, assegu- da União, em articulação com o sistema nacional de avalia-
rando os princípios da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 ção, os sistemas estaduais de avaliação da educação básica,
- Estatuto da Criança e do Adolescente; com participação, por adesão, das redes municipais de en-
7.25) garantir nos currículos escolares conteúdos sobre sino, para orientar as políticas públicas e as práticas peda-
a história e as culturas afro-brasileira e indígenas e imple- gógicas, com o fornecimento das informações às escolas e à
mentar ações educacionais, nos termos das Leis nos 10.639, sociedade;
de 9 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, 7.33) promover, com especial ênfase, em consonância
assegurando-se a implementação das respectivas diretri- com as diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a
zes curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas formação de leitores e leitoras e a capacitação de professo-
com fóruns de educação para a diversidade étnico-racial, res e professoras, bibliotecários e bibliotecárias e agentes da
conselhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade comunidade para atuar como mediadores e mediadoras da
civil; leitura, de acordo com a especificidade das diferentes etapas
do desenvolvimento e da aprendizagem;
171
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
172
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por mentos penais, assegurando-se formação específica dos
cento) das matrículas de educação de jovens e adultos, professores e das professoras e implementação de diretrizes
nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada nacionais em regime de colaboração;
à educação profissional. 10.11) implementar mecanismos de reconhecimento
de saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem con-
Estratégias: siderados na articulação curricular dos cursos de formação
10.1) manter programa nacional de educação de jovens inicial e continuada e dos cursos técnicos de nível médio.
e adultos voltado à conclusão do ensino fundamental e à
formação profissional inicial, de forma a estimular a conclu- Meta 11: triplicar as matrículas da educação pro-
são da educação básica; fissional técnica de nível médio, assegurando a quali-
10.2) expandir as matrículas na educação de jovens e dade da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cen-
adultos, de modo a articular a formação inicial e continuada to) da expansão no segmento público.
de trabalhadores com a educação profissional, objetivando
a elevação do nível de escolaridade do trabalhador e da tra-
Estratégias:
balhadora;
11.1) expandir as matrículas de educação profissional
10.3) fomentar a integração da educação de jovens e
técnica de nível médio na Rede Federal de Educação Pro-
adultos com a educação profissional, em cursos planejados,
de acordo com as características do público da educação de fissional, Científica e Tecnológica, levando em consideração
jovens e adultos e considerando as especificidades das popu- a responsabilidade dos Institutos na ordenação territorial,
lações itinerantes e do campo e das comunidades indígenas sua vinculação com arranjos produtivos, sociais e culturais
e quilombolas, inclusive na modalidade de educação a dis- locais e regionais, bem como a interiorização da educação
tância; profissional;
10.4) ampliar as oportunidades profissionais dos jovens 11.2) fomentar a expansão da oferta de educação pro-
e adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por fissional técnica de nível médio nas redes públicas esta-
meio do acesso à educação de jovens e adultos articulada à duais de ensino;
educação profissional; 11.3) fomentar a expansão da oferta de educação pro-
10.5) implantar programa nacional de reestruturação e fissional técnica de nível médio na modalidade de edu-
aquisição de equipamentos voltados à expansão e à melho- cação a distância, com a finalidade de ampliar a oferta e
ria da rede física de escolas públicas que atuam na educação democratizar o acesso à educação profissional pública e
de jovens e adultos integrada à educação profissional, ga- gratuita, assegurado padrão de qualidade;
rantindo acessibilidade à pessoa com deficiência; 11.4) estimular a expansão do estágio na educação
10.6) estimular a diversificação curricular da educa- profissional técnica de nível médio e do ensino médio re-
ção de jovens e adultos, articulando a formação básica e a gular, preservando-se seu caráter pedagógico integrado ao
preparação para o mundo do trabalho e estabelecendo in- itinerário formativo do aluno, visando à formação de quali-
ter-relações entre teoria e prática, nos eixos da ciência, do ficações próprias da atividade profissional, à contextualiza-
trabalho, da tecnologia e da cultura e cidadania, de forma ção curricular e ao desenvolvimento da juventude;
a organizar o tempo e o espaço pedagógicos adequados às 11.5) ampliar a oferta de programas de reconhecimen-
características desses alunos e alunas; to de saberes para fins de certificação profissional em nível
10.7) fomentar a produção de material didático, o de- técnico;
senvolvimento de currículos e metodologias específicas, os 11.6) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de edu-
instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e labo- cação profissional técnica de nível médio pelas entidades
ratórios e a formação continuada de docentes das redes pú-
privadas de formação profissional vinculadas ao sistema
blicas que atuam na educação de jovens e adultos articulada
sindical e entidades sem fins lucrativos de atendimento à
à educação profissional;
pessoa com deficiência, com atuação exclusiva na moda-
10.8) fomentar a oferta pública de formação inicial e
continuada para trabalhadores e trabalhadoras articulada lidade;
à educação de jovens e adultos, em regime de colaboração 11.7) expandir a oferta de financiamento estudantil à
e com apoio de entidades privadas de formação profissional educação profissional técnica de nível médio oferecida em
vinculadas ao sistema sindical e de entidades sem fins lucra- instituições privadas de educação superior;
tivos de atendimento à pessoa com deficiência, com atuação 11.8) institucionalizar sistema de avaliação da quali-
exclusiva na modalidade; dade da educação profissional técnica de nível médio das
10.9) institucionalizar programa nacional de assistência redes escolares públicas e privadas;
ao estudante, compreendendo ações de assistência social, fi- 11.9) expandir o atendimento do ensino médio gratuito
nanceira e de apoio psicopedagógico que contribuam para integrado à formação profissional para as populações do
garantir o acesso, a permanência, a aprendizagem e a con- campo e para as comunidades indígenas e quilombolas, de
clusão com êxito da educação de jovens e adultos articulada acordo com os seus interesses e necessidades;
à educação profissional; 11.10) expandir a oferta de educação profissional téc-
10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jo- nica de nível médio para as pessoas com deficiência, trans-
vens e adultos articulada à educação profissional, de modo tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
a atender às pessoas privadas de liberdade nos estabeleci- superdotação;
173
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
11.11) elevar gradualmente a taxa de conclusão média de que trata a Lei no 10.260, de 12 de julho de 2001, na
dos cursos técnicos de nível médio na Rede Federal de Edu- educação superior, de modo a reduzir as desigualdades ét-
cação Profissional, Científica e Tecnológica para 90% (no- nico-raciais e ampliar as taxas de acesso e permanência na
venta por cento) e elevar, nos cursos presenciais, a relação educação superior de estudantes egressos da escola pú-
de alunos (as) por professor para 20 (vinte); blica, afrodescendentes e indígenas e de estudantes com
11.12) elevar gradualmente o investimento em progra- deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
mas de assistência estudantil e mecanismos de mobilidade habilidades ou superdotação, de forma a apoiar seu suces-
acadêmica, visando a garantir as condições necessárias à so acadêmico;
permanência dos (as) estudantes e à conclusão dos cursos 12.6) expandir o financiamento estudantil por meio do
técnicos de nível médio; Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei
11.13) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regio- no 10.260, de 12 de julho de 2001, com a constituição de
nais no acesso e permanência na educação profissional téc- fundo garantidor do financiamento, de forma a dispensar
nica de nível médio, inclusive mediante a adoção de políticas progressivamente a exigência de fiador;
afirmativas, na forma da lei; 12.7) assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total
11.14) estruturar sistema nacional de informação pro- de créditos curriculares exigidos para a graduação em progra-
fissional, articulando a oferta de formação das instituições mas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação,
especializadas em educação profissional aos dados do mer- prioritariamente, para áreas de grande pertinência social;
cado de trabalho e a consultas promovidas em entidades 12.8) ampliar a oferta de estágio como parte da forma-
empresariais e de trabalhadores ção na educação superior;
12.9) ampliar a participação proporcional de grupos his-
Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na edu- toricamente desfavorecidos na educação superior, inclusive
cação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa mediante a adoção de políticas afirmativas, na forma da lei;
líquida para 33% (trinta e três por cento) da população 12.10) assegurar condições de acessibilidade nas insti-
de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a tuições de educação superior, na forma da legislação;
qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% 12.11) fomentar estudos e pesquisas que analisem a ne-
(quarenta por cento) das novas matrículas, no segmen- cessidade de articulação entre formação, currículo, pesquisa
to público. e mundo do trabalho, considerando as necessidades econô-
micas, sociais e culturais do País;
Estratégias: 12.12) consolidar e ampliar programas e ações de incentivo
12.1) otimizar a capacidade instalada da estrutura física à mobilidade estudantil e docente em cursos de graduação e
e de recursos humanos das instituições públicas de educação pós-graduação, em âmbito nacional e internacional, tendo em
superior, mediante ações planejadas e coordenadas, de for- vista o enriquecimento da formação de nível superior;
ma a ampliar e interiorizar o acesso à graduação; 12.13) expandir atendimento específico a populações do
12.2) ampliar a oferta de vagas, por meio da expansão e campo e comunidades indígenas e quilombolas, em relação
interiorização da rede federal de educação superior, da Rede a acesso, permanência, conclusão e formação de profissio-
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e nais para atuação nessas populações;
do sistema Universidade Aberta do Brasil, considerando a 12.14) mapear a demanda e fomentar a oferta de for-
densidade populacional, a oferta de vagas públicas em re- mação de pessoal de nível superior, destacadamente a que
lação à população na idade de referência e observadas as se refere à formação nas áreas de ciências e matemática,
características regionais das micro e mesorregiões definidas considerando as necessidades do desenvolvimento do País,
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - a inovação tecnológica e a melhoria da qualidade da edu-
IBGE, uniformizando a expansão no território nacional; cação básica;
12.3) elevar gradualmente a taxa de conclusão média 12.15) institucionalizar programa de composição de
dos cursos de graduação presenciais nas universidades pú- acervo digital de referências bibliográficas e audiovisuais
blicas para 90% (noventa por cento), ofertar, no mínimo, um para os cursos de graduação, assegurada a acessibilidade às
terço das vagas em cursos noturnos e elevar a relação de pessoas com deficiência;
estudantes por professor (a) para 18 (dezoito), mediante es- 12.16) consolidar processos seletivos nacionais e regio-
tratégias de aproveitamento de créditos e inovações acadê- nais para acesso à educação superior como forma de superar
micas que valorizem a aquisição de competências de nível exames vestibulares isolados;
superior; 12.17) estimular mecanismos para ocupar as vagas ocio-
12.4) fomentar a oferta de educação superior pública e sas em cada período letivo na educação superior pública;
gratuita prioritariamente para a formação de professores e 12.18) estimular a expansão e reestruturação das ins-
professoras para a educação básica, sobretudo nas áreas de tituições de educação superior estaduais e municipais cujo
ciências e matemática, bem como para atender ao défice de ensino seja gratuito, por meio de apoio técnico e financeiro
profissionais em áreas específicas; do Governo Federal, mediante termo de adesão a programa
12.5) ampliar as políticas de inclusão e de assistência de reestruturação, na forma de regulamento, que considere
estudantil dirigidas aos (às) estudantes de instituições públi- a sua contribuição para a ampliação de vagas, a capacida-
cas, bolsistas de instituições privadas de educação superior de fiscal e as necessidades dos sistemas de ensino dos entes
e beneficiários do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, mantenedores na oferta e qualidade da educação básica;
174
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
12.19) reestruturar com ênfase na melhoria de prazos e 13.6) substituir o Exame Nacional de Desempenho de
qualidade da decisão, no prazo de 2 (dois) anos, os procedi- Estudantes - ENADE aplicado ao final do primeiro ano do
mentos adotados na área de avaliação, regulação e super- curso de graduação pelo Exame Nacional do Ensino Médio
visão, em relação aos processos de autorização de cursos e - ENEM, a fim de apurar o valor agregado dos cursos de
instituições, de reconhecimento ou renovação de reconheci- graduação;
mento de cursos superiores e de credenciamento ou recre- 13.7) fomentar a formação de consórcios entre insti-
denciamento de instituições, no âmbito do sistema federal tuições públicas de educação superior, com vistas a poten-
de ensino; cializar a atuação regional, inclusive por meio de plano de
12.20) ampliar, no âmbito do Fundo de Financiamento desenvolvimento institucional integrado, assegurando maior
ao Estudante do Ensino Superior - FIES, de que trata a Lei nº visibilidade nacional e internacional às atividades de ensino,
10.260, de 12 de julho de 2001, e do Programa Universidade pesquisa e extensão;
para Todos - PROUNI, de que trata a Lei no 11.096, de 13 13.8) elevar gradualmente a taxa de conclusão média
de janeiro de 2005, os benefícios destinados à concessão de dos cursos de graduação presenciais nas universidades pú-
financiamento a estudantes regularmente matriculados em blicas, de modo a atingir 90% (noventa por cento) e, nas ins-
cursos superiores presenciais ou a distância, com avaliação tituições privadas, 75% (setenta e cinco por cento), em 2020,
positiva, de acordo com regulamentação própria, nos pro- e fomentar a melhoria dos resultados de aprendizagem, de
cessos conduzidos pelo Ministério da Educação; modo que, em 5 (cinco) anos, pelo menos 60% (sessenta
12.21) fortalecer as redes físicas de laboratórios mul- por cento) dos estudantes apresentem desempenho positivo
tifuncionais das IES e ICTs nas áreas estratégicas definidas igual ou superior a 60% (sessenta por cento) no Exame Na-
pela política e estratégias nacionais de ciência, tecnologia cional de Desempenho de Estudantes - ENADE e, no último
e inovação. ano de vigência, pelo menos 75% (setenta e cinco por cen-
to) dos estudantes obtenham desempenho positivo igual ou
Meta 13: elevar a qualidade da educação superior superior a 75% (setenta e cinco por cento) nesse exame, em
e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo cada área de formação profissional;
docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de 13.9) promover a formação inicial e continuada dos (as)
educação superior para 75% (setenta e cinco por cento), profissionais técnico-administrativos da educação superior.
sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por cen-
to) doutores. Meta 14: elevar gradualmente o número de matrí-
culas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atin-
Estratégias: gir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e
13.1) aperfeiçoar o Sistema Nacional de Avaliação da 25.000 (vinte e cinco mil) doutores.
Educação Superior - SINAES, de que trata a Lei no 10.861,
de 14 de abril de 2004, fortalecendo as ações de avaliação, Estratégias:
regulação e supervisão; 14.1) expandir o financiamento da pós-graduação stric-
13.2) ampliar a cobertura do Exame Nacional de De- to sensu por meio das agências oficiais de fomento;
sempenho de Estudantes - ENADE, de modo a ampliar o 14.2) estimular a integração e a atuação articulada en-
quantitativo de estudantes e de áreas avaliadas no que diz tre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
respeito à aprendizagem resultante da graduação; Superior - CAPES e as agências estaduais de fomento à pes-
13.3) induzir processo contínuo de autoavaliação das quisa;
instituições de educação superior, fortalecendo a participa- 14.3) expandir o financiamento estudantil por meio do
ção das comissões próprias de avaliação, bem como a apli- Fies à pós-graduação stricto sensu;
cação de instrumentos de avaliação que orientem as dimen- 14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação stric-
sões a serem fortalecidas, destacando-se a qualificação e a to sensu, utilizando inclusive metodologias, recursos e tecno-
dedicação do corpo docente; logias de educação a distância;
13.4) promover a melhoria da qualidade dos cursos de 14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades
pedagogia e licenciaturas, por meio da aplicação de instru- étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das po-
mento próprio de avaliação aprovado pela Comissão Nacio- pulações do campo e das comunidades indígenas e quilom-
nal de Avaliação da Educação Superior - CONAES, integran- bolas a programas de mestrado e doutorado;
do-os às demandas e necessidades das redes de educação 14.6) ampliar a oferta de programas de pós-gradua-
básica, de modo a permitir aos graduandos a aquisição das ção stricto sensu, especialmente os de doutorado, nos cam-
qualificações necessárias a conduzir o processo pedagógico pi novos abertos em decorrência dos programas de expansão
de seus futuros alunos (as), combinando formação geral e e interiorização das instituições superiores públicas;
específica com a prática didática, além da educação para as 14.7) manter e expandir programa de acervo digital de
relações étnico-raciais, a diversidade e as necessidades das referências bibliográficas para os cursos de pós-graduação,
pessoas com deficiência; assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência;
13.5) elevar o padrão de qualidade das universidades, 14.8) estimular a participação das mulheres nos cursos
direcionando sua atividade, de modo que realizem, efetiva- de pós-graduação stricto sensu, em particular aqueles liga-
mente, pesquisa institucionalizada, articulada a programas dos às áreas de Engenharia, Matemática, Física, Química,
de pós-graduação stricto sensu; Informática e outros no campo das ciências;
175
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
14.9) consolidar programas, projetos e ações que objeti- 15.4) consolidar e ampliar plataforma eletrônica para
vem a internacionalização da pesquisa e da pós-graduação organizar a oferta e as matrículas em cursos de formação
brasileiras, incentivando a atuação em rede e o fortaleci- inicial e continuada de profissionais da educação, bem como
mento de grupos de pesquisa; para divulgar e atualizar seus currículos eletrônicos;
14.10) promover o intercâmbio científico e tecnológico, 15.5) implementar programas específicos para formação
nacional e internacional, entre as instituições de ensino, pes- de profissionais da educação para as escolas do campo e
quisa e extensão; de comunidades indígenas e quilombolas e para a educação
14.11) ampliar o investimento em pesquisas com foco especial;
em desenvolvimento e estímulo à inovação, bem como in- 15.6) promover a reforma curricular dos cursos de li-
crementar a formação de recursos humanos para a inova- cenciatura e estimular a renovação pedagógica, de forma a
ção, de modo a buscar o aumento da competitividade das assegurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a), dividindo
empresas de base tecnológica; a carga horária em formação geral, formação na área do
14.12) ampliar o investimento na formação de doutores saber e didática específica e incorporando as modernas tec-
de modo a atingir a proporção de 4 (quatro) doutores por nologias de informação e comunicação, em articulação com
1.000 (mil) habitantes; a base nacional comum dos currículos da educação básica,
14.13) aumentar qualitativa e quantitativamente o de- de que tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE;
sempenho científico e tecnológico do País e a competitivi- 15.7) garantir, por meio das funções de avaliação, regu-
dade internacional da pesquisa brasileira, ampliando a coo- lação e supervisão da educação superior, a plena implemen-
peração científica com empresas, Instituições de Educação tação das respectivas diretrizes curriculares;
Superior - IES e demais Instituições Científicas e Tecnológicas 15.8) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos
- ICTs; cursos de formação de nível médio e superior dos profissio-
14.14) estimular a pesquisa científica e de inovação e nais da educação, visando ao trabalho sistemático de ar-
promover a formação de recursos humanos que valorize a ticulação entre a formação acadêmica e as demandas da
diversidade regional e a biodiversidade da região amazôni- educação básica;
ca e do cerrado, bem como a gestão de recursos hídricos no
15.9) implementar cursos e programas especiais para
semiárido para mitigação dos efeitos da seca e geração de
assegurar formação específica na educação superior, nas
emprego e renda na região;
respectivas áreas de atuação, aos docentes com formação
14.15) estimular a pesquisa aplicada, no âmbito das IES
de nível médio na modalidade normal, não licenciados ou
e das ICTs, de modo a incrementar a inovação e a produção
licenciados em área diversa da de atuação docente, em efe-
e registro de patentes.
tivo exercício;
15.10) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível mé-
Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre
dio e tecnológicos de nível superior destinados à formação,
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
no prazo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política nas respectivas áreas de atuação, dos (as) profissionais da
nacional de formação dos profissionais da educação de educação de outros segmentos que não os do magistério;
que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da 15.11) implantar, no prazo de 1 (um) ano de vigência
Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que desta Lei, política nacional de formação continuada para os
todos os professores e as professoras da educação bási- (as) profissionais da educação de outros segmentos que não
ca possuam formação específica de nível superior, obtida os do magistério, construída em regime de colaboração en-
em curso de licenciatura na área de conhecimento em que tre os entes federados;
atuam. 15.12) instituir programa de concessão de bolsas de es-
tudos para que os professores de idiomas das escolas públi-
Estratégias: cas de educação básica realizem estudos de imersão e aper-
15.1) atuar, conjuntamente, com base em plano estraté- feiçoamento nos países que tenham como idioma nativo as
gico que apresente diagnóstico das necessidades de formação línguas que lecionem;
de profissionais da educação e da capacidade de atendimento, 15.13) desenvolver modelos de formação docente para
por parte de instituições públicas e comunitárias de educação a educação profissional que valorizem a experiência prática,
superior existentes nos Estados, Distrito Federal e Municípios, por meio da oferta, nas redes federal e estaduais de edu-
e defina obrigações recíprocas entre os partícipes; cação profissional, de cursos voltados à complementação e
15.2) consolidar o financiamento estudantil a estudan- certificação didático-pedagógica de profissionais experien-
tes matriculados em cursos de licenciatura com avaliação tes.
positiva pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior - SINAES, na forma da Lei nº 10.861, de 14 de abril Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50%
de 2004, inclusive a amortização do saldo devedor pela do- (cinquenta por cento) dos professores da educação bási-
cência efetiva na rede pública de educação básica; ca, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a
15.3) ampliar programa permanente de iniciação à do- todos (as) os (as) profissionais da educação básica for-
cência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, mação continuada em sua área de atuação, consideran-
a fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar do as necessidades, demandas e contextualizações dos
no magistério da educação básica; sistemas de ensino.
176
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) Meta 20: ampliar o investimento público em educa-
anos, para a efetivação da gestão democrática da edu- ção pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar
cação, associada a critérios técnicos de mérito e de- de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB
sempenho e à consulta pública à comunidade escolar, do País no 5o (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mí-
no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e nimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final
apoio técnico da União para tanto. do decênio.
Estratégias: Estratégias:
19.1) priorizar o repasse de transferências voluntárias 20.1) garantir fontes de financiamento permanentes e
da União na área da educação para os entes federados que sustentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da
tenham aprovado legislação específica que regulamente a educação básica, observando-se as políticas de colaboração
matéria na área de sua abrangência, respeitando-se a le- entre os entes federados, em especial as decorrentes do art.
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e do
gislação nacional, e que considere, conjuntamente, para a
§ 1o do art. 75 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
nomeação dos diretores e diretoras de escola, critérios téc-
que tratam da capacidade de atendimento e do esforço fiscal
nicos de mérito e desempenho, bem como a participação da
de cada ente federado, com vistas a atender suas demandas
comunidade escolar;
educacionais à luz do padrão de qualidade nacional;
19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos 20.2) aperfeiçoar e ampliar os mecanismos de acompa-
(às) conselheiros (as) dos conselhos de acompanhamento nhamento da arrecadação da contribuição social do salário-
e controle social do Fundeb, dos conselhos de alimentação -educação;
escolar, dos conselhos regionais e de outros e aos (às) re- 20.3) destinar à manutenção e desenvolvimento do en-
presentantes educacionais em demais conselhos de acom- sino, em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do
panhamento de políticas públicas, garantindo a esses cole- art. 212 da Constituição Federal, na forma da lei específica,
giados recursos financeiros, espaço físico adequado, equi- a parcela da participação no resultado ou da compensação
pamentos e meios de transporte para visitas à rede escolar, financeira pela exploração de petróleo e gás natural e outros
com vistas ao bom desempenho de suas funções; recursos, com a finalidade de cumprimento da meta prevista
19.3) incentivar os Estados, o Distrito Federal e os Muni- no inciso VI do caput do art. 214 da Constituição Federal;
cípios a constituírem Fóruns Permanentes de Educação, com 20.4) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que
o intuito de coordenar as conferências municipais, estaduais assegurem, nos termos do parágrafo único do art. 48 da
e distrital bem como efetuar o acompanhamento da execu- Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, a trans-
ção deste PNE e dos seus planos de educação; parência e o controle social na utilização dos recursos pú-
19.4) estimular, em todas as redes de educação básica, blicos aplicados em educação, especialmente a realização
a constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e de audiências públicas, a criação de portais eletrônicos de
associações de pais, assegurando-se-lhes, inclusive, espa- transparência e a capacitação dos membros de conselhos
ços adequados e condições de funcionamento nas escolas de acompanhamento e controle social do Fundeb, com a
e fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos colaboração entre o Ministério da Educação, as Secretarias
escolares, por meio das respectivas representações; de Educação dos Estados e dos Municípios e os Tribunais de
19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de Contas da União, dos Estados e dos Municípios;
conselhos escolares e conselhos municipais de educação, 20.5) desenvolver, por meio do Instituto Nacional de Es-
como instrumentos de participação e fiscalização na ges- tudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, estu-
dos e acompanhamento regular dos investimentos e custos
tão escolar e educacional, inclusive por meio de programas
por aluno da educação básica e superior pública, em todas
de formação de conselheiros, assegurando-se condições de
as suas etapas e modalidades;
funcionamento autônomo;
20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE,
19.6) estimular a participação e a consulta de profissio-
será implantado o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, re-
nais da educação, alunos (as) e seus familiares na formula- ferenciado no conjunto de padrões mínimos estabelecidos na
ção dos projetos político-pedagógicos, currículos escolares, legislação educacional e cujo financiamento será calculado
planos de gestão escolar e regimentos escolares, asseguran- com base nos respectivos insumos indispensáveis ao processo
do a participação dos pais na avaliação de docentes e ges- de ensino-aprendizagem e será progressivamente reajustado
tores escolares; até a implementação plena do Custo Aluno Qualidade - CAQ;
19.7) favorecer processos de autonomia pedagógica, 20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ como
administrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos parâmetro para o financiamento da educação de todas eta-
de ensino; pas e modalidades da educação básica, a partir do cálculo e
19.8) desenvolver programas de formação de diretores do acompanhamento regular dos indicadores de gastos edu-
e gestores escolares, bem como aplicar prova nacional es- cacionais com investimentos em qualificação e remuneração
pecífica, a fim de subsidiar a definição de critérios objetivos do pessoal docente e dos demais profissionais da educação
para o provimento dos cargos, cujos resultados possam ser pública, em aquisição, manutenção, construção e conserva-
utilizados por adesão. ção de instalações e equipamentos necessários ao ensino e
em aquisição de material didático-escolar, alimentação e
transporte escolar;
178
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
20.8) o CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e formidade com o Plano Nacional de Educação, aprovado
será continuamente ajustado, com base em metodologia for- pela Lei Federal nº13.005, de 24 de junho de 2014, e com a
mulada pelo Ministério da Educação - MEC, e acompanhado Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Federal
pelo Fórum Nacional de Educação - FNE, pelo Conselho Na- nº9.394, de 20 de dezembro de 1996.
cional de Educação - CNE e pelas Comissões de Educação da Parágrafo único. É vedada a inserção de uma única cor-
Câmara dos Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do rente ideológica ou doutrina não provada ou amplamen-
Senado Federal; te controversa na educação estadual, em obediência aos
20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. princípios normatizados na Constituição Federal de 1988 e
211 da Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por art.12, inciso IV, do Pacto de San José da Costa Rica.
lei complementar, de forma a estabelecer as normas de coo- Art.3º São diretrizes do Plano Estadual de Educação:
peração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os I - erradicação do analfabetismo;
Municípios, em matéria educacional, e a articulação do sis- II - universalização do atendimento escolar;
tema nacional de educação em regime de colaboração, com III - superação das desigualdades educacionais, com
equilíbrio na repartição das responsabilidades e dos recursos ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de to-
e efetivo cumprimento das funções redistributiva e supletiva das as formas de discriminação;
da União no combate às desigualdades educacionais regio- IV - melhoria da qualidade do ensino;
nais, com especial atenção às regiões Norte e Nordeste; V - formação para o trabalho e para a cidadania, com
20.10) caberá à União, na forma da lei, a complemen- ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta
tação de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito a sociedade, em especial no respeito ao próximo, na soli-
Federal e aos Municípios que não conseguirem atingir o va- dariedade, na honestidade e no trabalho com dignidade;
lor do CAQi e, posteriormente, do CAQ; VI - promoção da educação para o respeito aos direitos
20.11) aprovar, no prazo de 1 (um) ano, Lei de Responsa- humanos, às diferenças e à sustentabilidade socioambien-
bilidade Educacional, assegurando padrão de qualidade na tal;
educação básica, em cada sistema e rede de ensino, aferida VII - promoção humanística, cultural, científica e tecno-
pelo processo de metas de qualidade aferidas por institutos lógica do Ceará;
oficiais de avaliação educacionais; VIII - valorização dos profissionais da educação;
20.12) definir critérios para distribuição dos recursos IX – garantir a equidade educacional, promovendo um
adicionais dirigidos à educação ao longo do decênio, que sistema inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades
considerem a equalização das oportunidades educacionais, de ensino;
a vulnerabilidade socioeconômica e o compromisso técnico X - fortalecimento da gestão democrática da educação
e de gestão do sistema de ensino, a serem pactuados na ins- e dos princípios que a fundamentam;
tância prevista no § 5o do art. 7o desta Lei. XI – promoção da educação para o respeito aos pais e
responsáveis, bem como aos demais entes familiares, com
ênfase na valorização das famílias;
XII – priorizar a instituição do ensino integral na rede
10 LEI ESTADUAL Nº 16.025/2016 ( PLANO educacional pública cearense;
ESTADUAL DE EDUCAÇÃO ). XIII – priorizar os investimentos educacionais nos mu-
nicípios e regiões com níveis baixos de IDH e IDH-E;
XIV – garantir a superação das desigualdades educa-
cionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradi-
LEI Nº16.025, 30 DE MAIO DE 2016. cação de todas as formas de discriminação;
XV – impede, sob quaisquer pretextos, a utilização de
DISPÕE SOBRE O PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO ideologia de gênero na educação estadual.
(2016/2024). Art.4º A execução do PEE e o cumprimento de suas
metas serão objeto de monitoramento contínuo e de ava-
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ. Faço saber liações periódicas por parte das seguintes instâncias:
que a Assembleia Legislativa decretou e eu sanciono a se- I - Secretaria Estadual da Educação;
guinte Lei: II - Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Su-
perior;
Art.1º Fica instituído, na forma do anexo único, o Plano III - Comissão de Educação da Assembleia Legislativa;
Estadual de Educação do Ceará - PEE, com metas e estra- IV - Conselho Estadual de Educação;
tégias fixadas para o período de 2016 a 2024, na área da V - Fórum Estadual de Educação;
educação, como resultado da participação da comunidade VI – Conselho de Pais e Mestres;
escolar e da sociedade civil. VII – Representação da sociedade civil;
Art.2º O Plano Estadual de Educação é o instrumento VIII – Conselhos Municipais de Educação.
balizador e norteador das políticas públicas relacionadas à §1º Compete, ainda, às instâncias referidas nos incisos
educação no Estado do Ceará, o qual contempla metas e do caput:
estratégias a serem viabilizadas pelo Estado e por seus mu- I - divulgar os resultados do monitoramento e das ava-
nicípios, em colaboração com a União e guardando con- liações;
179
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a §2º As datas de realização das conferências estaduais,
implementação das estratégias e o cumprimento das a que se refere o caput deste artigo, serão disponibilizadas
metas; no sítio eletrônico do Governo do Estado, em ambiente de
III - analisar e propor estratégias de investimento pú- fácil acesso e publicadas com antecedência mínima de 30
blico em educação para atender ao cumprimento das me- (trinta) dias, assegurando que a informação chegue a to-
tas do PEE; dos os parlamentares, Câmaras e Prefeituras cearenses, de
IV – assegurar, aos alunos inseridos por este Plano Es- modo a possibilitar a efetiva participação da sociedade civil
tadual de Educação, a ascensão ao ano subsequente, ex- e dos demais interessados.
clusivamente, mediante critério meritocrático e de desem- Art.7º O Estado e os municípios manterão regime de
penho. colaboração com a participação da União para implemento
§2º As ações para composição do Conselho de Pais e das metas e das estratégias do PEE, compartilhando res-
Mestres, estabelecido no inciso VI deste artigo, serão defi- ponsabilidades, e, entre outras medidas, instituindo, ins-
nidas mediante portaria da Secretaria da Educação do Es- tância permanente de negociação, cooperação e pactua-
tado do Ceará – SEDUC. ção entre gestores municipais e estaduais de educação.
§3º Dentre os membros do Conselho a que se refere §1º O Estado, em colaboração com os municípios, de
o parágrafo anterior, deverão estar presentes ao menos acordo com a Lei Federal nº13.005 de 2014, divulgará o PEE
1 (um) representante da Associação de Pais e Mestres da e a progressiva implementação das estratégias para a con-
Criança Deficiente do Ceará e 1 (um) representante da Fe- cretização das metas constantes do anexo único desta Lei,
deração das Apaes do Estado do Ceará – FEAPAESCE. de forma a garantir o amplo acesso da população ao plano.
§4º A representação da sociedade civil, estabelecida no §2º O Estado poderá desenvolver políticas de incentivo
inciso aos municípios que cumprirem as metas nos seus Planos
VII, será formada por: Municipais de Educação.
I – 1 (um) representante de uma instituição pública de Art.8º O PEE, instituído nos termos desta Lei, estará
ensino superior; sujeito a reexame por uma comissão formada pelos con-
selheiros do Conselho Estadual de Educação e por 8 (oito)
II – 1 (um) representante de uma instituição particular
representantes da sociedade civil, a qual, após ampla dis-
de ensino superior;
cussão, encaminhará, em até 24 (vinte e quatro) meses
III – 1 (um) representante de uma instituição particular
após o início da vigência do plano, propostas de alterações
de ensino de reconhecido destaque em educação básica;
ou ajustes à Secretaria da Educação do Estado – SEDUC,
IV – 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do
que, após analisar as sugestões, encaminhará projeto para
Brasil – Seccional Ceará;
aprovação da Assembleia Legislativa.
V – 1 (um) representante do Centro de Defesa da Crian-
§1º Para fins do reexame previsto no caput deste arti-
ça e do Adolescente do Ceará – CEDECA;
go, serão realizadas, nos 6 (seis) meses que antecedem o
VI – 1 (um) representante da Associação dos Jovens prazo final estabelecido, assembleias, fóruns de discussão
Empresários do Ceará – AJE; regionalizados e audiências públicas, com ampla participa-
VII – 1 (um) representante de uma federação do setor ção da sociedade civil, assegurada a participação de pro-
produtivo; fissionais da educação, de pais ou responsáveis e demais
VIII – 1 (um) representante de uma federação de tra- interessados.
balhadores. §2º A representação da sociedade civil será composta
Art.5º A medição de índices relativos à educação deve por:
ser realizada a partir de indicadores claros, objetivos, re- I – 1 (um) representante de uma instituição pública de
gulares e que permitam uma análise comparativa com os ensino superior;
demais Estados e um diagnóstico eficaz da educação cea- II – 1 (um) representante de uma instituição particular
rense. de ensino superior;
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput deste III – 1 (um) representante de uma instituição particular
artigo, será dada preferência a indicadores de reconheci- de ensino de reconhecido destaque em educação básica;
mento internacional, nacional ou regional, nesta ordem, IV – 1 (um) representante do Conselho de Pais e Mes-
tais como o PISA e o IDEB. tres;
Art.6º O Estado promoverá, em colaboração com os V- 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do
municípios e com a União, até o ano de 2024, pelo menos, Brasil – Seccional Ceará;
2 (duas) conferências estaduais de educação, com intervalo VI – 1 (um) representante do Centro de Defesa da
de até 4 (quatro) anos entre elas, com o objetivo de avaliar Criança e do Adolescente do Ceará – CEDECA;
e monitorar a execução do plano e subsidiar ajustes e revi- VII – 1 (um) representante da Associação dos Jovens
sões, bem como já visando à elaboração do próximo Plano Empresários do Ceará – AJE;
Estadual de Educação. VIII – 1 (um) representante de uma federação do setor
§1º A conferência estadual de educação e o processo produtivo.
de elaboração do próximo Plano Estadual de Educação se- Art.9º No ano de 2024, será promovida a avaliação glo-
rão realizados com ampla participação de representantes bal do plano, acompanhada da elaboração do próximo Plano
da comunidade educacional e da sociedade civil. Estadual de Educação, a vigorar no período subsequente.
180
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
181
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ser devidamente capacitados para esta finalidade, baseado 1.17. garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja
em parâmetros nacionais de qualidade e garantindo a im- inferior a 10% (dez) por cento a diferença entre as taxas de
plementação de política estadual de formação para esses frequência à educação infantil das crianças de até 3 (três)
profissionais, a qual deverá ser comunicada à Assembleia anos oriundas do quinto de renda familiar per capita mais
Legislativa. elevado e as do quinto de renda familiar per capita mais
1.10. propor, junto às instituições de formação supe- baixo;
rior, a, adequação de cursos específicos para os professo- 1.18. fomentar o atendimento das populações do cam-
res de Educação Infantil, de modo a estimular a elaboração po e das comunidades indígenas e quilombolas na edu-
de currículos e propostas que incorporem os avanços de cação infantil nas respectivas comunidades, por meio do
pesquisas ligadas ao processo de ensino e aprendizagem e redimensionamento da distribuição territorial da oferta,
às teorias educacionais no atendimento integral das crian- limitando a nucleação de escolas e o deslocamento de
ças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade; crianças, de forma a atender às especificidades dessas co-
munidades, garantido consulta prévia e informada;
1.11. realizar pesquisas e consultas prévias sobre as
1.19. promover a busca ativa de crianças em idade cor-
populações do campo e comunitárias, indígenas e quilom-
respondente à educação infantil, em parceria com órgãos
bolas na educação infantil, para apoiar o atendimento e
públicos de assistência social, saúde e proteção à infância,
o redimensionamento da distribuição territorial da oferta,
preservando o direito de opção da família em relação às
limitando a nucleação de escolas de forma a atender às crianças de até 3 (três) anos;
especificidades dessas comunidades; 1.20. o Estado acompanhará a cobertura das matrículas
1.12. promover a cooperação técnica, pedagógica e fi- na educação infantil, apoiando os municípios para o alcan-
nanceira com os municípios, em colaboração com a União, ce das metas deste Plano;
na oferta do atendimento educacional especializado, com- 1.21. os municípios, com apoio do Estado e da União,
plementar e suplementar aos alunos e às crianças com empreenderão ações para implantar espaços lúdicos de in-
deficiência, necessidades especiais de alimentação, trans- teratividade, tais como, brinquedoteca, ludoteca, biblioteca
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades infantil, parques infantis, espaços de teatro e danças;
ou superdotação, assegurando a educação bilíngue para 1.22. criar e implementar, em até 4 (quatro) anos, um
crianças surdas, educação em braile para crianças cegas e a sistema de avaliação para a Educação Infantil no Estado do
transversalidade da educação; Ceará;
1.13. implementar, em caráter complementar, progra- 1.23. promover a inclusão das crianças diagnosticadas
mas de orientação e apoio às famílias, por meio da arti- com Alergia à Proteína do Leite de Vaca – APLV, e demais
culação das áreas da educação, meio ambiente, saúde e intolerâncias alimentares nos estabelecimentos de ensino,
assistência social, com foco nomdesenvolvimento integral creches ou similares públicos e privados nos municípios
das crianças de até 5 (cinco) anos de idade; para o alcance das metas deste plano;
1.14. apoiar os municípios na organização das redes 1.24. oferecer, em regime de colaboração com os mu-
escolares e institucionais, garantindo o atendimento da nicípios, orientação nutricional às escolas que possuam es-
criança de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade, em estabe- tudantes público-alvo da Educação Especial. Meta 2: Uni-
lecimentos que atendam a parâmetros nacionais de qua- versalizar, em regime de colaboração com a União e mu-
lidade e a articulação e a integração com a etapa escolar nicípios, o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos para toda
seguinte, visando ao ingresso da criança de 6 (seis) anos a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e fortalecer
de idade, de acordo com a legislação vigente, no Ensino estratégias de colaboração com municípios para que, pelo
menos, 95% (noventa e cinco) por cento dos alunos con-
Fundamental de forma a preservar as especificidades da
cluam essa etapa na idade recomendada até 2024.
Educação Infantil e a facilitar a adaptação da criança a essa
nova etapa de ensino;
Estratégias:
1.15. apoiar os municípios no acompanhamento e mo-
2.1. assessorar tecnicamente os municípios para reali-
nitoramento do acesso e da permanência das crianças na zar levantamento da demanda por localidades e aprimorar
Educação Infantil, em especial dos beneficiários de progra- arranjos da rede escolar com a União e municípios, com
mas de transferência de renda, em colaboração com as fa- apoio técnico à construção e adaptação da estrutura física
mílias e com os órgãos públicos de assistência social, saúde das escolas;
e proteção à infância; 2.2. fortalecer mecanismos que fomentam, quando
1.16. estimular e apoiar o acesso à Educação Infantil em necessária, aos estudantes que apresentem problemas de
tempo integral, para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cin- aprendizagem, a intervenção pedagógica, baseados nos
co) anos, incluindo o regime de colaboração entre Estado e sistemas de avaliação externa e acompanhamento dos es-
municípios, na expansão e melhoria da rede física (constru- tudantes, visando a compreensão, a explicitação e a corre-
ção, ampliação e reforma) de unidades de Educação Infan- ção dos déficits na aprendizagem, com ênfase na conclu-
til (creches e pré-escola), na (re) elaboração das propostas são da Educação Básica, desde que os métodos de ensino
curricular e pedagógica, na formação continuada de pro- adotados respeitem as diretrizes do PNE e do PEE;
fessores que atuam nesse nível de ensino e na aquisição de 2.3. mapear os estudantes com maior nível de vulnera-
materiais pedagógicos e permanentes (mobiliário adequa- bilidade social e beneficiários de programas de transferên-
do, parques infantis e outros); cia de renda até o 3º (terceiro) ano da vigência deste plano,
182
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
utilizando o Cadastro Único como instrumento de gestão 2.13. desenvolver tecnologias pedagógicas que combi-
intersetorial, criando políticas específicas e intersetoriais, nem, de maneira articulada, a organização do tempo e das
para garantir as condições de acesso, permanência e qua- atividades didáticas entre a escola e o ambiente comunitário,
lidade no Ensino Fundamental considerando as especifici- considerando as especificidadesda educação especial, das es-
dades regionais da população urbana, do campo, indígena colas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas;
e quilombola; 2.14. promover a relação das escolas com instituições e
2.4. garantir, em regime de colaboração com a União, movimentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de
Estado e municípios, transporte escolar de qualidade, in- atividades culturais para a livre fruição dos alunos dentro
tegrado entre as redes municipais e estadual, para todos e fora dos espaços escolares, assegurando ainda que as
os estudantes da rede pública que residem na zona rural escolas se tornem polos de criação e difusão cultural;
e que dele necessitem, avançando no gerenciamento dos 2.15. incentivar a participação dos pais ou responsáveis
projetos e programas relacionados ao financiamento, re- no acompanhamento das atividades escolares dos filhos
novação da frota e aquisição de ônibus adequados; por meio do estreitamento das relações entre as escolas
2.5. ampliar modelos de intervenção sistêmica em re- e as famílias;
gime de colaboração com os municípios e a União, com 2.16. oferecer atividades extracurriculares de incentivo
ênfase na melhoria dos resultados educacionais nos anos aos estudantes e de estímulo a habilidades, inclusive me-
finais do Ensino Fundamental da rede pública, assegurando diante certames e concursos nacionais e estaduais;
ações de apoio ao desenvolvimento do ensino e aprendi- 2.17. promover atividades de desenvolvimento e estí-
zagem do 6º (sexto) ao 9º (nono) ano; mulo a habilidades esportivas nas escolas, interligadas a
2.6. mapear e dar publicidade a modelos pedagógicos um plano de disseminação do desporto educacional e de
exitosos, com ênfase na articulação entre o fim do Ensino desenvolvimento esportivo nacional e estadual, na pers-
Fundamental e o início o Ensino Médio até o 3º (terceiro) pectiva da educação inclusiva;
ano da vigência deste plano, desde que os mesmos este- 2.18. efetivar parceria com as áreas de saúde, assistên-
jam de acordo com as normas estabelecidas no PNE e no cia social e cidadania, redes de apoio aos sistemas estadual
PEE e respeitem às disposições do Estatuto da Criança e do e municipais de ensino, para atender o público da educa-
Adolescente e o art.12, inciso IV, do Pacto de San José da ção especial, em todos os níveis;
Costa Rica; 2.19. garantir, progressivamente, acesso às bibliotecas
2.7. articular políticas de incentivo aos estudantes do e cinematecas escolares, inclusive nos finais de semana,
com acervo atualizado e acesso à comunidade;
6º (sexto) ao 9º (nono) ano do Ensino Fundamental, com
2.20. desenvolver mecanismos que permitam a identifi-
ênfase no fortalecimento do itinerário formativo, no estí-
cação e o mapeamento das causas de distorção idade/série
mulo à frequência escolar e à continuidade dos estudos, e
no Ensino Fundamental, de modo a possibilitar a elabora-
garantia da matrícula e da qualidade do ensino;
ção de estratégias para redução gradativa do índice;
2.8. implementar, em regime de colaboração com os
2.21. mapear os estudantes com maior nível de vulne-
municípios e considerando suas especificidades, progra-
rabilidade social e inseridos nos serviços de acolhimento
mas para correção do fluxo escolar dos alunos em distor-
até o 3º (terceiro) ano da vigência deste Plano, criando po-
ção idade/ano e com baixo desempenho acadêmico no
líticas específicas e intersetoriais, para garantir as condi-
Ensino Fundamental; ções de acesso, permanência e qualidade no Ensino Funda-
2.9. pactuar entre a União, o Estado e os municípios, mental considerando as especificidades regionais da popu-
no âmbito da instância permanente de que trata o §5º do lação urbana, do campo, indígena e quilombola, conforme
art.7º da Lei nº13.005/ 2014, a implantação dos direitos e a Nota Técnica nº23 – CGDH/DPEDHUC/SECADI/MEC;
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que confi- 2.22. estimular a publicização dos planos pedagógicos
gurarão a base nacional comum curricular do Ensino Fun- dos estabelecimentos de ensino em ambiente visível e de
damental; fácil acesso, bem como a disponibilização destes em sítio
2.10. criar mecanismos para o acompanhamento indi- eletrônico próprio da escola, de forma a possibilitar um
vidualizado dos alunos do Ensino Fundamental; maior acompanhamento dos métodos de ensino aplicados
2.11. fortalecer o acompanhamento e o monitoramen- e uma contribuição adequada e mais efetiva dos pais ou
to do acesso, da permanência e do aproveitamento escolar responsáveis e da comunidade para a formação dos jovens;
dos beneficiários de programas de transferência de renda, 2.23. implantar, em regime de colaboração com os mu-
bem como das situações de discriminação, preconceitos e nicípios, ações voltadas para uma cultura de empreende-
violências na escola, visando ao estabelecimento de con- dorismo, sob uma óptica transversal e relacionada com a
dições adequadas para o sucesso escolar dos alunos, em dimensão pedagógica;
colaboração com as famílias e com órgãos públicos de as- 2.24. garantir o atendimento de crianças de 0 (zero) a
sistência social, saúde e proteção à infância, adolescência 3 (três) anos, quando da ausência de vagas na instituição
e juventude; de ensino própria de acolhimento desses alunos, por ins-
2.12. promover a busca ativa de crianças e adolescen- tituições de ensino de bairros ou comunidades próximas,
tes fora da escola, em parceria com órgãos públicos de as- devendo ser aberto edital que leve em consideração o Cus-
sistência social, saúde e proteção à infância, adolescência to Aluno Qualidade – CAQ, na seleção da instituição que
e juventude; acolherá os estudantes.
183
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar 3.8. reestruturar e implementar a avaliação processual
para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e sistêmica do ensino-aprendizagem, objetivando a me-
e elevar, até o final do período de vigência deste PEE, a taxa lhoria da qualidade do ensino e buscando a redução da
líquida de matrículas no Ensino Médio para 85% (oitenta e repetência e evasão;
cinco) por cento. 3.9. universalizar a participação dos alunos do 3º (ter-
ceiro) ano do Ensino Médio no Exame Nacional do Ensino
Estratégias: Médio - ENEM, articulando-o com o Sistema Nacional de
3.1. identificar as maiores causas da evasão e abando- Avaliação da Educação Básica – SAEB, e o Sistema Perma-
no dos jovens de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos que não nente de Avaliação da Educação Básica do Ceará – SPAECE,
estão estudando e promover busca ativa, principalmente, e promover sua utilização como instrumento de avaliação
dos que se encontram em situação de alta vulnerabilidade sistêmica, para subsidiar políticas públicas para a educação
social, desenvolvendo mecanismos que estimulem a per- básica, de avaliação certificadora, possibilitando aferição
manência dos estudantes na escola, em colaboração com
de conhecimentos e habilidades adquiridos dentro e fora
as famílias e com órgãos públicos de assistência social, saú-
da escola, e de avaliação classificatória, como critério de
de e proteção à adolescência e juventude;
acesso ao Ensino Superior, possibilitando acesso em tempo
3.2. promover o incremento e a ampliação do Progra-
hábil aos resultados das avaliações;
ma Alfabetização na Idade Certa, criando-se até 2017 o
PAIC + 9, como forma de fortalecer o Ensino Fundamental, 3.10. criar, ampliar e fortalecer em âmbito Estadual me-
estimulando a permanência do aluno e sua consequente canismos de articulação, incentivo e apoio, a exemplo de
condução para o Ensino Médio na idade correta; bolsas de assistência, dentre outros, para os estudantes do
3.3. expandir para, no mínimo, 50% (cinquenta por Ensino Médio que ingressem no Ensino Superior;
cento) as matrículas em Tempo Integral no Ensino Médio, 3.11. assegurar ao aluno do Ensino Médio noturno um
visando ao desenvolvimento de atividades pedagógicas fo- ensino de qualidade, com currículo diferenciado e forma-
cadas no desenvolvimento de atividades cognitivas, cultu- ção específica de professores, equipando a unidade escolar
rais, esportivas, socioemocionais, a estimular no estudante com material didático e tempo pedagógico, que atendam a
a noção de sociabilidade, a partir do respeito para com o sua especificidade e otimização do planejamento e do es-
próximo, e o senso de responsabilidade, a partir de uma paço escolar - biblioteca, laboratórios e outros, com ênfase
compreensão de direitos e deveres; com ênfase à elabo- à elaboração do projeto de vida dos estudantes, orienta-
ração do projeto de vida dos estudantes, orientação ao ção ao mundo do trabalho em parcerias com instituições
mundo do trabalho, inclusive por meio de equipe técnica públicas, privadas e ONGs, de forma a proporcionar a esta
especializada na área de Psicologia, visando à identificação demanda iguais oportunidades de aprendizagem;
de aptidões e à inserção no Ensino Superior; 3.12. promover e garantir fóruns permanentes de dis-
3.4. fortalecer e reformular regionalmente o Progra- cussão sobre as especificidades do Ensino Médio noturno,
ma Mais Educação, bem como ainda criar e apoiar outros com vista à reorganização do currículo e ao tempo escolar
programas de atividades complementares escolares, as- do ensino noturno regular de forma a proporcionar ao alu-
segurando infraestrutura física adequada e formação dos no um ensino mais adequado à sua necessidade;
profissionais, com contrapartida financeira do Governo 3.13. implementar e aperfeiçoar políticas de currícu-
Estadual, como forma de viabilizar o reforço aos alunos lo, formação continuada de professores e de aquisição de
que apresentam dificuldades de aprendizagem, reduzindo material pedagógico que garantam a inserção de conheci-
a quantidade de reprovações e evasões no Ensino Funda- mentos sobre educação ambiental, relações étnico-raciais,
mental;
demais segmentos populacionais que sofrem preconceitos
3.5. criar espaço de discussão com vistas à implemen-
e opressões em razão de sua nacionalidade, condição so-
tação e ao fortalecimento de programas de reorganização
cial e local de nascimento, raça, cor, religião, origem étnica,
do Ensino Médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas
convicção política ou filosófica, deficiência física ou mental,
com abordagens interdisciplinares estruturadas pela rela-
ção entre a teoria e a prática, por meio de currículos es- doença, idade, atividade profissional, estado civil, classe so-
colares que organizem, de maneira flexível e diversificada, cial, sexo, orientação sexual e moral familiar, respeitando-
conteúdos obrigatórios e eletivos articulados em dimen- -se a orientação dos pais e/ou responsáveis, educação in-
sões como ciência, trabalho, linguagens, tecnologia, cultu- clusiva, educação financeira e do consumo, educação mu-
ra e esporte; sical, noções de direito, educação para o trânsito, educação
3.6. pactuar com a União, conforme dispositivo de que científica e educação política nas propostas curriculares
trata o §5º do art.7º da Lei nº13.005/2014, a implantação das escolas de Ensino Médio Regular, Profissionalizante e
dos resultados da consulta nacional sobre os direitos e ob- Educação do Campo Contextualizada para a convivência
jetivos de aprendizagem e desenvolvimento que configu- com o Semiárido;
rarão a base nacional comum curricular do Ensino Médio; 3.14. proporcionar formação específica e continuada
3.7. construir a identidade do Ensino Médio, com res- aos profissionais da rede pública para atendimento às ne-
peito à identidade do estudante e à orientação familiar, de cessidades educativas especiais, bem como garantir, nos
forma a proporcionar formação humana, cidadã, crítica, espaços educativos, as Salas de Recursos Multifuncionais e
ética, participativa e para o trabalho, numa perspectiva in- o fortalecimento dos NAPE - Núcleo de Atendimento Peda-
tegrada, assegurando um ensino de qualidade; gógico Especializado;
184
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
3.15. implementar ações formativas e curriculares que 3.31. fortalecer a relação e o diálogo entre rede esta-
fortaleçam a pesquisa, o trabalho, o empreendedorismo, a dual e redes municipais de ensino, no tocante ao mapea-
criatividade e o protagonismo; mento e monitoramento dos alunos egressos do Ensino
3.16. apoiar, fomentar e estimular os organismos cole- Fundamental, a fim de assegurar suas matrículas no Ensino
giados, como espaço de participação e exercício da cidada- Médio;
nia e do protagonismo juvenil; 3.32. garantir a renovação da estrutura do Ensino Mé-
3.17. promover a formação continuada de professores, dio, com base na aquisição de equipamentos e laborató-
discutir práticas curriculares e elaborar materiais didáticos rios, na produção de material didático específico e na arti-
sobre História, Geografia e Literatura do Ceará, objetivan- culação com instituições acadêmicas, esportivas e culturais.
do sua efetividade na aprendizagem dos alunos do Ensino
Médio, a partir da implementação progressiva como con- Meta 4: Universalizar, até 2024, em regime de colabo-
teúdo nas disciplinas curriculares; ração entre estados e municípios, para a população de 4
3.18. estabelecer e assegurar padrões mínimos de fun- (quatro) a 17 (dezessete) anos, o atendimento escolar aos
cionamento da escola, com base nos parâmetros utilizados alunos com deficiência, distúrbios psicológicos alimenta-
para elaborar o Custo Aluno Qualidade - CAQ; res, transtornos globais do desenvolvimento e altas habili-
3.19. promover políticas de equidade na oferta de Ensi- dades ou superdotação, preferencialmente, na rede regular
no Médio, com especial atenção às áreas de maior vulnera- de ensino, garantindo o atendimento educacional especia-
bilidade no Estado, em colaboração com as famílias e com lizado em salas de recursos multifuncionais, classes, escolas
órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à ou serviços especializados, públicos ou comunitários, nas
adolescência e à juventude; formas complementar e suplementar, em escolas ou servi-
3.20. implementar políticas de prevenção à evasão mo- ços especializados, públicos ou conveniados.
tivada por preconceito ou quaisquer formas de discrimina-
ção, criando rede de proteção contra formas associadas de Estratégias:
exclusão; 4.1. garantir e efetivar a escolarização de qualidade
3.21. respeitar a quantidade máxima de alunos por dos educandos, público-alvo da Educação Especial, na faixa
sala, deacordo com os critérios utilizados para elaboração etária de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, na rede regular
do CAQ; de ensino, associada ao Atendimento Educacional Especia-
3.22. fortalecer o regime de colaboração entre os entes lizado – AEE, por meio de diferentes serviços e instituições
federados para oferta de transporte escolar criando meca- afins, de caráter público ou privado, sem fins lucrativos;
nismos de controle social; 4.2. desenvolver um processo permanente de mobili-
3.23. implementar políticas de permanência de estu- zação, sensibilização e comunicação junto a gestores, pro-
dantes de origem popular e/ou egressos de Escola Pública fessores, profissionais e demais membros da comunidade
no Ensino Superior com programas de bolsas de estudos, escolar para garantia do acesso e permanência do público-
moradia e transportes; -alvo da Educação Especial na escola regular;
3.24. implementar estudo de demanda estadual para 4.3. implementar uma política de formação inicial e
atender de forma equitativa a oferta da matrícula para o continuada para os profissionais envolvidos com a inclu-
Ensino Médio nas diversas comunidades,bairros e cidades; são do público-alvo da Educação Especial nas escolas re-
3.25. garantir a fruição de bens e espaços culturais, de gulares, com a diversificação das estratégias de oferta e a
forma, regular, bem como a ampliação da prática despor- utilização de recursos das tecnologias de comunicação e
tiva, e da prática artística, integrada ao currículo escolar; informação;
3.26. criar e pactuar com os municípios programas e 4.4. ampliar o número de Salas de Recursos Multifun-
ações para correção de fluxo do Ensino Fundamental e Mé- cionais – SRM, em escolas urbanas, do campo, indígenas,
dio; de comunidades quilombolas e de povos tradicionais, para
3.27. manter e expandir a oferta de matrículas gratuitas garantia da oferta do Atendimento Educacional Especiali-
de Ensino Médio integrado à educação profissional, obser- zado – AEE, no contraturno e monitorar, por meio de um
vando-se as peculiaridades das populações do campo, das acompanhamento pedagógico eficaz, os serviços das SRM
comunidades indígenas e quilombolas e das pessoas com em funcionamento;
deficiência; 4.5. qualificar o atendimento e o desempenho dos pro-
3.28. fomentar programas de educação e de cultura fessores que atuam nas SRM por meio de formação con-
para a população urbana e do campo de jovens, na faixa tinuada, garantindo acompanhamento pedagógico siste-
etária de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, matizado, aquisição de recursos materiais necessários ao
com qualificação social e profissional para aqueles que es- desenvolvimento dos serviços ofertados nesses ambientes,
tejam fora da escola e com defasagem no fluxo escolar; observando as especificidades das escolas do campo, indí-
3.29. desenvolver formas alternativas de oferta do En- genas e quilombolas;
sino Médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos 4.6. Garantir um programa específico de recursos finan-
e filhas de profissionais que se dedicam a atividades de ceiros permanentes, como complemento às iniciativas de
caráter itinerante; programas federais, destinados à acessibilidade de 100%
3.30. estimular a participação dos adolescentes nos (cem por cento) das escolas públicas, por meio da adequa-
cursos das áreas tecnológicas e científicas; ção arquitetônica, conforme as normas da Associação Bra-
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
sileira de Normas Técnicas - ABNT, da oferta de transporte culas efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado,
acessível, da disponibilização de material didático próprio na educação especial oferecida em instituições comunitá-
e de recursos de tecnologia assistiva; rias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, con-
4.7. garantir que a Educação Especial seja integrada veniadas com o poder público e com atuação exclusiva na
à proposta pedagógica da escola, de forma a atender às modalidade, nos termos da Lei nº11.494, de 20 de junho
necessidades de estudantes com deficiência, transtornos de 2007;
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou super- 4.15. garantir atendimento educacional especializado
dotação, a partir do 1º (primeiro) ano de vigência do Plano em salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou
Estadual de Educação - PEE; serviços especializados, públicos ou conveniados, nas for-
4.8. garantir a oferta de educação bilíngue em Língua mas complementar e suplementar, a todos os alunos com
Brasileira de Sinais – LIBRAS, como primeira língua e, na deficiências, matrículados na rede pública de educação bá-
modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda sica, conforme necessidade identificada por meio de ava-
língua, aos estudantes surdos e com deficiência auditiva liação, ouvidos a família e o aluno;
de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos de idade, em escolas e 4.16. fortalecer o acompanhamento e o monitoramen-
classes bilíngues e em classes comuns do ensino regular, to do acesso à escola e ao atendimento educacional es-
bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para ce- pecializado, bem como da permanência e do desenvolvi-
gos e surdos cegos, em todos os níveis e modalidades de mento escolar dos alunos com deficiências beneficiários de
ensino; programas de transferência de renda, juntamente ao com-
4.9. garantir a presença de profissionais de apoio (psi- bate às situações de discriminação, preconceito e violência,
copedagogos e psicólogos) e/ou acompanhante especia- com vistas ao estabelecimento de condições adequadas
lizado na rede estadual de ensino em que estejam matrí- para o sucesso educacional, em colaboração com as famí-
culados estudantes público-alvo da AEE – Atendimento lias e com os órgãos públicos de assistência social, saúde e
Educacional Especializado, nos casos onde são necessários, proteção à infância, à adolescência e à juventude;
para o desenvolvimento da autonomia desses sujeitos nos 4.17. promover o desenvolvimento de pesquisas inter-
espaços escolares, sendo vedado às instituições particula- disciplinares para subsidiar a formulação de políticas pú-
res a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza blicas intersetoriais que atendam às especificidades edu-
em suas mensalidades, anuidades e matrículas para tanto cacionais de estudantes com deficiências que requeiram
ou para garantia de acessibilidade e inclusão na escola; medidas de atendimento especializado;
4.10. promover parcerias com instituições comunitá- 4.18. promover a articulação intersetorial entre órgãos
rias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, con- e políticas públicas de saúde, assistência social e direitos
veniadas com o poder público, visando ampliar a oferta do humanos, em parceria com as famílias, com o fim de de-
AEE para apoiar a escolarização do público-alvo da Educa- senvolver modelos de atendimento voltados à continui-
ção Especial; dade do atendimento escolar, na educação de jovens e
4.11. desenvolver e tornar acessível, em articulação adultos, das pessoas com deficiência e transtornos globais
com as Instituições de Ensino Superior -IES, pesquisas do desenvolvimento com idade superior à faixa etária de
voltadas para a elaboração de metodologias, materiais di- escolarização obrigatória, de forma a assegurar a atenção
dáticos, equipamentos e recursos de tecnologia assistiva, integral ao longo da vida;
com vistas à promoção do ensino e da aprendizagem, bem 4.19. incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e
como das condições de acessibilidade dos estudantes pú- nos demais cursos de formação para profissionais da edu-
blicos da Educação Especial; cação, inclusive em nível de pós-graduação, observado o
4.12. redimensionar, institucionalizar e descentralizar a disposto no caput do art.207 da Constituição Federal, dos
estrutura organizacional, pedagógica e jurídica do Centro referenciais teóricos, das teorias de aprendizagem e dos
de Referência em Educação e Atendimento Especializado processos de ensino-aprendizagem relacionados ao aten-
do Ceará - CREAECE, implantando polos nas macrorregiões dimento educacional de alunos com deficiências;
do Estado; 4.20. desenvolver indicadores para avaliação da cober-
4.13. ofertar cursos de formação continuada na área tura e qualidade do padrão de oferta da Educação Especial;
de Educação Especial e inclusiva para os professores que 4.21. reservar, no mínimo 5% (cinco por cento), das va-
atuam nas salas de aula regular, em todos os níveis e mo- gas das escolas profissionalizantes para as pessoas porta-
dalidades de ensino, bem como para os profissionais que doras de deficiência;
atuam nas Salas de Recursos Multifuncionais, em equipes 4.22. aprovar Lei Estadual, dentro de até 1 (um) ano
técnicas educacionais com foco na referida área e que es- após a publicação desta Lei, criando e regulamentando
tejam atuando na gestão escolar; a função do(a) cuidador(a) para alunos com deficiência e
4.14. contabilizar, para fins do repasse do Fundo de transtornos globais de desenvolvimento;
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de 4.23. realizar o mapeamento da demanda de pessoas
Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, as com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento
matrículas dos estudantes da educação regular da rede pú- não matriculadas nas unidades escolares das redes públi-
blica que recebam atendimento educacional especializado cas e privada, por meio de colaboração com os municípios
complementar e suplementar, sem prejuízo do cômputo e dos órgãos públicos de assistência social, saúde e pro-
dessas matrículas na educação básica regular, e as matrí- teção à infância, à adolescência e à juventude, de modo a
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
6.11. adotar medidas para otimizar o tempo de perma- 7.10. ampliar, até o 5º (quinto) ano de vigência des-
nência dos alunos na escola, direcionando a expansão da te plano, o acesso à rede mundial de computadores, em
jornada para o efetivo trabalho escolar, combinado com banda larga, promovendo a utilização pedagógica das tec-
atividades recreativas, esportivas e culturais; nologias da informação e da comunicação, melhorando e
6.12. fortalecer o Programa de Ampliação da Oferta atualizando os equipamentos tecnológicos, contemplando
Municipal de Educação Infantil, sob a óptica da oferta em todos os segmentos da escola;
tempo integral, de modo a dar continuidade e ampliar a 7.11. garantir infraestrutura adequada às escolas, con-
política de editais para a construção de Centros de Educa- dizente às características geoambientais das diferentes re-
ção Infantil, por meio de cooperação técnica e financeira giões do Ceará, em especial do semiárido, a fim de promo-
do Estado aos municípios. Meta 7: Fomentar a qualidade da ver ambientes que fomentem a aprendizagem, a cultura, o
educação básica em todas as etapas e modalidades, com esporte e o lazer;
melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, garantindo 7.12. adquirir equipamentos técnico-pedagógicos de
o acesso e a permanência de todos os estudantes na esco- qualidade para suporte ao desenvolvimento das aulas e
la, de modo a melhorar as médias no ENEM, IDEB e PISA, atividades extraclasse, com garantia de formação e manu-
garantindo a execução das metas estabelecidas pelo PNE. tenção para o seu uso efetivo;
7.13. fortalecer e aprimorar as funcionalidades dos sis-
Estratégias: temas de acompanhamento informatizados no Estado e
7.1. instituir programa articulado de formação con- nos municípios, a exemplo do SIGE;
tinuada de professores na educação básica, articulando 7.14. oferecer suporte às escolas, em parceria com as
ações com os municípios e o programa nacional de forma- Secretarias de Saúde e Assistência Social, com serviços de
ção de professores; psicólogos, psicopedagogos, assistentes sociais e profis-
7.2. articular, em parceria com os municípios, elabora- sionais de enfermagem, a fim de aumentar a inclusão e
ção e implementação de currículos contextualizados, inter- permanência dos jovens, principalmente os que estão em
disciplinares e multidimensionais que contemple direitos e situação de vulnerabilidade social;
7.15. garantir nos currículos escolares conteúdos sobre
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos
a história e as culturas afro-brasileira e indígenas e imple-
para cada ano do Ensino Fundamental e Médio, em todas
mentar ações educacionais, nos termos das Leis nºs 10.639,
as áreas do conhecimento, de acordo com a diversidade
de 9 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008,
étnico-cultural e as práticas pedagógicas contextualiza-
assegurando-se a implementação das respectivas diretri-
das tendo como eixos norteadores as questões ambien-
zes curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas
tais, políticas e econômicas, articulado à proposta da Base
com instituições de Ensino Superior, fóruns de educação
Nacional Comum e às Diretrizes Curriculares Nacionais da
para a diversidade étnico-racial, conselhos escolares, equi-
Educação Básica;
pes pedagógicas e a sociedade civil;
7.3. estabelecer ações efetivas voltadas para a preven- 7.16. respeitar e incentivar a articulação entre os am-
ção, promoção, atenção e atendimento à saúde e à integri- bientes escolares e comunitários, garantindo a preservação
dade física, mental e emocional dos profissionais da edu- da identidade cultural de populações do campo, indígenas,
cação (efetivos e temporários) como condição primordial quilombolas e demais povos tradicionais, por meio de or-
para a melhoria da qualidade educacional; ganizações pedagógicas e de gestão que considerem as
7.4. estabelecer a avaliação diagnóstica nas turmas de práticas socioculturais de tais grupos, de acordo com as
1º (primeiro) ano do Ensino Médio, fomentando o proces- diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Edu-
so contínuo de autoavaliação das escolas, baseado na pro- cação e o disposto no Decreto nº7.352, de 4 de novembro
posta curricular do PAIC e da Base Nacional Comum; de 2010;
7.5. ampliar o sistema de avaliações em larga escala, 7.17. reformular e garantir a continuidade das políti-
principalmente voltados aos anos finais do Ensino Funda- cas de premiação para estudantes, escolas e municípios,
mental, de forma que haja uma avaliação continuada em e estabelecer políticas de estímulo para a melhoria do de-
todos os anos; sempenho nas avaliações externas, de modo a valorizar a
7.6. promover a regulação da oferta da educação bási- equidade, o mérito do corpo docente, da gestão e da co-
ca pela iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e munidade escolar;
o cumprimento da função social da educação; 7.18. criar e fortalecer estratégias de preparação dos
7.7. aprimorar estratégias de acompanhamento peda- estudantes de Ensino Médio para a realização de exames
gógico do trabalho realizado nas escolas, por docentes, de ingresso ao Ensino Superior;
gestores e superintendentes escolares; 7.19. criar política de busca da equidade entre as esco-
7.8. promover e financiar o desenvolvimento de uma las do Estado nos indicadores de desempenho, como IDEB,
cultura de projetos pedagógicos articulados e integrados à SPAECE e ENEM, com especial ênfase às localizadas em zo-
Política Educacional do Estado; nas de alta vulnerabilidade;
7.9. disponibilizar e ampliar acervo literário voltado 7.20. garantir políticas de combate à violência na es-
para o público infanto-juvenil, facilitando o acesso à cul- cola, com o desenvolvimento de práticas de mediação es-
tura e incentivo à leitura, contemplando as várias áreas do colar, inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas
conhecimento; à capacitação de educadores para detecção dos sinais de
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
suas causas, como a violência doméstica e sexual, com a aluno, assegurada a diversidade de métodos e propostas
criação das comissões de atendimento, notificação e pre- pedagógicas, com preferência para softwares livres e recur-
venção à violência doméstica contra criança e adolescente sos educacionais abertos;
nas escolas estaduais conforme Lei Estadual nº13.230/2002, 7.31. apoiar técnica e financeiramente a gestão esco-
favorecendo a adoção das providências adequadas para lar mediante transferência direta de recursos financeiros à
promover a construção da cultura de paz e um ambiente escola, garantindo a participação da comunidade escolar
escolar seguro; no planejamento e na aplicação dos recursos, visando à
7.21. firmar parcerias com empresas públicas, privadas ampliação da transparência e ao efetivo desenvolvimento
e Organizações Não Governamentais, para implementação da gestão democrática;
de cursos preparatórios para o Enem, que contemplem os 7.32. ampliar programas e aprofundar ações de aten-
3 (três) anos do Ensino Médio, a partir do início do ano dimento ao aluno, em todas as etapas da educação básica,
letivo; por meio de programas suplementares de material didáti-
7.22. instituir índice de desenvolvimento da educação co e escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
que leve em conta o fluxo escolar, a proficiência dos alunos 7.33. assegurar, progressivamente, a todas as escolas
e a equidade nos resultados; públicas de educação básica o acesso à energia elétrica,
7.23. garantir recursos de estímulo para iniciação cien- abastecimento de água tratada, esgotamento sanitário e
tífica, pesquisa de campo, olimpíadas de conhecimento, manejo dos resíduos sólidos, garantir o acesso dos alunos
feiras e visitas técnicas; a espaços para a prática esportiva, a bens culturais e artísti-
7.24. garantir o acesso a transporte gratuito para todos cos e a equipamentos e laboratórios de ciências e, em cada
os estudantes da educação escolar obrigatória, mediante edifício escolar, garantir a acessibilidade às pessoas com
renovação e padronização da frota de veículos de acordo deficiência e uma alimentação especial para os portadores
com as especificações do Instituto Nacional de Metrologia, de patogenias alimentares;
Qualidade e Tecnologia - INMETRO; 7.34. prover equipamentos e recursos tecnológicos
7.25. promover a articulação dos programas da área digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar
da educação, de âmbito local e nacional, com os de outras a todas as escolas públicas da educação básica, criando,
áreas, como saúde, trabalho e emprego, assistência social, inclusive, mecanismos para implementação das condições
esporte e cultura, possibilitando a criação de rede de apoio necessárias para a universalização das bibliotecas nas insti-
integral às famílias, como condição para a melhoria da tuições educacionais, com acesso a redes digitais de com-
qualidade educacional; putadores, inclusive a internet;
7.26. fomentar a produção científica e cultural, nos 7.35. implementar políticas de inclusão e permanência
anos finais do Ensino Fundamental, através de feiras cientí- na escola para adolescentes e jovens que se encontram em
ficas e mostras culturais; regime de liberdade assistida e em situação de rua, assegu-
7.27. assegurar que: a) no 5º (quinto) ano de vigência rando os princípios da Lei nº8.069, de 13 de julho de 1990
deste PEE, pelo menos 70% (setenta por cento) dos alunos - Estatuto da Criança e do Adolescente;
do Ensino Fundamental e do Ensino Médio tenham alcan- 7.36. desenvolver currículos e propostas pedagógicas
çado nível suficiente de aprendizado em relação aos direi- específicas para educação escolar para as escolas do campo
tos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu e para as comunidades indígenas e quilombolas, incluindo
ano de estudo, e 50% (cinquenta por cento), pelo menos, os conteúdos culturais correspondentes às respectivas co-
o nível desejável; b) no último ano de vigência deste PEE, munidades e considerando o fortalecimento das práticas
todos os estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino socioculturais e da língua materna de cada comunidade in-
Médio tenham alcançado nível suficiente de aprendizado dígena, produzindo e disponibilizando materiais didáticos
em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e de- específicos, inclusive para os alunos com deficiência;
senvolvimento de seu ano de estudo, e 80% (oitenta por 7.37. mobilizar as famílias e setores da sociedade civil,
cento), pelo menos, o nível desejável; articulando a educação formal com experiências de edu-
7.28. formalizar e executar os planos de ações articu- cação popular e cidadã, com os propósitos de que a edu-
ladas dando cumprimento às metas de qualidade estabe- cação seja assumida como responsabilidade de todos e de
lecidas para a educação básica pública e às estratégias de ampliar o controle social sobre o cumprimento das política
apoio técnico e financeiro voltadas à melhoria da gestão públicas educacionais;
educacional, à formação de professores e professoras e 7.38. o Estado divulgará, anualmente, os resultados
profissionais de serviços e apoio escolares, à ampliação e educacionais apurados pelo Sistema Permanente de Ava-
ao desenvolvimento de recursos pedagógicos e à melhoria liação da Educação Básica do Ceará - SPAECE, dos sistemas
e expansão da infraestrutura física da rede escolar; de ensino e suas escolas, para subsidiar as políticas munici-
7.29. associar a prestação de assistência técnica finan- pais e estadual de educação;
ceira à fixação de metas intermediárias, nos termos esta- 7.39. promover com especial ênfase, em consonância
belecidos conforme pactuação voluntária entre os entes, com as diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a
priorizando sistemas e redes de ensino com IDEB abaixo da formação de leitores e leitoras e a capacitação de professo-
média estadual; res e professoras, bibliotecários e bibliotecárias e agentes
7.30. estimular a utilização de tecnologias educacionais da comunidade para atuar como mediadores e mediadoras
e incentivar práticas pedagógicas inovadoras que assegu- da leitura, de acordo com a especificidade das diferentes
rem a melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem do etapas do desenvolvimento e da aprendizagem;
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
7.40. melhorar o desempenho dos alunos da educação -se a formação específica dos professores nos componen-
básica nas avaliações de aprendizagem do Programa Inter- tes de Dança, Teatro, Música e Artes Visuais, garantindo-se
nacional de Avaliação de Estudantes – PISA, tomado como a realização de concurso público para tanto.
instrumento externo de referência, internacionalmente co-
nhecido; Meta 8: Elevar, até 2024, em regime de colaboração, a
7.41. estimular a utilização de dispositivos móveis, tais escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29 (vin-
como tablets compartilhados, notebooks ou computado- te e nove) anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 (doze)
res desktops, como ferramentas para o aprendizado, atra- anos de estudo no último ano, para as populações do cam-
vés do uso de jogos de aprendizagem, laboratórios virtuais, po, os povos tradicionais, e demais segmentos populacio-
bibliotecas virtuais em nuvens, simuladores virtuais, den- nais que sofrem preconceitos e opressões em razão de sua
tre outros, visando a melhoria da qualidade do ensino, a nacionalidade, condição social e local de nascimento, raça,
aprendizagem do aluno e a redução do custo; cor, religião, origem étnica, convicção política ou filosófica
7.42. promover ações e programas que estimulem a deficiência física ou mental, doença, idade, atividade pro-
cultura de Direitos Humanos, favorecendo ambientes de fissional, estado civil, classe social, sexo, orientação sexual
formação e fruição cultural e pedagógica em práticas de e moral familiar, respeitando-se a orientação dos pais e/
educação em direitos humanos nas escolas; ou responsáveis, e os 25% (vinte e cinco por cento) mais
7.43. garantir o acesso à educação regular, com carga pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não
horária prevista na LDB, aos adolescentes com menos de negros, declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geo-
15 (quinze) anos em cumprimento de medida de interna- grafia e Estatística - IBGE.
ção no sistema socioeducativo, assegurando a efetividade
das normas da Lei nº8.069/90 e da Lei nº12.594/2012; Estratégias:
7.44. fomentar ações e projetos de combate ao uso de 8.1. ampliar e assegurar a oferta da matrícula da Edu-
drogas, mobilizando professores, alunos e familiares com o cação de Jovens e Adultos – EJA, nos espaços já existentes
propósito de detectar as causas da presença de tóxicos no em todas as redes de ensino, observando a territorialidade
ambiente escolar e suprimir os malefícios do uso de drogas e as especificidades dos segmentos populacionais consi-
no aprendizado e desenvolvimento social dos envolvidos; derados;
7.45. estimular o ensino e a prática do desenvolvimen- 8.2. criar políticas específicas para elevação da escola-
to sustentável no ambiente escolar, dispondo de sistemas ridade de jovens e adultos nos municípios com Índice de
de coleta seletiva de lixo nas escolas e de ações de cons- Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM, muito baixo,
cientização sobre a importância da preservação do meio baixo e médio, considerando as especificidades das popu-
ambiente; lações indígena, quilombola, demais povos tradicionais, e
7.46. incluir, no ensino das práticas artísticas na educa- demais segmentos populacionais que sofrem preconceitos
ção básica, conteúdo que considere a diversidade étnico- e opressões em razão de sua nacionalidade, condição so-
-cultural do Ceará, valorizando as matrizes de formação de cial e local de nascimento, raça, cor, religião, origem étnica,
nosso povo; convicção política ou filosófica, deficiência física ou mental,
7.47. promover o ensino de temas concernentes ao ra- doença, idade, atividade profissional, estado civil, classe so-
cismo no mundo, no Brasil e no Ceará e assegurar políticas cial, sexo, orientação sexual e moral familiar, respeitando-
de enfrentamento ao racismo incluindo a capacitação de -se a orientação dos pais e/ou responsáveis;
educadores para incidir sobre o ambiente escolar promo- 8.3. garantir a oferta da EJA integrada à educação pro-
vendo um ambiente de diversidade e respeito; fissional para os 25% (vinte e cinco por cento) mais pobres,
7.48. acompanhar e divulgar bienalmente os resultados as populações do campo, indígena, quilombola, povos tra-
pedagógicos dos indicadores do SAEB e do IDEB e, trienal- dicionais, e demais segmentos populacionais que sofrem
mente, os indicadores do PISA, relativos às instituições da preconceitos e opressões em razão de sua nacionalidade,
rede pública de educação básica do Estado e dos muni- condição social e local de nascimento, raça, cor, religião,
cípios, assegurando a contextualização desses resultados, origem étnica, convicção política ou filosófica, deficiên-
com relação a indicadores sociais relevantes, como os de cia física ou mental, doença, idade, atividade profissional,
nível socioeconômico das famílias dos alunos, a transpa- estado civil, classe social, sexo, orientação sexual e moral
rência e o acesso público às informações técnicas de con- familiar, respeitando-se a orientação dos pais e/ou res-
cepção e operação do sistema de avaliação; ponsáveis, tendo as escolas profissionalizantes e Centro
7.49. assegurar avaliação prévia e específica do mate- de Educação de Jovens e Adultos – CEJA, como instâncias
rial escolar, voltado para crianças e adolescentes, no míni- ofertantes dos cursos;
mo, nos seguintes itens: racismo, preconceito, discrimina- 8.4. elaborar estudos, em até 2 (dois) anos após a pu-
ção e orientação sexual; blicação do Plano, para identificar as necessidades e de-
7.50. intensificar o apoio e incentivo aos municípios a mandas da população do campo, os mais pobres, negros,
adquirirem ônibus para conduzirem os alunos com a finali- indígenas, quilombolas, demais povos tradicionais do Cea-
dade de erradicar a utilização do transporte ‘pau-de-arara’; rá e demais segmentos populacionais que sofrem precon-
7.51. garantir a implementação da oferta da disciplina ceitos e opressões em razão de sua nacionalidade, condi-
de artes em todas as séries da educação básica, que deverá ção social e local de nascimento, raça, cor, religião, origem
ser ministrada por profissionais habilitados considerando- étnica, convicção política ou filosófica, deficiência física ou
190
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
mental, doença, idade, atividade profissional, estado civil, 9.5. garantir a institucionalização da oferta do Progra-
classe social, sexo, orientação sexual e moral familiar, res- ma Luz do Saber de forma integrada à política de alfabeti-
peitando-se a orientação dos pais e/ou responsáveis, para zação de jovens e adultos, objetivando a inclusão digital e
elevar a escolaridade nos diferentes níveis e modalidades de outras tecnologias afins, de acordo com especificidades
da educação básica; do público atendido;
8.5. implementar programas de EJA para os grupos 9.6. elaborar política específica de atendimento à po-
fora da escola e com defasagem idade série, associados a pulação com mais de 29 (vinte e nove) anos não alfabetiza-
estratégias de combate à evasão e que garantam a conti- da, articulando a EJA integrada à Educação Profissional, às
nuidade da escolarização, após a alfabetização inicial; necessidades específicas desse grupo;
8.6. promover a chamada de matrícula para incentivar 9.7. garantir, em parceria com a Secretaria da Saúde, a
a inclusão escolar dos segmentos populacionais considera- execução do Programa Nacional Oftalmológico com forne-
dos nesta meta, em parceria com áreas da assistência so- cimento gratuito de óculos para os alunos da educação de
cial, da saúde e de proteção à juventude; jovens e adultos;
8.7. institucionalizar programas e desenvolver tecnolo- 9.8 implantar políticas de incentivo fiscal às empresas
gias para a correção de fluxo, para acompanhamento pe- que colaborarem com projetos de escolarização de seus
dagógico individualizado, para a recuperação e progressão funcionários;
parcial, bem como priorizar estudantes com rendimento 9.9. realizar diagnóstico dos jovens e adultos com En-
escolar defasado, considerando as especificidades dos seg- sino Fundamental e Médio incompletos, para identificar a
mentos populacionais; demanda ativa por vagas na educação de jovens e adultos;
8.8. garantir a formação inicial e continuada de pro- 9.10. realizar chamadas públicas regulares para educa-
fessores, gestores e demais profissionais da educação para ção de jovens e adultos, promovendo-se busca ativa em re-
desenvolver uma cultura de acolhimento, respeito, inclusi- gime de colaboração entre entes federados e em parceria
ve quanto a todos os preconceitos e opressões em razão com organizações da sociedade civil;
de sua nacionalidade, condição social e local de nascimen- 9.11. assegurar a oferta de educação de jovens e adul-
tos, nas etapas de Ensino Fundamental e Médio, com ên-
to, raça, cor, religião, origem étnica, convicção política ou
fase em cursos profissionalizantes, às pessoas privadas de
filosófica, deficiência física ou mental, doença, idade, ati-
liberdade em todos os estabelecimentos penais, assegu-
vidade profissional, estado civil, classe social, sexo, orien-
rando-se formação específica dos professores e implemen-
tação sexual e moral familiar, respeitando-se a orientação
tação de diretrizes nacionais em regime de colaboração;
dos pais e/ou responsáveis;
9.12. considerar, nas políticas públicas de jovens e adul-
8.9. garantir acesso gratuito a exames de certificação
tos, as necessidades dos idosos, com vistas à promoção
da conclusão dos ensinos fundamental e médio;
de políticas de erradicação do analfabetismo, ao acesso a
8.10. a Secretaria da Educação do Estado do Ceará – tecnologias educacionais e atividades recreativas, culturais
SEDUC, em colaboração com os municípios e Secretarias e esportivas, à implementação de programas de valoriza-
de Assistência Social, acompanhará famílias com filhos com ção e compartilhamento dos conhecimentos e experiência
baixa frequência, evasão ou abandono escolar. dos idosos e à inclusão dos temas do envelhecimento e da
velhice nas escolas;
Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população 9.13. executar ações de atendimento ao estudante da
com 15 (quinze) anos ou mais, erradicar o analfabetismo educação de jovens e adultos por meio de programas su-
absoluto e reduzir em 50% (cinquenta) por cento a taxa de plementares de transporte, alimentação e saúde, inclusi-
analfabetismo funcional, até 2024. ve atendimento oftalmológico e fornecimento gratuito de
óculos, em articulação com a área da saúde. Meta 10: Ofe-
Estratégias: recer, em regime de colaboração, no mínimo, 25% (vinte e
9.1 estruturar e implementar uma política pública para cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e
o enfrentamento, de forma efetiva e eficiente, do analfabe- adultos na forma integrada à educação profissional, pro-
tismo absoluto e funcional no Estado, em regime de cola- gressivamente até 2024.
boração com a União e os municípios, no prazo máximo de
2 (dois) anos, após aprovação do Plano; Estratégias:
9.2. integrar a alfabetização de jovens e adultos à ofer- 10.1. estimular a adesão, por parte dos municípios, ao
ta de escolarização, como primeira etapa da educação bá- Programa ProJovem Urbano/Campo, como forma de am-
sica da população de 15 (quinze) anos ou mais; pliar as possibilidades de articulação entre EJA e formação
9.3. garantir a formação mínima dos professores alfa- profissional no Ensino Fundamental;
betizadores, exigida pela Lei nº9.394/96, qualificando-os 10.2. expandir a oferta de formação profissional, por
conforme as especificidades de cada região, e asseguran- meio de política estadual e do Programa Nacional de Aces-
do-lhes as mesmas condições funcionais da categoria do so ao Ensino Técnico e Emprego – PRONATEC, e PRONATEC
magistério; Campo, articulados à EJA, nos ensinos Fundamental e Mé-
9.4. garantir a continuidade dos estudos dos adultos dio, utilizando os ambientes já existentes nas Escolas Esta-
que foram alfabetizados pelo Programa Brasil Alfabetiza- duais de Educação Profissional – EEEP e CEJA, dispensando
do - PBA, com o compartilhamento de responsabilidades especial atenção às mesorregiões mais pobres do Estado e
entre os entes federados; que apresentam menor IDHM;
191
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
10.3. criar programa de assistência ao estudante, abran- nal vinculadas ao sistema sindical e de entidades sem fins
gendo ações de assistência social e financeira, visando con- lucrativos de atendimento à pessoa com deficiência, com
tribuir para a garantia do acesso, permanência e sucesso na atuação exclusiva na modalidade;
aprendizagem dos alunos, observando as especificidades 10.13. implementar mecanismos de reconhecimento de
das populações do campo, estimulando a conclusão, com saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem con-
êxito, da EJA articulada à educação profissional; siderados na articulação curricular dos cursos de formação
10.4. estimular a adesão, por parte dos municípios, aos inicial e continuada e dos cursos técnicos de nível médio;
programas de educação de jovens e adultos integrados à 10.14. estabelecer parcerias com o Ministério da Edu-
educação profissional, como forma de ampliar as possibili- cação, IFCE e entidades integrantes do Sistema S, como o
dades de articulação entre EJA e formação profissional no SENAR, SESC, SENAI, SEST e SEBRAE, além de outras ins-
Ensino Fundamental; tituições, para a ampliação do número de turmas de EJA,
10.5. garantir acesso e permanência com qualidade, cujas atividades estejam integradas à educação profissional.
na modalidade EJA às populações menos favorecidas, em
situação de vulnerabilidade social (negros, quilombolas, ín- Meta 11: Assegurar 30% (trinta por cento) das matrícu-
dios, camponeses, povos tradicionais, público da educação las de Ensino Médio articuladas à Educação Profissional e
especial e demais segmentos populacionais que sofrem Técnica, até 2024.
preconceitos e opressões em razão de sua nacionalidade,
condição social e local de nascimento, raça, cor, religião, Estratégias:
origem étnica, convicção política ou filosófica, deficiên- 11.1. ampliar, a partir da análise de demanda, o núme-
cia física ou mental, doença, idade, atividade profissional, ro de escolas que ofertam educação profissional técnica de
estado civil, classe social, sexo, orientação sexual e moral nível médio, assegurando a sua sustentabilidade e garan-
familiar, respeitando-se a orientação dos pais e/ou respon- tindo a qualidade em âmbito público;
sáveis), e/ou em situação de privação de liberdade (presi- 11.2. ampliar o número de matrículas articuladas à
diários e socioeducandos); Educação Profissional de nível Médio através dos cursos
10.6. expandir e assegurar as matrículas na EJA nas re- ofertados com apoio do PRONATEC;
des públicas, de modo a articular a formação inicial e con- 11.3. otimizar os espaços com condições de oferta de
tinuada de trabalhadores à educação profissional, objeti- cursos técnicos de nível médio no horário noturno, utili-
vando a elevação do nível de escolaridade e qualificação zando-se os espaços das Escolas Estaduais de Educação
profissional da população adulta; Profissional e Regulares;
10.7. expandir e assegurar a oferta da EJA articulada 11.4. garantir às Escolas Profissionais adaptadas o pa-
à educação profissional, em parceria com instituições go- drão básico estabelecido pelo MEC;
vernamentais afins, para atender as pessoas privadas de li- 11.5. capacitar os professores utilizando a base nacio-
berdade nos estabelecimentos penais e os jovens em con- nal comum curricular, em consonância com o Plano Esta-
flito com a lei, nos Centros de Medidas Socioeducativas, dual de Educação, numa visão integrada e multidisciplinar
assegurando-se formação específica dos professores e das dos conteúdos;
professoras; 11.6. ampliar em parceria com o sistema S a oferta
10.8. promover formação inicial e continuada para do- de cursos técnicos e FIC (Formação Inicial e Continuada),
centes que atuam na EJA integrada à educação profissional; oportunizando a inserção de estudantes no mercado de
10.9. ampliar as oportunidades profissionais dos jovens trabalho;
e adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por 11.7. fomentar a expansão das matrículas de ensino
meio do acesso à educação de jovens e adultos articulada integrado à educação profissional, observando-se as pe-
à educação profissional; culiaridades das populações do campo, das comunidades
10.10. estimular a diversificação curricular da educação indígenas e quilombolas, das pessoas com deficiência e co-
de jovens e adultos, articulando a formação básica e a pre- munidades tradicionais;
paração para o mundo do trabalho e estabelecendo inter- 11.8. estimular a expansão do estágio na educação
-relações entre teoria e prática, nos eixos da ciência, do profissional técnica de nível médio e do ensino médio re-
trabalho, da arte, da tecnologia e da cultura e da cidada- gular, preservando-se seu caráter pedagógico integrado
nia, de forma a organizar o tempo e o espaço pedagógicos ao itinerário formativo do aluno, visando à formação de
adequados às características desses alunos; qualificações próprias da atividade profissional, à contex-
10.11. fomentar a produção de material didático, o de- tualização curricular e ao desenvolvimento da juventude;
senvolvimento de currículos e metodologias específicas, 11.9. ampliar a oferta de programas de reconhecimen-
os instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e to de saberes para fins de certificação profissional em nível
laboratórios e a formação continuada de docentes das re- técnico;
des públicas que atuam na educação de jovens e adultos 11.10. ampliar a oferta de matrículas gratuitas de edu-
articulada à educação profissional; cação profissional técnica de nível médio pelas entidades
10.12. fomentar a oferta pública de formação inicial e privadas de formação profissional vinculadas ao sistema
continuada para trabalhadores e trabalhadoras articulada à sindical e entidades sem fins lucrativos de atendimento à
educação de jovens e adultos, em regime de colaboração pessoa com deficiência, com atuação exclusiva na modali-
e com apoio de entidades privadas de formação profissio- dade;
192
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
11.11. elevar gradualmente o investimento em progra- do campo e de estudantes com deficiência, transtornos
mas de assistência estudantil e mecanismos de mobilidade globais do desenvolvimento e altas habilidades ou super-
acadêmica, visando a garantir as condições necessárias à dotação, de forma apoiar seu acesso acadêmico;
permanência dos estudantes e à conclusão dos cursos téc- 12.5. assegurar e incentivar através de programas aca-
nicos de nível médio; dêmicos, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de cré-
11.12. fomentar e garantir estudos e pesquisas sobre ditos curriculares exigidos para a graduação em programas
a articulação entre formação, currículo, pesquisa e mundo e projetos de extensão universitária, orientando sua ação,
do trabalho, considerando as necessidades econômicas, prioritariamente, para áreas de grande pertinência socioe-
sociais e culturais do Estado; conômica;
11.13. institucionalizar sistema de avaliação da quali- 12.6. consolidar e ampliar programas e ações de incen-
dade da educação profissional técnica de nível médio das tivo à mobilidade e permanência estudantil e docente em
redes escolares públicas e privadas; curso de graduação e pós-graduação, em âmbito nacional
11.14. realizar o acompanhamento dos egressos da e internacional, no modelo do Programa Ciência Sem Fron-
rede pública de educação nas instituições de ensino supe- teiras;
rior ou escolas técnicas, de modo a avaliar a qualidade da 12.7. mapear a demanda e fomentar a oferta de cur-
formação recebida, a partir da comprovação da continui- sos de nível superior para professores, destacadamente a
dade dos estudos e do ingresso dos jovens no mercado de que se refere à formação nas áreas de ciências e matemá-
trabalho. Meta 12: Elevar, até 2024, em regime de colabo- tica, considerando as necessidades do desenvolvimento do
ração entre a União, Estado e municípios, a taxa bruta de País, a inovação tecnológica e a melhoria da qualidade da
matrícula na Educação Superior para 50% (cinquenta por educação básica, implementando programa de incentivo à
cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) permanência e conclusão dos alunos;
da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, 12.8. institucionalizar programa de composição de
assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo acervo bibliográfico e audiovisual vinculada às novas tec-
menos, 60% (sessenta por cento) das novas matrículas no nologias para cursos de graduação e pós-graduação, asse-
segmento público. gurada a acessibilidade às pessoas com deficiência;
12.9. estimular mecanismos para ocupar as vagas em
cada período letivo na educação superior pública, bem
Estratégias:
como a expansão e reestruturação das instituições de edu-
12.1. ampliar e otimizar a capacidade instalada da es-
cação superior estaduais públicas, por meio de apoio téc-
trutura física e de recursos humanos das instituições públi-
nico e financeiro do Governo Federal, mediante termo de
cas de educação superior, sobretudo as estaduais, median-
adesão a programa de reestruturação, na forma de regu-
te ações planejadas e coordenadas, de forma a ampliar e
lamento, que considere a sua contribuição para ampliação
interiorizar o acesso à graduação;
de vagas e diversificação da oferta e que contemple as ne-
12.2. ampliar oferta de vagas, e de novos cursos, nas
cessidades das regionais em suas especificidades;
modalidades de licenciatura plena, bacharelado e cursos
12.10. reestruturar os procedimentos adotados na
tecnológicos, por meio da expansão e interiorização da área de avaliação, regulação e supervisão, em relação aos
Rede Estadual e Federal de Educação Superior, da Rede processos de autorização de cursos e instituições, de re-
Estadual e Federal de Educação Profissional, Científica e conhecimento ou renovação de reconhecimento de cursos
Tecnológica e do Sistema Universidade Aberta do Brasil, superiores e de credenciamento ou recredenciamento de
considerando a densidade populacional, a oferta de vagas instituições, no âmbito do Sistema Estadual de Ensino;
públicas em relação à população na idade de referência e 12.11. fortalecer, ampliar, qualificar e manter os profis-
observadas as características regionais das micros e me- sionais e as redes físicas e virtuais de laboratórios multifun-
sorregiões; cionais das IES e ICTs nas áreas estratégicas nacionais de
12.3. elevar gradualmente a taxa de conclusão média ciência, tecnologia e inovação;
dos cursos de graduação presenciais nas universidades pú- 12.12. melhorar as condições de deslocamento dos es-
blicas para 90% (noventa por cento), ofertar, no mínimo, tudantes aos centros de ensino superior com corresponsa-
um terço das vagas em cursos noturnos e elevar a rela- bilidade dos entes federados;
ção de estudante por professor para 18 (dezoito), median- 12.13. criar formas de acompanhamento estudantil
te estratégias de aproveitamento de créditos e inovações quanto à orientação vocacional e de desempenho nos cur-
acadêmicas que valorizem a aquisição de competências de sos, além de projetos de pesquisa e extensão desde o início
nível superior; 12.4. ampliar as políticas de inclusão e de do curso. Apresentar as possibilidades de atuação profis-
assistência estudantil dirigidas aos estudantes de institui- sional das diversas áreas;
ções públicas, bolsistas de instituições privadas de edu- 12.14. revisar as propostas curriculares dos cursos de
cação superior, e expandir o número de beneficiários do licenciatura nas universidades estaduais, de forma a adap-
Fundo de Financiamento Estudantil – FIES, e do Programa tá-las ao contexto de cada nível de ensino e os diferentes
Universidade Para Todos – PROUNI, de modo a reduzir as públicos de atendimento: afrodescendente, indígena, po-
desigualdades étnicoraciaise ampliar as taxas de acesso e pulação do campo;
permanência na educação superior de estudantes egressos 12.15. ampliar a oferta de estágio como parte da for-
da escola pública, afrodescendente, indígena, população mação na educação superior;
193
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
12.16. expandir atendimento específico a populações positivo igual ou superior a 75% (setenta e cinco por cento)
do campo e comunidades indígenas e quilombolas, em nesse exame, em cada área de formação profissional;
relação a acesso, permanência, conclusão e formação de
profissionais para atuação nessas populações; Meta 14: Elevar, em regime de colaboração, gradual-
12.17. fomentar estudos e pesquisas que investiguem mente o número de matrículas na pós-graduação stricto
formas de articulação entre formação, currículo, pesquisa e sensu, de modo a atingir a titulação anual de 1700 (mil e
mundo do trabalho, considerando as necessidades econô- setecentos) mestres e 650 (seiscentos e cinquenta) douto-
micas, sociais e culturais do Estado. Meta 13: Manter, em res até 2024.
regime de colaboração, a qualidade da Educação Superior
assegurando que a proporção de mestres e doutores do Estratégias:
corpo docente em efetivo exercício no conjunto do Siste- 14.1. expandir a oferta de cursos, democratizando o
ma de Educação Superior seja de 75% (setenta e cinco por acesso aos programas de pós-graduação stricto sensu,
cento), sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por acadêmicos e profissionais, utilizando inclusive metodolo-
cento) doutores, buscando aumentar a equidade entre as gias, recursos e tecnologias de educação semipresenciais,
instituições e cursos da Educação Superior, até 2024. especialmente doutorado, nos campi novos abertos em
decorrência de expansão e interiorização das instituições
Estratégias: superiores públicas;
13.1. participar do Sistema Nacional de Avaliação do 14.2. implementar ações para reduzir as desigualdades
Ensino Superior – SINAES, fortalecendo as ações de avalia- étnicoraciais e regionais e para favorecer o acesso das po-
ção, regulação e supervisão; pulações do campo e das comunidades indígenas e qui-
13.2. ampliar a cobertura do Exame Nacional de De- lombolas a programas de mestrado e doutorado;
sempenho de Estudantes – ENADE, de modo a aumentar o 14.3. consolidar programas, projetos e ações que obje-
quantitativo de estudantes e de áreas avaliadas no que diz tivem a internacionalização da pesquisa e da pós-gradua-
respeito à aprendizagem resultante da graduação; ção do Estado, incentivando a atuação em rede e o fortale-
13.3. incentivar e fortalecer o processo contínuo de cimento de grupos de pesquisa;
autoavaliação das instituições de educação superior, des- 14.4. ampliar o investimento principalmente em pes-
tacando-se a qualificação e a dedicação do corpo docente; quisas aplicadas com foco em desenvolvimento e estímulo
13.4. elevar o Padrão de Qualidade das IES, direcio- à inovação, bem como incrementar a formação de recursos
nando sua atividade, de modo que realizem, efetivamente, humanos para inovação que valorize a diversidade regio-
pesquisa institucionalizada, articulada à programa de pós- nal, a biodiversidade e os recursos hídricos do semiárido,
-graduação stricto sensu; voltados ao desenvolvimento sustentável do Estado;
13.5. fomentar a formação de parcerias entre institui- 14.5. estimular a produção e publicação científicas
ções públicas e privadas de Ensino Superior, com vistas a também na educação básica, conectando a mesma com a
potencializar a atuação regional qualificada, inclusive por formação inicial e continuada de professores;
meio de plano de desenvolvimento integrado, asseguran- 14.6. expandir o financiamento da pós-graduação
do maior visibilidade nacional e internacional das ativida- stricto sensu por meio das agências oficiais de fomento;
des de ensino, pesquisa e extensão; 14.7. estimular a integração e a atuação articulada en-
13.6. promover a formação inicial e continuadas dos tre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
profissionais técnico-administrativos da educação superior; Superior – CAPES, e as agências estaduais de fomento à
13.7. proporcionar a melhoria da qualidade dos cur- pesquisa;
sos de pedagogia e licenciaturas, por meio de instrumento 14.8. manter e expandir programa de acervo digital de
próprio de avaliação aprovado pela Comissão Nacional de referências bibliográficas para os cursos de pós-graduação,
Avaliação da Educação Superior – CONAES, integrando-os assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência;
às demandas e necessidades das redes de educação bási- 14.9. estimular a participação dos acadêmicos, espe-
ca, combinando formação geral e específica com a prática cialmente mulheres, em particular aqueles ligados às áreas
didática, além da educação para o respeito às diferenças, de Engenharia, Matemática, Física, Química, Informática e
de qualquer natureza, e às necessidades das pessoas com outros no campo das ciências;
deficiência; 14.10. promover o intercâmbio científico e tecnológi-
13.8. elevar gradualmente a taxa de conclusão média co, nacional e internacional, entre as instituições de ensino,
dos cursos de graduação presenciais nas universidades pú- pesquisa e extensão. Meta 15: Apoiar a criação da políti-
blicas, de modo a atingir 90% (noventa por cento) e, nas ca nacional de formação dos profissionais da educação de
instituições privadas, 75% (setenta e cinco por cento), em que tratam os incisos I, II e III do caput do art.61 da Lei
2020, e fomentar a melhoria dos resultados de aprendiza- nº9.394/96, a ser criada em 1 (um) ano de aprovação da
gem, de modo que, em 5 (cinco) anos, pelo menos 60% Lei 13.005/2014 e garantir, em regime de colaboração, que
(sessenta por cento) dos estudantes apresentem desempe- todos os professores e as professoras da educação básica
nho positivo igual ou superior a 60% (sessenta por cento) possuam formação específica de nível superior na área em
no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENA- que atuam e elevar gradualmente o número dos profissio-
DE e, no último ano de vigência, pelo menos 75% (setenta nais não docentes de nível superior.
e cinco por cento) dos estudantes obtenham desempenho
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
16.9. formar os profissionais da educação não docen- 17.6. criar programas que garantam a segurança no
tes por meio de programas de formação continuada, via- trabalho, visando, dentre outros objetivos, exterminar toda
bilizando sua participação, quando aprovada sua participa- forma de violência contra o professor, no exercício de suas
ção pelos órgãos governamentais; atividades laborais, inclusive realizando-se pesquisas que
16.10. expandir programa de composição de acervo objetivem detectar as causas de agressões promovidas
de obras didáticas, paradidáticas e de literatura e de di- contra os profissionais do magistério, para que sejam im-
cionários, e programa específico de acesso a bens cultu- plementadas estratégias específicas e efetivas contra essa
rais, incluindo obras e materiais produzidos em Libras e em espécie de violência;
Braille, sem prejuízo de outros, a serem disponibilizados 17.7. implementar, no âmbito do Estado, planos de Car-
para os professores da rede pública de educação básica, reira para os profissionais do magistério das redes públicas
favorecendo a construção do conhecimento e a valorização de educação básica, observados os critérios estabelecidos
da cultura da investigação; na Lei nº11.738, de 16 de julho de 2008, com implantação
gradual do cumprimento da jornada de trabalho em um
16.11. ampliar a oferta de bolsas de estudo para pós-
único estabelecimento escolar;
-graduação dos professores e demais profissionais da edu-
17.8. criar programas que assegurem o cuidado com
cação básica;
a saúde integral do professor, investindo na medicina pre-
16.12. fortalecer a formação dos professores das esco-
ventiva, com ênfase nas doenças ocupacionais que atin-
las públicas de educação básica, por meio da implemen- gem os profissionais da educação, através da ampliação do
tação das ações do Plano Nacional do Livro e Leitura e da acesso a tratamentos preventivos nas áreas da Fonoaudio-
instituição de programa nacional de disponibilização de logia, Psicologia e Medicina do Trabalho, dentre outras;
recursos para acesso a bens culturais pelo magistério pú- 17.9. proporcionar um ambiente de trabalho docente
blico; adequado do ponto de vista da salubridade, verificando-se
16.13. garantir a todos os profissionais da educação da a luminosidade do local, a ventilação, a aquisição e utiliza-
rede pública, efetivos ou temporários, a disponibilização de ção de instrumentos tecnológicos voltados para a facilita-
cursos gratuitos e obrigatórios, interligados com as suas ção do exercício da atividade;
áreas de atuação e com carga horária anual mínima de 20 17.10. realizar o levantamento do rendimento médio
(vinte) h/a, de modo a possibilitar a contínua atualização auferido pelos profissionais da educação dos municípios
destes profissionais. cearenses que alcançaram destaque nacional ou interna-
cional pela qualidade no ensino, obtendo os melhores índi-
Meta 17: Valorizar os profissionais da educação das re- ces nos indicadores educacionais, e fazer uma comparação
des públicas de educação básica do Ceará de forma a equi- qualiquantitativa com o rendimento médio auferido pelos
parar, no mínimo, seu rendimento médio aos dos demais profissionais com escolaridade equivalente dos demais
profissionais com escolaridade equivalente no Brasil, até o municípios cearenses, em especial com os que obtiveram
final do 5º (quinto) ano de vigência deste Plano. os piores índices educacionais, estimulando os demais mu-
nicípios a promover, gradativamente, a equiparação dos
Estratégias: rendimentos de seus profissionais da educação com os da-
17.1. apresentar, discutir e definir, até o final do 2º (se- queles municípios, considerando as condições socioeconô-
gundo) ano de vigência deste PEE, proposta de equipara- micas e geográficas locais.
ção salarial para os profissionais do magistério da Educa-
ção Básica da rede do Estado do Ceará em articulação com Meta 18: Assegurar Plano de Cargos, Carreira e Salá-
rios – PCCS, dos profissionais da educação básica e supe-
as entidades classistas da educação;
rior pública e de todos os profissionais do Sistema Estadual
17.2. garantir boas condições de trabalho, com a im-
de Ensino, de acordo com o art.61, incisos I, II, III da Lei
plementação de políticas públicas voltadas à valorização
nº9.394/96 – LDB, no prazo de 2 (dois) anos de vigência
dos profissionais da educação e concretização das políti-
deste Plano e sua atualização até o ano de 2024 e, em re-
cas de formação, como forma de melhoria da qualidade da gime de colaboração, fomentar a criação e atualização dos
educação, possibilitando a permanência dos trabalhadores planos de carreira para os profissionais da educação nos
da educação do campo e da cidade; municípios, tomando como referência o piso salarial na-
17.3. garantir o cumprimento da legislação nacional cional profissional, definido em lei federal, nos termos do
quanto à jornada de trabalho dos profissionais da educa- inciso VII do art.206 da Constituição Federal.
ção da rede pública de ensino;
17.4. priorizar lotação em uma única escola e promover Estratégias:
gradativamente a admissão em regime de dedicação ex- 18.1. manter mesa de negociação com as entidades
clusiva dos profissionais do magistério nas redes estadual sindicais/ associações representativas dos profissionais da
da educação básica; educação;
17.5. garantir a assistência à saúde e ao atendimen- 18.2. assegurar a periódica realização de concurso pú-
to médico-hospitalar e odontológico aos profissionais da blico para suprimento de todas as carências efetivas nos
educação pública estadual através da revitalização do IS- quadros dos profissionais da educação, nas redes esta-
SEC – Instituto de Saúde dos Servidores do Estado do Cea- dual e municipais, conforme estabelece o art.37, inciso I da
rá; Constituição Federal e art.67, inciso I, da LDB;
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
18.3. considerar as especificidades socioculturais das 19.4. garantir na rede pública estadual, e estimular em
escolas do campo e das comunidades indígenas e quilom- todas as redes de educação básica, a constituição e o for-
bolas no provimento de cargos efetivos para essas escolas; talecimento de grêmios estudantis e entidades represen-
18.4. assegurar e garantir a existência de comissões tativas de pais, assegurando-lhes, tanto na rede estadual
permanentes de profissionais da educação de todos os sis- quanto municipal, em regime de colaboração, espaços
temas de ensino, para subsidiar os órgãos competentes na adequados e condições de funcionamento nas escolas e
elaboração, reestruturação e implementação dos planos de fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos
carreira; escolares, por meio das respectivas representações;
18.5. criar o Grupo Ocupacional das Atividades Admi- 19.5. apoiar tecnicamente os municípios que manifes-
nistrativas Operacionais da Educação – ADOE, e das ativi- tem interesse em constituírem sistemas próprios;
dades de Nível Superior da Educação - ANSE, com amparo 19.6. fomentar a instituição dos sistemas municipais,
no art.61, incisos II e III da Lei nº9.394/ 96 (LDB), no tópico atribuindo aos Conselhos Municipais de Educação funções
382 do documento final da CONAE 2014, no art.2º da Re- normativas, consultivas, deliberativas, fiscalizadoras e mo-
solução 05, de 3 de agosto de 2010, do Conselho Nacional bilizadoras;
de Educação e no art.226, §1º da Constituição do Estado 19.7. garantir programas de formação de conselheiros
do Ceará; e equipes técnicas, assegurando-se condições de funciona-
18.6. efetivar o plano de carreira previsto no art.226, mento e autonomia;
§1º da Constituição do Estado do Ceará, para fins de pro- 19.8. estimular a constituição e o fortalecimento de
gressão funcional na carreira, por meio de progressão do conselhos escolares como instrumentos de participação e
desempenho, por antiguidade e automática por mereci- fiscalização na gestão escolar, inclusive por meio de pro-
mento na forma da letra “c” da disposição constitucional gramas de formação de conselheiros, assegurando-se con-
já mencionada; dições de funcionamento e autonomia;
18.7. debater junto aos municípios a nacionalização da 19.9. estimular e assegurar a participação e a consulta
carreira dos profissionais do magistério; de profissionais da educação, alunos e seus familiares na
18.8. garantir a progressão funcional, baseada na titu- formulação dos projetos político-pedagógicos, currículos
lação e na avaliação de desempenho, assegurada na cria- escolares, planos de gestão escolar e regimentos escolares;
ção do Plano de Cargos e Carreira dos profissionais da edu- 19.10. garantir e ampliar a autonomia pedagógica, ad-
cação. Meta 19: Assegurar condições, no prazo de 1 (um) ministrativa e de gestão financeira (no que se refere aos
ano, para a efetivação da gestão democrática da educação, processos burocráticos a fim de acelerar a aquisição de
associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à bens e serviços) nos estabelecimentos de ensino;
consulta pública à comunidade escolar. 19.11. implementar, em até 2 (dois) anos, programas
específicos de formação continuada, inclusive lato e stricto
Estratégias: sensu, para diretores, gestores escolares e equipes técnicas
19.1. priorizar o repasse de transferências voluntárias e de acompanhamento às escolas, em colaboração com os
cooperações técnicas do Estado, na área da educação, para municípios que aderirem aos programas;
os municípios que tenham aprovado legislação específica 19.12. criar mecanismos para a seleção pública e unifi-
que regulamente a matéria na área de sua abrangência, cada das equipes técnicas dos órgãos regionais de educa-
respeitando-se a legislação nacional e estadual, e que con- ção, no âmbito da rede estadual, garantindo transparência
sidere, conjuntamente, para a nomeação dos diretores e no processo e critérios de mérito e de desempenho para
diretoras de escola, critérios técnicos de mérito e desem- o acesso;
penho, através de seleção pública, de provas de títulos, 19.13. fortalecer e ampliar projetos, como o Professor
bem como a participação da comunidade escolar; Diretor de Turma, como instrumento de gestão democrá-
19.2. garantir e ampliar os programas de apoio e for- tica, nas escolas públicas estaduais e incentivar e apoiar as
mação aos Conselheiros dos conselhos de acompanha- escolas da rede municipal que aderirem;
mento e controle social do Fundo de Manutenção e De- 19.14. estimular a participação da comunidade escolar
senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos e da sociedade civil na elaboração, apropriação, divulga-
Profissionais da Educação - FUNDEB, dos conselhos de ali- ção, acompanhamento e avaliação do PEE;
mentação escolar, dos conselhos municipais de educação 19.15. promover práticas de gestão democráticas, prota-
e aos representantes educacionais em demais conselhos gonismo estudantil, aprendizagem cooperativa, cultura de paz
de acompanhamento de políticas públicas, garantindo, em e estímulo ao planejamento participativo, envolvendo o estu-
regime de colaboração com os municípios, a esses colegia- dante como ator do processo educativo e gestão escolar;
dos recursos financeiros, espaço físico adequado, equipe 19.16. promover formação continuada de professores
técnica, equipamentos e meios de transporte para visitas e demais profissionais da escola nos princípios da gestão
à rede escolar, com vistas ao bom desempenho de suas democrática e na especificidade de suas funções alinhando
funções; concepções, procedimentos e respeitando diferenças;
19.3. incentivar, orientar e apoiar os municípios na 19.17. apoiar, por meio do Conselho Estadual de Educa-
constituição de Fóruns Permanentes de Educação, para o ção, os municípios que manifestem interesse em constituí-
acompanhamento da execução deste PEE e seus Planos rem Conselhos Municipais de Educação, como instrumento
Municipais de Educação; de participação e normatização da gestão educacional;
197
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
19.18. apoiar, por meio do Conselho Estadual de Edu- 20.8. analisar o custo efetivo atual do aluno da rede
cação, os municípios que manifestem interesse em instituí- estadual em suas diversas etapas e modalidades, com o
rem sistemas municipais, de forma a atribuir aos Conselhos objetivo de estimar o impacto de adequação do custo alu-
Municipais de Educação funções normativas, consultivas, no atual para o valor do Custo Aluno Qualidade - CAQ;
deliberativas, fiscalizadoras e mobilizadoras; 20.9. definir critérios para distribuição dos recursos
19.19. oferecer apoio técnico aos municípios, na ela- adicionais dirigidos à educação ao longo do decênio, que
boração e aprovação de legislação específica, respeitando- considerem a equalização das oportunidades educacionais,
-se a legislação nacional, para fins de regulamentação da a vulnerabilidade socioeconômica e o compromisso técni-
seleção e nomeação de diretores e diretoras de escola, a co da gestão do sistema de ensino;
partir de critérios técnicos de mérito e desempenho e da 20.10. garantir, em regime de colaboração, o financia-
participação da comunidade escolar. mento do transporte escolar de qualidade, aprimorando
os mecanismos de repasse e cooperação entre as redes,
Meta 20: Colaborar para a ampliação do investimento levando em consideração a quantidade de matrículas, as
público em Educação pública de forma a atingir, no míni- características geográficas e demográficas dos municípios;
mo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno 20.11. garantir, por meio de parcerias, através da Se-
Bruto – PIB, do País até o 5º (quinto) ano de vigência desta cretaria da Educação – SEDUC, a transferência de recursos
Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do para Escolas Família Agrícola para viabilizar a formação de
PIB ao final do decênio. jovens do campo pela oferta de cursos técnicos integrados
ao Ensino Médio, com habilitação em agropecuária;
Estratégias: 20.12. realizar, de 2 (dois) em 2 (dois) anos, após a sua
20.1. o cumprimento das metas deste Plano Estadual de aprovação, o monitoramento deste PEE com a participa-
Educação é vinculado à manutenção da progressiva elevação ção das organizações da sociedade civil, Fórum Estadual de
dos percentuais constitucionais estaduais para a educação e Educação e Conselho Estadual de Educação, com o objeti-
ao aumento da transferência de recursos da união; vo de garantir as necessárias adequações ou atualizações
20.2. garantir fontes de financiamento permanentes
para sua implementação;
e sustentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades
20.13. nos prazos e parâmetros estabelecidos na le-
da educação básica, observando-se as políticas de colabo-
gislação federal, o Estado do Ceará implementará o Custo
ração entre os entes federados, e a capacidade de aten-
Aluno-Qualidade inicial – CAQi, referenciado no conjunto
dimento e do esforço fiscal de cada ente federado, com
de padrões mínimos estabelecidos na legislação educa-
vistas a atender suas demandas educacionais à luz do custo
cional e cujo financiamento será calculado com base nos
aluno qualidade;
respectivos insumos indispensáveis ao processo de ensi-
20.3. definir e aperfeiçoar os mecanismos de controle
social e de planejamento, execução e acompanhamento de no-aprendizagem e será, progressivamente, reajustado até
receitas e despesas envolvendo a Secretaria da Educação e a implementação plena do Custo Aluno Qualidade – CAQ;
de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará, bem 20.14. o Estado do Ceará implementará nos prazos e
como garantir a efetividade e impactos de seus projetos e parâmetros estabelecidos na legislação federal o Custo
programas; Aluno Qualidade – CAQ, como referência para o financia-
20.4. estabelecer, garantir e efetivar a articulação en- mento da educação de todas etapas e modalidades da edu-
tre as metas deste Plano e os demais instrumentos orça- cação básica abrangidas por este Plano, a partir do cálculo
mentários da União, do Estado e dos municípios, os Planos e do acompanhamento regular dos indicadores de gastos
Municipais de Educação, os Planos de Ações Articuladas e educacionais com investimentos em qualificação e remu-
os respectivos Planos Plurianuais - PPA, Lei de Diretrizes neração do pessoal docente e dos demais profissionais da
Orçamentárias – LDO, e Lei Orçamentária Anual - LOA, em educação pública, em aquisição, manutenção, construção e
todos os níveis, etapas e modalidades de ensino; conservação de instalações eequipamentos necessários ao
20.5. criar, em conformidade com a regulamentação do ensino e em aquisição de material didático escolar, alimen-
Sistema Nacional de Educação em lei federal, lei estadual tação e transporte escolar;
para regulamentar o regime de colaboração entre o Estado 20.15. o CAQ será definido, em valor e conteúdo, nos
e municípios, com critérios claros de apoio e suplementa- prazos e parâmetros estabelecidos na legislação federal e
ção, levando em consideração as especificidades de cada serão continuamente ajustados, com base em metodologia
município, suas capacidades técnicas, de atendimento e do formulada por grupo de trabalho que tenha, no mínimo,
esforço fiscal; participação do Fórum Estadual de Educação, Secretaria
20.6. desenvolver, por meio do Instituto de Pesquisa Estadual da Educação, Conselho Estadual de Educação,
Econômica e Estratégia do Ceará - IPECE, estudos e acom- representação de estudantes e pais, representação da ca-
panhamento regular dos investimentos e custo por aluno tegoria de professores, organizações não governamentais
da educação básica e superior pública, em todas as suas com atuação na área e a Campanha Nacional pelo Direito
etapas e modalidades; à Educação.
20.7. aprimorar e estimular a garantia do acesso às in-
formações nos portais de transparência no Estado e muni- Meta 21: Assegurar, ampliar e garantir, em regime de
cípios, objetivando a assimilação das informações de apli- colaboração com a União e municípios, Política de Educa-
cação dos recursos pelos governos; ção Indígena, Quilombola e do Campo.
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati- texto, por parte dos pais, de integrantes da família amplia-
vo) Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da da, dos responsáveis, dos agentes públicos executores de
Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre-
a) medida socioeducativa de internação pode ser de- gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
terminada por descumprimento reiterado e injustificável d) de serem criados e educados no seio de sua família
da medida anteriormente imposta. biológica, não se admitindo a sua inserção em família subs-
b) internação, antes da sentença, poderá ser determi- tituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
nada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.
c) medida socioeducativa de internação não pode-
rá exceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA:
compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um anos “A criança e o adolescente têm o direito de ser educados
de idade. e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento
d) medida socioeducativa de liberdade assistida será cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina,
fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qual- educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos in-
quer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por tegrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e agentes públicos executores de medidas socioeducativas
o defensor. ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tra-
e) remissão não implica necessariamente o reconhe- tá-los, educá-los ou protegê-los”. A alternativa “a” está er-
cimento ou comprovação da responsabilidade, nem pre- rada porque o artigo 16 do ECA fixa que o direito à liber-
valece para efeito de antecedentes, podendo incluir even- dade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar nos
tualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas
em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e
a internação. culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discrimi-
R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida so- nação; VI - participar da vida política, na forma da lei;
cioeducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º, VII - buscar refúgio, auxílio e orientação”. A alternativa “b”
ECA, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual está errada porque o artigo 17 do ECA prevê que “o direito
está incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, § ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,
1º, ECA; a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA; psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo
a alternativa “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a a preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
alternativa “e” está prevista no art. 127 ECA. dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pes-
soais”. A alternativa “d” está errada porque o artigo 18 do
5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guar- ECA assegura que “é direito da criança e do adolescente ser
da Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmen-
pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimen- te, em família substituta, assegurada a convivência familiar
to, receberam do direito positivo brasileiro, tutela especial e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvi-
através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhe- mento integral”.
cida como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo
as diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto 6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos)
da Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
da absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais. 8.069/90), é considerado criança
Em tal seara, foi determinado que as crianças e os adoles- a) a pessoa até seis anos incompletos de idade.
centes têm direito, b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade.
ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá- d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade.
rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não
e de expressão; a liberdade de brincar e de praticar espor- tenha cometido nenhum crime.
tes, a liberdade de participar da vida familiar e comunitária;
a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, exce- R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por
tuadas dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso categorizar separadamente estas duas categorias de me-
e de participar da vida política. nores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na
b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente),
integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser- adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data
vação da imagem, da identidade, da autonomia, de seus de aniversário de 18 anos, passa a ser maior), conforme o
valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços artigo 2º do ECA.
e objetos pessoais.
c) de serem educados e cuidados sem o uso de castigo
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas
de correção, disciplina, educação ou a qualquer outro pre-
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
11. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto R: B. Conforme preconiza o art. 106, “nenhum adoles-
- FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente, cente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
é correto afirmar: ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades autoridade judiciária competente”.
lúdicas.
b) É proibido para os menores de 16, salvo na condição
de aprendizes.
c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16
anos, salvo na condição de aprendizes.
d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais,
salvo na condição de aprendizes de enfermagem.
e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais e
atividades cinematográficas.
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Letra e Fonema.......................................................................................................................................................................................................... 01
Estrutura das Palavras............................................................................................................................................................................................. 04
Classes de Palavras e suas Flexões..................................................................................................................................................................... 07
Ortografia.................................................................................................................................................................................................................... 44
Acentuação................................................................................................................................................................................................................. 47
Pontuação.................................................................................................................................................................................................................... 50
Concordância Verbal e Nominal......................................................................................................................................................................... 52
Regência Verbal e Nominal................................................................................................................................................................................... 58
Frase, oração e período.......................................................................................................................................................................................... 63
Sintaxe da Oração e do Período......................................................................................................................................................................... 63
Termos da Oração.................................................................................................................................................................................................... 63
Coordenação e Subordinação............................................................................................................................................................................. 63
Crase.............................................................................................................................................................................................................................. 71
Colocação Pronominal............................................................................................................................................................................................ 74
Significado das Palavras......................................................................................................................................................................................... 76
Interpretação Textual............................................................................................................................................................................................... 83
Tipologia textual ...................................................................................................................................................................................................... 85
LÍNGUA PORTUGUESA
Graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Adamantina. Especialista pela Universidade Estadual Paulista
– Unesp
LETRA E FONEMA
A palavra fonologia é formada pelos elementos gregos fono (“som, voz”) e log, logia (“estudo”, “conhecimento”). Significa
literalmente “estudo dos sons” ou “estudo dos sons da voz”. Fonologia é a parte da gramática que estuda os sons da lín-
gua quanto à sua função no sistema de comunicação linguística, quanto à sua organização e classificação. Cuida, também,
de aspectos relacionados à divisão silábica, à ortografia, à acentuação, bem como da forma correta de pronunciar certas
palavras. Lembrando que, cada indivíduo tem uma maneira própria de realizar estes sons no ato da fala. Particularidades na
pronúncia de cada falante são estudadas pela Fonética.
Na língua falada, as palavras se constituem de fonemas; na língua escrita, as palavras são reproduzidas por meio de
símbolos gráficos, chamados de letras ou grafemas. Dá-se o nome de fonema ao menor elemento sonoro capaz de esta-
belecer uma distinção de significado entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção
entre os pares de palavras:
amor – ator / morro – corro / vento - cento
Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua portuguesa que está em sua memória: a imagem acústica que
você - como falante de português - guarda de cada um deles. É essa imagem acústica que constitui o fonema. Este forma
os significantes dos signos linguísticos. Geralmente, aparece representado entre barras: /m/, /b/, /a/, /v/, etc.
Fonema e Letra
- O fonema não deve ser confundido com a letra. Esta é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por
exemplo, a letra “s” representa o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra “s” representa o fonema /z/ (lê-se zê).
- Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que
pode ser representado pelas letras z, s, x: zebra, casamento, exílio.
- Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra “x”, por exemplo, pode representar:
- o fonema /sê/: texto
- o fonema /zê/: exibir
- o fonema /che/: enxame
- o grupo de sons /ks/: táxi
- As letras “m” e “n”, em determinadas palavras, não representam fonemas. Observe os exemplos: compra, conta. Nestas
palavras, “m” e “n” indicam a nasalização das vogais que as antecedem: /õ/. Veja ainda: nave: o /n/ é um fonema; dança: o
“n” não é um fonema; o fonema é /ã/, representado na escrita pelas letras “a” e “n”.
1) Vogais
As vogais são os fonemas sonoros produzidos por uma corrente de ar que passa livremente pela boca. Em nossa língua,
desempenham o papel de núcleo das sílabas. Isso significa que em toda sílaba há, necessariamente, uma única vogal.
1
LÍNGUA PORTUGUESA
- Átonas: pronunciadas com menor intensidade: até, É a sequência formada por uma semivogal, uma vo-
bola. gal e uma semivogal, sempre nesta ordem, numa só sílaba.
Pode ser oral ou nasal: Paraguai - Tritongo oral, quão - Tri-
- Tônicas: pronunciadas com maior intensidade: até, tongo nasal.
bola.
3) Hiato
Quanto ao timbre, as vogais podem ser:
- Abertas: pé, lata, pó É a sequência de duas vogais numa mesma palavra que
- Fechadas: mês, luta, amor pertencem a sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais
- Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das pa- de uma vogal numa mesma sílaba: saída (sa-í-da), poesia
lavras: dedo (“dedu”), ave (“avi”), gente (“genti”). (po-e-si-a).
Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. O agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vo-
Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma gal intermediária, recebe o nome de encontro consonantal.
só emissão de voz (uma sílaba). Neste caso, estes fonemas Existem basicamente dois tipos:
são chamados de semivogais. A diferença fundamental en- 1-) os que resultam do contato consoante + “l” ou “r”
tre vogais e semivogais está no fato de que estas não de- e ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no,
sempenham o papel de núcleo silábico. a-tle-ta, cri-se.
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: 2-) os que resultam do contato de duas consoantes
pa - pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se destaca pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta.
é o “a”. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico “i” não é tão Há ainda grupos consonantais que surgem no início
forte quanto ele. É a semivogal. Outros exemplos: saudade, dos vocábulos; são, por isso, inseparáveis: pneu, gno-mo,
história, série. psi-có-lo-go.
3) Consoantes Dígrafos
Para a produção das consoantes, a corrente de ar expi- De maneira geral, cada fonema é representado, na es-
rada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela ca- crita, por apenas uma letra: lixo - Possui quatro fonemas e
vidade bucal, fazendo com que as consoantes sejam verda- quatro letras.
deiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em portu- Há, no entanto, fonemas que são representados, na es-
guês, sempre consoam (“soam com”) as vogais. Exemplos: crita, por duas letras: bicho - Possui quatro fonemas e cinco
/b/, /t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc. letras.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Dígrafos Consonantais
Dígrafos Vocálicos
* Observação: “gu” e “qu” são dígrafos somente quando seguidos de “e” ou “i”, representam os fonemas /g/ e /k/:
guitarra, aquilo. Nestes casos, a letra “u” não corresponde a nenhum fonema. Em algumas palavras, no entanto, o “u” repre-
senta um fonema - semivogal ou vogal - (aguentar, linguiça, aquífero...). Aqui, “gu” e “qu” não são dígrafos. Também não há
dígrafos quando são seguidos de “a” ou “o” (quase, averiguo) .
** Dica: Conseguimos ouvir o som da letra “u” também, por isso não há dígrafo! Veja outros exemplos: Água = /agua/ nós
pronunciamos a letra “u”, ou então teríamos /aga/. Temos, em “água”, 4 letras e 4 fonemas. Já em guitarra = /gitara/ - não
pronunciamos o “u”, então temos dígrafo [aliás, dois dígrafos: “gu” e “rr”]. Portanto: 8 letras e 6 fonemas).
Dífonos
Assim como existem duas letras que representam um só fonema (os dígrafos), existem letras que representam dois
fonemas. Sim! É o caso de “fixo”, por exemplo, em que o “x” representa o fonema /ks/; táxi e crucifixo também são exemplos
de dífonos. Quando uma letra representa dois fonemas temos um caso de dífono.
Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono1.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Questões
ESTRUTURA DAS PALAVRAS
1-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI-
BRAS – FAFIPA/2014) Em todas as palavras a seguir há um
dígrafo, EXCETO em
(A) prazo. As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vista
(B) cantor. de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividimos
(C) trabalho. em seus menores elementos (partes) possuidores de sen-
(D) professor. tido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituída por
três elementos significativos:
1-)
(A) prazo – “pr” é encontro consonantal In = elemento indicador de negação
(B) cantor – “an” é dígrafo Explic – elemento que contém o significado básico da
(C) trabalho – “tr” encontro consonantal / “lh” é dígrafo palavra
(D) professor – “pr” encontro consonantal q “ss” é dí- Ável = elemento indicador de possibilidade
grafo
RESPOSTA: “A”. Estes elementos formadores da palavra recebem o
nome de morfemas. Através da união das informações
2-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI- contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en-
BRAS – FAFIPA/2014) Assinale a alternativa em que os itens tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não
destacados possuem o mesmo fonema consonantal em to- tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tornar
das as palavras da sequência. claro”.
(A) Externo – precisa – som – usuário.
MORFEMAS = são as menores unidades significativas
(B) Gente – segurança – adjunto – Japão.
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
(C) Chefe – caixas – deixo – exatamente.
(D) Cozinha – pesada – lesão – exemplo.
Classificação dos morfemas:
2-) Coloquei entre barras ( / / ) o fonema representado
Radical, lexema ou semantema – é o elemento por-
pela letra destacada:
tador de significado. É através do radical que podemos for-
(A) Externo /s/ – precisa /s/ – som /s/ – usuário /z/
mar outras palavras comuns a um grupo de palavras da
(B) Gente /j/ – segurança /g/ – adjunto /j/ – Japão /j/ mesma família. Exemplo: pequeno, pequenininho, pequenez.
(C) Chefe /x/ – caixas /x/ – deixo /x/ – exatamente O conjunto de palavras que se agrupam em torno de um
/z/ mesmo radical denomina-se família de palavras.
(D) cozinha /z/ – pesada /z/ – lesão /z/– exemplo /z/
RESPOSTA: “D”. Afixos – elementos que se juntam ao radical antes (os
prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo: beleza (sufi-
3-) (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/PI – CURSO DE xo), prever (prefixo), infiel.
FORMAÇÃO DE SOLDADOS – UESPI/2014) “Seja Sangue
Bom!” Na sílaba final da palavra “sangue”, encontramos Desinências - Quando se conjuga o verbo amar, ob-
duas letras representando um único fonema. Esse fenôme- têm-se formas como amava, amavas, amava, amávamos,
no também está presente em: amáveis, amavam. Estas modificações ocorrem à medida
A) cartola. que o verbo vai sendo flexionado em número (singular e
B) problema. plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira). Também
C) guaraná. ocorrem se modificarmos o tempo e o modo do verbo
D) água. (amava, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos
E) nascimento. concluir que existem morfemas que indicam as flexões das
palavras. Estes morfemas sempre surgem no fim das pala-
3-) Duas letras representando um único fonema = dí- vras variáveis e recebem o nome de desinências. Há desi-
grafo nências nominais e desinências verbais.
A) cartola = não há dígrafo
B) problema = não há dígrafo • Desinências nominais: indicam o gênero e o número
C) guaraná = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) dos nomes. Para a indicação de gênero, o português cos-
D) água = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) tuma opor as desinências -o/-a: garoto/garota; menino/
E) nascimento = dígrafo: sc menina. Para a indicação de número, costuma-se utilizar
RESPOSTA: “E”. o morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência
de morfema, que indica o singular: garoto/garotos; garota/
garotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso dos
nomes terminados em –r e –z, a desinência de plural assu-
me a forma -es: mar/mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes.
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LÍNGUA PORTUGUESA
• Desinências verbais: em nossa língua, as desinências Palavras primitivas: aquelas que, na língua portugue-
verbais pertencem a dois tipos distintos. Há desinências sa, não provêm de outra palavra: pedra, flor.
que indicam o modo e o tempo (desinências modo-tem-
porais) e outras que indicam o número e a pessoa dos ver- Palavras derivadas: aquelas que, na língua portugue-
bos (desinência número-pessoais): sa, provêm de outra palavra: pedreiro, floricultura.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Abreviação – é a redução de palavras até o limite per- 2-) en + triste + ido (com consoante de ligação “c”) =
mitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu (pneu- ao radical “triste” foram acrescidos o prefixo “en” e o sufixo
mático), metrô (metropolitano), foto (fotografia). “ido”, ou seja, “entristecido” é palavra derivada do processo
de formação de palavras chamado de: prefixação e sufixa-
* Observação: ção. Para o exercício, basta “derivada”!
- Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras,
limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras ini- RESPOSTA: “C”.
ciais: p. ou pág. (para página), sr. (para senhor).
- Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual se
reduzem locuções substantivas próprias às suas letras ini-
ciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas impuras),
que se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas puras);
DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (siglas impu-
ras).
- Hibridismo: é a palavra formada com elementos
oriundos de línguas diferentes.
automóvel (auto: grego; móvel: latim)
sociologia (socio: latim; logia: grego)
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)
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LÍNGUA PORTUGUESA
de lago lacustre
CLASSES DE PALAVRAS E SUAS FLEXÕES
de leão leonino
de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou
característica do ser e se relaciona com o substantivo, con- de madeira lígneo
cordando com este em gênero e número. de mestre magistral
de ouro áureo
As praias brasileiras estão poluídas.
de paixão passional
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos de pâncreas pancreático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de porco suíno ou porcino
Locução adjetiva dos quadris ciático
de rio fluvial
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne-
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma de sonho onírico
coisa, tem-se uma locução. Às vezes, uma preposição + de velho senil
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu- de vento eólico
ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio de vidro vítreo ou hialino
(paixão desenfreada). de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico
Observe outros exemplos:
* Observação: nem toda locução adjetiva possui um
de águia aquilino adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por
de aluno discente exemplo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
de anjo angelical Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de ano anual
de aranha aracnídeo O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
de boi bovino como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
de cabelo capilar ou do objeto).
de cabra caprino
Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
Observe alguns deles:
de criança pueril
de dedo digital Estados e cidades brasileiras:
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo Alagoas alagoano
de farinha farináceo Amapá amapaense
de fera ferino Aracaju aracajuano ou aracajuense
de ferro férreo Amazonas amazonense ou baré
de fogo ígneo Belo Horizonte belo-horizontino
de garganta gutural Brasília brasiliense
de gelo glacial Cabo Frio cabo-friense
de guerra bélico Campinas campineiro ou campinense
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal
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LÍNGUA PORTUGUESA
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:
Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:
Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano, a
moça norte-americana.
Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substan-
tivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que
estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra
cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, en-
tão, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob - de inferioridade: menos + advérbio + que (do que):
duas formas: uma erudita - de origem latina - outra po- Renato fala menos alto do que João.
pular - de origem vernácula. A forma erudita é constituída - de superioridade:
pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, 1-) Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
-imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma fala mais alto do que João.
popular é constituída do radical do adjetivo português + o 2-) Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. melhor que João.
3-) Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi- Grau Superlativo
nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
– cheíssimo. O superlativo pode ser analítico ou sintético:
- Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
Fontes de pesquisa: fala muito alto.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf32. muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de
php modo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: - Sintético: formado com sufixos: Renato fala altíssimo.
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- * Observação: as formas diminutivas (cedinho, perti-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. nho, etc.) são comuns na língua popular.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. A criança levantou cedinho. (muito cedo)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Há palavras como muito, bastante, que podem apare- - Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
cer como advérbio e como pronome indefinido. mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e - O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. bio: Cheguei primeiro.
* Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio - Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
(não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia, adverbial desempenham na oração a função de adjunto
sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante” adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio.
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja: Exemplo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
pois “muitos” não dá!). = advérbio Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
dade e de tempo, respectivamente.
2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estudei
muitos capítulos) = pronome indefinido Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf75.
Advérbios Interrogativos php
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes Saraiva, 2010.
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Interrogação Direta Interrogação Indireta SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
Onde mora? Indaguei onde morava. Artigo
Por que choras? Não sei por que choras.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
Aonde vai? Perguntei aonde ia. se como o termo variável que serve para individualizar ou
Donde vens? Pergunto donde vens. generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
Quando voltas? Pergunto quando voltas. (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns”).
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LÍNGUA PORTUGUESA
Artigos definidos – São aqueles usados para indicar Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
seres determinados, expressos de forma individual: sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a bela
O concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam Roma.
muito.
- antes de pronomes de tratamento:
Artigos indefinidos – São aqueles usados para indicar Vossa Senhoria sairá agora?
seres de modo vago, impreciso: Exceção: O senhor vai à festa?
Uma candidata foi aprovada! Umas candidatas foram
aprovadas! - após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?
Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Este é o candidato cuja nota foi a mais alta.
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LÍNGUA PORTUGUESA
O preço fica mais caro à medida que os produtos escas- Fontes de pesquisa:
seiam. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
php
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
nais à medida em que, na medida que e na medida em que. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
g) Temporais: introduzem uma oração que acrescenta ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração Saraiva, 2010.
principal. São elas: quando, enquanto, antes que, depois que, Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
que, agora que, mal (= assim que), etc. Interjeição
A briga começou assim que saímos da festa.
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
h) Comparativas: introduzem uma oração que expres- ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
sa ideia de comparação com referência à oração principal. guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
São elas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
a manifestação de um suspiro, um estado da alma decor-
tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual,
rente de uma situação particular, um momento ou um con-
que nem, que (combinado com menos ou mais), etc.
texto específico. Exemplos:
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
i) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
a consequência da principal. São elas: de sorte que, de modo hum: expressão de um pensamento súbito = interjei-
que, sem que (= que não), de forma que, de jeito que, que ção
(tendo como antecedente na oração principal uma palavra
como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc. O significado das interjeições está vinculado à maneira
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti-
exame. do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que
for utilizada. Exemplos:
Atenção: Muitas conjunções não têm classificação úni- Psiu!
ca, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de acor- contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua
do com o sentido que apresentam no contexto (grifo ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando!
da Zê!). Ei, espere!”
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- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e par-
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- tes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral
venha depois do substantivo;
Flexão dos numerais
Ordinais Cardinais
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du- João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
zentas em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatro- D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam
em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
são invariáveis. Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
- Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido
primeiro segundo milésimo como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeira segunda milésima
** Dica: Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
primeiros segundos milésimos associação. Ficará mais fácil!
primeiras segundas milésimas - Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o
ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
e conseguiram o triplo de produção. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses tri- - Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se
plas do medicamento. refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e “uma e outra”, “as duas”) e são largamente empregados
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/ para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
duas terças partes. Sua utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O arti-
dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros. go só é dispensado caso haja um pronome demonstrativo:
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau Ambos esses ministros falarão à imprensa.
nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como: Função sintática do Numeral
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade! O numeral tem mais de uma função sintática:
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= - se na oração analisada seu papel é de adjetivo, o
segunda divisão de futebol) numeral assumirá a função de adjunto adnominal; se fizer
papel de substantivo, pode ter a função de sujeito, objeto
Emprego e Leitura dos Numerais direto ou indireto.
- Os numerais são escritos em conjunto de três alga- Visitamos cinco casas, mas só gostamos de duas.
rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de Objeto direto = cinco casas
centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma Núcleo do objeto direto = casas
separação através de ponto ou espaço correspondente a Adjunto adnominal = cinco
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456. Objeto indireto = de duas
- Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
Núcleo do objeto indireto = duas
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ção “e” após “mil”, seguido de centena:
Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.
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Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen-
sa escola neste ano. tença, exerce a função de complemento verbal (objeto
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
adequada]
[neste: pronome que determina “ano” = concordância * Observação: o pronome oblíquo é uma forma va-
adequada] riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação in-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- dica a função diversa que eles desempenham na oração:
dância inadequada] pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo
marca o complemento da oração.
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
tônicos.
Pronomes Pessoais Pronome Oblíquo Átono
São aqueles que substituem os substantivos, indicando São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes fraca: Ele me deu um presente.
“tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se di- Tabela dos pronomes oblíquos átonos
rige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à - 1.ª pessoa do singular (eu): me
pessoa ou às pessoas de quem se fala. - 2.ª pessoa do singular (tu): te
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou do caso oblíquo. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
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- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. - Os pronomes de tratamento representam uma for-
Eles se conheceram. ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
Elas deram a si um dia de folga. tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
* O pronome é reflexivo quando se refere à mesma supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
** É pronome recíproco quando indica reciprocidade - 3.ª pessoa: embora os pronomes de tratamento diri-
de ação: jam-se à 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita
Nós nos amamos. com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi-
Olhamo-nos calados. vos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles
devem ficar na 3.ª pessoa.
Pronomes de Tratamento Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan-
nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes-
do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente.
soa. Alguns exemplos:
Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
“você”, não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
sos em geral
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
teus cabelos. (errado)
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais, Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
governadores, secretários de Estado, presidente da Repú- seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
blica (sempre por extenso) ou
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de Pronomes Possessivos
igual categoria São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
de direito (coisa possuída).
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do
cerimonioso singular)
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
NÚMERO PESSOA PRONOME
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre- singular primeira meu(s), minha(s)
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- singular segunda teu(s), tua(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados
singular terceira seu(s), sua(s)
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma plural primeira nosso(s), nossa(s)
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou plural segunda vosso(s), vossa(s)
literária.
plural terceira seu(s), sua(s)
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LÍNGUA PORTUGUESA
São utilizados para explicitar a posição de certa palavra - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser invariáveis, observe:
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
la(s).
*Em relação ao espaço: Invariáveis: isto, isso, aquilo.
- Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
* Também aparecem como pronomes demonstrativos:
pessoa que fala:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
Este material é meu.
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
pessoa com quem se fala: indiquei.)
Esse material em sua carteira é seu?
- mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis- gênero quando têm caráter reforçativo:
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
se fala: Eu mesma refiz os exercícios.
Aquele material não é nosso. Elas mesmas fizeram isso.
Vejam aquele prédio! Eles próprios cozinharam.
Os próprios alunos resolveram o problema.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- semelhante(s): Não tenha semelhante atitude. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
riáveis e invariáveis. Observe:
- tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria.
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário,
* Note que: tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca,
- Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, ne-
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en- nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em outras, quantas.
primeiro lugar.
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação algo, cada.
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
*
Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
- Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu-
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, ral é feito em seu interior).
disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo) - Todo e toda no singular e junto de artigo significa
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Pronomes Indefinidos Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso, Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan- Trabalho todo dia. (= todos os dias)
tidade indeterminada.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém- São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
-plantadas. cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que),
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (=
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
Cada um escolheu o vinho desejado.
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
Indefinidos Sistemáticos
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu-
percebemos que existem alguns grupos que criam oposi-
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm
guém, outrem, quem, tudo. sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm
sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
Algo o incomoda? afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade
Quem avisa amigo é. negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser e qualquer, que generaliza.
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade Essas oposições de sentido são muito importantes na
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
Cada povo tem seus costumes. tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
Certas pessoas exercem várias profissões. pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
de que fazem parte:
* Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti- Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
vos, ora pronomes indefinidos adjetivos: prático.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns, pessoas quaisquer.
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), *Nenhum é contração de nem um, forma mais enfática,
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. que se refere à unidade. Repare:
Nenhum candidato foi aprovado.
Menos palavras e mais ações. Nem um candidato foi aprovado. (um, nesse caso, é nu-
Alguns se contentam pouco. meral)
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, ou- júri jurados
tra abelha, mais outra abelha. legião soldados, anjos, demônios
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. leva presos, recrutas
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
malta malfeitores ou desordeiros
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- manada búfalos, bois, elefantes,
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, matilha cães de raça
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan- molho chaves, verduras
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de multidão pessoas em geral
seres da mesma espécie (abelhas).
insetos (gafanhotos,
nuvem
mosquitos, etc.)
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
penca bananas, chaves
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, pinacoteca pinturas, quadros
mesmo estando no singular, designa um conjunto de seres
quadrilha ladrões, bandidos
da mesma espécie.
ramalhete flores
Substantivo coletivo Conjunto de: rebanho ovelhas
assembleia pessoas reunidas repertório peças teatrais, obras musicais
alcateia lobos réstia alhos ou cebolas
acervo livros romanceiro poesias narrativas
antologia trechos literários selecionados revoada pássaros
arquipélago ilhas sínodo párocos
banda músicos talha lenha
bando desordeiros ou malfeitores tropa muares, soldados
banca examinadores turma estudantes, trabalhadores
batalhão soldados vara porcos
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
cancioneiro canções, poesias líricas
colmeia abelhas
concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra
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LÍNGUA PORTUGUESA
Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
uma forma para cada gênero: gato – gata, homem – mulher, pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
poeta – poetisa, prefeito - prefeita czar – czarina, réu - ré
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LÍNGUA PORTUGUESA
Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Epicenos: a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma
eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco-
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha-
ma, o hematoma.
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea. * Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções,
nomes de cidades são femininos.
Sobrecomuns: A histórica Ouro Preto.
Entregue as crianças à natureza. A dinâmica São Paulo.
A acolhedora Porto Alegre.
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- Uma Londres imensa e triste.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Gênero e Significação
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Muitos substantivos têm uma significação no masculi-
no e outra no feminino. Observe:
Outros substantivos sobrecomuns: o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
criatura.
frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão), a
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou proibi-
ção de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do cor-
Comuns de Dois Gêneros: po), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma (ato
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a cinza
(resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capital (ci-
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? dade), o coma (perda dos sentidos), a coma (cabeleira), o
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral (cobra
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na administração
A distinção de gênero pode ser feita através da análise da crisma e de outros sacramentos), a crisma (sacramento
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti- da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato de curar), o
vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície de vege-
- uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran- tação), o guia (pessoa que guia outras), a guia (documento,
cês - repórter francesa pena grande das asas das aves), o grama (unidade de peso),
a grama (relva), o caixa (funcionário da caixa), a caixa (re-
- A palavra personagem é usada indistintamente nos cipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente
dois gêneros. (vidro de aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade,
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva
os personagens dos contos de carochinha.
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femini- a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala
no: O problema está nas mulheres de mais idade, que não (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, antepa-
aceitam a personagem. ro), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga
(remador), a voga (moda).
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Flexão de Número do Substantivo
Observe o gênero dos substantivos seguintes: Em português, há dois números gramaticais: o singular,
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o do plural é o “s” final.
proclama, o pernoite, o púbis.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de - Permanecem invariáveis, quando formados de:
duas maneiras: verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses ca-rolhas
2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. * Casos Especiais
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* Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer,
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qual-
quer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá conjugação
completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
- os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência a
sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético,
tornando-se, tais verbos, pessoais.
- o verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?
- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. São
unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar,
miar, latir, piar).
* Observação: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?
2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)
- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:
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* Importante:
- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escrever/
escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.
- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui) e
ir (fui, ia, vades).
- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das
formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.
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- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já
está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia refle-
xiva expressa pelo radical do próprio verbo.
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo
Tu te arrependes
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos
Vós vos arrependeis
Eles se arrependem
2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em
geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados,
formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: A garota
penteou-me.
* Observações:
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do
sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular
Modos Verbais
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:
Formas Nominais
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:
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LÍNGUA PORTUGUESA
1-) Infinitivo
1.1-) Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substan-
tivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.
1.2-) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.
2-) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)
Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.
* Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1- Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2 – Sim, senhora! Vou estar verificando!
Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.
3-) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o resul-
tado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.
(Ziraldo)
Tempos Verbais
Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou de-
sejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.
Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)
Modo Indicativo
Presente do Indicativo
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M
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LÍNGUA PORTUGUESA
Pretérito mais-que-perfeito
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M
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LÍNGUA PORTUGUESA
Presente do Subjuntivo
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).
1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M
Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de nú-
mero e pessoa correspondente.
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M
Futuro do Subjuntivo
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM
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Modo Imperativo
Imperativo Afirmativo
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:
Imperativo Negativo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.
Infinitivo Pessoal
* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).
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* Observação: não confundir o emprego reflexivo do Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs-
verbo com a noção de reciprocidade: tancialmente o sentido da frase.
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro) O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto
Formação da Voz Passiva
A apostila foi comprada pelo concurseiro.
A voz passiva pode ser formada por dois processos: (Voz Passiva)
analítico e sintético. Sujeito da Passiva Agente da Passi-
va
1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte ma-
neira: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o
sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo: assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os Observe:
alunos pintarão a escola) - Os mestres têm constantemente aconselhado os alu-
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) nos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
* Observação: o agente da passiva geralmente é acom- mestres.
panhado da preposição por, mas pode ocorrer a constru-
ção com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada - Eu o acompanharei.
de soldados. Ele será acompanhado por mim.
- Pode acontecer de o agente da passiva não estar ex- * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
plícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
** Saiba que:
ção das frases seguintes:
- com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)
porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa)
Fontes de pesquisa:
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- php
tivo) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Questões
2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui- RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
do do pronome apassivador “se”. Por exemplo: instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
Abriram-se as inscrições para o concurso. (A) que o instituto Endeavor traz;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (B) que o instituto Endeavor trouxe;
(C) trazida pelo instituto Endeavor;
* Observação: o agente não costuma vir expresso na (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
voz passiva sintética. (E) que traz o instituto Endeavor.
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1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa tere- Regras ortográficas
mos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o tem-
po verbal no pretérito – assim como na passiva). O fonema s
RESPOSTA: “B”.
S e não C/Ç
2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 - palavras substantivadas derivadas de verbos com radi-
adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por cais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender - pretensão /
muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a expandir - expansão / ascender - ascensão / inverter - inver-
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal: são / aspergir - aspersão / submergir - submersão / divertir
A) consideravam. - diversão / impelir - impulsivo / compelir - compulsório /
B) consideram. repelir - repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
C) considerem. sentir - sensível / consentir – consensual.
D) considerarão.
E) considerariam.
SS e não C e Ç
2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem
de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então na
em gred, ced, prim ou com verbos terminados por tir ou
ativa teremos UM: muitos o consideram o maior marato-
nista de todos os tempos. -meter: agredir - agressivo / imprimir - impressão / admitir
RESPOSTA: “B”. - admissão / ceder - cessão / exceder - excesso / percutir -
percussão / regredir - regressão / oprimir - opressão / com-
prometer - compromisso / submeter – submissão.
3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014) *quando o prefixo termina com vogal que se junta com
Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé-
uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal re- trico / re + surgir – ressurgir.
sultante deverá ser *no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
(A) terei glosado plos: ficasse, falasse.
(B) seria glosada
(C) haverá de ser glosada C ou Ç e não S e SS
(D) será glosada
(E) terá sido glosada vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.
vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Ju-
3-) “vou glosar uma observação de Machado de Assis” çara, caçula, cachaça, cacique.
– “vou glosar” expressa “glosarei”, então teremos na pas- sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
siva: uma observação de Machado de Assis será glosada uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço,
por mim. esperança, carapuça, dentuço.
RESPOSTA: “D”. nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / de-
ter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
após ditongos: foice, coice, traição.
palavras derivadas de outras terminadas em -te, to(r):
ORTOGRAFIA marte - marciano / infrator - infração / absorto – absorção.
O fonema z
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da correta
S e não Z
grafia das palavras. É ela quem ordena qual som devem
ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma língua são
grafados segundo acordos ortográficos. sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, metamor-
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras é fose.
necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções e, formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, qui-
em alguns casos, há necessidade de conhecimento de eti- seste.
mologia (origem da palavra). nomes derivados de verbos com radicais terminados
em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
empresa / difundir – difusão.
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G e não J * Dica:
- Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto-
palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, ges- grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar o
so. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), ela-
estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. borado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra de
terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com pou- referência até mesmo para a criação de dicionários, pois
cas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge. traz a grafia atualizada das palavras (sem o significado). Na
Internet, o endereço é www.academia.org.br.
Exceção: pajem.
Informações importantes
terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, - Formas variantes são formas duplas ou múltiplas,
litígio, relógio, refúgio. equivalentes: aluguel/aluguer, relampejar/relampear/re-
verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir, lampar/relampadar.
mugir. - Os símbolos das unidades de medida são escritos
depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur- sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar plu-
gir. ral, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 20km,
depois da letra “a”, desde que não seja radical termina- 120km/h.
do com j: ágil, agente. Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
- Na indicação de horas, minutos e segundos, não deve
J e não G haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h, 22h30min,
14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três minutos e trinta e
palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. quatro segundos).
palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, - O símbolo do real antecede o número sem espaço:
manjerona. R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma barra
palavras terminadas com aje: ultraje. vertical ($).
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1. Em palavras compostas por justaposição que formam 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
para formarem um novo significado: tio-avô, porto-ale- “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir-
grense, luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda- -fei- religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia,
ra, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, primeiro-ministro, microrradiografia, etc.
azul-escuro.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora- vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes-
-menina, erva-doce, feijão-verde. trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes-
cola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re-
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
-casado. “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h” inicial: de-
sumano, inábil, desabilitar, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu-
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o
uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de- segundo elemento começar com “o”: cooperação, coobriga-
meia, água-de-colônia, queima-roupa, deus-dará. ção, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedis-
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, ta, etc.
etc.
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- to, benquerer, benquerido, etc.
per- quando associados com outro termo que é iniciado
por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. - Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas corres-
pondentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, não havendo hífen: pospor, predeterminar, predeterminado,
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. pressuposto, propor.
- Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. -humano, super-realista, alto-mar.
- Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante,
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus,
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, Fontes de pesquisa:
geo--história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar, http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
super-homem. tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
termina com a mesma vogal do segundo elemento: micro-
-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.
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Proparoxítonas - São aquelas cuja sílaba tônica está ** Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos abertos esti-
na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano verem em uma palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu)
– médico – ônibus ainda são acentuados: dói, escarcéu.
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2- Separa partes de frases que já estão separadas por 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa,
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, mon- depois, o coração falar...
tanhas, frio e cobertor.
Vírgula (,)
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
tivos, decreto de lei, etc. Não se usa vírgula
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola; * separando termos que, do ponto de vista sintático,
Caminhada na praia; ligam-se diretamente entre si:
Reunião com amigos. - entre sujeito e predicado:
Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado
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4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou *Quando “um dos que” vem entremeada de substanti-
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos, vo, o verbo pode:
quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o verbo a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa
pode concordar com o primeiro pronome (na terceira pes- o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que faça o
soa do plural) ou com o pronome pessoal. mesmo).
Quais de nós são / somos capazes? b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? poluídos (noção de que existem outros rios na mesma con-
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino- dição).
vadoras.
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
Observação: veja que a opção por uma ou outra forma verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém Vossa Excelência está cansado?
diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize- Vossas Excelências renunciarão?
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso não
ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de tudo e 9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. acordo com o numeral.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver Deu uma hora no relógio da sala.
no singular, o verbo ficará no singular. Deram cinco horas no relógio da sala.
Qual de nós é capaz? Soam dezenove horas no relógio da praça.
Algum de vós fez isso. Baterão doze horas daqui a pouco.
5) Quando o sujeito é formado por uma expressão que Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra re-
indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo deve lógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
concordar com o substantivo. O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
25% do orçamento do país será destinado à Educação. Soa quinze horas o relógio da matriz.
85% dos entrevistados não aprovam a administração do
prefeito. 10) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
1% do eleitorado aceita a mudança. sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular. São
1% dos alunos faltaram à prova. verbos impessoais: Haver no sentido de existir; Fazer indi-
cando tempo; Aqueles que indicam fenômenos da nature-
Quando a expressão que indica porcentagem não é za. Exemplos:
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nú- Havia muitas garotas na festa.
mero. Faz dois meses que não vejo meu pai.
25% querem a mudança. Chovia ontem à tarde.
1% conhece o assunto.
b) Sujeito Composto
Se o número percentual estiver determinado por artigo
ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com eles: 1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo,
Os 30% da produção de soja serão exportados. a concordância se faz no plural:
Esses 2% da prova serão questionados. Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito
6) O pronome “que” não interfere na concordância; já o
“quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do singular. Pais e filhos devem conversar com frequência.
Fui eu que paguei a conta. Sujeito
Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida. 2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas gra-
Sou eu quem faz a prova. maticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte ma-
Não serão eles quem será aprovado. neira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a
segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a
7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assu- terceira (eles). Veja:
mir a forma plural. Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- Primeira Pessoa do Plural (Nós)
taram os poetas.
Este candidato é um dos que mais estudaram! Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular: Pais e filhos precisam respeitar-se.
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Terceira Pessoa do Plural (Eles)
Nem uma das que me escreveram mora aqui.
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Observação: quando o sujeito é composto, formado 5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos recebem um
(ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do mesmo grau de importância e a palavra “com” tem sentido
plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no muito próximo ao de “e”.
lugar de “tomaríeis”. O pai com o filho montaram o brinquedo.
O governador com o secretariado traçaram os planos
3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, para o próximo semestre.
passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em O professor com o aluno questionaram as regras.
vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o
verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do su- Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a
jeito mais próximo. ideia é enfatizar o primeiro elemento.
Faltaram coragem e competência. O pai com o filho montou o brinquedo.
Faltou coragem e competência. O governador com o secretariado traçou os planos para
o próximo semestre.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
O professor com o aluno questionou as regras.
Compareceu o banca e todos os candidatos.
Observação: com o verbo no singular, não se pode
4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez
cia é feita no plural. Observe: que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” são
Abraçaram-se vencedor e vencido. adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como se
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. houvesse uma inversão da ordem. Veja:
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
Casos Particulares “O governador traçou os planos para o próximo semes-
tre com o secretariado.”
1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos “O professor questionou as regras com o aluno.”
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
Descaso e desprezo marca seu comportamento. *Casos em que se usa o verbo no singular:
A coragem e o destemor fez dele um herói. Café com leite é uma delícia!
O frango com quiabo foi receita da vovó.
2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
dispostos em gradação, verbo no singular: 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun- pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
do me satisfaz. mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o
verbo ficará no plural.
3) Quando os núcleos do sujeito composto são unidos Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de acor- Nordeste.
do com o valor semântico das conjunções: Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no-
Drummond ou Bandeira representam a essência da poe- tícia.
sia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi- feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
ção”. Já em:
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Juca ou Pedro será contratado.
na vida das pessoas.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
píada.
Outros Casos
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam no 1) O Verbo e a Palavra “SE”
singular. Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas
de particular interesse para a concordância verbal:
4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
outro”, a concordância costuma ser feita no singular. b) quando é partícula apassivadora.
Um ou outro compareceu à festa. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
Nem um nem outro saiu do colégio. acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter-
Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no ceira pessoa do singular:
singular: Um e outro farão/fará a prova. Precisa-se de funcionários.
Confia-se em teses absurdas.
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Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver- c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade e
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito,
(VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular:
verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos: Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Construiu-se um posto de saúde. Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
Construíram-se novos postos de saúde. Duas semanas de férias é muito para mim.
Aqui não se cometem equívocos
Alugam-se casas. d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará o
** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivadora verbo.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente transformar No meu setor, eu sou a única mulher.
a frase para a voz passiva. Se a frase construída for “com- Aqui os adultos somos nós.
preensível”, estaremos diante de uma partícula apassivado-
ra; se não, o “se” será índice de indeterminação. Veja: Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre-
Precisa-se de funcionários qualificados. dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo
Tentemos a voz passiva: concorda com o pronome sujeito.
Funcionários qualificados são precisados (ou precisos)? Eu não sou ela.
Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice de inde- Ela não é eu.
terminação do sujeito.
Agora: e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido par-
Vendem-se casas. titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta! SER concordará com o predicativo.
Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu A grande maioria no protesto eram jovens.
passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per- O resto foram atitudes imaturas.
cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
2) O Verbo “Ser” 3) O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân- a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
sujeito.
b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
Quando o sujeito ou o predicativo for: sofre flexão:
As crianças parece gostarem do desenho.
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
concorda com a pessoa gramatical: crianças)
Ele é forte, mas não é dois.
Fernando Pessoa era vários poetas. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
A esperança dos pais são eles, os filhos. CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no subordinada substantiva subjetiva).
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
que estiver no plural: Concordância Nominal
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
Quando o verbo SER indicar ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
a) horas e distâncias, concordará com a expressão normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
numérica: termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
É uma hora. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
São quatro horas. seguintes regras gerais:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme- 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
tros. se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas denun-
ciavam o que sentia.
b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
estar expressa ou subentendida: 2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Hoje é dia 26 de agosto. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle-
Hoje são 26 de agosto. xão nos seguintes casos:
55
LÍNGUA PORTUGUESA
a) Adjetivo anteposto aos substantivos: ** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se
- O adjetivo concorda em gênero e número com o a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de advérbio,
substantivo mais próximo. portanto, invariável; se houver coerência com o segundo,
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. função de adjetivo, então varia:
Encontramos caída a roupa e os prendedores. Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Encontramos caído o prendedor e a roupa. Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad-
vérbio
- Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. ** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descansan-
do)
b) Adjetivo posposto aos substantivos: 7) Quando um único substantivo é modificado por dois
- O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as cons-
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural se truções:
houver substantivo feminino e masculino). a) O substantivo permanece no singular e coloca-se o
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espanhola
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. e a portuguesa.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. b) O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e portu-
Observação: os dois últimos exemplos apresentam guesa.
maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente se
refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi Casos Particulares
flexionado no plural masculino, que é o gênero predomi-
nante quando há substantivos de gêneros diferentes. É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
- Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural. a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
A beleza e a inteligência feminina(s). adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se referem
O carro e o iate novo(s). possuir sentido genérico (não vier precedido de artigo).
É proibido entrada de crianças.
3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: Em certos momentos, é necessário atenção.
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o substan- No verão, melancia é bom.
tivo não for acompanhado de nenhum modificador: Água É preciso cidadania.
é bom para saúde. Não é permitido saída pelas portas laterais.
b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
modificado por um artigo ou qualquer outro determinati- minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
vo: Esta água é boa para saúde. como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os Esta salada é ótima.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as A educação é necessária.
muito felizes. São precisas várias medidas na educação.
5) Nas expressões formadas por pronome indefinido Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - Qui-
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + te
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino sin-
gular: Os jovens tinham algo de misterioso. Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun- Seguem anexas as documentações requeridas.
ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a que A menina agradeceu: - Muito obrigada.
se refere: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Cristina saiu só. Seguem inclusos os papéis solicitados.
Cristina e Débora saíram sós. Estamos quites com nossos credores.
56
LÍNGUA PORTUGUESA
Estas palavras são invariáveis quando funcionam como 1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA
advérbios. Concordam com o nome a que se referem quan- E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS-
do funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos, ou nu- TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar
merais. satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) estará corretamente empregado se dirigido a ministro de
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro- Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve
nome adjetivo) concordar com a locução pronominal de tratamento “Vossa
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) Excelência”.
As casas estão caras. (adjetivo) ( ) CERTO ( ) ERRADO
Achei barato este casaco. (advérbio)
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) 1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-
nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
Meio - Meia masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito. O
pronome de tratamento é apenas a maneira de como tratar
a) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, a autoridade, não concordando com o gênero (o pronome
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi de tratamento, apenas).
meia porção de polentas. RESPOSTA: “ERRADO”.
b) Quando empregada como advérbio permanece in- 2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO
variável: A candidata está meio nervosa. RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados
** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”,
saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, a
candidata está um pouco nervosa”.
nova redação, de acordo com as regras sobre regência ver-
bal e concordância nominal prescritas pela norma-padrão,
Alerta - Menos
deveria ser
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador.
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador.
sempre invariáveis.
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no eleva-
Os concurseiros estão sempre alerta.
dor.
Não queira menos matéria!
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no eleva-
* Tome nota! dor.
Não variam os substantivos que funcionam como ad- (E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no elevador.
jetivos:
Bomba – notícias bomba 2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”, in-
Chave – elementos chave direto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais não
Monstro – construções monstro gosto.
Padrão – escola padrão RESPOSTA: “E”.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos Os verbos transitivos indiretos são complementados
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes gem uma preposição para o estabelecimento da relação de
formas em frases distintas. regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter-
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LÍNGUA PORTUGUESA
ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são Informar
o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re- Informe os novos preços aos clientes.
presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos preços)
lhe, lhes.
- Na utilização de pronomes como complementos, veja
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: as construções:
- Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo- Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so-
iguais para todos.
bre eles)
- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complemen-
Observação: a mesma regência do verbo informar é
tos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientifi-
Eles desobedeceram às leis do trânsito. car, prevenir.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Custou-me (a mim) crer nisso.
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi- Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
rávamos a ele) tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
* Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- *A Gramática Normativa condena as construções que
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. pessoa: Custei para entender o problema. = Forma
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= As- correta: Custou-me entender o problema.
piravam a ela)
IMPLICAR
- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
ASSISTIR
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
implicavam um firme propósito.
tar assistência a, auxiliar.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
- Como transitivo direto e indireto, significa compro-
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
ciar, estar presente, caber, pertencer. econômicas.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões. * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Essa lei assiste ao inquilino. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.
*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de NAMORAR
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
conturbada cidade. anos.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como Se uma oração completar o sentido de um nome, ou
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”. seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
O ensino deve sempre visar ao progresso social. completiva nominal (subordinada substantiva).
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
público.
ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronomi-
nal)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de
Advérbios
Longe de Perto de
Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: para-
lela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.
Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Questões
1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta da
língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: 1-) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do o sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
sujeito. Bateram à porta;
Um sujeito é determinado quando é facilmente iden- Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado nistro.
pode ser simples ou composto.
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é * Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples
possível identificar claramente a que se refere a concor- ou composto:
dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte- Os meninos bateram à porta. (simples)
ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração. Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
Estão gritando seu nome lá fora.
Trabalha-se demais neste lugar. 2-) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica dos
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre- verbos que não apresentam complemento direto:
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no Precisa-se de mentes criativas.
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo, Vivia-se bem naqueles tempos.
sublinhei os núcleos dos sujeitos: Trata-se de casos delicados.
Nós estudaremos juntos. Sempre se está sujeito a erros.
A humanidade é frágil.
Ninguém se move. O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma indeterminação do sujeito.
derivação imprópria, transformando-o em substantivo)
As crianças precisam de alimentos saudáveis. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi-
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men-
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre- sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca-
sos de orações sem sujeito com:
senta mais de um núcleo.
Alimentos e roupas custam caro.
1-) os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Ela e eu sabemos o conteúdo.
Amanheceu.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.
Está trovejando.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
2-) os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do
geral:
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela Está tarde.
desinência verbal ou pelo contexto. Já são dez horas.
Abolimos todas as regras. = (nós) Faz frio nesta época do ano.
Falaste o recado à sala? = (tu) Há muitos concursos com inscrições abertas.
* Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segun- informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
da do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os prono- orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
mes não estejam explícitos. um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção
na desinência verbal “-mos” do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi- do sujeito numa oração é o seu predicado.
nência verbal “-ais” Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós * Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós cado.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Para o estudo do predicado, é necessário verificar se No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no- duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um
também se as palavras que formam o predicado referem- verbal e outro nominal.
se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
de opinião. o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
Predicado
Termos integrantes da oração
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
direta ou indiretamente ao verbo. complemento nominal são chamados termos integrantes da
A cidade está deserta. oração.
Os complementos verbais integram o sentido dos ver-
O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se bos transitivos, com eles formando unidades significativas.
ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento Estes verbos podem se relacionar com seus complementos
de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta-
palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo mente, por intermédio de preposição.
do sujeito).
O objeto direto é o complemento que se liga direta-
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo mente ao verbo.
significativo um verbo: Houve muita confusão na partida final.
Chove muito nesta época do ano. Queremos sua ajuda.
Estudei muito hoje!
O objeto direto preposicionado ocorre principalmen-
Compraste a apostila?
te:
- com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
referentes a pessoas:
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro-
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
cessos.
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
na-se: objeto direto preposicionado)
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta- - com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei- de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a
to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da Vossa Senhoria.
oração por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, - para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre- (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do a crise)
sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, an- O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
dar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como ele- retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele rela- Gosto de música popular brasileira.
cionadas. Necessito de ajuda.
* A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. O termo que integra o sentido de um nome chama-se
complemento nominal, que se liga ao nome que comple-
O predicado verbo-nominal é aquele que apresen- ta por intermédio de preposição:
ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao “necessária”
sujeito ou ao complemento verbal (objeto). Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
nificativo, indicando processos. É também sempre por in- Termos acessórios da oração e vocativo
termédio do verbo que o predicativo se relaciona com o
termo a que se refere. Os termos acessórios recebem este nome por serem
1- O dia amanheceu ensolarado; explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
2- As mulheres julgam os homens inconstantes. junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo
– este, sem relação sintática com outros temos da oração.
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LÍNGUA PORTUGUESA
O adjunto adverbial é o termo da oração que indi- O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o lor na oração, em:
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma-
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a mundo.
pé àquela velha praça. b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
coisas: amor, arte, ação.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho,
adverbial são: tudo forma o carnaval.
- assunto: Falavam sobre futebol. d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
- causa: As folhas caíram com o vento. ram-se por muito tempo na baía anoitecida.
- companhia: Ficarei com meus pais.
- concessão: Apesar de você, serei feliz. O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar
- conformidade: Fez tudo conforme o combinado. ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo
- dúvida: Talvez ainda chova. relação sintática com outro termo da oração. A função de
- fim: Estudou para o exame. vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes
- instrumento: Fez o corte com a faca. substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa-
- intensidade: Falava bastante.
pel na linguagem.
- lugar: Vou à cidade.
João, venha comigo!
- matéria: Este prato é feito de porcelana.
Traga-me doces, minha menina!
- meio: Viajarei de trem.
- modo: Foram recrutados a dedo.
- negação: Não há ninguém que mereça.
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo. Questões
O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- 1-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função UFAL/2014 - adaptada)
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais
e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
amigo de infância.
O poeta português deixou uma obra inacabada. O cartaz acima divulga a peça de teatro “Quem tem
O poeta deixou-a inacabada. medo de Virginia Woolf?” escrita pelo norte-americano
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do Edward Albee. O termo “de Virginia Woolf”, do título em
objeto)
português da peça, funciona como:
A) objeto indireto.
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um
B) complemento nominal.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto adnominal se
relaciona apenas ao substantivo. C) adjunto adnominal.
D) adjunto adverbial.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, E) agente da passiva.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter-
mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda- 1-) O termo complementa a palavra “medo”, que é
feira, passei o dia mal-humorado. substantivo (nome – nominal). Portanto é um complemen-
to nominal. O verbo “ter” tem como complemento verbal
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo (objeto) a palavra “medo”, que exerce a função sintática de
“ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo objeto direto.
que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira RESPOSTA: “B”.
passei o dia mal-humorado.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Podemos modificar o período acima. Veja: * Atenção: Observe que a oração subordinada subs-
tantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim,
Quero ser aprovado. temos um período simples:
Oração Principal Oração Subordinada É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que- a função de sujeito.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su- Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordi- principal:
nada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso,
a conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações, - Verbos de ligação + predicativo, em construções do
desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particí- claro - Está evidente - Está comprovado
pio) chamamos orações reduzidas ou implícitas. É bom que você compareça à minha festa.
* Observação: as orações reduzidas não são introdu-
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se,
zidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser,
Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado, Ficou
eventualmente, introduzidas por preposição.
provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
1-) Orações Subordinadas Substantivas
A oração subordinada substantiva tem valor de subs- - Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte- importar - ocorrer - acontecer
grante (que, se). Convém que não se atrase na entrevista.
Não sabemos quando ele virá. As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
Oração Subordinada Substan- (desenvolvidas) são iniciadas por:
tiva - Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
“se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
Classificação das Orações Subordinadas Substanti-
vas
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
Conforme a função que exerce no período, a oração
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
subordinada substantiva pode ser:
a) Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
verbo da oração principal: - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
É fundamental o seu comparecimento à reu- não sei por que ela fez isso.
nião.
Sujeito c) Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
É fundamental que você compareça à
reunião. Meu pai insiste em meu estudo.
Oração Principal Oração Subordinada Substan- Objeto Indireto
tiva Subjetiva
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LÍNGUA PORTUGUESA
Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste 2-) Orações Subordinadas Adjetivas
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
Objetiva Indireta valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem
Observação: em alguns casos, a preposição pode estar a função de adjunto adnominal do antecedente.
elíptica na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. Esta foi uma redação bem-sucedida.
Oração Subordinada Substantiva Substantivo Adjetivo (Adjunto Adno-
Objetiva Indireta minal)
d) Completiva Nominal = completa um nome que O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo
pertence à oração principal e também vem marcada por “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
preposição. construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:
Sentimos orgulho de seu comportamento. Esta foi uma redação que fez sucesso.
Complemento Nominal Oração Principal Oração Subordinada
Adjetiva
Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
timos orgulho disso.) Perceba que a conexão entre a oração subordinada
Oração Subordinada Substantiva adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
Completiva Nominal feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob- uma função sintática na oração subordinada: ocupa o pa-
jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto pel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso,
que orações subordinadas substantivas completivas nomi- “redação” é sujeito, então o “que” também funciona como
nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma sujeito).
da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
Observação: para que dois períodos se unam num
plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
período composto, altera-se o modo verbal da segunda
segundo, um nome.
oração.
e) Predicativa = exerce papel de predicativo do sujei-
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para re-
to do verbo da oração principal e vem sempre depois do
conhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser
verbo ser.
substituído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Nosso desejo era sua desistência. Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é
Predicativo do Sujeito equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.
Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
era isso)
Oração Subordinada Substantiva Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Predicativa apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
Observação: em certos casos, usa-se a preposição ex- das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
pletiva “de” para realce. Veja o exemplo: A impressão é de reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
que não fui bem na prova. (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
f) Apositiva = exerce função de aposto de algum ter- particípio).
mo da oração principal.
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
Aposto
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
Oração subordinada lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
substantiva apositiva reduzida de infinitivo feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
(Fernanda tinha um grande sonho: isso) da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
e seu verbo está no infinitivo.
* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! (:)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Na relação que estabelecem com o termo que caracteri- Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
zam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas minha vida.
maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especifi-
cam o sentido do termo a que se referem, individualizando-o. No primeiro período, “naquele momento” é um adjun-
Nestas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “sen-
subordinadas adjetivas restritivas. Existem também orações ti”. No segundo período, este papel é exercido pela oração
que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o ante-
“Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordi-
cedente, que já se encontra suficientemente definido. Estas
nada adverbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois
orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo 1: é introduzida por uma conjunção subordinativa (quando)
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do
passava naquele momento. pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
Oração obtendo-se:
Subordinada Adjetiva Restritiva Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha
vida.
No período acima, observe que a oração em destaque
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra- A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o uni- das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
verso de homens, isto é, não se refere a todos os homens, introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
mas sim àquele que estava passando naquele momento. preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).
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LÍNGUA PORTUGUESA
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con- g) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
cretizando-os. se declara na oração principal. Principal conjunção subordi-
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi- nativa final: a fim de. Outras conjunções finais: que, porque
da de Infinitivo) (= para que) e a locução conjuntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
c) Condicional = Condição é aquilo que se impõe Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
como necessário para a realização ou não de um fato. As
orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o h) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
que deve ou não ocorrer para que se realize - ou deixe de seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.
se realizar - o fato expresso na oração principal. Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: à
Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou- proporção que. Outras locuções conjuntivas proporcio-
tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que, nais: à medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas:
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, quanto maior...(maior), quanto maior...(menor), quanto me-
uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). nor...(maior), quanto menor...(menor), quanto mais...(mais),
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, quanto mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto me-
certamente o melhor time será campeão. nos...(menos).
Caso você saia, convide-me. À proporção que estudávamos mais questões acertáva-
mos.
d) Concessiva = indica concessão às ações do verbo À medida que lia mais culto ficava.
da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou
um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente i) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
ligada ao contraste, à quebra de expectativa. Principal con- expresso na oração principal, podendo exprimir noções de
junção subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se tam- simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Principal
bém a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda conjunção subordinativa temporal: quando. Outras con-
quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que. junções subordinativas temporais: enquanto, mal e locu-
Só irei se ele for. ções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que,
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu”
antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Compare agora com:
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
Irei mesmo que ele não vá.
nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
Fontes de pesquisa:
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra-
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con-
se-periodo-e-oracao
cessiva.
Observe outros exemplos: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Embora fizesse calor, levei agasalho. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con- * A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-
tratada recentemente. verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave:
Após a junção da preposição com o artigo (destacados - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pres-
entre parênteses), temos: sas, à vontade...
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura
recentemente. de...
- locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
O verbo referir, de acordo com sua transitividade, clas-
sifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referi- * Cuidado: quando as expressões acima não exerce-
mos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o rem a função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome Eu adoro a noite!
demonstrativo aquela (àquela). Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
Observação importante: Alguns recursos servem de preposição.
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não da
crase. Eis alguns: Casos passíveis de nota:
a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase *a crase é facultativa diante de nomes próprios femini-
está confirmada. nos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
Os dados foram solicitados à diretora.
Os dados foram solicitados ao diretor. *também é facultativa diante de pronomes possessivos
femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa.
b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na expres- *facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja ficará
são “voltar da”, há a confirmação da crase. aberta até as (às) dezoito horas.
Faremos uma visita à Bahia.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada) * Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-
tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas,
Não me esqueço da viagem a Roma.
mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão por
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV)
mais vividos.
* Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se
verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos
apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase
está confirmada. a queima de fogos a distância.
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
praias. Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou arremessado à distância de cem metros.
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. =
Volto de Campinas. (crase pra quê?) - De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -,
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) faz-se necessário o emprego da crase.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifica- Ensino à distância.
do, ocorrerá crase. Veja: Ensino a distância.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” * Em locuções adverbiais formadas por palavras repeti-
Irei à Salvador de Jorge Amado. das, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor.
* A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Eu o seguirei passo a passo.
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo re-
gente exigir complemento regido da preposição “a”. Casos em que não se admite o emprego da crase:
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) * Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Iremos àquela reunião. Esta caneta pertence a Pedro.
(preposição + pronome demonstrativo)
* Antes de verbos no infinitivo.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando crian- Ele estava a cantar.
ça. (àquelas que eu ouvia quando criança) Começou a chover.
(preposição + pronome demonstrativo)
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LÍNGUA PORTUGUESA
3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014) 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fizeram lhe disse isso?
uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade
de Tikal, na Guatemala. 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
O a empregado na frase acima, imediatamente depois se ofendem!
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso o
segmento grifado seja substituído por: 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
(A) Uma tal ilação. Que Deus o ajude.
(B) Afirmações como essa.
(C) Comprovação dessa assertiva. 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome
(D) Emitir uma opinião desse tipo. reto ou sujeito expresso:
(E) Semelhante resultado. Eu lhe entregarei o material amanhã.
Tu sabes cantar?
3-)
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento grave Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
antes de artigo) verbo. A mesóclise é usada:
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (antes
de palavra no plural e o “a” no singular) Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro- turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
vação precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
(verbo no infinitivo) em prol da paz no mundo.
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pala- Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
vra masculina) lizará”:
RESPOSTA: “C”. realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma palavra
que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria. Veja:
Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompanha-
ria nessa viagem).
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. A
pronomes oblíquos átonos na frase. ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem
possíveis:
* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a função
de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: 1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
OBlíquo = OBjeto! Quando eu avisar, silenciem-se todos.
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de- era minha intenção machucá-la.
vem ser observadas na linguagem escrita.
3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. A inicia período com pronome oblíquo).
próclise é usada: Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, no concurso, mudo-me hoje mesmo!
jamais, etc.: Não se desespere!
b) Advérbios: Agora se negam a depor. 5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expliquem posta fazendo-se de desentendida.
tudo!
d) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- Colocação pronominal nas locuções verbais
forçou. - após verbo no particípio = pronome depois do verbo
e) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportuni- auxiliar (e não depois do particípio):
dade. Tenho me deliciado com a leitura!
Eu tenho me deliciado com a leitura!
f) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. Eu me tenho deliciado com a leitura!
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LÍNGUA PORTUGUESA
- não convém usar hífen nos tempos compostos e nas 1-) Primeiramente identifiquemos se temos objeto di-
locuções verbais: reto ou indireto. Reconhece o quê? Resposta: a informali-
Vamos nos unir! dade. Pergunta e resposta sem preposição, então: objeto
Iremos nos manifestar. direto. Não utilizaremos “lhe” – que é para objeto indireto.
Como temos a presença do “que” – independente de sua
- quando há um fator para próclise nos tempos com- função no período (pronome relativo, no caso!) – a regra
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pronome pede próclise (pronome oblíquo antes do verbo): que a re-
oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos preocupar conhecem.
(e não: “não nos vamos preocupar”). RESPOSTA: “A”.
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LÍNGUA PORTUGUESA
b) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di- Exemplos de variação no significado das palavras:
ferentes na escrita:
acender (atear) e ascender (subir); Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido li-
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); teral)
cela (compartimento) e sela (arreio); Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
censo (recenseamento) e senso ( juízo); figurado)
paço (palácio) e passo (andar). Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli- Observação: toda metáfora é uma espécie de compa-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada. ração implícita, em que o elemento comparativo não apa-
rece.
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela Seus olhos são como luzes brilhantes.
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma interpre- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
tação. Para fazer a interpretação correta é muito importan- através do emprego da palavra como.
te saber qual o contexto em que a frase é proferida. Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co- ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
micidade. Repare na figura abaixo: qualidade do que é semelhante.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta
é a verdadeira metáfora.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, Paradoxo ou oximoro
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por
falta de um termo específico para designar um conceito, É a associação de ideias, além de contrastantes, contra-
toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a empregar ditórias. Seria a antítese ao extremo.
algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos: Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
“asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do rosto”, “pé da Ouvimos as vozes do silêncio.
mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
Eufemismo
Perífrase ou Antonomásia
É o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre
ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera,
Trata-se de uma expressão que designa um ser através
desagradável ou chocante.
de alguma de suas características ou atributos, ou de um
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor.
fato que o celebrizou. É a substituição de um nome por
(= morreu)
outro ou por uma expressão que facilmente o identifique: O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
atraindo visitantes do mundo todo. Faltar à verdade. (= mentir)
A Cidade-Luz (=Paris)
O rei das selvas (=o leão) Ironia
Observação: quando a perífrase indica uma pessoa, É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do que
recebe o nome de antonomásia. Exemplos: as palavras ou frases expressam, geralmente apresentando
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida pratican- intenção sarcástica. A ironia deve ser muito bem construí-
do o bem. da para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jo- passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emis-
vem. sor.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota mí-
nima.
Sinestesia Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que
estão por perto.
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen- O governador foi sutil como um elefante.
sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
cruzamento de sensações distintas. Hipérbole
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = au-
ditivo; áspero = tátil) É a expressão intencionalmente exagerada com o intui-
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte- to de realçar uma ideia.
cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil) “Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
O concurseiro quase morre de tanto estudar!
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LÍNGUA PORTUGUESA
É a atribuição de ações ou qualidades de seres anima- Consiste na omissão de um ou mais termos numa ora-
dos a seres inanimados, ou características humanas a seres ção e que podem ser facilmente identificados, tanto por
não humanos. Observe os exemplos: elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto
As pedras andam vagarosamente. pelo contexto.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um A catedral da Sé. (a igreja catedral)
cego que guia. Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao está-
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra. dio)
Chora, violão.
Zeugma
Apóstrofe
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
personificada, de acordo com o objetivo do discurso, que Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo português)
chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginá- Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só mo-
rio ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de dernos. (só havia móveis)
pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidên-
cia com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo. Silepse
Exemplos:
Moça, que fazes aí parada? A silepse é a concordância que se faz com o termo que
“Pai Nosso, que estais no céu” não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. É uma
Deus, ó Deus! Onde estás? concordância anormal, psicológica, porque se faz com um
termo oculto, facilmente identificado. Há três tipos de si-
Gradação lepse: de gênero, número e pessoa.
80
LÍNGUA PORTUGUESA
Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais: Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quan-
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles (as do confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um
três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há um pleonasmo vicioso:
desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não con- Vi aquela cena com meus próprios olhos.
corda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que Vamos subir para cima.
está inscrita no sujeito. Exemplos: Ele desceu pra baixo.
O que não compreendo é como os brasileiros persista-
mos em aceitar essa situação. Anáfora
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins É a repetição de uma ou mais palavras no início de vá-
públicos.” (Machado de Assis) rias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de coe-
rência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é
Observe que os verbos persistamos, temos e somos não posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar de-
concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasilei- terminado elemento textual. Os termos anafóricos podem
ros, agricultores e cariocas, que estão na terceira pessoa), muitas vezes ser substituídos por pronomes.
mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te conhe-
os agricultores e os cariocas). cia.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
Polissíndeto / Assíndeto ba.” (Padre Vieira)
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- Anacoluto
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
período composto. No período composto por coordena- Consiste na mudança da construção sintática no meio
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A da frase, ficando alguns termos desligados do resto do pe-
oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo)
ríodo. É a quebra da estrutura normal da frase para a intro-
é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assin-
dução de uma palavra ou expressão sem nenhuma ligação
dética. Recordado esse conceito, podemos definir as duas
sintática com as demais.
figuras de construção:
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
Morrer, todo haveremos de morrer.
1) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela repe-
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
tição enfática dos conectivos. Observe o exemplo: O meni-
no resmunga, e chora, e grita, e ninguém faz nada.
A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
2) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela ausên- deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
cia, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não exer-
no uso de orações coordenadas assindéticas. Exemplos: cendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. chamado de “frase quebrada”, pois corresponde a uma in-
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) terrupção na sequência lógica do pensamento.
81
LÍNGUA PORTUGUESA
Figuras de Som
Aliteração - Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro
significativo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Quem com ferro fere com ferro será ferido.
Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil8.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Questões
1-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIOTECO-
NOMIA – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de linguagem
figurada denominada
(A) metonímia.
(B) eufemismo.
(C) hipérbole.
(D) metáfora.
(E) catacrese.
1-) A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-la para um novo
campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
RESPOSTA: “D”.
A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia
82
LÍNGUA PORTUGUESA
2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais Normalmente, numa prova, o candidato deve:
suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar al-
guma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da 1- Identificar os elementos fundamentais de uma ar-
tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” gumentação, de um processo, de uma época (neste caso,
no lugar de “que morreram por nós”. procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o
RESPOSTA: “D”. tempo).
2- Comparar as relações de semelhança ou de diferen-
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ ças entre as situações do texto.
UFAL/2014) 3- Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto. uma realidade.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de 4- Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, 5- Parafrasear = reescrever o texto com outras pala-
horário do dia em que o calor é mais intenso, a tempera- vras.
tura do asfalto, medida com um termômetro de contato,
chegou a 65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local Condições básicas para interpretar
alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso Fazem-se necessários:
em: 22 jan. 2014. - Conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros
literários, estrutura do texto), leitura e prática;
O texto cita que o dito popular “está tão quente que - Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de texto) e semântico;
linguagem. O autor do texto refere-se a qual figura de lin-
guagem? Observação – na semântica (significado das palavras)
A) Eufemismo. incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota-
B) Hipérbole. ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
C) Paradoxo. gem, entre outros.
D) Metonímia.
E) Hipérbato. - Capacidade de observação e de síntese;
- Capacidade de raciocínio.
3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para
representar o calor excessivo que está fazendo. A figura
Interpretar / Compreender
que é utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a
hipérbole.
Interpretar significa:
RESPOSTA: “B”.
- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
- Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
- O autor permite concluir que...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
Compreender significa
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- - entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de - o texto diz que...
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar - é sugerido pelo autor que...
e decodificar). - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. ção...
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com - o narrador afirma...
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- Erros de interpretação
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu - Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
contexto original e analisada separadamente, poderá ter contexto, acrescentando ideias que não estão no texto,
um significado diferente daquele inicial. quer por conhecimento prévio do tema quer pela imagi-
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- nação.
rências diretas ou indiretas a outros autores através de cita- - Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. ção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente para o en-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir tendimento do tema desenvolvido.
daí, localizam-se as ideias secundárias - ou fundamenta- - Contradição = às vezes o texto apresenta ideias con-
ções -, as argumentações - ou explicações -, que levam ao trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
esclarecimento das questões apresentadas na prova. cadas e, consequentemente, errar a questão.
83
LÍNGUA PORTUGUESA
Observação - Muitos pensam que existem a ótica do - Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo
escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa geralmente mantém com outro uma relação de continua-
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração ção, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito bem
é o que o autor diz e nada mais. essas relações.
- Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que a ideia mais importante.
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. - Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora da
pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono- resposta – o que vale não somente para Interpretação de
me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se Texto, mas para todas as demais questões!
vai dizer e o que já foi dito. - Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
Observação – São muitos os erros de coesão no dia - Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
a dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., cha-
do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do mados vocábulos relatores, porque remetem a outros vo-
verbo; aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer cábulos do texto.
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- Fontes de pesquisa:
cedente. http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu-
Os pronomes relativos são muito importantes na in- gues/como-interpretar-textos
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me-
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
a saber: ra-voce-interpretar-melhor-um.html
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden- http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques-
te, mas depende das condições da frase. tao-117-portugues.htm
- qual (neutro) idem ao anterior.
- quem (pessoa) Questões
- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído. 1-) (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-
- como (modo) BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM ELETRÔ-
- onde (lugar) NICA – IADES/2014)
- quando (tempo)
- quanto (montante) Gratuidades
Exemplo: Crianças com até cinco anos de idade e adultos com
Falou tudo QUANTO queria (correto) mais de 65 anos de idade têm acesso livre ao Metrô-DF.
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Para os menores, é exigida a certidão de nascimento e, para
aparecer o demonstrativo O). os idosos, a carteira de identidade. Basta apresentar um
documento de identificação aos funcionários posicionados
Dicas para melhorar a interpretação de textos no bloqueio de acesso.
Disponível em: <http://www.metro.df.gov.br/estacoes/
- Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral do gratuidades.html> Acesso em: 3/3/2014, com adaptações.
assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos candidatos
na disputa, portanto, quanto mais informação você absorver Conforme a mensagem do primeiro período do texto,
com a leitura, mais chances terá de resolver as questões. assinale a alternativa correta.
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa (A) Apenas as crianças com até cinco anos de idade
a leitura. e os adultos com 65 anos em diante têm acesso livre ao
- Leia, leia bem, leia profundamente, ou seja, leia o tex- Metrô-DF.
to, pelo menos, duas vezes – ou quantas forem necessárias. (B) Apenas as crianças de cinco anos de idade e os
- Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma adultos com mais de 65 anos têm acesso livre ao Metrô-DF.
conclusão). (C) Somente crianças com, no máximo, cinco anos de
- Volte ao texto quantas vezes precisar. idade e adultos com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre
- Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as ao Metrô-DF.
do autor. (D) Somente crianças e adultos, respectivamente, com
- Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor cinco anos de idade e com 66 anos em diante, têm acesso
compreensão. livre ao Metrô-DF.
- Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de (E) Apenas crianças e adultos, respectivamente, com
cada questão. até cinco anos de idade e com 65 anos em diante, têm
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. acesso livre ao Metrô-DF.
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LÍNGUA PORTUGUESA
1-) Dentre as alternativas apresentadas, a única que 3-) Recorramos ao texto: “Localizada às margens do
condiz com as informações expostas no texto é “Somente Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte (ao
crianças com, no máximo, cinco anos de idade e adultos lado do Museu de Arte de Brasília – MAB), está a Concha
com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre ao Metrô-DF”. Acústica do DF. Projetada por Oscar Niemeyer”. As infor-
RESPOSTA: “C”. mações contidas nas demais alternativas são incoerentes
com o texto.
2-) (SUSAM/AM – TÉCNICO (DIREITO) – FGV/2014 - RESPOSTA: “A”.
adaptada) “Se alguém que é gay procura Deus e tem boa
vontade, quem sou eu para julgá‐lo?” a declaração do
Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à im-
prensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um
trovão mundo afora. Nela existe mais forma que substância TIPOLOGIA TEXTUAL
– mas a forma conta”. (...)
(Axé Silva, O Mundo, setembro 2013)
O texto nos diz que a declaração do Papa ecoou como A todo o momento nos deparamos com vários textos,
um trovão mundo afora. Essa comparação traz em si mes- sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
ma dois sentidos, que são do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo
(A) o barulho e a propagação. que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
(B) a propagação e o perigo. interlocutores são as peças principais em um diálogo ou
(C) o perigo e o poder. em um texto escrito.
(D) o poder e a energia. É de fundamental importância sabermos classificar os
(E) a energia e o barulho. textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
e gêneros textuais.
2-) Ao comparar a declaração do Papa Francisco a um
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
trovão, provavelmente a intenção do autor foi a de mostrar
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opi-
o “barulho” que ela causou e sua propagação mundo afora.
nião sobre determinado assunto, descrevemos algum lu-
Você pode responder à questão por eliminação: a segun-
gar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre alguém
da opção das alternativas relaciona-se a “mundo afora”, ou
que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente nessas
seja, que se propaga, espalha. Assim, sobraria apenas a al- situações corriqueiras que classificamos os nossos textos
ternativa A! naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição e Dis-
RESPOSTA: “A”. sertação.
3-) (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- As tipologias textuais caracterizam-se pelos aspec-
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM CONTABI- tos de ordem linguística
LIDADE – IADES/2014 - adaptada)
Concha Acústica Os tipos textuais designam uma sequência definida
Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de pela natureza linguística de sua composição. São observa-
Clubes Esportivos Norte (ao lado do Museu de Arte de dos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
Brasília – MAB), está a Concha Acústica do DF. Projetada lógicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo, argu-
por Oscar Niemeyer, foi inaugurada oficialmente em 1969 mentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
e doada pela Terracap à Fundação Cultural de Brasília (hoje
Secretaria de Cultura), destinada a espetáculos ao ar livre. - Textos narrativos – constituem-se de verbos de ação
Foi o primeiro grande palco da cidade. demarcados no tempo do universo narrado, como também
Disponível em: <http://www.cultura.df.gov.br/nossa- de advérbios, como é o caso de antes, agora, depois, entre
cultura/concha- acustica.html>. Acesso em: 21/3/2014, outros: Ela entrava em seu carro quando ele apareceu. De-
com adaptações. pois de muita conversa, resolveram...
Assinale a alternativa que apresenta uma mensagem - Textos descritivos – como o próprio nome indica,
compatível com o texto. descrevem características tanto físicas quanto psicológicas
(A) A Concha Acústica do DF, que foi projetada por Os- acerca de um determinado indivíduo ou objeto. Os tempos
car Niemeyer, está localizada às margens do Lago Paranoá, verbais aparecem demarcados no presente ou no pretérito
no Setor de Clubes Esportivos Norte. imperfeito: “Tinha os cabelos mais negros como a asa da
(B) Oscar Niemeyer projetou a Concha Acústica do DF graúna...”
em 1969.
(C) Oscar Niemeyer doou a Concha Acústica ao que - Textos expositivos – Têm por finalidade explicar um
hoje é a Secretaria de Cultura do DF. assunto ou uma determinada situação que se almeje de-
(D) A Terracap transformou-se na Secretaria de Cultura senvolvê-la, enfatizando acerca das razões de ela aconte-
do DF. cer, como em: O cadastramento irá se prorrogar até o dia 02
(E) A Concha Acústica foi o primeiro palco de Brasília. de dezembro, portanto, não se esqueça de fazê-lo, sob pena
85
LÍNGUA PORTUGUESA
de perder o benefício.
- Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de uma ANOTAÇÕES
modalidade na qual as ações são prescritas de forma se-
quencial, utilizando-se de verbos expressos no imperativo,
infinitivo ou futuro do presente: Misture todos os ingredien- ___________________________________________________
te e bata no liquidificador até criar uma massa homogênea.
___________________________________________________
- Textos argumentativos (dissertativo) – Demarcam-
-se pelo predomínio de operadores argumentativos, reve- ___________________________________________________
lados por uma carga ideológica constituída de argumentos ___________________________________________________
e contra-argumentos que justificam a posição assumida
acerca de um determinado assunto: A mulher do mundo ___________________________________________________
contemporâneo luta cada vez mais para conquistar seu es-
paço no mercado de trabalho, o que significa que os gêneros ___________________________________________________
estão em complementação, não em disputa.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Leitura e interpretação de dados e indicadores educacionais envolvendo dados e informações referentes à matrícula,
à taxa de atendimento escolar, às taxas de escolarização líquida e bruta, à taxa de distorção idade-série, às taxas de
rendimento (aprovação, reprovação e abandono), aos resultados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Bá-
sica do Ceará - SPAECE, do Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB, Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM,
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA;........... 02
Leitura e interpretação de dados apresentados em tabelas, gráficos e mapas;.............................................................................. 12
Resolução de problemas que envolvam o cálculo de porcentagem com dados fornecidos em diferentes formatos.... 21
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
1
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
2
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
3
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
matriculada no nível de ensino regular teoricamente ade- possível identificar a idade adequada para cada série. Este
quado a essa faixa etária. indicador permite avaliar o percentual de alunos, em cada
Essa taxa pode ser calculada para a creche (0 a 3 anos), série, com idade superior à idade recomendada. Como o
pré-escola (4 a 6 anos), ensino fundamental (7 a 14 anos) e Censo Escolar obtém a informação sobre idade por meio
ensino médio (15 a 17 anos). do ano de nascimento, adotamos o seguinte critério para
identificar os alunos com distorção idade-série: conside-
Escolarização bruta rando o Censo Escolar do ano t e a série k do ensino fun-
Expressa o percentual da matrícula total em determi- damental, cuja a idade adequada é de i anos, então o in-
nado nível de ensino em relação à população na faixa etá- dicador será expresso pelo quociente entre o número de
ria teoricamente adequada para frequentar esse nível de alunos que, no ano t, completam i + 2 anos ou mais (nas-
ensino. cimento antes de t -[i + 1]), e a matrícula total na série k.
A justificativa deste critério é que os alunos que nasceram
em t - [i + 1], completam i + 1 anos no ano t e, portanto,
em algum momento deste ano (de 1º de janeiro a 31 de
dezembro) ainda permaneciam com i anos e, por isso, o
Mk = matrícula total no nível de ensino k ; critério aqui adotado, considera estes alunos como tendo
Pki = população na faixa etária i teoricamente adequa- idade adequada para esta série. Os que nasceram depois
da ao nível de ensino k . de t - [i + 1] completam, no ano t, i anos ou menos.
onde : http://dados.gov.br
i = faixa etária teoricamente adequada ao nível k
k = creche, pré-escola, ensino fundamental e ensino Taxas de rendimento (aprovação, reprovação e
A taxa de escolarização bruta possibilita comparar o abandono),
total de matrículas de determinado nível de ensino com a Expressa o percentual de alunos aprovados, reprova-
população na faixa etária adequada à esse nível de ensino. dos e afastados por abandono.
Essa taxa pode ser calculada para a creche (0 a 3 anos),
pré-escola (4 a 6 anos), ensino fundamental (7 a 14 anos) e
ensino médio (15 a 17 anos).
A taxa de escolarização bruta pode assumir valores su-
periores a 100%, já que o total de matrícula no nível de
ensino k pode ser superior à população com idade teorica-
mente adequada a este nível de ensino.
Aprov = número de aprovados na série ou grupo de
Taxa de distorção idade-série, séries s;
Expressa o percentual de alunos, em cada série, com Reprov = número de reprovados na série ou grupo de
idade superior à idade recomendada. séries s;
Afast = número de afastados por abandono na série ou
grupo de séries s;
Ms = matrícula inicial na série ou grupo de séries s ;
AF s = afastados por abandono ou transferência na sé-
rie ou grupo de séries s ;
Mksi_sup = número de matrículas na idade i_sup acima ADs = admitidos por transferência na série ou grupo
da escola recomendada para o nível de ensino k e na série de séries s;
ou grupo de séries s ; RECs = Reclassificados para a série ou grupo de séries
Mks = número total de matrículas no nível de ensino k s;
na série ou grupo de séries s . DESs = alunos que saíram da série ou grupo de séries
s, por reclassificação.
onde: Ao final do ano letivo o aluno matriculado é avaliado
i_sup = idade superior à recomendada para a série fre- quanto ao preenchimento dos requisitos de aproveitamen-
quentada s no to e frequência, podendo ser considerado aprovado, repro-
nível de ensino k. vado ou afastado por abandono. O Censo Escolar ocorre
k = ensino fundamental e ensino médio; no início do ano letivo. Sendo assim, a informação de ma-
s = ensino fundamental (série, 1ª a 4ª, 5ª a 8ª, total) e trícula inicial refere-se ao mesmo ano do Censo, enquanto
ensino médio (série, total). as informações de rendimento e movimento escolar só são
Em um sistema educacional seriado, existe uma ade- apuradas no Censo Escolar do ano seguinte, já que ficam
quação teórica entre a série e a idade do aluno. No caso disponíveis somente no encerramento do ano letivo. Em
brasileiro, considera-se a idade de 7 anos como a idade alguns casos há inconsistência entre essas duas informa-
adequada para ingresso no ensino fundamental, cuja dura- ções, em função da utilização de levantamentos ocorridos
ção, normalmente, é de 8 anos. Seguindo este raciocínio é em momentos distintos. Para superar esse problema foi
4
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
estabelecido um algorítmo, apresentado no Anexo I desse alunos que ingressaram após a data de referência do Censo
documento. As taxas de aprovação, reprovação e abando- Escolar (ano i) não têm os dados de movimento ou rendi-
no compõem um grupo denominado “taxas de rendimento mento informados no módulo “Situação do Aluno”.
escolar”, onde cada uma delas representa um percentual
da matrícula total (saldo final da matrícula inicial), conside- Aos resultados do Sistema Permanente de Avalia-
rando as situações de transferências, admissões e reclassi- ção da Educação Básica do Ceará - SPAECE
ficações (entrada e saída). A avaliação de sistema tem cada vez mais papel de
Reclassificação é um processo que pode ocorrer no destaque no contexto educacional brasileiro. No Ceará,
decorrer do ano letivo, no qual o aluno que ingressa em particularmente, é uma estratégia fundamental para iden-
uma determinada série pode ser remanejado, em função tificar os processos de aprendizagem na Educação Básica.
de uma avaliação prévia, para uma série mais avançada, Criado em 1992, o Sistema Permanente de Avaliação da
diversa da série correspondente à sua matrícula inicial. Este Educação Básica do Ceará (SPAECE) é uma iniciativa do Go-
aluno é avaliado na série para a qual ele foi remanejado, verno do Ceará, através da Secretaria da Educação do Es-
recebendo a condição de aprovado, reprovado ou afastado tado (SEDUC). Tem como objetivo fornecer subsídios para
por abandono. formulação e monitoramento das políticas educacionais.
Os cálculos das taxas de aprovação, reprovação e aban- Além disso, possibilita aos professores e gestores um diag-
dono são baseados nas informações sobre o movimento e nóstico situacional da educação oferecida na rede pública
o rendimento dos alunos e, da mesma forma que ocorre de ensino.
no cálculo de qualquer indicador, requer ajustes em função O SPAECE compreende as vertentes: Avaliação de De-
da maior ou menor complexidade exigida para tratamento sempenho Acadêmico, Avaliação Institucional e Estudos e
dos dados primários que os compõem. Pesquisas Educacionais. Na primeira vertente, de natureza
Por essa razão, e objetivando documentar os critérios externa, o Sistema investiga as competências e habilidades
para o calculo de rendimento e movimento, o Inep divulga dos alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, nas
esta nota técnica que descreve as regras de tratamento e disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. As infor-
os critérios utilizados para resolver conflitos de informa- mações coletadas a cada avaliação identificam o nível de
ções, o tratamento de situações antes inexistentes, bem proficiência e a evolução do desempenho dos alunos.
Realizada de forma universalizada, abrange as .esco-
como as fórmulas e conceitos utilizados no cálculo das ta-
las estaduais e municipais, utilizando testes, com itens ela-
xas de aprovação, reprovação e abandono do ano de 2010,
borados pelos professores da rede pública, tendo como
buscando, assim, dirimir dúvidas e garantir a transparência
orientação os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do
de seus processos de trabalho.
Ministério da Educação (MEC) e os Referenciais Curricula-
O Inep atribui um Código de Identificação único (ID)
res Básicos (RCB) da SEDUC. São aplicados também ques-
a cada aluno, o que permite acompanhar seu percurso no
tionários contextuais, investigando dados sócio-econômi-
sistema educacional e, por isso, possibilita o aprofunda-
cos e hábitos de estudo dos alunos, perfil e prática dos
mento da análise das variáveis de movimento e rendimen-
professores e diretores.
to escolar como também permite a utilização de críticas Na vertente da Avaliação Institucional, de natureza es-
de consistências cruzadas que contribuem para melhorar a sencialmente interna, o Sistema possibilita à escola, atra-
qualidade e fidedignidade dos dados. Para melhor enten- vés da Auto-Avaliação e da Avaliação de Desempenho do
dimento da situação do aluno, define-se: Núcleo Gestor, conhecer e aperfeiçoar as inter-relações,
• O conceito de aluno e matrícula são diferentes. os serviços prestados, o desempenho do corpo docente e
Aluno é o indivíduo, que poderá ter sua matricula registra- discente, dos funcionários e gestores. É considerada funda-
da em mais de uma turma, em distintas etapas ou modali- mental para a implementação de mudanças no cotidiano
dades de ensino na mesma escola ou em escolas diferen- escolar, principalmente no sentido de revitalizar a Proposta
tes. Matrícula é cada um dos vínculos estabelecidos entre o Pedagógica da Escola.
aluno e uma turma. A terceira vertente compreende Estudos e Pesquisas
• É importante esclarecer que o cálculo das taxas Educacionais, bem como Avaliações de Programas, deman-
de aprovação, reprovação e abandono só levam em con- dadas pela SEDUC. De natureza eminentemente qualitativa,
sideração as matrículas relativas à escolarização, isto é, a realização dos Estudos e Pesquisas possibilita aprofundar
não utilizam os dados relativos às matrículas em atividades o conhecimento das situações-problema e das tendências
complementares e/ou em atendimento educacional espe- detectadas nas avaliações quantitativas do sistema. As Ava-
cializado (AEE). liações de Programa, com propósitos formativos e somati-
• O módulo “Situação do Aluno”, segunda etapa do vos, subsidiam a tomada de decisão para a formulação e
Censo Escolar da Educação Básica, que acontece no início correção de rumo das ações implementadas.
do ano seguinte (i + 1) ao ano base do Censo Escolar (ano
i), coleta os dados sobre o movimento e rendimento esco- Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB,
lar das matriculas informadas na primeira etapa (matrícula O Saeb e a Prova Brasil são dois exames complementa-
inicial). Por isso é importante ressaltar que para efeito do res que compõem o Sistema de Avaliação da Educação Bá-
calculo das taxas de rendimento, só são considerados os sica. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
alunos informados na data de referencia do Censo Escolar, (Saeb), realizado pelo Inep/MEC, abrange estudantes das
5
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
redes públicas e privadas do país, localizados em área rural ao processo de avaliação, informando aos interessados o
e urbana, matriculados na 4ª e 8ª séries (ou 5º e 9º anos) do que será avaliado. As matrizes descrevem o objeto da ava-
ensino fundamental e também no 3º ano do ensino médio. liação, são um referencial curricular mínimo a ser avaliado
São aplicadas provas de Língua Portuguesa e Matemática. em cada disciplina e série, informando as competências e
A avaliação é feita por amostragem. Nesses estratos, os re- habilidades esperadas dos alunos.
sultados são apresentados para cada unidade da Federa- Torna-se necessário ressaltar que as matrizes não en-
ção e para o Brasil como um todo. globam todo o currículo escolar. É feito um recorte com
A avaliação é censitária para alunos de 4ª e 8ª séries base no que possa ser aferido por meio do tipo de instru-
do ensino fundamental público, nas redes estaduais, mu- mento de medida utilizado no Saeb e na Prova Brasil e que,
nicipais e federais, de área rural e urbana, em escolas que ao mesmo tempo, seja representativo do que está contem-
tenham no mínimo 20 alunos matriculados na série avalia- plado nos currículos vigentes no Brasil.
da. Nesse estrato, a prova recebe o nome de Prova Brasil Assim compreendidas, as matrizes não podem ser
e oferece resultados por escola, município, unidade da Fe- confundidas com procedimentos, estratégias de ensino ou
deração e país. orientações metodológicas, nem com conteúdo para o de-
O SAEB possibilita a comparação dos desempenhos senvolvimento do trabalho do professor em sala de aula.
ao longo dos anos. Desde a sua primeira avaliação, forne- Estes elementos estão presentes nos guias ou propostas
ce dados sobre a qualidade dos sistemas educacionais do curriculares dos sistemas de ensino.
Brasil como um todo, das regiões geográficas e das unida- As matrizes têm por referência os Parâmetros Curricula-
des federadas (estados e Distrito Federal). res Nacionais, mas foram construídas a partir de uma consul-
ta nacional aos currículos propostos pelas Secretarias Esta-
Objetivo: duais de Educação e por algumas redes municipais. O INEP
consultou também professores regentes de redes municipais,
O Saeb tem como principais objetivos: estaduais e de escolas privadas, de 4ª e 8ª séries do ensino
• Oferecer subsídios à formulação, reformulação e fundamental e 3ª série do ensino médio e, ainda, examinou
monitoramento de políticas públicas e programas de inter-
os livros didáticos mais utilizados para essas séries.
venção ajustados às necessidades diagnosticadas nas áreas
As matrizes de referência são a base para a elaboração
e etapas de ensino avaliadas;
dos itens dos testes do SAEB e da Prova Brasil. Item é a
• Identificar os problemas e as diferenças regionais
denominação adotada para as questões que compõem a
do ensino;
prova. Essa nomenclatura deve-se ao entendimento de que
• Produzir informações sobre os fatores do contexto
socioeconômico, cultural e escolar que influenciam o de- o termo item refere-se a questões que abordam, com pre-
sempenho dos alunos; ponderância, uma única dimensão do conhecimento.
• Proporcionar aos agentes educacionais e à so- Cada matriz de referência é estruturada em tópicos ou
ciedade uma visão clara dos resultados dos processos de temas e respectivos descritores que indicam as competên-
ensino e aprendizagem e das condições em que são de- cias e habilidades de Língua Portuguesa e Matemática a
senvolvidos e serem avaliadas. O descritor é uma associação entre con-
• Desenvolver competência técnica e científica na teúdos curriculares e operações mentais desenvolvidos pelo
área de avaliação educacional, ativando o intercâmbio en- aluno, a partir dos quais os itens de prova são elaborados.
tre instituições educacionais de ensino e pesquisa. As respostas dadas pelos alunos a esses itens possibilitam a
As informações obtidas a partir dos levantamentos do descrição do nível de desempenho por eles atingido. A partir
Saeb também permitem acompanhar a evolução da qua- daí, é dado conhecer o desempenho dos sistemas de ensino.
lidade da educação ao longo dos anos, sendo utilizadas A preocupação com a articulação interna entre descri-
principalmente pelo Ministério da Educação e secretarias tores e itens das provas, com vistas à sua coerência e à sua
estaduais e municipais de educação na definição de ações consistência, foi determinada pelo objetivo de avaliar, com
voltadas para a solução dos problemas identificados, as- mais rigor, o que os alunos realmente sabem e o que lhes
sim como, no direcionamento dos seus recursos técnicos falta alcançar a cada etapa conclusiva de nível ou ciclo de
e financeiros às áreas prioritárias, visando ao desenvolvi- escolarização.
mento do Sistema Educacional Brasileiro e à redução das
desigualdades nele existentes. Testes Padronizados
Para alcançar seus objetivos, o Saeb utiliza várias me-
todologias no intuito de produzir informações sobre o de- O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
sempenho e o contexto educacional das redes de ensino, – Saeb utiliza diferentes instrumentos de coleta de dados,
sendo as principais: Matrizes de Referência para o Saeb, sendo um deles os testes que têm por finalidade medir a
Testes Padronizados, Questionários de contexto, Teoria de habilidade de Leitura em Língua Portuguesa e de resolução
Resposta ao Item (TRI), Amostra e Escalas de Proficiência. de problemas em Matemática dos alunos.
Os testes aplicados aos alunos são compostos por
Matrizes de Referência itens de múltipla escolha elaborados por professores das
séries e disciplinas avaliadas, a partir dos descritores das
A realização de uma avaliação de sistema com ampli- Matrizes de Referência para o Saeb.
tude nacional, para ser efetiva, exige a construção de uma Depois de elaborados, os itens são submetidos:
matriz de referência que dê transparência e legitimidade
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
• a uma revisão de conteúdo e forma, que compreende uma certificação da qualidade dos aspectos teóricos, peda-
gógicos e linguísticos dos itens;
• à validação empírica, que verifica, por meio de técnicas estatísticas e psicométricas, as características de compor-
tamento dos itens após sua aplicação em campo.
As análises estatísticas permitem estimar:
• o poder de discriminação do item, ou seja, sua capacidade de diferenciar os alunos que conhecem o conteúdo e
já desenvolveram as competências requeridas dos demais;
• o índice de dificuldade de cada questão, o que permite equilibrar as provas com questões de diferentes graus de
dificuldade,
• a probabilidade de acerto ao acaso, que indica a chance de acerto do item sem o conhecimento e a construção da
habilidade requerida (acerto pelo “chute”).
Em 2005, o Saeb foi reestruturado e passou a ser composto por duas avaliações: a Avaliação Nacional da Educação
Básica (Aneb), que manteve as características, os objetivos e os procedimentos da avaliação efetuada até aquele momento
pelo Saeb, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, criada com o objetivo de
avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas das redes públicas.
Em 2013, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) foi incorporada ao Saeb para melhor aferir os níveis de alfabeti-
zação e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática.
Hoje o Saeb é composto pelas três avaliações externas em larga escala:
Histórico
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
VI - promover avaliação do desempenho acadêmico seria aquele em que todas as crianças e adolescentes ti-
das escolas de ensino médio, de forma que cada unidade vessem acesso à escola, não desperdiçassem tempo com
escolar receba o resultado global; repetências, não abandonassem a escola precocemente e,
VII - promover avaliação do desempenho acadêmico ao final de tudo, aprendessem. (FERNANDES, 2007, p. 5)
dos estudantes ingressantes nas Instituições de Educação Fernandes (2007) explica, de maneira simples, como
Superior. compreender a relação do desempenho na Prova Brasil/
SAEB com o rendimento escolar: como o IDEB é resultado
Principais características do ENEM do produto entre o desempenho e do rendimento escolar
É aplicado anualmente (ou o inverso do tempo médio de conclusão de uma série)
Tem como objetivo avaliar o desempenho de es- então ele pode ser interpretado da seguinte maneira: para
tudantes ao final da Educação Básica, buscando contribuir uma escola A, cuja média padronizada da Prova Brasil, 5ºa-
para a melhoria da qualidade desse nível de escolaridade. no/4ª série, é 5,0 e o tempo médio de conclusão de cada
Além de contribuir para a democratização do acesso às série é de 2 anos, escola terá o IDEB igual a 5,0 multiplicado
vagas na Educação Superior e para a reestruturação dos por ½ , ou seja, IDEB = 2,5. Já uma escola B, com média
currículos do Ensino Médio padronizada da Prova Brasil, 5ºano/4ª série, igual a 5,0 e
A participação é voluntária, sendo gratuita para tempo médio para conclusão igual a 1 ano, terá IDEB = 5,0.
estudantes das escolas públicas, concluintes do ensino mé- O IDEB do Ensino Fundamental (anos iniciais e finais) é
dio, declarados no Censo Escolar da Educação Básica disponibilizado a cada dois anos para as escolas públicas
Aborda conhecimentos das quatro grandes áreas que preenchem o Censo Escolar e realizam a Prova Brasil/
do conhecimento: Linguagens, códigos e suas tecnologias ANRESC. No caso do Ensino Médio, o IDEB não é disponibi-
e Redação; Matemática e suas tecnologias; Ciências da Na- lizado por escola pois é avaliado pela amostra que compõe
tureza e suas tecnologias; Ciências Humanas e suas tecno- a ANEB. O IDEB do Ensino Médio é divulgado somente para
logias. o País, Regiões Geográficas e Estados.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Os indicadores produzidos e divulgados para os paí- do, assim, um “meio para se comunicar e classificar dados”
ses participantes e suas unidades de federação contribuem (CURCIO,1989, p.1). Complementando essa ideia, Monteiro
para a discussão da qualidade, de modo a subsidiar políti- e Selva (2001) indicam que os gráficos são uma ferramenta
cas de melhoria do ensino básico. cultural que permite ao sujeito expandir sua capacidade de
Enfim, os indicadores nacionais de educação possibili- entender e explorar as informações estatísticas e estabele-
tam a visualização dos resultados obtidos e a comparação cer relações entre os distintos tipos de informação.
com as demais instituições. Aqui, o intuito é avaliar se suas Quanto às tabelas, Duval (2002), em sua análise, pon-
estratégias estão, de fato, sendo produtivas. tua a contribuição cognitiva das tabelas e seus diversos
Como vimos, para a análise dos dados, são usados os usos e considera essencial diferenciar dois importantes as-
indicadores contemplados pelo Índice de Desenvolvimen- pectos: a própria organização representacional, ou seja, a
to de Educação Básica (IDEB), o Sistema de Avaliação da composição semiótica das tabelas, e as funções cognitivas
Educação Básica (SAEB) e os resultados do Exame Nacional a que elas se prestam. Nesse sentido, designa-se em geral
do Ensino Médio (ENEM). Tais estatísticas permitem que a por tabela qualquer disposição em linhas e colunas. “Essa
escola elabore planos mais efetivos e direcionados às ne- organização apresenta uma dupla vantagem, pois distribui
cessidades dos alunos. os dados de acordo com o cruzamento de linhas e colu-
Assim, a escola consegue acompanhar o seu desem- nas, separando-os visualmente” (Araújo e Flores, 2010, p.4).
penho e identificar os pontos em que é possível melhorar, Contudo, para Duval (2002), isso não basta para descrever
seja no relacionamento com o estudante, com o corpo do- o funcionamento representativo das tabelas, fazendo-se
cente ou até mesmo com os pais e responsáveis. imprescindível discernir as particularidades das tabelas em
Ainda não é tão comum a análise de desempenho nas relação às demais representações gráficas.
escolas, no entanto, as instituições acadêmicas que mensu- Assim, entende-se como essencial refletir que o aluno
ram estes indicadores conseguem obter resultados muito só terá condições de realizar uma leitura global compreen-
mais precisos e satisfatórios, sendo alguns deles: siva das estruturas tabulares quando o professor utilizar-se
• melhorias na qualidade do ensino em sala de aula; de encaminhamentos pedagógicos adequados à questão,
• melhorias na qualidade dos serviços prestados atuando como colaborador nesse processo. As tabelas po-
pela instituição; dem ser simples ou de dupla entrada. A simples organiza
• avaliação dos professores e fornecimento de fee- seus dados estabelecendo relação entre eles e uma deter-
dback; minada característica, enquanto que a de dupla entrada
• avaliação dos desempenhos dos alunos individual- organiza os dados que apresentam mais de uma caracte-
mente e correlacionada com os desempenhos dos demais;
rística e, com isso, duas ordens de classificação uma na ho-
• identificação de gargalos;
rizontal (linha) e outra na vertical (coluna).
Sendo assim, indicadores de desempenho na área edu-
Desta forma, e considerando que a sociedade contem-
cacional possibilitam às instituições acadêmicas a percep-
ção em tempo real dos resultados obtidos. Assim como na porânea utiliza cada vez mais os gráficos, tabelas e dados
gestão empresarial, os indicadores funcionam como guias estatísticos, torna-se fundamental que os alunos venham a
para mostrar o caminho ao sucesso!2 desenvolver competências para que tenham condições de
interpretá-los e compreendê-los. Apresentam-se três ní-
veis de leitura e compreensão, definidos por Curcio (1989),
com relação aos gráficos e tabelas:
Nível 1: Ler os dados: Neste nível foi considerada apenas
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS a leitura direta de um gráfico sem qualquer interpretação,
APRESENTADOS EM TABELAS, GRÁFICOS E atendendo apenas a factos representados explicitamente;
MAPAS; Nível 2: Ler entre os dados: Este nível já requer a compara-
ção, o conhecimento de conceitos e habilidades matemáti-
cas, que já permitem identificar relações [..] fazendo infe-
rências simples; Nível 3: Ler além dos dados: Este nível exige
A preocupação com relação à Educação Estatística uma ampliação dos conceitos, a predição, a inferência [..] ou
no que concerne à leitura, interpretação e compreensão previsões com base numa interpretação dos dados (FREITAS,
de gráficos e tabelas, estão crescendo significativamente, 2011, p.24).
uma vez que diariamente as pessoas se confrontam com Compreende-se que o primeiro nível, ou seja, a leitura
inúmeras situações que exigem essas habilidades, conhe- dos dados, não exige do indivíduo um alto nível de enten-
cimentos e saberes. Por compreender que esses elementos dimento cognitivo, pois ele necessita somente ler e retirar
são fundamentais para a representação dos dados de um as informações contidas na representação. Para efetivar
conjunto, os gráficos e tabelas têm como finalidade escla- a leitura entre os dados, é preciso que o indivíduo faça a
recer, organizar e sintetizar as informações e dados quanti- comparação dos valores expressos pelas variáveis, situação
tativos advindos dos diversos meios de comunicação, sen- que requer um desenvolvimento cognitivo superior com
relação ao contexto inicial, a leitura dos dados. Portanto,
2 Fonte: www.portal.inep.gov.br/www.somospar.com.br/
para que o aluno realize a leitura além dos dados, ele ne-
www.ces.ibge.gov.br/www.seduc.ce.gov.br/www.dados.gov.br/
cessita obrigatoriamente possuir o domínio dos contextos
www.gennera.com.br/ www.sed.sc.gov.br
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
anteriores, ou seja, requer maior desempenho e agilidade entre o produtor e o leitor com o gráfico. O produtor deve
cognitiva, para então ter recursos a fim de realizar inferên- procurar uma comunicação visual eficaz permutando as li-
cias sobre os dados. nhas e colunas N vezes (PASSINI, 2007, p. 175).
A Neográfica possui algumas leis fundamentais, que
As Representações Gráficas são significativas para en- são aplicadas principalmente para os gráficos, mas que
tender textos, ideias e dados de forma eficaz e sintetizada. também são relevantes para a elaboração de mapas. Se-
Assim, elas devem comunicar as informações instantanea- gundo BERTIN “A semelhança, a ordem e proporcionalida-
mente, através de imagens visuais de forma monossêmica, de são os três significados da Neográfica. Estes significados
isto é, sem ambiguidade, permitindo uma única leitura. são transcritos por variáveis visuais tendo a mesma pro-
A representação gráfica, segundo Bertin [...] não deve ser priedade significativa” (1986, p. 177).
tratada como polissêmica, pois, de acordo com as bases da Tempos de Percepção Visual
semiologia Gráfica, a Cartografia é considerada uma lingua-
gem universal, não convencional, e portanto monossêmica Eles são apresentados em dois momentos: no primeiro
(QUEIROZ, 2007, p.141). aparece a identificação externa que tem o objetivo de res-
A linguagem gráfica possui alguns princípios, sendo ponder sobre qual tema está sendo tratado, e no segundo
tratados primeiramente pela Semiótica, conforme trata SI- a identificação interna que deve responder quais relações
MIELLI Ciência geral de todas as linguagens, mas especial- existem entre os elementos gráficos. Toda construção grá-
mente dos signos [...]. O signo é algo que representa o seu fica apresenta esses dados, mas analisar isoladamente não
próprio objeto. O signo possui dois aspectos: o significante e serve de ferramenta de decisão ou de entendimento.
o significado. O significante constitui-se no aspecto concreto
(matéria) do signo. Ele é audível e/ ou legível. O significado Níveis de Informação
é o aspecto imaterial, conceitual do signo. O plano do sig-
nificante é o da expressão e o plano do significado é o do Eles ocorrem em diversas circunstâncias sendo caracte-
conteúdo. Esses aspectos levam à significação que seria o rizados como elementar, intermediário e global.
produto final da relação entre os dois (2007, p. 78). O Nível elementar é quando a informação surge a par-
Para que o aluno se aproprie dessa simbologia gráfica e tir da relação de um dado em X e em Y, considerando um
faça leituras em diversos níveis, o professor deve considerar elemento específico não exigindo nenhum processamento
as dificuldades na aquisição destes conteúdos, ajudando-os a mental mais elaborado. No Nível intermediário se faz rela-
assimilar com atividades concretas, partindo da representação ções com mais de um dado, considerando um subconjun-
de sua realidade, desenvolvendo o raciocínio lógico-espacial. to ou os dois extremos. No Nível global, a imagem deve
Nesse processo gráfico, alguns pontos devem ser des- mostrar relações de conjunto, aparecem agrupamentos
tacados: a função simbólica, o conhecimento da utilização significativos entre os dados. Existem diferentes níveis de
do símbolo e vivenciar ou abstrair o espaço representado. processamento, visando possibilitar visões sintéticas, mos-
Elas podem ser organizadas em três momentos, conforme trando características ou tendências específicas ou gerais.
sugere ALMEIDA & PASSINI (2004, p. 23-24). As cartas, segundo Bertin, podem ser chamadas de
Tarefas operatórias – Para a construção da pré-apren- “cartas para ver” e “cartas para ler”. Elas devem responder
dizagem, destacando as atividades de orientação, a obser- visualmente (significação da imagem) de forma instantâ-
vação dos pontos de referência e localização. nea. Ao ler uma carta o usuário deve fazer dois tipos de
Atividades de codificação do cotidiano – Para o pergunta. A primeira: ‘O que há em tal lugar?’ Esta per-
exercício da função simbólica do mapeamento (significan- gunta é relativa aos pontos geográficos expressos em “X”.
te – significado e criação de significantes) a fim de elaborar A outra: ‘Onde está essa característica?’ Refere-se ao con-
e ler a legenda. junto de caracteres expressos em Y (lugar). Nesse sentido,
Leitura propriamente dita – Decodificar os signos “cartas para ver” devem responder instantaneamente aos
para melhor compreensão da legenda e de todos os sím- dois tipos de perguntas, a percepção visual deve ser instan-
bolos do mapa. Para a aprendizagem, os educandos devem tânea. As “cartas para ler” são aquelas que só respondem à
primeiro construir o mapa, se familiarizar com a simbolo- primeira pergunta e dificultam a comparação entre as ou-
gia aplicada, tornarem-se mapeadores e depois leitores de tras cartas (SIMIELLI, 2007, 81).
mapas ou de qualquer instrumento usado na Geografia.
“Portanto, para que o aluno consiga dar o significado aos Gráfico - Forma x Conteúdo
significantes deve viver o papel de codificador, antes de ser
decodificador” (ALMEIDA & PASSINI, 2004, p. 22). Dentro da Neográfica, podemos destacar as relações
A Neográfica é outro aspecto importante, pois se refe- existentes entre forma e conteúdo de gráficos, pois eles
re ao tratamento da informação através da organização ló- devem estabelecer comparações, ordenações e, principal-
gica dos dados e do uso conveniente das variáveis visuais, mente, proporcionar a análise de problemas e propostas
proporcionando o melhor uso da imagem e assegurando de soluções. Sempre que uma tabela é elaborada, o produ-
um efeito visual satisfatório. tor gráfico (profissional da área, professor ou aluno) deverá
Neográfica é o tratamento gráfico da informação com usar a melhor forma de representar no gráfico a relação
objetivo de construir uma imagem. Bertin diz que para con- existente entre os componentes de igualdade/diferença,
seguir uma imagem que “fale” é preciso que haja interação ordem e proporcionalidade.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Os tipos de gráficos mais utilizados são de barras, linhas e setorial. Para usá-los é necessário considerar a sua forma,
pois ela deve expressar melhor determinada relação e não pode estar desvinculada de seu conteúdo (MARTINELLI, 1998,
p. 22).
Sendo assim, um gráfico de barras permite melhor visualização da informação diferenciando-a, e permitindo comparar
quantidades variadas de fenômenos sem continuidade. O gráfico de linha, por sua vez, poderá mostrar melhor a evolução
de um aspecto relacionando com quantidade e tempo em um fenômeno com continuidade, enquanto o gráfico setorial
é usado para trabalhar quantidades proporcionalmente diferentes. Enfatizando que há certa dificuldade em alguns casos
para representar essas duas propriedades, forma X conteúdo, ou seja, escolher qual deles é indicado para obter um melhor
resultado da informação. Assim, o produtor gráfico deve pensar nos objetivos da construção do gráfico, no público que vai
usar e respeitar os fundamentos da linguagem gráfica para que ele seja útil na aplicação desejada.
Os gráficos são recursos utilizados para representar um fenômeno que possa ser mensurado, quantificado ou ilustrado
de forma mais ou menos lógica. Assim como os mapas indicam uma representação espacial de um determinado aconteci-
mento ou lugar, os gráficos apontam uma dimensão estatística sobre um determinado fato.
Por esse motivo, interpretar corretamente os vários tipos de gráfico disponibilizados em textos, notícias, entre outras
situações, é de grande importância para compreender determinados fenômenos. Eles, geralmente, comparam informações
qualitativas e quantitativas, podendo envolver também o tempo e o espaço. Existe uma grande variedade de tipos de grá-
ficos, dentre os quais podemos destacar os de coluna, em barras, pizza, área, linha e rede.
Gráfico de Barras
O gráfico de barras (ou de colunas) é utilizado em geral para representar dados de uma tabela de frequências associa-
das a uma variável qualitativa. Nesse tipo de gráfico, cada barra retangular representa a frequência ou a frequência relativa
da respectiva opção da variável. Veja a seguir um exemplo de gráfico de barras:
Desmatamento na Amazônia cresce 3,8 – Em 28/11, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) informou que
o desmatamento na região da Amazônia, medido entre agosto de 2007 e julho de 2008, foi de 11.968 km², de acordo com
o resultado do Projeto de monitoramento na Amazônia Legal (Prodes).
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Gráfico de Linhas
O gráfico de linhas (ou de segmentos) é utilizado, em geral, para representar a evolução dos valores de uma variável
no decorrer do tempo. Veja alguns exemplos de gráficos de linhas a seguir:
Evolução da população residente em Portugal 1861 – 2007
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Gráfico de Setores
O gráfico de setores, também conhecido como “gráfico de pizza”, é utilizado, em geral, para representar partes de um
todo.
• Um gráfico circular ou setograma é representado através de um círculo dividido em setores circulares, sendo as
suas áreas diretamente proporcionais às frequências correspondentes. Ou seja, a amplitude do ângulo ao centro de cada
setor circular é diretamente proporcional à frequência que representa. Facilmente se obtém essas amplitudes, em graus,
multiplicando a frequência relativa por 360º.
• Os setores circulares devem ter cores diferentes.
• Devem ser colocadas legendas relativas aos setores de modo a ser possível interpretar o gráfico.
• O gráfico deve ter um título adequado.
Veja a seguir uma tabela e um gráfico de setores indicando os setores que produzem os gases que intensificam o efeito
estufa.
Histograma
As frequências absolutas e as relativas de dados agrupados em intervalos de classes podem ser representadas por meio
de um tipo de gráfico denominado histograma, o qual é composto de retângulos justapostos cujas bases são apoiadas em
um eixo horizontal.
Observe a seguinte situação:
Em um concurso público realizado pela prefeitura de certo município, 200 candidatos foram submetidos a uma prova
escrita. A distribuição de frequências segundo as notas obtidas pelos candidatos está representada na tabela.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Veja a seguir um histograma referente à frequência absoluta e outro referente à frequência relativa:
Pictograma
A fim de tornar os gráficos mais atraentes, os meios de comunicação, como revistas, jornais, entre outros, costumam
ilustrá-los com imagens relacionadas ao contexto do qual as informações fazem parte. Essa forma de representação é de-
nominada pictograma ou gráfico pictórico.
Nesse tipo de representação, assim como nos gráficos tradicionais, as dimensões das imagens devem ser proporcionais
ao dados apresentados.
Veja um exemplo:
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Polígono de Frequências
O polígono de frequências é uma outra forma gráfica de representar uma distribuição de dados agrupados em classes.
Os polígonos de frequências são usados, normalmente para comprar duas distribuições de dados semelhantes.
O polígono de frequências constrói-se a parti do histograma, unindo os pontos médios de lados superiores dos dife-
rentes retângulos do histograma. A linha é o polígono de frequências.
Obs: Para que a área da zona delimitada pelo polígono de frequências seja igual à soma das áreas dos retângulos do
histograma, une-se o extremo esquerdo do polígono (ponto B) com o ponto médio (A) do dado anterior, cuja frequência é
nula, e procede-se analogamente para o extremo direito do polígono.
Tabelas
As tabelas são usadas para organizar algumas informações ou dados. Da mesma forma que os gráficos elas facilitam o
entendimento, por meio de linhas e colunas que separam os dados.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Sendo assim, são usadas para melhor visualização de informações em diversas áreas do conhecimento. T
A assimilação das informações geradas pelos dados de experimentos é mais fácil quando as mesmas estão dispostas
em tabelas. Uma tabela é um arranjo sistemático de dados numéricos dispostos de forma (colunas e linhas) para fins de
comparação. A apresentação em formas de tabela deve expor os dados de modo fácil e que deixe a leitura mais rápida.
* Principais normas para elaboração de tabelas (ABNT e IBGE):
- Devem conter todas as informações para uma completa compreensão do texto, dispensando outras consultas, apre-
sentados de maneira simples e objetiva e de preferência em uma página;
- Quando são apresentadas intercaladas no texto, devem estar próximas e logo após o trecho em que são citadas;
- Podem ser apresentadas em anexo ao texto quando o volume de tabelas for grande;
- Devem ser alinhadas preferencialmente às margens laterais do texto e, quando pequenas, devem ser centralizadas;
- Devem ser dispostas de maneira a evitar que sua leitura tenha sentindo diferente do normal;
- Não Devem apresentar a maior parte das células sem informação de qual dado se trata.
Uma tabela estatística possui os seguintes elementos essenciais:
- título: informa o conteúdo do corpo da tabela, maneira completa, concisa e indicando a natureza do fato estudado;
- corpo: é o conjunto de linhas e colunas que contêm as séries verticais e horizontais de informação;
- fonte: é o indicativo, no rodapé da tabela, da entidade responsável pela informação.
Mapas
Os mapas, como sabemos, formam um importante meio de comunicação, pois são os instrumentos utilizados para a
representação de um dado local no espaço, transmitindo não só a localização, mas também as características diversas e
previamente selecionadas sobre o lugar em questão. Por isso, existem diversos mapas temáticos, que abordam os elemen-
tos naturais e humanos do espaço geográfico.
Dessa forma, para facilitar a leitura e melhor transmitir as informações, existem alguns itens que são de extrema impor-
tância para que o cartograma seja mais facilmente lido: trata-se dos elementos que compõem um mapa, aqueles que estão
presentes na maioria dos mapas produzidos, servindo como instrumentos de leitura e análise.
Os elementos que compõem um mapa, ou seja, as partes obrigatórias dos mapas, são: o título (e, às vezes, o subtítulo),
as legendas, a escala, a orientação e a projeção cartográfica utilizada para a produção do referido documento. A seguir,
poderemos observar um exemplo de mapa, disponibilizado pelo Atlas Geográfico Escolar do IBGE.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
Mapa físico do continente europeu, um exemplo de cartograma com todos os seus elementos.
O título do mapa indica o tema ou assunto, bem como informações gerais como localidade, tempo (em caso de mapas
históricos ou com precisão temporal necessária), além de qualquer outro tipo de informação que possa ser relevante para
a compreensão daquilo que está sendo representado. É a primeira coisa que uma pessoa deve observar ao ler um mapa.
A legenda, por sua vez, é a especificação do significado atribuído aos símbolos presentes nos mapas. Esses podem
apresentar-se em forma de ícones, cores, áreas, entre outras formas de representação. Alguns exemplos são clássicos, como
um avião utilizado para representar um aeroporto, o azul utilizado para designar água ou curso d’água, além do verde uti-
lizado na indicação de uma área de vegetação. No exemplo acima, o mapa utiliza uma sequência de cores para representar
as diferentes altitudes e profundidades do relevo da Europa.
A orientação cartográfica indica os pontos cardeais que são necessários para que o leitor tenha uma correta noção da
posição relativa da área indicada no mapa. Geralmente, ela apresenta-se nos mapas com uma seta apontando para o norte
(N), mas também pode ser indicada por uma rosa dos ventos.
A escala, outro importante elemento, é a proporção matemática entre a área real e a sua respectiva representação
cartográfica. Existem dois tipos de escala, a numérica e a gráfica, ambas presentes no exemplo do mapa acima.
Já a projeção cartográfica, geralmente indicada no mapa pelo seu nome (no exemplo acima é uma projeção ortográ-
fica), é a forma ou a base cartográfica que o autor do mapa utilizou para representar uma parte da Terra, que é esférica, em
um plano. Assim, o autor deve sempre escolher o tipo de projeção cartográfica que menos prejudicar o seu trabalho em
termos de distorções do espaço representado.
Agora que conhecemos melhor os elementos que compõem um mapa, temos uma maior noção sobre as suas respec-
tivas funções, o que nos ajuda a interpretar conceitos e documentos cartográficos com uma maior facilidade.3
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
problemas com excesso ou falta de dados. Oportunizar aos te”, “formule” e “crie”, pois acreditamos que a escola tem a
alunos a experiência de elaborar (criar, formular, inventar) função de oportunizar a todos os educandos a construção
problemas individuais, em grupo e resolvê-los, construin- do conhecimento.
do o conhecimento, articulando o todo como o texto do Os problemas matemáticos podem envolver muito
enunciado, os dados, as operações envolvidas e a solução. mais do que a resolução de operações.
Relacionar a situação-problema com outras semelhantes e Aqueles que são baseados em textos bem montados
com sua realidade cotidiana. Utilizar diferentes e criativas possibilitam vários caminhos para sua solução.
estratégias para resolver os problemas, ampliar o conhe- Cada aluno resolve de uma maneira, de acordo com o
cimento matemático, envolver diferentes conteúdos, apri- seu conhecimento prévio e organização de raciocínio. Na
morar o raciocínio, examinar se a solução é correta e se fase da compreensão do problema deve-se fazer com que
o método empregado serve para resolver problemas se- o aluno identifique as partes do problema, a incógnita, os
melhantes. Descrever as etapas seguidas para encontrar a dados e, como ressalta Dante, as indagações como as que
resposta, verificação e retrospectiva do raciocínio seguido se seguem são importantes, pois ajudam o aluno a com-
(da solução). preender o problema:
· O que se quer descobrir no problema?
A Resolução de Problemas como Estratégia · Quais são as informações (dados) importantes?
· É possível fazer um esquema ou uma figura?
A resolução de problemas segundo Polya ( 2006) é · Pode-se estimar a resposta?
uma atividade prática, como nadar, esquiar ou tocar pia- Só depois da compreensão do problema, é que o aluno
no. Você pode aprendê-la por meio de imitação e prática. conseguirá elaborar uma estratégia e resolvê-lo. A ideia da estra-
Quando queremos nadar precisamos entrar na água e para tégia pode surgir gradativamente ou depois de várias tentativas.
tornarmo-nos bons solucionadores de problemas, temos A resolução de problemas tem muita importância na
que resolvê-los. matemática, pois dá suporte para aplicações matemáticas
“Os símbolos e a gramática da matemática constituem no dia-a-dia dos alunos, motivando-os a trabalharem em
uma linguagem não familiar, e os alunos diferem na rapidez situações reais e desafiadoras, aprendendo a interpretar o
e facilidade com que conseguem compreendê-los. Quando a mundo que os cerca.
É importante para o educador compreender que a re-
linguagem das expressões numéricas não lhes é familiar, os
solução de problemas é uma aptidão que devemos desen-
alunos precisam se empenhar para compreender o enuncia-
volver nos alunos. Por isso, cabe a nós propormos desafios
do do problema, escrito numa linguagem estranha para ele,
para que consigam solucioná-los. Capacidades como ler,
em vez de se concentrar no problema propriamente dito.”
interpretar o que foi lido, elaborar estratégias e procedi-
(KRULIK, REYS, 1997, p.88)
mentos para resolver problemas, registrar a resolução
No contexto da educação matemática, um problema,
e examinar se a solução está correta, são desenvolvidas
ainda que simples, pode suscitar o gosto pelo trabalho
quando agimos desta forma.
mental se desafiar a curiosidade e proporcionar ao aluno
“Estudar Matemática é resolver problemas. Portanto, a
o prazer pela descoberta da resolução. Neste sentido, os incumbência dos professores de Matemática, em todos os
problemas podem estimular a curiosidade do indivíduo e níveis, é ensinar a arte de resolver problemas. O primeiro
fazê-lo interessar-se pela matemática. Sendo assim, ao ten- passo nesse processo é colocar o problema adequadamen-
tar resolvê-los, adquire criatividade e aprimora o raciocínio. te.” Thomas Butts (apud Dante, 2000, p.43)
Desta forma, utiliza e amplia seu conhecimento matemáti- Para desenvolver estas aptidões devemos começar tra-
co buscando auxílio em seu raciocínio com amigos, pais e balhando problemas bem simples e aos poucos apresen-
professores. tá-los mais difíceis. Deve ser valorizado o processo feito
Ainda, segundo Polya (2006), no primeiro momento pelo aluno e não somente o resultado final. O mesmo deve
deve ser analisada a diferença entre exercício e problema e, ser estimulado a descrever como resolveu, as etapas que
seguindo, os vários tipos de problemas (situações lógicas, seguiu. Tal atitude fará com que organize seu pensamento
sequências lógicas, quebra-cabeças e situações-problema). matemático.
As principais etapas para a resolução de um problema, são: Segundo Dante (2007) a metodologia de resolução de
• compreender o problema; problemas deve constituir o eixo principal da matemática
• elaborar um plano; escolar. A capacidade de resolver problemas é desenvolvi-
• executar o plano; da ao longo dos anos, como resultado de um ensino pleno
• fazer o retrospecto ou verificação. de oportunidades variadas. Alguns autores têm classificado
Também são dadas algumas sugestões de como enca- os tipos de problemas usados em sala de aula e apontam
minhar a solução de um problema (fazer perguntas para quatro classes:
que o aluno compreenda, encorajando-o a fazer seus pró- a) problemas do tipo “arme e efetue”: constituem apenas
prios questionamentos). treino de técnicas operatórias e memorização da tabuada;
Num segundo momento serão propostas situações- b) problemas de enredo: são os que apresentam um
-problema e os participantes serão incentivados a resolver, texto envolvendo as operações estudadas. Desenvolvem
trocar ideias e apresentar as soluções obtidas. Nas ativi- no aluno a capacidade de traduzir, em expressões mate-
dades propostas aos alunos pode-se utilizar mais “inven- máticas, as situações descritas em linguagem comum;
22
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
c) problemas não convencionais: propiciam o desen- “Na teoria de Piaget, o desenvolvimento cognitivo do
volvimento de habilidades como planejamento, elaboração adolescente estaria no estágio das operações formais: as
de estratégias, tentativas de solução, avaliação dos resul- estruturas intelectuais que comandam o conhecimento se
tados; tornariam aptas ao raciocínio lógico e abstrato, sem necessi-
d) problemas de aplicação: são elaborados a partir de dade de apoio na experiência e na ação.
uma situação de vivência dos alunos e a solução requer o Esta independência das operações formais em relação
uso de conceitos e técnicas. São especialmente importan- aos conteúdos e ao contexto cultural foi questionada por
tes porque a integração de diversas disciplinas. estudos posteriores, especialmente quanto à compreensão
Então Dante (2002) considera que um bom problema do conceito de proporcionalidade, apontada como uma con-
deve apresentar as seguintes características: quista deste estágio: “ao conceito matemático de proporções
a) ser desafiador: grande parte dos problemas propos- corresponde, segundo Piaget, um esquema psicológico, o
tos aos alunos são padronizados, não motivam a curiosida- esquema da proporcionalidade, que seria uma das caracte-
de nem os desafiam a resolver; rísticas do pensamento no período operatório formal” (CAR-
b) ser real: problemas artificiais desmotivam os alunos. RAHER, CARRAHER e SCHLIEMANN, 1986b, p. 588 apud
Os elementos apresentados devem fazer parte do seu coti- BERNAL, 2004).
diano e os dados também; Vários outros estudos são citados por Carraher, Car-
c) ser interessante: um problema pode ser interessante raher e Schliemann (1986, 1988), Carraher, Carraher, Schlie-
para um adulto mas não para uma criança. Por exemplo, mann e Ruiz (1986), que sugere o estudo da transferência
os que se referem a juros, desconto, crescimento da bolsa, de aprendizagem no contexto de sala de aula, investigando
podem interessar aos pais ou a alunos de nível médio em o efeito das interações entre diferentes conteúdos, com a
diante, mas as crianças preferirão problemas que envolvem finalidade de desenvolver estratégias mais eficientes de re-
música, televisão, jogos, esportes ou situações do dia-a-dia; solução de problemas.
d) não ser aplicação direta de uma ou mais operações Estes estudos mostram diferentes aspectos relativos à
aritméticas: um bom problema deve gerar mais de um pro- proporção: proporção como conteúdo matemático, pro-
cesso de pensamento, levantar várias hipóteses e propiciar porção como ferramenta para o cálculo de porcentagem,
diversas estratégias de resolução; proporção como obstáculo epistemológico para o conceito
e) ter um grau adequado de dificuldade: se os proble- de função quando tratada como um tipo de relação privi-
mas forem muito além do nível de compreensão do aluno, legiada, como também nos apontam a aquisição da noção
podem levar ao desânimo ou à frustração, acarretando, às de proporcionalidade como uma tarefa problemática.
vezes, atitudes negativas em todas as tarefas envolvendo a
matemática. As variadas formas de representação em cálculos
Além disso, o intuito é fazer com que os alunos re- com porcentagem.
solvam os problemas de formas diferentes, mas que che- Entendemos por porcentagem a razão centesimal uti-
guem a um mesmo resultado final. Enfim, pretende-se que lizada para expressar situações envolvendo valores com-
os participantes incentivem a interpretação do mundo que parativos. A porcentagem possui aplicações em diversos
os cerca, valorizando o “pensar”, o agir de forma real ou ramos, principalmente nas situações comerciais e na esta-
significativa e o raciocínio. tística. Os problemas envolvendo cálculos percentuais pos-
suem variadas formas de resolução.
Razão, Proporção, enfim, Porcentagem No campo da Estatística, possui participação ativa na
apresentação de dados comparativos e organizacionais.
“Vizolli faz um estudo sobre a aquisição do conceito Os números percentuais possuem representações
de porcentagem, explorando os diferentes registros de re- na forma de fração centesimal (denominador igual a 100)
presentação: numéricos (percentual, fracionário, decimal e e, quando escritos de maneira formal, devem aparecer na
proporcional), geométrico, em língua natural, tabela e grá- presença do símbolo de porcentagem (%). Também po-
fico, com o objetivo de conceituar porcentagem enquanto dem ser escritos na forma de número decimal. Observe os
proporção, abordando aspectos relativos ao sentido e ao sig- números a seguir, que serão demonstrados por meio das
nificado operatório. “(2001 apud BERNAL, 2004) três formas possíveis:
No âmbito da Psicologia Cognitiva, estudos sobre
aprendizagem e desenvolvimento da noção de proporcio-
nalidade oferecem contribuições para a Educação Mate-
mática. No Brasil, encontramos estes estudos em Carraher
et al (1986), em Carraher, Carraher e Schliemann (1986).
Este último trabalho pesquisa as resoluções de proble-
mas de proporção, formuladas por estudantes.
Entre os fenômenos observados pelos autores, temos
que, a utilização de estratégias intuitivas (cálculo mental ou
lógica) é mais frequente que o uso de regras instituciona-
lizadas como algoritmo de resolução, a exemplo da regra
de três.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
• Número decimal
0,12 x 900 = 108 reais
900 – 108 = 792 reais
A utilização de qualquer procedimento fica a critério
próprio, pois os dois métodos chegam ao resultado de for-
ma satisfatória e exata. No caso do exemplo 1, o desconto
no pagamento à vista é de R$ 108,00, portanto, o preço é
de R$ 792,00.
Solução:
8% = 8/100 = 0,08
• Razão centesimal
8/100 x 1200 = 8x1200 / 100 = 9600 / 100 = 96 reais
• Número decimal
0,08 x 1200 = 96 reais
O depósito efetuado foi de R$ 96,00.
Solução:
Podemos utilizar uma regra de três simples.
Alunos → 13 ---------- 52
Porcentagem → x ----------- 100%
A melhor forma de assimilar os conteúdos inerentes 52*x = 13*100
à porcentagem é com a utilização de exemplos que en- 52x = 1300
volvem situações cotidianas. Acompanhe os exemplos a x= 1300/52
seguir: x = 25%
Solução:
Podemos utilizar a razão centesimal ou o número deci-
mal correspondente:
12% = 12/100 = 0,12
• Razão centesimal
12/100 x 900 = 12x900/100 = 1080/100 = 10800/100
= 108 reais
900 – 108 = 792 reais 4 Fonte: www.brasilescola.uol.com.br/www.diaadiaeducacao.
pr.gov.br/Por Marcos Noé/Por Karla Regina Debona Oliveira
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
EXERCÍCIOS
01. (CESPE/2018 – EBSERH) O termo qualidade é um conceito plural, complexo e polissêmico que pode ser ana-
lisado sob diversas perspectivas. No cenário educacional, esse termo tem ganhado espaço principalmente a partir
das perspectivas de avaliação adotadas nos últimos anos.
Acerca desse assunto, julgue o item que se segue.
A qualidade da educação brasileira passou a ser monitorada pelos indicadores das avaliações em larga escala,
orientadas pelo Banco Mundial e por outros organismos internacionais, como a UNESCO e a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
( ) Certo
( ) Errado
02. (UECE/CEV – 2018 – DETRAN/CE) O Brasil adentra o século XXI com um sistema de avaliação da educação
básica capaz de disponibilizar informações sobre qualidade, especialmente no que se refere ao desempenho dos
estudantes. Os estudos do Saeb, ao longo dos anos, foram se aperfeiçoando, e hoje é possível contar com uma
excelente base de dados sobre fatores extra e intraescolares associados ao desempenho escolar dos estudantes do
ensino fundamental e médio. Atualmente o Saeb consiste das seguintes avaliações:
a) Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), Exame Nacional de Desempenho Escolar (Enade) e Avaliação Nacional
do Rendimento Escolar (Anresc).
b) Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) e Avaliação Na-
cional da Alfabetização (ANA).
c) Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e Provinha Brasil.
d) Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), Exame Nacional de Desempenho Escolar (Enade) e Provinha Brasil.
03. (FUNCAB/2014 – MDA) O Programme for International Student Assessment (Pisa) – Programa Internacional
de Avaliação de Estudantes – é uma iniciativa internacional de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa
de 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O pro-
grama é desenvolvido e coordenado pela OCDE e em cada país participante há uma coordenação nacional, que no
caso brasileiro, cabe ao Inep. As avaliações do Pisa ocorrem a cada três anos, sendo que os dados referentes à prova
de 2012 foram divulgados nos últimos meses.
(portal.inep.gov.br – adaptado)
Apesar da melhora sistemática das notas, o Brasil ainda ocupa uma das últimas posições no ranking. A pior nota
absoluta do Brasil na última prova do Pisa foi em:
a) humanidades.
b) leitura.
c) filosofia.
d) ciências.
e) matemática.
04. (CESGRANRIO/2013 – IBGE) O Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – reforçou no panora-
ma brasileiro a centralidade da avaliação, do alcance de metas educacionais e de arranjos federativos indutores do
regime de colaboração. A necessidade de criar um índice que estabelecesse padrões para monitorar os sistemas de
ensino no Brasil, tomou como referência dois indicadores que expressam a qualidade da educação.
Quais são esses indicadores sintetizados pelo Ideb?
a) Taxa de participação dos pais nas reuniões e nos processos decisórios da escola e média de desempenho em exames
padronizados.
b) Taxa de distorção idade-série e média de desempenho em exames padronizados
c) Fluxo escolar e taxa de distorção idade-série.
d) Fluxo escolar e taxa de participação dos pais nas reuniões e nos processos decisórios da escola.
e) Fluxo escolar e média de desempenho em exames padronizados.
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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS INDICADORES EDUCACIONAIS
05. (IF/PB – 2013 – IF/PB) O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP),
responsável pelo Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), publicou os indicadores educacionais e dados conso-
lidados sobre o Enem 2013. Dentre esses dados, destacam-se os números de inscrições por modalidade nos anos
de 2012 e 2013. Com base na leitura e interpretação dos dados apresentados a seguir, atribua (V) para as questões
Verdadeiras e (F) para as questões Falsas.
( ) O Ensino Médio Regular no ano de 2013 foi a modalidade que mais teve inscritos para o exame.
( ) O Ensino Médio Educação Especial não apresentou, em 2013, crescimento significativo em relação ao ano de
2012.
( ) A categoria de “Outros”, em 2013, cresceu significativamente em relação a 2012.
( ) Dos dados de todas as modalidades apresentadas, não houve avanços expressivos no total geral de inscritos,
considerando-se os anos de 2012 e 2013.
( ) Se compararmos os dados do Ensino Médio Regular com a Educação de Jovens e Adultos – EJA, verifica-se
um significativo crescimento no número de inscritos no exame na modalidade de Educação de Jovens e Adultos
A sequência CORRETA é:
a) V, V, F, F, V
b) F, V, F, V, V
c) F, V, F, V, F
d) V, F, V, F, V
e) F, V, V, V, F
GABARITO
1 Certo
2 B
3 E
4 E
5 D
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ANOTAÇÕES
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Livro de
Questões Comentadas
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
1
LIVRO DE QUESTÕES
Necessário que se atenta a esta questão, pois Resposta correta: alternativa “c”.
houve alteração legislativa recente, tendo havido a Comentário: está de acordo com o artigo 126 do ECA.
alteração da idade, conforme Lei 13.306/2016.
6. De acordo com o Estatuto da Criança e do
4. Fundação Casa - VUNESP – 2010 Adolescente, qual é o procedimento que deverá
Analise as seguintes afirmações. ser adotado pelos dirigentes de estabelecimentos
I. A criança e o adolescente portadores de defi- de ensino fundamental nos casos de reiteração de
ciência deverão receber atendimento especializado faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados
do Poder Público. os recursos escolares, e os casos de elevados níveis
II. Os hospitais públicos e particulares são obri- de repetência?
gados a fornecer declaração de nascimento onde a) Encaminhar ao Ministério Público, para a devi-
constem necessariamente as intercorrências do par- da advertência ao aluno.
to e do neonato. b) Comunicar ao Juiz da Infância e Juventude.
III. A parturiente será atendida obrigatoriamen- c) Notificar a secretaria da escola, para devido
te pelo mesmo médico que a acompanhou na fase registro no livro de ocorrências.
pré-natal. d) Registrar no diário de classe, para posterior no-
IV. Os casos de suspeita ou confirmação de maus tificação ao Conselho Escolar.
tratos contra criança ou adolescente poderão ser co- e) Comunicar ao Conselho Tutelar.
municados a qualquer Conselho Tutelar.
Resposta correta: alternativa “e”.
Estão corretas apenas as afirmativas Comentário: trata-se de uma obrigação dos diri-
a) I e II. gentes escolares de comunicarem ao Conselho Tute-
b) I e III lar tais situações, conforme art. 56, incisos II e III.
.c) I, II e III.
d) I, II e IV. 7. CEFET RJ - CESGRANRIO - 2014
e) II, III e IV. Segundo o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente, se um professor ou responsável por esta-
belecimento de ensino fundamental, pré-escola
ou creche souber de alguma situação de suspeita
Resposta correta: alternativa “c”.
ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
Comentário: ATENÇÃO houve alteração legisla-
adolescente e deixar de comunicar à autoridade
tiva recente: atualmente consta que o atendimento
competente, ele cometerá um(a)
pré-natal será realizado por profissionais da atenção
a) crime em espécie
primária (art. 8º, § 1º do ECA).
b) crime por ação
A alternativa IV está errada porque consta que os
c) crime por omissão
casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos po-
d) infração administrativa
derão ser comunicados ao Conselho Tutelar, quando
e) violação pena.
na verdade, tais situações devem ser obrigatoriamen-
te informadas ao Conselho Tutelar da respectiva loca-
lidade, conforme redação do artigo 13 do ECA.
Resposta correta: alternativa “d”.
5. SJC SC - FEPESE - 2014 Comentário: trata-se de uma infração adminis-
Qual o órgão responsável por conceder remissão? trativa prevista no artigo 245 do ECA.
a) Procuradoria-Geral de Justiça
b) Defensoria Pública 8. Fundação Casa - VUNESP - 2012
c) Ministério Público As condutas descritas, hipoteticamente, como
d) Conselho Tutelar crime e contravenção penal são
e) Conselho Municipal dos Direitos da Criança e a) ato irregular
do Adolescente. b) crime ou contravenção de menor potencial
ofensivo
2
LIVRO DE QUESTÕES
3
LIVRO DE QUESTÕES
4
LIVRO DE QUESTÕES
17. Polícia Militar PR - FAFIPA - 2013 19. Prefeitura de Santo André SP - CAIPIMES -
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adoles- 2011
cente, analise as assertivas e assinale a alternativa que As medidas de proteção à criança e ao adoles-
aponta as corretas. cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhe-
I. A criança e o adolescente gozam de todos os di- cidos no Estatuto forem ameaçados ou violados:
reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem 1 - por ação ou omissão da sociedade ou do Es-
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, as- tado.
segurando-se- lhes, por lei ou por outros meios, todas 2 - por falta, omissão ou abuso dos pais ou res-
as oportunidades e facilidades, a fm de lhes facultar o ponsável.
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, 3 - em razão de sua conduta.
em condições de liberdade e de dignidade. Constam do Estatuto:
II. É dever da família, da comunidade, da sociedade a) 1 e 2, apenas.
em geral e do poder público assegurar, com absoluta b) 1, 2 e 3.
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à c) 1 e 3, apenas.
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, d) 2 e 3, apenas
à profssionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária. Resposta correta: alternativa “b”.
III. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de Comentário: todas as alternativas estão corretas,
qualquer forma de negligência, discriminação, explora- conforme art. 98 do ECA.
ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da
lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus di- 20. IFAP - FUNIVERSA - 2016
reitos fundamentais. Acerca do que trata o Estatuto da Criança e do
IV. A criança e o adolescente têm direito a proteção Adolescente (Lei n.º 8.069/1990 e suas alterações)
à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas so- sobre a adoção, é correto afirmar que
ciais públicas que permitam o nascimento e o desenvol- a) o adotante há de ser, pelo menos, seis anos mais
vimento sadio e harmonioso, em condições dignas de velho que o adotando.
existência. b) quaisquer duas pessoas podem realizar a adoção
a) Apenas I, II e III. conjunta, independentemente de serem casadas civil-
b) Apenas I, III e IV mente ou manterem união estável.
c) Apenas II e III c) é permitida a adoção pelos irmãos do adotando.
d) Apenas I, II e IV d) a adoção poderá ser deferida ao adotante que,
e) I, II, III e IV. após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer
no curso do procedimento, antes de prolatada a sen-
Resposta correta: alternativa “e”. tença.
Comentário: todos os itens estão corretos, de e) a adoção de criança menor de doze anos de ida-
acordo com os artigos 3º. 4º e 5º do ECA. de depende do seu consentimento.
18. Verificada a prática do ato infracional, a auto- Resposta correta: alternativa “d”.
ridade competente poderá aplicar ao adolescente as Comentário: há previsão da adoção ser deferida ao
seguintes medidas, EXCETO: adotante que falecer no curso do procedimento, con-
a) prestação de trabalho forçado. forme art. 42, § 6º do ECA.
b) liberdade assistida.
c) prestação de serviços à comunidade. 21. SJC SC - FEPESE - 2014
d) obrigação de reparar o dano. Em relação à medida socioeducativa da interna-
e) advertência. ção, assinale a alternativa correta.
Resposta correta: alternativa “a”. a) A liberação será compulsória aos dezoito anos de
Comentário: a prestação de trabalho forçado ja- idade
mais poderá ser imposta ao adolescente que tenha pra- b) A medida será fixada pelo prazo de seis meses,
ticado ato infracional, conforme vedação expressada no prorrogáveis.
artigo 112, § 2º do ECA. c) O regime comporta a prestação de trabalho forçado
5
LIVRO DE QUESTÕES
d) O período máximo de internação não excederá 24. Polícia Militar PR - UFPR - 2005
a três anos. Sobre os direitos individuais dos adolescentes,
e) A desinternação será determinada pelo Conselho é correto afirmar:
Tutelar. a) Nenhum adolescente poderá ser privado de
sua liberdade senão em flagrante de ato infracional
Resposta correta: alternativa “d”. ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
Comentário: A internação jamais poderá exceder a judiciária competente.
três anos, conforme art. 121, § 3º do ECA. b) A internação, antes da sentença, pode ser de-
terminada pelo prazo máximo de sessenta dias.
c) A apreensão de qualquer adolescente e o local
22. Degase - CEPERJ
onde se encontra recolhido deverão ser comunicados
Decretada a internação de um adolescente
à família ou à pessoa por ele indicada após a apura-
pela autoridade judiciária, o artigo 185 do ECA
ção dos fatos.
determina que a medida:
d) Todo adolescente detido, mesmo que civilmen-
a) poderá ser cumprida em repartição policial,
te identificado, deverá ser submetido à identificação
pelo prazo máximo de dois meses compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e ju-
b) não poderá ser cumprida em estabelecimento diciais.
prisional e) O adolescente infrator pode ser detido sem ne-
c) somente poderá ser cumprida em entidade de cessidade de identificação dos responsáveis pela sua
internação aprovada pelo adolescente apreensão.
d) deverá ser cumprida em entidade para abrigo
de adolescentes Resposta correta: alternativa “a”.
e) poderá ser cumprida na residência do adoles- Comentário: a alternativa corresponde ao previs-
cente, sob responsabilidade dos pais to no art. 106 do ECA.
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
(E) ao facultar aos adolescentes que tenham entre Resposta correta: alternativa “e”.
catorze e dezoito anos de idade o direito a voto, o ar- Comentário: O artigo 116 do ECA prevê que, ten-
tigo 16, inciso VI, do Estatuto da Criança e do Adoles- do ocorrido a prática de ato infracional com reflexos
cente busca garantir sua participação na vida familiar patrimoniais, poderá ser determinado ao adolescen-
e comunitária. te que restitua a coisa, promova o ressarcimento do
Resposta correta: alternativa “c”. dano, ou compense o prejuízo da vítima de outra for-
Comentário: De acordo com o artigo 16 do ECA ma que seja possível.
em que estão especificados os aspectos do direito de
liberdade da criança e do adolescente. 32. MP SP- VUNESP- 2015
A colocação da criança e/ou do adolescente em
30. Prefeitura de Cravinhos SP - ASSESSORARTE família substituta, nos termos ao artigo 28 do Esta-
- 2012 tuto da Criança e do Adolescente, é regida pela se-
Diante das Medidas Sócio-Educativas do Estatu- guinte premissa:
to da Criança e do Adolescente, sobre as disposições (A) faz-se por procedimento em que o adoles-
cente, maior de 12 (doze) anos, será ouvido por equi-
gerais, verificada a prática de ato infracional, a auto-
pe interprofissional, respeitado seu estágio de desen-
ridade competente poderá aplicar ao adolescente as
volvimento e grau de compreensão sobre as implica-
seguintes medidas (Art.112):
ções da medida, e terá sua opinião considerada, sem
I - advertência;
exigência de consentimento.
II - obrigação de reparar o dano;
(B) na apreciação do pedido, levar-se-á em conta
III - prestação de serviços à comunidade; o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de
IV - liberdade assistida; afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequên-
V - inserção em regime de semi-liberdade; cias decorrentes da medida.
VI - internação em estabelecimento educacional; (C) faz-se por procedimento em que a criança
será ouvida pelo Ministério Público, que reduzirá a
São corretas as afirmações: termo sua opinião sobre a medida, para utilização em
a) I, II, IV e V apenas razões recursais, se necessário.
b) I, III, V e VI apenas (D) seguindo a linha de preocupação com o supe-
c) II, IV, V e VI apenas rior interesse da criança e do adolescente, a capaci-
d) I, II, III, IV, V e VI dade financeira da família substituta será considerada
como elemento de principal relevância na análise da
Resposta correta: alternativa “d”. necessidade de separação de grupo de irmãos.
Comentário: Todas as assertivas previstas tra- (E) independentemente da situação jurídica da
tam-se de medidas socioeducativas, conforme prevê criança e do adolescente, far-se-á mediante guarda
o artigo 112 do ECA. ou adoção.
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LIVRO DE QUESTÕES
2 - encaminhamento da gestante aos diferentes (E) a conduta praticada por adolescente, descrita
níveis de atendimento, segundo critérios médicos como crime ou contravenção penal.
específicos, obedecendo-se aos princípios de regio-
nalização e hierarquização do Sistema. Resposta correta: alternativa “e”
3 - condições adequadas ao aleitamento mater- Comentário: O artigo 103 define do que se trata
no pelas empresas privadas que receberão incentivos o ato infracional.
fiscais para compensar a ausência das mães funcio-
nárias nesses períodos. 35. Prefeitura de Santo André SP - CAIPIMES
4 - atendimento gratuito ao parto pelo médico - 2011
de plantão no ambulatório do SUS. O Estatuto elenca os princípios que as entidades
que desenvolvem programas de acolhimento familiar
Estão de acordo com o ECA: ou institucional devem adotar, dentre os quais não
a) apenas 2 e 4. se inclui:
b) apenas 1 e 2. a) o desmembramento de grupos de irmãos.
c) apenas 2, 3 e 4. b) a preservação dos vínculos familiares e promo-
d) todas. ção da reintegração familiar.
c) a integração em família substituta, quando es-
Resposta correta: alternativa “b”. gotados os recursos de manutenção na família natu-
Comentário: ATENÇÃO: Esta questão sofreu al- ral ou extensa.
teração com o disposto na Lei 13.257/2016 que pas- d) o atendimento personalizado e em pequenos
sou a prever: grupos.
Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso
aos programas e às políticas de saúde da mulher e de Resposta correta: alternativa “a”.
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição Comentário: A questão pedia que fosse aponta-
adequada, atenção humanizada à gravidez, ao par- do o único princípio que não se refere àqueles que
to e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal devem ser observados pelos programas de acolhi-
e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de mento.
Saúde.
“A” é a alternativa que devia ser escolhida, pois
§ 1o O atendimento pré-natal será realizado por
os programas não podem desmembrar os grupos de
profissionais da atenção primária.
irmãos, conforme previsto no artigo 92, inciso V.
(...)
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LIVRO DE QUESTÕES
37. Fundação Casa - VUNESP - 2012 39. Polícia Militar PR - FAFIPA - 2013
Assinale a alternativa correta a respeito das Analise as assertivas e assinale a alternativa que
disposições legais do Estatuto da Criança e do aponta as corretas. Para a candidatura a membro
Adolescente que tratam do advogado. do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes
a) Nos procedimentos legais, o advogado será in- requisitos:
timado dos atos sempre pessoalmente. I. reconhecida idoneidade moral.
b) Para preservação do direito do advogado, não II. idade superior a vinte e um anos.
poderá haver decretação de segredo de justiça nos III. residir no município.
atos do procedimento da Infância e da Juventude. IV. quitação eleitoral.
c) Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á
nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo a) Apenas I, II e III.
tempo, constituir outro de sua preferência. b) Apenas I e III.
d) A ausência do advogado defensor implicará c) Apenas II e III.
d) Apenas I, II e IV.
o adiamento de todos os atos do processo, não po-
e) I, II, III e IV.
dendo o juiz nomear substituto, ainda que proviso-
Resposta correta: alternativa “a”.
riamente.
Comentário: Uma pessoa para que se candidate
e) Nenhum adolescente poderá ser processado
a membro do Conselho Tutelar deve preencher os re-
sem defensor, exceto se foragido.
quisitos apontados em I, II e III conforme previsto no
art. 133. Não há previsão de que deva ter quitado suas
Resposta correta: alternativa “c”.
obrigações eleitorais.
Comentário: o adolescente não poderá ser pro-
cessado sem que tenha um defensor. Assim, caso não 40. Fundação Casa- VUNESP- 2014
tenha optado por um, o juiz deverá fazê-lo, conforme Com base no Estatuto da Criança e do Adoles-
previsto no art. 207, § 1º do ECA. cente (ECA), sobre a prática de ato infracional, é
correto afirmar que o pleno e formal conhecimento
38. Nível Médio- Fundação Casa- VUNESP- da atribuição de ato infracional, mediante citação
2014: ou meio equivalente, diz respeito a
Sobre as competências da Justiça da Infância (A) uma obrigação do adolescente perante a Vara
e da Juventude, marque V para verdadeiro ou F da Infância e da Juventude.
para falso e, em seguida, assinale a alternativa que (B) uma garantia assegurada ao adolescente.
apresenta a sequência correta. (C) uma garantia assegurada à Vara da Infância e
( ) Conhecer de pedidos de adoção e seus inci- da Juventude.
dentes. (D) um dever da vítima perante a Justiça.
( ) Conceder a remissão, como forma de suspen- (E) um dever do adolescente.
são ou extinção do processo.
( ) Conhecer de casos encaminhados pelo Conse- Resposta correta: alternativa “b”.
lho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. Comentário: O adolescente acusado da prática de
(A) F/ V/ V ato infracional tem como garantia processual prevista
(B) V/ V/ V no art. 111, inciso I, ter o pleno e formal conhecimento
(C) V/ F/ F deste fato para que possa se defender.
(D) F/ F/ F
(E) F/ F/ V. 41. Fundação Casa- VUNESP- 2014
Conforme expresso no artigo 110 do ECA, é
Resposta correta: alternativa “ b”. correto afirmar que nenhum adolescente será pri-
Comentário: Todas as assertivas trazem compe- vado de sua liberdade:
tências da Justiça da Infância e da Juventude previstas (A) sem o despacho do juiz da Vara da Infância e
da Juventude.
no art. 148 do ECA.
(B) sem a ordem do delegado de polícia.
(C) se não for surpreendido em flagrante delito.
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
46. Fundação Casa- VUNESP- 2014 Comentário: O art. 53, § único do ECA traz que
Acerca da prática do ato infracional, segundo o é direito dos pais ou responsáveis terem ciência do
ECA, analise as assertivas abaixo. processo pedagógico e das propostas educacionais
I. Considera-se ato infracional a conduta descrita da escola em que seu filho estiver matriculado.
como crime ou contravenção penal.
II. São penalmente inimputáveis os menores de 48. Fundação Casa- VUNESP- 2013
18 (dezoito) anos, sujeitos às medidas previstas no O Estatuto da Criança e do Adolescente será aplicado
ECA. (A) a todas as pessoas com idade entre zero e vin-
III. Verificada a prática de ato infracional, a auto- te e um anos.
ridade competente poderá aplicar ao adolescente a (B) apenas às pessoas com idade menor que 18 anos.
medida de obrigação de reparar o dano. É correto o (C) a todos os adolescentes até a idade de 24 anos.
que se afirma em: (D) excepcionalmente às pessoas entre dezoito e
(A) I, apenas. vinte e um anos de idade.
(B) II e III, apenas. (E) apenas a crianças e adolescentes em condi-
(C) I, II e III. ções de vulnerabilidade social.
(D) I e II, apenas.
(E) III, apenas. Resposta correta: alternativa “d”.
Comentário: Conforme preceitua o art. 2º, § úni-
Resposta correta: alternativa “c”. co, em situações excepcionais, previstas na lei, o ECA
Comentário: O ato infracional, conforme previs- poderá ser aplicado para aqueles que já tenham atin-
to no art. 103 do ECA corresponde ao crime ou con- gido a maioridade e estejam na faixa etária entre os
travenção penal. Portanto, a criança e o adolescente, dezoito e vinte e um anos.
tutelados pelo ECA, não serão julgados por crimes ou
contravenções, mas sim, por atos infracionais que ve- 49. Prefeitura de Araxá MG - FRAMINAS - 2013
nham a cometer. Em relação à criança, apenas se apli- Assinale, a seguir, a alternativa que complementa
cam medidas de proteção, conforme art. 101 do ECA. CORRETAMENTE o seguinte enunciado: Ao cuidar das
O adolescente, por sua vez, poderá receber uma regras gerais de adoção, o Estatuto da Criança e do
medida socioeducativa pelo ato infracional praticado, Adolescente, no artigo 41, atribui a condição de filho
sendo uma delas, a obrigação de reparar o dano, tra- ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, in-
zida na assertiva III. clusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo
A assertiva II também está correta, pois os meno- com os pais biológicos e parentes, salvo no caso de
res de dezoito anos são considerados inimputáveis, a) adoção por estrangeiros.
conforme art. 104 do ECA. Assim, não responderão b) convivência com os avós.
pelos crimes ou contravenções praticadas, mas sim, c) impedimento matrimonial.
pelo ato infracional. d) maioridade civil do adotado.
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LIVRO DE QUESTÕES
(B) a advertência consistirá em admoestação ver- 52. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2010
bal, aplicada exclusivamente à criança, e reduzida a Assinale a alternativa correta.
termo. (A) O Estatuto da Criança e do Adolescente dis-
(C) somente o adolescente poderá cometer ato põe sobre a situação irregular do menor e do jovem.
infracional, pois a criança possui proteção diferencia- (B) Considera-se criança, para efeitos do Estatuto
da no Estatuto. da Criança e do Adolescente, a pessoa com até onze
(D) nenhuma criança que cometer ato infracional anos de idade incompletos.
será privada de sua liberdade sem o devido processo (C) Nos casos expressos em lei, aplica-se excep-
legal. cionalmente o Estatuto da Criança e do Adolescente
(E) verificada a prática de ato infracional, a auto- às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
ridade competente poderá aplicar ao adolescente a (D) A Criança e o Adolescente não gozam de pri-
prestação de serviços à comunidade. vilégios no recebimento de atendimento nos serviços
públicos.
Resposta correta: alternativa “e”. (E) Na interpretação do Estatuto da Criança e do
Comentário: Conforme previsto no art. 112, in- Adolescente, levar-se-ão em conta os fins individuais
ciso III, a prestação de serviços à comunidade é uma a que ele se dirige.
medida socioeducativa que poderá ser aplicada ao
adolescente que tenha cometido ato infracional. Resposta correta: alternativa “c”.
Comentário: A questão traz o previsto no art. 2º,
51. Degase - CEPERJ § único, ou seja, em situações excepcionais, previstas
O ECA introduz algumas inovações em relação ao na lei, o ECA poderá ser aplicado para aqueles que
processo de adoção de criança ou adolescente, como já tenham atingido a maioridade e estejam na faixa
o fato de passar a ser apreciada pelo Poder Judiciário etária entre os dezoito e vinte e um anos.
e deferida mediante sentença, com caráter irrevogá- Conforme se observa, trata-se de uma questão de
vel. Uma outra novidade é a determinação de que a grande incidência em concursos públicos.
adoção:
53. Prefeitura de Santo André SP - CAIPIMES - 2011
a) depende da concordância do adotando, quan-
Analise as afirmações em geral sobre as disposi-
do maior de doze anos de idade
ções do ECA.
b) independe do consentimento dos pais ou res-
1 - A permanência da criança e do adolescente
ponsáveis, em qualquer hipótese
em programa de acolhimento institucional não se
c) depende de parecer do Conselho Tutelar, de-
prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo compro-
pois de ouvidos o adotando e os adotantes
vada necessidade que atenda ao seu superior inte-
d) independe da vontade do adotando, desde
resse, devidamente fundamentada pela autoridade
que haja o consentimento dos pais ou responsável
judiciária.
e) depende fundamentalmente da melhor condi-
2 - O poder familiar será exercido, preferencial-
ção econômica dos adotantes, em relação à família
mente pelo pai, assegurado à mãe o direito de, em
natural do adotando.
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
competente para a solução da divergência.
Resposta correta: alternativa “a”.
3 - A perda e a suspensão do poder familiar serão
Comentário: O art. 45 do ECA diz que a adoção
decretadas judicialmente, em procedimento contra-
dependerá do consentimento dos pais ou do repre- ditório, nos casos previstos na legislação civil, bem
sentante legal do adotando, desde que não tenha ha- como na hipótese de descumprimento injustificado
vido a destituição do poder familiar. dos deveres e obrigações a que alude o art. 22 (...
Além disso, em se tratando de maior de doze o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
anos, o próprio adotando também deverá apresen- menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a
tar sua concordância. É o que preceitua o § 2º do obrigação de cumprir e fazer cumprir as determina-
mesmo artigo. ções judiciais.)
São afirmações corretas:
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
(A) Será fixada pelo prazo mínimo de sete meses, não (B) peticionar, através do representante do Minis-
podendo ser prorrogada, ouvido o orientador. tério Público ou do agente de apoio socioeducativo,
(B) Será fixada pelo prazo máximo de cinco meses, à autoridade judiciária competente.
podendo ser prorrogada, revogada ou substituída por (C) receber assistência religiosa, segundo a sua
outra medida mais adequada, ouvidos o Ministério Públi- crença, desde que assim o deseje.
co e o defensor. (D) manter-se isolado dos demais adolescentes
(C) Será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, po- internados, quando assim o deseje e lhe seja conve-
dendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou niente.
substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Mi- (E) receber visitas, ao menos uma vez a cada quin-
nistério Público e o defensor. ze dias.
(D) Será adotada sempre que a medida socioeducati-
va da obrigação de reparar o dano for inviável ou impos- Resposta correta: alternativa “c”.
sível de ser cumprida. Comentário: O art. 94 trata das obrigações das
(E) Será imposta sempre que o adolescente cometer entidades que desenvolvam programas de interna-
um ato infracional de natureza leve, antes de completar
ção. Uma delas, é a prestação de assistência religiosa
quatorze anos.
(prevista no inciso XII) àqueles adolescentes inter-
nados, que assim o desejarem, de acordo com sua
Resposta correta: alternativa “c”.
crença.
Comentário: A liberdade assistida é medida socioe-
ducativa prevista no art. 118. Seu prazo mínimo é de seis
meses, conforme previsto no § 2º do mesmo artigo. Po- 65. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2010
derá, porém, a qualquer tempo ser revogada, modificada A medida aplicada por força da remissão
ou substituída por outra medida. (A) poderá ser revista judicialmente, a qualquer
tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou
63- FUNDAÇÃO CASA VUNESP- 2010 de seu representante legal, ou do Ministério Público.
Assinale a alternativa correta. (B) deverá ser revista judicialmente, a cada três
(A) A internação constitui medida privativa da li- meses, mediante pedido do representante legal do
berdade, sujeita aos princípios da continuidade e da adolescente.
proporcionalidade e em respeito à condição peculiar (C) deverá ser revista judicialmente, a cada seis
de pessoa desenvolvida. meses, mediante pedido verbal do adolescente ou de
(B) Na internação, não serão permitidas ativida- seu representante legal, ou do Ministério Público.
des externas, salvo expressa determinação judicial em (D) não poderá ser revista, salvo pedido expresso
contrário. do adolescente ou do seu representante legal.
(C) A medida de internação não comporta prazo (E) não poderá ser revista, salvo por determina-
determinado, devendo sua manutenção ser reavalia- ção expressa do Ministério Público ou do membro do
da a cada dois meses. Conselho Tutelar.
(D) O período máximo de internação não poderá
exceder a quatro anos. Resposta correta: alternativa “a”.
(E) Em qualquer hipótese, a desinternação será Comentário: A remissão é uma medida de exclu-
precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério são do processo, definida como uma forma de per-
Público. dão, que poderá ser concedida em favor do adoles-
cente acusado da prática de ato infracional. É tratada
Resposta correta: alternativa “e”. nos artigos 126 a 128 do ECA, podendo ser revista
Comentário: A alternativa “e” está correta pois pelo Poder Judiciário a qualquer momento, confor-
traz o conteúdo constante no art. 121, § 6º do ECA. me previsto no art. 128. Por isto, a alternativa “a” é a
correta.
64. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP-2010
O adolescente privado de sua liberdade, tem, en-
66. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2010
tre outros, o seguinte direito:
Para a proteção ao adolescente apreendido pela
(A) conversar com seu defensor, na presença do
prática de ato infracional, o Estatuto da Criança e do
agente de apoio socioeducativo.
Adolescente prevê, expressamente, que
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LIVRO DE QUESTÕES
(A) é proibida a internação provisória por prazo (A) o procedimento de apuração de irregularida-
superior a doze horas. des em entidades governamentais terá início median-
(B) é proibida a condução coercitiva para prestar te representação da autoridade policial, do Conselho
depoimento perante a autoridade competente. Tutelar ou dos pais ou responsável.
(C) é vedada a apreensão em flagrante, quando (B) independentemente de haver motivo grave, o
do cometimento de crime de furto. dirigente da unidade será compulsoriamente afastado.
(D) a assistência judiciária será gratuita e integral (C) o dirigente da entidade será notificado para,
aos que dela necessitarem, na forma da lei. no prazo de cinco dias, oferecer resposta escrita e
(E) haverá responsabilidade por infração adminis- fundamentada.
trativa aos pais ou responsável, em caso de reincidên- (D) apresentada ou não a resposta, e sendo ne-
cia do adolescente. cessário, a autoridade judiciária designará audiência
de instrução e julgamento, intimando as partes.
Resposta correta: alternativa “d”. (E) após aplicar qualquer medida, a autoridade
Comentário: O art. 111 do ECA traz as garantias judiciária deverá fixar o prazo de quinze dias para a
conferidas ao adolescente acusado da prática de ato remoção das irregularidades.
infracional. Uma delas é a prevista no inciso IV que
é a de obter assistência judiciária gratuita e integral Resposta correta: alternativa “d”.
aos necessitados, para que tenham condições de se Comentário: a alternativa “d” está correta pois se
defender. refere ao art. 193, § 1º do ECA. Trata-se do procedi-
mento a ser realizado na apuração de irregularidades
67. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2010 que possam ter sido cometidas pelas entidades que
Assinale a alternativa correta. prestam atendimento à criança e ao adolescente.
(A) No procedimento judicial de apuração de ato
infracional, a presença de defensor é facultativa. 69. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2010
(B) Havendo reincidência da prática de ato infra- Assinale a alternativa correta.
cional, deverá obrigatoriamente ser aplicada a medi- (A) A legitimação do Ministério Público para as
da de liberdade assistida. ações cíveis previstas no Estatuto da Criança e do
(C) Havendo indícios suficientes de autoria e ma- Adolescente impede a participação de terceiros nas
terialidade do ato infracional, deverá ser aplicada a mesmas hipóteses.
medida de internação por prazo indeterminado. (B) O representante do Ministério Público, no
(D) A absoluta recusa do adolescente em se sub- exercício de suas funções, terá livre acesso a todo lo-
meter às medidas socioeducativas estabelecidas pelo cal onde se encontre criança ou adolescente.
Estado pode justificar a sua colocação em liberdade. (C) Nos processos e procedimentos em que não
(E) A medida socioeducativa aplicada ao adoles- for parte, a atuação do Ministério Público é facultativa
cente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, na defesa dos interesses da criança e do adolescente.
as circunstâncias e a gravidade da infração. (D) A intimação do Ministério Público, nas ações
em que for parte, será feita por via eletrônica.
Resposta correta: alternativa “e”. (E) A falta de intervenção do Ministério Público
Comentário: Para aplicação da medida socioe- não acarreta a nulidade das ações que impõem me-
ducativa será levada em conta a capacidade do ado- didas de proteção ao adolescente.
lescente de cumpri-la e seu entendimento quanto às
circunstâncias e gravidade da infração, conforme art. Resposta correta: alternativa “b”.
112, § 1º do ECA. Comentário: A letra “b” está correta pois traz o
disposto no art. 201, § 3º do ECA. O representante do
68. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2010 Ministério Público, terá acesso a todo local em que se
Em relação à apuração de irregularidades em en- encontre criança ou adolescente, tendo em vista que
tidades de atendimento à criança e ao adolescente, cabe ao órgão tutelar os interesses destes.
pode-se afirmar que
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(B) poderá ser suspenso pela autoridade judiciária, Resposta correta: alternativa “e”.
exceto com relação aos seus pais, se o Serviço Social re- Comentário: Todas as assertivas estão corretas e pre-
latar que Vertuno descumpriu alguma obrigação que lhe vistas nas disposições preliminares do ECA, trazendo ga-
foi imposta juntamente com a medida de internação. rantias às crianças e adolescentes.
(C) ficará suspenso por tempo indeterminado se Ver-
tuno for colocado em regime de incomunicabilidade. 101. DPE BA - UNEB - 2014
(D) a autoridade judiciária poderá suspendê-lo tempo- Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a
rariamente, inclusive de pais ou responsável, se existirem adoção é medida excepcional e irrevogável, a qual se deve
motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos in- recorrer apenas quando esgotados os recursos de manu-
teresses de Vertuno. tenção da criança ou do adolescente na família natural ou
(E) é limitado à visita dos seus pais, se Vertuno não extensa.
estiver em regime de incomunicabilidade. Com base nessa assertiva, é correto afirmar:
Resposta correta: alternativa “d”. a) É vedada a adoção por procuração particular, salvo
quando autenticada em cartório.
Comentário: A alternativa “d” está de acordo com o
b) O adotando deve contar com, no máximo, dezes-
previsto no art. 124, § 2º do ECA.
seis anos à data do trânsito em julgado da decisão, salvo
se já estiver sob a posse dos adotantes.
100. Polícia Militar PR - FAFIPA - 2013
c) A adoção atribui a condição de filho ao adotado,
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescen-
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios,
te, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes,
as corretas.
salvo os impedimentos matrimoniais.
I. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos d) Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da outro, independentemente da idade, mantêm-se os vínculos
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se- de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do ado-
lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e tante e os respectivos parentes, salvo os impedimentos matri-
facilidades, a fm de lhes facultar o desenvolvimento físico, moniais e sucessórios.
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberda- e) É recíproco o direito sucessório e patrimonial entre
de e de dignidade. o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascen-
II. É dever da família, da comunidade, da sociedade em dentes, descendentes e colaterais até o segundo grau, in-
geral e do poder público assegurar, com absoluta priori- dependente da ordem de vocação hereditária.
dade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à Resposta correta: alternativa “c”.
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profssiona- Comentário: O art. 41 do ECA preceitua os efeitos
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à que decorrem da adoção, quais sejam: atribuição da
convivência familiar e comunitária. condição de filho ao adotando, obtendo os mesmos
III. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de direitos e deveres em relação ao adotante; o desliga-
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, mento de vínculos com a família de origem biológica,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei exceto quanto aos impedimentos matrimoniais que
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos prevalecem.
fundamentais. Ou seja, ainda que tenha sido adotada, uma pes-
IV. A criança e o adolescente têm direito a proteção à soa não pode casar com aquela que era sua mãe ou
vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais seu pai biológico.
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. 102. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2012
a) Apenas I, II e III. A função de membro do conselho nacional e
b) Apenas I, III e IV dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da
c) Apenas II e III. criança e do adolescente é considerada
d) Apenas I, II e IV (A) de interesse público relevante e não será re-
munerada.
e) I, II, III e IV.
(B) função de confiança a ser preenchida por con-
curso público.
25
LIVRO DE QUESTÕES
(C) de relevância social, podendo seu exercício ser e) inclusão em programa oficial ou comunitário
usado para fins de contagem de tempo de serviço de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e to-
público para todos os efeitos. xicômanos.
(D) de elevado interesse da Administração Pública
e será remunerada pelo Município onde o respectivo Resposta correta: alternativa “d”.
conselho estiver instalado. Comentário: todas as alternativas se referem às
(E) de interesse social relevante, será remunerada, medidas de proteção previstas no art. 101, exceto a
e quem a exerce terá livre acesso a todos os lugares internação em estabelecimento educacional.
onde possa ser encontrada uma criança ou um ado-
105. FUNDAÇÃO CASA- VUNESP- 2012
lescente.
Uma emissora de rádio cometeu uma infração ao
Estatuto da Criança e do Adolescente ao divulgar no-
Resposta correta: alternativa “a”.
tícia sobre uma determinada criança, tendo a trans-
Comentário: A alternativa correta está de acordo
missão radiofônica atingido várias cidades da região.
com o art. 89 do ECA. Nesse sentido, considerando o que dispõe o Estatuto
da Criança e do Adolescente sobre a matéria, a com-
103. TJ GO - FCC - 2009 petência judicial para aplicação da penalidade cabível
O Conselho Tutelar será do local
a) pode ter sua decisão revista de ofício pela au- (A) da sede estadual da emissora ou rede.
toridade judiciária. (B) onde está domiciliada a criança.
b) é instância de execução da política de atendi- (C) onde estão domiciliados os pais da criança ou
mento do município. seu responsável.
c) tem a atribuição, entre outras, de providenciar (D) onde se situa o Foro mais próximo da residên-
a medida de proteção aplicada ao adolescente autor cia da criança.
de ato infracional. (E) de livre escolha dos pais da criança ou do seu
d) é composto por cinco membros, que cumprem responsável.
mandato de cinco anos.
e) tem a atribuição, entre outras, de aplicar medi- Resposta correta: alternativa “a”.
da socioeducativa a criança autora de ato infracional. Comentário: O ECA dispõe que a autoridade ju-
diciária competente será aquela do domicílio dos pais
Resposta correta: alternativa “c”. ou responsáveis ou do local onde se encontre a crian-
ça ou adolescente, conforme art. 147.
Comentário: as funções do Conselho Tutelar es-
O § 3º de forma específica preceitua que em se
tão previstas no art. 136 do ECA, dentre elas a do inci-
tratando de infração cometida em razão de trans-
so VI que preceitua que caberá ao órgão providenciar
missão de rádio e televisão, que atinja mais de uma
a medida que foi aplicada pela autoridade judiciária
comarca, será competente àquela do local da sede
ao menor infrator. Observe que o dispositivo men- estadual da emissora ou rede, exatamente como pre-
ciona sobre as medidas previstas nos incisos de I a VI visto na alternativa “a”.
do art. 101. Tratam-se das medidas de proteção que
podem ser executadas pelo Conselho Tutelar. 106. SJC SC - FEPESE - 2014
Em relação ao Conselho Tutelar, assinale a alter-
104. Polícia Militar GO - FUNCAB - 2010 nativa correta
Dentre as medidas de proteção, aplicáveis à crian- a) Lei Federal disporá sobre o dia e horário de
ça e ao adolescente em situação de risco social ou funcionamento do Conselho Tutelar.
pessoal, NÃO se inclui a(o): b) A função de conselheiro tutelar não poderá ser
a) requisição de tratamento médico, psicológico remunerada.
ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial c) Compete ao Conselho Tutelar decidir proces-
b) inclusão em programa comunitário ou oficial sos de adoção.
de auxílio à família, à criança e ao adolescente. d) Os membros do Conselho Tutelar serão esco-
c) inclusão em programa de acolhimento familiar. lhidos pelo Ministério Público.
d) internação em estabelecimento educacional. e) O Conselho Tutelar é um órgão não jurisdicional.
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
de maus-tratos contra criança ou adolescente serão, I. Tem direito a receber assistência religiosa, segundo
sem prejuízo de outras providências legais, obrigato- a sua crença, e desde que assim o deseje.
riamente comunicados à (ao) II. Após três anos de internação, deverá ser liberado,
a) Delegacia de Polícia mais próxima. colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade
b) Conselho Tutelar da respectiva localidade assistida.
c) Promotor Público. III. Terá liberdade compulsória aos dezoito anos de
d) Ministério da Infância e da Juventude. idade.
e) Defensoria Pública. IV. Durante o período de internação, não poderá cor-
responder-se com seus familiares e amigos.
Resposta correta: alternativa “b”. Assinale a alternativa correta.
Comentário: O art. 13 do ECA determina que os a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos b) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.
contra criança e adolescente devem ser obrigatoria- c) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
mente comunicados ao Conselho Tutelar de atribui- d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
ção naquela localidade. e) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
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III - o aprimoramento do educando como pes- a) elaborar o Plano Nacional de Educação em co-
soa humana, incluindo a formação ética e o desen- laboração com os municípios.
volvimento da autonomia intelectual e do pensa- b) coletar, analisar e divulgar informações gerais
mento crítico; sobre educação no país.
IV - a compreensão dos fundamentos científico- c) assegurar o ensino fundamental e oferecer com
-tecnológicos dos processos produtivos, relacionan- prioridade o ensino médio.
do a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina d) baixar normas gerais para funcionamento de
cursos de graduação e pós-graduação.
QUESTÃO 02 e) prover meios para recuperação de alunos com
Ano: 2010 (adaptada para a nova redação da Lei) menor rendimento escolar.
Banca: COVEST-COPSET GABARITO: C
Órgão: UFPE
Prova: Pedagogo COMENTÁRIO: Conforme o art. 10, VI, da LDB
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
Assinale a alternativa correta em relação a
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
LDB/1996.
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
a) O ensino da arte, especialmente em suas ex-
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Re-
pressões regionais, constituirá componente curricular
dação dada pela Lei nº 12.061, de 2009)
facultativo nos diversos níveis da Educação Básica, de
forma a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos. QUESTÃO 04
b) A Educação Física, integrada à proposta peda-
gógica da escola, é componente curricular facultativo Ano: 2016
na Educação Básica para o aluno. Banca: UFMA
c) O ensino da História do Brasil levará em conta Órgão: UFMA
as contribuições das diferentes culturas e etnias para Prova: Técnico Assuntos Educacionais
a formação do povo brasileiro, especialmente das
matrizes indígena, africana e europeia. Segundo a LDB vigente, a Educação Escolar brasi-
d) A Música deverá ser conteúdo facultativo do leira é composta por:
componente curricular dos níveis fundamental e mé- a) Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
dio. Superior
e) Nos estabelecimentos públicos de Ensino Fun- b) Ensino Fundamental e Ensino Médio
damental e de Ensino Médio, torna-se obrigatório o c) Educação Básica e Educação Superior
estudo da história e cultura afro- brasileira e indígena. d) Pré-Escolar, Ensino Fundamental, Ensino Médio
e Ensino Superior
GABARITO: C e) Educação Básica, Educação Especial e Educação
COMENTÁRIO: para Diversidade
Art. 26, §4º da LDB
“§ 4º O ensino da História do Brasil levará em con- GABARITO: C
ta as contribuições das diferentes culturas e etnias COMENTÁRIO: Conforme art. 21 da LDB
para a formação do povo brasileiro, especialmente Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
das matrizes indígena, africana e européia.” I - educação básica, formada pela educação infan-
til, ensino fundamental e ensino médio;
QUESTÃO 03 II - educação superior.
Ano: 2006
Banca: IPAD QUESTÃO 05
Órgão: SEDUC-PE
Prova: Pedagogo
Ano: 2012
Banca: FCC
Conforme a atual LDB constitui-se como uma in-
Órgão: SEE-MG
cumbência dos Estados:
Prova: Assistente Técnico Educacional - Apoio Técnico
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
II - no nível de conclusão do Ensino Médio, para os b) só não poderá ser objeto de avaliação o conhe-
maiores de dezoito anos. cimento informal.
c) oferecerá exames de conclusão do ensino fun-
QUESTÃO 08 damental para jovens a partir de 18 anos.
d) deverá articular-se, preferencialmente, com a
Ano: 2010 educação profissional.
Banca: COVEST-COPSET e) oferecerá exames de conclusão apenas para a
Órgão: UFPE etapa do ensino médio.
Prova: Técnico em Assuntos Educacionais
GABARITO: D
A verificação do rendimento escolar, de acordo COMENTÁRIO: Alternativa D correta em razão do
com a LDB/1996, observará qual critério? art. 37, §3 da LDB.
a) Avaliação diagnóstica e formativa do desem- A educação de jovens e adultos será destinada
penho do aluno, com prevalência dos aspectos qua- àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
litativos e quantitativos e dos resultados das provas estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
finais. própria e constituirá instrumento para a educação e a
b) Possibilidade de aceleração de estudos para aprendizagem ao longo da vida. (Redação dada
alunos com aprendizagem acima da média a partir pela Lei nº 13.632, de 2018)
de parecer técnico do sistema de ensino. § 3o A educação de jovens e adultos deverá ar-
c) Possibilidade de avanço nos cursos e nas séries ticular-se, preferencialmente, com a educação profis-
mediante verificação do aprendizado. sional, na forma do regulamento.
d) Aproveitamento de todos os estudos e ativida-
des desenvolvidas ao longo do curso com registro no QUESTÃO 10
histórico escolar.
e) Obrigatoriedade de estudos de recuperação, Ano: 2016
de preferência no final do período letivo, para os ca- Banca: UFMA
sos de baixo rendimento escolar. Órgão: UFMA
Prova: Pedagogo
GABARITO: C
COMENTÁRIO: Alternativa C correta em razão do Em conformidade com LDB n° 9.394/1996, a or-
art. 24, inciso V, da LDB. ganização da educação básica poderá ser:
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental a) Em séries anuais, períodos semestrais e ciclos.
e médio, será organizada de acordo com as seguintes b) Em séries anuais, períodos semestrais, ciclos,
regras comuns: alternância regular de períodos de estudos, grupos
V - a verificação do rendimento escolar observará não seriados, com base na idade, na competência e
os seguintes critérios: em outros critérios, ou por outras formas de organi-
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries zação.
mediante verificação do aprendizado; c) Em séries anuais, períodos semestrais, ciclos
ou por outras formas de organização, sempre que o
QUESTÃO 09 interesse do processo de aprendizagem assim o re-
comendar.
Ano: 2013 d) Em séries anuais, períodos semestrais, ciclos,
Banca: FUNCAB alternância regular de períodos de estudos, grupos
Órgão: IF-RR não seriados, com base na idade, na competência e
Prova: Professor - Pedagogia em outros critérios.
e) Em séries anuais, períodos semestrais, ciclos,
De acordo com a Lei nº 9.394/1996 (LDB), a Edu- grupos não seriados, com base na idade, na compe-
cação de Jovens e Adultos: tência e em outros critérios, ou por outras formas de
a) será articulada somente com a educação técni- organização.
ca profissional.
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
Errada porque A LDB não fala em subníveis, mas sim d) Educação fundamental, educação média, edu-
em etapas: cação superior.
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa... e) Educação básica, formada pela educação in-
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação fantil, ensino fundamental e ensino médio; educação
básica... superior.
Logo, conclui-se que Ensino Fundamental também é GABARITO: E
etapa. COMENTÁRIO: Alternativa E correta, por expressa
disposição do art. 21 da LDB.
b)Dentre as etapas da organização da educação, po-
Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
demos citar: a educação especial; a educação profissional;
I - educação básica, formada pela educação infan-
a educação de jovens e adultos; a educação indígena e a
educação a distância. til, ensino fundamental e ensino médio;
Alternativa errada, porque a educação especial; a II - educação superior.
educação profissional; a educação de jovens e adultos; a
educação indígena e a educação a distância são MODA- QUESTÃO 15
LIDADES e não ETAPAS
Ano: 2010
c) Correta Banca: COVEST-COPSET
Órgão: UFPE
d) Conforme o artigo 8 da LDB, a União, os Estados, Prova: Pedagogo
o Distrito Federal e os Municípios organizarão um regi-
me de colaboração dos sistemas de ensino com liber- De acordo com a LDB/1996, no Ensino Funda-
dade restrita mental e Médio, a verificação do rendimento escolar
Alternativa errada porque o art. 8º da LDB não fala observará os seguintes critérios:
em “liberdade restrita”. Aliás, a LDB não usa essa expres-
a) avaliação contínua e cumulativa do desempe-
são nenhuma vez em nenhum de seus artigos.
nho do aluno, com prevalência dos aspectos quanti-
e) Segundo o artigo 9 da LDB, cabe à União elaborar tativos e dos resultados ao longo do período sobre os
o Plano Nacional de Educação para os Estados, o Distri- de eventuais provas finais.
to Federal e os Municípios. b) possibilidade de aceleração de estudos para
Alternativa errada porque o artigo 9º da LDB, no inciso alunos com adiantamento escolar.
I diz que a União incumbir-se-á de elaborar o Plano Nacio- c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
nal de Educação,em colaboraçãocom os Estados, o Distrito mediante verificação do aprendizado.
Federal e os Municípios e não para os Estados, o Distrito d) aproveitamento de estudos e atividades con-
Federal e os Municípios. cluídos com êxito, realizados nos diversos sistemas
de ensino.
QUESTÃO 14 e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de
Ano: 2010 preferência no final do ano letivo, para os casos de
Banca: IF-SE baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
Órgão: IF-SE instituições de ensino em seus regimentos.
Prova: Assistente Social
GABARITO: C
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases- LDB
COMENTÁRIO: Alternativa C correta, por expressa
nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a educação
escolar compõe-se de: disposição da LDB.
a) Educação básica, formada pela educação infan- Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental
til, ensino fundamental e ensino médio. e médio, será organizada de acordo com as seguintes
b) Infantil, ensino fundamental, ensino médio e regras comuns:
ensino superior.
c) Educação infantil, ensino fundamental, ensino V - a verificação do rendimento escolar observará
médio e educação profissional. os seguintes critérios:
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
c) em instituições de ensino distintas, mediante con- c) aceleração para os superdotados, para concluir
vênios de intercomplementaridade, visando ao plane- em menor tempo o programa escolar.
jamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico d) acesso preferencial e prioritário aos benefícios
unificado. dos programas sociais suplementares, destinados
pelo Estado ao respectivo nível do ensino regular.
QUESTÃO 18 e) direito a um atendimento educacional especia-
lizado, realizado exclusivamente em locais filantrópi-
Ano: 2013 cos fora das classes regulares.
Banca: FUNCAB
Órgão: IF-RR GABARITO: C
Prova: Pedagogo COMENTÁRIO: Alternativa C correta, por expressa
disposição da LDB
De acordo com o Título IV da LDB nº 9394/96 é Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos
responsabilidade dos Estados, quanto à Organização educandos com deficiência, transtornos globais do de-
da Educação: senvolvimento e altas habilidades ou superdotação
a) organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins-
tituições oficiais do sistema federal de ensino. II - terminalidade específica para aqueles que não
b) assegurar o ensino fundamental e oferecer, com puderem atingir o nível exigido para a conclusão do
prioridade, o ensino médio. ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
c) coordenar a política nacional de educação e aceleração para concluir em menor tempo o pro-
avaliação, articulando os diferentes níveis e sistemas e grama escolar para os superdotados; GRIFAMOS
exercendo função deliberativa, normativa, redistributi-
va e supletiva em relação às demais instâncias educa- QUESTÃO 20
cionais.
d) elaborar e definir o Plano Nacional de Educação. Ano: 2013
e) prestar assistência técnica e financeira ao Gover- Banca: FUNCAB
no Federal. Órgão: IF-RR
Prova: Professor - Pedagogia
GABARITO: B
COMENTÁRIO: Alternativa B correta, por expressa Sobre o ensino religioso nas escolas a Lei nº
disposição da LDB. 9.394/1996 (LDB) determina que:
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: a) haja incentivo ao proselitismo religioso.
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, b) matrícula é obrigatória.
com prioridade, o ensino médio a todos que o deman- c) deve haver o respeito à diversidade cultural.
darem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; d) constitui disciplina do ensino médio.
e) ser oferecido em horários alternativos.
QUESTÃO 19
Ano: 2013 GABARITO: C
Banca: FUNCAB COMENTÁRIO: Alternativa C correta por expressa
Órgão: IF-RR disposição do art. 33 da LDB.
Prova: Pedagogo Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultati-
va, é parte integrante da formação básica do cidadão
A Educação Especial, de acordo com a LDB nº e constitui disciplina dos horários normais das escolas
9394/1996, determina para o aluno com necessida- públicas de ensino fundamental, assegurado o respei-
des especiais: to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
a) currículos, métodos, técnicas, recursos educati- quaisquer formas de proselitismo.
vos idênticos aos dos alunos regulares. § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os pro-
b) educação para o trabalho, para que as pessoas cedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
com deficiência possam competir igualmente no religioso e estabelecerão as normas para a habilitação
mercado de trabalho. e admissão dos professores.
38
LIVRO DE QUESTÕES
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, a) organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
constituída pelas diferentes denominações religiosas, tuições oficiais do sistema federal de ensino.
para a definição dos conteúdos do ensino religioso. b) assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
prioridade, o ensino médio.
QUESTÃO 21 c) coordenar a política nacional de educação e ava-
liação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exer-
Ano: 2010 cendo função deliberativa, normativa, redistributiva e
Banca: FUNCAB supletiva em relação às demais instâncias educacionais.
Órgão: SEDUC-RO d) elaborar e definir o Plano Nacional de Educação.
e) prestar assistência técnica e financeira ao Governo
Prova: Professor Nível 3 - Educação Física
Federal.
São diretrizes determinadas no Artigo 27 da LDB,
GABARITO: B
Lei nº 9.394/96, no que se refere aos conteúdos curri-
COMENTÁRIO: Alternativa B correta em razão do
culares da educação básica, EXCETO: disposto no art. 10, inciso VI, da LDB.
a) promoção do desporto educacional e apoio às Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
práticas desportivas não formais. VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
b) promoção da cultura artística, por meio de visi- prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
tas a museus e salas culturais. respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
c) a difusão de valores fundamentais ao interesse
social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito QUESTÃO 23
ao bem comum e à ordem democrática.
d) consideração das condições de escolaridade Ano: 2013
dos alunos em cada estabelecimento Banca: CESPE
e) orientação para o trabalho. Órgão: SEDUC-CE
Prova: Professor Pleno I
GABARITO: B
COMENTÁRIO: Alternativa B é a exceção, confor- Em relação às incumbências atribuídas aos entes
me se verifica da expressa redação do art. 27 da LDB. federados, às instâncias e aos segmentos institucionais,
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação bá- segundo a LDB, assinale a opção correta.
sica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: a) Cabe aos estados centralizar o poder decisório
relacionado às formas de colaboração — referentes à
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse
oferta do ensino fundamental em seus âmbitos —, a fim
social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito
de garantir equidade na distribuição de responsabilida-
ao bem comum e à ordem democrática;
des entre os municípios.
II - consideração das condições de escolaridade dos
b) Cabe aos municípios organizar e manter seus sis-
alunos em cada estabelecimento; temas de ensino, sendo-lhes vedada a opção de compor
III - orientação para o trabalho; com os estados um sistema único de educação básica.
IV - promoção do desporto educacional e apoio às c) Cabe aos estabelecimentos de ensino a articula-
práticas desportivas não-formais. ção com as famílias e a comunidade, com vistas a pro-
mover a integração entre escola e sociedade.
QUESTÃO 22 d) É facultado aos docentes participar da elaboração
da proposta pedagógica da escola.
Ano: 2013 e) Cabe à União, de forma unilateral, tomar as deci-
Banca: FUNCAB sões referentes às competências e diretrizes norteado-
Órgão: IF-RR ras dos currículos da educação básica nos estados, no
Prova: Pedagogo Distrito Federal e nos municípios
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LIVRO DE QUESTÕES
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas a) infantil deve ser pública e gratuita, atendendo
as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a crianças de até sete anos de idade.
incumbência de: c) básica é facultativa podendo qualquer cidadão
(...) acionar o poder público caso queira exigi‐la.
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, crian-
c) infantil de toda criança deve iniciar‐se a partir do
do processos de integração da sociedade com a escola;
dia em que completar três anos de idade.
QUESTÃO 24 d) é dever da família e do Estado, inspirada nos prin-
cípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.
Ano: 2013
Banca: CESPE GABARITO: D
Órgão: SEDUC-CE COMENTÁRIO: Alternativa correta D, conforme
Prova: Professor Pleno I art. 2º da LDB.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado,
Com referência às incumbências da União, dos esta-
inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
dos, do Distrito Federal e dos municípios e à organiza-
ção de seus respectivos sistemas de ensino, disciplina- solidariedade humana, tem por finalidade o pleno de-
dos pela LDB, assinale a opção correta. senvolvimento do educando, seu preparo para o exer-
a) Cabe aos estados assumirem o transporte escolar cício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
dos alunos das redes estadual e municipal.
b) É permitida a atuação dos municípios em outros QUESTÃO 26
níveis de ensino que não sejam os seus prioritários,
sempre que houver, comprovadamente, demanda da Ano: 2015
sociedade. Banca: CONSULPLAN
c) As instituições de educação superior, criadas e manti-
Órgão: Prefeitura de Duque de Caxias - RJ
das pela iniciativa privada, fazem parte dos sistemas munici-
pais de ensino. Prova: Auxiliar Administrativo
d) Compõem os sistemas municipais de ensino as insti-
tuições de educação superior mantidas pelo poder público Nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da
municipal. Educação Nacional (LDB nº 9.394/1996), o ensino
e) Cabe à União estabelecer, em colaboração com será ministrado com base nos seguintes princí-
os estados, o Distrito Federal e os municípios, compe- pios, EXCETO:
tências e diretrizes para a educação infantil, o ensino a) Valorização do profissional da educação escolar.
fundamental e o ensino médio.
b) Coexistência de instituições públicas e privadas
de ensino.
GABARITO: E
COMENTÁRIO: Alternativa E correta por expressa c) Igualdade de condições para o acesso e perma-
disposição da LDB. nência na escola.
Art. 9º A União incumbir-se-á de: d) Obrigação de aprender, ensinar e divulgar a
V - estabelecer, em colaboração com os Estados, o cultura, a arte e o saber.
Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensi- GABARITO: D
no médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos COMENTÁRIO: A alternativa D está incorreta, por
mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;
força do previsto no art. 3º, inciso II, da LDB. Não se
QUESTÃO 25 trata de “obrigação”, mas sim de “liberdade”.
Ano: 2015 Art. 3º O ensino será ministrado com base nos se-
Banca: CONSULPLAN guintes princípios:
Órgão: Prefeitura de Duque de Caxias - RJ (...)
Prova: Auxiliar Administrativo II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divul-
gar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; grifamos
Nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional (LDB nº 9.394/1996), a educação.
40
LIVRO DE QUESTÕES
QUESTÃO 27 GABARITO: D
COMENTÁRIO: A alternativa D é a correta, pois os
Ano: 2015 cursos sequenciais se encontram incluídos na educa-
Banca: CONSULPLAN ção superior, e não na pós-graduação, conforme art.
Órgão: Prefeitura de Duque de Caxias - RJ 44 da LDB.
Prova: Auxiliar Administrativo Art. 44. A educação superior abrangerá os seguin-
tes cursos e programas:
Nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Edu- I - cursos seqüenciais por campo de saber, de dife-
cação Nacional (LDB nº 9.394/1996), compete ao rentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
município,
atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições
a) assegurar processo nacional de avaliação das
de ensino, desde que tenham concluído o ensino médio
instituições de educação superior, com a coopera-
ou equivalente.
ção dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre
este nível de ensino.
b) elaborar o Plano Nacional de Educação, em co- QUESTÃO 29
laboração com os Estados e o Distrito Federal e orga-
nizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições Ano: 2015
oficiais de ensino. Banca: NUCEPE
c) organizar, manter e desenvolver os órgãos e Órgão: SEDUC-PI
instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, in- Prova: Professor
tegrando‐os às políticas e planos educacionais da
União e dos Estados. De acordo com a LDBN nº 9.394/96, as instituições
d) autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar de ensino dos diferentes níveis classificam-se nas se-
e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições guintes categorias administrativas:
de educação superior e os estabelecimentos do seu a) Particulares e comunitárias.
sistema de ensino. b) Particulares e confessionais.
c) Públicas e privadas.
GABARITO: C d) Privadas, comunitárias e confessionais.
COMENTÁRIO: Alternativa C correta por expressa e) Públicas, comunitárias e confessionais.
disposição do art. 11 da LDB.
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: GABARITO: C
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins-
COMENTÁRIO: O art. 3º da LDB prevê que as insti-
tituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integran-
tuições de ensino se dividem em públicas e privadas.
do-os às políticas e planos educacionais da União e
“Comunitárias” e “confessionais”, citadas nas outras
dos Estados;
alternativas, são espécies de instituições privadas,
QUESTÃO 28 como previsto no art.20. Por isso, a resposta correta
é a alternativa C.
Ano: 2014
Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Art. 3º O ensino será ministrado com base nos se-
Órgão: IF-SP guintes princípios:
Prova: Professor - Direito I - igualdade de condições para o acesso e perma-
nência na escola;
A pós-graduação, conforme a LDB, inclui alguns II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di-
tipos de cursos. vulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
Assinale a alternativa que apresenta um cur- III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
so NÃO incluído nesse nível educacional IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
a) Curso de mestrado ou de doutorado. V - coexistência de instituições públicas e privadas
b) Curso de atualização de ensino;
c) Curso de especialização VI - gratuidade do ensino público em estabeleci-
d) Curso sequencial de formação específica. mentos oficiais;
41
LIVRO DE QUESTÕES
VII - valorização do profissional da educação escolar; Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
VIII - gestão democrática do ensino público, na for- cumprimento dos objetivos da educação nacional, in-
ma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; tegra-se aos diferentes níveis e modalidades de edu-
IX - garantia de padrão de qualidade; cação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tec-
X - valorização da experiência extra-escolar; nologia.
XI - vinculação entre a educação escolar, o traba-
lho e as práticas sociais. QUESTÃO 31
XII - consideração com a diversidade étnico-racial.
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) Ano: 2012
XIII - garantia do direito à educação e à aprendi- Banca: FCC
zagem ao longo da vida. (Incluído pela Lei nº Órgão: SEE-MG
13.632, de 2018) Prova: Assistente Técnico Educacional - Apoio
Técnico
QUESTÃO 30
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
Ano: 2015 cação Nacional (LDB n° 9.394/1996), o ensino será
Banca: NUCEPE ministrado com base, dentre outros, no seguinte
Órgão: SEDUC-PI princípio:
Prova: Professor a) respeito ao uso do livro escolar escolhido pela
família e/ou criança.
O Capítulo III da LDB nº 9.394/96 trata da Educa- b) liberdade do uso ou não de uniforme nas de-
ção Profissional. No que se refere a essa modalidade pendências da escola.
de ensino, assinale a alternativaCORRETA. c) igualdade de condições para o acesso e perma-
a) A educação profissional e tecnológica, no cum- nência na escola.
primento dos objetivos da educação nacional, inte- d) incentivo aos estudos e acompanhamento das
gra-se aos diferentes níveis e modalidades de edu- lições de casa pela família.
cação e às dimensões do trabalho, da ciência e da
tecnologia. GABARITO: C
b) A educação profissional tem por finalidade in- COMENTÁRIO: Alternativa correta C, conforme
centivar o trabalho de pesquisa e investigação cien- previsão do art. 3º, inciso I, da LDB.
tífica, visando o desenvolvimento da ciência e da Art. 3º O ensino será ministrado com base nos se-
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse guintes princípios:
modo, desenvolver o entendimento do homem e do I - igualdade de condições para o acesso e perma-
meio em que vive. nência na escola;
c) A educação profissional objetiva promover a
divulgação de conhecimentos culturais, científicos QUESTÃO 32
e técnicos que constituem patrimônio da humanida-
de e comunicar o saber através do ensino, de publi- Ano: 2011
cações ou de outras formas de comunicação. Banca: COPEVE-UFAL
d) A educação profissional visa estimular a criação Órgão: UFAL
cultural e o desenvolvimento do espírito científico e Prova: Pedagogo
do pensamento reflexivo.
e) A educação profissional tem a finalidade de A CF de 1988 bem como a LDB 9394/96 apresen-
formar diplomados nas diferentes áreas de conheci- tam a gestão democrática como um dos princípios
mento, aptos para a inserção em setores profissionais constitucionais do ensino público. De acordo com o
e para a participação no desenvolvimento da socie- art. 14 da LDB 9394/96, os sistemas de ensino de-
dade brasileira e colaborar na sua formação contínua. finirão as normas da gestão democrática do ensino
público na educação básica, conforme os seguintes
GABSARITO: A princípios: participação dos profissionais da educa-
COMENTARIO: Alternativa A correta, conforme ção e participação das comunidades escolar e local,
expressa disposição do art. 39 da LDB. respectivamente,
42
LIVRO DE QUESTÕES
43
LIVRO DE QUESTÕES
44
LIVRO DE QUESTÕES
GABARITO: D GABARITO: D
COMENTÁRIO: Alternativa correta D, conforme COMENTÁRIO: Alternativa D está errada, confor-
previsão do art. 24, inciso V da LDB. Apontamos nos me disposição expressa do art. 33 da LDB.
grifos abaixo as exatas disposições da lei que funda- Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultati-
mentam a resposta. va, é parte integrante da formação básica do cidadão
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e constitui disciplina dos horários normais das escolas
e médio, será organizada de acordo com as seguintes públicas de ensino fundamental, assegurado o respei-
regras comuns: to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
(...) quaisquer formas de proselitismo.
V - a verificação do rendimento escolar observará
os seguintes critérios:
QUESTÃO 40
a) avaliação contínua e cumulativa do desempe-
nho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitati-
Ano: 2016
vos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
período sobre os de eventuais provas finais; Banca: UFMA
(...) Órgão: UFMA
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de Prova: Pedagogo
preferência paralelos ao período letivo, para os ca-
sos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados A alteração do artigo 26 A, da Lei nº 9.394/96
pelas instituições de ensino em seus regimentos; (LDB), pelas Leis nº 10.639/03 e 11.645/08, incluiu
como componente curricular na educação brasileira:
QUESTÃO 39 a) O ensino de, pelo menos, uma língua estran-
geira moderna
Ano: 2012 b) A música como conteúdo obrigatório, mas não
Banca: PaqTcPB exclusivo
Órgão: UEPB c) A educação física como prática facultativa ao aluno
Prova: Técnico de Enfermagem d) O ensino da arte, especialmente em suas ex-
(+ provas) pressões regionais
e) História e cultura afro-brasileira e indígena
Em relação à estrutura curricular da educação
básica no Brasil, proposta pela LDB 9.394/96 , bem GABARITO:E
como pelo Plano Nacional de Educação, as alternati-
COMENTÁRIO: Alternativa E correta. A alteração
vas abaixo estão corretas, EXCETO:
foi incluída pela lei 11.645/2008.
45
LIVRO DE QUESTÕES
QUESTÃO 41 GABARITO: B
COMENTÁRIO: alternativa B correta, por força do
Ano: 2013
art. 37, §2º da LDB.
Banca: FUNCAB
Órgão: IF-RR Art. 37. A educação de jovens e adultos será desti-
Prova: Professor - Pedagogia nada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade
de estudos no ensino fundamental e médio na idade
De acordo com a Lei nº 9.394/1996 (LDB), sobre própria.
os recursos públicos financeiros destinados à educa- (...)
ção, é correto afirmar que as despesas de manuten- § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o
ção e desenvolvimento do ensino consideram: acesso e a permanência do trabalhador na escola, me-
a) ofertar ajuda financeira de caráter assistencial. diante ações integradas e complementares entre si.
b) financiar pesquisas não vinculadas às institui-
ções de ensino. QUESTÃO 43
c) remunerar docentes e demais trabalhadores da
educação, quando em desvio de função. Ano: 2015
d) a construção e conservação de instalações e Banca: CONSULPLAN
equipamentos necessários ao ensino. Órgão: Prefeitura de Duque de Caxias - RJ
e) não financiar o uso e manutenção de bens e
Prova: Auxiliar Administrativo
serviços vinculados ao ensino.
46
LIVRO DE QUESTÕES
I - avaliação mediante acompanhamento e regis- V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so-
tro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
de promoção, mesmo para o acesso ao ensino funda- ensino regular.
mental;
QUESTÃO 45
QUESTÃO 44
Ano: 2011
Ano: 2015 Banca: IF-SP
Banca: IESES Órgão: IF-SP
Órgão: IFC-SC
Prova: Professor – QUESTÃO ATUALIZADA
Prova: Pedagogia
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
O planejamento das atividades pedagógicas inclusi-
cional (LDB) - Lei nº 9.394/1996, não está previsto como
vas deve ter como objetivo propiciar o que está garantido,
desde 1996, na LDBN, Lei 9394, em seu artigo 59. Neste dever do Estado em relação à educação escolar pública:
sentido, é necessário que o professor: a) educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
a) Adote o livro didático como ferramenta exclusiva tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada em pré-
de orientação dos programas de ensino. -escola; ensino fundamental e ensino médio;
b) Ofereça formas padronizadas de ensino, dando b) Oferta progressiva de educação superior gratuita
preferência às aulas expositivas em todo o território nacional;
c) Reflita sobre a sua prática pedagógica, para que
atenda às necessidades de todos os alunos. c) educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin-
d) Propicie uma única forma de avaliação. co) anos de idade;
d) atendimento educacional especializado gratuito
GABARITO: C aos educandos com deficiência, transtornos globais do
COMENTÁRIO: As atividades pedagógicas inclusivas desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
devem ser pensadas para garantir o atendimento de todos transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, pre-
os alunos, exigindo do professor a reflexão acerca de sua ferencialmente na rede regular de ensino;
prática pedagógica. e) acesso público e gratuito aos ensinos fundamental
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- e médio para todos os que não os concluíram na idade
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- própria.
mento e altas habilidades ou superdotação: (Redação
dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
GABARITO: B
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
COMENTÁRIO: Alternativa B é a única não prevista
organização específicos, para atender às suas necessidades;
pelo art. 4º da LDB. Esta questão foi atualizada em razão
II - terminalidade específica para aqueles que não pu-
derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino da modificação na redação da lei em 2013.
fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi-
para concluir em menor tempo o programa escolar para os ca será efetivado mediante a garantia de:
superdotados; I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
III - professores com especialização adequada em nível para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
médio ou superior, para atendimento especializado, bem I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
como professores do ensino regular capacitados para a in- tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da se-
tegração desses educandos nas classes comuns; guinte forma: Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua a) pré-escola; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condi- b) ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
ções adequadas para os que não revelarem capacidade c) ensino médio; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratui-
com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que dade ao ensino médio;
apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, II - universalização do ensino médio gratuito; (Reda-
intelectual ou psicomotora; ção dada pela Lei nº 12.061, de 2009)
47
LIVRO DE QUESTÕES
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) a) Articulada com o ensino médio.
anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) b) Subsequente, em cursos destinados a quem já
III - atendimento educacional especializado gratuito tenha concluído o ensino médio.
aos educandos com necessidades especiais, preferencial- c) As normas complementares dos respectivos
mente na rede regular de ensino; sistemas de ensino.
III - atendimento educacional especializado gratuito d) As exigências de cada instituição de ensino,
aos educandos com deficiência, transtornos globais do de- nos termos de seu projeto pedagógico.
senvolvimento e altas habilidades ou superdotação, trans- e) Todos os itens estão corretos, exceto os itens
versal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferen- c e d.
cialmente na rede regular de ensino; (Redação dada pela
Lei nº 12.796, de 2013) GABARITO: E
IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às COMENTÁRIO: As alternativas A e B estão corre-
crianças de zero a seis anos de idade; tas, por estarem de acordo com o art. 36-B da LDB.
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental As alternativas C e D não estão de acordo com o art.
e médio para todos os que não os concluíram na idade
36-B, mas com o parágrafo único do mesmo artigo.
própria; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
Assim, por estarem corretas as alternativas A e B e
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesqui-
incorretas as alternativas C e D, aponta-se como res-
sa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às posta a alternativa E.
condições do educando; Art. 36-B. A educação profissional técnica de
VII - oferta de educação escolar regular para jovens nível médio será desenvolvida nas seguintes for-
e adultos, com características e modalidades adequadas mas:
às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos I - articulada com o ensino médio;
que forem trabalhadores as condições de acesso e perma- II - subseqüente, em cursos destinados a quem
nência na escola; já tenha concluído o ensino médio.
VIII - atendimento ao educando, no ensino funda- Parágrafo único. A educação profissional téc-
mental público, por meio de programas suplementares de nica de nível médio deverá observar: (Incluído
material didático-escolar, transporte, alimentação e assis- pela Lei nº 11.741, de 2008)
tência à saúde; I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes
VIII - atendimento ao educando, em todas as eta- curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Na-
pas da educação básica, por meio de programas su- cional de Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741,
plementares de material didático-escolar, transporte, de 2008)
alimentação e assistência à saúde;(Redação dada pela II - as normas complementares dos respectivos sis-
Lei nº 12.796, de 2013) temas de ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, de- 2008)
finidos como a variedade e quantidade mínimas, por III - as exigências de cada instituição de ensino, nos
aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento termos de seu projeto pedagógico. (Incluído pela
do processo de ensino-aprendizagem. Lei nº 11.741, de 2008)
X – vaga na escola pública de educação infantil ou
de ensino fundamental mais próxima de sua residência a QUESTÃO 47
toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro)
anos de idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008). Ano: 2012
Banca: PaqTcPB
QUESTÃO 46 Órgão: UEPB
Prova: Técnico de Enfermagem
Ano: 2015
(+ provas)
Banca: IF-PA
Órgão: IF-PA
Analise as proposições abaixo referentes à gestão
Prova: Professor - Pedagogia
democrática das escolas no Brasil:
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- I - Um dos princípios de gestão democrática da
nal 9394/96 (LDBEN) dispõe que a educação pro- educação básica, previstos na LDB 9.394/96, é a parti-
fissional técnica de nível médio será desenvolvida cipação dos profissionais da educação na elaboração
de acordo com as seguintes formas: do projeto pedagógico da escola.
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
No Brasil, em termos educacionais, há uma de- IV – A Lei Nº 5.692/71 previa as idades mínimas
terminação legal, explicitada pela Lei de Diretrizes e de quinze anos para o 1º grau e dezoito para o 2º
Bases da Educação (LDB), no que concerne à idade grau.
mínima para o ingresso na formação em Ensino Mé- Após essa análise, pode-se concluir que as afir-
dio por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), mações
qual seja: a) I e III são falsas.
a) 15 (quinze) anos completos. b) II e III são verdadeiras.
b) 21 (vinte e um) anos completos. c) II e IV são falsas.
c) 18 (dezoito) anos completos. d) I e IV são verdadeiras.
d) 12 (doze) anos completos. e) I e III são verdadeiras.
e) 21 (vinte e um) anos incompletos.
GABARITO: B
GABARITO: C COMENTÁRIO: Alternativa B correta, por força do
COMENTÁRIO: Alternativa C correta nos termos disposto no art. 38 da LDB.
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e
do art. 38 da LDB.
exames supletivos, que compreenderão a base nacio-
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e
nal comum do currículo, habilitando ao prosseguimen-
exames supletivos, que compreenderão a base nacio-
to de estudos em caráter regular.
nal comum do currículo, habilitando ao prosseguimen-
§ 1º Os exames a que se refere este artigo reali-
to de estudos em caráter regular.
zar-se-ão:
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar- I - no nível de conclusão do ensino fundamental,
-se-ão: para os maiores de quinze anos;
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
para os maiores de quinze anos; maiores de dezoito anos.
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
maiores de dezoito anos. QUESTÃO 61
Ano: 2015
QUESTÃO 60 Banca: IMPARH
Órgão: Prefeitura de Fortaleza - CE
Ano: 2010 Prova: Professor - Pedagogo
Banca: IF-RJ
Órgão: IF-RJ O Decreto Federal nº 5.154/2004, regulamenta o §
Prova: Pedagogo 2º do Art: 36 e os Artigos 39 a 41 da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9394/96 e trata
Assim como preconizava a Lei Nº 5.692/71 para sobre uma modalidade de educação. Marque a alter-
o ensino de 1º e 2º graus, a atual LDB Nº 9.394/96, nativa que revela qual é CORRETAMENTE.
em seus artigos 37 e 38, também prevê que os jovens a) Educação Especial.
e adultos poderão concluir os ensino fundamental e b) Educação Profissional.
médio pela via dos cursos e exames supletivos. Con- c) Educação Ambiental.
tudo, para os exames supletivos, alteram-se as idades d) Educação à Distância.
mínimas. Analise estas afirmações.
I – Pela atual LDB, aos exames de conclusão do GABARITO: B
ensino fundamental poderão se inscrever maiores de COMENTÁRIO: Alternativa B correta. Vide art. 1º
dezoito anos e para o ensino médio, os maiores de do Decreto 5.154/2004, abaixo.
vinte anos. DECRETO Nº 5.154 DE 23 DE JULHO DE 2004.
II – Pela atual LDB, aos exames de conclusão do Art. 1o A educação profissional, prevista no art. 39
da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Di-
ensino fundamental poderão se inscrever maiores de
retrizes e Bases da Educação Nacional), observadas as
quinze anos e para o ensino médio, os maiores de
diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conse-
dezoito anos.
lho Nacional de Educação, será desenvolvida por meio
III – A Lei Nº 5.692/71 previa as idades mínimas de
de cursos e programas de:
dezoito anos para o 1º grau e vinte e um para o 2º grau.
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LIVRO DE QUESTÕES
QUESTÃO 62 ter uma nova redação dada pela Lei nº. 12.796 de 2013.
Ano: 2015 Assim, entende-se por Educação Especial para os efeitos
Banca: IMPARH da LDBEN:
Órgão: Prefeitura de Fortaleza - CE a) Nível de educação escolar voltado para alunos
Prova: Professor - Pedagogo com Deficiência Intelectual e Transtornos Globais
b) Modalidade de ensino escolar sob o princípio da
Um dos avanços proporcionados pela Lei de inclusão por meio de salas multifuncionais
Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB), Lei nº c) Modalidade de educação escolar oferecida, pre-
9394/96, foi a regulamentação da carga horária para ferencialmente, na rede regular de ensino, para alunos
o Ensino Fundamental e Médio, a ser cumprida pelas
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen-
instituições de ensino. Assim, os pais precisam ficar
to e altas habilidades/superdotação
atentos ao cumprimento desta carga horária, a fim
d) Etapa da Educação escolar oferecida obrigato-
de garantir o direito de seus filhos. Nesse sentido, é
riamente para alunos com Altas Habilidades e em salas
CORRETO afirmar.
a) A carga horária mínima anual será de 1.000 ho- multifuncionais
ras, distribuídas por um mínimo de 220 dias ao ano, e) Modalidade de educação escolar ofertadas obri-
de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reser- gatoriamente na rede pública para alunos com deficiên-
vado aos exames finais, quando houver. cias múltiplas
b) A carga horária mínima anual será de 880 ho-
ras, distribuídas por um mínimo de 220 dias de efeti- GABARITO: C
vo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos COMENTÁRIO: Alternativa C correta, conforme reda-
exames finais, quando houver. ção do art. 58 da LDB
c) A carga horária mínima anual será de 780 ho- Art. 58. Entende-se por educação especial, para os
ras, distribuídas por um mínimo de 185 dias de efeti- efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar ofe-
vo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos recida preferencialmente na rede regular de ensino, para
exames finais, quando houver. educandos com deficiência, transtornos globais do desen-
d) A carga horária mínima anual será de 800 ho- volvimento e altas habilidades ou superdotação.
ras, distribuídas por um mínimo de 200 dias de efeti-
vo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos QUESTÃO 64
exames finais, quando houver.
Ano: 2014
GABARITO: D
Banca: FUNCAB
COMENTÁRIO: Alternativa D correta, conforme art.
Órgão: SEE-AC
24, inciso I, da LDB
Prova: Professor EJA I (1º Segmento)
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
médio, será organizada de acordo com as seguintes regras
comuns: A LDB, Lei nº 9.394/1996, indica, em seu Art. 38, que “Os
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas ho- sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que
ras, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo compreenderão a base nacional comum do currículo, habi-
trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames fi- litando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.”
nais, quando houver; Assim, os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos edu-
candos por meios informais:
QUESTÃO 63 a) serão aferidos e reconhecidos mediante exames.
Ano: 2016 b) somente serão reconhecidos com documentação
Banca: UFMA comprobatória fornecida pelo aluno.
Órgão: UFMA c) não serão considerados para o prosseguimento dos
Prova: Técnico Assuntos Educacionais estudos
d) serão avaliados,mas não serão reconhecidos
Assinale a alternativa que correspondente ao Artigo e) necessitam de sistematização seriada e compro-
58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, vada pormeio de documentos
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que passou a
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
Reportar abuso
MTD Treinamento
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LIVRO DE QUESTÕES
Ano: 2008
Banca: CETRO
Órgão: SEDUC-SP
Prova: Supervisor Escolar
Dolly Ribeiro
16 de Maio de 2015, às 14h50 Um Diretor de estabelecimento de ensino indaga ao Su-
Útil (0) se isso for realmente estimulado teremos uma pervisor, no dia de sua visita à escola, se deve comunicar a
grande revolução kk
outras instâncias (e quais seriam estas) os casos de alunos
com número elevado de ausências. O Supervisor, com base
Reportar abuso
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Fede-
ral 9.394/96), deveria informá-lo que
a) devem ser notificados ao Conselho Tutelar do Mu-
nicípio, ao Juiz da Comarca e à Diretoria de Ensino apenas
os casos de reiteração de faltas injustificadas e de evasão
escolar, esgotados os recursos escolares.
Tomei Posse b) deve ser notificada ao Conselho Tutelar do Municí-
27 de Abril de 2015, às 11h05 pio a relação dos alunos que apresentem quantidade de
Útil (1) faltas acima do percentual permitido em lei, que é de vinte
Se trantando dos Reis que habitam o congresso na- e cinco por cento, conforme o previsto na LDB e no ECA
cional - primeiro é necessaário fazer a lei - depois a lei (Estatuto da Criança e do Adolescente).
para poder validar a esta lei - validando, isto é, legitiman- c) somente devem ser comunicados ao Conselho Tu-
do depois é necessario fazer outra lei para coloca-la em telar e ao Ministério Público os casos em que os alunos
pratica, e assim por diante. tenham atingido o percentual mínimo de cinqüenta por
Dilma criou a lei do feminicidio - cria também a lei
cento do total de horas letivas.
contra a corrupção - isto é aquela que prevê a decapitação
d) a notificação ao Conselho Tutelar do Município, ao
em praça publica para aqueles que desviam o dinheiro
Juiz da Comarca e à Diretoria de Ensino deve ser feita ape-
publico como ocorreu no seu partido e outros. É impres-
nas quando os casos de ausências configurarem-se como
sionante a passividade dos brasileiros quando roubam 89
bilhões embaixo de seus narizes e nada fazem. Esse é nos- de evasão escolar.
so dinheiro! que deveriam estar formando professores de e) se os alunos apresentam quantidade de faltas aci-
verdade, escolas de verdade. Mas diante da “omissão” do ma de cinqüenta por cento do percentual permitido em
povo brasileiro continuam a roubar e investir em políticas lei, devem ser notificados os casos ao Conselho Tutelar do
que fazem manutenção de todas essas desigualdades Município, ao Juiz competente da Comarca e ao respecti-
Acorda Brasil!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! vo representante do Ministério Público.
PL da terceirização e da maioridade penal - foi pro-
posto justamente para desviar a atenção e a revolta, so- GABARITO: E
bretudo das classes populares - a qual sempre fez com COMENTÁRIO: Alternativa E correta, em razão do art. 12
que a elite continuasse elite. da LDB.
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
Reportar abuso normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
▲ cumbência de:
Contagem de caracteres: 0/3000
(...)
Publicar
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao
94
juiz competente da Comarca e ao respectivo representante
Q30263
Pedagogia do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem
Legislação da Educação, Lei nº 9.394/96 - Lei de quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do per-
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e suas centual permitido em lei.
alterações
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
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LIVRO DE QUESTÕES
QUESTÃO 75 GABARITO: C
COMENTÁRIO: Alternativa C correta, conforme
Ano: 2013 art. 24, inciso V da LDB, grifado abaixo.
Banca: IF-PB Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental
Órgão: IF-PB e médio, será organizada de acordo com as seguintes
Prova: Técnico em Assuntos Educacionais regras comuns:
V - a verificação do rendimento escolar observará
Leia o trecho a seguir: os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desem-
“Uma proposta de rompimento com a concepção de penho do aluno, com prevalência dos aspectos
avaliação que pune e exclui o aluno em direção a uma qualitativos sobre os quantitativos e dos resulta-
concepção de progresso e desenvolvimento da apren- dos ao longo do período sobre os de eventuais pro-
dizagem tem feito parte das mudanças implementadas vas finais;
nas escolas brasileiras nos últimos anos e está entre as b) possibilidade de aceleração de estudos para
inovações preconizadas pela nova LDB. (Lei nº 9.394, de alunos com atraso escolar;
20/12/1996 que estabelece as Diretrizes e Bases da Edu- c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
cação Nacional).” mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com
Considerando os critérios que deverão ser observa- êxito;
dos em relação à verificação do rendimento escolar, de e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de
acordo com a LDB, assinale (V) para Verdadeiro e (F) para preferência paralelos ao período letivo, para os casos
Falso: de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pe-
( ) Possibilidade de aceleração de estudos para alu- las instituições de ensino em seus regimentos;
nos com atraso escolar.
( ) Aproveitamento de estudos concluídos com êxito. QUESTÃO 76
( ) Avaliação contínua e cumulativa de desempenho
do aluno, com prevalência de aspectos quantitativos so- Ano: 2010
bre os qualitativos e dos resultados ao longo do período Banca: IF-SE
sobre as eventuais provas finais. Órgão: IF-SE
( ) Construção de um calendário escolar para a rea- Prova: Professor - Pedagogia
lização das provas, em que os alunos terão mais chan-
ce para estudar os conteúdos trabalhados ao longo do A Lei nº 9.394/96 (LDBEN), quando regulamenta
processo. a organização da educação nacional, define como in-
( ) Garantia de mudança das práticas avaliativas den- cumbências dos estabelecimentos de ensino, a ela-
tro do contexto educacional, bem como da ação educa- boração e execução de propostas pedagógicas. Para
tiva do professor. o cumprimento dessa regulamentação normativa:
( ) Obrigatoriedade de estudos de recuperação, de I. A elaboração da proposta pedagógica da esco-
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de la deve ser pautada em estratégias que dêem voz a
baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas todos os atores da comunidade escolar: funcionários,
instituições de ensino em seus regimentos. pais, professores e estudantes;
A sequência CORRETA é:
62
LIVRO DE QUESTÕES
63
LIVRO DE QUESTÕES
64
LIVRO DE QUESTÕES
65
LIVRO DE QUESTÕES
d) Elaborar e executar políticas e plano educacio- b) possibilidade de aceleração de estudos para alu-
nais, em consonância com as diretrizes e planos na- nos com atraso escolar;
cionais de educação, integrando e coordenando as c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
suas ações e as dos seus Municípios. mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
GABARITO: C e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de
COMENTÁRIO: Alternativa C correta em razão do preferência paralelos ao período letivo, para os casos
disposto no art. 9º da LDB. de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pe-
Art. 9º A União incumbir-se-á de: las instituições de ensino em seus regimentos;
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola-
boração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
QUESTÃO 85
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e
instituições oficiais do sistema federal de ensino e o
Ano: 2015
dos Territórios;
Banca: IF-SP
QUESTÃO 84 Órgão: IF-SP
Prova: Professor - Pedagogia
Ano: 2015
Banca: IF-SP De acordo com a Lei nº 9.394, de 1996, a edu-
Órgão: IF-SP cação profissional técnica de nível médio será de-
Prova: Professor - Pedagogia senvolvida nas seguintes formas:
I. articulada com o ensino médio.
De acordo com a Lei nº 9.394, de 1996, a verifi- II. subsequente, em cursos destinados a quem já
cação do rendimento escolar observará os seguin- tenha concluído o ensino médio.
tes critérios: III. a critério de cada instituição de ensino, nos ter-
a) Avaliação contínua e cumulativa do desempe- mos de seu projeto pedagógico.
nho do aluno, com prevalência dos aspectos qua- Está(ão) incorreta(s) somente a(s) afirmativa(s):
litativos sobre os quantitativos e dos resultados ao a) II.
longo do período sobre os de eventuais provas finais. b) III.
b) Possibilidade de aceleração de estudos para c) I.
alunos com atraso escolar. d) I e II.
c) Possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
e) II e III.
mediante verificação do aprendizado.
d) Obrigatoriedade de estudos de recuperação,
GABARITO: B
de preferência paralelos ao período letivo, para os ca-
COMENTÁRIO: Considerando que a questão pede
sos de baixo rendimento escolar, a serem disciplina-
dos pelas instituições de ensino em seus regimentos. que seja assinalada a INCORRETA, a alternativa a ser
e) Todas as alternativas anteriores estão corretas. apontada é a B, pois somente a afirmação III está IN-
CORRETA, conforme se verifica do art. 36-B, parágra-
GABARITO: E fo único.
COMENTÁRIO: Todas as alternativas estão corre- Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível
tas, como se verifica do art. 24, inciso V, da LDB. médio será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluí-
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental do pela Lei nº 11.741, de 2008)
e médio, será organizada de acordo com as seguintes I - articulada com o ensino médio; (Incluído pela
regras comuns: Lei nº 11.741, de 2008)
V - a verificação do rendimento escolar observará II - subseqüente, em cursos destinados a quem já
os seguintes critérios: tenha concluído o ensino médio.(Incluído pela Lei nº
a) avaliação contínua e cumulativa do desempe- 11.741, de 2008)
nho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitati- Parágrafo único. A educação profissional técnica
vos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do de nível médio deverá observar: (Incluído pela Lei nº
período sobre os de eventuais provas finais; 11.741, de 2008)
66
LIVRO DE QUESTÕES
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes curri- § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades se-
culares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de rão por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por
Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) instituições não-universitárias serão registrados em univer-
II - as normas complementares dos respectivos siste- sidades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.
mas de ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos ter- QUESTÃO 87
mos de seu projeto pedagógico. (Incluído pela Lei nº 11.741,
Ano: 2015
de 2008)
Banca: IF-SP
Órgão: IF-SP
QUESTÃO 86
Prova: Professor - Pedagogia
67
LIVRO DE QUESTÕES
QUESTÃO 88 GABARITO: B
COMENTÁRIO: Alternativa B correta, em razão do
Ano: 2015 art. 13 da LDB.
Banca: NUCEPE Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
Órgão: SEDUC-PI I - participar da elaboração da proposta pedagógi-
Prova: Professor ca do estabelecimento de ensino;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo
O artigo 3º da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
cação Nacional nº 9.394/96, assegura que o ensi-
no deve ser ministrado com base nos seguintes prin- III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
cípios, EXCETO, IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
a) igualdade de condições para o acesso e perma- alunos de menor rendimento;
nência na escola. V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabele-
b) liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di- cidos, além de participar integralmente dos períodos
vulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber. dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen-
c) pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. volvimento profissional;
d) respeito à liberdade e apreço à tolerância. VI - colaborar com as atividades de articulação da
e) coexistência apenas de instituições públicas de escola com as famílias e a comunidade
ensino.
QUESTÃO 90
GABARITO: E
COMENTÁRIO: Alternativa incorreta E, conforme
previsão do art. 3º, inciso V, da LDB. Ano: 2013
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos se- Banca: IF-PB
guintes princípios: Órgão: IF-PB
V - coexistência de instituições públicas e privadas Prova: Técnico em Assuntos Educacionais
de ensino;
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
QUESTÃO 89 cação Nacional, a Educação Básica (EB) é o nível edu-
cacional que tem como objetivo desenvolver o edu-
Ano: 2015 cando para o exercício e a construção da cidadania,
Banca: NUCEPE bem como propiciar-lhe os meios para estudos pos-
Órgão: SEDUC-PI teriores. Sobre a Educação Básica, é CORRETO afir-
Prova: Professor
mar:
a) O Ensino Fundamental, com nove anos de du-
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional nº 9.394/96, os docentes estão in- ração, obrigatório por determinação legal, atende
cumbidos de crianças a partir de sete anos de idade.
a) prover meios para recuperação dos alunos de b) A Educação Básica compreende quatro etapas,
menor rendimento. que são: educação infantil, ensino fundamental, ensi-
b) zelar pela aprendizagem dos alunos. no médio e ensino profissional.
c) articular-se com as famílias e a comunidade,
criando processos de integração da sociedade com c) A Educação Infantil, é oferecida nas creches
a escola. para crianças de até três anos de idade e em pré-es-
d) informar pai e mãe, conviventes ou não com colas, para crianças de quatro a seis anos de idade.
seus filhos e, se for o caso, os responsáveis legais, so- d) As modalidades compreendem formas peculia-
bre a frequência e rendimento dos alunos.
res da Educação Básica: educação profissional, edu-
e) notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao
cação escolar indígena, educação do campo, educa-
juiz competente da Comarca e ao respectivo repre-
sentante do Ministério Público a relação dos alunos ção especial, educação de jovens e adultos, educação
que apresentem quantidade de faltas acima de cin- a distância e tecnologias da informação e da comu-
quenta por cento do percentual permitido em lei. nicação.
68
LIVRO DE QUESTÕES
69
LIVRO DE QUESTÕES
a) Assumir o transporte escolar dos alunos da rede d) A formação de docentes para atuar na educa-
estadual. ção básica far-se-á em nível médio, em curso de ba-
b) Assumir o transporte escolar dos alunos da rede charelado, de graduação plena, em universidades e
municipal. institutos superiores de educação.
c) Elaborar e executar políticas e plano educacionais, GABARITO: A
em consonância com as diretrizes e planos nacionais de COMENTÁRIO: Alternativa A correta, conforme
educação, integrando e coordenando as suas ações e as art. 62 da LDB.
Art. 62. A formação de docentes para atuar na
dos seus Municípios.
educação básica far-se-á em nível superior, em curso
d) Organizar, manter e desenvolver os órgãos e
de licenciatura, de graduação plena, em universidades
instituições oficiais do sistema federal de ensino e
e institutos superiores de educação, admitida, como
dos Territórios. formação mínima para o exercício do magistério na
GABARITO: D educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do en-
COMENTÁRIO: Alternativa D correta, conforme sino fundamental, a oferecida em nível médio na mo-
disposto no art. 9º, inciso II, da LDB. dalidade normal. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
Art. 9º A União incumbir-se-á de: 2013)
(...)
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e QUESTÃO 95
instituições oficiais do sistema federal de ensino e o
dos Territórios; Ano: 2015
Banca: IF-PA
QUESTÃO 94 Órgão: IF-PA
Prova: Professor - Design
Ano: 2015 (+ provas)
Banca: IESES
De acordo com o Art. 24, inciso I, da Lei Nº
Órgão: IFC-SC
9.394/96, A educação básica, nos níveis fundamen-
Prova: Pedagogia – Educação Infantil
tal e médio, será organizada de acordo com as se-
guintes regras comuns: a carga horária mínima anual
No Brasil, a formação de professores que atuam será de __________horas, distribuídas por um míni-
na educação básica tem sido objetivo de inúmeras mo de____________ dias de efetivo trabalho escolar,
reflexões, sobretudo a partir da década de 1990, com ___________ o tempo reservado aos exames finais,
a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação quando houver;
Nacional (Lei nº 9.394/96) que estabeleceu as diretri- a) setecentas – cento e oitenta – incluído.
zes e bases da educação nacional. Essa lei determina b) oitocentas – duzentos – excluído.
no seu artigo 62 que: c) seiscentas – duzentos e cinquenta – excluído.
a) A formação de docentes para atuar na educa- d) oitocentas – duzentos – incluído.
ção básica far-se-á em nível superior, em curso de e) setecentos e cinquenta – duzentos – excluído.
licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação. GABARITO: B
b) A formação de docentes para atuar na educa- COMENTÁRIO: Alternativa B correta, coforme pre-
ção básica far-se-á em nível superior, em curso de visão do art. 24, inciso I, da LDB.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental
bacharelado, de graduação plena, em universidades
e médio, será organizada de acordo com as seguintes
e institutos superiores de educação.
regras comuns:
c) A formação de docentes para atuar na educa-
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
ção básica far-se-á em nível superior, em curso de horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias
licenciatura, de graduação curta, em universidades e de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado
institutos superiores de educação. aos exames finais, quando houver;
70
LIVRO DE QUESTÕES
71
LIVRO DE QUESTÕES
QUESTÃO 99 GABARITO: A
COMENTÁRIO: Alternativa A errada em razão do
Ano: 2006 disposto nos arts. 12 e 13 da LDB. O previsto na alter-
Banca: IPAD nativa A é incumbência do estabelecimento de ensi-
Órgão: SEDUC-PE no. Os demais, do docente.
Prova: Pedagogo Art. 12. Os ESTABELECIMENTOS DE ENSINO,
respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
ensino, terão a incumbência de:
cional Nº . 9394/96:
a) extingue a organização de turmas por série nos VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município,
estabelecimentos e sistemas de ensino. ao juiz competente da Comarca e ao respectivo repre-
b) considera a Educação de Jovens e Adultos (EJA) sentante do Ministério Público a relação dos alunos
o terceiro nível do ensino básico. que apresentem quantidade de faltas acima de 50%
c) preconiza que a avaliação deve privilegiar as- do percentual permitido em lei.
pectos qualitativos frente aos quantitativos. Art. 13. Os DOCENTES incumbir-se-ão de:
d) torna compulsória a profissionalização em toda I - participar da elaboração da proposta pedagógi-
a Educação Básica pública ou privada. ca do estabelecimento de ensino;
e) proclama que a educação infantil é direito lí- II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo
quido e subjetivo de todo cidadão brasileiro. a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
GABARITO: C
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
COMENTÁRIO: Alternativa C correta em razão do
disposto no art. 24, inciso V, alínea “a” da LDB. alunos de menor rendimento;
Art. 24 V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabele-
V - a verificação do rendimento escolar observará cidos, além de participar integralmente dos períodos
os seguintes critérios: dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen-
a) avaliação contínua e cumulativa do desempe- volvimento profissional;
nho do aluno, com prevalência dos aspectos quali- VI - colaborar com as atividades de articulação da
tativos sobre os quantitativos e dos resultados ao escola com as famílias e a comunidade.
longo do período sobre os de eventuais provas finais;
QUESTÃO 101
QUESTÃO 100
Ano: 2016
Ano: 2013
Banca: UFMT
Banca: FGV
Órgão: UFMT
Órgão: SEDUC-SP
Prova: Conhecimentos Pedagógicos Prova: Técnico de Tecnologia da Informação
72
LIVRO DE QUESTÕES
( ) Os diplomas de Mestrado e de Doutorado ex- d) tem como tema transversal de seus currículos o
pedidos por universidades estrangeiras só poderão estudo sobre os símbolos nacionais.
ser reconhecidos por universidades que possuam
cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, GABARITO: B
na mesma área de conhecimento e em nível equiva- COMENTÁRIO: Alternativa B correta em razão do
lente ou superior. art. 30 da LDB.
Assinale a sequência correta. Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
a) V, V, V
I - creches, ou entidades equivalentes, para crian-
b) V, V, F
ças de até três anos de idade;
c) F, F, V
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5
d) F, F, F
(cinco) anos de idade.
GABARITO: A
COMENTÁRIO: Todos os itens estão corretos, con- QUESTÃO 103
forme art. 48 da LDB.
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reco- Ano: 2015
nhecidos, quando registrados, terão validade nacional Banca: FUNCERN
como prova da formação recebida por seu titular. Órgão: IF-RN
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades Prova: Técnico em Química
serão por elas próprias registrados, e aqueles confe- (+ provas)
ridos por instituições nãouniversitárias serão registra-
dos em universidades indicadas pelo Conselho Nacio- Nos termos da Lei nº 9.394/1996, a educação su-
nal de Educação. perior abrangerá os cursos
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por a) de graduação e de pós-graduação, abertos a
universidades estrangeiras serão revalidados por uni-
candidatos que atendam aos requisitos estabeleci-
versidades públicas que tenham curso do mesmo ní-
dos pelas instituições de ensino, desde que tenham
vel e área ou equivalente, respeitandose os acordos
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham
internacionais de reciprocidade ou equiparação.
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado atingido a nota mínima sessenta.
expedidos por universidades estrangeiras só pode- b) de extensão e de pesquisa científica, abertos a
rão ser reconhecidos por universidades que possuam candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos
cursos de pósgraduação reconhecidos e avaliados, na pelas instituições de ensino, desde que tenham con-
mesma área de conhecimento e em nível equivalente cluído o ensino médio regular, na modalidade EJA ou
ou superior. supletivo.
c) integrados de ensino médio e de técnico com
QUESTÃO 102 habilitação, abertos a candidatos que atendam aos
requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino,
Ano: 2014 desde que tenham concluído o ensino fundamental
Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) ou equivalente.
Órgão: Prefeitura de Ribeirão das Neves - MG d) sequenciais por campo de saber, de diferen-
Prova: Educador infantil II tes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
atendam aos requisitos estabelecidos pelas institui-
Segundo o que dispõe a Lei de Diretrizes e Bases
ções de ensino, desde que tenham concluído o ensi-
da Educação Nacional, é INCORRETO afirmar que o
ensino fundamental no médio ou equivalente.
a) compõe o nível de educação básica.
b) é oferecido em creches ou entidades equiva- GABARITO: D
lentes e pré-escolas. COMENTÁRIO: Alternativa D correta, por força do
c) é presencial, podendo o ensino a distância ser disposto no art. 44 da LDB.
utilizado como complemento de aprendizagem ou Art. 44. A educação superior abrangerá os seguin-
em situações emergenciais. tes cursos e programas:
73
LIVRO DE QUESTÕES
74
LIVRO DE QUESTÕES
d) integrada; Ensino Médio; profissional técnica III. Conhecimentos e habilidades adquiridos pelo
de nível médio; concomitante; Ensino Médio; conco- estudante por meios informais não podem ser reco-
mitante; distintas instituições educacionais públicas. nhecidos formalmente para qualquer fim na institui-
e) integrada; Ensino Fundamental; profissional ção que oferta cursos para jovens e adultos.
técnica de nível médio; integrada; Ensino Fundamen- Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
tal; concomitante; distintas instituições educacionais. a) Somente I.
b) Somente II.
GABARITO: B c) I e III.
COMENTÁRIO: Alternativa B, conforme art. 36-C d) I e II.
da LDB. e) II e III.
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível
médio articulada, prevista no inciso I do caputdo art. GABARITO: B
36-B desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído COMENTÁRIO: Alternativa B correta,conforme
pela Lei nº 11.741, de 2008) disposto no art. 37 da LDB.
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha
concluído o ensino fundamental, sendo o curso plane- Art. 37. A educação de jovens e adultos será desti-
jado de modo a conduzir o aluno à habilitação profis- nada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade
sional técnica de nível médio, na mesma instituição de de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
ensino, efetuando-se matrícula única para cada alu- própria e constituirá instrumento para a educação e a
no; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) aprendizagem ao longo da vida. (Redação dada
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no pela Lei nº 13.632, de 2018)
ensino médio ou já o esteja cursando, efetuando-se § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuita-
matrículas distintas para cada curso, e podendo ocor- mente aos jovens e aos adultos, que não puderam efe-
rer: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) tuar os estudos na idade regular, oportunidades edu-
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando- cacionais apropriadas, consideradas as características
-se as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluí- do alunado, seus interesses, condições de vida e de tra-
do pela Lei nº 11.741, de 2008) balho, mediante cursos e exames.
b) em instituições de ensino distintas, aproveitan-
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o
do-se as oportunidades educacionais disponíveis; (In-
acesso e a permanência do trabalhador na escola, me-
cluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
diante ações integradas e complementares entre si.
c) em instituições de ensino distintas, mediante
§ 3o A educação de jovens e adultos deverá articu-
convênios de intercomplementaridade, visando ao pla-
lar-se, preferencialmente, com a educação profissional,
nejamento e ao desenvolvimento de projeto pedagó-
na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº
gico unificado. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
11.741, de 2008)
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e
QUESTÃO 106
exames supletivos, que compreenderão a base nacio-
Ano: 2015 nal comum do currículo, habilitando ao prosseguimen-
Banca: IF-SP to de estudos em caráter regular.
Órgão: IF-SP § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-
Prova: Professor - Pedagogia -se-ão:
texto associado I - no nível de conclusão do ensino fundamental,
para os maiores de quinze anos;
Em relação à Lei nº 9394, de 1996, na Seção V, II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
que trata da Educação de Jovens e Adultos, consi- maiores de dezoito anos.
dere as afirmativas: § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos
I. A educação de Jovens e Adultos deve ser articu- pelos educandos por meios informais serão aferidos e
lada, obrigatoriamente, com a educação profissional. reconhecidos mediante exames.
II. Devem ser asseguradas aos jovens e adultos Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e
oportunidades educacionais apropriadas, conside- exames supletivos, que compreenderão a base nacio-
radas as características do alunado, seus interesses, nal comum do currículo, habilitando ao prosseguimen-
condições de vida e de trabalho. to de estudos em caráter regular.
75
LIVRO DE QUESTÕES
§ 1º Os exames a que se refere este artigo reali- I – de formação inicial e continuada ou qualifica-
zar-se-ão: ção profissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, II – de educação profissional técnica de nível mé-
para os maiores de quinze anos; dio; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os III – de educação profissional tecnológica de gra-
maiores de dezoito anos. duação e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741,
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiri- de 2008)
dos pelos educandos por meios informais serão aferi-
QUESTÃO 108
dos e reconhecidos mediante exames.
Ano: 2015
QUESTÃO 107 Banca: NUCEPE
Órgão: SEDUC-PI
Ano: 2015 Prova: Professor
Banca: IF-SP
Órgão: IF-SP Na Educação a Distância, além do papel do pro-
Prova: Professor - Pedagogia fessor e aluno, há também o do tutor, o qual auxilia
o professor no exercício de seu trabalho como do-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- cente. Sua principal atribuição é
nal (lei nº 9394, de 1996) em conjunto com a Lei a) desenvolver conteúdos, revisitar e revisar o co-
nº 11.741/2008 define as características da Edu- nhecimento gerado, privilegiar atividades que con-
cação Profissional e Tecnológica. Assinale a alter- formem reflexões individuais e grupais.
nativa que apresente a abrangência correta desta b) orientar os estudantes no processo de matrícu-
modalidade de ensino. la, documentação, aproveitamento de estudos, mo-
mentos presenciais (se necessário) e processo de cer-
a) I - Formação inicial e continuada ou qualifica-
tificação.
ção profissional; II - Educação Profissional Técnica de
c) acompanhar o cumprimento do cronograma
Nível Médio e III - Educação Profissional Tecnológica, do curso por parte do aluno, por meio das ativida-
de graduação e de pós-graduação. des previstas no Plano de Estudos.
b) I - Formação inicial e qualificação profissional; d) desenvolver atos pedagógicos, propor técni-
II - Educação Profissional Técnica de Nível Fundamen- cas para facilitar a aprendizagem, acompanhamento
tal e Médio e III - Educação Profissional Tecnológica, do trabalho do tutor e do processo do aluno, promo-
de graduação e de pós-graduação. ver a autorreflexão.
c) I - Formação inicial e continuada; II - Educação e) acompanhar o trabalho pedagógico, orientan-
Profissional Técnica de Nível Médio e III - Educação do, incentivando e apoiando o aluno em seu desem-
Profissional Tecnológica, de graduação. penho nas atividades. Promover a interação dos alu-
d) I - Formação para qualificação profissional; II nos e propiciar um ambiente favorável à discussão.
- Educação Profissional Técnica de Fundamental e Ní-
vel Médio e III - Educação Profissional Tecnológica, de GABARITO: E
graduação e de pós-graduação. COMENTÁRIO: A função do tutor é acompanhar
o trabalho de desenvolvimento do aprendizado do
e) I - Formação inicial e continuada; II - Educação
aluno, sempre intermediando a sua participação e ze-
Profissional Técnica de Nível de Médio e III - Educa-
lando para que tire o melhor das aulas.
ção Profissional Tecnológica e de pós-graduação.
QUESTÃO 109
GABARITO: A Ano: 2015
COMENTÁRIO: Alternativa A correta, em razão do Banca: NUCEPE
art. 39 da LDB. Órgão: SEDUC-PI
Art. 39- Prova: Professor
§ 2o A educação profissional e tecnológica abran-
gerá os seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, Atualmente, a concepção de Educação Profissio-
de 2008) nal prevê um ensino voltado a
76
LIVRO DE QUESTÕES
a) formar técnicos sob o regime da urgência, ga- tecnologias de informação e comunicação, com estu-
rantindo o domínio operacional de um determina- dantes e professores desenvolvendo atividades educa-
do fazer, a cultura técnica ou formação instrumental tivas, em lugares ou tempos diversos:
em grau elementar. a) Educação a Distância.
b) maior capacidade de raciocínio, autonomia in- b) Educação Tradicional.
telectual, pensamento crítico, iniciativa própria e es- c) Educação Presencial.
pírito empreendedor, bem como capacidade de vi- d) Educação Integral.
sualização e resolução de problemas. GABARITO: A
c) o ensino de ofícios em que a preparação para o
trabalho manual torna-se incompatível com o acesso COMENTÁRIO: Alternativa correta A, conforme art.
aos conhecimentos universais. 80 da LDB.
d) a incorporação de uma cultura técnico-cientí- O Art. 80 discorre: O Poder público incentivará o de-
fica voltada para a preparação profissional em que senvolvimento e a veiculação de programas de ensino a
os conteúdos são tratados de modo fechado, rígidos, distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e
para garantir o aprendizado técnico.
de educação continuada.
e) O domínio das técnicas, da parcelarização do
trabalho e da adaptação à máquina, de maneira a dis-
QUESTÃO 111
ciplinar a força de trabalho e adequá-la à organização
fabril.
Ano: 2015
Banca: IMPARH
GABARITO: B
COMENTÁRIO: As Diretrizes Curriculares Nacio- Órgão: Prefeitura de Fortaleza - CE
nais para a Educação Profissional Técnica de Nível Mé- Prova: Professor - Pedagogo
dio “ Devem estar centradas exatamente nesse com-
promisso de oferta de uma Educação Profissional mais O Ministério da Educação (MEC), cumprindo as
ampla e politécnica. As mudanças sociais e a revolu- exigências legais, propôs e encaminhou às escolas os
ção científica e tecnoló- gica, bem como o processo de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e por meio
reorganização do trabalho demandam uma completa do próprio MEC, coube à União o estabelecimento de
revisão dos currículos, tanto da Educação Básica como conteúdos mínimos, que foram denominados:
um todo, quanto, particularmente, da Educação Pro- a) Globalização.
fissional, uma vez que é exigido dos trabalhadores, em b) Parte Diversificada.
doses cada vez mais crescentes, maior capacidade c) Valorização Cultural.
de raciocínio, autonomia intelectual, pensamento d) Base Nacional Comum.
crítico, iniciativa própria e espírito empreendedor,
bem como capacidade de visualização e resolução GABARITO: D
de problemas.” COMENTÁRIO: Alternativa D correta, por força do
art. 9º da LDB.
Art. 9º A União incumbir-se-á de:
QUESTÃO 110 I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em
colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Ano: 2015 Municípios;
Banca: IESES II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins-
Órgão: IFC-SC tituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos
Prova: Pedagogia Territórios;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Esta-
Segundo o artigo 1º do Decreto nº 5.622, de 19 dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
de dezembro de 2005, que regulamenta o artigo 80 da volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento
Lei nº 9394/96, é a modalidade educacional na qual a
prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua
mediação didáticopedagógica nos processos de ensi-
função redistributiva e supletiva;
no/aprendizagem ocorre com a utilização de meios e
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IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Com relação aos argumentos que justificam a res-
Distrito Federal e os Municípios, competências e diretri- posta do diretor em defesa da permanência desse aluno
zes para a educação infantil, o ensino fundamental e o na sala de aula, analise as afirmativas a seguir.
ensino médio, que nortearão os currículos e seus con- I. O Estado deve garantir atendimento educacional
teúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica especializado gratuito aos educandos com necessida-
comum; des especiais.
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o II. A Educação Especial deve ser oferecida preferen-
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimen- cialmente na rede regular de ensino.
tos para identificação, cadastramento e atendimento, na III. As redes escolares públicas urbanas de Ensino
educação básica e na educação superior, de alunos com Fundamental devem adotar o regime de tempo parcial
altas habilidades ou superdotação; (Incluído pela Lei a fim de receber crianças especiais.
nº 13.234, de 2015) Assinale:
V - coletar, analisar e disseminar informações so- a) se somente a afirmativa I estiver correta.
bre a educação; b) se somente a afirmativa II estiver correta.
VI - assegurar processo nacional de avaliação do c) se somente a afirmativa III estiver correta.
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e d) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
superior, em colaboração com os sistemas de ensino, e) se todas as afirmativas estiverem corretas.
objetivando a definição de prioridades e a melhoria da
qualidade do ensino; GABARITO: D
VII - baixar normas gerais sobre cursos de gra- COMENTÁRIO: Alternativa D correta, em razão do
duação e pós-graduação; art. 58 da LDB.
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das Art. 58. Entende-se por educação especial, para
instituições de educação superior, com a cooperação os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar
dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este oferecida preferencialmente na rede regular de en-
nível de ensino; sino, para educandos com deficiência, transtornos glo-
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisio- bais do desenvolvimento e altas habilidades ou super-
nar e avaliar, respectivamente, os cursos das institui- dotação. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).
ções de educação superior e os estabelecimentos do
seu sistema de ensino. (Vide Lei nº 10.870, de 2004) QUESTÃO 113
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
Nacional de Educação, com funções normativas e de Ano: 2015
supervisão e atividade permanente, criado por lei. Banca: IESES
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a Órgão: IFC-SC
IX, a União terá acesso a todos os dados e informações Prova: Pedagogia
necessários de todos os estabelecimentos e órgãos
educacionais. No que diz respeito à avaliação da aprendiza-
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão gem, assinale a alternativa INCORRETA.
ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde a) É importante que se categorize o desempenho
que mantenham instituições de educação superior. escolar dos alunos, por meio de medidas e instru-
mentos quantitativos de avaliação estabelecidos pela
QUESTÃO 112 escola.
b) A avaliação deve permitir que o aluno acompa-
Ano: 2015 nhe suas conquistas, suas dificuldades e suas possibi-
Banca: FGV lidades ao longo de seu processo de aprendizagem.
Órgão: SEDUC-PE c) Sugere-se que, dentre as maneiras de avaliar a
Prova: Agente de Apoio ao Desenvolvimento Esco- aprendizagem, o professor elimine a utilização de no-
lar Especial tas, adotando uma proposta qualitativa de avaliação.
d) Na avaliação da escola inclusiva, os alunos com
Durante uma reunião do 3o ano do Ensino Funda- deficiência devem ser avaliados pelos progressos que
mental, um grupo de pais solicitou explicações ao dire- alcançaram nas diversas áreas do conhecimento, evi-
tor sobre a presença de um aluno com deficiência audi- denciando suas potencialidades, suas conquistas e
tiva na sala de aula. habilidades em relação à aprendizagem.
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professores sobre os seus alunos tem grande influên- III. Conhecimentos e habilidades adquiridos pelo
cia no que diz respeito ao rendimento da aprendiza- estudante por meios informais não podem ser reco-
gem. Nesta fase, é preciso ter uma visão fragmentada nhecidos formalmente para qualquer fim na institui-
da criança. É aconselhável concentrar esforços no que ção que oferta cursos para jovens e adultos.
as crianças não sabem fazer e, não, considerar as suas Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
potencialidades. a) Somente I.
c) A avaliação deve se dar de forma sistemática b) Somente II.
e contínua, aperfeiçoando a ação educativa, identi- c) Somente I e III.
ficando pontos que necessitam de maior atenção na d) Somente I e II.
busca de reorientar a prática do educador, permitin- e) Somente II e III.
do definir critérios para o planejamento, auxiliando o
educador a refletir sobre as condições de aprendiza- GABARITO: D
gem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades COMENTÁRIO: A afirmação III está errada por for-
colocadas pelas crianças. ça do disposto no art. 38, §2º da LDB.
d) Na educação infantil, a avaliação tem a finali- Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e
dade básica de fornecer subsídios para a intervenção exames supletivos, que compreenderão a base nacio-
na tomada de decisões educativas e observar a evo- nal comum do currículo, habilitando ao prosseguimen-
lução da criança, como também, ajudar o educador a to de estudos em caráter regular.
analisar se é preciso intervir ou modificar determina- § 2º Os conhecimentos e habilidades adqui-
das situações, relações ou atividades na sala de aula. ridos pelos educandos por meios informais serão
aferidos e reconhecidos mediante exames.
GABARITO: B
COMENTÁRIO: Na esfera educacional infantil, a QUESTÃO 117
avaliação que se faz das crianças pode ter algumas
consequências e influências decisivas no seu proces- Ano: 2015
so de aprendizagem e crescimento. Neste sentido, a Banca: IF-SP
expectativa dos professores sobre os seus alunos tem Órgão: IF-SP
grande influência no que diz respeito ao rendimento Prova: Professor - Educação Física
da aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma vi-
são fragmentada da criança(visão fragmentada????? De acordo com a Lei nº 9.394, de 1996, a edu-
Nunca). É aconselhável concentrar esforços no que as cação profissional técnica de nível médio será de-
crianças não sabem fazer e, não, considerar as suas senvolvida nas seguintes formas:
potencialidades(deve-se considerar as suas potencia- I. Articulada com o ensino médio.
lidades). II. Subsequente, em cursos destinados a quem já
tenha concluído o ensino médio.
QUESTÃO 116 III. A critério de cada instituição de ensino, nos
termos de seu projeto pedagógico.
Ano: 2015 Está(ão) incorreta(s) a(s) afirmativa(s):
Banca: IF-SP a) Somente II.
Órgão: IF-SP b) Somente III.
Prova: Professor - Educação Física c) Somente I.
d) Somente I e II.
Em relação à Lei nº 9394, de 1996, na Seção V, e) Somente II e III
que trata da Educação de Jovens e Adultos, consi-
dere as afirmativas:
I. A educação de Jovens e Adultos deve ser articu- GABARITO: B
lada, obrigatoriamente, com a educação profissional. COMENTÁRIO: Alternativa correta B por força do
II. Devem ser asseguradas aos jovens e adultos disposto no art. 36-B da LDB.
oportunidades educacionais apropriadas, conside- Art. 36-B. A educação profissional técnica de
radas as características do alunado, seus interesses, nível médio será desenvolvida nas seguintes for-
condições de vida e de trabalho. mas: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
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defasagem educacional mantém e reforça a exclusão IV - articulação da Educação Básica com a Edu-
social, privando largas parcelas da população ao di- cação Profissional e Tecnológica, na perspectiva da
reito de participar dos bens culturais, de integrar-se na integração entre saberes específicos para a produção
vida produtiva e de exercer sua cidadania. Esse resgate do conhecimento e a intervenção social, assumindo
não pode ser tratado emergencialmente, mas, sim, de a pesquisa como princípio pedagógico;
forma sistemática e continuada, uma vez que jovens
e adultos continuam alimentando o contingente com QUESTÃO 122
defasagem escolar, seja por não ingressarem na escola,
seja por dela se evadirem por múltiplas razões. Ano: 2015
Banca: IMPARH
Órgão: Prefeitura de Fortaleza - CE
QUESTÃO 121
Prova: Professor - Pedagogo
Ano: 2014 O Ministério da Educação (MEC), cumprindo as
Banca: FUNCERN exigências legais, propôs e encaminhou às escolas os
Órgão: IF-RN Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e por meio
Prova: Pedagogo do próprio MEC, coube à União o estabelecimento de
conteúdos mínimos, que foram denominados:
Nas novas diretrizes curriculares para Educação a) Globalização.
Profissional Técnica de Nível Médio, instituídas em b) Parte Diversificada.
2012, são apresentadas as dimensões da formação c) Valorização Cultural.
humana, que devem ser consideradas de maneira d) Base Nacional Comum.
integrada na organização curricular. De acordo com
as referidas diretrizes, constituem como fundamento GABARITO: D
para a organização e desenvolvimento curricular des-
ses cursos, em seus objetivos, conteúdos e métodos, QUESTÃO 123
a) o trabalho como princípio educativo e a pes-
quisa como princípio pedagógico. Ano: 2016
b) a interdisciplinaridade como interligação de fa- Banca: UFMT
zeres e a verticalização como princípio formativo. Órgão: UFMT
c) a política de igualdade na perspectiva da inclu- Prova: Assistente em Administração
(+ provas)
são e o treinamento básico para o trabalho produtivo.
d) a transdisciplinaridade como princípio pedagó-
Em relação à expedição de diplomas, de acordo
gico e a pesquisa como princípio científico.
o disposto na Lei n.º 9.394/1996, marque V para as
afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
GABARITO: A ( ) Os diplomas expedidos pelas universidades
COMENTÁRIO: Alternativa A correta,por forçada- serão por elas próprias registrados, e aqueles con-
Resolução n. 06 de 2012, que define as diretrizes cur- feridos por instituições não universitárias serão re-
riculares para a educação profissional; gistrados em universidades indicadas pelo Conselho
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIO- Nacional de Educação.
NAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ( ) Os diplomas de graduação expedidos por uni-
RESOLUÇÃO Nº 6, DE 20 DE SETEMBRO DE 2012 (*) versidades estrangeiras serão revalidados por univer-
Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a sidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
Educação Profissional Técnica de Nível Médio. área ou equivalente, respeitando-se os acordos inter-
Capítulo II Princípios Norteadores nacionais de reciprocidade ou equiparação.
art. 6° São princípios da Educação Profissional ( ) Os diplomas de Mestrado e de Doutorado ex-
Técnica de Nível Médio: pedidos por universidades estrangeiras só poderão
III - trabalho assumido como princípio educati- ser reconhecidos por universidades que possuam
vo, tendo sua integração com a ciência, a tecnologia cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados,
e a cultura como base da proposta político-pedagógi- na mesma área de conhecimento e em nível equiva-
ca e do desenvolvimento lente ou superior.
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Recentemente foi aprovado um documento legal que aponta para a necessidade de fazermos justiça aos
profissionais da educação, definindo com clareza e objetividade a meta que trata da valorização profissional,
de forma que assegure formação e salário digno, tornando a carreira do magistério atrativa. Estamos falando
de qual documento?
a) Plano Estadual de Valorização do Magistério.
b) Plano Nacional de Valorização Docente.
c) Plano Nacional de Educação.
d) Plano de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
GABARITO: C
COMENTÁRIO: O Plano Nacional de Educação (2014/2024) atualmente em movimento.
O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional
dos próximos dez anos.
O primeiro grupo são metas estruturantes para a garantia do direito a EDUCAÇÃO BÁSICA com qualida-
de, e que assim promovam a garantia do acesso, à universalização do ensino obrigatório, e à ampliação das
oportunidades educacionais. A educação básica é o primeiro nível do ensino escolar no Brasil. Compreende
três etapas: a educação infantil (para crianças com até 5 anos), o ensino fundamental (para alunos de 6 a 14
anos) e o ensino médio (para alunos de 15 a 17 anos).
O segundo grupo de metas diz respeito especificamente à REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES E À VALO-
RIZAÇÃO DA DIVERSIDADE, caminhos imprescindíveis para a equidade. Devem ser consideradas as diferenças
culturais e as diversidades que cada região do país apresenta, garantindo que todos e cada um dos alunos de
baixo nível socioeconômico tenham um aprendizado de qualidade com escolas públicas que consigam alcançar
bons resultados de aprendizagem, desde os anos iniciais ate os anos finais do Ensino Básico.
O terceiro grupo de metas trata da VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, considerada es-
tratégica para que as metas anteriores sejam atingidas; fundamental para que a política educacional se fortaleça.
Quanto mais sustentáveis forem às carreiras e quanto mais integradas forem às decisões relativas à formação,
mais ampliadas serão as perspectivas da equidade na oferta educacional.
E, o quarto grupo de metas refere-se ao ENSINO SUPERIOR. Essas metas dizem respeito mais fortemente
às esferas federal e estaduais, contudo, envolvem compromissos dos municípios, porque é no território municipal
que os cursos serão oferecidos e onde os profissionais formados atuarão. Esse exemplo evidencia, inclusive, a
vinculação da política de educação superior com as alternativas de desenvolvimento local e regional.
O Ministério da Educação se mobilizou de forma articulada com os demais entes federados e instâncias
representativas do setor educacional, direcionando o seu trabalho em torno do plano em um movimento
inédito: referenciou seu Planejamento Estratégico Institucional e seu Plano Tático Operacional a cada meta
do PNE, envolveu todas as secretarias e autarquias na definição das ações, dos responsáveis e dos recursos. A
elaboração do Plano Plurianual (PPA) 2016-2019 também foi orientada pelo PNE.
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