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7° Congresso de Pós-Graduação

DISCUTINDO EDUCAÇÃO, IDENTIDADE, AUTO-ESTIMA E RESPONSABILIDADE SOCIAL


COM O MULHERES NEGRAS

Autor(es)

MARCIA CRISTINA AMERICO

Co-Autor(es)

TANIA APARECIDA AMÉRICO


VIVIANE LUIZ

Orientador(es)

ANNA MARIA LUNARDI PADILHA

1. Introdução

O presente artigo tem como objetivo compartilhar uma reflexão teórico-prática acerca das oficinas de penteados com mulheres negras,
pertencente à comunidade remanescente do quilombo Ivaporunduva, localizado no município de Eldorado Paulista, região do Vale do
Ribeira e com as mulheres negras urbanas do ministério de AA-Afro - Ações Afirmativas Afro da Igreja Metodista de São Paulo. O
grupo de educadoras é composto por profissionais da área de Pedagogia e Química. Os relatos das participantes apontam para as
implicações geradas no processo da construção histórica, social e econômica do negro no Brasil, ao tomarmos essas implicações como
objeto de estudo.
A Beleza, o Consumo e a Mídia, atualmente são fatores de extrema importância do mundo cosmetológico no processo de unificar e
europerizar o padrão de beleza humano. Assim sendo, apresenta grande abrangência no âmbito sócio, político, econômico e cultural,
além de ser alvo de muitas pesquisas dos profissionais de grandes empresas de cosmetologia. Com isso, tais empresas em parceria
com a mídia criam um sistema padronizado de beleza, gerando conflito social, econômico e cultural no desenvolvimento de uma
sociedade pluricultural, e que se conturba pelo estereótipo. Esse artigo utiliza a EDUCAÇÂO, que atrela ao social, objetivando o
trabalho primordial da promoção cultural construindo estratégias de auto-estima que contemple as diferenças grupais desenvolvendo,
assim, as potencialidades humanas e culturais existentes nesse grupo de mulheres negras quilombolas.
No mês de junho de 2007 e agosto de 2008 foram realizadas oficinas temáticas discutindo a educação, identidade, auto-estima e
responsabilidade social com mulheres negras, fazendo considerações acerca do cabelo negróide. Reconhecendo a sedução do
marketing das empresas de cosméticos em relação ao que sente a mulher negra no que se refere ao seu cabelo é que foi pensada a
metodologia destas oficinas, considerando dentre os vários fatores:
• Assimilação de um processo de desculturação;
• Idealização do mito da beleza ocidental (cabelos lisos);
• Utilização irregular, indiscriminada e perigosa do alisamento químico para os fios de cabelos;
• Posição da mulher negra na base da pirâmide sócio-econômica e de nível educacional-cultural;
• Discussão sobre o risco à saúde em relação ao uso indiscriminado de produtos à base de: Hidróxido de Cálcio, Hidróxido de Sódio,
Amônia, formol etc.

Ao veicular estereótipos que expandem uma representação negativa do negro e uma representação positiva do branco, o livro didático
está expandindo a ideologia do branqueamento, que se alimenta das ideologias, teorias e estereótipos de inferioridade/superioridade
raciais, que se conjugam com a não legitimação pelo estado, dos processos civilizatórios indígena e africano, entre outros,
constituintes da identidade cultural da nação (MUNANGA,2005:23 APUD SILVA, 1989:57).

A ideologia do embranqueamento se efetiva no momento em que internalizando uma imagem negativa de si próprio e uma imagem
positiva do outro, o individuo estigmatizado tende a se rejeitar, a não se estimar, e a procurar a aproximar-se em tudo do individuo
estereotipada positivamente e dos seus valores, tido como bons e perfeito (MUNANGA, 2005 p 23).

Em agosto de 2008, a oficina foi realizada através da parceria com a liderança feminina do ministério AA-Afro – Ações Afirmativas
na Faculdade Metodista localizada no bairro Liberdade – São Paulo-SP. O encontro contou com presença de 30 participantes dentre
elas mulheres negras e não negras, sendo 80% das participantes com formação em nível superior.

Em julho de 2007, a oficina foi realizada com a parceria da liderança feminina do Quilombo do Ivaporunduva no município de
Eldorado-SP, contando com a participação de 15 mulheres quilombolas dentre elas: jovens, adultas e adolescentes.
No entanto, o Vale do Ribeira é caracterizado pelo baixo nível de qualidade de vida que pode ser evidenciado pelo IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) sendo um dos mais baixos do Brasil e comparáveis somente a algumas regiões críticas do nordeste
brasileiro ou da África. Por estas razões, o Vale do Ribeira é citado duas vezes na lista dos 60 Territórios da Cidadania, como regiões
críticas de pobreza eleitas pelo Governo Federal e, portanto, prioritárias para programas e investimentos de desenvolvimento
sócio-econômico.
Considerando que a região do Vale do Ribeira tem os mais baixos níveis de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil,
sendo assim, dentro dessa comunidade o índice de analfabetismo é alto, tendo difícil acesso à escola de qualidade, saúde, trabalho,
cultura e lazer.
Atentamos para que o ponto de partida viesse ao encontro dos interesses das mulheres negras rurais e urbanas, que têm anseios e
preocupações em atender o PIB (Padrão Inatingível de Beleza), que a mídia impõe por meio da televisão (novelas, comerciais, filmes
etc.), revistas e outros meios de comunicação que assessoram os interesses de grandes empresas que promovem o consumo sem
compromisso com uma responsabilidade social.
Tivemos um momento no encontro para discutir com as participantes o tema Educação X Identidade; um período no qual
intencionamos discutir e refletir com as participantes a temática da Educação X Beleza, Identidade e Auto-estima a partir da
concepção que elas tinham em relação à temática de maneira que ativamente discutissem a partir do seu próprio conhecimento

2. Objetivos

Propor uma reflexão teórico-prática sobre a temática desenvolvida: Valorização e Identidade Político-Cultural refletida através do
Cabelo Afro.

3. Desenvolvimento

Iniciamos o encontro com a dinâmica de auto-identificação que consistia de recortes em revistas de imagens que representavam
pessoas parecidas, que tenham algo em comum ou alguma forma de auto-identificação. Após escolha da imagem, cada participante
socializava com o grupo o porquê ou qual a identificação observada no recorte escolhido. No segundo momento foram realizados
discussão e debate sobre Mercado/Consumo e Mídia X Responsabilidade Social e Saúde Pública, compreendendo as implicações
psicológicas no processo de desculturação.
Finalizamos com a oficina de penteados práticos (rápidos, fáceis) com demonstração de vários modelos, estilos, que valorizam a
multiplicidade e o fortalecimento da identidade político-cultural africana refletida através do cabelo.
.

4. Resultado e Discussão

Segue a descrição de fragmentos e relatos das participantes que foram relevantes na contextualização da temática Educação e
Auto-Afirmação Político-Cultural
Segundo Gomes (2003), “Construir uma identidade negra positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina o negro, desde
muito cedo, que para ser aceito é preciso negar-se a si mesmo, é um desafio enfrentado pelos negros brasileiros” (p: 171).
Observamos que as mulheres negras contemporâneas rurais e urbanas carregam as implicações psicológicas decorrentes da dominação
do colonizador. “O cabelo crespo é um dos argumentos usados para retirar o negro do lugar da beleza. O fato de a sociedade
brasileira insistir tanto em negar aos negros o direito de serem vistos como belos expressa, na realidade, o quanto esse grupo e sua
expressão estética possuem um lugar de destaques na nossa constituição histórica e cultural. O negro é o ponto de referência para a
construção de identidade do branco. Juntamente com o índio, o negro concretiza a nossa sociedade, a nossa cultura, as nossas
relações sociais, políticas e econômica. (GOMES, p: 6). Esses estereótipos precisam ser desconstruídos através da educação e do
entendimento de que o povo negro não foi escravo, mas escravizado, explicitando assim a condição do opressor, ou do colonizador. ‘
O primeiro passo é fazer com que o negro se encontre a si mesmo, insuflar novamente a vida em sua casaca vazia, infundindo nele o
orgulho e a dignidade’ (MUNANGA apud BIKO, 2001, p.27).
Nilma Gomes atesta que:

A educação pode desenvolver uma pedagogia corporal que destaque a riqueza da cultura negra inscrita no corpo, nas técnicas
corporais, nos estilos de penteados e nas vestimentas, as quais também são transmitidas oralmente. São aprendizados da infância e
das adolescências. O corpo negro pode ser tomado como símbolo de beleza, e não de inferioridade. Ele pode ser visto como corpo
guerreiro, belo, atuante presente na história do negro da diáspora, e não como o corpo do escravo, servil, doente e acorrentado
como lamentavelmente nos é apresentado em muitos manuais didáticos do ensino fundamental. (GOMES, 2003:7)

O discurso do colonizador ainda impera de modo a levar a desculturação das mulheres negras que para serem aceitas socialmente
abrem mão de sua própria cultura e identidade étnica.
Avaliamos como a mulher negra e não negra se percebem na sociedade, valorizando um padrão único de beleza, que é o europeu. “No
Instituto de Beleza que costumava freqüentar, observei que as mulheres negras que utilizavam os serviços desse estabelecimento
escolhiam penteados iguais ao das mulheres brancas”. (Figura (d)- A.B – Advogada) Ao ser questionada por uma das mediadoras o
motivo pelo qual as mulheres negras optavam por penteados iguais ao das mulheres brancas A. respondeu: “elas querem ficar
bonitas”.

Tal relato demonstra uma ideologia européia reforçada pela mídia e pelas empresas cosmetológicas que não têm preocupação com o
consumidor final, mas com o consumo, em detrimento da saúde pública e da desculturação de um povo sem se importarem com a
identidade étnica e a diversidade.
Essa conceituação de beleza eurocêntrica pôde ser observada em vários relatos reforçando a desculturação da identidade afro. (Figura
(a) – I.A – Quilombola) “Eu um dia quis ser desse jeito. Houve uma febre na nossa comunidade, onde, todas as mulheres queriam ter
os cabelos lisos. Hoje eu aceito o meu cabelo” (I.AP - Quilombola, 2007)
Durante o período da escravização acentuou-se a desculturação do povo africano que foi privado do convívio de seus familiares,
tribos, e costumes. Hoje a desculturação é reforçada na medida em que se valoriza o Padrão de Beleza Eurocêntrica em detrimento da
diversidade pluricultural brasileira.

Quando se fala na busca de uma identidade própria, isso significa, em primeiro lugar, deixar de ser a sombra do outro... A
descolonização, por si só, não eliminou os conflitos de identidade entre europeus e africanos – embora os europeus desejem muito
arquivar o processo, fechar o tribunal da história como se nada tivesse acontecido e começar tudo de novo.
Essa solução não atende às necessidades dos africanos porque, sendo os povos mais antigos da Terra, eles não podem fingir que
estão nascendo agora, não podem construir o futuro sem reconstruir ao menos uma parte do passado que o colonialismo desfigurou.
A tarefa é gigante porque, antes de ser o que desejam, precisam deixar de ser o que outros quiseram que fossem, isto é, primeiro é
preciso deseuropeizar, para depois africanizar, segundo as características próprios e distintas de cada povo. (MARTINEZ, 1992,
p.54).

A ideologia e o discurso do colonizador contribuem para que a sociedade ignore a história do povo negro corroborando, assim, para a
interiorização de uma não aceitação positiva frente às questões da negritude e da identidade afro-brasileira. Porém, o discurso da
libertação está presente e na medida em que se é livre das imposições da mídia não é possível retroceder ou voltar atrás. Em Romanos,
12:2 encontramos a seguinte afirmação: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente...”

“Certa vez, ganhei de meu namorado o escrito de uma poesia que retratava fatos históricos dos negros da época em que foram
escravizados, ele fez uma analogia comparando as marcas de ferro em brasa deixadas nos negros a mando de seus senhores com as
marcas do ferro quente da chapinha que alisa o cabelo das mulheres negras contemporâneas. Essa poesia me fez pensar que
atualmente continuamos (nós mulheres negras) recebendo as marcas do colonizador. Depois disso fui ao cabeleireiro e cortei meu
cabelo e nunca mais consegui fazer escova...” (L.N.- Seminarista da Igreja Metodista.)

5. Considerações Finais
Realizar esse trabalho articulando Educação, Beleza, Identidade e Auto-Estima da Mulher Negra tem uma conotação política, visto
que negritude é posicionamento. Nosso corpo e nosso cabelo expressam a identidade étnica, valores e posicionamento
político-ideológico.
“A construção dessa nova consciência não é possível sem se colocar no ponto de partida a questão de autodefinição, ou seja, da
auto-identificação dos membros do grupo em contra posição com a identidade dos membros do grupo (alheio). Uma tal identificação
(“quem somos nós? – de onde viemos e aonde vamos? – qual é a nossa posição na sociedade?; quem são eles? – de onde vieram e a
onde vão? – qual a posição deles na sociedade?”) – vai permitir o desencadeamento de um processo de construção de sua identidade
ou personalidade coletiva, que serve de plataforma mobilizadora. Essa identidade, que é sempre um processo e nunca um produto
acabado não será construída no vazio, pois seus constitutivo são escolhidos entre os elementos comuns aos membros do grupo:
língua, história, território, cultura, religião, situação social, etc. Esses elementos não precisam estar concomitantemente reunidos
para deflagrar o processo, pois as culturas em diásporas tem de contar apenas com aqueles que resistiram, ou que eles conquistaram
em seus novos territórios” (MUNANGA, 1999, p. 14).

Referências Bibliográficas

GOMES, Nilma L. Educação, identidade negra e formação de professores/as. In: Revista Educação e Pesquisa, V. 29. nº 1. São Paulo,
2003.

GOMES, Nilma L. Cultura negra e educação. In: Revista Brasileira de Educação nº 23 Rio de Janeiro, 2003 .

Martinez, Paulo. Direitos de cidadania: um lugar ao sol. Ed. Scipione. São Paulo, 1992.

Munanga, Kabengele, (Org.). Superando o Racismo na escola. 2ª Ed. Ministério da Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade. Brasília, 2005.

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