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A ALIMENTAÇÃO DA CABEÇA
INTRODUÇÃO
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ABIMBOLA, W. Sixteen Greats Poems of Ifa. UNESCO, 1975, p. 65.
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Ifá é a designação pela qual se conhece, no Brasil, tanto o sistema oracular de origem yorubá, quanto o
Orixá que o governa (Orunmilá), aplicando-se ainda aos instrumentos que permitem a leitura do oráculo.
Esta abrangência na aplicação do nome já era de uso comum em sua origem africana, conforme nos
colocam vários dos autores, desde Baudin (1884) até Bascom (1944) ou Abimbolá (1975).
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Não nos pareceu suficiente, ainda que ela ocupe boa parte do trabalho,
a simples visão do funcionamento do ritual que leva os atores a se
reunirem; estão aqui listadas também as características geográficas onde ele
se realiza e as suas motivações impostas pela coerção social. Enfim,
procuramos agir de modo a conseguir a atitude a ser tomada por aqueles
que desejassem observar um fato social em sua totalidade: um fato social
total.
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O Ilê Axé Opô Afonjá do Rio de Janeiro é uma casa de culto aos
Orixás da nação Ketu, fundada no início dos anos 1930 pela mesma
sacerdotisa responsável pela fundação da casa de culto do mesmo nome
situada na Bahia e fundada em 1910, sendo estas informações de datas
relativas às atuais localizações das respectivas casas.
No Estado do Rio de Janeiro, a casa fica situada em Coelho da Rocha,
um bairro da baixada fluminense, pertencente ao Município de São João de
Meriti. Bairro pobre da originalmente cidade-dormitório, Coelho da Rocha
possui uma importante comunidade negra que se agregam em cerca de 100
casas de culto aos Orixás, sejam de origem yorubá (Ketu) ou ainda de
origem bantu (Angola).
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Mauss, Sociologie et Antropologie, 4a ed., 1968, In. Mauss : Jean Cazaneuve, Presses Universitaires de
France, Paris, 1968, p. 50.
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Em sua grande maioria, a ligação das pessoas com o culto aos Orixás
e especificamente com esta casa de culto se deve à herança dos costumes
familiares recebida de seus primeiros fundadores. Assim, no contexto atual
como veremos adiante, é grande a confusão no uso de termos de parentesco
(tios, tias, primos, irmãos) consangüíneo com as apropriações do
parentesco simbólico “de brincadeira” ou por respeito.
Neste quadro de dificuldade para a análise, ressalta ainda o fato de que
os termos de parentesco são utilizados para a designação no interior das
famílias míticas que compõem a comunidade e mesmo nas relações entre
elas.
Na verdade, ao se ouvir um indivíduo chamar a outro por um nome de
parentesco, deve-se pensar primeiramente na relação de parentesco que
existe entre eles dentro da família mítica a que pertencem ou ainda a
relação que os ligam ou que ligam suas respectivas famílias míticas no
interior da comunidade. Raramente os termos de parentesco consangüíneo
são utilizados dentro da casa de culto.
Além disto, os indivíduos possuem, em regra geral, dois ou, em casos
menos comuns, três nomes individuais pelos quais são chamados: são
comuns a quase todos o uso do nome pelo qual foram registrados no
registro civil e o do nome que obtiveram o direito de usar quando foram
iniciados, embora em muitos casos esses últimos representem o nome pelo
qual se deve chamar o Orixá incorporado no indivíduo e não o próprio
indivíduo. Menos comum, mas não rara, é a aquisição por um indivíduo de
um terceiro nome, este representativo de sua função específica nas
cerimônias de um Orixá ou da comunidade como um todo.
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AFLALO, F. : Candomblé –Uma Visão do Mundo : Editora Mandarim, São Paulo, 1996, pp. 17-18
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5
Idem, ib., p. 13.
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A preparação do indivíduo
A Yalaxé então, torna a lançar as partes do obi para que Ori lhe
responda perguntas específicas a respeito do restante do ritual e da própria
encaminhamento de vida do novo membro da comunidade: pergunta em
primeiro lugar se Ori aceita todos os itens oferecidos, em caso negativo, ela
perguntará qual Ori não deseja; a seguir pergunta se Ori quer repartir com
os presentes parte de seus alimentos, em caso negativo (o que é raro), sabe-
se que todos os alimentos serão encaminhados para o local onde Ori
ordenar. No caso, descrito, as respostas de Ori foram afirmativas, o que
proporcionou a todos participarem do repasto.
Ela reúne todos para uma última reza para Ori, ao final da qual todos
se dirigem ao iniciante oferecendo seus votos de felicidade e vida próspera
junto à comunidade. Feito isto, ela manda que se preparem todos para
dormir, abençoa a todos de uma só vez e se dedica a arrumar o iniciante
para que este passe a noite deitado coma cabeça voltada para a grande
terrina coberta como prato de comida. As luzes são diminuídas no salão e,
um pouco mais tarde, todos estarão dormindo. A cerimônia só terá seu
desfecho no dia seguinte, pela manhã.
Bibliografia