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e Cogniçâo
Conceitos, pesquisa e aplicação, a ênfase no ensinar,
na emoção e no questionamento clínico
Organizado por: ^Rachel ÍRodrigucs Jierbautf
Rachel Rodrigues Kerbauy • Roosevelt R. Starling • Nazaré Costa • Elizeu Batista Bortoli • Cristiane Figueiredo
• Helene Shinohara • Renata Brasileiro • Dayse Maria Borges Keiralla • Lincoln da Silva Gimenes • Antônio
Bento Alves de Moraes • Gérson Yukio Tomanari • Adólia Maria Santos Teixeira • Marcelo Quintino Galvão
Baptista • Joào dos Santos Carmo • Sâmia Hallage Figueiredo • Solange L. Machado • Sebastião Carlos
Silva Jr. • Ana Rita Ribeiro dos Santos • Fani Eta Korn Malerbi • Maria José Carli Gomes • Vera Regina
Lignelli Otero • Kelly Renata Russo • Amllton Martins dos Santos • Vera Silvia Raad Bussab • Jocelaine
Martins da Siveira • Maria Zilah Brandão • Denis Roberto Zamignani • Maria Luiza Marinho • Simone
Grzebieniak de Oliveira • Luc Vanderberghe • Maly Delitti • Eliane Falcone • Ana Teresa de Abreu Ramos
Cerqueira • Myriam Vallias de Oliveira Lima • Andreia Machado Vianna
Sobre
Comportamento
e Cogniçâo
Volume 5
Conceitos, pesquisa e aplicação, a ênfase no ensinar,
na emoção e no questionamento clínico
Ano: 2000
1a edição
SET
Santo André, 2000
Copyright © 2000 da:
SKT, Santo André, 2(KK).
Todos os direitos reservados
305p. 24cm
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
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(artigos 122, 123, 124, 126, da Lei n» 5.988, de 14.12.73, Lei dos Direitos Autorais).
SET
SolicilavAo de exemplares podení ser feita il
SHT - Ibnc: 4432-3747
Internet: eset(sHiol.com.hr
Por que esta coleção é especial? Por ter conseguido que os profissionais escre
vam e publiquem seus trabalhos. Por iniciar uma tradição de escrever apresentações
em congressos com qualidade e possibilitar a utilização em cursos e formação de profis
sionais. É o autor que propõe seu trabalho para o Encontro. Pode ser convidado, mas
pode propor e, se o trabalho for selecionado para o Encontro, como mesa redonda,
conferência, simpósio, primeiros passos, terá a garantia de que poderá ser publicado
pela diretoria do biênio. Com isso, o apresentar trabalho e escrever passa a ser uma
atividade que tem conseqüência na comunidade e os próprios profissionais brasileiros
divulgarão o excelente trabalho que realizam.
Estes livros são uma tradição. Estamos no sexto exemplar. Verifico nos cursos de
graduação, pós-graduação, e especialização que ministro, a satisfação dos alunos ao
ler os trabalhos de pessoas que conhecem e sugerir artigos da coleção para leitura. É
fato que todos preferem ler em português e artigos de qualidade. Agora, a publicação
poderá ser mais imediata, pois está atualizada; publicamos o que foi apresentado em
1999. Já está se tornando necessário um estudo para verificar quanto a coleção é utili
zada por profissionais e em cursos de Terapia Comportamental. Esperamos que seja
realizado em futuro próximo.
Novamente tambóm, este quinto exemplar terá o formato de conter textos de
análises teóricas e conceituais, interpretação de dados clínicos em terapia
comportamental e cognitiva e estudos experimentais ou descritivos.
Como editora, devo agradecer a todos que enviaram os seus trabalhos, à direto
ria da ABPMC, que trabalhou arduamente em suas regiões para incentivar o compare-
cimento aos Encontros e aos amigos de sempre que generosamente auxiliaram, deram
sugestões e apoio. À Teca um agradecimento especial, pela boa vontade de sempre e
confiança no pessoal da ABPMC.
iii
S u m á r io
Apresentação.................................................................................................... i
P refá cio............................................................................................................ ii
Behaviorismo,
cognitivismo e
fisiologia: questões
gerais
Capítulo 1
A interface comportamento/neurofisiologia
numa perspectiva behaviorista radical:
o relógio "causa" as horas?
Rooscvelt R. Stürling
1 Nesse trabalho, comportamento está sendo definido como qualquer translormaçio ocorrida num dado sistema,
orgânico ou nâo, de um estado inicial E0 para um estado final E, ao longo de um determinado intervalo de
tempo At, o que pode ser representado pela seguinte notação: E0-AL» E , . Essa 6 uma definição necessária e
suficiente do termo. Embora notações dessa natureza nâo sejam comuns na psicologia tradicional, o leitor
poderá constatar que essa definição satisfaz também às transformações estudadas pela Análise do Compor
tamento e, de uma maneira inequívoca, coloca esse fenômeno no dominio dos fenômenos naturais, ou seja,
dotado de dimensões no espaço e no tempo.
Sobrr a>mport«micntoecogniido 3
estejamos escovando os dentes, indo para o trabalho, namorando ou divagando, tudo
isso "exprimiria" ou seria a manifestação perceptível - pública ou privada - de alguma
outra coisa, sendo essa outra coisa a "causa"2 , senào a primeira (o primus mobile), por
certo a "causa" suficiente e eficaz do nosso corpo fazer o que faz.
Tradicionalmente, a nossa cultura tem mantido o pressuposto de que o que o nos
so corpo faz é o que faz uma marionete, presa aos fios que a ligam ao controlador, o
titereiro (sendo que o titereiro, para a psicologia tradicional, está de alguma forma dentro
de nós ou no nosso entorno). É nas ações do titereiro que devemos procurar as "causas"
para os movimentos que percebemos. Essa "causa" tem sido apresentada como sendo:
• uma entidade supranatural (deuses, totens ou quaisquer outros seres supranaturais,
que diretamente nos possuem e nos animam ou que atuam sobre nós indiretamente,
através de uma alma ou espírito):
• (ou) uma entidade ou conteúdo imaterial, parte da nossa “totalidade" (tais como a perso
nalidade, a mente, a vontade, as crenças, o eu);
• (ou ainda) a resultante final das ações, interações ou “estruturações” de partes imateriais
da nossa “totalidade" (ego, superego, id, esquemas cognitivos, etc.)3;
• (ou, finalmente - e modernamente) como partes materiais do próprio corpo (como os
nervos, o cérebro, os resultantes de uma dada disposição neuro-hormonal).
Com a exceção da última, as hipóteses acima apresentadas compõem o que ó cha
mado de mentalismo. As inadequações e os problemas que uma explicação mentalista
traz para um projeto de estudo científico do comportamento já foram amplamente discu
tidas (por exemplo, Ryle, 1984; Bunge, 1985; Baum, 1999) e podem ser assim resumidas:
(1) essas são antieconômicas, complicando desnecessariamente o trabalho de investiga
ção. Ao propor uma variável imaterial, adimensional, como uma possível explicação
para o comportamento, ao trabalho inicial de explicar o fenômeno observado, acrescen
tam-se os trabalhos de explicar também essa variável imaterial (o que não ó difícil, pois
aqui o terreno tem sido o da livre - muito livre - especulação) e explicar, também, como
uma variável imaterial pode atuar produzindo transformações num fenômeno material,
problema semelhante ao de explicar como a “força do pensamento" pode fazer um pên
dulo de aço mover-se (o que ó muito difícil, exceto por um ato de fé);
(2) do ponto de vista epistemológico, variáveis imateriais, adimensionais, não podem ser
refutadas e, assim sendo, não podem ser também comprovadas. São portanto estra
nhas ao domínio da ciência (Magee, 1974);
(3) consideradas em seus efeitos, essas ficções explanatórias, postas como axiomas (ou
dogmas, se preferirmos), saciam a curiosidade do investigador e paralisam a ciência,
pois não se procura mais pelo que já se encontrou.
Com certeza, não há objeção alguma na postulação dessas variáveis para outras
dimensões da investigação humana como, por exemplo, na dimensão religiosa, nas inqui
2 “Causa", entre aspas; exceto num uso coloquial da palavra, não são causas que examinamos, mas sim
ralções funcionais entre um fenômeno A e outro, B.
:l Existe uma variação filosoficamente mais sofisticada: a parte imaterial pode ser apresentada não como uma
"entidade”, mas como um “modo de funcionamento". Trata-se de um erro lógico: a palavra apresentada como
suposfa "causa” do evento natural ó na verdade um simples rótulo verbal para a categoria que representa e sô
“existe" como tal. Cerlamente, uma categoria (por exemplo, o rótulo verbal “Refrigerantes", que não possui
dimensões no tempo e no espaço) não pode “causar'1os seus categorizados (por exemplo, "Coca-cola"). Vale
dizer, "Refrigerantes" nâo causa e nem determina “Coca-cola". Na verdade, são os objetos materiais Coca-
cola, Guaraná, Fanta, etc., que dõo "existência" a “Refrigerantes" (e que podem "explicá-lo") e nào o contrário...
4 Roojcvclt R. St.irim«
rições lógico-racionais da filosofia e nos fascinantes jogos intelectuais. Mas, como sa
bemos, nosso projeto ó estudar o comportamento humano (que ocorre no tempo e no
espaço) como um fenômeno natural, passível de estudo por uma ciência natural, cujas
variáveis independentes precisam então ser encontradas na mesma dimensão da variável
dependente, isto é, que tenham também dimensões no tempo e no espaço. Para um tal
projeto, hipóteses supranaturais e/ou imateriais não podem ser consideradas4.
Mas neurônios, tratos neuronais, áreas cerebrais, nervos, atividade eletroquímica,
neurotransmissores, hormônios, reações bioquímicas, genes, todas essas variáveis são
naturais e dotadas de inegáveis dimensões no tempo e no espaço. Ademais, por serem
mensuráveis, geram números. Números, quaisquer números, podem ser tratados esta
tisticamente, verificados a sua média, desvio padrào, estabelecidas correlações, análises
de variância; inferências podem daí ser derivadas com validade e fidedignidade
estatísticas. Mais ainda, prestam-se magnificamente às manipulações de uma ciência
positiva "concreta", aquiescentes que são à parafernália hard6 da moderna tecnologia
científica. Eis aí, portanto, uma fascinante possibilidade que poderia vir a dar à psicologia
a base empírica incontestável que tanto tem procurado.
Assim sendo, por que então não aderimos entusiasticamente às neurociências,
nós, os behavioristas radicais? Não vêm à calhar para o nosso projeto essas variáveis
independentes, todas naturais, mensuráveis, diretamente observáveis ou diretamente
inferidas a partir dos seus referentes empíricos, passíveis de manipulação em condi
ções controladas, amplamente acessíveis ao estudo através de modelos animais?
Coletivamente designadas como neurociências (brain sciences), essas proposi
ções têm, de fato, fascinado muitos estudiosos da biologia e (surpreendentemente) não
poucos psicólogos. Anuncia-se o fim da psicologia ou a sua diluição na biologia6, trans
formando-se a psicologia numa espécie de "biologia aguada" ou num apêndice da biologia
que se apresentaria como um software de tradução da "linguagem de máquina" (os
eventos neurobiológicos) em linguagem convencional (a linguagem da “mente”). Uma
espécie de DOS ou Windows psicológico 7.
Um recente tratado dessa proposição (Kandel, Schwartz e Jessell, 1991) que foi
publicado abreviadamente em português (Kandel e cols., 1995) sob o título Fundamen
tos da Neurociôncia e do Comportamento é bastante ilustrativo dessa posição. Já no
prefácio da edição brasileira, os autores afirmam que a “neurobiologia é a ponte natural
entre as humanidades e as ciências naturais” e que a "neurociôncia cognitiva (...) pro
mete unificar a psicologia com a neurobiologia”. Mais à frente, afirmam que “o compor
tamento é determinado pelo padrão preciso das conexões entre neurônios" (p. XIX,
itálicos acrescentados) e, como corolário dessa proposição, afirmam que "(...) Os dis
4 Temos aqui o caráter revolucionário e ainda novíssimo do behaviorismo radical, e também a sua maior
dificuldade. Trata-se de um novo paradigma, no sentido em que Thomas Kuhn empregou a palavra no seu A
estrutura das revoluções cientificas (Kuhn, 1987). Estamos (analogamente) tomando como hipótese de que é
a terra que gira em torno do Sol e nfto o contrário. Defender tais conceitos nfto é coisa fácil, como bem
souberam na própria pele Copérnico e Gallleu
8 Reflro-me aqui às "máquinas" em geral e aos seus produtos : tomógrafos RM, petscan’s, cintllógrafos, etc.
8 Acompanhem-se as discussões do Fórum Behav-An, http^ywwvy.viilualcommunlty org;8Q80/~behav-Bn
7 Se esta diluição da Psicologia na Biologia vier realmente a acontecer, alinho-me com os que pensam que ela
resultará do fato da Psicologia tradicional ter perseverado no estudo de ficções explanatórias, quer propostas
como variáveis independentes, quer como variáveis medlaclonals, ao Invés de aderir a um enfoque abertamente
comportamental.
" Nessa publicação, os autores cometem alguns deslizes que perturbam o excelente trabalho que fazem
quando permanecem no campo que indicam dominar, o da microbiologia propriamente dita. Das 591 páginas
do livro, os autores reservam duas singelas colunas para apresentar e discutir toda a evolução histórica da
psicologia (?!). Nelas, esses autores dáo a entender que os behavioristas defendem a posição de que "o
comportamento observável é tudo o que há acerca da vida mental” (s/c) e concluem que "está claro que o
comportamento estudado pelos behavioristas era muito restrito a simples comportamentos reflexos (..,)" (p.
2 62 ). É no mínimo surpreendente que autores que se propõem a discutir a psicologia e o comportamento
possam apresentar, de maneira tão precária, a história, os pressupostos e a produção cientifica da disciplina
que pretendem criticar. Mas erram grosseiramente ao relatar o ponto de vista behaviorista como sendo aquele
apresentado pelo primitivo Behaviorismo SR, de mais de setenta anos atrás e ao associá-lo a pressupostos
estranhos ao projeto behaviorista mesmo na sua forma mais primitiva, como o conceito de "vida mental".
" Um excelente resumo da posição de um dos nossos mais profícuos e brilhantes antecessores, bem comen
tado e expandido, pode ser encontrado em Carvalho Neto, 1999).
10 A bem da verdade, diga-se que este caráter totallzador está ressaltado, de maneira mais marcante, na
visão do "baixo clero" dessa proposição.
6 Rootcvclt Starlin#
psicologia tradicional que nós, os behavioristas radicais, estamos mesmo um pouco à
parte: o conhecimento (logos) da alma, mente (ps/gue)11 ou do “psiquismo" (seja lá isso
o que for) não ó o que perseguimos. Bem ao contrário, como já disse acima.
Nesse sentido, penso que o Behaviorismo Radical não pode ser justamente cha
mado de uma psicologia. Ao longo desses 70 anos, desenvolvemos uma matriz conceituai
madura, em que temos bem delineadas uma filosofia da ciência, o behaviorismo radical,
um corpo teórico indutivo, a análise do comportamento, uma estratégia de investigação
experimental, a análise experimental do comportamento e um poderoso conjunto de
técnicas específicas para o manejo do comportamento, a terapia comportamental12. A
meu ver, cada uma dessas unidades só atinge a sua plena inteligibilidade quando com
preendida em suas articulações com as demais componentes da matriz. Aliás, penso
mesmo que a maior parte dos equívocos e preconceitos, que têm cercado essa matriz,
tem a sua origem num conhecimento fragmentado e/ou desarticulado das suas proposi
ções'3.
Entendemos que a biologia evolutiva, no seu exame da filogènese dos organismos
e a etoiogia, no estudo dos desdobramentos das suas possibilidades interativas; a fisio-
logia, na sua investigação da plataforma biológica que possibilita as condições
estabelecedoras para o comportamento e a análise do comportamento, que estuda as
relações funcionais entre esse organismo assim constituído e o seu ambiente,14 são
igualmente indispensáveis, se desejamos vir à compreender o comportamento de ma
neira completa e em bases operacionais, isto é, em bases que nos permitam agir sobre
ele, contraposto à falar sobre ele.
Elegemos um objeto próprio para a nossa investigação, que é o comportamento
do organismo como um todo, nas suas relações com o ambiente. Essa é uma unidade
de análise molar, irredutível (mas não impermeável) às demais ciências que estudam
partes (ou contextos específicos) do comportamento. Ao elegermos esse objeto de es
tudo, estamos implicitamente recusando a considerar como variáveis independentes
partes do organismo, sejam elas postuladas ou naturais.
Examinemos com mais detalhes esse nosso objeto de estudo. Essa escolha de
objeto implica em afirmar que o comportamento pode ser explicado pelo próprio compor
tamento. Nessa proposição, estamos caminhando em terreno epistemológico firme. De
fato, leis próprias podem ser estabelecidas para cada nível da realidade. Assim, a análise
do comportamento pode ocupar-se do estudo das relações de determinação entre os
fenômenos comportamentais, considerando as leis especiais do nível a que se referencia,
sempre que mantenha o princípio da ação retardada entre estas relações. Ao descrever o
" Intlndas discussões de escola desenvolvem-se sobre o quê, exatamente, denota a palavra psique. Aqui,
estou usando a definição encontrada nos bons dicionários da Ifngua portuguesa
Na literatura, encontramos algumas vezes a distinção entre Análise do Comportamento, de desenvolvimen
to behavlorista radical, e a Terapia Comportamental, como uma técnica de intervenção do Behaviorismo S-O-
R, ou metodológico. Mas os behavioristas radicais, na sua prática terapêutica, além da análise funcional,
lançam máo do conjuntos técnicos (como por exemplo, a retaxaçâo, o treinamento em habilidades sociais,
etc.). Veja-se, sobre esse tema, Banaco, 1999.
’3 Para um exemplo "erudito" desses equívocos, veja-se Japiassu, 1982.
M O leitor familiarizado com a literatura behaviorista radical talvez dô por falta da mençáo a uma socio-
antropologia comportamental. Sem negar a sua relevância para a elucidação completa do comportamento,
parece-me mais util considerá-la como um caso particular da Análise do Comportamento, qual seja o estudo
das contingências especificas presentes nas interações que o organismo individual estabelece com os sistemas
de organismos do qual ele faz parte.
'* Consídere-se, por exemplo, a seguinte transformação (comportamento): eu™ ^ «ma ^ut-» p«c >tcum . Po-
demos descrever, explicar e intervir com grande eficácia nesse fenômeno (e nós o fazemos em todos os
verões) sem nada precisarmos saber das transformações bioquímicas subjacentes. C.Q.D.I Mas...poderemos
Intervir de maneira mais completa se pudermos intervir também na plataforma biológica que estabelece e
regula as possibilidades físicas dessa transformação, tarefa própria da biologia e seu conjunto tecnológico.
,e O comportamento seria determinado por um arranjo especifico neuro-humoral, o qual por sua vez seria
determinado por um arranjo específico da bioquímica molecular, o qual por sua vez seria determinado pelas
possibilidades Interativas entre os átomos tais e quais, as quais, por sua vez...
8 Roosovrlt R. Starllnfl
dependerão dos mecanismos internos de regulação, que possam impor um segundo
limite ã variabilidade tolerada para cada parte em si mesma e na sua interação com as
demais partes do sistema, mantendo-a dentro das especificações iniciais do projeto17.
Uma vez que tal "máquina", assim construída, demonstre um desempenho
satisfatório nas variáveis de controle e regulação e, garantido o suprimento de energia,
ela irá se comportar da maneira desejada pelo projetista, ou seja, funcionará, desde que
possa ser garantida a invariabilidade do ambiente externo ou que esse seja irrelevante
para o seu funcionamento. Nessas condições, podemos dizer que partes internas desse
sistema são agentes causais eficazes para a determinação do seu comportamento, ou
que controlam esse comportamento, ou ainda, numa formulação mais livre, “causam” o
seu comportamento. É dizer: são variáveis independentes aceitáveis para essa redução
do campo da análise. Observe-se que, nesse caso, os parâmetros de avaliação do
funcionamento do sistema são também internos, ou seja, a sua eficácia será medida
somente pelo correto desempenho das suas variáveis internas18.
O que acontece, no que diz respeito ao controle, quando consideramos um siste
ma aberto, ou seja, um sistema que troca informações com o ambiente externo, em
especial com um ambiente externo dinâmico, como ó o caso dos organismos biológicos
interagindo numa dada ecologia, ou seja, num determinado estado de organização de
diversos sistemas coexistentes? A resposta exige que consideremos a dinâmica (varia
bilidade) possível ao organismo e ao ambiente, a compatibilidade entre os sistemas
coexistentes e a quantidade de energia disponível para o funcionamento de cada um
deles (Odum, 1975).
Num sistema aberto, as relações de dependência e determinação - é dizer, o
seu controle - são estabelecidas com o meio externo, no qual ele se relaciona, cabendo
às variáveis internas a delimitação das suas possibilidades interativas, através de uma
particular constituição e organização dos seus mecanismos de respostas e, também, a
sua regulação interna, isto é, o controle da variabilidade interna compatível com a ma
nutenção da sua funcionalidade ótima.
Para um sistema aberto funcionar interativamente num ambiente dinâmico e com
petitivo, as variáveis de controle do seu comportamento não podem estar em determinado
lugar, qualquer lugar, seja dentro ou fora dele, por efeito da proliferação de variáveis que
tal organização implica (Ashby, 1970). Nessa organização, as variáveis do sistema estão
sendo continuamente alteradas pelo resultado da sua interação. De fato, para controlar
um sistema com dois graus de liberdade, é necessário um sistema com três, e não
duas, variáveis de controle19. Para controlar um sistema com n graus de liberdade, é
preciso então um sistema com n+ 1 variáveis de controle, ou seja, um outro sistema cuja
complexidade necessariamente igualará e superará a do sistema a ser controlado, o
qual, por
u Considere-se um automóvel, por exemplo. Por construção, ele só pode virar as rodas em tantos graus, à
direita ou á esquerda da perpendicular. Suas possibilidades de comportamento já estão determinadas no seu
projeto.
'* Quando o automóvel Intacto náo consegue “virar” num certo espaço estreito, a sua eficácia nào está
comprometida, Isto é, ele nào apresenta defeito algum, nào precisa ser levado à oficina.
1“ Imagine o leitor um sistema mecânico simples, um veiculo controlado por uma alavanca, inserida numa
plataforma, que lhe dô dois graus de liberdade : pode ser acionado para frente ou para trás (duas variáveis).
Para que ele seja eficaz, o seu controle demandará a transformação de trôs variáveis: uma que controla o
movimento para a frente, outra que controla o movimento para trás e uma terceira que controla quando (sob
quais condições) esse movimento será feito para frente-ou para trás.
30 Ampliando um pouco o tema da restrição dos graus de liberdade de um sistema como uma forma de
controle do seu comportamento, essa é, multo literalmente, a modalidade de controle predominantemente
utilizada: a coação, desde a simples coação física até a moderna coação farmacológlca (Sidman, 1995).
Nesse assunto, ó interessante observar que, não raras vezes, é apresentada ingenuamente como "prova" da
determinação neurobiológica do comportamento, a ação dos chamados ps/cofármacos ou substâncias
ps/coativas. Aqui cabe ainda um outro parênteses: sempre achei intrigante observar como os profissionais
médicos, treinados numa ciência natural e objetiva, aparentemente aceitem sem questionar que uma subs
tância natural possa agir sobre uma dimensão Imaterial, o "psiquismo”, seja esse considerado como uma
entidade, seja como um continente Imaterial de conteúdos imateriais, ou seja. ainda como um "modo de
funcionamento". É interessante que essa Impropriedade conceituai (ou, no mínimo, de linguagem) tenha sido
denunciada por nós, behavioristas radicais, e nâo por eles, médicos, como sendo uma contaminação espúria
de uma categoria dedutiva da análise filosófica na proposta das ciências naturais (a dicotomia corpo/mente).
De qualquer forma, o fato de substâncias químicas serem capazes de controlar o comportamento "prova", tâo
somente, que o comportamento pode ser controlado também qulmlcamente, como pode ser controlado pela
imobilização física, pela dor ou ameaça da dor, pela privação ou oferta de um bem essencial, por algemas e,
como estamos vendo, por agentes químicos que alterem as possibilidades interativas da plataforma biológi
ca.
10 Rooscvcll R. M.irlintf
nossos orifícios de contato e troca com o ecossistema rapidamente demonstra (incluin
do-se neles a pele). É de fora que se transforma o de dentro, o que é dizer, é o “fora” que
inicia o comportamento do "dentro". A intervenção biológica, através do conjunto técnico
que denominamos medicina, interfere de fora (pela dieta, pela cirurgia, pelo fármaco) e
a fisiologia está também, essencialmente, sob controle das suas relações funcionais
com o ambiente.
Consideremos agora essa organização particular da biologia, nosso corpo, nas
suas relações intra-sistema, internas, ou seja, a sua fisiologia. Como já vimos, essa
fisiologia é como é porque desenvolveu-se neste planeta e fica como está porque está
aberta e interagindo com este planeta, no seu arranjo atual. Mudando-se o ambiente,
duas possibilidades são possíveis: este organismo muda a sua fisiologia e mantém uma
nova organização particular compatível com o ambiente transformado (e transformador)
ou essa organização cessa de existir. Mudar o ambiente força então o organismo a
mudar o seu comportamento (as suas transformações) para se manter como uma
existência (uma identidade) funcional.
Essa dada organização particular, como já disse, estabelece determinadas possi
bilidades interativas e restringe outras. Dessa forma, podemos imaginá-la, para simples
ilustração, como uma plataforma, no caso, uma plataforma biológica. Para um ambiente
constante, uma plataforma biológica intacta possibilita determinados padrões eficazes
de relações do organismo com o ambiente, para os quais este mesmo ambiente a
selecionou e a mantém (mas a mera existência da plataforma não garante essas reiações,
e muito menos pode “causá-las").
Saibamos que uma das formas orgânicas de armazenagem de energia é a glicose,
um glúcide disponível no ambiente. Saibamos que um dado organismo, através da
seleção competitiva, especializou-se na absorção dessa forma de energia, em detrimento
de outras também presentes, mas já dominadas por outros organismos com plataformas
biológicas mais eficazes para a absorção daquela outra forma de energia. Saibamos
que esse organismo identifica esse glúcide através da estimulação de certos receptores
da plataforma biológica sensíveis às características físico-químicas daquela substância.
Teremos então todo um repertório de comportamentos orientados para a obtenção dessa
substância, sempre e quando ela estiver disponível no ambiente e o organismo estiver
carente de energia (regulação), mas não em outras circunstâncias. Um cérebro só
“pensará" e "comandará" aquele repertório nessas circunstâncias; um músculo só se
movera para essa finalidade nessas circunstâncias: transformações interativas, ou seja,
padrões de comportamentos assim orientados, só ocorrerão nessas circunstâncias; em
suma, as transformações nas variáveis de regulação e processamento interno,
apropriadas à busca dessa energia, só ocorrerão nessas circunstâncias. Saibamos que
um outro organismo não absorve essa forma de energia e teremos então comportamentos
muito diferentes daqueles observados no organismo que estivemos examinando.
Partes do corpo do organismo efetuam transformações (comportam-se) sobre o
estímulo de variáveis do ambiente, que resultam da interação do organismo com aquele.
Partes do corpo do organismo iniciam regulagens internas respondentes, filogeneticamente
programadas, sob o estímulo de variabilidades intra-sistema que ultrapassem os limiares
máximo e mínimo do seu funcionamento ótimo. O cérebro nào “faz" nada, tanto quanto
nada ‘lazem” o estômago, o intestino ou o dedào do pó, no sentido de iniciar, de maneira
autônoma, qualquer ação do organismo como um todo. Essas partes somente respon
dem e regulam, e nada mais. Obviamente, existe uma grande diferença entre essas par
81 Temos evidências de que o reforçamento é fisicamente possível pelas respostas de um circuito envolvendo
o Núcleo Accumbens, o Tegumento Ventral e o Feixe Prosencefálico, com mediação dopaminôrgica (Gonçal
ves e Silva, 1999). Ótimo. No devido tempo, poderemos entâo ter uma explicação mais completa e uma
possibilidade de intervenção ampliada no comportamento, sobretudo no que diz respeito ao reparo de alterações
indesejáveis nesse conjunto biomecânlco. Mas, se amanhã viermos a descobrir que na verdade isso ocorre
pelas respostas de um “circuito” envolvendo o dedo mínimo da mào esquerda, a ponta do nariz e o nervo
hipoglosso, nós, estudiosos do comportamento, continuaremos estudando como o reforçamento altera o com
portamento do organismo como um todo, exatamente como já vínhamos fazendo antes.
88 Pode-se aqui substituir "jogar futebol" por qualquer outro comportamento, Inclusive a sacrossanta fala. So
lesarmos as áreas cerebrais que possibilitam fisicamente a fala, o homem não fala. Também nâo fala se
cortarmos a sua língua. Devemos concluir que a fala está localizada na língua? Ela, a fala, é determinada por
uma exata disposição da língua e das cordas vocais? É ela, a língua, que fala? É o cérebro? Nâo, ainda mais
uma vezl É o organismo como um todo. Mais ainda: se a linguagem precisa estar "localizada" em algum lugar,
então busque-se esse “lugar” nas interações da pessoa com o ambiente, na comunidade verbal. Amala e
Kamala, as meninas lobas, que o diriam... se falasseml (Mas elas rosnavam...)
12 Rooscvclt R. Starllng
que tipo de estímulos uma plataforma alterada dessa ou daquela forma pode responder
e quais as relações que um organismo assim limitado ou alterado, poderia estabelecer
com o ambiente (dizendo de outra forma: nos interessa a interface, o momento que o
produto de um passa ser o insumo do outro). Mas tanto num caso como no outro,
estudaremos e iremos intervir corretivamente no comportamento com os mesmos pres
supostos teóricos e recursos metodológicos próprios da nossa ciência.
Dessa forma, como estamos demonstrando, para nós ó dispensável saber os deta
lhes da constituição e das transformações internas dessa plataforma, é dizer, do seu com
portamento interno, pois esse ó também, e simplesmente, uma outra variável dependen
te. Sua constituição interna, seus mecanismos, sua regulação, suas disfunções e
recomposição são, muito justa e legitimamente, objetos próprios de outra disciplina: a
Biologia (e sua aplicação técnica, a Medicina) que se ocupam das respostas dessa
organização aos estímulos externos e dos seus programas auto-reguladores. Certamen
te, para uma análise atômica e estática do comportamento, esses estudos são extrema
mente relevantes, como também o são para o conhecimento progressivo dos nossos
programas de controle e modulação internas - e desse conhecimento as nossas possibi
lidades aumentadas de intervenção. Aqui não se disse o contrário. Se me permitem a
brincadeira, o que se pretende demonstrar aqui é, simples e obviamente, que uma coisa é
uma coisa e que outra coisa é outra coisa.
Existem contingências culturais que estabelecem determinados repertórios verbais
como desejáveis para determinados papéis sociais e estes repertórios são amplamente
reforçados (ou a sua inexistência punida). Por exemplo, é “necessário" saber que existiu
um francês chamado Napoleào Bonaparte, embora alguém possa viver perfeitamente
bem a sua vida, com o seu razoável e justo quinhão de alegrias e tristezas (ou de reforços
positivos e punições, se quisermos) sem nunca ter ouvido sequer o nome dessa figura.
Como sinal dos tempos, talvez agora passe a ser “necessário" que os estudiosos do
comportamento dos organismos adquiram um repertório verbal especializado em descre
ver o funcionamento neurobiológico, adquirindo a habilidade de responder apropriadamen
te à estímulos verbais do tipo "Diga-me o que é essa tal de sensitização que eu tenho (ou
sensibilização, ou "memória” persistente de um evento traumático)" com uma torrente
verbal do tipo: "Bem, para que você possa curar-se, teremos de atacar as verdadeiras
causas. Para isso, é preciso saber que nesse processo é muito importante o papel da
serotonina. Ela ativa receptores que estão ligados a uma proteína fixadora de GTP que
ativa a enzima adenilil ciclase, aumentando a concentração de cAMP nos neurônios sen-
soriais. A proteiquinase dependente do AMP cíclico será então ativada e fosforilará
diversas proteínas do substrato...afinal, ó por isso que, cada vez que você ouve a pala
vra “cobra", você sobe numa cadeira e começa a gritar...". Como certamente o leitor
concordará, se adquirirmos esse saber declarativo, talvez possamos ser considerados
terapeutas mais cultos, talvez sejamos até mesmo mais respeitados, mas de maneira
alguma seremos, por isso, melhores em nossas especificidades.
Por tudo isso é que coloco em dúvida o futuro de uma psicologia que se oriente para
n Um exemplo é a "memória". Bom tempo ainda está sendo perdido pelos neurollslologistas na procura de
“correlatos” biológicos para essa suposta “função mental”. A flsiologla das transformações neurofisiológicas
decorrentes de uma exposição a novos estímulos do ambiente ó "não-cognltlva", Isto ó, as respostas biológicas
são independentes do “conteúdo" (Izquierdo, e Netto, 1985; Izquierdo, 1986). Nesse sentido, insistir em de
senvolver um repertório verbal especializado para descrever em “linguagem da mente” aquelas transforma
ções bioquímicas, que podem ser descritas com maior precisão através de conceitos derivados da fislologla
e da química, parece-me, para dizer o mínimo, de duvidosa utilidade. (Kupfermann, 1991).
Sobrecomportamentoccoflniv*io 13
a transliteraçào das transformações (o comportamento) do sistema nervoso central para
uma linguagem “psicológica”23. A meu ver, poderão estar simplesmente duplicando o
trabalho dos biólogos com menor competência e precisão e, no que concerne ao seu
papel específico dentre as ciências naturais, afastando-se do seu domínio próprio24.
Parece-me bom o momento para estabelecer a pertinente analogia com o relógio
e justificar o títuio proposto para essa palestra. Um relógio é um sistema fechado. Faz o
que faz, porque foi construído para isso e faz, o que faz dentro dos estritos limites do seu
projeto. Como foi projetado para funcionar dentro de limites de variabilidade interna
estritamente definidos e como a eficácia do seu comportamento é verificada pela precisão
da sua regulação interna, seus controles e determinações são igualmente internos.
Os antigos relógios mecânicos tinham um conjunto, a âncora e o cabelo, que
eram o "cérebro" do relógio. Ele comandava (controlava, regulava, determinava) as
respostas das diversas engrenagens que o compunham. O conjunto obtinha a sua energia
de uma mola. Caso esse conjunto náo funcionasse bem, os diversos eixos não se
moveriam na precisa velocidade projetada, mantendo entre si as precisas relações
necessárias. Um tipo de técnico, um relojoeiro, estudava e compreendia como tudo isso
acontecia. Sabia reparar um eixo, uma engrenagem, uma âncora que estragasse,
recuperando assim as possibilidades de comportamento daquela máquina, de acordo
com o seu projeto original. O fato de que todo esse mecanismo dependesse de um
estímulo externo para, se iniciar, no caso a compressão de uma mola através do
acionamento externo de uma manivela, poderia taívez passar desapercebido ao
relojoeiro, fascinado com a precisão e a lógica do mecanismo interno.
Também poderia passar desapercebido - e até mesmo náo interessar muito ao
relojoeiro - o fato de que todo o seu conhecimento e domínio daquele mecanismo não
pudesse responder à algumas perguntas muito simples, tais como: por que, diabos,
alguém iria dar-se ao trabalho de dar corda no relógio e para quê, afinal, interessa saber
que horas são?
Este trabalho é uma versáo ampliada da conferência de mesmo título apresentada pelo
autor ao VIII Encontro da ABPMC, em Sào Paulo, SP, 3-5 de setembro de 1999.
Bibliografia
M Fato que, certamente, nào Impede a colaboração de estudiosos do comportamento na elucidação das
saldas da plataforma biológica que Interagem diretamente com o ambiente. Essa colaboração vem mostran*
do bons resultados, como atestam os avanços da Medicina do Comportamento. Mas isso é uma outra atividade
e nesse caso estâo resguardadas as especificidades de domínio.
14 Rooícvrlt R. M.irlinfi
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Comportamento encoberto e
comportamento governado por regras:
os cognitivistas tinham razão1
Nazi/ri Costt?
U H \t
1Texto apresentado durante o VIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, na Mesa
Redonda intitulada “Eventos privados na Análise do Comportamento: Acertos e equívocos".
3 Licenciada em Psicologia, Psicóloga e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Pará.
16 Nu/iiré Costa
relacionadas a eles. A proposta consiste.primeiramente, em descrever de forma breve
quando o Behaviorismo começou a falar em comportamento encoberto e governado por
regras, apontando inclusive alguns motivos que podem explicar esse interesse, em se
guida apresentar as concepções cognitivista e behaviorista sobre comportamento enco
berto e comportamento governado por regras, assinalando semelhanças e diferenças e,
por fim, responder à pergunta inicial do texto apontando um “problema" particular na
literatura sobre comportamento governado por regras.
Sentimentos Comportamentos
18 Nd/.iróCosia
que ambos possuem dimensão física independente de serem públicos ou privados. Em
outras palavras, Skinner considera ambiente os fenômenos externos e internos que
afetam o indivíduo e distingue comportamento público e privado com respeito à acessi
bilidade - enquanto os comportamentos públicos são acessíveis à observação direta,
os comportamentos privados ou encobertos são acessíveis diretamente apenas a cada
indivíduo em particular (Skinner, 1953/1965).
Na concepção skinneriana, o que ocorre no mundo privado é função das contin
gências ambientais, do mesmo modo que os comportamentos públicos (Skinner, 1945).
Os eventos que ocorrem no mundo privado (estímulos e comportamentos) podem en
trar no controle do comportamento público, porém, nunca são iniciadores (Skinner, 1989)
nem autonômos na determinação daquele (Tourinho, 1997).
O controle de um comportamento público por um evento privado se constrói na
relação do indivíduo com o ambiente ao qual pertence, o que envolve necessariamente
critérios públicos na medida em que quem modela relatos acerca de eventos privados ó
a comunidade verbal, sendo necessário para isso que observe padrões de comporta
mentos públicos (Tourinho, 1997). Dessa forma, embora relações entre comportamen
tos públicos e privados (R-R) sejam possíveis de serem estabelecidas, elas são rejeita
das como explicações por serem consideradas incompletas (Zuriff, 1985).
Então, para os behavioristas, mesmo existindo ambiente interno, ele não desem
penha papel causai, sendo os comportamentos públicos e eventos privados determina
dos por situações externas aos indivíduos, como demonstra figura a seguir.
^ v e n to s Externos^
í/ \
Comportamentos Eventos Privados
Públicos (estímulos e
comportamentos)
20 N.i/.tró Ccntd
outro modo, se os terapeutas comportamentais passarem a modelar o que o cliente fala
sobre o seu comportamento a fim de que este se modifique, o que distinguiria uma
intervenção comportamental da cognitivista? Provavelmente quase nada, pois o objeti
vo da terapia seria que o cliente ficasse sob controle, especialmente de suas auto-
regras e "muito da literatura da terapia cognitiva pode ser interpretada como uma tenta
tiva para treinar os indivíduos na formulação das suas próprias regras” (Hayes, Kolenberg
e Melancon, 1989). Nesse caso, será que na prática clínica a distinção mais signitificativa
entre cognitivistas e comportamentalistas, consiste essencialmente na linguagem?
Tomando como referência as formulações teóricas de cogntivistas e compor
tamentalistas pode-se dizer que não. No entanto, para responder os questionamentos
acima, analistas do comportamento precisam de dados, o que torna necessário o desen
volvimento de mais pesquisas, tanto no contexto de laboratório quanto de consultório.
Afinal, as pesquisas sobre comportamento governado por regras podem ser considera
das ainda incipientes.
Enquanto isso, a resposta à pergunta “Comportamento encoberto e comportamen
to governado por regras: os cognitivistas tinham razão?” seria a seguinte: em parte sim,
na medida em que a pressão do Cognitivismo desempenhou um papel importante para
que os comportamentalistas olhassem e desenvolvessem pesquisas acerca do mundo
privado e do comportamento governado por regras. Porém, como a posição externalista
foi mantida, também pode-se dizer que os cognitivistas não tinham razão.
Em síntese, dizer que o comportamento encoberto e o governado por regras con
trola e por isso são relevantes para compreender certos comportamentos dos indivíduos,
não significa aderir à concepção de causalidade interna característica das explicações
cognitivistas.
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N a/aré C o tia
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ZURIFF, G. E. Behaviorism: a conceptual reconstrution. New York: Guildford, 1985.
Sobrecomportamentoe 23
Capítulo 3
Pois bem, nesse caso, vamos resgatar algumas de suas colocações envolvendo
‘‘o inconsciente” e saber por que esta pergunta precisa ser entendida concomitantemente
com esta outra (na sua opinião, muito mais difícil): “E a consciência?”. Entáo, a tentativa
aqui será rastrear algumas citações de B. F. Skinner de maneira a incitar a análise do
comportamento daquele que não sabe que, e nem porquê, está se comportando.
A ciência do comportamento cresceu sobre sua pergunta fundamental: por que os
seres humanos se comporiam? Ao longo dos anos muitos dados se acumularam a favor
da afirmação de que o comportamento é função da história genética e ambiental dos
organismos. Assim, o comportamento de alguém foi adquirido na sua história e está sob
1 Trabalho apresentado na atividade "Primeiros Passos " durante o VIII Encontro da ABPMC, de 2 a 5 do
setembro de 1999, em Sâo Paulo.
* As datas, nessa ordem, indicam o ano da publicação original e o ano da publicação em português.
24 J-li/euB.ilist.i BorlotJ
controle das contingências atuais (Skinner, 1974; 1982). É por este controle que:
Entretanto, "Um homem pode não saber que fez [faz] alguma coisá', no sentido em
que não é capaz de descrever o que fez/faz; "Um homem pode não saber que ele tende a,
ou está indo fazer alguma coisa”, no sentido em que nào percebe a probabilidade de seu
comportamento ser reforçado em uma ou outra direção; e "Um homem pode não reconhe
cer as variáveis das quais seu comportamento é função" (Skinner, 1953; 1978: 276-277),
no sentido em que não sabe porque está se comportando e também não sabe o que fazer
para mudar o seu comportamento. Este último sentido é uma das principais razões para
a procura por terapia; e é por isso que:
Claro está que a pessoa é “inconsciente" quando não descreve as variáveis gené
ticas e ambientais que, mesmo assim, são eficazes no controle do seu comportamento
atual. Neste ponto cabe-nos indagar sobre o porquê e o como estes ambientes verbais
atuam “trazendo à consciência" as razões do comportamento.
De acordo com Skinner (1989; 1991), as contingências sociais que propiciam a
auto-observação se multiplicaram com a evolução do comportamento verbal. Nisso,
“as pessoas se tornaram capazes de dizer e demonstrar a outrem o que fazer, e isso
facilitou muito o ver e o falar a respeito do que elas próprias estavam fazendo” (p. 46).
Com as conseqüências dessas descrições para a manutenção do grupo, elas foram
sendo "aprimoradas” ató a formulação de regras. Impõe-se saber que é assim que o
“conhecer” de uma pessoa foi modelado e, possivelmente, "neste sentido, ninguém é
completamente inconsciente" (Skinner, 1953; 1978: 275). Pode-se ampliar assim o sen
tido desta colocação:
Aqui está uma importante dica para o trabalho na terapia. Quando perguntamos ao
cliente "como você se sente/sentiu?", estamos atrás de pistas:
Ao perguntarmos também “o que você fez?” ou “o que você pretende fazer?" ou "o
que você está conseguindo ao agir assim?" estamos possibilitando o acesso àquilo que é
“inconsciente"; e perseguindo, desta maneira, o objetivo de tornar o cliente um analista do
seu próprio comportamento e um “construtor de suas próprias regras” (Skinner, 1989;
1991). Isto porque, como analistas de comportamento e parte do ambiente verbal do clien
te, sabemos que:
E agimos assim porque sabemos que "devemos estar conscientes de nosso pró
prio comportamento, quer para descobrir uma regra, quer para segui-la." (Skinner, 1969;
1980: 298).
Todos os ensinamentos de Skinner indicam que em nossa prática clínica devemos
ensinar o cliente a encontrar e analisar as suas “razões" para comportar-se. Talvez isso
seja "acessar o sujeito do inconsciente", ou seja, o cliente "deve aprender a sentir suas
próprias emoções, a reconhecer sentimentos ligados a comportamento punido, e assim
por diante" (Skinner, 1974; 1982:147). Os efeitos da punição discutidos por Skinner (1953;
1978) e Sidman (1989; 1995) ajudam o terapeuta a entender algumas das razões impor
tantes para a ausência de comportamentos auto-descritivos no repertório do cliente; ou
porque alguns repertórios permanecem inconscientes. Nestes casos,
“O mundo externo impõe sobre nós a consciência; ele transforma nossas ações
insipientes nesses sinais de aviso que chamamos de consciência e nos coage
para a esquiva que então chamamos de moralidade ou civilização." (p. 203)
“Uma pessoa que possivelmente pode causar dano em alguém e ser reforçada
pelo dano causado provavelmente 'sentirá’ alguma coisa ~ condição descrita como
'ter tendência a agir agressivamente’ e muito possivelmente respostas autônomas
geradas pelas mesmas contingências. Ela pode respondera tal estimulação e dizer
'eu me sinto agressivo’, mesmo que nâo tenha agido de uma maneira conspicua;
mas o que ela sentiu em qualquer caso são efeitos colaterais (...). O padrão ou
estado gerado por uma variável independente pode ser efetivo apesar de ‘inconsci
ente': só quando 'consciente' ele é sentido como agressáo." (Skinner, 1969; 1980,
p. 268)
“(...) não sentimos uma coisa chamada consciência. Sentimos tendências para
agir, ações insipientes e tentações, comportamento preparatório verba! e de outro
tipo que precedem comportamentos abertos. Uma coisa chamada consciência
nào suprime ou dirige nossa atividade; consciência é um nome conveniente, uma
maneira resumida de nos referirmos à nossa tendência de fazer a coisa certa
quando contingências conflitantes nos empurram para direções opostas, particu
larmente, quando pelo menos uma dessas contingências levariam à punição."
(Sidman, 1989; 1995: 198)
Para permitir que o cliente entre em contato com este repertório não consciente,
o terapeuta precisa, em primeiro lugar, tolerá-lo. Nesse momento, emerge uma audiên
cia não punitiva diante do cliente. “O comportamento ‘reprimido’ por punições anteriores
começa então a aparecer. ‘Torna-se consciente’, simplesmente no sentido de que come
ça a ser sentido. (Skinner, 1989; 1991: 22).
SIDMAN, M. Coerção e suas Implicações. Campinas, São Paulo, Editorial Psy II, 1995.
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. Sáo Paulo, Martins Fontes, 1978.
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_______Sobre o Behaviorismo. Sâo Paulo, Cultrix, 1982.
I elo fato de ter sido construída e elaborada principalmente nos EUA e por ter sid
introduzida no Brasil através de literatura em inglês e por visitas de especialistas america
nos, a Terapia Cognitiva chegou ao país de forma pronta, não adaptada às diferenças
contextuais e culturais. Contudo, os anos de prática e de incorporação de novos desen
volvimentos na área podem ter levado a uma adaptação espontânea às características
brasileiras.
Essa adaptação, no entanto, ainda não foi formalizada na literatura teórica e téc
nica existente, apesar de já existirem obras nacionais sobre esta abordagem terapêutica
e de ser este um tema muito debatido em congressos e encontros da categoria.
Nesses debates, ficou clara a necessidade de analisar o processo terapêutico
1. Metodologia
1.1. Sujeitos
1.2. Instrumento
1.3. Procedimento
Os questionários foram entregues pessoalmente (22), via fax (2) e e-mail (3), sendo
que em todos os casos o contato de solicitação foi feito verbalmente, pessoalmente (24)
ou por telefone (3). Os sujeitos responderam às questões em privacidade, devolvendo os
questionários respondidos posteriormente, sem que houvesse limitação de tempo.
2. Resultados
3. Discussão
Pesquisa e prática
profissional: a ética
norteando o trabalho
Capítulo 5
R esum o
Por força de lei, a formação de psicólogos se dará nas áreas da saúde, escolar e do
trabalho. No tocante à saúde, nos cursos de formação, as práticas tradicionais têm
suplantado a atuação em hospitais gerais ou de especialidades com um ensino
distanciado das verdadeiras necessidades da população. A demanda da população pela
atenção psicológica nos serviços de saúde cria para o jovem profissional o espaço da
atuação e para os mais experientes, num primeiro momento, a necessidade de produção
e intercâmbio de conhecimentos e, posteriormente, um questionamento da universidade
em suas bases - o ensino, a pesquisa e a extensão - e no seu papel de liderança do
conhecimento científico. O Estado de São Paulo através dos cursos de Aprimoramento
realizam em parte estes objetivos, pois fornecem treinamento em serviço, sem ênfase na
produção de conhecimentos através da investigação científica. A atuação profissional
leva a uma tomada de consciência pelo profissional de sua dupla missão: a de criar
1. Introdução
Atuar nas questões de saúde que surgem a partir do atendimento à demanda dos
próprios serviços de saúde pode envolver âmbitos múltiplos de intervenção como o
educativo, assistência) e reabilitação, além de se apoiar no fazer de vários profissionais de
saúde. Na sua dimensão temporal, uma açào de saúde pode levar em conta a abordagem
inicial, o processo diagnóstico e o terapêutico. É de fundamental importância a formação
destes profissionais de saúde e no tocante à psicologia. O programa de aprimoramento
em psicologia do desenvolvimento em pediatria, financiado pela FUNDAP’, caracteriza-
se como uma modalidade de ensino em saúde. Esse ensino se caracteriza pela formação
inicial do raciocínio e exercício científico em psicologia da saúde, que compreende o estu
do de aspectos psicológicos que influenciam a doença e a saúde, num hospital-escola,
através de um sistema personalizado de instrução composto de 14 passos.
As supervisões caracterizam-se como situações em que são discutidas estrató -
gias para definição do problema, seleção de métodos de coleta e representação de
dados de análises contingenciaís dos comportamentos inadequados ou desajustados,
baseadas na medicina comportamental para abordagem dos comportamentos de acor
do com os objetivos de mudança, seleção dos critérios de cura, redação de relatórios,
cartas e encaminhamentos, bem como a observância dos preceitos óticos.
Além da identificação de períodos críticos do desenvolvimento psicológico que
originam inadequações e desajustes ocasionados por problemas de saúde, também se
selecionam e criam instrumentos e estratégias para defini-los, diagnosticá-los ou abordá-
los psicoterapeuticamente.
O enfoque em medicina comportamental é entendido como um campo de atuação
multidisciplinar, no qual conhecimento médico e psicológico são integrados na utilização
de procedimentos e técnicas de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação nas
questões de doença e saúde (MASTER, BURISH, HOLLON & RIMM, 1979).
De que maneira ensinar às pessoas, que iniciam uma profissão, como atuar em
psicologia da saúde?
Um sistema personalizado de instrução, constando de 14 passos, foi idealizado
para que fosse administrado às aprimorandas e estagiários da Especialidade Psicologia
Pediátrica, como iniciação dos critérios de cientificidade, num enfoque de medicina
comportamental, a partir da atuação profissional em psicologia da saúde.
O sistema personalizado de instrução garantirá um rigor na formação dos profissi
onais que estarão iniciando suas atividades profissionais com novos critérios para condu
zir os pacientes.
A Especialidade Psicologia Pediátrica faz parte do Ambulatório de Especialidades
do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Módicas da Universidade Esta
dual de Campinas.
A atuação dos profissionais (um psicólogo, quatro aprimorandos e três estagiários)
Revisão Bibliográfica que será organizada por conteúdo: como se define o pro
blema, quais são os aspectos em que são analisados, quais os que não foram analisados
ou suas análises não foram adequadas por apresentarem limitações ao esclarecimento
do problema. Esta etapa fornece uma direção para a proposição do problema. As citações
bibliográficas no texto devem seguir as normas da APA, como se vê no exemplo abaixo.
2fl Passo
Assim que for(em) proposto(s) o(s) problema(s) deve(m) ser redígído(s) o(s)
objetivos(s), que por sua vez, norteará(ão) a interpretação dos resultados.
Assuntos possíveis para os objetivos:
1) Efeito de intervenções para tratar ou prevenir problemas
2) Relações de custo-benefício
3) Freqüência: incidência, prevalência
4) Prognóstico
Em seguida, observa-se alguns exemplos.
"Problema
Portanto, têm-se que as vulnerabilidades biológicas associadas às paternais,
em interação com um am biente rico em estressores como os fatores
socioculturais, podem levar não só ao maltrato, mas já são em si, característi
cas predisponentes de várias desordens emocionais (SANSON et al., 1993;
FARRANe COOPER, 1986; LEWSI et a i, 1988; KEOGH etal., 1986; SCHELINE
et a i, 1994).
Hipótese
Após todas estas considerações, pode-se então observar que a realização de
pesquisas que clarifiquem variáveis relacionadas ao maltrato estão tornando-se
cada vez mais emergenciais, daí a necessidade de se construir novos instrumentos
que viabilizem estes tipos de estudo levando em conta a interação entre pais e
filhos, as características dos próprios pais, do ambiente em que vive a família e os
tipos de maltratos.
Objetivos
Assim, visando verificar se os critérios definidos e organizados em um protocolo
são adequados para caracterizarem crianças e adolescentes submetidos a al
gum tipo de maltrato é que se realizou o presente trabalho".
4QPasso
2) Procedimento:
2.1. Contrato de Compromisso:
O procedimento se iniciou com uma primeira entrevista com a mãe e/ou pai
para delineamento da queixa (enurese noturna). Com esta entrevista foi levantada
também, toda a história de vida da criança na família com ênfase na aprendizagem
do controle do esfíncter vesical. Na segunda metade desta entrevista com a
criança presente, foi, então, colocado o contrato no qual seria compromisso da
criança e da família seguir as orientações fornecidas pela psicóloga, o que pro
piciaria o consentimento ou não dos sujeitos.
5a Passo
Critérios de Inclusão
Para atingir os objetivos propostos 'loram" selecionadas 16 crianças e 2
adolescentes provenientes do Ambulatório Geral de Pediatria do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas - Unicamp, que preencheram os
seguintes critérios de inclusão:
• Apresentaram freqüência média de dor maior ou igual a cinco dias por mês
durante seis ou mais meses.
• Intensidade de dor leve ou moderada (pode interferir nas atividades, mas não
as impossibilita).
• Dor não era agravada com atividade física de rotina (como subir escadas).
• Pelo menos um dos seguintes:
(1) História, exames físicos e neurológicos nào sugeriram distúrbios;
(2) História e/ou exames físicos e/ou neurológicos sugeriram distúrbio, mas a hipó
tese foi excluída por investigações apropriadas
Critérios de Exclusão
"Foram excluídos os seguintes sujeitos:
• Aqueles que apresentaram intercorrência pediátrica. Em caso de dor de cabeça:
hipertensão arterial, neurocisticercose, tumores, sinusite, patologia ortodôntica.
Nos casos de dor em membros: doenças no colágeno, tumores em geral, patolo
gias ortopédicas, fissura, microfratura devido a desgaste ósseo. No que se refere
a dor abdominal: cálculo renal, infecção urinária, parasitose intestinal, intolerân-
6QPasso
A seleção dos Instrum entos para coleta de dados poderá ser feita por fichas
de observação, questionários e instrumentos padronizados, acompanhados de suas
instruções.
O exemplo deste passo ó a ficha de observação dos comportamentos de elimina
ção, utilizada com os pacientes com enurese e constipação intestinal crônica.
N o m e : _________________________________________________________________
Data:_______________
OBS.: cada folha de sulfite era preparada para duas semanas e as folhas foram distribuídas de
acordo com a duração da orientação.
7® Passo
8a Passo
9QPasso
2) Interrupção do Programa:
Se, no período de 90 dias, a folha de registro não tivesse nenhum acidente,
então indicava que a criança havia conseguido aumentar o volume e o tempo de
retenção da urina, além de ter discriminado a plenitude vesical e a urgência de
eliminação. Com isso, a criança recebia alta ambulatorial".
102 Passo
A análise dos ciados. Se houver tratamento estatístico, indicar qual será utilizado
com as respectivas referências bibliográficas, como se vê no exemplo abaixo:
11QPasso
“COOLEY, WC (1993). Supporting the family of the newborn with Down syndrome.
Compr Ther;19(3): 111-15.
LEFÈVRE, BH. Mongofismo: Orientaçào para famiiiaa. São Pauio, Ed. Aímed,
1981".
13a Passo
Oonogruimi
Fases da Pesquisa Jan Fev Mar Abr Mal Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Revisão Bibliográfica X X
Organização do Projeto X
Coleta de Dados X X X X X X X
Processamento dos
Dados X X
Preparação doa X X X
Manuscritos
14a Passo
Prezado(a) Senhor(a),
essas mudanças.
CRP 1491
Nome:. RG:
Parentesco:____ Fone:.
End:.
Data / / Ass:.__
Bibliografia
Bibliografia
' A formulação deste texto inclui parte das apresentações das professoras Carolina M. Bori (Universidade de
S. Paulo) e Adólia Santos Teixeira (Universidade Federal de Minas Gerais) realizadas durante a Mesa Redonda
"Comitôs de Ética e suas implicações para a pesquisa", no VII Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia
e Medicina Comportamental. Campinas, setembro de 1998.
comport.imcnlo c lognlvAo 63
muito vagarosa para se envolver efetivamente nessa discussão 3.
Em continuidade à Mesa Redonda de 1998, a prof". Carolina Bori iniciou sua exposi
ção, propondo uma discussão mais aprofundada sobre “o lugar que a Psicologia deve
ocupar em um Comitê de Ética" e sobre as especificidades da pesquisa psicológica que
não estão contempladas na Resolução 196, uma vez que esta resolução ainda guarda
forte viés bio-médico. De acordo com a professora, a aprendizagem de comportamen
tos óticos deve se vincular ao ensino sobre como pesquisar e isto deveria começar no 2Ü
grau, onde o Ministério da Educação localiza o ensino de pesquisa 2.
No meu entender, para a prof*. Carolina a instituição de Comitês de Ética univer
sitários pode representar uma iniciativa tardia e insuficiente para a aquisição de compor
tamentos éticos e servir mais como instâncias controladoras e inibidoras da produção
do conhecimento do que promotoras do saber psicológico.
Algumas recomendações, que a meu critério chamo de "conclusões prelimina
res", podem ser elaboradas a partir da Mesa Redonda realizada pela ABPMC, em 1998.
Bibliografia
1
A vida é curta, a arte lon^a () tempo i apenas um instante, o tratamen-
to é preedrio, a crise dolorosa, fv preciso que o médico, <ilt‘m de
estabelecer o tratamento, se desdohre pelo próprio paciente, por aque
les que o cercam e por seus problemas. Hipocrátes 7
* Antonio Bento Alves de Moraes é psicólogo e cirurgião dentista. Professor titular de Psicologia Aplicada
Odontologia. Faculdade de Odontologia de Piracicaba. UNICAMP.
** Embora os animais se|am Imprescindíveis na pesquisa cientifica, seu uso indiscriminado ó também anti-
àtlco. Multas pesquisas podem e devem ser realizadas in vitro antes de passar para a lase In vivo. Possuir um
espaço limpo e adequado para que os animais se mantenham vivos e saudáveis durante a fase experimental
também deve ser uma preocupação ótica do pesquisador1.
Devido a vários abusos cometidos pela pesquisa com seres humanos, excluídos
aqueles realizados em campos de concentração, a Associação Módica Mundial reuniu-se
em Helsinque (Finlândia), em 1966, e decidiu rever o Código de Nuremberg. Foi então
elaborada a Declaração de Helsinque’ , que endossa o princípio da autonomia, abrindo a
perspectiva para a discussão da ótica em trabalhos científicos que não são de benefício
direto dos sujeitos envolvidos na pesquisa, mas que podem beneficiar toda a comunida
de. Esse documento ó importante como símbolo da regulamentação da pesquisa com
seres humanos. A complexidade da situação ó evidenciada nesse ponto, quando a avali
ação ótica pretende comparar o interesse do indivíduo com o interesse da comunidade.
Todos esses documentos internacionais, embora genéricos e abrangentes, têm
um viés voltado para a área módica. Antes de introduzir uma substância farmacológica no
mercado, para tratamento de uma determinada patologia, depois de realizados os testes
em laboratório e experimentação em animais, não se pode prescindir de uma etapa rigo
rosa de controle clínico através de experimentos em humanos. Pesquisas na área bio-
módica têm uma visibilidade maior porque suas conseqüências costumam ser mais evi
dentes ou divulgadas com maior ênfase pela imprensa. No entanto, pesquisas com seres
humanos são realizadas em todas as áreas do conhecimento e não apenas na área bio-
módica. Educadores, fisioterapeutas, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos e até eco
nomistas utilizam humanos em seus experimentos.
Em 1988, o Conselho Nacional de Saúde, órgão ligado ao Ministério da Saúde,
editou a Resolução 01/88 com diretrizes para pesquisas na área de saúde no Brasil. Em
outubro de 1996, este órgão, composto de representação governamental, prestadores de
serviço, comunidade científica, trabalhadores do setor de saúde e representantes dos
usuários do sistema público de saúde, emitiu a Resolução 196/96 ®, sobre “pesquisas
envolvendo seres humanos", após revisão da resolução anterior em um processo de con
sulta e participação de todos os interessados na matéria.
Um dos méritos dessa Resolução ó que suas diretrizes não se restringem ao
campo biomódico, mas ensejam orientar todas as pesquisas que envolvam o ser humano
em todas as modalidades do conhecimento científico. O que importa ó que a pesquisa
envolva a pessoa humana, direta ou indiretamente, no todo ou em parte, individual ou
coletivamente, incluindo o manejo das informações ou materiais biológicos.
Segundo a Resolução 196/96”, as pesquisas em seres humanos devem ter rele
vância e utilidade social e científica. O projeto de pesquisa deve ser apresentado em um
protocolo experimental e submetido à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa,
existente nos estabelecimentos de saúde onde o trabalho científico for realizado e/ou nas
instituições científicas ou de ensino às quais o pesquisador esteja vinculado.
A reflexão ótica deve ser orientada pela garantia do respeito à dignidade humana,
Nâo faças aos outros aquilo que nâo gostaria que fosse feito com vocér.
Juramento de Hipocrátes 7
Juro por Apoio curandeiro e Esculápio, por Higéia e Panacóia e por todos os
deuses e deusas, fazendo deles minhas testemunhas, que eu cumprirei, de acordo com
minha habilidade e julgamento, este juramento e pacto.
Por aquele que me ensinou esta Arte, assim como por meus pais, e para viver a
minha vida em parceria com meu paciente, pois se ele estiver sem dinheiro, dar-lhe-ei
parte do meu, e em consideração a sua descendência e aos meus irmãos de linhagem
masculina, a fim de ensinar-lhes essa arte - se eles desejarem aprendê-la - sem despe
sas nem condições, para compartilhar os preceitos, as instruções verbais e todos os
outros ensinamentos, para meus filhos e para os filhos daquele que me instruiu, e também
para os alunos que assinaram esse pacto e prestaram o julgamento de acordo com a Lei
Médica, mas para ninguém mais:
Aplicarei medidas dietéticas em benefício dos doentes, de acordo com minha
habilidade e juízo;
Eu os protegerei do mal e da injustiça;
Nunca administrarei a ninguém uma droga fatal, mesmo que me seja solicitado, e
também nunca farei tal sugestão;
Da mesma forma, não darei a uma mulher um remédio abortivo.
Em pureza e santidade guardarei minha vida e minha Arte.
Não usarei o bisturi, nem mesmo nos sofredores de cálculos, mas para benefício
dessas pessoas, retira-los-ei dentro dos preceitos deste trabalho.
Em qualquer casa que eu penetre, irei tão somente para benefício do doente,
permanecendo isento de qualquer injustiça intencional, de todo ato danoso, e em particu
lar de relações sexuais, com pessoas do sexo feminino ou masculino, sejam elas livres ou
escravas;
O que eu possa vir a ver ou ouvir no decurso do meu trabalho, ou mesmo fora
dele, em relação à vida das pessoas afetadas, em nenhuma hipótese deve ser divulgado,
eu guardarei só para mim, considerando-o vergonhoso de ser dito.
Se eu cumprir esse julgamento e não o violar, que me seja concedido o prazer da
Vida e da Arte, sendo honrado pela minha boa reputação entre os homens, por todo o
porvir; se eu transgredi-lo e jurar falsamente, possa o oposto disso tudo ser o meu destino.
Bibliografia
" Embora os animais sejam imprescindíveis na pesquisa científica, seu uso indiscriminado é tarrv
bóm anti-ótico. Muitas pesquisas podem e devem ser realizadas In vltro antes de passar para a
fase In vivo. Possuir um espaço limpo e adequado para que os animais se mantenham vivos e
saudáveis durante a fase experimental também deve ser uma preocupação ética do pesquisador3.
‘ Essa Declaração foi revista em Tóquio (1975). Na década de 80, sofreu duas revisões: em Hong
Kong e Veneza. Em 1997, foi novamente revista na África do Sul, embora continue com a denomi
nação de Declaração de Helsinque.
O ensino da análise do
comportamento e a
análise comportamental
do aprender
Capítulo 9
1 Agradeço a professora Maria Amelia Matos por seus valiosos comentários, que muito colaboraram para a
elaboração deste texto.
Bibliografia
ELLIS, J. & GLENN, S. S. Behavior-analytic repertoires: Where will theycome from and
how can they be maintained? The Behavior Analyst, 1995.
MACHADO, A. & SILVA, F. J. Greatness and misery in the teaching of the psychology of
learning. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 1998.
MACHADO, L. M. C. M. & MATOS, M. A. O laboratório em cursos de graduação em
psicologia: buscando treinar atitudes. Ciência e Cultura, 1990.
Bibliografia
BORI, C.M. Developments in Brazil. In: KELLER, F.S. & SHERMAN, J.G. PSI - The
Kellerplan handbook. Menlo Park, Calíf., W.A. Benjamin, 1974.
KELLER, F.S. Good-bye, teacher. Journal of Applied Behavior Analysis, 1968.
SHERMAN, J.G. Reflections on PSI: Good news and bad. Journal of Applied Behavior
Analysis, 1992.
1Este texto foi elaborado para apresentação no VIII Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina
Comportamental, em setembro de 1999, em Sâo Paulo.
3 Discente do Programa de Doutorado em Educação (Metodologia de Ensino) da UFSCar, sob a orientação
do Professor Doutor Júlio C. de Rose e apoio da CAPES; docente do Departamento de Psicologia Experimen
tal da UFPa. Endereço para correspondência; Rua Virlato Fernandes Nunes, 30-35 "B", 13 564-070, Sâo
Carlos-SP. E-mail: pmqbOirls.ufscar.br
Introduzimos o tema deste trabalho com a citação acima, a qual voltaremos pos
teriormente. Também apresentamos, inicialmente, um exemplo fictício voltado para uma
situação de ensino de leitura (ver Figura 1). Retornaremos a esse exemplo mais adian
te. O exemplo é prestativo para a discussão do controle simbólico sobre o comporta
mento no âmbito da equivalência de estímulos, mostrando a sua relevância lingüística.
B
Desenhos
(Figuras)
A
D
PALAVRAS NOMES dados pelo
FALADAS para o SUJEITO
SUJEITO
C
PALAVRAS
IMPRESSAS
Camila é uma criança que ainda não sabe ler. Ela conhece várias palavras, ou
seja, consegue relacioná-las com desenhos ou figuras ou objetos correspondentes.
Por exemplo, aponta para o desenho/figura de uma "casa", dentre outros desenhos,
quando sua professora pronuncia a palavra casa (relação AB). Camila também nomeia
desenhos, como, por exemplo, o desenho de uma "casa" (relação BD). Porém, ela não
consegue apontar para a palavra impressa "casa" (dentre outras) quando sua professora
a(s) pronuncia (relação AC). Também, é incapaz de relacionar a palavra impressa “casa"
(e outras) com o(s) desenho(s) correspondente(s) (relação BC) e vice-versa (relação
CB). Para que Camila aprenda a ler, e com compreensão, ou seja, demonstre a emer
Sujeito: Camila
Relação AC
Situação 1
A C
PALAVRA falada
PALAVRA impressa
“casa” = referente-
►
“casa” = símbolo (S)
símbolo (R-s)
Relação AC
Situação 2
A
C
PALAVRA falada
PALAVRA impressa ►
“casa” = referente-
“casa” = símbolo (S)
símbolo (R-s)
As relações de controle simbólico que Sidman discute são aquelas entre símbo
los e referentes que não são símbolos, ou do tipo S-R (n-s)4. São relações entre
símbolos e aqueles referentes relacionados a coisas ou eventos; relações entre pala
vras (ou outros símbolos) e coisas ou eventos. Como diz Sidman (op. cit.), as palavras
"podem ser símbolos". Elas "se referem a coisas e eventos" (grifos do autor). O con
trole simbólico é efetivo, dada a sua força. Pode ser demonstrado de várias formas:
“Evidentemente, a estátua nào era viva -não era o próprio Lenine- no entanto, o
povo continuava ainda tentando matá-laH(op. cit.).
Bibliografia
A matemática tem sido apontada como uma das disciplinas que mais repro
vam, principalmente nas séries iniciais. Não raro encontramos estudantes de diversos
níveis apresentando comportamentos de esquiva em relação a essa disciplina, afirmando
que não conseguem identificar o por quê de estarem estudando conteúdos “tão distantes
da realidade" e, ao mesmo tempo, tão difíceis. É bastante razoável supor que as dificulda
des encontradas na aprendizagem dos conteúdos matemáticos encontram-se na aquisi
ção de suas noções iniciais, particularmente a aquisição do conceito de número.
Embora a importância do tema, principalmente para terapeutas e educadores que
lidam com crianças com dificuldades de aprendizagem, a Análise do Comportamento
tem produzido relativamente poucos estudos a respeito de comportamentos e variáveis
envolvidas na aquisição de repertórios matemáticos, isto ó, daqueles repertórios cujas
respostas que o compõem estejam sob controle de estímulos numéricos (visuais, táteis
' Professor da Universidade da Amazônia. Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Sâo
Carlos,
Endereço para correspondôncia: Universidade Federal de Sâo Carlos, Centro de Educação e Ciências
Humanas, Programa de Pós-Graduação em Educação, Via Washington Luiz, Km 235. CEP: 13565-905. Sâo
Carlos -S P (E-mail: pjsc0iris.ufscar.br)
O título desta seção inicia com a afirmação de que a cultura fornece experiências
que possibilitam falar na presença de mais de um conceito de número. Da noção básica
de que a idéia de número nasceu com a necessidade de quantificar as coisas à noção
elaborada pelos filósofos da matemática de que número é uma propriedade abstrata co
mum aos conjuntos que se correspondem bijetoramente, podemos notar um refinamento
conceituai que só poderia ocorrer a partir da complexificação das linguagens dos povos
que mais se destacaram na sistematizaçào das noções matemáticas (egípcios, gregos,
hindus, árabes etc.).
Evidentemente, a matemática se constitui em uma linguagem abstrata, diferente da
linguagem usual. O domínio dos símbolos matemáticos e suas relações lógicas exige, de
uma certa forma, a aprendizagem de uma linguagem que, algumas vezes, utiliza de ele
mentos de nossa língua mãe e, outras vezes, distancia-se totalmente desta, existindo em
um mundo de expressões que, ao mesmo tempo em que é complexo e esotérico (no
sentido de ser um mundo fechado e acessível somente aos que dominam tal linguagem),
fornece uma descrição e interpretação do mundo concreto em que vivemos.
A aprendizagem dessa "nova" linguagem, entretanto, inicia a partir de seu conceito
fundamental: a idéia de número. Náo faria sentido falarmos em matemática sem nos refe
rirmos a números. Porém, nossa cultura trata equivocadamente dessa questão.
Freqüentemente, número (idéia abstrata) é confundido com numeral (a representação
simbólica do número), e muitos chegam a tratá-los como sinônimos ao longo de toda a
vida. Na escola, os professores das séries iniciais do ensino fundamental partem do prin
cípio de que os alunos “já sabem" o que é número, bastando apenas alguns treinos de
identificação dos numerais e da relação entre estes e seus nomes, falados ou escritos, e
conjuntos com quantidade correspondente de elementos.
A presença de relações entre numerais, palavras faladas e quantidades de elemen
tos, sem dúvida, pode ser indício de que uma criança já sabe o que é número. Tal indício,
porém, é bastante superficial e pouco consistente, uma vez que a variabilidade de contex
tos a que estamos expostos exige que apresentemos novas relações numéricas que fari
am parte de um quadro relacionai mais amplo, o qual constituiria um determinado conceito
de número. Visto deste ângulo, posso afirmar que não há um e somente um conceito de
número, mas conceitos ou quadros relacionais que cada indivíduo formaria a partir das
diversas experiências a que estaria exposto em sua cultura.
A possibilidade de experiências diversificadas gerarem repertórios diferenciados e,
especificamente quanto às noções matemáticas fora e dentro da escola, gerarem repertó
rios matemáticos diferenciados, sugere que não há processos puramente biológicos en
volvidos. Apesar de poder parecer um processo natural de desenvolvimento, a aquisição
'(...) nâo se postula que o conceito de número natural seja um concomitante inva
riável do crescimento mental em todos os ambientes humanos. Esta restrição ô
necessária devido a uma quantidade considerável de evidências (...) de que po
vos primitivos fisicamente normais não apresentam o conceito de números natu
rais ou de suas propriedades. 'c
Não é objetivo deste texto realizar uma descrição exaustiva dos estudos acerca
de repertórios matemáticos,3 dentro da vertente comportamentalista; entretanto, serão
aqui enfocados algumas das principais investigações com vistas a dar suporte à análise
realizada na próxima seção.
Podemos situar as investigações com sujeitos humanos em duas etapas:
1) os estudos realizados antes da divulgação do paradigma da Equivalência de Estímu
los (Sidman e Tailby, 1982);
* (...) it does not postulate that the natural number concept is an Invarlable concomitant of mental growth In ali
human envlronments. This quallflcatlon Is necessltated by a considerable amount of evldence (...) that physi-
cally normal primitive peoples have no conceptlon of the natural numbers or their propertles.
:l Uma revisão da área está sendo realizada pelo autor para posterior publicação.
Além da proposta acima citada, Staats e Staats (1973) indicam que o número é
uma abstração, entendendo-se por abstração "uma resposta sob controle de uma única
propriedade isolada de um estímulo, que não pode existir isoladamente." Assim:
“Dois, por exemplo, não pode existir na ausência de outras qualidades do estimulo;
é simplesmente uma das propriedades de determinados objetos-estimulos. Os
objetos-estimulos sâo diferentes em uma ocasião e na outra, por exemplo, duas
laranjas pode ser o estímulo discriminativo em uma ocasião e dois cachorrinhos na
outra. O termo “dois” se aplica a ambas, mas não a três laranjas e um cachorrinho. ”
Outros estudos foram realizados tendo como objetivo geral a análise de diversas
habilidades aritméticas mais complexas, como adição, subtração, multiplicação e divisão
(ver, p. ex., Dunlap e Dunlap, 1989; Garcia, Esparza e Ochoa, 1988; Gonzales e Garcia,
1984; Whitman e Johnston, 1983; Garcia, Eguía, Gámiz e Gonzales, 1983; Diaz e Garcia,
1980; Backhoff, Lovitt, Larrazolo e Romano, 1980; Gast, VanBiervIiet e Spradlin, 1979;
Garcia e Rayek, 1978; Cuvo, Veitch, Trace e Konke, 1978; Lowe e Cuvo, 1976; Parson,
1976; Garcia, Lugo e Lovitt, 1976; Resnick, 1975). Estudos relativos à aquisição do con
ceito de número reaparecem a partir da divulgação do paradigma da Equivalência de Estí
mulos.
* (...) the concepts and procedures of stimulus equivalence can contribute substantially to teaching practlces.
The overall impact may be threefold:
(1) increased undertanding of the nature of laraning difficultles in particular populatlons of individual,
(2) increased precision in assessment of academic praformancaa, and
(3) the identification of intervention strategies that maximize new learning.
104 00
I .I ilos Santos Carm»
A lista de relações proposta não contém uma ordem “natural” de aquisição de
habilidades. Um breve olhar no cotidiano de crianças pequenas nos fornece uma idéia
da diversidade de experiências a que está exposta, dentro e fora da escola, o que con
duz a aprendizagens mais ou menos completas das relações. Muito provavelmente as
pessoas que lidam diretamente com a criança (mãe, pai, tia, babá, irmão mais velho
etc.), através de interações não planejadas (ou seja, não estruturadas com propósitos
pedagógicos), poderão propiciar situações de aprendizagem de algumas habilidades
componentes da rede de relações. Tratando-se de crianças sem impedimento sensori-
al,8 o próprio dia-a-dia fornece as oportunidades de aprendizagem incidental: o progra
ma televisivo mostrando numerais, seja através de músicas, propagandas, desenhos
animados etc. As pequenas canções que falam de números. O brinquedo de encaixe
cujas peças podem ser enfileiradas, contadas, separadas (há vários brinquedos cujas
peças constituem numerais). Em casa, os adultos, com grande freqüência, esforçam-se
por ensinar os filhos pequenos a dizerem sua idade, acompanhada de um gesto com os
dedos que corresponde ao número falado. Assim, diante da pergunta "quantos anos
você tem?"(ou similar), uma criança de dois anos poderá dizer “dois”e, simultaneamen
te, mostrar os dedos indicador e médio em forma de V. Não é preciso dizer que os pais,
bastante orgulhosos do talento de seu filho, festejarão essa façanha através de palmas,
beijos, abraços, elogios verbais, e tudo o mais que possa aumentar a freqüência daque
la resposta em situações similares no futuro. Enfim, cada um de nós pode listar uma rica
gama de oportunidades de contato direto com estímulos numéricos, sejam estes auditi
vos, visuais ou táteis.
Voltando à proposta de operacionalização do conceito de número, relações de
equivalência podem ser estabelecidas a partir de treinos e testes específicos. Assim, no
item 1 da lista de habilidades, temos o ensino direto da relação numeral-quantidade e
possibilidade de verificação da emergência da relação inversa. A ilustração a seguir
esquematiza essa possibilidade:
“ Optei por citar crianças sem impedimentos sensoriais, embora saibamos que qualquer criança, independen
te de limitações, poderá adquirir variados repertórios a partir das oportunidades de aprendizagem oferecidas.
3 três
A figura 3 apresenta três situações de ensino direto de relações auditivo-visuais
que fazem parte do item 3 da lista de habilidades. Na parte superior da figura, encontra-
se ilustrada a situação em que diante da palavra ditada "três”, pelo experimentador, a
criança aponta para o numeral três. No centro da figura, diante da palavra ditada "três",
a criança aponta a palavra escrita três. Na parte inferior da figura, a criança aponta para
a coleção de três objetos ao ouvir o experimentador ditar "três"6.
Figura 3 - Três relações auditivo-visuais. Em (a), o sujeito deve escolher o numeral que
corresponde à palavra ditada. Em (b), o sujeito deve escolher o nome escrito correspon
dente ao falado. Em (c), o sujeito deve escolher o conjunto de objetos cuja quantidade
corresponde ao que é ditado.
Três
(a)
Três
(b)
Três (c)
8 Notem que as relações apresentadas pelas figuras 1, 2 e 3 sâo apenas esquemáticas. Numa situação
controlada de ensino, freqüentemente optaríamos pelo treino de relações condicionais, para o qual o procedi
mento de pareamento ao modelo é bastante adequado. Portanto, nâo se trata de ensino de discriminações
simples.
3 ----------- ►
(a)
Três
Três -----------►
(b)
Três
----------- ►
(c)
Três
A partir do ensino direto das relações numeral-quantidade (figura 1) e quantidade-
palavra escrita (figura 2), podemos verificar a emergência de relações simétricas e transi
tivas, não ensinadas explicitamente, inclusive a relação crucial (palavra escrita-numeral),
que nos autoriza afirmar que o numeral, a palavra escrita e a coleção de objetos passaram
a fazer parte de uma classe de estímulos que se eqüivalem. A figura 5 ilustra as relações
ensinadas e testadas.
Os estudos de Green (1993), Silva, Carmo e Galvão (1996) e Carmo (1997), com
algumas pequenas variações de procedimentos e de seqüência de treino e testes, se
guiram as linhas gerais expostas nos itens 1 a 5. Esses estudos demonstraram a
pertinência do uso da tecnologia de controle de estímulos aplicado à formação de clas
ses equivalentes contendo numerais, quantidades e nome escrito dos números.
Há fortes indicativos, entretanto, de que o conceito de número natural não fica
limitado apenas às relações acima ilustradas. Fora da Análise do Comportamento, vári
os estudos experimentais (ver, p. ex., Brainerd, 1973,1974,1979; Fuson, 1996; Gelman
e Gallistel, 1978; Piaget, 1981/1964; Vernaud, 1992; Wynn, 1990) têm verificado que as
noções de ordenação e cardinação são cruciais para o entendimento de número e,
portanto, devem fazer parte da rede de relações aqui apresentadas. A ordenação está
fundamentada na noção lógica de uma relação transitiva-assimótrica, por meio da qual
os números naturais podem ser ordenados dentro de uma progressão aritmética, onde
cada número representa um e somente um dos termos dessa progressão. A ordenaçãq
envolve o uso de relações qualitativas não ligadas somente a estímulos numéricos (maior
que, menor que, mais alto que, mais baixo que, mais pesado que, mais leve que). As
sim, se compararmos os números 2 e 3, podemos dizer que 2 è menor que 3. A relação
simétrica, neste caso, não é possível (3 não é menor que 2). Ao compararmos 3 e 4,
3. Considerações Finais
' A extensa lista de referências, ao final do texto, poderá auxiliar o leitor que queira aprofundar estudos.
Bibliografia
A ampliação das
fronteiras da Análise
Aplicada do
Comportamento
Capítulo 13
Bibliografia
Satisfação com
Comprar o produto
C a compra
Velocidade: Velocidade;
43 ms = 200 ms
Mensagem
subliminar
Bibliografia
Psicologia
Comportamental e
Saúde: probabilidades
de intervenção
Capítulo 15
1 Neuroclrurglâo coordenador da Clínica de Dor da Famerp - Faculdade de Medicina de Sâo José do Rio Preto.
Bibliografia
ASBURN, M. A. & STAATS, P. S. The Management of chonic Pain. In: Arquivos Simbidor,
4QSimpósio Brasileiro e Encontro Internacional, Junho. São Paulo, 1999.
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Methysergide and Yohimbine on micro-stimulation-produced antinociception in the
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KEATON, W. Panic disorder and somatization. Review of 55 cases. American Journal of
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Capítulo 16
Psiconcología pediátrica em um
Hospital-Escola
And A7/«/ Ribeiro dos Siintos'
1 Psicóloga responsável pelo Serviço de Oncologia da Famerp-Faculdade de Medicina de Sâo José do Rio
Preto-SP.
4. A volta da doença
- Apoio:
• Ensino de estratégias de autocontrole, que envolve a percepção de eficácia da res
posta na resolução do problema.
• Orientação aos pais de como lidar com as respostas do paciente.
• Motivar expressão dos sentimentos dos pais e apoio mútuo.
• Auxiliar os pais a atenderem às necessidades emocionais dos irmãos.
4.1. A dor
Apesar dos avanços no tratamento das crianças com câncer, inevitavelmente exis
tem aquelas cuja doença torna-se refratária ao tratamento. Dessa forma, os objetivos ao
lidar com essas crianças mudam de medidas curativas para somente medidas paliativas.
Os pontos mais importantes a serem considerados para a equipe de saúde que
esteja ligada a estas crianças devem ser: providenciar o necessário para a criança,
principalmente no que diz respeito ao controle da dor e sintomas específicos, dar supor
te aos familiares que estejam envolvidos com a futura perda, decidir junto com os fami
liares os cuidados para o estágio final da vida, incluindo a retirada de alguns medica
mentos e suportes nutricionais que nesse momento não estariam mais servindo para
auxílio no tratamento da criança e decidir sobre procedimentos que deverão ser tenta
dos para modificar os planos de saúde da criança. Até que a criança apresente um
repertório de desligamento, ó necessário que o psicólogo forneça um atendimento indi
vidual à criança e à família, aconselhando a manutenção da comunicação e relaciona
mentos evitando que esse processo ocorra antecipadamente (Masera, Spinetta, Jankovic,
Ablin, D’Angelo, Dongen-Melman, Eden, Martins, Mulhern, Oppenheim, Top, Chesler,
1999; Ribeiro dos Santos, 1999; Lauria, 1996).
São utilizadas orientações psicológicas aos irmãos, antes da morte da criança.
No momento da morte da criança ó necessário auxílio com providências práticas, sendo
realizada pelo serviço social e apoio psicológia e grupos de voluntários.
A doença progressiva trás respostas emocionais de raiva, medo da morte e sinto
mas de ansiedade e depressão nos familiares. Os pais necessitam orientação no pro
cesso de enfrentamento dos sintomas dessa fase da doença.
• Ensinar novas habilidades de controle e manejo da dor e do estresse.
• Treinar os pais a ajudar a criança a expressar suas necessidades e pensamentos.
• Motivar os pais no cuidado, pois o cuidado progressivo favorece o processo de luto
pela perda da criança.
• Ensinar os pais sobre a percepção que a criança tem de morte.
• Aumentar as atividades agradáveis.
• Apoio comunitário, favorecendo os cuidados domiciliares.
5.1. A m o rte
6. As Crianças Curadas
As crianças que em cinco anos não apresentaram o retorno da doença são consi
deradas curadas. O tratamento foi comprido e este período envolve questões que devem
7. Considerações Finais
Uma vez que a doença crônica afeta e ó afetada dentro de um contexto amplo de
variáveis, é necessário que estratégias de intervenção possibilitem trazer o equilíbrio
para a criança e sua família.
A atuação da psicologia da saúde em oncopediatria favorece a promoção de
mudanças nos comportamentos mal adaptados tanto da família como da criança, ga
rantindo adesão ao tratamento. A família desempenha o papel de cuidador e facilita o
desenvolvimento de comportamentos adequados da criança com câncer, desenvolven
do estratégias de enfrentamento da doença crônica.
Independente do tratamento ser curativo ou paliativo, a qualidade de vida da
criança e de sua família é fundamental, devendo ser considerada em todas as fases
do tratamento.
Bibliografia
POWERS, S., VANNATTA, K., COOL, V. & STEHBENS, J., Leukemia and Other
Childhood Cancers. In: ROBERTS, M. (org). Handbook of pediatric psychology.
Nyork: Guilford, 1995.
RIBEIRO DOS SANTOS, A.R. Aspectos psicossociais da criança com câncer e sua
família. Apostila do Curso de Psiconcologia - FAMERP Faculdade de Medicina
de São Josó do Rio Preto, 1999.
RIBES, E. Psicologia Y salud: un análisis conceptual. Barcelona: Ediciones Martinez
Roca, 1990.
RONEN, T. Cognitive Developmental therapy with children. Wiley, England, 1997.
VALLE, E. R. M. Câncer lnfantil:Compreender e Agir.Psy, Campinas, 1997.
Adesão ao tratamento'
fiin i tUí Korn M<i/crbi
n/csr
' Versão modificada da palestra apresentada no VIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia o Medicina
Comportamental, promovido pela ABPMC em setembro de 1999, Sâo Paulo.
Todos os aspectos 7%
Dieta ~ 3,4%
Bibliografia
I V l eu interesse pela gagueira começou não faz muito tempo, embora ela
seja minha velha companheira de muitos anos. Partiu de uma amiga e excelente
fonoaudlóloga, a sugestão de que eu começasse a estudar a gagueira. A grande maio
ria de psicólogos que ela encontrou, ao longo de mais de 20 anos de prática clínica, se
encaixava neste perfil: sabiam muito pouco a respeito da gagueira e enfatizavam ape
nas o aspecto emocional na gênese dessa desordem, apesar de estudos atuais aponta
rem para outros caminhos.
Confesso que me apaixonei pelo estudo da gagueira. Li muito até hoje, e cada vez
tenho mais coisas para ler. Há um grande número de propostas terapêuticas que variam
em função do referencial teórico que as sustenta. Notei que os fonoaudiólogos estavam
muito a frente dos psicólogos. E os psicólogos, onde estavam? E os psicólogos de forma
ção behaviorista, como eu? Fui à procura de material que me mostrasse o fazer do
terapeuta nesta área.
Um dos relatos mais antigos sobre a gagueira pode ser encontrado na literatura
da Grécia, que é sobre um certo Battos, que foi ao oráculo de Delfos para descobrir
como poderia livrar-se de sua gagueira. O oráculo deu a ele a seguinte instrução: “Exile-
se para sempre em uma terra estrangeira e jamais retorne" ( Van Riper e Emerick, 1997).
Na Idade Média, as línguas dos gagos eram queimadas. Nos séculos XVIII e XÍX,
alguns cirurgiões acreditavam que a gagueira fosse o resultado de um defeito físico dos
órgãos da fala. Na Grã-Bretanha, recorria-se às vezes, à amigdalectomia; mas na Fran
ça e na Alemanha, eram feitas cirurgias de incisão na língua ou extração de parte dela.
Esses métodos foram adotados por outros cirurgiões, em outros países, e esta prática
acabou por se impor. De fato, esse foi um acontecimento estranho, porque essas cirur
gias cruéis não traziam nenhuma ajuda à gagueira, mas isso serve para ilustrar até que
ponto as pessoas chegavam, na ilusão de se curar (Irwin, 1993).
Há cerca de 150 anos, um homem chamado Columbat tratava gagos, fazendo com
que eles dissessem cada sílaba de sua fala enquanto sacudiam os braços ou batiam em
uma mesa. Esse método ainda é usado hoje em dia, embora tenha tido uma longa história
de fracasso. Mas, sem dúvida, como qualquer outro método, ele obteve alguns êxitos
porque, por um momento, consegue reduzir ou eliminar grande parte da gagueira na maio
1. Tratamento
Por que não reforçar apenas a fluência ( não-gagueira)? A autora acha que essa
abordagem, que combina dois procedimentos, tem suas vantagens. Ambas as contin
gências têm um papel importante no sucesso do tratamento. Parece que as reduções
na freqüência da gagueira dependem, principalmente de se fornecer reforçamento ne
gativo contingente a estes comportamentos. Reforçar apenas as emissões fluentes não
diminui, necessariamente, a gagueira. É importante a combinação dessas duas contin
gências de reforçamento. Além disso, nesta situação, formas mais brandas de
reforçamento negativo podem ser utilizadas e se mantém uma relação positiva entre a
criança e o terapeuta, cuja figura permanece associada à apresentação do SR+ .
As contingências não eram explicitadas para as crianças pequenas, a menos que
perguntassem. Por exemplo: “por que você pediu para eu parar?"!
Para as respostas de não-gagueira, nas fases iniciais do procedimento, o esque
ma de reforçamento era contínuo e se modificava para razão, nas fases subseqüentes.
Quanto maior a extensão da verbalização da criança, sem gagueira, menor é a densida
de de reforçamento. No final dP tratamento, o objetivo era se aproximar das contingên
cias de reforçamento que vigoram no ambiente natural. Pretendia-se também que a fala
da criança estivesse sob seu próprio controle, e não de fontes externas de reforçamento.
Bibliografia
* O grupo de estudo e supervisão foi conduzido em colaboração com a psicóloga Heloísa H. Ferreira da Rosa.
1) aprendera lidar de maneira breve com aspectos emocionais, sem fazer psicoterapia;
2) aprender a identificar quando encaminhar para Serviços Psicológicos e/ou Psiquiá
tricos, se necessário;
3) discutir temas específicos, tais como: enurese, homossexualismo, bronquite, aler
gia, etc;
4) aprender a manter o paciente comparecendo semanalmente ao PAM e iniciar uma
ajuda enquanto não houvesse vaga no setor de psicologia e/ou psiquiatria para aten
dimento psicoterápico e/ou psicofarmacológico.
Após ouvir as solicitações das profissionais, foi elaborada uma proposta de tra
balho que previa a realização de reuniões quinzenais com duas horas de duração, sem
ter um tema previamente definido. Assim, trabalharíamos em cada reunião com o as
sunto ou aspecto de caso que surgisse em função dos relatos; também sugerimos a
leitura do livro Construindo a relaçào de ajuda, para que pudessem tomar contato com
outros aspectos de escuta terapêutica.
Nossa proposta específica tinha os seguintes objetivos:
a) ensiná-las a olhar a pessoa, além das queixas verbais, dos exames clínicos e
laboratoriais;
b) ensiná-las a perceber as queixas de uma outra forma, isto ó, uma criança com asma,
não ó uma asma, ó sim uma criança que tem, além da asma, medos, vontades,
desejos, ansiedades, sonhos, mãe brava, alegre ou triste, pai severo, permissivo,
ausente, alcoólatra, etc., tem irmão mais novo ou mais velho que pega e some com
os brinquedos, que tem ciúmes, raiva, etc, etc, etc.;
c) trabalhar o esquema de raciocínio que as profissionais desenvolviam para conduzir
um caso, desde o primeiro contato até o final do atendimento, saindo de um modelo
módico de doença e ensinando-as a raciocinar com um referencial de análise funci
onal do comportamento;
d) ensiná-las a identificar que informações comportamentais, incluindo as interven
ções delas com os clientes, são dados relevantes para a correta compreensão de
um caso clínico com queixa orgânica;
e) aprimorar a coleta de informações, incluindo dados observacionais no momento do
atendimento;
f) levá-las a desenvolver um repertório de participação no grupo; que lhes ensinasse a
fazer perguntas relevantes que extrapolassem as queixas físicas em si;
g) levá-las a perceber que a interação delas com o paciente tinha sempre uma função
que ultrapassava o papel que elas supunham ter;
a) as módicas informavam como tinha evoluído cada caso que havia sido discutido
previamente;
a) mesmo que as queixas fossem reais, a médica estava impedida de ajudá-la pelo
relacionamento anterior que tinham, pois estava ocorrendo uma mistura de papéis;
b) por trabalhar no local de seu atendimento, a cliente tinha acesso à própria pasta e
daí todos os desdobramentos relativos a esse fato;
c) importância de não se ter "conversas de corredor” sobre qualquer caso e não só em
relação a esse;
d) identificação do caminho que essa cliente estava achando para pedir ajuda: ter con
sulta e não ir não significava não querer falar, pois parecia que ela não queria falar
nesse contexto, isto é, nesse lugar e para aquela pessoa;
e) perceber que esses comportamentos eram um pedido de ajuda no lugar certo e para
a pessoa certa.
O terceiro caso tratava-se de uma criança de sete anos de idade, com crises de
bronquite e febres recorrentes, cujos pais chamavam a pediatra de madrugada e muitas
vezes internavam a criança.
Era uma família cujos pais,que trabalhavam muito fora, tinham um relacionamen
to ruim entre si.
Em um caso como esse, foram discutidos e trabalhados os seguintes tópicos:
Conclusões
Bibliografia
MIRANDA, C. F., MIRANDA, M.L. Construindo a relaçào de ajuda, Editora Crescer, B.H.,
1986.
Introdução
1 Psicóloga da Faculdade de Medicina de Sâo José do Rio Prelo Famerp - Hospital de Base.
O impacto do HIV sobre a criança está relacionado com a faixa etária e nível de
desenvolvimento. O desenvolvimento cognitivo afeta a maneira da criança perceber a sua
doença, o tratamento módico e como ela responde às intervenções. O desenvolvimento
emocional e social ó outra variável importante no manejo da doença (Thompson &
Gustafson, 1996). A forma e extensão com que a doença pode modificar os processos
normais do desenvolvimento depende de alguns fatores, incluindo as características da
doença (gravidade, prognóstico, limitações, etc.), diferenças individuais de personalidade,
as relações funcionais interpessoais da família, o suporte social e financeiro, a reação dos
irmãos e companheiros da criança doente, assim como a atuação dos profissionais envol
vidos - professores, módicos, psicólogos, enfermeiros e outros profissionais.
A doença pode significar interrupção no desenvolvimento normal e conseqüente
mente trazer prejuízos emocionais. O estudo dos aspectos psicossociais da doença em
crianças é relevante, uma vez que experiências vivenciadas na infância, bem como a
forma como essas experiências são enfrentadas, podem acarretar comprometimentos
emocionais e determinar o estilo do indivíduo quando adulto para lidar com estressores
(Miyazaki, 1993).
As crianças mais jovens (pró*escolares) não compreendem o conceito de doen
ça. Suas maiores preocupações são com os procedimentos médicos invasivos, para a
realização dos exames, e com os remédios (Lewert, 1989). A descoberta da
soropositividade nessa etapa do desenvolvimento infantil pode resultar em dependên
cia, dificuldades para separar-se dos pais, diminuição auto-conceito e dificuldade para
controlar impulsos (Radovan, 1993).
O ideal é prepará-las para a realização dos exames, com orientações e informa
ções claras e utilização de estratégias capazes de reduzir sua ansiedade (brinquedos
médicos, livros com procedimentos para colorir).
Com crianças mais velhas (idade escolar), os pais se questionam em relação a
revelação do diagnóstico (Wiener, Battles & Helman, 1998). As dificuldades implícitas
nessa revelação envolvem o medo do abandono e da exclusão pela família e amigos, o
impacto para os irmãos não- infectados e a possibilidade de não manter em segredo a
sua condição de soropositivo .
Inicialmente, os pais decidem não revelar o diagnóstico. Fazem isso na tentativa
de evitar discussões sobre a morte e questionamentos sobre as formas de contágio, o
que ó particularmente difícil para aqueles que se culpam pela infecção da criança (Tasker,
1992). Buscando, assim, preservar o bem- estar da criança. No entanto, a criança
percebe que algo de errado está acontecendo com ela; nota que é diferente de outras
crianças e de seus irmãos mais velhos que nào tomam os mesmos remédios e nào
faltam da escola para ir freqüentemente ao módico. Ela percebe as alterações surgidas
na dinâmica do casal e a instabilidade emocional dos pais.
4. Considerações Finais
Bibliografia
Compreendendo
e modificando
emoções
Capítulo 21
1Holsistíi ( ’n|H|
2. Relatar a emoção
Bibliografia
1Psicólogo co laborador ilo A M HAN. Professor da U niversidade Hras ('u b a s - Mogi das C'm/.cs - Silo Paulo.
Bibliografia
1Este trabalho, apresentado como mini-conlerôncia no VIII Encontro da ABPMC, em Sâo Paulo, 1999, é parte
adaptada da tese de livre docência: Autocontrole: pesquisa e aplicação, apresentada no IPUSP, em 1991.
3 Bolsista CNPq.
Bibliografia
BANDURA, A. Principies of behavior modification. New York: Holt Rineart and Winston,
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BARLOW, D. H. HAYES S. C. e NELSON R. O. The scientist practitioner: research and
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1985.
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the mind. The Psychological Record, 1965.
KANFER, F. H. Self-monitoring: methodological limitations and clinicai allications. Journal
of Consulting and clinicai Psychology, 1970.
Sentimos raiva nas situações que envolvem ameaça à nossa aptidão biológica, o
que vale tanto para os homens como para os animais. Tais situações são reveladoras do
valor funcional da agressão e os estudos comparativos são esclarecedores.
Quando são analisadas as ocasiões em que os animais lutam, verifica-se não se
tratar de uma anomalia, mas de uma forma funcional de resolução dos problemas coloca
dos pelo modo de vida em questão.
Muitas lutas podem ser relacionadas à produção de espaçamento e conseqüente
garantia de recursos alimentares para os ocupantes do espaço. O comportamento territorial
pode mediar essa garantia de recursos, mas também são observadas lutas diretas pelos
alimentos. Um animal faminto pode ser muito perigoso. A freqüência de lutas aumenta
muito no período reprodutivo, para a maior parte das espécies animais. Outro contexto
propiciador de agressividade que temos em comum com os outros animais é o da defesa
de filhotes, situação em que qualquer fêmea vira fera, assim como o de defesa da própria
vida, traduzido pela expressão “cuidado com bicho acuado". Luta-se, por fim, por poder no
grupo, o que significa acesso facilitado a todos esses recursos (Otta & Bussab, 1998).
A análise das situações que mais tipicamente evocam raiva e agressão nos ho
mens e nos animais aponta o potencial valor adaptativo da agressão e evidencia uma
pressão seletiva sobre o sistema.
Tudo indica que a agressão foi selecionada pelas suas vantagens adaptativas, que
só podem ser entendidas dentro de um determinado contexto. Na verdade, foi seleciona
do um conjunto de comportamentos, o sistema agonístico, composto ao mesmo tempo
por comportamentos agressivos de ameaça e de luta e por comportamentos defensivos,
também de ameaça e de luta, com exibições de submissão ou apaziguamento ainda, de
fuga efetiva. De partida, fica claro que a agressividade foi selecionada juntamente com
seu antídoto ou com seus reguladores. Isso fornece uma pista inicial de que a agressão é
funcional em um contexto em que se contrabalança com outras tendências, de modo que
esteja em equilíbrio.
Deve-se notar que se trata de uma situação de conflito motivacional entre raiva,
Parece fazer parte da natureza humana uma predisposição para que o desenvolvi
mento psicológico do indivíduo se processe através do contato social, da interação e do
vínculo. O apego e a agressão são aspectos do ajustamento humano ao contexto sócio-
afetivo de desenvolvimento
Pode-se dizer que o amor e o ódio se ligam de diversas maneiras. Um levantamen
to realizado entre adolescentes sobre situações em que sentiram mais raiva, permitiu o
agrupamento dessas situações em categorias do tipo: "brigas com os pais", "problemas
com os amigos" e "às voltas com a traição amorosa ou com a rejeição". A grande maioria
dos motivos estava ligada a problemas, incompreensões e quebras de expectativas nos
relacionamentos (Otta & Bussab,1998).
De um modo complexo, também há evidências de que o estilo de apego desenvol
vido pela pessoa, seguro ou inseguro, também afeta a expressão e o sentimento de raiva.
Um estudo com crianças alemãs de pré-escola verificou que meninos inseguros eram
mais agressivos e meninas inseguras, mais boazinhas (Turner,1991). Além da intrigante
interação com o gênero, esse estudo exemplifica as diversas evidências já encontradas
de correlação entre estilo de apego e padrões de agressividade. Fala-se no desenvolvi
mento de um modelo interno de funcionamento individual, que mediaria de modo amplo a
maneira pela qual as pessoas se relacionariam com as demais. Crianças inseguras per
cebem mais intenções negativas em estórias do que as demais (Suess et al, 1972), o que
poderia ilustrar um aspecto desse modelo interno de funcionamento.
Bowlby (1982), ao falar genericamente sobre essas questões, propõe a necessida
de de revisão desses estilos de relacionamento através do relacionamento terapêutico,
como uma forma de permitir o desenvolvimento de novos modelos internos de relaciona
mento nas pessoas que buscam terapia por dificuldades desse tipo.
Mesmo quando bem dosada e aplicada num contexto compreensível, a raiva é algo
que incomoda e perturba, tanto o agente quanto o alvo, e até mesmo o próprio observa
dor. Ainda assim, muitas vezes, procuramos nos expor a situações agressivas. Corremos
para ver uma briga ou pagamos para assistir a um filme violento, o que acaba produzindo
em nós mesmos algum nível de tensão. Como entender esse aparente paradoxo? Acredi
tamos que issdo possa ser explicado pelo nosso caráter lúdico, no sentido mais amplo do
termo: lidar, em situação relativamente protegida, com as emoções que nos são importan
tes. Brincar é exatamente isso e é uma maneira muito importante selecionada na evolu
ção para nos preparar para a vida, tanto em termos de vivenciamento de emoções quanto
em termos de competências e habilidades específicas (Otta & Bussab, 1998).
Por que achamos graça das emoções e dos desafios, no limite do terror ou da
nossa competência? O olhar etológico ajuda a entender essa nossa natureza e a sua
função. A brincadeira típica da mãe! Kung, povo caçador coletor da África Setentrional, é
Com isso, reitera-se a idéia de que a agressão não é só um problema a ser elimina-
do, pois tem um valor de ajustamento. É sempre preciso qualificá-la e compreendê-la no
contexto. Embora essa constatação tenha sido alcançada pelas diversas abordagens que
vêm estudando a agressão em Psicologia, a abordagem etológica tem a especificidade
de trazer à tona o contexto do ambiente de adaptabilidade evolutiva e as características
naturais dos sistemas de relacionamento humano.
Em síntese, a perspectiva etológica salienta aspectos adaptativos, mostra o valor
de estudos comparativos, sugere a existência de padrões ritualizados e de estímulos
sinais, mostra a importância da compreensão do ambiente natural em contraste com o
ambiente de criação, revela ligações com o apego e ajuda no esclarecimento de alguns
problemas contemporâneos.
Bibliografia
BLURTON-JONES, N. Child-child interactions. In: N. Blurton Jones (Org.) Ethological
studies of child behavior. Nova Iorque: Cambridge Univ. Press, 1972.
BOWLBY, J. A Formação e o rompimento de laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes,
1982.
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BRUNER.J. S. Nature and uses of immaturity. In: BRUNER, J. S .; JOLLY, A. & SYLVA,
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BUSSAB.V. S. R. & MALUF, M. P. C. A creche como contexto sócio-afetivo de desenvol
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CARVALHO, A. M. A. Etologia e comportamento Social. In: L. de Souza; M.F.Q.de Freitas
& M.M.P.Rodrigues(Orgs.) Psicologia - reflexões (im)pertinentes. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 1998.
A díade terapeuta-
clíente: a interação
enquanto base para
a mudança
Capítulo 25
Alguns estudos sugeriram que não (Sloane e cols., 1975; Kilman e Hoerll, 1974,
Marziali e Sullivan, 1980 apud Gavino, 1996). Marziali, Marmar e Krupnick (1981) apud
Gavino (1996) não encontraram relação entre os resultados da terapia e o comportamen
to interpessoal do terapeuta.
Boa parte dos estudos que avaliam características ou habilidades do terapeuta ado
tam entretanto, dimensões simples do comportamentos desses, permitindo que variáveis
relevantes permaneçam ignoradas. Contrariamente, Gold e Dole (1989) examinaram
dimensões globais da atuação de terapeutas treinados. As pessoas atendidas foram
solicitadas a avaliar quais profissionais lhes ofereceram maior ajuda, entre treinados e
não treinados. O estudo revelou que terapeutas treinados ajudam significativamente mais
do que profissionais não treinados. Stein e Lambert (1995) realizaram uma revisão da literatu
1Estudo realizado sob orientação da Prola. Doutora Rachel Rodrigues Kerbauy, no Laboratório de Comporta
mento e Saúde da Universidade de Sâo Paulo - SP.
I 42-47. 152-155
II 58-61. 166-173
III 339-358. 377- 488. 505-506
IV 156-160. 248-253.277-450. 455- 458.
V 254-258. 283-289. 331-333. 421- 425.
VI 273-276. 309-317.
A 5 0 0
B 2 3 3
C 4 3 3
D 2 0 0
E 4 8 8
F 2 0 0
G 2 2 2
H 1 0 0
Terapeuta Cliente
Faz perguntas sobre o Descreve detalhes da queixa.
problema do qual a cliente
se queixa.
Bibliografia
Cliente: mulher, 38 anos, casada pela segunda vez há 8 anos, módica, nível socio
econômico médio-alto, terceira de quatro filhas mulheres de uma mãe viúva e de um
homem que foi “pai e marido ausente e inexpressivo" (sic).
Queixa: está tensa, ansiosa, angustiada, com medo de ter outra depressão (a primeira
foi há 9 anos, na época da separação do primeiro marido). Tem medo "um medo bobo"
de que o casamento acabe e venha a ficar sozinha por muito tempo e ató para sempre.
Bibliografia
3. O processo de mudança
' Trabalho apresentado na atividade "primeiros passos" durante o VIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e
Medicina Comportamental. Sâo Paulo, setembro de 1999.
3 Pontifícia Universidade Católica de Sâo Paulo. Perspectiva - Núcleo de Estudos em Análise do Comporta
mento. Consultório; Rua Itapeva, 490 - cj. 56 - Sâo Paulo - SP. E-mail; d/am ig®lbm .net
"... Então perai, eu fico até meio brava (...) ela fica se esquivando, se esquivando,
isso vai me dando uma coisa de'p... se expõe mulher", entendeu? Então acho que
foi meio pra isso que eu fiz essa intervenção..." (Zamignani, 1996a)
Dados como este levantam a hipótese de que eventos internos como pensamen
tos, sentimentos, e o processo de discriminação de sentimentos e emoções poderiam
estar participando de uma cadeia de determinação de comportamentos abertos ou en
cobertos do terapeuta. A investigação desse processo comportamental seria necessá
ria, principalmente para a compreensão das variáveis envolvidas na tomada de decisão
do terapeuta durante a sessão.
Banaco (1993) discute a dificuldade do manejo de questões que envolvem senti
O trecho abaixo ilustra algumas das contingências presentes nos primeiros aten
dimentos do terapeuta iniciante:
SA82. "T1. A sensação que eu tive ô assim: a gente tava fazendo um monte de
perguntas, parece que eu e o T2., a gente tava assim, dois Sherloques, a gente
tentando saber: e aí, você sente o quê ? Quando ó assim, você pensa o quê,
você faz o quê? A gente tava fazendo aquela investigação, colocando isso tudo,
e a gente não respondeu nada pra ela... e a í eu precisei de um tempo pra falar
assim: eu não preciso responder nada pra ela(...) E no final da sessão, sabe
quando vocô fica presa? Eu sentia um aperto no peito. Fiquei muito chateadaf...)
De achar que eu não posso fazer nada. De achar que realmente... coitada., ela
sente isso há onze anos, a outra também, ter que sobreviver com cento e cin
qüenta reais, que coisa horrível, ela nào consegue fazer. De achar que... elas
duas falando aquele monte de coisas pra mim, que é super sério, é a vida delas
(...) e pensar assim: o que que eu vou fazer com isso?"
“C1... tá sendo assim meio complicado, sabe? Porque aconteceu uma coisa inte
ressante que tá me dando uma, assim, empolgação, mas não sei se pode ser
uma grande besteira. Uma grande, assim, ... há ... como se diz ... entrar pelo
cano. Sabe assim ter ... assim uma coisa assim ... mas pelo menos está me
levantando o astral, né? Na semana passada ...eu, nào ...No dia das mães meu
pai falou : - Ah, vou te dar uma ajuda, no negócio da Natura. Vou colocar na
Folha, na Revista da Folha, sabe?, um anúncio para vocô.' E ele colocou tudo.
Teve muito pouco retorno. Tinha gente que me ligava, pedia as coisas e não vinha
buscar. Tá bom. Ai passou ...Na semana passada, ligou um moço. Ele falou:
Eu estou interessado em uns produtos da Natura, nó?’ A i eu falei: - Ah, então...
tudo bem!', mas eu fiquei com medo, sabe quando a gente fica meio assim, nó?
Eu falei com minha máe, n ó ...
T1. Medo do quê?
C l. Hoje ele me ligou novamente. A i ele falou: - Olha ... eu ... tô gostando de
vocô. De conversar com vocô. Eu acho sua voz é muito sensual ...'E u falei: -
Parece... sabe que eu tô precisando de um amigo?', falei pra ele, nó? E ...só que
aquilo...?... e eu fui e pá, e tal. - Cê tá louca. Cê tá pondo coisa na sua cabeça.'
Mas pelo menos hoje... hoje eu fico em casa. Hoje eu nào vou...?...
T1. Hoje não va i...
5. Conclusão
Bibliografia
A prática clínica
comportamental:
formas de intervenção,
problemas clínicos e
habilidades básicas
Capítulo 29
Dentro desse panorama, tentou-se abordar de forma mais direta um dos proble
mas mais freqüentes observados em atendimentos em clínicas-escola: os elevados ín
dices de abandono e faltas durante os tratamentos.
Assim, o presente trabalho teve como objetivo implementar aígumas estratégias
que visavam diminuir estes índices em um programa de orientação comportamental
para pais de crianças de até 11 anos (Marinho, 1999a; 1999b), desenvolvido em situa
ção grupai. Para tanto, foi adotado um conjunto de 5 estratégias:
I - Aplicação de um programa de treinamento de pais objetivo, com reduzido número
de sessões, conduzido em situação grupai. O tratamento tinha a duração de 12
sessões, sendo uma por semana. Como os país sabiam antecipadamente a dura
ção do tratamento, podiam se programar para participar dele todo. Alguns dos mem
bros verbalizaram, inclusive, que estavam evitando faltar, porque eram tão poucas
sessões que não queriam perdê-las.
II - Realização de duas a três sessões individuais com os pais antes do início da inter
venção grupai. Nesses encontros, buscou-se o estabelecimento de um bom relaci
onamento entre pais e terapeutas, além do levantamento de características parentais
e familiares que na literatura são correlacionadas aos altos índices de abandono.
Algumas dessas características avaliadas foram estresse e depressão parental e
problemas conjugais. Dessa forma, ter conhecimento dos membros que compu
nham o chamado grupo de risco nos permitia ficar mais atenta a eles.
III - Realização de sessões individuais ocasionais com os membros que estivessem
apresentando dificuldades em compreender ou aplicar as estratégias discutidas no
grupo. Essa medida visava principalmente evitar que os membros com dificuldades
ficassem defasados em relação às habilidades ou conhecimentos adquiridos pelo
grupo ou se sentissem desmotivados em participar. Os país também podiam, eíes
próprios, solicitar às terapeutas uma sessão individual.
IV - Realização de contato telefônico com cada membro do grupo no intervalo entre as
sessões. Essa medida visava verificar e sanar possíveis dúvidas ou dificuldades
Bibliografia
O acompanhante terapêutico
Simone C/rzebienuik de Oliveira
rsicóhfri eo/aboradora do A M H A N -
Ambulatório de Ansiedade do !Pq do / IC-FM-USP
Bibliografia
A Terapia Comportamental do
Transtorno Obsessivo- Compulsivo
l uc Vjndcnbcrtfhc
1. Obsessões e compulsões
Nós temos que admitir que nào há indicações empíricas de que o processo descrito
acima explica a etiologia do TOC, mas parece que é o padrão que mantém o transtorno.
2. A prevenção de resposta
3. A exposição
6. Alternativas
As vezes não tem um estímulo específico para ser usado em exposição. Há clien
tes que passaram a usar rituais para reduzir stress ou sentimentos negativos em geral
(Foa, Steketee & Milby, 1980). Nestes casos o que tem que ser tratado são os padrões
de manejo desenvolvendo métodos alternativos de lidar como “stress". Também existe um
7. Conclusão
Nesta apresentação eu queria dar uma idéia geral das intervenções que existem
para o tratamento do TOC. A exposição prolongada ao estímulo ameaçador (que seja
uma imagem ou obsessão ou um estímulo material) combinado com a prevenção de
rituais (que sejam pensamentos ou atos) continua a ser o tratamento de escolha, mas
uma certa variedade de intervenções complementares ou alternativas existem, que per*
mitem elaborar uma terapia na medida individual do cliente.
Além disso, foi minha intenção ilustrar que a terapia não deve parar depois do
sintoma desaparecer, mas que uma terapia comportamental reestruturando o funciona*
mento global da pessoa e precondição de sucesso ao longo prazo. Mesmo com um trata*
mento estandartizado como exposição e prevenção de resposta, o terapeuta
comportamental não é dispensado de suas tarefas tradicionais como a análise funcional.
Bibliografia
Bibliografia
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FERSTER, C. A functional Analysis of Depression. American Psychologist, 1973.
SELIGMAN, M. E. P. Desamparo sobre depressão, desenvolvimento e morte. HUCITEC,
Editora da Universidade de São Paulo, 1977.
Bibliografia
' Professora assistente doutora do Departamento de Neurologia e Psiquiatria, disciplina de Psicologia Médica
da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. E-mail: ateresaOfmb.unesp.br
280 .1
An.i Tcrcs de Abreu R*imos Ccrvjueir.i
maneira de responder (ajustando-se ou não) às situações difíceis, pressupondo-se a
existência de problema real ou imaginário e a elaboração de uma resposta para fazer
frente a um acontecimento estressante (Ray, Lindop e Gibson, 1982).
Já para Lazarus e Launier, em 1978, o conceito de coping designa "o conjunto
dos processos que um indivíduo interpõe entre ele e o acontecimento percebido como
ameaçador, para dominar, tolerar ou diminuir o impacto deste sobre seu bem estar físi
co. Posteriormente, em 1984, Lazarus e Folkman, em seu livro “Stress. appraisal and
copifáf, definem coping como: esforços cognitivos e comportamentais, que mudam cons
tantemente, para manejar (enfrentar) exigências extremas e/ou externas específicas,
que ameaçam ou ultrapassam os recursos do indivíduo". Esse conjunto de respostas é
chamado na literatura anglosaxã de "estratégia de enfrentamento" e na literatura cientí
fica francesa de "estratégia de ajustamento": no Brasil, é empregada a denominação:
estratégias de enfrentamento.
O estudo dessas estratégias introduziu uma mudança fundamental na forma de
conceber o stress: não mais se descrevem as reações de stress apenas pela identifica
ção e descrição dos acontecimentos aos quais o indivíduo foi (ou está) exposto (identi
ficação dos estímulos estressantes), mas pela forma como ele enfrenta a situação
(Paulhan, 1994).
Apesar dessa concepção mais ampla ainda observa-se o uso da visão mais tradi
cional do conceito. Consequentemente, há ainda autores que entendem e medem coping
como um traço de personalidade, como uma característica estável, ignorando que a
definição proposta por Lazarus e Folkman (1984) enfatiza as constantes mudanças nas
respostas à demandas específicas da situação. Por isso é preciso assinalar o caráter
multidimensional e dinâmico do processo de enfrentamento.
Essa compreensão de coping como processo tem três características principais:
2) o que a pessoa realmente faz, deve ser visto num contexto específico. Para compre
ender e avaliar as estratégias de enfrentamento, estas devem ser examinadas num
contexto específico e não podem ser generalizadas para outras situações.
2. As funções do coping
Considerar coping como processo permite que este seja visto não apenas como
tendo a função de resolver problemas, mas, como sendo esta uma das suas funções, as
quais não devem ser confundidas com os seus resultados. Diferentes autores têm atri
buído às estratégias de enfrentamento diferentes funções; Lazarus e Folkman (1984),
por exemplo, apontam duas funções principais: estratégias focalizadas no problema
- utilizadas, quando a condição a ser enfrentada é avaliada como passível de mudan
ças, e - estratégias focalizadas na emoção, que ocorrem mais freqüentemente quan
do a situação a ser enfrentada é percebida como imutável. Essas duas funções discriminadas
1r
Estratégias de enfrentamento
Revaliação
Fatores do meio
3. Métodos e Avaliação
Sob a ótica da Psicologia da Saúde, definida por Matarazzo (1980) como: ‘‘o
conjunto de contribuições educacionais, científicas e profissionais específicas da Psi
cologia para promover e manter a saúde, prevenir e tratar a doença, identificando
fatores etiológicos e diagnósticos da saúde, doença e disfunções correlacionadas,
além da análise e melhora do sistema de cuidados à saúde e da política de saúde",
definição, que pode ser resumida como: "o estudo de processos psicológicos e
comportamentais na saúde, na doença e no cuidado com a saúde”, o estudo de estra
tégias de enfrentamento da doença e das disabilidades é de central importância.
Observa-se atualmente uma modificação no quadro de morbidade nos países
desenvolvidos, e também nos países em desenvolvimento, caracterizada pelo controle
das doenças infecto-contagiosas, prevalecendo como principais causas de mortalidade
as
2) pode afetar direta e negativamente a saúde, como nos casos de uso excessivo de
substâncias como álcool, fumo e drogas.
O modelo proposto por esses autores, permitiu, a partir da década de 70, que se
avançasse na pesquisa dessa área, até então dominada pela perspectiva dos mecanis
mos de defesa que, por definição, só poderiam ser avaliados por meio de observações
clínicas ou técnicas projetivas. O novo modelo possibilitou a investigação dos esforços
conscientes que os indivíduos apresentavam para enfrentar condições adversas.
A definição de Lazarus e Folkman (1984), apesar de existirem cerca de 30 outras,
foi a que que criou o maior impacto sobre o conceito. Relembrando, coping é definido por
eles como um processo dinâmico, que muda ao longo do tempo, em resposta à exigên
cias objetivas e à avaliação subjetiva que o indivíduo faz da situação a enfrentar. Ainda
que considerando como o melhor disponível, várias são as suas limitações:
1) o modelo é mais uma referência geral do que uma teoria, talvez pela fraqueza de
definição de conceitos chaves, por exemplo, a não especificação de um tempo para
as respostas de coping-,
2) ausência de especificação de outras variáveis, tais como metas e compromissos
ou outros recursos pessoais e sociais que poderiam interferir na resposta de coping
utilizada.
3) o questionário proposto pelos autores apresenta fracas propriedades psicométricas,
tais como: baixa consistência interna, ausência de dados sobre teste e re-teste,
sendo a falta de uma estrutura fatorial estável, o seu principal defeito. A recomenda
ção dos próprios autores do questionário (Lazarus e Folkman, 1988) de os pesqui
sadores procedam a análise fatorial de suas próprias amostras não tem contribuído
para a superação da dificuldade, muitas vezes gerando mais confusão, uma vez que
se acrescem, retiram e modificam itens do questionário dependendo da hipótese
investigada, tornando os resultados incomparáveis.
8. Problemas conceituais:
9. Validade
10. Fidedignidade
11. Conclusões
Bibliografia
288 .1
Aiiii lcrcs ilc Abreu Rumos Orqueiru
BOMBARDIER, C. H.; D’AMICO, C. e JORDAN, J. S. The relationship of appraisal and
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1990.
_______ Health Psychology. Boston: Mc Graw Hill Co, 1999.
1. Introdução
1Conlerência apresentada no VIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, Sâo Paulo.
1999.
2 Consultório particular - endereço: Rua Maranhão, 554, cj. 62. CEP: 01240-000. Sâo Paulo - SP.
E~mail: myrianvallias0uol.com.br
3. Assertlvldade
O treino assertivo não implica apenas em ensinar o indivíduo a atuar para atingir
seus objetivos, mas em um trabalho ao nível dos mediadores emocionais e cognitivos.
É em geral indicado para pacientes que, em contatos interpessoais, manifestam
respostas de ansiedade que os impedem de dizer ou fazer aquilo que seria razoável e
adequado. Se eles se sentem inibidos de fazer coisas sobre as quais eles possuem forte
sentimento, a supressão do sentimento pode levar a um tumulto interno contínuo que
pode produzir sintomas somáticos e mesmo doenças psicossomáticas. Como as atuais
técnicas de treino assertivo são, em grande parte, baseadas nos trabalhos de WOLPE
O P.F.Test (Picture Association Study for Assessing Reactions for Frustration) como
ó reconhecido nos Estados Unidos ,ó um teste projetivo criado por SAUL ROSENZWEIG
(1934) e apresentado em duas formas: adultos e adolescentes (1944,revísào de 1948);e
crianças (1948). Foi traduzido e adaptado para o Brasil, em sua forma para adultos, por
EVA NICK (1971) e ó editado pelo CEPA - Centro de Psicologia Aplicada.
O próprio autor alerta que não se deve esperar que o teste revele um profundo
ou extenso conhecimento da personalidade. Seu objetivo compreende avaliar certos
aspectos do ajustamento social. Utiliza os princípios gerais da teoria da frustração
acima expostos.
O -D
D
UJ
N -P Total
Total
4.4. Validade
4.5. Precisão
4.6. Normas
a) Avaliação;
Antes da aplicação do teste, e até mesmo como subsídio para a sua boa utilização, o
terapeuta deverá explorar as áreas de dificuldade trazidas pelo cliente a fim de determi
nar os fatores controladores, ou seja, as variáveis situacionais e pessoais que aumen
tam a ansiedade, diminuindo a habilidade do cliente para se comportar assertivamente.
Procede-se também a uma análise do meio familiar. Comumente observam-se difi
culdades na área da assertividade nos clientes cuja educação enfatiza as obriga
ções sociais; com princípios religiosos rígidos; com pais autoritários ou agressivos;
com pais superprotetores, ímpedíndo-os de atuar por si mesmos. Avalia-se se o cfiente
Minimiza a
situação (M)
Pensamento Grau do
Dia Situação Imagens Emoção Comporta desconforto
automático mento (0-10)
6. Conclusões
Bibliografia
Bibliografia
SET