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Elton Luiz
Muitas vezes uma filosofia se permite resumir mediante uma imagem. Como
próprio Kant que se vale de tal imagem no início de sua Crítica da Razão Pura. Kant
por ela : a metafísica. Mas o juiz de tal tribunal também é a razão. No tribunal de Kant,
Durante toda sua história, a razão sempre se notabilizou por sua função crítica. A
Kant é pôr a própria razão como réu. É por isso que Kant define sua filosofia como
Crítica : crítica da razão sobre a própria razão. O crime cometido pela razão, como já
dissemos, é a metafísica.
da experiência. Kant emprega uma famosa metáfora para descrever tal procedimento
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da razão. Ele nos lembra que uma andorinha só voa porque o ar lhe faz resistência. Sem
o ar, a andorinha não voaria. O ar em questão é a própria experiência: sem esta, a alma
humana não poderia descobrir dentro dela o que lhe permite “voar”, isto é, ir além da
experiência.
O crime da razão metafísica é pretender conhecer as coisas tais como elas são.
Para Kant, tal pretensão nasce da ignorância de que todo conhecimento humano
se faz no tempo e no espaço. Mas tempo e espaço não são propriedades intrínsecas às
coisas mesmas. Ao contrário, tempo e espaço são formas interiores ao sujeito. Mais
priori”, embora esses termos sejam assemelhados. “A priori” é tudo aquilo que antecede
a experiência, mas que pode não manter nenhuma relação com ela. Pode até mesmo se
lhe opor ( como as “Idéias Inatas” em Descartes, que são a priori a toda experiência e
Kant, é tudo aquilo que , além de a priori, mantém uma relação fundamental com a
exemplo bem simples pode nos ajudar. Todos conhecem aquelas fôrmas com as quais as
crianças brincam na areia da praia. Elas são vazias e possuem formas geométricas.
tomam a forma de tais fôrmas. Sem a ação das fôrmas, a areia é completamente
indeterminada, sem forma alguma. Sem a areia, as fôrmas são vazias. Tempo e espaço
são como que fôrmas que dão forma à matéria de nossa experiência. Embora não
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derivem da experiência, elas existem para dar forma a esta, e é exatamente esse aspecto
Analítica Transcendental, da Crítica da Razão Pura, que Kant expõe a função dos
juízos derivam dos conceitos, pois todo juízo é composto por, no mínimo, dois
conceitos). Tal como o tempo e o espaço, os conceitos também são transcendentais, isto
nossas experiências. Todo objeto de nossa experiência é uma construção que se faz a
partir do tempo, do espaço e dos conceitos. Por isso, nossas experiências nunca nos
põem em contato direto com as “coisas em si mesmas”, mas tão somente com os
transcendental. Não é esta última que gira em torno do mundo; ao contrário, é o mundo
que gira em torno desse “eu transcendental”: é ele que modela o mundo conforme as
formas que estão alojado nos interior de sua subjetividade. Tudo o que vemos aparece,
sem que o percebemos, já organizado pelas formas que estão no interior de nossa
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Em um sentido estrito , “Transcendente”, por sua vez, é tudo aquilo que existe sem nenhuma relação
com a matéria ou com o mundo sensível, e existe além do próprio homem. O homem é capaz de
transcendência ( isto é, de “ir além dos entes”), mas ele não é um ser transcendente. O transcendente é
todo ser cuja transcendência não é uma mera ação, mas a sua essência mesma. Nesse sentido, o Ser
plenamente transcendente é , segundo Kant, Deus. Há ainda outra concepção de transcendente em Kant,
que diz respeito ao uso que se pode fazer das faculdades. Mas a explicação desse ponto nos desviaria
muito dos nossos propósitos.
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subjetividade. Nós não temos contato com o mundo tal como ele é, mas tal como ele nos
aparece. Em Kant, tempo e espaço já não são mais meros acidentes de uma Substância,
mas condições que determinam essencialmente nossa experiência com o mundo. Se nós
pudéssemos retirar da experiência as formas que projetamos sobre ela, só nos restaria o
Há ainda uma terceira parte da Crítica da Razão Pura. Seu nome é sugestivo:
confronto de posições. Quando Kant emprega essa palavra, é sua intenção nos lembrar
essa origem conflituosa da dialética. A Dialética Transcendental trata das Idéias. Aqui
residiria uma das mais importantes distinções elaboradas por Kant, e que terá muitas
quanto a Idéia são representações, isto é, são formas. O conceito é uma forma que
diferença entre conceito e Idéia é a mesma que existe entre o conhecer e o pensar.
as Idéias da razão podem ser apenas pensadas, nunca conhecidas. É por isso que elas
possuem uma natureza dialética, uma vez que sua essência é fundamentalmente
são exemplos de Idéias metafísicas da razão. Elas não são representações cujos objetos
aparecem na experiência sensível, mas Valores cuja função diz respeito intimamente ao
sujeito.
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Para Kant, o homem possui um duplo aspecto: enquanto realidade submetida ao
pensamos como sujeito livre dotado de uma alma imortal, o homem é uma realidade
moral é uma parte da filosofia em sua dimensão prática, isto é, não epistemológica. É
na Crítica da Razão Prática que essa realidade numência é associada à dimensão moral
do homem.
“Aja de tal maneira que a máxima da tua ação possa ser erigida, sem
lei moral somente pode ser aplicada aos seres livres. Pode parecer paradoxal , mas Kant
Traduzindo em palavras simples, Kant parece querer nos dizer que , seja o que
for que façamos , somente somos livres se nossa ação puder ser imitada também por
outrem, sem prejuízo para a liberdade e dignidade de cada um. Por exemplo, se alguém
escolhe como máxima ( motivo) a mentira, incorrerá em contradição exigir que outrem
não minta para ele. Como conseqüência, se todos mentissem tal conduta feriria o
princípio moral de nossa liberdade. Kant não diz “faça isso ou aquilo”, pois tal definição
passionais. Não devemos ser morais para aparentarmos sermos bons . Devemos ser
Quando Kant exclui da moral qualquer vinculação com o sensível, esse fato divorcia a
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conduta moral das outras esferas da vida humana. Kant parecia colocar um abismo
Contudo, foi exatamente meditando sobre um fato político que Kant parece ter
no tempo, das exigências mais elevadas da razão humana. Tal fato foi a Revolução
Francesa. Segundo pensava Kant, esta Revolução representou uma mudança de estágio
existência sob tutela, que a mantinha submetida , para uma existência cujo norte é a
História. A História não era mais pensada por ele como o reservatório de fatos
contingentes sem nenhum lastro moral. Ao contrário, Kant passou a ver a História como
Kant passa a enveredar, já com certa idade, por temas relativos sobretudo ao Direito,
mas de um Direito Cosmopolita, que zele pela criação de uma ordem internacional entre
os Estados , uma Ordem Republicana, para que assim possa vingar uma “paz perpétua”.
Noumenon, isto é, uma Idéia metafísica. Mas o homem também é uma realidade
constitui família, trabalha, produz, enfim, vive. Mas essa realidade pragmática do
homem não deve estar separada da metafísica, a do homem como Homo Noumenon.
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Kant designa de Respublica Noumenon a idéia metafísica de um Estado Ideal ( uma
metafísica de um tempo como palco de realização das mais elevadas Idéias humanas.
problemático, dialético, pois sua natureza metafísica não permite que elas fundamentem
preço de um extremo formalismo racional, que exclui com rigor toda motivação
empírica para a ação moral e livre. É no âmbito da História, como Filosofia da História,
que Kant vislumbra a possibilidade de as Idéias serem realizadas. Para tal acontecer, é
preciso que não apenas o Homem, mas os próprios Estados sejam concebidos segundo