Vous êtes sur la page 1sur 16

Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade – GeAS

Organização: Comitê Científico Interinstitucional/ Editora Científica: Profa. Dra. Cláudia Terezinha Kniess
Revisão: Gramatical, normativa e de formatação.

Recebido: 12/08/2017 - Aprovado: 16/01/2018


DOI: https://doi.org/10.5585/geas.v7i1.313
E-ISSN: 2316-9834

PATENTES VERDES E O SETOR DE FABRICAÇÃO DE ABRASIVOS NO BRASIL:


DISCUTINDO O POTENCIAL ESTRATÉGICO DO PROGRAMA À LUZ DO SHARED
VALUE

1
Ana Graziele Lourenço Toledo
2
Leonardo Augusto de Campos

RESUMO

A perspectiva do valor compartilhado – shared value – propõe a geração de valor a partir de ações
corporativas em diversas frentes sociais incluindo a ambiental (Porter e Kramer, 2011). Este artigo
discute e propõe a utilização do programa de patentes verdes como forma de materialização do
shared value na indústria de abrasivos no Brasil. É proposto um framework analítico sobre o
potencial para geração de valor, a partir da adesão ao programa do INPI. De acordo com os dados
analisados, a indústria de abrasivos pode utilizar-se do programa de Patentes Verdes para alavancar
questões relacionadas ao direito de propriedade, dada a intensidade de inovação no setor, incluindo
tecnologias sustentáveis e a morosidade nos registros de patentes pelo sistema atual. Desta forma,
as patentes verdes tornam-se uma proxy para observação da aplicação do shared value na indústria
de abrasivos.

Palavras chave: Valor compartilhado. Patentes verdes. Indústria de abrasivos.

GREEN PATENTS AND THE ABRASIVES MANUFACTURING SECTOR IN BRAZIL:


DISCUSSING THE STRATEGIC POTENTIAL OF THE PROGRAM IN THE LIGHT OF
SHARED VALUE

ABSTRACT

The shared value perspective proposes the generation of value from corporate actions on several
social fronts including the environmental one (Porter and Kramer, 2011). This paper discusses and
proposes the use of the green patent program as a way of materializing shared value in the abrasives
industry in Brazil. An analytical framework on the potential for value generation is proposed, based
on adherence to the INPI program. According to the data analyzed, the abrasives industry can use
the Green Patents program to leverage issues related to property law, given the intensity of
innovation in the industry, including sustainable technologies and patenting delays in the current
system. In this way, green patents become a proxy for observing the application of shared value in
the abrasives industry.

Keywords: Shared value, Green patents, Abrasives industry.

1
Doutora em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, São Paulo, (Brasil).
E-mail: anagraziele@yahoo.com.br

2
Especialização em Administração Industrial pela Universidade de São Paulo - USP, (Brasil).
E-mail: leodecampos@gmail.com

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

146
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

INTRODUÇÃO produtivo é desempenhado com cuidados


ambientais específicos que comprovados e
A criação de valor é função objetiva de constantes da documentação, são analisados
um empreendimento e todas as perspectivas pelo INPI e recebem o selo (INPI, 2012).
em estratégia empresarial visam o Estes cuidados estão relacionados às energias
atingimento deste objetivo. Dentre estas alternativas, transporte, conservação de
perspectivas ganha espaço teórico e empírico energia e gerenciamento de resíduos.i Os
a abordagem do valor compartilhado – benefícios para os detentores deste tipo de
shared value – discutida por Porter e Kramer patente são a agilidade na análise dos
(2011) que prevê a geração de valor a partir processos e o aumento da segurança jurídica
de ações corporativas junto à sociedade. ao depositanteii. A inovação que gera
Tais ações podem ocorrer, segundo patentes é possível em todos os setores de
Porter e Kramer (2011), em três arenas: atividade econômica, mas o artigo destaca a
produtos e mercado, produtividade e cadeia indústria de abrasivos, onde as patentes
de valor, e desenvolvimento do cluster local. verdes possuem grande potencial para
Em relação à produtividade e cadeia de valor criação de valor.
são abordadas questões, como uso de Da indústria de abrasivos no Brasil
recursos naturais, ligadas a um interesse participam players globais, mas também
genérico, que é a preservação ambiental pequenos produtores locais. O Sindicato da
afetando não só empresas, mas nações e Indústria de Abrasivos dos Estados de São
qualidade de vida da população em nível Paulo (2015), Minas Gerais, Rio de Janeiro,
global. Eventos como Eco-92, Rio+5, Rio Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e
+10, Rio+20 e protocolos de intenção, como Pernambuco registra 39 associados. Apesar
Quioto e Convenção sobre Diversidade de não ser caracterizado como um setor de
Biológica, demonstram a preocupação uso intenso de tecnologia, como
mundial com as questões ambientais. medicamentos e alguns bens de consumo, a
Em nível institucional, estes eventos indústria de abrasivos tem participação ativa
demonstram como diversos países têm no registro de patentes no Brasil. Dados do
buscado aperfeiçoar a legislação e criar INPI (2015) apontam 663 pedidos de
mecanismos para incluir o setor privado patentes envolvendo o setor desde 1990, uma
nesta discussão, tornando-o não só parceiro, média de quase 28 patentes requeridas por
mas co-responsável pelo cuidado ambiental. ano.
Isso ocorre porque há o reconhecimento da O principal recurso usado no processo
importância da disseminação das tecnologias produtivo do setor é a energia que alimenta
verdes como forma de mitigar impactos os equipamentos de manufatura.
ambientais e incentivar o desenvolvimento Considerando que as unidades produtivas
sustentável e as patentes são mecanismos ainda possuem gastos de energia com setores
para promover e acelerar a inovação verde de apoio, este se torna um recurso valioso
(Lane, 2012). Daí o surgimento dos para o setor. De cara e limitada obtenção, é
programas de patentes verdes. importante que o uso da energia seja
Patentes verdes são passíveis de serem otimizado e alternativas como reciclagem,
registradas em países como Estados Unidos e cogeração e soluções tecnológicas passem a
Reino Unido e recentemente foi proposto ser analisadas para aumentar a criação de
pelo Instituto Nacional de Propriedade valor (Porter e Kramer, 2011). Neste sentido,
Intelectual – INPI – um programa similar no a questão norteadora deste artigo é: como as
Brasil. patentes verdes podem auxiliar na criação de
Uma patente verde pode ser requerida valor para a indústria de abrasivos?
no Brasil quando o produto ou processo

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

147
Patentes Verdes e o Setor de Fabricação de Abrasivos no Brasil: Discutindo o Potencial Estratégico do
Programa a Luz do Shared Value

A literatura sobre criação de valor devem ser consideradas no desenho da


compartilhado baseada na discussão feita por estratégia como infraestrutura local,
Porter e Kramer (2011) ainda é insipiente em capacitação da mão de obra, condições de
demonstrar aplicações abrangentes em segurança entre outras (Porter e Kramer,
relação às tecnologias sustentáveis e este é 2011).
um elemento observável do shared value. Essa estratégia de aproximação da
Empresas que investem em tecnologias empresa com a sociedade, apesar de possuir
sustentáveis contribuem para a criação de origens na teoria dos stakeholders e estudos
valor compartilhado ao mesmo tempo em sobre responsabilidade social, não se
que aumentam seus retornos financeiros. assemelha a esta, uma vez que os objetivos
Além disso, o programa de Patentes Verdes é são diferentes, conforme ilustra a Figura 1.
uma forma de garantir que as inovações Porter e Kramer (2011) argumentam
sustentáveis criadas corporativamente que prover benefícios sociais pode minimizar
atinjam este objetivo: criar valor para a custos da empresa que sejam oriundos de
empresa e para a sociedade. insumos providos pela sociedade, como mão
de obra qualificada e recursos naturais.
Assim, ao desenvolver, por exemplo, um
REVISÃO DA LITERATURA curso aberto de capacitação para moradores
locais, a empresa obtém benefícios
2.1 Valor Compartilhado – Shared Value relacionados à imagem e reputação
aumentando a conexão com a comunidade
(Porter e Kramer, 2002), mas, também,
Shared value consiste na criação de maximiza a condição competitiva na medida
valor econômico a partir da criação de valor em que minimiza problemas de qualidade
para a sociedade através do “lucro correto”, causados pela falta de treinamento, ou
ou seja, o lucro advindo de ações que conhecimento, no manuseio de
adicionam benefícios sociais (Porter e equipamentos, procedimentos de inspeção,
Kramer, 2011). Trata-se de uma abordagem embalagem ou acondicionamento. Assim, o
recente dentro dos estudos de estratégia shared value cria mais oportunidades para
empresarial cujo desenvolvimento se deu alcançar vantagem competitiva e
com um artigo de Porter e Kramer (2002) que competitividade (Porter, Hill, Pfitzer,
discutia ações filantrópicas empresariais Patscheke, Hawkins, 2013). O Quadro 1 lista
baseadas no modelo do diamante de ações propostas para o desenvolvimento do
competitividade de Porter (1990). shared value pela empresa.
É na interdependência entre todos os Tais ações são a materialização da
atores do contexto competitivo que se baseia estratégia shared value na empresa que pode
a abordagem do shared value: reconhece-se ocorrer em diversos níveis. A Figura 2 mostra
que a empresa deve estar atenta para as esses níveis de acordo com o framework
necessidades de todos os envolvidos de proposto por Hill, Russell, Borgonovi, Doty
forma direta ou completar na indústria, e Iyver (2012) no qual quanto maior a
inclusive as necessidades sociais por mais materialização, maior a probabilidade de a
que sejam contrárias aos interesses imediatos estratégia tornar-se sustentável e, assim, ter
da empresa, como o lucro imediato (Porter e mais recursos sendo alocados ao longo do
Kramer, 2002). Este novo olhar sobre as tempo. O nível de materialização da
relações na indústria permite vislumbrar estratégia, segundo os autores, tem relação
variáveis que, a priori, não teriam efeito com a arena onde as ações são focalizadas,
sobre a empresa, mas que mesmo subjacentes conforme o Quadro 2.

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

148
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

Figura 1
Shared Value x Responsabilidade Social

Responsabilidade Social Shared Value


S
O
C
I
Fazer o bem de acordo com os Criar benefícios sociais e
E
valores pessoais dos executivos econômicos de acordo com os
D
(Porter e Kramer , 2002) custos da empresa (Porter e
A
Kramer, 2011)
D
E

Fonte: elaborado pelos autores (2015)

Quadro 1
Fontes de oportunidades shared value

Produtos e Mercados Produtividade e Cadeia Cluster local


Identificar necessidades, Redefinir uso de energia e recursos Investir na formação da força de
benefícios e danos causados pelos naturais. trabalho.
produtos Auxiliar fornecedores com Identificar deficiências em
financiamento e compartilhamento logística, fornecedores, canais de
de tecnologia. distribuição, treinamento,
Rever formas de distribuição. mercados, instituições
organizacionais.
Fonte: Porter e Kramer (2002; 2011)

Quadro 2
Relacionamento entre níveis de shared value e níveis de materialização
Nível da Ação de Shared Value Nível de Materialização das Ações
Porter & Kramer (2011) Hill, Russell, Borgonovi, Doty and
Iyver (2012)
“Criação de valor compartilhado a partir da redefinição de produtos e Core
mercado focando em crescimento de receitas, market share,
lucratividade e surgimento do desenvolvimento de benefícios
ambientais, sociais ou econômicos entregues pelos produtos e serviços
da empresa.” (Porter, Hill, Pfitzer, Patscheke& Hawkins, 2013, p.3)
“Criação de valor compartilhado a partir da redefinição da Emerging
produtividade na cadeia, focando em avanços nas operações internas
que melhoram custos, acesso a inputs, qualidade e produtividade,
através de melhorias ambientais, melhor utilização de recursos,
investimento em empregados, capacidade de fornecedores e outras
áreas” (Porter, Hill, Pfitzer, Patscheke& Hawkins, 2013, p.3)
“Criação de valor compartilhado a partir do desenvolvimento do Pilot
cluster local que deriva da melhoria do ambiente externo da empresa,
através de investimentos na comunidade e fortalecimento de
fornecedores, instituições e infraestrutura locais de forma que também
aumente a produtividade da empresa. (Porter, Hill, Pfitzer, Patscheke&
Hawkins, 2013, p.3)
Fonte: os autores (2015)
Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

149
Patentes Verdes e o Setor de Fabricação de Abrasivos no Brasil: Discutindo o Potencial Estratégico do
Programa a Luz do Shared Value

As diferentes ações para implantação da sociais chave envolvem taxas de


abordagem do shared value, assim como desigualdade, criminalidade, qualidade na
qualquer ação estratégica, devem evidenciar educação e saúde pública (Hills, Russell,
o retorno trazido para a empresa. Para Porter, Borgonovi, Doty &Iyer, 2012). As atividades
Hill, Pfitzer, Patscheke e Hawkins (2013) um corporativas são identificadas ao longo da
sistema de mensuração do valor criado pelo cadeia de valor (Porter, 1985; 1989; 1996).
shared value deve ter horizonte longitudinal Benefícios mensuram-se através de receitas,
e ser composto por três elementos principais: crescimento de mercado e participação de
a identificação de questões sociais chave, mercado, lucratividade, produtividade,
atividades corporativas envolvidas e qualidade e custos (Porter, Hill, Pfitzer,
benefícios relativos esperados. Questões Patscheke e Hawkins, 2013).

Figura 1
Nível de materialização do shared value nas empresas

Nível de Materialização

CORE
EMERGING
Existe a
A estratégia de contribuição efetiva Potencial para
shared value é para o desempenho Impacto
PILOT
aplicada em uma financeiro da Sustentável
Teste da estratégia atividade chave da empresa ou unidade
empresa ou unidade de negócio.
antes de prosseguir.
de negócio.

Fonte: Adaptado de Hill, Russell, Borgonovi, Doty e Iyver (2012)

2.2 Patentes Verdes compromissos assumidos em eventos e


tratados ambientais (Lane, 2012) uma vez
Uma mobilização global é percebida a que há uma pressão para que atividades e
favor da adoção de medidas que possibilitem P&D incorporem demandas sociais (Quental
o desenvolvimento sustentável das nações. e Gadelha, 2000).
Reis, Osawa, Martinez Moreira e Santos A produção de produtos amigáveis ao
(2013) apresentam a evolução histórica deste meio ambiente é fruto da pressão social pela
movimento, apresentando o Rio Summit em responsabilidade ambiental das empresas,
1992 como o evento que marcou o início da envolvendo produção limpa, eco-design
discussão sobre tecnologias ambientalmente (Maxwell e Van der Vorst, 2003) e
corretas – vide Figura 2. Também é tendência desenvolvimento de materiais sustentáveis
mundial a busca da utilização das patentes (Ljungberg, 2007; Zarandi, Mansour,
como mecanismo de materialização dos Hosseinijou e Avazbeigi, 2011). O sistema
Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

150
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

de patentes deve incorporar esta tendência outras características, para se chegar ao


(Nitta, 2005a). mesmo resultado em termos de produto do
Sistemas de patentes foram criados que o requerido com o registro patentário
pelos governos para incentivar empresas a (Reis, Osawa, Martinez Moreira e Santos,
investir em pesquisa e desenvolvimento 2013). Assim, um sistema de patentes, ao
(Lane, 2012). Patentes são títulos que mesmo tempo em que institui o monopólio de
garantem ao seu possuidor a propriedade quem detém o registro, também torna pública
temporária de uma invenção ou modelo de a informação do desenvolvimento
utilidade, sob a condição da divulgação tecnológico (Nitta, 2005b; 2007).
completa dos materiais, processos, etapas e

Figura 2
Evolução na discussão sobre tecnologias verdes

1990 – Relatório IPCC 1992 – Rio Summit, 1997 – Protocolo de 2006 – Relatório
sobre inter-relação resultante no Quioto, tratado Stern, apresentando
entre documento Agenda 21 internacional para considerações
desenvolvimento que define o conceito redução de gases econômicas sobre a
econômico, tecnologia de tecnologias causadores do efeito degradação ambiental
e meio ambiente ambientalmente estufa
amigáveis

2012 – Criação do 2010 – Inventário 2008 – ONU solicita à 2007 – Relatório IPCC
programa de patentes verde da WIPO WIPO criação de sobre mudanças
verdes no Brasil mecanismos para que climáticas
o desenvolvimento
tecnológico ocorra
sem danos ambientais

Fonte: elaborado pelos autores com base em Reis, Osawa, Martinez Moreira e Santos (2013).

Se as patentes são vistas como seja, o proprietário da patente tem incentivos


mecanismos para geração de riqueza e financeiros suficientes para continuar
desenvolvimento tecnológico, também desenvolvendo novas patentes e novas
trazem benefícios e malefícios em relação ao externalidades ambientais (Nitta, 2005a;
meio ambiente (Nitta, 2005a), uma vez que Cheyne, 2010; Lenin, 2010).
as tecnologias usadas nem sempre se cercam Ocorre que, apesar de o meio ambiente
dos cuidados em relação à utilização de ser uma preocupação global, não se pode
recursos naturais e impactos ambientais que dizer o mesmo sobre o interesse em
podem ser gerados. desenvolver um sistema de patentes que
Para Nitta (2005a), o sistema de registro agregue esta preocupação, o que se comprova
estimula o desenvolvimento tecnológico às com a discussão entre países desenvolvidos e
custas da criação de externalidades em desenvolvimento acerca da
ambientais, como aquecimento global, uma responsabilidade pela degradação ambiental
vez que aumenta a intensidade de capital no e consequências para a sociedade (Nitta,
processo produtivo. Também ocorre que 2005a; Cheyne, 2010). O crescimento
através do monopólio, somente o detentor da econômico se deu, até então, através do uso
patente usufrui dos benefícios do produto, da intensivo de recursos naturais e, portanto, os
livre precificação sem risco de concorrência, países hoje desenvolvidos teriam grande
da cobrança de elevados royalties e ganhos parcela de responsabilidade sobre a atual
com a infração do direito de propriedade. Ou condição ambiental. Países em
Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

151
Patentes Verdes e o Setor de Fabricação de Abrasivos no Brasil: Discutindo o Potencial Estratégico do
Programa a Luz do Shared Value

desenvolvimento usam este argumento para combustão com mitigação potencial e


desqualificar as solicitações que lhes são tecnologias com potencial ou contribuição
feitas a fim de controlar o crescimento e frear indireta para mitigação de emissões. No
o uso de recursos naturais. Brasil, o programa do INPI aceita pedidos de
Porém, é fato que a maior parte das patentes verdes que apresentem tecnologias
patentes está com os países desenvolvidos, o de energias alternativas, transportes,
que lhes garante os ganhos que o direito de conservação de energia, gerenciamento de
propriedade proporciona (Nitta, 2005a). resíduos e agriculturaiv.
Estas preocupações motivaram a sugestão Considera-se que um sistema de
inicial de um sistema de patentes que patentes tenha maior capacidade de cuidar de
incorporasse o custo ambiental criado pelas questões ambientais do que tratados
invenções onde o montante arrecadado seria assinados nas convenções ambientais, porque
alocado em um fundo. Este fundo seria o direito de propriedade é legalmente regido
destinado ao financiamento da transferência e a infração a este direito implica em
de tecnologia e subsidiaria os custos de penalidades (Nitta, 2005a). Então, infrações
tecnologias eco-amigáveis, promovendo o a questões ambientais serão efetivamente
desenvolvimento ambiental (Nitta, 2005/ punidas desde que os sistemas incorporem
2007). esta preocupação. Por outro lado, pensando
Em nível local, em alguns países, os no acesso às tecnologias desenvolvidas,
escritórios responsáveis pela análise e enquanto o sistema de proteção intelectual
concessão de patentes implantaram tradicional impede o acesso à tecnologia de
programas de patentes verdes, sendo a energia renovável (Levin, 2010), os
primeira iniciativa registrada no Reino Unido programas de patentes verdes têm acelerado
em 2009; Estados Unidos, Canadá, Israel, a difusão de tecnologias verdes
Austrália, Japão, Coréia do Sul, China e (Dechezleprêtre, 2013).
Letônia seguiram as iniciativas (Reis, Osawa, O número de pedidos de registro de
Martinez Moreira e Santos, 2013). Dentre as patentes de energia renovável cresce ano a
economias emergentes, o Brasil foi o ano (Schiermeier, 2010), mas efetivamente
primeiro país a ter um programa de patentes 12 países da OECD são responsáveis por
verdes (Dechezleprêtre, 2013). 95% das patentes verdes no mundo (Soltman,
Patentes verdes são as concessões dadas 2013). Grandes corporações são mais
a produtos, métodos e serviços que reduzem prováveis de apresentarem pedidos de
o impacto humano no ambiente e na patentes verdes, enquanto as pequenas
sociedade (Nitta, 2007). Em geral, os empresas são responsáveis por apenas 15%
programas de patentes verdes em dos pedidos registrados (Aschhoff, Licht e
funcionamento baseiam-se em sistemas fast Schliessler 2013).
track nos quais os pedidos de patentes verdes
são despachados de forma mais rápida que as
patentes comuns. O objetivo é encorajar as O CONTEXTO DA INDUSTRIA DE
patentes verdes, fazendo produtos novos ABRASIVOS
chegarem ao mercado mais rápido (Latif,
2012), bem como estimular o licenciamento O SINAESP (2015) possui 39 empresas
e incentivar a inovação (Reis, Osawa, associadas cuja concentração em termos de
Martinez Moreira e Santos, 2013). localização está na região sudeste do país. As
A OECD (2015)iii indica áreas empresas também são membros da Associação
temáticas nas quais tecnologias ambientais Brasileira da Indústria de Ferramentas,
podem se desenvolver, como gestão Abrasivos e Usinagem – ABFA. O Quadro 3
ambiental, geração de energia de fontes apresenta os números de pedidos depositados e
renováveis e não fósseis, tecnologias de patentes concedidas de acordo com a base de
dados do INPI, que utiliza a classificação
Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

152
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

internacional de patentes, na qual as inovações indústria trabalha com quase 100% de taxa de
no setor abrasivo são classificadas como Seção utilização, empregando tecnologia de produção
C – Química e Metalurgia. convencional com o uso de fornos de Acheson
Segundo o Ministério de Minas e Energia e Higgins, emitindo alguns dos principais
(2009), a indústria de abrasivos no país é poluentes atmosféricos, como CO2, CH4 e
concentrada, uma vez que, quase 80% da SO2, resultantes da queima do coque. Os tipos
participação de mercado se refere às duas de abrasivos e produtos abrasivos estão
maiores empresas do setor. Em estudo relacionados no Quadro 4.
encomendado pelo MME, identificou-se que a

Quadro 3
Produtores de abrasivos x patentes concedidas e pedidos depositados
Patentes
concedidas Pedidos
Empresas
após depositados
depósito
3M do Brasil Ltda 8 74
Abrasipa Indústria de Abrasivos Ltda 0 0
Abrasivos Star Ind e Com Ltda 4 8
Alcar Abrasivos Ltda 0 0
Amaril Indústria de Abrasivos Ltda 0 0
Arbax Indústria e Comércio Ltda 0 0
Bomcorte Ferramentas Ltda 0 0
Corindon Abrasivos Especiais Ltda 0 0
Dec Superabrasivos Ind e Com Ltda 0 0
Diamantecno Ferramentas Diamantadas Ltda 0 0
Dinser Ferramentas Diamantadas Ltda 0 0
Embras Empresa Brasileira de Abrasivos Ltda 0 0
FSN Fieiras e Sinterizados Nacionais 0 0
FVTEC Rep. e Comercio de Ferramentas e Equipamentos para Indústria Ltda 0 0
Icder Ind e Com de Discos e Rebolos Ltda 0 0
Imerys Fused Minerals Salto Ltda 0 0
Inabra Abrasivos e Ferramentas Ltda 0 0
Indústria e Comércio Gotthard Kaesemodel Ltda 0 0
Itambe Ind de Prod. Abrasivos Ltda 0 0
Klingspor Abrasivos Industriais Ltda 0 1
Kronos Indústria de Abrasivos Ltda 0 0
Mirka Brasil Ltda. 0 3
Nikkon Ferramentas de Corte Ltda 0 0
Olga S/A Indústria e Comércio 0 0
PFERD Rüggeberg do Brasil Ltda 0 0
Pontabrás Abrasivos Industriais Ltda 0 0
Race Abrasivos Indústria e Comércio Ltda 0 0
Rei Indústria e Comércio de Abrasivos Ltda 0 0
Rex Tools Importação Ltda 0 0
Saint Gobain do Brasil Prods.Inds.p/Constr. Ltda v 16 58
Sia Abrasivos Industriais Ltda 0 1
Sivat Abrasivos Especiais Ltda 0 0
Tectools Equipamentos para Mineração Ltda 0 0
Telstar Abrasivos Ltda 0 0
Tyrolit do Brasil Ltda 0 2
Fonte: Base de dados do INPI (2015)

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

153
Patentes Verdes e o Setor de Fabricação de Abrasivos no Brasil: Discutindo o Potencial Estratégico do
Programa a Luz do Shared Value

Tanto nos sites do SINAESP, quanto da informação disponível é referente a grãos


ABFA, não há dados disponíveis sobre o abrasivos que algumas empresas divulgam.
setor e a ausência de informações públicas já Porém a coleta de dados feita pelo MME
havia sido apontada pelo MME, quando da neste segmento também não conseguiu
coleta de dados para elaboração do relatório informações relativas a custo ambiental
do setor em 2009. Há ausência de dados como o consumo de energia, água e recursos
consolidados sobre produção, preços de naturais.
mercado e mão de obra empregada; a pouca

Quadro 4
Classificação de abrasivos e tipos de produtos
Abrasivos naturais Abrasivos sintéticos Tipos de produtos
Dureza Dureza intermediária Dureza abrasivos
superior Abrasivos Outras inferior (<5,5
(>7,0 de sílica rochas/minerais Mohs)
Mohs)
Diamante Calcedônia Calcário Apatita Carbeto de boro Grãos abrasivos e pós,
(10,0) Chert argiloso Calcita Nitreto de boro livres
Corindon Flint Basalto Giz Carbonato de Cálcio Grãos abrasivos
(9,0) Novaculita Feldspato Argila Precipitado aglomerados em
Esmeril Quartzo Granito Diatomita Fosfato de Cálcio discos, blocos e
(7,0 – 9,0) Quartzito Micaxito Dolomita Óxido de cério formas especiais
Granada Arenito Perlita Óxidos de Óxido de cromo Abrasivos revestidos;
(6,5 – 7,5) Areia Pedra-pomes Ferro Argila calcinada a grãos com liga em
Estaurolita Silicosa Conglomerado Calcário morte papel e tecido
(7,0-7,5) de Quartzo Piçarra Diamante Grãos abrasivos e pós;
Silte Alumina fundida forma de tijolo ou
Talco Vidro barra; ligas com
Tripoli Óxidos de ferro graxa, cola ou cera
Carbonato de Negro de fumo Rochas naturais
Cálcio Cal moldadas em pedras
Magnésia de moagem
precipitada Rochas naturais
Dióxido de moldadas em pedras
manganês de afiação
Periclasio artificial Rochas naturais
Carbeto de silício moldadas em pedras
Carbeto de tântalo de polimento
Óxido de estanho Rochas naturais
Carbeto de titânio moldadas em blocos
Carbeto de para revestimento de
Tungstênio moinhos
Óxido de zircônio Seixos naturais e
Silicato de zircônio manufaturados para
Abrasivos metálicos moinhos
incluindo granalha
esférica e angular,
palhas de aço, latão
e cobro.

Fonte: MME (2009)

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

154
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

A figura 3 descreve o processo produtivo de um dos produtos acabados do setor que são
os discos abrasivos.

Figura 3
Processo Produtivo de Discos Abrasivos
Confecção do Banho de Corte em Análise da Mistura
tecido resina discos Matéria-Prima

Dispor fios Prensagem


Inspeção de Queima
para
qualidade Estufa/Cura
tecelagem

Embalagem

Fonte: elaborado pelos autores (2015)

DISCUTINDO O VALOR DE PATENTES incluído no desenvolvimento de patentes


VERDES NO SETOR DE ABRASIVOS (Nitta, 2005a).
O custo ambiental seria aquele
Adotando a perspectiva do shared decorrente de “qualquer alteração das
value, o valor de uma patente pode ser obtido propriedades físicas, químicas e biológicas
pela subtração do custo para do meio ambiente, causada por qualquer
desenvolvimento da receita, obtida através da forma de matéria ou energia resultante das
exploração dos direitos patentários, como atividades humanas que, direta ou
royalties, venda ou exploração da concessão indiretamente, afetam a saúde, a segurança e
(INPI, 2009), como mostra a Equação 1. o bem-estar da população; as atividades
sociais e econômicas; a biota; as condições
Equação 1 V = R – C estéticas e sanitárias do meio ambiente; a
qualidade dos recursos ambientais.
Onde (CONAMA, 1986)vi. Assim o custo total de
V é o valor da patente uma patente p é expresso na Equação 2 como:
R é a receita obtida com a concessão
C é o custo para desenvolvimento da patente Equação 2 Cp = CP&Dp + CAMBp

Partindo da perspectiva de que a Onde


estratégia shared value gera lucro a longo CP&Dp é o custo de Pesquisa e Desenvolvimento
prazo, o custo para desenvolver a inovação, da patente p CAMBp é o custo ambiental da
que resultará numa patente, compreende os patente p
custos contábeis e de oportunidade.
Os custos contábeis são representados A patente, enquanto ativo intangível, é
pelos investimentos feitos em pesquisa e classificada como de vida útil indefinidavii e,
desenvolvimento. Já o custo de oportunidade, portanto, ambos os custos não são
que é o custo da opção por determinada amortizáveis. CAMBp , por sua vez, é um
alternativa estratégica em detrimento de componente de custo que ocorre não somente
outra, é representado pelo custo ambiental, no momento do desenvolvimento da patente,
uma vez que ele opcionalmente pode ser mas em todas as oportunidades em que os
produtos, ou processos, protegidos pela

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

155
Patentes Verdes e o Setor de Fabricação de Abrasivos no Brasil: Discutindo o Potencial Estratégico do
Programa a Luz do Shared Value

patente forem utilizados. Ou seja, em cada CIj corresponde aos custos indiretos da
unidade produzida do bem protegido por operação j.
patente, existem custos ambientais.
Baseando-se em Silva e Amaral (2006) Empregando uma estratégia shared
que utilizaram a metodologia para avaliação value, o custo de oportunidade da exploração
de impactos e custos ambientais em de uma patente verde, em relação à patente
processos industriais – MAICAPI – na convencional, é otimizado conforme o
indústria metal-mecânica, o custo de Quadro 5, considerando consumo de energia
oportunidade da exploração de uma patente e emissão de poluentesviii. Assumindo que
no ramo de abrasivos seria dado pela equação INj, MODj , Cj e CIj sejam constantes, os
3 a qual inclui os principais impactos custos de oportunidade de patentes
ambientais decorrentes da atividade do setor convencionais e patentes verdes podem ser
que são o consumo de energia, de água e a calculados com as equações 4 e 5,
geração de resíduos – especificamente a respectivamente. É perceptível que o custo de
emissão de poluentes resultantes do processo oportunidade da produção de produtos
produtivo. gerados a partir de patentes convencionais é
maior que o das patentes verdes, reforçando
Equação 3 C(j) = INj + MODj + Cj + Ej + Aj os benefícios desta opção para
+ Rij + CIj desenvolvimento e registro de propriedade
intelectual.
Onde;
j é o índice que caracteriza a operação de Equação 4 C(j) = Ej/0.65 + Aj + Rij /1
processamento analisada;
i é o índice que caracteriza os resíduos Equação 5 C(j) = Ej/0.80 + Aj + Rij /0.1
gerados
Cj é o custo da operação j; Ressalta-se que os dados utilizados para
INj é o custo dos insumos utilizados em j; o cálculo das Equações 4 e 5 foram obtidos
MODj é o custo da mão-de-obra direta dos estudos mencionados nas referências,
empregada em j; acerca da utilização de tecnologias
Ej é a eficiência energética da operação; sustentáveis no lugar de tecnologias
Aj é o custo devido ao consumo de água; convencionais para a obtenção da inovação.
Rij é o custo devido aos resíduos gerados na
operação j, especificamente a emissão de
poluentes;

Quadro 5
Componente do custo de oportunidade patente convencional x patente verde
Componente Patente Patente Verde Ação Referência
Convencional
Ej 65% de eficiência 80% de Utilização de Karlsruhe Institute of
energética eficiência carbeto de Technology (2015)
energética silício em
fornos
Rij 100% de emissão 10% de emissão Utilização de ELEKTROSCHMELZWERK
de poluentes de poluentes carbeto de KEMPTEN GMBH (1973)
silício em
fornos
Fonte: elaborado pelos autores (2015)

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

156
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

A aplicação do carbeto de silício em de empresas que reduziram impactos


fornos industriais foi desenvolvida pela ambientais
Elektroschmelzwerk Kempten em 1973 e
trata-se da utilização de um tipo de cerâmica Utilizando dados de 2009 a 2011 da
avançada (carbeto de silício) que é Pesquisa de Inovação (PINTEc), calculou-se,
desenvolvida a partir de matéria-prima com uma regressão OLS, o impacto dos
sintetizada a alta temperatura, com alta investimentos em pesquisa e
pureza e rigoroso controle de processoix. Este desenvolvimento – P&D – e o impacto do
material propicia maior eficiência energética lançamento de produtos no mercado no
e menor emissão de CO2 na atmosfera, número de empresas que conseguiram
decorrente do processo de queima no forno, redução média do consumo de energia, água
mas apesar de se apresentarem ganhos e impacto ambiental nas indústrias de
ambientais, como são manufaturados em transformaçãox, no Brasil.
processos sofisticados, a obtenção é onerosa Para o consumo de energia,
(INDUSTRY COMMISSION, 1995) considerando o nível de significância a 5%, o
contrastando com o interesse imediatista de investimento em P&D não é significante
lucros a curto prazo (Simon, 1959), (0,673), sendo que o lançamento de produtos
potencializado pela alta dinamicidade dos inovadores explica cerca de 84% das
mercados. empresas que reduziram o consumo
Considerando a revisão da literatura, energético, conforme resultados do Quadro
nas indústrias em geral, duas hipóteses 6. Em relação ao consumo de água, o modelo
devem ser consideradas em relação à análise tem 77% de poder explicativo e, neste, caso
do valor proporcionado pelas patentes o investimento em P&D é significante para
verdes: explicar o número de empresas que
reduziram o consumo de água, assim como o
H1: investimentos em P&D têm relação lançamento de produtos inovadores, como se
positiva e significante com o número de observa no Quadro 7. Os resultados do
empresas que reduziram impactos ambientais Quadro 8 também confirmam a significância
H2: lançamento de produtos no mercado tem dos investimentos em P&D e lançamento de
relação positiva e significante com o número produtos para explicação (R2 ajustado de
88%) na redução do impacto ambiental.

Quadro 6
Resultados da regressão para redução no consumo de energia
Variáveis Coeficientes e p-valor
Intercepto -14.74867 / 0.634
Investimento em P&D -.0467235/ 0.673
Lançamento de produtos inovadores no mercado .9916844/ 0.000
Fonte: análise estatística (2015)

Quadro 7
Resultados da regressão para redução no consumo de água
Variáveis Coeficientes e p-valor
Intercepto .0867088/ 0.996
Investimento em P&D .1285836/ 0.070
Lançamento de produtos inovadores no mercado .4429814 / 0.000
Fonte: análise estatística (2015)

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

157
Patentes Verdes e o Setor de Fabricação de Abrasivos no Brasil: Discutindo o Potencial Estratégico do
Programa a Luz do Shared Value

Quadro 8
Resultados da regressão para redução na geração de resíduos
Variáveis Coeficientes e p-valor
Intercepto 38.40502/ 0.172
Investimento em P&D .2450031 / 0.017
Lançamento de produtos inovadores no mercado .9708057 / 0.000
Fonte: análise estatística (2015)

Segundo dados do INPI (2015), na resultado de experiência de inovação e não de


terceira fase do programa, que vai de jovens empreendedores (Aschhoff, Licht e
17/04/2014 a 16/04/2016, 133 pedidos de Schliessler, 2013).
patentes verdes foram recebidos e até o Tal realidade talvez seja explicada,
momento, dos pedidos protocolados em fases também, pelo know how possuído pelas
anteriores, 46 foram deferidos. Não é empresas, uma vez que a criação de patentes
possível inferir sobre estas informações que verdes depende do conhecimento verde que a
outras patentes registradas como empresa possui (Stucki e Woerter, 2012).
convencionais não assumam e utilizem de Talvez por isso pequenas empresas sejam
tecnologias verdes para seu responsáveis por apenas 15% dos pedidos de
desenvolvimento, uma vez que o programa patentes (Aschhoff, Licht e Schliessler,
do INPI é relativamente novo e, apesar do 2013).
benefício oferecido (redução no prazo do Além de constituir-se como um setor
processo de análise), os custos desta cuja concentração de mercado seja causada
solicitação também são maiores e algumas por grandes players globais com experiência
empresas podem não valorizar tal benefício. em P&D e em sistemas de direito de
O emprego de tecnologias verdes é propriedade, o setor de abrasivos apresenta
apenas uma das ferramentas para diminuir os potencial para criação de patentes verdes,
impactos ambientais. Nitta (2005b) ainda dado o intenso uso de recursos naturais no
relaciona políticas verdes (políticas públicas, processo produtivo. Especificamente no que
legislação, tratados) e modelos sociais verdes tange à energia elétrica, investimentos no
como instituições que financiem o crescimento do setor têm sido postergados
desenvolvimento sustentável. Para as por causa do alto custo e relativa baixa
empresas, é empiricamente comprovado que disponibilidade do recurso (MME, 2009).
o uso de tecnologias verdes permite a Buscar soluções eco-amigáveis para o setor
aquisição de vantagens competitivas e atenderia, assim, aos mesmos objetivos que a
performance financeira (Avagyan, Cesaroni, maior parte dos pedidos de patentes verdes
e Yildirim, 2011; Soltman, 2013). (Aschhoff, Licht e Schliessler, 2013):
Aschhoff, Licht e Schliessler (2013) otimizar a gestão energética e de resíduos.
mencionam que, em países como Alemanha,
Coréia e China, as patentes verdes possuem CONCLUSÃO
as aplicações mais valiosas.
Os dados do Quadro 3 demonstram que O artigo discutiu o potencial de
o setor de abrasivos pode refletir a tendência geração de valor das patentes verdes no setor
mundial sobre as patentes verdes: que as de abrasivos no Brasil à luz do conceito de
grandes corporações sejam as maiores shared value. Foram coletados dados sobre o
responsáveis pelo pedido de registro deste contexto do setor, apresentado o argumento
tipo de concessão, uma vez que o da geração de valor através da abordagem do
desenvolvimento se baseia em experiência custo de oportunidade e através da análise de
anterior com registro de patentes normais e dados da PINTEc entre 2009 e 2011,
tamanho da empresa, apresentando-se como verificou-se o impacto de investimento de

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

158
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

P&D e lançamento de produtos sobre a resultantes em patentes verdes, é notória a


redução no consumo de energia, água e preocupação com o desenvolvimento de
impactos ambientais. produtos que reduzam o impacto no meio
Estudos como os de Ferreira, Hasner e ambiente, inclusive nos processos
Santos (2016), Souza e Rabelo (2015), produtivos. Esta percepção, acrescida dos
Santos, Martinez, Reis e Osawa (2015) dados do INPI sobre o depósito de pedidos e
evidenciam como a utilização do programa patentes concedidas, permitem inferir que o
de patentes verdes pode agregar valor às setor de abrasivos pode oferecer importante
empresas, não só em relação ao aumento da contribuição para o sucesso do programa de
inovação através do incentivo dado pelo patentes verdes no país e que esta prática,
programa (acesso mais rápido ao direito de seguindo a abordagem do shared value, pode
propriedade), como também à sociedade que trazer retornos financeiros positivos para as
se beneficia da adoção de tecnologias empresas que a adotarem. No entanto, dada a
sustentáveis, que contribuam para a redução ausência de dados do setor de abrasivos,
de impactos ambientais ou utilização de utilizaram-se referenciais teóricos e dados
recursos naturais. isolados informados por algumas empresas, o
Registra-se, também, que o programa que constitui uma limitação no trabalho.
de patentes verdes do INPI é desempenhado Outra limitação refere-se à base de dados
em uma versão piloto. Neste sentido, deve utilizada, que oferece informações apenas até
agregar melhorias que possibilitem, 2011, impedindo obter um retrato mais
simultaneamente, a criação de valor para a atualizado sobre os efeitos da inovação na
empresa (através do direito de exploração da sustentabilidade ambiental das empresas.
tecnologia criada e patenteada), bem como Além da limitação citada, trabalhos
para a sociedade. E o valor social não deve futuros poderão comparar o potencial de
ocorrer somente através da recepção dos geração de valor através de patentes verdes
benefícios das tecnologias verdes obtidas por entre mais setores da atividade produtiva,
determinada corporação, mas, também, da além de analisarem o efeito das patentes
oportunidade dada à outras corporações para verdes na performance financeira de
que possam utilizar-se da mesma tecnologia, empresas brasileiras, a exemplo do estudo de
ampliando os benefícios ambientais. Soltman (2013), bem como a influência do
A análise mostrou que, mesmo não conjunto institucional do país para o
havendo registro das atividades de P&D favorecimento deste tipo de programa.

REFERÊNCIAS Cheyne, I (2010). Intellectual Property


and Climate Change from a Trade Perspective.
Nordic Environmental Law Journal, Special
Aschhoff, B., Licht, G., & Schliessler, P. Issue/Nordisk miljörättslig tidskrift, (2), 121-
(2013). Who drives smart growth? The 130.
contribution of small and young firms to Dechezleprêtre, A. (2013). Fast-
inventions in sustainable technologies (No. tracking'green'patent applications: an empirical
47). WWWforEurope. analysis. ICTSD Programme on Innovation,
Technology and Intellectual Property.
Avagyan, V., Cesaroni, F., & Yildirim, G.
(2011). How firm value reflects green Ferreira, P. S., Hasner, C., & Santos, D.
intellectual capital. UAM-Accenture Working (2016). O potencial e o perfil das patentes
Papers. Universidad Carlos III de Madrid, verdes em conservação e renovação de energia
Departamento de Economía de la Empresa, no Brasil. Cadernos de Prospecção, 9(1), 111.
Calle Madrid, 126-28903.

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

159
Patentes Verdes e o Setor de Fabricação de Abrasivos no Brasil: Discutindo o Potencial Estratégico do
Programa a Luz do Shared Value

Hills, G., Russell, P., Borgonovi, V., Quental, C., & Gadelha, C. (2000).
Doty, A., &Iyer, L. (2013). “Shared value in Incorporação de demandas e gestão de P&D
emerging markets”.FSG. em institutos de pesquisa. Revista de
Administração Pública, 34(1), 57-a.
Latif, A. (2012). Intellectual Property
Rights and Green Technologies from Rio to MORTENSEN, A. (2007). Concise
Rio: An Impossible Dialogue? International Encyclopedia of Composite Materials, 2nd
Centre for Trade and Sustainable Development Edition, Elsevier.
Policy Brief, (14).
Schiermeier, Q. (2010). Green patents
Levin, M. (2010). Intellectual Property corralled. Nature, 465(7294), 21.
Rights (IPR)-Another Untested Hurdle in
Copenhagen. Nordic Environmental Law Silva, P. R. S., & Amaral, F. G. (2006).
Journal, Special Issue/Nordisk miljörättslig MAICAPI - metodologia para avaliação de
tidskrift, (2), 131-142. impactos e custos ambientais em processos
industriais: estudo de caso. Engenharia
Nitta, I. (2007). Green Intellectual Sanitária e Ambiental , 11(3), 212-222.
Property Scheme: A Blueprint for the Eco-
/Socio-Friendly Patent Framework. Reis, P.C.; Osawa, C.C.; Martinez,
M.E.M.; Moreira, J.C.C.B.R., & Santos, D.A.
Nitta, I. (2005). Proposal for a green (2013). Programa das Patentes Verdes no
patent system: implications for sustainable Brasil: Aliança Verde entre o Desenvolvimento
development and climate change. Sustainable Tecnológico, Crescimento Econômico e a
Dev. L. & Pol'y, 5, 61. Degradação Ambiental.

Nitta, I. (2005b). Green Intellectual SANTOS, D., MARTINEZ, M., REIS,


Property: a tool for greening a P., & OSAWA, C. (2015). Inovações
society.Ecological Economics, submitted. patenteadas no âmbito das tecnologias limpas:
estudo de casos depositados no programa
Porter, M. E. (1996).What is strategy? piloto de patentes verdes do INPI.. Blucher
Harvard Business Review, 61-78. Chemical Engineering Proceedings, 1(2),
7410-7416.
Porter, M. E.; Kramer, M. R. (2002).
“The competitive advantage of corporate Simon, H. A. (1959). Theories of decision
philanthropy”. Harvard Business Review, making in economics and behavioral science.
80(12), 56-68.
American Economic Review, v. 49, n. 3,
Porter, M. E. & Siggelkow, N. (2008). p. 253-288.
Contextuality within activity systems and
sustainability of competitive Soltmann, C., Stucki, T., & Woerter, M.
advantage.”Academy of Management (2013). The Performance Effect of
Perspectives, 5, 34-57. Environmental Innovations.

Porter, M. E. & Kramer, M. R. (2011). DE SOUZA, D. F., & RABÊLO, O. D. S.


Creating Shared value. Harvard Business Ecoinovação: uma análise através das patentes
Review ,Vol. 89(1), 62-77. verdes no Brasil.

Porter, M.E., Hills, G.,Pftizer, M., Stucki, T., & Woerter, M. (2012).
Patschek, S., & Hawkins, E. (2013).Measuring Determinants of Green Innovation: The Impact
Shared Value: How to Unlock Value by of Internal and External Knowledge.
Linking Social and Business Results. FSG.

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

160
Ana Graziele Lourenço Toledo & Leonardo Augusto de Campos

US Bureau of Mines (1993). Rare Earths: Ljungberg, L. Y. (2007). Materials


The Lanthanides, Yttrium and Scandium 1992, selection and design for development of
Annual Report, US Government Printing sustainable products. Materials &
Office, Washington DC. Design, 28(2), 466-479.

Maxwell, D., & Van der Vorst, R. (2003). Zarandi, M. H. F., Mansour, S.,
Developing sustainable products and Hosseinijou, S. A., & Avazbeigi, M. (2011). A
services. Journal of Cleaner material selection methodology and expert
Production, 11(8), 883-895. system for sustainable product design. The
International Journal of Advanced
Manufacturing Technology, 57(9-12), 885-
903.
i vi
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro
http://www.inpi.gov.br/images/stories/downloads/pat de 1986. Disponível em
entes/pdf/LISTAGEM_DAS_TECNOLOGIAS_VER http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res01
DES_ADOTADAS.pdf. Acesso em 23/04/2015. 86.html. Acesso em 01/05/2015.
ii vii
De acordo com o Pronunciamento Técnico CPD 04
http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/patentes_verdes. (R1) sobre ativos intangíveis do Comitê de
Acesso em 23/04/2015. Pronunciamentos Contábeis.
iii viii
http://www.oecd.org/env/consumption- Não há referências disponíveis sobre redução no
innovation/indicator.htm. Acesso em 26/04/2015. consumo de água mediante uso de tecnologias verdes
iv no setor.
ix
http://www.inpi.gov.br/images/stories/downloads/pat http://www.abceram.org.br/site/?area=4; US
entes/pdf/LISTAGEM_DAS_TECNOLOGIAS_VER Bureau of Mines, 1993.
x
DES_ADOTADAS.pdf. Acesso em 26/04/2015. Exceto indústrias de fumo, farmoquímicos,
v farmacêuticos e móveis que não tinham dados
Incluem-se as divisões Lixas, Rebolos,
Superabrasivos, Discos e Produtos Industriais para disponíveis na base.
Construção

Rev. Gest. Ambient. Sustentabilidade, São Paulo, Vol. 7, N. 1 p.146-161 Jan./ Abr. 2018

161

Vous aimerez peut-être aussi