Faculdade de Letras Prof.: Glaucia Vieira Aluno: Luiz Alexandre de O. Freitas
RESENHA DO CAPÍTULO “Classes de Palavras”, de Maria da Aparecida de Pinilla, do
livro “Ensino de Gramática: descrição e uso”
Muito se discute acerca do papel do ensino de gramática no currículo escolar obrigató-
rio, e o capítulo em questão se propõe a estudar essa questão sob a ótica particular do proble- ma de definição de classes de palavras, tendo como base o seguinte questionamento: o que são as classes de palavras e como abordar esse estudo? A autora parte das seguintes considerações para se limitar à preocupação das classes de palavras em seu texto: a partir de uma pesquisa que teve como corpus a docência de língua portuguesa e gramática brasileira, a autora concluiu que o tópico mais abordado e mais explo- rado pelos docentes em questão corresponde às classes de palavras. Daí, a preocupação em se dedicar à particularidade dos modos de abordagem desses tópicos. É visto que o problema maior relacionado ao tratamento do assunto se define pela au- sência de uma cientificidade descritiva adequada, ou seja, pela falta de critérios bem estabele- cidos e aplicados; o que se vê dentro dessa malha que prioriza o ensino de classes de palavras no ensino é que falta uma preocupação com consistência e objetividade; temos inúmeras gra- máticas didáticas, a maior parte das quais preferindo dedicar à questão um tratamento de assi- milação mais do que reflexão – muito se discute sobre quais são as classes de palavras, mas pouco se faz pela reflexão e consideração de critérios para a determinação dessas classes. Uma abordagem histórica da tradição gramatical é bem posicionada pela autora para ex- plicar o percurso de despreocupação criteriosa; desde Aristóteles até as gramáticas portugue- sas do século XX, vemos a mesma inconsistência no que diz respeito ao tratamento dos crité- rios. Observando ainda as dez classes tradicionais e suas definições, o problema é ainda mais óbvio: temos uma mistura de critérios semânticos, morfológicos e funcionais (sintáticos) que se misturam e se hierarquizam arbitrariamente – é evidente o privilégio cedido ao critério se- mântico em relação aos demais critérios citados; ora, a classe dos substantivos, primordial, é, na maior parte das vezes, definida somente semanticamente (“substantivo é a palavra que de- nomina seres e objetos do mundo físico”, uma clássica definição). Não temos um paradigma centrado numa única proposta de definição, nos encontrando com muitas divergências e explicações rasas das classes; no fim das contas, o que se quer di- zer quando se diz que substantivos dizem respeito a entidades e verbos dizem respeito a pro- cessos? Ou que pronomes substituem nomes mas se distinguem destes por serem invariáveis? Ou que artigos acompanham substantivos? Vê-se aí a confusão. Nestas três questões, temos um critério semântico, seguido de um morfológico, e um sintático, que usualmente são abor- dados por uma mesma gramática. Qual a seleção objetiva por trás da “mistura” de critérios? É aí que reside a importância do texto: o problema das classes de palavras não é uma simples seleção de definições arbitrárias e não explicadas. Há de se pensar cientificamente em como abordar a classificação de itens léxicos, visto que esses constituem a substância tão par- ticular da linguagem, aglomerando-se por suas semelhanças, dividindo-se por suas diferenças, e conformando-se em suas combinações funcionais. A autora apresenta uma lista que se propõe ser extensa mirando justamente a diversida- de de abordagens linguísticas dedicadas ao estudo das classes de palavras, aumentando o in- centivo ao estudo consistente destas. De Mattoso Câmara, estruturalista convicto com sua abordagem assimétrica dos três grandes critérios para a determinação de classes de palavras (os critérios semântico e mórfico unindo-se num critério superior compósito, somado a um critério funcional com relação à sentença), a Basílio, em sua abordagem lexical, Neves, Sch- neider, dentre outros. A preferência da autora é clara, adotando os critérios propostos por Mattoso para a construção de uma análise de classes de palavras a ser oferecida aos docentes. Ao fim de sua lista da tradição, a autora dispõe uma análise bastante breve, dando destaque ao critério funci- onal proposto por Mattoso. Em suma, a autora estabelece os critérios de forma, sentido e fun- ção para a categorização coerente e bem posicionada das palavras em classes definidas pela união destes três critérios como proposto por Mattoso, atentando para o critério funcional e elevando sua importância diante do tratamento usual das obras tradicionais. Ao fim, temos oito classes de palavras propostas da seguinte maneira: artigos, substanti- vos, adjetivos, verbos, advérbios, pronomes e conectivos, todos definidos com base em sua organização significativa-morfológica, e em sua distribuição funcional na sintaxe. A classe tradicional de interjeições é descartada por não se sustentar diante da seleção criteriosa orga- nizada pela autora, mantendo, portanto, a coerência da classificação como um todo. Há de se considerar que uma abordagem por Mattoso e semelhantes, atentando-se à di- visão categórica de classes de palavras, pode prejudicar a si mesma por não abordar o que se chama comumente de “exceções”; por mais que a autora de fato acrescente muito ao cenário atual de ensino de gramática, no que diz respeito a classes de palavras, propondo uma análise muito mais coerente do que a abordagem “misturada” tradicional (com a já mencionada au- sência de critérios bem definidos), problemas como palavras que não se encaixam de acordo com os critérios estabelecidos – como os verbos irregulares, a idiossincrasia de sentido de pa- lavras derivadas, etc – ainda se sustentam, e podem servir para aprofundar a análise iniciada pela autora na busca de uma análise ainda mais completa e adequada para a resolução do pro- blema do ensino de gramática.