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Psicologia do Desenvolvimento I
Introdução
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Questionámo-nos várias vezes sobre o porquê da elaboração de um trabalho cujo
tema, é hoje em dia, um dos problemas que mais preocupam toda a sociedade. Antes de
mais, interessa ,desde já, dizer que gostaríamos de futuramente exercer uma profissão
relacionada com os comportamentos de risco, e de certo modo, poder solucioná-los.
Desta forma, parece-nos pertinente abordar este tema, pelo que consultámos alguns
autores e profissionais competentes neste domínio, que pudessem de certa forma
elucidar-nos quanto à complexidade que dele faz parte.
Temos consciência que, dado o facto deste ser o nosso primeiro trabalho sobre o tema,
jamais será perfeito, como gostaríamos que fosse. No entanto, atrevemo-nos a abordá-
lo, dada a sensibilidade que nos invade e a polémica que gera na sociedade.
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A Adolescência
A Família
É certo que os bebés e as crianças que mal andam, reagem à perda de um dos
progenitores. Mas como a sua capacidade de antever o futuro é limitada e a sua
compreensão das explicações verbais quase nula, uma separação temporária provoca as
mesmas reacções de uma perda permanente. A morte e a ausência têm o mesmo
resultado.
Qual é a prova de que uma separação prolongada ou a perda permanente da mãe
tem, na verdade, sérias consequências na vida futura? Sabe-se que a morte da mãe
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provoca, em geral, uma maior perturbação na família que a do pai. Poucos homens
assumem o duplo papel de provedor ao sustento da família e de prestar assistência no
lar. Na verdade, é frequente considerar-se impróprio para os homens cozinhar, limpar e
lavar depois do trabalho. Os viúvos com filhos pequenos são quase sempre forçados a
aceitar a ajuda de parentes ou de departamentos oficiais. Demasiadas vezes essa ajuda
obriga à desagregação da família, porque uma ou duas crianças vão para casa da avó, da
tia, ou ainda para pensionatos ou lares de adopção.
Lares desfeitos
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O progenitor, com frequência a mãe, é ambivalente; sente uma satisfação pelo
comportamento do filho, perdoando-o habitualmente sem disso se aperceber, enquanto
exteriormente, com o adolescente, reage pela reprimenda e pela desaprovação.
Os pais podem provocar o comportamento anti-social sugerindo-o como uma
possibilidade. Muitas mães que se sentem ainda culpadas das suas experiências sexuais
pré- conjugais, prevenirão continuamente as filhas para “não se meterem em sarilhos”.
As suas advertências e constantes repressões sobre o comportamento das suas filhas
sugere a estas que a mãe tem delas uma imagem de promiscuidade sexual. Começam,
assim, a aceitar essa imagem de si próprias e a comportarem-se de acordo com ela.
Algumas mães desculpam o comportamento delinquente antes de ele tombar inesperada
e finalmente sobre o filho, muitas vezes apenas quando esse comportamento põe a
família em xeque perante os outros.
A delinquência nos jovens pode ser uma consequência, não de conflitos neuróticos
internos dos pais, mas de tensões entre eles. Muitas vezes os filhos são o campo de
batalha desses pais em conflito um com o outro.
A família - conclusão
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comportamento agressivo e anti-social, o que provoca a desaprovação do meio escolar
e, por conseguinte, o aumento dos problemas familiares.
A ruptura familiar, a morte de um dos pais e os problemas de auto-afirmação perante o
meio adulto, contribuem para o “stress” e para o aparecimento de adolescentes
delinquentes.
Não é possível apurar sem lacunas que o papel da família é o principal na manifestação
destes problemas; mas a verdade é que os adolescentes não se conseguem relacionar
bem com as suas famílias, sofrem no seu amor próprio, não conseguem identificar-se
com uma cultura adulta em que se vêem excluídos. Em substituição, criam o seu próprio
mundo adolescente.
É, pois, destas duas gerações em constante confronto, o papel de tentarem ajustar-se e
melhorar os seus comportamentos, a fim de evitarem conflito e para que o mundo
futuro, que está nas suas mãos, seja um mundo melhor para todos.
Puberdade
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desejos incestuosos e o medo de retaliação pelo pai castrador ultrapassam, por vezes, a
capacidade de adaptação do eu, já fragilizado pelo “tumulto institivo-afectivo da
adolescência”.
Constituindo o corpo do adolescente o suporte objectivo dos seus contornos e da sua
espessura como pessoa, não é de admirar que seja ao nível corporal que se expressam
muitas das suas contradições, dúvidas e receios.
As identificações e o ideal do Eu
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No processo de desenvolvimento do adolescente as identificações e o ideal do
Eu ocupam um lugar particularmente importante.
Enquanto alguns autores consideram o ideal do Eu como uma parte do Eu e do Super-
Eu, para outros ele constitui, por si, uma estrutura distinta.
Já em 1914, o ideal do eu era considerado por S. Freud como uma formação
intrapsíquica relativamente autónoma, que servia de referência ao Eu para apreciar as
suas relações afectivas. Mais tarde, em “o Eu e o Id”, Freud considera o ideal do Eu
como sinónimo de Super-Eu: “é uma única instância formada pela identificação com os
pais correlativa do declínio do Édipo e que reúne as funções de interdição e de ideal”.
Para P. Blos, o Super-Eu representa “o herdeiro do Édipo positivo, sendo o ideal do Eu
o herdeiro do Édipo negativo”. Progressivamente, o ideal do eu atinge a sua organização
definitiva no declínio da fase homossexual do princípio da adolescência. Durante este
período, o ideal do Eu é confrontado com novas experiências, vindas do mundo
exterior, particularmente dos outros adolescentes com os quais o jovem se identifica.
Trata-se agora de identificações do Eu que, possuindo as mesmas qualidades que as
exigências precoces interiorizadas, podem considerar-se, segundo Laufer, como uma
parte do ideal do Eu do adolescente. Este, tem como função principal, por um lado,
modificar o modo da relação interna com os objectos infantis, e por outro lado, ajudam
a controlar a regressão do Eu, ao mesmo tempo que participa na adaptação social do
jovem. Esta instância do eu permite ao adolescente, por um lado, reforçar o seu esforço
para se assemelhar ao personagem parental do mesmo sexo; pode também servir para
conservar a repressão dos pensamentos, dos comportamentos e dos desejos “ego-
distónicos”. Nos casos mais favoráveis, o ideal do Eu permite ao adolescente o acesso à
maturidade a partir do momento em que as exigências do Super-Eu coincidem
intimamente, em cada momento, com as do ideal do Eu.
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alternativa mais comum é o jovem compreender plenamente as consequências de
pertencer a um grupo minoritário e escolhê-las e aceitá-las para toda a vida.
Jovens nascidos no estrangeiro ou filhos de pais estrangeiros, enfrentam problemas
diferentes. Tanto eles como os pais esforçam-se por se adaptar aos hábitos e costumes
do país de adopção.
Enquanto os jovens de grupos religiosos minoritários têm de lidar simultaneamente com
dois tipos divergentes de normas sociais, os jovens que emigraram para outro país,
educados numa determinada cultura, têm de mudar de um tipo de critérios e aspirações
para outro.
Os jovens de culturas minoritárias sofrem de dificuldades adicionais ao lutarem com
uma diminuição do seu rendimento, em regra sem gravidade, a menos que existam
também tendências neuróticas entre a família.
Os membros de grupos minoritários sofrem de stress grave só quando esse grupo
pertence, além do mais, a uma classe social desfavorecida dentro de uma mais vasta
sociedade.
O Grupo
Hoje reconhece-se que um grupo é mais que a soma dos seus membros, ou seja,
é diferente dessa soma. O grupo tem uma estrutura própria, objectivos próprios,
relações próprias com os outros grupos. A essência do grupo não é a semelhança ou a
diferença entre os seus membros, mas a sua interdependência. Assim, pode-se
caracterizar um grupo como “um todo dinâmico”.
O Grupo Familiar
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A afirmação exterior do Eu
Aquele(a), que até ali se considerava uma criança inserida no grupo familiar,
tende a modificar-se completamente com o aparecimento da puberdade. Agora, o seio
familiar é alvo de críticas, e a revolta torna-se uma constante.
Em “Desenvolvimento da Criança e do Adolescente”, e segundo R.Rivier, o
aparecimento da puberdade desencadeia-se quase inevitavelmente numa crise de
oposição mais ou menos violenta, contra o meio adulto. Para deixar de ser a criança que
já não é, e para se afirmar como pessoa autónoma , o adolescente começa por queimar
tudo o que adorou, revolta-se contra a autoridade dos pais e rejeita os modelos que estes
lhe oferecem: em vez de ser sobrestimados, os pais são agora criticados. Os desvios dos
pais em relação aos modelos ou grupos com que agora o adolescente se identifica,
podem humilhá-lo e constituir uma profunda ferida. A necessidade ser compreendido é,
com a necessidade de afirmar a sua independência uma característica do adolescente. O
sentimento de não ser compreendido ou de não ser amado, acumula-se às dificuldades
que ele próprio tem em compreender-se e amar-se. Inicia-se então, a negação da atitude
condescendente do adulto e a tentativa de afirmação por parte do adolescente. O
adolescente quer ser levado a sério, procurando o jovem Eu que por vezes é ainda
impedido se surgir. É aqui que o adolescente começa a procurar-se a si mesmo, e ao
mesmo tempo, a identificar-se com o outro. A procura de um grupo de jovens com o
mesmo ideal e comportamento, é uma necessidade. Assim, o adolescente espera
encontrar um novo seio onde possa integrar-se e compartilhar os seus sentimentos,
angústias, e onde possa dar a sua amizade. O adolescente deixa fluir a sua própria
espontaneidade. Como nos diz Ortega y Gasset “Para cada geração, viver é uma tarefa
com duas dimensões: uma, consiste em receber o vivido ideias e valores; a outra, deixar
fluir a própria espontaneidade”. O adolescente entra numa outra dimensão...é o segundo
processo de separação em relação às figuras parentais.
O Grupo Juvenil
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surge como o epicentro na organização da vida social juvenil. Rejeitando os antigos
modelos de identificação, o jovem procura encontrar novos modelos para poder, enfim,
ser ele mesmo. Para se imporem a novo grupo e ao meio, o adolescentes procuram a
originalidade bem como a excentricidade. Pela diferença, conseguem afirmar-se. Por
outro lado, se um jovem se sente distanciado do novo grupo, acomoda-se simplesmente
à imitação e ao conformismo. Ao identificar-se com os outros, recusa por vezes o seu
“eu”, para se confundir com o “nós”. Adquirem, portanto, a identidade social de que
careciam através da adesão a um ideal colectivo (o modo de vida, a tomada de posição,
ideais, modos de vestir, entre outros). O adolescente torna-se maleável em todos os
sentidos, o que se pode converter num comportamento de risco, como teremos
oportunidade de ver mais adiante. Importante será dizer, que assim como inicialmente o
grupo era benéfico para o adolescente , a partir de uma certa idade deixa de o ser. O que
acontece, é que o jovem de tão habituado que está a viver, pensar e agir segundo o seu
grupo, acaba por entravar a afirmação de si mesmo. Além disso, sente necessidade de se
apoiar no grupo e torná-lo um refúgio ou uma fuga a responsabilidades. O risco é maior
consoante o grupo e a personalidade do adolescente em caso de uma grande
maleabilidade. A incapacidade de um pensamento pessoal, o estado de imaturidade e a
procura excessiva de recursos exteriores a si mesmo, são um facto. Na altura devida, o
adolescente deverá saber distanciar-se do grupo (não na sua totalidade) para que possa
adquirir uma visão mais autónoma do que o rodeia, uma participação mais pessoal, e
claro, a sua autonomia. É importante dizer, que tanto o grupo familiar como juvenil, são
fases cruciais do indivíduo. Ambos são como que dois pólos dinamizadores daquele que
será um adulto- parte integrante da sociedade.
Os grupos na adolescência poderão, sem dúvida, ser um dos factores que mais
influenciam o jovem, contribuindo bastante no seu futuro. Após uma breve abordagem à
Sexualidade na Adolescência, tentaremos relacionar os factores que levam aos
comportamentos de risco.
A sexualidade na adolescência
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indispensável por essa educação, mas não constitui a parte principal, a mais importante
e decisiva” in Para uma Pedagogia da Educação Sexual de João António Nabais.
Como já se disse anteriormente, a adolescência é o período que vai dos catorze
aos dezoito anos . Tudo se transforma nesses preciosos quatro anos: o corpo, antes de
tudo, e a alma.
Aquele que há pouco tempo dependia em tudo e por tudo dos pais, começa a
pensar de forma autónoma e independente.
A função sexual que se exprime nos desejos, fantasias, sonhos, num prazer
especial a que chamamos excitação e que pode levar a um prazer maior chamado
orgasmo. É uma função permanente do homem e da mulher, ao contrário do que se
passa com os animais e que embora muitas pessoas não saibam, se mantém também na
terceira idade.
É por esta função que um homem e uma mulher podem, pela relação sexual,
viver fisicamente o amor que os une.
O corpo da mulher é constituído para a possibilidade de ter filhos, a gravidez
pode ocorrer uma vez que a mulher começa a ser menstruada.
O período menstrual, é uma fase do chamado ciclo menstrual, que começa na
altura em que o óvulo amadurece e se prepara para deixar o ovário.
Este ciclo termina quando aparece a menstruação. Uma vez por mês, mais ou
menos em cada 28 dias, um óvulo minúsculo (cem óvulos têm aproximadamente o
tamanho da cabeça de um alfinete) é expelido por um dos ovários, e inicia o percurso,
através da trompa de falópio até ao útero. A isto se chama ovulação.
Perder a virgindade
Gravidez na adolescência
Qualquer jovem menstruada que tenha iniciado uma relação sexual pode ficar
grávida. Embora utilizando qualquer tipo de contraceptivo, não fica excluída a hipótese
de uma gravidez.
A gravidez na adolescência é um assunto muito melindroso , e na grande maioria
dos casos, as jovens adolescentes não estão nem se sentem preparadas para exercer esta
“ profissão de mãe”, que embora pareça simples, não o é .
É bastante frequente nestas alturas, aquando de uma gravidez não desejada, as
jovens adolescentes optarem pelo aborto. Essa opção poderá ser feita ilegalmente
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provocando danos não só a nível físico como também a nível psíquico .São muitas
vezes actos inconscientes que acarretam traumas juvenis, e que poderão sem dúvida
levar a comportamentos de risco, pelo caminho da autodestruição.
Será importante que a jovem jogue pelo seguro, tomando conhecimento dos
vários tipos contraceptivos. Assim, quase totalmente, ficará aniquilada a hipótese de
gravidez ou da contracção de doenças sexualmente transmissíveis, como teremos
oportunidade de verificar mais adiante.
Existem vários tipos de contraceptivos. Dentro destes, podemos distinguir os
contraceptivos mecânicos. Estes incluem o preservativo para o homem e o diafragma
para a mulher. São ainda os mais usados e actuam ambos como barreiras, impedindo o
espermatozóide de atingir o ovo. Os preservativos são feitos de borracha e colocados no
pénis para que, quando a ejaculação ocorrer, o sémen fique dentro do preservativo e não
na vagina. O diafragma é colocado na zona mais alta da vagina e usado com uma
espuma de creme contraceptivo. Existem também os métodos contraceptivos
hormonais. O outro método contraceptivo principal- a pílula- é baseada na utilização de
hormonas femininas que actuam evitando a ovulação (a pílula combinada, contendo
baixas de estrogénio e progesterona) ou tornando o cérvix, parede uterina e trompa de
Falópio hostis aos espermatozóides, evitando assim a ovulação. Tornar a pílula acessível
a adolescentes é ainda um assunto controverso no meio da classe médica, não só em
termos morais como puramente médicos. A pílula pode provocar efeitos colaterais em
qualquer mulher. Numa classe de risco especial estão as mulheres obesas, fumadoras e
hipertensas. Nas jovens, porém, o efeito colateral que mais preocupa os médicos é o
efeito a longo prazo sobre a fertilidade da jovem, se a ovulação mensal regular ainda
não se tiver estabelecido.
É fundamental para qualquer adolescente conhecer o seu corpo. No entanto, é
importante tomar consciência das doenças sexualmente transmissíveis. Umas com maior
repercussão que outras, como é o caso da SIDA e da Hepatite B . Existem mais doenças
que podem ser sexualmente transmitidas como é o caso da gonorreia, da sífilis, da
uretrite, da cistite e da vaginite.(ver anexos).
A Sexualidade, é sem dúvida, um dos aspectos mais relevantes no processo de
desenvolvimento do adolescente. É aqui, que ocorrem as grandes modificações no seu
corpo. É fundamental que o adolescente se conheça a si e ao seu corpo, para isso, é
necessário Ter consciência dos perigos que o rodeiam. Foi com base na pertinência
deste tema, que desenvolvemos este capítulo, intimamente ligado aos comportamentos
de risco.
Agora que estabelecemos a relação entre a Sexualidade e de certa forma o grupo
(porque é aqui que se iniciam os primeiros contactos amorosos), parece-nos pertinente
fazer um breve apanhado dos factores que levam o adolescente aos comportamentos de
risco. Passaremos então a mencioná-los já a seguir.
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adolescente... Sendo assim, e como o passado explica muitas vezes o futuro, passaremos
a apontar alguns desses aspectos com a ajuda da obra “A criança dos 6 aos 15 anos”, de
Pierre Galimard, e a partir de uma acção de formação intitulada “Desenvolvimento da
criança e do adolescente”, que se realizou no centro de formação do SPGL, em
Santarém.
Como vimos anteriormente, os membros que constituem o grupo familiar criam
entre si, uma interdependência insaciável. Deste modo, qualquer problema que afecte
um dos seus membros, acabará por repercutir-se em todos os outros. São os problemas
que incidem sobre os pais de uma criança os que na generalidade vão afectar e intervir
na sua evolução psicológica, que se perpetuará ao longo de toda a sua existência.
Começando por ouvir, ver e sentir o que se passa em redor da criança. Parece-nos mais
fácil para entender como mais tarde se constatarão uma série de conflitos. Uma criança
de onze/doze anos que vive no dia-a-dia: conflitos familiares; que é maltratada (física e
psicologicamente),que não tem mãe ou pai (porque faleceram); que foi abandonada; que
é hiper-protegida; que não recebe o amor, carinho e atenção dos pais; que não estabelece
o diálogo entre familiares; que foi abusada sexualmente; que ora vive com a mãe ora
com o pai (em caso de divórcio); que é constantemente pressionada e inferiorizada pelos
irmãos; em que o baixo nível económico do agregado familiar a impede de viver
segundo as necessidades básicas de sobrevivência; que nasceu com alguma anomalia;
que seja rejeitada pelos pais e que viva constantemente no seio de um grupo familiar em
que o ambiente é doentio, pesado e insuportável, com o surgir da puberdade terá decerto
vários problemas. Para além de perturbações psicológicas terá uma enorme dificuldade
em aceitar o que a rodeia, ao ver que é diferente e sentindo-se, por isso, inferior.
Surgirão alguns traumas infantis bem como outros problemas próprios da adolescência
o que provocará ainda uma maior instabilidade e aceitação para o que a rodeia. O
adolescente, antes de mais, acaba por não aceitar aquilo que é, e rejeita-se. Rejeita-se
porque talvez antes tenha sido rejeitado no seio familiar, e isso faz com que ele se
culpabilize. “Tenho medo das pessoas, medo dos juízos dos outros, acho que não sou
como toda a gente, que não sou normal, que sou inferior aos outros.” O adolescente não
gosta do seu corpo, tem medo de engordar, olha-se ao espelho e sente ódio de si própria.
Neste período de descobertas e modificações que podem ser tão benéficas para o
adolescente, juntam-se-lhe a frustração; a incapacidade; a falta de confiança e o
surgimento de agressividade, violência, espirito de contradição... Para além da revolta
contra os pais, que é já facto para aumentar um conflito interior, junta-se a possível
revolta pela não aceitação do grupo juvenil, que seria o seu “deposito” de frustrações.
Deste modo, procura imitar o que está nos outros, tornando-se muito influenciável... Ou
imita, ou procura a originalidade e a excentricidade. Uma vez integrado no grupo e
identificando-se com ele, a fuga às responsabilidades torna-se um facto. O adolescente
exige liberdade que lhe é negada pelos pais o que provocará uma maior revolta. É a
necessidade de se expandir.
Todos estes factores, poderão levar o adolescente aos comportamentos de risco e
quem sabe, ao suicídio. Teremos oportunidade de abordar estes comportamentos de
risco no próximo capítulo.
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Os comportamentos de risco
O tabagismo
O tabaco é uma substância nociva a longo prazo. Embora não seja um vício que
leve ao extremo os actos de um adolescente, é bastante prejudicial. Cada vez mais , hoje
em dia, é habitual ver um jovem de cigarro na boca, mais drástico que o facto de fumar
em si, é vermos que os jovens iniciam esse acto cada vez mais cedo. Por vezes
encontramos crianças com apenas dez anos de idade a fumar. É um acto de
emancipação, a criança vê o adulto a fumar e tende a imitar para parecer mais velho.
Embora o tabaco não leve, propriamente a comportamentos de risco, faz diminuir as
capacidades mentais e físicas do indivíduo. Pode às vezes levar um adolescente sem
dinheiro a roubar para comprar tabaco. O tabaco provoca também dependência e pode
levar à morte, mas tudo isto a longo prazo.
O alcoolismo
O alcoólico
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O alcoólico sabe que bebe muito, mas não sabe por que bebe. Sabe somente que cada
manhã ao acordar, as náuseas e as tremuras o assaltam e constata que isso desaparece se
tomar uma bebida alcoólica. Face à incapacidade em que se encontra de resistir ao
chamamento do álcool e tratado como um culpado pelos que o rodeiam, julga-se mesmo
como tal, e sofre com esta situação. Anda à volta de um problema para o qual não
encontra saída senão o álcool. As chamadas de atenção, recriminações e ameaças não
resultam, aumenta o seu sofrimento e mais não fazem que lança-lo na sua solidão. Esta
solidão pode levar o indivíduo a “refugiar-se” na droga ou a suicidar-se.
Os jovens e a droga
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Tal como vimos atrás existem factores de grande importância na vida de um
adolescente. A família é apontada, muitas vezes como contributo ao mau estar do jovem,
sendo assim um factor que o leva a iniciar o seu culto tóxico. Factos como a ausência ou
insuficiente presença de um dos pais ou perturbações da comunicação no seio da
família, do tipo psicose, alcoolismo, relações intrafamiliares simbióticas, narcisistas ou
sadomasoquistas são frequentemente a causa do desvio do jovem. No entanto não é a
família a grande culpada deste comportamento na adolescência.
O jovem tende muitas vezes a ser exigente demais e a ser “egoísta” querendo que toda a
atenção lhe seja dirigida. Ao sentir-se “só” no mundo tende a Ter comportamentos
desviantes que chamem a atenção.
É talvez o grupo que tem a “função” de integrar um novo elemento no mundo da droga.
Um jovem tem tendência a unir-se sempre a um grupo, nem sempre o certo. Quando
tem problemas e não tem ajuda adequada, tende a isolar-se e marginalizar-se. Um jovem
não se mete no mundo da droga única e exclusivamente por causa dos seus problemas.
Hoje em dia, talvez o grande factor que leva um adolescente a meter-se na droga, seja a
curiosidade e o desejo de ser visto como membro activo de um grupo (considerado ,por
nós, de risco). “Começam a drogar-se por curiosidade, gosto de risco e aventura
próprios da idade” (Os jovens e a droga, colecção Projecto Vida).
Um toxicodependente cria um mundo muito próprio em que tudo e todos estão contra si.
Inicialmente começa com um cigarro de haxixe e acaba com uma seringa espetada no
braço. Ou porque acha que o haxixe já não é suficiente, ou porque é muito “in”, porque
os outros também já experimentaram, ele próprio, por mais que ache mal, experimenta
também substâncias mais fortes e nocivas, uma vez que também faz parte do grupo e
quer continuar a ser parte integrante dele. Em anexo encontram-se excertos de Os
Filhos da Droga, que nos impressionaram e mostraram algumas causas que levaram
uma jovem de doze anos a drogar-se e o início do seu percurso até à dependência.
Devemos preocupar-nos de facto com a toxicodependência no nosso país e dar um
passo em frente...
Os bairros degradados são os grandes poços na vida de um jovem toxicodependente.
Partilhamos da opinião de Daniel Sampaio em relação ao facto de o Dr. João Soares,
face ao problema da toxicodependência, Ter mandado derrubar o “Muro das
Lamentações” do Casal Ventoso, muro onde diariamente muitos se injectavam com
heroína. “Segundo o relato dos jornais, entrou no Casal Ventoso e mandou destruir o
muro onde diriamente muitos injectavam heroína, num terrível processo de destruição
que caminhava para o abismo aos olhos de todos nós. Ao proceder deste modo, mostrou
uma intenção face ao futuro e uma acção concreta desde já. ... Pela minha parte,
interessou-me a referência simbólica da acção e, desde já, declaro todo o meu apoio a
iniciativas do género.” São precisas iniciativas por parte de toda a sociedade. Primeiro é
necessário deixar de lado os preconceitos, depois prevenir e não menos importante é a
reinserção do toxicodependente na sociedade.
Talvez o principal factor que impede o toxicodependente de recuperar seja a barreira
que a sociedade lhe impõe. Por isso muitas das vezes a resolução do jovem dependente
é o suicídio.
A toxicodependência é de facto um comportamento de risco que provoca no indivíduo
tais alterações que o levam a outros comportamentos perigosos. Um jovem dependente,
normalmente, chega a um ponto em que o dinheiro que tem já não é suficiente para o
seu consumo diário, então arranja meios de conseguir o dinheiro que lhe falta. Os meios
adoptados pelo jovem não são de modo algum os mais indicados e correctos. Ou por
pensar que não tem capacidades para trabalhar, ou porque há meios mais fáceis de
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arranjar o dinheiro, um toxicodependente opta mesmo por não trabalhar honestamente.
O mais frequente é vermos jovens a roubar, tornando-se criminosos e a prostituírem-se.
Estes comportamentos levam a que essas pessoas sejam rejeitadas pela sociedade e
consequentemente que se sintam tão marginalizados a ponto, não e se recuperarem mas,
de se suicidarem.
O suicídio
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faz com que a sua participação na sociedade esteja perigosamente limitada. Por outro
lado, o adolescente poderá integrar-se demasiado no grupo de amigos, chegando a
comportar-se do mesmo modo que eles. Este aspecto não exclui que o jovem
influenciável demais, siga os mesmos passos que os seus semelhantes, levando-o a
seguir rumos tais como o tabagismo, alcoolismo e toxicodependência. Já numa fase de
dependência de drogas, o jovem, incapacitado de lhe fazer frente, poderá recorrer ao
suicídio. O mesmo aconteceu aos três jovens suicidas a três de Fevereiro de 1996:
“estavam viciados em heroína e andavam em tratamento. As cartas de despedida que
deixaram foram um apelo aos amigos e restantes jovens: deixem de consumir”.
Muitos jovens acalentam em segredo pensamentos de morte, desejem ou não suicidar-
se. O certo é, que alguns fazem-no - “confirmam a triste tese da morte libertadora para
muitos nobre, que tantas vítimas fez, e vai fazendo entre a juventude” (Helena Marujo).
Para esta psicóloga e segundo a observação de duas mil e duzentas crianças e
adolescentes, a depressão, enquanto infelicidade, expectativa negativa quanto ao futuro,
desalento em relação ao presente, desgosto em relação a si próprio, e desejo de morte é
um factor eminente social e que afecta os jovens suicidas portugueses. Helena Marujo,
diz-se confrontada no que se refere à atitude dos pais, a começar na família,
aproveitando as situações de erro, por parte das crianças, a tentativa de não reprimi-las e
culpabiliza-las parece-lhe fundamental “a atitude mais correcta, é dar a volta à situação,
levando-a a encontrar a melhor solução para o problema criado”. Deste modo, é uma
questão de aprendizagem no sentido da construção e transmissão de uma filosofia de
vida mais positiva.
Assim podemos concluir que todos os aspectos focados ao longo deste trabalho,
poderão ter como consequência o suicídio. As causas dos comportamentos de risco, e
esses mesmos comportamentos, parecem-nos ser as principais razões que levam ao
suicídio “fica um corpo que acabou, que acabou com tudo. A imagem que fica daquela
que morre é o vazio - é a causa para olhares parados e vontade de mudar de assunto”,
(Ferreira Fernandes – Crónica do Diário de Notícias).
Assim, esperamos ter abordado este tema da melhor forma possível e terminamos com
palavras de Camilo Castelo Branco também suicida: “Aceitem o facto como ele é,
aceitem a vida como a puderem fazer. Corrijam-na, corrigindo-se. Moldem-se às
situações, ainda as que mais desprezam. (...)Aceitem as dores ,a cegueira, as
deformações, as aberrações, o desespero, as perseguições, a desgraça, a fome, a desonra,
a degradação, tudo, tudo o que de mau, de injusto, os que rastejando em desprezo a terra
lhes possa dar, que são ainda coisas excelentes em desiludida comparação ao que de
melhor possam chegar, pelo caminho do suicídio”( prefácio da segunde edição
“palavras aos desgraçados”).
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Conclusão
20
Bibliografia
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Índice
INTRODUÇÃO 2A ADOLESCÊNCIA
3
A FAMÍLIA 3
CAUSAS E EFEITOS DA FAMÍLIA NA VIDA DOS ADOLESCENTES 3
Perda de um dos progenitores 3
Ruptura familiar: o divórcio 4
Lares desfeitos 4
Pais prejudiciais e má formação de consciência nos filhos 4
A revolta contra os pais 5
A família - conclusão 5
Puberdade 6
O LUTO DOS IMAGOS PARENTAIS 7
As identificações e o ideal do Eu 8
Jovens de grupos minoritários 8
O Grupo 9
O GRUPO FAMILIAR 9
A afirmação exterior do Eu 10
O Grupo Juvenil 10
A sexualidade na adolescência 11
Perder a virgindade 12
Gravidez na adolescência 13
O grupo familiar, o grupo juvenil, e os factores que levam aos comportamentos de risco 14
Os comportamentos de risco 16
O TABAGISMO 16
O alcoolismo 16
O alcoólico 16
Os jovens e a droga 17
O suicídio 19
Conclusão 21
BIBLIOGRAFIA 22