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Amanda Michalski1
RESUMO
Ao longo dos últimos três ciclos do PIBIC foram coletados dados sobre aumento da pecuária
no município de Porto Velho, atividade econômica que incidiu em modificação sócio-espacial
e um (re) ordenamento do território, refletido na ampliação do desmatamento e na pressão
em áreas de proteção ambiental, a exemplo da RESEX Jaci-Paraná e a T.I. Karipuna. No
ano de 2016 o estado de Rondônia apresentou mais de 13 milhões de cabeças de gado, em
que o município de Porto Velho, a capital do Estado de Rondônia, no mesmo ano
contabilizou mais de 900 mil cabeças de gado. Demonstrou, dessa maneira, o maior
quantitativo bovino entre os 52 municípios do Estado, e com uma expansão da produção
agropecuária para o norte de Rondônia. União Bandeirantes e Rio Pardo, ambos “distritos”
do município de Porto Velho apresentam aumento do rebanho bovino com relativa
significância, assim como elevado incremento do desmatamento. O recorte temporal
escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa refere-se aos anos entre 2000 e 2016,
com análise sobre o desmatamento dessas duas localidades, assim como no município e no
Estado.
ABSTRACT
During the last three cycles of GDPIC, data were collected on cattle raising in the
municipality of Porto Velho, an economic activity that focused on socio-spatial modification
and a (re) territorial planning, reflected in the expansion of deforestation and the pressure in
areas of environmental protection, such as RESEX Jaci-Paraná and TI Karipuna. In the year
2016 the state of Rondônia presented more than 13 million head of cattle, in which the
municipality of Porto Velho, the capital of the State of Rondônia, in the same year counted
more than 900 thousand head of cattle. In this way, it showed the largest bovine quantity
among the 52 municipalities of the State, and with an expansion of agricultural production to
the north of Rondônia. União Bandeirantes and Rio Pardo, both "districts" of the municipality
of Porto Velho, show an increase in the cattle herd with relative significance, as well as a
high increase in deforestation. The time cut chosen for the development of this research
refers to the years between 2000 and 2016, with an analysis of the deforestation of these two
locations, as well as in the municipality and in the State.
O presente texto refere-se ao plano de trabalho “Eixo 1 - Geografia da pecuária em Porto Velho:
expansão e desmatamento na região de União Bandeirantes e Rio Pardo”, do Projeto de Pesquisa
Globalização e espaço agrário em Rondônia: estudo sobre as transformações no espaço agrário de
Porto Velho, orientado pelo Professor Doutor Ricardo Gilson da Costa Silva.
1 Discente do curso de Geografia da Universidade Federal de Rondônia (bolsista-UNIR
1
INTRODUÇÃO
2
ao capital agropecuário na busca por uma maior integração com a comercialização
de commodities, elevando, assim, sua proximidade com o mercado globalizado.
O sul de Rondônia expressa um crescimento significativo em relação à
monocultura de grãos, principalmente milho e soja. Esse fato apresenta um
deslocamento da atividade da pecuária para centro e o norte rondoniense, tendo em
vista que essa atividade é exercida em grande parte por pequenos produtores ou
camponeses que, segundo Karl Marx (apud PONTES, 2005), praticam uma
economia mercantil de simples circulação de mercadorias, objetivada pela satisfação
de certas necessidades básicas e familiares (SILVA, 2016; MICHALSKI, 2018).
Quanto à relação do camponês com o capitalismo, Chayanov (apud FÉLIX,
2010, p. 9) afirma que o camponês atua em uma lógica diferente da reprodução do
capital, por conta da sua própria condição social. Portanto, torna-se um erro
examiná-lo estritamente a partir dos parâmetros produtivistas do capital. O
camponês não se baseia na lógica acumulativa capitalista, e sim na reprodução da
vida social.
José de Souza Martins (1986) declara que essa reprodução de vida se
espacializa pela terra, onde a mesma é trabalho e meio de produção por ser a base
para sua sobrevivência. Com isso a terra não expressa valor estritamente econômico
na relação camponesa. O campesinato forma uma categoria política que esclarece
as contradições do processo histórico, manifestam uma identidade, valores e
capacidades de organização social materializada por meio de conflitos. Essa
organização social se consolida devido às especificidades do organismo interno da
unidade de produção, diferenciando-os de outros trabalhadores rurais e urbanos,
isso porque atua com os elementos da força de trabalho familiar, conservação dos
meios de produção, mutualidade e forma de produção que contribuem com a
reprodução de sua família.
Na análise dos processos socioeconômicos e geopolítico da Amazônia,
Bertha Becker apresenta três referências sobre o campesinato:
3
da sociedade moderna, de organização do mercado de trabalho bem
como para a ampliação do mercado para produtos industriais e para
o crédito; 3) é necessário incorporar à análise outras condições
que não só a econômica, especialmente a correlação de forças
políticas e as condições culturais (BECKER, 2015 [1990] p. 272,
grifo nosso).
4
então legitimar a degradação ambiental, manifestada pelo desmatamento, ao alegar
atenção à circunstância socioeconômica nos novos processos de territorialização do
campesinato e das atividades produtivas do setor agropecuário e madeireiro, assim
como, legitimar a ação dos grileiros de terras públicas.
De acordo com Marcos Aurélio Saquet, Claude Raffestin em “Por uma
Geografia do Poder” contribui com o conceito de “territorialidade ativa, como forma
de organização política”. Nesse ponto de vista:
OBJETIVOS
5
MATERIAIS E MÉTODO
6
Balizados pelo método dialético junto à categoria de análise geográfica do
território usado, a metodologia estabelecida nessa pesquisa se refere à abordagem
qualitativa, quantitativa e descritiva. Por meio das diretrizes da abordagem
qualitativa e quantitativa analisou-se as bases estatísticas relacionadas com os
conceitos de transformações e uso do território. Para Oliveira (2004, p. 116):
7
fornecidos são apresentados a “Estratificação Quantitativa de Bovinos nas
Propriedades” e a “Estratificação Fundiária das Propriedades”.
A ressalva que faremos se refere ao fato de que só existe dados da produção
pecuária dessas localidades de 2007 até o ano atual (2018). Dessa forma,
apresentamos a análise dos dados da pecuária referentes aos anos de 2007 a 2016.
A tabulação desses dados ocorreu por meio do uso do software Excel, em que foram
tabulados e elaborados os gráficos.
Para a análise do desmatamento no município de Porto Velho, e nas
localidades de União Bandeirantes e Rio Pardo, foram coletadas informações no
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, por meio do programa PRODES,
o Sistema de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia Legal.
Por meio do catálogo de imagens do INPE e do Google Earth PRO, utilizou-se
imagens dos satélites LandSat 5 e 8, trabalhadas no software ArcGis 10.3, o que
contribuiu com a elaboração de mapas que demonstram o desflorestamento na área
deste estudo.
8
União Bandeirantes inicia seu processo ocupação por meio da ação do
Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA que buscou assentar 700
famílias sem terras ligadas ao Movimento dos Sem-Terra (MST). Assim
disponibilizou 104 mil hectares da Gleba Jorge Teixeira de Oliveira para a criação da
Vila de União Bandeirantes (VITACHI, 2015). No mapa 01 podemos observar a
localização de Rio Pardo e União Bandeirantes.
9
lugar. Em 2016 a mesma ocupava o primeiro lugar no ranking de terras indígenas
ameaçadas e, em quarto lugar, nas que sofreram pressão no ano de 2017. No ano
de 2016 ocupava o segundo lugar do ranking (IMAZON, 2017). Nas figuras 01 e 02
podemos identificar esses dados.
10
Além da fronteira com a TI Karipuna, União Bandeirantes também faz
fronteira com a Reserva Extrativista Jaci-Paraná, apresentada no mesmo estudo do
SAD 2017 como a terceira área protegida que mais sofre pressão na Amazônia
Legal, mantendo sua posição em relação ao ano de 2016. Em relação ao risco de
ameaça, a RESEX Jaci-Paraná, em 2017, ocupava a posição oitava (8ª) nesse
mesmo ranking. Em 2016 estava em nona posição (9ª). A FLONA do Bom Futuro é
apresentada na relação das Unidades de Conservação Federais quanto a unidade
mais ameaçada, perfazendo a nona (9ª) posição no ano de 2017 e, em 2016, estava
ocupando a sétima colocação.
Na relação das áreas que mais sofrem pressões, a FLONA aparece em
sétima posição no ano de 2017 e no ano de 2016 ocupava a décima quarta
colocação (IMAZON, 2017). As figuras 03 e 04 mostram essas informações.
11
Figura 04: Análise do SAD 2017 e 2016 – UC Federais pressionadas
Fonte: IMAZON (2017)
Disponível em: imazon.org.br
12
Gráfico 01: UNIÃO BANDEIRANTES - relação das propriedades
estratificadas com a produção da pecuária existente nelas
13
Em 2015, as médias propriedades cresceram em quantitativo bovino o
equivalente a 76% em relação ao ano de 2014. Demonstra-se, assim, 96% de
aumento produtivo na soma das suas 170 unidades. O percentual de aumento no
número de médias propriedades, nesse recorte temporal, representa 85% de
crescimento. Ao analisar as informações, entende-se um processo de concentração
de terras. Mas veremos essa análise na estratificação da área total destinada as
pequenas, médias e grandes propriedades em União Bandeirantes.
Em número de propriedades e total produzido ao longo dos anos analisados
as grandes propriedades, representadas pelo estrato com mais de 1.000 cabeças de
gado cada, aparecem em números mínimos, representando 1% (um por cento) tanto
do número de propriedades, quanto da produção de União Bandeirantes.
Em contribuição com a análise do gráfico 01, que demonstrou uma expressiva
territorialização do campesinato por conta do número de propriedades,
apresentamos o gráfico 02 com a estratificação da área das propriedades
estratificadas de União Bandeirantes.
14
O gráfico anterior afirma que desde o início da coleta de dados pela IDARON,
em 2007, a pequena propriedade (até 240 ha em Rondônia) se expressa,
significativamente, na forte presença do campesinato em União Bandeirantes.
Segundo o INCRA, os imóveis rurais se classificam em: minifúndio, com área
menor que 01(um) módulo fiscal; pequenas propriedades, que somam de 1 (um) a 4
(quatro) módulos fiscais; médias propriedades, com áreas entre 04 e 15 módulos
fiscais e grandes propriedades que apresentam áreas acima de 15 módulos fiscais.
Ressalta-se que cada município apresenta um valor definido em hectares por
módulo fiscal, segundo a lei 8.629/1993. Em Rondônia 1 (um) módulo fiscal
corresponde a 60 hectares. Na tabela 01 podemos observar a estratificação
referente ao de 2016 em União Bandeirantes.
15
camponês apresenta pouca área destinada a sua produção. Essas propriedades
produziram cerca de 53% do total da pecuária de União Bandeirantes ao longo dos
anos analisados. As médias propriedades com áreas entre 4 e 15 módulos fiscais
produziram 44% neste mesmo período, com uma concentração de área entorno de
5% e representam aproximadamente 9% do total de propriedades com pecuária em
União Bandeirantes.
As grandes propriedades, que no gráfico (02) e na tabela (01) demonstram
maior concentração de áreas em hectares, apresentando por volta de 74% da área
destinada a produção da pecuária, registraram uma produção de 3% ao longo da
década estudada e 0,11% do total de propriedades, ou seja, considerando que as
pequenas propriedades não dispõem de tantas áreas, além de demonstrar o
potencial produtivo do campesinato em União Bandeirantes, exprime a grande
concentração de terras em uma localidade que surgiu com a finalidade de assentar
famílias sem terra!
A seguir serão demonstrados os dados da pecuária do distrito de Rio Pardo.
A metodologia de análise foi a mesma efetivada para os dados de União
Bandeirantes. Iniciaremos com a análise do gráfico 03, que apresenta informações
referente a relação do número de propriedades com o número da produção, com
base na estratificação das propriedades (pequena, média e grande). Assim, o gráfico
expressa as pequenas propriedades, sendo elas as que possuem até 200 cabeças;
as médias propriedades com até 1.000 cabeças de gado; e as grandes propriedades
com mais de 1.000 (mil) cabeças de gado.
16
Gráfico 03: RIO PARDO - relação das propriedades estratificadas com a produção
da pecuária existente nelas
17
Em terceiro lugar observamos as propriedades com mais de mil (1.000)
cabeças de gado, que representam a grande propriedade com mais de 15 módulos
fiscais no distrito de Rio Pardo. Esse estrato revela que a soma dessas unidades
não chegam a 20 propriedades ao longo dos dez anos analisados, mas expressam
um aumento produtivo de aproximadamente 80% nesse período de dez anos. A
média anual de produção do rebanho bovino das grandes propriedades fica entorno
de 11 mil cabeças de gado. A sua participação na composição do rebanho bovino
total no ano de 2016 foi de 15%.
A evolução dos dados neste gráfico expressa que as pequenas propriedades
sempre se mantiveram em maior número na localidade de Rio Pardo. A partir do ano
de 2011 o aumento das propriedades, de ambos os estratos, com pecuária se
elevou de forma gradativa, registrando em 2016 um crescimento de 83% em relação
ao ano de 2007. O gráfico (04), a seguir, expressa a estratificação fundiária das
propriedades do distrito de Rio Pardo relacionando a área destinada com o número
de propriedades da pecuária nesse distrito.
Gráfico 04: RIO PARDO - relação da área total das propriedades estratificadas com
o número de propriedades existentes
18
O gráfico anterior apresenta estratificação das imóveis rurais do distrito de Rio
Pardo. Conforme já mencionado, o número que se sobressai nesse distrito refere-se
às pequenas propriedades. Mas em relação à área ocupada por essas propriedades,
essa taxa não reflete nem ao menos 20 mil hectares
Outro fator que se deve notar é o aumento significativo de propriedades em
geral, relacionadas aos anos de 2010 e 2011. Assim como os dados apresentados
anteriormente, nesses anos se evidencia um salto equivalente a mais de 60% de um
ano para o outro.
Nas páginas iniciais deste relatório foi descrito a alteração na delimitação da
área da Floresta Nacional do Bom Futuro, que em 2010 perdeu em extensão
territorial o equivalente a 183 mil hectares. Apesar de o Estado apresentar várias
outras alegações para induzir e acelerar o processo de redução da FLONA do Bom
Futuro, os dados apresentados neste relatório apontam que essa redução legitimou
a ocupação irregular de algumas das propriedades rurais do distrito de Rio Pardo,
haja vista que elas impactaram na degradação ambiental da FLONA Bom Futuro.
Essa legitimação assegurou a certificação do rebanho dessas propriedades, para
que de fato ele fosse contabilizado na economia do Estado.
Houve certo receio sobre a informação fornecida referente ao ano de 2011,
mas ao questionar a ULSAV de Rio de Pardo e analisar as informações 30ª e da 31ª
etapa de vacinação para o combate contra a febre aftosa, a informação condiz com
a verdade relatada no ano de 2011. Sobre esse salto registrado apenas no ano de
2011, constatamos uma elevação de 95% da área destinada às propriedades com
mais de mil hectares. Chama muito a atenção na redução dessas áreas em relação
ao ano posterior – 2012 – correspondendo a 93% de redução. Na tabela 02
podemos observar esse a análise dessa estratificação referente ao ano de 2016.
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Tabela 02: Estratos das propriedades rurais em União Bandeirantes
20
Gráfico 5: Propriedades em União Bandeirantes e Rio Pardo
(2007 e 2016)
1,600
Número de propriedades (UND)
1,400
1,200
1,000
2007
800
2016
600
400
200
-
Pequena média grande Pequena média grande
propriedade propriedade propriedade propriedade propriedade propriedade
(1 a 4 MF) (4 a 15 MF) (acima de (1 a 4 MF) (4 a 15 MF) (acima de
15 MF) 15 MF)
Rio Pardo União Bandeirantes
21
Gráfico 6: Área da pecuária em Rio Pardo e União Bandeirantes em 2016.
Áreas da pecuária nos imóveis rurais
400,000
350,000
300,000
Hectares
250,000
200,000
150,000
100,000
50,000
-
Grande Grande
Pequena Média propried Pequena Média propried
propried propried ade propried propried ade
ade (1 a ade (4 a (acima ade (1 a ade (4 a (acima
4 MF) 15 MF) de 15 4 MF) 15 MF) de 15
MF) MF)
Rio Pardo União Bandeirantes
2016 7,514 33,877 24,255 100,451 18,940 378,483
Fonte: ULSAV União Bandeirantes e de Rio Pardo
Elaborado por Amanda Michalski em julho de 2018
22
Para Graziano Neto (1982, p. 44) na agricultura brasileira é difícil separar a
questão agrícola da questão agrária. Para ele elas são inter-relacionadas, pois a
partir do momento em que o Estado articula um uso do território voltado apenas à
questão agrícola, existe a tendência do agravamento da questão agrária. Portanto, o
forte aumento da produção de grãos no sul do estado de Rondônia relaciona-se a
forma como a gestão pública articula os incentivos voltados à questão agrícola
estadual (COSTA SILVA et.al, 2017). A expropriação do camponês, vindo do sul de
Rondônia, territorializado em União Bandeirantes e Rio Pardo são justamente a
expressão dos problemas da questão agrária em Rondônia.
Essa articulação de políticas de Estado/Capital que incentivam a valorização
e desvalorização de terras na Amazônia, estimulando o cultivo de monoculturas e a
abertura de novas áreas destinadas à pecuária extensiva, reforça a expansão
agropecuária que contribui com o aumento do desmatamento (RIVERO et al, 2009).
Além da subjugação do campesinato, a questão ambiental também padece do
resultado dessas dialéticas das relações no campo. Veremos no próximo item o
resultado do impacto ambiental da pecuária para o município de Porto Velho.
23
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais
e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a sua supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa integridade dos
atributos que justifiquem a sua proteção;
[...]
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente (BRASIL, 1988, grifo
nosso).
10,000 800
9,000 700
8,000
600
Incremento em Km2
7,000
6,000 500
5,000 400
4,000 300
3,000
200
2,000
1,000 100
- -
Desmatamento Incremento
24
Segundo as informações do gráfico 7, Porto Velho registrou no ano de 2016
cerca de 9.457 Km2 de área desmatada acumulada entre os anos de 1990 a 2016.
Um percentual de aumento correspondente a 59% de acréscimo em relação ao
período de 2000 a 2016.
O ano de 2005 registrou um desmatamento acumulado de 6.546 km2 com um
incremento da área desmatada, nesse mesmo ano, de 660 km2. Esse incremento
exibe valor menor que o registrado em 2004, que indicou 761 km2. Após esses dois
anos o incremento passou a regredir, mantendo taxas de incremento de 1%, o
equivalente a 300 km2 de desmatamento por ano.
25
São Félix do Xingu apresenta um crescimento do quantitativo bovino de 68,98% na
relação entre o ano de 2000 a 2016. No mapa 02 podemos observar a
espacialização da pecuária e do desmatamento na Amazônia legal.
O mapa 02 reflete a correlação das variáveis escolhidas para análise dessa
pesquisa, ou seja, onde ocorre produção pecuária, ocorre também o desmatamento,
sendo ela compreendida como o “peão do tabuleiro” que o agronegócio usa para
disseminar sua expansão, assim como o Estado e outros sujeitos imbricados ao
modelo de produção capitalista, agem como outras peças desse mesmo quadro,
juntos organizam a (re) estruturação do território visando o “xeque-mate”.
Nesse caso, isso se reflete nas variáveis do uso território compreendidas por
esses sujeitos, um “uso” que negligencia formas diferentes de reprodução de vida;
“uso” que transfere a culpa à natureza e incentiva a desigualdade social.
Ainda neste mapa percebe-se claramente a área conhecida como “Arco do
Desmatamento” ou “Arco de Fogo”, ou ainda, segundo Bertha Becker (2005),o “Arco
do Povoamento Consolidado”. A autora afirmava que essa denominação é a mais
apropriada para a região amazônica, isso porque nessa área se localiza as cidades
com maior densidade econômica da agropecuária na região. Além de considerar que
as demais denominações prejudicam as políticas públicas que podem/devem ser
incorporadas nessa região. Becker defendia que pelo fato desse arco ser
responsável pela maior produção agropecuária do Brasil, se deveria/deve-se adotar
nova maneira de pensar a relação dialética instaurada na Amazônia Legal.
Consideramos que Becker tem razão pelo fato de que não há como retornar
ao meio natural devido à consolidação demográfica e a máxima incorporação da
agropecuária. Devemos salientar, assim como a autora mesmo cita, o terceiro ponto
a ser considerado no sujeito do campesinato atual, “a força política”, que reflete o
conceito de Claude Raffestin, esclarecido por Saquet (2017) conforme já
mencionado anteriormente, de “territorialidade ativa”. Essa territorialidade busca
explicar as múltiplas territorialidades que interagem e potencializam organizações
políticas em busca do desenvolvimento e autonomia de grupos sociais. Essa
territorialidade ativa do camponês acaba sendo subjugada e muitas vezes suprimida
em favor estritamente da questão econômica.
26
Devemos, a partir de agora, apresentar as modificações no espaço agrário
portovelhense, sendo essas transformações: a abertura de novas áreas para
atender ao deslocamento da pecuária e o seu aumento no efetivo bovino, por conta
desse novo fluxo socioeconômico. No mapa 03 observaremos a área foco dessa
pesquisa, com base no Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica
Brasileira por Satélites - PRODES, demonstrando o acumulado do desmatamento
entre os anos 2000 e 2005.
27
Mapa 04: Desmatamento PRODES acumulado de 2005 a 2016 - União
Bandeirantes e Rio Pardo
28
ameaça e as pressões nos limites das áreas protegidas (COSTA SILVA et. all.,
2017).
Para André Lima (2008) o zoneamento deve ser entendido como um
instrumento da gestão ambiental e territorial, portanto, uma ferramenta no
planejamento socioeconômico e ambiental estratégico, que identifica as
vulnerabilidades do território, realizando um levantamento dos conflitos sociais
existentes e potenciais, as alternativas de uso econômico dos recursos naturais e de
ocupação do território. Ainda segundo o autor (2008), esse instrumento deve
colaborar com o ordenamento territorial, incentivo às atividades econômicas, o
manejo dos diversos ecossistemas na busca por maior rendimento econômico, além
de promover o maior acesso possível dos benefícios dos recursos naturais às
pessoas. E contribui com os sistemas ecológicos primordiais à eficácia de
regeneração dos ecossistemas naturais.
De maneira simplificada o zoneamento deve realizar levantamentos a respeito
da geologia, geomorfologia, vegetação e do solo, respeitando o que já está ocupado
e por fim, com base nesses aspectos atender aos interesses políticos. Em Rondônia
fica explícita a inversão dessa sequência, pois se evidencia a primazia dos
interesses políticos. Ressaltando que esses interesses são na verdade referentes as
relações econômicas que subjugam grupos sociais e o meio ambiente
No mapa 05 podemos observar como se configura o atual ZSEE de
Rondônia. Deve-se ressaltar que esses dados ainda não foram publicados pelo
Governo Estadual, mas a Secretaria de Estado e Desenvolvimento Ambiental
(SEDAM) forneceu informações para serem publicadas. No mapa 6 será exposto
como era a classificação desse instrumento, antes da lei de modificação do
Zoneamento Socioeconômico Ecológico do Estado.
29
Mapa 05: ZSEE com a LEI 308/2004
30
Mapa 06: ZSEE/ RO antes da Lei 308/2004
31
escalas. Essas escalas geográficas podem ser sociais, ambientais e econômicas, da
qual a última serve como norteadora para se gerenciar as demais. O próximo mapa
07 quantifica o desmatamento em União Bandeirantes e em Rio Pardo.
32
desmatamento está registrado também na RESEX Jaci-Paraná, assim como nos
limites antigos da FLONA do Bom Futuro.
A presença do agronegócio promove o deslocamento da fronteira agrícola em
Rondônia, assim como na Amazônia, o que contribuiu com “conflitos agrário-
territoriais”. Percebe-se a apropriação e a dominação do território pelo capital
globalizado e sua influência nas ações políticas que tendem a redução e extinção de
áreas protegidas, sejam unidades de conservação ou terras indígenas (COSTA
SILVA, 2017, p. 17706).
Essa força hegemônica que atua sobre o uso das variáveis do uso do
território, promove a generalização desse uso, com isso queremos nos referimos as
políticas de Estado que se aplicam à apenas um tipo de uso, negligenciando povos e
comunidades, Invisibilizando as múltiplas escalas territoriais, ou múltiplos usos de
territórios, ou seja, negando as territorializações ao impor somente uma, a do
agronegócio. O que contribui com a “problemática do desenvolvimento desigual
entre pessoas, grupos sociais, lugares, regiões e países” (SAQUET, 2017, p. 42 e
44).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste último ciclo do PIBIC (2017/2018) foi possível analisar e reavaliar a
caminhada acadêmica e dos ciclos anteriores. Reforçamos a enorme relevância do
programa, que contribui com formação de jovens pesquisadores que poderão
contribui com a sociedade de maneira geral. Finalizo esse processo junto à
conclusão do curso em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia. Foram
cinco anos de graduação (licenciatura e bacharelado), em quatro deles estive
envolvida com a pesquisa científica básica.
Quanto à pesquisa, consideramos que a análise dos dados contribuiu com
pelo menos 90% dos objetivos propostos. Entre eles, analisar a evolução do
desmatamento e da pecuária entre os anos 2000 e 2016 nos distritos de União
Bandeirantes e Rio Pardo. Além de analisar as formas que o Estado cria para
promover novos ordenamentos territoriais.
Portanto, constatamos que a pecuária se efetiva nos distritos analisados e,
conforme mencionamos ao longo da discussão dos resultados, registra forte
33
territorialização do campesinato, descrito nas pequenas propriedades com até 240
hectares. Por meio dessas análises, identificamos no distrito de União Bandeirantes
a maior produção e maior quantidade de propriedades.
Quanto à área destinada a essas pequenas propriedades do campesinato em
União Bandeirantes e Rio Pardo, elas não somam nem a metade da área destinada
às médias e grandes propriedades. Revela-se a expansão do modelo de
concentração de terras, fator que indica o problema da questão agrária brasileira.
Ressalta-se que essas ocupações contribuíram com a modificação da legislação
ambiental, ao reduzirem áreas ambientalmente protegidas para a legalização da
produção agropecuária nelas exercida.
Essa articulação mostra a tendência do uso do território que o Estado busca
para gerenciar novos arranjos territoriais. Infelizmente, a questão ambiental passa a
ser disseminada como algo que anda na contramão do “desenvolvimento” estadual.
Em todo caso não consideramos o pequeno produtor o responsável pela
degradação ambiental apresentada nesses distritos, por que se destina a gestão
pública. A gestão nesse caso é quem incentiva os arranjos e desarranjos territoriais,
sempre ancorados pelo modelo econômico que gera desigualdades
socioeconômicas e os conflitos nas relações sociais e ambientais.
Organização de evento:
34
Artigos publicados e/ou enviados para eventos
IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária- SINGA2017. Análise Geográfica
dos impactos das políticas, públicas incorporadas no meio rural no município
de Porto Velho (2017);
X Seminário Temático da Rede Internacional CASLA-CEPIAL,
2018. A descaracterização do meio natural em “prol” do avanço da
pecuária bovina: relação entre o aumento do rebanho bovino e o
aumento do desmatamento no município de Porto Velho-RO
(2018);
II Congresso Internacional DHJUS – Direitos Humanos, Acesso à
Justiça e Tecnologia – Direitos TECH, 2018. Frentes de expansão
ou de Invasão: a violência contra o camponês na estrutura agrária
em Rondônia, 2018. (Enviado e aceito para ser apresentado no II
Congresso Internacional DHJUS 2018/ acontecerá entre os dias 08
e 10 de agosto)
Demonstrativo da pecuária na Amazônia rondoniense. Encontro
Nacional de Geografia Agrária – ENGA (2018).
Capítulo de Livro publicado / Boletim
35
REFERENCIAS
BRASIL. Lei nº 12.249 de 11 de junho de 2010, no art. 113. São alterados os limites
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