Filipe Frazao/Shutterstock.

com
A hora do voto
Em um período de incertezas, a conscientização pode ser
o caminho para oferecer um futuro certo ao Brasil?

Política se discute?
Nos dias que antecedem as eleições presidenciais,
os debates se intensificam, mas será que
são sempre construtivos?

Democracia na era digital

De que forma a internet e as redes sociais mudaram o
Edição modo de pensar e discutir política.

08
Set–2018
Carreira: Ciência Política
Descubra os detalhes da carreira que analisa
e planeja o conjunto da sociedade em busca
de uma política mais eficaz e abrangente.
 Nesta edição

7 ENTRELINHAS
POLÍTICA SE DISCUTE?
E x p e d i e n t e Com a proximidade das eleições, os debates políticos são intensificados,
cabendo ao leitor buscar ferramentas para que as discussões sejam construtivas
e estar disposto a ouvir opiniões diversas.

9
CONTEXTO
Direção geral POLÍTICA NO SÉCULO XXI: DEMOCRACIA E CIBERESPAÇO
A política faz parte da vida em sociedade e, ao longo da história, foi alvo de
Nicolau Arbex Sarkis
estudos e transformações; nos dias atuais, vive uma nova
dinâmica com a era digital.
Gerente editorial
Emilia Noriko Ohno 12 ENTREVISTA
CIÊNCIA POLÍTICA
O curso mostra que a cidadania é muito importante para a
Coord. de projetos editoriais qualidade de vida da população.

Brunna Mayra Vieira da Conceição Editorial

Edição / Texto A hora do voto

D
Anaiza Castellani Selingardi
entro de poucos dias, os brasileiros retornarão às urnas para eleger
Bruno Freitas
seus representantes nas esferas federal e estadual, no Executivo e no
Cláudio Leyria Legislativo. Em época de eleições, surgem as campanhas e conselhos
Edilene Faria para que o eleitor utilize bem seu direito e vote com responsabilidade.
Letícia Mariane da Silva Paiva Porém, a destacada polarização nacional torna a cena ainda mais complexa.
A ordem predominante é convencer os eleitores a demonstrar mais empatia com
Thaís Inocêncio
as opiniões diferentes. Essa é uma missão que tem se mostrado difícil, pois, se já
é uma atividade pouco frutífera pedir às pessoas que respeitem uma preferência
Projeto gráfico contrária, imagine fazer um apelo para que se observem diversos lados da
Willyam Gonçalves situação. Seria pedir demais? A postura do povo brasileiro, verificada pelos
inúmeros exemplos nas redes sociais, mostra que é pedir demais, sim. Tendo
como base esse cenário de discussões políticas intensas, esta edição do Leia
Revisão Agora oferece um material diversificado para que se possa refletir sobre ideias e
Vivian Prado de Souza comportamentos que orbitam as eleições, o objetivo principal é pensarmos no
Carolina Genuncio futuro do país com mais consciência.
A seção “Entrelinhas” traz exemplos de textos que sugerem essa busca por
elementos que originem discussões construtivas e respeitosas. No “Contexto”, o
Diagramação
leitor descobrirá que não podemos viver civilizadamente sem a política e que as
Débora Guedes ferramentas tecnológicas têm a capacidade de melhorar muito o entendimento
dessa constatação, ao mesmo tempo em que podem prejudicar ainda mais o jogo
Licenciamento democrático.
Em “Entrevista”, o leitor vai conhecer o curso de Ciência Política e aprender que
Jade Cristina Bernardino
a cidadania é muito importante para melhorar a qualidade de vida da população.
Por isso, é atribuição do cientista político entender como se processam as
variantes de comportamento da sociedade, esteja o profissional a serviço de um
órgão público ou de uma empresa privada.
O “Parêntese” traz informações pertinentes sobre a atual presença das
mulheres na política. E, na seção “Mosaico Cultural”, é possível encontrar dicas
de documentários, filmes, livros e passeios ligados à cidadania e, principalmente,
uma boa dica para conhecer a fundo a história da democracia no Brasil.
Fechando a edição, o “Extra” nos apresenta uma reflexão sobre as eleições.
Boa leitura!
Equipe Leia Agora

2
 Com 43 mortos, Itália encerra buscas
// NOTÍCIAS EM FOCO
após queda de ponte em Gênova
A busca por desaparecidos após o desmoronamento
de uma ponta na cidade portuária de Gênova, na Itália,
terminou ao longo da noite, após serem encontrados
os três últimos corpos, levando o total de mortes
a 43. Um trecho de 200 metros da ponte Morandi
desmoronou terça-feira, de uma altura de 50 metros.
19 ago. 2018 – UOL
Vale lembrar!
Ponte desaba na Itália e deixa ao menos 26 mortos
Leia em: <https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/
2018/08/14/video-mostra-momento-em-que-ponte-desaba-
em-genova-na-italia.htm>.
Sobe para 400 número de mortos
por inundações na Índia
O balanço de mortos das piores inundações em um
século no estado indiano de Kerala aumentou para 400 –
anunciou o governo, acrescentando que as perdas em
infraestrutura estão estimadas em US$ 3 bilhões. Esta
região turística sofre com as chuvas desde o final
de maio.
20 ago. 2018 – O Globo
Justiça diz que menores de 14 anos
podem visitar exposição Queermuseu
A Justiça do Rio de Janeiro determinou que menores
de 14 anos podem visitar a exposição Queermuseu
– Cartografias da diferença na arte brasileira, que foi
reaberta no sábado (18) na Escola de Artes Visuais
(EAV). No dia da abertura, o juiz de plantão, Pedro
Henrique Alves, concedeu uma liminar proibindo
a entrada de menores de 14 anos, mesmo que
acompanhados por seus responsáveis. No mesmo
dia, os advogados da EAV entraram com um agravo
de instrumento para derrubar a decisão.
21 ago. 2018 – Agência Brasil
Vale lembrar!
Queermuseu reabre no Rio, sob protesto conservador
Leia em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-08/
queermuseu-reabre-no-rio-sob-protesto-conservador>.
Brasil
Ciências
Educação
Cultura
Internacional
Cidadania
Saúde
Exposição em SP reúne produção
artística feminina da América Latina
Com mais de 280 trabalhos de 120 artistas, a
exposição Mulheres Radicais leva para a Pinacoteca
de São Paulo uma amostra da produção feminina
da América Latina entre 1960 e 1985. Segundo as
curadoras, Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta, o
recorte abrange um período decisivo na construção
da arte contemporânea e na representação do
corpo feminino. Nessas décadas, artistas pioneiras
desenvolveram investigações que desafiaram as
classificações dominantes a partir do entendimento
do corpo como campo político.
18 ago. 2018 – Agência Brasil
Exército diz que 1,2 mil venezuelanos
saíram do Brasil após violência
Cerca de 1,2 mil venezuelanos cruzaram de volta
a fronteira do país com o Brasil, após os incidentes
de ontem (18) em Pacaraima, em Roraima, quando
moradores da cidade atacaram barracas e abrigos
dos imigrantes, inclusive ateando fogo, depois que
um comerciante local foi assaltado e espancado. De
acordo com as autoridades locais, não há registro de
feridos entre os imigrantes. O comerciante brasileiro
que sofreu uma tentativa de assalto, supostamente por
um grupo de venezuelanos, permanece internado em
Boa Vista, e seu estado de saúde é estável.
19 ago. 2018 – Agência Brasil
OMS alerta para recorde de casos de
sarampo na Europa
Mais de 41 mil pessoas na Europa foram infectadas
pelo sarampo nos primeiros seis meses deste ano,
segundo alerta emitido hoje (20) pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). O número ultrapassa o total
registrado ao longo de 12 meses em todos os últimos
anos desta década. Até então, o maior número de
casos entre 2010 e 2017 havia sido identificado no
ano passado, quando foram contabilizadas 23 927
infecções. Os dados mostram ainda que pelo menos
37 pessoas morreram este ano por causa da doença.
20 ago. 2018 – Agência Brasil
3
// NOTÍCIAS EM FOCO Dos 27,4 mil registros de candidaturas,
8,4 mil são de mulheres
As candidaturas femininas nas eleições de outubro
chegam a 30,7%, o equivalente a 8 435, do total de
27 485 pedidos de registros encaminhados ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). O Centro-Oeste é a região com
maior percentual 31,14%, depois o Sudeste (31,02%),
Sul (30,84%), Nordeste (30,30%) e Norte (29,75%). Pela
legislação, 30% é o percentual mínimo de candidaturas
do sexo feminino por partido. Em 2014, as mulheres
representavam 8,1 mil, ou 31,1% das candidaturas.
18 ago. 2018 – Agência Brasil
Eleições: em quem mesmo eu votei?
Uma pesquisa divulgada em janeiro de 2018, pelo
instituto Idea Big Data, a pedido do Woodrow Wilson
Center, dos Estados Unidos, indica que 79% dos
brasileiros entrevistados não se recordam em quem
votaram para deputado federal e senador na última
eleição. Ou seja, oito em cada dez eleitores não
se lembram em quem votaram para o Congresso
Nacional em 2014.
30 ago. 2018 – Uol
7 de cada 10 alunos do ensino médio
têm nível insuficiente em português e
matemática
Sete de cada dez alunos do 3º ano do Ensino Médio
têm nível insuficiente em português e matemática.
Entre os estudantes desta etapa de ensino, só
cerca de 2% têm conhecimento avançado nestas
disciplinas. É o que mostram os dados do Sistema
de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017
divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) nesta
quinta-feira (30).
30 ago. 2018 – G1
Brasil tem 147,3 milhões de eleitores
Aumento é de 3,14% desde 2014
Eleitores em:
147 302 354
142 822 046
Brasil
Ciências
Educação Eleitores de:
2014 2018
Cultura
1 400 617
8 178 796
Internacional
Cidadania
16 e 17 18 a 20
Saúde anos anos
*Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 2 set. 2018.
Nasa quer voltar à Lua – e fazer dela
um hub para viagens espaciais
A Nasa, agência espacial americana, está planejando
um salto gigantesco para a humanidade: a volta à Lua,
não apenas para pisar no satélite natural da Terra, mas
para fazer dele uma base fixa para viagens espaciais
mais longas. Nesta semana, a agência anunciou não
só o interesse em mandar uma missão tripulada à Lua
até o fim da década seguinte, como também detalhou
o ambicioso projeto de construir uma estação espacial
orbitando o satélite, chamada de Orbital Platform
Gateway.
30 ago. 2018 – BBC
USP terá curso gratuito para meninas
que querem se tornar cientistas
Meninas que sonham ser cientistas contam agora
com o incentivo de um grupo de pesquisadoras e
cientistas de São Paulo. É o projeto “Meninas com
Ciência – 2ª edição SP: de mulheres cientistas para
meninas que sonham” que pretende levar meninas
entre o 5º e o 9º ano do Ensino Fundamental para
a área científica. “O objetivo é incentivar a inserção
de mulheres nas ciências, humanizar a figura de
uma cientista, inserir a importância das ciências na
formação dessas meninas e também para o desen-
volvimento do país”, explicou a coordenadora do
evento, Camila Negrão Signori, professora doutora
da Universidade de São Paulo (USP) e atuante na
área de Oceanografia Microbiana.
19 ago. 2018 – Agência Brasil
Alexander Mak/Shutterstock.com
Onde os eleitores estão:
em 5 550 municípios do
Brasil e em 171 localidades
de 110 países
Eleitores no exterior:
Direitos políticos suspensos:
1 409 774 eleitores
500 727
não podem votar nem se
354 184
candidatar este ano.
2014 2018
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
4
 Aretha Franklin, 'Queen of Soul', dies aged 76

Aretha Franklin, the “queen of soul” known for hits like Respect and Think, has died in Detroit at the age of 76.
The legendary singer was diagnosed with cancer in 2010 and announced last year she was retiring from music.
Franklin won 18 Grammys, and had 17 Top Ten US chart hits over a music career spanning seven decades. The
star gave her final performance last November at a gala in New York held in aid of the Elton John Aids Foundation.

16 ago. 2018 – BBC

BBC
LONDRES

El País
MADRID

El Departamento de Justicia de EE UU acusa a

Harvard de discriminación racial

El Departamento de Justicia se pone del lado de los estudiantes asiáticos-americanos que demandaron a la Universidad
de Harvard por discriminación racial en el proceso de admisión. En la opinión hecha pública este jueves se cuestiona la
legalidad de las prácticas que sigue la prestigiosa institución estadounidense para facilitar el acceso de otras minorías, al
considerar que crean una desventaja y refuerza estereotipos. El organismo defiende que se sigan en el proceso de selección
de las solicitudes métodos que sean neutros y centrados en los méritos de los estudiantes.

30 ago. 2018 – El país

5
 Um incêndio de grandes proporções
destruiu o Museu Nacional, na Quinta da
Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte
do Rio. O fogo começou por volta das
Tânia Rêgo/Agência Brasil

19h30 deste domingo (2) e foi controlado

no fim da madrugada desta segunda-feira
(3). Mas pequenos focos de fogo seguiam
queimando partes das instalações da
instituição que completou 200 anos em
2018 e já foi residência de um rei e dois
imperadores. A maior parte do acervo, de
cerca de 20 milhões de itens, foi totalmente
destruída. Fósseis, múmias, registros
históricos e obras de arte viraram cinzas.
2 set. 2018 – G1

// IMAGEM EM FOCO
6
 ENTRELINHAS

Política se discute?
Com a proximidade das eleições de 2018, os debates políticos são intensificados, cabendo ao leitor buscar
ferramentas para que as discussões sejam construtivas e estar disposto a ouvir opiniões diversas propagadas
pelos mais variados meios de comunicação.

TEXTO 01
Com um país marcado pela polarização,
discussões sobre política e visões de sociedade se
espalharam por inúmeras esferas de nossas vidas.
[...]
O problema é que parte considerável dos embates
entre ideias diferentes se caracteriza quase sempre
por dois monólogos andando em paralelo, com o
reconhecimento da outra parte ocorrendo apenas
através de ofensas ou sarcasmo. Muito se fala, e pouco
se ouve. Muito se prega, pouco se debate. E quando há
troca, esta acontece menos como debate e mais como
disputa, sempre com cada lado buscando ter a última
palavra e “vencer”.
Ao contrário do que muitos imaginam, bons debates
servem para construir conhecimento e não disputar. São
oportunidades para que fatos e ideias circulem e sejam
02TEXTO
“No Brasil, a influência dos debates ainda é
muito grande”, diz a jornalista e cientista política
Deysi Cioccari, professora da faculdade Cásper Líbero,
em São Paulo. “Basta observar o que aconteceu no
dia seguinte, após o primeiro debate (da Band, no dia
9 de agosto). Os jornais, a mídia e as redes sociais
amanheceram impregnadas pelo que foi dito durante o
debate. Mesmo quem não acompanhou a transmissão
ficou sabendo minimamente o que foi dito.”
“[...]. Somos um país que assiste TV, que procura
saber o que está sendo proposto pelos candidatos pela
TV”, diz Deysi.
Gilberto Costa; Sabrina Craide (Ed.). “Com fim da hegemonia da
TV, internet pode ser decisiva nestas eleições”. Agência Brasil,
16 ago. 2018. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/
noticia/2018-08/com-fim-da-hegemonia-da-tv-internet-pode-ser-
decisiva-nestas-eleicoes>. Acesso em: 20 ago. 2018

colocadas à prova.
Camilo Rocha. “Como discutir política sem baixar o nível”.
NEXO, 1 jun. 2016. Disponível em: <www.nexojornal.com.br/
servico/2016/06/01/Como-discutir-pol%C3%ADtica-sem-baixar-o-
n%C3%ADvel>. Acesso em: 28 ago. 2018.

TEXTO 03
Com fim da hegemonia da TV, internet pode ser decisiva nestas eleições
As próximas eleições podem ficar para história e registrar o fim da era da televisão aberta como o principal meio
de informação dos brasileiros para acompanhar a disputa de votos por cargos públicos. Especialistas ouvidos pela
Agência Brasil têm como hipótese a possibilidade de a internet ter mais peso do que nunca na decisão, e mudar, em
definitivo, a maneira de se fazer campanha eleitoral no país.
Pesquisadores de comunicação e consultores eleitorais assinalam que os 147,3 milhões de eleitores brasileiros
escolherão seus representantes sob influência inédita de conteúdos compartilhados nas redes sociais e aplicativos de
mensagens instantâneas, em especial no Facebook e no WhatsApp.
Gilberto Costa; Sabrina Craide (Ed.). “Com fim da hegemonia da TV, internet por ser decisiva nestas eleições”. Agência Brasil, 16 ago. 2018.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-08/com-fim-da-hegemonia-da-tv-internet-pode-ser-decisiva-nestas-eleicoes>.
Acesso em: 20 ago. 2018

7
 ENTRELINHAS
ANÁLISE
N
as eleições deste ano, 13 candidatos, sendo apenas
duas mulheres, concorrem ao cargo de presidente
da República. Em meio à disputa eleitoral, o debate
sobre os programas de governo e as propostas feitas pelos
aspirantes ao Palácio do Planalto se faz cada vez mais
necessário, ainda que muitos cidadãos optem por se manter
alheios ao assunto. Contudo, é preciso reforçar que essas
discussões não devem se limitar apenas ao confronto de
ideologias e preferências partidárias, e sim considerar que é
o futuro de toda uma nação que está em pauta.
O texto 1 fala justamente sobre a intensificação dos
debates de fatos e ideias durante esse período, reforçando
que essas conversas, geralmente, são caracterizadas pela
falta de empatia entre os envolvidos. O trecho apresentado
também destaca que essas discussões não devem ser
encaradas como meras disputas de qual lado é melhor
do que o outro, mas como uma boa oportunidade para
ouvir e considerar as propostas de todos os candidatos e
partidos, analisando quais delas são as mais construtivas
e interessantes para o desenvolvimento do nosso país.
Recomendamos que, com a proximidade das eleições, o
texto em questão seja analisado na íntegra, pois ele traz
diversas dicas ao leitor para realizar um debate produtivo, o
qual preza pelo respeito e bom-senso.
Uma forma interessante de conhecer as propostas de
campanha dos candidatos à presidência e ter ferramentas
para que as discussões possam ser, de fato, construtivas
é acompanhar os debates realizados pelas emissoras de
televisão abertas. Contudo, muito se fala sobre a eficácia
desses programas nos dias de hoje, visto que o alcance
dos canais televisivos vem perdendo fôlego. De qualquer
maneira, como podemos observar no excerto da reportagem
apresentada no texto 2, debates como esses ainda têm
muita força, pois o que é transmitido pelas emissoras de TV
é assunto recorrente nas mais diversas rodas de conversas.
Studio_G/Shutterstock.com
Nesse contexto, também podemos citar que as sabatinas
realizadas pelos diferentes meios de comunicação, os
horários reservados à propaganda eleitoral gratuita e as
demais reportagens que retratam o dia a dia dos candidatos
são bons recursos para que as pessoas possam se manter
ainda bem mais informadas e, como consequência, participar
de discussões significativas.
Já o texto 3 traz outra situação sobre a realidade do debate
político: o quanto a internet pode influenciar nos resultados das
eleições de 2018. Nos últimos anos, o número de usuários
assíduos das mídias sociais cresceu de maneira expressiva, e
é justamente no campo virtual que os candidatos e partidos
encontram boas alternativas para driblar, muitas vezes, a falta de
tempo nas emissoras de TV e, assim, expor seus programas de
governo. Porém, como não podemos deixar de citar, a internet
também propaga um grande problema: as fake news. Assim,
cabe ao usuário ter muita cautela ao analisar os conteúdos
enviados e recebidos pelos canais de comunicação on-line,
buscando conferir a veracidade de todas as informações.
Em síntese, é importante que o leitor esteja atento
às propostas dos candidatos e conheça, se possível,
os programas eleitorais de todos eles, fazendo uma
análise concreta e ampla das ideias dos nossos futuros
representantes. Agora, leia novamente os três textos
apresentados, busque suas versões na íntegra, procure
outras fontes de informação e acompanhe o dia a dia da
corrida eleitoral para que possa participar de forma mais
efetiva dos debates. Além disso, para que você exercite seus
conhecimentos, construa argumentos a respeito do assunto
e reflita sobre a necessidade de se discutir política. Que tal
elaborar um texto dissertativo a partir do tema: “Consciência
política e a importância dos debates nas vésperas das
eleições”? Boa produção textual!
Editorial
8
Política no século XXI:
democracia e
ciberespaço
A política faz parte da vida em sociedade e permeia todas
as relações interpessoais. Ao longo da história, ela foi alvo de
estudos e transformações e, nos dias atuais, vive uma das
mais intensas mudanças.

POR ALEXSANDRO MELO MEDEIROS

O
filósofo grego Aristóteles, na sua obra
Política, definiu o ser humano como um “zoon
politikon”, ou seja, um “animal político”. Desde
então, filósofos, pensadores e cientistas
políticos procuram compreender qual a melhor maneira
de homens e mulheres se relacionarem e se organizarem
em sociedade através das relações de poder que
constantemente se fazem presente na esfera pública.
No século XXI, essa questão tem sido potencializada
com o surgimento das novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) que estão alterando profundamente as
relações sociais e políticas do nosso país. Opiniões são lidas,
relidas, compartilhadas entre pessoas de diferentes culturas
Login/Shutterstock.com
Se, por um lado, as
mídias sociais têm sido utiliza-
das para que cidadãos e cidadãs
expressem sua opinião, favorecendo o
desenvolvimento de práticas democráticas, por
outro, percebemos que essas mídias estão repletas de
discursos de ódio e ataques pessoais, proferidos quando as
opiniões conflitam e divergem umas das outras, favorecendo
o desenvolvimento de práticas antidemocráticas. Os ataques
começam a partir do momento que grupos ideológicos
intitulam seus adversários de “coxinhas”, “esquerdopatas”,
“socialistas de iPhone” e expressões do gênero.
pixelrain/Shutterstock.com

e áreas do saber. Não se pode mais ignorar os espaços

que essas novas tecnologias têm criado, de tal forma que
podemos afirmar, tal como o faz Pierre Lévy, professor
da Universidade de Paris-VIII e autor do livro Cibercultura,
que “os destinos da democracia e do ciberespaço estão
amplamente ligados”.
Esse entrelaçamento entre as questões políticas e as
novas tecnologias se tornam ainda mais evidentes através
das mídias sociais. Uma olhada rápida pela timeline revela
o quanto o processo eleitoral das eleições presidenciais e
estaduais – que se aproximam – tem transformado as mídias
sociais quase que em uma arena de disputa e ataques
Os debates políticos e as novas tecnologias se unem nas mídias
políticos e ideológicos. sociais, usadas como fontes de informação e de debates.

9
 Quem dera pudéssemos utilizar as mídias sociais
exclusivamente para o fortalecimento de práticas
democráticas. Vamos tomar, de maneira breve, dois
exemplos que ocorreram em países distintos: o primeiro
é a Primavera Árabe, uma onda de manifestações e
protestos ocorridas no Oriente Médio e no norte da
África entre 2010 e 2011, ocasionada por fatores como
o agravamento da crise econômica e a luta a favor da
democracia em países como a Tunísia, Egito, Líbia, Síria
e muitos outros; aqui as mídias sociais desempenharam
um papel considerável para organizar e facilitar a
comunicação entre os manifestantes. O segundo
exemplo aconteceu aqui no Brasil, com os protestos
de julho de 2013, que ocorreram em várias cidades,
inicialmente para contestar os aumentos nas tarifas de
transportes públicos, mas, depois, se transformaram
na expressão de descontentamento e insatisfação com
os rumos políticos do país. Nessa ocasião, as mídias
sociais se destacaram como forma de engajamento
político, além do fato de que boa parte dos cartazes
existentes nas manifestações eram comentários tirados
do Facebook e do Twitter.
Hang Dinh/Shutterstock.com
As mídias sociais tiveram papel importante nos debates políticos
acontecidos durante a Primavera Árabe. Na imagem, pessoas
reunidas em protesto na cidade de Cairo, no Egito, em novembro
de 2011.
É válido destacar, ainda, o uso da internet na
campanha eleitoral. Antes, as campanhas eleitorais
eram, majoritariamente, realizadas através de meios de
comunicação de massa, como o rádio e a televisão. O
que, em certo sentido, tende a privilegiar candidatos
que fazem coligações com os partidos políticos com
maior representatividade no Congresso Nacional, já
que o tempo de propaganda eleitoral é diferente para
cada candidato e determinado pela representatividade
dos partidos políticos no Congresso. Por isso, enquanto
alguns candidatos dispõem de um tempo maior de
propaganda eleitoral, outros precisam se contentar com
meros segundos de apresentação no horário destinado
à propaganda eleitoral. Com as mídias sociais, é possível
ampliar a possibilidade de divulgação e campanha
política, seja pelo Facebook, blogs e sites e, até mesmo,
grupos de WhatsApp, como é o caso de candidatos
que criam determinados grupos para ouvir as demandas
populares e, assim, elaborar suas plataformas de
governo.
Dessa forma, vemos que o advento das TICs
promoveu mudanças significativas na ideia do homem
como um “animal político”. A concepção de um espaço
público ou esfera pública ganha novas dimensões: fala-se
em esfera pública virtual, esfera pública interconectada,
ou ainda novas “ágoras on-line” (as ágoras eram as
praças públicas existentes na Grécia Antiga reservadas
ao debate e disputa política).
Nastasic/iStockphoto.com
A política na Grécia Antiga era discussão restrita a poucos e
acontecia nas ágoras, praças públicas reservadas ao debate
político.
Hoje, essas “ágoras on-line” representam um
espaço público de debate e discussão em que o cidadão
pode, de alguma forma, participar da “coisa pública”. E
o que vemos é que, de fato, os cidadãos têm usado
o espaço das mídias sociais como uma “praça pública
virtual”, um espaço de debate e discussão política até
mesmo fora de épocas eleitorais. Porém, ao mesmo
tempo que esse espaço tem sido utilizado para ampliar
o processo democrático, tem sido alvo também de
práticas antidemocráticas, que atingem e denigrem a
figura do outro que não compartilha da mesma postura
ideológica.
10

Como na Atenas de Aristóteles, ainda hoje precisamos
continuar refletindo sobre o modo de organização política
e social. Perceber que a política não é apenas o processo
eleitoral que ocorre a cada dois ou quatro anos e que está
presente no nosso dia a dia, ainda mais fortemente nos dias
de hoje, com o advento tecnológico da internet, das mídias
sociais e do uso de smartphones. Os temas relacionados a
vida em sociedade, crenças e política passaram a permear
muitos debates e estão sempre presentes na nossa vida
e na nossa timeline, exigindo de nós uma postura crítica
e reflexiva, além de uma atitude ética e responsável,
respeitando a diversidade de opiniões e de ideias que
caracterizam a nossa realidade multifacetada.
Alexsandro Melo Medeiros é mestre em Filosofia
pela Universidade Federal de Pernambuco e
professor de Filosofia da Universidade Federal
do Amazonas. Doutorando do programa de
pós-graduação em Sociedade e Cultura na
Amazônia/Ufam. Bolsista e pesquisador da
Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do
Amazonas. Também é autor do site
Sabedoria política.
Arquivo pessoal/
Alexsandro Melo Medeiros
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
estabelece competências e habilidades norteadoras
do estudo dos conteúdos exigidos para o Ensino
Médio. Por meio do texto “Política no século XXI:
como os destinos da democracia e do ciberespaço
estão interligados”, foram trabalhadas as seguintes
competências e habilidades da área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias:
C3 – Compreender a produção e o papel histórico
das instituições sociais, políticas e econômicas,
associando-as aos diferentes grupos, conflitos e
movimentos sociais.
H13 – Analisar a atuação dos movimentos sociais
que contribuíram para mudanças ou rupturas em
processos de disputa pelo poder.
C5 – Utilizar os conhecimentos históricos para
compreender e valorizar os fundamentos da
cidadania e da democracia, favorecendo uma
atuação consciente do indivíduo na sociedade.
HA H21 – Identificar o papel dos meios de comunicação
na construção da vida social.
BILI H23 – Analisar a importância dos valores éticos na
DA estruturação política das sociedades.
H24 – Relacionar cidadania e democracia na
DES organização das sociedades.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
História
TOQUE DO
ESPECIALISTA
POR CAMILA CALDAS PETRONI
Governos: sistemas e práticas
“Pela manutenção da democracia!”, “Pela volta da
monarquia!”, “Abaixo a ditadura!”.
C
ertamente, já nos deparamos com essas frases algum dia, prin-
cipalmente em época de eleições, em que o contato com dife-
rentes opiniões gera debates, muitas vezes, acalorados. Mas
será que sabemos o significado do que defendemos e criticamos?
A partir de análises do historiador e filósofo Norberto Bobbio e
dos cientistas políticos Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino1,
vamos retomar o significado de regimes e formas de governo.
Lembrando que as formas de governo dizem respeito aos
modelos institucionais adotados e as práticas governamentais
são as características relacionadas a esses modelos.
A monarquia e a república, por exemplo, são formas de
governo. Na monarquia, o poder, geralmente hereditário, é
centralizado nas mãos de uma só pessoa, colocada acima de
todos. Como um dos principais exemplos históricos, temos o
absolutismo, na França e na Inglaterra, durante a Idade Moderna.
Atualmente, há alguns Estados monárquicos no mundo, como
o Império Britânico, em que não cabe ao monarca, chefe de
Estado, tomar as decisões relativas ao governo.
Já a república, modelo nascido na Roma Antiga, é vista
como uma oposição à monarquia, pois o chefe de Estado é
eleito pelo povo, de forma direta ou indireta. Em tese, em
uma república, os interesses de todos os cidadãos devem ser
atendidos. No Brasil, a república foi proclamada em 1889 e
permanece até hoje, embora tenha apresentado diferentes
práticas em sua trajetória.
Como práticas governamentais, podemos citar a
democracia, que possui definições variadas: a aristotélica,
voltada somente a determinados grupos que têm direito
à cidadania; a medieval, baseada na soberania popular;
e a moderna, definida como uma forma de república. Hoje,
entendemos a democracia como um governo para todos.
Temos, ainda, como prática, a ditadura, conceito complexo
e com definições diversas. Com origem na república romana,
tem seu significado atrelado ao poder concentrado nas mãos
de uma só pessoa (ou de um pequeno grupo) e a um governo
que se coloca acima da lei. Ao longo da história, práticas como
censura, vigilância, repressão e, até mesmo, tortura foram
largamente utilizadas para que ditadores se mantivessem no
poder, o que nos faz associar regimes ditatoriais a governos
que afetaram significativamente as liberdades pessoais.
Com essas definições, podemos refletir juntamente com a
pergunta do início do texto: quais são as formas e as práticas
de governo que permitem a todas as pessoas o exercício pleno
de sua cidadania?
1
BOBBIO, Norberto. MATTEUCCI, Nicola. PASQUINO, Gianfranco.
Dicionário de política (trad. Carmen C. Varriale et. al.). Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1998.
11
 E N T R E V I S TA | Rodrigo Paixão

Arquivo pessoal/
Rodrigo Paixão
CARREIRA: Ciência Política
Rodrigo Paixão é graduado em Ciência
Política pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e especialista
em Administração Pública e Gerência
de Cidades pelo Centro Universitário
Internacional (Uninter). Atualmente, é
professor de Ciência Política no Instituto
de Educação e Ensino Superior de
Campinas (Iescamp), trabalha também
com assessoria e consultoria política e
como comentarista político de emissoras
de rádio e TV.
Donatas Dabravolskas/Shutterstock.com

12
Equipe Leia Agora: Quais devem ser os interesses
de quem pensa em cursar Ciência Política? O que é
estudado durante a graduação?
Tendo como horizonte o fato de que a Ciência Política
se insere no campo das Ciências Humanas, o estudante
precisa ter, como pressuposto, interesse pelas relações
que se estabelecem na sociedade. O aluno precisa
se sentir desafiado a explicar os dilemas da condição
humana e os problemas sociais contemporâneos,
com o objetivo de interpretar e apontar soluções
para os desafios referentes às relações de poder nos
espaços públicos e privados. A Ciência Política está
entre as áreas de conhecimento mais abrangentes,
multidisciplinares e dinâmicas. Como ferramentas de
análise, utiliza saberes e métodos de outras áreas, como
Relações Internacionais, História, Filosofia, Sociologia,
Economia, Gestão Pública, Estatística, Administração,
entre outras.
Equipe LA: Quais são as áreas de atuação e as
principais possibilidades de especialização para
quem opta por essa carreira?
São diversas as possibilidades para a carreira do
cientista político. O profissional pode atuar, por exemplo,
no universo acadêmico, mas também com assessoria
e consultoria, pesquisa, análise, administração e
planejamento. Academicamente, existe uma demanda
imensa para a produção de conhecimento científico,
O cientista político também pode atuar com marketing político e
como profissional de imprensa especializado na área.
tanto no ensino como na pesquisa. O egresso do curso de
Ciência Política pode atuar diretamente em organizações
governamentais, não governamentais e no terceiro setor,
como assessor, administrador e planejador. Também é
possível atuar mais diretamente com o ambiente político
e com o marketing e como profissional de imprensa
especializado na área. Portanto, existem espaços
nas faculdades, empresas, bancos, ONGs, igrejas,
sindicatos, partidos, governos, cooperativas, federações,
organismos internacionais, parlamentos e na mídia.
Equipe LA: Durante a graduação, o estudante precisa
fazer estágios? Como ingressar no mercado de
trabalho?
Acredito que o estágio é uma das formas de
aproximação com o mercado de trabalho durante a
graduação. As faculdades, universidades e centros de
pesquisas têm feito muitas parcerias com empresas,
entidades e governos para isso. Estão surgindo
também muitas empresas juniores que trabalham
com uma lógica cada vez mais interdisciplinar (por
exemplo, fazendo pesquisas de mercado e de análises
políticas junto com estatísticos). Diversos editais de
concursos públicos para atuação na gestão pública
admitem o cientista político justamente por existir um
diagnóstico de que se trata de um profissional mais
completo. Inúmeros centros de ensino (médio, técnico
e universitário) também buscam esses profissionais.
Microgen/Shutterstock.com
13
Equipe LA: Qual é a diferença entre os cursos de Ciência
Política e Administração Pública?
Existe grande interface entre esses dois campos
do conhecimento. No entanto, é possível identificar
claramente as diferenças, visto que a Ciência Política
tem uma matriz mais ampla (poder público, empresas
privadas, entidades), e a Administração Pública
um enfoque mais ligado ao Estado e às atividades
governamentais. Além disso, a Administração Pública
é mais gerencial e procura dar respostas mais
imediatas às demandas do poder público. A Ciência
Política, além de instrumental, também é analítica.
Enquanto a Ciência Política se aproxima mais das
Ciências Sociais, a Administração Pública pode ser
considerada como uma subárea do Direito, pois é
organizada segundo os instrumentos previstos em lei.
Equipe LA: O cientista político está apto a analisar
o cenário político e, até mesmo, os movimentos
sociais. Mas como o profissional pode aplicar esse
conhecimento na prática?
Um cientista político, para fazer jus ao título, precisa
se especializar em uma área, produzir pesquisa
e conhecimento. Para analisar cenários e avaliar
a conjuntura política, econômica e social, esse
profissional deve se ater a métodos científicos. Para
falar, por exemplo, das relações internacionais, é
preciso ter informações precisas sobre economia
internacional, geopolítica, história, funcionamento dos
mecanismos multilaterais (como a ONU, OTAN, OMC
etc.). Da mesma forma, para analisar a situação político-
eleitoral, é preciso sair do que é aparente e demonstrar
quais são os interesses em jogo, a força dos partidos,
A participação política em audiências públicas
e plebiscitos é importante para que os direitos
democráticos sejam mantidos e ampliados.
a opinião do eleitorado, como se formam as coalizões
e assim por diante. Dificilmente um cientista político
vai falar com precisão sobre todos os temas que a
profissão o permite atuar. Se ele atua como consultor
de uma federação comercial, na prática, concentrará
sua atuação em áreas que dialogam com esse setor.
Equipe LA: Muitas pessoas acreditam que a política
é algo restrito aos políticos e, portanto, alheio a elas.
De que maneira o cientista político pode incentivar a
participação da sociedade na política e por que ela é
importante?
Os países que possuem as melhores condições de
vida, não por acaso, são também os que possuem
maior participação política. Os direitos democráticos
e as conquistas históricas de uma sociedade só são
mantidos ou ampliados com participação ativa. Na
Grécia, berço da democracia, debatiam-se todos
os temas de interesses coletivo em praça pública.
Hoje em dia, as escalas são diferentes, mas existem
mecanismos de participação indireta (audiências
públicas, consultas, assembleias, sessões, plenárias)
e de intervenção direta (plebiscitos e referendos).
Na Suíça, são feitos plebiscitos até para mudar o
trânsito de um bairro. Em momentos de crise, como
o que estamos vivenciando, é ainda mais importante
o exercício da plena cidadania. O cientista político
pode contribuir fazendo diagnósticos e apontando
soluções. Pode, acima de tudo, utilizar sua estatura
intelectual para o bem comum, demonstrando os
caminhos necessários para renovar positivamente o
ambiente político.
Akarawut/Shutterstock.com
14
Equipe LA: Hoje em dia, a internet tem sido palco de
muitas discussões políticas. Diante disso, como você
considera que as redes sociais podem ser usadas no
processo político? E como elas influenciam nas eleições?
Da mesma forma que a internet pode ser usada para realiza-
ções muito importantes, como campanhas de cidadania e mo-
bilizações contra o mau uso dos recursos públicos, também
pode ser um instrumento de propagação do ódio e da desin-
formação. Portanto, é preciso cuidado para que as redes so-
ciais sejam efetivamente uma ferramenta usada para ampliar a
participação popular e não para propagar as famigeradas fake
news. Sem dúvida, as redes sociais terão grande influência no
processo eleitoral, como já tiveram, notadamente, nas eleições
americanas. Mas, tanto nos Estados Unidos como no Brasil,
seu uso deve ser moderado pelo controle social, e abusos com
conteúdo criminoso devem ser acompanhados pela Justiça,
que precisa atuar na medida do necessário, sem constranger
a diversidade de opiniões.
Equipe LA: Qual é a importância da educação política
nas escolas e como isso contribui para a formação de
crianças e jovens? De que maneira o cientista político
pode atuar nesse contexto?
O processo educacional deve ser visto de uma forma mais
abrangente. As escolas formam não só profissionais, mas
também cidadãos, complementando os ensinamentos da
família, da sociedade e dos diversos círculos de convivência
de crianças e jovens. Em uma democracia, é importante que,
desde cedo, os cidadãos conheçam seus direitos e deveres e
os mecanismos utilizados para decidir as questões de interesse
público. O cientista político pode contribuir com o debate e a
elaboração de projetos pedagógicos que possam e que devam
ser inseridos nos conteúdos programáticos, sendo estes
reflexões sobre a cidadania e a participação política. Existem
SpeedKingz/Shutterstock.com
muitos exemplos de entidades que levam profissionais para
as unidades de ensino a fim de tratar da política e dos direitos
da cidadania (“OAB na Escola”, por exemplo); o especialista
em Ciência Política é, sem dúvida, o profissional com grande
gabarito para exercer tarefas como essa.
Equipe LA: A Ciência Política é uma área em expansão?
Quais os desafios e as perspectivas do mercado de
trabalho para os profissionais nos próximos anos?
A Ciência Política é uma área emergente no Brasil e deverá
ter maior reconhecimento nos próximos anos. Na Europa, o
cientista político está no mesmo patamar do engenheiro, do
médico e do químico. Na medida em que o país se consolida
política e economicamente como uma grande nação, surge
a necessidade de aperfeiçoar as instituições democráticas.
Nesse sentido, a Ciência Política é duplamente importante:
para contribuir com a superação da crise e para avançar em
novas conquistas para o país. O mercado de trabalho está
cada vez mais diversificado, pois, como já afirmado, o cientista
político tem uma formação abrangente e multidisciplinar nas
Ciências Humanas, podendo atuar tanto no poder público
como na esfera privada.
Equipe LA: Por que você recomendaria essa carreira?
Estou convencido de que ter bons profissionais atuando na
Ciência Política significa ampliar a qualidade das instituições,
independentemente de onde se decida atuar. A carreira possui
um sentido nobre e permite pensar o conjunto da sociedade.
A maior parte do que se decide é feito em espaços políticos. A
política, como já relatado, não é a única forma de atuação desse
profissional, mas ela pode ser um dos caminhos, pois permite
sua presença em governos, parlamentos, fundações, partidos,
autarquias etc. A esse respeito, recomendo a leitura do artigo
“Sobre política e jardinagem”, do professor Rubem Alves.
O cientista político pode elaborar projetos pedagógicos
para escolas a fim de ampliar as discussões sobre
cidadania e participação política entre crianças e jovens.
15
 PA R Ê N T E S E

Donatas Dabravolskas/Shutterstock.com

Simetria inexistente
Po r E d i l e n e Fa r i a

“Eleição tem maior número de vices mulheres”1, diz o jornal. A manchete, que chama a atenção do
(e)leitor, destaca a participação feminina “recorde” nas candidaturas de 2018. São 67 mulheres candidatas
a vice-governadora e 4 a vice-presidente, o que representa, respectivamente, 37,6% e 30,7% do total
de candidatos. Os homens, portanto, ainda são maioria, porém é inegável o crescimento no número de
candidatas a vice, se compararmos os números aos das eleições de 2014, quando a porcentagem ficava em
27,7% – no caso das candidatas a vice-governadora – e 27,2% – no caso das candidatas a vice-presidente.
Tal crescimento se deve também a um fator econômico, uma vez que, em 2018, será a primeira vez que o
pleito ocorrerá com uma cota de recursos financeiros para a campanha eleitoral feminina. São R$ 510 milhões do
fundo público de financiamento destinados às candidatas.
De fato, como os números comprovam, a quantidade de mulheres cresceu entre as candidaturas de mais
destaque. Mas, o curioso – ou seria o esperado? – é que os homens ainda ocupam o que chamamos de cabeça
da chapa. Isso quer dizer que, embora elas estejam mais presentes em candidaturas de destaque, a figura feminina
ainda fica em segundo plano, já que os candidatos a presidente e a governador, em sua maioria, são homens. Eles
ainda lideram as chapas e competem em maior proporção na política brasileira.
Nas eleições de 2018, são 16.160 pessoas concorrendo. Desse total, 4.946 são mulheres, o que significa que, a
cada três candidatos, apenas uma é mulher. Isso nada mais é que o contingente obrigatório previsto na lei brasileira,
a qual define uma porcentagem mínima de 30% de mulheres entre as candidaturas, em qualquer eleição.
Para refletirmos um pouco mais, podemos traçar um histórico de nossa República e de nossa democracia. Em
quase 129 anos de República Federativa e em 33 anos de democracia pós-ditadura militar, apenas uma mulher foi
eleita presidente da República – e isso demorou mais de um século para acontecer. Nas últimas eleições, apenas
uma mulher foi eleita governadora de um estado. No Senado, elas são 13 entre um total de 81 senadores. Na
Câmara dos Deputados, as mulheres são apenas 45 entre os 513 parlamentares – o que, segundo o próprio site
da Câmara, é uma “participação de tamanho constrangedor”.
Hoje, mais da metade dos eleitores brasileiros é mulher, porém as candidatas não ultrapassam os 30%. Qual
seria o papel da sociedade para mudar esses números? Como a mulher poderia ser mais representada? Por que
os homens ainda ocupam a maioria dos lugares na política nacional? Talvez seja o momento de aproveitar o seu
voto, em outubro, para responder a essas indagações.
1
Veja a reportagem completa no link: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/com-cota-fixa-em-
fundo-eleitoral-eleicao-tem-maior-numero-de-vices-mulheres.shtml>.

16
 Mosaico
Will Rodrigues/Shutterstock.com

• A G E N D A •
CONHECIMENTO

Cultural
VAMOS FALAR DE DEMOCRACIA?
O Brasil vive uma democracia, mas será que os jovens de hoje
conseguem entender a dimensão desse benefício? A TV Justiça
produziu um documentário sobre as eleições brasileiras, desde
o período colonial até a era das fake news na internet, que
pode ajudar nessa questão. O documentário História das
eleições no Brasil explica de maneira didática como a
democracia se manifestou no Brasil até se consolidar com
a promulgação da Constituição de 1988, que viabilizou a
volta da eleição para presidente pelo voto direto.
No Império, o direito ao voto só era acessível
a quem tinha educação formal ou a quem era rico.
Mas, aos poucos, a democracia real ia se moldando,
inclusive com direito de voto às mulheres. Em 1910,
foi fundado o Partido Republicano Feminino, dando
início à luta pelo voto das mulheres. Em 1928, Alzira
Soriano foi a primeira prefeita eleita no país (ainda
somente com votantes homens), na cidade de Lajes
(RN). As mulheres só puderam votar a partir de 1932.
Nas décadas seguintes, regimes ditatoriais prejudicaram
o processo eleitoral. E foi a Constituição de 1988 que
garantiu a atual democracia. Assim, o primeiro presidente
eleito pelo voto direto após o regime militar foi Fernando
Collor de Mello, em 1989. Essa fase da redemocratização
brasileira pode ser melhor entendida no vídeo 1985 − 30 anos
de democracia: Diretas já, produzido pela Univesp.
Acesse:
História das eleições no Brasil:
<www.youtube.com/watch?v=eAJWmxv8kRA>.
1985 – 30 anos de democracia: Diretas já:
<www.youtube.com/watch?v=d8O5jTahTXo>.
Visita ao Congresso Nacional
Permanente
ONDE: Brasília.
O Congresso Nacional oferece visita monitorada
de estudantes, que podem conhecer o trabalho
do Poder Legislativo, a arquitetura idealizada por
Oscar Niemeyer e um pouco da história política
do Brasil. Professores podem agendar visitas
com mínimo de 72 horas de antecedência.
INFO: <www.congressonacional.leg.br/visite/
agendamento>.
CINEMA
Hitchcock: bastidores do suspense
até 21 de outubro.
ONDE: São Paulo (SP).
O MIS (Museu da Imagem e do Som) promove
a exposição do mestre do suspense Alfred
Hitchcock. São fotos, cartazes e esquemas
de produção, saídos de acervos de entidades
internacionais de memória do cinema. Hitchcock
não só sabia contar uma boa história de suspense
como dominava a narrativa cinematográfica com
muita maestria.
INFO: <www.mis-sp.org.br>
MOSTRA
Arte no Brasil
A partir de 15 out. 2018.
ONDE: São Paulo (SP).
A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta
sua nova exposição de longa duração com obras
do seu acervo. O objetivo da mostra é oferecer
uma jornada pela arte brasileira do período
colonial até meados dos anos 1930. A exposição
fica aberta ao público até o fim de 2019.
INFO: <pinacoteca.org.br>

Mera coincidência. Direção: Barry Levinson.
Com Dustin Hoffman e Robert De Niro, EUA,
1997.
Às vésperas das eleições, o presidente dos
EUA se envolve em um escândalo sexual e
sua reeleição está ameaçada. Para desviar
o assunto da opinião pública, os assessores
do presidente criam uma guerra fictícia na
Albânia, na qual o candidato se tornaria um
mediador da paz.
Carlos Heitor Cony. O ato e o fato: o som
e a fúria de que se viu no golpe de 1964.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
Em 1964, dia a dia, o jornalista Carlos Heitor
Cony publicou no Correio da Manhã, jornal
do Rio de Janeiro, crônicas carregadas de
ironia que revelavam sua posição contrária
ao regime ditatorial instaurado no país.
Esses textos foram reunidos em um livro,
publicado ainda naquele ano, tornando-se
o primeiro ato de protesto civil do período.
O livro foi relançado em 2014.
Mario Sergio Cortella − Democracia
O filósofo e educador Mario Sergio
Cortella, em entrevista a uma
emissora de rádio, explica a essência
da democracia, o que a sociedade
espera de nosso comportamento e a
contribuição que cada cidadão deve dar
para a construção da sociedade.
Acesse:
<www.youtube.com/watch?v=5w9e3y0AY3s>.

17
EXTRA! Jogada ensaiada
De longe, é possível ouvir os gritos. Eles marcham juntos, vestindo a camisa com
orgulho, rumo ao local de concentração. Levam bandeiras, ensinam aos filhos uma
paixão que vem de berço. Coisa de família, uma daquelas que seguem a tradição
na torcida.
Em poucas horas, sairá a decisão. Ocupando seus lugares, aguardam o juiz liberar
a disputa. É domingo e, em plena primavera, com o sol a pino, os corações estão
unidos em fila. A entrada dos torcedores é liberada, e cada um corre em direção ao
melhor lugar, evitando seu adversário. Vermelhos e azuis sentam separados, cada
qual com sua convicção aguardando a hora de gritar a plenos pulmões.
Há quem queira anular a jogada. Há quem insista no cartão vermelho. Mas,
historicamente, não há faltas suficientes que, de fato, mantenham uma partida
empatada. As vozes ecoam: “é hora da vitória”, aquela que, de quatro em quatro
anos, arranca alguns soluços de alegria e outros de tristeza e desolação.
Em uníssono, os hinos começam. Há tambores, luzes, euforia. As músicas
seguem uma cadência de versos, ritmos e compassos. Os pobres, nesse momento,
se igualam aos ricos. Os mais velhos erguem e beijam as crianças em seu colo. As
mulheres também fazem parte da torcida e gritam, querendo ocupar seu lugar. Mas
é fato que os homens ainda são aqueles que dominam o campeonato. Ocupam
cargos técnicos dos mais variados, com os mais altos gabaritos. Ditam as regras,
comandam os treinos e embalam os craques em um universo que, quando campões,
rende a eles milhões em dinheiro.
É nesse momento que o pobre volta a ser diferente. As mulheres novamente
são escondidas. As crianças descem do colo. Mas há quem diga que nada disso
importa, pois a força da camisa – seja vermelha, seja azul – é de novo predominante.
A vitória é iminente, mesmo que os pontos ainda não tenham sido, em sua totalidade,
divulgados.
Faltam cinco minutos para o encerramento da disputa. O sol já começa a esfriar,
e, juntos, os torcedores se reúnem onde podem. Quem não está no coração da
partida fica perto do rádio, do smartphone, da televisão. À espera do grito vitorioso,
Por Edilene Faria

eles roem as unhas, rezam, se abraçam, ficam em silêncio.

Ao som da última tecla, a esperança se renova. Confirma? Sim. A escolha
entre vermelho e azul já foi feita. O resultado, quatro anos depois, de novo ocupa
todos os jornais. Se aquele voto de confiança valeu a pena, se aquela torcida será
recompensada, eles ainda não sabem. Podem, talvez, esperar mais quatro anos,
sem serem lembrados e sem que a mudança ocorra.
Dois lados da mesma moeda talvez já não sejam suficientes. Mas, na falta de
um lado melhor, há quem vestirá vermelho ou azul de novo, sem questionar. Ora,
nesse campeonato democrático, em que a escolha é cada vez mais difícil, muitas
figurinhas acabam sendo repetidas. Mas será que devemos aceitar?
Há aqueles que dizem não; que ainda sonham com uma cor diferente e que
esperam a vinda de novos times que realmente lutem por mudanças no campeonato.
Afinal, jogada ensaiada pode cansar o torcedor. É assim, também, com o eleitor.

18