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Rio de Janeiro
2013
Andréia da Silva Lima
Rio de Janeiro
2013
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CCSA
CDU 36:37
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação,
desde que citada a fonte.
___________________________ _________________________
Assinatura Data
Andréia da Silva Lima
Banca Examinadora:
Rio de Janeiro
2013
DEDICATÓRIA
Se existe um período da vida propício para escrever uma dissertação posso dizer
que os últimos dois anos não se configuraram assim. A entrada no Mestrado foi
acompanhada de problemas de saúde pessoal e familiar, separação, mudanças no
trabalho e de residência. Esse processo acadêmico, profissional e pessoal foi muito
doloroso. E, hoje em forma de dissertação fecho esse ciclo, com muitos
agradecimentos.
Em primeiro lugar quero agradecer a Deus pela força e pelos caminhos que se
abriram quando tudo parecia perdido. A minha família ao mesmo tempo em que me
trouxe preocupações por conta de sua reestruturação foi meu porto seguro. A meu pai
Vagner, a minha mãe Vânia e a minha irmã Estela agradeço pela acolhida nesse último
ano, me receberam após 14 anos de novo em casa. Só que dessa vez voltei com dois
filhos Beatriz e Artur que são as pessoas que mesmo com pouca idade, mais me
confortaram, apoiaram e compreenderam nesses últimos dois anos.
No âmbito profissional agradeço a todos os profissionais do Proinape da 4ª CRE
e da 9ª CRE que fizeram e fazem parte da construção do projeto e da dissertação.
Contribuindo para a reflexão teórica nas diversas atividades junto às escolas e nas
reuniões de equipe. Essa dissertação não seria possível sem o total e irrestrito apoio do
Niap, através de Mércia e Katia e de toda equipe de orientadoras técnicas e da equipe
administrativa. Não vou citar nome a nome os profissionais do Proinape, pois corro o
risco de esquecer alguém. Mas, tenho agradecimentos especiais a Clarice Sá, Renata
Medeiros e Lauren Cunha que junto comigo iniciaram na RPE e que através de muitos
debates e embates sobre o trabalho na educação formamos uma amizade que tenho
certeza será para a vida toda.
Para a Lauren tenho que dedicar um agradecimento especial, minha amiga
desde a graduação, uma amizade que se solidificou quando passamos no mesmo
concurso e fomos trabalhar no mesmo local. Foi em conjunto com a Lauren que
sistematizei várias experiências de trabalho e as apresentei. E, por essa amizade e
compartilhamento teórico metodológico fomos juntas ao Mestrado. Não passamos na
primeira tentativa, na segunda passamos juntas e brigamos juntas pelo orientador que
queríamos. Obrigada, amiga, pela força.
Esse processo mesmo difícil reservou momentos muito bons e por isso tenho
que agradecer a toda a turma ME 2011 pelos debates durante o primeiro ano nas aulas,
pelos cafés no 9º andar, pelo amigo oculto anual que espero se repetir por muitos anos
e principalmente nos momentos de mais desespero a solidariedade via facebook que foi
o principal meio de comunicação nesse momento solitário de construção da
dissertação.
E, finalizando quero agradecer a Comissão de Educação do CRESS/RJ que
muito contribuiu e contribui na minha formação profissional, em nome de todos os
profissionais que participam dessa comissão quero agradecer a Jurema que sempre
acolheu meus questionamentos e organizou-os teórico, político e metodologicamente.
E, através da Jurema conheci a Professora Doutora Eliana Bolorino Canteiro Martins
que participa como banca examinadora dessa dissertação e além de uma referência
nos debates sobre Serviço Social e Educação tem se tornado uma amiga. Junto a
Eliana outra referência sobre o tema que esse estudo aborda é o Professor Doutor Ney
Luiz Teixeira de Almeida meu orientador, meu amigo a quem sei que dei muito trabalho
por conta das minhas inseguranças e fragilidades teóricas. Obrigada Ney por tudo!
E vida é trabalho...
E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...
Gonzaguinha
RESUMO
LIMA, Andréia da Silva. The rationality process work from the “Programa
Interdisciplinar de Apoio às Escolas (PROINAPE)” from “Secretaria Municipal de
Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ)”. 2013. 206 f. Dissertação (Mestrado em
Serviço Social) – Faculdade de Serviço Social, Universidade do estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
The changes in the production system bring subsumption services sector to the
manufacturing sector. Services today gained centrality in the organization of productive
capital. And the process of working in the services sector, in this context, is traversed by
forms of public administration from the private logic. Each social policy is from
rationalities involving the organization of the work process and the provision of services
offered to the population. To think of Social Work in Education is essential to understand
how educational policy is organized in the context of peripheral capitalism. We are
witnessing an educational organization from programs and projects that embody the
guidelines of international organizations with the aim of achieving goals that put Brazil
on the same level of developed countries. In this study we discuss how this framework is
embodied in the reality of the city of Rio de Janeiro. From the Interdisciplinary Program
of Support to Schools (Proinape) which was created in 2010 and has as professional
social workers, teachers and psychologists working in different crossings that stand in
the teaching-learning process. We believe this work is permeated by various rationales
that underlie the class struggle. Thus, this dissertation will unveil, from critical social
theory, rationales present in worker process Proinape the Municipal Education of Rio de
Janeiro (EMS / RJ) demonstrating the logic which this program has been serving.
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 13
1 AS RACIONALIDADES DO PROCESSO DE TRABALHO NOS SERVIÇOS .......
31
1.1 Razão e relações sociais na sociedade de classes....................................... 31
1.2 As razões nos limites da ordem burguesa: as contribuições de Durkheim e
Weber................................................................................................................. 43
1.3 As contribuições de Hegel e Marx para a compreensão das
racionalidades presentes no âmbito do Estado........................................... 51
1.4 Trabalho e processo de trabalho nos serviços na contemporaneidade ..........
61
2 POLÍTICA DE EDUCAÇÃO E A INSERÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS..... 73
2.1 Mudanças no mundo do trabalho e na esfera do Estado: determinações
na organização do trabalho nos serviços...................................................... 73
2.2 A relação entre assistência social e educação para a compreensão do
trabalho do assistente social no Proinape..................................................... 85
2.3 O serviço Social na SME/RJ............................................................................ 97
3 POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA E AS TENDÊNCIAS DE
RACIONALIZAÇÃO FORJADAS NA REALIDADE CARIOCA........................ 109
3.1 As tendências de racionalização da política educacional............................ 109
3.2 A organização da política de educação no Rio de Janeiro.......................... 122
3.3 Organização do processo de trabalho coletivo na educação: Proinape e
a materialização de diversas racionalidades................................................. 139
3.4 A racionalidade gerencial na política de educação Município do Rio de
Janeiro............................................................................................................... 150
3.5 Outros percursos de organização do trabalho forjados pelas equipes do
Proinape............................................................................................................. 161
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 172
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 178
ANEXO A – Fluxograma sobre a organização da SME/RJ – Seriação e
Projetos............................................................................................................... 185
ANEXO B – Resolução SME N°1089, DE 22 DE JULHO DE 2010. Dispõe
sobre a organização e o funcionamento do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às
Unidades escolares (NIAP)....................................................................................186
ANEXO C – Portaria E/SUBE/CED Nº 4 de 10/12/2009. Cria Programa 188
Interdisciplinar de Apoio às Escolas..................................................................
ANEXO D – Decreto n° 32506 de 13/07/2010. Altera os decretos nºs 21.058 e 122
21.059, de 08/02/2002.
ANEXO E – Norteadores para elaboração do Plano de Ação 2010 193
ANEXO F – Norteadores 2012 197
ANEXO G – Projetos estratégicos do Programa de Reforço Escolar da 200
SME/RJ 2013
ANEXO H – Roteiro para análise dos Norteadores 2010 e 2012 203
ANEXO I – Roteiro para análise dos Planos de Ação 2010, 2011 e 2012 204
ANEXO J – Roteiro para análise das avaliações finais 2010, 2011 e 2012 205
ANEXO K – Decreto n° 33.875 de 24/05/2011 206
13
INTRODUÇÃO
1
Atualmente Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS), nomenclatura assumida na
segunda gestão do prefeito Eduardo Paes iniciada em 2013, tendo como secretário da pasta Adilson
Pires.
2
Não temos dados oficiais, mas sim uma análise empírica a partir da inserção da autora na SME/RJ.
14
3
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) desempenha papel
fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em
todos os estados da Federação e mantém um banco virtual de dissertações e teses com o intuito de
facilitar o acesso a informações sobre as produções dos Programas de Pós-Graduações. Para maiores
informações acessar http://www.capes.gov.br/.
4
Dissertação de Mestrado. Martins, Eliana Bolorino Canteiro. Serviço Social: mediação Escola e
sociedade. Franca: UNESP, 2001.
Dissertação de Mestrado. Santos, Ana Paula Nogueira da Silva. A “sinfonia” da educação: novas
perspectivas para atuação do profissional de Serviço Social na escola – Franca : UNESP, 2008
Dissertação de Mestrado. Pimenta, Juliana de Carvalho. A prática profissional do Assistente Social na
área da educação: a experiência do município de Franca/SP junto ao ensino fundamental. Franca:
UNESP, 2009.
Tese de Doutorado. Martins, Eliana Bolorino Canteiro. Educação e Serviço Social: Elo para a construção
da cidadania. São Paulo: PUC, 2007.
5
Dissertação de Mestrado. Farage, Eblin Joseph. Um olhar sobre a escola pública na favela – a inserção
do assistente social. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
15
Dissertação de Mestrado. Santos, Francine Helfreich Coutinho dos. As famílias de classes populares e
sua relação com a escola: Uma análise a partir da experiência do Complexo da Maré. Rio de Janeiro:
UFRJ, 2006.
Dissertação de Mestrado. Silva, Jane dos Santos. Multieducação e Nova Escola: considerações sobre as
políticas sociais educacionais em fins do século XX. Rio de Janeiro: UERJ, 2007.
Dissertação de Mestrado. Xavier, Alessandra de Muros. Serviço Social e Educação. Análise do
reconhecimento social e das experiências profissionais construídas nos diversos campos da política
educacional. Rio de Janeiro: UFRJ/CFCH, 2008.
Tese de Doutorado. Motta, Vânia Cardoso da. Da ideologia do capital humano à ideologia do capital
social: as políticas de desenvolvimento do milênio e os novos mecanismos hegemônicos de educar o
conformismo. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007.
6
Dissertação de Mestrado. Souza, Íris de Lima. Serviço Social na Educação: saberes e competências no
fazer profissional. Natal: UFRN, 2008.
16
que apresenta o/a assistente social como um trabalhador que participa de processos de
trabalho coletivos. Para adensar nosso estudo e nos apropriamos da categoria trabalho
de forma mais abrangente, não deixamos de utilizar a principal referência de Iamamoto.
Assim, as análises de Marx (1971) são consideradas centrais para nós. Pois, é nessa
obra que o autor desvela o setor serviços, que em sua época possuía um lugar
periférico. Mas, atualmente, o capitalismo tem como uma de suas características
contemporâneas a centralidade do setor serviços.
Os serviços na contemporaneidade se materializam de forma pública ou privada.
Aqui, nossa análise está centrada nos serviços públicos que são materializados através
das políticas sociais estatais, mais especificamente na política educacional pública
municipal carioca. Deste modo, consideramos que a abordagem do Serviço Social
como trabalho, e, conseqüentemente do/a assistente social como partícipe de
processos de trabalho coletivos, a partir da compreensão dos serviços, é a mais
adequada para o estudo das racionalidades do processo de trabalho do Proinape, que
tem o/a assistente social como componente da equipe interdisciplinar.
A mais recente7 inserção de assistentes sociais na educação carioca foi através
do projeto da Rede de Proteção ao Educando (RPE) que, em 2007, convocou por meio
de concurso público, assistentes sociais pela SMAS/RJ, e psicólogos (as) pela SME/RJ.
A alocação dos/as profissionais (assistentes sociais e psicólogos (as) se deu entre os
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), Centros de Referência
Especializado da Assistência Social (CREAS)8 e Pólos de Educação Extra-Escolar
(PAEE)9. Os dois primeiros equipamentos da SMAS/RJ e o outro da SME/RJ.
7
Existem relatos verbais sobre a inserção de assistentes sociais na SME/RJ na década de 1970 que
atuavam junto aos antigos Departamentos de Ensino e Cultura (DEC), hoje Coordenadorias Regionais de
Educação (CRE), e que faziam parte da Equipe Técnica de Orientação Educacional (ETOE). Com a
extinção dessa equipe os assistentes sociais foram lotados junto a Secretaria Municipal de Saúde.
8
Os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e Centros Especializados da Assistência Social
(CREAS) têm como objetivo promover a política de Assistência Social no município do Rio de Janeiro de
forma descentralizada.
9
Os Pólos de Atendimento Extra Escolar (PAEE) eram localizados em unidades escolares e tinham a
função de atender os alunos e suas famílias das escolas próximas. Os encaminhamentos eram
realizados pela gestão ou coordenação pedagógica das escolas às famílias que buscavam
acompanhamento às crianças com dificuldades de aprendizagem e relacionamento, na forma de grupos.
17
As famílias também eram atendidas no mesmo momento por outro profissional. Os grupos eram
dinamizados por professores com formação em psicologia, pedagogia e fonoaudiologia.
10
Como referência podemos citar a 4ª Coordenadoria de Assistência Social e Educação que, no mesmo
território, possuía em 2007 sete CRAS e CREAS e três PAEE.
11
O IHA é a instituição responsável pela educação especial na SME/RJ e administrou a RPE em
conjunto com a Gerência de Serviço Social na Educação (GSSE).
12
Fato que realmente aconteceu em 2008, no qual alguns assistentes sociais foram advertidos em Diário
Oficial pelo não cumprimento das metas. Essas metas serão apresentadas e analisadas ao longo deste
estudo.
13
A Comissão de Educação do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (CRESS/RJ) foi o
lugar da discussão ética, política, teórica e metodológica sobre o trabalho e que possibilitou, aos que se
disponibilizaram a participar, uma reflexão sobre a realidade ao qual estávamos inseridos. Como também
18
a participação sindical na luta contra o assédio moral. A Comissão de Educação do CRESS/RJ está em
funcionamento desde 2003 e vem sendo um espaço de discussão sobre o Serviço Social e educação, de
socialização de experiências e de fortalecimento profissional. O CRESS/RJ possui outras comissões
temáticas que “são criadas para proporcionar à categoria o aprofundamento de temáticas relacionadas às
políticas públicas e de questões referentes ao exercício profissional nos diversos campos sócio-
ocupacionais nos quais o assistente social está inserido. São constituídas por assistentes sociais da
diretoria e da base que podem promover debates, estudos, propor pareceres, pesquisas, dentre outras
ações.” Disponível em http://www.cressrj.org.br/conjunto.php
14
O Sistema Municipal de Assistência Social foi criado pela lei 3343 de 28/12/2001, onde se institui “um
sistema articulado de planejamento, coordenação, supervisão, orientação, execução e controle das
ações inerentes assistência social em toda a rede de serviços das políticas básicas municipais”. A crítica
de Rodrigues se assenta na centralidade que a política de assistência social ganha na atuação do
assistente social, independente da política setorial ao qual estiver inserida (saúde, educação etc). Nesse
sentido, a única forma de inserção do Serviço Social na prefeitura do Rio de Janeiro em qualquer
19
Pudemos perceber que boa parte dos/as assistentes sociais da RPE defendia
que a atuação do Serviço Social deveria ocorrer na educação, e não junto aos CRAS e
CREAS em parceria com as escolas através do Programa Bolsa-Família (PBF)15. Ou
seja, a defesa de que este profissional pode contribuir na elaboração, implementação e
execução da política educacional, mas para que isso aconteça é necessária uma
vivência junto ao cotidiano desta política. O início desse trabalho se deu em 2007, mas
apenas em 2009 é que o espaço de atuação profissional passou a ocorrer única e
exclusivamente nas escolas municipais. Até então, alguns assistentes sociais mal
conseguiam atuar e conhecer a dinâmica escolar, pois a rotina do CRAS, baseado no
PBF, e a cobrança por metas afastavam os/as profissionais dessa realidade.
Dificultando a reflexão acerca do processo de trabalho na educação, pois a discussão
centrava-se no planejamento, organização e execução do PBF, sobretudo, no
atendimento aos alunos e suas famílias beneficiárias do programa e assim deixando de
perceber a totalidade da realidade escolar.
Desta forma, o ano de 2009 foi o momento em que muitos assistentes sociais
iniciaram o trabalho realmente no âmbito da política de educação, o que propiciou
novos questionamentos e novas formas de pensar a atividade profissional. Mesmo que
com vínculos institucionais com a SMAS/RJ16, a aproximação com as escolas foi um
secretaria municipal estava regida pelo SIMAS. Cf. RODRIGUES, Mavi. Assistencialização da seguridade
e do Serviço Social no Rio de Janeiro: notas críticas de um retrocesso. Serviço Social & Sociedade, São
Paulo, n. 91, 2007.
15
O PBF é um programa de transferência de renda que no município do Rio de Janeiro é gerido de forma
intersetorial. A SMAS é responsável pela inserção e atualização das famílias no Cadastro Único do
Governo Federal que é obrigatório para receber o benefício. A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa
Civil (SMSDC) tem como sua responsabilidade acompanhar a condicionalidade onde crianças e mulheres
devem ser acompanhadas nos Postos de Saúde a cada seis meses. E a SME, controlar a freqüência dos
alunos que são beneficiários do PBF. A condição é uma freqüência escolar de 85% (10% a mais
daqueles alunos que não recebem Bolsa Família).
16
Nesse ano em que um novo secretário assume a pasta da Assistência Social do município do Rio de
Janeiro é organizada uma nova Gerência do Serviço Social na Educação (GSSE). Essa gerência foi
criada como parte da RPE e tinha a função de organizar e orientar o trabalho do Serviço Social junto às
escolas municipais do Rio de Janeiro. Porém, na gestão anterior estava centrada na lógica de realizar a
assistência social na educação, com um foco no PBF. Em 2009, uma nova GSSE é formada com uma
profissional que vinha da base da RPE e assim um diálogo mais próximo com a educação começa a ser
travado. Assim, inicia-se em muitas áreas pela primeira vez um trabalho do Serviço Social junto às
escolas, um trabalho não apenas centrado no PBF. Desta forma, atividades que favoreciam o
20
processo que contribuiu para reverter àquela relação distorcida entre o/a profissional de
Serviço Social e a política de assistência social, como algo que, por vezes, adquiria o
mesmo significado.
A tarefa de diferenciar a profissão da política social foi de grande importância
para que a educação enxergasse o/a assistente social como um profissional que
pudesse contribuir com o cotidiano escolar em sua totalidade, e não apenas no PBF.
Esse processo se deu em todo momento, desde os posicionamentos críticos ao
direcionamento do trabalho centrado no PBF, que aconteciam nas reuniões em
conjunto com as Coordenadorias Regionais de Educação (CREs), como também na
atividade no interior das unidades escolares que em diversos momentos se mostraram
além da execução da política de assistência social. A articulação com a rede
socioassistencial, os estudos de caso, a participação ativa nos espaços de discussão
coletiva das escolas e da área de educação, entre outros, demonstravam a posição
ética e política do Serviço Social atualmente.
Deste modo, em 2009 o Serviço Social não só se insere efetivamente na política
de Educação, como também passa a estar mais presente nas discussões sobre o
trabalho interdisciplinar. Até então, ocorria uma dinâmica diferenciada no que deveria
ser um trabalho interdisciplinar, visto que havia o/a profissional vinculado à política de
assistência social, no caso o/a assistente social, e o da área de educação17, que era o/a
psicólogo (a). Enquanto os/as psicólogos (as) pensavam sobre como realizar seu
protagonismo juvenil e a gestão democrática começam a ser pensados pelo Serviço Social. Esse tipo de
ação foi favorecido pelo documento organizado por parte dos assistentes sociais da RPE sobre as
diretrizes gerais para o Serviço Social na Rede de Proteção ao Educando (ZANETTI, M. P. et al.
Diretrizes Gerais para o Serviço Social na Rede de Proteção ao Educando. SMAS/PCRJ. 2009).
17
Vale ressaltar que a lotação do psicólogo na educação não fez com que o mesmo fosse visto como
profissional dessa política social, mas sim como um profissional da saúde que estava atuando na
educação. Isso se deu por conta do concurso público realizado pelos psicólogos que era destinado ao
provimento junto a Secretaria Municipal de Saúde, mas a chamada foi para lotação junto a Secretaria
Municipal de Educação. As diversas capacitações sobre psicologia e educação desde 2007 tem
desmistificado essa inserção. Não nos aprofundaremos no tema, mas avaliamos como importante esse
destaque, para a compreensão da entrada de outros profissionais, que não sejam professores, na política
educacional.
21
trabalho nas escolas, os/as assistentes sociais ainda lutavam para conseguir entrar nas
escolas.
Esse histórico é de extrema importância para compreendermos que a entrada do
Serviço Social na política de educação se deu a partir da SMAS/RJ, com um foco de
atuação nas escolas municipais. Este processo, necessário para que entendamos as
lógicas que eram priorizadas pelas respectivas secretarias na organização do trabalho
junto às escolas, como também, a conjuntura social, econômica e política que propiciou
esse campo de trabalho. Assim, nessa dissertação apresentamos como momento
importante de nossa pesquisa, os documentos oficiais que pautaram o trabalho dos/as
assistentes sociais nessa fase até chegarmos à criação do Proinape.
Este programa foi criado a partir da Portaria E/SUBE/CED nº 04 de 10/12/2009
com a junção do trabalho já realizado pela Rede de Proteção ao Educando e a Equipe
de Atendimento Extra-Escolar18. As equipes do Proinape são compostas por assistentes
sociais, professores (as) e psicólogos (as) lotados na SME/RJ. A atuação da equipe
interdisciplinar se dá junto às escolas municipais que estão divididas entre as dez (10)
CREs19. Portanto, consideramos que é a partir da criação do Proinape que se consolida
o trabalho do/a assistente social junto à política educacional carioca. Um início ainda
intersetorial, mas que, no decorrer do ano de 2010, passa a ser um programa exclusivo
da área de educação, em função da transferência de lotação dos/as assistentes sociais
da SMAS/RJ para a SME/RJ.
A lotação dos/as assistentes sociais junto a SME/RJ foi possível pela criação do
Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (NIAP), através da resolução nº
1089 de 22/07/2010. O NIAP fica responsável pelas ações interdisciplinares junto a
SME/RJ, tendo como principal ação o Proinape. Em 13/07/2010, o prefeito Eduardo
18
A Equipe de Atendimento Extra-Escolar contava com professores regentes formados em psicologia,
psicopedagogia e fonoaudiologia e tinha por objetivo a atuação junto aos alunos encaminhados pelas
escolas municipais que apresentavam dificuldades no processo ensino-aprendizagem.
19
A Política Educacional na cidade do Rio de Janeiro é organizada através de uma divisão territorial em
10 (dez) áreas, chamadas de Coordenadorias Regionais de Educação (CREs). Estas, de forma
descentralizada, possuem uma função de gerir, organizar e executar as ações enviadas pela SME,
repassando as determinações diretamente para as escolas que fazem parte daquela fração territorial. A
partir de 2013, por conta de uma redivisão territorial a SME/RJ acrescenta a 11ª CRE. Como nossa
pesquisa é datada de 2010 à 2012 nos referiremos como 10 (dez) CREs.
22
Paes assina o decreto nº 32.506 que modifica dois decretos que dispõem sobre o
SIMAS (nº 21.058 e nº 21.059), colocando o NIAP como um dos responsáveis pelas
ações do Eixo de Promoção da SMAS/RJ.
Assim, o NIAP é criado para que seja possível a lotação de assistentes sociais
junto a SME/RJ, dentro da lógica proporcionada pelo SIMAS, na qual o Serviço Social é
subordinado à organização da política de assistência social. Essa estratégia
administrativa não desvincula os/as assistentes sociais da SMAS/RJ, tendo assim
sempre a tensão da possibilidade do Serviço Social na SME/RJ estar subordinado à
SMAS/RJ. Atualmente, não há essa interferência pelo fato do pagamento do salário
desses profissionais ser feito pela SME/RJ, o que garante que as demandas da
Educação sejam priorizadas.
Assim, focamos a maior parte de nossa pesquisa de campo, nesse momento do
trabalho, procurando analisar as racionalidades que vêm orientando o processo de
trabalho coletivo da educação, do qual o/a assistente social participa na SME/RJ.
Segundo Almeida e Alencar (2011), cada política social produz sua dinâmica de
trabalho, com processos de trabalhos institucionais e inserções profissionais
diferenciadas. Nesse estudo, apresentaremos como as orientações de organismos
internacionais têm impactado na organização do processo de trabalho coletivo da
educação, como, por exemplo, as metas direcionadas à Educação Básica, através do
IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e da municipalização através
de uma lógica financeira proporcionada pelo FUNDEB (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação).
Nesse sentido, a SME/RJ tem como responsabilidade no âmbito da política de
educação, a oferta de Educação Infantil, do Ensino Fundamental, da Educação
Especial e da Educação de Jovens e Adultos. Os profissionais do Proinape, em sua
maioria, atuam no Ensino Fundamental, devido à cobrança institucional que é feita na
área de educação pela alfabetização e pela paridade entre série e idade, visando atingir
os índices que os organismos internacionais utilizam para o ranking dos países com
melhor desenvolvimento educacional. Esta é uma lógica que vem se materializando
23
contribuições de Rodrigues (2007), Pastorini (s/d) e Mota (2009 e 2010) que nos
ajudam a pensar a inserção do Serviço Social na educação pela via da assistência
social.
Organizamos o terceiro capítulo fundamentado na análise das tendências de
racionalização da política educacional brasileira, pautada nas orientações dos
organismos internacionais que se materializam com mais intensidade nos anos de 1990
e que se consolidam nos anos 2000, através da aprovação de diversas legislações (Lei
de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, Plano Nacional de Educação – PNE e Plano
de Desenvolvimento da Educação – PDE). As contribuições de Almeida (2011), Frigotto
(2011) e Saviani (2009) pautaram nossa discussão, que foi permeada pela pesquisa
junto ao site do MEC (Ministério de Educação e Cultura) a fim de dar conta dos
programas e ações. Também analisamos o PDE, PNE 2001-2010 e o projeto do PNE
2011-2020.
Compreendendo a conjuntura mundial e nacional, nos aproximamos da realidade
carioca que, desde 2009, aderiu ao Compromisso Todos Pela Educação, organizando
assim, seu processo de trabalho coletivo implantando diversos programas e projetos.
Partimos da concepção dos autores que utilizamos para abordar as mudanças na
gestão da Educação Básica, que se sustenta no FUNDEB e que, por consequência,
induz à municipalização da política através da lógica financeira. Nesse sentido,
pesquisamos junto aos sites da SME/RJ a forma de organização da política educacional
carioca. Percebemos a tendência de racionalização que se expressa no processo de
trabalho coletivo da Educação, através de uma lógica produtivista com forte orientação
privada, centrada no alcance de metas e com foco na melhoria do desempenho escolar.
Mas, também apresentamos outras lógicas que se evidenciam no cotidiano institucional,
e que decorrem das legislações sociais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), que apresentam a escola como parte da Rede de Proteção a Criança e ao
Adolescente.
Considerando essas mediações, iniciamos a análise documental. No momento
da qualificação a professora Eliana Martins indicou que o estudo poderia conter além da
análise documental entrevistas com os/as assistentes sociais. Sugestão que adotamos
26
universo foi representativo para nossa pesquisa e nos apresentou um retrato das
racionalidades em disputa no processo de trabalho do Proinape. Vale ressaltar que não
tivemos acesso aos Planos de Ação de 2011 e 2012, como também a Avaliação Final
de 2010, 2011 e 2012 de duas CREs. Ou seja, das dez CREs em apenas duas não
pudemos ter uma análise processual através de seus documentos. Como em nossa
pesquisa consideramos o todo do Proinape e não cada CRE, a falta desses
documentos não altera o resultado da pesquisa. O motivo do não-acesso a essa
documentação é porque a mesma fica arquivada na CRE e, devido a certas
organizações administrativas, referentes tanto aos recursos humanos quanto na
logística de cada Coordenadoria, esses documentos não foram encontrados em tempo
hábil para esta pesquisa.
Através deste estudo, esperamos poder contribuir com o debate teórico sobre
Serviço Social na educação e assim qualificar o trabalho desenvolvido junto a SME/RJ.
Entendemos que compreender as diversas racionalidades que se colocam nesse
trabalho é de extrema importância para a categoria profissional, como também para a
política educacional da qual fazemos parte enquanto trabalhadores. Um trabalho que
tem pouco tempo, mas que já possui um arcabouço empírico e teórico sobre esse
espaço sócio-ocupacional em que o/a assistente social sempre foi chamado a atuar.
31
20
A fase revolucionária da burguesia pode ser compreendida entre o período que se inicia com a
Revolução Francesa (1789) e finda com a Revolução Proletária (1848), quando a possibilidade de outra
organização social se coloca como possível e a burguesia passa de um discurso revolucionário para um
discurso conservador.
34
o Homem como centro, a partir de discursos racionais, que começaram a apontar outra
forma de ver e se reconhecer no mundo.
A organização social e econômica burguesa traz novos valores, dentre os quais
o esforço pessoal e o trabalho que passam a ser mais reconhecidos que o título de
nobreza. O capitalismo é assim uma forma de organização social, política e econômica
baseada na forma de viver da classe burguesa. Não podemos negar que o capitalismo
trouxe um progresso em todos os âmbitos. Se pensarmos no âmbito econômico, o
capitalismo trouxe uma atualização de possibilidades apenas latentes na economia
feudal e, para isso, era necessária “a dissolução e desintegração das relações feudais
de produção, de suas formas de divisão do trabalho” (COUTINHO, 2010, p. 25).
Assim, alguns filósofos burgueses – inspirados nesse momento progressista do
capitalismo – não estavam preocupados com o imediatismo, ou seja, em classificar e
explicar o momento atual e sim em compreender o processo pelo qual a realidade é
constituída, como uma síntese de possibilidades e limites, um todo racional em que seu
conhecimento e domínio estão abertos à razão. Parte dos pensadores dessa época,
segundo Coutinho, apresentava uma nova dialética racional, que diferentemente da
dialética dos gregos, tinham como objetivo a apreensão do ser social e histórico.
22
Essa discussão que consideramos pertinente no texto foi baseada em nota de rodapé de Guerra (2011,
p. 46), na qual a autora coloca anotações de curso realizado.
23
Não nos deteremos aqui aos pensadores anteriores ou contemporâneos a Hegel. Para o objetivo
desse texto partiremos de Hegel, para uma discussão mais ampla ver Coutinho (2010) e Guerra (2011).
24
Hegel é um dos mais importantes filósofos da fase revolucionária da filosofia burguesa, mas sua
análise não considera a mudança da realidade. Por isso, sua análise é considerada idealista, conforme
observa Lukács, a realidade para Hegel permanece “maculada com as nódoas da determinação” (1989,
p. 33 APUD GUERRA, 2011, p.49) “limitando os homens à apreensão da estrutura do objeto, pela via da
razão, sem que, contudo, possam modificá-lo” (IBDEM).
38
25
Pensador burguês liberal que estudou sobre a economia e seu desenvolvimento.
40
26
A “miséria da razão” – seu empobrecimento e extrema formalização – desemboca num agnosticismo
que oculta a essência do real. Enquanto o racionalismo da época clássica propunha-se conquistar
terrenos cada vez mais amplos por meio da razão humana, o miserável racionalismo da decadência
preocupa-se principalmente em estabelecer “limites” para o conhecimento; enquanto a filosofia clássica
era preponderantemente ontológica, preocupada com o conteúdo objetivo do mundo, o agnosticismo
decadente pretende-se simples epistemologia, simples analise formal dos “limites do conhecimento”. A
razão, em suma, deixa de ser a imagem da legalidade objetiva da totalidade real, passando a confundir-
se com as regras formais que manipulam “dados” arbitrariamente extraídos daquela totalidade objetiva.
(IBIDEM, p. 50)
43
Nesse sentido, os fatos sociais devem ser tratados como coisas, percebendo
esse fenômeno como ponto de partida e analisá-lo de forma exterior, ou seja,
“considerar os fenômenos sociais em si mesmos, desligados dos sujeitos conscientes
que deles têm representações” (DURKHEIM, 2001, p. 52). Para o autor, coisa se refere
a algo que só pode ser apreendido através da observação e da manipulação
instrumental, pois somente assim será possível captar as “características mais
exteriores e mais imediatamente acessíveis às menos visíveis e às mais profundas”
(DURKHEIM, 2001, p. 16-17). Ou seja, não há espaço para a interferência da teleologia
do sujeito. A sociedade tem uma dinâmica de evolução e progresso natural e, partindo
dessa premissa, o capitalismo é a forma de organização produtiva mais evoluída e a
última.
Para o autor em questão, o pesquisador deve deter sua análise nas explicações
e constatações fiéis do fato, ou seja, deve relatar e demonstrar o que o fato, depois de
isolado e observado em seu estado de natureza, apresentou. Para isso, Durkheim
coloca a estatística como um meio de isolar o fato social e representá-lo com exatidão.
Desta forma, o papel do pesquisador é apenas de espectador e de descritor do
movimento dos fatos sociais, observando e comparando as leis gerais desse fato para
daí se tirar uma teoria.
Dessa forma, essa perspectiva apresenta a neutralidade como premissa para
que a análise seja alçada ao status de cientificidade. Para o autor, não se podem ter
objetivos éticos e/ou políticos no processo de apreensão da realidade, pois dessa forma
se constituirá em qualquer outra coisa, menos em ciência. Esse é o núcleo racional do
pensamento positivista. A racionalidade consiste em entender o comportamento
humano através de procedimentos científicos, como explica o próprio autor:
46
sociedade. Estado e/ou família reproduzem as relações que ocorrem no âmbito social,
coletivo, e essas relações exercem sobre os sujeitos uma ascendência. Dessa forma,
as instituições têm como objetivo central a coesão social. O autor considera que os
indivíduos são naturalmente egoístas, sendo assim o mesmo propõe uma ação junto à
sociedade. Essa ação deveria acontecer a partir da criação de corporações
profissionais, tendo como função exercer uma moral, principalmente junto às crianças,
pois os “adultos já estão com o espírito deformado por preconceitos passionais” (LÖWI,
1994, p. 28).
Como exemplo, podemos apresentar a escola pública laica, que para Durkheim
era a instituição social capaz de disseminar uma moral cientifica, sendo administrada
pelo Estado, livre dos preceitos e dogmas religiosos. Para a materialização desse
objetivo a necessidade das corporações profissionais que atuariam priorizando formas
de coação e disciplinamento sociais, através de ações sociais de cunho pedagógico
mediante procedimentos técnico-racionais. Essa racionalidade apontada pelo autor é
uma das formas do Estado atuar junto à questão social priorizando a técnica
instrumental através de ações de cunho racionalizador, conforme nos aponta Guerra:
de ação sobre a sociedade” (GUERRA, 2011, p. 57) que não ultrapassa a ordem
burguesa, pois se baseia na concepção moderna da razão que está intimamente ligado
ao processo de socialização da sociedade do capital, em que a industrialização e
urbanização apresentam um crescimento do controle sobre o processo de trabalho,
tendo por consequência uma valorização da dimensão instrumental em relação a
dimensão emancipatória na compreensão da razão.
Dentro dessa mesma linha de análise, apresentamos a racionalidade formal-
burocrática, a partir da sociologia compreensiva que segundo Guerra (2011) tem no
historicismo alemão sua base e, em Max Weber, seu principal teórico. Uma vertente
que em uma análise superficial pode apontar para a emancipação, pela recuperação de
conceitos como historicismo e o humanismo. Mas, ao mesmo tempo em que essa
vertente recupera esses conceitos, não ultrapassa os limites da ordem burguesa.
Distanciando-se assim, de um discurso conservador na forma de se pensar a
sociedade, porém sem avançar em uma perspectiva revolucionária.
Para Lucien Goldmann (apud LOWY 1994) as condições sócio-históricas
explicam as diferenças entre Durkheim e Weber, pois enquanto o primeiro vivia apenas
uma ameaça da classe operária e coloca sua teoria para compreensão e manutenção
da ordem vigente, Weber viveu as lutas operárias de forma mais latente, não sendo
possível desconsiderar a disputa de classe e enxergar no capitalismo suas formas de
exploração. Mas, Weber traz algumas proximidades com o positivismo e, mesmo não
apontando qualquer influência dele em seus escritos, a neutralidade axiológica é uma
delas, apesar de tratá-la de uma forma diferente da de Durkheim, pois considera que o
pesquisador tem influências na escolha do objeto, a partir de suas vivências e
emoções. Mas, na análise, deve-se preservar a neutralidade e o resultado deve ser
válido em qualquer parte do mundo, independente de sua cultura.
Weber critica a influência da biologia nas ciências sociais, ou seja, não vê a
possibilidade de utilização dos mesmos instrumentos de estudo da natureza nas
reflexões sobre a economia, por exemplo. Não há, nesse autor uma crença de coesão
social, porém existem tipos ideais que devem ser buscados para uma melhor harmonia
na sociedade. Mas, em seu método de análise, propõe um tipo ideal, que deve ser o
49
conhecer todos os aspectos da realidade, mas reconhece que os fatos fazem parte de
um todo dialético.
Marx, em seus estudos, apontou a centralidade do trabalho e sua importância
para a humanização do homem, discordando do processo de naturalização da
organização de produção capitalista. O autor procurou desvelar as relações que se
estabelecem nessa organização social, que se apresenta de forma explícita na fábrica e
vai se espraiando para a vida social, como condição de reprodução das condições
necessárias a continuidade do modo de produção capitalista. A racionalização
apontada pela filosofia burguesa conservadora e aplicada na produção fabril vai
adentrando as relações de reprodução social e, assim, fetichizando as formas de ser e
de viver próprias do capital.
A razão dialética propõe uma forma de análise que vai ultrapassar a aparência
do fenômeno, traz a possibilidade de enxergar as contradições que se apresentam no
cotidiano e, assim, unir o que se coloca teoricamente à ação. Não existe uma
neutralidade nesse sentido, mas sim um movimento de reflexão-ação dos homens em
relação ao contexto social. A razão dialética é a categoria que ajuda a conhecer e dar
cientificidade a vida em sociedade, pois:
colaboram para o desenvolvimento capitalista e outra que atende parte das demandas
da classe trabalhadora forçada pela luta de classes e na busca do consenso.
Assim, a discussão de Estado é importante para que possamos compreender as
racionalidades nas formas de organização dos processos de trabalho coletivos dos
serviços sociais públicos. Hegel entende que, em uma sociedade centrada na
propriedade privada, o Estado deve garantir o Bem e preservar o Universal. Pois,
somente através da propriedade privada é que podemos ter liberdade, porém essa
liberdade deve ser regulada senão há uma tendência para anarquia, no qual certos
grupos podem não ter acesso à propriedade e, assim, produzir desigualdade e miséria.
Então, o Estado é a instituição que atua nessa contradição através do binômio
Bem/Universal. Desta forma, o Estado para Hegel é que funda a sociedade civil.
Já para Marx, ao contrário de Hegel, a partir do desenvolvimento das relações
econômicas e sociais que se estabelecem na sociedade civil, é que se organiza o
Estado, representando uma estrutura jurídica e política dessa sociedade e atendendo
aos interesses da classe dominante. Segundo o autor, o Estado pode, no máximo,
acomodar interesses antagônicos, no qual aparentemente atende a interesses
universais. Nessa contradição, no qual a alienação deve contribuir para uma análise
apenas do fenômeno, é que o Estado pode atender aos interesses das classes
subalternas. No caso da sociedade capitalista, a função do Estado é garantir a
manutenção das relações de produção estabelecidas pela ordem do capital.
O que podemos concluir a partir das formulações de Hegel e Marx é que, apesar
de suas concepções distintas de Estado, essa instituição, dentro do sistema capitalista,
é a única que pode incluir os interesses das classes subalternas, mesmo tendo como
objetivo a manutenção das relações de produção. Partindo dessa contradição, o Estado
é o espaço privilegiado para luta de classes e abre possibilidades no interior de
processos de trabalho coletivos nos serviços públicos, de reconhecer e defender
interesses e projetos ético-políticos diferenciados, e assim perceber as racionalidades
que estão impressas nas políticas sociais públicas. Logo:
57
28
Entendemos questão social segundo Iamamoto (2001) onde ela é “apreendida como o conjunto das
expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção
social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se amplamente mais social, enquanto a apropriação dos
seus frutos mantém-se privada, monopolizada por parte da sociedade”. (p.27).
59
atividade instintiva, pois apenas o ser humano pode antever o resultado antes de sua
realização. Luckács apud Iamamoto (2007), considerando a centralidade do trabalho
para a humanidade, compreendeu-o como uma atividade ontológica, ou seja, através
do trabalho o homem se humaniza, torna-se um ser social. Um processo carregado de
historicidade que desmistifica qualquer relação natural que se estabeleça entre o
homem e a natureza, a partir do trabalho. Ou seja, qualquer animal pode realizar
atividades que satisfaçam suas necessidades, mas apenas o homem pode satisfazer
necessidades biológicas e naturais pela construção de meios que facilitem esse
processo, criando novas necessidades.
Nos termos do próprio Marx (2004): “o que distingue, de antemão, o pior
arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de
construí-lo em cera” (p.30). Temos assim, na dimensão teleológica uma característica
própria do trabalho humano, no qual apenas o homem pode projetar o produto final, que
ainda nem começou a ser realizado. Desta forma, o início do processo de trabalho, o
momento de previa-ideação, em que será pensado como se alcançará o objetivo já
idealizado.
Assim, para a realização desse produto o homem necessita de meios para
produzi-lo, de dispêndio da força de trabalho, ou seja, do trabalho em si e de um
objetivo a ser alcançado, uma finalidade. Todo esse processo que se inicia idealmente
e termina com o produto é o processo de trabalho.
trabalho é uma relação entre coisas, no qual o trabalhador não possui o controle sobre
sua atividade, como também não tem acesso ao produto realizado, pois sua força de
trabalho é vendida a outrem, que dita como se dará o processo de trabalho, além de se
apropriar do produto final.
O processo de trabalho na lógica capitalista se subordina ao processo de
valorização, faz parte do processo de produção da mercadoria, gera valor de uso e
valor de troca e, neste sentido, converte-se em fator de valorização do capital. O capital
se metamorfoseia de várias formas durante o processo de produção, na forma
mercadoria (na lógica capitalista, o próprio trabalho aparece como mercadoria) e na
forma dinheiro. Esse capital deve valorizar-se, deve gerar uma mais-valia, que só
ocorre no processo capitalista de produção devido a condições e premissas dadas:
Nesse sentido, a mercadoria deve ter valor de uso e valor de troca. Ou seja, a
mercadoria tem que satisfazer uma necessidade e possuir propriedade útil. Nos
processos de trabalho em geral – sem a interferência do capitalista – o objetivo é a
produção do valor de uso, o que para Marx é o que determina o trabalho concreto.
Na sociedade capitalista a força de trabalho vira uma mercadoria e o processo
criativo e histórico que faz com que o homem, através de sua atividade, possa criar
novas necessidades e novas respostas, acaba por se tornar um processo mecanizado
e sem sentido, fundando assim, um processo de alienação, na medida em que sua
finalidade já não se localiza no trabalhador, mas naquele que explora o trabalho
assalariado.
Marx, ao abordar a função do trabalho assalariado no processo de valorização
não está mais tratando de sua forma concreta, mas sim do trabalho abstrato que se dá
apenas na sociedade burguesa, na qual o trabalhador não possui os meios de
64
produção e a finalidade de sua atividade não lhe pertence, mas sim ao patrão. O
homem sem a interferência da produção capitalista idealiza, realiza e concretiza seu
produto. Na lógica do capital, o operário é convocado apenas na realização, não pensa
anteriormente sobre o que será o produto final, que não pertence a ele e sim ao patrão.
instrumentos não sejam colocados para contribuir com o operário e sim para lhe sugar
toda energia e dispêndio possível. A força de trabalho é uma mercadoria dentro da
lógica capitalista, e quem a compra utiliza-a como forma de valorizar o capital. Para que
todo esse processo ocorra de forma satisfatória para o capitalista é necessária à
apropriação do trabalho não-pago, ou seja, o operário trabalha além para gerar uma
mais-valia que não é convertida na forma do salário, mas sim revertida ao patrão. Nos
termos de Marx:
Nesse sentido, o trabalho não pode ser natural, ele é construído e constituído
historicamente, ele é social e historicamente determinado, é uma atividade coletiva.
Iamamoto contribui para essa afirmação:
Marx em seus estudos teve como objetivo desvelar as relações sociais alienadas
a partir das categorias teóricas que explicam como se dão as relações econômicas que
regem o mundo capitalista. Sendo assim, desmistificou o trabalho e seus
condicionantes objetivos e subjetivos, que se dão no interior das fábricas entre
operários e patrões, que envolvem a produção e reprodução da vida social.
66
29
O fordismo se ergue como uma nova forma de organização do trabalho. Harvey (1992) entende que
não há uma nova forma de organização do trabalho, mas sim uma racionalização de velhas tecnologias e
uma detalhada divisão do trabalho preexistente. O que Ford traz de novo é a esteira, que traz o trabalho
até o operário e com isso economiza muito tempo e se tem um grande salto em termos de produtividade.
O fordismo aliou-se ao keynesianismo como forma de conter as contradições inerentes ao capitalismo. O
estado no pós-45 se detinha em conter as oscilações fiscais e uma gama de políticas sociais que
liberassem o salário para o consumo, uma necessidade desse novo modo de vida criado pelo fordismo –
a produção e o consumo em massa. Para maior aprofundamento sobre o tema: Harvey, D. A condição
pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
68
de serviços, no qual grande parte das atividades não produtivas passa a ser capturada
pela lógica do capital. O que pretendemos é compreender o processo pelo qual
estamos vivendo, nos utilizando das categorias colocadas por Marx sobre os serviços,
que mesmo tendo pouco desenvolvimento em sua época, contribui para a análise da
realidade atual. Segundo Costa:
Esse processo não deve ser identificado como uma evolução do setor de
serviços que está se “adaptando” a nova lógica do capital. É, antes de tudo, um
desenvolvimento das forças produtivas e de novas necessidades coletivas que passam
a ser interessantes ao capital, com o intuito de fazer com que essas atividades, além do
seu valor útil, possam ser lucrativas. Braverman (apud Costa) colabora com esse
argumento, pois:
Os serviços sociais são materializados pelas políticas sociais que tem como
marco histórico o capitalismo monopolista. Anteriormente o Estado liberal tinha por
objetivo apenas a repressão e era considerado um mal necessário. Os ideários liberais
acreditavam que a “mão invisível” do mercado livre regulava as relações econômicas e
sociais e produzia o bem comum. Porém, a ascensão do movimento operário e a
concentração e monopolização de capitais, foram dois processos político-econômicos
que contribuíram para enfraquecer o argumento liberal (BEHRING e BOSCHETTI,
2011).
Nesse contexto histórico o Estado é chamado a regular as relações econômicas
e sociais e manter um ar de coesão social, através do atendimento de algumas
reivindicações da classe operária e manter a acumulação capitalista. Esse atendimento
aconteceu através da política social, e é nesse momento “como um dos agentes
executores das políticas sociais” (NETTO, 2011, p. 74) que o Serviço Social é chamado
a atuar profissionalmente.
Nesse sentido, a profissionalização do Serviço Social não aconteceu pura e
simplesmente pela organização da filantropia e da caridade. Os debates sobre o tema
caracterizam que a ruptura com suas protoformas através do assalariamento e da
finalidade com as atividades realizadas, não mais pessoais, mas sim institucionais
(NETTO, 2011, p.74) é que garantiram o status de profissão.
Essa profissionalização não acontece em qualquer momento histórico, mas sim
no momento de emergência da questão social, no qual o Estado é chamado a regular
com a coerção as consequências negativas, para a classe operária, da relação desigual
entre capital e trabalho, através das políticas sociais. Netto (2005, p. 123) aponta que a
organização burocrática do Estado monopolista exigiu do Serviço Social uma
“modernização conservadora”, requisitando um profissional “moderno” que em conjunto
com outras categorias tivesse domínio dos diversos instrumentais pertencentes a essa
forma de administração. Deste modo:
A racionalidade burocrático-administrativa com que a “modernização
conservadora” rebateu nos espaços institucionais do exercício profissional
passou a requisitar do assistente social uma postura ela mesma “moderna”, no
sentido da compatibilização do seu desempenho com as normas, fluxos, rotinas
e finalidades dimanantes daquela racionalidade. (NETTO, 2005, p.123).
72
Desta forma, não podemos pensar o Serviço Social sem pensar os serviços
sociais e o capitalismo, em seu momento monopolista, que se apropriou desses
serviços para atender a produção capitalista e assegurar as condições sociais e
ideológicas necessárias à geração da mais-valia. A análise dos serviços é importante
para fundamentar a utilização da categoria trabalho, para entender a profissão e suas
possibilidades e limites dentro da atuação profissional.
Entendemos que já no âmbito da reestruturação produtiva, as mudanças na
organização do trabalho e a hegemonia neoliberal têm provocado importantes
reconfigurações nas políticas sociais. O desemprego de longa duração, a precarização
das relações de trabalho, a ampliação de oferta de empregos intermitentes (em tempo
parcial), temporários e instáveis, limitam o acesso aos direitos derivados de empregos
estáveis. Além dessas tendências, outra que se destaca desde a década de 1970, em
quase todos os países da Europa, é a expansão de programas de transferência de
renda.
Destarte, a expansão dos serviços se dá hoje na esfera pública mediante a
adoção de racionalidades instrumentais que modificam a estrutura burocrática estatal a
partir de mecanismos de controle e gestão que subordinam a prestação dos serviços
sociais à lógica da produção da mercadoria. Portanto, a administração pública se
encontra cada vez mais subordinada a essa lógica, no qual os processos de trabalho
coletivos são organizados através de objetivos, metas e avaliações advindas de uma
perspectiva gerencial-empresarial.
Os/as assistentes sociais estão imersos nesse contexto, no qual os serviços
sociais públicos se subsumem à racionalidade gerencial. Assim, no cotidiano
profissional atendemos ou buscamos formas de forjar outras racionalidades.
Compreendemos, deste modo, o Serviço Social como trabalho inserido em processos
de trabalho coletivos no âmbito das políticas sociais. Dentro dessa linha de raciocínio,
um profissional que sofre os mesmos impactos que o restante dos trabalhadores. Desta
forma, no segundo capítulo pretendemos adensar a discussão sobre a compreensão do
Serviço Social enquanto trabalho e as mudanças societárias que se apresentam junto a
inserção dessa profissão na política educacional.
73
30
Esse debate se intensificou nas discussões sobre a reforma curricular promovidas pela Associação
Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS) – atualmente Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), que culminou nas Diretrizes Gerais para o curso de Serviço
Social em 1996. Porém, o tema não é consenso e virou alvo de debates atuais.
74
patronais. A mobilização de novos sujeitos políticos no Brasil foi capaz de apontar para
discussões sobre as classes subalternizadas e os serviços prestados pelos assistentes
sociais.
Desta forma, não há como pensar a profissão descolada do movimento da
sociedade. A atuação do/a assistente social com suas possibilidades e limites deve ser
encarada dentro de um sistema de luta de classes. E o Serviço Social não está isento
da alienação e exploração que o capital impõe aos trabalhadores, mesmo que o seu
trabalho seja do tipo complexo e diferenciado.
Prosseguindo no rumo de análise inaugurado por Iamamoto, ela aponta que a
pura alteração para noção de prática do trabalho do/a assistente social acaba por
demonstrar uma concepção liberal, pois autonomiza o sujeito como único responsável
pelos limites e possibilidades profissionais. A prática, para a autora, “é um dos
elementos constitutivos do processo de trabalho ao qual o profissional está inserido,
que é o próprio trabalho” (IAMAMOTO, 2001, p.95), como dispêndio de força humana.
Apesar de a profissão ser considerada liberal, sua autonomia é relativa, pois
parte considerável dos meios e instrumentos necessários ao desenvolvimento do
trabalho no qual atua o profissional de Serviço Social não o pertence, mas sim ao seu
órgão empregador. A condição de trabalhador assalariado coloca para o/a assistente
social os dilemas da alienação que afetam, não só este profissional, mas ao conjunto
de trabalhadores. Nesse sentido:
apresentadas pelos indivíduos que passam pelo Serviço Social, permeada pela luta de
classes, que se apresentam as diversas racionalidades. Somente através de uma
perspectiva pautada na razão dialética que podemos perceber que elas existem, e com
perspectivas societárias de caráter conservador ou emancipatório.
Na sociedade capitalista, a razão entendida apenas em sua vertente
instrumental, voltada única e exclusivamente para o alcance de objetivos já
previamente idealizados, se defronta com a razão em uma perspectiva dialética no qual
a teleologia é valorizada, e só a partir dela podemos pensar quais caminhos seguir. No
processo de trabalho capitalista, essa tensão entre os meios e os fins pode-se definir
como uma relação entre racionalidades conservadoras e racionalidades
emancipatórias.
E, só a partir do reconhecimento dessa tensão, podemos nos propor a
atividades profissionais que valorizem uma racionalidade emancipatória através das
“implicações acerca das escolhas dos meios e no estabelecimento das finalidades”
(GUERRA, 2000, p.17). Nesta direção, está presente a instrumentalidade como a
capacidade a partir de escolhas ético-politicas de definir a direção de sua ação
profissional. Como o sentido que os seres humanos – individual e coletivamente – dão
impulso para atingir uma finalidade, no qual a posição teleológica do sujeito difere a
partir das escolhas de cada um.
tornar o aparato público mais ágil, eficaz e eficiente, com o discurso de racionalização e
moralização do Estado. Assim, o/a assistente social como trabalhador estatal possui
limites diante de seu projeto profissional, que prioriza valores humanos e
emancipatórios para a classe trabalhadora:
Há de se ter atenção para o fato de que o setor estatal vem sendo atravessado
por uma nova racionalidade administrativa, que envolve várias áreas do
governo. O trabalho do assistente social insere-se prioritariamente no setor de
serviços, particularmente nos serviços sociais voltados para as demandas
coletivas de reprodução social. E o setor serviços tende a estar impregnado da
lógica de organização do trabalho dos parâmetros racionalizadores do trabalho
na indústria. A perspectiva da “modernização” da gestão administrativa, a lógica
da produtividade e da diminuição dos custos, tem impacto direto no aparato
organizacional estatal responsável pelos serviços sociais. Tais alterações se
expressam na forma de conceber, definir, organizar e gerir as políticas sociais,
assim como também nas relações e condições de trabalho dos profissionais
envolvidos nos distintos processos de trabalho. Como trabalhador assalariado,
o assistente social sofre os mesmos constrangimentos do conjunto da classe
trabalhadora, inclusive aqueles que são do setor estatal. (ALMEIDA; ALENCAR,
2011, p. 106).
31
Behring e Boschetti (2011) apontam esse período como uma contrarreforma, pois, apesar de não
concordarem com essa estratégia social-democrata, que prega a reforma e os ajustes dentro do sistema
81
após a aprovação da Constituição Federal de 1988 (CF 88), no qual o Brasil adere ao
modelo neoliberal, adotando um discurso de enxugamento das ações estatais de forma
mais orgânica no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, muito embora algumas
ações já se desenhassem nessa direção no governo Collor.
A partir da contrarreforma, as políticas sociais se apresentam de forma
focalizada, fragmentada, e partem de um processo de descentralização sem o apoio
necessário. Porém, a CF 88 traz uma perspectiva democrática, pautando as políticas
sociais numa concepção de direitos sociais e participação popular, no qual a
descentralização deriva a partir de um apoio político-administrativo. Entendemos que a
contrarreforma tem sua concepção de políticas sociais a partir da razão instrumental,
materializando-as através das racionalidades burocráticas e gerenciais. Mas não
podemos desconsiderar que existe uma concepção de política social, a partir da razão
dialética, que propõe ações a partir de uma racionalidade que valorize os direitos
sociais e a gestão democrática.
Assim, a depender do município, do recorte de atuação na questão social e da
visibilidade junto ao capital podem se abrir possibilidades de ações das diversas
políticas sociais baseadas numa compreensão da razão instrumental ou da razão
dialética. Essas possibilidades podem se apresentar a partir da descentralização, que
mesmo acontecendo de forma a desresponsabilizar a União e os Estados na execução
das políticas sociais. É, também, no atendimento local em que se apresentam e se
estabelecem o reconhecimento de formas de resistência especificas e diferenciadas
que se forjam em cada espaço adscrito nos municípios, através das relações sociais
cotidianas.
A descentralização está presente na CF 88 como um dos objetivos que devem
nortear a Seguridade Social. Descrito no inciso VII do artigo 194, modificado pela
Emenda Constitucional nº 20 de 1998, tem a seguinte redação “caráter democrático e
descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos
capitalista, defendem como um conceito da esquerda, que foi apropriado pelo capital na lógica neoliberal.
82
Parte significativa desses profissionais, e dos fios e teias que seus discursos e
práticas movimentam, só é acessível para a maior parte da população pela
mediação concreta das instituições sociais, em especial aquelas que
materializam as políticas públicas. A satisfação de parcela de suas
necessidades sociais depende de um trabalho coletivo, complexo em sua
extensão e especializado em sua hierarquia realizado no âmbito das políticas
públicas, que se enfrentam de modo singular, a partir de racionalidades que
decorrem das disputas dos projetos societários, das tecnologias sociais e das
dinâmicas burocráticas. Do mesmo modo dependem de maior ou menor
visibilidade e movimento dos próprios fios por parte dos especialistas e dos
sujeitos sociais na dinâmica cotidiana das cidades. Por essa razão, as
tendências de descentralização e intersetorialidade das políticas públicas, além
das vinculações que possuem com os processos mais gerais da dinâmica
societária, encerram discursos, desejos e esperanças que se não escapam a
essas lógicas mais gerais contêm outra potência. Não podem ser tomadas
única e exclusivamente como resultados, ou de um processo de
democratização ou de racionalização administrativa sintonizada aos ideais
neoliberais. Elas comportam pulsações que revelam como essa disputa ganha
nuances especificas em cada realidade local, em cada cidade, nos discursos e
práticas dos sujeitos sociais. (ALMEIDA; ALENCAR, 2011, p. 76-77)
ações governamentais através das políticas setoriais. A partir dos anos 2000 a
assistência social, que faz parte do tripé da Seguridade Social – em conjunto com a
saúde e previdência social –, que teve sua regulamentação com a LOAS (Lei
8742/1993), passa a ter centralidade, pois as consequências dos ajustes neoliberais
fazem com que a questão social brasileira se acirre.
No momento em que todas as políticas sociais, em um discurso intersetorial,
passam a ter que debater suas ações setoriais com uma lógica de combate a pobreza
extrema, esse movimento alterou os processos de trabalho de várias políticas públicas,
tendo reflexo no Serviço Social, através de sua atuação profissional nesse âmbito.
Obedecendo ao objetivo do nosso estudo, é importante que entendamos a centralidade
que a assistência social ganha atualmente e como essa centralidade impactou as
diversas políticas sociais setoriais com o discurso da intersetorialidade.
centralidade por conta das mudanças no setor produtivo, nos quais os serviços ganham
destaque e, acabam por encobrir a relação entre atividades tipicamente não capitalistas
e sua contribuição na geração de mais-valia. Esse discurso traz uma mudança na
nomenclatura utilizada junto aos trabalhadores, que não saem de sua condição de
assalariados, mas são considerados agora como colaboradores. A mudança na
nomenclatura não acontece apenas no âmbito empresarial, como o capitalismo traz sua
forma de organização produtiva para as relações sociais o empregado passa a
colaborador, e o cidadão adquire o status de consumidor de serviços privados de
saúde, educação, previdência, etc. Já os desempregados ou trabalhadores
precarizados segundo Mota (2010, p.140) “engrossam a fileira do „mundo da pobreza‟ ”.
Nesse sentido, a autora aponta que a centralidade da seguridade que antes era
da previdência, passa para a assistência “que assume a condição de política
estruturadora, e não como mediadora de acesso a outras políticas e a outros direitos,
como é o caso do trabalho” (MOTA, 2010, p. 138). O que vemos atualmente é a
incapacidade do capital em garantir que o trabalho assalariado seja a forma central de
sobrevivência para a maioria da população, conseqüentemente, a assistência entra
como política compensatória não só aos inaptos ao trabalho, pobres e miseráveis, mas
também aos desempregados. Mota (2010) chama a atenção para o fetiche social em
que a prática da assistência vira a estratégia central de enfrentamento da desigualdade
social.
A autora ainda apresenta o atual quadro da economia capitalista no qual os
níveis de desemprego e pobreza crescem a cada dia, aliado ao aumento da diferença
entre os mais ricos e os mais pobres. Como exemplo, Mészáros apud Mota aponta que
nos Estados Unidos a renda dos 40% mais pobres equivale a 1% dos mais ricos
(MÉSZÁROS apud MOTA, 2010, p. 95). Nesse contexto, surgem conceitos como
“exclusão social” para tentar explicar o atual quadro de ampliação da miséria. Nessa
esteira na década de 1990 surgem outros conceitos como “nova pobreza” e “nova
questão social” que se apresentam como uma “nova” fase do Estado que rompe com a
perspectiva de Bem-Estar Social apregoado pelo Welfare State europeu. Assim:
87
32
Informações no site http://www.mds.gov.br/bolsafamilia Acesso em março de 2012.
89
em que cada política setorial tem que cumprir a sua. E a população vai entrando e
saindo de várias instituições públicas sem entender essa necessidade, apenas
realizando as obrigações necessárias para receber seu “beneficio”. As
condicionalidades fazem com que a população acesse os serviços sociais públicos,
porém as discussões dos objetivos e a melhor forma de atender essa população pouco
se colocam nas articulações territoriais, uma clara ação baseada na razão instrumental.
Assim, essa intersetorialidade que se dá no cotidiano forçado pelas políticas de
transferência de renda, que poderia ser um espaço para se pensar em formas
democráticas e emancipatórias de atendimento à classe pauperizada, tem, na verdade,
impactado negativamente os processos de trabalhos coletivos devido à razão
instrumental imposta ao exercício profissional nas políticas públicas setoriais.
Na educação, por exemplo, entende-se esse momento como uma nova “função”
para escola, e traz conseqüências para o processo de trabalho, pois o controle
diferenciado da freqüência escolar aos alunos inscritos em programas sociais é uma
questão que se coloca, mas que não é recente e nem começou com o PBF. Algebaile
(2004) nos relembra sobre o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o
Programa Bolsa Escola (PBE) criados na década de 1990, que também previam a
transferência de renda e freqüência escolar. E, por algum tempo, essas atribuições
foram de responsabilidade apenas da educação, responsável pelo cadastramento e
acompanhamento da mesma, causando dificuldades na organização do trabalho e da
rotina escolar. A autora aponta ainda que o cadastramento do PBE foi “o mais amplo
cadastramento de pobres feito no Brasil” (ALGEBAILE, 2004, p. 254), que serviu de
base para o Cadastro Único (CADUNICO) que congregou os dados de todos os
beneficiários dos programas assistenciais brasileiros e continua até hoje.
Esse processo de levantamento de demandas ligadas a situação de pobreza
dentro da unidade escolar foi um momento em que a educação se viu no lugar de
“ouvidoria da pobreza”, em que todas as mazelas e dificuldades encontradas pelos
seus alunos e suas famílias adentraram o cotidiano educacional. Não que antes os
profissionais da escola estivessem “vendados” sobre a realidade da comunidade de seu
entorno, mas o cadastramento dessas famílias, segundo Algebaile (2004) fez emergir
90
33
Resolução SME n° 1133, de 16/5/2011, publicado no DORIO n° 44 de 17/5/2011. Disponível em
http://www.rioeduca.net/blogViews.php?id=1101 acessado maio de 2013.
91
curso.
É a partir dessa realidade social contemporânea de subsumir os processos
educacionais às novas necessidades de formação da força de trabalho num contexto
de enfrentamento das crises do capital que o Serviço Social ingressa na política
educacional. Participando de processos de trabalho supostamente intersetoriais que
expressam a centralidade dos programas de enfrentamento à pobreza, no âmbito dos
processos de gestão das formas de acesso e permanência na educação escolarizada.
Entendendo que cada política social tem sua especificidade, o que determina as
condições materiais e objetivas para a organização de seus processos de trabalho,
assim como suas racionalidades, sem perder de vista a totalidade, analisaremos como
se caracteriza a entrada nesse espaço sócio-ocupacional.
Nas últimas duas décadas temos percebido o crescimento da inserção do
Serviço Social na política de educação. Porém, segundo Almeida (2007), esse não é
um espaço sócio ocupacional novo, os/as assistentes sociais atuaram no início de sua
profissionalização no controle da família proletária, junto aos processos de socialização
e educação da classe trabalhadora. No momento em que a profissão é chamada a
contribuir no processo de expansão capitalista brasileira na Era Vargas34, quando as
políticas sociais foram utilizadas como forma de criar um consenso social e contribuir
com o crescimento econômico a partir de mecanismos de cooptação da classe operária.
Os serviços sociais públicos subsumem-se às lógicas racionalizadoras e técnicas da
esfera mercantil e os/as assistentes sociais são os profissionais chamados a atender
essa demanda.
O Serviço Social se profissionaliza no momento de emergência da questão
social, no qual o Estado é chamado a regular com a coerção as consequências
negativas, para a classe operária, da relação desigual entre capital e trabalho. Um
período em que as lutas operárias por melhores condições de trabalho começam a se
acirrar. As crises do capital demonstram incapacidade de gerar lucros eternamente sem
34
Período de 1930 a 1945.
92
38
A reconceituação foi um processo pelo qual o Serviço Social latino americano se questiona e busca
diferentes teorias e metodologias que melhor se adaptem a realidade do capitalismo periférico. Esse
processo foi interrompido devido às ditaduras militares que se instauraram em toda a América Latina nas
décadas de 1960 e 1970. Foi através da reconceituação que o marxismo passou a fazer parte do debate
teórico do Serviço Social. Para um maior aprofundamento sobre o tema ver Netto, José Paulo. Ditadura e
Serviço Social. São Paulo. Cortez, 1998 e Netto, José Paulo. O movimento de Reconceituação: 40 anos
depois. In: Serviço Social e Sociedade nº84. São Paulo. Cortez, 2005.
94
Dentro das três tendências apontadas pelo autor podemos ver as razões que
estão impressas nas políticas setoriais contemporaneamente, colocam o/a assistente
social como profissional requisitado para a operacionalização da razão instrumental,
através de processos conservadores do conceito de intersetorialidade e da
assistencialização das políticas públicas.Mas,também há a possibilidade, através da
razão dialética de racionalidades que tenham como concepção uma educação que vai
além da instrução da sociabilidade burguesa, pautando-se na gestão democrática e nos
direitos sociais. Assim, não podemos desconsiderar que são nessas tendências que
os/as profissionais são convocados a atuar, em esferas que a educação não está
95
39
Documento disponível em www.cfess.org.br acesso em março de 2013.
40
Educação básica compreende a educação infantil, ensino fundamental, educação especial, educação
de jovens e adultos e ensino médio.
41
Uma fonte sobre esse dado é o documento que está sendo discutido no conjunto CFESS/CRESS
“Subsídios para o debate sobre o Serviço Social na educação” (disponível no site www.cfess.org.br), que
dos 116 profissionais que responderam o questionário que embasa o documento, 74 atuam na educação
básica, ou seja, sua maioria.
42
Para maiores esclarecimentos sobre quais secretarias municipais de educação paulistas contam com o
trabalho do assistente social, consultar a tese de doutorado de Martins, Eliana C.B. Educação e Serviço
Social um elo para construção da cidadania. PUC/SP. 2007.
96
militar. Um momento de luta pelas políticas sociais públicas que Mota caracteriza como
uma tentativa de se “instituírem as bases formais e legais do que poderia ser um Estado
de Bem-Estar Social” (MOTA, 2009, p. 57), que, na verdade, ficou apenas na tentativa,
pois segundo Behring o que houve no Brasil foi que:
43
Na página eletrônica da CAPES (www.capes.gov.br) é possível encontrar várias dissertações e teses
sobre a inserção do Serviço Social na Educação.
97
44
Deteremos-nos nesse estudo sobre as consequências da assistencialização das políticas públicas para
educação. Porém, sabemos que essa lógica tem afetado outras políticas sociais entre elas a saúde. Para
uma análise sobre as consequências para saúde ver cf. Rodrigues, M. Assistencialização da Seguridade
e do Serviço Social no Rio de Janeiro: notas críticas de um retrocesso. Revista Serviço Social e
Sociedade, nº 91. São Paulo: Cortez, 2007.
98
não descrito, é possível acrescentar que esse atendimento se daria através do PBF.
Esse é o primeiro ato que compõem a RPE publicado em diário oficial, pela resolução
nº 74 de 10/11/2006. A implantação da RPE aconteceu em janeiro de 2007, com o foco
de atuação pela SMAS/RJ aos/as assistentes sociais no PBF. E, pela SME/RJ o foco de
atuação eram os alunos com dificuldade de aprendizagem em que deveriam atuar os/as
psicólogos (as)
Assim, a cisão entre a equipe interdisciplinar se colocava já, de início, na
vinculação funcional e, por consequência, um distanciamento no trabalho realizado por
cada profissão. Ou seja, a implantação da RPE se deu por assistentes sociais
remanejados da SMAS/RJ e contratados via concurso público específico para esse
projeto. Os/as psicólogos (as) também foram contratados por concurso público que
fizeram para Secretaria Municipal de Saúde (SMS/RJ) e convocados para SME/RJ. O
que queremos apontar aqui é a cisão entre assistentes sociais e psicólogos(as) se dá
pela lotação e pelo foco de atuação.
Assim, a SMAS/RJ organizou o processo de trabalho dos/as assistentes sociais
da RPE através de várias resoluções, em que as atribuições, finalidades e metas foram
definidas apenas pela SMAS/RJ. Pois, as ações eram previstas a um público especifico,
alunos e suas famílias beneficiárias do PBF, e não junto à SME/RJ. Desta forma, era
difícil naquele momento enxergar a intersetorialidade. A escola era apenas o lócus
privilegiado para que a assistência social atuasse através do PBF e, o/a assistente
social, apenas executor dessa política na educação – o que Moreira (2010) bem definiu
como um “CRAS na escola" de forma descentralizada e itinerante, pois a necessidade
de atender várias escolas também era apresentada para o Serviço Social.
O primeiro documento sobre as atribuições do Serviço Social foi realizado em
2006, antes da convocação de novos profissionais por meio de concurso público. Nessa
resolução constava em seu art. 3.º como atribuições do profissional de Serviço Social
junto ao público, alvo da SME as seguintes ações:
45
área de abrangência do CRAS ou Pólo em que estiver lotado; atendimento
imediato às demandas sócio-econômicas das famílias; articulação dos recursos
de assistência, culturais, esportivos e de trabalho e renda ampliando as
possibilidades de extensão do horário escolar; articulação da intersetorialidade
da rede pública, de modo a garantir que o sujeito seja atendido em suas
necessidades prementes; elaboração e acompanhamento de plano de
conquistas em conjunto com profissional da educação e psicólogo. (PCRJ,
2006)
45
Os Pólos de Atendimento Extra-Escolar contavam com professores regentes formados em psicologia,
psicopedagogia e fonoaudiologia e tinha por objetivo a atuação junto aos alunos encaminhados pelas
escolas municipais que apresentavam dificuldades no processo de ensino-aprendizagem.
100
assistência social, seja nos equipamentos da própria SMAS/RJ ou nos das demais
políticas públicas. Uma clara percepção de que o Serviço Social é compreendido como
uma profissão disseminadora da assistencialização das políticas sociais. Essa
concepção não é um “delírio” ou invenção, mesmo com diversas críticas, não podemos
deixar de explicitar que ela advém de uma base teórica:
46
Publicada no Diário Oficial de 25/01/2007. No Diário Oficial de 21/11/2007 foi publicada nova
Resolução (nº107) para distribuição da carga horária dos assistentes sociais que atuavam na RPE, pois a
demanda de trabalho noturna no Projovem também foi destinada a esses profissionais. Na resolução 107
diferenciava-se as metas de quem atua no Projovem, pois considerava-se que havia uma carga horária
menor distribuída no trabalho junto as escolas municipais.
101
Esse foi o primeiro embate entre os/as assistentes sociais e a SMAS/RJ, que no
nível micro se dava junto às Coordenadorias de Assistência Social (CAS) 47. A cobrança
pelas metas individuais era tensa e todos os meses, cada profissional deveria
preencher uma produtividade e as metas estabelecidas deveriam ser alcançadas. Uma
relação própria da razão instrumental, que deixava pouca margem de autonomia. E,
causava tensão, pois os/as assistentes sociais inseridos na RPE não conseguiam se
apropriar da política educacional.
Por vezes, o debate teórico metodológico não fazia sentido para a gestão dessa
secretaria, que se baseava em outra concepção de profissão, na qual entendia que não
havia a necessidade de se apropriar das relações que se estabelecem no contexto
educacional. Pois, o foco era atuação através de uma perspectiva de proteção social,
junto aos alunos das famílias beneficiárias do PBF com dificuldades na
condicionalidade da educação. Ou seja, o/a assistente social deveria se apropriar
apenas dos programas e projetos da assistência social, estabelecendo com as outras
políticas setoriais uma relação a partir das condicionalidades.
Numa perspectiva a partir da razão instrumental, as ações realizadas nas
escolas tinham como objetivo apenas a notificação da condicionalidade da educação,
47
No Rio de Janeiro existem 10 Coordenadorias de Assistência Social que são responsáveis pela organização e
execução da política de assistência social em cada área adscrita, através da fiscalização administrativa das ações
dos Centros de Referencia da Assistência Social (CRAS), dos Centros de Referencia Especializado da Assistência
Social (CREAS) e Conselhos Tutelares.
102
no qual a cada dois meses chegavam listas com os alunos infreqüentes e as sanções
sofridas pela família. A tarefa dos/as assistentes sociais da RPE era reunir essas
famílias, tirar as dúvidas sobre as sanções, agendar atualizações no CADUNICO e
realizar visita domiciliar aos que não conseguimos contato pela escola. Todo esse
processo que previa o cumprimento de metas, e assim não proporcionava uma análise
sobre o impacto do PBF na educação e nas famílias, valorizando apenas no caráter
punitivo do programa.
No cotidiano, alguns profissionais compreendendo o movimento da realidade e
entendendo a possibilidade de serem firmadas outras racionalidades baseadas na
razão dialética, aproveitavam todo o espaço destinado ao trabalho junto às escolas,
como estratégia de reconhecimento desse espaço sócio-ocupacional. Como por
exemplo, os grupos do PBF que mesmo com tudo já previamente definido pela gestão
do programa em âmbito local, os/as assistentes sociais se apropriando da relativa
autonomia, buscavam contribuir com a participação dessa população dinâmica escolar,
partindo das demandas desse público que apresentavam dificuldades na frequência
escolar. Eram estabelecidas respostas profissionais na direção da gestão democrática e
dos direitos sociais. E, sempre que possível, essas demandas eram discutidas com a
direção das escolas, problematizando as situações de vulnerabilidade social e acesso à
educação.
Esse foi um momento no qual que percebemos o desconhecimento das direções
das escolas sobre como lançar e justificar as faltas dos alunos beneficiários do PBF.
Além das dificuldades e sobrecarga de trabalho proporcionado por esse programa na
dinâmica escolar. Neste contexto, um espaço de diálogo foi aberto junto a essas
direções, que mais tarde seria potencializado, com muitas dificuldades de acontecer já
que não era contabilizado nas produtividades individuais. Mas, que proporcionou uma
reflexão sobre as conseqüências do PBF junto ao processo de trabalho coletivo das
escolas, uma característica do ajuste neoliberal imposto ao sistema educacional como
vimos anteriormente. Assim, o/a assistente social a partir de uma razão dialética pode
criar estratégias de atuação contrárias à razão instrumental, ou seja, reconhecendo as
forças de resistência e contribuindo para outra racionalidade.
103
48
No inicio a representação do Serviço Social era um profissional ligado a CAS e não os profissionais da base. Por
vezes conseguimos que um representante da base estivesse presente, mas a efetivação dessa participação só pode
acontecer em 2009 como apontaremos a seguir.
104
vetor político da ação profissional também está relacionada aos processos sociais que
caracterizam a luta ideológica em cada momento histórico. (ALMEIDA, 2005, p. 04)
de supervisores para o Serviço Social49 foi um marco importante para a entrada real do
Serviço Social nas escolas municipais cariocas que além da gerente contou com cinco
profissionais que atuavam na RPE e com histórico de militância no processo inicial pelo
qual as/os assistentes sociais passaram no início do trabalho e que descrevemos
anteriormente. Esses cinco profissionais eram responsáveis pelo acompanhamento
técnico, pela supervisão das/os assistentes sociais e pela mediação entre CAS e CRE.
Esse período foi marcado por conquistas para o Serviço Social na educação, no
qual a participação nos espaços de discussão sobre o trabalho foi garantida. As
capacitações em conjunto aconteceram efetivamente, tanto organizadas pelo IHA como
pela GSSE para toda equipe RPE. Como exemplo, o professor doutor Ney Luiz Teixeira
de Almeida prestou consultoria a GSSE e ministrou o curso sobre a sistematização do
trabalho do qual participaram tanto assistentes sociais, como psicólogos (as). Essa
aproximação também aconteceu no cotidiano, em que o trabalho passou a ser realizado
nas escolas pela equipe interdisciplinar, com uma discussão mais próxima da CRE e a
saída paulatina das demandas da SMAS/RJ.
Esse contexto foi determinante e um marco teórico-metodológico importante
desse período foi o documento sistematizado por um grupo de assistentes sociais da
RPE. O documento intitulado Diretrizes para o Serviço Social na Rede de Proteção ao
Educando se apóia em uma concepção de educação a partir de racionalidade
permeada pela gestão democrática.
49
A GSSE era formada pela Gerente e mais cinco assistentes sociais que supervisionavam a equipe de
Serviço Social que compunham a RPE. Essa formação não aconteceu de imediato, a GSSE foi formada
aos poucos, no início apenas com a gerente e mais três profissionais, os outros profissionais foram
convocados aos poucos demonstrando a visibilidade e credibilidade que a RPE vinha tendo dentro da
SMAS/RJ.
106
50
Equipe de atendimento extra-escolar foi o nome dado aos Pólos de atendimento extra-escolar no ano
de 2009, depois de assumida a nova gestão da SME/RJ.
51
O PROINAPE foi criado a partir da Portaria E/SUBE/CED nº04 de 10/12/2009, com atuação efetiva no
ano de 2010, por isso citamos o inicio do PROINAPE neste ano.
52
Os assistentes sociais, lotados em outras secretarias que não puderam arcar com a folha de
pagamento desses profissionais, passaram por um processo de muita luta política. Como exemplo,
podemos citar o Serviço Social na saúde, que se viu obrigado a deixar seus postos de trabalho e se
apresentarem a SMAS/RJ para serem transferidos para CRAS e CREAS. Foi um momento tenso, mas
com alguns frutos, pois com o apoio do CRESS/RJ esses profissionais conseguiram garantir esse espaço
sócio-ocupacional. Não nos deteremos sobre esse aspecto, mas consideramos importante registrar esse
momento.
108
Podemos concluir que esse foi um dos motivos que contribuíram para a lotação
das/os assistentes sociais na SME/RJ em julho de 2010.53 É a partir desse momento
que pretendemos focar nossa pesquisa. Todo o histórico anterior faz parte do processo
para que o Serviço Social construísse uma racionalidade para seu trabalho junto à
educação. Agora não se tem mais as demandas da SMAS/RJ e a/o assistente social faz
parte dos funcionários da educação, uma inserção diferenciada tanto para a SME/RJ
como para o Serviço Social.
Entender os avanços e retrocessos presentes na RPE contribui para uma análise
das racionalidades presentes no Proinape. Compreendemos que algumas dessas
racionalidades estavam presentes no processo de trabalho da RPE, como por exemplo,
as racionalidades baseadas na gestão democrática e em uma perspectiva de direitos
sociais que foi sistematizada nas Diretrizes para o Serviço Social na Rede de Proteção
aos Educando. Porém, não podemos desconsiderar as racionalidades burocráticas e
gerenciais que permeiam a política educacional brasileira. Assim, no terceiro capítulo
faremos uma análise sobre a organização da política educacional em um contexto geral
e as tendências de racionalização que se forjam na realidade carioca.
53
Não há registros formais sobre os motivos desse processo, o que pontuamos aqui faz parte de uma
interpretação da realidade, a partir da vivência e discussões que a presente autora participou.
109
54
Sobre essa discussão ver Souza Filho (2011) que aponta a discussão sobre a ”Nova Administração
Pública” a partir de uma vertente norte-americana que apresenta não haver diferenças entre
administração pública e privada (Ferlie et al, 1996; Gaetani, 1999; Grau, 1998 e Fedele, 1999) e outra
vertente que apresenta a particularidade da administração pública em relação ao seu caráter democrático
e de preocupação com a cidadania, mas que pode assimilar ferramentas gerenciais (Nogueira, 1998
e2004; Abrucio, 1997; Kliksberg, 1997; Grau, 1998 e pelo Centro Latinoamericano de Administración para
el Desarrollo – CLAD, 1998). p.179
110
55
O processo de mundialização do capital, ao longo dos anos 1990, produziu uma agenda ampla a partir
das demandas geradas pela nova ordem econômica e política que foi incorporada pelos organismos
multilaterais, pautando os debates dos fóruns mundiais e regionais promovidos, sobretudo pela
Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, além do Banco Mundial – conforme já destacamos –, o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional para a Reconstrução e o
Desenvolvimento (BIRD), representando as agências de financiamento, como também os órgãos de
cooperação técnica como o Programa das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) influenciaram decisivamente a política de educação no Brasil. (Almeida, 2011, p. 14)
111
nos anos de 199056 que estabeleceram orientações a serem seguidas por diversas
nações periféricas em busca de um desenvolvimento social e econômico no patamar
das nações de capitalismo central. Essas conferências impactaram na organização da
política educacional, que foi legada ao um espaço periférico na Assembléia Constituinte
e tendo suas legislações pós CF 88 como as últimas a serem aprovadas e assim
sofrendo mais intensamente as intervenções neoliberais.
Desta, forma, as legislações sociais da educação apresentam em seus textos
uma racionalização de suas ações através de uma tendência a organização da política
através de programas e projetos que dessem conta das metas estabelecidas pelos
organismos internacionais. Mas, não podemos desconsiderar que elas também são
fruto de lutas políticas dos movimentos sociais em prol da educação pública, laica e de
qualidade. A LDB foi uma das últimas leis a partir da CF 88 a ser aprovada, apenas em
1996, após diversas emendas e vetos. O Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública
(FNDEP)57 foi um movimento social que reuniu diversas instituições sociais, no qual as
mesmas apresentavam resistências às propostas neoliberais.
A LDB apresentou avanços incluindo em seu texto a educação infantil e a
educação especial como áreas da política educacional (ALMEIDA, 2011). Áreas que
travaram mobilizações diversas para serem incluídas e enxergadas como parte do
processo educativo e não como assistência aos que não tem a capacidade de aprender.
Porém, a organização da educação brasileira se formou a partir de um contexto
neoliberal de pressão dos organismos internacionais em portarias e resoluções pós
56
Dentre elas, destacamos: a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, também conhecida
como a Conferência de Jomtien, em função do local onde foi realizada (Tailândia, em 1990); a Cimeira
Mundial em Favor da Infância (Nova York, em 1990); a Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena,
em 1993); a Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Social (Copenhague, em 1995); e a Quarta
Conferência Mundial sobre a Mulher (Beijing, em 1995). (Almeida, ibidem, p. 14-15)
57
O Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP) nasce no momento de reivindicações pelas
Diretas Já e Constituinte. Este fórum congregava vários movimentos sociais entre sindicatos,
associações, universidades, estudantis e setores progressistas da Igreja Católica. Sua atuação inicial foi
junto aos parlamentares da Constituinte, “possibilitando intensas mobilizações no processo de
elaboração que culminou com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988,
do Capítulo III, Seção I, Educação (artigos 205 a 214).”(Bollmann, 2010, p. 659). Mesmo não tendo todas
suas propostas aprovadas, iniciaram sua luta pela Nova LDB que só foi aprovada oito anos depois da
aprovação da Constituição Federal de 1988.
112
58
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) apresenta sua relação com o PAC 2
disponível em http://www.fnde.gov.br/programas/par/par-apresentacao. Acesso em julho de 2013.
59
“[...] esse movimento constitui-se, de fato, como um aglomerado de grupos empresarias com
representantes e patrocínio de entidades como o Grupo Pão de Açúcar, fundação Itaú Social, Fundação
114
preocupada com a educação e chamando todos os setores para essa discussão. Esse
foi um evento organizado por instituições sociais ligadas a grandes empresas que
apresentaram suas estratégias para uma educação de qualidade. A expertise dessas
instituições é o planejamento estratégico, a qualidade total, as metas, o monitoramento
e avaliação de ações realizadas pelo braço social das empresas capitalistas. Assim, são
elas que “ensinam” através de seus especialistas o Estado a atender as orientações
das agencias multilaterais.
O PDE, através de um conjunto programas para todos os níveis e modalidades
de ensino da educação, se apresenta como um Plano bem abrangente que conta com
vinte e nove ações em 2007. Durante sua execução se ampliou até chegar, em 2009, à
quarenta e uma ações (Saviani, 2009). Almeida (2011) apresentando as ações voltadas
para a educação básica:
Bradesco, Instituto Gerdau, Grupo Gerdau, Fundação Roberto Marinho, Fundação Educar-DPaschoal,
Instituto Itaú Cultural, Faça Parte-Instituto Brasil Voluntário, Instituto Ayrton Senna, Cia. Suzano, Banco
ABN-Real, Banco Santander, Instituto Ethos, entre outros”. (Saviani, 1999, p.32).
60
Disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/ acessado em junho de 2013.
115
61
Segundo Saviani, 2009.
116
apresenta como uma estratégia que assegura a racionalidade gerencial das ações e
investimentos na educação.
O PDE é o “Plano” educacional que está em vigor legalmente. Acreditamos que
mesmo que o novo PNE ainda não tenha sido aprovado, sua proposta está presentes
nos debates sobre a organização da educação. Partindo dessa contradição
apresentaremos as lógicas e contradições presentes no PDE, um documento que
norteia a política em todos os níveis. Assim, esse documento inicia apontando que sua
concepção de educação está em uma perspectiva dialética:
62
O PDE está dividido em seis pilares sendo um deles a territorialidade onde: “o que se busca com o
PDE é corrigir as distorções, dando efetividade aos “desejável processo de municipalização”. Para isso,
ao definir como um dois eixos do Plano a “territorialidade”, elege o município como território privilegiado;
e, no eixo da “responsabilização”, institui o PSR, visando responsabilizar principalmente os gestores
municipais pela qualidade do ensino, assegurando-se apoio técnico e financeiro da União com a eventual
117
nosso caso o Rio de Janeiro. Saviani (2009) mostra com clareza a que lógicas esses
conceitos são vinculados:
[...] ao tratar das razões, princípios e programas do PDE, o MEC acabou por
estabelecer uma aproximação da noção de sistema com o “enfoque técnico”.
No entanto, não podemos perder de vista que a organização dos sistemas
nacionais de ensino antecede historicamente em mais de um século ao advento
do chamado “enfoque sistêmico”. Portanto trata-se de coisas distintas. O
enfoque sistêmico é um conceito epistemológico que está referido a uma
determinada maneira de analisar os fenômenos, mais especificamente ao
método estrutural-funcionalista. Portanto, quando aplicado à educação, o
referido enfoque diz respeito a um dos possíveis modos de se analisar o
fenômeno educativo. Em contrapartida, a noção de sistema educacional tem
caráter ontológico, pois se refere ao modo como próprio fenômeno educativo é
(ou deve ser) organizado. Pela sua vinculação com o método estrutural-
funcionalista, o “enfoque sistêmico” resulta incompatível com a perspectiva de
superação das dicotomias, identificadas com a visão dialética, presente no
“Livro sobre o PDE”. (SAVIANI, 2009, p. 22 e 23)
colaboração do estado em que se situa o município signatário do convenio (ver, no Anexo I, a Seção II
do Capitulo IV do decreto 6094)” (Saviani, 2009, p. 27).
63
A Prova Brasil é aplicada aos alunos do quinto e nono anos do ensino fundamental e terceiro ano do
ensino médio. São provas padronizadas e questionários sócio-econômicos. A média dessas provas é que
subsidiam a o IDEB. Fonte:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=210&Itemid=324. Acesso em
junho de 2013. O PDE também instituiu o Provinha Brasil aplicado aos alunos do segundo ano do ensino
fundamental e é definido como uma diagnose da alfabetização para os gestores municipais. Fonte:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=211&Itemid=328. Acesso em
junho de 2013.
118
64
O Educacenso é uma radiografia detalhada do sistema educacional brasileiro. A ferramenta permite
obter dados individualizados de cada estudante, professor, turma e escola do país, tanto das redes
públicas (federal, estaduais e municipais) quanto da rede privada. Todo o levantamento é feito pela
internet. A partir dos dados do Educacenso, é calculado o Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb) e planejada a distribuição de recursos para alimentação, transporte escolar e livros
didáticos, entre outros. Fonte:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=271&Itemid=339. Acesso em
junho de 2013.
65
Disponível em http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultadoBrasil.seam?cid=15375 Acesso em
julho de 2012.
119
na consulta por qualquer cidadão através da Internet66. No entanto, esse discurso está
atrelado à competitividade entre escolas, alunos e professores além da participação da
família. Participação não em relação à construção de um projeto político pedagógico
voltado para a formação de sujeitos críticos e emancipados capazes de construir e
superar a educação que temos atualmente, mas na qualidade de consumidora de um
serviço que deve cobrar os bons resultados da escola, já que deposita na escola um
produto inacabado e que cabe a educação transformá-lo em um cidadão competitivo e
ciente dos seus direitos de consumidor. Ou seja, um homem que se aproprie do
discurso próprio à sociabilidade burguesa.
“No entanto, de fato, sob a égide da qualidade total, o verdadeiro cliente das
escolas é a empresa ou a sociedade, e os alunos são produtos que os
estabelecimentos de ensino fornecem a seus clientes. Para que esse produto
se revista de alta qualidade, lança-se mão do “método da qualidade total‟, que,
tendo em vista a satisfação dos clientes, engaja na tarefa todos os participantes
do processo, conjugando suas ações melhorando continuamente suas formas
de organização, seus procedimentos e seus produtos. É isso, sem dúvida, que
o movimento dos empresários fiadores do Compromisso Todos Pela Educação
espera do PDE lançado pelo MEC. (SAVIANI, 2009, p. 45)
Entendendo que educação pública sempre foi um espaço disputado por diversos
segmentos de classe devido ao seu objetivo na criação de consenso e disseminação da
ideologia dominante. A escola, deste modo, como um aparelho privado de hegemonia –
nos termos de Gramsci – como a instituição privilegiada de disseminação da educação
burguesa, é alvo de diversas ações públicas e privadas, como espaço para realização
de diversas ações de outras políticas como saúde e assistência social, abrindo espaço
para diversas ações de outros profissionais que não são considerados profissionais da
educação.
Não podemos desconsiderar que a preocupação do setor empresarial para com
a educação está voltada para assegurar as condições necessárias à reprodução de
certo tipo de sociabilidade, além das bases de formação técnica e ideológica da força
de trabalho. As ações de outras políticas sociais no espaço escolar se apresentam
como parte da estratégia de ampliação das formas de acesso das classes subalternas
junto aos serviços sociais públicos. Deste modo, outros profissionais que não os que
tradicionalmente trabalham na educação, estão ingressando na política de educacional
a partir de uma lógica em que a escola forma um produto para um cliente. Em que o
produto é o aluno e o cliente é a sociedade. Contribuindo, assim, na criação do
121
67
Ver mais em ALMEIDA, Ney Luiz Teixeira de. “Apontamentos sobre a Política de Educação no Brasil
hoje e a inserção dos/as assistentes sociais”. In: CFESS. Subsídios para o debate sobre Serviço Social
na Educação. Brasília: CFESS, 2011.
123
68
Disponível o Plano de Ações Articuladas (PAR) e Relatório Público do Município do Rio de Janeiro em
http://simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico/principal.php?system=cooperacao&ordem=7&inuid=3040&itrid
=2&est=RJ&mun=Rio%20de%20Janeiro&municod=3304557&estuf=RJ. Acesso em junho de 2013.
124
utilizando o IDEB como índice que mede a qualidade da educação carioca. E, também
estabelecendo programas e avaliações próprias. A política educacional tem centralidade
para o atual governo. A campanha do atual prefeito para o primeiro mandato foi
baseada, entre outras promessas, no fim da aprovação automática nas escolas
municipais. E esse foi seu primeiro ato de governo, decretar o fim do sistema
educacional baseado nos ciclos de formação69. Quando se coloca nos sites de busca
da internet o nome do prefeito do Rio de Janeiro esse é o primeiro tema que aparece
sobre sua eleição, demonstrando o carro chefe de sua vitória em 2008. Ao iniciar seu
mandato, Eduardo Paes junto aos seus secretários, definiram o Plano Estratégico da
Prefeitura do Rio de Janeiro 2009-201270, em que estão definidas as metas que cada
secretaria municipal deve alcançar nos quatro anos de governo.
Nesse contexto, a Secretária Municipal de Educação é Claudia Costin, que tem
como formação Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas, mestrado
em Economia e doutorado em Gestão. Em sua carreira política foi Ministra da
Administração Federal e Reforma do Estado do governo FHC (1995 a 2002), vice-
presidente da Fundação Vitor Civita, Secretária de Previdência Complementar do
Ministério de Previdência Social e Secretária de Cultura do Estado de São Paulo. Além
da carreira internacional como gerente do Banco Mundial para a América Latina na área
do Setor Público e Combate à Pobreza. Ou seja, uma profissional das finanças e que
utiliza sua formação junto ao setor público, em instituições sociais ligadas a empresas,
ao Banco Mundial e como consultora para alguns governos africanos (Angola, Cabo
Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe).
69
Os Ciclos de formação foram organizados na Secretaria Municipal de Educação na gestão do prefeito
César Maia e compreendia na divisão dos nove anos de escolarização básica em três ciclos. O primeiro
ciclo compreendia os 1º, 2º e 3º anos; o segundo ciclo 4º, 5 e 6º anos e finalmente o terceiro ciclo 7º, 8º e
9º anos. Durante os três anos de escolarização de cada ciclo não existia reprovação- a não ser quando o
aluno não tinha freqüência mínima de 75% - apenas no final de cada ciclo a retenção poderia ocorrer.
Essa forma de organização da educação é baseada em teóricos da educação que defendem que a cada
criança e/ou adolescente tem seu tempo de aprendizagem, que pode ser melhor trabalho nos três anos
de cada ciclo.
70
Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro 2009-2012 disponível em
http://www.rio.rj.gov.br/web/cvl/exibeconteudo?article-id=1030008. Acesso em janeiro de 2013.
125
71
http://www.rioeduca.net/recursoshumanos.php Acesso em maio de 2013.
72
Creches comunitárias que são conveniadas a SME.
73
Espaços criados no governo atual que são responsáveis pela Educação Infantil da Creche até a Pré-
Escola.
74
Ações e programas da SME/RJ: “Escola de Formação do Professor Carioca Paulo Freire”; “Turno
Único”; “Ginásio Experimental Olímpico”; “Programa Rio Criança Global”; “Programa Saúde nas Escolas”;
“Ginásio Carioca”; “Escolas do Amanhã”; “Educopédia”; “Melhoria da Gestão Escolar”; “Reaprender a
ouvir- Capela Magdalena”; “Polo de Educação Pelo Trabalho”; “Orquestra de Vozes Meninos do Rio”;
“Mostra Municipal de Dança”; “Jogos Estudantis”; “Proinfantil”; “Primeira Infância Completa (PIC)”;
“Tecendo Redes por um Planeta Saudável”; “Centro de Educação Ambiental do Parque Nacional da
Tijuca (CEAMP)”; “Programa de Orientação Sexual e Prevenção ao Uso de Drogas”; “Atitude Positiva -
Prevenção DST/HIV”; “Ônibus da Liberdade”; “Festival da Canção das Escolas Municipais (FECEM)”;
“Escola de Bamba”; “Projeto RIOZOO”; “Merenda nas Escolas”; “Apoie uma Escola/Creche”; “Rio, uma
cidade de leitores”; “Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI)”; “Educação de Jovens e Adultos” e “Visita
ao Planetário”.
75
http://www.rio.rj.gov.br/web/sme/listaconteudo?search-type=acoes. Acesso em maio de 2013.
76
www.rioeduca.net. Acesso em maio de 2013.
126
no Programa Escola do Amanhã. Nem todas essas ações estão publicizadas nos sites
da SME, mas é uma realidade as escolas se transformarem nesses locais
especializados com o objetivo de melhoria do desempenho, através de uma lógica que
prevê ampliação ao invés de universalização.
Os EDIs são espaços que atendem crianças de seis meses a 5 anos e 11 meses
de idade, que são estimuladas a aprendizagem a partir de materiais próprios e
profissionais preparados para lidar com essa nova concepção da primeira infância. As
Casas de Alfabetização são escolas responsáveis pelos 1º, 2ª e 3º anos de
escolaridade com o foco na alfabetização no tempo certo, formação de profissionais e
materiais próprios77. Após essa primeira fase os alunos são encaminhados ao Primário
Carioca que tem como responsabilidade os 4º e 5º anos. Essa forma de organização do
sistema de ensino que é implementada nas escolas tem apresentado resistência tanto
dos funcionários como dos pais. Pois, colocar seu filho na escola na educação infantil e
lá ele permanecer até o 9º ano é importante, pois nesse espaço físico e de tempo além
da aprendizagem são formados vínculos e reconhecimento como comunidade escolar.
O Primário Carioca não está publicizado e nem apresenta materiais disponíveis para
acesso público, mas as Casas de Alfabetização já possuem cadernos pedagógicos
específicos78.
Nos cadernos pedagógicos são encontrados as orientações e conteúdos a serem
trabalhados em cada ano da escolarização formal ou em cada programa e projeto
organizado pela prefeitura. Esses cadernos são na verdade apostilas, distribuídas a
cada bimestre a todos os alunos da rede municipal. Eles têm o objetivo de preparação
para as provas que são organizadas pela prefeitura ou para Prova Brasil. Assim, no
processo ensino-aprendizagem o professor é o profissional que materializa as
orientações e conteúdos previamente determinados para todo o município. Nesse
sentido, o professor se torna no processo de trabalho da escola como um objeto que
77
http://www.rio.rj.gov.br/web/sme/exibeconteudo?article-id=3083910. Acesso em junho de 2013.
78
Os cadernos pedagógicos são construídos pela SME e são divididos por disciplinas, Educação Infantil
Casa de Alfabetização, Nenhuma Criança a Menos, Nenhum Jovem a Menos e são distribuídos aos
alunos a cada bimestre. Além do livro didático o caderno pedagógico é utilizado e construído a partir
descritores apontados na Prova Brasil. A Prova Rio é construída a partir dos cadernos pedagógicos.
127
não planeja, executa e avalia sua aula a partir de uma realidade. Ou seja, o
instrumento, nesse caso os cadernos pedagógicos, tem centralidade no processo de
trabalho e não a relação que se estabelece entre professor e aluno. Uma transposição
do processo de trabalho empresarial para a esfera educativa pública, uma característica
da subsunção dos serviços públicos a administração privada.
Essa forma de organização do processo de trabalho nas escolas tem propiciado
uma forma de se pensar a educação a partir de complexos de expertise. É nessa
esteira que estão os Ginásios Experimentais Cariocas (GEC) que são pensados a partir
de três eixos: excelência acadêmica, apoio ao projeto de vida do aluno e educação para
valores. São utilizados recursos pedagógicos apoiados em novas tecnologias e
apostilas estruturadas em conteúdos e exercícios. Dentro dessa mesma linha são
pensados os Ginásios Experimentais Olímpicos (GEO) em que é pensada a formação
de Atletas, em consonância com a cidade sede das Olimpíadas 2016. E, o Ginásio
Experimental de Novas Tecnologias (GENTE) que é especializado na formação de
alunos em novas tecnologias educativas baseada na informática. Os GECs também são
organizados a partir de orientações e conteúdos previstos nos cadernos pedagógicos
específicos.
Já o Programa Escola do Amanhã que está em 155 escolas situadas em áreas
conflagradas ou recém-pacificadas da cidade foi o primeiro programa dessa gestão,
com foco específico no desempenho escolar através de ações que congreguem
educação, saúde, assistência social, esporte, arte e cultura, além de metodologias
inovadoras de ensino em tempo integral, tendo no contra turno atividades culturais,
esportivas e pedagógicas. São escolas que congregam diversos projetos que se
alinham na perspectiva da intersetorialidade restrita a ações especificas junto aos
alunos e suas famílias e não numa perspectiva de se pensar formas de organização
dos serviços que contribuam para uma racionalidade emancipatória junto a esse
público.
A ação de saúde nas Escolas do Amanhã é realizada por meio do Programa
Saúde na Escola (PSE) que se configura com um atendimento de promoção de saúde,
que conta com um agente de educação em saúde diariamente e uma equipe móvel
128
79
Os psicólogos do PSE são vinculados ao IABAS e não tem qualquer relação com o Proinape ou NIAP.
80
O Programa Saúde Presente marca o início de uma nova fase para o atendimento de saúde do
carioca. Este novo modelo de saúde tem como objetivo focar as ações nos Cuidados Primários de
Saúde, trabalhar a prevenção, a promoção da saúde e realizar diagnóstico precoce de doenças, através
da implantação das Clínicas da Família. As Clínicas da Família representam um marco na reformulação
da Atenção Primária e na gestão do cuidado no município do Rio de Janeiro, sendo prioridade da gestão
da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) na consolidação da Estratégia de Saúde da Família. As Clínicas
possuem de três a dez equipes de Saúde da Família e de uma a quatro equipes de Saúde Bucal. A
equipe de Saúde da Família é composta por 1 médico, 1 enfermeiro, 1 técnico em enfermagem, 6
Agentes Comunitários de Saúde (ACS), 1 Agente de Vigilância em Saúde (AVS) e a equipe de Saúde
Bucal é composta por 1 cirurgião-dentista, 1 auxiliar de saúde bucal (ASB) e/ou 1 técnico em saúde bucal
(TSB) e é responsável pelo acompanhamento de 3.450 habitantes. Fonte:
http://www.rio.rj.gov.br/web/smsdc/exibeconteudo?article-id=2731811. Acesso em junho de 2013.
81
Ver mais em http://www.rio.rj.gov.br/web/sme/exibeconteudo?article-id=2922097. Acesso em junho
de 2013.
82
O Programa Mais Educação é coordenado pela Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), em
parceria com as Secretarias Estaduais e/ou Municipais de Educação. Sua operacionalização é feita por
meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Fonte:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16689&Itemid=1115. Acesso em
junho de 2013.
129
83
Para maiores informações sobre os Projetos de Reforço Escolar da SME em:
https://docs.google.com/document/d/1j6lpAgFRh43y8piQNdX7z49b65wkRgumO9v29oCZwk8/edit?pli=1.
Acesso em junho de 2013.
84
Considerando a Prova Brasil 5º e 9º anos. Prova Rio para os alunos dos 3º e 7º anos.
131
87
Disponível em http://www.rio.rj.gov.br/web/sme/exibeconteudo?article-id=125832 acesso em agosto de
2013. E, os servidores da Escolas do Amanhã receberão o salário mais 50% se alcançarem as metas.
88
O que sempre foi ouvido por parte dos profissionais é que a CRE, como órgão que representa a
SME/RJ no território, sempre referendou as direções escolhidas pela comunidade escolar. Tendo
intervenção quando não havia quorum suficiente ou quando a direção é afastada por alguma
irregularidade, geralmente o desvio de verba.
89
Para concorrer a uma consulta a comunidade é necessário formar uma chapa que é composta por
diretor (a) e diretor (a) adjunto (a). A coordenação pedagógica não faz parte dessa chapa, após a nova
134
gestão tomar posse, a mesma convida um professor que tenha no mínimo cinco anos de carreira docente
no município para ocupar o cargo de Coordenador Pedagógico.
90
Que é formada por profissionais do nível central da SME/RJ e por Gestores que foram considerados
especialistas nessa questão, considerando tempo na função e desempenho junto ao IDEB. Essas
informações constavam em documento interno da SME/RJ que regia a Consulta a Comunidade para o
Cargo de Diretor, que esteve disponível no momento da Consulta, mas no momento da conclusão dessa
dissertação não foi localizado.
91
Resolução nº 212, de 24 de Agosto de 1984. Modificada pela Resolução SME Nº 827, de 02 DE Abril
de 2004 e Portaria E/SUBE/CGG Nº 48, de 17 de Março de 2010.
135
Percebemos que nesses quase trinta anos que a SME/RJ conta com o CEC
como forma de organização administrativa das escolas, essa legislação passou por pelo
menos duas mudanças que caracterizam a priorização da gestão democrática e do uso
que se faz dela. A gestão democrática é um discurso presente em todos os âmbitos da
SME/RJ, fazendo parte inclusive do Curso de Gestores. Porém, o que percebemos no
cotidiano é que o discurso não se materializa nas ações. Esses diversos programas e
projetos que apresentamos não contam com a participação do CEC na discussão e na
implementação junto às escolas.
O CEC conta com a participação de responsáveis, professores, funcionários,
alunos e de representante da associação de moradores com o objetivo de uma gestão
democrática e de controle social. Trazendo, assim, uma perspectiva que apresenta a
administração pública de forma diferenciada da administração privada. Na qual, o
objetivo não é o controle de resultados, mas sim da construção de um processo
participativo e democrático com vistas à transformação social. Mas, que coloca o diretor
da Unidade Escolar como presidente nato e que a partir dos componentes do CEC será
formado um Conselho Fiscal composto pelo presidente, mais dois membros votados (o
presidente tem voto de desempate) que será responsável pela movimentação bancária
e relatório de prestação de contas. Para a adesão ao PDE e o recebimento de
136
Nos dois extremos vemos que a realidade atual das escolas municipais
cariocas apresenta uma simbiose entre público e o privado. O autor coloca tanto a
escola como a administração como imersas em uma contradição, em que atendem a
interesses e grupos sociais a depender do contexto histórico e da luta de classes. Ou
seja, não podemos desconsiderar a realidade social e temos que desvelar as
questões que estão por trás de cada forma de organização da política educacional.
As preocupações com a administração escolar, com a qualidade da educação e o
estabelecimento de metas e indicadores são pertinentes. O que questionamos é a
privatização da gestão pública, em que os objetivos são forjados por organismos
internacionais e não pela comunidade escolar.
Hoje o Acordo de Resultados93 assinado pelos diretores das escolas que se
92
Queremos aqui destacar que o CEC é um avanço na gestão democrática da política educacional,
porém seu caráter apenas consultivo e com o diretor da escola como presidente nato demonstra ainda
que essa discussão precisa ser ampliada. O Conselho Municipal de Educação é um espaço fechado com
reuniões abertas apenas uma vez ao mês. Acreditamos que discussão do Sistema Nacional de
Educação, que foi o tema do último CONAE em 2010 pode ser um espaço de luta e debates sobre o que
realmente se deve considerar como gestão democrática e controle social.
93
Assinado pelo diretores das unidades escolares municipais do Rio de Janeiro
http://www.rio.rj.gov.br/web/sme/exibeconteudo?article-id=125832. Acesso em julho de 2013.
137
94
A Coordenadoria de Recursos Humanos também é ligado a Subsecretaria de Gestão, mas o Proinape
não tem atuação junto ao setor de Recursos Humanos, que tem a função de lotação dos profissionais de
educação. Quanto a Subsecretaria de Novas Tecnologias também não há uma relação próxima.
Optamos nesse estudo em focar nas Subsecretaria de Ensino e de Gestão onde o Proinape está ligado
ou tem proximidade em relação as suas ações cotidianas.
140
profissionais do Proinape não estão subordinados a CRE, mas sim ao NIAP, apesar de
terem uma atuação regional95.
Essa breve introdução sobre a estrutura da SME, focando nas duas
Subsecretarias de Ensino e de Gestão, é para apontar que o Proinape está ligado
diretamente a Subsecretaria de Ensino que organiza os programas e projetos
pedagógicos da SME. O Proinape, em nível regional também se articula com a AAI,
setor responsável pelo acompanhamento da freqüência e evasão, pela a articulação
com as outras políticas públicas e pela gestão. Desta forma, o Proinape mesmo
estando hierarquicamente respondendo a uma estrutura organizacional da SME,
durante sua atuação cotidiana precisa estabelecer diálogos com a outra parte desse
organograma. Essa articulação traz conseqüências, pois desestabiliza uma relação que
é determinada e compõem especializações e lugares determinados na ordem
burocrática do processo de trabalho coletivo de cada CRE. Como exemplo, a atuação
com o CEC e Grêmios Estudantis requer a autorização da AAI, muitas equipes do
Proinape por anos não conseguiram atuar nesses dispositivos de gestão democrática
por conta da organização hierárquica junto a GED.
Essa relação se iniciou com a RPE, em que de 2007 a 2009, os psicólogos
estavam lotados na CRE e ligados a GED dentro da sua subdivisão que era a
Educação Especial96, pois a atuação foi pensada em âmbito pedagógico para os alunos
com dificuldades no processo ensino aprendizagem. Já os/as assistentes sociais,
lotados na SMAS/RJ, tinham como foco enfrentar a evasão e a infreqüência dos alunos
que fossem beneficiários do PBF. Assim, a relação que se estabelecia era junto a AAI.
Nessa organização pensada para a RPE, em cada CRE existiam três profissionais de
referência para discussão e acompanhamento de trabalho. Um/a profissional da GED,
mais precisamente ligado a Educação Especial. Um/a profissional da AAI, já que os/as
assistentes sociais tinham o foco no PBF. E, um (a) profissional da CAS que
95
Organograma da SME/RJ está disponível para consulta no anexo K dessa dissertação.
96
A Educação Especial é um setor da GED que tem vinculação com o Instituto Helena Antipoff (IHA).
141
Assim, o Proinape se apresenta como uma ação de duas equipes. Mas, também
aponta a necessidade de uma reestruturação da RPE que tem os/as psicólogos (as)
como profissionais lotados na educação. Cremos que a intersetorialidade e a lotação
dos/as assistentes sociais na SMAS/RJ dificultavam a realização de uma normatização
sobre a RPE devido à centralidade da política de assistência inscrita no SIMAS, que
impedia que as demandas da educação pudessem ser respondidas pelo Serviço Social,
a não ser as que se relacionassem com o PBF. Por isso, consideramos que esse
poderia ser um momento de cisão entre a intersetorialidade do programa e assim a
saída dos/as assistentes sociais da equipe interdisciplinar. Porém não podemos
desconsiderar que o trabalho dos/as assistentes sociais na educação teve uma
repercussão e visibilidade proporcionado pela GSSE no ano de 2009. E a compreensão
da atuação profissional no controle das famílias das classes subalternas.
143
desempenho escolar”. Então, o Proinape deve atuar junto aos alunos com baixo
desempenho escolar, por conta de seu risco social. Não estamos dizendo aqui, que a
vulnerabilidade social não pode trazer conseqüências para o desenvolvimento escolar
dos alunos. Mas, o primeiro foco aparece como uma relação entre pobreza, violência e
não aprendizado. E, dentro dessa primeira prioridade se apresenta o público alvo:
100
Nesse momento o Niap é um órgão de lotação apenas de assistentes sociais. Não temos a data
correta, mas em 2011 o Niap já tem sobre sua responsabilidade funcional também psicólogos e
professores com matrícula no Proinape. Os professores em dupla regência ainda dependem da liberação
da CRE para estarem junto ao Proinape.
148
101
Como, por exemplo, o Sindicato dos Profissionais da Educação (SEPE) que tem como parte de sua
atuação visitar as escolas levando seus informativos. Ou, através de profissionais que fazem parte desse
sindicato e o Proinape tem contato no cotidiano profissional.
149
apresentam como foco de ação indicadores específicos, mas sim uma análise conjunta
entre CRE e NIAP/Proinape. Além da Escola Foco, que agora é denominada dessa
forma devido a atuação contínua a partir de foco estabelecido em conjunto e não
determinado por índices ou projetos, são apresentados mais três possibilidades de
atuação dentro das Diretrizes para Organização do Trabalho nas Áreas:
Atualmente não há egressos, o que pode haver são alunos que geralmente por
conta da infreqüência e evasão não participam desses projetos. E já que os projetos
possuem métodos fechados e cronogramas que precisam ser cumpridos a risca, assim,
a entrada de novos alunos (as), nessas turmas, durante o ano letivo fica quase
impossível. Desta forma, aqueles alunos egressos hoje fazem parte de algum projeto e
se por algum momento fazem parte da seriação oficial, no ano seguinte serão
encaminhados a um projeto de reforço ou aceleração escolar.
Apesar de haver uma ampliação no objetivo do Proinape que vai do desempenho
escolar para as relações de ensino-aprendizagem, a demanda pelo trabalho de uma
equipe interdisciplinar junto aos alunos que compõem essas turmas persiste.
Em 2012 a escola inseriu uma nova demanda para o trabalho do Proinape. Três
turmas de terceiro ano composta por aunos que não foram alfabetizados e que
atualmente compõem projeto específico. (SME/NIAP/PROINAPE, 2012 c)
tumar Realfa 2 A em 2011, e uma segunda ª formada por discentes que vieram
de outras unidades escolares. (SME/NIAP/PROINAPE, 2012 d)
No final do mês de julho foi criado o Projeto Nenhuma Criança a Menos (NCM)
[...] com o objetivo de agrupar alunos que se encontravam no 3º ano regular,
conceituados com I, visando assim sanar as dificuldades desses alunos no
tocante à leitura e à escrita, isto é, alfabetizar. Sendo assim, a GED da 10ª CRE
encaminhou tal demanda para a equipe Proinape e, após analise da situação,
ficou definido o formato de trabalho a ser desenvolvido. (SME/NIAP/PROINAPE,
2012 g)
102
Não temos dados concretos sobre esse assunto. Mas, a pouca escolaridade dos familiares dos alunos
das turmas de projeto é uma realidade no cotidiano das escolas municipais cariocas.
153
É nesse sentido que a expansão da oferta vem “atingindo” a escola sob pelo
menos dois aspectos. Em primeiro lugar, as referências sócio-culturais e as
expectativas que esses segmentos levam para a escola são bastante distantes
dos valores que fundamentam as ações e funções convencionadas como
“próprias” da educação escolar, o que resulta em estranhamentos e dificuldades
de interlocução que, muitas vezes, têm sido simplesmente interpretados como
resultado do despreparo dos professores para a nova “clientela” ou da
incapacidade dos novos segmentos para a empreitada da formação escolar.
Em diferentes contextos, o “fracasso escolar” foi interpretado, por muitos, desse
modo, ou seja, abordado pela sua superfície, sem que as relações que
produzem a distância entre instituição escolar e vida social fossem de fato
analisadas. (ALGEBAILLE, 2004, p.113)
projetos. Como nos aponta Algebaille (2004) sobre as quais bases se pautam a
educação.
O que vemos em 2012 e em 2013 faz parte de uma lógica gerencial construída
desde 2009, a partir da gestão Eduardo Paes. A SME/RJ começou com um projeto o
Realfabetização e atualmente possui sete projetos. E, não é apenas nos projetos de
reforço escolar que está materializado essa racionalidade. O gerenciamento de conflitos
e, assim a criação de estratégias para um ambiente propício a produtividade faz parte
dessa gestão. O Proinape é convocado a contribuir com as direções das escolas
nesses atravessamentos. Podemos exemplificar com um episódio marcante em 2010
com a “ocupação” pelas Forças Armadas das favelas do Complexo do Alemão e da
Penha, num momento em que a política de pacificação se iniciava no Rio de Janeiro e a
SME apresenta as Escolas do Amanhã como uma metodologia específica a essa
população que convive diretamente com violência armada. Assim o Proinape, nesse
momento de tensão, é convocado nas férias escolares a trabalhar com o objetivo da
“superação de situações constituídas a partir das questões de violência e que poderiam
marcar as expectativas acadêmicas dos alunos e suas famílias dessa área para 2011”
(SME/NIAP/PROINAPE, 2011 b). Ou seja, contribuir com a gestão dessas escolas a
identificar e trabalhar questões que pudessem atrapalhar o desempenho escolar.
Assim, profissionais de todas as dez CREs atuaram no mês de janeiro de 2011
junto às escolas que tem como alunos, moradores dessas localidades. Não tivemos
acesso às avaliações sobre essa atividade que foi considerada uma Ação
157
Extraordinária, mas podemos perceber a qual lógica o Proinape foi convocado a atuar.
Numa relação com a direção, já que alunos e professores estavam em férias, na
conciliação dos conflitos e como lidar com questões que perpassam o cotidiano das
comunidades ao qual as escolas pertencem e possam atrapalhar o desempenho,
contribuindo, assim, para uma pedagogia da hegemonia.
Desta forma, como uma Ação Extraordinária que contou com profissionais de
várias CREs103 podemos perceber que o conceito de escola e de seu território vivido,
formado a partir das relações que a comunidade estabelece com essa instituição que
está presente na vida desses moradores por gerações aparece em alguns trechos
contidos em Planos de Ação e Avaliações Finais após esse episódio:
103
Apesar de não termos acesso a avaliação da Ação Extraordinária participei dessa atividade enquanto
assistente social que atuava na 4ª CRE, mais especificamente no território do Complexo da Penha. O
trabalho foi dividido nas áreas da 3ª e 4ª CREs onde se localizam as favelas do Complexo do Alemão e
da Penha. Como profissional da 4ª CRE posso registrar que fomos divididos em dois grupos um que
atendeu as escolas localizadas no Complexo do Alemão e outro junto às escolas do Complexo da Penha.
Na área do Complexo da Penha, mais especificamente na Vila Cruzeiro, a atuação foi voltada para o
reconhecimento da rede de serviços junto aos responsáveis representantes das escolas. Na área do
Complexo do Alemão o objetivo foi o mesmo, mas os profissionais visitaram toda a rede que foi possível
e realizou uma reunião entre direções das escolas e diversas instituições públicas e privadas que atuam
junto a crianças e adolescentes. Essas ações foram pontuais, essa área que contava na época com a
atuação de oito profissionais, teve oitenta no mês de janeiro. Em fevereiro cada profissional retornou a
sua área de origem. A 4ª CRE se divide em quatro mini territórios, então até mesmo os profissionais da
4ª CRE que atuavam em outros territórios retornaram a sua origem. Assim, os oito profissionais que
restaram não conseguiram dar continuidade o que a Ação Extraordinária proporcionou. Como experiência
profissional e analise do trabalho posso apontar que foi um ganho para o Proinape enquanto
reconhecimento do território e intercâmbio com assistentes sociais e psicólogos de outras CREs (os
professores encontravam-se de férias). Mas, em relação às escolas ficou uma ação desarticulada e sem
continuidade.
158
Porém, a simples constatação não garante uma ação que se coloque no âmbito
dos direitos sociais e da gestão democrática. Ações que corroborrem como uma gestão
que deva dar conta de perceber e lidar com as questões externas de forma que elas
não atrapalhem o bom desenvolvimento institucional, podem colocar no âmbito da
escola e na responsabilidade única dos diretores todas as mazelas e dificuldades que
tem amplitude social, política e econômica. Nesse sentido, o Proinape pode se
apresentar como um projeto que contribua no consenso através de ações que valorizem
o gerenciamento na perspectiva privada, tendo a vulnerabilidade institucional como uma
característica a ser trabalhada:
Quem abre a porta da escola para o Proinape é a direção. Assim, nossa primeira
visão do chão da escola se dá pelo discurso da direção. Dentro desse contexto da
lógica privada, percebemos que os diretores/as não têm autonomia para gerenciar “sua”
escola. Não há a possibilidade de negar um projeto ou um programa. Deste modo,
percebemos que nessa relação esses profissionais não participam das decisões que
são apresentadas como soluções para a educação. O discurso da autonomia se
contrapõe com a relação hierárquica junto a CRE, que vai se desdobrando para o
159
[..]) apesar da escola [...] fazer parte do Programa Escolas do Amanhã, esta
não era uma unidade escolar apontada pela CRE como foco para atuação do
Proinape, devido a algumas questões: a CRE apontava que a direção da escola
era muito participativa e comprometida, sem problemas para administrar a
unidade; que não havia identificação de problemas de relacionamento entre os
diferentes segmentos na escola (educandos, responsáveis, professores,
funcionários, etc); (SME/NIAP/PROINAPE, 2011 h).
Eixo Gestão e Pertencimento: este eixo foi construído a partir de uma demanda
da 2ª CRE/GED, em virtude do processo eleitoral para gestão das escolas
ocorrido em 2011. Durante este processo, das 114 escolas da 2ª CRE, 50
tiveram suas gestões modificadas e, destas, 19 se encontraram em vacância ao
longo do processo eleitoral. Estas 19 escolas foram indicadas como foco de
104
Percebemos que as equipes Proinape acabam por denominar de Eixos essas atividades.
160
[...] podemos fazer uma crítica sobre certa ambivalência na relação entre a
escola e as instituições hierarquicamente superiores a ela, na medida em que é
freqüente que se diga que a unidade escolar deve elaborar estratégias para
solucionar impasses em seu cotidiano; enquanto por outro lado a realidade nos
mostra que o manejo, as regras e recursos já estão pré-establecidos.”
(SME/NIAP/PROINAPE, 2011 e)
Ainda que estas escolas tenham sido eleitas através de critérios basicamente
vinculados a questão do desempenho escolar, o que encontramos na prática foi
uma diversidade de questões relacionadas aos campos: social, estrutural,
institucional, emocional e de gestão, além das especificidades do território onde
cada escola está inserida (acesso e articulação às políticas públicas).
Evidencia-se, então, que o aprendizado não ocorre de forma linear e está
atravessado por uma diversidade de fatores que devem ser levados em conta
ao se pensar o processo ensino-aprendizagem. (SME/NIAP/PROINAPE, 2010
g)
A luta por direitos sociais na década de 1980 logo após vinte anos de uma
ditadura militar, em um contexto mundial crescente da ideologia neoliberal nos países
centrais foi o pano de fundo da constituinte que culminou na Constituição Federal de
1988. Um documento permeado por concepções de sociedade e pela luta de classes
que apresentam avanços aliados a conservação. Em relação à educação como
apresentamos nesse capítulo as discussões na constituinte foram acirradas e a
aprovação da LDB só aconteceu em 1996 devido aos impasses e dificuldades que se
162
profissionais. Consideramos, que a correlação de forças dentro de cada equipe deve ter
apresentado a necessidade da descrição das atribuições e concepções de cada
profissão sobre o trabalho caracterizando a contribuição do Serviço Social nessa lógica.
O assistente social visa contribuir para a garantia desta política enquanto direito
social, preconizado na CF 88, no ECA e na LDB, a partir de ações que
promovam o acesso, a permanência e o aproveitamento escolar dos alunos, na
direção do compromisso com uma educação pública. (SME/NIAP/PROINAPE,
2010 e)
dos direitos. Mas, a escola como parte do Sistema de Garantia dos Direitos das
Crianças e Adolescentes (SGDCA) que atua promovendo o direito à educação.
O SGDCA é formado por todas as instituições públicas e privadas que atuam na
esfera da infância e adolescência através de um tripé: promoção, proteção/ controle
social e defesa. Essa caracterização como sistema se apóia na perspectiva de que
cada instituição tem seu papel e que deve haver uma interlocução constante entre os
órgãos que atuam em cada pilar do SGDCA.
Essa interlocução deve acontecer em âmbito territorial, através das redes que
são construídas no cotidiano da realidade de cada comunidade escolar. Algebaille
(2004) coloca que, historicamente, as escolas foram construídas em locais
considerados vazios sanitários com o objetivo de difundir regras de viver junto aos
alunos que seriam transmitidas as suas famílias. Um discurso pautado na
modernização conservadora, através do higienismo e cooperativismo. Ou seja, a escola
como o lugar da civilização que atuaria na comunidade trazendo o avanço da
racionalidade sobre um território selvagem (p.127). Assim, a escola se vê como um
ponto fixo naquela comunidade que deve ser manter intacta as questões que se
colocam extra-muros.
O Proinape, dentro da perspectiva dos direitos sociais, tem atuado como o
articulador da rede da educação. A relação que as outras políticas realizam com a
educação desde a criação da RPE é mediada por essa equipe interdisciplinar. Não que
essa articulação não acontecesse anteriormente, mas o Proinape traz a perspectiva da
escola como atuante na rede e não como espaço a ser utilizado pelas diversas
instituições públicas e privadas que querem acesso as famílias das classes populares.
A escola é a única instituição que se abre todos os dias, para a mesma população por
gerações. Essa característica deve ser compreendida por toda rede, o tempo que a
rede precisa para conceder o direito do acesso à saúde, a justiça ou a proteção não se
dá da mesma forma na escola.
Atualmente o aluno está na escola independente do seu uniforme, da sua
condição de saúde ou higiene. Não estamos aqui afirmando que essa atuação seja
equivocada. O que queremos dizer é a condição peculiar da organização do processo
166
de trabalho na escola e sua relação com a comunidade. Por exemplo, uma criança que
se tem a suspeita que é vitima de violência, enquanto os órgãos de proteção e defesa
atuam sobre o caso, os profissionais da escola lidam diariamente com o aluno e sua
família. Comunicar casos suspeitos ou confirmados de violência contra crianças e
adolescente é um debate tenso, sobre o papel da escola e sua relação com os direitos
sociais.
Assim, o Proinape trabalha na articulação da rede trazendo esse debate, sem se
furtar sobre a obrigatoriedade da notificação. Porém, sem cair na judicialização das
relações sociais e pensando formas de se lidar com essas questões. Para isso, a
articulação com a rede local pode proporcionar estudos de caso, estratégias,
aproximações, práticas compartilhadas junto aos casos que, na verdade, merecem um
acompanhamento e aos casos extremos em que são pensadas ações compartilhadas
com todos os serviços que atendem a área.
[...] o eixo articulação de rede busca refletir a cerca do papel da escola na rede
local (SME/NIAP/PROINAPE, 2012 f)
Cabe observar ainda que, esta região vem sendo alvo de diversas intervenções
por conta de projetos e programas de urbanização, dentre eles o Projeto Porto
Maravilha, além de intervenções de Políticas de Segurança Pública, como por
exemplo, a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP‟s).
(SME/NIAP/PROINAPE, 2011 a)
comunicar uma situação irregular e trabalhar a questão junto a rede, contribuindo com o
desenvolvimento desse aluno e sua família é o drama dos profissionais de educação.
E, nessa perspectiva a atuação do Proinape junto à direção aponta que a mesma
participando da rede é um impasse, já que na lógica dos resultados o que se apresenta
é o encaminhamento e, por conseguinte, a resolução do problema. Como uma esteira
numa fábrica o aluno é o produto que a escola que vai caminhando e passando por
toda a rede e cada um com sua ação específica, sem uma interlocução. Ou seja, como
se a atuação nos serviços pudesse acontecer da mesma forma que na fábrica, sem se
pensar nas dificuldades do acesso aos direitos, na subjetividade do aluno e sua família,
nas formas de viver de cada comunidade. Assim, acreditamos que os trabalhos que
envolvem a articulação da rede se apresentam na lógica dos direitos sociais,
independente da metodologia.
Porém, há de se cuidar para que essa articulação não caia na lógica dos
encaminhamentos e da vigilância aos passos das classes populares. Por exemplo,
encaminhei a mãe para levar o aluno no psicólogo ou no médico e não sei se ela foi. Só
deixo o aluno assistir a aula com laudo médico ou parecer do Conselho Tutelar. Ou
seja, não atuando na perspectiva dos direitos sociais, mas na perspectiva do controle
sobre a população pobre.
Dentro dessa contradição é que devemos atuar para proporcionar uma gestão
democrática que faça com que a escola seja pensada pelas diversas pessoas que a
compõe. Fazer com que a informação circule, que os pais possam ter acesso a como a
rede funciona e dela utilizar como melhor se adequar e não quando a escola manda
pode contribuir nessa perspectiva. Os diversos trabalhos realizados com alunos,
famílias, funcionários, professores e direção demonstram que a gestão centralizadora é
a realidade da maioria das escolas municipais.
Muitos trabalhos que aconteceram junto ao Grêmio Estudantil e CEC
demonstraram que esses espaços não são trabalhados. São realizadas as formações
das chapas e as eleições, mas sem uma perspectiva democrática. E, sim do
merecimento, no qual alunos e responsáveis são apontados como candidatos
dependendo de seu comportamento perante a escola. Essa não parece ter sido uma
169
demanda das escolas, mas a atuação nas Escolas Foco com um tempo de convivência
no cotidiano escolar proporcionou essa aproximação e consta como objetivo específico
em alguns Planos de Ação.
[...] sabe-se, no entanto, quando se fala dos pais como parte de aliança com os
professores, que frequentemente está se falando de cidadãos e trabalhadores
que têm pouca escolaridade. Nesse sentido, volta-se a discussão da
capacidade técnica como um dos elementos da pressão popular sobre as
autoridades. Mas a capacidade técnica dos pais, se certamente envolve a
participação dos professores como a outra perna da aliança, ao mesmo tempo
não pressupõe a hegemonia destes na construção dessa aliança. O mero
“repasse” do conteúdo deste caderno, por exemplo, não garante a apropriação
do conhecimento pelos pais. (VALLA, 2011, p. 87)
Consideramos que o Proinape atue mais na direção dos direitos sociais do que
no da gestão democrática. Devido à dificuldade que se tem em chegar aos alunos e
familiares diretamente, sem a intermediação dos profissionais. E, que também, atuamos
junto às classes populares sem proporcionar aos mesmos um momento de avaliação
sobre serviço que prestamos. É urgente ao Proinape, se pretende trabalhar na lógica
democrática, pensar em instrumentos de avaliação que possam ser úteis e acessíveis a
população que atendemos. Não numa relação de marcar x ou preencher a carinha feliz
ou triste, mas sim compreender como essas pessoas se apropriam do nosso trabalho. A
partir desse resultado pensar ações que sejam, realmente, de cunho democrático. Uma
gestão que seja realmente pública como nos coloca Souza Filho (2011):
[...] cabe frisar que essa política publica, necessariamente, deve estar orientada
na perspectiva da universalização e aprofundamento dos direitos. Em nosso
entendimento, é esse aspecto que distingue radicalmente uma proposição
democrática de administração publica de uma abordagem centrada no mercado
ou meramente tecnicista. A universalização e o aprofundamento de direitos nos
campos civil, político e social é a finalidade central de uma administração
publica democrática. Sendo assim, a “utilização racional dos recursos” fica
subordinada a uma orientação ético-política efetivamente democrática. (SOUZA
FILHO, 2011, p. 225, 226)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Serviço Social como uma profissão que ganha esse status a partir do Estado
Monopolista em que a questão social começa a ser tratada não só através da coerção,
mas também do consenso. Também sofre as conseqüências das novas formas de
gestão da administração pública. Assim, a partir da compreensão do/a assistente social
como um/a trabalhador/a que tem em seu cotidiano profissional os limites e
possibilidades impostos pelas condições sócio-históricas e políticas, analisamos sua
atuação junto a política educacional.
A política educacional brasileira, a partir dos anos de 1990, sofre com o conjunto
das outras políticas setoriais, a ofensiva neoliberal no Brasil na qual as recomendações
de organismos internacionais impactam diretamente na organização da educação.
Essas recomendações são traduzidas em ações que se baseiam na lógica produtivista
com o objetivo de colocar o Brasil no patamar dos países centrais.
A LDB foi uma das legislações sociais pós CF 88 que apesar de apresentar
alguns avanços deixou para regulamentações futuras muitas questões que abriram
brechas para diversos decretos, portarias e normatizações. Nesse contexto que se
iniciou no governo FHC e foi sedimentado pelo governo Lula que instituiu o PDE, um
Plano de Metas que organizou diversas ações, programas e projetos para responder as
metas forjadas pelos organismos internacionais. Essas mudanças são decorrentes da
contrarreforma que hoje se caracteriza pela lógica gerencial que passa a ser no âmbito
do Estado a expressão contemporânea da razão instrumental que particulariza o
capitalismo.
O IDEB, hoje, é o indicador de qualidade da educação. A corrida para adesão
dos municípios ao PDE e conseqüentemente ao IDEB trouxe várias questões para o
âmbito municipal, desde o financiamento, passando pelas instituições privadas nas
escolas e chegando a política de premiação. Na realidade carioca, o que vemos é a
proliferação de projetos ligados a instituições privadas que atuam junto aos professores
na formação de metodologias e instrumentais para alfabetizar e acelerar alunos com
dificuldade de aprendizagem e defasados série-idade. Um projeto que deveria ser
temporário hoje se mostra como uma seriação a parte em que alunos vão pulando de
projetos em projetos até terminarem o ensino fundamental.
174
Dentro desse contexto, percebemos como durante esses três anos o Proinape foi
convocado para atuar nessa perspectiva através de uma racionalidade gerencial. A
atuação junto às “turmas de projeto” demonstra que há a necessidade de uma equipe
interdisciplinar que se apresente na mediação entre escola, família, pobreza e
desempenho escolar. Essa demanda nos chega pelos diretores que são profissionais
que abrem a porta da escola para o Proinape. Demonstrando que o fenômeno “turmas
de projeto” tem sido difícil de enfrentar, devido às resistências que esses alunos,
famílias e mesmo professores que participam dessas turmas fazem. Essas resistências
são interpretadas como indisciplina, violência, dificuldade de aprendizagem, inaptidão
ao espaço escolar, despreparo pedagógico, entre outros.
Também houve espaço para ações que se apresentaram no cotidiano
profissional, no qual as diversas racionalidades se apresentam tanto no âmbito escolar
como nas relações que se estabelecem entre as famílias, entre os alunos, entre os
profissionais e com a comunidade. Percebemos que a Escola Foco veio na lógica da
atuação em problemas específicos a serem combatidos e sanados para uma melhor
produtividade. Porém, foi através da atuação na Escola Foco que os profissionais
puderam lidar com as questões que afligem toda a comunidade escolar. Não apenas
pelo discurso da CRE ou da direção, que são os primeiros que temos contato. Mas, a
partir do trabalho com as demandas apresentadas, que em sua maioria são as “turmas
de projeto”, vão se costurando as teias da educação. Possibilitando assim, um contato
com a realidade mais perversa dessa lógica dos resultados. Que se inicia na CRE, vai
para direção, para os professores, até chegar aos usuários do nosso serviço alunos e
suas famílias. Que não são consultados se querem participar desses projetos e como
avaliam essa metodologia.
Assim, o Proinape atende à racionalidade gerencial e mesmo com um discurso
de gestão democrática entramos nas “turmas de projeto”, convocamos familiares a
partir da demanda da direção ou professores. Sabemos que é difícil fugir desse fluxo e
acabamos permanecendo nessa lógica, pois atuamos junto às classes populares que
compõem essas turmas e não devolvemos a eles os objetivos e nem damos o direito de
avaliar nosso trabalho. Nosso trabalho se inicia pela CRE e depois pela direção, mas
175
nossa atuação contínua se dá junto aos professores, alunos e suas famílias e nessa
atuação é que podemos perceber as racionalidades em disputa e abrir possibilidades
para uma perspectiva verdadeiramente democrática.
As diversas ações desenvolvidas junto ao CEC, ao Grêmio Estudantil e a
representatividade demonstram a dificuldade em se materializar a gestão democrática.
Entretanto, esses espaços privilegiados estão abertos e apresentam possibilidades de
se instituir uma racionalidade que se paute nesse tipo de gestão em que a escola possa
estar aberta para se forjarem ações que apresentem resistência a racionalidade
gerencial posta hoje. Para isso, é necessário um trabalho que apresente a política de
educação aos alunos e responsáveis, suas possibilidades e seus limites. Apresenta-se
como um começo possível pensar em formas de avaliação que possibilitem dar vez e
voz a esse público com o qual atuamos diariamente. O que os alunos e suas famílias
pensam sobre os programas e projetos educacionais? O que alunos e suas famílias
pensam sobre a ação do Proinape? Temos que ter o compromisso de registrar as
opiniões desse público sobre o serviço que acessam.
Buscar uma atuação que se paute na gestão democrática está na mesma
perspectiva de compreensão da razão dialética permeada pela racionalidade na direção
dos direitos sociais. Entender a escola como um espaço privilegiado para o acesso as
outras políticas públicas, requer um diálogo constante com as outras políticas setoriais,
como também, uma ação na própria escola para que a mesma entenda, por exemplo, o
SGDCA como uma forma de proteção ao indivíduo em desenvolvimento, não utilizando
esses equipamentos para a culpabilização e ameaça junto às famílias das classes
populares. Enxergar o Conselho Tutelar, o Ministério Público, o Posto de Saúde, o
CRAS, o CREAS, etc como verdadeiros parceiros, não no termo empresarial, que estão
contribuindo na defesa de crianças e adolescentes, tentando afastar as tendências de
judicialização e medicalização da educação, percebendo escola como espaço de
conflitos e convivências.
O Serviço Social em documentos construídos ainda na RPE potencializou as
discussões da educação enquanto direito social e a atuação numa perspectiva de
gestão democrática. Ações junto ao CEC e aos Grêmios Estudantis se materializaram a
176
partir de 2009 com a nova GSSE. A articulação com a rede que se apresentava através
de uma meta a ser atingida em 2007 se transformou em um espaço decisivo na
compreensão da escola como parte do SGDCA. Trazendo a realidade que se apresenta
nessa instituição que hoje acessa a maioria das crianças e adolescentes em idade
escolar, por conta dos programas de transferência de renda. E, por esse motivo é o
lugar em que as classes populares conseguem ter acesso a outras políticas sociais,
pois é na escola que permanecem por mais tempo e, assim as manifestações da
questão social (violência, saúde, pobreza, saneamento básico etc) se apresentam de
forma mais latente.
Sabemos que apenas parte do trabalho está presente nessa dissertação, a falta
de tempo impossibilitou as entrevistas que poderiam demonstrar com mais vivacidade o
cotidiano profissional. Mas, acreditamos que a análise documental trouxe apontamentos
sobre a política setorial em que estamos inseridos. Esse é o primeiro passo para uma
ação que se proponha emancipatória, o conhecimento sobre como se organiza a
política e as conseqüências que essa organização traz para o público que atendemos.
Esse estudo trouxe como indagação que precisamos conhecer o público que
atendemos: quem são os alunos, familiares e professores alvo desses programas e
projetos educacionais? Quais suas questões acerca desse lugar em que os colocaram?
Quais suas impressões sobre os diversos profissionais que atuam sobre suas vidas?
Indagações essas que deixo para estudos posteriores, que não necessariamente
devam ser realizados na academia. Mas, sim no compromisso de sistematização e
investigação cotidiano junto a essa população. Um compromisso também de devolução
a partir do que colhemos no trabalho junto aos alunos e suas famílias, em que os
mesmos nos apresentam seus questionamentos.
Esperamos que, além da relevância teórica, essa pesquisa possa contribuir com
os profissionais apontando as racionalidades em disputa e as quais estamos servindo
através da nossa atuação profissional. Consideramos também que junto à gestão do
Niap essa pesquisa contribua para uma análise sobre os documentos produzidos nos
três anos pesquisados e possa se pensar em formas de sistematizar e produzir
materiais sobre essa experiência. Assim, pretendemos que essa dissertação possa
177
REFERÊNCIAS
ACOSTA, L. Cultura “radical” e serviço social. In: Praia Vermelha – estudos de política e
teoria social. PPGSS/UFRJ – Rio de Janeiro, 2008.
ALMEIDA, N.L.T.; ALENCAR, M.M.T. Serviço social, trabalho e políticas públicas. São
Paulo: Saraiva, 2011.
MARX, K. El. Capital. Libro I. Cap. VI. Inédito. Resultados do Processo de produção.
México, Siglo XXI, 1971
MOREIRA, C.F.N. Dinâmicas de grupo no Serviço Social: uma técnica pouco estudada
e muito difundida entre os assistentes sociais da Rede de Proteção ao Educando/RJ.
160 p. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - UERJ, Rio de Janeiro, 2010.
(mimeo).
MOTA, A.E. Questão Social e Serviço Social: um debate necessário. In: O Mito da
assistência social: ensaios sobre Estado, política e sociedade. 4 ed., São Paulo: Cortez,
2010.
NETTO, J.P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 8 ed.,São Paulo: Cortez, 2011.
______. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 8
ed., São Paulo: Cortez, 2005.
______. Introdução ao método na teoria social. In: Serviço Social: direitos sociais e
competências profissionais, Brasília:CFESS/ABEPSS, 2009.
SME
RESOLVE:
Art. 2° Para atender ao previsto no inciso I do art. 1° desta portaria, fica criada, no
âmbito da SME, a Equipe de Apoio Extraescolar – equipe de atuação regional,
constituída de professores, para atuar em colaboração com as escolas no sentido da
superação dos impasses e dificuldades do processo educativo.
necessário para a designação mencionada no inciso III do art. 3°, os quais também
deverão ser entrevistados e avaliados.
FOCO DE AÇÃO:
EIXOS DE TRABALHO:
Desempenho escolar
o Infrequência e evasão
o Participação da família e alunos
o Trabalho com a gestão, coordenação pedagógica e
professores.
OBJETIVOS:
194
Observações:
Especificamente para o desenvolvimento do trabalho com a pré-
escola, deverá ser definido no Plano de Ação uma mini-equipe
composta por um professor, um psicólogo e um assistente social.
Durante o ano letivo, outras escolas poderão ser alvo do trabalho do
PROINAPE, conforme indicação da E/SUBE/CRE. Tais escolas estarão
sendo atendidas inicialmente, por uma mini-equipe (Professor,
Psicólogo e Assistente Social) numa dinâmica de escuta, que a
seguir poderá ser desdobrada em diferentes estratégias de trabalho,
tendo em vista as necessidades identificadas.
196
Observações:
1. o desenvolvimento do projeto de cada escola será acompanhado
pelas equipes da E/SUBE/CRE, SME e SMAS.
2. as alterações na sistemática de trabalho (faltas, mudança de datas,
etc), devem ser comunicadas à direção da escola.
197
NORTEADORES 2012
Considerando:
Indica-se:
EIXO DE ATUAÇÃO:
OBJETIVOS:
Contribuir para o fortalecimento das equipes das Unidades Escolares de modo que se
reconheçam e se consolidem como parte da rede de proteção à criança e ao adolescente.
1 Em anexo, na íntegra.
198
- atuação em escolas foco justificada pelos elementos de análise conjunta CRE, equipes
NIAP/PROINAPE nas CRE’s.
Titulo:
Objetivo
Público Alvo
Cronograma de execução
- encontro sistemático de toda a equipe para estudo, análise das ações ou atividades em
andamento, redirecionamentos necessários, comunicações, dentre outros.
Obs: A periodicidade dos encontros acima descritos será definida em função das
diferentes propostas de cada área.
A avaliação sistemática de cada ação em andamento durante o ano letivo é fator que pode ajudar
na compreensão das necessidades e potencialidades do contexto em análise – a escola. Desta
forma, as idéias aqui expressas precisam de constante organização a partir da sistematização de
documentação, registro e tratamento cuidadoso de informações.
PROJETO “REALFABETIZAÇÃO 1”
A Secretaria Municipal de Educação em parceria com o Instituto Ayrton Senna
realizará, em 2013,o Projeto Realfabetização 1, que tem por objetivo “realfabetizar”
alunos do 3º, 4° e 5° anos do ensino fundamental da Rede Pública Municipal de Ensino
do Rio de Janeiro, com defasagem idade/ano escolar, considerados analfabetos
funcionais.
Esse Projeto está elaborado a partir da metodologia e do material produzido pelo
Instituto Ayrton Senna e será realizado no turno em que estão matriculados os alunos
que dele participarem.
Durante todo o ano letivo haverá orientação e supervisão de uma equipe
pedagógica.
Os professores regentes interessados em participar do Projeto devem procurar a direção
da Unidade Escolar ou a Coordenadoria Regional de Educação, caso a Unidade Escolar
não tenha o projeto.
PROJETO “ACELERAÇÃO 1”
A Secretaria Municipal de Educação em parceria com o Instituto Ayrton Senna
realizará, em 2013, o Projeto Aceleração 1, que tem por objetivo atender alunos que
participaram do projeto “Realfabetização 1”, em 2012, e os que estiverem com
defasagem idade/ano escolar,alfabetizados, no 3° e 4° anos do ensino fundamental da
Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro.
Este Projeto está elaborado a partir da metodologia e do material produzido pelo
Instituto Ayrton Senna e será realizado no turno em que estão matriculados os alunos
que dele participarem.
Durante todo o ano letivo haverá orientação e supervisão de uma equipe
pedagógica.
Os professores regentes interessados em participar do Projeto devem procurar a
direção da Unidade Escolar ou a Coordenadoria Regional de Educação, caso a Unidade
Escolar não tenha o projeto.
PROJETO “REALFABETIZAÇÃO 2”
A Secretaria Municipal de Educação em parceria com o Instituto Ayrton Senna
realizará, em 2013, o Projeto Realfabetização 2, que tem por objetivo atender alunos
defasados idade/ano escolar, matriculados no 6º ano do ensino fundamental da Rede
201
PROJETO “ACELERAÇÃO 2 A”
ACELERAÇÃO DE ESTUDOS 6° ANO
A Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Fundação Roberto Marinho
dará continuidade ao Projeto Aceleração 2 A, que iniciou em 2012, atendendo alunos
matriculados no 6° ano do ensino fundamental da Rede Pública Municipal de Ensino do
Rio de Janeiro, com defasagem idade/ano escolar, objetivando o término do ensino
fundamental em 2013.
Este Projeto está elaborado a partir do uso da Metodologia do Telecurso® -
Telessala™ e será realizado no turno em que estão matriculados os alunos que dele
participarem. Na proposta do Projeto cada turma terá um professor que se
responsabilizará pelo encaminhamento de todas as disciplinas do currículo. Durante todo
o ano letivo haverá orientação e supervisão de uma equipe pedagógica.
PROJETO “ACELERAÇÃO 3”
ACELERAÇÃO DE ESTUDOS 7° e 8°ANOS
A Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Fundação Roberto Marinho
realizará, em 2013, o Projeto Aceleração 3) que tem por objetivo atender alunos
matriculados no 7º e 8º anos do ensino fundamental da Rede Pública Municipal de Ensino
do Rio de Janeiro que estão com defasagem idade/ano escolar.
Este Projeto está elaborado a partir do uso da Metodologia do Telecurso® - Telessala™ e
será realizado no turno em que estão matriculados os alunos que dele participarem. Na
proposta do Projeto cada turma terá um professor que se responsabilizará pelo
202
ANEXO I – Roteiro para análise dos Planos de Ação 2010, 2011, 2012
Em que contexto, por quem e com qual finalidade cada Plano de Ação foi
produzido?
ANEXO J – Roteiro para análise das avaliações finais 2010, 2011 e 2012
Em que contexto, por quem e com qual finalidade o documento foi produzido?