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Abafada a revolta daquela “capelã”, as autoridades ordenaram que a
mesma fosse colocada num cárcere que havia dentro do Convento. Alguns
dias depois de presa a revoltada, as freiras começaram a ouvir estranhos
ruídos no cárcere. Certo dia, quando passavam por ali a Superiora e Madre
Mariana, ouviram ambas gritos e vozes roucas dentro da prisão. Madre
Mariana logo entendeu do que se tratava: a prisioneira era vítima de possessão
diabólica.
A Superiora logo propôs a solução mais simples: tirar a possessa dali e
levá-la a um outro lugar. Com o que Madre Mariana não concordou: “Não,
Madre. Se ela sair do Convento, esta pobre irmã perderá sua alma. É preciso
conquistá-la para Deus”. A Superiora, considerando que Madre Mariana tinha
forças para enfrentar a situação, lhe ordena que entre no cárcere para ver o
que conseguiria fazer pelo bem daquela alma.
Logo que Madre Mariana entra, a prisioneira começa a gritar: “Estou
morrendo, estou morrendo!” e corre por toda a prisão, batendo a fronte e a
cabeça contra as paredes. Em seguida caiu sem sentidos. Madre Mariana
aproximou-se dela e viu que deitava espuma e sangue pela boca. Começou a
lhe dar massagens tentando reanima-la, quando a Superiora, covardemente,
grita da porta: “Madre, se ela voltar a si, eu me abalo para longe”.
Em vez de se abalar, Madre Mariana mandou que trouxessem remédio
para reanimar a possessa, que estava ferida. Logo que a Madre Superiora
saiu, ficando Madre Mariana sozinha rezando pela possessa, viu
repentinamente dois negros demônios colados na parede como quem se
escondia dela. Vendo-os, gritou: “Bestiagas [récua de bestas] vis e
abomináveis, que fazeis aqui? Ide à vossa cruel morada, que este é lugar santo
e casa de oração e penitência. Todos os esforços para levar a alma de minha
irmã serão vãos. Jesus Cristo morreu por ela e, apesar de vós, ela se salvará.
Ordeno-vos em nome do Mistério da Santíssima Trindade, da Divina Eucaristia,
da Maternidade Divina de Maria Santíssima, de Seu glorioso Trânsito e
Assunção em Corpo e Alma aos Céus, que imediatamente desocupeis este
santo lugar e nunca mais volteis a mortificar com vossa abominável presença a
nenhuma de minhas irmãs, que justa ou injustamente aqui estão” 1.
Note-se que Madre Mariana, ao fazer a oração exorcística, manda que
os demônios desocupem imediatamente “este lugar santo”: ela está
exorcizando um tipo de demônio chamado de “arrimadiços” (segundo o Padre
Manuel Bernardes), os quais junto com os o que a Igreja chama de “demônios
dos ares” atuam na posse de lugares para provocar a perdição das almas. Não
se trata, portanto, de um exorcismo clássico de expulsar o demônio do corpo
da pessoa. Talvez este último seja mais difícil porque trata-se de algo ligado à
pessoa, ao corpo, mas principalmente à alma de uma pessoa, dependendo
muitas vezes dela e de seu livre arbítrio para que o demônio seja expulso.
Tão logo Madre Mariana termina sua oração exorcística deu-se um
estrondo, a terra tremeu e ouviu-se uivos horríveis. Neste momento, a Madre
Superiora estava chegando com algumas ajudantes e o remédio que Madre
Mariana pedira. Uma delas falou assustada que algo de diabólico estava
acontecendo no cárcere, mas que lá estando Madre Mariana nada haveria de
se temer. Quando entraram na prisão ainda encontraram o ambiente
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“Vida Admirável de Madre Mariana de Jesus Torres...” – Tomo I – Fr. Manuel Sousa
Pereira, OFM, págs. 103/104
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obscurecido por uma espessa fumaça. Aplicaram os medicamentos na “capelã”
que logo se reanimou sem sinais externos de possessão.
Talvez a possessa ainda tivesse alguns demônios que a incomodassem,
mas aqueles que Madre Mariana havia visto foram exorcizados.
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op. cit. tomo. II, pág. 167
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“Concluída esta súplica, Madre Mariana viu o Céu se abrir, descendo
até o Sacrário. Todo o altar-mor resplandecia com luz celestial, a ponto de ela,
por um momento, ter pensado que, sem sentir a morte, já se encontrava na
eternidade. Os Anjos cantaram, com melodia própria a eles, o “Salve Sancta
Parens.
“Imediatamente a Rainha dos Céus adiantou-Se.
“Ao contínuo, os quatro Arcanjos, seguidos de incontáveis espíritos
celestes, voaram ao Sacrário. O Príncipe São Miguel, depois de fazer uma
profunda reverência, tomou em suas mãos a santa Hóstia, que se converteu
imediatamente em um formosíssimo Menino. Ele olhou ternamente para o
Príncipe e sua gloriosa comitiva celeste, e disse:
- Ponde-me quanto antes nos braços de minha Mãe, e acompanhai-Nos
todos vós, a fim de presenciar a grandeza do poder de Deus, que Se vale de
instrumentos aparentemente débeis para realizar grandes maravilhas. – Nova
confirmação daquela verdade encantadora: de que Deus oculta Seus segredos
aos soberbos e grandes do mundo e os revela aos humildes e simples de
coração”.
“Incontinenti o Arcanjo se apresentou diante da Imperatriz Soberana, e
fazendo-Lhe reverência, disse:
- “Tomai, Senhora, em vossos braços soberanos o Tesouro divino do
qual sois depositária”. E colocando-Lhe no braço esquerdo o Divino Infante,
retirou-se, fazendo nova reverência.
“Em seguida aproximou-se o Arcanjo São Gabriel trazendo um belo
báculo. Fez uma profunda reverência e colocou-o em sua mão direita, dizendo:
- “Empunhai, Senhora, em vossa soberana destra o báculo que a
Onipotência Divina nela colocou, para que, como Imperatriz dos Céus e da
terra, governeis o universo e reprimais em todos os tempos a força diabólica do
tenaz e soberbo satanás, que cheio de furiosa inveja trabalha com toda sutiliza
na perdição das almas, mas que sempre se verá vencido e humilhado por Vós,
que sois a Mãe do Verbo Divino.
“Fez novamente profunda reverência e se retirou.
“Logo depois chegou o Arcanjo São Rafael, portando uma pequena cruz
muito formosa, do tamanho de um dedo mas que ofuscava a vista com a luz
que irradiava. Era toda composta de preciosos rubis, esmeraldas, ametistas,
safiras e brilhantes. Pondo-a na mão do Divino Infante, disse:
- “Aqui tendes, Rei dos Céus e da terra, o presente que guardais e
concedeis a vossas esposas fiéis que durante a vida religiosa Vos servem com
fidelidade. Com ele triunfarão das maquinações diabólicas, até que fechem
seus olhos à luz material para os abrir ao esplendor da luz eterna. Pela cruz
serão salvas as almas remidas por Vós”. E com uma profunda reverência, o
Arcanjo se retirou.
“A Corte Celeste entoou então um hino de glória, cuja melodia só a alma
poderia degustar, os sentidos do corpo nem sequer agüentariam, a não ser
adormecidos.
“Tudo isto passou-se diante de Madre Mariana, que estava em presença
de Deus e de Sua Mãe Santíssima, com essa humildade própria dos santos.
Humildade adquirida ao longo de uma vida cheia de dificuldades e
humilhações, de que o leitor pode tomar conhecimento, lendo a vida desta feliz
discípula do Divino Redentor.
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O Menino Jesus incita Madre Mariana ao exorcismo
O que vimos acima nada mais foi do que o prólogo de uma solene
cerimônia exorcística, estando presente toda a Corte Celeste e uma santa
Vítima Expiatória e Exorcística, Madre Mariana de Jesus Torres. Após o
cântico cós anjos o Menino Jesus dirige-se à Madre Mariana:
“Minha dileta esposa, tu és a fibra mais delicada de Meu Coração,
porque passaste toda tua vida em meu serviço e Me amaste com todo teu
coração e toda tua alma. E este teu amor por Mim, que sou teu Deus e Senhor,
tem sido muito dedicado e ativo, conquistando-Me almas. Para convertê-las,
arrancá-las do vício e encaminhá-las na via segura que conduz ao Céu, tiveste
que arrostar grandes padecimentos físicos e morais com generosidade e valor,
sem que o maldito respeito humano, frustrador de grandes graças em favor das
almas, conseguisse fazer-te desistir de empresa tão grandiosa.
“Oh! Se todas minhas esposas tivessem essa diligência e cuidado em
relação a todas as pessoas com que tratam. Quantas almas Me dariam em
segredo!
“Saibas que pus nas palavras de Minhas esposas espadas de dois
gumes para penetrarem nos corações mais endurecidos. Mesmo que na
aparência nada se note, essas palavras repercutem no interior das almas noite
e dia e acabam germinando e dando cedo ou tarde frutos de penitência. E,
quando são acompanhadas de súplica incessante em favor desses pecadores
queridos, então melhor ainda: Eu não posso resistir aos pedidos de minhas
esposas, em se tratando de salvar as almas.
“Oh! Dileta minha! Dize a tuas filhas que sejam meus apóstolos a partir
do silêncio do claustro. Asseguro-lhes que, se assim o fizerem, terão uma
glória muito especial no Céu. Afirmo que uma só palavra proferida pelas
pessoas religiosas é de muito peso no coração dos que vivem no mundo, os
quais, por mais pecadores que sejam, vêem nelas seres separados do mundo,
consagrados e entregues ao exclusivo serviço de Deus, e portanto dignos de
respeito e atenção.
“Agora, ouve a tua Mãe e minha. E vamos sepultar no abismo as
malditas legiões que saíram do inferno para perder estas duas pobres famílias,
tentando roubar-Me almas tão queridas do meu Coração. Recebe esta bela
cruz como presente das núpcias eternas que proximamente te esperam”.
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considerável número de almas, tornando infrutíferos o Sangue e os méritos de
meu Filho Redentor.
“Este bom e amoroso Pai, contudo, sai diariamente do Sacrário para
penetrar nos corações purificados e limpos, donde Ele estende sua amorosa
vista ao longe, na expectativa de ver chega Seus filhos pródigos, a fim de
recebê-los de braços abertos e, uma vez reconciliados e lavados no santo
Tribunal da Penitência, faze-los voltar à Sua amizade, com a posse da vida da
graça e dos inúmeros bens reservados para o Reino dos Céus.
“Em vista precisamente da reconquista desses filhos pródigos
estabeleceu Nosso Senhor a vida contemplativa em sua Igreja, para que Suas
almas prediletas, escondidas de todo olhar humano, desconhecidas,
esquecidas e muitas vezes desprezadas, fossem mediante a oração
incessante e a penitência, em toda forma e circunstância da vida monacal,
apóstolos ativos e fervorosos.
“Ai das almas religiosas que incautas e ociosas não querem cumprir, por
vãs covardias, sua sublime missão! Não terão escusas no Tribunal divino. Ali
se lhes recompensarão almas salvas e se castigarão pelas que, por omissão
sua naquela vinha do Senhor, se perderam.
“Ponhamos agora em vergonhosa fuga as legiões infernais que se
atreveram arrebatar aquelas almas a Deus”
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terrena, até conduzi-los ao Céu, onde gozam a Deus em sua companhia,
louvando as misericórdias que o Senhor neles realizou”.
“Ao ouvirem a imperiosa voz do Chefe e Príncipe da Milícia Angélica,
tremeram as hostes infernais e soltaram um alarido tão terrível que parecia
retumbar no universo inteiro. E virando-se os demônios para a luz que os
eclipsava, viram-se em presença de Jesus Cristo, de sua Virgem Mãe e da
humilde monja concepcionista, elevada a tanta honra em virtude de uma vida
inteira de sacrifício incessante e de vitórias alcançadas sobre eles. E isto os
enfurecia sobremaneira, sendo o motivo desse ódio que lhe tinham, não tendo
eles poupado nenhum esforço no afã de derrubá-la ao solo pelo pecado, o que,
porém, jamais conseguiram. Ao vê-la, quiseram lançar-se sobre ela, pois não
conseguindo causar-lhe dano à alma, queriam pelo menos tirar-lhe a vida.
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misericórdia, julgando que o vulcão Pichincha ia soterrá-los. O Senhor Bispo
mandou que se rezasse em todas as igrejas da cidade.
“As duas famílias, porém, que andavam tão molestadas nas respectivas
casas, acalmaram-se em seguida. Cada qual reuniu-se com toda a criadagem
para rezar o santo Rosário, advindo uma inalterável paz e tranqüilidade. E os
criados comentavam: “Como foi bom este tremor de terra, para que nossos
amos se acalmassem! Eles já se iam tornando insuportáveis!” 3
Cumprindo, pois, sua vocação não só de Vítima Expiatória, mas de
Vítima Expiatória Exorcística, Madre Mariana exorcizou poderosamente
aqueles demônios, os quais haviam conquistado importante lugar nas casas
daquelas famílias. Em seguida, os Anjos da Guarda daquelas casas voltaram a
assumir seus antigos lugar, inspirando às famílias a reza do Rosário e trazendo
a paz espiritual entre elas.
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op. cit. Tomo II págs. 166/171.