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Guimarães Rosa divide seu Sertão entre dois grupos políticos principais. Se lermos esse romance como um
trabalho artístico de fato, ou seja, como metáfora ou alegoria relativos a um processo social real, ele pode
trazer alguns subsídios para compreender o que vivenciamos atualmente.
O primeiro grupo apresentado é o de Zé Bebelo, uma espécie de legalista do sertão, cujo sonho é acabar
com a jagunçagem e ir para capital colher os louros de seu feito elegendo-se deputado. Depois voltaria
para suas terras e promoveria o bem estar social apoiado pelas tropas do governo e através das nanças do
Estado. É como se Zé Bebelo fosse uma espécie de Maquiavel do sertão, onde somente um príncipe forte e
respaldado em plenos poderes pudesse por m à barbárie daquelas terras sem dono.
O segundo grupo, encabeçado por Joca Ramiro e Medeiro Vaz, que depois da morte de ambos é liderado
pelo protagonista, Riobaldo, está mais para John Locke e os contratualistas da época das Luzes. Riobaldo
estabelece um governo de consenso entre os sertanejos, respeitando-se as liberdades individuais de cada
um em tempos de paz. Se necessária a guerra, arregimentaria tropas, também por consenso geral, pela
necessidade de se manter o estado a que todos passaram a gozar depois de sua vitória.
São signi cativas em relação a essa loso a as primeiras páginas do romance, onde despontam tiros, mas
não de homens. Logo depois Riobaldo enumera seus companheiros que vivem em terras próximas, alguns
que moram em terras distantes, e conta como todos estariam prontos para pegarem em armas – muitos
desses são seus antigos companheiros jagunços – caso a desordem tente voltar a reinar no sertão.
Também se percebe como todos vivem em relativa paz, livres do banditismo dos últimos anos, e como os
mesmo têm, no máximo, uma relação “protocolar” ou “diplomática” com os homens da capital, como é o
caso do Doutor, cuja conversa com o ex-jagunço percorre todo o romance. Finalmente, o governo é feito
entre o consenso das gentes, dos sertanejos, a despeito de qualquer medida centralizadora implementada
pelo Estado.
Dada as opções políticas hoje claramente delimitadas no cenário eleitoral, caso tivermos em conta a clara
divisão operada por Guimarães Rosa entre as diferentes facções políticas (em seu tempo, Lacerdae os
militares de um lado, Vargas e Jango de outro), a solução proposta por entre as veredas de Guimarães é a
de um consenso. Não se opta pela violência de um governo centralizador, ainda mais com as promessas de
se calar pelas armas e pela autoridade o estado de guerra geral.
Assim, com um grande consenso patriótico, com balizas claras estabelecidas para nossos adversários, hoje
já internacional, poderá se apoiar nos países que estão na linha de frente da luta contra o império
nanceiro que estabelecido no setor transatlântico, e, na costura de um consenso além pátria, voltar a
liderar as discussões mundiais para um grande pacto internacional, como foram os acordos originais de
Bretton Woods e o processo de descolonização no pós-guerra.
Bibliogra a
MATTOS, Rogério. Guimarães Rosa e a Nomadologia: três tempos de uma história. Revista Ideias. Instituto
de Filoso a e Ciências Humanas: ano 3(5), 2º semestre de 2012. Disponível em
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8649350/15905
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Rogério Mattos
Rogério Mattos: Professor e tradutor da revista Executive Intelligence Review. Formado em História
(UERJ) e doutorando em Literatura Comparada (UFF). Mantém o site http://www.oabertinho.com.br, onde
publica alguns de seus escritos.
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Rogério Mattos
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Quero ver como a farsa vai se sustentar! Uma vitória que sinaliza a instabilidade e prolonga o Golpe de Estado de 2016.
Duvido muito de qualquer governo desse Temer sem mesóclise: mais um fascista ordinário. Bananazi!
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