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Nesta edição:
Plenária Fórum Educação do Campo Semana Camponesa 2010 2
Toda vez que chego a Marabá é a mesma coisa que ouço em todos os lugares por onde passo: “Marabá está
muito perigosa”. Sua violência se expressa na criminalidade, nas relações (des)humanas, no trânsito malu-
co. Traz medo, feridas e mortes, muitas vezes atribuídos aos migrantes que aqui chegam. “Marabá vai ex-
plodir”. A série de vídeos e debates da Semana Camponesa, no
entanto, nos faz pensar que a violência de Marabá é reflexo de
tantas violências que a região e seu povo – inclusive aqueles que
chegam – vêm sofrendo.
A EFA constituiu-se num importante espaço de experimentação da Pedagogia da Alternância ofertando formação vincula-
da a realidade, necessidades e saberes das famílias camponesas, considerando e respeitando tempos e espaços próprios
de produção da vida, levantando a preocupação sobre a formação vinculada aos processos de desenvolvimento local/
regional. Não por acaso, a proposta político-pedagógica da EFA constituiu-se numa das referências para a implantação da
Escola Agrotécnica Federal de Marabá, transformada em Campus Rural de Marabá do
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA). Sem esquecer que a
reivindicação pela criação de uma escola agrotécnica federal na região também nasceu
dos ciclos de debate sobre educação do campo realizados pelos movimentos membros do
FREC.
As ações de alfabetização iniciadas em 1998, financiadas pelo Programa Nacional de E-
ducação na Reforma Agrária (Pronera), estabeleceram uma perspectiva que tem orientado
o Movimento de Educação do Campo na região: confrontar as políticas públicas viabilizan-
do diálogos sociais e interinstitucionais que ampliassem as práticas e o marco legal da
educação do campo. Entre 1998 e 2010 a parceria entre UFPA, MST e FETAGRI resultou
em projetos de elevação de escolaridade e formação de professores do campo, desde
o ensino fundamental [5ª a 8ª séries], desdobrando-se em cursos de magistério nível
médio e cursos de graduação (Agronomia, Letras e Pedagogia do Campo). Recente-
mente foram criados cursos de Licenciatura Plena em Educação do Campo, com oferta
feita pela UFPA e IFPA, e de especialização, como os cursos Currículo, Cultura, Letra-
mento e Educação do Campo / UFPA e Educação do Campo, Agricultura Familiar e
Sustentabilidade na Amazônia / IFPA. Novos cursos em breve serão ofertados, sempre
em caráter gratuito e atendendo as demandas por formação continuada de educadores
e profissionais que atuam junto às populações camponesas Discutidos e projetados a
partir da articulação entre as instituições e coletivos membros do FREC, nestes cursos
a formação é realizada considerando as demandas e as especificidades da realidade
dos camponeses da região e considerando: (i) a necessidade da afirmação de uma
compreensão crítica sobre o campo e de sua inclusão em um projeto de desenvolvi-
Educandos EFA e mento regional e nacional; (ii) a busca de definição e consolidação de uma política edu-
III Conferência 2005 cacional do campo; e (iii) a possibilidade da (re)organização dos processos pedagógicos e
da escola na perspectiva do atendimento das demandas e culturas dos povos do campo.
Entre as ações do FREC destacam-se as conferências regionais de Educação do Campo, realizadas a cada dois anos,
e pautando questões centrais para esse movimento na região. Em 2007 a 3ª Conferência teve como tema “Currículo, Polí-
ticas Publicas e Educação do Campo”, em 2009, a 4ª Conferência discutiu “Educação do Campo: Juventude, Profissionali-
zação e Projetos de Vida” e, em 2011, a 5ª edição do evento pautará “Agroecologia, Educação do Campo e ATES”.
Não é por acaso. Esses temas representam a tríade que tem referenciado a luta por Educação do Campo na região: (i) um
movimento pedagógico- curricular (Medeiros, 2009); (ii) a centralidade dos sujeitos do campo como sujeitos sociopolíticos
e pedagógico-educativos; (iii) a opção por um projeto de desenvolvimento camponês sustentável (agroecológico). Assim, a
Educação do Campo não se restringe a um movimento de inovação dos métodos pedagógicos, nem possui a inocência de
Essa história também tem seus percalços. Um deles é que pouco se tem avançado na
região acerca das políticas da educação básica do campo a partir dos sistemas de ensi-
no sob responsabilidades do Estado e Municípios. Prevalece ainda a formação escolar
ofertada através de currículos descontextualizados e desenvolvida em condições precá-
rias, sem recursos materiais suficientes e com profissionais pouco valorizados profissio-
nalmente e sem formação adequada.Diante deste contexto, considerando que a luta
pela educação dos povos do campo nessa região, durante estas 4 décadas, produziu
um legado importante que poderia referenciar as políticas públicas de educação e, tendo
o FREC como um espaço privilegiado de construção de reflexões-ações coletivas, é que
tem sido convidados representantes das organizações e movimentos sociais e dos go-
vernos municipais e estadual para participar do FREC. O principal objetivo é a elabora-
ção de uma agenda de compromissos e ações que ajudem a transformar a escola do
campo no sentido do que está previsto nas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica das Escolas do Campo
[Resolução CNE/CEB nº 1/2002], que pressupõe a responsabilidade dos sistemas de ensino em relação à oferta de escola-
rização aos sujeitos do campo sob a ótica do direito; o respeito às diferenças e da diversidade como estratégia de uma polí-
tica de igualdade; e o encaminhamento prático de medidas de “adequação” da escola a vida e demandas dos povos do
A motivação desta ação compreende um debate que tem sido realizado no FREC nos últimos anos de que o campo, no
sudeste paraense, é constituído de uma diversidade de sujeitos e culturas. E de que os povos que organizam o território
para a produção de sua existência material e imaterial, isto é, para a produção da vida, podem construir relações solidárias
que fortaleçam suas lutas e perspectivas socioculturais nesta região. Entende que as territorialidades camponesas, indíge-
nas, ribeirinhas, agroextrativistas, dentre outras, podem construir conexões e redes de solidariedade no enfrentamento de
outros modelos de desenvolvimento [grandes projetos de mineração e do agronegócio], cujas perspectivas e interesses
visam, exatamente, a desterritorialização desses povos e grupos, através da expulsão de suas terras e de outras formas de
expropriação ou negação dos direitos para a produção de vida digna. A ação concreta, no âmbito do IFPA/CRMB, de cons-
trução de um projeto de curso específico dos povos indígenas, deverá constituir-se, inicialmente, a referência prático-
teórica, visando ampliar o debate e as articulações. O grupo realizará reuniões convidando outras pessoas e instituições,
tais como professores da UFPA, agentes do Conselho Indigenista Missionário, antropólogo do Ministério Público Federal,
Técnicos do Setor de Educação da Funai, da SEDUC/4ª URE e Fundação Casa da Cultura de Marabá. Nesta ocasião, além
de uma leitura da realidade dos povos indígenas na região e das ações que têm sido realizadas, será discutida a organiza-
ção e articulação do grupo.
Fomentar estudos e debates sobre temáticas relacionadas a educação básica do campo e formação permanente de
professores do campo: Organização de grupo de estudos e debates sobre a educação básica do campo e formação de
professores, articulado as reflexões construídas a partir dos demais GTs do FREC e aos Grupos de Pesquisa e Extensão
das universidades [UFPA e IFPA]. Mapeamento dos programas de formação de professores em desenvolvimento na região
[Observatório]. Realização de debate sobre os processos de formação continuada para educadores do campo desenvolvi-
dos por programas governamentais [em especial o programa Escola Ativa], convidando para esse debate de seus coorde-
nadores no estado e municípios e educadores do campo da região e colaborando com os municípios na organização de
programa de formação continuada permanente para professores em acordo com os princípios da educação do campo. Par-
ticipação no seminário de avaliação do Programa Saberes da Terra [IFPA].
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Fomentar o estudo e debate sobre a multisserie e sua articulação a educação do campo na região: Levantamento de
experiências de formação continuada, experiências docentes nas escolas do campo e de material pedagógico utilizado
[Observatório]. Organização de momento de debate sobre a multisserie com a presença dos coordenadores e educadores
dos programas nos municípios [Executiva do FREC].
Mobilizar o SINTEPP para participar das discussões da educação do campo do FREC e para acompanhamento da
realidade educacional nas escolas do campo: Levantar e denunciar situações de precariedade e descasos em que se
encontram as escolas do campo e denunciar situações de afrontamento aos direitos dos trabalhadores da educação das
escolas do campo [Observatório]. Convocar diretoria do SINTEPP regionais sudeste, sul e tocantina e estadual para discutir
a realidade da educação do campo na região [Executiva do FREC].
Colaborar para a efetivação dos preceitos das Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Cam-
po: Organização de debate sobre propostas curriculares das escolas do campo e mobilização do debate sobre organização
das escolas, contradições dos processos de nucleação, transporte acesso, merenda escolar e necessidade de compatibili-
zação do calendário escolar com calendário agrícola [nos eventos micro-regionais e em eventos imediatos de acordo com a
urgência em alguns municípios, como Eldorado e Jacundá].
Articuladores do GT: Evandro e Nilsa/UFPA, Maura/EFA, Charlene e Odete/IFPA, Renata/Jacundá, Mara/Itupiranga
GT de Agroecologia
O GT Agroecologia, constituído no âmbito do FREC discutiu, tos: instituições ligadas à formação agroecológica; coope-
durante a plenária do FREC, realizada em 22/04/2010, sobre rativas e empresas de ATER que apóiam a agricultura
a definição de prioridades e sobre o planejamento de ações familiar e agricultores familiares com experiências inova-
para o ano, tendo em vista a preparação para a 5ª Conferên- doras na ênfase agroecológica. Para garantir a execução
cia Regional de Educação do Campo, que se realizará em dessas oficinas, propôs-se a realização de 04 reuniões
2011, em Itupiranga. técnicas de planejamento e de avaliação dessas oficinas.
Esse processo desencadearia a realização de um Seminá-
Além disso, o debate se situou no nível das possibilidades rio Regional sobre Agroecologia, Sustentabilidade e Agri-
concretas de se aprofundar conhecimentos acerca da agroe- cultura Familiar, possivelmente a se realizar entre os me-
cologia, tendo em vista não a aplicação de conceitos cons- ses de novembro e dezembro de 2010. Por fim, seria pro-
truídos em contextos diferentes do que se vivencia na regi- duzido o relatório final do projeto, além de um livro que
ão, mas sim a delimitação consensual de princípios que pos- mostraria as experiências regionais com ênfase agroecoló-
sam nortear a agroecologia no contexto amazônico. Dessa gica trabalhadas durante os eventos realizados. Assim, a
forma, identificar, valorizar e sistematizar conhecimentos nos agroecologia pode ser vista como um tema transversal,
quais os princípios agroecológicos podem ser visualizados que fomentaria uma abordagem multidisciplinar sobre a
são os grandes desafios que se colocam para a construção multiplicidade de temas, atores e experiências que podem
conjunta do debate em torno dessas temáticas na região do ser identificadas com os princípios agroecológicos, no
Sul e Sudeste paraense. Sendo assim, a coordenação do contexto da agricultura familiar regional. Posteriormente,
GT apresentou um projeto voltado para a condução de um os conhecimentos construídos com base nessas experiên-
processo participativo de formação de agentes de desenvol- cias podem inclusive servir para embasar propostas de
vimento sustentável, intitulado “A construção do conheci- políticas públicas no âmbito regional.
mento agroecológico no território do Sudeste Paraense: va-
lorizando e aprimorando práticas inovadoras dos diversos Algumas dificuldades se interpõem à consecução desses
atores sociais comprometidos com o desenvolvimento sus- objetivos, como o desafio da adaptação metodológica para
tentável da agricultura familiar”, proposto pelo IFPA – Cam- a identificação e sistematização de iniciativas e experiên-
pus Rural de Marabá, em parceria com o GT Agroecologia cias de cunho agroecológico. Além disso, um questiona-
do FREC e da Associação Brasileira de Agroecologia - ABA. mento que se coloca diz respeito à participação e a incor-
Inicialmente, o projeto foi formulado para atender à demanda poração de instituições da região Sul do Pará nesse pro-
do Colegiado de Desenvolvimento Territorial (CODETER) do cesso de reflexão e ação conjuntas. Certamente, a articu-
Sudeste Paraense, no âmbito do Programa Territórios da lação de apoios e parcerias nessa região é importante
Cidadania, com financiamento proveniente da Secretaria de para garantir a participação das instituições locais no pla-
Desenvolvimento Territorial (SDT), vinculada ao Ministério nejamento proposto. Todavia, esses aspectos não serão
do Desenvolvimento Agrário (MDA). negligenciados nas discussões posteriores acerca desse
projeto, que não representa uma proposta já pronta e aca-
Este projeto propõe a continuidade do processo de bada, mas se encontra em construção. Dessa forma, o GT
“construção do conhecimento agroecológico”, iniciado em definiu, de forma preliminar, a data de 04/05 para a conti-
2009 pela ABA e pela Articulação Nacional de Agroecologia nuidade dessa discussão, por meio da ampliação dos de-
(ANA), com participação ativa de entidades e instituições bates, visando garantir uma representatividade de institui-
afiliadas ao FREC, através de uma metodologia participativa ções de formação, assistência técnica e de movimentos
já testada e implementada pela ABA/ANA. Através de diver- sociais ligados à agricultura familiar no planejamento e na
sas metas, a essência do projeto é a busca de uma adapta- execução das ações prioritárias elencadas pelo GT para
ção para a metodologia utilizada, procurando-se respeitar 2010.
as especificidades do contexto amazônico e regional. Para
isso, propõe-se inicialmente a realização de 03 oficinas so- Articuladores do GT: Mauro/UFPA/LASAT, Haroldo/
bre experiências regionais envolvendo três públicos distin- UFPA, Marco/IFPA, Clauco/EMATER.
Coordenação Executiva FREC: Idelma Santiago - UFPA (idelmasantiago@gmail.com), Ronailde Lima - FETAGRI (rona_lima@hotmail.com), Shauma Tamara – COPSERVIÇOS
(shauma_2009@hotmail.com), Rosemeri Scalabrin IFPA/CRMB (rosemeri.scalabrin@gmail.com), Rosemary Bezerra - CPT Sul do Pará (rosemayreb@yahoo.com.br), EMATER.
Boletim nº 002: Coordenação: Idelma Santiago, Colaboradora: Carolina Motoki, Diagramação: Evandro Medeiros , Imagens: Sulamita dos Reis, Danilo Santos e Evandro Medeiros.
Endereço: Folha 31, Quadra 7, Lote Especial – UFPA/Campus I – Sala do Pronera – Marabá/PA, Fone: (94) 2101-7147 –Email: frec.supa@gmail.com – Blog: www.frecsupa.net.br