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FUNDAMENTOS DAS
CIÊNCIAS POLÍTICAS
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3 UNIDADE 1 - Introdução
4 UNIDADE 2 - Métodos para o ensino de química: a diversidade
4 2.1 Conceitos, objetivos e campos de atuação

6 2.2 Epistemologia e os métodos em Ciências Políticas

8 2.3 Os prismas filosófico, sociológico e jurídico propostos por Bonavides

12 2.4 Teoria política


15 UNIDADE 3 - Conceito de política: reflexões de Schmitter

SUMÁRIO
22 UNIDADE 4 - Filosofia Política – A antiguidade
23 4.1 Platão

25 4.2 Aristóteles

26 4.3 Políbio

27 4.4 Cícero
32 UNIDADE 5 - Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino – Filosofia política na idade medieval
35 UNIDADE 6 -Thomas Morus e Maquiavel – O Renascimento
35 6.1 Thomas Morus

37 6.2 Maquiavel
41 REFERÊNCIAS
3

UNIDADE 1 - Introdução

Em linhas muito gerais e de maneira bem norância política, nasce [...] o político viga-
ampla, Ciência Política se reporta ao estudo rista, pilantra, corrupto e lacaios das empre-
da política, dos sistemas políticos, das orga- sas nacionais e multinacionais.
nizações políticas e dos processos políticos.
Por traz dessa definição temos um mundo,
uma gama de outros conceitos envolvidos, Enfim, desejamos que estimulem o pen-
de pretensões, de cientistas que se debru- samento crítico, principalmente num mo-
çam em teorias e divagações que nem sem- mento tão delicado pelo qual passa nosso
pre agradam a todos. país.
Começaremos nosso curso perseguindo Ressaltamos em primeiro lugar que em-
conceitos e outras delimitações da disci- bora a escrita acadêmica tenha como pre-
plina como a filosofia política, as políticas missa ser científica, baseada em normas e
públicas, ideologia, partidos políticos, movi- padrões da academia, fugiremos um pouco
mentos sociais e educação. às regras para nos aproximarmos de vocês
e para que os temas abordados cheguem
Reservamos espaços para tratar do pen-
de maneira clara e objetiva, mas não menos
samento político em época moderna e con-
científicos. Em segundo lugar, deixamos cla-
temporânea e alguns tópicos especiais ou
ro que este módulo é uma compilação das
temas emergentes na disciplina como, por
ideias de vários autores, incluindo aqueles
exemplo, a ciberdemocracia e a teoria dos
que consideramos clássicos, não se tratan-
jogos.
do, portanto, de uma redação original e ten-
“Ao idealismo dos que sonham com o Es- do em vista o caráter didático da obra, não
tado perfeito; ao realismo dos que se con- serão expressas opiniões pessoais.
tentam com o Estado possível. Sem essas
Ao final do módulo, além da lista de refe-
duas forças, a balança das relações políticas
rências básicas, encontram-se outras que
jamais poderia se equilibrar” (ALMEIDA FI-
foram ora utilizadas, ora somente consulta-
LHO; BARROS, 2013).
das, mas que, de todo modo, podem servir
Creio que chegaremos ao final do curso para sanar lacunas que por ventura venham
concordando com essa máxima, alguns um a surgir ao longo dos estudos.
pouco desalentados, revoltados, outros es-
perançosos, mas nunca apáticos. O que não
podemos é chegar ao final do curso odiando
“entender de política” por motivos muitos
óbvios, mas sintetizados aqui por ninguém
menos que Bertold Brecht:

O analfabeto político é tão burro que se


orgulha e estufa o peito dizendo que odeia
a política. Não sabe o imbecil, que da sua ig-
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UNIDADE 2 - Métodos para o ensino de
química: a diversidade
De maneira bem simplificada, mas não ça, só existe um poder político: é o poder do
menos importante, temos que a ciência Estado. Para muitos pensadores, o Estado é
política encontra-se embasada em dois su- o poder político. Logo, chegaríamos a esta
portes de extrema importância para nossos equação: ciência política = ciência do poder
dias: a ciência como forma de conhecimento político = ciência do Estado.
e estudo e a política, forma e maneira de ad-
Todavia, cumpre advertir se não há um
ministrar o Estado.
pouco de metonímia na expressão “o Esta-
O certo é que os seres humanos necessi- do é o poder político”. Não se identificam to-
tam do diálogo, de negociar pactos sociais, talmente. Em última análise, o poder é uma
precisam refletir sobre os problemas reais vontade humana, e o Estado não o é. O po-
que atormentam os Estados, os quais nos der político, por muito extenso que seja, não
deixam sempre em clima de insegurança, é ainda mundial: tem limites geográficos, o
isso desde a Antiguidade, tanto é verdade território em que se exerce. Há homens que
que desde Platão e Aristóteles vemos a ne- exercem o poder e homens que o obedecem,
cessidade de teorizar sobre os problemas vi- isto é, uma sociedade organizada hierarqui-
venciados pelas sociedades em sua virtude camente. Tudo isso constitui o Estado, e não
da convivência. o poder político em si, mas é, sem dúvida, o
quadro sociológico em que ele existe. E há
Nesse sentido, política é isso: o reflexo
outros fenômenos ou fatos sociais que es-
do existir em comunidade; é um fenômeno
tão dentro do Estado e não dentro do poder;
que nasce a partir dos conflitos humanos,
partidos políticos, opinião pública, forças
da busca da harmonia social, das pretensões
e fatores de várias espécies (AZAMBUJA,
individuais e coletivas de exercer o domínio.
2008, p. 32).
Filosoficamente, Almeida Filho e Barros
Para De Cicco (2011, p. 180), a Ciência Po-
(2013) pontuam que entender política é en-
lítica não é mera divagação para satisfazer
tender a própria vida. Mas vamos a concep-
a curiosidade ou dar largas asas à imagina-
ções mais práticas!
ção. O objetivo da Ciência Política, em última
análise, é fornecer uma visão clara do que
2.1 Conceitos, objetivos e seja um bom governo, que promova o bem
campos de atuação comum. Mesmo que na análise da história
Para Azambuja (2008), numa visão mo- tenhamos um mau governo retratado, é a
desta e realista, o objeto da Ciência Política Ciência Política que apresentará críticas e
é o poder político e na atualidade esse poder modelos que devam ser seguidos a fim de
praticamente está concentrado nas mãos buscar o já citado bem comum.
do Estado. O papel estabelecido pela Ciência Política
Ora, na fase atual da civilização, só existe é ter uma visão crítica para analisar qual pa-
um poder que disponha da capacidade de se pel o governo está exercendo junto à popu-
impor, se necessário, pelo emprego da for- lação, e se está buscando em sua governa-
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bilidade, o bem comum tão importante para Como diz Duarte (2014, p. 23-4), há de
o sucesso do modelo de governo proposto. se observar os movimentos construídos
Caso assim não esteja agindo, fazer-se-á em torno do Estado, demonstrações de
necessária uma mudança de paradigma, a manutenção do poder, o alcance das me-
releitura do modelo proposto e a reavalia- didas produzidas nessa concepção e sua
ção dos pressupostos necessários para que forma mais impertinente de sobreviver
tudo possa ser contornado e a população mesmo diante de situações adversas. Nas
que oferece ao governante uma procuração palavras de Foucault, flui quase um senti-
com tempo determinado, e não com plenos mento de quem observou a política de for-
poderes para usar e abusar do que não seja ma mais densa, e viu nela, algo que foge a
do interesse do povo, devolva esse poder a sua natureza primal. Há um quase desdém
quem direito, a todos que compõe a nação e nesta afirmativa foucaultiana, asseve-
este ofereça a quem possa trazer o que se rando ser a prática governamental, algo
espera de um governante (SILVA, 2014). do não desejo, de visitar, de estudar, de
conhecer. Aponta como seu objeto de es-
Ao se tratar de Estado em sua formação,
tudo a arte de governar. Qual diferença se
que é seu objetivo, urge à necessidade de
é buscada? No texto, a resposta aparece
tratar do tema política, e para tanto, utiliza
de forma ímpar: a melhor maneira de go-
a forma de se conduzir o governo como con-
vernar. Olhando de fora desta pretensiosa
traponto para melhor entendimento da polí-
afirmativa, há de se pensar ser um inten-
tica. Isso suscita, inicialmente, um aparente
to irreal, um devaneio ou algo do gênero.
desabafo de Foucault (2008, p. 4):
Mas Foucault, longe de ser um idealista,
nessa sua proposta vê a possibilidade real
[...] o governo dos homens na medida
de mudar o cenário político governante,
em que, e somente na medida em que,
compondo uma forma de governar dife-
ele se apresenta como exercício da
rente daquelas vistas e estudadas (DUAR-
soberania política. ‘Governo’ portanto
TE, 2014, p. 23 e 24).
no sentido estrito, mas ‘arte’ também,
‘arte de governar’ no sentido estrito, A verdade é que, concordando com Bo-
pois por ‘arte de governar’ eu não en- navides (2009), a ciência política é indis-
tendia a maneira como efetivamente cutivelmente aquela em que as incertezas
os governantes governam. Não estu- mais afligem o estudioso, por decorrência
dei nem quero estudar a prática gover- de razões que a crítica de abalizados pu-
namental real, tal como se desenvol- blicistas tem apontado à reflexão dos in-
veu, determinando aqui e ali a situação vestigadores, levando alguns a duvidar se
que tratamos os problemas postos, as se trata aqui realmente de ciência.
táticas escolhidas, os instrumentos
utilizados, forjados ou remodelados, Mesmo assim, a política é uma dimen-
entre outros. Quis estudar a arte de são essencial da vida humana, então po-
governar, isto é, a maneira pensada de demos inferir que sua finalidade consiste
governar o melhor possível, e também, em organizar a sociedade de tal modo que
ao mesmo tempo, a reflexão sobre a nela seja possível a cada cidadão viver
melhor maneira possível de governar. uma vida virtuosa e feliz e não apenas ma-
terialmente confortável.
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Nesse sentido, a existência humana é Estado e entre os listados” (Wolf Von Eckar-
essencialmente política porque o homem é dt, Fundamentos de la política, s.d. Labor, p.
dotado não só de linguagem, mas principal- 14).
mente de razão (AZAMBUJA, 2008).
Azambuja (2008) ainda nos lembra que
O mesmo autor acima nos oferece cinco mesmo na atualidade, a maioria dos trata-
sentidos para política, sendo que a primeira distas e escritores se divide em duas cor-
é de significação popular e comum; a quinta, rentes. Para uns, política é a ciência do Es-
científica; mas ambas estão muito próximas tado; para outros, é a ciência do poder como
no sentido; as três outras são eruditas, acei- já o dissemos anteriormente.
tas por alguns escritores, conforme pontos
Como se vê, mesmo os que querem fa-
de vista doutrinários ou empíricos.
zê-la uma ciência “positiva”, “concreta”, di-
Vejamos: vergem; e, ainda no interior dos dois grupos
citados, há discrepâncias de conceituação,
a) No uso trivial, vago e às vezes um tan-
quanto à compreensão e à extensão do ob-
to pejorativo, “política”, como substantivo
jeto e quanto à metodologia, além de ou-
ou adjetivo, compreende as ações, com-
tras. O que não é de estranhar, pois se trata
portamentos, intuitos, manobras, entendi-
de uma ciência em formação, a mais recente
mentos e desentendimentos dos homens
entre as ciências sociais, e está atravessan-
(os políticos) para conquistar o poder, ou
do fase preparatória em que há bem pouco
uma parcela dele, ou um lugar nele: elei-
tempo estava, por exemplo, a sociologia.
ções, campanhas eleitorais, comícios, lutas
de partidos, entre outros.
2.2 Epistemologia e os mé-
b) Conceituação erudita, no fundo, sín-
tese da anterior, considera política a arte
todos em Ciências Políticas
de conquistar, manter e exercer o poder, o A ciência política é a teoria e prática da
governo. É a noção dada por Maquiavel, em política, a descrição e análise dos sistemas
‘O príncipe’. políticos, das organizações, dos processos
e do comportamento político, entre outros.
c) Política denomina-se a orientação ou a Se, por um lado, o estudo da ciência política
atitude de um governo em relação a certos contemporânea, em certo sentido, ainda é
assuntos e problemas de interesse público: o mesmo daquele de Aristóteles, por outro
política financeira, política educacional, po- lado, é preciso levar em consideração toda
lítica social, política do café, entre outras. a complexidade das organizações político-
-sociais contemporâneas e pressupor uma
d) Para muitos pensadores, política é a
orientação metodológica e objetividade de
ciência moral normativa do governo da so-
pesquisa compatível com as exigências da
ciedade civil (Alceu Amoroso Lima, Política,
ciência atual. Como toda pesquisa científi-
Rio de Janeiro, 1932, p. 136).
ca que busca a construção do conhecimen-
e) Outros a delineiam como conhecimen- to científico, a pesquisa em Ciência Política
to ou estudo “das relações de regularidade deve levar em consideração que toda in-
e concordância dos fatos com os motivos vestigação ocorre por meio de uma relação
que inspiram as lutas em torno do poder do entre o sujeito (cognoscível) e o fenômeno
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a ser investigado (cognoscente) (FERRARI, A discussão sobre os métodos de pes-


2008, p. 25), de onde decorre uma impor- quisa na Ciência Política e, naturalmente,
tância fundamental em se considerar os as- nas demais Ciências Sociais envolve uma
pectos epistemológicos de toda e qualquer ampla discussão sobre epistemologias
pesquisa científica. que norteiam a pesquisa científica, sendo
as mais conhecidas: o positivismo, a feno-
Fazendo uma breve observação, vejamos
menologia e a dialética. De alguma forma,
o que significa um estudo epistemológico.
podemos dizer que temos estes três gran-
Significa um estudo crítico dos princípios, des paradigmas de interpretação da reali-
das hipóteses, dos resultados, da proble- dade, resultantes de três grandes corren-
mática da pesquisa das diversas ciências, in- tes do pensamento ocidental:
cluindo aí as Ciências Sociais, discutir sobre a
o positivismo de Auguste Comte;
natureza e o valor da ciência pura e aplicada,
de pressupostos e/ou problemas filosóficos a fenomenologia husserliana (refe-
que se apresentam no curso da investigação rente ao filósofo Edmund Husserl); e,
científica e possui elementos que, aplica-
a dialética marxista que, como o
dos à pesquisa científica, favorecem a aná-
próprio nome indica, toma como base o
lise dessas produções e dá subsídios para o
pensamento de Karl Marx (http://www.
aprimoramento da pesquisa, além de propi-
portalconscienciapolitica.com.br/auto-
ciar os instrumentos necessários à reflexão
res-e-obras/).
e à crítica propriamente dita (BUNGE, 1980;
FERRARI, 2008; SÁNCHEZ GAMBOA, 1998). Em momento oportuno cada uma delas
será discutida.
O termo “epistemologia”, do grego antigo
significa episteme (conhecimento, ciência) + Em linhas gerais, os métodos de pes-
logos (discurso, teoria, tratado, estudo de), quisa em ciência política são os mesmos
literalmente significa Teoria da ciência ou das outras ciências sociais, notadamen-
Teoria do Conhecimento científico. A episte- te da sociologia. Entretanto, devido sua
mologia geralmente é entendida como um complexidade, vamos falar de maneira
ramo da Filosofia das ciências, que “estuda bem concisa.
a investigação científica e seu produto e co-
Segundo Azambuja (2008), a maior
nhecimento científico” (BUNGE, 1980, p. 05).
parte das obras a respeito é americana;
no entanto, a do prof. Maurice Duverger
O termo ‘epistemologia’ ganhou a — Méthodes de la science politique (tra-
acepção de teoria do conhecimento dução em português, Ed. Zahar) — dá um
científico, utilizado tanto para compre- excelente tratamento ao assunto.
ender as ciências, como para estudar
O método de observação documental
seus principais problemas e implica-
que utiliza como material livros, jornais,
ções. Por isso tornou-se muito mais di-
arquivos, filmes, fotografias, insígnias de
fundido e aceito na literatura científica
partidos, entre outros, é ainda de uso li-
(FERRARI, 2008, p. 17).
mitado e, por isso, os resultados são exí-
guos.
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No método de observação direta, geografia política, análise de políticas pú-


podendo ser extensiva ou intensiva. blicas, política comparada, relações inter-
Em resumo: nacionais, análise de relações exteriores,
política e direito internacionais, estudos
a observação direta extensiva é uma de administração pública e governo, pro-
pesquisa por sondagem; do estudo de cesso legislativo, direito público (como o
uma “amostra”, de um pequeno número direito constitucional) e outros.
de pessoas pertencentes a uma comuni-
dade, e do seu estudo se tiram conclusões A ciência política usa métodos e téc-
extensivas à comunidade; nicas que podem envolver tanto fontes
primárias (documentos históricos, regis-
a observação direta intensiva diri- tros oficiais) quanto secundárias (artigos
ge-se a grupos menores, até a uma só acadêmicos, pesquisas, análise estatísti-
pessoa, por meio de entrevistas, testes, ca, estudos de caso e construção de mo-
determinação de atitudes e até experi- delos).
mentalmente, em que o “sociodrama” é
dos tipos mais interessantes. Existe no interior da Ciência Política
uma discussão acerca do objeto de estudo
Outros processos, desde a estatística desta ciência, que, para alguns, é o Estado
até o gráfico, procuram empregar a mate- e, para outros, o poder. A primeira posição
mática para o conhecimento de fatos e re- restringe o objeto de estudo da ciência
lações. Há entusiastas e adversários dos política; a segunda amplia.
métodos quantitativos.
Os cientistas políticos podem es-
Azambuja (2008) cita o prof. James tudar instituições como corporações (ou
Pollock (1959), presidente da Associação empresas, no Brasil), uniões (ou sindica-
Internacional de Ciência Política, o qual tos, no Brasil), igrejas, ou outras organiza-
pondera que a experiência comprovou ções cujas estruturas e processos de ação
que o método quantitativo, embora útil se aproximem de um governo, em comple-
e mesmo indispensável para estudar cer- xidade e interconexão (PEREIRA JUNIOR,
tos tipos de procedimento político, que se 2008).
prestam mais para a avaliação da medida,
não é muito útil para se tratar com rela-
ções vitais, como a estrutura do poder.
2.3 Os prismas filosófico,
Parece também claro que a recente ten- sociológico e jurídico pro-
dência metodológica conduz seus defen-
sores, do mundo prático, para uma atmos-
postos por Bonavides
fera de abstrações autossuficientes. Bonavides (2009, p.12) fala em prismas
e/ou perspectivas analíticas para a ciên-
Até o momento seria interessante cia política que merecem destaque, justi-
guardar... ficando que:
A ciência política abrange diversos Onde entram atos e sentimentos hu-
campos, como a teoria e a filosofia políti- manos, só a consideração despretensiosa
cas, os sistemas políticos, ideologia, teoria dos aspectos históricos, jurídicos, socioló-
dos jogos, economia política, geopolítica, gicos e filosóficos, ontem e hoje, neste ou
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naquele Estado, dará à problemática po- tuições políticas, arredando assim a pos-
lítica da sociedade o aproximado teor de sibilidade de ousadamente afirmarmos a
certeza que virá um dia galardoar (com- existência de um monismo filosófico en-
pensar) o esforço do cientista social, ho- tre autores políticos de nosso século, que
nesto e incansável, cujo trabalho, antes rotulam seus livros com o nome de Ciência
da frutificação, sempre tomou em conta a Política ou Teoria Geral do Estado (BONA-
medida contingente das verdades que se VIDES, 2009).
extraem do comportamento dos grupos e
b) Prisma sociológico:
da dinâmica das relações sociais.
A sociologia explica a política a partir de
a) Prisma filosófico: condicionantes sociais.
A filosofia conduz discussões no que se
No prisma sociológico, ciência política
refere à origem, à essência, à justificação
é a teoria geral do Estado, pois o Estado
e aos fins do Estado (PAES; MOROSSINI,
é fenômeno jurídico por excelência. Max
2013).
Weber diz que o Estado consiste no tra-
Pelo prisma filosófico, os fatos, as insti- tamento autônomo (PAES; MOROSSINI,
tuições e as ideias são matérias do conhe- 2013).
cimento de ciência política, podendo ser
O estudo do Estado, fenômeno político
tomadas das seguintes maneiras:
por excelência, se constitui um dos pontos
i. Consideração do passado – como fo- altos e culminantes da obra genial de Max
ram ou deveriam ter sido. Weber, e com efeito, na sua sociologia po-
lítica, abre-se o capítulo de fecundos es-
ii. Compreensão do presente – como são tudos pertinentes à política científica, à
ou devem ser. racionalização do poder, à legitimação das
iii. Horizontes do futuro – como serão ou bases sociais em que o poder repousa:
deverão ser. inquire-se ali da influência e da natureza
do aparelho burocrático; investiga-se o
A Filosofia conduz para os livros de Ci- regime político, a essência dos partidos,
ência Política a discussão de proposições sua organização, sua técnica de combate
respeitantes à origem, à essência, à jus- e proselitismo, sua liderança, seus progra-
tificação e aos fins do Estado, como das mas; interrogam-se as formas legítimas
demais instituições sociais geradoras do de autoridade, como autoridade legal,
fenômeno do poder, visto que nem todos tradicional e carismática; indaga-se da
aceitam circunscrevê-lo apenas à célula administração pública, como nela influem
mater, embriogênica, que no caso seria os atos legislativos, ou como a força dos
naturalmente o Estado, acrescentando- parlamentos, sob a égide de grupos socio-
-lhe os partidos, os sindicatos, a igreja, econômicos poderosíssimos, empresta à
as associações internacionais, os grupos democracia algumas de suas peculiarida-
econômicos, entre outros. des mais flagrantes (BONAVIDES, 2009).
Convive o debate filosófico ademais A Ciência Política, na sua constante so-
com a investigação sociológica e com a ciologia, não pode tampouco ignorar as
fixação jurídica dos fatos, normas e insti-
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raízes históricas da evolução política. tendências e movimentos reformistas que


se operam este século, com respeito às
Esse retrato retrospectivo, esse mer-
relações de trabalho, à educação, à saúde
gulho no passado das instituições, de-
espiritual da juventude, e o papel da igre-
vem-se com mais nitidez e originalidade
ja, entre outros. (BONAVIDES, 2009).
a Gumplowicz e Oppenheimer (BAUER,
1914 apud BONAVIDES, 2009). c) Prisma jurídico:
Oppenheimer (1954 apud BONAVIDES, A perspectiva jurídica abandona as im-
2009) traçou penoso roteiro que se es- plicações de ordem ética, histórica, socio-
tende, através dos mais agudos transes e lógica, em prol de uma análise formal, es-
das mais amargas vicissitudes, do Estado tritamente jurídica. O Estado se resume a
de conquista ao Estado de cidadania livre. um conjunto de leis e instituições (PAES;
Como forma de coação sobre os homens, MOROSSINI, 2013).
o Estado se acha fadado a desaparecer,
Pelo prisma jurídico, a ciência política
desde que a escravidão antiga e a escra-
tem seu objeto de estudo reduzido ao Di-
vidão capitalista, outrora forçosas, se tor-
reito Político, a simples corpo de norma.
navam doravante supérfluas.
Tendência de cunho exclusivamente
Se em Atenas, observa Oppenheimer,
jurídico vem representada por Kelsen,
ao lado de cada cidadão livre trabalha-
que constrói uma Teoria Geral do Estado,
vam cinco homens escravos, na sociedade
a qual leva às últimas consequências, no
contemporânea a cada cidadão livre cor-
estudo da principal instituição geradora
responde o dobro de escravos, mas es-
de fenômenos políticos, o seu formalismo
cravos doutra espécie, doutro cativeiro,
de inspiração kantista e funda em bases
escravos de aço que não têm de padecer
estritamente monistas, de feição jurídi-
ou suar quando trabalham!
ca, a nova teoria que assimilou o Estado
E o fim do Estado, segundo o mesmo ao Direito e tantos protestos arrancou de
sociólogo, inspirado decerto na profecia filósofos e pensadores durante as últimas
marxista, será sua diluição no automatis- décadas (BONAVIDES, 2009).
mo da sociedade futura.
O Estado, segundo Kelsen, pertencen-
Bonavides (2009) cita outro escritor do ao mundo do dever ser, do sollen, ex-
político, não menos digno e autorizado plica-se pela unidade das normas de direi-
pela excelência de sua orientação socioló- to de determinado sistema, do qual ele é
gica, que é Vierkandt (1959), o qual con- apenas nome ou sinônimo. Quem elucidar
tribui à fixação dos quadros da Ciência Po- o direito como norma elucidará o Estado.
lítica, em seus vínculos com a sociologia, A força coercitiva deste nada mais signifi-
ao estudar principalmente o moderno Es- ca que o grau de eficácia da regra de direi-
tado nacional. to, ou seja, da norma jurídica.

Acentua ele o caráter classista do Esta- O Estado, organização de poder, para


do e da sociedade, a dinâmica da luta pelo Kelsen, esvazia-se de toda a substan-
poder na sociedade moderna, os partidos tividade. Os elementos materiais que o
como representação de interesses e as compõem — território e população — se
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convertem, respectivamente, na típi- Não são tão radicais quanto Kelsen, que
ca e revolucionária linguagem do antigo reduziu o Estado a considerações exclusi-
professor vienense, em âmbito espacial vamente jurídicas. Mas fazem da Teoria
e âmbito pessoal de validade do ordena- Geral do Estado um apêndice ou introdu-
mento jurídico. ção ao Direito Público, nomeadamente ao
Direito Constitucional, não hesitando em
A doutrina de Kelsen tem sua origina-
versar temas pertinentes ao Estado em
lidade em banir do Estado todas as impli-
livros de Direito Constitucional, segundo
cações de ordem moral, ética, histórica,
velha tradição, ilustrada, dentre outros,
sociológica, criando o Estado como puro
por Duguit, com o seu monumental trata-
conceito, agigantando-lhe o aspecto for-
do, cuja primeira parte, votada ao Estado,
mal, retintamente jurídico, escurecendo
abrange certas análises onde a cada pas-
a realidade estatal com seus elementos
so toma o sociólogo o lugar do jurista (BO-
constitutivos, materiais. Chega à hiper-
NAVIDES, 2009).
trofia, já descomunal, do elemento formal
— o poder, posto que dissimulado este na Paes e Morossini (2013) lembram que
santidade inviolável de normas concebi- durante a segunda metade do século
das como direito puro. XIX até a primeira metade do século XX
na Europa, os franceses, por exemplo,
Essa teoria, que faz de todo Estado “Es-
afirmavam que a adoção de apenas uma
tado de Direito”, por situar Direito e Estado
perspectiva pela ciência política teria uma
em relação de identidade, uma vez aceita,
análise muito limitada da política. Assim,
apagaria na consciência do jurista o senti-
os estudos sobre o Estado deveriam ser
do dos valores e na sentença do magistra-
pautados pelo tridimensionalismo, isto é,
do os escrúpulos normais de equidade, do
estudar o Estado enquanto ideia, dentro
mesmo modo que favoreceria o despotis-
da perspectiva filosófica, enquanto fato
mo das ditaduras totalitárias, por empres-
social, dentro perspectiva sociológica e
tar base jurídica a todos os atos do poder,
enquanto fenômeno jurídico, dentro da
até mesmo os mais inconcebíveis contra a
perspectiva jurídica.
vida e a moral dos povos. O exemplo e ex-
periência da Alemanha nazista são recen- A Ciência Política ampliou seus horizon-
tes para mostrar até onde podem chegar tes, sustentando-se em outras áreas do
as consequências de um positivismo nor- conhecimento: história, direito constitu-
mativista, à maneira kelseniana (BONAVI- cional, economia e psicologia. Até então, a
DES, 2009). ciência política não era um campo científi-
co autônomo, pois sua metodologia, teo-
Criticou-se a Kelsen, e com razão, o ha-
ria e epistemologia encontravam legitimi-
ver criado uma Teoria do Estado sem Es-
dade em outras áreas do conhecimento.
tado e uma Teoria do Direito sem Direito.
A Ciência Política nos Estados Unidos
Entre os publicistas célebres da França, no
tem uma história peculiar. A expressão
século XX, encontramos autores mais preo-
ciência política já era usada naquele país
cupados com o aspecto jurídico da Ciência
desde o século XVIII, quando os federalis-
Política do que propriamente com as suas ra-
tas americanos buscavam na ciência polí-
ízes na filosofia e nos estudos sociais.
12

tica as condições científicas para construir teóricas e temáticas. A influência da Ciên-


instituições políticas liberais democráti- cia Política americana no mundo também
cas representativas. se dá por meio da formação de acadêmi-
cos de outros países nos inúmeros pro-
Enfim, a Ciência Política como cadei-
gramas de doutorado em Ciência Política
ra acadêmica de fato nasce nos Estados
dos EUA. O fato de a maioria dos bolsistas
Unidos, em meados do século XIX. Neste
brasileiros no exterior que fazem douto-
contexto, a ciência política se profissiona-
rado em Ciência Política estarem alocados
lizou e foi acusada por autores e políticos
em universidades americanas é evidência
da época de não ser mais uma ciência en-
clara dessa influência. Ou seja, o contri-
gajada na construção das instituições po-
buinte brasileiro tem financiado essa “im-
líticas norte-americanas, isto é, de estar
portação” de “conhecimento”. Nada mais
mais preocupada com a realidade política,
razoável, portanto, do que aperfeiçoar-
com a política concreta.
mos nossa apreciação crítica da história e
Feres Junior (2000) explica que a insti- papel político desse produto no seu lugar
tucionalização da Ciência Política ameri- de produção original, acentua Feres Junior
cana, na prática, correspondeu à criação (2000).
de empregos, cursos, departamentos,
programas, centros de pesquisa, revistas 2.4 Teoria política
especializadas, associações e linhas de Para falar de teoria política, Feres
financiamento de pesquisa sob o mesmo Junior e Pogrebinschi (2010) dão os
rótulo disciplinar da Ciência Política. Para- seguintes exemplos:
lelo a esse processo de desenvolvimento
institucional ocorreu um movimento de “presidente Lula veta restrições a de-
especialização. A estrutura institucional bate eleitoral na Internet”;
da Ciência Política americana é hoje divi- “Supremo Tribunal Federal decide
dida em cinco subáreas: política america- pela demarcação contínua da reserva in-
na, política comparada, relações interna- dígena Raposa/Serra do Sol”;
cionais, políticas públicas e teoria política.
Cada subárea apresenta um alto grau de “esboço de acordo climático prevê li-
autonomia disciplinar e endogenia. Con- mitar aquecimento global”;
sequentemente, um professor de política “estudantes invadem reitoria da
comparada, por exemplo, só ensina cursos USP”.
de política comparada, publica em periódi-
cos especializados em política comparada, Pois bem, todos os dias somos chama-
e participa de conferências nas mesas e dos a tomar posição, a tecer opiniões so-
painéis da mesma subárea. bre questões que dizem respeito à vida
em sociedade, seja ela a cidade, o estado,
Em parte, por ter sido vanguarda na o país ou mesmo o mundo, como no caso
criação da Ciência Política, a academia dos conflitos e disputas de poder no plano
americana tornou-se modelo para os de- internacional. É interessante notar que,
partamentos de Ciência Política em outros para formarmos uma opinião sobre esse
países e polo exportador de tendências tipo de questão, não bastam os conhe-
13

cimentos produzidos pelas ciências na- sa, hoje têm sentidos muito similares. Isto
turais ou exatas. Por mais que esses co- é, essa não é uma questão meramente
nhecimentos sejam mais ou menos úteis, terminológica. A opção por uma ou outra
dependendo do assunto discutido, a for- nomenclatura revela muito do enfoque
mação da opinião sempre requer que fa- que cada autor ou comentador adota. Ain-
çamos distinções entre escolhas racionais da que as tradições europeia continental
ou irrazoáveis, justas ou injustas, expe- e anglófona possam ser entendidas como
dientes ou contraproducentes. Na histó- variantes do pensamento ocidental, há
ria da humanidade, a razão tem sido usada diferenças importantes de ênfase e enfo-
para muitos fins – conhecimento dos fe- que entre elas.
nômenos naturais, criação de processos e
Em resumo: o que mais diferencia a
instrumentos artificiais, produção artísti-
teoria política da ciência política não é o
ca em suas mais variadas formas e conhe-
interesse empírico da segunda, mas sua
cimento das coisas que dizem respeito à
suposta posição epistemológica de neu-
vida em sociedade.
tralidade axiológica (ausência de juízos de
Então: a teoria política se ocupa do es- valor). A teoria política em grande medida
tudo das instituições e normas que orga- preocupa-se em discutir valores e, não
nizam essa vida coletiva, da maneira como raro, seus autores tomam posições explí-
são, como devem ser ou como podem vir a citas acerca de como a sociedade deve se
ser. organizar, que critérios de justiça as insti-
tuições devem adotar, como a represen-
Os mesmos autores justificam a ausên-
tação e a participação política devem se
cia da expressão ‘teoria política’ no dicio-
dar, entre outros. (FERES JUNIOR; POGRE-
nário devido à diferença de nomenclatura
BINSCHI, 2010).
de tradições do pensamento político em
diferentes línguas de cultura europeias. Guarde...
“Teoria política” é uma expressão que re-
A área temática de teoria política é um
mete à tradição de língua inglesa, isto é,
ramo da ciência política que agrega con-
aparece em português como tradução de
tribuições de variadas disciplinas, mas,
political theory. Já nas tradições italiana
especialmente, da filosofia política e da
e francesa, e na academia brasileira até
história das ideias políticas. No panorama
algumas décadas atrás, a expressão mais
acadêmico contemporâneo, essa área te-
corrente é “filosofia política”. Só para se
mática vem sendo compreendida de duas
ter uma ideia, no “Dicionário de Política
maneiras distintas, mas não inconciliáveis:
do Bobbio”, como ele é conhecido popu-
como teoria política normativa e como te-
larmente, o verbete “filosofia da política”
oria política histórica.
ocupa oito páginas, um dos mais longos do
livro. A primeira envolve o esforço de refle-
xão crítica sobre realidade e a projeção
A diferença entre as duas expressões
do dever ser da ordem política, ao passo
não reside na diferença de significado en-
que a segunda elabora narrativas sobre
tre as palavras “filosofia” e “teoria”, que, a
o desenvolvimento da própria tradição do
despeito de sua origem etimológica diver-
pensamento político, tomando como ob-
14

jetos de investigação as ideias de autores


clássicos, os conceitos políticos centrais
(e as mudanças conceituais) em dada épo-
ca ou sociedade e os embates ideológicos
situados em contextos históricos especí-
ficos.

A teoria política é um empreendimento


intelectual que percorre toda a trajetória
das sociedades ocidentais e é indissociá-
vel da construção histórica dessas socie-
dades como comunidades propriamente
políticas. Por fim, a teoria política abriga
ilimitado pluralismo de perspectivas ideo-
lógicas e visões de mundo.

A área temática de teoria política é par-


te constitutiva da organização da ciência
política como campo disciplinar autôno-
mo. Isso é facilmente constatável quando
observamos tanto a composição dos de-
partamentos de ciência política das prin-
cipais universidades pelo mundo, como
a organização temática das associações
de ciência política nos mais diversos paí-
ses. Em qualquer área de investigação, os
cientistas políticos precisam lidar com ca-
tegorias e conceitos políticos que tendem
a adquirir maiores graus de refinamento e
precisão a partir das contribuições da teo-
ria política (ABCP, 2013).
15
UNIDADE 3 - Conceito de política: reflexões
de Schmitter
Em “Reflexões sobre o conceito de Polí- na atividade estatal; órgãos como partidos,
tica” no módulo I do Curso Introdutório à Ci- facções, grupos de pressão, ligas conspi-
ência Política da Universidade de Brasília, o ratórias, sociedades de economia mista,
professor Philippe C. Schmitter (2001) divi- cliques militares e grupos informais. Por
de a política em quatro conceitos que linhas exemplo, o próprio Prélot afirma que: a po-
gerais podem ser assim definidos: litologia que considera, como se acaba de
ver, a instituição estatal em sua totalidade,
a) Suas “instituições”, pelo quadro social
não se limita, entretanto, a ela. Toma-se
concreto e estabelecido dentro do qual par-
como ponto de partida e como referência
ticipam os atores.
para o estudo dos fenômenos que se ligam
b) Seus “recursos”, pelos meios utiliza- ao Estado na qualidade pré-estatais e su-
dos pelos atores. praestatais.

c) Seus “processos” pela atividade princi- Muitos politistas contemporâneos, den-


pal à qual se consagram os atores. tre os quais o suíço Jean Meynaud (1960),
relutam em abandonar este foco tradicio-
d) Sua “função” pelas consequências da nal, concreto e aparentemente bem delimi-
sua atividade para a sociedade global de
tado, por outras definições mais abstratas e
que faz parte.
difusas.
Para essa tipologia geral corresponde- b) Recurso – “Poder, influência ou Au-
riam quatro definições específicas de cam- toridade”
po de investigação da política.
Sob essa rubrica, segundo Duverger,
Vejamos: abriga-se a grande maioria dos politistas
a) Instituição – “Estado ou Governo” contemporâneos, inclusive ele próprio. In-
felizmente, essa maioria está longe de ser
A definição que predominava no sec. XIX unânime na utilização desses termos: “po-
e que ainda predomina nos dicionários e em der” para alguns significa “influência”; para
muitas faculdades é da política como “a arte outros, “autoridades”. Não obstante, Schi-
e a ciência do Estado ou do governo”. Mar- mitter acha possível distinguir entre três
cel Prélot (1964 apud SCHMITTER, 2001) a “escolas” e “subescolas” — todas tomando
define como o “conhecimento sistemático e meios e recursos utilizados como foco prin-
ordenado dos fenômenos concernentes ao cipal da ciência política.
Estado”.
b.1) “Poder”: aqui podemos incluir to-
Com a descoberta da importância políti- dos os politistas que lembrando a afirma-
ca de instituições não-constitucionais, esta ção de Max Weber de que “o meio decisivo
delimitação parecia estrita demais. Então, na política é a violência”, dão ênfase ao fe-
os políticos ampliaram-na para incluir al- nômeno da coesão (contrainte), a domina-
gumas organizações anexas que intervêm ção ou a monopolização da violência ou de
regularmente ou mesmo ocasionalmente
16

força física. Friedrich Engels, por exemplo, cia por ser o mais abrangente.
afirmou:
Segundo a célebre fórmula do livro de
Harold Lasswell, “Politics: Who Gets What.
A sociedade até agora, baseada nos
When and How”, o estudo da política é o
antagonismos de classe, teve a neces-
estudo da influência e dos que têm influên-
sidade do Estado. Quer dizer, da organi-
cia. Outro norte-americano, Quincy Wright,
zação de uma classe particular que era
define a política de modo semelhante como
a classe exploradora [...] especialmente
“a arte de influenciar, manipular ou contro-
com a intenção de conservar com a (for-
lar grupos com a intenção de avançar os
ça) as classes exploradas na condição de
propósitos de alguns contra a oposição de
opressão correspondente a um modo
outros”.
dado de produção.
Provavelmente, o mais destacado repre-
Um antropólogo se expressou de ma- sentante desta escola nos Estados Unidos
neira semelhante (sem a suposição de do- é Robert Dahl. No seu livro “Who Governs”,
minância de classe): “A organização política ele não apenas oferece uma tipologia dos
de uma sociedade é o aspecto de sua orga- diferentes recursos que são a base de dife-
nização total que interessa ao controle e à rentes tipos de influência, mas faz a impor-
regulamentação da força física” (RADECLIF- tante observação de que o grau de influên-
FE-BROWN, 1962 apud SCHMITTER, 2001). cia depende dos recursos disponíveis e da
vontade de utilizá-los. Nesse livro, ele es-
Finalmente, um politista inglês, basean- tuda empiricamente a distribuição de am-
do-se em um inquérito internacional sobre bos os elementos de influência (mensurada
a natureza da ciência política, chegou à se- como capacidade de iniciar ou vetar uma
guinte conclusão: “O foco de interesse do “policy”) na cidade de New Haven, Connec-
politista é claro e não ambíguo: ele se con- ticut. Ele concluiu que em um sistema polí-
centra sobre a luta para obter ou reter o po- tico pluralista (caso de New Haven, e, por
der, para exercer poder ou influência sobre extensão, dos EUA) a influência apresenta
os outros ou para resistir a esse exercício” um padrão de “desigualdades dispersas” e
(WILLIAM ROBSON, 1964 apud SCHMITTER, não “desigualdades cumulativas”, o que pa-
2001). Com esta última definição, aproxima- rece estar implícito no modelo que utilizam
mos-nos à segunda “escola”, a da influencia. os teoristas de poder ou força física acima
b.2) “Influência”: muitos estudiosos mencionados.
da política norte-americana rejeitam esta b.3) “Autoridade”: nesta terceira sub-
ênfase na força e põem-na na variedade categoria para os politistas que tomam
e na sutileza dos meios e recursos utiliza- como foco a disciplina, nem a ultimaratio
dos pelos atores políticos. Para eles, não do poder, nem as formas vagas e múltiplas
se poderia reduzir a política a um só tipo de de influência, mas um tipo específico de
relação de dominância. Esta é o produto da relação social que combina os dois: a au-
interação de uma pluralidade de tipos de toridade, poder legítimo ou herrschaft em
dominância, dentro dos quais estão a força alemão. Uma autoridade, conforme Weber,
ou a coação. Eles preferem o termo influên- é um poder que se faz obedecer volunta-
17

riamente. Haveria vários tipos, mas o ele- nós, elevação para a participação no (po-
mento comum é essa capacidade de criar e der) ou para a (influência) na sua reparti-
manter a crença de que as repartições de ção, seja entre Estados, seja no interior de
poder e influência existentes são as mais um Estado, e que concentrou a sua atenção
apropriadas, “justas” e “naturais” para essa empírica sobre tipos ideais de autoridades.
sociedade. Como diz a feliz expressão fran- Recentemente, um destacado politista
cesa: Gouverner c’est faire croire (Governar norte-americano, Robert Dahl (falecido em
é acreditar). 2014), optou por um ecletismo semelhante.

Sendo assim, aceita essa noção como c) Decision-Making (formulação de


foco principal, o estudo da política seria o decisões sobre linhas de conduta coleti-
estudo das relações de autoridade entre os vas)
indivíduos e os grupos, da hierarquia de for-
Surgiu por volta dos anos 70, 80 uma
ças que estabelecem no interior de todas
nova tentativa de situar campos de inves-
as comunidades numerosas e complexas. A
tigação da política, desta vez em termos de
cúpula desta estrutura é o Estado ou gover-
um processo social — processo que eviden-
no, a instituição que tem a autoridade últi-
temente utilizaria os meios de ação social
ma e o “direito” de utilizar a força física para
acima mencionados.
se fazer respeitar; mas a tarefa da ciência
política seria a de analisar e explicar toda Esta tentativa destaca a formulação de
essa estrutura e as forças e influências res- decisões ou de “policies” como foco de aná-
pectivas que a compõem. lise. A tarefa de uma ciência da política seria,
a de explicar e presumivelmente predizer,
Duverger, quando afirma que a ciência
porque uma determinada linha de conduta
política é a ciência do poder, quer dizer, a
foi, é ou será adotada. Como foi formulada?
“ciência da autoridade”, porque anterior-
Quem participou? Quais foram os determi-
mente declarou que o poder é reconhecido
nantes desta atividade? Qual foi o resultado
como poder; sua autoridade é admitida. O
e seu impado sobre decisões posteriores?
sociólogo norte-americano, Talcott Parsons
Essas são algumas das perguntas implícitas
também prestou o seu imenso prestígio in-
nesta definição.
telectual a uma delimitação da ciência polí-
tica em termos de “poder”. O intérprete mais conhecido desta li-
nha é o cientista político da Universidade
Como foi o caso de Duverger, o seu con-
de Chicago, David Easton. Numa definição
ceito de poder é equivalente ao fenômeno
que deve ser a mais citada e comentada da
que aqui chamamos de autoridade.
ciência política contemporânea, ele afirma
Não são raros os estudiosos da políti- que esta deve se aplicar ao estudo da alo-
ca que combinam todos ou alguns desses cação autoritária ou imperiosa dos valores,
meios de ação nas suas tentativas de de- de maneira que essa alocação seja influen-
finir a política. O mais conhecido exemplo ciada pela distribuição e utilização do poder.
deste ecletismo é provavelmente o de Max A ênfase é sobre o fenômeno da repartição
Weber, que acentuou poder e influência na — da administração de decisões sobre bens
sua definição formal: política significa, para escassos na sociedade; mas Easton chega a
18

incluir na definição todos os meios acima ci- lítica dos grupos”, em termos e autoridade
tados: autoridade, influência e poder. com a sociologia histórica, a definição de
política pelo decision making vai de acordo
Numa outra definição, menos conheci-
com a teoria dos sistemas políticos. A última
da, embora no entendimento de Schmitter
hipótese abordada por Schmitter acompa-
mais clara, ele fixa os limites do sistema po-
nha essencialmente uma abordagem fun-
lítico como todas as ações mais ou menos
cionalista do estudo da política.
relacionadas com a formulação de decisões
autoritárias ou imperiosas para uma socie- d) A Resolução não-violenta dos Con-
dade: “the making of binding decisons for flitos
a society”.
A última novidade em termos de defini-
O emprego do qualificativo “autoritário” ção é o funcionalismo. No seu sentido mais
ou “imperioso” implica que o autor limitaria amplo, definir algo pela sua função quer di-
a ciência política ao estudo do órgão que zer considerá-lo sob o aspecto da sua con-
toma e implementa as decisões que são au- sequência ou consequências no sistema
thoriative ou binding para toda a sociedade, global do qual faz parte. O algo pode ser
o que chega a voltar a definir a política em concebido como “requisito”, isto é, atividade
termos de Estado — Estado sendo desta vez necessária ao bom funcionamento do siste-
definido como processo e não como insti- ma global, ou como “tarefa”, isto é, padrão
tuição. de atividade geralmente encontrado em
qualquer sociedade. Utilizando o primeiro
Outros politistas que utilizam o decision
e mais rigoroso conceito de função como
making approach estão na linha da flexibi-
“requisito”, Talcott Parsons sugeriu que o
lidade, na possibilidade de aplicá-la a vários
subsistema político se aplica principalmen-
níveis da sociedade nos quais decisões par-
te à “realização de objetivos coletivos” “goal
ciais ou parcialmente imperiosas são toma-
attainment”.
das. Um importante foco de análise seria
precisamente o de fazer comparações entre O politista David Apter define a função
esse processo social nos diferentes níveis. da política como a manutenção do sistema
Somente assim podemos verificar a ma- do qual faz parte. A tentativa de Schmitter
cro-hipótese da nossa disciplina — hipótese de delimitar o campo da investigação polí-
que data de Platão e Aristóteles, que de- tica se inspira na segunda tradição. Ele não
cisões aplicáveis à sociedade inteira, deci- afirma que a seguinte função é um requisi-
sões públicas têm características e padrões to para a manutenção do sistema existente;
diversos das decisões tomadas em socieda- afirma simplesmente que o padrão de ativi-
des menos globais, i.e., decisões privadas. dade que chamamos política se encontra
Se a definição da política pelo Estado foi em muitas sociedades com vários graus de
formulada especialmente pelos politistas complexidade.
que utilizaram métodos jurídico-formais, se
Para ele, a função da política é a de resol-
a definição em termos de poder parece mais
ver conflitos entre indivíduos e grupos, sem
utilizada pelos marxistas e behavioristas, se
que este conflito destrua um dos partidos
a definição em termos de influência parece
em conflito. Talvez resolução não seja a me-
especialmente compatível com a “teoria po-
19

lhor expressão porque implica (falsamente) na antecipação do poder de retaliação do


que a atividade política põe fim ao conflito. oponente. Mas a partir do momento em
Ao contrário, existem conflitos permanen- que os combatentes decidem limitar reci-
tes dentro de qualquer sociedade que a procamente os seus esforços competitivos
política não pode extinguir, embora a socie- em vez de se destruírem, estão, no enten-
dade sem conflito seja um antigo sonho de dimento de Schmitter, numa situação polí-
muitos filósofos políticos. A política pode tica. A primeira expressão dessa qualidade
simplesmente “desarmar” o conflito, canali- “dualista” da atividade política é encontrada
zá-lo, transformá-lo em formas não destru- na Política de Aristóteles. Argumentando
tivas para os partidos e a coletividade em com a de Platão, o ‘Stagirito’ nega que a so-
geral. Dentro dessa perspectiva, para que ciedade política (a cidade-estado) possa ser
um ato social seja político, precisa satisfa- governada por uma família.
zer duas condições:
A sociedade política, à medida que se
1ª. A condição necessária é que o ato forma e se torna mais una deixa de ser so-
deva ser controverso, indique um conflito, ciedade política; porque, naturalmente, a
um antagonismo entre interesses ou ati- sociedade política é a multidão. Se for leva-
tudes expressas por diferentes indivíduos da à unidade, tornar-se-á família; de família,
ou grupos. Isto implica que muitos atos go- indivíduo, porque a palavra “um” deve ser
vernamentais não sejam políticos por não aplicada mais à família que à sociedade polí-
serem controversos, tal como a publicação tica, e ao indivíduo, de preferência a família.
de documentos, a vacinação de cães, entre
A sociedade política não se compõe ape-
outros. Mas, Schmitter insiste que qualquer
nas de indivíduos reunidos em maior ou me-
acontecimento social é potencialmente po-
nor número; ela se forma de homens espe-
lítico.
cificamente diferentes; os elementos que
2ª. A condição suficiente para que os con- a constituem não são absolutamente se-
flitos sejam políticos é a de que os atores re- melhantes. O importante a reter é a última
conheçam reciprocamente suas limitações frase. Os elementos-componentes de uma
nas reivindicações das suas exigências. Isto sociedade política são heterogêneos, isto é,
quer dizer que os conflitos políticos aconte- estão ao mesmo tempo em conflito e em in-
cem dentro de um quadro (framework) de terdependência. A natureza da dominância
restrições mútuas, o que implica que o con- política, contrariamente a outras formas de
flito político exige um certo grau de integra- dominância, é a de reconhecer os conflitos e
ção, de cooperação entre os combatentes, a variedade de interesse e atitudes que dão
“integração” ou “cooperação” entre indiví- base a esses conflitos e a de tratar de con-
duos e grupos, é, então, o segundo elemen- tê-los dentro de um quadro social comum.
to da equação política. Essa qualidade de
A dominância do tipo político não destrói
autolimitação ou restrição mútua pode ser
essa heterogeneidade natural para fazer
baseada em uma crença comum nos atores
uma sociedade mais unificada — o que impli-
em conflitos (então haveria uma estrutura
caria um tipo de dominância mais repressi-
de autoridade entre eles) ou pode ser sim-
va.
plesmente prudencial baseada no medo e
20

Segundo essa concepção, o estudo da cometidos num ambiente de abundância,


política compreenderá dois focos distintos, sem qualquer manifestação antagonista,
mas altamente relacionados. De um lado o não podem ser qualificados de política. De
estudo do “conflito”: tipos, fontes, padrões outro lado, atos de dominância violenta ou
e intensidades; e de outro lado, o estudo da repressiva, que sejam cometidos por auto-
“integração”: autoridade, estruturas, for- ridades públicas ou não, tampouco são po-
mulação de decisões e crenças comuns. líticos, são a evidência da falta de resolução
política ou do seu fracasso.
Como afirma Duverger, quando os ho-
mens pensam na política, eles oscilam entre Schmitter não quer afirmar que estes
duas interpretações completamente opos- atos não tenham interesse para o politis-
tas. Para alguns, a política é essencialmente ta. Ao contrário, ele deve estar altamente
uma luta, um combate em que o poder per- interessado nas condições que permitem
mite a alguns, que o têm, assegurar a sua por um lado a “despolitização” de atividades
dominância sobre a sociedade e desta tirar sociais ou que indicam, de outro lado, os li-
partido. Para outros, a política é um esforço mites de uma solução política dos conflitos.
para fazer governar a ordem e a justiça em
Ambos os tipos de atividades são rele-
que o poder permite a proteção do interes-
vantes para o politista porque fixam a fron-
se geral e do bem comum contra a pressão
teira da sua disciplina — e essa fronteira
das reivindicações particulares.
flutua muito entre sociedades e entre os
O Estado é, mais geralmente, o poder ins- períodos históricos da mesma sociedade.
titucionalizado de uma sociedade; é sem- O que implica a delimitação da política de
pre, em toda parte, tanto o instrumento da Schmitter é que atos de dominância admi-
dominância de certas classes sobre outras nistrativa e de dominância violenta ou re-
como o meio de assegurar uma certa ordem pressiva merecem análises distintas e base
social, uma certa integração de todos na co- de conceitos e hipóteses distintos.
letividade para o bem comum.
Guarde...
Schmitter nos mostra que é interessan-
A política é o conflito entre atores para
te observar que alguns, especialmente os
a determinação de linhas de conduta (poli-
marxistas oposicionistas e revolucionários
cies) coletivas dentro de um quadro de co-
nacionalistas, tendem a ver unicamente a
operação-integração reciprocamente re-
face “conflito”, enquanto outros, especial-
conhecido. Tradicionalmente, os politistas
mente muitos politistas norte-americanos
focalizaram a determinação de linhas de
e marxistas situacionalistas tendem a ver
conduta pública – quer dizer, comuns a toda
somente a face “integração”.
sociedade — formuladas dentro de um qua-
Uma disciplina completa de ciência polí- dro social essencialmente autoritário que é
tica deve incluir a ambas. Ela deve também o Estado.
distinguir cuidadosamente entre proces-
A definição de Schmitter não limitaria o
sos e acontecimentos que são propriamen-
estudo da política à atividade dessa insti-
te políticos e os que não o são. De um lado,
tuição de cúpula. Procuraria o desempenho
atos puramente de controle administrativo
de uma função — a de resolver conflitos sem
21

distinguir um dos partidos — a qualquer ní- Para Schmitter, nenhum outro cientista
vel da sociedade. social definiu a essência da atividade po-
lítica tão concisa e claramente como essa
O fundamento intelectual da sua concep-
citação de Celso Furtado em a Dialética do
ção de política é disperso, como se deduz da
Desenvolvimento (1964).
variedade de autores citados ao longo do
tópico. Ele ainda não tem uma formulação
definida. É ao mesmo tempo uma concep-
ção tradicional e contemporânea do que
deve ser o foco desta disciplina.

Ao preparar este ensaio, Schmit-


ter se deparou com uma formulação
muito semelhante – não de um outro
politista, mas de um economista bra-
sileiro:

A partir do momento em que uma


sociedade cresce o suficiente para que
seus membros necessitem pautar seu
comportamento por normas gerais, cuja
aplicação deve ser imposta por uma au-
toridade que não deriva a sua legitimi-
dade de vínculos de parentesco, está-se
em face de um embrião de organização
política, sendo irrelevante que o chame-
mos de sociedade civil ou de Estado. O
que importa é reconhecer que qualquer
estrutura social que haja alcançado um
certo grau de diferenciação, necessitará
organizar-se politicamente a fim de que
os seus conflitos internos não a tornem
inviável.

Um ponto importante a ter em conta


é o caráter sui generis da organização
política, instrumento que a própria so-
ciedade utiliza para autodisciplinar-se,
cabendo-lhe o monopólio de uso de for-
ça em nome de coletividade como um
todo (FURTADO, 1964).
22
UNIDADE 4 - Filosofia Política – A
antiguidade
Desde tempos imemoriáveis ou desde a dicações de N. Bobbio e de A. Passerin d’En-
antiguidade, pois é lá que o homem começa trèves, podemos distinguir quatro acepções
o exercício do pensar e refletir, temos as pri- principais:
meiras formulações acerca da política. Pode-
1) A filosofia Política como busca da me-
mos, assim, inferir que a Filosofia Política foi
lhor forma de governo, ou seja, como deter-
o começo de tudo.
minação da república ótima.
Desde a mais alta antiguidade clássica,
2) A filosofia Política como identificação
principalmente desde Sócrates, Platão e
do fundamento último do poder, ou seja,
Aristóteles, os assuntos políticos impressio-
como determinação do critério de legitimi-
nam o gênero humano, sequioso de conhe-
dade da obrigação política.
cê-los e aprofundá-los (BONAVIDES, 2009,
p. 43). 3) A filosofia política como explicitação do
conceito geral de Política, ou seja, como de-
Celeti (2011) nos explica que entre as di-
terminação da categoria do fenômeno polí-
versas questões que a filosofia visa investi-
tico.
gar, pode-se perguntar sobre como é e como
deveria ser o convívio em sociedade. Se for 4) A filosofia Política como análise reflexa
investigada, a palavra política, que vem do dos mapas linguísticos e conceituais da lin-
grego, será compreendido que politika refe- guagem política, ou seja, como metodologia
re-se aos assuntos da cidade (polis). É neste da ciência Política.
sentido que, em filosofia política, pergunta-
O primeiro significado compreende todos
-se sobre:
os pensadores que, de Platão aos modernos
a natureza das leis; utopistas, formularam o problema do Estado
Ideal, ou seja, de um modelo perfeito (ou o
a natureza do governo;
menos imperfeito possível) de comunidade
a origem da organização social; e, humana.

sobre qual seria a melhor forma de con- O segundo significado compreende todos
vívio entre os indivíduos. os pensadores que formularam o problema
de origem do poder e dos seus títulos de le-
Todos estes temas nos levam a pensar
gitimidade (são emblemáticos os casos de
sobre o espaço público, que é o espaço da
Hobbes, Locke e Rousseau).
política.
O terceiro significado compreende todos
No dicionário de Filosofia de Nicola Abbag-
os pensadores (são emblemáticos os casos
nano (1998) encontramos Filosofia política
de Croce e Schmitt) que se interrogaram so-
como parte da filosofia que tem como ob-
bre características peculiares da Política, ou
jetivo específico de indagação o âmbito dos
seja, sobre o que caracteriza e “distingue” o
fenômenos políticos. Através dos tempos, a
fenômeno político em relação às outras ati-
filosofia Política foi entendida de modos di-
vidades (por exemplo, a moral).
ferentes e às vezes opostos. Seguindo as in-
23

O quarto significado compreende os es- leis, criadas com o intuito de melhor conduzir
tudiosos do século XX que conceberam a a cidade.
filosofia Política como uma disciplina de “se-
Segundo Platão, o estado ideal deveria
gundo grau”, destinada à elucidação das lin-
ser dividido em classes sociais.
guagens e dos métodos da ciência política.
Seriam três classes: a dos filósofos, a dos
Vamos começar, evidentemente por Pla-
guerreiros, a dos produtores, as quais, no
tão.
organismo do estado, corresponderiam res-
pectivamente às almas racional, irascível e
4.1 Platão concupiscível no organismo humano.
O primeiro filósofo a sistematizar uma
ideia política foi Platão (428-7 – 348-7 a.C.). a) À classe dos filósofos cabe dirigir a repú-
blica. Com efeito, contemplam eles o mundo
É com pesar que faremos um recorte para das ideias, conhecem a realidade das coisas,
tratar somente a política em Platão e não a ordem ideal do mundo e, por conseguinte,
sua filosofia, seu mundo ideal e sua concep- a ordem da sociedade humana, e estão, por-
ção de homem, mas o que nos interessa no tanto, à altura de orientar racionalmente o
momento passa realmente por suas obser- homem e a sociedade para o fim verdadeiro.
vações acerca das ações das pessoas no ce- Tal atividade política constitui um dever para
nário de sua época que já envolvia uma admi- o filósofo, não, porém, o fim supremo, pois
nistração complexa da polis. este fim supremo é unicamente a contem-
Platão, mestre de Aristóteles, relata a te- plação das ideias.
oria política de Sócrates no livro ‘A República’, b) À classe dos guerreiros cabe a defesa
em que se posiciona criticamente frente à interna e externa do estado, de conformi-
democracia direta grega, e propõe um regi- dade com a ordem estabelecida pelos filóso-
me no qual “os reis fossem sábios e os sábios fos, dos quais e juntamente com os quais, os
fossem reis” (PEREIRA JUNIOR, 2008). guerreiros receberam a educação. Os guer-
Ele escreveu sobre o assunto, principal- reiros representam a força a serviço do direi-
mente, em dois livros: ‘A república’ e ‘As leis’. to, representado pelos filósofos.
Nesses livros, ele apresenta a ideia de que c) À classe dos produtores, enfim – agri-
uma sociedade bem ordenada é aquela em cultores e artesãos –, submetida às duas pre-
que cada indivíduo desempenha a função cedentes, cabe a conservação econômica do
na qual é mais habilidoso. Os hábeis com as estado, e, consequentemente, também das
mãos deveriam ser artesãos, os fortes de- outras duas classes, inteiramente entregues
vem proteger a cidade e os sábios devem go- à conservação moral e física do estado. Na
verná-la (CELETI, 2011). hierarquia das classes, a dos trabalhadores
Platão pensa também sobre como deve ocupa o ínfimo lugar, pelo desprezo com que
ser a educação nesta cidade ideal, para con- era considerado por Platão – e pelos gregos
seguir desenvolver em cada criança o seu em geral – o trabalho material (MADJAROF,
potencial a fim de que possa executar me- 1997).
lhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, Na concepção ideal, espiritual, ética, as-
será livre enquanto estiver cumprindo as cética do estado platônico, pode causar im-
24

pressão, à primeira vista, o comunismo dos obras exteriores, mas, sobretudo, se preo-
bens, das mulheres e dos filhos, que Platão cupa com espiritualizar os homens. Dessa
propugna para as classes superiores. Entre- maneira, é concebido o estado educador de
tanto, Platão foi levado a esta concepção homens virtuosos, segundo as virtudes que
política – tornada depois sinônimo de ima- se referem a cada classe, respectivamente.
nentismo, materialismo, ateísmo – não cer- Esta educação é dispensada essencialmente
tamente por estes motivos, mas pela grande às classes superiores – especialmente aos fi-
importância e função moral por ele atribuída lósofos, a quem cabem as virtudes mais ele-
ao estado, como veículo dos valores trans- vadas, e, portanto, a direção da república. Ao
cendentais da Ideia. contrário, o estado em nada se interessa – ao
menos positivamente – pelo povo, pelo vul-
Naqueles tempos, ele já conseguira ter
go, pela plebe, cuja formação é inteiramen-
uma boa compreensão de que os interesses
te material e subordinada, consistindo sua
particulares, privados, econômicos e, espe-
virtude apenas na obediência, visto a alma
cialmente, domésticos, estão efetivamente
concupiscível estar sujeita à alma racional
em contraste com os interesses coletivos,
(MADJAROF, 1997).
sociais, estatais, sendo estes naturalmente
superiores àqueles – eticamente conside- Segundo Gallo (2013), Platão – que escre-
rados. E não hesita em sacrificar totalmen- veu suas obras em forma de diálogo, e não
te os interesses inferiores aos superiores, em prosa – dedicou parte do livro VIII de ‘A
à riqueza, à família, ao indivíduo ao estado, República’ para tratar das formas de gover-
porquanto, representa precisamente – con- no. Neste documento há um debate sobre as
soante ao seu pensamento – um altíssimo constituições entre filósofos como Sócrates,
valor moral terreno, político-religioso, como Glauco, Polemarco e outros, a respeito da
única e total expressão da eticidade trans- natureza política do Estado. De acordo com
cendente. a análise do filósofo grego, existem, a princí-
pio, quatro formas de governo possíveis. Ele
Se a natureza do estado é, essencialmen-
as chamam de constituições inferiores: timo-
te, a de organismo ético-transcendente, a
cracia, oligarquia, democracia e tirania.
sua finalidade primordial é pedagógico-espi-
ritual; a educação deve, por isso, estar subs- Etimologicamente, identifica-se que o pri-
tancialmente nas mãos do estado. O esta- meiro dos governos mencionados por Platão,
do deve, então, promover, antes de tudo, o como sendo a constituição adotada em Creta
bem espiritual dos cidadãos, educá-los para e Esparta, é baseado em um arranjo político-
a virtude, e ocupar-se com o seu bem-estar -militar que forma o governo.
material apenas secundária e instrumental-
Bobbio (1985, p. 47) ressalta que o filó-
mente.
sofo via Esparta como a República ideal, em-
Platão também tende a desvalorizar a bora tivesse uma falha inerente: o fato de
grandeza militar e comercial, a dominação honrar o guerreiro mais do que os sábios. A
e a riqueza, idolatrando a grandeza moral. segunda forma de governo mencionada por
O grande, o verdadeiro político não é – diz Platão seria a oligarquia, um governo for-
Platão – o homem prático e empírico, mas mado por poucos. A democracia provém da
o sábio, o pensador; não realiza tanto as soberania popular, portanto, seria uma cons-
25

tituição baseada na participação do cidadão A melhor forma de organização política, de-


nas decisões políticas. Por fim, Platão cita a fendida por ele, é um sistema misto de de-
tirania, governo no qual o poder está con- mocracia e aristocracia, chamado politia,
centrado nas mãos do tirano – um governan- para evitar os conflitos de interesses entre
te único que não segue necessariamente a os ricos e pobres. É dele também a ideia de
constituição e que normalmente governa que o homem é um animal político, isto é, que
para obter benefícios pessoais. É por essa faz parte da natureza humana se organizar
razão que o filósofo menciona a tirania de politicamente.
forma tão sarcástica, ao classificá-la como
Na Grécia Antiga, para Aristóteles, a polí-
“nobre” (GALLO, 2013).
tica deveria estudar a pólis e as suas estru-
Além das quatro formas consideradas turas e instituições (a sua constituição e con-
inferiores (timocracia, oligarquia, democra- duta). (PEREIRA JUNIOR, 2008).
cia e tirania), o filósofo também considera a
Aristóteles é considerado o pai da Ciên-
existência de uma quinta forma de governo,
cia Política, porque considerou a política a
a aristocracia, que fica de fora da análise por
ciência “maior”, ou mais importante do seu
ser considerado um governo superior aos
tempo. Criou, ainda, um método de obser-
outros, “bom e justo” (Rep., VIII, 544 e). Este
vação que permitiu uma sistematização e
seria, teoricamente, o governo dos melhores
explicação dos fenômenos sociais. Preocu-
– motivo pelo qual é colocado na relação de
pava-se com um governo capaz de garantir
Platão como uma constituição positiva.
o bem-estar geral (o bom governo) (PEREIRA
Segundo Bobbio (1985, p. 47), Platão de- JUNIOR, 2008).
fendia que a aristocracia era a constituição
Na obra ‘Política’, Aristóteles argumenta
mais próxima do ideal. Já as outras quatro
que governar é um exercício de magistratu-
seriam as degenerações: delas, a timocra-
ra, portanto, como o governo detém a au-
cia seria o governo de transição entre essa
toridade suprema na cidade, esse governo
constituição ideal e as três piores de fato.
se torna a própria constituição (Pol., III, VI,
1). Sendo assim, o filósofo grego afirma que
4.2 Aristóteles toda constituição (logo, todo governo) que
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384 visa ao bem comum é correto; por outro lado,
– 322 a.C.) vai discordar de Platão. Na obra todas as constituições cujo objetivo seja
Política, Aristóteles pensa que a cidade ideal atender aos interesses pessoais dos gover-
de Platão, onde há prioridade daquilo que é nantes são defeituosas e podem ser consi-
público sobre aquilo que é privado, não fun- deradas formas de despotismo (Pol., III, VI,
cionaria muito bem. Para ele, as pessoas dão 11).
mais valor ao que pertence a si mesmo, do
que ao que pertence a todos. Assim, Aristóteles define que todo Es-
tado pode ser governado por uma pessoa,
Aristóteles se preocupou menos com hi- por uma parcela selecionada de cidadãos, ou
póteses de uma sociedade perfeita e mais pela maioria das pessoas residentes naque-
em compreender a realidade política de seu la cidade, e mesmo assim ser justa ou injus-
tempo, estudando as leis de diferentes ci- ta, dependendo do objetivo desse governo
dades e as formas de governo existentes. (Pol., III, VII, 1).
26

Deste modo, o filósofo tipificou em sua rania, a oligarquia e a democracia, respecti-


obra seis formas de governo, três delas qua- vamente. Aristóteles, portanto, utiliza para
lificadas como sendo justas, e outras três designar o governo da maioria o mesmo ter-
como sendo injustas. Na visão de Aristóte- mo empregado por Platão em outro contex-
les, as formas de governo constitucionais to (GALLO, 2013).
seriam a monarquia (ou realeza), a aristocra-
Segundo Bobbio (1985, p. 57), isso indi-
cia e a politeia, que são contrapostas pela ti-
ca que apenas a monarquia e a aristocracia,
rania (desvio da monarquia), pela oligarquia
e seus desvios correspondentes (tirania e
(forma degenerada da aristocracia) e pela
oligarquia), tinham uma tipologia realmente
democracia (a versão deformada da politeia)
definida na Antiguidade. A sugestão de Bob-
(GALLO, 2013).
bio é que os autores ainda não tinham encon-
É possível notar, basicamente que Aris- trado um termo apropriado para se referir ao
tóteles trabalha com as mesmas tipologias governo da maioria. Além disso, Bobbio res-
utilizadas por Platão. Porém, a inovação aris- salta que, na Ética, Aristóteles também cria
totélica é o ordenamento das formas de go- uma qualificação mais direta das formas de
verno em dois blocos: as formas justas e as governo, mostrando que o pior dos desvios
desviadas. é a tirania, e o menos nocivo é a democracia.

Segundo Bobbio (1985, p. 55), Aristóteles


formulou sua teoria usando dois critérios:
4.3 Políbio
“quem” governa e “como” governa. Sendo as- Apesar de Políbio não ser um filósofo e
sim, o filósofo considerou que as formas jus- sim um historiador, cabe lembrar que foi con-
tas eram aquelas destinadas a sempre obje- siderado o “pai” da teoria do governo misto
tivar o bem comum da sociedade, enquanto (LEVORIN, 2001), analisando as constitui-
as derivações tinham como único e exclusivo ções em um período posterior, no século II
objetivo atender as demandas dos próprios a.C.. Era a época da gradual dominação roma-
governantes: da tirania, os interesses do ti- na na Grécia.
rano; da oligarquia, os interesses do peque- Bobbio (1995) lembra que, para Políbio, a
no grupo que compõe o quadro de governo; constituição adotada era o motivo de êxito
e da democracia, atender os desejos do povo ou fracasso de uma sociedade. Sendo assim,
– normalmente, de acordo com Aristóteles, a seria importante escolher corretamente a
vontade de expropriar os bens dos homens forma de governo a ser usada naquele Esta-
de posse. do. Políbio, em sua obra, explica que seu ob-
É importante ressaltar que o uso do termo jetivo era estudar as causas e consequências
genérico “politeia” para se referir ao governo de se escolher determinada forma de gover-
justo da maioria causa uma nova confusão no para reger uma cidade (Hist., VI, I, 2).
ao leitor em Ética a Nicômaco, na passagem Políbio adotou uma metodologia similar
na qual Aristóteles volta a falar das formas a de Aristóteles para tipificar as constitui-
de governo. Na obra, o filósofo cita que há ções e identificou inicialmente a existência
três constituições justas, a realeza, a aristo- de seis formas de governo. As formas sim-
cracia e a timocracia, “chamada pela maioria ples seriam a realeza, a aristocracia e a de-
apenas de politeia”. E os desvios seriam a ti- mocracia; enquanto os modos degenerados
27

correspondentes seriam, respectivamente, formas simples de governo seriam a monar-


a tirania, a oligarquia e a oclocracia (GALLO, quia (regnum), a aristocracia (optimatium) e
2013). o governo popular (civitas popularis).

Cícero também deixa claro, por meio de


4.4 Cícero uma frase de Cipião, que a melhor das consti-
Outro pensador que trabalhou a teoria tuições seria uma quarta forma, que comb
das formas de governo foi o filósofo e ora- ina elementos das três anteriores (De Re
dor romano Marco Túlio Cícero – que viveu os Publica De Legibus, I, XXIX, 45). É, portanto,
turbulentos anos de guerra civil entre Pom- uma teoria que vai na mesma direção do que
peu e Júlio Cesar, no primeiro século antes de já havia sido dito por Políbio. Isso ocorre por-
Cristo. Ele se encarregou de dar continuida- que Políbio também analisou a constituição
de à análise do melhor sistema constitucio- romana em sua obra, na qual era possível ve-
nal defendendo a existência de três regimes rificar na prática a existência desse regime
políticos, a monarquia, a aristocracia e a de- misto (GALLO, 2013).
mocracia, e, além disso, seus desvios respec-
tivos (GALLO, 2013). Segundo Pinto (2003), a república de Cí-
cero pode ser considerada quase-democrá-
Logo, é de se observar que ele utiliza uma tica, pois Cícero parece estar dividido entre
metodologia bastante semelhante à dos um governo dos melhores visando o bem
outros pensadores da Antiguidade. A obra comum – representado pelo senado, de uma
de Cícero, a exemplo do trabalho de Platão, certa forma incapaz de governar e uma pro-
também foi escrita em forma de diálogo – no funda suspeita quanto às capacidades de
caso da passagem sobre as formas de gover- virtude do homem comum – o governo de to-
no, é um diálogo entre os romanos Cipião e dos para todos visando o bem comum.
Lélio. A primeira consideração importante a
ser feita é que, para Cícero, toda comunida- A república de Cícero, aquela que
de é propriedade de um povo. Contudo, povo visa o bem comum, mas só é governa-
não se trata de um aglomerado qualquer de da por alguns, pode-se definir/justificar
pessoas, mas sim um grupo numeroso de ci- em três pontos:
dadãos em comum acordo de respeito às leis 1º. Pessoas sensatas e conhecedoras de-
e orientado ao bem comum (De Re Publica I, vem governar. Já Platão aduzia que o “povo”
XXV, 39). Como essa comunidade é proprie- nunca é sensato. Os senadores são os mais
dade do povo, ela precisa, na análise do pen- sensatos.
sador, ser governada por um corpo delibera-
tivo permanente, seja ele formado por um 2º. Os deveres específicos das funções
homem, por um número seleto de cidadãos, dos magistrados exigem que seja instituída
ou por todo o corpo de cidadãos da cidade (I, uma longa formação que os prepare para o
XXV, 41). Essa análise corrobora a afirmação exercício desses deveres. Parte desta for-
de que a teoria das formas de governo gira mação ou educação, nomeadamente aquela
em torno de responder a pergunta de quan- que melhor se aprende através de modelos,
tos indivíduos compõem o governo. é obtida na família ou através de relações
com os pares – começa no nascimento. Isto
A tipologia empregada por Cícero é a mes- implica uma continuidade de ancestralidade
ma usada pelos filósofos gregos. Assim, as
28

e de geração e laços familiares fortes. Há uma faceta de Cicero que não pode
deixar de aparecer, o seu elitismo, de certo
3º. A outra face da moeda é que a “igual-
modo é lamentável, pois neste aspecto o seu
dade de todas as coisas” se levada a sério, é
modo de pensar acaba por se revelar frágil,
desastre social. Sem as estruturas múltiplas,
ora, por tudo o que o “povo” possa ser, não se
desiguais nos corpos intermediários, surge
pode dizer que os aristocratas, como classe,
a anarquia e é mais fácil aos tiranos coman-
detêm preferencialmente a boa-fé (PINTO,
dar as massas. Se as instituições sociais não
2003).
forem prevalecentes, diferenciadas e forte-
mente estruturadas, há um colapso da vida Para fixar...
social e a política controla tudo.

PLATÃO

FORMA DE GOVERNO COMENTÁRIO

Aristocracia Governo bom e justo, único não considerado inferior.

Constituição adotada por Creta e Esparta, baseada


Timocracia
na honra guerreira.

Oligarquia Governo com incontáveis vícios.

Democracia Forma precedente à oligarquia.

Tirania Pior das formas de governo.


29

ARISTÓTELES

FORMA DE GOVERNO COMENTÁRIO

Governo de um homem, orientado para o bem


Realeza
comum.

Governo formado por poucos homens, orientado


Aristocracia
para o bem comum.

Politeia Governo da maioria, orientado para o bem comum.

Governo de um homem, cujo objetivo é beneficiar o


Tirania
próprio governante.

Governo formado por poucos homens, cujo objetivo


Oligarquia
é beneficiar o grupo no poder.

Governo da maioria, cujo objetivo é beneficiar as


Democracia
massas em detrimento das outras classes.
30

POLÍBIO

FORMA DE GOVERNO COMENTÁRIO

Primeira forma de governo, que surge naturalmen-


Realeza
te.

Tirania Forma degenerada associada à realeza.

Surge após a queda da tirania, distribuindo o poder


Aristocracia para um grupo de pessoas.

Oligarquia Degeneração da aristocracia, cujo grupo busca o


benefício próprio.

Resultado da evolução da oligarquia, deixando o


Democracia
poder nas mãos da maioria

Degeneração da democracia, quando a turba passa


Oclocracia
a cuidar da vida política com ilegalidade.

Forma de governo que é uma junção da realeza,


Governo misto
aristocracia e democracia.
31

CÍCERO

FORMA DE GOVERNO COMENTÁRIO

Monarquia Autoridade suprema nas mãos de um governante.

Autoridade suprema imbuída a um grupo


Aristocracia
selecionado.

Governo popular Governo no qual as decisões dependem do povo.

Despotismo Degeneração da monarquia.

Oligarquia Degeneração da aristocracia.

Turba Degeneração do governo popular.

Forma de governo que é uma junção da monarquia,


Governo misto
aristocracia e governo popular.

Fonte: Gallo (2013).


32

UNIDADE 5 - Santo Agostinho e Santo Tomás


de Aquino – Filosofia política na idade medieval
A civilização romana foi, sem qualquer cobrança do dízimo, de doações de terras
sombra de dúvida, de imensurável impor- e de jogadas políticas, tornou-se o maior e
tância para a configuração das sociedades mais poderoso “senhor feudal” do período.
atuais, notadamente as do Ocidente, uma A Igreja controlava toda a produção teórica
vez que a grande maioria dos institutos ju- e filosófica do período clássico, e manipula-
rídicos e instituições políticas e até mesmo va a produção científica daquele tempo, pu-
culturais que conhecemos e cultivamos ho- blicando o que convinha, e excomungando,
diernamente, têm suas raízes na antiga so- julgando e queimando os pensadores diver-
ciedade romana (ALMEIDA, 2005). gentes. A Igreja era, em verdade, quem mais
lutava para conservar o modo de produ-
Mas vamos para a Idade Medieval que os
ção feudal, na perspectiva de manter o seu
historiadores costumam demarcar como
poder político indefinidamente (ALMEIDA,
o período que vai de aproximadamente de
2005).
476 com a queda do Império romano até a
tomada de Constantinopla pelos turcos oto- O período medieval foi chamado por mui-
manos, em 1453. tos pesquisadores/historiadores, de Idade
das Trevas e havemos de concordar que a
Uma das características fundamentais do
ideologia moralista da Igreja Católica acabou
feudalismo, regime vigente nesta época, é a
por contribuir e reduzir a produção do pen-
reclusão e a autossuficiência dos feudos. As
samento humano, tanto que toda a produ-
invasões bárbaras criavam um grande clima
ção teórica acerca da política buscava a for-
de insegurança, e as pessoas buscavam a
mulação de um sistema de governo calcado
segurança dos muros feudais.
na moral cristã.
O trabalho, naquele período, era predo-
É nesse período que encontramos Santo
minantemente agrícola, e a terra tinha um
Agostinho (354-430), o qual escreveu o livro
valor tão alto que era fator de prestígio eco-
‘A Cidade de Deus’, em que afirmava que a
nômico e social, determinante do poder po-
cidade humana era essencialmente imper-
lítico.
feita, e que aqueles que vivessem em con-
Para utilizar a terra, os camponeses pa- formidade com os preceitos cristãos habita-
gavam ao senhor feudal com parte de sua riam, após a morte, na Cidade de Deus, onde
produção, além de cultivar as terras deste tudo era justo e perfeito.
e prestar-lhe serviços militares, em caso de
Em Santo Agostinho, observamos a ine-
invasões ou ataques externos. As famílias
xistência de uma síntese filosófica fora do
camponesas produziam seus próprios mó-
contexto teológico. Ele considera a impor-
veis, roupas, alimentos e, eventualmente,
tância da filosofia, porém submete-a como
trocavam o excedente entre si.
base secundária em relação à superioridade
Oprimidos pela estrutura do sistema feu- da revelação religiosa. Isto, evidentemente,
dal, os camponeses eram facilmente mani- não implica em que Santo Agostinho não te-
pulados pela Igreja Católica, que através da nha se debruçado seriamente nos estudos
33

filosóficos. Em razão disso, familiarizou-se quia, aristocracia e república ou politeia. Es-


com o pensamento da antiguidade, sobretu- sas formas legítimas dão origem respectiva-
do com os neoplatônicos, neopitagóricos e mente a três formas desvirtuadas: tirania,
estóicos, com os epicureos e acadêmicos. oligarquia e democracia. Convém esclarecer
que democracia não tinha o mesmo sentido
Além de Platão, conhecia as obras de Vir-
que hoje se lhe dá e significava populismo
gílio, Terêncio e Cícero, entre muitos outros.
ou demagogia. Em teoria, o regime preferido
Em suas linhas mestras considera-se, po-
por S. Tomás era a monarquia. Essa prefe-
rém, que Santo Agostinho fundamentou-se
rência assenta em três ordens de razão:
filosoficamente no pensamento socrático-
-platônico. O cristianismo, de modo geral, teológica – porque se aproxima mais
buscou nesta escola filosófica respaldo para do governo do Mundo por Deus;
a sua visão de desprezo do mundo, na qual
filosófica – é o regime que mais se
sobressaem dualidades conflitantes (espíri-
aproxima da natureza em que há uma unida-
to e matéria, corpo e alma, temporalidade e
de e tudo regressa à unidade;
eternidade, Deus e Satanás, anjos e demô-
nios, entre outros) (CONCEIÇÃO, 2008). histórica – o passado prova que o país
onde não há rei vive da discórdia e anda à de-
Podemos dizer que ao Estado caberia, se-
riva.
gundo Santo Agostinho e Santo Tomas de
Aquino, o papel de intimidação para que to- Acontece que o governo de um só, apesar
dos agissem corretamente. de ser o melhor, pode degenerar e desviar-se
do seu fim. Por isso, a monarquia, teorica-
Acredita-se que Santo Tomas de Aquino
mente, pode ser o sistema ideal, mas na prá-
(1224/25 – 1274) nasceu no Castelo de Roc-
tica é preferível o regime misto.
casecca, próximo de Nápoles na Itália, sendo
enviado aos cinco anos para um mosteiro a Regime misto – é o regime perfeito, bem
fim de ser educado pelos beneditinos. combinado de monarquia pela preferência
de um só, de aristocracia pela multiplicidade
O pensamento filosófico de Santo Tomás
de chefes virtuosamente qualificados, de
tem a sua fonte ou origem em Aristóteles.
democracia ou poder popular pelo fato de
Muitos dos conceitos ou ideias que utiliza
que cidadãos simples podem ser escolhidos
são aristotélicos. Os temas mais importantes
como chefes e que a escolha dos chefes per-
do ponto de vista filosófico são os seguintes:
tence ao povo (S.T. I, II, q 105 a.1).
Teoria do conhecimento, Metafísica e Ética.
Do ponto de vista político, S. Tomás diz que
Santo Tomás divide a filosofia em três
pertence ao povo a escolha dos governantes
grandes áreas: a filosofia natural que tra-
e a feitura das leis. E daí a fórmula que lhe é
ta da ordem das coisas da natureza e do ser
atribuída “Omnia potesta a deo per populum”
real; a filosofia racional ou lógica que tem por
(todo o poder vem de Deus através do povo)
objeto o pensamento e a filosofia moral ou
Não admira que Jacques Maritain considere a
ética que estuda a moral e as suas relações
filosofia de S. Tomás como a primeira filoso-
com o Estado, a política e a economia.
fia autêntica da democracia.
Tomás, que segue de perto Aristóteles,
Como diz Wolkmer (2001), Santo Tomás
reconhece três formas de governo: monar-
34

de Aquino foi um competente pensador po- públicos, efetivando sua plena missão de
lítico, que ao seguir e trazer para o cristianis- incentivar uma vida verdadeiramente boa e
mo as formulações aristotélicas da natureza virtuosa, e criando as condições satisfató-
política do homem, discorre com profundida- rias do bem-comum. Por consequência, os
de sobre uma teoria do poder, do Estado e do fins do Estado são fins morais (o bem-estar
bem comum, uma teoria da natureza das leis, de toda comunidade), sendo que os cidadãos
uma teoria da resistência à injustiça e, por estão comprometidos com um fim tempo-
fim, uma teoria das formas de governo. Nes- ral (representado pela autoridade estatal)
se ponto, suas principais ideias políticas apa- e com um fim espiritual (corporificado pela
recem com destaque na monumental Suma Igreja, que atua como instância maior). O po-
Teológica e no ensaio inacabado Do Reino ou der do Estado não fica subordinado de forma
do Governo dos Príncipes ao Rei de Chipre. absoluta ao poder da Igreja (como defendia
Santo Agostinho), mas sim de modo relativo;
Na verdade, sua obra é numerosa, mas a
a autoridade da Igreja é superior em matéria
Suma Teológica (Summa Theologica) ex-
espiritual (WOLKMER, 2001).
pressa a sistematicidade de uma ciência
filosófica e teológica, fonte inspiradora de
grande parte da Idade Média cristã e do início
dos tempos modernos. Com acuidade e rigor,
trata metodologicamente de matérias como
lógica, metafísica, antropologia, ética, teolo-
gia e política (em que examina e expõe com
riqueza de conhecimento questões sobre a
natureza das leis).

Santo Tomás constrói uma doutrina teo-


lógica do poder e do Estado. Primeiramente,
compreende que a natureza humana tem
fins terrenos e necessita de uma autoridade
social. Se o poder em sua essência tem uma
origem divina, é captado e se realiza através
da própria natureza do homem, capaz de seu
exercício e sua aplicação.

Certamente, tanto o poder temporal


quanto o poder espiritual foram instituídos
por Deus. Deus é o criador da natureza huma-
na e, como o Estado e a Sociedade são coisas
naturalmente necessárias, Deus é também o
autor e a fonte do poder do Estado. [...] o Es-
tado não é uma necessidade do pecado origi-
nal. Enquanto o homem necessita do Estado,
este deve servir a comunidade dos cidadãos,
promovendo a moralidade e o bem-estar
35
UNIDADE 6 - Thomas Morus e Maquiavel –
O Renascimento
Podemos resumir o período medieval O que nos interessa nesse período é co-
como aquele em que a vida era essencial- nhecer um pouco de Thomas Morus e Nico-
mente cíclica, contemplativa, estando de lau Maquiavel para darmos continuidade ao
acordo com os preceitos religiosos vigen- desenvolvimento do nosso estudo acerca
tes. Nesse ponto, temos a contraposição da filosofia política ao longo dos tempos.
entre o ócio e sua negação, o negócio. Essa
diferença ia ocupar um papel de destaque 6.1 Thomas Morus
no final da Idade Média, compreendido no Inglês, diplomata, “homem das leis”, Tho-
século XIV, quando os nascentes burgueses mas More ou Morus é considerado um dos
discutiriam com alguns humanistas qual era grandes humanistas do renascimento. Foi
a vida mais nobre a ser seguida. As cidades, canonizado como mártir, daí ser conhecido
apesar de diminuídas durante a Idade Mé- também como São Thomas Morus.
dia, devido à intensa agricultura, permane-
ceram vivas. Nelas predominava o trabalho Em linhas gerais, foi condenado à pena
corporativo. De fato, na sociedade medie- capital por se negar a reconhecer Henrique
val, um indivíduo não podia ser compreendi- VIII como cabeça da Igreja da Inglaterra, sen-
do fora da sua condição na esfera social. Foi do também por isso, considerado pela Igreja
nos burgos ou cidades que o poder passou a Católica como modelo de fidelidade à Igreja
mudar de mãos (DUCLÓS, 1998). e à própria consciência, e representante da
luta da liberdade individual contra o poder
Segundo o mesmo autor, os humanis- arbitrário.
tas passam a questionar o teocentrismo,
até então predominante. Acreditavam que Deixou vários escritos de profunda es-
o homem devia ser o centro das investiga- piritualidade e de defesa do magistério da
ções filosóficas por ele ser o único capaz de Igreja. Mas, de interesse para nossos estu-
conhecer. dos temos a sua “Utopia”. Morus apresen-
tou em seu livro, um modelo de sociedade
Por acharem que nessa época houve um ideal, na qual havia justiça e igualdade para
retrocesso da humanidade, esses ‘huma- todos os cidadãos, uma vez que viviam, na-
nistas’ voltaram aos modelos clássicos e quela sociedade, de acordo com a “Santa Fé
começaram a colocar o homem como centro Católica”. Entende-se comumente por uto-
das artes e das ciências. Era o homem domi- pia algo que não seja realizável, longe da re-
nando a natureza. alidade experienciável, irreal.
Esse período ficou conhecido como Re- Morus utilizou esse termo pela primeira
nascimento e compreende o fim da Idade vez e de maneira bem filosófica ao relatar
Média e o início da Idade Moderna, entre os a organização social de uma ilha chama-
séculos XIV e XVI, mas ainda não era o “mo- da pelo mesmo nome: Utopia. Depois dis-
derno”, e sim um período de transição, em- so, esse termo passou a designar não só
bora alguns pensadores como Foucault o qualquer tentativa análoga, tanto anterior,
considerem um período completo. como posterior (como ‘A República de Pla-
36

tão’ ou ‘A cidade do Sol’, de Campanella), mas Rafael Hitlodeu, Morus mostra o quanto a
também todo ideal político, social ou religio- massa de camponeses tem que trabalhar
so de realização difícil ou impossível. a mais para sustentar aqueles que nada
fazem, como é o caso de grande parte dos
Supõe-se que Thomas Morus, ficou tão
clérigos e dos nobres. Na utopia de Morus,
maravilhado após ter lido uma carta de
todos cumprem a sua parte para que a ilha
Américo Vespúcio narrando sobre a ilha
tenha superabundância de produção. Ainda
Fernando de Noronha (Brasil), que escreveu
no tocante à religião, os sacerdotes utopia-
as notícias de “um lugar que não existe”, isto
nos tem verdadeira autoridade espiritual e
no período renascentista, em um momento
o prazer é tido como um grande bem, que
em que o autor vivia um contexto social re-
traz a felicidade. O ascetismo na ilha é uma
pleto de mudanças, como a Reforma Reli-
opção, mas pergunta Morus: se o objetivo
giosa (PAULA, 2008).
do asceta é melhorar a vida do mais próxi-
É muito comum encontrarmos para o mo, porque não começar pela nossa própria
termo utopia o significado de “fantasia, ilu- casa e melhorar nossa própria vida?
são, sonho e seu antônimo, o real” (POLITO,
No entendimento de Miguel (2007), Mo-
2005). Entretanto, a Filosofia não encerra
rus talvez tenha sido o moralista mais im-
simplesmente um assunto, nós podemos
portante ao destacar uma sociedade em
buscar na história a base para fundamentar
que o bem comum fosse a principal preocu-
ideias complexas sobre utopia.
pação; ele buscava resolver o principal pro-
A Filosofia surge das ideias ao serem blema do renascimento do Norte referente
sistematizadas logicamente. Para Paula ao individualismo desenfreado e a queda
(2008), utopia pode ser uma ideia que não do interesse em comum. Morus, ao criar sua
requer sistematização, nem necessita da utopia, tinha em mente um lugar em que
lógica, mas tem o potencial de ser filosófica problemas do seu próprio país pudessem
quando na perspectiva das possibilidades. acabar: “As instituições da Utopia apresen-
tam-se como soluções para problemas que
O que é utopia então? Uma das hipóte-
são os graves problemas ingleses indicados
ses é que, para algumas pessoas, trata-se
no inicio do livro: fome, miséria, ociosidade,
de buscar o bom e o bem em comum ao ho-
desigualdade”.
mem. Procurar algo, planejar, sonhar muitas
vezes é fator motivador da existência para Problemas ainda hoje e como nunca, per-
algumas pessoas (PAULA, 2008). seguidos, (ou que pelo menos deveriam ser)
pelos governantes.
Duclós (1998) descreve que o sistema
de “loteamento” do céu funcionava de ma- Para Modelli (2012), o interessante é que
neira tão forte na Idade Medieval e a au- Morus foi um radical justamente no lugar
toridade dos eclesiásticos era de tal forma em que a maioria dos seus contemporâneos
exagerada, que esses abusos acabaram optou por neutralizar suas críticas: a nobre-
por gerar as reformas protestantes. No li- za. Ele leva a sério a crítica de que as virtu-
vro ‘A Utopia’, percebemos o quanto a ironia des do bem comum junto com a crítica do
de Morus ataca o luxo desnecessário em individualismo criam uma sociedade justa:
que estava envolvida a Igreja. Na figura de a desigualdade cria o pecado de orgulho im-
37

pedindo com que a verdadeira virtude pos- lítica, por um motivo bastante simples: ele
sa ser alcançada. Por isso é tão importante foi o primeiro a dissociar a política da moral.
no seu esquema de sociedade que a pro-
priedade não exista e que a ostentação seja
A inovação de Maquiavel foi a tenta-
completamente renegada; tanto de roupas tiva de ver o mundo como ele é e não
quanto de ouro. como ele deveria ser:

Morus inovou na teoria política por Não importa como seria o mundo jus-
seguir os mesmos pressupostos, po- to, e sim o mundo concreto (...) Ele mu-
rém com maior radicalidade: dou a forma de refletir sobre a política
porque mudou o local para onde deveria
O que é singular na Utopia de Morus ser dirigido o olhar: em vez das normas
é, simplesmente, que ele extrai as con- morais, das sagradas escrituras ou dos
sequências da sua descoberta com um sistemas éticos, o jogo de relações dos
rigor que nenhum de seus contemporâ- poderes (MIGUEL, 2007, p. 59).
neos igualou. Se a propriedade privada
constitui a origem do mal-estar em que Isso levou muitos a considerar Maquia-
vivemos, e se nossa ambição básica está vel como um escritor sem ética e a favor
em instituir uma boa sociedade, parece da monarquia; perspectiva que merece ser
inegável, a Morus, que a propriedade pri- criticada para situar melhor a inovação de
vada terá que ser suprimida (SKINNER, Maquiavel para a teoria política. Apesar de
1996, p. 280). ter outros livros como “Discursos sobre a
segunda década de Titio Lívio”, vamos nos
centrar no “O Príncipe”, já que o primeiro
6.2 Maquiavel tem um caráter claramente republicano e
No século XVI, Maquiavel e a sua obra dão se vê a necessidade de destacar no próprio
origem à modernidade política. A sua preo- O Príncipe uma leitura ética e republicana.
cupação era a criação de um governo eficaz Nas críticas, Modelli (2012) coloca como
que unificasse e secularizasse a Itália. primeiro ponto que se deve ressaltar é o
De Aristóteles e Cícero, Bonavides (2009) contexto violento e de dominação de dés-
nos apresenta Maquiavel, o secretário flo- potas em que Maquiavel vivia: até que pon-
rentino, que tanto se imortalizou na ciência to “O Príncipe” não é um livro escrito na ne-
política, e que abre o capítulo primeiro de O cessidade de unificar o país e manter a paz?
Príncipe, sua obra-prima, com aquela afir- O republicanismo seria um segundo passo
mativa de que “todos os Estados, todos os num país já pacificado.
domínios que exerceram e exercem poder O verdadeiro príncipe de Maquiavel,
sobre os homens, foram e são ou Repúbli- aquele que está capacitado a alcançar a gló-
cas ou Principados”. ria, não age em benefício próprio, mas pelo
Nicolau Maquiavel (1469-1527) é um dos bem do estado (MIGUEL, 2007, p. 47).
mais importantes pensadores de todos os Skinner chega a conceder a interpreta-
tempos, especialmente para o campo da po- ções tradicionais de Maquiavel em que o
38

autor tem: “Um tom conscientemente frio e blemas de guerras em seu país:
amoral” (SKINNER, 1996, p. 157). No entan-
to, o autor florentino no fundo da sua teoria Maquiavel é um fomentador do go-
ética deseja o mesmo que seus contempo- verno da lei, mas percebe que, em situ-
râneos: a paz e a conquista da glória. ações extremas, quando a república tem
de perpetuar a sua própria sobrevivên-
O problema principal do autor florentino
cia, os remédios tem que ser extremos
é que ao destacar o papel da violência, ele
e, portanto, recorre-se à ditadura (SOA-
percebe que não serão os sistemas éticos
RES, 2011, p.108).
tradicionais que permitiram tais objetivos.
Em um contexto de violência e guiado por
uma antropologia negativa do comporta- A principal contribuição de Maquiavel
mento humano, a ética de Maquiavel tem está na sua originalidade com a quebra dos
um significado específico: a exortação pa- valores éticos tradicionais e, principalmen-
triótica de um homem que deseja a unifica- te, com a mudança de foco no seu estudo:
ção de seu país como mostrado no capítulo o problema do olhar está nas relações de
XXVI do O Príncipe. poderes para o autor florentino. O que não
quer dizer que ele tenha se tornado um ho-
Maquiavel defende a dominação da for- mem amoral, mas que sim, ele tenha limi-
tuna como os humanistas clássicos e tem tado o otimismo humanista tradicional dos
no seu rol de objetivos a glória, a fama e a quatrocentos. O homem ainda deveria con-
honra. Porém, ele se sente condicionado quistar a virtude e o republicanismo, desde
pelo meio em que vive e seu pessimismo an- que limitado por uma antropologia negativa
tropológico para dizer que para tal formula- do ser humano e a condição natural da vio-
ção de valores tradicionais não é suficiente. lência nos jogos políticos (MODELLI, 2012).
Pode-se formular até mesmo que existe um
republicanismo velado no “O Príncipe”: Almeida (2005) também entende que a
característica mais marcante da obra ma-
quiaveliana reside justamente no fato de
Maquiavel é um republicano e patrio-
que Maquiavel, ao pensar e escrever sobre
ta que admira a ideia de um estado livre,
política, rejeitou completamente o idealis-
porém – a fim de alcançá-lo – constrói
mo dos clássicos e rompeu definitivamente
em O Príncipe a figura de um ditador de
com a velha moral católica.
transição – do príncipe novo – capaz de
unificar sua pátria, dotá-la de leis justas Enquanto Platão, Aristóteles, Santo
e preparar o porvir republicano (SOARES, Agostinho e Thomas Morus, por exemplo,
2011, p.119). procuraram estabelecer as características
de um Estado ideal, Maquiavel seguiu no
A figura do ditador vem da antiguidade sentido oposto: ao invés de se preocupar
clássica e é inspirada em um homem que em com o que o Estado deveria ser, procurou
tempo de emergência poderia por lei usar o desenvolver uma teoria a partir do que o Es-
poder sozinho para solucionar o problema; tado era de fato.
talvez da mesma forma como Maquiavel de- O pensamento maquiaveliano se baseia
sejava que o príncipe solucionasse os pro- na análise da história, uma vez que Maquia-
39

vel procurou aprender com as ações dos naquele momento, estava gravada pela
grandes homens nos grandes momentos anarquia; precisava de um príncipe virtuo-
da história, bem como na psicologia, já que so, que reorganizasse e unificasse o Estado
quis compreender a natureza do homem na Italiano, e depois deixasse o governo e ins-
história, e como este se comportou ao lon- taurasse a República.
go dela.
Pelo fato de ter atribuído ao estudo da
Essa “análise retrospectiva” dos fatos política um caráter de independência, Ma-
históricos levou Maquiavel à constatação de quiavel é considerado por muitos o “Pai da
que, ao longo de toda ela, os homens mos- Ciência Política”, embora esta somente te-
traram-se sempre os mesmos: ingratos, nha se firmado efetivamente como a con-
volúveis, simuladores, covardes e ávidos cebemos hoje, a partir do século XIX (AL-
por lucro. Por essa razão, um governante MEIDA, 2005).
(“príncipe”, na terminologia maquiaveliana)
Maquiavel também introduziu um mé-
que pretendesse comandar o Estado deve-
todo comparativo-histórico, fazendo com-
ria possuir duas características imprescin-
paração entre dirigentes da sua época e de
díveis: força e inteligência. A primeira, para
épocas anteriores através de exemplos. In-
conquistar o poder; a Segunda, para mantê-
troduziu, também, e reforçou a importância
-lo (ALMEIDA, 2005).
do Estado e da Instituição Estatal (PEREIRA,
Os expedientes utilizados pelo príncipe JUNIOR, 2008).
para a manutenção da ordem no Estado, ao
Duclós (1998) aponta muitas diferenças
contrário do que haviam preconizado todos
entre Morus e Maquiavel no campo de vista
os pensadores anteriores a Maquiavel, não
político e social. Vejamos algumas delas:
deveriam ser previstos em nenhuma lei ou
norma moral; ao contrário, era cada situação Maquiavel, por exemplo, considerava o
que determinaria o que seria certo ou erra- homem mau por natureza, como já foi dito.
do, moral ou imoral, bom ou mal. Maquiavel Morus não compartilha essa crença. Para
inaugura, assim, a “moral de circunstância”, ele, o homem é capaz do verdadeiro bem e
que era completamente avessa à velha mo- de uma vida com virtudes, desde que seja
ral católica. submetido à educação de leis e costumes
justos;
Por conta disso, até os tempos atuais
vemos o uso do termo “maquiavélico” para para Morus, a Mãe natureza ama a to-
designar as pessoas malevolentes, astutas dos por igual, e deseja ela igual bem estar
e impiedosas: a própria Igreja incumbiu-se para todos. A terra é mais que suficiente
de conspurcar a imagem de Maquiavel, pelo para garantir o sustento de todos, e elimi-
fato deste ir de encontro a seus interesses nando a mesquinharia, as disputas e desa-
(ALMEIDA, 2005). venças tão comuns na Itália de Maquiavel,
somem por completo. Maquiavel enobrecia
Para Maquiavel, toda sociedade poderia
a arte da guerra ao máximo, enquanto Mo-
passar por três estados: (“estado” com letra
rus procura evitá-la a todo custo;
minúscula, querendo significar “situação”):
anarquia, principado e república. A Itália, Maquiavel aceitava conselheiros sá-
40

bios do lado do príncipe, Morus achava inútil Maquiavel criticou as ideias cristãs em
reunir conselheiros e advogados ao redor oposição a uma vida política que era violen-
de si; ta. No entanto, ele manteve as preocupa-
ções dos seus contemporâneos: a busca da
Morus era contra qualquer tipo de
virtude, da fama e da glória. Morus criticou a
crueldade e vício humanos, inclusive a caça,
falta de consequência no pensamento dos
admirada por Platão, abolida de Utopia. A
seus contemporâneos: ele levou até o fim a
função de matar animais nessa ilha é rele-
ideia de que o bem comum decaia por causa
gada a escravos.
da propriedade e da nobreza.
O fato de haver essa brusca desigualda-
Ele criou uma sociedade sem classes e
de social numa sociedade pretensamente
sem ostentação porque assim ele possibili-
ideal, dá margem a críticas. Mas devemos
taria a verdadeira nobreza: a virtude. Morus
lembrar que os Utopianos são muito nacio-
e Maquiavel têm com o humanismo dos qua-
nalistas, e preferem qualquer um dos seus
trocentos uma herança sobre a capacidade
ao maior dos reis estrangeiros. Os escravos
humana de moldar seu futuro contra um
geralmente são estrangeiros ou crimino-
acaso destruidor; a utopia é feita por ho-
sos, e muitas vezes sua ocupação é dignifi-
mens e a república de Maquiavel pelo prín-
cada. O fato de haver um príncipe em Utopia
cipe. As ressalvas de radicalismo no caráter
está muito mais ligado à necessidade de um
de violência e no idealismo da utopia podem
controle interno, pois mesmo numa perfei-
ser relativizadas: Maquiavel era um republi-
ta organização é natural alguns quererem
escapar das leis. E mesmo o príncipe se cha- cano em busca de paz e Morus simplesmen-
ma Ademos, ou seja, sem povo. te levou a consequência final algo já dito na
sua época pelos seus contemporâneos.
Quanto à semelhança mais importante
aos dois, Miguel (2007, p. 62) cita o papel de
criação humana: “Já se encontra, aí, um in-
suspeito ponto de contato entre o realismo
de Maquiavel e o utopismo: para ambos, o
mundo social é aquilo que seus habitantes
fazem dele”.

Seguindo a tradição humanista dos qua-


trocentos, ambos têm muito a dizer sobre o
papel humano na criação de uma boa socie-
dade. Seja na perspectiva do Maquiavel em
criticar os espelhos do príncipe na sua visão
claramente cristã de virtude em oposição
a um olhar do autor florentino, realista das
relações de poderes e, por outro lado, a for-
ça de Morus em enxergar nos próprios hu-
manos a capacidade de criar uma sociedade
perfeita sem a ação direta de deus (MODELLI,
2012).
41

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