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PPGACL - IAD - UFJF

LENDO IMAGENS
Alberto Manguel

Thales Estefani
O ESPECTADOR COMUM
A imagem como narrativa
Barcos na praia de Saintes-Maries, Vincent van Gogh.

Livros ilustrados: imagens complementavam a história,


realçando ou corrigindo as palavras

Gustavo Flaubert: oposição à ilustrações (reduziriam o


universal ao singular)

Para Manguel, os quadros de sua tia aliciavam para uma


leitura

Para os antigos, todas as imagens que o mundo dispõe


diante de nós já se acham encerradas em nossa memória
desde o nascimento:
Platão: o conhecimento não passa de recordação

Salomão: toda novidade não passa de esquecimento

Aristóteles: todo processo de pensamento requer


imagens (imaginação) - exceto para o cego

Tentamos compreender nossa existência por um


conjunto de imagens, realçadas ou moderadas pelos
outros sentidos, cujos significados variam
constantemente, traduzindo-se em palavras ou sendo
traduzidas delas. (Obs.: palavras como imagens)
"As imagens que formam o nosso mundo são símbolos,
sinais, mensagens e alegorias. Ou talvez sejam apenas
presenças vazias que completamos com nosso desejo,
experiência, questionamento é remorso"

Qualquer imagem admite tradução em linguagem


compreensível, revelando sua Narrativa?

Exemplos de possibilidades de leitura, limitadas pelas


nossas aptidões

Acaso > palavras ... Palavras > imagens: mundo paralelo


mediante o qual podemos reconhecer a experiência que
chamamos de real
A imagem da origem a uma história, que, por sua vez, dá
origem a uma imagem. "O consolo do discurso [e de criar
imagens] é que ele me traduz para o universal."
Kierkegaard

As narrativas existem no tempo, as imagens, no espaço

Idade Média: um único painel pintado poderia


representar uma sequência narrativa (Instante capital)

Renascimento: perspectiva, os quadros se congelam em


um instante único do ponto de vista do observador
(Instante movimento, ou instante qualquer) - narrativa
transmitida por meio de simbolismo, poses, alusões...
Anunciação, Botticelli

Contad le Saliq,
da Crônica de Bruges
As imagens se apresentam à nossa consciência
instantaneamente, limitadas e em superfície específica

Com o correr do tempo, podemos ver mais coisas numa


imagem, sondar mais fundo (tempo de magia, cíclico) e
também atribuir informações externas que apoiam ou
questionam a primeira leitura

Diferente de uma imagem, que existe no espaço, o texto


repousa na estável corrente de palavras que o encerra, no
tempo que concedemos à sua leitura do início ao fim (tempo
histórico, processual)

Na leitura de imagens, comentários, legendas, catálogos,


museus, livros de arte tentam nos guiar...
Mas, no fim, o que vemos não é nem a imagem em seu
estado fixo, nem uma obra de arte aprisionada em
coordenadas estabelecidas

Vemos uma imagem traduzida nos termos da nossa


própria experiência

"Só podemos ver as coisas par as quais já possuímos


imagens identificáveis, assim como só podemos ler em
uma língua cuja sintaxe, gramática e vocabulário já
conhecemos."

Lendo imagens: atribuímos caráter de narrativa,


ampliamos a moldura para um antes e um depois.
Canto da metamorfose: diálogo que uma pintura ou
escultura trava com outras pinturas e esculturas, de outras
culturas e de outros tempos (Malraux)

Museu imaginário: patrimônio de imagens reproduzidas,


que está a nossa disposição em páginas e telas (Malraux)

Nossas respostas ao tentar desentranhar a narrativa que


uma imagem encerra são determinadas não só pela
iconografia mundial mas também por um amplo espectro de
circunstâncias, sociais ou privadas, fortuitas ou obrigatórias

Nenhuma narrativa suscitada por uma imagem é definitiva


ou exclusiva
A imagem de uma obra de arte existe em algum local
entre percepções

"Quando tentamos ler uma pintura, ela pode nos


parecer perdida num abismo de incompreensão ou, se
preferirmos, num vasto abismo que não é terra de
ninguém, feito de interpretações múltiplas"

Leituras críticas: não copiam, substituem ou


assimilam as imagens

"Não explicamos as imagens, explicamos comentários


a respeito de imagens." Baxandall
Toda obra de arte é acompanhada por sua apreciação
crítica, a qual, por sua vez, dá origem a outras
apreciações críticas; algumas delas transformadas em
obras de arte por seus próprios méritos

As obras de arte se expandem mediante incontáveis


camadas de leituras, e o leitor remove essas camadas
para ter acesso à obra nos seus próprios termos

"Não sei se é possível algo como um sistema coerente


para ler as imagens, similar àquele que criamos para
ler a escrita."
Na escrita, o significado dos signos deve ser
estabelecido antes que eles possam ser fixados a um
suporte

No caso das imagens, o código que nos habilita a lê-


las, impregnado por nossas experiências anteriores, é
criado após a imagem se constituir...

...de modo semelhante a como criamos significados


para o mundo a nossa volta.

"A arte acontece." Whistler 🎨


JOAN MITCHELL
A imagem como ausência
Dois pianos, 1980. 3 x 3,5m. Contra um fundo branco,
visível apenas em trechos isolados, uma tempestade de
pinceladas verticais recobre a tela inteira com tonalidades
vivas de amarelo e lilás

Sob a influência do título da obra, Manguel relatou


reconhecer vagas formas de piano, mas admitiu ser um
reconhecimento pouco convincente

Relato do escritor Severo Sarduy sobre a chegada de um


projecionista a um remoto vilarejo cubano

Será a pintura de Mitchell algo mais que pinceladas? Existe


contexto ou linguagem para atingir a um significado?
1948: Jackson Pollock expõe sua primeira "pintura
respingada"

Numa época de fluxo de imagens pré-digeridas (cultura


iconográfica da tv), Pollock produz uma imagem que
recusa toda tentativa de narração e qualquer controle

"Houve um crítico que escreveu que meus quadros não


tinham começo nem fim. Com isso, ele não queria fazer
um elogio, mas foi um elogio. Foi um belo elogio." Pollock

Geração de Pollock: caos social e moral > Depressão nos


Estados Unidos, Segunda Guerra Mundial na Europa
Muitos responderam a isso com a pintura social. Isso
parecia ingênuo e hipócrita para Pollock e colegas

Eles se voltaram para a França e para os novos


movimentos artísticos, mas a ocupação nazista de 1940
tornou a comunicação quase impossível

Porém, artistas de vanguarda tiveram de se exilar da Paris


ocupada e dirigiram-se para Nova York: Marc Chagall,
Roberto Matta, Salvador Dalí, etc.

O surrealismo não gerou tanto furor nos americanos, mas


a pintura automática de Matta, ramificação da escrita
automática de André Breton e Philippe Soupault, sim
Escrita automática: inspirada nos médiuns espíritas e no
método da "livre associação" de Freud, consistia em ingressar
num "estado mental receptivo a fim de escrever sobre o pensar"

Matta adotou a técnica para pintar e deixava a tinta cair sem


direção sobre a tela, evitando controle consciente sobre o
traçado

Outras técnicas: fumage, frottage, decalcomania, papel picado

Solução para o dilema de Pollock: "de que modo responder


emocionalmente ao mundo, e não copiá-lo, nem comunicar
alguma coisa sobre ele, mas simplesmente compartilhar o seu
impulso criativo, trazendo o artista e o espectador pra dentro
da pintura"
O que Pollock criou foi um sistema que ele recusava
imbuir de mensagem ou sentido > tornou-se conhecido
como expressionismo abstrato

Tentativa de não comunicar: tão complexa e antiga quanto


a própria tentativa de comunicar > admissão formalizada
dessa tentativa é um fenômeno moderno

O silêncio no século XX > e as raízes da vontade de


silenciar imagens vinda do século VIII

Jackson Pollock corporificou a recusa de retratar o que


não pode ser retratado; para isso, ele tinha de trabalhar
dentro da ausência de linguagem
"Ansiedade de interpretar", Giovanna Franci.

O terrível paradoxo de Pollock: mesmo a ausência de


linguagem se torna linguagem aos olhos do espectador

Joan Mitchell é da geração que sucedeu Pollock e


partilhou credo artístico semelhante. Nasceu em 1925,
filha de uma poetisa surda

Durante uma viagem à França, conheceu Samuel Beckett,


que se tornou seu amigo para o resto da vida

Eles costumavam se encontrar em cafés e conversarem ou


ficarem em silêncio por horas
Mitchell partilhava o fascínio de Beckett pelo nada.
Ela tentava pintar sem ter consciência do ato

"Eu quero me manter disponível para mim mesma. No


momento em que tomo consciência de mim, para de
pintar." Mitchell

Do ponto de vista dela, nada acontece em suas


pinturas, nada é representado

O que se percebe quando olha-se para uma de suas


telas não é uma narrativa, mas algo à beira do
movimento
Embora Mitchell não parta de um código predeterminado,
as cores podem transmitir dignificação

"Uma vez que a cor mesma é misteriosa nas sensações que


proporciona, logicamente podemos desfruta-lá
misteriosamente [...] não como desenho, mas como uma
fonte de [...] sensações oriundas da própria natureza da cor,
da sua força interior, enigmática e misteriosa." Gauguin

Atribuímos às cores tanto uma realidade física como uma


realidade simbólica. Ex.: tratados de cores de vestes da
Idade Média, sistemas de valores cromáticos da Renascença,
etc. O século XVIII deslocou o espectro para a ciência
(códigos das cores determinados por características físicas)
Mesmo em nossa época, e após a influência do campo da
publicidade, algumas noções ainda estão presas a associações
ancestrais do espectro cromático

Ao contrário da superfície colorida, o espaço em branco parece


exigir preenchimento. Mitchell associou esse branco primordial,
presente no fundo do quadro Dois Pianos, com a surdez da mãe

"Penso no branco como silêncio. Muitas vezes tentei imaginar


que tipo de silêncio deve haver no interior de uma pessoa
surda." Mitchell

Todos os códigos diferentes e reações emocionais à cor parecem


sugerir que telas como as de Mitchell possam ser decifradas
Mitchell pintou Dois Pianos para superar sua infelicidade.
Manguel vê como tentador considerar a profusão de cores
acima das pinceladas mais escuras como uma tentativa de
descobrir uma saída da depressão

Associação com Trigais com corvos, de van Gogh, uma das


pinturas prediletas de Mitchell

O estado de ânimo de Mitchell e sua admiração pelo quadro de


van Gogh pertencem às circunstâncias de criação da pintura.

Mas até que ponto essas circunstâncias devem afetar nossa


leitura de Dois Pianos? As circunstâncias que cercam um ato
de criação são parte desse ato?
"A obra-prima desconhecida", Balzac: um pintor que
trabalha por dez anos num quadro a fim de apreender o que
não pode ser apreendido, o conluio entre impressão,
realidade física e reação emocional

O intraduzível não pode ser reproduzido, senão como


intraduzível. Os espectadores não conseguem compreender
o quadro na história de Balzac, porque não possuem
nenhum equivalente em nenhuma outra linguagem

O pintor da história percebeu o que não podia ser percebido


e, em vez de tentar reproduzir por meio de formas e cores
simbólicas, tentou por meio de sua própria presença
ofuscante
"Nada! Nada! E pensar que trabalhei dez anos para isso!" - "Isso" é
uma ausência

Nossa tentativa de ler algo que é ilegível apenas preenche a


ausência deliberada de um código decifrável com um sentido que
tanto inventamos quanto desentranhamos

No entanto, esse método de ler pinturas é o único pelo qual os


espectadores podem almejar penetrar a imagem, arriscando-se a
encontrar meramente um "fantasma da sombra de um reflexo do
ato criativo"

Tudo que a leitura faz é permitir uma débil reconstrução de nossas


impressões por meio de nossa própria experiência, enquanto
relatamos para nós mesmos narrativas que não transmitem a
Narrativa, mas ilusões, insinuações e suposições novas
"Quando nos confrontamos
com uma obra de arte, essa
talvez seja nossa única reação
possível: o equivalente a uma
prece de gratidão por nos
permitir, com nossos
sentidos limitados, um
número infinito de leituras,
que, para o nosso maior
proveito e alegria, trazem a
possibilidade de
esclarecimento"

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