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Os métodos diagnósticos e terapêuticos utilizados em medicina e saúde pública foram sempre prioritariamente

avaliados no que concerne aos seus benefícios. Porém, em épocas recentes, vem crescendo também as preocupações
no que concerne aos seus riscos. Essas questões tornam-se relevantes a partir da segunda metade do século XIX,
quando o nascimento da ciência e da indústria modernas iria marcar o início de um novo momento na história da
humanidade. Novas tecnologias passaram a ser concebidas, desenvolvidas e tornadas amplamente accessíveis em
uma quantidade surpreendente. Contudo, somente a partir da segunda metade do século XX essas novas tecnologias
aplicadas ao campo da saúde passaram a ser desenvolvidas em escala industrial. Também nesse momento tornou-se
possível demonstrar, de forma mais convincente, que parte destas tecnologias têm algum grau de efetividade quer
seja no diagnóstico, tratamento ou prevenção de problemas específicos de saúde. Novos métodos epidemiológicos
foram também desenvolvidos, permitindo a avaliação mais adequada das tecnologias e, mais do que isto, a
observação dos seus efeitos positivos ou negativos sobre a saúde humana, mesmo quando em baixas exposições. O
crescimento das evidências sobre os efeitos de cada uma delas, não por acaso, faz também crescer as preocupações
da sociedade com os seus efeitos adversos. Neste contexto é que os Estados nacionais foram instados a organizar
poderosas agências devotadas a tentar conter ou reduzir o impacto destes efeitos indesejáveis e não esperados, os
quais, para surpresa geral, foram mais freqüentes do que inicialmente pensados.

Evidentemente, na primeira fase da descoberta de qualquer nova tecnologia em saúde, os benefícios são sempre
mais alardeados do que os malefícios. Isto evidente, construiu-se o mito da moderna profissão médica e da difusão
dos mitos da onipotência desses novos avanços científicos e tecnológicos sobre a saúde humana. A história dos
raios-x, um dos mais poderosos métodos de diagnóstico até então desenvolvidos, é um bom exemplo do tênue
balanço existente entre os efeitos positivos e negativos das inovações tecnológicas resultantes da nova era. Constitui-
se em um dos métodos diagnósticos mais antigos e que em dias atuais ainda continua sendo de extrema utilidade.
Porém, a forma como evoluiu o entendimento do balanço entre seus benefícios e os seus malefícios é paradigmática
e têm trazido experiências para pensar outras questões similares no campo da saúde humana.

A observação original do potencial dos raios-x como método diagnóstico foi feito por Roentgen, em 1895. Em
princípio usado para visualizar alterações em tecidos duros, seus usos se expandiram para uma gama mais ampla de
possibilidades de doenças envolvendo outros tipos de tecidos, além do tecido ósseo. A verificação de que as imagens
geradas pelos pulmões de pacientes suspeitos de tuberculose tinham forte correlação com os achados clínicos, fez
com que se tornasse um importante método no diagnóstico desta doença. A tuberculose, era um dos grandes flagelos
da humanidade entre o final do século XIX e início do século XX, com limitadas possibilidades preventivas e
terapêuticas.

A descoberta dos efeitos dos raios-x constituiu-se um dos mais importantes marcos de uma grande revolução
ocorrida no diagnóstico médico, além de também terem importantes aplicações fora do campo da saúde. No tocante
aos seus efeitos adversos, somente os efeitos mais agudos foram observados no início (em razão do excesso de
radiação que incidia sobre o tecido humano), mas foram rapidamente controlados pelo aperfeiçoamento dos aparatos
emissores dos raios-x. Os efeitos adversos não agudos teriam que esperar muitas décadas para serem observados,
descritos e comunicados. Mais de 50 anos depois da sua descoberta é que se começou a entender que os raios-x,
bem como outros tipos de radiações, associam-se a riscos aumentados de doenças mesmo quando em baixas
dosagens, destacando-se os cânceres em suas várias formas.

Nos primórdios da sua utilização, a leitura da imagem deixada pelo feixe de raios-x que transpassava o corpo humano
era feita diretamente no écran radioscópico. O desenvolvimento de uma fotografia deste écran, proposto por Manuel
de Abreu em meados da década de 1930, tornou-se um método prático e econômico para uso dos raios-x no
diagnóstico de doenças como a tuberculose, principalmente no diagnóstico massivo, como parte dos esforços para
seu controle.3 O nome abreugrafia foi proposto para honrar o seu nome, enquanto que internacionalmente, em
especial na literatura científica, ficou conhecido como "mass miniature radiography" (MMR). Deve-se dizer que
Abreu iniciou a concepção do seu método enquanto estagiava na França, mas o finalizaria após o seu retorno ao
Brasil.

Ao final da década de 1930, a tuberculose ocorria em altíssimas taxas de incidência em todo o mundo, e nesse
período esta técnica despontou como uma grande inovação para diagnóstico em massa da doença. A importância e
o impacto deste novo método têm, portanto, que ser entendidos em seu tempo e em seu contexto. A descoberta do
Mycobacterium tuberculosis como agente etiológico da tuberculose por Robert Koch ao final do século XIX, não
trouxe, de imediato, nenhuma vantagem real para a prevenção ou diagnóstico da doença. Muito pelo contrário,
desarticulou os esforços daqueles que vinculavam a doença às condições de vida das populações.1

Benefícios efetivos dos programas de pesquisa estabelecidos a partir da descoberta de Koch somente apareceriam
quatro ou seis décadas mais tarde, quando o BCG e a estreptomicina estrearam como métodos de prevenção e
tratamento da tuberculose, respectivamente. Nenhum deles sem seus problemas. O BCG, já na sua estréia (1926)
esteve envolvido na famosa ocorrência de Lubeck (Alemanha) - foi acidentalmente trocado por um inóculo de M.
tuberculosis virulento, causando a morte de 67 recém-nascidos. Apesar disto, pelas suas vantagens, consolidou-se
como um importante recurso na prevenção da tuberculose, sem deixar de acumular controvérsias sobre seus efeitos
nas formas pulmonares da doença, até dias atuais. A estreptomicina abriu uma nova era nas possibilidades de
tratamento da tuberculose. Porém, no início observou-se que, isoladamente, era de baixa eficácia e teve que ser
associada a outros antibióticos, o que aumentava as possibilidades de efeitos adversos sem impedir o surgimento de
formas resistentes do bacilo.4

A possibilidade de isolar o doente e assim impedir a transmissão do bacilo já era utilizada na prevenção da
tuberculose. A identificação de lesões que se apresentavam em fase pré-clínica pelos raios-x, consolidariam o status
de método para o diagnóstico precoce, o que até então não era proporcionado pelos outros métodos diagnósticos.
Na perspectiva científica, o desenvolvimento trazido por Abreu foi de extrema importância, ao abrir possibilidades
de que uma nova tecnologia, cheia de potenciais, pudesse ser usada em larga escala nos programas de controle da
tuberculose. Porém, somente nas décadas que se seguiram ao seu trabalho é que iriam ser acumuladas evidências de
que os raios-x não eram tão inócuos, como pareciam até então. Também, nas décadas que se seguiram, a tuberculose
apresentaria declínio acentuado na sua ocorrência, e como conseqüência, mudou sua posição em termos de
prioridade como problema de saúde. Possivelmente isso foi mais um reflexo das melhoria geral nas condições de
vida das populações do que uma resposta às tecnologias disponíveis.

Vários aspectos são importantes ao considerar um método diagnóstico. Um deles diz respeito à validação deste
método em diferentes situações de ocorrência da doença. No caso da abreugrafia é relevante, já que a tuberculose
estava em declínio em muitos locais em que a abreugrafia em massa era utilizada. Sabe-se que, embora a
sensibilidade e especificidade sejam independentes da freqüência do desfecho, o mesmo não ocorre com os seus
valores preditivos positivos e negativos. Relacionado a estas questões, tem havido controvérsias sobre a vantagem
do uso da radiografia em massa, mesmo em populações com altas incidências de tuberculose. Existem relatos de
experiências positivas e, por esta razão, mesmo em épocas recentes ela vem sendo indicada como uma estratégia
custo-efetiva para diagnóstico em massa em prisões, onde é conhecido que a tuberculose atinge incidências muito
altas,7 ou para triagem de populações de imigrantes de países pobres em países ricos.6 Apesar da incidência atual
de tuberculose ser baixa, o MMR continuava sendo usado no Japão. Apenas 13% dos casos são detectados pelo
MMR, um custo de aproximadamente US$30,000 por caso de tuberculose encontrado, evidenciando que o método,
naquele país, está longe de ser uma estratégia custo-efetiva no controle da tuberculose.9

O outro aspecto diz respeito aos processos normativos e regulatórios relacionados à utilização das tecnologias
relacionadas com a saúde.1 No Brasil, em 1943, a abreugrafia teve sua obrigatoriedade cristalizada na legislação
trabalhista, tornado-se parte dos exames admissionais e periódicos a que todos os trabalhadores deveriam ser
submetidos. Os impactos positivos (no controle da tuberculose) ou negativos (riscos da exposição radioativa) ou dos
custos desta legislação tão abrangente e que vigorou por várias décadas no País, nunca foram objeto de avaliação.
No Kuwait, estimou-se que o programa de MMR em curso geraria um excesso de 12 mortes por doenças malignas
em um período de 25 anos, número que segundo os autores não justificariam as vantagens obtidas com os casos
novos diagnosticados de tuberculose.8 Nesse sentido, o artigo dos Professores Febus Gikovate e Diogo Pupo
Nogueira5 publicado nesta Revista, em 1976, os colocou no front do debate sobre as vantagens e desvantagens do
uso da abreugrafia em massa no Brasil. Ao lado deles, estavam os que se posicionaram em contrário à sua
obrigatoriedade para grupos como trabalhadores ou escolares, clamavam por mudanças na anacrônica legislação.
Mesmo não trazendo dados empíricos, mas utilizando-se das evidências já existentes, o artigo adianta-se em mais
de uma década à débâcle final da obrigatoriedade da abreugrafia no País. É mais uma medida como muitas outras
que abundam as legislações sem nunca serem seriamente avaliadas no que diz respeito aos seus benefícios, riscos
ou custos. Pelas idéias expostas, estes autores aproximam-se dos ambientalistas modernos e das suas abordagens
precaucionárias, única forma de proteção da sanha avassaladora da associação, em geral nefasta, entre a ampliação
crescente da capacidade humana de desenvolver novas abordagens e alternativas para os problemas, e os mesquinhos
interesses de um capitalismo anacrônico e desumano. Esse capitalismo, ao transformar novos avanços científicos e
tecnológicos em objetos de lucro, está também desrespeitando o tênue balanço entre os seus benefícios e os seus
malefícios, em geral, na direção dos últimos.

A relação entre o desenvolvimento tecnológico e o bem-estar social não é mais vista de uma maneira eminentemente
direta e linear, em que os avanços tecnocientíficos são diretamente proporcionais ao ganho de qualidade de vida.
Após a Segunda Guerra Mundial, começam a ser analisados os impactos econômicos, sociais, ambientais, e os
limites éticos do desenvolvimento das tecnologias. As pessoas passaram também a ser mais vigilantes em relação a
atitudes que podem colaborar com a sustentabilidade do planeta para garantir não apenas a sobrevivência, mas boas
condições de vida para as gerações futuras.

Uma das primeiras premissas é que o processo tecnológico não é algo autônomo. A tecnologia é sempre construída
socialmente, e é composta por elementos não técnicos na sua consolidação como, por exemplo, os valores da
sustentabilidade. Mas, como alerta Marcel Bursztyn, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Sustentável da
Universidade de Brasília (UnB), o conceito de sustentabilidade é tão amplo e plástico, que acaba agradando a todos,
embora seja, como atributo do desenvolvimento, uma questão atual. "Em outros momentos da história moderna,
desde o século XVIII, a dinâmica econômica foi foco da atenção de estudiosos. Por cerca de um século, a atenção
era estritamente sobre a economia. Ao final do século XIX, entretanto, devido a uma série de desajustes sociais, o
desenvolvimento passou a considerar também a dimensão social". Segundo o economista, foi no final do século XX
que começamos a prestar atenção também aos aspectos ambientais.

Para Clóvis de Barros, professor de ética da Universidade de São Paulo (USP), a conciliação entre os problemas
econômicos, sociais e ambientais – os quais sugerem a necessidade de valores baseados na cooperação e na
solidariedade – com valores de um sistema que favorece o individualismo e o consumo, é praticamente impossível
porque são valores completamente antagônicos. "Qualquer um que tente dizer o contrário está, na verdade,
mascarando um discurso interessado e cínico, cujo objetivo primordial é a manutenção desse individualismo e
consumismo. Se o faz, só pode ser por um motivo: por que se beneficia desse sistema", afirma o jornalista.

Mesmo o consumo de produtos "verdes", na concepção de Barros, não pode significar cooperação com a
sustentabilidade. "Ser sustentável significa agir de maneira sustentável e isto, se levado às últimas consequências,
significa ser o próprio produtor de tudo o que consome, ou, sendo menos radical, reduzir drasticamente o consumo,
para consumir aquilo que se faz realmente necessário". De forma bem humorada, Barros completa seu raciocínio
dizendo que o consumidor "mimado" do século XXI não é capaz de resistir à imperativa tentação da compra, e o
mercado, por sua vez, cria uma válvula de escape para essa angústia: o produto sustentável. "Ora, ter 55 sandálias
diferentes, feitas de pneus para carro, com plástico de garrafa PET e tinta reaproveitada não é consumir de maneira
sustentável. Primeiro porque não elimina a produção desses materiais. Pelo contrário, incentiva. E por outro lado,
não compete com o consumo de bens poluentes e não sustentáveis. Garrafas PET continuam sendo vendidas",
acrescenta.

Mas além do controle consumista, ter uma produção alternativa que possa competir com o consumo de bens
poluentes seria um bom começo para garantir um planeta mais sustentável. Nos anos 1970, iniciaram-se os
investimentos em tecnologias limpas, em decorrência da crise energética e dos apelos de proteção ao ambiente. Essas
tecnologias são cada vez mais valorizadas como formas de minimizar a emissão de poluentes e desperdícios de
recursos não renováveis. Na área energética há a valorização da energia solar, eólica, dos biocombustíveis. No setor
automobilístico vemos a corrida de carros mais econômicos e menos poluentes como a possibilidade do motor "flex"
– tecnologia que permite abastecer com álcool, gasolina ou a mistura de ambos – e projetos de veículos híbridos
(combinação de duas ou mais fontes de energia) e elétricos. Na alimentação, presenciamos cada vez mais a tendência
dos supermercados oferecerem alimentos saudáveis e incentivar práticas ambientalmente adequadas – crescimento
da produção e consumo de alimentos orgânicos, redução do uso de sacolas plásticas, utilização do selo com dados
da pegada de emissão de carbono nos rótulos de alimentos, entre outras atividades.

A adaptação do desenvolvimento da C&T às questões ambientais está na ordem do dia no processo de inovação de
novos produtos e serviços numa perspectiva de produzir "bens sociais" e contribuir para diminuir o efeito estufa. De
acordo com Bursztyn, devemos ser prudentes nos avanços tecnológicos uma vez que o cenário geral para o novo
século inspira preocupação: os problemas ambientais atuais são de causa antropogênica, isto é, de intervenção
humana sobre o meio ambiente. No entanto, temos certos motivos para o otimismo, a começar pelo aumento do grau
de consciência. "Se o século XX foi um período de ditadura da produção (os produtores impondo seus produtos aos
consumidores, via propaganda), o século XXI parece prenunciar uma certa revanche dos consumidores, que passam
a exigir qualidade dos produtos. Vai ficar cada vez mais difícil impor produtos ecologicamente incorretos aos
consumidores. Isso já começa a se delinear no comércio internacional e mesmo nas decisões de consumidores mais
esclarecidos", afirma.

Contemplar também os aspectos éticos do desenvolvimento de tecnologias pode ser um tanto utópico devido ao
predomínio da ideologia de desempenho da nossa sociedade. "Apesar de a justificativa oficial ser, por exemplo, o
conforto e a facilidade, busca-se sempre, na realidade, um aumento da eficiência produtiva de cada um de nós", diz
Barros. Um exemplo é a possibilidade de termos hoje celulares que recebem e enviam e-mails, ação prevista apenas
para computadores de mesa. O intuito da nova tecnologia do celular é facilitar a resposta daquela mensagem urgente,
agilizar o vai e vem da comunicação etc. Mas, o que aconteceu quando essa tecnologia entrou em cena? Ela deixou
de ser uma facilitação, passou a fazer parte da rotina e resultou no aumento exponencial da carga de e-mails.

Percepção pública de C&T


Pesquisas realizadas com público a respeito da percepção sobre os benefícios e malefícios advindos da C&T têm
sido realizadas pelo mundo todo. No Brasil, a pesquisa mais recente foi feita em 2008 pelo Laboratório de Estudos
Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp e dá algumas pistas sobre o que as pessoas pensam sobre esse
assunto.
A pesquisa, realizada apenas no estado de São Paulo, revelou que entre os entrevistados, 63,4% se auto-
declararam Muito interessados e Interessados em C&T. Foi observada uma associação do interesse pelo nível de
escolaridade – 75,8% dos que se declaram Muito interessados têm ensino médio ou superior, enquanto 72,6%
dos Nada interessados possuem nível fundamental, apenas educação infantil ou nenhuma escolaridade. Colocar no
nível educacional o único problema da falta de interesse em C&T, todavia, é bastante redutor diante da complexidade
da questão. "Sabemos que no Brasil, escolaridade é sinônimo de posição social, sinônimo de riqueza. Claro que o
nível educacional é uma barreira enorme para quase tudo, mas o problema da má distribuição da renda é igualmente
importante. Afinal, não se sabe se a falta de interesse parte de uma ignorância estrutural ou se é apenas um processo
de negação, uma fuga do sofrimento que o desejo não realizável inevitavelmente traria", analisa Barros.
Em uma pesquisa anterior, de 2006, promovida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, verificou-se que 46% da
população brasileira acredita que a ciência e a tecnologia trazem mais benefícios que malefícios para a humanidade,
principalmente nas áreas da saúde (56%) e no fato de melhorar a qualidade de vida (38%). Dos 5% que responderam
que C&T trazem mais malefícios que benefícios, ou apenas malefícios, 54% dizem que esses estão relacionados aos
problemas para o meio ambiente. Além disso, 68% concordaram que é necessário os cientistas exporem
publicamente os riscos do desenvolvimento científico.
No caso do estado de São Paulo, ao serem questionados sobre riscos ou benefícios da C&T, vê-se que o crescimento
de informação científica não equivale ao crescimento dos que acreditam que C&T tragam Muitos
benefícios com pouco ou nenhum risco. Pelo contrário, cresce significativamente a porcentagem dos entrevistados
que acreditam que o desenvolvimento tecnocientífico traz consigo benefícios junto com riscos. Apesar de a ideia de
risco grave estar mais presente nas classes econômicas mais baixas e a ideia de risco moderado às classes mais altas,
este indicador talvez reflita o fato dos desastres ambientais terem maior incidência em regiões mais pobres
A pesquisa sobre percepção pública de C&T em São Paulo também revela a importância do cidadão comum
participar dando sua opinião sobre novos desenvolvimentos tecnológicos. Quando perguntados se os cidadãos devem
ser ouvidos e sua opinião considerada, 89,5% disseram que sim. Já na amostra nacional, 63% concordam totalmente
que devam ser ouvidos nas grandes decisões sobre os rumos de C&T e 26% concordam em parte.
Já a questão "Só o critério dos especialistas tem que ser ouvido" feita para os paulistas, teve como respostas: 56,4%
discordam da afirmação, ao passo que 73,4% dos que se auto-declararam Muito interessados por C&T admiram os
cientistas – assim como 60% da população brasileira acha os cientistas pessoas que fazem coisas úteis para a
humanidade.
O incentivo à participação dos cidadãos das tomadas de decisão sobre C&T é algo bem visto – 63% dos entrevistados
paulistas concordam totalmente que a população deve ser ouvida nas grandes decisões sobre o assunto –, entretanto,
isso não isenta a idoneidade e responsabilidade do cientista perante a invenção da sua técnica. Isso quer dizer que a
técnica não acaba na entrega do produto e sim no final do seu ciclo de vida. Para Bursztyn, um exemplo dessa lógica
está no fato de que ainda não foi possível estancar o recente vazamento de óleo no Golfo do México. Houve a
aplicação de tecnologia de ponta para extrair hidrocarboneto de águas profundas, só que não se pensou na
possibilidade de um acidente e o resultado foi que, um mês depois, ainda não se sabe como frear o vazamento. "A
lição que fica é: só vale a pena adotar um padrão tecnológico se sabemos suas implicações e temos como conter os
efeitos indesejados de algum tipo de acidente", diz Bursztyn, ressaltando que não devemos ser obscurantistas e barrar
qualquer avanço no conhecimento, o necessário é apenas se precaver.
Ainda como resultados da pesquisa de percepção pública no estado de São Paulo, verificou-se um alto grau de
preocupação com o bem comum, a partir das respostas para a pergunta: "Se tiver a mínima possibilidade de um risco
grave, não permitiria a aplicação da novidade científica e tecnológica", 76,2% responderam
que Concordam ou Concordam muito e também para a seguinte questão: "Aceitaria sempre que houvesse um
benefício para a comunidade"? E 75,6% afirmaram que aceitariam. Vale ressaltar que as classes C e D/E são as que
enxergam menos benefícios na ciência e tecnologia nos próximos anos, em contrapartida, aumentam-se as
expectativas de maiores benefícios nas classes mais abastadas. Provavelmente, o motivo das classes mais baixas não
apontarem os benefícios, seja em detrimento de não acreditarem no seu usufruto porque envolve um poder
econômico que não possuem.
Concluindo, é claro que quanto maior o nível de instrução e acesso à informação do indivíduo, maior a percepção
do papel da C&T, e maiores as preocupações com o futuro, manifestados por um pensamento estruturado sobre os
riscos que temos pela frente e a intenção de ser ouvido quanto a questões que afetarão seu futuro. "Mas é preciso
ponderar que nem todos estão suficientemente esclarecidos, a ponto de não dependerem de notícias e análises da
mídia, que nem sempre é esclarecedora. Um exemplo atual é a nanotecnologia, que parece ser a bola da vez a
interagir com vários campos do conhecimento e não se sabe ainda quais as suas implicações éticas, nem sequer as
potencialidades de uso", enfatiza Bursztyn. Assim, as pesquisas de percepção pública de C&T podem esclarecer
qual é a opinião da sociedade sobre o tema, orientar o papel da mídia no processo de produção do conhecimento e
verificar questões que precisam inicialmente de aval idôneo dos especialistas.

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