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O discurso também é justificado através da teoria econômica elementar: uma vez que a
existência de um setor tradicional e superpovoado de pequena produção mantém os
salários próximos ao nível de subsistência, não muito acima do rendimento per capita
deste setor, mesmo no setor capitalista, onde o produto por trabalhador é muito maior, o
excedente por unidade de produto no sector capitalista é igualmente muito maior. Caso o
excedente seja investido, para o que é necessário criar condições favoráveis à
acumulação de capital, então o setor capitalista experimentará um alto crescimento que
necessariamente afastará a força de trabalho do setor tradicional de pequena produção. E
quando essa migração ocorrer os salários irão se elevar no setor capitalista, pondo fim à
pobreza na economia. Assim, o que as economias do Terceiro Mundo necessitam para o
seu "desenvolvimento" é criar um clima favorável à acumulação de capital, para exacerbar
os "espíritos animais" dos capitalistas; isso assegurará o fim da pobreza.
argumento teórico. Este poderia estar correto, caso estivéssemos a falar de um único
nível tecnológico dado, que prevalecesse de forma constante no setor capitalista, de tal
forma que durante o processo de crescimento a produtividade do trabalho permanecesse
constante. (Modelos econômicos teóricos tais como o de Lewis, que descreve esta
transição entre setores, assumem explicitamente que a produtividade do trabalho no setor
capitalista é constante). Contudo, o capitalismo, em particular se não houver restrições,
introduz continuamente inovações tecnológicas, e desta forma mantém crescente a
produtividade do trabalho. Assim, para qualquer taxa de crescimento do produto do setor
capitalista, a capacidade de geração de emprego é progressivamente reduzida. Na
verdade, se a produção do setor capitalista cresce, digamos 8%, e a produtividade do
trabalho cresce 7%, o emprego somente pode crescer 1%; e se ocorre esse crescimento
ser menor que a taxa natural de crescimento da força de trabalho, o que acaba por
acontecer é que, ao invés de retirar mão-de-obra do setor da pequena produção, o setor
capitalista não será capaz de empregar nem mesmo o crescimento natural da sua própria
força de trabalho. Assim, o argumento teórico simples utilizado para justificar este discurso
não permanece válido a partir do momento em que percebemos o progresso tecnológico
no setor capitalista.
Retornaremos a este ponto mais tarde, mas antes examinemos o argumento histórico
sobre a experiência da Europa ocidental. É completamente errado sugerir que os
pequenos produtores deslocados pelo capitalismo da Europa Ocidental foram absorvidos
no interior do sistema como trabalhadores. Um vasto contingente deles foi deslocado para
as colônias, semicolônias e dependências, devido à livre importação de produtos das
metrópoles, e permaneceu nesses territórios, reduzido ali a uma massa pauperizada. De
facto, a "moderna pobreza em massa", que consiste não somente em baixa produtividade
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06/11/2018 O discurso do capitalismo sobre o "desenvolvimento"
do trabalho, mas acima de tudo na insegurança econômica , tem suas origens neste
processo de deslocamento, que jamais foi seguido de qualquer absorção na força de
trabalho capitalista, uma vez que este setor, naquelas economias, permaneceu diminuto
por longo tempo.
No entanto, mesmo quando falamos dos deslocados dentro das economias das
metrópoles, vemos que eles também não foram absorvidos por empregos no capitalismo
metropolitano. Eles emigraram, em grande número, para as regiões de colonização com
clima temperado, como o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália, a Nova Zelândia e a
África do Sul, onde expulsaram os habitantes locais de suas terras e estabeleceram-se
eles mesmos como agricultores. Foi essa emigração, estimada em 50 milhões de pessoas
durante o "longo século XIX" (que terminou na I Guerra Mundial), que manteve sob
controle a reserva de trabalhadores da Europa, que possibilitou o surgimento de
sindicatos bem-sucedidos e a elevação dos salários à medida que a produtividade do
trabalho subia, reduzindo assim a pobreza. O que esteve na base da experiência europeia
não foi nenhuma tendência inerente ao capitalismo para a absorção das pessoas por ele
deslocadas no contingente de mão-de-obra, e sim a emigração em larga escala, uma
possibilidade que não mais existe para as populações do Terceiro Mundo (algo que o
drama dos refugiados que hoje chegam à Europa demonstra amplamente).
Isto não significa que não devamos construir fábricas ou estradas e sim que elas criam um
problema dentro da lógica da trajetória do desenvolvimento capitalista. A compreensão
intuitiva deste facto é o que está por trás da resistência dos camponeses e de outros
segmentos da população afetados pela desapropriação de suas terras para os diversos
projetos de "desenvolvimento".
Disto se segue que o "desenvolvimento" capitalista, não importa quão rápido seja, é
incapaz de superar a pobreza e o desemprego em sociedades como a nossa. A
necessidade de uma trajetória alternativa ao capitalismo para o desenvolvimento, que
defenda e promova a pequena produção, elevando seu nível de organização através de
cooperativas e coletivos de trabalho formados voluntariamente (para o que uma
redistribuição igualitária de terras é uma condição necessária), que dependa do setor
público e deste setor cooperativo para levar adiante os investimentos e introduzir o
progresso tecnológico (cujo resultado não mais seria a criação de desemprego) decorre
desta razão.
Uma tal alternativa, entretanto, requer uma mudança no caráter de classe do Estado. Ela
exige um Estado baseado na aliança entre os trabalhadores, incluindo os agrícolas, e os
camponeses, e outros segmentos de pequenos produtores. Contudo, mesmo no período
transicional antes que tal Estado seja alcançado será indispensável às forças
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06/11/2018 O discurso do capitalismo sobre o "desenvolvimento"
29/Julho/2018
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