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ABURRICE
DODEMONIO
(23.09.87)
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ao semelhante-- adversário, inimigo, opositor ou disddente --
é o mínimo que se exige de quem se disponha a combate-lo.
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Se tortuio um inimigo. sejaem nome do que for, perco a
razãoque me faz guerreá-lo,uma vez que qualquer razão,para
leãoda AP, à qual se achava ligado. (Vede Jacob Gorender,
poder subsistir, tem que se erigir sobre um fundamento ético (,omó#/e nas trevas.) '
qt:e a precede -- e a sustenta.
Já mil.itares brasileiros, no comando da repressãopolítica.
A repressão militar brasileira, em suas ações contra a torturaram institucionalmente. Fizeram da tortura recurso de
luta armada, torturou e matou militantes, além de haver se-
guerra,a ser usadocomorotina. Isto se deu desde1964.
qüestrado e feito desaparecer pessoas. Tais comportamentos
Depois do Al:5, a tortura se estendeu -- e se agravou. Falar
-- é preciso repetir ad nauseam -- .não são fitos de guerra,
mas crimes contra a humanidade. A violência da tortura não dessesfatos, hoje em dia, não é posiçãoantimilitar, nem re-
vanchismo. A lembrança deles é resistência cívica oposta às
é a violênciada guerra. Esta,emboradetestável,não chega
enormes pressões no sentido de que sejam calados -- em nome
a destruir o chão ético que torna possívela vida -- e a morte
comunitária. Tortura é barbárie, pura e simples. Não há da impunidade. Não se pode, dentro da ética pessoale comu-
nitária, anistiar a tortura.'Pode-se olvidar -- e apagar -- aquilo
nadaque Ihe dê razão.O estalinismo,na URSS,torturou e
matou sob tortura. Para que a revolução bolchevique se la- que é fruto de erro ou exüavio, mesmograves. Mas para que
vasse dessa culpa, foi preciso que o 20.' Congresso do PAUS possamos anistiar um erro, é preciso não esquecermosaquilo
que nos confere grandeza para esquecê-lo, Na tortura o tor-
proclamaste tal iniqüidade, com todas as letras.
turados desonra e destrói a condição humana e, portanto, foge
No caso brasileiro, os jovens que se levantaram contra da possibilidadesmlal de anistia. SÓse esquewum eno que
o golpe de 64 são deliberadamentetalhados de ferroríslas, pela pertençaao território do humano. Um erro que destrói o fun.
repressão, na tentativa de legitimar a tortura. Em verdade,.os damento da condição humana não pode -- não deve -- ser
guerrilheiros, ao empunharemarmas, o fizeram contra o golpe anistiado,a não ser pela misericórdiade Deus.
-- e contra o governo militar. Isto não é ação terrorista --
é anão de guerra. Num certo sentido, e guardadosos valores o mrpo do torturado contra a pessoa que Q torturado é. Essa
e proporções, a luta armada buscou fazer o mesmo que os cisão é maligna e demoníaca. Ao lutarmos, na guerra. con-
militares. Estes pegaram de ambas contra um governo cons-
tra um inimigo, c atamos -- apesar do medo possível ' com
titucional e eleito e o derrubaram. Nem por isto foram acusa-
dos de terrorismo ou de adeptosda perversãopolítica. a nossaintegridad psícofísíca.Um combatentetem medo de
morrer, mas enfrenta esw medo com as energias do próprio
Eis um ponto crucial do problema. Não há nenhuma corpo-.nas quais pode apoiar-se. A tortura nos rouba o corpo
acusação de tortura feita aos seguidores da luta armada, em para joga-lo, como um petardo, no centro mais íntimo ;la
nossopaís. Os guerrilheiros, na sua luta politicamente infausta, pessoa que somos. Ela é um estupro feito à pessoa tornada
jamais foram terroristas -- ou torturadores. Como não sãa inerme, por .suprema covardia dos torturadores. Na guerra.
terroríst4s, por exemplo, as operações da aviação, em caso de posso fugir do campo de luta, posso desertar: sou. aí. um co-
guerra. A FAB, na ltália, participou de açõesque implicavam varde que usa os próprios músculos para fugir da batalha.
o bombardeiade povoados
-- ou cidades.Esta é uma temí- No caso da tortura. não posso fugir do torturãdor. S6 tenho
vel contingência da guerra, mas não crime de lesa-humanidade. alívio à medida que, pela confissão que me é arrancada.capi-
Os guerrilheiros, em ações de guerra. assaltaram bancos, se- tulo e me destruo- O desertoré uma pessoacom medo,que
qüestraram embaixadores, Hataram soldados. Tais alas, em foge. O torturado que confessaé uma pessoadestruída
bola cruéis e impiedosos,não configuram o terrorismo. O aten-
tado a bomba contra o presidente Costa e Silvo, em Recite Se consigoo que quer que seja, ao preço da destruição
da pessoa, corrompe inexoravelmente aquilo que obtive . Por
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isso é que a tortura é inanistiável. Ela é uma situação-limite
na qual se defrontamo homem.na sua sacralidade.e as for-
ças demoníacas que o querem aniquilar. Esquecer a tortura
é legitima-la, como fato social, equiparandcHaa um erro aílzda
dentro do campo ético. Em nome do processo civilizat6rio.
criado pela espécie, na luta e no luto, não posso legitimar
CIRCO, MITO, NOITE
aquilo que o apodrece,em sua raiz. Nós, humanos,não pch
demos -- não devemos -- esquecer a barbárie.
A anistia à tortura, no Brasil, não exprimiu qualquer Para Dom Tfnióíeo ,amoroso ATKasfdcio