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DETECTANDO MENTIRAS EM ENTREVISTAS FORENSES Ray Bull Leandro da Fonte Feix Lilian Milnitsky Stein Adultos e adolescentes, suspeitos de terem cometido algum delito, podem ser entre- vistados em contextos legais por uma variedade de razées e por diferentes profissionais, incluindo assistentes sociais, advogados, juizes, policiais, médicos, psicdlogos ¢ outros. Durante a entrevista é imperativo obter informacées completas, acuradas e inaltevadas dos fatos envolvido no delito, com vias a aumentar a eficiéncia da investigacao e do litigio. Tradicionalmente, em diversos paises tem sido funcao dos policiais entrevistarem suspeitos. Porém, por muitas décadas nenhuma publicagao foi feita no sentido de au- xiliar os profissionais a realizar essa tarefa de forma mais bfetiva. Cientistas sociais e do comportamento, incluindo psicélogos, por muito tempo ignoraram esse importante t6pico sobre técnicas de entrevista com suspeitos, possivelmente pela dificuldade dos pesquisadores em terem acesso aos registros de entrevistas realizadas por policiais com suspeitos. No final da década de 80, foi langado nos Estados Unidos um livro intitulado “Inter- rogatério criminal e confissdes” (Criminal interrogation and confessions), por Inbau, Reid, e Buckley (1986), baseado em verses anteriores do mesmo livro de Inbaue Reid, que recomendava uma série de procedimentos que poderiam ser usados para detectar mentirosos e persuadir pessoas, supostamente culpadas, em confessar. Esses procedi- mentos norte-americanos foram logo adotados, além dos EUA, por um considerdvel numero de organizagées policiais ao redor do mundo. Todavia, trabalhos cientificos subseqiientes desenvolvidos por psicélogos (GUDJONSSON, 1992; 2003; MEMON; VRIJ; BULL, 2003) que buscaram testar a efic4cia do método Inbau para detectar mentiras em entrevistas com suspeitos, mostraram que, dentre outros resultados negativos, esses procedimentos poderiam levar a falsas confissdes. Segundo Griesel e Yuille (2007), o depoimento de um suspeito, ou de uma teste- munha, pode ser classificado em trés categorias: (1) informagées corretas baseadas na meméria do individuo (podendo conter alguns erros), (2) enganoso / mentiroso (relato de informagées inverfdicas com a intengao de induzir o entrevistador ao erro), ou (3) uma narrativa equivocada, mas subjetivamente verdadeira (relato baseado em Jembrangas de informagées que nao correspondem exatamente com que {oi vivenciado, mas que para o entrevistado sao lembrangas,sem intengao de induzir o entrevistador ao erro). Este tiltimo tipo é réferido na literatura como falsas memérias, que podem ser criadas Ray Bull Leandro da Fonte Feix * Lili in Milnit ky Stein arante uma entrevista forense ou clinica e que nao seré contemplado neste capitulo ‘ara uma revisao sobre falsas memérias, ver STEIN, no prelo). Grande parte das técnicas de deteccao de mentira baseia-se no pressuposto que intengao de simular cria conseqiiéncias emocionais e cognitivas que podem ser stectaveis através do comportamento do individuo que esta mentinco. A mentira definida como uma tentativa deliberada de enganar os outros (DEPAULO et al., 303). Esta definicdo difere a mentira das falsas memérias (NEUFELD et al., ni :elo), tendo em vista os aspectos interpessoais e intencionais implicados no ato de mular! (ZUCKERMAN; DRIVER, 1985). Nos tiltimos anos, muitos livros tém sido publicados, na area da Psicologia Forense, 1m 0 objetivo de explicar e diagnosticar como as pessoas mentem ou simulam. Alguns asses livros tém o propésito de revelar sinais comportamentais da mentira e propor -cnicas de interrogatério que permitiriam detectar quando 0, entrevistado esté men- ndo (BOETIG, 2005; INBAU; REID; BUCKLEY, 1986). Essas publicagdes, em sua aioria, esto baseadas nas crengas de policiais e outros profissionais, com experiéncia a investigagdo de delitos, sobre quais comportamentos seriam indicadores de que a 2ssoa est mentindo, e nao em resultados de pesquisas cientificas. Outro problema que deve ser considerado é que essas publicacées, sem sdlido emba- mento cientifico, foram adotadas por um ntimero representativo de forgas policiais »redor do mundo. Uma possivel explicacdo para a aceitacdo dessas publicagoes 6 que uitos dos procedimentos ali preconizados assentam-se numa crenga, amplamente mmpartilhada pelos policiais, de que o principal objetivo da entrevista com um suspeito obter uma confissio. Neste sentido, estudos como ¢ de Stephenson e Moston (1994), sontam que 80% dos policiais acreditam que o principal objetivo em suas entrevistas om suspeitos é obter uma confissdo. Além disso, neste estudo, antes do comego das. atrevistas com cada suspeito, quando os policiais foram questionados se acreditavam ae 0 suspeito era culpado, a maioria deles (cerca de 70%), disse sim. Resultados de pesquisas, desenvolvidas por psicélogos no campo da Psicologia orense nos ultimos dez anos, tém mostrado que muito dos sinais comportamentais feridos nessas publicagdes no estao relacionados A mentira. Isto é, embora em iversos paises os profissionais da Area (policiais e psicélogos) e leigos partilhem das esmas crencas sobre esses supostos indicadores de mentira, estas crencas estdo, em sande parte, equivocadas (MOSTON; STEPHENSON; WILLIAMSON, 1992; VRIJ, 308). Ademais, varios dos procedimentos recomendados por essas publicagées podem var a pessoas inocentes confessarem por delitos que néo cometeram (GUDJONSSON, 392; 2003; MEMON; VRIJ; BULL, 2003). ‘Uma recente revisio de estudos sobre os sinais comportamentais da mentira revelou ue as pessoas pensam que os mentirosos evitam estabelecer 0 contato visual (como ihar fixamente no olho de outra pessoa), movem mais as mdos e os pés, mudam mais‘a 1a posigéo corporal, gesticulam mais e tocam mais 0 seu préprio corpo (BULL, 2004). razo pela qual as pessoas pensam isto, provavelmente, tem a ver com 0 fato de que tis comportamentos esto associados A ansiedade. Assim, se os mentirosos estdo ner- sos (ansiosos), entdo eles devem se comportar desta forma. Muitas das crencas sobre os sinais de mentir partem da premissa de que, quando as essoas mentem, elas experimentam emogées e, em’funcdo disso, necessitam fazer um 2D termo simulagéo 6 adotado no presente capitulo comg sinénimo de mentira. Detectando ment sem entrevistas forenses 7 grande esforco mental para pensar sobre as mentiras (DEPAULO et al., 2003; GRANHAG; STROMWALL, 2004; VRIJ, 2008). Alids, varias das técnicas de interrogatério associadas ao uso do poligrafo (equipamento que, através de medidas fisiolégicas como alteragées na pressdo arterial e ritmo respiratério, suor nas maos, 6 conhecido popularmente como “detector de mentiras”) estdo assentadas nestes mesmos pressupostos, e tem sido amplamente utilizadas ef varios paises, incluindo o Brasil. Todavia, o problema com estes pressupostos é que as pessoas que dizem a verdade também podem se comportar de forma semelhante. Por exemplo, suspeitos inocentes podem vivenciar emogées, com elevada intensidade, e ter que pensar bastante enquanto estao sendo interrogados pela policia. Isso tende a ocorrer especialmente quando os entrevistadores so mais incisivos, coercivos ou até mesmo agressivos. ‘Ao longo das tiltimas décadas, pesquisas na area de Psicologia tém evidenciado que, quando as pessoas sentem fortes emogées, freqiientemente torna-se mais dificil para elas se lembrarem dos eventos. Assim, mesmo experiéncias recentes podem nao estar acessiveis 4 meméria, o que pode levar as pessoas a ficarem ansiosas ao tentar recuperar as informagées de sua meméria, em especial, em situagdes como as de um interrogatério. Dado a falta de respaldo cientifico parao uso de técnicas baseadas nestes pressupostos, j4 h4 varios anos alguns paises europeus, incluindo os do Reino Unido, néo consideram, por exemplo, o uso do poligrafo adequado para deteccao de mentiras, tanto em entrevistas forenses com suspeitos, quanto (a exemplo dos EUA) no processo de selegdo de pessoal para empresas (BPS, 2004). Por outro lado, alguns criminosos podem nao se sentirem mobilizados emocional- mente pelos seus crimes, nem tlurante as entrevistas forenses (as quais eles podem ter experimentado diversas vezes). Além disso, cles podem, em alguns_casos, estar preparados para o interrogatério, praticando a sua versao inventada dos fatds, de modo que as lembrangas venham a mente com muita facilidade. Deste modo, especialmente criminosos experientes conseguiriam desenvolver certa naturalidade ao simular du- rante uma entrevista. a Outro ponto diz respeito ao conhecimento do mentiroso. Parece haver um forte con- senso entre as pessoas sobre os sinais que elas acreditam indicar uma mentira, entéo os mentirosos também compartilharao deste conhecimento. Portanto, eles evitaréo apresentar estes sinais quando estiverem mentindo. Essa é uma provavel explicacdo do surpreendente, porém consistente, achado de diversas pesquisas de que as pessoas sdo geralmente ineficazes em detectar mentiras (BULL, 1989). O que de fato tem sido revelado pelas investigacées cientificas acerca de como as pes- soas se comportam quando esto mentindo? Revisdes recentes de dezenas de estudos sobre este tema, realizados em diversos paises, concluiram que ndo ha sinais compor- tamentais confidveis para detectar a mentira (BULL, 2004). Foram examinados mais de 150 possiveis indicadores de que a pessoa esté mentindo, Embora alguns estudos tenham encontrado um sinal que discriminasse, em certo grau, entre dizer a verdade ea mentira, outros estudos ndo encontraram esses mesmos resultados. Uma limitacdo que pode ser apontada nesta literatura, 6 que a maioria dessas pesquisas ndo envolveu situagées reais, ou seja, situagdes em que as conseqiiéncias por serem detectadas suas mentiras fossem mais sérias. Porém, mesmo aqueles estudos que examinaram casos reaii ‘obtiveram résultados significativos no que concerne a indicadores compor- tametitais do mentir. ~* ®

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