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Renata Barbosa Dionysio
Fatima Ventura Pereira Meirelles
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Sala de Leitura
Conservação de alimentos
Conservação de alimentos
Por que tanto trabalho para conservar os alimentos? De onde vem esta história de conservação e como
ela era feita no início da civilização?
No período Paleolítico, o homem caçava e coletava alimentos para satisfazer sua fome imediata. A
disponibilidade de alimentos estava intimamente relacionada com a maneira na qual ele vivia. Era
nômade, buscava regiões onde a caça e a coleta eram mais abundantes.
Por volta de 50.000 a.C., quando os utensílios e armas disponíveis eram primitivos, a caça era difícil e
todo alimento era consumido cru. O consumo de alimentos se dava de forma bem rudimentar, sendo os
frutos, as raízes, os peixes e os insetos os alimentos mais consumidos.
Mesmo assim, havia necessidade de armazenar alimentos, pois em alguns dias, a caça não era tão boa e
em alguns períodos, os alimentos não eram abundantes.
A princípio, o homem primitivo procurava apenas recolher alimentos e utilizava a parte mais fria e
escura da caverna para estocá-los.
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Ovos 10 a 30 dias
Aves 3 a 6 meses
Legumes 6 meses
Quadro 1
Outro recurso utilizado pelo homem primitivo era secar os alimentos, expondo-os ao sol. Na secagem, o
homem percebeu que alguns frutos, mesmo depois de secos, ainda eram comestíveis e a carne durava
mais tempo sem estragar.
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Tipos de Secagem:
2) Por liofilização: consiste em um congelamento rápido seguido de uma sublimação da água presente
no alimento, a vácuo. O processo é bastante eficiente porque mantém as características nutricionais e
sensoriais do alimento. Um ponto negativo é o custo mais alto.
3) Por osmose: consiste na imersão do alimento, geralmente frutas e verduras, em solução abaixo do
ponto de saturação do soluto. O soluto retira a água do alimento, desidratando-o.
Mesmo com estas técnicas, muitos alimentos que eram estocados, estragavam.
A descoberta do fogo foi o primeiro passo para uma conservação mais eficiente. O homem pendurava
sua caça próximo ao fogo, talvez para protegê-la de outros animais. O provável objetivo dos assados era
facilitar a mastigação, mas foi observado que após esse tratamento, a caça demorava mais a se
deteriorar. Surgiu, então, um novo modo de conservação: a defumação.
A defumação consiste em expor a carne ou derivados de carne à fumaça produzida pela combustão
incompleta da madeira. Com isso, acontece a secagem, ou seja, a perda de água; a carne sofre uma ação
antimicrobiana de alguns compostos presentes na fumaça, como ácido metílico, aldeídos e cetonas que
apresentam função antisséptica e também fenóis e cresóis que, além da função antisséptica, são
aromatizantes e desenvolvem a coloração caramelo característica de defumados.
Os antigos assados, ao calor das brasas, deram origem ao que hoje conhecemos como churrasco.
No Brasil do século XVI uma técnica comum era acender o fogo sobre a panela enterrada com pedras
(forno subterrâneo). As pedras eram retiradas e o assado estava pronto.
Sabe-se, hoje, que este tipo de aquecimento eleva a temperatura ligeiramente acima da máxima que
permite a multiplicação dos micro- organismos. Consequentemente, eles morrem ou ficam inativos.
Ainda hoje, o peixe é assado na churrasqueira, envolto por folhas de bananeira.
No Brasil, a utilização do aquecimento era adotada pelos comboieiros que jogavam uma pedra
aquecida a uma mistura de pó de café e água fria. Este café era conhecido como café de pedra.
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Ao observar a natureza, o homem percebeu que de alguns frutos caídos na terra nasciam árvores após
algum tempo. Então, no período conhecido como Neolítico, o homem fixou-se em uma região onde
plantava, criava animais e passou a se relacionar com indivíduos da mesma espécie. A partir daí, foi
chamado de produtor.
É então que surge o excesso de produção e inicia-se o escambo, ou seja, a troca de produtos por parte
de alguns grupos. Surgiu a necessidade de conservar o excedente de produção. Os alimentos, para
serem trocados, precisavam estar com uma boa aparência e condições de consumo.
A imersão na gordura é uma técnica muito utilizada em fazendas ou em locais onde há carência de
refrigeração e do congelamento. Esse método consiste em uma barreira física. O alimento fica isolado
do ar e da água impedindo, assim, a ação de micro-organismos. Além disso, a cobertura de frutas, por
exemplo, com estes materiais graxos altera seu processo respiratório, retardando o amadurecimento e
permitindo a estocagem por tempos maiores.
Na época das grandes navegações, algumas destas técnicas foram fundamentais para a sobrevivência e
o sucesso das expedições. Tripulações inteiras morriam por falta de alimentos ou pelo péssimo estado
de conservação destes. O aprimoramento e a descoberta de novas técnicas foram fundamentais para
que expedições alcançassem seus objetivos.
Nessa mesma época, muitos alimentos que eram típicos de determinadas regiões foram disseminados
pelo mundo. Essa troca resultou no aparecimento de regiões onde determinados alimentos eram
produzidos de maneira mais eficiente.
Surge, então, uma necessidade de conservação mais eficiente já que o produto viajaria para regiões
cada vez mais distantes.
Os tropeiros utilizavam a salga das suas caças para o transporte em um clima muito hostil. Esse processo
consiste na adição de sal comum (cloreto de sódio) que retira a água da carne por osmose, diminui a
disponibilidade de água para os micro-organismos e impede seu crescimento e atividade. A salga
transforma a carne em carne-seca, jabá, charque ou carne de sol. A quantidade de sal depende da
temperatura da região onde é preparado o alimento. No nordeste, utiliza-se pouco sal, pois é uma
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região onde as temperaturas são muito altas. No entanto, na região sul, onde a incidência solar é menor
e causa menores temperaturas, há necessidade de maior utilização de sal.
O sal é uma substância higroscópica, ou seja, absorve umidade. Em dias de chuva, constatamos que o
sal dentro do saleiro fica úmido e, posteriormente, empedrado, devido ao excesso de umidade do ar. A
salga é utilizada para retirar a umidade da carne.
Em muitas fazendas, utiliza-se a adição de açúcar para fazer compotas de frutas, com o mesmo objetivo
de retirar a umidade. Além disso, as cozinheiras costumam utilizar algumas especiarias como cravo e
canela, não só por seus sabores e aromas, mas também por serem excelentes conservantes.
A canela, por sua vez, contém além do eugenol, o cinamaldeído, um bom conservante e aromatizante,
além de apresentar excelente atividade fungicida e inseticida.
Com as mudanças sociais, a conservação de alimentos ganhou um papel fundamental, pois estava
ligada à sobrevivência humana. Surgiram os centros urbanos, distantes da área de produção dos
alimentos.
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A transformação de alguns alimentos em outros através da fermentação acontecia nas tribos brasileiras.
Os índios faziam bebidas alcoólicas através da mandioca, que era mastigada e cuspida dentro de potes
de barro para que fermentasse. Muitas bebidas alcoólicas surgiram a partir da fermentação de cereais e
frutos, o que permitia a conservação e o consumo desses alimentos por mais tempo.
Não há modificação no valor nutritivo nem nas características organolépticas do alimento submetido a
esse método. Existem três tipos de pasteurização:
1) Lenta: realizada a uma temperatura de 65 ºC durante 30 minutos. É utilizada para o leite de cabra;
3) Muito rápida: realizada a uma temperatura que varia de 130 ºC a 150 ºC durante 3 a 5 segundos. É
utilizada nos leites do tipo longa vida ou UHT (ultra hight temperature).
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Os aditivos químicos, inicialmente usados para a conservação dos alimentos, assumiram novos papéis.
Por exemplo, são usados para o aprimoramento da aparência, do sabor e do odor.
Cada aditivo químico tem um objetivo diferente como podemos observar no quadro a seguir:
Classes Função
Quadro 2
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Antioxidante é uma substância que retarda o aparecimento de alteração oxidativa nos alimentos. São
sempre representados pela letra A nos códigos.
Classes Função
A.XI Tocoferóis
Quadro 3
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Algumas vitaminas são adicionadas ao alimento, como é o caso das vitaminas C e E, principalmente por
seu poder antioxidante, não por seu valor nutricional agregado ao alimento. Ainda assim, muitas vezes,
o fabricante, ao descrever este produto, ressalta o fato deste alimento ser enriquecido com vitaminas.
As reações que ocorrem nos alimentos podem envolver ou não atividades enzimáticas. Algumas
reações que ocorrem sem a participação de enzimas são a Reação de Maillard, a caramelização e
oxidação do ácido ascórbico. O efeito mais nítido de que o alimento sofreu alguma reação é o seu
escurecimento.
Tocoferol
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Observando a estrutura molecular dessas duas vitaminas podemos observar, pela disposição e tipos de
átomos, que a vitamina C é hidrossolúvel uma vez que possui grupamentos hidroxila e carbonila que
interagem bem com a água através de ligações de hidrogênio, enquanto a vitamina E é lipossolúvel
devido a sua cadeia longa de hidrocarbonetos que a faz semelhante aos lipídeos. Estas características
vão determinar em que tipo de alimento cada vitamina será utilizada.
Ácido cítrico
H3PO4
Ácido fosfórico
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Os ácidos orgânicos inibem o crescimento de fungos, atuam contra bolores e leveduras, mas têm
efeitos adversos sobre a saúde. Já contra as bactérias, utilizam-se os nitritos e nitratos, excelentes
antimicrobianos.
Classes Função
P.VII Nitratos
P.VIII Nitritos
P.IX Propionatos.
Quadro 4
Uma técnica cada vez mais utilizada é o uso de radiações ionizantes: beta e gama são as radiações mais
utilizadas devido ao seu poder de penetração, porém devido às diferentes composições dos alimentos,
sua sensibilidade é variável.
A utilização desse método aumenta a vida útil do alimento dando a ele estabilidade química e
microbiológica e tornando-o adequado aos processos de distribuição, comercialização e estocagem
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prolongada. O controle de qualidade deve ser rigoroso para que sejam utilizadas doses de radiação
específica para cada alimento de modo a aumentar seu tempo de conservação sem causar perdas
sensoriais e nutricionais
Como vimos, a conservação de alimentos tem como principal objetivo manter as características dos
alimentos pelo maior tempo possível. Até agora, falamos de métodos que evoluíram em função das
mudanças que o homem e a sociedade passaram ao longo dos anos. Foram surgindo necessidades que
levaram às descobertas e ao desenvolvimento de novas técnicas. Tanto a embalagem quanto as
condições de estocagem passaram a ter um papel de destaque neste processo evolutivo.
A utilização de embalagens adequadas para cada tipo de alimento está cada vez mais criteriosa.
Aumentar durabilidade, impedir que haja danos durante o transporte e facilitar o armazenamento nos
pontos de venda são seus principais objetivos.
Há algum tempo, os alimentos eram comprados a granel e as principais embalagens eram feitas de
papel ou latas de aço.
Com o passar do tempo, materiais como alumínio, vidro, embalagens longa vida e, principalmente, os
plásticos contribuíram significativamente para a conservação do alimento por um período mais longo.
Além disso, trouxeram a praticidade.
As embalagens, além de uma barreira física para a contaminação de alimentos, são desenvolvidas para
manter as características deles. Consumir alimentos com embalagens violadas pode ser um grande risco
à saúde.
Atualmente, a preocupação ambiental nos faz voltar os olhos para o destino destas embalagens. Nelas,
encontramos informações valiosas e cabe a nós, consumidores, verificarmos, a cada compra, a data de
validade do produto, como ele deve ser estocado, como os alimentos devem ser conservados nos
pontos de vendas e a sua aparência.
A má conservação dos alimentos tem como consequência um grande desperdício. Esse desperdício
começa quando os alimentos são coletados. Tanto na coleta manual quanto na coleta mecânica, muitos
alimentos ficam danificados e, dessa forma, são descartados para a venda. Outro fato importante é que
os alimentos são, geralmente, produzidos em localidades distantes de onde são manufaturados ou
vendidos. Durante esse transporte, muitos são amassados ou deteriorados, acarretando uma grande
perda.
A estocagem e a conservação, tanto nos pontos de venda como em nossas casas, também são
responsáveis pelo aumento desse desperdício.
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A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura constata que existem alimentos
suficientes para todos, mas a distribuição não é igualitária. Além disso, há pouca conscientização
quanto ao desperdício que é praticado inconscientemente.
No nosso dia-a-dia, podemos adotar diversas atitudes que evitam o desperdício, desde a aquisição dos
alimentos até o preparo final. Por exemplo, podemos fazer uma lista de compras, o que garante que
compremos exatamente aquilo que necessitamos e, durante as compras, devemos estar atentos ao
prazo de validade para que possamos consumir esses alimentos com segurança.
Assim que o alimento chega a nossa casa, temos que seguir algumas regras de conservação e
manipulação para manter a integridade nutricional e sensorial desse alimento: é de extrema
importância a maneira pela qual acondicionamos nossos alimentos; precisamos observar que existe um
prazo de validade para o produto antes de ser aberto e outro para o produto depois de aberto, sendo
este último bem menor que o primeiro; precisamos, também, verificar qual é o lugar ideal para guardar
cada tipo de alimento – ao abrigo da luz, na geladeira etc.
Sabe-se que durante a preparação dos alimentos há uma perda de cerca de 20% (cascas, bagaços,
sementes e talos). Se as sobras de alimentos fossem adequadamente utilizadas, poderia haver um
reaproveitamento em detrimento do aumento do lixo orgânico.
Pode-se dizer, então, que a busca por métodos de conservação mais eficientes e mais seguros passou
ao longo da História por várias modificações devido às necessidades dos diferentes modos de vida do
homem. Com o crescimento populacional, o consumo de alimentos aumentou e, muitas vezes, a
produção não atende as necessidades, levando a uma busca de melhor aproveitamento de alimentos já
disponíveis além de se evitar, ao máximo, o desperdício.
Devemos nos informar cada vez mais para que não haja tanto desperdício de alimentos e a conservação
deles é uma etapa fundamental para evitar esta perda. Além disso, a falta de cuidado contribui para o
crescimento de micro-organismos que podem causar intoxicações alimentares e levar até mesmo à
morte.
Atualmente, com o aumento da população, com a diminuição do tempo disponível para o preparo dos
alimentos e com a falta de mão-de-obra doméstica, cada indivíduo busca suprir suas necessidades
alimentares com uma quantidade maior de alimentos industrializados. Estes, por sua vez, são
preservados por métodos especiais e comercializados numa variedade de condições e de etapas de
preparação, muitas vezes desconhecidas pelo consumidor. Independente da fase do processamento
em que se encontram (crus, pré-cozidos, prontos, congelados, enlatados, desidratados etc.), estes
alimentos merecem os mesmos cuidados daqueles feitos de forma artesanal pelos nossos
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antepassados. Devemos ter cuidado especial com o consumo exagerado de produtos contendo
conservantes e corantes que podem provocar processos alérgicos e alterações fisiológicas no indivíduo.
Sugestões de sites:
http://www.anvisa.gov.br/ Este site é da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária, órgão federal que
regulamenta a legislação e visa proteger e promover a saúde da população, garantindo a segurança
sanitária de produtos e serviços.
https://www.fao.org.br/ Este site é da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
Um ambiente que permite pesquisas múltiplas e acesso a um grande número de informações.
http://www.mds.gov.br/programas/seguranca-alimentar-e-nutricional-san/banco-de-alimentos Este
site é do Banco de Alimentos onde podem ser retiradas muitas informações para reduzir o desperdício e
combater a fome. Existem também endereços de locais onde ocorre este programa.
Sugestões de Livros:
Os botões de Napoleão. As 17 moléculas que mudaram a história, de Penny Lê Couteur e Jay Burreson
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